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Porto Alegre, 16 a 31 de outubro de 2008

“Só depois que a última árvore for derrubada, o último peixe for morto, o último rio envenenado, vocês irão perceber que o dinheiro não se come.” (Pensamento indígena)

Ano XIV - Edição No 524 - R$ 1,50

É certo ensinar batendo nos filhos?

Página 3

Jovem tem vez

O destaque desta edição é Frederico Moesch (na foto, à esquerda, com familiares). Página 5

Preservação ambiental na formação escolar A Bíblia e a turbulência global

Em momentos de crise, a tradição judaico-cristã busca, e sempre buscou, luz para o caminho na sabedoria bíblica. E jamais se frustrou. Diferentemente de uma outra turbulência global, de verdadeiro pânico dos que fizeram do dinheiro seu deus, crêem que Deus morreu e agora não encontram mais saída. Na narrativa de quase cinco mil anos de caminhada espiritual e busca de fidelidade a um só e mesmo Deus, sempre haverá alguma lição a aprender e aplicar. Pensando nisso, a Igreja realiza entre 5 e 26 de outubro a 12ª Assembléia Geral do Sínodo dos Bispos, com o tema “A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”. Bento XVI, ao abrir o encontro, chamou a atenção sobre o equívoco da busca da felicidade sem Deus. “Quando o homem elimina Deus de seu horizonte, quando declara que Deus morreu, ele é verdadeiramente feliz? Faz-se verdadeiramente mais livre? Quando os homens se proclamam proprietários absolutos de si mesmos e únicos donos da criação, podem verdadeiramente construir uma sociedade na qual reinem a liberdade, a justiça e a paz? E, oportunamente, referindo-se à atual crise financeira global, comentou que “quem constrói sobre o dinheiro, constrói sobre a areia”, referindo-se à parábola do Evangelho de São Mateus, em alusão à passagem bíblica em que Cristo fala sobre dois homens, um sábio, que constrói sua casa sobre a pedra, e um insensato, que ergue a residência sobre a areia. O Sínodo é realizado, pela primeira vez, na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, para evidenciar que neste ano se celebram os dois mil anos do nascimento do apóstolo dos povos. Dele, participam especialistas bíblicos de todo o mundo - 52 cardeais, 14 membros das Igrejas orientais, 45 arcebispos, 130 bispos e 85 presbíteros. A jornada sinodal concluirá com as intervenções do rabino-chefe de Haifa (Israel), Shear Yashyv Cohen, e de um dos biblistas mais prestigiosos do mundo, o cardeal Albert Vanhoye, S.J. Na solenidade de abertura, o rabino expressou seu entusiasmo pela sabedoria dos livros sagrados: “É surpreendente constatar como as Sagradas Escrituras nunca perdem sua vitalidade e importância para apresentar questões de nosso tempo e época. Este é o milagre da perpétua Palavra de Deus”. Os sínodos – do grego sínodos: syn = com + odòs = caminho – é um organismo instituído em setembro de 1965 por Paulo VI durante a última fase do Concílio Vaticano. CianMagentaAmareloPreto

Familiarização, convívio e busca de sentido de toda criação fazem parte da formação dos alunos do Colégio Anchieta de Porto Alegre. A consciência ambiental é trabalhada em sala de aula, no Museu de Ciências Naturais e nos passeios e trilhas ecológicas realizadas em colônias de férias. As iniciativas objetivam formar o cidadão completo que inclui a administração responsável e sábia de todos os bens da natureza delegada por Deus aos homens, conforme ensina Frei Antônio Moser em entrevista nesta edição. Páginas centrais

Bíblia e o celular Já imaginou o que aconteceria se tratássemos a nossa Bíblia do jeito que tratamos o nosso celular? E se sempre carregássemos a nossa Bíblia no bolso ou na bolsa? E se déssemos umas olhadas nela várias vezes ao dia? E se voltássemos para apanhá-la quando a esquecemos em casa, no escritório... ? E se a usássemos para enviar mensagens aos nossos amigos? E se a tratássemos como se não pudéssemos viver sem ela? E se a déssemos de presente às crianças? E se a usássemos quando viajamos? E se lançássemos mão dela em caso de emergência? Mais uma coisa: Ao contrário do celular, a Bíblia não fica sem sinal. Ela “pega” em qualquer lugar. Não é preciso se preocupar com a falta de crédito porque Jesus já pagou a conta e os créditos não têm fim. E o melhor de tudo: não cai a ligação e a carga da bateria é para toda a vida. “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto”! (Is 55:6) (Fonte: http://letrassantas.blogspot.com/)


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cidadania

A Bíblia e a ecologia

Editorial

A

Diálogo com a natureza

ntônio Moser, religioso franciscano, 25 livros publicados, é um verdadeiro ícone quando se trata de consciência ecológica e diálogo honesto entre fé e ciência. Moser é diretor da Editora Vozes e especializado em pastoral familiar e bioética. Em sua mais recente passagem por Porto Alegre, Frei Moser denunciou pequenos, mas poderosos grupos, que utilizam massivamente os meios de comunicação para ridicularizar a Igreja e suas teses em favor da vida. É muito comum ouvirmos, lermos ou vermos nestas mídias acusações à Igreja e às religiões em geral como sendo obscurantistas e bloqueadoras das pesquisas e avanços dos experimentos científicos. Contudo, para Moser, qualquer criança que acesse a Internet, pode clicar em “cientistas católicos, judeus, muçulmanos” e constatar que ali aparece um grande número de cientistas e pesquisadores, membros das três principais correntes religiosas universais, cujas contribuições à ciência são reconhecidas pelos mais renomados cientistas do mundo. Antonio Moser acentua ainda a importância de uma mudança de consciência e atitude no diálogo com a natureza e que, no sentido franciscano, deve ser olhada como irmã. Em outras palavras e a partir da ciência, Moser reafirma o que vimos repetindo exaustivamente no nosso jornal: a Terra é a casa comum de todos e ninguém tem o direito de destruí-la para beneficio ou enriquecimento próprios. Nas paginas 6 e 7 desta edição do Solidário, a importante entrevista exclusiva de Frei Antonio Moser OFM. Cabe ao Solidário, por opção e definição editorial, garimpar e trazer para seus leitores gestos e iniciativas solidárias. E a solidariedade com a natureza é um tema recorrente em nossas páginas. Hoje, trazemos a experiência de um grupo de alunos da 8a série do Colégio Anchieta, tradicional estabelecimento de ensino jesuíta de Porto Alegre. Em um de seus passeios de estudo e lazer, o grupo recolheu 229 sapatos de 69 marcas nos 240 metros que costeiam o Rio/Lago Guaíba, ao sopé do Morro do Sabiá, zona sul da capital gaúcha. Sapatos velhos, jogados no rio ou nos seus afluentes, que fazem parte da sistemática poluição de todo tipo que sofre o belo Guaíba, cantado em prosa e verso por nossos escritores, poetas e pajadores. Se nas salas de aula e no Museu Anchieta de Ciências Naturais, os alunos do Colégio, ao longo de todo o seu tempo de aprendizado, recebem a teoria do amor à natureza, é na observação e pesquisa in loco que eles a praticam. Na interatividade com a natureza, vão criando o sentimento de respeito, de admiração, de consciência ecológica que leva a uma mudança de atitude e a contribuir para o sonho de uma Terra-Casa comum de todos (página 7). Lauro Quadros, conhecido jornalista gaúcho, comparece hoje com sua esposa Maria Helena neste quadro da contracapa do Solidário “Matrimonio Duradouro” e deixa seu recado: “A vida é aquilo que o padre diz no dia do casamento: `na alegria e na tristeza, na saúde e na doença`. Respeitar o espaço do outro é indispensável. Para que um dia, se nada mais sobreviver (paixão, idealização, expectativas, talvez cinematográficas...), ainda reste a amizade”. E quando a primavera pinta a natureza de luzes e cores, a poesia pede passagem. O Solidário, que tantas vezes é obrigado por sua opção a favor da justiça, da honestidade, da solidariedade a dizer coisas que nem sempre são agradáveis, hoje dá lugar à poesia, de autor desconhecido: Esta primavera que bate contra o vidro da minha janela, entra pela porta, pula dentro dos meus olhos, desperta meus sentidos e grita: Vida! (contracapa). attílio@livrariareus.com.br

Fundação Pro Deo de Comunicação Conselho Deliberativo Presidente: Dom Dadeus Grings Vice-presidente: José Ernesto Flesch Chaves Voluntários Diretoria Executiva

Diretor Executivo: Jorge La Rosa Vice-Diretor: Martha d’Azevedo Diretores Adjuntos: Carmelita Marroni Abruzzi e José Edson Knob Secretário: Elói Luiz Claro Tesoureiro: Décio Abruzzi Assistente Eclesiástico: Pe.Attílio Hartmann sj

Ano XIV – Nº 524 – 16 a 31/10/08 Diretor-Editor Attílio Hartmann - Reg. 8608 DRT/RS Editora Adjunta Martha d’Azevedo Revisão Nicolau Waquil, Ronald Forster e Pedro M. Schneider (voluntários) Administração Paulo Oliveira da Rosa, Ir. Erinida Gheller (voluntários), Elisabete Lopes de Souza e Davi Eli Redação Jorn. Luiz Carlos Vaz - Reg. 2255 DRT/RS Jorn. Adriano Eli - Reg. 3355 DRT/RS Impressão: Gazeta do Sul

Rua Duque de Caxias, 805 – Centro – CEP 90010-282 – Porto Alegre/RS Fone: (51) 3221.5041 – E-mail: solidario@portoweb.com.br

