O São Paulo - 3314

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Semanário da Arquidiocese de São Paulo

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ano 65 | Edição 3314 | 10 a 15 de setembro de 2020

Editorial O ensinamento da Igreja acerca do verdadeiro e sadio patriotismo

Página 4

www.osaopaulo.org.br | R$ 2,00

O autêntico amor à pátria ajuda a construir o bem comum

Encontro com o Pastor

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Eleições: os cidadãos católicos não devem ficar alheios à vida política

Página 2

Espiritualidade Dom Eduardo Vieira dos Santos: Pontos de Esperança na Arquidiocese

Página 5

Comportamento

Valdir Reginato: como está a educação religiosa dos nossos filhos?

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Líderes cristãos e muçulmanos elevam súplicas e preces pelo povo libanês Um ato inter-religioso foi realizado na Catedral Maronita Nossa Senhora do Líbano, em São Paulo, na sexta-feira, 4, no dia de jejum e oração pelo Líbano, convocado pelo Papa Francisco. Página 16

Nova encíclica abordará a fraternidade humana e a união entre os povos A terceira encíclica do Papa Francisco, Fratelli tutti (Todos irmãos), será assinada no dia 3 de outubro, em Assis, e deverá ressaltar a fraternidade humana e a união entre os povos, diante da atual pandemia. Página 14

Dom Odilo preside missa na comemoração da dedicação da Catedral da Sé No sábado, 5, foram celebrados os 66 anos de dedicação da Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Assunção e São Paulo. O Arcebispo exortou que os fiéis não apenas frequentem os templos, mas, também, participem da vida eclesial. Página 3

Uma das expressões do patriotismo é a valorização dos símbolos nacionais, como o hino e a bandeira, por parte dos cidadãos brasileiros

Ter orgulho do país de origem ou daquele que se adotou para viver é uma manifestação de patriotismo, virtude que, segundo o Catecismo da Igreja Católica, faz com que cada cidadão colabore “com os poderes civis para o bem da sociedade, num espírito de

Paulistanos celebram Nossa Senhora da Penha, uma das padroeiras de SP Página 12

verdade, de justiça, de solidariedade e de liberdade”. “Amar a pátria pode ser expressão de genuíno amor ao próximo”, afirmou o Cardeal Scherer, em missa, na Catedral da Sé, no domingo, 6. Páginas 8 a 10

Há 100 anos, Capela Santa Catarina é presença da Igreja na Avenida Paulista Página 11

Lectio Divina: leitura, meditação, oração e contemplação da Palavra Página 15


2 | Encontro com o Pastor | 10 a 15 de setembro de 2020 |

cardeal odilo pedro scherer Arcebispo metropolitano de São Paulo

E

m breve, teremos eleições municipais em todo o Brasil para a renovação do Legislativo e do Executivo nos municípios, que são a base da organização política do Estado brasileiro. Essas eleições se referem às administrações locais, nas quais o povo percebe melhor e tem mais condições de avaliar o desempenho dos seus governantes e legisladores. Elas são especialmente importantes porque definem as bases de apoio para as instâncias estaduais e federais da vida política. O voto dos eleitores está domiciliado nos municípios. Neste ano, a campanha eleitoral será bastante diferente das anteriores por causa das alterações na legislação eleitoral e da pandemia de COVID-19, que ainda afeta o Brasil. Será, sobretudo, mais breve, menos visível em eventos notórios publicamente e realizada muito mais pelas mídias sociais e meios eletrônicos. O efeito disso no comportamento

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Os cristãos e as eleições dos candidatos e dos eleitores ainda é uma incógnita e poderá ser avaliado somente depois que saírem os resultados das eleições. Tudo isso, porém, não diminui a importância dessas eleições e a necessidade de que todos os cidadãos desempenhem bem, por meio da participação ativa no processo político-eleitoral, seu direito e dever de cidadania. E vale também para os cidadãos católicos, que não devem ficar alheios à vida política, mas participar da promoção do bem comum. O Papa Francisco, em certa ocasião, observou que é falso dizer que um bom católico não se interessa pela política. E confirmou: um bom católico deve estar interessado na política e oferecer o melhor de si para que o governante governe bem. Como foi feito em outras ocasiões, também neste ano eleitoral os bispos católicos estão promovendo a orientação política para as suas comunidades. Desde logo, fique claro que não se trata de apoio a partidos ou de recomendação do voto para determinados candidatos: a lei eleitoral brasileira e a própria lei da Igreja vetam esse tipo de atitude dos líderes da Igreja. Trata-se de orientações básicas sobre a organização política do

Brasil, os ensinamentos da Doutrina Social da Igreja a respeito da participação na vida política, os direitos e deveres de cidadãos e governantes e esclarecimentos sobre questões relativas às eleições municipais deste ano. Nas cartilhas disponibilizadas, também se indicam as qualidades de um bom político e o que se espera dele no cargo que pretende ocupar. A Igreja no Brasil, por meio dos bispos reunidos em sua conferência episcopal (CNBB), já promoveu muitas iniciativas esclarecedoras e educativas acerca da participação na vida política. Diversas vezes, a Campanha da Fraternidade abordou tanto temas relativos à vida política no Brasil e à promoção do bem comum quanto a justiça social, a solidariedade e a paz. A Igreja Católica participou ativamente da promoção de leis de iniciativa popular para moralizar a política, como as leis das eleições limpas e da “ficha limpa”. Em inúmeras ocasiões, a CNBB, em nome do episcopado católico, pronunciou-se e tomou posição em relação a questões da vida política, econômica e social do País. Essas manifestações nem sempre são bem compreendidas e acolhidas, sobretudo por quem pensa que a Igreja e seus representantes

devem se ocupar apenas da “vida espiritual” das pessoas. Quando a Igreja Católica se manifesta por meio do Papa e dos bispos sobre questões da vida pública, ela o faz motivada pelo seu dever de servir a comunidade humana e de participar na edificação do bem comum. Suas motivações não são a conquista do poder político, que não lhe compete, e sim suas convicções, baseadas no Evangelho de Cristo e nos princípios morais decorrentes de sua fé. Como instituição presente na sociedade, com reconhecimento público, ela tem o direito e o dever de participar da edificação da sociedade. Em particular, cada católico, como cidadão, tem esse direito e dever, que não lhe pode ser negado pelo fato de praticar e seguir uma fé religiosa. Ele deve ser um sujeito político consciente e interessado na promoção do bem da cidade, escolhendo candidatos idôneos e competentes para o exercício dos diversos cargos políticos. E a cartilha colocada à disposição do povo pelas organizações da Igreja Católica em São Paulo quer ser uma contribuição para que a participação no processo político e eleitoral deste ano aconteça de maneira consciente e responsável.

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| 10 a 15 de setembro de 2020 | Geral/Atos da Cúria | 3

‘A Catedral é sinal da presença de Deus e da nossa fé nesta cidade’ Luciney Martins/O SÃO PAULO

FERNANDO GERONAZZO

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O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, presidiu, no sábado, 5, a missa solene pelos 66 anos da dedicação da Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Assunção e São Paulo (Sé). Na homilia, Dom Odilo ressaltou que a Catedral é a igreja-mãe de uma diocese, o templo onde está a cátedra do Bispo, ou a sede (Sé), de onde ele ensina e pastoreia a porção do povo de Deus a ele confiada em uma Igreja particular.

MORADA DE DEUS “Quando falamos da igreja dedicada a Deus como lugar de especial encontro com Ele, sempre nos vem a pergunta do rei Salomão na sua oração de dedicação do templo que ele fez construir em Jerusalém: ‘Será que Deus pode realmente morar sobre a terra?’”, afirmou o Cardeal, ao refletir sobre um trecho da primeira leitura da missa (1Rs 8,22-23.27-30). “Deus quis ter morada entre nós. Sim, Ele quis estar no meio dos filhos dos homens… Isso não significa que Deus não seja infinitamente grande. Mas, de tão grande que é, também se faz pequeno, próximo, para escutar nossas orações, súplicas, louvores, pedidos de perdão”, afirmou o Cardeal, destacando, ainda, que Jesus, ao se encarnar e se fazer

Missa é realizada na comemoração dos 66 anos de dedicação da Catedral da Sé, no sábado, 5

homem, tornou-se templo de Deus no meio da humanidade.

LUGAR DE ESPERANÇA O Arcebispo chamou a atenção para a necessidade de se refletir sobre a importância que os cristãos dão às igrejas, como elementos simbólicos. “Nossas igrejas devem, de alguma maneira, falar dessa presença de Deus também para os pobres”, sublinhou, enfatizando que os templos devem ser lugares de referência para o serviço ao próximo. “Cada vez que vamos à igreja, crescemos em esperança, nutrimos a fé de, um dia, estarmos plenamente com Deus,

face a face… Quem não vem à igreja, quem não reza com os outros, em comunidade, como pode alimentar o desejo de um dia também estar na comunidade celeste?”, acrescentou Dom Odilo. O Arcebispo renovou o convite para que as pessoas não apenas frequentem a igreja, mas participem da vida eclesial em seu conjunto. “Isso é testemunho da nossa fé para a cidade. Nós não podemos esconder a nossa fé, como se fosse algo que dissesse respeito apenas à nossa vida privada, como alguns querem. É testemunho público daquilo que cremos e daquilo que praticamos como consequência da nossa fé”, sublinhou o Cardeal.

HISTÓRIA Inaugurada em 25 de janeiro de 1954, por ocasião das comemorações do IV centenário de fundação da cidade de São Paulo, a Catedral da Sé foi dedicada somente em setembro, durante o I Congresso Nacional da Padroeira do Brasil, realizado entre São Paulo e Aparecida. A dedicação foi feita pelo Cardeal Adeodato Giovanni Piazza, que veio como enviado pontifício para o Congresso da Padroeira. Com 111 metros de comprimento, 46 metros de largura e 65 metros de altura (com exceção das torres), a atual Catedral foi idealizada para substituir a antiga Igreja da Sé, de 1612, bastante deteriorada pelo tempo. CONSTRUÇÃO E RESTAURO A construção do templo passou pelas mãos de muitos engenheiros e arquitetos, mas o principal foi o alemão Maximilian Hehl, que se radicara no Brasil em 1888. O estilo neogótico da Catedral é considerado peculiar, com seu aspecto eclético em estilos arquitetônicos. Fechada durante três anos (19992002), a Catedral passou por um restauro, no qual foram concluídos os 14 torreões (espécie de torre, no alto ou no ângulo de um edifício), previstos no projeto original.

Live com Dom Odilo: ‘Fiquemos na Igreja, unidos ao Papa’ Fernando Geronazzo

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Como tem feito semanalmente, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, interagiu com internautas e ouvintes da rádio 9 de Julho, no programa “Diálogos de Fé”, no domingo, 6. Na live, Dom Odilo destacou o Dia da Pátria, comemorado na segunda-feira, 7, e recordou as reflexões em torno do Pacto pela Vida e pelo Brasil, assinado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e por outras entidades da sociedade civil, com o objetivo de “firmar posição” em relação a várias questões, como a defesa da vida e da dignidade humana em todos os estágios e a união de esforços para a superação da pandemia de COVID-19.

Como ler a Bíblia Em seguida, Dom Odilo respondeu a questões enviadas pelos internautas. A primeira delas, feita por Vinícius Potter, foi sobre a maneira mais correta de ler a Bíblia.

O Cardeal explicou que a Bíblia não é um único livro, mas um conjunto de 73 livros que constituem as Sagradas Escrituras. “Esses livros foram escritos ao longo de mais de um milênio. Portanto, nós temos textos com naturezas, estilos e finalidades muito diferentes”, destacou, reforçando que a Bíblia deve ser lida à luz da fé da Igreja para evitar que haja interpretações equivocadas da Palavra de Deus.

‘Catequese digital’ Ruan Pablo quis saber a opinião do Cardeal sobre as iniciativas de Catequese nas plataformas digitais. Dom Odilo avaliou positivamente essa prática, quando bem realizada. No entanto, lembrou que tal modalidade deve complementar e não substituir as experiências de encontro pessoal e presencial, sobretudo a participação na vida da comunidade. “Nossa fé não se resume simplesmente à ‘telinha’, mas na prática da vida cristã e no encontro fraterno dos irmãos [...]. Toda Catequese, virtual ou não, precisa conduzir à inserção na vida da comunidade eclesial e no testemunho da vida cristã”, enfatizou.

