Fascículo 31 jornalismo&mundo infanto juvenil

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FASCÍCULOS DE JORNALISMO - COMPREENDER A PROFISSÃO

Jornalismo & Mundo Infanto-Juvenil Criança, adolescente, criatividade, brincadeiras, histórias, transformação, família, proteção, informação, alegria... Você se interessa pelo mundo infanto-juvenil? Então, entre neste fascículo. Venha conhecer os detalhes da imprensa que cobre esta área: a opinião de importantes profissionais, a história de grandes veículos e as tendências do mercado de trabalho para futuros jornalistas


Apresentação | Caro leitor

Expediente

Magia, emoção e informação

O

fascículo Mundo Infanto-Juvenil apresenta aos estudantes de jornalismo o criativo mundo da mídia que cobre os temas relacionados com o público infanto-juvenil. São revistas, jornais, suplementos que fazem gerações de crianças e adolescentes entrar em contato com o universo da informação. Mostraremos que, por trás de revistas e jornais coloridos e atraentes voltados para crianças e jovens, existe um batalhão de adultos trabalhando arduamente. Traremos todas as novidades e tendências deste mercado, além de diversas dicas e orientações para quem quer seguir na área infanto-juvenil. Entrevistamos especialistas que fizeram ou ainda fazem a história do gênero. Jornalistas, escritores e até blogueiros contam suas melhores experiências no mundo das crianças e dos adolescentes, que pode unir a magia de um desenho animado contado em quadrinhos até as dicas de como lidar com as borboletas no estômago de quem encontra o primeiro amor.

Seção | Depoimento “Atender os desejos contemporâneos das crianças e adolescentes” “Eu sou Adilson Medeiros, tenho 29 anos, sou game designer e criador do blog RPG Massacre. Adoro ler sobre desenhos animados e sobre qualquer novidade para o público infanto-juvenil. Eu fui leitor dos suplementos Folhinha e Estadinho, além de possuir uma coleção da revista Recreio. São publicações que considero de extrema importância para as minhas postagens no blog. Sou apaixonado por tudo que é relacionado a esse segmento desde que eu era o público-alvo dos jornais e revistas, ou seja, a partir dos nove anos, quando me dei conta de que os temas citados nos periódicos me ajudavam muito na escola e no desenvolvimento da leitura. Por publicar diariamente textos no blog, procuro ler tudo o que surge como novidade para o público infanto-juvenil todos os dias, mas mantenho a base nos sites da Folhinha e Estadinho, além de acompanhar a Gazetinha e as revistas Recreio e Ultra Jovem. Infelizmente, vejo o jornalismo nesta área em ampla extinção. Diversas revistas e jornais que faziam sucesso até a década de 90, assim como os programas educativos que fizeram a TV Cultura duelar em audiência com emissoras maiores, acabaram. Como blogueiro, sei que o acesso de uma criança às novas tecnologias deixa a sua disposição informações desnecessárias, tirando de sua mente o encanto e a fantasia que as notícias do antigo jornalismo infantil proporcionavam. Hoje em dia as crianças não conseguem se divertir com os desenhos animados, livros e charges que marcaram minha infância, por exemplo. Para o jornalismo infanto-juvenil renascer, é necessário atender os desejos contemporâneos das crianças e adolescentes. Para isso, temos que perder um pouco da essência das antigas e bem sucedidas publicações. Assim, a cobertura seria simplificada e, com isso, atingiria com sucesso todo seu público-alvo.” Depoimento apurado pelo repórter Bruno Brito 2 | DOIS PONTOS

Chanceler Alzira Altenfelder Silva Mesquita Reitor José Reinaldo Altenfelder Silva Mesquita Pró-reitor de Graduação Luis Antônio Baffile Leoni Pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Alberto Mesquita Filho Pró-reitoria de Extensão Lílian Brando G. Mesquita Diretor da Faculdade de LACCE Rosário Antonio D’Agostino Coordenação do Curso de Jornalismo Anderson Fazoli

Dois Pontos é um projeto experimental dos alunos de jornalismo (3ACSNJO e 3MCSNJO), desenvolvido na disciplina Jornalismo Impresso, em 2013.

