Edição 75-Julho de 2017
Jornal Laboratorial Universidade Federal do Espírito Santo
Capixabas marcam presença em mobilização no DF Foto: Vinicius Viana
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Foto: Israel Zuqui
Estudantes relatam dificuldades sobre mobilidade acadêmica PÁG 10
Oncologia e emergência do Infantil terão novo endereço PÁG 12
Igrejas milionárias patrocinadas pela fé PÁG 03
Casais que ultrapassam os limites do tradicional PÁG 8
Foto: Lucas Santos
Foto: Daniel Pasti
No Entanto Jornal Laboratorial produzido pelos alunos do 3º período de Comunicação Social - Jornalismo da Ufes para a matéria Laboratório de Jornalismo Impresso Equipe Alice Soares, Ana Carolina Favalessa, Ana Luíza Dias, Andressa Ventura, Artur Meireles, Beatriz de Paula, Carmen Oliveira, Cecília Miliorelli, Daniel Pasti, Daniel Santiago, Isabella Bellumat, Iury Demuner, Kennedy Pezzin, Lucas Santos, Marcus Vinícos Freire, Mariana Cristina, Mariah Friedrich, Matheus Galvão, Nicolas Alves, Paula Romanha, Rebeca Virgínia, Reinaldo Fonseca, Sthefany Duhz, Vinícius Viana, Yvena Plotegher.
Editores Carmen Oliveira, Isabela Bellumat, Mariah Friedrich, Nicolas Alves e Paula Romanha
Diagramação Alice Soares, Lucas Santos, Matheus Galvão, Marcus Vinicios, Vinicius Viana Logo Gabriel Moraes Professor orientador Rafael Bellan Sigam-nos no Facebook! Para sugestões de pauta, críticas e dúvidas, entrem em contato: fb.com/JornalNoEntanto
EDITORIAL Seguindo a linha editorial das publicações anteriores, a 75ª edição do No Entanto aborda questões relevantes em relação ao atual cenário sócio-político brasileiro e às problemáticas sociais enfrentadas por minorias. Como destaque, o jornal traz uma reportagem sobre o ato contra o Governo Temer que aconteceu no dia 24 de maio, em Brasília e que contou com a participação nacional de sindicalistas e estudantes, inclusive da Ufes. Seguindo os temas relacionados às gestões políticas, a edição também questiona a administração do dinheiro público, como a isenção tributária das igrejas e o sucateamento do setor de Oncologia do Hospital Infantil de Vitória. Abordando questões sociais presentes no nosso cotidiano, trazemos pautas que relatam experiências de casais invisíveis e casos de xenofobia sofridos por estudantes, que nos fazem refletir sobre a realidade vivida por grupos minoritários. Como estudantes de jornalismo compromissados com o dever de informar e propor discussões pertinentes ao público, nossas reportagens são guiadas pelas circunstâncias com os quais nos deparamos durante a produção, buscando sempre a integridade dos fatos. Desejamos a todos uma boa leitura! A turma. ERRATA Na última edição do jornal No Entanto, na matéria “Nova Gestão da Federação Promete Retorno à Elite do Futebol”, foi informado que o Espírito Santo Futebol Clube fora o campeão da Copa Espírito Santo, quando na verdade a conquista foi do Rio Branco Atlético Clube. Também consta na reportagem que o vice-campeão do Campeonato Capixaba de 2016 foi o Rio Branco, porém o Espírito Santo ficou com a segunda colocação da competição.
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ECONOMIA
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Dinheiro de fiéis constrói fortuna livre de impostos
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Freepik
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Pastores aparecem na lista dos mais ricos do Brasil
Andressa Ventura, Beatriz Oliveira, Daniel Pasti, Isabela Bellumat e Kennedy Pezzin
dízimo ajuda na manutenção estrutural das igrejas e sustenta o trabalho de evangelização, além de promover obras de caridade. Padre Diego ainda diz que o dízimo é manifestação de fé. “É um compromisso com o divino, mas de forma alguma é obrigatório. Doa-se o que puder doar”, conclui. O Pastor Ricardo Paulo, membro do Conpavive (Conselho de Pastores de Vila Velha), diz que em algumas comunidades há sim uma exigência de 10% do salário para doar às igrejas, mas que não é regra. “A gente recomenda o dízimo, mas em comunidades menores,
por exemplo, tem fiel que nem doa”, explica. Quando perguntado sobre os monumentos de fé, disse que são em nome de Deus e, por isso, uma vitória. “Pequenas ou grandes, as obras em nome de Deus são dignas de louvor”, terminou o Pastor sem querer prolongar o assunto.
