Ponto Final 10

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Arquivo Ponto Final

www.issuu.com/jornalnoturno Ano 2 - Edição 10

O ex-vereador, Orlando Bonilha, no estúdio de TV da UEL

A verdade de Bonilha

AIDS, drogas, um trem e o Tiba

A arte de tirar o público do conforto

Ser convidado é um mero detalhe

Pg. 04

Pg. 46

Pg. 55


sociedade 04 Tiba, o trem e a AIDS

sumário

cultura 08 (Jogo do) Bicho em extinção

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cidade 11 Sucos e vitaminas economia 14 O velho é cool comportamento 18 Um lar para animais abandonados esporte 20 O sonho de ser jogador de futebol economia 24 Preferência pela informalidade cultura 26 Tatoo na pele e na parede política 30 O coração de um corrupto cidade 34 Cidade Limpa, cidade suja educação 38 EJA: Volta às aulas politica 40 Tercerização em pauta

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receitas 43 Soja na mesa do brasileiro performance art 46 A arte de tirar o público do conforto comportamento 50 Um par a menos cidade 52 Turismo gastronômico rural

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comprotamento 55 De carona com penetras


editorial

Expediente

Nós, alunos do quarto ano noturno de jornalismo da UEL, produzimos um documentário sobre os principais escândalos políticos dos últimos anos em Londrina. Entre outros que visitaram o estúdio de TV da universidade, entrevistamos o ex-vereador Orlando Bonilha, cassado em 2008. Assunto do dia: corrupção. O repórter Rodrigo Fernando nos conta como foi essa conversa. Aliás, um dos fatores que abrem caminho para essa prática na cidade é a entrega dos serviços públicos nas mãos de empresas privadas, por isso o repórter Julio Barbosa foi investigar porque a terceirização não funciona em Londrina. Falando em administração pública, o prazo para os comerciantes adequarem as fachadas dos estabelecimentos à Lei Cidade Limpa termina em junho. Mas a repórter Maria Amélia Gil encontrou muita gente que vai ter que correr contra o tempo se não quiser tomar multa. A repórter Ione Horacio constatou o descaso do poder público com os animais abandonados. Ela, então, foi conhecer projetos independentes que tentam amenizar a situação. Nessa edição também fomos atrás de histórias. Boas histórias. A repórter Gabriela Pereira teve uma conversa com o Tiba, ex-presidiário e viciado em drogas, mas que agora está em recuperação. Ele explicou o que é e como funciona a redução de danos. Você também vai saber como foi a visita do repórter Edson Vitoreti à banca de jogo do bicho do “Seu Lalau”. Ainda tem histórias de estudantes que tinham abandonado as salas de aulas há muito tempo, pessoas que não têm nem o que calçar, jovens que sonham com uma carreira no futebol, ambulantes que ganham mais que trabalhador com carteira assinada e até de penetras se aventurando nas festas da “elite londrinense”. Ponto Final também dá dicas de gastronomia, decoração e cultura. A repórter Naiá Aiello é do interior de São Paulo, mora em Londrina há quatro anos e nunca tinha experimentado o suco da Rodoviária nem a famosa vitamina da Sergipe, dá para acreditar? O repórter Roberto Alves mostra opções de onde provar uma deliciosa comida caipira nos distritos rurais de Londrina. Tem também dicas de como incluir a soja em uma alimentação mais saudável. O repórter Julio Barbosa visitou alguns brechós e lojas de usados e constatou: comprar produtos com aquele cheirinho de “saído da caixa” já não é assim tão essencial. Os repórteres Vanessa Silva e Fabrício Alves foram atrás de londrinenses que se dedicam a formas alternativas de arte. Ela visitou uma exposição de tatuagens na parede e ele foi atrás de artistas que usam a performance como forma de expressão. Por essas e outras, tem gente considerando essas próximas páginas a melhor edição da Ponto Final de todos os tempos. Mas para saber se esse Prato Feito está no capricho mesmo, você vai ter de conferir. Boa leitura e até a próxima!

Esta revista é produzida pela turma do 4º ano de Comunicação Social - Jornalismo Noturno da Universidade Estadual de Londrina para a diciplina 5NIC030 - Técnicas de reportagem, entrevista e pesquisa jornalística IV, ministrada pelo Prof. José Adalberto Maschio Ela foi publicada digitalmente no issuu.com/jornalnoturno

equipe Allan Fernando Edson Vitoretti Fabrício Alves Gabriel Bandeira Gabriel Oberle Gabriela Pereira Guilherme Costa Guilherme Santana Ione Horácio Iuri Furukita Julio Barbosa Maria Amélia Gil Mariana Guarilha Naiá Aiello Roberto Alves Rodrigo Fernando Vanessa Silva

Contato jornalnoturno@gmail.com

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A melhor PF de todas

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Fotos: Gabriela Pereira

Tiba,

o trem e a Aids Como um portador do vírus HIV e ex-usuário de drogas pode ajudar uma cidade com apenas uma conversa? A Ponto Final conversou com Tiba, vice-presidente do Núcleo Londrinense de Redução de Danos de Londrina


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Gabriela Pereira Saiu de casa, morou em orfanatos, fugiu de trem, conheceu as drogas e foi preso. Depois de viver uma história digna de livro policial, prometeu: se saísse da cadeia vivo, pararia de usar drogas. Seu nome no registro é Edson Facundo, mas em Londrina sua identidade é carimbada: “me chame de Tiba”. Há 10 anos, o Tiba faz parte do Núcleo Londrinense de Redução de Danos, no qual é vice-presidente. Dar outra alternativa ao usuário, essa é a intenção do agente de redução de danos. A prática é uma estratégia de saúde pública que pretende reduzir os danos à saúde em consequência de práticas de risco. No caso do usuário de drogas, reduzir a exposição a doenças como hepatite e Aids. É subindo uma escada estreita em um dos tantos prédios do centro da cidade que chego ao Núcleo. Apesar do frio, que fica cada vez mais forte por conta do piso gelado e de algumas janelas abertas, o Tiba se mostra disposto a contar sua história. Entre cafés e risadas, Tiba fala sobre a criação do Núcleo, que foi fundado em 2001 por profissionais de saúde, cientistas sociais e funcionários da Penitenciária Estadual de Londrina (PEL), o atual Centro de Detenção e Ressoacilização. Montado para discutir assuntos como drogas e atender os usuários que vinham de outro projeto já desenvolvido pela ALIA, a Associação Londrinense Interdisciplinar de Aids, o núcleo de redução de danos desagradou parte da sociedade que desconhecia sua real função. “Era uma coisa nova, que deu muita discussão. As pessoas começaram a discutir sobre o que era redução de danos, se era uma apologia, uma política, uma implantação”, lembra. O trabalho do redutor de danos

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Do orfanato a penitenciária Tiba viveu em orfanatos desde pequeno. Acostumado a conviver com mais de 100 crianças se sentiu um estranho no ninho quando foi levado pelo pai para sua casa. Fugia constantemente e era em uma linha de trem da cidade que montava em qualquer vagão que passasse e ia explorar outros caminhos. Seu primeiro contato com a droga foi aos 12 anos, quando ainda não morava com o pai e convivia com crianças de toda a parte. Entre tantas escapadas de casa, um dia não voltou mais. “Fui pra rua. Aí eu comecei a trabalhar em artesanato e me envolver com o tráfi-

Fotos: Arquivo Pessoal Tiba

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baseia-se em um compromisso com o Ministério da Saúde, em que o agente mantém semanalmente o abastecimento de preservativos e uma conversa de conscientização com a população da área atendida. “A gente faz uma redução de danos mais social não com o viés somente na saúde. Fazemos o trabalho de campo, a gente vai onde a coisa acontece. A gente não trabalha só no usuário ou só na droga, nós trabalhamos os três contextos: o usuário, a droga e o lugar onde ele vive.” Segundo Tiba, a redução de danos não tem como objetivo principal fazer o usuário parar de consumir, mas buscar a compreensão sobre tudo que envolve o uso das substâncias. Por isso, é necessário uma capacitação e vivência do agente para adentrar e compreender como se lida com tudo que envolve o consumo de drogas. “Então a gente tem que ser um pouco de exemplo: ‘se o cara foi usuário de drogas, é soro positivo, por que eu também não posso? ’ Isso é muito espelho. Eu não passo mão na cabeça de usuário nem de soro positivo. Por isso hoje eu falo e eles me respeitam: se você não fizer tratamento, você vai morrer.”

co. Eu nunca fui ladrão, eu nunca fui bandido. Eu pegava droga para eu usar, mas como eu via que as pessoas tinham medo de ir para a favela eu buscava e revendia”. Foi apresentado as drogas injetáveis que, naquela época, sofriam descriminação até mesmo por outros usuários. Uma acontecimento levou a outro e quando Tiba percebeu, estava preso. O ano era 1987 e uma iniciativa da Universidade Estadual de Londrina mudou a vida do Tiba com uma simples amostra de sangue. Foram oitenta detentos da Penitenciária Pública os escolhidos para a realização de um teste para o vírus HIV. Segundo Tiba, “apenas oito pessoas foram

premiadas. E eu era um deles. Aí que minha vida virou um inferno. Porque eu puxei oito anos e dois meses de cadeia, o que aumentava mais ainda o preconceito e a discriminação não pelo crime, mas pelo HIV. Ninguém conhecia a Aids, isso era coisa dos Estados Unidos. Para mim o baque maior não foi o de saber que estava com Aids, nem ouvir: ‘você está com Aids e vai morrer’. Eu sempre dizia que quem determina isso é Deus.” O susto maior estava por vir. O vírus da Aids ainda era desconhecido em Londrina, por isso os órgãos públicos de saúde na cidade não sabiam como lidar com os infectados. Tiba e as outras


redução de danos sociedade pessoas que carregavam o vírus foram banidas e levadas para um prédio de tratamento mental em Curitiba. Isolados. “Todo mundo do Paraná que estava com Aids foi jogado naquele depósito. Ninguém falava nada, não tinha medicamento e as pessoas ficavam esperando a nossa mutação. Falavam que você ficava magro e tudo mais, eram um mitos bem bravos.” Sozinho e longe de casa, Tiba prometeu que se saísse vivo da cadeia, não usaria mais drogas. Se emociona ao lembrar que sua promessa está sendo cumprida desde a saída da penitenciária em 1994. A partiu desse dia buscou participar de projetos que aju-

dariam viciados e usuários de drogas, além dos portadores do vírus da Aids em Londrina. Foi um manual, parte do material do projeto dado por umas das participantes do ALIA, que fez Tiba enxergar a redução de danos como seu futuro: “Quando você se intitula soro positivo as pessoas falam ‘tá vendo, quem mandou usar droga, quem mandou ser gay, quem mandou ser prostituta ou quem mandou estar no caminho errado’. Quando veio a redução de danos e disse ‘você é usuário de drogas, mas tem diretos e deveres como cidadão’, isso me deu uma força. Ninguém nunca tinha dito para os usuários que nós tínhamos direitos e deveres”.

Serviço: Núcleo Londrinense de Redução de Danos Endereço: Av. Souza Naves, nº 189, 1º andar, salar 12 e 13. As reuniões são relizadas às quartasfeiras, às 19h30. Mais informações pelo telefone: (43) 3357-2306 Ou pelo email: nucleord@yahoo.com.br

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Tiba e os voluntários do Núcleo Londrinense de Redução de Danos

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A sorte do cultura

jogo do

Bicho

Fotos: Edson Vitoreti

Ladislau Gaudino: “A maioria dos apostadores são idosos. Gente jovem não joga”

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Carlos Champs diz que as apostas mais curiosas se originam quando o apostador está dormindo

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Sebastião Marcelino não gosta do jogo, mas joga para ajudar amigo cambista

Em vias de extinção, o jogo mais característico da cultura brasileira sobrevive mais no imaginário popular do que nas ruas. Reportagem mostra a relação do povo com o jogo que mais o espelha.

