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Porto Alegre, 16 a 31 de julho de 2008

Congresso reúne educadores Maristas Busca de novas configurações da profissão e da missão do educador na sociedade do conhecimento é o objetivo do 3.º Congresso Nacional Marista de Educação, que é realizado entre 15 e 18 de julho, no Centro de Eventos da PUCRS e que pretende reunir 2.500 educadores de todo o Brasil. Entre os conferencistas estão Abdeljalil Akkari, professor da Universidade de Genebra e consultor da Unesco, que vai falar sobre o Ofício de Educador na Sociedade do Conhecimento; Consuelo Vélaz de Medrano, da Universidad Nacional de Educación a Distancia (UNED), da Espanha; e Nilson José Machado, professor da Universidade de São Paulo (USP). Também haverá 15 atividades temáticas, abordando cidadania eco-planetária, espiritualidade e sentido da vida, globalização e pósmodernidade, ética e cultura da paz, pós-modernidade e culturas juvenis, educação Popular, educação e inclusão digital, currículo e pessoalidade, missão Educativa Marista na sociedade do conhecimento, mídia e educação, formação do educador na sociedade do conhecimento, desafios do educador na sociedade do conhecimento, paradigmas contemporâneos da gestão educacional e artistagens docentes. Informações: www.maristas.org.br/congresso ou pelo telefone 0800 54.11200.

Ano XIV - Edição No 518 - R$ 1,50

Ônibus odontológico devolve sorriso no Bairro Arquipélago A meta de 100 atendimentos num mês foi alcançada em menos de 10 dias. A procura pelo plantão dentário ambulante em periferias urbanas do Rio Grande do Sul sempre é muito maior que a oferta. O ônibus é um projeto da Rede Marista de Educação e Solidariedade da Província do Rio Grande do Sul e funciona há três anos. Seu mais recente endereço foi próximo à Colônia de Pescadores da Ilha da Pintada, com abrangência às demais ilhas do estuário do Guaíba, em Porto Alegre. E já se deslocou para outra frente de atendimento dentário completo e totalmente gratuito. Página 7

Nasce a 18.ª Diocese gaúcha O sonho acalentado há décadas agora é realidade. E as 30 paróquias dos municípios de Alto Feliz, Barão, Bom Princípio, Bom Retiro do Sul, Brochier, Capela de Santana, Colinas, Estrela, Fazenda Vila Nova, Feliz, Harmonia, Linha Nova, Marata, Montenegro, Pareci Novo, Paverama, Poço das Antas, Portão, Roca Sales, Salvador do Sul, São José do Hortêncio, São José do Sul, São Pedro da Serra, São Sebastião do Caí, São Vendelino, Tabaí, Taquari, Teutônia, Triunfo, Tupandi, Vale Real e Westfália não mais fazem parte da Arquidiocese de Porto Alegre. Formarão a nova Diocese de Montenegro, oficialmente criada em 2 de julho último por ato de Bento XVI, que também nomeou a Dom Paulo Antônio de Conto (foto ao lado) seu primeiro bispo, devendo este assumir o posto em missa solene às 15 horas de 6 de setembro próximo. Até lá, permanecerá frente à Diocese de Criciúma, SC, criada em 1998 e onde também foi o primeiro bispo. Nascido em Encantado em 1942, Dom Paulo volta para o Rio Grande do Sul onde iniciou sua atividade como padre em 13 de julho de 1968

na área da Diocese de S. Cruz do Sul. Em julho de 1991, foi nomeado o 4.º bispo da Diocese de São Luiz de Cáceres (Mato Grosso) e em maio de 1998 foi transferido para a recém criada Diocese de Criciúma (SC), também formada por 30 paróquias.

Diocese da alegria

É o que prometeu Dom Paulo quando, em 3 de julho último, foi conhecer o endereço de sua próxima missão. “Sou Igreja, sinto-me Igreja, vivo na vontade de Deus e, conseqüentemente, obediente ao Papa. Sinto-me muito bem em Criciúma, uma Diocese próspera. Foram dez anos de intenso apostolado. Agora, apedido do Papa, venho a Montenegro para ser pastor do povo que me é confiado. Quando assumir em 6 de setembro, direi que procuraremos trabalhar juntos, unidos, como irmãos. E quero que a Diocese seja a Diocese da Alegria. Alegria em todos os sentidos e nesta caminhada é que nos vamos realizar construindo o reino de Deus”.

Esta edição tem sua impressão patrocinada pela

Irmandade do Arcanjo São Miguel e Almas CianMagentaAmareloPreto


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cidadania

Editorial

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Zero de tolerância

olerância zero é o “hit” do momento. Onde três ou quatro pessoas estão reunidas, um dos assuntos, certamente, é a proibição da ingestão de qualquer dose de bebida alcoólica para quem sentar ao volante de um veículo automotor. Lei que vigora em vários países do mundo, com igual ou semelhante radicalismo, está encontrando uma inesperada aprovação por parte da absoluta maioria da população brasileira. Obviamente, como há interesses econômicos em jogo, há restrições e, inclusive, moções de inconstitucionalidade. Outros, céticos, dizem simplesmente: pago pra ver! Por ser este um tema diretamente relacionado com a defesa da vida, o Solidário se posiciona a favor de leis sérias e duras nesta área e de coerência na sua execução. Mostra como se legisla a questão em vários países e traz a experiência vivida pelo Pe. Marcelino Sivinski na Polônia, onde a lei é radical: lá, beber num restaurante, significa multa para o restaurante, perda do emprego para o garçom que serviu bebida alcoólica ao motorista e ao motorista, se pego com alguma dosagem de álcool no sangue, prisão, sem direito de defesa ou de alegar o conhecido “eu não sabia”. E a lei é aplicada, doa a quem doer (página 6). O nome é sugestivo: Sorrisão Marista. Este sorriso grande tem várias leituras: atendimento odontológico gratuito para pessoas sem recursos, o que significa uma melhor mastigação e a conseqüente melhoria de saúde e, certamente, o crescimento da auto-estima da parte dos atendidos pelo Projeto. O Sorrisão Marista, uma iniciativa da Comissão de Assistência Social da Rede Marista de Educação e Solidariedade, é realizado dentro de um ônibus, com dois gabinetes dentários completos e uma sala de Raio X. O objetivo é a saúde bucal, com aplicação de flúor, tratamento curativo e preventivo, além de ações de conscientização sobre a importância de se ter bons dentes. A idéia do Projeto foi do Irmão Pedro Ost e este serviço odontológico atende, especialmente, as ilhas e regiões mais pobres da grande Porto Alegre (página 7). Na contracapa desta edição destacamos a Irmandade São Miguel e Almas, uma benemérita e histórica instituição, aliada do Projeto da Fundação Pro Deo de Comunicação, mantenedora do jornal Solidário, desde sua fundação. Com saudade, lembramos a figura de seu centésimo provedor, Guilherme Landell de Moura, dedicado à Irmandade até sua morte, em setembro de 2003. O jornal Solidário é e quer ser sempre mais o Jornal da Família. Nesta edição, ocupa nossa galeria familiar o casal Décio e Carmelita M. Abruzzi. Jovens, nos seus 53 anos de casados, Décio e Carmelita integram nossa equipe de abnegados promotores do jornal que todos os fins de semana visitam as paróquias da Capital, apresentando o Solidário aos participantes das missas nos diferentes horários. A galeria familiar traz, sempre, um pouco das muitas e ricas histórias de casais e famílias, mostrando a importância do espaço familiar para um viver cristão, humanamente sadio e realizador (contracapa). attílio@livrariareus.com.br

Fundação Pro Deo de Comunicação Conselho Deliberativo Presidente: Dom Dadeus Grings Vice-presidente: José Ernesto Flesch Chaves Voluntários Diretoria Executiva

Diretor Executivo: Jorge La Rosa Vice-Diretor: Martha d’Azevedo Diretores Adjuntos: Carmelita Marroni Abruzzi e José Edson Knob Secretário: Elói Luiz Claro Tesoureiro: Décio Abruzzi Assistente Eclesiástico: Pe.Attílio Hartmann sj

Ano XIV – Nº 518 – 16 a 31/07/08 Diretor-Editor Attílio Hartmann - Reg. 8608 DRT/RS Editora Adjunta Martha d’Azevedo Revisão Nicolau Waquil, Ronald Forster e Pedro M. Schneider (voluntários) Administração Paulo Oliveira da Rosa, Ir. Erinida Gheller, Izolina Pereira (voluntários), Elisabete Lopes de Souza e Davi Eli Redação Jorn. Luiz Carlos Vaz - Reg. 2255 DRT/RS Jorn. Adriano Eli - Reg. 3355 DRT/RS Impressão: Gazeta do Sul

Rua Duque de Caxias, 805 – Centro – CEP 90010-282 – Porto Alegre/RS Fone: (51) 3221.5041 – E-mail: solidario@portoweb.com.br

Pastoral Juvenil Marista participa de jornada mundial na Austrália

De 15 a 20 de julho, em Sydney, jovens de todas as partes do mundo estarão reunidos para a Jornada Mundial da Juventude. Criada pelo Papa João Paulo II em 1985, a jornada é celebrada a cada dois ou três anos. Este ano, o tema, que é escolhido pelo Papa, será Descerá sobre vós o Espírito Santo, vos dará a força e sereis minhas testemunhas (At 1:8). Durante o evento, acontecem catequeses, adorações, missas, momentos de oração, palestras, partilhas e shows.

Na sua última edição, em 2005, na Alemanha, reuniu cerca de um milhão de jovens e a Província Marista do Rio Grande do Sul estava representada por Guilherme Flach, jumarista de Santa Cruz do Sul. Antes desse evento, os Irmãos Maristas irão promover o Festival Internacional Marista, também em Sydney, com o tema Aquecer o coração, abraçar essa visão e transformar o mundo!. De 9 a 13 de julho, o festival receberá peregrinos de 77 países do mundo em que os Irmãos Maristas estão presentes. O festival é organizado por uma equipe

australiana, em acordo com o Conselho Geral em Roma. Um grupo formado por jovens, professores e Irmãos da Pastoral Juvenil Marista (PJM) irá representar a Província na jornada. A proposta foi de que cada unidade marista - colégio ou obra social - indicasse um representante que estivesse engajado com as atividades da PJM e ficasse responsável em promover atividades que custeassem todas as despesas da viagem. Além de estudantes, foi feito um convite para alguns ex-alunos que permanecem associados à caminhada da PJM.

