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Porto Alegre, 16 a 31 de agosto de 2008

Mobilização contra o projeto-de-lei n.º 2623/2007 É grande a mobilização de católicos contra o projeto do suplente de deputado federal Victorio Galli, obreiro da Igreja Assembléia de Deus, e em exercício desde 1.º de outubro de 2007, por conta do pedido de licenciamento temporário do titular Carlos Bezerra. Sua proposta é alterar a redação da Lei nº 6.802, de 30 de junho de 1980, que, entre outras conseqüências, retira de Nossa Senhora de Aparecida o título de Padroeira do Brasil.

Ano XIV - Edição No 520 - R$ 1,50

Uma história emocionante

Romaria pelos 8 anos do Santuário Os oitos anos do Santuário Mãe de Deus, de Porto Alegre, serão lembrados com uma romaria especial, dia 17 de agosto próximo, culminando com missa às 16 horas, no local. O Santuário, situado no topo do Morro da Pedra Redonda, num dos pontos mais altos da cidade, entre os bairros Glória e Belém Velho, tornou-se ponto tradicional de romarias. Em setembro, haverá a romaria da Legião de Maria (dia 28). Em outubro, haverá a Romaria das Crianças (dia 12), Romaria da Paróquia Menino Deus (dia 19) e Romaria do Clero (dia 20). Pe. Luiz Lorenzatto, reitor do Santuário, comunica que há datas em aberto para outras romarias especiais. Contatos pelo telefone (51) 3318.4627. O Santuário está aberto à visitação e oração todas as tardes, com celebração de missa ao público às 16 horas de quinta a domingo, sendo que no domingo também tem celebração às 9 horas da manhã.

Solidário O Jornal da Família aceita propaganda de candidatos a cargos eletivos. CianMagentaAmareloPreto

No segundo e terceiro domingo de agosto são lembradas a vocação do religioso e a do leigo. A vocação é um chamado de Deus para sermos felizes servindo aos nossos semelhantes, escolhendo o estilo de vida para tanto. Fabiane de Oliveira está certíssima de ter feito a melhor escolha de sua vida. Se diz feliz e assegura que faria tudo de novo quantas vezes fosse necessário. Sua história é emocionante e faz nos sentir pequenos. Página 7

Votar em NEDEL é a segurança da continuação de um trabalho intenso por temas importantes para você: x x x x x x x x

Princípios e valores cristãos Defesa da família Promoção da saúde Promoção da segurança Promoção do desenvolvimento Promoção do turismo Presença nas comunidades Muito trabalho pela cidade

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cidadania

Editorial

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O papel do leigo

partir da abertura propiciada e incentivada pelo Concílio Vaticano II (1963-1965), o leigo católico vem assumindo, lenta, mas continuamente, seu papel de protagonista nas atividades pastorais e ministeriais em nossas paróquias. Este protagonismo, tão presente nos inícios da Igreja, foi se perdendo ao longo dos séculos a ponto de quase desaparecer e transformar o católico num mero espectador ou consumidor dos bens da fé. Extremamente hierarquizada, a Igreja havia perdido sua condição de Povo de Deus. Esta condição foi retomada com o Concílio fazendo com que todos, mulheres e homens, assumissem, diferentemente, uma fé de serviço, atuante, comunitária, celebrativa, transformadora. Nesta edição, o Solidário traz (página 6) a experiência da Paróquia S. Sebastião Mártir, de Porto Alegre, onde, ao completar 75 anos de existência, por mérito de seus párocos e de seus paroquianos, se vive este espírito pós-conciliar, com parcerias e cumplicidade entre pároco e comunidade. “Aqui, os leigos se envolvem mais na questão pastoral e menos na questão administrativa com a participação efetiva dos leigos na própria condução da ação evangelizadora. Acredito que estamos no caminho de uma nova eclesiologia” diz o Pe. Leandro Chiarello, pároco da igreja S. Sebastião. Para a presidente do Conselho Pastoral Paroquial, Vera Lúcia Borgo, “a participação dos leigos nos ministérios é um desafio e faz com que a comunidade possa crescer cada vez mais como Povo de Deus. Temos liberdade do trabalho, sempre assessorados pelo pároco que oportuniza formação e atualização. A gente se sente gratificada em dar essa contribuição”. A história de Fabiane Nunes de Oliveira é uma destas histórias que precisa ser divulgada para que não se perca a fé na força do amor que ainda é capaz de operar verdadeiros milagres de solidariedade. Fabiane e sua ação solidária é uma dessas luzes que se coloca sobre a mesa para iluminar vidas e corações descrentes de que Deus continua presente e atuante na história da humanidade. “Faz três anos que ela é minha filha. Tem o meu sobrenome. Está com 10 anos. Minha vida não existe sem a Jaqueline, a minha Jaquinha”. Leia esta “divina” e comovente história de amor na página sete desta edição do Solidário. “Entre os mais pobres dos pobres”. Assim poderíamos definir a presença do Centro Social S. Francisco, na Rua Adão Severino s/n, na Vila Recanto do Sabiá, no Bairro Mário Quintana. O bairro tem nome de poeta, o recanto, nome de pássaro cantador, mas a realidade é das mais marginalizadas em todos os sentidos. Ali, o Colégio São Francisco construiu um Centro Social com a Diaconia Santa Izabel, braço social do Colégio. Na bênção inaugural, o arcebispo Dom Dadeus Grings enfatiza o propósito do Centro: “O símbolo do cristianismo é a cruz onde a linha vertical aponta para Deus e a horizontal aponta para o entorno, para o amor ao próximo. Sem amor ao próximo não existe amor a Deus” (contracapa). Demonstrando consciência da importância da formação de seus paroquianos, o Pe. José Heinzmann teve uma iniciativa sumamente interessante: brindar a todos os dizimistas da paróquia com um exemplar do jornal Solidário. É ele quem diz: “Nada melhor que um jornal católico para suprir a impossibilidade de pessoas sem tempo para freqüentarem cursos adquirirem algum conhecimento mais amplo sobre a caminhada pastoral da Igreja. Para mim, a compra do Solidário não é gasto: é investimento que estou fazendo para o futuro, formando meus líderes. Lendo o Jornal, eles abrem horizontes e estão por dentro de uma caminhada maior” (contracapa). “Nem tudo que reluz é ouro”, lembra conhecido provérbio popular. Isso se pode aplicar à mega-operação da organização e realização da Olimpíada, na China. O país está assumindo ser um país com todos os ingredientes do capitalismo que historicamente sempre combateu. O show de abertura dos Jogos foi o mais espetacular já realizado e dois a três bilhões de telespectadores no mundo inteiro não querem perde o show de encerramento. Na sociedade do espetáculo, os chineses deram um espetáculo sem precedentes. Agora, os atletas chineses querem provar que a China já é o primeiro país do mundo conquistando o primeiro lugar no número de medalhas. Faz parte do show e esconde, para observadores menos avisados, uma realidade de pobreza, de opressão, de censura e de centralização imperialista, impedindo, a ferro e fogo, a independência do Tibet e de Taiwan. Também nisso a China copia países do bloco ocidental e historicamente capitalista (leia matéria ao lado, ao alto). attílio@livrariareus.com.br

Fundação Pro Deo de Comunicação Conselho Deliberativo Presidente: Dom Dadeus Grings Vice-presidente: José Ernesto Flesch Chaves Voluntários Diretoria Executiva

Diretor Executivo: Jorge La Rosa Vice-Diretor: Martha d’Azevedo Diretores Adjuntos: Carmelita Marroni Abruzzi e José Edson Knob Secretário: Elói Luiz Claro Tesoureiro: Décio Abruzzi Assistente Eclesiástico: Pe.Attílio Hartmann sj

Ano XIV – Nº 520 – 16 a 31/08/08 Diretor-Editor Attílio Hartmann - Reg. 8608 DRT/RS Editora Adjunta Martha d’Azevedo Revisão Nicolau Waquil, Ronald Forster e Pedro M. Schneider (voluntários) Administração Paulo Oliveira da Rosa, Ir. Erinida Gheller, Izolina Pereira (voluntários), Elisabete Lopes de Souza e Davi Eli Redação Jorn. Luiz Carlos Vaz - Reg. 2255 DRT/RS Jorn. Adriano Eli - Reg. 3355 DRT/RS Impressão: Gazeta do Sul

Rua Duque de Caxias, 805 – Centro – CEP 90010-282 – Porto Alegre/RS Fone: (51) 3221.5041 – E-mail: solidario@portoweb.com.br

Um mundo, um sonho: leitura crítica A China está fazendo de tudo para passar a melhor imagem de seu sucesso aos 30 mil jornalistas do mundo inteiro a cobrir os 29o Jogos Olímpicos da Era Moderna. Não por nada fez uma cerimônia de abertura impecável e inesquecível aos olhos e ouvidos, vistos por mais de dois bilhões de pessoas, e certamente fará outro tanto no encerramento, dia 24 de agosto. Afinal, são quase 30 anos de um novo método de governo que fez despertar o gigante asiático onde vivem um bilhão e 300 milhões de almas de seu sono

milenar e nada pode dar errado. Certamente, por conta disso, nem a menor referência ou lembrança ao regime anterior que, entre outras atrocidades, ceifou talvez 70 milhões de pessoas. Agora, é só olhar prá frente. Projeta-se que, em menos de outros 30 anos, será a China o novo país hegemônico mundial. Mas alguns graves problemas não são indisfarçáveis: claro autoritarismo, muita pobreza em contraposição de formação de classes muito abastadas e muita poluição industrial - a China é o

maior poluidor do Planeta. Outros, tanto dentro de seu território como em áreas vizinhas, constituem um paiol de pólvora que pode explodir a qualquer momento e devem ser contidos e abafados a qualquer preço. Especialmente cinco, tidos como temas proibidos pela imprensa estrangeira – porque internamente já não há liberdade de imprensa: a independência do Tibet, a independência de Taiwan, os muçulmanos da província chinesa de Xianjiang, o movimento (religioso) Falun Gong e os dissidentes.

Abrigo João Paulo II, 27 anos de acolhimento e providência No dia 28 de julho passado o Abrigo João Paulo II comemorou seu 27º aniversário. A data foi marcada pela realização do IV Jantar dançante da Solidariedade, organizado e promovido pelos casais voluntários do ECC da Restinga e com o objetivo de angariar fundos para parte do pagamento da casa adquirida naquele bairro, que acolhe oito crianças aos cuidados de um casal social. O Abrigo iniciou sua atividade de acolhimento de re-socialização dos menos favorecidos e abandonados a pedido do Papa João Paulo II que, em sua visita a Porto Alegre, pediu para que algo fosse feito na área social. O Papa ficou impressionado com o número de crianças e adolescentes que viviam nas ruas da capital. Nestes 27 anos de história o Abrigo passou por diversas e significativas mudanças. Hoje, numa forma inovadora e moderna de trabalho, acolhe mais de 70 crianças e adolescentes em pequenos núcleos denominados casas-lares. São oito casas, sendo sete em Porto Alegre e uma em Viamão. A manutenção das casas se dá por meio de convênios e também pela contribuição de empresas e pessoas

Divulgação

Internos e colaboradores do Abrigo

da sociedade civil. O Abrigo também conta com o apoio de voluntários, colaboradores e benfeitores. A preocupação constante com um acolhimento responsável e humanizador requer investimentos contínuos. Por isso, o Abrigo quer contar com o apoio de muitas outras pessoas que queiram fazer parte desta obra. O Abrigo aceita doações de alimentos, roupas, material escolar e de higiene, entre outros. Existem ainda outras formas de ajudar que podem ser conhecidas visitando o site www.abrigojoaopauloII.org.br. Os interessados podem também escrever para abrigo@ calabria.com.br ou ligar para (51) 3336-3754.