Lista dos Mais Ricos Com a renda retida das igrejas, pastores, bispos e reverendos estão presentes nas listas dos homens mais ricos do País. Segundo a pesquisa da revista Forbes, em 2013,
Foto: Andressa Ventura
Brasil, apesar de ser um país laico, possui uma lei que institui a imunidade tributária às entidades religiosas. Nesse contexto, as isenções são garantidas, pois os templos religiosos são considerados instituições sem fins lucrativos e de interesse social. No entanto, a venda de artigos pessoais “abençoados”, a exigência de pagamentos mensais, chamados de “dízimo”, ou até mesmo de grandes doações, como imóveis e carros, contradiz o que a lei prevê. O Advogado Tributário Tayan Camargo explica que a imunidade fiscal diz respeito não somente ao IPTU, mas a todo e qualquer imposto que envolve a instituição, seja um simples imóvel alugado ou às doações que porventura recebe. “Toda propriedade que esteja em nome da Instituição também não paga impostos se esse tiver o propósito religioso”, ressalta. Em conversa com representantes religiosos da comunidade de Araçás, em Vila Velha, o Padre Diego Carvalho explica que o
Santuário Católico em Ipatinga, MG
Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, possuía a maior fortuna entre os pastores no Brasil, estimada em 1,9 bilhões de reais. Em segundo lugar, com 446 milhões de reais, se encontrava Valdemiro Santiago, pastor da mesma igreja Universal. Já na Assembleia de Deus, Silas Malafaia, além de ser o terceiro colocado nessa lista com 304 milhões de reais, apresenta um programa de TV religioso que está há 29 anos no ar. Fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus, Romildo Ribeiro Soares possui uma quantia estimada em 253 milhões de reais e também é pastor e apresentador de televisão.
Os investimentos
Igreja Universal localizada na subida da Terceira Ponte em Vila Velha
maior estrutura religiosa do Brasil. O templo de Salomão, em São Paulo, possui 100 mil m2 de área e custou cerca de 680 milhões de reais. Além de ter sido construído com pedras vindas de Israel, foi preciso comprar 40 imóveis no local para comportar o templo. Antes disso, a Catedral Mundial no Rio de Janeiro era a maior estrutura, possuindo 72 mil m2, também da Igreja Universal.
Foto: Andressa Ventura
Apenas um ano após essa pesquisa, foi inaugurada por Edir Macedo a
Foto: Isabela Bellumat
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Igreja Matriz em Divino Carangola, MG
O bispo é ainda dono da segunda maior emissora de TV no Brasil, a Record, e de uma empresa de jatos privados, avaliada em 91 milhões de reais. Outra empreitada religiosa foi a de Silas Malafaia, que, com o “clube de 1 bilhão de almas”, planejou arrecadar dos fiéis 1 bilhão de reais que seriam investidos em um programa de televisão transmitido a 137 países. O clube, criado em 2010, terminou arrecadando 4,9 milhões de reais. Além disso, Malafaia é dono de uma editora gospel e apresenta seus cultos nas emissoras Rede TV e Band. Apesar de não entrar na lista dos mais ricos do Brasil, o Padre Marcelo Rossi, da Igreja Católica, reuniu dinheiro suficiente para construir o maior complexo católico do Brasil, em 2010, também em São Paulo. O Santuário de Nossa Senhora Mãe de Deus possui uma área de 30 mil m2 e segundo o site do Padre foi construído com o lucro das vendas de 12 milhões de CD’s e dos quase 9 milhões de cópias de seu primeiro livro, Ágape. Ainda assim, o arquiteto Ruy Ohtake não cobrou pelos serviços prestados.
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Reprodução
ECONOMIA
Impacto na economia
Projeto de lei Em 2016, a internauta capixaba, Gisele Helmer, propôs uma sugestão legislativa que pede o fim da imunidade tributária para entidades religiosas. A consulta teve mais de 20 mil votos e passou a ser analisada pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH). O projeto tramita no Senado e se for aprova-
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do, transforma-se em Projeto de Lei do Senado (PLS).
