FASCÍCULOS DE JORNALISMO - COMPREENDER A PROFISSÃO
Jornalismo & Gastronomia Sabores, texturas, alimento, paladar, tempero, comida, bebida, harmonização, informação, restaurantes... Você se interessa por gastronomia? Então, entre neste fascículo. Venha conhecer os detalhes da imprensa que cobre esta área: a opinião de importantes profissionais, a história de grandes veículos e as tendências do mercado de trabalho para futuros jornalistas
Apresentação | Caro leitor
Expediente
Saber cozinhar é notícia
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fascículo Gastronomia apresenta aos estudantes de jornalismo, matérias e conceitos sobre o universo gastronômico. Venha conosco conhecer as redações de grandes veículos renomados na área. A gastronomia é um dos setores mais aquecidos da economia, quando falamos em tendências e consumo. Por isso, o jornalismo que cobre esta área também mostra muita vitalidade. Gastronomia hoje se tornou um quesito de status. Comer bem, frequentar bons restaurantes e saber cozinhar hoje é noticia. Pesquisas apontam que o brasileiro gasta 16% da sua renda com comida e que em São Paulo, especificamente, a cultura de frequentar bons restaurantes é tão intensa que as pessoas chegam a gastar 60% de sua renda com restaurantes. Esse consumo prova que existe conteúdo para publicações setoriais que investem em receitas, testes, noticias sobre os mais renomados chefs e dicas de restaurantes.
Seção | Depoimento “O jornalismo não deveria se fechar tanto” “Meu nome é Italo Alcantara, tenho 30 anos e adoro comer. Nasci no Rio de Janeiro, morei no Ceará e há mais de 15 anos moro em São Paulo. Conheci desde pequeno culturas diferentes, culinárias diferentes, temperos, modos de preparo, estilos de restaurantes. Hoje, já adulto, consigo explorar tudo isso aqui mesmo em São Paulo, acho inacreditável como temos todas as regiões ao nosso alcance em uma única cidade. Minha familia é apaixonada por comida e eu também sou, sou administrador por profissão, trabalho na região da Avenida Paulista e por lá tenho ao meu alcance toda gastronomia possível e todas as revistas nas maiores bancas de jornal da cidade. Aprendi a ler revistas especiliazadas quando precisava de dicas, a partir dai me interessei mais e mais pelo assunto. Sou apaixonado por vinhos e por isso revistas como a Adega são as que mais consumo. Hoje temos que admitir que as revistas de gastronomia não são o tipo de leitura que qualquer pessoa se interessa em ler. Quando as revistas são realmente específicas e um pouco mais “gourmet” como a Go Where, Menu e Prazeres da Mesa, a leitura requer um pouco mais de interesse pelo tema. Para essas revistas serem interessante para todos acho que os jornalistas deveriam ser mais “baratos”. Existe muito restaurante bom, receita boa, vinho bom, tudo por um preço bem acessível. É claro que existe um jogo de interesses também nas revistas, mas, para atingir todas as classes, seria realmente necessário que tudo se tornasse mais popular. Claro que a gastronomia de alto padrão é incrivel e deve ser valorizada, mas o jornalismo não deveria se fechar tanto. Percebo que há um público preconceituoso para um setor que deveria ser o mais democrático.” Depoimento para a repórter Marina Bitencourt
2 | DOIS PONTOS
Chanceler Alzira Altenfelder Silva Mesquita Reitor José Reinaldo Altenfelder Silva Mesquita Pró-reitor de Graduação Luis Antônio Baffile Leoni Pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Alberto Mesquita Filho Pró-reitoria de Extensão Lílian Brando G. Mesquita Diretor da Faculdade de LACCE Rosário Antonio D’Agostino Coordenação do Curso de Jornalismo Anderson Fazoli
Dois Pontos é um projeto experimental dos alunos de jornalismo (3ACSNJO e 3MCSNJO), desenvolvido na disciplina Jornalismo Impresso, em 2013. Orientação e Coordenação editorial Profa. Jaqueline Lemos (MTB 657/GO) Revisão Prof. Daniel Paulo de Souza Diagramação Alexandre Ofélio (MTB 62748/SP) Redação Editora assistente Marina Bitencourt (RA: 201013658) Repórteres Bruno Paredes (RA: 201013977) Paulo Franco (RA: 201000951) Taciana Rodrigues (RA: 201005116) Capa Jota Martins
Pingue-Pongue | Marta Barbosa
“Visamos um leitor que não é especialista”
O público que se interessa pelo mundo dos prazeres da mesa é vasto e diversificado. O jornalismo gastronômico está aí para atender esse mercado em crescimento
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Por Bruno Paredes
arta Barbosa, redatora-chefe da revista Prazeres da Mesa, fala dos seus desafios diários à frente de uma das mais importantes revistas da área gastronômica publicadas no Brasil. Com um sorriso aberto, muito bem-humorada e destacando seu sotaque pernambucano, a jornalista conta todos os detalhes da sua caminhada até aqui e nos mostra como é estar por dentro de todas as tendências dos restaurantes, bebidas e eventos que englobam esse mundo delicioso.
