TRIBUNA ESPÍRITA 191

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Espírita Tribuna

Ano XXXV - Nº 191 maio/junho - 2016 Preço: R$ 6,00

Sibélius

Um Músico Nato e a Genialidade à Luz da Razão Reencarnacionista


Sumário

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O herdeiro do Pai A lição da transcendência Sibélius - Um Músico Nato e a Genialidade à Luz da Razão Reencarnacionista Espiritismo e Psicologia Transpessoal

O herdeiro do Pai*

Amor não garante felicidade! Análise, apreciação, crítica

“A quem constitui herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo.” Paulo. (Hebreus, 1:2.)

Entrevista com a Professora Sandra Santiago Vende tudo o que tens... Crise ou oportunidade? Evolução dos Sentimentos

C

O Filho Pródigo Meu Estranho Amor, o único que conheço Nossas escolhas A Justiça Social e o Centro Espírita Painel Espírita Mistérios Ocultos aos Sábios e aos Prudentes As Instituições Espíritas e o Estado Duas asas, uma só direção A Necessidade do Perdão Responsabilidade Espiritual O Que é o Espiritismo A reunião espírita O Deserto pessoal de Jó

Espírita Tribuna

Ano XXXV - Nº 191 maio/junho - 2016 Preço: R$ 6,00

Sibélius

Um Músico Nato e a Genialidade à Luz da Razão Reencarnacionista

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ede aos poderes humanos respeitáveis o que lhes cabe por direito lógico da vida, mas não te esqueças de dar ao Senhor o que lhe pertence. Esta forma conciliadora do Evangelho permanece, ainda, palpitante de interesse para o bem-estar do mundo. Não convém concentrar em organizações mutáveis do plano carnal todas as nossas esperanças e aspirações. O homem interior renova-se diariamente. Por isso, a ciência que lhe atende as reclamações, nos minutos que passam, não é a mesma que o servia, nas horas que se foram, e a do futuro será muito diversa daquela que o auxilia no presente. A política do pretérito deu lugar à política das lutas modernas. Ao triunfo sanguinolento dos mais fortes ao tempo da selvageria sem peias, seguiu-se a autocracia militarista. A força cedeu à autoridade, a autoridade ao direito. No setor das atividades religiosas, o esforço evolutivo não tem sido menor. Em vista de semelhantes realidades, por que te apaixonas, com tanta veemência, por criaturas falíveis e programas transitórios? Os homens de hoje, por mais veneráveis, são herdeiros dos homens de ontem, empenhados na luta gigantesca pela redenção de si mesmos. Poderão prometer maravilhosos reinados de abastança e paz, liberdade e harmonia, entretanto, não fugirão ao serviço de corrigenda dos

erros que herdaram, não só daqueles que os antecederam, no campo dos compromissos coletivos, mas igualmente de suas próprias experiências passadas, em tenebrosos desvios do sentimento. A civilização de agora é sucessora das civilizações que faliram. As nações que se restauram aproveitam as nações que se desfizeram. As organizações que surgem na atualidade guardam a herança das que desapareceram na voragem da discórdia e da tirania. Examinando a fisionomia indisfarçável da verdade, como hipertrofiar o sentimento, definindo-te, em absoluto, por instituições terrestres que carecem, acima de tudo, de teu próprio auxílio espiritual? Como pode a casa sem teto abrigar-te da intempérie? A planta do arranha-céu, inteligentemente traçada no pergaminho, ainda não é a construção mantenedora da legítima segurança. Não existem, pois, razões que justifiquem os tormentos dos aprendizes do Cristo, angustiados pelas inquietudes políticas da hora que passa. Semelhante estado d’alma é simples produto de inadvertência perigosa, porque todos devemos saber que os homens falíveis não podem erguer obras infalíveis e que compete a nós outros, partidários do Mestre, a posição de trabalhadores sinceros, chamados a servir e cooperar na obra paciente e longa, mas definitiva e eterna, daquele a quem o Pai “constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo”. Emmanuel * Do livro “Fonte Viva”, ditado pelo Espírito Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier, FEB, 1ª edição especial, 2005, capítulo 148.


Expediente Fundada em 01 de janeiro de 1981 Fundador: Azamor Henriques Cirne de Azevedo

TRIBUNA ESPÍRITA Revista de divulgação do Espiritismo, de propriedade do Centro Espírita Leopoldo Cirne Ano XXXV - Nº 191 - maio/junho - 2016 Diretor Administrativo e Financeiro: Severino de Souza Pereira (ssp.21@hotmail.com) Editor: Hélio Nóbrega Zenaide Jornalista Responsável: Lívia Cirne de Azevedo Pereira DRT-PB 2693

Foto: Gloogle Imagens

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A lição da transcendência CARLOS ROMERO João Pessoa-PB

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esus, quando não estava ensinando e curando, gostava de visitar os amigos. Visitar e ensinar. E uma dessas visitas era ao seu querido amigo Lázaro. Bem-aventurado aquele que o recebia em casa. Aconteceu que Jesus, numa certa manhã, resolveu matar as saudades do amigo Lázaro e de suas irmãs. E eu fico pensando: como você se comportaria com o Mestre em sua casa? Sem dúvida, com muita emoção. Pois bem, Jesus passou a manhã na casa do seu grande amigo, cujas irmãs, Maria e Marta, estavam presentes. Maria foi a primeira a abrir a porta e saudar o ilustre visitante. E ficou permanentemente ao seu lado, morrendo de alegria. Não era possível: Jesus em sua casa? Já a irmã, Marta, correu para a cozinha. E haja a arrumar a casa, esquecida da presença do iluminado visitante. Espanador aqui, vassoura acolá, pois Jesus talvez notasse algum desleixo na sua casa, pensava ela. E Maria, o que foi que fez? Desde que o Mestre chegou, que não saiu mais de perto dele. Jesus aproveitou o momento e começou a falar da vida eterna. Sempre aproveitava a oportunidade para ensinar, alertar, divulgar sua consoladora doutrina. E Marta na cozinha, arrumando, limpando, passando pano no chão, indiferente aos ensinos de Jesus. Maria não cabia em si de contente. Estar com Jesus frente a frente, ouvir-lhe a voz mansa, a palavra que liberta. Ela junto do Mestre, e Marta às voltas com as caçarolas, preocupada com o al-

moço. Marta suada de trabalhar e Maria encantada com a palavra do Mestre. Aí, deu-se o que não se esperava. Marta saiu da cozinha e ainda limpando as mãos no avental, dirigiu-se ao Mestre e fez uma reclamação, dizendo que Maria, em vez de estar lhe ajudando, ficava ouvindo o que Jesus ensinava. Pediu para que ele mandasse a irmã lhe ajudar na cozinha. O Mestre sorriu e disse: “Marta, Marta! Tu te preocupas com muita coisa, no entanto, uma só é necessária, e esta Maria escolheu”. O que foi que Marta aprendeu, arrumando a cozinha? Deixar passar a oportunidade de ouvir a palavra iluminada de Jesus, trocando pelo barulho das caçarolas e da vassoura? E se houvesse TV, naquela época, decerto ela preferiria assistir a uma novela. Cuidado, há muita gente como Marta... Eis aí uma lição para todos nós. Jamais devemos ficar indiferente à verdade que consola e liberta. Maria soube escolher. E, neste mundo, quantas pessoas ainda estão indiferentes aos ensinamentos do Mestre! Mesmo os que se dizem cristãos. Preocupam-se com o sexo, com o dinheiro, com o poder, com a aparência, com as coisas materiais, menos com “os tesouros que a traça não rói”. Marta na cozinha e Maria junto de Jesus. Que diferença... O Evangelho tem muitas histórias dessas. E se você nunca leu o Evangelho, a lição de Jesus, que é o caminho, a verdade e a vida, está fazendo como Marta. E viva a lição da transcendência!

Secretaria Geral: Maria do Socorro Moreira Franco Revisão: José Arivaldo Frazão Lívia Cavalcante Gayoso de Sousa Assessoria: Uyrapoan Velozo Castelo Branco Colaboradores desta edição: Alírio de Cerqueira Filho, André Marinho, Azamor Henriques Cirne de Azevedo, Carlos Romero, Chico Xavier (Pelo espírito Emmanuel), Divaldo Franco (Pelo espírito Joana de Ângelis), Elmanoel G. Bento Lima, Fátima Araújo, Flávio Roberto Mendonça, Francisco Batista Menezes Júnior, Hélio Nóbrega Zenaide, José Passini, Igor Mateus, Liszt Rangel, Luis Hu Rivas, Mauro Luiz Aldrigue, Marcos Paterra, Octávio Caúmo Serrano, Pedro Camilo, Raymundo Rodrigues Espelho, Rossandro Klinjey, Stanley Marx Donato, Walkíria Araújo, Zaneles Brito, (Pelo espírito de Lindemberg.). Diagramação: Ceiça Rocha (ceicarocha@gmail.com) Impressão: Gráfica JB (Fone: 83 3015-7200) ASSINATURA BRASIL ANUAL: R$ 35,00 TRIANUAL: R$ 100,00 EXTERIOR: US$ 40,00 CONTRIBUINTE ou DOADOR: R$....? ANUNCIANTE: a combinar TRIBUNA ESPÍRITA Rua Prefeito José de Carvalho, 179 Jardim 13 de Maio – Cep. 58.025-430 João Pessoa – Paraíba – Brasil Fone: (83) 3224-9557 e 99633-3500 e-mail: jornaltribunaespirita@gmail.com

Nota da Redação Os Artigos publicados são de inteira responsabilidade dos seus autores. 2016 • maio/junho • Tribuna Espírita 3


Sibélius

Um Músico Nato e a Genialidade à Luz da Razão Reencarnacionista STANLEY MARX DONATO João Pessoa-PB

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música é, indubitavelmente, meio que proporciona ao ser humano transcender ao contexto material, no qual se encontra imerso, revelando-lhe extraordinário universo no qual o encontro entre inspiração e transpiração concorre a lágrimas, pensamentos, sentimentos e, sobretudo, completude em muitas situações. Como em todo labor humano, a transpiração denota trabalho com afinco, muitas vezes em âmbito de solidão, requerendo parcela considerável de dedicação, estudo e treino, pelo menos no âmbito ordinário do aprendizado humano. Todavia, urge refletir: como explicá-la, quando, simplesmente, surge, sem qualquer labor prévio evidenciado, no campo material? Genialidade? Dom Divino? Identificado pelo Professor Hernani Guimarães Andrade, em seu livro “Reencarnação no Brasil”, como um caso a ser estudado, a Paraíba recebeu em seu seio Sibélius Donato Tenório, cujo nascimento ocorreu em 22 de junho de 1973, aos seis meses e meio, pesando um quilo e cem gramas. Até três anos e onze meses, não tinha “engatinhado”, andado e falado. Nada obstante, andou, falou e executou músicas ao piano, quando alcançou a idade mencionada. Sibélius, carinhosamente, chamado por Nino, entre os seus familiares, executou duas músicas em primeiro momento: “Assum Preto” (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) e Sinfonia nº 40 (Wolfgang Amadeus Mozart). Algumas curiosidades, todavia, estimulam reflexões maiores pelos interessados. Era “sonho” do seu pai, Josemar Tenório de Albuquerque, ter um filho músico. Ao nascer Sibélius, decidiu, em acordo com sua esposa, Genalda Donato de Araújo Tenório, atribuir-lhe esse nome, em homenagem ao músico finlandês Johan Christian Sibelius (Jean 4 Tribuna Espírita • maio/junho • 2016

Sibelius), desencarnado aos 92 anos de idade, em decorrência de aneurisma cerebral. Certo dia, em casual encontro no portão da sua residência, sua mãe convidou a amiga, Sra. Diana Almeida, já desencarnada, a entrar, a fim de que pudessem conversar um pouco, tendo aquela senhora externado o constrangimento pela situação do Sibélius, que se arrastava com as costas voltadas para o chão; sugerindo-lhe escrevesse ao Sr. Francisco Cândido Xavier, indagando-o sobre a situação do filho. Deve-se destacar que Chico Xavier era pessoa desconhecida no

âmbito da família de Sibélius, eminentemente católica, ressaltando-se ser o seu pai egresso do Seminário. Acolhendo a sugestão, sua mãe escreveu a Chico Xavier, apresentando-lhe o nome do filho, solicitando-lhe falasse algo sobre ele. A resposta veio na seguinte forma: trata-se de reencarnação de compositor clássico, que andará, falará e tocará para “leprosos”. Abraço, Chico Xavier. Ante o adverso contexto de desenvolvimento do filho, seus pais decidiram submetê-lo a tratamento neurológico, na cidade do Recife-PE. Todavia,


dias antes da primeira viagem, sua mãe “sonhou” com Frei Damião, missionário na região do Nordeste, desencarnado aos 98 anos, na cidade do Recife-PE, que lhe falou: “minha irmã, não há necessidade de viajarem, pois o vosso filho está curado; andará e falará”. A viagem não foi realizada e, pouco tempo após, o fato inusitado ocorreu. A música, então, passou a permear os dias da família, pois Sibélius, simplesmente, amava executar músicas ao piano. Ainda padecendo de dificuldades motoras, inclusive nas mãos, o pequenino alimentava a sua alma com música, como o faz até hoje, pois, tão logo escutasse uma composição, era capaz de executá-la, em seguida. Na idade escolar, contudo, Sibélius refutava o estudo, afirmando aos seus pais não ter qualquer razão para estudar. Em verdade, o estudo o aborrecia e, no Colégio Marista em Maceió-AL, cidade na qual residia, não raro, encontrava-se absolutamente disperso, comportando-se como se contemplasse valores provenientes de outra dimensão. Preocupada, sua mãe decidiu, junto com a amiga espírita Elizabeth Costa Barros Tenório, empreender viagem a Uberaba-MG, a fim de colher orientação com Chico Xavier. Ao chegarem à residência dele, Sibélius postou-se próximo ao quarto do qual sairia Chico, em seguida, a fim de fotografa-lo. Tão logo Chico o avistou, falou-lhe: “que pena que não tem um piano para você tocar pra mim...”. Assim era Chico! O primeiro encontro ficara naquele contexto. Uma segunda viagem ocorreu. Nessa, Sibélius tocou para Chico que, entre lágrimas e indagações de sua mãe sobre quem seria ele, limitava-se a responder: “isso não importa, minha filha”. Contudo, narrava, despretensiosamente, passagens sobre a vida de um músico conhecido por Johan Julius Christian Sibelius (Jean Sibelius). O segundo encontro ficara naquele contexto. Uma terceira viagem e algumas revelações. Novamente, ouvindo Sibélius, Chico Xavier narrou encontro mantido com uma entidade triste que lhe chamara a atenção. Na ocasião dessa terceira viagem (terceiro encontro), também, estava presente a médium Maria Gertrudes Coelho, natural de Ituiutaba-MG, que, em seu livro “Chico Xavier, Coração do Brasil”, destacou o singelo momento, em capítulo específico: ‘Pequenas Histórias, Sibélius’, do qual extraímos, sinteticamente, a seguinte passagem sobre a entidade triste: “E indagamos o motivo de sua tristeza; e ele nos respondia que não queria reencarnar. −Você precisa reencarnar, eu lhe peço! − Não quero, vou sofrer muito. O Espírito ficava muito triste. Chamava-se Sibélius. − Não precisa ter medo, Sibélius, eu

