Espírita Tribuna
Ano XXXV - Nº 192 julho/agosto - 2016 Preço: R$ 6,00
Ciência e Doutrina Espírita A vida começa na concepção
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Sumário
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Médiuns: adorar ou respeitar? Cristianismo primitivo e Doutrina Espírita Jesus, a adúltera e o apedrejamento A Importância da Bíblia para a Doutrina Espírita Com afeto Avaliação da Atividade Mediúnica
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A depressão Política na Casa Espírita No Trato com o Invisível Hora de reformas O jovem moderno e o filho pródigo Espiritismo não é Ecletismo A palavra a serviço do bem
Médiuns: adorar ou respeitar? PEDRO CAMILO
Os Trabalhadores da Vinha
Salvador-BA
Uma reflexão sobre a música e seu papel na inspiração profética e religiosa As armas do amor Painel Espírita A Dor e o Sofrimento Kardec e Nós Os Evangelhos Segundo o Espiritismo e não o contrário Ciência e Doutrina Espírita - A vida começa na concepção A Nova Literatura Mediúnica
A
palavra adorar possui diversos significados etimológicos, conforme a língua que consideremos. No latim, vem de adorare (ad oris, para a boca), que significa o ato de tocar o objeto ou a pessoa reverenciada com a mão direita, levando a esquerda à boca. Em hebraico, o termo shachah significa cair diante de, prostrar-se. A palavra respeitar, por sua vez, encontra uma de suas origens na palavra latina respectus, sendo o ato de olhar para trás; consideração, atenção.
Em função de certo atavismo religioso, trazido do passado reencarnatório e, também, das vivências religiosas da atual reencarnação, muitos de nós ainda sentimos a necessidade de render culto a personalidades, sobretudo àquelas que ainda figuram no universo místico do sobrenatural. No passado, adorávamos religiosos que erigimos à categoria de santos. E muitos chegaram a tal posto hierárquico graças aos fenômenos mediúnicos que produziram: levitações, produção
Religiosos sem religiosidade
“Um pouco de ciência nos afasta de Deus. Muito, nos aproxima” (Louis Pasteur (1822-1895) cientista francês)
Espírita Tribuna
Ano XXXV - Nº 192 julho/agosto - 2016 Preço: R$ 6,00
Ciência e Doutrina Espírita A vida começa na concepção
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2 Tribuna Espírita • maio/junho • 2016
dos estigmas da crucificação, bicorporeidade, transfigurações e outras tantas manifestações de caráter mediúnico que, não tendo suas causas conhecidas, à época, eram tidas como milagrosas, dignas dos “eleitos de Deus”. Na atualidade, transportamos esse mesmo olhar para os médiuns que nos cercam, sobretudo aqueles que se notabilizam pela qualidade e pela quantidade de fenômenos produzidos, crivando-os com um culto perigoso, com adoração a suas personalidades, quais se fossem “santos encarnados” entre nós. Daí derivam, como bem se sabe, a criação de verdadeiros atos adorativos, que fazem com que tais médiuns ocupem um lugar de autoridade no Movimento Espírita, tomando-se sua palavra como expressão da verdade, independentemente do que digam. Tal postura, adotada por muitos em nosso meio, é frontalmente oposta à de Allan Kardec frente aos médiuns e à mediunidade. Porque reconheceu, nessa, algo natural, pertencente à natureza espiritual, Kardec não lidava com médiuns como se o fizesse com seres especiais. Ao contrário, pelo fato de afirmar que “todo aquele que sente, num grau qualquer, a presença dos espíritos, é, por este fato, médium”, ele não só contribuiu para democratizar o acesso de todos à mediunidade, como também a retirou do altar, trazendo-a para o chão, para as multidões, para o dia a dia. Kardec jamais redeu adoração a médiuns. E não devemos desconsiderar que aqueles com os quais trabalhou certamente foram de uma qualidade invulgar. Afinal, foram intermediários de espíritos da envergadura de Erasto, Sócrates, Platão, San-
to Agostinho e o próprio Espírito (da) Verdade, que muitos, dentre os quais Hermínio C. Miranda, acreditam tratar-se do próprio Jesus. Nem por isso, contudo, deixou que o seu olhar atento se encantasse com as peripécias mediúnicas deste ou daquele médium, emprestando a cada manifestação, a cada mensagem, a condição de opiniões pessoais, cujo valor doutrinário somente poderia ser aferido pela utilização do método de Controle Universal dos Ensinamentos dos Espíritos. Fora desse controle, afirmava o mestre francês, tudo ressoa como simples pensamento individual, que como tal deve ser tratado e considerado. Com Kardec, as lideranças se definiam pelo critério doutrinário, em sentido amplo, jamais pelo critério mediúnico. Com ele, o critério de validade estava na concordância obtida através de médiuns que não se influenciassem e que desconhecessem seus trabalhos. Sua lição é a de jamais nos anularmos, enquanto sujeitos de conhecimento, diante médiuns ou de espíritos, pelo simples fato de que eles, tais como nós, não passam de seres imperfeitos, ainda que circunstancialmente desvestidos de corpos físicos, mais densos. Kardec jamais “caiu diante de” qualquer médium, em atitude reverencial, adorativa. Ao contrário, tinha por todos a mais completa consideração, respeitando a todos enquanto pessoas, pelo simples fato de serem indivíduos, colaboradores de uma grande orquestração, cuja finalidade era a consolidação do Espiritismo. Se temos Allan Kardec como referência de conduta séria e prudente, por quanto tempo ainda nos demoraremos na adoração aos médiuns, quaisquer que sejam eles?
Expediente Fundada em 01 de janeiro de 1981 Fundador: Azamor Henriques Cirne de Azevedo
TRIBUNA ESPÍRITA Revista de divulgação do Espiritismo, de propriedade do Centro Espírita Leopoldo Cirne Ano XXXV - Nº 192 - julho/agosto - 2016 Diretor Administrativo e Financeiro: Severino de Souza Pereira (ssp.21@hotmail.com) Editor: Hélio Nóbrega Zenaide Jornalista Responsável: Lívia Cirne de Azevedo Pereira DRT-PB 2693 Secretaria Geral: Maria do Socorro Moreira Franco Revisão: José Arivaldo Frazão Lívia Cavalcante Gayoso de Sousa Assessoria: Uyrapoan Velozo Castelo Branco Colaboradores desta edição: Adeilson Salles, Alírio de Cerqueira Filho, Astrid Sayegho, Azamor Henriques Cirne de Azevedo, Carlos Romero, Denise Lino, Divaldo Franco (Pelo espírito Joana de Ângelis), Elmanoel G. Bento Lima, Fátima Araújo, Francisco Batista Menezes Júnior, Hélio Nóbrega Zenaide, Germano Romero, Guilherme Sarinho, Iara da Silva Machado, José Passini, Luis Hu Rivas, Mauro Luiz Aldrigue, Octávio Caúmo Serrano, Pedro Camilo, Raymundo Rodrigues Espelho, Robson Santos, Severino Celestino, Suneya Freire, Walkíria Araújo, Zaneles Brito, (Pelo espírito de Lindemberg.). Diagramação: Ceiça Rocha (ceicarocha@gmail.com) Impressão: Gráfica JB (Fone: 83 3015-7200) ASSINATURA BRASIL ANUAL: R$ 35,00 TRIANUAL: R$ 100,00 EXTERIOR: US$ 40,00 CONTRIBUINTE ou DOADOR: R$....? ANUNCIANTE: a combinar TRIBUNA ESPÍRITA Rua Prefeito José de Carvalho, 179 Jardim 13 de Maio – Cep. 58.025-430 João Pessoa – Paraíba – Brasil Fone: (83) 3224-9557 e 99633-3500 e-mail: jornaltribunaespirita@gmail.com
Nota da Redação Os Artigos publicados são de inteira responsabilidade dos seus autores. 2016 • julho/agosto • Tribuna Espírita 3
Cristianismo primitivo e Doutrina Espírita SEVERINO CELESTINO João Pessoa-PB
“As raposas têm tocas e as aves dos céus, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.” (Mt., 8:20.)
T
odas as correntes religiosas cristãs se qualificam como seguidoras dos princípios morais e dos ensinamentos implantados por Jesus. No entanto, a maioria de seus adeptos não se dá ao trabalho de conhecer os outros princípios religiosos que buscam Jesus. Assim, recebem as informações incompletas, preconceituosas e destorcidas, ensinadas pelos diversos dirigentes e responsáveis por suas religiões. No que concerne ao Espiritismo, boa parte dos seus adeptos, embora aceitando os princípios da Doutrina e acompanhando a sua literatura, principalmente a de origem mediúnica, não se dedica ao estudo sistemático das obras básicas da Codificação e as que lhe são complementares e subsidiárias. O preconceito é a ausência de conceito, por isso o Mestre nos orienta, em João, 8:32, que busquemos a verdade, pois só assim nos libertaremos. Ao refletirmos sobre o conteúdo do capítulo 8, versículo 20 do evangelho de Mateus, citado acima, encontramos motivos para um balanço reflexivo ao longo da história. Esse balanço passa pela avaliação do que Jesus realmente pregou e do que se tem praticado, em seu nome, ao longo desses dois mil anos. Jesus demonstra, nesse versículo, como deveriam ser os seus seguidores: tomar como ensino fundamental que o reino Dele não é deste mundo e ter, antes de tudo, desprendimento e desinteresse total por tudo o que é efêmero, principalmente os bens materiais. Jesus não fundou igrejas ou nenhum outro tipo de edificação com finalidade de prática religiosa. A sua religião foi o 4 Tribuna Espírita • julho/agosto • 2016
amor caracterizado na simplicidade dos profundos ensinamentos, no atendimento e assistência ao necessitado em qualquer lugar. Segundo Mateus, “Jesus percorria toda a Galileia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando toda e qualquer doença ou enfermidade do povo”. A sua fama espalhou-se por toda a Síria, de modo que lhe traziam todos os que eram acometidos por doenças diversas e atormentados por enfermidades, bem como endemoninhados, lunáticos e paralíticos. E Ele os curava. (Mt., 4:23 e 24) Observemos a sua maneira de assistir e ajudar os sofredores e comparemos com o que praticam, hoje, aqueles que se intitulam seus seguidores. Será que estão seguindo e praticando realmente as obras de Jesus? Podemos descobrir, sem muita dificuldade, o quanto se encontram distantes do ensino do Mestre. O que chamam de religião é algo destoado ao longo da história pela imposição
de dogmas e conceitos que não sintonizam com a mensagem do Evangelho do Mestre. Muitas correntes religiosas costumam afirmar que a Doutrina Espírita não é uma religião. Sabemos que no aspecto característico constitucional, a Doutrina Espírita possui tríplice aspecto: filosófico, científico e religioso. Por isso, o Espiritismo não é uma religião constituída nos moldes da maioria das religiões dogmáticas e ritualistas tradicionais. O seu aspecto religioso não possui hierarquia nem dogmas. Não possui rituais nem sacerdotes, nem pastores, nem dízimos, nem sacrifícios de animais, nem despachos, nem andores, nem cromoterapia, nem amuletos, nem queima de incensos, nem velas ou qualquer outro tipo de simpatia ou ritual. O Espiritismo adota em sua totalidade os ensinamentos de Jesus, buscando-os em sua essência e unindo-os ao “Fora da caridade não há salvação”, preconizado por Allan Kardec. Quando analisamos as recomendaFoto: Gloogle Imagens
ções de Jesus, o Cristo, no evangelho de Mateus, capítulo 25 versículos 34 a 36, sobre o “Juízo Final”, verificamos o quanto esses ensinamentos são compatíveis com a Doutrina Espírita. “Vinde, benditos de meu Pai, recebei por herança o Reino preparado para vós desde a fundação do mundo. Pois tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Era forasteiro e me recolhestes. Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e viestes me ver.” Essa é a grande receita de Jesus para os que querem segui-lo praticando os seus ensinamentos. A Doutrina Espírita está perfeitamente sintonizada com esses conceitos e orientações de Jesus na sua conduta de assistência aos necessitados do caminho. Através de suas creches, hospitais, sanatórios, asilos, abrigos, distribuição de enxovais e gêneros alimentícios, busca o Espiritismo a execução dessas recomendações de Jesus. As orientações feitas por Ele quando da escolha dos seus discípulos traz o verdadeiro roteiro a ser seguido: “Curai os doentes, purificai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios. De graça recebestes, de graça dai”. Não leveis ouro, nem prata, nem co-
Não leveis ouro, nem prata, nem cobre nos vossos cintos, nem alforjes para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajado, pois o operário é digno do seu salário”. (Mt., 10:8-10.)
bre nos vossos cintos, nem alforjes para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajado, pois o operário é digno do seu salário”. (Mt., 10:8-10.) Esses versículos representam a base do Cristianismo nascente. A essência prática e o entendimento desses princípios parecem esquecidos nas estradas
do tempo. A Doutrina Espírita chega ao século XIX com o objetivo de ressuscitar esses conceitos de Jesus e lembrar o que Ele deixou como roteiro para a prática do seu Evangelho. Está o Espiritismo lado a lado com esses ensinamentos e solicita dos cristãos, de todas as correntes religiosas, que se voltem para o resgate da mensagem original de Jesus. A receita é pura, simples, cristalina e autêntica. Sem véus nem subterfúgios. Pois que Jesus deu o maior exemplo nascendo em uma manjedoura e tendo como leito de morte uma cruz, além de não ter, durante sua passagem entre nós, onde reclinar a cabeça. Tudo que praticou foi de forma singela, simples e amorosa. Chorou sobre Jerusalém por não poder juntar os seus filhos e deixou para nós a responsabilidade de nos unirmos e praticar os seus preceitos em essência e espiritualidade. A Doutrina Espírita chega e nos traz de volta a condição para ressuscitarmos a mensagem de Jesus. Trabalhemos, pois, com ela e busquemos o resgate e a conquista do retorno à cristalinidade da mensagem vivida por todos os que praticavam o Cristianismo Primitivo. Sê conosco, Jesus!
Jesus, a adúltera e o apedrejamento CARLOS ROMERO João Pessoa-PB
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xistem muitos meios de punição. Mas, talvez, o mais duro, o mais cruel, seja o apedrejamento, muito usado nos tempos de Jesus, e, segundo se informa na Internet, continua em vigor em países árabes. A pessoa acusada é apedrejada em praça pública até cair no chão, toda ensanguentada. Punição severa, hein? Punição que confirma o que diz o ditado. “A lei é dura, mas é lei”. Pois bem, a lei que permite o apedrejamento estava em pleno vigor no tempo de Moisés. E quais os crimes punidos por essa lei? Um deles era o adultério. A adúltera tinha os cabelos cortados. E cortar os cabelos de uma mulher, naquela época, já era uma punição. Contaram-me que há um vídeo na Internet que mostra o apedrejamento de uma mulher, nos tempos atuais, em que ela é enterrada na praça pública, só com a cabeça de fora, sendo apedrejada pelos homens... Ora, ora, quem conhece os Evangelhos, já está sacando que há o episódio da mulher adúltera, que foi levada à presença de Jesus para ser punida, cumprindo, assim, a lei de Moisés.