Jovens que irão participar da Jornada Mundial da Juventude

Professores de Ensino Religioso No dia 20 de junho passado, no auditório da Livraria Paulinas, em Porto Alegre, foi realizado o 3º Seminário Estadual de Ensino Religioso e a Assembléia Geral da Associação de Professores de Ensino Religioso do Rio Grande do Sul (APER/RS), que tem como uma das suas finalidades “Articular, organizar e unir os educadores do Ensino Religioso, tendo presente a legislação vigente”. Nesta ocasião, com a participação de mais de uma centena de professores, foi eleita nova diretoria dessa entidade e o Conselho Fiscal, ficando a presidência com a professora Janete Cavalcanti.

Docentes escrevem livros para distribuição gratuita no interior Professores e alunos das cidades de Bom Jesus, São José dos Ausentes, Vacaria, Lages e São Joaquim estão recebendo em suas escolas um livro e um caderno de atividades sobre a biodiversidade regional. As obras fazem parte do projeto Biodiversidade dos Campos de Cima da Serra, que busca levar à comunidade as pesquisas desenvolvidas no meio acadêmico. O Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS (MCT) colaborou com as pesquisas por meio do Setor de Ornitologia, sob a coordenação da professora Carla Suertegaray Fontana, em conjunto com os pesquisadores Márcio Repenning e Cristiano Eidt Rovedder. A equipe que escreveu os livros soma 32 co-autores, ligados à PUCRS e à UFRGS. O material didático será entregue gratuitamente a professores das escolas estaduais e municipais, dispostos a trabalhar com seus alunos os temas propostos. Informações complementares pelo e-mail para relacionamento.mct@ pucrs.br.


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família e sociedade

Gastar tempo com os filhos Fábio Henrique Prado de Toledo

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Juiz de Direito

azia algum tempo que não passava pela experiência de estar em casa sem as crianças. Há um silêncio ensurdecedor. As coisas estão insuportavelmente em ordem. Não há brinquedos pela casa e, se me ocorre deixar o sapato fora do armário, não virá um pequeno colocá-lo para sair fazendo barulho corredor afora. Mas que falta fazem! Esses momentos de solidão, apesar de

Casamento: problemas do cotidiano

desagradáveis, são bons para refletir sobre o tempo dedicado aos filhos. Ou, antes disso, e talvez mais difícil de se responder: por que os trazemos à vida? Se fôssemos surpreendidos por essa indagação, de pronto teríamos dificuldades para responder. Talvez pensássemos que os padrões sociais nos impõem que, em determinado momento, o normal é casar-se e, em se casando, o natural é também ter filhos. Mas os trazemos ao mundo apenas porque todo mundo, ou quase todos o fazem?

Ter filho pressupõe, antes de tudo, acreditar na vida Sempre achei de um pessimismo destrutivo a célebre frase de Machado de Assis, em Memórias Póstumas de

Brás Cubas: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.” No entanto, podese dizer o que quiser contra o autor da afirmação, menos que não seja coerente. De fato, por que trazer essas criaturinhas à vida se não se acredita na felicidade que essa existência entranhadamente anseia? Os filhos, assim como seus pais, como também qualquer ser humano que há na face da terra, existem para uma finalidade, e é só isso que vale a pena: ser feliz. E eles nascem com o direito inalienável de que aqueles por quem vieram ao mundo os ensinem, mais que com palavras, com o exemplo encarnado em suas existências, que vale a pena, que a felicidade existe. Mas, como podem os pais dizer isso aos filhos se não convivem, se não há relacionamento entre uns e outros? Soube de uma conversa entre um pai e o seu filho pequeno. Era já quinta-feira e a criança não via o pai, ainda que pernoitassem na mesma casa, desde domingo. É que o trabalho exige muito, de modo que saía para o trabalho bem cedo, quando o filho ainda dormia e retornava muito tarde, quando já se deitara. Na quinta-feira, calhou de o filho acordar mais cedo e surpreendeu o pai saindo afobado:

“Papai, aonde vai?”

“Vou trabalhar, filho, e já estou atrasado”, respondeu o pai já abrindo a porta de saída. “A gente não ficou quase nada juntos nesses dias”, disse o filho querendo um pouco de atenção. “Filho, o que importa não é a quantidade, mas a qualidade”,

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Fotos: Divulgação

argumentou o pai. “Pai, para onde você vai agora?”. “Tenho uma reunião muito demorada e, depois, terei de trabalhar até tarde para terminar o serviço pendente”. “Pai, mas você não disse que o que importa é a qualidade e não a quantidade, então por que não vem mais cedo hoje?”. Sem resposta, o pai saiu remoendo aquela pergunta na cabeça. A vida moderna impõe muitos desafios na educação, e talvez o maior deles seja encontrar tempo para estar com os filhos. Não há regra fixa para isso, nem muito menos soluções mágicas. Cada um deve, com um pouco de criatividade e com esforço, heróico às vezes, encontrar o tempo para isso. E mais que estar juntos, cuidar de que sejam momentos verdadeiramente

alegres, permeados daquela alegria que inunda o ambiente quando se dispõe a esquecer de si próprio para fazer a vida mais agradável aos outros. E as férias são um bom momento para isso. Porém, isso depende de como as programamos. Seria bom que nos fizéssemos a seguinte indagação antes de planejarmos esses dias de descanso: Isso que faremos nos aproximará mais dos filhos, ou, ao contrário, servirá para criarmos uma distância ainda maior? O grande desafio dos pais de hoje é poder dizer com sinceridade, por pautar suas vidas por esse ideal: “Tive filhos, transmiti a essas criaturas o legado de minha alegria”. (Portal da Família)

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os apaixonamos, namoramos, noivamos e casamos, acreditando que seremos “felizes para sempre”, mas um dia, ao acordarmos, descobrimos que o príncipe encantado virou sapo, ou a princesa virou rã. A intimidade transforma e muito as relações afetivas, pois a convivência diária faz com que aqueles “defeitinhos” apareçam e o amor comece a ser questionado. Criar expectativas é muito normal e saudável, até certo ponto, mas com elas surgem também as frustrações, e com isso o sofrimento. Um fator importante no sucesso das relações afetivas é a ACEITAÇÃO. Aceitar o outro como ele(a) é e não tentar ajustá-lo(a) ao como eu gostaria que ele(a) fosse significa fazer um exercício diário de atualização de nossa percepção em relação a este(a) parceiro(a). E atualizar esta percepção não significa olhar os erros e defeitos apenas, mas também as qualidades e acertos de cada um. Todos nós mudamos diariamente através das experiências, assim como todos temos aspectos positivos e negativos em nossa personalidade. Es perar que aquele(a) parceiro(a) seja sempre o(a) mesmo(a), que jamais mude, pode representar o início da frustração e do sofrimento, o que pode levar, mais adiante, a quadros depressivos, ansiedade, agressividade, medos, fobias, tensão e etc. Vale a pena pensar sobre isso.


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opinião

O juízo final

Filosofia volta à moda (II)

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Antônio Mesquita Galvão

Antônio Estevão Algayer

Filósofo e escritor

Advogado

(Continuação do número anterior)

á desponta hoje, em países de Primeiro Mundo, a “filosofia clínica”, aonde o indivíduo vai ao consultório do filósofo, não para desnudar seu inconsciente, na busca de solução para problemas de comportamento, traumas de infância, complexos de culpa, atração pela mãe, mas para que o especialista o ajude a colocar as idéias em ordem, a definir alternativas e a escolher caminhos. Enfim, alguém que o ajude a pensar. Pensar por sua própria cabeça. Luxo que a vida moderna nem sempre nos permite. Filosofia Clínica é a abordagem filosófica para aliviar as angústias humanas, a exemplo Filosofia do Aconselhamento, que surgiu na velha Alemanha, em fins do século XIX. Enquanto a psicologia procura harmonizar conflitos a partir de uma abordagem através do inconsciente, a FC procura resolver problemas a partir do consciente. Ajuda a tomar decisões eficazes e rápidas. A filosofia, e nisso se invoca sempre a maiêutica de Sócrates, procura arrancar da pessoa aquilo que ela sabe e não sabe que sabe. Maiêutica, no grego, quer dizer parto. Já existe muita gente no Brasil desenvolvendo a filosofia clínica. As bases metodológicas partem da historicidade do paciente, percorrendo-se desde o logicismo formal até a epistemologia das questões focadas no diagnóstico dos problemas. Diz-se que a filosofia ensinada em sala de aula visa ensinar o aluno a pensar. Pois a filosofia, transformada em “clínica” através de entrevistas realizadas em consultórios, visa ensinar a pessoa a organizar suas idéias, formular raciocínios através da lógica dos silogismos, e assim pensar de forma mais determinada. Na FC não existe o conceito de normalidade ou de patologia; não existem concepções a priori como “o homem é um ser social” ou “alguém que busca a felicidade”. A pessoa com dificuldade de estabelecer raciocínios lógicos (e isto se faz necessário em todos os quadrantes da vida) se angustia, se fecha e pode cair em depressão.A base dessa corrente é o trabalho dos chamados epicuristas da Grécia, seguidores de Epicuro. Para este último, filosofia era, por fim, “a terapia da alma”, daí sua utilização para aliviar as angústias humanas. O criador da Filosofia do Aconselhamento foi Gerd Achenbach, da cidade alemã de Colônia, espalhando sua criação pela Europa. A filosofia clínica é a atividade filosófica aplicada à terapia do indivíduo. Nesse particular, as teorias filosóficas são empregadas em favor das possibilidades do ser humano enquanto se realiza por si mesmo. Cabe ressaltar que em filosofia clínica não há doenças, patologias pelo fato de estes casos serem entendidos como diferenças, pois fazem sentido a uma visão de mundo em discordância com os “padrões”. A Filosofia Clínica trabalha em cima da lógica (aristotélica, cartesiana e hegeliana). Muitas pessoas sofrem porque não sabem organizar suas idéias, e por isso não conseguem expor seus argumentos de forma clara e, sobretudo, convincente. Na FC são trabalhados diversos métodos oriundos dos grandes autores da filosofia como Heráclito, Epicuro, Sócrates, Aristóteles, Locke, Hume, Nietzsche, Kant, Spinoza, Descartes, Husserl, Scheller outros.