Antônio Allgayer Advogado

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eio-me às mãos um livro cujos autores, uma mulher e um homem, fazem alarmantes prognósticos sobre o futuro do nosso planeta. Entre sinistras constatações, mencionam secas, ciclones, crescente escassez de água potável, aquecimento global. Há quem ousa atribuir a Deus o desencadear de terremotos, inundações, estiagens, desertificação de solo arável e até mesmo a má distribuição da propriedade fundiária. Não é este o mundo desejado por Deus. É um mundo deformado por homens que sucumbiram à tríplice tentação sofrida por Jesus no deserto: a pretensão de granjear notoriedade transformando em pão riquezas avaramente retidas; manter submissas multidões carentes de justiça distributiva; apropriar-se gananciosamente de extensos territórios destinados a toda a humanidade. Será que tão nefandas realidades são do conhecimento dos desalmados devastadores da floresta úmida da Amazônia? Estariam conscientes de tais fatos os empresários que projetaram produzir papel através do plantio de espécies exóticas como o eucalipto, em regiões do nosso Estado, adequadas à pecuária e à produção de cereais? O “fim do mundo” não será obra de Deus. A humanidade detém o poder de autodestruir-se através de hecatombe nuclear ou da exaustão dos recursos da natureza através do consumismo autofágico. Para não trazermos à estampa apenas fatos lastimáveis, tenhamos presente que o cristianismo cultiva a virtude da esperança. Após o término da Segunda Guerra Mundial, surgiram na Igreja Católica movimentos de notória feição profética. Um deles foram os

movimentos familiares, que acionaram a revalorização do sacramento do matrimônio e a missão evangelizadora da família. O outro foi o surgimento da Teologia da Libertação, que o papa João Paulo II, em dois pronunciamentos, um na África e outro no Brasil, declarou ser não só oportuna, mas útil e necessária. No que diz respeito à integridade ambiental, em idos tempos, não se deu o devido apoio ao pioneirismo de José Lutzenberger, Magda Renner, Burle Marx e mais uns poucos empenhados na luta pela integridade da hiléia amazônica e da mata atlântica. No entanto, também é justo lembrar que a partir do encontro do Movimento Familiar Cristão acontecido na Bahia em l974, veio a lume temário intitulado “Nova Terra”, incluindo o binômio “Ecologia e Fé”. Ao texto é aplicável passagem do Apocalipse: “Vi, então, um novo céu e uma nova terra, porque o primeiro céu e a primeira terra desapareceram...” (Ap 21, 1-4). Na época de sua edição, o temário era inédito em termos de documentário eclesial. Nele a preservação de ecossistemas e biomas naturais era considerada valorização da vida. A sua elaboração exsurgiu do profetismo de cristãos não alienados. Décadas depois a Igreja como instituição teve a sabedoria de discernir os “sinais dos tempos”. Foi quando documentos papais entraram a prestigiar a luta pela vida do planeta e no planeta. Haverá uma nova Terra, diferente da que habitamos? A resposta, como se viu, é afirmativa. Três enunciados bíblicos veiculam a promessa de “novos Céus e uma nova Terra”. Pedro, em sua segunda carta católica, proclama que nessa nova Terra se fará presente a justiça (2 Pd 3, 13). Se mais não souberes fazer em favor deste nosso planeta, planta uma árvore de espécie nativa, para que não falte oxigênio para alguns pulmões humanos. Viva a vida..!

A “esquizofrenia” de nossos dias Carmelita Marroni Abruzzi Professora universitária e jornalista

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ena real numa drogaria dos Estados Unidos: o atendente, falava ao telefone, fone preso entre o ombro e a cabeça; ao mesmo tempo, atendia duas pessoas no balcão, falando com uma em espanhol e com a outra em inglês; quando sobrava algum movimento, colocava cápsulas (devidamente separadas) num frasco! A cena me fez pensar: o que está ocorrendo com o indivíduo em nossos dias? Por que essa ânsia de correr, de “aproveitar” cada segundo, fazendo várias coisas ao mesmo tempo? Se, por um lado, o tempo é perecível e não deve ser desperdiçado, por outro lado, é preciso verificar como o utilizamos para melhorar a qualidade de vida, de que tanto se fala hoje! E o acúmulo de atividades, dispersivas e desconectadas não contribui para isso. Esse excesso de atividades pode levar ao estresse, bastante freqüente e observado em todas as faixas etárias. Fala-se hoje em estresse e depressão infantil, do qual uma das causas seria a exigência de que as crianças realizem uma série de cursos e aprendizagens paralelas ao período escolar, seja para melhorar o desempenho na escola, seja para preparar-se para o mercado de trabalho competitivo que as espera; não dispõem, portanto, de tempo para atividades livres, para dedicar-se às suas brincadeiras e “hobbies” preferidos. Jovens e adultos assistem TV com o dedo no controle remoto, “zapeando” a todo o momento, sem fixar-se num determinado programa. Além disso, temos a TV que, em janelas menores, nos apresenta mais de um assunto ao mesmo tempo! Na rádio, o locutor não mais transmite as

partidas de futebol naquela forma tradicional que permitia à nossa imaginação acompanhar os jogadores e seus lances. Não, agora são narrados dois ou três jogos ao mesmo tempo. Aí a “esquizofrenia” é total: acompanhamos um jogo no nordeste e ouvimos: gol! De repente, nos damos conta que foi o nosso time, em Porto Alegre, que fez um gol! Dali a pouco, ele traz resultados de São Paulo ou da Europa e assim por diante. Imaginem o exercício mental que precisamos fazer para acompanhar tudo isso! E os nossos ouvidos? Além disso, surgem os carros com DVD para distrair as crianças e evitar “bagunças e brigas” durante o trajeto! Quantas oportunidades de diálogo perdidas! Quantos olhares para a paisagem e para o mundo real se perdem! Há, também, o telefone celular, cuja necessidade e vantagens ninguém nega. Entretanto, há pessoas que não sabem desligá-lo. Não sabem mais viver um minuto de lazer, de descanso; precisam falar a todo o momento, seja no carro, no clube, na praia e, até, na igreja. Dividem sua atenção entre o que fazem, a conversa com as pessoas ao seu redor e a que está ao telefone ! As mulheres, divididas entre as múltiplas atividades que requerem sua atenção, correm o risco de se tornar dispersivas e estressadas. E quantas mulheres, por outro lado, “suspiram” para ter um tempo só seu, sozinhas, longe de toda essa agitação! Enfim, o homem moderno quer viver intensamente, abarcar tudo, não quer perder um instante, mas quem sabe quantos momentos preciosos e fortes de sua vida estará desperdiçando? E aonde esse homem vai? Aonde o levará essa correria, essa aparente “divisão” do eu em tantas e diferentes direções? Não estaria na hora de parar um pouco e refletir?


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família e sociedade

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“Bato em meu filho sem violência, somente para ensinar-lhe uma boa lição”.

Certo?

Mario Quilici

S

Imagem: http://encontreumnome.blogspot.com/

A educação a ensinou que este é o modo correto de tratar as crianças.”

Psicanalista

egundo Alice Miller, os pais têm responsabilidade pelos adultos que seus filhos se tornarão. Felizmente, as convicções dela ficaram populares, e como muitos de meus colegas, eu a considero uma das principais influências da minha geração de profissionais. Os pais que lêem pela primeira vez os trabalhos de Miller acabarão, indubitavelmente, por se fazer duas perguntas. A primeira é a defesa mais usada pelos pais que gostam de bater em seus filhos: será que uma aproximação carinhosa, com beijos e tudo o mais, também pode causar danos duradouros? A segunda: como nós podemos ter certeza de que toda criança amada e que não é tratada rigorosamente, não vai se tornar um Hitler? Perguntei para Miller se manter o pulso forte, ou dar um tapa espontâneo num momento de fúria, quando uma criança está sendo cruel com o outro, não é uma coisa razoável. “Não” – diz Miller. “A idéia de que o castigo moderado, como pancadas ou tapas, não tem nenhum efeito prejudicial ainda é muito difundida porque nós aprendemos este tipo de mensagem com nossos pais, que a aprenderam com os seus pais”. “E esta convicção ajuda a criança a minimizar ou entorpecer o seu sofrimento, de forma que cada geração está sujeita aos efeitos ‘aparentemente inofensivos’ da correção pela agressão física. ‘O que não foi prejudicial para mim, não poderá ser prejudicial para meu filho’, é o que nós dizemos para nós mesmos. Essa conclusão está completamente errada, porque as pessoas nunca desafiaram as suas próprias suposições”.

O comportamento violento ... ... em adolescentes, estupradores masculinos, especialmente aqueles mais jovens pode, de acordo com Miller, ser vinculado à negligência emocional na infância precoce, e não só com o tratamento brutal. Penso que os adolescentes violentos estão demonstrando o que aconteceu com eles, quando ainda eram pequenos e não podiam defender-se dos adultos. Eu não tenho nenhuma dúvida sobre isso. Esses adolescentes podem não ter sofrido com uma disciplina severa, mas sofreram com a negligência emocional, falta de um contato amigável e caloroso que, geralmente, são substituídos por formas deterioradas de afeto (comprar objetos caros para substituir amor que não se tem para dar). Assim, uma criança aprende a reprimir sua própria história. “Como crianças espancadas que nós fomos, acabamos por aprender lições enganosas. Simplesmente porque os tapas vieram das figuras mais importantes

Por que é que todas as crianças espancadas não se transformam em monstros?

de nossas vidas (os pais), é que nós acreditamos que tal comportamento é normal e benéfico. Eu não sou a única a lutar contra esse tipo de tratamento em crianças. Centenas de artigos e livros são escritos por outros peritos alertando para as conseqüências perigosas e a inutilidade do castigo corporal, contudo, muitas pessoas continuam agindo e pensando como se tais informações não existissem.”

Dar uma boa lição! “Freqüentemente, ouço mães dizerem que elas só batem em seus filhos sem serem violentas e com o único objetivo de ensinar-lhes uma boa lição (?). Uma vez, uma jovem mãe simpática, que amamentava seu pequeno bebê no seio, queixou-se que seu filho era uma criança muito ansiosa. Perguntei-lhe se a criança poderia estar assim porque estava esperando ser agredida. “Nunca!”, disse ela. Com quinze meses de idade o bebê era bastante jovem, mas podia fazer tais conexões. Eu perguntei, então, se ela havia apanhado de seus pais quando era criança. Ela disse que sim, apanhava bastante de ambos os pais. Eu lhe perguntei como ela se sentiria se uma amiga lhe dissesse que apanhava do marido. Ela respondeu que aconselharia a amiga a deixar o marido. Por que uma mãe pode simpatizar com a situação de sua amiga, mas não com a causa de seu filho? É muito simples.

“É claro que nem todas as crianças que foram tratadas violentamente se transformam em monstros. O fator chave desse aspecto é o que eu chamo ‘testemunhas de ajuda’, alguém que serviu como protetor ou amigo que, apesar de não poder fazer grande coisa, compreendeu o que a criança estava passando. Esta testemunha poderia ter sido um parente, um avô, por exemplo, ou um professor, ou até mesmo um vizinho. Graças a esta experiência boa, estas crianças não são forçadas a repetir o abuso.” A teoria de Miller está baseada não só em suas observações como psicanalista. Ela encontrou a confirmação para suas opiniões nas mais recentes pesquisas feitas por neurobiologistas, que provaram a importância que as experiências da criança com seus pais durante os três primeiros anos de vida têm para a estrutura do cérebro em desenvolvimento. “Alguns testes revelaram um fato antes desconhecido para a maioria dos adultos: uma criança responde e desenvolve ternura e crueldade desde os primeiros dias de sua existência.” “Para onde quer que eu olhe, é sempre a mesma coisa. O que nós fazemos com nossas crianças afeta completamente nossa sociedade”, diz Alice.


