Espírita Tribuna
Ano XXXIV - Nº 188 novembro/dezembro - 2015 Preço: R$ 5,00
Edição especial em homenagem ao 1º centenário da FEPB
FEPB CENTENÁRIO DE LUZ
Sumário
2 3 4 5 6 7 8 10 11 12 13 14 15 16 19 20 22 23 24
Reflexões sobre o despertar
Necessidades Caminhando com Jesus O pão da vida Terrorismo de natureza mediúnica Considerando o passado Em busca da felicidade Concerto de vozes II
25 26 27 28 29 30 31
Gizelda Carneiro Arnaud, O despertar da mulher espírita Carlos Romero: Um ser afável Azamor Cirne: Um Baluarte do Espiritismo na Paraíba Marco Lima: Uma Aura de Paz, no Gesto Calmo
Reflexões sobre o Despertar MARCO LIMA
O chefe do Espiritismo
João Pessoa-PB
Cem anos-luz FEPB, um Centenário de Luz O Bom Humor da Seara do Cristo Juventude e Evangelização no Centenário O Espiritismo no Brasil Jesus é a Distância! Movimento Espírita e Divulgação do Espiritismo Painel Espírita Qual é a Vida Real? A Caravana da Fraternidade Natal Profano Ode à Federação Espírita Paraibana A Causa de Deus As raízes do Movimento Espírita Brasileiro Homenagem da FERN à FEPB
Espírita Tribuna
Ano XXXIV - Nº 188 novembro/dezembro - 2015 Preço: R$ 5,00
Edição especial em homenagem ao 1º centenário da FEPB
Fotos da capa: Arquivo FEPB e Google imagens
FEPB CENTENÁRIO DE LUZ
2 Tribuna Espírita • novembro/dezembro • 2015
O
despertar do Espírito, no estágio da a nadar na direção do porto de segurança”. Consciência de Sono, é um processo Naturalmente, o existir é desafio psicolóde longo percurso existencial. É um gico de que ninguém pode evadir-se, e a dos estágios da evolução antropossociopsiconstrução de nossa identidade espiritual cológica do Ser, caracterizado pela clausura harmônica depende, essencialmente, do esna egolatria, atrelado aos interesses imediaforço de autoiluminação. Jesus nos ensina, tistas e ao atendimento de suas necessidades em Mateus, 5:48, a sentença da evolução, primárias básicas, em detrimento da outra naturalmente relativa à condição humana; realidade: a transpessoal, a do “self”, que “Sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai representa a presença do Eu superior, do que está nos céus”. Cristo Interno e do Numinoso em nós. É, Mas, a Lei da Vida segue seu curso, portanto, a fase do não vislumbramento da como os leitos dos rios correm para o mar; espiritualidade intrínseca, usando a expresmais cedo ou mais tarde, os “sonolensão do apóstolo Paulo, na Carta aos Efésios, tos”, irão se levantar e “acordar dentre os 5:14: “Por isso diz: Desperta, tu que dormortos”, através do verbo do Cristo que, mes...”, acorwdado para as à semelhança de uma questões impermanentes e trombeta a ressoar nas fugazes e adormecido para consciências, fará surgir “Sede perfeitos, as questões transcendeno desejo da autoilumitais da existência humana. nação, pois as trevas da como perfeito é o Não é possível precie os tentácuvosso Pai que está ignorância sar o tempo que perdura los obscuros do ego não cada um dos estágios de prevalecerão, para semnos céus”. consciência, desde o de pre, no íntimo de cada Mateus, 5:48 Sono ao da Consciência um de nós. Usando a Lúcida, Objetiva, na longa expressão paulina, em estrada da evolução. Na Romanos, 13.11, “E isto perspectiva da Lei Divina, coexistem eledigo, conhecendo o tempo, que já é hora de mentos exógenos e intrínsecos envolvidos. despertarmos do sono; porque a nossa salExógenos, porque há um determinismo vação está agora mais perto de nós do que divino que impulsiona toda criação, para quando aceitamos a Fé”. A salvação enteno progresso contínuo. O Criador dos mundida como o processo de autoiluminação, dos e dos seres, a ‘Causa Primária’ de toancorada em princípios da fé, na persevedas as coisas, cuida, amorosa e sabiamente, rança e na fidelidade a Deus. dos universos, através de Suas leis, reflexo Bibliografia: de Sua essência. Também, é um processo “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec. Ed. FEB. intrínseco, pois o ser espiritual está pro“O Despertar do Espírito”, Joanna de Ângelis, gramado, para ser feliz e ser o “artífice de psicografia de Divaldo Franco. Ed. Leal. sua imortalidade”. Assevera a nobre e veEvangelho de Mateus, Cap. 5:48. neranda Joanna de Ângelis: “O ser humano Efésios, Carta aos, Paulo. Cap. 5:14. Romanos. Cartas aos, Paulo. Cap. 13:11. está mergulhado no rio da vida e impelido
Necessidades HÉLIO NÓBREGA ZENAIDE João Pessoa-PB
Sentimos sede e fome... Temos a água e o alimento que nos saciam. Sentimos as necessidades do Espírito... Temos recursos, para suprir essas demandas interiores. Distinguimos, bem, essas demandas pessoais. Necessidades reconhecidas, que reclamam providências. Pela reação natural do nosso organismo, logo, encontramos os meios de acesso à água e ao alimento. Suprimos essas necessidades, quase que de imediato, pois não suportamos passar muito tempo com sede ou com fome. Agora, não sei é se temos essa mesma atenção, para as questões do Espírito. Se o nosso empenho é o mesmo, pelas providências a tomar, e por quanto tempo suportamos os efeitos do Espírito necessitado. Como suportar a dor de uma consciência que não está em paz? Como sustentar a cruz que nos redime dos nossos pecados? Vamos administrando essas questões que são nossas. Se, nós sentimos os efeitos do pão que mata a nossa fome e da água que mata a nossa sede, sentimos, também, os efeitos do alimento espiritual, em nossas vidas. Muita coisa melhora para o Es-
pírito quando, daqui mesmo, reconhecemos um roteiro de luz que ultrapassa os limites da matéria. As necessidades do Espírito exigem, muito, de nós mesmos. Um gesto, uma atitude, muda uma situação. São gestos diferentes e atitudes variadas, que atendem ao Espírito. A oração, no despertar, é uma atitude saudável, para o Espírito. É, como dar um bom dia ao sol e receber o calor natural da vida. O Evangelho, na rotina diária, traz mais saúde para o Espírito. É, como caminhar com Jesus e, na presença do Mestre, tomar a lição. A Criação nos atrai a todos, pela Sabedoria Divina. É, como ter, na harmonia do Universo, a inspiração para viver em paz e, na sua imensidão, razão para encontrar Deus em todas as coisas. A Natureza tem o que há de mais saudável, para o corpo e para o Espírito. É, como ter, no ar, o sopro divino; nas chuvas, a vontade do céu; no alimento, o pão da vida. Logo, no nosso dia a dia, podemos, muito bem, tratar das necessidades da matéria e do Espírito, se nos dispomos a isso. E, vamos encontrar tempo e condições, que já estão aí, sem nenhuma cerimônia, esperando por nós. Deus, Nosso, Pai, nos abençoe.
Expediente Fundada em 01 de janeiro de 1981 Fundador: Azamor Henriques Cirne de Azevedo
TRIBUNA ESPÍRITA Revista de divulgação do Espiritismo, de propriedade do Centro Espírita Leopoldo Cirne Ano XXXIV - Nº 188 - novembro/dezembro - 2015 Diretor Administrativo e Financeiro: Severino de Souza Pereira (ssp.21@hotmail.com) Editor: Hélio Nóbrega Zenaide Jornalista Responsável: Lívia Cirne de Azevedo Pereira DRT-PB 2693 Secretaria Geral: Maria do Socorro Moreira Franco Revisão: José Arivaldo Frazão Assessoria: Uyrapoan Velozo Castelo Branco Colaboradores desta edição: Adésio Alves Machado, Alírio de Cerqueira Filho, Azamor Henriques Cirne de Azevedo, Denise Lino, Divaldo Franco (Pelo espírito Viana de Carvalho), Eden Lemos, Elmanoel G. Bento Lima, Fátima Araújo, Fátima Farias, Flávio Mendonça, Frederico Menezes, Geraldo Campetti Sobrinho, Guilherme Travassos Sarinho, Hélio Nóbrega Zenaide, Igor Mateus, Gizelda Carneiro Arnaud,(Pelo espírito de José Augusto Romero).
Marco Lima, Merlânio Maia, Pedro Camilo, Rita Foelker, Walkíria Araújo, Wilson Garcia, Zaneles Brito, (Pelo espírito de H.). Diagramação: Ceiça Rocha (ceicarocha@gmail.com) Impressão: Gráfica JB (Fone: 83 3015-7200) ASSINATURA BRASIL ANUAL: R$ 30,00 TRIANUAL: R$ 80,00 EXTERIOR: US$ 30,00 CONTRIBUINTE ou DOADOR: R$....? ANUNCIANTE: a combinar TRIBUNA ESPÍRITA Rua Prefeito José de Carvalho, 179 Jardim 13 de Maio – Cep. 58.025-430 João Pessoa – Paraíba – Brasil Fone: (83) 3224-9557 e 9633-3500 e-mail: jornaltribunaespirita@gmail.com
Nota da Redação Os Artigos publicados são de inteira responsabilidade dos seus autores. novembro/dezembro • Tribuna Espírita • 2015 3
Caminhando com Jesus RITA FOELKER Jundiaí-SP
Q
uando Zaqueu encontrou Jesus, Jericó era uma cidade antiga do vale do Rio Jordão, pertinho do Mar Morto. Ali, morava um homem chamado Zaqueu, muito rico, chefe dos publicanos (funcionários que cobravam impostos). Quando Zaqueu soube que Jesus andava por aquelas paragens, não pôde conter a emoção. Precisava vê-lo, de qualquer jeito! Porém, não era muito fácil se aproximar de Jesus, não, mesmo. É que, por onde Jesus andava, estava sempre cercado de muitas pessoas e, quando uma vila ou cidade ficava sabendo de sua chegada, muitos já corriam para encontrá-lo a caminho, formando em torno dele uma barreira humana difícil de atravessar. Quando Jesus entrou em Jericó, não foi diferente: uma grande multidão o foi acompanhando pelas ruas, tornando impossível qualquer aproximação. Ora, mas Zaqueu não era homem de desistir... Algo, em seu coração, dizia que era importante ver Jesus, e que, se Jesus tinha vindo até sua cidade, e estava pelas ruas no meio de toda gente, é que era para ele não perder aquela oportunidade. Foi, até, aonde estavam e começou a seguir a multidão, na tentativa de poder falar com o Mestre; mas ninguém parecia disposto a dar-lhe passagem e o fato de ser um homem baixo dificultava mais as coisas. Mas, Zaqueu lembrou-se de quando era menino, sempre subindo em árvores, e, por um momento, esqueceu-se de que era um homem de posses e um importante funcionário do governo, teve a idéia de escalar, agilmente, um sicômoro que ficava no caminho por onde Jesus e a multidão haveriam de passar. Pouco depois, Jesus, em seu trajeto, viu o homem de roupas finas, em cima da árvore, acenando para ele, e disse para Zaqueu: − Desce depressa, homem, porque hoje vou pousar em tua casa! Zaqueu ficou mudo, por um instante, e, tomado pela surpresa daquelas palavras carinhosas, desceu apressado do sicômoro e o levou até a sua bonita e espaçosa casa,
4 Tribuna Espírita • novembro/dezembro • 2015
onde ordenou que lavassem seus pés, como era de costume. Ainda, era difícil crer que tinha Jesus sob seu teto, depois de tanto ansiar por encontrá-lo! Como em todos os lugares por onde Jesus passava, sua casa se encheu de paz e uma sensação maravilhosa envolveu a todos. Lá fora, contudo, o povo não se conformava com a escolha do Mestre, de hospedar-se na casa de um homem corrupto, que usava de sua posição para tirar dinheiro
dos outros e que havia enriquecido com ações desonestas. Zaqueu, porém, naquele momento, sentia-se um novo homem. E comunicou a Jesus sua decisão de reparar todas as suas faltas. − Senhor, eis que hoje dou aos pobres metade dos meus bens e, se de algum modo prejudiquei alguém, vou devolver-lhe quatro vezes mais do que lhe tirei. E Jesus disse: − Hoje a salvação chega a esta casa, pois também este é filho de Abraão!
O pão da vida E
nquanto o astro rei demorava-se sobre os outros continentes, na pequenina Belém, o Sol do Amor nascia no coração angelical de Maria. Por doze horas, aproximadamente, os raios solares inundaram as planícies, espantando as trevas da noite, como a nos convidar para o grande despertar da alma. Ele, porém, veio e não se foi; permaneceu entre nós por mais de trinta anos, beneficiando, com sua presença de amor e paz, todo rincão planetário. O Sol de Deus desceu do céu e habitou entre nós perfumando o ar, iluminando os horizontes com seus raios de amor e misericórdia, deixando a atmosfera psíquica do planeta encharcada de sua presença amorosa. Por onde ele andou, suas pegadas luminosas deixaram marcas que se assemelhavam ao véu de luz que os cometas – mensageiros do céu – deixam atrás de si. “Eu sou o pão da vida”, afirmou ele, um dia. Com ele, a tempestade se acalma; o calor escaldante do deserto torna-se ameno; as noites mais prazerosas; o so-
frimento suportável; e, as lágrimas mais cristalinas... Com ele, o vazio existencial se enche de esperança; as imperfeições humanas tomam a conotação de atitudes ridículas; a maldade passa a ser sinônimo de desvario; e o remorso ganha fôlego, concitando a todos que o circundavam a se redimirem. Com ele, a fé audaciosa sai do esconderijo das incertezas; o amor ganha nuances de renúncia; e a crença, num poder maior que gere o Universo, torna-se palpável a cada palavra melodiosa que sai de seus lábios santos. Com ele, todas as fomes foram saciadas; todas as sedes dessedentadas; todos os medos superados; e todo o querer embrionário transforma-se em vertente de devotamentos. Todo dia vemos o sol nascer e se por; Jesus, porém, mesmo sendo o Verbo de Deus Vivo, desceu das plenitudes angelicais para, através do amorável coração de Maria, permanecer entre os homens, por todos os séculos dos séculos, amém. H. (Mensagem recebida intuitivamente por Zaneles, em 19.03.2012, na Associação Espírita Leopoldo Machado, em Campina Grande-PB)
Terrorismo de Natureza Mediúnica S
utilmente, vai-se popularizando uma forma lamentável de revelação mediúnica, valorizando as questões perturbadoras que devem receber tratamento especial, ao invés de divulgação popularesca de caráter apocalíptico. Existe um atavismo, no comportamento humano, em torno do Deus temor que Jesus desmistificou, demonstrando que o Pai é todo Amor, e que o Espiritismo confirma, através das suas excelentes propostas filosóficas e ético-morais, o qual deve ser examinado com imparcialidade. Doutrina fundamentada em fatos, estudada pela razão e lógica, não admite, em suas formulações esclarecedoras, quaisquer tipos de superstições que lhe tisnariam a limpidez dos conteúdos relevantes, muito menos, ameaças que a imponham pelo temor, como é habitual em outros segmentos religiosos. Durante alguns milênios, o medo fez parte da divulgação do Bem, impondo vinganças celestes e desgraças a todos aqueles que discrepassem dos seus postulados, castrando a liberdade de pensamento e submetendo ao tacão da ignorância e do primitivismo cultural as mentes mais lúcidas e avançadas. O Espiritismo é ciência que investiga e somente considera aquilo que pode ser confirmado em laboratório, que tenha caráter de revelação universal; portanto, sempre livre para a aceitação ou não por aqueles que buscam conhecer-lhe os ensinamentos. Igualmente, é filosofia que esclarece e jamais apavora, explicando, através da “Lei de Causa e Efeito”, quem somos, de onde viemos, para onde vamos, porque sofremos, quais são as razões das penas e das amarguras humanas. De igual maneira, a sua ética-moral é totalmente fundamentada nos ensinamentos de Jesus, conforme ele os enunciou e os viveu, proporcionando a religiosidade que integra a criatura na ternura do seu Criador, sendo de simples e fácil formulação. Jamais se utiliza das tradições míticas greco-romanas, quais das Parcas, sempre tecendo tragédias para os seres humanos, ou de outras quaisquer remanescentes das religiões ortodoxas decadentes, algumas das quais, hoje, estão reformuladas na apresentação, mantendo, porém, os mesmos conteúdos ameaçadores. De maneira sistemática e contínua, vêm-se tornando comuns algumas pseudo-revelações alarmantes, substituindo as figuras mitológicas de Satanás, do Diabo, do Inferno, do Purgatório, por Dragões, Organizações demoníacas, regiões punitivas atemorizantes, em detrimento do amor e da misericórdia de Deus que vigem em toda parte. Certamente, existem personificações do Mal, além das fronteiras físicas, que se comprazem em afligir as criaturas descuidadas, assim como lugares de purificação depois das fronteiras de cinza do corpo somático, todos, no entanto, transitórios, como ensaios para a aprendizagem do Bem e sua fixação nos painéis da mente e do comportamento. O Espiritismo ressuscita a esperança e amplia os horizontes do conhecimento, exatamente para facultar ao ser humano o entendimento a respeito da vida e de como comportar-se, dignamente, ante as situações dolorosas. As suas revelações objetivam esclarecer as mentes, retirando a névoa da ignorância que, ainda, permanece, impedindo o discernimento de muitas pessoas em torno dos objetivos essenciais da existência carnal. Da mesma forma, como não se deve enganar os candidatos ao estudo espírita, a respeito das regiões celestes que os aguardam, desbordando em fantasias infantis, não é correto derrapar nas ameaças em torno de fetiches, magias e soluções miraculosas para os problemas humanos, recorrendo-se ao animismo africanista, de diversos povos
e às suas superstições. No passado, em pleno período medieval, as crenças em torno dos fenômenos mediúnicos revestiam-se de místicas e de cerimônias cabalísticas, propondo a libertação dos incautos e perversos das situações perniciosas em que transitavam. O Espiritismo, iluminando as trevas que permanecem dominando incontáveis mentes, desvela o futuro que a todos aguarda, rico de bênçãos e de oportunidades de crescimento intelecto-moral, oferecendo os instrumentos hábeis para o êxito em todos os cometimentos. A sua psicologia é fértil de lições libertadoras dos conflitos que remanescem das existências passadas, de terapêuticas especiais, para o enfrentamento com os adversários espirituais que procedem do ontem perturbador, de recursos simples e de fácil aplicação. A simples mudança mental, para melhor, proporciona ao indivíduo a conquista do equilíbrio perdido, facultando-lhe a adoção de comportamentos saudáveis que se encontram exarados em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, verdadeiro tratado de eficiente psicoterapia ao alcance de todos que se interessem pela conquista da saúde integral e da alegria de viver. Após a façanha de haver matado a morte, o conhecimento do Espiritismo faculta a perfeita integração da criatura com a sociedade, vivendo de maneira harmônica em todo momento, onde quer que se encontre, liberada de receios injustificáveis e sintonizada com as bênçãos que defluem da misericórdia divina. A mediunidade, desse modo, a serviço de Jesus, é veículo de luz, de seriedade, dignificando o seu instrumento e enriquecendo de esperança e de felicidade todos aqueles que se lhe acercam. Jamais, a mediunidade séria estará a serviço dos Espíritos zombeteiros, levianos, críticos, contumazes de tudo e de todos que não anuem com as suas informações vulgares, devendo tornar-se instrumento de conforto moral e de instrução grave, trabalhando a construção de mulheres e de homens sérios que se fascinem com o Espiritismo e tornem as suas existências úteis e enobrecidas. Esses Espíritos burlões e pseudo-sábios devem ser esclarecidos e orientados à mudança de comportamento, depois de demonstrado que não lhes obedecemos, nem lhes aceitamos as sugestões doentias, mentirosas e apavorantes, com as histórias infantis sobre as catástrofes que sempre existiram, com as informações sobre o fim do mundo, com as tramas intérminas a que se entregam para seduzir e conduzir os ingênuos que se lhes submetem facilmente... O conhecimento real do Espiritismo é o antídoto, para essa onda de revelações atemorizantes que se espalha, como um bafio pestilencial, tentando mesclar-se aos paradigmas espíritas que demonstraram, desde o seu surgimento, a legitimidade de que são portadores, confirmando o Consolador que Jesus prometeu aos seus discípulos e se materializou na incomparável Doutrina. Ante informações mediúnicas desastrosas ou sublimes, um método eficaz existe, para a avaliação correta em torno da sua legitimidade, que é a universalidade do ensino, conforme estabeleceu o preclaro Codificador. Desse modo, utilizando-se da caridade como guia; da oração, como instrumento de iluminação e do conhecimento, como recurso de libertação, os adeptos sinceros do Espiritismo não se devem deixar influenciar pelo moderno terrorismo de natureza mediúnica, encarregado de amedrontar, quando o objetivo máximo da Doutrina é libertar os seus adeptos, a fim de os tornar felizes. Vianna de Carvalho (Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, no dia 7 de dezembro de 2009, durante o XVII Congresso Espírita Nacional, em Calpe, Espanha.) novembro/dezembro • Tribuna Espírita • 2015 5
Considerando o Passado ADÉSIO ALVES MACHADO
S
empre que nos encontrarmos diante dessa ou daquela situação infelicitadora, nada mais razoável do que procurarmos a sua justificativa, numa tentativa de debelá-la. É ínsito, no ser humano, consolidar, mais e mais, um estado de viver sob o envoltório do bem-estar. Ninguém nasce para sofrer. “O sofrimento é criação de quem o sofre”, afirma Joanna de Ângelis. (*) Façamos, então, uma judiciosa retrospectiva do que fizemos no presente, onde, possivelmente, haveremos de encontrar a gênese. Caso, entretanto, não a encontremos, obviamente, se encontra nas vidas anteriores. Não resta dúvida de que a maior parte das dores humanas se acha na vida atual, como efeito imediato dos próprios erros, engendrados pela ignorância com relação à “Lei de Causa e Efeito”. Muito triste e desalentador é presenciarmos o comprometimento sério de irmãos em humanidade, quando, pelo desconhecimento de que a Deus não se engana, envereda pelos caminhos mais ensombrados e tortuosos, ferindo a moral cristã. Nessas horas, as circunstâncias da vida, que são aproveitadas ou preparadas pela Espiritualidade sob a égide dos desígnios divinos, começam a apertar o raio de ação desses irmãos delinquentes, as suas áreas de atuação vão diminuindo e eles terminam sendo desmascarados, apertados e estrangulados pelo nó que eles mesmos apertaram em suas cervizes. As aflições, aparentemente injustificáveis, ao explodirem rudemente, são suas causas oriundas de existências transatas, oportunidade em que os nobres sentimentos foram desrespeitados, afrontosamente. Deduz-se, daí, o quanto preciosa é a reencarnação, ensejando que se faça sobre os faltosos a justiça que não foi, muita vez, possível de ser vivida na época da falta cometida, por se encontrar o seu cumprimento debaixo do império da justiça humana; esta, sempre falha, fraca, sujeita às forças transitórias dos poderosos de vida efêmera. O aconselhamento que emana do Mais Alto é, no sentido de que não desperdicemos as oportunidades de resistirmos ao mal, de não nos enredarmos, novamente, em erros que nos deixarão feridas pustulentas de difícil e complexa cicatrização. Graves consequências 6 Tribuna Espírita • novembro/dezembro • 2015
poderão advir. Consideremos, enquanto “estamos a caminho”. Não há uma só criatura que não avance, no processo evolutivo, mediante os recursos que lhe são disponibilizados pela própria vida. Sempre, recordamos as perguntas 704 e 711 de “O Livro dos Espíritos”, quando percebemos que não seria possível Deus nos impor a necessidade de viver, sem nos oferecer os meios, os recursos. Quem se encontrar sem objetivo na vida, anda a esmo, vive como um cadáver pensante. Seja qual a for a dor que nos acometa, precisamos encará-la, sem revolta, nem queixa, mas, procurando entendê-la, mediante uma busca da sua causa, porque o que, agora, nos sucede, começou antes. A dor é, sempre, o final de um processo iniciado, sutilmente, por alguma invigilância nossa. O cultivo da paciência e da resignação faz parte da nossa evolução e não deve ser postergado, porque é esta iniciativa medida profilática e saneadora dos males que poderão advir, caso a elas não recorramos. A calma, também, costuma amainar as tenazes dos sofrimentos, além de permitir um clima mental/emocional propício para um discernimento claro, sobre a melhor atitude a ser tomada, quando defrontamos as situações afligentes.