Unidade da Igreja A pergunta de Carlos Henrique foi sobre grupos que provocam divisões e conflitos internos entre os católicos. Dom Odilo salientou que há grupos que se autodenominam “conservadores”, mas, na verdade, adotam uma postura “cismática”. Ele assegurou que tais grupos provocam divisão ao não aceitar as orientações da Igreja, especialmente do Papa, e afirmam que o Pontífice não é legítimo ou que não os “representa”. “A Igreja Católica é esta que está aqui, que tem o Papa Francisco e cada um dos bispos legítimos nas suas dioceses e o clero unido a ele, que celebram e participam da Eucaristia e fazem a profissão de fé da Igreja Católica”, ressaltou o Arcebispo, completando: “O Papa representa Jesus Cristo, Bom Pastor, não a cada um de nós. O Santo Padre não foi escolhido de acordo com o gosto de cada pessoa, mas por uma questão de fé, pois ele é o sucessor de Pedro”. “Fiquemos na Igreja, unidos a ela e ao Papa. Fiquemos na sobriedade, não vamos atrás de novidades”, concluiu o Cardeal. (Colaborou: Flavio Rogério Lopes)

Atos da Cúria NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE ADMINISTRADOR PAROQUIAL: Em 03/09/2020, foi nomeado e provisionado Administrador Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia Nossa Senhora da Penha, no bairro Jardim Peri, na Região Episcopal Sant’Ana, o Reverendíssimo Padre Juarez Murialdo Dalan, CSJ.

POSSE CANÔNICA: Em 23/08/2020, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Santo Eduardo, no bairro do Bom Retiro, na Região Episcopal Sé, ao Reverendíssimo Padre Geraldo Pedro dos Santos.

Em 29/08/2020, foi dada a posse canônica como Administrador Paroquial da Paróquia São José, no bairro Mandaqui, na Região Episcopal Sant’Ana, ao Reverendíssimo Padre José de Souza Paim, CSJ.


4 | Ponto de Vista | 10 a 15 de setembro de 2020 |

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Editorial

O patriotismo cristão

N

o ensejo das comemorações da Independência de nossa Terra de Vera Cruz, convém relembrar o ensinamento da Igreja acerca do verdadeiro e sadio patriotismo. O Catecismo da Igreja Católica ensina, em primeiro lugar, que a unidade do gênero humano foi prejudicada pelo pecado, tendo Deus, então, agrupado os homens “segundo seus países, cada um segundo sua língua e segundo seus clãs” (cf. Gn 10,5). Esta “pluralidade de nações” foi ordenada para “limitar o orgulho de uma humanidade decaída”, sempre tentada a construir, numa nova Torre de Babel, um governo global divorciado do Criador. A organização em nações, no entanto, é transitória e não vigorará na eternidade – e, devido ao nosso pecado, cria o risco permanente de uma idolatria da pátria ou de um indevido relativismo religioso (cf. CIC, nos 56-57).

Para evitar tais perigos, a Igreja continua a ensinar mais detalhadamente os deveres que derivam do amor à pátria contidos no Quarto Mandamento (CIC, nos 2.238-2.240). Nós, cristãos, portanto, devemos ser cidadãos exemplares: respeitar e colaborar lealmente com a autoridade legitimamente constituída (cf. 1Pd 2,13.16); rezar pelos governantes (cf. 1Tm 2,2); estimar os concidadãos; contribuir com o pagamento de impostos, sempre que sejam justos e não abusivos; votar com consciência e responsabilidade, exercendo o direito ao voto; e defender o país, interessar-se e participar da vida pública, de modo a santificar a política. Se acaso, porém, a autoridade pública se desviar de sua finalidade, pretendendo emitir preceitos e leis contrários à moral, aos direitos fundamentais ou ao Evangelho, o cristão tem não apenas o direito, mas também o dever, de recusar obediência

por objeção de consciência (CIC, nº 2242). A qualquer lei, decreto ou ordem judicial que permita matar inocentes no ventre materno ou que restrinja os direitos divinos, por exemplo, o verdadeiro cristão responde, como São Pedro: “É preciso obedecer antes a Deus que aos homens” (At 5,29; cf. Mt 22,21). Quanto ao acolhimento de imigrantes, trata-se de manifestação da virtude bem cristã da hospitalidade. A imigração deve ser admitida “na medida do possível” e “em vista do bem comum”. Ao imigrante acolhido, por sua vez, cabe respeitar com gratidão o patrimônio material e espiritual do país que o acolhe, obedecer às suas leis e dar sua contribuição financeira” (CIC, nº 2.241). Enfim, ensina a Igreja que toda sociedade deve ser organizada conforme a visão de homem revelada por Deus, Criador e Redentor. E adverte que, historicamente falando, as socie-

dades que rejeitaram a Deus e buscaram seus referenciais em si mesmas ou em suas ideologias exerceram um poder totalitário e tirânico sobre o homem (CIC, nº 2.244). Poderíamos concretizar essas lições sobre patriotismo com a vida de São Tomás More (1478-1535), retratada em “O homem que não vendeu sua alma”, vencedor de seis Óscares. Advogado e célebre humanista, após grandes sucessos diplomáticos em nome da Coroa, ele foi alçado ao cargo de chanceler da Inglaterra. A certo momento, no entanto, o Rei ordena-lhe agir contra a lei de Deus, e diante da firme recusa, More, nosso exemplo de cidadão cristão, é condenado por lesa-pátria! Felizes de nós, no entanto, se pudermos morrer repetindo o que ele disse no cadafalso: “O Rei ordenou-me ser breve, e como sou o obediente servo do Rei, breve eu serei. Eu morro como bom servo de Sua Majestade – mas primeiro de Deus”.

Opinião

Imagem e realidade: os limites da Ciência contemporânea Arte: Sergio Ricciuto Conte

Dener Luiz da Silva Por que há variação na forma como o novo coronavírus acomete as pessoas? Por que tem sido considerada uma doença tão imprevisível, a ponto de colocar o mundo “em suspenso”? O estupor diante dessas perguntas pode ser explicado, em parte, na história da Ciência ocidental, por sua especialização exacerbada, sua visualização pela sociedade, as imagens que gera e um certo realismo ingênuo, característico da razão contemporânea. A Ciência, como manifestação da razão no Ocidente, possui uma longa história. Nascida no ambiente ao qual os historiadores, posteriormente, chamaram “época das luzes” (Iluminismo), buscava afastar a razão ideal da crença cega e da aceitação de verdades a partir, exclusivamente, da autoridade. Nesse sentido, em seu momento inicial, algumas vezes conflitava com práticas e vivências religiosas próprias do fim da Idade Média e, erroneamente, acabou sendo vista como contrária à fé. Com o Positivismo de Augusto Comte, chegou-se à proposição da razão submetida apenas às leis da aprovação factual positiva. Só é razoável aquilo que for passível de verificação. A racionalidade científica torna-se medida de todas as coisas. Esse conflito

foi, ao longo dos séculos, assumindo diferentes roupagens chegando, no século XXI, à explícita negação das dimensões religiosas ou a negações delimitadas e parciais. Além disso, da crescente especialização e divisão do saber decorre a criação de culturas e linguagens próprias. O “cientificês” obriga-nos a uma alfabetização científica para a leitura e consumo dos produtos da nova era. Especialistas são requeridos para manifestar-se sobre coisas que, antes, eram triviais ou faziam parte da experiência cotidiana. Tais

especialistas, em nome da Ciência, lançam mão de vocabulários específicos e levam ao limite extremo sua vocação universalista. Não existem mais os seres humanos, mas “o” ser humano descrito pelos sociólogos, psicólogos, neurocientistas ou médicos. Do mesmo modo, não há os organismos aos quais se denomina vírus, mas “o” coronavírus, tal qual descrito pela ciência epidemiológica. Sua imagem estampada nos jornais ganha status de entidade própria no imaginário popular. Ao se difundir a imagem, foto-

grafada ou imaginada, do vírus pelas várias mídias, construímos uma ideia dele que, em certo sentido, se aproxima da realidade – porque fundada em representações reais –, mas também a reduz, se não for compreendida como representação. O vírus, nesse sentido, terá uma característica geral, que aquelas representações alcançam, e isso já é um grande auxílio da Ciência. Ele possui, igualmente, porém, realidade única, singular, para cada indivíduo (ou organismo), que a representação não pode alcançar. A variação no efeito que o vírus produz em cada corpo humano é, por si, a integração entre, no mínimo, para sermos didáticos, dois indivíduos singulares (o primeiro, o humano; o segundo, o vírus). Assim como nós somos únicos, originais, também é de se esperar que cada partícula do vírus seja diversa, específica, acoplando-se e provocando reações típicas, mas igualmente singulares. Urge a necessidade de uma razão que se abra às possibilidades do real e não confunda a representação com aquilo que se busca representar (o realismo ingênuo), exigindo que a realidade se comporte segundo a expectativa. Uma razão livre é o de que mais precisamos. Dener Luiz da Silva é professor de Psicologia na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.


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| 10 a 15 de setembro de 2020 | Regiões Episcopais/Fé e Vida | 5

Em encontro on-line, Pastoral do Menor recorda a atuação de Dom Luciano Mendes Andréa Campos

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

Coordenadores, missionários e agentes da Pastoral do Menor participaram, no dia 2, do encontro on-line “A história de Dom Luciano Mendes com as coordenações”, conduzido pelo Diácono Permanente Everton Pereira, da Diocese de Franca (SP), Coordenador da Pastoral do Menor no Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Ao fazer memória do Bispo fundador da Pastoral do Menor, o Diácono chamou a atenção para a luta pelos invisíveis e para o fato de que, nestes tempos de pande-

mia, foi possível ter maior dimensão das pessoas atingidas pelas diferenças sociais. Durante o encontro, a caminhada de Dom Luciano (foto) com a Pastoral do Menor e os movimentos que liderou em defesa daqueles que mais precisam de ajuda foram apresentados pelo Diácono, que também falou sobre a importância de ações estruturadas, do exercício pleno da cidadania e da necessidade de estimular as potencialidades dos jovens. O encontro, organizado pela equipe regional da Pastoral do Menor na Região Episcopal Sé, sob a coordenação da Irmã Josefa Ferreira de Medeiros, pode ser visto na íntegra no site da Região Sé: www.regiaose.org.br.

Dom Eduardo participa de reunião do Setor Pastoral Catedral Paulo Fernandes

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

No dia 2, padres, religiosos e leigos atuantes do Setor Pastoral Catedral reuniram-se, de modo remoto, com Dom Eduardo Vieira dos Santos, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé. Na ocasião, o Bispo apresentou o documento Pacto pela Vida e pelo Brasil, assinado pela CNBB, junto com outras instituições, que trata dos diversos compromissos assumidos para ajudar o povo brasileiro a valorizar,

defender e cuidar da vida neste tempo de pandemia. Foi abordado, também, o projeto Animando a Esperança, que tem o objetivo de enfrentar este tempo imposto pela COVID-19, que além da pandemia envolve quarentena, mortes e instabilidade social, política e econômica. Dom Eduardo pediu que todas as paróquias se cadastrem no projeto, acessível em arquisp.org.br/animando-a-esperanca. O Bispo falou, ainda, sobre a Cartilha Política 2020, que já está disponível para as paróquias na Cúria Regional Sé.

Pontos de Esperança Dom Eduardo Vieira dos Santos

E

BISPO AUXILIAR DA ARQUIDIOCESE NA REGIÃO SÉ

ste “novo tempo” em que nos encontramos em razão da pandemia do novo coronavírus nos tem ensinado individual e coletivamente diversas lições. A solidariedade é uma delas, e grande parte da população da cidade de São Paulo está aprendendo a praticá-la e, pelo visto, não mais abrirá mão deste aprendizado. Chegamos ao sexto mês de pandemia, vividos entre quarentena, isolamento social, crise sanitária, econômica, social e política. Contudo, “a fé move montanhas”. Foi em meio a essas

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Pompeia promove encontro de liturgia POR CENTRO DE PASTORAL DA REGIÃO SÉ

Teve início na terça-feira, 8, um curso de liturgia on-line promovido pela Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, com o Padre Luiz Eduardo Baronto, Cura da Catedral da Sé. O curso quer motivar o crescimento catequético, espiritual, comunitário e pastoral na paróquia e se destina, especialmente, aos Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão, aos agentes

que se dedicam à proclamação da Palavra de Deus (leitores) e membros de outras pastorais e grupos que atuam na Paróquia, em especial seus coordenadores e responsáveis. O curso acontecerá sempre às terças-feiras, quinzenalmente, às 19h30, pela plataforma Zoom. As próximas datas são: 22/09, 20/10, 03/11, 17/11, 01/12 e 15/12. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 3862-6727 ou em secretaria@igrejadapompeia.com.br.