vou encontrá-lo. Passaram-se muitos anos, nada de Sibélius. Orávamos por ele, pois sabíamos que Sibélius voltaria à Terra para cumprir o seu destino. Tive pena daquele Espírito, porque ele iria reencarnar e encontraria muitas dificuldades. Olhou, ternamente, para o jovem músico e explicou: −Aquele Espírito era você, Sibélius, e como lhe prometi, aqui estou. Há quanto tempo, Sibélius... Eu lhe procurava!” Indagado, mais uma vez, pela mãe de Sibélius, este falou: agora estou autorizado a revelar; você é o Johan Julius Christian Sibelius. Tal afirmação feita ao próprio Sibélius e a sua mãe, foi também presenciada pela Sra. Yolanda César, mãe de Augusto César Vanucci, e pelo grupo de voluntários da “Casa Transitória de Pindamonhangaba”, conforme consignado em jornal (Amigo – Set/Out 92), retratado, sinteticamente, nas seguintes palavras: “De volta à casa do Chico, além de participar de tão delicioso sarau, pudemos conhecer a história de Sibélius. Revelada pelo próprio médium, viemos, a saber, que o menino Sibélius, na verdade, é a reencarnação de grande pianista finlandês, nascido em 1865 e falecido em 1957, de nome Jean Sibelius. Toda a história foi contada pelo Chico, cheia de detalhes, tais como os encontros que ele e Sibélius mantiveram, anos antes, na cidade de Pedro Leopoldo, e finalmente, a promessa do pianista de, um dia, quando reencarnado, novamente poder tocar piano para Chico. Sua promessa foi, assim, cumprida naquela noite.” Indubitavelmente, sobretudo pelo amor à Ciência, conclui-se que o caso

apresentado, sinteticamente, sugere reencarnação. Todavia, por amor a Deus e ao nosso Senhor Jesus Cristo, urge ressaltar que a genialidade denota súmula dos mais longos esforços em múltiplas existências de abnegação e trabalho, na conquista dos valores espirituais, entendendo a vida pelo seu prisma real, muita vez desatendendo ao círculo estreito da vida terrestre, no que se refere às suas fórmulas convencionais e aos seus preconceitos, tornando-se estranho ao próprio meio, por suas qualidades superiores e inconfundíveis (O Consolador – questão 164). Na obra divina, o mérito é o único meio aquisitivo, não havendo razões para privilégios ou dons, apenas, para o trabalho que nos permite distanciar da simplicidade e ignorância de quando fomos concebidos. Os gênios, portanto, muito estudaram e trabalharam também. Quanto aos “leprosos”, para quem Sibélius tocaria, compreendemos que, assim permaneceremos, enquanto envoltos pelos vícios dos quais almejamos nos desvencilhar. NOTA DA REDAÇÃO: Sibélius, autodidata, já compôs 914 composições e nove CD’s, lançados no mercado, que vão do Clássico ao Popular: 1- Divagações; 2- Uirapuru; 3- Outono em Primavera; 4- Ecos do passado; 5- Classe em clássicos; 6- Toque de alma; 7- Arrebenta coração; 8- Rua do Ouvidor e 9- Violando com Sibélius. Observamos, também, que o artista/compositor tem, como método, executar suas criações prontas e acabadas; ou seja, não compõe a música gradativamente; mas, simplesmente, a executa, integralmente. Ademais, não treina antes de suas apresentações, inclusive, em relação às composições de outros autores. Nesse caso, quando executa as composições de terceiros, registra-as, em sua memória e não mais as esquece.

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Espiritismo e Psicologia Transpessoal ALÍRIO DE CERQUEIRA FILHO Cuiabá-MT

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llan Kardec, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Capítulo I, item 8, diz que são chegados os tempos, para que a ciência deixe de ser exclusivamente materialista e a religião ignore as leis que regem o mundo material. Vejamos o texto: “São chegados os tempos em que os ensinamentos do Cristo têm de ser completados; em que o véu intencionalmente lançado sobre algumas partes desse ensino tem de ser levantado; em que a Ciência, deixando de ser exclusivamente materialista, tem de levar em conta o elemento espiritual e em que a Religião, deixando de ignorar as leis orgânicas e imutáveis da matéria, como duas forças que são, apoiando-se uma na outra e marchando combinadas, se prestarão mútuo concurso. Então, não mais desmentida pela Ciência, a Religião adquirirá inabalável poder, porque estará de acordo com a razão, já se lhe não podendo mais opor a irresistível lógica dos fatos.”1 Uma ciência que vem se desenvolvendo nestes últimos anos, e que cumpre, muito bem, este papel de ser um elo entre a ciência e a religião é a Psicologia Transpessoal. Nos últimos cem anos, houve um desenvolvimento acentuado da Psicologia, como ciência. No final dos anos cin6 Tribuna Espírita • maio/junho • 2016

qüenta e início dos sessenta do século XX, desenvolveu-se uma nova força na Psicologia, denominada Psicologia Humanista, cujo objetivo principal era o de estudar a experiência humana e tudo o que há de mais essencial à vida e ao bem-estar das pessoas. Esta 3a Força seguiu-se à 2a, denominada Psicanálise e à 1a, Behaviorismo. A partir da Psicologia Humanista, desenvolveu-se, no final dos anos sessenta, uma nova força, denominada Psicologia Transpessoal. Esta nova força foi lançada, oficialmente em 1968, pelo psicólogo norte-americano Abraham Maslow que, na introdução à segunda edição de seu livro “Introdução à Psicologia do Ser”, assim se expressa: “Devo também dizer que considero a Psicologia Humanista, ou a Terceira Força em Psicologia, apenas transitória, uma preparação para uma Quarta Psicologia ainda “mais elevada”, transpessoal, transumana, centrada mais no cosmos do que nas necessidades e interesses humanos, indo além do humanismo, da identidade e da individuação. [...]. Necessitamos de algo “maior do que somos”.2 A Psicologia Transpessoal está centrada no desenvolvimento da saúde do ser humano, abordando-o dentro de uma visão ampla, holística e cósmica,

em que o homem é apreciado em seus aspectos biológicos, psíquicos, sociais e espirituais. O transpessoal é aquilo que busca transcender o pessoal; isto é, dentro de uma abordagem psicológica ir além do ego, ao encontro da essência do ser humano. Vários ramos da ciência, como a Psicologia Transpessoal, têm caminhado em direção a uma espiritualização, sempre, tendo, como enfoque, as questões científicas e não religiosas, mas que, certamente, contribuirão, sobremaneira, com o desenvolvimento das religiões que se baseiam na lógica e no bom-senso. A este propósito é importante diferenciar o espiritual do religioso, pois há uma confusão entre as duas questões, especialmente, quando a ciência busca o caminho do espiritual. Façamos uma análise desta questão, para melhor entendimento. Uma das razões, para a ciência ter mergulhado profundamente no materialismo, foi para fugir da superstição e temor religiosos. Foi, na Idade Média, que as superstições e temores religiosos atingiram o auge, a ponto de cientistas, como Galileu Galilei, serem perseguidos por religiosos fanáticos. Como é natural, a ciência, a partir de Descartes e Isaac Newton, buscou se afastar, cada vez mais, da religião. Fotos: Gloogle Imagens


O grande problema gerado foi que, para se afastar da religião, a ciência criou um fosso profundo na questão da espiritualidade humana. Essa divisão, entre matéria e espírito, é tão intensa que, no seio da sociedade ocidental, há uma associação direta entre o materialismo e a ciência, e tudo que concerne ao Espírito é atribuído, como sendo uma esfera de abordagem da religião. Quando algum ramo da ciência ou algum cientista busca estudar o Espírito, até o público leigo questiona, se isso é científico. Ao mesmo tempo, muitos religiosos veem, com desconfiança, os estudos científicos, acreditando que os cientistas estão lidando com algo sagrado que é patrimônio exclusivo das religiões. Este paradigma, ainda, está profundamente arraigado em nossa cultura, especialmente no meio acadêmico, nas associações de classe profissional, na educação, na Medicina, na Psicologia, em vários movimentos religiosos, inclusive entre muitos espíritas. No entanto, lentamente, tem havido uma abertura da ciência, na direção do espiritual, por ser isso uma necessidade, conforme vemos Kardec frisar em “O Evangelho segundo o Espiritismo”: “A Ciência e a Religião são as duas alavancas da inteligência humana: uma revela as leis do mundo material e a outra as do mundo moral. Tendo, no entanto, essas leis o mesmo princípio, que é Deus, não podem contradizer-se. Se fossem a negação uma da outra, uma necessariamente estaria em erro e a outra com a verdade, porquanto Deus não pode pretender a destruição de sua própria obra. A incompatibilidade que se julgou existir entre essas duas ordens de idéias provém apenas de uma observação defeituosa e de excesso de exclusivismo, de um lado e de outro. Daí, um conflito que deu origem à incredulidade e à intolerância”.3 Para que possamos compreender, melhor, esta aparente incompatibilidade, façamos uma diferenciação baseada no paradigma holístico-transpessoal, entre espiritualidade, religiosidade e religião e o papel da ciência, frente a estes conceitos. Esta diferenciação não está presente nos dicionários, ou está presente, apenas parcialmente, pois os verbetes, ainda, estão descritos segundo o paradigma materialista, então vigente em nossa cultura. ESPIRITUALIDADE: Segundo o paradigma holístico-transpessoal, nós somos seres espirituais e temos, transitoriamente, um corpo físico. Somos, portanto, muito mais que os nossos corpos físicos. As modernas pesquisas com as ciências naturais, como a Física e a Biologia têm demonstrado que o corpo físico é, apenas, um reflexo do Espírito. A espiritualidade, portanto, é algo inerente ao ser humano. Todos nós buscamos a nossa própria espiritualidade, encontrar a nos-

sa essência interior, quer estejamos conscientes ou não disso. Todo ser humano busca um sentido para a sua vida, ato na qual reside a sua espiritualidade. O vazio existencial, na qual a civilização ocidental se encontra imersa, hoje, vem exatamente do distanciamento da própria espiritualidade a que ela foi lançada pelo paradigma materialista. Espiritualidade, portanto, significa a busca da própria essência interior, fato que se constitui uma necessidade de todo ser humano. Por isso, o objetivo da ciência deve ser a de proporcionar este autoencontro ao ser humano. Este é o grande papel da Psicologia Transpessoal. RELIGIOSIDADE: A palavra religiosidade se origina do latim religare, ato de ligar alguma coisa a algo que já foi ligado. A religiosidade é o ato que leva a criatura a se religar ao seu Criador. É uma consequência da espiritualidade; pois, na medida em que ocorre o encontro consigo mesmo em essência, com a sua essência divina, o ser humano sente a necessidade

de se religar a Deus, Fonte da vida. É, também, um sentimento inato de todo ser humano, pois, existe em todas as culturas, em todos os povos. Por mais que o paradigma materialista tente sufocar este sentimento no ser humano, ele está, sempre, buscando se religar a Deus. A religiosidade pode, ou não, fazer com que a pessoa busque uma religião. Existem pessoas que são avessas a uma religião formal, apesar de cultivarem a espiritualidade e a religiosidade. A verdadeira ciência tem o papel de oferecer subsídios aos seres humanos, para que ampliem a sua visão de espiritualidade e de religiosidade, para que se libertem do fanatismo, da superstição e do pensamento mágico que, ainda, subsistem em muitas religiões. Na medida em que a ciência torna claras e lógicas todas as questões referentes ao Espírito, no seu processo de ser um “Ser” em evolução, e a Deus, como sendo uma Grande Energia Criado-

ra, causa primária, que organiza e comanda o universo, ela cumpre o seu papel de proporcionar um sentido para a vida ao ser humano. Proporcionar ao ser humano a religiosidade, fazendo com que ele se religue ao seu Criador, resgatando-o do materialismo que o desligou Deste, é, também, um grande compromisso da Psicologia Transpessoal. RELIGIÃO: a religião é o ato de formalizar, através de um conjunto de práticas, a busca de uma ligação com algo transcendente. As religiões deveriam cumprir um papel de desenvolver, no ser humano, a espiritualidade e a religiosidade; porém, nem todas cumprem esse propósito. A grande maioria das religiões, ainda, está presa a dogmas, ao fanatismo, à superstição, ao pensamento mágico que faz com que o ser humano se afaste da própria essência e do Deus cósmico, Energia Criadora do Universo. Muitas religiões, inclusive, são regidas pelo próprio paradigma materialista, em nome das quais, criam-se guerras “santas”, morte e destruição de pessoas e ideais. Por isso, muitas pessoas, dentre as quais muitos cientistas, se afastam dela, por verem nela um cerceamento da liberdade de discernir do ser humano. No entanto, as verdadeiras religiões têm, em sua essência, a idéia real da espiritualidade e religiosidade, que se constitui o ponto de união entre as mesmas. O grande papel da ciência é oferecer à religião subsídios, para que se estreite mais esse ideal de espiritualidade e religiosidade, de modo a que se dissipe essa grande fragmentação a que se lançaram as centenas de religiões existentes, hoje, no mundo. Apesar de não ter nenhum vínculo com qualquer religião, ao fortalecer os sentimentos de espiritualidade e religiosidade, a Psicologia Transpessoal pode se tornar um grande auxiliar das religiões sérias que buscam este ideal. É, neste aspecto, que a Psicologia Transpessoal pode contribuir, enormemente, com o Espiritismo, pois muitos dos princípios que a Doutrina Espírita aborda, já há quase um século e meio, têm sido confirmados por pesquisas realizadas por cientistas que trabalham com o paradigma holístico-transpessoal no mundo todo. Estamos vivenciando, com isso, o tempo em que “não mais desmentida pela Ciência, a Religião adquirirá inabalável poder, porque estará de acordo com a razão, já se lhe não podendo mais opor a irresistível lógica dos fatos”. ____________

Kardec, Allan - O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO – FEB - 112ª edição – p. 58 - Rio de Janeiro 2 Maslow, A. INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DO SER. Eldorado - 2a edição. Rio de Janeiro. 3 Kardec, Allan - O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO – FEB - 112ª edição – p. 58 - Rio de Janeiro 1

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Amor não garante PEDRO CAMILO Salvador-BA

felicidade!

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nos atrás, uma entrevista concedida pela escritora Zélia Gatai a um programa de televisão chamou minha atenção. Naquela época, Jorge Amado, seu esposo, já se encontrava bastante doente, perto de desencarnar. A repórter lhe propôs a seguinte indagação: − Qual o segredo para manter uma relação tão duradora e boa quanto a que vocês dois mantiveram por todas essas décadas? Ao que Zélia respondeu mais ou menos assim: − Olha, minha querida, eu casei com Jorge. No primeiro dia em que acordamos juntos, em nossa casa, ele tinha deixado sandálias espalhadas pelo quarto, camisa pelo avesso, toalha molhada na cama... Fui a ele, que estava mergulhado no seu mundo, e reclamei. No dia seguinte, tudo se repetiu e eu reclamei de novo. No terceiro, fiz exatamente igual. No quarto dia, ao ver que aquilo se repetia, eu percebi que só havia duas alternativas: continuar reclamando, desgastando nossa relação, ou compreender que ele era, assim mesmo, e me adaptar. Eu escolhi a segunda. *** Depoimentos como esse me fazem pensar sobre o quê, de fato, garante o sucesso das relações. E falo de sucesso, em termos de qualidade da relação, e não, quanto ao tempo que duram. Porque, é bem verdade, que grande parte das relações duradouras é marcada pelos traços da infelicidade, mantendo juntas duas pessoas que, apenas, se suportam, sem gostarem uma da outra. Muitos acham que amor é o bastante. Se existe amor, nada mais é preciso, para que dê certo. Contudo, muitos casais que se amam não conseguem continuar juntos, apesar do amor, enquanto outros, que não “se amam, tanto assim”, até conseguem se conservar, por um bom tempo e com certa qualidade de convivência. Muita gente, mesmo separada, continua se amando – e muito! Mas, juntos, não dão certo, não há como suportar uma convivência debaixo do mesmo teto, dividindo e construindo uma vida. O que será, então, que determina o sucesso das relações? Acredito que a resposta está com Zélia Gatai. Sua sensibilidade e experiência de vida logo lhe mostraram, no início do casamento com o escritor Jorge Amado, que era preciso escolher um caminho: cultivar as semelhanças ou as diferenças. Caso ela assumisse a postura de corrigi-lo, sempre que adotasse qualquer conduta que lhe parecesse inconveniente, inadequada, estaria no cultivo das diferenças, transformando a convivência a dois, em um ringue, com acusações e troca permanente de farpas. Por outro lado, compreendendo que havia, no companheiro, traços que eram dele, marcas suas, que, muito dificilmente, mudariam com o tempo, ela se entregou ao cultivo das semelhanças, focando no que havia de bom e “se adaptando” a tudo aquilo que, de algum modo, gerava ruído. Trata-se de uma escolha que vai além do simples amor. Ela, em verdade, percebeu que não bastava o amor, sendo necessário aprender uma forma de amar. Assim, tomou uma decisão madura de se ajustar, para preservar o amor, amando não uma imagem, um ser idealizado, mas aquele homem real, posto diante dela, 8 Tribuna Espírita • maio/junho • 2016

com qualidades e defeitos, a que era preciso adequar-se, para que a relação fosse a mais saudável possível. A decisão de amar, portanto, foi o indispensável ingrediente que Zélia Gatai soube usar, para temperar seu casamento. Decidiu, maduramente, amar seu marido, apesar das diferenças. Eu diria, mesmo, que ela resolveu amá-lo “com” as diferenças, e não “apesar” delas. Decidiu, portanto, amá-lo, como ele era, e não amoldá-lo a uma expectativa de amor. O mesmo podemos dizer, em relação às demais configurações afetivas da vida em família. O impositivo cultural, segundo o qual pais e filhos, parentes e irmãos devem se amar, “acima de tudo”, por vezes, impõe convivências difíceis, dolorosas, que poderiam ser melhoradas, com a compreensão de que é preciso, por vezes, ressignificar o modo de amar, temperando as relações, com um pouco de compreensão e, no mínimo, de tolerância. É muito comum que as relações, entre pais e filhos, melhorem, significativamente, quando estes, conquistando a independência financeira, passam a trabalhar e morar sozinhos. O fato de cada um ter seu espaço, vivendo conforme seus gostos e características, suaviza os atritos que o “dividir o mesmo teto” gera, abrindo espaço, para que outras manifestações afetivas possam nascer. Tudo isso tem a ver com essa decisão de amar, que transcende um amor instintivo ou mesmo cultural e conduz à descoberta de meios e formas diferentes de lidar, afetivamente, consigo e com o outro. É, por essas e outras razões, que afirmamos que amor não garante felicidade. O que garante felicidade, de fato, é a madura decisão de amar o outro, como ele é... 1 Este texto integra o livro Ser feliz em família: você consegue?, de autoria de Pedro Camilo e Wellington Balbo, a ser lançado pela Editora Mente Aberta em junho de 2016.

