Espírita Tribuna
Ano XXXV - Nº 190 março/abril - 2016 Preço: R$ 6,00
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Sumário
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Diálogo com o Futuro
Amemo-nos, mutuamente, como nos ensinou Jesus Cristo Amor e Caridade
Causas Atuais das Aflições Ciência que é Ciência Aceita Refutações O Despertar do Espírito na Contemporaneidade
Diálogo com o Futuro
A Didática do Cristo
FREDERICO MENEZES Recife-PE
Roberto Carlos e Jerônimo Mendonça O Homem Bom Jesus, a luz e a cruz De irmão para irmão A influência de Pestalozzi em Allan Kardec - II Estudando “O Sermão do Monte” Nos Passos do Mestre Energia Mental e Autocura O Fariseu e o Publicano1 Painel Espírita A Influência do Espiritismo no Progresso Humano Tudo em nós mesmos! Jesus e as mulheres Racismo Luzeiros de Abril Sepulcros Caiados Relações Fraternas na Casa Espírita Outro apocalipse? Chapeuzinho Vermelho e o Problema do Mal: (Análise, com base na obra de Joanna de Ângelis)
Espírita Tribuna
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Ano XXXV - Nº 190 março/abril - 2016 Preço: R$ 6,00
T
udo se move em velocidade. O mundo muda, constantemente. Novas descobertas da ciência, renovadas informações. O contexto social modifica-se. A tecnologia amplia possibilidades. Os jovens expandem anseios Nesse momento de grandes transformações, as Casas Espíritas são desafiadas, pelo tempo e pelas mudanças intensas. Como se têm portado os Núcleos Espiritistas, ante o futuro que chega e já se torna presente, rapidamente? É preciso que as instituições, tão ricas de elevados propósitos, estejam à altura desses desafios que são oportunidades. Infelizmente, nem sempre, é o que ocorre. Muitas vezes, chegamos aos Centros Espíritas, e parece que entramos numa cápsula do tempo; ou melhor, que voltamos no tempo. Temos a impressão de que nada mudou, de que as informações não chegaram. Isso não é generalizado, graças a Deus. Mas, é considerável o número de casas que refletem essa realidade de diálogo, com o presente. Já não digo de dialogar com o futuro. Objetivo contribuir, com um alerta para o querido e abnegado Movimento Espírita, tratando dessa questão. Quando ouvimos falar em qualificação do trabalhador espírita, sentimos um pouco de resistência, esquecendo que Espiritismo, em si mesmo, é qualidade. Kardec conseguiu imprimir, em seu tempo (século dezenove), essa sensação de dinamismo, de disposição para a mudança. Para ele, a qualidade estava no aprofundamento do conhecimento e na sua aplicabilidade à vida. Penso que qualificar é sinônimo de espiritualizar; espiritualizar é tomar consciência que lidamos com a revelação das Leis Naturais, estabelecendo a religião natural. Vejam, como temos alguma dificuldade, para dialogar com a juventude?! Não é uma dificuldade do Espiritismo, mas sim, de alguns de seus Núcleos de divulgação. O público espírita tem crescido, em grande parte do planeta, especialmente no Brasil; mas, tem envelhecido, rapidamente. Reconhecemos, também, que já nos movimentamos, para
sanar este problema; no entanto, em certas regiões do país, o processo é muito lento, quase, como se o passado congelasse a energia do impulso transformador que caracteriza a mensagem espírita. Salutar é, que, quem chegue à Casa Espírita, sinta que aporta em um oásis de paz, sem que isto signifique adentrar em um lugar desprovido de movimento de amanhã. A alma, que penetre o templo espírita, sinta que alcançou o futuro da Humanidade, face seu extraordinário conteúdo, um laboratório dos mais avançados conhecimentos sobre o espírito humano, um local que lhe apresenta a imortalidade e a sublime destinação de todos nós; isto de maneira agradável, segura, eficiente e renovadora. Um pouso para o coração cansado, mas que o renove, rejuvenesça, lhe faça renascer a esperança. Ao mesmo tempo, que o acalme, impregne-o de movimento, passando a sensação concreta da dinâmica da vida, dos conceitos elevados e em permanente e gradual progresso. Como alcançar esta realidade, sem qualificar, sem pedagogia adequada, sem perder espontaneidade e sem o esforço da vivência em cada um de seus tarefeiros? Como impregnar, de sopro renovador, deixando nossas paredes tomadas pelo bolor da desmotivação? Como dialogar com o futuro, se nem mesmo, identificamos o presente, com todo seu contexto de desafios às ideias e comportamentos, solicitando à Casa Espírita que lance a luz do Espiritismo sobre suas angústias atuais? Creio que o nosso Movimento Espírita irá vencer esse desafio. Necessário, porém, refletir sobre isso, agora, e iniciar a tarefa de superar a inércia onde ela estiver, superando a acomodação. Casa Espírita arejada, progressista, renovadora é ímã a atrair a criança, o jovem, o adulto; é ninho que acolhe; ambiente que abre as mentes, que se nutre de arte, ciência, filosofia e religiosidade profunda, possuindo vida, e vida em abundância, segundo a palavra daquele que é o Nosso Modelo e guia. É pedaço do mundo que, jamais, perde a capacidade de entender o presente e de dialogar com o futuro.
Amemo-nos, mutuamente, como nos ensinou Jesus Cristo STANLEY MARX DONATO João Pessoa-PB
A
liberdade haurida pelo ser humano, para a consecução dos atos próprios que visam à realização da obra divina em seu caminhar, lhe tem proporcionado extraordinários meios de avanços, no âmbito da tecnologia, através de uma geração por demais intelectualizada. Por outro lado, essa mesma geração remanesce imersa em confusões para as quais parece não existir solução, destacando-se a reunião promovida, denominada família. No seio desta, evidenciam-se conflitos que concorrem para o esgarçamento do tecido social. Pais e filhos parecem desencontrar-se mutuamente, tornando, ainda mais, dorido o contexto de amor, através do qual se almeja alcançar o aprimoramento humano, na direção da Luz Divina, a fim de alcançar-se a tão almejada felicidade. Indubitável que reunião não denota união, razão pela qual lança o Espiritismo luz sobre a composição familiar, ao afirmar que, nesta, tanto podem encontrar-se espíritos afins, bem como adversários e estranhos, cabendo aos seus integrantes, pais e filhos, a meditação acerca da diversidade dos sentimentos reinantes, a fim de adequarem o sentir, pensar e agir de cada um. Nesse sentido, percebe-se que pais aturdidos tentam, em vão, conquistar o amor dos filhos através do material, atraindo para si obrigações que lhes sorvem o Espírito e reclamam trabalho diuturno, para a consecução de uma felicidade pueril que não se realiza, jamais. Demandas novas se apresentam, a denotar infantilidade espiritual de todos os integrantes. Em um lado, pais endividados, cansados e despidos de tempo, para o “pão do espírito”; no outro, filhos que não ousam amadurecer e se sentem desprezados, a cada pedido novo não atendido, gerando conflitos íntimos a se apresentarem, perante a sociedade, na forma de fobias mil. Há um caminho a ser seguido? “O Evangelho Segundo o Espiritismo” afasta dúvidas sobre isso: espreitem os pais os menores indícios reveladores do gérmen do egoísmo e do orgulho, na pequenina criancinha, e tratem de combater tais vícios sem esperar que lancem raízes profundas. É a proposta evangélica envolta pela
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Expediente Fundada em 01 de janeiro de 1981 Fundador: Azamor Henriques Cirne de Azevedo
TRIBUNA ESPÍRITA Revista de divulgação do Espiritismo, de propriedade do Centro Espírita Leopoldo Cirne Ano XXXV - Nº 190 - março/abril - 2016 Diretor Administrativo e Financeiro: Severino de Souza Pereira (ssp.21@hotmail.com) Editor: Hélio Nóbrega Zenaide Jornalista Responsável: Lívia Cirne de Azevedo Pereira DRT-PB 2693 Secretaria Geral: Maria do Socorro Moreira Franco Revisão: José Arivaldo Frazão Lívia Cavalcante Gayoso de Sousa Assessoria: Uyrapoan Velozo Castelo Branco
Lei do Progresso, conforme expressada em sua marcha através da questão 779 de “O Livro dos Espíritos”: o homem se desenvolve, ele mesmo, naturalmente. Mas, nem todos progridem ao mesmo tempo e da mesma forma; é então que os mais avançados ajudam o progresso dos outros pelo contato social. O desejável, portanto, é que os pais, antecedendo aos filhos na experiência sobre a Terra, compreendam a missão abraçada e dela se desincumbam, através do amor que gera a compreensão e proporciona meios para a aproximação de antigos adversários, concorrendo, pois, para um núcleo familiar que, conquanto a suportar as opressões naturais da geração intelectualizada, também envolta pelo distanciamento do moral, consiga emprestar à sociedade tecido mais adequado a transformar as iniquidades reinantes. A ferramenta a ser adotada: O Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Quem sabe, assim, compreenderão pais e filhos que a felicidade encontra-se no material necessário à sobrevivência; no plano moral, na fruição de uma consciência tranquila envolta pela fé no futuro, tal como exposto na questão 922 (L.E.), pois Deus fez da felicidade o prêmio do trabalho e não do favoritismo, para que, cada qual tivesse o seu mérito (“O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo”).
Colaboradores desta edição: Azamor Henriques Cirne de Azevedo, Airton Veloso de Matos, Alírio de Cerqueira Filho, Brena Silva, Denise Lino, Divaldo Franco (Pelo espírito Joana de Ângelis), Elmanoel G. Bento Lima, Fátima Araújo, Frederico Menezes, Flávio Roberto Mendonça, Geraldo Campetti Sobrinho, Hélio Nóbrega Zenaide, Iara da Silva Machado, Igor Mateus, Liszt Rangel, Luis Hu Rivas, Mauro Luiz Aldrigue, Nilton Santos, Octávio Caúmo Serrano, Pedro Camilo, Raymundo Rodrigues Espelho, Robson Santos de Oliveira, Stanley Marx Donato, Severino Celestino, Walkíria Araújo, Zaneles Brito, (Pelo espírito de Lindemberg.). Diagramação: Ceiça Rocha (ceicarocha@gmail.com) Impressão: Gráfica JB (Fone: 83 3015-7200) ASSINATURA BRASIL ANUAL: R$ 35,00 TRIANUAL: R$ 100,00 EXTERIOR: US$ 40,00 CONTRIBUINTE ou DOADOR: R$....? ANUNCIANTE: a combinar TRIBUNA ESPÍRITA Rua Prefeito José de Carvalho, 179 Jardim 13 de Maio – Cep. 58.025-430 João Pessoa – Paraíba – Brasil Fone: (83) 3224-9557 e 99633-3500 e-mail: jornaltribunaespirita@gmail.com
Nota da Redação Os Artigos publicados são de inteira responsabilidade dos seus autores. março/abril • Tribuna Espírita • 2016 3
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Amor e
Caridade GERALDO CAMPETTI SOBRINHO Brasília-DF
“Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, tal como Jesus a entendia? Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas. O amor e caridade são o complemento da lei de justiça; pois, amar o próximo é fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejaríamos que nos fosse feito. Tal o sentido destas palavras de Jesus: “Amai-vos uns aos outros, como irmãos”. A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola; abrange todas as relações com os nossos semelhantes, sejam eles nossos inferiores, nossos iguais ou nossos superiores. Ela nos prescreve a indulgência porque de indulgência precisamos nós mesmos, e nos proíbe que humilhemos os desafortunados, contrariamente ao que se costuma fazer. Apresente-se uma pessoa rica e todas as atenções e deferências lhe são dispensadas. Se for pobre, toda gente como que entende que não precisa preocupar-se com ela. No entanto, quanto mais lastimosa seja a sua posição, tanto maior cuidado devemos por não lhe aumentarmos o infortúnio pela humilhação. O homem verdadeiramente bom procura elevar, aos seus próprios olhos, aquele que lhe é inferior, diminuindo a distância que os separa”. (O Livro dos Espíritos, q. 886). *** Uma dedicada freira americana cuidava de leprosos, no Pacífico. Ao passar por ali um milionário texano, vendo-a tratar, carinhosamente, daqueles leprosos, disse: - Freira, eu não faria isso por dinheiro nenhum no mundo. E ela respondeu: - Eu também não, meu filho! *** Preconiza o Espiritismo que “Fora da Caridade não há Salvação”. Podemos entender essa expressão da seguinte maneira: sem a prática do bem não há felicidade. “O Livro dos Espíritos” é didático, em explicar o verdadeiro sentido da palavra caridade, segundo o entendimento de Jesus: benevolência para com todos; indulgência para com as imperfeições alheias; perdão das ofensas. 4 Tribuna Espírita • março/abril • 2016
Ser bom para com todos é praticar o bem, indistintamente, superando os egoísmos de família, grupo social, raça, sexo, expressão religiosa... A bondade não prescinde da segurança. Nesse, como em diversos outros quesitos, Jesus é nosso modelo, ao demonstrar em suas ações a firmeza serena, ou a serenidade firme. Este comportamento é, sempre, o daquele que deseja ajudar, que quer o melhor ao semelhante, sem impor-lhe restrições ou exigir retribuição de qualquer natureza. A indulgência se traduz na tolerância que devemos ter uns para com os outros, uma vez que todos estamos na caminhada e precisamos nos auxiliar, reciprocamente. Ser paciente e compreensivo é demonstração de maturidade que resulta em benefício para todos. O diálogo sem reservas, sincero e honesto, abre a porta do entendimento, possibilitando relações harmônicas e demonstrações reais dos princípios e valores espíritas. O perdão das ofensas é exercício, constantemente exigido nas relações com o próximo. Perdoar, significa não guardar mágoa, esquecer os aspectos negativos das ocorrências, para extrair delas as lições que encerram ao nosso aprendizado. Na atitude do perdão, não nos devemos exigir, de imediato, o esquecimento do que aconteceu, mas a gradativa superação de possíveis rancores, a fim de que não se mantenham laços negativos com o semelhante, que deverão ser desatados, futuramente, nesta ou em outras vidas. Caridade é abnegação e desprendimento. É exemplo de humildade e altruísmo. É o instrumento de nosso júbilo e da felicidade alheia. Afirma um ditado espiritualista: procurei Deus, não o encontrei; busquei a mim mesmo, não me achei; enxerguei o próximo e identifiquei os três. O próximo é, assim, a chave do autoconhecimento e o recurso que enseja a caminhada rumo a Deus. (Extratos do livro “Anotações Espíritas”, ditado por Espíritos diversos e psicografado por Divaldo Pereira Franco. Ed. FEB. Organização: Geraldo Campetti Sobrinho).