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opinião

Biodiversidade: quem pouco tem muito valoriza Rogério G. Teixeira da Cunha Biólogo*

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oje em dia, os britânicos (e imagino que os europeus em geral) valorizam bastante o pouco de biodiversidade que têm. Há pouco de natureza conservada em estado original. Aliás, mesmo o original não era nem de perto tão diverso quanto o Brasil ainda hoje. A enorme maioria dos seus ambientes naturais já foi bastante alterada por milênios de ação humana. Mesmo assim, nos fins de semana, milhares de pessoas lançam-se avidamente em caminhadas a pé pelos campos e (poucas) florestas. E isto com o tempo que estiver - sol, chuva, neve, vento. As caminhadas são facilitadas por mapas, roteiros, trilhas pré-estabelecidas e informações. O mesmo empenho e prazer se dão com seus hobbies de observadores. Há poucas espécies de aves por lá, em comparação com a diversidade que temos no Brasil. No campus universitário da USP, na zona oeste de São Paulo, por exemplo, são encontradas aproximadamente 60% do número de espécies de aves de toda Grã-Bretanha. São poucas, mas os europeus sabem muito sobre cada uma delas e as observam intensamente, com prazer. O mesmo acontece com as mariposas. Afinal, como bem disse meu professor, elas são “parte da biodiversidade” deles. Já nós, por outro lado, damos pouco valor ao muito que temos. Temos uma enorme riqueza e diversidade de ambientes e, em alguns deles, uma quantidade razoável de áreas preservadas. Temos a maior biodiversidade do planeta! E, no entanto, ainda valorizamos pouco esta riqueza toda. Como nação, temos até agora trilhado um caminho de desenvolvimento que, a continuarmos neste rumo, fatalmente nos levará também a uma situação de algumas ilhas de locais (mais ou menos) preservados no meio de um mar de agricultura e alteração, além de um meio ambiente bastante empobrecido. As razões para estas diferenças são muitas, históricas, culturais, educacionais e comportamentais. No entanto, é bom não esquecer que a devastação ambiental como um todo tem a ver diretamente com o modelo que ainda hoje é defendido (consciente ou inconscientemente) pela grande maioria dos cidadãos daquilo que se chama civilização ocidental. Os europeus estão mais empenhados que nós em deter o ritmo da destruição porque têm pouco para destruir e, vá lá, porque aumentaram um pouco a consciência de querer manter sua casa mais em ordem. Prova disso obtive em rápida passagem que fiz na Alemanha, em meu retorno ao Brasil. Separação de lixo para reciclagem é algo amplamente difundido por lá. Vi ainda prédios sendo construídos com uma grande área de placas solares, além das famosas turbinas eólicas nos campos, agora parte comum da paisagem alemã. Parece que viraram ecologistas, mas, em última análise, eles inconscientemente patrocinam a nossa destruição, porque ela deriva do modelo econômico vigente, que tem nos países desenvolvidos seus principais beneficiários. O fato de haver indivíduos europeus amantes das sutilezas da natureza e o fato de as sociedades por lá terem uma maior preocupação ambiental não exime a Europa, enquanto força econômica, de seu passivo ambiental, nem do passado nem do presente. Afinal, muitas das empresas internacionais que em última instância movem o motor da destruição, são européias, e o estilo de vida dos habitantes dos países ricos é o combustível inicial da destruição. Mais grave ainda é o fato de que este estilo de vida nocivo ao planeta é vendido como modelo para os países pobres, o que pode potencializar nossos males. *O autor é doutor em Comportamento Animal *rogcunha@hotmail.com

A Vila Mato Sampaio no Teatro São Pedro Deonira L. Viganó La Rosa Mestre em Psicologia Social*

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á poucas semanas, quase que diariamente, estivemos lendo nos jornais de Porto Alegre reportagens sobre a Vila Mato Sampaio, no Bairro Bom Jesus: tiroteios, assassinatos, disputa de famílias pelo tráfico de drogas, acampamento policial em lugares estratégicos. Entretanto, outros motivos vêm hoje, merecidamente, trazer esta Vila ao jornal. Bem ali, na rua 13, num beco que vai se estreitando e piorando à medida que desce e desemboca num dos locais que dá origem a tiroteios, está uma Casa com 71 crianças e adolescentes, uma ONG mantida pela Associação Educacional Nossa Senhora de Fátima, que recebe meninos e meninas no turno inverso ao da Escola. Neste local, por iniciativa da musicista Tânia Paese, em colaboração com educadores e voluntários, a música transforma vidas ... Projetos como alfabetização musical, flauta, canto, percussão, entre outros, como educação sexual e para a saúde, teatro e artes, dão a adolescentes e crianças pobres a oportunidade de mudar a realidade e ter um mundo melhor. A intenção é oferecer a estas crianças pobres a oportunidade de conhecer e sentir que existem muitos outros sons e mundos além daqueles a que estão acostumadas, afastando-as da hos-

tilidade do ambiente e preparando-as para a construção da paz. Além de valorizar a parte física e emocional dos meninos e meninas, temos encontrado verdadeiros talentos entre eles e nossa intenção é acompanhá-los para que possam profissionalizar-se. Pensando grande, aproveitamos os ‘concertos Banrisul para a juventude’ e levamos, na manhã do dia 23 de setembro, o grupo de crianças desta Casa ao Teatro São Pedro. Asseguro aos leitores que seu comportamento foi extremamente condizente e foi emocionante ouvir quando alguns diziam baixinho “Que manero!” ao escutar a Orquestra de Câmara Theatro São Pedro tocando Mozart, Bach, Vivaldi, Villa –Lobos, GuerraPeixe, Jobim. Uma atividade como esta, acreditamos, promove o resgate da cidadania das crianças, integrando-as a um contexto cultural até então desconhecido. Elas aprendem muito rápido a conciliar os dois mundos. Elas aprendem a transformar o meio a partir do próprio meio, ressignificando os espaços. Esta interação entre o mundo onde vivem e outros mundos, e outros sons, irá criando uma nova cultura e incentivará a todos a lutar para abolir esta perversidade da sociedade que teima em dividir a cidade “Nós aqui, vocês lá na Vila”. *A autora é diretora da Casa que abriga as crianças

“Há dois caminhos na vida: um é limitado, o outro é imenso; um morre onde o outro começa; o primeiro é o da paciência e o outro o da ambição.” Alfred Musset

40 anos de Teologia na PUCRS Mons. Urbano Zilles

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Diretor da FATEO e Vigário Episcopal da Cultura

m dezembro de 1968, por solicitação do episcopado gaúcho, o Conselho Universitário da PUCRS criou o Curso de Teologia e o Instituto de Teologia e Ciências Religiosas, que, em 2000, com a reforma dos Estatutos, passou a ser chamado FACULDADE DE TEOLOGIA. O Curso de Graduação em Teologia foi reconhecido pelo MEC através da Portaria 3.533/2002 (D.O.U. 16/12/2002). A FATEO, que completou 40 anos de atividade, é um centro de formação e pesquisa em Teologia, vinculado à orientação da Igreja Católica. A Faculdade foi presidida pelos seguintes Diretores: Tarcísio de Nadal (1969-1972); Urbano Zilles (1973-1978); Ângelo Domingos Salvador (1979-1981); Jesus Hortal Sanches (1981-1985); Geraldo Luiz Borges Hackmann (1986-1987); Zeno Hastenteufel (1988-1996); Geraldo Luiz Borges Hackmann (1997-2004); Urbano Zilles (2004...). Além do Curso de Bacharelado, a FATEO oferece Mestrado, Cursos de especialização e de extensão.

O Mestrado foi credenciado pela Portaria 490 do MEC de 27/03/97 (D.O.U. 31/03/97), tendo seus diplomas validade civil em todo o Brasil. O objetivo da Faculdade é garantir espaço para o estudo das diferentes Escolas e correntes de Teologia, manter o diálogo com outras Igrejas e religiões, com as outras ciências e com a sociedade, capacitando lideranças cristãs, leigos, religiosos e seminaristas, para a Igreja e a sociedade de hoje através de sólida formação acadêmica. A partir de 2004, desenvolve duas grandes linhas na pesquisa, sobretudo no Mestrado: Teologia e Pensamento Contemporâneo e Teologia e Experiência Religiosa. No exercício do diálogo, a FATEO mantém convênio com a EST (Escola Superior de Teologia) da Igreja Luterana em S. Leopoldo e, além do Núcleo “Teologia e Sociedade” de pesquisa da FATEO, alguns docentes e alunos integram o Núcleo interdisciplinar de “Filosofia, Religião e Ciência”. Desde 1970, a FATEO publica a revista TEOCOMUNICAÇÃO, de circulação nacional e internacional, e desde 1972, o Jornal MUNDO JOVEM, com mais de 100.000 assinantes.

Hoje os docentes da FATEO participam na qualidade de conselheiros em organizações como a Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (SOTER), Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Teologia e Ciências da Religião (ANPTECRE), Conferência Nacional dos Bispos do BrasilRegional Sul 3 (CNBB), Conselho Superior da Fundação de Amparo à Pesquisa do RS (FAPERGS), Comissão Nacional de Ecumenismo, Comissão Internacional de Teologia do Vaticano, Comissão Bilateral Católica Romana – Evangélico Luterana, Comissão Teológica da Arquidiocese de Porto Alegre e nos Conselhos Editoriais de numerosas revistas nacionais e estrangeiras. Nesses 40 anos foram ordenados presbíteros 650 alunos; 12 ex-alunos, 16 ex-professores foram ordenados bispos; 89 alunos concluíram o Mestrado. Nesse período, a FATEO formou, na Pós-Graduação lato-sensu, duas turmas em Processo Matrimonial Canônico, duas turmas em Espaço Litúrgico e Arte Sacra e uma turma em Ensino Religioso. Para o ano que vem, serão oferecidas novas turmas de Processo Matrimonial Canônico e Pastoral Urbana.

