Jornal Laboratório | Universidade Federal do Espírito Santo | Edição 107| Dezembro de 2019
TURBULÊNCIAS POLÍTICAS ABALAM PERSPECTIVAS CHILENAS Protestos iniciaram em meados de outubro e negociação política falhou em tentar reestabelecer a ordem pública e em reverter a desigualdade social P.7
MINÉRIO DE FERRO CAUSA PROBLEMAS NA GRANDE VITÓRIA P.3 RACISMO NO FUTEBOL VOLTA À TONA
P.11 EXPOSIÇÃO SOBRE DA VINCI RECEBE MATERIAL DE MUSEU DA UFES P.13
PROJETO DA ONU PROMOVE RESSOCIALIZAÇÃO DE MULHERES REFUGIADAS P.4
FIM DO DPVAT AFETA O REPASSE DE VERBAS AO SUS P.9
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EXPEDIENTE EDITORES Beattriz Santos Vitor Guerra REPÓRTERES Alberto Borém Amanda Ribeiro Beatriz Santos Breno Alexandre Daniela Salgado Dirlan Machado Emanuela Afonso Karina Lima Laryssa Florêncio Laura Conceição Lucas Mello Ludson Nobre Mikaella Mozer Rebeca Fagundes Sarah Mascarenhas Stella Silveira Tarcísio Ribeiro Vitor Guerra Walas Coelho
EDITORIAL
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jornal NoEntanto chega a sua última edição do ano. Elaborado pelos alunos do 3º período do curso de jornalismo da Ufes, a edição 107 mantém a linha editorial do jornal trazendo um conteúdo contra-hegemônico. Esta edição o NoEntanto se preocupou em abordar assuntos atuais, como a crise Neoliberal no Chile, o desmonte do Sistema Único de Saúde e pó preto nas praias de Vitória. Foram seis edições publicadas desde o início do semestre, e a certeza que foi exercido um jornalismo de qualidade e que abriu espaço a conteúdos pouco trabalhados pela grande mídia convencional. A turma 2019/02 agradece a oportunidade e espera que o NoEntanto siga sempre sendo um jornal combativo, um espaço de defesa do jornalismo e do ensino público, gratuito e de qualidade. Boa leitura!
PROFESSOR RESPONSÁVEL Rafael Bellan NoEntanto é um Jornal laboratório da turma de 3º período do curso de Comunicação Social/Jornalismo, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). CONTATO NO ENTANTO noentanto.ufes@gmail.com
Turma de Jornalismo 2019/2
NO ENTANTO NAS REDES fb.com/jornalnoentanto @jornalnoentanto @noentantojornal
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SOCIEDADE SOCIEDADE
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PÓ PRETO POLUI O AR DE VITÓRIA Moradores da região metropolitana do estado, continuam tendo problemas com o minério de ferro Por Laura Conceição
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Foto: Laura Conceição
Complexo Siderúrgico de Tubarão, localizado na Grande Vitória, comporta as siderúrgicas responsáveis pelos transtornos causados aos moradores da região, ocasionados pelo pó preto. Vale, Samarco e Arcellor Mittal são acusadas de despejar um pó composto por partículas de minério de ferro e carvão, no mar e ar da Grande Vitória. As siderúrgicas foram denunciadas para o Ministério Público através de Ações Civis Públicas, propostas pela Associação Nacional dos Amigos do Meio Ambiente e pela Associação Juntos SOS Espírito Santo Ambiental. Em 2015, foi instaurada na Assembleia Legislativa do estado a “CPI do Pó Preto”, em que foi elaborado um relatório que comprova os graves níveis de poluição do ar da Grande Vitória. Apesar dessas movimentações, a Vale, Samarco e Arcellor Mittal só sofreram multas e não tiveram suas licenças para operar caçadas. Moradores da região continuam denunciando os danos ambientais e os riscos à saúde provocados pelas atividades das siderúrgicas do Porto do Tubarão. A moradora do bairro Jardim Camburi, Cecília Martins conta como o pó preto interfere em sua saúde. “Além de precisar
Praia de Camburi tomada pelo pó de minério em 2015. - Eraylton Moreschi
ficar sempre com as janelas fechadas, eu tenho problemas respiratórios e esse pó ataca a minha rinite e me deixa sem ar”, afirma. De acordo com o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA), a instituição faz visitas de vistoria periódicas e revisão de procedimentos adotados pelas siderúrgicas, onde constam que elas estão operando dentro dos parâmetros legais impostos pelo IEMA. Já para o presidente da ONG Juntos-SOS Espírito Santo Ambiental, Eraylton Moreschi, a redução da poluição do ar ainda não é o bastante, “Os números como indica a rede de monitoramento de poeira sedimentar do IEMA tem reduzi-
do, porém está longe de atender às demandas do cidadão. O pó preto não é só incômodo, causa muitos impactos na saúde da coletividade”, reclama. As empresas Vale, Samarco e ArcelorMittal afirmam que estão aplicando novas tecnologias com o objetivo de conter o pó preto. Em 2009, a Vale implantou uma espécie de tela que opera como barreira de vento chamada ‘Wind Fences’, no entanto, o ativista e também Conselheiro Estadual de Patrimônio Ecológico Natural, Alessandro Chakal, alega que as partículas minúsculas do pó preto ultrapassam essa tela “ A única solução é fazer o enclausuramento total do Complexo”, relata.