Causas Atuais das Aflições WALKÍRIA LÚCIA DE A. CAVALCANTI João Pessoa-PB
“ − Ninguém gosta da dor, embora soframos a sua investida. Como entender a dor e o sofrimento? − A dor é a mensageira da esperança que, após a crucificação do Justo, vem ensinando como se pode avançar com segurança. Recebamo-la, pacientes, sejam quais forem as circunstâncias em que a defrontemos nesta hora de significativas transformações para o nosso espírito em labor de sublimação. O sofrimento de qualquer natureza, quando aceito com resignação − e toda aflição atual possui as suas nascentes nos atos pretéritos do espírito rebelde − propicia renovação interior com amplas possibilidades de progresso, fator preponderante de felicidade. A dor faculta o desgaste das imperfeições, propiciando o descobrimento dos valiosos recursos, inexauríveis, aliás, do ser. Após a lapidação, fulgura a gema. Burilada a aresta, ajusta-se a engrenagem. Trabalhado, o metal converte-se em utilidade. Sublimado pelo sofrimento reparador, o Espírito liberta-se.” (Pergunta 118, Livro “ Joanna de Ângelis Responde”)
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O
sofrimento constitui-se como taça amarga de fel que sorvemos, hora ou outra, durante a encarnação. Tendo, como delimitador, a dor, promove-nos o entendimento da vida como um todo, humanizando-nos e buscando no Cristo o exemplo maior de equilíbrio e justeza para condução dos objetivos da vida. É paradoxal, mas a dor nos limita os passos e nos educa através do amor/sofrimento por quais caminhos devemos trilhar os passos durante a encarnação. Semelhante àquele que, já conhecendo que a chama do fogo queima, e que ao mais leve contato com o calor, mesmo que à distância, recua para não se queimar; assim, somos nós, diante da maioria dos acontecimentos da vida. Mesmo não tendo a memória atual do ocorrido, trazemos de reminiscências passadas o aprendizado de quanto foi doloroso e de como poderemos nos machucar, se insistirmos em continuar por este ou aquele caminho. A dor, desta forma, cria um limitador inteligente de atitudes, fazendo com que a criatura interceda em seu próprio benefício, sabendo escolher com conhecimento de causa qual caminho trilhar. Nesta tentativa e erro, pois mesmo em alguns momentos verificando que não devemos seguir por determinada estrada, a nossa consciência nos avisando que aquele caminho é perigoso, palmilhamos por ele e sofremos as consequências de nossa intempestividade. O “Justo” nos mostrou a forma mais correta de lidarmos com a dor, mesmo não tendo mais necessidade de passar por ela; crucificado, não se crucificou diante das ofensas e agressões alheias. Vivia em plenitude com o Pai; por isso, sabia que o momento que vivenciava não representava a essência que possuía. Assim, também, deveremos agir, tendo resignação perante o turbilhão que, muitas vezes, se apresenta a nossa frente e nos acreditamos sem forças para lutar. O momento convida ao entendimento, aceitação e ação, através da prece e da tolerância. Quando não nos restar mais saída, aos olhos humanos, reverenciemos a atitude de Jesus, nem que seja por imitação, perdoando aos que nos ofendem e confiando no Pai Amado que não nos abandona nunca. Somos pedras brutas que nos lapidamos e nos lapidam as imperfeições, através dos sofrimentos. De tanto apararmos as arestas, vamos rebastando os desalinhos morais (as pontas sobressalentes). Causa-nos estranheza vermos os bons sofrerem ao lado dos maus, que sorriem. Tal questionamento sendo tema do Cap. V – Bem-Aventurados os Aflitos, Causas Atuais das Aflições, item 7, de “O Evangelho
Segundo o Espiritismo”. Mas, primeiro, precisamos estabelecer que a bondade ou maldade absoluta não se encontra neste Planeta. Todos já avançamos em entendimento suficiente, para podermos fazer escolhas com juízo de valor adequado. Todos já conspurcamos, e conspurcamos ainda, as Leis Divinas. Em virtude disto, temos a necessidade do devido reajuste com elas. Aqueles que vivenciam tal etapa, já se candidatam, através do aprendizado, sendo que alguns de nós o pedimos, como oportunidade de habilitação. Aqueles que, ainda, tencionam e produzem o mal ao derredor, terá o momento de devido reajuste com as Leis. Pois, o certo e o errado não modificam, em virtude da condição evolutiva da criatura. É a condição evolutiva da criatura que modifica, com a absorção do entendimento do certo e do errado. ,O maior processo que a Doutrina Espírita nos convida é o de Reforma Íntima. Processo pessoal e inadiável. Por vezes, olhamos em nosso derredor e acreditamos que existem pessoas mais felizes que nós, mesmo fazendo o mal, e começamos por afrouxar, moralmente, os passos. Mas, é necessário destacar que a projeção do ser difere do que ele, realmente, é. Imperativo é fazer a separação do real e do imaginário. Principalmente, num momento de redes sociais, no qual as criaturas projetam aquilo que elas querem, não o que, normalmente, está ocorrendo em suas vidas. “Não raro, as causas também se encontram na atual existência, quando se dilapidam com irresponsabilidade os patrimônios da existência.” (Livro “Liberta-te do Mal”, cap. ‘Causas Justas das Aflições’). Muito do que nos causa sofrimento provém, não de causas anteriores, mas da nossa incúria perante a existência atual. O próprio caráter e proceder da criatura; o orgulho e a ambição; as uniões desgraçadas em que o interesse fala mais alto e não o desejo recíproco e fraterno de amor e convivência mútua; as funestas disputas; a intemperança; os pais infelizes, que não educaram, quando deveriam e, agora, choram pelas consequências da sua inércia. Antes de procurarmos, em outras encarnações ou em causas obsessivas, os sofrimentos atuais, verifiquemos o quanto estamos fazendo, para minorar ou aumentar o que estamos vivendo. Quais são as nossas escolhas atuais. O que estamos fazendo, para propiciar ou conturbar o momento presente. Antes, passa por uma questão de escolha, do que um determinismo puro e simplesmente. Vivemos o agora, com um pé no passado e a mente no futuro. Deste alinhar de conduta depende a nossa paz atual e felicidade futura. março/abril • Tribuna Espírita • 2016 5
Ciência que é Ciência Aceita Refutações FLÁVIO ROBERTO MENDONÇA Recife-PE
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ode parecer presunção da minha parte, e talvez o seja mesmo, debater com o ilustre conhecido historiador e filósofo, famoso por suas falas sensatas e coerentes, muito visto nos programas de debates e entrevistas (o “Youtube” está recheado de palestras e entrevistas dele). Em nossa conversa, declarou-se ateu e que todo conteúdo teológico se enquadra numa coisa que ele chamou de “Design Inteligente”. Seria uma espécie de modelo criacionista moderno. Omito seu nome, por não estar autorizado a divulgá-lo. Enquadrou ele, nesse mesmo campo, os postulados espíritas e os seus fenômenos mediúnicos. Colocou a diversidade das obras de Chico Xavier (400 e mais um tanto) e todo seu conteúdo, no mesmo saco. Chegou a dizer que W. Crookes estava atendendo a uma demanda do século XIX, o que era comum e que nenhum cientista atual está mais ligado a esses estudos. Pergunto-me então: Sir W. Crookes, que realizou tantas descobertas, estaria diminuído à condição de um cientista restrito, apenas, à sua época? Seus estudos não influenciam, até hoje, nosso cotidiano? É de pensar! Bem, a partir dos fala de tão eminente historiador e filósofo, curvei-me. Não,
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aos argumentos dele, mas aos de Kardec. Percebi, então que, assim como em outras experiências, ouvindo postulados filosóficos e científicos, o Codificador está bem assentado no conhecimento e nas argumentações. Afinal, o que eu tenho observado, ao longo das minhas investigações no campo da ciência e da religião, é que esbarramos nos limites da nossa humanidade. Quero dizer, nos limites de nossa capacidade de aferir os fenômenos. Damos carácter de absoluto a eles; porém, não somos capazes de ir além da nossa vã presunção. Vejamos, por exemplo, alguns postulados da física clássica, hoje absolutamente refutados pela física moderna. No entanto, mesmo essa, às vezes, encontra paradoxos sem solução. Podemos ver, também, algumas máximas que se inclinam a concorrer para um entendimento mais amplo, e que, talvez só agora, a ciência possa compreender seu sentido. É o caso da citação, no Evangelho de Mateus 6:22 e 23, que fala: “Os olhos são a candeia do corpo. Se teus olhos forem bons, todo o teu corpo será cheio de luz. Mas, se os teus olhos forem maus, todo teu corpo será cheio de trevas. Portanto, se a luz que está em ti são trevas, quão grande serão essas trevas!” Isso seria uma antecipação do que, hoje, chamamos de somatização? Falava Jesus de um conhecimento além do nosso tempo? Como percebemos, o conhecimento pode estar acima do que podemos, hoje, ajuizar. Sendo assim, qualquer discussão em torno de ciência e religião será inócua; ou seja, não chegará a termo definitivo. O que se pode, portanto, é tolerar as possibilidades e aceita-las, apenas, como tal. Significa dizer que não devem, cientistas ou religiosos, atirar pérola Fotos: Gloogle Imagens
aos porcos; pois, não é este ou aquele campo do conhecimento que está certo ou errado, mas sim o conhecimento em si, que é maior que nossa vontade de abraça-lo. Fritjof Capra, austríaco, físico teórico, escritor e filósofo, autor de livros como “O Tao da Física” e “Ponto de Mutação”, cita diversos pensamentos antigos, cunhados por monges hinduístas e taoístas, e que, só hoje, passaram a fazer algum sentido científico. Antes, eram considerados, pela presunção científica, de pensamentos aleatórios e sem nexo. No entanto, com o advento da Mecânica Quântica, passaram a ter lógica, pois, falavam de mistérios inatingíveis ao conhecimento anterior. Nessas obras, o físico faz analogias às teorias científicas atuais com as máximas citadas pelos monges, mostrando que o conhecimento pode ser percebido de outras maneiras, e que, talvez, exija certas condições que, só, aqueles orientais, através do mecanismo da meditação, pode acessá-lo. O que nos parece, portanto, é que, parafraseando William Shakespeare: “há mais coisas entre o céu e a terra do que pode supor nossa vã filosofia”. Portanto, sem criar polêmicas em torno do tema, observo que, tanto faz concordar com o historiador e filósofo, ou escolher Kardec. No final, não se provará nada em absoluto. Pessoalmente, escolho as ideias espíritas, por me parecerem bem mais alinhadas a de grandes nomes como Lao-Tsé, Confúcio, Buda, Sócrates, Jesus, e muitos outros, que, no final, sinalizavam para as coisas metafísicas e espirituais, e que confiavam num Pai Supremo e pregavam o consolo através das virtudes. Para quem procura apoiar-se num moral que dá sentido à vida, acho mais conveniente. No mais, cabe-nos respeitar as convicções antagônicas, compreendendo que a verdade e o conhecimento são algo que, ainda, está além da nossa capacidade.
O Despertar do Espírito na Contemporaneidade IARA DA SILVA MACHADO João Pessoa-PB
A
Humanidade vem atravessando um período de reeducação de princípios de convivência, em todos os níveis de atuação pessoal e social. Várias alterações de conduta, valores, crenças e ações em geral vêm desafiando o ser humano na contemporaneidade. Trazer à tona o despertar espiritual, a validação do ser imortal, para além da forma física é um desafio imenso, que convida a todos a atualizar o olhar sobre a Vida Maior e a sua relação com este âmbito para além do aqui agora. Sobre este tópico, a veneranda Joanna de Ângelis alude a respeito da educação e disciplina da vontade, afirmando que: “A vontade é uma função diretamente vinculada ao Eu profundo, do qual decorrem as várias expressões do comportamento que, nem sempre, o ego expressa com o equilíbrio que seria desejável. Ainda pouco elucidada, tem permanecido em campo neutro de considerações, expressando-se mediante conceitos que se tornaram mecanismos de conduta, gerando, por efeito, mais graves conseqüências que benefícios. O primeiro deles é a inibição, que se adota mediante a violência ante as suas manifestações, como se o individuo estivesse diante de um animal a ser domesticado pela punição e pelo cabresto, impedindo-a de expressar-se. O segundo é o impulso direcionado por meio da força, como se estivesse tratando de uma máquina emperrada, que deve ser acionada sem a contribuição do motor, sofrendo empurrões de braços e músculos vigorosos. Num, como noutro caso, a vontade se encontra sob injunções perturbadoras, experimentando comportamentos agressivos que não contribuem para a sua fixação, antes a impedem de expressar-se. Esse fenômeno volitivo encontra-se latente em todos os indivíduos, embora alguns declarem que são destituídos da sua presença. Ocorre que, nem sempre se procede à disciplina e educação do ato de querer conforme deve ser realizado. (2000, págs. 78-79)”. Estas alusões de Joanna de Ângelis tra-
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zem uma luz sobre o tema da vontade, em sendo esta atributo do Espírito; equivale dizer que, a maturação espiritual do Ser elabora a sua capacidade de manifestar a vontade, fruto da construção do pensamento, enquanto atributo, também, do Espírito, e, sendo qualificado pelo estado de consciência que o Espírito possui, relacionado com a sua condição de progresso (estado consciencial evolutivo). Desse modo, não adianta ou pouco serve buscar forçar a maturação da vontade no Ser Espiritual reencarnado, portanto, prisioneiro de uma personalidade, com limitações e potencialidades. Um dos caminhos apontados pela psicologia profunda é o autorrespeito a condição legítima de maturação que a individualidade se apresenta, a partir do exercício constante do autoconhecimento, para, daí em diante, construir um cronograma pessoal de ações diárias, para fortalecer a vontade diante da aplicação das leis morais da vida. Sem precipitações ilusórias de uma evolução ainda não atingida, nem de um comodismo patológico de autopiedade por não se sentir em condições de avançar na velocidade que o ego imediatista deseja que o seja. À medida que a alma vem encontrando os passos firmes, mesmo que lentos, na direção da verdade de si mesma, o atributo da vontade se ilumina e se apresenta
ao pensamento, com a força produtiva da construção espiritual de evolução do Ser Imortal que somos todos nós. Ainda, afirma a mentora Joanna de Ângelis: “Considerem-se como elementos essenciais para o desenvolvimento do ato volitivo, alguns fatores essenciais, tais como o desejo real de querer, a persistência na execução do programa que seja estabelecido e o objetivo a alcançar. Toda experiência educacional experimenta transição, em cujo curso, passados os primeiros tentames exitosos, os resultados parecem experimentar retrocesso, o que, naturalmente produz desânimo. É natural que isso aconteça, como efeito da carência de registros vivenciais nos refolhos do Eu profundo, não habituado à disciplina, irrefletido e mal condicionado. (2000, págs 79-80)”. É necessário um olhar atencioso sobre essa orientação espiritual citada acima, para que não se esmoreça no caminho, quando se começar a buscar exercitar aspectos, cuja conduta é nova para a personalidade, e, também, para a alma imortal reencarnada. Lembrando que a tarefa de se educar, diante da vontade que emerge no Ser, é um desafio diário, tendo em vista, o intercâmbio consciente e inconsciente entre encarnados e desencarnados no globo terrestre, havendo entre ambos velhos vícios de passadas e presentes experiências. O processo de educação da vontade pede um assumir a responsabilidade sobre si mesmo, nas vinte quatro horas de cada dia, e acrescentar essa vigília na linha do tempo de cada um; isto é, a vigilância e a oração trazida pelo Mestre Jesus, o Cristo, para que os pensamentos, as palavras e os atos de cada um venham a se alinhar com a proposta crística planetária. A grande fraternidade entre todos os povos será, um dia, fruto da vontade de uma consciência terrena, que unirá os pensamentos e sentimentos em torno de um único sol, uma única luz, na fala do Mestre Jesus, quando exorta a Humanidade: “Brilhe a vossa luz!” Fonte: FRANCO, Divaldo. Joanna de Ângelis (Espírito). “O Despertar do Espírito”. Livraria Espírita Alvorada, 2000.