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Em entrevista, Neide Vargas, Doutora em Economia Aplicada, disse que existem igrejas que parecem mais como negócios, e que elas precisam ser separadas do resto. “No meu ponto de vista, teria que ter algum mecanismo de fiscalização, talvez até submeter o orçamento ao Estado e, caso houvesse algum tipo de movimentação lucrativa, acredito que deveria tributar”, completa. Além disso, Neide destaca a importância de uma reforma tributária. “A questão vai além da cobrança de igrejas, afinal, o impacto disso na economia não é tão grande, não vai gerar tanta arrecadação, é mais uma questão moral”, explica. “O maior problema é a baixa tributação à pessoa física no Brasil. É preciso tributar mais o patrimônio pessoal e fiscalizar até que ponto algo considerado patrimônio da igreja, por exemplo, é realmente da igreja, para evitar a existência de empresas fantasmas como forma de fugir dos impostos”, argumenta.
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POLITICA
Ato contra governo Temer reúne estudantes e sindicalistas em Brasília Manifestantes saíram do Espírito Santo para protestar contra a conjuntura política do país
Foto: Israel Zuqui
ALICE SOARES, CARMEN OLIVEIRA, MATHEUS GALVÃO, REINALDO FONSECA E YVENA PLOTEGHER
A fumaça das bombas de gás arremassadas pela polícia em meio a militantes e bandeiras marcou o ato.
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manifestação unificada que ocorreu no dia 24 de maio intitulada “Ocupa Brasília” foi marcada pela presença massiva dos trabalhadores do Espírito Santo. Entidades sindicais e estudantis de todo o país se agregaram ao movimento e afirmaram a importância da união nesta ocasião. Ônibus saíram de todas as regiões do Brasil trazendo trabalhadores aliados à causa e representações políticas importantes. No estado, os movimentos sociais organizaram-se em treze ônibus e compareceram ao ato. As delações e a exposição dos áudios do atual presidente Temer com dono da JBS negociando o silêncio do deputado Eduardo Cunha foram a principal motivação para a urgência do ato e o clamor pela rea-
lização de eleições diretas. As reformas trabalhistas e da previdência do governo Temer também foram pautadas pelos manifestantes. Milhares de militantes saíram do Estádio Mané Garrincha em direção ao Congresso Nacional. O protesto iniciou de forma pacífica, mas terminou com forte repressão da Polícia Militar e da Força Nacional conforme os manifestantes se aproximavam do Congresso. O estudante de Jornalismo da Ufes Israel Zuqui foi um dos participantes do ato contra a reforma trabalhista em Brasília. Ele conta que sempre viveu em áreas de periferia e vê a perspectiva de vida, para pessoas como ele, diminuindo a cada dia com as medidas do governo vigente. Isso foi um dos fatores que o influenciou a ir até
a capital participar das manifestações. “Antes mesmo das reformas e dos cortes, a universidade não era ocupada por pessoas da periferia e agora eu vejo que essa situação tende a piorar, por isso acho que temos que dar voz a essas pessoas, que vieram da nossa mesma realidade”, disse o estudante.
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Tem que manter isso, viu?”
O presidente Michel Temer foi gravado em conversa com os donos do frigorífico JBS, Joesley e Wesley Batista dando aval para a compra do silêncio de Eduardo Cunha. “Tem que manter isso, viu?”, certifica Temer no áudio vazado.
