TRIBUNA ESPÍRITA • EDIÇÃO 189

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Espírita Tribuna

Ano XXXV - Nº 189 janeiro/fevereiro - 2016 Preço: R$ 5,00


Allan Kardec

Sumário

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Allan Kardec - O Codificador

Abandonando a vitimização O que dizer aos Espíritos

O CODIFICADOR

Vida em abundância Provas de um descrente

Deuses, Rituais e Oferendas: (Da antiguidade à Pós-Modernidade)

15 16 17 18 19 20 21 22 24 25 26 27

AZAMOR CIRNE João Pessoa-PB

Estranha Moral O Homem Bom Jesus, a luz e a cruz Jesus e “O Livro dos Espíritos” Ilusão e Realidade Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho: (a revelação da missão coletiva de um país) O 43º MIEP ressalta o Brasil como Pátria Evangelizadora do mundo, destacando a importância de investir na juventude A influência de Pestalozzi em Allan Kardec Olhos Azuis Islamismo - quando a Fé se torna Fanatismo A Era da Vivência Cristã Ouvir e Falar! Tudo em nós mesmos! Uma nova série A Candeia Jesus e Maria Painel Espírita Terremotos e Tsunamis: Uma reflexão Os Planos de Vida e a Lei da Impermanência

Espírita Tribuna

Fotos da capa: Arquivo da AME Campina Grande

2 Tribuna Espírita • janeiro/fevereiro • 2016

Ano XXXV - Nº 189 janeiro/fevereiro - 2016 Preço: R$ 5,00

“O Espiritismo veio para aqueles que não têm religião, não estão satisfeitos com aquela que têm, ou ainda não encontraram explicação racional e satisfatória que signifique consolo para os problemas do sofrimento, do destino e da dor, em nenhuma corrente filosófica ou da própria ciência no momento.” (Allan Kardec) As revelações Estava Hyppolite Leon Denizard Rivail em seu escritório, a compulsar comunicações e a preparar “O Livro dos Espíritos”, quando ouviu repetidos golpes contra a parede. Procurou as causas das pancadas sem nada descobrir. A sua esposa, Amélie Boudet, entrou em seu gabinete e ouviu os ruídos também. Ambos passaram a pesquisar a sua origem e não lograram êxito. Nessa época, o casal morava na Rua dos Mártires, nº 8, no segundo andar, ao fundo. No dia seguinte, na sessão em casa da Família Baudin, Hyppolite narrou o fato e teve oportunidade de perguntar ao Espírito comunicante, através da mediunidade da Srta. Baudin, qual o nome do autor das pancadas, e obteve a seguinte resposta: “Para ti, chamar-me-ei A Verdade”. A resposta veio acrescida de uma surpreendente revelação sobre a missão que lhe cumpria desempenhar como o intérprete do “Consolador”. O Espírito que se denominava A Verdade iria, dali por diante, orientá-lo na feitura da obra primeira da Codificação da Doutrina Espírita - “O Livro dos Espíritos”. Doutra feita, ainda por intermédio de excelente médium, comunicou-se o Espírito Zéfiro e informou a Denizard que o conheceu em existência passada, na épo-

ca dos druidas, quando viveram como amigos nas Gálias, e que o seu nome naquela época era Allan Kardec. As experiências As experiências realizadas na residência da Família Baudin, com o seu grupo, e inclusive em outros grupos, com diferentes médiuns, levaram Hyppolite (Kardec) a aprofundar as suas pesquisas. Ele testemunhou, por exemplo, uma mesa em redor da qual as duas jovens, Julie e Caroline Baudin (14 e 16 anos, repectivamente), colocavam levemente as mãos sob a mesa, e o móvel dava pancadas. A mesa dava batidas com um dos pés no chão, que correspondiam às letras pela ordem do alfabeto, e, assim, eram formadas as palavras que davam lugar às respostas. Hyppolite, inclusive, presenciou mesas serem suspensas, muitas vezes, até o teto, desafiando assim a “lei física da gravidade”. Doutras vezes, a mesa, ou mesas, mudavam de lugar e faziam rodopios, dando motivo a ficarem conhecidas como “As Mesas Dançantes”. Além das respostas inteligentes que, por meio das pancadas, a mesa oferecia, Hyppolite assistiu a ensaios de escrita mediúnica muito primitivos, descritos no “Livro dos Médiuns” como fenômeno


Expediente Fundada em 01 de janeiro de 1981 Fundador: Azamor Henriques Cirne de Azevedo

TRIBUNA ESPÍRITA Revista de divulgação do Espiritismo, de propriedade do Centro Espírita Leopoldo Cirne Ano XXXV - Nº 189 - janeiro/fevereiro - 2016 Diretor Administrativo e Financeiro: Severino de Souza Pereira (ssp.21@hotmail.com) Editor: Hélio Nóbrega Zenaide Jornalista Responsável: Lívia Cirne de Azevedo Pereira DRT-PB 2693 Secretaria Geral: Maria do Socorro Moreira Franco Revisão: José Arivaldo Frazão Lívia Cavalcante Gayoso de Sousa Assessoria: Uyrapoan Velozo Castelo Branco

das “cestas de bico”. Nesse fenômeno, os médiuns colocavam as mãos na borda da cesta, assim decorrendo a escrita da “cesta”. Todos os assistentes sabiam como a experiência seria inacreditável, se não estivessem vendo uma escrita ser feita e alinhada daquele modo. Doutra feita, presenciou outro meio mais rápido, uma tabuleta com o alfabeto escrito em círculo e um ponteiro que podia girar como no relógio, demorando-se em segundos nas letras componentes das palavras, e um pouco mais nas separações das frases. Em suas pesquisas e experiências, travou conhecimento com a psicografia, uma maneira mais prática e rápida que fora sugerida pelos mentores espirituais, em que os espíritos se comunicavam dirigindo a mão do médium escrevente. Desse modo, foram prosseguindo as perguntas feitas por Kardec e as respostas e explicações dadas pelos Espíritos. Tudo era devidamente observado, anotado, comparado e julgado. Mais tarde, as informações colhidas dos Espíritos deram origem à obra que lançou o Espiritismo no mundo – “O Livro dos Espíritos”. Em todos esses fenômenos, existem três fatos de inegáveis valores científicos que justificam as pesquisas levadas a efeito: 1º - O mesmo instrumento em que se comunicava uma entidade espiritual de estado moral e intelectual inferior, por vezes, também se manifestava outra de condição inversa, sem ter havido substituição das pessoas (médiuns) ligadas a alguns daqueles modos de comunicação, forma ou instrumentos de pesquisas. 2º - As perguntas formuladas pelos pesquisadores sobre ciência e filo-

sofia, por exemplo, assim como outras, relacionadas a outros assuntos, eram respondidas à altura, mesmo estando acima do conhecimento daqueles médiuns. 3º - As entidades comunicantes informaram que elas eram os Espíritos dos chamados mortos que viveram na Terra: bons, maus, letrados, ignorantes, ricos, pobres, poderosos, egoístas, fraternos, vaidosos, humildes, orgulhosos, simples (vide a segunda parte do livro “O céu e o inferno”, de Allan Kardec). Foi assim que Hyppolite Denizard (Allan Kardec), ante a evidência das experiências e dos fatos, e partindo de axiomas como “não há efeito sem causa” e “todo efeito inteligente tem uma causa inteligente”, quis saber que força inteligente causava tudo aquilo. Disseram os Espíritos: “Somos as almas dos mortos!” E revelaram quem eram, onde estavam e o que faziam. Diante da plena evidência das causas, o brilhante missionário não pôde conter a satisfação, chegando a exclamar: “Esta é a grande verdade que sempre procurei achar em toda a minha vida: Quem somos nós? De onde viemos? Para onde vamos?” Fatores esses que levaram Denizard, como sempre, às mais rigorosas pesquisas. Por fim, lembremo-nos de Jesus, quando preconiza: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (João,8:32) Nota da redação: Este texto é uma continuação do artigo publicado na edição 187, intitulado “Quem foi Allan Kardec”. Pretendemos publicar uma série, nas edições seguintes. No próximo número, vamos ter: “Allan Kardec e o Livro dos Espíritos”.

Colaboradores desta edição: Azamor Henriques Cirne de Azevedo, Alírio de Cerqueira Filho, Carlos Romero, Daniel Pires, Denise Lino, Divaldo Franco (Pelo espírito Joana de Ângelis), Elmanoel G. Bento Lima, Fátima Araújo, Farah Catharine, Flávio Mendonça, Francisco Rebouças, Hélio Nóbrega Zenaide, Iara da Silva Machado, Leonardo Machado, Liszt Rangel, Marcos Paterra, Mauro Luiz Aldrigue, Octávio Caúmo Serrano, Pedro Camilo, Raymundo Rodrigues Espelho, Robson Santos de Oliveira, Stanley Marx Donato, Severino Celestino, Walkíria Araújo, Zaneles Brito, (Pelo espírito de Lindemberg.). Diagramação: Ceiça Rocha (ceicarocha@gmail.com) Impressão: Gráfica JB (Fone: 83 3015-7200) ASSINATURA BRASIL ANUAL: R$ 30,00 TRIANUAL: R$ 80,00 EXTERIOR: US$ 30,00 CONTRIBUINTE ou DOADOR: R$....? ANUNCIANTE: a combinar TRIBUNA ESPÍRITA Rua Prefeito José de Carvalho, 179 Jardim 13 de Maio – Cep. 58.025-430 João Pessoa – Paraíba – Brasil Fone: (83) 3224-9557 e 99633-3500 e-mail: jornaltribunaespirita@gmail.com

Nota da Redação Os Artigos publicados são de inteira responsabilidade dos seus autores. janeiro/fevereiro • Tribuna Espírita • 2016 3


Abandonando a Vitimização LEONARDO MACHADO Recife-PE

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“A responsabilidade das faltas é toda pessoal, ninguém sofre por erros alheios, salvo se a eles deu origem, quer provocando-os pelo exemplo, quer não os impedindo quando poderia fazê-lo”. Allan Kardec1

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m dos maiores obstáculos para o bem-estar pessoal e o crescimento espiritual é a postura de vitimização. É bem verdade que há situações extremas cm que ela predomina, como em muitos transtornos de personalidade. Outrossim, é comum vê-la fazer morada, em momentos de doenças graves nas quais a pessoa acaba ficando muito fragilizada e cercada de cuidados. No entanto, vêmo -la, igualmente, desfilando nas passarelas dos acontecimentos diários de pessoas, aparentemente saudáveis psiquicamente. Isto acontece, porque a vitimização é uma característica da imaturidade psicológica e espiritual em que grande parte dos seres ainda se encontra. É o lado histérico do ser. Até certo ponto, todos, mesmo na atual existência, passamos por ela. Na infância, por exemplo, além de um egocentrismo próprio da criança, tínhamos dificuldade em assumir nossas responsabilidades e, em muitas oportunidades, jogávamos a culpa nos outros, notadamente em nossos pais, ou nos utilizávamos da mentira. Com o tempo, no entanto, é desejável e esperado que se amadureça e a abandone. Dificultando esse amadurecimento, é verdade, existe toda uma tendência cultural, que é bem mais comum em países latinos, como o Brasil, de, ao adotar condutas paternalistas, acabar vitimizando o ser. Colocamos o outro como coitadinho, até, como uma for4 Tribuna Espírita • janeiro/fevereiro • 2016

ma de vê-lo com um olhar mais terno e, assim, deixar as fibras do nosso coração serem tocadas para ajudá-lo. Apesar disto, a Doutrina Espírita não se cansa de combater tal postura, indicando-nos a posição de responsabilidade que temos para com os acontecimentos da vida, sobretudo, quando enfatiza a multiplicidade e o entrelaçamento das existências. Isto, porque, “o destino do ser não é mais do que o desenvolvimento, através das idades, da longa série de causas e efeitos gerados por seus atos” (DENIS, p.165). 2 Explica, igualmente, que: (...) os Espíritos não vêm isentar o homem da lei de trabalho: vêm, unicamente, mostrar-lhe a meta que lhe cumpre atingir e o caminho que a ela conduz, dizendo-lhe: Anda e chegarás. Toparás com pedras; olha e afasta-as tu mesmo. Nós te daremos a força necessária, se a quiseres empregar. (KARDEC, 1864, p.407). 3 Do mesmo modo, Jesus não fez por nós o trabalho que nos compete realizar. Nem nos colocou na posição de vítimas. Manso e paternal, porém profundamente sábio, indicou que aqueles que desejassem segui-lo

deveriam pegar a parcela de dificuldades que a cada um competia e prosseguir. Simbolizou isto, no compromisso de cada um carregar a sua cruz.4 Outrossim, obtemperou que cada um deveria dar conta da própria administração.5 Sendo assim, é preciso uma postura de equilíbrio. Nem pegar, em demasia, o que não é nosso, numa atitude de culpa, como uma palmatória do mundo, porque isto acaba por deseducar aqueles que parasitam às nossas custas e nos paralisa no sofrimento; nem colocar, nos ombros dos outros, o que nos compete, numa postura infantil, porque isto termina por adoecer os que estão ao nosso redor e nos paralisa na imaturidade. Desta maneira, fica a proposta: – Vamos deixar de lado a vitimização?! ____________________________ 1 Em O Céu e o Inferno, capítulo VII - 21º, ponto “Código penal da vida futura”. 2 Em O problema do ser, do destino e da dor, segunda parte, capítulo XIII. 3 Em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XXV, ponto 4. 4 Mateus 16:24. 5 Lucas 16:2. Nota da Redação: O autor é Médico, escrito, palestrante espírita e trabalhador da Federação Espírita Pernambucana.


O que dizer aos Espíritos PEDRO CAMILO Salvador-BA (*)

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s atividades de doutrinação, que mais acertada e bem-humoradamente deveriam ser chamadas de “bate-papo fraterno” com os Espíritos, é dos trabalhos mais belos e mais delicados na prática mediúnica. Isso mesmo ouvi, há alguns anos, de uma conhecida palestrante espírita de Salvador, minha amiga, médium de psicofonia. Na ocasião, ela até me revelava, bem humorada, que sentia até certa “inveja” dos doutrinadores, pelo trabalho lindo que desenvolvem. Inveja no bom sentido, é claro. De fato. O trabalho de conversação que os doutrinadores ou esclarecedores desenvolvem, junto aos Espíritos que se comunicam através dos médiuns, é algo digno de ser reconhecido e louvado. Por vezes, o amigo doutrinador é alguém que não tem sensibilidade mediúnica aguçada, mas, mergulhado no imenso campo das intuições que jorram da Vida Espiritual, consegue mergulhar no drama dos comunicantes, compreendendo a extensão dos seus sofrimentos e dizendo, com engenho e amor, as palavras certas na hora certa. E, disso tudo resulta a recuperação do Espírito, ou antes, a sua disposição para a busca de uma situação melhor, mais equilibrada, gerando o seu encaminhamento para regiões de refazimento espiritual. A doutrinação, portanto, é tarefa que requer muito “tato fraterno”, requerendo do doutrinador, ou “papeador”, um cuidado extremado no ouvir e um cuidado ainda maior com o falar. Isso tudo aborda, de maneira bastante peculiar, o preclaro Hermínio Corrêa de Miranda, seja no seu tratado teórico sobre a doutrinação – o livro “Diálogo com as Sombras” que, na abalizada visão de Yvonne A. Pereira, foi o livro que Kardec não escreveu –, seja nas obras em que relata seus contatos práticos com o Invisível – como na série de livros “Histórias que os Espíritos contaram” e “Diversidade dos Carismas”. É de lamentar, todavia, que muitos Fotos: Gloogle Imagens

companheiros não entendam a extensão e a delicadeza de tal atividade, a ela se entregando de alma mais vazia do que aberta, chegando mesmo a causar prejuízos, seja por inexperiência, seja por insensibilidade para tal serviço. Isso mesmo me dizia, com pesar, a mesma amiga referida linhas acima, contando-me um fato acontecido na reunião da qual participa. A certa altura dos atendimentos, uma médium mergulhou em transe, apresentando-se o Espírito de uma mãe que abandonara sua criancinha numa lata de lixo. Agora, reconhecendo-se na Espiritualidade, não se continha de tanto remorso, culpando-se excessivamente, sem conseguir uma trégua nos seus so-

frimentos íntimos. O doutrinador aproximou-se e começou a conversar com o Espírito. Acontece que, ao invés de abrandar a sua auto-punição, concitando-a ao arrependimento dinâmico e lhe mostrando a possibilidade de corrigir-se dos erros praticados, ele ia mostrando como ela errou e como o bebê devia ter sofrido depois de ato tão abominável, mais aumentando a sua angústia. Por último, quando o pobre Espírito já estava sem forças, perguntou: “mas que tipo de mãe faria isso com um filho?”, ao que o doutrinador respondeu: “Você”! Foi preciso, nesse instante, que a coordenadora da reunião assumisse o atendimento, acolhendo a sofredora em vibrações de muito amor e encorajamento, solicitando do invigilante doutrinador que se sentasse. Minha amiga, que servira de médium nesse atendimento, dizia que cada palavra infeliz do companheiro era sentida como um punhal feroz a penetrar o coração do Espírito, mais aumentando suas dores. É indispensável saber o que dizer aos Espíritos, tendo-se o cuidado de carregar as palavras, não com acusações e injúrias, mas com amor e compreensão, assim como fez Jesus diante da mulher adúltera: E, endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: − Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? E ela disse: − Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: − Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais. (João, 8:10-11) (*) O autor é palestrante espírita, escritor, advogado, mestre em Direito Público pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e da Faculdade Sete de Setembro, ambas em Paulo Afonso, Bahia, trabalhador do Núcleo Espírita Telles de Menezes (Salvador-Ba) e do Grupo de Estudos Espíritas Yvonne Pereira (Paulo Afonso-Ba) janeiro/fevereiro • Tribuna Espírita • 2016 5