Johanna: médica e missionária Hugo Hammes Jornalista

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hamou-me atenção uma notícia publicada recentemente pelo jornal “Paulinus”, órgão da diocese alemã de Trier. O bispo local tomou a iniciativa de promover um encontro de missionários, tanto religiosos, como leigos, oriundos da Diocese, que atuam no exterior, principalmente em regiões muito pobres. Entre os missionários estava a médica Dra. Johanna Davis Ziegler, com 89 anos, que, desde 1948, exerce sua profissão no Zimbabue, dentro de um projeto do Instituto de Médicos Missionários, com sede na cidade de Würzburg. Seu depoimento causou uma profunda impressão a todos os que a ouviram. Durante 40 anos, ela vem acompanhando o drama daquele país africano, com graves problemas causados pelo analfabetismo, pelas doenças, e pela miséria. Esta situação foi agravada diante da administração de Robert Mugabe que, há vinte anos, está à frente do governo zimbabuano. Mesmo sob forte

pressão internacional, o ditador continua resistindo, não admitindo as reformas institucionais e democráticas. A Dra. Johanna, há anos, teve contatos pessoais com Mugabe, relatando a ele, com franqueza, as sérias carências do povo. Mas o ditador não se sensibilizou com as advertências da missionária. Em suas declarações ao jornal “Paulinus”, a Dra. Johanna Davis Ziegler afirmou que a corrupção campeia livremente. Enquanto isso, os problemas se agravam, afetando, especialmente, os mais necessitados. Muitos morrem pelo fato doloroso de não terem o que comer. Se relacionarmos ainda os conflitos étnicos, a situação se torna catastrófica. A Dra. Johanna Davis Ziegler, mesmo com seus 89 anos, já retornou a Zimbabue, para continuar o seu trabalho social e apostólico. Trata-se claramente de um exemplo eloqüente de doação e amor ao próximo. Poderia ter optado por uma carreira de sucesso em sua pátria e estar próximo dos seus familiares e amigos. Renunciando ao conforto, está dando um testemunho comovedor de solidariedade e de caridade, levando esperança aos desesperados, saúde aos doentes e irradiando a luz da fé cristã.


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família e sociedade

Acreditar

no casamento e na família André Gonçalves Fernandes

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Simona Balint

Juiz de Direito

ara a maioria dos homens, a família é o fator essencial da virtude e da felicidade, primeiro na fase da infância, tempo de formação, e, depois, na época adulta, tempo de consolidação. O nível moral de uma nação depende, ainda que não exclusivamente, do respeito que se tributa à instituição familiar. Por outro ângulo, a família é, por excelência, o princípio da continuidade social e da conservação das tradições humanas. Em suma, é o elemento de preservação da civilização, porque os valores são salvaguardados pelos antecessores e transmitidos pelos sucessores. A paternidade e a maternidade conferem ao ser humano uma glória peculiar ao lado da qual as preocupações carnais passam a um segundo plano, glória esta que justifica, por si mesma, que o matrimônio esteja regulado em função do belíssimo empreendimento da civilização, mais que em função da satisfação dos instintos naturais sexuais.

O casamento e a união estável

Hoje, no mundo em geral, a maioria dos lares não é chefiada por um casal casado e a tendência segue a linha da informalidade matrimonial. Ciente disso, o legislador constituinte assegurou o reconhecimento da união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento (artigo226, §3º, da Constituição Federal de 1988). Mas não é bem o que se vê. Há uma progressiva trivialização do pacto matrimonial, pois esse pacto pode facilmente desdizer-se, acompanhado de um aumento da convicção de que o casamento é um ato puramente social, burocrático, sem valia em si mesmo. É um paradoxo tirar a força do casamento, que as partes livremente quiseram, especialmente no que concerne aos seus direitos e deveres, e ao mesmo tempo aumentar as formalidades da união estável, que é escolhida pelo casal que não queria qualquer formalidade. É um paradoxo também que se facilite a conversão da união estável em casamento, afrouxando as exigências deste, o que prejudica a própria instituição do casamento. A presidente da Suprema Corte do Estado norte-americano da Geórgia, Leah W. Sears, em recente artigo publicado no jornal “O Estado de São Paulo”, alertou: “Um Direito de Família que não incentiva o casamento ignora o fato de que ele é associado a um amplo leque de resultados positivos – tanto para as crianças como para adultos. Os índices elevados de fragmentação da família estão prejudicando as crianças (...). Claro, muitos pais solteiros fazem um excelente trabalho e precisam de nosso apoio. Mas acredito que construir uma cultura do casamento saudável é uma preocupação legítima para o Direito de Família”. Os especialistas apontam que crianças fora do casamento tendem a abandonar a escola, usar drogas e envolver-se no submundo do crime e da violência. Também filhos de família monoparental, filhos de mães solteiras e filhos criados em relação de coabitação enfrentam riscos maiores de pobreza.

O desarranjo das relações familiares

Certamente, o desarranjo das relações familiares está na raiz dos atos impensados dos adolescentes de hoje, ao lado de outros fatores de igual ou menor preponderância (predisposições psíquicas, pressão da mídia e personalidade). A crise da família já proporciona um triste espetáculo a olhos vistos. Basta ver as páginas policiais (incremento na participação de menores em crimes graves) ou as colunas sociais (uma pessoa se casa numa edição da revista e já está separado na próxima).

Some-se a este caldo efervescente uma série de correntes de pensamento educacional que gastaram décadas estudando a vergonha e a culpa e, a fim de que os jovens se sentissem bem consigo, baniram do vocabulário familiar expressões como castigo ou limite. Eis o resultado: uma geração de jovens desnorteada e oca, que acredita na impunidade (que vem desde o lar) e na despersonalização da responsabilidade (atribuída ao “sistema” ou às “estruturas sociais”). Ao Estado compete o fortalecimento da família e de sua instituição fundante, o casamento. A sociedade tem o direito e o dever de protegê-los e conservá-los, devendo oferecer resistência a que suas leis fundamentais sejam abertamente lesionadas. A negligência no cumprimento de tal tarefa produz efeitos nefastos não só para os particulares envolvidos, mas para a sociedade como um todo. A crise ética que se espalha pela vida pública nacional é o resultado da crise familiar, pois os homens públicos são produtos acabados (ou inacabados) de sua história pessoal. As Comissões Parlamentares de Inquérito têm sua importância institucional. Contudo, a guinada ética que alimentamos em nossos corações, para ser perene e verdadeira, inicia-se pelo binômio casamento-família.


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opinião

A questão agrária à luz da fé Antônio Estevão Algayer

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Advogado

pós o descobrimento da América deu-se o choque de culturas entre invasores europeus e povos indígenas. Estes últimos, que habitavam o Continente há tempos imemoriais, foram submetidos a cruel genocídio, que no Brasil segue acontecendo até hoje. Nos primórdios da colonização, o território brasileiro foi fracionado em quinze Capitanias Hereditárias, cujos donos moravam em Portugal. Em primeiro de janeiro de l9l7 entrava em vigor o Código Civil, de cunho acentuadamente patrimonialista, legitimando a propriedade fundiária sem restrições. Após longas procrastinações, a função social da propriedade granjeou albergue na Constituição Federal. Sobre a temática da questão agrária, passo a transcrever tópicos da Bíblia e da Constituição Pastoral “Gaudium et Spes” do Vaticano II. Dispensável é enfatizar que os documentos conciliares são de leitura obrigatória para quantos se sabem cristãos pós-Concílio. Na Bíblia ressoa candente o verbo de Javé. O capítulo 25, versículo 23, do Levítico registra ditames concernentes ao solo cultivável: “A terra não será vendida sem o direito de resgate, porque é minha e no que é meu sois migrantes e empregados. Possibilitareis o resgate a todas as terras de vossa propriedade” (Lv 25, 23).” Em Números se adverte que “a terra será repartida em proporção ao número de pessoas destinatárias” (Nm 26, 53). Na “Gaudium et Spes”, 7 l, item 438, do Vaticano II, se declara: “Em muitas regiões economicamente menos desenvolvidas existem grandes ou também extensíssimas propriedades rurais, pouco cultivadas ou sem cultivo algum, à espera de valorização, enquanto a maior parte do povo não tem terra ou dispõe somente de parcelas mínimas e, por outra parte, o desenvolvimento da produção nos campos se apresenta de urgência evidente”.....”Portanto, em vários casos, as reformas são necessárias (...) e também a distribuição das terras insuficientemente cultivadas com aqueles que consigam torná-las mais produtivas” (sic). Como se vê, a reforma agrária tem respaldo bíblico e eclesial. Princípio elementar de justiça está a exigir que se concretize. Autor de largo prestígio no mundo das letras e da arte sobre ela teceu considerações de impactante atualidade e inquestionável procedência: “Mesmo que se aceitem todas as teses sobre o desvirtuamento do movimento dos sem-terra e se acate a demonização dos seus líderes e simpatizantes, a dimensão do movimento é de uma evidência literalmente gritante da iniqüidade fundiária no Brasil, que ou é uma ficção que milhares de pessoas resolveram adotar para fazer barulho, ou é uma vergonha nacional. A iniqüidade que criou essa multidão de deserdados no país com a maior extensão de terras aráveis do mundo é a mesma que expulsou outra multidão para as ruas e favelas das grandes cidades, deixando o campo despovoado para o latifúndio e o agronegócio predatório. A demora de uma reforma agrária para valer,tão prometida e tão adiada, só agrava a exclusão e aumenta a revolta” (L. F. Veríssimo, Zero Hora, 3, O7, 2OO8). Frente a situações de tamanha gravidade, denunciadas por tão autorizadas fontes, o silêncio ou a neutralidade relativamente a elas configura conivência. A história nos interpela. Somos conectados ao planeta e ao mundo do qual fazemos parte. Dê-se a isto o nome de democracia cósmica, cumplicidade ou co-responsabilidade. Você e eu, quer queiramos quer não, somos levados a posicionar-nos: ou nos colocamos ao lado dos que se batem pela efetivação da justiça distributiva na terra que esconde o pão que falta na mesa do pobre, ou decidimos que nada temos a ver com a luta desigual que se trava entre a enxadinha e o fuzil...!

