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Porto Alegre, 16 a 30 de setembro de 2008

Ano XIV - Edição No 522 - R$ 1,50

Jovem tem vez

Eleições estão aí, mas já não empolgam .

A mestre em Ciências Políticas e doutoranda em Ciências Sociais Aplicadas Arlete Arruda (à esquerda) faz uma análise do momento político atual, em especial sobre o descrédito naqueles a quem estão confiados os destinos do País. Página 6

Nosso destaque de hoje é a jovem Sandia Monteiro Rodrigues, 20 anos. Para ela, Deus é sempre o melhor caminho. Página 2

Santa Casa de P. Alegre Pe. Edgar Jost O poder político tornado serviço

Há 50 anos na Santa Cecília

Diversamente do uso do poder político para fins muitas vezes menos honrosos, a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre é o testemunho vivo da política para o bem comum, do uso do poder – espiritual, pastoral e político – para servir a comunidade indistintamente. O Rio Grande e o Brasil carecem de líderes e referências de esperança, dignos e ousados, capazes de mobilizar forças para a busca do bem comum, como foi Dom Vicente Scherer (foto acima). Página 7

Solidário O Jornal da Família aceita propaganda de candidatos a cargos eletivos. APEDIDO

Votar em NEDEL é a segurança da continuação de um trabalho intenso por temas importantes para você: x x x x x x x x

Princípios e valores cristãos Defesa da família Promoção da saúde Promoção da segurança Promoção do desenvolvimento Promoção do turismo Presença nas comunidades Muito trabalho pela cidade

A FORÇA DAS NOVAS IDÉIAS Comitê: Rua Luciana de Abreu 272 – M.Vento – Fone 3264.9137 - Site: .www.nedel.com.br

CianMagentaAmareloPreto

A exemplo de seu amigo e colega Pe. Máximo Benvegnù da Igreja da Auxiliadora, ele também chegou no mesmo sete de setembro de 1958 para uma nova missão a que fora designado pelo seu bispo D. Vicente Scherer. Tinha dois anos de padre e menos de 30 de idade. Importava arregaçar as mangas e começar. A paróquia Santa Cecília, no Bairro de idêntico nome, precisava de um animador. “São 50 anos de pároco, todos dedicados à construção do reino de Deus em nossa paróquia. É uma história de evangelização que nos enche de alegria e que deixou marcas profundas na vida de cada um de nós e na comunidade”, destaca a coordenadora do Conselho Pastoral Paroquial, Tereza Diniz. “É um dom de Deus. Se viver é conviver, há 50 anos que convivo com milhares de pessoas muito especiais que Deus, nosso bom Pai, colocou no meu caminho na Paróquia Santa Cecília. Deixei-me cativar e cativei, criei muitos laços de fraternidade e amizade. Sinto-me eternamente responsável por cada pessoa. Sou muito feliz”, declara Pe. Edgar.


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cidadania

Editorial

E

O compromisso social

stamos às vésperas das eleições que vão definir quem vai assumir a responsabilidade de governar os municípios brasileiros - prefeitos, vice-prefeitos, vereadores - mulheres e homens que apresentam seus nomes para o sufrágio popular. Mais uma vez se nota uma grande apatia por parte do eleitorado e muitos dizem, abertamente, que vão comparecer às urnas apenas para não sofrer as sanções previstas em lei aos que se abstêm de votar, mas que irão anular seu voto. “Político é tudo igual”, ouve-se muitas vezes num português incorreto. A omissão no campo político é, talvez, um dos principais pecados sociais, tão ou mais nefastos que muitos pecados pessoais, porque suas conseqüências afetam a milhões de pessoas. A participação ativa na vida pública, que tem seu momento forte e mais democrático nas eleições, é uma obrigação de consciência e um compromisso de fé. Aqui se poderia dizer que uma fé, sem compromisso sóciopolítico, é uma fé vazia, morta, porque lhe falta uma dimensão essencial que Jesus aponta no texto de Mateus: “Eu tive fome, sede, estava nu, na prisão, era migrante... e tu me acolheste” (cf MT 25,31-46). A construção de um outro mundo possível, justo e solidário, passa por este compromisso social que tem no voto consciente a atitude mais digna e responsável (página 6). Para alguns ouvidos soaria escandaloso dizer que o saudoso cardeal Dom Vicente Scherer teve, já no final de sua vida, uma atuação sócio-política do mais alto significado e importância. Dom Vicente usou seu poder e autoridade para servir e salvar da eminente falência uma obra de grande benemerência: a Santa Casa de Misericórdia. Seu amor ao Deus da Vida o levou a oferecer possibilidades de vida a milhares de homens e mulheres, jovens e crianças que continuam buscando a recuperação da saúde nesta Instituição. O nome de Dom Vicente foi, com toda justiça, perenizado num dos hospitais do complexo hospitalar da Santa Casa: Hospital Dom Vicente Scherer (página 7). O Rio Grande do Sul possui, agora, 18 Dioceses, com a solene instalação da Diocese de Montenegro e a posse de seu primeiro bispo, Dom Paulo Antônio de Conto. Desmembrada da Arquidiocese de Porto Alegre, a nova Diocese conta com 30 paróquias, é celeiro histórico de vocações sacerdotais e religiosas, tem uma estrutura sócio-política muito boa, inexiste, praticamente, o analfabetismo, e conta com alguns municípios que ocupam os primeiros lugares em qualidade de vida no Brasil (contracapa). Convocado pelo Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), aconteceu em Bogotá, Colômbia (03 a 05/09), o encontro sobre ética na comunicação. Cerca de 40 comunicadores debateram a incidência ética nas políticas de informação e comunicação e definiram alguns referenciais para atuar neste meio. As grandes empresas de comunicação em geral ainda não despertaram para a urgente necessidade de uma comunicação ética que repercuta os valores humanos da solidariedade, da justiça, da compreensão e do compromisso com a construção de um mundo mais humano e uma sociedade mais igualitária e digna para todos. Essa realidade justifica plenamente e dá todo o sentido a esta convocação por parte da igreja latino-americana que chama a si parte da responsabilidade de afirmar uma comunicação e informações éticas, que sirvam para o maior bem para o maior número de pessoas. Hoje, é praticamente consenso: sem ética, o mundo não tem futuro (contracapa).

Jovem

tem vez

ENTREVISTA COM SANDIA MONTEIRO RODRIGUES 1. Quem és tu? Me chamo Sandia, tenho 20 anos, tenho um irmão chamado Leo Jr. que é um tagarela e preguiçoso, mas ele é legal, inteligente e meu parceiro. Torço pro Grêmio, adoro sair e encontrar meus amigos, pra conversar, pra balada, pra ajudar, pro que der e vier, assim como na minha família, que é a minha base. E adoro ter alguém do meu lado (namorado ou ficante).

fé, Deus, moda, roupas, calçados, lugares, bares, mundo, filhos, guris e tais.

2. O que pensas fazer no futuro? Eu comecei semana passada a trabalhar num escritório de advocacia e comércio exterior, como secretária, pretendo fazer um curso de espanhol, e um de técnico em contabilidade, para aperfeiçoamento na profissão, e para crescimento pessoal. Tem uma filial dessa empresa na Argentina, e de repente posso fazer um intercâmbio. Também pretendo formar uma família, ter filhos, amá-los e viver pra eles. 3. O que é que tu gostas em teus pais? Pai: gosto dele porque ele é divertido, brincalhão, trabalhador, guerreiro, atrapalhado... haha... não se intromete muito na minha vida pessoal, nem profissional, só me dá conselhos quando peço, ele diz que deixa essa parte pra mãe...hehe... Mãe: amo tudo nela, ela é linda por dentro e por fora. Ela me aconselha sempre sobre tudo, e deixa eu decidir sabe?, mesmo eu não fazendo o que ela disse que seria o correto, ou o melhor pra mim. Ela é uma mãe maravilhosa, querida, decidida, esperta, inteligente, bondosa, humilde, caridosa e tudo que há de bom. 4. O que é que não gostas em teus pais? Pai: ele é muito nervoso, ele não sabe conversar, só porque ele é mais velho não quer dizer que esteja sempre certo, ele impõe muita autoridade. Mãe: é que normalmente ela está certa, então quando ela está errada ela não admite. 5.Quais são os assuntos que mais conversas com teus/tuas amigos(as)? Família, festas, amigos, amor, trabalho, orkut,

6. Fala de tua religião? Sou católica. Gosto de ser católica porque não tem muitas restrições físicas (não cortar os cabelos, não usar calça, não usar maquiagem...), é a maior do mundo, tem uma arquitetura linda, podemos cantar todos os ritmos de música, o que interessa é a mensagem, tem vários grupos para participar na igreja, desde pequenino até o idoso. Não gosto quando dizem: se tu não fores à missa um domingo, cometeu pecado, eu não concordo porque tem muita gente que só freqüenta a igreja, vai lá reza, e quando sai de lá não faz nada de bom por si, nem pelos outros. Há também umas coisas fora da realidade, tipo que é pecado usar camisinha, pecado é não usar e parir um monte de filhos sem ter condições de criar, esse tipo de coisa que ficou pra trás, e que não tem cabimento com a realidade que enfrentamos no mundo de hoje, isso eu acho que deveria ser mudado. O mais importante da minha religião é a minha fé em Deus, e que sempre podemos ser pessoas melhores, colaborando assim para com um mundo melhor. 7. Qual a mensagem que envias aos jovens de hoje? Diria que não importa a situação pela qual eles estão passando, que Deus sempre é o melhor caminho, e que só Deus te dá todo dia o milagre da vida e “uma página em branco para, se tu quiseres fazer tudo diferente, só basta tu querer”. Que a vida é maravilhosa, apesar de tudo de ruim que acontece no mundo, ou melhor, com as pessoas, porque elas é que são o mundo, vale a pena viver, amar, rir, se divertir, seja numa viagem, ou de uma simples piada que um amigo te conta. Faz valer a pena, e não deixa para amanhã o que tu podes fazer hoje! (Obs. As idéias e opiniões aqui expostas são de inteira responsabilidade do(a) entrevistado(a). São úteis para conhecer a alma jovem e orientar uma “Pastoral da Juventude”)

attílio@livrariareus.com.br

Fundação Pro Deo de Comunicação Conselho Deliberativo Presidente: Dom Dadeus Grings Vice-presidente: José Ernesto Flesch Chaves Voluntários Diretoria Executiva

Diretor Executivo: Jorge La Rosa Vice-Diretor: Martha d’Azevedo Diretores Adjuntos: Carmelita Marroni Abruzzi e José Edson Knob Secretário: Elói Luiz Claro Tesoureiro: Décio Abruzzi Assistente Eclesiástico: Pe.Attílio Hartmann sj

Chegou Ano XIV – Nº 522 – 16 a 30/09/08 Diretor-Editor Attílio Hartmann - Reg. 8608 DRT/RS Editora Adjunta Martha d’Azevedo Revisão Nicolau Waquil, Ronald Forster e Pedro M. Schneider (voluntários) Administração Paulo Oliveira da Rosa, Ir. Erinida Gheller (voluntários), Elisabete Lopes de Souza e Davi Eli Redação Jorn. Luiz Carlos Vaz - Reg. 2255 DRT/RS Jorn. Adriano Eli - Reg. 3355 DRT/RS Impressão: Gazeta do Sul

Rua Duque de Caxias, 805 – Centro – CEP 90010-282 – Porto Alegre/RS Fone: (51) 3221.5041 – E-mail: solidario@portoweb.com.br

LIVRO DA FAMÍLIA 2009 Livraria Padre Reus está oferecendo a edição do Livro da Família/2009. Adquira seu exemplar ou faça seu pedido no endereço abaixo, que teremos a maior alegria em atendê-lo. Também o Familien-Kalendar/2009 está disponível. Lembrando: a Livraria Padre Reus é representante das Edições Loyola para o sul do Brasil.