Orientação e Coordenação editorial Profa. Jaqueline Lemos (MTB 657/GO) Revisão Prof. Daniel Paulo de Souza Diagramação Alexandre Ofélio (MTB 62748/SP) Editora assistente Nurielly Farias (RA: 201103301) Repórteres Amanda Ataíde (RA: 201103938) Amilly Ribeiro (RA: 201100546) Bruno Brito (RA: 201114967) Bruno Camanho (RA: 201100512) Matheus Nascimento (RA: 201100548) Vitor França (RA: 201101506) Capa Nurielly Farias

Pingue-Pongue | Thiago Munhoz Theodoro

“As leitoras esperam ter parâmetros de comportamento” A adolescência é um mundo em turbilhão. Não é fácil conversar com esse público, que está cada vez mais antenado com as tecnologias digitais

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Por Amanda Ataide

ma das mais importantes revistas brasileiras voltadas para o segmento adolescente é a Capricho. Trabalhando no Grupo Abril há oito anos e ocupando o cargo de editor-chefe da revista Capricho desde 2007, Thiago Munhoz Theodoro revela como sua equipe consegue produzir conteúdos para entreter e informar suas fiéis leitoras.

Dois pontos: A Capricho foi pioneira. Como surgiu a ideia de criar uma revista para este segmento? Thiago Munhoz Theodoro: A revista foi criada em 1952 e, na realidade, durante as suas primeiras décadas ela tinha outro foco, publicava fotonovelas. Na década de 80, os diretores do Grupo Abril perceberam que havia um vácuo no meio impresso e não existiam revistas voltadas para o segmento da mulher jovem. Em 1985 foi criado o slogan “A Revista da Gatinha” e a revista começa a firmar na faixa das adolescentes.

Amanda Ataide

leitoras, e aí nós separamos tudo. Deixamos de lado os assuntos supérfluos, que não acrescentarão em nada. A ideia é formar uma adulta e não uma patricinha sem conteúdo.

Dois pontos: O que as leitoras buscam quando compram a revista ou quando acessam o site? Thiago: Ao mesmo tempo em que as leitoras procuram informação, elas esperam ter parâmetros de comportamento. Como a revista pode ensiná-las a pensar, como serão introduzidas no mundo e como vão se descobrir? A menina quer ser várias coisas ao Dois pontos: Em alguns casos, as leitoras mesmo tempo, é muito gostoso fazer parte compram a revista apenas por terem seu dessa descoberta. ídolo estampado na capa e acabam não dando muita importância ao conteúdo. Dois pontos: Você acredita que o veículo Como vocês fazem para unir entreteni- impresso terá fim? mento e informação? Thiago: Não! Não estou defendendo o meu Thiago: Nossa fórmula é bem pensada e bem emprego, mas acho que o impresso vai dividida. Hoje, além de um veículo impresso existir sempre. Mas de outra forma, no caso e digital, a Capricho virou uma marca, mas da revista Capricho, as adolescentes gostam falando apenas da revista, nós dividimos os de colecionar as revistas e nós estamos estuassuntos, em porcentagem, então dividimos dando para produzir uma revista mais bo25% de informação, 25% de entretenimento, nita, algo premium para que a leitora tenha 25% de comportamento e assim por dian- vontade comprar. te. Mesmo quando estamos fazendo alguma brincadeira, por exemplo, nosso intuito é fa- Dois pontos: Qual é a sua tática para drizer com que a leitora saia com algum tipo de blar a concorrência e influenciar positivainformação útil, pois se a revista não acres- mente as leitoras? centar em nada na vida da menina, ela não Thiago: Esse é o grande truque da revista. irá comprar. Também produzimos matérias Nós fazemos um texto mais crítico, mais indicando livros, filmes e eventos culturais. analítico, a gente não tem a pretensão apenas de dar a notícia, mas sim de trazer um Dois pontos: Como funcionam as reu- tema relevante por trás do acontecimento. niões de pauta da revista e como vocês fazem para priorizar a informação e fugir da diversão? Thiago: É sempre um momento muito legal, porque nós sempre falamos muito com as leitoras, elas nos procuram e passam os assuntos que gostariam de ler. Nas reuniões, cada um da equipe conta o que ouviu das