Há necessidade de uma desvinculação nossa com o passado, no que ele possa apresentar de cometimentos desastrosos. Lembrar deles, somente, tem valor, se servirem como ensino e, não, como abalo consciencial que leva ao remorso destruidor. Pessimismo deve ser banido, duramente, com determinação imperturbável, porque derrotismo é abertura para processos obsessivos de longa duração e consequências imprevisíveis. Lamentações e arrependimentos inconsequentes, diante dos fatores causais dos sofrimentos, somente desequilibram, sem levar à consciência dos erros, esta, que muito ajuda na reabilitação do ser disposto a triunfar. Sem a obtenção identificadora das causas atuais ou anteriores, sempre, existe a possibilidade confortadora de confiarmos em Deus, aguardarmos Suas sábias resoluções, pois sabemos que Ele, sempre, deseja o melhor, para todos os que nEle confiam. Avancemos e cresçamos, até o momento de nossa libertação lenificadora e total do jugo provacional e expiatório de nosso mundo. (*) Livro “Oferenda”, de Joanna de Ângelis, páginas 25/27, psicografia de Divaldo Pereira Franco, edição Livraria Espírita Alvorada Editora, Salvador-BA.
Em Busca da Felicidade ALÍRIO DE CERQUEIRA FILHO Cuiabá-MT
I
maginemos um grande jardim cheio de flores multicoloridas, árvores, fontes de água cristalina; enfim, o jardim mais belo que você pode imaginar. Esse jardim chama-se felicidade. Todas as pessoas o buscam, mas poucos o encontram, porque a maioria o busca no lugar errado; na riqueza, no luxo e outras coisas materiais. Outros, nos relacionamentos afetivos; enfim, buscam a felicidade, fora de si, mesmos. Em realidade, esse jardim encontra-se dentro de nós e, para chegar a ele, é necessário trilhar por uma estrada chamada amor. O amor é o caminho que Deus escolheu para nós nos educarmos, nos libertarmos de nossas imperfeições e conquistarmos a tão sonhada felicidade. Mas, lamentavelmente, a maioria de nós, ao invés de trilhar a estrada correta do amor, busca os atalhos que existem nessa estrada, acreditando que vão chegar mais rápido ao jardim da felicidade. Pega os atalhos chamados ambição, apego, autopiedade, crueldade, indiferença, desprezo, egoísmo, egocentrismo, puritanismo; enfim, os atalhos do desamor e do pseudo amor. Esses atalhos, no entanto, conduzem a pessoa a um abismo chamado infelicidade. Muitos, ao chegarem à borda desse abismo, se revoltam com a Vida, como se a própria Vida os tivessem colocado, ali, num golpe de mágica. Não reconhecem que foram, elas mesmas, com as suas escolhas equivocadas, que enveredaram por esses atalhos, e, agora, se encontram em sofrimento, diante do abismo da infelicidade. Diante dessa perspectiva, as atitudes das pessoas variam, em conformidade com as suas tendências. Temos aqueles de comportamento reativo, que são tomados de uma cólera surda e passam a agredir os que estão a sua volta, culpando-os, pela situação em que se encontram, revoltados com o fato de estarem sofrendo e infelizes. Às vezes, chegam à blasfêmia de culpar Deus. Dizem, em muitas ocasiões: “que mal eu fiz a Deus, para estar sofrendo tanto assim, para ser tão infeliz”, como se Deus fosse um senhor vingativo que descarregasse a sua cólera em nós, quando não procedemos bem. Com essa atitude, a pessoa, na verdade, somente se agride, pois se nega a assumir as responsabilidades pelos seus atos, agravando o seu sofrimento. Temos os que têm uma tendência mais passiva. São os que, diante do abismo, sentam e choram, entram em depressão, em maior ou menor grau, por estar naquela situação, revoltados com a vida, produzindo, com tal atitude, mais infelicidade. Muitos permanecem, por existências inteiras nessa postura depressiva, acreditando que a vida não tem sentido, agravando, ainda mais, os seus sofrimentos. Outros, ainda, tomados de um misto de depressão, de ausência de sentido da vida e de uma revolta surda, mergulham, de cabeça, no abismo pela porta falsa do suicídio, como, se ao matar o corpo, fossem exterminar a vida e o sofrimento que construíram, pelo mau uso do próprio livre-arbítrio. Com tal ato, apenas, agravam os próprios sofrimentos e provocam, deliberadamente, anos, décadas ou séculos de uma infelicidade ainda maior. Todas essas atitudes, com maior ou menor intensidade, repre-
sentam o movimento da criatura que, diante do abismo da infelicidade e sofrimento, ao invés de retornar ao caminho correto, pulam nesse abismo, devido ao seu orgulho e presunção, culpando a Vida, por estarem assim e, com essa atitude, agravam, intensamente, o próprio sofrimento. Agem, de forma irresponsável, focalizando as perdas obtidas, gerando a agravação do sofrimento, pois, além de terem tomado um atalho no caminho do amor que, por si só, já gera sofrimento, mergulham, devido à revolta e irresponsabilidade, no abismo da infelicidade, agravando-o. Mas, como fomos criados por Deus, para chegarmos, fatalmente, ao jardim da felicidade, todos, sem exceção, deveremos nos reerguer, cedo ou tarde, desse abismo a que nos atiramos, para retornar pelo atalho percorrido e chegar à estrada do amor. Portanto, mergulhar nesse abismo, somente representa um gasto de tempo desnecessário, um esforço vão, que, somente, irá ampliar, ainda mais, a infelicidade e o sofrimento. Outros, ao chegarem à borda desse abismo, reconhecem o erro cometido e resolvem retornar à estrada certa. Aqueles que reconhecem o erro cometido e resolvem, imediatamente, por retornar à estrada do amor são os que aproveitam o sofrimento, para se reeducarem, aprendendo que não deveriam ter se afastado do caminho do amor. Usam o retorno, para expiarem os erros; isto é, se purificarem, através da dor produzida por estar no caminho equivocado. São pessoas que, em quaisquer circunstâncias, focalizam os ganhos que obtêm. Têm um movimento proativo, frente à vida. Diante do erro cometido, focam o aprendizado que podem obter e buscam repará-lo, retornando ao caminho do amor. Aliás, quando têm essa atitude proativa, já estão se direcionando ao amor, pois, reconhecer um erro, se arrepender de tê-lo cometido, aprender com ele e buscar repará-lo, constitui-se num grande ato de autoamor, processo inicial de reparação pelo amor que começa no interior da criatura. Essa atitude amorosa estará transformando o sofrimento, minimizando-o, e, dependendo da intensidade do amor, até, o suprimindo totalmente. Restará, para ela, somente a dor de retornar pelo atalho percorrido, pois ela está, mais ou menos, distante da estrada do amor, mas já sente a alegria do retorno e, por isso, já traz em si esse caminho. As pessoas que assim agem são aquelas que, diante uma situação difícil, tais como uma ruína financeira, uma doença grave, uma decepção amorosa; enfim, quaisquer dificuldades causadas por elas mesmas, quando penetram nos atalhos da vida, nesta ou em existências anteriores, ao invés de se desesperarem, buscam refletir que não estão passando por essa dificuldade, por acaso, pois reconhecem que toda falta de hoje é abuso de ontem, sejam desta ou de outras encarnações. Confiam na Providência Divina que, jamais, abandona nenhum de Seus filhos; por isso, caminham resolutos ao encontro da estrada do amor, se libertando, pela dor transformadora, para encontrar o jardim da felicidade. novembro/dezembro • Tribuna Espírita • 2015 7
Concerto de 1 Vozes II DENISE LINO
Campina Grande-PB
D
entre as obras da Codificação Espírita, o livro “O Céu e o Inferno” (CI) é, provavelmente, uma das menos conhecidas. Os 150 anos de publicação, comemorados em 2015, serviram para alertar a todos nós espíritas, sobre a necessidade de ler e de compreender esse quarto livro organizado por Allan Kardec. Particularmente, impus-me a tarefa (re)ler e qual não foi a minha surpresa: a maturidade me fez descobrir uma obra admirável, da qual eu sabia, mesmo, muito pouco. Salta aos olhos a organização do livro. Na primeira parte, os capítulos discutem os fundamentos doutrinários relativos à vida após a morte, tais como o porvir e o nada, as penas e gozos futuros, os anjos e demônios. Temas que o Codificador, de alguma forma, foi compondo e explorando, através da “Revista Espírita”, conforme ele assume em “A Gênese”, cap XI, item 43 nota 76, 2. Posta a discussão na Revista, que se dava através das cartas enviadas à redação, eis que o tema amadurecido ia para a obra em referência, cuja primeira edição não foi a definitiva, assim como os demais livros. CI, por exemplo, ficou pronto em sua 4ª edição. A segunda parte é composta de oito capítulos, sendo o primeiro deles intitulado “A Passagem” e, tal como sugere, é dedicado ao estudo da morte, ampliando o capítulo “Temor da Morte”, que está na primeira parte do livro. Os outros sete capítulos contêm uma coletânea de 67 depoimentos espontâneos ou evocados, coletados à luz do seguinte pressuposto metodológico exposto na nota de rodapé apresentada no final do item 15 do cap I dessa segunda parte: “Os exemplos que vamos citar nos capítulos seguintes apresentam os Espíritos nas mais diferentes fases da felicidade e da infelicidade da vida espiritual. (..) Fomos procurá-los nas circunstâncias mais ordinárias da vida contemporânea, uma vez que assim pode cada qual encontrar mais similitudes e tirar, pela comparação, as mais proveitosas instruções. Quanto mais próxima de nós está a existência terrestre dos Espíritos — quer pela posição social, quer por laços de parentesco ou de meras relações — tanto mais nos interessamos por eles, tornando-se fácil averiguar-lhes a identidade. As posições vulgares são as mais comuns, as de maior número, podendo cada qual aplicá-las em si, de modo a tornarem-se úteis, ao passo que as posições 8 Tribuna Espírita • novembro/dezembro • 2015
excepcionais comovem menos, porque saem da esfera dos nossos hábitos.” 3 Esta citação me faz pensar na dinâmica da organização da Codificação. Em geral, supõe-se um trabalho linear, começando com a publicação de “O Livro dos Espíritos” seguido da publicação de cada um dos demais livros. Ora, um gênio não tem inteligência limitada. Portanto, a dinâmica de Kardec não deve ter sido tão sequencial assim. Indícios deixados nos livros me fazem pensar num trabalho com várias frentes entrelaçadas entre si, compondo uma rede. A leitura dos depoimentos que estão na segunda parte do CI revela que, nem todos foram coletados no mesmo ano; provavelmente, alguns entraram nas edições seguintes, até, porque o trabalho mediúnico do Codificador não se encerrou com a organização de LE e as reuniões mediúnicas que lhe serviram de fórum, certamente, eram dinâmicas e variadas, com mensagens de mentores, evocações, mensagens espontâneas de Espíritos de diversas categorias, etc. Portanto,
“Qual das duas provas é mais terrível para o homem, a da pobreza ou a da riqueza?” o farto material nelas coletado foi o combustível que alimentou a Codificação e Kardec, sabiamente, foi inserindo-o nas várias edições dos livros. Exemplo disso é o depoimento de Uma Rainha de França, única mensagem da seção Instrução dos Espíritos no Capítulo II – “Meu reino não é deste mundo” – de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” 4, e que poderia figurar entre os depoimentos dos Espíritos arrependidos em CI. Na impossibilidade de comentar toda a obra, este artigo focaliza certos detalhes de 3 dos 67 depoimentos postos na segunda parte de CI, distribuídos em 7 capítulos, assim nomeados: Espíritos Felizes, com 18 depoimentos; Espíritos em Condições Medianas, 6 depoimentos; Espíritos Sofredores, 10 comunicações; Suicidas; com 9 depoimentos;
Criminosos Arrependidos e Espíritos Endurecidos, com 5 depoimentos, cada um; e, por fim, Expiações Terrenas, com 14. Uma análise dos números, à primeira vista, leva a concluir que, em nosso entorno, há, praticamente, tantos espíritos em Expiações Terrenas quanto Espíritos Felizes. Porém, num mundo de Provas e Expiação, essa não é a verdade dos fatos. Acredito que Kardec publicou esse expressivo número, para nos encorajar a desenvolver as virtudes, a fim de que atinjamos, o mais rapidamente possível, essa condição. Todavia, é o teor dessas comunicações que revela dados surpreendentes. Analisando os vários capítulos, percebi, entre eles, depoimentos de Espíritos que tiveram experiências junto à realeza; ou seja, não apenas foram ricos, mas foram, também, nobres, o que torna essa prova, ainda mais, desafiadora. Desses5, escolhi para comentar as experiências da Condessa Paula (Espírito Feliz), da Rainha de Oude (Espírito Endurecido), de Szymel Slizgol (Espírito em Expiação Terrena), narradas em CI, e da Rainha de França6, cuja referência já foi apresentada, e que tomo, aqui, a liberdade de colocá-lo junto com os demais. Se tivesse sido catalogado em CI, esse último depoimento poderia figurar no capítulo dos Espíritos Arrependidos, se aquele não fosse um capítulo todo dedicado aos criminosos. Nele, o arrependimento se apresenta na primeira parte, quando o Espírito faz uma mea-culpa, reconhecendo que, por ter sido orgulhoso, se perdeu na Terra, por não compreender o vazio dos reinos terrenos. Na segunda parte, apresenta conselhos para aqueles que querem entrar no reino dos céus: a prática da abnegação, da humildade, da caridade e da benevolência para com todos. Por fim, pede preces, para aqueles que não “ganharam o reino dos céus.” No tocante à riqueza, cabe destacar o reconhecimento que faz de quão inútil é essa experiência, quando o Espírito se deixa guiar pelo orgulho, ao afirmar: “Rainha entre os homens, como rainha julguei que penetrasse no reino dos céus! Que desilusão! Que humilhação, quando, em vez de ser recebida como soberana, vi acima de mim, mas muito acima, homens a quem eu julgava insignificantes e aos quais desprezava, por não terem sangue nobre! Oh, só então compreendi a esterilidade das honras e grandezas que se buscam com tanta avidez na Terra!”
Destaco, no trecho, o indício de que, provavelmente, esse Espírito imaginava a vida após a morte, como uma continuidade da vida terrena (Rainha entre os homens julguei que penetrasse o reino dos céus...) Porém, essa ideia parece começar a ser refeita (que desilusão...que humilhação, só então compreendi a esterilidade das honras e grandezas que se buscam com avidez na Terra), o que é um sinal de arrependimento e de modificação interior. Por sua vez, o depoimento da Rainha de Oude pode ser apontado, como a antítese deste primeiro. Questionada sobre a importância do luxo e das honrarias de que vivia cercada, responde que continuava tendo direito a eles e reclama que a sua hierarquia terrena não estava sendo respeitada, pois continuava a mesma rainha de outrora e era preciso que escravas lhe fossem enviadas. Acrescenta a isso que, jamais, tivera inveja das mulheres europeias, pois essas não eram servidas, de joelhos, como ela fora. Reclama do modo como o Codificador lhe dirige a palavra, pois, em seu entendimento, é pouco respeitoso, para com uma rainha. E, por fim, informa que deve ter sido sempre rainha. Ao final dessa comunicação, segue-se um breve comentário do Espírito São Luís, que roga compaixão, em face do orgulho que a faz padecer. Kardec, também, comenta esse diálogo, assinalando que o Espírito conservava todos os preconceitos terrestres na plenitude de suas forças. O depoimento do Espírito Szymel Slizgol pode ser apontado como o de alguém que já viveu as experiências das duas rainhas citadas e que já está num estágio de reparação7 dos erros praticados, segundo a regra apresentada por Allan Kardec no capítulo sobre as Penas e Gozos Futuros, também em CI. Inserido no capítulo dedicado aos Espíritos que estiveram em expiações terrenas, esse depoimento é o testemunho de que a miséria pode não ser uma experiência limitante. Na apresentação que foi escrita sobre ele, informa-se que vendia rapé, para sustentar-se e que mendigava, para atender aos pobres. Com essas atividades, chegou a juntar 90.0008 rublos, com os quais sustentou órfãos, viúvas e pagou o ensino de crianças pobres. Era conhecido como um homem boníssimo. Durante seu enterro, os armazéns de Vilna, cidade onde morava, fecharam as portas em respeito. Evocado, cerca de trinta dias após o seu desencarne, mostrase lúcido e feliz, por tal iniciativa. Questionado sobre as razões de sua existência tão miserável, admite: “Há muitos séculos, eu vivia com o título de rei ou, pelo menos, de príncipe soberano. Dentro da esfera do meu poder relativamente limitado, em confronto com os Estados da atualidade, eu era o senhor absoluto dos meus vassalos e governava, tiranicamente, ou, para falar a palavra certa, como carrasco. Dotado de caráter impiedoso, violento, além de avaro e sensual... abusei do poder, para oprimir o fraco e subordinei empregos, trabalhos e dores a serviço da própria paixão. (...) Como Espírito, permaneci na erraticidade, durante três séculos e meio e, quando compreendi, decorrido esse tempo, que o objetivo da reencarnação era totalmente diverso do que os meus sentidos grosseiros e obtusos imaginavam, obtive, à força de preces, de resignação e de pesares, a permissão para suportar, materialmente, os mesmos sofrimentos do que os por mim ocasionados. (...) Finalmente, preenchi uma existência de abnegação e caridade que, por si só, resgatou as faltas de outra, cruel e injusta.” Esse trecho é, apenas, parte do longo depoimento, no qual o Espírito revela como se recuperou do uso que fez da riqueza e da nobreza, acrescentando o detalhe de que, para coroar seu compromisso, houvera escolhido nascer como judeu, para acrescentar uma “pequena humilhação” a mais à sua prova, posto que, onde reencarnou esses eram menosprezados e muitos viviam à custa da mendicância. Com isso, vemos a lucidez do Espírito que já alcançou o estágio da reparação das faltas, sentindo-se feliz e liberto por isso. Não fosse o fato de que a expiação terrena do comunicante entendeu-se, por toda a sua longa existência de 95 anos, esse depoimento poderia, também, ser inserido no capítulo dos Espíritos Felizes, dado o estado pós morte do comu-
nicante. Difere, pois, destes porque suas provações foram, na maior parte, circunscritas a certas etapas de suas vidas. O depoimento da Condessa Paula encerra a análise aqui apresentada. É descrita, como “bela, jovem, rica e de família ilustre”, sendo, também, “perfeito modelo de qualidades intelectuais e morais.” Diz-se que faleceu aos 36 anos, em 1851, tendo sido evocada 12 anos depois, a pedido de um de seus familiares. E, da longa comunicação dada em alemão, o Codificador afirma, em nota, que retirou apenas uma parte para publicação e que “esta senhora era o retrato vivo da mulher caridosa referida em ESE, cap XIII, item 4, os Infortúnios Ocultos.” Em seu depoimento, a Condessa afirma: “(...) Realmente, sou feliz, muito mais do que a linguagem pode exprimir. (... ) Estive na Terra, entre os felizes, pois não me lembro de, aí, ter vivido um desgosto real. Juventude, saúde, fortuna, consideração eu tinha tudo o que, entre vós, constitui a felicidade. O que, no entanto, é essa felicidade comparada à que desfruto aqui?” Prossegue, informando que, no mundo espiritual, a felicidade consiste na assistência propiciada aos sofredores, aos que precisam de ajuda de toda sorte, e que os Espíritos Superiores se felicitam pelas obras realizadas, não, apenas na Terra, mas também, em outros mundos. Informa, ainda, que tal posição não resulta de uma única existência de dedicação no planeta; ela, por exemplo, contabilizava várias existências marcadas pelas provas de trabalho e de miséria, voluntariamente escolhidas. Informa, ainda, que se encontrava no mundo espiritual nas fileiras do Espiritismo. Por fim, adverte e aconselha. Adverte que todos passaremos pela prova da riqueza, mas aconselha a que não a peçamos, cedo demais; ou seja, ainda imaturos. (Re)Ler esses depoimentos me remeteu ao estudo sobre a riqueza e a pobreza inserido na “Lei de Igualdade”, na terceira parte do LE. Na questão 814, Kardec pergunta aos Espíritos que o assessoravam: Por que Deus a uns concedeu as riquezas e o poder, e a outros, a miséria? A sábia resposta me faz pensar que não há brechas na organização divina da vida: “Para experimentá-los de modos diferentes. Além disso, como sabeis, essas provas foram escolhidas pelos próprios Espíritos, que nelas, entretanto, sucumbem com frequência.” Observo, aqui, a coerência com a instrução da Condessa Paula, para que não peçamos essas provas, ainda imaturos, pois, de fato, são muito desafiadoras. Na questão seguinte, Kardec questiona: “Qual das duas provas é mais terrível para o homem, a da pobreza ou a da riqueza?” A resposta dos Espíritos desfaz qualquer pretensão de defesa: “São-no tanto uma quanto outra. A miséria provoca as queixas contra a Providência, a riqueza incita a todos os excessos.” Essa resposta me leva à conclusão de que o problema não é a prova em si; porém, como cada Espírito a vivencia. Nos exemplos resumidos, há evidências de que as condições de vida propiciadas pela riqueza permitem que o orgulho se exacerbe, assim como permite que a benevolência seja praticada. A escolha de um ou de outro decorre das tendências do Espírito e do seu livre arbítrio que, sempre, pode ser direcionado para a melhor opção. Isto posto, os depoimentos inseridos em CI me soam como um concerto de vozes a desvelar a infinita misericórdia de Deus! 1 Este texto é uma versão resumida de palestra intitulada Céu e Inferno II, proferida em Campina Grande, na Sociedade Espírita Joanna de Ângelis, em 21 de novembro de 2015. E é a nossa homenagem aos 150 anos de “O Céu e o Inferno”. 2 Usei a tradução de Evandro Noleto. Feb. 1ª ed. 2009. 3 Usei a tradução de Evandro Noleto. Feb. 1a Ed. 2009 4 Usei a tradução de Evandro Noleto. Feb. 1a Ed. 2008. 5 Há outros Espíritos que declaram, também, terem experimentado a prova da riqueza e da nobreza, como Lisbeth, Auguste Michel, Hélène Michel, Príncipe Ouran. 6 Só, a título de curiosidade, consultei a Wikipedia, para ter uma noção de quantas rainhas a França teve. Segundo as informações dessa enciclopédia, que não pode ser tomada como uma referência acadêmica, a França teve 68 rainhas e 3 imperatrizes. Acesso em 25/11/2015. 7 A reparação dos males consiste em Arrependimento, Expiação e Reparação. Ver Cap VII de CI. 8 Pelos valores de hoje, aproximadamente, R$ 5.300,00, conforme o câmbio de 30/11/2015.