Dois Pontos: Conte um pouco da sua car- restaurantes e no final de semana quer colocar a mão na massa. reira jornalística. Marta Barbosa: Primeiramente queria deixar claro que não me considero uma jorna- Dois Pontos: Como é pensado o texto, foto lista gastronômica, não sou especializada e pautas? nisso. Fiz jornalismo no Recife e fui trabalhar Marta Barbosa: Trabalhamos apenas com na televisão logo após a faculdade. Tempos matérias e fotos exclusivas. A nossa revista é depois, em Belo Horizonte, passei a escre- uma das poucas de pequeno porte que tem ver sobre economia em um jornal impresso. editor de fotos, afinal isso é bem importante Aqui em São Paulo tive a oportunidade de para nós. Sabemos que o nosso leitor não lê trabalhar no Jornal da Tarde e posteriormen- muito, ele gosta mais de ver as fotos, as lete na revista IstoÉ Dinheiro, quando fiquei gendas e ler as receitas, daí então, no final de responsável pela parte de luxo e consumo. semana, depois do almoço, pode ser que ele Por conta de sempre almoçar com empresá- leia a matéria também. Se ele for ler a matérios e banqueiros, comecei a frequentar res- ria, claro que encontrará um texto mais agrataurantes luxuosos. Então, acabei gostando dável, coloquial, com uma linguagem direta da área. Atualmente me sinto preparada para e bem revisada no português. escrever sobre vários assuntos. Dois Pontos: Qual a rotina de fechamento Dois Pontos: Explique um pouco do seu da sua equipe? Marta Barbosa: Temos hoje uma equipe papel na redação da revista. Marta Barbosa: Sou redatora-chefe, signifi- fixa de 14 profissionais, dentre eles quatro ca que sou a pessoa que comanda o fecha- jornalistas. Trabalhamos com bastante antemento. Temos um diretor de redação que é cedência, as sugestões chegam ou da equipe o Ricardo Castilho, criador da revista. Ele interna que tentamos reunir periodicamente trabalhou na Playboy, Gula e saiu de lá para para jogar ideias novas, e também dos nossos fundar a Prazeres da Mesa. Ele tem o papel colaboradores fixos. Estas pessoas mandam de cuidar da marca, representar e pensar o sugestões, por exemplo, agora na edição de projeto como um todo. Costumo brincar que natal, tenho que me atentar ao fato de que ele é a “rainha” e eu sou o “primeiro minis- teremos receitas que estejam diretamente litro”. A minha parte está no fechamento, em gadas a essa data. pensar editorialmente a revista dentro de um Dois Pontos: Um recado para quem gostaprojeto que já foi estabelecido por ele. ria de seguir no ramo. Dois Pontos: Fale um pouco sobre o públi- Marta Barbosa: Na minha avaliação, se especializar em uma área do jornalismo não é co-alvo da revista. Marta Barbosa: Visamos um leitor que não é um especialista, aquela pessoa que gosta de comida ou vinhos e quer um argumento para fazer um prato no final de semana entendendo minimamente o que está comendo ou servindo. Temos um público grande de estudantes e chefes de cozinha também, pois eles querem saber quem esta aparecendo, o que esta acontecendo, pesquisas. Porém, focamos mais naquela pessoa que frequenta
Arquivo Pessoal
Marta Barbosa chegou ao jornalismo de gastronomia passando pela área de economia
algo bom. Quero dizer que não precisa fazer uma faculdade de gastronomia para falar de comida. A faculdade de jornalismo forma para você saber apurar. Basta conhecer as melhores pessoas e ter uma agenda boa, assim sempre conseguirá falar sobre o assunto para o qual foi pautado.