Vida em Abundância A

sseverou o Mestre nazareno – Eu venho trazer-vos vida e vida em abundância. (João: 10:10) A promessa estimuladora constitui verdadeira bênção, porque a vida necessita de um sentido especial para fluir com tranquilidade necessária à paz intima, que é fundamental na existência e a abundância a que Ele se refere, são os conteúdos elevados que dignificam o Espírito. Elevá-la, moral e espiritualmente, é o objetivo do seu existir, por isso, com a sabedoria que Lhe era peculiar, Ele teve o cuidado de acrescentar essa exuberância, essa riqueza de oportunidades iluminativas. A vida, por si mesma, é fenômenos biológicos na matéria que, sob o comando do Espírito, reveste-se de significado evolutivo. Por isso, há vidas estioladas pela escassez de recursos inteligentes e emocionais, de significado psicológico, que se tornam vazias, e, por consequência, atormentadas e em constante fragmentação. Há vidas gloriosas, carregadas de coisas nenhumas, que são as lutas da ilusão e as buscas incessantes das fantasias, que terminam tediosas sem qualquer profundidade emocional. Há vidas que são desperdiçadas nos jogos das paixões servis e na continua busca de prazeres que se consomem e as aniquilam. Há vidas mal conduzidas nas prisões sem grades dos vícios e nas dependências cruéis das vilanias que as denigrem e as levam à consumpção antes do tempo que lhes está reservado. Há vidas perdidas na contemplação vazia, enquanto a Humanidade estertora na solidão e nos sofrimentos de variada denominação, aguardando socorro, solidariedade. Há vidas tocadas pela presença do Amor, que se tornam santuários de benefícios, erguendo outras existências aos patamares da saúde e da alegria. Há vidas, ricas de benevolência e sa6 Tribuna Espírita • janeiro/fevereiro • 2016

bedoria, dedicadas à educação e ao progresso da sociedade. Há vidas assinaladas pelas lutas edificantes e entregues à luz da caridade. Há vidas construindo outras vidas, num incessante esforço de abnegação e de sacrifício bem direcionados. Há vidas e vidas! Jesus promete vida em abundância de amor e de trabalho, de realizações e de crescimento íntimo, mediante os quais se alcança a plenitude. * Sob outro aspecto, Ele também enunciou: - No mundo tereis aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo. (João: 16:33) Quando a vida é dedicada às conquistas materiais, sociais, econômicas, aquelas que enriquecem de valores amoedados, poder, brilho, é sempre fugaz. Porque os seres humanos permitem-se ser mais competitivos do que cooperativos, havendo uma constante aflição para a conquista desses empenhos, acompanhados de conflitos íntimos e desenganados. O tormento da posse constitui grave transtorno emocional que arrebata incontáveis existências, anulando valores éticos e enobrecedores. Eis, no torvelinho das lutas humanas, os triunfadores sempre mais ou menos atormentados sob o guante dos fantasmas da desconfiança, do prazer até a exaustão, do medo das mudanças nas paisagens políticas e econômicas. Cercados, não poucas vezes, da bajulação dos frívolos, sem amizades legítimas, na multidão dos interessados no domínio do mundo e em dolorosa solidão, anelando por ternura e afeto edificante. O poder terrestre, pela sua transitoriedade, deveria ser transformado em construção de meios para edificar outras vidas, repartindo as suas posses com a imensa e dolorosa escassez que predomina em todo lugar, multiplicando oportunidades de trabalho, de soerguimento moral, para que a felicidade deixasse de ser um mito, visitando to-

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dos os lares do mundo. Quando se acompanha a epidemia da fome ceifando milhões de vidas que se extinguem em sofrimentos indefiníveis, dever-se-iam unir todos os esforços para acabar, por definitivo, com essa mácula que torna a sociedade desventurada, porque o planeta possui recursos para atender a todos aqueles que o habitam de maneira digna e promissora. Por isso, a vida abundante é rica de paz e de alegria, porque fixada nos postulados sublimes do amor e da caridade, que se transformam em oportunidade de desenvolvimento social. Vive, no mundo, sem fugir-lhe aos padrões, mas dando lugar à filosofia do amor e do bem, gerando, em tua volta, alegria e bem-estar. Os incidentes e ocorrências menos desejáveis, mas que fazem parte do processo evolutivo, sendo o avesso das humanas aspirações, torna-se-lhe o próprio avesso, vivenciando-os com tranquilidade e irrestrita confiança em Deus, de onde procedem todas as leis da vida. Rejubila-te com a doação do Mestre e aplica a vida em abundância com sabedoria no teu desenvolvimento espiritual, sem enfado nem aflição, de olhos voltados para o porvir que te aguarda risonho. * A vida no corpo é fenômeno transitório que se consome, libertando o Espírito para a imortalidade na qual se encontra mergulhado. Detém-te em pensamento e em ação, considerando a oportunidade que se te depara, e frui a inefável concessão do Senhor no rumo da tua vitória existencial. Este é o teu momento de ser pleno. Vive-o! Joana de Ângelis (página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica da noite de 17 de agosto de 2015, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia).


Provas para um Descrente OCTÁVIO CAÚMO SERANO João Pessoa-PB

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lém de atuar no nosso centro espírita, o Centro Kardecista “Os Essênios”, sempre fiz palestras ou ministrei aulas em outras casas espíritas da grande São Paulo. Uma casa aonde eu ia regularmente, inclusive para aprender um pouco mais, era o “Centro Espírita Fabiano de Cristo”, dirigido pelo querido e saudoso confrade e particular amigo, Roque Jacintho, meu maior orientador e incentivador. Segundo o Espiritismo, Fabiano de Cristo, teria sido o Padre José de Anchieta que fundou a cidade de São Paulo ao lado de Manoel da Nóbrega, cujo nome de batismo era Ermano Manuel, que ele assinava E. Manuel, uma das encarnações do nosso Emmanuel, mentor do Chico. O nome da cidade é homenagem ao mentor da Capital, Paulo de Tarso, o grande precursor do Cristianismo. Fabiano foi, também, o português José Barbosa, nascido em Soengas, Portugal em 1676, que imigrou para o Brasil estabelecendo-se com comércio em Paraty no Estado do Rio de Janeiro. Em 1705, foi para o Convento Santo Antônio, do Rio de Janeiro, onde desempenhou a função de porteiro. Por volta de 1708, assumiu o cargo de enfermeiro, embora sem conhecimento nessa área. Na enfermaria, como em todos os cargos que ocuparia, o seu amor seria exemplo de dedicação. Optou por dormir junto com os doentes, noite e dia, para o caso de algum precisar de seus cuidados. Serviu nesse posto quase quarenta anos. Prevendo a própria morte, anunciou-a com três dias de antecedência. Em 17 de Outubro de 1747, pelas duas da tarde, rodeado pelos irmãos, faleceu. Uma multidão acorreu ao convento para se despedir do religioso. Dizem que se despediu do Superior do Convento e pediu-lhe para abraçar, um por um, todos os enfermos e companheiros da enfermaria, um dia antes de sua morte. A sua ossada ainda se encontra no convento em que passou maior parte de sua vida, e não são poucos os que ali vão para pedir graças ou a cura de enfermidades. Segundo os

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adeptos da Doutrina Espírita, até hoje, ele trabalha na Casa de Fabiano, na espiritualidade, em favor dos necessitados, inspirando mãos amigas no planeta. Diversas instituições foram fundadas com o seu nome. São muitas as curas atribuídas ao Espírito de Frei Fabiano de Cristo. Quem consultar o livro “Fabiano de Cristo, o peregrino da caridade”, de Roque Jacintho, lerá casos interessantes e verá, na capa, a imagem desse servidor de Jesus. Sua estampa é a figura viva da humildade. Certo dia, submetendo-me a um tratamento médico-espiritual com o Dr. Américo, entidade recebida pelo amigo Roque, o médium me disse: “Octávio, Frei Fabiano disse que vai ajudá-lo no seu Centro Espírita”. Agradeci, mas não levei muito em conta, porque, além da amizade com o Roque, um eterno cavalheiro que sempre me estimulava no trabalho, Frei Fabiano tem compromissos demais. Onde arranjaria tempo para me ajudar nos “Essênios”? Esqueci o assunto. Passados quinze dias, no serviço de passes que eu dirigia, deu-se o seguinte:

Tínhamos duas médiuns maduras, Da. Leonízia Senst, que havia participado do colégio mediúnico da “Federação Espírita do Estado de São Paulo” e Da. Nazaré Lapa de Almeida, que trabalhava também no “Lar Fabiano de Cristo”, onde era encarregada da sopa para os pobres e a nossa maior incentivadora (da minha mulher e minha), para que estudássemos o Espiritismo. Uma frase dela: “Estudem a Doutrina. De médium burro, o Espiritismo está cheio.” Iniciados os trabalhos, Da. Leonízia diz: “Seu Octávio, Frei Fabiano pede para avisar que está presente”. Ressalte-se que ela não sabia nada do meu contato com o Roque, nem sobre ele e não tinha ideia da sua figura. Completou: “Não sei o que ele quis dizer. Deve ser com Da. Nazaré que trabalha também no outro Centro”. Disse-lhe que não e que eu sabia porque ele mandou o recado. Para que um descrente (eu) passasse a acreditar um pouco, Frei Fabiano cumpriu a promessa e foi nos visitar. Na semana seguinte, recebemos um jornal espírita editado em São Paulo e, na capa, estava a figura de Fabiano. Vendo o jornal sobre o balcão, Da. Leonízia assustou-se e disse: “É esse homem que falou comigo. É o Frei Fabiano. Foi ele que eu vi na quarta passada”. Não o conhecia. Nunca mais tive qualquer notícia do amigo espiritual, mas creio, firmemente, que ele me acompanhou e, quem sabe, ainda me acompanhe e me oriente nos trabalhos que faço. Não dá mais para não acreditar. Tenho muitas ideias que, claramente, não são minhas. Quanta ajuda similar recebemos, mesmo sem ser anunciadas ou sabermos. Da mesma forma que obsessores tentam se aproveitar das nossas falhas, os Mentores do Bem nos estimulam, para que sejamos mais um colaborador na melhoria do mundo! Depois desse episódio, mais atentos, recebemos outros recados de diferentes Espíritos e temos a certeza do trabalho conjunto executado pelos dois planos. Mas, há tarefas que competem aos encarnados e não podem ser delegadas. Oremos e vigiemos! janeiro/fevereiro • Tribuna Espírita • 2016 7


Deuses, Rituais e Oferendas: LISZT RANGEL Recife-PE

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ão é de hoje a conexão estabelecida pelo homem com o divino, com o transcendental e o místico. Ainda, é da natureza humana, o interesse motivado, quer por necessidades imediatistas na solução de seus problemas, quer, simplesmente, impulsionado pela curiosidade. Nessa imensa aldeia global, é perfeitamente possível observar o multiculturalismo. Em especial, quando se trata de países, cujas identidades foram formadas por diversas etnias, como ocorreu no Brasil, e, atualmente, é difícil encontrar uma nação que não tenha sido formado por diversas correntes religiosas. Vale, porém, salientar, no que diz respeito a tais identidades, que nem toda ela tem origem na memória, como afirma Guarinello (2013): “Nem toda identidade deriva da memória, mas as identidades mais profundas, aquelas que parecem mais naturais e indiscutíveis, são as fundadas no passado e garantidas por ele”. Desta forma, até mesmo essas sociedades consideradas de primeiro mundo, não deixaram de receber forte influência de culturas passadistas que eram dotadas dos mais diferentes aspectos religiosos, culturais e sociais. As marcas dos gauleses, celtas e bretões, respectivamente na França e na Bretanha, provam que, por mais forte que tenha sido a invasão dos Romanos e, depois, dos chamados povos “bárbaros”, houve certa resistência por parte dos colonizados; ao contrário do que a grande maioria dos pesquisadores acreditava até recentemente, de que a cultura local havia aceito, de forma harmoniosa e pacífica, a dominação religiosa e cultural do estrangeiro. As pesquisas, in loco, revelam que as manifestações religiosas destas etnias sobreviveram em uma espécie de hibridismo, gerando o famoso sin-

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(Da Antiguidade à Pós-Modernidade) Templo de Ísis em Pompéia na época

cretismo religioso entre o dominado e o dominador. Assim, vê-se na Bretanha, com a invasão romana. No que diz respeito à cultura material na Inglaterra, em relação à presença de Roma, a iconografia do período de colonização demonstra uma estratégia nada passiva dos nativos celtas, para sobreviverem ao culto do panteão romano. Um exemplo disso é a imagem exposta no museu da cidade de Gloucester, onde aparece, em relevo, uma imagem de Mercúrio, deus romano, ao lado de uma deusa celta, Rosmerta. Essa imagem permite várias interpretações, sob o olhar do observador; porém, uma delas levanta a possibilidade da deusa Rosmerta não se encontrar, como mera figura dominada, ao lado de Mercúrio; ou seja, a imagem não representaria o domínio romano sobre os celtas, mas sugeriria que a deusa teria sido colocada no mesmo nível de igualdade de Mercúrio e, ainda, gozaria de um lugar disfarçado de adoração e lembrança por parte dos nativos, como se os colonizados, através da imagem, estivessem a dizer aos romanos, ‘estamos aqui!’. A esta postura celta, pode-se dar o nome de adaptação-resistente. Uma forte implicação, no sincretismo religioso romano-celta, era o culto ao Imperador. E, as demais províncias não escaparam dessa prática imposta. Os judeus do século I a.C., por exemplo, se escandalizaram com a colocação da imagem de Augusto no grande Templo. Ainda que tudo isto tenha se estendido aos séculos I e II d.C., no caso da Bretanha, o culto ao Imperador, também, trazia uma marca política, ensejando, desde então, o casamento entre a Religião e o Estado. A mesma obediência será observada na Idade Média, quanto à reverência aos santos católicos e à infalibilidade do Papa, figura que se destaca do imperialismo


estatal e assume plena autonomia e absolutismo. Entre os povos antigos, destaca-se, também, o Egípcio. No Egito Antigo. ocorreram três diferentes cultos: um oficial, outro popular e um ligado à prática funerária. Enquanto queimavam os incensos, tinha início o ritual da abertura da boca e dos olhos do morto, durante a preparação de seu funeral. Este momento era marcado, pela presença dos sacerdotes, e o sarcófago recebia, de forma esculpida na pedra, partes do texto de “O Livro dos Mortos”, a fim de ajudar a alma na sua passagem para o outro mundo. Nos funerais da pós-modernidade, entoam-se cânticos, fazem ofertas de flores, caminham, ritual e solenemente, do velório ao sepultamento, e erguem, nos mausoléus dos mais ricos, grandes bustos e, até, imagens de corpo inteiro, além da leitura que é feita das passagens ditas sagradas. Entre elas, a mais conhecida, é o Salmo 23. Alguma semelhança com o passado? O templo era o principal local para os rituais, festejos com invocações, cânticos, oferendas de pães, lírios e tantas outras flores aos deuses. Não muito diferente dos apelos feitos, em fins de ano, pela sociedade do século XXI. No Egito, deuses e homens estavam juntos, para a celebração e renovação de promessas e pedidos. Nestes rituais, ocorriam banhos na estátua de Hórus que, por sua vez, era vestida e derramavam sobre ela, unguentos. (GRALHA, 2013). Não se pode deixar de fora que, ali, também existia o culto ao Faraó. Os sacerdotes egípcios, semelhantes aos missionários da atualidade, serviam como intermediários para a salvação dos aflitos; porém; mais uma vez; aparece o culto ao Faraó, como representante junto às divindades. Entre tantos deuses, a influência da deusa Ísis chegou até às legiões romanas, e, em Pompéia, ainda é possível ver um templo erguido, com altar, para a consagração da irmã e esposa de Osíris. O mesmo ideal de dominação religiosa foi encontrado no México, mediante a colonização católica espanhola. Os nativos que descendem dos povos pré-colombianos já adoravam outros deuses astecas e maias; porém; com a presença dos beneditinos e dos franciscanos, aparece; no cenário; a mãe do Menino-Deus, a conhecida Maria de Nazaré, só que, agora, ressurgida e adorada pelos nativos, como Nossa Senhora do Guadalupe, cuja

