O São Paulo - 3314

Page 10

10 | Geral/Fé e Vida | 10 a 15 de setembro de 2020 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

Cardeal Scherer: ‘Amar a pátria pode ser expressão de genuíno amor ao próximo’ Luciney Martins/O SÃO PAULO

Daniel Gomes

osaopaulo@uol.com.br

Na tarde do domingo, 6, véspera da comemoração do Dia da Pátria, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, presidiu missa na Catedral da Sé, em intenção pela pátria e pelo povo brasileiro, com lembrança especial aos doentes e seus cuidadores e aos falecidos em razão da pandemia de COVID-19. “Queremos invocar a proteção de Deus, para que o quanto antes possamos sair desta pandemia e voltar a ter toda a liberdade, inclusive para o povo retornar às igrejas e participar das celebrações”, disse Dom Odilo, no começo da celebração eucarística, que teve entre os concelebrantes Dom Eduardo Vieira dos Santos, Dom José Benedito Cardoso e Dom Jorge Pierozan, Bispos Auxiliares da Arquidiocese. Participaram presencialmente alguns representantes de autoridades civis e militares e foram lidas manifestações de apreço pela celebração, entre as quais a do governador João Doria.

Cardeal Scherer durante missa em intenção pela pátria e pelo povo brasileiro, no domingo, 6

A pátria para o bem de todos Referindo-se à liturgia do 23º Domingo do Tempo Comum, Dom Odilo lembrou, na homilia, que Deus deseja que todos se salvem, e que cabe a cada cristão ser “instrumento de salvação para aqueles que erraram, para que possam se salvar”. O Arcebispo recordou que a pátria é o local onde alguém nasce ou adota para viver, espaço com o qual se identifica e se sente parte, tendo compromisso com ela e com seu povo. “O cristão também necessita e tem o direito a uma pátria. Ao mesmo tempo, ele sabe que a sua pátria neste mundo ainda é provisória, que se encontra na condição de peregrino, a caminho da pátria definitiva. Também sabe, porém, que, durante esta vida, ele deve ser cidadão e envolver-se ativamente na promoção do

bem comum do seu povo e de sua pátria, e que ele próprio também possui o direito à cidadania plena. Assim, nenhum cristão ou pessoa de qualquer religião deveria ser discriminado por causa de sua fé, nem ser considerado cidadão de segunda categoria, por ser pessoa de fé religiosa. Isso seria um grave desrespeito aos direitos e à dignidade humana”, apontou. O Arcebispo lembrou, ainda, que a pátria é o lugar de referência para se viver o amor ao próximo e as virtudes da justiça, da honestidade e da solidariedade, bem como a liberdade, com cidadãos que agem com senso de responsabilidade social, contribuem para a edificação do bem comum e atuam para a garantia da própria dignidade e a dos demais, posturas que a Igreja recomenda constantemente aos cristãos. “A participação de todos no bem da

pátria equivale ao interesse que todos precisam ter na edificação e conservação da ‘casa comum’, ou da ‘cidade’, entendida como espaço de convívio e busca do que é bom para todos. Amar a pátria pode ser expressão de genuíno amor ao próximo”, disse Dom Odilo.

Pacto pela Vida e pelo Brasil O Arcebispo fez ainda menção ao Pacto pela Vida e pelo Brasil, firmado em abril pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e outras instituições de expressiva credibilidade, no qual os brasileiros são convocados, diante da atual crise sanitária, política, econômica e social, a unir esforços em defesa da vida humana, em especial dos mais vulneráveis. “A pandemia de COVID-19 mostrou, de maneira inequívoca, a profunda desigualdade e injustiça social que ainda