Espiritualidade

crises que na capital paulista fervilharam os mais de 400 Pontos de Esperança. Sim, assim foram chamadas as mais de 300 paróquias, as inúmeras obras sociais, hospitais, escolas, entre outras organizações religiosas presentes na Arquidiocese de São Paulo. Juntas se lançaram numa vasta campanha de arrecadação e distribuição de cestas básicas, refeições, cobertores, materiais de higiene, remédios etc., sem contar as centenas de voluntários que, movidos pela fé e pela compaixão para com o próximo, se uniram num grande exército de caridade. Entre as tantas iniciativas neste “novo tempo”, o projeto Animando a Esperança, instalado no Portal da Arquidiocese de São Paulo – arquisp.org.br/animando-a-esperanca –, quer revolucionar esta experiência de fé, solidariedade e caridade. Cada entidade presente na Arquidiocese se transformou num Ponto de Esperança no enfrentamento desta pandemia do novo coronavírus e de suas conse-

quências. Por isso, cada paróquia, obras sociais, hospital, escola e tantas outras entidades não podem ficar de fora neste grande esforço de fé e caridade, que está “movendo montanhas” nesta cidade imensa. Com carinho, peço a cada pároco, administrador e vigário paroquial, capelão, coordenador de pastoral e de setor, de entidades e de serviços sociais que, o mais breve possível, acesse o Portal da Arquidiocese, veja e conheça o projeto Animando a Esperança, atualize o cadastro ali existente e insira aí todas as ações de caridade realizadas desde o início desta pandemia. Informe com alegria o número de cestas básicas, refeições, cobertores, kits de higiene, remédios e mesmo dinheiro que foram doados às famílias ou pessoas carentes. Neste projeto, reuniremos todas as ações de caridade realizadas no âmbito da Igreja Católica em São Paulo: paróquias, congregações religiosas, associações e outras entidades, fazendo, assim,

uma grande soma do resultado de todas as atividades, de modo que não só se dará visibilidade ao conjunto destas ações e trabalhos efetuados, mas também será uma forma de dar transparência e de prestar contas à sociedade dos inúmeros auxílios que recebemos, destinados a ajudar os mais pobres e necessitados. No Portal da Arquidiocese, além das informações do projeto Animando a Esperança, é possível encontrar o Mapa, onde cada instituição aparece como um Ponto de Esperança. Basta clicar em cada Ponto que, imediatamente, você terá acesso a uma série de informações a respeito dele. Descubra, assim, aquele Ponto de Esperança que está mais próximo de sua casa e de como ajudá-lo a dar mais esperança a quem já a perdeu ou está prestes a perdê-la. A solidariedade é um novo nome para a fé, sobretudo neste “novo tempo”, em que ser um Ponto de Esperança para alguém que sofre faz toda a diferença.


6 | Regiões Episcopais | 10 a 15 de setembro de 2020 |

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santana

Missionários da Consolata: 40 anos na Paróquia Nossa Senhora da Penha zan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, e o Padre Pietro Plona, IMC, Pároco. A comunidade agradeceu a todos os Missionários da Consolata que por 40 anos propagaram o carisma da consolação, solidariedade, partilha, pertença e missão no bairro do Jardim Peri. Também houve agradecimento aos sacerdotes, especialmente ao Padre Pietro, e se recordou, de modo especial, dos presbíteros já falecidos, de outros que partiram para outras missões pelo mundo e daqueles que se despediram naquele dia.

Padre Salvador Armas

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO DA REGIÃO

No sábado, 5, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, presidiu missa em ação de graças pelos 40 anos de atuação dos Missionários da Consolata na Paróquia Nossa Senhora da Penha, no Jardim Peri, Setor Pastoral Mandaqui. A missa, com a participação presencial de fiéis e também acompanhada pelas redes sociais, teve entre os concelebrantes Dom Jorge Piero-

Arquivo Região Santana

Silvano J. Sousa

Dom Odilo com padres missionários da Consolata na Paróquia Nossa Senhora da Penha, no sábado, 5

Padre Zito: a parada depois de uma vida de entrega Edmilson Fernandes

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO DA REGIÃO

Padre Zito irá morar na Casa São Paulo

Ele nasceu no bairro de Santana, na famosa Rua Dr. César. Estudou nos colégios Marillac e São Bento e serviu nas paróquias e comunidades da Região durante os 22 anos de sacerdócio. No domingo, 6, o Padre José Avari Campos, o Padre Zito, como é conhecido, oficializou a aposentadoria, aos 73 anos. A cerimônia de despedida e ação de graças foi na Paróquia Santíssima Trindade, no Setor Casa Verde, onde passou os últimos cinco anos. Padre Zito foi ordenado no dia 3 de maio de 1998. “Foi uma vocação tardia”, conta. Ele se sentiu chamado durante o Primeiro Encontro de Jovens da Região

Norte de São Paulo, quando tinha 25 anos de idade. No entanto, só viria a ser ordenado aos 51. O Sacerdote começou a atuar pastoralmente ainda como seminarista na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, do Parque Edu Chaves. Depois, esteve nas Paróquias Santa Inês, Nossa Senhora Aparecida e São Matias, onde ficou 12 anos como Pároco; Paróquia Nossa Senhora dos Prazeres; foi Capelão da Capela Santa Luzia e, finalmente, atuou na Santíssima Trindade. “Não me arrependo de nada. Foi o serviço que escolhi. Com a ajuda das comunidades, dos leigos e a intercessão de Maria, que colocou Jesus crucificado no colo, realizamos essa missão com alegria e disposição. Ser padre é acompanhar,

servir a comunidade. Estar sempre junto. Isso é o que nos motiva a nos preocupar com o próximo. Apesar das tristezas, de algumas injustiças, não me arrependo. Nesse tempo, eu posso ter levado muitas pessoas a Jesus e ajudei a Igreja a ser instrumento de paz, justiça e amor.” Como acontece com os que doam a vida a serviço do Evangelho, Padre Zito não acumulou bens em mais de duas décadas como sacerdote. Não tem um imóvel próprio e, assim, irá morar na Casa São Paulo, que pertence à Arquidiocese e é um lugar de repouso dos padres idosos. Durante a missa de despedida na Santíssima Trindade, o Padre Victor Santana Milagres Fernandes, Pároco, agradeceu à imensa generosidade do Padre Zito por meio do seu sacerdócio.

Pascom promove Semana da Bíblia e intensifica ações nas mídias sociais Nesta semana, a Pastoral da Comunicação (Pascom) da Região Episcopal Santana divulga nas redes sociais uma série de vídeos para ajudar na reflexão sobre a Bíblia. Os Padres Luis Molento, Antônio Pedro, Cido Pereira, Francisco Ferreira da Silva e Jorge Silva indicam como encontrar na Palavra de Deus embasamento para assumir um compromisso social, aprofundar a espiritualidade, enfrentar a dor, viver a própria vocação e ser Igreja com mais intensidade. Os vídeos serão divulgados até o dia 11. O material sobre a Bíblia faz parte de uma série de ações que a Pascom de Santana tem promovido nos úl-

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AJUDA PSICOTERAPÊUTICA Você pode viver bem, ter vida saudável melhorando seu modo de ver a si mesmo, os outros e o mundo. O Dr. Bruno e o Dr. José darão a você ajuda continuada, indicando o caminho a seguir Os interessados devem comparecer as quartas-feiras, às 14h, nas instalações das paróquias:

Nossa Senhora da Assunção e São Paulo Pessoal Nipo-Brasileira de São Gonçalo Praça João Mendes 108, Tels. 3106-8110 e 3106-8119

timos meses nas plataformas digitais. Toda terça-feira, às 19h, acontece uma live com um convidado sobre um tema relevante no “#PASCOM#CONECTA”. No bate -papo, com duração de uma hora, religiosos e especialistas já falaram de assuntos como a pandemia, música na liturgia, leitura orante, catequese, ação pastoral, ação social, vocação e trabalho com jovens, por exemplo. As transmissões ao vivo são mediadas pelo coordenador da Pascom, José Henrique Monfré, ou outros membros da Pastoral, como Juliana Bacci e Bianca Rabelo. Com muita interatividade com os internautas, as lives são veiculadas nas páginas da Região no Facebook, YouTube e Instagram. No “Setembro Amarelo”, tema deste mês da série “Cardápio da Semana”, especialistas e religiosos vão abordar a prevenção ao suicídio. Os temas das lives e do “Cardápio” são escolhidos na reunião semanal on-line dos dez coordenadores setoriais da Pascom. O objetivo da série “Cardápio da Semana” é promover a reflexão e atitudes concretas na busca da conversão diária. Há, ainda, o “Minuto: Entre Linhas”, uma série de vídeos gravados por padres e religiosos, com cerca de cinco minutos de duração, sobre hábitos e comportamento. O quadro vai ao ar semanalmente, às segundas-feiras, nos canais da Região. Um dos vídeos foi

gravado por Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, que falou sobre humildade. (EF)

Arquivo pessoal

[BRASILÂNDIA] Na sexta-feira, 4, o Padre Rafael Alves Pereira Vicente, Assistente Eclesiástico da Pastoral da Saúde na Região Brasilândia, presidiu missa no Hospital Municipal Pirituba. A celebração se deu em sufrágio das almas dos pacientes e profissionais da Saúde falecidos, vítimas da pandemia de COVID-19, bem como em agradecimento a Deus por aqueles que se recuperaram da doença.


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| 10 a 15 de setembro de 2020 | Regiões Episcopais/Viver Bem/Fé e Vida | 7

Fé e Cidadania

lapa

O valor das tradições

7 crianças recebem a primeira Comunhão na Paróquia Santa Terezinha

Paulo Henrique Cremoneze Agnaldo Rizzo

Benigno Naveira

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO DA REGIÃO

Em missa na Paróquia Santa Terezinha, no Jardim Regina, Setor Pastoral Pirituba, em 30 de agosto, presidida pelo Padre Daniel Koo, Pároco, sete crianças receberam a primeira Comunhão. A celebração foi transmitida pelas redes sociais e teve a participação presencial apenas das crianças que receberam o sacramento, seus pais, padrinhos e catequistas. Os catequizandos se prepararam desde 2018 e iriam receber a primeira Comunhão em abril, na Páscoa, porém, em razão da pandemia de COVID-19 e com a suspensão da presença dos fiéis nas missas, houve a necessidade de reagendar a celebração. Em conversa com a Pastoral da Comunicação da Região Lapa, a catequista Elaine Rizzo ressaltou que, durante esse período de espera, foi mantido o conta-

Padre Daniel Koo e crianças recém-catequizadas na Paróquia Santa Terezinha

to com as crianças, por meio de encontros on-line de Catequese e houve até um retiro virtual, com a participação das famílias, no qual se explicou a respeito da Eucaristia e da Confissão. No dia 23, os catequizandos se confessaram e, assim, estavam aptos a receber a Comunhão pela primeira vez.

Elaine recordou a emoção das crianças ao receberem o sacramento. “O dia da primeira Comunhão deve ser o mais lindo de nossa vida. Eles poderão contar aos seus filhos, futuramente, que, no meio de uma pandemia, receberam pela primeira vez Jesus no coração”, finalizou.

Comportamento E a educação religiosa? VALDIR REGINATO Avistamos o fim de ano chegando rapidamente. Os pais se preocupam com praticamente um ano “perdido” na escola das crianças. O esforço on-line não dá o resultado de sucesso aos filhos, e traz muito mais trabalho para os pais. Ainda é uma incógnita como chegarão a 2021! Para os pais, o aprendizado escolar é um dos pilares da educação. Desta dependem a formação cultural, o conhecimento de metodologias de estudo, as luzes para a futura escolha profissional, a autonomia de pesquisa, sem esquecer o relacionamento social, amizades e um vasto campo de conhecimento que ajuda a promover o desenvolvimento pessoal. Portanto, é bastante razoável a preocupação dos pais com a “perda do ano escolar de 2020”. A pergunta que coloco em pauta é: será que os pais estão igualmente (pelo menos) preocupados com a formação religiosa de seus filhos? Não vamos nos restringir ao fato de eles terem sido batizados (o que é fundamental). Não vamos dizer que compareceram às formações na paróquia, fizeram a primeira Comunhão; e até participam da missa, alguns domingos. Quem sabe poderemos dizer que já se preparam para a Crisma! Vamos ampliar a nossa questão: estamos procurando formar nossos filhos na fé cristã e colaborando para que possam crescer cada vez mais nesta vida com a santidade que se espera de um filho de Deus? O que fazemos para isso? Será que, ao longo do tempo, levamos a educação religiosa dos filhos como “anos 2020”, que se repetem? O dever da educação religiosa para pais cristãos – católicos – pertence, antes de tudo, a eles próprios. São João Paulo II afirmava que os pais não podem delegar a educação religiosa a terceiros. Estes serão colaboradores, como a escola é colaboradora, mas não a responsável direta. E, no amplo universo da educação, a formação religiosa não pode ser vista como algo menor ou ficar na dependência de algumas aulas de Religião que serão dadas nas escolas (ainda que católicas). Ela deve se iniciar desde o berço e ser acompanhada até que os filhos caminhem com as próprias pernas, que por vezes podem bambear e precisar de ajuda. Hábitos da infância devem ser acompanhados de

participação religiosa. A imagem do Anjo da Guarda, da Mãe do Céu, e a água benta são acolhidas naturalmente e com alegria pelas crianças. Alguém poderá dizer: “Mas elas não entendem...”. Elas também não entendem por que comem ou se vestem, e nós não as deixamos passando fome e frio. E quando crescem, gostam de ouvir histórias. A Bíblia, à qual nos dedicamos de modo especial neste mês de setembro, tem inúmeras histórias, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, que fazem com que a criança vá se familiarizando com Jesus, Nossa Senhora e São José, além dos profetas e reis... Não há diferença para elas em relação aos demais contos infantis, e isso alimenta o espírito de boa formação. Crescidos, é importante que a preparação para o sacramento da Eucaristia não seja um curso para receber um “diploma” na primeira Comunhão e guardá-lo. A Eucaristia é uma “etapa de mudança” no comportamento diário, que, juntamente com o sacramento da Reconciliação, favorece a renovação da luta por agradar a Deus. E as virtudes serão os motores nessa batalha cotidiana. Comentar alguma passagem do Evangelho que se ouviu na missa, com fatos do cotidiano familiar, ajuda a perceber o quanto a vida de Cristo se insere na nossa própria vida, passados 2 mil anos! A formação religiosa não é uma aula que se estudou para a prova e se esquece porque “não vou precisar disto”. Se essa visão já é enganosa para temas escolares, na formação religiosa mais ainda. A religião não se limita a saber, mas é alimento para a alma poder crescer e se desenvolver. Passam os anos e a Igreja apresenta o sacramento da Crisma para que possam tomar uma decisão consciente na perseverança da fé. Agora andam com seus próprios pés. Os retiros espirituais e a direção com o sacerdote fortalecem a intimidade com Deus. O caminho está aberto a uma vida cristã, que poderá escolher pelo sacramento do Matrimônio ou, quem sabe... por uma vida de dedicação completa ao Senhor, como religioso. Não temam os pais esta opção! Pelo contrário, alegrem-se! Não deixemos a formação religiosa de nossos filhos como o ano “2020”, e, para tanto, esforcemo-nos por dar bom exemplo por meio do nosso empenho pessoal. Valdir Reginato é médico de família. E-mail: reginatovaldir@gmail.com.

