Edição 78 - Outubro de 2017
Jornal-Laboratório Universidade Federal do Espírito Santo
Fonte: Reprodução/Brasil de Fato.
Ocupações revelam desigualdade habitacional no ES
PAG 10
Foto: Reprodução / Internet.
Foto: Reprodução/Robson Barros Torres
Pirataria de softwares: quem ganha com isso e como se ver livre dela. PAG 4
Aumenta a intolerância contra as religiões de matriz africana PAG 8
“Cura gay” gera sofrimento para a comunidade LGBT+ PAG 6
Assédio: uma questão cultural PAG 3
Homens são as maiores vítimas de suicídio. PAG 12
editorial No Entanto Jornal Laboratorial produzido pelos alunos do 3º período de Comunicação Social - Jornalismo da Ufes para a matéria Laboratório de Jornalismo Impresso Equipe Antonio Eduardo Nogueira, Álvaro Guaresqui, Carla Bianca Nigro, Felipe Khoury, Giovanni Werneck, Giulia dos Reis, Heitor Mielke, Isabella de Paula, José Renato Siqueira, Kelly Mesquita, Klayton de Melo, Lavynia Lorenção, Ludiana Zucolotto, Lydia Lourenço, Marcela Lovatti, Marcos Paulo Federici, Marcus Vinícius de Souza, Maria Clara Stecca, Maria Fernanda Conti, Marina Coutinho, Matheus Souza e Vitor Pinheiro
Editores Felipe Khoury, Marcos Paulo Federici, Maria Clara Stecca e Maria Fernanda Conti
Diagramação Álvaro Guaresqui, Giovanni Werneck, Kelly Mesquita, Lavynia Lorenção e Matheus Souza Logo Gabriel Moraes Professor orientador Rafael Bellan
E mais um ciclo se inicia para o No Entanto. Agora, com os futuros jornalistas do 2016/2, o conteúdo do periódico vai propor discussões de temas pertinentes e críticos não só para dentro do campus, mas para a sociedade em geral, na busca por um vínculo cada vez mais sólido com a comunidade. Nesta edição, a de número 78, vemos a importância de trazer uma abordagem diversificada sobre algumas temáticas em alta na mídia. Assuntos como suicídio e intolerância religiosa podem ser encontrados aqui sem resquícios de qualquer tabu. A edição traz também temas como direito à moradia, pirataria de softwares e dietas populares que colocam em risco a saúde. Como destaque, promovemos o debate sobre o desamparo e sofrimento da comunidade LGBT+ quando submetidos a tratamentos psicológicos que buscam reverter a orientação sexual, popularmente conhecida como “cura gay”. A produção laboratorial nos colocou a frente de novos desafios, experimentações, possibilitando-nos a trazer fatos que valem a pena serem destrinchados. Empenhados na elaboração deste jornal, esperamos que tirem suas próprias interpretações e conclusões sobre o conteúdo produzido por nós. Boa leitura! A turma.
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No Entanto Edição 78 - Outubro de 2017 cidades
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Assédio em ônibus é recorrente na Grande Vitória A prática ocorre principalmente nos horários de pico, quando os ônibus estão lotados. Carla Bianca Nigro e Marcos Frederici
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m 29 de agosto, um homem ejaculou em uma passageira dentro de um ônibus na cidade de São Paulo. Com a repercussão dada pela mídia nacional, cresceu o debate sobre o assédio em transportes coletivos praticados principalmente por homens contra mulheres. Na pesquisa de Mobilidade Urbana de 2017 da Rede Nossa São Paulo e do Cidade dos Sonhos, foram ouvidas 1603 pessoas. Dessas, 62% disseram que o assédio é o maior problema dos ônibus de São Paulo. No Espirito Santo não há índices oficiais de casos de assédio deste tipo. O No Entanto realizou uma enquete virtual com 137 pessoas (29 homens e 108 mulheres) e descobriu que mais da metade dos participantes já foram assediados. “Um homem que já estava no coletivo estava com o pênis totalmente para fora da calça se masturbando. As pessoas iam entrando, vendo, e evitando o assento ao redor dele. O cobrador tentava virar o rosto para não encarar, e foi isso durante o percurso, que era de ônibus de bairro para o terminal” relata a produtora de eventos, K.D de 31 anos. Quando questionada sobre o comportamento do cobrador e motorista em relação ao homem, informou que mesmo tendo conhecimento do que estava acontecendo, eles fingiram não ter visto.
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Sul 85% Sudeste 86% Nordeste 86% Norte 88% Centro-Oeste 92%
A Região Centro-Oeste é onde as mulheres mais sofreram assédio nas ruas, com 92% de incidência do problema. Em seguida, vêm Norte (88%), Nordeste e Sudeste (86%) e Sul (85%). FONTE: Pesquisa divulgada pela organização internacional de combate à pobreza ActionAid.