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Evangelho segundo Mateus surgiu na Síria por volta do ano 80. É o único que faz referência direta ao “juízo final”, em que os bons comparecem separados dos maus, ou, na linguagem alegórica de índole pastoril, as ovelhas segregadas dos bodes. Uma interpretação literal do texto de Mateus não tem condições de prosperar. A leitura contextualizada da Bíblia e a vida nos ensinam que não existem seres humanos totalmente maus ou integralmente bons. Seria difícil você saber de alguém tão perverso que não tenha alguma vez praticado um ato de bondade. E nós outros, que nos pretendemos situados entre os “benditos”, pondo a mão na consciência, provavelmente nos flagramos desassistindo seres humanos necessitados de ajuda. Ouso imaginar que os judeus-cristãos aos quais o Evangelho prioritariamente se endereçava, eram de religiosidade verticalista, pouco preocupados com a fome, a nudez e o abandono do próximo. O texto de Mateus objetiva dissuadir-nos de priorizar uma religiosidade absenteísta, a-histórica, alienada, ao dever de socorrer pessoas ou grupos humanos golpeados de infortúnio. Ninguém desvendou com tamanha lucidez a mescla de grandeza e miséria existente em todos os homens como o fez Paulo em suas grandes cartas teológicas, enviadas aos cristãos da Ásia e da Europa, duas ou três décadas antes do surgimento dos Evangelhos sinópticos. “Somos todos,” diz ele, “escravos do pecado”. Olhando para dentro de si mesmo, o combativo Apóstolo das Gentes percebeu a dramática divisão interior que o afetava: “Não faço o bem que quero,

mas faço o mal que não quero. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu que o faço, mas sim o pecado que mora em mim” (Rm 7, 19-2O). Paulo declara que o pecado (no singular) se encontra entranhado em sua carne, em seus membros. Por carne e membros não entende Paulo apenas os impulsos instintuais (Triebe), a incontornável inclinação para o mal. Também a circunstância, a que se refere Ortega y Gasset, “a minha circunstância”, é subsumida na mesma designação: É o contexto familiar e social, a mídia, a atividade política, a cultura, a conjuntura econômica, o clima, as coordenadas geográficas, a pressão de grupos humanos hegemônicos, o “entourage”, os mecanismos enganadores e alienantes que nos coisificam e desumanizam. Tudo isto, correspondendo à segunda lei da termodinâmica (entropia), obstaculiza, entrava, contraria a efetividade do projeto de humanização. Faz com que bons propósitos se esfacelem antes de sua conversão na prática. Entre o projeto e a sua execução intromete-se a ”lei dos membros”, anulando a eficácia. Paulo é realista e se deu conta da devastadora eficácia do pecado estrutural. Definiu a coexistência do amor e do egoísmo, da graça e do pecado, do discernimento e da alienação, em suma, da fissura que todo ser humano alberga dentro de si. Sua visão nada dualista permite-lhe traduzir o que nos aguarda na eternidade em palavras e imagens que nos tranqüilizam e desafiam ao mesmo tempo. No que tange ao julgamento “derradeiro”, também Paulo recorre ao simbolismo do fogo. Porém, Paulo desloca o respectivo acento do homem para a obra. O fogo, ao invés de incendiar pessoas, vai pôr à prova a consistência da obra de cada um...!

“A vida é um dever a cumprir, uma dor a suportar, um apostolado a exercer.”

Jimmy Cygler

O poder do mindinho

Professor de Pós-Graduação da ESPM*

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Ravognan

ida de empresário não é fácil. Mas, por incrível que pareça, o que mais consome minutos e neurônios nada tem a ver com a concorrência, com a conjuntura econômica ou com as variações do mercado, e sim como encontrar formas de motivar o pessoal interno para que o trabalho seja o que, de fato, deve ser: uma diversão. No mar de livros existentes sobre o assunto é fácil naufragar e nem sempre encontrar um porto seguro. E como de praxe acontece, a resposta que queremos nos chega quando relaxamos e desistimos de pensar no assunto com tanta avidez. Foi em um desses momentos que me lembrei de minha própria experiência, décadas atrás, quando morei em uma pequena cidade chamada Negev, no deserto de Israel e onde aprendi uma lição valiosa que jamais esqueci. Na verdade, foram duas pelo preço de uma. Na época, uma das minhas atividades mais rentáveis era fotografar grupos de pessoas, mais especificamente, estudantes e o fazia a cada final de ano letivo. Era uma atividade bastante prazerosa porque justamente o que havia de mais belo e fascinante no local eram as pessoas das mais diferentes etnias. Não raro era encontrar famílias com seis, sete e até dez filhos. Com isso, o número de classes nos jardins de infância e no ensino fundamental devia ser próximo de cem.

Juntar esses pequenos feudos de pessoas, divididos por faixas etárias e imortalizá-los em uma foto dava um trabalhão, mas era algo que eu esperava ansiosamente e com grande alegria a cada ano. E o que me dava especial satisfação era fotografar os pequeninos das classes do jardim de infância. Crianças de três a seis anos, cheias de vida, curiosas e irrequietas, eram um show à parte. Como se não bastasse toda aquela riqueza de contrastes, resultante das diferentes etnias, e de toda a alegria que a minha nobre e anual tarefa lhes proporcionava e que expressavam em cada olhar, foi com eles que aprendi uma das lições mais valiosas e que me serviria por toda a minha vida. Para que as fotos saíssem boas, de forma a que todas as crianças ficassem bem visíveis, havia necessidade de um bom planejamento. As cabecinhas de todas tinham que aparecer em quatro níveis diferentes. Só assim era possível criar um retângulo perfeito, preenchendo todo o espaço da foto e maximizar a visibilidade das crianças. Conseguir reunir os pequenos nas três primeiras fileiras era muito simples: os mais altos ficavam de pé, os menorzinhos sentavam nas cadeiras e os outros sentavam no chão. Mas, o que fazer com a quarta fileira? A solução que encontrei, após anos tentando alternativas diferentes, foi a de usar os gaveteiros das escolinhas e sobre as quais as crianças de trás subiriam. O problema é que os tais

móveis eram grandes, pesados, altos e tinham umas 40 gavetas. Cada escolinha tinha dois desses: um para meninos e outro para as meninas. Normalmente, esses gaveteiros permaneciam nas duas extremidades da escolinha e o desafio era juntá-los para poder tirar a foto e depois colocá-los de volta no lugar de origem. Eles eram tão pesados que um adulto sozinho não conseguia tirá-los do lugar. Depois de quebrar a cabeça e tentar várias formas, descobri uma força poderosa, que estava presente em todas as escolinhas e a qual sempre ignorei: a das crianças. Até então, não tinha me ocorrido que, quando cerca de quarenta crianças juntam suas forças, adquirem um poder incrível e surpreendente. Bastava eu chamar a meninada e dizer: “Hei, turma, querem ver o poder do meu dedo mindinho? Venham cá”. Reunia todos ao meu redor para então comandar: “Todo mundo pega um lugarzinho no gaveteiro e empurra. E eu, com o meu dedo mindinho, vou direcionar para o lugar onde tiraremos a foto. Querem ver?” O resultado era mágica pura. O gaveteiro quase levantava vôo. Era uma cena incrível! De uma tacada só aprendi duas lições que aplico todos os dias em minha rotina de empresário: acredite no poder da união - mesmo dos mais fracos - e nunca esqueça que a motivação, literalmente, move montanhas. *Jimmy Cygler é também o autor do livro “Quem Mexeu na Minha Vida”

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educação e psicologia

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Longevidade e espiritualidade Jorge La Rosa

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Imagens: Divulgação

Professor universitário. Doutor em Psicologia

inguém de nós sabe quanto tempo viverá, embora haja probabilidade de que os que têm vida saudável, envolvendo alimentação adequada combinada com a prática de exercícios e espiritualidade, terão vida mais longa, e com qualidade. Hoje, a questão não é simplesmente viver mais tempo, mas viver com alegria.

O peixe e o ser humano

O peixe morre pela boca, dizia-se nos tempos da pesca artesanal; e, também, vive pela boca, com a qual se alimenta. Há certa similitude com o ser humano, que vive e morre pela boca. Alimentação balanceada e na medida certa promovem vida, comida em excesso e gordurosa promovem morte; um cálice de vinho nas refeições dilata os vasos sanguíneos, uma garrafa produz constrição dos referidos. Enfim, observamos hoje como grande parte dos problemas da saúde está relacionada com a boca: a questão da alimentação, do alcoolismo, do fumo e da maconha, das drogas ingeridas,...

Movimente-se

Outro fator relacionado com a longevidade é a prática de exercícios físicos. A norma é: movimente-se. E, interessante, quantas pessoas observamos nos parques e praças realizando sua caminhada, outras praticando natação ou hidroginástica e, outras, ainda, a musculação. Hoje sabemos, a qualidade de nossa ossatura depende de movimentação e da massa muscular, prevenção da osteoporose. Mas há, também, os sedentários, com dificuldades de vencer a lei da inércia: um corpo em repouso tende a permanecer em repouso: a decisão para movimentar-se, e, mais, para implementá-la, no início é dura e difícil, exige disciplina, palavra em desuso, mas sempre atualíssima! E há a opção daqueles que conscientemente escolhem ser sedentários!

Espiritualidade

Um terceiro fator promotor da vida feliz é a espiritualidade. O que é espiritualidade? Ela envolve uma visão do ser humano, do significado da vida, dos relacionamentos, de Deus, e cultiva sentimentos de compaixão perante o sofrimento alheio, de respeito ao semelhante, de fraternidade, de solidariedade, de amor que se traduz em ações: espiritualidade é psicoterapia. As religiões incluem uma espiritualidade que decorre de suas doutrinas,

e propõem, de modo geral, sentimentos que são compartilhados. É pela espiritualidade que alguém, ao se acordar, se dá conta: ganhei um novo dia! Uma nova chance de encontrar amigos, fazer amigos, cuidar dos familiares, de ajudar pessoas, de ouvi-las e confortá-las, de realizar minhas tarefas profissionais através das quais sirvo minha comunidade e ajudo o mundo a ser melhor; ganhei nova oportunidade para trabalhar por uma sociedade mais solidária! Que ventura! É, ainda, pela espiritualidade que agradeço a Deus tantas graças que Ele me concede, o seu amor que me constitui e que me recria continuamente: Obrigado, Senhor! É, ainda, pela espiritualidade que perdôo alguém que me machucou e não alimento sentimentos rancorosos ou de vingança. Hoje, sabe-se, o rancor produz distúrbios gástricos e acidentes vasculares (nem todos os distúrbios gástricos e acidentes vasculares têm essa etiologia, é claro). É, ainda, graças à espiritualidade que não me queixo do tempo, do frio ou do calor, pois ambos são necessários ao ecossistema. Espiritualidade é inteligência vivificada pelo Espírito que

renova a face da terra e traz alento para os seres humanos, é vontade impregnada do propósito de fazer somente o bem e jamais o mal, a quem quer que seja, e em qualquer circunstância; é, ainda, e acima de tudo, um coração repleto de amor onde não há lugar para o ódio, para o desespero, para o desânimo, para a vingança, para o desprezo e para a tristeza, exceto aquela que provém do pecado. Espiritualidade é, digamos a palavra final, Deus agindo no ser humano e transformando-o numa imagem mais perfeita dele mesmo. É claro, quanto mais o filho reflete o Pai, tanto mais feliz será! Isso é qualidade de vida! O que foi dito acima, especialmente nos dois últimos parágrafos, é um horizonte a ser conquistado, uma meta a ser alcançada: pode haver quedas, recaídas, mas o projeto está aí, vivo, a (Leia na página 8: Bem-estar espiritual já faz parte do conceito de saúde)