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POLÍTICA O estudante de História Alex Siqueira também compareceu a manifestação. Ele conta que foi em um ônibus articulado pela CUT, juntamente com alguns sindicatos. Sobre o que motivou o estudante a realizar a viagem, ele afirma: “me sinto responsável por fazer minha parte, mostrar a minha revolta, tanto como estudante quanto como futuro trabalhador, porque essas reformas não tem legitimidade para serem aprovadas. Foram direitos que os trabalhadores conseguiram na luta, não foram direitos que caíram do céu. Então, a gente tem que lutar de todas as formas para manter esses direitos e impedir essa retirada.” Alex falou também a respeito da repressão sofrida pelos militantes. Segundo ele, a repressão foi grande e houve uso, por parte das forças policiais de bombas, gás e até mesmo tiro de armas de fogo. “Parece uma cena de filme, em que o povo clama pelos seus direitos e o governo os reprime de forma violenta, cena de guerra”, relata. Um caso que ficou bastante conhecido dentre os estudantes da Ufes que foram ao Distrito Federal foi o de Phil Ribeiro, que foi vítima de violência policial durante o ato. “As pessoas têm direito no mínimo a gozar dos direitos humanos e um deles é o de se manifestar. Senti na pele o sistema abalar debaixo dos meus pés ao ser abordado sem nenhum aparente resquício de ter feito algo”, contou o estudante de Artes, que chegou a ter um boletim de ocorrência prestado contra ele. No entanto, Ribeiro conta que, mesmo que pensasse uma ou duas vezes antes ir a outro ato como esse, o que o motiva acaba sendo mais forte. “Não quero ter o menos pior sendo que posso lutar para um lugar melhor para a minoria que é influenciada pela
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Foto: Yvena Plotegher
Phill Ribeiro foi vítima da violência policial durante ato em Brasília elite midiática”, disse. Diversas entidades de mobilização social do Espírito Santo compareceram ao ato. O Sindicato dos Trabalhadores na Universidade Federal do Espírito Santo (Sintufes) foi uma das instituições que atuou ativamente no “Ocupa Brasília”, a categoria enviou um ônibus com vagas não apenas para os técnicos administrativos como também para os estudantes. O coordenador geral da Sintufes, Wellington Pereira, explicou que a instituição contribuiu com a presença do movimento estudantil no ato, tendo em vista a falta de recursos financeiros da categoria para locomoção. Wellington relatou também que a entidade tem como costume levar atividades culturais para as manifestações externas, mas desta vez sua participação foi diferente. Tendo em vista a repressão ocorrida nas últimas manifestações, a possibilidade de confronto com a polícia era grande. “Nos organizamos para participar, mas não dava para levar atividade cultural, pois sabíamos que iríamos para um embate com o governo”, alega o coordenador. Além disso, Pereira destacou a
importância de uma movimentação de oposição à administração na luta pela universidade pública por meio da unificação do movimento sindical e do movimento estudantil. Ele contou que essa relação é essencial não apenas para a mobilização a respeito de questões internas da universidade, como também para questões de âmbito nacional.
Nova greve geral é convocada Uma greve geral foi convocada no dia 30 de junho pelas principais centrais sindicais do país, tais como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), a União Geral dos Trabalhadores (UGT) e Força Sindical. O intuito foi ir às ruas em defesa dos direitos sociais e trabalhistas, além de pedir a saída de Michel Temer da presidência e a convocação de eleições diretas. No Espírito Santo os manifestante ocuparam as principais vias da Grande Vitória pela manhã e encerraram a manifestação por volta de 13h30 em frente à Assembleia Legislativa.
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COMPORTAMENTO
8Amor,
um conceito em evolução
Casais não convencionais falam sobre seus relacionamentos e dificuldades enfrentadas ARTUR MEIRELES, CECÍLIA MILIORELLI, IURY DEMUNER, MARIAH FRIEDRICH E STHEFANY DUHZ
Foto: Vilma Neres
Naira Valente e sua namorada, Lorrayne, em demonstração de afeto. Doze de junho, Dia do Namorados. Os casais aproveitam para celebrar o amor e a união. Tem quem prefira o clássico jantarzinho, quem faça mais o time “pizza e netflix” e até quem aproveita para cuidar de assuntos domésticos. Essas cenas comuns se repetiram entre vários casais de namorados, inclusive aqueles que não se encaixam no padrão de relacionamento amoroso tradicional. Neste ano, ouvimos pessoas que ainda lutam para ter seu afeto respeitado, falando sobre o que o Dia dos Namorados representa para esse público.
“Aproveitamos para comprar temperos e tupperwares”
A rapper e grafiteira Naira Valente e a estudante de jornalismo Lorrayne Paixão estão juntas há cinco meses e aproveitaram a data para comprar temperos e vasilhas plásticas. “A gente mora junto e temos planos tanto na vida pessoal como profissionalmente”, conta Naira. Antes mesmo de se conheceram pessoalmente, Lorrayne já conhecia o trabalho da namorada nos graffitis e na música. “Ela já tinha me stalkeado”, brinca Naira. Hoje ela faz a assessoria de Naira Valente nas mídias
sociais. O maior problema que enfrentam como casal lésbico é a invisibilização. “A gente nunca passou por uma situação de violência, a não ser os casos de homens héteros que não entendem a relação de duas mulheres, não veem como seriedade, compromisso”, disse Lorrayne.
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O que é ser uma pessoa trans?