Livraria Editora Padre Reus

Caixa Postal, 285 - Duque de Caxias, 805 - Cep 90001-970 Porto Alegre/RS - Fone: (51)3224.0250 - Fax: (51)3228.1880 E-mail: livrariareus@livrariareus.com.br Site: http://www.livrariareus.com.br


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família e sociedade

Amar

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não é assim tão simples!

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Deonira L. Viganó La Rosa

N

Terapeuta de Casal e de Família. Mestre em Psicologia

ada mais desejável do que amar e ser amado. Entretanto, certas formas de amor podem ser nocivas, por vezes até destrutivas, já que não se pode confundir conceitos como dependência e amor, posse do outro e amor, desejo do outro e amor. Como a boa semente e o joio, esta busca afetiva que leva à posse se mistura com o respeito ao outro, o cuidado em entendê-lo e vê-lo crescer. Aliás, alguém pode ser amoroso, sem sentir-se dependente? Como não ter desejo de possuir o ser amado e como não ter medo de perdê-lo? - Eis aí o desafio!!

Por que meu parceiro me escolheu e por que o escolhi?

Será útil que descubras o que no teu parceiro tanto te encanta e, paralelamente, procures compreender o que em ti fez com que ele te escolhesse. Porque a escolha amorosa não é aleatória, mas é, freqüentemente, fruto de movimentos inconscientes que a tornam assim tão misteriosa. A escolha afetiva de um adulto é nutrida pelo seu passado: depois de seu nascimento, nele são impressos prazeres, alegrias, ofensas, sofrimentos, revoltas, os quais engendram necessidades de compensação ou desejos de reparação. Tudo isto, ele espera realizar no seu cônjuge. Estas necessidades latentes e inconscientes não podem ser administradas se não forem reconhecidas pelos dois cônjuges, mas, com freqüência, vemos que cada qual reconhece melhor as de seu companheiro que as suas próprias, donde a importância do diálogo entre os dois. É o caso, por exemplo, de uma jovem mulher que escolheu um marido mais velho, tranqüilizador e protetor: ela encontra, enfim, no seu companheiro, a segurança da qual a privou um pai irresponsável. Mas, assim tranqüila, suportará ela muito tempo sua posição de criança? Seu marido-pai compreenderá a ambivalência de seu pedido: ser protegida, enquanto reclama sua autonomia? Saberá ele favorecer sua emancipação, sem ter medo de perdê-la?

Afrontar as realidades ao invés de ocultá-las

Um casal nasce sempre no encontro de duas histórias que desejam entremear-se. Assim nasce a certeza de que um é feito para o outro. Este encantamento, esta impressão de predestinação são vivências emocionais intensas que, restaurando o narcisismo de cada um, criam a união do casal. O perigo destes tempos sonhadores está em que eles induzem cada cônjuge a negar aquilo que, em ambos, iria ao encontro do amor engajado. Portanto a capacidade de reconhecer no outro a divisão, por pequena que seja, que incomoda, desgosta, inquieta, e de dizer-lhe isto, é um elemento importante na construção do casal. Porém, falar daquilo que desagrada quando temos tantas coisas agradáveis a dizer, arriscar destruir as boas imagens de si, será mesmo necessário? Vemos jovens casais renunciarem a este diálogo verdadeiro e, para conter suas inquietudes, esperam a mudança do outro segundo seu bel

Imagem (modificada): Divulgação

prazer. Eu penso em uma mulher que escolheu desposar um homem que ela sabia que bebia, com a convicção de que seu amor o curaria. Mas, o amor não dá poder de mudar o outro, nem de sará-lo. Claro, na descoberta amorosa, certos comportamentos podem se modificar: as mulheres podem acompanhar seu marido no futebol, os homens podem acompanhá-las nos shoppings. Mas, se eles não encontram nenhum prazer nessas mudanças, eles as abandonarão ou as viverão com contrariedade. Quanto às mudanças profundas, a cura dos comportamentos mais patológicos, como o alcoolismo, a violência, a instabilidade, ou outros, elas supõem uma tomada de consciência daquele que é disfuncional e, a partir daí, sua decisão de cuidarse. Certamente, sentir-se amado e sustentado pelo seu cônjuge o ajudará. Eu vi muita gente generosa embarcar nas situações conjugais familiares fadadas ao sofrimento, eu ponho resistência a esta confusão entre o desejo de ajudar, de reparar, de salvar o outro, e o amor: piedade perigosa, desejo de posse engendram um projeto ilusório.

Fortalecer o projeto comum que funda o casal

Sim, o casal tem necessidade de projetos para construir-se. Antes que adaptar-se a um modelo idealizado, é preciso que se amarre a um projeto real e comum. Nós inventamos em nossos sonhos uma imagem idealizada de casal que, por definição, não existe na vida real. Arriscamos, pois, ser enganados comparando nossa vida conjugal com o modelo do sonho. Assim, o efeito dinamizante de um ideal a atingir termina em desencorajamento, em prejuízo, em culpabilidade. Quanto ao projeto comum, ele é a expressão mesma da fecundidade do casal. Ele se tornará o eixo ao redor do qual se organizará a vida do casal. Convém, pois, estar vigilante sobre a permanência da motivação comum dos esposos, e por isto parece prudente que eles amadureçam tranquilamente seu projeto e cada qual possa aderir a ele sem contrariedade afetiva nem precipitação. *Tradução livre e adaptação de texto de D. Balmelle, revue Alliance


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opinião

O inferno e a simbologia do fogo

Jogar fora não existe

O

Danilo Pretti Di Giorgi

Antônio Allgayer

Jornalista*

Advogado

uvi recentemente o economista Hugo Penteado questionando a idéia de “jogar algo fora”. Ele lembrou como temos o estranho costume de olhar o planeta como uma grande lata de lixo onde podemos descartar tudo. O “fora”, na verdade, não existe, se considerarmos que estamos todos “dentro” da Terra e que daqui não podemos sair, apesar dos delírios tecnológicos tão apreciados pelos que defendem a manutenção e até mesmo a ampliação dos níveis de produção e consumo atuais. Muito daquilo que produzimos e transformamos a partir dos recursos retirados do planeta vai continuar nos acompanhando na nossa caminhada. Aquela garrafinha PET – uma maravilha da engenharia que teria perfeitas condições materiais de continuar sendo reutilizada por muitos anos – não vai “desaparecer” dentro da lata de lixo depois de consumido seu conteúdo. Vai continuar presente, num lixão, testemunhando como nós a passagem do tempo, e por um período de tempo muito mais longo do que a duração de nossa vida. Para quem consegue compreender a idéia da Terra como “nossa casa”, é apenas uma questão de escala a diferença entre nossos lares e o planeta. Afora a questão do tamanho, não há maiores diferenças. O terreno onde está construída a casa onde moramos é limitado. É a mesma coisa com a nossa casa-planeta, o único lugar conhecido onde nossa espécie tem condições de sobreviver. Mesmo assim, apenas uma minoria parece estar realmente preocupada com as conseqüências ambientais da sociedade do consumo, que a cada ano produz uma quantidade de lixo maior, sem nenhum tipo de cuidado de larga escala com o seu tratamento. É inacreditável que ainda se discuta a responsabilidade das indústrias sobre os resíduos dos produtos que fabricam. É incrível que se fale tão pouco em redução da produção e do consumo quando sabemos que nossos resíduos não desaparecem simplesmente quando o caminhão do lixo passa pela rua onde moramos. Na realidade, o lixo desaparece apenas de nossas vistas. É desesperador, por exemplo, se dar conta de que a maior parte da população mundial sequer tem conhecimento dos perigos ambientais representados pelo descarte inadequado de pilhas e baterias e que por isso milhares delas continuam se encaminhando diariamente aos lixões. Pior ainda é testemunhar que aqueles que têm acesso a essa informação e que têm sob sua responsabilidade a gestão pública, não se dedicam a criar mecanismos sérios e efetivos para impedir que pilhas, baterias e outras fontes de venenos continuem contaminando irreversivelmente a terra e a água. Por que cuidamos tão bem das nossas casas e tão mal do nosso planeta? É difícil responder a essa pergunta, mas não é preciso ser nenhum gênio para perceber que estamos cegos, de cara na lama. Esse chafurdar, porém, se disfarça bem porque acontece ao mesmo tempo em que estamos envoltos numa aura de “modernidade” (no sentido besta do termo), cada vez com acesso mais facilitado a aparelhos eletrônicos de desenho futurista, cheios de luzinhas que fazem muita gente acreditar que o máximo da sutileza e da capacidade criadora humana está nas linhas arrojadas ou no acabamento interno de um automóvel de “alto padrão” ou numa ampla cobertura localizada em “área nobre” da cidade, montada com o que há de melhor na indústria da decoração de interiores. Os que não vivem essa realidade, ou seja, quase todos, se alimentam do sonho de um dia vir a vivê-la ou da chance de ter acesso a pelo menos alguns desses ícones do consumo. Transformamos-nos de cidadãos em consumidores. E com isso vamos consumindo o que resta do planeta, como cupins roendo lentamente as estruturas de um castelo que um dia virá abaixo. *digiorgi@gmail.com