“Trabalhamos apenas com matérias e fotos exclusivas. A nossa revista é uma das poucas de pequeno porte que tem editor de fotos” DOIS PONTOS | 3
Reportagem | História
Reportagem | Rotina
Um novo Menu nas casas brasileiras
A informação que alimenta
Por Taciana Rodrigues
Por Paulo Franco
A redatora-chefe da revista de enogastronomia mais vendida no Brasil conta a trajetória da publicação
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la tem uma história de 15 anos, comemorados em novembro de 2013, e já é parte da vida dos brasileiros ávidos por informações sobre gastronomia. Depois de uma importante reformulação, em 2008, a revista Menu renovou sua equipe, adotou um projeto gráfico mais moderno, principalmente com um novo conceito. A gastronomia estava em ascensão, o gourmet começava a se tornar mais acessível e as pessoas começavam a se interessar por outras coisas além de receitas. “Na época eu trabalhava no site Basílico do portal UOL e fiquei receosa de mudar de emprego, principalmente pela reformulação que a revista tinha acabado de passar. Mas aceitei. A editora estava apostando muito, íamos dar uma cara de revista de gastronomia de fato”, conta a redatora-chefe da Menu, Beatriz Marques. Hoje, é a revista de enogastronomia (que se refere à tradição de complementar uma refeição com os sabores do vinho) mais vendida no país. Você encontra informações sobre os principais chefs do Brasil e do mundo, notícias e tendências da gastronomia, do vinho e de outras bebidas.
A revista se comunica com o público no meio virtual pelo revistamenu.com.br Reprodução
Edição da Menu de outubro/2003, com o projeto gráfico e editorial antigo 4 | DOIS PONTOS
Reprodução
Edição especial de aniversário da Menu, novembro/2013, comemora 15 anos da revista
Já no jornalismo de serviço, a Menu analisa os melhores restaurantes, acessórios de cozinha e novidades culinárias. “A revista fornece receitas simples, básicas, para quem não tem familiaridade com a cozinha, mas também tem estudos, que atraem mais as pessoas que entendem de gastronomia, como um estudo recente sobre perfis de sabores e uma matéria sobre os novos ingredientes, que são poucos explorados, plantas pouco comercializadas, por exemplo”, esclarece Beatriz. O mais interessante é que 40% dos leitores da revista têm entre 20 e 29 anos, um dado bem expressivo para uma revista segmentada. E isso se deve à possibilidade de comprar a Menu impressa e também a versão para tablets, ou acompanhá-la nas mídias sociais, via facebook, instagram e twitter. A revista se comunica com o público no meio virtual pelo site revistamenu.com.br. Ali o leitor se aproxima, pois é possível interagir, através de comentários e vídeos, e também divulgar notícias mais imediatas, que não fizeram parte da versão impressa. “O tablet é uma ferramenta muito legal, pois se tem a revista na íntegra, com imagens de ótima qualidade”, conta a redatora-chefe. Nos últimos 15 anos, a gastronomia mudou muito, no Brasil ela foi influenciada pela mudança no perfil dos consumidores. Na época, não chegavam muitos vinhos importados no país e para se comer bem, em um restaurante bacana, era preciso ter muito dinheiro. Com isso, as mulheres se interessavam por receitas, queriam fazer o gourmet em casa. O termo gourmet era usado apenas para expressar a alta qualidade de um vinho ou um restaurante e também uma pessoa, para dizer que tinha entendimento elevado na gastronomia. Mas, hoje em dia, podemos ouvir o termo gourmet moderno: “São aquelas pessoas que cozinham por lazer, que não se envergonham de dizer que cozinham. O homem não é mais o líder da churrasqueira”, conta Beatriz. E a revista Menu está acompanhando essa evolução. Ela tem mais 16.000 downloads do seu aplicativo, 30 mil edições baixadas e uma média de 12 mil visualizações por edição. “O jornal está migrando para a internet, mas com a gastronomia funciona de outra forma, ela se sustenta em uma revista, pois as pessoas querem guardar e ela é mais trabalhada, tem todo um cuidado estético”, explica Beatriz.