Thiago Munhoz Theodoro com o acervo de edições da revista Capricho Por exemplo, um fim de namoro de alguma celebridade ou a separação dos pais de algum ídolo. Então, nós vamos ensiná-la a lidar com o problema. Dois pontos: Quais são as vantagens e desvantagens em trabalhar com o público feminino jovem? Thiago: Nenhuma desvantagem. Eu, particularmente, adoro esse público. A menina está buscando informações de todos os lados e a Capricho dá isso a ela. Às vezes, a menina não tem diálogo e informação em casa, então nós abordamos todos os assuntos, para informá-la.

“Nós sempre abordaremos todos os assuntos, pois nós acreditamos que formaremos adultas e não patricinhas, sem conteúdo” DOIS PONTOS | 3


Reportagem | História

Reportagem | Rotina

Está na hora de brincar com a Recreio

Descobrir o mundo e agitar com a galera

Por Nurielly Farias

Da redação

Entre brindes, diversão e criatividade, uma revista mescla informação e alegria para o público infanto-juvenil

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esde maio de 1969, quando foi criada, a revista Recreio, publicada pela Editora Abril, tem como principal objetivo transmitir informação, divertir e educar as crianças e pré-adolescentes. A revista sempre traz curiosidades, quadrinhos, testes, piadas, experiências e tudo o que a informação revela com a diversão. Em 2013 ela teve uma circulação média/semanal de quase 75 mil exemplares. O leitor da revista tem de 6 a 11 anos de idade. Até o ano de 1981 suas edições foram continuas e foram “projetados” autores in-

fanto-juvenis como Ruth Rocha, Sônia Robatto, Ana Maria Machado, Izomar Camargo Guilherme, Edith Machado e ilustradores como Renato Canini, Brasilio Carlos Zoéga Machado da Luz, Izomar Camargo Guilherme, Waldyr Igayara de Souza, além de diversos outros profissionais. Em 2000 voltou para as bancas com outra faceta, uma nova filosofia editorial, novos autores e experiências. A partir de março de 2013, a revista passou a distribuir várias coleções com brindes disponíveis, o que teria sido um dos principais motivos para ampliar seu sucesso. Já passaram brinquedos montáveis, revistas extras e até mesmo gibis por

A revista sempre traz curiosidades, quadrinhos, testes, piadas, experiências e tudo o que a informação revela com diversão