A

idéia de um Deus castigador, policialesco, implacável, não rima com a epifania de um Deus clemente e misericordioso, um “humanissimus Deus”, que “come com os pecadores”, que se preocupa com os pobres, os desvalidos, os ninguéns-da-vida. Deus comparece, na trilogia segundo Lucas, como o pai que prepara uma festa para o filho transviado, o encerra nos braços e cobre de beijos, feliz por vê-lo de volta à casa paterna. João, em sua primeira epístola católica, diz que “Deus é amor” ( l Jo 4, 8). Se Deus é amor, como e onde situar o inferno? Preliminarmente cabe advertir que negar a existência do inferno seria colocar-se na contramão de textos bíblicos explícitos e transgredir um dogma de fé. O que teólogos de nomeada como Karl Rahner e Juan Luis Segundo negam é que o inferno seja um lugar. O inferno é, segundo eles, uma atitude, um situar-se intencionalmente num modo de ser e agir contrário ao preceito divino do amor. Uma catequese equivocada insinuava ser o inferno fornalha ardente reservada aos réprobos condenados a penas eternas. Simbolicamente tal lugar de suplício se situaria num vale de Jerusalém, denominado Geena. Era um lugar abominável, em que se imolavam crianças ao deus Moloc. Transformado em lixeira pública, nele havia fogo permanente (eterno...), vermes roendo dejetos orgânicos e, por falta de iluminação noturna, “trevas exteriores”. Hoje a Geena é um sítio limpo e urbanizado. Pude vê-lo de perto. Também Paulo, em se referindo ao inferno, faz uso da simbologia do fogo. Todavia, o fogo de que Paulo fala não atinge as pessoas e sim a obra. Paulo adverte que no Dia (do juízo) o fogo ao passar terá dúplice efeito: eliminará a obra edificada com material inflamável, como madeira, feno ou palha, deixando intacta a obra feita com material resistente ao fogo, como o ouro, a prata, as pedras preciosas. Assim sendo, o fogo provará o que vale a obra de cada um (l Cor 3, l l-l5 ). Aquele cuja construção é sólida, edificada sobre o fundamento que é o Cristo, receberá a recompensa. E quem construir mal sofrerá perda.

Na Bíblia de Jerusalém se diz: “Aquele, porém, cuja obra for queimada, perderá a recompensa. Ele mesmo, entretanto, será salvo, mas como que através do fogo.” Em nota ao pé da página se esclarece: “Isto é como alguém que escapa a um incêndio atravessando as chamas”. A salvação acontece em grupo, ou seja, em penca, mal comparada com um cacho de bananas. Paulo lembra que, se pela desobediência de Adão todos pecaram, pela obediência de Jesus “todos se tornarão justos” (Rm 5, l9 ). E afirma que onde abundou o pecado superabundou a graça. Admitir que Deus, cujo amor é incomparavelmente superior ao amor materno (Is 49, l5) permita que uma mãe recompensada com a visão beatífica saiba o filho condenado a penas eternas, seria negar que Deus é amor. Ora, a Bíblia, vale dizer a palavra de Deus, não veicula monstruosidades inadmissíveis. Como seres humanos, somos mescla de grandeza e miséria. Sempre teremos alguma falha a lamentar em nosso viver e agir. Edificamos com material resistente e também com material perecível. No entanto, sobrarão atos fundados no amor, os quais nada e ninguém nos poderá tirar. O mais humilde gesto de bondade do último dos últimos dos seres humanos está inscrito no Livro da Vida...! O inferno acontece em toda ação ou omissão destituída de amor. É o fechamento radical do ser humano em si mesmo, negando-se a sedar a fome ou a sede de alguém, a vestir um nu, a acolher um estrangeiro, a visitar um doente, a levar conforto a um encarcerado (Mt 25, 42-43). Rahner diz que o inferno é um não total a Deus. Segundo, levemente dele discordando, declara: “Nisso consiste o inferno: em que, de alguma maneira, o ser humano vai descobrir que parte de sua obra é destruída porque não merece formar parte do novo céu e da nova terra” (in Livres e Responsáveis, Paulinas, l998, p. 58). Em nossa vida real não raro nos flagramos praticando atos de amor. Apostaria que você nunca viu alguém que não tenha feito algo pelo próximo, nem que seja alcançar-lhe um copo d´água. Em todos os seres humanos há uma centelha do Amor incriado...! O sangue de Jesus, Deus Humanado, para ninguém foi derramado em vão...!

Profissão: aposentado! Carmelita Marroni Abruzzi Professora universitária e jornalista

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imprensa nos informa do número de candidatos a vereador no RS e suas profissões. Entre cerca de 100 profissões, aparece a categoria aposentados, com 870 pessoas! Que profissão é essa ? Que pessoas são essas? Que tipo de atividade exerceram? Em que área profissional atuaram? Todos ficam reduzidos a um rótulo único: aposentados! Decididamente, não gosto disto! Não gosto de ver como o termo aparece nos meios de comunicação, muitas vezes, até, com uma conotação nada positiva. Por que ocorre isto? De um modo geral na TV, o apresentador descreve um fato e conclui: o aposentado... Essas observações me levam a uma interrogação: como a sociedade vê o aposentado? Será que reconhece nele uma pessoa que por longos anos trabalhou e colocou o melhor de si naquilo que fez? Será que lembra os anos de dedicação, esforço e as experiências

que uma aposentadoria supõe? Recorda que a grande maioria desses aposentados recebe um salário mínimo e, com essa quantia, sustenta outros familiares e, até, jovens desempregados? Não sei. Talvez se precisasse repensar a maneira de se referir a esse segmento da população brasileira que se torna cada vez maior com o aumento da expectativa média de vida. Nem sempre jovens e adultos respeitam os velhos e aposentados, esquecendo-se de que logo chegarão lá, porque a vida passa muito depressa. Talvez alguma responsabilidade disso caiba aos próprios aposentados porque, quando interrogados, deveriam identificar-se pela profissão exercida, acrescentando, aposentado, se desejarem ou o contexto exigir. Afinal, a profissão ajuda a definir melhor a pessoa: nossa visão de mundo está muito relacionada à profissão que exercemos. Nós enxergamos uma realidade, mas a interpretamos sob a ótica de nossos conhecimentos e vivências profissionais. Talvez os próprios aposentados pudessem mudar essa situação, à me-

dida que se tornem mais presentes e ativos na sociedade, e que passem a ocupar espaços nos quais sua experiência seria valiosa e poderia ser melhor aproveitada. Há muitas atividades solidárias e trabalhos voluntários esperando por pessoas que disponham de tempo e condições de saúde para isso, o que ocorre, hoje, com muitos aposentados. Então, eles poderiam se dedicar a algo mais produtivo e compensador do que ficar apenas conversando em praças ou presos a um aparelho de TV. A aposentadoria se transformaria num tempo útil, mais alegre, gostoso de viver, e não num mero hiato cinzento entre o período de trabalho e os anos finais de uma vida. O mundo está à espera de todos nós. Se Deus nos deu mais tempo de vida e possibilidades de ainda realizar algo, temos de pensar sobre isso, atender a Seu chamado, porque um dia prestaremos conta do que recebemos. E, então, é possível que a sociedade passe a valorizar mais seus aposentados e o papel que eles exercem num mundo em constante mudança.

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educação e psicologia

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Olimpíadas Pequim 2008 Juracy C. Marques

Professora universitária. Doutora em Psicologia

“O mundo desmoronou, mas a vida continua” (um atleta que não conseguiu medalha). “Vamos desacelerar, acalmar... para depois atacar!” (treinador, ao pedir ‘um tempo’). Comportamentos e Atitudes

“Os chineses são educados, cordiais e infinitamente pacientes. Os chineses resolvem seus problemas com voz baixa e gestos curtos. Os chineses são suaves mesmo quando peremptórios. O brasileiro é grosseiro e intolerante. Quando não gosta, não critica, xinga. Fala alto, quando não grita; é espaçoso, quando não inconveniente. É mais que individualista, é egoísta. O brasileiro não sente respeito pelo outro. O que quer dizer que não respeita a si mesmo” (David Coimbra, ZH 19/Ago/2008). Havia necessidade de fazer um corredor em meio à multidão para que os atletas que iam fazer suas performances pudessem entrar no Ninho de Pássaro (o estádio monumental construído especialmente para as Olimpíadas). Ao invés de usar cordas de isolamento, os guardas que eram centenas, postaram-se ombro a ombro e foram, lentamente, empurrando o aglomerado, sem dizer uma única palavra, mesmo porque só falavam mandarim e o grande número de expectadores ao redor do estádio, quando muito, além de sua língua de origem, falavam um escasso ‘inglês de turista’. Mas, assim, criativamente resolveram o problema e os atletas percorreram um corredor formado pelos ‘homens da guarda’ até entrar com segurança no estádio onde eram esperados.

Choradeira e Euforia

Diego Hypolito chorou muito e pediu perdão ao povo brasileiro depois de cair no último dos últimos movimentos de sua apresentação no solo, na modalidade ginástica. “Não sei o que aconteceu, no treino tudo deu certo...” – choramingou. O gaúcho João Derley foi outro que chorou depois de ser desclassificado. As meninas do handebol, da mesma forma, choraram. Estavam cheias de esperança em fazer uma boa campanha, mas perderan para o time mais fraco e com menor tradição do torneio, a seleção sueca. Foi triste vê-las se desmancharem, queixando-se da falta de sorte. Os maus fluidos pareciam mesmo besuntar os atletas que vestiam verde-amarelo. Fabiana Murer chegou a perder uma vara de quatro metros e meio de comprimento exatamente no final do salto com vara em que brilhou a coruscante russa Yelena Isinbayeva. Junto com a vara foi-se a concentração e o controle emocional de Fabiana. Ela sentou-se na grama e chorou. E perdeu. Entretanto, a seleção de Vôlei feminino conseguiu sepultar o estigma de falhar nas horas decisivas e conquistou o ouro ao bater os EUA por 3 a 1. Elas também choraram, junto com seu técnico Zé Roberto, entre abraços

Foto (alterada): EPA/Julian A. Wainwright

e gritos de alegria, talvez sem saber, ou contando no fundo de suas mentes, com a vibração de todo o povo brasileiro, principalmente as mulheres que, diga-se de passagem, tiveram momentos gloriosos nesta Olimpíada.