Edson Vitoreti “Eu sonhei que tava carregando debaixo do braço um rapaz que tinha pele de carneiro. Carregando numa estradinha de chão. Aí passei beirando uma roça de café carregado, e fui embora. Depois passei por uma mata e subi um barranco com o rapaz de pele de carneiro embaixo do braço. Aí eu falei: ‘É tigre’. Joguei, e deu na cabeça”. O relato acima é do seu João Menezes, aposentado, e mostra que, se nas ruas o jogo do bicho parece estar caminhando para a extinção, no imaginário popular ele continua tendo espaço garantido. Professora de cultura brasileira, Raimunda de Brito Batista diz que a relação do povo com o jogo do bicho expressa uma qualidade que não se vê em outros países: “É algo ligado à nossa cordialidade, às nossas crenças, à nossa credulidade. A gente acredita em jogo do bicho assim como acreditamos em lobisomem, Saci Pererê e que as coisas vão melhorar”, diz. A professora cita aspectos religiosos dessa credulidade: “Você joga com a mesma devoção com que você faz uma promessa para Nossa Senhora Aparecida. Eu já vi gente beijando o papel da aposta como se tivesse rezando para ganhar”, conta. Ela acrescenta que a intimidade que o brasileiro, especialmente o nordestino, estabelece com a religião, chamando os santos de “meu padinho Cícero”, “meu São Beneditinho”, também está presente no jogo do bicho. Se o jogo do bicho ainda está vivo, em grande parte se deve a esse aspecto da intimidade, da informalidade presente na relação entre o apostador e o cambista. Sebastião Marcelino da Silva, 82, pintor aposentado, diz que não gosta do jogo do bicho, mas joga mesmo assim: “O cambista é meu amigo. Ele precisa viver, precisa ter o salarinho dele. E


cultura hoje eu nunca vi alguém que ganhou. E na minha pra não ficar em casa sozinho, eu venho pra cá conversar com os amigos.” banca todo dia alguém ganha”, afirma. Seu Lalau Essa familiaridade que se estabelece entre aposdiz que as pessoas não jogam no bicho apenas por tadores e cambistas também se dá por uma questão dinheiro, e quando fazem, não pensam em fortunas: geográfica: há sempre uma banca, uma mesinha na “Ele joga pra se divertir, pra aventurar e pra arrumar calçada, ou um bar onde se faz jogo do bicho na uns troquinhos. Às vezes o cara joga um ou dois reais comunidade onde as pessoas moram. Raimunda pra comprar mistura pra janta. Tinha uma mulher que Batista ressalta esse aspecto do ambiente convinha aqui e apostava pra pagar conta de água, luz e telefone. E era incrível, porque ela ganhava”, conta. tribuindo para o clima intimista do jogo do bicho: “Não só o relacionamento pessoal nas lotéricas é A formalidade que há nas lotéricas – com as expressões artificiais e padronizaartificial, mas as luzes são artifidas das atendentes, “aceita um ciais. As luzes do jogo do bicho “O jogo do bicho tem a ver bolão da Mega hoje?”, com as fisão as luzes do dia. Numa bancom ‘vamos esquecer que quinha de jogo do bicho, as peslas que o brasileiro tanto detesta existe lei’. A relação do soas se identificam com as outras brasileiro com a lei é compli- – se contrapõe à informalidade pela maneira de falar. Os cambi- cada até porque nossas leis do jogo do bicho, cuja autenticidade da aposta é confirmada em stas são pessoas extremamente são complicadas. Eu acho qualquer pedaço de papel. “Se simples”, analisa. bacana e saudável essa você fizer a aposta num papel A reportagem experimentou desobediência às coisas lehigiênico, vale da mesma forma, um desses momentos de intimigais. Tem que desobedecer e se você a-certar, o dinheiro dade, informalidade e hospitalimesmo em muitas coisas.” vem. O povo confia mais no dade genuinamente brasileiros. Raimunda Batista que ele escreveu do que naquele O cambista de uma banca – uma negócio impresso das lotéricas”, cabine metálica de 2 metros de diz seu Lalau. altura por 1,5m de largura –, Ladislau Gaudiano Mas o slogan “vale o que está escrito”, que corSanches, 72, mais conhecido como seu Lalau, me oferece um café, que costuma servir aos seus aposrobora a confiança do povo no jogo do bicho, está tadores. Tomando o café, ouço seu Lalau relembrar desatualizado. De uns anos para cá, a moder-nidade histórias da profissão que exerceu durante toda a tecnológica chegou às bancas do jogo. Uma maquinvida: “Fui garçom em várias casas famosas de inha eletrônica agora imprime a aposta. Mas o aposLondrina”, conta com orgulho. tador ainda prefere fazer a aposta utilizando o bloco Além do ambiente mais humano, o jogo do bide papel, conforme diz o cambista Carlos Champs: “As pessoas gostam mais do papel. Elas acham que cho possui uma vantagem concreta em relação aos quando eu digito aqui, o bicheiro já fica sabendo, e jogos feitos nas lotéricas. Seu Lalau diz que seus pode trapacear”. Seu Lalau também confirma a reclientes preferem o jogo do bicho às loterias ofijeição do apostador pela máquina: “Acho que são ciais porque é mais fácil de ganhar. “Tá certo que poucos que confiam na maquininha. Os que confiam na Mega-sena você pode ganhar milhões, mas até

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Ladislau Gaudino: “A maioria dos apostadores são idosos. Gente jovem não joga

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cultura Modernidade rejeitada: a máquina eletrônica não caiu o gosto do apostador, que continua preferindo escrever a aposta

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Raimunda Batista: “É algo ligado à nossa cordialidade, às nossas crenças, à nossa credulidade. A gente acredita em jogo do bicho assim como acreditamos em lobisomem, Saci Pererê e que as coisas vão melhorar“

são os mais esclarecidos. Tem cara que não gosta que os outros ouçam o palpite dele [Na aposta com a máquina, o apostador fala os números e o cambista os digita, muitas vezes na presença de outros apostadores]”. A informalidade do jogo do bicho não está apenas no relacionamento entre apostadores e cambistas ou na maneira de se fazer o jogo. Do ponto de vista legal, o jogo do bicho em si é informal, uma contravenção penal. Raimunda Batista diz que essa coisa da contravenção nem passa na cabeça de quem joga. “O jogo do bicho tem a ver com 'vamos esquecer que existe lei'. A relação do brasileiro com a lei é complicada até porque nossas leis são complicadas. Eu acho bacana e saudável essa desobediência às coisas legais. Tem que desobedecer mesmo em muitas coisas”, diz a professora, e completa: “Será que as loterias não são contravenção também?”. O proibido deve excitar a imaginação, porque a inspiração para a aposta no jogo do bicho são as mais variadas. O cambista Carlos Champs diz que o palpite surge de número de carro, de casa, de telefone, mas as apostas mais curiosas se originam quando o apostador está dormindo. Seu Lalau conta um caso: “Um cidadão devia oito meses de aluguel. Estava desesperado, dizendo 'preciso arrumar esse dinheiro senão vão me jogar na rua!'. Quando foi de noite, ele sonhou com o pai dele, já falecido. Aí ele jogou no número do túmulo do pai. Ganhou na milhar. Pagou o aluguel e ainda comprou uma casa”. Sobre o futuro do jogo do bicho, Seu Lalau é pessimista: “Hoje o pessoal não tá jogando mais. Caiu muito. Em breve o jogo de bicho vai acabar. A maioria dos apostadores são idosos. Gente jovem não joga”, avalia. Já a professora Raimunda Batista compara a sobrevida do jogo do bicho com a convivência entre o novo e o velho na mídia: “Já disseram que o rádio iria acabar por causa da televisão. E eu escuto rádio até hoje. Tenho Facebook, MSN e Orkut, mas ainda ouço discos de vinil. Eu acho que o jogo do bicho não vai acabar assim como ne-nhuma mídia vai substituir outra”, acredita. Se o jogo do bicho acabar um dia, as esquinas ficarão mais pobres, sem as histórias singelas e brasileiríssimas como esta, do seu João: “Fui jogar no carneiro, 728. Cheguei Lá, tomei uma pinga, cheia, pra almoçar. Eu trabalhava numa sacaria, tinha que beber pinga, senão não guentava o serviço. Depois do trabalho, desci e vi uma barraquinha perto de casa. Falei: ‘Eu vou passar lá. Sei que não deu nada, mas vou lá ver'. Aí quando eu chego, olhei e tava lá: 728, em cima. Foi só alegria”, conta.


da Rua Sergipe à Rodoviária

cidade

Vitaminas e história:

Naiá Aiello Quem mora em Londrina provavelmente já ouviu falar de um destes dois endereços: a Rua Sergipe 381 e Avenida 10 de Dezembro 1830, mais especificamente no Box 22. Popularmente conhecidos como “Vitamina da Sergipe” e “Suco da Rodoviária”, os dois estabelecimentos são considerados verdadeiros pontos de referência quando se fala nos locais que participaram da história da cidade. Tradição no centro de Londrina A Quitanda Sergipe tem este nome porque, ao contrário do que muitos imaginam, o local só virou pastelaria muito tempo depois de sua abertura, que ocorreu em 1968. Foi criada por Torawo Sekiyama, avô do atual administrador da pastelaria, Itiro Sekiyama. Aos poucos, o lugar se aprimorou, começou a vender vitamina e, só depois de alguns anos, o estabelecimento incluiu o pastel em seu cardápio. Está localizada em um pequeno imóvel de número 381 em uma das ruas mais movimentadas do centro da cidade, a Rua Sergipe. Próxima ao Calçadão e ao Camelódromo, é difícil passar pelo local, nem que seja bem rápido, sem deixar de saborear as especialidades da casa: a famosa vitamina acompanhada do pastel frito na hora. O local se tornou ponto tradicional de reunião entre amigos, familiares e colegas de trabalho. Prova disso, pai e filho dividindo um desses momentos na pastelaria. Ele, Maurício Júnior, cliente desde 2001, estava acompanhado do filho, Ian de Lima Santos, de cinco anos,

já cliente há dois. Prova da tradição, desenvolvida na maioria dos casos por meio da família, Rodrigo Frederico, 22, é frequentador da pastelaria desde os sete anos de idade. “Fui trazido pelos meus pais, desde pequeno. Agora, mesmo mais velho, continuo a vir”. E não foram só as famílias que tornaram o lugar um ponto de encontro tradicional na cidade. Diversos políticos, como o candidato a presidência José Serra e o atual governador do estado do Paraná, Beto Richa, visitaram a Pastelaria Sergipe em período de campanha eleitoral, mas não somente para provar da famosa vitamina. Por ser tão popular, o local virou mote político e foi usado para aproximar os candidatos dos eleitores. Sem cadeiras e mesas, os balcões sugerem que o local é feito mesmo para quem quer um lanche rápido e, pelo movimento diário, a estrutura é aprovada pelos clientes. “É muito prático e facilita muito. Hoje, com a correria em que vivemos, precisamos de um lugar que ofereça um serviço rápido”, elogia Alan de Melo, cliente há dois anos. A Quitanda Sergipe serve apenas um sabor de vitamina e sua receita, tão antiga, é considerada um mistério. Em uma conversa informal no balcão, Itiro Sekiyama deixou escapar todos - ou quase todos - os ingredientes. Abacate, banana, maça, leite, açúcar e farinha láctea, contou, sem titubear. Quando questionado sobre o segredo do sucesso da vitamina? “Tudo depende de onde são comprados os produtos e a qualidade dos ingredientes”, garante Sekiyama. Mesmo com um único sabor, são

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Um pouco da trajetória de dois tradicionais estabelecimentos de Londrina

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cidade Renato Sucos, Frutas e Vitaminas

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poucos os clientes que não pedem pela especialidade. De acordo com o proprietário, nem a Coca-cola e o suco de laranja desbancam a vitamina de abacate da Quitanda Sergipe.

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História no Terminal Rodoviário Mesmo com sua localização, a Casa de Sucos da Rodoviária não atende somente quem vai viajar ou está de volta à cidade. Muitas pessoas vão ao local apenas para saborear os sucos ou vitaminas do Renato, que fundou o estabelecimento há 29 anos, ainda na antiga Rodoviária. Em 1982, quando a Rodoviária de Londrina ainda era localizada nas esquinas das ruas Sergipe e Rio de Janeiro, Renato Kikuchi abriu uma pequena barraca, na qual vendia frutas e sucos. O negócio deu certo e, sete anos depois, já na atual Rodoviária, a barraquinha transformou-se em um comércio como é atualmente, especializado em preparar vitaminas, sucos e também na venda de diversas frutas. No cardápio, frutas convencionais divi-

dem espaço com frutas típicas de outras regiões do Brasil. Se em outros lugares sabores como laranja, maracujá e abacaxi são os mais vendidos, lá a preferência fica com frutas com morango, cupuaçu e açaí. De acordo com a proprietária, Cida Kikuchi, a prova disso é que o morango está em quase todos os pedidos e é uma das frutas mais vendidas do local. Com aumento no movimento em datas como feriados e festas, dias em que o movimento da Rodoviária também é intenso, a Casa de Sucos recebe muitos visitantes de outras regiões do país. É o caso da advogada Juliana Fernandes Barbosa, que frequentou o estabelecimento durante a graduação, antes das viagens à sua cidade natal, Ourinhos. Formada em direito pela Universidade Estadual de Londrina em 2008, Juliana atualmente mora em Foz do Iguaçu. Em visita à Londrina, ela não deixou de passar pelo local, prova de que não se esqueceu dos tempos nos quais saboreava os tradicionais sucos do Renato antes de suas viagens.


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cidade

Fotos: Naiá Aiello

Receita secreta da vitamina da Sergipe abriu espaço para imaginação da população

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Com novos p煤blicos e novos conceitos o mercado de usados ganha f么lego e coloca lado-a-lado novidades e raridades


economia

Julio Barbosa Londrina é uma cidade de diferentes classes e gostos. Em uma caminhada pela cidade é possível perceber das lojas mais chiques até as mais simplórias. Algumas vendem só o mais moderno e atual. Outras oferecem aquilo que já pertenceu a alguém, mas não era mais útil ou necessário. Por questões financeiras ou de espaço, as pessoas costumam se desfazer do que é “velho”. Com isso, surgem bazares, brechós, móveis usados e sebos – lugares dedicados aquilo que não é mais útil a alguém - mas que ainda têm algum valor. Entretanto, saber o diferencial do produto usado e a quem se destina é um ótimo ponto de partida para essa história. A questão aqui não é investigar porque as pessoas se desfazem do que lhes pertencia. É descobrir quem está interessado em adquirir algo que não tem mais aquele “cheirinho de novo”. Vale deixar claro que, independente de classe ou gosto, o que todos procuram é algo que satisfaça suas necessidades, tendo em vista a qualidade.