novembro/dezembro • Tribuna Espírita • 2015 9
Entrevista
GIZELDA CARNEIRO ARNAUD*,
O Despertar da Mulher Espírita P
rofessora, oradora e escritora espírita, Gizelda Carneiro Arnaud nos passa a imagem de uma mulher dinâmica, no seu modo de agir e de trabalhar, o que, sempre, demonstrou, desde que entrou para a Federação Espírita Paraibana, há mais de 40 anos, uma instituição fundada e dirigida por homens. Gizelda foi vice-presidente da FEPb, por 23 anos; diretora do Departamento de Assistência Social, por 6 anos; dirigente de dois grupos de reuniões de desobsessão e médium psicofônica, naquela atividade. Oradora bastante requisitada nos mais variados eventos do Movimento Espírita neste Estado, publicou os livros “Palavras que Despertam e Iluminam”, “Verdades que Libertam” e “O Livro das Parábolas”. Fátima – Como começou sua vida no Espiritismo? O que a levou a abraçar a Doutrina Espírita? Gizelda − Tornei-me espírita, por conta da mediunidade psicofônica ostensiva e da obsessão. Fátima – O que mais a impressionou na Doutrina, logo que chegou à Federação? Gizelda − O que mais me chamou a atenção foi a mudança de comportamento; não só de minha pessoa, mas, daqueles que, ali, se encontravam. Fátima – Encontrou dificuldades ou entraves, nos primeiros tempos, para desempenhar seu trabalho, no meio familiar e/ou no meio espírita? Gizelda − As dificuldades foram muitas, todas da parte dos familiares, que acreditavam ser o Espiritismo “obra do demônio”. No meio espírita, muito pelo contrário, fui muito bem acolhida. Fátima – Poderia citar alguns espíritas históricos de 40 anos atrás, cujos tra10 Tribuna Espírita • novembro/dezembro • 2015
observadas, dentro da Casa Espírita, ou ainda falta muito? Gizelda − De minha parte, tenho feito o possível, para ser, verdadeiramente, espírita. E, como divulgo o Evangelho de Jesus, com muito esforço, procuro vivenciar os seus ensinamentos.
balhos tenham chamado sua atenção? Como foi sua colaboração junto a eles? Gizelda − Posso citar Walter Xavier de Macedo, expositor espírita e participante da diretoria da Casa. Foi, através de sua substancial ajuda, que tive a oportunidade de usar a tribuna, naquela Instituição. Waldo Lima do Valle, por ser um grande expositor espírita e me ter ensinado a Doutrina, através do “Estudo Sistematizado” e do curso sobre o “Sermão da Montanha”. Domingos Soares da Silva, por muito anos, tesoureiro da FEPb, e que realizava seu trabalho, cantando, sempre alegre e feliz. José Soares, pelo trabalho que realizava com a venda dos livros doutrinários e, também, pelo exemplo e conduta de um verdadeiro espírita. Fátima – Sabemos que Jesus valorizou/iluminou tantas mulheres e enalteceu a maternidade. Kardec trabalhou, na Codificação, com médiuns do sexo feminino, como as jovens Julie Baudin, Caroline Baudin, Ruth Japhet, Aline Carlotti e as senhoras Plainemaison, Leclerc, Canu e Roger. Mesmo assim, durante muito tempo, a mulher teve uma tímida participação, dentro da Doutrina. Como vê isto? Chegou a testemunhar ou enfrentar o preconceito masculino, na área espírita? Gizelda – Sim. Infelizmente, naquela época, a mulher não tinha “vez, nem voz”. Não aceitavam que usasse a tribuna, pois consideravam ser local, apenas, para homens. Também, não aceitavam o movimento da “Jornada da Mulher Espírita Paraibana”. Fátima – Frases de Jesus, como: “amai-vos uns aos outros, como eu vos amei” ou “reconcilia-te, o mais depressa possível, com teu adversário, enquanto estás a caminho com ele”, além de tantas outras do Evangelho, que falam do amor e do perdão, são mesmo
Fátima – A FEPB vem acompanhando, na atualidade, o avanço da FEB, a nível nacional, quando sabemos que houve um crescimento do Espiritismo, depois que Chico Xavier foi eleito “O maior brasileiro de todos os tempos”, em outubro de 2012? Gizelda − A FEB tem trabalhado, junto às Federativas, para que o Espiritismo seja divulgado, pois o ser humano moderno tem perguntas e o Espiritismo dá, sempre, as devidas respostas. Daí, o avanço da Doutrina; não somente, no Brasil, como no Mundo. Fátima – Como você vê, nos dias atuais, o Movimento Espírita, no Brasil e na Paraíba? Gizelda − Em franca ascensão, o Movimento Espírita, na atualidade, é respeitado e elogiado por muitos. E, como a Doutrina Espírita é, essencialmente, educativa, conduz seus adeptos a assim se portarem na sociedade, dando o exemplo que arrasta multidões a desejarem conhecer o Espiritismo. Nesses 40 anos em que milito dentro do Movimento, tenho observado que vêm caindo o preconceito e a intolerância de muitas pessoas que o combatiam; decorrendo, daí, o aumento de simpatizantes, em número bastante considerável! Fátima – Deixe-nos uma mensagem sobre o Centenário e o Congresso da FEPB-2016? Gizelda − O Centenário da FEPB é a prova de que, quando a causa é de Deus, jamais terá fim. São cem anos, enxugando lágrimas, cicatrizando as feridas das almas combalidas e infelicitadas e, sobretudo, iluminando-as e despertando consciências. Os Congressos Espíritas da Paraíba são de grande importância, para a nossa sociedade, onde se verifica a participação, não só, de espíritas. É, ainda, uma oportunidade de muitos conhecerem novos expositores e se aprofundarem nos conhecimentos específicos. * Entrevista concedida à jornalista Fátima Araújo, em homenagem ao Centenário da Federação Espírita Paraibana
Entrevista
CARLOS ROMERO:
Um Ser Afável E
le nos recebe, de forma cordial, sorridente, com afabilidade. Nascido em Alagoa Nova-PB, como filho de José Augusto Romero e Maria Pia de Luna Freire, Carlos Romero é bacharel em Direito, professor aposentado da UFPb, onde ensinou Direito Comercial, Direito da Navegação e Prática Forense. Foi juiz de Direito e, na administração estadual, trabalhou como subchefe da Casa Civil, no governo Pedro Gondim; foi diretor da Rádio Tabajara da Paraíba, membro do Conselho Estadual de Cultura e conselheiro da OAB. É membro da Academia Paraibana de Letras e colunista do jornal “A União”, onde ajudou a fundar e editou o “Correio das Artes”, já tendo atuado no jornal “Correio da Paraíba”. Foi um dos fundadores da Orquestra Sinfônica da Paraíba. Como espírita, foi vice-presidente da Federação Espírita Paraibana. É orador e escreve artigos para o jornal revista “Tribuna Espírita”. Carlos Romero é autor dos seguintes livros e plaquetes: “A outra Face de Beethoven”, conferência proferida na Sociedade de Cultura Musical; “O Milagre de Anchieta”, conferência pronunciada na Faculdade de Direito da Paraíba; “A Dança do Tempo”, crônicas; “O Papa e a Mulher Nua”, crônicas de viagem. “Lições de Viver”, crônicas; “Viajar é sonhar acordado”, crônicas de viagem. “Meu Encontro com Kardec” e “A Falência no Direito Brasileiro”. Fátima Araújo – Para alguém que vivenciou toda uma história, dentro da Instituição Mater do Espiritismo, na Paraíba, ao lado do pai, José Augusto Romero, o que representa a Federação Espírita Paraibana, para a comunidade e para o Movimento Espírita? Carlos Romero – É, com muita euforia, que vejo a nossa Federação Espírita comemorando seu primeiro centenário de existência. Data, sem dúvida, bastante significativa, para a família espírita paraibana. Lembrar que, na Rua Treze de Maio, a Federação teve duas sedes. E, foi em ambas que meu pai, José Augusto Romero, ocupou a presidência, que se estendeu por 44 anos. Fátima Araújo – Poderia nos dizer
ram os passes e os trabalhos mediúnicos. E grandes oradores ocuparam o microfone da nossa Casa Mater.
quais foram as linhas mestras da administração do senhor seu pai, como Presidente (1929 – 1973), por 44 anos? Carlos Romero − O pioneiro, meu pai, sempre contou com a ajuda da Espiritualidade Maior. Nunca, faltou dinheiro para os trabalhos da Casa Mater, e ele, sempre, primou pela austeridade. Fátima Araújo – Pelos registros históricos, a administração do senhor seu pai passou-se entre a segunda e a terceira sede da FEPb, cujo terreno foi doado por Artur Lins de Vasconcelos. Qual a ligação desse empresário com a direção de José Augusto Romero? Carlos Romero − Da Rua Treze de maio, a Federação, graças a uma doação de um terreno, feita pelo industrial paranaense Lins de Vasconcelos, foi transferida para o Parque Solon de Lucena. O prédio tinha uma arquitetura moderna. Mas, é preciso lembrar que era, no modesto prédio da Treze de Maio, que eu, levado por meu pai, ia assistir às lições de Catecismo Espírita. Foi, na primeira sede, que conheci espíritas extraordinários, como José Pereira da Silva, que mantinha, com muita dedicação, o Serviço de Homeopatia. Com a nova sede, o Movimento Espírita se desenvolveu bastante. Não faltou a assistência social, não faltou a biblioteca, não faltou o trabalho mediúnico. Fátima Araújo – Após as iniciais “Sessões de Caridade”, como os pioneiros evoluíram para os trabalhos mais metódicos da Casa? Desde o tempo de José Augusto Romero, já havia palestras públicas e passes? Carlos Romero − Com relação ao funcionamento da Federação, nunca falta-
Fátima Araújo – Como vê, hoje, o Espiritismo na Paraíba, com o avanço do Movimento Espírita no Estado? Carlos Romero − O Espiritismo, na Paraíba, vai muito bem. Numerosos são os Centros funcionando em todo o Estado. Não esquecer que o Consolador prometido por Jesus, cada vez mais, cresce, em todo o país. A Federação Espírita Brasileira é uma instituição modelar, com sua sede em Brasília. É ela a grande semeadora do livro espírita, juntamente com outras editoras. Fátima Araújo – Acredita que os espíritas estão conseguindo, de verdade, alijar da alma as más inclinações e o desamor, ou, ainda, estamos muito distantes da máxima de Jesus: “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei”? Carlos Romero − O lema do Espiritismo é “Fora da Caridade não há Salvação”. Este slogan define uma Doutrina. Cada vez mais, cresce o Movimento Espírita em nosso país. O livro espírita está em todas as livrarias, mesmo, as não espíritas. Chico Xavier é amado por todos, chegando a ser eleito em votação nacional espontânea. Lembrar que nossa Federação já foi visitada, mais de uma vez, pelo Arcebispo Dom Aldo Pagotto, e o pastor Estevam Fernandes, que ouviram, encantados, a palavra do médium Divaldo Franco. Fátima Araújo – Deixe uma mensagem para seus contemporâneos e para os que estão chegando agora. Carlos Romero − A maior mensagem que podemos enviar a todos os que nos ouvem está no livro “Obras Póstumas”, de Allan Kardec: “O Espiritismo sairá triunfante da luta, não o duvideis, porque está nas leis da Natureza e é, por isso, imperecível”. Lembrar, como término dessa entrevista, a brilhante atuação do presidente da FEPb, Marco Lima, que, com sua excelente equipe, vem contribuindo para a divulgação da nossa Doutrina Espírita. Entrevista concedida à jornalista Fátima Araújo, em homenagem ao Centenário da Federação Espírita Paraibana.
novembro/dezembro • Tribuna Espírita • 2015 11
Entrevista Só me resta dizer que, fazendo o que devia e o que podia, resultou, para mim, em grande aprendizado e fortes laços de fraternidade com irmãos de instituições espíritas de diversas localidades.
AZAMOR CIRNE:
Um baluarte do Espiritismo na Paraíba F
ilho de Paulo Cirne de Azevedo e Maria Salomé Henriques Cirne de Azevedo, Azamor Cirne nasceu em João Pessoa, onde reside, com sua esposa Gizélia Xavier de Azevedo, com quem tem três filhos, sete netos e dois bisnetos, Paulo Henrique, com oito anos e Lucas, com dois anos. Ele recorda que seus pais eram primos carnais e formavam um casal exemplar. “Tive, apenas, um irmão mais novo, Marcos, já desencarnado. Da parte de meu pai, toda a família era protestante e só ele era espírita. Já, a família de minha mãe (18 irmãos) era católica, inclusive ela. Vale assinalar que o amor e a compreensão existente entre os meus pais respondia pela alta consideração religiosa do casal. Foi uma grande lição, em minha vida, que, só mais tarde, vim a compreender”. Fátima – Desde quando é espírita? Algum fato especial o levou para o Espiritismo? Azamor – Desde que chegamos ao “Centro Espírita Leopoldo Cirne”, em sua antiga sede, no bairro conhecido como Baixo Roger, nesta capital, juntamente com Gizélia, minha esposa, que é médium. Depois de vários casos e de fatos ocorridos, através da mediunidade de Gizélia, abrimos os olhos para o entendimento do Espiritismo, que nos fez mudar o pensamento e refletir sobre o modo de ser das pessoas e do “porque” da vida, através das existências sucessivas (reencarnação). (Livro dos Espíritos: 166 e 171). Fátima – Como foram os primeiros tempos do “Leopoldo Cirne” que, hoje, está com 74 anos de existência? Azamor – No Baixo Roger, havia uma escolinha para crianças, fundada pela Sra. Sílvia Ramos, e mantida pela Prefeitura. Era uma pequena construção com, apenas, dois compartimentos. Não dispunha de luz elétrica. Na frente, se estendia a linha férrea e, na parte de trás, ficava um manguezal. A estrada de acesso era de barro, com muita lama. Então, surgiu Severino de Luna, uma pessoa muita conhecida, ligado às atividades da Federação Espírita Paraibana, e amigo de D. Sílvia. Desse contato, nasceu a ideia de incorporar um Grupo Espírita à escolinha. A ideia criou corpo e já empreendia seus primeiros passos, quando ocorreu a desencarnação do ilustre paraibano Leopoldo Cirne (31-07-1941), grande vulto do Espiritismo bra12 Tribuna Espírita • novembro/dezembro • 2015
sileiro e presidente da Federação Espírita Brasileira (FEB). Severino lembrou-se, como um dever e uma homenagem, de associar o nome de Leopoldo Cirne, como denominação da nova agremiação que surgia em 14-09-1941. Fátima – Fale-nos sobre os primeiros tempos da Doutrina Espírita neste Estado, da ligação do “Leopoldo Cirne” com dirigentes da FEPB e de sua participação nesse trabalho inicial. Azamor – Alcancei a última etapa do saudoso José Augusto Romero, presidente da FEPb (1929-1973), um personagem fraterno, que denotava muito equilíbrio e simpatia. Era uma época em que os adversários do Espiritismo, ainda, se preocupavam em combatê-lo, mesmo, sem “saber quem foi Allan Kardec” e, muito menos ainda, as afirmações básicas e racionais de “O Livro dos Espíritos” e das demais Obras da Codificação. É verdade, como se diz: há males que vêm para o bem; pois, entre tantas críticas sem fundamento lógico, racional, as sacadas contra a Doutrina davam lugar às respostas claras, com respaldo na Ciência e nos fatos; resultando, desse modo, na divulgação positiva do próprio Espiritismo. Quanto à segunda parte de seu questionamento, digo que o C. E. Leopoldo Cirne, sempre, esteve ligado à FEPb, apoiando suas diretrizes, no Movimento Espírita paraibano, para promover a difusão da Doutrina Espírita no nosso Estado. Em relação à terceira parte, tenho a dizer que atuei na diretoria da FEPb, como membro do Conselho Deliberativo, e, então, terceiro vice-presidente para assuntos da Unificação da FEPb, passando a integrar a representação da nossa Casa, dirigida pelo presidente José Raimundo de Lima, em equipe, ou acompanhando-o, pessoalmente: nas reuniões do Conselho Federativo Estadual; na implantação do mapeamento do Movimento Espírita em nosso Estado, através das Coordenadorias; e na capital, em tarefa junto aos Polos, que inclui os bairros. De 1980 a 2008, permaneci na Federação Espírita Paraibana. Foi uma época de intensas atividades, em que fizemos muitas viagens pelo Estado e organizamos muitas reuniões, nas cidades do interior da Paraíba. Imbuído pelo mesmo ideal de união, estive envolvido na campanha para maior integração do Espiritismo no Nordeste, pela FEB, participando de muitos eventos em todos os Estados da região.
Fátima – E, o que dizer da FEPb, hoje, depois de tantos anos de trabalho, agora, chegando ao Centenário da Instituição? Azamor − A Federação Espírita Paraibana foi fundada em 17 de Janeiro 1916, pelo amazonense Manoel Alves de Oliveira, em uma casa da Rua 13 de Maio, nesta capital, onde morava com sua esposa, que era médium. Anos depois, vizinha à sua residência foi construída a primeira sede própria da Federação. Agradeçamos ao fundador Manoel Alves e aos subsequentes dirigentes da FEPB, que, levados pela fé raciocinada, nos legaram o exemplo da FEPB Centenária. É uma data histórica e de grande regozijo a estender-se por todos os Centros da Capital e do interior, dando graças a Deus. O presidente atual da FEPb é o talentoso e dedicado Marco Antônio Granjeiro de Lima, possuidor de um vasto cabedal doutrinário, adquirido nas gestões anteriores, quando chegou bem jovem. Foi, na Instituição, dirigente do Departamento da Juventude. É de se lembrar, também, que ele, como professor de música, violonista, compositor e cantor, é grande incentivador da música na Federação e nas Casas Espíritas. Fátima – Acredita o senhor, no Amor entre os participantes da Casa Espírita? A máxima de Jesus: “Meus discípulos serão reconhecidos, por muito se amarem” é respeitada nos Centros Espíritas? Azamor – Sim. Essa é uma condição indispensável para a segurança, a progressão das tarefas e assistência dos bons Espíritos, que são atraídos pelas vibrações de amor e compreensão dos integrantes do Centro, contribuindo, com prazer, para que nunca faltem o estímulo e as energias salutares, para o bem geral. Assim, pode-se conhecer se essa máxima de Jesus, uma das mais difíceis, está sendo respeitada nos Centros Espíritas. Fátima – O Movimento Espírita, no Brasil, hoje, e na Paraíba, o anima? Vê esse Movimento, com otimismo? Azamor – Sim. Existe uma perfeita coordenação do Movimento, em todo o Brasil, através da FEB, e, especificamente, através do Conselho Federativo Nacional, que integram as representações estaduais. Do mesmo modo, em nossa centenária FEPb, existe o Conselho Federativo Estadual, composto pelos diversos Centros Espíritas da capital e do interior. Fátima – Com o aumento da criminalidade, hoje, em nosso Estado, que é um dos mais violentos do país, o que é que o Espiritismo pode fazer para consolar as pessoas que perderam seus parentes para o crime? Azamor – É dever de cada um de nós a compreensão e contribuir, com muito amor, em favor do nosso próximo, levando o consolo e o amparo, em nome de Jesus, e, se for o caso, expor algo da Filosofia Espírita, tudo a seu modo e tempo. Assim, é que nós, Espíritas, sempre, procedemos. Entrevista de Azamor Henriques Cirne de Azevedo, fundador da Tribuna Espírita, concedida à jornalista Fatima Araújo, em homenagem ao centenário da FEPB. Fotos: Google imagens
Entrevista feração de obras mediúnicas ditas espíritas. O que fazer então? É consenso no CFN, que representa as Federativas dos Estados Brasileiros, que proibir não seria prudente, mas sugerir aos leitores as obras da Codificação Kardequiana. As livrarias espíritas deverão ser pontos de luz a refletir o verdadeiro pensamento espírita e oferecer às pessoas o bom livro para sua formação intelecto-moral.
