14 | Reportagem/Fé e Vida | 18 a 23 de fevereiro de 2021 |
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O alerta do Fevereiro Laranja para o câncer que mais acomete crianças e adolescentes Freepik
Ira Romão
ESPECIAL PARA O SÃO PAULO
O segundo mês do ano é marcado pela campanha Fevereiro Laranja, que busca conscientizar a população sobre a leucemia, e a procura pelo diagnóstico precoce, além de incentivar a doação de medula óssea, que para alguns casos é a opção de tratamento. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), em 2021 quase 6 mil homens e 5 mil mulheres serão diagnosticados com leucemia no Brasil, e entre crianças e adolescentes, o número pode chegar a 8 mil novos casos. O movimento Fevereiro Laranja tem abrangência nacional. No estado de São Paulo, a campanha foi instituída em 2019, com a Lei 17.207. Recentemente, a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale) lançou a campanha “A leucemia parece invisível. Mas seus sintomas são perceptíveis”. Em Goiás, em unidades da Secretaria da Saúde, ações de conscientização sobre o Fevereiro Laranja foram realizadas no início do mês, e em Santa Catarina, o Conselho Regional de Enfermagem (Coren/SC) publicou em seu site, no final de janeiro, informações sobre os sintomas e o tratamento da leucemia. A DOENÇA A leucemia é uma doença maligna que atinge os glóbulos brancos do sangue, acumulando células doentes na medula óssea e comprometendo o sistema de defesa do organismo. “O que acontece é a substituição [das células sanguíneas normais] por células doentes, que vão crescendo desordenadamente. Assim, a pessoa deixa de fabricar glóbulos vermelhos e plaquetas”, explica o médico oncologista pediatra Sidnei Epelman, presidente da Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer (Tucca). Na medula óssea, que ocupa o interior dos ossos, são produzidas as células sanguíneas. São elas que dão origem aos
Mês de combate à leucemia glóbulos brancos (leucócitos), aos glóbulos vermelhos (hemácias) e às plaquetas, que compõem o sistema de coagulação do sangue. A leucemia pode afetar pessoas de qualquer idade, mas ocorre com mais frequência em adultos com mais de 55 anos, além de ser o câncer infantojuvenil mais comum. Embora as causas ainda sejam desconhecidas, alguns fatores de risco têm sido associados à doença, como o tabagismo, a exposição à radiação ionizante (raios X e gama) e a produtos químicos diversos (benzeno, formaldeído, entre outros), além de anomalias cromossômicas (fatores genéticos), como síndrome de Down e outras doenças hereditárias. SINTOMAS Os sintomas dependem da intensidade da doença e estão relacionados à falência da medula óssea, sendo os principais: anemia, fraqueza, fadiga, sangramentos nasal e gengival, manchas roxas e vermelhas na pele, gânglios inchados, febre, sudorese noturna, infecções e dores nos ossos e nas articulações. A médica hematologista Danielli Cristina Muniz de Oliveira, coordenadora técnica do Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome), alerta que as manifestações da doença são “muito inespecíficas”, mas que precisam ser diagnosticadas o quanto antes. “A leu-
cemia é uma doença que pode ser muito agressiva. Assim, se a pessoa adia o diagnóstico e o início do tratamento, isso pode prejudicar o resultado”, enfatiza. O exame de hemograma é o que pode indicar a suspeita de leucemia. A partir dele, são realizados outros específicos para obter a confirmação do diagnóstico. TRATAMENTO De acordo com o oncologista Epelman, o tratamento para a leucemia é a quimioterapia. “Hoje temos condição de saber os subtipos [da doença], com base em todos os fatores. Conhecemos os fatores prognósticos que mostram se a leucemia é de altíssimo, médio ou baixo risco, e assim, sabemos se trataremos com quimioterapia mais ou menos intensa”, pontuou o presidente da Tucca, associação que em 23 anos já ofereceu, em parceria com o Hospital Santa Marcelina, tratamento multidisciplinar para 4,1 mil crianças com diferentes tipos de câncer. Além da quimioterapia, o paciente com leucemia pode ser submetido à radioterapia e ao transplante de medula óssea, apenas para casos de altíssimo risco ou que não haja resposta com a quimioterapia. “A leucemia é uma doença curável e sem transplante”, enfatizou a coordenadora do Redome. “O transplante está indicado para um subgrupo de pacientes, mas nem todos precisarão dele. E daqueles que