Há um famoso filme, musical, de que gosto muito: “Um Violinista no Telhado”. Seu roteiro retrata a vida de uma comunidade judaica na Rússia czarista do século retrasado. A personagem principal, Reb Tevye, um homem religioso, piedoso, bom pai de família e muito trabalhador, diz logo na primeira cena: “É pela tradição que sabemos quem somos e o que Deus espera de nós”. Churchill disse que “a fortuna fica justificadamente indignada com aqueles que rompem com os costumes do passado”. O tempo atual é iconoclasta e tende a desprezar costumes e tradições. Parece que há um mórbido e esfomeado desejo de desconstrução da identidade de todos os povos, especialmente na porção ocidental do mundo. Valorizar as tradições é, antes de tudo, respeitar a própria história e defender a identidade. A valorização da própria história não impede análises críticas, honestas, e a defesa da identidade não se confunde com abominações como o nacionalismo, o etnocentrismo, a intolerância e qualquer coisa que implique odioso sentimento de pretensa superioridade ou desprezo por tudo o que for diferente, que estiver na esfera “do outro” (outro povo, outra pessoa, outra cultura, outra religião). A tendência atual em destruir a própria identidade e pisotear nas tradições é algo triste, preocupante, e que revela perturbadora desordem moral e, portanto, também social. Parece existir, sabe-se lá orquestrado por quem e para que, um plano muito bem construído de corrosão de cultura ocidental, cristã, florescida na Europa e difundida em muitas partes do mundo. Tenho a impressão de que aquele que se dedica à diabólica arte de destruir as tradições simplesmente ignora a grandeza invulgar da civilização ocidental, que tem em sua organicidade a filosofia grega, o Direito romano, os valores e princípios cristãos. Se não ignora, age com má-fé, orientando-se para a destruição do que é belo, justo e valioso. Nunca é demais lembrar que a civilização cristã ocidental deu ao mundo as belas artes, a ciência, a exuberante arquitetura (simbolizada nas catedrais medievais), o sistema de ensino, as melhores práticas de piedade e os mais elevados ideais. A democracia é essencialmente um valor ocidental. É claro que, entre as luzes exuberantes, esses dois milênios foram também pontilhados por sombras e, mesmo, pontos constrangedores de abissal escuridão, mas o produto da soma destes não ofusca toda a grandiosidade da civilização ocidental, muito menos desautoriza sua história e suas tradições. Preservar tradições não é viver no passado, tampouco se fechar ao novo. Não! Muito pelo contrário: preservar tradições é buscar no passado a inspiração para o presente e discernir quando o novo há de ser abraçado e difundido e quando há de ser deixado de lado ou repelido. Há entre tradição e sabedoria uma união quase hipostática, íntima, inexorável. É pela tradição que sabemos quem somos e o que Deus espera de nós. Em sendo assim, saberemos melhor respeitar as diferenças, admirar culturas, tradições e costumes alheios, bem como buscar a justiça social, proteger e elevar os mais fracos e vivenciar o mandamento de “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. Paulo Henrique Cremoneze é advogado, mestre em Direito Internacional pela Universidade Católica de Santos, especialista em Direito do Seguro pela Universidade de Salamanca, na Espanha, pós-graduado em Especialização Teológica pela Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção e vice-presidente da União dos Juristas Católicos de São Paulo (Ujucasp). As opiniões da seção “Fé e Cidadania” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editoriais do O SÃO PAULO.


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Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

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O patriotismo é especialmente recordado no Brasil em setembro, um sentimento de orgulho nacional que pode colaborar para o bem comum, a justiça e a solidariedade Daniel Gomes e Fernando Geronazzo

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Manifestação de amor ao país onde se nasce ou que se adotou para viver, estando disposto a agir para defendê-lo, a ponto de morrer pela pátria, é a definição mais elementar para patriotismo, tema que neste mês tem especial destaque em razão da comemoração do Dia da Pátria, 7, e do Dia dos Símbolos Nacionais, 18 de setembro, que homenageia a Bandeira Nacional, as Armas Nacionais, o Selo Nacional e o Hino Brasileiro, conforme regulamentado pela Lei 5.700, de 1971. “O patriotismo, em geral, é uma espécie de sentimento de orgulho nacional, um amor, não só à pátria, ao país que você vive, mas também em relação aos símbolos, como o hino, a bandeira e, eventualmente, à própria história do país”, explicou ao O SÃO PAULO o cientista político Rodrigo Gallo, professor na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP). No Brasil, o uso dos símbolos nacionais para expressar o orgulho de ser brasileiro é muito comum durante as edições da Copa do Mundo, e pôde ser constatado em outros momentos da história recente, como durante as Diretas Já!, nos anos 1980; com os jovens caras-pintadas, no início da década de 1990; e nas manifestações contra a corrupção política, mais intensas entre 2013 e 2016, o que mostra que o sentimento patriótico também se relaciona com o exercício da cidadania e a busca do bem comum.

Virtude A Igreja Católica ensina que o amor à pátria é uma virtude relacionada ao cumprimento do Quarto Mandamento da Lei de Deus – “Honrar pai e mãe”. O Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 2239, destaca que o amor e o serviço à pátria derivam do dever de gratidão e da ordem de caridade. “A submissão às autoridades legítimas e o serviço do bem comum exigem que os cidadãos cumpram seu papel na vida da comunidade política”, diz o texto. O Catecismo esclarece, ainda, que a virtude do patriotismo faz com que cada cidadão colabore “com os poderes civis para o bem da sociedade, num espírito de verdade, de justiça, de solidariedade e de liberdade”. Santo Tomás de Aquino, na sua Suma Teológica (STh. II-II q.101), diz que o dever do cristão em relação à pátria deriva da virtude da piedade filial, do dever de prestar honra e culto àqueles que o precedem, de forma especial aos pais, por terem dado a vida natural, e à pátria, por ser o lugar em que a pessoa se desenvolve e encontra seu espaço vital, além de viver a fraternidade com seus concidadãos. O Compêndio da Doutrina Social da Igreja, no artigo 157, ao se referir aos direitos e deveres dos povos e nações, lembra que “a nação tem um fundamental direito à existência; à própria língua e cultura” e que, acima de tudo, deve haver uma livre cooperação, visando ao bem comum da humanidade. Valor cultural Na primeira mensagem para o Dia Mundial da Paz no terceiro milênio, em 1º de janeiro de 2001, São João Paulo II destacou que a pessoa existe necessariamente “em uma determinada cultura”, enraizada num humus concreto, no qual se forma o “sentido da ‘pátria’”. O Santo Padre recordou que o próprio Jesus, ao se fazer homem, “adquiriu, com uma família humana, também uma ‘pátria’; ficou para sempre Jesus de Nazaré, o Nazareno”, afirmou, sublinhando que “o amor à pátria é um valor a cultivar,

mas sem estreiteza de espírito”. Isso significa evitar “as formas patológicas que têm lugar quando o sentido patriótico assume tons de autoexaltação e de exclusão da diversidade”. Nesse contexto, o Papa recordou que, no passado, as diferenças culturais foram frequentemente fonte de incompreensões e motivo de conflitos e guerras. E que, ainda hoje, existe a “polêmica afirmação de algumas identidades culturais contra outras culturas”. Ele advertiu, também, que, se a “radicalização das identidades culturais” é preocupante, não é menor o risco de se fazer uma homogeneização “servil das culturas”. “Um antídoto eficaz para que o sentido de pertença cultural não provoque isolamento é o conhecimento, sereno e livre de preconceitos negativos, das outras culturas”, completou.

Menos patriotas que antes? Por força da Lei 12.301/2009, é obrigatório que, uma vez por semana, nas escolas públicas e privadas de Ensino Fundamental, haja a execução do Hino Nacional. A existência da legislação, porém, não tem assegurado, por exemplo, que os brasileiros, ao final do ciclo de ensino, tenham plena ciência da letra do hino e de seu significado. “O modelo educacional que nós tínhamos antes – seja público, seja privado, com as diretrizes do Ministério da Educação –, indicava que havia uma valorização maior desses símbolos nacionais: cantar o hino toda sexta-feira de manhã, por exemplo, as aulas obrigatórias de Educação Moral e Cívica, isso fazia parte de um projeto de Estado”, observou Gallo, apontando para um possível desgaste dos símbolos nacionais e sua falta de percepção pelas novas gerações, panorama que, em seu entender, pode ser modificado. “Talvez a geração atual não se sinta tão identificada com elementos que estão na bandeira, com o hino, talvez muitos jovens nem saibam a letra do hino nacional, mas por que o Estado não reconfigura suas estratégias para a construção de patriotismo? Cito o exemplo da música pop sul-coreana. O k-pop foi incorporado às estratégias

| A unidade da pátria brasileira e de seu povo, representada na arte sacra | Santuário Nacional de Aparecida Em cada uma das colunas do baldaquino do altar-central, em meio aos elementos que representam a flora e a fauna do País, há anjos diferentes: um branco, um negro, um caboclo e um índio, que representam a formação do povo brasileiro. A autoria é do artista plástico Claudio Pastro

Paróquia Nossa Senhora do Brasil A igreja localizada no Jardim Paulista, na zona Sul de São Paulo, tem, no centro do teto da capela-mor, a Virgem Maria e o Menino Jesus cercados de representantes de diferentes regiões brasileiras, vestidos com roupas típicas. A autoria é do pintor e ceramista Antônio Paim Vieira


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de políticas externas da Coreia do Sul, a fim de tentar apresentar outra imagem do país ao mundo. Hoje, por exemplo, muitos brasileiros que nunca estiveram na Coreia do Sul gostam das coisas de lá. Assim, um elemento, a princípio banal, pode ser usado pelo Estado como forma de projetar a imagem do país externamente, além de fazer com que pelo menos parte da sua população tenha orgulho do ‘produto nacional’”, ponderou Gallo.

Nacionalismo x patriotismo Por vezes tratadas como expressões correlatas, nacionalismo e patriotismo são diferentes. Um dos pioneiros a fazer tal distinção foi o abade Augustin Barruel, em 1797, no contexto da revolução francesa. Em suas “Memórias para Servir na

História do Jacobinismo”, ele afirmou que o nacionalismo ocupou o lugar do amor geral, e passou a permitir desprezar os estrangeiros, enganá-los e ofendê-los. Tratava-se de um amor excessivo ao Estado e de ódio aos estrangeiros. No livro “Dicionário de Política”, Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino apontam que “em seu sentido mais abrangente, o termo nacionalismo designa a ideologia nacional, a ideologia de determinado grupo político, o Estado nacional, que se sobrepõe às ideologias dos partidos, absorvendo-as em perspectiva. Juntamente com essa significação, porém, existe outra, mais restrita, que evidencia uma radicalização das ideias de unidade e independência da nação e é aplicada a um movimento

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político, o movimento nacionalista, que se julga o único e fiel intérprete do princípio nacional e o defensor exclusivo dos interesses nacionais”. Rodrigo Gallo ressalta que, no nacionalismo, o Estado atua intensamente para criar uma unidade nacional, não é algo espontâneo de amor à pátria por parte das pessoas, e ainda pode gerar situações de conflito dentro do próprio território. “No Brasil, não se vê um projeto nacionalista sendo construído, mas há atritos. Em 2018, em Roraima, por exemplo, alguns brasileiros cantavam o hino nacional, a fim de expulsar venezuelanos do estado. Foi um momento muito triste, em que um símbolo nacional foi usado de forma muito negativa contra uma população estrangeira”, observou.