Educação Física e Esportes

Os atletas, em geral, reclamam da falta de apoio institucionalizado para as várias modalidades esportivas, reconhecendo, entretanto, que futebol é uma exceção, através dos grandes e tradicionais clubes que mantêm ‘escolinhas’ de formação no preparo das futuras gerações de atletas, o que é confirmado pelo grande número deles que acaba sendo descoberto pelos grandes clubes internacionais e obtém grande sucesso no exterior, o que estimula os mais jovens.

As escolas, desde a Educação Infantil até as universidades precisam desenvolver atividades mais sistemáticas de Educação Física, a fim de despertar vocações que estão latentes, a procura de oportunidades, que não surgem por acaso, mas que freqüentemente ocorrem para aqueles que estão preparados e isto não acontece de um dia para outro. É sempre uma longa caminhada que envolve dedicação, esforço e muito apoio, tanto da sociedade como do sistema educacional e principalmente das famílias.


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tema em foco

Eleições de outubro

Votar por um Brasil melhor

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stá cada vez mais escancarado o declínio da ética na política contemporânea brasileira. A corrupção é praticada com os mais diversos métodos, campeia em todos os poderes e hierarquias, independente de matizes ideológicos: é o exercício do poder público para o mau uso. Não surpreende, pois, o descrédito na classe política. Mas são somente os políticos os culpados? Que parcela de culpa temos todos os brasileiros que os elegemos, não os fiscalizamos e muitas vezes os ajudamos a se reelegeren?

Em menos de um mês teremos eleições para prefeitos e vereadores. São cargos ainda mais sensíveis à falta de ética no seu exercício. É possível o voto pela mudança? Até que ponto os candidatos e os futuros eleitos estão preparados, têm intenções honestas de mudança e vida melhor para suas comunidades, coragem de dar um passo à frente, alguma capacidade de sacrifício, objetivos claros, senso de coletividade e altruísmo? Ou também não resistirão à tentação de fazer política em proveito próprio ou de grupos do círculo do poder? Ou continuar a privilegiar seus parentes para um emprego público em detrimento de profissionais mais bem preparados? Solidário ouviu a professora Arlete Aparecida Hildebrando de Arruda, mestre em Ciências Políticas e doutoranda em Ciências Sociais Aplicadas e professora universitária em Porto Alegre, Canoas e S. Leopoldo. A seguir, algumas oportunas reflexões.

Utopia e poder

O termo política está muito esgarçado. É preciso redescrevê-lo. Temos que considerar dois outros conceitos: o poder e a democracia. A quem serve o poder? Que tipo de poder aceitamos e que tipo de poder não desejamos? E, especialmente, que desejo ou utopia temos para o exercício do poder? Essa discussão redescobre o significado da política como a capacidade de planejar, para alcançar os valores, as crenças, as utopias e missão em que os cidadãos acreditam e creditam à Nação. Ter capacidade de planejar significa interessarse pelo cenário de conflitos abertos ou escondidos dentro das instituições e nas organizações que disputam o poder. Em resumo: entender o centro dos acontecimentos. Isso exige romper com o que mais se vê: uma fala desgostosa, espectadora, zombeteira, que se expressa por uma desesperança semântica, filosófica, teorizada, chata, repetitiva, desestimuladora da impetuosidade dos jovens.

Direito de sonhar e democracia

Aprecio o pensamento do filosofo Rorty que diz: “Você tem que ser fiel a um país de sonho, ao invés de ser fiel ao país em que você acorda todas as manhãs. O país do sonho de cada um deve ser um país que se possa imaginar sendo construído ao longo do tempo por mãos humanas”. Política assim é uma antevisão dos desdobramentos da forma de interação da maioria das pessoas com os seus próprios atos e pela conseqüência das suas próprias direções e metas. Isso tem a ver com democracia na medida em que se tem uma fé cívica de que não somos espectadores cosmopolistas distanciados e entediados, mas agentes que juntam conhecimentos com esperanças, que compartilham e cobram a realização dos sonhos coletivos. E mais, somos capazes de encarar as verdades desagradáveis sobre o nosso caráter nacional, mas que não podemos tomar como uma cristalização ou uma verdade imutável. Se temos confiança na democracia, como um sistema que está em contínua mudança, que possibilita a discussão e o enfrentamento de posições distintas, haverá a mediação e a pressão por transformações que visem aos ideais do bem coletivo.

Ser agente é selecionar alternativas de ação

Penso que ser agente é querer romper com a linguagem repetitiva cotidiana sobre a política. É assumir que as questões políticas são nutridas não só por variáveis econômicas, mas também culturais, históricas, sociais, ambientais. E, sobretudo, ser agente e é a possibilidade de selecionar alternativas de ação. É reconfeccionar as redes de crenças e desejos individuais e coletivos. No dizer de Lucrécia de Alonso Ferrara: “Cidadão é aquele que ultrapassa a condição do usuário urbano para assumir o pólo das decisões e vetorizar os destinos da cidade e dos interesses públicos”. Há

muitas formas e muitos canais de exercitá-los. O importante é vencer a perda de credibilidade na forma de poder chamada de democracia.

Nepotismo

Podemos dizer que avançamos muito. Porque, durante 400 anos, tive-

Descrédito nos políticos

Há uma desesperança perigosa contra a democracia. E, ao mesmo tempo, informações pouco investigativas por parte de comunicadores, como o Jô Soares e o grupo de mulheres jornalistas, vestidas de branco - como as virgens de um templo - no caso do midiático. Investidos de um poder de fofocar, com se fosse análise séria das lutas pelo poder, comandadam a descrença no país. Diferente da análise do humorista Peppe Grillo, da Itália, cujo objetivo parece ser mais claro: denunciar, propor, organizar uma forma de mobilização alternativa para melhorar a representação política. E o Peppe denuncia que as mídias agem segundo os interesses de quem lhes paga. E que há muito desapareceu o jornalismo investigativo.

Voto consciente A grande defasagem entre cultura política e ação participativa está nos partidos. Eles não fazem mais as discussões de programas, de debates internos, ou de debates virtuais. Temos que formar grupos por afinidades de discutir os temas que exigem criatividade e pressionar os partidos Prof. Arlete Arruda ao debate dos mesmos. Parece que aqueles eleitores que votaram, baseados em considerações do momento, mos um modelo de nepotismo aceito tendem a se esquecer, porque a vida e valorizado. Ora, um regime moem sociedade é dinâmica. Mas, os nárquico é a própria legitimação do eleitores que têm determinadas preonepotismo. Os títulos de nobreza cupações bem claras de seus interesses também. Os cargos de confiança de profissão, de temáticas, de identipertencem a familiares do imperador. dade ideológica, de gostos, de estilo A substituição pela República foi um de vida, estes lembram-se e visitam ou duro golpe no nepotismo esclarecido cobram posições do representante no e regido por lei. Assim, de lá para legislativo por vários meios. O ato de cá, houve uma tremenda mudanvotar é um ato consciente na mesma ça de mentalidade. A lealdade e o medida do que foi oferecido pelas compromisso com familiares serão instituições - escolas, universidades, cobrados dos eleitos. Haverá novos meios de comunicação, sindicatos, arranjos. Mas, as ações dos cidadãos partidos, igrejas - e o que foi buscatambém produzirão novas pressões e do pelo próprio eleitor. As pesquisas novas regulamentações. Já se pode eleitorais apontam um eleitor que sabe constatar pelas denúncias que há o que quer e o que não quer. Não é bem menos casos do que em anos ingênuo, mas tem seu próprio cálculo passados. Nos municípios dependem que muitas vezes não é o esperado da cultura política local. Ou do grau pelo script de nós, intelectuais. de organização da oposição.


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ação solidária

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Santa Casa de Misericórdia de P. Alegre O

Testemunho vivo da política para o bem comum

complexo do Hospital da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre é a perenização e atestado material incontestável de que é possível o exercício da política que se faz serviço para todos, acima de partidos, cor, poder econômico e religião. De que é possível usar o poder – espiritual, pastoral e político – para servir a comunidade toda.

No início da década de 1980, a bicentenária instituição estava com os dias contados: dívidas impagáveis, aparelhagem completamente sucateada, mão-de-obra desestimulada e a casa literalmente comida por cupins. Urgia salvá-la. Quem aceitaria o desafio? O escolhido foi um homem quase octogenário que teria todo o direito de um descanso depois de décadas à frente de dura e espinhosa missão, podendo recolher-se para meditar e escrever suas memórias ou simplesmente apreciar toda a obra que já realizara. Mas isso não lhe bastava! E era fácil vê-lo, bem cedinho, tomar o ônibus no fim da linha no bairro a que se recolhera e deslocarse ao Centro de Porto Alegre para visitar empresários e políticos em busca de adesões de solidariedade. Era o cardeal Dom Vicente Scherer: um homem, um cristão, um religioso que traduziu na prática todo o sentido original do fazer política. Que usou seu poder e respeito, amealhados durante sua gestão de quase quatro décadas à frente da Arquidiocese de Porto Alegre, para o serviço. Seu exemplo germinou e se transformou na talvez maior mobilização de solidariedade do povo gaúcho.

Uma nova Santa Casa

Além de conseguir reconstruir e reaparelhar todos os hospitais do complexo, ainda foi a chama inicial da construção de outros dois modernos hospitais: o novo hospital Santo Antônio e o que leva o seu nome. Após aceitar a incumbência, soube cercar-se de pessoas que se incorporaram àquele grande desafio, como João Polanczyk, Olímpio Dalmagro, Jaques Bacaltchuk e José Sperb Sanseverino. As necessidades do complexo hospitalar eram infinitas. Não havia alimentação adequada, medicamentos, roupas, higiene, e muito menos equipamentos. Havia, no entanto, o fundamental entre os médicos, enfermeiros, funcionários de diversas áreas que, assim como seu provedor; acreditavam na instituição. Dom Vicente Scherer faleceu em março de 1996. Seu sucessor é o atual provedor José Sperb Sanseverino, que já foi professor universitário, deputado, juiz federal, secretário da Justiça e procurador-geral junto ao Tribunal de Contas do Estado.