Em 2014, o deputado Euclério Sampaio (PDT), protocolou um projeto de lei conhecido como Ônibus Rosa GV, que visava destinar parte da frota para uso exclusivo de mulheres nos horários de pico. No projeto ele afirma que “a mulher que conquistou o direito o voto, ocupa cargos de direção importantes no país, ainda tem que conviver com situações pré-históricas extremamente depreciativas no interior dos coletivos”. Entretanto, ativistas feministas afirmam que a medida acaba sendo uma forma de segregar e culpabilizar a vitima pela violência que sofre.
A professora Maria Beatriz Nader, historiadora, explica que os assédios ocorrem devido a cultura machista secular estabelecida em nossa sociedade. “O machismo dá a “todos” homens o direito de abordar “todas” mulheres da forma que lhe for mais conveniente, notadamente no que diz respeito aos seus trunfos sociais e sexuais, reforçando o poder masculino”, esclarece. Por ser visto socialmente como um crime que não oferece grandes danos, a impunidade é uma das razões que tornam o assedio tão recorrente. Além desse motivo, é muito difícil provar essa prática e as pessoas raramente estão dispostas a serem testemunhas. “Muitas vitimas sofrem o eterno problema de sentir medo de serem culpabilizadas pelo assédio sofrido e até mesmo vergonha de terem passado por situações tão constrangedoras...”, pondera Nader. Por outro lado, os culpados sabem que no máximo serão expulsos do ônibus. A estudante de mestrado em Artes, Aline Meirelles, relata que teve que mudar seus hábitos devido ao assédio: “ Acho que tinha uns 12 anos, quando me senti bastante constrangida com essa situação de alguém se encostando em mim, mudei de lugar, passei a usar a mochila nas costas quando alguém me pedia para segurar minha mochila eu recusava por que a usava como proteção mesmo”. Nader aponta como medidas que podem ser tomadas para combater o assedio, o debate do assunto nas mídias e a educação das crianças nas questões de gênero com enfoque na desigualdade social entre homens e mulheres.
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P1R474R1A D3 S0F7W4R3S: Estratégia, ética e liberdade.
Empresas desenvolvedoras de software estimulam a pirataria para aumentar as vendas. Softwares livres são alternativa. Álvaro Guaresqui, Felipe Khoury e Kelly Lacerda.
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hotoshop, Illustrator, Word, PowerPoint, Excel e AutoCAD. São inúmeros os softwares convencionados como ferramentas padrão no mercado. Empresas que investem em desenvolvimento elevam muitas vezes o preço desses produtos, o que acaba acarretando a reprodução de cópias ilegais (piratas). Segundo pesquisa da BSA (Business Software Alliance), quase 50% dos softwares instalados no Brasil são “piratas”. Para o especialista em tecnologia, Gilberto Sudré, o alto número de usuários com licenças ilegais não prejudica o volume de vendas das versões originais, o que favorece as empresas desenvolvedoras, uma vez que colabora para uma difusão em larga escala do produto. O coordenador e professor do curso de ciência da computação da UFES, Jadir Eduardo Souza Lucas, explica que essas empresas se deixam reproduzir ilegalmente (piratear) para formar uma “cultura”
do software, tornando seu usuário dependente. Tal acomodação acaba por fazê-lo a trabalhar sempre com a mesma ferramenta. Entretanto, quando esse contexto é inserido no ambiente corporativo, como em universidades e esferas governamentais, essas instituições se vêem reféns da compra desses produtos. Sudré alerta que um dos problemas do software proprietário não é apenas o elevado custo, mas também o fato do código desses programas serem fechado, o que muitas vezes carrega consigo ferramentas para coleta de dados, tendo essas empresas acesso a informações privadas do usuário. A professora mestra em filosofia Luiza Helena Hilgert indaga a existência de prejuízos gerados pela reprodução de softwares pirateados, e ainda pondera que a pirataria não chega a ser um problema ético. “Há alguém que perde com o uso de software pirata? Será que as ricas empresas de tecnologia perdem dinheiro com a pirataria?”. Ela também debate a abordagem moral do uso dos programas. “Ser ético não significa, necessariamente, ser legalista. Cum-
prir a lei não garante ser ético. A ética deve estar do lado do humano e não do lucro”, polemiza. A professora ainda questiona o porquê de pessoas continuarem usando programas pagos, já que, a cada dia, aparecem novos softwares de licenças gratuitas. Dessa forma, uma proposta, apontada pelos dois especialistas em tecnologia citados para conciliar a ética com a funcionalidade é o uso dos softwares livres. Porém, para isso, seria necessário haver uma mudança na mentalidade dos usuários. Os softwares livres são mais inclusivos que os proprietários, uma vez que são de fácil acesso para qualquer usuário, pois são gratuitos, e ainda são mais seguros. Inclusive, possuem o seu código aberto, o que permite o mesmo ter a certeza do que está utilizando. Hoje, os softwares livres atingiram um nível de maturidade capaz de substituir perfeitamente os softwares proprietários, um exemplo disso é o LibreOffice, que, para Sudré, consegue suprir mais de 90% das necessidades de um usuário comum em seu dia a dia.
