TRIBUNA ESPÍRITA 185

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Espírita Tribuna

Ano XXXIV - Nº 185 maio/junho - 2015 Preço: R$ 5,00

Nessa edição veja também:

Medicina, Espiritualidade e Religiosidade. Página 18

Um olhar sobre a redução da maioridade penal


Ostentação WALKÍRIA LÚCIA João Pessoa-PB

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“Tende cuidado em não praticar as boas obras diante dos homens, para serem vistas, pois, do contrário, não recebereis recompensa de vosso Pai que está nos céus. Assim, quando derdes esmola, não trombeteeis, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Digo-vos, em verdade, que eles já receberam sua recompensa. Quando derdes esmola, não saiba a vossa mão esquerda o que faz a vossa mão direita; a fim de que a esmola fique em segredo, e vosso Pai, que vê o que se passa em segredo, vos recompensará.” (S. MATEUS, cap. VI, vv. 1 a 4.)

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ncontramos, aqui, uma figura de linguagem para expressar a caridade verdadeiramente modesta. Pois, há aqueles que, ao esconder a mão, estão longe de serem modestos. Quando o fazem, sempre, dão um jeito de os outros verem. Há, também, os que fazem em busca de honrarias humanas; estes, já receberam a sua recompensa e terão que expurgar o orgulho pelo ato praticado. Possui duplo mérito: é uma caridade material e uma caridade moral, pois poupa àquele que a recebe a humilhação de saber que os outros saibam que está passando por momentos difíceis. Também, encontramos uma exaltação da vida futura e uma sugestão de análise, para que possamos nos colocar acima do momento presente e das situações que possamos estar vivendo,

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procurando planar, acima da matéria e enxergar o irmão como, realmente, um irmão. A sublimidade da caridade chega ao seu ápice, quando podemos convertê-la em trabalho. “Tendo Jesus descido do monte, grande multidão o seguiu. Ao mesmo tempo, um leproso veio ao seu encontro e o adorou, dizendo: Senhor, se quiseres, poderás curar-me. Jesus, estendendo a mão, o tocou e disse: Quero-o, fica curado; no mesmo instante, desapareceu a lepra. Disse-lhe, então, Jesus: abstém-te de falar disto a quem quer que seja; mas, vai mostrar-te aos sacerdotes e oferece o dom prescrito por Moisés, a fim de que lhes sirva de prova.” (S. MATEUS, cap. VIII, vv. 1 a 4.) Vemos a diferença que há, em fazer conhecer um ato de caridade, divulgando para que outros, também, o façam e fazer

propaganda de si mesmo. Jesus não tinha interesses nenhum em se vangloriar do que fazia, mas queria mostrar, para os sacerdotes da época, que a cura através da imposição de mãos era possível e que isto não derrogava as leis. Eles a estudavam e tinham maior facilidade de compreender o ato e poder interpretá-lo. Não tratariam, como algo miraculoso ou fora dos padrões das leis. Jesus foi o maior exemplo de caridade para com o próximo. Mesmo entre os homens, não se permitiu contamina; pelo contrário: iluminou há quantos o procuravam. Mesmo em algumas situações que ele não podia eliminar o sofrimento, em virtude da necessidade de aprendizado, procurava remediá-las, para que a criatura suportasse, mais facilmente, o que estava vivendo.


O mesmo, ocorrendo com a divulgação da Doutrina Espírita. Quando a conhecemos, queremos que os que nos rodeiam possam, também, participar desse verdadeiro banquete celestial. Mas, não podemos fazer a fruta amadurecer antes do tempo. É uma caridade a divulgação da mensagem evangélica, mas precisamos saber onde estamos pregando. Nossos atos são mais importantes que nossas palavras. A palavra se torna vazia, quando é destituída de atos que a corroborem. Algo que precisamos responder a nós mesmos é, se estamos utilizando a caridade como um subterfúgio para nos afastarmos dos afazeres domésticos e familiares. Exemplifiquemos: existem aqueles que se dedicam, com muito afinco, a fazer a caridade para o externo, mas, dentro do lar, não conseguem servir um copo com água para um familiar, como um gesto de gentileza. Ouvem, por horas a fio no atendimento fraterno, aqueles que buscam a Instituição Espírita, mas são incapazes de trocar duas palavras com os familiares ou amigos mais próximos, estando, sempre, ocupados com os eletrônicos modernos. Sempre, nos será contado o bem que fizermos. “O Livro dos Espíritos”, nas questões 766 a 775, nos fala da “Lei de Sociedade”. Destacamos a necessidade, sim, de vivermos em sociedade, pois, se não vivêssemos nos embruteceríamos. A reclusão é uma fuga a uma lei natural, e aqueles que se retiram do mundo, procurando a tranquilidade que certos trabalhos reclamam, constituem o grupo dos que praticam o retiro dos egoístas. Antes, falava-se de isolar-se da sociedade, afastando-se para um local distante. Hoje, em virtude da própria tecnologia que é uma excelente facilitadora de vidas, mas que, quando não é bem utilizada, separa muito mais que une, vemos criaturas que se enamoram, casam-se, mas que não estão juntas, porque estão acompanhadas dos seus aparelhos eletrônicos. Fazem a caridade na Instituição, mas se esquecem de fazer a caridade com os mais próximos. O viver em sociedade é um eterno atritar que produz sentimentos controversos, mas necessários, para o desenvolvimento humano. É dever de consciência ajudar ao próximo, mas não podemos nos esquecer que existem próximos mais próximos que reclamam a nossa atenção, paciência, amor e caridade. Comecemos, por exercitar com eles, expandindo para vizinhos, instituição e sociedade, por fim, o bem que há em nós. Ajudando a todos, começando por nos reconhecermos, como parte integrante de uma sociedade que reclama a nossa presença e o nosso amor.

Sumário

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Expediente Fundada em 01 de janeiro de 1981 Fundador: Azamor Henriques Cirne de Azevedo

Ostentação

Comentários a “O Evangelho Segundo o Espiritismo” Donos da Verdade

TRIBUNA ESPÍRITA Revista de divulgação do Espiritismo, de propriedade do Centro Espírita Leopoldo Cirne Ano XXXIV - Nº 185 - maio/junho - 2015 Diretor Administrativo e Financeiro: Severino de Souza Pereira (ssp.21@hotmail.com)

Confissões O Semeador

Editor: Hélio Nóbrega Zenaide

É permitido repreender os outros? O Espiritismo e a Definição de Kardec

Jornalista Responsável: Lívia Cirne de Azevedo Pereira DRT-PB 2693

O Espiritismo e o Ecumenismo

Secretaria Geral: Maria do Socorro Moreira Franco

De volta ao começo

Revisão: José Arivaldo Frazão

Está na raiz

Assessoria: Uyrapoan Velozo Castelo Branco

Um olhar sobre a redução da maioridade penal O Inferno não existe. As Penas Eternas não existem. Deus - (I) Painel Espírita Medicina, Espiritualidade e Religiosidade A maior virtude Moral – Ética – Liberdade Minha Casa Própria Fechando os Olhos

Diagramação: Ceiça Rocha (ceicarocha@gmail.com)

Reflexões de um Espírita Médico - II

Impressão: Gráfica JB (Fone: 83 3015-7200)

O Mundo Espiritual Silêncio para ouvir Deus A Fé: mãe da Esperança e da Caridade

Espírita

Colaboradores: Azamor Henriques Cirne de Azevedo, Carlos Romero, Carlos Roberto de S. Oliveira, Denise Lino, Deolindo Amorim, Divaldo P. Franco (Pelo espírito Joanna de Ângelis), Elmanoel G. Bento Lima, Fátima Araújo, Flávio Mendonça, Frederico Menezes, Guilherme Travassos Sarinho, Germano Romero, Hélio Nóbrega Zenaide, Igor Mateus, Marcos Paterra, Mauro Luiz Aldrigue, Octávio Caúmo Serrano, Orson Peter Carrara, Pedro Camilo, Régis Mesquita, Severino Celestino, Walkíria Araújo.

Tribuna

Ano XXXIV - Nº 185 maio/junho - 2015 Preço: R$ 5,00

Nessa edição veja também:

Medicina, Espiritualidade e Religiosidade. Página 18

ASSINATURA BRASIL ANUAL: R$ 30,00 TRIANUAL: R$ 80,00 EXTERIOR: US$ 30,00 CONTRIBUINTE ou DOADOR: R$....? ANUNCIANTE: a combinar TRIBUNA ESPÍRITA Rua Prefeito José de Carvalho, 179 Jardim 13 de Maio – Cep. 58.025-430 João Pessoa – Paraíba – Brasil Fone: (83) 3224-9557 e 9633-3500 e-mail: jornaltribunaespirita@gmail.com

Nota da Redação Foto da capa: Google imagens/ Hazel Thompson

Um olhar sobre a redução da maioridade penal

Os Artigos publicados são de inteira responsabilidade dos seus autores. maio/junho • Tribuna Espírita • 2015 3


Comentários a “O Evangelho Segundo o Espiritismo” Google imagens

(Cap. XXVI – Dai gratuitamente o que gratuitamente recebestes) DENISE LINO

Campina Grande-PB “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, terceira obra da Codificação Espírita, foi organizado por Allan Kardec em vinte e oito capítulos, dos quais, apenas, último − Coletânea de Preces Espíritas − tem um roteiro próprio. Os demais seguem um esquema que inclui, tal como dito na introdução do livro, sentenças sobre o ensino moral de Jesus que são comentadas, numa primeira seção, pelo próprio Codificador e, numa segunda, pelos Espíritos. Essa segunda seção, intitulada Instruções dos Espíritos, resulta da correspondência trocada por Kardec com centenas de Centros Espíritas, dos quais obtinha comunicações diversas que, submetidas a acurado exame sob a orientação do princípio de universalidade do ensino dos Espíritos, resultaram na compilação que conhecemos. Nesse concerto de vozes, dois subconjuntos se destacam. Um, composto por um único capítulo, o XX, no qual não há os comentários da primeira seção. E outro, composto pelos capítulos XXII a XXVII, no qual não há a segunda seção. Neste artigo, vamos comentar, apenas, os itens 1 e 2 do capítulo citado no título. No primeiro item, encontramos um versículo retirado de Mateus (10:8) e, no segundo, o comentário do Codificador, apresentado poucas linhas. Para melhor compreensão e dada a pouca extensão, transcrevemos esses itens aqui. Dom de curar 1. Restituí a saúde aos doentes, ressuscitai os mortos, curai os leprosos, expulsai os demônios. Dai gratuitamente o que gratuitamente haveis recebido. (Mateus, 10:8.) 2. “Dai gratuitamente o que gratuitamente haveis recebido”, diz Jesus a seus discípulos. Com essa recomendação, prescreve que ninguém se faça pagar daquilo por que nada pagou. Ora, o que eles haviam recebido gratuitamente era a faculdade de curar os doentes e de expulsar os demônios, isto é, os maus Espíritos. Esse dom Deus lhes dera gratuita4 Tribuna Espírita • maio/junho • 2015

mente, para alívio dos que sofrem e como meio de propagação da fé; Jesus, pois, recomendava-lhes que não fizessem dele objeto de comércio, nem de especulação, nem meio de vida. Concentremos nossa observação, inicialmente, sobre a sentença retirada de Mateus. Trata-se de uma das prédicas do Mestre aos doze discípulos, por ocasião da reunião desses e da revelação da missão que lhes cabia cumprir. Vejamos que Jesus os orienta, quanto a um conjunto de ações no campo do atendimento aos sofredores, cujo significado convém que compreendamos. Para isso, é importante lembrar que, ao recomendar a restituição da saúde aos doentes, assim como a cura dos leprosos, Jesus não estava revogando o papel dos médicos nem da medicina, na Terra. Restituir a saúde aos doentes significa uma exortação para a transmissão da bioenergia, como se faz no passe, necessária à saúde integral ao equilíbrio mente-corpo, pois há muitas doenças cuja cura não depende, apenas, da ingestão de medicamentos. E, nesse outro medicamento – o passe – a energia pertence ao laboratório da vida; por isso, deve ser colocado ao al-

cance dos necessitados. Quanto à cura dos leprosos, convém observar que Jesus não se referia a uma cura física da doença, mas tomava a doença mais grave de seu tempo, como símbolo da compaixão, lembrando-nos a necessidade de visitar, indistintamente, os portadores de toda e qualquer doença, e, na medida do possível, curá-los, sobretudo, de suas doenças emocionais, como a falta de esperança, bem como de suas doenças morais, como vícios. Evidentemente, nesta recomendação de Jesus, está inclusa a ação proativa do paciente, sem a qual, nem mesmo, ele poderá exercer qualquer ação libertadora. Quanto à ressuscitação dos mortos, precisamos, igualmente, compreender seu sentido metafórico e profundo, pois, se as outras duas recomendações traçadas não eram dadas em sentido literal, também, esta não o é, porque se fora, seria uma derrogação das leis divinas, dado que a lei biológica também é uma lei divina. Todos os seres vivos cumprem um ciclo de vida que envolve nascimento, desenvolvimento, plenitude e morte. Não há como reverter esse ciclo. Assim, a recomendação de Jesus não seria para dar nova vida física aos mortos, mas, para


restituir a fé aos mortos das emoções, pois, os seus discípulos, ontem como hoje, têm essa vida plena que se estrutura sobre a sua mensagem. É importante, também, entender o que significa expulsar demônios. Sendo a Doutrina de Jesus a expressão do amor e sua vivência a materialização desse sentimento sublime, é claro que o verbo expulsa,r numa sentença como essa, perde a conotação negativa de por fora à força; repelir. E ganha o sentido de afastar, fazer sair. Se as sentenças anteriores têm um sentido conotativo e metafórico, esta, ao contrário, tem um sentido denotativo e referencial, pois a recomendação de Jesus alude, de forma clara, a uma experiência objetiva da experiência humana, que é a influenciação espiritual. Sabemos que demônio é termo popularizado, para a expressão grega daimon, que significa Espírito. E os Espíritos são os homens/mulheres que viveram na Terra. Portanto, à luz do Espiritismo, a sentença diz respeito ao trabalho de orientação e esclarecimento dos Espíritos (não apenas os desencarnados), em processos de influência obsessiva. Quando observadas em seu conjunto, de fato, essas sentenças dizem respeito a um conjunto de ações, por cuja execução não se pode cobrar, dado que todas elas só podem ser realizadas, de modo exitoso, pela interação entre o discípulo/mé-

dium/passista/evangelizador espírita e os Espíritos que o assistem. Por isso, o corolário entre elas é dai gratuitamente... A recomendação enfática de Jesus nos leva a crer que, em sua época, já havia abuso no trato de uma riqueza da qual somos, apenas, fiéis depositários. Quanto ao comentário de Kardec, verificamos que é sem rodeios, pois não há sentidos ocultos na expressão dar de

graça. Chama-nos a atenção, por sua vez, a forma como o Codificador redige a explicação da recomendação, alertando que “ninguém se faça pagar”, ou seja, que ninguém cobre por aquilo que recebeu gratuitamente, que é a faculdade de curar os doentes e expulsar os maus Espíritos.