O amor a Deus foi sua força

É o que assegura Padre Antônio Domingos Lorenzatto, capelão do Hospital Divina Providência e que foi secretário particular de Dom Vicente nos seus últimos anos de vida. “Ele aceitou assumir a direção e salvar a agonizante Santa Casa. Além de seu grande amor a Deus e ao próximo, ele tinha uma inabalável disposição

Pe. Antônio Lorenzatto

José Sperb Sanseverino

para trabalhar. Depois de 34 anos à frente da extensa e populosa Arquidiocese de Porto Alegre, teria chegado o momento para descansar. Mas importava restaurar a entidade que os cupins tinham carcomido. Lembro que, em, 1981, ano em que entregou o governo pastoral ao seu sucessor, observava-me: ‘estou recebendo tantos e insistentes pedidos para que assuma a direção da Santa Casa. Acho que são vozes que representam o chamado de Deus”. E, decidiu, então, revestido apenas de sua fé e muita confiança, tomar as rédeas da empreitada. A posse realizou-se em 1.° de janeiro de 1982. Se não o tivesse feito, a Santa Casa teria fechado. Ele imitou Jesus que, a par da evangelização, curava os doentes. Por isso, se pode dizer também de Dom Vicente: “passou fazendo o bem e curando a todos...” (At, 10,38). Se não fosse humilde, não teria aceito o convite. Poderia ter pensado: “Eu, cardeal da Santa Igreja, rebaixar-me à condição de provedor? Nunca!”. Seu lema “Deus enviou-me para envangelizar” (1 Col, 1,17) pressupõe o amor a Deus e ao próximo, especialmente o necessitado e o doente”.

Honradez a toda prova

“A decisão de aceitar o desafio despertou a solidariedade em muitos corações. O povo brasleiro é bom, compassivo, solidário, generoso, especialmente com quem sofre. E, principalmente, o povo gaúcho não quer ser enganado. Não aceita que sua ajuda vá parar nos bolsos dos corruptos. Como todos conheciam a honradez e honestidade e competência de Dom Vicente e as necessidades da Santa Casa, prontamente arregaçaram as mangas e colaboraram. Graças a Dom Vicente, hoje a Santa Casa é um dos melhores hospitais de Porto Alegre e do Brasil”.

Fotos: Arquivo e S. Casa

Santa Rita, um dos hospitais do complexo Santa Casa

O complexo da Santa Casa é constituído das seguintes instituições •Hospital Santa Clara, o maior hospital do complexo, atua em clínica médica, cirúrgica e na área materno-infantil, e abrange 36 especialidades. Uma de suas unidades mais importantes é a Maternidade Mário Totta. •Hospital S. Francisco, um centro de referência no sul do Brasil na área da cardiologia intervencionista e cirurgia de coronária, também na área pediátrica. •Hospital S. José, referência em neurocirurgia há 50 anos, contando também com os serviços de neurofisiologia clínica e neuro-radiologia. •Pavilhão Pereira Filho, especializado em pneumologia clínica, cirurgia torácica e radiologia do tórax. •Hospital Santa Rita, referência em diagnóstico e todas as formas de tratamento em oncologia. •Hospital da Criança Santo Antônio. •Hospital Dom Vicente Scherer. Além de um Centro Clínico, possui o primeiro Centro de Transplantes de todos os tipos de órgãos e tecidos da América Latina. Foi inaugurado em dezembro de 2001.


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Em preparação as atividades do Mês do Idoso Atividades de lazer, cultura, esporte e conhecimento foram organizadas pela Prefeitura Municipal para celebrar o III Mês do Idoso, que acontece entre os dias 22 de setembro e 21 de outubro. Para mobilizar e integrar os 180 mil idosos da Capital, a iniciativa prevê algumas atrações como o Mutirão da Saúde do Idoso, a Grande Caminhada dos Idosos, a I Mostra de Canto e Dança da 3ª Idade e o Show da Musicalidade. A abertura oficial acontece segunda-feira, 22, às 14 horas, no Teresópolis Tênis Clube (Rua Egenheiro Ludolfo Boehl), com o Baile do Carinho. Durante o mês também haverá atendimento médico gratuito.

Conscientização da sociedade

Mercado de Ilusões

sobre o linfoma

Presidente da ALANAC - Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais

Merula Steagall Presidente da Abrale - Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia*

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linfoma é câncer. Informação é vida! Por isto, é de imensa importância a disseminação da consciência a respeito da doença. Com esse propósito, numa ampla ação de voluntariado, evidenciando o quanto a sociedade deve mobilizar-se no sentido de enfrentar seus problemas e contribuir para o bem comum, milhares de pessoas, em 20 países, estarão a postos, durante todo o dia 14 de setembro, transmitindo importante conhecimento sobre o tema à população mundial. Trata-se do Dia Mundial de Conscientização sobre Linfomas (cuja data oficial é 15 de setembro), uma iniciativa absolutamente oportuna e necessária, pois essa doença do sistema linfático, embora seja o quinto tipo de câncer com maior incidência, ainda é pouco conhecida. Assim, todo o empenho deve ser feito no sentido de despertar a consciência sobre a importância do diagnóstico precoce, que contribui muito para ampliar o percentual de cura e preservar a qualidade de vida dos pacientes.

No Brasil, o Dia Mundial da Conscientização sobre Linfomas tem especial relevância, pois somente 12% da população conhece esse tipo de câncer, cuja incidência é a que mais cresce a cada ano. Eventos simultâneos ocorrerão em Campinas, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Estas cidades irão somarse à grande corrente internacional voltada a transformar a informação em poderoso instrumento para o enfrentamento da doença. Embora ocorra em qualquer idade, o linfoma é mais freqüente em idosos. Na grande maioria das vezes, não se conhece sua causa, contudo parece estar associado à deficiência imunológica, provocada por diferentes causas. Não existe prevenção, mas a doença pode ser tratada, determinando a estabilização ou mesmo cura em grande número dos casos. Por isto, o diagnóstico precoce é crucial. Nos últimos 20 anos, a incidência desse tipo de câncer tem aumentado de 3% a 4% ao ano. Uma das causas mais prováveis é a maior longevidade das pessoas, considerando tratar-se de doença mais recorrente em idosos. A partir da suspeita — aparecimento de gânglios, principalmente no pescoço, associados a febre, suor durante a noite e cansaço —, há exames muito eficientes, capazes de diagnosticar a doença mais rapidamente e com precisão. Assim, inicia-se o tratamento, específico para cada tipo de linfoma. Um deles é o rituximab (Mabthera), combinado com quimioterapia, que aumenta em até 25% a chance de cura. O transplante de medula óssea é muito importante, mas não necessariamente leva à cura todos os casos. Outros tipos de tratamentos são a quimioterapia, radioterapia e anticorpos monoclonais. O mais importante é que o Dia Mundial da Conscientização sobre Linfomas, esta grande ação de voluntariado e boa vontade, possa sensibilizar e conscientizar milhões de pessoas, passo muito importante no enfrentamento da doença. É este o objetivo do evento, promovido pela organização internacional Lymphoma Coalition, representada em nosso país pela ong Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia). Num mundo que ainda não encontrou a paz e continua estigmatizado pela violência, a união de pessoas em favor da vida, como ocorre nesta grande mobilização, tem um significado ainda mais especial! *A autora é também presidente da Abrasta - Associação Brasileira de Talassemia

Carlos Alexandre Geyer

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ós, seres humanos, em que pese nossa apregoada racionalidade, costumamos nos deixar levar pelo apelo das mágicas soluções. Principalmente quando elas envolvem o sonho de vivermos uma vida plena de saúde, capacidade intelectual e jovialidade permanente. Estamos como o explorador espanhol Juan Ponce de Leon (1460-1521), que partiu de Porto Rico em 1513 em busca da “Fonte da Juventude”, cuja existência era afirmada por uma lenda indígena. Ponce de Leon descobriu a Flórida, mas morreu sem jamais encontrar a sonhada fonte. Certamente, não foi ele o primeiro ser humano a acreditar em tal quimera, pois o homem, desde que teve pela primeira vez consciência de sua finitude e das mazelas da saúde que enfrentaria ao longo de sua vida, começou a incessante busca do segredo da juventude e da saúde eternas. Que presa fácil acabamos nos tornando para aqueles que fazem do mercado de ilusões a fonte de sua riqueza. Neste mercado, encontramos soluções para todos os males que afligem nossa saúde, sempre há um produto adequado para as nossas necessidades, resolvendo a impotência sexual, a fadiga crônica, o stress, a falta de memória, retardando o envelhecimento e suas conseqüências, resolvendo o problema dos radicais livres e transformando nosso organismo num paradigma de saúde e longevidade. A promessa é de que seremos “Dorians Grays” modernos, o que envelhecerá será nosso retrato, jamais nós. Os produtos provenientes do mercado das ilusões são apresentados geralmente em atraentes embalagens, e podem ser encontrados em inúmeras das sessenta mil farmácias e drogarias existentes em nosso país, nas lojas de produtos naturais e nutricionais e principalmente através do serviço de televendas das empresas que atuam neste mercado. A sua procura decorre geralmente das inúmeras propagandas veiculadas nos diferentes meios de comunicação, onde espertamente dizem que não se trata de medicamento, mas “auxilia” de forma importante no tratamento das patologias que nos afligem. Praticamente, todos os produtos disponibilizados no mercado das ilusões tem algo em comum, a falta de registro sanitário na ANVISA. E apesar desta flagrante ilegalidade, disputam mercado com os produtos e medicamentos que se submeteram ao calvário burocrático para obter o registro sanitário, que autoriza sua comercialização dentro dos preceitos da legalidade. Infelizmente, é preciso também mencionar que muitos medicamentos vendidos no mercado das ilusões são manipulados, pois jamais teriam seu registro aceito pela ANVISA. Lembro que os conselhos que regulam o exercício profissional na área da saúde, especialmente o Conselho Federal de Medicina, tem orientado os profissionais da saúde para a falta de credibilidade de muitos dos tratamentos existentes no mercado das ilusões. Portanto, prezados diretores, gerentes e técnicos da ANVISA, a sociedade requer e exige sua atenção para o gravíssimo risco sanitário a que está exposta, em função dos produtos e “medicamentos” vendidos no mercado das ilusões. Nossos laboratórios, que atuam dentro dos preceitos legais e que não raro penam para cumprir questionáveis exigências burocráticas, que em nada afetam o risco sanitário, certamente serão gratos e reconhecidos se a ANVISA fizer o que dela se espera, no que respeita ao mercado das ilusões. Para finalizar, lembro àqueles que se locupletam através do mercado das ilusões, a afirmação de Eduardo Giannetti em seu magnífico livro intitulado “Auto-Engano”: “O hipócrita social em qualquer área de atividade, que por descuido perca o pé das pretensões que ostenta, tropece na consistência do papel que representa ou se enrede na teia de suas próprias mentiras perde o crédito e está falido”. É nossa esperança!


