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| 10 a 15 de setembro de 2020 | Regiões Episcopais/Viver Bem/Fé e Vida | 7

Fé e Cidadania

lapa

O valor das tradições

7 crianças recebem a primeira Comunhão na Paróquia Santa Terezinha

Paulo Henrique Cremoneze Agnaldo Rizzo

Benigno Naveira

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO DA REGIÃO

Em missa na Paróquia Santa Terezinha, no Jardim Regina, Setor Pastoral Pirituba, em 30 de agosto, presidida pelo Padre Daniel Koo, Pároco, sete crianças receberam a primeira Comunhão. A celebração foi transmitida pelas redes sociais e teve a participação presencial apenas das crianças que receberam o sacramento, seus pais, padrinhos e catequistas. Os catequizandos se prepararam desde 2018 e iriam receber a primeira Comunhão em abril, na Páscoa, porém, em razão da pandemia de COVID-19 e com a suspensão da presença dos fiéis nas missas, houve a necessidade de reagendar a celebração. Em conversa com a Pastoral da Comunicação da Região Lapa, a catequista Elaine Rizzo ressaltou que, durante esse período de espera, foi mantido o conta-

Padre Daniel Koo e crianças recém-catequizadas na Paróquia Santa Terezinha

to com as crianças, por meio de encontros on-line de Catequese e houve até um retiro virtual, com a participação das famílias, no qual se explicou a respeito da Eucaristia e da Confissão. No dia 23, os catequizandos se confessaram e, assim, estavam aptos a receber a Comunhão pela primeira vez.

Elaine recordou a emoção das crianças ao receberem o sacramento. “O dia da primeira Comunhão deve ser o mais lindo de nossa vida. Eles poderão contar aos seus filhos, futuramente, que, no meio de uma pandemia, receberam pela primeira vez Jesus no coração”, finalizou.

Comportamento E a educação religiosa? VALDIR REGINATO Avistamos o fim de ano chegando rapidamente. Os pais se preocupam com praticamente um ano “perdido” na escola das crianças. O esforço on-line não dá o resultado de sucesso aos filhos, e traz muito mais trabalho para os pais. Ainda é uma incógnita como chegarão a 2021! Para os pais, o aprendizado escolar é um dos pilares da educação. Desta dependem a formação cultural, o conhecimento de metodologias de estudo, as luzes para a futura escolha profissional, a autonomia de pesquisa, sem esquecer o relacionamento social, amizades e um vasto campo de conhecimento que ajuda a promover o desenvolvimento pessoal. Portanto, é bastante razoável a preocupação dos pais com a “perda do ano escolar de 2020”. A pergunta que coloco em pauta é: será que os pais estão igualmente (pelo menos) preocupados com a formação religiosa de seus filhos? Não vamos nos restringir ao fato de eles terem sido batizados (o que é fundamental). Não vamos dizer que compareceram às formações na paróquia, fizeram a primeira Comunhão; e até participam da missa, alguns domingos. Quem sabe poderemos dizer que já se preparam para a Crisma! Vamos ampliar a nossa questão: estamos procurando formar nossos filhos na fé cristã e colaborando para que possam crescer cada vez mais nesta vida com a santidade que se espera de um filho de Deus? O que fazemos para isso? Será que, ao longo do tempo, levamos a educação religiosa dos filhos como “anos 2020”, que se repetem? O dever da educação religiosa para pais cristãos – católicos – pertence, antes de tudo, a eles próprios. São João Paulo II afirmava que os pais não podem delegar a educação religiosa a terceiros. Estes serão colaboradores, como a escola é colaboradora, mas não a responsável direta. E, no amplo universo da educação, a formação religiosa não pode ser vista como algo menor ou ficar na dependência de algumas aulas de Religião que serão dadas nas escolas (ainda que católicas). Ela deve se iniciar desde o berço e ser acompanhada até que os filhos caminhem com as próprias pernas, que por vezes podem bambear e precisar de ajuda. Hábitos da infância devem ser acompanhados de