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Eis um dos quadros mais comoventes do Evangelho, uma mulher é levada ao Mestre, para que ela fosse punida pelo crime do adultério. Com o adúltero, silêncio total. Só a mulher é levada à presença de Jesus. Disseram eles: “Mestre, esta mulher foi flagrada em pleno adultério e a lei de Moisés pune quem comete tal crime com o apedrejamento. E agora, surge a pergunta: por que o adúltero ficou livre? Qual foi a atitude do Mestre? Calado, apenas escreveu no chão: “aquele que se julgar sem pecado que lhe atire a primeira
pedra”. Silêncio total. E todos foram saindo em silêncio, a começar pelos mais velhos. A mulher ficou sozinha, certamente, chorando. Jesus a contempla com muita compaixão e compreensão, e pergunta: “Onde estão os teus acusadores?” Ela, de cabeça baixa, responde: “Foram embora, Senhor”. “Não te condenaram?” - insiste Jesus. “Não, Senhor”. Por fim, arremata o mestre: “Eu também não te condeno. Vai e não peques mais”. Para condenar o próximo é preciso estar com a consciência limpa. Mesmo assim, nada de condenação e, sim, compreensão. Os acusadores da adúltera, cheios de pecado, não tiveram força para apanhar uma pedra e jogar naquela infeliz. E continua a pergunta: E o adúltero? Não foi acusado? E Moisés faria como Jesus? Evidente que não. Esse encontro de Jesus com a mulher adúltera é um dos episódios mais emocionantes do Evangelho, que significa Boa Nova. É preciso compreender as fraquezas humanas. É preciso, sempre, se colocar no lugar do outro. E viva a caridade dos atos e dos pensamentos. Lembrando que o Espiritismo tem como slogan principal a frase: “Fora da caridade não há salvação” ... 2016 • julho/agosto • Tribuna Espírita 5
A Importância da Bíblia para a Doutrina Espírita ASTRID SAYEGHO São Paulo-SP
A
Humanidade já foi contemplada com três revelações. A primeira, quando da vinda de Moisés. Nela, o monoteísmo tomou forma e Deus foi apresentado como o único Deus verdadeiro, em oposição ao politeísmo. Na segunda, quando do advento de Jesus Cristo, foi Deus apresentado como Pai de infinita misericórdia e amor, substituindo o Jeová dos Exércitos, temível e justiceiro. A terceira revelação surge com o advento do Espiritismo, cuja finalidade básica é restabelecer em princípios as primícias dos ensinamentos de Jesus Cristo. A História conta que, no decorrer dos séculos que sucederam o advento do Cristo, houve numerosas tentativas no sentido de comprovar a realidade dos Espíritos e sua manifestação no plano material. É inegável que algumas chegaram a ser reveladas. Contudo, com maior amplitude, isso se tornou possível apenas no século 19, quando os homens estavam mais preparados para uma nova revelação. Um sopro de vida nova parecia agitar o planeta nesse momento de efervescência intelectual, em que as ciências tomavam grande impulso, e tudo era revelado à luz natural da razão. Surge assim a Doutrina Espírita, marcando a passagem das religiões formais para uma filosofia racionalista. Trata-se, portanto, não de uma negação do passado histórico, mas constitui antes uma síntese dialética de todo o processo da história do pensamento, colimando sempre uma busca de racionalização das concepções fideístas dogmáticas. Seu esforço, portanto, consiste em trazer a religião do domínio mítico para o plano cultural. Pode-se afiançar que os primeiros precursores do Espiritismo foram os famosos médiuns Emmanuel Swedenborg e Andrew Jackson Davis. Muitos fenômenos marcaram o início da Doutrina Espírita, atraindo a atenção de numerosos sábios de renome mundial. Surgiu, então, no cenário do mundo a figura exponencial de Allan Kardec que buscou estudar e fundamentar cientificamente esses fenômenos, assim como organizar de forma sistemática e metódica os ensinamentos revelados pelos Espíritos. Conseguiu assim lançar o arcabouço de uma nova doutrina, dando à publicidade “O Livro dos Espíritos”, em 1857, contendo os fundamentos filosóficos da Doutrina. Em seguida publicou “O Livro dos Médiuns”, em 1861, contendo a parte científica das relações do plano espiritual com o mun6 Tribuna Espírita • julho/agosto • 2016
do material, e por último “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, em 1864, contendo a parte religiosa e essencial da Doutrina. É assim que a Doutrina Espírita possui um aspecto tríplice. Ela consiste em uma Ciência – que tem por objeto os fenômenos; uma Filosofia – que tem por objeto as causas primárias do Universo, a natureza dos Espíritos e as Leis Morais; e em uma Religião – que tem por objeto resgatar a essência dos ensinamentos cristãos. Sob esse aspecto, o Espiritismo diferencia-se das demais religiões, pelo fato de não possuir nenhuma formalidade ou culto exterior, mas a religiosidade deve dar-se na intimidade do próprio indivíduo, através da prece e da doação de si. O que interessa não é a exterioridade dos ritos e do culto convencional, por vezes precários, mas sim o pensamento e o sentimento do homem. Há uma sequência histórica que não se pode esquecer ao tomar a Bíblia nas mãos. Quando o mundo se preparava para sair do caos das civilizações primitivas, surgiu Moisés, como o condutor de um povo destinado a traçar as linhas de um novo mundo, e de suas mãos surgiu a Bíblia. Não foi Moisés quem a escreveu, mas foi ele o motivo central dessa primeira codificação do novo ciclo de revelações: o cristão. Mais tarde, quando a influência bíblica já havia modelado um povo, e quando esse povo já se dispersava por todo o mundo gentio espalhando a nova lei, apareceu Jesus e, de suas palavras, recolhidas pelos discípulos, surgiu o Evangelho. A Bíblia é a codificação da primeira revelação, o código hebraico em que se fundiram os princípios sagrados e as grandes lendas religiosas dos povos antigos. É a grande síntese dos esforços da antiguidade em direção ao espírito. O Evangelho é a codificação da segunda revelação, a que brilha do centro da tríade dessas revelações, tendo na figura de Cristo o sol que lança sua luz sobre o passado e o futuro. Mas assim como na Bíblia (Antigo Testamento), já se anunciava o Evangelho, também neste aparecia a predição de um novo código, o do Espírito da Verdade: “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Sua finalidade é esclarecer os ensinos anteriores de acordo com a mentalidade moderna, já suficientemente arejada e evoluída para entender as alegorias e símbolos contidos na Bíblia e no Evangelho. Enganam-se os que pensam que a codificação do Espiritismo contraria ou reforma o Evangelho. Foto: Gloogle Imagens
Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, são abordados textos desde os decálogos de Moisés e essencialmente os ensinamentos de Jesus em sua maioria até as cartas de Paulo, de forma didática e esclarecedora. São estudadas as Leis Morais tratando-se especificamente da aplicação dos princípios da moral evangélica, bem como das questões religiosas acerca da adoração, da prece e da prática da caridade. Nessa parte, o leitor encontrará inclusive as primeiras formas de instruções dos Espíritos, com a transcrição de comunicações por extenso e assinadas, sobre questões evangélicas. Assim sendo, o Espiritismo tem como base as escrituras, tem seus fundamentos na Bíblia. A essência de sua doutrina é o Evangelho, a religiosidade. Trata-se, portanto, de uma religião positiva, baseada nas leis naturais, destituída de aparatos misteriosos e de conotação mítica ou mística. Trata-se, ainda, de uma religião dinâmica, pois coloca a prática da caridade acima de qualquer virtude (I Cor 13:1). Sem dúvida, a prática da caridade guarda íntima relação com os princípios universais de Jesus Cristo, ao sintetizar o Decálogo neste mandamento
Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. (Mt 22:34)
maior: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (Mt 22:34). Ser cristão não é um rótulo, mas uma vivência (Mt 7:21), é imprescindível que o homem se revele pelas suas obras: a fé sem obras é morta. Com relação à fenomenologia mediúnica, a Doutrina Espírita não aceita o milagre ou o sobrenatural, mas explica tudo à luz da naturalidade. O ministério dos anjos, esse ministério divino, a que o Apóstolo Paulo se referiu tantas vezes, é exercido através da mediunidade. A própria Bíblia nos relata uma infinidade
de comunicações mediúnicas. Veja-se as palavras do Rei Samuel, em Provérbios 31:1-9, que, segundo o texto bíblico, são “a profecia com que lhe ensinou sua mãe”. Temos ali uma comunicação espírita integralmente reproduzida na Bíblia. É importante distinguir o fato de que os estudos bíblicos se processam em duas direções diversas: há o estudo normativo das instituições religiosas, legados a várias igrejas e que seguem as regras da hermenêutica; há o estudo livre dos institutos universitários independentes, que seguem os princípios da pesquisa científica e da interpretação histórica. O Espiritismo não se prende a nenhum dos dois sistemas, pois sua posição é intermediária. Reconhecendo o conteúdo espiritual da Bíblia, o Espiritismo estuda à luz dos seus princípios em harmonia com os métodos da antropologia natural e dos estudos históricos. Segundo afirmação de Jesus em João, capítulo 10, “eu e o Pai somos um”. Dessa forma, todos os homens possuem uma unidade essencial. Daí a importância de viver uma religião unitária em essência e verdade - o ecumenismo - apesar da variedade das formas em que se expressam. Foto: Gloogle Imagens
Com afeto HÉLIO NÓBREGA ZENAIDE João Pessoa-PB
N
as nossas manifestações de afeto, dizer que amamos, nunca é demais. Para tanto, no nosso mundo afetivo, é importante que reine o amor e que cuidemos desse sentimento. E seremos bem mais compreendidos, se cuidamos de quem amamos; pois, assim, dizemos mais sobre esse amor. Logo, se nós gostamos de ouvir que somos amados, vamos gostar, muito mais, de sentir que somos cuidados. Mas, a linguagem do afeto encontra, também, no abraço, uma forma de ser compreendida. Isso acontece porque, nem sempre, as palavras traduzem o que estamos sentindo e o afago de um abraço pode ajudar, nesse sentido. Num abraço afetuoso, nos encontramos, tanto pela comunicação de almas em comunhão de sentimentos, como pelo gesto, em si, que envolve, em cui-
dados afetivos. Só que, além de abraçar uma pessoa, podemos, também, abraçar uma causa, e o fazendo, o nosso abraço toma outra proporção. Deixa de ser um abraço a dois, para ser um acolhimento que contempla pessoas e interesses comuns. Assim, deixamos de abraçar a um, para abraçar a muitos e essa é mais uma forma de dizer que amamos as pessoas e que cuidamos delas. Quem ama, cuida, e é o que acontece, quando abraçamos uma causa. Amando e cuidando, uns dos outros, nós nos apoiamos, fortemente. Nessa acolhida coletiva, amparados uns pelos outros, nós nos fortalecemos, em nossas causas e perseguimos os nossos ideais. Acontece, assim, na nossa fé. Temos a certeza de que Jesus ama e cuida de
todos nós, porque nos deixamos abraçar por ele. Os grandes missionários, em todas as épocas, abraçaram causas de difícil consecução e terminaram por acolher, um a um, aqueles que se deixaram abraçar. Mas, acontece que, nem todos, se deixam abraçar e, também, não abraçam. Ora, se há dificuldades para um abraço, imaginem, para o amor e para os cuidados com esse amor. Pior, se não se amam, também, não se cuidam. E, pensar que foi, num abraço, sem amor, a preço de moedas, que Jesus foi entregue aos soldados... O nosso mundo afetivo é, mesmo, muito pessoal. Se não nos amamos, nem nos cuidamos, como vamos amar e cuidar das pessoas? Deus, nosso Pai, nos abençoe. 2016 • julho/agosto • Tribuna Espírita 7
Avaliação da Atividade Mediúnica DENISE LINO E SUNEYA FREIRE Campina Grande-PB
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elendo a obra do Projeto Manoel Philomeno de Miranda (P. M. Ph. M.) e a do Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografada pelo médium Divaldo Franco, com a finalidade de produzir um seminário sobre o livro “Reuniões Mediúnicas” do grupo citado, nos deparamos com vários critérios de avaliação da atividade mediúnica que categorizamos em três tópicos, a saber: auto avaliação do participante da reunião mediúnica, a avaliação da reunião mediúnica e a avaliação da atividade de um grupo mediúnico. Dizendo isto, esclarecemos aos leitores que o resultado apresentado neste artigo é, apenas, uma reorganização do que encontramos nas várias obras. E esclarecemos, também, que partilhamos da ideia segundo a qual atividade mediúnica precisa e deve ser avaliada, diferentemente, do que muitos ainda pensam no Movimento Espírita, que consideram esta uma atividade acima de qualquer suspeita. Ou seja, partem da ideia de que a atividade mediúnica assemelha-se a um dreno que faz escorrer uma água represada (a comunicação mediúnica) e, como tal, cumpre sua função e não precisa ser analisada. Defendemos tese oposta a essa. Consideramos que não apenas as comunicações devem ser avaliadas, e, para isso, os parâmetros já estão dados em “O Livro dos Médiuns”, do qual destacamos os capítulos XXIV a XXVIII, mas consideramos que os participantes, a reunião mediúnica em si e a atividade mediúnica de um grupo devem ser avaliados. A cultura da avaliação sistemática e periódica ainda não é um hábito amplamente consolidado, no Movimento Espírita brasileiro. De modo geral, nós, os brasileiros, não gostamos de ser avaliados e confundimos avaliação com crítica destrutiva, atitude infeliz que decorre de nosso orgulho e egoísmo. Prova disso é como a péssima ideia do melindre está enraizada entre nós, a ponto de nos caracterizar. Isto posto, torna-se importante revisar a cultura do melindre e substituí-la pela cultura da avaliação. O P. M. Ph. M esclarece que avaliar a reunião mediúnica significa “verificar se os objetivos estão sendo alcançados e em que grau”(p. 32). Entendemos que essa avaliação deve ser feita, com foco no trabalho e como 8 Tribuna Espírita • julho/agosto • 2016
atividade processual. Porém, para que esse fim seja atingido, é importante que, tanto o participante, quanto a atividade produzida pelo grupo, sejam avaliadas também. Para isso, esses três tipos de avaliação devem ser colocados em funcionamento, de modo sistêmico. Por questão de espaço, cada etapa desta será tema de um artigo nesta coluna. O primeiro tipo de avaliação – a do integrante da reunião mediúnica – diz respeito ao aclaramento, para o próprio membro, dos motivos de sua vinculação com a atividade em pauta. Sugerimos que essa avaliação comece pelo preenchimento de uma ficha simples, com três itens, como os que sugerimos a seguir: Em relação à Casa Espírita, eu sou um colaborador... ( ) VOLUNTÁRIO – Eu, apenas, realizo uma tarefa na Instituição, sem nenhum outro vínculo com a Casa, mas estou na mediúnica. ( ) INTEGRADO MEDIANAMENTE – Eu estou numa tarefa específica, assisto palestra na Casa; não participo de grupo de estudo, mas estou na mediúnica. ( ) INTEGRADO PLENAMENTE - Eu estou numa tarefa específica, assisto palestra na Casa; participo de grupo de estudo e estou na mediúnica.
Talvez o leitor esteja se perguntando: mas, para que isto? Escolhemos esses três critérios, inspirados pela obra de P. M. Ph. M na qual identificamos a tese de que as reuniões mediúnicas devem ser compostas por participantes já devidamente integrados à Casa Espírita, cuja feridas mais superficiais da vida já foram sanadas; as ansiedades já foram, relativamente, tranquilizadas; o conhecimento e os hábitos espíritas já foram, relativamente, introjetados, pela participação em grupos de estudos e em outras atividades espíritas. De acordo com o Projeto, a integração de pessoas sem essas características ao grupo mediúnico pode resultar em “maiores perturbações e dificuldades; daí; advindo o desencanto e a apatia.” (p 22). Atrevemo-nos a enfatizar que tal estado pode dar-se tanto com o participante, precipitadamente engajado, quanto com o grupo que, se estruFotos: Gloogle Imagens
turado, pode se desestruturar; da mesma forma que, se não estruturado, pode desandar para qualquer outra atividade, menos uma mediúnica séria. Considerando que haja algum participante ou mais de um que não atenda(m) ao critério 3, faz-se importante que o coordenador tenha bastante tato, para introduzir esse processo de auto visionamento no grupo, a fim de os participantes entenderem a necessidade de atingir o patamar de plena vinculação à Casa Espírita (CE). Conforme adverte Allan Kardec, em “O Livro dos Médiuns”, capítulo XXIX, item 331: “Uma reunião é um ser coletivo, cujas qualidades e propriedades são a resultante das de seus membros e formam como que um feixe. Ora, esse feixe tanto mais força terá quanto mais homogêneo for.” De nossa parte, perguntamos: ora, como se dará a homogeneidade do grupo se seus integrantes (ou parte deles) são “voluntários” na Casa, se não estão plenamente integrados? Se desconhecem os propósitos maiores da Instituição? Não negamos que possam haver comunicações nessas condições e admitimos que elas aconteçam, com frequência, porém, com qual qualidade e com qual sintonia com o programa espiritual da Casa? Concluída essa etapa, é importante que esse auto visionamento do colaborador prossiga com o aprofundamento da análise. Para isso, com base no que expõe o P. M. Ph. M, no livro citado (p 32 a 35), identificamos vários critérios que, uma vez alinhados, produzem uma ficha de auto avaliação muito eficaz, para o propósito de fazer o integrante de reunião mediúnica perceber o seu nível de vinculação com a tarefa em tela. É o que passamos a apresentar a seguir. Eu.... tenho interesse incessante, em aprender. tenho senso crítico e hábito de avaliação individual e coletiva. tenho motivação permanente, pela tarefa. tenho compromisso individual e coletivo, com o estudo, a oração e prática da caridade e a autoiluminação progressiva. tenho resistido, melhor, às provas da vida. tenho empatia e amizade, com os demais membros do grupo. Sirvo, com despojamento, de toda e qualquer atitude personalista.