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tema em foco

Lei seca: acertos e contradições

Ilustração: montagem sobre foto de Rodolfo Clix

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ó quem já provocou ou foi vítima em acidente de trânsito, ou teve familiares feridos ou mortos em acidentes sabe que medidas para conter essa verdadeira chacina, por mais duras que sejam, representam pouco ou quase nada comparadas à dor de perder um ente querido. Ninguém está imune a essa desgraça. E é difícil encontrar alguém que não tenha experimentado a dor da perda de um parente, amigo ou conhecido, vítimas dessa tragédia continuada. De outro lado, a realidade cada vez mais comprova a ciência: a soma entre direção e bebida só tem resultado negativo. A sociedade brasileira pediu lei mais rigorosa e levou. Mas o tema é controverso e suscita manifestações contraditórias, de aprovação e de desaprovação. As argumentações são, na maioria, procedentes e alicerçadas em pontos de vista pertinentes.

Pró e contra

Uma grande maioria dos brasileiros aprova a tolerância zero para ingestão de bebida alcoólica para quem vai dirigir porque, certamente, reduzirá o número de feridos e mortes em acidentes de trânsito no Brasil. Ao beberem, coerentes, já estão adotando hábitos adequados: alguns casais tiram par ou ímpar; outros fazem rodízio; uns terceiros deixam o automóvel em casa e vão de táxi; quando em grupos, contratam alguma van ou vão de condução coletiva. Soluções há para todos os gostos e bolsos. Importa que quem bebe não dirija. Um outro grupo de brasileiros – por enquanto uma minoria - que, segundo se depreende de ameaças e manifestações e debates promovidos pela grande mídia, acha que a lei será inócua porque impraticável e não condizente com a cultura brasileira. Que a tolerância devia ser em nível acima de zero e em patamar onde a presença de álcool no sangue não interferisse na lucidez e reflexos do motorista. Que ‘summum jus summa injuria’ isto é, a máxima justiça gerará a máxima injustiça, o excesso de rigor produzirá injustiças. Que, paralelo ao rigor, haverá a corrupção.

Incoerência

Dirigir perigosamente constitui um dos males e transgressões aos 10 novos mandamentos da atualidade, segundo muito bem lembra Dom Dadeus Grings, arcebispo de Porto Alegre. Há outros.

Mas sobre isso não pairaria dúvida, porque, depois do câncer e problemas cardíacos, é o trânsito que provoca o maior número de mortes de brasileiros. E, 99 por cento deles causados por imperícia e imprudência ‘latu sensu’: desleixo na conservação do veículo, mormente o sistema de segurança; cansaço; distração; pressa; adormecimento dos sentidos; falta de capacidade; e, principalmente, ingestão anterior de bebida alcoólica que, independente da quantidade, provoca alterações psico-somáticas que reduzem os reflexos, servem para encorajar a afirmação pessoal e minimizam riscos da alta velocidade. E, contraditoriamente, aqui no Brasil, todavia, a mesma mídia que denuncia os perigos promove e exalta esportes radicais e espetáculos públicos onde a adrenalina máxima é o limite. E mais: os mesmos promotores de direção com mais respeito, segurança e prudência agora defendem o meio termo na tolerância zero, que a ‘bebida moderada não prejudica a quem dirige’. Até o Supremo

Tribunal Federal poderia intervir para a decretação da inconstitucionalidade da ‘lei seca’.

Como é no primeiro mundo

A partir de que dosagem a presença de álcool no sangue seria comprometedora? Há controvérsias e, nesse sentido, diversos parâmetros estão estabelecidos em países de primeiro mundo. A Inglaterra estabeleceu um dos mais altos limites do mundo: 0,8 gramas por litro. Mas o controle é implacável. Quem é pego tem a carteira cassada, multa de cinco mil libras (R$ 15.000,00), até 14 anos de prisão se causar acidente com morte. A França tem tolerância zero até o terceiro ano de habilitação. O limite para depois desse período está fixado em 0,5 grama por litro de sangue. No Japão é de 0,15 gramas por litro de álcool. Acima disso, multa de 300 mil ienes (R$ 4.500,00 para o carona e de 500 mil a um milhão de ienes para o motorista

embriagado que pode pegar até 15 anos de cadeia. Na Nova Zelândia, beber e dirigir pode ser sinônimo de desgraça financeira, porque a multa pode chegar até ao correspondente de R$ 24.000,00 reais. Na Suécia e no leste Europeu – Estônia, Lituânia, Romênia, Hungria, Polônia, República Checa e Eslováquia as taxas variam entre zero e 0,4, gramas por litro de sangue. E muito rigor na fiscalização. Ninguém quer ser pego.

Impunidade

Pelo anotado acima, um fosso largo diferencia a realidade brasileira. Há limites mais brandos, sim, mas a punição para os excessos é exemplar e ninguém discute. Talvez esses limites mais brandos se atribuam a um bom senso, que deve estar acima da lei. Questiona-se: existe nível cultural tupiniquim que permita o bom senso? Ou aqui a lei deve ser a lei? Existe punição real independente de nível social e econômico aos transgressores da lei nesse país? Ou só não fica impune quem não tem condições de pagar um bom advogado?

Uma lição para o resto da vida “Na minha primeira viagem à Polônia, em pleno regime soviético, aconteceu um fato que guardo na memória. Chegamos numa noite de sábado na cidade de Varsóvia. Domingo, após a missa solene das 10 horas, fomos almoçar num restaurante no centro da cidade para depois seguir viagem para Cracóvia. Foime oferecida a direção do carro. Estava habilitado, com carteira de motorista reconhecida no consulado, etc. Sentamos à mesa. A primeira pergunta do garçom, numa fala muito macia e acolhedora: quem dos senhores é o motorista? Obviamente, eu me apresentei com orgulho. Feitos os pedidos costumeiros, veio a cerveja para todos e para mim uma água tônica. Aí, num polonês rebuscado, perguntei o porquê da discriminação. O garçom, surpreso, me disse: o senhor não é o motorista? Se eu lhe oferecer bebida alcoólica, eu serei despedido automaticamente, o restaurante será multado e o senhor, se beber, será preso... Uma lição para o resto da vida”. (Pe. Marcelino Sivinski, coordenador do Mutirão de Comunicação América Latina e Caribe) O processo de incorporação dessa nova cultura talvez seja um pouco mais lento no Brasil, porque, de certa forma, contraria o espírito nacional. Oxalá, no rastro dessa nova cultura também brote uma postura humana de maior respeito pelo próximo. E que a cultura da ‘tolerância zero ao álcool’ se estenda a outras áreas, como aos desmandos e corrupção dos políticos e gestores do bem público brasileiro.

Pe. Marcelino Sivinski


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ação solidária

Sorrisão Marista em ação nas ilhas de Porto Alegre

Simone Bochernitza Fábio Bitencourt

Carla Belíssimo

Eliane Gassen

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esde 10 de junho um ônibus diferente estaciona diariamente nas proximidades da Colônia de Pescadores Z-5 da Ilha da Pintada, uma das conformações insulares do estuário do Rio Guaíba em Porto Alegre. É o Sorrisão Marista, assim denominado pelos seus idealizadores – a Província Marista do Rio Grande do Sul – com vistas a implementar mais um projeto de ação social voltado para pessoas de reconhecida carência material. “O projeto Sorrisão Marista atende a todas as idades. Através do atendimento odontológico preventivo e curativo de crianças, jovens, adultos e idosos quer-se ajudar a assegurar um mínimo de auto-estima das comunidades de baixa renda de Porto Alegre e interior do Estado”, resume Eliane Gassen, da Comissão de Assistência Social da Rede Marista de Educação e Solidariedade. Na origem do projeto está a preocupação com a saúde bucal da população de baixa renda, pois sabe-se que essa saúde é um dos fatores determinantes do conforto e bem-estar físico e mental humanos. Tanto a saúde como a doença corporal entram pela boca, seja pela qualidade do alimento como pela boa mastigação. Assim também a segurança na comunicação interpessoal está diretamente relacionada ao estado da arcada dos dentes. Na prática, o projeto é desenvolvido dentro de um ônibus, equipado com dois gabinetes dentários completos e uma sala de raio X. Os serviços realizados são ações preventivas em saúde bucal, aplicação de flúor, tratamento curativo - obturações, extrações e tratamento de canal - e ações de conscientização à saúde bucal.

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Polivalante

de baixa renda, e todo o tratamento é gratuito”, resume Fábio.