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A Didática do Cristo FÁTIMA ARAÚJO João Pessoa-Pb
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o “Sermão da Montanha”, Jesus empregou a sentença “pobres de espírito”, para significar “humildes de espírito”; ou seja, “ricos em qualidades morais”. Estas máximas são consequências do princípio de humildade; para o Divino Mestre, condição essencial da felicidade prometida aos eleitos: “Bem aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus”. Jesus tomou uma criança, como exemplo da simplicidade de coração, virtude dos que não têm pretensões à superioridade ou à infalibilidade, no momento em que seus discípulos se chegaram a ele e indagaram: “Mestre, quem é o maior no Reino dos Céus?”. Jesus, então, colocou, no meio deles, um menino, e respondeu: “Na verdade vos digo que, se não vos converterdes e tornardes quais crianças, não entrareis no Reino dos Céus. Aquele que for humilde e se tornar pequeno, como esta criança, será o maior no Reino dos Céus – e aquele que receber em meu nome uma criança, tal como acabo de dizer, é a mim mesmo que recebe”. (Mateus, Cap. 18, v. 1 a 5). O fato é que Jesus viu na criança o protótipo da simplicidade de coração, garantindo que todo aquele que se fizer pequeno (humilde) será o maior; pois, a ninguém será concedida a entrada nesse Reino, se não possuir simplicidade de coração e humildade. Os humildes de espírito não são os pobres de espírito, como pode sugerir alguma tradução equivocada, mas são todos aqueles que se encontram em condições de fazer o bem. O Reino dos Céus a estes pertence; pois; dele os orgulhosos serão afastados, por conta de sua autossuficiência. Em todas as circunstâncias, a Humildade é condição essencial, para que possamos aplicar e, não apenas, conhecer o Evangelho de Jesus, sendo colocada na categoria das virtudes que aproximam de Deus e, o orgulho, entre os defeitos que, do Criador, nos afastam. O mesmo pensamento que se encontra na máxima: “O maior dentre vós será vosso servo” (Mateus 23:11). “Porquanto, todo aquele que se eleva será rebaixado, e aquele que se abaixa, será elevado”. (Lucas, Cap. 14:11). 8 Tribuna Espírita • março/abril • 2016
A Doutrina Espírita vem confirmar a teoria, pelo exemplo, ao provar, com as sucessivas reencarnações, que os grandes, no mundo dos Espíritos, são os que foram pequenos na Terra, e que, frequentemente, são pequenos os que, aqui, foram grandes e poderosos. É que os primeiros, ao desencarnar, levam as virtudes e as boas ações, como passaporte para a entrada no Mundo Maior. Já os que se descuidaram de suas obrigações com o Divino e nada de perene possuem, deixam a fortuna, os títulos, a linhagem e as posições sociais, voltando à pátria espiritual, apenas, com o orgulho, que torna, ainda mais humilhante, sua nova posição, porque veem, acima deles, resplandecentes de honra, aqueles que rebaixaram na Terra. Forte ilustração desse ensinamento é a Parábola do “Rico e de Lázaro”, contada pelo Divino Mestre, através do relato do evangelista Lucas, 16:19 a 31. Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Allan Kardec a incluiu no Capítulo XVI, item 5, com o nome de “Parábola do Mau Rico”, para exemplificar a avareza e a miséria. O Codificador utilizou esse registro, pelo fato de o cidadão da história não ter usado bem a riqueza; porque, senão, todos os ricos se encaixariam na história, o que não é verdade: nem todos usam mal os bens materiais e Jesus não era contra a riqueza. “Havia um homem rico que se vestia de púrpura e de finíssimo linho e se banqueteava magnificamente, todos os dias. Enquanto isso, o mendigo Lázaro, coberto de chagas, jazia à sua porta, desejoso de saciar a fome com as migalhas que caíam da mesa do rico; e até os cães vinham lamber-lhe as úlceras. Mas, eis que, após a desencarnação, o mendigo é acolhido no seio de Abrahão (o mundo espiritual) e o rico fica a se consumir em labaredas (conscienciais). Sentiu-se torturado, por tanta sede, que implorou a ajuda, no sentido de que Lázaro pudesse molhar seus lábios com um pouco de água”. Diante de tais estudos, sentimos que, muito mais que o adiantamento intelectual, é o adiantamento moral que vai garantir o carimbo no passaporte para o Plano Maior! Foto: Gloogle Imagens
Roberto Carlos e Jerônimo Mendonça NILTON SANTOS Recife-PE
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nome de Jerônimo Mendonça é sempre lembrado nos ambientes espíritas. Sua existência foi um exemplo vivo de coragem, resignação, serenidade, persistência e surpreendente otimismo. Quem conhece a biografia dele sabe que não estamos exagerando. E, quem examinar o livro de Jane Vilela, que vamos citar mais adiante, vai constatar que nossas palavras são pobres, demais, para adjetivar uma importante personalidade do Século XX. Ele, totalmente paralítico, viveu preso num leito por mais de trinta anos; não movia, nem o pescoço; cego, por quase duas décadas, precisava do peso de, até, trinta quilos de areia, para suportar as terríveis dores no peito. O cantor Roberto Carlos é bem conhecido de todos. Sua vida artística é admirada, por milhões de pessoas. Um ídolo, de fama internacional. Tudo isso é ponto pacífico. Mas, vamos citar um fato relacionado com a vida desse grande astro, fato que, talvez, o leitor desconheça. O caso, aqui resumido, é de um capítulo do livro “O Gigante Deitado,” de Jane Martins Vilela, o qual apresenta a vida e obra do missionário Jerônimo Mendonça que, ainda jovem, começou a sentir várias dores no corpo e, aos 18 anos, andava com dificuldade. Logo depois, usava uma cadeira de rodas. Em seguida, passou a viver numa cama ortopédica, na qual permaneceu, por mais de trinta anos. Perdeu a visão, em 1970. Mesmo assim, fazia palestras em vários Estados; escrevia livros em prol de obras sociais, amparava crianças, etc. Otimista e, sempre, bem humorado, confortava a todos. Livrou pessoas do suicídio. Um dia, alguns visitantes estavam perto da sua cama. Alguém falou: Jerônimo, a vida é dura, não é?!... A reação do gigante foi imediata: A vida é dura pra quem é mole!... Tendo iniciado, em Ituiutaba(MG), a construção da creche “Pouso do Amanhecer” e, sentindo as dificuldades, principalmente da sua manutenção, foi até Chico Xavier, em Uberaba. Após escutá
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-lo, o médium mineiro sugeriu que falasse com o cantor Roberto Carlos que fazia show no “Canecão”, no Rio de Janeiro. Preocupado, disse que queria saber como entrar, ali com a cama. Com a serenidade e segurança que o caracterizava, Chico elucidou: Já é hora de você procurar o Roberto Carlos, pois vocês dois estão na mesma faixa vibratória. Jerônimo, cego e preso na cama ortopédica, foi com seis pessoas. No caminho, estava preocupado: como entrar no “Canecão”, com a cama. E o dinheiro para os ingressos, o qual já era pouco, para os sanduíches... A viagem transcorreu bem. A Kombi, finalmente, chegou. Apreensivo, pensava como realizar aquela tarefa tão difícil. De repente, escuta uma voz de alguém bem próximo: − Jerônimo, você por aqui? O que o traz ao “Canecão”? Perguntado quem era e de onde o conhecia, o homem respondeu que o conheceu há muito tempo, no “Grupo Espírita da Prece”, em Uberaba. Após ouvir os motivos da visita, soube que os visitantes não podiam comprar os ingressos. Então, revelou: - Eu sou o gerente do Canecão. Vocês vão entrar e é, agora!...
E providenciou lugares, para toda a comitiva até o fim do show, quando falaria com Roberto. Terminado o espetáculo e, sendo informado pelo gerente, o cantor foi até o visitante mineiro, que pensava nas palavras iniciais que deveria dizer ao “Rei”; mas, este se antecipou: Olá, bicho!... Suspirou aliviado e pensou: Bem, agora, estou mais à vontade, porque, aqui estou, no meu zoológico! Ciente do assunto, Roberto pediu que fossem ao seu apartamento, no dia seguinte. Na hora marcada, estavam lá. Encerrada a visita, Jerônimo Mendonça Ribeiro recebeu do cantor Roberto Carlos, em 1983, um cheque de um milhão de cruzeiros. Solidariedade que merece a admiração de todos. Foi um encontro de duas almas nobres, com apoio de Chico Xavier. Na verdade, são três almas nobres, com missões importantes e distintas! Jerônimo nasceu em Ituiutaba(MG), em 1º de novembro 1939. Sua desencarnação foi em 26 de novembro de 1989, aos 50 anos de idade. Os detalhes da sua árdua missão podem ser lidos na obra citada. Consulte o site: www.oclarim.com.br. março/abril • Tribuna Espírita • 2016 9
O espírita perante a terceira idade AIRTON VELOSO DE MATOS Goiânia-GO
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s descobertas científicas, principalmente da moderna tecnologia, a aceleração dos meios de comunicação, levaram o homem ao ponto máximo. É, como nos afirma Nobre (1997) em “Lições de Sabedoria: “o desenvolvimento tecnológico exacerbado de nossos tempos, sem a necessária expansão da fraternidade entre as criaturas, vem colocando em risco permanente a vida do planeta”. Emmanuel, retomando o ensinamento de Jesus à mulher samaritana, afirma que “a religião é o sentimento divino que prende o homem ao Criador” (1). Diante de tantas descobertas e aperfeiçoamento tecnológico, tivemos, como consequência, o aumento da média de vida do ser humano. Em épocas passadas, era rotina as pessoas desencarnarem, com poucos anos de vida. As pessoas diziam: “o fulano desencarnou de repente”. Com o aumento da média de vida, conselhos e recomendações começam a ser feitos, pelos especialistas em gerontologia, para que a pessoa idosa preserve ao máximo a saúde física e psíquica. Este fato determinou o aparecimento do termo idoso, em substituição ao termo velho. Entendem os especialistas, principalmente os gerontologistas, que o termo velho, nos dias atuais em muitas colocações, é empregado de forma pejorativa, trazendo a conotação daquilo que é ultrapassado, fora de uso e desatualizado. Dora Incontri, no seu livro “A Educação segundo o Espiritismo”, fazendo alusão ao emprego da referida palavra, assim se manifesta: “Essa mania de inventar palavras para mudar um conceito, coisa muito comum em nossa época, parece-nos prejudicial, na medida em que a palavra usual vira um tabu”. O que nos interessa é mudar a mentalidade e, até, resgatar o sentido original de uma palavra e não retirá-la do vocabulário. Velho, por exemplo, é um termo com força própria que aparece na literatura, na poesia, no cancioneiro popular e representa uma imagem forte e quase nunca pejorativa. Não é por causa do abuso de alguns que o usam, com menosprezo no cotidiano, que devemos aboli-lo. 10 Tribuna Espírita • março/abril • 2016
Consoante o que afirma a educadora, chegamos à conclusão de que não é, simplesmente, com a mudança de termos ou palavras que haverá transformações. A fase da terceira idade ou idoso pode ser de grande beleza espiritual. Vejamos alguns exemplos que a História nos proporciona: Cora Coralina, octogenária, apresentava poemas de beleza ímpar; Chico Xavier, já com os seus quase noventa anos, legava uma obra espiritual imorredoura; o mesmo podemos afirmar, em relação à Madre Tereza de Calcutá, Divaldo Pereira Franco e tantos outros no cenário mundial. Em nosso Estado, citamos um entre tantos casos: quem se esquece de Militão que, em avançada idade, ainda percorria as ruas e repartições, levando pequenas mensagens espíritas que chegaram a tempo de impedir ações desastrosas como aborto, suicídio e tantas outras mazelas humanas? Diziam os poetas em épocas passadas: “A velhice é uma sobra da juventude”; “A velhice é o outono da vida”; E, apesar de tudo, é uma das belezas da vida, e, certamente, uma de suas mais altas harmonias. Como índice de senilidade improdutiva ou enfermiça constitui, apenas, um estado provisório da mente que desistiu de aprender e de progredir, nos quadros de luta redentora e santificante que o mundo nos oferece. “A velhice é uma escola rigorosa de meditação” (2).
A Doutrina Espírita tem, por campo de ação, corresponder às necessidades do Espírito, sem descurar as do corpo, despertando o homem para valores que lhe mostrem a vida por um prisma repleto de esperança, amor, possibilidade de boas realizações, independente das condições (ou limitações) impostas pela idade A partir do Movimento Iluminista, em meados do século 18, cria-se o homem novo, especialmente na área do Direito, com o advento de regalias individuais, como o “habeas corpus”, inviolabilidade do domicílio, e desenvolvimento de ciências, como Psicologia, Psiquiatria e Psicanálise. Essas mudanças tinham por escopo valorizar o ser humano, a família, a qualidade de vida. Infelizmente, as leis e os conceitos são desprezados, por grande parte da Humanidade. Há avanços, é inegável; porém, em relação à terceira idade, o que se vê, nos dias atuais, são os abrigos de velhos, casas de repouso, abarrotadas de pessoas idosas, abandonadas pelos familiares, que, ali, vão, uma única vez, para internarem os parentes e, nunca mais voltarem. No campo do trabalho, apressam-se os dirigentes a substituí-los por gente mais nova, quando o ideal seria promover a interação, entre um e outro, para que ambos complementassem o escopo de recursos necessários à consecução das tarefas: um, com a força, energia, conhecimentos novos; o outro, com sabedoria, equilíbrio e experiência. Foto: Gloogle Imagens
(1) NOBRE, Marlene Rossi Severino. in: Lições de Sabedoria. Editoria Jornalística Fé, São Paulo, 1997. (2) NAPOLI, Allan Eurípedes. in “O Espiritismo de A a E”, FEB, Rio de Janeiro, RJ, 1995. Referências: AMORIM, Deolindo E. “Espiritismo e os problemas humanos”. São Paulo: [s.ed], 1985. BITTAR, Eduardo C. B. “Doutrinas e Filosofias Políticas”. São Paulo: Atlas, 2002. INCONTRI, Dora. “A Educação segundo o Espiritismo”. Bragança: Comenius, 2006. KARDEC, Allan. “O Evangelho segundo o Espiritismo”. Brasília: FEB, 2013. NAPOLI, Allan Eurípedes. “O Espiritismo de A
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Existe, também, o abandono dos idosos, dentro do próprio lar, instalando-os nos piores quartos da casa; segregando-os do convívio social, em troca da felpuda aposentadoria. Isto nos faz lembrar a singela história de Wallace Rodrigues, no livro “E para o resto da vida” (1979, Ed. O Clarim): “Uma criança, sempre, procurava seguir os exemplos de seus pais. Ao observá-los, tratando mal o velho avô, especialmente à hora das refeições, relegando-o a um canto da cozinha com uma tigela tosca, entalhou um cocho, para que seus pais pudessem se alimentar, quando a velhice chegasse para eles”. O procedimento dos filhos, para com os pais, precisa ser consoante com o que nos recomenda o Evangelho: gratidão, amor, respeito, estima e obediência. Mas, se estes não forem plantados, no período educacional, não florescerão, na maturidade, o que levaria a uma convivência mais justa e amorosa com aqueles que chegaram à chamada terceira idade. Aos governantes, legisladores, religiosos e à sociedade em geral cabe o dever de colaborar, em suas respectivas áreas, para o alcance deste objetivo. E, em nosso caso, como espíritas, cumpre criar atividades, no campo doutrinário e de promoção social, que contemplem a inserção do idoso nos trabalhos, conforme sua capacidade de resposta. Assim, apenas para exemplificar, três pessoas, com 70 anos, podem participar das tarefas de maneiras diferentes; o primeiro traz energia para as tarefas, como a montagem de cestas básicas, o transporte de caldeirões de sopa; o segundo possui a lucidez, para a direção de grupos doutrinários, a preleção; o terceiro, mais frágil, pode distribuir mensagens aos frequentadores, comentar a página de estudo, cuidar da papelada administrativa e, assim por diante. Enfim, há lugar para todos. Sobretudo, é importante aproximá-los das crianças e jovens, para que estes possam absorver a sabedoria adquirida ao longo de toda uma vida; assim, formam atitudes de respeito e consideração a serem multiplicados, em suas existências, com os idosos, com os quais convivam, para que, a seu turno, possam ser merecedores da mesma atenção. Teremos, aí, uma sociedade mais justa, mais fraterna.