Se todos os itens dessa ficha forem assinalados, isto indicará que o participante de mediúnica é aquele colaborador que está acima da média dos demais, apresentando um processo de lucidez, em relação à atividade à qual se vincula e, como membro que faz esta atividade atingir um patamar mais espiritualizado. Não consideramos de bom tom, que o coordenador da mediúnica tenha acesso às respostas dadas. Acreditamos que elas dizem respeito, apenas, a cada integrante, que deve respondê-las, consciencialmente, a partir de um estímulo dado ao grupo, e a essas questões deve voltar, após certo tempo, estipulado por si mesmo ou pelo grupo, para revisar, se avançou nos itens, inicialmente, não assinalados. Vejamos que os três primeiros podem ser apontados, como atendendo à recomendação do “instrui-vos”, presente na exortação de “O Espírito de Verdade”, inserta no Item 5 do Capítulo VI de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Começamos, pelos aspectos intelectuais do processo, dado que, no nosso nível de orgulho, é mais fácil, por vezes, avançar por aí, do que pelos critérios emocionais que enfeixam os demais itens e atendem à recomendação do “amai-vos” da mesma exortação. Focalizando, agora, o segundo conjunto de itens, destacamos o quarto, que aponta para uma transição entre uma e outra área e se encontra muito bem explanado na obra “Consciência e Mediunidade”, também, do P. M. Ph.M. O participante, plenamente integrado à mediúnica, deve primar por manter-se interessado no estudo, ter a oração e prática da caridade, por roteiro de ação, além de buscar, sempre, o melhoramento pessoal contínuo. Afora isso, sem motivação permanente pela tarefa, ele perde o elã. O quinto critério é muito subjetivo, mas induz o participante a uma avaliação mais profunda e sincera, pois, espera-se que, com a maturidade da vida, possamos resistir, melhor, às provas. E, de fato, conseguiremos se, também, estivemos avançando no item anterior. O próximo item é de fundamental importância para o sucesso da atividade em tela. Sobre isso, transcrevemos, aqui, a observação de Allan Kardec, inserida no item 341 do Capítulo XXIX de “O Livro dos Médiuns”, relativamente a essa matéria. Diz o Codificador: “Perfeita comunhão de vistas e de sentimentos; Cordialidade recíproca entre todos os membros; Ausência de todo sentimento contrário à verdadeira caridade cristã; Um único desejo: o de se instruírem e melhorarem, por meio dos ensinos dos Espíritos (...) Recolhimento e silêncio respeitosos(...) Concurso dos médiuns da assembleia, com isenção de todo sentimento de orgulho, de amor-próprio e de supremacia (...).” Essa última parte da observação do Codificador já serve de argumento, para o último item da ficha, que é um requisito para qualquer trabalhador da mediunidade que tenha mais interesse na tarefa e na consolação que ela pode apresentar, do que em si próprio. Isto posto, acreditamos ser de alto significado sensibilizar os companheiros, para darem início a esse tipo de avaliação; pois, conforme adverte M, PH, Miranda, na obra “Transtornos Psiquiátricos e Obsessivos”: “Uma reunião mediúnica é [atividade] de alta responsabilidade para todos os seus membros, que devem compreender-lhe o significado, esforçando-se para corresponder à confiança dos Mentores espirituais programadores do trabalho, interessados na boa execução do compromisso.” (p. 173) 2016 • julho/agosto • Tribuna Espírita 9
A depressão N
a raiz psicológica do transtorno depressivo ou de comportamento afetivo, encontra-se uma insatisfação do ser em relação a si mesmo, que não foi solucionada. Predomina no Self um conflito resultante da frustração de desejos não realizados, nos quais impulsos agressivos se rebelaram ferindo as estruturas do ego que imerge em surda revolta, silenciando os anseios e ignorando a realidade. Os seus anelos e prazeres disso resultantes, porque não atendidos, convertem-se em melancolia que se expressa em forma de desinteresse pela vida e pelos seus valiosos contributos, experienciando gozos masoquistas, a que se permite em fuga espetacular do mundo que considera hostil, por lhe não haver atendido as exigências. Sem dúvida, outros conflitos se apresentam, e que podem derivar-se de disfunções reais ou imaginárias da libido, na comunhão sexual, produzindo medos e surdas revoltas que amarguram o paciente, especial mente quando considera como essencial na existência o prazer do sexo, no qual se motiva para as conquistas que lhe parecem fundamentais. Vivendo em uma sociedade eminentemente erótica, estimulada por um contínuo bombardeio de imagens sonoras e visuais de significado agressivo, trabalhadas especificamente para atender as paixões sensuais até a exaustão, não encontra outro motivo ou significado existencial, exceto quando o hedonismo o toma e o leva aos extremos arriscados e antinaturais do gozo exorbitante. Ao lado desse fator, que deflui dos eventos da vida, o luto ou perda, como bem analisou Sigmund Freud, faz-se responsável por uma alta cifra de ocorrências depressivas, em episódios esparsos ou contínuos, as sim como em surtos que atiram os incautos no fosso do abandono de si mesmo. Esse sentimento de luto ou perda é inevitável, por ferir o Self ante a ocorrência da morte, sempre considerada inusitada ou detestada, ar rebatando a presença física de um ser amado, ou geradora de consciência de culpa, quando sucede imprevista, sem chance de apaziguamento de inimizades que se arrastaram por largo período, ou ainda, por atos que não foram bem elaborados e deixaram arrependimento, agora convertido em conflito punitivo. Ainda se manifesta como efeito de outras perdas, como a do trabalho profissional, que atira o indivíduo ao abismo da incerte-
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za para atender a família, para atender-se, para viver com segurança no meio social; outras vezes, a perda de algum afeto que preferiu seguir adiante, sem dar prosseguimento à vinculação até então mantida, abrindo espaço para a solidão e a instalação de conflito de inferioridade; sob outro aspecto ainda, a perda de um objeto de valor estimativo ou monetário, produzindo prejuízo de uma ou de outra natureza... Qualquer tipo de perda produz impacto aflitivo, per turbador, como é natural. Demora-se algum tempo, que não deve exceder a seis ou oito semanas, o que constitui um fenômeno emocional saudável. No entanto, quando se prolonga, agravando-se com o passar do tempo, torna-se patológico, exigindo terapêutica bem elaborada. Podem-se, no entanto, evitar as consequências enfermiças da perda, mediante atitudes corretas e preventivas. Terapia profilática eficaz, imediata, propiciadora de segurança e de bem-estar, é a ação que torna o indivíduo identificado com os seus sentimentos, que deve exteriorizar com frequência e naturalidade em relação a todos aqueles que constituem o clã ou fazem parte da sua afetividade. Repetem-se as oportunidades desperdiçadas, nas quais se pode dizer aos familiares quanto eles são importantes, quanto são amados, explicitar aos amigos o valor que lhes atribui, aos conhecidos o significado que eles têm em relação à sua vida... Normalmente se adiam esses sentimentos dignificadores e de alta magnitude, que não apenas felicitam aqueles que os exteriorizam, mas também aqueloutros, aos quais são dirigi dos, gerando ambiente de simpatia e de cordialidade. Nunca, pois, se devem postergar essas saudáveis e verdadeiras manifestações da afetividade, a fim de se rem evitados futuros transtornos de comportamento, quando a culpa pretenda instalar-se em forma de arrependimento pelo não dito, pelo não feito, mas, sobretudo pelo mal que foi dito, pela atitude infeliz do momento perturbador... Esse tipo de evento de vida-a agressão externada, o bem não retribuído, a afeição não enunciada - pode ser evitado através dos comportamentos liberativos das emoções superiores. Muitos outros choques externos como acidentes, agressões perversas, traumatismos cranianos contribuem para o surgimento do transtorno da afetividade, por influenciarem os neurônios localizados
no tronco cerebral próximo ao campo onde o cérebro se junta à medula espinal. Nessa área, duas regiões específicas enviam sinais a outras da câmara cerebral: a rafe, encarregada da produção da serotonina, e o locuscoeruleus, que produz a noradrenalina, sofrendo os efeitos calamitosos dessas ocorrências, assim como de outras, desarmonizam a sua atividade na produção dessas valiosas substâncias que se encarregam de manter a afetividade, propiciando a instalação dos transtornos depressivos. Procedem, também, dos eventos de natureza perinatal, quando o Self, em fixação no conjunto celular, experienciou a amargura da mãe que não desejava o filho, do pai violento, dos familiares irresponsáveis, das pelejas domésticas, da insegurança no processo da gestação, produzindo sulcos profundos que se irão manifestar mais tarde como traumas, conflitos, transtornos de comportamento... A inevitável transferência de dramas e tragédias de uma para outra existência carnal, insculpidos que se encontram nos refolhos do Eu profundo - o Espírito viajor de multifários renascimentos carnais - ressumam como conflito avassalador, a princípio em manifestação de melancolia, de abandono de si mesmo, de desconsideração pelos próprios valores, de perda da autoestima... Pode-se viver de alguma forma sem a afeição de outrem, sem alguns relacionamentos mais excitantes, no entanto, quando degenera o intercâmbio entre o Self e o ego o indivíduo perde o direcionamento das suas aspirações e entrega-se às injunções conflitivas, tom bando, não poucas vezes, no transtorno depressivo. Esse ressumar de arquétipos profundos, em forma de imagens arquetípicas punitivas, aguarda os fatores que se apresentam nos eventos de vida para manifestar-se, amargurando o ser, que se sente desprotegido e infeliz. Incursa a sua consciência em
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culpa de qualquer natureza, elabora clima psíquico para a sintonia com outras fora do corpo somático, que se sentem dilapida das, e sendo incapazes de perdoar ou de refazer o próprio caminho, aspiram ao destorço covarde e insano, atirando-se em litígio feroz no campo de batalha men tal, produzindo sórdidos processos de parasitose espiritual, de obsessões perversas. Quando renasce o Self assinalado pelas heranças pregressas, no momento em que se dá a fecundação, por intermédio do mediador plástico ou períspirito, imprimem-se, nas primeiras células, os fatores necessários à evolução do ser, que oportunamente se manifestarão, no caso de culpa e mágoa, de desrespeito por si mesmo, de autocídio e outros desmandos, em forma de depressão. A hereditariedade, portanto, jamais descartada, é resultado do processo de evolução que conduz o infrator ao clima e à paisagem onde é convidado a reparar, a conviver consigo mesmo, a recuperar-se... Pacientes predispostos por hereditariedade à incursão no fosso da depressão carregam graves procedi mentos negativos de experiências remotas ou próximas, que se fixaram no Self, experimentando o impositivo de liberação dos traumas que permanecem desafiado res, aguardando solução que a psicoterapia irá proporcionar. Uma catarse bem orientada eliminará da consciência a culpa e abrirá espaços para a instalação do otimismo, da autoestima, graças aos quais os valores reais do ser emergem, convidando-o à valorização de si mesmo, na conquista de novos desafios que a saúde emocional lhe irá facultar, emulando-o para a individuação, para a conquista do numinoso. Em razão do largo processo da evolução, todos os seres conduzem reminiscências que necessitam ser trabalhadas incessantemente, liberando-se daquelas que se apresentam como melancolia, insegurança e receios infundados, desestabilizando-os. Ao mesmo tempo, estimulando-se a novas conquistas, enfrentando as dificuldades que os promovem quando vencidas, descobrem todo o potencial de valores de que são portado res e que necessita ser despertado para as vivências enriquecedoras. O hábito saudável da boa leitura, da oração, em convivência e sintonia com o Psiquismo Divino, dos atos de beneficência e de amor, do relacionamento fraternal e da conversação edificante constitui psicoterapia profilática que deverá fazer parte da agenda diária de todas as pessoas. Joanna de Ângelis Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco
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Política na Casa Espírita FRANCISCO BATISTA MENEZES JÚNIOR Goiânia-GO
P
or exigência legal, é proibida qualquer atividade política na sede de uma instituição espírita ou em qualquer das suas dependências. Essa medida tem por objetivo evitar que as instituições religiosas venham a se desviar das suas finalidades legais e se imiscuir em ações que são reservadas aos partidos políticos. Como consequência, as pessoas têm considerado que política e Espiritismo são questões antagônicas e que não se faz política nas Casas Espíritas. Primeiramente, é preciso distinguir ação política de política partidária. Ação política é a ação humana no sentido de regular os interesses coletivos nas suas relações em sociedade. Política partidária é a ação política direcionada para as propostas de um determinado partido ou de uma determinada corrente ideológica. A política partidária é proibida nas Casas Espíritas, mas não há como evitar que exista uma ação política nas questões de interesse da própria instituição. Sempre que as pessoas agirem no sentido de reverem suas relações interpessoais e o modo como elas se dão nas atividades cotidianas, as questões de administração, de hierarquia, elas estarão agindo politicamente. O problema é quando as pessoas agem politicamente sem terem consciência de que o estão fazendo. No caso citado acima, em que o dirigente estabeleceu para si mesmo a meta de permanecer por, pelo menos, dez anos no cargo de Presidente da instituição, essa é uma posição política muito bem definida. Quando os Associados Efetivos que compunham a Assembleia Geral daquela instituição optaram por não ir contra essa intenção, pelo menos na sua fase inicial, eles também agiram politicamente, na medida em que concordaram e permitiram. Quando come-
çaram a surgir divergências a esse respeito, também se verificou uma ação política, tanto por parte dos insatisfeitos quanto por parte do Presidente, que tinha que encontrar meios para contornar essa oposição que se formava em relação aos seus propósitos. Por último, quando o grupo discordante se organizou e conseguiu promover a mudança através do voto na Assembleia Geral, isso também foi uma ação política na direção dos interesses da instituição espírita. O ser humano é, por natureza, um ser político. Sua natureza gregária o coloca sempre em relação com outros seres humanos, no desafio de se relacionar de forma harmônica, construtiva e agradável. Convivendo sempre em grupos de diversas naturezas, aprende a superar obstáculos e a solucionar conflitos, negociando alternativas de ação conjunta nas quais exercita o saudável hábito de ceder para ganhar em termos de união e serviço à causa do Bem. Espera-se que seja assim também na Casa Espírita. Emmanuel considera que as dissensões e lutas internas, quando traduzidas na forma de partidarismos e hostilidades na Casa Espírita, são um sinal de “ausência do Evangelho nos corações”. E adverte: “Nesses núcleos de estudo nenhuma realização se fará sem fraternidade e humildade legítimas, sendo imprescindível que todos os companheiros, entre si, vigiem na boa vontade e na sinceridade” a fim de que a excelência do seu patrimônio espiritual não seja inutilizada pela “intriga e pelo fingimento”1 ____________ 1 Vide a lição Agrupamentos Espíritas no livro Educandário de Luz, de autoria de diversos espíritos, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, publicado pela Ed. Ideal. 2016 • julho/agosto • Tribuna Espírita 11
No Trato com o Invisível WALQUIRIA LÚCIA ARAÚJO João Pessoa-PB
“Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo, ninguém morre de fome”. Responderam os Espíritos a Allan Kardec, na Questão nº 930 de “O Livro dos Espíritos” (Paris, 1857).