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espaço aberto

 Notas  Troféu - Nosso colaborador Norberto José Pinheiro Bozetti foi agraciado com o Troféu Câmara Municipal, outorgado pelo legislativo porto-alegrense  Vi v a a Vi d a - E s t á programada para os dias 3 e 4 de outubro a realização, na Paróquia Santo Antônio do Partenon, do 9.º Seminário Viva a Vida, promovido pela Pastoral da Saúde e sob o tema “Escolhe, pois, a vida”(Dt 39.19). O objetivo é oferecer conteúdos que proporcionem melhor qualidade de vida em todos os aspectos: emocional, físico, mental e espiritual. Assuntos em destaque: Plantas Básicas para Preservar a Saúde; Como Prevenir e as Causas do Derrame Cerebral; A Música Mediadora da Saúde; A Maior Doença Hoje é a Sensação de Abandono e de não Ser Amado; Relação MédicoP a c i e n t e ; Vi v a B e m com o seu Coração; Dores Articulares, Posturais e Artrose; A Saúde dos Intestinos; e A Harmonia dos Órgãos segundo a Medicina Tradicional Chinesa. Mais informações: fones: 513223.3494, 51-3223.2062; fax: 3217.7461; www. c a p u c h i n h o s r s . o rg . br/santoantonio; psantoantonio@gmail. com.

O ridículo que virou moda Ir. Hermes José Novakoski, PSDP

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Estudante de Teologia

prendemos muito sendo observadores atentos em todas as situações, mesmo as corriqueiras, como uma viagem de ônibus urbano. E esse hábito me levou ao fato que passo a contar: Sempre achei uma besteira colocar faixas e dizeres como estes que costumamos ler nos ônibus: “Banco preferencial para idosos, gestantes e deficientes”. Os mesmos dizeres também são comuns em bancos ou qualquer departamento que presta serviço. Hoje, infelizmente, essas ditas “besteiras” são necessárias, do contrário, ninguém é respeitado. Na sociedade em que vivemos, temos que escrever, colocar leis para que até o bom senso funcione. A gentileza, a cordialidade, a cada dia mais parecem coisas de outro mundo. Mas não são! Hoje, um destes fatos me chamou a atenção. No centro de Porto Alegre, no ônibus em que embarquei para ir para casa, como sempre, lotado, tinha uma senhora com seu filho pequeno nos braços. Ninguém, dos que estavam sentados, ofereceu o seu lugar para ela, a não ser uma senhora de idade avançada. Ela gentilmente se levantou, chamou a mãe que estava com o filho nos braços, e ofereceu seu lugar. Que gesto lindo! Soube depois, na conversa que tive com ela, pois estava próximo, que essa senhora tem 75 anos. É, no mínimo, estranho. Ela também faz parte da lista das pessoas que têm preferência para ficarem sentadas. Mas, como todos estavam muito cansados, alguns até cochilando, não lembraram de dar lugar para aquela mãe e nem sequer para aquela senhora. Fico triste que mesmo com os dizeres e placas lembrando, as pessoas se esquecem de ser gentis. Espero que um dia, quando essas pessoas forem idosas ou tiverem um filho no colo, alguém tenha a bondade de se levantar e dizer: “Sente-se aqui, meu senhor”. “Sente-se aqui, minha senhora”. Esquecemo-nos da gentileza, da caridade, da bondade, da cortesia, da educação social. Sabemos que é bom ser gentil, honesto, bondoso, mas não somos. Por que será? Talvez porque não amamos nem a nós mesmos. Isso revela o tipo de sociedade que estamos formando. Pessoas cada vez mais frias, calculistas, mal humoradas. Esquecem que são humanas e que um dia podem vir a precisar de um ombro amigo, de um lugar para sentarem! Sinceramente, creio que essas faixas, frases, dizeres são ridículos. Revelam o ridículo que somos e a sociedade ridícula que estamos construindo. A mudança que tanto queremos não está nos outros, mas em nós mesmos. Sonho com uma sociedade, uma comunidade, os lugares públicos ou privados, sem placas, dizeres, cartazes indicando a preferência seja lá para quem for. Não precisaríamos ser lembrados que temos que ser gentis, educados, honestos, verdadeiros. São qualidades que fazem parte da nossa natureza. Se não somos, é porque não queremos.

Especialista explica como liderança e motivação são essenciais para o rendimento dos atletas Os recentes insucessos de ginastas olímpicos brasileiros nas Olimpíadas de Pequim, como Diego Hypólito e Daiane Santos, comprovam que, para uma equipe ou esportista ser bem-sucedida, não basta que seus atletas estejam fisicamente preparados e que clubes e federações tenham bons patrocinadores. O aspecto psicológico é fundamental para a obtenção de bons resultados. Essa é opinião de Maria Aparecida da Câmara Nery, pesquisadora da USP (Universidade de São Paulo) especialista em psicologia do esporte. Ela é também formada em psicologia pela UNIP, pósgraduada em psicologia do esporte pela FMU, com mestrado em educação física pela USP. Segundo Nery, “a preparação psicológica é o grande diferencial de uma equipe. Ela é tão importante quanto o aspecto técnico e prático, porque antes de qualquer treinamento, o profissional deve lidar com os relacionamentos pessoais”. A psicologia começou a ser uma ferramenta

importante do esporte entre as décadas de 1950 e 1960, quando os EUA e a antiga União Soviética disputavam a hegemonia mundial em todas as modalidades. No Brasil, a primeira experiência com êxito aconteceu na Copa do Mundo de 1958, quando João Carvalhaes aplicou métodos de acompanhamento psicológico na preparação da seleção que se sagraria campeã do torneio. A partir dos anos 1990, psicologia e esporte se tornaram conceitos inseparáveis. Clubes e federações passaram a investir cada vez mais na preparação integral de seus atletas. Como explica Nery, “a psicologia já faz parte da linguagem do profissional de educação física. Aos poucos, essa visão passou a ser uma exigência na sua formação. Treinadores bem-sucedidos, como Wanderley Luxemburgo e Luiz Felipe Scolari, dão grande importância à preparação psicológica e ao aspecto motivacional da equipe”.

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Sem fronteiras

Presidência do Mercosul Martha Alves D´Azevedo

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Comissão Comunicação Sem Fronteiras

Brasil assumiu, no dia 1.º de julho último, a presidência rotativa do Mercosul, e deverá entregála ao Paraguai em dezembro. Nestes próximos seis meses, a diplomacia brasileira se propõe a realizar algumas ações prioritárias. Em discurso no Parlamento do Mercosul, o ministro Celso Amorim destacou, como tarefa prioritária, eliminar a dupla cobrança da TEC – imposto para produtos de fora do Mercosul, entre os países do bloco. O ministro considera essa medida um passo fundamental para consolidar a união aduaneira, e representará um avanço excepcional para a consolidação interna do bloco. A segunda tarefa, segundo Amorim, será avançar na construção do Fundo de Apoio a Pequenas e Médias Empresas, para contribuir na redução das assimetrias entre os países. A finalidade é facilitar a obtenção de crédito pelos pequenos empreendedores, e integrar os organismos de cada país, que fomentam as pequenas e médias empresas. Com essas medidas, os pequenos e médios empreendedores, especialmente aqueles instalados nos países menores, poderão exportar para o mercado regional. A terceira tarefa proposta pelo Brasil é concluir a adesão da Venezuela ao Mercosul, para uma integração sul-americana. Em seu pronunciamento no Parlamento, o ministro Celso Amorim afirmou: “Um Mercosul que se estenda do Caribe à Terra do Fogo...terá grande peso nas relações internacionais”. Quando o senador uruguaio José Mujica, um dos nomes cotados para compor a chapa da Frente Ampla (governista), que tentará suceder o atual presidente Tabaré Vasquez nas próximas eleições, declarou que o bloco regional “não caminhou”, é necessário lembrar, como Antônio Machado, em “Cantares”: “Caminante: no hay camino, se hace camino al andar...”

Visa e Mastercard


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igreja e comunidade

Catequese solidária

Voz do Pastor

O solidarismo

Ainda sobre o teatro na

Catequese Há várias modalidades de teatro e, de cada uma delas, podemos aproveitar sugestões para usar o teatro na catequese. Tradicional Teatro formal: com texto, cenário, figurino, palco, tudo organizado. O público assiste, sem ter participação direta. Vanguarda Não há palco definido. Atores se misturam ao público; o público se desloca para onde ocorrem as cenas; grande capacidade de dinamismo e de atrair a atenção. O público também pode participar. Mambembe É o estilo versátil, que vai às ruas, praças, hospitais... É preciso prever que será preciso improvisar locais para apresentação, para armar cenário, para se vestir, etc. Sociodrama Dramatização de situações cotidianas. O texto é improvisado. Mediante a intenção daquilo que se quer transmitir, combina-se a situação e são distribuídos os papéis. Bibliodrama É a encenação de textos bíblicos. Para crianças, tais encenações são muito importantes, porém, são necessárias adaptações no vocabulário e condensação de passagens muito longas. É preciso evitar a apresentação de fatos bíblicos de difícil interpretação ou que exijam um conhecimento mais aprofundado da História da Salvação. Cabe repetir os cuidados que devem ser tomados para que não haja deturpação do sentido do texto. Fantoches Diálogos curtos. Falar bem alto, devagar e claramente. É preciso treinar o manejo. Quem maneja, não deve deixar nenhuma parte do seu corpo aparecer. Os demais bonecos se voltam para aquele que fala e só o que fala deve se mexer. A boca abre na mesma proporção da quantidade de sílabas. Cuidado para que os bonecos não fiquem caídos sobre a cortina ou olhando para o alto! Há vários tipos de fantoches e você mesmo pode fazer um. Cenário O cenário, basicamente, pode ser composto por um painel ao fundo e por uma cortina. Um cenário mais completo contém móveis, árvores, objetos, divisórias, etc. Podem também ser usadas placas, indicando lugares “IGREJA”; “CASA”; “FLORESTA”. O importante é que seja sugestivo, que ajude a transportar a criança para o local onde se passa a cena. Muitas vezes, uma simples mudança na arrumação, resolve.