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Fotos: Julio Barbosa

Antiga tulha de café transformada em casa pelo marceneiro Poka Marques

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economia PONTO FINAL 06/2011 16

Primeira parada, um sebo. Londrina é conhecida como uma cidade universitária. Isso passa a ideia de que a demanda de livros por aqui é muito grande. Nem sempre a melhor opção ou a mais imediata é um livro novo. Muitas vezes, a procura acaba em um produto usado por um estudante anterior. Para o gerente do Sebo Capricho, Alexandro Basques, a busca por livros usados gira em torno de duas situações: economia ou raridade. O movimento nas lojas não se restringe a estudantes, embora eles sejam um público constante. Geralmente procuram algo mais barato do que nas livrarias ou por não encontrarem o que procuram nelas. Mas os sebos não se restringem a livros. É possível encontrar fitas de vídeo, discos de vinil, CD´s e uma infinidade de produtos, até mesmo novos. Mas o público continua procurando qualidade. Mesmo com a expansão dos negócios da loja para a internet, muitos clientes ainda preferem fechar a compra pessoalmente. Eles acham essencial primeiro observar o produto e decidir se vale a pena. Alexandro deixa claro que qualquer um pode ir até um sebo e oferecer um produto para venda, mas nem tudo é negociável. “Produtos que se encontram em excesso nas lojas ou que estejam desatualizados por vezes são dispensados”. Como em outros setores de usados, os preços variam bastante: desde livros que podem sair por um ou dois reais até coleções completas de livros antigos que podem ser negociadas ao preço de um carro popular. Uma pequena caminhada e mais uma parada: uma loja de móveis usados. A Avenida Duque de Caxias é conhecida pelas muitas lojas desse gênero. A Albatroz Móveis Usados é uma referência nesse assunto. Em uma breve conversa com Gabriela Zanone Ramos Moreira, filha da proprietária, descobre-se histórias interessantes sobre a loja e seus produtos. Fundada há mais de 30 anos, e há 12 no atual endereço, a Albatroz foi a segunda a abrir na cidade e a mais antiga a permanecer em funcionamento. São dois grandes barracões com produtos antigos, raridades e produtos mais “novos”, onde além de móveis se encontram eletrônicos, eletrodomésticos e produtos de decoração das mais variadas épocas. Voltando a questão, quem tem interesse nesse tipo de produto? A resposta

O gerente Alexandro Basques diante da variedade de itens disponíveis no Sebo Capricho

Gabriela Zanone Ramos Moreira conta um pouco da história da Albatroz Móveis Usados


madeira, acreditando que nunca se esgotaria. Isso se tornou uma vantagem para ele na aquisição de matéria prima. Hoje a madeira bruta é artigo raro, mas preserva suas características nas antigas construções, que agora são ofertadas ao marceneiro, quando acontece alguma demolição. Segundo Poka, não foram apenas os clientes que perceberam o valor da sustentabilidade. Hoje aqueles que estão se desfazendo da madeira, já conhecem seu valor no mercado e uma tábua de 2,5m a 3m pode chegar a custar R$30. Para ele “dentro de alguns anos estarão valendo como ouro, e se tivesse dinheiro faria estoque em madeira de peroba-rosa”. O valor pago pela madeira se reflete no valor cobrado nos móveis: um banco pode passar dos R$950 e um conjunto com mesa e banquetas chega perto dos R$4.000.

economia

antiga tulha de café, agora transformada em lar, o então ator, produtor e agora marceneiro, Poka Marques. Trabalhando exclusivamente com a peroba-rosa, Poka transforma a madeira proveniente de demolição em móveis dos mais variados estilos e nos mais variados graus de “rusticidade”. Para ele está claro que sustentabilidade está em moda. Seus móveis têm público definido: são feitos para classe média alta, tanto pelo preço quanto pelo conceito. Poka normalmente trabalha em parceria com arquitetos e sempre busca conhecer seus clientes. A intenção é saber o que querem de seus futuros móveis. Trabalhando com um marceneiro, dois ajudantes fixos e mais alguns “freelas”, ele diz que a peroba-rosa era abundante na região e “todo mundo” construía suas casas com essa

www.flickr.com/photos/pokamarques/

dada por Gabriela é rápida, a “classe alta e pessoas simples que buscam qualidade”. Segundo ela, nem sempre foi assim: “a ideia de móveis usados era normalmente direcionada a uma classe com renda inferior, mas hoje, boa parte da procura por móveis mais antigos é feita por arquitetos/decoradores que buscam o móvel em suas características originais ou ‘ao gosto do cliente’, sendo que a restauração ou mesmo a adaptação do móvel pode ser feita na própria loja”, completa. É possível montar um quarto completo (cama, colchão, guarda-roupas e cômoda) por pouco mais de R$800 ou quem sabe adquirir um conjunto completo de jantar (mesa, cadeiras, balcão e cristaleira) com cerca de um século de idade por R$35.0000. Vamos a uma última parada: sustentabilidade. Encontramos em uma

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Poka Marques desenvolvendo mais uma de suas criações em peroba-rosa

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comportamento ponto final 06/2011 18

Londrina tem cerca de 30 mil c達es nas ruas, e o problema n達o para de aumentar.

O defafio de cuidar de c達es e gatos abandonados


colhe, trata, alimenta e castra cães e gatos e os prepara para adoção. O projeto coordenado pela médica veterinária, Carmem Lúcia Scortecci Hilst existe oficialmente há 2 anos. Mas ela relata que o Viva Bicho já existia há muito mais tempo , quando um grupo de estudantes começou a tratar dos cães que perambulavam pelo campus. O Hospital Veterinário da Universidade cede o espaço para realização das cirurgias. O projeto se sustenta com a venda de camisetas ,adesivos, doações de ração,soro e medicamentos. Outro trabalho realizado pelo projeto Viva Bicho , é o de conscientização. Carmen Hilst conta, que no geral, as pessoas tem se importado mais com as questões ambientais e relativas ao mundo animal. Mas ela lembra que ainda é necessário discutir melhor este assunto. “ Na época das férias, há um aumento no número de animais abandonados aqui no Campus. São os próprios estudantes que muitas vezes querem viajar , não têm com quem deixar o animal , e o soltam aqui na UEL.”,conta. Como o caso de um pitbull, encontrado por ela não faz muito tempo, amarrado em uma árvore do campus, para não correr atrás de quem o estava abandonando. Outro problema são os donos de animais que ao trazer seu animalzinho doente ao hospital veterinário, o “esquecem” para não ter que pagar pelo tratamento

comportamento

Em um amigo de verdade não se vê defeitos . Raça cor , aparência física: nada disso importa quando se procura um companheiro fiel. Por isso, escolher um cão ou um gato de estimação é um ato que vai muito além do modismo , de ter um bicho bonitinho e com pedigree para mostrar aos amigos. Diariamente, centenas de animais domésticos, a maioria cães e gatos , são abandonados nas ruas. Alguns adultos, outros recém nascidos e quase todos SRDs ( sem raça definida). Eles vagam sozinhos por ruas e avenidas, em condições precárias de sobrevivência. Em Londrina, existem cerca de 30 mil cães abandonados. E se não fosse a ação de ONG´S e de particulares , que recolhem e cuidam desses animais, esse número seria ainda maior. A ONG S.O.S Vida Animal,que existe na cidade desde 1989 e como afirma Milton Pavan, presidente da ONG, atua no resgate de animais abandonados, atropelados e cuidando de ninhadas de cachorros e gatos. O S.O.S Vida Animal, se sustenta com a doações mensais e da ajuda de veterinários solidários a causa. Eles cobram pela castração dos animais um preço abaixo do normalmente cobrado. Também fazem eventos, e venda de artigos como camisetas ,adesivos e o calendário “Vira-lata de raça”, a cada mês tem a foto de um animalzinho para cada mês, eles são vendidos a R$10. Pavan afirma que o problema dos animais abandonados é respon-

sabilidade de todos.Para ele a prefeitura, universidades,clínicas e a população podem e devem fazer alguma coisa para mudar este quadro. O S.O.S Vida Animal conta hoje com 40 voluntários, oito abrigam animais em casa. No total a ONG está atualmente com 150 animais. Pavan conta que as feiras têm uma boa resposta perante à população e que filhotes são mais fáceis de serem adotados. Também é preciso continuar o trabalho de conscientização de posse responsável, pois muitas pessoas chegam até mesmo a amarrar cães na porta da casa dos voluntários e a deixar caixas de papelão com filhotes nos quintais. “ As pessoas têm que ter em mente que um animal vai durar no caso de um cachorro ,por exemplo, de 10 à 12 anos. É preciso querer mesmo, não adianta pegar um cachorro porque o filho pediu um. Tem que ser bem pensado, saber que vai ter cuidados com alimentação, vacinas , veterinário,tem que levar para passear.” comenta. Outro problema grave que a ONG enfrenta são os maus tratos de animais.Todos os dias a S.O.S recebe denúncias de agressões de animais e só são ajudados quando um vizinho resolve fazer alguma coisa. Na Universidade Estadual de Londrina acontece um importante trabalho de ajuda aos animais abandonados dentro do próprio campus. É o projeto “Viva Bicho” ,que re-

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Ione Horácio

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Eduardo Heleno

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O paĂ­s das chuteiras Guilherme Santana


Meninos de kichute, umbro, nike... Fotos: Guilherme Santana

esporte

O país do futebol abriga milhões de sonhos de garotos e garotas, que querem se profissionalizar no esporte mais tradicional na pátria verde e amarela. E não é só o eixo Rio-São Paulo que tem história para contar, não. Em Londrina, na década de 70, os meninos de kichute já sonhavam em ser jogadores profissionais. E agora, temos os jovens do sub 11 e sub 15 da terra vermelha, que batalham pelo mesmo desejo. Não importava a chuteira, ou se era um tênis; a bola de futebol, de preferência a que se movimentasse mais rápido; e, para os goleiros, nem existiam as luvas, que fossem as meias nas mãos, os garotos tinham a esperança de serem “achados” enquanto jogavam futebol nos bairros e praças. Hoje, os clubes acolhem e treinam os futuros talentos, e requerem instrumentos necessários para isso. O filme “Meninos de Kichute” (2008), de livro homônimo de Márcio Américo, tem como personagem principal o jovem Beto, que, mesmo contra a vontade do pai Lázaro, sonha em se tornar um astro do futebol. O garoto, de apenas 12 anos, queria ser o goleiro da seleção brasileira, e montou um clube para alcançar seu objetivo. Já Nicolas, de 10 anos, advinha? Também quer ser um astro do esporte. No Campeonato de Futsal Londrinense sub 11, realizado no início de junho, jogaram os times oficias da cidade: Bandeirantes, Iate (o vencedor do Campeonato), FML e a AABB, que é o time do nosso personagem. “Participei de uma das peneiras que a AABB realizou em 2007, eles gostaram de mim e me chamaram. Comecei por gostar de futebol e por incentivo do meu pai”, afirma. Os treinos vêm acompanhados do técnico Dida Bernardino, profissional de Educação Física, que acompanha os times da AABB há dez anos. “Olha... para ser técnico, além das táticas de esporte, você precisa saber a hora de dar os parabéns e também o momento de gritar, para extrair o máximo dos jogadores”, explica Dida, que classifica a amizade entre os garotos como um dos itens mais importante para um bom time. E quem disse que para sonhar com essa profissão basta o desejo? Os meninos treinam uma hora e quinze, três vezes por semana. E o ritmo acelera antes de campeonatos, como o Londrinense, e a rotina muda para quatro ou cinco treinos semanais. “É preciso esforço. Para aguentar as rodadas do torneio, os jogadores precisam de muita resistência e energia”, afirma o técnico.

