20 | Papa Francisco | 18 a 23 de fevereiro de 2021 |
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‘Voltar para Deus’ é o convite do Papa nesta Quaresma Vatican Media
Papa Francisco preside missa na Basílica de São Pedro, no Vaticano, com o rito da imposição das cinzas, na quarta-feira, dia 17
Filipe Domingues
Especial para O SÃO PAULO
Orientar o coração na direção correta e “voltar para Deus”. Esse foi o centro da pregação do Papa Francisco durante a missa da Quarta-feira de Cinzas, 17, celebrada na Basílica de São Pedro, no Vaticano. “Há um convite que nasce no coração de Deus, que, com os braços abertos e os olhos cheios de nostalgia, nos suplica: ‘Voltem para mim com todo o coração’”, recordou o Papa, citando o profeta Joel (2,12). Devemos superar a indiferença e o excesso de “coisas a fazer”, disse o Papa, e, realmente, retornar ao caminho de Deus. Frequentemente, deixamos para amanhã “dia após dia” o momento certo de nos aproximar. Hoje, “Deus faz esse apelo ao nosso coração”, acrescentou o Santo Padre. “Na vida, teremos sempre coisas a fazer e desculpas a apresentar. Mas, irmãos e irmãs, hoje é o tempo de voltar para Deus.” Orientar o coração O Papa disse, ainda, que podemos percorrer vários percursos nesta vida, mas a Quaresma é o melhor momento para “discernir para onde está orienta-
do o meu coração”. Em suas palavras, “busquemos nos perguntar: aonde leva o navegador da minha vida? Em direção a Deus ou em direção a mim mesmo? Vivo para agradar ao Senhor ou para ser notado, louvado, preferido, em primeiro lugar, e assim por diante?” Francisco também usou a expressão “coração bailarino” para se referir àqueles que fazem passos à frente e atrás, amando “um pouco o Senhor e um pouco o mundo”. É preciso lutar contra as próprias hipocrisias e “libertar o coração das duplicidades e das falsidades que o escravizam”, completou. Uma viagem de retorno Voltar para Deus é fazer “uma viagem de retorno possível, porque a viagem de ida Ele já fez em nossa direção”. Como o doente leproso que buscou Jesus após receber a cura, também nós temos que “voltar para Jesus” e pedir a cura das nossas “doenças espirituais”, dizendo: “Jesus, estou aqui diante de ti, com o meu pecado, com as minhas misérias. Tu és o médico, Tu podes me libertar. Cura o meu coração”. Por isso, a Quaresma é o período em
que se busca o perdão “que nos recoloca em pé”, por meio da Confissão dos pecados. Na definição de Francisco, ela é “o primeiro passo da nossa viagem de retorno”. Da mesma forma, os confessores devem acolher os penitentes “como um pai”. Voltar ao Espírito Santo Em referência à Santíssima Trindade, o Papa também falou da necessidade de se “voltar ao Espírito Santo”, o Espírito de vida. “Não podemos viver seguindo o pó, atrás de coisas que hoje existem, mas que amanhã desaparecem. Voltemo-nos ao Espírito Santo, gerador de vida, voltemo-nos ao fogo que nos faz ressurgir das nossas cinzas, aquele fogo que nos ensina a amar”, afirmou. Rezando para o Espírito Santo é possível “se reconciliar com Deus”, pois isso não depende apenas das próprias forças de cada um, mas também “do primado da ação de Deus”. E mais: “A graça nos salva. A salvação é pura graça, pura gratuidade”. Para começar a “voltar para Deus”, é preciso, antes de tudo, “reconhecer-se necessitado” de Deus, de sua misericórdia e de sua graça, “no caminho da humildade”, pregou o Papa Francisco.
Francisco envia mensagem pelo lançamento da Campanha da Fraternidade Ecumênica Em sua tradicional mensagem à Igreja no Brasil, por ocasião do lançamento da Campanha da Fraternidade, na Quarta-feira de Cinzas, 17, o Papa Francisco desejou que que o período quaresmal seja “frutuoso”. “A fecundidade do nosso testemunho dependerá também de nossa capacidade de dialogar, encontrar pontos de união e traduzi-los em ações a favor da vida, de modo es-
pecial a vida dos mais vulneráveis”, escreveu. Francisco recordou que esta é a quinta vez que a Campanha é celebrada em caráter ecumênico, ou seja, em parceria com outras Igrejas do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil (Conic). O tema é “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”. “Ao promover o diálogo como compromisso de amor, a Campanha da Fra-
ternidade lembra que são os cristãos os primeiros a ter que dar exemplo, começando pela prática do diálogo ecumênico”, declarou o Papa. Nesta Quaresma, de modo especial, Jesus nos convida “a orar pelos que morreram, a bendizer pelo serviço abnegado de tantos profissionais da Saúde e a estimular a solidariedade entre as pessoas de boa vontade”, acrescenta o Santo Padre. (FD)
Tempo para renovar a fé, a esperança e a caridade Recordando que a Quaresma é um “tempo de conversão”, o Papa Francisco convida os fiéis católicos a “abrir o coração para o amor de Deus”, renovando sua fé. “O jejum, a oração e a esmola, como apresentados por Jesus em sua pregação, são as condições e a expressão de nossa conversão”, escreveu na mensagem para a Quaresma de 2021, publicada na sexta-feira, 12. Dividida em três partes, a mensagem fala da fé como acolhida da Verdade e como pode ser manifestada concretamente no mundo por meio do testemunho de vida; também trata da esperança como “água viva” necessária para o caminho; e apresenta a caridade (ou a esmola) como “a mais alta expressão de nossa fé e nossa esperança”, se vivida no modelo de Cristo. Seu convite é o de viver a Quaresma “como percurso de conversão, oração e compartilhamento dos bens”, para que seja revista “nossa memória comunitária e pessoal, a fé que vem do Cristo vivo, a esperança animada do sopro do Espírito e o amor cuja fonte inesgotável é o coração misericordioso do Pai”. Jejum, oração e caridade O jejum é o “caminho da pobreza e da privação”. A esmola é “o olhar e os gestos de amor para o homem ferido”. E a oração é “o diálogo filial com o Pai”, afirma o Papa. Juntos, esses três pilares “nos permitem encarnar uma fé sincera, uma esperança viva e uma caridade operosa”. A Verdade da fé, “transmitida de geração em geração pela Igreja”, não é uma mera construção racional, mas “uma mensagem que recebemos e podemos compreender graças à inteligência do coração”. Por isso, é preciso se abrir a Deus. A simplicidade experimentada no jejum quaresmal ajuda a “redescobrir o dom de Deus e a compreender a nossa realidade de criaturas que encontram Nele sua realização”. Na oração silenciosa, acrescenta Francisco, “a esperança é doada como inspiração e luz interior, que ilumina desafios e escolhas de nossa missão”. A Quaresma nos permite “receber a esperança de Cristo” por meio da oração pessoal. Por fim, a caridade “é dom que dá sentido à vida”, comenta o Pontífice. “O pouco, se compartilhado com amor, não termina jamais, mas se transforma em reserva de vida e de felicidade”, diz ele. “Assim é a esmola, pequena ou grande que seja, se oferecida com alegria e simplicidade.” (FD)