Desde sua primeira incursão, em setembro de 2005 na Vila Bom Jesus, em Porto Alegre, o ônibus é dirigido por FáGratificação bio Dias Bitencourt. Fábio trabalha com os irmãos maristas há 13 anos. Começou profissional na cidade de S. Maria. É uma espécie de São cinco as dentistas contratadas ‘faz-tudo’ no projeto, pois além para atendimento individual de de conduzir o Sorrisão - geraldois dias semanais no Sorrimente a lugares com acesso são Marista: Simone Bodifícil - mantém todo seu chernitza, Carla Belissimo, funcionamento técnico. Carolina Varela, Caroline Para isso, meia hora antes Girardi e Ana Carolina da do início das consultas Fonseca. diárias, às oito horas da “Temos outras ativimanhã, o veículo já está dades, com consultório estacionado e com manou clínicas. Mas aqui é gueiras de água e cabos de muito compensatório”, luz devidamente conectados resume Carla Belíssina rede disponibilizada nos mo, dentista há quatro locais e com os gabinetes anos e participante do devidamente revisados. projeto desde o Na chegada dos início. pacientes agendaPara Simodos em cada turno, ne Bochernitza, também é Fábio Rosilene Azevedo de Ávila também formada que faz o trabalho há quatro anos e de secretaria e triagem. participante do projeto desde o início, “é “A idéia do ônibus foi do Irmão uma satisfação trabalhar com essas pesPedro Ost, da então província marista soas que não teriam outra oportunidade. de S. Maria. Hoje, o Estado está todo Contam-nos que ficam mais de um ano aglutinado numa só província. Estou na fila de espera para fazer tratamento de gostando demais do trabalho. Além de canal e quando chega a sua vez já têm conhecer e travar contato com muitas que extrair o dente”. pessoas, observo a felicidade de gente que de outro jeito não teriam como cuidar de seus dentes”, diz Fábio. Mobilização local O veículo permanece sempre em O Sorrisão Marista é concorrido e seu torno de 30 dias no mesmo endereço. agendamento sempre é feito com muita anDesde o início esteve em 30 pontos de tecedência. “Há um ano estava tentando traatendimento, alguns dos quais pela se- zê-lo para cá na Ilha da Pintada, diz Rosilene gunda vez. “Sempre há mais interessados Azevedo de Ávila, conhecida como Rose, e muitos ficam para trás. Cada local teria que junto com seu marido Sandro forma serviço para uns três meses.É pessoal um casal de referência solidária local. São

eles que, às suas expensas, fornecem água e luz durante os 30 dias de funcionamento do ônibus-consultório dentário estacionado em frente à sua casa, próximo à sede da Colônia de Pescadores da Ilha. A partir da confirmação da vinda do ônibus, Rose, que também é presidente da Associação do Bairro Arquipélago que congrega as ilhas Flores, Pavão, Pintada e dos Marinheiros, percorreu os colégios, a colônia de pescadores e as demais associações para divulgar o serviço. “A Escola Almirante Barroso tem 1.100 alunos e Escola José Mabilde, ambas estaduais, tem 400 alunos. Resultado: a demanda de interessados é para, no mínimo, mais 30 dias. Porque nosso posto de saúde, só atende de quatro a cinco pessoas por dia e somente para extração ou obturação simples, enquanto o ônibus tem raio X, tratamentos de canal completo”.

Opção para jovens

Rose está em licença de saúde como funcionária estadual o que não se traduz em imobilidade. Mãe de quatro filhos, ainda acha tempo para pensar e olhar no entorno de sua realidade, herança de seu avô Odílio Azevedo. “Antes de haver Defesa Civil, era ele que socorria os mais prejudicados pelas enchentes aqui na Ilha. Me acostumei a vê-lo em ação e também não consigo ficar parada”. Rose está ultimando o funcionamento de uma companhia de arte na Ilha da Pintada, voltada para jovens carentes. “Não temos nenhuma atividade para jovens. Tenho filhos jovens e graças a Deus sou privilegiada e não estão na rua. Quero essa companhia de arte para tirar os outros da rua também com aulas de teatro, de música, e de dança. A colônia nos cedeu espaço, consegui amigos que são profissionais e a partir do mês que vem quero tocar em frente”, se empolga Rosilene.


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saber viver

Bem-estar espiritual já faz parte do conceito de saúde A Organização Mundial da Saúde definiu, em 1947, que “saúde é o estado de mais completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de enfermidade”. O médico gaúcho Fernando Luchese, em palestra na ADCE, informou que o novo conceito da saúde, que vem sendo adotado pelas mais importantes organizações de saúde mundiais, especialmente nas universidades norte-americanas, diz que “saúde é o estado de mais completo bem-estar físico, mental, social e espiritual”. Um famoso ditado popular americano já dizia que “uma oração por dia mantém os médicos distantes”. Apesar da brincadeira, o fato é que oração, a fé, a religião, enfim, a espiritualidade, podem ser aliadas na recuperação dos pacientes e na prevenção de doenças, segundo os resultados de algumas pesquisas recentes. Entender a complexidade da mente e os efeitos das práticas religiosas sobre a população é hoje um dos grandes desafios dos pesquisadores. Apesar de serem desenvolvidas há algumas décadas em outros países, como os Estados Unidos, no Brasil as pesquisas sobre esse tema ainda estão no início, mas já aparecem principalmente nas universidades públicas: Unifesp, Unicamp, Unesp, Universidade Federal do Ceará e outras. Atualmente, um dos centros norte-americanos mais avançados no assunto é o Duke´s Center para Estudos da Religião e da Espiritualidade, dirigido pelo médico e pesquisador Harold Koenig, autor do livro Manual de Religião e Saúde. Seus estudos científicos têm demonstrando que os praticantes ativos de uma crença podem obter benefícios físicos e mentais, entre eles, sistema imunológico mais resistente e menor propensão a certas doenças. Luchese citou casos reais, com os resultados de pesquisas científicas de seu conhecimento direto. Saúde, conforme revelam as pesquisas mais

recentes, é uma das principais preocupações atuais da população, lembrou o médico. “E, portanto, saber, por fonte científica, que a espiritualidade ajuda a melhorar ou conservar a saúde é algo bastante animador, pois confirma aquilo que todos já sabíamos, por experiência e por fé. Quem vive segundo o Evangelho de Cristo vive melhor, mais feliz e mais saudável. ‘Rezar faz bem à saúde’ seria um bom slogan de uma campanha de educação para a saúde”, propõe. Foto: www.agenciabossa.com.br

Signatários do convênio mais diretores da Fundação Leonística e coordenadores do Banco de Olhos

Convênio beneficia estudantes carentes A partir de 1º de agosto pessoas necessitadas e sem recursos financeiros, preferencialmente crianças de primeira a quarta séries das escolas públicas estaduais e municipais de uma centena de municípios gaúchos, terão atendimento médico-oftalmológico na unidade móvel de saúde da Fundação Leonística de Assistência Social Distrito LD 3, realizada por médicos da equipe do Hospital Banco de Olhos de Porto Alegre. Serão até 40 atendimentos diários em locais cujos clubes Lions realizem sua ação social e solicitem a presença da unidade móvel. Instituições da comunidade interessadas em receber a unidade móvel de saúde devem contatar com o Lions mais próximo. O convênio assinado no Hospital por sua diretora-geral, Irmã Fátima Melo, e pelo presidente da Fundação, Hugo Dal Farra, também proporciona que mensalmente vinte pacientes SUS encaminhados pelo Hospital à Fundação recebam óculos. Maior hospital especializado em oftalmologia do Sul do país, o Banco de Olhos poderá dispor da unidade móvel para ações sociais próprias. “Era um desejo de nossa diretora-geral”, colocou o diretor-superintendente Antonio Quinto Neto. Segundo Dal Farra, estatísticas apontam que 80% dos cegos não chegariam a esse estado caso tivessem sido tratados adequadamente e em seu devido tempo. Pelos cálculos da Fundação, entre 10 e 12% dos 330 mil alunos de primeira a quarta série de escolas localizadas nos cem municípios que compõem o Distrito LD 3, necessitam de óculos. Também participaram da solenidade (foto acima) o vice-presidente da Fundação, Ignácio Pelizzaro, e o presidente do Banco de Óculos, Osório Biazus, acompanhados de diretores da Fundação, além de coordenadores e funcionários do Hospital Banco de Olhos.

DICAS DE NUTRIÇÃO Dr. Varo Duarte Médico nutrólogo e endocrinologista

Café e guaraná Nosso livro Alimentos Funcionais tem se destacado como uma importante fonte de referência para a educação alimentar. Escrito de maneira simples, apresentando a composição dos alimentos mais utilizados para uma alimentação balanceada, tem servido de ajuda para um grande numero de pessoas preocupadas com o fator tempo, principalmente enfrentado horários apertados, não conseguindo obter uma alimentação mais elaborada, e necessitando valer-se de alimentos rápidos, os fast foods, tão prejudiciais à saúde nutricional. Coma de tudo sem comer tudo, livro de nossa autoria, está sendo cada vez mais recomendado como um guia prático, até para lanches corretamente balanceados. Tomei conhecimento de que onde está sendo mais vendido é nos aeroportos, onde passageiros perdidos no tempo e no espaço, à espera de um vôo sempre atrasado, encontram orientação nutricional, enquanto esperam pela chamada que lhes permitirá seguir viagem. Falaremos, portanto, do café, alimento rico em cafeína, o estimulante legal mais consumido em todo mundo e que, certamente, não falta em qualquer aeroporto brasileiro. Estimula o sistema nervoso e reduz o sono. Apesar de ter sido combatido por muito tempo, indicando-se o café descafeinado, este não possui mais tantos adeptos. “Não há consenso ainda sobre os efeitos benéficos ou maléficos da cafeína.” Chegamos, então, ao nosso guaraná, fruto especial da nossa Amazônia, cantado em prosa e verso por suas qualidades energéticas, estimulantes e rejuvenescedoras. Grande é o número de pessoas de meia idade que fazem uso diário do guaraná em tabletes ou em pó, comercializados como fonte da juventude perene. Vejamos o que se fala sobre ele. Sua principal função deve-se à sua composição de cafeína. Este teor corresponde de 2 a 5 por cento (do peso seco) maiores que os do café (1 a 2%); mate, 1%; cacau, 0,7% . Seus demais componentes são proteína, açucares, amido, tanino, potássio, fósforo, ferro, cálcio, tiamina e vitamina A. Como indicações encontramos: estimulante, afrodisíaco, ação tônica cardiovascular, combate a cólicas, nevralgias e enxaquecas, e possui ação diurética e febrífuga Foto:Martin Boulanger

Foto:Cleferson Comarela Barbosa

Café

Guaraná


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espaço aberto

 Notas

Sem fronteiras

Tentativa de um

Encontros bíblicos no MFC

Matriz N. Sra. de Monte Claro, um dos símbolos de Áurea

Força e beleza da cultura Ir. Hermes José Novakoski

D

PSDP

esde a sua colonização, o Brasil esteve marcado pela força das diversas culturas. Cada qual com seus costumes próprios foi se destacando e se diferenciando formando a grande riqueza da diversidade cultural do Brasil. Italianos, alemães, húngaros, poloneses. Cada qual com sua própria língua e todos falando a mesma língua: o português. Esta proximidade favoreceu a troca de experiências e a partilha dos valores que cada qual trouxe de lugares distantes. Áurea, situada na região norte do Rio Grande do Sul, caracteriza-se pela colonização polonesa, que teve início na primeira década do século XX. Vindos de outras regiões do Brasil e também da Polônia, os imigrantes trouxeram e preservaram consigo as tradições desta cultura. Em Áurea, ainda hoje permanecem, e de forma expressiva no cotidiano da comunidade local, a dança folclórica, as tradições religiosas, como a missa em polonês celebrada aos sábados até os dias atuais, o idioma falado por grande parte da população, a culinária, onde ganha destaque a czarnina, que é uma sopa de pato com temperos típicos. Em 2008 aconteceu a 10.ª edição da Festa Nacional da Czarnina, realizada sempre no segundo sábado de junho. Além da população local, fizeram-se presentes poloneses vindos de todo Brasil. Também marcou presença neste ano a cônsul geral da Polônia no Brasil. Áurea é referência da cultura polonesa no Brasil. Em 1999, recebeu o título de Capital Polonesa dos Brasileiros. Este título valoriza o trabalho feito para preservar esta bela e rica cultura. A simplicidade e a religiosidade são um referencial deste povo. Quem passa por Áurea fica marcado pelo carinho com que é acolhido e pela beleza da cultura polonesa. Às gerações futuras fica o desafio de manter sempre viva esta riqueza trazida pelos antepassados para Áurea.