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esporte ponto final 06/2011

Os meninos agora não se interessam por jogar na seleção brasileira, como o Beto e seu clubinho dos meninos de kichute. O Nicolas, e os colegas Paulinho e Brendo, já estão de olho nos times da Espanha – Paulinho quer ir para o Real Madrid, enquanto Nicolas e Brendo sonham com o Barcelona. Os pais dos três não afugentam os sonhos dos filhos como Lázaro fez com Beto em Meninos de Kichute. “Nós apoiamos a decisão deles de quererem transformar o esporte em profissão”, afirma o pai de Nicolas, Ranieri Garbosi, que completa: “E isso não é apenas esporte, é saúde, educação, oportunidade e, claro, uma forma de criar amizades”. O mais importante dentro da família é sempre ter os pais como apoio. Ranieri é o tipo de pai coruja quando se trata do esporte do filho, no trabalho, sempre pede aos colegas para irem assistir aos jogos, conta os grandes passes que Nicolas fez e detalha cada jogada em que o filho atacante faz gol. “Eu também sou um ótimo jogador, as únicas coisas que me atrapalham um pouco são a bola e

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o campo”, brinca. Muitos garotos acham que se profissionalizar é o objetivo final para subir na carreira do esporte. Matheus Lincoln, de 19 anos, jogador profissional do Junior Team, e atuante no time de Campo Mourão (PR) na segunda divisão do Paranaense, mostra que a coisa não é bem assim. O garoto começou no esporte com apenas seis anos de idade treinando no SESI de Londrina, e antes de ganhar a carteira assinada, passou pelo Polivalente, Canadá, Londrina E.C. e pelo Centro de Treinamento de Futebol do Paraná. Quando estava no time infantil (sub 11) recebia R$50,00 de salário, aos poucos foi aumentado, até chegar ao pagamento atual de um salário mínimo, que com os descontos, não vai além dos R$500,00. “Meu sonho ainda não acabou”, afirma Matheus. “Nesse tempo de experiência já vi muitos colegas desistirem, a saudade da família dificulta e muitos não aguentam mais esperar pelas oportunidades”, diz. Aliás, assim como o Nicolas, o Paulinho e o Brendo, o nosso jogador já profissional também


redução de danos esporte partiu apenas de mim”, conta. Um conselho para o pequeno Nicolas? “Se esse é realmente o sonho de quem está começando, você não pode desistir, e tem que abdicar das bebidas, seguir restrições de horários, e nunca deixar o desânimo te alcançar”, aconselha o meia-atacante do Campo Mourão. Além de toda sua experiência, Matheus relembra com humor uma história de quando jogava futsal pelo Polivalente: “Estávamos em uma final, o ginásio estava lotado, e havia muita pressão em cima do nosso time. Na metade do jogo, durante algum dos tempos técnicos, eu sentei no banco de reservas e comecei a chorar e não queria voltar mais, eu tinha uns 10 anos”. A mãe dele pediu licença a todos, chegou próxima do banco e falou bem alto: “Matheus, volta logo para esse jogo aí e para de chorar” – ele, claro, levantou e foi. “Acredita que ainda ganhamos o jogo com um gol meu? (risos)”. Ele explica que a mãe não fez aquilo para obrigá-lo a jogar, mas sim para incentivá-lo, pois sabia que em alguns momentos o aspirante a profissional pode sofrer pressão e querer desistir.

Matheus joga pelo Campo Mourão no na 2ª divisão do Campeonato Paranaense

Arquivo pessoal

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quer ir para o exterior: “Tenho cidadania italiana, então estou de olho em alguns times como o Milan e o Manchester, simplesmente porque os melhores estão por lá”. Muitos jogadores jovens partem para o exterior sem perspectiva nenhuma e acabam voltando para o Brasil para jogar novamente em times pequenos. Existe o risco de serem enganados por empresários. Muitas vezes a visibilidade de jogar em um time estrangeiro não é alcançada. Um exemplo de jogador das bases que foi para um time estrangeiro e que acabou entrando em campeonatos considerados mais “fracos”, que é o caso do jogador Brum, que jogava no Santos e foi para o Alki Lanarca (Chipre). E para quem possui essa jornada fora de casa, é ideal apoio total dos pais, assim como no caso de Matheus Lincoln, que diz que eles nunca exigiram que ele trabalhasse, mas que apenas não se esquecesse dos estudos. “Meus pais influenciam muito hoje, eles compartilham do meu sonho de ser um grande jogador de futebol, mas que inicialmente

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Baixo salário desestim

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informalidade

Para vendedores ambulantes compensa mais trabalha

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Allan Oliveira Gabriel Bandeira Ao caminhar pelo Calçadão e pelos arredores do Terminal central de Londrina, é possível ver vendedores ambulantes na cidade. É grande a variedade de produtos oferecidos: artesanatos, bonés, cachorro quente, cigarros, doces, espetinhos, meias, óculos, produtos in natura (feijão, castanha, pimenta, frutas), salgados, vale transporte são alguns exemplos. Assim, é fácil perceber que o empenho da prefeitura em proibir esse tipo de comércio não teve o resultado esperado, exceto a liberação da calçada do terminal central para o livre transito das pessoas, quarteirão da Rua Benjamin Constant entre a Rua Professor João Candido e a Avenida São Paulo. Em outros locais a venda dos produtos continua. A fiscalização é responsabilidade da CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização) e conta com o apoio da Guarda Municipal de Londrina para garantir que as apreensões dos produtos sejam feitas sem agressões. Isso não parece ser realizado com tanto rigor a ponto de fazer os ambulantes pensarem em trocar o trabalho nas ruas por um emprego com carteira assinada. Falta de emprego formal, baixa escolaridade, idade avançada para o mercado de trabalho e possibilidade de um salário melhor foram as causas alegadas por três vendedores autônomos para continuar a vender os produtos nas ruas do centro da cidade. Wallace de Oliveira Souza, 38 anos, trabalha como vendedor ambulante desde os 12 anos de idade, ou seja, 26 anos nessa atividade. Em Londrina está há 14 anos. Geralmente fica em uma das esquinas do terminal central, ao lado do Museu Histórico Padre Carlos Weiss, com um carrinho de mão utilizado para carregar os produtos que vende. Comercializa um determinado produto em cada período de tempo: castanha de caju, cocada, pé-de-moleque, feijão de corda, pimenta e outros. O trabalho nas ruas começou quando era criança porque não teve oportunidade de estudar e precisava ajudar na renda da família. Devido a baixa escolaridade, Wallace não acha um bom negócio ter um emprego com carteira assinada para receber um salário mínimo de 545 reais. Na rua seu ganho pode variar de 2.000 à 3.000 reais por mês. Porém, isso não significa tranqüilidade. Enquanto concedia entrevista, o vendedor não parava de atender os clientes e olhar para todos os lados com medo da fiscalização. Num determinado momento demonstrou preocupação quando viu um carro da

Fotos: Gabriel Bandeira

Venda de artesanatos já é tradição no calçadão de Londrina

Polícia Militar e um pouco atrás outro da Guarda Municipal. “A polícia não faz nada. O problema é quando chega o arrastão da fiscalização. Eles vêm em três carros. Quem trabalha na rua é unido e está acostumado. Todo mundo tem celular. Quando um vê a fiscalização já avisa os outros, mas mesmo assim alguém perde. Eu já perdi duas vezes. Quando sei que vou perder, jogo toda a mercadoria no chão porque eles não devolvem”, concluiu Wallace, que não autorizou ser fotografado enquanto trabalhava. Um dos mais antigos vendedores autônomos de Londrina, o artesão Onofre Barbosa de Souza, 63 anos, também conhecido pelo apelido de Highlander, está na cidade há 40 anos. Relembra que quando chegou por aqui na década de 70, aos 23 anos de idade, nem existia o calçadão na avenida Paraná. O artesanato era muito bem aceito pela população e a cidade passava por um bom momento econômico. A tentativa de tirar os vendedores ambulantes das ruas também já acontecia naquela

época. “Uma vez fui detido pela polícia e levado para delegacia. O delegado, que eu não me lembro o nome, perguntou o que eu fazia da vida. Quando eu respondi que era artesão e vendia os produtos Avenida Paraná, ele ironizou que eu era hippie e deu o prazo de três dias para eu ir embora para outra cidade, caso contrário eu seria preso”, contou Onofre. Depois dessa situação, se mudou para São Paulo onde morou por dois anos até voltar para Londrina. Foi na capital paulista, aliás, onde Highlander aprendeu as técnicas de artesanato com os amigos na Praça da Bandeira, atividade pela qual tem muito prazer em trabalhar. Aqui em Londrina já ficou em lugares diferentes do calçadão. Na Praça Marechal Floriano Peixoto, ao lado da Catedral, e atualmente na Praça Willie Davids em frente ao Teatro Ouro Verde. Vende colares, pulseiras, brincos, anéis, berimbal, trabalhos em madeira, carrancas, por exemplo. Para produzir os produtos, Onofre utiliza sementes, lascas de diferentes tipos de madeira, penas e den-


mula emprego formal

tes de animais, arame, couro e plástico. O preço dos produtos varia de 3 à 60 reais. Ele lucra em média, 1000 reais por mês, que pode chegar à 2000 reais na época de Natal e durante o FILO (Festival Internacional de Londrina). Segundo o artesão, na administração do Barbosa Neto (PDT) não aconteceu nenhuma tentativa de tirar os artesões do calçadão, e se isso chegar a acontecer, garante que os vendedores vão se unir e exigir um lugar para poder vender seus produtos, “porque não fazem nada de errado”. Durante a última administração, do então prefeito Nedson Micheleti (PT), foi criado o Centro de Referência do Artesanato Londrinense (Cereal). O espaço funcionou na Avenida Rio de Janeiro, no antigo Banco Econômico, com 54 lojas. Ele foi desativado porque as vendas diminuíram e os artesãos decidiram voltar para o calçadão, sem autorização e com o argumento de que o fluxo de clientes é maior. Onofre já teve a experiência de trabalhar com carteira assinada. Exerceu a função de tintureiro químico em uma fábrica de roupa íntima em São Paulo. Prefere trabalhar como vendedor de artesanato nas ruas do que ter que seguir a rotina de cumprir horários e ordens de patrões. “Na rua eu posso fazer o que achar melhor para vender os produtos. Os fregueses são os patrões. Eles que pagam meu salário. Se eles são bem atendidos voltam e compram mais. Na idade que eu estou, 63 anos, e sem estudo, sei que não vou conseguir um emprego para ganhar mais do que eu ganho com a venda de artesanato. Então, o

jeito é seguir assim mesmo”, finalizou o artesão. Juliano Segatto, 26 anos, gosta dos produtos confeccionados pelos artesãos, que classifica como alternativos, e dos materiais utilizados. “Eu aprovo a idéia de utilizar sementes, penas, dentes de animais na fabricação de pulseiras, colares, brincos. O reaproveitamento desses produtos segue a idéia de sustentabilidade. E não considera um problema a presença dos artesãos no calçadão”. Wilson Soares Ramos da Cruz, 39 anos, trabalha há 15 anos no mesmo ponto, a esquina das avenidas Rio de Janeiro e Paraná, ao lado da loja Pernambucanas. Não reclama do seu trabalho de vender cachorro quente. Prefere o trabalho na rua, ao invés de receber um salário mínimo com carteira assinada. “Qual é o benefício de trabalhar com carteira assinada? Um salário de no máximo 600 reais? Não é possível eu pagar todas as contas da minha família e o aluguel de 400 reais com esse salário. Enquanto autônomo é possível ganhar de 1500 à 2000 reais”, argumentou Wilson. Quanto à fiscalização da CMTU, não teve nenhum problema e disse que quem reclama mais são os vendedores ambulantes temporários vindos de outras cidades. Em relação aos direitos trabalhistas garantidos quando se trabalha com registro na carteira profissional, os três vendedores alegaram que tentam guardar um pouco de dinheiro numa poupança, pois sabem que não contribuem com a previdência social e será difícil ter direito ao benefício depois.

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Onofre Barbosa de Souza, artesão, também conhecido pelo apelido de Highlander é um dos mais velhos vendedores de rua de Londrina. Está na cidade há 40 anos

informalidade

ar na rua do que em emprego com carteira assinada

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cultura

Direto da Polinésia: a

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Ilustração Shutterstock


informalidade

a arte impressa no corpo

Vanessa Silva Em 1769, um marinheiro e sua tripulação, em missão para explorar terras desconhecidas, aportaram em uma ilha com nativos que não se vestiam com roupas, mas com desenhos. Lá, homens e mulheres tinham um costume peculiar: usavam espinhos de animais ou instrumentos de corte para perfurar a pele e as marcavam com pigmentos feitos de carvão e ferrugem. A população mostrava a arte ou, como ficou conhecida tempos depois, sua “tattoo” com muito orgulho. Esses costumes impressionaram o inglês e navegador James Cook. Ele registrou tudo em seu diário de bordo, descrevendo o que na língua dos indígenas da Polinésia, chamava-se tatau: “Eles injetam pigmento preto sob a pele de tal modo que o traço se torna indelével.” Cook divulgou a experiência por que passou, contando aos marinheiros e viajantes as maravilhas dos desenhos e a forma de viver dos indígenas. De boca em boca e corpo em corpo, a técnica dos nativos foi se popularizando. Marinheiros contavam aos operários que contavam a artesãos e a ferreiros

e assim por diante. Os anos se passavam e a tatuagem se popularizava entre as classes sociais mais pobres. Com essa característica popular, a tatuagem era vista pela nobreza como símbolo de marginalidade. No século XIX, o preconceito ficou oficializado. A corte européia aprovou um decreto em que a tatuagem era a mais nova forma de identificação de criminosos, sendo definitivamente associada à rebeldia e marginalidade. No Brasil, a história começou bem mais tarde, mas com características não muito diferentes; por aqui só um século mais tarde a tatuagem viria a se tornar um costume também de classes sociais mais altas. Mas e hoje, como é vista a tatuagem? Ela ainda é considerada coisa de roqueiros rebeldes e gangues ou já é reconhecida como uma manifestação artística? Em muitas casas de Londrina, meninos e meninas estampam com orgulho suas tatuagens de figurinhas de chiclete. Assim, foi com o menino Eduardo Berbel. Tinha 10 anos e uma diversão: dedicar um bom tempo “tatuan