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Troque seis por meia-dúzia: alternativas livres e gratuitas aos softwares proprietário Preparamos uma lista com alguns dos softwares propietário mais comuns do mercado e suas equivalências* livres e gratuituitas. Software proprietário
Software livre
Disponível em:
Microsoft Office (Word, Excel, PowerPoint)
Libre Office (Writer, Calc, Impress)
www.pt-br.libreoffice.org
Adobe Photoshop
Gimp
www.gimp.org
Adobe Audition
Audacity
www.audacityteam.org/
Microsoft Outlook
Mozilla Thunderbird
www.mozilla.org/pt-BR/thunderbird
Adobe Illustrator / CorelDraw
Inkscape
www.inkscape.org/pt-br/baixar/
Adobe InDesign
Scribus
www.scribus.net/
*As equivalências apresentadas se referem às finalidades básicas dos softwares, quando comparados. Contudo os programas citados não são cópias fieis uns aos outros, logo existem ferramentas e atriuições individuais em cada um deles. Portanto, para usuários mais avançados, alguns softwares podem não corresponder tecnicamente a suas alternativas pagas.
Proprietário, livre e gratuito. Entenda a diferença. Nem tudo que é grátis é livre. Nem tudo que é pago é fechado. Software proprietário
Software livre
Softwares gratuitos
É desenvolvido por empresas privadas e as licenças são pagas. Normalmente possuem o código fechado, o que não permite alterações, ou mesmo conhecimento do usuário. No entanto, também podem ser distribuidos com o código aberto. Exemplos mais comuns no mercado: Pacote Office, Pacote Adobe e Windows.
São gratuitos e, normalmente, desenvolvidos por comunidades e organizações sem fins lucrativos. Permite não só que o usuário tenha acesso o código fonte, como também possibilita que ele faça alterações. Exemplos mais comuns no mercado: LibreOffice, Mozilla Firefox, Mozilla Thunderbird, Gimp, Inkscape, Ubunto e Linux.
Normalmente são desenvolvidos por empresas privadas, com licenças que não requerem pagamento. Mas, ao contrário do software livre, o usuário não tem acesso ao código fonte do programa e nem pode alterá-lo. Exemplos mais comuns no mercado: TeamViwer (grátis para uso não comercial).
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Pacientes denunciam consequências da chamada “cura gay” Relatos demonstram a importância de ajuda para a comunidade LGBT+ e a infração do Código de Ética do Psicólogo
Maria Fernanda Conti e Marina Coutinho
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o último dia 15, um juiz federal do DF concedeu uma liminar que autoriza a assistência psicológica em casos de reorientação sexual, decisão que, consequentemente, dá brechas para o tratamento da homossexualidade como patologia. O magistrado Waldemar Cláudio de Carvalho afirmou que a proibição desse tipo de tratamento afeta a “liberdade científica do país”. Ele acolheu uma ação movida na semana anterior pela psicóloga Rozângela Alves Justino, que foi censurada em 2009 pelo Conselho Federal de Medicina em razão de oferecer a terapia reparativa aos seus pacientes. Segundo a resolução 001/1999 do Conselho Federal de Psicologia, ‘os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados’. Confirmando a importância da norma, o órgão entrou com um recurso contra a liminar de Waldemar Cláudio de Carvalho, alegando que tal decisão viola os direitos humanos e não possui pertinência de que trará resultados para os pacientes. Ao contrário: em nota, disse que “as
terapias de reversão sexual não têm resolutividade, como apontam estudos feitos pelas comunidades científicas nacional e internacional, além de provocarem sequelas e agravos ao sofrimento psíquico.” O No Entanto recolheu depoimentos de pessoas que passaram pelas terapias de “reversão” sexual e conversou com uma especialista para entender como o tratamento pode ser um processo assimilador de problemas emocionais. O que deve ser feito para ajudar esses indivíduos? Existe a possibilidade de uma reparação sexual? O que é, de fato, a chamada “cura gay”? Experiências Carla*, uma mulher lésbica e com menos de 18 anos, foi submetida às terapias pelos próprios parentes. “A minha família procurou a igreja para que pudessem me indicar alguma terapia e então descobriram que o próprio pastor era um psicanalista”, relembra. O profissional garantiu que poderia reverter a condição sexual da jovem. “Todos os dias tinha que ir a igreja pra me ungirem com óleo. Fui proibida por ele de jogar futebol; eu não podia andar com as meninas da igreja e nem cortar o cabelo; todos os dias o meu celular era tomado e analisado pelo pastor para ver se eu estava mentindo ou me envolvendo com alguma mulher.”
Depois desses eventos, sofreu perseguição da cúpula religiosa e resolveu mudar de cidade. Ela diz ter adquirido síndrome do pânico e depressão depois do tratamento, sofrendo até hoje com as doenças. Também se considera uma pessoa mais desconfiada, introvertida e que sofre com picos agudos de estresse. “Estouro com facilidade porque sinto que tenho que me defender das pessoas o tempo todo”, diz a jovem. A transexual e lésbica Márcia* tem uma história parecida com a de Carla. Aos 17 anos, foi obrigada pela família a ir em uma psicóloga que tentava convencê-la de que ser parte do grupo LGBT+ era uma agressão para si e para seus entes. “Foi breve, pois me recusei a continuar indo depois da terceira sessão. Mas a ideia de que tinha algo errado em mim continuou. Durante muito tempo permaneci me sentindo como se fosse doente, como se fosse uma espécie de pecado ambulante e que tinha algo de errado comigo”. Devido o sentimento de culpa, ela até se submeteu a um relacionamento heterossexual. “Forcei-me a ficar envolvida por um homem e a tentar ser uma pessoa cis, só que ambas as tentativas fizeram minha depressão piorar”, relata.