Solicitamos que os artigos para publicação nesta página sejam enviados com 2.400 caracteres ou 35 linhas de 60 espaços


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educação e psicologia

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Jovem

tem vez Frederico Fernandes Moesch, 25 anos, advogado, mestrando em Ciência Política, gremista, é o entrevistado desta edição.

Foto: Arquivo pessoal

Entretenimentos? Gosto de praticar esportes como corrida, futebol e tênis; ler; ir ao cinema; ir ao estádio Olímpico; sair com os amigos. Planos para o futuro? No futuro pretendo conciliar profissionalmente a vida de professor e alguma forma de atuação política, além da advocacia. No plano pessoal, pretendo constituir família e conviver bastante com os amigos atuais e com os que ainda farei. E a família? Não tenho a menor dúvida em afirmar que tenho muita sorte por ter a minha família. Eles sempre me deram muito carinho, amor, amparo, além de uma visão humanista e fraterna da vida. Sempre apoiaram minhas decisões. Ao falar da minha família, logo vem à minha mente, também, o papel fundamental que tiveram na minha vida os meus avós, tanto os que já se foram (não do meu coração, obviamente), como a vó Maria, fonte de incentivo. Sobre amigos A amizade é um sentimento imprescindível na vida. Construí-las e mantê-las é uma das coisas mais fascinantes que existem. Creio que os amigos mais próximos são aqueles que compartilham contigo alguns valores e objetivos de vida em comum, além de se mostrarem importantes e presentes nos momentos de alegria e de tristeza. O que consideras positivo em tua vida? Acho muito positivo na minha vida a possibilidade que tenho de construir sonhos e correr atrás deles. Nesse ponto, o papel da minha família – que sempre me apóia – é fundamental. A concretização dos sonhos depende também de condições materiais, e elas me foram possibilitadas, em grande escala, pela minha família. Também acredito que o meu interesse pela cultura e por atividades intelectuais (livros, estudos, cinema...) me permite enxergar o mundo com lentes menos embaçadas, de uma maneira ao mesmo tempo terna e realista. O maior problema dos jovens? Os problemas enfrentados pelos jovens são aqueles decorrentes da sociedade na qual estão inseridos, obviamente. O momento de vida dos jovens, contudo, acaba trazendo problemas específicos, como a busca da inserção

Frederico Moesch

no mercado de trabalho. Mas eles devem ser objeto de uma reflexão conjunta sobre a sociedade. O maior problema no Brasil de hoje? Creio que, apesar de graves turbulências (como os problemas de corrupção), o país tem avançado nos últimos tempos. Um problema que ainda percebo é o déficit de visão coletiva e de cidadania de muitos brasileiros. A experiência demonstra que os países mais desenvolvidos chegaram ao atual estágio por implementarem diversas políticas públicas que enxergam a nação como um todo, de maneira que as vantagens se reflitam na sociedade de modo geral (apesar de conflitos pontuais, claro). Não tenho dúvida que há soluções que só podem ser efetivas se tomadas de modo que ultrapasse a esfera meramente individual. Sobre política Apesar de todos os seus defeitos, a atividade política é o que propicia o desenvolvimento de uma sociedade. Mesmo a abstenção é uma decisão política, pois o espaço vazio é preenchido de alguma forma. Os jovens devem estar atentos a isso.

Sobre a felicidade A felicidade é o que buscamos na vida, em última análise. Acredito que ela esteja não em algum ponto de chegada imaginável, mas, sim, na própria trajetória. O ser humano foi feito para o movimento (e não se trata apenas do aspecto físico, por óbvio). Criar sonhos e correr atrás de sua concretização é algo fantástico que está à nossa disposição. Uma vida rica de idéias, objetivos e realizações (e mesmo de não-realizações, desde que façamos o possível para que o resultado venha), assim como cercada da família e dos amigos: é como visualizo a noção de felicidade. Sobre religião Sou católico, assim como minha família. As idéias de respeito ao próximo, de não se ver como uma ilha isolada do resto do mundo, de solidariedade são exemplos muito positivos da religião que sigo. Procuro adotar os princípios cristãos na minha vida prática, ainda que nas mínimas coisas. Talvez um ponto negativo seja o fato de que algumas pessoas que se auto-proclamam católicas apenas se preocupam com os aspectos formais da sua crença, e não com os mais substantivos, que podem realmente fazer a diferença no mundo. Isso pode gerar efeitos indesejáveis, como intolerância e indiferença em relação ao outro. Uma mensagem aos jovens Elaborar projetos de vida (sempre sujeitos a constante revisão), alimentar sonhos (que não se restrinjam a aquisições materiais) e lutar para realizá-los são oportunidades que o ser humano tem na busca pela realização pessoal. Ademais, o interesse pela cultura e pelo conhecimento propicia uma melhor compreensão da vida e nos permite encontrar nosso lugar no mundo.


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Ciência e ideologia “O

que nos preocupa não é a tecnologia, não é o avanço da ciência. Pelo contrário: toda a verdadeira ciência deve ser aplaudida. Quanto mais avançar, tanto melhor. O que nos preocupa é a ideologia de quem se serve da ciência e da tecnologia. E qual é a ideologia dominante? Uma ideologia materialista: só se vê a matéria; e uma ideologia reducionista: só vê uma direção e só há uma dimensão. A verdadeira ciência jamais se oporá à verdadeira teologia e vice versa: a verdadeira teologia nunca se opõe á verdadeira ciência. A verdadeira ciência nos revela as maravilhas do criador. O problema é a ideologia”.

As afirmações são de Frei Antônio Moser, conferencista e autor de 25 livros sobre o tema de biociência e biotecnologia. O franciscano também é diretor-presidente da Editora Vozes e um dos principais especialistas brasileiros em Pastoral Familiar e Bioética. Esteve recentemente em Porto Alegre, para duas concorridas conferências sob o tema “Bioética: diálogo entre fé e ciência”. A primeira para pais e mestres do Colégio Anchieta e, no dia seguinte, na Faculdade IDC, para professores e alunos daquela instituição e também para sócios e membros da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas – ADCE. Também concedeu entrevista exclusiva para o Solidário, abordando diversos temas.

Preservar o planeta

estratégia é explorar ao máximo as fraquezas das religiões e exaltar o mundo sem Deus. O mundo sem Deus sempre será desumano. Só se pensa no desenvolvimento e na tecnologia. Sem a concepção de transcendência de Deus por trás de tudo, não se respeitará o ser humano em nenhuma de suas fases da vida, nem no começo e nem no fim. Diria que esse acirramento é artificial. E são pequenos, mas poderosos grupos, que utilizam a mídia, tentando colocar a Igreja no ridículo, com qualificativos de obscurantismo religioso, ignorando simplesmente o que qualquer criança pode encontrar na internet. E lanço o desafio a puxar o nome ‘cientista católico’ ou ‘cientista judeu’ ou ‘cientista muçulmano’ na internet. E vão se espantar o quanto grandes vultos e pesquisadores eram ligados à Igreja ou a alguma importante religião monoteísta, como o judaísmo ou o islamismo”.

“Para reverter esse quadro Cientistas e teólogos de deterioração, você precisa “A ciência não existe. Conheço da tecnologia. Mas só a tecnocientistas – homens ou mulheres. logia não consegue preservar o Isto é: uma pessoa concreta, dentro nosso planeta: há necessidade de um contexto histórico concreto, de mudança de consciência e com uma ideologia concreta. Não atitude. No sentido franciscano Frei Antônio Moser existe um cientista puro como não da palavra: que todas as criaturas sejam irmãos e existe o teólogo puro. Todos nós, a partir de uma certa irmãs. Através do consumismo desenfreado não há realidade, colorimos a nossa realidade com nossa visão saída. Não existe economia sustentável com base na pessoal do mundo. É a Weltanschaung. exploração de recursos como faz nosso sistema ecoEm relação às pesquisas com células-tronco embrionômico. O petróleo ainda é importante. Mas é preciso nárias, a CNBB está muito bem assessorada por pesquibuscar energias alternativas: solar, eólica, do mar, dos sadores de verdade, de laboratório. Suas afirmações têm raios. Urge uma revolução econômica, a partir de uma base. E não como algumas vedetes de televisão que falam nova consciência, onde não se despreze a tecnologia, em nome da ciência e que já não pesquisam mais há muito sobretudo contando com os avanços de pesquisas de tempo. Os verdadeiros cientistas são muito humildes. 97 laboratório, que hoje conseguem produzir bactérias por cento dos pesquisadores só pesquisam com células que simplesmente vão se alimentar da poluição dos adultas e colocam sua confiança nas células adultas. Até rios, dos mares”. agora, nada se conseguiu com células embrionárias, a não ser células pré-cancerígenas. E nada mais. No meu livro Biotecnologia e Bioética - Para onde Vamos, trago a Pesquisas com documentação, com dois exemplos dos Estados Unidos de células-tronco: pesquisadores que usaram as células-tronco embrionárias para fazer tratamento, injetando as células e mataram os a ideologização pacientes. Foram processados. Mas isso não é dito pela “Essa tensão entre ciência e fé que se estabele- mídia. Certos expoentes – não da ciência, mas da mídia ceu aqui no Brasil, é ideológica: grupos pequenos – falam como se já soubéssemos tudo. O que se sabe de querem incompatibilizar, não só a Igreja Católica, 100 trilhões de células tudo conectado com tudo, numa mas as várias religiões, com a sociedade. Ou seja: visão holística? Quase nada! Muitos desses porta-vozes estamos vivenciando no Brasil uma tentativa de, com estão a serviço de laboratórios e de outros interesses habilidade e malícia, impor o ateísmo. Para isso, a econômicos”.

Sabedoria ensinada na escola Para Frei Antônio Moser, a “Igreja não tem resposta pronta para todos os problemas humanos”. Mas sua contribuição decisiva consiste em ajudar a buscar o sentido da vida, ajudar a buscar uma administração sábia. “Deus nos fez seus administradores. Não pôs limites. Apenas indica o caminho, através de suas dez palavras de vida, os mandamentos. Esse Deus nos pede uma coisa: ‘podem administrar tudo, mas sejam bons e sábios administradores’. E uma administração sábia supõe perguntar sempre pelo sentido. Por que existem tantas espécies de aves, de flores, de árvores, de rosas? Por que umas com e outras sem espinhos? Por que o animal tem quatro e não cinco patas? Por que nós cinco dedos, por que as unhas, por as duas pernas, os dentes que se desgastam? Tudo tem um sentido. Não se ouse transformar sem conhecer esse sentido. Mas isso não impede de agir. Em suma, há sempre que se buscar o sentido e o significado de todas as coisas. Tudo tem sua razão de ser.”