Ser leigo: uma vocação controvertida Maria Clara Lucchetti Bingemer

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Jornalista e teóloga

om o Concílio Vaticano II se dá o “boom” oficial da emergência do laicato e o assumir por parte do Magistério da Igreja de uma teologia do laicato que já vinha sendo sistematizada por grandes teólogos europeus. Os documentos conciliares são pródigos em reflexões sobre os leigos e em tomadas de posição com respeito a sua importância para a Igreja hoje. A distância de vinte anos em que nos encontramos em relação ao evento conciliar leva a que algumas questões, no entanto, se imponham, com respeito à visão do leigo e a interpelações que lança à teologia. Nos documentos conciliares — de modo especial na constituição dogmática Lumen Gentium — coexistem duas eclesiologias: uma eclesiologia jurídica e outra eclesiologia de comunhão. Embora a segunda se tenha imposto sobre a primeira, no sentido da categoria do Povo de Deus como categoria central, da qual todos os cristãos participam em igualdade e comunhão, o fato de coexistirem ambas tem marcada influência sobre os outros temas eclesiológicos conexos. O tema do laicato e da definição e função dos leigos na Igreja é um deles. No cap. IV da LG, n°31, o Santo Sínodo compreende pelo nome de leigos “todos os cristãos, exceto os membros da ordem sacra e do estado religioso aprovado pela Igreja”. Ou seja, o leigo ainda é definido juridicamente e pelo negativo: o que não é clérigo, o que não é religioso, aquele a quem não foi dado, na Igreja , um carisma ou vocação ou um ministério especial e tem a seu favor “apenas” o Batismo. Essa definição de leigo estrutura a Igreja, quanto à sua composição e formação, com base numa dicotomia e numa contraposição central: a contraposição clero X laicato, à qual se alia outra: a contraposição religiosos X não religiosos. A primeira contraposição se refere à diferença de essência (não de grau) entre sacerdócio comum dos fiéis e sacerdócio hierárquico. A segunda contraposição refere-se à estrutura na Igreja e se fundamenta sobre um estado de vida diferente, em vista do fim comum da santidade universal dos fiéis. Desta dupla contraposição resulta uma terceira, mais relativa à divisão de papéis dentro do corpo eclesial: a contraposição sagrado X temporal ou sagrado X profano. Esta última divide a primeira em dois blocos “funcionais”: aos leigos cabe cuidar da esfera temporal, das estruturas sociais, da política. Esse é seu campo. Já o clero e os religiosos se ocupam das coisas do espírito, do sagrado. Têm por função realizar, administrar e distribuir os sacramentos e os diversos “bens” simbólicos dos quais se vive e se alimenta a comunidade. E dar testemunho, no mundo, do espírito das bem-aventuranças.

Hoje percebe-se cada vez mais, sobretudo em algumas tendências teológicas recentes, a tentativa de superação dessas contraposições. Questiona-se se não seriam empobrecedoras ou mesmo um tanto redutoras da amplidão do espírito da eclesiologia conciliar baseada sobre a categoria totalizante do Povo de Deus. Essas teologias propõem a superação das citadas contraposições por meio de um novo eixo, desta vez não de contraposição, mas de carismas - ministérios. Assim a tensão dialética: o eixo comunidade Igreja redescobre sua vocação de uma comunidade batismal englobante, no interior da qual os carismas são recebidos e os ministérios exercidos como serviços em vista daquilo que toda a Igreja deve ser e fazer. A luz dessas novas teologias — que tencionam resgatar o verdadeiro espírito do Concílio, para além mesmo da letra de seus documentos —, é levado às últimas conseqüências o primado dado à ontologia da graça sobre qualquer outra ulterior distinção possível de acontecer no seu interior. A dimensão pneumatológica da Igreja é colocada em primeiro plano, com o Espírito Santo agindo sobre toda comunidade e suscitando os diferentes carismas para edificar o Corpo de Cristo, e a ministerialidade é estatuto de toda Igreja e não somente de algum de seus segmentos. Nessa perspectiva também as próprias categorias leigo e laicato são superadas, passando a não existir senão como abstração negativa que empobrece o dinamismo da vida eclesial. A eclesiologia que daí emerge é uma eclesiologia total e a laicidade passa a ser assumida como dimensão de toda a Igreja presente na história. As palavras leigo e laicato iriam, pois, — de acordo com essa teologia — paulatinamente e a médio prazo, perdendo a razão de ser e de existir. Todo este itinerário de reflexão teológica sobre o tema do leigo a partir do Vaticano II nestes vinte anos que a ele se seguem colocam, hoje, para a teologia, uma mordente questão: nos primeiro séculos da experiência cristã, a Igreja na sua totalidade era vista em relação de proposta e alternativa ao mundo. A distinção que havia não era tanto entre “especialistas do espírito” e “cristãos dedicados aos assuntos temporais”, como entre a novidade cristã comum a todos os batizados e a sociedade (o mundo) que devia ser evangelizado. A Igreja da primeira hora, tal como é descrita no N.T. não parece apresentar tampouco, traços daquilo que hoje categorizamos e definimos como leigo. Nem tampouco de uma realidade qualquer que se pudesse transpor e colocar em correspondência com o fato leigo contemporâneo. Podemos, então, afirmar que existe para nós uma urgência de realizar uma “volta às fontes” para redescobrir as raízes do que hoje chamamos de leigo e laicato. A teologia hoje, quando se debruça sobre a realidade do leigo, não teria ainda algo de fundamental a aprender da Igreja das origens?

Conselhos a um padre novo

Dom Sinésio Bohn Bispo de Santa Cruz do Sul

No primeiro domingo de agosto a Igreja Católica celebra o Dia do Padre. É dia de agradecer a dedicação do padre à comunidade, ao povo. É ocasião para orar pelo homem que se consagrou a Deus, para, de coração indiviso, buscar a glória de Deus e o bem das pessoas. Mas também é dia de dizer ao padre como, no parecer dos paroquianos, ele poderia servir melhor, ser mais feliz e deixar as pessoas também mais felizes. Li num avião dos Estados Unidos (USA): “A liberdade é uma coisa bonita”. Estou de acordo. Mas garanto que também “um padre feliz é uma coisa bonita”! Para ser feliz aconselho que leia e medite a Palavra de Deus. Notei que as pessoas e as comunidades que usam a Bíblia progridem e se renovam. Longe da Palavra de Deus só viceja a esterilidade.

A fé se alimenta da oração. Escrevi para os agricultores: sem espiritualidade a pessoa se torna dura, angustiada, pessimista, sem esperança. Um padre sem alegria e sem esperança quem o suporta? Quando João Paulo II visitou a primeira vez o Brasil, um jornalista perguntou a ele: “Qual a diferença entre o Oriente e o Ocidente”? Ele respondeu: “Um pouco na cúpula, o povo sempre é bom”. Agora meu conselho ao padre: ame seu povo. Ame teimosamente. As pessoas acabam descobrindo que são amadas e vão amar seu padre. Um padre amado não acha difícil dar a vida por seu povo. A cultura, a origem, o status social, pouco interessam. É seu povo amado. E quando aparecem dificuldades, deixe que Jesus, o Senhor da Igreja, faça o resto! Adira à Igreja-comunhão. Marque presença junto a seus colegas, participe das reuniões da comarca, da assembléia do clero, dos conselhos, partilhe seus bens com outros padres, inclusive o dinheiro.

Quando eu era seminarista sempre ouvi falar: “Um padre isolado é um padre em perigo”. Você é padre de uma Igreja Particular (Diocese), por isto você deve assumir com lealdade e entusiasmo a comunhão desta Igreja. Fuja de tendências ideológicas sectárias e fundamentalistas que dividem e freiam o vigor evangelizador da Igreja. Tome como inspiração, além da Escritura, os grandes pronunciamentos da Igreja, o Documento do Vaticano II, o Documento de Aparecida, as Diretrizes Gerais da Igreja do Brasil, as Diretrizes Diocesanas e não se feche a seu presbitério, a seu bispo e à sua diocese. Jesus disse aos apóstolos: “Não vos chamo de servos, mas de amigos”. Como íntimo colaborador da obra do Senhor, Ele ama a você com amor especial e o Espírito Santo o assiste. Confie Nele! Tome a atitude que Deus aconselhou ao profeta: “Não tenha medo. Você é operário do seu Evangelho, da sua graça, da sua salvação”. Parabéns pelo dia do padre!

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educação e psicologia

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Seu filho/neto é inteligente? Jorge La Rosa

Foto: Divulgação

Professor universitário. Doutor em Psicologia

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inteligência na sua forma mais evoluída é prerrogativa dos seres humanos, embora se diga que tal ou qual animal é inteligente e capaz de realizar atividades que assim o qualifiquem. Em todo o caso, trata-se sempre de desempenho rudimentar, jamais comparável às realizações humanas. Mas o que é inteligência? Podemos avaliá-la? Ela nasce com o sujeito ou é construída? – São questões sobre as quais se debruçam psicólogos e neurólogos, algumas já foram respondidas, mas nem tudo, ainda, está esclarecido. A questão fundante, da qual dependem as demais, é saber o que é inteligência. Os primeiros estudos sobre inteligência conceberam-na como uma capacidade geral, comum a grande quantidade de processos mentais. Tratava-se do fator G, ou inteligência geral, que se expressava através de um escore, o QI, que avaliava habilidades verbais e lógicas. Em função do QI dizia-se que uma pessoa era mais ou menos inteligente, davam-se a pais e professores diagnósticos de que o filho/aluno era muito ou pouco inteligente e não havia nada o que fazer. Cometeram-se injustiças, não sabemos todo o mal feito por essa concepção de inteligência. Os estudos sobre inteligência evoluíram. Não é o caso de se fazer aqui a trajetória desses avanços, mas há um estudioso do assunto que deve ser lembrado: Joy Paul Guilford, com significativa contribuição na segunda metade do século passado.

A estrutura do intelecto

Segundo o autor, a matéria prima com a qual trabalha a inteligência é a informação, assim como a onda sonora é o objeto próprio da audição e a onda luminosa é da visão. A informação pode se apresentar de maneira visual, auditiva, simbólica, semântica e comportamental. A inteligência é ativa, realiza operações que são: conhecimento ou cognição, memória, produção convergente, produção divergente e avaliação. Ora, se a inteligência é ativa, ela deve produzir alguma coisa, são os seus produtos, que o autor classifica em seis tipos. Combinando-se os modos como a informação é dada, com as operações que a inteligência realiza e os respectivos produtos, teríamos ao menos 120 maneiras diferentes de ser inteligente. O autor, enquanto vivo, produziu cerca de uma centena de testes para avaliar os diferentes modos que a inteligência pode se apresentar. O que queremos dizer com a brevíssima apresentação da teoria do intelecto de Guilford, é que precisamos ser cautelosos ao classificar ou rotu-

lar a inteligência de alguém para menos: pode ser que nossa avaliação considere um ou dois aspectos do comportamento inteligente e esteja ignorando outras 118 maneiras diferentes de o indivíduo manifestá-lo. Estamos, assim, de fato, mostrando nossa ignorância quanto aos avanços que se fizeram nesse domínio.

de leis e legislações, e para as profissões com embasamento matemático são avançados quanto à inteligência abstrata; psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, políticos e quantos preferem atividades que envolvam relações humanas têm desenvolvido a inteligência social.

Tipos de inteligência

Os estudos sobre inteligência não pararam com Guilford, que não disse a última palavra, aliás, não acreditamos que ela possa ser dita. Outros estudos já foram acrescentados, e enquanto o mundo caminhar mais e mais se saberá sobre o assunto, que, literalmente, não terá um fim. O que foi dito acima evidencia como o ser humano que sabe é humilde: ele sabe que o que se sabe é parcial, e que amanhã se saberá muito mais, sem, contudo, esgotar o conhecimento. Seu filho/neto certamente é muito inteligente! A seu tempo demonstrará!

