FASCÍCULOS DE JORNALISMO - COMPREENDER A PROFISSÃO
Jornalismo & Mídia Alternativa Realidades, contestação, informação, crítica, sociedade, análise, cidadania, autonomia colaboração, comunidade... Você tem acesso a diferentes visões de mundo? Então, entre neste fascículo. Venha conhecer os detalhes da imprensa que apresenta os fatos com um olhar não hegemônico: a opinião de importantes profissionais, a história de grandes veículos e as tendências do mercado de trabalho para futuros jornalistas
Apresentação | Caro leitor
O
Expediente
Em busca da pluralidade e diversidade fascículo Mídia Alternativa apresenta aos estudantes de jornalismo a imprensa que rema contra a maré das grandes corporações midiáticas do Brasil. Geralmente os veículos alternativos dispõem de poucos recursos financeiros e se pautam por divulgar informações com enfoques diferentes daqueles que costumamos ver e ler cotidianamente na grande imprensa. A mídia alternativa se pauta e cobre informações muitas vezes ignoradas ou negligenciadas pela grande mídia, seja por motivos editoriais ou comerciais. Portanto, é um segmento que contribui para promover a democracia, a pluralidade e a diversidade informativa. O intuito deste fascículo é mostrar que o jornalismo alternativo não é sinônimo de radicalismo, mas sim um meio de representar e dar voz àqueles que não possuem os mesmos recursos de um grande veículo de comunicação.
Seção | Depoimento Conscientizar e agregar
Chanceler Alzira Altenfelder Silva Mesquita Reitor José Reinaldo Altenfelder Silva Mesquita Pró-reitor de Graduação Luis Antônio Baffile Leoni Pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Alberto Mesquita Filho Pró-reitoria de Extensão Lílian Brando G. Mesquita Diretor da Faculdade de LACCE Rosário Antonio D’Agostino Coordenação do Curso de Jornalismo Anderson Fazoli
Dois Pontos é um projeto experimental dos alunos de jornalismo (3ACSNJO e 3MCSNJO), desenvolvido na disciplina Jornalismo Impresso, em 2013. Orientação e Coordenação editorial Profa. Jaqueline Lemos (MTB 657/GO)
“Sou Henrique Magalhães, professor no curso de Comunicação em Mídias Digitais e no Mestrado de Comunicação da Universidade Federal da Paraíba. Sou apaixonado pela mídia alternativa, desde cedo comecei a fazer minhas próprias publicações, de forma amadora e intuitiva. Com o tempo, fui aprendendo com a prática, mas também com pesquisa sobre o tema. Interesso-me pela imprensa alternativa da década de 1970, bem como todos os processos de comunicação alternativa, em particular a produção de fanzines. Não leio nenhum veículo específico, pois são poucas as obras sobre comunicação alternativa, mas há muitos estudos nos programas de Pós-Graduação que abordam esse fenômeno. Além da bibliografia especializada, participo de bancas de Graduação e de Pós-Graduação e eventualmente edito alguns livros sobre o tema, pela editora Marca de Fantasia, que dirijo. Sobre o jornalismo dessa área, posso dizer que depois da importante representação que teve a imprensa alternativa, como crítica e mobilizadora contra a Ditadura Militar, a comunicação alternativa expandiu-se para os grupos comunitários, como fator de conscientização e agregação. Cada veículo da comunicação alternativa ou comunitária responde às necessidades de seu grupo, tanto produtor quanto receptor, que em geral se confunde. Numa das áreas de meu interesse, as histórias em quadrinhos, a tendência é certo grau de profissionalização, sem necessariamente concorrer nos mesmos parâmetros do mercado. A sugestão que eu daria para que a cobertura jornalística fosse melhor na área é que os veículos devem usar os recursos técnicos e a redução dos custos em favor da comunicação alternativa.”