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CIDADES
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MULHERES REFUGIADAS ENFRENTAM DIFICULDADES Segundo dados da ONU quase metade dos refugiados no Brasil são mulheres, mas quase todas enfrentam problemas para se inserir e enfrentar a desigualdade de gênero do país. Por Mikaella Mozer
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(Foto: Reprodução)
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xistem, atualmente, mais refugiados do que no pós segunda Guerra Mundial. De acordo com dados divulgados pela Agência da Onu para refugiados(ACNUR) 68,5 milhões de pessoas foram obrigadas a deixar seus países por sofrerem perseguição por motivo de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas. A porcentagem de mulheres chega a quase metade do total de refugiados. A presença delas vem crescendo nos últimos três anos de forma notável e muitas delas chegam com os filhos ou sozinha, algo que era mais frequente com homens. A mudança da referência cultural e o impacto causado por isso tem um peso maior para as mulheres. Em referência a este problema o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados trabalha na orientação em relação aos seus direitos. A oficial do programa Renata Pires diz que elas têm grande dificuldade de receber essas informações por causa do idioma e a falta de informação nos serviços públicos. “Isso acontece pela
Conseguir uma oportunidade de trabalho muda a vida e relações sociais. falta de informação sobre o refugiados no país”, reitera Pires. No documentário ‘Recomeços: Sobre Mulheres, Refúgio e Trabalho’, Hazel, refugiada da República democrática do congo diz que uma das melhores coisas no país é a lei de proteção à mulher olho para o meu marido e falo que aqui não se pode bater em mulher”. Esse projeto realiza também palestras para integração delas no Brasil, discutem sobre saúde, violência contra mulher, trabalho e educação. Nelas, as refugiadas relatam seus problemas e se informam sobre seus direitos. Para a Oficial essas conversas são muito importantes para elas se sentirem seguras. Outro ponto no qual é encontrado grande dificuldade é dentro da questão do
trabalho. Rafael Cláudio Simões, coordenador do Núcleo de Apoio aos Refugiados no Espírito Santo(Nuares), conta que as mulheres que chegam no estado encontram dificuldade para conseguir trabalho. A maioria delas é quem sustenta a família ao chegar aqui, afirma Simões. “Uma grande parte tem que recorrer para o trabalho informal”. Uma delas é Razan Suliman, que veio da Síria e faz comidas típicas para sustento da família com a ajuda do marido na produção. Ela diz estar feliz por reconstruir a sua vida. “O trabalho significa muito para a mulher, é segurança e independência”. Contudo, para elas pessoas deveriam entender que os refugiados estão aqui não para roubar empregos, mas sim para ajudar.