O Movimento Familiar Cristão estará promovendo encontros bíblicos nos dias 16 e 30 de julho corrente, quartas-feiras, às 15 horas, na sede situada à rua Dr. Timóteo, 421 (próximo à Cristóvão Colombo). Os eventos terão a orientação e coordenação do prof. Antônio E. Allgayer, e estão abertos a todas as pessoas interessadas. Eles ocorrem duas vezes ao mês e não há cobrança de taxas. Venha conhecer e aprofundar a palavra do Senhor!”

Leitora agradece assinatura-presente e avalia o Solidário O casal-colaborador deste jornal, Renita e Antônio Allgayer, recebeu e nos repassou a seguinte correspondência: “Prezados amigos Renita e Allgayer. Quero agradecer a gentileza de me terem enviado a assinatura do Solidário. Allgayer, não podes imaginar o quanto apreciei teu artigo “A saga de um homem que voltou sem ter ido”. Gostei muito de teu trabalho: inteligente, sutil e oportuno para o momento atual. Embora ainda tenha tido pouco contato com o Solidário, sinto (nele) a busca de uma forma mais profunda e intelectualizada no tratamento dos temas, das propostas, nas mensagens e conteúdo “humanosociopolítico-religioso”. Além de teus artigos, apreciei muitos outros. Para mim foi oportuno saber mais sobre a assembléia da CNBB, da qual só tinha notícias superficialmente. Recebam abraços. Luzia.” (Luzia é professora aposentada da UFRGS)

Bispos farão campanha contra o narcotráfico na Amazônia Bispos diocesanos brasileiros e bolivianos vão mexer com a maior chaga social da América Latina: o narcotráfico, atividade que movimenta US$ 300 bilhões anuais e é, atualmente, uma das três atividades ilegais mais lucrativas do mundo, conforme o Escritório das Nações Unidas Contra Drogas e Crimes (UnoDC). Reunidos durante dois dias em Guajará-Mirim (RO), a 362 quilômetros de Porto Velho, representantes dos departamentos (estados) de Beni e Pando e dos estados do Acre e de Rondônia decidiram promover um encontro de sacerdotes de fronteiras e um seminário sobre a Amazônia, ainda sem data definida.

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bloco integrado Martha Alves D´Azevedo

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Comissão Comunicação Sem Fronteiras

eunidos em Brasília no mês de maio último, representantes dos países da América do Sul propuseram a criação de um bloco integrado UNASUL, nos moldes da União Européia, para a defesa do continente. Ao todo, doze países fazem parte da iniciativa, que pretende unificar, no futuro, os já existentes Mercado Comum do Sul (Mercosul) e a Comunidade Andina das Nações (CAN). De um lado, estavam o Brasil e outros dez países: Uruguai, Argentina, Chile, Paraguai, Bolívia, Peru, Equador, Venezuela, Guiana e Suriname, a favor da criação do Conselho Sul-Americano de Defesa. Do outro lado, estava a Colômbia e suas restrições ao projeto, argumentando que a região já conta com a Organização dos Estados Americanos (OEA), dominada pelos Estados Unidos. A idéia da criação da UNASUL surgiu durante a crise entre Colômbia, Equador e Venezuela, sendo apresentada pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, nos últimos dois meses e meio, embora o Brasil já tivesse divulgado este projeto há quatro anos. De qualquer forma, Jobim já teria avisado que, com ou sem a Colômbia, o Conselho seria criado para defender os interesses da América do Sul. A UNASUL é um bloco político e econômico, nos moldes da União Européia (EU), e deverá servir de fórum para discussão de temas de interesse comum aos países, dando inicio a um processo de integração que deverá contar com um parlamento, moeda e tribunal comuns. Em 2004, representantes de 12 países sul-americanos assinaram a Declaração de Cuzco, que fundava a Comunidade Sul-Americana de Nações (CASA). O nome foi depois modificado para União das Nações SulAmericanas. Agora, começa a se estruturar a UNASUL (União das Nações da América do Sul), que terá uma sede permanente em Quito, Equador. Sua Secretaria Geral coordenará encontros e produzirá documentos. O cargo de presidente da organização será rotativo. O texto de constituição da UNASUL, assinado pelos presidentes de 11 países,em Brasília, precisa ser ratificado pelos Legislativos de pelo menos nove dos doze países, antes do bloco começar a funcionar. “O Conselho não terá nenhum poder de intervenção e nenhuma característica de aliança militar. Será, em essência, um órgão de articulação de políticas de defesa entre os países sul-americanos”, afirmou Nelson Jobim.


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igreja e comunidade

Catequese solidária

Organizando os encontros de Catequese (Resumido de um texto publicado no site de Catequese Católica- Piracicaba,SP)

Na preparação de qualquer encontro catequético, devemos levar em conta: 1-O objetivo a ser atingido - Diante do tema a ser trabalhado, devemos estabelecer um objetivo a ser atingido; algum ensinamento, atitude e/ou comportamento ao qual a criança e o grupo devem chegar. 2-O planejamento de todas as atividades de acordo com o tema central -Todas as partes do encontro (músicas, dinâmica, história, versículo a ser guardado, atividade prática, oração, etc.) precisam girar em torno do tema a ser trabalhado e devem estar encadeadas entre si. 3-O tempo de duração - Estar atento ao tempo de duração do encontro, para que as atividades sejam bem distribuídas. 4-A organização e preparo do material necessário - Separar e preparar com antecedência o material a ser utilizado durante o encontro. 5-A acolhida - É a hora do entrar no terreno. É a hora do sentir-se amado, querido, importante; do “Que bom, que bom que você veio!” Precisa ser sempre alegre, cheia de beijos e abraços, como quando recebemos os amigos. Deve ser festiva, com músicas cheias de gestos e animação. É importante que os pequeninos se cumprimentem uns aos outros; que verifiquem quem está faltando; que haja manifestação da falta que fazem aqueles que não compareceram. Afinal de contas, já formamos uma comunidade! Comunidade de Jesus! E lembramos bem do que diz o nosso Mestre: “Assim é a vontade do Pai celeste, que não se perca um só destes pequeninos.” (Mt 18,14). Cada um é muito importante! A oração inicial - deve ser parte integrante da acolhida; onde agradecemos a Deus a presença de cada um e paramos para acolher, em especial, a Sua própria presença; convidando-O a permanecer em todo o encontro. Uma oração simples, direta e objetiva; sem brigas pelo silêncio absoluto. É preciso que o catequista ore de fato. Sua atenção a Deus precisa ser maior do que a preocupação com a quietude de todos. Rezamos, também, a oração que Jesus nos ensinou (Pai Nosso). Lembre-se: Dependendo de como se sente acolhida, é que a criança deixará, ou não, alguém “pisar” no solo do seu coração! 6-Partir de situações e materiais concretos - É a hora de preparar o terreno. Observando as características desta faixa etária e seguindo o exemplo de Jesus, que, para falar do Reino, se utilizou da pesca, da rede, do fermento, da lâmpada, etc., todo encontro deve partir da experiência, do entendimento de algo concreto, que possa ajudar a criança a compreender, em seguida, o abstrato. Experiência concreta significa que a criança precisa ver, ouvir, tocar, entender como funciona, falar, etc. Pode ser através de um teatro de fantoches, de uma brincadeira, uma história bem contada e dramatizada, de um desafio a ser resolvido, do funcionamento de um aparelho, de um objeto, etc. A experiência concreta deve estar, intimamente, relacionada ao tema principal do encontro; àquilo que se almeja como principal ensinamento do dia e se quer que fique guardado no coração. Lembre-se: É preferível que nos empenhemos em plantar bem um só ensinamento a cada dia, do que lançarmos vários, correndo o risco de que nenhum deles se aprofunde no coração. (Em uma próxima edição do Solidário serão publicados outros aspectos importantes)

Adalberto A. Bortoluzzi - 18/07

Voz do Pastor

O sofrimento dos enfermos Dom Dadeus Grings

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Arcebispo Metropolitano de P. Alegre

uma roda de amigas, certa menina confessou que o momento mais feliz de sua vida foi quando se encontrava gravemente enferma, no hospital, e sua mãe pôs a mão sobre sua cabeça. Não por nada o compromisso matrimonial calca o amor em caso de saúde e de doença. De fato, a doença não é apenas uma questão biológica. Por isso, não pode ser reduzida à dimensão clínica e muito menos à solução farmacológica. O Evangelho põe como um dos compromissos cristãos visitar os doentes: ‘Estive enfermo e me visitastes’. É o momento em que mais sentimos a necessidade da presença de pessoas amadas. Ninguém se conforma com a condição de abandono nestes momentos. Por isso, os tratamentos intensivos nas UTIs, ao isolarem as pessoas e muitas vezes as entubarem, só podem ser breves e esporádicos. Trata-se de uma condição desumana, não raras vezes ligada a fatores econômicos mais que à esperança de melhora. O ser humano tem direito de morrer com dignidade, sem ser forçado a um prolongamento artificial penoso da vida. Criaram-se termos complicados para exprimir esta condição: eutanásia, quando se abrevia artificialmente a vida; distanásia, quando se prolonga artificialmente o sofrimento e ortotanásia, para expressar o correto tratamento com os pacientes em fase terminal. esfacelamento da família levou ao abandono dos enfermos. Ficam confinados aos hospitais, onde as visitas são regulamentadas e a privacidade violada. O ambiente é estranho e anônimo. Por mais que os agentes de saúde se esforcem, os hospitais constituem uma condição desumana, mais de dor psicológica que física. Criamos um sistema de saúde extremamente caro e desumano, porque reduzimos a pessoa ao indivíduo e a tratamos como se fosse apenas um organismo vivo, com alguma disfunção. Não a atingimos na profundidade de seu ser, que é sua convivência diuturna. Em outras palavras, nos hospitais tratamos de doenças, e não de pessoas. Temos vários problemas que envolvem os cuidados pela saúde. Um é o dos internamentos e outro o das consultas médicas. Destaca-se ali o custo. O SUS substituiu o INPS. Quem não tem outro recurso sofre e deve esperar em longas filas. Não consegue facilmente nem consulta nem internação. Os hospitais e os médicos não se sentem