Revisão Prof. Daniel Paulo de Souza
Depoimento apurado pela repórter Amanda Garcia
Wesley Mesquita (RA: 201113774)
Diagramação Alexandre Ofélio (MTB 62748/SP) Redação Editora assistente Amanda Garcia (RA: 201107435) Repórteres Fernanda Nunes (RA: 201113021) Luana Escardovelli (RA: 201103517) Renata Otaviano (RA: 201103486) Renata Sales (RA: 201105362)
Capa Produção e foto: equipe de redação 2 | DOIS PONTOS
Pingue-Pongue | Rafael Vilela
“O que a gente está propondo tira o chão de muita gente” Eles acreditam em uma forma diferente de fazer jornalismo. Defendem o ativismo, a independência e um processo de rede aberta para a construção de narrativas
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Por Wesley Mesquita
o jornalismo, muitas vezes não se pode pedir licença para fazer tudo. A Mídia NINJA (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) entendeu esse recado e chegou assim, entrando e ecoando seu brado retumbante, sem bater. A origem está relacionada diretamente ao coletivo Fora do Eixo, que desde 2005 cria conteúdos culturais. O fotógrafo Rafael da Silva Vilela, de 24 anos, largou a faculdade de Designer na Universidade Federal de Santa Catarina e veio para São Paulo vivenciar essa nova forma de fazer comunicação.
Dois Pontos: Qual foi seu primeiro contato com a Mídia NINJA? Rafael Vilela: Estou desde o princípio. Eu mudei para São Paulo e larguei a faculdade no final de 2011. Vim pra cá morar e ter a vivência. Entendi que aqui eu teria um processo muito mais rico do que teria na faculdade ou no trabalho. Desde então eu estava na equipe de comunicação, trabalhando com foto, com arte urbana. E esse foi um dos lucros que deu uma substância muito grande para origem da Mídia NINJA. A partir da experiência que a gente teve aqui dentro, e todas as mídias que a gente já tinha no Fora do Eixo. O que a gente tinha era um acúmulo muito grande de tecnologia e de comunicação para cultura, festivais – a gente fazia transmissões de festivais há cinco anos -, shows pelo Brasil inteiro, fotos em tempo real, etc. A gente pegou todo esse acumulo e virou essa mira para o campo do jornalismo. Dois Pontos: Parte da imprensa questiona se a Mídia NINJA é jornalismo ou não, mas o próprio nome diz que é. Então, qual é o tipo de jornalismo e qual a qualidade dessa nova forma de cobertura? Rafael Vilela: É um modelo novo que se preocupa muito com a forma como ele vai se bancar. A gente já trouxe uma inovação estética muito grande, que é o “ao vivo”, mas a gente se apropria do fotojornalismo, que é uma linguagem de certa maneira, clássica. E a gente usa das redes sociais com muita intensidade. E, como ninguém é pago para fazer isso, é um processo de entrega e de ativismo. Isso muda tudo, basicamente. A essência do que pode ser o jornalismo é resgatada pela Mídia NINJA, na verdade. Dois Pontos: Como a grande imprensa (rádio, TV e impresso) enxerga isso? Como ela tem recebido vocês? Rafael Vilela: Com admiração e desconfiança. Admiração por ver um novo modelo surgindo, e ver que é muito efetivo no diá-
Wesley Mesquita
logo com a opinião pública. E desconfiança porque o que a gente está propondo tira o chão de muita gente. Num cenário já instável e inseguro do jornalismo, por uma questão mercadológica acima de tudo, quando a gente vem com uma proposta que funciona, a gente dá uma desestabilizada. E é por isso que a gente recebeu tanto ataque da grande imprensa. Dois Pontos: Qual o sentido do termo “rede aberta” que vocês usam? Rafael Vilela: A gente está falando que todo mundo pode ser aquilo. Não é um grupo de elite. Não é uma startup da nova mídia independente. É um processo em rede aberta que todo mundo pode participar.
Rafael Vilela em uma das casas do Fora do Eixo, na zona sul de São Paulo
Dois Pontos: E os planos? Como você imagina a Mídia NINJA em 2014? Rafael Vilela: O futuro é agora. Um monte de colaborador colando. Gente querendo participar. Temos um monte de temas pelo Brasil para trabalhar. Não tem muito o amanhã, ele é feito do hoje. O trabalho é grande o suficiente pra gente focar nele e construir um amanhã melhor. Ano que vem vai ser f***. Nesse contexto caótico, a gente espera uma sociedade mais justa e mais democrática.
