Espírita Tribuna
Ano XXXIV - Nº 186 julho/agosto - 2015 Preço: R$ 5,00
O Sentido da
Vida
Sumário
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 16 18 19 20 21 22
A lenda da caridade
O Pensamento Transformador Espada Simbólica A amizade Diabetes – Uma visão Médico-Espírita Crianças e a Mediunidade
Comentários a “O Evangelho Segundo o Espiritismo” Em doses homeopáticas
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Os desafios de uma fé raciocinada Deus - (II) Emaranhado Quântico Escrevendo a vida, com a vida... Presidente da FEB, Jorge Godinho, fala a “Tribuna Espírita” O Sentido da Vida Por que não devemos julgar? Quando puderes Nada de Sobrenatural Os Vendilhões do Templo A superimportante Lei de Reparação e Redenção. A origem foi só o começo Que é Deus? Painel Espírita Números, em “O Livro dos Espíritos”
A lenda da caridade D
iz interessante lenda do Plano Espiritual que, a princípio, no mundo, se espalhavam milhares de grupos humanos, nas extensas povoações da Terra. O Senhor endereçava incessantes mensagens de paz e bondade às criaturas; entretanto, a maioria se desgarrou, no egoísmo e no orgulho. A crueldade se agravava, o ódio explodia... Diligenciando solução ao problema, o Celeste Amigo chamou o Anjo Justiça, que entrou em campo e, de imediato, inventou o Sofrimento. Os culpados passaram a resgatar os próprios delitos, a preço de enormes padecimentos. O Senhor aprovou os métodos da Justiça que reconheceu indispensáveis ao equilíbrio da Lei; no entanto, desejava encontrar um caminho menos espinhoso, para a transformação dos Espíritos sediados na Terra, já que a dor deixava, comumente, um rescaldo de angústia a gerar novos e pesados conflitos. O Divino Companheiro solicitou concurso ao Anjo Verdade que estabeleceu, para logo, os princípios da Advertência. Tribunas foram erguidas, por toda parte, e os estudiosos do relacionamento humano começaram a pregar sobre os efeitos do mais ledo bem, compelindo os ouvintes à aceitação da realidade. Ainda assim, conquanto a excelência das lições propagadas, repontavam dúvidas, em torno dos ensinamentos de virtude, suscitando atrasos altamente prejudiciais aos mecanismos da elevação espiritual. O Senhor apoiou a execução dos planos ideados pelo Anjo da Verdade, observando que as multidões terrestres não deveriam viver ignorando o próprio destino. No entanto, a compadecer-se dos homens que necessitavam reforma íntima, sem saberem disso, solicitou cooperação do Anjo do Amor, à busca de algum recurso que facilitasse a jornada dos seus tutelados para os Cimos da Vida.
O novo emissário criou a Caridade e iniciou-se profunda transubstanciação de valores. Nem todas as criaturas lhe admitiam o convite e permaneciam, na retaguarda, matriculados nas tarefas da Justiça e da Verdade, das quais hauriam a mudança benemérita, em mais longo prazo, mas todas aquelas criaturas que lhe atenderam as petições, passaram a ver e auxiliar doentes, possessos, paralíticos e mutilados, cegos e infelizes, os largados à rua e os sem ninguém. O contato recíproco gerou precioso câmbio espiritual. Quantos conduziam alimento e agasalho, carinho e remédio para os companheiros infortunados, recebiam deles, em troca, os dons da paciência e da compreensão, da tolerância e da humildade e, sem maiores obstáculos, descobriram a estrada para a convivência com os Céus. O Senhor louvou a Caridade, nela reconhecendo o mais importante processo de orientação e sublimação, a benefício de quantos usufruem a escola da Terra. Desde então, funcionam, no mundo, o Sofrimento, podando as arestas dos companheiros revoltados; a Doutrinação, informando aos Espíritos indecisos, quanto às melhores sendas de ascensão às Bênçãos Divinas e a Caridade, iluminando a quantos consagram o amor pelos semelhantes, redimindo sentimentos e elevando almas; porque, acima de todas as forças que renovam os rumos da criatura, nos caminhos humanos, a Caridade é a mais vigorosa, perante Deus, porque é a única que atravessa as barreiras da inteligência e alcança os domínios do coração. Meimei (Extraído do livro “Seara de Fé”, psicografia de Francisco Cândido Xavier)
O homem de bem
Foto da capa: Severino S. Pereira e Google imagens
2 Tribuna Espírita • julho/agosto • 2015
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Expediente Fundada em 01 de janeiro de 1981 Fundador: Azamor Henriques Cirne de Azevedo
TRIBUNA ESPÍRITA Revista de divulgação do Espiritismo, de propriedade do Centro Espírita Leopoldo Cirne Ano XXXIV - Nº 186 - julho/agosto - 2015 Diretor Administrativo e Financeiro: Severino de Souza Pereira (ssp.21@hotmail.com) Editor: Hélio Nóbrega Zenaide Jornalista Responsável: Lívia Cirne de Azevedo Pereira DRT-PB 2693 Secretaria Geral: Maria do Socorro Moreira Franco Revisão: José Arivaldo Frazão Assessoria: Uyrapoan Velozo Castelo Branco
O Pensamento Transformador FREDERICO MENEZES Recife-PE
J
esus, certa feita, disse que viera trazer o fogo e desejava que ele se espalhasse. A que fogo se referia o Sublime Profeta? Suas ideias foram impactantes para a época e, podemos dizer, continuam sendo, na contemporaneidade. O seu pensamento foi um rastilho de pólvora que tocou fogo na Humanidade, estabelecendo uma estrutura ética, totalmente revolucionária, para os padrões morais vigentes. E desejou que essa chama acendesse os caminhos da Humanidade, provocando debates e incertezas, pondo em questionamento o próprio relacionamento do ser humano para com Deus. Como pensador original, surpreendeu a civilização, com seus conceitos inusitados e sua filosofia provocou terremotos emocionais, intelectuais e morais no homem de todas as épocas. Tão instigante seus ensinamentos que a lerdeza moral procurou escondê-los, por trás de rituais e aparatos exteriores. Temendo se defrontar com a própria consciência, os homens, sem poderes sobre si mesmos, imputaram às suas posições religiosas a capacidade de julgar e condenar, supostamente, ligando ou desligando, nos Céus, o que eles determinassem na Terra. Se, quando pregava, abalava conceitos e ideias, ao agir, causava perplexidade.
Dava inusitado vigor à sua mensagem, através de suas atitudes desnorteadoras e indicou, na prática do Bem, a verdadeira adesão da criatura a Deus, ao lado da conquista do conhecimento. Pôs fogo, sim, na face do planeta e soprou, com sabedoria, para que esse fogo − não destruidor, mas, na verdade, chama que aquece e ilumina − enraizasse na alma das criaturas. Mostrou que mortos são os que estão presos à matéria, forma de energia das mais atrasadas do Universo e aqueles, que passaram pela sepultura, seriam os vivos reais. Os que seguissem seus ensinamentos conquistariam a vida sem morte; ou seja, não precisariam mais reencarnar em corpos perecíveis. Viveriam a plenitude da vida espiritual. Sua mensagem é tão poderosa que, mesmo com todas as deturpações, interpolações, desfigurações que sofrera, ao longo dos séculos, vem, há milênios, transformando vidas. Que homem é este? que pensador magnífico ele é, capaz de impulsionar uma Humanidade, ainda que não compreendido por ela? Neste Natal, repensemos nosso entendimento sobre sua mensagem e procuremos redimensionar nossa percepção sobre o magnífico código de amor que ele fixou, no psiquismo da civilização, para ser adubado pelo tempo, ao longo das reencarnações.