Ainda segundo Guilford, a inteligência poderia ser classificada em três tipos básicos: a) inteligência concreta que teria facilidade para trabalhar a informação nas formas visuais ou auditivas; b) inteligência abstrata que se sente à vontade com a informação nas formas simbólica e semântica; c) e, finalmente, a inteligência social que se dedica a estudar os comportamentos humanos. O autor afirma que todos temos os três tipos de inteligência, e que eles se mesclam mais ou menos, dependendo da atividade, e que o possível predomínio de um deles encaminhe o indivíduo para determinada profissão ou função: artistas plásticos e músicos são bem dotados no que refere à inteligência concreta; os físicos, as pessoas que se encaminham para o mundo das letras, para o estudo

Evolução do conhecimento


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tema em foco

Paróquia São Sebastião 75 anos de caminhada compartilhada A

Padre Leandro Chiarello

Vera Lúcia Borgo

Paróquia S. Sebastião Mártir, zona leste de Porto Alegre, revela uma inegável marca de construção coletiva de toda uma caminhada pastoral ao longo de seus 75 anos de existência. Mérito de seus párocos? Sim, com certeza. E, evidentemente, mérito de seus paroquianos. Consciente ou inconscientemente, o espírito pós conciliar proposto para a vida paroquial permeava e continua permeando de forma espontânea a prática dos serviços fundamentais e indelegáveis de qualquer comunidade cristã. “Não é meu mérito. O mérito é essa tradição paroquial comunitária desde a origem. Vejo com bons olhos e deixo fluir, porque é bom. Mas, algo nos preocupa: a renovação desses quadros, com gente jovem. Há que surgir novas lideranças, o que está difícil. A rotina da cidade e do mundo moderno deixa poucas possibilidades, mesmo para os que estariam dispostos. As pessoas não têm mais disponibilidade e condição de assumir trabalhos comunitários. Num futuro que está logo adiante talvez o padre fique cada vez mais só”, projeta Padre Leandro Chiarello, pároco da S. Sebastião desde 2001, em substituição a Pe. Zeno Hastenteufel, atual bispo de Novo Hamburgo.

Participação nos ministérios

A Encíclica Lúmen Gentium faz clara distinção entre leigo e clero. “Leigos são todos os cristãos, exceto os membros da ordem sacra e do estado religioso aprovado pela Igreja” (número 31). E, de certa forma, justapõe as duas categorias ou até situa o leigo numa posição inferior, negativa - o que não é clérigo, o que não é religioso, aquele a quem não foi dado, na Igreja, um carisma ou vocação ou um ministério especial e tem a seu favor “apenas” o Batismo. Que aos leigos caberia cuidar da esfera temporal, das estruturas sociais, da política, reservando ao clero e aos religiosos as coisas do espírito, o sagrado, a administração de distribuição dos sacramentos e os diversos “bens” simbólicos dos quais se vive e se alimenta a comunidade. Mas na Paróquia S. Sebastião, a caminhada é partilhada, com parcerias e cumplicidade entre pároco e comunidade. O leigo encontra todas as possibilidades de desenvolvimento de sua missão vocacional como tal. “Aqui, pelo contrário, os leigos se envolvem mais na questão pastoral e menos na questão administrativa. Acredito que estamos no caminho de uma nova eclesiologia e vejo isso como algo positivo. Devemos promover a participação e a formação dos leigos. E no âmbito intra eclesial temos muitos ministérios repartidos com a participação efetiva dos leigos na própria condução da ação evangelizadora. Mas reitero: não é mérito meu. Isso é uma caminhada”, enfatiza Pe. Leandro, lembrando o legado de padres que o antecederam - Mons. Avelino Dalla Vecchia, Mons. Alfredo Oddy e Pe. Zeno Hastenteufel.

Delegação

Ainda hoje são encontráveis sinais de certo monopólio pastoral clerical, onde o padre pouco ou nada delega. “Isso

é impensável aqui e acho que em todos os níveis da Igreja. Não podemos mais pensar em bispo plenipotenciário da diocese, aquele que dirige a liturgia, o serviço da caridade, a catequese, a administração, o pastor dos fiéis, que cuida dos padres. Como que pudesse estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Enfim, quem faz tudo, não faz nada. A teologia do episcopado deve ser repensada porque é muita coisa para uma única pessoa. Não há condições. Alguns sabem dividir. Mas outros, pelo contrário, querem associar tudo em si. O mesmo acontece nas paróquias, claro em menor grau. Pela própria teologia, os párocos são plenipotenciários na paróquia, isto é, podem fazer tudo, sem dividir, prescindindo da participação dos leigos. No entanto, não é uma pastoral positiva, porque seria um pecado na ação evangelizadora. E segundo, não dá conta, não consegue mais fazer isso. A participação dos leigos se torna importantíssima. Por isso, se fala da igreja ministerial, isto é, os ministérios repartidos na comunidade. É urgente e necessário que haja uma partilha das funções”.

Setorização

Lembrando as Diretrizes Gerais da ação Evangelizadora e que citam o Documento de Aparecida (Quinta Assembléia CELAM), Pe. Leandro projeta a necessidade de nova formação paroquial para um futuro talvez nem tão distante. “Parece-me que cada vez está havendo diminuição de colaboradores nas grandes cidades. Isso também diminui a nossa presença. Cito um exemplo de todos nós conhecido em Porto Alegre: a Igreja do Rosário. É uma paróquia essencialmente centrada na liturgia, porque as outras atividades não consegue abranger. À semelhança da setorização das empresas prestadoras de serviços e de comércio em geral nas grandes cidades – e aqui não é diferente – a pastoral urbana terá que se adaptar a esse modelo. Isto é, cada paróquia atingir a uma dimensão da pastoral específica e não territorial, além dos três serviços essenciais e comuns a todas elas - o serviço da palavra, o serviço litúrgico e o serviço da caridade. Ter-se-ia então, como exemplos aleatórios, a paróquia com mais experiência na comunicação social, outra com mais afinidade com a juventude estudantil e outra com a juventude em geral, outra com os idosos, outra com casais, e assim por diante. Seriam serviços que identificariam a paróquia, indo um pouco além de mera dimensão geográfica. Mas é um processo e exigira uma reordenação de bispos, padres e leigos”.

Desafio

Para Vera Lúcia Borgo, presidente do Conselho Pastoral Paroquial, a participação dos leigos nos ministérios “é um desafio e faz com que a comunidade possa crescer cada vez mais e mais, como Povo de Deus. Nós temos uma espécie de cumplicidade pastoral. Temos liberdade do trabalho, sempre assessorados pelo pároco. A gente se sente gratificada em dar essa contribuição. O Padre oportuniza essa formação, atualização com os documentos, com as encíclicas que saem”.

Ano Jubilar

Hugo Hammes

Segundo o jornalista Hugo Hammes, assessor de imprensa da Paróquia, a história da Paróquia S. Sebastião se confunde com a própria história do Bairro Petrópolis, em Porto Alegre. “Nos anos de 1920, havia poucas casas no bairro e existiam diversas chácaras e tambos de leite. Seu desenvolvimento se acentuou a partir da grande enchente de 1941 quando muitos moradores procuraram as partes altas da cidade por causa da enchente do Rio Guaíba. Em março de 1928, foi inaugurada uma capela para a comunidade católica, situada onde hoje é a rua João Abott. Pertencia à Paróquia da Piedade. Uma nova igreja foi construída em 1930, praticamente no mesmo lugar. E que serviu de sede paroquial a partir de 13 de setembro de 1933. Em 25 de janeiro de 1945 foi lançada a pedra fundamental da atual Igreja, sendo inaugurada oito anos depois, em 25 de janeiro de 1953”. A comemoração dos 75 anos de existência da Paróquia conta com extensa programação. A história da paróquia S. Sebastião pode ser encontrada em página da internet: www.saosebastiaoportoalegre.org.br .


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ação solidária

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Uma comovente história de amor

abiane Nunes de Oliveira – uma jovem de 32 anos, formada em Pedagogia, podia estar num belo emprego, curtir a vida como as demais jovens de sua idade, dançar e divertir-se madrugadas a dentro, namorar, desperdiçar seu tempo. Mas, não! Decidiu dedicar sua juventude e seu vigor para uma moça talvez destinada a passar o resto de seus dias num abrigo para crianças especiais, sendo apenas mais um paciente cujo nome pouco importaria. Alguém que até mesmo para a adoção normal jamais teria chance. Quem se habilitaria a buscar a Jaqueline, - a Jaquinha - agora com 10 anos e que foi abandonada no abrigo com apenas seis meses de vida? Quis o destino que Fabiane estivesse lá naquele momento, pois atuava como voluntária na Instituição. Parece que foi amor à primeira vista. Anos depois, já concluído o curso universitário, Fabiane foi admitida como funcionária da casa. O apadrinhamento afetivo, que já estava consolidado, evoluiu para a firme decisão de adoção definitiva. Seria sua filha! E, mediante despacho de autorização do juiz, a levou para sua casa como filha especial em todos os sentidos. Uma comovente história de amor.

Com meu sobrenome

“Faz três anos que é minha filha. Tem o meu sobrenome. Está com 10 anos. Minha vida não existe sem Jaquinha. Tem sido uma luta diária e constante. Mas vale muito a pena. Se tivesse que fazer tudo isso duzentas mil vezes, faria só para ficar com ela. Se fosse possível amá-la ainda mais, diria que cada dia mais a amo. Ela não fala. Mas a linguagem do amor não precisa de palavras”.

Um toquinho de gente

“No dia que chegou de Caxias, era um toquinho, pesava dois quilos. Olhei e me apaixonei. Dava atenção para todas as crianças mas ela me cativou. Chegava ao ponto de ter ciúmes dos outros voluntários que a pegavam no colo. Comecei a levá-la para casa nos finais de semana, nas férias. Trabalhava de dia e cursava a faculdade. E passei muitas noites com ela nas inúmeras internações hospitalares – algumas de até 70 dias - por causa da asma, bronquite, refluxo. Teve que usar sonda para alimentação. Ficou muito fraquinha. (Jaqueline interrompe a fala da mãe. Não consegue articular palavras e pega o gravador do repórter). Ah sim, ela entende tudo e sabe o que quer”.

A melhor vida

“Ela tem possibilidade de caminhar. Já fez três cirurgias e estou conseguindo marcar mais uma no Hospital Santo Antônio. Vai melhorar as perninhas dela. Também faz aulas de fonoaudióloga, fisioterapia. Consegui escola especial. Ela já evoluiu

Fotos: Solidário

muito. É outra criança. Ela é o meu projeto de vida. As pessoas perguntam: ‘tu sabes que criança assim não dura muito...’. Eu respondo: para Deus isso não existe. Quantos estavam desenganados e hoje estão bem e saudáveis? Estou fazendo tudo para a Jaquinha caminhar. Se ela não puder caminhar vai ser amada tanto quando do que andar sempre em cadeira de rodas. Se ela durar mais cinco ou cinqüenta anos, quero e farei tudo para esses sejam os melhores anos da sua vida. O tempo que durar vai ser amada com a mesma intensidade’.

profissão na parte da tarde. Gosto muito do curso que fiz e sinto que hoje ele me ajuda a entender e ajudar melhor minha filha”.