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, IASES ATUA COM MENORES EM REGIME DE SEMILIBERDADE O Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo é responsável por orientar pedagogicamente os adolescentes que cometeram atos infracionais. Por Daniela Salgado
Foto: IASES
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Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (IASES) é responsável por orientar, aproximadamente, 755 menores de idade que são autores de atos infracionais.Conforme o site institucional do IASES, o Programa de Atendimento da Semiliberdade é baseado em fases, onde os adolescentes são submetidos à avaliações semanais correspondentes à suas atitudes - que são medidas por um Plano Individual de Atendimento (PIA). De acordo com o Observatório Digital da Socioeducação, a média de idade dos adolescentes está entre 17 e 18 anos, sendo 57 homens a cada 1 mulher. Apesar da quantidade de adolescentes envolvidos com o instituto, apenas 4 % destes estão em regime de semiliberdade. A psicóloga responsável pelo regime provisório do IASES, Sheila Sales, enxerga que a socioeducação dentro do instituto já progrediu muito, mas ainda é necessário que alguns avanços aconteçam. Alega também que, apesar de trazer benefícios positivos, existem
Adolescente que foi autor de ato infracional sendo envolvido com a educação pelo IASES
várias nuances e outras políticas públicas que deveriam atuar em conjunto, como o envolvimento do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) e do SUS (Sistema Único de Saúde). A psicologia, pedagogia e o serviço social atuam em conjunto dentro do Instituto de Atendimento Socioeducativo do ES. Um adolescente do regime de semiliberdade proporcionado pelo IASES, identificado pelas iniciais G.A.F.D., declara que antes de ter que cumprir a medida socioeducativa dentro do instituto não tinha interesse em estar na escola porque não
havia um propósito. ‘’Hoje eu vejo a escola como uma nova oportunidade de vida, hoje eu tenho uma motivação, um objetivo para correr atrás’’, conta G.A.F.D. PROPÓSITO Na medida da semiliberdade, o adolescente é ingressado nas escolas da própria comunidade já que não há, para este regime, uma escola dentro do instituto. Fica por responsabilidade da equipe técnica da unidade incentivar o menor a frequentar a escola. Além dessa mesma equipe buscar uma parceria com a instituição de ensino, também é entendido que obrigações vão mais adiante do dever primordial de en5
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comunidade, família, visita sociofamiliar, atividades externas de cunho cultural e esportivas. RESULTADO O adolescente reconhece que hoje ele tem a obrigação de dar um futura à sua família e que sem o estudo ele não conseguiria nada. ‘’Fé em Deus que vou passar de ano agora para o segundo ano do ensino médio e estou concluindo o curso de soldador oferecido pelo Estado’’, completa G.A.F.D., que está desde a oitava série do ensino fundamental dentro do Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo. Divulgado em 2018 pelo Ministério dos Direitos Humanos (MDH), o último Levantamento Anual do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) 2016, mostra que o Espírito Santo era o sexto estado com maior número
de adolescentes no Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo, com 1123 inscritos. Apesar desse número, o ES continha apenas 13 unidades de atendimento. DEMORA PARA DIVULGAÇÃO DE LEVANTAMENTO ATUALIZADO O último Levantamento Anual do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) foi divulgado em 2016, referente ao ano de 2015, no governo do ex-presidente Michel Temer, apontando um despreparado governamental. De acordo com o coordenador da Comissão da Criança e do Adolescente do Conselho Estadual dos Direitos Humanos de São Paulo (Condepe), Ariel Castro Alves, o aumento dos jovens que estão cumprindo alguma medida socioeducativa é referente também a precariedade nos atendimentos e nas políticas públicas.
Foto: Daniela Salgado
sinar: também possuem a função de acolher e formar o jovem cidadão. ‘’Dessa forma, as equipes das unidades de semiliberdade precisam desenvolver um amplo trabalho de sensibilização para que a inserção do adolescente no espaço escolar se dê da melhor forma’’, revela a pedagoga responsável pela unidade do IASES localizada na Serra (ES). O programa de Semiliberdade é posto de forma completamente pedagógica,em que é pautado na auto responsabilização dos atos cometidos e das possíveis consequências das suas decisões. A pedagoga ainda completa que ‘’é trabalhado os aspectos biopsicossociais, ou seja, o autocuidado e as inferências sociais por meio de ações diárias.’’ Essas condutas cotidianas se dariam por intervenções juntos aos educadores sociais, pelo contato com a
Dados disponibilizados pelo Observatório Digital da Socioeducação no site do IASES
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POLÍTICA
INSURREIÇÃO POPULAR NO CHILE SE OPÕE À MODELO NEOLIBERAL Os manifestantes protestam contra a desigualdade social e a ineficiência da administração pública
Foto: Susana Hidalgo)/BBC
Por Karina Lima
Imagem de manifestante com bandeira Mapuche no topo de estátua militar em Santiago se tornou símbolo dos protestos no Chile.