Colaboradores: Adésio Alves Machado, Alírio de Cerqueira Filho, Andrei Moreira, Azamor Henriques Cirne de Azevedo, Denise Lino, Divaldo Franco (Pelo espírito Joanna de Ângelis), Elmanoel G. Bento Lima, Fátima Araújo, Flávio Mendonça, Frederico Menezes, Germano Romero, Hélio Nóbrega Zenaide, Igor Mateus, Marcel Mariano (Pelo espírito Angélica), Marcus Vinicius de Azevedo Braga, Mauro Luiz Aldrigue, Octávio Caúmo Serrano, Orson Peter Carrara, Pedro Camilo, Régis Mesquita, Walkíria Araújo, Zaneles Brito, (Pelo espírito de Lindemberg). Diagramação: Ceiça Rocha (ceicarocha@gmail.com) Impressão: Gráfica JB (Fone: 83 3015-7200) ASSINATURA BRASIL ANUAL: R$ 30,00 TRIANUAL: R$ 80,00 EXTERIOR: US$ 30,00 CONTRIBUINTE ou DOADOR: R$....? ANUNCIANTE: a combinar TRIBUNA ESPÍRITA Rua Prefeito José de Carvalho, 179 Jardim 13 de Maio – Cep. 58.025-430 João Pessoa – Paraíba – Brasil Fone: (83) 3224-9557 e 9633-3500 e-mail: jornaltribunaespirita@gmail.com
Nota da Redação Os Artigos publicados são de inteira responsabilidade dos seus autores. julho/agosto • Tribuna Espírita • 2015 3
Espada Simbólica
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WALKÍRIA LÚCIA DE ARAÚJO João Pessoa-PB
“Aprendestes que foi dito: olho por olho e dente por dente. – Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal que vos queiram fazer; que se alguém vos bater na face direita, lhe apresenteis também a outra; - e que se alguém quiser pleitear contra vós, para vos tomar a túnica, também, lhes entregueis o manto; - e que se alguém vos obrigar a caminhar mil passos com ele, caminheis mais dois mil. – Dai àquele que vos pedir e não repilais aquele que vos queira tomar emprestado.” (Mateus, V:38 a 42)
O
convite nos foi feito, para que pudéssemos nos conquistar moralmente. Para que aceitemos o desafio e não entabulemos discursões estéreis. Caminhando mil passos, se for necessário, demonstrando a perseverança e a paciência da criatura diante das adversidades. Destacando que o mais importante não é a prática exterior, mas a modificação e sacrifício dos vícios em detrimento das virtudes na criatura. Joanna de Ângelis, através da psicografia de Divaldo Franco, no livro “Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda”, cap. 15 - “A Vingança”, nos diz que “A fatalidade da vida é alcançar a harmonia plena, mediante o equilíbrio do amor a si mesmo, ao próximo e Deus.” Equilíbrio esse difícil de ser conseguido, pois, quando prepondera mais o amor a si, somos egoístas; quando acreditamos que amamos mais o nosso próximo, temos uma compreensão distorcida da humildade e, quando acreditamos amar mais a Deus, demonstramos uma submissão sem compreensão. Temos mais dois outros fatores que influenciam neste equilíbrio: os arquétipos que trazemos de outras encarnações e as inimizades. Estas podem ser explicitadas, nas situações em que nos inimizamos com o próximo, quando ele se inimiza conosco ou quando a inimizade é recíproca. No caso dos arquétipos, podemos entendê-los, de forma sucinta, como “marcas” que trazemos de reminiscências de outras encarnações e que, de tempos em tempos, eclodem, mais explicitamente, permeiam a encarnação, sendo o modelo primordial de comportamento. Este (arquétipo) é a maior dificuldade que possuímos. Primeiro, em entender e, depois, em resolver. Em virtude desta dificuldade, começamos por nos debatermos e atacarmos a nós mesmos: são as autoflagela4 Tribuna Espírita • julho/agosto • 2015
ções, e atacar os outros: são as agressões gratuitas, a vingança e o ódio. Reencarnamos, para vivermos situações de reajuste moral. Mesmo as que, a princípio, só provocam ajuste físico. Debatemo-nos, quando não conseguimos entender. Quando isto se processa, por muito tempo, geramos a mágoa; quando esta faz moradia, criamos o ressentimento. Quando o outro nos faz o mal, é porque haja, não obrigatoriamente, uma vinculação espiritual, mas, porque o outro não está bem consigo mesmo, e resolve por atacar aquele mais próximo que se apresenta (mesmo que aparentemente), mais feliz ou que esteja em condição de inferioridade perante ele. Oferecer a outra face, também, é “Ser precavido, resguardar-se do mal dos maus, cuidar de não se envolver em contendas, evitando os entreveros estabelecidos pelos belicosos, também, é atitude recomendada pela sua [de Jesus] conduta. No entanto, jamais fugir do testemunho, ou debandar do holocausto, quando seja convidado, não revidando mal por mal, nem se vingando nunca, mesmo que surjam oportunidades propiciatórias ao desforço.” (mesma obra e capítulos acima citados) É, sempre, mais fácil, para a maioria de nós, nos deixarmos levar no que a sociedade atual chama de “a força das coisas”. É, como se, para a maioria, fosse normal reagir e não agir diante dos fatos. Aquele que não pensa, reage de forma maquinal ao ataque; o ser que compreende as verdades imutáveis age, para se defender dos ataques e solucionar a problemática gerada, em virtude do ocorrido. Quando começamos por nos precatar, diante do “mal dos maus”, começamos, por não mais cair nas armadilhas de lobos, entendendo que uma palavra basta, para começar ou por
fim em uma contenda. Precisamos analisar o que estamos querendo construir para o nosso futuro. Também, não sabemos com que intenção o outro nos ofende. Tal ato pode significar uma forma de atentar contra a própria vida. Como a criatura não tem coragem de fazer nada contra si mesmo, tenta armar a mão do adversário, para que seja, aparentemente, uma morte mais louvável. Fora aqueles que se sentem felizes em estarem na condição de vítimas, pois, segundo eles, são mais amados. Não podemos esquecer que a taça de fel nos é apresentada a todos, na encarnação. São os testemunhos que precisamos vivenciar, para aprendermos a fazer direito a lição que fizemos errado, outrora. Nestes momentos, precisamos, mais do que nunca, nos fortalecermos, na fé, para que possamos superar os entreveros que nos são apresentados. E, quando formos atacados na honra e nas afeições, pois tais criaturas não recuam diante da calúnia, tenhamos a certeza que não somos vítimas e que, se chegou o momento do nosso reajuste com as Leis Divinas, o outro, também, terá o seu. Enxergando o momento, como instrumento reparador, não como arma perigosa a nos desferir o golpe fatal. Assim, se torna mais fácil, superar o momento e adquirir o aprendizado. “O ódio, somente desaparece, mediante a terapia do amor incondicional, que o dilui, porquanto se enfrentam no mesmo campo de batalha, que é a consciência.” ( mesma obra, cap. “O Ódio”). Vivemos esta batalha, no íntimo do ser, todos os dias. Ora, pendemos mais, para o amor, ora, para o ódio. Quando a compreensão das verdades imortais for cristalizada em nós, faremos com que esta batalha não mais aconteça e, somente, o amor viva em nossos corações.
A amizade N
arra Cícero, o nobre filósofo latino, uma extraordinária lição de amizade, referindo-se a Pítias e Damon, que eram amigos inseparáveis, em Siracusa, então governada por verdadeiro tirano. Pítias, inspirado e honesto, acompanhava os desmandos do monarca infeliz e, possuidor de palavra encantadora, passou a censurá-lo, publicamente. Ao tomar conhecimento da audácia do jovem orador, chamou-o a palácio, com o seu dileto amigo, a fim de reprochar-lhe o comportamento, terminando por ameaçá-lo com gravidade. − Se prosseguir criando-me situações insuportáveis − disse-lhe, colérico, o rei Dionísio − demonstra rebeldia e traição, passíveis de ser-lhe aplicada a penalidade máxima. −Mas eu, somente, refiro-me à verdade − respondeu o moço corajoso. Em tentativa de demonstrar generosidade, o governante equivocado, concedeu-lhe oportunidade de alterar a conduta e explicou-lhe que a reincidência seria severamente punida. Os jovens retiraram-se do palácio, e porque o rei não houvesse se modificado, Pítias continuou a censurá-lo, em seus discursos públicos. Pouco tempo depois, irritado, Dionísio mandou prendê-lo e exigiu que ele fosse levado diante da corte reunida na sala do trono, para ser castigado pela ousadia de prosseguir infamando-o. Sem qualquer temor, o jovem elucidou que a função do rei era de promover a justiça e não de exaurir os súditos, beneficiando, apenas, os bajuladores que enriqueciam, enquanto a miséria se alastrava pelo país. Porque se considerasse desconsiderado, e, informando que se tratava de traição e complô para depô-lo, Dionísio condenou-o à morte, antes, indagando se ele tinha algum desejo. Pítias, estoico, redarguiu que não temia a punição, mas solicitava que lhe fosse permitido despedir-se da mulher e filhos que residiam em outra cidade. Zombeteiro, o monarca revidou que não devia ser subestimado, e percebia que se tratava de um ardil, para fugir à punição. Pítias, ante o assombro de todos, informou que daria uma garantia de que volveria para cumprir a pena. Interrogado, qual seria a garantia, antes de responder, Damon, que se encontrava em silêncio, deu um passo à frente e respondeu:
− Eu sou a garantia. Ficarei no cárcere à sua espera. Nossa amizade é de todos conhecida e pública, podendo, portanto, responder por ele. O rei olhou-os, demoradamente, e perguntou ao voluntário: − Já pensou que, se ele não voltar, a pena de morte recairá sobre sua cabeça? − Sim, majestade, respondeu, tranquilo. Pítias partiu em direção ao lar, enquanto Damon foi recolhido ao cárcere. Decorrido o prazo, Pítias não retomou. Levado à presença do monarca, o refém ouviu-lhe o sarcasmo, quando o interrogou: − Onde está o teu amigo. Eis que o prazo se extingue, dentro de poucas horas e, até este momento, ele não compareceu. Que dizes? − Senhor! Se meu amigo não veio, até agora, com certeza, algo o impediu e terei prazer em morrer em seu lugar, embora saiba que ele vencerá, seja qual for a dificuldade que esteja complicando-lhe a chegada. Estava na frase final, quando Pítias, amparado por um soldado, deu entrada na sala, ofegante, abatido, e ferido, caindo nos braços do seu amigo e exclamando: Graças aos deuses você ainda está vivo. As Parcas parecem haver conspirado contra mim, porque a embarcação naufragou e consegui sobreviver e avançar pela estrada, quando fui assaltado por bandidos, chegando a tempo para cumprir a sentença... Emocionado, Dionísio retirou a sentença e mandou libertá-los, enquanto lhes dizia: − Uma amizade deste porte merece respeito e compensação. Não somente, os liberto, como lhes rogo que me ensinem essa nobre virtude que tanta falta faz à humanidade, ajudando-me a participar dela.