Referência no jornalismo, o caderno Paladar, publicados às quintas-feiras n’O Estado de S. Paulo apresenta um mundo de sabores ao leitor
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caderno Paladar, publicado semanalmente no jornal O Estado de S. Paulo, foi lançado em setembro de 2005, para atender uma demanda cada vez maior de informações sobre o mundo da gastronomia. O caderno transformou-se em um sucesso e é uma referência na área. Uma das principais características do Paladar é sua diagramação leve e arrojada. As capas, sempre com imagens amplas – fotos ou ilustrações –, no formato pôster, são um convite para o leitor degustar a informação e um deleite para quem quer colecionar o caderno. O sucesso editorial do caderno fez que ele se desmembrasse em vários novos produtos e eventos. Por exemplo, em 2013 ocorreu a sétima edição do Paladar – Cozinha do Brasil, em São Paulo, que promove uma experimentação de sabores e ingredientes da culinária nacional. O evento conta com palestras, aulas e degustações. Outro grande evento com a marca do caderno é o Prêmio Paladar, que teve em 2013 sua oitava edição. Nesse prêmio, um grupo de jurados avalia pratos, de acordo com algumas categorias previamente definidas. O resultado da premiação é publicado no Estadão com uma edição especial do Paladar em formato de revista. Além das publicações impressas, o Paladar também está em outros formatos, como rádio e internet. Em qualquer que seja o ambiente, a questão central da equipe é o cuidado com a apuração. “O jornalista trabalha a serviço de seu leitor, ouvinte, telespectador ou internauta. Portanto, não aceita pressões, troca de matérias por presentes ou vantagens, cobrança de releases não publicados. Sua
matéria-prima, a informação, é bem-vinda, desde que tenha valor agregado, ou seja, interesse a um maior número de pessoas, e que o interesse público supere o interesse particular”, relata Lucinéia Nunes, repórter de gastronomia do Estadão. Além disso, jornalistas, normalmente, não gostam de receber e-mail com spam. As conversas telefônicas também devem ser breves, diretas e objetivas, pois tempo é um dos bens mais preciosos nas redações, atualmente. “Trabalhamos em favor de nosso público alvo”, resume Patrícia Ferraz, editora do caderno. Para a elaboração do caderno semanal Paladar, são planejadas diversas reuniões de pauta durante a semana (geralmente três, sem horários fixos) para decisão do que será
publicado. Os repórteres apresentam propostas, levam os releases interessantes, lugares possíveis para serem visitados e receitas de chefs renomados, já contatados, e sugerem observar novas tendências na gastronomia. O caderno é publicado geralmente com 8 páginas. Portanto, é intensa a elaboração do material jornalístico. Toda semana são publicadas grandes reportagens, entrevistas, roteiros, análises, notas e dicas. O Paladar tem também uma equipe de articulistas e colunistas. Um dos destaques da equipe é o crítico Luiz Américo Camargo, que publica resenhas de restaurantes na coluna “Eu só queria jantar”. Outro destaque da equipe é o jornalista Luiz Horta, criador do blog “Glupt!” e colunista do Paladar. Ele é especialista em vinhos.
Uma das principais características do Paladar é sua diagramação leve e arrojada
Reprodução
Capas do caderno Paladar d’O Estado de São Paulo DOIS PONTOS | 5
Reportagem | Olhar Crítico
Reportagem | Mercado de Trabalho
Os sabores da crítica e da crônica
Especialização e segmentação são tendências
Em seu artigo, a jornalista Renata do Amaral analisa as particularidades de dois gêneros de textos no jornalismo gastronômico
Por Taciana Rodrigues
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Por Marina Bitencourt
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om uma carreira dedicada ao jornalismo gastronômico e cultural, Renata Maria do Amaral é autora de vários artigos e em breve sua dissertação de mestrado vai virar um livro. Gastronomia: prato do dia do jornalismo cultural é o título do mestrado defendido em 2006, sob orientação da professora Cristina Teixeira Vieira de Melo, em Comunicação Social na Universidade Federal de Pernambuco. Atualmente, a pesquisadora cursa o doutorado na mesma área e instituição, sempre com pesquisas voltadas para a gastronomia. Sobre a origem do interesse pela área, ela brinca e diz que “nasceu pelo estôma-