Donos da Verdade ORSON PETER CARRARA Matão/SP

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e há um equívoco humano onde costumamos nos perder intensamente, com graves prejuízos para os ideais que julgamos lutar em favor, é nos colocarmos como donos da verdade. É, quando começamos a achar que somos imprescindíveis. É, quando achamos que nosso ponto de vista é o mais acertado e deve ser aceito por todos. É exatamente, quando nos colocamos na posição de impor idéias ou comportamentos, esperando adesões sem questionamentos. É, aí, que nos perdemos, intensamente, e prejudicamos os progressos do conjunto. É que nos deixamos fascinar pela vaidade, pela transitoriedade precária de um cargo ou pela suposta e tola noção de superioridade e proteção que julgamos possuir. São conhecidos os prejuízos históricos de tais comportamentos, em todas as épocas da Humanidade. Nem é preciso citar qualquer exemplo, mas o façamos, apenas, para reforçar a presente abordagem. Caifás, Pilatos, Hitler, entre outros

personagens do passado e do presente, estão entre tais casos, de nomes famosos ou conhecidos e, mesmo, entre anônimos na realidade e intimidade de empresas e famílias. Sim, tais casos lamentáveis estão nos esportes, na política, nas artes, nas religiões, nas profissões, nos relacionamentos familiares ou não e, mesmo, nos diferentes grupos de diferentes ideais. Inclusive, no ambiente do Movimento Espírita, infelizmente. Ocorre dizer, por oportuno, que a Doutrina Espírita nada tem a ver com isso. Isso é consequência de nossa imaturidade ou tentativa desesperada de resolver as coisas sob o nosso limitado e estreito ponto de vista. Imaturidade que, ainda, guarda os largos conteúdos do egoísmo, causa que articula a ambição, a inveja, o ódio e o ciúme, entre outros males. Ciúme e inveja, esses vermes roedores da paz humana. Para que? Eles, juntos, articulados pelo egoísmo, perturbam as relações sociais, provocam divisões e destroem a

Faculdade, esta, circundada, não apenas, pela predisposição dos médiuns, conforme as orientações de “O Livro dos Médiuns”, mas, sobretudo, pela intercessão dos bons Espíritos, conforme atesta esse mesmo livro e as biografias de todos os médiuns sérios. Chama-nos a atenção, também, as finalidades apresentadas pelo Codificador, para essa faculdade: (a) alívio aos sofredores e (b) propagação da fé. Vemos, aqui, uma profunda compreensão da misericórdia divina, pois a consolação, o atendimento às dores, a acolhida das dificuldades se mostram, como campo de ação para mobilização da faculdade, ao mesmo tempo em que sua demonstração incita a fé no futuro, na mediunidade, na vida após a morte. Portanto, se a faculdade é canal de expressão amorosa do Criador em direção a nós, os seus filhos, exige que seja respeitosamente tratada. Em síntese, essa lição de “O Evangelho” é curta, simples e clara: a recomendação de Jesus estimula o exercício da mediunidade, ao mesmo tempo, em que proíbe os abusos daí decorrentes. Aplicando essa exortação às nossas vidas, lembramos que todos somos médiuns, conforme acepção apresentada em “O Livro dos Médiuns”; logo, nos cabe, num maior ou menor grau, ressuscitar mortos, curar doentes, expulsar demônios, com a nossa vivência cristã.

tranquilidade e a segurança, conforme comenta o lúcido codificador do Espiritismo, Allan Kardec, após a resposta dos Espíritos à Questão 917 de “O Livro dos Espíritos”. Se trouxermos, então, tal questão e tais prejuízos à intimidade de nossas atividades espíritas, já são conhecidos os danosos resultados. Não somos donos da verdade, não somos donos de ninguém. Nossa opinião, nosso ponto de vista é, apenas, um ponto de vista pessoal, fruto de nossa experiência pessoal que é diferente da experiência do outro, que não pode ser desprezada. Por que desmerecemos o esforço alheio, por que tentamos paralisar iniciativas alheias? Por que, finalmente, desejamos impor nossa vontade? Tudo isso é fruto de nossa pequenez. Diante da proposta lúcida e grandiosa do Espiritismo, alicerçado no Evangelho de Jesus, iniciemos, desde já, o esforço de melhora de nós mesmos e não dos outros... Vale lembrar André Luiz, através da psicografia de Chico Xavier, no livro “Conduta Espírita, Capítulo 20 – “Perante os Companheiros”, páginas 77 a 79 da 7ª edição, FEB: “ (...) Suprimir toda crítica destrutiva na comunidade em que aprende e serve. A Seara de Jesus pede trabalhadores decididos a auxiliar (...) ”.

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Confissões HÉLIO NÓBREGA ZENAIDE João Pessoa-PB

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stava, nos planos de Jesus, que os seus seguidores “confessassem” diante dos homens, acerca dos seus ensinamentos. Contava, com os corações de boa vontade, para anunciar a Boa Nova. Queria que revelassem e declarassem, dentre todos, o que apreenderam, enquanto com ele. Temos, então, o termo “confessar”, no sentido de declarar, revelar, conforme em Lucas, 12:8-9: “Digo-vos que todo aquele que me confessar diante dos homens; também, o Filho do homem o confessará diante dos anjos de Deus. Mas, quem me negar diante dos homens será negado diante dos anjos de Deus”. Para entender o termo confessar, no sentido de reconhecer a realidade de uma ação, erro ou culpa, convém, antes, ressaltar como foi importante, para os cristãos, o fato de os primeiros seguidores de Jesus terem cumprido a recomendação acima, deixando um legado como referência, de quando em acerto ou em erro. Como perseverar no bom caminho, sem Jesus? Sem o certo, como começar a corrigir o que está errado? Já, quando nos confessamos intimamente com Deus, buscamos refúgio no Nosso Pai. Em oração, nos confessamos, muitas vezes com Deus. É bom aprender, com o Evangelho de Jesus, em Lucas, 18:10-14: “Dois homens subiram ao templo para orar; um, era fariseu e o outro, publicano. O fariseu, posto em pé, orava consigo desta maneira: ‘Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem, ainda, como esse publicano. Jejuo duas vezes, na semana, e dou os dízimos de tudo o que possuo’. O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: ‘Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!’ Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a

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si mesmo se humilha será exaltado”. No nosso convívio, também, nos confessamos uns aos outros. Como está dito em Tiago, 5:16: “Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis. (...)” Pode ser, no sentido de expressar nosso entendimento, esclarecimento, arrependimento, reconciliação... E se confessar, de público? Pode acontecer, de determinadas situações exigirem de nós uma retratação em público, perante alguém. Como, também, pela nossa dignidade pessoal, de alguém se retratar, para restabelecer verdades, em público. Em casos assim, só a confissão não é suficiente. Jesus, ainda, esclarece, em Mateus, 18: 18: “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra, será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra, será desligado no céu”. Com essas palavras, Jesus esclarece que, se não perdoamos o nosso ofensor, ficamos ligados, de alguma forma, a ele; seja pelo pensamento, pelo sentimento de mágoa ou de ressentimento, revolta... Melhor, mesmo, é a reconciliação com os nossos adversários. Se não for possível, perdoemos. Com a nossa consciência tranquila, nos desligamos do nosso ofensor. João Batista batizava, no rio Jordão. Antes do batismo, as pessoas se confessavam, publicamente. João Batista dizia: “Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento”. (Mateus, 3:8) Em I João, 1:9: “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo, para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”. Santo Agostinho nos coloca diante de suas próprias “Confissões”. Lendo-as, vamos ver que muitas das nossas confissões mais íntimas, de alguma forma, estão, ali, com outras palavras, confessadas... Deus, Nosso Pai, nos abençoe.

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O Semeador

MAURO LUIZ ALDRIGUE João Pessoa-PB

“ (...) Eis que o semeador saiu a semear...” (Mt. 13:3) Quando Jesus nos apresenta esta parábola, busca enfatizar a diversidade evolutiva dos seres humanos. Jesus é o semeador, nosso modelo e guia, conforme resumem os Espíritos Luminares, na Questão nº 625 de “O Livro dos Espíritos”. Jesus saiu de sua casa, de seu habitat, da sua dimensão cósmica, para reencarnar na Terra e fazer a semeadura da Boa Nova. Convida todos a buscar e encontrar, dentro de si, o potencial do sentimento universal, resumido no amor a Deus e ao próximo. Esclarece a possibilidade de se conduzir na preparação do terreno fértil que irá dinamizar esta semente imorredoura, produzindo, na proporção do empenho e do seu desenvolvimento. Aquele que sai a semear encontra, também no caminho, o conforto de ajuntar outros corações no mesmo ideal, vibrando na mesma dimensão. Enfatiza, ainda, que cada um de nós, em sua capacidade e aptidão, pode contribuir com a tarefa de auxiliar, de conduzir, de estimular, de divulgar e de exemplificar, para o outro, na consolidação das ações de iluminação e na preparação do terreno que irá receber a boa semente. Assemelhar-se ao semeador.

Emmanuel, no livro “Roteiro”, Cap. 32, psicografia de Chico Xavier, ressalta que “(...) a vida, pródiga de sabedoria em todo parte, demonstra o princípio da cooperação, em todos os seus planos. (...) Cada criatura é peça significativa na engrenagem do progresso. Todos possuímos destacadas obrigações, no aperfeiçoamento do Espírito. Alma sem trabalho digno é sombra de inércia no concerto da harmonia geral.” O verdadeiro discípulo deve semear, sempre, o Evangelho, independentemente dos solos e das circunstâncias, sem aguardar resultados dessa semeadura. Para tanto, é preciso abrir as portas do coração e sair das zonas de conveniências, alimentadas e realimentadas ao longo dos tempos. A semente pode cair ao longo do caminho. Simboliza as pessoas que permanecem à margem das orientações espirituais que lhes chegam durante a existência. Sofrem grandes dificuldades, como chamamento às verdades imortais e, mesmo assim, continuam a manter o mesmo comportamento. Também, pode cair nos pedregais. São pessoas que, ainda, se mantêm com idéias cristalizadas, condicionadas, ou reflexos dominantes da personalidade, que são demonstrados nos interesse passageiros e superficiais e

não cedem espaço a entendimentos mais profundos. Pode, ainda, cair entre espinhos. Representam estes as viciações, más inclinações ou imperfeições que sufocam as iniciativas e os projetos das mais nobres intenções. São as almas que se acomodam, nas facilidades que a matéria proporciona. Outra pode cair em boa terra e dar frutos. Enfatiza Jesus que, mesmo em terra fértil, corações e mentes irão frutificar em diferentes proporções, simbolizando as diferentes capacidades individuais a se dinamizarem, no benefício daqueles que estão despertando para a realidade espiritual e aqueles que, já despertos, mobilizam seus braços, na ação do Bem. Esforçam-se em vivenciar os ensinamentos da Boa Nova, sem medir sacrifícios. Elucida Emmanuel: “Se o terreno de teu coração vive ocupado por ervas daninhas e se já recebeste o princípio celeste, cultiva-o, com devotamento, abrigando-o nas leiras de tua alma. O verbo humano pode falhar, mas a Palavra do Senhor é imperecível. Aceita-a e cumpre-a, porque, se te furtas ao imperativo da vida eterna, cedo ou tarde, o anjo da angústia te visitará o espírito, indicando-te novos rumos”. (Mesma origem, no Livro “Pão Nosso”, Cap. 25). Porque Jesus continua a semear...

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É permitido repreender os outros? Google imagens

OCTÁVIO CAÚMO SERRANO João Pessoa-PB

Superiores e Inferiores. Pedimos a sua atenção para mais um tema polêmico no Movimento Espírita: A pergunta é se podemos ou devemos repreender os outros. Quem nos socorre na abordagem é o Espírito São Luiz que, em três mensagens ditadas em 1860, conforme itens 19, 20 e 21 do Capítulo X de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, dá-nos receitas seguras sobre qual deve ser o nosso comportamento diante das faltas alheias. Na primeira, ele responde a uma pergunta que lhe fizeram, argumentando que se ninguém é perfeito, conclui-se que ninguém teria o direito de repreender o próximo. Está correto? O espírito responde que não, porque cada um deve trabalhar para o progresso de todos, especialmente dos que dependem de nós. Mas, sempre com moderação e com intenção útil. Nunca, expor as fraquezas alheias à execração em público. Nunca, criticar com a intenção de desmoralizar a pessoa e sim com finalidade útil. O que poderia ser um ato construtivo se transforma em maldade, se a intenção é menosprezar o outro. É preciso analisar em nós o que criticamos nos outros para ver se não somos também merecedores de censura. Perguntaram a ele, também, se podemos observar as imperfeições dos outros, quando disso não resulte utilidade para eles e o Espírito respondeu que o importante é a intenção; mais do que o fato. Claro que não é proibido ver o mal, quando existe. Seria hipocrisia ver o bem em tudo, ajudando a atrasar o progresso com medo de corrigir falhas. O que não devemos fazer é exultar com o erro do outro, como

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quem comemora por não ter aquela falha. Podemos ter outras até piores. Na última pergunta, foi indagado se há casos em que seja útil descobrir o mal alheio. A resposta é de puro bom senso. Diz-nos São Luiz. Se a imperfeição prejudica exclusivamente a própria pessoa, não há utilidade em divulga-la. Mas, se o mal prejudica muita gente é necessário defender-se o interesse de muitos antes do interesse de um só. Chega a ser importante desmascarar a mentira, porque é praticamente um dever. Preferível que um homem caia a que muitos sejam enganados e se tornem suas vítimas. Se o mal é claro, deve ser combatido. Em “O livro dos Espíritos”, temos a questão 932, que indaga: “Por que, no mundo, os maus, quase sempre, exercem maior influência sobre os bons?” A resposta dos Espíritos foi: “Pela fraqueza dos bons. Os maus são intrigantes e audaciosos; os bons são tímidos. Quando estes o quiserem, predominarão.” Isto se aplica aos Centros Espíritas, onde há colaboradores indisciplinados que não respeitam os compromissos e criam problemas para os demais e para a própria Instituição. O dirigente tem dificuldade para reprimir o confrade, temendo que ele possa afastar-se da casa. Não considera que a presença dele é nociva para o Centro e pode comprometer o próprio Espiritismo. O dirigente espírita é o guardião da Doutrina, dentro da sua Casa. Há muita tolerância, nos Centros, em nome da caridade. Crianças, brincando durante os trabalhos, criando problemas para o expositor que pode perder a concentração, porque não se dão conta como é difícil e a responsabilidade que envolve a comunicação pela

oratória, na Casa Espírita. Dirigentes espíritas. Pensem muito no que nos recomendou São Luiz, já em 1860. O que tem a responsabilidade do comando e o que obedece têm responsabilidades, conforme nos ensina o capítulo XVII, item 9, de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, quando fala de Superiores e Inferiores. A orientação é do Espírito François Nicolas Madeleine, que foi o Cardeal católico Morlot. Mensagem de 1863. Inicialmente, lembremo-nos de que, em qualquer posição que nos encontremos no mundo, sempre teremos alguém acima e alguém abaixo de nós. O maior soberano da Terra perceberá que é assim. Se esse alguém não lhe for superior hierarquicamente, o será cultural ou espiritualmente. Sempre, podemos ser aquele que ensina ou aquele que aprende. A vida é troca permanente, porque ninguém pode tudo nem conhece tudo. O importante é a maneira como nos conduzimos nas diferentes oportunidades. Se somos o que sabe mais, nós não devemos humilhar o outro, ao transmitir-lhe nosso conhecimento. Se, na oportunidade, somos nós o aprendiz, não devemos nos ofender pelo fato de, naquele assunto, termos menos conhecimento. Morlot nos ensina que, assim como se dá com a fortuna, também se pedirá contas de quem usa mal a autoridade, por imaginar que se trata de um privilégio, para satisfazer seu desejo de sentir-se superior. Em cada encarnação, exercemos atribuição diferente. Ora, mandamos, ora, obedecemos, mas isto é circunstancial e secundário. O importante é, como nos comportamos em cada uma dessas posições. Se formos o chefe, tenhamos sensibilidade para respeitar


aquele que é nosso subalterno, compreendendo seus problemas e, muitas vezes, sua menor capacidade e inteligência. Coloquemo-nos no lugar dele e nos transformaremos em amigos. No caso contrário, caso sejamos o comandado, não podemos esquecer que devemos respeito ao chefe, ajudando-o, para que possa desempenhar bem sua função e receber o respeito de eventual superior que exista, também, acima dele. O importante, nesse relacionamento, não é quem manda ou quem obedece, mas como cada um exerce a sua parte, contribuindo para que ambos sejam parceiros que se respeitem. Quando, numa encarnação, somos aquinhoados com a fortuna ou a chefia e dela damos má conta, embora não seja regra, como nada o é nas orientações espíritas, corremos o risco de ter de viver situa-

ção inversa para aprender. Não se trata de castigo, mas de renovação de oportunidade, a fim de que ao longo da eternidade espiritual todos cresçamos, igualmente, sem reclamar que Deus nos abandonou. O importante, em cada encarnação, é o que nos acrescentamos em virtudes. A obediência e a disciplina são virtudes que aprendemos, ao obedecer, e a paciência e humildade são qualidades que conquistamos, ao ensinar. Não se entende como, nas empresas, chefes e subordinados possam se desentender, se o sucesso dos negócios beneficia as duas partes, da mesma maneira, que o fracasso da empresa cria problemas para os dois lados. Evidentemente, que cumpre a chefes e subalternos deveres diferentes. Se alguém está investido no cargo de comando, seguramente, é porque tem mais capacidade,

o que lhe acarreta mais responsabilidade. Mas, que essa superioridade seja, apenas, hierárquica e exercida com respeito, mesmo que em determinados momentos seja usada com rigor. Exigir mais produção, interesse e atenção no trabalho, criando censuras quando devidas, mas sem menosprezar o outro, por sua condição inferior no organograma da empresa. Amar o próximo, em qualquer circunstância, ajudando-o na dificuldade, parta a ação do chefe ou do empregado. Essa é a grande regra. Todos nós temos momentos de vacilação e fraqueza, de enfermidades e desequilíbrio, de depressões mentais e é, nesse momento, que superiores e inferiores devem dar-se as mãos e socorrerem-se mutuamente. Hoje, eu ajudo, amanhã, sou ajudado. A vida é isso. Inclusive, no Centro Espírita.