*** A amizade, muito esquecida, por causa da supremacia do ego no comportamento humano, é a chave para alcançar-se a legítima fraternidade entre os povos. Ela é suave, como a brisa benfazeja e perfumada, que sopra discreta e abençoa a vida. O seu magnetismo acalma e enriquece de confiança os relacionamentos, por propiciar alegria e bem-estar. Quando a amizade, sem jaça, se instala na mente e no coração, dignifica a vida, dá-lhe calor e lhe confere sentido psicológico. Se é verdadeira, nada solicita nem impõe. A sua presença desperta o espírito divino que se encontra, em latência, no imo das criaturas, aguardando-lhe o toque mágico, para alcançar a plenitude. A amizade serve e contribui para o aprimoramento moral e a evolução espiritual. Na sua base, devem repousar os ideais de engrandecimento da sociedade. Nunca desconfia nem suspeita, porque o seu hálito harmoniza as emoções daquele que a cultiva, enquanto esparze vibrações de paz. Ser amigo é a maneira mais próxima, para transformar-se em irmão. Cultiva o doce sentimento da amizade, que elimina qualquer tipo de paixão animalizante e de torpeza moral. O exemplo máximo é Jesus, que se fez amigo de todos aqueles que não têm amigos. Treina a amizade, doando-te e não esperando nada, além do prazer de seres tu o amigo do teu próximo. Joanna de Ângelis (Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica da noite de 18 de agosto de 2014, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador-BA.)
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O Bom Samaritano (1) MAURO LUIZ ALDRIGUE João Pessoa-PB
(...) “Descia um homem de Jerusalém a Jericó...” (Lc. 10:30-35)
Q
uando Jesus nos apresenta esta parábola, é um exemplo que ilustra a moral do Evangelho, fundamentada na prática da caridade. Kardec, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, capítulo XV, item 3, nos mostra a caridade não ser, apenas, uma das condições para a salvação, mas a absoluta, para felicidade futura. O Irmão X, no capítulo 19 do livro “Lázaro Redivivo” aponta que “ser caridoso é ser profundamente humano e aquele que nega entendimento ao próximo pode inverter consideráveis fortunas no campo de assistência social [...], mas terá que iniciar, na primeira oportunidade, o aprendizado do amor cristão, para ser efetivamente útil.” Jerusalém é considerada a sede do monoteísmo, simbolizando, para o Judaísmo, uma cidade santa e, para os cristãos, a cidade da despedida do Mestre Jesus. Está localizada a uma altitude de 750m acima do nível do mar. Jericó, uma das mais baixas do mundo, a 258m do nível do mar, buscada pelos viajantes, por ter um dos maiores oásis da região, apresenta vestígios da presença de caçadores, há cerca de 9 mil anos antes de Cristo. A rota de Jerusalém a Jericó se caracteriza pela movimentação comercial. O “homem” que é atacado no caminho representa a violência de um mundo de provas e expiações, onde o mal, ainda, 6 Tribuna Espírita • julho/agosto • 2015
predomina. Do episódio, destaca-se que a descida, também, pode ser compreendida como a queda do padrão vibratório, em decorrência da invigilância moral. A sintonia com entidades perturbadoras toma de assalto a nossa casa íntima, rouba a nossa paz, fere-nos, profundamente, e nos deixa quase “mortos” à margem da vida. Descer, para auxiliar os que se encontram em planos vibracionais inferiores, é medida de auxílio ao próximo, desde que se concretize num plano harmônico e de entendimento, como o fez o Mestre Jesus, ao trazer a sua “Boa Nova” à humanidade terrestre, descendo dos Céus à Terra. “Jesus desceu até nós, revelando-nos como sublimar a existência... e se fez caminho de nossa ascensão espiritual, a verdade de nosso gradativo aprimoramento e a vida de nossas vidas, a erguer-nos a alma entenebrecida no erro, para a vitória da luz”. (2). O “sacerdote e o levita” significam os oficiais das religiões; aqueles que tratam dos interesses dogmáticos e do culto de suas igrejas. Vendo o homem caído, apenas, como observação e sem interesse, porque não há sentimentos envolvidos. “Passar ao largo” reflete ociosidade mental, indiferença para com as necessidades dos que sofrem, o que poderá gerar processos de culpa. Os samaritanos representavam um grupo conservador dentro da religião judaica; tinham cisões com os judeus, em algumas de suas práticas religiosas, e era grande o desprezo que esses tinham por aqueles. Jesus escolheu o “samaritano”, como executor da verdadeira prática da ca-
ridade, por representar uma pessoa de bom coração. Ele, ao ver a pessoa ferida, quase morta, caída no caminho, toma-se de compaixão, este sentimento que sentiu pelo outro. Mas não ficou na contemplação do ocorrido, choroso ou lamentando. Foi à ação, à caridade, o amor em ação. Lançou mão, de imediato, daquilo de que dispunha e do seu conhecimento (como todos nós, que temos a capacidade de fazer o bem, de acordo com o nosso entendimento); proporcionou os primeiros tratamentos ao ferido; deu-lhe atenção e transporte para sair daquele lugar. Buscou ajuda, de onde e como melhor pudesse atender às necessidades do homem ferido, levando-o a uma hospedaria. Conseguiu-lhe a oportunidade de cuidados suplementares, para o restabelecimento da sua saúde (que podemos entender, também, para reequilibrar o seu padrão vibratório). Colocou-se, como sustentação, para oferecer o que mais necessário e indispensável, para sua cura, no tempo e nas necessidades materiais e espirituais. O socorrista agiu com critério e bom senso, movido por seu sentimento, seu amor, sua compaixão. O papel do samaritano é digno de ser imitado; e a parábola, lição preciosa, merece ser refletida e aplicada no dia a dia. Que cada um de nós, em nossas ações, procure imitar o comportamento do “Bom Samaritano”. Este é o CAMINHO de Jesus... Referências: (1) FEB. “Estudo aprofundado da Doutrina Espírita”, Brasília, 2013. Livro II, Parte I. (2) XAVIER, F. C. “Religião dos Espíritos”, pelo Espírito Emmanuel. 18ª. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. p. 71-72.