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insurreição chilena foi iniciada pelos muchachos (jovens, moços). Os estudantes se rebelam há mais de uma década contra o sistema educativo implantado por Augusto Pinochet com viés neoliberais e contra a herança da ditadura. Desta vez, conseguiram o apoio de grande parte da sociedade chilena que luta por justiça. A crise começou quando, por recomendação de um painel de especialistas em transporte público, o governo decidiu aumentar o preço das passagens de metrô em 30 pesos, atingindo um valor máximo de 830 pesos (R$ 4,73, na cotação atual) de acordo com dados di-
vulgados pela BBC News Mundo. Como forma de protesto, os estudantes começaram a pular as catracas para entrar nas plataformas do metrô sem pagar a passagem. A situação piorou quando a violência tomou as ruas da capital chilena, Santiago, com incêndios em várias estações de metrô e ônibus, saques a supermercados e ataques a centenas de estabelecimentos públicos. O presidente Piñera, então, declarou estado de emergência, o que significou o envio de militares para os pontos de protestos. A Mestre em Estudos Latino-americanos pela Universidad Nacional de San Mar-
tin/Argentina e Doutora em Política Social na Ufes, Camilla dos Santos Nogueira afirmou que uma das reivindicações dos manifestantes diz respeito à formação de uma Assembleia Constituinte para formular uma nova Carta, bem como reformas econômicas e programas sociais para combater a desigualdade. “O presidente assinou um acordo com a oposição, de se formar uma assembléia social para se formar uma constituição. Mas não tem aceitação social, porque não considera a participação social, nos espaços de tomadas de decisão”, disse. Segundo o Instituto Nacional de Estatística do Chile, 7
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CIDADES
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dicionalmente reprimem manifestações sociais, sem o menor pudor. As manifestações se transformaram na luta pela educação, mas também por aposentadorias decentes, por um salário mínimo digno, pelo direito ao aborto, pelo fim do sistema opressivo. Portanto, por vários direitos que foram sendo decepados pelo estado neoliberal chileno, de governo a governo, e que se acentuou no governo de Piñera. O atual presidente, teve uma ideia para acabar com as rebeliões estudantis. Sua lei “Sala Segura”, aprovada no ano passado pelo Congresso, permitia expulsar os alunos que portassem
SOCIEDADE
algum tipo de arma, cometessem algum tipo de agressão ou causassem “danos à infraestrutura”. Na prática, a norma permitia expulsar os que protagonizassem protestos, como a ocupação de uma escola. Com isso, muitos jovens se convenceram de que não deviam esperar nada da presidência ou dos parlamentares. “De modo geral, pode-se dizer que o movimento estudantil chileno é sem dúvidas a parte mais ativa do movimento de massas no Chile durante o século XXI e também um dos mais importantes da América Latina” explica Camila Nogueira.
Foto: HENRY ROMERO (REUTERS)/El
metade dos trabalhadores do país recebe um salário igual ou inferior a 400 mil pesos (R$ 2.280) ao mês. Já no Brasil, como comparação, 60% dos trabalhadores (ou 54 milhões de pessoas) tiveram um rendimento médio mensal de apenas R$ 928 no ano passado, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do IBGE. Com esse salário, os manifestantes alegam que um aumento na passagem do metrô é inconcebível. Ainda mais se considerarmos que o transporte público no Chile é um dos mais caros da mundo, dependendo da renda média. A polícia militarizada, chamados de carabineiros, tra-
Protestos no Chile
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, FIM DO DPVAT COMPROMETE VERBAS DO SUS Governo Federal provoca redução de orçamento com o fim do seguro obrigatório Por Alberto Borém e Vitor Guerra
Foto: Jornal Contábi
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o mesmo cenário em que a Constituição tem sido alvo de canetadas do presidente da República, o Sistema Único de Saúde não fica para trás. A última sentença foi a extinção do seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres, o DPVAT. A verba em 2018 repassou mais de dois bilhões de reais ao SUS, 45% do arrecadado pelo seguro. Sem o valor, o programa deverá ter um orçamento ainda menor no ano que vem, quando não existirá mais a taxa obrigatória. Segundo os números do Relatório de Administração do ano passado, foram arrecadados R$ 4,7 bilhões por meio do seguro DPVAT. Deste montante, cerca de R$ 2,1 bilhões foi destinado ao SUS, 50% à União e 5% ao Denatran. A professora do Departamento de Serviço Social da Ufes Ana Targina Rodrigues Ferraz avalia como prejudicial ao SUS a extinção do seguro e não considera válida a justificativa do presidente para o fim do DPVAT. Segundo dados do Relatório de 2018, foram cerca de 12 mil fraudes, 2% dos 597 mil pedidos.