De irmão para irmão HÉLIO NÓBREGA ZENAIDE João Pessoa-PB
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omos todos irmãos... E somos muitos, pelo Caminho. Cada qual, com a sua vida, num roteiro comum e destino certo. Pelo percurso, os encontros acontecem... O próximo mais próximo de nós pode ser um conhecido ou um desconhecido. Pode estar muito próximo e, ao mesmo tempo, a uma distância significativa da nossa pessoa. E, há encontros que nos surpreendem... Não sabemos, ao certo, o que tem este ou aquele irmão, por quem nos sentimos atraídos ou a quem rejeitamos, sem maiores explicações. De uma forma ou de outra, a atração e a rejeição fazem parte das nossas relações. Compartilhamos e experimentamos essas forças que têm origem em nós mesmos e, ainda, nos surpreendemos, pelo bem ou mal-estar que nos causam. Quando um irmão do Caminho nos atrai, prende a nossa atenção. Admiramos os gestos e palavras. Na comunicação, afabilidade e doçura. Habilidade, no trato, e energia salutar. Numa atração mútua, a reciprocidade, em manifestações dessa natureza, surte seus efeitos benéficos, para ambos. Agora, quando a reação é de rejei-
a E”. Rio de Janeiro: FEB, 1995. NAZARETH, Joamar. “Um desafio chamado família”. Araguari: Minas Editora, 2003. NOBRE, Marlene Rossi Severino. “Lições de Sabedoria”. São Paulo: Editora Jornalística Fé, 1997. PERROT, Michele (ORG). “História da vida pri-
ção, mesmo que, numa manifestação silenciosa, alcançamos o outro, de alguma forma. Na rejeição emitimos uma energia diferenciada. O pior é que se evita o outro, como se, assim, fosse possível evitar esse mal-estar. Piora, se as circunstâncias obrigam a uma convivência. É, quando se recorre à indiferença e a ela se somam outras atitudes, desde que a distância seja mantida. Quando o alvo somos nós, dá para perceber que essa energia diferenciada nos alcança. Numa rejeição mútua, nos recusamos um ao outro. Um ignora a existência do outro. Aparentemente, fica por isso mesmo, mas não é assim. Isso, porque, nós infringimos a Lei Maior. Falta amor, para superar as nossas diferenças. Partindo dos nossos sentimentos, para situações reais ou possíveis de acontecer, temos como nos situar, perante a Lei Maior. Se, nos descobrimos fora da Lei Maior, temos como nos ajustar. O amor a Deus, sobre todas as coisas, e ao próximo como a nós mesmos, nos redime de muitas faltas. O amor cristão deve ser a manifestação natural, de irmão para irmão, a caminho, com Jesus. Deus, Nosso, Pai, nos abençoe.
vada”, v. 4. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. RODRIGUES, Wallace Leal V. “E para o resto da vida”. Matão: O Clarim, 1979. SALES, Mione Apolinário e outros (organizadores). “Política Social, Família e Juventude”. São Paulo: Cortez Editora, 2010. março/abril • Tribuna Espírita • 2016 11
A influência de Pestalozzi em Allan Kardec - II ROBSON SANTOS DE OLIVEIRA Caruaru-PE
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egundo Andre Moreil (1977) e também anotado por Wantuil e Thiesen (1980, p. 54) “percebemos então porque a vida de Allan Kardec, que se identifica com a fundação do Espiritismo prático, não é compreensível sem a vida escolar de Denizar-Hipollyte-Léon-Rivail” (sic). Seria inconcebível não admitir a influência pestalozziana em Allan Kardec. A partir da década de 50 do século XIX, o professor Denizard-Rivail abdica de seu reconhecido nome em Paris para adotar o pseudônimo de Allan Kardec, assumindo as diretrizes de fundamentação epistêmica do Espiritismo. Nessa passagem, entre uma posição social até assumida e uma nova, muda-se o nome e altera-se o foco de atenção de estudos, mas não ocorre uma ruptura psicológica completa, do que antes era para o que se tornara depois. Nesse sentido, para Moreil (1977), entre o Denizard-Rivail, educador com ênfase investigativa, e Allan Kardec, sistematizador do conhecimento espírita, não havia nenhuma diferença quanto ao método e ao rigor científico que lhe acompanhara. Allan Kardec translada para o trabalho de sistematização do conhecimento espírita o esquema metodológico pestalozziano na organização dos textos, na compilação das mensagens psicográficas inseridas nos livros, nos comentários e dissertações realizadas, ora complementando, ora desenvolvendo um corpo teórico sobre as informações obtidas com os Espíritos. O método investigativo e também pedagógico-educacional de Pestalozzi foi o indutivo, criando ele o método intuitivo: a partir da análise, das experimentações seria possível apreender as causas dos fenômenos, dos fatos, amparado por um constructo teórico de lógica -racional (ZANATTA, 2005). Em “Obras Póstumas” (2013, p. 327), publicada em 1890, na segunda parte da obra em que constam as notas autobiográficas de sua iniciação no Espiritismo, ele assim expressa-se: “Apliquei a essa nova ciência, como o fizera até então, o método experimental; nunca elaborei teorias preconcebidas; observava cuidadosamente, comparava, deduzia consequências; dos efeitos procurava remontar às causas, por dedução e 12 Tribuna Espírita • março/abril • 2016
pelo encadeamento lógico dos fatos, não admitindo por válida uma explicação, senão quando resolvia todas as dificuldades da questão”. Se observarmos o conjunto das obras básicas do Espiritismo, constatamos a influência do método pestalozziano, na estruturação dos conceitos e apresentação dos conteúdos, partindo de evidências e de pontos conhecidos, do observável, para então culminar em discussões abstratas e de cunhos mais subjetivos. Allan Kardec, portanto parte de uma perspectiva de ciência e caminha para uma para uma perspectiva filosófica. Essa movimentação didática e epistêmica está justificada claramente em 1859 no opúsculo “O Que é o Espiritismo?” (2013, p. 40) ao afirmar que “o Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica”, arrematando em seguida: “O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal”. Em “O Livro dos Espíritos” (2013), publicado em 1857, a composição da magna obra do Espiritismo é apresentada em quatro partes, contendo capítulos os quais estão estruturados com perguntas feitas por Allan Kardec e respondidas
mediunicamente por meio de psicografias pelos Espíritos Superiores, contendo complementarmente em vários pontos os comentários kardequianos. Encerra a obra uma conclusão com nove sessões, destacando-se a sessão VII onde Allan Kardec transparecesse o modelo das “tríades pestalozzianas” (conforme eu indiquei na primeira parte deste artigo), as quais se sobrepõem às próprias lembranças de Allan Kardec de sua existência como sacerdote druida (no druidismo as tríades eram comuns para a explicação cosmogônica). Essas tríades pestalozzianas, reminiscências druídicas, vão estar presentes em todas as obras assinadas e organizadas por Allan Kardec. Em “O Livro dos Médiuns”, publicado em 1861, na Primeira Parte, Allan Kardec ao dizer que “todo ensino metódico tem que partir do conhecido para o desconhecido” (2013, p. 40) reflete o modelo pestalozziano. No entanto, Allan Kardec propõe uma variação quanto ao ensino do Espiritismo às pessoas leigas: uma concepção teórica básica deve anteceder à observação do fenômeno: “O meio, aliás, muito simples, de se obviar a este inconveniente, consiste em se começar pela teoria” (p. 52). O método proposto, portanto, para a análise e compreensão da mediunidade, prevê um ‘estudo prévio da teoria’, pois afirma que “(...) é por experiência que dizemos consistir o melhor método de ensino espírita em se dirigir, aquele que ensina, antes à razão do que aos olhos” (p. 53). Há que se esclarecer aqui, na dissertação de Allan Kardec, que o método de ensino proposto com um ‘estudo prévio da teoria’ não despreza os fatos fenomenológicos, mas dá-lhes o caráter de que não são completamente controláveis, porque são inteligentes e por si somente não explicam os fatos. Assim, ele se justifica: “Pelos fatos foi que chegamos à teoria. É certo que para isso tivemos de nos consagrar a assíduo trabalho durante muitos anos e de fazer milhares de observações” (p. 55). E o enfoque aqui dado é justamente para as pessoas completamente leigas ao conhecimento espírita. Essa mesma justificativa é apresentada no outro opúsculo de 1862, “O Espiritismo na sua expressão mais simples”: “esta instrução é feita tendo em visFoto: Gloogle Imagens
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ta, sobretudo, as pessoas que nenhuma noção possuem do Espiritismo” (2013, p. 28). Allan Kardec rompe, portanto, com o paradigma limitante do materialismo positivista e avança rumo a um outro horizonte epistêmico que vai além do campo material simplesmente, do objeto-matéria completamente mensurável e controlável, algo que somente no século XX com Thomas Kuhn (2003), Karl Popper (1975) e outros tivemos avanços mais consistentes. Nessa aproximação, Allan Kardec expõe: “Dizemos apenas que, sem o raciocínio, eles não bastam para determinar a convicção; que uma explicação prévia, pondo termo às prevenções e mostrando que os fatos em nada são contrários à razão, dispõe o indivíduo a aceitá-los” (2003, p. 55). [todos os grifos meus] A mesma sequência didática utilizada por Allan Kardec é apresentável nas demais obras: “O Evangelho segundo o Espiritismo” (1864), “O céu e o inferno” (1865) e em “A Gênese” (1868). Organização de conteúdo a partir de questões e conceituações mais simples em direção aos pensamentos mais complexos. A metodologia pestalozziana se evidencia nas organizações temáticas dos livros, contendo tópicos e anotações complementares de Allan Kardec às considerações dos Espíritos Superiores que assinam todas as obras. Outro aspecto, dentre tantos que po-
deríamos alinhar, corroborando a influência pestalozziana em Allan Kardec diz respeito à concepção da moral. Em “O Livro dos Espíritos”, no capítulo XII, da terceira parte, questão 918, que trata dos caracteres do homem de bem, verificamos a aproximação conceitual com Pestalozzi, no Instituto de Yverdon, ali expressa nos comentários por Allan Kardec: “É bondoso, humanitário e benevolente para com todos, porque vê irmãos em todos os homens, sem distinção de raças, nem de crenças”. Também esse aspecto de universalidade é claramente apresentado em “O Evangelho segundo o Espiritismo” (2013), quando a análise do livro
religioso é realizada sob uma perspectiva lógico-racional, de interpretação moral de caráter universal, do mesmo que Pestalozzi, também o fazia. Enfim, em Allan Kardec também vemos no educador humano, na perspectiva do paradigma espiritualista, especificamente espírita, a grandiosa influência de Pestalozzi que em nada desmerece o insigne sistematizador do conhecimento espírita. Referências: KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 2013. ______________. O que é o Espiritismo? Rio de Janeiro: FEB, 2013. ______________. O Livro dos Médiuns. Rio de Janeiro: FEB, 2013. ______________. O Espiritismo na sua mais simples expressão. Rio de Janeiro: FEB, 2013. KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. 7.ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2003 MOREIL, Andre. Vida e Obra de Allan Kardec. Tradução de José Herculano Pires. São Paulo: Edicel, 1977. POPPER, Karl. Conhecimento objetivo: uma abordagem evolucionária. São Paulo, ed. da Universidade de São Paulo, 1975 ZANATTA, Beatriz Aparecida. O método intuitivo e a percepção sensorial como legado de Pestalozzi para a geografia escolar. Caderno CEDES, Campinas, vol. 25, n. 66, p.165-184, maio/ago, 2005. Nota da Redação: O autor é Prof. Doutor em Psicologia Cognitiva (pela UFPE), PosDoutor em Linguística (pela UFC) e integrante do Grupo Espírita Gabriel Delanne, em Caruaru-PE)
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Estudando
“O Sermão do Monte” PEDRO CAMILO Salvador-BA
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everino Celestino é, sem dúvida, um dos mais importantes nomes no Brasil espírita a estudar, de modo profundo e claro, a Bíblia e os Evangelhos. Professor do “Curso de Especialização em Ciência das Religiões”, da Universidade Federal da Paraíba, estudioso do hebraico e das religiões, em especial do Judaísmo, sua contribuição, para melhor compreendermos a vida e a obra de Jesus, se revela das mais significativas. Em seu livro “O Sermão do Monte”, que se encontra em sua 5ª edição pela Editora Ideia, Celestino apresenta valiosos esclarecimentos em torno desse texto que é considerado a espinha dorsal da mensagem cristã. É, bem verdade, como lembra o autor, que o Sermão não foi proferido por um cristão para um público cristão. O termo “cristão”, só, surgiria, muito tempo depois de Jesus, para designar os seus seguidores. Naquele momento, Jesus era um judeu, inteiramente mergulhado na tradição judaica, falando para outros judeus. E, como o povo judeu vivia, ainda naquele tempo, os duros golpes da dominação romana, o seu sermão é todo eivado de promessas e consolações, a reforçar a confiança daquele povo num futuro de esperanças e de reconquista do “reino” perdido, ressignificado na proposta diferente de Jesus. Celestino, assim, escolhe um caminho diferente do escolhido por grande parte dos estudiosos dos Evangelhos, que é partir da análise das traduções gregas, para seguir pelas trilhas das traduções hebraicas. Considerando que Jesus falava em hebraico, e que seus seguidores, nada obstante tenham escrito os Evangelhos em grego, não pensavam como gregos, e sim, como judeus, é imprescindível “distanciar-se do texto grego”, para buscar o sentido profundo dos textos. As suas pesquisas levaram-no a concluir “que o primeiro evangelho foi escrito em hebraico, devido ao fato de Jesus ser judeu e ter dirigido a sua mensagem para judeus”. Nada obstante, “o primeiro evangelho, atualmente, está perdido, mas os seus fragmentos se conhecem
pelas traduções gregas e latinas de Clemente de Alexandria, Orígenes, Eusébio, Epifânio e São Jerônimo”. Lembramos que “O Sermão do Monte” não é representado, apenas, pelos textos conhecidos como “As bem-aventuranças” e “O sal da terra e a luz do mundo”. Trata-se, em verdade, de um conjunto maior de passagens, que se estendem pelos capítulos cinco, seis e sete de Mateus, compreendendo, conforme a classificação de Celestino, os seguintes ensinamentos: exortações e consolações; fidelidade e cumprimento da Torá; uma nova justiça comparada à antiga; a caridade e a justiça; o Pai Nosso; conselhos diversos. Assim, o sermão proferido por Jesus às margens do mar da Galiléia, para uma multidão que o buscava, com o coração cheio de boas expectativas, foi inteiramente traduzido, tanto do texto em hebraico, quanto do texto em grego. A análise comparativa dessas duas traduções, com o texto conhecido em português, revelou mudanças significativas de conceitos e ideias supostamente emitidas por Jesus. O livro de Severino Celestino traz, portanto, um importante convite, para revisitarmos as palavras do “Sermão do Monte”, a partir da tradução do hebraico, a língua falada por Jesus, encontrando-lhe o sentido profundo. Graças a isso, é possível desvendar, com riqueza de detalhes, essa “sublime e consoladora mensagem de Jesus”.
Fotos: Gloogle Imagens
NOS
PASSOS DO MESTRE
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hegou às telas do cinema, no dia 24 de março de 2016, o filme-documentário “Nos Passos do Mestre”. Este filme foi iniciado, em 2009, com um convênio firmado entre a “TV Mundo Maior”, com a coordenação de André Marouço e a participação da “RW Turismo”, dirigida por Marcia Valente e Wanda Guerreiro que empreenderam uma viagem ao Egito e Israel, levando 90 pessoas. O Dr. Severino Celestino da Silva, professor e fundador do Curso de Ciências das Religiões da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e o Dr. Adão Nonato, advogado, psicólogo e pesquisador dos Evangelhos, foram convidados, para participarem como assistentes esclarecedores da história de Moisés e do Evangelho de Jesus, durante a viagem. As filmagens foram iniciadas no Egito. O trabalho foi crescendo, ano a ano, e as pesquisas foram acentuadas e desenvolvidas, sob a direção do professor Severino Celestino, estendendo-se para outros países Israel, Itália e Turquia. Foi possível obter grande conhecimento sobre a vida de Jesus e a trajetória de personagens bíblicos, como Moisés, Elias e outros profetas. O filme apresenta, ainda, a “Terceira Revelação”, centrada na codificação feita por Allan Kardec, exibindo cenas das mesas girantes. André Marouço, diretor dos filmes “Causa e Efeito” e o “Filme dos Espíritos”, dirigiu o documentário e montou o roteiro e o professor Celestino, curador do filme, traduziu todos os textos dos diálogos e narrações bíblicas, diretamente do original hebraico. O filme-documentário possui narrativas, representações por uma equipe de atores e explicações das cenas e narrativas feitas pelo Prof. Severino Celestino e pelo Dr. Adão Nonato. Foto: Gloogle Imagens
André Marouço foi muito feliz na montagem do roteiro que inicia com a história dos Exilados de Capela retirada do livro “A Caminho da Luz”, ditado por Emmanuel e psicografado por Chico Xavier. Segue pela história de Moisés, na implantação do monoteísmo com os Dez Mandamentos que são apresentados com uma síntese extraída da obra egípcia “O Livro dos Mortos”. Na sequência, é apresentada a história de Jesus, em maravilhosas encenações executadas por uma equipe de atores, com diálogos e mensagens extraídos do Evangelho. Todos os diálogos e narrativas dos textos foram traduzidos do texto hebraico, língua do povo hebreu e do próprio Jesus. A ideia foi mostrar que Jesus, como judeu, falava para judeus e pessoas das redondezas da Judeia, como narra Mateus 4:25: “Multidões numerosas o seguiam vindas da Galileia, de Decápolis, de Jerusalém, da Judeia e de além do Jordão”. Afinal, convém lembrar que Jesus nasceu de uma família judaica, viveu como judeu e morreu como judeu. A ideia de mostrar Jesus, na sua linguagem original, desprovida da influência de tradutores gregos e latinos, foi muito providencial, pois o resultado ficou muito bom, ao apresentar um Jesus mais autêntico, mais fraterno e mais próximo de todos nós. Estamos diante do primeiro documentário espírita sobre Jesus. O filme faz abordagens esclarecedoras e diferentes sobre a virgindade de Maria, a tentação de Jesus no deserto, a ressurreição de Lázaro e os milagres de Jesus. Nessas abordagens, o filme salienta que, com relação à virgindade de Maria, a Igreja Católica afirma que o profeta Isaías (7:14) fala do nascimento de Jesus através de uma virgem. No entanto, o profeta usa a palavra hebraica “Almá”, em sua pro-
fecia. “Almá” significa “jovem mulher” e não “virgem” como entenderam os tradutores gregos. Virgem, em hebraico, chama-se “Betulá”. A tradução correta do versículo de Isaías 7:14 é a que segue: “Eis que a jovem grávida dará à luz um filho e dar-lhe-á o nome de Emanuel”. Como se pode observar, no texto original, o profeta não se refere a nenhuma virgem. Esta tradução tem provocado grande dificuldade de entendimento entre o Judaísmo e o Cristianismo, pois o judeu, conhecendo o texto original, não concorda com ela, porque sabe o que, realmente, Isaías falou. Para os judeus, a questão da virgindade não tem nenhuma importância, uma vez que o primeiro mandamento da Torá, no Gênesis 1:28 orienta: “(...) sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra”; portanto, a virgindade de Maria e o celibato dos padres são criações da Igreja Católica, pois não constam nos textos originais da Bíblia. A terceira parte do filme apresenta a origem do Espiritismo, com o fenômeno das mesas girantes em Paris e a presença de Allan Kardec como observador dos fenômenos que o tornaram Codificador da Terceira Revelação que é a Doutrina Espirita. O filme não tem o objetivo de criar polêmica nem agredir a religião, nem a fé de ninguém. Seu objetivo é trazer novos e reais conceitos sobre a vida de Jesus, sem nada impor, mas, apenas, com o objetivo de levar aos seus assistentes a uma nova reflexão sobre a real mensagem de Jesus. Esperamos que o público de qualquer religião entenda o nosso objetivo e procure analisar o nosso esforço de levar os nossos semelhantes a sentir-se, cada vez mais, perto de Jesus. Paz para todos. Nota da Redação: Matéria fornecida pelo pesquisador e professor Dr. Severino Celestino da Silva.