MARCO LIMA:
Uma aura de Paz, no gesto calmo* O
atual presidente da Federação Espírita Paraibana, Marco Antônio Granjeiro de Lima, assumiu o cargo, no dia 9 de março de 2012, tendo sido reconduzido, a 15 de março de 2015, pelo Conselho Deliberativo. Uma energia de paz é o que ele nos passa, com seu jeito calmo e paciente, qualidades que parecem impulsioná-lo à criatividade e ao dinamismo que vem demonstrando, com ações sempre voltadas para o crescimento da FEPB. Cearense, de Juazeiro do Norte, Marco Lima participa do Movimento Espírita, desde 1984, como integrante da Juventude Espírita da FEPb. Trabalhou, como evangelizador e coordenador de Juventude, diretor do Departamento de Infância e Juventude, 2º secretário, vice-presidente e, atualmente, presidente da Instituição. É membro e fundador do Grupo Musical Acorde, que foi criado em 1994. Casado com a senhora Kátia Menezes de Lucena Lima, tem três filhos; é educador artístico, com especialização pela UFPb, em Educação Infantil, mestrado em Serviço Social, na linha de pesquisa sobre Cidadania e Educação Inclusiva. Atualmente, trabalha na rede pública de Ensino Municipal de João Pessoa, como gestor escolar, e como coordenador do Ponto de Cultura “A Luz da Arte”, do “Instituto dos Cegos da Paraíba”, onde atua como professor e reabilitador na educação de pessoas com deficiência específica. Fátima − Presidente Marco Lima. O que é a Federação Espírita Paraibana e o que a instituição-mater do Espiritismo, neste Estado, representa para a comunidade? Continuará o trabalho de enaltecer a família, através dos evangelizandos e seus pais? Marco − A Federação Espírita Paraibana é um órgão de orientação e coordenação do Movimento Espírita na Paraíba. Desde sua fundação, em 17 de janeiro de 1916, propugna pelo ideal de união dos espíritas e unificação das práticas, visando à fidelização dos postulados exarados na Codificação Kardequiana e aos preceitos do Evangelho de Jesus. O trabalho da Federação objetiva levar o esclarecimento e a consolação da Doutrina Espírita a todas as pessoas, oferecendo-lhes a cosmovisão espírita sobre a vida, o ser hu-
Fátima − Conte-nos, um pouco, sobre a motivação que o levou a ser presidente da FEPb e, se essa experiência viabiliza sua atuação como ser espírita. Marco − Entendo que ser presidente da Casa Mater do Espiritismo na Paraíba está sendo uma honra de grande valor e alegria, em poder retribuir tudo aquilo que venho recebendo da Instituição, ao longo de minha existência. Aqui, busquei e encontrei motivação e respostas, além das boas companhias de pessoas maduras na experiência, como, também, amigos jovens que, como eu, anelavam por um sentido para a vida. mano e seu destino, como herdeiro de Deus, segundo Joanna de Ângelis, mentora da FEPb. E, ainda, promover o estudo, a difusão e prática da Doutrina; incluindo o fortalecimento da família, como célula básica da sociedade, através do incentivo do Evangelho no Lar, da Evangelização Infanto-Juvenil e de movimentos que dignifiquem a função educadora das famílias. A Federação foi a primeira Instituição Espírita da Paraíba e já nasceu com um propósito bem definido: Federar. Nos primórdios, até a década de 1970, eram poucos os Centros Espíritas espalhados pelo Estado. Hoje, estamos presentes em 80 cidades e há cerca de 170 Instituições acompanhadas pelos órgãos de Unificação do Movimento Federativo que, atualmente, são 8 (oito) Coordenadorias Regionais e 8 (oito) Polos Distritais, a saber: João Pessoa, com 4 (quatro) Polos; Campina Grande com 4 (quatro) Polos; Brejo; Sertão; Alto-Sertão; Vales do: Paraíba, Piancó e Mamanguape. Fátima − Observamos a dinâmica de trabalho desta instituição, junto aos Centros Espíritas da capital e do interior. Como a FEPb atuará, de forma a alcançar, ainda mais, esses núcleos espíritas? Considera animador o avanço do Movimento Espírita em nosso Estado? Marco − Quem vem acompanhando o crescimento do Movimento Espírita no Estado, percebe como as Casas Espíritas estão sendo procuradas. Regozijamo-nos, quando ouvimos dos companheiros que é preciso ampliar as dependências das Instituições, para atender às demandas dos interessados pelos estudos e pelo tratamento espiritual que são oferecidos às pessoas. Sem nos preocuparmos com proselitismo, porque, de fato, a Doutrina não tem esse viés, haja vista ser a mensagem espírita libertadora, lúcida e, acima de tudo, amorosa e consoladora, iremos sequenciar o apoio necessário à expansão do Movimento. Fátima − Diante da proliferação meio desordenada de livros anunciados como espíritas-doutrinários, como age a FEPb, para conter a divulgação ou mesmo a exposição desses conteúdos, em sua livraria? Marco − Infelizmente, ocorre essa proli-
Fátima − Acredita na aplicação, dentro da Casa Espírita, dos ensinamentos de Jesus, a exemplo do “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei”? Marco − Jesus foi é e será nossa referência perene, o Grande Terapeuta de nossas vidas. A Casa Espírita, como escola abençoada das relações interpessoais, enseja-nos a conviver com pessoas de níveis evolutivos diversos de consciência. Daí, temos um vasto material de apoio pedagógico vivencial, para exercitarmos a lição magnânima de Jesus: “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei”. Fátima − Fale-nos um pouco do trabalho de divulgação da FEPb na Internet, do “DECOM”, como entrevistas, programas, etc. Como tem sido a recepção do público? O avanço da divulgação tem sido proporcional à presença das pessoas na Casa Espírita? Marco − Demos um salto quantitativo e qualitativo, no que se refere à comunicação e utilização das mídias tecnológicas, organização do “site” e atendimento ao Movimento Espírita. A equipe do DECOM vem se desdobrando, ao máximo, para disponibilizar programas via “web”, em parceria com a rede Amigo Espírita e FEB TV: Autoencontro − Exibido (Rede Amigo Espírita - canal 5), no primeiro sábado de cada mês, às 16 h (ao vivo), e que trata de assuntos do psicológico. Evangelho “OnLar” − exibido (Rede Amigo Espírita - canal 5), todas as quintas-feiras às 20h (ao vivo), no formato de Evangelho no Lar. Página Aberta − exibido (Rede Amigo Espírita - canal 5), toda quarta feita, às 20h (ao vivo), com leitura e comentários de mensagens espíritas. Ponto a Ponto − exibido (Rede Amigo Espírita - canal 5 e TV CETE), todo domingo, às 16 hs, (ao vivo), programa de entrevistas, mostrando a visão espírita para questões do cotidiano. E temos, ainda, o programa de rádio “Semear”, que vai ao ar, todo domingo, às 7h, pela 100,5 FM. * Entrevista concedida à jornalista Fátima Araújo pelo Presidente da Federação Espírita Paraibana, Marco Antônio Granjeiro de Lima.
novembro/dezembro • Tribuna Espírita • 2015 13
O Chefe do Espiritismo WALKÍRIA LÚCIA DE ARAÚJO CAVALCANTI João Pessoa-PB
“Perseverai no bem! Unidos, seremos resistência; fragmentados, seremos vencidos em nossos objetivos essenciais. Temos o direito de discrepar, de pensar de maneira diferente, e o dever de discutir, de expor, mas não de dissentir. Evocando o Encontro de Jerusalém, quando as duas figuras exponenciais do Evangelho de Jesus, Pedro e Paulo, enfrentaram-se, para debater paradigmas de alta relevância na divulgação do Evangelho límpido e cristalino, que Jesus trouxe para todos, sem privilégio nem preconceitos e foi o amor que venceu as opiniões divergentes e que, em lágrimas, fez que o primeiro concílio dos Cristãos se transformasse na pedra angular da divulgação da Verdade, depois que o Mestre retornou aos Páramos Divinos.” (Pelo Médium Divaldo Pereira Franco, na Reunião do Conselho Federativo Nacional, da FEB, em 08 de novembro de 2015)
R
etiramos o título do subitem III, do item Constituição do Espiritismo. Exposição de Motivos, Segunda Parte, do Livro “Obras Póstumas”. Quem poderia ser considerado o Chefe do Espiritismo? O Espiritismo tem Chefe? Não podemos confundir a orientação dada pelas Federativas e pelas Instituições Espíritas, como chefia perante o Movimento Espírita. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, logo em sua Introdução: II – “Autoridade da Doutrina Espírita”, demonstra que a universalidade dos ensinamentos dados pelos Espíritos constitui-se como instrumento de coesão e de divulgação da mensagem. A revelação espírita não representa privilégio de nenhum grupo; assenta-se na compreensão e no entendimento da mensagem, outrora trazida por Jesus e, agora, solidificada com a comprovação da existência dos Espíritos. Por isso, dizemos: Espiritismo ou Doutrina dos Espíritos. Pois, eles constituem a base e a existência da Doutrina. Em seu tríplice aspecto: religioso, filosófico e científico, preenche as lacunas existências da compreensão humana do que se constitui a existência do ser. De onde viemos, qual a utilidade/necessidade de aqui estarmos e para onde iremos. Questões que permeiam o inconsciente humano e nos faz caminhar, em direção ao progresso e entendimento humano; da própria criatura, a princípio, e do todo, como consequência natural. A universalidade das informações nos proporciona uma consolidação da mensagem. Fazendo que ela seja transmitida em massa, proporciona maior veracidade da mesma. Mas, para divulgação da mensagem, é necessário o mínimo de padrão. Análise e conhecimento doutrinário são necessários, para que se possa separar o joio do trigo e trazer, para o conhecimento comum, a explicação de verdades irrefutáveis. Kardec demonstrava preocupação, com relação a este corpo de pessoas que fariam tal verificação e, como o Movimento Espírita deveria ser conduzido. Vemos isto, por exemplo, em “O Livro dos Médiuns”, quando, no capítulo XXX, traz o Regulamento da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Falando-nos da seriedade, do que vem a ser fazer parte de um movimento como este; da abordagem doutrinária nas reuniões abertas ao público ou não; do estudo necessário que deve ser 14 Tribuna Espírita • novembro/dezembro • 2015
feito, constantemente, pelos que fazem parte do Movimento; da responsabilidade que temos uns sobre os outros, dentro e fora do Movimento; do crivo necessário das obras ditas espíritas; etc. Verificamos isto, também, no livro “Obras Póstumas”, já citado no primeiro parágrafo, que nos mostra que, a princípio, havia a necessidade de centralizar a orientação da divulgação da mensagem em uma única pessoa, Kardec, mas que, tão logo foi possível, foi criada a Comissão Central e as Instituições Acessórias. Não podemos falar em organização, disciplina, se não falarmos em normativos, regras e correlatos que constituem a orientação basilar, para qualquer grupo que queira trabalhar na divulgação de qualquer instrumento literário. “O essencial é que estejam de acordo sobre os princípios fundamentais;... Sobre as questões pendentes de detalhe, pouco importa a sua divergência, uma vez que é a opinião da maioria que prevalece.” É, assim, que as Federativas devem agir, tendo, como Órgão Central orientador, a Federação Espírita Brasileira, que nos traz as orientações e delimitações doutrinárias. As Instituições Espíritas funcionam como unidades de base, que verificam as demandas e, ao mesmo tempo, são transmissoras da mensagem trazida pelo Órgão Central. Divergências existem. Não podemos permitir que haja dissensões no Movimento. Com relação às verdades básicas que constituem a própria razão de existir do Movimento, não pode haver querelas, só explicações. “Unidos, seremos resistência; fragmentados; seremos vencidos em nossos objetivos essenciais.” Assim, é que devemos ser, sempre, no Movimento Espírita, brasileiro, paraibano: Unidos, iguais ao feixe de varas. Pois, desta forma, seremos resistência; conseguiremos disseminar o Evangelho de Jesus, pelo amor que nos une, pelo raciocínio lógico que nos conduz.
“
Parabéns à Federação Espírita Paraibana, pelo seu centenário. Orientando-nos e trazendo-nos a solidez necessária, para a divulgação do Movimento Espírita, no estado da Paraíba.
Cem Anos-Luz FREDERICO MENEZES Recife-PE
C
omecei a visitar o querido Estado da Paraíba, no início da década de oitenta, lá por volta do ano 1984, se não me engana a memória. Ao lado do incansável José Raimundo, àquela época presidente da venerável Federação Espirita paraibana. Visitamos várias cidades do interior, inclusive, inaugurando Centros Espíritas. Ao nosso lado, o admirável Azamor Cirne. Foram dias inesquecíveis. Dias de profundas alegrias, na semeadura do pensamento espirita. Enfrentando forte calor, saindo de uma localidade para outra e construindo amizades que perdurariam longas datas. Vi brotar instituições respeitáveis e observei, de perto, o esforço para a consolidação do “Movimento Espírita Pessoense”. Sim, João Pessoa era roteiro fixo, em nossas jornadas que, sempre, duravam três dias. Este ano, temos uma data, para guardar com admiração na própria alma. Toca-me, particularmente. Nossa Federação comemora cem anos de irradiação luminosa, comunicando a todo Estado da Paraíba que a Terra não será mais a mesma; progredirá e se transformará para melhor. A imortalidade fluirá, cada vez mais intensa, dos programas da centenária instituição. Cem anos-luz! Claro, que ela enfrentou e enfrenta os desafios próprios das instituições humanas. Problemas
inerentes à condição falha de todos nós foram superados, com a persistência daquelas Casas sob a assistência elevada dos nobres Espíritos. Viveu momentos de incertezas e dores, lutas renhidas e percalços árduos. E teve momentos de glórias e vitórias, traçando a rota segura, para a unificação dos núcleos espíritas do Estado. Diante dos colossais desafios que, ainda, se erguem para tentar obstacular a implantação do Reino da Luz, na face da Terra, a FEPB, tenho absoluta certeza, estrutura-se, cada vez mais, para que o avanço do Bem prossiga, com maior celeridade, derramando o bálsamo de que carece a imensa massa dos sofredores espalhados por este mundo atormentado pela, ainda, incipiente espiritualização de seus habitantes. Jovens dedicados pensam em dinamizar, cada vez mais, a difusão do Espiritismo, utilizando o que nos entrega a tecnologia moderna e a arte, em terras paraibanas, e que se tornou em eficiente elemento propagador das grandes verdades consoladoras da Doutrina. A “Casa de Joanna de Ângelis”, desejamos, permanecerá como aquele farol amigo, orientando as embarcações no mar revolto das dúvidas humanas, apresentando a serenidade própria dos que trazem a alma amadurecida pelos embates seculares. Razão clara e sentimentos elevados; mente iluminada, pe-
los resplandecentes raios da sabedoria e coração vibrátil, cheio de um grande e incondicional amor pelos sofridos da estrada, norteando jovens e crianças e orientando os mais vividos, para a mudança imprescindível que todos nós necessitamos empreender. Escrevo esta singela homenagem, com a tinta da gratidão, aos amigos da Federação Espírita Paraibana. Gratidão, pelo enorme amor com que, sempre, me abriu suas abençoadas portas, bem como pelas luzes que tem derramado, não apenas, no estado que representa, mas, também, por todo o Nordeste brasileiro, sempre fiel a Kardec e Jesus. Gratidão, pelo apoio que, sempre, tenho recebido de suas dedicadas lideranças, no amparo meus passos na jornada que realizo em busca de meus esforços, para vencer as dificuldades que ainda trago. Sei que muitas vidas, também, fazem esta gratidão na alma. Muitas se esclareceram, graças às reuniões públicas, aos programas na internet, aos estudos sistematizados, aos exemplos dados pelos trabalhadores. “Conhecereis meus discípulos por muito se amarem”. Que esta frase lapidar permaneça, como eco bendito e roteiro abençoado, junto aos que fazem a notável Instituição com cem anos de iluminação. A ela, meu muito obrigado, pelos tesouros que tem entregue à Humanidade. novembro/dezembro • Tribuna Espírita • 2015 15
FEPB, um Centenário T
udo começou, nos idos de 1916. A Parahyba do Norte era a capital da então Parahyba. Uma época em que exceções de pessoas se “atreveriam” a falar de Espiritismo. Eram os destemidos e audaciosos, de raciocínio largo, que liam, dialogavam, conheciam a Doutrina Espírita. Não havia, ainda, um núcleo ou Centro Espírita, mas o livro espírita estava, ali, garantindo a ousadia, para se ultrapassar as fronteiras do preconceito. As dificuldades foram inúmeras, para os desbravadores, mas o desafio era maior. O que existiam eram, apenas, “Sessões de Caridade”, que aconteciam em residências, onde eram atendidos os necessitados. Naquelas sessões, a mediunidade aflorava em pessoas simples e sinceras, produzindo os mais extraordinários fenômenos de cura, vidência, clarividência, psicografia, psicofonia que maravilhavam e estupefaziam todos os presentes. Foi, na residência do cidadão Manoel Alves de Oliveira, que se realizavam uma dessas “Sessões de Caridade”, onde eram atendidas pessoas de todas as condições sociais, com a doutrinação de Espíritos enfermos, o passe, a água fluidificada e o consolo da Doutrina dos Espíritos. Mas, foi ali, naquele lar, que um reduzido número de pessoas resolveu fundar uma Sociedade Espírita e, então, surgiu a indagação: que Sociedade? Um modesto Centro Espírita ou Núcleo Espírita que seria mais fácil conduzir, num tempo em que não havia segurança para funcionar e as hostilidades estavam às vistas? Não! Eles decidiram fundar uma Federação. Outro questionamento surgiu, célere: Por que Federação? No presente, não se têm notícias sobre a existência de algum sobrevivente, dentre o grupo de pessoas que participaram da fundação, para apontar, com certeza, de quem foi a idéia; mas, que foi uma iluminada inspiração, não se discute. Tudo começou, assim: Na noite de 17 de janeiro de 1916, na Rua 13 de Maio, nº 457, antiga Rua da Lagoa de Cima, foi fundada a “Federação Espírita Paraibana”, pelos seguintes cidadãos: Manoel Alves de Oliveira, Eugênio Ribas Neiva, Manoel Francisco Rabelo, Eduardo Medeiros, Frederico Ribas Neiva, João de Brito Gouveia Moura e Joani de Felibelli. Como não possuía sede própria, a FEPB funcionava naquele endereço, que era, também, residência de Manoel Alves de Oliveira, onde acontecia a “Sessão de Caridade”, e que, assim, foi transformada, naquela data de 17 de janeiro de 1916, em sede provisória. Ali, funcionou, de 1916 a 1919, quando foi construída a segunda sede, num terreno próximo à casa de Manoel Alves de Oliveira, que foi doado por um dos referidos fundadores da FEPB: Joani de Felibelle. Este, também, ajudou na construção do prédio que funcionaria, em novo endereço: Rua 13 de Maio nº 465. Naquele local específico, a FEPB funcionou, de 1919 até 1960 – em 41 anos de profícuo atendimento. A construção da sua terceira sede foi em 1951. Arthur Lins de Vasconcelos, em visita à cidade, foi àquele endereço. Da FEPB, seguiu, em grupo, ao antigo “Ponto de Cem Réis”, para tomar um cafezinho, no famoso Café Alvear. 16 Tribuna Espírita • novembro/dezembro • 2015
1ª SEDE
2ª SEDE
4ª SEDE
O grupo era composto de Laurindo Cavalcante de Araújo, José Augusto Romero, Edísio Travassos e Lins de Vasconcelos. Foi lançada a idéia da sede da FEPB mudar de endereço, devido o imóvel atual não dispor de um salão que pudesse abrigar um público maior do que o existente, e não houvesse condições de se fazer uma reforma por causa da exiguidade do terreno. Edísio Travassos, na ocasião, informou que, no parque Solon de Lucena, na Lagoa, havia um terreno à venda, medindo 15 X 33m. Dali, então, partiu o pequeno grupo, para examinar o local e Lins de Vasconcelos autorizou José Augusto Romero a comprar o terreno da proprietária, dona Catarina Moura, por Cr$ 150 mil (cento e cinquenta mil cruzeiros). Além de doar o terreno, Lins de Vasconcelos fez, ainda, a doação de uma casa, onde passou a funcionar o Colégio Lins de Vasconcelos. A ideia era alugar o prédio, mas o prof. Manoel Neri não quis o aluguel, preferiu comprar. O imóvel foi vendido por Cr$ 300 mil (trezentos mil cruzeiros). Com relação à terceira sede da FEPB, relata o saudoso irmão Laurindo Cavalcante
de Araújo, em matéria de “Tribuna Espírita” – ANO XIX – Nº 95 – Maio/Junho – 2000, p. 2 e p. 3: “Em 1957, começou a construção. O engenheiro da obra foi o Dr. Ivanildo Marinho, que era colega de repartição de Augusto Romero, no DNOCS. No começo da construção, Lins de Vasconcelos telegrafou a Augusto Romero, dizendo que ele e Ercila, (sua esposa) haviam reservado uma ajuda de Cr$ 200 mil (duzentos mil cruzeiros), para as obras. Pouco tempo depois, no entanto, desencarnou. Mas, quando o assunto foi tratado com a viúva, em vez de CR$ 200 mil, ela deu Cr$ 250 mil (Duzentos e cinquenta mil cruzeiros)! O presidente da Federação Espírita do Paraná, João Guignone, grande amigo de Lins de Vasconcelos, mandou uma ajuda de Cr$ 100 mil (Cem mil cruzeiros). A construção terminou, em 1959, e foi inaugurada, em 1960.” Então, construída agora, num edifício de 1º andar, dotada de várias dependências, com livraria e um grande auditório, para a época, no nº 65, no “Parque Solon de Lucena”. Coincidentemente ou não, o referido parque é um logradouro tranquilo, cujo nome
o de Luz 3ª SEDE
fora dado em homenagem ao ex-presidente do Estado da Parahyba e que, também, foi espírita reconhecido. A FEPB permaneceu, no referido local, de 1960 a 2000. Com os trabalhos em expansão e um maior número de frequentadores, fez-se necessário um imóvel com uma área de acolhimento mais ampla, o que resultou na sua transferência para um novo endereço, em prédio de sua propriedade, erguido em terreno doado pelo engenheiro Targino Pereira da Costa. Sobre a atual sede, quarta na história, recorremos, à memória viva e atuante do, então, presidente José Raimundo de Lima, que se pronuncia, também, na matéria de “Tribuna Espírita” – ANO XIX – Nº 95 – Maio/Junho – 2000, p. 3 e p. 4: TE − Como surgiu a ideia da mudança para a nova sede? − Pela situação, cada vez mais agitada e confusa, em que se encontra o centro da cidade, com muita poluição sonora e dificuldades de estacionamento, e, até, questões de segurança para as reuniões noturnas, culminando com as dificuldades físicas, em face do crescimento dos serviços. TE − E, por que a tendência foi para o prédio do antigo edifício do “Lar da Criança”? − Em face de, já no ano de 1989, as duas diretorias terem acertado tal solução. O “Lar da Criança” solicitava da Federação empenho para se conseguir um outro terreno mais amplo, a fim de possibilitar a implantação do “Projeto Casas-Lares”, e a Federação se empenhou, junto ao Prefeito Carlos Mangueira, conseguindo um terreno de dois hectares, nos Bancários, bem como ajudou a construir as cinco Casas-Lares, concluídas. E, com a construção das Casas-Lares, normalmente a solução da mudança ocorreu, passando a Federação a se instalar na Bento da Gama, nº 555, imóvel de sua propriedade. Assim, todos ficaram mais bem acomodados, inclusive o “Lar da Criança” que edificará um Centro Administrativo e a Federação um novo, amplo e moderno Auditório. − Foi um enorme sacrifício adaptar, em pouco tempo, um prédio, para servir de Casa Mater do Espiritismo na Paraíba. A princípio, poucos acreditavam na reforma. Mas, a inicia-