“A essência do que pode ser o jornalismo é resgatada pela Mídia NINJA, na verdade”
DOIS PONTOS | 3
Reportagem | História
Reportagem | Rotina
Censurado por natureza
Na oca da Ocas”
Por Luana Escardovelli
Por Fernanda Nunes
Ele nasceu para incomodar os poderosos de plantão. O jornal Movimento é uma das principais publicações da imprensa alternativa durante da Ditadura Militar no Brasil
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cenário era de repressão, Ditadura Militar no Brasil. Crimes contra os diretos humanos, fim da oposição e tentativas de resistência armada marcavam os anos do regime militar no Brasil. Apesar disso, o governo ditatorial da época, comandado por Ernesto Geisel, pretendia a reinserção do sistema democrático no país. Foi nesse ambiente que o jornal Movimento apareceu. Composto por pessoas com formação política e por jornalistas, alguns deles do extinto jornal Opinião, o veículo abrigava pessoas que discordavam do regime militar e da atuação de Geisel. “Aquele era um grupo mobilizado politicamente, dividido em diversos segmentos da esquerdaW. O centralismo democrático era o que dominava as decisões”, conta Marina Amaral, jornalista responsável pelas entrevistas publicadas no livro Jornal Movimento, Uma Reportagem (ver box). Visando atingir as classes populares, o clássico jornal da mídia alternativa tinha a intensão de acompanhar de perto as lutas urbanas por melhores condições de vida. “O jornal foi um dos únicos a cobrir as greves do ABC lideradas por Lula em 1978”, comenta a DICAS DE LEITURA
Para compreender mais sobre a história do jornal Movimento, recomendamos a leitura da obra Jornal Movimento, Uma Reportagem, publicada pela Editora Manifesto, em 2011. O livro tem como autores Carlos Alberto de Azevedo, Marina Amaral e Natalia Viana. Um DVD com todas as edições do jornal acompanha a obra. 4 | DOIS PONTOS
Capa da 1ª edição do jornal Movimento
jornalista. Aliás, o veículo sobrevivia de contribuições comunitárias. Dois meses antes do início de sua circulação, o grupo realizou uma campanha para arrecadações de fundos. Uma semana antes do lançamento, a editora responsável pela publicação divulgou um folheto propagando a estreia do Movimento. Este chegou até o governo, que mandou no mesmo dia a Polícia Federal na redação e na gráfica. A ordem, baseada no AI-5 (Ato Institucional nº 5), era de confiscar o folheto e prender quem desobedecesse às normas. Para eles, a propaganda continha iniciativa à violência e prática ao vandalismo aos patrimônios nacionais. O que não agradou nem um pouco ao editor-chefe, Raimundo Pereira e o diretor responsável, Antonio Carlos (Tonico) Ferreira. Seu surgimento não teve notoriedade na grande imprensa. Contudo, enquanto o governo retirava os censores do jornal O Estado de S. Paulo e de outros grandes veículos, com uma tentativa de recuperar aliados; censurava a primeira edição do Movimento antes mesmo de ser publicada, demostrando uma preocupação governamental com o editorial. Na semana do lançamento, a equipe se alternava entre a redação, que ficava no bairro de Pinheiro-São Paulo, e a sede da Polícia Federal. Em uma segunda-feira, 7 de julho de 1975, depois de sido vetado 18 matérias, 8 fotografias, 10 ilustrações e 12 charges, o Movimento chegou às bancas. Com uma capa negra e nada atraente, o jornal trazia a chamada da matéria principal: “SUBÚRBIO CARIOCA por Aguinaldo Silva”, texto que abordava os atrasos dos trens da Central do Brasil e conduzia a temática da classe urbana. Vinte mil leitores adquiriram aquela primeira edição. Mariana Amaral disse que o Movimento sofria semanalmente com a repreensão. “O jornal tinha que ser enviado para a censura prévia todas as semanas, era devolvido quase na hora de rodar, muitas vezes mutilado, obrigando a readiagramar páginas inteiras no momento em que deveria estar na gráfica”, comenta a jornalista. Após seis anos de circulação, o jornal que mostrou ao público um novo jeito de analisar a realidade e trazendo novidades que estimulava uma reflexão, principalmente na área política, passou a sofrer novas ameaças. Setores da extrema direita ateavam fogo em bancas acusando os jornaleiros de propaganda ao comunismo. O fato acabou obrigando -os a deixar de vender o jornal alternativo,
Revista com equipe totalmente voluntária destina 75% do preço de capa da publicação para vendedores em vulnerabilidade social