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Análise,

, o ã ç a i c e r ap

crítica

JOSÉ PASSINI Juiz de Fora-MG

Q

ualquer obra ao ser exposta ao público fica sujeita à análise, à apreciação, à crítica, da parte daqueles que a examinam, seja ela uma escultura, uma música, uma pintura ou uma página literária. No mundo da literatura, há até a atividade normal de pessoas que se especializam em crítica literária, exercendo-a, sem que os autores de artigos ou de livros se sintam ofendidos por verem suas ideias, suas posições, ou opiniões serem analisadas, criticadas, contestadas, desde que, através de linguagem compatível com a ética e com o respeito. Esses trabalhos de crítica literária são, não raro, usados em estudos levados a efeito em academias de letras, ou em cursos universitários de língua e literatura, com real proveito para aqueles que se entregam ao aprendizado da arte de bem escrever, seja num Curso de Letras, seja num de Comunicação Social. Tendo consciência de que haverá aqueles que analisarão e darão a público sua apreciação, sobre aquilo que publica, o autor, por certo, preocupar-se-á com o que diz, e como o diz; ou seja, com o conteúdo e com a forma. No meio espírita, infelizmente, isso não se dá. Atualmente, assiste-se a uma verdadeira avalancha de obras, na maioria, mediúnicas, cheias de inovações, de revelações, de modismos, sem que haja espaço, na imprensa espírita, para uma apreciação séria, clara, fraterna, a respeito de conteúdos altamente duvidosos, que são levados a público, como se fossem verdades reveladas. Paulo, a maior autoridade em assuntos mediúnicos nos tempos apostólicos, conforme se constata, nos capítulos 12 e 14 da sua Primeira Carta aos Coríntios, dentre outras orientações, recomenda: “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.”(1) Sábio conselho, repetido, reiteradamente, mais tarde, na obra de Kardec, destina-se à prevenção contra o deslumbramento, a vaidade, a atuação

de Espíritos enganadores no intercâmbio mediúnico. Cuidado semelhante podese observar, também, em João: “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus; porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo.”(2) Será que estamos esperando que aqueles que combatem o Espiritismo venham trazer a público certos absurdos que estão sendo publicados, ante a comunidade espírita completamente silente, sem que tenhamos meios de demonstrar-lhes que certas “revelações” foram contestadas? Ou será que foi esquecido o brocardo: “Quem cala, consente?” Será que Kardec não sairia, hoje, em defesa dos verdadeiros postulados espíritas? Ou calar-se-ia, receando desagradar pessoas? Onde podemos situar a recomendação de Erasto: “Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea.”(3) A Federação Espírita Brasileira e várias outras editoras são entidades de utilidade pública e que, coerentemente com o que ensina o Espiritismo, não visam a lucros. Malgrado esses nobres exemplos, instalaram-se inúmeras editoras que, aí, estão a divulgar obras que contrariam, frontalmente, os postulados espíritas, através de publicações que, embora declarem ser os recursos obtidos destinados a entidades assistenciais – o que, jamais, deve influir na análise doutrinária das publicações – agem como entidades meramente comerciais, colocando o lucro

acima do ideal da divulgação. O médium, autor material dessas obras, por vezes, é pessoa bondosa, bem intencionada, até promotora de nobres atividades, no âmbito da assistência social. Mas, o seu trabalho, nesse setor, será suficiente para legitimar sua produção mediúnica, transformando -a em livros? Lamentavelmente, há aqueles que confundem caridade com pieguismo. Dizem que não se pode ir contra um irmão. Ninguém, em sã consciência, deve criticar o autor, mas sim, a obra. Aquele deve ser preservado, em nome do respeito que se deve ter para as suas boas intenções, mas esta deve ser analisada, dissecada. Essa maneira de agir aprende-se com Jesus, que nunca atacava o pecador, mas o pecado. Nesse contexto, deve ser ressaltada a responsabilidade daqueles que dirigem estabelecimentos espíritas, sejam Centros ou livrarias, no sentido de fazerem a devida seleção do material escrito, divulgado no recinto da instituição. Muito maior do que a preocupação com o conteúdo da exposição oral deve ser o cuidado com o material impresso, entregue ao público, seja livro ou folheto avulso, pois um livro adquirido, ou tomado por empréstimo, numa instituição espírita – principalmente para o leigo – será tomado como legítimo. Entretanto, há dirigentes que se abrigam sob a capa de uma falsa caridade, em relação aos autores. Omitem-se, quanto a um cuidadoso exame, deixando de ler, ou de colocar nas mãos de irmãos responsáveis, para análise, muitas obras que estão, aí, a tentarem desmentir a seriedade da mensagem espírita, permitindo seja ela apresentada na forma de romances, relatos, “revelações”, em linguagem absolutamente não condizente com a seriedade e com a nobreza da doutrina que herdamos de Kardec. Referências: (1) I Co, 14:29; (2) I Jo, 4:1; (3) O Livro dos Médiuns, 230 2016 • maio/junho • Tribuna Espírita 9


Entrevista com a Professora

Sandra Santiago Trace um breve perfil biográfico, incluindo data e local de nascimento, formação acadêmica e profissão. − Nasci em Recife, Pernambuco, em 20.09.1967. Cresci numa família humilde, num bairro pobre, com muita marginalidade; mas, numa família cheia de valores morais. A educação, sempre, foi apresentada como a única possibilidade de termos uma vida melhor. Talvez, por isso, ainda muito pequena, queria ser professora; queria ajudar as crianças e jovens a sonhar sonhos melhores. Tive uma professora, aos 8 anos de idade, que marcou, profundamente, minha vida. Ela era severa, exigente, mas, com um coração grande. Foi um exemplo, para mim; incentivou-me a ser professora, apontou-me os caminhos; ajudou-me, de um modo especial. (Saudades de D. Marinérita). Em 1981, aos 14 anos, ainda estudante do Curso Pedagógico, comecei a dar aulas, numa escolinha do bairro e não parei mais. Ensinei, por 20 anos, na rede pública de Recife, PE e, hoje, sou professora da UFPB, onde trabalho há 12 anos. Sou graduada em Pedagogia, Especialista em Educação Especial e Psicopedagogia. Mestre e Doutora em Educação. Mas, o mais importante é que sou apaixonada por educação e vejo nela o instrumento capaz de transformar a Humanidade. Esta ideia é que me move, em todos os dias da minha vida, e sinto que ser educadora é minha missão.

Você nasceu em família espírita? Se não, quando e por que se aproximou do Espiritismo? – Nasci, numa família com hábitos católicos (batismo, primeira eucaristia, etc.), mas, sem nenhuma vinculação a qualquer igreja. No entanto, cresci ouvindo meu pai falar sobre reencarnação e lei de causa e efeito. Sem, jamais, ter me levado a nenhuma instituição espírita, foi o senhor Joel, meu pai, quem suscitou em mim muitas perguntas, curiosidades e conflitos. Recordo-me que, desde muito cedo, por volta dos 8-9 anos de idade, sentia necessidade de uma religião. Passei a frequentar a Igreja Católica mais próxima da minha casa e, lá,, permaneci como uma trabalhadora ativa: evangelizando crianças, evangelizando-me no grupo jovem, visitando os doentes da comunidade, cantando no coral. Sempre, gostei de ler; por isso, lia a Bíblia, constantemente; participava de todas as missas e as leituras dos Evangelhos me encantavam. E as ideias espíritas, sempre, estavam presentes nos meus diálogos calorosos com o meu pai. Como era de uma família muito humilde, não tínhamos dinheiro para comprar livros. Mas, na volta da escola, passava, sempre, numa livraria da cidade e lá buscava ler os livros e autores de que meu pai falava: Divaldo P. Franco e Chico Xavier foram companheiros da minha infância e adolescência. A primeira obra espírita que li foi o livro “Nosso Lar” e, foi impressionante como, mesmo tão jovem e imatura, e de vinculação católica, nada me causou estranheza. Tudo era tão óbvio para mim. Mais tarde, passei a conhecer a Federação Espírita Pernambucana e outras instituições de Recife; mas, sem dúvida, minha maior aproximação do Espiritismo se fez através das obras espíritas e da Codificação Kardequiana. 10 Tribuna Espírita • maio/junho • 2016

Você está ministrando um curso de Pedagogia Espírita. Como surgiu essa ideia? Tem alguma relação com o curso ofertado por Dora Incontri? – Tem muita relação com as ideias e obras de Dora Incontri; mas, diverge muito da estrutura do Curso proposto por esse ícone da Pedagogia Espírita. É importante salientar que a produção literária de Dora Incontri, assim como as contribuições de expoentes do Espiritismo, como Eurípedes Barsanulfo, Amália Franco, Herculano Pires e Ney Lobo são as principais referências para o curso de Pedagogia Espírita que estamos realizando em Joao Pessoa, Paraíba. Entretanto, nossa proposta diverge do curso ofertado por Dora Incontri, em razão de compreendermos que o custo de um curso como o dela (ainda) não cabe nos nossos bolsos. Muitos irmãos e irmãs de doutrina, há tempos, desejam fazer um curso de Pedagogia Espírita; mas, infelizmente, a distância (o curso existe em São Paulo) e os custos que advêm desta condição, não cabem no bolso. Então, buscamos adaptar uma formação desse calibre às condições da população paraibana e nordestina (pois, seria mais fácil, para estados próximos). Como se vê, a divergência que existe entre nosso curso e o da Dora não está no nível das ideias, do embasamento teórico, mas, de nossas condições materiais, para implementação e realização do mesmo. Desse modo, sem perder a essência da Pedagogia Espírita, estamos possibilitando a formação de educadores, dentro de uma visão abrangente, humanística, solidária e apoiados no Evangelho do Cristo, num formato mais adaptado às necessidades da região e do nosso estado.

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Qual a diferença desse curso para outros ofertados pela FEB, e qual a importância dele no meio espírita? – Os cursos oferecidos pela FEB são diferentes desse curso; são cursos de formação, mas, que (infelizmente), ainda não possuem o reconhecimento acadêmico, embora, muito contribuam para nossa formação espírita. Diferentemente dos cursos da FEB, esse curso de Pedagogia Espírita trata-se de uma Pós-Graduação; portanto, em nível de Especialização. E tem por objetivo, oferecer qualificação profissional e, também, título de Especialista em Pedagogia Espírita, para licenciados ou bacharéis. Então, esse curso é a união dos conhecimentos espirituais aos científicos, com o reconhecimento da academia. Sem dúvida, um grande passo no Movimento Espírita e uma oportunidade única de qualificação profissional, com base na moral cristã. Quais as vantagens dessa especialização no currículo acadêmico? – Ao mesmo tempo em que esse curso constrói saberes necessários ao desenvolvimento de uma prática educativa mais humanizada e qualificada, proporciona aos alunos um nível de titulação acadêmica tão requisitada em concursos, seleções, etc. No contexto contemporâneo, uma especialização favorece, em muitos casos, a inserção dos sujeitos no mercado de trabalho e os qualifica profissionalmente. E, no caso desta, é possível alcançar tudo isso, sem afastar os profissionais de uma conduta mais humana, mais preocupada com o outro, mais social e evangélica. Sabemos o quanto estes princípios estão escassos na vida acadêmica e profissional; por isso, fazer um curso como esse é vantajoso, academicamente falando, mas, também é uma espécie de alimento ao espírito do ser em evolução. Atualmente, as crianças e jovens odeiam a escola e seus professores. Isto ocorre, porque perdemos a essência da verdadeira educação, que não se pauta em discursos e conteúdo; se pauta no exemplo. Portanto, é um curso inovador, para o currículo acadêmico; mas, sem perder as principais ideias do Evangelho de Jesus (o maior educador que já tivemos), contribuindo para que tenhamos educadores mais sensíveis às diferenças humanas, independente do lugar onde atuem (escola, casa espírita, família). Como o conhecimento pedagógico espírita pode ajudar as famílias ou instituições espíritas? – A educação do Espírito é a meta do Movimento Espírita. Muitas vezes, nos contentamos em aliviar as dores de agora, mas não preparamos o ser para a vida eterna. Evidentemente, não somos contra as ações assistencialistas e compreendemos a necessidade de muitas delas na seara espírita. Sabemos que, por vezes, é difícil atentar para a mensagem do amor, quando a barriga está vazia. Mas, isso não significa que nos basta saciar a fome do corpo... Chama-nos a atenção, nas Casas Espíritas, a frequência dos mesmos irmãos em busca do socorro, do amparo, do auxílio – por anos a fio. E, damos graças a Deus que temos casas de amparo para eles. No entanto, Cristo convida-nos, insistentemente, em buscarmos

Seu reino, que não é deste mundo; a beber de Sua fonte perene de amor e de pensar nas diferentes moradas que existem na casa do Pai. Para tanto, cremos que as instituições espíritas têm um papel decisivo: o de educar o Espírito, preparando-o, para esta e as novas encarnações; colocando-o rumo à evolução, em consonância com a transição planetária. Hoje, se fala muito em humanização. A Pedagogia Espírita seria uma das formas de humanizar os profissionais de ensino? – Sem dúvida alguma. Mas, a humanização, a partir da Pedagogia Espírita, é vista por uma perspectiva mais ampla, pois considera, também, a dimensão espiritual do ser, como relevante para seu processo educativo. Por um lado, os educadores são compreendidos, nesse curso, como Espíritos dotados de uma mediunidade encantadora, pois são mediadores entre o saber e o educando; por isso, tem a responsabilidade de encaminhar seus alunos, filhos, irmãos, sobrinhos, etc. para o caminho da luz. Para tanto, precisam ser exemplo de amor. Já não basta que falem sobre o amor; precisam, antes, amar. Se queremos construir um mundo melhor, precisamos investir nos educadores. Mas, não basta qualquer formação. É o sentido da atuação desses profissionais que precisa ser ressignificado. E, sabemos que nenhum curso acadêmico tem contemplado essa dimensão, na formação do educador. A base de tudo é o Evangelho de Jesus, interpretado à luz do Espiritismo. Assim como o Cristo não desiste de nós; como educadores formados na Pedagogia Espírita, não desistiremos de nenhum dos aprendizes que marcham conosco nessa grande escola. Para todos, seremos a luz. Suas considerações finais. – Este é um curso pensado por muitos seres (encarnados e desencarnados) dos quais me faço, momentaneamente, um humilde porta-voz. O objetivo maior do curso de Pedagogia Espírita é resgatar em nós o desejo contínuo pela educação do Espírito, e não, apenas, do corpo. A escola, atualmente, não educa. Apenas, instrui... De que adianta ser médico, saber como salvar uma vida, se, antes, precisa saber se o paciente possui plano de saúde ou dinheiro para pagar? De que adianta ser administrador, saber todas as técnicas da gestão, se não é possível tratar a todos com respeito? Se a posição o faz sentir superior? De que adianta ser professor, conhecer todas as teorias da aprendizagem humana, se não consegue amar o aluno difícil, indisciplinado, rebelde? É, mais ou menos assim, que a Escola tem funcionado: forma profissionais; mas, apaga a centelha de luz que habita em cada um de nós. O curso de Pedagogia Espírita quer resgatar a centelha divina de cada educador, de cada profissional, de cada ser. Queremos construir a Escola que Educa e precisamos de profissionais capazes de atuar nesta escola. Sandra Santiago é integrante da Instituição Espírita Educar e da Escola Espírita Eurípedes Barsanulpho, em João Pessoa/PB. Entrevista concedida ao colunista Marcos Paterra com exclusividade para revista Tribuna Espírita.