Dom Dadeus Grings

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Arcebispo Metropolitano de P. Alegre

a dialética entre as exigências do liberalismo, que privilegia o indivíduo sobre a sociedade, e do socialismo, que procede inversamente, dando primazia à sociedade sobre o indivíduo, aparece a terceira via, do solidarismo, como grande sistema social. Não se enquadra diretamente na antinomia indivíduo x sociedade, mas, mais objetivamente, põe o binômio família-sociedade como base de sua construção. Concebe o ser humano como pessoa. Mantém a definição de pessoa como fim em si mesma. Por isso, garante que ela goze da prerrogativa da liberdade. Mas a define também como relação. Não caracteriza, pois, a pessoa como indivíduo, que se encontra diante do Estado, mas como relação familiar: é pai ou mãe, filho ou filha, irmão ou irmã, tio ou tia, sogro ou sogra... A presença da família em sua vida é tão, senão mais essencial que qualquer membro de seu próprio corpo. Por isso, perder um membro da família costuma ser mais doloroso que perder um membro do corpo. Envolve luto e, muitas vezes, causa traumas insuperáveis. O solidarismo pauta as relações humanas pela solidariedade, fruto do amor. Sabe que o amor, para exercer sua ação no mundo, criou duas virtudes indispensáveis: a justiça, pela qual atribui a cada um o que é seu, e logo desce ao concreto, pela concepção que apresenta a respeito do ser humano como pessoa, para definir o ‘seu’ tanto pela natureza como pela ação. Sem uma concepção clara a respeito da dignidade humana, não se tem base para definir o ‘seu’ e, conseqüentemente, de estabelecer o que é justo. A segunda virtude, filha do amor, é a misericórdia. A justiça põe-nos no plano do direito. Pode ser reivindicada. Mas a vida humana está muito acima da justiça e do direito. Cristo garantira que, se nossa justiça não fosse maior que a de escribas e fariseus, não poderíamos entrar no seu reino. Há um vasto campo da vida que transcende infinitamente o direito. É simplesmente graça. A própria vida, como dom gratuito; o amor que não se merece, mas simplesmente se dá; e, acima de tudo, o perdão, que pode ser definido como característica do cristianismo. Não é, na verdade, humano, mas divino. Ninguém o merece. Pela justiça se merece castigo pela ofensa ou pelo crime. Por isso, uma sociedade que se baseasse somente nos requisitos da justiça

não seria cristã. Mas, no fundo, nem humana. Jesus manda perdoar assim como nós gostaríamos de ser perdoados. A lógica do Evangelho aponta para a fragilidade humana para garantir que ninguém – exceto Jesus Cristo e sua Mãe Santíssima – está isento do pecado. Corre por isso o provérbio que não há nada de perfeito neste mundo. Jesus manda cada um examinar-se primeiro a si mesmo antes de fazer um julgamento sobre os outros. E mais ainda: põe na dependência de nosso julgamento o modo como seremos julgados por Deus. Por isso, nos faz rezar diariamente: perdoai-nos, assim como nós perdoamos. E assegura: ‘Com a medida com que medirdes sereis medidos também vós’. Esta é a base da sociedade que queira merecer o título de cristã: feita na base do amor, o que envolve justiça e misericórdia. Certamente, mais misericórdia que justiça. Isso subverte a escala de nossos valores humanos. Só se entende e só se consegue vivenciar num clima de fé e, acima de tudo, num clima de família, inspirada pela fé. Ali entenderemos o que é amor e, em conseqüência, o que é solidariedade. Quando falamos de solidarismo, queremos estender este clima a toda a sociedade. Não, porém, à maneira liberal nem socialista, isto é, não tentando criar uma estrutura estatal, que envolva os seres humanos como indivíduos. Quando se garantem direitos humanos, normalmente se esquece a família, e, por isso, esquece-se de considerar que o ser humano não é indivíduo, mas família. Dir-se-á talvez que a proposta do solidarismo é utópica. Certamente, aparece como menos eficaz que o liberalismo e que o socialismo, cujas presenças se podem constatar claramente na organização do Estado e pela imposição de medidas aparentemente saneadoras dos diversos ambientes. Se, porém, tanto o liberalismo como o socialismo se mostraram ineficazes, não foi porque faltaram medidas concretas. Houveas até demais. Mas foi porque ambos partiram de uma base falsa: reduziram o ser humano ao indivíduo, cortando-lhe, na construção de seu sistema, as relações primárias. Lidaram com uma abstração. Ora, ele não existe assim na realidade. Portanto, sua construção se fez sobre o nada! O solidarismo, ao invés, não quer organizar uma sociedade de cima para baixo. Será, como a Igreja, um fermento na massa. Estará empenhado na criação de uma civilização do amor. Nunca estará perfeito. Mas constitui o horizonte da vida e da fé.

Leiamos a Bíblia Hélio Adelar Rubert Bispo de S. Maria

É

costume na Igreja Católica dedicar o mês de setembro para o incentivo da leitura, meditação, estudo, oração, partilha e vivência pessoal e comunitária da Palavra de

Deus. Um dos frutos mais importantes do Concílio Vaticano II foi reafirmar a centralidade da Palavra de Deus na vida da Igreja. O documento conciliar “Dei Verbum”, sobre a Palavra de Deus, afirma que “a Igreja sempre tem venerado as divinas Escrituras como tem feito com o Corpo do Senhor, não faltando jamais, especialmente na sagrada liturgia, de se alimentar do pão da vida da mesa, seja da Palavra de Deus, seja do corpo de Cristo, e de apresentá-lo aos fiéis (DV n 21). O Concílio procurou, de fato, colocar a Bíblia nas mãos dos fiéis. Dessa forma, a Palavra de Deus se tornou aquilo que já era no início da Igreja. Em nossos dias, a Bíblia está sempre mais nas mãos e no coração do povo como a “Leitura que Deus enviou aos homens”, livro de vida, objeto de profunda veneração, comparável ao Corpo do próprio Cristo. Nela se descobre o plano de Deus sobre o próprio homem, sobre o mundo dos homens e de todas as realidades. No intuito de valorizar ainda mais a Palavra de Deus na vida da Igreja, no próximo mês de outubro acontecerá em Roma o 12º Sínodo dos Bispos com o tema: “A Palavra de Deus na Vida e na Missão da Igreja”. É convicção da Igreja de que quando floresce a Palavra de Deus, tudo floresce na família humana. Analogamente afirmava Martinho Lutero no século 16: “Se floresce a Palavra de Deus, tudo floresce na Igreja”.

A Palavra de Deus é também uma fonte de Deus. Como diz o salmista: “É uma lâmpada para os meus passos, é uma luz sobre o meu caminho” (Sl 119, 105). Deus, que ama a vida, com sua Palavra quer iluminar, guiar e confortar toda a vida dos crentes em cada circunstância: no trabalho, no lazer, no sofrimento, nos afazeres familiares e sociais. A Palavra sempre tem algo a dizer em qualquer etapa da vida. Sempre tem algo novo a transmitir. Sabemos que a Palavra de Deus é mais do que a Escritura. Não somos uma religião do livro, mas da Palavra de Deus. A Palavra de Deus, que se fez carne, é Jesus. Portanto, a Sagrada Escritura é uma linguagem do Verbo, da Palavra de Deus. Jesus sempre está no centro. A Igreja é nutrida pela Sagrada Escritura para que seja expressão da Palavra de Deus. Daí a necessidade duma atitude de fé e de escuta para ler, estudar e viver a Palavra de Deus. É importante escutar pessoalmente, mas também na família e na comunidade. A liturgia é sempre o lugar ideal da Palavra de Deus que constrói a Igreja. A assembléia litúrgica escuta Cristo e o anuncia para o mundo. O grande desafio é centralizar a Palavra de Deus em nossas vidas e vivê-la. Não basta só ler e escutar. É preciso colocá-la em prática e partilhar. A Palavra de Deus não é como outras palavras. Ela produz o que diz, provoca a mudança de mentalidade, faz viver, realiza a conversão, liberta, dá alegria, paz e luz. A Palavra de Deus é poderosa. Convidamos e sugerimos que todos leiam a Bíblia diariamente e, neste mês de setembro, as cartas de São Paulo, pois estamos no Ano Paulino. O mundo tem fome e sede da Palavra de Deus. Deus oferece sua Palavra como alimento fonte de água viva. Façamos a experiência do poder da Palavra de Deus!


16 a 30 de setembro de 2008

comunidade e igreja MENSAGEM DA EQUIPE VOCACIONAL

A Vocação Como Motivo de Vida -Ser um vocacionado e viver a vocação é, sem dúvida,nos tempos atuais,uma decisão heróica,mas o heroísmo é, antes de tudo,uma atitude de grande disposição e humildade para servir ao próximo. -O estar disponível para viver, segundo os preceitos cristãos, tanto no sacerdócio como nas vocações religiosas e leigas,é ter uma vida realmente com sentido e justificada utilidade, ao levar os ensinamentos e a palavra de Cristo a todos. -O serviço prestado sem buscar nenhuma recompensa é o verdadeiro, o que realmente transmite a quem o recebe a presença do amor de Cristo no irmão. -O despertar da vocação e praticá-la é o grande desafio do vocacionado, pois na sua caminhada enfrentará obstáculos que muitas vezes o farão quase fraquejar, mas através da oração, a grande fonte alimentadora da perseverança, busca a força necessária. -As comunidades têm o dever de serem as grandes incentivadoras para o despertar das vocações; é delas que surgem os operários de Cristo. (Equipe Vocacional do Vicariato de Porto Alegre)

 Notas  Jornada do Terço - Acontecerá

na paróquia Auxiliadora, dia 4 de outubro, às 17 horas. Será um terço solene, com cantos do coral dos seminaristas menores dos Legionários de Cristo, reflexão evangélica com Pe. Juan Carlos, L.C. e bênção sobre as capelinhas de Nossa Senhora (quem tiver deve levar a sua, independente de qual seja a Nossa Senhora). A Jornada Mundial do Terço surgiu no México, em 1996, quando o Papa João Paulo II visitou o país. No período em que estaria lá, completaria 50 anos de sacerdócio, e por esse motivo um leigo teve a idéia de oferecer a oração do terço em comunidade pelo Santo Padre. Desde então, foi instituída a Jornada Mundial do Terço, onde os leigos se reúnem em comunidade e oferecem seu terço pelas intenções do papa e da comunidade.