Nas últimas quatro décadas, a mobilização dos brasileiros, em especial para a promulgação da Constituição de 1988 e sua efetiva aplicação, fez do Brasil um país melhor para se viver, mas ainda há muitos desafios a serem superados

Queda na taxa de analfabetismo (pessoas acima dos 15 anos) 1980 – 19.356 analfabetos (25,9% da população) 2019 – 11.041 analfabetos (6,6% da população) Fontes: Censo de 1980 e Pnad Contínua Educação

Mais crianças na escola 1980 – 1,33 milhão de crianças de 0 a 6 anos (5,9% do total) estavam em creches ou na pré-escola 2018 – 3,5 milhões de 0 a 3 anos em creches (34,2% do total) e quase 5 milhões de 4 a 5 anos na pré-escola

(92,4%)

Fontes: Censo de 1980 e Pnad Contínua Educação

Brasileiros, por que não? Para muitos esportistas, o ápice da carreira é alcançado quando disputam uma edição das Olimpíadas. Em cem anos de participação brasileira nos Jogos Olímpicos de Verão – a primeira foi em Antuérpia 1920 –, 52 esportistas nascidos em outros países representaram o Brasil nos Jogos. A trajetória destes atletas é apresentada na tese de doutorado “Brasileiros, por que não? Trajetória e identidade dos migrantes internacionais no esporte olímpico do Brasil”, pelo jornalista William Douglas de Almeida, que será avaliada no final deste mês na Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (USP). Em entrevista à reportagem, Almeida recorda que, apesar das particularidades, a identificação de alguém nascido no estrangeiro com o país que passa a defender tem aspectos comuns. “O local de nascimento é muito importante, e outros elementos, como os laços familiares e, em alguns casos, a migração ainda na infância, fazem com que muitos destes atletas tenham uma identificação muito forte com o Brasil. Além disso, há as relações construídas com amigos e outros profissionais do esporte – sejam concorrentes, sejam colegas de equipes – que aumentam o sentimento de pertencimento ao Brasil”, detalha. Almeida recorda a experiência do remador Francisco Todesco, que, nascido na Itália, imigrou para o Brasil, ainda adolescente, logo após a 2ª Guerra Mundial. “A primeira vez que ele voltou ao país natal foi para competir nos

COB

Fontes: Censo 1980 e Tábua de mortalidade para o Brasil – IBGE

Mais homicídios (Dados gerais) 1980 – 13.910 homicídios (11,69 por 100 mil habitantes) 2017 – 65.602 homicídios (31,59 por 100 mil habitantes) Entre os jovens (15 a 29 anos) 1980 – 6.759 mortes (48,59% do total em todas as faixas etárias) 2017 – 35.783 mortes (54,54% do total em todas as faixas etárias) Alguns atletas olímpicos do Brasil nasceram no exterior

Jogos Olímpicos, em Roma 1960, como brasileiro. Para ele, representar o Brasil naquele evento era também uma forma de demonstrar gratidão à nova pátria. Anos depois, ele teve a oportunidade de obter novamente a cidadania italiana, mas optou por se manter brasileiro”, recorda. Almeida lembra, ainda, que, para estes atletas, representar o Brasil em uma olimpíada significou a afirmação de uma identidade e uma aproximação com a própria ancestralidade. (DG)

Um verdadeiro tesouro encontrado no Brasil Há pessoas que, ao serem adotadas por uma nova pátria, também descobrem a fé. Isso aconteceu com Ken e Maushi Akamine, avós paternos de Dom Julio Endi Akamine, Arcebispo de Sorocaba (SP), primeiro Bispo nipo-brasileiro. Dom Julio contou ao O SÃO PAULO que, no início do século XX, seus avós partiram do Japão, sua terra natal, sonhando com “a árvore dos frutos de ouro”, como era conhecido o café. No entanto, descobriram outra árvore que produz “um fruto imensamente mais precioso”. “Quando o navio em que viajavam cruzou a linha do Equador, perderam de vista, para sempre, a Estrela Polar e viram, pela primeira vez, o Cruzeiro do Sul: das estrelas veio o sinal que preanunciava a verdadeira riqueza que aqui encontrariam”, relatou o Arcebis-

Queda na mortalidade infantil (até o 1º ano de vida) 1980 – 69,1 mortos para cada mil nascidos vivos 2018 – 12,4 mortos para cada mil nascidos vivos

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Dom Julio Akamine, Bispo de Sorocaba (SP)

po, referindo-se ao Cristianismo. Dom Julio contou que, quando seus avós decidiram imigrar para o Brasil, acreditavam que poderiam enriquecer com o cultivo do café e, em pouco tempo, retornariam bem-sucedidos ao Japão. No entanto, Ken foi

designado para trabalhar na colheita de algodão no município paulista de Garça e, nesse contexto, ele e a esposa descobriram a fé cristã católica, batizando-se e adotando o nome cristão de Julio e Maria. Na comemoração do centenário da Imigração Japonesa no Brasil, em 2008, Dom Julio ressaltou que, se a data era um momento oportuno para reconhecer a contribuição dos japoneses para a formação da cultura e da economia do Brasil, “é necessário agradecer aos católicos destas terras o fato de os imigrantes nipônicos terem encontrado aqui a ‘Árvore da Cruz’, de onde pende a salvação do mundo”. “Minha gratidão aos que transmitiram a fé aos meus avós de modo tão sincero e vital é imensa: eles nos transmitiram o tesouro que, por graça divina, carregamos em vasos de argila”, concluiu o Arcebispo. (FG)

Fonte: Atlas da Violência 2020

Mais desempregados Década de 1980 – média de 5,3% do total da população economicamente ativa 2019 – média de 11,9% da população economicamente ativa Entre os jovens 1980 – 44,7% dos que tinham entre 15 e 24 anos não trabalhavam 2019 – 23,8% das pessoas entre 18 e 24 anos estavam desempregadas Fontes: Ipea e Pnad Contínua

Serviço de abastecimento de água 1989 – Disponível em 95,9% dos 4.245 municípios do País na época 2018 – 39,4 milhões de brasileiros ainda não têm acesso à água potável Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS)

Acesso à rede de esgoto 1980 – 74% das residências não estavam ligadas à rede de esgoto 2018 – 48% da população, cerca de 101 milhões de brasileiros, ainda não tem esgoto Fontes: IBGE e SNIS

Mais pessoas vivem em favelas 1980 – 2,25 milhões de pessoas (1,62% da população) 2019 – 13,6 milhões de pessoas (6,47% da população) * Em 2018, o rendimento médio mensal do 1% mais rico da população brasileira era 33,8 vezes superior ao ganho obtido por 50% dos mais pobres Fontes: IBGE e Institutos Datafavelas e Locomotiva


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Cardeal Scherer: ‘Amar a pátria pode ser expressão de genuíno amor ao próximo’ Luciney Martins/O SÃO PAULO

Daniel Gomes

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Na tarde do domingo, 6, véspera da comemoração do Dia da Pátria, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, presidiu missa na Catedral da Sé, em intenção pela pátria e pelo povo brasileiro, com lembrança especial aos doentes e seus cuidadores e aos falecidos em razão da pandemia de COVID-19. “Queremos invocar a proteção de Deus, para que o quanto antes possamos sair desta pandemia e voltar a ter toda a liberdade, inclusive para o povo retornar às igrejas e participar das celebrações”, disse Dom Odilo, no começo da celebração eucarística, que teve entre os concelebrantes Dom Eduardo Vieira dos Santos, Dom José Benedito Cardoso e Dom Jorge Pierozan, Bispos Auxiliares da Arquidiocese. Participaram presencialmente alguns representantes de autoridades civis e militares e foram lidas manifestações de apreço pela celebração, entre as quais a do governador João Doria.

Cardeal Scherer durante missa em intenção pela pátria e pelo povo brasileiro, no domingo, 6

A pátria para o bem de todos Referindo-se à liturgia do 23º Domingo do Tempo Comum, Dom Odilo lembrou, na homilia, que Deus deseja que todos se salvem, e que cabe a cada cristão ser “instrumento de salvação para aqueles que erraram, para que possam se salvar”. O Arcebispo recordou que a pátria é o local onde alguém nasce ou adota para viver, espaço com o qual se identifica e se sente parte, tendo compromisso com ela e com seu povo. “O cristão também necessita e tem o direito a uma pátria. Ao mesmo tempo, ele sabe que a sua pátria neste mundo ainda é provisória, que se encontra na condição de peregrino, a caminho da pátria definitiva. Também sabe, porém, que, durante esta vida, ele deve ser cidadão e envolver-se ativamente na promoção do

bem comum do seu povo e de sua pátria, e que ele próprio também possui o direito à cidadania plena. Assim, nenhum cristão ou pessoa de qualquer religião deveria ser discriminado por causa de sua fé, nem ser considerado cidadão de segunda categoria, por ser pessoa de fé religiosa. Isso seria um grave desrespeito aos direitos e à dignidade humana”, apontou. O Arcebispo lembrou, ainda, que a pátria é o lugar de referência para se viver o amor ao próximo e as virtudes da justiça, da honestidade e da solidariedade, bem como a liberdade, com cidadãos que agem com senso de responsabilidade social, contribuem para a edificação do bem comum e atuam para a garantia da própria dignidade e a dos demais, posturas que a Igreja recomenda constantemente aos cristãos. “A participação de todos no bem da

pátria equivale ao interesse que todos precisam ter na edificação e conservação da ‘casa comum’, ou da ‘cidade’, entendida como espaço de convívio e busca do que é bom para todos. Amar a pátria pode ser expressão de genuíno amor ao próximo”, disse Dom Odilo.

Pacto pela Vida e pelo Brasil O Arcebispo fez ainda menção ao Pacto pela Vida e pelo Brasil, firmado em abril pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e outras instituições de expressiva credibilidade, no qual os brasileiros são convocados, diante da atual crise sanitária, política, econômica e social, a unir esforços em defesa da vida humana, em especial dos mais vulneráveis. “A pandemia de COVID-19 mostrou, de maneira inequívoca, a profunda desigualdade e injustiça social que ainda

reinam em nosso País. Muitos brasileiros continuam excluídos dos benefícios do bem comum, que a pátria deveria significar e proporcionar a todos. A vida dessas pessoas está continuamente exposta a privações, e muitos ainda estão excluídos do acesso aos bens da alimentação, saúde, habitação digna, saneamento, segurança e educação”, afirmou o Cardeal. Ao recordar que o Pacto propõe um diálogo social e político, em decorrência do respeito à democracia, Dom Odilo ressaltou: “Vivemos uma situação política marcada por forte polarização, por apego a privilégios e por manobras maquiavélicas para se manter no poder a todo custo. Parece que o bem está todo de um lado e o mal está todo de outro, mas sabemos que a convivência na ‘pátria-casa comum’ supõe a diversidade, o respeito ao pluralismo, em que o diálogo franco e o respeito levem a somar, partindo das diferenças, não sendo necessário um antagonismo bipolar e excludente”. O Arcebispo, por fim, rogou a Deus para que haja avanço do diálogo no País, a fim de que as atenções estejam centradas nas questões que requerem a contribuição, e que os governantes, de modo especial, ajam com justiça e equidade para o bem da população, em especial dos mais pobres.

Paz, justiça e consolo Na oração dos fiéis, rezou-se a Deus para que conceda ao povo brasileiro paz e justiça; que os governantes adotem políticas públicas contra as situações de marginalização; que os agentes de saúde mantenham sua missão de salvar vidas; e que o Senhor acolha em seu Reino todos os já falecidos por COVID-19 e dê o conforto a seus familiares. Antes da bênção final, Dom Odilo desejou que a celebração do Dia da Pátria seja também oportunidade para que cada pessoa reflita sobre como pode dar sua contribuição para que o Brasil seja um bom lugar para todos os que nele habitam.

Você Pergunta ‘Por que São José é tão pouco citado na Bíblia?’ PADRE CIDO PEREIRA

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Essa é a dúvida do José Antônio, de Carapicuíba (SP). Sabe, meu irmão, muitas pessoas como você ficam intrigadas com o motivo de a Bíblia não ser tão minuciosa a respeito de pessoas e de fatos. Veja alguns exemplos: a adolescência e juventude de Jesus, a vida da Sagrada Família em Nazaré, a morte de José e Maria. Vale lembrar, porém, José Antônio, que os evangelhos não foram escritos para nos falar de São José, de Nossa Senhora, dos apóstolos, mas, sim, para nos deixar a

par do acontecimento decisivo da história da salvação, que foi a entrada de Jesus, o Filho de Deus, na nossa história humana. Pegue sua Bíblia e veja como cada evangelista inicia seu Evangelho: todos se referem a Jesus. São Mateus começa citando a origem de Jesus. São Marcos aborda, logo no início, a Boa-Notícia de Jesus, o Messias, filho de Deus. Lucas afirma que decidiu escrever, depois de cuidadoso estudo e de entrevistar as testemunhas oculares que conviveram com Jesus. E João faz uma profunda meditação sobre Jesus, o Verbo de Deus. Assim, é Jesus quem interessa. As pessoas que participaram da história da nossa

salvação – Zacarias, Isabel, João Batista, José e Maria – são importantíssimas, mas falar delas não é o objetivo primeiro dos evangelistas. Sobre São José, o importante, como afirma São Mateus, é saber que foi um “homem justo” e assumiu a missão de esposo fiel de Maria e de guardião e tutor de Jesus. Ele sustentou a Sagrada Família com seu trabalho. O resto que sabemos são deduções que fazemos: José morreu nos braços de Jesus e Maria, provavelmente antes da vida pública de Cristo, e é tido por todos nós como protetor dos trabalhadores, dos chefes de família e dos administradores.