Reprodução

Capa de uma das edições da revista Recreio de Abril/1970 4 | DOIS PONTOS

Reprodução

Capa de uma das edições da revista Recreio de Junho/2013

essa coleção de brindes. Esses atrativos da Recreio começaram com a intenção de serem educativos com uma leve pitada de diversão. Porém, de uns tempos para cá, o contexto foi se transformando e estão mais como séries de ação e ficção do que educativos. “É difícil pensar em como a criança ou o adolescente irá reagir com devidos assuntos, as cabeças e mentalidades estão sofrendo mudanças repentinas. Mas, nossa obrigação como ‘encarregado de levar a informação’ é divulgar assuntos que sirvam como exemplo para o futuro dos jovens”, afirma André Novakoski, jornalista do Grupo Abril. Com a intervenção da Letronix, os gibis e brinquedos passaram a ser feitos por eles. E desde então a Letronix Nova Geração publica os quadrinhos dentro da revista e com a Circomix Nova Direção é feito um Websódio on-line para o site da Recreio (www. recreio.com.br) em animação flash a cada edição. As coleções mais famosas foram Letronix, RockAnimal, Circomix, Missão Totem e DinoRock. Desenhadas pelo cartunista brasileiro Jean Galvão, a tirinha Animatiras Tuneba, que incrementa a seção de humor, é a mais notável dentre as do Garfield, Vovó Ganso e Bichos. Essa sequência de três tiras é a parte que faz toda a diferença na revista. “É interessante colocar as tiras para serem vistas por uma criança, ela não saberá ao certo o que se passa, mas irá rir dos cartoons. Isso pode ser levado como um ponto positivo, pois ela com sua curiosidade vai querer saber o que esta escrito e pode vir a desenvolver mais rápido a leitura”, opina André. A revista também possui a Recreio Online, que apresenta diversas seções como as coleções de brinquedos, jogos, vídeos, desenhos animados, piadas. Tudo o que faz parte da versão imprensa é levado ao ambiente digital. Ainda no site, dá para ter acesso à TV Recreio, com vídeos, quadrinhos animados e a coleção Animatiras. “A questão da globalização é um ponto que deve ser estudado em todos os setores de periódicos de um veiculo. Estamos nesse mundo de tecnologia avançada e as crianças e adolescentes só ficam em computadores, então temos que fazer de um modo com que a informação chegue até elas do modo que elas mais se identificam, assim o ensinamento só será ampliado. A Recreio é uma ótima pedida para se entender as informações por meio da diversão”, comenta Kátia Albuquerque.

Uma revista focada no público teen feminino. A Atrevida traz um conteúdo interativo e divertido para falar com as adolescentes brasileiras

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om uma periodicidade mensal, a revista Atrevida, publicada pela Editora Escala, é dirigida ao público adolescente feminino. Por isso, ela aposta em uma linguagem jovial e descolada, tanto no texto como na diagramação. As matérias são curtas, com informações condensadas e sempre permitindo uma leitura em mosaico. A revista impressa segue um modelo visual e um padrão de texto muito parecido com aquele que as jovens adotam nas redes sociais. Além da preocupação com a linguagem, para se aproximar mais das leitoras, a revista foca na informação com entretenimento. Os assuntos mais frequentes nas páginas da Atrevida são: relacionamento, sexualidade, comportamento, moda, beleza, amor e a vida de jovens astros da televisão, música e cinema. A revista aposta na interatividade. Além da edição impressa, o núcleo da revista é responsável pelo conteúdo do site hospedado no portal UOL (atrevida.uol.com.br), com todo o seu dinamismo, enquetes, dicas, vídeos da TVAtrê e diversas outras informações atualizadas constantemente. A revista tem também o blog da redação (blogs.atrevida.com.br/redacao), por meio do qual a equipe de jornalista mantém mais um canal de contato com as leitoras. Na pá-

gina do blog está postado: “Esse é o espaço que a gente vai usar para ficar ainda mais conectada a vc! Aqui vamos postar um pouco de tudo: curiosidades, acontecimentos e o dia a dia super divertido da redação que faz a revista teen mais amada do Brasil! :)”. Além destes espaços, a leitora pode acompanhar a revista nas redes sociais: facebook e twitter. O conteúdo da revista – a versão impressa tem mais de 120 páginas – é elaborado por uma equipe enxuta: uma editora-chefe, uma editora-assistente, duas repórteres, um repórter on-line, um chefe de arte, uma diagramadora, duas estagiárias, uma revisora, e uma assistente de redação. A Atrevida tem também uma equipe de colaboradores, que inclui fotógrafos, ilustradores, entre outros profissionais. Em diversas seções da revista há uma interação grande com as leitoras. Na seção “ficadas e rolos”, o tema central é relacionamento. Uma especialista responde às questões enviadas para a redação por e-mail. Outra seção, que tem o mesmo tipo de abordagem, é “tudo sobre sexo” e a responsável por orientar as meninas é uma sexóloga e psicóloga. Já a seção “meu corpo” traz as orientações de uma médica hebiatra (especialista em adolescentes). Há também muitas dicas, sugestões de livros e cds, entrevistas com astros em evidência, além de reportagens com temas atuais. Como a