“A gastronomia virou fetiche no mundo contemporâneo” Renata Amaral
Reprodução
go”, foi na faculdade que percebeu que esse gosto pela comida poderia se tornar campo de trabalho e objeto de pesquisa. Com isso, em 2002 ela criou o site QuintoPecado, que ficou no ar durante quatro anos e foi pioneiro na área de jornalismo gastronômico em Pernambuco. No artigo Da cozinha à sala de estar: um olhar sobre a gastronomia no jornalismo cultural brasileiro, ela apresenta os resultados da sua dissertação de mestrado. Renata escreve que “o jornalismo gastronômico é um dos temas do jornalismo cultural que mais cresce no Brasil, juntamente com a importância da própria gastronomia. O assunto deixou de ser periférico para se tornar comum em jornais e revistas”. Com isso, em seu artigo ela compara quatro veículos de comunicação: Claudia Cozinha, CartaCapital, Folha de S.Paulo e Gula, centrando a sua análise nas crônicas e críticas feitas por esses veículos. Nas revistas Claudia Cozinha e CartaCapital, a jornalista observou que ambas apresentam duas características comuns em suas crônicas: a interatividade (aproxima o leitor) e a narrativa (ideal para contar histórias). Já a Folha de S.Paulo e a Gula não têm estratégias comuns em suas críticas, exceto pelos títulos descritivos. Uma das grandes procuras dos leitores no jornalismo gastronômico é o chamado jornalismo de serviço, em que é possível achar informações sobre os restaurantes, Reprodução
As revistas Claudia Cozinha e Gula estão entre as quatro publicações analisadas pela pesquisadora Renata do Amaral 6 | DOIS PONTOS
Apesar das redações mais enxutas, revistas e jornais trabalham para não serem engolidos por blogs e sites do setor
com críticas sobre o estabelecimento e a comida. Um dos critérios utilizados por Renata foi a garantia do anonimato dos jornalistas, isso traz a certeza de que não serão tratados de forma diferenciada por avaliarem o estabelecimento. A Folha de S.Paulo é um dos jornais mais lidos no país e por isso tem um desafio muito grande, o de tentar atingir todos os leitores, principalmente no quesito gastronomia. E a jornalista acredita que eles conseguem fazer isso, escrevendo de forma didática nas explicações, para atender ao leigo e ao gourmet. “É importante lembrar que, na época da minha pesquisa, entre 2004 e 2006, a gastronomia ainda se resumia a duas páginas no caderno Ilustrada. Agora existe o caderno Comida, com seis páginas só sobre o tema”, ressalta Renata. Junto com o jornalismo de serviço, vemos que a interatividade nas crônicas com o leitor é muito grande, existe uma necessidade de trazer o leitor quase para dentro da redação, do restaurante. E vemos que na revista Gula, o crítico de certa forma, também trata o leitor como um “crítico”, utilizando termos mais sofisticados, ajudando a elevar o conhecimento dos leitores. “Penso que o jornalista sempre pode “puxar” um pouquinho para cima o conhecimento dos leitores, mesmo em veículos não especializados. Ele pode começar sabendo pouco sobre aquela área, mas se começar a acompanhar vai rapidamente pegando o jargão. Claro, tudo precisa ser explicado com clareza para não deixar o leitor perdido”, conta a jornalista. Um dos objetivos de Renata ao escrever esse artigo era dar início às explorações do jornalismo gastronômico brasileiro e a novos estudos sobre o jornalismo cultural. Nos últimos cinco anos, ela diz que “a gastronomia virou fetiche no mundo contemporâneo. Em Pernambuco, há exemplos disso por toda parte, em um fenômeno que ganha mais força na última década. Os cursos de graduação em Gastronomia, sejam bacharelados ou cursos tecnológicos, tornaram-se objeto de desejo para um público que sequer pensava no assunto.” Por fim, Renata ressalta a mudança no padrão dos leitores. Eles diminuíram o interesse por preparar receitas e agora buscam críticas sobre restaurantes, para ajudar na escolha do jantar. “A cozinha sai de casa e vai para a rua, virando assunto digno de ser comentado numa roda de amigos”, diz a jornalista.