Consciência ecológica

Um exemplo concreto de desenvolvimento de sensibilidade e educação para uma cultura de ‘bons administradores’ dos bens da natureza é aplicado aos alunos do Colégio Anchieta de Porto Alegre. A questão ambiental é trabalhada desde a Educação Infantil até o Ensino Médio de modo transdisciplinar com os seus 2.941 alunos, tanto em sala de aula, no Museu de Ciências Naturais ou em meio à natureza em espaços como a Vila Oliva, em Caxias do Sul ou no Morro do Sabiá, no sul da Capital. São passeios de estudo ou lazer que visam a sensibilizar os estudantes para a beleza da vida e o papel de cada um na preservação deste que é a grande dádiva de Deus para com seus filhos: o planeta Terra. Nas saídas há caminhadas por trilhas no meio do mato, onde coletam pequenos animais para serem estudados e logo após libertados, sobem em árvores, correm, tomam banho de rio. Em suma, aprendem e interagem com a natureza, brincando e se divertindo.

A natureza em Museu

Idealizado e dirigido até 1972 pelo Pe. Pio Buck sj, o Museu Anchieta de Ciências Naturais é espaço privilegiado para a interatividade com elementos naturais e com o ambiente, desenvolvendo o sentimento de respeito à natureza e oferecendo condições para a construção de uma consciência ecológica. Em sua riquíssima exposição permanente de elementos da fauna, flora, aspectos geológicos e paleontológicos da Região Sul e material etnográfico representativo das tribos indígenas, os alunos da instituição têm condições de interagir, de forma significativa, com os elementos e o ambiente. Ou seja, vem tentando desenvolver o sentimento de respeito à Natureza em todas as suas formas e manifestações, oferecendo assim condições para que se inicie e aprimore uma consciência ecológica, preocupada e comprometida com a manutenção e preservação do mundo que o cerca.

Oficinas

Fernando Meyer

A partir de 1985, o Museu começou a desenvolver o projeto A Criança e a Natureza. Segundo Fernando Meyer, diretor do Museu desde 1972, “o trabalho tem como objetivo principal colocar crianças e adolescentes em maior contato com a natureza, oportunizando situações de descoberta, levando-os à construção do conhecimento e, quem sabe, à mudança de atitude com relação à natureza. Assim, já realizamos oficinas abordando A vida no Lago, O Mundo Microscópico, A vida em Uma Gota D’Água, Estudando as Rochas e Organizando Coleções, Construindo Um Mini-jardim, Habitantes Secretos de uma Casa, Reaproveitando o Papel, Brinquedos que se Movem com o Vento, etc.

“No Pé do Morro”

Em 2007, ganhou destaque um projeto que brotou dos próprios alunos. Durante passeio ao Morro do Sabiá, o descaso com a natureza chamou a atenção de um grupo de alunos da 8a Série. Caminhando pelas margens do Lago Guaíba, uma grande quantidade de sapatos velhos despertou o interesse dos jovens, que resolveram chamar o professor para mostrar a curiosidade. Daí, surgiu o projeto “No Pé do Morro”, que envolveu 10 alunos e três professores e virou exposição. O trabalho propõe uma reflexão sobre nossas atitudes em relação à natureza e lança um questionamento: “Quais as pegadas que queremos deixar para o futuro”? Munido de materiais de coleta, o grupo voltou ao local e recolheu os calçados deixados nos 240 metros de margem do Lago Guaíba que costeiam o Morro do Sabiá. No total, 229 calçados de 69 marcas foram recolhidos.


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saber viver

Projeto investiga gravidez não planejada na adolescência O município de Uruguaiana registrou índices de gravidez na adolescência em média de 20,8% entre 1993 a 2007. Para investigar e mudar essa realidade, orientando jovens para uma vida sexual saudável, os Ministérios da Saúde e da Educação realizam o Programa Saúde e Prevenção nas Escolas. A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (Fafiur) do Campus Uruguaiana da PUCRS, participa da equipe de gestão do Programa, que promove ações beneficiando 1.333 jovens de 10 a 19 anos, ligados às Escolas Municipal de Ensino Fundamental Cabo Luís Quevedo e Estadual de Ensino Médio João Batista Luzardo - CIEP. Para subsidiar a implantação de um projeto-piloto na comunidade Luís Quevedo, visando a diminuir os índices de gravidez não planejada na adolescência, a Fafiur desenvolveu pesquisa em vários bairros de Uruguaiana, coordenada pelo professor Édison Brito da Silva. A comunidade lidera as estatísticas de gravidez na adolescência na cidade - 33,77%. Conforme a pesquisa, 52% das adolescentes tiveram o primeiro filho antes dos 16 anos; destas, 8% antes dos 13 anos. Entre as razões para o índice tão alto, o professor cita a precocidade das relações sexuais. Trinta e cinco por cento das jovens com histórico de gravidez revelaram que fizeram sexo pela primeira vez antes dos 12 anos e 10%, antes dos 14. Apenas 10% afirmaram ter medo de alguma reprovação social dessa atitude. No imaginário de quase metade das adolescentes que já estiveram grávidas e de um terço das demais, a formalização do casamento não é algo importante. Ter um filho surge como forma de emancipação e busca de independência em relação à família. O professor salienta ainda que fica clara a pouca influência da escola e da família, principalmente da figura paterna, na orientação sexual. A gravidez na adolescência também parece estar relacionada à mesma experiência vivida pelas mães nessa faixa etária - 60% seguem o exemplo de casa.

Perfil das jovens grávidas

Segundo a pesquisa realizada na comunidade Luís Quevedo, de Uruguaiana, as jovens grávidas apresentam o seguinte perfil: abandonaram os estudos, não freqüentam/não acreditam em religião, não trabalham, têm uma escolaridade relativamente boa (comparadas aos índices brasileiros), têm uma situação familiar relativamente estável (os pais são casados e as mães se casaram uma única vez), não têm opções de lazer e oportunidade de trabalho, e não realizam consultas ginecológicas periódicas.

CONSELHOS PARA VIVER MELHOR II Das Universidades Harvard e Cambridge

* Limpar a escova de dentes e trocá-la regularmente. As escovas podem espalhar gripes e resfriados e outros germes. Assim, é recomendado lavá-las com água quente pelo menos quatro vezes na semana, sobretudo após doenças quando elas devem ser mantidas separadas de outras escovas. * Realizar atividades que estimulem a mente e fortaleçam sua memória... Faça alguns testes ou quebra-cabeças, palavras-cruzadas, aprenda um idioma, alguma habilidade nova, leia um livro e memorize parágrafos. * Usar fio dental e não mastigar chicletes. Acreditem ou não, uma pesquisa mostrou que as pessoas que mastigam chicletes têm mais possibilidade de sofrer de arteriosclerose, pois tem os vasos sangüíneos mais estreitos, o que pode preceder a um ataque do coração. Usar fio dental pode acrescentar seis anos a sua idade biológica, porque remove as bactérias que atacam os dentes e o corpo. * Rir. Uma boa gargalhada é um ‘mini-workout’, um pequeno exercício físico: 100 a 200 gargalhadas equivalem a 10 minutos de corrida, baixa o estresse e acorda células naturais de defesa e os anticorpos.

Só quem passou Marta Sousa Costa Escritora – Pelotas/RS

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spichei o corpo na cama e a sensação de bem-estar foi indescritível. Fiquei muda, quieta, pernas espichadas, braços largados ao longo do corpo, saboreando a momentânea ausência de dor ou incômodo. Prolonguei o quanto pude a sensação, antes de traduzi-la: que delícia não precisar mais de sonda, dreno ou soro. Poder mexer o corpo, livre de acessórios, ainda que com extremo cuidado. Acho que esbocei um sorriso meio sem ânimo, mas só por faltarem forças para gritar de alegria e pular na cama, como menina presenteada com a primeira Barbie. Na verdade, ainda que enfraquecida, estava feliz. Só pode entender a felicidade, em estado tão precário, quem já passou por situação semelhante. Quem nunca passou, tem o direito de achar graça ou fazer pouco. As experiências assimiladas, boas ou más, sempre são benéficas. É dar um passo, transpor um portal e conhecer outras realidades. Ser enriquecido com a percepção do que outros vivenciam, muitas vezes em pior situação financeira, sem os mínimos recursos de atendimento hospitalar e cuidados familiares. Descobrir que há gente acostumada à dor constante, para quem não resta sequer a esperança de que amanhã tudo melhore. Esperança que, em certos momentos, é só o que nos segura. Como viver sem ela? E há quem viva, porque não há outro jeito. Quando se vence alguma situação com galhardia, sempre há o perigo de alguém se julgar mesmo um vencedor, diferenciado dos outros mortais, que carregam suas mazelas, a duras penas. “Se venci essa, posso vencer todas”, acreditam alguns, mal superam uma doença, escapam de um acidente na estrada ou conseguem resolver um percalço financeiro. Por isso, não basta passar pela experiência. Por amarga e sofrida, ela só será válida se o sujeito se obrigar a pensar sobre ela, colocando-a dentro de uma realidade maior, o mundo em que todos vivem. Não vale se considerar um ser a parte, injustamente castigado pelo destino cruel – posicionamento capaz de torná-lo ainda mais distanciado do mundo real. Em meio à euforia da vitória, é bom quando o diabinho interior consegue acender chispas de dúvida: e se faltasse isso e aquilo? E se te tornasses dependente dos cuidados mais simples? E se não tivessem paciência contigo e te atendessem mal? Se demorassem a vir, quando precisasses urinar ou desejasses te alimentar? Se o freio do carro não correspondesse? Se os credores não te dessem descanso? Que tipo de pessoa te tornarias, nessas circunstâncias? Situações absurdas e ridículas acontecem todo o dia, e tirar proveito delas pode representar a diferença entre se achar o tal ou se compreender um ser comum, sujeito a contratempos. Já vi gente elegante apurar o passo, à procura do primeiro banheiro, acometida por uma dor de barriga de causar calafrios; já ouvi pessoas mandonas moderarem o tom de voz para pedir um copo d’água, pela total dependência; já assisti ao desespero de tudo dar errado, apesar de todos os esforços. Nesses casos e em tantos outros, sobra a lição da humildade: pode acontecer comigo. Portanto, sondas, drenos e soros restauradores podem não ser tão ruins, se cumprirem a função de nos devolverem ao solo firme, onde imprevistos sempre podem acontecer. De inhapa, que nos dêem forças para resistir a todos os trancos, sem perder o ânimo e a alegria de viver.