mos, em 26 de outubro do ano findo, e, depois, após alguns meses de trabalho, ainda poucos achavam que houvesse tempo para realizar a reunião da Comissão Regional. Mas, com fé, trabalho e ajuda espiritual, e de muitos bons corações, conseguimos realizar a inauguração, no dia cinco de maio deste ano, com pleno sucesso.” Hoje, a Federação Espírita Paraibana, num terreno de quase 4.000 m², e com uma área construída de 1.600 m², dispõe de uma estrutura física ampla e moderna que comporta grandes eventos e um público bem maior, inclusive adaptada para receber idosos e portadores de necessidades especiais. Os Presidentes Nesses 100 anos de existência, o espírito de continuidade, na sucessão de dirigentes na Federação Espírita Paraibana, fez muito bem à comunidade espírita do nosso Estado que, neste momento, expressa seu sentimento de gratidão a todos eles. Por essa razão, nesse roteiro comemorativo, na pessoa de cada um dos seus presidentes, está representado cada trabalhador dessa seara, cada irmão do caminho acolhido em nossas Casas Espíritas, cada uma das pessoas que adentraram, pela dor, ou que passaram, deixando ao menos um tijolo sentado nas bases de nossas estruturas. Os Presidentes: Manoel Alves de Oliveira – 1916 a 1923 Vindo do Estado do Amazonas, fixou residência no centro da nossa capital. Aqui, encontrou, como prática espírita, as “Sessões de Caridade”. Sendo sua esposa médium praticante, passou a se reunir, com outros confrades locais, realizando-as, na sua própria residência, onde eram atendidas pessoas de todas as condições sociais, com a doutrinação de Espíritos enfermos, o passe, a água fluidificada e o consolo da Doutrina dos Espíritos. Foi, nesse grupo, que se decidiu formalizar a Federação Espírita Paraibana, no dia 17 de janeiro de 1916, com sede naquela residência, e ele, como presidente. Mais tarde, enfrentou a construção de uma sede própria que foi inaugurada em 1919. A primeira diretoria ficou assim formada: Manoel Alves de Oliveira (presidente), Eugênio Ribas Neiva (vice), Eduardo Medeiros (1º. Secretário), Manoel Francisco Rabelo (2º. Secretário) e João de Brito Gouveia Moura (Tesoureiro). Eugênio Ribas Neiva – 1923 a 1924 Seu nome figura na primeira diretoria da Federação Espírita Paraibana, como vice de Manoel Alves de Oliveira, a quem sucedeu. Exerceu o mandato, até 17 de janeiro de 1924, com a seguinte Diretoria: Presidente: Eugênio Ribas Neiva, Vice: Severino Lucena, 1º Secretário: Diógenes Caldas, 2º Secretário: Júlio Ataíde, Tesoureiro: João de Brito Gouveia Moura, Bibliotecário: Manoel Francisco Rabelo. No ano de 1932, Eugênio Ribas Neiva residiu na Rua Maciel Pinheiro, nº 536, tendo desempenhado a função de “Thesoureiro”, em Repartição Federal/Alfândega, na Parahyba. João Gomes Coelho – 1924 a 1925 Aparece como redator da primeira revista espírita lançada pela FEPB, “O Além”. Depois, Presidente da Federação, na Diretoria eleita em
José Augusto Romero
17 de janeiro de 1924: Presidente: João Gomes Coelho; Vice: Eugênio Ribas Neiva; 1º. Secretário: Getúlio Cézar; 2º. Secretário: João Bernardo de Freitas; Tesoureiro: Aníbal de Gouveia Moura; Bibliotecário: Manoel Francisco Rabelo. Influente na capital, ganhou nome de rua: “Rua Professor João Gomes Coelho”, no bairro de Cruz das Armas. José Rodrigues Ferreira – 1925 a 1929 Nascido no Brooklin em Nova York (EUA), filho de cônsules brasileiros, naquela cidade, veio para o Brasil e residiu no Rio de Janeiro, quando trabalhou na FEB, na gestão de Leopoldo Cirne. Como engenheiro, ao ser designado pelo Presidente Epitácio Pessoa, para trabalhar na instalação das redes ferroviárias no Nordeste, vinculou-se à Paraíba e terminou por presidir a FEPB. Da capital, foi para o sertão do Estado, por volta de 1932, instalando-se na fazenda Acauã, de sua propriedade, dando continuidade aos trabalhos espíritas naquela região. Desenvolveu importante trabalho na interiorização do Espiritismo no Estado, através da prática espírita em matéria de estudos, educação mediúnica, atendimento aos enfermos espirituais e organização nas instituições espíritas. É considerado o precursor da Doutrina Espírita em Sousa. Ao desencarnar, foi sepultado na cidade de Aparecida-PB, tendo, como inscrição, em seu túmulo: “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei”. José Augusto Romero – 1929 a 1973 Ingressou no Espiritismo, em 1924, e, em 1929, assumiu a presidência da Federação Espírita Paraibana, para um longo e abençoado mandato de 44 anos. Possuidor de excepcionais qualidades humanas, foi uma das colunas mestras do movimento Espírita em nosso Estado. Nasceu em Alagoa Nova-PB, no ano de 1891, e casou com dona Pia de Luna Freire, em 1911, de cujo consórcio nasceu o nosso confrade Carlos Romero, uma das mais lúcidas inteligências que o movimento espírita da Paraíba herdou. Ao assumir a presidência, atuou em várias frentes. Voltou-se para a consolidação da Doutrina Espírita, e toda uma dinâmica interna foi adotada, por ter a obra codificada por Allan novembro/dezembro • Tribuna Espírita • 2015 17
Kardec a integrar a programação do dia a dia da FEPB e de oferecer uma assistência espiritual, dentro dos parâmetros orientados pelo estudo da Doutrina. Após o estudo, era aplicado o passe magnético. Na década de 1930, o Espiritismo era moderado e simples. Depois dos anos 40, tomou um novo alento, com o aparecimento de dezenas de adeptos. Romero expandiu o “Movimento Espírita”, através de viagens ao interior do Estado, onde, ainda, não estava consolidado o Espiritismo. Eventos, semanas comemorativas, fundação de Centros Espíritas, aparecimentos de jornais e revistas da literatura específica espalhados em todo o país. Já existiam, pelo menos, quatro Centros na capital: “Tomás de Aquino”; “Deus, Amor e Caridade (Casa da Vovozinha)”; “Paz, Harmonia e Caridade” e “Bezerra de Menezes”. Depois, mais três surgiram. Foi quando, para haver maior intercâmbio entre as Sociedades Espíritas, José Augusto Romero apresentou o projeto da criação de um órgão presidido pelo próprio presidente da Federação, aglutinando os Centros Espíritas desta capital, para, da união, melhor direcionar o trabalho unificador do Espiritismo na Paraíba. Por iniciativa de Romero, foi fundado o jornal “Paraíba Espírita”, em fins de 1951. Já, no período de 1953 a 1964, aconteceu a divulgação radiofônica. O programa “Neblina Espiritual”, irradiado pela Rádio Tabajara, complementava o serviço de propaganda doutrinária, levando ao grande público a mensagem que a FEPB propunha. Ainda na sua gestão, o “Pacto Áureo” e a criação do “Conselho Federativo Nacional”, por iniciativa da FEB, impactaram as unidades federadas. Dia 07 de setembro de 1973, às 9 horas, ele retornou à Pátria Espiritual.
Laurindo Cavalcante
Laurindo Cavalcante de Araújo – 1973 a 1985 Presença cordial e simples, ele exerceu a vice-presidência da FEPB na gestão anterior e, quando do afastamento de José Augusto Romero, para tratamento de saúde, eis que estava familiarizado com a dinâmica da Instituição e pronto para exercer a sua presidência. Tratou de fortalecer o Espiritismo, em nossa unidade federada. Ao seu lado, além dos companheiros de lutas, contou com o apoio valoroso de dona Déa Neiva de Araújo, sua fraterna e dedicada esposa, de quem, sempre, cuidou com muito carinho. Nessas condições, cercado de colaboradores, desenvolveu intenso trabalho, no sentido 18 Tribuna Espírita • novembro/dezembro • 2015
de aproximação de todas as Instituições em torno do movimento de Unificação, ora, participando de Reuniões do Conselho Federativo Nacional/FEB, ora, visitando as instituições filiadas à FEPB, realizando reuniões com seus dirigentes e levando aos Centros Espíritas uma orientação condizente com os postulados doutrinário-evangélicos da Doutrina dos Espíritos. Dentro dos princípios de caridade da Doutrina, conduziu, com muito equilíbrio, as reuniões públicas e o trabalho de assistência espiritual e material, realizados na Sede da FEPb. Por mais vezes, sediou solenidades e encontros, abrindo as portas da Federação, para o intercâmbio valoroso com irmãos de outras searas, inclusive da FEB. Por um bom período, acumulou a presidência da FEPB e a direção do Lar da Criança (hoje, uma organização não-governamental, ONG, desvinculada, administrativamente, da FEPb). Laurindo realizou obras importantes de adequação do espaço físico da Federação. Adaptou os estatutos aos avanços do Espiritismo, na Paraíba. O “Conselho Administrativo” evoluiu para “Conselho Superior da FEPB” e, depois, para “Conselho Federativo Estadual”. Por ocasião do seu desencarne, um breve histórico de sua vida foi publicado na Edição: Junho/2011 – “Reformador” - p. 20: “O ex-presidente da Federação Espírita Paraibana (FEPb), Laurindo Cavalcante de Araújo, desencarnou, no ultimo dia 2 de abril, aos 92 anos. Laurindo dirigiu a FEPb durante 12 anos (1973 1985), como presidente, após ser vice por 21 anos. Espírita convicto, atuante e defensor inveterado da causa, optou pela Doutrina desde os tempos da juventude, tendo sido presidente da Mocidade Espírita Paraibana. Durante sua gestão na FEPb, Laurindo Cavalcante, também presidente da instituição “Lar da Criança”, impulsionou o crescimento e a divulgação do Movimento Espírita paraibano. Ele nasceu no Engenho Urucu (Alagoa Nova), no dia 2 de outubro de 1918. Foi funcionário do Ministério da Fazenda e professor de Economia, na Universidade Federal da Paraíba.” José Raimundo de Lima – 1985 a 2012 A gestão de José Raimundo de Lima foi marcada pela ampliação do alcance da mensagem espírita. Quando assumiu a presidência, a Paraíba contava com 54 centros espíritas. Hoje são 170, distribuídos em todas as regiões do Estado. Investiu, no campo da unificação, adequação e orientação ao Centro Espírita, com o objetivo de interiorizar as ações da FEPB. Neste processo de descentralização das atividades e, ao mesmo tempo, de unificação do Movimento, seguindo os moldes da FEB, criou as Coordenadorias Regionais. As atividades do Movimento Espírita, em nossas instituições, tomaram novo impulso, com a proximidade da FEPB. A disseminação do “Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita”, cursos, encontros e congressos marcaram esse tempo de renovação. A Federação foi representada em eventos locais, nacionais e, até, internacionais, bem como prestigiou o lançamento de obras espíritas de autores diversos. Sediou reuniões de Federativas com a FEB, em prol do “Movimento Espírita Brasileiro” e liderou caravanas, nesse sentido. Conduziu o processo de mudança da Sede/ FEB, da Lagoa para a Av. Bento da Gama, nº 555, Torre, bem como das atividades do “Lar da Criança”, para o Bairro dos Bancários, e, pessoalmente, acompanhou o andamento das obras que foram concluídas em tempo recorde.
Durante sua gestão, visando a massificação da mensagem espírita, foram implantadas diversas estratégias de divulgação, como: A instalação de um stand na UFPB, que funcionou, também, no “Ponto de Cem Réis”; Programa de rádio “A Voz do Consolador”. Vários eventos: feiras de livros, seminários, congressos, workshop, ENESP no Carnaval; Arte e cultura espírita: criação do “Grupo Acorde”, grupo de teatro “Encena”, coral; Campanha: “Divulgando a Imortalidade”, no período de “Finados”, ressaltando a continuidade da vida após a morte física. Ainda, na sua gestão, por iniciativa da Deputada Iraê Lucena, ficou instituído o dia 18 de abril, como o “Dia Estadual do Espírita”, no Calendário Oficial do Estado da Paraíba, conforme Lei nº 8.251, de 20 de junho de 2007, publicada no Diário Oficial do Estado, em 21 de junho de 2007. Trabalhou, incansavelmente, em avanços e modernidades, por 27 anos na presidência da Federação Espírita Paraibana, em tudo, alinhado às diretrizes da FEB, ficando o seu nome, por isso, solidamente gravado na memória e no reconhecimento dos espíritas paraibanos. Marco Antonio Grangeiro de Lima – a partir de 2012. O mais jovem presidente da FEPB trouxe, para o “Movimento Espírita da Paraíba”, uma aura de renovação e juventude, coerente com a sua formação na própria Federação, onde conheceu aquela que seria sua esposa, Kátia Lima, evangelizadora infantil e juvenil da nossa Casa Mater. Tomou posse, em março de 2012, com o objetivo de fortalecer, ainda mais, os elos com o Movimento Espírita, dando sequência às atividades realizadas pela gestão anterior e, claro, indo além, na busca de apoiar a chegada da Doutrina Espírita a todos os recantos da nossa Paraíba. Depois de um processo democrático e tranquilo de passagem, o novo presidente, juntamente com todos os colaboradores, assume o mandato, com o olhar voltado para a aproximação com as Casas Espíritas do Estado, buscando intensificar a integração. A sua Diretoria está assim constituída: Presidente: Marco Antônio Granjeiro Lima; Vice-presidente administrativo: José Raimundo de Lima; Vice-presidente federativo: Rebecca Arruda Ribeiro; Vice-presidente doutrinário: Anna Thereza Patrício B. Bezerra; 1º Secretário: Lúcio José de Araújo Silva; 2º Secretário: Carlos Alberto Antunes (Naco); 1º Tesoureiro: Francisca Lucinda Bezerra; 2º Tesoureiro: Maria Margarete Machado Lima; Secretaria de Patrimônio e Logística: Aristides Montenegro. A presença do confrade José Raimundo de Lima, na sua vice-presidência, demonstra o espírito de cooperação e harmonia que reina na direção da FEPB. Daí, o processo de continuidade renovadora, em todas as atividades da administração. Tocado pelo mesmo espírito realizador dos seus antecessores, persevera nos trabalhos de fortalecimento e interiorização do Espiritismo na Paraíba, com o apoio das instituições existentes e filiadas à FEPB. Os Polos de João Pessoa e de Campina Grande e as Coordenadorias do Alto Sertão, Brejo, Cariri, Sertão, Vale do Mamanguape, Vale do Paraíba e Vale do Piancó congregam essas instituições filiadas à FEPB. Nota: Texto adaptado e organizado pela redação com base no material enviado pelos jornalistas Hélio Zenaide e Fátima Farias.
O bom humor na seara do Cristo FÁTIMA ARAÚJO João Pessoa-PB
P
assando a imagem de um ser otimista e bem humorado, José Raimundo de Lima foi presidente da Federação Espírita Paraibana, durante 27 anos (de 25 de fevereiro de 1985 a 9 de março de 2012), quando foi substituído por Marco Antônio Granjeiro de Lima. José Raimundo de Lima é filho de Severino Raimundo de Lima e Luzia Raimundo de Morais (in memoriam); é casado com Maria Margarete Machado de Lima e tem cinco filhos e três netos. Fez o Curso Primário na “Escola Osvaldo Cruz”, em Alagoa Grande-PB; o Ginasial, entre o Colégio Coelho Lisboa, em Areia -PB, e o Lyceu Paraibano, em João Pessoa, onde, também, concluiu o Clássico. Formou-se em Direito, em 1974 e, em 1977, fez Licenciatura Plena, pela UFPb, seguindo-se a Especialização em Direito Penitenciário. Em 1978, foi nomeado Promotor de Justiça substituto. Em 1980, ingressou na UFPb, sendo, hoje, aposentado. Depois de 26 anos de Promotoria, foi promovido a Procurador de Justiça, em 5 de fevereiro de 2004, e, nesta condição, exerceu a coordenação do Primeiro CAOP de João Pessoa, e de Diretor do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional do Ministério Público da Paraíba, por três vezes. Em seguida, foi subprocurador Geral de Justiça e tem representado a Paraíba no Colégio de Diretores de Escolas do Ministério Público do Brasil. O APRENDIZADO COMO ESPÍRITA José Raimundo ingressou na Federação Espírita Paraibana, em fevereiro de 1969, após tratamento espiritual, passando a frequentar as reuniões públicas, das terças e sextas-feiras, e a participar da “Campanha Auta de Souza”, como, também, tornou-se membro do “Grupo de Estudos Casimiro Cunha” e do corpo de médiuns da Casa, a partir de 1972. Antes de se tornar presidente da FEPb, foi vice-presidente, secretário, presidente do Conselho Administrativo, conselheiro
do Lar da Criança, durante mais de trinta anos, sendo, hoje, Conselheiro Nato, na qualidade de ex-presidente. José Raimundo nos conta retalhos de sua história, como espírita: “Nosso irmão Laurindo Cavalcante de Araújo assumiu a presidência da Federação, no dia 7 de setembro de 1973, em face da desencarnação do irmão José Augusto Romero, que se encontrava como presidente, desde 1929. Restabelecida a nova diretoria, ficou o irmão Carlos Romero na condição de vice-presidente; Ezequias Sobreira, como tesoureiro; Jandira de Matos Vieira Sobreira, como secretária e, aos poucos, Laurindo foi convidando outros irmãos, para se acostarem ao trabalho da FEPb. Vale ressaltar que Laurindo Cavalcante de Araújo e sua esposa, Déa Neiva de Araújo foram abnegados da Federação Espírita e do “Lar da Criança”. Acompanhei-os, durante os doze anos em que ele passou como presidente das duas instituições, só se afastando, em face do estado de saúde de sua esposa. Era um espírita verdadeiro, cumpridor do seu dever, de pouca conversa, desprendido, e um defensor do Espiritismo, onde quer que estivesse. Enfrentou, durante sua gestão, várias incompreensões de companheiros presidentes de Centros Espíritas, por não entenderem o papel da Federação, no contexto do Espiritismo, no Brasil e na própria Paraíba. Aprendi, com Laurindo, a ter amor à Causa e à Casa Mater do Espiritismo na Paraíba. Foi o próprio Laurindo que, na condição de vice-presidente da Federação, viajou a Curitiba, após a desencarnação de Artur Lins de Vasconcelos Lopes, a fim de receber a doação que este teria feito, quando visitou a Paraíba, em 1951, com a finalidade de comprar o terreno onde seria construída a terceira sede da Federação, no parque Solon de Lucena, 65 - na Lagoa. Ali, nossa instituição funcionou durante 40 anos. Em minha gestão, como presidente da FEPb, foi feita uma reforma do prédio antigo do
“Lar da Criança”, na Rua General Bento da Gama, 555, Torre, e, em 5 de maio de 2000, a sede da Federação Espírita Paraibana foi transferida para esse endereço, onde se encontra até hoje”. VALORIZANDO A MULHER Durante os 27 anos em que dirigiu os destinos da Federação Espírita Paraibana, José Raimundo fez uma administração dinâmica, em que a tônica foi a interiorização do Espiritismo e sua maior divulgação, em todo o Estado. Valendo lembrar que ele, também, promoveu a valorização do trabalho feminino, enquadrando mulheres, como palestrantes, e, na coordenação de departamentos importantes, dentro da FEPb. Note-se que sua gestão foi marcada pela notável aceitação da “Jornada da Mulher Espírita”, verdadeira caravana de mulheres servidoras na Seara do Cristo, que, há 45 anos (desde 1970), vem divulgando a Doutrina, todos os anos, pelos Centros Espíritas da Paraíba.
novembro/dezembro • Tribuna Espírita • 2015 19
Juventude e evangelização no centenário FÁTIMA ARAÚJO João Pessoa-PB
E
les fazem parte do “Grupo de Evangelização da FEPb” e muitos iniciaram o aprendizado desde crianças. Quando crescem, alguns se tornam professores, nas aulas de Evangelização, transmitindo os ensinamentos cristãos aos que vão chegando. Como a preocupação dos evangelizadores não é, apenas, a transmissão de conhecimentos, mas, sobretudo, a formação moral, inspirada no Evangelho, os jovens reelaboram esses conteúdos, de forma interativa e abrangente, como seja, através da música, do teatro, das artes plás-
ANDRÉ AUGUSTO CAVALCANTE GAYOSO, 25 anos, palestrante. Que o Centenário da Federação Espírita Paraibana “desperta em seu coração dois sentimentos: o de gratidão aos que construíram tudo isso, e o da responsabilidade de manter o trabalho que foi feito, ao longo de todos esses anos”, foi a frase inicial de seu pronunciamento. André Gayoso afirmou, ainda, que se sente muito feliz, ao participar de sua comemoração. Sobre o “Congresso da Juventude Espírita”, que acontece ao lado do que é voltado para os
MARIA GABRIELA ROCHA CANDEIA, 20 anos, evangelizadora. “É, com imensa alegria, que vivencio o Centenário da FEPb, nesta existência, provavelmente, a primeira, como espírita. Recebo esta data, como simbologia de ânimo, para persistir no trabalho edificante, que devemos conduzir, sempre, com muito esmero; jamais, com pressa”, afirmou Gabriela, que trabalha evangelizando crianças. Tendo nascido num lar espírita, portanto, evangelizada, desde a infância, ela considera a Doutrina Espírita: “Luz que guia, conforta e traz esperança. É, onde encontro as melhores respostas. É o que me inspira,
20 Tribuna Espírita • novembro/dezembro • 2015
ticas, etc., ou, ainda, através de situações práticas da vida. Conversamos com eles e sentimos que a pedagogia espírita aplicada à educação tem tudo a ver com o objetivo, certamente alcançado, de levá-los a refletir e tirar conclusões próprias dos temas estudados, para, então, efetivar-se a aprendizagem real. Vejamos, então, o pensamento desses jovens de hoje, dos quais, os registros do amanhã poderão, assim, deles dizer: “ELES ESTAVAM LÁ”.
adultos, ele considera que é da maior importância para os jovens. Isto, porque esses encontros proporcionam momentos ímpares de fortalecimento das amizades e desenvolvimento dos mais tímidos; porquanto, abrem muitas portas para o trabalho no Bem, Ao dizer-se feliz, em meio às celebrações, ele assegurou que isso aumenta sua sensação de pertencer ao Movimento Espírita, “onde estou fazendo um investimento em mim mesmo, na expectativa de que, daqui a alguns anos, eu possa sentir-me uma pessoa melhor”.
no esforço diário de ser melhor, tendo a consciência de que faço parte de uma família universal, e que meu despertar está, intimamente, relacionado com o dever que tenho com o meu próximo”. Como evangelizadora, Gabriela assegura que carrega consigo a sensação de estar contribuindo, de alguma forma, com o progresso, no esforço de trabalhar, com firmeza e dedicação, e de estudar, sempre. E conclui: “Evangelizar é a arte que se faz, a partir do encontro com o outro, tendo consciência de que a redenção se inicia com o despertar da divindade oculta, na psique humana. E a infância é o momento mais propício à assimilação dos princípios educativos”.