Pessoas trans são todas aquelas que reivindicam uma identidade construída além das cobranças sociais para o sexo em que foram enquadradas. De alguma maneira, todo mundo passa por situações de inversão da masculinidade ou feminilidade, essa discordância com os papéis tradicionais de gênero é o que vai definir a diversidade de vivências e identidades reunidas no conceito de ‘Pessoa Trans’.
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COMPORTAMENTO
“Entre pessoas trans existe mais companheirismo”
A assistente de cozinha Kel Soneghet e a namorada Thamara Spem são um casal de pessoas trans que se conheceram em uma discussão sobre androginia no Facebook. “Eu postei uma foto minha e ela curtiu, a partir daí a gente começou a conversar até que um dia ela veio me visitar e eu a pedi em namoro”, relata. Kel se identifica como não binária: “O não-binário é uma pessoa que não se encaixa completamente na divisão binária de gêneros, masculino e feminino. Ela fica completamente fora ou transitando entre os dois gêneros”, explica. O casal completou um ano e três meses de relacionamento no Dia dos Namorados comendo pizza e passando tempo em casa. “Entre duas pessoas trans existe mais companheirismo”, comenta Soneghet. Elas esperam constituir uma família e morar juntas com a filha de Kel, Eloísa, de 2 anos.
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um congresso, no dia que teve samba”, relembra Israel. Jessyka conta que o casal continuou conversando todos os dias depois do congresso, até que o namoro aconteceu. “17 de outubro eu falei pelo Facebook, ‘Você quer namorar comigo, Israel?’Além de manter o namoro à distância, eles se relacionam com outras pessoas em suas cidades. Jessyka disse que o desafio são as outras pessoas que tentam rotulá-los. “As pessoas às vezes querem entender o que não precisa entender, o que a gente não entende e não precisa entender, a gente sente”, explica.
“Foi um amor não monogâmico desde o primeiro dia” O professor Davis Alvim conta que seu relacionamento com a estudante e pesquisadora Bel Rizzi era não monogâmico até mesmo antes de começar, ambos não desejavam isso. Eles se conheceram buscando um relacionamento sem as insatisfações da limitação a um só parceiro: “Foi um amor não monogâmico desde o primeiro dia”, relembra. Ambos toparam ser entrevistados pela equipe:
Foto: Artur Meireles
Quais são os desafios de um relacionamento como o que vocês construíram? Davis Alvim e Bel Rizzi - Uma relação não monogâmica feliz já é um incômodo, uma relação não monogâmica feliz entre bissexuais parece impossível ou inexistente. É um acúmulo de preconceitos. Por vezes engraçados de tão rancorosos e tristes.
Israel exibindo foto de sua parceira de outro estado, Jessyka.
Quais os maiores preconceitos que vocês enfrentam? Davis Alvim e Bel Rizzi - Casais que se afastam, conhecidos que procuram por algum traço de “ciúme” para afirmar “tá vendo, vocês não são perfeitos”, suspeita eterna de que todos/as que frequentam nossa casa são parceiros sexuais, suspeita de “perversão sexual”, por exemplo, são alguns comportamentos comuns nas pessoas. Vocês têm projetos/sonhos juntos? Como pretendem pas-
“Pelo facebook, você quer namorar comigo Is- sar esse dia dos namorados? rael?” Davis Alvim e Bel Rizzi - Queremos estar juntos, talvez
Israel Maggioni e Jessyka Faustino são estudantes de comunicação, ele da Ufes e ela da Universidade Federal do Alagoas (Ufal). Os dois se conheceram em Fortaleza, Ceará, em agosto do ano passado. “Foi em
“pra sempre”, vendo filmes e séries, ouvindo música, tendo prazer, trabalhando e lutando. Não são projetos, são nosso agora. Queremos nosso dia dos namorados e nosso futuro como estamos agora.