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espaço aberto

A Felicidade (O Segredo) J.Peirano Maciel Médico

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livro da sra.Rhonda Byrne, The Secret(O Segredo), não poderia ter outro destino senão o que alcançou, após curta trajetória no mundo das letras: transformar-se em um dos últimos sucessos editoriais que ainda nos causa admiração. Já rendeu milhões de dólares e até inspirou um filme que, na medida em que era exibido, determinou o aparecimento de milagres, curas de doenças e depressões, além de sucessos amorosos, enriquecimentos, empregos e promoções, lares perfeitos, etc.(The Secret, pág.ll). Sua tese central não é outra senão a busca da felicidade, algo que toda criatura normalmente deseja, sem saber defini-la, mas que não cessa de, ansiosa e inconscientemente, procurá-la, às vezes, por caminhos tortuosos, que conduzem ao seu oposto. Fomos criados para a felicidade, dizem as pessoas, no borburinho da existência. Mas a sra. Byrne apresenta o assunto como uma espécie de descoberta, como o encontro de uma dracma perdida, como o achado de um campo contendo ouro de que nos fala o Evangelho e para a compra do qual vendo tudo que tenho, antes que outro o faça na minha frente. Para isso, com invulgar convicção, a Sra. Byrne informa-nos a existência de uma chamada “Lei da Atração”, que é o cerne de suas concepções e vem a ser também o “Segredo” da felicidade...(?). Não há dúvida de que o livro em questão é um livro de auto-ajuda. Nos moldes em que se apresenta, foge ao padrão desse tipo de literatura, pois é uma grande coletânea de opiniões de autores antigos e modernos, muitos dos quais bastante conhecidos e respeitáveis. Eis algumas afirmações contidas no livro ”O grande segredo da vida é a Lei da Atração”. Você, leitor, algu-

ma vez ouvira falar nessa Lei, e poderá esclarecer sua origem, nos arquivos da legislação sagrada ou profana? Outras afirmações: ”A Lei da Atração diz que semelhante atrai semelhante; portanto, quando você tem um pensamento, você também está atraindo pensamentos semelhantes para si”.”Os pensamentos são magnéticos e têm uma freqüência. Quando você pensa, os pensamentos são emitidos no Universo e atraem todas as coisas semelhantes que estão na mesma freqüência, e o que é emitido volta para a fonte-você”. “Seus pensamentos se transformam em coisas”(The Secret, pág.26). ”O Segredo é a resposta a tudo que foi, é e será”(pág.183). Entretanto, como novo e diferente livro de autoajuda, pouco acrescenta, exceto a originalidade, ao conhecido tema do chamado pensamento positivo, sua influência benéfica na vida, tão ressaltada por outros autores, desde o velho Norman Vincent Peale até o falecido e excelente Joseph Murphy, que deixou vasta obra dessa categoria e de fundo espiritualista, com ênfase na FÉ presente em nossa vida. Na verdade, agora na área cristã-católica, já em antigas eras, Aurélio Agostinho(354-430)(Santo Agostinho) e Santo Ambrósio bem ensinaram as influências dos pensamentos sobre a vida emocional e física das pessoas. Dizia Agostinho: “Nesta imensa floresta, cheia de insídeas e perigos, cortei e lancei de meu coração muitos males, graças à força que me concedeste para tanto, Deus de minha salvação (Confissões, pág.246).”Ama e faze o que quiseres”. Alguém já disse que ninguém deve morrer antes de ler as Confissões de Agostinho. Eis o que falta no “The Secret”, da sra.Byrne: profundidade, sentido do transcendente, acabamento em harmonia com valores eternos.

Heresias Carmen Sílvia Machado Galvão

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Teóloga leiga

ois nos idos de agosto resolvi participar, por um fim-desemana, de um seminário em Porto Alegre, sobre ecologia e a libertação, promovido por um instituto dito “ecumênico” da Região Metropolitana da Capital. A coordenação “ecumênica” era totalmente protestante, conduzindo o encontro para aquele tipo de ecumenismo que nós, católicos, adotávamos na década de 80: “seja ecumênico desde que pense igual a nós”, sem respeitar as diferenças. A “libertação” era contra o poder masculino, pai, marido, etc. A assessoria foi de uma pessoa, não sei se freira ou ex-freira, meio envolvida com questões disciplinares ou ideológicas com a Igreja, apologista de uma linha um tanto quanto polêmica da doutrina católica, como aborto, hierarquia, autoridade do Papa, etc. Foi dela a primeira heresia do encontro, ao afirmar que devemos “desconstruir” aquela idéia de Deus, Pai e Todo Poderoso. Segundo ela, que fez uma confusão entre Pai e Filho, Deus é pai e mãe, e não é todo poderoso, pois é frágil e vulnerável. Quando alguém perguntou como ficava o Credo, ela tergiversou e não respondeu. A idéia central ligava-se a um feminismo exacerbado, onde os homens são violentos e autoritários

e as mulheres vítimas, mudas e oprimidas. Foi trabalhada a “questão do gênero”, onde segundo a assessora a libertação da mulher oprimida começa pela distinção do “irmãos e irmãs” e “todos e todas”. Será que essa medida simplista, hoje empregada pelas religiosas, é marco para a libertação feminina? O curioso que, excluindo as celibatárias, nenhuma mulher presente, exceto eu, fez-se acompanhar pelo marido. Na segunda heresia, um agrônomo veio falar em meio-ambiente e fez uma vigorosa apologia ao plantio do eucalipto no estado. Quando alguns presentes contestaram suas afirmações, ele os chamou de “maquineístas” (sic). Mais tarde, diante das pressões do grupo, ele baixou a bola, revelando os danos do eucalipto ao meio-ambiente. Ficou tudo explicado quando se descobriu que ele é agrônomo de um órgão estatal. A terceira heresia foi de matar! No domingo, resolveram fazer uma “celebração ecológica”. Para tanto, escolheram um bosque, no fundo do local do encontro. Lá, colocaram umas vasilhas com terra, sementes e frutas sobre um conjunto de tecidos de várias cores. Parecia um culto às divindades naturistas, ou uma oferta ao “bará da mata”. Depois de cantos de militância, um leigo da coordenação leu a “Parábola do semeador”. Ora, a explicação, dada por Jesus ao texto dispensa

maiores interpretações. Para não “discriminar” (comparando o tipo de terra onde caiu a semente com as pessoas), o coordenador elaborou uma exegese muito meiga, afirmando que a semente que caiu em terra rasa era para alimentar os passarinhos; a que tombou nos espinhos servia para tornar-se o húmus capaz de adubar os espinhos, e assim por diante. O curioso é que, dentre as 60 pessoas presentes, havia umas trinta religiosas e uns quatro ou cinco padres-religiosos, e ninguém contestou nenhuma dessas heresias. Lamentável!

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Sem fronteiras

Mercado consumidor Martha Alves D´Azevedo

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Comissão Comunicação Sem Fronteiras

studo divulgado pela Ernst& Young Brasil e pela F.G.V. Projetos prevê avanço de 150% no PIB brasileiro em 23 anos para US$2,4 trilhões. Fernando Garcia, consultor da F.G.V. Projetos declara que o acréscimo correspondente a R$1.893 trilhão será impulsionado pela elevação da idade média da população brasileira, mudanças no mercado de trabalho com aumento da escolaridade e melhor distribuição da renda. A expressiva elevação da idade média da população brasileira fará com que a vida ativa de homens e mulheres se estenda por mais tempo, impulsionando a economia através de atividades produtivas que contribuam para o crescimento do PIB. O aumento da escolaridade se refletirá no mercado, que receberá agentes mais preparados e aptos a impulsionar as novas tecnologias fundamentais para o crescimento da economia. A maior escolaridade da população em geral, gerará uma melhor distribuição da renda, incentivando um crescimento harmônico, que deverá beneficiar a população. Na avaliação de Garcia, é possível sustentar um crescimento econômico anual de 4% no período, o que resultaria em um avanço de 150% no PIB, para US$ 2,4 trilhões em 2030. De acordo com o estudo, o mercado consumidor brasileiro em 22 anos ficará somente atrás dos Estados Unidos, China, Índia e Japão. Garcia prevê ainda um rápido envelhecimento da população, suficiente para aumentar em 10 anos a idade média do brasileiro até 2030. “ Isto terá um impacto expressivo no mercado consumidor. Alguns mercados, como de imóveis e veículos devem crescer de forma significativa”, afirma Garcia. Ao mesmo tempo, segundo ele, a taxa de crescimento demográfico deve cair para um patamar abaixo de 1% após 2025, e se estabilizar em 0,7%. “Esse processo de envelhecimento e queda de taxa demográfica vai reestruturar o perfil das famílias brasileiras”, vaticinou Garcia.