Foto: Liszt Rangel

Templo de Ísis em Pompéia atual

lenda é semelhante a de um deus asteca. Ainda que fossem compelidos. Socialmente. a cultuarem uma imagem católica, muitos nativos continuaram adorando, às escondidas, seus deuses familiares na intimidade de suas casas. (RODRIGUES E FORTIER, 2007). No Brasil, não foi diferente. A presença católica portuguesa encontrou, no paganismo indígena e africano, terreno fértil para viabilizar a catequese e, assim, manter o domínio. Porém, não escapou das resistências locais. Segundo Freyre (2003), “Foi, porém, no calor da catequese católica – de um Catolicismo é certo, que, para atrair os índios, já se opulentara de novas cores e, até, de imitações, pelos padres, das gatimonhas dos pajés – que se amoleceram africanos, vindos de várias áreas fetichistas, os traços mais duros e grossos da cultura nativa”. A Filosofia Espírita observa, atentamente, esses movimentos sociais, considerando, como ponto de partida, a herança milenar do Espírito imortal. Allan Kardec registrou as respostas dos Espíritos, lançando uma proposta tão compatível quanto à que é apresentada pela História, pela Arqueologia e pela Antropologia. No que tange às oferendas, os Espíritos esclareceram que o que vale, mesmo, são as intenções dos praticantes. “Repito, que a intenção é tudo, que o fato nada vale.” (KARDEC, resposta à Questão 672.). Este esclarecimento, inclusive, lembra o posicionamento do Codificador, em relação à forma e ao fundo, sendo este último mais importante, porque revela

a essência, ligando o homem aos sentimentos e não às práticas exteriores. Dentro desse contexto, ressalta, ainda, que foram os próprios Espíritos, em suas manifestações desde a Antiguidade, que deram margem ao surgimento das inúmeras interpretações humanas acerca da comunicação entre homens e deuses. “Sem dúvida, porquanto, chamando deus a tudo o que era sobre-humano, os homens tinham por deuses, os espíritos.” (KARDEC, resposta à Questão 668). E, assim, Antiguidade e Pós-Modernidade estão atreladas. E, quem duvidar, observe nas renovações feitas no final do ano. São ofertas, promessas, pedidos; e o brasileiro troca presentes, na noite de nascimento do deus pagão Mitra; depois, assiste à “Missa do Galo”; e, no último dia do ano, come lentilha, com dinheiro embaixo do prato; põe sementes de uva na carteira; veste branco, para jogar flores para Iemanjá; pula sete ondinhas e, ainda, pode escolher se grita, “Aleluia, Oxalá, Amém, e emenda, com Assim seja!”. Vai entender? Bibliografia: FREYRE, G. Casa Grande e Senzala. São Paulo: Global Editora, 2006. GRALHA, J. Egípcios. Em: FUNARI, P. P. (Org.), As Religiões Que o Mundo Esqueceu. São Paulo: Contexto, 2013. GUARINELLO, N L. História Antiga. São Paulo: Contexto, 2013. KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: Feb, 1944. RODRIGUEZ, J.; FORTIER, T. Cultural Memory: Resistence, Faith and Identtity. Austin: University of Texas Press, 1954.

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Estranha Moral WALKÍRIA LÚCIA DE ARAÚJO CAVALCANTI João Pessoa-PB

Disse-lhe outro: Senhor, eu te seguirei; mas, permite que, antes, disponha do que tenho em minha casa. - Jesus lhe respondeu: Quem quer que, tendo posto a mão na charrua, olhar para trás, não está apto para o reino de Deus. (Lucas, cap. IX 61 e 62.)

Gloogle Imagens/Milton Kennedy

O

respeito que aos mortos se consagra não é a matéria que o inspira; é pela lembrança que o Espírito ausente infunde. Ele é análogo àquele que se vota aos objetos que lhe pertenceram, que ele tocou e que as pessoas que lhe são afeiçoadas guardam como relíquias. Segundo o entendimento espírita, a verdadeira vida é a espiritual, então, quando estamos encarnados representaria uma “morte” e o desencarne representaria o retorno à vida espiritual. Assim, aqueles que estão encarnados constituiriam, todos, uma comunidade de “mortos”. Precisamos, também, verificar os costumes locais e a situação momentânea. Para nós, o luto é representado pelo preto; para outros povos, é representado pelo branco. Situação momentânea: quando grandes calamidades assolam um povo. Não há tempo em cuidarmos de enterrar todos da forma tradicional e, até, com o devido respeito. Não, porque não se quer, mas, porque não se tem condições. Mas, como, sempre, procuramos o sentido psicológico nas passagens de Jesus. Há época e, inclusive, nos dias atuais, mede-se o amor que uma pessoa devota à outra, pelo luxo e o desespero que se demonstra na hora do velório e sepultamento. Não analisando as exceções neste momento, verificamos que, nem sempre, o velório mais rico significa mais amor pelo outro; significa que podemos pagar e queremos que os outros vejam; que o desespero pelo desencarne do outro, via de regra, denota uma alma aturdida por inúmeros fatores. Então, o que tínhamos de bom para viver com o outro, foi vivido enquanto ele estava encarnado; mas que, se temos o reino de Deus para anunciar, que não nos detenhamos em lamentações infrutíferas, até porque, nós espíritas, sabemos que a vida continua. Um adendo necessário se faz, neste momento: a questão do tempo de luto e de retirada de objetos da casa, em virtude do desenlace. Tudo é uma questão de parcimônia. Os entendidos da área de psicologia estipulam um tempo de luto de 03 a 06 meses. Autores espirituais falam, em torno de 06 meses. Já ouvimos confrades espíritas fazerem discursos veementes contra pais que, poucos meses depois, ainda, não se desfizeram do berço do natimorto. O que ocorre é que precisamos, primeiro, nos organizar internamente, com relação ao desencarne do outro. O transformar num altar, ou não conseguir se desfazer do que o outro possuía, é um sinal de desarmonia psicológica que precisa ser trabalhada. É a ponta do iceberg que precisa, inclusive, de ajuda profissional. Não significa que, por sermos espíritas, iremos nos desfazer de tudo, mal a pessoa esteja no caixão. Os laços que nos unem perpassam as encarnações. Os vínculos estreitam-se ou se alargam, de acordo com a convivência exercida pelas criaturas. Quando o amor nos envolve, a decrepitude física significa um até breve, para aquele que desencarna antes. 10 Tribuna Espírita • janeiro/fevereiro • 2016

O que ocorre é que alguns de nós carregamos a consciência de culpa, por termos deixado de viver ou vivido de forma equivocada junto ao outro. Preferimos estar em outros lugares, ao invés de estarmos com o nosso familiar; mesmo estando junto, estávamos mais preocupados com o que estava acontecendo nas redes sociais do que com quem estava ao nosso lado, respondendo em alguns momentos de forma monossilábicas. A qualidade da convivência diz muito do que, realmente, sentimos e mais ainda: explica o porquê do nosso comportamento após o desencarne do outro. Mais uma vez, destacamos que não defendemos o luto real decorrente do desencarne de um ente querido; a análise parte do princípio de que não devemos nos ater, somente, a esse fato, pois convivemos com outras pessoas que, também, são credoras de nosso amor; somos força produtiva na sociedade; enfim, somos cidadãos que temos uma vida de relação que não pode e, para nosso bem, não deve ficar estagnada, em virtude de um fenômeno natural que constitui a vida da criatura humana. Estamos, aqui, na escola terrestre, de passagem, aprimorando o entendimento; aprendendo a fazer e nos reajustando com as Leis Divinas; processo continuo que nos envolve a todos e faz com que nos irmanemos. A nossa dor é uma dor real, nesse tipo de situação, mas não deve constituir única fonte motriz em nossas vidas. Até, porque aquele que desencarnou pode vir a sentir-se triste, pelo nosso desconforto emocional. Procuremos emanar amor, para aqueles que deixaram o recesso carnal antes de nós, para que possamos, um dia, se assim Deus o permitir, nos reencontrarmos novamente. No dia que as comunicações telepáticas se constituírem num ato normal entre as criaturas, provavelmente, essa barreira de comunicabilidade diminua e a certeza de que o outro está vivo, pelas informações que serão trocadas, diretamente entre as partes, constitua fonte de abrandamento. Se formos observar, sempre acreditamos que ficou algo por dizer, mas temos a dificuldade de dizer quando o sentimos, se o outro está ao nosso lado. Amar faz bem, para quem ama. Demonstrar esse amor faz bem, para quem o faz. Que possamos amar, mais; demonstrar, mais; para, quando da partida do outro, tenhamos a certeza que vivemos tudo o que poderíamos viver juntos.


O Homem Bom FLÁVIO MENDONÇA Recife-PE

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“O homem bom tira boas coisas do bom tesouro do seu coração” (Mateus 12:35)

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uando vamos a uma Casa Espírita, o que buscamos? Muitas vezes, a busca é pelo consolo e pela instrução. Muito justos e felizes esses que se instruem e acham consolo, pois estarão aptos ao serviço. São muitos os que veem na Casa Espírita, apenas, um local para consolar suas dores e minimizar seus conflitos interiores. Outros acham bonitas e instrutivas as reuniões públicas. Passam anos, frequentando as reuniões, na condição de simpatizantes ou dependentes do auxílio lá ofertado. É preciso, no entanto, compreender que a proposta espírita não é criar dependência e dependentes; muito pelo contrário, o objetivo é oferecer autonomia, para que se tornem servidores com o Cristo. É fundamental que os dirigentes das Casas Espíritas conscientizem a sua clientela que a finalidade é transformar pacientes e alunos em trabalhadores espíritas.

Não se deve, no entanto, induzi-los, através da coação e sem antes de o frequentador estar preparado, pelo conhecimento; mas, antes pela persuasão encontrada por ele próprio, quando compreender os postulados espíritas. Daí, a necessidade de as Casas promoverem cursos preparatórios, antes para a aquisição do conhecimento, e, posteriormente, para os serviços promovidos. É de bom tom, que o serviço voluntário aconteça, por necessidade do frequentador, quando convidado pela própria consciência. Mantê-lo, apenas, nas salas de reunião pública na condição de assistido, foge, inteiramente, da caridade, como ensina a própria codificação espírita. É verdade que a Doutrina Espírita protagoniza o livre-arbítrio e que cada um deve decidir o momento em que pode se engajar ao trabalho. No entanto, a criação de cursos, como o Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita (ESDE), cursos de evangelização para crianças, estudos com os jovens frequentadores ou filhos de trabalhadores, devem ser, insistentemente, divulgados e estimulados nas reuniões públicas, a fim de induzir

Jesus, a luz e a cruz CARLOS ROMERO João Pessoa-PB

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Sol veio, lindo, iluminar o mundo. É sua missão. Chegou em silêncio. Já imaginou se ele chegasse fazendo barulho? O Sol é como o mar. O mar não faz barulho. O mar faz marulho, o que é bem diferente. O barulho é do homem. Que alegria na Natureza, com a chegada do Sol! O beija-flor vai logo beijar as flores do jardim. A lagartixa resolve tomar banho de Sol e, vez por outra, mexe com a cabeça, como a dizer: “Bom dia, Sol. ” Agora, chegou a vez da borboleta. Sai saltitando sobre as flores. O hálito da bor-

boleta deve ser perfumado. E eu, que não sou besta, aproveito a oportunidade para tomar um banho de Sol. Banho de luz, banho de saúde. Feliz daquele que traz a luz ao invés das trevas. Jesus veio trazer luz ao mundo. Os homens não gostaram e lhe deram uma cruz. Uma cruz pesada, que doía nos seus ombros. Mas ele não protestou. Sofreu em silêncio. Jesus veio trazer a luz, e os homens lhe deram a cruz... Quando Ele nasceu, na manjedoura humilde, uma estrela, como uma seta, veio

os assistidos a frequenta-los. Não só isso, mas fortalecer essas atividades, para ser a porta de entrada, para futuros e valorosos trabalhadores da Casa Espírita. A oxigenação dos trabalhos exige essa postura. Não se pode prescindir desse princípio, para que toda obra ganhe vigor suficiente, para crescer e atender a toda demanda existente. Toda Casa Espírita consciente deve trabalhar, fortemente, para a realização dessas atividades. Só, desta forma, é possível transformar o Movimento Espírita num feche de varas robusto e perene. Só, uma massa consciente pode promover e auxiliar os inúmeros seres incautos, os quais vivem à deriva, nesse mundo de desvario e loucura. O trabalhador consciente deve se debruçar sobre essa necessidade e trabalhar para sua concretização. O mundo precisa de preces e orações, mas precisa, acima de tudo, de trabalhadores conscientes que ajam determinados, com coragem e fé. Portanto, que façamos desse propósito o principal mote, para promovermos, juntos, a transformação que todos precisam. Jesus esteja conosco! iluminar o seu berço de palha. Jesus veio trazer a luz, e os homens lhe deram a cruz. O Sol já está alto. E eu estou molhado de luz do Sol. Viva aquele que traz a luz. E lembremos que o sorriso é luz. Quem não sabe sorrir, não ilumina. Como é triste um rosto sem sorriso... Jesus sorriu quando nos convidou a olhar os lírios do campo, quando abriu os braços para bendizer as criancinhas. Jesus só não sorriu, quando se viu pregado numa cruz. Ele trouxe a luz para o mundo, e os homens lhe deram uma cruz. E humilharam-no dando-lhe como companhia dois ladrões. O Sol já domina a Natureza. Derrama luz por toda a parte. E eu vou sair do banho solar, todo molhado de luz. Jesus rima com luz. E, se não me engano, ele disse: eu sou a luz do mundo. janeiro/fevereiro • Tribuna Espírita • 2016 11


Jesus e “O Livro dos Espíritos” Gloogle Imagens

SEVERINO CELESTINO João Pessoa-PB

Todo o ensinamento divino está contido na máxima de amor ao próximo, ensinada por Jesus. (Questão 647 L.E.)

A

s pessoas que não conhecem o Espiritismo, quase sempre, agem ou se comportam como se o Espiritismo não fosse cristão. Em muitas cidades do Brasil, por onde tenho passado ministrando seminários ou conferências, me surpreendo, quando sou levado para entrevistas em TV ou rádio local, e me deparo com apresentadores de programas que, normalmente antes da entrevista, nos perguntam se o Espiritismo é cristão. O mesmo ocorre, com militantes de outras religiões cristãs que, da mesma forma e por desconhecimento, também apresentam esta dúvida e o mesmo comportamento, com relação ao Espiritismo. Eu, sempre, respondo que o Espiritismo é cristão. Que não pode existir Espiritismo sem Evangelho. Aproveito, sempre, a ocasião, para sugerir que eles leiam “O Livro dos Espíritos” e verifiquem o quanto este livro se refere aos ensinamentos de Jesus. Que o “Espírito da Verdade” sendo enviado por Jesus, não poderia ensinar nada contrário à moral contida no seu Evangelho. Apresentaremos, neste artigo, um pouco do levantamento que realizamos em “O Livro dos Espíritos”, para nossa reflexão e para que sirva de roteiro básico para aqueles que, não conhecendo a Doutrina Espírita, tenham oportunidade de entender o quanto “O Livro dos Espíritos” está ligado aos ensinos do Evangelho de Jesus. Comecemos pela Questão 625, onde Jesus é apresentado como modelo da perfeição moral que a Humanidade necessita e que a doutrina que ele ensinou é a mais pura expressão da Revelação Divina. Reforça que Jesus nos ensina a distinguir entre o bem e o mal, quando nos aconselha a não fazer aos outros o que não gostaríamos que os outros nos fizessem. Isto está registrado na Questão 632. Mais adiante, na Questão 841, o “Espírito da Verdade” nos fala que a didática de Jesus era perfeita, porque ele ensinava pela suavidade e pela persuasão e não pela força. O “Espírito da Verdade” nos lembra da infinita misericórdia de Jesus, na Questão 918, quando afirma que o homem de bem é indulgente para com as fraquezas dos outros, por saber que ele, mesmo, tem necessidade de indulgência, e se lembra destas palavras do Cristo: Atire a primeira pedra que aquele que está sem pecado. Enfatiza, ainda, que a moral espírita é a 12 Tribuna Espírita • janeiro/fevereiro • 2016