LARISSA LUCENA LIMA, 23 anos, evangelizadora. “O Centenário da FEPb é um momento histórico e eu me sinto muito gratificada, por participar de todo esse movimento das comemorações”. Larissa é evangelizadora e colabora com outros trabalhos da Instituição. Ela disse que gosta de olhar as fotos antigas da Instituição, e que vai estar presente em todas as celebrações e se sente integrada em todos os trabalhos e homenagens. Ela fez questão de registrar seu entusiasmo: “Fico analisando e vejo que a Federação só progrediu, tanto espiritual, quanto materialmente. Participei da Evangelização, desde os três anos de idade, e a quantidade de crianças e adolescentes só vem aumentando. Isso mostra que o Movimento Espírita tem um futuro, pois está avançando, não só em quantidade, mas em qualidade”.
MAYARA RAQUEL DE ASSIS MAIA, 23 anos, evangelizadora. Ao afirmar que vê o Centenário da FEPb como um marco, Mayara revelou que se sente honrada em poder participar das comemorações e atuar no “Congresso de Jovens”. Ela se refere ao II Congresso de Juventude Espírita da Microrregião – Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco, que abordará o mesmo tema do VI Congresso: O Despertar do Espírito, só que, de uma maneira jovem, com conteúdos voltados para a juventude. Mayara nasceu num lar espírita; foi evangelizada, desde a infância, e, hoje, é evangelizadora infantil, coordenadora do DIJ – Departamento de Infância e Juventude; por isso, se sente muito à vontade, em opinar sobre o avanço do Movimento Espírita: “Sinto que, cada vez mais, os jovens estão tendo espaço para se fortalecerem, maiores possibilidades de se envolverem e, até, de atuarem nos trabalhos assistenciais”, assegurou.”
MARCELLA TELES FIRMINO, 26 anos, evangelizadora. Igualmente evangelizada, desde criança, Marcella Firmino disse que suas expectativas com relação ao Movimento Espírita são de muito otimismo, pois vê um avanço muito grande, nesses últimos tempos, com respeito ao crescimento do número de jovens. Ao considerar que o Centenário da Federação “é uma ocasião de fortalecimento da Doutrina Espírita, que cresce cada dia mais, em número e qualidade”, Marcella asseverou que este momento histórico só tende a aumentar, ainda mais, a afluência dos jovens que, hoje, agradecem a oportunidade do aprendizado, porque sabem que estão se tornando pessoas melhores.
DIEGO ARISTÓFANES DIAS DE SOUSA, 24 anos, evangelizador. Natural da cidade de Cajazeiras, na Paraíba, de uma família espírita, Diego afirmou que se sente muito integrado no trabalho, como evangelizador, sobremaneira, por saber que está contribuindo para a formação de seres que serão os cidadãos do futuro. “Hoje, vivemos esse momento de integração. No futuro, colheremos os frutos desse envolvimento, sabendo que é um legado de trabalhadores e que terá continuidade”, disse ele. Sobre o fato de estar participando do Centenário da FEPb, Diego garantiu que “o momento histórico do Centenário deve servir para refletirmos sobre a responsabilidade de atender às expectativas de todos aqueles que criaram a Federação, lutaram por seu crescimento, reconhecimento, e, hoje, se encontram no mundo espiritual”. E concluiu: “Aqui, me sinto em casa. Aqui, vim buscar paz e participar de um belo aprendizado”.
ANABELLE SOUSA AZEVEDO, 16 anos, evangelizanda. “O direcionamento para o caminho do Cristo e o esclarecimento para todas as minhas dúvidas” – foi isto que vim buscar na Evangelização da FEPb, desde criança”, afirmou Anabelle, jovem que, também, participa do Movimento Espírita, como musicista, juntamente com seus irmãos.
BEATRIZ ARAÚJO COSTA, 16 anos, evangelizanda.
CAMILA JEANNE DE MORAES REIS, 21 anos, evangelizanda.
“Para mim, é motivo de grande satisfação fazer parte de uma instituição como a Federação Espírita Paraibana, que chega ao Centenário com aura de instituição cristã, filosófica e cheia de credibilidade”, afirmou Beatriz Araújo Costa que, desde os seis anos de idade é evangelizanda da FEPb. “De todos os ensinamentos que aqui recebo, o que mais vem contribuindo para minha formação moral é o respeito e o amor ao próximo. Aqui, todos os jovens se sentem bem acolhidos e livres para serem eles mesmos”, assegurou Beatriz. Ela disse que, “na Evangelização, aprende a amar virtudes, como a humildade, a paciência e a misericórdia para com os irmãos, observando, pelo carinho como os jovens são recebidos, no espaço da Evangelização, que esse respeito e esse amor que nos ensinam são colocados em prática”.
“Ver esse aprendizado e toda essa riqueza da História, em nossa Casa, é muito engrandecedor, pois mostra a trajetória que se seguiu para chegar até aqui”, ressaltou Camila, ao referir-se ao Centenário da FEPb, instituição que frequenta desde criança. Afirmou que deseja contribuir com o avanço da Casa e, por extensão, de todo o Movimento Espírita, através dos estudos e da prática do aprendizado, e que, na Evangelização, procura conhecimento e aprimoramento moral. Completou, ao dizer “sentir-se amparada, em meio à Juventude Espírita, através da convivência com a diversidade de pessoas que, aqui, adentram, à procura de uma luz”.
EDUARDO HENRIQUE ABATH ESCOREL BORGES, 16 anos, evangelizando. Ao avaliar o Centenário, como um momento histórico, e “um fato que imprime credibilidade à FEPb, por se firmar, há tanto tempo”, Eduardo disse ser muito gratificante, para ele, estar, neste momento, como evangelizando, e, ainda, participar das comemorações. Ressaltou que participa do Movimento Espírita desde os seis anos de idade, e disse que veio buscar, na evangelização, melhorar-se, como pessoa, e exercer sua cidadania, de forma mais tranquila; pois, nas aulas, as virtudes sempre são enfatizadas, em meio às lições que recebe. “Aqui, me sinto muito acolhido, integrado e encontro muito amor”, concluiu.
Garantiu que se sente “muito honrada”, por poder presenciar uma data magnânima, como um Centenário, ainda mais, da Casa onde, desde a mais tenra idade, recebe ensinamentos cristãos, e afirmou que “O Espiritismo será o futuro das religiões; por isso, me sinto extremamente feliz, pois sei que terei, mais ainda, um grande aprendizado pela frente, diante do avanço da Doutrina”.
ANA PAULA DA SILVA ANDRADE, 14 anos, evangelizanda. Ana Paula afirmou que encontra na Federação, além do aprendizado necessário à sua formação moral, a força para a arte que pratica, o teatro, e a alegria dos amigos que, como ela, também, recebem ensinamentos, nas aulas de Evangelização. “Na Doutrina Espírita, através dos conteúdos que recebo, encontro respostas para minhas indagações, assim como, conforto e paz. Na Evangelização, o jovem descobre inúmeras oportunidades, para se melhorar e saber que não será julgado”.
ARIADNE CAVALCANTI TELLES, 16 anos, evangelizanda. É da maior importância participar do Centenário da FEPb, uma Casa Espírita na qual os jovens aprendem os ensinamentos de uma doutrina esclarecedora, que possibilita o avanço moral. Afirmou Ariadne que, em meio à juventude, se sente privilegiada, por conviver com pessoas voltadas para o Bem. “Aqui, sentimos que o Amor e a Caridade são colocados em prática, pois esta Casa acolhe a todos, sem olhar a quem, de acordo com os ensinamentos de Jesus”. novembro/dezembro • Tribuna Espírita • 2015 21
O Espiritismo no Brasil. (O papel do Movimento Espírita Brasileiro e suas Federativas) OCTÁVIO CAÚMO SERRANO João Pessoa-PB
C
riado na França, no século XIX, por um francês que usou o pseudônimo Allan Kardec, nome sugerido pela espiritualidade e que ele teve em uma das suas remotas encarnações quando era um sacerdote druida, antes de Jesus, o Espiritismo floresceu e ganhou força no Brasil. Transplantado para a Terra do Cruzeiro, para transformá-la no “coração do mundo e pátria do Evangelho”, a Doutrina Espírita virou farol que, do Brasil, irradia sua luz para todo o planeta. Quase todos os Centros Espíritas existentes no mundo foram criados, pessoalmente, ou sob a inspiração de algum brasileiro. Quer um visitante ocasional, quer um residente no estrangeiro. Isso, na América, na Europa ou nos demais continentes. Um dos semeadores de Casas Espíritas, por onde passa, é o nosso querido Divaldo Pereira Franco, que mantém acesa a chama do intercâmbio planetário entre todos os povos, com as suas incansáveis viagens de pregação e esclarecimento, já que é muito requisitado e portador de vigor extraordinário, sem dúvida, amparado pelas energias emanadas da Espiritualidade Superior. Defini-lo, como o “Paulo de Tarso brasileiro”, talvez explicasse o seu trabalho. Em nenhum outro ponto do nosso orbe, há um movimento espírita tão dinâmico e atuante como no Brasil. Um imenso volume de Casas Espíritas que se abrem a cada dia, levando amparo às suas comunidades, pois, além do apoio material nas suas mais variadas necessidades, servem de luz que ilumina as mentes dos que as procuram para que, conhecendo a verdade, possam libertar-se das inferioridades e dos equívocos humanos, renovando-se, efetivamente, com a oportunidade da reencarnação. Jornais, revistas, programas de rádio e TV, na grande mídia ou pela formidável rede mundial de computadores, palestras, congressos, simpósios, encontros de toda ordem, para jovens, para adultos, para os espíritas, especificamente, ou para o público em geral que, a cada dia, acorre mais a essas reuniões, na ânsia de compreender sobre a vida, a justiça da reencarnação, sem se importar com o credo a que pertencem. Nos encontros paraibanos, por exemplos,
22 Tribuna Espírita • novembro/dezembro • 2015
expressivos líderes de outras doutrinas têm participado, para dar testemunho e confessar seu interesse no importante ecumenismo, a fim de que as religiões que tanto separam os homens possam, finalmente, agrega-los e fazê-los irmãos de verdade. Tentam trazer para a prática a insuperável proposta de Jesus: “Ama o próximo como a ti mesmo.” Jesus não recomendou o amor, somente, se o próximo fosse parente, amigo, da mesma raça ou religião! Nesse aspecto, as Federações têm contribuído muito, para aproximar os Centros e seus frequentadores, porque, em seus encontros ou palestras públicas, recebem dirigentes das Casas e seus simpatizantes, congraçando pessoas que não se conhecem, mas que, embora separadas, contribuem para fortalecer o Espiritismo, nas suas respectivas regiões. Parece-nos oportuno perguntar a cada leitor, como se fora uma autoanálise, qual é a sua atuação ou participação no Espiritismo. Por exemplo: 1 – Você contribui, de alguma maneira, para divulgar a Doutrina dos Espíritos? Inclusive, dando exemplo de conduta no seio da sociedade? 2 – Lê livros espíritas que tragam esclarecimentos reais? 3 – Visita outras Casas de sua cidade ou região, além do seu Centro? 4 – Assina algum jornal ou revista espírita que podem ser lidos por todos da sua casa; mesmo os que não vão ao Centro? 5 – Participa de grupos de estudo ou, apenas, ouve a palestra e recebe o passe e a água fluidificada, imaginando que isso é tudo o que precisa do Espiritismo? 6 – Entende que o Espiritismo não é, apenas, científico, mas é uma religião na melhor acepção do termo? Religião, como união com Deus, e não como seita? 7 – É dos que, ainda, procuram um Centro perfeito para colaborar, sem saber que, quando encontrar, poderá ser barrado na porta porque essa perfeição não existe nem em você? 8 – Como velho espírita, serve de exemplo para os novi-
ços ou só espalha falsa sabedoria? Poderíamos fazer muitas outras indagações; mas, quem participa do Espiritismo e já se entende por espírita sabe que, para criticar, precisa fazer melhor. Nunca, deve denegrir uma pessoa que faz algum trabalho, ainda que não seja bem feito, porque ela está colaborando, como sabe e como pode. Nunca, critique uma Instituição Espírita porque trabalha diferente dos seus pontos de vista. Ela terá suas razões. Cada Casa tem uma tarefa e cada público tem sua própria necessidade. Se não puder ajudar a consertar nem falar bem, a recomendação é que se cale. Quando um comentário tem a finalidade de construir, com a oportunidade dos debates e argumentações, é um ato de lisura. Quando é feito por detrás, no anonimato do diz-que-diz que, é leviandade e covardia. Não é, assim, que se pratica Espiritismo. Isso nada constrói! Nunca, se desgaste pelos cargos, pelos postos, pelas evidências . Há pessoas que querem ser estátuas e nem servem para pedestais. O líder não precisa ser nomeado, porque ele é reconhecido, naturalmente, como tal, pela confiança que passa aos colaboradores e por ser exemplo do que ensina. Não precisa ser nomeado. Chico Xavier, nunca, foi chefe de nada! É muito comum nos desgastarmos, para edificar uma bela casa material sem perceber que estamos implodindo a casa espiritual. No Espiritismo, não cabe a assertiva de que “os fins justificam os meios”. Precisamos de um Movimento Espírita coeso, forte e evangelizado. Precisamos de Centros equilibrados e que cumpram, corretamente, a sua função. Precisamos de Federações que exemplifiquem o Espiritismo e que assessorem, competentemente, as Casas, suprindo-as com os conhecimentos faltantes, preparando trabalhadores, mediante cursos específicos para cada atividade do Centro, especialmente os mais delicados, como atendente fraterno, evangelizador adulto ou infantil, palestrador e monitor de cursos regulares de Doutrina. Que Deus nos ajude, para que façamos, sempre, o melhor e sejamos, realmente um dia, o “Coração do Mundo e a Pátria do Evangelho”! Feliz Natal e produtivo Ano Novo!
Fotos: Google imagens
Jesus é a Distância! PEDRO CAMILO Salvador/BA
C
amilo Castelo Branco, escritor português do século XIX, nascido em 1825, tornou-se um dos mais respeitados escritores do seu tempo. Dono de um estilo ácido, crítico e irônico, gostava de tratar, preferencialmente, de temas relacionados às relações familiares e às questões sentimentais, dentre outros, tendo deixado mais de cinquenta obras, entre elas “Amor de Perdição” e “Amor de Salvação”. Sifilítico, cego e pobre, ferido em seu orgulho, Camilo cometeu suicídio em 01 de junho de 1890, tendo retornado, para dar notícias póstumas, através da mediunidade de Fernando de Lacerda e Yvonne do Amaral Pereira. Bezerra de Menezes, médico e político brasileiro do século XIX, nascido em 1931, tornou-se vereador e deputado no Rio de Janeiro, também desempenhando, ali, sua carreira de médico, iniciada no Exército, no posto de cirurgião tenente. Tornou-se espírita e, a partir de então, operou-se importante transformação em sua vida. Imortalizou-se, entre os espíritas, como o presidente da Federação Espírita Brasileira que mais se dedicou à união entre os espíritas e, como médico dos pobres, graças à sua imensa bondade e ao emprego filantrópico da Medicina. Desencarnou, em 1900, passando a integrar a equipe de Espíritos responsáveis pelos rumos do Brasil e do Espiritismo. Qual a distância que há entre essas duas personalidades – Camilo Castelo Branco e Bezerra de Menezes? Jesus! Sim, a distância é Jesus! No livro Memórias de um Suicida, o Espírito Camilo Castelo Branco, através
Camilo Castelo Branco da médium Yvonne Pereira, relata que fora um mendigo que, aportando em Jerusalém no ano 33, acompanhou os últimos dias de Jesus e se regozijou com seu calvário. Tocado pelo despeito, esquecido do mundo, entregue à zombaria, praguejava contra Jesus, pelo simples prazer do insulto. São suas as seguintes palavras: “Não houve insulto que minha palavra felina deixasse de verberar contra o Nazareno. Feroz na minha pertinácia, acompanhei-o na jornada dolorosa, gritando apupos e chalaças soezes e confesso que só não o agredi a pedradas ou mesmo à força do meu braço assassino, por ser severo o policiamento em torno
dele. É que eu me sentia inferior e mesquinho, em toda parte onde me levavam as aventuras. Nutria inveja e ódio a tudo o que soubesse ou considerasse superior a mim! Feio, hirsuto, ignóbil, mutilado, pois faltava-me um braço, degenerado, ambicioso, de meu coração destilava o vírus da maldade. Eu maldizia e perseguia tudo, tudo o que reconhecesse belo e nobre, cônscio da minha impossibilidade de alcançá-lo!”. Também, pelas mãos de Yvonne Pereira, no livro “Ressurreição e vida”, Léon Tolstoi nos fala de Zaqueu, o publicano, em cuja casa Jesus jantara, e que sabemos tratar-se de uma reencarnação do Dr. Bezerra de Menezes. Naquele mesmo dia da crucificação, Zaqueu se encontrava, também ali, acompanhando Jesus, tal como Camilo Castelo Branco, mas, em atitude diametralmente oposta. Foi dos lábios do próprio Zaqueu que Tolstoi registrou as palavras que se seguem: “Muito sofri e chorei, quando esse Mestre foi levantado no suplício da cruz. Não, eu não o abandonei, jamais, desde aquele dia em que passou por Jericó! Segui-o. E, o pouco que ainda viveu, depois disso, teve-me em suas pegadas para ouvi-lo e admirá-lo. Eu não me ocultei das autoridades, receando censuras ou prisão, nem tive preconceitos, e, tampouco, me importunou a vigilância dos tiranos de Roma ou o despeito dos asseclas do Templo de Jerusalém. Achava-me, bem visível entre o povo, transitando pelas ruas, embora ignorado, humilhado pela minha condição de funcionário romano... e assisti aos estertores da agonia sublime, naquela tarde do 14 de Nisan...” Bezerra de Menezes e Camilo Castelo Branco! Duas almas presentes em um mesmo momento histórico – o dia da crucificação de Jesus. Dois indivíduos que, talvez, estiveram lado a lado, um junto ao outro, naquele caminho do calvário! Dois Espíritos que, naquele momento, embora fisicamente próximos, caminhavam distantes, um do outro, a distância de um abismo! Quase vinte séculos depois, um e outro se reencontram na senda do Evangelho, aproximados por aquele mesmo Jesus que os distanciava para, juntos, fruírem dos benefícios do Amor Incondicional. Sim, Jesus era a distância! E o que temos, nós, aprendido com os dois? novembro/dezembro • Tribuna Espírita • 2015 23
Movimento Espírita e Divulgação do Espiritismo GERALDO CAMPETTI SOBRINHO* Brasília-DF
E
m dezembro de 1883, Elias da Silva, Manoel Figueira e Pinheiro Guedes, juntos com outros idealistas do Espiritualismo, reuniam-se para fundar, no Rio de Janeiro, a Federação Espírita Brasileira. Registrada, no dia 2 de janeiro de 1884, a FEB nasce, antes mesmo da Proclamação da República, que viria a ocorrer cinco anos depois, já com a denominação de Federação, em pleno final do Império! Ainda se vivia, no Brasil, o sistema monarquista de governo e a Casa-Mater do Espiritismo surge, com a missão de promover o estudo, a prática e a divulgação doutrinária, com base no Evangelho de Jesus, revivendo a pureza do Cristianismo em seus primeiros séculos de existência na Terra. Sua concepção de origem espiritual previa a organização federativa, em células a serem implantadas em cada futuro estado brasileiro, como iniciativa das regiões ou das unidades da federação. Assim, é que, após a fundação da FEB, cada Estado foi gradativamente implantando, também, uma instituição responsável pela coordenação do movimento espírita em seu território. Surgiram as federativas estaduais ou as uniões espíritas. Hoje, contamos com várias dessas instituições centenárias. Além da própria FEB, naturalmente a mais antiga, temos, em ordem de antiguidade a relação que se segue, resultado do trabalho de pesquisa histórica do confrade Samuel Nunes Magalhães1:
Federação Espírita do Amapá (FEAP) – 16.07.1977 Federação Espírita do Mato Grosso do Sul (FEMS) – 31.03.1979 Federação Espírita do Estado do Tocantins (FEETINS) – 08.04.1989 Federação Espírita do Estado do Ceará10 (FEEC) – 21.10.1990 Conselho Espírita do Estado do Rio de Janeiro11 (CEERJ) – 26.03.2006
Federação Espírita do Paraná (FEParaná) – 24.8.1902 Federação Espírita Amazonense (FEA) – 01.01.1904 Federação Espírita Pernambucana2 (FEP) – 08.12.1904 União Espírita Paraense (UEP) – 20.05.1906 Federação Espírita do Estado de Alagoas3 (FEAL) – 06.01.1908 União Espírita Mineira4 (UEM) – 24.06.1908 Federação Espírita do Estado da Bahia5 (FEEB) – 25.12.1915 Federação Espírita Paraibana (FEPB) – 17.01.1916 Federação Espírita do Rio Grande do Sul (FERGS) – 17.02.1921 Federação Espírita do Estado do Espírito Santo6 (FEEES) – 27.03.1921 Federação Espírita do Rio Grande do Norte (FERN) – 26.04.1926 Federação Espírita Catarinense (FEC) – 24.04.1945 União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (USE) – 01.07.1947 Federação Espírita do Estado de Goiás7 (FEEGO) – 03.10.1950 Federação Espírita do Estado de Sergipe (FEES) – 05.11.1950 Federação Espírita Piauiense (FEPI) – 27.11.1950 Federação Espírita do Maranhão8 (FEMAR) – 01.12.1950 Federação Espírita do Estado do Mato Grosso (FEEMT) – 14.12.1956 Federação Espírita do Distrito Federal9 (FEDF) – 01.12.1962 Federação Espírita do Estado do Acre (FEAC) – 16.7.1975 Federação Espírita de Rondônia (FERO) – 11.01.1977 Federação Espírita Roraimense (FER) – 15.01.1977
Parece tudo muito simples, quando vemos uma relação, já pronta, de nomes de diversas instituições. Ocorre que, por detrás de cada um dessas identidades, há uma história viva, dinâmica, rica em experiências e aprendizagens, conferidas ao longo do tempo de enfrentamentos, desafios e realizações. Cada trabalhador que integrou e integra tais entidades poderá falar sobre sua trajetória, na superação de dificuldades e limites impostos pelas circunstâncias e pelas culturas. Como, também, poderá se lembrar, com saudades, das superações dos sérios e intrincados problemas enfrentados, sejam de ordem material ou espiritual. Para fortalecer a união solidária entre as entidades federativas existentes à época, surge, por esforço de denodados e visionários companheiros de lides doutrinárias, um acordo, assinado na cidade do Rio de Janeiro, em 05 de outubro de 1949, que ficou conhecido como Pacto Áureo, devido a sua importância para a organização e expansão do Movimento Espírita brasileiro. Resultante desse Acordo foi criado o Conselho Federativo Nacional, como órgão da FEB que se constitui na reunião dos representantes de cada estado do país. O CFN reúne-se, ordinariamente, uma vez por ano, geralmente na primeira quinzena do mês de novembro, na sede da FEB, em Brasília, para dialogar sobre propostas e diretrizes que visam à implementação de estudos, práticas e iniciativas, objetivando
24 Tribuna Espírita • novembro/dezembro • 2015
Geraldo Campetti
aperfeiçoar a difusão do Espiritismo, a fim de que a Doutrina chegue ao maior número de pessoas, em todo o país e, consequentemente, em todo o mundo. Para organização e divulgação do Espiritismo no exterior, foi criado o Conselho Espírita Internacional, em 1992; hoje, formado pela reunião de representantes espiritistas de mais de 30 países. Todo o serviço de dedicados colaboradores anônimos, em sua maioria, resulta em campanhas e promoções, diretrizes e práticas, em consonância com o ensino moral estabelecido no Evangelho de Jesus. Para tanto, foi aprovado, em 2014, o “Plano de Trabalho para o Movimento Espírita Brasileiro: 2013-2017”, trazendo, como elementos: diretrizes de ação; objetivos; ações e projetos; e avaliação. As diretrizes de ação que norteiam o plano são: 1 – A difusão da Doutrina Espírita; 2 – A preservação da unidade de princípios da Doutrina Espírita; 3 – A comunicação social espírita; 4 – A adequação dos Centros Espíritas para o atendimento de suas finalidades; 5 – A multiplicação dos Centros Espíritas; 6 – A união dos espíritas e a unificação do Movimento Espírita; 7 – A capacitação do trabalhador espírita; 8 – A participação na sociedade. Documento, certamente inspirado pelo Plano Maior da Vida, que envolve federativas e as unidades fundamentais do Movimento, que são os Centros Espíritas. É esse plano de trabalho que se encontra em plena execução, no Brasil e mundo afora, merecedor de nossa atenção e empenho, no intuito de todos participarmos, doando nossa cota de colaboração, nesse valioso movimento de implantação do Reino de Deus na Terra, a iniciar-se pelo coração de cada um de nós. Referências: FEDERAÇÃO Espírita Brasileira. Disponível em: www.febnet.org. br.. Acesso em: 3 dez. 2015.
FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA. Conselho Federativo Nacional. Plano de trabalho para o movimento espírita brasileiro: 2013-2017. Brasília: FEB, 2013.Suplemento de Reformador, ano 131, n. 2207, fev. 2013. XAVIER, Francisco Cândido. A Federação Espírita Brasileira. In:. Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho. Pelo Espírito Humberto de Campos. 34. ed., 4. Imp. Brasília: FEB, 2014. Nota da Redação: Geraldo Campetti Sobrinho é vice-presidente da Federação Espírita Brasileira e coordenador da FEB Editora. Escritor e palestrante espírita. 1 Autor dos livros: Charles Richet: o apóstolo da ciência e o Espiritismo; Anna Prado: a mulher que falava com os mortos, ambos publicados pela FEB Editora. 2 O primeiro estatuto da Federação Espírita Pernambucana informa que ela foi fundada em 8.12.1915, sendo o seu primeiro presidente, o Sr, Manuel Aarão. O Centro Espírita Regeneração, que lhe foi antecessor, e, cuja data de fundação é tida como a de criação da Federação, fundou-se, conforme seu primeiro estatuto, em 7.12.1904 e não em 8.12.1904. 3 Criada inicialmente com o nome de Federação Espírita Alagoana. 4 Criada inicialmente como Federação Espírita Mineira. 5 Fundada inicialmente com o nome de União Espírita Baiana. Somente em 25.12.1975 passou a denominar-se Federação Espírita do Estado da Bahia. 6 Criada inicialmente com o nome de Liga Espírita de Vitória. 7 Fundada inicialmente como União Espírita Goiana. Somente em outubro de 1972 passou a denominar-se Federação Espírita do Estado de Goiás. 8 Em agosto/1906, Reformador noticiou a criação da Federação Espírita Maranhense. 9 Fundada como União das Sociedades Espíritas do Distrito Federal, em 1 de dezembro de 1962, teve seu nome alterado para União Espírita do Distrito Federal, em 12 de setembro de 1970, e, finalmente, para Federação Espírita do Distrito Federal, em 1 de janeiro de 1973. 10 Antecederam à Federação Espírita do Estado do Ceará, as seguintes entidades federativas estaduais: Centro Espírita Cearense, Federação Espírita Cearense e União Espírita Cearense. 11 Fusão entre FEERJ e a USEERJ. A FEERJ foi criada em 30 de junho de 1907, na Cidade de Niterói, no então Estado do Rio de Janeiro. A USEERJ, inicialmente Liga Espírita do Brasil, fundada em 31 de março de 1926, teve a sua denominação modificada para Liga Espírita do Distrito Federal, em 12 de março de 1950; para Liga Espírita do Estado da Guanabara, em 20 de dezembro de 1960; para Federação Espírita do Estado da Guanabara, em 30 de janeiro de 1972; para Federação Espírita do Estado do Rio de Janeiro / Seção Capital, em 15 de novembro de 1975; e para União das Sociedades Espíritas do Estado do Rio de Janeiro, em 14 de junho de 1981.
ELMANOEL G. BENTO LIMA
Painel Espírita
João Pessoa - PB
NATAL: A Chegada do “Menino”
S
abemos tratar-se de uma comemoração tipicamente religiosa, com raízes históricas, lá, para as três primeiras centúrias de nossa era, e perpetuada pela tradição. Os cristãos veem na festa uma revivescência do nascimento do menino Jesus, num cenário bíblico, com o Santo Menino deitado em seu modesto primeiro berço (uma manjedoura), ladeado por Maria, sua mãe e José, seu pai, além de alguns animais domésticos, proporcionando um ambiente singelo e eminentemente rural. Em outro momento, aparecem os magos vindos do Oriente, guiados por uma estrela (Mateus, 2:1 e 2), procurando localizar o Menino, nascido rei dos judeus. É, assim, que se imagina o presépio de Belém, de como o Messias prenunciado pelos profetas veio ao mundo (Isaías, 7:14 e 9:6; Miqueias, 5:2, e Mateus 1:1825), inclusive com a presença dos magos, prostrando-se ante o divino recém-nascido
e ofertando suas dádivas: ouro, incenso e mina (Mateus, 2:9 a 11). Mas, segundo os relatos bíblicos, para a Família Sagrada, nem tudo era festa e alegria. Herodes, o Grande (73-4 a.C.), governador da Galileia, ao ser informado da chegada de Jesus, ordenou a matança, em Belém e cercanias (Mateus, 2:16), de todos os meninos de até dois anos (o chamado “Massacre dos Santos Inocentes”), cumprindo-se a profecia de Jeremias (Mateus, 2:17 e 18, e Jeremias, 31:15). Avisado em sonho, José toma o menino e sua mãe, e foge para o Egito, onde permaneceu, até ser avisado da morte de Herodes (Mateus, 2:15 e 19-22). Então, a Família Sagrada voltou para a Galileia e foi morar na cidade de Nazaré (Mateus, 2:23). O Evangelho de Lucas (2:8-20) descreve que um anjo do Senhor apareceu aos pastores da região da Judéia, anunciando o nascimento do Salvador, que é Cristo, na cidade de Belém, para onde José e sua
esposa Maria (grávida) foram se alistar para o recenseamento ordenado pelas autoridades romanas. Nesse entrementes, Maria deu à luz o seu filho primogênito (Lucas, 2:6 e 7). Os pastores apressaramse em ir ver o recém-nascido, e voltaram glorificando e louvando a Deus, pelo que ouviram e viram. Passados oitos dias, o menino foi circuncidado e foi-lhe posto o nome de Jesus, como dito pelo anjo do Senhor (Mateus, 1:21, e Lucas, 1:31). Um feto importante do nascimento de Jesus, em seu contexto histórico, é que esse episódio − embora não se conheça, exatamente, se no Ano 6 ou 4, antes de nossa era − foi tomado como referencial, para separar a História em duas épocas, ou seja: antes e depois de Cristo, grafando-se: “a.C.” = antes de Cristo, ou “a.D”. = Anno Domini (Ano do Senhor) ou “d.C” (depois de Cristo). [Fontes: Livros “O ABC do Natal”, “Quem é Quem na Bíblia” e Guia Completo da Bíblia”, todos de “Seleções do Reader’s Digest Brasil”; e a “Bíblia Sagrada”, em diversas versões editoriais].
novembro/dezembro • Tribuna Espírita • 2015 25
Qual a Vida Real? FLÁVIO MENDONÇA Recife-PE
Então se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, quanto mais a vós outros, homens de pouca fé? (Mateus 6:30)
É
muito significativa essa passagem trazida por Mateus. Nela, Jesus nos orienta quanto ao valor da vida e o que é a vida real. Andamos preocupados com as coisas transitórias da matéria, quando, na verdade, podemos usufruir muito mais que isso. E, por que isso acontece? Por que não aprendemos a valorizar e vivenciar a realidade do Espírito, em detrimento da matéria? No estágio atual da evolução humana, poucos são os que têm discernimento e consciência da realidade do Espírito. Não me refiro ao conhecimento intelectual, mas, sim, a outra instância, a certeza de ser um Espírito imortal, e que vive um momento material transitório. Os poucos que assim se posicionam, agem de uma forma completamente diferente da maioria. Em geral, mostram-se equilibrados internamente; ponderados, nas escolhas e reações; maduros nas orientações; e, acima de tudo, humildes e desapegados. É isso que o texto de Mateus 6 nos sugere. Que compreendamos a realidade íntima do ser e da vida. Que ela é bem mais do que as coisas efêmeras que a materialidade nos oferece. Mas, as perguntas permanecem: por que isso acontece? Por que não aprendemos a valorizar e vivenciar a realidade do Espírito, em detrimento da matéria? Resposta: Simples limitação da consciência presa aos sentidos mais materiais. Basicamente, atuamos com os cinco sentidos que nos orientam no nosso dia a dia. Das horas de vigília, quando quase 100% é utilizado pelo olfato, tato, audição, visão e fala, quantos outros sentidos ficam sem atividades? Por exemplo, por quanto tempo usamos a intuição ou a imaginação, durante um dia, ou seja, as capacidades sensoriais mais relacionadas à alma? Recordo-me que Jesus cita outra passagem em Mt 6:21, a frase: “Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também teu coração”. Significa dizer que, onde estiver nossa atenção, ela se apresentará como realidade. Ora, se estamos focados na matéria através dos sensórios materiais, como perceber outras realidades mais profundas? “O essencial é invisível aos nossos olhos”, dizia Antoine de Saint-Exupéry, em sua magistral obra, “O Pequeno Príncipe”. Esse pensa26 Tribuna Espírita • novembro/dezembro • 2015
mento revela grande verdade, pois, nos mostra o quanto estamos distraídos com as coisas materiais. Mas, o que fazer, para entender e colocar esse conteúdo mais profundo em nossas mentes? O processo pode ser rápido ou demorado, dependendo da forma como apreendido. Vejamos duas situações que promovem mudanças instantâneas: Muitas vezes, ouvimos falar de pessoas que passaram pela experiência de quase morte, a EQM, e, após essa situação, mudaram completamente seu comportamento e passaram a entender a vida de outra forma. Outras, vivem experiências místicas e, também, se transformam. Temos Paulo de Tarso, Sidharta, o Budha, como exemplos bem famosos. Todavia, essa mudança, também, se dá, de forma gradual, através das experiências que a vida nos proporciona nas múltiplas encarnações. Na medida que vivenciamos dores e prazeres, essas sensações são registradas no períspirito e vão ganhando robustez; transformam-se a base da nossa personalidade, aquilo que somos na intimidade e, até, nas reações diante dos desafios da vida. O processo, nesse caso, pode durar bastante, pois é “homeopático”, e a consciência vai mudando, aos poucos, se transformando, gradativamente. Podemos acelerar o processo? Sim, podemos. À medida que vamos exercitando os sensores mais nobres da mente, que nos permite entrever as coisas do Espírito, aquelas consideradas subjetivas, por outros, sonhos, delírios ou viagens fora da realidade. Não é a toa, que as mentes mais criativas, aquelas que expressam beleza e sabedoria em suas obras, são considerados por alguns, como pessoas fora da
realidade, “viajados”, sonhadores ou filósofos, no sentido pejorativo do termo. As ações no Bem; ou seja, aquelas que exercitam o desapego das coisas materiais, que não promovem o ego além do que ele deve ser, também, são recursos que acelera o processo. Ao realizarmos tais atividades, estamos desenvolvendo potencialidades ainda ignoradas por nós, mas que a Espiritualidade assevera possuirmos e que são nomeadas como “potenciais sublimes da alma”. Jesus, sabendo de tudo isso, nos orienta no seu roteiro de amor, seu Evangelho, para não nos prendermos às transitoriedades da vida, e fala do que Deus nos dá, além desses parcos recursos materiais. Que Ele, sendo o Pai amoroso, nos oferece muito mais possibilidades e potenciais, para uma vida cada vez mais plena. É fundamental que lutemos contra a matéria, compreendendo-a, como mais um recurso para o progresso, mas que, há muito mais riqueza na Natureza e que está à disposição de quem a deseja. Lembrem-se da frase da música do Raul Seixas, “Tente Outra Vez”, que fala: “Queira! Basta ser sincero e desejar profundo. Você será capaz de sacudir o mundo. Vai, tente outra vez!” Portanto, vamos exercitar nossas potencialidades mais elevadas, vamos trabalhar nosso desapego, através do exercício da caridade ao próximo. Vamos tentar amar mais, para nos tornarmos merecedores dessa recompensa. Que possamos nos tornar Espíritos melhores, através do exercício no Bem, para que os mundos ditosos não sejam, apenas, uma utopia espiritual.
A Caravana da Fraternidade JOSÉ AUGUSTO ROMERO1
E
xcursionou, durante o mês de novembro último, pelas capitais nortistas, em missão de confraternização, uma caravana espírita, constituída de Artur Lins de Vasconcelos Lopes, Leopoldo Machado, Francisco Spinelli, Carlos Jordão da Silva e Ary Casadio. Artur Lins esteve, nesta cidade, no dia 10, realizando, à noite, uma palestra na sede da Federação Espírita Paraibana, durante a qual historiou os acontecimentos que preludiaram a concretização do Pacto Áureo. O ilustre centralizador de todo o movimento confraternista retornou ao Rio, antes da Caravana, atraído por imperiosos deveres. No dia 16, a Caravana visitou a cidade de João Pessoa. Foi um dia de intenso júbilo, para a família espírita da Paraíba. Pelas 10 horas, aproximadamente, os arautos da Caravana foram recebidos na sede da Federação Espírita Paraibana. Após os cumprimentos fraternais, todos os presentes se sentaram em torno de uma mesa, seguindo-se uma prece que foi proferida pelo professor Leopoldo Machado. Concluída a prece, foi transmitida aos presentes, por incorporação, por intermédio de Ary Casadio, uma mensagem de Bezerra de Menezes. O tom comovente, em que falou o mensageiro celeste, emocionou a assistência. Todos sentiram a magnificência do ambiente, plenamente dosado de reconfortante espiritualidade. Bezerra de Menezes, após enaltecer a concórdia existente no seio da família espírita de João Pessoa, concluiu a sua mensagem, exortando a todos, para que se mantivessem dentro das linhas da fraternidade. Em seguida, a Caravana, acompanhada de vários espíritas da cidade, fez uma visita à praia de Tambaú. Alguns membros da Caravana lançaram-se às águas do Atlântico, pondo-se em contato com as ondas acolhedoras do litoral paraibano. Leopoldo Machado recusou-se a receber o abraço fraternal das ondas, preferindo colher algumas fotografias do aprazível local. Às 11 horas, a Caravana retornou à cidade, a fim de se entregar a
ligeiro repouso. Às 14 horas, iniciaram-se as visitas aos Centros Espíritas “Bezerra de Menezes”; “União Espírita Deus, Amor e Caridade” e ao ‘Albergue’, (dentro da “União”, em construção); ao “Discípulos de Jesus” e “Leopoldo Cirne”. Às 20 horas, teve lugar a festa, no Teatro Santa Rosa, cedido pelo governador do Estado2. Aberta a festividade com uma prece, proferida por Carlos Jordão da Silva, usou da palavra Francisco Spinelli, que fez uma excelente dissertação doutrinária, dentro dos rígidos princípios da moral evangélica. Em seguida, teve lugar a monumental conferência do professor Leopoldo Machado, ardentemente ansiada pela família espírita da Paraíba e, até mesmo, por numerosos profanos. A conferência de Leopoldo Machado empolgou todo o auditório que enchia as dependências do teatro. O orador foi ouvido, sob religioso silêncio, de momento a momento, interrompido por calorosos aplausos. Foi um momento feliz. Em todas as fisionomias, se estampavam a surpresa e o entusiasmo provocados pelas sábias palavras do orador. Encerrada a conferência, o presidente da festividade proferiu as seguintes palavras: “As paredes deste teatro nunca ouviram palavras tão saturadas de espiritualidade, tão verdadeiras e tão em harmonia com o pensamento divino”. Ao sair do teatro, ouvi entusiásticas referências acerca do professor Leopoldo Machado. Muitos lamentaram a conferência não se ter prolongado por toda a noite. Soube, com fundamento que, até, católicos e protestantes aplaudiram o conferencista. Ainda perduram, pela cidade, os comentários em torno da apoteótica festividade do teatro. Muitas pessoas, ainda hoje, me interpelam a respeito da possibilidade do retorno de Leopoldo Machado a esta cidade. É que o “gigante” de Nova Iguaçu soube conquistar corações e despertar consciências adormecidas.
Soube dizer, com elegância e autoridade, o que é, na realidade, o Espiritismo. Às 23 horas, realizou-se, na sede da Federação, uma reunião, na qual tomaram parte os integrantes da Caravana da Fraternidade e todos os presidentes dos Centros Espíritas de João Pessoa. A reunião constituiu uma reafirmação da união existente entre os espíritas da Paraíba. Encerrada a reunião, foi lavrada uma ata, por Francisco Spinelli, a qual foi assinada por todos os presidentes de sociedades espíritas, presentes. Pela madrugada do dia 17 de novembro, a Caravana retornou à cidade do Recife, a fim de prosseguir em sua jornada evangelizadora até o extremo norte do país, deixando, no coração dos que ficaram, impressões que transcendem do que se pode dizer, através da palavra escrita ou falada. Extraido do Livro “A Caravana da Fraternidade” de Leopoldo Machado, reeditado pela FEB em 2010.