2016 • maio/junho • Tribuna Espírita 11


Vende tudo o que tens... (Mt.19:21)

P

assaram-se os primeiros séculos da crucificação do Cristo... O “Anjo da Morte” percorreu todas as vielas de emaranhada e turbulenta cidade medieval à procura de Natanael, o curtidor. Os informes eram poucos e desencontrados. Ninguém sabia, ao certo, onde se metera aquele jovem místico e sonhador. Transcorreram 50 anos, e as únicas coisas que os mais idosos comentavam: - Natanael era um visionário. Acharam-no dizendo, certa vez, que ouvira o verbo inflamado de um sacerdote, comentando a passagem bíblica em que Jesus aconselha um jovem a vender tudo o que tinha para dar aos pobres, e, assim, teria um tesouro no céu. O sermão o empolgara, de tal forma, que não mais o ouviam falar em outra coisa. E, dia após dia, viam-no se desfazendo de suas posses, adquiridas com tanto sacrifício. Contava-se, também, que um ancião, preocupado com o futuro daquele moço, alertara-o, dizendo que não bastaria desfazer-se das posses materiais, para ter acesso aos planos iluminados de Deus; fazia-se indispensável, não mentir, não trair, não pecar...

12 Tribuna Espírita • maio/junho • 2016

Após infrutíferas buscas, nas casas, nos albergues e nos arredores daquele povoado, o “Mensageiro do Além” resolveu escalar a encosta montanhosa, seguindo trilhas tortas e íngremes, iluminando-as, com tosco facho de luz bruxuleante, até alumiar o rosto de um velho de cabelos desgrenhados, olhos injetados, vermelhos, barba espessa e esbranquiçada a roçar-lhe o peito, sentado num tronco de árvore transformado em cadeira, à frente de uma escura gruta de pedra. − Natanael, meu irmão! Vim lhe buscar. É chegado o fim do caminho. − Há muitos anos, espero por esse momento alvissareiro − respondeu o eremita. Preparei-me, duramente, por esses anos todos. Logo cedo, tive noção do pecado. Por isso, deixei tudo para trás: esposa, filhos, trabalho, bebida, diversão, fantasias. Furtei-me de tudo, para ser merecedor da morada dos deuses. − Natanael, desperta! – continuou o anjo – Percorremos a cidade toda a sua procura, porque era lá que você deveria se encontrar, enfrentando as tentações e sendo fortalecido por elas; lutando, de inverno a verão, para lapidar a pedra bruta de seus filhos. Que localizamos?. Infelizmente, devido à ausência de um pai disciplinador, encontramos um, no hospício, por consumo excessivo de drogas; o outro, o mais novo, recluso numa penitenciária. Soubemos, depois, que Eli, insatisfeito com o inesperado estado de miséria decorrente de sua dissipação, envolveu-se com assaltantes, tentando, inconscientemente, reaver os bens que você desperdiçou...

− Mas, eu fiz, exatamente, o que o Evangelho recomenda − justificou-se. Além do mais, para não cair na tentação do sexo e da bebida, da riqueza e do luxo, tomei a iniciativa de viver isolado do mundo, para não ser arrastado pelo mal, nem ter a possibilidade de agredir ninguém... − Meu filho – arrematou o anjo – houve um grande equívoco de sua parte; não é fugindo da luta, que se faz um grande guerreiro... Enquanto a equipe se preparava para acomodá-lo numa carroça de feno puxada por animais, o velho passou a apresentar um comportamento de completo desequilíbrio: − Onde está a carruagem ornada em luz que vai me conduzir ao céu? Está havendo um grave engano! Eu não matei ninguém, não ofendi ninguém! Examinem, com mais cuidado, a ficha de minha vida e perceberão que me ausentei do mundo, para não cair em erro... O anjo, porém, com um misto de piedade e paciência cristã explicou-lhe: − Meu querido, não fazer o mal não é o bastante; faz-se imprescindível realizar o bem. Amigo – concluiu – se o Cristo não tivesse se misturado a pecadores e leprosos, sua mensagem poderia ter permanecido esteticamente bela, mas estaria órfã do exemplo vivo que educa e transforma. Lembre-se de que Jesus, jamais, se furtou ao convívio com o pecador, auxiliando-o, sempre que oportuno. É verdade que o Mestre Divino afirmou que, para se obter um tesouro no céu, se faz necessário despojar-se dos bens; mas, dos bens que nos aprisionam... Não se esqueça de que ele concluiu o seu ensinamento dizendo: “Vem e segue-me.” Portanto, o que lhe faltou foi somente, segui-lo! Lindemberg (Mensagem psicografada pelo médium Zaneles Lima de Brito, em 03 de março de 2016, na reunião mediúnica da Associação Espírita Leopoldo Machado, em Campina Grande-PB). Foto: Gloogle Imagens


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Crise ou oportunidade? ANDRÉ MARINHO Rio de Janeiro-RJ

M

omentos difíceis da vida nacional, como o que agora se vive, necessitam – para os espíritas – ter a força de os unir, e não de os desunir. Em política, o que se debate, atualmente, são as partes, palavra que origina o conceito de partido; para o Brasil, no entanto, os espíritas hão de se pensar no Todo. É natural que os dias agitados angustiem, sobretudo quando se indaga acerca de que futuro é esperado. Há de se crer, como espírita-cristãos, que existe um projeto espiritual maior do que aquele que conseguimos entrever. Há de se crer, que o ser-humano pode muita coisa, mas não pode tudo: existe uma vontade superior a guiar o planeta terra, este rico e portentoso mundo, a guiar destinos. Essa vontade não é contrária ao livre-arbítrio: a Lei divina lida com a limitação e pequenez intelectiva e espiritual humana, e, apesar da limitação, conjunturas nacionais e internacionais são modificadas, mas não se consegue definir, efetivamente, tudo o que se há de acontecer. É o que alguns historiadores chamam de “o imponderável agente histórico”, aquilo que não estava em previsões nem em cálculos estratégicos. Esse imponderável existe, ainda que os humanos tentem negá-lo ou, inconscientemente, agir contra as forças espirituais; contudo, essa poderosa força não aniquila nem a vontade nem os caprichos humanos: ela, apenas, impede que os planos maiores, os grandiosos planos de Deus, sejam limitados e definidos pelos seres da criação, que são os agentes, servos e senhores do Reino dos homens. O Reino de Deus não se abala. A Lei divina, por mecanismos que a todos os seres imperfeitos escapam, age por meio do imponderável. Isso, igualmente, não significa que tudo será resolvido magicamente, nem que se recomenda a acomodação e a espera. Não! Os planos de Deus, como disse o apóstolo Pedro em sua epístola, possuem uma temporalidade muito além da humana e podem se concretizar em longínquo prazo. Nós, que organizamos a sociedade dos encarnados e dos desencarnados, porque, ora somos este, ora somos aquele, devemos nos atentar para nos aplicarmos, no aqui e no agora, enfrentando a crise, em espaço microcósmico, isto é, naquilo que é possível, se alterado por nós: a nossa comunidade. Entender a crise brasileira – quer política quer econômica – significa entender que toda a crise é oportunidade de crescimento. Sendo assim, temos de, encarnados e desen-

carnados, retornar à força de nossa comunidade local; temos de reativar e fortalecer nossos laços estreitos pessoais; temos de descobrir modos de superar, de nós, aquilo que, em Brasília, é crise. Politicamente, temos o que fazer. Inicia-se, no simples exercício de não sermos parte, mas sermos o todo. Estender a mão a qualquer um – seja de que parte for; escutar opiniões distintas; aprender a não discutir e levar para o pessoal os debates individuais; ter a capacidade de aprender com as diferenças. Exercitar, por fim, a capacidade de dialogar, com toda a sua grandeza, que exige conseguir descobrir pontos em comum; realizar autocrítica do próprio pensamento e poder se abrir ao conhecimento novo. Complexo e acessível exercício esse, que pode unir os desunidos na comunidade espírita, num momento em que, infelizmente, tantas desuniões estão se processando, por causa de diferentes visões. Economicamente, temos, igualmente, como superar essa crise, em âmbito da comunidade espírita. É a hora de aprendermos a raciocinar sobre os gastos e de se partilhar mais, criando uma economia solidária. Em vez de reter, por medo de perder, é a hora de, por simples métodos, dividir o que se tem, de modo inteligente e compensatório, por meio de trocas de produtos, prestação de serviços um ao outro, sem querer colocar o lucro ou a preservação do próprio capital acima de tudo. Entendendo o Movimento Espírita como uma comunidade, pode-se conseguir, por meio, efetivamente, da solidariedade, que se expressará por ações, tanto políticas – o diálogo, o debate, quanto econômicas – partilhar, ultrapassar a limitação do tempo histórico e, consequentemente, conseguir a boa prática de nobilíssimos valores espirituais. Agir desse modo, enriquecerá as vidas, dará a todos chance de evoluir e, sobretudo, permitirá que seja possível contribuir com a ideia de que muitos dos desacertos históricos hão de mudar, desde que se descubram métodos inteligentes de, na comunidade local, se romper com o pessimismo dominante, o oportunismo vigente e o extremo egoísmo que domina a sociedade contemporânea. O Reino dos homens pode, sem percebermos, construir um outro Reino na terra, um reino, no qual não são os valores da matéria a tudo dominar, mas sim, um Reino no qual a solidariedade e a fraternidade efetivas sejam os nortes da ação humana. Se isso ocorrer, que se saiba: esse será o Reino de Deus. 2016 • maio/junho • Tribuna Espírita 13


Evolução dos Sentimentos FLÁVIO ROBERTO MENDONÇA Recife-PE

“Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade”. João 4:23

E

sta sentença, muitas vezes, passa despercebida por muitos. Trata-se do diálogo de Jesus com a samaritana em Sicar, junto à fonte de Jacó. O que quis Jesus passar, como mensagem, nessa frase? Imagino que ele esteja sugerindo que há um tipo de adoração mais adequada e que só os verdadeiros adoradores logram. Fazendo uma analogia com os estudos ontogenéticos, ou seja, a evolução das espécies, há postulados em que sugerem que o homem é um processo adiantado de outros processos anteriores, chamados de reinos da natureza. O neurocientista Dr. Paul Maclean mostra com sua teoria a construção do sistema nervoso central a partir dos répteis até a espécie humana, sugerindo que a formação do cérebro seguiu, basicamente, em três etapas. No livro “No Mundo Maior”, de autoria do Espírito André Luiz, pela psicografia de Chico Xavier, onde o autor espiritual menciona, no capitulo ‘A Casa Mental’, que nosso cérebro, formou-se, também, em três etapas, assim como um castelo de três andares. Aqui, não se deve alongar demais, no tema, para não tornar o assunto muito denso; todavia, é possível ao leitor acessar o livro citado ou pesquisar sobre o “cérebro trino de Paul Maclean”, pela internet. Tratamos da questão acima, para analisar a evolução dos sentimentos. Naturalmente que, se é verdade que o cérebro evoluiu de estágios inferiores, não nos é difícil compreender que o sentimento seguiu a mesma ordem. Isso, porque ele está associado ao desenvolvimento de determinados órgãos. Por exemplo, sabemos que o sentimento tem sua coordenação no sistema límbico, e que sua qualidade está ligada a determinadas funções cerebrais e hormonais. Desta forma, é natural que determinadas criaturas não demonstrem, por exemplo, a mesma desenvoltura lúdica que alguns mamíferos mais adiantados. Outros, ainda, não demonstrem o senso criativo mais robusto, se comparados a espécies mais evoluídas. Um inseto, se comparado a um gatinho ainda criança, nenhum comportamento lúdico apresenta. É que o segundo é dotado de equipamentos que a evolução lhe proporcionou, enquanto o primeiro, ainda, está a caminho de conquistar.

14 Tribuna Espírita • maio/junho • 2016

Portanto, é fácil compreender que determinados sentimentos atribuídos aos animais não encontram respaldo científico. Fica restrito ao romântico desejo humano, por nutrir sentimentos de amizade com eles. É que, para determinados comportamentos, tem-se aparelhos fisiológicos apropriados, para que os sentimentos possam se manifestar. Vamos analisar, por exemplo, o sentimento de responsabilidade perante os atos. Vemos, em alguns mamíferos, rudimentos de um sentimento de certo ou errado, sobretudo, quando, após cometer suas “traquinagens”, percebem os donos a sua frente, com aquele ar de reprovação. Podemos ver isso, em alguns animais domésticos. No entanto, aquele sentimento amadurecido que denota o verdadeiro padrão moral, que faz julgar o que é certo ou errado, só o humano pode demonstrar, e, mesmo assim, em níveis proporcionais de evolução. É claro que, aqui, excluímos os pacientes com desequilíbrio mental. É que, no estágio de humanidade, a aparelhagem está mais desenvolvida, que em fases anteriores. Dá-se, aí, grandes possibilidades, no campo dos sentimentos nobres. O lobo frontal, nesse mister, atua, ensejando os mais belos sentimentos, de afeto, de compaixão e de nobreza da alma. E, isso se dá, apenas, quando esse órgão nobre está desenvolvido o suficiente, para utilizar-se dessas energias sublimes. Portanto, fica demonstrado que o postulado, de que os sentimentos evoluem com o progresso espiritual, corrobora com a sentença de Jesus, quando diz que “(...) os verdadeiros adoradores adorarão o Pai, em espírito e em verdade (...)”. Ou seja, nosso potencial mental e espiritual, ainda, terá muito para evoluir, a ponto de atender a máxima de Jesus. É preciso muito aprimoramento, no campo pessoal, desenvolvendo o amor interno, através das práticas de altruísmo. A seara é o mundo e os aprendizes somos nós mesmos, nos estágios em que nos encontramos. É fundamental, portanto, que nos debrucemos sobre as práticas do Bem, para nos tornarmos melhores, para sublimarmos nossos sentimentos e nos permitir atingir estágios mais elevados, descritos por Espíritos amigos que já os conquistaram. A caminhada é longa, porém, o caminhar é suave, se devotado ao bem e ao progresso. Dia chegará, em que poderemos adorar a Deus em Espírito e Verdade! Que assim seja!