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róxima à estação Brás do metrô, fica na rua Campos Sales a sede de distribuição da revista Ocas”, um projeto idealizado por Thiago Massagardi e Alderon Costa. Em 2003, durante uma visita à Londres, os amigos se inspiraram na publicação The Big Issue e trouxeram das terras inglesas para o Brasil uma forma social de fazer renda para pessoas com vulnerabilidade social. “Funciona assim: a gente comercializa o exemplar para os vendedores por R$ 1,00 e eles repassam para o público final pelo preço de capa, que é R$ 4,00”, esclarece Marina Massagradi, voluntária responsável pela administração da ONG. Então, a cada exemplar, o vendedor fica com R$ 3,00 de remuneração para si mesmo. Às terças e quintas-feiras, o local é aberto para os vendedores, bem cedinho. Lá, eles compram edições novas e antigas das revistas e já partem para mais um dia de vendas. A administração do “entra-e-sai” de exemplares fica por conta de Alexandre Patto, voluntário da instituição. “Faço cadastro dos vendedores, negocio lotes das edições e organizo o caixa da Ocas”. Para mim, é o maior orgulho!”, diz. Quando não está na ONG, Patto trabalha como artesão em um estúdio de arte, ensinando crianças carentes a arte da reciclagem. “O que eu faço aqui e meu trabalho como artista tem o mesmo foco: ajudar pessoas”, afirma. Cada edição da revista é pensada remotamente. O contato entre jornalistas, diagra-
A revista é inspirada na publicação inglesa The Big Issue e faz parte de uma rede internacional madores e fotógrafos é feito todo por e-mail. Rosi Rico, editora da Ocas”, fica responsável pela organização de cada pauta. “Pensamos em um assunto, vemos se é viável e, de pronto, colocamos em prática. Buscamos por temas sociais que estejam relacionados com desafios urbanos, como drogas, violência e vulnerabilidade social”, afirma Rosi. A revista está vinculada à Rede Internacional de Publicações de Rua (INSP), instituição presente em mais de 40 países e que envolve mais de 110 publicações. Alguns dos textos da Ocas” são traduzidos das edições da The Big Issue. “A revista é 100% independente. Toda nossa equipe editorial é feita de forma voluntária”, diz. Para dar uma mãozinha na produção das belas fotos de capa, Antonio Brasiliano se dispõe - desde a fundação da revista - a produzir as fotos. Bimestral, com uma tiragem de 5 mil exemplares, todas as capas da revista Ocas” trazem um tema relevante para a vida nas
cidades. A edição de setembro/outubro de 2013 trouxe em destaque Milton Hatoum, escritor amazonense e nome de destaque internacional da literatura brasileira. “Escolhemos o autor pelo seu texto incisivo e forte. Ele trata, em seus livros e crônicas, de temas sociais, que são vividos diariamente pelos nossos vendedores”, afirma Rosi. Artistas, como Selton Mello, João Miguel, Céu e Wagner Moura também já estamparam a capa da revista. “Tentamos aliar o nome dessas pessoas com o trabalho social que eles realizam. Ganhamos mais visibilidade e conhecimento entre os novos leitores”, diz. O vendedor Josiel é quase um garoto-propaganda da revista. Toda terça-feira ele chega bem cedinho à sede da revista para buscar novos exemplares. O vendedor explica a rotina: “Pego algumas edições e já vou direto para meu ponto. Sempre tento dar uma variada. Às vezes estou em frente à Universidade São Judas Tadeu ou nas estações de metrô. A garotada adora, viu?”, diz. Segundo ele, o dinheiro da revista o ajudou a sair da vulnerabilidade social. “O pessoal da Ocas” não me dá o peixe; me ensina a pescar. E é isso o que eu estou fazendo, voltando a viver e criando minha independência», afirma.
Uma história que virou livro
Fernanda Nunes
Publicado em novembro de 2013, Ecos da Ocas”: a história da revista que promove transformação social é um livro que conta os dez primeiros anos da história da revista e reúne algumas das entrevistas e reportagens publicadas em 84 edições, além de uma seleção de textos produzidos por vendedores do projeto. O livro foi elaborado em parceria com a Bizu Editora e pode ser adquirido no site www.ocas.org.br ou na Fnac. Acervo de exemplares da Ocas” na sede da revista DOIS PONTOS | 5
Reportagem | Olhar Crítico
Reportagem | Mercado de Trabalho
Ferramenta de união dos trabalhadores
Fugir do tradicional é a proposta
A comunicação sindical no Brasil é tema de análise no livro da pesquisadora e jornalista Claudia Costa
Afinal, quais os caminhos que o jornalista pode percorrer se quiser ficar longe da “grande mídia”?