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Diabetes – Uma visão Médico-Espírita ANDREI MOREIRA Belo Horizonte-MG
A
Diabetes é uma doença caracterizada pela elevada taxa de glicose (açúcar) no sangue, devido a deficiência na produção de insulina ou na dificuldade de ação desse hormônio no organismo. Atualmente, há cerca de 240 milhões de portadores da Diabetes, em todo o mundo, e estima-se que, em 2025, esse número chegará a 350 milhões. A Diabetes melitus pode ser dividida em Tipo I e Tipo II e tem raízes, do ponto de vista médico, na interação de fatores genéticos com estímulos ambientais. A Tipo I acomete indivíduos, na infância e adolescência, e se caracteriza por ser uma doença autoimune; ou seja, o organismo produz anticorpos contra as células Beta do pâncreas, produtoras de insulina, levando à deficiência desse hormônio. Há a necessidade de se administrar a insulina, por via subcutânea, para repor a falta desse importante hormônio controlador do metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídeos. Já, a Tipo II é a diabetes que é decorrente, predominantemente, de fatores ambientais e comportamentais, sendo, a obesidade, sobretudo a abdominal, o principal fator de risco para seu desenvolvimento. Há a produção normal ou pouco diminuída de insulina, mas ela não consegue exercer o seu papel, nas células, devido à resistência nos tecidos, que impedem sua absorção e ação intracelular. Há a necessidade de se administrar fármacos hipoglicemiantes, que reduzem a taxa de açúcar no sangue, pois a glicemia elevada produz um estado de inflamação crônica que pode lesar tecidos e órgãos, gerando complicações, sendo as mais frequentes a neuropatia, a retinopatia e as lesões renais. Para se evitar desenvolver diabetes e, também, tratá-la, o mais recomendado é a adoção de atividades físicas aeróbicas e dieta, rica em saladas verdes, derivados do leite, carne branca e magra, além da redu-
ção da ingestão de açúcares e uso de medicações específicas. Do ponto de vista espiritual, entendemos que as predisposições genéticas, que trazemos na reencarnação, falam de nosso passado espiritual e de nossas tendências, mas, sobretudo, de nossas necessidades reeducativas. A Diabetes é, de forma geral, um grande convite ao aprendizado do limite e do autoamor. Ao invés de ser um castigo divino ou uma punição por erros ou, ainda, carma, como alguns acreditam, essa doença se apresenta, como expressão de nossas escolhas e construções individuais, ao longo dos tempos. É, portanto, recurso de autodomínio e autoconhecimento, que promove o seu portador, quando este aproveita a oportunidade para vencer a si mesmo, a um estado de maior equilíbrio e harmonia do que tinha antes, ao reencarnar, lembrando que somos, todos, Espíritos imortais e não meros seres carnais, vivenciando uma experiência passageira. Segundo proposta do Dr. César Geremias, endocrinologista gaúcho, a Diabetes tipo I, por suas características, teria raízes, na autoagressão,
culpa, vitimização e autopunição, manifestações da falta de autoperdão e, sobretudo, do orgulho, sentimento base que seria o núcleo principal a ser trabalhado, nesse caso. Já, a Diabetes tipo II teria suas raízes na falta de autocuidado, no hedonismo excessivo, na exaustão das energias psicofísicas e excesso de autopreservação, manifestações diferenciadas do egoísmo, que seria o núcleo principal ou sentimento base, nesse caso. Perceber essas características em si, reconhecê-las, acolhê-las e se esforçar por transformá-las, no processo reeducativo que a doença convida, seria o objetivo maior da doença, lembrando-se, sempre, que é necessário individualizar cada caso e, somente, o autoconhecimento poderá fornecer a indicação segura das necessidades de cada um. Mas, independente de sua origem, a Diabetes é um grande convite ao autoamor, à autopreservação e à superação de si mesmo, caminhos de paz interior e saúde integral. Nota da Redação: O autor é médico generalista, integrante de uma equipe do PSF, em Belo Horizonte e Presidente da Associação Médico-Espírita de Minas Gerais.
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Comentários a “O Evangelho Segundo o Espiritismo” (Cap. XXVII: 18) – Da prece pelos mortos DENISE LINO
Campina Grande-PB
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rganizando o “Evangelho Segundo o Espiritismo” (ESE), em torno do ensino moral do Cristo, Allan Kardec, o Codificador do Espiritismo, teve o cuidado de escrever não apenas de textos que apresentassem os fundamentos da Doutrina Espírita, mas teve o cuidado de escrever os que encaminhassem a nossa educação espírita, no que diz respeito a diferentes assuntos. Considerando essa divisão, o Capítulo XXVII – Pedi e Obtereis – parece ser um capítulo cujo principal propósito pode ser identificado como educativo, por excelência, pois se trata de um capítulo que nos ensina a orar; atitude certamente milenar em nossa experiência reencarnatória, porém, não necessariamente uma atitude espiritualizada. Dentre os textos do Codificador, para esse capítulo, destacamos, neste artigo, o item 18, que faz parte de um conjunto temático mais extenso, que inclui, ainda, os itens 19, 20 e 21, intitulado “Da prece pelos mortos e pelos Espíritos sofredores”. Cabe lembrar que esse tema é, também, examinado em “O Livro dos Espíritos”, nas questões 662 a 665 e exemplificado em “O Céu e o Inferno”, na segunda parte, que traz os depoimentos dos Espíritos. Inicialmente, nos parece importante destacar a atualidade desse item. Tratase de um conjunto de instruções que nos incita a compaixão e rebater a objeção materialista, de que os mortos não merecem a nossa atenção. Observemos que o título é universalista: “Da prece pelos mortos e pelos espíritos sofredores”, ou seja, trata-se, não, das preces pelos nossos mortos nem pelos nossos sofrimentos, mas do exercício da prece pelos outros, pelos desconhecidos. Ou seja, um tema que chama a nossa atenção, para o exercício anônimo de orar pelos desconhecidos que sofrem, reconhecendo que, no mundo espiritual, assim como na Terra, ainda há muito sofrimento. Contam-nos os biógrafos da grande médium Yvonne Pereira, que orar pelos sofredores era um dos seus hábitos, diariamente repetido e 8 Tribuna Espírita • julho/agosto • 2015
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realizado, a partir da recolha de notícias de jornais sobre o obituário do dia. Dizem, ainda, esses biógrafos que, em sua rara condição de percepção da realidade extrassensorial, essa médium obtinha notícias de como as suas preces haviam sido bálsamos, para aqueles a quem eram endereçados e alguns dos socorridos tiveram o ensejo de agradecer-lhe a dádiva. Passados 150 anos de publicação de o ESE, poder-se-ia, até, aventar a possibilidade de que esse tema está superado. Todavia, continua nos parecendo atual, dado o mundo de apelos egoístas em que vivemos mergulhados, a partir do qual, sempre, concluímos que temos pouco tempo ou poucos recursos para fazer a caridade. Orar pelos mortos e pelos sofredores é caridade anônima, feita com nossos próprios recursos e no âmbito de nosso tempo. Portanto, dentro daquele rol de temas para nossa educação, esse nos parece estar na linha de frente. Analisando o item 18, identificamos duas informações. A primeira diz respeito à noção de pertencimento que une os desencarnados àqueles que por eles oram. O texto diz: “Os Espíritos sofredores reclamam preces e estas lhe são proveitosas, porque, verificando que há quem neles pense,
menos abandonados se sentem, menos infelizes.”1 Destacamos a noção de pertencimento, no sentido universal do termo, uma vez que o Codificador se refere a Espíritos sofredores e não àqueles que nos são conhecidos. Os sofrimentos, no mundo espiritual, assim como na Terra, são de vários matizes: físicos, pelo processo de expurgamento das doenças que se externaram no corpo, mas que tinham sua matriz espiritual; emocional, pela lembrança das experiências vividas, das perdas, dos sentimentos não elaborados; e morais, pela avaliação do próprio comportamento e das escolhas feitas na última existência. Por outro lado, o sofrimento, no mundo espiritual, decorre, também, da separação dos entes queridos. É razoável supor que a dor, pela perda temporária do ente querido, não é, apenas, nossa, é, também, dos que partiram antes de nós. Mãe “sem filho”, aqui, significa, também, filho “sem mãe”, lá. Viúvo aqui, viúva lá. Se, aqui, falamos em instituições, ONGs e iniciativas, para apoiar as famílias enlutadas, no mundo espiritual, há iniciativas semelhantes, porém melhoradas. Um exemplo que pode ser lembrado é narrado, por André Luiz, em “Entre a Terra e o Céu”, livro psicografado por Chico Xavier. Tratase do Espírito Blandina, cuja tarefa era diri-