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Energia Mental e Autocura ALÍRIO DE CERQUEIRA FILHO Cuiabá-MT
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ivemos, na atualidade, em uma sociedade supercivilizada, em que o materialismo de uma vida sem sentido é estarrecedor. Há uma tendência a uma vida completamente subconsciente, na qual se busca ser feliz, pelo cultivo do hedonismo; em que o prazer a qualquer custo tem primazia, produzindo, como resultado, o aumento, cada vez maior, da incidência de doenças de caráter emocional, como a ansiedade generalizada, a depressão, o transtorno bipolar, as fobias, a síndrome do pânico, dentre outras, apesar de todo o avanço tecnológico da Medicina. Quando o Ser, ainda, se debate na subconsciência, há uma fixação no movimento hedonista (culto aos prazeres). O indivíduo vive, para obter prazer, que vai ser auferido, por meio do desejo de poder, de dominação, de conquista de riquezas, de prazer sexual, de domínio de outras pessoas etc. A pessoa, que está nesse nível, pensa somente em si mesma, na sua satisfação, mesmo que seja em detrimento do outro. Tem um movimento profundamente egoístico e egocêntrico, exatamente, porque vive para obter prazer. Apesar de buscar o prazer, o tempo todo, o indivíduo fixado na subconsciência não se plenifica. Quanto mais a pessoa consegue usufruir desse prazer egoico, mais insatisfação produz. Quando se
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satisfaz com algo que lhe traz prazer, logo busca outra coisa, em uma procura desenfreada. Por isso, ela vive em um processo de extrema insatisfação. É devido a essa insatisfação que a criatura termina por querer superar esse nível de subconsciência, cedo ou tarde, pois ela gera um tédio tão grande que a pessoa deseja mudar. Quando esse desejo surge, ela começa o seu despertar para outra realidade, a consciência. Nessa fase, a pessoa deve mobilizar a vontade, conectando a sua força de vontade com a Força da Vontade Divina, de modo a disciplinar pensamentos e sentimentos, canalizando a sua energia mental para a autocura. É fundamental que busquemos despertar a consciência, mobilizando a energia mental, proveniente de nossos pensamentos e sentimentos, ao nosso favor e não contra nós, como comumente acontece. A vontade é a faculdade de bem conduzir as aspirações, objetivando uma finalidade maior, que resulte em paz e harmonia interior. A vontade é muito importante para o processo de desenvolvimento interior que propicia a autorrealização. É a grande disciplinadora da energia mental. Sem ação da vontade disciplinada, não é possível desenvolver uma energia mental saudável. É fundamental utilizar a energia da vontade, como disciplinadora da energia mental, a fim de superarmos a forma de viver de forma instintiva, subconsciente, se quisermos ser pessoas conscientes de nós mesmos, caminhando
para um nível mais elevado de consciência, o nível superconsciente. Na consciência desperta o prazer adquire outro sentido. O indivíduo começa a pensar nos demais. Transcende o próprio ego, a concepção egoística e egocêntrica em que vivia, e passa a ver os outros à sua volta. Passa a ter prazer em ajudar, em ser útil. Torna-se idealista, desenvolve sentimentos como a compaixão e a solidariedade, realizando-se, mediante a construção da felicidade do próximo, fundamental para que construa a própria felicidade. Todos nós trazemos, ínsito em nós mesmos, o potencial de mobilizar a energia mental em direção à autocura, bastando que busquemos a autoconsciência, para que entremos em um movimento saudável em relação à vida, porque a nossa destinação, como seres criados por Deus para evoluir e crescer, é a superconsciência, ou seja, a consciência plena do Espírito que se autoiluminou, transcendendo as dificuldades comuns na vida de todos nós. A superconsciência é a nossa futura destinação que começa, aqui e agora, com o despertar consciencial, tendo como base os ideais superiores saudáveis a serem alcançados, desenvolvendo-se um estado elevado de consciência. Todas as vezes em que nós entrarmos em um processo de busca da Verdade Universal, especialmente pelo estudo do Evangelho de Jesus, e do autoconhecimento, estaremos nos tornando conscientes de nosso potencial, como Seres Crísticos, elevando a nossa consciência para outro patamar. A elevação da consciência é fator fundamental, para a conquista de energia mental saudável. Ela é conseguida, desenvolvendo-se a fé em Deus, a autoconfiança, o autoamor, a autoeducação, a oração e o trabalho, para o bem de si próprio e do próximo. Ao desenvolver esses valores, o indivíduo reafirma os seus valores éticos, que propiciam paz de consciência, gerando saúde emocional, psíquica e física. É a realização do que Jesus nos ensina em João 14:12 – Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas (...) Maiores informações no livro “Energia Mental e Autocura”, Editora EBM, de Alírio de Cerqueira Filho Alírio de Cerqueira Filho, atualmente é vice-presidente da Federação Espírita do Estado de Mato Grosso
O Fariseu e o Publicano
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MAURO LUIZ ALDRIGUE João Pessoa-PB
“ Dois homens subiram ao templo, a orar; um fariseu e o outro publicano (...) “ (Lc. 18:9-14)
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esus nos traz esta Parábola, para evidenciar os malefícios do orgulho e os benefícios da humildade e, além disso, nos convida a compreender a maneira correta de orar. A sua reflexão também demonstra que o processo evolutivo que se verifica em nosso planeta segue um mecanismo básico de autovalorização e autopreservação das experiências humanas que, em síntese, se caracterizam por uma marcha horizontal (aquisição de conhecimento - a instrução) e uma caminhada na verticalidade (apreensão dos valores morais - a educação). Nesse cenário, a humildade, reconhecida como um componente essencial à felicidade, faz oposição ao orgulho e à vaidade. Na busca da espiritualização humana, o indivíduo volta-se para Deus, com sua religiosidade, em seu sentido pleno e verdadeiro, que é a ligação da criatura com o criador. Assim, Emmanuel conceitua que a “religião é o sentimento divino, cujas exteriorizações são sempre o Amor, nas expressões mais sublimes... a religião
edifica e ilumina os sentimentos.” A maneira correta de orar − outro aspecto relevante no estudo da Parábola − indica que uma prece deve, sempre, estar revestida de humildade, tal como agiu o publicano, e não com orgulho, como o fariseu. A prece é recurso divino em nosso benefício, e se faz necessário o seu exercício, para se alcançar o estado de adoração, de contemplação de sublimidade que, nada mais, é, do que incrementar em nós um movimento de vibração que vai alcançando frequências, cada vez mais, elevadas, níveis de energia maiores. A prece deve ser cultivada, não, para
Referências: 1 FEB. “Estudo aprofundado da Doutrina Espírita”. Brasília, 2013. Livro II, parte 1. 2 XAVIER, F. C. “Pontos e Contos”. Pelo espírito Irmão X. 10ª. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999. Cap. 41. p. 220.
ELMANOEL G. BENTO LIMA
Painel Espírita
João Pessoa - PB
O Homem e a Mediunidade A interpretação do fenômeno psíquico tem constituído problema, mais sério do que parece ou mais grave do que deveria ser. E, coisa estranha: quanto mais sofisticadas a civilização e a cultura, maior a dificuldade na aceitação do fenômeno e no seu enquadramento filosófico. Menos envolvidos em sofismas e raciocínios elaborados, os povos primitivos consideravam esses fenômenos, como uma das tantas manifestações naturais, tal como a chuva, o vento, o nascer do Sol, o perfume das flores etc. E, como há mediunidade, desde que exista o homem, o vulto do morto que se mostrava durante o sonho ou, mesmo, nos estados de vigília, era tomado pelo que, realmente, queria dizer, ou seja, uma pura e simples presença: o Espírito sobrevivente. Essa abordagem era inteiramente legítima, porque emergia da humilde posição do homem, diante dos fenômenos natu-
revogar as disposições da Lei Divina; mas, a fim de que a coragem e a paciência inundem o nosso coração, o nosso sentimento, para o fortalecimento, nos momentos difíceis e provacionais da nossa existência. É a compreensão e a aceitação dos desígnios das Leis Divinas ou naturais. Jesus definiu, claramente, as qualidades da prece. “Quando orardes, diz ele, não vos ponhais em evidência; antes, orai em secreto. Não afeteis orar muito, pois não é pela multiplicidade das palavras, que sereis escutados; mas, pela sinceridade delas. Antes de orardes, se tiverdes qualquer coisa contra alguém, perdoailhe, visto que a prece não pode ser agradável a Deus, se não parte de um coração purificado de todo sentimento contrário à caridade (...). (O E.S.E, Cap. XVII, item 4). Acrescentou, ainda, que, quando reunidos, a conjunção dos pensamentos, no momento de prece, é fundamental “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”. (Mateus 18:20). “Onde está a humildade, há disposição para servir fielmente a Jesus. O verdadeiro humilde, embora conheça a insuficiência própria, declara-se escravo da vontade do Senhor, para atender-lhe aos sublimes desígnios, seja onde for.” (Irmão X)2.
rais que constituem as manifestações sensíveis das Leis Divinas. Mas, com o decorrer do tempo, o homem começou a buscar explicações e justificativas elaboradas, para tudo quanto ocorre à sua volta. E, à medida que aumentava o seu conhecimento, foi, também, crescendo a sensação de sua própria importância, até ao ponto em que se julgou em condições de dispensar a ideia de Deus. Tal posição se destaca, muito claramente, na resposta que um orgulhoso filósofo deu a Napoleão. Perguntado sobre o que achava de Deus, respondeu, com vaidosa superioridade: “Não tenho necessidade dessa hipótese, sire”. Pouco depois, surgiu a doutrina positivista de Augusto Comte (*) que excluiu de suas cogitações todos os fenômenos considerados sobrenaturais. Ora, o fato de um fenômeno ser inexplicável não o
coloca, obrigatoriamente, no universo das impossibilidades. Por outro lado, a indemonstrabilidade dos fenômenos não significa que eles sejam sobrenaturais ou inexistentes; pode, apenas, denotar que os nossos métodos de observação e pesquisa são insuficientes, imperfeitos ou inadequados. Isso nos leva às sábias palavras do Cristo: “Veja quem tem olhos de ver”. O fenômeno psíquico é de todos os tempos; está em toda parte e ocorre com toda gente; mas, cada um o interpreta conforme lhe parece, segundo sua posição espiritual. [Fonte: trecho simplificado e adaptado do Cap. 10 do livro “Reencarnação e Imortalidade”, de Hermínio Correia de Miranda, FEB. (*) Isidore Marie Auguste François Xavier Comte, *1798+1857, filósofo francês, foi o criador da palavra sociologia empregada em sua obra “Curso de Filosofia Positiva”, e, também, chegou a desenvolver uma religião da humanidade da qual se instituiu grão-sacerdote.]