O Espiritismo e a Definição de Kardec DEOLINDO AMORIM (*)

Para muita gente, Espiritismo é, apenas, fenômeno; mas quem conhece um pouco da doutrina sabe, muito bem, que não é assim.

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entro da definição que lhe deu Allan Kardec, o Espiritismo tem, ao mesmo tempo, um aspecto geral, como filosofia espiritualista, e os aspectos particulares, que são inerentes a seu caráter e sua organização. Quem o diz é o próprio Allan Kardec, na Introdução de “O Livro dos Espíritos”, ao ensinar que “todo espírita é espiritualista, mas nem todo espiritualista é espírita”. Realmente, há muitos espiritualistas que, embora admitam o fenômeno de além-túmulo, não aceitam os postulados do Espiritismo. São espiritualistas, mas, na realidade, não são espíritas. Estas noções iniciais são muito conhecidas dos adeptos do Espiritismo, mas a verdade é que muitas pessoas julgam mal o Espiritismo, exatamente porque não conhecem as noções elementares da doutrina. Daí, portanto, a necessidade, não mais para os espíritas, mas para o elemento leigo, de certos rudimentos indispensáveis a respeito do Espiritismo, sua definição, seu caráter, seus métodos, suas consequências. O fenômeno, somo se sabe, é o ponto de partida, tanto do Espiritismo como de todas as escolas e correntes que se preocupam com o além-túmulo. É de notar-se,

porém, que, nem todos os que se dedicam à experimentação mediúnica, entram nas indagações de ordem filosóficas. Sob este ponto de vista, é claro que o Espiritismo ultrapassa a experimentação pura e simples, porque, além de tratar, também, da origem do fenômeno, tira consequências morais da grande influência, tanto da vida particular como na vida social. Justamente por isso, foi que Allan Kardec definiu o Espiritismo como uma ciência que trata da origem e do destino dos espíritos, assim como de suas relações como mundo terreno. Aí, estão, implicitamente, os três pontos básicos: a origem e o destino dos espíritos são questões transcendentais, de alta filosofia; a relação dos espíritos com o mundo terreno é assunto da ciência experimental, porque são os fenômenos que provam essas relações.

O aspecto moral, porém, é fundamental para o Espiritismo. De que serve a experimentação, apenas, como assunto de curiosidade? De que serve entrar em comunicações com os espíritos ou provocar fenômenos, sem tirar desses fenômenos o que é essencial para o refinamento dos costumes, para a reforma interior do homem? Para muita gente, Espiritismo é, apenas, fenômeno; mas quem conhece um pouco da doutrina sabe muito bem que não é assim. Para certas escolas, por exemplo, o fenômeno é o fim, ao passo que, para o Espiritismo, o fenômeno é um meio. Mas, meio de que? Meio de aperfeiçoamento, elemento de convicção, para a aceitação da vida futura e, consequentemente, caminho para a crença em Deus. Enquanto certos experimentadores levam anos e anos, observando e provocando fenômenos, sem tirar conclusão alguma acerca dos altos e importantes problemas da vida futura e do destino humano, o experimentador espírita, quando bem orientado pela doutrina, parte do fenômeno, sobe à indagação dos por quês, que é o terreno da filosofia e, depois, faz as necessárias aplicações à vida prática, isto é, ao comportamento do homem, às atitudes privadas e públicas, aos padrões de moralidade que a condição de espírita exige em qualquer situação. A não ser assim , a experimentação, por si só, é assunto, simplesmente, de curiosidade. (*) Extraído da RIE, de 15 de junho de 1954, ano XXX, nº 5). maio/junho • Tribuna Espírita • 2015 9


O Espiritismo e o Ecumenismo Google imagens

SEVERINO CELESTINO João Pessoa-PB

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termo Ecumenismo tem origem no grego “oikoumene” que significa “o mundo civilizado”. Na Bíblia, a palavra “oikoumene” é traduzida, como “todo” e “universal”. O Ecumenismo é um processo de entendimento que reconhece e respeita a diversidade entre as igrejas. A ideia de ecumenismo é, exatamente, reunir o mundo cristão. Na prática, porém, o movimento compreende diversas religiões, inclusive aquela não cristã. A história da Humanidade está repleta de acontecimentos que registram a intolerância religiosa. De onde vem essa intolerância? Qual a origem desse desagradável comportamento humano? Será que Jesus aprovaria tal conduta? Não necessitamos responder, que não. As denominadas “guerras santas” foram responsáveis por incontáveis mortes, através dos registros encontrados na História. A “guerra santa” é um recurso extremista que as grandes religiões monoteístas têm usado, ao longo dos tempos, para proteger o que consideram ameaça aos seus dogmas e a seus lugares sagrados. A origem das primeiras “guerras santas”, já travadas na história, se encontra no Islamismo e no Cristianismo, lamentavelmente. Temos vários registros de guerras religiosas e, neste sentido, podemos relembrar, resumidamente, as que se seguem: Como primeiro registro, temos a guerra santa islâmica, quando, em 622, Maomé, após ser ameaçado de morte, pelos opositores do islamismo, migrou de Meca para Medina, uma cidade a 300 km ao norte de Meca, juntamente com seus seguidores. Maomé expandiu o Islamismo por vários territórios, baseado nos deveres religiosos do Jihad, que tem sido interpretado como o dever de realizar “guerras santas”. Durante a Idade Média, a Igreja Católica realizou as cruzadas que foram expedições militares, com o objetivo de reconquistar o Santo Sepulcro, em Jerusalém, do domínio muçulmano, que assumiram a forma de verdadeira “guerra santa”. Apesar de suas várias tentativas, a Igreja Católica só conseguiu conquistar Jerusalém, uma vez e, no Século XII; mas, na verdade, foram os

Chico Xavier

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turcos que reconquistaram o domínio de Jerusalém. Durante os séculos XVI e XVII, a “Reforma Protestante” espalhou-se pela Europa. Em países europeus, como Alemanha e França, o Protestantismo floresceu, e este acontecimento despertou a intolerância católica, ocasionando diversas guerras, entre católicos e protestantes. Mais recentemente, nos defrontamos com os conflitos na Irlanda do Norte e com o fundamentalismo de grupos radicais islâmicos, envolvendo o mundo, como se tem verificado com os embates entre a Palestina e Israel. Todos esses acontecimentos nos trazem reflexões sobre o porquê de o homem matar em nome de Deus e de Jesus. Muitos vultos da Humanidade têm se preocupado com a paz e o entendimento entre os homens. Este princípio humano tem total respaldo nas páginas do Evangelho. Jesus representa o grande roteiro de paz, presente no nosso planeta, há dois mil anos. Só os que não conhecem nem vivem os seus ensinamentos, agem com preconceitos para com o seu semelhante. A Doutrina Espírita surge, no século XIX na França, com uma proposta de reforma interior e preparando o homem para a fraternidade universal. Foi assim que, em 1857, ela surgiu, codificada por Allan Kardec, sob a direção do Espírito da Verdade. Essa Doutrina traz, em suas raízes, o princípio filosófico da reforma interior e da ciência, como suporte principal. Em 1861, a Inquisição, sob a pretensão incoerente de ser representante de Jesus,

moveu, em Barcelona na Espanha, um ato de intolerância contra o Espiritismo, atacando suas principais obras e, no dia 9 de outubro daquele ano, foram queimados vários livros da recém lançada Doutrina. Entre as obras queimadas podemos citar: “Revue Spirite”, dirigida por Allan Kardec; “A Revista Espiritualista”, dirigida por Piérard; “O Livro dos Espíritos”, “O Livro dos Médiuns”, e “O que é o Espiritismo?”, de Allan Kardec; “Fragmento de Sonata”, atribuído ao Espírito Mozart; “Carta de um católico sobre o Espiritismo”, pelo doutor Grand; “A História de Jeanne d’Arc”, atribuído ao Espírito Joana d’Arc, pela médium Ermance Dufaux; “A realidade dos Espíritos demonstrada pela escrita direta”, pelo barão de Guldenstubbé. Felizmente, esse ato de intolerância e perseguição não atingiu o seu objetivo, pois, em vez de destruir a Doutrina Espírita, constituiu-se na maior divulgação que o Espiritismo poderia ter recebido, naquela época. Allan Kardec não desistiu de sua tarefa de codificação da Doutrina Espírita e buscou, em Jesus, a solução para todo e qualquer tipo de preconceito e intolerância religiosa. Lançou, em 12 de abril de 1864, a sua maior obra cristã, trazendo luzes de entendimento para a Humanidade. Foi, no Evangelho de Jesus, que ele encontrou o suporte indispensável para o seu objetivo de unir pessoas de todas as crenças, produzindo, na sequência a obra, que se constituiu no maior livro de harmonia entre as religiões, e que se denomina “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Kardec apresentou este livro, como sendo o ponto onde todas as crenças poderiam


se encontrar. Buscou, com o seu senso de ecumenismo, a união e a fraternidade, como pontos indispensáveis, para o entendimento entre as diversas correntes religiosas. Sabemos que o fenômeno religioso é um dos quatro pilares da cultura humana, sendo os outros três, a Filosofia, a Arte e a Ciência. É, nas instituições de ensino, que se entra em contato com a ciência. O mesmo deveria ocorrer com as religiões, patrimônio cultural de todos os povos e, como tal, matéria de estudo e pesquisa. Nós devemos primar, sempre, pela busca do conhecimento que abre a mente. A verdade e o conhecimento, sempre, nos libertarão do fundamentalismo religioso que é, extremamente nocivo e prejudicial, para o indivíduo e para a sociedade. Ele promove a intolerância, a dificuldade de relacionamento entre grupos, destrói a integração e o respeito mútuo, não admite opiniões divergentes e considera sua perspectiva isenta de erros. Partindo do pressuposto que a ignorância é a mãe da intolerância, a maneira mais correta de se superar a ignorância, ou seja, o desconhecimento e, assim, forjar a tolerância religiosa, é fomentar o conhecimento.

Particularmente, temos conseguido algumas ações e experiências positivas, em torno do entendimento, entre as diversas correntes religiosas. Com a fundação do curso de “Ciências das Religiões” na UFPB, vivenciamos muitos testemunhos de compreensão entre as diferenças religiosas. Levantamos a tese de que não concebemos que alguém afirme seguir Jesus e, no entanto, não respeite nem ame o seu irmão; apenas, pelo simples fato de ele pertencer a outra corrente religiosa, ainda mesmo, que seja cristã. Cada um de nós deve se empenhar, no esforço de contribuir para a construção de uma sociedade harmoniosa e respeitosa, para com os diferentes, fundamentada na ética e no amor pelo semelhante. A Doutrina Espírita nos traz esse suporte, para o respeito e a fraternidade na convivência com o diferente. Na “Introdução” de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Kardec levanta o ponto universal do entendimento entre os homens quando afirma: “Diante desse código divino, a própria incredulidade se curva. É o terreno em que todos os cultos podem encontrar-se, a bandeira sob a qual todos podem abrigar-

se, por mais diferentes que sejam as suas crenças. Porque nunca foi objeto de disputas religiosas, que sempre e por toda a parte provocadas pelos dogmas. Se o discutissem, as seitas teriam, aliás, encontrado nele a sua própria condenação, porque a maioria delas se apegaram mais à parte mística do que à parte moral, que exige a reforma de cada um. Para os homens, em particular, é uma regra de conduta que abrange todas as circunstâncias da vida privada e pública, o princípio de todas as relações sociais fundadas na mais rigorosa justiça. É, por fim, e acima de tudo, o caminho infalível da felicidade a conquistar, uma ponta do véu erguida sobre a vida futura. É essa parte que constitui o objeto exclusivo desta obra”. Reflitamos sobre tão sábias e fraternas palavras de Kardec e nos interroguemos a respeito do que, como espírita, temos realizado em prol do entendimento e da fraternidade entre os diferentes. Pensar diferente de nós, nunca deve significar ser contra nós. Jesus será, sempre, o nosso maior exemplo. Coloquemo-lo em nossos corações; imitemos suas atitudes e plantemos, junto àqueles que nos cercam, a semente plena da PAZ. Google imagens

De volta ao começo FREDERICO MENEZES Recife-PE

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indiscutível o crescimento dos seguidores do Espiritismo, não só no Brasil e na América Latina, como, também, em outros continentes, embora de forma mais lenta. Não poderia ser diferente, ante a sede que as pessoas vêm sentindo de encontrar respostas para os desafios da vida, para a compreensão da existência. Milhões tentam encontrar um sentido, para suas lutas. O materialismo não preenche os vazios que aparecem ao longo da jornada. Refiro-me a esse crescimento, para enfatizar os novos desafios que se apresentam aos seguidores da grande mensagem espírita: quase sempre, quando se ganha em volume, se perde em qualidade. Sem desejar generalizar e, compreendendo que cada época possui seu próprio contexto, penso ser fundamental que as Casas Espíritas façam um esforço, para não perderem a ligação com as origens do Espiritismo; isso, porque, conquanto seja uma doutrina de caráter progressista, não deve tornar-se de caráter modista. O estímulo, para algo dessa natureza, é uma das marcas de nosso tempo. Talvez a dificuldade que algumas instituições espiritistas têm encontrado, para desenvolver, por exemplo, a prática mediúnica com qualidade e segurança, possa estar nas características que algumas Casas vêm estabelecendo em seu funcionamento. Natural, que desejemos organizar nossos espaços físicos, de maneira a receber, melhor, os frequentadores e favorecer ambientes mais adequados aos trabalhos; porém, o mesmo cuidado devemos ter, para com as condições psíquicas de nossas atividades. A composição vibratória da Casa é fundamental, para que a assistência dos bons Espíritos se dê de forma exitosa. Não basta que ser uma instituição espírita e, logo, milhares de Espíritos nobres estarão à disposição dos seus tarefeiros.

A “Lei de Sintonia”, ainda aqui, se apresenta decisiva. Em torno dos homens, pululam milhares de almas atormentadas, em suas paixões degradantes e infelizes. Natural que, se nós, os seguidores do Espiritismo, não atentarmos para essa lei essencial, que nos faz atrair os que se nos assemelham, qual a natureza e a qualidade dos Espíritos que nos assistirão ? Detendo-me na atividade da prática mediúnica, não será, na ausência dos cuidados levados em conta nos primórdios da Doutrina, a razão de termos tantas reuniões mediúnicas problemáticas, sem aquela beleza e autenticidade dos primeiros tempos? Léon Denis, o grande continuador da obra de Allan Kardec, sempre, enfatizava o recolhimento sagrado que deveria caracterizar a postura dos médiuns, a fim de que suas faculdades se aprimorassem e se tornassem produtivas. Yvone do Amaral Pereira, uma das mais conscienciosas médiuns que já tivemos, alertava para o fato de ela sentir imensas saudades das reuniões espíritas ungidas pela postura elevada e séria, propiciando mensagens dos nobres mentores, cheias de profundidade e beleza, além de tratamentos juntos aos obsedados de grande generosidade e eficácia. Creio que se faz necessário avançar no presente, sem perder os fundamentos dos princípios espíritas, tão estudados e vividos no início do Espiritismo. Uma atmosfera de seriedade e busca das forças mais elevadas do mundo invisível, assessorado pelo desejo sincero de reforma moral dos membros, favorece a presença dos poderosos Espíritos protetores e o Centro Espírita, assim bafejado, produzirá cem por um. Poderemos ter crescimento, com inegável qualidade; quantidade e elevação; modernidade, sem modismos. Sedes bem elaboradas e estruturas fluídicas enobrecidas. Com fidelidade ao Evangelho e ao Grande Consolador. Vamos refletir sobre isso? maio/junho • Tribuna Espírita • 2015 11


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Está na raiz FÁTIMA ARAÚJO João Pessoa-PB