Por Renata Otaviano
Por Renata Sales
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sindicalismo, para além do que pensam alguns, já alcançou muitas vitórias em lutas para os trabalhadores em todo o mundo. O fim das jornadas abusivas de trabalho, o fim da exploração infantil, o reconhecimento da mulher no mercado, o direito a folgas semanais e o salário mínimo são algumas delas. Nos tempos de expansão da Revolução Industrial, nascia uma ferramenta poderosa de alinhamento e união de todos os trabalhadores: a Comunicação Sindical. Uma das funções prioritárias dessa mídia é combater, através do olhar do trabalhador, o discurso dos donos do meio de produção e, também, contrapor-se a ideologia da grande imprensa. A partir da sua pesquisa desenvolvida no mestrado na ECA/USP e da vasta experiência como profissional, a jornalista Claudia Costa publicou o livro Comunicação Sindical no Brasil: breve resgate e desafios, a fim de abordar os problemas cotidianos desse segmento da imprensa. “Meu livro traz uma breve história da comunicação sindical no Brasil e discute os desafios que temos para produzir uma imprensa com um discurso contra hegemônico. Traz indagações e arrisca debates para tentarmos avançar nessa área: produzir
uma comunicação que seja ferramenta para construir um mundo melhor”, diz a autora. Claudia Costa aborda conceitos e definições, posiciona o sindicalismo em algumas lutas e comenta a função da comunicação nesse processo, ressalta como a comunicação empresarial ou interna é uma importante ferramenta para alinhar colaboradores em um propósito e elenca os recursos disponíveis para a comunicação sindical e seu atual contexto no Brasil. Para a autora, o jornalismo que se volta à área sindical se difere muito do que é feito pela grande imprensa. Questões como a imparcialidade e a neutralidade não interferem na qualidade de um material sindicalista, uma vez que consiste em partir de uma ótica específica. “Nós sabemos que os grandes meios de comunicação no Brasil são privados. O que temos de mídia pública, cujo interesse seja o interesse público? Como afirmamos: a verdade não é absoluta, há diversas versões e visões sobre um mesmo fato. Queremos mostrar o que não é mostrado, o nosso lado”, afirma Claudia. Assim como disse Karl Marx: “Trabalhadores do mundo todo, uni-vos!”, a comunicação sindical deve servir para divulgar uma ideia, unir os colaboradores e tirá-los de uma posição de mornidão para
uma luta e mudança. Deve servir para conscientizar os trabalhadores. “O movimento sindical vem de um período recente de fragmentação. Isso tem a ver com a realidade das lutas dos trabalhadores, que, por sua vez, se reflete na imprensa sindical. Temos hoje uma comunicação com um potencial incrível. Temos talvez alguns milhares de jornalistas sindicais, mas que trabalham de forma fragmentada, como consequência da fragmentação do próprio movimento. É um desafio buscar ações que possam potencializar essa imprensa, pois ela exerce forte influência sobre os trabalhadores”, esclarece Claudia. De acordo com a autora, nas conclusões do livro, “a comunicação sindical é uma arma em potencial nas mãos dos trabalhadores para defender sua ideologia, sua política. Entretanto, é necessário saber usá-la. Atualmente as possiblidades são inúmeras. Ainda mais com a entrada da internet em cena, do mundo virtual e das produções de baixo custo.” Por fim, ela esvcreve: “são inúmeros os aspectos que compõem a comunicação sindical. É preciso vasculha-los, conhece-los.[...] Só dessa maneira consegue-se fazer uma boa comunicação sindical. E, assim, conquistar corações e mentes dos trabalhadores.”
Arquivo Pessoal
SUGESTÃO DE LEITURA
A pesquisadora Claudia Costa durante uma palestra sobre comunicação sindical 6 | DOIS PONTOS
Comunicação Sindical no Brasil: breve resgate e desafios, de Claudia Costa, publicado pela Editora Instituto José Luis e Rosa Sundermannn, em 2010.