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Fotos: Vanessa Silva

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do” os braços ou as pernas e depois sair por ai mostrando para todos a sua obra de arte. Berbel cresceu e fez do passatempo de criança sua profissão. Seu trabalho como tatuador ganhou reconhecimento. Junto com a fama cresceu a paixão pelo tatuar. “Nesses 18 anos de profissão, aprendi que tatuar é uma forma de ver o mundo. E hoje, o triste é que muitos ainda não encaram a tatuagem como uma arte, pois acham que é mais uma cópia de um desenho. Mas como o tempo isso vai mudar. As pessoas estão aos poucos começando a reconhecer a tatuagem como manifestação de arte; de uma arte que envolve e usa várias outras formas de arte para se construir. Gustavo Bogo e Gabriel Menezes começaram a tatuar mais tarde, mas como Berbel, têm nas tatuagens suas referências e maneiras de ver o mundo. Para Bogo, “ A tatuagem é uma mais uma forma de arte; tem um processo de construção, como em todas as artes. Tem escolas de formação como a tribal, oriental e tradicional americana e está desenvolvendo identidade com o passar o tempo.” Bogo acredita ainda, que a tatuagem tem como seu artista o tatuador. “Não há como negar que nós tatuadores somos artistas, pois a nossa função é tentar interpretar o que a pessoa pede ao chegar na clínica representar visualmente a intenção dela.Gabriel Menezes completa dizendo que tatuagem é uma arte diferente das outras. “É isso que as pessoas não entendem. Ela não é estática como os quadros na parede ou as telas, ela é viva. É uma arte que mistura o humano e o imaginário”.


cultura É isso mesmo. As tatuagens tomaram conta das paredes na exposição “A Parede é a Pele”. Se você gostou da História das tatuagens e quer conhecer a arte de Berbel, Bogo e Menezes, essa é uma ótima oportunidade. A exposição é uma realização da Casa de Cultura da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e reúne versões de tatto feitas em paredes. São quinze tatuadores expondo suas obras a fim de espalhar pelo mundo quetatuagem também é arte. A exposição nada convencional é de graça e pode ser vista em Londrina (PR), até o dia 6 de agosto, das 8h às 12h e das 14h às 18h, na Divisão de Artes Plástica da Casa de Cultura da UEL (Av. JK, 1973). Mais Informações pelo telefone (43) 3322-6844 ou no site da Agência de Notícias da UEL, www. uel.br/com/agenciadenoticias .

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tatuagem nas paredes?

Eduardo Berbel durante trabalho criativo para a exposição “A Parede é a Pele”

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A mente de Bonilha

Arquivo Câmara Municipal

Em entrevista à documentário, o exvereador Orlando Bonilha abre a guarda sobre seu envolvimentos em escândalos e mostra uma lógica toda especial em explicá-los


política PONTO FINAL. 06/2011

Do editor O londrinense acompanha hoje desdobramentos de um escândalo político que, dessa vez, envolve denúncias de desvios de dinheiro e tráfico de influências na área da Saúde. Londrina vive desde 1998, com o caso AMA/Comurb, uma sucessão de crises políticas na prefeitura e Câmara de Vereadores. De olho nisso, os mesmos estudantes de jornalismo que fazem a Ponto Final, estão produzindo um documentário sobre os principais escândalos políticos da cidade e a revista traz com exclusividade um resumo da entrevista com ex-vereador pelo PDT, Orlando Bonilha. Ele fala sobre seu voto de minerva na cassação do ex-prefeito Antonio Belinati, e do seu envolvimento no “mensalinho” e como acredita que sua participação confessa em esquemas de improbidade pública, apesar de ilegais, não seriam corruptas.

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Arquivo Ponto Final

politica 32

Arquivo Folha de Londrina

ponto final 06/2011

Os bastidores da gravação do documentário que está sendo produzido pela equipe que faz a Ponto Final

Bonilha no Centro Cívico, em sua época de vereador, onde, segundo ele, não era a única batata podre

Rodrigo Fernando Com ar condicionado desligado e luzes do estúdio acesas, o clima fica ainda mais quente no laboratório de TV da UEL com o polêmico Orlando Bonilha no papel de entrevistado. Eleito três vezes vereador pelo PDT e duas vezes presidente da Câmara, Orlando Bonilha abre seu coração às câmeras e estudantes de jornalismo, assim como afirma ter aberto aos promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO). Na ocasião, em 2008, prestava depoimento sobre a crise política na Câmera dos Vereadores, “abrindo o jogo” sobre os esquemas que participava, afirmando não ser a única “batata podre da história”. Bonilha é falante, articulado e orgulhoso do passado de menino pobre que venceu na vida, “comecei a trabalhar com onze anos como balconista em um comércio e cheguei a ter setenta funcionários”, revela o ex-vereador. Orlando Bonilha foi eleito em 1996. Na sua segunda tentativa de chegar à Câmara. Ficou famoso por ser o voto minerva na cassação do então prefeito de Londrina Antônio Casemiro Belinati (PP) em 2000, - acusado por fraudes em licitações, desvios de dinheiro público, improbidade administrativa, uso da máquina pública para promoção pessoal e dezenas de outras denúncias que ainda correm no poder judiciário. Na sessão que decidiria o futuro de Belinati, Bonilha saiu do plenário - diz que se retirou estrategicamente. Assim ele pôde votar em segunda convocação. Desse modo o voto dele decidiu pela cassação. “Se eu votasse na minha vez, outros vereadores, que iriam votar contra, votariam pela cassação, porque já iria estar definido”. O voto de Bonilha foi uma surpresa, fazendo parte da bancada de apoio a Belinati, esperava-se que ele votasse contra. As participações de Bonilha em escândalos são conhecidas. Mas é a lógica toda particular que o ex-vereador tem de ver os esquemas de que fez parte que surpreende. “Colega, eu nunca peguei dinheiro público, os empresários que iam lá, no nosso local de trabalho oferecer dinheiro”, explica Bonilha. Também faz questão de esclarecer que as contas das duas gestões em que foi presidente da Câmara foram aprovadas pelo Tribunal de Contas. Único cassado em 2008 pelo es-


Arquivo Folha de Londrina

politica

“Não sou a única batata podre desse saco”

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Ao lado do ex-prefeito de Londrina, Nedson Micheleti (PT), quando era presidente da Camâra dos Vereadores de Londrina

Roberto Custódio/ Arquivo JL

quema da venda de projetos na Câmara dos Vereadores de Londrina, o ex-vereador diz não entender porque foi o único penalizado. “Vereador não faz projeto sozinho”, relata. Sua indignação estende-se aos empresários que procuravam o legislativo oferecendo dinheiro em troca de favores. “Com eles não acontece nada, para o Ministério Público eles são as vítimas”, reitera. “Quando colocaram toda a culpa em mim, comecei a falar. Não é justo só a minha mãe chorar”, declara Bonilha. Além de ficar famoso por ser voto decisivo para cassar Belinati, e se envolver em crimes de corrupção, ele também é famoso por uma frase de efeito: “não sou a única batata podre desse saco”, se referindo à venda de votos para aprovação de projetos de lei na Câmara de Londrina. As investigações provariam que ele estava certo. Mas então por que só Bonilha foi cassado? O ex-vereador acredita que sua cassação foi para acalmar os ânimos do MP, e com isso, os outros participantes do esquema saírem ilesos. Bonilha comentou a história de que teria saído da sessão no dia da cassação de Belinati, para vender seu voto. O ex-prefeito teria se recusado a pagar, isso teria custado seu mandato. “Olha, eu to estou aqui falando a verdade do que aconteceu. Eu não falei com o Belinati aquele dia”. Mas revelou que tinha conversado no dia anterior. Segundo ele, Chico Mestre, então assessor do prefeito, o chamou no gabinete, e entregou o telefone, e do outro lado estava Belinati. “Meu amigo, me ajuda, depois mais pra frente eu te ajudo”, teria dito o então prefeito ao telefone. Bonilha diz ter se recusado a ajudar. A justificativa de Bonilha por seu voto pela cassação: o ex-prefeito o teria chamado, pela imprensa, de ladrão. Com a visibilidade em alta, Orlando Bonilha se reelegeu em 2000 e novamente em 2004. Sua cassação, por unanimidade, foi decidida no dia 31 de maio de 2008. O ex-vereador não foge de comentar os casos que esteve envolvido, usando sempre a mesma lógica, a de que jamais pegou dinheiro público. Ele afirma que quando foi eleito, nem sabia que aceitar propina era crime. Se voltasse a ocupar uma cadeira na Câmara dos Vereadores, ele diz que não cometeria os mesmos crimes. “os mesmos não, outros, eu não sei”, afirma com um sorriso.

Bonilha chegou a ser preso em 2008, acusado de ser o chefe de um esquema de corrupção que envolveria 11 vereadores

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Londrina sem cidade

Iuri Furukita

Maria Amélia Gil A Lei Cidade Limpa surgiu com o objetivo de reduzir a poluição visual e melhorar a paisagem urbana de Londrina. Mas com a mudança das fachadas de estabelecimentos comerciais, uma nova cidade foi descoberta. Fios elétricos, infiltrações e paredes descascadas mostraram o resultado de décadas sem manutenJulio Batista

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Iuri Furukita

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Nem toda a publicidade irregular foi retirada, como o exemplo no edifício Julio Fuganti

Placas muito grandes, agora retiradas, escondiam


ção da arquitetura original esquecida atrás das placas. As lojas precisaram reduzir suas placas para 15% do tamanho da fachada, e foram proibidos anúncios em imóveis, muros e paredes de lotes, além de outdoors no quadrilátero central, formado pelas ruas Fernando de Noronha, Leste-Oeste, Acre, Jorge Casoni, Chile e Juscelino Kubitschek. A multa prevista é de R$ 1.000,00 acrescidos de R$ 100,00 a cada metro quadrado irregular de pu-

m problemas de manutenção

blicidade. O prefeito Barbosa Neto procurou incentivar a revitalização de fachadas com um projeto de lei do Executivo que concederia aos proprietários desses estabelecimentos descontos de 20% a 25% no IPTU de 2012. Mas há menos de dois meses do prazo final para adaptação, fixado para 2 de agosto de 2011, a paisagem londrinense ainda não está tão limpa quanto se esperava.

fotografia cidade

m maquiagem

Serviço incompleto: ainda restam partes da estrutura antiga

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Julio Batista

Contraste: pintura antiga era escondida pela placa

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cidade

Gabriel Bandeira

Maria Amélia Gil

Uma das tantas lojas da Rua Sergipe que exibe paredes descascadas e fiação exposta

Arquitetura original descoberta: necessidade de revitalização Maria Amélia Gil

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Limpeza parcial: outdoors de esq retirados, mas antiga publicidad compromete o visual

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cidade Maria Amélia Gil

Problema à mostra: após a retirada de placas irregulares, alguns estabelecimentos continuam com a fachada deteriorada

Placa de restaurante ocultava janelas, agora o anúncio é discreto e simples

DEPOIS

Maria Amélia Gil

ANTES

ponto final 06/2011

quina na região central foram de no prédio ao lado ainda

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educação

De volta às

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Gabriel Oberle O programa EJA (Educação de Jovens e Adultos) oferece, a quem se distanciou dos estudos, a oportunidade de recuperar o tempo perdido. Só em Londrina, funcionam onze unidades do sistema, que levam perspectivas a quem pretende voltar às salas de aula. Simples na estrutura, o EJA é complexo quando se trata de como o estudante usa seu tempo para estudar. O programa é realizado em colégios estaduais e escolas municipais de Londrina e região. As aulas são realizadas aproveitando os períodos em que as salas não são utilizadas no ensino regular. As matérias são ofertadas de maneira a se adequar à disponibilidade de horários dos alunos. Márcia Ortega Pitta, coordenadora do EJA no Núcleo Regional de Ensino de Londrina afirma que “tudo é feito para respeitar o tempo do aluno”. Segundo ela, o sistema “é separado em fases, com a fase 1 para o Ensino Fundamental (da primeira à quarta série), a fase 2 da quinta à oitava e o Ensino Médio”. Márcia Pitta explica ainda que as aulas são segmentadas por área de conhecimento. “Cada aluno pode pegar até quatro matérias de cada vez, e é ele que escolhe qual e quantas faz de cada vez, para não se sobrecarregar”, explica ela. Sidney Dias, de 53 anos, parou de estudar ainda criança na quarta série. Começou o antigo supletivo no ano de 1987, mas faltaram algumas matérias. Vinte anos depois, em 2007, ele entrou no EJA do Colégio José de Anchieta. Teve que parar algumas vezes, mas desta vez afirma que não vai desistir, “a pedagoga traz os trabalhos para eu fazer aqui em casa, porque eu estou com atestado médico”. Quando perguntado se a volta aos estudos o auxiliou na área profissional, o autônomo revela que para ele não mudou muito, mas o ajudou em sua vida pessoal, “é preciso estudar, ter mais cultura. Tem a solidão também, o relacionamento com as pessoas... conheci muita gente lá. Ficar em casa assistindo novela ou em boteco? Não posso mais ficar em boteco não!”, comenta Dias. Já para a secretária Márcia Cristina Barros a volta aos estudos mudou sua vida