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ão inúmeros os exemplos que demonstram a conduta egocêntrica do ser humano, na face da Terra, esse planeta de provas e expiações, onde reencarnamos para aprender, resgatar débitos e evoluir. É necessário, pois, que cada um de nós possa vencer-se a si mesmo, combatendo o egoísmo que insiste em prevalecer em nossos pensamentos e atitudes, visto que essa inferioridade, na concepção do Espiritismo Cristão, é a causadora de todas as misérias do mundo terreno, é a negação da Caridade e, por consequência, o maior obstáculo à felicidade dos homens. O Cristo advertiu:”Não ajunteis, para vós, tesouros, na Terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furam e roubam. Ajuntai, para vós, tesouros no céu, onde a ferrugem e as traças não corroem e os ladrões não roubam. Porque, onde está o teu tesouro, também está o teu coração”. (Mateus, Cap. 6, v. 19 a 21). Por conta do apego aos bens terrenos, o moço rico não atendeu à sugestão de Jesus: “Vende tudo o que tens e segue-me”. Por isso, o Mestre disse ao seu apóstolo, Pedro, que era “mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus”. (Mateus, Cap. 19, v. 24). Não que Jesus condenasse a riqueza; Ele era contra o egoísmo de se querer só para si. E o inverso desse egoísmo foi o caso de Zaqueu, aquele que subiu na árvore para ver Jesus passar. “Zaqueu, desce depressa, porque é preciso que eu fique hoje em tua casa”. (Lucas, 19: 1 – 5). Quando Zaqueu manifestou a ideia de doar, aos pobres, metade de seus bens, Jesus sentiu nele o desapego, que é justamente o inverso do egoísmo e da ambição. O fato é que o egoísmo está na raiz dos diversos males que atacam a humanidade. Os conflitos e as disputas, as mais variadas formas de escravizar o próximo para satisfazer interesses materiais são formas de egoísmo. Assim, é importante ressaltar que este mal é apenas uma faceta de um mal maior, raiz de muitas desgraças ocorridas em todos os tempos: o orgulho. Como filho dileto do egoísmo, o orgulho é irracional,

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pois o ar de superioridade e a ilusão de serem melhores que os outros, faz dos orgulhosos pessoas alheias à realidade. O egoísmo e o orgulho têm origem num sentimento natural: o instinto de conservação. E este instinto, como afirmam os Irmãos de Luz, em O Livro dos Espíritos, procede da Lei de Conservação, uma Lei Natural. Kardec explica que “Este sentimento, contido em justos limites, é bom em si; seu exagero é que o torna mau e pernicioso. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 11, Item 11, eis a mensagem que o Espírito Emmanuel traz para a Codificação de Kardec: “O egoísmo, chaga da Humanidade, tem que desaparecer da Terra, a cujo progresso moral obsta. Ao Espiritismo está reservada a tarefa de fazer com que a Terra se eleve na hierarquia dos mundos. O egoísmo é, pois, o alvo para o qual todos os verdadeiros cristãos devem apontar suas armas, dirigir suas forças, sua coragem”. Instruído pelos Espíritos Superiores, que orquestraram a Codificação, na questão 913, de O Livro dos Espíritos, Kardec afirma que “O egoísmo é um vício radical, daí que, dele, deriva todo o mal”. “Se estudarmos todos os vícios, veremos que, no fundo de todos eles, há egoísmo. Por mais que lhe deis combate, não chegareis a extirpá-lo, enquanto não atacardes o mal pela raiz”. Kardec afirma que “A causa do orgulho está na crença, que o homem tem, de sua superioridade individual, e aqui se faz sentir a influência da concentração do pensamento nas coisas da vida terrestre”. E também “na incredulidade de que existe um poder superior à humanidade”. Nada mais lógico: o homem que não acredita em Deus, na imortalidade do Espírito, nem na vida futura, dificilmente se voltará para a caridade, mas antes para o prazer e benefício próprios, mesmo porque, em sua concepção materialista, tudo se acaba com o desencarne. Já os que têm a certeza de que o Espírito é imortal e de que todo o bem praticado, durante a existência na Terra, será contabilizado, no futuro, conseguirá, com certeza, alijar da alma a chaga do egoísmo.


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Um olhar sobre a redução da maioridade penal PEDRO CAMILO Salvador/BA

O

estudo das Teorias da Pena, de interesse do Direito Penal e da Criminologia, indica que a sanção penal, decorrente da prática de um crime, pode encontrar dois sentidos: a simples punição pela punição (Teorias Absolutas ou Retributivas e a punição), como forma de evitar novos delitos (Teorias Relativas ou Preventivas). De modo simplificado, as Teorias Retributivas defendem o “mal justo” da pena, em contraposição ao “mal injusto” do crime. Negam, portanto, qualquer fim utilitarista à pena, qualquer finalidade especial. Já, as Teorias Preventivas sustentam que a sanção penal não é um fim em si mesmo, mas um meio através do qual se buscará, dentre outras coisas, a reinserção social do condenado e a restauração da confiança dos cidadãos na força da lei e da ordem social. O debate sobre a redução da maioridade penal passa, a nosso sentir, por essas três ideias: a punição pela punição, a reinserção social e o efeito simbólico sobre a sociedade como um todo. De um lado, estão os que sustentam que é preciso punir aquele que erra, por “impositivo de justiça”, sobretudo em uma sociedade tão marcada pelo acesso à informação, o que levaria a um mais rápido amadurecimento e, consequentemente, ao reconhecimento da capacidade de autodeterminação dos jovens a partir dos 16 anos. “Se podem votar, por que não pagar pelo que fazem?”, bradam as vozes meramente punitivistas. Em outro ponto, se encontram os que acreditam na força da lei, para modificar a realidade. Para estes, quanto mais duras as leis, menor será a criminalidade. No que toca aos jovens a partir dos dezesseis anos, isso significaria uma inibição à prática de crimes, quando, em verdade, seu efeito seria simbólico, no sentido de transmitir à comunidade uma sensação de segurança, de confiança nos mecanismos legais. Há, também, quem defenda a pena

como forma de “ressocialização”, de reinserção social. A ideia, conquanto boa e louvável, esbarra em uma falha lógica: como reinserir alguém, em dado contexto social, justamente com a sua segregação? Além disso, a experiência de séculos informa que o cárcere só embrutece e desumaniza, não oportunizando qualquer possibilidade de reinserção social ou reeducação. Do ponto de vista espírita, tais argumentos são falhos. Embora reconheçamos as diferenças que existem entre as leis humanas e as Leis Divinas, compreendemos que aquelas devem buscar se aproximar destas o quanto possível. Sendo assim, considerando que as Leis Divinas têm, como finalidade, oferecer a cada um novas oportunidades de aprendizado, como pretender sustentar medidas tão somente punitivas, encarcerando pessoas cada vez mais jovens e, quem sabe, sujeitando-as a estímulos ainda piores, permitindo que saiam das prisões piores do que entraram? Além disso, acreditamos ser extremamente falacioso o argumento segundo o qual os menores de dezoito anos não são punidos pelo que fazem. Em verdade, existe punição, travestida de “medida sócio-educativa”, que nada mais é do que uma forma diferenciada e politicamente correta de apenar. Afinal, os fatos ensejadores da intervenção estatal sobre o “menor infrator” é a prática de “ato infracional”, que nada mais é do que um nome mais suave atribuído a uma conduta considerada como crime. Existe, sim, responsabilização, embora diferenciada dos chamados “adultos”, mas sempre punição, distante de qualquer objetivo educativo, sem qualquer preocupação com o ser imortal, transitoriamente em um corpo juvenil. Grande parte desses jovens, a quem se pretende estender os muros e grades das prisões, é composta pelos mesmos miseráveis a quem o Estado nega boa educação, saúde de qualidade, moradia digna e políticas públicas de qualidade. Aliás, esse é um ciclo vicioso, haja vista que seus pais, avós e bisavós, também, remanescem do mesmo contingente tratado com desumanidade, subalternidade e esquecimento.

Como pretender que reajam diferentemente, se mesmo nós, que tivemos “boa família” e “boa educação”, reagimos violentamente, sempre que tratados com desprezo, com desconsideração? Com “O Livro dos Espíritos”, aprendemos que as desigualdades sociais são obra do homem. Como pretender corrigi-las, punindo, ainda mais, quem já é punido, pela cor da pele, pela baixa renda e por uma estrutura sócio-econômica opressora e marginalizadora? Naturalmente, que a criminalidade assuma a idade e a expressão que assumir, precisa de uma resposta. Questiona-se, porém, se a pretendida é a melhor, a mais adequada. Curiosamente, os estudiosos do Direito Penal e da Criminologia são quase unânimes, insurgindo-se contra essa “solução mais estúpida”, como afirmou Fernando Santana, professor de Direito Penal da Universidade Federal da Bahia. Se, por um lado, “uma sociedade depravada certamente precisa de leis severas”, por outro, “essas leis mais se destinam a punir o mal depois de feito, do que a lhe secar a fonte”, reforçam os Espíritos na resposta à Questão 796 de “O Livro dos Espíritos”. Isto, porque, como ainda lembraram a Allan Kardec, “só a educação poderá reformar os homens, que, então, não precisarão mais de leis tão rigorosas”. De minha parte, na condição de mestre em Direito Público, professor de Criminologia e Direito Penal, ex-diretor de presídio e espírita, acredito na força da educação como mola propulsora da solução para o problema da criminalidade juvenil. Antes de reduzir a maioridade penal, o Estado deve envidar esforços em melhorar as condições de vida desses jovens, ofertando-lhes meios de serem melhores do que são. Somente assim, depois de termos feito tudo que estiver ao nosso alcance com esse objetivo, teremos condição de, avaliando os benefícios, concluir pela desnecessidade de qualquer medida que aprofunde as desigualdades e sofrimento humanos, materializando o princípio cristão, que nos serve de referência, segundo o qual “devemos fazer ao outro tudo quanto gostaríamos que nos fizessem”. maio/junho • Tribuna Espírita • 2015 13


O Inferno não existe. As Penas Eternas não existem.

Deus é amor e, sempre, oferece oportunidades para a renovação da vida do Espírito. RÉGIS MESQUITA Campinas-SP

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odos os Espíritos que nascem no planeta Terra são imperfeitos. Possuem muita imaturidade e sofrem por terem uma sabedoria limitada. Segundo várias doutrinas teológicas (Protestantismo, Judaísmo, Islamismo, etc.) este Espírito imaturo possui, apenas, uma oportunidade. Uma única oportunidade (vida), de poucas décadas, para decidir como será sua vida durante milhões de anos. Essas doutrinas religiosas, com algumas diferenças, pregam o seguinte: ao morrer, o espírito “adormece” até o dia do Juízo Final. Neste dia, Deus decidirá quem viverá, eternamente bem, ou viverá, eternamente no inferno. Alguns poderão ser agraciados com a graça de Deus, outros sofrerão, eternamente. Neste ponto, a Doutrina Espírita difere, radicalmente. Não há Juízo Final; não há penas eternas. Deus é amor e, em Sua infinita bondade, sempre permite que as pessoas evoluam e superem seus defeitos e imaturidades (e paguem pelos seus erros). O livro “Nascer Várias Vezes”, pag.55, diz: “O desejo de Deus é que todos decidam espontaneamente cultivar o que é nobre, mesmo que seja no final de uma encarnação (na velhice) ou após várias encarnações. Aqueles que evoluírem rápido e os que evoluírem devagar chegarão no mesmo “lugar” e terão as mesmas “recepções” (benefícios)”. Qual é a grande vantagem de evoluir mais rápido? No livro, temos a resposta: “Quem evolui rápido, se poupa de sofrimentos, diminui o que terá que reparar e desfruta, por mais tempo, os benefícios que são próprios da evolução do Espírito. Todos os Espíritos evoluídos são unânimes em informar que existe um profundo deleite em se aproximar de Deus”. A lógica nos mostra que criar um Espírito imaturo, colocá-lo em ambientes negativos e cobrar dele, por toda a eternidade, os resultados desta sua vida, é um ato ilógico e pouco amoroso. O que a Bíblia diz? Ela embasa a ideia do perdão e das múltiplas oportunidades, para a evolução e aprendizado do Espírito? Abaixo, você lerá um texto retirado do livro “O Espiritismo e as Igrejas Reformadas”. Autor: Jayme Andrade. Um dos melhores livros sobre a Bíblia e o Espiritismo. “(...) Deus é amor” (I João, 4:16) e esse amor se reflete na atração universal que interliga todas as coisas, desde os elétrons, em seu giro no interior do átomo, até as galáxias, com

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seus imensos campos gravitacionais, através do espaço infinito... O Pensamento-Criador atua, sem cessar, em todos os quadrantes do Universo e, afinal, como disse o apóstolo Paulo: “Porque nele vivemos e nos movemos e existimos (...)” (Atos 17:28). “Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade.” (I Tim. 2:3-4). Ora, o que Deus quer, fatalmente se realiza, porque a Sua Vontade é suprema; não está sujeita às contingências próprias da vontade humana. Eu posso “querer”, mas de quantas coisas depende a realização da minha vontade! Assim, o meu “querer” não passa de um “desejo”, nem sempre, realizável, porque sujeito às limitações inerentes à minha imperfeição. Mas, a vontade de Deus é causa geradora, porquanto Ele é infinito em todos s seus atributos; do contrário, não seria perfeito. Portanto, é inadmissível a mais leve restrição à Sua soberana vontade; daí, o afirmarmos que tudo o que Ele quer, necessariamente acontece. Se Deus é amor, os Espíritos saídos de Suas mãos onipotentes são fruto desse trabalho de amor. Sendo criados ignorantes e, naturalmente, imperfeitos, a fim de que, através das experiências da vida, possam elevar-se, gradualmente, em conhecimento e virtude, para retornarem, afinal, ao seio do Criador e participarem da Sua glória... No que todos concordamos é que saímos das mãos do nosso Pai Celestial, envoltos na auréola do Seu amor infinito; pois, se “Deus é amor”, tudo o que sai das Suas mãos é produto desse amor... É lícito concluir que esse Ente de afeição e de bondade (Deus) só pode criar as almas, para fazê-las felizes e, para que, um dia, participem da Sua glória; de modo algum, para torná-las desgraçadas, ou para condená-las a sofrimentos eternos. Portanto, não nos parece lógico supor que esse Pai amoroso, sendo onisciente, e, pois, conhecendo, de antemão, o destino das almas por Ele criadas, sabendo que, segundo a ortodoxia cristã, a esmagadora maioria delas será, fatalmente, condenada à perdição eterna; mesmo assim, continue gerando criaturas tão frágeis, tão suscetíveis de sucumbir às tentações; quando Lhe seria mais fácil, uma vez que é onipotente, fazê-las mais perfeitas ou, pelo menos, mais resistentes ao mal. Daí, o não aceitarmos, nós espíritas, a “doutrina das penas eternas”, visto nos parecer incompatível com a suprema bondade e a suprema justiça, qualidades excelsas e essenciais do nosso Criador e Pai.