O
capítulo III do Livro de Marcos nos traz a passagem em que Jesus vê na sinagoga um homem com o braço atrofiado, chama-o à Sua presença e o cura. Só que o fato ocorre no dia de sábado (Lembrai-vos de santificar o dia de Sábado1), dia proibido nas escrituras. A fama de que Jesus curava já era disseminada, e uma grande multidão o cercava, não só a ele mais também aos discípulos. Quando Ele adentrou uma casa, a multidão novamente o cercou, o que impediu inclusive a sua alimentação. Os descontentes com as curas de Jesus afirmaram que ele estava acompanhado pelo demônio, o que gerou a resposta que Ele deu. Encontramos esse mesmo título no livro “Caminho, Verdade e Vida”, capítulo 146. É interessante como o nobre espírito Emmanuel aborda a questão da comunicabilidade com o mundo espiritual, destacando a comunicação com os espíritos que se encontram infelizes e como os lidadores desse trabalho necessitam de paciência para poderem ajudar. Destaca, ainda, que os antagonistas nos classificaram com os mais diversos nomes, como feiticeiros ou filhos de Belzebu, como o próprio Mestre foi classificado, mas que não devemos perder o foco nem a persistência em ajudar. A Doutrina Espírita nos traz o livro “O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo”, que, em seus dezenove capítulos, divididos em duas partes, traz-nos explicação sobre os mitos do Céu, do Inferno e do Purgatório, além das Penas Futuras e do mito dos Anjos e dos Demônios. Ademais, trata sobre várias comunicações obtidas das mais diferentes categorias de espíritos e mostra-nos como nos encontramos no pós-desencarne em virtude das nossas atitudes atuais. Muitos irão nos tratar de loucos por estabelecermos comunicação com os que não se utilizam da roupagem carnal, mas parcela desses mudará de opinião, quan12 Tribuna Espírita • julho/agosto • 2016
do tiver alguém muito amado que desencarne e, uma vez ficando na retaguarda, deseje uma mensagem. A opinião muda de acordo com o momento que a pessoa esteja vivendo. Poucos se mantêm pensando da mesma forma, quando há um realinhamento das situações. Para nós, lidadores daqueles que vivem no invisível corporal, mas no visível moral e de individualidades eternas como nós, precisamos ter a cautela para, no afã de querer trazer notícias para os encarnados, não respeitarmos o momento individual da criatura no pós-desencarne. Cada um de nós tem um tempo muito pessoal para se adaptar à nova realidade, dependendo muito da construção moral que fizemos enquanto encarnados e do acumulado que trazemos de outras encarnações. Sabemos que não existem penas eternas, até porque o processo de evolução da criatura é constante e ela não retroage2, por isso o que necessita a criatura, neste momento, é do tempo necessário para entendimento da conjuntura atual. O que não podemos é desistir de ajudar em virtude da demora no resultado ou pelas agressões dos adversários da luz, como Emmanuel cataloga os que se contrapõem ao trabalho. Aduzimos que esses adversários se encontram nos dois planos e precisamos estar atentos para que não nos desmotivemos com relação ao trabalho em virtude de opiniões contrárias ou depreciativas. Devemos a tais criaturas desencarnadas o mesmo respeito que temos para com aqueles encarnados que se avizinham de nós e buscam a nossa ajuda. Para tanto,
é preciso ter paciência, ser discreto, dar atenção e agir de forma amorosa, sem se importar com a opinião depreciativa dos outros. Os desencarnados são almas dos encarnados que se despojaram do corpo físico e que possuem as mesmas necessidades morais que nós. “O Livro dos Médiuns”, capítulo V – Das Manifestações Físicas Espontâneas, item 90 –, traz-nos a seguinte passagem: “Se se trata de um Espírito infeliz, manda a caridade que lhe dispensemos as atenções que mereça. Se é um engraçado de mau gosto, podemos proceder desembaraçadamente com ele. Se um malvado, devemos rogar a Deus que o torne melhor. Qualquer que seja o caso, a prece nunca deixa de dar bom resultado.” Referido item trata especificamente dos fenômenos de efeito físico e de quais tipos de criaturas podem produzir. Encontramos os mais variados tipos de criaturas que convivem conosco (dos dois planos) e precisamos utilizar do bom senso para avaliarmos a situação e sabermos como agir diante dela. Existem pessoas que, em si, vivem suas dores de forma tão pragmática que as extenuam com relação ao próximo; existem aquelas que utilizam um quê de maldade e até de sarcasmo perante a vida; por fim, existem aquelas que se encontram na base do entendimento sobre o amor e a caridade e produzem mal-estar por onde passam. Especificamente no trato com o invisível, precisamos aprender a detectar quem nos visita o muito íntimo de relação, para podermos assim agir com a resposta adequada - mental, emocional e física -, a fim de que sejamos donos de nós mesmos e tenhamos responsabilidade inalienável sobre todos os atos de nossas vidas. Por fim, “O Livro dos Espíritos” nos traz a questão 833, que trata do assunto Liberdade de Pensar. Os Insignes Mestres da Humanidade afirmam que a liberdade de pensar é ilimitada, trazendo-nos a resposta e a afirmação: “O que fazemos promana de nós”. O que ocorre são mentes que se associam para a execução de nossos atos. Por isso, não atribuamos o que fazemos a influência “do Invisível”, mas afirmemos que estamos agindo de comum acordo com o “invisível” e que esse só potencializa o que desejamos fazer. ___________ 1“Evangelho Segundo o Espiritismo”, capítulo I, item 2. 2 Questão 612 de “O Livro dos Espíritos”. Foto: Gloogle Imagens
Hora de reformas OCTÁVIO CAÚMO SERRANO João Pessoa/PB
Houve mudanças. E agora? Sempre que há transição política, o discurso é o mesmo. Imputam-se erros aos antecessores e anunciam-se medidas duras para corrigir os enganos cometidos. Resolvida essa parte, tudo vai melhorar. Verdadeiro quanto às intenções, mas falso quanto aos resultados. As providências são sempre as mesmas, porque as alegações também não mudam: falta dinheiro. As estatais nunca são eficientes, porque na hora da dificuldade o governo as ampara. Não podem falir nem ser protestadas. Daí, onde há um funcionário na empresa particular, são necessários vários na estatal para fazer o mesmo serviço. E com os privilégios da estabilidade que o particular não tem. Por isso, tantos estudantes de curso superior que só pensam em concurso público, sem qualquer intenção de trabalhar na área em que estudam. Falta dinheiro para tudo, menos para festividades e para inaugurações de obras que promovem os que administram o dinheiro do povo como se deles fosse. Enaltecem-se enquanto, simplesmente, cumprem seu dever. Por isso, repete-se o discurso habitual. É preciso aumentar impostos, dilatar o prazo para as aposentadorias, ressuscitar a CPMF, onerar as grandes riquezas (mesmo as que foram conquistadas com honestidade, ou são heranças de direito), cortar cargos, aumentar a gasolina, etc. etc. Novidade? Nenhuma. Prometem as indispensáveis reformas: tributária, política, da educação (já que o modelo faliu e as universidades chegam a diplomar analfabetos), da saúde e tantas outras, mas nada funcionará sem a reforma que o Espiritismo proclama como básica e inadiável: a reforma íntima, que nada mais é que a reforma moral do ser humano, pois transforma o homem em uma pessoa decente. Enquanto os eleitos não entenderem que ali estão com permissão Superior e que é uma honra ser escolhido para ajudar a dirigir os destinos do povo, nada mudará. Enquanto o político não souber que Deus lhe presta uma homenagem dividindo com ele (o político) a administra-
ção da sociedade para melhorá-la e fazê-la crescer, nada mudará. As mudanças de superfície, de nomes, de partidos, são ilusórias e paliativas. São só barganhas. Se de um lado são necessárias, psicologicamente, para nos dar a ilusão de alternativa, na essência é apenas uma prorrogação para sobrevivência até que se cumpra o tempo da transição do planeta, o que já está ocorrendo e que será mais sentida daqui a cinquenta anos. Os novos governantes dos países já estão sendo escolhidos na espiritualidade e brevemente começarão a nascer entre nós. Os que aí estão nada sabem de relações humanas. Só entendem de dinheiro. E é aí que se perdem. Enquanto os políticos gastarem fortunas para se eleger em troca dos salários atuais, e as empresas financiarem campanhas, nada mudará. Fica clara a intenção de receber com vantagens o dinheiro investido. Não cremos que os empresários o façam por altruísmo ou por amor à Pátria. A maioria dos que compõem o novo governo já foi contemplada com esse tipo de incentivo. A favor de quem irá legislar? Em um país com esse tipo de sistema de governo, não dá para acreditar que o povo seja importante. Ou dá? A mudança não começou agora e nem é algo brasileiro. Se nos socorrermos do capítulo final do livro “A Gênese” – os tempos são chegados, sinais dos tempos, dias finais –, falando da nova geração, escrito em 1868, há quase 150 anos, já naquela época nos era explicado que os tempos estavam iminentes e que o sinal já podia ser percebido. Não entendemos por que o processo é lento e nós somos imediatistas. Agora, em pleno apocalipse, tudo fica evidente. As dores aumentam, porque o tempo de reforma está acelerado. Não queremos tirar a esperança do leitor, mas advertir que não devemos nos iludir que teremos dias muito diferentes dos que tivemos até agora. Não fizemos por merecê-los. Fomos longe demais por muito tempo com a desonestidade e isso não é algo que se conserte de repente. Daqui a alguns anos, estaremos reclamando tudo igual e nos queixando da próxima
crise que brevemente se instalará no Brasil e no mundo. É de crise em crise que somos despertados e que crescemos, individual e coletivamente. Como pessoas e como sociedades. O que está acontecendo já é um sinal de dias melhores, porque a desonestidade que sempre existiu e era posta debaixo do tapete agora vem à tona e “respeitáveis” e intocáveis homens da nossa política estão sendo incriminados e presos. E é um fenômeno internacional. Aqui é a corrupção, mais além, os desentendimentos religiosos e a luta pelas terras, acolá, as invasões de povos que foram escravizados e humilhados no passado, que cobram os resgates a que têm direito. Sem falar dos acidentes climáticos, da fome e da miséria em tantos lugares do mundo. Nós mesmos temos os carmas da escravidão que até hoje nos pesa. Temos de amparar os negros que foram maltratados com cotas nas escolas, nas mídias, nas empresas, etc. Deveríamos dar a eles ensino e condições de vida de qualidade e nenhuma cota seria necessária. Preparemo-nos para reformas mais profundas envolvendo toda a Terra. Especialmente a América do Sul. Somos o supermercado do Planeta. A Europa com superpopulação, terras cansadas e preconceitos de toda ordem tem dias contados. A Comunidade Europeia foi a última tentativa; e não deu certo. No Japão, não cabe mais gente, assim como na Índia, na China e na Rússia. Além de clima inóspito. Nos Estados Unidos, o problema é econômico. Voltados para a tecnologia, estão esgotando suas reservas e ainda têm gastos com temperaturas extremas, com frio intenso ou calor insuportável. Tudo isso parece mera especulação, mas os mais jovens testemunharão os acontecimentos. E nós, os mais velhos, ao reencarnarmos na Terra (se méritos tivermos), quiçá possamos conferir a história, sem nem mesmo imaginar que teríamos vivido este momento especial. Jamais percamos a fé e a paciência. Deus segue no comando do Universo.
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2016 • julho/agosto • Tribuna Espírita 13
O jovem moderno e o filho pródigo ADEILSON SALLES Olinda/PE
A
parábola do filho pródigo1 é uma passagem importante e segue muito atual para avaliarmos o comportamento dos jovens de hoje. A fase juvenil é um período muito complexo na encarnação do espírito na Terra. Ao perceber-se como individualidade, o espírito encarnado em idade juvenil vive um momento de angústias e de grande inquietação. Não são raras as vezes em que a revolta se instala na mente juvenil, gerando situações conflitivas. Falta de compreensão dos pais, dificuldade em estabelecer um relacionamento efetivo, em que o coração se mostre tal como é. Realmente, a fase juvenil é um momento muito delicado, o que reclama a presença dos pais como a grande referência para o jovem. Podemos comentar sobre alguns fatores, que são determinantes na turbulência dessa fase. Quando o jovem toma posse de si mesmo, ele não deixa de iniciar o processo de análises e de comparações das situações que o cercam. Os pais não se dão conta, mas estão sendo analisados pelos filhos, e eles não deixam de atestar quando o discurso dos educadores não se coaduna com as suas ações. É o instante grave em que muitos filhos descobrem que alguns pais dizem uma coisa e fazem outra totalmente diferente. Ocorre também nessa fase o confronto entre o que o mundo oferece e a educação, de fato, recebida. Os conceitos sociais promovem uma grande pressão psicológica sobre a mente juvenil, quando apresenta os modelos sociais que podem garantir felicidade. Outro fator muito importante são as reminiscências de vidas passadas que, sutilmente, afloram no psiquismo juvenil e engrossam o caldo das inquietações da juventude. Poderíamos citar outros fatores, mas fiquemos com esses para essa nossa singela abordagem. 14 Tribuna Espírita • julho/agosto • 2016
Os especialistas do comportamento juvenil concordam que o jovem, quando se descobre como um ser individualizado, busca com urgência a sua identificação com o grupo social que atenda seus anseios. Dessa forma, ele sente necessidade de mapear fora de casa os comportamentos que possam refletir o que se passa na intimidade da sua alma. Quando os pais falam, mas não conversam. Quando os educadores usam do autoritarismo, mas não fazem valer a autoridade do exemplo. Quando os pais estão presentes na vida dos filhos, apenas pelos valores materiais, mas estão ausentes nas questões emocionais, um muro invisível é erguido e o diálogo não se estabelece. O processo educativo proposto pelo Espiritismo pede aos pais que eles tenham olhos de ver, ouvidos de ouvir e coração para sentir o que se passa na alma do jovem. Recebemos da Doutrina Espírita uma lente nova, para contemplar os velhos problemas humanos sob uma nova perspectiva.
Os pais espíritas não podem olhar para os filhos em idade juvenil limitando sua compreensão apenas pela idade orgânica que eles têm. Por sua vez, os filhos que recebem a dádiva do conhecimento espírita podem compreender que os pais também são almas aprendizes em todo esse processo evolutivo. É natural que, uma vez se sentindo incompreendido, o jovem deseje buscar novos ares para aliviar suas angústias, todavia é preciso alertar que o mundo ilude os corações desavisados. Por mais complexo que seja o relacionamento dentro do lar, ainda assim é a nossa grande escola. O mundo está tomado de filhos pródigos que abandonam o lar e, em pouco tempo, vão comer com os porcos a lavagem das lágrimas. O Espiritismo é o grande facilitador dos relacionamentos humanos, o apascentador das inquietações juvenis, mas é preciso conhecer os seus postulados educativos. A reencarnação é o vetor da diversidade comportamental em nossas famílias. Nessa hora grave para a humanidade, sugerimos aos pais que parem de falar e passem a conversar com os filhos. Para os filhos, podemos sugerir uma atitude mais compreensiva com os pais. Aceitando-lhes as limitações de que se fazem portadores, já que a educação proposta pelo Espiritismo nos revela que os relacionamentos familiares são oportunidades mútuas de aprendizado. Lamentavelmente, nos dias de hoje, o número de “filhos pródigos” que se lançam na vida, à revelia da família, não tornam mais ao lar, pois são engolfados pelas drogas e pelos porcos da maldade humana. Pais, conversem com seus filhos! Filhos, tenham paciência com seus pais! ___________ 1 Evangelho de Lucas cap. 15 vers. 11 a 32.
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Espiritismo não é Ecletismo AZAMOR CIRNE João Pessoa-PB
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o dizer que o Espiritismo havia reunido elementos esparsos das diversas religiões e filosofias da Índia, do Egito, da Grécia, etc., Allan Kardec não quis afirmar que o Espiritismo fosse formado dessas partes, constituindo-se numa doutrina eclética, sem metodologia, sem ideias próprias e sem os próprios fundamentos. A novel doutrina, por conter elementos básicos daquelas fontes, tais como Deus, alma, imortalidade, comunicação com os “mortos” (mediunidade), “karma” (destino, ação e reação), reencarnação, etc., estabelecia a comprovação de que não foi ele, nem os Espíritos comunicantes os inventores de tais coisas, quando expôs os seus princípios. Foram eles embasados na lógica dos fatos, que resultaram da ordem indutiva das pesquisas, como doutrina de tríplice aspecto: científico, filosófico e religioso. Apenas com o Evangelho, isto sim, houve o propósito deliberado de assimilação e uma busca intencional de esclarecimento, através da teoria racional que deve considerar a fé como a revelação à luz da razão. No seu aspecto religioso, por conseguinte, nada possui dos cultos primitivos, do totemismo. Não adota imagens, adoração de animais sagrados, elementos da natureza, sacrifícios de vidas animal e humana, amuletos, defumadores, danças, rituais, sacramentos, altares, vestimentas especiais, sacerdócio organizado, profissionalismo religioso, etc. Reconhece, contudo, nessas práticas, os horizontes ultrapassados da evolução para as formas mais concretas e convinFotos: Gloogle Imagens
centes relacionadas com as conquistas do conhecimento, em cada época. O saudoso e brilhante confrade paulista, Edgard Armond, em uma comparação do Espiritismo com as principais religiões, assinala diferenças que, em resumo, são: - Não se fundamenta no culto aos antepassados e nas práticas que os chineses utilizavam para o intercâmbio com eles. - Não descende do Hinduísmo, porque não admite separação de castas, nem privilégios sacerdotais. - Do Vedismo, não tem as cerimonias supersticiosas, a prática de sortilégios e o misticismo grosseiro. - Do Bramanismo, não conserva a rigidez impiedosa, as limitações desesperadoras. - Não engloba a Metempsicose, o retrocesso do espírito às formas da vida animal inferior. - Com o Budismo, oferece muitos pontos de contato, no que diz respeito à fraternidade e ao sentimento de amor ao próximo; todavia, não aceita dele a concepção gnóstica de poder viver o homem sem Deus, evoluindo, apenas, pela renúncia e pelo desapego das coisas do mundo, porque é com as coisas do mundo material que pode realizar as experiências da sua própria evolução. - Reconhece, no Mazdeísmo, a existência de forças que levam ao mal. Não aceita esse mal como tendo existência à parte, como um poder distinto; mas, ao contrário, prega que o mal é a ausência do bem. - No Judaísmo, existem manifestações de espíritos, é uma religião monoteísta e matriz do Cristianismo, contudo, sua organização sacerdotal exclusivista e com
visos de predestinação racista, oferece diferenças profundas com o Espiritismo, que é universalista, despido de fórmulas e práticas exteriores. - O fanatismo Islâmico – Islamismo – não encontra lugar, na Doutrina espírita, que reconhece o livre-arbítrio como um dos atributos mais importantes do ser humano em evolução. Apesar de também monoteísta e imortalista, o Islamismo, pelo exclusivismo religioso que o levou à propagação dos seus dogmas pela força, afasta-se do Espiritismo, que prega a fraternidade e a tolerância (não omissão) entre os homens, sem nenhuma posição adesiva. O Espiritismo, diz Kardec: “É uma doutrina filosófica, de comprovação científica e consequência religiosa ou moral”. E tudo leva a crer que essa doutrina, surgida em 1857 com o “Livro dos Espíritos”, é o Consolador que Jesus prometeu – e que teve de esperar 1824 anos, após sua morte, pelo advento das ciências e do saber – conforme suas próprias palavras: “E eu pedirei a meu Pai, e ele vos enviará um outro Consolador, a fim de que permaneça eternamente convosco: o Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê e não o conhece. Mas quanto a vós, vós o conhecereis porque permanecerá convosco e estará em vós. Mas o Consolador que é o Santo-Espírito, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará relembrar de tudo aquilo que eu vos tenho dito”.1 ______________ 1 João, capítulo XIV, versículos 16,17 e 26.