Fotos: Gloogle Imagens


O Filho Pródigo

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MAURO LUIZ ALDRIGUE João Pessoa-PB

(...) Um certo homem tinha dois filhos. E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence. (...) Lc. 15:11-32)

J

esus, ao propor esta Parábola, nos faz perceber a compreensão de Deus, como o pai, e os dois filhos que representam os homens, os seres humanos. A figura do pai, que atende, com amor e misericórdia, as diferentes necessidades evolutivas dos seus filhos representados pelos dois irmãos: um, pródigo; outro, egoísta. Destaca, também, o uso do livre arbítrio, a manifestação da “Lei de Causa e Efeito” e os fundamentos do processo de evolução do Espírito. O filho, denominado pródigo, é a fiel imagem dos “pecadores”, cujas faltas transparecem, ressaltam, logo à primeira vista. São todos aqueles que se deixam arrastar ao sabor das voluptuosidades, sem direção. Estão cônscios das imperfeições próprias, com as graves falhas de seus caracteres e, assim, permanecem, até que o aguilhão da dor os desperte. O filho mais velho, o egoísta, é a perfeita encarnação dos que se julgam isentos de culpa, protótipos de virtudes, únicos herdeiros das bem-aventuranças eternas, pelo fato de se haverem abstido do mal. “Não basta não fazer o mal, é necessário fazer o bem no limite de suas forças”2. São os orgulhosos, os exclusivistas, os sectários que se apartam dos demais, para não se contaminarem, como faziam os fariseus. Descrêem da reabilitação dos culpados e se imaginam, no alto, e os demais, em baixo. O filho pródigo sentiu a necessidade de vivenciar novas experiências, à distância do lar. O Pai demonstra compreender ser um acontecimento natural e lhe atende ao pedido, para que vá conduzir-se à vida, na forma que lhe aprazia, segundo os critérios da vida material. É a personificação daqueles que se entregam, desvairadamente, aos prazeres materiais. O desregramento dessa conduta produziu-lhe grande sofrimento. Foto: Gloogle Imagens

Descobre-se, como único responsável por tamanha desventura; arrepende-se dos erros cometidos e decide retornar à casa paterna, pedindo perdão, disposto a se reajustar, perante a Lei Divina, que representa a “Lei de Causa e Efeito” e o sinal de transformação moral que, em geral, atinge os que se transviaram, ao longo da caminhada evolutiva. Para tanto, se faz-se necessário o Espírito passar por um período de reajuste, como o que Jesus nos mostra, no exemplo em que o jovem passou por graves problemas, privações, pelo trabalho, pela fome, até compreender o mecanismo da redenção. A vida abençoada na casa do pai foi a brecha espiritual que lhe permitiu reconhecer os erros cometidos (cair em si), admitir a indigência espiritual em que se encontrava e, arrependido, impor uma nova diretriz à sua existência. Voltar à casa paterna foi a decisão de fugir às trevas e penetrar a luz. A atitude do pai, ao reencontrar o filho, foi de íntima compaixão, refletindo a misericórdia divina. Estendeu-lhe os braços, quando o filho se levantou e desejou o seu calor do coração. O filho mais velho ilustra, nesta história, o exemplo do egoísmo. Aparentando ser um servidor correto, por estar presente, de modo ostensivo, na casa do pai, realizando suas obrigações, revelou-se egocêntrico e intransigente. O que demonstra não haver uma transformação no bem, nem uma libertação da inveja e do ciúme, julgando-se o único merecedor dos cuidados e atenção do genitor. Deve-se reconhecer que o filho pródigo é, sempre, alguém que pecou, sofreu, amou. A dor despertou-lhe os sentimentos, iluminou sua consciência e impeliu-o a movimentar forças internas e buscar virtudes, como a humildade, para conseguir sua remissão. Reconheçamos, ainda imperfeitos e cheios de atitudes equivocadas, que o caminho que Jesus nos aponta, é aquele da volta do filho à casa do pai, ao compreender os desígnios das leis divinas. Referências: 1 FEB. “Estudo aprofundado da Doutrina Espírita”. Brasília, 2013. Livro III, parte 2. 2 KARDEC, A. “O Livro dos Espíritos”. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Perg. 642.

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“O amor que me perturba, satisfaz! É o que, também, me adormece...”

Meu Estranho Amor, o único que conheço LISZT RANGEL Recife-PE

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ão é raro, ver pessoas envolvidas em uma relação onde o ideal procurado na completude através da presença do outro, acaba por tornar-se um fator desencadeante de profundos processos traumáticos na personalidade e no âmago deste convívio. As inúmeras carências, movimentadas pelos desejos desconhecidos, são agentes multiplicadores da instabilidade. O que se agita, interiormente, busca meios para se estabelecer em um ato contínuo fora do indivíduo, perpetuando-se, de forma sintomática, na relação com o outro. Este lugar que se procura entre os amantes, muitas vezes, sequer, se sabe qual é. Um deles pode ignorar a importância em sua origem e em seu sentido, bem como da existência e da manutenção dos porquês da relação entre os envolvidos. O afeto direcionado ao objeto do desejo é tão desconhecido, quanto a origem do próprio desejo, e porque não dizer inalcançável; ou seja, o outro só me pertence em meu desejo. Assim sendo, é incapaz de preencher a falta original, eterna motivadora do desejo. O outro desliza nas expectativas de quem o deseja, torna-se motivo de busca incessante, como algo que irá saciar uma fome sem fim, ocupar um lugar vazio, tal qual um buraco negro pode consumir toda energia. De forma semelhante, ocorre, quando o ser amado torna-se o único ob16 Tribuna Espírita • maio/junho • 2016

jeto para o qual se direciona a libido do amante. Ele o consome! No outro lado desta moeda chamada sociedade pós-moderna, existe, cada vez mais, a extinção das relações e o aumento vertiginoso dos relacionamentos. Relações representam profundidade, investimento, compromisso, transparência, e se trata de um caminho de mão dupla, onde os amantes compartilham, e não se complementam; respiram e não se sufocam; sobem ajudando-se, e não um sobre o outro; equilibram-se nas diferenças, porque, humildemente, aprendem um com o outro. Ao mesmo tempo, a satisfação com esse tipo de relação parte da premissa de que a autoconfiança é o resultado do aprimoramento de um afeto que tem em si mesmo, o que se chama contentamento. O contentamento não se alcança na dependência com o outro, tão pouco deve ser confundido com autossuficiência, posto que, já poderia se confundir com arrogância. Contentar-se é primar pela atitude de sentir-se bem consigo, com o que se fez, com o que se tem e, em especial, com aquilo que não tem, e provavelmente, jamais terá. É, também, a iniciativa de aceitar-se. Quando há autoaceitação, no sentido de compreender-se, conhecer-se, consequentemente, surge compreensão de que, na vida, nem tudo se pode ter; de que, na existência; há perdas e ganhos, e mais faltas do que conquistas. Todavia, a postura mais referendada é a do depósito ilusório em alguém que possa transmitir ao amante a oportunidade de viver momentos que, apenas, ele seria responsável por conquistar ou não, porque a

Vida diz não e, como conviver com a falta e com o não, se torna fonte preciosa de aprendizagem para o indivíduo. Alguém pode fazer o seu dia mais radiante; porém, ainda assim, ele não será o seu sol. Alguém pode lhe trazer serenidade, mas a paz é um estado íntimo e intransferível. Alguém pode lhe despertar alegria; todavia o sorriso é seu. Não obstante, o desejo de ser feliz e de ser amado que, por sinal, é muito válido, não se deve duvidar que estas são conquistas pessoais e se dão através de uma disciplina, de um esforço, e não decorrem do simples fato da presença do outro. Todas as vezes que se dispõe ao outro, o que somente o indivíduo pode realizar, se faz ouvir à distância o toque das trombetas da desilusão. Além da falta de autoconfiança, ainda que ocorram estados de uma realização afetiva, estes foram entregues ao amante e, desta forma, neles não há o que comemorar, pois não se tratam de uma conquista pessoal e sim, de uma oferta dada, disposta à mesa, e que, a qualquer momento, pode ser retirada, ou então cobrada, propiciando, então, o contato com a dor, com a decepção e o que é mais dilacerante, a identificação de uma realidade muitas vezes evitada, velada sob o que houvera sido idealizado. Muitos, diante dessa possibilidade, engendram mecanismos de defesa os mais variados, a fim de não se permitirem ao risco do contato com o sofrimento. É uma alternativa, fugir do que se pode sentir e de si mesmo, ainda que permaneça a falta, gerando desejos. Sim, porque mesmo que Gloogle Imagens


se evite o envolvimento, sob o pretexto de que amar é sofrer, por exemplo, ou de que, nos dias atuais, ninguém é confiável, o indivíduo termina por afastar-se de si, enquanto potencial para amar, e gratificar-se por sentir amor, e não, buscar ser recompensado pelo amor do outro. Não, que este amor não possa ser gratificado, até porque, as relações são compensatórias e ,quando não há ganhos para ambos os lados, a parceria já fica ameaçada. Entretanto, quando se tem um compromisso para consigo, nem a dependência, muito menos as ameaças externas de perda, não possuem mais forças do que a capacidade de se amar, de se sentir bem, com o que se vivencia interiormente; daí, advir o contentamento, mesmo diante das adversidades, dos desencontros e da impotência do que se queria ter o controle. Há, diante desses isolamentos que se questionar, que amor é esse que não transcende? De que se trata esse sentimento que, embotado, cede espaço para a fluidez egóica dos relacionamentos? Será, em verdade, maturidade afetiva? Este amor cheio de si, de fato, preenche a falta? E, se é forte por si, somente si, por que ele, o ser que ama não se arrisca às experiências mais enriquecedoras no contato com o outro? Se é tão forte, há de se indagar que, não suportaria as expectativas de frustração com o outro? Em se evitando amar, sob o pretexto de que a felicidade a dois não foi feita para quem assim crer, não se estaria em risco de eleger-se como figura central de um amor narcisista, primário, em que se realiza no autoerotismo da apreciação da própria imagem? Quando isso ocorre, do que se trata, senão, de uma eleição ao amor-próprio, tão confundido com o autoamor. Não se pode descartar, nesse quadro, a

necessidade da autoafirmação, como consequência de uma baixa na autoestima e certa presença da falta de autoconfiança. Esta se manifesta em comportamentos individualistas, típicos de uma sociedade líquida em seus valores, sem sustentação nos princípios norteadores, perdida em sua identidade. E, assim, o objeto do desejo, mais uma vez, flui, desliza de um para outro ponto de curta apreciação, para, em seguida, escapar, se dissolver como os sonhos são esquecidos, à medida que o dia transcorre, e tudo volta ao comum, à repetição, à banalidade, para, depois, adormecer, mais uma vez. E, assim, quem sabe, voltar a sonhar, ou talvez edificar o próprio medo, aquilo de que tanto fugiu, e que se apresentará como pesadelo em noite solitária. Mas, o bom de tudo é que essa angústia do pesadelo e do medo deverá ser experimentada, para que possa ocorrer o despertar. Este despertar, todavia, é facilmente adiado, devido ao referencial que foi tomado acerca do amor. Na tradição judaico-cristã, amar é ter posse e exclusividade. Parte da premissa de que Jeová é exigente no amor, e toma para si, o que lhe agrada

Nossas escolhas HÉLIO NÓBREGA ZENAIDE João Pessoa-PB

A

vida nos oferece muitas surpresas... Com elas, muitos desafios. Diante dos desafios, temos que fazer as nossas escolhas e, para tanto, temos o nosso livre arbítrio. Somos chamados a nos pronunciar e temos a liberdade de escolha, entre esse ou aquele caminho, entre essa ou aquela conduta, entre essa ou aquela companhia, entre essa ou aquela solução, etc. Pois bem, uma escolha nossa pode mudar o rumo das nossas vidas. Imaginem vocês as muitas escolhas que já fizemos, nessa vida. Imaginem os muitos desafios que, ainda, virão, para comprovar o quanto a nossa vida é feita de escolhas. Imaginem, como que o nosso livre ar-

bítrio nos ajuda, nessas escolhas. Nas nossas relações pessoais, por exemplo, nos aproximamos, uns dos outros, pelas nossas escolhas e, por aí, vão muitas outras escolhas que nos fizeram chegar aonde chegamos. Mas, nenhuma escolha se compara à que tomamos, com relação a nossa fé, com a fé que temos em Deus, nosso Pai, e em nosso Mestre Jesus. Isso, porque nas nossas relações de fé, um vínculo profundo e natural justifica essa preferência. Escolhemos permanecer com Deus, nosso Pai Criador e, cá, estamos nós com o Pai, abençoando as nossas vidas, desde sempre. Escolhemos estar com Jesus e, cá, estamos, com o Mestre nos ensinando todos os dias de nossas vidas.

ou não, e sua resposta, diante do que não lhe satisfaz, culmina, geralmente, em violência, a mesma perpetrada na intimidade dos lares. O “Todo-Poderoso” deixou os céus e materializou-se, afetivamente, entre seus filhos e filhas, em especial, no Ocidente, revelando uma faceta inconfundível, a de um amor que infantiliza. E, como crianças sempre necessitadas de amparo, de cuidados, seus filhinhos se submeteram a todos os tipos de maus tratos. Tudo, em nome do amor. Um amor que espanca, que humilha física e psicologicamente, que despersonaliza e, ao mesmo tempo, se faz crer como o único existente e que deve ser procurado, como projeto idealizado de felicidade; porém, de fato, torna-se, facilmente, projeto experimental de sofrimento. Se Deus ama, incondicionalmente, como ensina a tradição judaico-cristã, então, por que ele castiga? Por que tem preferidos e eleitos? Por que se contraria, quando não correspondido? Por que escolhe um para adoecer e outro para gozar de saúde? E, por que, finalmente, exige sempre uma relação separatista entre preferir e preterir? E, assim, o referencial de amor, tomado de empréstimo por seus filhos, se assemelha ao que lhes foi inspirado, oriundo de uma divindade muito mais humana do que divina. Dentro desta aprendizagem observada, o meu, o seu, o nosso amor é mais humano ou divino? Mas, se for divino, é, também, humano, haja vista, o Deus da cristandade, possuir caracteres de uma humanidade narcisista, orgulhosa, arrogante e infantil. Herda-se, portanto, em atitude contínua de geração em geração, nascidos do “Todo-Poderoso”, ou dos deuses lares o amor estranho, o único que conheço! O amor que me perturba, mas que satisfaz, é o que, também, me adormece...

Deus, o nosso Pai, nos abençoa e quer os seus filhos unidos. Jesus, o nosso Mestre, nos ensina e quer que o amor nos una. É, assim, que uma boa escolha ampara outra escolha. É, assim, que deve ser nas nossas vidas. Acontece que temos a nossa liberdade de escolha e, nem sempre, usamos bem essa liberdade. Movidos pela inquietude, impulsividade, imediatismo, podemos atropelar o nosso livre arbítrio e, com isso, criar alguns transtornos. É, quando ocorremos em erros, nas nossas escolhas. Em sã consciência, dá, até, para sentir o peso desses erros sobre nós. Agora, quando primamos pelos valores morais, temos como imprimir essa marca nos atos comuns das nossas vidas. É, então, que o nosso livre arbítrio vai estar orientado, para assegurar as melhores escolhas e, como fazemos muitas escolhas nessa vida, isso, sim, vai nos dar tranquilidade. Deus, nosso Pai, nos abençoe.


A Justiça Social e o Centro Espírita AZAMOR CIRNE João Pessoa-PB

“Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo, ninguém morre de fome”. Responderam os Espíritos a Allan Kardec, na Questão nº 930 de “O Livro dos Espíritos” (Paris, 1857).