Sistema de Educação de Jovens e Adultos proporciona a volta às carteiras de quem estava longe dos livros há alguns anos

educação

salas de aula profissional. Ela também parou na quarta série, voltando às salas de aula no CEEBJA, localizado ao lado do Terminal Urbano Central de Londrina. Depois de se acidentar, ela teve que se afastar por algum tempo, “fiz de quinta até a oitava, daí teve o acidente e parei, agora estou esperando me recuperar melhor, porque não consigo subir aquela escada até a sala”. Márcia explica que o estudo a ajudou muito, “eu vejo que hoje se tem muita dificuldade em arrumar emprego, nem para faxineira consegue mais sem estudo”. A também coordenadora do EJA, Iramar Fernandes Pamplona, do Núcleo Regional de Ensino, lembra que existem algumas certificações do Governo Federal para ajudar os alunos, “Temos o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) e também o Encceja,(Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos), que (o que) alguns ainda chamam de ‘provão’”, que eliminam algumas matérias.

ponto final 06/2011

As coordenadoras do EJA no Núcleo Regional de Ensino, Iramar Fernandes Pamplona e Márcia Ortega Pitta:“tudo é feito para respeitar o tempo do aluno”

Sidney Dias: “é preciso estudar, ter mais cultura. Conheci muita gente lá”

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Londrina na mã

PONTO FINAL. 06/2011

As consequências da terceirização para o poder público e para a população

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terceirização

ão de terceiros

Fotos: Julio Barbosa

Obra do viaduto de ligação da PR445 com a Avenida Ayrton Senna, iniciada por empresa terceirizada e, depois de inúmeros problemas e atrasos, sendo finalizada por funcionários da prefeitura

Julio Barbosa A terceirização de serviços públicos tornou-se o foco das discussões políticas em Londrina nos últimos meses. Com inúmeros representantes do alto escalão do poder público envolvidos em denúncias de corrupção e com diversas críticas aos serviços prestados, a população começa a reparar a atual situação do município. Com indícios de desvios significativos na área da saúde e licitações barradas pela prefeitura, ou por intervenção do Ministério Público, a terceirização, há tempos vista como uma alternativa de gerenciamento, passa a ser encarada como um dos males do sistema. Para o Secretário de Gestão Pública de Londrina, Cleberson Luciano Cândido, a terceirização de determinados serviços tem por função liberar o município para

focar ações em áreas chamadas essenciais, como a educação. Para Cândido, as exigências colocadas para a terceirização de serviços, tendem a colocar à disposição da sociedade profissionais com melhor desempenho e que podem ser cobrados por produtividade. Mas ele deixa claro que se tais serviços não forem bem feitos e se a fiscalização não for adequada, quem sofre as consequências é a população. Para o secretário a terceirização é um “bom negócio” para o município, principalmente para grandes obras . Com a fiscalização adequada, o foco pode se voltar para educação, saúde, moradia e infraestrutura da cidade. Além disso, ele deixa claro que “é prerrogativa da cidade romper o contrato de terceirização caso o serviço não seja prestado adequadamente”.

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terceirização PONTO FINAL. 06/2011 42

Mesmo dentro da própria prefeitura é possível encontrar opiniões divergentes a respeito da terceirização. Na Secretaria de Obras, apontada como uma das principais utilizadoras de terceirizados, a vontade expressa pelo secretário Agnaldo Rosa é que boa parte das obras fosse realizada por pessoal interno. Para o secretário, em casos específicos, a terceirização seria uma saída, principalmente por terem especificidades próprias, como mensuração, prazo determinado e regularidade - citando obras de grande porte, a coleta de lixo, a varrição e a vigilância do patrimônio como exemplos; a fiscalização seria mais “fácil” e nesses casos o município deveria tomar ações rápidas caso o que foi acordado não fosse cumprido. Para Agnaldo a vantagem de tocar obras com o pessoal próprio é a otimização da mão-de-obra disponível e o domínio sobre situações menores, que no caso da terceirização, podem gerar entraves burocráticos. Ainda segundo o secretário, a vantagem de ter a situação controlada pelo município é que as necessidades da população são imediatas e esperar 6 ou 7 meses para o decorrer completo de uma licitação não é uma possibilidade viável. Lembrando de tempos antigos o secretário assume que a atual estrutura de trabalho, tanto administrativa como operacional, não suportariam assumir boa parte dos serviços que se encontram terceirizados. Segundo ele “Londrina já teve a melhor máquina administrativa e operacional do país entre as décadas de sessenta e setenta, isso atestado pelo Instituto Brasileiro de Administração Municipal e por outros institutos. Mas que a partir da década de oitenta o maquinário pertencente ao município começou a ser desmontado, numa tendência de transferir todos os serviços para a terceirização”. O presidente do Observatório de Gestão Pública de Londrina, Waldomiro Grade, tem um ponto de vista um pouco diferente. Para ele, a terceirização poderia cumprir seu papel de forma correta se alguns conceitos como o “jeitinho” ou o “jogo de interesses” não interferissem em como as coisas são tratadas em nosso país. Segundo Grade, por “despreparo”, “interesse de algumas empresas” ou “corrupção”, muitas licitações já são montadas com vícios. Elas podem apresentar falhas e possibilitar um arranjo entre os concorrentes ou impedir que uma ação seja tomada em caso de não cumprimento do que está determinado em edital. Para o presidente do Observatório, o preparo de quem planeja as licitações e a correta fiscalização funcionariam para manter as empresas executando serviços com a qualidade que a população necessita e recebendo o pagamento justo por tais trabalhos. Waldomiro Grade ainda ressalta que a intenção das concorrências públicas é que um maior número de empresas ofereça seus produtos ou serviços, para que os municípios tenham como escolher aquela com o melhor custo/benefício para a comunidade. Mas ele questiona: “como isso pode ocorrer se em alguns casos são sempre as mesmas empresas que concorrem e, em outros casos, a disputa se restringe a uma única empresa, que sempre oferece o produto pelo preço máximo?”

Para o Secretário de Gestão Pública, Cleberson Luciano Cândido, a terceirização é um “bom negócio” para o município

Agnaldo Rosa, Secretário de Obras, acredita que o trabalho é melhor desenvolvido por funcionários internos, evitando a buroracia da terceirização

Waldomiro Grade acredita que o problema da terceirização está, muitas vezes, na corrupção daqueles que deveriam fiscalizar


Soja é benéfica e 40% mais protéica

fotos: Guilherme Santana

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nutrição

Guilherme Santana A Embrapa Soja (Londrina/PR) tem desenvolvido maneiras de incluir a soja na alimentação do brasileiro. O último lançamento da empresa é a soja marrom, uma variedade de semente desenvolvida junto com a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) e com a Fundação Triângulo. Criado pelo pesquisador da Embrapa Soja Vanoli Fronza (com outros pesquisadores) para incorporar um prato comum do brasileiro, o feijão. A similaridade com o gosto e aspecto facilitam a mistura das duas leguminosas, enriquecendo em 40% o valor protéico da refeição. “A soja é a fonte vegetal mais rica em proteínas. Possui cerca de 40% em sua composição, o dobro da quantidade presente no feijão (20%)”, afirma o pesquisador da Embrapa Soja José Marcos Mandarino. Ele acrescenta ainda que o vegetal também é rico em óleo de boa qualidade, minerais (principalmente o ferro), vitaminas do

complexo B, carboidratos, fibras, entre outros. “O consumo constante reduz a probabilidade de doenças crônicas e degenerativas. Mas cuidado, a soja não cura nem previne doenças. Como qualquer outra leguminosa, reduz a probabilidade dessas doenças”, explica Mandarino. Segundo o pesquisador, estão entre as doenças, as de problemas cardiovasculares, ao colesterol e à pressão arterial. “Funciona também como antioxidante, por isso a redução na probabilidade de câncer e osteoporose, além de aliviar os sintomas da menopausa”, completa. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), (a quantidade de consumo aconselhada para uma alimentação saudável é de 25g de proteína por dia. Essa demanda pode ser suprimida com 60g da soja de grãos (que acompanha a aveia e o vinho entre os alimentos mais saudáveis). Confira algumas receitas desenvolvidas na Cozinha Experimental da Embrapa Soja:

Biscoito de coco com soja

ponto final 06/2011

Ingredientes: - 3 ½ xícaras (chá) de polvilho doce; - 1½ xícaras (chá) de farinha de soja; - 1 ½ xícaras (chá) de açúcar refinado; 1 xícara (chá) de coco ralado; - 4 colheres (sopa) de margarina; - 2 ovos Modo de preparo: • adicionar no recipiente (tigela) da batedeira os ovos, o açúcar e a margarina e bater até obter um creme homogêneo; • desligar a batedeira, adicionar a farinha de soja, o polvilho e o coco ralado; • misturar ao creme com o auxílio das mãos, até obter uma massa lisa e uniforme que não fique aderida às mãos; • abrir a massa, com o auxílio de um rolo de madeira, sobre uma superfície lisa (pedra mármore ou mesa de fórmica), previamente limpa; para facilitar a abertura da massa cobri-la com plástico transparente; • cortar a massa aberta em rodelinhas, com o auxílio de um molde redondo; • dispor as rodelinhas de massa em uma assadeira grande previamente untada com margarina e polvilhada com farinha de trigo; • levar para assar em temperatura baixa, por aproximadamente 10 minutos, em forno pré-aquecido; • retirar do forno e deixar esfriar; • armazenar os biscoitos em recipiente fechado (“Tupperware”); e • servir com café, chá, ou outra bebida de sua preferência. Rendimento: aproximadamente 120 biscoitos.

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Ingredientes: Para confecção do fermento - 3 colheres (sopa) de fermento fresco de pão (Como alternativa, pode-se usar 3 tabletes de 15 g ou 1 colher de sopa de fermento biológico instantâneo); - 3 colheres (sopa) de açúcar; - 1 xícara (chá) de água morna (aproximadamente 250 ml); - 1 xícara (chá) farinha de trigo - 110 gramas. Massa do pão: - 1/4 de xícara (chá) de óleo de soja - 3 colheres (sopa) de açúcar - 1 colher (sopa) rasa de sal - 2 xícaras (chá) de resíduo de soja - 300 gramas - 5 xícaras (chá) de farinha de trigo - 550 gramas Massa do fermento: Em um recipiente (bacia), dissolver o fermento com água e adicionar os demais ingredientes. Cobrir com plástico e, deixar em repouso para crescer, por 15 minutos. Massa do pão: Misturar ao fermento o resíduo, o açúcar, o sal e o óleo. Adicionar aos poucos, a farinha de trigo, trabalhando a massa até que os ingredientes se unam e a massa se desprenda dos dedos. Moldar os pães no formato desejado, dispor em formas untadas e polvilhadas com farinha de trigo, deixar crescer até dobrar de volume*. Assar por 30 minutos em forno pré-aquecido.

nutrição

Pão de resíduo

Bolo de queijo Ingredientes: - 4 copos(americano)de polvilho doce (500g);- 1 colher de (sopa) tempero pronto ou sal a gosto; -2 copos de (americano)de leite (300ml); - 1 copo (americano) de extrato de soja; - 1 copo (americano) de óleo (150 ml); - 2 ovos grandes ou 3 pequenos; - 4 copos (americano) de queijo minas meia cura ralado e - óleo para untar.