 Camal - A Comissão Arquidiocesana dos Movimentos de Apostolado Leigo está convidando todos os Movimentos, Comissões e Serviços para que se façam representar por sua Diretoria ou Coordenação na reunião do dia 24 de setembro, às 19h30 min, no Centro Arquidiocesano de Pastoral. Estará presente na reunião o Cônego José Bonifácio Schmidt, vigário episcopal do Vicariato de Canoas, que tratará sobre o tema “A palavra é luz e caminho para a esperança e alegria de todos.”  Madre Tereza - O livro sobre a vida e memórias da grande líder religiosa e Prêmio Nobel da Paz escrito pelo reverendo Brian Kolodiejchuk chega ao país pela Thomas Nelson Brasil. “Madre Teresa - venha e seja a minha luz” reconstrói a trajetória religiosa de Madre Teresa de Calcutá, desde a sua ordenação, em 1931 até sua morte em 1997. Mais do que um estudo teológico, o livro é uma apresentação de aspectos da vida interior da religiosa.

Agenor Casaril - 03/09 Paulo D’Arrigo Vellinho - 06/09 Dom Dadeus Grings - 07/09 Correção: o aniversário de Antoninho Musa Naime ocorreu a 1.º de setembro e não a 30 de agosto, como veiculado

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Solidário Litúrgico 21 de setembro – 25.º Domingo do Tempo Comum ( )

28 de setembro – 26.º Domingo do Tempo Comum ( )

1.ª leitura: Livro do Profeta Isaías (Is) 55-6-9 Salmo (Sl) 144(145), 2-3.8-9.17-18 (R/.18a) 2.ª leitura: Carta de Paulo Apóstolo aos Filipenses (Fl) 20c-24.27a Evangelho: Mateus (Mt) 20,1-16a Comentário: O texto de Mateus deste domingo é, pelo menos, intrigante. Possivelmente, nós reagiríamos da mesma maneira como aqueles homens contratados no início do dia e que, ao receber o pagamento, reclamaram por não receberem mais do que o grupo que trabalhou apenas uma hora. O dono da vinha colocou as coisas no seu devido lugar: Meu caro, quando te contratei, combinamos que eu te pagaria uma moeda de prata no fim do dia. Estou sendo justo contigo, pagando o que acertamos. Mas eu quero pagar a estes últimos a mesma quantia, como um gesto de bondade, de apoio, de estímulo. Ou será que não posso ser bom porque tu tens inveja!? (cf 20,13-15). A bondade tem razões que a razão desconhece. O texto do Evangelho não explicita as razões daquela inesperada bondade do empregador, mas podemos admitir, tranqüilamente, que Jesus quis ensinar aos seus discípulos uma verdade: o mais importante para Deus não é o tempo de serviço nem o resultado do trabalho, mas o amor que se coloca naquilo que se faz. Por isso, pode-se dizer sem medo de errar: a bondade, filha do amor, tem razões que a razão de resultados desconhece. A sociedade do mercado e do lucro é a sociedade de resultados e, nesta sociedade, são consideradas mais importantes aquelas pessoas que conseguem acumular mais... possuir mais bens de todo tipo. Nesta sociedade, ser bom é ser fraco, ingênuo, bobo-alegre, otário. Jesus inverte a ordem da sociedade do lucro e diz, com todas as letras: no meu Reino, estes, que são tidos e se crêem os mais importantes porque podem ostentar muitos bens acumulados, nem sempre dentro das leis da justiça e da bondade, serão os últimos; e os bons, que não trabalham para acumular bens, mas colocam amor e dedicação em tudo o que fazem e que nesta sociedade são os últimos, serão os primeiros.

1.ª leitura: Livro de Ezequiel (Ez) 18,25-28 Salmo (Sl) 24(25), 4bc-5.6-7.8-9 (R/.6a) 2.ª leitura: Carta de Paulo Apóstolo aos Filipenses (Fl) 2,1-11 Evangelho: Mateus (Mt) 21,28-32 Comentário: Nunca é demais lembrar: o Concílio Vaticano II foi o evento mais importante da história recente da Igreja. E uma das decisões de maior relevância pastoral do Concílio foi a recuperação da leitura e estudo dos textos bíblicos por parte dos católicos. Nas celebrações, a Liturgia da Palavra ganhou o mesmo nível de importância e centralidade da Liturgia Eucarística. Os fiéis, catequizados antes do Concílio, ainda lembram uma das primeiras lições das aulas de catecismo onde se aprendia que a Missa tem três partes principais: o Ofertório, a Consagração e a Comunhão. E muitos católicos, chegando no momento do Ofertório, se auto-justificavam e acreditavam ter “cumprido com o preceito dominical” da “assistência” à missa. No imaginário dos católicos pré-conciliares, Bíblia era “coisa de protestante”! Com o Concílio, a Bíblia, Palavra de Deus, voltou a ocupar o seu lugar. Foi estabelecido que setembro seria o mês da Bíblia e que o último domingo deste mês seria o Dia Nacional da Bíblia. Mas há, ainda, um longo caminho por andar para que, nas famílias e nas comunidades cristãs-católicas, os textos sagrados se transformem no principal referencial da vivência da sua fé. O folclorismo da fé de muitos católicos tem muito a ver com seu “analfabetismo” bíblico. É sinal da presença do Espírito de Jesus quando, nas comunidades e nas famílias, a Bíblia não é um mero livro guardado numa gaveta ou colocado em alguma estante, mas é mensagem viva e atual, lida e refletida, rezada e praticada por todos. Na Bíblia aprendemos que, assim como o primeiro filho do texto de Mateus deste domingo, podemos dizer “não quero” e fechar-nos para o bem e a justiça, mas, arrependidos, mudar de opinião, e ir trabalhar na vinha do Senhor. Nesta vinha, há lugar para todos aqueles que crêem no Senhor Jesus e cumprem com seu mandato de justiça, solidariedade e amor.

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attilio@livrariareus.com.br


Porto Alegre, 16 a 30 de setembro de 2008

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A ética “vende” e está na moda

ealizar um encontro latino-americano, com a participação de jornalistas, comunicadores e Faculdades de Comunicação de vários países do Continente para discutir a ética nas comunicações, poderia parecer perda de tempo. Mas, quando se tem o resultado de uma recente pesquisa realizada com empresas de comunicação, onde o perfil do profissional que elas preferem aponta a ética como primeira e principal qualidade (80%), acima, mesmo, da qualificação técnica (50%), pode-se dizer que, contrariando o imaginário geral, o comunicador ético ganha espaço e relevância no contexto da sociedade atual. O encontro sobre ética na comunicação, convocado pelo Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), aconteceu em Bogotá, Colômbia (03 a 05/09), e reuniu cerca de 40 comunicadores interessados na incidência ética nas políticas de informação e comunicação e como referente para a atuação neste meio. Os participantes do encontro tinham muito claro que há grandes empresas de comunicação que ainda não despertaram para a urgente necessidade de uma comunicação ética que repercuta os valores humanos da solidariedade, da justiça, da compreensão e do compromisso com a construção de um mundo mais humano e uma sociedade mais igualitária e digna para todos. Essa realidade justifica plenamente e dá todo o sentido a esta convocação por parte da igreja latino-americana que chama a si parte da responsabilidade de afirmar uma comunicação e informações éticas, que sirvam para o maior bem para o maior número de pessoas. Hoje, é praticamente consenso: sem ética, o mundo não tem futuro. O principal expositor do evento foi o conhecido comunicador colombiano Javier Darío Restrepo (La Niebla y la Brujula, Colección Actualidad-Debate, 2008) que sintetiza, assim, o desafio/compromisso do comunicador ético: “Como jornalistas navegamos águas de risco todos os dias e, na medida que cresce a sensibilidade ética e profissional, se multiplicam os dilemas e as perguntas e se intensifica a necessidade de uma bússola, de uma estrela ou de qualquer luz que nos decifre o enigma da neblina”. O encontro sobre ética da comunicação/comunicação ética se insere num processo mais amplo de debate e que terá um próximo momento forte em novo evento a realizar-se em outubro do próximo ano, novamente em Bogotá. O jornalista Pe. Attilio Hartmann sj participou deste encontro, representando a Organização Católica Latino-americana e Caribenha de Comunicação (OCLACC), da qual é vice-presidente. A importância de uma comunicação ética será, também, central nos debates do Mutirão de Comunicação América Latina e Caribe que acontecerá em Porto Alegre, de 12 a 17 de julho de 2009.

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Pe. Erni Antônio Recktenwald

Cartaz do encontro realizado em Bogotá

A instalação da Diocese de Montenegro

Incentivo à boa leitura (Retificação)

Republicamos parcialmente matéria inserida neste espaço na edição 421 do Solidário por conta de informações incorretas. Erramos ao identificar a Igreja da Paróquia Santa Catarina, animada pelo Pe. Erni Antônio Recktenwald, como sendo da Paróquia S. Rosa de Lima. E erramos na sua localização que é na Vila Elisabeth, zona norte de Porto Alegre, e não na Vila Santa Izabel, localizada no segundo distrito do município de Viamão.

Olhar abrangente

Dom Paulo Antônio de Conto

Nem a fina e fria chuva diminuíram o ânimo de milhares de católicos vindos das 30 paróquias que compõem a 18.ª Igreja particular do Rio Grande do Sul para participar da solenidade de instalação da sua diocese e posse do novo bispo diocesano, Dom Paulo Antônio de Conto, dia 6 de setembro último. A Igreja Matriz S. João Batista – agora Catedral – ficou pequena e os fiéis puderam assistir e participar da cerimônia sob dois grandes lonões armados na frente do templo. A missa foi presidida Dom Dadeus Grings, arcebispo de Porto Alegre, e contou com a presença de Dom Lorenzo Baldisseri, núncio apostólico no Brasil, além de duas dezenas de bispos e centenas de padres. A celebração entrará para a história como um dos maiores eventos católicos já realizados na região. A Diocese de Montenegro se desmembrou da Arquidiocese de Porto Alegre. Foi criada em 2 julho de 2008 pelo Papa Bento XVI.

“É importante que os padres apóiem nossos meios de comunicação católicos, tanto impressos como a mídia eletrônica. O Solidário procura dar um enfoque mais abrangente, uma leitura mais contextualizada dos fatos. Eu sou de uma linha que segue o ‘ora et labora’. Isto é: oração e trabalho. E o Solidário está numa linha que combina, nem tanto comigo, mas com o Evangelho e não enfatiza somente a oração, esquecendo o mundo em volta. Agradam-me as matérias com conteúdo teológico e espiritual. Mas também aprecio as matérias que falam de política, cidadania, saúde, família e psicologia. Trocando idéia com o Pe. José Antônio Heizmann (Paróquia S. Rosa de Lima), penso que um pequeno investimento na compra do Solidário pode representar em belo resultado. Isso incentiva a leitura do povo católico”, destacou Pe. Erni Recktenwald.


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