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Mesmo que hoje aceite sua condição, Márcia ainda possui a sensação de insegurança sobre quem é. “Até cheguei a tentar suicídio, achando que, ‘por não ter conserto’, só seria um peso para minha família. Como a psicóloga havia dito, eu ‘era uma pessoa sem honra’”, desabafa. A tentativa dos pais de Carla e Márcia está longe de ser um exemplo isolado. São comuns os casos de jovens e adolescentes que são obrigados a passarem por situações similares. Muitas vezes, a motivação dos grupos (predominantemente família) que os induzem é a religião. A partir desse pilar, ocorre a disseminação na sociedade de que a heterossexualidade é a única disposição aceitável.
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nunciar, só que, “apesar dessa limi- guém a procurar um psicólogo nos nar ser de agora, sabemos que essas termos de ‘cura gay’ é a nossa sopráticas existem há muito tempo e ciedade, onde a homofobia está tão o conselho não consegue fiscalizar presente”, diz Laís. A especialista também aconsese não houver denúncia” , afirma a lhou sobre o que pode ser feito para psicóloga Lais, que também é pes- ajudar alguém que desenvolveu alquisadora sobre o bem-estar dos gum tipo de consequência psíquihomossexuais na Universidade Fe- ca. Segundo ela, o apoio dos amigos é fundamental, principalmente deral do Espírito Santo (UFES). Ela explica que, ao ser subme- amigos que também são LGBTs tido compulsoriamente às terapias, eles podem compartilhar vivências ocasiona conflitos que se inten- muito parecidas. Acolher, estar por perto, fortalecer essa pessoa, ficar sificam principalmente caso esse feliz pelo que ela é e empoderá-la. indivíduo já tenha se reconhecido Independente da forma como enhomossexual. Ao pensar que tem cara a sexualidade do outro, o ideuma determinada orientação, a qual al é amparar a pessoa para que ela posteriormente é fragmentada e dita consiga seguir em frente. Existem também ONGs como a como errada, questiona sua identidade. E tudo isso pode ser um pro- Associação GOLD (Grupo Orgucesso doloroso. Uma vez que não lho, Liberdade e Dignidade), uma entidade sem fins lucrativos fundase encontra a ‘cura’ esperada, pois da em 2005 com a intenção de proa orientação sexual/identidade de mover o apoio e para defender os Terapias reparativas e a gênero não se trata de doença, algu- direitos da população LGBT capimoralidade mas pessoas escolhem se assumir xaba. Tem como missão “promover para si mesmas e para outros ao seu a cidadania e defender os direitos de A psicóloga e docente da Faculda- redor, havendo uma reconstrução lésbicas, gays, bissexuais, travestis des Integradas Espírito-Santense da identidade que era dele desde o e transexuais, contribuindo para a (FAESA), Laís Sudré, explica que início. Outras, por sua vez, não con- construção de uma democracia sem quaisquer formas de discriminação, existem técnicas que possam mol- seguem atingir a auto-aceitação. afirmando a livre orientação sexual dar o comportamento de uma pese identidades de gênero”. soa, porém isso não quer dizer que A importância da ajuda E para medidas sérias e imehaverá mudanças na orientação sediatas há o CVV – Centro de Va“Ser homossexual em si não é lorização da Vida, disponível no xual dela. “Orientação a gente não um sofrimento, a questão é como muda, podemos continuar sentindo a nossa sociedade lida com esse número 141, que realiza apoio desejo, atração, afeto pelo indiví- fato. Há crescentes práticas de pre- emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntariamente duo do mesmo gênero, e a pessoa conceito e discriminação. Partimos e gratuitamente todas as pessoas pode escolher não se relacionar, do pressuposto que o que leva al- que querem conversar. mas isso provavelmente levaria a um adoecimento psíquico. Então existem? Existem, mas a questão é: a custa de quê?” indagou. Laís aponta que os psicólogos não tem o poder de mudar o interesse sexual de nenhum indivíduo. De acordo com o Código de Ética do Psicólogo, as terapias reparativas ferem com o compromisso moral da profissão. O Conselho Regional de Psicologia (CRP) vem divulgan- Algumas pessoas escolhem se assumir para si mesmas e para outros ao do como podemos fazer para de- seu redor, havendo uma reconstrução da identidade que era desde o início
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Religiões de matriz africana sofrem com ataques de intolerância e preconceito Após aumento da intolerância nos últimos meses, religiosos de matrizes africanas se reúnem em estados do Brasil para pedirem o fim da violência
Foto: Reprodução/Jornal O Globo Giovanni Werneck, Isabella de Paula, Lavynia Lorenção e Matheus de Souza
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m recente levantamento divulgado pelo Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania verificou que, em 2016, foram registradas 50 novas denúncias de discriminação religiosa para cada uma feita em 2011. Isso representa um aumento de 5060%. A maioria dessas acusações foram realizadas por adeptos a religiões de matrizes africanas. Prestes a completar 29 anos desde a sua promulgação, A Constituição Federal brasileira, marco importante na história do Brasil, trouxe a garantia de direitos fundamentais à nação como saúde, educação, igualdade e também a liberdade. No entanto, a realidade vivida hoje no país não corresponde ao ideal encontrado na lei.