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A palavra a serviço do bem FÁTIMA ARAÚJO João Pessoa-PB
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econhecidamente poderosa, a palavra pode ser usada para beneficiar ou prejudicar, dependendo das intenções do emissor da mensagem que, através de sua expressão linguística, poderá modificar comportamentos, pensamentos e sentimentos, ou fazer um estrago enorme na imagem de pessoas ou instituições. Paulo de Tarso, O Apóstolo dos Gentios, afirmou que “Nossa garganta é um sepulcro aberto”, referindo-se à possibilidade de envenenarmos as pessoas com palavras. Seriam, mais ou menos, aquelas “emanações entorpecentes”, a que se refere o Espírito Emmanuel, quando afirma que, ao falarmos, podemos “projetar a maldade, implantar o desânimo, o ódio, a revolta, a violência”. Por isso, precisamos sempre questionar a forma como estamos veiculando nossa palavra - para ajudar, dizer a verdade, fazer o outro crescer, melhorar a psicosfera ambiental? Não esquecendo que, mesmo quando estamos diante de observações necessárias, precisamos saber como falar, sem ofender, sem ferir, posto que algumas verdades não ajudam. Estudos neurológicos já comprovaram que determinadas palavras fazem o cérebro tomar como verdade o que foi dito. Então podemos construir ou destruir com a palavra, porque ela tem força, tem muito poder! Dessa forma, geramos expectativas negativas, falta de fé e de esperança, quando só registramos os momentos de dor, com lamentações e reclamações. Esse hábito de sentenciar a vida não é positivo, por se tratar de condições viciantes que colocamos em nossas men16 Tribuna Espírita • julho/agosto • 2016
tes, quando deveríamos mudar o padrão vibratório e procurar agradecer as bênçãos recebidas. NA ORATÓRIA Desde os tempos antigos, a arte de falar sempre constituiu um grande bem, não só para o orador (emissor), ao levar sua mensagem aos semelhantes, como para os receptores, que usufruíam dos ensinamentos. Os filósofos gregos Sócrates e Platão, considerados como precursores do Cristianismo e da Doutrina Espírita, foram modificando, aos poucos, o comportamento instintivo do homem e iluminando a “caverna” em que ele vivia. Com suas ideias, esses pensadores foram tirando das sombras e fornecendo um pouco de verniz àqueles seres primitivos que só pensavam em guerra, em destruição e, de tão bárbaros, esfolavam e matavam o irmão até por um pedaço de carne. (Aqui, façamos de conta que qualquer semelhança com os homens “civilizados” de hoje é mera coincidência!) Sócrates afirmou que “A Palavra é o fio de ouro do pensamento. Aquele a quem a palavra não educar, nem a força o educará”. Já o filósofo Platão, discípulo de Sócrates, que escreveu a antológica obra A República, inspirada nos ensinamentos do seu mestre, afirmou que “O melhor presente que podemos oferecer àqueles que amamos é ensiná-los a crescer como seres humanos, através da palavra e do exemplo”. É o caso do conto “As Mil e Uma Noites”, em que a princesa Sherazade arquitetou o plano de casar-se com o poderoso
e violento rei persa, Shariar, que, após ser traído pela primeira esposa, passou a desposar moças do reino, para matá-las no dia seguinte à noite de núpcias. Exímia narradora, Sherazade passou a contar ao rei, todas as noites, histórias que nunca terminavam. Como ele vivia na expectativa de ouvir o final dessas histórias, em nenhum momento a ameaçou, até que se passaram mil e uma noites. Sherazade, com a palavra, conseguiu o amor do esposo, retirando-o do poço sinistro do ódio e da vingança, sendo ainda aclamada como bondosa rainha. Joanna de Ângelis ensina que todas as vezes que nos dirigirmos aos nossos semelhantes, “devemos sempre falar com educação, calma, transmitindo solidariedade e fraternidade, e que devemos sempre ter uma palavra de esperança em qualquer situação”. Meimei, mentora da Jornada da Mulher Espírita Paraibana, lembra que “ante o irmão irritadiço, cala-te e espera, lembrando que o silêncio é caridade”. No livro Obreiros da Vida Eterna, André Luiz afirma: “A queda de muitas instituições espíritas tem origem no verbo mal utilizado, nas maledicências, nos jogos de interesses por funções dentro do Centro Espírita, entre outras. Por causa da língua mal empregada, todo um trabalho planejado, carinhosamente, pelos Espíritos Nobres, cai por terra”. Por fim, lembremos que a Doutrina Espírita aponta a palavra ofensiva como instrumento contrário à lei do amor e da caridade, ensinando que devemos colocar a fala a serviço do bem, pois, depois da humildade para com Deus, a caridade para com o próximo é a lei primeira de todo cristão. Gloogle Imagens
Os Trabalhadores da Vinha MAURO LUIZ ALDRIGUE João Pessoa-PB
“Porque o Reino dos Céus é semelhante a um homem, pai de família, que saiu de madrugada a assalariar trabalhadores para a sua vinha... muitos são chamados, mas poucos escolhidos.” (Mt. 20:1-16)
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estacam-se, nesta parábola de Jesus, os ensinamentos do valor do trabalho, para o progresso humano; o significado de trabalhador da vinha e o princípio da reencarnação. Pode-se aferir que os trabalhadores, na primeira hora, sejam os profetas, os sábios, os filósofos e todos aqueles precursores que marcaram as etapas do progresso moral da Humanidade. Jesus e seus discípulos, desenvolvendo a compreensão do sentimento do amor no universo, chegam aos espíritas. A Doutrina Espírita se caracteriza como o “Consolador”, prometido por Jesus, trazendo o “Cristianismo Redivivo”, cujos seguidores vão aproveitar os labores da última hora, para fazerem jus à mesma recompensa, se atuarem conforme os ensinamentos do Mestre. São os últimos chegados; aproveitam dos labores intelectuais dos seus predecessores, porque coletivos são os trabalhos humanos. O que quer dizer, também, que muitos, dentre os que revivem, hoje ou reviverão amanhã, estão convidados para terminarem a obra iniciada outrora. Receberão, pois, o salário proporcionado ao valor da obra. O ‘Reino dos Céus’, a que se refere, é o estado de plenitude espiritual, e que será alcançado, somente, se for desenvolvido em nós, por meio de conhecimento e da transformação moral, obtidos nas inúmeras reencarnações e no plano espiritual. Assim, o ‘pai de família’ é Deus; a ‘vinha’, somos nós, a Humanidade; o ‘trabalho’, a aquisição das virtudes que enobrecem nossas almas. Para uns, é preciso menos tempo; para outros, mais, conforme cumpram, bem ou mal, os seus deveres. O ‘pagamento’ é um só; a alegria, o gozo espiritual, decorrentes da própria evolução alcançada. O trabalho, no Bem, requer um dinamismo que se caracteriza pela sua diligência e produtividade; por isso, ‘sair de madrugada’, sem perda de tempo. Assim como o progresso humano o Senhor tem enviado missionários à Terra, desde os Foto: Gloogle Imagens
tempos mais remotos; desde a madrugada do progresso do princípio inteligente, quando o Espírito era simples e ignorante. A ‘vinha’ é a própria Humanidade, o grande campo de aprendizagem, desde o trabalho para a subsistência até o trabalho espiritual, firmando nos testemunhos, sacrifícios e doações incessantes que assinalam a via de progresso dos povos e de cada indivíduo. “O Pai designa o local dos serviços humanos e se refere ao volume de obrigações que os aprendizes recebem do Mestre divino”.(2) Nessa parábola, Jesus nos elucida sobre o tipo de compromisso que cada um pode oferecer à ‘vinha’, identificado na equação: produção versus benefício. O Pai disponibiliza o serviço ao trabalhador, o local onde este deva atuar e, também, a forma e valor da remuneração. É a oportunidade de progredir, no campo em que foi destinado, selecionado em função da experiência que possui. Desta forma, pode-se compreender que há um plano diretor, sábio e inteligente, que define o processo evolutivo da Humanidade. Nada é feito, de improviso ou de forma eventual. Implica estudo, planejamento e estratégias, seriamente estipulados, a fim de que o sucesso esteja assegurado. As ‘diferentes horas de contratação’ dos trabalhadores equivalem às diferentes convocações de Deus a seus filhos, para o cultivo de virtudes. Uns começam, mais cedo, a cuidar dos seus Espíritos para o Bem; outros, mais tarde. E, no entanto, para os bons trabalhado-
res o salário é o mesmo; não importa a hora em que iniciaram o trabalho de se regenerarem. As oportunidades de melhoria espiritual são, diuturnamente, oferecidas pelo Criador Supremo, através de Jesus, porque o progresso é Lei Divina. “O materialismo, a materialidade, a ganância do ouro arranjaram, na época em que nos achamos mais escravos do que a vinha arranjou mais obreiros. Por isso, grande é a seara e poucos são os trabalhadores.”(3) O ‘acerto do pagamento’ refere-se à aferição de resultados. É o momento, em que se verifica se ocorreu o efetivo progresso ou melhoria espiritual do trabalhador. Essa aferição é de grande valor, para os planejamentos e investimentos de novas reencarnações. Ao cair da noite ou o término de um dia, representa o fim de uma existência física ou de um ciclo evolutivo. Assim, na ‘Vinha do Senhor’, não se faz questão da quantidade de horas do trabalho, mas sim, da qualidade e da permanência do obreiro até o fim. A cada hora de labor, pode-se entender, como uma encarnação ou um período de aprendizado. Porque existem obreiros que despendem muitas horas, para realizar uma tarefa; o que, por outros, é executada, em breve espaço de tempo. A reencarnação é a manifestação da justiça divina. É significativa oportunidade, para o Espírito reparar o passado de erros, reajustando-se perante a Lei de Deus e, ao mesmo tempo, ensejo de progresso, pelo desenvolvimento dos valores morais e intelectuais. Esta parábola deve calar fundo aos espíritas, em razão do conhecimento que possuem a respeito da realidade espiritual e da necessidade da prática da caridade, base da transformação moral. Dessa forma, o censo dos servidores fiéis é pelo seu devotamento; o daqueles que não recuaram diante das tarefas. Assim, ser-lhe-ão confiados os postos mais difíceis, na grande obra da regeneração, através do Espiritismo. O Espírito de Verdade recomenda-nos que ditosos serão os que houverem trabalhado no campo do Senhor, com desinteresse e sem outro móvel, senão, a Caridade! Referências: (1) FEB. “Estudo aprofundado da Doutrina Espírita”. Brasília, 2013. Livro III, parte 2. (2) XAVIER, F. C. “Pão Nosso”. Pelo Espírito Emmanuel. 29. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. 29, p. 73. (3) SCHUTEL, C. “Parábolas e Ensinos de Jesus”. 20. ed. Matão: O Clarim, 2004. p. 54.
2016 • julho/agosto • Tribuna Espírita 17
Uma reflexão sobre a música e seu papel na inspiração profética e religiosa IARA DA SILVA MACHADO* João Pessoa-PB
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som acompanha a história da humanidade desde tempos imemoriais. Os antigos associavam os sons da natureza à expressão do próprio Criador. Assim, os Trovões, a Chuva, o Relâmpago, o Raio, a Onda, a Cachoeira, o Fogo e outras expressões naturais adquiriram um sentido religioso e sagrado nas culturas ditas primitivas do ponto de vista da intelectualidade contemporânea, embora, no nível espiritual, em maior conexão com as forças vivas da natureza, respeitando a criação de Deus em um sentido mais místico e integral do que o cognitivo atual de um povo que não despertou ainda para a educação da sustentabilidade ecológica e para a irmandade que deve guiar todos os reinos contidos no planeta Terra. Quando o pensamento, grande atributo do ser humano, alinha-se com a arte pura, campo que está em perfeita ressonância com a espiritualidade, vibra com a limpeza etérea da psicosfera da Terra, que, paradoxalmente, o próprio homem contamina. Vários contextos chamados de arte na atualidade são expressões de adoecimento ético-moral da mente, travestido de cultura dos novos tempos.
18 Tribuna Espírita • julho/agosto • 2016
Sobre o valor da música no campo da espiritualidade e da religiosidade, trazemos neste momento o respeitável Léon Denis, que vem ao auxílio daqueles que têm ouvidos de ouvir, declamar a seguinte orientação espiritual: A música, nós o sabemos, desempenha um grande papel na inspiração profética e religiosa. Ela coloca ritmo na emissão fluídica e facilita a ação dos Espíritos elevados. É por isso que ela tem seu lugar nas reuniões espíritas, nas sessões em que é bom precedê-las por um hino apropriado às circunstâncias. Muitas vezes, os guias dos grupos exortam os assistentes a entoar um cântico para facilitar as manifestações. Porém, até agora, é preciso confessá-lo, os espíritas se encontram muitos carentes desse tipo de música e são obrigados a recorrer a cânticos vulgares, a banalidades indignas do objetivo pretendido. É com uma dolorosa impressão que temos constatado, mais de uma vez, a penúria dos recursos musicais em uso nos grupos espíritas. (2014, p. 87). O eminente Léon Denis em sua percepção aguçada traz, nessa alusão, desde 1922, o cuidado que as instituições espíritas podem vir a ter com a limpeza vibracional do ambiente onde as sessões de orientação espiritual acontecem, cuidando de aspectos que a Ciência Moderna, através do estudo da organização das moléculas e da resposta às ondas emitidas pelo pensamento e pela voz humana, agregando e desagregando campos bioeletromagnéticos, vem manifestando há poucas décadas, através da Física Quântica e da Saúde Quântica, acerca da interferência dessas vibrações nos campos morfogenéticos. Nos dias atuais, é preciso e possível harmonizar os ambientes espíritas com músicas de teor vibracional elevados, que atraem a frequência de espíritos que estão em alinhamento com o trabalho planetário do Cristo Jesus no orbe terreno. Diz o amigo espiritual Doutor Romano: “A música é o hormônio do crescimento espiritual”.