reinam em nosso País. Muitos brasileiros continuam excluídos dos benefícios do bem comum, que a pátria deveria significar e proporcionar a todos. A vida dessas pessoas está continuamente exposta a privações, e muitos ainda estão excluídos do acesso aos bens da alimentação, saúde, habitação digna, saneamento, segurança e educação”, afirmou o Cardeal. Ao recordar que o Pacto propõe um diálogo social e político, em decorrência do respeito à democracia, Dom Odilo ressaltou: “Vivemos uma situação política marcada por forte polarização, por apego a privilégios e por manobras maquiavélicas para se manter no poder a todo custo. Parece que o bem está todo de um lado e o mal está todo de outro, mas sabemos que a convivência na ‘pátria-casa comum’ supõe a diversidade, o respeito ao pluralismo, em que o diálogo franco e o respeito levem a somar, partindo das diferenças, não sendo necessário um antagonismo bipolar e excludente”. O Arcebispo, por fim, rogou a Deus para que haja avanço do diálogo no País, a fim de que as atenções estejam centradas nas questões que requerem a contribuição, e que os governantes, de modo especial, ajam com justiça e equidade para o bem da população, em especial dos mais pobres.

Paz, justiça e consolo Na oração dos fiéis, rezou-se a Deus para que conceda ao povo brasileiro paz e justiça; que os governantes adotem políticas públicas contra as situações de marginalização; que os agentes de saúde mantenham sua missão de salvar vidas; e que o Senhor acolha em seu Reino todos os já falecidos por COVID-19 e dê o conforto a seus familiares. Antes da bênção final, Dom Odilo desejou que a celebração do Dia da Pátria seja também oportunidade para que cada pessoa reflita sobre como pode dar sua contribuição para que o Brasil seja um bom lugar para todos os que nele habitam.

Você Pergunta ‘Por que São José é tão pouco citado na Bíblia?’ PADRE CIDO PEREIRA

osaopaulo@uol.com.br

Essa é a dúvida do José Antônio, de Carapicuíba (SP). Sabe, meu irmão, muitas pessoas como você ficam intrigadas com o motivo de a Bíblia não ser tão minuciosa a respeito de pessoas e de fatos. Veja alguns exemplos: a adolescência e juventude de Jesus, a vida da Sagrada Família em Nazaré, a morte de José e Maria. Vale lembrar, porém, José Antônio, que os evangelhos não foram escritos para nos falar de São José, de Nossa Senhora, dos apóstolos, mas, sim, para nos deixar a

par do acontecimento decisivo da história da salvação, que foi a entrada de Jesus, o Filho de Deus, na nossa história humana. Pegue sua Bíblia e veja como cada evangelista inicia seu Evangelho: todos se referem a Jesus. São Mateus começa citando a origem de Jesus. São Marcos aborda, logo no início, a Boa-Notícia de Jesus, o Messias, filho de Deus. Lucas afirma que decidiu escrever, depois de cuidadoso estudo e de entrevistar as testemunhas oculares que conviveram com Jesus. E João faz uma profunda meditação sobre Jesus, o Verbo de Deus. Assim, é Jesus quem interessa. As pessoas que participaram da história da nossa

salvação – Zacarias, Isabel, João Batista, José e Maria – são importantíssimas, mas falar delas não é o objetivo primeiro dos evangelistas. Sobre São José, o importante, como afirma São Mateus, é saber que foi um “homem justo” e assumiu a missão de esposo fiel de Maria e de guardião e tutor de Jesus. Ele sustentou a Sagrada Família com seu trabalho. O resto que sabemos são deduções que fazemos: José morreu nos braços de Jesus e Maria, provavelmente antes da vida pública de Cristo, e é tido por todos nós como protetor dos trabalhadores, dos chefes de família e dos administradores.

Houve um grupo de escritores que tentou preencher os vazios deixados por Mateus, Marcos, Lucas e João e escreveu alguns evangelhos chamados apócrifos. Por serem tão fantasiosos, a Igreja não os considera inspirados por Deus, e, assim, não fazem parte da Bíblia. Fixemos, então, a nossa atenção, como queriam os evangelistas, na pessoa de Jesus. Vale a pena acolhê-Lo com amor, como fizeram José e Maria, vale a pena escutar Jesus, segui-Lo e testemunhá-Lo, porque Ele é o único Senhor de nossa vida, o princípio e o fim de tudo, o Caminho, a Verdade e a Vida.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.