“É mais uma forma de penalizar o SUS. A fraude não é justificativa para acabar com o programa (DPVAT), se fosse assim, poderiam criar mecanismos para diminuir as fraudes. Elas não vão acabar, mas podem ser amenizadas”, explica Targina. Também sobre a extinção do seguro DPVAT, Leandra qualificou como um retrocesso de direitos. A assistente social que trabalha no Hospital Universitário diz lamentar o atual momento do país, onde a lógica do lucro se sobressai a um atendimento de qualidade e gratuito. “Me parece que estamos vivendo um imediatismo sem reflexões. Não é muito essa a lógica que podemos apostar. Claro que em algumas situações, precisamos trabalhar no imediato. Mas no hospital universitário
precisamos nos posicionar a favor da qualidade”, completou a assistente social. SUS Fundado há mais de 30 anos com o intuito de funcionar de forma gratuita, universal e integral, o SUS evidencia o dever do Estado em administrar a saúde. Na contramão, as decisões de Bolsonaro abrem espaço para empresas privadas agirem sobre a área. Segundo a professora Ana Targina, desde a sua implantação, o Sistema Único de Saúde sofre com o subfinanciamento, o que seria uma insuficiência de recursos. Ainda de acordo com Targina, o governo Bolsonaro provoca um desfinanciamento. “Temos um problema que é o financiamento, é um gargalo que tem piorado. A 9
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tendência com as medidas do governo Bolsonaro é de se tornar ainda pior. Assim, apresentam como única alternativa possível a privatização.” A abrangência do programa é demonstrado pelos números. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de Vitória (Semus), em 2018, eram 343.890 moradores cadastrados como usuários das unidades básicas de saúde, o que representa 95% da população da capital. No município, são 29 Unidades Básicas de Saúde, o que coloca em xeque a ideia de que a saúde pública atende apenas os indivíduos não cobertos por planos privados. Ainda segundo os números informados pela Secretaria, em termos de investimento per capita, foram aplicados R$ 747,94 por pessoa, sendo R$ 574,48 de recursos próprios do município. Além disso, são cerca de três mil
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funcionários lotados na Semus. A Mestre em Política Social e assistente social no Hospital Universitário, Leandra Borlini cita as dificuldades, mas evidencia o desafio de seu trabalho. “É um compromisso trabalhar no SUS. Temos um desafio em meio a falta de recursos e entre outros problemas. Vejo no SUS uma grande potência, é um espaço de promoção da saúde. Um local onde é possível se aproximar, acolher, tratar individualmente.” Procurado pelo NoEntanto, o governo do Estado não se pronunciou e não enviou os dados requeridos até o fechamento desta reportagem. A decisão não é a primeira ação controversa do presidente na área da saúde. Bolsonaro ainda foi responsável pela substituição do “Mais médicos” pelo programa “Médicos pelo Brasil”, que prometeu mais de 18
mil vagas para os profissionais. Segundo o Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, a ideia é atingir o “Brasil profundo”, que, segundo ele, são as pessoas que mais precisam do SUS.
“É mais uma forma de penalizar o SUS. A fraude não é justificativa para acabar com o programa (DPVAT), se fosse assim, poderiam criar mecanismos para diminuir as fraudes.” Ana Targina (professora do departamento de serviço social Ufes)
ESPORTES
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CASOS DE RACISMO NO FUTEBOL ESTÃO FICANDO MAIS FREQUENTES “O racismo no futebol reflete aquilo que a sociedade é”, comenta o estudante Kevin Pereira. Por Rebeca Fagundes
Foto: Divulgação
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Observatório de Discriminação Racial no Esporte registrou em 2019 um aumento de 6,8% de casos de injúria racial dentro do esporte brasileiro, em relação ao ano anterior. Dentro dessa estatística, o futebol vem ganhando destaque e situações racistas estão se tornando cada vez mais recorrentes. A prática do racismo no futebol revela como essa visão preconceituosa ainda continua forte no Brasil e no mundo. Normalmente, essas atitudes são realizadas diretamente para integrantes específicos do time. Os atos são feitos, geralmente, em campo por técnicos e jogadores ou nas arquibancadas pela torcida, por meio de xingamentos e gestos ofensivos direcionados a raça dos atletas. Em partida válida pelo campeonato ucraniano, a torcida do Dinamo de Kiev imitou o som de macacos se referindo aos jogadores Taison e Dentinho, que atuam pela Equipe Shakhtar Donetsk. Taison chutou a bola em direção às arquibancadas, mostrou o dedo do meio para os torcedores do Dinamo, como reação imediata,
Taison saindo de campo aos prantos após ataques racistas durante do jogo do Dinamo de Kiev contra Shakhtar Donetsk.