Sortuda

“Achar que é ela que ganha comigo? Não! Eu ganho com ela. Achar que foi uma graça de Deus ter saído do abrigo? Que ela foi sortuda? Nada disso: sortuda sou eu. Com ela aprendo todos os dias. Agora sei o que valem as pequenas coisas da vida. A sociedade, infelizmente, enxerga esses seres humanos como feios que devem ficar Amada por todos escondidos. Percebo isso na rua, porque Jacki vai “Sei pouco da história dela. Só sei que foi re- comigo para tudo que é lugar – brique, shopping, jeição. Tenho meus pais e dois irmãos. Agora Jakci festa de aniversário. Eu não deixo de ir a lugar é neta e sobrinha deles. Meus amigos e colegas nenhum”. sempre perguntam por ela quando não a visitam. Adoção sem preconceito Ela tem padrinhos, mais de uma madrinha. Meus “Para quem pensa em adotar diria que tente tirar amigos saem e sempre lembram: ‘não podemos a visão um pouco preconceituosa. Há tantas vidas esquecer da Jackinha’. É muito amável e cati- inocentes esperando um afeto e um lar. Por outro vante, querida e por isso muito amada. Tem algo lado, há uma enorme lista de casais esperando um que encanta a todos. Sou suspeita. Mas sinto que filho. Mas com perfil e características limitadas e foi adotada por todos os meus parentes, amigos e definidas, geralmente de pela clara e com menos colegas”. de três anos. Em suma, com controle de qualidaRotina de vida de. Esquecem que todo o ser humano tem direito “Mudou tudo. Por causa do meu gesto, perdi a receber amor e deveríamos dar-nos o direito de o emprego. Mas nada me falta e nada falta a ela, amar a todos. Com essa visão preconceituosa, eu porque tenho muitos amigos. Meu tempo livre ficou jamais teria ido a um lar de crianças como é o limitado para o turno da tarde, enquanto a Jaquinha Santo Antônio, onde conheci Jaquinha. Penso que está na escola, porque deixá-la aos cuidados de ou- mais gente deveria dar-se o direito de conhecer tra pessoa de manhã eu teria insegurança. Ela tem outras crianças que estão esperando um lar, um um jeito especial para tudo - como trocar a fraldi- carinho, uma família. Poxa, ao menos o direito nha. Mas eu teria possibilidade de exercer minha de conhecer!”


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saber viver

Os cuidados necessários antes e depois de uma cirurgia bariátrica A cirurgia bariátrica, mais comumente conhecida como cirurgia de redução de estômago, ao contrário do que parece, é um procedimento relativamente antigo. As pesquisas iniciais sobre a operação datam de 1954 e a primeira cirurgia é atribuída ao médico W. Payne, de Los Angeles, no ano de 1956. No Brasil, só passaram a ser realizadas na década de 80. Existem variadas técnicas de se realizar a redução de estômago, sendo que as mais utilizadas se dividem entre restritivas e disabsortivas. A primeira faz com que o estômago diminua de tamanho, reduzindo sua capacidade gástrica e causando uma sensação de saciedade precoce, isto é, com ingestão menor de comida. Por outro lado, as cirurgias disabsortivas atuam diminuindo a capacidade de absorção do alimento digerido. Indicada para pessoas consideradas obesas (com Índice de Massa Corpórea igual ou superior a 40) e para aqueles que apresentam sintomas associados à obesidade, como diabetes, hipertensão, apnéia do sono e dislipidemia, a cirurgia bariátrica é apenas uma etapa de um

www.upstate.edu/uh

longo tratamento. A nutricionista Luciana Coppini, do Ganep Nutrição Humana, explica que o preparo e uma boa avaliação pré-operatória são essenciais. “É importante ter consciência da necessidade do preparo psicológico, de tentar diagnosticar se o paciente é uma pessoa que não tem nenhuma alteração psicológica que pode piorar após a cirurgia, como uma compulsão”. As primeiras orientações e modificações no estilo de vida do paciente devem começar antes da cirurgia, para que ele possa se preparar e se habituar à nova rotina que será imposta com a redução. Após o procedimento, também são necessários cuidados

especiais. O cuidado com a alimentação é primordial; afinal, como o volume do estômago ficou drasticamente reduzido, o corpo precisa se adaptar ao novo tamanho e os hábitos alimentares devem redesenhados. Nos primeiros dias que seguem a operação, a dieta é bem restritiva, baseando-se em chá, sucos coados e sopas feitas apenas da água em que foram cozidos os alimentos. Aos poucos, a dieta se transforma em alimentos sólidos. Mas até lá, passa vagarosamente pelos alimentos pastosos, brandos e sólidos muito bem picados. Ainda há os riscos da própria cirurgia. “Como em qualquer procedimento cirúrgico, pode haver um revés. Além disso, podem ocorrem complicações da própria cirurgia, mecânicas e nutricionais”, explica Luciana Coppini. As principais complicações cirúrgicas são fístulas, feridas operatórias que demoram a cicatrizar e anemia crônica. Devido a esta complexidade de cuidados, este vagaroso procedimento pede o trabalho conjunto de diversos profissionais, antes e depois da intervenção operatória. Luciana destaca que nestes anos em que a cirurgia bariátrica foi realizada, o que mais evoluiu foi a percepção da necessidade de uma equipe multiprofissional, formada por médico-cirurgião, gastroenterologista, nutricionista, psicólogo, fisioterapeuta e fonoaudiólogo. “Tivemos algumas técnicas novas que surgiram, mas nada cientificamente comprovado. Mas a importância de uma equipe, dos critérios de indicação e acompanhamento, isso tudo evoluiu bastante”, afirma ela. Outra evolução destacada é a indicação da cirurgia de redução de estômago para outros fins, além de perder peso, que era a proposta inicial do procedimento. Agora, doenças como diabetes também podem ser controladas com a gastroplastia.(acontececom2@ uol.com.br)

ASSINANTE Ao receber o DOC renove a assinatura. Dê este presente para a sua família.

DICAS DE NUTRIÇÃO Dr. Varo Duarte Médico nutrólogo e endocrinologista

A gordura corporal (2) Explicamos na dica anterior os índices de avaliação nutricional. Hoje, vamos explicar como se realiza a plicometria e como se realiza a bioimpedância. De acordo com a técnica proposta por Fauler, fazemos a medição das pregas cutâneas em quatro locais: o braço, as costas, a cintura e o abdômen. O aparelho utilizado chama-se plicômetro (skinfolder). Calculamos o somatório destas medidas e comparamos com o resultado considerado normal, 50mm ou 60 mm. Cada uma destas medidas deverá ter um máximo de 15mm. Exemplificando: Pt – 25 mm, Pesc. 21 mm, Pil 32 mm, Pab. 45 mm. Somatório = 123mm. Esta pessoa, então, apresenta mais do que o dobro das gorduras normais. Verificamos o IMC e o achado foi 28.32. A pessoa apresenta um sobrepeso e, portanto, encontra-se fora da obesidade. O somatório acima do dobro representa uma indicação de que se encontra na obesidade. Por nossa prática, de mais de 30 anos realizando a plicometria, classificamos a pessoa com mais de 60 mm como obesa, e obesidade mórbida o somatório acima de 120 mm. Atualmente, vem sendo dada ênfase à medida da cintura abdominal. Epidemiologicamente, parece ser confirmado que a cintura abdominal acima de 80 na mulher e acima de 90 no homem pode ser relacionada a conseqüências cardiovasculares como o infarto e o AVC. Neste caso citado, a cintura abdominal foi de 112 cm. Apesar da normalidade de seu IMC, este paciente encontra-se na região de alto risco. Caso nº 1 – paciente do sexo feminino com 1,66 m de altura, peso de 63 kg, tem um IMC de 22.90 , mas apresenta uma gordura corporal total de 125 mm. Considerado normal pelo IMC, apresenta uma gordura corporal maior do que o dobro da normalidade considerada como 50 mm; não seria tratado. Caso nº 2 - paciente do sexo feminino com 1,58 cm de altura, 80 kg de peso com IMC de 32,12 é considerado como obesidade, sua soma de gorduras corporais encontrada é de 135 mm. Há correlação entre as duas medidas; seria tratado. O mesmo paciente após tratamento apresenta 158 cm de altura, 63 kg de peso e um IMC de 24,09, sua somatória de gordura foi reduzida para 69, praticamente atingiu a normalidade. Com o progresso dos exames mais sofisticados possuímos um aparelho que permite calcular toda a gordura do corpo humano. Não só a gordura, como a própia massa magra (ossos e músculos). O exame chama-se bioimpedância, que já executamos em nossa clinica há mais de 10 anos. EM RESUMO Na pratica, pegue uma fita métrica e uma balança de banheiro. Meça a sua altura e verifique seu peso. Aplique a formula PESO DIVIDIDO PELO QUADRADO DA ALTURA. Utilize a mesma fita métrica e meça sua barriga, na menor medida que encontre, acima da cicatriz umbilical. Registre os resultados. Sempre que o índice de IMC for maior do que 25, a medida da barriga ultrapasse 80 cm para a mulher ou 90 cm para o homem, procure seu médico. Os profissionais habilitados para fazer estas medições, usar a bioimpedancia e a plicometria, são o médico nutrólogo ou endocrinologista ou o nutricionista. A prevenção do infarto, do diabetes ou do derrame cerebral está baseada em uma dieta equilibrada, como a que propomos em nossos livros. MAIS UMA VEZ AFIRMAMOS: Coma de tudo em menores quantidades. Coma bastante frutas e verduras e faça exercícios.


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espaço aberto

Visitando Guadalupe Carmelita Marroni Abruzzi Jornalista e Professora Universitária

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a Cidade do México, a visita à Basílica de Guadalupe é imperdível. Não apenas a visita a uma basílica, mas um complexo a que os mexicanos denominam “La Villa” e cuja história começou, ali, em 1531, na Colina de Tepeyac, com as aparições da Virgem ao índio convertido, Juan Diego. É um acontecimento de quase 500 anos, envolto em tradições, lendas e milagres, uma história que motivou muitos depoimentos, estudos e pesquisas e que está presente na própria história do México. Segundo uma tradição que se manteve através dos tempos, as aparições da Virgem ocorreram entre as manhãs de 9 a 12 de dezembro de 1531. Em seu primeiro encontro com Juan Diego, a Virgem lhe disse que era a Mãe de Deus e desejava que naquele local se construísse sua casa sagrada; pediu que ele fosse ao palácio do bispo do México, dizendo que Ela o enviara. Outras aparições se sucederam, mas o bispo relutou em aceitar a história e solicitou um sinal para confirmar o fato. Em seu quarto encontro com a Virgem, Juan Diego falou da exigência do bispo. Ela o mandou colher umas flores e levá-las ao bispo. Juan Diego encontrou um canteiro de rosas, e as levou ao bispo, envolvendo-as em seu manto. Ao abrir o manto, para mostrar a prova, apareceu nele

Sem fronteiras

um retrato da Virgem, pintado com belíssimas cores. Convencido da veracidade das aparições, o bispo Zumarraga cumpriu os desejos de Nossa Senhora e mandou construir a ermida no lugar da quarta aparição. Milagres e mistérios se sucederam. O manto com a imagem da Virgem era feito com fibras do cactus “maguey”, um tecido que dura cerca de 20 anos. Entretanto, o manto da Virgem se conserva até hoje, quase 500 anos depois, fato que pode ser considerado milagre. Estudiosos fizeram réplicas do mesmo e a ação do tempo os destruía. O manto está exposto na basílica atual, para veneração dos fiéis e continua sendo objeto de estudos científicos. Várias obras relatam essas análises, inclusive encomendadas pela Igreja ao longo dos séculos. As conclusões dos especialistas se voltam no sentido de que seria simplesmente impossível pintar naquele material e daquela forma. Para Pio XII (1945), “pincéis que não eram daqui da terra pintaram uma imagem... Mãos que não foram humanas pintaram essa tela.” Vários templos foram construídos no local das aparições. A primeira ermida foi construída no lugar da quarta aparição, na encosta do Cerro de Tepeyac. Outros templos substituíram essa ermida, porque as construções eram seriamente afetadas pela umidade e salinidade do Lago Texcoco. Rachaduras e

afundamentos apareciam e se procurou terreno mais firme nas proximidades. Um dos últimos templos, terminado em outubro de 1895, foi elevado à categoria de Basílica, mas sofreu os mesmos problemas. Está em restauração e uma nova igreja foi inaugurada em 1976, de linhas modernas, para favorecer as celebrações de acordo com a liturgia atual e receber diariamente os milhares de peregrinos. Estivemos em Guadalupe numa tarde chuvosa; visitamos a basílica anterior, bela e clássica construção, com suas obras de arte e que passa por um completo processo de restauração. Fotografamos uma das antigas ermidas, caminhamos pelos amplos espaços onde se realizam as grandes concentrações. Muitos peregrinos acorriam à basílica; unimo-nos a eles numa prece, contemplamos a imagem original da Virgem e participamos das cerimônias que ali se realizam, e sentindo aquele clima de fé e esperança que emana desses santuários. E desde a ermida erguida no Cerro de Tepeyac pela fé e perseverança do humilde índio, até a majestosa basílica moderna, a devoção a Nossa Senhora de Guadalupe cresceu no coração dos mexicanos, esteve presente nos momentos mais relevantes da vida do país e estendeu-se a toda a América Latina, pois em 24 de agosto de 1910, Pio X a proclamou “Padroeira da América Latina”.