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em condições de atendê-los pelo aviltante preço que o SUS lhes paga. Se alguém, ao invés, dispõe de um plano de saúde, paga mensalmente ingente soma, em grande parte absorvida por intermediários. Se se propuser a arcar com as despesas, tanto de consulta como de internação ou de intervenções cirúrgicas, fazem-no pagar não só o que pessoalmente custa, mas também por todos os demais, que são internados como carentes. Por que não se lhes cobra apenas o equivalente aos planos de saúde ou ao próprio SUS? Faz-se, em muitos casos, da doença um rendoso negócio, tanto por parte dos agentes de saúde como por parte das farmácias e dos produtores de remédios. stamos bem longe de um sistema de saúde que seja justo para todos! Mas, supondo que constituamos um sistema de tratamento da saúde em condições e em termos de justiça, fica o problema do próprio sistema hospitalar. O número de leitos disponíveis não é necessariamente índice de uma feliz equação do problema da saúde. O sistema continua muito dispendioso e desumano. Mesmo que conseguíssemos eliminar todas as filas de doentes à espera de atendimento, não teríamos resolvido o problema da saúde. É que esse sistema desconhece o relacionamento humano. Trata as pessoas como indivíduos, isolando-os da família. Seria muito mais humano e mais barato se a comunidade dispusesse de algumas enfermeiras e de alguns médicos que visitassem as famílias para tratar os doentes em casa. É o sistema do médico e da enfermeira da família. Só em casos especiais haveria internamento. Mas pelo período mais breve possível. É preciso devolver à família o cuidado de seus doentes. Ali obterão carinho e se sentirão em casa, com a possibilidade de visitas personalizadas. Esse sistema está voltando a ser implantado, de modo que os hospitais não se reduzam a oficinas de reparos, mas sejam realmente centros de irradiação da saúde e de prevenção contra as doenças. Convém notar que os hospitais, quando se reduzem ao atendimento dos doentes, parecem-se mais a cárceres, que aprisionam os que não têm condições de viver em sociedade, do que a entidades filantrópicas. Assim como se almeja a superação do sistema carcerário por outros modos preventivos e medicinais contra o crime, também se espera chegar à superação das reclusões hospitalares por outro sistema, mais humano e mais solidário, deixando os hospitais apenas para casos extraordinários.

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A fidelidade do Batista

Dom Sinésio Bohn

Bispo de Santa Cruz do Sul

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os países cristãos a figura de João Batista é lembrada com expressão de alegria e folguedos populares. “Mais que profeta”, disse Jesus. Pois enquanto os profetas predisseram a vinda do Messias, João Batista anuncia o cumprimento das profecias: é o mensageiro a preparar o caminho do Senhor. A missão especial do precursor é assumida com amor. Amor fiel, diria. É próprio do amor ser fiel. Que o diga o próprio Jesus pregado na cruz por amor a nós. Pois o Batista ficou fiel à missão mesmo frente a Herodes. O que lhe custou a cabeça. No tempo das verdades relativas, que são e ao mesmo tempo nem tanto, diz-se não haver pessoas fiéis como foi João Batista. Engano! André Riccardi lembra o fato de uma centena de jovens presos na Uganda durante a guerra fratricida entre os membros da etnia tutsi e os hutus. Os hutus prenderam os jovens e ordenaram: “Separem-se! Hutus para cá, tutsis para lá”. É claro, os tutsis seriam mortos. Os jovens negaram-se, dizendo que todos são cristãos e amigos. E veio a ordem: ou se separam ou todos serão mortos. Nenhum jovem hutu abandonou o grupo. E todos foram fuzilados. Isto, poucos anos faz. Amor verdadeiro, fidelidade heróica!

Aliás, não faz muito dei carona a um brigadiano, por sinal bombeiro. Ele contou que uma das alegrias do ofício foi salvar a vida de um menino. A choupana estava em chamas e já não havia o que fazer. Alguém lembrou que dentro estava uma criança. O brigadiano se encheu de ternura, saltou para dentro da casa, enrolou o menino numa coberta e, enquanto pulou pela janela, o teto ruiu. Hoje o menino está crescido, tornou-se um jovem forte e saudável. Às vezes ele visita a família do moço. Lembrei que deve ser uma sensação boa ver a gratidão do jovem. O brigadiano explicou: “Não, não é a gratidão que alegra, mas ver um jovem saudável e saber: eu salvei esta vida”. A fidelidade verdadeira brota da fidelidade a si próprio, à sua autenticidade pessoal, à própria dignidade. É assim o amor da mãe que vela noites inteiras à cabeceira de seu filho doente. Mãe que é mãe de verdade não abandona um filho, muito menos o mata. O exemplo de João Batista é um convite à fidelidade de amor a Cristo. Ele que deu prova de amor até a última gota do sangue: “Um soldado lhe abriu o lado com um golpe de lança. Imediatamente jorrou sangue e água” (Jo 19, 34). Jesus Cristo merece nosso amor, pois ele nos amou primeiro. Ele é nosso Salvador. Ele nos abriu o horizonte da vida feliz e sem fim. A exemplo de João Batista, daremos a Ele nosso amor fiel.


16 a 31 de julho de 2008

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comunidade e igreja MENSAGEM DA EQUIPE VOCACIONAL Pe. José Antonio

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Referencial das vocações do vicariato de Porto Alegre

ueremos lembrar a todos das equipes vocacionais que no dia 1.º de agosto, às 20 horas, na Catedral Metropolitana, ocorrerá a abertura do mês vocacional. E convidamos os padres, os diáconos, os seminaristas, os religiosos e religiosas, noviços e noviças, jovens, os coroinhas, o Apostolado da Oração, todos os movimentos da Igreja a participarem da missa às 20 horas celebrada pelo arcebispo Dom Dadeus e concelebradas pelos padres presentes. Convidamos, também, os representantes das equipes vocacionais do Vicariato para o dia 26 de julho às 8h30min, no centro de pastoral para prepararmos esta celebração de abertura do mês vocacional. Para organizar uma equipe vocacional paroquial: Quem toma a iniciativa? 1. O bispo é o primeiro responsável: cabe a ele interessar-se, motivar o clero, animar o povo e dinamizar a própria pastoral vocacional. 2. O coordenador diocesano, nomeado pelo bispo, forma sua equipe e com ela cuida que todas as paróquias tenham as equipes vocacionais paroquiais, colocando-se a serviços dos párocos. 3. O pároco, em sintonia com a equipe diocesana, será o primeiro e imediato responsável pelo surgimento da equipe vocacional na paróquia em suas várias comunidades. 4. Onde a equipe vocacional já existe, procurem sintonizar-se com a equipe diocesana para garantir sua plena vitalidade. Com quem começar? 1. Começar com pessoas da comunidade dispostas a assumir compromissos e que tenham vivência de Igreja. 2. É de suma conveniência que a equipe seja “heterogênea”: homens e mulheres, casados e solteiros, adultos e jovens, leigos, religiosos e religiosas, diáconos. 3. É igualmente conveniente que seja representativa das pastorais, das associações e movimentos, para que a pastoral vocacional esteja presente em todas as pastorais. 4. Onde a equipe por ventura ficar muito grande, será indispensável que um pequeno grupo exerça a coordenação geral, e se faça uma subdivisão em equipes menores, cada uma com tarefas diferentes. Organização interna 1. Cada pessoa da equipe tenha claro: os objetivos do trabalho a desenvolver, as funções de cada membro da equipe, o modo como vão trabalhar os deveres e compromissos de cada pessoa que participa da equipe. 2. Organizem-se elegendo uma “diretoria” – primeiro coordenador e vice – secretário e vice – tesoureiro e vice. 3. Tarefas específicas e bem definidas serão assumidas por todos os membros da equipe por ocasião das reuniões: preparação das celebrações; organização de promoções; visitas a vocacionados e correspondências, etc. 4. Manter um contínuo laço de amizade: o pároco com o CPP, no qual deverá haver um representante da equipe vocacional. 5. Haja um livro de atas: o trabalho mais importante da equipe vocacional paroquial é levar todos os fieis a participarem das atividades vocacionais: 1. Na área da oração; 2. Na área da formação; 3. Na área do chamado direto e na área da colaboração financeira. A equipe vocacional paroquial existe para: 1. Conscientizar a comunidade sobre as vocações. 2. Descobrir as vocações que há na comunidade. 3. Chamar os vocacionados. 4. Acompanhar os vocacionados. 5. Encaminhar os vocacionados para os responsáveis. Essa reflexão é para nos ajudar a organizar uma equipe vocacional na paróquia, para que todos nós nos sintamos chamados a trabalhar na messe do Senhor, a “messe é grande e os operários são poucos”. Pedir ao Senhor da messe, através da oração e do trabalho, mais vocações; boas e santas famílias, que é das famílias que vêm vocações sacerdotais e religiosas.