Houve um grupo de escritores que tentou preencher os vazios deixados por Mateus, Marcos, Lucas e João e escreveu alguns evangelhos chamados apócrifos. Por serem tão fantasiosos, a Igreja não os considera inspirados por Deus, e, assim, não fazem parte da Bíblia. Fixemos, então, a nossa atenção, como queriam os evangelistas, na pessoa de Jesus. Vale a pena acolhê-Lo com amor, como fizeram José e Maria, vale a pena escutar Jesus, segui-Lo e testemunhá-Lo, porque Ele é o único Senhor de nossa vida, o princípio e o fim de tudo, o Caminho, a Verdade e a Vida.


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| 10 a 15 de setembro de 2020 | Reportagem | 11

Capela Santa Catarina: espaço para o encontro com Deus na Avenida Paulista Templo centenário é sinal da atenção da Igreja aos enfermos em uma das principais vias da metrópole

Comunicação HSC

Comunicação HSC

Daniel Gomes

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Na Avenida Paulista do começo dos anos 1920, predominavam os casarões das famílias dos aristocratas do café, dos grandes comerciantes e proprietários das indústrias. Nas ruas do entorno também viviam outros trabalhadores, muitos deles imigrantes que chegaram ao Brasil no começo do século XX. Assim, desde seus primórdios, a mais famosa via paulistana é um lugar plural, característica que se intensificou ainda mais a partir da década de 1950, quando passou a ser permitida a construção de prédios e a instalação de conjuntos comerciais e escritórios, que hoje são maioria na região. Neste cenário múltiplo, em 1906, a Congregação das Irmãs de Santa Catarina inaugurou o Sanatório Santa Catarina, para dar continuidade aos atendimentos a enfermos que fazia na cidade desde o início daquela década, especialmente após a chegada da Irmã Beata Heinrich, que viabilizou a construção do hospital, com o apoio de Dom Miguel Kruse, Abade do Mosteiro de São Bento, e do médico Walter Seng. Inicialmente, o hospital era voltado a pacientes com doenças infectocontagiosas, e, desde sempre, há o compromisso de prestar uma assistência integralizada, com cuidado técnico e espiritual. Assim, também no Brasil, as irmãs da Congregação, que surgiu em 1571, na Alemanha, se mantiveram fiéis ao carisma da fundadora, a Madre Regina Protmann (1552-1613): a identificação com o mistério da Paixão de Jesus, a partir de uma vida de ascese, penitência e de serviço aos pobres.

Uma capela centenária Com o passar dos anos, foi idealizada a construção de uma capela nas dependências do hospital, sendo a pedra fundamental do templo depositada em 25 de novembro de 1919, na memória litúrgica de Santa Catarina de Alexandria (287-305); a inauguração ocorreria meses depois, em 6 de setembro de 1920, com missa presidida por Dom Duarte Leopoldo e Silva, então Arcebispo de São Paulo. Em ação de graças pelo centenário, o Padre Alexandre Massariol, Capelão, presidiu missa na tarde do domingo, 6, durante a qual lembrou que na Capela é possível fazer a experiência do amor de Deus e que, ao longo destes cem anos, as irmãs de Santa Catarina ali realizaram sua profissão religiosa, muitos foram pedir a misericórdia de Deus por alguém hospitalizado ou agradecer por aqueles

Fachada da Capela Santa Catarina; e foto da área externa do hospital em seus primeiros anos

que se recuperaram, famílias e amigos velaram falecidos e os profissionais e colaboradores do hospital encontraram forças para continuar com os trabalhos.

Atrativo cultural e religioso “Desde o início, a Capela tem a vocação de receber a todos, tanto que sua entrada não é dentro do hospital, ou seja, é bastante acessível. De maneira muito particular, porém, atende a comunidade do hospital. Todas as quintas-feiras, por exemplo, temos um momento de oração com os funcionários”, detalhou Padre Alexandre ao O SÃO PAULO. Antes da pandemia de COVID-19, as missas aconteciam diariamente às 18h. Agora, ocorrem nesse mesmo horário apenas às quartas-feiras, sábados e domingos. O Sacerdote afirmou que o fluxo de pessoas no templo aumentou após a reforma da parte externa, em 2017. “A grande novidade foi a iluminação permanente de toda a frente da Capela. Além de ser um espaço de oração, de encontro com Deus, há uma beleza tanto tanto do lado interno quanto do lado externo, de modo que mesmo as pessoas que não professam a fé católica vêm à igreja para conhecer a sua arquitetura. É, sem dúvida, um atrativo cultural e religioso”, comentou.

Itinerário catequético O visitante mais atento tem a oportunidade de contemplar os sinais da fé cristã na arquitetura de estilo neogótico, de modo especial nos vitrais. Um deles representa a obra da Criação, com a Trindade Santa simbolizada em um triângulo. Outro é alusivo ao mistério pascal de Cristo. Há, ainda, vitrais representativos da vinda do Espírito Santo em Pentecostes, do sacramento da Eucaristia, da Virgem Maria e do ministério sacerdotal. Ao fundo do presbitério, a imagem de Santa Catarina de Alexandria é ladeada por dois vitrais: um alusivo a Santa Valburga (710-779) – religiosa alemã que ajudou a fundar mosteiros e escolas para populações recém-convertidas ao Cristianismo – e outro com a representação de Santa Elizabeth (1207-1231) – que se dedicou aos menos favorecidos do seu reino e, ao ficar viúva, ingressou em uma comunidade religiosa e financiou a construção de um hospital na Alemanha. Ainda no interior do templo, há uma pintura de Madre Regina Protmann, de autoria do artista sacro Claudio Pastro, falecido em 2016; e na fachada estão cinco afrescos pintados em 1998 por Marco Ulgheri, que retratam momentos marcantes da vida de Santa Catarina. Fernando Ferragino

Padre Alexandre preside missa em ação de graças pelo centenário da Capela Santa Catarina

Exposição virtual Estes e outros detalhes estão apresentados em uma exposição virtual que pode ser vista no site do hospital (www.hospitalsantacatarina.org.br) e em suas plataformas digitais: Instagram (@hosp.santacatarina), Facebook (@hospitalsantacatarina) e YouTube (Hospital Santa Catarina Oficial). Estão ainda expostas 12 peças litúrgicas que fizeram parte da rotina de celebrações da Capela, como o cálice e a patena usados em 1920; o Missal das Exéquias (de 1921); as ampolas para os santos óleos (de 1925); o Missal Romano em latim (de 1926); um genuflexório (1928); a cadeira episcopal, um crucifixo e um castiçal (todos de 1940), além de um baldaquino para o ostensório (de 1950). Um dos destaques é um instrumento musical de teclas, chamado de harmônio, de 1890, que era tocado pelas irmãs nas celebrações litúrgicas e funciona igual a um órgão sem tubos, produzindo o som parecido com o de um acordeom. Administração O Hospital Santa Catarina – referência em neurologia, cardiologia, oncologia, cirurgia-geral, ortopedia e pediatria – é um dos 22 locais administrados pela Associação Congregação de Santa Catarina (ACSC), nos segmentos da Saúde, Educação e Assistência Social. Criada em 1922, a ACSC tem atividades em seis estados brasileiros, com cerca de 14 mil colaboradores, em um modelo de negócio no qual a totalidade do superavit, após satisfeitas as necessidades de investimentos e segurança financeira, é destinada a obras sociais. Apenas nas unidades de Saúde que administra, realiza, anualmente, 132 mil internações, 4,7 mil atendimentos ambulatoriais e 7,4 mil exames. Mais de 71% de seus atendimentos são a usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). (Com informações do Hospital Santa Catarina e dos sites Memória Saúde e São Paulo in foco)


12 | Geral | 10 a 15 de setembro de 2020 |

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Paulistanos festejam Nossa Senhora da Penha Luciney Martins/O SÃO PAULO

Fernando Geronazzo

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Na terça-feira, 8, festa litúrgica da Natividade da Virgem Maria, comemora-se o dia de Nossa Senhora da Penha, uma das devoções marianas mais antigas da cidade de São Paulo. Para marcar a festa, na segunda-feira, 7, aconteceu uma carreata com a imagem da padroeira, a qual partiu da Catedral da Sé em direção à Basílica de Nossa Senhora da Penha, na zona Leste de São Paulo. A carreata recorda um costume dos séculos XVIII e XIX, quando a imagem de Nossa Senhora da Penha, que é uma das padroeiras do município de São Paulo, era transladada ao centro para que os fiéis pedissem sua intercessão pelo fim de epidemias e secas na cidade. “Nós queremos recomendar a Nossa Senhora da Penha a cidade de São Paulo, pelo fim da pandemia [de COVID-19], a cura dos doentes e pela superação deste tempo de aflições que estamos vivendo”, pediu o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, ao abençoar o início da carreata.

DEVOÇÃO A devoção a Nossa Senhora da Penha tem sua origem, segundo uma antiga tradição, em um sonho que teve um peregrino francês, de nome Simão, quando estava a caminho do Santuário de Santiago de Compostela. No sonho, ele teve a visão de uma imagem de Nossa Senhora, a qual lhe apareceu no alto de um monte. Cinco anos depois, em 1434, no alto de uma montanha chamada Penha de França, na Província de Salamanca, norte da Espanha, encontrou a tão almejada imagem da Mãe de Deus, que tinha sido ali deixada, havia muito tempo, por soldados franceses que lutaram contra os mouros, com Carlos Magno, grande devoto da Virgem. Naquele local foi construída uma ermida em honra da Virgem da Penha, para onde foram atraídos inúmeros peregrinos,

salvo de um acidente no Ribeirão Aricanduva. A partir daí, a devoção se espalhou por toda a cidade.

SANTUÁRIO EUCARÍSTICO Em 1682, foi erguida uma nova igreja, em estilo colonial simples, de taipa de pilão, sendo elevada à dignidade de Santuário Arquidiocesano pelo primeiro Arcebispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva, em 20 de julho de 1909. Em 1995, Dom Fernando Legal, primeiro Bispo da Diocese de São Miguel Paulista, cujo território fora desmembrado da Arquidiocese de São Paulo em 1989, decretou que o antigo templo passaria a ser o Santuário Eucarístico Diocesano Nossa Senhora da Penha, local de adoração eucarística perpétua.

Imagem de Nossa Senhora da Penha é levada à Catedral da Sé antes da carreata comemorativa

que testemunharam diversas graças e milagres por sua intercessão e onde hoje há um grande santuário.