A Influência do Espiritismo no Progresso Humano AZAMOR CIRNE João Pessoa-PB
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ste ano, “O Livro dos Espíritos” completa 159 anos de lançamento. Foi dado a lume, exatamente, no dia 18 de abril de 1857, em Paris, pelo codificador da Doutrina Espírita, o pedagogo Allan Kardec. Nesta data, uma série de homenagens, em varias Casas Espíritas, nas capitais e cidades brasileiras são realizadas. Por oportuno, caro leitor, nesta oportunidade, queremos chamar a sua atenção para a Questão nº 798 dessa magnífica obra, que muito tem a ver com as homenagens prestadas: − “O Espiritismo se tornará crença comum, ou ficará sendo partilhado, como crença, apenas, por algumas pessoas?” – Pergunta Kardec. – “Certamente que se tornará crença geral e marcará nova era na história da humanidade, porque está na natureza, e chegou o tempo em que ocupará lugar entre os conhecimentos humanos. Terá, no entanto, que sustentar grandes lutas, mais contra o interesse do que contra a convicção, porquanto não há como dissimular a existência de pessoas interessadas em combatê-lo, umas por amor próprio, outras por causas inteiramente materiais (...)” – responde o Espírito. Na relatividade do calendário humano, 159 anos de existência de um livro que contradiz os equívocos dos dogmas e os velhos conceitos de muitas correntes filosóficas e religiosas, representa uma trajetória heróica e gloriosa, onde foram alcançados os períodos a que se destina, em sua missão no tempo e no espaço. Sir Oliver Lodge (12.06.1851 22.08.1940), famoso físico e escritor in18 Tribuna Espírita • março/abril • 2016
glês, em seu livro “A Imortalidade Pessoal”, comparou o Espiritismo a “uma nova revolução copérnica”. Na verdade, não foram poucos os obstáculos urdidos pelos opositores e pela intolerância sem limites dos acusados. Repetia-se a velha questão do embate entre o velho e o novo, como se verifica em toda a História, na marcha permanente do progresso que, por vezes, pode tardar, e que, jamais, será interrompido, por ser uma lei natural. Toda ideia, destinada à transformação intelecto-moral do ser humano e, por con-
“O Espiritismo se tornará crença comum, ou ficará sendo partilhado, como crença, apenas, por algumas pessoas?” Allan Kardec
sequência, influenciadora do progresso, não prevalece, de súbito, senão quando está amadurecida, porquanto endereçada a um líder ou missionário, escolhido pelo Alto, preparado e comprometido com o empenho de fazer avançar a Humanidade. O Espiritismo, quando do seu surgimento, em meados do século XIX, os aficionados da cultura estavam envolvidos pelas ideias dos luminares da literatura, da filosofia, da arte, etc. Entre as leituras preferidas estavam os livros de Auguste Comte e Karl Marx. Desse modo, qual-
quer pensamento que se afastasse do sentido materialista objetivo, era tido como subjetivo ou religioso e, nesse julgamento, incluía-se “O Livro dos Espíritos”. No entanto, bem fundamentado no tríplice aspecto cientifico, filosófico e religioso (moral/Evangelho), essa obra doutrinária serviu de ponto de equilíbrio entre os extremos: materialistas (comunismo) e espiritualistas (fideísmo). Apresenta o homem, como um ser dualista (espírito-matéria), retornando em nova roupagem carnal, com o propósito de prosseguir na sua jornada evolutiva. Por desconhecer ou haver perdido a certeza da vida futura, o homem, quase sempre, entrega-se ao “ter” (material), em detrimento do “ser” (espiritual), advindo, daí, a insensatez e a obstinação com que se arraiga aos gozos terrenos, na posse desmedida dos bens materiais, concentrando riquezas transitórias que não ultrapassarão a fronteira do túmulo, ao contrário do que ensinou o Mestre Jesus: “Não acumuleis tesouros na Terra, onde a ferrugem tudo consome, e onde os ladrões desenterram e roubam”. (Mateus 6:19). Por conta desse comportamento é que o egoísmo é considerado o pior dos males da sociedade humana. O Espiritismo não está interessado em destronar nenhuma religião, ou fazer proselitismo junto àqueles que já estão ligados a qualquer ordem religiosa, pois nada impõe; apenas, expõe. O trabalho espírita é exercido de maneira voluntária e consciente, estando com as portas abertas a toda pessoa que deseje conhecê-lo. Sua base reside em Deus – “inteligência suprema, causa primária de todas as coisas” (L.E., Questão nº 1) − no Espírito na continuação da vida após a morte na pluralidade das existências (reencarnação) e na comunicabilidade entre os dois planos (mediunidade). Não precisou criar nenhuma moral nova, pois a tem no Evangelho. Jesus, para o Espiritismo, “(...) constitui o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da lei do Senhor (...).” (idem, nº 625). Muitas das ideias, apresentadas no Pentateuco Espírita, se acham presentes nas várias crenças, culturas e correntes do pensamento universal, tocando em muitos assuntos que interessam ao ser humano. A cada geração, “a obra básica” vai se afirmando, num processo de crescimento fraternal e democrático, respeitando o livre-arbítrio de cada um. As religiões tradicionais são seculares, tendo cada uma o seu passado registrado nos livros históricos. O Espiritismo conta, apenas, com 159 anos, marcando uma nova era da História da Humanidade. Foto: Gloogle Imagens
Tudo em nós mesmos! BRENA SILVA Salvador-BA
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Doutrina Espírita nos ensina que nossa condição de mulher ou homem é, apenas, uma maneira de experienciarmos a existência humana rumo à evolução. Somos, em essência, Espíritos e, portanto, não temos sexo. Assim, estamos homens ou mulheres em determinados momentos de nossa caminhada. As perguntas 201 e 202 de “O Livro dos Espíritos” esclarecem: P. 201. O Espírito que animou um corpo de um homem, em uma nova existência, pode animar o de uma mulher, e vice-versa? – Sim, são os mesmos Espíritos que animam os homens e as mulheres. P. 202 Quando se é Espírito, prefere-se encarnar no corpo de um homem ou de uma mulher? – Isso pouco importa ao Espírito; ele escolhe segundo as provas que deve suportar. Os Espíritos se encarnam homens ou mulheres porque eles não têm sexos. Como devem progredir em tudo, cada sexo, como cada posição social, lhe oferece provas e deveres especiais, além da oportunidade de adquirir experiência. Aquele que fosse sempre homem não saberia senão o que sabem os homens. As diferenças entre homens e mulheres, assim, não assinalam nenhum tipo de inferioridade física, psicológica, ou moral de um para o outro. Se elas possuem menor força muscular e diferente constituição corporal, é para poder experienciar, nesta organização somática, as belezas e agruras tão peculiares, de ser uma mulher, desenvolvendo habilidades psíquicas, afetivas, intra e interpessoais, de maneira singular e produtiva. Tal visão bela e igualitária da Mulher é trazida pelo advento do Espiritismo. Reconhecendo e admirando as características delicadas e sublimes do ser em estado feminino, Léon Denis nos brinda em seu livro “No Invisível”, com o seguinte texto: “Durante longos séculos a mulher foi relegada para segundo plano, menosprezada, excluída do sacerdócio. Por uma educação acanhada, pueril, supersticiosa, a manietaram; suas mais belas aptidões foram comprimidas, conculcado e obscurecido o seu caráter. (...). O moderno Espiritualismo, graças às suas práticas e doutrinas, todas de ideal,
de amor, de equidade, encara a questão, de modo diverso, e resolve-as, sem esforço e sem estardalhaço. Restitui à mulher seu verdadeiro lugar na família e na obra social, indicando-lhe a sublime função que lhe cabe desempenhar na educação e no adiantamento da Humanidade. Faz mais: reintegra-a, em sua missão de mediadora predestinada, verdadeiro traço de união que liga as sociedades da Terra às do Espaço (...). O materialismo, não ponderando senão o nosso organismo físico, faz da mulher um ser inferior por sua fraqueza e a impele à sensualidade (...). Com o Espiritualismo, porém, ergue de novo a mulher a inspirada fronte, vem associar-se, intimamente, à obra de harmonia social, ao movimento geral das ideias. O corpo não é mais que uma forma tomada por empréstimo; a essência da vida é o Espírito, e, nesse ponto de vista, o homem e a mulher são favorecidos por igual. Pelo Espiritismo, se subtrai a mulher do vértice dos sentidos e ascende à vida superior. Cessa, desde então, a luta entre os dois sexos. As duas metades da Humanidade se aliam e se equilibram no amor, para cooperarem juntas, no plano providencial, nas obras da Divina Inteligência.” (DENIS, 1973, p.78-80) Neste dia 8 de março, relembramos a história das bravas mulheres que desencarnaram no incêndio numa fábrica, ao lutar pelos seus direitos, em 1857, e refletimos sobre tantas outras que, durante os séculos, sacrificaram-se pela incompreensão do império do homem. Lembremos, ainda, da mulher adúltera que seria apedrejada, a quem Jesus usou como o mais nobre exemplo de misericórdia para com as faltas alheias. Exaltamos, também, aquelas outras que, na existência carnal e espiritual, brindam a Humanidade, com um sorriso delicado, o colo maternal, o companheirismo abnegado, a força moral que não cede às intempéries da vida, o trabalho incessante em quantas jornadas diárias forem necessárias e, mais ainda, o cálice sagrado onde Deus depositou a responsabilidade da Vida. E, por fim, não esqueçamos, nunca, que o mais iluminado Espírito que já passou pelo nosso planeta, foi recepcionado no seio amantíssimo de Maria, elevada, por ele mesmo, à condição de mãe terna de toda a Humanidade terrestre.
Foto: Gloogle Imagens
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Jesus e as mulheres E
m todas as formosas facetas da existência de Jesus, quando esteve na Terra no Seu ministério de amor, observamos a grandeza dos valores que O caracterizavam. Jamais foi surpreendido em uma atitude que contradissesse o ministério elevado a que se devotava com abnegação até a oferta da própria existência no infamante madeiro da cruz, que Ele transformou em asas de libertação. Nenhuma palavra, gesto algum constituíram oposição à Sua mensagem de amor e de misericórdia, mesmo quando perseguido de maneira pertinaz pelos inimigos do Bem. Teve a elevação moral de opor-se a todos os preconceitos, filhos da ignorância e do egoísmo, que dominavam a desvairada sociedade de então, perdida nas alucinações do poder e da guerra como da indiferença pelos pobres e oprimidos. Os campos abandonados e as cidades abarrotadas de mendigos e de infelizes de toda ordem, demonstravam a decadência da administração do país, vítima da submissão a Roma que elegia os seus governantes... Concomitantemente, a revolta e o dissabor alucinavam os mais fracos, que tentavam reagir às circunstâncias inditosas, silenciados por castigos atrozes, prisões irrespiráveis e morte impiedosa. Sem alarde, mas com vigor, revogou as leis absurdas defluentes da barbárie, do período vivenciado na aridez do deserto... Ante os poderosos do transitório poder, manteve sempre a dignidade, sem humilhar os enganados nem submeter-se-lhes. Modificando as estruturas religiosas 20 Tribuna Espírita • março/abril • 2016
fundamentadas na aparência e nos símbolos do esoterismo decadente, ampliou o entendimento da Verdade, desvestiu os mistérios e os cultos em que se locupletavam os sacerdotes, manteve convivência com os humildes e desconsiderados. Sempre esteve ao seu lado, nas tascas, nas praias, nas ruas, em toda parte, erguendo-os e dando-lhes nobreza. Glorificava o Reino dos Céus, sem menosprezar os deveres terrestres, exaltando-os com normas educativas para a evolução. Sereno, era sempre arguido pela malícia e astúcia do comportamento dos cidadãos pusilânimes, e utilizou-se da energia do Bem para desmascará-los e facultar-
-lhes o arrependimento e a renovação. Sempre expressou misericórdia, mesmo onde a justiça deveria funcionar. Teve a Sua atenção dirigida à infância desvalida, à velhice abandonada, às mulheres desrespeitadas. Levantou sempre a voz em favor dos oprimidos e dos rebaixados. Embora não concordasse com os governantes arbitrários, demostrava respeito e admoestava-os para ação do bem e dos direitos humanos desconhecidos. Anunciou a felicidade mediante o trabalho e o culto da fraternidade, demonstrou que as diferenças das classes sociais, são resultados das paixões perturbadoras e que o mais útil é sempre mais importante do que o ocioso dourado. Recusou toda e qualquer homenagem que Lhe exaltasse o ego, transferiu as Suas obras grandiosas para Deus. Fez-se servidor, viveu para auxiliar sem limites nem exceções. As suas palavras eram comuns, porém, faziam-se poderosas e de significado tão profundo que ninguém as pôde repetir conforme Ele as proferia. Jesus é a mais elevada expressão de vida que a humanidade conhece. * Foi, no entanto, em relação à mulher ultrajada ou que se permitiu perder a dignidade que a Sua ternura atingiu índice de docilidade inabitual entre as criaturas. A mulher era tão subalterna que não se deveria saudá-la em público, apresentar-se fora do lar sem um membro da família acompanhando-a. Sem significado social e humano, era submetida à humilhação e à sujeição, às
penalidades absurdas, sempre culpada pelos delitos aos quais fosse empurrada por criaturas inescrupulosas. Na Samaria detestada pelos judeus, elegeu uma mulher enredada em conflitos e angústias, desrespeitada em seus sentimentos, sem a hora da maternidade para desvelar-se-lhe na condição do Messias! Na praça publica impediu uma sofredora surpreendida em adultério, ameaçada por pecadores mais graves e os afastou com uma singela resposta à indagação sórdida que Lhe haviam feito: - ‘Aquele que tiver sem culpa atire-lhe a primeira pedra.’ Na residência de Lázaro, em Betânia, convidou Marta a seguir o exemplo de Maria que se detinha na melhor parte, que era ouvi-Lo e viver-Lhe os ensinamentos. Para escândalo de Simão e dos seus convidados, aceitou a demonstração pública do bálsamo perfumado que uma Lhe ofereceu, e lavou os Seus pés enxugando-os com os seus cabelos, sem receio dos comentários e críticas mordazes. ... E por causa desses sentimentos inabituais estava sempre cercado pelas mulheres que, sob o Seu tutorado, não temiam a nada ou a ninguém e O seguiam com fidelidade. Foi o primeiro psicoterapeuta a atende-las e a reabilitá-las. Ele sabia que a mulher, pela sua constituição orgânica e hormônios é a força na qual a humanidade se apoia. Sem demérito para os homens, a maternidade que a sublima, é o ponto de partida para a exaltação da vida e a glória estelar no mundo. Estimulando-a a libertar-se da escravidão apontou-lhe o caminho austero e livre do amor e da abnegação para erguer a Deus todas as criaturas. Hoje, no entanto, com as exceções respeitáveis, ei-las, as mulheres escravas mais submissas das dissoluções, dos crimes de toda espécie, esquecidas dos santos compromissos maternais, da responsabilidade, competindo com alguns homens vis sem semelhantes degradações... Os degraus da ascensão que as elevam, pareceram ruir, derrubando as imprevidentes, qual ocorreu com as noivas invigilantes da Sua parábola. * Ele permanece, no entanto, o mesmo, auxuliando-as a todas que O busquem, que se encontrem mergulhadas na aflição, no desencanto e no arrependimento. Quando a mulher se reerguer, disposta à conquista da plenitude, Jesus a estará aguardando, e sorrindo-lhe dirá: - Bem aventurada servidora do Pai, fiel cocriadora com Ele. Joana de Ângelis (página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica da noite de 21 de outubro de 2015, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.) Foto: Gloogle Imagens
Racismo RAIMUNDO RODRIGUES ESPELHO Campinas-SP
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unca podemos nos esquecer, que todo tipo de discriminação é uma forma de iniciar a violência. No Brasil, a discriminação racial é proibida pela “Lei Afonso Arinos”, promulgada em três de julho de 1951. Segundo essa lei, todos que negarem os mesmos direitos a negros, judeus, ou quaisquer outras raças, sofrerão penas diversas, como multas e prisões. A mídia, em geral, está constantemente focalizando o assunto, procurando alertar sobre esse delito; pois, desde os mais humildes, até autoridades graduadas, cometem essa falta muito grave. Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos, certamente, haverá guerra. Não pode, em hipótese alguma, haver discriminação racial ou social. O que falta, para o povo em geral, é um pouco de religião. Lembremo-nos de Jesus, que é para a Humanidade, o modelo da perfeição. No dia 13 de maio de 1888, a Princesa Izabel, filha de Dom Pedro II, sancionou a “Lei Áurea” que deu liberdade total aos negros. No dia 20 de agosto, é comemorado o “Dia da Consciência Negra”, em homenagem ao aniversário do assassinato do líder Zumbi dos Palmares. Muitas conquistas podem ser celebradas; mas, enquanto as prisões continuarem lotadas por esses nossos irmãos, humildes trabalhadores, o ódio e o desejo lhes prejudicarão muito. Na questão 829 de “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec esclarece, bem, esse assunto tão delicado. Vejamos como ele escreve: − Há homens que sejam, por natureza, destinados a serem de propriedade de outros homens? − Toda sujeição absoluta de um homem a outro homem é contrária à lei de Deus. A escravidão é um abuso pela