Solidário Litúrgico 20 de julho – 16º Domingo do Tempo Comum ( ) verde

1 a leitura: Livro da Sabedoria (Sb) 12,13.16-19 Salmo (Sl) 85(86) 5-6.9-10.16-16a (R. 5a) 2a leitura: Carta de Paulo Apóstolo aos Romanos (Rm) 8,26-27 Evangelho: Mateus (Mt) 13,24-43 Comentário: Este comentário só cabe e será compreendido depois de ler toda a parábola do joio semeado no meio do trigo. Assim como os empregados do dono daquele campo de trigo queriam arrancar e destruir o joio... a erva daninha, o inço daquele trigal, assim são e agem tantas pessoas que sonham com um mundo perfeito, sem contradições, sem diferenças, onde todos vivem na mais absoluta tranqüilidade, harmonia e paz. Este mundo... esta realidade não existe, é uma utopia, um sonho, talvez. Mas, enquanto o mundo é mundo, enquanto a gente é gente, as diferenças e as contradições são parte da própria realidade humana. Que é limitada, que é diferente, que é contraditória. Aqui poderíamos dizer: sábio é que revê honestamente seus conceitos e desconfia humildemente de suas certezas. Rever conceitos e desconfiar de certezas é uma atitude sábia que exige grande humildade. As mentes fechadas, que aceitam apenas aquilo que reforça seu modo de pensar e de agir e se aferram a verdades acumuladas, têm, cada dia, maior dificuldade para relacionar-se com seu entorno familiar e social. E equivocar-se também é próprio da condição humana. Os inquisidores queimaram na fogueira a Joana D`Arc, porque achavam que era joio e que era preciso arrancá-la para o bem da Igreja. Enganaram-se, como se enganaram com tantas outras pessoas, igualmente condenadas. Joana era trigo, e do melhor. Por isso, a sábia admoestação do dono daquele trigal aos seus empregados: deixai que o joio cresça com o trigo para não arrancardes, com o joio, também o trigo (cf 13,30). Somente mentes e corações livres com relação aos seus conceitos e suas verdades são capazes de dialogar com o diferente, ser ecumênicos no seu verdadeiro sentido e enriquecer imensamente seu mundo de idéias e de relações. Assim como é muito difícil conviver com mentes fechadas e pessoas aferradas aos seus dogmas, às suas verdades, assim é enriquecedor dialogar com pessoas de mente aberta, cujos horizontes tocam as verdades mais profundas e últimas do existir humano.

27 de julho – 17º Domingo do Tempo Comum ( ) verde

1 a leitura: Primeiro Livro dos Reis (1Rs) 3,5.7-12 Salmo (Sl) 118(119) 57 e 72.76-77.127-128.129130 (R.97a) 2a leitura: Carta de Paulo Apóstolo aos Romanos (Rm) 8,28-30 Evangelho: Mateus (Mt) 13,44-52 (abrev. 13,4446) Comentário:.As parábolas do Reino que o Evangelho deste domingo nos apresenta na versão de Mateus nos levam a uma pergunta fundamental: ainda há “tesouros” pelos quais vale a pena se desfazer de outros “tesouros”, de outros valores, e jogar todas as fichas... apostar a vida em um único tesouro, em uma única causa que seja capaz de plenificar nossa vida? Jesus compara o Reino dos Céus com um tesouro escondido num campo, com uma pérola de grande valor, com uma rede cheia de peixes (cf 13,44-47). São metáforas, são situações simbólicas que, em outras palavras, querem dizer que, para ser discípulo de Jesus, para ser cristão, não apenas de batismo e de nome, mas de opção e atitudes de vida, é preciso ser capaz de optar por uma causa que exige deixar num segundo ou terceiro plano muitas coisas e causas que têm o seu valor, mas que são incapazes de preencher as aspirações, desejos e sonhos mais profundos de nosso coração. Como exemplos de opção radical, podemos lembrar o exemplo recente de dois bispos, um no Brasil, outro no vizinho Paraguai: a greve de fome de Dom Luis Capio foi uma opção radical em favor da população pobre e do meio ambiente que sofreriam conseqüências desastrosas com a transposição do rio São Francisco; ao aceitar ser candidato à presidência do Paraguai, Dom Fernando Lugo deixa, circunstancialmente, de exercer o ministério episcopal, para dedicar toda a sua vida ao sofrido povo daquele país numa missão socio-política. Duas atitudes radicais de duas pessoas que “venderam seus bens para adquirir um campo, uma pérola, uma rede cheia de peixes”... para optar por causas pelas quais vale a pena deixar muitos outros valores e apostar toda uma vida. São sinais e presença do Reino sonhado e querido por Jesus. attilio@livrariareus.com.br

 Notas  GRUPO BOM PASTOR - A igreja Menino Deus, através do Grupo Bom Pastor, acolhe no dia 20 de julho casais em segunda união no Encontro de Reflexão. A idéia é que a Igreja acolhe cada vez mais pessoas que, por um motivo ou outro, não conseguiram manter a unidade do casamento e por isso, também de alguma maneira se afastaram da Igreja. Informações pelo fone 3233.7602.  CAMAL - O arcebispo metropolitano aprovou a constituição da nova diretoria da CAMAL, composta dos seguintes membros: casal-presidente - Margareth Azevedo Zeni e Cláudio José Zeni (MCJ); vicepresidente - Eliana Mara Pereira Voltz (MFC); 1ª secretária - Maria Carmen Loro Savi (Focolares); casal 2º secretário - Rodrigo Dihl Schiffner e Helena Beatriz Petersen Schiffner (Emaús); casal tesoureiro - Reginaldo Barcella da Costa e Neiva Rejane Gonçalves da Costa (ECC); Divulgação Darcy Pedro Égas Alves Câmara (MCC). Por outro lado, a CAMAL está convidando todos os Movimentos, Comissões e Serviços para que se façam representar por sua Diretoria ou Coordenação na reunião do dia 30 de julho, às 19h30min, no Centro Arquidiocesano de Pastoral. Estará presente na reunião o Pe. Leandro Miguel Chiarello, referencial da Pastoral Familiar, que abordará o tema Família - patrimônio da humanidade.

2.ª ROMARIA DO PADRE REUS

13 de julho de 2008 Venha participar deste grande momento de Fé num domingo de alegre encontro, de graças e de benção. 09:00 – Concentração dos romeiros em frente à Igreja da Conceição–Centro de São Leopoldo 09:30 – Início da Caminhada rumo ao Santuário do Sagrado Coração de Jesus 10:45 – Missa Campal junto ao Santuário. Livraria Reus, Matriz em Porto Alegre, Rua Duque de Caxias, 805 e filial em São Leopoldo, junto ao túmulo do Padre Reus/Santuário Sagrado Coração de Jesus. REPRESENTANTE DAS EDIÇÕES LOYOLA NO SUL DO PAÍS


Porto Alegre, 16 a 31 de julho de 2008

Matrimônio duradouro

Um banheiro melhor que a casa

A menos de 10 minutos do Bairro Petrópolis e de 15 minutos do Bairro Bela Vista, na zona leste de Porto Alegre, existe uma realidade social, por vezes, no mínimo surrealista. Trata-se da Vila Mato Sampaio constituída de vielas de pouco mais de metro de largura ao longo das quais se perfilam humilíssimos casebres, alguns, há mais de 10 anos, sem as mínimas condições de limpeza e higiene e sem instalações sanitárias, isto é, sem chuveiro, sem pia e sem vaso sanitário. Crianças auxiliadas na Casa da Criança, inserida no meio da Vila, são as porta-vozes diretas desse desolador quadro, algumas vindo mal-cheirosas e mal limpas. Um grupo de benfeitores dessa Instituição se cotizou para a construção de um banheiro bem simples para uma família com sete filhos espremida num casebre de seis metros quadrados dentro de terreno com outras três famílias. Resultado: agora o banheiro é a peça mais nobre da moradia.

Casaram há 53 anos. Foi em 9 de julho de 1955, na Igreja N.Sra. da Glória, em Porto Alegre, tendo o Pe. José Breitenbach como celebrante. Décio e Carmelita M. Abruzzi, ele empresário e ela jornalista e professora universitária, apontam alguns caminhos para essa longevidade matrimonial: “Não há fórmulas ou receitas para casamentos duradouros: cada casal e cada pessoa são únicos. Entretanto, acreditamos que certos requisitos e atitudes de vida podem ajudar, como confiança mútua, conhecimento do outro, respeito às diferenças individuais e senso de humor, aliados a uma preocupação com um crescimento contínuo, à busca de novos ideais e interesses comuns, e à fuga da rotina que sufoca. Tudo isto, é claro, temperado com uma grande pitada de amor e paciência.

Irmandade do Arcanjo São Miguel e Almas, 235 anos de caridade cristã em Porto Alegre Fiel às suas origens, a Irmandade do Arcanjo S. Miguel e Almas constitui o ombro amigo na hora mais difícil da existência. Foi fundada em 1773 para servir a Igreja Matriz do povoado de Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre. E mantinha um quadro de terra na paróquia para sepultamento dos irmãos falecidos. Esse cemitério ficava nos fundos da Igreja no terreno que se estendia desde os fundos da Igreja Matriz, até a Rua Coronel Fernando Machado, onde depois foi construído o Seminário Diocesano que atualmente serve de sede à Cúria da Arquidiocese de Porto Alegre. Em 1851, por ordem de Lima e Silva, então presidente da Província, os sepultamentos começaram a ser feitos fora da cidade, ‘extra muros’, o que deu origem aos diversos cemitérios no então chamado Morro da Azenha. O da Irmandade S. Miguel e Almas foi o segundo, inaugurado em 14 de maio de 1909 com

CianMagentaAmareloPreto

o sepultamento dos restos mortais do senhor Manoel da Silva Braga, que lá permanecem na sepultura 0001. Instalações modelares O Cemitério da Irmandade São Miguel e Almas foi o primeiro cemitério vertical da América Latina e reúne centenas de obras de arte produzidas entre 1820 e 1940, criadas por artistas europeus e locais, que podem ser observadas nos túmulos de personagens anônimos ou de destaque. Por suas instalações, o Cemitério tornou-se mundialmente conhecido, sendo ainda hoje um dos melhores da América do Sul. Foi projetado pelo engenheiro italiano Armando Boni e inaugurado em 1930. Em seu entorno estão também o Cemitério da Santa Casa de Misericórdia, o Cemitério Ecumênico João XXIII, o Cemitério Luterano e Cemitério da União Israelita. Conta com escritório de plantão permanente com atendimento aos setores de sepultamentos, aberturas e outros serviços, junto aos setores gerais

do Cemitério, informações aos visitantes, 14 Capelas Mortuárias, das quais uma exclusivamente para a celebração de Santas Missas, serviços de lancheria e de 26 sanitários. Conta com sistema de som ambiental em 14.300 metros de galerias. Telefone: 51.3223-2930 A irmandade do Arcanjo São Miguel e Almas mantém escritório no centro de Porto Alegre, na Rua Jerônimo Coelho, 102, telefone (51) 32285868. Seu atual provedor é o sr. Ito Fischer. (foto abaixo)

Irmandade do Arcanjo São Miguel e Almas Fundada em 1773

Convida a toda a comunidade a participar das missas todos os domingos, às 9 horas, na capela São Miguel Arcanjo, na Av. Oscar Pereira, n.º 400, e no segundo domingo de cada mês, Santa Missa Especial em memória dos falecidos no mês anterior e de todos os falecidos sepultados em nosso cemitério. Informações pelos telefones (51) 3228.5868 e (51) 3217.0180


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