NO BRASIL Em São Paulo, esta devoção teve início em 1667. Segundo uma lenda da piedade popular, foi um viajante francês, a caminho do Rio de Janeiro, que pernoitou no alto de uma colina a cerca de 9km do centro da cidade, levando consigo uma imagem de Nossa Senhora. Na manhã,

quando prosseguia a viagem, deu-se conta de que a imagem não estava mais consigo. Retornou e a encontrou no lugar onde havia passado a noite. O episódio se repetiu outras vezes. Então, ele decidiu erguer uma pequena ermida em honra a Nossa Senhora naquele lugar. Já a versão histórica é atribuída ao Padre Jacinto Nunes Siqueira, que havia erguido naquele lugar, em 1668, uma capela para abrigar uma imagem da Virgem da Penha, em agradecimento por ter sido

BASÍLICA Em 15 de setembro de 1957, o então Arcebispo de São Paulo, Cardeal Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, abençoou a pedra fundamental de uma nova matriz em honra a Nossa Senhora da Penha, localizada a 200 metros do antigo santuário. O templo tem 5.645 metros quadrados, em forma de cruz, com 66 metros de comprimento e 56 metros de largura. Pode abrigar até 7 mil pessoas, das quais cerca de 2 mil sentadas. A nave conta com 24 metros. As torres têm por volta de 60 metros; e a cúpula, 30 metros de diâmetro e 40 metros de altura. No dia 7 de junho de 1985, a nova matriz foi elevada à dignidade de Basílica Menor, por São João Paulo II, que, na sua Bula Pontifícia, lembrou a condição de Nossa Senhora da Penha como padroeira civil da cidade de São Paulo. A tradição das peregrinações da imagem à Sé cessou em 1876. Contudo, recentemente, em 2015, quando a cidade foi atingida por uma grave crise hídrica, a imagem de Nossa Senhora da Penha foi transladada para a Catedral Metropolitana. (Com informações da Basílica Nossa Senhora da Penha e Diocese de São Miguel Paulista)


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| 10 a 15 de setembro de 2020 | Pelo Mundo | 13

Missionário salesiano: secularismo é a maior ameaça aos cristãos ANS

que é comunista, a Igreja tem uma enorme vitalidade.” Segundo o Padre LaEm conversa com jornasarte, os cristãos nesse país listas sobre a atividade missão uma minoria “com uma sionária da Igreja Católica, forte identidade, o que deixa na segunda-feira, 7, o Padre sua marca em uma sociedade pluralista”. Também em uruguaio Martin Lasarte, há outros países, como Nepal vários anos missionário salesiano na África, disse que, e Bangladesh, nos quais os mais do que a perseguição cristãos são uma pequena física, a maior ameaça ao minoria, o Cristianismo Cristianismo hoje “é o crescresce com velocidade. cimento do secularismo ociCom relação ao medo de dental, que mata a fé”. que a Europa, em virtude Segundo ele, “o maior da baixa taxa de natalidade, perigo que enfrentamos... é seja em breve dominada por a sociedade secularista sem muçulmanos, o Padre Lasarte insistiu que o principal a dimensão da transcendência”. Enquanto a fé cresproblema não são os númece rapidamente em lugares ros em si, mas a morte dos nos quais os cristãos são cristãos para uma doença perseguidos, ela declina no chamada secularismo, doença esta que vem de dentro, Ocidente, tradicionalmente Nascido no Uruguai, Padre Martin Lasarte é salesiano e está em missão no continente africano há 25 anos não de fora do continente. católico. Todavia, embora se Segundo ele, embora a existrate de um problema mais presente no Ocidente, o Padre obserNa China, não apenas os cristãos estência de um Estado laico não seja em si isso, muitas famílias se perdem. Quanvou que, por causa da globalização, tão sendo perseguidos por sua fé, mas o to ao atual acordo entre o Vaticano e o um problema, e possa até ser algo bom, ele logo se espalhará “por todo lugar”, comunismo levou a uma centralização governo chinês, que está prestes a ser o problema está “naquele acento que é e essa tendência exigirá uma profunda do poder e à “absoluta submissão à aurenovado por mais dois anos, Padre Laquase combativo da Igreja”. Na Europa, toridade política”, disse Padre Lasarte. sarte disse que é necessária uma cuidareflexão missionária. “é necessária uma reevangelização”. dosa consideração da questão. “Um cristão não pode colocar o goverPadre Lasarte citou como exemplo O Padre Lasarte pediu por uma no em primeiro lugar”, acrescentou, reSegundo ele, apesar da situação, o a situação da Congregação Salesiana na visão mais ampla que resulte de uma cordando que não se pode aceitar – “Eu Cristianismo está crescendo na China. Polônia, mediante a qual, no passado, perspectiva multicultural: “Quando tenho que questionar” – a exigência da O protestantismo cresce mais rápido entravam entre 50 e 60 homens no semiexiste uma comunidade missionária nário a cada ano, sendo que hoje esse núAssociação Patriótica Católica Chinesa do que o catolicismo, mas tal crescicristã que seja multicultural, tem-se mero gira em torno de quatro ou cinco. mento também é positivo, pois “o Crisde que os fiéis coloquem em primeiro uma comunidade mais rica”. tianismo enfatiza muito mais os direiTambém a América Latina foi atinlugar o partido e, somente depois, sua Martin Lasarte é diplomado em gida por uma onda de “impressionante tos humanos e a dignidade da pessoa”. fé. O Padre afirmou também que, seSagradas Escrituras e tem sido missiogundo pessoas que estão atuando no nário na África há 25 anos. Em 2019, secularização”, disse ele, deixando um É irônico, observou o Padre, que seja país, “a China vem aumentando o conserviu como delegado papal no Sínodo vácuo religioso que tem sido cada vez justamente nesses países de governos trole sobre a população”. dos Bispos para a Amazônia. No momais preenchido por igrejas evangélicomunistas e outros regimes autoritácas. Padre Lasarte recordou que, quanrios – como Laos – que a Igreja Católica mento, prepara-se para retornar a AnE acrescentou que naquele país tamdo a Igreja perde seu carisma de ensino, bém a secularização é um problema, gola, apesar das dificuldades provocaesteja ficando mais forte. das pela COVID-19, como as fronteiras missão e difusão da fé, “ela perde sua por causa da urbanização. Nas grandes “A vida cristã, a presença da Igreja, está crescendo muito na África e do país ainda fechadas. identidade”. cidades, há menos pontos de referência (Com informações do site Crux Now) na Ásia, no Leste e no Sul. No Vietnã, Segundo ele, a piedade popular é nos quais se possa praticar a fé e, por uma grande oportunidade para a Igreja da América Latina recuperar seu zelo evangelizador, perdido no passado, enquanto que na Europa a esperança vem principalmente de missionários africanos e asiáticos, que trazem um frescor à fé que se perdeu no Velho Continente. O Padre também reconheceu a gravidade da perseguição física aos cristãos. Segundo ele, são cerca de 250 mil perseguidos no mundo e há mais mártires hoje do que nos primeiros séculos do Cristianismo. Padre Lasarte falou de “um novo ecumenismo, o ecumenismo do martírio”, uma vez que os cristãos são normalmente assassinados sem qualquer distinção. Ele alertou contra o crescimento de um sentimento nacionalista do Hinduísmo na Índia, que está causando maior discriminação contra os cristãos e outras minorias, e também mencionou a China, como exemplo de país no qual a situação dos cristãos está se tornando mais precária. João Fouto

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO


14 | Papa Francisco | 10 a 15 de setembro de 2020 |

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Nova encíclica, ‘Todos irmãos’, será assinada em 3 de outubro em Assis Filipe Domingues

Especial para O SÃO PAULO

A nova encíclica do Papa Francisco será assinada na cidade italiana de Assis, em 3 de outubro. Intitulada Fratelli tutti (“Todos irmãos”, na tradução em português), a encíclica é a terceira de seu pontificado. Deve abordar o tema da “fraternidade humana” e a necessidade de união entre os povos, especialmente na atual pandemia de COVID-19. Circulavam rumores em Roma sobre

a elaboração deste novo texto do Papa. A confirmação, porém, aconteceu apenas no sábado, 5, pelo porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni. Segundo ele, a encíclica será “sobre a fraternidade e a amizade social”. O Papa irá a Assis, dando uma ênfase franciscana ao documento. Celebrará a Santa Missa diante do túmulo de São Francisco de Assis, de forma privada (sem fiéis), e retornará no mesmo dia ao Vaticano. Observadores da Santa Sé esperam que, além de marcar este momento histórico para a humanidade, que enfrenta a

pandemia, a encíclica reúna os principais apelos feitos pelo Papa nos últimos meses. Entre eles está a noção de que “estamos todos no mesmo barco”, como disse na oração de 27 de março, em que estava sozinho na Praça São Pedro, enfatizando a necessidade de a humanidade voltar seu olhar para Deus, que a acompanha em períodos de sofrimento na História. Além disso, Francisco tem falado nos últimos dias sobre o papel das religiões na articulação da paz; a promoção da cooperação internacional para resolver proble-

Descobrir estilos de vida simples após a pandemia Vatican Media/set.2017

A atual pandemia nos forçou a adotar estilos de vida mais amigáveis para com o meio ambiente, disse o Papa Francisco na mensagem para a celebração do Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, comemorado em 1° de setembro. “A crise, de certa forma, nos deu a possibilidade de desenvolver novos modos de viver”, escreveu. “Foi possível constatar como a Terra consegue se recuperar se a permiti- Francisco no Parque dos Fundadores, na Colômbia, durante viagem apostólica em 2017 mos repousar: o ar ficou da manutenção das coisas como atitudes, como o consumo de mais limpo, as águas mais transestavam. “Temos que desfrutar parentes, as espécies animais volenergia, produtos, transporte e taram a muitos lugares dos quais deste momento decisivo, para alimentação. “Temos que tirar das haviam desaparecido”, observou. pôr um fim a atividades e finalinossas economias aspectos não dades supérfluas e destrutivas, e Ele acrescentou que “a panessenciais e nocivos, e dar vida demia nos coloca em uma encultivar valores, ligações e projea modalidades frutíferas de cocruzilhada”, dando dois camitos geradores.” mércio, produção e transporte de nhos possíveis: o da mudança e o Isso só é possível mudando bens”, insistiu o Santo Padre. (FD)

mas mundiais; o pedido de cessar-fogo global (fim dos conflitos locais e internacionais); a canalização de recursos da produção de armas, para a saúde e o combate à desigualdade; o perdão da dívida dos países pobres, para que possam se concentrar no combate à pandemia; a destinação da ajuda econômica aos setores que empregam e são ecológicos, sustentáveis; e o apelo do cuidado ao meio ambiente, que ficou em segundo plano, assim como os problemas sociais, como a pobreza, as guerras e o desemprego.

A correção fraterna como ‘remédio’ para as comunidades Quando um irmão ou irmã errar, antes de falar mal é preciso ajudá-lo a melhorar. Esse ensinamento bíblico, da “correção fraterna”, foi o tema central da pregação do Papa Francisco na oração do Angelus, no domingo, 6. A mensagem vem do Evangelho segundo São Mateus (18,15-20), no qual Jesus ensina sobre a vida em comunidade e o respeito pela consciência individual. “Para corrigir o irmão que errou, Jesus sugere uma pedagogia da recuperação”, comentou o Papa. Primeiro, tenta-se alertar a pessoa individualmente, “não para julgar, mas para ajudar a perceber” o erro. Só depois se pode trazer outras pessoas, em privado, para conversar sobre o problema. A maior tentação nesse contexto, para a qual o Papa usa a metáfora da doença, é a fofoca. “Quando vemos o erro do irmão, normalmente a primeira coisa que vamos fazer é contar a outros, fofocar. A fofoca fecha o coração da comunidade, fecha a unidade da Igreja”, disse. “A fofoca é uma peste mais feia do que a COVID”, acrescentou Francisco, pois, em sua análise, “o grande fofoqueiro é o diabo, que sempre vai dizendo as coisas ruins dos outros, porque ele é o mentiroso que procura desunir a Igreja”. (FD)


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| 10 a 15 de setembro de 2020 | Fé e Vida | 15

Paróquia Verbo Divino

Liturgia e Vida 24º Domingo do Tempo Comum 13 de setembro de 2020

‘Não devias tu ter compaixão, como eu tive compaixão de ti?’ Padre João Bechara Ventura

Os passos da Lectio Divina GUSTAVO CATANIA RAMOS

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

No mês de setembro, a Igreja recorda a importância das Sagradas Escrituras e convida os fiéis a conhecê-las e meditá-las com maior intimidade. Uma das formas mais antigas para se aprofundar na Palavra de Deus é a Lectio Divina. A Lectio Divina, traduzida às vezes como leitura orante ou leitura meditada da Bíblia, é uma forma de meditação que remonta aos primeiros padres da Igreja, muito associada à espiritualidade beneditina. Entretanto, ela é uma forma de oração que pode enriquecer a vida de fé de todo batizado, independentemente do seu estado de vida. O Concílio Vaticano II, em diversos documentos, reforçou a importância da meditação da Palavra de Deus. Em relação aos leigos, o documento Apostolicam actuositatem afirma que “só com a luz da fé e a meditação da Palavra de Deus pode alguém reconhecer sempre e em toda a parte a Deus no qual ‘vivemos, nos movemos e somos’ (At 17,28), procurar em todas as circunstâncias a Sua vontade, ver Cristo em todos os homens, quer chegados, quer estranhos, julgar retamente o verdadeiro sentido e valor das realidades temporais, em si mesmas e em ordem ao fim do homem”. O livro mais conhecido sobre a Lectio Divina foi escrito por Guigo II, um cartuxo do século XII. A “Carta sobre a Vida Contemplativa” é um clássico da espiritualidade e sistematiza com clareza as etapas para realizar com fruto a leitura meditada da Bíblia. Guigo II a dividiu em quatro etapas: a leitura, a meditação, a oração e a contemplação.

A leitura A leitura é a primeira etapa de toda Lectio Divina. É por meio dela que nos deparamos com o texto das Sagradas Escrituras e tiramos o material para a meditação. Para que seja realizada frutuosamente, a leitura deve ser precedida de uma invocação do Espírito Santo, que ilumina a inteligência para compreender e forta-

lecer a vontade para amar o que será lido. Para que a Lectio seja divina, e não meramente humana, o Espírito Santo deve agir. Dizer isso significa que, quando entramos na Lectio, não buscaremos o que queremos ouvir ou o que nos agrada. Assim, a passagem a ser meditada não pode ser escolhida a esmo, de acordo com as preferências individuais. Recomenda-se que se siga um livro da Bíblia ou, mesmo, a liturgia diária da missa, para que seja possível que sejamos surpreendidos por Deus na leitura. A passagem a ser lida não precisa ser longa. Algumas vezes, apenas um versículo é suficiente para basear toda uma Lectio. Guigo II descrevia essa etapa da Lectio como um “ruminar”, pois o orante deve ler diversas vezes e trazer consigo a mesma passagem para começar a ver seu sentido mais profundo. Por isso, para que a Lectio seja bem-feita, é necessário reservar um tempo, mesmo que curto, em que é possível prestar atenção totalmente ao que se faz.