Colocar o polvilho em uma tigela grande à parte, aquecer o tempero, o leite e o óleo. Quando ferver escaldar o polvilho com essa mistura, colocar o extrato de soja, mexer muito bem para desfazer pelotinhas. Deixe esfriar. Acrescentar os ovos um a um, alternando com o queijo e sovando bem após cada adição Untar as mãos com óleo, se necessário. Enrolar bolinhos de 2 (cm) de diâmetro e colocá-los em uma assadeira untada. Levar ao forno médio (180º), pré-quecido. Assar até ficarem douradinhos.

ponto final 06/2011

Modo de preparo:

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Fabrício Alves

televisão PONTO FINAL. 06/2011

Um francês de 77 anos foi detido no Centre Pompidou, Paris, por ter atacado a marteladas um urinol avaliado em cerca de 8 milhões de reais. “A Fonte”, de Marcel Duchamp, é considerada uma obra de arte das mais representativas do movimento dadaísta. O agressor alegou que o ataque com o martelo foi uma ‘performance artística’ e que o próprio Duchamp teria apreciado tal atitude (BBC.co.uk)

MAS AFINAL, O QUE É

PERFORMANCE? 04

Fabrício Alves


Fabrício Alves

performance art

Aquela história de fazer as pessoas voltarem para casa com a sensação de que não entenderam nada, agora é regra – inclusive na arte performática. Mas não pense que o artista quer somente confundir. Gabriela Reis está no último ano de Artes Cênicas da UEL e explica que, na arte conceitual, o que vale são sensações e elementos que provocam identificação com o cotidiano das pessoas. Para sua cena performática, Entre, ela trabalha com três ambientes: “São três espaços, instalações que propõem desencadear essas sensações, por vezes de desconforto, ou então de identificação”. Em um primeiro momento, o público se depara com um corredor transpassado por fios de barbante como uma teia. São as amarras do cotidiano. As pessoas são convidadas e entrar e, à princípio, o público não sabe muito bem porque é que têm que entrar ali, pra onde é que eles vão e é exatamente essa a questão que eu queria deixar

Eu estava com uma linha de pensamento. Essa linha poderia oscilar conforme o público interagisse. Eles poderiam não cortar, ou cortar tudo, me deixar de uma forma que eu não saberia como agir. Eu me deixei nesse risco também

Gabriela Reis

Espremendo o público Também com o intuito de provocar o público está a cena performática Ave Chuva, de Lis Peronti, outra estudante de Artes Cênicas da UEL. Só que dessa vez, o espaço se reduz – e muito. Aqui os espectadores precisam se revezar na porta de uma salinha preta, de mais ou menos 1,5m de largura por 2,0m de comprimento. Na cena, Lis Peronti recria os movimentos de um guarda-chuva estragado encontrado todo sujo de terra a beira do caminho. “Eu encontrei esse guarda-chuva enquanto fazia

PONTO FINAL. 06/2011

p

rovocar questionamentos, instigar e tirar o público da zona de conforto. Esses com certeza são elementos buscados por todo artista contemporâneo. E não é de hoje. Nem haviam instituído as Vanguardas Europeias e já tinha gente que queria mais é, como diria Di Cavalcanti, cometer “escândalos literários e artísticos, de meter os estribos na barrigada burguesiazinha paulistana”

em cada um: criar o desconforto de não saber o que precisa fazer depois”, conclui. Em seguida eles são encaminhados para uma segunda instalação, composta por objetos do universo íntimo da própria Gabriela. “São fotos, cartas, objetos que não são só meus, mas que têm a ver comigo”. Nesse espaço, a intenção é fazer com que cada um se identifique com os objetos, ou não, ao resgatar lembranças da vida de cada espectador e assim refletir sobre o mundo de hoje. A estudante de Artes Cênicas se atenta para as infinitas possibilidades de interpretação e do desenvolvimento da cena. Uma característica da performance é justamente a interatividade do espectador. Isso requer um pouco de improviso por conta do performer, principalmente no terceiro estágio, em que Gabriela Reis se apresenta toda amarrada com barbantes, “eu estou amarrada às minhas raízes, ao meu cotidiano, à relação que eu tenho com a minha família”, revela “e eu peço para que eles cortem pedaços, o que simboliza momentos de mudança”.

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performance art

Fabrício Alves

A reflexão por parte do espectador acontece de forma mais sutil. O que eu quero mais causar é o contato com esse objeto. Essa coisa do público ficar todo espremido ali pra me assistir e se ver espremido na televisão, é pra eles sentirem um pouco do que eu estou sentindo ao reproduzir os movimentos do guarda-chuva. É a ideia de presentificação, que é própria da performance Lis Peronti

um exercício de observação, em que eu deveria achar um objeto com valor social, e ele estava lá quase que debaixo da terra”. Sem serventia, a artista procura piedosamente por uma nova função para ele na sociedade. Fiore (flor em italiano) é o nome que ela resolve batizar o objeto por se parecer a uma flor tanto na forma, quanto na efemeridade. Ela diz na cena: “Você só aguenta uma chuvinha. Ou duas”, um alerta à fabricação de objetos que em princípio deveriam ser duráveis, mas são extremamente descartáveis. Em seguida, a artista clama, como em um verdadeiro ritual, “Rasga a terra, Fiore!”, para que o objeto saia da terra e assuma uma nova utilidade. Ao fundo da cena, estão instaladas duas TVs. Uma exibe chiados com flashes de acidentes naturais. “Me falaram que (meu movimento) parecia uma mãe tirando um filho dos

escombros e daí veio essa ideia das enchentes. Quase que não dá pra perceber essas imagens” Já a segunda TV mostra o próprio público que assiste a cena todo apertado (criando mais consciência desse fato) em um exercício de presentificação, um princípio da performance, no qual o artista tem que mostrar para o espectador que está naquele momento representando a si mesmo, em um estado performático, de prontidão para realizar determinada ação. Lis Peronti, explica que em seu processo de criação, ela resolveu recriar a tela do Magritte que tem um guarda-chuva pintado com um copo em cima. “Para eu criar algo de interessante, eu teria mesmo que rever aquilo que já foi feito e talvez reproduzir. Não vai ficar igual. A partir daí, você cria novas coisas”. Para a estudante, essa é uma atitude básica em um momento da arte em que praticamente tudo já foi feito.

BASICO PONTO FINAL. 06/2011

clique nas fotos para ver vídeos dos artistas

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Com o rosto coberto de mel e folhas de ouro, Joseph Beuys passou horas sozinho, em uma galeria de Düsseldorf, comentando detalhes sobre as obras expostas para uma lebre morta que ele carregava nos braços

é ser provocativo


Vestida para “causar” performance art

Dessa forma, a artista interpreta todos os dias uma personalidade com traços e atitudes extravagantes, que se refletem em um fashionismo de maquiagens, cortes de cabelo, roupas e sapatos superbafônicos (como diriam os blogueiros de plantão). Lady Gaga é em si a performance, é o excesso de informação que o mundo contemporâneo vivencia. Toda essa fórmula é potencializada no momento em que suas ações e provocações feitas no espaço real são repercutidas no ciberespaço: A capa da Vogue japonesa é notícia em qualquer lugar do paneta; o lançamento mundial do novo videoclipe é feito no Youtube, independente da censura de qualquer canal de TV, ou mesmo de um determinado país; e o público posta, comenta e compartilha, livre da imprensa oficial.

Na premiação do MTV VMA 2009, Lady Gaga faz uma performance em defesa dos animais. Confira o vídeo

Yves Klein queria se afastar do “velho academicismo do pincel, da cor”, do “complexo de cavalete” e, como alternativa, usou literalmente modelos nuas molhadas de tinta, causando polêmica com as mulheres da época

Junto com seu marido, John Lenon, Yoko Ono resolveu passar a Lua-de-Mel deitada em um hotel no Canadá, como forma de protesto contra a Guerra do Vietnã

Chris Burden foi crucificado (de verdade) em 1974 na traseira de um Fusca e ainda andou de ré por dois minutos com o carro

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Marina Abramović sempre esteve nos mais extremos limites físicos: performances que exigiam gritar até a exaustão completa e ficar totalmente sem voz, dançar até cair por esgotamento, ou mesmo ficar mais de 736 horas em silêncio, imóvel, sentada no átrio do Museu de Arte Moderna, em Nova York (MoMA), enquanto ocorria a maior exposição de arte de performance da história

Divulgação

Stefani Joanne Angelina Germanotta não cansa de repetir que criou um conceito para que ela possa catapultar a sua música. A cantora lança mão de todas as influências possíveis – desde a POP Art de Andy Warhol, passando pelo glamour do mundo da moda, pelo heavy metal, até chegar a um simples vídeo com bastantes visualizações na internet.

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comportamento PONTO FINAL. 06/2011 50

Cuidado com o que você pisa! Como o calçado que uma pessoa veste pode ser indicador social Guilherme Costa

Gabriel, 14 anos, morador da Vila Nova, cumpre pena socioeducativa e recebe supervisão periódica de um conselheiro tutelar. Ele foi apreendido depois de tentar furtar um tênis de uma loja de calçados no centro da cidade. O rapaz usou uma estratégia que um colega dele ensinou para praticar o furto. Resolveu tentar por conta própria. Foi até a loja e experimentou vários modelos de calçados. Pediu, então, que a atendente buscasse no estoque uma numeração maior. Calçou o tênis de que mais gostou e tentou sair discretamente do estabelecimento, abandonando o tênis velho dentro da caixa do tênis novo. A ação foi flagrada pelo vigilante da loja, que deteve o rapaz e chamou a polícia, frustrando a tentativa de furto. Alguns dias antes, Gabriel resolveu parar de ir à escola. Sua mãe Conceição, que trabalha como auxiliar de produ-

Foto: ramiromarques.com

Mais do que um peça essencial do vestuário, o calçado é – assim como o carro, o celular ou uma roupa de grife – um objeto de status

ção em uma fábrica, resolveu não criar objeção à decisão do filho. O jovem estava com vergonha de ir para a escola porque o único tênis que ele tinha sofreu um grande rasgo na parte da frente. A mãe dele explicou que teria de esperar até o fim do mês, quando sai o pagamento, para comprar

um tênis novo. O rapaz decidiu, então, que não iria mais à escola até que tivesse um calçado novo. Welington, 17, foi expulso de um colégio estadual no Jardim Shangri-lá porque roubou o tênis de um colega de classe. Ele disse tê-lo feito porque o garoto estava exibindo o tênis (de uma mar-


crianças. A decisão de distribuir os kits também só foi comunicada aos pais dos alunos de última hora. Muitos já tinham aproveitado as promoções de natal e começo de ano para comprar os tênis dos filhos. A diretoria executiva da Secretaria informou na época que, por meio de trocas entre as escolas, foi possível que todas as crianças recebessem os calçados com a numeração correta. Para o próximo ano, eles prometeram fazer um levantamento antes da abertura da licitação para a aquisição dos kits. A medida da Secretaria é válida porque a compra de calçados tem um grande impacto no orçamento das famílias. Hoje em dia, um tênis de qualidade custa pelo

menos R$100. Como o salário mínimo hoje é de R$545, fica muito difícil que famílias das classes C e D tenham dinheiro para investir em produtos de qualidade. Não é à toa que os crediários e os cartões de crédito são os campeões de modalidade de compra nas lojas do varejo. A cabeleireira Rita de Cássia, por exemplo, conta que já está colecionando carnês na gaveta de casa. Ela tem três filhos e afirma que quando termina de pagar um, já está na hora de comprar outro sapato. A Sociedade Brasileira de Ortopedia recomenda que as pessoas usem sempre calçados confortáveis, de preferência com amortecedor, e que revezem os sapatos de um dia para o outro. Assim eles duram por mais tempo e evitam o chulé. Produto falsificado, nem pensar. O uso de artigos não certificados podem causar danos como o desenvolvimento de desvios na maneira de pisar, lesões e até deformações, como as desagradáveis joanetes. Mas na prática, não é bem assim que funciona. Rita de Cássia afirma só tem condições para que cada um dos filhos tenha apenas um par de tênis por vez. Ela conta ainda que quando o mais novo pediu um tênis de uma marca de um personagem de TV, ela resolveu comprar no camelô porque o original era muito caro.

comportamento

Produto falsificado, nem pensar. O uso de artigos não certificados podem causar danos como o desenvolvimento de desvios na maneira de pisar, lesões e até deformações, como as desagradáveis joanetes

PONTO FINAL. 06/2011

ca importada) para “fazer uma moral” com as meninas. Como também queria desfilar com um calçado bacana, pegou à força o tênis do rapaz na saída do colégio. No dia seguinte, foi chamado à diretoria. Ele tinha sido denunciado pelo roubo. Atitudes como a do Gabriel e do Welington provam que, mais do que um peça essencial do vestuário, o calçado é – assim como o carro, o celular ou uma roupa de grife – um objeto de status. É uma indústria bilionária que fascina aqueles que não conseguem ficar com os pés no chão e colecionam dezenas de calçados no guarda-roupa. Mas para outros, trata-se de uma verdadeira pedra no sapato. Algumas escolas particulares mais tradicionais trazem determinações para padronizar também os sapatos como uniforme. Assim, eles evitam modismos e atos de inveja ou bullying, como aconteceu com o Welington, no exemplo acima. A Secretaria Municipal de Educação de Londrina resolveu, pela primeira vez esse ano, distribuir kits com material escolar e uniformes para os alunos. Os tênis foram inclusos no benefício. A intenção foi boa, mas a licitação para a compra dos calçados foi feita antes que pudesse ser realizado um levantamento de gênero e numeração usado pelas

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cidade ponto final 06/2011

O sabor do campo

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Londrina cria rotas de gastronomia rural e lazer alternativo