A Medicina Integrativa acolhe essa percepção trazida pela perspectiva da Medicina Vibracional de que um ambiente é saturado da energia mental e emocional nele refletida. Logo, uma pessoa que adentre uma casa espírita em estado de desequilíbrio psicoespiritual e emocional e recebe o alimento da boa música no ambiente, já é convidada, pelo choque de impacto energético, a movimentar, mesmo que inconsciente, o campo interno do pensar e do sentir. Favorece-se desse campo harmônico, mesmo antes de ouvir as exposições públicas ou de receber o tratamento específico para cada caso, que as instituições estabelecem enquanto critério. A arte e a espiritualidade são possibilidades de autocura, pelo reconhecimento das vibrações superiores, de sons, de palavras musicalizadas, de poesias, de textos, de pinturas, de teatro e de danças, enquanto vias de intercâmbio entre o mundo espiritual elevado e aqueles que estão estagiando na matéria, para depurar a sensibilidade e ascender para níveis conscienciais superiores. Lembrando ainda que a arte não substitui o esforço pessoal de cada ser em modificar as disposições internas infelizes da mente e do corpo. Não será apenas pelo ouvir boas músicas, poesias, danças e apresentações teatrais que o espírito se depura, mas, em querendo dar ouvidos a todos os recursos que vêm na magia da luz, dos seres crísticos, na força da paz e do amor pelos seres viventes da Terra, poderá haver uma espécie de liberação de miasmas e de energias deletérias, aptas a abrir novos caminhos para a reeducação da mente e para a reprogramação de comportamentos infelizes para atitudes superiores. Hermínio C. Miranda traz uma alusão ao poder da música no livro “Diálogo com as Sombras”, quando da assistência a um espírito desencarnado, preso à intelectualidade, que é sensibilizado pelo som de um órgão, que ele acessa através do médium psicofônico, reconhecendo-o organicista em outra experiência reencarnatória, na Alemanha. Fotos: Gloogle Imagens
Durante aquele atendimento espiritual, diz o nobre Hermínio C. Miranda, quando o espírito comunicante não resiste mais ao som da música: A música domina todo o seu ser. Fala sobre acordes que lhe causam verdadeiros choques. A crise aprofunda-se e ele ouve agora, irresistivelmente, a música sublime de um organista incomparável. Tenta desesperadamente fugir dela, tapa os ouvidos, bate com os cotovelos na mesa, cantarola uma canção, e diz a si mesmo: - Reaja, frouxo! Mas a torrente daquela música divina, que ele tem o privilégio de ouvir, arrasta-o irresistivelmente. Segundo me informam do mundo espiritual, ele costumava ouvir os recitais sempre do mesmo lugar, na terceira fila, à direita. Digo-lhe isso, enquanto ele parece também reconhecer, daquele tempo, o seu médium atual. Por fim, graças a Deus, a emoção daquela música inesquecível domina-o inapelavelmente. (1999, pp. 143-144). Naquele momento, o trabalho espiritual só pôde acontecer com êxito, junto àquele espírito intelectual, pelo veículo poderoso e sagrado da boa música. Que esse caminho da harmonia pela música se torne, cada vez mais uma porta aberta para auxiliar o despertar espiritual de tantos que estejam no poder de receber esse alimento dos Céus, na força das falanges da Luz, do governador desse belo planeta, chamado Terra, o Cristo, de Deus. Fontes: MIRANDA, Hermínio C. Diálogo com as Sombras. FEB, 1999. DENIS, Leon. O Espiritismo na Arte. CELD, 2014.
As armas do amor ZANELES LIMA DE BRITO Campina Grande-PB
Quando éramos crianças, gostaríamos que retirassem de nosso caminho, as pedras e os espinhos... Quando éramos pequeninos, as enfermidades que nos surpreendiam, eram, sempre, as piores e as maiores. Enquanto nosso Espírito permaneceu na infância, o estudo e a disciplina eram duas grandes maldades inventadas pelos adultos. Enquanto vivíamos em nossa imaturidade, considerávamos o dever e o trabalho enfadonhas invenções de religiosos e educadores. Com a chegada da maturidade, passamos a compreender a importância da construção de uma personalidade sadia e sábia. Daí, aprendemos que, para conquistarmos a saúde do corpo, precisamos, antes, investir na higiene da alma. Alcançamos a compreensão da importância das adversidades, como buriladoras do nosso Espírito imortal. Entendemos, também, que a maioria das aparentes tragédias que vivenciamos se trata de inauditas provas, construídas por nós e colocadas pelo destino em nosso caminho, para que as superemos. Se tivemos força, para produzi-las, as teremos, para diluí-las. Não nos consideramos mais bebês indefesos; porém, filhos da Grande Luz, capazes de lutar, trabalhar e vencer, usando, sem parcimônia, as armas do amor. (Mensagem recebida, intuitivamente, por Zaneles, em 26.11.13, na Associação Espírita Leopoldo Machado, em Campina Grande-PB). Foto: Gloogle Imagens
*Psicóloga Transpessoal, Expositora Espírita, Escritora.
ELMANOEL G. BENTO LIMA
Painel Espírita
João Pessoa - PB
O Problema da Sexualidade Nunca escarneça do sexo. Ele é manancial de criação divina, que não pode se responsabilizar pelos abusos daqueles que o deslustram. Psicologicamente, cada pessoa conserva, em matéria de sexo, problemática diferente. Em qualquer área do sexo, reflita antes de se comprometer, uma vez que a palavra empenhada gera vínculos no Espírito. Não tente padronizar as necessidades afetivas dos outros por suas necessidades afetivas, porquanto, embora o amor seja luz uniforme e sublime em todos, o entendimento e posição do amor se graduam, de mil modos, na senda evolutiva. Use a consciência. Sempre que se decidir ao emprego de suas faculdades genésicas, imunize-se contra os males da culpa. Em toda comunicação afetiva, recorde a regra áurea: “não faça a outrem o que não deseja que outrem lhe faça.”
O trabalho digno que lhe assegure a própria subsistência é sólida garantia contra a prostituição. Não queira a sua felicidade ao preço do infortúnio alheio, porque todo desequilíbrio da afeição desvairada será corrigido, à custa da afeição torturada, através da reencarnação. Se alguém errou na experiência sexual, consulte o próprio íntimo e verifique se você não teria incorrido no mesmo erro, se tivesse oportunidade. Não julgue os supostos desajustes ou as falhas reconhecidas do sexo e, sim, respeite as manifestações sexuais do próximo, tanto quanto você pede respeito para aquelas que lhe caracterizam a existência. Considere que a comunhão sexual é, sempre, assunto intimo entre duas pessoas; vendo duas pessoas unidas, você, nunca, pode afirmar com certeza o que fazem; e, se a denúncia quanto à vida sexual de alguém
é formulada por parceiro ou parceira desse alguém, é possível que o denunciante seja mais culpado, quanto aos erros havidos, uma vez que, para saber tanto acerca da pessoa apontada ao escárnio público, terá compartilhado das mesmas experiências. Em todos os desafios e problemas do sexo, cultive a misericórdia para com os outros, recordando que, nos domínios do apoio pela compreensão, se, hoje, é o seu dia de dar, é possível que, amanhã, seja o seu dia de receber. (1) Enfim, o sexo, queira-se ou não, nas suas importantes funções, em relação à vida, procede do Espírito, cujo comportamento, numa existência, insculpe, na vindoura, as condições emocionais e estruturais necessárias à evolução moral. (2) [Fontes: (1) transcrição adaptada do cap. 45 do livro “Sinal Verde”, do Espírito André Luiz, pela psicografia de Francisco C. Xavier, Petit Editora; (2) Trecho excerto do cap. 20, do livro “Estudos Espíritas”, do Espírito Joanna de Ângelis, pela psicografia de Divaldo P. Franco, FEB.]
2016 • julho/agosto • Tribuna Espírita 19
A Dor e o Sofrimento ALÍRIO DE CERQUEIRA FILHO Cuiabá-MT
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uitas pessoas, em nosso Movimento Espírita, confundem a dor com o sofrimento, e, em decorrência disso, fazem muitas vezes uma apologia deste, como se ele fosse necessário para a evolução do ser humano. Vejamos que há uma diferença fundamental, entre esses dois conceitos. A querida mentora Joanna de Ângelis, em sua obra, faz vários apontamentos sobre a dor e o sofrimento, dentre os quais destacamos estes que estaremos comentando a seguir: Ninguém colhe em seara alheia, que não haja semeado, no que diz respeito aos valores morais. Cada um é herdeiro de si mesmo. Espírito imortal que é, evolui de etapa em etapa, como aluno em educandário de amor, repetindo a lição quando erra e sendo promovido quando acerta. Assim, numa existência dá prosseguimento ao que deixou interrompido na outra, corrige o que fez errado ou inicia uma experiência nova. O que, porém, não realiza por amor, a dor o convocará a executar.1 (...) (Jesus) jamais se reportou à busca do sofrimento, como recurso de salvação. Esse acontece, por efeito da conduta humana, inevitavelmente; não, por escolha de cada um.2 A dor é um mecanismo natural que é deflagrado como uma preservação, para manutenção da vida e do tropismo do amor. Ela surge, quando alguma coisa saiu do seu equilíbrio. A dor física surge, quando algum órgão está alterado. Por exemplo, uma pessoa que quebra um pé, sentirá uma dor muito forte que a faz preservá-lo. Caso não existisse a dor, continuaria a andar com o pé quebrado, até esfacelá-lo. Da mesma forma, a dor moral de caráter emocional surge, quando nos desequilibramos, vivenciando questões puramente egóicas. Ela nos convida ao equilíbrio, nos conduzindo de retorno ao amor de que nos afastamos. Caso não existisse, continuaríamos mergulhados na ignorância e não evoluiríamos. 20 Tribuna Espírita • julho/agosto • 2016
A dor existe, devido à condição evolutiva em que o ser humano se encontra, na qual as coisas são percebidas basicamente pelo contraste, pelo contraditório, o sim e o não, o quente e o frio, a noite e o dia, a dor e o prazer. A dor é muito positiva, pois funciona, como aquela mestra severa, justa que faz com que o aluno aprenda o conteúdo, de uma forma precisa e eficiente, nem sempre agradável. Vejamos o que “O Evangelho Segundo o Espiritismo” aborda sobre a questão da dor: Deus criou todos os homens iguais para a dor. Pequenos ou grandes, ignorantes
Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas ou instruídos, sofrem todos pelas mesmas causas, a fim de que cada um julgue em sã consciência o mal que pode fazer. Com relação ao bem, infinitamente vário nas suas expressões, não é o mesmo o critério. A igualdade em face da dor é uma sublime providência de Deus, que quer que todos os seus filhos, instruídos pela experiência comum, não pratiquem o mal, alegando ignorância de seus efeitos.3 Como vemos, a dor é igual para todos. Normalmente, temos três formas de lidar com a dor, duas posturas egóicas extremistas, de polaridades passiva ou reativa, que produzem sofrimento e uma essencial, equilibrada, proativa, que nos liberta do sofrimento. O sofrimento é um mecanismo patológico a que a pessoa se impõe. Ela se apega
à dor e fica envolvida com ela, porque não quer pagar o preço para superar a situação. Na polaridade passiva, a pessoa se acomoda à dor, gerando uma falsa resignação. A pessoa se acostuma ao sofrimento. Então, ela se desculpa, justifica a própria dor, dizendo que está sofrendo. É um estado de acomodação na própria dor, gerador de autopiedade. Enquanto ela está envolvida em sua trajetória de sofrimento, não faz nada para mudar. Na polaridade reativa, ela se rebela contra a dor, apegando-se, mais ainda, ao sofrimento; pois, com a revolta, o sofrimento, ao invés de se resolver, se amplia. Comumente, transitamos entre esses dois movimentos, ora em um, ora em outro. Portanto, o sofrimento é resultado de uma conduta rebelde do ser humano, realizada de forma consciente ou inconsciente. Podemos passar pela dor, sem sofrer, ou, pelo menos, minimizar o sofrimento, se desenvolvermos em nós aquilo que Jesus diz, em Mateus 11:28 a 30: Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve. O “vinde a mim” de Jesus significa ir até o amor que ele representa. O amor é algo suave, leve, que nos alivia do sofrimento, do cansaço e da opressão causados, por nós mesmos, pela prática do desamor, da rebeldia e do orgulho. Percebamos que Jesus coloca essa libertação em uma tríade: o amor, a mansuetude e a humildade. Essas virtudes estarão nos libertando do sofrimento, tornando a nossa vida suave e leve. Para exemplificar a nossa postura diante da dor, estudemos a história de duas pessoas diferentes que passam por um acidente automobilístico e se tornam paraplégicas, cumprindo uma programação de vida, estabelecida por abusos cometidos em uma vida anterior. Foto: Gloogle Imagens
A pessoa “A” sofre o acidente e, após o mesmo, entra numa revolta surda contra a vida, pelo fato acontecido. Blasfema contra Deus e o mundo, pelo fato de ter ficado aleijada, num processo de profundo orgulho e rebeldia. Sente raiva da vida, gastando muita energia que poderia lhe ser útil, para superar o processo. Outras vezes, entra em depressão, ficando, horas a fio, mergulhada numa tristeza profunda, lamentando-se pelo fato ocorrido. Nesses momentos, pensa em se matar, para por fim ao seu sofrimento. Passa a viver dessa maneira, em alguns momentos, acomodada no próprio sofrimento, sentindo autopiedade e, em outras, se revolta, por estar nessa situação limitada, para, novamente, cair em depressão. Por estar aposentada por invalidez, acredita-se inútil e que a sua vida acabou, após o acidente. A pessoa “B” sofre o acidente e, após o período de convalescença, busca refletir sobre o fato ocorrido e, de que maneira ela pode superar as limitações causadas pela paraplegia. Ela reflete sobre os ensinamentos que a vida está lhe convidando a realizar e decide ter uma postura autoamorosa, humilde e mansa frente ao fato consuma-
do. Assume uma postura de resignação e prossegue, oferecendo o melhor de sua vida, tornando-se uma pessoa, até mais útil, do que era, anteriormente. Percebamos que as duas pessoas estão passando pela mesma dor da paraplegia. Para a pessoa “A”, devido ao desamor, rebeldia e orgulho, essa dor se torna um sofrimento acerbo causado pela sua própria postura de revolta e acomodação. Já, para a pessoa “B”, por causa de sua postura autoamorosa, humilde e mansa, a dor se torna um instrumento de superação de limites, de evolução, levando-a a minimizar o sofrimento. Esse é o jugo suave e o fardo leve ensinado por Jesus. Com certeza, a sua vida não será fácil, após esse acidente; mas, com a sua postura amorosa, humilde e mansa, será muito mais suave do que para a pessoa “A”. Percebamos que, para ambas, a dor é semelhante, mas o sofrimento completamente diferente, para as duas pessoas. Concluindo, o objetivo da dor é convidar a pessoa a se reorganizar. Como Lázaro diz, em “O Evangelho Segundo o Espiritis-
mo”: “A igualdade em face da dor é uma sublime providência de Deus, que quer que todos os seus filhos, instruídos pela experiência comum, não pratiquem o mal, alegando ignorância de seus efeitos”. Quando praticamos o mal, entramos na esfera do desamor. A dor surge, como instrumento da vida, para que, ao sofrê-la em nós mesmos, aprendamos a valorizar o bem, o bom e o belo. Por isso, quando aceitamos a presença da dor, como uma corretora de nossas ações, como o exemplo da pessoa “B”, e, as corrigimos, buscando transmutar as suas causas, nos dirigimos, novamente, ao caminho do amor e, com isso, nos libertamos do sofrimento. No entanto, quem se comporta como a pessoa “A”, mesmo passando pela mesma dor, não está se reeducando para a vida, fato que a fará ter que repetir a lição, até que se reeduque. ______________ 1 Vida Feliz – Joanna de Ângelis – lição LXX 2 Autodescobrimento – Joanna de Ângelis – p. 151 3 O Evangelho segundo o Espiritismo – Allan Kardec – Capítulo XVII item 7
Kardec e Nós RAYMUNDO RODRIGUES ESPELHO Campinas-SP
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francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, que reencarnou em Lyon no dia 3 de outubro de 1803 e desencarnou em 31 de março de 1869, aos 64 anos de idade, interessou-se pelas comunicações das mesas girantes, muito comuns na sociedade francesa. Passou a pesquisá-las, profundamente com muito interesse, e viu que se tratava de comunicações de Espíritos, ou seja, comunicações com o mundo invisível. Tomou o cognome de Allan Kardec, nome que tivera em encarnação anterior junto aos druidas, para realizar seus estudos e análises científicas. Pedagogo da equipe de Pestalozzi, seu antigo mestre, obtivera sucesso, não só como intermediador dos Espíritos, mas pela grande contribuição que dera, baseada em seu senso crítico e bagagem espiritual, que possibilitaram pessoas, pelos quatro cantos do mundo, tomarem contato com a realidade do espírito. Os livros originados desse importante estudo, que tratam de ciência, filosofia e religião, são o alicerce da Terceira Revelação da Lei de Deus, com os fundamentos espirituais. Foto: Gloogle Imagens
“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, contendo as máximas morais do Cristo e sua concordância com o Espiritismo, foi lançado em 18 de abril de 1864, tratando-se da terceira obra da Codificação, pois já circulavam “O Livro dos Espíritos”, que é a obra básica, e “O Livro dos Médiuns”, sobre os fenômenos mediúnicos, formando-se, assim, a tríade que tanto interesse desperta a quem os lê sem preconceitos religiosos. Após estes, foram editados “O Céu e o Inferno”, “A Gênese” e “Obras Póstumas”.