moral de Jesus, e que os Espíritos “vêm não só confirmá-la, mas também mostrar-nos a sua utilidade prática”, como registram no item VIII das conclusões de “O Livro dos Espíritos”. A caridade plena, pregada por Jesus, está registrada em “O Livro dos Espíritos”, complementando e ratificando o que ele pregou e ensinou na Galileia, o que Paulo faz referência em sua “1ª Carta aos Coríntios”, e o “Espírito da Verdade” vem complementar, de uma forma tão clara quando afirma: O verdadeiro sentido da palavra caridade, segundo Jesus: Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições dos outros, perdão das ofensas” (Questão 886) O perdão das ofensas, citado na Questão 918, vem relembrar os ensinamentos do Cristo, quando nos convoca a perdoar os nossos inimigos e orar pelos que nos caluniam e nos perseguem. Os princípios básicos da reencarnação, tão bem levantados na Questão 222 de “O Livro dos Espíritos”, vem esclarecer o que Jesus ensinou no Evangelho de Mateus, capítulo 11:10-14. Nestes ensinamentos Jesus relembra as citações de Isaías e Malaquias e afirma que João, o Batista, fora Elias no passado e que foi mais que um profeta; isto é, João, o Batista, foi um Mensageiro de Deus. Não querendo me estender mais no assunto, deixo ao caro leitor o convite para que verifique, nesta magnífica obra básica da Doutrina Espírita, que se constitui no primeiro livro da Codificação, o quanto ele cita os ensinamentos de Jesus. É, realmente, gratificante observar como Jesus está inserido em todo o conteúdo de “O Livro dos Espíritos” e em todas as obras da Codificação Espírita, com a revelação verdadeira que traz em sua conduta filosófica o seu ensino moral e a busca do amor. Jesus, ao assumir perante Deus, o gover-

no da Terra, como citado em João 17:4-5, teve e tem tido a preocupação de nos trazer as “Três Revelações”, como forma de atender, através dos milênios, as nossas necessidades evolutivas nas trajetórias reencarnacionistas, por todas as civilizações do planeta. Foi, assim, que estivemos entre os babilônios, sumérios, assírios, egípcios, hindus, chineses, hititas, persas, gregos e romanos. Em todas estas situações e nações por onde passamos, nunca estivemos sem um roteiro de esclarecimentos, para que pudéssemos prosseguir, estimulados para a mudança e o crescimento. Assim, é que não podemos desconhecer essas revelações, pois sabemos que, nós, espíritas, já passamos por muitas civilizações do planeta e, em todas elas, sempre recebendo a assistência de Jesus. A Questão 627 de “O Livro dos Espíritos” nos informa que, depois dos ensinamentos revelados neste livro, ninguém pode pretextar ignorância. “O Livro dos Espíritos” representa a síntese e as explicações esclarecedoras das “Três Revelações”, tendo Jesus presente, representado pelo “Espírito da Verdade”. É, no seu estudo, que vamos entender o que nos afirma um Espírito israelita, na obra “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Cap. I, item 9, in fine: “Moisés abriu o caminho, Jesus continuou a obra; o Espiritismo a concluirá”. Sentimos que os que questionam se o Espiritismo é cristão, necessitam ler e estudar este livro, que nos traz tanto conforto e esclarecimento. Que coloca os ensinamentos de Jesus tão próximos de nós. Depois de conhecer o seu conteúdo vai, com certeza, entender o grande versículo 32 do Evangelho de João, em seu capítulo 8: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Que Jesus esteja, sempre, em nossas vidas!


Ilusão e Realidade O

que é fantasia e o que é realidade? Platão, um sábio da antiguidade, conseguiu exemplificar a diferença entre ilusão e realidade, quando concebeu o mito da caverna. Frequentemente, quando aportamos através do processo reencarnatório, no porto seguro do corpo físico, perdemos o referencial do mundo definitivo de onde procedemos. A roupagem humana ajusta-se, tão esplendidamente, aos detalhes do corpo espiritual, que, usualmente, tomamos uma coisa pela outra: imaginamos ser um corpo carnal, possuindo uma alma. A associação célula a célula dá-se, de modo tão harmônico e perfeito, que passamos, muita vez, toda uma existência, investindo na preservação da saúde do corpo somático: na sua plasticidade, na sua aparência exterior. Sendo impossível a alma nutrir-se, diretamente, dos produtos derivados da lavoura, da criação e da pesca, adequase ao metabolismo celular, para extrair dele os compostos essenciais para sua sobrevivência. Sim, porque o corpo espiritual, compartilhando da vida na matéria, usufrui das emanações fluídicas, para sustentação do psiquismo irradiante; porquanto, o corpo de carne é o provedor essencial das fontes energéticas, através dos processos de digestão e assimilação dos alimentos. Após os sete primeiros anos, usualmente, nos despedimos dos laços mais fortes que nos aprisionam à nossa mãe, para desfrutarmos de uma vida mais independente, na qual nos sentimos senhores de nós mesmos. O pão posto à mesa, a sopa, a comida mais sólida ou mais pastosa passam a fazer parte do nosso cardápio predileto, dando-nos a impressão de que aqueles sabores marcantes, com os quais nos afeiçoamos, são os alimentos pelos quais devemos lutar, para obter. O tato, o paladar, o olfato, a visão e a audição conspiram, dando-nos a nítida impressão de que o mundo real gira em torno desses cinco sentidos, até que, ocasionalmente, somos visitados pela intuição, pela sensação de “déjà vu”, inGloogle Imagens

formando-nos de que existe algo além da morte e aquém da vida. Ainda assim, permanece conosco a ideia de que precisamos valorizar as nossas sensações e, com isso, precipitamo-nos na busca de mais e mais adrenalina, comprometendo os objetivos espirituais de nossas vidas, com a adoção de atitudes perigosas, como se o nosso corpo de carne necessitasse ser testado, até o seu limite, expondo-nos a provas e riscos desnecessários, com uma única finalidade: satisfazer objetivos quiméricos, ditados pela vaidade. Quando eventualmente, somos surpreendidos pela enfermidade, passamos a refletir, mais, e a moderar o ritmo adotado em nossa maneira de viver. Vez por outra, os nossos mentores que nos acompanham desde o nascimento, tentam abrir os nossos olhos à realidade do Espírito... Efetivamente − como provou o filósofo grego – o que nos parece real e definitivo não é mais do que uma grande ilusão dos sentidos. Para usufruirmos do permanente, carecemos transcender às aparentes realidades que nos envolvem, enquanto no corpo, para constatarmos, estupefatos, o mundo real e definitivo que nos aguarda, após o desligamento da matéria. Em tudo e por tudo, costumamos inverter os nossos julgamentos. Quando contraímos o matrimônio, não desposamos, apenas, com um corpo definido por graciosas linhas anatômicas, casamos, com sentimentos, emoções e vibrações sutis da alma, com a finalidade de permutar experiências e saciar o ego. Aquele que, equivocadamente, incorpora em si a ideia de que escolheu o cônjuge como um objeto decorativo, para ser apresentado à sociedade, como um caçador exibe sua presa, se surpreenderá, quando o tempo transformar a aparência da figura porcelanizada, numa boneca ou boneco de pano... Precisamos, urgentemente, abandonar o escuro sombrio da gruta, onde, vislumbramos, apenas, os vultos projetados na parede, para contemplarmos as belezas indescritíveis da realidade espiritual.

O tempo escoa entre os dedos, as rugas dão os seus primeiros sinais e, se não tivermos o equilíbrio da fé raciocinada, perderemos o “trem da evolução”, para tomarmos o “bonde da fantasia”, correndo em busca de aventuras e quimeras, numa tentativa infrutífera de conquistar realização íntima, somente alcançada, com paz de consciência e investimento maciço nos valores indestrutíveis da alma. O que é fantasia e o que é realidade? Nessa corda bamba, precipitamo-nos, quase sempre, nos excessos de todos os gêneros. Seja, na comunhão do apetite carnal; seja, no uso incontido das drogas; seja, no exibicionismo ilusório e passageiro da beleza física e do poder temporal. Somente, conquistaremos a paz e a felicidade, o equilíbrio emocional e a alegria de viver, quando olharmos para dentro de nós mesmos e percebermos que, ali, reside uma alma que implora atenção e, acima de tudo, o alimento do amor, somente alcançável, na comunhão com o Criador, através das pessoas que nos são afins. Somente, atingiremos esse estágio, quando todos os seres viventes, que nos circundam, sejam, aos nossos olhos, considerados mais do que amigos, irmãos, em continuo processo de aprendizado e indispensáveis à permuta de valores. Ajamos, dessa forma, a fim de não sermos surpreendidos depois do sepulcro, com os clarões ofuscantes do Sol Verdadeiro. Lindemberg (Mensagem recebida pelo médium Zaneles Lima de Brito, na Associação Espírita Leopoldo Machado, na cidade de Campina Grande/PB, em 22 de setembro de 2015.)

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Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho: (A revelação da missão coletiva de um país) DANIEL PIRES João Pessoa-PB

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obra “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”¹ é considerada pelos espíritas, quase de modo unânime, a mais importante obra de Humberto de Campos (Espírito), psicografada por Chico Xavier, para o correto entendimento da história da civilização brasileira em sua marcha através dos tempos, como disse o próprio autor espiritual da obra, na apresentação do livro. A partir da leitura da obra, o leitor, sobretudo o leitor espírita, passa a tomar conhecimento de como se deu essa caminhada através dos séculos da nação brasileira, do ponto de vista espiritual. Quem já o leu, tomou ciência de que Jesus esteve, durante todos esses séculos, acompanhando a evolução da pátria do evangelho. Revela-nos, ainda, a obra, que somos privilegiados, por estarmos reencarnados neste país. Pois, conforme nos foi revelado pelo irmão Humberto de Campos, o Brasil tem a missão evangélica no concerto dos povos. Ao longo da obra, a partir de dados colhidos do mundo espiritual, o autor vai comentando acerca da escravidão, dos movimentos nativistas, a Independência, a Invasão Holandesa, D. João VI no Brasil, a Guerra do Paraguai, o movimento abolicionista, o Espiritismo e o Movimento Espírita no Brasil. Para facilitar o entendimento de quem ainda não leu o livro e que tem pouca noção sobre o assunto, comentarei acerca do cap. XVIII do livro “A Gênese” ², lançado por Allan Kardec no ano 1869... Conforme Kardec registrou no 18º capítulo do livro, o nosso planeta já estava para dar início ao processo de transição planetária, onde deixaria de ser um mundo de provas e expiações, para tornar-se um mundo de regeneração. Transição essa anunciada nas escrituras como o “fim dos tempos” ou o “juízo final”. É importante destacar e transcrever o registro feito pelo codificador: “São chegados os tempos, dizem-nos de todas as partes, marcados por Deus, em que grandes acontecimentos se vão dar para regeneração da Humanidade. (...) “O progresso da Humanidade se cumpre, pois, em virtude de uma lei. Ora, como todas as leis da Natureza são obra eterna da sabedoria e da presciência divinas, tudo o que é efeito dessas leis resulta da vontade de Deus, não de uma vontade acidental e caprichosa, mas de uma vontade imutável. Quando, por conseguinte, a Humanidade está madura para subir um degrau, pode dizer-se que são chegados os tempos marcados por Deus, como se pode dizer também que, em tal estação, eles chegam para a maturação dos frutos e sua colheita (...)” “(...) Tal o período em que doravante vão entrar e que marcará uma das fases principais da vida da Humanidade. Essa fase, que neste momento se elabora, é o complemento indispensável do estado precedente, como a idade viril o é da juventude. Ela podia, pois, ser prevista e predita de antemão e é por isso que se diz que são chegados os tempos determinados por Deus. “Nestes tempos, porém, não se trata de uma mudança parcial, de uma renovação limitada a certa região, ou a um povo, a 14 Tribuna Espírita • janeiro/fevereiro • 2016

uma raça. Trata-se de um movimento universal, a operar-se no sentido do progresso moral. Uma nova ordem de coisas tende a estabelecer-se, e os homens, que mais opostos lhe são, para ela trabalham a seu mau grado. A geração futura, desembaraçada das escórias do velho mundo e formada de elementos mais depurados, se achará possuída de ideias e de sentimentos muito diversos dos da geração presente, que se vai a passo de gigante. O velho mundo estará morto e apenas viverá na História, como o estão hoje os tempos da Idade Média, com seus costumes bárbaros e suas crenças supersticiosas(...)” Esse processo de transição acentuou-se entre o século XX e o XXI (nosso século atual). Prova disso são as catástrofes naturais e as mais diversas crises em vários pontos do globo que têm ocorrido nos últimos tempos, onde têm se dizimado milhares de vidas. Essas catástrofes têm o objetivo de fazer a Humanidade progredir mais depressa, através do expurgo de Espíritos refratários à ordem e à evolução moral e espiritual, que já não podem mais ser retardadas. Como afirmou o espírito Joanna de Angelis, não serão, apenas, os cataclismos físicos que sacudirão o planeta como resultado da lei de destruição, geradora desses fenômenos, como ocorre com o outono que derruba a folhagem das árvores a fim de que possam enfrentar a invernia rigorosa, renascendo exuberantes com a chegada da primavera, mas também os de natureza moral, social e humana que assinalarão os dias tormentosos, que já se vivem. Com isso, muitos Espíritos estarão desencarnando, em massa, como também muitos estarão voltando (reencarnando), para auxiliar os povos da Terra no processo evolutivo. Espíritos esses nobres que virão, e que muitos já estão, já vieram e estão vindo, de planos muito elevados da espiritualidade. E, eles reencarnaram, exatamente aqui, no Brasil, no coração do mundo, pátria do Evangelho. No país que Jesus escolheu como sendo o coração espiritual do mundo, para a irradiação da paz e da fraternidade à Humanidade, na nova era. Nessa era de um mundo de regeneração, na qual já se operam os reajustes. Como vocês podem ver, somos, repito, “privilegiados”. Pois, além de estarmos reencarnados no “coração do mundo”, o impacto causado pelas catástrofes naturais será bem menor, se comparado com o que sobrevirá no Hemisfério Norte do planeta. Na fase atual, o nosso país passa por uma fase de protestos, de insatisfações. Mas, toda essa fase irá passar e o Brasil, além de tornar-se um país mais justo e democrático, dará início à missão que lhe está confiada, a de irradiar a paz e a fraternidade para os povos do mundo. Jesus, ao falar em “fim dos tempos”, não se referia ao fim do mundo físico. Mas, sim, ao fim do mundo de perversidades, injustiças, desigualdades, guerras, violências... Todo o tipo de ação que não está de acordo com as leis divinas. Referências: XAVIER, Francisco Cândido. “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, pelo Espírito Humberto de Campos. 33ª edição. Rio de Janeiro: FEB, 2010. KARDEC, Allan. “A Gênese”. Trad. de Guillon Ribeiro. 43ª edição. Rio de Janeiro: FEB, 2003. Foto: Gloogle Imagens


O 43º MIEP RESSALTA O BRASIL COMO PÁTRIA EVANGELIZADORA DO MUNDO, DESTACANDO A IMPORTÂNCIA DE INVESTIR NA JUVENTUDE

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m sua 43º edição, o MIEP traz, como tema central, o Brasil em sua função de pátria evangelizadora do mundo, segundo apregoa Humberto de Campos na antológica obra espírita: “Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho”, que assina, pela psicografia de Chico Xavier. Em torno deste mote, serão realizados seminários, mesas-redondas, palestras, salas de entrevista, cine debates e muito mais. Discussão pertinente, sobretudo em meio à realidade de crise socioeconômica enfrentada pelo país, que ostenta a pecha cultural do “jeitinho brasileiro”. O Movimento de Integração Espírita na Paraíba ocorrerá, novamente, no Colégio Estadual da Prata, em Campina Grande-PB, no período de carnaval. No período de 06 a 09 de fevereiro, 11 expositores espíritas, de repercussão nacional, debaterão o tema central, tratando, também, de pontos essenciais à vivência do evangelho à luz da doutrina espírita, como: cristianismo nascente, exemplo de autenticidade cristã na biografia de Chico Xavier, mediunidade e evolução, harmonia interior e resiliência e saúde. Esta edição do evento trará inovações além da programação tradicional, que conta com palestras, seminários, oficinas, cine debate, sala de entrevistas. Uma delas será o 1º Encontro NEPE - Núcleo de Estudo e Pesquisa do Evangelho, com discussão aprofundada quanto à importância do hebraico para melhor compreensão da mensagem de Jesus, do português como língua de evangelização e do estudo do Evangelho versículo a versículo. Além do tradicional MIEPINHO, há 22 anos fortalecendo a evangelização infantil, será realizado o MIEP BABY, pela primeira vez ofertando espaço de evangelização interativa entre pais e crianças de 0 a 3 anos. O Espaço Adolescente foi repensado, acompanhando a dinâmica contemporânea da juventude espírita, tornando-se o MIEP JOVEM, que aposta nas artes e tec-

nologias como instrumentos de evangelização mais vibrante, atrativa e integrativa, atingindo o público de 13 a 21 anos. Outra novidade é a programação noturna mais descontraída, voltada, também, ao público jovem, com a extensão da programação do MIEP JOVEM para a noite. No domingo haverá a ARENA JOVEM, em que alguns dos expositores apresentarão o tema “Missão Espiritual do Brasil: eu, jovem, qual o meu papel?”, em articulação com a musicalidade suave e alegre do Grupo Vocal Toque de Luz, seguindo o formato de exposição lítero-musical. Na segunda, ocorrerá a NOITE ARTÍSTICA, com apresentações do grupo de teatro da Juventude da Federação Espírita à Caminho da Luz, de Campina Grande, e dos grupos musicais Semearte, prata da casa, e Escolhas de Luz, de João Pessoa, apresentando seu novo CD. O coordenador geral do MIEP, presidente da Associação Municipal de Espiritismo de Campina Grande - AME-CG, Ivanildo Fernandes, assevera que, além do tema palpitante explorado nesta edição do evento, diante da conjuntura política e cultural que o país enfrenta na atualidade, o ponto alto do planejamento das atividades foi a ênfase nas gerações mais novas, buscando promover o despertar da consciência, por meio de uma evangelização incentivadora da proatividade e protagonismo da infância e juventude, conscientes da responsabilidade e compromisso de fazer do Brasil o coração do mundo e a pátria do evangelho desejada por Jesus. Informações específicas, programação completa e inscrições são acessadas pelo site www.ame.miep.com.br.