Apenas no início do mês de setembro, mais de sete casos de violência foram cometidos contra religiosos praticantes do Candomblé e comunicados à polícia no estado do Rio de Janeiro. Dentre estes, um ganhou destaque devido à exposição de um vídeo nas redes sociais, no qual criminosos obrigam uma mãe de santo a quebrar objetos e imagens de uma celebração religiosa. Em consequência dessas atividades criminosas, a décima caminhada em defesa da liberdade religiosa foi organizada em Copacabana, zona sul do Rio, espaço onde fiéis puderam participar como forma de indignação pelos atos de agressividade e busca por justiça e liberdade para seguirem a sua fé sem impedimentos. Houve no mesmo dia, no estado do Espírito Santo, uma passeata que reuniu diversas casas de Candomblé e Umbanda da Grande Vitória em Camburi, na capital, em prol do combate à intolerância e ao preconceito à essa crença.
Imagem da passeata contra a intolerância religiosa em Vitória, Espírito Santo. O vice-presidente da Casa de Umbanda denominada Estrela Guia situada em Cariacica e participante da passeata em Vitória, Robson Barros Torres, relata algumas dificuldades enfrentadas hoje pelos religiosos tanto umbandistas quanto candomblecistas, que muitas vezes evitam de expor suas crenças como forma de evitar a violência ou até mesmo a exclusão social por parte da população. “Um problema muito grande hoje é que as pessoas associam a Umbanda à ação demoníaca e na verdade, a matriz africana não entende da mesma maneira o que o cristianismo tem como bem e mal ”, expõe. Além disso, ele ressalta a seriedade de conectar essas religiões a magia negativa. “Essa coisa é muito séria, de as pessoas associarem o trabalho das casas a magia que chamam de negra ou negativa. Na Umbanda, só se trabalha com energia positiva de cura” , esclarece. Torres diz que um dos problemas
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9 Foto: Reprodução/Robson Barros Torres
que atrai a intolerância e a violência vem da falta de conhecimento e reconhecimento da cultura afro no Brasil como parte também da imersão cultural brasileira. Para a adepta ao Candomblé Elaine Rosa, da casa Lle axe tafa awre, no município de Serra, ES, falta hoje uma representatividade política que promova um incentivo ao conhecimento da cultura africana. Rosa aponta que a pouca representação ajuda no aumento da intolerância, que não ocorre por ausência de informação sobre as matrizes africanas, mas sim Passeata contra a intolerância religiosa em Vitória, Espírito Santo por consequência do preconceito en- também já passou por casos pare- raízes discriminatórias que violam raizado na sociedade que não permite cidos, porém conseguiu solucionar os direitos individuais e coletivos entender a religião. sozinha, não houve envolvimento da das pessoas, ao mesmo tempo que escola. unifique o respeito e liberdade de Casos de discriminação em todos os cidadãos, independenteescolas de Vitória Dever do Estado mente de suas crenças e convicções. Hoje, não existem órgãos que Quando perguntada sobre alguma O Brasil, reconhecido como um protejam as vítimas de intolerância ofensa em seu espaço de trabalho Estado Democrático de Direito e em todos os estados brasileiros, e estudo, Elaine Rosa diz nunca organizado por uma Constituição não há uma relação efetiva no país ter sofrido diretamente algum tipo Federal, tem como um de seus que permita a checagem de dados de preconceito, contudo suas duas fundamentos a dignidade por uma filhas já passaram por casos de Constituição Federal, tem como sobre denúncias e falta ainda o hostilidade em escolas da Grande um de seus fundamentos a digni- cumprimento da lei sobre a puniVitória. Em um dos casos narrados dade da pessoa humana e institui ção ao transgressor. pela candomblecista, ela relata que no artigo 5° da Constituição, os O que diz a jurisdição: “De teve a necessidade de ir à escola direitos individuais e coletivos do acordo com o Código Penal procurar uma solução. “O caso da povo, que consta a inviolabilidaminha filha mais velha aconteceu de da liberdade de consciência e brasileiro, no artigo 208, Decrelogo quando ela foi iniciada- ter- crença, sendo assegurado o livre to Lei:2848/40, caso haja ação mo utilizado no Candomblé- na exercício de culto e manifestações agressiva, ofensas e tratamento diferenciado devido à crença religião. Por causa dos rituais, ela religiosas. Além disso, em 2011 religiosa, tem-se a punição de precisava ficar com a cabeça co- foi promulgada a Lei n° 5931, que detenção, de um mês a um ano, berta.Além de piadas, outras crian- dispõe sobre a criação da Delegaou multa. Ainda a Lei n° 9459 ças retiravam a touca que cobria a cia de crimes raciais e delitos de especifica variadas formas de cabeça dela”. intolerância, porém até hoje não discriminação e suas respectivas Após o ocorrido, a mãe foi até a houve implementação de uma de- penalidades perante o Estado escola expor à coordenação sobre o legacia especializada nestes casos. brasileiro.” caso, e ameaçou prestar uma queixa Cobra-se do governo execuções na polícia se nada fosse feito mediante de políticas públicas eficazes que o acontecimento. Assim que foi acio- nacionalizem o debate sobre a in- Durante a execução dessa matéria foram noticiados oito ataques à religões africanas nada, a escola repreendeu as crianças tolerância e criem incentivos de em São Paulo, além de um incêndio crimie programou aulas sobre o respeito a inserção das religiões afro no setor noso a uma casa de Candomblé, também em São Paulo. religiões africanas. A filha mais nova educacional do país, desfazendo as
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Movimentos retomam luta por moradia em Vitória
Foto: Reprodução/Brasil de Fato.