Grandes intelectuais, filósofos, sociólogos e cientistas deram sua importante contribuição, para o fortalecimento das ideias espíritas na sociedade ainda tão materialista, como: Victor Hugo, Gabriel Delanne, Gustavo Geley, Camile Flammarion, William Crookes, César Lombroso, Artur Canon Doyle, Willian James, Alfred Russel Wallace e tantos outros. “O Evangelho Segundo o Espiritismo” nos remete à avaliação da importância da obra. Emmanuel, por intermédio de Chico Xavier, avalia que “Evangelho é luz e renovação nos campos do espírito”. O livro da esperança, totalmente de acordo com os ensinamentos de Jesus, que, esclarecendo os ensinos morais de seu Evangelho, item a item, é um roteiro a ser praticado, por todos nós, na construção de um futuro de paz e luz. Para quem, ainda, não conhece a realidade do Espírito, as obras da Codificação descortinam uma maneira diferente de se entender a vida. Para aqueles que já conhecem, os livros reforçam, sempre, o convite para se estudar e praticar o Bem, cada vez mais. 2016 • julho/agosto • Tribuna Espírita 21
Os Evangelhos Segundo o Espiritismo e não o contrário ROBSON SANTOS Caruaru-PE
Os Evangelhos O termo ‘evangelho’, etimologicamente, deriva da palavra grega ευαγγέλιον (euangelion), significando ‘boa mensagem’, ‘boa novidade’, ‘boa nova’ (eu = bom, boa; euangelion = mensagem). A terminologia é atribuída aos textos que tratam do nascimento, vida e obra de Jesus de Nazaré, figura central do Cristianismo. Os textos são constituídos de relatos da vida de Jesus, discursos dele, muitos em forma de parábolas, tendo como centralidade uma ética de amor. As representações de Jesus nesses textos apontam-no como o Messias esperado pelos judeus, mas não reconhecido por eles. Os autores reconhecidos, considerados clássicos e legítimos dos Evangelhos são Mateus, Lucas, Marcos e João. Os evangelhos escritos por estes são denominados canônicos. Esta expressão (cânon) deve-se ao significado de que uma lista consagrada, normatizada é então admitida como sendo legítima da autoria dos quatro evangelistas. Léon Denis, no capítulo segundo de sua obra “Cristianismo e Espiritismo” (2005), tratando da autenticidade dos Evangelhos, comenta sobre a questão canônica, ao referenciar o conjunto das traduções do Antigo e Novo Testamento para o latim, iniciadas por Jerônimo, da Igreja Católica, em 384 d.C. Essa tradução tornou-se canônica, sofrendo, ainda, algumas alterações, mas conferindo aos quatro evangelistas a autoria dos Evangelhos. O próprio Léon Denis, nesta mesma obra no capítulo primeiro, discutindo sobre as origens dos Evangelhos, data, aproximadamente, entre os anos 60 e 80 d.C., as primeiras narrações escritas de Marcos. Somente no final do século I d.C., é surgiram, entre os anos 80 e 98, os Evangelhos de Mateus e de Lucas; finalmente, de 98 a 110 d.C., surgem os textos evangélicos de João. Essas informações foram corroboradas por Amélia Rodrigues, através da psicografia de Divaldo Pereira Franco, no livro “Há Flores no Caminho” (1982), quando defende a autenticidade histórica dos Evangelhos e situa os três autores Mateus, Marcos e Lucas como sendo responsáveis 22 Tribuna Espírita • julho/agosto • 2016
pelos Evangelhos sinóticos, considerando o paralelismo entre eles nas narrativas. O Evangelho de João é considerado ‘espiritual’, segundo a autora referenciada, apresentando aspectos poéticos e de alta espiritualidade sobre Jesus. Os Evangelhos, pois, constituem a base fundamental das religiões cristãs, complementadas pelos demais textos do Novo Testamento e que, juntamente com o Antigo Testamento, constituem a Bíblia. A interpretação dos Evangelhos, que as religiões cristãs fizeram ao longo dos séculos, distanciou-se, cada vez mais, de sua pureza primitiva dos primeiros séculos, obscurecendo sua luminosidade espiritual e ocultando sua beleza ímpar, através de dogmas inquestionáveis e absurdos. Os Evangelhos segundo o Espiritismo: a proposta kardequiana Allan Kardec, em seu trabalho missionário como sistematizador do Espiritismo, dedicou-se, juntamente com os Espíritos Superiores, a analisar e restaurar os aspectos essenciais dos Evangelhos, dezoito séculos depois. A obra “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, publicada em
Paris no ano de 1864, interpreta algumas passagens dos Evangelhos, oferecendo um roteiro didático de releitura daquelas fontes históricas e espirituais, resgatando sua essencialidade: repositório de sabedoria milenar sobre imortalidade da alma, comunicabilidade dos Espíritos, pluralidade das existências corpóreas e dos mundos habitados, ética comportamental de fraternidade e justiça. Aliás, o próprio Jesus já tinha anunciado, profeticamente, o Espiritismo, tratando-o como o Consolador Prometido, o Espírito de Verdade, conforme exarado nas páginas do evangelista João, no capítulo 14, versículos 15 a 17 e 26: “Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre. O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós. Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito”. A obra é constituída de 28 capítulos com a seguinte estruturação: citações dos Evangelhos a partir das quais é dado um título sob o qual se divide o capítulo em duas partes, sendo a primeira parte com comentários de Allan Kardec interpretando os excertos dos Evangelhos sob a perspectiva espírita e subtópicos correlacionados sobre questões pertinentes à atualidade e ao comportamento éticomoral (melancolia, fé, suicídio, violência, guerras, riqueza, miséria, casamento e divórcio, família, etc.) bem como à vida universal (reencarnação, mediunidade, lei de ação e ação, mundos habitados, etc.). A segunda parte de cada capítulo é uma coletânea de cartas psicográficas selecionadas por Allan Kardec e relacionadas aos textos selecionados dos Evangelhos e que dão título aos capítulos. Nessa estruturação, Allan Kardec inaugura um modo simples e fácil de leitura dos Evangelhos, restaurando-lhe os aspectos primordiais, a partir do conhecimento que o Espiritismo proporciona. Fotos: Gloogle Imagens
Ainda, faz parte da magna obra uma Introdução, em que Allan Kardec historiciza os Evangelhos, contextualizando-os, a partir das descrições em sínteses magistrais, sobre alguns dos termos da cultura judaica predominante à época da escritura dos textos evangélicos. Allan Kardec descreve o significado dos escribas, essênios, fariseus, nazarenos, portageiros, publicanos, saduceus, samaritanos, terapeutas e da sinagoga. Esclarece a autoridade do Espiritismo, para realizar a restauração primitiva da mensagem contida nos Evangelhos, através do conhecimento imortalista e reencarnacionista da existência, da consciência da mediunidade e da pluralidade dos mundos habitados, bem como da Suprema Inteligência do Universo, causa primária de todas as coisas e de todos os seres. Por fim, Allan Kardec tece uma proposta de caráter universal aos Evangelhos, na medida em que o correlaciona ao discurso dos filósofos gregos Sócrates e Platão, como lhe sendo antecessor, pois os aspectos de imortalidade do ser, de reencarnação, de mediunidade, de mundos habitados, encontradas nos textos evangélicos, já estavam, também, nos textos dos filósofos gregos. A tese, portanto, de Allan Kardec é de que, amparados pela perspectiva do conhecimento que o Espiritismo proporciona da vida e do universo é possível interpretar, não apenas, os Evangelhos, mas os discursos dos filósofos gregos ou quaisquer outras fontes religiosas e filosóficas do passado, para, então, identificar ali as informações sobre a vida imortal do ser e sobre o universo criado por Deus. Evidentemente que, para isso, faz-se necessário considerar os contextos históricos da época em que foram escritos, os aspectos simbólicos de alguns termos, para, então, identificar as noções ou referências à imortalidade da alma, à “reencarnabilidade” e comunicabilidade dos Espíritos, aos mundos habitados, à “Lei de Ação e Reação”, à Providência e Justiça Divina. O Espiritismo, segundo os Evangelhos: uma inversão de finalidades Assim, compreende-se que o Espiritismo explica e esclarece os Evangelhos, não o contrário. Allan Kardec, muito claramente, intitulou a obra O Evangelho segundo o Espiritismo e não O Espiritismo segundo o Evangelho. Não são as passagens evangélicas que dão testemunho da
mediunidade, da reencarnação, dos mundos habitados que vão explicar e esclarecer sobre os processos psíquicos do intercâmbio mediúnico, sobre o fenômeno biológico da palingênese, sobre as migrações interplanetárias, sobre o períspirito (modelo organizador biológico; metassistema energético), sobre o modus vivendi da dimensão extracorpórea, sobre as leis cósmicas de ação-reação espiritual. Não, não são os Evangelhos que esclarecem tais questões e as esmiúçam e as detalham e as questionam e refletem sobre elas. Quem o faz é o Espiritismo! É forçoso e imprescindível reconhecer e retomar essa premissa da finalidade do Espiritismo, para que não incorramos no risco de entrarmos nos labirintos que os irmãos católicos, principalmente, e protestantes fizeram sobre os Evangelhos: tornaram-se experts nas interpretações históricas e dogmáticas. Criaram uma doxologia, tal, que foi preciso voltar ao passado e, ali, ‘ficar’, tornar-se especialista vernacular, na língua primitiva em que foram escritos os Evangelhos, distanciando-se de sua essência, tão clara e límpida, a partir do conhecimento espírita. Reconhecemos a importância do resgate interpretativo dos Evangelhos, para um entendimento mais lógico e mais próximo daquilo que os evangelistas puderam registrar sobre Jesus, seus atos e seu discurso; no entanto, é preciso identificar, também, limites de tal movimento, para que não nos tornemos, como espíritas, piores que os eclesiásticos da Idade Medieval, presos nos mosteiros em análises intermináveis e discussões estéreis sobre o que disse, no aramaico, o evangelista X, e o que falou, em grego, o evangelista Y. Se a tendência avança, sem um critério de comedimento e análise crítica, logo, exigiremos, nas palestras das Casas Espíritas, um estudo das línguas primitivas dos evangelistas, uma diplomação em interpretação bíblica, nessa ou naquela cátedra. A exigência, a princípio, não ocorrera de modo direto, mas, à medida que uns e outros se especializam em tais conhecimentos, cria-se uma espécie de credenciamento para os futuros palestrantes e escritores que forem se arvorar no estudo, na leitura e na interpretação dos Evangelhos. Logo, escutaremos desse ou daquele especialista a seguinte pergunta: “Você sabe grego, para discutir comigo e interpretar os Evangelhos?”... “Você conhece o aramaico, para poder falar dos Evangelhos??”
Os Evangelhos, como uma fonte de sabedoria milenar de modo simples e claro, trazem informações sobre a vida espiritual do ser e apontam um roteiro comportamental correspondente às leis divinas de progresso. O Espiritismo identifica tais informações nos Evangelhos, interpreta-o, de modo claro e simples, como o fez Allan Kardec. O enriquecimento vernacular, histórico, simbólico do contexto, em que foram escritos os Evangelhos, são de grande contribuição para uma compreensão mais ampla e menos dogmática, mais simples e menos técnica das informações que ali se encontram. Não há problema algum, em nós espíritas nos tornarmos grandes conhecedores dos Evangelhos, mesmo porque assumimos que fazemos parte do movimento do Consolador Prometido. O problema, porém, ocorre, quando a questão de nos tornarmos especialistas no assunto, se torne uma questão principal, de maior importância, porque, então, estaremos tomando o que caminho que, dantes, palmilhamos em nossas reencarnações pretéritas, como sacerdotes e rabinos empedernidos no orgulho do mero conhecimento exegético. Ocorre nos tempos contemporâneos, por parte de alguns uma lógica de inversão no meio espírita: a de que são os Evangelhos que explicam o Espiritismo. E não é. O Espiritismo é que explica e esclarece os Evangelhos. Allan Kardec o fez, através de um método simples, utilizando o conhecimento espírita, como uma lógica racional para interpretar cenas, parábolas e discursos de Jesus ou dos evangelistas, ali identificando o fenômeno da reencarnação, da mediunidade, dos mundos habitados, do períspirito, da lei palingenésica de ação-reação etc. razão porque deu nome à obra O Evangelho Segundo o Espiritismo, não o contrário. Referências: DENIS, Léon. “Cristianismo e Espiritismo”. Brasília: FEB, 2005. KARDEC, Allan. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Rio de Janeiro: FEB, 2002. RODRIGUES, Amélia. “Há Flores no Caminho”. Pelo Espírito Amélia Rodrigues. Salvador: LEAL, 1982.