Farah Catharine

Coordenadora do DECOM/AME-CG


A influência de Pestalozzi em Allan Kardec ROBSON SANTOS DE OLIVEIRA Caruaru-PE

Pestalozzi e sua influência pedagógica Para Soëtard (2010, p 11), Pestalozzi foi não somente um grande pensador mas também um ícone influenciando todos os movimentos de reforma educacional do século XIX, influenciando diretamente Fröbel e Herbart. Muitos pesquisadores não fazem menção a Hippolyte Léon Denizard Rivail, um de seus alunos, como reconhecido educador francês ou referência ao sistematizador do pensamento espírita. Coube a Wantuil e Thiesen (1980), primeiramente e a Incontri (1991) esse resgate histórico da contribuição de Denizard-Rivail à educação bem como da influência de Pestalozzi sobre ele. Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), educador suíço, nasceu em Zurich (Suíça), dedicou-se às questões sociais, especificamente à educação. Tornou-se reconhecido na Europa e posteriormente em outros países “(...) por sua ação como mestre, diretor e fundador de escolas, particularmente da famosa escola de Yverdon, um verdadeiro laboratório de experimentos pedagógicos” (ZANATA, 2005, p. 168). Foi no Instituto Pestalozzi às margens do lago Neuchâtel, na Suíça, inaugurado em janeiro de 1805 (SOËTARD, 2010, p.21) que o mestre suíço veio a destacar-se no campo educacional, tornando-se reconhecido em toda Europa e outros países. Wantuil e Thiesen (1980) dedicam o primeiro volume da pesquisa quase que exclusivamente sobre o Instituto de Yverdon (16 dos 38 capítulos1), que fechou em 1825 (1980, p. 32; 69). Segundo estes dois pesquisadores (1980, p. 32), foi com a idade de dez anos que Denizard-Rivail iniciou seus estudos em Yverdon, não se sabendo ao certo uma data precisa quando deixou o Instituto de Pestalozzi, sendo estipulado entre 1819 a 1824 (1980, p. 78-79). No seu método pedagógico, incluía-se o contato com a Natureza, o ensino moral, o enfoque teórico mas também o prático, ênfase à lógica, à racionalidade, bem como ao respeito universal pelo outro, à liberdade e autonomia do indivíduo, além de seu caráter profundamente humanitário segundo Soëtard (2010, p.

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11). Em oposição a um esquema hipotético-dedutivo (SOËTARD, 2010, p. 30), o método proposto por Pestalozzi é o intuitivo cuja base é a “ ‘lição das coisas’, acompanhada de exercícios de linguagem para se chegar às ideias claras” (ZANATA, 2005, p. 171). Utilizou a tríade Herz, Kopf, Hand (coração, cabeça e mãos) aplicável nas práticas pedagógicas do Instituto de Yverdon, envolvendo atividades cognitivas, afetivas e sensoriais (experimentais), conforme Soëtard (2010, p. 24) ou também denominados os três aspectos básicos do organismo humano: intelectual, físico e moral (SOËTARD, 2010, p. 39). Ainda, estabeleceu seu método intuitivo a partir de três elementos: a palavra, a forma e o número (SOËTARD, 2010, p. 42). Segundo Zanata (2005, p. 168) em sua obra Leonardo e Gertrudes (1781) Pestalozzi traça suas ideias sobre reforma em três dimensões: política, moral e social. Eu denominarei esses tríplices aspectos do método Pestalozzi como “tríades pestalozzianas”. A influência de Pestalozzi em Herbart, Fröbel e Rivail Herbart, Fröbel e Rivail foram contemporâneos de Pestalozzi. Froelbel e Herbart conheceram o método pestaloziano; amplicaram-no e o ampliaram, cada qual com suas novas ideias. Herbart conheceu o método pestalozziano antes do Instituto de Yverdon, com o próprio Pestalozzi. Fröbel visitou o Instituto de Yverdon como preceptor (1808-1810). Rivail foi discípulo do mestre suíço, tendo estudado no Instituto de Yverdon, a partir de 1815. Johann Friedrich Herbart nasceu em 4 de maio de 1776 na Alemanha, e morreu em 11 de agosto de 1841 na cidade universitária de Göttingen, segundo Hilgenherg (2010, p. 12). Entre 1802-1809 já havia conseguido reputação como filósofo e também como pedagogo e é em 1802 que escreve “A ideia de um ABC da intuição de Pestalozzi” (HILGENHERG, 2010, p. 12-13). A partir de 1796, interessa-se pelo método pestalozziano realizando estágio com o mestre suíço em 1802 e o rei da Prússia, Friedrich Wilhelm III, aprovou a nomeação de Herbart para Universidade de Königsberg

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com o objetivo de melhorar o sistema educativo segundo os princípios de Pestalozzi, segundo Hilgenherg (2010, p. 13;15). Friedrich Wilhelm August Fröbel nasceu em 21 de abril de 1782, em Oberweissbach, no principado de Schwarzburg -Rudolstadt (Turíngia), sexto filho de um pastor e cuja mãe faleceu seis meses depois (HEILAND, 2010, p. 11). Faleceu em junho de 1852. Segundo Heiland (2010, p.15), ele foi a Yverdon, na Suíça, no outono de 1806, para conhecer os métodos pedagógicos de Pestalozzi e lá ficando entre 1808 e 1810, vindo posteriormente (1810) a escrever um ensaio sobre o método educacional pestalozziano. Dessa experiência no Instituto Pestalozzi vai também influenciar sua obra “Cantos para a mãe e seus filhos” (1844) inspirada no livro pestalozziano “Livro das Mães”. Este educador destacou-se no campo educacional e trazer duas grandes contribuições (HEILAND, 2010, p. 30-37): 1) criação e ênfase nos jogos pedagógicos infantis; 2) criação e formação dos centros educacionais para crianças dos ‘jardins de infância’. Hyppolyte Léon Denizard-Rivail ou simplesmente Denizard-Rivail ou ainda Rivail nasceu na cidade de Lião, França, em 3 de outubro de 1804. Teve formação educacional no Instituto Pestalozzi (1815 a 1822, sem confirmação quanto ao término) e boa parte da vida, denominada por Wantuil e Thiesen (1980), de primeira fase de Rivail, compreendendo o período do seu nascimento até o início de sua atividade missionária com o Espiritismo. De 1819 a 1850, Denizard-Rivail destacou-se na capital francesa “(...) segundo método

ducacional. Segundo Dora Incontri (1991), “a comprovação histórica da filiação de Rivail a Pestalozzi, como discípulo e continuador de suas ideias na área da educação, permite-nos, portanto, estabelecer comparações entre os dois grandes mestres e analisar a influência que o segundo exerceu sobre o primeiro” (INCONTRI, 2008, p. 43). No desdobramento desse artigo, em sua segunda parte ampliaremos essas observações, demonstrando que a influência de Pestalozzi, não apenas se deteve em Denizard-Rivail mas esteve presente quando este assumiu o pseudônimo Allan Kardec. (VER NA EDIÇÃO SEGUINTE)

pestalozziano, com modificações por ele mesmo criadas ou desenvolvidas (...)”, segundo Wantuil e Thiesen (1980, p. 188). É, seguindo os passos da pesquisa de Wantuil e Thiesen (1980) sobre Allan Kardec, que vamos identificar a influência de Pestalozzi em Denizard-Rivail. Os capítulos 2, 7, 9, 11, 14, 16, 19, 21, 26, 28, 29 e 30 tratam especificamente a esse respeito, tanto quando Denizard-Rivail estava no Instituto de Yverdon, quando concluiu ali seus estudos dando continuidade ao método pestalozziano em Paris. Destacamos a influência de Pestalozzi em Denizard-Rivail, principalmente nas questões que dizem respeito ao aspecto moral e ao método de observação (método intuitivo) da experiência para o abstrato no campo pedagógico-e-

Olhos azuis RAYMUNDO RODRIGUES ESPELHO Campinas-SP

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m sua edição de 4 de outubro passado, o “Correio” registrou novo comentário sobre este assunto. Também o “Jornal Nacional” (Globo) focalizou as lamentáveis ocorrências sofridas pela jornalista afrodescendente, Maria Julia Coutinho, “a moça do tempo”. A prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível. Mas, a dificuldade de aceitar o valor de todos, no leque das diferenças, é que perpetua o preconceito. “É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”. Albert Einstein “O preconceito é uma opinião não submetida à razão”. Voltaire “Detesto o racismo, porque o vejo como algo bárbaro”. Nelson Mandela “Enfrentar preconceito é o preço que

se paga, por ser diferente”. Luiz Gasparetto “Somos todos escravos da lei, para que possamos ser livres”. Cícero “O preconceito é uma opinião não submetida à razão”. Voltaire “De que me adianta temer o que já aconteceu? O tempo do medo já aconteceu; agora começa o tempo da esperança”. Paulo Freire. Quando será que nós, homens e mulheres de bem, traremos de volta a nossa liberdade?

Referências: HEILAND, Helmunt. Friedrich Froëbel (Coleção Educadores). Recife: Fundação Getúlio Vargas, Editora Massangana, 2010. HILGENHERG, Norbert. Johan Herbart (Coleção Educadores). Recife: Fundação Getúlio Vargas, Editora Massangana, 2010. INCONTRI, Dora. A ontologia de Pestalozzi e a prática da educação moral em Stans. Dissertação de Mestrado. São Paulo, USP, 1991. SOËTARD, Michel. Johan Pestalozzi (Coleção Educadores). Recife: Fundação Getúlio Vargas, Editora Massangana, 2010. WANTUIL, Zeus; THIESEN, Francisco. Allan Kardec: meticulosa pesquisa biobibliográfica e ensaios de interpretação. Vol. 1. Rio de Janeiro: FEB, 1980. ZANATTA, Beatriz Aparecida. O método intuitivo e a percepção sensorial como legado de Pestalozzi para a geografia escolar. Caderno CEDES, Campinas, vol. 25, n. 66, p.165-184, maio/ago, 2005. Nota da Redação: O autor é Prof. Doutor em Psicologia Cognitiva (pela UFPE), Posdoutor em Linguística (pela UFC) e integrante do Grupo Espírita Gabriel Delanne em Caruaru-PE. _____________________ 1 Caps. 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 14, 15, 16, 19, 21, 26

Quanta falsidade, quanta mentira, ainda teremos que suportar, sentir e sofrer? Vejamos o que nos fala Allan Kardec, em “O Livro dos Médiuns” XXIV266: “(...) rejeitando-se, sem hesitação, tudo o que peque contra a lógica e o bom-senso ... (...) este meio é único, mas infalível, porque não há comunicação má que resista a uma crítica rigorosa “. Este crime que, ainda, é praticado no Brasil, foi legalmente abolido pela “Lei Áurea”, sancionada pela Princesa Isabel, no dia 13 de maio de 1888, dando liberdade total aos negros. Nós, principalmente, nós que somos espíritas, temos a obrigação de respeitar a todos os nossos semelhantes, sem distinção de raça, cor, ou nacionalidade. Nunca, poderemos nos esquecer que somos todos filhos do mesmo Pai. janeiro/fevereiro • Tribuna Espírita • 2016 17


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Islamismo – quando a Fé se torna Fanatismo MARCOS PATERRA João Pessoa/PB

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oje, o mundo vê, horrorizado, os ataques de terroristas que se auto intitulam “Islamitas”. Para que possamos decorrer sobre o assunto, é preciso que se entenda que o “Islã” é uma religião fundada, no século VII, pelo profeta Abu al-Qãsim Muhammad ibn Abd Allãh ibn ‘Abd al-Muttalib ibn Hãshim, mais conhecido como Maomé1. Segundo a fé islâmica, por intermédio do anjo Gabriel, Alá (Deus) revelou-se a Maomé, a quem transmitiu os ensinamentos do Islã, que estão contidos no “Corão”2 dos muçulmanos. A própria palavra Islã quer dizer “rendição”, ou “submissão”; o seguidor da religião islâmica deve obedecer, cegamente, o descrito no “Corão” e, aí, surge a questão que gera os embates. A fé cega e intolerante passou a ser comum aos islamitas que não aceitam e nem permitem nenhuma outra religião e passaram a ser inimigos declarados do Catolicismo3. Na “Revista Espírita” 4, em 1866, na edição de agosto e de novembro, intitulados “Maomé e o Islamismo”; afirma-se que as opiniões preconceituosas sobre o fundador do Islamismo se originavam da ignorância ou do espírito de partido, e faziam que se ressaltassem os pontos mais acessíveis à crítica, deixando na obscuridade os aspectos favoráveis de sua vida e obra. 18 Tribuna Espírita • janeiro/fevereiro • 2016

“(...) sobre o fundador do Islamismo se fizeram, muitas vezes, ideias falsas ou ridículas, baseadas em preconceitos, que não encontravam nenhum corretivo na discussão.”(KARDEC 1866).5 Sob esse prisma, fica evidente que o problema dos ataques terroristas é o fanatismo religioso que se apega à letra dos textos sagrados. Para que possamos entender, de forma explicita, devemos salientar de que, na história mundial, as guerras violentas, sempre, estiveram presentes. Salientamos que as Guerras são: confrontos, onde os interesses estão sujeitos a interesses da disputa entre dois ou mais grupos distintos de indivíduos, mais ou menos, organizados, utilizando-se de armas, para tentar derrotar o adversário. Enganam-se os que pensam que as guerras estão vinculadas aos embates do Império Romano, as lutas Napoleão e, até mesmo, às duas Grandes Guerras que geraram o chamado “holocausto”. Antes e depois desses, já houve centenas de outras batalhas. Podemos citar alguns exemplos, como os Sumérios que foram conquistados pelo Império Arcaico, no século MMXX a.C., e quem não ouviu falar da famosa “Guerra de Tróia” que ocorreu em 1300 a.C. Houve, também, as famosas e sangrentas “Cruzadas”, ocorridas, desde de 1096 a 1291. Mesmo, aqui, no Brasil,

tivemos a sangrenta “Guerra do Paraguai” ou “Guerra da Tríplice Aliança” (1864 − 1870). A Doutrina Espírita nos dá parâmetros, para se entender a “função” e os objetivos das guerras, na Humanidade. Podemos afirmar que os delineamentos básicos do entendimento espiritual sobre conflitos armados, são encontrados em “O Livro dos Espíritos”6, onde, dentro do Capítulo VI ( Lei de Destruição) da 3ª Parte ( a que disserta sobre Leis Morais ). Itens 671 (Cap II) e 742 a 745. Vamos destacar alguns itens para maior entendimento: 1) O fanatismo e a motivação religiosa das guerras representam a ligação entre Espíritos encarnados e desencarnados, sendo esses últimos os que impelem aqueles ao conflito; não prosperam, pois, as justificativas fundadas em Deus ou em sua palavra, para o cometimento de violências. (671) 2) São decorrentes da predominância animal sobre espiritual e do transbordamento de paixões. (742) 3) Servem, para a liberdade e progresso sociais, mesmo que presente, temporariamente, a escravidão. (744/745) Sempre que eclode uma nova guerra, percebe-se a presença do mal, não como “entidade” ou força espiritual independente,


mas, como exacerbação e exteriorização de sentimentos peculiares ao homem, ainda, bastante animalizado e com vícios e tendências inferiores. Sob esse prisma, entendemos melhor os ataques dos “Islamitas”, onde os três itens acima descritos dão completa compreensão da selvageria e intentos dos terroristas. A partir dos ensinamentos espíritas, pode-se pensar que, no fator das necessidades evolutivas do Espírito, seja importante que, ao longo das reencarnações, a alma conheça experiências religiosas diferentes. O Islamismo é uma modalidade de experiência religiosa que supera um dos limites do diálogo inter-religioso. Ao nascer em culturas diversas, podese ter acesso às diferentes riquezas espirituais, a partir de suas próprias raízes. A pessoa pode, numa reencarnação, nascer num ambiente cultural cristão; noutra, muçulmano; tornar-se um monge budista, numa seguinte: e ser um sacerdote indígena, numa próxima. Extraindo as riquezas espirituais de cada tradição, ao mesmo tempo em que, contribuindo com sua bagagem espiritual, revelada a partir de dons e intuições, para o florescimento de valo-

res universais, em cada uma delas. Na Doutrina Espírita, Jesus é descrito como responsável, não só, por ter trazido a Boa Nova, mas, também, de ser o líder espiritual do planeta; que teria vindo muito antes, no período de formação do planeta, milhões de anos atrás7. Sob esse prisma, Jesus teria sido o responsável pelo envio dos missionários, nos mais diversos pontos do globo. Lao Tse, Buda, Moisés, Maomé, todos teriam trabalhado, em seu nome, como instrumentos seus, a serviço do bem. Kardec afirmava que o Espiritismo tem em perspectiva ajudar as religiões a renovarem suas crenças, em face da razão, mas sem a necessidade de perder suas raízes. Assim, podemos afirmar que: “O Espiritismo é um verdadeiro campo aberto ao diálogo inter-religioso”. “O Espiritismo, de acordo com o Evangelho, admitindo a salvação para todos, independente de qualquer crença, contanto que a lei de Deus seja observada, não diz: Fora do Espiritismo não há salvação; e, como não pretende ensinar, ainda, toda a verdade, também não diz: Fora da verdade não há salvação, pois que esta máxima separaria, em lugar de unir, e perpetuaria antagonismos.” 8( KARDEC.2003)9