e acabou sendo expulso. Os dois atletas brasileiros deixaram o gramado chorando. O atacante Mario Balotelli também foi vítima de racismo durante uma partida válida pelo campeonato italiano, entre Verona e Brescia, equipe em que atua o jogador. A torcida do Verona imitou o som de macacos e o atleta se irritou e imediatamente quis sair de campo após o incidente. O presidente do Brescia, clube em que atua o jogador, disse que não se tratava de racismo, mas apenas de uma brincadeira. A torcida do time de Balotelli criticou a irritação do atleta, dizendo que se o jogador não estava pronto para encarar a tor-
cida do Verona, deveria ter “dado o espaço para alguém menos nervoso”, amenizando totalmente a situação racista que tinha acontecido. O estudante de Educação Física Kevin Pereira salienta que esses casos estão ficando cada vez mais frequentes e que eles não se referem ao futebol especificamente mas sim retratam o reflexo de uma sociedade que tem o racismo estruturalizado. Para ele esse tipo de situação no futebol deve ser combatida com a punição da torcida e dos indivíduos que fazem esse tipo de prática, como também dando oportunidades para os negros ocuparem espaços em todas as áreas do futebol. 11
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ESPORTES
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VITÓRIA REVELA POTENCIAL PARA ESPORTES À VELA Com localização e ventos favoráveis, capital capixaba necessita de estrutura para fortalecimento do esporte Por Stella Sampaio
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Foto: Star Sailors
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oucos velejadores desfrutam da baía tranquila e abrigada que cerca Vitória. A ausência de marinas e píer públicos dificultam o acesso ao mar dos capixabas, prejudicam o turismo náutico e o desenvolvimento dos esportes a vela. O litoral do Brasil é enorme, mas o poucos lugares possuem estrutura para receber velejadores com segurança e conforto. Isso limita o esporte a regiões onde há investimentos públicos e cultura náutica fortalecida, como no Sul do país. O atleta de vela Pedro Trouche afirma que o acesso ao mar do brasileiro é muito precário. “A gente não tem píer público, não tem rampa pública e nem para possa entrar com o carro para descer o barco. Assim, fica restrito a elite, que é sócio de Iate Clube”, destaca. O Projeto Brasil Velejador, idealizado pelos capitães Marcelo Bonilla e Claudio Copello, tem por objetivo levar a cultura náutica, especificamente da vela, para as cidades litorâneas do Brasil. A dupla partiu de Itajaí–SC, seguindo até Recife–PE. “De
Pedro Trouche, com o medalhista olímpico Lars Grael, em circuito de competição de vela profissional
todas as capitais costeiras, Vitória tem condição mais confortável para cruzeiristas ficarem bem localizados, na cidade, tanto no iate clube quanto na Curva da Jurema”, destacou Bonilla sobre sua passagem em Vitória. Segundo o Capitão Amador, que já velejou mais de 4 mil milhas pela costa brasileira, o Estado tem muito potencial. “A baía do Espírito Santo tem características únicas e extremamente favoráveis para a prática da vela de recreação, cruzeiro e competição”, pontua. Por ser praticado em ambiente aberto e longas distâncias o esporte não é televisionado, o que dificulta a popularização e cria barreiras para o conhecimento sobre a vela. “É um esporte de alto investimento, porém é mais acessível do que as pessoas pensam, porque o espírito do velejador é a solidariedade”, destaca Trou-
che. O jovem é uma promessa do esporte, sendo o atual 6º melhor velejador de equipe no ranking mundial da Star Sailors League, circuito de competição de vela profissional. Para os velejadores Bonilla e Trouche, é preciso mais informação para o fortalecimento do esporte. “Se políticos e governantes conhecessem a vela entenderiam o potencial turístico e de transformação social e assim poderíamos modernizar as leis para implantação de marinas e equipamentos de apoio”, afirma Bonilla. PROMESSA A Prefeitura de Vitória debate há 4 anos sobre a implantação de uma marina pública na praia de Camburi. O objetivo é estimular o turismo náutico e será construída e administrada pela iniciativa privada. A previsão é que seja licitada em 2020.
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CULTURA
PEÇAS DO MCV SÃO EXPOSTAS EM MOSTRA SOBRE LEONARDO DA VINCI Realizada na Biblioteca Nacional do Rio, exposição têm peças do Museu de Ciências da Vida (MCV). Por Dirlan Machado Junior Foto: Divulgação
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ara celebrar a vida e obra de Leonardo Da Vinci, a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, maior da América Latina, apresenta a exposição “Alma do Mundo – Leonardo 500 anos”. O curador e presidente da academia brasileira de Letras, Marco Lucchesi, reuniu no acervo da mostra peças raras que celebram os feitos do artista renascentista. Dentre elas, estão materiais do Museu de Ciências da Vida, projeto de extensão sob a coordenação do professor da Ufes, Athelson Stefanon Bittencourt. Segundo Bittencourt, o convite para a exposição partiu do presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), professor Ildeu de Castro Moreira. De Castro esteve ano passado no Museu de Ciência da Vida na Ufes e conheceu um pouco do trabalho realizado. O que mais o impressionou foram às técnicas utilizadas da plastinação (método pelo qual os espécimes são impregnados com um polímero para elevar a sua durabilidade). Em julho deste ano
Marco Lucchesi (à esquerda), presidente da ABL, Ildeu de Castro (centro), presidente da SBPC e o professor da UFES Athelson Bittencourt (à direita) estão a frente da exibição.