precisam, a maioria acaba não tendo doador idêntico na família, por isso dependem dos registros”, complementou. ATUAÇÃO DO REDOME Criado em São Paulo em 1993, o Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea pertence ao Ministério da Saúde e, desde 1998, está sob a coordenação técnica do INCA. Com mais de 5 milhões de doadores cadastrados, o Redome é o terceiro maior banco de doadores de medula óssea do mundo. Ao se cadastrar, o doador passa a integrar uma rede internacional que hoje conta com 38 milhões de voluntários. “Como trabalhamos com essa integração internacional, quando um paciente no Brasil não tem um doador no Redome, automaticamente fazemos a busca em bancos de cadastros internacionais”, esclarece Danielli Oliveira. Do mesmo modo, bancos estrangeiros buscam doadores compatíveis no órgão brasileiro. Ao se cadastrar, o doador fornece os dados pessoais e uma amostra de sangue para testes de identificação de características genéticas que vão ser cruzadas com os dados de pacientes que necessitam de transplantes para determinar a compatibilidade. É fundamental que o voluntário mantenha seu cadastro sempre atualizado. Se for compatível com algum paciente, o doador será consultado para decidir quanto à doação, e, ao aceitar, passará pelos devidos procedimentos. Antes era feita uma operação casada: a coleta da medula óssea era agendada e o paciente a recebia em até três dias. Com a atual pandemia, a medula óssea passou a ser congelada e o tempo para ser transplantada ao paciente pode chegar até pouco mais de uma semana. COMO SE TORNAR DOADOR Para se tornar doador, é necessário ser maior de 18 anos e realizar um cadastro no Redome nos hemocentros públicos em cada estado. Os endereços dos hemocentros estão disponíveis em http://redome.inca.gov.br.
Você Pergunta O que a Igreja ensina sobre o purgatório? Padre Cido Pereira
osaopaulo@uol.com.br
O Antonio Carlos, de Itaquaquecetuba (SP), quer saber o que a Igreja nos ensina sobre o purgatório? Meu irmão, o purgatório existe. A existência dessa purificação dos pecados veniais, ou seja, daqueles pecados que não nos afastam definitivamente de Deus, é uma verdade de nossa fé. Eu costumo explicar o purgatório para as pessoas com uma comparação. Estamos em festa em nossa casa. Pre-
paramos um almoço bem caprichado. Na hora da festa, há quem brigou feio e comprometeu totalmente a unidade da família. Essa pessoa acaba, ela mesma, se separando, vivendo fora da comunhão familiar. A palavra excomunhão quer dizer isso: uma situação de distância da comunhão que deve existir entre as pessoas. Na hora do almoço, há, ainda, aqueles que também pecaram contra a união da família mas não comprometeram definitivamente a sua união. Essa pessoa no momento não vai poder almoçar,
porque tem de resolver algumas questões, tem que se humilhar e pedir perdão, tem que buscar os caminhos de saída para seu erro. Isso não é nada fácil. É um purgatório, isto é, a gente sofre para reparar o mal cometido. E, por fim, na hora do almoço há aqueles que estão de bem com o pai, com a mãe, com os irmãos. E eles fazem a festa. Antonio, um erro que a gente comete é de imaginar aquilo que virá após a nossa morte como um lugar cheio de suplícios bem concretos. Oras: céu, purga-
tório e inferno são realidades espirituais. Fica melhor, então, entender tudo isso como situação e não como um lugar. O céu é a situação dos que foram fiéis e gozam da presença infinita e perpétua de Deus. O purgatório é a situação dos que têm de se purificar antes de usufruir a felicidade eterna da visão de Deus. E o inferno é a situação de eterna solidão para aqueles que decidiram viver longe de Deus. Sua condenação é continuar como sempre quiseram: isolados do Pai e dos irmãos.