jornalismo gastronômico ganhou muito destaque em veículos segmentados e na grande imprensa nos últimos anos, conquistando espaço em editorias de lazer, turismo e bemestar ou, em alguns casos, ganhando um caderno exclusivo em grandes jornais. Apesar da diversificada oferta de opiniões e resenhas sobre restaurantes na internet a qualidade da informação nem sempre é adequada. Existem blogs, sites e perfis em redes sociais falando sobre gastronomia, portanto é mais difícil zelar pelo bom conteúdo, mas segundo Joana Pellerano, jornalista e blogueira especializada na área, é possível educar o leitor para que ele saiba distinguir as informações de qualidade e extraí-las da melhor maneira. “A gastronomia deve ser tratada como um assunto sério pelos jornalistas, assim como outros temas e assuntos com mais prestígio, como a política e a economia. O jornalista dessa área tem de privilegiar a informação bem apurada, precisa ter um bom repertório no paladar e no vocabulário, deve ser objetivo e, acima de tudo, responsável”, explica Joana. Apesar do peso da informação na internet, o mundo impresso neste segmento continua forte. As revistas de gastronomia, como Prazeres da Mesa, Menu e Gula, são exemplos do frescor do tema. Jornais diários e revistas semanais também dedicam um espaço para a gastronomia, como O Estado de S. Paulo (Caderno Paladar), Folha de S.Paulo (Caderno Comida) e Veja (Veja SP - Restaurantes). O mercado de revistas impressas passa por uma crise, mas as revistas do setor gastronômico ainda colhem frutos, pois o mercado está em franco crescimento e tende a florescer. Os gourmands, como são conhecidos os apaixonados pela cozinha, estudantes de gastronomia, chefs, sommeliers e barmen fazem parte dos principais públicos que a imprensa gastronômica atinge fazendo que o conteúdo das publicações esteja cada dia mais técnico e profissionalizado. “A gastronomia está mais profissional. São Paulo tem cada dia mais restaurantes e o público que consome essas iguarias exige serviços especializados e de qualidade. Comer virou símbolo de status, saber cozinhar e com produtos de qualidade também”, analisa Eliane Ogata, jornalista e fundadora do portal de gastronomia Vamos Comer. O portal está no ar há seis anos. Além dos restaurantes cheios, as escolas de gastronomia estão com alta demanda de
É possível educar o leitor para que ele saiba distinguir as informações de qualidade alunos, tendo, até, que abrir turmas especiais. As faculdades de gastronomia custam tão caro quanto os cursos de medicina, algumas chegando até a 3 mil reais mensais. Consequentemente, o mercado do jornalismo gastronômico acompanha essa evolução. “A segmentação da imprensa é o futuro, junto com a especialização, mas o único problema é que os impressos são muito caros para comprar e para imprimir e as redações estão cada vez mais enxutas. Algumas publicações estão vendendo publicidade em forma de matérias, esquecendo-se da qualidade”, explica Adriana Silvestrini, repórter da revista Supermercado Moderno, voltada para o trade. Com a ascensão da internet e da máquina fotográfica digital, qualquer pessoa acha que pode ser repórter e crítico de gastronomia. Mas a grande questão que ronda os especialistas atualmente é que as pessoas aprendam e saibam separar o que é um blogueiro especializado, que realmente tem um embasamento para escrever sobre o assunto, e os que são apenas curiosos que opinam sobre lugares que frequentam, dando notas aos locais apenas como clientes e tendo como base suas opiniões e gostos pessoais.
Jota Martins
DOIS PONTOS | 7
Seção | Sugestões & Dicas
Para ler Go Where Gastronomia Revista com um painel completo sobre o que ocorre no segmento gourmet, além de realizar exclusivos testes.
Comida – Folha de S.Paulo Caderno semanal, com opinião e crítica dos consagrados colunistas. Também reportagens, orientações e receitas.
Prazeres da Mesa Revista destinada aos leitores que gostam de cozinhar, viajar e conhecer os segredos dos bons vinhos e de outras bebidas.
Para navegar
Cuecas na cozinha cuecasnacozinha.com O blog é abastecido pelo administrador de empresas Alessander Guerra. Traz principalmente receitas práticas para o universo masculino.
Terroir Gourmet terroirgourmet.com
Panelinha panelinha.ig.com.br
É um blog gerado e gerido pela pressBR.net com conteúdo dos segmentos de gastronomia e enologia.
Blog de receitas. Em parceria com o portal IG, funciona dando dicas e noticias, mas o foco principal é o seu banco de receitas.
Mais Você – Rede Globo
Que Marravilha! – GNT
O programa apresentado por Ana Maria Braga oferece quadros para toda a família e tem o foco principal na culinária.
Sob o comando do chef Claude Troisgros, ensina um prato a cada semana e o participante tem o desafio de repeti-lo com sucesso.
Sem Reservas – Discovery Travel & Living
Para assistir
Apresentado pelo chef Anthony Bourdain é um painel dos países visitados, com uma visão da culinária, história e costumes.
Para ouvir Observatório na Cozinha Eldorado AM Ancorado pela jornalista Tatiana Ferraz, fala sobre culinária e gastronomia. A cada semana um chef de cozinha é entrevistado. 8 | DOIS PONTOS
Comida – CBN FM O programa traz dicas de culinária, gastronomia, restaurantes para frequentas e noticias sobre o mundo gastronômico.
Pitadas de GastronomiaBand News FM István Wessel traz para os ouvintes os segredos da boa cozinha nas mais variadas vertentes.