L

ogo em seguida, vem o comentário de Kardec, que destacamos nessa passagem: “Com uma organização social criteriosa e previdente, ao homem, só por culpa sua, pode faltar o necessário”. Como se pode observar, através dos relatos históricos, a sociedade daquele tempo, há 159 anos, tinha muito a desejar, em relação à nossa atual, embora, persistam os vergonhosos males que a infelicitam. Assim, segundo as afirmações acima, procuramos situar a primeira parte do nosso artigo. Sobre o que disseram os Espíritos, na questão citada, para que isso aconteça, faz-se necessário o estabelecimento das condições básicas: alimentação, moradia, saúde, escola, emprego (trabalho), justiça e previdência. É dever do Estado, assegurar tais condições, reza nossa Carta Magna. Segundo a lei do Cristo, é como as encontramos no seu Evangelho, como o grande instrumento inspirador dos direitos e deveres à luz da Justiça e do Amor, numa sociedade que se diga organizada. Ele veio, para que tivéssemos vida em abundância; isto é, na plenitude dos nossos direitos e obrigações: “ (...) o que querereis que os outros vos façam, fazei vós a eles”1. Ao que observou Kardec, no seu comentário, quando atingirmos aquele patamar, podemos dizer que está bem perto o “Reino de Deus”, aqui, na Terra. Ora, como o próprio Cristo fez questão de afirmar: (...) O reino de Deus não vem com aparência exterior. (...) porque eis que o reino de Deus está entre vós 2, levando-se a concluir, então, que o homem, 18 Tribuna Espírita • maio/junho • 2016

como partícula divina, tenha melhorado bastante, despojando-se do egoísmo e do orgulho, causas de todos os males desagregadores da sociedade, dificultando a construção da grande ponte da solidariedade. O desenvolvimento moral e material do homem é o alvo principal do Espiritismo. Na segunda parte de nosso artigo, vemos o “Centro Espírita” que, refletindo um imenso conglomerado de saber e de amor do mundo transcendental, envolve-se numa atmosfera de vibrações elevadas, inspirando, através da fé raciocinada, o constante ensejo de renovação superior, facultando o descortino das razões do destino, da dor, da prova e da expiação. Como um grande educandário, é o caminho da escalada pedagógica da alma, no conhecimento de si mesma e da própria vida. Como oficina, oportuniza o exercício fraternal das lições recebidas, no atendimento fraternal nas assistências material e espiritual, na educação dos

sentimentos para a superação dos erros e dos vícios, que prejudicam o individuo e ao seu próximo. Defeitos esses que, em muitos casos, estão guardados nos recessos da alma (inconscientemente, como diria Jung). As ações solidárias se desenvolvem à luz do Evangelho, consubstanciadas com o Espiritismo, codificado por Allan Kardec. Daí, verificamos a responsabilidade, o interesse e o zelo do Codificador, em preservar os postulados da Doutrina; ao enfatizar, veementemente, a importância da capacitação dos adeptos, antes do desempenho das atividades doutrinarias, seja ele um douto ou não. “O Espiritismo é toda uma Ciência, toda uma Filosofia. Quem, pois, seriamente queira conhece-lo deve, como primeira condição, dispor-se a um estudo sério e persuadir-se de que ele não pode, como nenhuma outra ciência, ser aprendido a brincar. (...) Forma-lhe, sem dúvida, a base, a crença nos Espíritos, mas essa crença não basta para fazer de alguém um espírita Foto: Gloogle Imagens


esclarecido, como a crença em Deus não é suficiente, para fazer de quem quer que seja um teólogo (...)3”. Assim, é que uma série de cursos doutrinários é instituída, para a Casa Espírita, atinentes aos departamentos de: “infância e juventude”, “adultos”, “doutrina espírita”, “mediunidade” (teoria e prática). A par dessas atividades, que funcionem, também, uma biblioteca e, se possível, uma livraria especializada. As palestras são realizadas, em reuniões publicas, em seus auditórios, quando as pessoas a elas acorrem, interessadas em ouvir, analisar e aprender. Resta-nos, agora, falar do “Departamento de Assistência e Promoção Social”, que integra as atividades de quase todas as sociedades espíritas. Inicialmente, queremos frisar, que a maior ou menor envergadura desse trabalho está na dependência das disponibilidades oferecidas, tais como: localização da Casa, área construída, trabalhadores, frequentadores, finanças e toda uma série de fatores outros, que justificam o empreendimento e o empenho. Sendo que a característica maior reside, mesmo, no amor, na fraternidade e na solidariedade em que se desenvolvem as ações, em sintonia com o Alto. Assim, é que vemos o iluminado Espírito Emmanuel, a se expressar por intermédio de Chico Xavier, a nos dizer: “O Centro Espírita Evangélico, por mais humilde, é, sempre, santuário de renovação espiritual, na direção da Vida Superior”.4 Encerramos este artigo, com um

“O Centro Espírita Evangélico, por mais humilde, é, sempre, santuário de renovação espiritual, na direção da Vida Superior” exemplo vivo que dá uma imagem significativa da grandeza espiritual, da simplicidade e da abnegação desenvolvidas em uma tarefa desse porte, na Casa Espírita, entre tantas outras, onde, também elas são procedidas. Ora, o exemplo está bem perto e, desse modo, reproduzimos as palavras da Diretora do Departamento de Assistência e Promoção Social do “Centro Espírita Leopoldo Cirne”, casa editora de nossa revista “Tribuna Espírita”, a Senhora Gizélia Xavier de Azevedo. “Em nosso Centro, existe uma programação voltada para os assistidos, que vai da distribuição semanal de uma cesta básica de alimentos à entrega de sapatos, roupas novas e usadas (em perfeito condição de uso), doadas por diversas pessoas, além de enxovais para bebês. Isso os deixam reanimados, para continuarem, orientandos, a buscar os direitos que, ainda, lhes restam.

João Pessoa - PB

As Propostas da Boa-Nova

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A VIDA PSÍQUICA – A vida mortal é cheia de conflitos. Um aspecto deles, sempre, foi conhecido: os conflitos com o mundo exterior. A psicanálise revela abundância de contradições internas. Existem as necessidades dos nossos instintos, da nossa natureza animal às quais resistimos; talvez, porque receemos consequências desagradáveis... ou porque recuamos desses instintos para uma espécie de obscuro pressentimento de perigo − o de perder o domínio sobre nós mesmos. [Trecho simplificado, excerto do tópico “As origens

___________________ 1 Mateus VII, 12 2 Lucas 17:20-21 3 Kardec, Allan, “O Livro dos Médiuns”, FEB, 2015 4 “O Centro Espírita”, Instituto de Divulgação Editora André Luiz, página 90, São Paulo/SP.

ELMANOEL G. BENTO LIMA

Painel Espírita

a condição de psicoterapeuta excepcional, Jesus utilizou-se de símbolos a fim de imortalizar as suas propostas de saúde e de bem-estar. Ao trazer as Boas Novas de alegria, numa época assinalada por criaturas aturdidas na ignorância, todo o seu ministério revestiu-se de propostas libertadoras do primitivismo, de respeito pela vida e em favor da harmonia dos sentimentos, na identificação entre o ego (*) e o self (**).

Participam, com interesse, das palestras de sentido evangélico, educativo e familiar. Os seus filhos, na faixa da infância e juventude, comparecem, assiduamente, às aulas do Departamento de Evangelização “Maria de Jesus”, coordenado pela nossa irmã Jussara Cirne Pereira, e acontecem, simultaneamente, no mesmo horário das reuniões, onde, pelo menos uma vez por mês, são realizadas reuniões de pais. Todo esse trabalho, junto ao “Departamento de Assistência e Promoção Social”, de nossa Casa, que tenho o prazer de coordenar, é realizado, com uma equipe de companheiras dedicadas. Tudo isso dá felicidade, prazer; e chamo a atenção para o sábio alerta que Kardec nos informa na Questão nº 888 de “O Livro dos Espíritos”: ‘Condenando-se a pedir esmolas, o homem se degrada física e moralmente (...). Por conseguinte, enquanto a sociedade vai se organizando mais e a Justiça Social vai sendo um direito comum, na prática, os Centros Espíritas vão instituindo a integração da família carente, através da Assistência e Promoção Social, afim de que nenhum de seus componentes, para não morrer de fome, venha pedir esmolas ou cometer assaltos”.

da Psicanálise”, da obra “Biblioteca do Pensamento Vivo – Freud”, apresentada por Roberto Waelder, Livraria Martins Editorial]

Compreendendo os conflitos dos indivíduos e das massas que constituíam, do inconsciente individual e coletivo referto de heranças primitivas, perturbadoras, sem vislumbres próximos de um superconsciente rico de harmonia, sabia que a única e mais eficaz maneira de proporcionar a libertação dos pacientes algemados ao egoísmo e ao imediatismo, somente seria possível, por intermédio do autoconhecimento. Em face da cultura religiosa fanática e atrasada − a sombra dominadora − bem como da ausência dos conhecimentos sobre a vida, somente facultados na intimidade dos santuários esotéricos, onde poucos iniciados tinham a oportunidade de conhecê-la, identificando a estrutura completa do ser e as suas afortunadas possibilidades amortecidas pela matéria, ele propôs a ruptura do

obscurantismo com as claridades da razão, utilizando-se os imperecíveis símbolos que passaram à posteridades e prosseguem, perfeitamente, atuais. Narrando parábolas, facultava o acesso ao ignorado “self”(**) e o despertava, de maneira hábil, embora simples, para que dominasse o ego, nada obstante as injunções perversas do seu tempo. Vivendo para todas as épocas, legou às gerações futuras os memoráveis ensinamentos. Por isso, foi enfático, ao afirmar a respeito de seus ensinamentos: a letra mata, mas o espírito vivifica. E narrou a “Parábola do Filho Pródigo” ( Lucas, 15:11-32 ). Trata-se, em síntese, de uma história que expressa a fragmentação da psique em torno dos arquétipos ( = imagens psíquicas do inconsciente coletivo, segundo Carl Gustav Jung, (1875-1961), psicólogo e psiquiatra suíço) dos valores morais no ser humano. (*) Ego = o eu individual. (**) Self = a própria pessoa

[Fonte: trechos extraídos e adaptados do Cap. 2 do livro “Em busca da Verdade”, do Espírito Joanna de Ângelis, pela psicografia de Divaldo P. Franco, Editora LEAL, Salvador-BA]

2016 • maio/junho • Tribuna Espírita 19


Mistérios Ocultos aos Sábios e aos Prudentes IGOR MATEUS Natal-RN

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o capítulo IV, da 1ª parte de “O Livro dos Médiuns”, vamos encontrar o interessante relato dos sistemas de negação do Espiritismo. Dentre eles, para não citar todos, vamos encontrar um, que Kardec intitulou: “Sistema do músculo estalante”. Esse sistema baseia-se em descoberta do fisiologista de Frankfurt, Dr. Schiff, e apresentada perante a Academia Nacional de Medicina Francesa, pelo Dr. Antoine Joseph Jobert de Lamballe, renomado cirurgião francês da época, que pretendia, com a fantástica “descoberta” do Dr. Schiff, dar o golpe de misericórdia nos fenômenos dos “Espíritos batedores”. Em “O Livro dos Médiuns”, o prof. Rivail resume as explicações do Sr. Jobert, que poderão ser encontradas em riqueza de detalhes na “Revista Espírita”, em sua edição de junho de 1859: “A causa, disse ele, reside nas contrações voluntárias, ou involuntárias, do tendão do músculo curto-perônio. A este propósito, desce às mais completas minúcias anatômicas, para demonstrar por que mecanismo pode esse tendão produzir os ruídos de que se trata, imitar os rufos do tambor e, até, executar árias ritmadas. Conclui daí que os que julgam ouvir pancadas numa mesa são vítimas de uma mistificação, ou de uma ilusão.” (Kardec, “O Livro dos Médiuns”, 1ª Parte, item 41) Sem entrar nos detalhes argumentativos, ao que convidamos os queridos amigos a leitura, tanto de “O Livro dos Médiuns”, quanto da “Revista Espírita”, vale ressaltar o comentário de Kardec, ao final do item: “Reconheçamos, pois, que ele julgou sem ter visto, ou sem ter observado tudo e observado bem. É sempre de lamentar que homens de ciência se afoitem a dar, do que não conhecem, explicações que os fatos podem desmentir. O próprio saber que possuem devera torná-los tanto mais circunspectos em seus juízos, quanto é certo que esse saber afasta deles os limites do

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desconhecido.” (idem anterior, grifo nosso) O amigo leitor pode estar se perguntando, qual a relação entre o conteúdo de “O Livro dos Médiuns” e a citação que inicia nosso artigo. Cremos numa estreita relação desse fato com o tema evangélico retirado dos itens 7 a 10 do cap. VII de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cujo título dado por Kardec foi “Mistérios Ocultos aos Sábios e aos Prudentes”, num capítulo cujo título é “Bem-aventurados os Pobres de Espírito”. Foi exatamente pensando nos sábios de sua época, representados, 18 séculos depois, pelos eminentes doutores Shiff e Jobert que, em determinado momento de seu messianato, Jesus disse: “Eu vos rendo glória, meu Pai, Senhor do céu e da Terra, por haverdes ocultado essas coisas aos sábios e aos prudentes, e por as haver revelado aos simples e aos pequenos.” (Mateus, 11:25) Nessa passagem, Jesus está querendo realçar a importância da humildade. Quer nos dizer que aquele que se humilha diante do Deus descobre as coisas da alma; por outro lado, aquele que se orgulha dificulta em si a aquisição desse conhecimento superior. E, por isso, permanece o orgulho sendo o nosso grande adversário... Orgulho, que faz com que os “sábios e prudentes” a que Jesus fez alusão, bem representados pelos respeitados doutores já aqui citados, creiam-se superiores aos demais, pela soma de conhecimentos materiais de que possuem; orgulho que não os faz admitir a possibilidade de que haja algo que escape a sua capacidade de compreensão; orgulho, que os impede, por mero capricho, de aceitar a existência de um ser superior, pois não podem admitir a existência de algum

ser que os supere; orgulho, enfim, que os faz construir uma imagem ilusória de si mesmos, e que tenderá a cair, quanto mais se elevem, cedo ou tarde, cumprindo outra mensagem profética do Cristo que nos diz: “Porquanto todo aquele que se eleva será rebaixado (...)”. (Lucas, 14:11) Foi, por isso, que Jesus encontrou entre os mais simples os seus mais leais discípulos. Foi, por isso, que preferiu esses, os simples e os pequenos, para serem os representantes de sua nova doutrina. E vocês podem estar se perguntando: Mas, por que Deus, na Sua infinita Sabedoria e Poder, não abre os olhos desses verdadeiros “míopes espirituais”? Kardec responde: “O poder de Deus brilha nas pequenas como nas grandes coisas; Ele não coloca a luz sob o alqueire, uma vez que a derrama com abundância por toda parte; cegos, pois, aqueles que não a veem. Deus não quer lhes abrir os olhos à força, uma vez que lhes apraz tê-los fechados. Sua vez virá, mas é preciso, primeiro, que sintam as angústias das trevas e reconheçam Deus, e não o acaso, na mão que atinge o seu orgulho. (...)” (“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. 7, it. 9). Diante dessas reflexões, ficamos com as orientações de Carlos Pastorino, na sua conhecida obra “Minutos de Sabedoria”: Seja humilde. A vaidade é o pior dos defeitos, porque engana a nós mesmos. Por mais que seja sábio, há sempre alguém mais sábio que você. Por mais forte que seja, haverá alguém mais forte. Portanto, seja humilde. Envaidecer-se de quê? A vaidade nos faz perder o sentido das proporções, e acabamos caindo no ridículo, porque nos enganamos a nós mesmos. Assim, meus queridos irmãos, agradeçamos a Deus a oportunidade valiosa que o Espiritismo nos faculta de entendê-Lo melhor, como sendo o nosso Pai Maior, e, nos momentos em que nos recolhermos em prece para adorá-Lo com a máxima verdade dos nossos corações, que possamos sentir as luzes do Evangelho do Cristo Jesus a iluminar esses nossos corações, reconhecendo-nos, ainda, como crianças, no que diz respeito ao conhecimento das verdades transcendentes do Espírito, mas relembrando, ainda uma vez mais, o Cristo, quando disse: “Deixai vir a mim as criancinhas, e não as impeçais (...)” (Mateus, 19:14). Muita Paz! Foto: Gloogle Imagens