O Espiritismo não tem por finalidade combater, contrariar, negar ou destruir as religiões, mas ampara-las. Considera que todas as religiões são boas; mas, para que continuem boas, não devem estacionar nos estágios inferiores, caracterizados pela fé irracional e pelas estruturas eclesiais de poder. __________________________ 1 Maomé: Nascido em Meca no ano 570 como Mohammad, passou a maior parte da vida como mercador analfabeto, mas, aos 40 anos, teria recebido suas primeiras revelações do arcanjo Gabriel. 2 Livro sagrado dos islâmicos onde contém preceitos religiosos, regras para a organização do Estado, instruções para o relacionamento entre pessoas e até normas para o dia-a-dia. 3 Catolicismo (do grego katholikos; com o significado de “geral” ou “universal”) é um termo amplo para o corpo da fé católica, a sua teologia, doutrinas, liturgia, princípios éticos, e características comportamentais, bem como um povo religioso como um todo. 4 “Revista Espírita” tinha o subtítulo de: Jornal de Estudos Psicológicos. Fundada em 1958 por Allan Kardec. 5 Allan KARDEC, Revista Espírita (RE), 1866, p. 225. 6 KARDEC, Allan. Livro dos Espíritos. Ed. FEB. Rio de Janeiro. 2002 7 Informação contida no livro : A Caminho da Luz”, psicografado por Chico Xavier (Espírito de Emmanuel) 8 O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XV, P..8 e 9 9 KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de J. Herculano Pires. Ed. Lake. São Paulo 2003.

A Era da Vivência Cristã ALÍRIO DE CERQUEIRA FILHO Cuibá-MT (*)

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llan Kardec afirma que uma das funções da Doutrina Espírita seria, no futuro, a de influir na ordem social, por meio da restauração do Cristianismo, como nos legou Jesus, o nosso Guia e Modelo. A Humanidade, então, sob a influência dessas ideias, entraria em um novo caminho moral, no qual o Espiritismo agiria sobre as massas, para a felicidade geral. Diz Allan Kardec, na “Revista Espírita”, de setembro 1858: “Nessa época, todos os obstáculos à nova ordem de coisas determinadas por Deus para a transformação da Terra terão desaparecido. A geração que surge, imbuída das ideias novas, estará em toda a sua força e preparará o caminho da que há de inaugurar o triunfo definitivo da união, da paz e da fraternidade entre os homens, confundidos numa mesma crença, pela prática da lei evangélica. Assim, serão confirmadas as palavras do Cristo, já que todas devem ter cumprimento e muitas se realizam neste momento, porque os tempos preditos são chegados. Mas, é em vão que, tomando a figura pela realidade, procurais sinais no céu: esses sinais estão ao vosso

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lado e surgem de todas as partes.” Eis que os tempos são chegados. Hoje, estamos todos sendo convidados a participar de uma Nova Era para a Humanidade; a era da vivência cristã, não em discurso, como o faz a maioria das pessoas, mas por meio da tríade: conhecer, sentir e

vivenciar as virtudes exemplificadas pelo Cristo. Estamos vivenciando a grande transição do planeta Terra; de mundo de expiações e provas; para mundo de regeneração, no qual os ideais de amor e fraternidade imperarão na coletividade, por meio do esforço individual, para refletir as lições insuperáveis de amor oferecidas por Jesus. Tudo que estamos vivendo, neste momento, é um convite para uma reflexão profunda sobre o preceito cristão: Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Para se conhecer a Verdade, é necessário estudá-la, para se entender a base em que ela se fundamenta. Jesus deixa claro que não é o conhecimento que liberta, mas a Verdade. Esse segundo passo acontecerá, pela compreensão da Verdade, por meio da maturidade intelecto-moral, individual e coletiva da Humanidade, oriunda da reflexão sobre a presença da Verdade estudada em nossas vidas; da vivência e da nossa transformação em pessoas melhores, libertas das viciações que, ainda, trazemos, a despeito de todas as orientações do Mestre Jesus. (*) O autor é Vice-Presidente da Federação Espírita do Estado de Mato Grosso, responsável pelo Projeto Espiritizar. janeiro/fevereiro • Tribuna Espírita • 2016 19


Ouvir e Falar! FRANCISCO REBOUÇAS Niterói-RJ

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á uma frase que, no Movimento Espírita, tornou-se extremamente conhecida, e que qualquer um de nós, espiritistas, já ouviu, referindo a alguém se ela, em palestras, estudos ou outras atividades do Movimento Espírita, e que, por isso mesmo, o ouvinte imediatamente acrescenta ao seu conhecimento de Espiritismo e sai, por sua vez, a espalhá-la, multiplicando velozmente seu conteúdo. Como não gosto de passar à frente algo referente à Doutrina Espírita de que não possa apresentar a fonte de onde se origina minha informação, procurei, desesperadamente, encontrar a conhecida frase, que se tornou tão comum e que qualquer um, mesmo sem qualquer base doutrinária, hoje em dia, se faz portador de sua mensagem, passando à frente o Espiritismo, sem qualquer base em seus postulados, divinamente codificados pelo digno seguidor do Mestre de Nazaré. Só então, me pude dar o direito de, também, acrescenta-la em minhas modestíssimas anotações doutrinárias, para, então, poder tornar-me um divulgador de seu conteúdo, não como sempre ouvi e li, nos diversos meios de comunicação com que tive contato, bem como, em palestras, seminários, livros, revistas, programas de rádios etc., mas, sim, como, em verdade, ela nos foi transmitida por seu criador, o querido benfeitor Emmanuel. A frase a que me refiro é esta: “A maior caridade que podemos fazer pela Doutrina Espírita é a sua própria divulgação”. Ora, quem procurar essa frase nos livros de Espiritismo ditados por Emmanuel a Chico Xavier, não será bem sucedido em sua busca, pois a tal frase, tão corriqueira no Movimento Espírita, não está escrita, dessa forma, nem foi pronunciada pelo citado benfeitor, dessa maneira. A referida citação está contida no livro “Estude e Viva”, ditado pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz, psicografado por Chico Xavier e Waldo Vieira, e consta do capítulo 40 da referida obra, intitulado “Socorro Oportuno”, o que nos mostra como as coisas são alteradas ou modificadas, voluntária ou involuntariamente, quando passadas de um para outro interlocutor; senão, vejamos como está no livro: “(...) Lembra-te deles, os quase loucos de sofrimento, e trabalha para que a Doutrina Espírita lhes estenda 20 Tribuna Espírita • janeiro/fevereiro • 2016

socorro oportuno. Para isso, estudemos Allan Kardec, ao clarão da mensagem de Jesus Cristo, e, seja no exemplo ou na atitude, na ação ou na palavra, recordemos que o Espiritismo nos solicita uma espécie permanente de caridade – a caridade da sua própria divulgação”. (1) Em momento algum, identifiquei, no conteúdo do parágrafo acima, que a divulgação do Espiritismo seja a maior caridade que podemos fazer pela Doutrina Espírita. Penso que a observância e vivência correta dos seus postulados, ainda, é a grande finalidade da Doutrina Espírita ao seu sincero seguidor; pois, da forma como ela vem sendo difundida, por grande parcela de “espíritas” que não conhecem seus postulados, não é, ver-

“A maior caridade que podemos fazer pela Doutrina Espírita é a sua própria divulgação” dadeiramente, nenhuma forma positiva de caridade para com ela; mas, sim, um enorme desserviço prestado contra sua digna e elevada mensagem. Isto, porque o Espiritismo nos solicita que estudemos a Codificação, que é a mensagem do Consolador Prometido por Jesus, tão bem elaborada pelo fiel discípulo do Mestre de Nazaré, para a vivência da mensagem cristã, contida no evangelho, ensinada e exemplificada por Jesus, para, só então, sem que seja preciso fazer qualquer alarde, a espalhemos, em forma de atitude, na ação da caridade em favor do nosso semelhante, testemunhando, com nosso próprio trabalho, na plantação da semente do bem, para que possa germinar, crescer e dar bons frutos. A referência de Emmanuel ao estudo das obras de Kardec não é citada, mesmo fazendo parte do mesmo pensamento no

assunto enfocado, e que, por essa razão, não pode ser desprezado ou esquecido como se não tivesse sido pronunciado. É, por essa razão, que a divulgação da Doutrina Espírita segue, sendo difundida, sem qualquer cuidado com a fidelidade doutrinária, que todo e qualquer espírita consciente deve ter, como meta primordial; essa é a razão de, hoje em dia, se aceitar verdadeiros absurdos, como sendo obra espírita, quando não passam de ridículas obras mediúnicas, e o pior: são aceitas, até mesmo, por grande número de “espíritas” que, sem conhecerem os fundamentos da doutrina que dizem professar, mas que não professam, verdadeiramente, a elas se referem, com entusiasmo, como se estivessem falando do conteúdo da mensagem espírita codificada pelos Nobres Imortais, sob a supervisão do próprio Jesus. Precisamos tomar cuidado com as frases corriqueiras, e prestarmos mais atenção ao conteúdo do que à forma, para que o mais importante das mensagens que nos cheguem ao conhecimento não seja, simplesmente aceito, sem uma análise mais apurada em todo o seu conjunto, mas sim, que seja devidamente apreciado e absorvido pelo crente sincero da Doutrina Espírita; e, se for portador de um bom conteúdo, aí então, dele se utilizará, para sua correta divulgação. O espírita sincero deve ter por lema: “Fora da Caridade não há Salvação”; (2) mas, deve observar que essa máxima precisa ser, devidamente, compreendida, para não ser interpretada ao bel prazer de quem quer que se ache tão absolutamente dono da verdade; pois a Caridade não dispensa o cuidado que todos devemos ter, em observar que “fé inabalável só o é a que pode encarar, frente a frente, a razão, em todas as épocas da humanidade”, (3) e que, por isso mesmo, não podemos nos deixar descuidar da razão e do bom senso. Gloogle Imagens


A principal caridade que podemos fazer é a nós mesmos; em primeiro lugar, estudar a mensagem cristã contida no Evangelho, como nos alerta Emmanuel, seguindo Jesus através de Kardec, e efetuarmos nossa transformação moral-espiritual, para que, fundamentados no cristianismo redivivo que o Consolador nos veio trazer, possamos dar testemunhos, como nos alerta o benfeitor: “seja no exemplo ou na atitude, na ação ou na palavra”, de que seguimos Jesus, como fiéis discípulos, respeitáveis divulgadores da sua sublime mensagem, sem achismos ou modismos condenáveis sob todos os aspectos. Em “O Evangelho segundo o Espiritismo” encontramos a bela mensagem que o Espírito de Verdade nos transmitiu e que transcrevemos a seguir: “Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento;

instruí-vos, este o segundo. No Cristianismo, encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram”. (...) (4) Precisamos entender que o Cristianismo contém todas as orientações de que necessitamos, para fazer crescer em nós os valores morais que dormitam em nosso íntimo, desde nossa criação, e que, só o estudo sério, constante e disciplinado da Doutrina Espírita dar-nos-á a necessária capacidade, para melhor compreender as atitudes infelizes e os defeitos do nosso próximo, ampliando nosso poder de discernir, melhor, para melhor agir, utilizando-nos dos recursos hauridos nos conhecimentos adquiridos nesses estudos, para vivenciar, em nosso dia-a-dia, as lições com que os Espíritos Superiores nos instruíram sobre a verdadeira caridade como a entendia Jesus: “Benevolência para com

Tudo em nós mesmos! STANLEY MARX DONATO João Pessoa-PB

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ingente luta do ser humano, na busca pela evolução, denota apego ao contexto material em detrimento do espiritual. Não em vão, aponta a Doutrina Espírita, a Terra, como um mundo envolto por contexto de provas e expiações, ou seja, predomínio da dor em detrimento do amor (mal sobre o bem). Nada obstante, jamais esteve o ser humano a caminhar sozinho nesse mundo, tampouco, destituído de meios, através dos quais pudesse refletir acerca das questões geradoras de tanta aflição, sobretudo, durante e após a passagem de Jesus, o mais perfeito guia e modelo oferecido por Deus. A reflexão diacrônica sobre Jesus permite ao ser humano contemplar claras balizas, para que bem se compreenda que o mal está, compulsoriamente, caracterizado por práticas contrárias à Lei Divina, vez que os atos conformados a esta estariam qualificados como o bem proceder, denominados atos morais. Mas como seria possível perceber o bem proceder; ou seja, como saber quando se está a realizar ato moral ou não, uma vez que as opiniões sobre o que é moralmente aceito são múltiplas, entre tantos seres inteligentes? Indubitável que as percepções sobre os passos do Mestre Jesus não contemplam a possibilidade de resposta, com o predomínio do complexo sobre o simples, uma vez que sua passagem pela Terra foi, eminentemente, simples, desde o Gloogle Imagens

seu nascimento, a despeito de, também, atribulada, pois, tão logo nasceu, passou a sofrer perseguição. Nesse sentido, Allan Kardec obteve, como resposta, em “O Livro dos Espíritos”, Questão 629, que ato moral é o realizado com vistas ao bem de todos, guardando-se certeza, de conformidade entre o fenômeno humano e a Lei Divina. Tal resposta encontra-se em absoluta consonância com a lição de Jesus: amaivos uns aos outros, como eu vos amo, e a Deus sobre todas as coisas! Esclarecido foi o caminho delineado, para a evolução do ser humano: amor. Diante desse paradigma, não se apresenta, como surpreendente, o contexto reinante de dor, na Terra; realidade sensitiva que, através do sofrimento sozinho, ainda não se apresenta capaz de gerar progresso, uma vez que pode estar permeada pela revolta, cólera, indignação e vingança, vícios que concorrem para o seu agravamento e a estagnação da evolução almejada. Em verdade, afirmam os Espíritos que a predominância dos atos imorais, na Terra,

todos, indulgência para com as imperfeições alheias e perdão das ofensas.” (5) É hora de tomar uma atitude de serenidade e seriedade, em tudo o que pretendemos falar, com relação à Doutrina Espírita; não mais agindo, como simples repetidores do que ouvimos alguém dizer; mas, sim, procurarmos falar, com responsabilidade, apenas, do que realmente conhecermos com segurança, e que esteja contido nos postulados da Codificação do Espiritismo. Referências: (1) Estude e Viva – FEB 9ª edição, cap. 40, pelos Espíritos Emmanuel/André Luiz, médiuns: Chico Xavier/Waldo Vieira. (2) O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XV, item 10. (3) O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XIX, item 7. (4) O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. VI, item 5. (5) O Livro dos Espíritos, Questão nº 886.