Bittencourt demonstrou essa técnica, que é referência no Brasil, em congresso da SBPC realizado em Mato Grosso. “Neste ínterim, Ildeu sugeriu o meu trabalho para o professor Marco Lucchesi que está à frente da exposição ‘Leonardo 500 anos’”, relata. CRITÉRIO PARA A ESCOLHA DAS PEÇAS O site da organização da mostra indica que a partir dos fósseis plastinados enviados pelo MCV é possível testemunhar os estudos de anatomia do qual Leonardo da Vinci foi um exímio precursor. Do museu da UFES foram para exposição de origem humana dois crânios, um cérebro, uma perna, um feto de quatro meses e um esqueleto feito de resina cujos músculos são naturais. Além de artista, matemá-
tico e inventor, a contribuição de Leonardo para o estudo da anatomia humana ainda se faz presente nos dias de hoje. A seleção dos materiais científicos se deu por esse critério. É o que explica Athelson: “Da Vinci foi um distinto dissecador; esse trabalho é realizado aqui no MCV e é fundamental para os nossos estudos no museu e nas salas de aula”. A importância do MCV dispor desse acervo para a exibição na Biblioteca Nacional é uma demonstração do trabalho realizado pela UFES e também um reconhecimento para o Espírito Santo. “Nosso estado por vezes não tem um destaque nacional como Rio e São Paulo. A UFES é referência na técnica de plastinação e estamos ajudando outras universidades no país a implantar esse método”, esclarece Bittencourt. 13
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, ROCK E RELIGIÃO SE MISTURAM NO TEATRO DA UFES Foto: Edu Henning
Projeto Sócio de Carteirinha, leva público de 8 a 88 anos a show. Por Beatriz Santos
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o último dia 21 de novembro, a banda Clube Big Beatles, cover do grupo inglês The Beatles, reconhecida internacionalmente graças ao festival de música de Liverpool, esteve presente no teatro da UFES , apresentando o show do Sócio de Carteirinha, juntamente com o Padre Anderson Gomes. A banda surgiu em 1990, tendo como fundador o jornalista Edu Henning. Desde 1994 apresentam em festivais internacionais, como o International Beatle Week. Eles também possuem diversos pilares, sendo um deles o Projeto Sócio de carteirinha, que teve sua última edição do ano de 2019, no dia 21 de novembro, no teatro da UFES. “O público que frequentou o Teatro da Ufes na temporada 2019 foi de 8 até 88 anos. Isso é impressionante e verdadeiro, sabe?” Ressaltou Edu Henning. O Clube Big Beatles tem muito prazer e orgulho de realizar o Projeto Sócio de Carteirinha, que em 2020 faz 12 anos consecutivos, num teatro tão fundamental para a cultura capixaba,
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Banda Clube Big Beatles emociona ao falar sobre o amor através da música dos Beatles.
reitera o fundador da banda. Na última edição do Projeto Sócio de Carteirinha do ano 2019, houve a participação do Padre Anderson Gomes. Pe. da paróquia Nossa Senhora do Perpé etuo Socorro- Vitória- ES. A primeira participação se deu em 2017, por meio do convite de Edu Henning.” Minha primeira reação foi agradecer, pois não me achava capaz de interpretar Beatles As músicas e suas histórias me inspiraram e por meio de mensagens, conciliamos música secular e evangelização”, diz Padre Anderson Gomes. É possível conseguir uma linha reflexiva interessante na música dos Beatles, dependendo do ângulo que se olha, no que tange a questão religiosa, visto que não existe uma junção, mas sim o momento certo de cada uma. Em entrevista ao jornal No Entanto, o Padre Anderson Gomes, também
afirma a importância do apoio dos fiéis, sendo estes os maiores incentivadores “isso nos motiva a continuar evangelizando, levando a Palavra de Deus a todos os cantos.” Afirma. A banda Clube Big Beatles tem marcado a vida de muitas pessoas, seja pelas interpretações das músicas, seja pelo carisma de seus integrantes. A última etapa do Projeto Sócio de Carteirinha, que aconteceu no teatro da UFES, encantou os fãs e surpreendeu através das mensagens trazidas pelo Pe. Anderson Gomes. “ Mais do que nunca ficou bem dito que o amor é respeitarmos ao próximo. Achei lindo demais a fala do padre como ser humano sem a batina, afirma Silvandira, fã da banda. Para ela a fórmula de sucesso que conquista corações e mentes é a potência do Clube Big Beatles aliado ao humor sensacional de Edu Henning.
, PODCAST: NÚMERO DE OUVINTES CRESCE EM 40% NO ÚLTIMO ANO A criação do conteúdo sonoro também envolve a própria vivência
Spotify é uma plataforma que também possui muitos podcasts disponíveis.