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Na montagem: 1) Uma das antigas ermidas, erguidas no local das aparições; 2) Igreja antiga, ora em restauração. Elevada a basílica em 1904; 3) Basílica atual, em linhas modernas; 4) interior da Basílica atual

Centenário de S. Allende Martha Alves D´Azevedo Comissão Comunicação Sem Fronteiras

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ia 26 de junho último o ex-presidente do Chile, Salvador Allende, completaria 100 anos. Nascido a 26 de junho de 1908, no porto de Valparaiso, a 110 km de Santiago, Allende tentou em quatro ocasiões chegar ao governo. Nas eleições de 1952, conseguiu uma escassa votação. Em 1958 ficou com 28,5% do eleitorado, e em 1964 chegou a 38,6% dos votos. Nas eleições de 1970, Allende recebeu 36,3% dos votos, superando o direitista Jorge Alessandri, que registrou 34,9%, e o democrata-cristão Radomiro Tomic, que ficou com 27,8%. Com um forte apoio popular, Allende conseguiu unanimidade no Parlamento para nacionalizar as grandes minas de cobre – principal recurso chileno- que durante 40 anos foram exploradas por companhias americanas. Desde o momento em que assumiu o cargo, no dia 3 de novembro, a direita e a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA), criaram as condições de instabilidade, que desembocaram no golpe militar de 11 de setembro de 1973, comandado pelo general Augusto Pinochet. Em 2 de outubro de 2000, a revista norte-americana Time, sob o titulo A CIA e o Chile, divulgava a noticia de que o Chefe da Policia Secreta de Pinochet, Manuel Contreras Sepúlveda, estava na lista de pagamentos da CIA. O que não era conhecido até então, tornou-se publico depois da divulgação do Congresso Norte-americano sobre a atividade no Chile, confirmando que Contreras era um informante pago pela CIA de 1974 até 1977. Justificando o fato, o articulista da Time, Christopher Ogden, informava que a CIA constantemente tentava recrutar agentes entre os colocados nos mais altos postos, os melhores. E, poucos estariam mais bem colocados para conhecer o que estava acontecendo do que a policia secreta da nação. As linhas negras da mediação dos EUA no Chile foram visíveis por anos, continua o articulista. A CIA financiou recursos para os oponentes de Allende, um perene candidato presidencial, por aproximadamente uma década antes de sua eleição. Entre outros pagamentos,constava o de $50,000 a um ativista da direita para assassinar o chefe das Forças Armadas, que se opunha a um golpe contra o presidente. Agora (30/06/2008), a Justiça do Chile condenou à prisão perpétua Manuel Contreras, ex-chefe da policia política durante a ditadura Augusto Pinochet (1973-1990), sob a acusação de ter planejado em 1974 o assassinato em Buenos Aires, do general Carlos Prats e de sua mulher, Sofia Cuthbert Prats. Prats estava exilado na Argentina, depois de ter sido comandante do exército nos governos de Eduardo Frei e Salvador Allende, de quem foi também ministro do Interior e Defesa e vice-presidente da República. Ele integrava o grupo de oficiais que se opôs ao golpe que derrubou Allende em setembro de 1973. Visa e Mastercard

APOSTOLADO DA ORAÇÃO ENCONTRO REGIONAL 23 de Agosto de 2008

Venha participar deste evento anual que reúne milhares de membros do Apostolado da Oração (AO) num dia de reflexão, de congraçamento, de graças e celebração. Caravanas de todo o sul do Brasil estão se organizando para participar. Lema: Vim para que todos tenham vida, e vida em abundância. Tema: Deixai vir a mim os pequeninos, porque deles é o Reino dos Céus. Local: Santuário Sagrado

Basílica anterior, em estilo clássico, com muitas obras de arte, concluída em 1895. Atualmente em restauração pois apresentava rachaduras e estava afundando

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Coração de Jesus, junto ao túmulo do Servo de Deus, João Batista Reus sj, em São Leopoldo/RS Programação: 08:00 hs – Acolhida, pela área de Esteio. 09:00 hs – Entrada das Bandeiras 09:30 hs – Oração da Manhã – Dom Zeno Hastenteufel – Bispo Diocesano de Novo Hamburgo. Boas Vindas do Reitor do Santuário, Pe.Hugo Mentges 10:00 hs – Palestra Dom Gilio Felício – Bispo Diocesano de Bagé

11:15 Hs – Palestra Pe.Roque Schneider 12:00 hs – Intervalo do Almoço 12:00 – 13:30 Sessão de Autógrafo com Pe.Roque Schneider 13:30 hs – Hora Mariana pela área de Cachoeirinha 14:30 hs – Hora Santa com Sueli Varges e equipe dirigida pe lo Pe.Sereno Böesing – Diretor do AO da Província do Brasil Meridional (BRM) 15:00 hs – Missa presidida por Dom Dadeus Grings e concelebrada pelos sacerdotes presentes. Animação : Elton Bozzetto e seus amigos

Livraria Reus, Matriz em Porto Alegre, R. Duque de Caxias, 805 e Filial em São Leopoldo, junto ao túmulo do Padre Reus/Santuário Sagrado Coração de Jesus. REPRESENTANTE DAS EDIÇÕES LOYOLA NO SUL DO PAÍS.


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igreja e comunidade

Catequese solidária Voz do Pastor

Jesus ensinava por parábolas. O que são “parábolas”? Marina Zamberlan

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Professora e Catequista

arábolas, no Evangelho, são estórias tiradas do mundo existencial em que Jesus Cristo vivia e são contadas com o propósito de transmitir uma mensagem espiritual. Jesus era conhecedor da vida humana em todas as suas formas e variantes, em todos os seus modos e meios. Era familiarizado com a vida do agricultor, do vinhateiro, do pescador, do construtor e do mercador. Algumas profissões eram por ele conhecidas, como as de ministro da fazenda, juiz, cobrador de impostos e administrador. Conhecia os fariseus e os peritos da lei. Jesus se sentia a vontade em todos os níveis sociais e sabia ministrar a todas as pessoas, independentemente da sua posição social, formação e profissão. Por meio de parábolas, o Cristo levou a todos a mensagem de salvação, conclamava seus ouvintes a se arrependerem e a crerem, desafiava os crentes da época a praticar a sua fé e exortava seus seguidores a exercerem a vigilância. As parábolas apresentam três momentos em seu desenvolvimento, diz Echegaray, em seu livro “A prática de Jesus” (Vozes): a) a surpresa da descoberta, que abre uma perspectiva para o futuro e se apresenta como revelação; b) a tomada de consciência do acontecimento, que modifica a relação com o passado, trazendo uma avaliação nova dos valores e provocando uma revolução; c) a decisão operativa, que modifica de forma radical a situação presente, levando a uma resolução. A parábola do Bom Samaritano, por exemplo, surpreende pela pergunta final : “Qual dos três, em tua opinião, foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes ?” - mostra a atitude do samaritano em oposição à dos sacerdotes e a atitude destes, semelhante a dos bandidos que abandonaram a vítima. Na parábola dos trabalhadores da vinha, Jesus põe em discussão a justiça de Deus firmada na base de observâncias legais, e seus ouvintes são colocados diante do agir aqui e agora, segundo as exigências do Reino de Deus. Procure, você também, ler as parábolas de Jesus e descobrir qual a revolução que ele propõe na interpretação dos valores e que decisão operativa, isto é, que ações farão você e seus catequizandos para modificar a situação presente.

Os atravessadores Dom Dadeus Grings

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Formação litúrgica

Distribuir a Comunhão Uma ação relacional humana e divina

Arcebispo Metropolitano de P. Alegre

ecordemos que as funções institucionais, que promanam da família como instituição social – a função biológica, de transmissão da vida; a função econômica, da produção de bens materiais; a função protetiva, que defende a vida contra os diversos riscos; a função cultural, que transmite valores sociais e religiosos; a função estratificativa, que atribui status aos familiares; e a função integrativa, de controle social –, sofrem mais agudamente o impacto da sociedade. Foram se transferindo, inicialmente de modo paulatino e, depois, cada vez mais aceleradamente, da família para a sociedade. Foi nessas funções que a família mais se transformou e, por assim dizer, perdeu terreno, perdendo sua característica de célula da sociedade. É preciso reconhecer que essa evolução se afigura irreversível. Não podemos pensar hoje uma família com dez a 20 filhos; uma família que produza mais ou menos tudo o que consome e consuma praticamente tudo o que produz; uma família que consiga defender, em todos os campos, seus integrantes; uma família que molde totalmente seus filhos, a ponto de se poder continuar a dizer ‘tal pai tal filho’; uma família que assegure o status, quer de nobreza, quer de sangue, quer de liderança a seus filhos... Nos tempos da família patriarcal, os pais detinham 80% da influência na educação dos filhos. Hoje, na família nuclear, não atingem nem 20% de sua formação. A primeira tentação é, pois, transferir, ou pelo menos reivindicar, essas funções para o Estado. É a estatização das funções institucionais da família. É a pior viagem! O socialismo estatal, ao assumir as funções institucionais da família, tornou a vida humana totalmente artificial e sem alma. Numa palavra expressiva: desumanizou-a. O pior, nesta tentativa, está no surgimento de uma categoria profissional, que é a dos atravessadores. Vendo e percebendo que a estatização das funções institucionais da família tornam a vida humana impossível ou demasiadamente complicada, surgem, por toda parte, aqueles que tentam aliviá-la. Além de cobrarem caro pelo serviço, pretendem passar por benfeitores. Na verdade, são exploradores de uma situação que as ideologias estatais criaram e exigem para a prestação desses serviços, que não perdem em nada do peso dos impostos que o Estado cobra de seus cidadãos. Arrancam os olhos da cara. Com esses atravessadores, sejam eles advogados, sejam despachantes, sejam outros intermediários, se vão outros 20% a 30% do orçamento familiar! Comecemos nosso elenco com os atravessadores ilegais. Não falo daqueles que todos conhecem como ladrões. Roubam e fogem. Assaltam. Exigem uma porção de cautelas, como guardas, alarmes, grades, etc., que pesam no orçamento de cada um. Refiro-me àqueles que se apresentam como prestadores de serviços: flanelinhas, que dizem cuidar do carro nas ruas; despachantes, que encaminham papéis oficiais; limpadores de párabrisas, que aparecem nas sinaleiras; saltimbancos que fazem macaquices nas ruas para ganhar uns trocos; pedintes e esmoleres que camuflam alguma deficiência para mover a compaixão... Chegamos agora aos atravessadores nos negócios, chamados espertalhões, que todos conhecem. Têm até um status mais ou menos reconhecido. Abocanham uma porção significativa de bens. Vivem de golpes de esperteza. Muitas vezes essa condição é atribuída ao comércio, que faz a intermediação entre o produtor e o consumidor. Chegamos a perceber, de perto, a condição de pecado da humanidade, quando a exploração ultrapassa os limites do bom senso. Se o consumidor não fizer uma acurada pesquisa, inevitavelmente sairá logrado. Os preços são, muitas vezes, tão arbitrários que, se não houvesse alguma concorrência para freá-los, a sociedade explodiria. Não por nada os governos se vêem na contingência de tabelar ou, pelo menos, controlar certos preços e combater os monopólios. Mas o que é mais grave é que muitos atravessadores conseguiram o amparo legal. E por serem poderosos, reservam para si uma fatia expressiva, a fazer muitas vezes inveja aos impostos cobrados pelo Estado. Refiro-me aos prestadores de serviços liberais, que enriqueçam às custas do povo. Para se fazer qualquer coisa, requer-se, hoje em dia, um advogado. Na partilha de bens, este advoga para si 20% da herança. Numa causa jurídica, o cidadão está proibido de defender-se a si mesmo. Criaram-se leis tais que só um advogado, a altíssimo preço, consegue destrinchar. A condição jurídica de hoje exige despachante para praticamente tudo. Para o cidadão viver em sociedade, deve contratar algum advogado. A saúde igualmente tem, em seus agentes, verdadeiros exploradores. Como as consultas e os tratamentos, tanto médicos como dentários, são exorbitantes, criaram-se novos intermediários, chamados planos de saúde. Nova fonte de impostos, ou seja, paga-se mensalmente altíssima soma porque existe a certeza de que, em caso de doença mais grave ou de tratamento dentário, a exploração seria inevitável. Então faz-se pagar o tratamento por terceiros, que cobram mensalmente caríssimas contribuições para esse serviço, que talvez nunca seja aproveitado.