guarda nexo com a aproximação do ser humano, com a sua origem, marco no qual fora concebido simples e ignorante, bem como com o choque experimentado, ante o egoísmo do próximo. Por outro lado, todavia, não permitem olvidar que essa mesma dor pode despertá-lo para a conquista de virtudes, como resignação, resiliência, paciência, empatia e simpatia, quando, capaz de compreender o fato dorido inevitável como idôneo meio a fortalecê-lo na ascese, caracterizando-o, como agente transformador de sua própria moral, capaz de domar as suas próprias más inclinações; ou seja, verdadeiro espírita, tal como conceituado em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Resta, pois, indubitável, que a compreensão sobre o seu estado futuro, real e não desfigurado por ficções alegóricas, facultada pelo Espiritismo, é caminho profícuo ao êxito inaudito, razão pela qual urge perquirir, se há desejo de não permanecer a enganar-se: qual o sentido de Jesus para a nossa vida? Se o desejo é a distância da dor (meio que desperta), outro caminho não há, senão, a busca, pela vivência do amor (meio que transforma). O caminho é simples, porque simples, sempre, o foi Jesus. Basta optar-se pelo ato moral, que se apresenta, sempre, que algo é realizado, com vistas ao bem de todos. Afinal, o melhor! Cônscios estamos, de que todos os meios para tal conquista encontram-se em estado latente dentro de nós, bastando-nos, tão somente, o bom uso do livre-arbítrio; pois, segundo os Espíritos, Jesus, assim, se pronunciou: Vede o que queríeis que vos fizessem ou não vos fizessem. Tudo se resume nisso. Não vos enganareis. (O Livro dos Espíritos – Questão 632). Vamos trabalhar e acreditar! Um dia, seremos anjos! janeiro/fevereiro • Tribuna Espírita • 2016 21


Uma nova série

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DENISE LINO

Campina Grande-PB

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m outra publicação,2 já apresentei a tese de que a obra do Espírito Joanna de Ângelis, psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, poderia ser divida em quatro séries ou coleções, que vou relembrar, aqui, para introduzir o tema deste artigo. Uma delas seria formada pelos livros de estudo, como “Lampadário Espírita”, “Estudos Espíritas”, “Rumos Libertadores” e “Florações Evangélicas”. As citações de trechos da Codificação, especialmente de “O Livro dos Espíritos” e de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, para leitura complementar ou precedente, constituem sua principal característica. Outra coleção seria formada pelos livros de mensagens. É a maior coleção. Começa com “Messe de Amor” e tem, como mais recente título, “Tesouros de Libertação”. Sua característica é a dissertação, pois os livros são compostos por reflexões sobre temas variados ou, até, por um mesmo tema, sob angulações diferentes, como “Garimpo de Amor”, que é composto por sessenta mensagens sobre o amor. Uma terceira série seria formada pelos livros para leitura rápida, entre os quais destacamos “Vida Feliz” e “Episódios Diários”, cujas mensagens são curtas e de fácil compreensão. Nessa coleção, também, enfeixamos os livros da série “Momentos”, dos quais destacamos “Momentos de Consciência, de Alegria e de Felicidade”. E, por fim, a série psicológica, já definida pelos estudiosos, como sendo composta por 16 livros, que começa em “Jesus e Atualidade”; tem o célebre “O Homem Integral” e “Em busca da Verdade”, que é o meu preferido. Fato é que, autor, que é Autor, tem autonomia sobre sua obra. Isso ocorre, com Joanna de Ângelis. A categorização de seus livros atende a mero efeito didático, visto que as coleções se mesclam. Por exemplo, onde melhor catalogar “Momentos de Consciência”, cujos textos têm, como pano de fundo, questões de “O Livros do Espíritos”, na coleção um, ou na três? E, “Vida Feliz” é, ou não, um livro da série psicológica, já que é um bom exemplar de psicologia aplicada? E, “Rumos Libertadores” e “Florações Evangé22 Tribuna Espírita • janeiro/fevereiro • 2016

licas” comporiam, junto com “Em Busca da Verdade” e outras tantas mensagens esparsas sobre passagens do Novo Testamento, uma série específica, relativa a uma exegese psicológica do Evangelho?! E, por que não? O que dizer de “Convites da Vida”, cujos temas aparecem em vários outros livros, mas, sempre com uma nova nuance? Pois bem, se já tínhamos tudo isso, temos mais uma coleção que é endossada pela própria Joanna, quando ela afirma no prefácio: “Este livro [Ilumina-te] forma uma trilogia com dois outros anteriormente publicados: ‘Entrega-te a Deus’ e ‘Liberta-te do Mal’.” Porém, estou convencida de que a coleção tem mais do que esses três livros; associados a “Rejubila-te” e “Segue em Harmonia” formam o que chamo de uma nova série. Os cinco livros têm aspectos em comum e os títulos sugerem uma continuidade. Veja que todos são formados por verbos no imperativo – Entrega-te… Liberta-te.., Ilumina-te, Rejubila-te e Segue em Harmonia3. O uso desse modo verbal é uma característica estilística da autora. Em Português, o uso de imperativo tem, como função geral, incitar à ação. E, é isso o que vejo, nos cinco títulos: uma ordem para sair da inércia. Primeiro, em qualquer circunstância, ou como premissa de todas elas, entregar-se a Deus. Depois, como consequência, libertar-se do mal, ou evitá-lo, como a autora diz no prefácio. Na sequência, iluminar-se; isto é, autoconhecer-se, com isso, rejubilar-se; porque, aquele se ilumina, encontra motivos de júbilo em toda a parte, como demonstrado no livro. Feito esse percurso, parece natural seguir em harmonia, ao final, como espécie de estado harmônico, elíptico, que começa com muito esforço, e se abre ao infinito, após a consolidação das fases anteriores. Outro aspecto, em comum aos livros, é a sequência em foram publicados, sugerindo, de fato, uma série. Vieram a público em 2010, 2011, 2012, 2013, e o último, em 2015. Os quatro primeiros têm 30 capítulos, como a maioria dos livros de Joanna dessa última década; o último também, só, que 15 escritos por Joanna,

e 15 por Suely Caldas Schubert. Como se diz, popularmente: Suely está bem na fita! Está, de fato muito bem, escreve, par a par com a mentora. Embora seus textos sejam “considerações em torno das mensagens ditadas psicograficamente”, tal como dito no prefácio, considero-os 15 outros bons capítulos4. Reaparece, nessa série, algo que já é tônica da obra de Joanna, como um todo: as referências a Jesus e Francisco. Tomar Jesus, como modelo e guia, e sua proposta, como psicoterapia, é o cerne da obra desse Espírito. Escrever capítulos, sobre ele ou sobre o Natal, também. E, isso ocorre, também, nesses cinco livros. Uma vista d´olhos, nos sumários, revela capítulos específicos sobre o Mestre, nos livros II, III e IV. E, sobre Francisco, nos livros II e V, além de diversas citações pontuais a ambos, em vários textos. Do ponto de vista editorial, os cinco livros, também, guardam semelhanças no trato gráfico, como formato e capas, assim como um glossário que aparece nos livros I, III e V da série. Para leitores que, ainda, acham o texto de Joanna difícil, parece um recurso útil. Uma última coincidência ou fator recorrente que dá estabilidade e consistência à nova série é a composição dos prefácios. Como é peculiar ao estilo de Joanna, temos textos de forte composição retórica, nos quais a tese, não neGloogle Imagens


cessariamente, é o primeiro elemento apresentado. Em todos eles, porém, há uma tese. Para o livro I, a tese é “O ser conquistador dos espaços siderais ainda não logrou autoconquistar-se, libertando-se das amarras vigorosas dos vícios e dos instintos agressivos.” Como se pode deduzir, para solucionar esse problema, será preciso entregar-se a Deus. Para o livro II, a tese é a de que a atualidade é muito complexa; há sobreposição entre o bem e o mal, que precisa ser devidamente identificada, evitada e superada; por isso, a proposta é evitar o mal ou dele libertar-se. No livro III, a tese é “A busca da autoiluminação é proposta inadiável, para a conquista da harmonia interior, da plenitude, do reino dos céus na paisagem emocional dos sentimentos enobrecidos.” Para isso, a proposta de Jesus é roteiro seguro. O livro IV tem, como tese, “o hábito de rejubilar-te em Deus enriquecer-te-á de serenidade e te concederá a visão correta da existência terrena, com todos os seus significados psicológicos.” E, finalmente, o livro V tem, como tese, “a harmonia interior é fruto do amor em ação, da superação dos impedimentos naturais que todos encontram pela senda evolutiva [...] é fruto do equilíbrio entre o corpo físico, a emoção e a mente.” Além da apresentação dessas teses e dos argumentos para defendê-las, a consistência desses prefácios provém de uma metodologia para alcançar o patamar nelas indicado. A metodologia aponta o Espiritismo, como caminho para “diminuir essa situação desastrosa”, conforme apresentado no livro I, e, como não poderia ser diferente, baseia-se em Jesus. Isso está expresso, no prefácio do livro II - “Nosso trabalho encontra-se, porém, enraizado nos textos do Evangelho de Jesus e nas seguras orientações que os Espíritos trouxeram ao mundo desde o dia do surgimento de ‘O Livro do Espíritos’ 5, de Allan Kardec, a 18 de abril de 1857, e as obras que foram publicadas, depois, pelo insigne Codificador.” A metodologia prevê, ainda, ampliação dos conhecimentos sobre a vida, engajamento em ações dignificadoras, exercício da solidariedade, ampliação da energia empática, bem como abandono da autocompaixão, da queixa, da autopunição, do conflito, como apresentado no livro IV. Essa metodologia apresenta outra característica linguística singular, recorrente no estilo da autora, que é chamada modalização pragmática. No âmbito dos estudos linguísticos, diz-se que a modalização pragmática é aquela que explicita “aspectos da responsabilidade de uma entidade constitutiva do conteúdo temático (pensamento, grupo, instituições) em relação às ações, intenções, razões (causas, restrições, etc.), etc., ou ainda, capacidades de ação” (BRONCKART, 2003, p.332). Esse tipo de recurso linguístico, usado para sugerir sem impor,

manifesta-se, através de verbos auxiliares ou de orações subordinadas substantivas subjetivas cuja função é de sugerir uma ação, à semelhança do imperativo. É o que encontramos em “É necessário amar a todos, procurando modificar as estruturas do pensamento e do comportamento doentios que vigem na sociedade.” (Livro I), “É necessário que a paz interna seja iluminada pela presença de Deus que te sustenta, mesmo sem que o percebas” (Livro IV). “Necessária a presença de filosofia otimista e grave, que faculte a reflexão de cada ato…” (Livro V). Além das teses e metodologia, os prefácios têm, ainda em comum, justificativas que respondem, todas elas, as questões apresentadas no livro I: “Mais um livro mediúnico, tendo-se em vista o nú-

“É necessário que a paz interna seja iluminada pela presença de Deus que te sustenta, mesmo sem que o percebas” (Livro IV). mero de obras respeitáveis que são apresentadas ao público diariamente? Trará alguma novidade ou fornecerá tema relevante?” A resposta é positiva, para a primeira questão, com o argumento de que “torna-se indispensável repensar, repetir o que já é conhecido, fixar-se o que se ouve e que se vê, no dia a dia das atividades humanas, especialmente no movimento espírita.” (Livro I). Em outras palavras, e respondendo à segunda questão, a mentora adota a “metodologia da repetição” (Livro II), com “vestimenta nova e atual” (Livro IV), que é fundamental à aprendizagem.

Por fim, dos cinco livros, destaco o terceiro, aquele em que a Joanna assinala a trilogia, porque me parece o mais profundo de todos. O próprio prefácio diferencia-se dos demais, pelo conteúdo mais denso, mais teórico; porém, muito mais fácil do que qualquer um dos livros da série psicológica. Diria que se trata, também, de um livro aplicado e que poderia integrar a citada série, sendo um exemplar de divulgação da psicologia transpessoal, defendida pela mentora. Em particular, sugiro aos leitores o capítulo “Cegueira Espiritual”, no qual há uma análise das curas de cegos, protagonizadas por Jesus, e o sentido iluminativo da expressão “o que sei é que éramos cegos e, agora, vemos...” Isto posto, cabe, apenas, dizer: boa leitura! … Ah, sim: se me perguntarem por um título para essa série, eu diria: “Ilumina-te”, por ser a ação que todos precisamos empreender! Referências: BRONCKART, J-Paul. Atividade de linguagem, textos e discursos. Por um interacionismo sócio discursivo. [Tradução de Ana Raquel Machado, Péricles Cunha]. São Paulo: Educ, 2003.

____________________ 1 Este texto desenvolve um dos pontos apresentados

na palestra Resistência e Libertação do Mal, proferida na SEJA – Sociedade Espírita Joanna de Ângelis, em 06/01/2015, baseada no prefácio de Liberta-te do mal. Para assistir na íntegra, acesse a página da SEJA – www.sejaespirita.org.br 2 Publicado na Revista Presença Espírita, Janeiro/Fevereiro de 2001 3 Serão nomeados doravante de Livro I, II, III, IV, e V. 4 Além de autora experimentada como vários livros publicados de sua própria lavra, Suely vem se especializando nesse trabalho de transposição doutrinária, pois, já o fez muito bem em outros livros. Destaco aqui Nas fronteiras da Nova Era, comentando dois livros de Manoel Philomeno de Miranda, Transição Planetária e Amanhecer de uma Nova Era, ambos também psicografados por Divaldo Pereira Franco. 5 Destaques da autora

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janeiro/fevereiro • Tribuna Espírita • 2016 23


A Candeia

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MAURO LUIZ ALDRIGUE João Pessoa-PB

“E ninguém, acendendo uma candeia, a põe em oculto, nem debaixo do alqueire, mas no velador, para que os que entram vejam a luz” (Lucas 11:33)

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sta parábola traz à realidade o quanto é importante fazer a divulgação de verdades espirituais. Além disso, demonstra que todo o conhecimento que se destina à melhoria moral e intelectual do ser humano não deva permanecer oculto, mas, ser amplamente divulgado. Assim, lembramos Kardec que, ao elaborar a base da Doutrina Espírita, os Espíritos indicaram que ele deveria fazer a sua divulgação. Traçou o seu plano de divulgação, com a fundação da “Sociedade Espírita Parisiense” e da “Revista Espírita”. Desta forma, o Espiritismo foi ganhando seus adeptos e, também, seus antagonistas, que Kardec acolheu, dando-lhes toda atenção, para dirimir dúvidas e acender a candeia de seus sentimentos e a iluminação de suas consciências. Aqueles que acreditam que seus conhecimento superiores devam permanecer ocultos, em círculos fechados e inacessíveis às massas, mantêm-se na retaguarda espiritual. A “Lei do Progresso” faz demonstrar a sua força, à medida que o ser humano evolui, trazendo novos conhecimentos e novos desafios. Não podem existir mistérios absolutos e Jesus está com a razão, quando diz que nada há secreto que não venha a ser conhecido. Tudo o que se acha oculto será descoberto, um dia, e o que o homem, ainda, não pode compreender, ser-lhe-á sucessivamente desvendado, em mundos mais adiantados, quando se houver purificado. À medida que a candeia é colocada no velador, a luz se espalha de maneira uniforme, facilitando a visão das pessoas. Estes ensinamentos de Jesus nos dão a 24 Tribuna Espírita • janeiro/fevereiro • 2016

entender, claramente, que as leis divinas devem ser expostas por aqueles que tiveram a felicidade de conhecê-las, pois, sem esse conhecimento, paralisar-se-ia a marcha da evolução humana. Por outro lado, manda a prudência que se gradue a transmissão de todo e qualquer ensinamento à capacidade de assimilação daquele a quem se quer instruir, uma vez que uma luz intensa demais o deslumbraria, ao invés de esclarecer. A Doutrina Espírita projeta sua luz, sobre vários pontos obscuros para o progresso da Humanidade, com a admirável prudência dos Espíritos que, ao darem suas instruções de forma gradual e sucessivamente, consideram as condições oportunas de trazê-las ao lume dos homens. Emmanuel nos esclarece que a claridade da candeia somente acontece, com o sacrifício da energia ou do óleo, e que nossa existência é uma candeia viva. É um erro lamentável despender nossas forças, sem proveito para alguém, sob a medida de nosso egoísmo, de nossa vaidade ou de nossa limitação pessoal. Coloquemos nossas possibilidades ao

dispor dos semelhantes. Ninguém deve amealhar as vantagens da experiência terrestre, somente para si. Cada um de nós goza de imensas prerrogativas, quanto à difusão do bem, se persevera na observância do amor universal. Perante o desejo de auxiliar o próximo, devemos aprender a irradiar o bem, de forma contínua, independentemente da pessoa ou da situação, libertandonos das manifestações nebulosas do personalismo. Caminhando na direção do bem, o Espírito se liberta, pouco a pouco, das paixões inferiores, revelando um corpo luminoso de virtudes. Mantendo-se envolvido pela túnica da humildade, da benevolência, do perdão e da fé, aprende a incorporar a luz em si mesmo. “Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus” (Mt. 5:16). Referências: 1 FEB. Estudo aprofundado da Doutrina Espírita. Brasília, 2013. Livro II, parte 1.