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TURISMO
Estudantes relatam experiências durante mobilidade acadêmica Ana Carolina Favalessa, Ana Luíza Dias e Paula Romanha
Eles contam sobre as dificuldades e benefícios adquiridos por meio do programa
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Programa de Mobilidade Acadêmica (PMA) permite que estudantes cursem, em outra universidade federal de ensino superior, disciplinas que façam parte da grade curricular de seu curso. O projeto tem como objetivo não só a oportunidade de complementar a formação acadêmica do estudante, mas também um enriquecimento cultural ao entrar em contato com as diversidades do nosso país. Apesar disso, estudantes que participaram do programa afirmam que existem alguns pontos que necessitam de melhorias e relatam problemas que vivenciaram durante a experiência. Esse é o caso de Enrique Bruno Lima, estudante de Filosofia da Universidade Federal do Cariri, sul do Ceará, que está cursando esse semestre na Ufes por meio do PMA, e diz não receber o suporte necessário, além de enfrentar problemas com o Portal do Aluno. “É muito limitado e não disponibili-
za todas as funções. Para eu fazer minha matrícula em algumas disciplinas, foi bem mais protocolado e burocrático do que qualquer matrícula normal”, afirma. Procurada para esclarecer as questões referentes ao repasse de informações e à dificuldade em acessar o Portal do Aluno, Patrícia Falcão, responsável pelo Programa de Mobilidade Acadêmica da Ufes, afirma que quando o aluno é aceito em outra universidade, é responsabilidade de sua instituição de origem comunicar-se com o estudan-
te e informar acerca do programa. “Com relação ao Portal do Aluno, o estudante pode ter alguma dificuldade em acessar o portal em um primeiro momento por não chegar aqui com esse acesso pronto. Por isso, pedimos que ele venha uma semana antes das aulas começarem e resolvamos esses problemas”, esclarece Patrícia. Mas, segundo Enrique, os problemas foram além das questões burocráticas, ele relatou sobre casos de xenofobia que sofreu ao chegar à Ufes. “Cheguei a ouvir frases como ‘eu pensei que lá no Ceará vocês só comessem lama’ e ‘mas você é bonito, não parece ser do nordeste, pensava que lá as pessoas tinham a cabeça grande e achatada’”, comenta o estudante. “Nunca recebemos nenhuma reclamação de casos de xenofobia, nem verbal e nem por escrito. A não ser que tenham reclamado em outra instância e esse documento esteja preso lá”, afirma Patrícia
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TURISMO
havia acabado de chegar de um intercâmbio no Peru e ainda estava com energia de viver experiências novas. Enxergou na mobilidade acadêmica oportunidades, informou-se do assunto, enviou a carta de pedido e foi aceito pela Universidade Federal do Pernambuco (UFPE).
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O benefício é você conhecer mais de você mesmo do que qualquer cidade ou país
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De acordo com o estudante, a Ufes lhe forneceu bastante suporte. Apesar disso, a UFPE falhou em questão de recepção e de repasse de informações. “Na universidade de Pernambuco, o ritmo de estudo é bem mais intenso. Aqui, temos
uma infraestrutura muito boa, prédios e laboratórios com computadores bons, comparados com a UFPE; porém, tive a impressão de que os professores de lá são bem mais preparados. Eles sabem cobrar e lhe puxam mais para o que é realmente o mercado”, compara o estudante. Em relação às dificuldades enfrentadas, Thiago relata que a maior delas foi a de morar em república, pelo fato de ter sempre vivido com os pais e estar acostumado com comodismos que não existem quando se mora sozinho. Thiago também afirma que a experiência contribuiu muito para sua área profissional, por ter feito com que ele se cobrasse ainda mais e ter possibilitado um desenvolvimento pessoal. “Acho que toda viagem é uma vantagem, porque envolve autoconhecimento. O benefício é você conhecer mais de você mesmo do que qualquer cidade ou país”, declara o estudante.