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Alega-se, em defesa da eternidade das penas, que a gravidade da falta é diretamente proporcional à importância da pessoa ofendida, e que, assim, uma ofensa dirigida a um ser infinito como Deus seria, também, infinita, implicando uma punição igualmente infinita. Mas, esse argumento é especioso, porque, sendo o homem um ser finito, de modo algum, poderia cometer uma ofensa infinita, de sorte que a ofensa não guarda relação com a pessoa do ofendido, mas com a capacidade do ofensor. Nas próprias normas do nosso Direito Penal (arts. 22 a 24], observa-se a “inimputabilidade“ do delinquente por circunstâncias de idade, perturbação de sentidos ou alienação mental. Perguntamos: pode alguém, de bom senso e no pleno domínio das suas faculdades, sentir-se ofendido pelas diatribes que lhe dirija um doente mental? Pode um adulto consciente sentir-se atingido pelas injúrias que lhe dirija uma criança de tenra idade?... E, não é infinitamente maior a desproporção que existe entre o Ser Supremo e a minha insignificante pessoa, do que a existente entre mim e uma criancinha que mal começa a ensaiar seus próprios passos? Então, como posso eu, Espírito imperfeito, assim criado por Ele e que mal engatinha em sua peregrinação pelos caminhos do aperfeiçoamento moral, como posso ofender o Todo Poderoso, ao ponto de merecer uma condenação a penas severas e inextinguíveis, por deslizes resultantes da imperfeição inerente à minha própria natureza humana? Não estaria, aí, a severidade da pena, em brutal desproporção com a gravidade da falta? (Nota do Regis Mesquita – perdoamos e não nos ofendemos se uma criança de 3 anos que nos bate e xinga. A lógica da educação e o ensinamento do perdão nos induzem a este comportamento. Será que Deus, em Sua misericórdia, também, não estaria disposto a perdoar estes seres pequeninos que somos nós?) ... Jesus nos veio ensinar a amar os nossos inimigos, a perdoar, indefinidamente, as ofensas; a ver, no Pai Celestial, um ser compassivo e misericordioso, sempre pronto a acolher um filho que se transvia [ver parábola do Filho Pródigo]. O Deus que a ortodoxia cristã nos impinge é de uma severidade extrema, cominando penas que nenhum tribunal humano subscreveria, e, ainda por cima, irremissíveis, de nada adiantando, após a morte, o arrependimento dos ... condenados. Ora, nós sabemos que a experiência na carne, por prolongada que seja, não passa de um instante fugaz, em face da eternidade. Então, temos de, forçosamente, concluir que a condenação a uma eternidade de sofrimentos por faltas cometidas durante tão breve tempo, não se coaduna com a ideia de um Deus justo, misericordioso e infinitamente bom. E, se Deus perdoa ao culpado que se arrepende de seus erros no curso da vida terrena, por que não poderá fazê-lo, em relação aos que se arrependem depois da morte? De que serviria, então, a “pregação do Evangelho aos mortos”, a que alude o apóstolo Pedro, em sua epístola? (I Pedro 4:6). Pergunta-se: Depois da morte, o ser conserva a sua individualidade ou não? Pode pensar, sentir, raciocinar? Pode arrepender-se de seus erros? Se se arrepende, por que não pode ser perdoado? Que Deus misericordioso é esse, que só perdoa as faltas de seus filhos, durante a vida terrena, que é um átimo, e não perdoa, durante a vida espiritual que dura a eternidade? Se Deus criou os homens para a Sua glória (Isaías 43:7), por que condenará a penas eternas aqueles que o invocarem? (Joel 2:32). Onde estão os fundamentos da ideia de que Deus só atende aos pecadores, durante a vida corpórea? Como entender “a minha

ira não durará eternamente” (Jer. 3:12), se as almas são condenadas pela eternidade? Como pode alguém “amar a Deus sobre todas as coisas” (Deut. 6:5), se entender que esse Deus é um tirano, que condena o pecador a penas eternas e não lhe perdoará após a morte, por mais que se arrependa? Tal Deus não poderia ser amado, mas, apenas, temido (Salmo 89:7). O próprio Jesus foi pregar aos Espíritos em prisão (mortos) (I Pedro 3:19). Por que foi ele pregar, se os mortos não se arrependem? Observe-se que não se trata da expressão “mortos em delitos e pecados”; pois, logo, o versículo seguinte esclarece: “Os quais, noutro tempo, foram desobedientes, quando a longanimidade de Deus esperava, nos dias de Noé”. Portanto, Espíritos que haviam vivido, na Terra, ao tempo de Noé e a quem Deus concedeu nova oportunidade, através da pregação de Jesus. E, se o destino dos mortos é irremissível, por que se batizavam por eles os primitivos cristãos? (I Cor. 15:29). O bem fundamentado texto de Jayme Andrade nos ensina a importância do estudo da Bíblia, pelos espíritas e espiritualistas. Nela, existe muita sabedoria acumulada por milênios e que devem ser aproveitadas, para o estudo e a instrução. A verdade é que Deus não desiste dos espíritos que Ele cria. Deus não maltrata, Deus ensina. Deus apoia, Deus orienta. Quando Deus é duro, é para educar. Deus concede oportunidades e quem aproveita evolui, mais rápido, e enfrenta, com mais sabedoria, os desafios da vida. Sempre, há oportunidades; sempre, há soluções. Em um mundo repleto de amor, também, existe sofrimento. Mas, o sofrimento que é, efetivamente, sentido no interior de cada um, será proporcional à sua evolução (qualidades + sabedoria + maturidade) de cada um. Ou seja, o mesmo desafio causará maior ou menor sofrimento, dependendo da evolução espiritual da pessoa. Quanto mais qualidades, sabedoria e maturidade, menor sofrimento, frente aos mesmos problemas. A mentalização 18 do blog “Caminho Nobre” nos ensina: “Serei o que Deus quer de mim: criarei paz em meio à tempestade, criarei bondade em meio à bonança. Está em mim a solução, somente em mim, em comunhão com Deus. Eu aceito as provas que chegarem, e lutarei para criar a paz em minha mente.” Evolua, melhore, desenvolva, aproveite as oportunidades de exercitar tudo de nobre que há dentro de você. É, assim, que o sofrimento é superado. É, assim, que você se transformará, ao longo de milênios de vida encarnada ou desencarnada. Deus não desiste de ser útil e de auxiliar. Este é o princípio da caridade que Ele pratica e orienta que todos pratiquem. Penas eternas não existem. O inferno não existe. Aliás, o “inferno” só pode ser criado, por você no seu interior, gerando sofrimentos que podem durar anos, décadas, séculos ou milênios. Mesmo, nestes momentos em que você ajuda a gerar seu sofrimento, haverá oportunidades para mudar e se transformar. Deus nos ensina a sermos responsáveis conosco, porque Ele assume a Sua responsabilidade, sempre. Deus nos ensina a praticar a compaixão, bondade e caridade, porque é, assim, que Ele age. A mudança interior (completude e reforma íntima) e a sintonia com o que é nobre rompem com o sofrimento e geram a paz. Referência: Blog “Nascer Várias Vezes” - http://www.nascervariasvezes.com/

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Deus - (I) (“Deus e o Infinito” e “Provas da Existência de Deus”) AZAMOR CIRNE João Pessoa-PB

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data de 18 de abril é de grande significação para nós, espíritas, como neste ano em que se comemorou o 158º Aniversário de “O Livro dos Espíritos”, a obra inicial da Doutrina Espírita lançada pelo seu codificador, Allan Kardec, no ano de 1857, em Paris. A magnitude dessa obra logo se faz notar, desde o primeiro capítulo, com a transcrição do diálogo mantido entre Kardec e os Luminares, mensageiros da Espiritualidade Maior, através de componentes de um grupo mediúnico. Com esse diálogo, surgiu uma das mais importantes e esclarecedoras páginas sobre: “Deus, e o Infinito”, “Provas da existência de Deus” e “Atributos da Divindade”, até hoje conhecidas. A tal ponto foi considerado esse diálogo, chegando a ser publicado, desde a primeira edição de “O Livro dos Espíritos”, iniciando com ele o primeiro capítulo, como até hoje o vemos. Sendo assim, deixamos a sua a apresentação “ipsis litteris”, para o fechamento da primeira parte deste trabalho. Após esta ligeira introdução, por questão de espaço, passamos a breves comentários de alguns fatos, no transcorrer da raça humana que, de algum modo, tem relação com o título apresentado. Aos impulsos dos instintos grosseiros e referentes ao estreito nível do conhecimento, então alcançado pela Humanidade, muito antes de Jesus, e mesmo depois, em que as pessoas, levadas pela ignorância que lhes obscurecia a razão, deixavam-se servir e guiar por “deuses” ignorantes, brutais e guerreiros, tanto ou mais do que eles. Na antiguidade, havia “deuses” atentos às oferendas, com o sacrifício de crianças que, após anos, foram substituídas por animais. Também, “deuses”, para 16 Tribuna Espírita • maio/junho • 2015

os fenômenos da natureza, para os quais nossos antepassados, ainda, não haviam alcançado o conhecimento devido: “deus” da noite, das estrelas, do relâmpago, do trovão, do sol, da plantação, do vinho, da guerra, etc. Nos transtornos e imprevistos a que, sempre, estavam sujeitos, era aos “deuses” que recorriam. Passaram-se os anos, os séculos. Nesse entremeio, os homens levados pelo fanatismo e a exclusão religiosa em nome de Deus, revelaram interesses contrários ao próprio Deus. Assim, foi no passado: “A Noite de São Bartolomeu”, “A Inquisição”, “O Auto de Fé de Barcelona”, etc.,

religiões já estão separadas do Estado. Os Direitos Humanos − a liberdade de expressão, a igualdade racial, a liberdade de religião − já estão assegurados pela Constituição. O novo Papa, Francisco, inspira muita confiança e simpatia. A ONU é a grande esperança de entendimento e de Paz. Sigamos em frente, com muita paz, em Deus, lembrando Jesus: “Meus discípulos, serão conhecidos por muito se amarem” (João: 13: 35). Conforme explicitamos na parte inicial (terceiro parágrafo), fazemos, agora, a transcrição de parte da obra citada, exatamente, a que versa sobre Deus, com as perguntas do Codificador e respectivas respostas dos Imortais. É de se destacar que o texto colocado entre aspas, em seguida às perguntas, é a resposta que os Espíritos deram. Salienta-se, ainda que, nas notas e explicações aditadas pelo autor, empregou-se outro tipo menor. CAPÍTULO I – Deus e o Infinito 1. Que é Deus? “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.” 2. Que se deve entender por infinito? “O que não tem começo nem fim: o desconhecido: tudo o que é desconhecido é infinito.”

verdadeiras “caças às bruxas”, que marcaram as tristes páginas da História. O tempo, em sua infinitude, vem oferecendo à Humanidade o ensejo de evoluir, na marcha do saber e da moral. Ninguém alcançará a plenitude, se não “nascer de novo”. Assim é, por certo, que, hoje, estamos vivendo uma nova época. Embora, ainda, falte muito que fazer. No Brasil, as

3. Poder-se-ia dizer que Deus é o Infinito? “Definição incompleta. Pobreza de linguagem humana, insuficiente, para definir o que está acima da linguagem dos homens.”

Deus é infinito em suas perfeições, mas o infinito é uma abstração. Dizer que Deus é o infinito é tomar o atributo de uma coisa pela coisa mesma, é definir uma coisa que não está conhecida por uma Fotos: Google imagens


outra que não o está mais que a primeira.

− Provas da Existência de Deus 4. Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus? “Num axioma que aplicais às vossas ciências. Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão responderá.” Para crer-se em Deus, basta se lance o olhar sobre as obras da criação. O Universo existe, logo, tem uma causa. Duvidar da existência de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e avançar que o nada pôde fazer alguma coisa.

5. Que dedução se pode tirar do sentimento instintivo, que todos os homens trazem em si, da existência de Deus? “A de que Deus existe; pois, donde lhes viria esses sentimentos, se não tivesse uma base? É ainda uma consequência do principio – não há efeito sem causa”. 6. O sentimento íntimo que temos da existência de Deus não poderia ser fruto da educação, resultado de ideias adquiridas? “Se assim fosse, por que existiria nos

vossos selvagens esse sentimento?”

Se o sentimento da existência de um ser supremo fosse tão-somente produto de um ensino, não seria universal e não existiria senão nos que houvessem podido receber esse ensino, conforme se dá com as noções científicas.

7. Poder-se-ia achar nas propriedades íntimas da matéria a causa primária da formação das coisas? “Mas, então, qual seria a causa dessas propriedades? É indispensável sempre uma causa primária.” Atribuir a formação primária das coisas às propriedades íntimas da matéria seria tomar o efeito pela causa, porquanto essas propriedades são, também elas, um efeito que há de ter uma causa.

8. Que se deve pensar da opinião dos que atribuem a formação primária a uma combinação fortuita da matéria, ou, por outra, ao acaso? “Outro absurdo! Que homem de bom-senso pode considerar o acaso um ser inteligente? E, demais, que é o acaso? Nada.” A harmonia existente no mecanismo do Universo patenteia combinações e desígnios determinados e, por isso mesmo, revela um poder inteligente. Atri-

Painel Espírita

buir a formação primária ao acaso é insensatez, pois que o acaso é cego e não pode produzir os efeitos que a inteligência produz. Um acaso inteligente já não seria um acaso.

9. Em que é que, na causa primária, se revela uma inteligência suprema e superior a todas as inteligências? “Tendes um provérbio que diz: Pela obra se reconhece o autor. Pois bem! Vede a obra e procurai o autor. O orgulho é que gera a incredulidade. O homem orgulhoso nada admite acima de si. Por isso é que ele se denomina a si mesmo de espírito forte. Pobre ser, que um sopro de Deus pode abater!” Do poder de uma inteligência se julga pelas suas obras. Não podendo nenhum ser humano criar o que a Natureza produz, a causa primária é, conseguintemente, uma inteligência superior à Humanidade. Quaisquer que sejam os prodígios que a inteligência humana tenha operado, ela própria tem uma causa e, quanto maior for o que opere, tanto maior há de ser a causa primária. Aquela inteligência superior é que é a causa primária de todas as coisas, seja qual for o nome que lhe deem.

(continua na próxima edição)

ELMANOEL G. BENTO LIMA João Pessoa - PB

Os Pais das Ideias da Seleção Natural No dia 1o de julho de 1858, a teoria da evolução por seleção natural foi apresentada, pela primeira vez, à Sociedade Lineana de Londres, na Inglaterra. A descoberta era assinada por dois naturalistas britânicos: o primeiro, Charles Darwin (1809-1882); o outro, Alfred Russel Wallace, (1823-1913), um biólogo autodidata e explorador, que chegara às mesmas conclusões, pesquisando espécies do sudeste asiático, nas florestas do arquipélago Malaio e, inclusive, no Brasil, onde iniciou sua carreira. Um século e meio depois, a história elegeu Darwin como ícone supremo do pensamento evolutivo das espécies, enquanto Wallace foi relegado ao status de espécie ameaçada, ofuscado pelo brilho daquele que foi seu ídolo científico que, por sua afabilidade, acessibilidade e diplomacia, criou um círculo de amizades sinceras, entre elas a de muitos colaboradores nas suas pesquisas. A divulgação das teorias chamou a atenção dos especialistas, logo de início. Mas, a seleção natural só se tornou um fenômeno cultural e científico, a partir da publicação de “A Origem das Espécies” (1859), onde Darwin resumiu, em 500

páginas, seus vinte anos de pesquisa. Wallace, também, foi reconhecido, como grande cientista de sua época, mas caiu no esquecimento, após seu desencarne, em 1913. Em 1848, partiu, com seu patrício Henry Walter Bates (1825-1892), também naturalista, para a América do Sul, explorando, então, a região do Rio Negro e do alto Orenoco. Sob o título “Darwinismo” (1889), resumiu algumas críticas à teoria de Darwin, e os pontos coincidentes, entre suas próprias concepções e as daquele ilustre naturalista. Bates permaneceu, na região, até 1859 − baseado em várias cidades como Belém, Óbidos, Santarém e outras − realizando seus estudos da flora, fauna, clima, geografia, geologia, etnologia e costumes da Amazônia, além de reunir mais de 14.000 espécies entomológicas; aliás, ele chamava o Amazonas, de “paraíso do naturalista”. Enquanto Wallace, em 1854, seguiu para o Pacífico Ocidental, para os propósitos de seus estudos, cujas anotações foram publicadas, em 1853, sob o título “Relato de Excursões pelo Amazonas e Rio Negro, com uma Descrição das Tribos Nati-

va” (título da edição brasileira, em 1939, conforme a Grande Enciclopédia Delta Larousse). Ele, ainda, publicou: “Palmeiras do Amazonas”, “A Distribuição Geográfica dos Animais”, “Seleção Natural e Natureza Tropical” (1878) e “Natureza Tropical e Outros Ensaios” (1889). Seja como for − Darwin ou Wallace – este, também, é “pai” da teoria da seleção natural, tanto quanto o outro. Eminente naturalista e espírita convicto, Wallace foi, no dizer de Arthur Conan Doyle, em “História do Espiritismo”, cap. VIII, (Ed. Pensamento), um dos poucos cuja mentalidade grandiosa e sem preconceitos, viu e aceitou a verdade, em sua maravilhosa inteireza, desde as humildes provas físicas de uma força exterior, até ao mais alto ensino mental que essa força podia trazer; ensino que ultrapassa, de muito, em beleza e em credibilidade, tudo quanto a mente moderna tem conhecido. Fontes: Textos extraídos, simplificados e adaptados do “Anuário Espírita 2009 – epígrafe “Há 150 anos nascia a Teoria da Seleção Natural” – FEB. “Nova Enciclopédia de Biografias”, Planalto Editorial Ltda; e Grande Enciclopédia Delta Larousse.