________________
O autor deste artigo foi presidente da FEPb, por 44 anos (de 1929 a 1973). 2 O governador do Estado, ao qual se refere, e que cedeu o Teatro Santa Rosa para a festa espírita do dia 16 de novembro de 1950, foi Oswaldo Trigueiro de Albuquerque Mello, que governou a Paraíba, de 4 de março de 1947 a 31 de janeiro de 1951. 1
Google imagens
novembro/dezembro • Tribuna Espírita • 2015 27
Natal Profano GUILHERME T. SARINHO (*) João Pessoa-PB
Meu amigo. Não te esqueças Pelo Natal, do Senhor. Abre as portas da Bondade Ao chamamento do Amor. (Chico Xavier)
C
omo médico, hoje, no dia de Natal, mais uma vez, estou de serviço no hospital; e, com exceção de uma cirurgia que já realizei, não há mais tarefas a fazer, a não ser que surja alguma urgência. Só me resta aguardar a hora de sair, na esperança de que mais nada aconteça. Natal! Comecei a pensar no Natal. Natal do passado e Natal do presente. Natal dos meus tempos de menino, de rapaz e de adulto, com filhos pequenos. Notei que as diferenças, iam aumentando à medida que eu as analisava, e conclui que transformaram o Natal, aquele Natal que nos sensibilizava a todos, que nos fazia refletir, que nos trazia melhores transformações morais e que nos preenchia com uma sensação agradável de paz, de amor fraterno e de alegria espontânea. Transformaram sim! Transformaram em um Natal impessoal, menos sensível, menos humano, menos cristão. Aquele era um Natal de presentes simples, caseiros, mas de magia, de paz, de luz, de religiosidade, de encanto, em que todos reverenciavam a Estrela Maior, a Estrela Central do Natal, aquela que, nascida em Belém de Judá, trouxe Luz a toda a Humanidade. O que se tem feito com o Natal dos nossos dias? Perdeu quase tudo o que tinha de sagrado, de venerável, de santificado, de milagroso, de puro, de inviolável, de esotérico. Só não perdeu, ainda, a inocência das crianças, a exemplo daquela outra criança, que nasceu numa manjedoura, encarnada como Jesus, o filho de Deus, que veio ao seio da Humanidade ensinar: a paz, o amor inconteste, a fraternidade ampla, a não violência, a mansidão. “Ama a teu próximo como a ti mesmo”, ele ensinava. “Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus”, ele dizia, por onde passava. A Humanidade, decorridos dois mil anos, ainda não compreendeu a beleza e a grandiosidade dos seus ensinamentos. Se todos o tivessem compreendido, o nosso Planeta, hoje, seria um orbe divino, pleno de paz, de harmonia, de amor. Ele, como Jesus, não precisava, aqui, encarnar, porque, espiritualmente, estava muito além de nossa espiritualidade; mas, como Ser Divino que já era, e tomando as vestes carnais, veio, para ser o exemplo maior da elevação moral e espiritual (ou salvação 28 Tribuna Espírita • novembro/dezembro • 2015
como dizem outros cristãos) de todos os seres humanos, no que podemos chamar de “O Paradoxo de Jesus”. Aquele que nascido Yehoshua ben Youssef , em aramaico; ou seja, Josué, filho de José, e conhecido entre os gregos antigos ,como Iesoûs ho Khristós; ou seja, Jesus, o Ungido e que encarnou, para ser um messias, um mestre para a Humanidade, deveria ser o dono da festa de Natal, criada em sua homenagem. Mas, o que vemos é que ele vem sendo deixado num plano secundário, uma vez que, o Natal vai sendo transformado, de uma festa sagrada dos cristãos em honra dele, o Divino Mestre, o Amigo e o Exemplo a ser seguido, numa festa profana. Embora a sua mensagem não tenha sido perdida, porque, assim, não estava escrito por Deus no sacro livro das Leis Universais, para a maioria, a sua palavra não foi compreendida. O que vemos mundo afora? Desarmonia, guerras, homicídios, revoltas, drogas, inversão de valores éticos e morais. O Natal vem, gradativamente, perdendo a beleza ritualística do sagrado, o contato com o Divino, a sua religiosidade, a sua fé e o respeito aos ensinamentos do Menino de Nazaré. Tudo, substituído pela vulgaridade, banalidade, futilidade, desamor e, sobretudo, pelo voraz consumismo. A beleza do Natal sagrado que tocava o espírito de todos nós, hoje, está sendo substituída pelo materialismo que só toca o corpo físico, com multidões, num frenesi contínuo pelos “shoppings center” da vida, impelidas e atraídas pelas propagandas, na busca desesperada de presentes para comprar, a fim de dá-los aos parentes e amigos, mais das vezes, destituídos de amor, sem o sentimento fraternal e só pela aparência social. Mimos que, em sua maioria, não tendo utilidade ou carência, por parte de quem os recebe, ficarão jogados em algum lugar das gavetas ou guarda-roupas, porque são presentes, sem os verdadeiros valores sentimentais, por parte de quem os dá e de quem os recebe, uma vez
que, falta em todos eles, o conteúdo principal do presente: o Amor. Comercializa-se o Natal, em todos os cantos e de todas as formas: televisão, rádio, revistas, outdoors, estimulando, cada vez mais, o consumismo, que já virou viciação. Profana-se a festa dedicada ao “Deus-Menino” que, para dar o maior exemplo de humildade, de simplicidade, de singeleza, de modéstia, nasceu numa manjedoura; e muda-se, para uma festa profana, tornando-se o Natal mais parecido com os festivais pagãos da antiga Roma. Deixa de ser uma festa religiosa cristã, para tornar-se um festival dos antigos solstícios de inverno, como a Saturnália, festa pagã em homenagem ao deus Saturno dos romanos ou deus Mitra dos persas. Tornam, assim, o Natal, quase em festa idólatra, onde se estimulam os excessos: nas compras, comidas e bebidas. Compram-se o necessário e o supérfluo. Bebe-se e come-se à socapa. Festas, músicas, comércio e superficialidades, eis no que vem se transformando o sagrado, o divino do Natal. Esquecem-se dele e de seu legado ético, moral e espiritual. Esquecem de que ele encarnou, como um de nós, para dar o exemplo de como convivermos uns com os outros e, por isto, ele esteve, sempre, entre os pequenos, humildes, sofridos, pobres, deserdados e párias sociais. Foi luz, nas trevas da ignorância. Foi humilde e manso de espírito. O seu Espírito de luz nunca ofuscou a sua humanidade; pelo contrário, fez a sua contraparte física intensamente brilhante. “Pai, perdoai-os, porque eles não sabem o que fazem”. Ele continua a dizer, em sua infinita bondade. O sagrado, o espiritual, o divino, o mágico, o esotérico é colocado debaixo da árvore de Natal, cuja estrela, no topo, sem a luz dele, não tem fulgor, não tem esplendor. A mítica dos cânticos, preces e orações, é substituída pelo som das baladas, das músicas eletrônicas, das saturnais, numa elegia ao material, ao mundano, ao profano e passageiro modo de vida da atualidade. Dessa vida, em que poucos se conscientizam e que é tão breve e temporal. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vai ao Pai senão por mim”. Ele repetia, sempre. Natal de Papai Noel, figura mitológica, lendária, que deveria ser o convidado da festa, para a alegria da criançada, torna-se, para elas, a figura principal e única do Natal, numa substituição comercial ao verdadeiro dono da festa, Jesus, o Cristo, o Mestre Ungido do Oriente. A inocência, a algazarra, o bulício, a alegria, as brincadeiras das crianças, mesmo que, só para ganhar presentes de Papai Noel, é nos dias atuais, o que de maior importância tem na festa anual do Divino Amigo. “Deixai vir a mim as criancinhas”. Ele continua a dizer, para o mundo, em todos os momentos. Elas são um símbolo de esperança, na festa do Natal Profano. (*) Médico, Mestre Maçom e Membro do Centro Espírita “Leopoldo Cirne” – João Pessoa- PB.
Ode à Federação Espírita Paraibana MERLÂNIO MAIA João Pessoa-PB
Ó Federação Espírita Lar santo da caridade Casa do Consolador Horto da fraternidade Jesus te tem nos seus planos E hoje completas cem anos A disseminar verdade Caridade, Paz, Cultura Fazendo a semeadura Do Espírito de Verdade.
José Rodrigues Ferreira, José Augusto Romero, Laurindo Cavalcante, vero José Raimundo de Lima, E Marco Antonio Granjeiro Homens sérios, altaneiros Que te elevaram acima. Quantos de nós não chegamos Chagados de tanta dor
Fatigados, mutilados, Por um passado de horror E aqui bem acolhidos Amparados, socorridos, Encaminhados pra vida Por isso esta gratidão À nobre Federação Espírita, Luz incontida! Por conta da tua luz Dos trabalhos, das ações
Sabemos que foi Jesus O Cristo vivo de Deus Que enviou Ismael E este os prepostos seus A inspirar teu nascimento Criando este monumento Na Parahyba do Norte E assim Allan Kardec Fez crescer mais este leque Contra a treva, a dor e a morte.
Hoje é o teu Centenário Lar do amor de Jesus E hoje parabenizamos Pois é Deus que te conduz Que seja a tua verdade Deus, Cristo e Caridade Tua bandeira que emana Dando-te norte e missão Ó nobre Federação Espírita Paraibana!
Foram os teus presidentes Manoel Alves de Oliveira, Eugênio Ribas, João Gomes,
I
Na Paraíba nasceram Tantas instituições 78 cidades 170 entidades Sob tua égide de amor Ó santa Federação Sonho da unificação Do vero Consolador. Sob a ordens do Senhor Leopoldo Cirne e Joanna, Bezerra e Augusto Romero, Lins de Vasconcelos, Vianna, Como uma nave de amor Segues levando o esplendor De Kardec e de Jesus Pela Paraíba inteira Federação altaneira Escola de amor e Luz.
A Causa de Deus
nicialmente, queremos dizer que se aproxima a data do Centenário desta Casa e queríamos recordar o pensamento que exteriorizamos, em outra oportunidade, aqui: Quando a causa é de Deus, ela não terá fim! Cem anos, ajudando. Cem anos, iluminando as almas e despertando as consciências. Cem anos, fazendo com que as criaturas conhecessem e estudassem as obras básicas da Doutrina Espírita. Foram muitos os companheiros que se uniram na divulgação da Doutrina Consoladora e, como todos devem saber, das dificuldades que enfrentamos, no início e nos primórdios de nossas atividades; mas, hoje, nós nos encontramos felizes, porque o trabalho continuou; porque nossa Casa de pedra se transferiu para um outro lugar, e esta Casa pode até desaparecer, mas a Causa não desaparecerá, jamais, porque nossa Causa é a causa do Cristo, é Causa do Amor. É a Causa que ajuda as pessoas a se encontrarem, não somente Espíritas, mas aqueles que buscam as nossas Casas espalhadas em toda parte, procurando respostas para suas indagações. E muitos ficam felizes, porque encontram, dentro da Casa Espírita, aquilo que desejavam. Por isso, meus irmãos, companheiros de tarefa, continuemos lutando por essa Causa, essa Causa Maior, essa Causa que nos foi prometida pelo Cristo, há mais de dois mil anos. A Casa Mater do Espiritismo da Paraíba festeja esses cem anos
de fundação, onde nós estivemos à frente dos trabalhos realizados, por mais de 40 anos. E, até hoje, eu sinto, no fundo da alma, uma alegria profunda, um entusiasmo constante, por tudo que aprendi, por tudo que fiz e por tudo que recebi dos amigos espirituais que, sempre, estão ao nosso lado, nos orientando, nos ajudando, nos inspirando para aquilo que deveremos falar e transmitir àqueles que chegam e que nada conhecem da Doutrina Espírita. Unamos nossas forças, para que o Congresso Espírita que será realizado, em homenagem ao Centenário de nossa Casa, seja coroado de êxito. Que aqueles que, ali, vão se encontrar, possam descobrir do que necessitam, para continuarem buscando as informações da Doutrina Consoladora. Jesus está conosco, Jesus está à nossa frente. Ele é o timoneiro da nossa Causa; por isso, continuará para sempre, porque a nossa Causa é a Causa de Deus. Que Jesus abençoe a todos nós e ilumine a nossa caminhada de encarnados e desencarnados, e que, juntos, possamos dar exemplos de que, realmente, somos verdadeiros Espíritas. José Augusto Romero (Mensagem psicofônica recebida pela médium Gizelda Carneiro Arnaud, em homenagem ao Centenário da Federação Espírita Paraibana, na reunião mediúnica da quarta-feira, na FEPB, João Pessoa/PB, 25 de novembro de 2015).
novembro/dezembro • Tribuna Espírita • 2015 29
As Raízes do Movimento Espírita Brasileiro * WILSON GARCIA São Paulo-SP
N
ão se pode precisar, com segurança, quando e de que modo a Doutrina Espírita aportou no Brasil. A coisa mais correta a esse respeito, talvez seja, mesmo, o verbo aportar: o Espiritismo aqui chegou, sem dúvida, viajando de navio, na segunda metade do século passado. Imperava no país, principalmente na Corte, a influência da cultura francesa. Tudo o que vinha de Paris era considerado de classe superior. A música, a literatura e o teatro. O Espiritismo, codificado a partir do trabalho de Kardec, era, também, um dileto filho francês. Deu-lhe, bem cedo, boas vindas a intelectualidade cabocla. A cultura indígena estava praticamente abafada. A Igreja Católica espalhara seus tentáculos por todas as partes. Os negros caminhavam, para a consolidação do sincretismo de suas crenças, com os ídolos católicos. Várias entidades espirituais africanas estavam perfeitamente identificadas com os santos romanos e a essência da religião negra, inclusive seus cultos através do comportamento mediúnico e da crença reencarnacionista, corriam, então, menor risco. Houve, sem dúvida, certa cumplicidade do clero com a manutenção das concepções e práticas negras, uma espécie de acordo mudo com o senhorio, de tal forma que as três partes envolvidas pudessem, de alguma forma, manterem-se vivas. Foi, nesse ambiente, que o Espiritismo se estabeleceu: chegou, convenceu, criou fama, foi fortemente combatido, sofreu influências, permaneceu e alcançou os dias atuais. O primeiro dado conclusivo que se pode tirar é esse: o Espiritismo chegou ao Brasil, pelas portas da intelectualidade e com o aval do berço francês. Só mais tarde, ele alcançaria as classes mais baixas da escala social, até fixar-se como uma doutrina da classe média brasileira. Engana-se quem imagina que os fatos espíritas só aconteceram a partir da vinda da doutrina. Absolutamente. Antes mesmo de aqui chegar, o primeiro passageiro com “O Livro dos Espíritos” na mala, já muitos acontecimentos chamados fenômenos mediúnicos ocorriam em locais isolados, muitos deles frequentados por criaturas dispostas a tirar conclusões sérias. Parte da intelectualidade assumida apresenta dois aspectos conflitantes: é arrojada, de um lado, e presunçosa, de outro. Para muitos daqueles que retornariam da Europa tocados pelo pensamento kardequiano, pouco se lhes dava se o clero se opunha a esse pensamento. Eis, aí, a demonstração de arrojo. De outra parte, essa intelectualidade não titubearia em criar apêndices para o pensamento kardecista, na presunção de possuir poder para tal. Essa ousadia precoce não demoraria a trazer certos desentendimentos, para o coração da nova ordem de sociedade que viria a ser formada. Mais tarde, fato semelhante vai ocorrer com a popularização da doutrina: a classe menos esclarecida, em virtude de suas concepções religiosas e de seus preconceitos, acaba por mesclar a prática doutrinária com ídolos e comportamentos totalmente contrários aos princípios kardecistas. Atualmente, um dos pontos de maior debate reside, exatamente, neste aspecto. Se a origem francesa era como que um passaporte para a entrada no país de tudo o que nossos navios traziam, é certo que muito daquilo que vinha de além-mar não correspondia à fama. Pouco depois de Kardec, aqui chegou a doutrina de Roustaing, envolvida da mesma aura ‘novidadesca’. O pensamento do Codificador a seu respeito não veio junto, sequer poderia ser conhecido. Mais tarde, foi até posto de lado. Bem ou mal, Roustaing se estabeleceu e, já na chegada, instaurou discórdias, sendo, com toda certeza, a primeira grande divergência do movimento espírita brasileiro. Esta é a segunda conclusão a que se chega. A divergência é tão profunda que vai ultrapassar os tempos, alcançando os dias atuais. 30 Tribuna Espírita • novembro/dezembro • 2015
É importante relatar estes fatos, porque eles vão influir, decisivamente, nos destinos do movimento espírita nacional, desde as instituições primeiras que aqui se formaram, até os mais letrados pensadores da doutrina dos nossos dias. No ano de 1884, no Rio de Janeiro, capital da República, sede da cultura nacional, centro de todas as atenções do país, aparecia a Federação Espírita Brasileira, criada a partir do desejo de alguns espíritas cariocas de unir, fraternalmente, as sociedades espíritas, entre eles o fotógrafo Augusto Elias da Silva que, no ano anterior, havia fundado a revista “Reformador”, a qual passou a ser órgão da própria Federação, desde então. Antes da Federação, várias dissidências haviam sido registradas, no principiante movimento espírita brasileiro. O primeiro agrupamento espírita, juridicamente legalizado no Brasil, de que se tem notícia, foi o “Grupo Confucius”, criado no Rio de Janeiro em 1873. Durou pouco: menos de três anos. Problemas internos levaram ao seu fracasso. Depois, foram surgindo outras: “Sociedade de Estudos Deus, Cristo e Caridade”, “Sociedade Espírita Fraternidade”, “União Espírita do Brasil”, etc. Por um bom período, duas instituições desenvolveram atividades paralelas de filiação de entidades espíritas: a “União Espírita do Brasil” e a “Federação Espírita Brasileira”. Ambas, no Rio de Janeiro. Por fim, e não sem muitos traumas, venceu a Federação. Recorde-se que, ao nascer, tanto a “União Espírita do Brasil” (1882), quanto a “Federação Espírita Brasileira” (1884), tinham por finalidade, reunir, debaixo de uma só bandeira, os Centros e Sociedades Espíritas do país. Só mais tarde, já neste século, estando a Federação consolidada do ponto de vista político e econômico, é que ela vai se dedicar ao trabalho, junto às Federações estaduais. Note-se, ainda, o detalhe: a Federação não surgira do interesse de organização dos Centros existentes, mas do desejo de alguns espíritas, individualmente, saídos da divergência de outros grupos e que se reuniam na residência de Augusto Elias da Silva. As lutas internas no incipiente movimento espírita de então, sempre em busca de supremacia de um grupo sobre outro, fez com que o ideal de união das sociedades espíritas permanecesse letra morta, por um longo período. A Federação, já com Bezerra de Menezes à frente, não se entendia com o Grupo da Fraternidade, nem com a União Espírita do Brasil, e assim por diante. Eis que Frederico Júnior, na Fraternidade, recebe uma mensagem de Allan Kardec, intitulada “Instruções aos Espíritas do Brasil”, que provoca grandes discussões no movimento. Sob o comando de Bezerra, resolveu-se fundar uma nova sociedade, com incumbência federativa, tendo o apoio da Federação e de outros grupos, exemplo esse que será, mais tarde, repetido em São Paulo, na fundação da USE. Durou pouco a nova instituição. Ficou Bezerra, nela abandonado. Passaram-se os anos. Em 1903, no Rio de Janeiro, a Federação Espírita Brasileira resolve comemorar o centenário de nascimento de Allan Kardec, organizando um programa de três dias. Convida as sociedades espíritas do Brasil para estarem presentes. Na qualidade de Federação estadual então existente, apenas, a do Amazonas comparece, na pessoa de representantes nomeados. De São Paulo, participou o português Antônio Gonçalves da Silva “Batuíra”, figura exemplar e que dirigiu, na época, o maior agrupamento espírita do Estado, juntamente com o jornal “Verdade e Luz”, por ele fundado. Uma decisão tomada, então, vai ter importância decisiva nos destinos do movimento espírita brasileiro: ficou decidido que se fariam esforços para a fundação de federações estaduais nos “moldes da Federação Espírita Brasileira”. * Este artigo é parte integrante do texto publicado no “Portal do Espírito” (www. espirito.org.br), com o titulo: As Federações e seu papel no Movimento Espírita.
Homenagem da FERN à FEPB “A amizade é um sentimento de elevação que deve viger na conduta dos seres humanos, preparando-os para os grandes voos do amor. (...) É como o Sol que ilumina tudo, alcançando a delicada pétala da flor e a superfície pútrida do pântano com a mesma generosidade.” – Joanna de Ângelis1
M
eus caros amigos, decidimos iniciar o nosso artigo em homenagem aos 100 anos da Federação Espírita Paraibana, falando sobre a amizade. Isso, porque, quando pensamos sobre essa história que temos em conjunto, foi a primeira palavra que nos veio à mente, em um momento comemorativo para essas duas casas federativas, já que, neste ano de 2016, a nossa FERN, também, celebrará um marco especial, qual seja o de seus 90 anos de existência. Questionado sobre uma definição que se pudesse dar sobre a amizade, esclarece-nos o instrutor Emmanuel 2: “Na gradação dos sentimentos humanos, a amizade sincera é bem o oásis de repouso, para o caminheiro da vida, na sua jornada de aperfeiçoamento.” Ao longo desse período de convivência das duas entidades junto ao Movimento Espírita, os amigos espirituais têm providenciado para que os seus trabalhadores vivam em clima de fraternidade, compartilhando experiências e realizando ativi-
dades, em conjunto, em prol da divulgação da Mensagem Espírita, nos estados do Rio Grande do Norte e da Paraíba, cuja proximidade é, não somente física, mas também, dos corações que, vinculados pelos laços da afeição recíproca, unem-se nas atividades do Consolador Prometido. Nesse trabalho, vamos todos na busca da iluminação das mentes e dos corações, nestas vizinhas terras, tendo o Sol como referência, nas duas capitais. Natal recebeu o título de ‘Cidade do Sol’, mas, o nosso querido irmão e companheiro de trabalho, Marco Lima, sempre, faz questão de nos lembrar que é, nas terras paraibanas que este sol nasce primeiro, e Joanna de Ângelis 3, mais uma vez, associa o sol e a amizade, quando nos diz que: “A amizade é um tesouro do espírito, que deve ser repartido com as demais cria-
turas. Como um sol, irradia-se e felicita quantos a recebem.” É, nesse clima de congraçamento de corações, em torno do ideal do Cristianismo redivivo pela Doutrina dos Espíritos, que seguimos sempre juntos, vivendo, então, esses laços de amizade que se renovam a cada dia, na certeza do mútuo amparo que reina entre as duas instituições e seus cooperadores. E, assim, parabenizamos a todos os trabalhadores, nas duas dimensões da Vida, que fazem parte desta instituição, nesse marco tão importante do seu centenário. O que nos cabe, queridos leitores e amigos, é oferecer o nosso melhor, no sentido de manter esses laços de afeto construídos, pois é, com André Luiz 4 que relembramos que “O amigo é uma benção que nos cabe cultivar no clima de gratidão. (...) Se Jesus nos recomendou amar os inimigos, imaginemos com que imenso amor nos compete amar aqueles que nos oferecem o coração.” Parabéns à Federação Espírita Paraibana, nas comemorações dos seus 100 anos de existência. Que os amigos espirituais envolvam a todos os trabalhadores das terras paraibanas, fortalecendo, em cada um deles, o ânimo, para prosseguir no novo século que se inicia, são os votos, recheados de carinho, de todos que fazem o Movimento Espírita Potiguar, e que, muito humildemente, representamos neste momento. Muita Paz! Eden Lemos* e Igor Mateus** Referências: FRANCO. Divaldo P. pelo Espírito JOANNA DE ÂNGELIS. Constelação Familiar. Capítulo 12. XAVIER, F. Cândido, pelo Espírito EMMANUEL. O Consolador. Questão 174. FEB. FRANCO, Divaldo P., pelo Espírito JOANNA DE ÂNGELIS. Vida Feliz. Cap. XI. Pág. 21. XAVIER, F. C., pelo Espírito ANDRÉ LUIZ. Sinal Verde. Capítulo 12. Perante Amigos. * Eden Lemos, Presidente da FERN ** Igor Mateus, 1° Vice-Presidente da FERN e colunista da Tribuna Espírita
“Seu amor tão grande pelo mundo se expande e ao mundo ensina a amar!”
Saudades de Jesus É o título do primeiro CD do Grupo Musical Espírita Escolhas de Luz
Inscrições e programação:
www.miep.com.br
Contatos: (83) 98802.0772 Grupo Musical Espírita Escolhas de Luz grupoescolhasdeluz@gmail.com Vendas: Federação Espírita Paraibana - FEPB Centro Espírita Leopoldo Cirne - CELC
Campina Grande/PB