Fotos: Vinícius Viana
quando questionada a respeito do caso de Enrique. A funcionária que trabalha a cerca de um ano e meio no PMA ainda conta que desde que se tornou responsável pelo programa nunca teve reclamações acerca da experiência vivida pelos estudantes. Menciona também que quando retornam à universidade vão à Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) para se informarem sobre a questão das notas e do registro. “A impressão que eles passam para nós é que foi uma experiência muito enriquecedora e gratificante, por terem conhecido outra instituição, professores, alunos e lugares”, relata. Ainda segundo Patrícia, houve casos em que os estudantes ficaram apenas um semestre por motivos pessoais, como dinheiro. Outro universitário que usufruiu do PMA foi Thiago Reis, do curso de Publicidade e Propaganda da Ufes. Quando descobriu o programa e resolveu participar, Thiago
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CIDADES
Após denúncias, oncologia do Infantil é transferida para HPM Obras da antiga sede se iniciam em julho, logo depois da mudança
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o mês de maio diversas reportagens foram divulgadas em relação às condições estruturais do pronto-socorro e do setor de Oncologia do Hospital Estadual Infantil de Vitória. Um grupo de mães fez um abaixo-assinado denunciando a falta de leitos na enfermaria oncológica e os atrasos em relação aos tratamentos de quimioterapia. As crianças que precisavam de internação estavam sendo acomodadas em outras áreas do hospital. Além disso, as macas eram colocadas perto de lixeiras e alguns pacientes ficavam muito próximos uns dos outros, sendo colocados em risco de contaminação. Devido à série de denúncias realizadas, a presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (Sobope), Teresa Cristina Cardoso Fonseca, visitou o Hospital Infantil para analisar suas condições. “É uma situação de calamidade, que não está adequada em hipótese nenhuma aos critérios mí-
Foto: Lucas Santos
DANIEL SANTIAGO, MARCUS VINICIOS FREIRE, MARIANA CRISTINA ROCHA E NICOLAS ALVES
nimos”, disse a presidente para o portal G1. Ao Jornal ‘No Entanto’ a Sobope não quis se pronunciar. Após as denuncias, o centro de oncologia e o pronto-socorro do Hospital Infantil de Vitó
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O estado tem jogado com a vida das pessoas
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ria serão transferidos e passarão a se localizar em áreas do Hospital da Polícia Militar (HPM). Essa transferência gera dúvidas para o Secretário do Sindsaúde, Valdecir Gomes. “Além do prontosocorro, a oncologia também está sendo transferida para o HPM. O tratamento do câncer mantém
a pessoa em um longo tempo de internação, e aí essas crianças em algum momento acabarão entrando em contato com essas pessoas que já estão no HPM, que é referência em trauma e violência urbana. Ou seja, a criança, que já está com imunidade baixa, vai acabar ocupando o mesmo espaço que indivíduos com outras enfermidades”, diz o secretário. Segundo Valdecir, além dos problemas estruturais o hospital passa por outras dificuldades. “Hoje em dia, a rede estadual de saúde está totalmente defasada. Há um aumento de demanda, mas o número de profissionais é reduzido. E o que acontece é que estão retirando leitos por causa da falta de profissionais para atendê-los. O estado tem jogado com a vida das pessoas”, relata. O secretário afirma ainda que a falta de atenção por parte do poder público justificaria uma eventual privatização e terceirização do sistema público de saúde.
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Valdecir Gomes, Secretário do Sindsaúde
O presidente do Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM/ES), Carlos Magno Pretti Dalapicola, participou, no final do mês de maio, de uma fiscalização nas instalações do HPM. Junto com o Conselho estiveram presentes representantes das entidades médicas capixabas. Para ele “as instalações nesse novo local estão boas e irão desafogar o Hospital Infantil. O Governo encontrou uma boa alternativa, mas que teremos de ver se realmente irá atender à demanda”. De acordo com o presidente do CRM/ES, o novo local para atendimento de urgência e emergência
e para o tratamento oncológico resultará em benefício para o médico e o paciente, desde que existam funcionários e materiais suficientes para prestar o atendimento à demanda existente. “Por enquanto, a resposta do Governo à solicitação de melhores condições de trabalho para os médicos e de atendimento ao paciente pediátrico está sendo positiva”, declarou o CRM/ES. Em relação à transferência, o Conselho informou ainda que manterá fiscalização contínua nos Hospitais, tanto no HPM, quanto no Infantil.
“Estamos realizando a maior intervenção no atendimento pediátrico das últimas décadas. O número de leitos pediátricos será ampliado, passando de 171 para 294, após as reformas. Além de transferir o pronto-socorro para o HPM também vamos trazer a oncologia. Na oncologia vamos aumentar 30 leitos, sendo 10 de Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica”, afirma o secretário. De acordo com a Secretaria de Saúde, durante a mudança não haverá interrupção no atendimento em nenhum momento.
Secretaria de Saúde
A Secretaria de Estado da Saúde afirmou que, mediante a solução temporária dos problemas estruturais do hospital, a previsão de mudança para o HPM será feita em julho. Após a transferência, serão iniciadas as obras no Hospital Infantil de Vitória, em Santa Lúcia. O pronto-socorro ficará no térreo da HPM e a oncologia ficará no espaço onde hoje funciona o Serviço de Verificação de Óbitos (SVO). O secretário de saúde do estado do Espírito Santo, Ricardo Oliveira, visitou os espaços no dia 31 de maio para averiguação do local.