Após reintegração de posse do IAPI famílias ocupantes resistem e migram para outros prédios no centro.
Giulia Reis, Lydia Lourenço e Maria Clara Stecca
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os últimos meses a luta por moradia tem se intensificado no Espírito Santo, sobretudo após a ocupação do prédio do antigo Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI). O prédio sofreu reintegração de posse no final de julho e obrigou que as famílias ocupantes migrassem para outros prédios localizados no Centro de Vitória. Essa movimentação deu início ao coletivo Resistência Urbana, aliança formada pelo Movimento Nacional de Luta por Moradia (MNLM) e o Brigadas Populares que juntos prestam apoio as novas ocupações dos edifícios Santa Cecília e Sagres. O coletivo forma uma frente ampla que atua no prestamento de
assessoria jurídica gratuita, na articulação de doações de alimentos e produtos de limpeza e higiene e na mobilização política das cerca de 70 famílias ocupantes. Além da organização dos próprios ocupantes, uma preocupação dos militantes é com a conscientização da população externa às ocupações através de atos e debates públicos. A luta do Resistência Urbana vai além da habitação ,envolvendo a mobilidade urbana, acesso a direitos básicos como saúde e educação e,sobretudo a consciência política dos cidadãos. “A gente acredita que não é só por mero solidarismo, por mera caridade que a gente vai lutar por moradia” afirma o membro do Brigadas populares João Alexandre Wyatt. A reivindicação por moradia, um direito fundamental de todo cidadão de acordo com o Artº 6 da constituição federal de 1988,
não é um assunto restrito ao nosso estado, havendo outras frentes do movimento por todo país, que segundo dados de 2015 da Pesquisa Nacional por amostra de domicílios (Pnad) conta com 6,18 milhões de famílias em situação de déficit habitacional, com um crescimento anual de 30% de lares afetados por gastos excessivos com o aluguel, um dos principais agravantes do déficit. No Espírito Santo de acordo com o levantamento do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) 19,75 % das famílias registradas no CadÚnico encontram-se em situação de déficit. A pesquisa sobre os problemas com habitação levou em consideração quatro quesitos: a habitação precária, a coabitação familiar, adensamento excessivo e o gasto excessivo com o aluguel. Apesar do índice de desemprego ser elevado, 13,3% até maio
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A especulação acontece quando não se constrói, quando não se faz investimentos em um terreno aguardando sua valorização. Muitos vazios urbanos surgem devido à especulação; são aqueles espaços desocupados dentro do perímetro urbano, onde poderiam existir supermercados, parques e residências.
A ocupação atual No último dia 21, o Brigadas Populares organizou uma apresentação aberta ao público na Ocupação de Santa Cecília, localizada no Centro de Vitória,
próximo ao Museu do Negro (MUCANE) . O evento visava promover uma discussão acerca da situação socioeconômica atual no contexto da ocupação. Movimento Nacional de Luta por Moradia Criado em Julho de 1990, no I Encontro Nacional dos Movimentos de Moradia com atuação em 14 estados, o movimento inicialmente contava com ajuda de comunidades religiosas. Atualmente conta com apoio da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST).
Brigadas Populares Iniciado em 2011, é uma organização política autônoma que atua na mobilização popular através de diversas frentes. A Frente de Reforma Urbana, envolvida nas ocupações em Vitória, tem o objetivo de debater assuntos relacionados aos planejamentos das cidades a fim de promover a revitalização dos centros urbanos.