Visa e Mastercard

Chegou

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igreja e comunidade

Catequese solidária

Voz do Pastor

A necessidade do desmonte

O encontro de catequese e sua dinâmica

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Ir. Marlene Bertoldi

estes últimos anos, tem-se falado em Catequese Renovada, e muitos pontos positivos contribuíram para que ela assim fosse chamada. Percebemos que algumas propostas da Catequese Renovada estão muito visíveis: o uso da Palavra de Deus, a importância de ligar a fé com a vida, perceber e respeitar as situações concretas dos catequizandos (tais como interesses, jeito de viver, idade, cultura...), a preocupação em fazer uma catequese mais comprometida com a comunidade, envolvimento da família, o uso de uma metodologia mais criativa e dinâmica... O documento Catequese Renovada (26), escrito em 1983, nos faz propostas arrojadas e que ainda estamos por concretizar. Para muitos catequistas, pais, agentes, padres... a catequese é ainda pensada: • só para crianças; • voltada para os sacramentos; • voltada para a celebração dos sacramentos que muitas vezes é uma formatura, portanto, depois disto é um adeus a todos os compromissos de fé e vida; • como uma “aula escolar”; • desligada da vida (como problemas, exclusões, alegrias, lutas, meios de comunicação...). A nossa preocupação é que se possa superar uma fé que apenas passa por um texto, ou doutrina, e que, com os nossos catequizandos, se possa fazer uma verdadeira experiência de Deus, vivenciada como processo e encarnada no dia-a-dia, na luta por mais justiça e acolhendo a vida como maior dom de Deus. Diz o documento que a finalidade da catequese é a “maturidade da Fé, num compromisso pessoal e comunitário de libertação integral” (CR 318). A maturidade da fé não acontece de um dia para o outro. Ela tem início na família, continua na comunidade e acompanha a pessoa por toda a vida. O princípio da interação: “Fé-Vida” Existem muitos métodos, isto é, muitas maneiras para se chegar a alcançar objetivos. A catequese usa o princípio metodológico da interação. Na vida de todo dia usamos interações que produzem efeitos benéficos. Veja, por exemplo, o fermento, a água e o trigo misturados, interagindo, são capazes de produzir um pão capaz de matar a fome. Na catequese é preciso fazer interagir, isto é, misturar aquilo que é do campo da fé (Bíblia, tradição, liturgia, doutrina, ensinamentos da Igreja...) com tudo aquilo que é do campo da vida (acontecimentos, realidade, situações, aspirações, clamores, fatos alegres e tristes...). “A interação é relacionamento mútuo e eficaz entre a experiência de vida e a formulação da fé, entre a vivência atual e o dado da Tradição” (CR 113). O conteúdo da catequese não é só doutrina, Bíblia, mas também a nossa vida. Frei Bernardo dizia: O catequista precisa trazer numa mão o jornal e na outra a Palavra de Deus. Precisamos estar em contato com duas fontes: a Bíblia e a realidade humana. Este método tem por finalidade educar para Ação-Reflexão, assim como fez Jesus, que se preocupou em educar seus discípulos para uma reflexão, partindo da vida (pobres, crianças, doentes, excluídos...).

Dom Dadeus Grings

Q

Arcebispo Metropolitano de P. Alegre

uando sentimos a necessidade de reduzir os impostos dos quase 40% atuais para um patamar de 10%, para não asfixiar a população e deixar as bases respirarem, propiciando um verdadeiro progresso ao país, é óbvio que devamos repensar todo o esquema de nossa organização estatal. Fala-se, principalmente a partir da queda das ideologias estatizantes, cuja marca foi assinalada pela implosão fragorosa da União Soviética em 1989 e pela sintomática derrubada das Torres Gêmeas de Nova Iorque em 2001, da necessidade de desmonte do Estado. É preciso repensá-lo e reestruturá-lo sob outra base. A concentração do poder, como o ‘escudo espacial’, revelou-se não só ineficaz como prejudicial para resolver os verdadeiros problemas da sociedade e da segurança. A primeira tentação, que constitui também o primeiro equívoco, é tentar desmontar a estrutura social. Teria acabado o período do Estado Social. Declinar-se-ia de toda responsabilidade da sociedade no campo social. Seria mais ou menos como na primitiva comunidade cristã. Tendo havido, segundo nos asseguram os Atos dos Apóstolos, discriminação na distribuição diária às viúvas, se poderia ter pensado em eliminar esta prática e encolher a própria comunidade. Mas, sob a inspiração do Espírito Santo, não foi isto que aconteceu. Pelo contrário: procurou-se reestruturar melhor essa função, com algo especificamente novo, que foi a instituição dos diáconos. Portanto, se é verdade que terminou a fase do Estado assistencialista, pelo fracasso das iniciativas que se tomaram neste plano e pelo risco de engolir no mesmo vórtice o próprio Estado, não se pode aceitar que tenha sido eliminado o Estado Social. Na verdade, o social é a função primordial do Estado. Mas onde está a falha? Ou seja, o que é preciso modificar no Estado – e entendêmo-lo como município, Estado e União – para reduzir os impostos de 40% a 10%? Digo 10% para sugerir uma medida bíblica: o dízimo. Para descobrir o fulcro da questão, voltemos novamente à S. Escritura. Conta-nos, evidentemente com o colorido oriental das exagerações, que Salomão ‘teve setecentas esposas de classe principesca e trezentas concubinas’ (1 Reis 11,3). Refere também o ouro, que anualmente era levado a Salomão, e as construções suntuosas, que fez para si e suas mulheres. Isto evidentemente custava muito dinheiro. Exigia, em compensação, altíssimos

impostos, sem nenhum retorno à população. Quando Salomão morreu, o povo foi pedir a seu filho Roboão que aliviasse esta ‘rude servidão e o pesado jugo que seu pai lhe impusera’. O novo rei não acedeu aos rogos. Conseqüência: surgiu a revolta de Jeroboão, que dividiu o reino para a desgraça de todos (cf 1 Reis l2,4ss). Não é a estrutura social, aquela que se destina a promover as condições de vida dos cidadãos, que está pesada e que absorve demasiados recursos. É, pelo contrário, a própria organização, por assim dizer burocrática, que sufoca a nação. Apontando para esta situação desastrada, não queremos, evidentemente, envolver pessoas que nela trabalham. Mas é preciso refletir sobre as mazelas e a demasiada burocratização que levou o ministro Hélio Beltrão, a seu tempo, pleitear e presidir um ministério específico de desburocratização. Temos que ir mais longe e repensar todo nosso sistema. Há um consenso, em nossa população, acerca do exagerado número de funcionários públicos e o peso da máquina estatal. A estrutura administrativa nos três níveis – municipal, estadual e federal – deve ser simplificada Se conseguíssemos reduzi-la aos eleitos e alguns assessores, sentir-nos-íamos aliviados de um grande peso financeiro. O sistema do concurso público, com as correspondentes garantias de estabilidade, emperra a máquina estatal. Muitos dos concursados tornam-se ineficientes, sem poderem ser afastados do cargo. E assim se vão multiplicando os funcionários. O Judiciário, por sua vez, não conhece controle da sociedade. Como, porém, também ele é formado por seres humanos, que mesmo se sentindo infalíveis, está sujeito às condições humanas da corrupção. Por isso, corre risco maior. Só no momento em que a própria sociedade exercer seu direito democrático de escolher livremente, a cada quadriênio, seus juízes, teremos condições de uma administração mais objetiva da Justiça. O Judiciário lida com grandes somas de dinheiro. Não é, pois, justo que, para dirimir questões particulares, dependa do Erário Público. Deveria auto-sustentar-se. Quanto ao Senado federal, é preciso que se reconheça que, além de extremamente oneroso para a Nação, é totalmente dispensável como função. Outro ponto de estrangulamento da economia é nosso sistema carcerário. Não basta nem é justo simplesmente retirar os criminosos de circulação, sendo depois mantidos pelo Estado. A justiça lesada deve ser reparada, o que significa que a primeira condição a ser imposta aos faltosos é o reparo dos danos causados. Na reclusão, dever-se-ão auto-sustentar.

A Igreja no deserto? Dom Sinésio Bohn Bispo de Santa Cruz do Sul

O

s bispos católicos da América Latina e do Caribe chamaram a atenção das lideranças para a conversão pastoral. Certamente, há uma dimensão pessoal: meu testemunho condiz com a missão da Igreja? Vai de encontro à cultura moderna? Ou é uma voz que clama no deserto, pois não encontra eco no coração das pessoas? Há também uma dimensão estrutural. Pergunta-se até que ponto a Igreja está inserida na sociedade atual de modo dialogal, como quem presta um serviço à sociedade. O Concílio Ecumênico Vaticano II orientou a Igreja Católica assim: Não ser estrangeira no seu próprio país; não ser dominadora, nem clericalista, mas dialogar e testemunhar com palavras e obras o Evangelho. A conversão pastoral supõe a capacidade de revermos nossas atitudes, nosso modo de oferecer o Evangelho e nosso serviço à sociedade. Um dos pontos de atrito com parte da elite brasileira são as obras de saúde, de ensino e de assistência social. A Constituição da República favorece estas obras isentando-as de tributos e impostos (filantropia). Há neste campo duas novidades: hoje, as grandes empresas e os bancos reivindicam para eles esta missão, sob a capa de responsabilidade social. Naturalmente,

têm em vista também os recursos financeiros correspondentes. Para dar cobertura às novas agências filantrópicas elaborou-se um conceito de “Estado laico” de cunho anticlerical, contra a presença ativa da Igreja na sociedade. Cassa-se o direito à voz da Igreja. Condena-se a Igreja a permanecer na sacristia, fora da sociedade. Nada de luz, sal e fermento. A Igreja fique na sacristia ou vá para o deserto. No Rio Grande do Sul, os bispos e os superiores de Congregações (Provinciais) criaram uma Comissão de Filantropia, que busque formas de manter vivas e operantes as obras beneficentes, usando da isenção fiscal, garantida pela Constituição. Contra militam forças poderosas, como a Força Tarefa dos Procuradores. O ideal seria que se reformasse a Carta Magna, para que a Igreja pagasse a ação pelos pobres e pagasse impostos ao Estado por esta ação? Seria uma ação legal. Em vez disto, se intimidam as pessoas, procura-se inviabilizar as obras e se denunciam os que acreditam ser melhor para a democracia não renunciar aos direitos constitucionais, mesmo à custa da difamação, do cárcere e da obstrução à ação em favor dos pobres. A Igreja pode até rever sua maneira de se inserir na sociedade. Mas não pode renunciar à sua opção evangélica e preferencial pelos pobres.


16 a 31 de outubro de 2008

comunidade e igreja

Religião não se vende em prateleiras Pe. Wagner Ferreira

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Solidário Litúrgico 19 de outubro – 29º Domingo do Tempo Comum ( )

27 de outubro – 30º Domingo do Tempo Comum ( )

Domingo das Missões 1a leitura: Livro do Profeta Isaias (Is) 45,1.4-6 Salmo (Sl) 95(96) 1 e 3.4-5.7-8.8-10a e c (R./7b) 2a leitura: 1ª Carta de Paulo Apóstolo aos Tessalonicenses (1Ts) 1,1-5b Evangelho: Mateus (Mt) 22,15-21 Comentário: Quando a esmola é demais, o santo desconfia, lembra um sábio provérbio popular. Jesus aplicou este provérbio ao interpretar aquelas surpreendentes e inesperadas palavras de louvor a ele, vindas dos fariseus e de gente de Herodes: Sabemos que és verdadeiro e que ensinas o caminho para Deus. Não te deixas influenciar pela opinião dos outros pois não julgas pelas aparências (22,16). Jesus se deu conta, imediatamente: vindo dos fariseus e de Herodes, ele percebeu imediatamente que aquilo era esmola demais e ali havia coelho ensacado, uma armadilha escondida. Se dissesse que os judeus deviam pagar imposto ao poder estrangeiro, ao imperador romano, eles diriam: Aí está... ele é contra o seu povo! Se dissesse que não, eles diriam: ele é inimigo de César e podemos prendê-lo e condená-lo por isso. O que, de fato, aconteceria depois, quando levaram Jesus a Pilatos e exigiram sua morte. Respondendo aos enviados dos fariseus e de Herodes, Jesus deixa as coisas bem claras: mandem dizer aos que enviaram vocês que eu os conheço bem, que são uns hipócritas... uma raça de víboras. Que eles dêem a César o que é de César, se acharem isso justo; mas que dêem a Deus, o que é de Deus (cf 22,18-21). Em outras palavras: não misturem as coisas, não prostituam o sagrado, não usem o nome de Deus para seus negócios sujos, para explorar a gente simples, para manter seus privilégios, para trair o povo, caso do rei Herodes, um judeu títere, pago pelos romanos para dar um ar democrático à presença imperialista romana em Israel. Nas ardilosas palavras daqueles enviados, uma verdade: Deus não julga pelas aparências; ele olha sempre o coração das pessoas. É ali que reside a verdade. Por isso, Deus e a Vida nos julgam, aplaudem ou condenam pela verdade que está em nosso coração.

1a leitura: Livro do Êxodo (Ex) 22,20-26 Salmo (Sl) 17(18), 2-3a.3bc-4.47 e 51ab (R./ 2) 2a leitura: 1ª Carta de Paulo Apóstolo aos Tessalonicenses (1Ts) 1,5c-10 Evangelho: Mateus (Mt 22,34-40 Comentário: O tempo novo inaugurado por Jesus veio trazer-nos um projeto religioso novo que, sem abolir, completa e sintetiza todo o código de leis e normas anterior: amar a Deus e amar ao outro como a si mesmo. O mandamento do amor a Deus e ao outro parece simples e fácil de ser cumprido e vivido. Teoricamente ou idealmente, pode ser ou parecer; na prática, é um mandamento tremendamente difícil, que exige superações de toda ordem. Pelo mau uso ou mesmo por causa da prostituição da palavra “amor”, é preciso adjetivar o termo. Então, de que amor estamos falando aqui? Quando Jesus fala que no amor a Deus e ao outro está toda a lei e os profetas, ele não se refere ao amor teórico ou ideal; ele nos fala do amor solidário, do amor que assume as alegrias e as tristezas, a saúde e a doença, as vitórias e as derrotas, os dias de sol e primavera e as noites de dor e trevas de nossos irmãos de caminhada. Mais: este amor solidário assume não apenas os irmãos mais próximos, familiares, amigos, colegas, aqueles com quem nos damos e nos sentimos bem; este amor solidário assume também aqueles outros, muitas vezes nada irmãos, nada amigos, nada companheiros. Os irmãos mais difíceis e dolorosos, cuja companhia não é nada gratificante aos nossos sentidos. Que exigem de nós uma constante superação, uma sempre nova entrega, um esquecer-nos de nós mesmos, de nossos gostos e de nossas conveniências. Um amor solidário como o amor de Deus que no seu amor apaixonado pela humanidade se esquece de si mesmo e oferece o que tem de melhor: seu Filho único para que os homens creiam no seu amor e vivam este mesmo amor solidário uns para com os outros. Falar de amor é simples e fácil; viver o amor solidário no diaa-dia é ser uma presença divina no coração da humanidade.

verde

verde

Doutorando em Teologia Moral na Academia Alfonsiana

A

braçar uma religião é, segundo dados estatísticos da Pew Global Attitudes Project, mais importante para os países em desenvolvimento do que para as nações prósperas - do ponto de vista econômico. Mesmo assim, enquanto 59% dos norte-americanos crêem que a religião é importante em suas vidas, esse índice é bem menor em países como Alemanha (21%), França (12%) e Japão (11%). O Brasil aparece como o segundo país na América Latina que mais cultiva a religiosidade, perdendo apenas para a Guatemala - 77% contra 80%, respectivamente. Espanta, também, que de cada três italianos apenas um se assuma católico, dado curioso ao considerarmos a presença do Vaticano na Itália. Uma rápida análise sociocultural aponta para o crescimento do secularismo. Trata-se de um fenômeno característico da chamada pós-modernidade, na qual a pessoa humana, desconfiada das seguranças científicas afirmadas pelo racionalismo moderno, busca respostas no mundo sobrenatural. Parece que Deus estava “dormindo”, mas não “morto”, como afirmavam alguns. Em função disso, contempla-se uma “emergência espiritual”, acompanhada, segundo alguns sociólogos da religião, do “mercantilismo religioso”: a religião considerada produto. Neste “mercado das crenças”, compreende-se o “trânsito religioso”, uma vez que nem sempre essa ou aquela religião consegue atender às necessidades imediatas da pessoa. Nas “prateleiras” do “mercado religioso”, tudo o que for soft é bem-vindo, atrairá mais clientes. Caso o cliente não se satisfaça, basta mudar para uma outra religião. Sem cairmos na tentação de absolutizarmos tal fenômeno, é como se a crença estivesse condicionada ao efeito rápido, como o de um medicamento. Será que o desenvolvimento econômico, implicado também nas conquistas científicas das famosas mutações genéticas, tem conseguido transformar a religião em ópio do povo? Sem culpabilizarmos quem quer que seja, esse mercado religioso - que se vale do marketing do “é pra já” - tem se aproveitado da fragilidade de pessoas interessadas em buscar segurança em um mundo de rápidas mudanças. Se antes a religião entrava na vida de uma pessoa pela fidelização cultural e familiar, hoje é por opção. Quantas pessoas se dizem católicas porque foram batizadas, mas não sabem o que é freqüentar a Missa aos domingos ou mesmo recorrer a Deus através da oração? Alguns sequer entendem o significado da fé cristã. O que fazer, então? A resposta para o Catolicismo está na evangelização. Cada vez mais, percebemos que, ao ser realmente evangelizado, o fiel apresenta uma impressionante qualidade de vida cristã, acompanhada do testemunho da fé. A partir do momento que ele entende Quem é o Caminho, a Verdade e a Vida, também a consciência sobre seu papel no tecido social é transformada. O interesse da Igreja Católica, apesar do fenômeno secularista e da emergência daqueles que buscam na religião respostas imediatas para os problemas do cotidiano, é que todos alcancem a salvação em Cristo Jesus. Para isso, o importante não é o número, não é entrar na competitividade do mercado religioso, mas formar na fé discípulos e missionários de Jesus Cristo. Afinal, Jesus contou com 12 Apóstolos para levar a sua Palavra ao mundo todo.

Pe. Attílio Hartmann, sj - 16/10 Adelhardt N. Mueller - 20/10 Waldair G. Kulczynski - 21/10

attilio@livrariareus.com.br


Porto Alegre, 16 a 31 de outubro de 2008 Benjamin Earwicker

Casamento feliz e duradouro

Lauro e Maria Helena Quadros casaram em missa especial na Igreja Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre, em 31 de dezembro de 1960, tendo como celebrante o Cônego Hélio Azevedo. São pais de quatro filhos e avós de seis netos: Marcelo Augusto (47 anos), pai da Agostina (10 anos) e do Ernesto (9 anos), residentes em Buenos Aires; Carla Maria (46 anos), mãe do Victor (16 anos) e do Pedro (11 anos), residentes em Porto Alegre; Cármen Elena (44 anos), mãe do Cícero (15 anos), residentes em Porto Alegre; e Laura Elena (38 anos), mãe do Lorenzo (4 meses), residentes em São Paulo.

“Sucesso no casamento não é receita de bolo”

“Sucesso no casamento não é receita de bolo. Até porque o que menos se quer numa relação a dois é bolo e rolo. Em todo caso, é preciso que ambos estejam preparados para quando o período nem tão longo da paixão passar. Apaixonado não vê defeito no outro, na outra. Bom de curtir, ótimo para se iludir. Finda a paixão, cai-se na realidade. Se sobrar o amor, tanto melhor. Mas se a idealização foi tão grande, criando uma expectativa cinematográfica pelo que nunca virá, estaremos diante de um problema. Então, pés no chão. A vida é só aquilo mesmo que o padre diz diante do altar: “...na saúde e na doença, na alegria e na tristeza...”. O resto é utopia. Respeitar o espaço do outro é indispensável. Para que um dia, se mais nada sobreviver, ainda reste a amizade”.

Paróquia precisa de alimentos para atender necessitados A Ação Social Santa Teresinha, que atende preferencialmente aos moradores do Condomínio Santa Teresinha (exVila dos Papeleiros), está necessitando, para compor a cesta básica dos moradores beneficiados, dos seguintes gêneros alimentícios: azeite, açúcar, massa e leite. Doações podem ser feitas nas Missas do final de semana, na Paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus (Rua Ramiro Barcelos) ou na Secretaria Paroquial.

Viva a primavera!

Por que os homens têm olhos ávidos Que só brilham para o sobe e desce das Bolsas, Para as telas de tevês e de computadores E se comprazem explodindo bombas? Por que o som que delicia seus ouvidos moucos É o som duro e metálico de metralhadoras, mísseis Detonando e minas, supersônicos troantes Cruzando, espionando, vasculhando seu próprio céu, e alheios ares? Por que se caçam dia e noite E se concentram em armar estratégicas De ataques e ciladas, temem, se sobressaltam Com sua própria sombra? Vivem conectados À violência, jogando com a dos outros, e a sua sorte? Plugados no terror e na demência? Viciados são na Morte Assim, não podem ver, Nem saber e... pouco lhes importa, Esta Primavera que, radiante de amarelos, rosas

Dourados e laranjas, em cem mil tons de verdes Invade todos os espaços. Bate contra o vidro da minha janela. Entra pela porta, pula para dentro dos meus olhos. Envolve e perfuma minha cama, minha pele, meus cabelos, Desperta meus sentidos e me grita: “Vida!” Mas, você, sim! Você pode vê-la! Você sente como eu, no vento, a poesia, A emoção. Tem aguçados todos os sentidos, A alma, o coração. Já te surpreendi acariciando delicado Uma folha, uma florzinha. Te vi extasiado, Acompanhando o bailado de uma borboleta, Sorrindo para um beija-flor. Você pode! Porque sabe Que a beleza da estação nasce e se revela Ao longo do tempo que, paciente, alguém por ela espera. Por isso, e muito mais, hoje, para você, posso trazer nas mãos como presente, A plenitude dessa Primavera. (Autor desconhecido)

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