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Medicina, Espiritualidade e Religiosidade CARLOS ROBERTO DE SOUZA OLIVEIRA Campina Grande-PB (*)

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o longo da História, os cientistas sempre procuraram explicar a origem da vida e como funciona o corpo humano, sua constituição e preservação. O físico alemão Albert Einstein afirma que “o homem é um conjunto eletrônico regido pela consciência”, sendo que a sua constituição vai muito além do que um aglomerado de cerca de 60 trilhões de células nas diversas especificações. Somos formados de corpo físico, mente e espírito, sendo o equilíbrio entre estes três elementos o responsável pelos estados que catalogamos de saúde e doença. A descoberta do genoma humano, ao contrário do que se pensava, revelou mais perguntas que respostas, principalmente ao evidenciar que, geneticamente, os seres vivos são muito semelhantes. Outro dado importante foi a descoberta de um “genoma versátil”, em que um gene teria a capacidade de originar três ou mais proteínas, não se sabendo, ainda, de onde vem a ordem para estas alternativas. Renomados cientistas, como o Dr. Francis Crick (codescobridor da dupla hélice do DNA) e o Dr. David Chalmers (psicólogo e neurocientista) afirmam que os conhecimentos atuais sobre o cérebro, são insuficientes para explicar a origem da consciência e da individualidade, necessitando de conhecimentos radicalmente novos, como da Física Quântica, que estimulem novas formas de pensamento. Cientificamente, não encontraram explicação, para a origem dos fenômenos subjetivos dor ser humano, como o ato de lembrar-se, produzir ideias, etc. Atualmente, o grande avanço tecno18 Tribuna Espírita • maio/junho • 2015

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-científico, na área de saúde, ajudou o homem a controlar e curar muito dos males que o acometia desde épocas remotas, porém, também transformou a medicina moderna, numa prática “fria” e tecnocrata, distanciando o médico do contato mais íntimo com o seu paciente. O Dr. Harol G. Koening, MD, diretor do “Centro para o Estudo da Religião/Espiritualidade e Saúde”, da Universidade de Duke, Carolina do Norte, conclui, em seus estudos e pesquisas, que pessoas que possuem uma atividade religiosa apresentam resultados positivos, relacionados ao sistema imunológico, sobrevida; adoecem menos e se recuperam mais rápidos; são mais otimistas; esperançosos e felizes, aumentando o bem estar, etc., recomendando que o médico deva, sempre, respeitar, apoiar e incentivar o paciente na sua crença, podendo rezar com eles, o que proporciona uma maior adesão ao tratamento e confiança no profissional. Portanto, profissional de saúde precisa ter ampla formação moral e intelectual sobre a vida. É necessário considerar os aspectos emocionais, culturais e religiosos de cada paciente, valorizando as suas crenças e compreendendo a relação na etiopatogenia de muitas enfermidades, se queremos avaliá-lo numa abordagem integral do ser. A ciência, sem a religião, não consegue explicar todos os fenômenos e a religião, sem a ciência, lhe falta apoio e comprovação.

A grande maioria das nossas doenças encontra suas causas nas raízes profundas da alma, por desequilíbrio ou distonia nos mecanismos sensíveis do corpo espiritual, a refletir-se, na mente, na emoção ou no corpo físico. É necessário que os diversos profissionais da área de saúde ampliem as abordagens em relação ao ser humano, considerando a sua dimensão espiritual e a influência sobre a estrutura orgânica. A medicina do futuro deverá, certamente, considerar a investigação mediúnica e enriquecer a história clínica do paciente, com os elementos contidos na “ficha cármica”, base da “Lei de Causa e Efeito”, determinando novos conceitos e novas condutas. O apóstolo João, na sua epístola universal, escreveu que “Deus é Amor”, estabelecendo uma meta para o homem conhecê-Lo. Quando Jesus pronunciou esta palavra, todos os povos estremeceram, diante da força moral que possuía e da esperança que nascia em cada ser, consignando, na vivência desse sentimento sublime o roteiro seguro, para a conquista da felicidade duradoura e da paz da consciência.. A Medicina é, acima de tudo, a “Arte de Amar”, pois o contato permanente do médico com as inúmeras enfermidades do ser humano, quer sejam no corpo, na mente ou na emoção, transformam-no, na maioria das vezes, após a confiança em Deus,


na última esperança de cura ou alívio de seus sofrimentos. Não é por acaso que o “Código de Ética Médica” tem, como princípios fundamentais mais importantes, que “o alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir, com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional” e que “o médico deve guardar absoluto respeito pela vida humana...”, estabelecendo diretrizes humanitárias fundamentadas, na dedicação e no respeito pela vida e pela dignidade humana. É, na relação médico-paciente, onde o médico tem a oportunidade sublime de exercitar um dos mais belos e grandiosos ensinamentos que a Humanidade já recebeu, quando Jesus, médico de corpos e de almas, recomendou-nos o “amor ao próximo”, como o caminho seguro e direto, para a realização do reino

divino em nós mesmos. Pois, nas atividades profissionais do médico, o próximo mais próximo é o seu paciente; ou seja, um ser humano cheio de necessidades e angústias, carente de atenção e carinho, merecedor de toda a nossa benevolência e respeito, mesmo que seja, pela simples condição de ser humano e integrante de uma família universal, cujo único Pai é Deus. Albert Schweitzer, médico e filósofo alemão, escreveu que “a Medicina não é, apenas, uma ciência, mas, também, a arte de deixar nossa individualidade interagir com a individualidade do paciente”, mostrando a necessidade de uma maior aproximação profissional, onde o médico atue, também, como amigo, conselheiro e, às vezes, sacerdote, a fim de que a relação de confiança e coragem se fortaleça, determinando maiores e me-

lhores possibilidades de cura e recuperação pelo paciente. A medicina espiritualizada propõe, não, que desprezemos as conquistas logradas através da ciência e dos enormes sacrifícios da Humanidade; e sim, que restabeleçamos o humanismo que se está perdendo, a cada instante, acrescentando em nossas abordagens diagnósticas e terapêuticas, as lições que o Médico Sublime nos deixou, como trabalho, honestidade, sinceridade, compreensão, tolerância, respeito, amor, bondade e dedicação à verdade e ao bem, a fim de sermos, na saúde, “apóstolos da Providência Divina”. Carlos Roberto de Souza Oliveira - CRM 3914 – Médico Anestesiologista, Pós-graduação em Medicina do Trabalho e Acupunta. Presidente da Sociedade Paraibana de Anestesiologia Presidente da Associação de Medicina e Espiritualidade de Campina Grande

A maior virtude CARLOS ROMERO

Campina Grande-PB (*)

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, talvez, a mais difícil virtude de se exercer. Dir-se-ia a rainha das virtudes. Refiro-me à humildade. E existem muitos que a exerceram, com bastante dignidade. Digo, ainda, que é a mais difícil de todas. Tem muita gente que a confunde com sujeição, fraqueza, submissão. Acha que o humilde é um pobre diabo. Pilatos não foi humilde, mas, muito orgulhoso e o orgulho é o contrário da humildade. Mas, quem foi que deu a maior lição de humildade da História? Jesus, é claro. Achou de escolher uma manjedoura, para nascer, ao lado de animais. No entanto, essa manjedoura foi iluminada por uma estrela, o que jamais ocorreria, nos palácios dos reis. Tivemos outros exemplos admiráveis de humildade: Gandhi foi um deles. Convidado, certa vez, para visitar o Vaticano, ele se fez acompanhar de sua cabra, a cabra cujo leite o alimentava. Foi barrado na entrada, é claro. É muito fácil ser orgulhoso, fácil ser prepotente, fácil ser invejoso, é fácil ser vaidoso. Difícil, mesmo, é ser humilde. No entanto, o que seria do mundo sem os humildes? E eu estou me lembrando, agora mesmo, das raízes, que não aparecem, que não são bonitas, que ninguém as leva para enfeitar uma mesa. Quem já viu alguém oferecer um buquê de raízes à pessoa amada? Mas, que seriam das flores, das frutas, das árvores, sem as raízes? E lembrar que há muitas raízes

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que são alimentos, como as batatas, macaxeira, inhame e outras que são medicamentosas. Humildade é isso. Isso que as raízes estão ensinando. Eu, ainda, não vi um poema exaltando as raízes. Elas não aparecem. Vivem escondidas na terra, trabalhando, silenciosamente, para sustentar e alimentar as árvores. Pois bem, exatamente, é humildade o que fazem as raízes, pois não exaltam a significativa função que desempenham. O genial Einstein costumava dizer que a pessoa mais importante de sua vida e a quem devia a própria saúde, era a sua cozinheira. Ah, as pessoas que nos servem e de quem tanto dependemos!... No nosso corpo, são os pés que nos transportam e são as peças mais humildes. Jesus lavou os pés de seus discípulos, causando-lhes estranheza, como exemplo de humildade... Bem disse o iluminado Emmanuel: “Humilde é o sol, quando beija o pântano, indiferente ao insulto da lama” − que maravilha. E, aqui para nós, não há nada mais ridículo do que uma atitude vaidosa, irada. Outrora, era costume, o ouvir de um vaidoso, com o anel no dedo, dizer para uma pessoa humilde: “O senhor sabe com quem está falando?” Quer saber, como sabemos, que uma pessoa é humilde?: Veja como trata os seus empregados, os seus subordinados. E concluo a crônica com este conselho. Diante de um lindo jardim, lembre-se de que ele dependeu das humildes e esquecidas raízes, que não aparecem; mas, sem elas, nenhuma vegetação existiria... maio/junho • Tribuna Espírita • 2015 19


Moral – Ética – Liberdade FLÁVIO MENDONÇA Recife-PE

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“Tudo me é permitido”, mas nem tudo me convém”. (1 Coríntios 6:12)

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ual o significado e a relação existente entre essas três palavras? Todas elas vêm sendo tema de exposições de diversos filósofos, desde eras remotas. Não vamos entrar nesse mérito, para que a temática se torne mais leve e menos arenosa. Seria presunção confrontar ideias tão profundas com esses iminentes pensadores. Vamos, portanto, aborda-la, apenas, na tentativa de entender a correlação existente entre elas. Definimos, assim, a Moral, como tendo sua origem nos processos evolutivos da criatura humana. Nas diversas experiências reencarnatórias, na hipótese espiritista, vem o ser desenvolvendo padrões que são resultados de suas vivências. Essas experiências, que se perdem no tempo, imprimem ao Espírito imortal, através de três instâncias (corpo, perispírito e espírito), uma espécie de padrão moral, ou seja, o que lhe foi, mais ou menos, conveniente em toda sua trajetória. O corpo sofre a primeira impressão, através da sensibilidade nervosa, e transfere à segunda instância que é o perispírito que, por sua vez, transmite em definitivo ao Espírito. Para efeito de ilustração, traremos um exemplo comum: uma pessoa sofre uma queimadura e sente dor. Neste processo, a dor imprime à criatura uma sensação desagradável, a qual ela registra na sua intimidade. Pela necessidade de alívio, ela desenvolve um bálsamo ou um remédio reparador, para tal inconveniente. Isso constituiu, para ela, uma sensação prazerosa. Assim, nessas infinitas experiências ela vai desenvolvendo o seu padrão de certo e errado, de bom e mal, de belo e feio, de agradável ou não, etc. Uns diriam então: “isso constitui o instinto”. É certa a afirmação, porém, no Espírito, o que antes era, apenas, instinto torna-se, nessa perspectiva, o padrão moral que cada ser desenvolve, para sua 20 Tribuna Espírita • maio/junho • 2015

jornada imortalista (Onde está escrita a lei de Deus? – R. Na consciência, LE – Q.621). Portanto, além da fase meramente instintiva, possui toda criatura, agora designada humana, seu padrão de moralidade. Isso constitui, para o Espírito, seu real patrimônio, o qual Jesus já dizia, em metáfora, “(...) que o ladrão não rouba, nem as traças comem e nem a ferrugem consome” (Mateus 6:20). Já, no campo da Ética, teríamos, como definição, a capacidade que a criatura humana tem de fazer suas escolhas, em função do meio social em que está inserida. A Ética, num entendimento mais amplo, seria o padrão que promove o bem estar de um grupo, comunidade ou sociedade, onde seus membros precisam usar, para conviver com harmonia. E essas escolhas estão, intrinsecamente, associadas à moralidade da criatura. Recorramos, novamente, a um exemplo para ilustrar a ideia: Uma pessoa ou um grupo de pessoas, com um baixo padrão moral em relação as demais, sabe o código ético definido; no entanto, infringe as regras para impor a si os desejos imorais que carrega na intimidade. Isso

acontece, porque o padrão moral delas, ainda, não lhes permite ter consciência da necessidade de seguir as regras. De outra forma, o ser, tendo sua moral acima da média do grupo, também não se permite agir, em desacordo com ela, sem que lhe traga graves conflitos íntimos. Portanto, a necessidade de convivência em grupo é o fator que desenvolve a Ética. Esta pode ser seguida ou não, dependendo do estado moral do Espírito. Pode ser uma ética mais elevada, quando o grupo corresponde a esse mesmo nível de moralidade. Pode ser inferior, se, assim também, seus componentes tiverem essa base moral. Vale ressaltar que a Ética é uma necessidade psíquica e que é utilizada na condição de encarnado ou não. Podemos, portanto, concluir que ela é um padrão real, necessário à psicologia humana e que atende a uma demanda existencial. E que relação tem a Moral e a Ética com a Liberdade? Ora, raciocinemos. Pode a pessoa agir ou mostrar-se inteiramente autênti-


ca, sem a Liberdade? Sem ela, há de se mostrar hipócrita, criando máscaras sociais para ser aceito ou para poder atuar. Será, certamente, prisioneiro das suas paixões e da sua ignorância, por buscar, sempre, compensações pueris. Deus, na Sua infinita sabedoria e justiça deixou a criatura livre, para desenvolver-se na medida da sua evolução, dos seus próprios esforços (a cada um, conforme suas obras), de forma que sua responsabilidade moral é proporcional ao seu grau de conhecimento e de consciência. Temos, aí, o livre-arbítrio, regulado pela lucidez ou ignorância. Não há, portanto, escolhas livres, sem conhecimento dos seus efeitos. Por excelência, a Doutrina Espírita promove a criatura humana, por lhe permitir compreensão das leis que regem a vida. Não trava a consciência com dogmas restritivos, mas, sim, elucida a agir, conforme suas responsabilidades. Não usa o freio do medo e nem impõe obrigações inapropriadas. Antes, expõe possibilidades, traz luz ao caminho do cego, ilumina a consciência, através do esclarecimento. Por fim, convida-o à responsabilidade e à maturidade. Tem seus pilares, na liberdade, no conhecimento espiritual e no mérito das lutas íntimas. Anda, lado a lado, com a Ciência, e não se dobra a caprichos das mentes infantis. Promove a verdade, através da investigação sadia, estimulando o uso da razão, em detrimento de imposições dogmáticas que só aprisionam o Espírito. Portanto, temos, na Doutrina Espírita, elementos para melhoramento, nos três aspectos: 1- suporte para o aperfeiçoamento moral, na medida que instrui, mostrando o melhor roteiro. 2- Eleva a Ética, como consequência dessa conscientização moral e 3- liberta a consciência, quando elucida sobre as leis naturais. Amigos e espíritas, conscientes disso, precisamos caminhar, para alcançar maiores patamares de evolução moral, de forma a usar um padrão ético que nos traga benefícios e não conflitos perturbadores. Contudo, não podemos prescindir da liberdade de pensamento. É claro, que já a temos, na medida do progresso espiritual e do nosso livre-arbítrio; mas, às vezes, nos permitimos influenciar e embaçar nossos pensamentos e, até, nossos ideais, levados por paixões e pelo desconhecimento das leis espirituais que definem a vida imortal. Lembremos, entretanto, que as escolhas de hoje repercutem em todos nós, e como Espíritos responsáveis, devemos buscar mais lucidez, através dos ensinamentos iluminativos que Jesus nos deixou nos seus Evangelhos. Tenhamos, doravante, de forma convicta e determinada, esse roteiro de luz, a nos orientar as decisões. Que o Mestre Galileu nos abençoe a todos!