gir o “Lar da Bênção”, uma casa de acolhida a Espíritos desencarnados na infância. A noção de pertencimento se mostra, no trecho em destaque, quando o Codificador afirma que os Espíritos sofredores se sentem menos infelizes, menos abandonados, quando sabem que há quem neles pense. Ora, essa condição não se restringe aos de nossa família, mas é constitutivo da nossa condição de Espíritos em evolução, cuja experiência de convivência, de solidariedade, é de fundamental importância, para nossa superação. No segundo trecho desse item 18, observamos uma das funções da prece, que, aqui, vamos chamar de função de analgesia. Vejamos o trecho e, em seguida, a explicação para tal denominação: “Entretanto, a prece tem sobre eles ação mais direta: reanima-os, incute-lhe o desejo de se elevarem pelo arrependimento e pela reparação e, possivelmente, desvia-lhes do mal o pensamento. É, nesse sentido, que lhes pode não só aliviar, como abreviar os sofrimentos.” Admitimos, nesse trecho, a função referida, à guisa de uma comparação; senão, vejamos: temos, na Terra, uma variedade de tipos de analgésicos que vão, desde os tópicos, que podem ser comprados, de modo avulso, em qualquer farmácia e aliviam pequenas dores, até, aqueles mais potentes que só
podem ser administrados em hospitais e por profissionais habilitados, a exemplo da morfina e dos próprios procedimentos anestésicos. Qual a função básica de todos eles? Aliviar dores físicas. E, ao aliviá-las, permitir ao doente a recomposição orgânica. Com a prece, dá-se o mesmo, numa outra dimensão. A prece in-
“Os sofredores merecem nossas preces, não, porque sofrem, mas porque são nossos irmãos” tercessória funciona como um analgésico espiritual, aliviando sofrimentos e possibilitando ao sofredor um interregno, a fim de que retempere suas forças e possa prosseguir. Cabe lembrar que o Espírito sofredor que reclama preces, como diz o Codificador, é aquele que já “sofre bem”, conforme a designação do espírito Lacordaire, no item 18 do cap. V de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Ou seja, já é um Espírito que deseja melhorar-se Portanto, ao orarmos pelos sofredores,
quer o pedido parta deles, quer seja uma iniciativa nossa, por aquele(s) que sofre(m), estamos agindo, como o terapeuta que administra o analgésico, contribuindo para alívio dos sofrimentos, usando de compaixão, reconhecendo nossa filiação divina, uma vez que o “Pai Nosso que está nos Céus” é Pai de todos, inclusive dos que sofrem. Assim, caracteriza-se, como um hábito espírita, orar pelos mortos e pelos sofredores. Evidentemente, nossas preces não terão o poder de mudar o curso das provações retificadoras pelo sofrimento, conforme já preceituado na questão 664 de “O Livro dos Espíritos”, quando os instrutores da Codificação responderam: “A prece não pode ter por efeito mudar os desígnios de Deus, mas a alma por quem se ora experimenta alívio, porque recebe assim um testemunho do interesse que inspira àquele que por ela pede e também porque o desgraçado sente sempre um refrigério, quando encontra almas caridosas que se compadecem de suas dores”. Cabe, por fim, parafrasear Dias da Cruz, no livro “Autoamor e outras potências da alma”, os sofredores merecem nossas preces, não, porque sofrem, mas porque são nossos irmãos. 1- Usamos como referência a Edição Histórica de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, publicada pela FEB, em 2013.
Em doses homeopáticas N
ão te esqueças de agradecer a benção da vida. O frenético trânsito entre os dois planos: nascer, viver, morrer e renascer, sucessivamente, coloca-nos na condição de eternos devedores das benesses divinas. O teu corpo guarda, na intimidade, a essência imortal, aspirando refúgio nas estrelas. Sem que tomes consciência, os teus neurônios trabalham, exaustivamente, conduzindo as informações mentais, através das sinapses silenciosas. Tua caixa craniana resguarda o cérebro, dos impactos de vulto, preservando-o do desequilíbrio e da morte. O teu tórax camufla o incansável trabalho do músculo cardíaco que responde, por significativa dosagem de sentimentos e emoções. Na usina do abdômen, processam-se as assimilações dos nutrientes indispensáveis ao perfeito equilíbrio entre corpo e mente, fundindo-os, num amplexo de forças atômicas; convocando-nos a avaliar o porquê de nossa existência biológica, e o pra quê das sensações angustiosas que chicoteiam o nosso sistema neurovegetativo. * * * Espíritas companheiros! Não nos insulemos na matéria,
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qual ferrugem a destroçar o ferro, expondo-o à inclemência da oxidação. Muito mais responsabilizados que os demais, somos nós, os espiritistas, graças aos conhecimentos adquiridos e ao usufruto das energias psíquicas da mediunidade. Apliquemo-nos às tarefas de amor e renúncia aos prazeres e apegos materiais que, muito mais, aprisionam o Espírito à matéria, do que se possa imaginar. Mediunidade, com Jesus, requer desprendimento, desapego, esforço pessoal e, acima de tudo, aceitação de nossas limitações. Porque, a cada um é dado, conforme as suas possibilidades e competência em administrar os bens eternos. Não são poucos os requerimentos que chegam à espiritualidade, solicitando a expansão dos dons mediúnicos. Mas, a Sabedoria Divina, reconhecendo, na criatura humana, suas próprias fragilidades, concede a cada intérprete do Alto a ampliação de suas potencialidades mediúnicas; todavia, em doses homeopáticas, a fim de que não se converta em pedra de tropeço, mesmo porque, poucos suportariam, sem danificar a retina da alma, a excelência das Luzes Superiores, ou, o que é pior, paradoxalmente, não venha a cair nos desfiladeiros dos arrastamentos inferiores. Lindemberg (Mensagem mediúnica recebida por Zaneles, em 24.02.15, na Associação Espírita Leopoldo Machado, em Campina Grande-PB). julho/agosto • Tribuna Espírita • 2015 9
Os desafios de uma fé raciocinada MARCUS VINICIUS DE AZEVEDO BRAGA Rio de Janeiro-RJ
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ou começar, contando uma história que me contaram recentemente... Em uma “Juventude Espírita”, certo dia surgiu um jovem com alto grau de ceticismo, e, no meio do estudo, ele começou a questionar os pilares da Doutrina – Deus, imortalidade, reencarnação, mediunidade – com argumentos sólidos e bem construídos, de quem sabia do que estava falando. A dirigente da Juventude, em uma demonstração de sagacidade, ao invés de reprimir o jovem “quizumbeiro”, deixou o barco correr, para ver como os jovens iam se portar. Os jovens titubearam e, na argumentação, não lograram sustentar as suas convicções, frente a tantos questionamentos de interlocutor tão assertivo. Obviamente, o menino cético sumiu na semana seguinte e a dirigente aproveitou, pelo princípio da oportunidade, o ocorrido de forma construtiva e, na próxima aula, trouxe a temática da fé raciocinada, em rica discussão que provocou os jovens. Parabenizando essa lúcida orientadora de juventude, temos que esse caso nos leva a uma profunda reflexão... Como estamos construindo a nossa fé raciocinada? Estamos nos pautando pela lógica, pela pesquisa, pela reflexão e pelo estudo? Estamos construindo uma fé sólida, que convive com a razão e com a dúvida, ou nos acomodamos, na postura do que é assim, porque está escrito na pergunta tal de “O Livro dos Espíritos”? A via das simplificações, dos livros sagrados, da pasteurização, dos resumos e superficialidades não resiste a uma ventania mais forte, como no exemplo de Jesus da “casa construída na areia”, ou ainda, no exemplo concreto trazido aqui, que é uma replicação do que passamos, todos os dias na rua, no trabalho, diante dos jornais, nos quais a nossa convicção é posta à prova, não em um sentido do “eu acredito”, mas, sim, do “eu faço”. Kardec, ao falar n’ “O Evangelho Segundo o Espiritismo” da fé raciocinada, traz um trecho magistral quando diz: “A fé raciocinada, aquela que se apoia nos fatos e na lógica, é clara, não deixa atrás de si nenhuma dúvida. Acredita-se por-
Chico Xavier
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que se tem a certeza, e só se tem a certeza quando se compreendeu. Eis por que não se dobra, pois somente é inabalável a fé que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade”. Situação que ele exemplifica em vários momentos da origem do Espiritismo, em especial, nos célebres debates com o cético e com o crítico, na obra “O que é o Espiritismo”, nos quais sustenta, com argumentos e fatos, suas convicções; situação que fazemos, hoje, em melhor posição, pois, no que tange à fenomenologia, por exemplo, avançou-se muito nos estudos sobre diversas situações que corroboram os postulados espíritas. Note, estimado leitor, que não falamos, aqui, em se envolver em uma cruzada de tertúlias filosóficas, na escola e no trabalho, tentando angariar adeptos para as fileiras espíritas, pela argumentação, em exercícios de maiêutica. Essa construção de convicção é, para nós mesmos, para sustentar nossa fé e nossos exemplos, em especial, nos momentos difíceis, e muito fáceis, que abalam a nossa fé, por ela confrontar a nossa conduta. Fé cega é uma faca amolada, já dizia o compositor Milton Nascimento!