As Instituições Espíritas e o Estado Goiânia-GO

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abe, aqui, uma observação importante com relação às medidas recentes por parte do Estado brasileiro. A Constituição Brasileira garante a não ingerência do Estado nas instituições religiosas1. Isso, sob o aspecto das ideias religiosas que veicula e do seu modo de funcionamento e dos seus rituais, desde que não afetem o interesse público. Outro tanto não se dá, quando se trata de instituições assistenciais. Mesmo aquelas que se apresentam como religiosas, mas que, pelas suas finalidades, se classificam como de natureza assistencial, estão sujeitas a um conjunto de medidas que têm por objetivo regular a sua prestação de serviço que, até então, era desenvolvida por cada entidade segundo seus próprios critérios, muitas vezes, fazendo do serviço social meio de catequização ou de ampliação da base dos seus seguidores. Até o presente momento, essas medidas não atingem e, dificilmente, atingirão as atividades de assistência fraterna desenvolvidas no âmbito das Casas Espíritas que têm, por estatuto, uma atuação orientada, apenas, para as atividades doutrinárias. O apoio eventual a uma ou outra necessidade, identificada na comunidade, em que a Casa Espírita se acha inserida, quando feita com recursos próprios, não foi, ainda, alcançada pelas medidas de regulamentação. O que foi re-

gulado pelo Estado, até o momento, é a atuação de entidades que prestam serviço social especializado, notadamente, quando demandam recursos públicos para sua atuação. Há uma tendência, no sentido de que essa normatização vá sendo ampliada. O Estado moderno, na sua definição laica, tende a limitar, cada vez mais, qualquer tipo de atuação das instituições religiosas sobre a comunidade que possa ser caracterizada como forma velada de proselitismo religioso. Ao longo do tempo, o serviço social foi utilizado, como moeda de troca, pelas religiões que pretendiam, sob esse pretexto, formar futuros adeptos ou “novos trabalhadores”. Além disso, a atuação assistencial das entidades religiosas, muitas vezes, colide com políticas públicas ou com interesses coletivos, o que, também, pode implicar em limitações às suas atividades. Outro aspecto importante a ser considerado é o histórico. A maioria das instituições assistenciais, atualmente existentes, surgiu, a partir da preocupação das entidades religiosas, no sentido de atender a necessidades que não estavam sendo supridas pelo poder público. Isso ocorreu, de forma intensa, na Igreja Católica e no Movimento Espírita. A Santa Casa de Misericórdia, presente em todo o Brasil, as creches, os

asilos e os hospitais psiquiátricos nasceram dessa forma. Com essa medida, essas instituições buscaram, para si, uma responsabilidade, até então, negligenciada pelo Estado. O que acontece, hoje, é que o Estado, percebendo a desordem que impera no setor, se erige como Agente Regulador, através dos conselhos criados para esse fim, e passa a exigir condições, para o funcionamento dessas instituições, condições que, na maioria das vezes, ele próprio não consegue cumprir, quando se trata do serviço social por ele prestado. Hospitais espíritas, creches, abrigos, que foram construídos pela boa vontade de um sem número de trabalhadores voluntários das Casas Espíritas do passado, ao mesmo tempo em que não mais recebem o recurso suficiente para a sua manutenção, são, agora, pressionados, no sentido de atenderem às novas exigências, criadas para garantir – e isso é justo – uma qualidade mínima de atendimento às pessoas por eles atendidas. As organizações ligadas à Igreja Católica, ante essa mesma situação, optaram por agir em parceria com a comunidade. Enquanto muitas instituições espíritas promoviam eventos, para arrecadar fundos para a construção de creches e abrigos, a Igreja Católica articulava a comunidade através dos seus movimentos sociais, no sentido de pressionar o Estado a oferecer, ele mesmo, o serviço de que a sociedade necessita. _____________ 1 Vide a Constituição Federal no Art. 19 inciso I e também no Art. 150 inciso VI

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FRANCISCO BATISTA MENEZES JÚNIOR


Duas asas, uma só direção FÁTIMA ARAÚJO João Pessoa-PB

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s segmentos educacionais, filosóficos e religiosos andam ria são as duas vertentes que conduzirão o espírito humano à muito preocupados com as quedas morais do homem e presença de Deus. Dentro dos parâmetros ditados pelo Espíos desajustes que vêm ocasionando o aumento da viorito André Luiz: “O conhecimento pode pouquíssimo, compalência, os suicídios, a competição desmedida, o desamor; enfim, rado com o muito que o amor pode, sempre. O amor ilumina tudo o que afasta o ser humano do equilíbrio e da verdade. Por e a sabedoria sustenta”. conta disso, os líderes da Doutrina Espírita vêm enfatizando o Precisamos, então, de bom ânimo, para nos sustentar nessas apoio à família, a evangelização das crianças e a orientação aos duas asas, a fim de prepararmos a sociedade para adentrar à Era jovens, uma vez que urge a necessidade de se unir as duas asas da Regeneração. Ou seja, com a educação e a evangelização es(da sabedoria e do avanço moral), que serviriam para a sustenpíritas, chegarmos ao amor e à sabedoria, pois ninguém, melhor tação do homem, enquanto filho de Deus, nascido para a luz. do que Jesus, nos ensinou a conquistar e praticar essas virtudes A sabedoria é o somatório de todas as experiências do conhesublimes, que se concretizam no esforço incessante do progresso cimento; é o saber e os ensinamentos necessários ao aprendizaintelectual, do estudo, das atividades nobres, do trabalho persedo e ao aprimoramento do ser, para verante de ajuda aos aflitos, como, que ele possa alcançar o progresso também, do bem-estar coletivo e que conduz à evolução. Já, o avandas elevadas condutas morais. “As portas do Céu ço moral, que abrange o amor a Como nos diz Emmanuel, no permanecem abertas. Deus, aos semelhantes e a si prólivro “Pão Nosso”, psicografia de prio, firma-se sob o lastro do culto Chico Xavier: “As portas do Céu Nunca foram cerradas. às virtudes, no esforço incessante permanecem abertas. Nunca foTodavia, para que o homem para neutralizar as más inclinações ram cerradas. Todavia, para que o se eleve até lá, precisa de e enaltecer os valores éticos. homem se eleve até lá, precisa de Segundo o benfeitor Emmanuel, asas de amor e sabedoria”. asas de amor e sabedoria”. na obra “Pensamento e Vida”, psicoAndré Luiz, em “Nos Domínios Emmanuel grafada por Chico Xavier: “Pelo amor da Mediunidade”, psicografado por que, acima de tudo, é serviço aos seChico Xavier, assegura: “Das Esferas melhantes, a criatura se ilumina e Mais Altas, os gênios da sabedoria e se aformoseia por dentro, emitindo, do amor supervisionam nossas exem favor dos outros, o reflexo de suas periências”. (...) “Amor e sabedoria próprias virtudes e, pela sabedoria, são as asas com que faremos nosso que começa na aquisição do conhevoo definitivo, no rumo da perfeita cimento, recolhe a influência dos comunhão com o Pai Celestial”. vanguardeiros do progresso, que lhe comunicam os reflexos da próJoanna de Ângelis, no livro “Lampadário Espírita”, psicopria grandeza, impelindo-a para o Alto. Ambos são imprescindíveis grafado por Divaldo Pereira Franco, afirma: “É verdade que o ao progresso, mas é justo considerar a superioridade do primeiro, homem não atinge as Altas Esferas sem as luminescências do porquanto a parte intelectual, sem a moral, pode oferecer numeroconhecimento; da mesma forma que ninguém evolui, realmensas perspectivas de queda, na repetição das experiências, enquanto te, sem a santificação dos sentimentos, através da conjugação que o avanço moral, jamais, será excessivo, representando o núcleo do verbo amar, em todas as suas expressões”. mais importante das energias evolutivas”. Para vermos que, só com a educação para o bem e a evanO fato é que, nas asas do conhecimento e da moral, todos gelização, a Humanidade pode evoluir de forma equilibrada, nós caminhamos em direção à perfeição, sempre à procura do em termos morais e intelectuais. Para isso, é preciso suverdadeiro sentido da vida, seja na atual encarnação ou em blimar o sentimento, direcionar o livre-arbítrio e educar a sua continuação, pós-morte. Isto, porque o amor e a sabedovontade. Só assim, a alma humana se encaminha para Deus.

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A Necessidade do Perdão WALKÍRIA ARAÚJO João Pessoa-PB

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“À luz da Psicologia Profunda, o perdão é superação do sentimento perturbador do desforço, das figuras de vingança e de ódio através da perfeita integração do ser em si mesmo, sem deixar-se ferir pelas ocorrências afugentes dos relacionamentos interpessoais.” (Livro: ‘Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda’, cap. 11 - Reconciliação)

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doutrina do amor crístico nos ensina a prática do perdão, incomensuravelmente. Não nos permite negociação, dissimulação, diante da verdade irrefutável da prática do perdão. Buscando achar-se em dia com as Leis Divinas, dispomo-nos a estar em dia conosco mesmos. O que ocorre, em outras visões religiosas, é a busca do perdão com medo da punição que a Divindade possa exercer sobre nós. O que a Doutrina Espírita nos apresenta é a busca do perdão, para podermos viver em paz conosco mesmo. Atender ao convite do perdão transforma-nos o pensamento e o comportamento perante as questões que nos envolvem a todos. Não temos dúvida de que a proposta é a mais difícil que se nos apresenta, principalmente nos dias atuais, mas isto não significa que não pode ser realizado. A menção a Jesus provoca-nos o sentimento inspirador de busca pela renovação íntima em detrimento da situação vigente. A pergunta, sempre atual, de Pedro: “Senhor, quantas vezes perdoarei a meu irmão, quando houver pecado contra mim? Até sete vezes?” - Respondeu-lhe Jesus: “Não vos digo que perdoeis até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes.” Mostra-nos que o perdão é um processo de aprendizado constante e ininterrupto. Não podemos ser só o resultado do que o outro faz conosco, temos que receber

o impacto da agressão, diluí-la, à luz do entendimento, e trabalha-la, transformando-a em fonte de aprendizado, cumprindo-se, num primeiro momento, a ‘Lei de Causa e Efeito’, pois não existe sofrimento sem causa precedente, e fazendo com que a criatura incorpore a modificação que deseja nos outros, começando por si. Isto posto, produz-se um sentimento de tranquilidade interna. Tranquilidade nascida da consciência tranquila do entendimento do ocorrido, mesmo que não conheçamos as causas em sua integralidade, e avanço proveitoso, diante das ocorrências desairosas que se nos apresentam. Modificando a nossa visão de futuro, trazendonos tranquilidade, bem-estar e saúde. O Mestre nos convida, não só, ao entendimento do ocorrido, mas que possamos fazer as pazes com nosso adversário. Isto não significa um estado de ignorância sobre os fatos ocorridos, mas que não o carregaremos conosco, como um fardo pesado a ser levado por toda a vida. Equivale a entendermos que, tanto quanto nós, o outro, ainda, está em processo evolutivo, que comete erros e que estes terão o devido reajuste com as Leis Divinas. Mais uma vez, destacando que a proposta do perdão se configura, como um processo libertador nosso, conosco mesmos. Mateus, cap. V, vv. 25 e 26 nos diz: “Reconciliai-vos o mais depressa possível com o vosso adversário, enquanto estais com ele a caminho, para que ele não vos entregue ao juiz, o juiz não vos entregue ao ministro da justiça e não sejais metido em prisão. - Digo-vos, em verdade, que daí não saireis, enquanto não houverdes pago o último ceitil.” O juiz representa as Leis Divinas que nos regem a todos e que não modificam ao sabor de nossa vontade, pois estão conforme a imutabilidade de Deus; o ministro da justiça é a nossa consciência, fiel cumpridora das Leis Divinas, que nos acompanha, alerta, durante a vida, e nos dá a sustentação moral, quando estamos agindo de acordo com as Leis (mesmo que os outros afirmem o contrário) e nos orienta sobre o realinhamento moral, quando estamos vivendo de forma arredia às Leis; a prisão consis-

te no corpo material, verdadeiro regime de aprisionamento que não nos permite ter a expansibilidade daqueles que já se encontram em condição superior de evolução. E, por fim, o ceitil representa as manchas morais que, ainda, possuímos e que serão dissolvidas através da prática do Bem e do devido reajuste com as Leis. Malquerenças não dissolvidas geram situações de reajuste para outras encarnações. “(...) o ser se faz herdeiro da necessidade de superar os erros e agressões às Leis, insculpindo nos refolhos íntimos os mecanismos reparadores...” (Jesus e O Evangelho à Luz da Psicologia Profunda, cap. 11 – Reconciliação). É um processo de depuração necessária; constitui-se em uma decantação moral, diante dos erros cometidos no passado. A morte não nos serve como libertação, antes, nos aprisiona ao objeto odiado, pois, normalmente, a criatura elege o outro como único objeto de desejo. É um processo recíproco que aprisiona ambos, na mesma cadeia. Necessário se faz, que uma das partes se resolva, por modificar a conduta, deixando de ser o “plug” ou a tomada de tal situação. Mesmo diante do conhecimento espírita, se a criatura continua se sentindo assaltada pelo desejo da desforra, acrescente a este conhecimento que este pensamento não irá leva-lo à sensação de prazer e satisfação esperados. Num primeiro momento, representará a vitória de alguém que ganha a competição porque o outro não teve forças suficientes para ir até o fim; depois, aparecerá o vazio existencial, pois aquele que se dedica a se vingar tem, como único móvel de vida, a vingança com relação ao outro; concretizado o fato, não mais tem objetivo para viver. O perdão é a convocação da consciência, para que possamos viver melhor, independente do que nos aconteça, favorecendonos, para termos uma existência saudável: física, psicológica e espiritualmente. Não sendo visitados pelas alienações mentais e outras tantas doenças de difícil explicação pela medicina atual, mas que encontram suas raízes profundas, na alma da criatura ainda endividada consigo mesma e com os erros do passado. 2016 • maio/junho • Tribuna Espírita 23


Responsabilidade Espiritual T

oda e qualquer atividade que se assume converte-se num dever que exige responsabilidade. A existência física é portadora de múltiplos programas educativos que contribuem para o desenvolvimento intelecto-moral do Espírito. A reencarnação, por isso mesmo, é sublime oportunidade para reparação de erros, correção de irregularidades, reabilitação moral. De acordo com a gravidade de cada ocorrência, há uma pauta específica de reequilíbrio lúcido, disciplinador e próprio para a felicidade. Nesse capítulo, as dores e problemas de vária ordem constituem o processo terapêutico para a cura real, portanto, na origem do mal praticado. No entanto, a finalidade dos renascimentos não tem caráter punitivo, o que significaria um castigo à ignorância, pela qual se atravessa na sucessão dos acontecimentos. A aflição defluente do sofrimento é o desconforto que se experimenta, chamando a atenção à ordem, à disciplina, ao dever. Tudo evolve. O ser humano, superando as fases iniciais das necessidades básicas, alcança os patamares da inteligência, da emoção, do discernimento. Nesse período, todas as ações fazem parte do processo de futura iluminação, dando lugar às experiências da solidariedade, do amor e da lídima fraternidade. Em consequência, os atos produzem ressonância de onda equivalente, que promovem os valores inatos ou que perturbam as aspirações de plenitude. Surgem as provas, os testemunhos, os necessários corretivos aos erros e as expiações, com caráter severo e restritivo à movimentação. Como a lei de amor é soberana, predomina no universo, favorece a conquista da paz, mediante a resignação durante a difícil aprendizagem evolutiva. Utilizando-se das suas diretrizes afetuosas, reabilita o infrator, burila-lhe as imperfeições, emula-o ao avanço espiritual, sublima os instintos primários, enquanto aumentam as aspirações de paz e de bem-estar. Alteram-se os focos existenciais, nos quais o primitivismo cede lugar ao aperfeiçoamento moral. Servir, pois, é a meta da existência hu24 Tribuna Espírita • maio/junho • 2016

mana, desde o momento em que se lhe detecta a finalidade imortalista. Engajando-se no objetivo de viver-se com alegria e bem-estar, mesmo por ocasião das situações menos joviais, deve ser o comportamento ético de todo aquele que encontrou Jesus, o exemplo máximo de perfeição na Terra. Esse despertar da divina essência interna constitui razão básica para a existência feliz, aumentando a responsabilidade do candidato à plenitude. Não são impostos sacrifícios ou holocaustos, que podem ocorrer por necessidades especiais. O cumprimento reto dos deveres de cidadania, de família, de consciência, contribui para a aquisição da responsabilidade espiritual. * Fascinado pela possibilidade de um mundo melhor e por uma sociedade justa e próspera, encontras, no Espiritismo, campo vasto a joeirar, a fim de prepará-lo para ensementar o amor. Assomes compromissos com entusiasmo; dedica-te, por algum tempo e, depois, experimentas tédio ou desencanto. Por que será? − interrogas. Por falta de motivação, de afeto. Necessário se torna que te mantenhas entusiasmado, em tudo quanto fazes. Coloca um toque de alegria nas tuas atividades e reflexiona no significado das tuas ações. Não permitas que o automatismo te conduza ao trabalho, que te induzirá à inércia ou à indiferença, pelo que realizas. O teu próximo precisa de ti, reencarnado ou não. Ele conta contigo, com a

tua solidariedade, a tua assistência fraternal. Ama-o, conscientemente, o que fará um grande bem. Atividades espirituais multiplicam-se à espera de dedicação. Reuniões mediúnicas sérias exigem participantes conscientes e responsáveis, para a sua execução. Atendimento fraterno abre as portas do sentimento alheio à iluminação e à libertação de consciências. A terapia dos passes aguarda comportamentos nobres e compadecidos, para o socorro oportuno à aflição. Divulgação doutrinária é indispensável, dentro de padrões especiais, para esclarecer e tocar os ouvintes que precisam encontrar o roteiro, para a existência ativa e saudável. Todos eles e outros mais serviços espirituais aguardam responsabilidade, consciência de dever. O passe evoca Jesus, atendendo as multidões e curando-as. Se eleges a aplicação da bioenergia, torna-te digno de exercê-la, não apenas com a conduta moral e mental saudável, mas também, com o sentimento de dever bem desenvolvido. Não atues, esporadicamente, como alguém descomprometido com a caridade fraternal. Quando te candidataste, Espíritos guias interessaram-se em ajudar-te. Se perseveras com responsabilidade, eles ampliam os teus recursos terapêuticos e utilizam-se, com amor e ternura. Se não cumpres o programa estabelecido, afastas-te do seu auxílio e ficas à mercê de outros, frívolos e levianos... O passe é veículo das energias do Céu, para apaziguar as dores terrestres. Não te esqueças. * Quando Jesus enviou os “Setenta da Galileia”, para que lhe preparassem o caminho, concedeu-lhes a faculdade de curar, de afastar os Espíritos perversos e de enfrentar as dificuldades sob a sua proteção. E, assim, aconteceu. Hoje, ele te chama, para que prossigas auxiliando o teu próximo, e confia em ti; faculta-te o valioso recurso do passe. Joanna de Angelis (Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica da noite de 28 de dezembro de 2015, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador-BA) Foto: Gloogle Imagens