participação religiosa. A imagem do Anjo da Guarda, da Mãe do Céu, e a água benta são acolhidas naturalmente e com alegria pelas crianças. Alguém poderá dizer: “Mas elas não entendem...”. Elas também não entendem por que comem ou se vestem, e nós não as deixamos passando fome e frio. E quando crescem, gostam de ouvir histórias. A Bíblia, à qual nos dedicamos de modo especial neste mês de setembro, tem inúmeras histórias, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, que fazem com que a criança vá se familiarizando com Jesus, Nossa Senhora e São José, além dos profetas e reis... Não há diferença para elas em relação aos demais contos infantis, e isso alimenta o espírito de boa formação. Crescidos, é importante que a preparação para o sacramento da Eucaristia não seja um curso para receber um “diploma” na primeira Comunhão e guardá-lo. A Eucaristia é uma “etapa de mudança” no comportamento diário, que, juntamente com o sacramento da Reconciliação, favorece a renovação da luta por agradar a Deus. E as virtudes serão os motores nessa batalha cotidiana. Comentar alguma passagem do Evangelho que se ouviu na missa, com fatos do cotidiano familiar, ajuda a perceber o quanto a vida de Cristo se insere na nossa própria vida, passados 2 mil anos! A formação religiosa não é uma aula que se estudou para a prova e se esquece porque “não vou precisar disto”. Se essa visão já é enganosa para temas escolares, na formação religiosa mais ainda. A religião não se limita a saber, mas é alimento para a alma poder crescer e se desenvolver. Passam os anos e a Igreja apresenta o sacramento da Crisma para que possam tomar uma decisão consciente na perseverança da fé. Agora andam com seus próprios pés. Os retiros espirituais e a direção com o sacerdote fortalecem a intimidade com Deus. O caminho está aberto a uma vida cristã, que poderá escolher pelo sacramento do Matrimônio ou, quem sabe... por uma vida de dedicação completa ao Senhor, como religioso. Não temam os pais esta opção! Pelo contrário, alegrem-se! Não deixemos a formação religiosa de nossos filhos como o ano “2020”, e, para tanto, esforcemo-nos por dar bom exemplo por meio do nosso empenho pessoal. Valdir Reginato é médico de família. E-mail: reginatovaldir@gmail.com.

Há um famoso filme, musical, de que gosto muito: “Um Violinista no Telhado”. Seu roteiro retrata a vida de uma comunidade judaica na Rússia czarista do século retrasado. A personagem principal, Reb Tevye, um homem religioso, piedoso, bom pai de família e muito trabalhador, diz logo na primeira cena: “É pela tradição que sabemos quem somos e o que Deus espera de nós”. Churchill disse que “a fortuna fica justificadamente indignada com aqueles que rompem com os costumes do passado”. O tempo atual é iconoclasta e tende a desprezar costumes e tradições. Parece que há um mórbido e esfomeado desejo de desconstrução da identidade de todos os povos, especialmente na porção ocidental do mundo. Valorizar as tradições é, antes de tudo, respeitar a própria história e defender a identidade. A valorização da própria história não impede análises críticas, honestas, e a defesa da identidade não se confunde com abominações como o nacionalismo, o etnocentrismo, a intolerância e qualquer coisa que implique odioso sentimento de pretensa superioridade ou desprezo por tudo o que for diferente, que estiver na esfera “do outro” (outro povo, outra pessoa, outra cultura, outra religião). A tendência atual em destruir a própria identidade e pisotear nas tradições é algo triste, preocupante, e que revela perturbadora desordem moral e, portanto, também social. Parece existir, sabe-se lá orquestrado por quem e para que, um plano muito bem construído de corrosão de cultura ocidental, cristã, florescida na Europa e difundida em muitas partes do mundo. Tenho a impressão de que aquele que se dedica à diabólica arte de destruir as tradições simplesmente ignora a grandeza invulgar da civilização ocidental, que tem em sua organicidade a filosofia grega, o Direito romano, os valores e princípios cristãos. Se não ignora, age com má-fé, orientando-se para a destruição do que é belo, justo e valioso. Nunca é demais lembrar que a civilização cristã ocidental deu ao mundo as belas artes, a ciência, a exuberante arquitetura (simbolizada nas catedrais medievais), o sistema de ensino, as melhores práticas de piedade e os mais elevados ideais. A democracia é essencialmente um valor ocidental. É claro que, entre as luzes exuberantes, esses dois milênios foram também pontilhados por sombras e, mesmo, pontos constrangedores de abissal escuridão, mas o produto da soma destes não ofusca toda a grandiosidade da civilização ocidental, muito menos desautoriza sua história e suas tradições. Preservar tradições não é viver no passado, tampouco se fechar ao novo. Não! Muito pelo contrário: preservar tradições é buscar no passado a inspiração para o presente e discernir quando o novo há de ser abraçado e difundido e quando há de ser deixado de lado ou repelido. Há entre tradição e sabedoria uma união quase hipostática, íntima, inexorável. É pela tradição que sabemos quem somos e o que Deus espera de nós. Em sendo assim, saberemos melhor respeitar as diferenças, admirar culturas, tradições e costumes alheios, bem como buscar a justiça social, proteger e elevar os mais fracos e vivenciar o mandamento de “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. Paulo Henrique Cremoneze é advogado, mestre em Direito Internacional pela Universidade Católica de Santos, especialista em Direito do Seguro pela Universidade de Salamanca, na Espanha, pós-graduado em Especialização Teológica pela Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção e vice-presidente da União dos Juristas Católicos de São Paulo (Ujucasp). As opiniões da seção “Fé e Cidadania” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editoriais do O SÃO PAULO.


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