revista quer sempre estar antenada com os hábitos e estilos das leitoras, outras seções trazem depoimentos e experiências que elas viveram, por exemplo, nas seções “desafio atrê”, na qual uma leitora aceita um desafio da redação; ou a “por aí”, que fala das experiências das meninas que optaram por fazer viagens de intercâmbio. Reprodução

Em setembro de 2013 a Atrevida chegou às bancas de cara nova, com uma reformulação visual Reprodução

Em novembro de 2010 a Atrevida foi às bancas com três opções de capas. A escolha ficava por conta de cada leitora. O conteúdo da edição é o mesmo em cada uma das versões, mas a garota pode escolher com qual capa mais se identifica. Geralmente, a cada edição, são duas opções para as meninas decidirem DOIS PONTOS | 5


Reportagem | Olhar Crítico

Reportagem | Mercado de Trabalho

“Escrever para crianças também é brincar”

Descobrir o mundo da informação

É o que sugere a pesquisa de Juliana Doretto ao propor reflexões e transformações no jornalismo para o público leitor infantil

Por Vitor França

Por Bruno Camanho

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om o objetivo de delinear o perfil do público leitor dos suplementos infantis dos jornais Estado de S. Paulo e Folha de S.Paulo, a jornalista e pesquisadora Juliana Doretto defendeu sua dissertação de mestrado em 2010 na Escola de Comunicação e Artes da USP. O título da pesquisa é Pequeno leitor de papel: jornalismo infantil na Folhinha e no Estadinho. Para isso, foram analisadas 25 edições de cada um dos dois suplementos. A Folhinha nasceu em setembro de 1963 e circula aos sábados. Já o Estadinho nasceu em novembro de 1987, mas parou de circular em abril de 2013. Na dissertação, a pesquisadora traça um percurso histórico do surgimento do conceito de infância na sociedade. É somente a partir do século 19 (até meados do século 20) que será possível compreender o mundo da

criança de um modo mais próximo ao que vivemos na atualidade. Juliana lembra que a partir do momento em que surgiram as escolas, as crianças não precisavam mais trabalhar e passaram a exercer a principal função de ser pequeno, podiam brincar. Segundo a pesquisadora, tais situações acarretaram o “surgimento de indústrias de brinquedo, literatura, entre outras, até mesmo algumas legislações foram impostas, com isso a empatia com as crianças por parte dos adultos cresceu, e tornou função assegurar o desenvolvimento de seus filhos”. O principal aspecto a ser discutido atualmente é a que ponto as crianças estão ficando cada vez mais adultas. A modernidade à qual chegamos hoje faz que a formação delas seja mais acelerada e precipitada, e a informação, em conteúdo e os temas publicados para o

O jornalismo direcionado às crianças pode falar sobre qualquer assunto, desde que respeite o estágio cognitivo dos leitores

Reprodução

Reprodução

A pesquisadora Juliana Doretto analisou os suplementos infantis Folhinha e Estadinho 6 | DOIS PONTOS