Foto : Reprodução / Brigadas Populares no ES.
deste ano, a doutora em arquitetura e urbanismo e participante do levantamento, Isabela Muniz, acredita que os problemas relacionados à moradia são estruturais. Grande parte da população é de baixa renda e não tem acesso aos planos habitacionais do governo, que geralmente, atende faixa de renda de 3 a 5 salários mínimos. Entretanto as questões relacionadas ao direito à moradia não se restringem às deficiências habitacionais, mas se relacionam com o planejamento das cidades e a especulação imobiliária que são argumentos muito utilizados pelos ocupantes e os movimentos de apoio. Segundo João Alexandre os prédios desocupados do centro estão
descumprindo sua função social a fim de valorizar os espaços urbanos para gerar lucro, o que ocorre na maioria das vezes através da ex expulsão da parte pobre da população para as periferias e morros. Uma das coordenadoras do MNLM e ativista na defesa do direito à habitação no estado há 35 anos, Maria Clara da Silva, entende que as iniciativas públicas relacionadas à moradia favorecem os interesses imobiliários ao invés da população mais carente. Para a militante a grande dificuldade é fazer com que essa parcela mais vulnerável tenha conhecimento de seus direitos. “O povo está acostumado a pedir favores, e temos que trabalhar nessa mudança de mentalidade para que eles entendam o que é o movimento, para que esse seja um processo emancipatório”, declara Silva.
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Ocupantes e moradores próximos às ocupações discutem novas estratégias mediante a crise.
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Suicídio vitimiza mais homens do que mulheres
Estudos realizados no ano de 2012 mostram que os homens se suicidam aproximadamente três vezes mais do que as mulheres José Renato Campos, Klayton Melo, e Marcela Delatorre
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e acordo com o CVV (Centro de Valorização da Vida), 32 brasileiros morrem por dia vítimas de suicídio. E esse número só vem aumentando. Tal dado se torna ainda mais surpreendente por ser um assunto pouco debatido pela sociedade e também pela mídia. Apesar de uma crença comum de que as mulheres são as maiores vítimas de suicídio, os homens são os que lideram as estatísticas. A partir de uma apuração feita por meio do Monitor da Violência no site do G1, entre os dias 21 e 27 de agosto deste ano, ocorreram 89 casos de suicídio no Brasil, sendo que 66 foram cometidos por homens, 22 por mulheres e um não
foi informado. Além disso, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o Brasil é o oitavo país com mais mortes por esse tipo. Outro dado surpreendente é que, em um grupo de pessoas entre 15 e 29 anos, o suicídio é a segunda maior causa de morte no mundo. Para a psicóloga Renata Gastmann, é possível associar a questão de os homens serem as maiores vítimas por conta de uma menor vulnerabilidade emocional. “As mulheres costumam ser mais emotivas e isso facilita a criação de vínculos que ajudam a evitar o suicídio. Há também o fato de vivermos em uma sociedade patriarcal em que o homem ainda tem o papel provedor para a família e ao não conseguir cumprir esse papel, ele pode acabar se sentindo desnecessário e por não serem tão emocionais a criação de vínculos é
mais complicada”, disse. Bernardo Corielo, também psicólogo, diz que a discussão é importante por ser uma questão de conhecimento para pessoas que estão de fora. “O tabu é o moralismo. Inclusive em relação à depressão, que é um dos fatores que pode acabar levando ao suicídio. Hoje as pessoas não são respeitadas por se sentirem mal, porque ninguém faz ideia do que a outra está vivendo e lutando”, Com o intuito de tentar mudar essa realidade e estimular a discussão, as instituições CVV, CFM (Conselho Federal de Medicina) e ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) se juntaram e iniciaram no Brasil o projeto Setembro Amarelo, no ano de 2015, como uma forma de incentivar a divulgação da causa e as formas de prevenção. Porém, é um trabalho
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Encarando possíveis casos de suicídio Especialistas aconselham a não tentar convencer o indivíduo que auilo é uma fase, tampouco tentar indicar possíveis soluções para o problema, pois, dessa maneira, a sensação de culpa ou de estar sendo julgado pode ser intensificada. A melhor forma de lidar com pessoas que pensam ou já tentaram o suicídio é cuidar, dar apoio, não permitir que fiquem muito sozinhas e criar vínculos que mostrem que ela tem com quem contar. Em relação à mídia, existe um manual do jornalista, feito pela OMS, que propõe uma forma de
Foto: Reprodução / TV Ufes.
ainda muito recente e com pouca repercussão diária. Segundo a psicóloga Lara Andrade, sabe-se que cerca de 93% das pessoas que cometem suicídio possuem histórico de algum transtorno mental - na maioria das vezes depressão e transtorno bipolar. “O suicídio se configura enquanto uma questão de saúde pública. Se boa parte das pessoas que cometem suicídio possuem algum tipo de transtorno, o foco de prevenção tem que estar relacionado ao tratamento e cuidado do mesmo. Isso inclui acompanhamento psiquiátrico e psicológico ”, afirmou.