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Jesus e Maria HÉLIO NÓBREGA ZENAIDE João Pessoa-PB

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a sensibilidade de Sholem Asche, em “O Nazareno”, um diálogo entre Jesus e Maria: − Meu filho, contigo estive em todos os transes. E ele ergueu a mão direita, que já tanto trabalhara, e respondeu: − Sei disso, minha mãe. E ela continuou: − Meu coração está sempre inquieto por ti. Vem gente de K’far Nahun e outros lugares e contam maravilhas a teu respeito. Meu coração treme, entre a esperança e o medo: tu passas necessidades, meu filho. E ele respondeu: − Deus, meu Pai, está comigo. E sua mãe: − Perigoso é o caminho que segues, meu filho. Sinto o coração pesado. Frequentemente, desapareces e não sei para onde vais. Deus que tenha compaixão de mim e nunca deixe de acompanhar-te. E meu rabi tomou a mão direita de sua mãe e disse: − Sossega, minha mãe; tudo é por amor de Deus e de Sua gloria. − Meu filho, sei que a graça de Deus desce sobre ti e guarda-te noite e dia, e isso é a minha força e a minha consolação.

E então disse o meu rabi: − Mas conta-me o que vai contigo. Que se passa em tua casa? − Sou uma velha, − respondeu a mãe do rabi. Teu pai morreu; teu irmão, Jacó, tomou o trabalho e, com dificuldade, sustenta a casa. Os outros são muito crianças e necessitam de quem os guie na honradez – e tu, que és o mais velho e devias ensiná-los no judaísmo, tu abandonaste a casa, meu filho. E meu rabi respondeu e disse: − Meu pai terreno faleceu; mas; meu Pai celeste vive e me chamou para realizar o seu trabalho e pôr seus filhos no caminho da honradez. Pode Jacó substituir-me no governo da casa, pois é um devotado judeu. − Meu filho meu coração treme quando te ouço falar assim. Quem, então, és tu, meu filho, que nem eu, tua mãe, te conheço? E meu rabi apertou a mão direita de sua mãe e disse: −Acalma-te, minha mãe. E que teu coração se encha de alegria, como a uva se enche de vinho no outono. Os povos da terra abençoar-se-ão, em ti, e serás igualada a Raquel, a Sara e Rebeca, as mães sagradas... E a mãe do rabi enxugou as lagrimas,

nas fimbrias da saia, e disse: − Que Deus te console, como consolas tua mãe. Agora, deixa-me ir, filho, porque minha ajuda, lá dentro, se faz necessária. Lava tuas mãos e teus pés, e os que vieram contigo façam o mesmo, e todos se sentem à mesa... “Lavamos nossas mãos e sentamo-nos à mesa. E, na casa da mãe do Rabi, a mesa, que é como um altar de Deus, estava posta, com grande asseio, e de acordo com todos os mandamentos. E os de casa se sentaram em ordem de idade; a mãe à cabeceira; seu filho mais velho, ao lado e, a seguir, os outros. E, nós, também, os hospedes, fomos tratados honrosamente e sentamo-nos perto da mãe do Rabi, do outro lado da mesa. E o Rabi abençoou o pão, partiu-o...”. Deus, Nosso Pai, nos abençoe.

ELMANOEL G. BENTO LIMA

Painel Espírita

João Pessoa - PB

A Personalidade está no Espírito Há tendências viciosas que são, evidentemente, inerentes ao Espírito, porque dizem respeito mais ao moral do que ao físico; outras parecem, antes, consequentes do organismo e, por esse motivo, delas alguém se crê menos responsável: tais são as predisposições à cólera, à voluptuosidade, sensualidade, etc. É, perfeitamente, reconhecido, hoje, pelos espiritualistas, que os órgãos cerebrais, correspondendo a diversas aptidões, devem o seu desenvolvimento à atividade do Espírito; que esse desenvolvimento é, assim, um efeito e uma causa. Uma pessoa não é música porque tenha a bossa (=aptidão) da música, mas, ele só tem a bossa da música, porque seu Espírito é músico. Ora, se a atividade do Espírito reage sobre o cérebro, deve reagir, igualmente sobre as outras partes do organismo. O Espírito é, assim, artífice do seu próprio corpo, que o conforma, por assim dizer, a fim de apropriá-lo às suas necessidades e à manifestação das suas tendências. Isto posto, a perfeição do corpo, das raças avançadas, não seria o produto de criações distintas, mas o resultado do trabalho do Espírito que aperfeiçoa o seu aparelhamento

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à medida que suas faculdades aumentam. Por uma consequência natural desse princípio, as disposições morais do Espírito devem modificar as qualidades do sangue, dar-lhe maior ou menor atividade, provocar uma secreção, mais ou menos abundante, de bílis ou outros fluidos. É, assim, por exemplo, o que o guloso sente chegar a saliva à boca, diante de uma comida apetitosa. Não é a comida que pode superexcitar o órgão, uma vez que, com ele, não tem contato; é, pois, o Espírito, cuja sensualidade é despertada, que age, pelo pensamento, sobre esse órgão, ao passo que, sobre um outro, a visão dessa comida não produz nenhum efeito. É, ainda, pela mesma razão, que uma pessoal sensível verte, facilmente, as lágrimas; não são elas que dão a sensibilidade ao Espírito, mas é a sensibilidade do Espírito que provoca a secreção abundante das lágrimas. Sob o império da sensibilidade, o organismo está apropriado a essa disposição normal do Espírito, como estava apropriado à do Espírito guloso. Seguindo a essa ordem de ideias, compreende-se que um Espírito irascível deve

possuir temperamento bilioso; de onde se segue que um homem não é colérico porque seja bilioso; mas, que é bilioso porque é colérico. Ocorre o mesmo com todas as outras disposições instintivas; um Espírito mole e indolente deixará o seu organismo num estado de atonia, com relação ao seu caráter, ao passo que, se é ativo e enérgico, dará ao seu sangue, aos seus nervos, qualidades muito diferentes. A ação ao Espírito sobre o físico é, de tal modo, evidente, que se veem, frequentemente, graves desordens orgânicas se produzirem, pelo efeito de violentas comoções morais. A expressão vulgar: “A emoção lhe altera o sangue” não está tão privada de sentido, como se poderia crer. Ora, o que pode alterar o sangue, senão as disposições morais do Espírito? Portanto, escusar-se de suas faltas, em razão da fraqueza da carne, não passa de mero subterfúgio, para escapar da responsabilidade. Enfim, não é a carne que seja fraca. O Espírito é que é fraco. E isto reverte a questão e deixa ao Espírito a responsabilidade de todos os seus atos. (Trecho simplificado e adaptado do tópico “A carne é fraca” do livro “O Céu e o Inferno”, de Allan Kardec)


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Terremotos e Tsunamis: Uma Reflexão FÁTIMA ARAÚJO João Pessoa-PB

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ragédias coletivas como terremotos e tsunamis sempre infelicitaram a Terra, deixando rastros de destruição e terror difíceis de esquecer. O primeiro tsunami registrado no mundo ocorreu há mais de 3.500 anos, por erupção de um vulcão submerso, e formou ondas de quase 15 metros de altura. Foi tão devastador que resultou na morte de mais de 100 mil pessoas e no fim da civilização Minoica, da Ilha de Creta, na Grécia. Portugal registrou um saldo de 60.000 mortos, no ano de 1755, por conta do terremoto que se transformou em tsunami, pois começou no Atlântico, gerando ondas de mais de seis metros de altura, que inundaram toda a extensão de terra próxima ao rio Tejo e abalaram até cidades costeiras do Marrocos e da Espanha. Igualmente de grande magnitude foi o terremoto que quase destruiu Taiwan, estado insular localizado na Ásia Oriental, oficialmente República da China, no ano de 1782. Foi de assustadoras proporções e deixou 40.000 pessoas mortas. Já, o tremor que atingiu a costa do Equador, perto da fronteira com a Colômbia, no dia 31 de janeiro de 1906, matando cerca de 1.500 pessoas, chegou a ser sentido até no Japão e em São Francisco da Califórnia (EUA). Outro terremoto que abalou o planeta foi o causador da morte de mais de 1.500 pessoas, no Tibete e na província de Assam, na Índia, em 1950. Na Rússia, no dia 4 de novembro de 1952, um tsunami gerou ondas gigantes que atingiram até o Havaí, causando sérios prejuízos, mas sem vítimas fatais. No Chile, em 22 de maio de 1960, um maremoto, com epicentro na cidade de Valdívia, e ondas gigantescas matou 26 Tribuna Espírita • janeiro/fevereiro • 2016

2.000 pessoas, apagando do mapa cidades inteiras e fazendo vítimas, também, em outros países banhados pelo Oceano Pacífico. No Alaska (EUA), um grande abalo sísmico, com epicentro na região de Prince William Sound, fez mais de 150 vítimas fatais, no dia 28 de março de 1964. Menos de um ano depois, novo tremor gerou um tsunami, com ondas de mais de 10 metros de altura; dessa vez, atingindo as ilhas Rat e Shemya. Já, a ilha de Sumatra, na Indonésia, registrou, em 26 de dezembro de 2004, um terremoto de magnitude 9.1, com epicentro no mar, seguido de um tsunami que matou 230 mil pessoas, em 14 países da região. O tremor, que popularizou o termo tsunami, ocorreu a 30 km de profundidade no Oceano Índico. Afetou, principalmente, a Indonésia, causando mais de 166.000 mortes e deixando mais de 2 milhões de desabrigados na Índia, na Indonésia, no Sri Lanka, em Myanmar, na Tailândia, nas Maldivas e em muitos países do leste da África. Três meses após o famoso tsunami, a ilha de Sumatra, na Indonésia, foi atingida, novamente, por outro tremor; dessa vez em terra, de magnitude 8.7. Cerca de 1.300 pessoas morreram. No dia 27 de fevereiro de 2010, um terremoto de magnitude de 8,8 atingiu o Chile, matando mais de 800 pessoas e deixando cerca de 20 mil desabrigados. O epicentro foi o mar da região de Bío-Bío, a cerca de 320 km ao sul de Santiago. Grande terremoto − seguido por devastador tsunami − que atingiu o Japão, no dia 11 de março de 2011, alcançou a magnitude 9.0, segundo os serviços geológicos daquele país e dos Estados Unidos. O terremoto, com epicentro no

Oceano Pacífico, a 400 km de Tóquio, a uma profundidade de 32 km, gerou ondas gigantescas de mais de 10 metros, que saíram destruindo tudo, a uma velocidade de 800 km/h, antes de atingir a costa japonesa. Deixou o triste saldo de 13.333 mortos e cerca de 16.000 desaparecidos. (*) Diante de estatísticas tão assustadoras, uma reflexão se insinua em nossa mente: Os desastres naturais são devastadores, mas o que dizermos dos flagelos interiores do ser? Muita gente se comove, profundamente, com as catástrofes naturais divulgadas pelos meios de comunicação; mas, será que enxergam os terremotos e tsunamis que, muitas vezes, são deflagrados, dentro da família, na vida interior de seus filhos? Sabemos que a educação recebida no lar − primeira escola do ser, como, também, os fatores culturais e sociais influenciam, decididamente, no desenvolvimento da personalidade. Daí que, por falhas óbvias de seres imperfeitos envolvidos em toda essa dinâmica, muitos indivíduos se tornam vítimas fáceis das neuroses, que Sigmund Freud define como “a expressão de um conflito entre os desejos do inconsciente” e, a neopsicanalista alemã, Karen Horney considera como “a alienação do eu real, causada pelas forças opressivas do ambiente”. Sendo assim, precisamos educar as crianças e os adolescentes, para que eles não internalizem estereótipos culturais negativos, na forma de ansiedade básica e conflitos internos. No cerne das perturbações mentais, estão as tentativas inconscientes de lidar com a vida, o medo, o desamparo e o isolamento. É, nesse ponto, que comparece a Doutrina Espírita que nos ensina a necessidade de se podar, nos filhos, as más inclinações, sugerindo-nos, ainda, a intransferível responsabilidade de educá -los, com amor, como forma de exportarmos, para o meio social, seres íntegros e equilibrados. (*) Fontes: Serviço Geológico dos Estados Unidos e do Japão, BBC e agências AFP e EFE.


Os Planos de Vida e a Lei da Impermanência IARA DA SILVA MACHADO* João Pessoa/PB

“Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar”. (João, 14:1-2).

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Cristo Jesus já decantou a poesia da pluralidade dos mundos, na frase trazida pelo apóstolo João (acima); em se tratando de multiplicidade de espaços, naturalmente teremos variadas formas de vida, em níveis inferiores e superiores aos humanoides do planeta Terra. Essa constatação já deveria ser suficiente, para apaziguar os nossos corações diante dos planos diários, semanais, mensais, anuais da existência que ora transitamos. Confiar na mensagem do Cristo Jesus de aquietar os sentimentos e emoções, para receber o que a Vida Maior prepara para nos alimentar, quando da consciência desperta da transitoriedade da vida física no planeta Terra, maravilhoso habitat que estamos, por agora, estagiando. Então, para que servem os planos de vida, diante da impermanência de tudo quanto existe? Com a palavra o Cristo Jesus: “E falou-lhe de muitas coisas por parábolas, dizendo: Eis que o semeador saiu a semear. E, quando semeava, uma parte da semente caiu ao pé do caminho, e vieram as aves, e comeram-na. E outra parte caiu em pedregais, onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha terra funda. Mas, vindo o sol, queimou-se, e secou-se, porque não tinha raiz. E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram e sufocaram-na. E outra caiu em boa terra, e deu fruto: um a cem, outro a sessenta e outro a trinta. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.” (Mateus, 13:3-9).

Todos os planos, construídos à luz da razão consciencial, são úteis, mesmo que não perdurem, pela falta de maturidade espiritual da individualidade que o executa. Vejamos que, na parábola, o Cristo Jesus não colocou semente alguma infrutífera; a princípio, todas trouxeram algum resultado, mesmo que empobrecido, elas vieram a morrer, depois de uma ação externa, os pássaros, o sol e os espinheiros, pois que o ‘solo interno’ (da personalidade) era frágil e, por isso, não resistiu às intempéries. À luz da Psicologia Profunda, poderíamos associar esses elementos externos a comportamentos humanos de dispersão, impulsividade, agressividade, acomodação e outros que limitam os resultados da personalidade. Assim, são os planos na vida, tais quais sementes lançadas ao solo do cotidiano, onde o ser humano espera prosperar e a “Lei da Impermanência”, que é um substrato da “Lei de Destruição”, trazida pela codificação kardequiana, em “O Livro dos Espíritos”, nos lembra da transitoriedade dos propósitos na vida terrena. Ouvindo um orador espiritualista, o Rex Thomas, dizer: Os seus projetos, os seus

planos não realizados da forma que você pensou, não fracassaram; apenas, a vida mudou o rumo desses planos. Os seus projetos não fracassaram, eles, apenas, mudaram! (Ashram de Prembaba, Alto Paraíso de Goiás, 31/12/15). Tal afirmação traz um perfeito alinhamento com a “Lei de Destruição” e a “Lei da Impermanência”; aceitar os resultados que a vida traz sobre todas as coisas que se está construindo, compreendendo que não há fracasso de plano, mas sim, mudança no plano! A vida é a própria impermanência, coisa alguma está parada, inerte; tudo está em constante movimento. O que não funcionar aos olhos da personalidade, pode passar a ser visto, como as sementes que caíram onde puderam cair, e produziram o que foram capazes, por breves momentos, e aquelas estruturas mais sólidas, as virtudes duradouras do espírito, as ditas boas sementes, essas seguem com a individualidade, para outras paragens, outras dimensões, outros espaços siderais, estando enraizadas na mensagem do Cristo Jesus: “Não acumuleis tesouros na Terra, onde a ferrugem e os vermes os comem e onde os ladrões os desenterram e roubam; acumuleis tesouros no céu, onde nem a ferrugem, nem os vermes os comem; porquanto, onde está o vosso tesouro aí está também o vosso coração.” (Mateus, 6:19-20). Os Planos da Vida e a Lei da Impermanência convidam a todos a aceitar o fluxo da existência, para poder, um dia, dizer a si mesmo e aos viajores do caminho: Sê como um raio solar, que penetra em abismos imundos, e deles sai tão puro como entrou. Como um raio de luz, mantém o contato com a fonte, e ilumina o mundo. Assim dizia o Mestre, e eu compreendi: Deixei o meu ermo, deixei a minha orgulhosa suficiência, e voltei ao meio dos homens. Fiz-me servo dos servos de Deus. (Rohden, p.100). Assim, seja! Assim, É! * A autora é Psicóloga Clínica Transpessoal, Expositora Espírita e Escritora. Fontes: “De Alma para Alma”. Huberto Rohden. Martin Claret, 2011. “O Evangelho Segundo o Espiritismo” (Edição de Bolso). Allan Kardec, FEB, 2007.

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