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Frei José Ariovaldo da Silva, OFM

erta ocasião (era um final de domingo), uma irmã minha, participante ativa de sua comunidade de fé e com boa sensibilidade litúrgica, dirigiu-se a mim com estas palavras, bem numa linguagem de quem conhece a vida da roça: “Frei, hoje eu voltei da igreja muito chateada, indignada com o padre que veio celebrar a missa conosco”. “Como assim, mana? O que aconteceu?”, perguntei. E ela: “Pois na hora de distribuir a comunhão, ele parecia com alguém que estava dando milho para as galinhas”. Entendi o que ela estava querendo dizer. O padre distribuía a comunhão como quem simplesmente ‘atirava’ a comida nas mãos (ou na boca) dos fiéis, de um jeito tão apressado e meramente funcional que dava a impressão de as pessoas serem tratadas mais ou menos como um bando de galinhas. “Isso ainda acontece, também em outros lugares”, respondi à minha irmãzinha. E completei: “Acontece inclusive com ministros e ministras da comunhão eucarística! Mas não é sempre, nem em todo lugar. Também não vamos generalizar”. Foi bom eu ter ouvido esse desabafo da minha irmã. Pois acordei para uma reflexão sobre o sentido da ação litúrgica de distribuir a comunhão. Reflexão esta que partilho aqui com você(s). De saída, lembro-me da Eucaristia como um imenso e maravilhoso presente que Deus dá para nós. Então me vêem as seguintes perguntas: O que significa, por exemplo, a ação dar um presente a alguém? E como é que a gente costuma entregar um presente a alguém? Fazemos com que atitude? E como será que Jesus faria ao nos entregar e distribuir o seu próprio corpo, ao nos ‘presentear’ seu próprio corpo? Com que postura humana e espiritual o faria? E como é que, então, hoje em nossas comunidades vamos entregar (distribuir) para as pessoas o maior presente da história da humanidade, o corpo do Senhor? Dar pessoalmente um presente para alguém... Trata-se de um ato relacional profundamente humano. Pois nele a pessoa que dá o presente entrega-se a si mesma, seu amor, sua amizade, seu carinho, sua admiração, seu reconhecimento, à pessoa presenteada. Olha nos olhos dela, esboçando-lhe um espontâneo sorriso, com a satisfação de quem de fato a ama e a admira. E esta (a pessoa que recebe), por sua vez, acolhe o dom com a gratidão e a alegria de quem se sentiu profundamente amada e acolhida. Distribuir a comunhão, igualmente, é um ato relacional humano. Divinamente humano, pois nele o(a) ministro(a) do Senhor entrega às pessoas o presente maior, o corpo de Cristo. E nele (no ato de entregar este dom), o(a) ministro(a), precisamente por ser ministro(a) do Senhor, e consciente desta missão, faz as vezes do Senhor, ou seja, entrega-se também a si mesmo(a), seu amor, sua amizade, seu carinho, sua admiração, seu reconhecimento, à pessoa agraciada. Olha nos olhos dela com os olhos amorosos do Senhor e “mostra-lhe a hóstia um pouco elevada, dizendo: O Corpo de Cristo” (Instrução Geral sobre o Missal Romano, n. 161). Entrega-lhe o pão da vida vivenciando a própria atitude de Cristo, ou seja, como quem igualmente se põe numa entrega. E a pessoa que recebe, por sua vez, acolhe o dom com a gratidão e a alegria de quem se sentiu profundamente amada e acolhida, dizendo: “Amem”. Por isso podemos dizer que o ato de distribuir a comunhão, ou melhor, de entregar o corpo de Cristo e recebê-lo, é uma ação litúrgica, uma ação eminentemente celebrativa, uma forma de celebrar... Celebrar o quê? A presença de um mistério. De que mistério? Do mistério de uma relação humana e divina (e vice-versa), expressa no gesto dar e receber, no qual experimentamos Cristo se entregando gratuitamente como alimento e, ao mesmo tempo, no ato de acolhê-lo, vivenciamos nossa entrega a ele para viver o seu amor.


16 a 31 de agosto de 2008

comunidade e igreja MENSAGEM DA EQUIPE VOCACIONAL

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Vocação (Final)

omo podemos viver nossa vocação de Batizados, de que forma vamos ser sinal de salvação para o mundo? Para responder esta pergunta entra em questão a Vocação específica que cada Cristão batizado recebe na Igreja, como forma de realizar a grande vocação recebida no Batismo. Exemplos de vocação específica na bíblia: Abraão gen. 12,1-4 . Moisés=Ex.3, 1-10. Samuel=1sam 3,1-21. Maria=Lc.1,26-38. Vejam que todo o chamado de Deus tem em vista uma Missão, é dom e tarefa. A vocação específica na Igreja, como viver o nosso batismo. Vocação do leigo. Vocação do religioso. Vocação do padre. Vocação do leigo “Pelo nome de leigo aqui são entendidos todos os Cristãos, exceto os membros de ordem sacra e do estado religioso aprovado na Igreja” (Lg n 31). É porém específico dos leigos,por sua própria vocação procurar o reino de Deus exercendo funções temporais e ordenandoas segundo Deus. Vivem no século, isto é, em todos e em cada um dos ofícios e trabalhos do mundo. Vivem nas condições ordinárias da vida familiar e social, pelas quais sua existência é como que tecida. Lá são chamados por Deus para que exercendo seu próprio ofício guiados pelo Espírito evangélico, a santificação do mundo. E assim manifestam Cristo aos outros,especialmente pelo testemunho de sua vida resplandecente em fé,esperança e caridade”.(Lg n 31) Dentro da vocação do leigo destaco ainda a grande vocação do Matrimônio. É das famílias que vem as vocações sacerdotais e religiosas. Vocação do religioso Os religiosos são aqueles que, para servirem de modo mais perfeito e desprendido a Deus e aos irmãos (a Igreja), procuram viver os três conselhos evangélicos da castidade consagrada a Deus, da pobreza e da obediência (são ao três votos). Seguem assim o exemplo de Jesus Cristo e as recomendações dos Apóstolos e santos Padres, Mestres e Pastores, para quem deseja consagrar-se totalmente a serviço do Reino de Deus. Constituem um dom divino que a Igreja recebeu do seu Senhor e por graça dele sempre conserva (Lg n 43). Os religiosos vivem em comunidade e tem tudo em comum. Nada possuem de bens que sejam de propriedade individual, mas os bens pertencem a todos da comunidade. Assim imitam as primeiras comunidades Cristãs que tinham tudo em comum, ideal do cristianismo;e são sinal já neste mundo da realidade futura do Reino de Deus,onde vivemos todos em perfeita comunhão. São sinal e testemunho de vida eterna conquistada pela redenção de Cristo. E prenunciam,antecipam pelo testemunho,a Ressurreição futura de todos nós e a glória do Reino Celeste. Cada congregação religiosa segue o carisma do seu fundador, ou seja, um trabalho específico a que se dedica de modo integral dentro da Igreja. Nem todos os religiosos são padres, e nem todos os padres são religiosos. Vocação sacerdotal O Padre é chamado a ser Pastor do Povo de Deus, a conduzir o rebanho de Cristo à casa do Pai. O Padre deve ser o homem de Deus, homem da oração, da caridade, da esperança; a ponte que liga os homens a Deus e Deus aos homens. O Padre deve ser aquele que faz o homem descobrir Deus em sua vida e em sua história. O Padre deve ser o mensageiro do Evangelho de Jesus |Cristo e das coisas de Deus.. É o homem ordenado para o serviço de Deus na pessoa de seus irmãos. Por isso, o padre é o homem da Igreja, que faz gerar Igreja. E isto porque é o homem da Eucaristia, e como tal está a serviço da comunhão. Toda a sua existência está ordenada a isto. Em qualquer coisa que faça, deve trabalhar para esta comunhão, tendo em vista a edificação do corpo de Cristo. É por isto que ele não pode ser dispensado de celebrar a Eucaristia, sua vida culmina e assume pleno sentido no momento em que celebra o memorial do Senhor. O padre é o homem da comunhão humana, gerador da Igreja. O padre é o animador da comunidade, é o ponto de união,deve ser o gerador da fraternidade,testemunho do amor de Deus. Um outro Cristo. É o ministro do perdão. Conclusão: a vocação não é um emprego, é um serviço. No emprego eu tenho em vista o que ele me dá em troca, o dinheiro que ele me rende para satisfazer os meus interesses e minhas necessidades. A vocação tem em vista o serviço à comunidade, o bem estar dos outros, que os outros sejam mais gente, mais pessoa. Vocação é prestar um serviço aos irmãos para que eles cresçam, é dar a vida pelos outros. Tudo isto se fundamenta no amor. Só quem ama é capaz de servir.

Solidário Litúrgico

24 de agosto – 21º Domingo

do Tempo

11

Comum (

verde)

1.ª leitura: Livro do Profeta Isaias (Is) 22,19-23 Salmo (Sl) 137(138), 1-2a.2bc-3.6 e 8bc (R./8bc) 2.ª leitura: Carta de Paulo Apóstolo aos Romanos (Rm) 11,33-36 Evangelho: Mateus (Mt) 16,13-20 Comentário: Quem dizem os homens que eu sou? (16,13). A curiosidade de Jesus sobre o que a gente pensava e dizia dele tráz interessantes lições. Uma delas é essa a tendência tão comum de passar a responsabilidade para outros: Uns dizem que és Elias, outro, Jeremias ou algum dos profetas (16,14). É um recurso, nem sempre honesto, para não se comprometer. Com Jesus as coisas não funcionam assim: não há meias-medidas, não há meios-termos, não há compromissos pela metade. É ou, ou. Assim, radical. Por isso, Jesus é direto com seu pequeno grupo: tudo bem, isso dizem por aí; mas, e vocês... quem sou eu para vocês? (cf 16,15). Aqueles amigos mais próximos de Jesus não esperavam por essa. E agora? O mestre está aí, olhando nos olhos de cada um deles. Então...?! Vendo que nenhum dos companheiros se animava a responder e já descia aquele silêncio constrangedor sobre o grupo, Pedro assumiu: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo! (16,16). Esta confissão valeu a Pedro a missão que mudaria toda a sua vida: deixar as redes, o barco e a pesca, transformar-se num apóstolo, pregar incansavelmente a Palavra, ser cabeça visível da incipiente igreja, o que iria levá-lo, finalmente, ao mesmo martírio do seu Mestre, amigo e Senhor, a morte de cruz. Para Jesus não se aplica o dito popular: “Em boca fechada não entram moscas”. Talvez não entrem moscas mas, também não saem palavras de esperança, de ternura, de perdão, de solidariedade, palavras de paz para tanta gente que precisa de bocas e corações que, neste tempo tão pobre de vida e amor, anunciem, com coragem e alegria, a boa nova de Jesus. Este Jesus faz destas bocas e destes corações a sua própria boca, o seu próprio coração.