A meditação “A meditação é uma ação deliberada da mente a investigar, com a ajuda da própria razão, o conhecimento de uma verdade oculta”, definiu esse passo Guigo II. Meditar é partir da leitura e ruminá-la interiormente até que seja possível divisar o seu sentido profundo. Se meditamos, por exemplo, na seguinte passagem: “Bem-aventurados os puros de coração, porque deles é o Reino do Céus”, devemos, antes de pedir a pureza, compreender o que seja, trazer em nossa memória outras passagens que tratam dela, ver a sua grandeza e importância, para que o nosso coração comece a desejá-la verdadeiramente. Sem a meditação, a Palavra de Deus não se torna viva para quem a lê. É por meio dela que aquele que reza passa a ter um contato com a Palavra viva, o próprio Cristo, que lhe fala ao coração. A oração Os passos anteriores podem ser resumidos a uma escuta da Palavra

de Deus; a oração, por sua vez, é um falar com Deus. “Quando escutas, Deus te fala; quando oras, falas com Deus”, escreveu Santo Agostinho. A oração, na definição de Guigo II, “é uma religiosa aplicação do coração a Deus para afastar os males ou obter o bem”. É pedir a Deus as graças para viver bem o que foi meditado ou que Ele afaste tudo aquilo que impede a vida de santidade. É um diálogo de um filho com o Pai, cheio de confiança. Na oração, não são necessárias palavras bonitas ou frases bem construídas. Às vezes, repetir ou se utilizar das palavras das Escrituras é o suficiente. Não é a originalidade que ganhará o coração de Deus; mas a entrega sincera de nosso coração a Ele, com humildade e simplicidade, reconhecendo, muitas vezes, nossa incapacidade de rezar e nossa necessidade de tomar palavras emprestadas da própria Palavra de Deus.

A contemplação A última etapa é a contemplação, que consiste numa simplex intuitus, num simples olhar a Deus. É um olhar que não se utiliza de palavras, que se contenta com a presença do amado. Um olhar de humildade, pois a alma reconhece, nesse estágio, sua incapacidade e pequenez. Chegar à contemplação não é fruto de nossos esforços: Deus no-la concede quando quer. Pouco se pode falar sobre a contemplação. Os santos que viviam constantemente nela não podiam relatá-la com precisão. Por se tratar de uma oração sem palavras, que nos eleva a Deus, não podem existir expressões que a traduzam. João de Fécamp, um monge beneditino do século XI, um dos mais lidos escritores espirituais medievais, assim a descreveu: “Nada alegra tanto meu espírito quanto o momento em que para Ti, meu Deus, ergo o olhar simples de um coração puro! Tudo se cala, tudo é calmo; o coração arde de amor, a alma transborda de alegria, a memória está cheia de vigor, a inteligência, de luz. E o espírito, todo inflamado do desejo de ver tua beleza, vê-se deslumbrado no amor das realidades invisíveis”.

Jesus propõe a parábola de dois credores diferentes entre si. O primeiro era rei e tinha direito a uma enorme fortuna diante de um empregado. Vendo sua aflição, que levou aquele empregado a se ajoelhar e implorar por tempo para pagar, teve compaixão. Foi além do pedido e lhe perdoou generosamente toda aquela dívida insolúvel. O segundo credor era o próprio devedor perdoado. Não tinha direito a fortuna alguma, mas a apenas cem moedas. Diante de seu próprio devedor – outro empregado como ele –, utilizava métodos de cobrança nada gentis: “Agarrou-o e começou a sufocá-lo”. Ouviu um pedido idêntico ao que fizera ao rei (“Dá-me um prazo!”), porém não teve piedade e mandou o colega para a cadeia. Não seria preciso dizer que o rei compassivo, ao saber disso, indignou-se e voltou atrás! Contudo, em vez de vender o empregado como escravo – conforme havia ameaçado –, decidiu entregá-lo aos torturadores, até que pagasse toda aquela dívida que ele havia se disposto a perdoar. Da extrema benevolência de ignorar o débito, o rei passou a uma severidade proporcional à dureza do servo mau. A parábola pode ser lida como uma explicação aprofundada da oração do Pai-Nosso. Nesta, Jesus também utiliza a expressão devedor: “Perdoai-nos os nossos débitos assim como nós perdoamos aos nossos devedores” (Mt 6,12). A palavra débitos (ofeilēmata) serve também como metáfora para “pecado”/“ofensa”. E devedor (ofeilétēs) pode ser interpretado como “ofensor”/“aquele que faz o mal”. O Senhor o confirma declarando, logo após ensinar o Pai-Nosso: “Portanto, se perdoardes aos homens, vosso Pai também perdoará vossos pecados (paraptōmata)” (Mt 6,14). Somos devedores do Senhor! Dele recebemos todos os bens sobrenaturais: a redenção, a graça, o perdão, a Eucaristia, os dons do Espírito Santo… E também os naturais: a existência, uma identidade, a família, capacidades, a saúde, inteligência, memória… Não temos como pagar essa enorme dívida! O maior débito, todavia, que temos diante Dele são os nossos pecados. Por eles, Cristo morreu na Cruz. Nem mesmo toda a penitência e boas obras do mundo seriam suficientes para cancelar as ofensas da criatura ao Criador, se o Filho de Deus não nos redimisse! Portanto, o crédito que temos com os outros – que são servos, como nós – é muito pouco perto dessa dívida incomparável com o Rei do universo! Aliás, todas as reais ofensas que nos fazem são, antes de tudo, ofensas a Deus! É sempre Ele o maior ofendido, mesmo quando os homens cometem injustiças, roubos, calúnias, homicídios e violências uns contra os outros. Por isso, não temos escolha: precisamos continuamente pedir perdão a Deus e perdoar aos homens! Essas duas coisas sempre vão juntas! Se não quisermos ter o triste fim do servo mau, Jesus orienta claramente: “É assim que o meu Pai que está nos céus fará convosco, se cada um não perdoar de coração ao seu irmão” (Mt 18,35); e ainda: “Felizes os misericordiosos, pois alcançarão misericórdia” (Mt 5,7).


16 | Geral | 10 a 15 de setembro de 2020 |

www.osaopaulo.org.br Diariamente, no site do jornal O SÃO PAULO, você pode acessar notícias sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publicados recentemente. Vatican Media

Francisco: podemos sair melhores da pandemia se buscarmos todos o bem comum https://cutt.ly/4fR94ZK Dom Odilo: ‘O nascimento de Nossa Senhora é como a aurora que precede o sol’ https://cutt.ly/MfR95lZ Moçambique: 2 freiras brasileiras estão desaparecidas após ataques terroristas https://cutt.ly/GfR96AZ Afonso Braga

ADCE-SP é homenageada com a Salva de Prata da Câmara de São Paulo https://cutt.ly/1fR3w6P China e o genocídio silencioso dos uigures: o testemunho de uma médica https://cutt.ly/xfR3rHS Reino Unido: 100 mil abortos feitos em casa desde o começo da pandemia https://cutt.ly/EfR3t6j Líderes religiosos refletem sobre a pandemia na perspectiva judaico-cristã https://cutt.ly/bfTiM3T

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Ato inter-religioso em São Paulo marca dia de jejum e oração pelo Líbano Luciney Martins/O SÃO PAULO

empréstimo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), em uma tentativa de quitar a dívida públiA Catedral Maronita ca equivalente a 150% do Nossa Senhora do Líbano, PIB do país que já foi coem São Paulo, acolheu um nhecido como a “Suíça do ato inter-religioso realizado Oriente Médio” por sua na sexta-feira, 4, dia de jejum e oração pelo Líbano, prosperidade social e econômica. convocado pelo Papa Francisco. Nessa data, recorAntes mesmo do dou-se um mês das exploinício da pandemia de sões que atingiram a zona COVID-19, o Banco Mundial estimava que metade portuária da capital libanesa, Beirute, em 4 de agosto, da população libanesa seria deixando 220 mortos, 6,5 empurrada abaixo da linha mil feridos e cerca de 300 da pobreza em 2020. Os mil desabrigados. serviços básicos foram afetados, como abastecimento O ato reuniu representantes cristãos e muçulmade água, eletricidade, internos que fizeram, cada um net, remédios e o preço dos segundo sua tradição relialimentos, em grande parte Dom Odilo participa de ato inter-religioso na Catedral Maronita giosa, orações e preces pelo importados, dispararam. povo libanês, que, além da Em reação às explosões, recente tragédia, sofre com uma crise Líbano’ [cf. Sl 92], a ti, suplicamos, conaconteceram vários protestos pedindo a temple com bondade a abençoada terra política e econômica sem precedentes na destituição do atual governo. A pressão dos cedros acometida por tantos males”, história desse país do Oriente Médio. das manifestações levou o primeiro-ministro, Hassan Diab, a renunciar ao cargo pediu o Arcebispo ortodoxo. POVO QUERIDO em 10 de agosto. O Sheikh Mohamad Bukai, da MesDentre os participantes, estava o quita Sunita do Brasil, salientou que, embora sejam muitas as fronteiras terrestres ESPERANÇA Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, que, “O povo libanês já estava crucificado que dividem os povos, “o caminho para em sua prece, invocou a misericórdia e por tantos sofrimentos, e essa explosão o Senhor não tem fronteiras”. “Rogamos a clemência de Deus em favor do “quefoi como uma lança que o perfurou”, ao nosso Criador para que, a partir de rido povo do Líbano”, ao qual os brasiafirmou ao O SÃO PAULO Dom Edhoje, seja um dia de paz, tranquilidade e leiros estão unidos com laços fraternais gard Madi, Eparca Maronita no Brasil, misericórdia para o Líbano”, manifestou históricos. “Atende aos gemidos e súfazendo referência à cena do Evangelho o líder muçulmano. plicas de seus filhos e de todos aqueles de João em que Jesus crucificado teve o A CRISE que te invocam a partir da sua fé e da seu lado perfurado pela lança. A pior crise econômica e política viconfiança na tua providência e miseriO Eparca, contudo, convidou todos córdia”, rezou. vida desde o fim da Guerra Civil Libaos libaneses a ter um olhar sobrenatural nesa (1975-1990) começou em outubro Dom Odilo pediu, ainda, que a poa respeito da tragédia e, da mesma forpulação desse país tenha a sua dignidade ma que associou o sofrimento à cruz, o de 2019, quando o sistema bancário do respeitada, acolhida e reconhecida e, asBispo enfatizou que a fé dos cristãos lipaís apresentava escassez de dólares e sim, sejam superados todos os motivos baneses se apoia na ressurreição de Crisvariações cambiais repentinas. Com isso, to. “Nossa fé é maior, a morte não tem de tensão e divisão. “Desperte em todos vieram à tona denúncias de corrupção a última palavra. Jesus Cristo, morto na um renovado senso de solidariedade, contra os governantes, que forçaram a cruz, ressuscitou e nosso povo também porque somente estando unidos, dando renúncia do então primeiro-ministro ressuscitará”, completou. o melhor de si, é que podem resolver Saad Hariri. O novo governo, instaurado em janeiro passado, não conseguiu as situações difíceis pelas quais passam (Com informações de Veja e Universidade do Estado do Rio de Janeiro) dar continuidade à negociação de um nessa terra onde também Jesus Cristo, Nosso Senhor e Salvador, visitou e fez prodígios”, ressaltou. “Concede aos líderes políticos bom Luciney Martins/O SÃO PAULO discernimento, prudência, paciência, senso de justiça e solidariedade [...]. Que os líderes religiosos que, em teu nome, anunciam tua Palavra e teu louvor, possam ajudar a construir uma sociedade fraDurante a realização terna, na diversidade, no respeito às conda 26ª edição do vicções mútuas”, completou o Cardeal. Grito dos Excluídos, FERNANDO GERONAZZO

osaopaulo@uol.com.br

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SÚPLICA Dom Damaskinos Mansour, Arcebispo da Igreja Ortodoxa Antioquina no Brasil, afirmou que os acontecimentos que assolam o povo libanês são, de certa forma, “fruto do mal e da corrupção plantados pelo diabo nos corações de algumas pessoas”. “Senhor, tu que disseste em tua santa Palavra que ‘o justo crescerá como a palmeira e florirá como o cedro que há no

na segunda-feira, 7, em São Paulo, foram recordadas as vítimas da pandemia de COVID-19. Viu algo que lhe chamou a atenção na cidade? Fotografe e mande para o nosso e-mail osaopaulo@uol.com.br, com o título “Foto da Semana”.


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