Minha Casa Própria E

ntrei na fila da casa própria... Eram milhares e milhares de candidatos... Os que estavam à minha frente receberam, do governo central, habitações maravilhosas, uns; razoáveis, outros; taperas, muitos. Encaminhara o meu pedido e aguardava, ansiosa, a minha vez. Sonhava com um palacete, mas temia possuí-lo, com receio de não conseguir devolvê-lo em condições ideais, ao Grande Construtor. Chamaram-me pelo nome. Chegara a minha vez! Levantei-me e corri, feliz, para pegar a chave... Tomei um choque. Aquilo que eu estava vendo não era, propriamente, uma casa, nem, mesmo, podia ser considerado um barraco... Era, mais, um esqueleto de varas entrelaçadas à espera do barro úmido, para encher-lhe as entranhas. A minha habitação, se eu trabalhasse pesado, amassasse o barro com os pés e o aplicasse com as mãos, seria, depois de longo e penoso tempo, uma casa de taipa... Abri a porta grosseira, sentei-me no chão e chorei, amargamente... Quis protestar, mas lembrei-me que, para vencer o orgulho e o amargor que carregava comigo, somente a prova da pobreza dobraria o meu Espírito arrogante. Pouco a pouco, auxiliada pelos meus pais, finalmente, tornamo-la habitável. Mesmo pronta, a minha casa própria trazia alguns pontos fracos: o telhado de zinco esquentava, demais, quando fazia sol; e gotejava, bastante, quando chovia... As portas e janelas, por não estarem bem ajustadas, permitiam o ingresso da brisa gélida da madrugada, provocando, em mim, pesadas crises asmáticas... O fogão à lenha deixava as minhas unhas tisnadas e a pele do rosto ressequida... À noite, costumava saborear peixe fresco, quando o meu pai conseguia pescar... E, pela manhã, o cuscuz molhado que minha mãe fazia... Cresci e conheci o Espiritismo. Com a Doutrina Espírita, compreendi que voltar à vida material, para habitar uma mansão com vista para o mar, era, muito mais, um presente de grego... Porque, eu fui percebendo que, os mais afortunados no mundo eram os mais carentes de valores da alma. Ou seja, ter muito significava, na maioria

das vezes, não possuir nada. A literatura espírita é farta de exemplos dos que reencarnam na abastança, desencarnam em meio à opulência e, depois da morte, se veem despojados de seus bens... A “Parábola de Lázaro” (Lucas 16:19) retrata, muito bem, o que estou dizendo: A “casa” que o mendigo recebeu do “Governador da Vida” foi um corpo chagado, exposto às mais diversas intempéries e às carícias das línguas dos cães... Já, no “palácio” onde o rico passou a habitar, não experimentou qualquer tipo de enfermidade, dor ou preocupação... Salvo o inconveniente das bajulações e as surpresas do Além... Cada qual recebe a “casa” que merece. A minha não tinha conforto, mas eu tinha paz. Era pequena, mas os meus ideais eram extraordinários. Podia, até, não ser bela, porque eu era, também, pobre, mas trazia uma beleza interior incomparável. A minha morada, apesar de apertada, humilde e aparentemente frágil, manteve-se incólume, por décadas, suportando as investidas das enfermidades e provações que, para muitos, seriam insuportáveis. No final da estada, em minha última casa, recebi a visita da “Defesa Civil”, especialmente enviada por Jesus, para realizar rigorosa avaliação estrutural, sendo informada que precisava abandoná-la, o mais rápido possível, porque não tardaria a desabar, desestruturando-se. Uma vez do lado de fora, observei quando os técnicos da espiritualidade bastaram tocar nas paredes, para que ruísse por completo a construção... Ainda, no lado de fora, despedi-me de minha casa, agradecendo a ela tudo o que me ensinou, de fortaleza, resignação, humildade, amor, fé... Dos meus olhos vermelhos, grossas lágrimas rolaram, de gratidão e euforia íntima, principalmente, porque fiquei sabendo, pelos amigos do Mundo Maior, que, à semelhança do mendigo da parábola, eu iria residir em regiões protegidas pelo Pai Abraão. Nazaré (*) (*) Nazaré Lima de Brito. (Mensagem mediúnica recebida por Zaneles, em 19.05.15, na Associação Espírita Leopoldo Machado, em Campina Grande-PB). Nota da Redação: A autora da mensagem, em sua última encarnação, foi genitora do irmão Zaneles.

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Fechando os Olhos MARCOS PATERRA1 João Pessoa-PB

É

comum, hoje, vermos nas ruas meninas, com pouco mais de oito anos, vestindo-se como adultas, com uso de maquiagem, e, por vezes, incentivadas pelos pais a dançarem igual às dançarinas de grupos musicais; outras, com pouco mais de doze anos, já vão a bailes e curtem as danças, com o sexo oposto. Os programas de TV., novelas e filmes ensinam o tal de “ficar com”, e outras coisas mais. Por vezes, cruzamos com uma menina, na rua, com trajes sumários, e alguém diz: − Essa sabe mais coisa que muita mulher adulta. Sabe? Quem ensinou? E pior... Por quê? Pois é... Estamos fechando nossos olhos. Parara entendermos, melhor, é necessário retrocedermos, para antes do século XVII, onde as crianças eram tratadas como adultos em miniaturas; aqui, no Brasil, não foi diferente; aproximadamente, no ano de 1530, quando as terras da recém “descoberta” “Terra de Santa Cruz” começaram a ser povoadas. Nos navios portugueses, lotados de homens, com pouquíssimas mulheres, vinham, também, crianças, na condição de passageiros, grumetes (encarregados dos serviços gerais do navio), pajens (fazia um trabalho mais leve, servir a mesa dos oficiais, arrumar camas, catres), ou órfãs do Rei (meninas pobres dos orfanatos, para se casar com os colonizadores portugueses). Nessas viagens, as crianças eram as que mais sofriam; eram abusadas sexualmente, tinham dias inteiros de trabalhos pesados e perigosos; quando os navios sofriam ataques de piratas, eram, com frequência, assassinadas ou escravizadas, sendo prostituídas e exauridas, até desfalecerem; pode-se dizer que as crianças não eram valorizadas, principalmente na Idade Média, onde, na Europa, muitas eram entregues, para participar de orgias. Nessa época, as crianças vestiam-se como adultos, frequentavam festas, e tinham vida sexual ativa. Depois do século XVII, muitas coisas ocorreram; os adultos desco-

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briram que as crianças, ainda, não tinham noção do que estavam fazendo. Jean Jacques Rousseau2 nos mostra, como a criança é, facilmente, influenciada, com a frase: “A criança tem um modo singular de entender e de ver o mundo”3, e é devido a esse “modo singular” que devemos ter maior cuidado com o que nossos filhos veem ou escutam. “A natureza quer que as crianças sejam crianças antes de serem homens. Se quisermos perturbar essa ordem, produziremos frutos prematuros que não terão nem madureza nem sabor, e não tardarão a se corromper; teremos doutores infantis e crianças velhas. A infância tem maneiras de ver, de pensar, de sentir, que lhe são próprias.” (ROUSSEAU. P.74. 2004).4 Sugiram pesquisadores sérios, como Piaget, Vygotsky, que abriram os olhos ao mundo, e mostraram, como funciona e quais as fases da criança/adolescentes. Freud, inclusive, estudou as “Fases Psicossexuais”, onde, realmente, de sexual, só tinham o prazer e os órgãos... Mas, não a “imaginação” das crianças. As mães aprenderam a cultivar o “instinto materno”; o amor, entre pais e filhos, começou a se aflorar, com mais intensidade. Mas... E hoje? Como tratamos nossas crianças? Será que progredimos, realmente? Hoje, vemos, com naturalidade, crianças com pouco mais de quatro anos, batendo fotos ou usando os telefones celulares de seus pais; jogam no computador, e etc. Essas crianças fazem parte da chamada “Geração Z”, ou adeptos da “cultura virtual”, onde lidam com computadores de ultima geração; telefones com câmera e TV.; pen drive, de enorme capacidade de armazenamento; jogos eletrônicos de conexão à TV e etc.; vivem, numa época, em que a tecnologia está em um estagio fascinante; onde, a cada minuto, se tem novos avanços.

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A cultura digital tem crescido, de forma desenfreada, nos últimos 40 anos, e acaba causando alguns problemas, para as gerações que dela surgem. Não pensem que a cultura virtual é, só, ligada a computadores; a televisão, por exemplo, tem sua participação; alguns estudos mostram que a criança se relaciona com a TV, como se relaciona com os demais em sua casa. A exemplo, podemos citar: influência de marketing e consumismo, erotização precoce, inversão de valores e falsa igualdade social. Bill Gates,5 sabiamente, disse:“Meus filhos terão computadores, sim, mas antes, terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história.” Seria hipocrisia negar os benefícios que as novas tecnologias nos trazem, onde novos aparelhos de diagnostico ajudam a salvar vidas; novas formas de aprendizagem ajudam a encontrar soluções, para problemas antes não resolvidos; a rede mundial de computadores “internet”, hoje, ajuda a enviar e receber informações, com muito maior rapidez e precisão. Portanto, tomando os devidos cuidados com as influencias negativas, nossos filhos tornam-se adequados a essa nova geração, passam a lidar com diversas situações, com muito mais agilidade e compreensão E o problema, talvez, esteja ai... “o cuidado com as novas informações”; temos sido displicentes? Tornamo-nos liberais, demais? O uso indisciplinado, e sem a devida orientação, dessas novas tecnologias, ocasionam muitos problemas nas crianças. Um dos principais é a aprendizagem nas escolas; os jovens e adultos, após o inicio da era digital, passam a ter rapidez de pensamento e incapacidade para a linearidade; dessa forma, pode facilitar muito em determinadas áreas; porém, em outras que exigem mais seriedade e concentração, podem sofrer algumas dificuldades. Para eles, a informática e tecnologias da internet é o lugar comum. Todas as suas comunicações têm lugar na internet e elas revelam muito pouca comunicação verbal e habilidades, levando-os a fazer o mesmo, em seu convívio familiar/social. A família, com cada membro fechado em seu mundo, sem se relacionarem, com ausência de dialogo, levando-as ao isolamento. Na escola, perde-se o prazer de aprender; a mídia ganhou espaço, sugere e convence; a internet transporta. Esse bombardeio de estímulos produz muitos pensamentos; devido a muitas informações, o cérebro, dentro da sua plasticidade, se adapta a esse ritmo acelerado de pensamentos e informações, tornandonos “dependentes” de tais estímulos, para nos sentirmos, momentaneamente, satisfeitos; ou seja, quando estamos assistindo à uma partida de futebol, ou àquela novela, ou aos milhares de vídeos do “youtube”, ou, ainda, grudados nos sites de relacionamentos. Com o tempo crianças e adolescentes

perdem o prazer, nos pequenos estímulos; crianças nessa situação, segundo o psiquiatra Augusto Cury6, sofrem de “Síndrome do Pensamento Acelerado” (SPA). “Quem tem SPA não consegue gerenciar os pensamentos, plenamente; não consegue tranquilizar sua mente. O maior vilão da qualidade de vida do homem moderno não é seu trabalho, nem a competição, a carga horária excessiva ou as pressões sociais, mas, o excesso de pensamentos. A SPA compromete a saúde psíquica de três formas: ruminando o passado e desenvolvendo sentimento de culpa, produzindo preocupações sobre problemas existenciais e sofrendo por antecipação.”(CURY, p12)7 O Dr. Içami Tiba8, ao ser questionado sobre a influência da internet na educação e formação do adolescente, afirma que: “Acredito que internet é um grande ganho social e educacional, desde que se selecione a informação que se quer obter. Não importa a quantidade de informação, mas sim, como se faz uso delas. Hoje em dia, vale muito mais alguém que saiba aplicar, bem,

te-se em libertinagem. Não há mais freios, nem divinos nem humanos, que possam conter a fúria dos impulsos desencadeados. Os faunos recalcados do puritanismo vitoriano esfregam as mãos e arregalam os olhos concupiscentes, ante o alvorecer da irresponsabilidade. É, nesse momento, que o conceito espírita de família se impõe, como única solução para os problemas atuais.” ( PIRES 1979)10 Sob esse prisma e num olhar espírita, destacamos que somos reencarnantes, vivemos dentre os selvagens da pré-história, onde não havia afeto familiar; fomos pertencentes às massas que ignoravam a infância e tratavam as crianças como adultos. É importante enfocar que o Espiritismo é uma doutrina aberta aos avanços científicos; portanto, as transformações sociais, as mudanças no panorama dos conhecimentos gerais do homem são importantíssimas. Vamos abrir nossos olhos e cuidar, melhor, de nossas crianças, adequando os novos paradigmas culturais, sob a batuta da Doutrina Espírita.

conhecimentos específicos, do que alguém, com uma vasta quantidade de diplomas. Atualmente, valoriza-se a aplicabilidade da informação. No começo de contato com a internet, é aquele turbilhão de informação. Com o tempo, as pessoas vão saber selecionar o que querem e porque querem. O que apavora os pais é, quando eles não têm conhecimentos sobre isso. A internet passa a ser vista como um bicho de sete cabeças – e simboliza perda do poder e do controle dos pais sobre os filhos.[...]”9 Sobre esse aspecto, Herculano Pires nos brinda com o seguinte esclarecimento: “Na Era Tecnológica em que nos encontramos, a subversão das estruturas antigas chega ao extremo. Profetas alucinados pregam a destruição pura e simples da família e a volta do homem a uma liberdade primitiva que nunca existiu. Os freios de aço da moral burguesa não podem, mais, conter o ímpeto da carne, dessa frágil carne humana mais forte que a pedra e o aço. Rompem-se os tabus sexuais e a liberdade, essa deusa de barrete frígio dos ideólogos franceses, rever-

1 Psicopedagogo, articulista e membro da AME/PB 2 Jean Jacques Rousseau (1712-1778) - filósofo, escritor, teórico político e um compositor musical autodidata. 3 ROUSSEAU, Jean Jacques. Emilio ou da Educação. Rio de Janeiro: Ed. Bertrand Brasil S.A. 1992. . Disponível em: http://educar.no.sapo.pt/teorias.htm Acesso em: 10/03/2014. 4 ROUSSEAU, Jean Jacques. Ensaios Pedagógicos. Bragança Paulista - SP: Editora Comenius, 2004. 5 William Henry Gates III – Sócio fundador da Microsoft 6 Augusto Jorge Cury: médico, psiquiatra, psicoterapeuta e escritor de literatura psiquiátrica, pesquisador na área de qualidade de vida e desenvolvimento da inteligência, Cury teria desenvolvido a teoria da Inteligência Multifocal, sobre o funcionamento da mente humana no processo de construção do pensamento e na formação de pensadores. 7 CURY. Augusto Jorge. Pais brilhantes, professores fascinantes. P.12. Rio de Janeiro. Ed. Sextante. 2003 8 Içami Tiba é psiquiatra, psicodramatista, conferencista e psicoterapeuta de jovens e famílias. 9 Entrevista: Içami Tiba efetuada e transcrita por T.V. Educacional sobre trabalhar relações humanas em sala de aula - : http://www.educacional.net/entrevistas/entrevista0006.asp em 01/06/2013. 10 PIRES, J. Herculano. “Curso Dinâmico de Espiritismo, O Grande Desconhecido”. Conteúdo Cap. 6- Relações Familiais no Espiritismo. São Paulo, Ed. Paidéia, 1979. maio/junho • Tribuna Espírita • 2015 23


Reflexões de um Espírita Médico - II GUILHERME TRAVASSOS SARINHO Google imagens

João Pessoa-PB

“Ninguém pode voltar atrás e fazer um novo começo. Mas, qualquer um pode recomeçar e fazer um novo fim”. – Chico Xavier