E, para construir essa convicção sólida, não vejo outro caminho, que não o estudo disciplinado, a discussão em grupos, à luz de textos consistentes, em especial, das chamadas obras básicas, ilustrado por outras obras respeitáveis, relacionando essas ideias ao cotidiano, por exemplos concretos, na articulação de teses e antíteses que constroem sínteses. Um caminho longo, mas árduo, que sedimenta o conhecimento espírita, fugindo da sedução de visões simplistas, abordagens superficiais, resumos, palestras, romances, em conteúdos soltos e frágeis, que uma vontade mais determinada ou um problema mais sério derrubam, como uma árvore podre na ventania. A fé raciocinada é um grande desafio proposto pelo Espiritismo, e nos vacina de males antigos, como o fanatismo, o desânimo e a exploração religiosa. Ilumina a prática do bem, a ação mediúnica, sobrepondo a quantidade pela qualidade. Espíritas convictos, trabalhadores coerentes! Fugir disso é o dogma, o conteudismo, o formalismo, e já assistimos a esse filme e já sabemos como ele vai terminar... Depois, nos restará o espanto, diante de práticas estranhas, a importação de paradigmas, de causas, o assistencialismo, e as curiosas tentativas de se padronizar corações e mentes, ideias essas que ferem o cerne do Espiritismo. A trinca de atividades – estudo-mediunidade-caridade – presente nas Casas Espíritas, compreende todas as fontes de conhecimento, todos os estudos-ação, por causa da reflexão e da mudança de disposições íntimas que elas proporcionam. Tudo é estudo, em tudo se aprende! Mas, o estudo tem a propriedade de fazer o “visgo” que relaciona, no plano mental, essas reflexões. Como os jovens da história, terminamos pensativos, sobre a fé raciocinada, nos perguntando em que base andam assentadas as nossas crenças, pois que devemos refletir sobre esse conceito trazido por Kardec, de uma fé adjetivada da luz da razão, que nos robustece, em todas as épocas de existência, como encarnados.
Deus - (II) “Atributos da Divindade” AZAMOR CIRNE João Pessoa-PB
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om este trabalho, concluiremos o publicado na edição anterior, decorrente do diálogo mantido entre Allan Kardec e os Luminares, mensageiros da Espiritualidade Maior, através de componentes de um grupo mediúnico. Os temas publicados foram: “Deus e o Infinito” e “Provas da Existência de Deus”. Não é propósito nosso, estabelecer nenhum estudo comparativo com outras religiões; nem, tampouco, criticar as que se fundamentam em predicados divergentes da doutrina que pregamos; uma vez que, nem sempre, fé e razão andam juntas. Assim sendo, continuamos com a nossa explanação, por considerar que é grande o número daqueles que, nunca ou pouco, meditaram com a ideia de Deus. E, quando o fazem, é, quase sempre, para pedir, como se estivessem tratando de um negócio com uma “criatura” poderosa que lhe irá atender aos “caprichos”, quer sejam ou não compatíveis com a bondade e a moral cristã. Outrossim, existem os que se dirigem ao Criador e que não deixam passar a oportunidade de LHE agradecer toda graça recebida; circunstância que nos leva à passagem evangélica da “Cura dos Dez Leprosos” (Lucas, 17:11 a 19), ocasião em que, entre os beneficiados por Jesus, somente um voltou para agradecer-lhe. Voltando à parte da edição anterior, onde se transcreveu o citado diálogo do Codificador, tem-se a primeira indagação por ele formulada: “Que é Deus”. É de se salientar que, àquela época, se fazia e se apresentava a Divindade, através de uma “aparência” antropomórfica. Veja-se, no entanto, que o Codificador utilizou a palavra “QUE” e não “QUEM”; uma vez que este último pronome expressa a ideia de pessoa (criatura), o que não poderia ser utilizado por se referir ao Criador. Sequenciando o diálogo transcrito naquela publicação, que finalizou com a Questão nº 9, Cap. I, de “O Livro dos Espíritos”, damos prosseguimento à interação
preende melhor à proporção que se eleva acima da matéria. Entrevê-as pelo pensamento.”
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expressa, com as perguntas do Codificador e respectivas respostas dos Imortais. É de se destacar que o texto colocado entre aspas, em seguida às perguntas, é a resposta que os Espíritos deram. Como também que, nas notas e explicações aditadas pelo autor, empregou-se outro tipo menor. CAPÍTULO I (continuação) – Atributos da Divindade 10. Pode o homem compreender a natureza íntima de Deus? “Não; falta-lhe para isso o sentido.” 11. Será dado ao homem compreender o mistério da Divindade?” “Quando não mais tiver o espírito obscurecido pela matéria. Quando, pela sua perfeição, se houver aproximado de Deus, Ele o verá e compreenderá”. A inferioridade das faculdades do homem não lhe permite compreender a natureza íntima de Deus. Na infância da Humanidade, o homem o confunde muitas vezes com a criatura, cujas imperfeições lhe atribui; mas, à medida que nele se desenvolve o senso moral, seu pensamento penetra no âmago das coisas; então, faz ideia mais justa da Divindade e, ainda que sempre incompleta, mais conforme à sã razão.
12. Embora não possamos compreender a natureza íntima de Deus, podemos formar ideia de algumas de suas perfeições? “De algumas, sim. O homem a com-
13 Quando dizemos que Deus é eterno, infinito, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom, temos ideia completa de seus atributos? “Do vosso ponto de vista, sim, porque credes abranger tudo. Sabei, porém, que há coisas que estão acima da inteligência do homem mais inteligente, as quais a vossa linguagem, restrita às vossas ideias e sensações, não tem meios e exprimir. A razão, com efeito, vos diz que Deus deve possuir em grau supremo essas perfeições, porquanto, se uma lhe faltasse, ou não fosse infinita, já ele não seria superior a tudo, não seria, por conseguinte, Deus. Para estar acima de todas coisas, Deus tem que se achar isento de qualquer vicissitude e de qualquer das imperfeições que a imaginação possa conceber”. Deus é eterno. Se tivesse tido princípio, teria saído do nada, ou, então, também teria sido criado por um ser anterior. É assim que, de degrau em degrau, remontamos ao infinito e à eternidade. É imutável. Se estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o Universo nenhuma estabilidade teriam. É imaterial. Quer isto dizer que a sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria. De outro modo, ele não ele imutável, porque estaria sujeito às transformações da matéria. É único. Se muitos Deuses houvesse, não haveria unidade de vistas, nem unidade de poder na ordenação do Universo. É onipotente. Ele o é, porque é único. Se não dispusesse do soberano poder, algo haveria mais poderoso ou tão poderoso quanto ele, que então não teria feito todas as coisas. As que não houvesse feito seriam obra de outro Deus. É soberanamente justo e bom. A sabedoria providencial das leis divinas se revela, assim nas mais pequeninas coisas, como nas maiores, e essa sabedoria não permite se duvide, nem da justiça nem da bondade de Deus.