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abordar casos de suicídio, tanto em circunstâncias gerais quanto específicas, e apontar o que deve ser evitado no momento em que for ocorrer uma cobertura. Sabe-se que os meios de comunicação podem acabar influenciando a ocorrência de novos suicídios caso seja usada uma maneira errada de tratar o assunto, e é por isso que ainda existe um tabu dentro da mídia sobre o assunto. De acordo com o manual, é necessário realizar medidas que impeçam exageros. Deve-se evitar descrições detalhadas do método utilizado, reconhecer que uma variedade de fatores contribui para o suicídio e que nunca é resultado de um evento ou fator único. É preciso esclarecer em âmbito midiático que o comportamento suicida pode estar associado com depressão, sendo esta é uma condição tratável. Além disso, é importante também listar os sinais de alerta para comportamentos suicidas e compartilhar informações de apoio, como o número do CVV. CVV - LIGUE 141 Endereços no ES:
Estudantes dos cursos de Filosofia e Direito da Ufes realizaram o I Seminário Interdisciplinar sobre o Suicídio, como parte da programação da Campanha Setembro Amarelo. As apresentações dos seminários ocorreram nos dias 25, 26 e 27 de setembro.
COMO AJUDAR? Fique atento aos sinais •
Falar abertamento sobre querer se matar;
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Dizer que não está mais encontrando sentido na vida;
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Dizer que sente-se um peso ou um fardo para as pessoas;
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Apresentar mudanças inesperadas de comportamento;
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Reunir amigos / familiares para uma despedida.
VITÓRIA: AV. Alberto Torres, nº 153 Jucutuquara. (27) 3223-4111 LINHARES: Av. Governador Santos Neves, nº 999 Centro. (27) 3151-4110 www.cvv.org.br/ quero-conversar
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Dietas restritivas ganham cada vez mais adeptos Restrição alimentar pode prejudicar a saúde. Nutricionistas recomendam acompanhamento
Foto: Vitor Pinheiro Heitor Mielke, Marcus Vinícius de Souza e Vitor Pinheiro
É
cada vez mais comum em nossa sociedade notar a busca de pessoas por técnicas de emagrecimento. Mas, para isso, algumas pessoas acabam radicalizando e, consequentemente, prejudicando a saúde a longo prazo. Uma prática que vem se tornando normal é a apropriação de dietas ‘’não-oficiais’’, geralmente encontradas na internet ou recomendadas por amigos, sem a procura de um profissional. Exemplos dessas práticas são o corte de glúten e o jejum intermitente, dieta esta que consiste basicamente em menos refeições ao dia. A estudante de relações internacionais Brenda Carvalho aderiu há dois meses o corte de glúten na dieta e perdeu aproximadamente 3 quilos.
Segundo ela, nas primeiras semanas diminuiu bastante o índice de glúten na alimentação, restringindo a, no máximo, uma ou duas refeições ao dia. As vítimas do corte foram principalmente os pães e bolos. A partir de meados da terceira semana a restrição passou a ser por completo. Brenda descreveu sua experiência para o No Entanto: “Dá realmente pra ver o resultado consideravelmente rápido. Já nas primeiras semanas eu perdi aquela sensação de inchaço e do abdômen inflado, um pouco mais tarde os números vieram na balança”. A estudante ainda ressalta que o principal efeito negativo da restrição é o aumento considerável da fome, o que a levou a uma pequena reeducação alimentar e um aumento do consumo de folhas como alface e agrião, ajudando- a suprir a saciedade. Brenda tem centrado sua dieta no consumo de carboidratos
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aliados com proteínas na, maior parte, de carnes magras. É importante dar o adendo que os dados sobre os malefícios do glúten são muito confusos e não existe nenhum dado científico que comprove que o glúten faz mal a saúde a não ser que se trate do caso de alguma espécie de alergia. Emanuelle Souza é pedagoga e há três semanas iniciou a dieta do jejum intermitente, que consiste em longos períodos sem comer, podendo variar de 8 a 36 horas sem ingerir alimentos, normalmente com um consumo controlado de água. “Comecei a dieta por indicação de uma amiga, não faço nenhum exercício físico, somente o jejum. A princípio, pensei que sentiria fome, mas não sinto fome nenhuma”. Ela completa ainda que não tem prescrição de nenhum nutricionista e ainda não notou diferença. Esse jejum pode variar em sua forma de acordo com a necessidade e gosto da pessoa e não é recomendado em hipótese alguma a crianças e idosos. A nutricionista Monara de Martin explica que esse jejum elimina apenas a massa magra, e não a gordura. “A pessoa que adere ao jejum intermitente vai perder peso muito rápido em uma questão de tempo pequena, mas depois isso vai parar. É normal ouvir que foi perdido de 8 a 10 kg em 2 meses por exemplo, mas se a pessoa não fizer uma dieta após isso, não consegue mais perder peso nenhum.” Ela alerta também que a prática de atividades físicas em jejum não é recomendada e aponta outros malefícios da restrição alimentar agressiva. “Ficar um longo tempo sem se alimentar pode trazer vários problemas a saúde, podendo causar enjoo, tontura e até mesmo desmaio”. Fato é que a busca pelo emagrecimento afeta diretamente a indústria de alimentos. Segundo o portal G1, a venda de alimentos especiais, que abrangem em sua maioria alimentos sem glúten e lactose, cresceu 98% nos últimos cinco anos.