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consumo de drogas é um modismo ruim dos tempos atuais. Se vocês, pais ou responsáveis, descobrirem que o seu filho, filha ou tutelado está usando qualquer tipo de droga, não se precipitem. Não reajam, impensadamente. Antes, parem e pensem, no modo certo de agir. O tempo não é de reagir e, sim, de agir. O choque inicial, com a descoberta, tende a provocar revolta, raiva, tristeza e mágoa. Vem, de imediato, a pergunta: o que fizemos de errado? Não se precipitem. O momento é de agir, com calma, com equilíbrio emocional, a fim de não piorar a ocasião. Nenhum lar, por mais estruturado que seja, está isento desse flagelo da humanidade contemporânea. Se, após a terrível descoberta, vocês não tiverem condições psicológicas de um diálogo, deixem o tempo passar e procurem o ambiente adequado e a hora certa. Se necessário, peçam ajuda a quem tem experiência. E, quando forem conversar, mantenham, sempre, a calma, o equilíbrio, e o façam, em tom coloquial e carinhoso. Não agridam seu rebento e nem lhe joguem na cara o que fizeram por ele. Não o desprezem, nem o expulsem ou ridicularizem. O uso de droga não o faz deixar de ser seu filho ou sua filha. Às mais das vezes, ele se encontra perdido, desorientado, sem saber o que fazer ou a quem recorrer, com medo de lhes contar. Conversem com ele, olhos nos olhos, mas, com calma, amor e carinho. Deixem-no entender que vocês são pais e amigos. Digam-lhes que a dependência de qualquer droga é uma doença de tratamento médico e que ele, com ajuda adequada, pode vencê-la, pode curar-se e que vocês vão estar em todos os momentos ao lado dele. Busquem ajuda especializada. Não transfiram a responsabilidade do erro dele, para outrem e não permitam que ele seja estigmatizado por ninguém da família. Todos têm direito de se equivocar na vida e de se recuperar. Nós não somos perfeitos. Ele não é o primeiro e nem será o último a atravessar a porta do infortúnio das drogas, na ilusão fantasiosa dos adolescentes, em busca da felicidade mentirosa. Transmitam-lhe segurança. Mostrem-lhe que vocês vão estar, continuamente ao lado dele, na recuperação dessa enfermidade. Usem, sempre, a terapia do amor. Não se esqueçam: ele é seu filho, uma dádiva que Deus lhes deu, para cuidar e a quem, um dia, vocês prestarão contas. O maior tesouro do mundo é o conhecimento. Com ele, muda-se o mundo e a humanidade. É um tesouro que, quanto mais se reparte e se divide, mais cresce e se multiplica. O mundo está cheio deles, nobres ensinamentos, guardados nos compêndios, livros e revistas. Procure ler, estudar, pesquisar, aprender, sempre. O conhecimento que se adquire, transforma-se em iluminação interior. Serve, para nós e para os outros. É útil, para todos em todos os recantos. Aprendam a repartir os seus conhecimentos adquiridos, com outras pessoas. Eles são os 24 Tribuna Espírita • maio/junho • 2015

verdadeiros tesoiros da alma, que a gente leva, quando vai para o plano espiritual e traz, de volta, no ciclo das reencarnações. O conhecimento que se tem e não se divide com ninguém, é como um livro guardado na estante. Não tem nenhuma utilidade. O que vocês pensam, insistentemente, se realizará. O que fala, constantemente, acontecerá. Pensamentos são energias quânticas, produzidas no dínamo espiritual. Pensamento atrai pensamento afim. Nesse caso, os iguais se sintonizam, se atraem. Os iguais só se repelem na Física clássica, mas, na Física Quântica, no núcleo dos átomos, ocorre o inverso, se atraem. Pensamentos, de baixo padrão vibratório, produzem desequilíbrio quântico, nos átomos das células, gerando doenças, no corpo físico; distúrbios, no corpo mental e obsessões, no espiritual. Para seu próprio bem, façam uma faxina nos seus pensamentos. Tenham pensamentos sadios e equilibrados. Mudem de estação, mudem de emissora e sintonizem o Alto. Pautem, sempre, em dizer a verdade, mas, nunca, se esqueçam de que há verdades que pesam, em sua maneira de dizer. Há vários modos de se dizer uma verdade, sem que ela deixe de ser verdade. E há, também, momentos certos. Cada pessoa é uma individualidade espiritual e, por isso, elas são tão diferentes e reagem, de modos tão distintos, às informações. Por esse prisma, nem toda pessoa tem a mesma reação psicológica, diante de uma verdade, especialmente as que se apegam às ilusões, as que acreditam em tudo que se diz. Às vezes, para quem vive na penumbra, se torna doloroso abrir os olhos, de repente, para a luz. Lanha os olhos, se a luz for intensa e brilhante. Há pessoas que vivem, tanto tempo, na ilusão, que a desilusão lhes consterna. Assim, sejam sábios, na hora de dizer a verdade, pois, para muitos, ela magoa e dói. A gente colhe o que planta. Não chafurdem, na lama da intolerância, da ignorância, do absolutismo, dos preconceitos, da maldade. Quem assim procede, afunda-se, cada vez mais, no charco da podridão moral. Mudem o seu rumo, enquanto há tempo, enquanto podem, e saiam do charco imundo, para a luz da espiritualidade maior. A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória. Percalços e transtornos da vida todos têm; procurem, com determinação e equilíbrio, ultrapassa-los. Senão, ao menos, contorna-los com sabedoria, e sigam adiante, para uma nova etapa, na jornada terrena. Não deixem que lhes atrapalhem a jornada, que vocês seguem, através dos caminhos da evolução pessoal e espiritual. Sigam, caminhando com decisão e firmeza; à sua frente, há, sempre, uma luz a iluminar suas trajetórias evolutivas. Nota da Redação: O autor é Médico, Mestre Maçom e Membro do Centro Espírita “Leopoldo Cirne” – João Pessoa-PB.


O Mundo Espiritual GERMANO ROMERO João Pessoa-PB

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izem os Espíritos, que se comunicam com o mundo terreno, através de médiuns de irrefutável caráter, que atuam nos cinco continentes de nosso planeta, que os cenários e paisagens desfrutados pelos desencarnados são os mais variados possíveis. Esses lugares do mundo espiritual não são constituídos de matéria, aquela matéria que os cinco sentidos do corpo encarnado são capazes de sentir. São cenários produzidos pela mentalização individual – quando a experiência é pessoal – ou coletiva − quando é concebida por um grupo de Espíritos. São as chamadas comunidades ou cidades espirituais, muito bem descritas, pela psicografia de Chico Xavier, nas obras de autoria do Espírito André Luiz. É sabido que esses assuntos espíritas ainda são rejeitados por muita gente, mesmo diante das evidências que galopam, progressivamente, para sua autenticidade; sejam, em experiências médicas, mediúnicas ou científicas. A própria Física Quântica, quanto mais se aprofunda nas pesquisas sobre a matéria e suas condições nos campos magnéticos e gravitacionais, conclui que o mundo material, como imaginamos, ou seja, distinto daquele que não vemos, nem apalpamos, não existe. Tudo é energia. Em diversas formas, mais ou menos densas, que materializam corpos, substâncias, objetos; e outras mais sutis, como a energia elétrica, térmica, solar, magnética, química e o pensamento, uma força incalculavelmente poderosa. Em muitas das transformações da matéria, são claras as sutilezas de suas formas. Vejamos a transmutação biológica. Um boi pode comer, somente, capim, e essa clorofila se transformar em muita carne, não é fantástico? E o pinto, que começa numa gema e, durante a chocagem, apenas através do calor,

vai se transmutando em um novo ser, geneticamente perfeito? O mais incrível é que essas transformações podem ser produzidas pela força do pensamento, frequentemente utilizada pelos sábios do mundo oriental e praticada por Jesus, ao transmutar água em vinho, e que, de forma mais popular, foram vistas, há algum tempo, nas ações mentais de Uri Geller. Daí, o cuidado com o pensamento, diante do qual devemos estar atentos, pois é uma energia que sintoniza com o feio e o belo, o bem e o mal, o céu e o inferno, assim busquemos. Os lugares, para onde vamos ao desencarnar, estão diretamente ligados às vibrações com as quais o nosso Espírito, que nada mais é do que o conjunto individualizado com as múltiplas experiências de todo o ciclo de vidas sucessivas, estará afinado. Pois, as reencarnações são as transformações do Princípio Vital, que se processam nas matérias orgânicas, movimentam-se, nascem, se desenvolvem e se reproduzem. É a vida, brotando nas infinitas variações, tecendo a existência, florescendo em todos os seres vivos. Pássaros, peixes, flores, moluscos, gente, lodo, micróbios, minhocas; tudo que nasce, cresce e morre, há bilhões de anos, em todas as eras históricas, foi, sempre, seguido do renascimento, a partir dos mesmos elementos. Dessas mutações, o Princípio Vital foi se burilando e produzindo novas formas de vida animal, mais complexas, inteligentes, capazes de memorizar, produzir e transformar o planeta: os seres humanos, dotados de alma, que encarna e desencarna, mantendo a individualidade através da memória e dos sentimentos que nela se conduzem, mesmo após a morte. Ou seja, somos os que pensamos!

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Silêncio para ouvir Deus E

m todos os tempos, os emissários de Deus recomendaram o silêncio profundo, a fim de que se possa ouvirLHE a voz e senti-LO mais intimamente. Os ruídos e tumultos desviam o pensamento que se deve fixar no elevado objetivo de comunhão com a Divindade, para se poder haurir energias vitalizadoras capazes de sustentar o Espírito nos embates inevitáveis do processo de evolução. Quando se mergulha no mundo íntimo, encontram-se as mensagens sublimes da sabedoria, aquelas que constituem o alimento básico de sustentação da vida e, sem as quais, os objetivos essenciais da existência cedem lugar aos prazeres trêfegos e enganosos. Os distúrbios externos produzidos pela balbúrdia desviam a mente para os tormentos exteriores, que tornam a marcha física insuportável, quando se constata a fragilidade das suas construções emocionais. Na tentativa de atender a todas as excentricidades do vozerio do mundo, a mente se desloca da meta essencial e perde o foco que lhe constitui o objetivo fundamental. Quando o Espírito se encontra atordoado pela balbúrdia, o discernimento se faz confuso e os componentes mentais e emocionais deslocam-se da atenção que deve ser concedida ao essencial, em benefício das aquisições secundárias, sempre incapazes de acalmar o coração. Algumas vezes, alcança-se o topo do triunfo, meta muito buscada, a fama ligeira, a posição de destaque no grupo social, o riso bajulador e mentiroso, sob o pesado tributo dos conflitos internos que permanecem vorazes e desconhecidos, sempre em agitação. Deus necessita do silêncio humano, a fim de se fazer ouvido por quem deseje manter contato com a Sua Paternidade. A Sua mensagem, sempre, tem sido transmitida após a transposição dos abismos externos e dos tumultos das paixões desarvoradas, permanecendo no ar, aguardando ser captada. No imenso silêncio do Monte Sinai, a Sua voz transmitiu a Moisés as regras de ouro do Decálogo, mas não deixou de pros26 Tribuna Espírita • maio/junho • 2015

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seguir, enviando novas instruções para a conquista da harmonia, da plenitude. Na antiguidade oriental, a Sua palavra se fazia ouvir, através dos sensitivos de vária denominação, conclamando à paz, à vitória sobre os impositivos exteriores predominantes no ser. Nas furnas e nas cavernas, nas paisagens ermas, desvelava-se, oferecendo o conhecimento da verdade que deveria ser assimilado, lentamente, através dos tempos. Mesmo Jesus, após atender as multidões que se sucediam esfaimadas de pão, de paz, de luz, buscava o refúgio da solidão para, em silêncio, poder ouvi-LO no santuário íntimo. Robustecido pelas poderosas energias da comunhão com o Pai, volvia ao tumulto e desespero das massas insaciáveis, a fim de diminuir-lhes as dores e a loucura que tomava conta do imenso rebanho. Simultaneamente, porém, proclamou que o Reino dos Céus se encontra no coração, no intimo do ser. *** Nestes dias agitados, faz-se necessário que se busque o silêncio, para se renovar as paisagens íntimas e ouvi-LO atentamente, pacificando-se. A semelhança das ondas que permitem a comunicação terrestre, imprescindível que haja conexão para serem captadas.

Estão carregadas de mensagens de todo jaez; mas, sem a sintonia apropriada, nada transmitem, parecendo não existirem. Habitua-te ao silêncio que faz muito bem. Não temas a viagem interior, o encontro contigo mesmo, nas regiões profundas dos arcanos espirituais. Necessitas ouvir-te, para bem te conheceres e traçares os caminhos por onde deverás seguir, com segurança e otimismo. Observarás que és um enigma para ti mesmo, que te encontras oculto, sob sucessivas camadas de disfarces que te impedem apresentar a autenticidade. De essência divina, possuis o conhecimento e és dotado de sabedoria que aguardam o momento de se desvelar. Reflexiona, portanto, quanto possas, a fim de libertar-te das algemas que te escravizam à aparência, sem conceder-te o conforto do autoaprimoramento. A multiplicidade das vozes que gritam em torno de ti, impede-te a conscientização dos valores que dignificam a existência. Quando te habitues ao silêncio, sentir-te-ás “luarizado” pelas claridades sublimes do amor de Deus e ser-te-á muito fácil a travessia, pelas estradas perigosas dos relacionamentos humanos. Compreenderás que a paz defluente da autoconquista, nada consegue abalar. Com segurança e serenidade, agirás em qualquer circunstância, feliz ou tormentosa, sem desespero, com admirável harmonia. Torna o silêncio uma necessidade terapêutica, abençoando-te a jornada, ao mesmo tempo em que te propicia alegria de viver. Desfrutarás de contínua alegria, sem galhofas nem vulgaridades, em situação de bem-estar natural. São Francisco de Assis buscava o cume dos montes e as cavernas, para, em silêncio, ouvir Deus. Mas, não somente ele. Todos aqueles que aspiram a plenitude atendem aos deveres do mundo e se refugiam, no silêncio, para os colóquios com Deus. A exaustão que te toma o corpo e a mente, o vazio existencial que te visita com frequência, a apatia que te surpreende, a ansiedade que te aturde, são frutos espúrios da turbulência que te atinge. Busca o silêncio e alcança-o. Acalma-te e isola-te da multidão, uma e outra vez, e viaja, calmamente, no rumo do ser que és, e descobrirás tesouros imprevisíveis, aguardando-te no interior. Criado o hábito de incursionar, banhar-te-ás nas claridades refulgentes da palavra de Deus, falando-te ao coração. Não postergues a luminosa experiência, iniciando-a, quanto antes. Joanna de Ângelis (Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica da noite de 9 de fevereiro de 2015, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador-BA)


A Fé: mãe da Esperança e da Caridade IGOR MATEUS Natal-RN

“Para ser proveitosa, a fé tem de ser ativa; não deve entorpecer-se. Mãe de todas as virtudes que conduzem a Deus, cumpre-lhe velar atentamente pelo desenvolvimento dos filhos que gerou. A esperança e a caridade são corolários da fé e formam com esta uma trindade inseparável. Não é a fé que faculta a esperança na realização das promessas do Senhor? Se não tiverdes fé, que esperareis? Não é a fé que dá o amor? Se não tendes fé, qual será o vosso reconhecimento e, portanto, o vosso amor?” (...) - José, Espírito protetor (Bordéus, 1862) − (“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Cap. XIX, item 11). Era uma vez... Uma mãe que tinha duas filhas. Essa mãe tinha uma responsabilidade muito grande: velar, atentamente, pelo desenvolvimento das filhas que gerou. Muito apegadas, mãe e filhas formavam uma trindade inseparável e viviam uma vida muito feliz. Aonde uma ia, as outras iam atrás. A mãe sustentava as filhas e dava a elas todas as condições de crescer e desenvolver-se bem. As filhas retribuíam à mãe o carinho filial e a gratidão que, cada vez mais, a fortalecia. Seus nomes eram: Fé, Esperança e Caridade. E, sob o amparo amoroso da Fé, a Esperança cresceu e tornou-se uma bela

moça de olhos verdes. Transmitia a todos as mais belas mensagens de otimismo. Era, sempre, um sorriso que irradiava ao seu redor. Aonde chegava, a Esperança expulsava a tristeza e o desânimo e inundava o ambiente de alegria e felicidade. Sempre, falava a todos que sua mãe Fé lhe ensinara que, se Jesus era por nós, quem seria contra nós; que ele era o médico de nossas almas e que, com ele, estaríamos sempre saudáveis. E, assim, prosseguia a Esperança, dando felicidade para a sua mãe Fé, e a certeza de que ela tinha feito da Esperança uma mulher forte e feliz. Por sua vez, com a Caridade, a Fé não tinha motivos para preocupações. Nascera tão fragilzinha; mas, à medida que o tempo passava, ela crescia mais e mais, tornando-se uma bela moça que a todos ajudava. Não existiam limites para a Caridade. Ela não se importava consigo mesma, pois suas atenções eram, cada vez mais, voltadas para o próximo. E, aonde chegava, dizia: - Eu sou a Caridade, filha da Fé, e minha mãe, sempre, me diz que Jesus é o nosso Mestre Maior; com ele, nunca, nos faltará o necessário para viver; e, assim como ele, a nossa vida deve dedicar-

se aos nossos irmãos, pois suas recomendações, para nós, são: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. E quanto mais a Caridade crescia, mais a FÉ alegrava-se por ter criado uma filha serva de Jesus Cristo. E, quando a Caridade fraquejava, a Esperança, logo, a reanimava e a Fé a reerguia. Se a Esperança adoecia, a Caridade lhe dedicava o melhor amor fraternal e a Fé o colo reconfortante de mãe amorosa. E, nas ocasiões em que a Fé encontrava dificuldades no dia-a-dia, logo, lhe acudiam a Esperança e a Caridade que, com o mais puro amor filial, curavam-lhe as feridas e reacendiam-lhe o brilho de viver e ser feliz. E todas viveram felizes, para sempre!

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1º BEM NOSSO de mãos dadas pela caridade Evento beneficente em prol do lar de idosos”Nosso Lar”

Sábado 8 de agosto de 2015 No Auditório da Federação Espírita Paraibana(FEPB) Contatos: (83) 98776-4427/ 99671-5750

Palestras: Suely Cavalcanti Dias Severino Celestino Música: Grupo Acorde, Grupo Evolução e Banda Canto & Luz. Teatro: Grupo EmCena

Programação completa: www.fepb.org.br

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