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Ciência e Doutrina Espírita A vida começa na concepção GUILHERME SARINHO* João Pessoa-PB
“Um pouco de ciência nos afasta de Deus. Muito, nos aproxima” (Louis Pasteur (1822-1895) cientista francês)
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quiparando ao termo infanticídio (assassínio de um recém-nascido), costumo usar os termos “embriocídio” e “fetocídio”, para designar os atos praticados por pessoas que realizam ou induzem ao assassinato de seres humanos, cuja vida se encontra, ainda, no ambiente intrauterino, nas fases embrionária e fetal. O desrespeito pela vida humana e a maldade das pessoas que defendem a prática criminosa do aborto é proporcional ao grau do seu desenvolvimento moral e espiritual. Quanto mais baixa a espiritualidade dessas criaturas na escala universal de valores éticos e morais, maior a facilidade para que sejam cometidos crimes hediondos e desvios de conduta moral, para realizar ou induzir à prática do assassinato intrauterino de criaturas humanas frágeis e indefesas, resguardadas no que deveria ser um santuário – o ventre materno. A covardia é proporcional ao crime. Não se acovardam ou, talvez, seja o contrário: acovardam-se, mais ainda, ao praticar o crime do abortamento, só porque não estão vendo o embrião e o feto, cara-a-cara, como ao recém-nascido. Não vejo diferenças entre as realizações de um “embriocídio” ou “fetocídio”. Tudo é infanticídio. Para mim, a perversão e a tipificação do crime são do mesmo valor: atroz, cruel e covarde; e, como tal, deveriam sofrer os rigores de uma punição exemplar. “Embriocidas” e “fetocidas”, no seu linguajar delinquente, pejorativo e chulo, referem-se à vida intrauterina que está sendo desenvolvida, como um “amontoado de células”, “hospedeiro indesejado” e “parasita da mãe”. O discurso dessa “militância feminista” e abortista, visa camuflar o crime do abortamento, tentando desumanizar a vida que foi gerada e está em desenvolvimento no útero materno. Desconhece que os órgãos do nosso corpo: fígado, coração, pulmões, cérebro, etc., todos eles, são amontoados de células especializadas, que realizam funções específicas, dentro de uma ordem lógica da Natureza, para 24 Tribuna Espírita • julho/agosto • 2016
que possa existir o corpo, em sua totalidade. Não sabe que esses “amontoados de células”, tiveram origem na concepção de uma célula totipotente, o ovo ou zigoto, resultado da união e da combinação genética das células germinativas, feminina (óvulo) e masculina (espermatozoide), capaz de se transformar nas células especializadas de todos órgãos, aparelhos e sistemas do organismo humano, seguindo padrões de leis naturais. A Ciência, através da Biologia, Medicina e Embriologia Humana, não aceita, nos dias atuais, que se usem falsos argumentos, considerando que já se estabeleceram critérios científicos rigorosos, para definir quando tem início a vida dos mamíferos, em geral; e, de modo especial, a do ser humano. Cientistas das mais variadas áreas da reprodução humana, por todo o mundo, confirmam que a vida do ser humano (e de todos os mamíferos) tem início no ato da fecundação, como veremos em algumas citações: “O ciclo da vida dos mamíferos inicia-se quando o espermatozoide entra no óvulo”, (Okada, Y e colaboradores, in ‘A role for Elongator Complex in Zygotic Paternal Genome Demethylation’, revista Nature, 2010). A própria definição atesta o fato de que ‘a vida é iniciada na fertilização’. De acordo com o National Institute of Health, “fertilização é o proces-
so de união de dois gametas (espermatozoide e óvulo), no qual, o número somático de cromossomos é restaurado e o desenvolvimento de um novo indivíduo é iniciado”, (Steven Ertelt, in “Undisputed Scientific Fact: Human Life Begins at Conceptions, or Fertilization”, LifeNews.com, novembro de 2013); “É a penetração do óvulo pelo espermatozoide e a mistura resultante do material nuclear que resulta na união que constitui o início da vida de um novo indivíduo”, (Clark Eduard and Corliss Pattens, no livro “Human Embryology”, editora McGraw-Hill Inc. – USA); “Naquela fração de segundo, quando os cromossomos se juntam em pares, o sexo da nova criança será determinado, as características hereditárias recebidas de cada um dos genitores serão estabelecidas e uma nova vida terá começado”, (Kaluger, G., and Kaluger, M., in “Human Development: The Span of Life”, editora C.V. Mosby Co., Saint Louis, USA, 1974); “Cada vida humana se inicia com uma combinação de duas células, o óvulo feminino e o espermatozoide masculino, que é bem menor. Esta pequena unidade, não maior do que um ponto nesta página, contém toda a informação necessária para que possa crescer e se tornar a estrutura complexa do corpo humano. A mãe tem apenas que fornecer nutrição e proteção.”, (Clark, J. ed., The Nervous System: Circuits of Communication in the Human Body, editora Torstar Books Inc., Toronto, Canadá, 1985); “O termo ‘concepção’ refere-se à união dos elementos pró-nucleares masculino e feminino da procriação, a partir dos quais, um novo ser vivente se desenvolve. É sinônimo com os termos ‘fecundação’, ‘gravidez’ e ‘fertilização’. Assim, o zigoto formado representa o início de uma nova vida”, (J.P. Greenhill and E.A. Freideman, in “Biological Principles and Moder Practice of Obstetrics”, editora W. B. Saunders Publishers, Philadelphia, USA,1974). Poderíamos referir-nos a dezenas de outros médicos e pesquisadores, na área médica; mas, encerramos essas citações com esta, que é bem interessante, quanto ao nascimento: “Embora seja costumeiro dividir o desenvolvimento humano em períodos pré-natal e natal, é importante perceber que o nascimento é, meramente, um evento dramático durante o desenvolvimento e que resulta em uma troca de ambiente”, (“The Foto: Gloogle Imagens
Developing Human”: Clinically Oriented Embriology; Fifth Edition, Moore and Persaud, Saunders Company, 1993). Enquanto as pessoas que não defendem a vida humana intrauterina, dizem que a vida só começa com o nascimento, eu costumo afirmar que o nascimento é, somente, um ritual de iniciação neste mundo físico, como tão bem declarou, acima, o cientista citado, só que, de outra maneira; uma vez que, a vida humana tem o seu início com a fecundação, com a formação do ovo ou zigoto, que já recebeu todo o conteúdo genético dos pais; e, desse modo, é uma nova individualidade, um novo ser humano, ainda em desenvolvimento físico, que continuará, mesmo depois do nascimento, a exemplo do sistema nervoso central que se completa aos doze anos de idade. Em que momento a alma se une ao corpo? A Doutrina Espírita, muito antes da Ciência, há mais de cento e cinquenta anos, através da compilação realizada pelo insigne Codificador Allan Kardec das perguntas feitas aos Espíritos Superiores, em “O Livro dos Espíritos” - Parte Segunda, Cap. VII - já tinha a resposta correta: “A união começa na concepção, mas só se completa por ocasião do nascimento. Desde o momento da concepção, o Espírito designado para habitar certo corpo a este se liga por um laço fluídico, que cada vez mais vai se apertando, até ao instante em que a criança vê a luz. O grito que, o recém-nascido solta, anuncia que ela se conta no número dos vivos e dos servos de Deus”. Necessário se faz, diante da ciência atual e dos avanços científicos da moderna Embriologia Humana, com a real constatação científica do início da vida, que os governantes, através de leis específicas, amparem a essência iniciada dentro do útero materno, oficializando ser o abortamento, em qualquer período do crescimento intrauterino da criança, como crime que deve ser rigorosamente punido; excetuando-se, no entanto, a circunstância tipificada no Art.128, Inciso I do Código Penal (Decreto-Lei nº 2848, de 07.12.1940). Ressalte-se que a situação ali citada já havia sido explicitada na Questão nº 359 do primeiro livro da Codificação Kardequiana (L.E.-1857), como se lê: Pergunta: Dado o caso que o nascimento da criança pusesse em perigo a vida da mãe dela, haverá crime em sacrificar-se a primeira, para salvara a segunda? Resposta: Preferível é se sacrifique o ser que ainda não existe a sacrificar-se o que já existe. Não mais podemos mais aceitar termos feministas que visam encobrir o crime do “embriocídio” e do “feticídio”, tais como “a mulher é dona do seu corpo”, o que não deixa de ser verdade; mas, nunca, “dona do corpo em formação” que carrega no seu interior. Ela é, somente, guardiã, por livre vontade e escolha, principalmente nos dias atuais, quando existe uma gama de procedimentos e cautelas, para se evitar uma gravidez irresponsável. A Dra. Marlene Rossi Nobre, fundadora e Presidente da Associação Médico-Espírita do Brasil, Foto: Gloogle Imagens
já dizia: “O embrião pertence, exclusivamente, a ele mesmo, porque a vida lhe foi outorgada, é um patrimônio intrínseco, inerente a sua condição de organismo humano vivo, pois ninguém tem o direito de lhe tirar a vida”. Não podemos, jamais, aceitar que se tente corrigir uma irresponsabilidade, através de outra maior; ou seja, com o cometimento de um assassinato intrauterino. Destarte, a eliminação de um embrião ou feto viável e sem nenhum risco de morte para a mãe, constitui um crime hediondo; é o trucidamento de um ser humano completamente indefeso. Não restam dúvidas de que é um crime contra as soberanas leis do Grande Arquiteto do Universo, como bem esclarecem os Espíritos Superiores, em “O Livro dos Espíritos”, na Questão nº 358: Pergunta: “Constitui crime a provocação do aborto, em qualquer período da gestação? Resposta: “Há crime sempre que transgredis a lei de Deus. Uma mãe, ou quem quer que seja, cometerá crime sempre que tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, por que isso impede uma alma de passar pelas provas a que serviria de ins-
trumento o corpo que se estava formando”. Os Espíritos Iluminados da Doutrina Espírita e da Ciência já afirmavam que a realização do aborto é um delito; é um crime perante as leis divinas e as leis dos homens. Grandes Mestres da Medicina Brasileira, como os professores notáveis da Obstetrícia, Domingos Delascio, Álvaro Guimarães Filho, Francisco Cerruti e Ciro Ciari Jr., que, em conjunto, declararam: “Abortamento induzido, significa a eliminação de uma pessoa biologicamente viva”. Encerramos este nosso modesto trabalho, com a declaração do nosso querido Chico Xavier em entrevista realizada na Comunhão Espírita Cristã, para a equipe de reportagem do Colégio Estadual local, em 17 de setembro de 1971, em Uberaba-MG: “A criança-embrião é um ser vivo, e um ser vivo indefeso. O aborto é um delito difícil de ser classificado, porque a vítima está absolutamente incapaz de operar na própria defesa”. * O autor é médico, Mestre Maçom, articulista espírita, e membro do Centro Espírita “Leopoldo Cirne”
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2016 • julho/agosto • Tribuna Espírita 25
A Nova Literatura Mediúnica JOSÉ PASSINI Juiz de Fora-MG
“E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.” Paulo (I Co, 14: 29)
A
s palavras de Paulo – inegavelmente a maior autoridade em assuntos mediúnicos dos tempos apostólicos – deveriam servir de alerta àqueles que têm a responsabilidade da publicação de obras de origem mediúnica. A literatura mediúnica tem aumentado de maneira assustadora. Diariamente, aparecem novos médiuns, novos livros, alguns bem redigidos, se observados quanto ao aspecto gramatical, mas de conteúdo duvidoso, se analisadas as revelações fantasiosas que iludem muitos novatos, ainda sem conhecimento doutrinário que lhes possibilite um exame criterioso daquilo que leem. Muitos desses livros se originam de Espíritos ardilosos que, de maneira sutil, se lançam no meio espírita como arautos de novas revelações capazes de encantar leitores menos preparados, aqueles sem um lastro de conhecimento doutrinário que lhes possibilite um exame lúcido, capaz de levá-los a conclusões esclarecedoras. Muitas pessoas que conheceram recentemente a Doutrina, antes de estudarem Kardec, Léon Denis, Gabriel Delanne e outros autores conceituados; antes de lerem as obras de médiuns como Francisco Cândido Xavier, Yvonne A. Pereira, Divaldo Franco, José Raul Teixeira, estão se deparando com obras fantasiosas, escritas em linguagem vulgar, contendo o que pretendem seus autores – encarnados e desencarnados – sejam novas revelações. Bezerra de Menezes, Emmanuel, An26 Tribuna Espírita • julho/agosto • 2016
dré Luiz, Meimei, Manoel Philomeno de Miranda, Joanna de Ângelis e tantos outros Espíritos se tornaram conhecidos e respeitados pelo conteúdo sério, objetivo, seguro, esclarecedor de suas obras, sempre redigidas em linguagem nobre. Esses Espíritos conquistaram, pouco a pouco, o respeito, a credibilidade e a admiração do público espírita pelo conteúdo de seus escritos, na forma de mensagens ou de livros, publicados espaçadamente, como que dando tempo a um estudo sereno e criterioso do seu conteúdo. Nos dias que correm, infelizmente, o quadro se modificou. Muitos médiuns, valendo-se de nomes já conhecidos pelo valor de suas obras, tentam impor-se aos leitores espíritas, não pelo valor das mensagens em si, mas escorados em nomes respeitáveis. Sabendo-se que nomes pouco importam aos Espíritos esclarecidos, é de se perguntar por que os benfeitores que se notabilizaram através de Francisco Cândido Xavier haveriam de continuar usando seus nomes em mensagens transmitidas através de outros médiuns? Se o importante é servir à causa do Bem, por que essa continuidade na identificação, tão pessoal, tão terrena? Não seria mais consentâneo com a impessoalidade do trabalho dos Servidores do Bem deixar que o valor intrínseco da mensagem se revele, sem estar escorado em um nome conhecido? Por que não deixar que a mensagem se imponha pelo valor de seu conteúdo? Por que escudar-se em nomes respeitáveis, quando o texto não resiste a uma comparação, até mesmo superficial, de conteúdo e, às vezes, até mesmo de forma? Por que essa ânsia insofreável de publicar tudo o que se recebe – ou que se imagina ter recebido – dos Espíritos?
Onde o critério, a sobriedade tantas vezes recomendada na obra de Kardec? Será que o público espírita já leu, estudou, analisou, entendeu toda a produção mediúnica produzida até agora? Ao dizer isso não se está afirmando que a fase de produção mediúnica está encerrada. Sabe-se que a Doutrina é dinâmica, que a revelação é progressiva. Progressiva, e não regressiva, pois há obras que estão muito abaixo daquilo que se publicou até hoje, para não dizer que há aquelas que nunca deveriam estar sendo publicadas. Infelizmente, os periódicos espíritas, de modo geral, não publicam análises dessas obras que estão sendo comercializadas, ostentando indevidamente o nome da Doutrina. Impera, no meio espírita, um sentimento de falsa caridade, um pieguismo mesmo, que impede se analise uma obra diante do público. Essas atitudes é que encorajam médiuns ávidos de notoriedade à publicação dessa verdadeira avalancha de obras, que vão desde aquelas discutíveis a outras verdadeiramente reprováveis. Nesse particular, é justo se chame a atenção dos dirigentes de núcleos espíritas, sejam centros, sejam livrarias, a fim de que avaliem a responsabilidade que lhes cabe quanto ao que é dado a público em nome do Espiritismo. O dirigente – ou o grupo responsável pela direção de uma casa espírita – responderá perante o Alto, sem a menor dúvida, pela fidelidade aos princípios doutrinários de tudo o que se divulga em nome do Espiritismo, seja na exposição oral, num livro ou simplesmente num folheto. O mesmo se diga relativamente àqueles responsáveis pelas associações intituladas “clube do livro”. Foto: Gloogle Imagens
Religiosos sem religiosidade GERMANO ROMERO João Pessoa-PB
C
omo é bom ouvir falar de coisas boas, de amor, de solidariedade e de tudo o que nos ensinou o maior Mestre de todos os tempos. A União Espírita Chico Xavier é uma casinha branca, pequenina, no meio do verde, à margem da rodovia da Praia de Tabatinga, litoral Sul da Paraíba. É lá que, vez por outra, nas tardes de sábado, dou um pulinho para ouvir essas coisas. Tudo de graça, tudo voluntário, tudo espontâneo, tudo em torno de Jesus, sem dízimos nem cobranças. Aliás, é bom lembrar do que ele próprio profetizou: “Quando duas ou mais pessoas se reunirem em meu nome, eu estarei presente”. E é óbvio
que estará, pois, pela energia do pensamento, já comprovada cientificamente, através do magnetismo, haverá, sim, uma sintonia de vibrações que canalizará a presença da luz que emana do que é verdadeiramente cristão. É sempre valioso perceber como Jesus deu lições de ecumenismo em todo o seu tesouro evangélico. E de como ele desprezava as religiões, enfatizando a religiosidade, o sentimento que nos liga às bênçãos da Criação Divina. Esse foi um dos aspectos ilustrados na palestra do último sábado, no centrinho Chico Xavier, descrito na Parábola do Bom Samaritano, em que Jesus critica a atitude egoísta e indiferente dos
sacerdotes e do levita que passaram, ao largo, diante do homem violentado pelos assaltantes, na Estrada de Jericó. Um exemplo da hipocrisia dos religiosos sem religiosidade. Que ouvem, mas não praticam, que se julgam “superiores” porque pertencem a uma igreja na qual não evoluem em nada como cristãos. Pelo contrário, ao seguir determinada crença, passam a criticar o comportamento alheio, discriminar os semelhantes, endurecendo os sentimentos de perdão e tolerância. Ou seja, longe de serem cristãos na essência, configuram-se exatamente nos tais “sepulcros caiados”, a quem Jesus se referiu com admirável ironia.
Foto: Gloogle Imagens
LUIS HU RIVAS
Centro Espírita Leopoldo Cirne
anos
s
5 7
1941 / 2016
Setembro:
ciclo de palestras comemorativas 03/09 - Liszt Rangel (PE)
01/09 - André Marinho (RJ)
10/09 - Pedro Camilo (BA)
08/09 - Adeilson Salles (SP) 15/09 - Carlos Roberto (PB)
17/09 - Frederico Menezes (PE) 24/09 - Suely C. Dias (PB)
22/09 - Severino Celestino (PB)
29/09 - Denise Lino (PB)
Participação Artistíca: 1/9 - Renato Magalhães, 3/9 - Grupo Evolução , 8/9 - Merlânio Maia, 10/9 - Claude Ramalho, 15/9 - Grupo Consolarte, 17/9 - Sibélius Donato, 22/9 - Grupo Acorde Acústico., 24/9 - Harmonia e Luz, 29/9 - Escolhas de Luz
AV. PRESIDENTE EPITÁCIO PESSOA, 4055, MIRAMAR - JOÃO PESSOA AV. PRESIDENTE EPITÁCIO PESSOA, 4055, MIRAMAR - JOÃO PESSOA Fone: (83) 3022-3211 / (83) 3022-3205 / (83) 99941-5424 / (83) 99986-9075 Fone: (83) 3022-3211 / (83) 3022-3205 (83) 99941-5424 / (83) PESSOA 99986-9075 AV. PRESIDENTE EPITÁCIO PESSOA,/ 4055, MIRAMAR - JOÃO uyrapoan.branco@agentetamviagens.com.br / MIRAMAR adma.branco@agentetamviagens.com.br AV. PRESIDENTE EPITÁCIO PESSOA,/ 4055, - JOÃO uyrapoan.branco@agentetamviagens.com.br / adma.branco@agentetamviagens.com.br Fone: (83) 3022-3211 / (83) 3022-3205 (83) 99941-5424 / (83) PESSOA 99986-9075 Fone: (83) 3022-3211 / (83) 3022-3205 / (83) 99941-5424 / (83) 99986-9075 uyrapoan.branco@agentetamviagens.com.br / adma.branco@agentetamviagens.com.br uyrapoan.branco@agentetamviagens.com.br / adma.branco@agentetamviagens.com.br
11x12cm