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SindSaude-ES
O investimento com a saúde no estado tem um percentual fixo, que é 12% da arrecadação estadual, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Porém de acordo com Valdecir, o que deveria está sendo investido na saúde curativa, que é o tratamento propriamente dito, o estado está utilizando esse dinheiro de forma errada. “Os serviços que são terceirizados, como os laboratórios, os vigilantes, a higienização, as cooperativas médicas e até mesmo a terceirização completa entram nesse percentual. Ou seja, esse dinheiro, que deveria ser investido nos materiais e medicamentos está sendo utilizado na contratação de pessoal”, relata Valdecir.
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Foto: Lucas Santos
CIDADES
Carlos Magno, presidente CRM/ES
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CIDADES
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Caboclo Bernardo reforça cultura em Regência
A festa relembra o herói local, recebe turistas de diferentes regiões e mantém tradição cultural da vila
ANA CAROLINA FAVALESSA
Foto: Ana Carolina Favalessa
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vila de Regência Augusta, ainda recompondo-se do desastre ambiental que envolveu a Samarco, recebeu turistas de diversas localidades nos dias 3 e 4 de junho com a festa em memória do herói local Caboclo Bernardo. O evento ocorre anualmente, exalta a cultura local com apresentação de bandas regionais e abrange diversas manifestações artísticas, como congo, folia de reis, capoeira e teatro. Artesanatos também foram expostos e transmitiram a imagem rústica da vila, além de constituírem uma forma alternativa de vender peças manuais. Regência pertence ao município de Linhares, no norte do estado. A comemoração se mantém de forma tradicional pela lembrança do personagem histórico Caboclo Bernardo, pescador que salvou 128 marinheiros do Cruzador Imperial Brasileiro, em 1887. O navio naufragou devido à forte tempestade e, ao amanhecer, Bernardo
lançou-se ao mar na tentativa de salvar os tripulantes; obteve sucesso na quinta vez e foi homenageado publicamente na época. O ambiente estava tipicamente enfeitado, com bandeirolas dando ar de folia e relembrando o mês junino. As canções de algumas bandas remetiam ao herói da vila e a programação abrangia públicos de todas as idades. Regência mantém-se com suas tradições festivas mesmo com todos os problemas ecológicos e sociais decorrentes da tragédia ambiental.
Relembrando a tragédia ambiental O desastre ocorreu em 05 de novembro de 2015, na cidade de Mariana (MG), com o rompimento da barragem de rejeito de minérios da Samarco, cerca de 15 dias depois, a lama encontrou o mar na vila de Regência. Após mais de um ano, moradores enfrentam problemas devido à falta de água potável e de indenização, ainda não se sabe ao certo sobre a lama e suas consequências para a fauna e flora regional e pescadores permanecem impossibilitados de praticar a pesca.
Rodada final da série D define destino dos capixabas
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DANIEL PASTI
Espírito Santo e Desportiva classificados na segunda colocação
ela Série D do Campeonato Brasileiro, a Desportiva Ferroviária conseguiu a vitória no último domingo sobre a Portuguesa por 1x0, em casa, e contou com um “tapetão” para se classificar para a segunda fase da competição. Outro capixaba na disputa, o Espírito Santo saiu vitorioso sobre o RB Brasil em Bragança Paulista e passou para a fase de mata-mata terminando em segundo do grupo. As duas equipes tinham chances de classificação apesar de estarem em último em seus respec-
tivos grupos. A missão da Tiva era mais difícil, pois, como nem todos os segundos colocados passavam, a equipe precisava ganhar e tirar saldo para ainda sonhar com uma classificação. A Locomotiva Grená mostrou superioridade sobre a Portuguesa desde o início do jogo e, logo aos 4 minutos, abriu o placar com o estreante Edinho. A pressão, porém, não surtiu resultado no restante da partida e a Tiva venceu pelo placar mínimo. No final, a confirmação da eliminação veio, e os jogadores,
abatidos, desceram para o vestiário sem falar com a imprensa. Porém, em uma reviravolta, o São Raimundo foi denunciado por escalação irregular de um jogador, perdeu pontos e a Desportiva herdou a vaga para a segunda fase. Já o Santão venceu o RB Brasil fora de casa também pelo placar mínimo. Uma vitória simples garantia a classificação dos capixabas e Nilo, atacante contratado para ser o goleador do time, conseguiu o gol aos 9 minutos. Agora, o time enfrenta o Boavista na segunda fase.