O Que é o Espiritismo RAYMUNDO RODRIGUES ESPELHO Campinas-SP

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eralmente, ao nos referir aos livros de Kardec, registramos as obras básicas, o que está correto, porque nesses cinco volumes, que relacionamos abaixo, encontramos o conjunto da Doutrina, ou seja, a Codificação Kardequiana. São eles: “O Livro dos Espíritos”, publicado em 18 de abril de 1857 e que contém os princípios da Doutrina Espírita. “O Livro dos Médiuns”, guia dos médiuns e dos doutrinadores, publicado em 1861. “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, contendo a explicação das máximas morais do Cristo, sua concordância com o Espiritismo e sua aplicação às diversas posições da vida. Foi editado em 1864. “O Céu e o Inferno” ou a justiça divina, segundo o Espiritismo, publicado em 1865. “A Gênese”, os milagres e as predições segundo o Espiritismo, veio a lume em 1868. Entretanto, não podemos nos esquecer das demais obras de Kardec: “Revista Espírita”. O relato das manifestações, materiais ou inteligentes dos Espíritos, aparições, evocações, etc. Lançada, no dia 1.º de janeiro de 1858, e publicada até a sua desencarnação, em 1869. Depois de seu passamento, a revista continuou a ser publicada e circula até os nossos dias. “O que é o Espiritismo”. Introdução ao conhecimento do mundo invisível pelas manifestações dos Espíritos, em julho de 1859. Em 1858; “O Principiante Espírita”, “A Prece”, “Introduções Práticas sobre as Manifestações Espíritas”. Em 1862; “O Espiritismo em sua Expressão Mais Simples”, “Refutação das criticas contra o Espiritismo”, “Viagem Espírita”. “Obras Póstumas”, em 1890. “Obsessão. Origens, sistemas e curas”, publicadas pela União Espírita da Bélgica, com textos extraídos da “Revista Espírita”, edições de 1858 a 1868, traduzidos para o português por Wallace Leal Foto: Gloogle Imagens

V. Rodrigues e editada pela Casa Editora “O Clarim” de Matão-SP. Como o título deste pequeno artigo sugere, queremos registrar algo sobre o grande valor de “O que é o Espiritismo”. Vejamos o que diz o Codificador, no preâmbulo da 10ª edição do “IDE – Instituto do Difusão Espírita” – Araras, SP: “As pessoas que não têm do Espiritismo senão um conhecimento superficial são naturalmente levadas a fazer certas indagações, às quais um estudo completo lhes daria, sem dúvidas, a solução. Mas o tempo e, frequentemente, a vontade, lhes faltam para se consagrarem às observações continuadas. Queriam, antes de empreender essa tarefa, saber ao menos do que se trata e se vale a pena se ocuparem. Pareceu-nos útil, pois, apresentar, em um quadro restrito, a resposta a algumas das questões fundamentais que nos são diariamente dirigidas. Isso será, para o

leitor, uma primeira iniciação e, para nós, tempo ganho pela dispensa de repetir constantemente a mesma coisa”... Desde jovem, temos o costume de, dentro das possibilidades, divulgar “O que é o Espiritismo”. Isso tem nos trazido muita alegria. Uma delas registramos, aqui: Um professor universitário, de origem alemã, residente desde muito jovem no Brasil, lecionava Física na faculdade em que trabalhávamos. Com destacada inteligência e cultura, passava por nossa sala para “um dedo de prosa”, e um dos seus assuntos prediletos girava em torno de suas dúvidas acerca do Espiritismo. Um dia, passamos a ele um exemplar da citada obra. Dias depois, mostrando-se maravilhado com aquilo que “parecia já conhecer”, encomendoume dez exemplares da obra, para distribuir a seus parentes, colegas e amigos. Não vale a pena divulgá-lo?

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A reunião espírita OCTÁVIO CAÚMO SERRANO João Pessoa-PB

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que as pessoas, realmente, vão buscar no Centro Espírita? Tradicionalmente, uma reunião espírita pública oferece o atendimento fraterno, que consiste numa entrevista e encaminhamento para outros setores, a palestra evangélico-doutrinária, o passe, a água com fluidos espirituais, além da oportunidade de contato com livraria, biblioteca, mensagens, videoteca, etc. Quem são as pessoas que vão a uma reunião espírita? A resposta não é fácil, mas poderíamos dizer que são espíritas convictos, simpatizantes do Espiritismo, os curiosos que demonstram algum interesse em saber mais sobre a nossa doutrina e aqueles que vão buscar solução para os seus problemas. Frequentam outra religião, por convicção, mas buscam no Espiritismo o tratamento contra a obsessão, a cura da enfermidade, a harmonização em família ou a ajuda para o cônjuge ou filho que não consegue se dar bem na escola, no trabalho, no casamento. São alguns exemplos. Por que não se curam ou resolvem os problemas nas suas religiões habituais? Porque não sabem o que estão fazendo naquela igreja. O Deus espírita é o mesmo Deus de todas as doutrinas. A maioria vai ao centro, sem saber o que é realmente essa instituição e nem sabe bem como se comportar ou tirar da reunião o melhor proveito. Normalmente, as Casas Espíritas têm um cartão que diz “O silêncio é uma prece” e, geralmente, se pede ao público para que as pessoas desliguem os celulares. Quem vai ao Centro e está mais preocupado com o celular do que com o Evangelho, está perdendo tempo indo ao Centro. E, quem não valoriza o respeito ao silêncio, melhor ficar em casa. Não entendeu nada. Note-se que a quase totalidade das Casas Espíritas trabalha de porta aberta e o entra-e-sai é constante. Como não é explicado para o frequentador que o “passe” é, como a sobremesa ou o cafezinho numa refeição, porque o prato principal é o Evangelho, muitos deixam para chegar, quando a palestra está no fim, na ilusão de que, tomando o passe, conseguiram seu objetivo. Perdem a melhor parte da reunião. Não entenderam o que Jesus quis dizer, quando sentenciou: “conhecereis a verdade e a verdade vos fará livres”. Com a explicação do Evan26 Tribuna Espírita • maio/junho • 2016

gelho pelo palestrante, vamos detectando nossas deficiências e corrigindo-as, atendendo à principal proposta espírita que é a conhecida reforma íntima. No nosso Centro, fechamos a porta no início da reunião, por muitas razões: para que os trabalhadores não precisem ficar à disposição dos retardatários para recepcioná-los e encaminhá-los; para que o palestrante não tenha sua concentração perturbada com a entrada intempestiva dos que se atrasam, geralmente, sempre os mesmos; para não incomodar os que são pontuais e chegam sempre antes; e, atualmente, também por questão de segurança. Os “passes” de tratamento são dados no fim, e quem não ouvir a palestra não recebe o passe. Como o assistido ou o visitante não conhece tais detalhes, cabe ao dirigente do Centro, que é o guardião da doutrina na instituição, ensinar ao público os mecanismos que o leve a ter méritos para receber ajuda. Quando temos uma enfermidade no corpo, recebemos sangue e soro, para fortalecer-nos provisoriamente e, em seguida, passamos por tratamento específico ou por cirurgia seguida de tratamento pós-operatório. As enfermidades da alma devem ser tratadas da mesma maneira. A reencarnação se destina à obtenção de conhecimentos o que fará com que operemos mudanças espirituais. A palestra ensina, o passe ajuda na harmonização dos pensamentos e a mudança de comportamento e ideias faz com que cresçamos, como Espíritos eternos e imortais que progridem, inde-

finidamente. Um dia, o Espiritismo será como disse Jesus, “o Caminho, a Verdade e a Vida”, porque a nossa doutrina nada mais é do que o Cristo repetindo o que se perdeu pelo tempo, para ver se finalmente conseguimos entender. O Evangelho é tão fácil e, ao mesmo tempo, tão difícil de ser compreendido. No entanto, ele se resume no amor a Deus e ao próximo, algo que ainda não podemos viver porque o orgulho e o egoísmo não deixam que entendamos algo tão simples! Vamos tentar respeitar mais o trabalho de Kardec, que foi o encarregado de trazer-nos o Consolador Prometido, e também a preocupação de Jesus em voltar a ensinar-nos, demonstrando grande paciência conosco, seus irmãos menores. Uma vez, nos o matamos equivocadamente, fazendo-o menor que Barrabás. Não cometamos o erro novamente. Depois que saímos de uma reunião espírita, que assistiremos respeitosos e agradecidos, não nos restrinjamos a admirar o palestrante ou o assunto abordado. Incorporemos o conhecimento à nossa vida e nos analisemos, para verificar em que podemos melhorar e se podemos servir. E tentemos complementar, com a leitura de livros, revistas e jornais, tudo o que aprendemos na reunião. O tempo é pouco e nossas falhas são muitas. “Muitos serão chamados e poucos os escolhidos”. O chamamento é divino, mas a escolha é da responsabilidade de cada um. É inteligente aproveitar essa sublime oportunidade. É, para isso, que vamos ao Centro. Foto: Gloogle Imagens


O Deserto pessoal de Jó ROSSANDRO KLINJEY Campina Grande/PB

“Jó nos serve como uma espécie de paradigma último, personificando a subserviência e resiliência ante os infortúnios da vida.”

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livro de Jó é, muitas vezes, tido como um dos grandes clássicos da literatura mundial. Ele também é considerado, por muitos teólogos, um dos livros mais problemáticos da Bíblia, suscitando uma variedade de interpretações. Seu objetivo é responder à pergunta teológica mais importante para todos os que não acreditam na reencarnação. - Qual o motivo de, num mundo sobre o qual o Senhor tem total domínio, pessoas inocentes tenham de sofrer quando, ao mesmo tempo, o sofrimento parece não atingir os maus? De um modo geral, alguns dos profetas hebreus tentaram lidar com essa questão na medida em que a nação como um todo foi afetada por guerras e invasores. Porém, o escritor do livro de Jó, lida com ela em uma base individual, algo que todos nós, mais cedo ou mais tarde, temos de enfrentar, bem como as questões universais tão bem discutidas por Léon Denis em seu magistral livro O problema do ser, do destino e da dor1 No mais, para aqueles que não concebem um mundo no qual temos múltiplas existências, o que não pode ser compre-

endido através da razão deve ser aceito pela fé, em uma atitude que percebe Deus como autor de toda justiça, mesmo que não possa ser compreendida e visualizada em sua plenitude. Isto não deixa de ser uma atitude de subserviência filial ao Pai Altíssimo. O Livro de Jó, sem dúvida, é sobre a vivência da fé, um tema que é, a um só tempo, universal e atemporal. Deve-se ter em mente que Jó não é o autor, mas o principal personagem. Aliás, como narrativa, os dois personagens centrais são Deus e Jó. O livro conta a história de uma grande e demorada batalha, mas, neste caso, trata-se de uma luta individual. Essa luta pessoal está em ressonância com as Escrituras Hebraicas, pois nelas, frequentemente, o coração humano é o campo de batalha de grandes guerras. Como é evidente a partir dessa avaliação, a história de Jó é destinada principalmente para os leitores interessados na relevância de questões contemporâneas, especialmente no campo da religião, da crença e dos valores pessoais. Ao longo da narrativa, percebemos que o livro não trata especificamente da Justiça Divina, mas da transformação de um homem cuja zona de conforto, traduzida num ambiente de riqueza material e felicidade pessoal, é retirada de uma só vez, levando-o a ser fiel no muito, mas também no pouco. Para os que lidam com grande sofri-

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mento em suas vidas, Jó é um filho de Deus que é atingido por tão grande desgraça, que não pode ser explicada de maneira usual como inspiração para arrepender-se, já que se trata de um homem justo; nem mesmo uma advertência ou um castigo, como seus amigos tentam fazê-lo acreditar. A grande lição de Jó está em aceitar, sem rebeldia contra Deus, as dores da vida. Isso repara o caminho para a análise da pessoa de Jó e as transformações da sua fé e do seu caráter, em termos de sua experiência com Deus, em seu deserto interior. Os discursos de Jó revelam o colapso de sua perspectiva. Pela primeira vez em sua vida, ele sai de seu estado de bem-estar, tornando-se ciente de que a vida também pode inesperadamente se nos apresentar sobre aparente desordem. Em sua vida tranquila de homem rico de bens e de filhos, Jó dificilmente teria um encontro tão profundamente radical com Deus que o fez, em alguns momentos, duvidar de sua justiça e desejar até mesmo a morte. Por isso, Jó nos serve como uma espécie de paradigma último, personificando a subserviência e a resiliência ante os infortúnios da vida. Mesmo vacilando em algum momento, terminamos em uma entrega plena a Deus, como autor principal de nossa existência. ___________ 1 DENIS, Léon. O problema do ser, do destino e da dor. Brasília: FEB, 2009.


AV. PRESIDENTE EPITÁCIO PESSOA, 4055, MIRAMAR - JOÃO PESSOA AV. PRESIDENTE EPITÁCIO PESSOA, 4055, MIRAMAR - JOÃO PESSOA Fone: (83) 3022-3211 / (83) 3022-3205 / (83) 99941-5424 / (83) 99986-9075 Fone: (83) 3022-3211 / (83) 3022-3205 (83) 99941-5424 / (83) PESSOA 99986-9075 AV. PRESIDENTE EPITÁCIO PESSOA,/ 4055, MIRAMAR - JOÃO uyrapoan.branco@agentetamviagens.com.br / MIRAMAR adma.branco@agentetamviagens.com.br AV. PRESIDENTE EPITÁCIO PESSOA,/ 4055, - JOÃO uyrapoan.branco@agentetamviagens.com.br / adma.branco@agentetamviagens.com.br Fone: (83) 3022-3211 / (83) 3022-3205 (83) 99941-5424 / (83) PESSOA 99986-9075 Fone: (83) 3022-3211 / (83) 3022-3205 / (83) 99941-5424 / (83) 99986-9075 uyrapoan.branco@agentetamviagens.com.br / adma.branco@agentetamviagens.com.br uyrapoan.branco@agentetamviagens.com.br / adma.branco@agentetamviagens.com.br

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LUIS HU RIVAS


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