Roberto Alves Nos últimos dez anos a gastronomia do campo tem crescido consideravelmente em Londrina. E a cidade que tem suas raízes no campo, precisa ser preservada e prestigiada e neste aspecto. Assim, nada mais justo que dar uma escapada da agitação urbana para refugiar-se nos arredores do município e respirar um pouco os ares do campo. Chácaras que viraram restaurantes especializados em gastronomia caipira são grandes opções de lazer que a cidade oferece, como os restaurantes Porco no Tacho e Toca do Cateto, localizados na região norte da cidade. Nesses pontos, há grande variedade de pratos populares da culinária caipira tais como tutu de feijão, arroz carreteiro, carneiro assado, mandioca frita, alem de diversos tipos de sobremesas. O restaurante Toca do Cateto da família Gavilan tem um fluxo de pouco mais de mil visitantes por semana. São famílias de Londrina e de municípios


vizinhos que apreciam a comida caipira e o estilo de vida rural, ou simplesmente procuram algo diferente para escapar da agitada vida urbana. A família D’angelo freqüenta o local há cinco anos. “O atendimento é ótimo e a comida é maravilhosa”, diz Monica Carvalho, companheira de Dangelo. Além da culinária, o casal aprecia bastantes as atrações da casa. O proprietário Jose Gavilan conta que o grande atrativo da Toca é o Porco Paraguaio, preparado em local aberto diante dos convidados. É uma das especialidades da casa que além do lazer rural oferece atrações musicais aos visitantes como duplas de cantores sertanejos, além de outros estilos para variados gostos. O restaurante Porco no Tacho, da família Strass, já esta há doze anos em

atividade e recebe centenas de visitantes toda semana. O prato que dá nome ao local é servido em pequenos pedaços num enorme tacho de ferro, posto na extremidade da mesa principal do salão, onde as pessoas se servem. “Também alugamos o salão do restaurante para eventos, aniversários e ”confraternizações”, conta Julio Strass, fundador do local. A história do Restaurante Porco no Tacho é originada diretamente da especialidade da casa, pois alguns anos antes do local existir, Julio Strass reunia vários amigos nos finais de semana para jogar futebol em sua chácara e nestas ocasiões, ele preparava o porco no tacho de ferro para servir aos amigos. “Com o incentivo dos amigos e de meus familiares, tive a idéia de montar o restaurante aqui na minha chácara e agora estamos

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cidade

Fotos: Roberto Alves

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cidade 54

ampliando cada vez mais nossas instalações” Pereira Silva. Segundo ele, a galinhada atrai conta Strass. quem quer algo diferente ou quem já morou em sitio e quer matar a saudade do sabor rural. Sabor rural na Rodoviária Além da galinhada, o Norte Sul oferece arroz Atualmente o sabor do campo já não se res- carreteiro, feijão tropeiro e sobremesas típicas. tringe aos distritos e patrimônios. RestauranServiço: www.porconotacho.com.br tes urbanos estão aderindo à culinária caipira, www.nortesul24horas.com.br como é o caso do Restaurante Norte Sul, locawww.tocadocateto.com.br lizado dentro da Rodoviária de Londrina e com atendimento 24 horas por dia, que também serve tradicionais refeições a La carte. Com quase 20 anos de existência, há mais de dez anos o Norte Sul alterou o cardápio, e sua grande especialidade é famosa Galinhada Caipira. “O prato tem um tempero especial da casa, é preparado em panela de ferro, o que lhe confere um sabor sem igual”, revela o gerente da casa, Marcelo


De carona com penetras

comportamento

Imagem: Google imagems

Iuri Baptista O ponto de encontro é a casa de Vanessa. Ela mora em uma república no centro da cidade e, portanto, não precisa explicar para os pais qual é o motivo do longo vestido roxo e da maquiagem pesada. Enquanto Alexandre e Marcos vestem os ternos e dão nós nas gravatas, ela explica: “Não somos uma gangue, não temos regras, éticas ou objetivos a serem atingidos. Talvez, como um grupo de Parkour, estamos apenas pulando por aí”. O combinado foi de se encontrar às onze horas, mas Marcos atrasou mais de trinta minutos, “tive que levar minha irmã no Vitrola”, desculpa-se. Assim, somente depois da meia noite, todos estão sentados na BMW do pai de Alexandre, que corre em direção ao Parque Ney Braga. “Nós vamos perder a sobremesa”, Vanessa reclama olhando o relógio, “gostamos de chegar na hora da sobremesa. Os vovôs já foram embora e aí tem mesa livre para sentarmos tranquilamente. E também, porque se não for ao menos para comer petit gateau e uma bola de sorvete, não compensaria todo o trabalho”. Os três se tor-

naram amigos no ensino médio e hoje estudam em diferentes centros da UEL, “Alexandre está no CCE, Vanessa no CESA e eu no CCB, então nós não nos vemos durante a semana. Aí, um dia no fim de semana já fica meio reservado para sairmos”, conta Marcos, sentado no banco da frente. Já na Avenida Tiradentes, Alex abre o teto solar. “Sempre quis fazer isso”, diz Vanessa antes de colocar a cabeça para fora e gritar. Alexandre cruza o sinaleiro em frente à Cacique e repassa as dicas: “Como já está tarde, com certeza vai ter gente lá fora fumando ou indo embora. Desaperte esse nó da gravata que depois da meia noite ninguém está arrumadinho assim. A gente chega de mansinho, finge que está fumando, conversando, vai chegando mais perto para que o segurança perceba nossa presença gradualmente. Vamos entrar em duplas, primeiro vão os dois, depois nós entramos e...”, a explicação é interrompida. “Ihhh, hoje não tem festa, não. Joga luz alta”, pede Vanessa enquanto senta de novo no banco de trás. Depois

ponto final 05/2011

Quando ser convidado é apenas um detalhe

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comportamento

Fotos: Arquivo pessoal

ponto final 05/2011

“Aos noivos, muitas felicidades”

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que passamos o primeiro quebra mola em frente ao Ney na lista, só precisamos saber com antecedência de quem Braga, fica claro. “É, o estacionamento tá vazio”, confir- é a festa e o nome de algum convidado. Diz que esqueceu ma Marcos apertando os olhos. “Droga, estamos em maio o convite e joga um nome que está na lista. Mas estamos e não tem casamento num sábado a noite? Esse Planalto ficando velhos para passar despercebido nessa turma”, já esteve melhor... Para onde vamos agora?”, pergunta caem na gargalhada. Para saber sobre as festas de quinze Alex. Como já chegava à meia noite e meia, eles deci- anos, eles utilizam os irmãos, cada um do grupo tem dois. dem tentar o buffet mais próximo, o Laguna. Segundo Eles dizem que nunca foram barrados. “Acho que eles, esse é o mais fácil de entrar, em compensação nunca Marcos foi o que chegou mais próximo, o segurança agrada muito o gosto deles. “Parece uma caixona com não quis deixar ele entrar num casamento porque não espelhos na parede”, reclamam. tinha convite”, começa Vanessa. “E aí, eu enrolei ele. “Até assistimos Penetras bom de bico, mas não nos Disse que tinha esquecido o convite, mas que ele podia inspiramos neles. Aliás, não nos identificamos com os procurar meu nome na lista, só que casamento não tem personagens do filme, há um certo exagero”, diz Vanessa, lista. Então ele pensou em chamar a promoter da festa que considera o filme um romance e eu gelei”, continuou Marcos, para Alex e não algo que se propôs a falar “Não somos uma finalizar a história, “Como eu e a Vanessa sobre penetras, em inglês, “party estávamos lá dentro, voltamos para ver gangue, não temos jáo que crashers”. Eles, diferentemente do estava acontecendo, chegamos falafilme, não procuram ser o centro regras, éticas ou mos qualquer coisa como ‘ohh, olha quem das atenções em festas para que se atrasadíssimo, vem logo que você objetivos a serem chegou “auto-convidam”. Em relação às ainda come alguma coisa’, e puxamos ele estratégias, são evasivos, “é tudo para dentro”. Antes que pudessem contar atingidos.” muito mais simples, a gente aparece muita coisa sobre essa festa, chegam ao na porta do Buffet e entra. Nada de fantasias e histórias”. Buffet Laguna. Para eles, é apenas uma questão de cara-de-pau, porque Eles deixam o carro no estacionamento que fica atrás mesmo que sejam eventualmente barrados ou expulsos do salão e dão a volta para chegar à porta. Várias pessoas da festa, não acreditam que resulte em sérias conseqüên- estavam circulando embaixo da marquise, algumas fumacias. “Não vão chamar a polícia ou bater na gente até a ndo, outras conversando e crianças explodindo tubos de morte”, analisa Marcos. confetes e serpentinas uma nas outras. Chegam devagar, O assunto continua, “mas como vocês fazem para com expressão espontânea, ou como gostam de dizer, “be entrar?”. “Olha, casamentos raramente têm algum con- cool, looking casual”. Um casal que estava fumando rutrole, então hoje vai ser tranqüilo”, explica Alex. “É que mou em direção à porta e todos acompanharam com os estamos em maio. Mas em janeiro e fevereiro, as forma- olhos: nenhuma abordagem do segurança, é a deixa que turas dão mais trabalho. Não podemos chegar para o jan- precisavam. “Entrar é o momento mais gostoso, a graça tar, porque toda mesa é marcada e tem um dos donos da maior disso tudo é ‘penetrar’ na festa, pura adrenalina”, festa sentado nela. Entramos uma vez no Planalto porque comenta Vanessa. Conforme combinado, Marcos e Vaeles têm um carimbo no braço para aqueles que estão en- nessa entram primeiro, sem problema algum. Um minuto trando novamente no salão. Nós só borramos nosso braço depois, entra a próxima dupla, também sem ser incomocom um carimbo do pai do Marcos e entramos. Os mais dada. visados são os aniversários de 15 anos. Como tem nome “Não fomos a muitas festas ainda, mas como sou pres-


comportamento idente da minha formatura, já estou aproveitando para um grupo de uns dez integrantes tocava samba intercasaber tudo sobre buffets, bandas, tendências e novidades lando com músicas habituais de casamento. “A Karina para grandes festas”, explica Marcos que faz questão de e o Gilmar realmente gostam de um sambinha!”, brininaugurar a mesa de doces disposta logo na entrada. Ele, cou Alex. Não demorou para se enturmarem com uma chocólatra da turma, elege a melhor o melhor docinho da rodinha ao lado que pulava, gritava e derrubava bebidas cidade: “brigadeiro belga da Ópera Pâtisserie. Raríssimo nas pessoas ao redor. “Vocês são amigos da Karina?”, e insuperável!”. A mesa de doces do casamento de hoje, perguntaram, evidenciando que eram amigos do noivo. diz o especialista, é de uma “doceira de Rolândia... Prove “Sim, fazemos aula com ela”, inventou Vanessa para aquele de maracujá, é o melhor dela”. Passando a ante- justificar um grupo jovem e multiracial. “Ah, aula de sala, entram no salão e se servem de espumantes para Yoga?”, induziram a resposta para os penetras, que balbrindar: “aos noivos, muitas felicidades”. ançaram a cabeça afirmativamente sem hesitar. Garçons passam equilibrando petit gateau com bolas Durante as próximas horas, a pista de dança foi de sorvete em bandejas e Vanessa fica ansiosa, é hora de revezada com visitas à mesa de doces, à mesa de frios arrumar uma mesa. “Tem uma vazia ali”, e à moça que fazia caipirinhas. aponto. “Não, essa é dos padrinhos”, corta “Já temos a melhor combinação Chegam devagar, Alex, sem se quer olhar para mesa. Eles disponível em buffets: melancia com expressão seguem até o fundo da “caixona com escom limão e saquê, mas apenas pelhos” e sentam na única mesa que estava dois pedacinhos de limão para espontânea ou, vazia. “As pessoas dessa aqui já foram não amargar”, recomenda Alex como dizem, embora. Os pratos foram retirados, mas as com reprovação de Marcos. “Não taças indicam que ela estava cheia. Como gosto de melancia”, explica com “looking casual” não tem nenhum objeto pessoal, sabemos cara feia. Quando começaram a que eles não foram para pista de dança”, explica Mar- tocar outra bateria de clássicos de Martinho da Vila, Zeca cos. Antes de sentar, Vanessa tocou no braço de uma gar- Pagodinho e da Estação Primeira de Mangueira, o grupo çonete e pediu com voz suave, “você pode trazer quatro resolveu ir embora mesmo sem comer os hambúrgueres e petit gateaus, por favor?”. A garçonete confirmou sor- batatas fritas previstas no menu para a madrugada. rindo e Vanessa agradeceu simpaticamente. A falta de pudor para serem filmados ou aparecerem “É incrível como é fácil conquistar garçons, as pes- nas fotos (que depois ilustrarão o álbum de fotos do soas normalmente são muito rudes. Só de agradecer com casal), ganhou mais uma ousadia de encerramento. “A sinceridade o primeiro refil de bebida, você garante que Karina está ali, vamos lá”, atravessaram a pista de dança estará sempre de copo cheio”, diz ela. Os quatro jovens para encontrar com a noiva. “Karina, estamos indo emsentam sob olhares de desconfiança da mesa vizinha, bora, podemos tirar uma foto com você?”. “Claro”, remas Marcos garante que era apenas o medo se manife- spondeu a noiva sem demonstrar curiosidade em saber stando. “É normal ficar meio paranóico. Teve uma festa quem eram aqueles jovens. Depois da foto, Alex e Marque achamos que um segurança estava seguindo a gente e cos foram buscar o carro, Vanessa e eu paramos em frete fomos embora. Mas sei lá, às vezes nem era nada.” Como à mesa de doces. Ela abriu a bolsa, mostrando o interior que para comprovar a hipótese de Vanessa, a sobremesa forrado com um saco plástico transparente, e pediu: “ajuchegou rapidamente e os copos não se esvaziaram. da a colocar docinhos aqui e põe no seu bolso também”. O próximo passo foi cair na pista de dança. No palco, É, as festas no Laguna não são lá tão classudas.

ponto final 05/2011

“Karina, estamos indo embora, podemos tirar uma foto com você?”

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