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aros Amigos, Fórum, Ocas e Mídia NINJA são bons exemplos de conhecidos nomes de veículos da mídia alternativa. Essa prática jornalística é realizada por veículos que muitas vezes buscam cobrir fatos ignorados ou negligenciados pela conhecida “grande mídia”. Um dos principais motivos para o crescente sucesso dos veículos de mídia alternativa se deve ao fato de ela mostrar um lado dos acontecimentos que geralmente não é mostrado pela mídia tradicional. Um exemplo disso é a Mídia NINJA (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação), que ficou muito conhecida durante os protestos que ocorreram no Brasil em junho de 2013, pois a cobertura mostrou um lado diferente dos que eram veiculados pelos outros meios de comunicação da grande mídia. No caso, os colaboradores estavam nas ruas juntos com os manifestantes, enquanto nos outros meios as imagens eram feitas, na sua maioria, de helicópteros. A proximidade com os fatos e a presença durante os protestos foram fatores essenciais para chamar a atenção do público. “Não acredito que as mídias alternativas estejam ganhando mais espaço no país, mas de fato tem crescido o número de veículos e narrativas. Infelizmente, o espaço da mídia alternativa no Brasil é muito limitado ainda e parece que não há interesse e democratização por parte do Governo Federal”, é a opinião do jornalista Leandro Sena Lara, formado pela Universidade São Judas , e um dos criadores da Agência Social, um site que trabalha para a divulgação de boas notícias. Mas se engana quem pensa que, para “se dar bem” nessa área, basta mostrar um ponto de vista diferente do que normalmente é mostrado pela mídia tradicional. “Após o boom da Mídia NINJA durante os protestos ocorridos em junho, outros agentes independentes, midiativistas, jornalistas e até mídias alternativas seguiram o mesmo passos, mas, pessoalmente, acredito que o jornalismo vai muito além de simplesmente segurar uma câmera e narrar um conflito”, comenta Leandro. O jornalista também acredita que o necessário para atuar nessa área, depende muito do que você está procurando: nível profissional, financeiro ou o propósito do “alternativo”. Quando escolheu trabalhar com mídia alternativa, Leandro queria buscar um espaço em que pudesse divulgar seu trabalho de maneira imparcial, algo que não conseguiria se acabasse por escolher trabalhar com a grande
Cobrir fatos e eventos ignorados ou negligenciados pela imprensa hegemônica
mídia. “Jamais veículos tradicionais, ou até mesmo as mídias alternativas que crescem, dão carta branca para um jornalista escrever o que quer, sem interferências do projeto editorial ou dos critérios dos patrocinadores”, completa. Mas para aqueles que, assim como Leandro, preferem uma maior liberdade na hora de escrever uma notícia, mesmo que isso signifique uma menor visibilidade de seu trabalho, ele deixa algumas dicas do que é necessário: “é preciso muita coragem, pois infelizmente mídia alternativa no Brasil não é considerada mídia. Já tive grandes problemas com acesso a eventos por não fazer parte de um grande veículo. O segredo para ‘se dar bem’ é manter a independência, coragem e seguir remando contra tudo”. Não restam dúvidas de que essa é uma área que ainda é pouco explorada e limitada no jornalismo brasileiro. Entretanto, é um espaço que permite uma atuação mais livre, algo que está cada vez mais difícil de encontrar no mercado jornalístico atual.
Jota Martins
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Seção | Sugestões & Dicas
Para ler Correio da Cidadania
Fórum
Caros Amigos
Jornal semanal independente que circula em São Paulo. É ligado aos movimentos sociais e à esquerda católica.
Revista mensal. Publica informações e análises sobre economia, política, social e promove o debate sobre esses assuntos.
Revista mensal da Editora Casa Amarela. É referência de publicação contra-hegemônica e de reflexão crítica do pensamento neoliberal.
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Observatório da Imprensa - observatoriodaimprensa.com.br
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Site de entidade civil, não-corporativa e não-partidária. Atua como um fórum sobre a imprensa.
Para navegar
É um veículo de comunicação político apartidário essencialmente ligado à propagação de boas notícias.
Para assistir
Coletivo Mariachi youtube.com/user/coletivomariachi Grupo de mídia ativismo formado por jornalistas, fotógrafos e documentaristas. Posta suas publicações no Youtube.
Ônibus 174 Documentário brasileiro, dirigido por José Padilha. Fala sobre o sequestro do ônibus 174, no Rio de Janeiro em junho de 2000.
O sol: caminhando contra o vento Documentário brasileiro, dirigido por Tetê Moraes, fala sobre o jornal O SOL, alternativo editado no RJ na época da Ditadura Militar.
Para ouvir Rádio Brasil Atual FM É uma rede com revista, jornais e emissora de rádio. Busca olhar os fatos a partir de uma perspectiva de esquerda e dos movimentos sociais. 8 | DOIS PONTOS
Rádio Comunitária Heliópolis FM
Rádio Comunitária Zumbi dos Palmares FM
Tradicional rádio comunitária de São Paulo, criada pela União de Núcleos, Associações e Sociedades de Moradores de Heliópolis.
Com atuação na região metropolitana de João Pessoa (PA), é filiada à Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária.