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IMPRESSO ESPECIAL CONTRATO No 9912233178 ECT/DR/RS FUNDAÇÃO PRODEO DE COMUNICAÇÃO CORREIOS

Porto Alegre, 1o a 15 de setembro de 2009

Ano XV - Edição No 545 - R$ 1,50

Visitar os encarcerados:

Arquidiocese de Porto Alegre abre ano do centenário

UM DEVER CRISTÃO Mutirão de Comunicação

América Latina e Caribe 3 a 7 de fevereiro de 2010 Centro de Eventos da PUCRS - P. Alegre

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Cristo era um profeta leigo

er leigo, entre outras coisas, significa não atribuir a Deus o mal e os problemas do mundo. Jesus não atribuía a Deus a causa das enfermidades ou mortes.

Seria por acaso que Jesus incluiu a visita aos presos como um dos pressupostos da autêntica prática do cristianismo (Mt, 25,36)? E quantos de nós nos dispusemos a cumprir esse mandato de amor? Quase ninguém! No Presídio Central de Porto Alegre, construído para acolher 1.500 presos, se amontoam cinco mil seres humanos à espera de algum olhar solidário. E a Pastoral Carcerária da Arquidiocese conta com apenas dois visitadores para lhes levar alguma esperança. Na foto acima, a Pastoral Carcerária atuando no presídio feminino Madre Pelletier. Páginas centrais

Página 4

SICA: 40 anos de solidariedade ecumênica

O

Serviço Interconfecional de Aconselhamento - SICA já atendeu, de forma gratuita, através de voluntários, 40 mil pessoas em seus 40 anos de existência. Contracapa

A questão da criação do universo

A

ciência chega ao ponto de ter que admitir Deus como criador. Página 2

A família e o consumo de drogas

Página 4

A fome oculta

Página 8

CianMagentaAmareloPreto

A iniciativa é da Unisinos, sob a coordenação do Instituto Humanitas, em parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. E é voltada a professores, estudantes universitários e comunidade em geral. Objetiva promover um debate sobre possibilidades e impossibilidades do discurso sobre Deus numa sociedade pós-metafísica, tendo em vista as profundas transformações socioculturais que caracterizam a sociedade atual como sociedade pós-metafísica e que vêm transformando profunda e radicalmente não só a idéia de Deus na cultura contemporânea, mas também as condições e possibilidades do discurso e narrativa de Deus no contexto hodierno. Contará com a participação de teólogos, cientistas e pensadores dos Estados Unidos, França, Alemanha, Índia e Brasil. Mas detalhes em www.unisinos.br/ihu

“Ser Pai é sorrir, chorar,

sofrer, gargalhar. Ser filho é agradecer todos os dias a oportunidade de ter um pai”.

Página 5

Detalhes na página 11

Jovem tem vez

Cristiano Luís Cornelius, 27 anos, nascido e residente em São Pedro da Serra, é o destaque jovem desta edição do Solidário. Página 9

(Autor desconhecido)

Jesus psicólogo

Foi a 16 de agosto último, na Catedral Metropolitana, em celebração presidida por Dom Dadeus Grings, arcebispo metropolitano, em que também houve o lançamento da Edição Comemorativa da Bíblia, que terá encartada a história da Arquidiocese. A circunscrição eclesiástica de Porto Alegre foi definida em 15 de agosto de 1910, no pontificado do Papa Pio X, com a publicação da bula Praedecessorum Nostrotum. Na mesma data também foram criadas as dioceses de Pelotas, Santa Maria e Uruguaiana, elevando Porto Alegre à condição de Arquidiocese.

Família e mudança

Página 3

Catequese eucarística

Página 10


A

2 EDITORIAL

O drama das prisões

U

ma pergunta intrigante: por que Jesus teria incluído, entre as obras de caridade cristã que definem o destino eterno de cada pessoa, o que vem citado em Mateus: Eu estive na prisão e foste visitar-me (25, 36c)?! As outras obras de caridade até são compreensíveis dentro do projeto humanista e humanizador de Jesus Cristo: dar pão a quem tem fome, água, a quem tem sede, visitar os doentes, vestir os nus, acolher os migrantes; mas isso de identificarse com um preso e prometer eterna recompensa a quem o visitou na qualidade de preso, parece fora de contexto para a maioria da gente de nosso tempo. É um destes mistérios do coração divino cuja resposta só a teremos quando nós mesmos estivermos diante do justo juiz. Sempre se interpretou esta passagem bíblica com as muitas “prisões” que sofrem tantas pessoas, não menos dolorosas que a perda da liberdade física, do direito de ir e vir. Esta interpretação também é válida, sem dúvida; mas Jesus quis ressaltar a solidão extrema que sofrem tantos, condenados, muitas vezes a passarem anos ou a vida toda em condições desumanas, descendo ao mais baixo nível da condição humana. E Jesus sabia, como o sabemos todos: ontem como hoje, muitos apenados são condenados injustamente, por crimes que não cometeram, e, sabendo-se inocentes, sentem ainda mais a solidão e a marginalização. Também por isso, ao incluir os presos entre os “mais pequeninos”, Jesus sabia muito bem a quem se estava referindo. Passados mais de dois mil anos daquela palavra de Jesus é de grande atualidade olhar, com coração cristão, para uma das mais dolorosas realidades da nossa sociedade: a caótica situação de todo o nosso sistema prisional. Não bastassem as muitas injustiças cometidas por homens e mulheres, juízes, que deveriam ser os paladinos da justiça, mas que cometem tantos erros de avaliação e condenam tantos inocentes, ainda temos o drama das casas de detenção que se transformam, na maioria dos casos, em escolas do crime. É extremamente injusto, por exemplo, colocar no mesmo espaço físico, geralmente pequeno demais, jovens que cometeram pequenos delitos com delinquentes de extensa carreira de crimes, os mais violentos e hediondos. Este é um dos campos de pastoral onde a Igreja, embora já realize, historicamente, ações que diminuem o sofrimento de aprisionados em algumas situações concretas, ainda há uma imensa dívida social devida pelos cidadãos e cidadãs de um país que se diz cristão. O Solidário, nas páginas centrais desta edição, aborda o tema e entrevista o coordenador da Pastoral Carcerária da Igreja em nosso Estado, Manoel Feio da Silva. Serve como alerta para todos nós, que muitas vezes julgamos e condenamos, sem um mínimo de conhecimento de causa. E talvez até engrossemos o número dos que afirmam, categóricos que “bandido bom é bandido morto” (Solidário, 454). Na última página desta edição, uma referência aos 40 anos do SICA (Serviço Interconfessional de Aconselhamento), uma atividade ecumênica, símbolo e presença de uma fé que, quando autenticamente cristã, deve deixar num segundo plano as querelas institucionais e debruçar-se, corajosa e comprometidamente, sobre os dramas humanos que se multiplicam neste nosso tempo. Aqui se pode aplicar: palavras comovem, exemplos arrastam e convertem. O SICA é um exemplo de solidariedade com o sofrimento humano. attilio@livrariareus.com.br

Fundação Pro Deo de Comunicação CNPJ: 74871807/0001-36

Conselho Deliberativo

Presidente: José Ernesto Flesch Chaves Vice-presidente: Agenor Casaril

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A crise de gênero

haja desvios de sexualidade, como cultura homossexual pôs em os há também em todas as demais crise o gênero. Ignora ou até dimensões humanas, não é de estrarejeita a complementaridade nhar. Basta ver os especiais, que são masculino-feminina. Confina a tratados nas Apaes. Mas que se tente questão sexual à biologia. Estaria, Dom Dadeus Grings fazer dessa disfunção uma regra para a por assim dizer, no plano animal. E, Arcebispo Metropolitano vida é assaz estranho. São Paulo fala, com isso, se caracterizaria como irrade Porto Alegre com muita veemência, na sua carta cional. A razão e, consequentemente, aos Romanos, que 'desde a criação a cultura, estariam em outro plano, totalmente independente da expressão biológica. Não do mundo, as perfeições de Deus, o seu sempiterno há dúvida de que é possível criar uma cultura deste poder e divindade, se tornaram visíveis à inteligência, tipo. O problema é se é possível dar-lhe ainda o título por suas obras'. E logo acrescenta que, conhecendo de humana, ou, mais especificamente, de verdadeira. assim a Deus e não o glorificando como Deus, Ele O Papa Paulo VI, na sua famosa encíclica Populorum lhes obscureceu o coração insensato' (Rom 1,24). São Progressio, reconhece ser possível criar um huma- Paulo atribui a decadência de Roma aos vícios sexuais nismo sem Deus. Mas, logo a seguir, garante que ele dos romanos. Descreve as barbaridades que praticasó poderá ser desumano. Igualmente é possível criar vam. É óbvio que, com isso, não poderiam ir longe. uma cultura sem a complementaridade masculino- Se falamos de crise de gênero, é evidente que toda a feminina, mas ela será necessariamente desumana, sexualidade humana entrou em crise. Ouvem-se notícias de abusos sexuais horrendos, de perversões e de consequentemente, irrealista. O feminismo está na mesma desproporção do desorientação generalizada. Saíram até publicações machismo. Nenhum dos dois reconhece a diversidade oficiais para as escolas, garantindo que 'em matéria de enriquecedora da sexualidade humana. Além do mais, sexo não existe certo e errado'(sic). Então, afirma-se, o masculino e o feminino não só são constitutivos de é só divertir-se. O sexo desligou-se da geração, bem nosso organismo humano, como também plasmadores como da expressão de um amor indissolúvel. Entrou de nossa cultura. Na língua portuguesa só temos dois para o campo da diversão, do lazer, bem como para gêneros gramaticais. Não surgiram arbitrariamente. o setor do ganho econômico. Vende-se o corpo, até Denotam dois pontos de vista, que caracterizam to- com a intermediação de gente poderosa. Se falamos dos os substantivos e exigem concordância de todos de crise da sexualidade é porque constatamos que a os adjetivos. Isto é sintomático. Querer eliminar ou própria vida humana está em crise. Não se sabe mais, passar simplesmente por cima dessas diferenças seria ao certo, o que é viver, nem para que viver. Está, em mutilar não só a linguagem como diminuir a própria consequência, também em crise a educação. Afinal, vida humana, masculina e feminina. A crise do gê- o que é educar, neste contexto? Não por nada há nero manifesta-se nas leis, que se vão promulgando estudiosos que pretendem qualificar a nova época, em defesa do homossexualismo, em detrimento de que se está assim iniciando, como pós-humana. Em uma visão mais objetiva e, consequentemente, de outras palavras, a época que surge desta crise, não atitudes mais condizentes com a vida humana. Que seria mais humana.

Voz do

PASTOR

A criação do universo

Padre Afonso Seger

O

universo é a nossa casa onde o Criador nos colocou como habitantes. Como surgiu esse imenso universo com todos os corpos que nele flutuam e onde flutua a nossa Terra, um pequeno planeta no meio da imensidade do espaço? O habitante da Terra, o homem, sempre foi curioso por saber e continua a pesquisar sobre os motivos e as maneiras de surgirem as coisas. Sobre o surgimento dos seres do universo, li um estudo e a descrição de uma experiência realizada em Genebra na Suíça no ano de 2008, a 10 de setembro, conforme relata a “Revista Stadt Gottes” de julho de 2009. Aqui vai a tradução do artigo publicado nessa revista: “A 10 de setembro de 2008 iniciou-se em Genebra, no Centro de pesquisas nuclear CERN, uma experiência jamais havida na humanidade. No maior acelerador de partículas que já foi construído, dois raios de prótons são continuamente dirigidos para colisão entre si e isto à quase velocidade da luz. Nesta colisão surgem raios de energia de trilhões de graus Celsius e com isso as condições que existiram após o Big-Bang, o estalo inicial há 13,7 bilhões de anos e nestas condições poderiam ter sido liberadas partículas elementares jamais pesquisadas até hoje e poderiam dar respostas às mais enigmáticas perguntas da física, a saber, o surgimento e a composição do universo. Conforme a concepção científica, o universo começou como um ponto infinitamente pequeno e

Voluntários Diretoria Executiva

Diretor Executivo: Jorge La Rosa Vice-Diretor: Martha d’Azevedo Diretores Adjuntos: Carmelita Marroni Abruzzi, José Edson Knob e Ir. Erinida Gheller Secretário: Elói Luiz Claro Tesoureiro: Décio Abruzzi Assistente Eclesiástico: Pe.Attílio Hartmann sj

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RTIGOS

imensamente quente. Algo de inimaginável energia. Não houve “antes” porque apenas com o estalo inicial surgiu o tempo. Tempo, espaço e matéria surgiram ao mesmo momento. Em frações do primeiro segundo, o espaço se expandiu como um raio, e tornou-se uma “sopa” inicial de partículas elementares chamados “nêutrons e elétrons”. Dentro dos primeiros 100 segundos o universo esfriou-se, mas ainda havia bilhões de graus Celsius que forneciam as condições para fusão nuclear. Prótons e nêutrons se fundiram em núcleos atômicos de Hélio que se espalharam pelo universo e pairavam como grãos de areia numa tempestade no deserto. E semelhantemente como em tal tempestade, a luz não penetrava por este caos. 400.000 anos se passaram até que os núcleos atômicos e elétrons se esfriaram suficientemente a ponto de formarem átomos de hidrogênio e hélio. Nestas condições os raios eletromagnéticos puderam propagar-se sem estorvo pelo espaço e aí se fez a luz! Pelo acendimento experimental de fogo inicial em CERN se pretende achar aquela partícula elementar desconhecida, que deu aos elétrons a massa que surgiu no início do universo. Sem massa não há união de núcleos atômicos. Sem união não há corpos firmes e estáveis nem processos químicos nem vida. A partícula procurada, chamada de “Higgs-Broson” e chamada por isso de partícula divina”. (Até aqui a tradução do artigo. Cada um tire as conclusões. A ciência chegou ao ponto de ter que admitir o criador Deus). (Alecrim, fone (55)3546-1224)

Redação Jorn. Luiz Carlos Vaz - Reg. 2255 DRT/RS Jorn. Adriano Eli - Reg. 3355 DRT/RS

Diretor-Editor Attílio Hartmann - Reg. 8608 DRT/RS Editora Adjunta Martha d’Azevedo

Revisão Nicolau Waquil, Ronald Forster e Pedro M. Schneider (voluntários) Administração Paulo Oliveira da Rosa (voluntário), Elisabete Lopes de Souza e Davi Eli Impressão: Gazeta do Sul

Rua Duque de Caxias, 805 Centro – CEP 90010-282 Porto Alegre/RS Fone: (51) 3221.5041 – E-mail: solidario@portoweb.com.br Conceitos emitidos por nossos colaboradores são de sua inteira responsabilidade, não expressando necessariamente a opinião deste jornal.


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AMÍLIA &

S

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OCIEDADE

Família: convivência e mudança pessoal

G. J. Ballone* Psiquiatra

Ter sentimentos desagradáveis proporcionados por pessoas que não estão se relacionando diretamente conosco, como, por exemplo, com a atuação da justiça, com o Congresso Nacional, com movimentos políticos, com os conflitos internacionais, com a fome no mundo, com as notícias do dia-a-dia, mostra sempre uma afetividade muito sentimental. De fato, algumas notícias emocionam muito, causam perplexidade ou outros tipos de sentimentos, mas, de qualquer forma, embora possamos lamentar, protestar, reclamar e manifestar nosso constrangimento, não é normal adoecermos por causa delas. Vendo notícias da fome em alguns países, ou tomando contato com imagens de pessoas sofrendo privações, carências ou injustiças, todos nós experimentamos sentimentos constrangedores e até tristeza franca. Esses sentimentos engrandecem as pessoas e mostram nobres sentimentos, no entanto, não podemos adoecer por isso. Não podemos sofrer de insônia, ter crises de choro exagerado, apresentar episódios de pânico, manifestar hipertensão arterial, gastrite ou qualquer outro sintoma patológico. Nesses casos, além do tratamento médico indicado, recomendamos ter em mente as meritosas exceções que existem em nossa espécie. Devemos nos lembrar das incontáveis pessoas (normalmente anônimas) que fazem a vida valer a pena. Essas exceções nos animam a continuar acreditando em nossos semelhantes e nos dão forças para valorizar o mundo no qual vivemos.

Mudar a nós mesmos

Entendendo a possibilidade, mais do que certa, das mesmas coisas representarem algo diferente em cada pessoa, seremos mais compreensíveis com nosso próximo e sua maneira pessoal de sentir o mundo. De qualquer forma, tentar conviver com nosso muito próximo do jeito que ele é, compreendendo-o e aceitando seus sentimentos, sua maneira de pensar e de agir requer boa dose de abnegação e complacência. Para essa tentativa de convivência precisamos mudar algumas coisas em nosso interior. Precisamos, principalmente, nos despojar do orgulho, da vaidade e da presunção. Há pessoas que não abrem mão desses sentimentos da alma humana (do Ego) alegando o risco de anularem suas personalidades, como costumam dizer. Ora, não se anula personalidade alguma, antes, com a mudança, constrói-se uma personalidade solidamente imune a alguns tropeços da natureza humana. Abrir mão de nosso orgulho, de nossa vaidade e de nossa presunção não é tarefa fácil. É instintivo que a natureza humana se deixe conduzir por tais atributos e toda iniciativa contrária a eles é trabalhosa. Tudo o que eleva a pessoa é mais trabalhoso que aquilo que degenera.

sxc.hu

Aceitar o fato de que minha opinião possa não ser a melhor, mas apenas a minha opinião, que minhas atitudes possam não ser as mais certas, mas apenas minhas atitudes, que meu muito próximo possa gostar dele mesmo o tanto quanto eu gosto de mim. Enfim, procurar fazer com que nosso ego se realize na humildade e não dependa de adulações, são tarefas tão ou mais difíceis que tentar mudar meu muito próximo. Ao tentar mudar os outros sabemos para quem e em qual direção devemos apontar nosso arsenal, mas, em se tratando da mudança em nosso próprio ser, constatamos que nosso maior adversário encontra-se dentro de nós mesmos.

Mudança difícil

O ideal seria não sofrermos quando a maneira de ser de nosso muito próximo fosse diferente da nossa. Há pessoas privilegiadas que conseguem conviver naturalmente com seu próximo por possuírem uma personalidade nobre. Quando não for esse o caso, conseguiremos conviver com nosso muito próximo produzindo mudanças favoráveis em nosso ser, como dissemos. Estaremos, assim, construindo uma personalidade também nobre. Entretanto, não sendo possível empreendermos estas mudanças, impossibilidade normalmente devida ao nosso gênio irascível, ou quando a maneira de ser de nosso muito próximo for decididamente irreconciliável com a nossa, devemos ponderar a

seguinte questão: o grau de proximidade desse nosso muito próximo é suficiente para convivermos obrigatoriamente com ele? Se for definitivamente obrigatória a convivência com esses nossos muito próximos, devemos saber dosar nossa postura: por um lado, dosar nossos esforços no sentido de modificá-los e influenciar sensatamente o jeito de serem e, por outro lado, exercitar nossa complacência, tolerância e compreensão. Não sendo obrigatória a convivência com esses nossos muito próximos e não se conseguindo mudanças significativas em sua maneira de ser, nem na nossa, planos devem ser elaborados para nos livrarmos dessa proximidade.

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4 O amor é lindo

O

João Carlos Nedel

L

A família e o uso de drogas Jacqueline Moreira Psicóloga*

O

que as nossas famílias podem ter a ver com a epidemia que assola nossos jovens, principalmente? Não encarar essa realidade como sendo produzida, fundada dentro de nossas casas, é negar o que acontece. Por que nossos filhos acabam procurando nas drogas o preenchimento de um vazio que os pais não estão conseguindo preencher, nem compreender? Tudo pode estar começando com a prática diária que algumas famílias vivem: o uso de bebidas alcoólicas como “elemento fundamental” para comemorações e encontros de toda ordem. Para o divertimento “ser completo”, só se houver consumo de álcool! Os pais são o modelo de identificação. Os filhos crescem observando e ouvindo aqueles adultos diariamente. Cada comportamento vivenciado pelos adultos e compartilhado no ambiente favorece a jovens e crianças buscarem este recurso como o melhor nas horas de divertimento, alívio da dor ou tensão, ainda mais se frases como “Vou tomar uma cervejinha para relaxar”, “Estou muito triste hoje, preciso de um vinho para me alegrar” ou “Hoje vou tomar um porre para comemorar esta vitória!” são comuns e bastante ouvidas. Cada frase dita sem intenção alguma, e que direcione para a educação dos filhos, na verdade é uma parte da formação de um futuro consumidor de álcool, porta de entrada da droga. Sejamos conscientes da importância do modelo saudável! A gravidade para o comportamento futuro de nossos filhos que podemos estar imprimindo em atitudes e palavras não pensadas pode gerar a perda irremediável da saúde e/ ou da vida de gente tão jovem que acabamos desprotegendo com nossos descuidos. Nossos filhos nos observam e absorvem o tempo todo. Pense nisso! *Pró-reitora de Assuntos Comunitários da PUCRS

Jesus era um profeta leigo José María García

Vereador

i, há poucos dias, numa revista de bordo, quando voltava de Brasília, um artigo com o título acima. A intenção da articulista era muito boa: valorizar o amor. Mas, que pena, perdeu-se em alguns conceitos fundamentais e, mesmo sem aprofundar o tema, ou talvez por isso, não passou uma ideia adequada do amor e do matrimônio. Dou um exemplo. Diz o artigo: “... o casamento é uma instituição social, claro, mas o amor tem suas próprias leis”. Certo? Errado. As instituições são criadas por pessoas, ao passo que o matrimônio é uma criação direta de Deus. As instituições sociais têm caráter transitório e podem ser modificadas, transformadas e até mesmo extintas. Já o matrimônio tem caráter eterno, é imutável, irrevogável e inextinguível. Enquanto as instituições nascem da necessidade social, o matrimônio nasce do amor entre homem e mulher. E, o que é mais importante, o matrimônio é um sacramento e não um mero acordo de vontades. E quanto ao amor, tem ele leis próprias, como afirmou a articulista? O fato é que o amor tem uma só lei, que é a de amar definitivamente. Ou seja: para sempre. Os que, eventualmente, acham que “definitivamente” é uma exigência muito forte para o modo de amar, certamente não conhecem a realidade do amor. O amor conjugal exige dos esposos, por sua própria natureza, uma fidelidade inviolável, consequência do dom de si mesmo que fazem um ao outro, pois o amor quer ser definitivo. É até que a morte os separe, sim, e não pode ser “até que os problemas os separem”. O amor não evita os problemas conjunturais. Mas dá aos cônjuges a condição de ser feliz, apesar desses problemas. A beleza do amor reside exatamente nessa capacidade de ser um para o outro, reciprocamente amantes e amados, na concordância ou na divergência, na tempestade ou na calmaria, na luz ou nas eventuais trevas. O amor é lindo, sim, sempre que seja verdadeiro amor.

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PINIÃO

Teólogo

J

esus não pertencia a nenhuma família sacerdotal, nem ao stablishment religioso. Não foi funcionário do Templo, nem era reconhecido como intérprete da Lei. Não legitimou a aliança das autoridades religiosas do judaísmo com as autoridades políticas do império romano invasor. Adotou uma atitude crítica perante os pilares em que se fundamentava a religião, seguindo a tradição dos profetas de Israel e adiantando-se em muitos séculos à moderna crítica religiosa. Questionou em sua raiz a configuração sagrada da realidade: os lugares sagrados. Questionou o Templo (local de culto, da presença de Deus e de arrecadação de impostos) como espaço da aliança com o poder imperial, absolutizado por seus correligionários fundamentalistas. Jesus criticou os tempos sagrados. O sábado, festa judaica por excelência, “deve estar a serviço do homem, e não o homem para o sábado”. Questionou as ações sagradas (o culto, que não é acompanhado da prática da justiça) e propôs como alternativa a misericórdia, a compaixão como virtude radical, a solidariedade com as pessoas que sofrem. Colocando o samaritano (considerado herege) como exemplo a seguir, por sua ajuda ao próximo ferido, Jesus questionou as pessoas sagradas, os sacerdotes, pelo seu excesso de zelo no culto e sua insensibilidade perante a injustiça e o sofrimento alheios. Criticou também as autoridades religiosas, que se apresentavam como representantes e porta-vozes de Deus sem pregar pelo exemplo. Fez o mesmo com a lei, a Torá, quando cai no legalismo, atrevendose a corrigi-la e a desobedecê-la, justificando esse comportamento ao colocar o ser humano e suas necessidades acima da lei. A religião se sente mais cômoda quando põe Deus nas cerimônias e na observação dos ritos sagrados do que na relação com os seres humanos, no respeito a todos, no amor a todos e no compromisso de solidariedade com os pobres e, em geral, com os mais fracos. A atividade de Jesus foi certamente profética,

Trabalho,

Publicado em “Linha de Frente”-julho/agosto 2009

dignidade, valores

Carmelita Marroni Abruzzi Professora Universitária e jornalista

U

mas não tinha nada de sagrado. O laicismo de Jeus foi escandaloso: sua indepedência em relação às normas religiosas e à política vigente, num desafio constante às autoridades religiosas. Não fundou um templo, nem celebrou cerimônias religiosas em nenhum lugar sagrado, nem ditou qualquer norma relacionada com o sagrado. A última ceia foi uma refeição de despedida entre amigos, antes de morrer. Não era uma “missa”. Nada de culto eucarístico. Isto é completamente anacrônico. Pode-se deduzir que o cristianismo é uma religião leiga, porque a liberdade e a dignidade dos seres humanos constituem o centro da mensagem, da vida e da prática de Jesus, não os ritos e cerimônias religiosas. Para Jesus o “humano” era mais importante que o “sagrado”. O humano é o “leigo”, o comum a todos os humanos. “Leigo” vem do termo grego “laos”, isto é “povo”. E está claro que Jesus preferiu o laico ao religioso. Chama à atenção o caráter tampouco “religioso”, em termos daquela época, que Jesus atribui ao reino de Deus. Não gira em torno do Templo, nem se prescrevem sacrificios ou atos de culto. Tampouco existem funções sacerdotais nem pessoas que atuem como intermediárias. Sem dúvida, Deus está muito no centro da mensagem que leva o seu nome. Mas é um Deus deslocado dos lugares sagrados. Ao contrário, se encontra na voragem da vida, sobretudo das pessoas e grupos marginalizados: as crianças, os enfermos, os arrecadadores de impostos, as prostitutas, os pobres, os aleijados, os cegos. E se identifica com as tarefas correntes em que o povo se ocupa em sua vida diária: o semeador, o pastor, a pesca, a mulher que amassa a farinha ou que varre a casa. Essa identificação com o ser humano, com sua felicidade, com seu sofrimento e com sua marginalização permite ao reino de Deus superar os limites culturais e religiosos no qual Jesus mesmo viveu. Por isso, mantém uma universalidade, modernidade e “laicidade” atual. Ser leigo, entre outras coisas, significa não atribuir a Deus o mal e os problemas do mundo. Jesus não atribuía a Deus a causa das enfermidades ou a morte.

ma atriz, em alta no momento, declarou que aceitou convite de revista masculina para fotos sensuais (ou de nudez) porque "minha mãe fazia faxina em casas de família. Isso me matava, me deixava maluca". Segundo ela, ao aceitar o convite, ela "resolveu a vida de todo mundo". Tal afirmação desperta uma série de questionamentos sobre os valores e dignidade do trabalho. Então, posar para fotos sensuais torna a pessoa mais digna do que fazer faxina? Faxinas são necessárias para nosso bem estar e para a saúde, mas essas fotos? Por que a sociedade brasileira valoriza mais estudos e atividades intelectuais do que aquelas que exigem esforço físico? Será ainda resultado da cultura de bacharéis, quando as famílias de mais recursos enviavam seus filhos para estudar na Europa? Entretanto, a riqueza do sul do Brasil se construiu em grande parte, com o trabalho agrícola, braçal, dos nossos imigrantes. Essas reflexões me lembraram uma historieta de minha infância, algo como: - Eva pediu a Deus que abençoasse seus filhos. Deus assim o fez e designou uma profissão a cada um: - Tu serás rei, tu, rainha, tu serás sacerdote, tu, um médico... E assim Deus foi designando outros como agricultores, pastores, lavadeiras, soldados, tecelões e assim por diante. Eva interpelou o Senhor: - Mas por que não os fizestes todos reis e nobres?

E Deus respondeu: - E quem plantaria os alimentos ou teceria suas roupas? A fábula nos remete à interdependência entre os mais variados trabalhos e destaca a importância e a necessidade de todos. Então, por que não valorizá-los em nossa sociedade. Por que tanto preconceito, quando trabalhos considerados humildes por muitos, são exatamente os mais necessários? Quem não recorda imagens de TV em que grandes cidades ficam atoladas no lixo, devido à greve dos lixeiros? Além disso, com o acelerado advento da tecnologia e o desenvolvimento da informática, profissões novas surgem e outras, tradicionais, tendem a desaparecer. E muitas dessas profissões não requerem necessariamente cursos superiores, o que nos remete a outra questão: a necessidade de uma sólida formação geral para o trabalhador, o que lhe permitirá, inclusive, reciclar-se para uma nova profissão. A conclusão do ensino fundamental e de cursos profissionalizantes leva a pessoa a sentir a dignidade de sua profissão e a considerar sua necessidade e valor para a vida comunitária. E maior formação profissional poderia significar melhores salários e mais distribuição de renda como pregam nossos governantes e como nós todos desejamos: haveria mais harmonia na sociedade, porque as pessoas seriam mais valorizadas pela sua profissão e sentir-se-iam bem consigo próprias na certeza de estarem realizando atividades essenciais ao bem comum. (debruzzi@ig.com.br)


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DUCAÇÃO &

SICOLOGIA

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“Jesus, o maior Psicólogo que já existiu” Jorge La Rosa Professor universitário. Doutor em Psicologia

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ser humano sempre procurou conhecer a si mesmo. O oráculo de Delfos, anterior a Cristo, já postulava o célebre “Conhecete a ti mesmo”, que tem encontrado eco em todas as gerações. Esse conhecimento inicialmente se encontrava compendiado nas diversas tradições religiosas; o surgimento da filosofia na antiga Grécia, ao menos para o ocidente, ampliou a pesquisa que se tornou objeto da razão. Tivemos, assim, ao menos no ocidente, duas raízes ou fontes de conhecimento sobre o homem: a religião e a filosofia. Foi somente no século XIX que a Psicologia se constituiu como ciência, independizando-se da Filosofia, e estribando-se no método científicoexperimental. Hoje, uma das fontes insofismáveis de conhecimento do ser humano é a Psicologia. É verdade que a Psicologia, especialmente a partir de Freud (1856-1939), voltou-se particularmente para o estudo das patologias, a começar pelo histerismo e prolongando-se pelas neuroses e psicoses. Tanto que certas pessoas ao lhes ser sugerida uma consulta ao psicólogo, respondem não estarem loucas e, por isso, manifestam repulsa. A Psicologia, contudo, nas últimas décadas, e a partir de determinados autores, tem-se voltado para a saúde emocional e para aquilo que a proporciona, distanciando-se, assim, de um enfoque preponderantemente patológico. Amor, alegria, altruísmo, paz interior, perdão, auto-realização e outros temas tem sido, então, objeto de estudo dessa ciência, com pesquisas e publicações.

Um livro

“Jesus, o maior psicólogo que já existiu” (The greatest psychologist who ever lived), livro de Mark W. Baker, psicólogo clínico, publicado pela Editora Sextante (2005), em tradução para o português, é livro que relaciona a prática e a mensagem do Mestre com os modernos conhecimentos de Psicologia. Reproduzimos parte da “orelha” do livro: “Pela primeira vez nos últimos cem anos, a psicologia volta o olhar para o tesouro inestimável contido nas lições de Jesus... “Para mostrar como esses ensinamentos de dois mil anos podem ser aplicados hoje em nossas vidas, em cada capítulo

Imagem: Divulgação

Baker conta a história de um paciente, indica a passagem bíblica à qual ela está relacionada e como sua compreensão ajudou no tratamento.”

À guisa de conclusão

Como não poderia deixar de ser, Jesus é o profundo conhecedor da alma humana, de seus anseios, conflitos, problemas e projetos, e o seguimento do Rabi da Galiléia só poderia ensejar um sujeito psicologicamente saudável e feliz, em meio às mazelas de um mundo conturbado e corroído por injustiças. O seguimento do Senhor certamente não elimina os problemas, mas concede força para enfrentá-los, não tira os dissabores da vida, mas os tempera com a esperança, não erradica os sofrimentos inerentes à condição humana, mas dá-lhe um sentido e os utiliza como meio de maturação pessoal; enfim, não elimina a morte, mas oferece um novo horizonte e a perspectiva do encontro com o Pai. Há inúmeros estudos que mostram que as pessoas que tem fé enfrentam as doenças com mais possibilidades de cura do que as descrentes, e que a religião, indiscutivelmente, é fonte de grande energia psíquica – segundo Erich Fromm, é a maior, e que, também, diante de problemas e diante da morte manifestam menos ansiedade do que aqueles que não tem fé. Fica, aqui, o convite para os interessados no assunto a mergulhar nas páginas do referido livro e verificar, in loco, as relações entre psicologia e os ensinamentos de Jesus. Mas se não tiver tempo, ou interesse, pode ficar certo de que, seguindo o Mestre de Nazaré conforme proposto nos Evangelhos, estará nos caminhos da saúde mental e do gozo da alegria que o Senhor nos anuncia. Afinal, os Evangelhos são os melhores livros de Psicoterapia que já foram escritos. Acredite! “Disse-vos estas coisas para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa” (João 15,11).


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EMA EM FOCO

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Estive preso e vieste me visitar (Mt, 25,36)

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“Todas as vezes que vocês fizeram isto – ou não fizeram – a um destes meus irmãos mais pequeninos foi a mim que o fizeram – ou deixaram de fazer” (Mt 25,40).

s presos são humanos que se auto-excluem do ponto de vista cristão? E mesmo que assim fosse – que alguns ou muitos se tivessem auto-excluído conscientemente do convívio social - ainda assim Jesus se identifica com cada um deles, assim como se identifica com os famintos, os doentes, os mal vestidos, com os que não têm vez na sociedade. (Como também se identifica com outros presos: os prisioneiros da droga e do álcool, do sexo e do consumo, da preguiça e do trabalho). Não é próprio do homem e da mulher estarem presos. E, infelizmente, a justiça humana tem dois pesos e duas medidas na hora da

condenação. O que mais conta é o dinheiro que se tem para pagar a defesa que, no Brasil, quase sempre dá um jeito. É só ler os jornais. E é também uma outra injustiça – injustiça social, junto com a péssima distribuição de renda - o estopim inicial da grande maioria dos que povoam o caótico sistema carcerário brasileiro. Eles formam a macro-paróquia das cidades em que há presídios, constituída integralmente de marginalizados, dos mais pobres, dos que passam fome, dos que clamam por justiça, dos que choram, dos que são perseguidos. E, em geral, são esquecidos. Fotos de Ana Beatriz, da Pastoral Carcerária

Foto Divulgação

Manoel Feio da Silva

16o Encontro Regional da Pastoral Carcerária Data: 16,17 e 18 de outubro – Porto Alegre Local: Casa de Retiros Belém do Horto Participação: representantes de todas as dioceses gaúchas Mais informações: Regional Sul 3 da CNBB – fone (51) 3225.8483/3224.1893 Pastoral Carcerária promove atos religiosos nos presídios

Padre Paulo Dala Rosa dá assistência espiritual às detentas do Madre Pelletier

Imagem (modificada): Divulgação

Pastoral Carcerária: um desafio a vencer Solidário conversou longamente com o coordenador da Pastoral Carcerária da Igreja do Rio Grande do Sul, Manoel Feio da Silva, que há oito anos é agente visitador do Presídio Central de Porto Alegre. Paraense da Ilha do Marajó, 53 anos, é topógrafo militar aposentado pelo Exército Brasileiro. Casado com a recifense Ângela, após sua última designação na década de 1980 para Porto Alegre, resolveram fixar-se aqui, onde também nasceu seu filho agora com 11 anos. Decidiu aceitar o desafio por conta de insistente convite de Padre Paulo Scopell (falecido) e um dos pioneiros da Pastoral Carcerária em Porto Alegre. Confidenciou que essa decisão renovou sua fé. “Não podemos nos orientar pelo que nosso olho vê, mas pela fé. Já nos primeiros dias de visita, pude perceber que São Paulo tinha razão quando diz que onde abunda o pecado, superabunda a fé”. Reconheceu as dificuldades internas da própria Igreja e os desafios enfrentados para quem tem coragem de aceitar essa missão, especialmente no Presídio Central, construído para 1.500 presos e onde se amontoam cinco mil homens e onde se vê de perto, todas as semanas, a situação sub-humana do sistema carcerário, a ausência do Estado e das instituições sociais para a ressocialização do ex-apenado, o abandono psicológico e afetivo. Discorreu longamente sobre adoção de famílias dos presos pela Pastoral e narrou emocionantes experiências vivenciadas nas dezenas de casas e casebres muito humildes em que entrou nas diversas vilas da periferia de Porto Alegre e cidades próximas que por si só constituiriam longa reportagem.

Experiência de fé Solidário - Existe um Deus no Presídio? Manoel - Lá dentro Deus fala muito mais alto. Minha fé aumentou, pois percebi que, ali dentro, Deus nos dá algo novo, uma força nova, fazendo coisas que se pensava não sermos capazes. Deus nos encoraja. As forças se multiplicam,

Ciano Amarelo Magenta Preto

o Espírito Santo age e contagia. Quem sou eu para pensar que um violonista e cantor precário, conduzindo uma oração e cantando, esteja emocionando aquelas pessoas? Homens de 30, 40 anos, com lágrimas nos olhos? Vejo que é Deus agindo e tocando aquelas vidas S - É possível a recuperação e quem é recuperável? Manoel – Para o Sistema (carcerário) o delinquente social – 30 por cento dos presos - seria recuperável até em curto prazo, se o Sistema funcionasse. A médio prazo, outros 40 por cento - os que já tiveram um maior envolvimento com o crime, como traficantes, mas não os chefões - seriam recuperáveis. Os restantes 30 por cento - psicopatas que não conhecem outro caminho (não os condenados ao Instituto Psiquiátrico) seriam irrecuperáveis. Mas, para nós, Igreja Católica Apostólica Romana, ainda assim acreditamos na recuperação desses. Porque, para Deus, nada é impossível. Dona Maria, do Lima Drumond (Patronato, de regime semi-aberto) tem uma frase de que gosto muito: ‘ninguém é irrecuperável. O que existe são os métodos inadequados’. S- Qual o objetivo central da Pastoral Carcerária? Manoel - Não entramos no Presídio para recuperar preso e sim para amar as pessoas. Mas temos bem definido o seguinte: se a pessoa falhou, a sociedade falhou, o estado falhou, nós também podemos falhar. Por isso precisamos confiar na palavra de Deus. Se alguma coisa acontece lá dentro é obra da graça de Deus de quem somos apenas instrumentos. Não entramos lá para passar a mão em cabeça de criminoso, como muitos dizem, os mesmos que sustentam que ‘bandido bom é bandido morto’. Nada disso: vamos para colocar o Evangelho de Jesus lá dentro. Vamos com pureza de intenção sem excluir ninguém. S- E o medo? Manoel - Sim, no começo, medo e preconceito, contra tatuagem, cabelos diferentes. Hoje entro sem medo. Vou sozinho, graças a Deus, e saio mais leve, embora cansado porque fico horas em pé para falar e cantar para 100, 200, 500, 600 presos, querendo atingir a todos. S- Só visita o Presídio Central? Manoel - È minha missão principal, mas também tenho ido no Madre Pelletier (feminino) Pio Buck e Lima Drumond (institutos de regime semi-aberto e aberto). Também estou vendo a situação do IPF (Instituto Psiquiátrico Forense).

Rejeição S – E a realidade dos semi-abertos e abertos? Manoel – De tristeza. Sim! Parece contraditório, pois a liberdade já está próxima? Exatamente, por isso. Eles tanto aspiraram chegar a essa progressão e agora começam a sentir o que os espera quando estiverem livres: o estigma da rejeição. Não conseguem emprego e até parece que a sociedade não os quer de volta - essa mesma sociedade que, de alguma forma, ajudou ou se omitiu para que transgredissem. Emprego então! Muito difícil, além do que, a maioria não tem qualificação.

S - Algum plano nesse sentido? Manoel - Estamos elaborando um projeto para cotas de reemprego dos egressos, incluídas em todas as licitações públicas para prestação de serviços e outras formas. Pela proposta, pensamos que já ficaria bom uma cota entre três e cinco do valor total da licitação. Penso que seria uma forma de absorver lentamente a mão-de-obra que está aí, ociosa. Paralelamente, também, queremos fomentar a realização cursos do SENAC dentro do semi-aberto. S- E o empresário católico? Manoel – Entre dois candidatos, mesmo sendo o egresso mais qualificado, quem ele vai escolher? O problema também respinga nas famílias. O estigma vai além da pessoa do ex-apenado. Sei de muitos casos, citando apenas o de uma senhora que sustentava a família fazendo faxina. Quando a patroa soube que o marido estava preso, ela perdeu sua única fonte de renda. S- E o sistema de adoção de famílias? Manoel – Os pedidos são feitos pelos próprios presos. E não fugimos à missão. Desde 2001, consegui ajudar dezenas de famílias com apoio material de diversas formas e ajuda espiritual. Na primeira visita, fazemos um projeto de preservação da união da família. A ajuda se estende por nove meses – em muitos casos ultrapassa e chegou até quatro anos. Nesse período, procuramos fazer o resgate, encaminhar e deixar que ela caminhe por si só. E sensibilizamos a comunidade a que pertence para que também acolha o retorno do egresso. O apoio do padre é essencial nesse momento - o que às vezes não acontece. Se o padre acolhe, a comunidade também acolhe. Defendo que o presidiário e sua família é prioridade solidária e espiritual, sim. Porque, entre todos os miseráveis, os que têm a pior auto-estima são os relacionados com presidiário, ex-presidiário e parente no presídio. É um estigma que atinge o preso e sua família mesmo depois de cumprida a pena pelo resto da vida. S - São quantos os agentes da Pastoral Carcerária? Manoel – No Brasil, somos em torno de três mil. No Rio Grande do Sul, em torno de 100. Nosso grande problema é Porto Alegre, exatamente onde há a maior população carcerária e onde há, em tese, o maior número de católicos. Somos seis no Madre Pelletier; agora dois seminaristas do Pio Buck; e apenas dois no Presídio Central (Padre Paulo Dala Rosa, pároco da Igreja S. Jorge e vice-coordenador da PC do RS, e eu.


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Fome oculta (II)

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ABER VIVER Arquivo

ando continuidade ao que apresentamos anteriormente, voltamos a defender nossa opinião de Dr. Varo Duarte que a fome oculta é mais Médico nutrólogo e endocrinologista perniciosa do que a fome tradicional. Definimos fome oculta como aquela deficiência nutricional que não é percebida pelas diversas pessoas. Mostramos através de fotografias dois casos típicos de desnutrição calórico-protéica, uma criança magra, com os ossos praticamente à mostra a que chamamos de marasmo, que qualquer pessoa leiga pode identificar como desnutrição. Mostramos, a seguir, uma criança que até foi escolhida como ilustração de capa para o nosso livro FOME NO SUL. O Brasil sofre de fome crônica Sempre que a exibíamos, os expectadores afirmavam que a criança devia sofrer de verminose, pela saliência de sua ome barriga. Este segundo caso está definido como fome oculta, que Josete C. D. Sanchez é considerada como de maior gravidade. Aumenta sua imQuímica portância, porque é a fome que não se vê. Sua importância é definida em Saúde Pública como a fome que não se quer ver. inconcebível que no século XXI a fome alcance a barreira de um bilhão de pessoas famintas ou desnutridas Todos os dias a mídia relata os horrores da fome devas(dados da FAO). Estamos gerando uma civilização intadora que atinge as populações dos chamados campos de sensível à dor alheia, à fome. Estamos negando aos que mais concentração, dos agrupamentos de refugiados, a que se precisam as condições mínimas de uma vida digna. Embora o abate após os grandes desastres ambientais, o que movimenta mundo esteja enfrentando uma crise econômica, a pior crise as populações para o seu atendimento. é a falta de consciência, de humanidade, de solidariedade, Os hospitais, na época do inverno, lotados de crianças de amor. No Brasil, onde milhões de trabalhadores labutam e adultos idosos, atingidos por gripes, deficiências respira- apenas para comer, pois o salário mínimo não é suficiente tórias; a atual nova gripe que atinge milhares de pessoas, para mais nada, muito menos para o que reza a Constituição, o chama atenção pela relação às enfermidades infecciosas. Governo empresta ao FMI 10 bilhões de dólares, sem grandes Não se relata que a gravidade dos casos que chegam à morte retornos; os legisladores que deveriam ser os defensores do está relacionada à diminuição das defesas orgânicas, que povo, locupletam-se com o dinheiro do cidadão; nem sequer atiram aos miseráveis. Migalha é o valor do salário têm como causa a desnutrição crônica que os governos não migalhas mínimo. O salário família é esmola a quem já perdeu toda a querem ver, tomar conhecimento, porque ela é um reflexo dignidade. O Governo dá com uma mão e retira com a outra. da má alimentação, como consequência dos baixos salários, O Brasil é campeão mundial de impostos. Estamos gerando das aposentadorias injustas a que são submetidos os idosos. uma Nação de cegos, de apáticos. Nesta crise atual, o Governo empresta bilhões ao povo? É o que chamamos de fome oculta. A diretora do Grupo Conceição declara sua incapacidade Não, somente aos bancos. Estes deveriam fornecer financiade atendimento, porque dispondo de 50 leitos de emergência mento aos produtores, mas é mais rentável aplicar em letras do Tesouro, pois rendem muito mais. Na lógica dos beneficiados, está com 150 pacientes lotando suas instalações. o pobre que se dane! E é exatamente devido a este comportaNão é preciso ser um gênio em observação, para reco- mento imoral que hoje temos um bilhão de famintos no mundo. nhecer que pessoas de baixa renda são a grande maioria dos Na realidade, o Brasil sofre de uma fome crônica. Fome que lá se encontram. de moral, de decência, de bons costumes, de solidariedade e Em nosso livro de 1985 salientávamos a importância do com estas, ou em decorrência destas, a fome física, a falta do atendimento destas crianças. Se é verdade que elas estão mínimo necessário a uma vida sadia, com educação e todas as hoje presentes, neste caos da Saúde Pública, acrescentam-se condições para o exercício da cidadania. A célula mater da sociedade, a família, está sendo destruída centenas de idosos mal alimentados, submetidos à injusta pelos meios de comunicação que pregam a libertinagem, que situação econômica, pois suas aposentadorias e pensões são supervalorizam o sexo e o consumo desenfreado. Não é em cada vez mais diminuídas lotando nossos hospitais, em be- vão que este processo destrutivo está sendo implantado há nefício de mentirosos déficits previdenciários, consequência alguns anos. Com a destruição da família tudo será possível. da má utilização dos recursos econômicos, muitas vezes em É inegável a real inversão de valores. Que o povo não se obras faraônicas, enriquecendo, isto sim, o aparecimento da faça de cego, surdo e mudo, mas reaja a este “status quo”. fome oculta. O gasto no atendimento supera em muito o que seria gasto se tivesse sido feita a PREVENÇÃO . .. Que tipo de prevenção, perguntamos ? Uma ALIMENTAÇÃO equilibrada, rica em nutrientes, HOJE chamada de aliJOSY M. WERLANG ZANETTE mentação saudável. Por esta razão, repetimos mais uma vez: EDUCAÇÃO ALIMENTAR: COMA DE TUDO SEM Técnicas variadas Atendemos convênios COMER TUDO. C O M A B A S TA N T E FRUTAS E VERDURAS, MEXA-SE.

Dicas de

NUTRIÇÃO

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Agorafobia provoca medo incontrolável Buscar locais que tenham uma saída fácil, caso a situação necessite de uma fuga rápida, e evitar situações onde escapar seria algo difícil. Esses são dois sintomas característicos da agorafobia. O distúrbio é frequentemente confundido com a síndrome do pânico, que geralmente se manifesta por crises agudas de ansiedade sem que seja identificado o estímulo. Já a agorafobia torna a pessoa dependente das outras para tudo, pois sente medo de se ver em uma situação em que se depare com o medo. Quem sofre do problema sente necessidade de ter sempre uma companhia por perto. Dessa forma, a pessoa tem uma sensação de segurança. Como qualquer fobia, o medo de sentir medo pode oscilar desde o nível mais leve até o mais grave. O primeiro é aquele que não influencia diretamente o modo de viver da pessoa, assim, ela segue sua vida, realiza tarefas e participa de situações, apesar do medo. O nível mais grave é aquele que compromete ações diárias da pessoa; hábitos corriqueiros como sair de casa para ir à padaria viram um tormento. Medos por locais específicos, como túneis, são muito comuns em quem sofre de agorafobia. Normalmente, o medo de lugares menores está ligado à claustrofobia. As pessoas mais próximas de quem sofre de agorafobia também são atingidas pela situação. Quando a pessoa demonstra precisar de companhia, há aqueles que acompanham e ajudam a pessoa que tem medo, mas também existe o grupo que não entende a doença. É aí que surgem efeitos em quem sente medo por conta da relação conflituosa com pessoas próximas. Aparece o sofrimento, a insegurança e a falta de confiança em si próprio. Assim que for identificado qualquer tipo de medo, a busca por um especialista é imprescindível. O medo pode aumentar e prejudicar o controle emocional .Uma vez que o medo é criado através de reforço, pode ficar mais intenso se não for tratado, prejudicando ações do indivíduo.


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JOVEMez tem v

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SPAÇO LIVRE

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ou Cristiano Luis Cornelius, 27 anos, nasci e resido em São Pedro da Serra/RS, gremista, família de quatro irmãos. Trabalho na área de energia.

Fala um pouco de ti Bom, falar de mim é meio complicado. Mas, sou uma pessoa tranquila, compreensível, gosto de estar com meus amigos, de sair. Corro atrás dos meus sonhos, e tenho certeza de que vou conseguir realizá-los. Vivo como se cada dia fosse o último da minha vida! O que pensas fazer no futuro? Difícil falar no futuro. Mas, claro que penso primeiro, em conquistar minha independência, e depois construir uma família e ser feliz. Fala de tua família Família pra mim é tudo, é a base da minha vida. Sem ela, com certeza, não seria quem eu fui, quem eu sou e quem eu serei! Amo a minha família! Fala de teus/tuas amigos/as: o que representam para ti Meus amigos são peças fundamentais na minha vida. Companheiros nas horas de maior alegria e de maior tristeza. Nunca me abandonaram e nunca os abandonarei. Sou feliz por ter o privilégio de ter muitos “amigos irmãos”. O que consideras positivo em tua vida? Tudo. A vida é um eterno aprendizado. Então, aconteçam coisas boas ou ruins, estamos sempre aprendendo e levando isso para toda a nossa vida. Um livro que te marcou Dom Casmurro - Machado de Assis Um filme inesquecível À Espera de um Milagre Uma música Eu quero sempre mais - Ira Um medo Falar em público Um defeito do qual gostarias de te livrar Ser perfeccionista demais, talvez. Qual o maior problema dos jovens, hoje? E como encaminhar uma solução? Drogas. Sem dúvida. Como resolver? Acredito que com muito diálogo na família, que é à base de tudo, pois o jovem está mal orientado, faz-se necessário educar enquan-

Martha Alves D´Azevedo Comissão Comunicação Sem Fronteiras

to há tempo. Qual o maior problema no Brasil de onduras diz não hoje? Temos vários problemas. Mas, em época m dos países mais pobres da América Latina, ocude tantos escândalos, acho que hoje o granpando um pequeno território da América Central, ao de problema mesmo são os nossos goverdepor seu presidente Manuel Zelaya, e dizer “não” à nantes corruptos. Sem eles, com certeza, Organização dos Estados Americanos (OEA), que exigiu a teríamos um país muito melhor, sem tantos sua reintegração, criou um impasse entre seus vizinhos e a problemas na saúde, na educação, etc... comunidade internacional. Zelaya, desde a Nicarágua, onde está abrigado, ameaça voltar ao pais, mas o governo interino, O que pensas da política? E sobre a parsob a liderança do novo presidente, Roberto Micheletti, já ticipação dos joavisou: “Se Zelaya colocar os pés em Honduras, irá direto vens? para a cadeia”. Existem ordens de prisão vigentes contra ele Um mal necessáno país. rio. Os jovens esCom seu mandato presidencial próximo a extinguir-se, tão ficando cada Zelaya pretendia fazer uma consulta popular, segundo seus vez mais críticos opositores, para prolongar sua permanência no poder. A por terem mais Constituição de Honduras prevê punição para o presidente que tente permanecer no poder, assim como para quem tentar acesso a informapromover a reeleição. Apoiados pelo Judiciário e pelo Legisções e terem mais lativo, os militares derrubaram Zelaya porque ele convocou embasamento para uma consulta popular sobre uma reforma constitucional que, discernir o correto segundo seus opositores, era uma manobra para aprovar a do incorreto. Com possibilidade de reeleição. Neste sentido, a Constituição isso, eles têm vonembasa a destituição de Zelaya, mas, ao mesmo tempo, abre tade e energia para um perigoso precedente para as frágeis democracias da América Latina. Horas antes da votação, militares apoiados pelo tentarem mudar Judiciário e pelo Legislativo depõem Zelaya, que é colocado o cenário político em um avião e expulso do pais. atual. Ao chegar a Honduras, dia 2 de julho último, José Miguel O que pensas soInsulza, secretário-geral da OEA, para propor o retorno de bre a felicidade? Zelaya ao poder, e uma antecipação da eleição prevista para Felicidade é a realinovembro, recebe um enérgico “não” da Suprema Corte zação de um sonho, hondurenha. Segundo o presidente da Corte, Jorge Rivera, a é chorar, é sorrir, saída de Zelaya do poder é “irreversível”. O novo chanceler do pais, Enrique Ortez, declarou que o secretário-geral pode é saber viver, é ter “negociar o que quiser”, contanto que que não seja a volta amigos verdadeiros, é a família, é sonhar, de Zelaya. é fazer da vida uma grande aventura. É tão Dia 25 de julho, o presidente deposto Manuel Zelaya pisimples ser feliz... sou no território de seu pais na localidade hondurenha de El Já fizeste algum trabalho voluntário? Paraíso, em contundente desafio aos seus opositores, mas não Qual? se demorou, pois foi impedido pelos soldados para prosseguir. Não O exército não tomou conta do poder, e a eleição de noO que pensas de Deus? O que Ele reprevembro fica cada vez mais perto. senta para ti? Deus é o criador. É nele que encontramos forças para seguir nosso caminho. AgradeVisa e Mastercard ço cada dia a vida que ele me deu. Deus é vida. Deus é amor. Envia uma mensagem aos jovens Viva com alegria cada segundo, seu tempo é de descobrir. Lute pelos seus sonhos e cumpra com seus deveres. Nunca APOSTOLADO DA ORAÇÃO esqueça que você é o fuENCONTRO REGIONAL turo, e ele de22 de Agosto de 2009 pende de você.

Antoninho Musa Naime - 01/09 Agenor Casaril - 03/09 Paulo D’Arrigo Vellinho - 06/09 Dom Dadeus Grings - 07/09

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Local: Santuário Sagrado Coração de Jesus, junto ao túmulo do Servo de Deus, P. João Baptista Reus, em São Leopoldo/RS Início: 08 hs. – Encerramento: Santa Missa, às 15hs Lema: O Senhor nos chama a trabalhar Tema: O Apostolado da Oração a serviço do Reino Presenças: Dom Zeno Hastenteufel, bispo diocesano de Novo Hamburgo e P. Sereno Boesing, Diretor do AO da Província do Brasil Meridional

APOIO: LIVRARIA EDITORA PADRE REUS

Matriz: Rua Duque de Caxias, 805 – 90010-282 – Porto Alegre/RS - Fone: (51) 3224-0250 – Fax: (51) 3228.1880 - livrariareus@livrariareus.com.br - www.livrariareus.com.br Filial: Rua Luetgen, 78 – Santuário Sagrado Coração de Jesus - São Leopoldo/RS


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A catequese eucarística

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GREJA &

Virginia Moura Fietz*

omo todo processo educacional, a catequese eucarística deve resultar em uma mudança gradual de comportamento na vida dos catequizandos e, consequentemente, atingir a todos aqueles que o rodeiam. Porém, para obtermos resultados mais satisfatórios neste processo, não devemos ser demasiadamente ambiciosos em relação ao número de objetivos que desejamos atingir, pois correremos o risco de transformar os encontros em apenas um curso de iniciação cristã. É necessária uma sistematização para o desenvolvimento dos encontros, mas precisamos nos libertar de uma rígida relação tempo x conteúdo, de modo que

COMUNIDADE

as características do catequista e do grupo sejam observadas e, assim, o seu desenvolvimento será mais harmonioso. A organização dos conteúdos também deve possuir flexibilidade suficiente para ser alterada ou, em algumas situações, suprimidas, caso seja necessário. Da mesma forma, deve haver uma estreita relação com o modo de vida dos catequizandos, e lembrando o grande educador Paulo Freire, sua leitura de mundo deve ser respeitada e valorizada. Ao finalizarmos os encontros, se os catequizandos não cresceram na fé e não forem capazes de relacionar e vivenciar os temas estudados, não modificando atitudes e valores, de muito pouco valeu a caminhada.

CATEQUESE ria Solidá

ROSÁRIO NA PRAÇA Sempre no primeiro sábado de cada mês, às 16 horas, no átrio da Catedral Metropolitana, as Congregações Marianas reúnem-se para rezar o terço em desagravo ao Imaculado Coração de Maria e pela conversão dos pecadores. Neste mês será no dia 5

*Catequista da Paróquia Santa Cecília, Porto Alegre

CORREÇÃO Em nossa edição anterior a publicação dos horários de missas na Igreja Nossa Senhora das Dores saiu com incorreções no que se refere às celebrações de domingos. Os horários corretos são 8h30min, 10 horas e 18h30min.

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Solidário

LITÚRGICO 30 de agosto – 22o Domingo do Tempo Comum (

verde)

1a leitura: Livro do Deuteronômio (Dt) 4,1-2.6-8 Salmo 14 (15), 2-3ab.3cd-4ab.5 (R/. 1a) 2a leitura: Carta de São Tiago (Tg) 1,17-18.21b-22.27 Evangelho: Marcos (Mc) 7,1-8.14-15.21-23 Obs.: Para a compreensão dos comentários, é fundamental ler, antes, a íntegra do texto evangélico. Comentário: No relato de Marcos deste domingo, Jesus nem entra no mérito da observação dos fariseus e mestres da Lei sobre o costume de lavar as mãos antes de sentar-se à mesa para comer. Como eram da casta dos “bem-nascidos”, fariseus e mestres da Lei buscavam motivos para desautorizar o grupo dos discípulos e deixar claro para o povo que aqueles galileus não eram de confiança, que não deveriam ouvi-los e, muito menos, segui-los, pois não observavam as normas e leis dos judeus. E que seu líder, Jesus, também não era lá essas coisas, uma vez que permitia tais abusos à sacrossanta Lei judaica por parte de seus discípulos! E, como verdadeiro Mestre, Jesus aproveita o clima de expectativa que se havia criado para deixar duas lições. A primeira, para os fariseus e mestres da Lei: Hipócritas, falsos, exploradores da boa-fé da gente simples. Vocês honram a Deus com os lábios, mas o coração de vocês está cheio de falsidade. O culto que vocês prestam a Deus é vazio, porque o seu coração está longe do Senhor (cf 7,6-8). E chamando toda aquela gente que estava ali, curiosos uns, outros torcendo para que Jesus se desse mal, os discípulos, assustados, pois fariseus e mestres da Lei eram representantes do poder político e religioso dos judeus, Jesus dá a segunda e grande lição: O que torna alguém impuro não é o que vem de fora, mas o que sai do coração: más intenções, a imoralidade, a falsidade, os assassinatos, as ambições, os fraudes, a inveja, a calúnia, o orgulho. Tudo isso vem lá de dentro e torna alguém realmente impuro, indigno (cf 7, 15-23). A mesma incoerência denunciada e condenada por Jesus continua presente na vida e no coração de muitas pessoas, hoje: no espaço social, público, até mesmo na prática sacramental, são uma coisa; nas relações pessoais, na família, no trabalho, na sociedade, nos negócios, são outra coisa, absolutamente diferente e até mesmo contrária. São uma maquiagem de gente do bem. Na verdade, são os fariseus e hipócritas modernos. O grande e constante desafio para o cristão deste tempo fariseu é ser um testemunho de coerência entre fé e vida, onde a fé no Senhor Jesus, Caminho, Verdade e Vida, ilumina todo o agir da sua vida.

6 de setembro – 23o Domingo do Tempo Comum (

verde)

1a leitura: Livro do Profeta Isaias (Is) 35,4-7a Salmo 145 (146),7.8-9a.9bc-10 (R/. 1 e 2a) 2a leitura: Carta de São Tiago (Tg) 2,1-5 Evangelho: Marcos (Mc) 7,31-37 Comentário: Estamos em vésperas da celebração de mais uma data da independência do Brasil. O chamado “Dia do Grito” brasileiro se diferencia da quase totalidade dos gritos de independência dos países da América Latina: o grito libertário verde-amarelo foi quase um ato simbólico, burocrático, até mesmo um tanto folclórico, se o compararmos à maioria das lutas de independência dos países do continente, sangrentas e com muito derramamento de sangue fraterno! Mas, se foi pacífica e até tranquila nossa independência de Portugal, a luta por uma verdadeira independência do Brasil continua. A leitura de Marcos do Evangelho deste domingo nos traz uma mensagem que tem tudo a ver com este processo de libertação do nosso país. Assim como Jesus curou aquele surdo e, por ser surdo, era também mudo, deveria soar em nossos ouvidos o grito: Efata/abre-te (7,34). A luta libertária de nosso país só terá sucesso quando sempre mais brasileiros abrirem os olhos, os ouvidos e, principalmente, o coração, tantas vezes preso a interesses mesquinhos pessoais ou cegado por ideologias comandadas e impostas pelo mercado dos lucros desmedidos que, por sua vez, recebem os mais amplos e generosos espaços das grandes mídias, comprometidas com este sistema. O grito libertário precisa ecoar nos corações dos brasileiros que creem no Senhor Jesus e fazem da fé um lugar de organização comunitária e social onde, ouvidos e olhos bem abertos, se lhes solte a língua e gritem forte que um outro Brasil, livre, soberano e de todos os brasileiros, é possível. Este é o verdadeiro grito da independência que o Brasil brasileiro realmente precisa. attiliohartmann@hotmail.com


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América Latina: Quo Vadis?

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OMUNIDADE

Dom Demétrio Valentini Bispo de Jales(SP) e presidente da Caritas Brasileira

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sta pergunta, que a ficção histórica criou para Cristo interpelar Pedro, quando este queria fugir de Roma, com medo de enfrentar o monstro imperial, pode ser repetida agora para a América Latina, em especial, para a Igreja Católica em nosso continente. Para onde vai a América Latina? Para onde vai a Igreja latino-americana? Na recente Conferência Episcopal, realizada em Aparecida, de âmbito latino-americano, os bispos vincularam os destinos da Igreja à causa da vida dos seus povos. O seu tema estabelecia com clareza o objetivo resultante da identidade e da missão dos cristãos, como discípulos e missionários de Jesus Cristo, "para que nele nossos povos tenham vida". Portanto, a Igreja quer se pensar não a partir de si própria, ou em torno de interesses corporativos, mas em torno das causas vitais dos povos latino-americanos. Na verdade, o atestado histórico mais válido que a Igreja pode ostentar em nosso continente, é o de ter trilhado o caminho do povo, mesmo que nem sempre tenha acertado o passo com suas verdadeiras causas. Recentemente, a América Latina foi perpassada por um eletrizante circuito de consciência histórica, conferido pelo despertar da Igreja Católica Latinoamericana, por ocasião do desencadear do processo de renovação eclesial suscitado pelo Concílio Vaticano Segundo. Foi o único continente que abraçou, coletivamente, a causa da renovação conciliar, graças à providencial criação do CELAM, em 1955, às vésperas do Concílio, o que lhe possibilitou posicionar-se coletivamente, de maneira articulada, face às propostas conciliares, sobretudo pela Conferência Episcopal de Medellín, em 1968. Foi assim que a Igreja da América Latina constituiu um sujeito histórico, em condições de agir coletivamente, e determinar mudanças e avanços significativos, fruto deste singular momento de intensa identidade, coincidindo com os ventos favoráveis da renovação conciliar. Mas não demorou que os ventos mudassem de direção, partindo até de dentro da realidade latino americana, com a manifestação de resistências diante do processo conciliar. A Conferência de Aparecida teve o melhor de sua intuição na retomada da identidade própria da Igreja Latino Americana. Neste sentido, ela retoma a inspiração de Medellín. A interrogação que permanece se refere à consistência desta retomada. Ela ainda precisa enfrentar ventos contrários. A Igreja da América Latina passa por uma provação histórica como nunca. Ela se vê questionada em sua condição de Igreja chamada a expressar a fé cristã do povo de nosso continente. Um continente que ainda quer ser cristão, e um povo que quer ser Igreja. Que feições deveria assumir a Igreja de Cristo em nosso continente, para expressar adequadamente a fé cristã, fazendo-a produzir frutos de vida abundante para os povos latino americanos? (www.diocesedejales.org.br)

Dom Dadeus fez entrega simbólica de exemplares da Bíblia do Centenário

Dom Dadeus abre comemorações do Centenário da Arquidiocese Uma solene liturgia que lotou a Catedral Metropolitana abriu, no dia 16 de agosto, as comemorações dos 100 Anos da Arquidiocese de Porto Alegre. A celebração, presidida pelo arcebispo Dom Dadeus Grings, reuniu mais de uma centena de sacerdotes, os bispos auxiliares, o arcebispo emérito, Dom Altamiro Rossato e centenas de fiéis das paróquias e comunidades da Arquidiocese. Dom Dadeus afirmou que a festividade será um momento de renovação da Igreja. "Neste ano queremos que a nossa alegria seja completa, com a celebração das coisas boas vividas e conquistada nestes 100 anos". Ele acrescentou que neste período a Igreja construiu um patrimônio espiritual com grande repercussão na vida dos gaúchos. "Vamos olhar o passado, com gratidão pelo esforço feito. No presente, queremos tornar a Igreja mais viva, para que seja mais atuante. E, ao mesmo tempo, queremos projetar o futuro com esperança e com união e participação de todos". Para o arcebispo, o momento exige que a Igreja seja uma luz para o mundo. "Neste momento de angústias e de crise, o valor da fé é aquele fundamento para a promoção da vida e da paz. Por isso, "a Igreja quer fazer desse centenário um momento de evangelização a partir das necessidades de nossa gente". Durante a celebração foi lançado o primeiro grande projeto de evangelização do centenário.

Dois leigos de cada Vicariato receberam a Bíblia do Centenário. A previsão é distribuir 50 mil bíblias em todas as comunidades da Arquidiocese. Dom Dadeus afirmou que "a Palavra de Deus é a nossa base, por isso, ela precisa estar em nossas mãos todos os dias". Ele disse que todos os católicos devem ter em casa a Sagrada Escritura, porque ela é a fonte da vida cristã. As atividades comemorativas prosseguem até o dia 15 de agosto de 2010, quando será realizada a grande celebração do centenário com a presença de todos os bispos do Rio Grande do Sul, representando as 18 dioceses gaúchas.

História

Com o avançado desenvolvimento econômico e crescimento populacional, impulsionados pelo advento do novo momento político da instalação da República, Dom Cláudio apresentou a Roma o pedido de criação de uma nova diocese. A decisão do Santo Padre foi pela instalação de uma província eclesiástica. A nova circunscrição eclesiástica foi definida pela bula Praedecessorum Nostrotum, no dia 15 de agosto de 1910, com a criação das dioceses de Pelotas, Santa Maria e Uruguaiana, elevando Porto Alegre à condição de Arquidiocese. A extensão incluía a diocese de Florianópolis, que somente em 1927 tornou-se Arquidiocese. Neste ano, a Província Eclesiástica de Porto Alegre passou a abranger a área do Estado do Rio Grande do Sul.

Retiro aberto na Igreja São José O Apostolado da Oração da Igreja São José, de Porto Alegre, programou para os dias 1.º, 2 e 3 de setembro a realização de um retiro aberto, tendo como pregador o Pe. Egon Binsfeld. Os temas em destaque serão Fé e Esperança, Amor e Oração e Eucaristia e Missão. As palestras ocorrerão às 15 e às 16 horas, encerrando-se com missa. Mais informações pelo fone 3224.5829 ou na Secretaria da Comunidade São José


Porto Alegre, 1o a 15 de setembro de 2009

SICA: 40 anos de solidariedade ecumênica O Serviço Interconfessional de Aconselhamento – SICA - já atendeu 40 mil pessoas em seus 40 anos de existência. E todos esses atendimentos o foram de forma gratuita, prestados por voluntários. Fundado em Porto Alegre em 22 de agosto de 1969, como obra assumida pelas Igrejas Católica Romana, Anglicana Episcopal, Metodista e de Confissão Luterana do Brasil, o SICA foi também o embrião inicial para o surgimento posterior da Semana de Orações pela Unidade dos Cristãos, do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) do CECA (Centro Ecumênico de Capacitação e Assessoria) e do CEBI – Centro de Estudos Bíblicos – do qual surgiram as escolas bíblicas ecumênicas, espalhadas pelo Estado.

Matrimônio duradouro

Walter Vianna Ramalho e Wilma Katharina Ramalho

Pe. Frederico Laufer

Pastor Bertoldo Weber

“Ao final do Concílio Vaticano II, D. Vicente Scherer veio decidido a estruturar algo para uma ação ecumênica conjunta. Seu bispo auxiliar era dom Ivo Lorscheiter. Concomitante, já havia uma caminhada e amizade entre o padre Frederico Karl Laufer, jesuíta do Colégio Cristo Rei, e do Pastor Bertoldo Weber, da Faculdade de Teologia, ambos de S. Leopoldo. Importava estruturar a atividade para tornar o ecumenismo vivo e ativo. Surgiu o SICA”, explica Padre Leo Hastenteufel, pároco da Paróquia Coração de Maria, de Esteio, presidente da entidade em final de seu segundo mandato de dois anos e referencial do ecumenismo no Regional Sul-3.

Aconselhamentos variados

É como Carmen Lins Baia Solari, resume os 18 anos de voluntária do SICA. Professora universitária aposentada, católica, tem formação específica para sua atividade semanal de duas horas. “Também temos outros profissionais liberais e técnicos, além de uma religiosa e uma pastora, todos com habilitações especiais, que doam horas de trabalho semanal aqui”, explica Carmen. “As pessoas vêm aqui de forma livre e apresentam seus São casados há 34 anos, têm duas filhas - Maria Alice e Rosane - e quatro netos - Rafael, Felipe, Gabriela e Camila. “Nosso casamento é baseado em valores ético-cristãos e estes valores procuramos transmitir à família, aos noivos, por ocasião dos Encontros de Noivos nos quais atuamos no Movimento Familiar Cristão. Em profunda comunhão de vida nos amamos na verdade, perdoando-nos quando necessário, por um amor generoso sincero e constante." Além da dedicação à família, o casal ainda encontra tempo para a solidariedade gratuita ao próximo e ajudando aos vicentinos. Destacam-se pela disponibilidade em receber a todos com ternura e, em especial, visitando os doentes.

CianMagentaAmareloPreto

SICA – Serviço Interconfessional de Aconselhamento Atendimentos gratuitos: diariamente, de segunda a sexta-feira, das 9h às 18 h. Equipe: 12 voluntários especialmente preparados, filiados quatro igrejas cristãs Endereço: Praça Rui Barbosa, 220, sala 66 – Ed. Tannhauser. Telefone 3224.7877.

Pe. Leo Hastenteufel

problemas de forma bem espontânea e despidos de qualquer preconceito. Já vieram desde uma vó que não sabia trocar fraldas de sua netinha a homossexuais com sérios problemas de relacionamento e/ou de personalidade marcantemente feminina que teve que ser encaminhado para transplante. O SICA não tem solução para todos os problemas, mas indica os caminhos para alguma solução, como as mães com filhos drogados que encaminhamos para a PACTO (Pastoral de Auxílio Comunitário ao Toxicômano). As pessoas são atendidas, mas também nos beneficiamos: aprendemos com elas e também nos enriquecemos mutuamente como grupo oriundo de quatro igrejas cristãs”, conclui Carmen.

Prof. Carmen Solari

V Sulão Ecumênico Evento organizado pelo Regional Sul 1 – S. Paulo Data 28 a 30 de agosto Local – Itaici, Indaiatuba – SP Finalidade: retrospectiva histórica e perspectivas futuras, pela oportunidade dos 100 anos de caminhada ecumênica mundial; e partilha de experiências ecumênicas entre os Regionais Sul 4, Sul 3,Sul 2 e Sul 1 da CNBB O Rio Grande do Sul está presente com comitiva coordenada por Padre Leo Hastenteufel.


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