julho/agosto • Tribuna Espírita • 2015 11
Emaranhado Quântico FLÁVIO MENDONÇA Recife-PE
“Eu e o Pai somos um” João 10:30
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om o advento da física moderna, através das inúmeras investigações das partículas subatômicas, o homem pode experimentar o comportamento estranho e, até, bizarro das micro partículas. Um deles é o emaranhado quântico. Basicamente, consiste no seguinte fenômeno: colocados dois elétrons (A e B) que têm seus movimentos de rotação denominados de “spin”, ao serem colocados em interação um com outro (emaranhado quântico) e, depois, separados, independentemente da distância, ao modificar a direção da rotação do elétron A, o elétron B, também, se altera. Ou seja, modificase, instantaneamente, o movimento do elétron B, pela influência do elétron A, como se não houvesse tempo e espaço. Isso, inclusive, fez com que Einstein dissesse que as partículas tinham comportamentos fantasmagóricos. Alguns postulam que há uma espécie de interface, ainda não mensurável, mas subjacente, que daria sustentação a essa plataforma física, a qual se pode avaliar as ações dos elétrons. Como as investigações nunca acabam na ciência, esse experimento continuou. Pesquisadores, como Jacobo GrinbergZylberbaum, principalmente, passaram a ventilar a hipótese de duas mentes serem emaranhadas, para ver se elas mantinham alguma semelhança nos seus conteúdos. Pares de pessoas foram ajuntadas e, depois, separadas. Notou-se, então, que alguns passaram a ter semelhanças de ideias e pensamentos. Estatisticamente, mostrou-se a possibilidade de ser real o postulado. Sabemos, no entanto, e para isso não precisamos da ciência, embora ela seja o fechamento da questão, de que, às vezes, temos pensamentos semelhantes, ou que gêmeos interagem, com uma carga de similitude muito grande, que os pais parecem captar pensamentos dos filhos, mesmo estando distantes uns dos outros. Em princípio, algum laço afetivo parece ser o elo entre pensamentos e sentimentos. Têm-se a impressão que ambos 12 Tribuna Espírita • julho/agosto • 2015
seguem uma frequência única, como ondas de rádio, a qual pode se sintonizar, na mesma faixa com algumas pessoas. Mas, como explicar a velocidade instantânea e as distâncias infinitas? Como imaginar, que uma informação viaje, sem consumir tempo, alcançando seu par, em distâncias inimagináveis? Deixemos, então, a ciência, para aferir essa teoria. Refletindo a respeito da temática, e sabendo que os conteúdos são transmitidos por quantum (quantidade) de energias, através de ondas, seria de imaginar que, ao estudarmos em grupo, o Evangelho no lar, por exemplo, o tal emaranhado poderia nos sintonizar com o pensamento de Jesus? A essa indagação podemos responder, com suas próprias palavras: “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.” (Mt 18:20). Seria absurdo pensarmos assim? Creio que não, as palavras do Mestre são sugestivas. O testemunho de algumas pessoas que fazem o Evangelho no lar, por um período significativo, e que relatam a mudança de comportamento e de atitude. Isso, em virtude de um entendimento moral elevado promovido pelo estudo. Outros mostram, que crianças que participaram dessa prática têm seus desafios arrefecidos, na fase da adolescência, o que sabemos, não é regra. Há confirmação de que perturbações de ordem psíquica e física diminuem, pelo entendimento das máximas contidas no Evangelho. Poderíamos
deduzir que esse roteiro iluminativo seria decisivo, na transformação moral e, consequentemente, no comportamento? É certo que o efeito é real, mas estaria, aí, o emaranhado quântico? Assumiríamos parte do pensamento de Jesus, ao realizar a prática do Evangelho no lar? Universidades do mundo todo têm feito experimentos que mostram a eficácia da prece, da meditação, dos momentos de reflexão, da escuta da boa música ou de leituras edificantes, como agentes de melhorias, no campo da saúde. Possivelmente, tudo isso tem uma grande ligação, com esse tal emaranhado quântico e, por isso, acreditamos que a ciência futura consagre tudo isso, aliando-se aos preceitos do Cristo, em seu Evangelho de amor. Embora as pesquisas caminhem a passos largos, tudo, ainda, faz parte de teorias, hipóteses e postulados, sem unanimidade entre a comunidade científica. Ciência à parte, cabe a nós compreendermos a eficácia de uma conduta pautada no bem e estimula-la, conforme nos instruiu Jesus e seus mensageiros. Sejamos, portanto, fieis a isso, esforçando-nos, em melhorar nosso ambiente, através de atitudes simples do nosso dia a dia. E, para transformar o mundo, precisamos iniciar, por nós mesmos, correto? Logo, arregacemos as mangas e sigamos, em frente, com Jesus e seu pensamento vibrante e libertador. Avante, caminheiros do bem!
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Escrevendo a vida, com a vida... PEDRO CAMILO Salvador-BA
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costumamo-nos, todos nós, espíritas ou não, a exaltar a grande obra deixada por Francisco Cândido Xavier, destacando, em particular, seu legado psicográfico. Assinalamos Emmanuel, como “historiógrafo do Evangelho”; André Luiz, como verdadeiro “Dante Alighieri de Além Túmulo”; Humberto de Campos – Irmão X –, como o grande cronista, das coisas do além e do aquém, dentre outros. Entretanto, esquecidos dos “detalhes tão pequenos”, por vezes deixamos escapar verdadeiras pérolas, que brilham de modo singular, desacostumados a ter “olhos de ver”, nas “coisas miúdas”, as “grandes coisas”... Essa exata sensação me arrebatou, quando, anos atrás, deixei a cama e fui consultar a estante de livros, à procura de algo com que pudesse encerrar a noite, entregando-me ao sono. Meio que “ao acaso”, topei com o livro “A vida escreve”, ditado pelo Espírito Hilário Silva e recebido, em parceria, por Chico e Waldo Vieira. E, que grata surpresa eu tive, com esse pequeno gigante! Dividido em duas partes, cada uma contendo 28 (vinte e oito) capítulos, todo ele se reveste de uma marca curiosa: seu autor retrata, com simplicidade, clareza e objetividade, lances do dia-a-dia de pessoas comuns, recheados de lições preciosas, lições de uma vida que se vai escrevendo, sem cerimônia, com, sem e apesar da nossa contribuição – para usar a imagem com que me presenteou certo Espírito, certa vez... Além disso, outro aspecto do livro merece relevo: as narrativas de histórias vivenciadas por grandes nomes, espíritas conhecidos por imensa folha de serviços prestados na longa estrada de construção da nossa Doutrina e de seu Movimento. É nesse sentido que vamos aprender: - com Bittencourt Sampaio, a identificar os sinais da impaciência; - com Batuíra, a avareza, como ponte para a obsessão; - Anália Franco, exemplificando caridade, devotamento e renúncia; - as palavras de Bezerra de Menezes, sobre consciência e regeneração. Encantado com a leitura, busquei as folhas do seu prefácio, encontrando palavras de Emmanuel sobre o “novo servidor”. Era Hilário, afirmava Emmanuel, al-
guém interessado no bem de todos nós, os espíritas, sobretudo daqueles que, tão atarantados com seus quefazeres diários, carecem de leituras breves e profundas, que proporcionem reflexão e mudança de postura. “Constituída de retalhos do cotidiano” – afirma Emmanuel –, “aqui temos, assim, a sua mensagem simples e fraterna, convidando-nos a pensar.” E, para que esse convite não nos passe despercebido, e porque a boa educação recomenda aceitá-lo, reflitamos, com Hilário, no pequeno trecho que se segue. É um trecho em que o cronista, narrando um desdobramento vivido por Eurípedes Barsanulfo, nos fala do assombro que colheu “o apóstolo da mediunidade” ao deparar-se com o Jesus, no Além, surpreendendo-o em pranto. Comovido, Eurípedes abriu a boca e falou,
suplicante: - Senhor, por que choras? O interpelado não respondeu. Mas, desejando certificar-se de que era ouvido, Eurípedes reiterou: - Choras pelos descrentes do mundo? Enlevado, o missionário de Sacramento notou que o Cristo lhe correspondia, agora, ao olhar. E, após um instante de atenção, respondeu em voz dulcíssima: - Não, meu filho, não sofro pelos descrentes aos quais devemos amor. Choro, por todos os que conhecem o Evangelho, mas não o praticam... Finalizando: E, desde aquele dia, sem comunicar a ninguém a divina revelação que lhe vibrava na consciência, (Eurípedes) entregou-se aos necessitados e aos doentes, sem repouso, sequer de um dia, servindo até à morte.