O jornalista que trabalha em publicações infanto-juvenis tem o grande desafio de “apresentar o mundo” para novos leitores

público infantil têm de acompanhar esse ritmo, esclarece a pesquisadora. Juliana Doretto faz uma referência ao estudioso Jesús Martín-Barbero. Durante um seminário na Universidade de São Paulo, em setembro de 2008, ele disse que a “invenção da televisão fez que o mundo ficasse totalmente revelado às crianças, e as conversas que lhes eram proibidas, os eventos que não podiam participar, as cenas que não podiam ver, hoje são transmitidas em rede aberta. Isso não quer dizer que as crianças tenham de ser enganadas, porém é preciso respeitar o desenvolvimento intelectual de modo que ela possa assimilar as belezas e horrores do mundo”. No papel de entrevistadora, Juliana se surpreendeu com a desenvoltura e conhecimento de seus primeiros entrevistados mirins e logo abandonou a ideia de usar palavras no diminutivo, o que deixa bem claro que de fato, as crianças de hoje crescem muito bem informadas sobre diversos assuntos do que uma criança da década de 1880, por exemplo, isso porque as ferramentas atuais são muito mais diversificadas. De acordo com a pesquisadora, a partir disso, infere-se que o jornalismo direcionado às crianças também pode falar sobre qualquer assunto, desde que respeite o estágio cognitivo dos leitores. Por isso, saber administrar temas, linguagens e formatos interessantes e adequados para as crianças de idades tão diferentes, talvez seja a maior dificuldade para esse jornalismo voltado para meninos e meninas. De acordo com a pesquisa de Juliana, o conteúdo publicado para as crianças é em cima de um perfil imaginado do modelo leitor-criança, o chamado “Signo da divulgação”, no qual o jornalista trabalha informações sem conexão, buscadas em instituições e em personalidades já consagradas. O ideal seria se voltar para o “Signo da relação”, conceito proposto por Cremilda Medina, que prega o interesse real pelo outro e a solidariedade com ele como forma de sustentar a prática jornalística transformadora, e não apenas descritiva. Segundo a pesquisadora, a cobertura especializada e aprofundada, com design gráfico mais bem elaborado, características essenciais do jornalismo dos magazines, parece ser um dos recursos atuais dos diários impressos para atrair os leitores mirins, garantindo a sobrevivência comercial em meio ao crescimento dos meios de comunicação on-line ligados à informação instantânea.

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uando o jornalismo foca o público infanto-juvenil, a linha editorial do veículo precisa ficar muito clara. Falar só para crianças exige habilidades distintas de falar para adolescentes. A categoria infanto-juvenil pode abarcar desde um leitor com 8 anos até jovens de 17, por exemplo. De acordo com profissionais da área, o interessante em trabalhar com jornalismo para crianças e adolescentes é poder escrever todo tipo de assunto de forma que elas tenham independência para ler e compreender aquilo e que também consigam explorar esse conteúdo conversando e refletindo com pais, professores e colegas. Que possam entender melhor o mundo, desenvolver senso crítico, abrir a maneira de pensar, ter contato com outras realidades, sem deixar de lado o prazer da atividade. Para trabalhar nesse segmento, o estudante de jornalismo precisa ser curioso, o que é uma qualidade necessária para cobrir qualquer tipo de tema. Além disso, é preciso ter interesse por vários tipos de assunto, já que as publicações tratam de ciência, tecnologia, esportes, biologia, história etc. É como se o jornalista tivesse a responsabilidade de “apresentar o mundo” para o leitor iniciante. Outro ponto que contribui muito para o estudante conseguir ingressar nessa área é conhecer bastante sobre cultura pop, filmes a videogames. A ideia de uma boa revista ou jornal para o público infanto-juvenil é passar a informação com uma linguagem que envolva e seduza o leitor. A escolha dos temas é variada, mas tem lugar para todas as editorias. Mas podemos falar de atualidades, mundo, cotidiano, esportes, tecnologia, finanças e social. O importante é conquistar o leitor para o prazer da leitura. É aí que entra o papel do texto – divertido e com conteúdo – e de um projeto visual que chame a atenção. Está evidente que na atualidade as crianças e os jovens possuem mais acesso à informação. Sendo assim, o mercado se adapta cada vez mais, ou seja, busca se aprimorar de acordo com o nicho que deseja alcançar, no caso o público infanto-juvenil. Segundo Thais Caramico, jornalista que trabalhou no Estadinho até o fechamento do suplemento, o conteúdo para esse público tem sido bem aproveitado. “Educar, informar, apresentar o mundo, construir senso crítico, humanizar, formar cidadão demo-