força e desaparecerá com o progresso, como desaparecerão, pouco a pouco, todos os abusos. A lei humana que consagra a escravidão é uma lei antinatural, visto que assemelha o homem ao animal e o degrada, moral e fisicamente. Amigos e amigas leitores: Em hipótese alguma, podemos desrespeitar o que e quem quer que seja. Respeite, sempre, e verás que, também, serás mais respeitado. No dia 8 de dezembro de 2015, o “Correio Popular”, um dos principais jornais da região metropolitana de Campinas, no Estado de São Paulo, publicou importante matéria, com o título: “Atriz Sheron Menezes é alvo de comentário racista”. Em introdução à matéria, o jornalista registra: “Mais uma atriz da TV Globo foi alvo de preconceito racista na internet. Desta vez, a vítima foi Sheron Menezes que interpretou a advogada Paula na novela Babilônia. Ela recebeu comentários racistas, em foto postada em companhia de seu noivo, Saulo Bernard, no ‘Facebook’, na sexta feira passada (4 de dezembro). Um usuário publicou uma montagem, com a foto da atriz com rosto de macaco, e a legenda: ‘Qualquer semelhança é mera coincidência’”. De imediato, a atriz desabafou no seu perfil, com o título de “Desprezíveis Racistas” ... (transcrevemos, somente, este início, porque o texto é muito longo). Mas, vejamos, amigos e amigas leitores, quanta irresponsabilidade dessas criaturas que desrespeitam as leis, cometendo tanta contravenção penal. O que será que os leva para esse caminho tão tortuoso? Falta de berço? Falta de pais voltados para os filhos? Falta de religião? Nunca nos esqueçamos: Respeitemos, para sermos respeitados. março/abril • Tribuna Espírita • 2016 21
Luzeiros de Abril OCTÁVIO CAÚMO SERRANO João Pessoa-PB
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8 de abril de 1857. Surgia um grande foco de luz para iluminar os caminhos da Humanidade. Foi nesse dia que o Espiritismo viu lavrado o seu Registro de Nascimento como doutrina oficialmente organizada, graças ao lançamento da primeira edição de “O Livro dos Espíritos”. 501 questões, divididas em três partes, sendo as duas primeiras em duas colunas. À esquerda, perguntas e respostas e, à direita, maiores explicações sobre cada questão. Na terceira parte, perguntas e respostas em sequência. Sobre esse Livro, o “Courier de Paris”, de 11 de junho de 1857, estampou o seguinte artigo, que resumimos: “A Doutrina Espírita. Faz pouco tempo publicou o Sr. Dentu uma obra deveras notável; diríamos mesmo muito curiosa, se não houvesse coisas às quais repugna qualquer classificação banal. O LIVRO DOS ESPÍRITOS, do Sr. Allan Kardec, é uma página nova do próprio grande livro do infinito e, estamos persuadidos, uma marca será posta nesta página. Não conhecemos o autor, mas proclamamos que gostaríamos de conhecê-lo. Quem escreveu aquela introdução que abre O LIVRO, deve ter a alma aberta a todos os sentimentos nobres.” Diz o editor, usando sinceridade, que jamais fez um estudo das questões sobrenaturais; mas, se os fatos produzidos não lhe causaram admiração, pelo menos, não o levaram a dar de ombros. Diz-se um pouco da classe chamada dos sonhadores, porque não pensam como todo mundo. Ao cair da tarde, quando na volta para casa, vendo apenas cabanas esparsas, pensava em coisas muito diversas das Bolsas, ou das corridas de Longchamps. Muitas vezes, se interrogou antes de ter ouvido falar em médiuns, a respeito do que se passava nas regiões que se convencionou chamar o Alto. Há tempos, chegou mesmo a colocar uma teoria sobre os mundos invisíveis, guardando-a ciosamente para si, mas se sentiu muito feliz porque a encontrou quase que por inteiro no livro do Sr. Kardec. Observem a lucidez desse editor, o que não se vê em muitos espíritas amadurecidos: “Aos deserdados da Terra, a todos quanto marcham e que nas suas quedas 22 Tribuna Espírita • março/abril • 2016
regam com as lágrimas o pó da estrada, diremos: Lede O LIVRO DOS ESPÍRITOS; ele vos tornará mais fortes. Também aos felizes que pelo caminho só têm as aclamações e os sorrisos da fortuna, diremos: Estudai-o e ele vos tornará melhores. O corpo da obra, diz o Sr. Kardec, deve ser atribuído inteiramente aos Espíritos que o ditaram. Está admiravelmente dividido no sistema de perguntas e respostas. Por vezes, estas últimas são sublimes, o que não nos surpreende; não foi necessário um grande mérito a quem as soube provocar? Desafiamos os incrédulos a rir quando lerem o livro em silêncio e solidão. Todos honrarão quem escreveu tal prefácio.” Diz o editor que a doutrina se resume em duas palavras: não façais ao outro o que não quereis que vos façam. Lamenta que o Sr. Kardec não tivesse acrescentado: E fazei aos outros como quereríeis que vos fizessem. Mas ele ressalta: “Aliás, o livro o diz claramente, sem o que a doutrina não seria completa. Não basta não fazer o mal; é preciso ainda que se faça o bem. Se fores apenas homem de bem, só terás cumprido a metade do dever. Somos um átomo imperceptível desta grande máquina chamada mundo, na qual nada é inútil. Não nos digam que é possível ser útil sem fazer o bem; seríamos forçados a responder por um volume. Lendo as admiráveis respostas dos Es-
píritos na obra do Sr. Kardec, dissemos a nós mesmos que havia um belo livro a escrever. Logo verificamos, entretanto, o nosso engano; o livro já está escrito. Procurando completa-lo, apenas, o estragaríamos.” E ele aconselha: “Quem é homem de estudo e tem aquela boa fé que apenas necessita instruir-se leia o Livro Primeiro, sobre a doutrina espírita; se está na classe das criaturas que apenas se ocupam consigo mesmas e que, como se costuma dizer, fazem os seus negócios muito tranquilamente e nada enxergam além dos próprios interesses, leia as Leis Morais; se a desgraça o persegue, encarniçadamente, e a dúvida o tortura por vezes no seu abraço gelado, estude o terceiro livro: Esperanças e Consolações. Todos quantos aninham pensamentos nobres no coração e acreditam no bem, leiam o livro da primeira à última página. Aos que encontrassem matéria para zombaria, o nosso sincero lamento. Assina G. du Chalard – Courrier de Paris” Em 18 de março de 1860, na segunda edição, o livro passaria à forma atual e não mais mudou. Em 1º de abril de 1858, Kardec acendia outra luz, quando cria a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, o primeiro Centro Espírita regular para estudo do Espiritismo, enfatizando a importância de estudar a Doutrina. Espírita que não estuda o Espiritismo não é espírita. É mero simpatizante dessa nova Doutrina. Finalmente, em 29 de abril de 1864, Allan Kardec edita o Livro que define o aspecto religioso da nossa Doutrina. Assentada, de início, nas bases científica e filosófica, agora, aparece na cúpula que a eleva em direção ao Céu. Já, quando Kardec rascunhava o Livro que chamou inicialmente de “Imitação do Evangelho Segundo o Espiritismo”, segundo semestre de 1863, recebeu cumprimentos da espiritualidade pela iniciativa de lançar essa obra. Como os demais da Codificação, este livro também precisa ser mais estudado pelos espíritas que o usam, quase sempre, como livro de rezar ou na prática do “Evangelho no Lar”. Nossa gratidão ao Codificador, por estes divinos presentes. Que Deus o abençoe onde esteja! Gloogle Imagens
Sepulcros Caiados O
Brasil é o coração do mundo, por ter sido o único país a disponibilizar o coração em favor do próximo. Esta Terra do Cruzeiro foi escolhida por Jesus, para transformar-se num imenso hospital destinado a enfermos e convalescentes... Todos, ansiosos pelo pleno restabelecimento da saúde; antes de tudo, da alma enfermiça. Fascinante continente, talhado pelo buril abençoado de escultores siderais com a finalidade de obterem a forma e a generosidade de um coração, abrigo seguro e acolhedor, para as legiões de Espíritos, esfalfados do pretérito, na busca incontida da serenidade do amor. Ismael e sua equipe de colaboradores incansáveis acolheram, esperançosos, os déspotas do passado, os hipócritas recalcitrantes, os insensíveis fomentadores de guerra, os galanteadores inescrupulosos, os presos às formalidades sociais..; todos, sem exceção, exaustos de tantas mentiras e de tantas exterioridades, se prontificaram, ante o mentor espiritual do Brasil, a demolir os mausoléus onde haviam se instalado, assumindo com eles próprios, o compro-
misso de erguer, no templo da alma, um pedestal onde depositariam a figura feérica de Jesus... Quando o Divino Amigo se referia a ‘pranto e ranger de dentes’, incluía, também, o difícil processo de autossuperação a ser enfrentado por cada alma, sinceramente arrependida e decidida a mudar de atitude, ainda que, para isso, necessitasse retornar ao palco da vida, numa dramática situação de miserabilidade... Veio, em grossas massas humanas, habitar este imenso país... Nas palafitas, no meio da selva amazônica, sofrendo o mais completo isolamento das metrópoles; no pantanal, para viverem semialfabetizados, distante da cultura e da civilização; no sertão nordestino, para conviverem com a aridez das terras castigadas pelo sol e pela seca... Para que essas criaturas, sofridas e necessitadas, pudessem sentir no próprio lombo o azorrague das provas mais duras, suplicaram ao Criador que fossem encaminhadas às terras onde os seus governantes, em sua maioria, fossem insensíveis à pobreza e a dor alheia, transformando-se em propiciadores de suas evoluções.
Carregando, no coração, o germe de se parecerem melhores, passaram a se apresentar, diante dos homens, com qualidades que não possuíam: aprenderam a recitar, de cor, frases de efeito, capazes de impressionar; a frequentar, metodicamente, templos religiosos, como que o solo, onde se pisa, bastasse para transformar a criatura. Refiro-me àqueles que conduzem, na ponta da língua, máximas filosóficas importantes; para os outros... Estes foram comparados, por Jesus, a sepulcros, caiados por fora, cheios de podridão, por dentro. Compadeçamo-nos dos que trocaram o castelo medieval pela casa popular; que saíram dum mundo preconceituoso, para viverem num país miscigenado, ainda assim, suficiente para os fazerem felizes. Mesmo compreendendo que esses amigos – que, até certo ponto, podemos nos incluir – conseguiram, de certa maneira, instalar na consciência a necessidade de transformação, ainda que, em princípio superficialmente, mas, o simples fato de tentarem se parecer melhores, com o tempo, pela repetição de suas quedas, frustrações e aprendizagens, passaram a compreender que necessitavam arrancar, de vez, as vestes aveludadas das ilusões, para se revestirem das suaves e doces verdades do Evangelho. Lindemberg (Mensagem mediúnica recebida por Zaneles Lima de Brito, em 12.01.2016, na Associação Espírita Leopoldo Machado, em Campina Grande-PB)
Relações Fraternas na Casa Espírita IGOR MATEUS Natal-RN
“Espíritas, amai-vos, eis o primeiro mandamento, instruí-vos, eis o segundo.” – (O Espírito de Verdade) Caros irmãos de ideal espírita, caso pudéssemos enxergar além do que os nossos olhos materiais permitem, atentando para os horizontes espirituais que nos circundam no momento em que nos reunimos no centro espírita para, em nome de Jesus Cristo, realizarmos as nossas atividades, seguramente teríamos o nosso ânimo fortalecido. Sabemos da importância destes instantes, não somente para nós mesmos, mas para todos os irmãos presentes, encarnados e desencarnados. À medida que oferecemos a nossa cota de trabalho, espíritos há, tanto nos ajudando no campo da sugestão das ideias, como também aprendendo, assim como nós mesmos. Nos instantes em que passamos reunidos na Casa Espírita, não apenas, ficamos na teoria; são momentos em que temos a oportunidade de praticar. Vivenciamos as Leis de: sociedade, progresso, liberdade, justiça, amor e caridade... Gloogle NoImagens decorrer desse caminho de aprendiza-
do, como em toda a nossa vida, dificuldades irão surgir, aqui e ali, com o objetivo de nos ensinar os imperativos da perseverança, da disciplina e da fé. São os imprevistos de última hora, que tendem a nos impedir de chegar à Casa Espírita; são as dificuldades de aprendizado que martelam na nossa mente, nos convidando à desistência; são, até, as dificuldades de relacionamento com irmãos que, muitas vezes, trilham, juntamente conosco, a estrada do reajuste mútuo. Importante se faz, que possamos continuar persistentes, lembrando que somos servos de Jesus Cristo e a ele devemos prestar contas dos nossos atos. Busquemos exercitar a indulgência para com os nossos irmãos de jornada, pois, nós mesmos, temos necessidade de indulgência para com os nossos erros e deslizes. Na instituição espiritista, como em qualquer outra do planeta, não encontraremos companheiros perfeitos, mas Espíritos ainda no caminho do progresso, todos, com algo a corrigir e muito a aprender, misturando qualidades e pequenas imperfeições que fazem parte do nosso estado evolutivo. Em nossos grupos de trabalho no Centro Espírita, todos são extremamente importantes. Cada um, na sua individualidade, é parte fundamental, para a composição da harmo-
nia das diversas atividades realizadas. Em essência, estamos todos oferecendo o nosso óbolo que, provavelmente, ainda, tem a dimensão de uma pequena gota no oceano; mas, parafraseando Madre Teresa de Calcutá: sem essa gota o oceano seria menor! Nesse sentido, convidamos os irmãos à perseverança, tendo a certeza de que, se é verdade que somos todos trabalhadores da última hora, também, é verdade que, o Senhor da Vinha espera ter em nós trabalhadores conscientes, que devem ser capazes de multiplicar as benesses do esclarecimento e do atendimento fraterno, onde quer que se encontrem. Assim, amigos, unamo-nos no mesmo ideal, prosseguindo todos, de mãos dadas, auxiliando-nos, mutuamente, na esperança constante de, a cada dia, podermos aprender um pouco mais sobre o Espiritismo, assim como sobre as próprias Leis Divinas que regem o Universo. Estudo e esclarecimento são processos contínuos; não têm fim. Sempre, teremos algo a aprender e a valiosa oportunidade de colocar esse aprendizado em prática! Que Jesus nos abençoe, e que os nossos mentores espirituais nos amparem, fortalecendo-nos na caminhada do nosso aprimoramento pessoal e do planeta, onde fomos chamados a viver. Um abraçojaneiro/fevereiro fraterno; muita e Luz! • TribunaPaz Espírita • 2016 21
Outro Apocalipse? LISZT RANGEL Recife-PE
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á milênios, o Homem se preocupa com sua origem e destinação. Antes mesmo de levantar-se em profundas reflexões através da dialética, da filosofia socrática, platônica e aristotélica, o ser humano, mesmo movimentado pelo instinto de sobrevivência, de alguma forma tentou controlar a força implacável da natureza que sempre ameaçou a sua sobrevivência. Afinal de contas, viver é preciso! Entretanto, todas as vezes em que o Homem se encontra diante de uma desordem social, econômica, política, religiosa e moral surge o fenômeno do pânico. Desestabilizado em seu eixo, recorre às medidas mais urgentes, quer usando o Estado para atuar mediante a sua declaração de falência e inapetência para lidar com certos problemas sociais e familiares, quer recorrendo às próprias mãos para se constituir senhor e assim tornar-se justiceiro, quer especulando por meios místicos, aproveitando a fé simplória do povo, como veículo de divulgação de assombros e catástrofes que deverão se abater sobre esta pequena bola solta no espaço, a Terra. Na causalidade deste desejo mórbido, pode-se identificar o próprio vazio existencial. A angústia por um amanhã incerto, as ameaças de guerras de extermínio por vírus e bactérias, a descrença no poder público e judiciário, a desigualdade social que impera galopante em vários países do mundo e a estranha sensação de que, mesmo tendo conquistado a liberdade, o Homem a trocou pela segurança, através das posses, dos carros blindados, dos luxuosos condomínios fechados, das festas com lista de convidados seletos, das inúmeras câmeras que o resguardam da violência das ruas. E, apesar de tudo ainda é infeliz... e teme a sua principal adversária, a morte. Em psicanálise, costuma-se dizer que, quanto mais se teme algo, mais próximo o indivíduo fica do que lhe causa temor. E não é assim que vemos nos relacionamentos amorosos algumas vezes? Ou nos comportamentos infantis e dos adolescentes? Escolhemos também como acompanhantes, velhas reedições de re24 Tribuna Espírita • março/abril • 2016
lacionamentos infelizes e que muitas vezes foram vividos por nossos pais. Quem busca a morte, encontra; quem busca dor, acha. Mas, isto também vale da mesma forma e intensidade para quem busca o reverso. Sim, porque sempre há o reverso da moeda. É, como corredores de cem metros; há sempre aqueles que estão nas extremidades. Portanto, quem busca vida, vive e, não apenas, existe. Quem busca amar, termina por se descobrir amante, mesmo quando não amado e assim por diante... Isto nos leva, consequentemente, a outra questão, a das escolhas. Jean-Paul Sartre já disse uma vez, “Eu posso sempre escolher, mas devo estar ciente que, se não escolher, assim mesmo estarei escolhendo.” Isto é inevitável! E, agora, surge a pergunta: por que escolher sempre
a tragédia como solucionadora de nossas angústias, dores e incertezas? Justamente, na hora em que deveríamos tentar olhar para a miséria moral e sem limites em que nossos jovens se encontram, quando estamos destruindo o planeta, diariamente, ou envolvidos em corrupção, inundando as ruas de petróleo; por que o que propomos como saída, são sempre atitudes extremistas? O que pode resultar na nossa declaração de inapetência, por não sabermos lidar com nosso fracasso. Então, fala-se em guerra, em catástrofes naturais, mudança do eixo da Terra, em fim de mundo e, agora, surge um novo surto psicótico, ou como poderíamos chamar de uma nova neurose coletiva, a tal da DATA LIMITE!