31 de agosto – 22º Domingo do Tempo Comum (

verde)

1.ª leitura: Livro do Profeta Jeremias (Jr) 20,7-9 Salmo (Sl) 62(63), 2.3-4.5-6.8-9 (R./2b) 2.ª leitura: Carta de Paulo Apóstolo aos Romanos (Rm) 12,1-2 Evangelho: Mateus (Mt) 16,21-27 Comentário: Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a sua vida?! (16,26). Uma das características mais evidentes da nova época em que vivemos, com sua economia do mercado, onde tudo se compra, tudo se vende, é estar gerando um espécime humano que faz do acúmulo de bens o primeiro e principal objetivo da sua vida. Mais e mais o ter é sinônimo de ser bem sucedido; e ser bem sucedido é, para este espécime humano, sinônimo de realização, de felicidade. Na coletividade que endeusa o ter, os shoppings são os novos templos onde o deus mercado é glorificado e adorado, incondicionalmente. Se o Deus cristão liberta e quer filhos e filhas livres, alegres e solidários, o deus mercado quer adoradores dependentes, escravos, individualistas, que cumpram com suas obrigações, comprando e consumindo todos os bens que exibe nas belas e iluminadas vitrines dos seus templos. A felicidade que o deus mercado oferece é o prazer de ter a casa e a vida abarrotada de coisas, mesmo sem saber para que serve tudo aquilo, realmente. Ganhar... comprar o mundo, se for possível, mesmo que para isso tenha que sacrificar, no altar do deus mercado, valores como a amizade, a honestidade, a justiça, a liberdade e, claro, a solidariedade. O que o deus mercado não pode garantir é uma vida com sentido. E somente uma vida com sentido pode fazer alguém feliz. Não a felicidade que o mercado oferece, mas aquela que se traz e guarda no lado esquerdo do peito. Perde a vida quem a vende ao deus mercado; ganha a vida quem faz do bem aos outros o seu bem maior e principal. attilio@livrariareus.com.br

 Notas  Igreja S. José - O Apostolado da Oração da Igreja São José está convidando os fiéis para o Retiro Aberto 2008, a ocorrer dias 2, 3 e 4 de setembro, com os temas Ano Paulino, Discípulos Missionários (Documkento de Aparecida) e Jesus Cristo, sensível ao sofrimento humano. Será pregador o Pe. Egon Binsfald. Informações pelo fone 3224.5829.  Vila Dique - Setenta famílias da Vila Dique, Bairro Mato Grande, de Canoas são sistematicamente ajudadas pela Pastoral Social da Paróquia S. Luiz Gonzaga da cidade. As ações são desenvolvidas a partir de um Centro Social viabilizado pela Paróquia. No sábado, dia 9 de agosto, integrantes da Pastoral organizaram um mutirão e estiveram na Vila para distribuir ranchos e brinquedos aos mais necessitados. O local é um aterro de contenção à beira do Rio dos Sinos e apresenta condições

habitacionais muito pobres. “Não existe nem saneamento básico”, explica a secretária Lourdes, da Paróquia.  Lar S. José - O Lar S. José, ligado ao MDV-Movimento Defesa da Vida, que abriga adolescentes em situação de vulnerabilidade social, está precisando de trabalho voluntário para as áreas de computação, reforço escolar, acompanhamento eventual, em final de semana, catequese e psicologia. Adesões pelos fones 33114087 e 32233714.  Grupo Bom Pastor - São as seguintes as datas dos Encontros de Reflexão da Pastoral Familiar Casais em 2ª União Grupo Bom Pastor na Arquidiocese de Porto

Cláudio W. M. F. da Silva - 21/08 Antoninho M. Naime - 30/08

Alegre: a) dia 14 de setembro, das 8 às 20 horas, para todas as Paróquias da Área Pastoral Navegantes; o encontro será realizado na Paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus e as inscrições deverão ser realizadas nas Secretarias das Paróquias da Área; b) dia 28 de setembro - Área Pastoral Petrópolis Informações e inscrições na Paróquia São Sebastião Mártir, fone 3331-2708, av. Protásio Alves, 2542; e c) dia 19 de outubro - Área Pastoral Canoas Leste - Informações e inscrições na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, fone 3477-6641, rua Teófilo Otoni, 67, bairro São Luiz.

Flávio J. Zanini - 24/08 Ilse P. Moesch - 31/08


Porto Alegre, 16 a 31 de agosto de 2008

Colégio S. Francisco inaugura Centro Social Foi dia 30 de julho último, em cerimônia presidida por Dom Dadeus Grings e presença de autoridades religiosas e políticas. O Centro Social S. Francisco fica na Rua Adão Severino, s/n na Vila Recanto do Sabiá, no Bairro Mário Quintana, uma das regiões mais pobres da zona morte de Porto Alegre. Segundo o Diretor do Colégio S. Francisco, Pe. José Luiz Schaedler, “o Centro Social S. Francisco e a Diaconia Santa Izabel passam a ser o braço social do nosso colégio que lá já investiu para o uso da área, mandou construir o setor administrativo e a área coberta para o desenvolvimento das atividades”. Para o diácono permanente Léo Artur Eberhardt, coordenador da Diaconia S. Izabel a quem ficará afeto o Centro Social, “o trabalho aqui é com os pobres, junto deles. Queremos desenvolver a Pastoral da Criança, dar atenção aos idosos da vila, e realizar trabalhos sociais caritativos com distribuição de alimentos, roupas, e ensinar a eles a fazerem também e cuidarem de si na limpeza e higiene e a cozinhar. Também quero ver se consigo que uma vez por mês venha cabeleireiro, manicure, enfermeira, todos voluntários para o que já estamos aceitando alistamento. Meu telefone é 3386.7916, além do telefone Colégio S. Francisco - telefone 3366.3800 - que é o nosso grande esteio, a nossa retaguarda”. O arcebispo Dom Dadeus Grings concorda que o Centro Social “ficou muito bem situado com essa diaconia. Todos os centros sociais têm essa finalidade de mostrar a solicitude da Igreja, porque o símbolo do cristianismo é a cruz onde a linha vertical aponta para Deus e a horizontal aponta para o entorno, para o amor ao próximo. Sem amor ao próximo não existe amor a Deus. Atender os mais carentes é um sinal de estarmos solidários com essa realidade de pobreza e com as pessoas que mais precisam. O que fizeres ao menor dos meus irmãos é a mim que o fazeis, diz Jesus”.

Jornal Solidário na formação pastoral É o que vem implementando o Pe. José Antônio Heinzmann, pároco da Igreja Santa Rosa de Lima, no Bairro Rubem Berta, comprando 500 exemplares por edição para distribuir aos paroquianos após as celebrações litúrgicas. “Nada melhor que um jornal católico para suprir a impossibilidade de pessoas sem tempo para freqüentarem cursos e adquirirem algum conhecimento mais amplo sobre a caminhada pastoral da Igreja. O Solidário tem boas reportagens e artigos sobre catequese, liturgia, família. Outro dia levei um artigo muito oportuno para uma família que estava orientando. Eles leram e ajudou muito a superarem dificuldades que estavam enfrentando. Comecei a distribuir para os nossos 300 dizimistas. E agora todos recebem, os que vêm à missa recebem. O pessoal sai contente. Meu Deus do céu, é tão bonito vê-los saindo lendo o Jornal. Assim talvez ajude a criar esse hábito de leitura”.

Jornal é investimento

“Quero que a comunidade cresça ainda mais. Dom Dadeus Grings

Pe. José Schaedler

CianMagentaAmareloPreto

Diac. Leo Eberhardt

Eu acredito nisso. Uma coisa é você fazer uma construção material. Mas temos que fazer a construção espiritual. Para mim, a compra do Solidário não é gasto: é investimento que estou fazendo para o futuro. Porque estou formando meus líderes. Não podendo participar de cursos, mas lendo o Jornal, eles abrem horizontes e estão por dentro de uma caminhada maior”.

Reanimação

A Paróquia Santa Rosa de Lima, após um período de muita dificuldade que resultou até em desativação temporária, está com total efervescência pastoral e litúrgica após a chegada do Pe. José Antônio Heinzmann, há quatro anos e meio. As celebrações são concorridas, mesmo no meio da tarde de dias de semana. “Isso é uma graça de Deus. Aqui estamos com mais de 300 jovens participantes dos movimentos. Domingo passado, 34 jovens fizeram Onda. Cheguei aqui não tinha nada. Hoje faltam salas. Estamos com mais de 30 movimentos na paróquia, por semana”.

Assembléia define diretrizes na Diocese de S. Cruz Realizada entre 29 e 31 de julho último, a 10.ª Assembléia Diocesana de Evangelização teve 510 representantes das 51 paróquias da Diocese. E definiu as seguintes metas, constantes na “Carta ao povo de Deus que vive no território da Diocese de Santa Cruz do Sul’, divulgada pelo Bispo Diocesano D. Sinésio Bohn: 1. Evangelização e renovação das comunidades: assumir a evangelização e a renovação das comunidades, visando a uma Igreja-comunidade missionária e orgânica; 2. Juventude: promover, fortalecer e assumir a formação de lideranças para a evangelização das juventudes; 3. Família: constituir a Equipe da Pastoral Familiar Diocesana; 4. Metodologia Pastoral: ser uma Igreja Samaritana com capacidade de dialogar em torno da vida e da solidariedade, constituindo comunidades como núcleos de relações; 5. Formação de Agentes de Pastoral: preparar e organizar o Projeto Global de Formação em vista da unidade, qualificando e ampliando o Centro

Diocesano de Formação Pastoral e Teológica e disponibilizando pessoas qualificadas para cursos; 6. Igreja e Sociedade: promover maior unidade nas pastorais sociais e ampliar parcerias, com acompanhamento dos trabalhos; 7. Igreja e Ecologia: promover uma conscientização diocesana em torno da questão ecológica, fortalecendo e apoiando iniciativas já existentes: Comissão Pastoral da Terra, Banco das Sementes Crioulas, Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor, bem como firmar parcerias com prefeituras, sindicatos e outras organizações da sociedade; 8. Ecumenismo: cultivar a espiritualidade de comunhão com as demais Igrejas Cristãs; 9. Sustentação: incentivar e organizar a implantação da equipe de sustentação. Implementação da equipe diocesana, paroquial e comunitária; 10. Pastoral da Comunicação: assumir a Pastoral da Comunicação como causa prioritária da evangelização na Diocese; 11. Ministérios na Igreja: organizar o Serviço de Animação Vocacional na Pastoral de Conjunto.


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