cráticos e atentos ao mundo que os rodeia. Contar histórias e jornalismo é uma forma delas, é uma forma de libertar.” Para se elaborar informação com esse alvo, os editores e repórteres têm a tarefa de imaginar de forma bem real o leitor, quais são seus interesses, do que ele gosta, como ele conversa, como ele escreve etc. Fazer jornalismo para meninas adolescentes é diferente de fazer jornalismo para meninos adolescentes. São dois desafios distintos. Segundo Aryane Cararo, redatora da revista Crescer, também, as mídias impressas estão ficando cada vez mais raras. “Hoje há mais espaço para mídias eletrônicas do que para as impressas, veiculadas, tradicionalmente, pelos grandes jornais. Isso também se decorre pelo fato de que os custos de produção são menores, no caso de sites e blogs.” O mercado de trabalho para o jornalista que foca o público infanto-juvenil é repleto de muitos desafios. Apesar de importante, é um segmento um número restrito de publicações. Mas, ao mesmo tempo, o profissional não pode esquecer que tem uma tarefa essencial nas mãos: inserir novos leitores no mundo das publicações jornalísticas. Qualquer tipo de leitura é um incentivo a criar cidadãos mais criativos e conscientes de sua realidade social e de seu papel no mundo, ainda mais num suplemento voltado diretamente para ela, que trate de assuntos de seu interesse e lhe dê voz.

Jota Martins

DOIS PONTOS | 7


Seção | Sugestões & Dicas

Para ler Viração viracao.org

Ciência Hoje Crianças chc.cienciahoje.uol.com.br

Revista mensal e um projeto de educomunicação. Traz informações a partir do conceito de protagonismo juvenil.

Revista e portal da Ciência Hoje Crianças, publicação que aborda temas científicos para o público infanto-juvenil.

TodaTeen É uma revista da editora Alto Astral. Focada em temas como: moda, úsica, sexualidade, saúde, relacionamento e beleza.

Para navegar

Unicef Kids unicefkids.org.br O site do Fundo das Nações Unidas para a Infância divulga e defende os direitos da criança e do adolescente, com jogos e informações.

Agência Andi andi.org.br

Cocoricó tvcultura.com.br/cocorico

Uma agência que contribui para a promoção dos direitos da infância e juventude a partir de ações no jornalismo.

O site da série da TV Cultura é colorido e educativo. Oferece jogos, pinturas, quebra-cabeças, entre outras atividades.

Tempos de Escola – Futura

Bom dia & Companhia – SBT

Com apresentação de Serginho Groisman, propõe revisitar os tempos de escola de personalidades do esporte e das artes.

O programa traz desenhos pelas manhãs e brincadeiras com seus telespectadores.

Os Radionautas – Rádio Nacional de Brasília AM

Faixa Infantil – Rádio Nacional AM

Programa infanto-juvenil apresentado por adolescentes do projeto Radialistas do Futuro, da ONG Extensão da Samambaia.

Apresentado pela jornalista Karina Cardoso, tem como proposta levar músicas, histórias e muita diversão aos ouvintes.

Para assistir

Gente Grande – Rede Bandeirantes Apresentado por Marcelo Tas. É uma adaptação do programa argentino Agrandadytos como outros programas trazidos pela Eyeworks.

Para ouvir Rádio Maluca – Rádio MEC AM (RJ) É um programa de auditório transmitido ao vivo do Teatro SESI, no Rio de Janeiro. Apresenta uma atração musical, brincadeiras, contadores de histórias etc. 8 | DOIS PONTOS


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