Já não bastaram as profecias astecas, as maias, as celtas, as tibetanas, as de Nostradamus e as dos X-MEN; agora, temos a profecia do respeitável e inesquecível Chico Xavier? Seja, por negligência humana; seja, por ordem de um Deus cristão vingativo que ainda é típico de uma concepção católica, ou por invasão de extraterrestres que administrarão o planeta em uma espécie de governo de transição, após a raça humana ter recebido um “impeachment”, o que está sendo divulgado em larga escala só comprova a nossa estreita ligação com religiões apocalípticas. O Homem já vem em busca de ocupação em outros lugares fora da Terra, desde o início da guerra fria. Isto não é novidade. A Medicina já vem divulgando que, a partir de 2020, teremos dado grandes saltos na descoberta da cura para inúmeros males, incluindo o melhoramento na qualidade de vida e a longevidade humana. Países, como a França, já anunciaram, oficialmente, que estão com registros de extraterrestres, e isto já foi assunto, até, na pauta da ONU. Vale ressaltar, algumas coisas importantes. Quando se fala em revelação sobre isto ou aquilo, é preciso ter documentos; e na entrevista, “Pinga Fogo”, na qual se baseiam os defensores ardorosos de tal hecatombe, não se pode dizer que ali, existe material suficiente, oferecido pelo honrado Chico Xavier, prevendo a desgraça da Humanidade. Pelo contrário, ele nos fala de uma possibilidade de uma nova era de fraternidade, de renovação dos paradigmas afetivos e intelectuais. Ou será que, como verdadeiro e sincero espírita, ele não sabia que Deus é infinitamente bom? E não podemos esquecer que, se nós, seres imperfeitos e ignorantes, conseguimos ter misericórdia e compaixão para com quem sofre, imagine Deus? Fazendo uma análise apurada do documentário, percebe-se a tentativa, na introdução e no desfecho, que a direção do material produzido teve, em realçar a figura do Chico, para dar respaldo ao conteúdo que virá a seguir. Incluindo a fala do respeitável e incansável Divaldo
Franco que, do mesmo jeito que o Chico, suas obras testemunham quem eles são. O Chico não precisa disto, pois sua trajetória de transformação se operou sem testemunhas oculares, na madrugada em solidão, e sua DATA LIMITE nunca existiu, porque, sempre, ensinou que a qualquer hora o Homem podia fazer uma história diferente. Ele fez questão de, ao invés de semear terror, espalhar esperança e consolo aos aflitos. Apresentada a defesa desnecessária da integridade de Chico, começam os “depoimentos na madrugada”, em que “Chico disse isto”, “Chico disse aquilo”. Porém, é preciso ter-se em mente que o Chico não se encontra fisicamente entre nós, para se defender ou afirmar o que dizem, ou que o que ele teria dito. Mais uma vez, vemos repetir-se o que fizeram com Sócrates, Platão, Francisco de Assis, Madre Teresa, Jesus de Nazaré e, agora, com um dos vultos mais marcantes que sempre vem sendo colocado sob um véu de santidade e de mistérios, desde a sua morte. Será que não podemos ter a nossa própria luz, mesmo que seja a de um vaga-lume? E, assim, começa a segunda parte que é uma consequência da primeira; a de que o Brasil é o país escolhido para salvar o mundo... Já fomos o da Copa, e foi um fracasso, imagine, agora, para salvar o mundo? Não conseguimos, nem nos salvar dos corruptos que temos e de nossa própria vaidade e orgulho, buscando, sempre, os holofotes das plateias, os aplausos dos sofridos que deveriam ser para uma Causa e não para o nosso Ego... Surge, então, uma nova neurose coletiva, a de que o Brasil é o escolhido para receber imigrantes de todas as partes do mundo. Esta ideia apocalíptica, sempre, esteve acompanhada deste narcisismo ufanista. Foi, assim, com os gregos, com os maias, com os egípcios, com os romanos e todas estas civilizações faliram, por causa do orgulho e da arrogância. Estaríamos, então, em verdade, caminhando para este labirinto, cujo nome, em Espiritismo, se chama “Fascinação?” E, ainda mais, tentando atrair um maior número de desesperados, para que ela se torne coletiva? Já não bastaram as teorias alucinatórias e persecutórias dos chips implantados? A das legiões de dragões, das reencarnações de celebridades do passado? E o espetáculo das cirurgias cortantes? E, agora, os shows mediúnicos das psicografias que são cobradas em grandes teatros? Já não bastam os leilões de obras, ditas como mediúnicas, de artistas famosos? Sempre, queremos mais. Estamos achando pouco o que já escolhemos, Foto: Gloogle Imagens
como meio de expiações e provas por nosso comportamento hediondo no pretérito e, agora, queremos comprometer os caminhos daqueles que buscam esclarecimento e consolo no Espiritismo? Além de nos comprometermos, pessoalmente, com nossos equívocos, falhas morais, desajustes na personalidade, agora, iremos solapar as bases de uma Ciência e de uma Filosofia, cujo alcance moral ainda não conseguiu nos atingir? Em pesquisa, apresentem-se as provas materiais! E, assim, só a partir daí, as colocaremos sob a razão ensinada e não esquecida por Rivail, utilizando, como método, o Controle Universal dos Ensinos dos Espíritos. Através
de médiuns que não se comuniquem entre si, e que os ditados venham por diversos Espíritos; só, assim, avançaremos moral e intelectualmente. Os próprios Espíritos ensinaram a Rivail que, nas Leis Naturais, a do “Progresso”, sempre, impera, mesmo diante da “Lei da Destruição”. Se a morte nos espera, qual motivo, então, para o Codi-
ficador ter escrito, com convicção, em “O Céu e o Inferno”: “por que o espírita não teme a morte.” Então, adeptos desta fé raciocinada, não façamos soar a hora do horror, nos ouvidos que se acostumaram a escutar os gritos da misérias sombrias. Se no apresentamos como sinceros espíritas, quais lucros teremos com as notícias que, apenas, exaltam o nosso orgulho de nos sentirmos escolhidos de Deus e melhores de que nossos companheiros de viagem? Que as multidões de aflitos possam ouvir, de vossos lábios e de vossas obras, esclarecimentos libertadores e consoladores, posto que essas massas já não necessitam, mais, de falsas promessas de um paraíso inatingível, muito menos, das ameaças da psicologia do medo. Os tempos anunciados por Rivail foram bem delineados, “é a despedida de uma geração e a chegada de outra”, conforme se observa em “A Gênese”. E deixou claro que, nestes novos tempos, o que se agitariam, seriam as entranhas da Humanidade, e não mais as devastações naturais. Se o Homem anda tomando atitudes que o levarão à morte e à dor, ao caos social e moral, não é porque estava previsto, mas é por suas escolhas atuais. Então, escolher, é o grande enigma a ser revelado!!! Avancemos então, sem a perda de tempo com ameaças de terror, nem nos elegendo como mártires de um Cristianismo que o tempo se encarregou de apagar. A essência da mensagem de Jesus de Nazaré é de estímulo em uma fé que se renova nas atitudes edificantes e não sob o estalar do chicote do pavor!
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março/abril • Tribuna Espírita • 2016 25
Chapeuzinho Vermelho e o Problema do Mal: (Análise, com base na obra de Joanna de Ângelis) DENISE LINO
Campina Grande-PB
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m texto que publiquei, anteriormente nesta coluna, discorri sobre a nova série da obra de Joanna de Ângelis, psicografada por Divaldo Franco, na qual figura um título que, particularmente, me tem chamado bastante atenção: “Liberta-te do Mal”, a cuja tese volto, neste artigo, a fim de usá-la num estudo de caso. A tese referida é concisa e simples; porém, profunda. Diz a mentora, no prefácio da obra:“Evita o mal ou liberta-te dele, caso já se encontre instalado.” A respeito do mal, no nível evolutivo em que a maioria de nós se encontra, o problema parece ser identificá-lo, afastar-se dele, evitá-lo e superá-lo. Sendo esta última etapa, aparentemente, a mais difícil, o que enseja, inclusive, ditos populares como: “a carne é fraca”; “pau que nasce torto morre torto” e, “até a cinza é torta”; e, inclusive, a síndrome de Gabriela:“Eu nasci assim, me criei assim e vou morrer assim! (sic!)” A abordagem do tema não é, exatamente, uma novidade, na obra da mentora. No livro “Dias Gloriosos”, psicografado pelo mesmo médium, em 1999, há um brilhante capítulo intitulado “Breve Ensaio sobre o Mal”, que pode ser tomado 26 Tribuna Espírita • março/abril • 2016
como um texto de fundamentos teóricos, metodológicos, psicológicos e espirituais sobre o tema. A fim de recuperar o pensamento da mentora, faz-se necessário uma síntese da referência citada. Inicialmente, o Mal é apresentado como um tema importante, tanto para estudiosos da Filosofia, quanto da Psicologia. Diz a mentora que, para Platão, era a face escura da personalidade humana; já, para Jung, era a sombra. Para ela, é o “eu inferior”, que ressuma do inconsciente, no qual dormem milênios de impulsos automáticos que a razão vem superando; mas que precisam ser decodificados. O Mal, segundo essa perspectiva, é tudo que é contrário à Lei de Deus, repetido, por automatismo e desconhecimento do mundo íntimo, que requer seja devassado, para ser identificado, compreendido e diluído. Em suma, em sua visão, o Mal faz mal àquele(s) que lhe sofre(m) a ação, claro; mas é, primeiro, prejudicial àquele que o pratica, dolosa ou culposamente. Reside no íntimo do ser que traz as tendências psicogênicas para tal, de modo que o contexto externo não tem forças para produzi-lo. Por isso, faz-se imprescindível tratá-lo, combatê-lo, superá-lo. A
terapia de erradicação consiste num processo de autoconhecimento, que deve envolver critérios de autocrítica, identificação sincera de responsabilidades, mecanismos de reparação da ação danosa, perseverança no tentame de superação, abertura ao amor, exercícios mentais de reflexão edificante, análises sobre vidas abnegadas e prece terapia, que favorece a sintonia com a Lei de Deus e, consequentemente, com a libertação do Mal. Com base nesse resumo, compreendemos que o Mal não é um elemento exterior à nossa personalidade. Ao contrário, está ínsito em nosso ser, de modo que nos faz sintonizar, gostar e nos imiscuir em situações perturbadoras, conflitantes, que geram muito sofrimento. Assim, não é o Mal, enquanto elemento externo, que nos atrai; somos nós que a ele nos atraímos. Essa, também, é a tese defendida por Eva Pierrakos, no livro “Não temas o Mal.” Eu só entendi essa tese, que parece estranha, até que superemos a análise superficial do tema, quando lembrei do que, certa vez, ouvi de uma delegada responsável por inquéritos relacionados a crimes de estelionato. Para ela, aqueles eram os piores casos. Indagada sobre o porquê da dificuldade, ela aduziu que se Foto: Gloogle Imagens
tratava, sempre, de vítimas-algoz. Não tendo entendido a resposta, solicitei esclarecimento e ela informou-me que, só, caem em estelionato, pessoas que desejam, facilmente, obter vantagens, e sem empregar nenhum esforço. Descoberto o golpe, posam de vítimas. Isto posto, passo a analisar as metáforas do conto “Chapeuzinho Vermelho”. É importante lembrar que essa narrativa faz parte da literatura ocidental, para a qual existem várias versões, cuja moral é: “cuide-se, pois o Mal anda solto, por aí.” Um primeiro símbolo dessa estória pode ser relacionado à exposição ao Mal. Como todos devem lembrar, a mãe pede/ manda a menina levar uma cesta de alimentos à avó que está doente. Recomenda, para que tenha cuidado, para não derrubar a cesta, chegar ao destino antes do pôr do sol e não ir pela floresta. Ora, que mãe daria tantas tarefas a uma filha ou filho “pequeno”? Não obstante, se possa pensar numa mãe que põe o filho no mundo, e o adverte dos perigos; recomendar, para não entrar na floresta, significa alertar que o mal está por perto, que é um obstáculo previsível. Em outras palavras, é o mesmo que chamar atenção, para o proibido que, de acordo com a sabedoria popular, é, sempre, mais atraente do que aquilo que está exposto. A mãe, nesse caso, é símbolo da negligência. Segundo a estória, a avó (que é símbolo da sabedoria) morava à beira da floresta; ou seja, à beira do perigo. Chapeuzinho (que é símbolo da imaturidade) ao aproximar-se da casa da avó, sente-se atraída pelo perigo, tanto que passa a dar atenção ao Lobo; ou seja, para dar atenção ao Mal, supostamente de modo inocente, respondendo às suas perguntas e experimentando o prazer que o desconhecido pode exercer sobre qualquer um de nós, quando nos aproximamos de uma situação desconhecida, com a impressão de que podemos dominá-la destemidamente, em sinal de pouca coragem, de muita imprudência ou imperícia.
A etapa seguinte, que já é a complicação da narrativa, informa que o lobo (símbolo do mal) foi astuto, como o Mal costuma ser, e antecipou-se, chegando à casa da avó antes da menina. É, nesse sentido, que se pode afirmar que qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência, dado que a fábula/ conto, em apreciação, não é uma obra ficcional, mas sim, uma composição, simbolicamente construída, para passar uma moral. Nesse passo da estória, a moral extraída desse simbolismo diz que o Mal, que nos faz mal, provém do nosso íntimo ou decorre das nossas atitudes. No caso em pauta, dar ao lobo as coordenadas para chegar à casa da avó − (como se o lobo não soubesse; mas ele sabia, porque
“Cuide-se, pois o Mal anda solto, por aí.” morava na floresta = reduto do Mal. Ele, apenas, confirmou as inclinações da menina) − é oferecer ao Mal a oportunidade de ele se instalar. Usando as palavras de Jesus para explicar, esse foi o momento em que Chapeuzinho (como todos nós) não orou nem vigiou e, portanto, caiu em tentação: atendeu ao Mal e, ainda, o dotou de informações privilegiadas. No clímax da narrativa, o Lobo, não apenas, mata a avó, mata, também, a neta e sente prazer nisso. Numa das versões, tida como original, não há final feliz. Dizem os historiadores que, na Antiguidade e, até, na Idade Média, era assim mesmo: as famílias mais pobres, que não tinham com que alimentar seus filhos, os colocavam na mata, para servirem de comida
para as feras. Essa versão histórica é muito feroz, para mim; prefiro os símbolos. Voltando à estória, vê-se, nessa passagem, que o Mal age, tanto dolosamente, como culposamente e é repetido por automatismo – mata uma e, depois, a outra. Porém, mais simbólica do que essa representação de morte, é a representação de abuso sexual que a estória faz pensar. Um lobo que se disfarça de figura venerável e insuspeita, para levar a “criança”, o “menor” e o “incauto” a descobrir as suas partes (olhos, mãos, pêlo, boca), sendo esse último, posteriormente, culpado por não ter tido o discernimento de identificar o Mal a tempo e, pior, ter, de alguma forma, gostado da “brincadeira”. Ou seja, o Mal que está em nós, nos usa, nos manipula e nos fazer sentir culpados. Para identificar essa face escura de nossa alma, só mesmo um sistemático trabalho de autoiluminação, como diz a mentora, nas suas obras mais recentes. O desfecho do conto é de um simbolismo profundo e retrata o desejo coletivo de segurança e proteção: um caçador (símbolo de coragem) salva a avó e a menina que já haviam sido comidas/mortas pelo lobo. Ou seja, o caçador é o símbolo de redenção. Uma vez fisgados pelo Mal, precisamos e desejamos uma nova oportunidade, para nos refazer, e a misericórdia divina permite que, como num parto cesariana, tal como foi feito no lobo, sejamos retirados dessa “placenta” de culpa e remorso em que nos colocamos, trazendo à tona, inclusive, aqueles que, por nossa incúria, foram vítimas do Mal. Evidentemente, numa análise espírita, o lobo não morre nem o Mal some. É preciso que a fonte do Mal seja resignificada, a fim de que a mesma energia que o fazia surgir seja direcionada para o Bem. Eu suma, em muitos casos, precisamos de uma nova reencarnação, “nascendo da água e do espírito”, para ‘combater o bom combate’ e vencer o Mal que, pasmem, está dentro de nós. E, nesse novo momento, urge evitar o Mal e dele nos libertarmos.
LUIS HU RIVAS
janeiro/fevereiro • Tribuna Espírita • 2016 27
anos
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