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egundo dados da Deezer, o número de ouvintes de Podcasts no brasil aumentou em 40% no último ano. Isso significa que cada vez mais pessoas tem aderido a essa nova forma de consumir informação. A professora de biologia Maíra Leone conta que se sente muito mais útil e produtiva por utilizar o tempo que estaria no trânsito para adquirir informações: “Eu gosto de ouvir podcasts porque sinto que meu tempo ocioso vira produtivo”. E não é só ela: segundo o último relatório da ABPod (Associação Brasileira de Podcasters) em parceria com a CBN, 79% dos ouvintes consumiram Podcasts durante trajetos em locomoções, e 68% durante atividades domésticas. Muitos desses ouvintes consomem Podcasts para se informar sobre novidades em suas áreas profissionais,
como o designer e ilustrador Matheus Silva. “Curto ver as entrevistas dos ilustradores, eles falam sobre técnicas e referências e isso acrescenta muito na hora que vou ilustrar”, disse. Leone também utiliza para praticar a escuta em outros idiomas: “Gosto de ouvir em línguas estrangeiras porque é mais uma forma de praticar a escuta”. Com tanta variedade, as vezes fica difícil escolher um tema. Por isso, muitos Podcasters decidem por criar conteúdo sobre temas livres, a exemplo disso temos o CoutoCast, que em sua primeira edição falou de música, e no último programa lançado teve como tema drinks para o verão. O criador do CoutoCast, Eduardo Couto, explica que este é o seu maior desafio: manter a identidade e a qualidade do programa. “A identidade (fluida) me permite
Foto: Amanda Ribeiro
Por Amanda Ribeiro
falar sobre vários assuntos, mas por conta disso acaba estando muito ligada a uma qualidade que vai desde a pauta até a publicação do episódio.” Couto também afirma que a criação de conteúdo envolve a própria vivência, explorando tudo que você estudou e absorveu durante a sua trajetória. “Além de te dar um espaço para compartilhar tudo isso, te ajuda a encontrar pessoas que desejam aquele conteúdo e muitas pessoas voltam para compartilhar suas próprias vivências sobre aquele assunto.” O acesso à informação dinâmica, apta para o dia a dia dividido entre várias tarefas junto à variedades de temas, explicam tamanha adesão e número de podcasts disponíveis. Ao todo, segundo a pesquisa da ABPod em parceria com a CBN, existem pelo menos 3 mil podcasts. 15
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CULTURA
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AS MULHERES QUE OS OLHOS NÃO Resenha fílmica de A Vida Invisível de Erícide Gusmão Por Sarah Mascarenhas
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Foto: Frame do filme A vida Invisível
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ulheres não são objetos, não são máquinas de fazerem filhos. Mulheres não são de ninguém e não nasceram para o casamento. Mulheres têm sonhos e querem conquistá-los. Essa é a mensagem do filme A Vida Invisível, obra nacional recém lançada nos cinemas que esteve representando o país no Festival de Cannes em maio de 2019. Dirigido por Karim Aïnouz, cineasta e artista visual brasileiro, e baseado no livro homônimo da escritora e jornalista Martha Batalha, o longa traz a história de duas irmãs que foram separadas por decorrência de atitudes de seu pai. A trama se passa no Rio de Janeiro, na década de 50, onde as duas irmãs, Eurídice e Guida, alimentavam seus sonhos e trocavam confissões na juventude. A dor fraternal das protagonistas ao perderem uma a outra pula da tela e cai sobre os ombros do espectador. Além da saudade que as assola, existe um ambiente hostil de violência perpetuada e protagonizada por todos os homens que cercam essas duas mulheres. As falas muito bem elaboradas do filme passam a mensagem de forma quase sutil,
deixam o recado sobre a realidade vivida diariamente pelas mulheres nas entrelinhas, “Que bom que é menino...”, falou uma personagem sobre uma das crianças que nasceu no enredo. O obra é intragável, por evocar tantos momentos angustiantes retratados de forma primorosa, de falas de um pai autoritário e agressivo à cenas de estupro. A violência é escancarada sem delongas em seus frames. O som tem papel fundamental na composição do clima e traz a dor de Eurídice no seu pedido de socorro indecifrável que é a música emitida através de seu piano, seu único meio de felicidade genuína
na vida que foi desenhada para ela e que com toda certeza ela não escolheu. De embrulhar o estômago, o filme tem a capacidade de trazer uma reflexão construtiva sobre como a sociedade patriarcal e machista ceifa as vidas de mulheres não apenas no sentido literal, mas também quando subtrai seus sonhos e desejos, quando as fazem meras peças de um jogo em que os homens sempre ganham. A interpretação dos atores é tão realista que assusta quem assiste, trazendo um peso maior à narrativa. Um dos melhores filmes do ano no quesito enredo e atuação.
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