julho/agosto • Tribuna Espírita • 2015 13
PRESIDENTE DA FEB, JORGE GODINHO, FALA A “TRIBUNA ESPÍRITA” * FATIMA ARAÚJO João Pessoa/PB
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esde o dia 21 de março deste ano, a Federação Espírita Brasileira tem novo presidente – Jorge Godinho Barreto Nery, eleito pelo Conselho Superior da instituição para dirigir os destinos da Casa Mater do Espiritismo e congregar todas as federativas, no trabalho do bem e edificação da consciência espírita-cristã. Nascido em Alagoinhas, Bahia, há 67 anos, Jorge Godinho é casado, há 43, com a senhora Antônia Helena Freitas Nery, tem quatro filhos e dez netos. Militar reformado da Aeronáutica, saiu para a reserva, com a patente de Tenente Brigadeiro. Galgou, na Força Aérea Brasileira, todos os postos, nos 48 anos de serviço, no Brasil e no exterior. Entre os cargos que exerceu, podemos destacar o de Chefe do Estado Maior da Aeronáutica, o de Diretor Geral do Departamento de Aviação Civil-DAC, e o de Conselheiro Militar na Conferência de Desarmamento Mundial da ONU, em Genebra. Na seara do Espiritismo, foi presidente do Centro Espírita Léon Denis, Rio de Janeiro, na década de 1970; é expositor e monitor, desde 1983, divulgando a Doutrina, em diversos países, ora como palestrante, ora a implantar cursos, a exemplo do “Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita-EADE”, que levou para a Suíça. Não obstante todo esse currículo, o novo presidente da FEB traz, no jeito simples, a expressão do líder espírita consciente de sua missão e, ao mesmo tempo, pleno de humildade. Quando indagamos por que ascendera ao cargo, respondeu: “Nunca pensei em ser presidente da FEB. Morava no interior e, sempre, fui espírita, ao longo da vida, mas sem intenções maiores”. Revelou que vê, nas atividades federativas e de unificação do Movimento Espírita, o objetivo de colocar a mensagem consoladora e esclarecedora da Doutrina ao alcance de todos, através do trabalho, do estudo e da prece. Fátima − Sabemos que o modelo federativo é da maior importância para a unificação do Movimento Espírita, em 14 Tribuna Espírita • julho/agosto • 2015
todo o Brasil. O que significou, nesse particular, o chamado “Pacto Áureo”, de outubro de 1949, que conclama os espíritas a colocarem em prática as orientações do livro “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, para acelerar a evolução do Espiritismo? Jorge Godinho − O Pacto Áureo, grande marco da Unificação que consolidou os esforços iniciais de Bezerra de Menezes, é a expressão do entendimento e concórdia entre os espíritas, que podem divergir na discussão das ideias, mas sem que haja discórdia ou intolerância. O Pacto Áureo prevê a vivência da Doutrina, dentro do princípio da liberdade, sem deixar de considerar o amor fraterno e a união. Sua ligação com o livro “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho” prende-se ao fato de que essa obra mediúnica, assinada pelo Espírito Humberto de Campos e psicografada por Chico Xavier (1ª Ed. FEB, 1938) veio para esclarecer as origens remotas da formação de nossa pátria, com informações do mundo espiritual que explicam a missão do Brasil
no mundo moderno. Quando folheamos suas belas páginas, verificamos que o Brasil está destinado a facultar ao mundo inteiro a mensagem consoladora de crença e de fé raciocinada, e essa tarefa não pode ser uma obra individual ou de personalismos incabíveis, mas daqueles que se propõem à união e unificação no Evangelho de Jesus. Fátima − O que significa consciência federativa? Jorge Godinho − Consciência federativa é ter um compromisso irrevogável com a falange de Ismael. É a união entre os espíritas, nosso compromisso com este patrimônio imortal, que vem do alto, e pelo qual devemos zelar. Ismael é o zelador maior, enquanto somos servos do Senhor vinculados ao seu programa. Sejamos solidários, para sermos união! Fátima − Mas o senhor acredita nessa união, dentro dos Centros Espíritas, se, por um lado, o benfeitor Emmanuel nos diz que “Um templo espírita, revivendo o Cristianismo, é um lar de solida-
riedade humana, em que os irmãos mais fortes são o apoio aos mais fracos ...”, e, por outro, a gente assiste aos mais tristes exemplos de desamor entre espíritas, que, às vezes, até cerceiam o avanço dos companheiros? Jorge Godinho − O trabalho federativo e de unificação do Movimento Espírita, bem como o de união dos espíritas e das instituições baseiam-se nos princípios de fraternidade, solidariedade, liberdade e responsabilidade que a nossa Doutrina preconiza. Temos a FEB, as Federações e os Centros Espíritas que devem ter, como bandeira maior, a Caridade, que nada mais é que boa vontade, indulgência e doçura para com todos. Mas, para isso temos que nos inspirar na atitude de um Chico Xavier, por exemplo, que, por toda a vida, usou o amor, a humildade, a sinceridade e a solidariedade. Fátima − Por falar em Chico Xavier, o Movimento Espírita vem crescendo, no Brasil, a olhos vistos, principalmente depois que Chico foi eleito como “O Maior Brasileiro de Todos os Tempos”, no mês de outubro de 2012. O que está faltando, para que haja qualidade nesse Movimento? Jorge Godinho − Não está faltando nada, já que é um crescimento natural e a Doutrina Espírita não impõe nada a ninguém, mas nos traz um consolo, uma boa notícia; é muito salutar para os que por ela se interessam. Os verdadeiros espíritas mostram o que são pelo exemplo; e, assim, vão inspirando novos adeptos. Sem esquecer que estamos, aqui, para nos melhorar, para nos autoaperfeiçoar, não para obrigar nada aos outros. Fátima − O senhor acredita que o Espiritismo será, não só, “a religião do futuro, mas o futuro das religiões”? Jorge Godinho – Acredito, não. Eu tenho certeza; pois, no Espiritismo, estão contidas as verdades, como propriedades do Pai, à disposição dos filhos, que são as criaturas. Fátima − Será que a Humanidade, um dia, entenderá o que realmente significa humildade? Jorge Godinho − Evidentemente. Seremos humildes, de verdade, no dia em que aprendermos a respeitar os ensinamentos trazidos por Jesus, há pouco mais de dois mil anos; no dia em que resolvermos obedecer, sem rebeldia, porque, só então, encontraremos o Divino Mestre na pureza do seu Evangelho. Fátima – O senhor tem ideia de como agilizarmos o processo de combate às duas mais terríveis chagas da humanidade: o egoísmo e o orgulho? Jorge Godinho − Só com a vivência.
rita enaltece o papel da Família, como célula-mater da sociedade, com o papel de educar, orientar e promover a formação e o equilíbrio dos seus membros. A criança que recebe educação, amor e bons princípios morais, num lar; que é orientada e vai à escola, dificilmente envereda pelo mundo do crime.
Só vamos combater esses terríveis males, responsáveis por todos os outros, quando aprendermos a vencer a nós mesmos. Por isso, o Espiritismo trabalha para domar as más inclinações, sugerindo a luta interna e contínua contra as imperfeições, como também, que devemos fazer, sempre, a reforma interior. Fátima − O senhor defende a “Redução da Maioridade Penal”, no país? Jorge Godinho − Não. Sou contra. Os crimes são praticados por Espíritos encarnados, em qualquer idade. Essas crianças que praticam delitos, muitas vezes, o fazem em obediência a adultos que estão por trás. Se reduzirmos a Maioridade Penal, nada muda. Precisamos lutar, para reformar as políticas públicas. Precisamos trabalhar, para estruturar a Família. Fátima − A Família é, pois, da maior importância. Aqui mesmo, na Federação Espírita Paraibana, temos o “Departamento de Apoio à Família – DAF”, que trabalha com os genitores/responsáveis e seus evangelizandos. Mas, como a Família pode evitar o ingresso dos jovens no mundo do crime? Jorge Godinho − A Doutrina Espí-
Fátima − Desde o tempo de Bezerra de Menezes, como presidente da FEB (1889, 1895-1900), campanhas são lançadas, na FEB, voltadas para a evangelização e a moralização. Neste momento, há alguma novidade? Jorge Godinho − Nossas campanhas são permanentes, jamais terminam, e acompanham o crescimento. Muitas são renovadas, para atender àqueles que vão chegando, como a do “Conhecimento e Estudo das Obras Básicas”, a do “Evangelho no Lar”, “Valorização da Vida”, “Eutanásia, Suicídio, Aborto, etc.”. A novidade? Elas mesmas, de cara nova! Fátima − As máximas do Divino Mestre Jesus: “Um novo mandamento vos dou: Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei” e “Meus discípulos serão reconhecidos por muito se amarem”, que se encontram no Evangelho de João, Cap. 13:34 e 35, um dia chegarão a ser postas em prática pelos homens? Jorge Godinho − Essas mensagens de Jesus não foram feitas para o momento em que ele as pronunciou, mas, para todo o sempre. Todos nós chegaremos, realmente, a nos amar e, no final, seremos “Um só rebanho, um só pastor”. E, se a missão dos espíritas, no Brasil, é oferecer o Evangelho, em Espírito e Verdade, entendamos que Kardec fez o alicerce, o edifício somos nós que vamos fazer! *Entrevista concedida a Jornalista Fátima Araújo, por ocasião da visita do Presidente da Federação Espírita Brasileira Jorge Godinho a Federação Espírita Paraibana e ao Centro Espírita Leopoldo Cirne, na cidade de João Pessoa, Paraíba, em 04 de julho de 2015.
julho/agosto • Tribuna Espírita • 2015 15
O Sentido da Vida
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Severino S. Pereira
ALÍRIO DE CERQUEIRA FILHO Cuiabá-MT
V
ocê, em algum momento de sua vida, já se percebeu questionando sobre o porquê de sua existência? Ou sobre qual o sentido de sua vida? Saiba que você não está sozinho, nessas indagações. Estes e outros questionamentos semelhantes já devem ter passado, algumas vezes, pela mente da maioria das pessoas. Muitos não encontram as respostas ou as obtêm de forma vaga. Certamente, existe um motivo para a nossa existência neste mundo. Muitas vezes, ouvimos as pessoas dizerem que não vêem sentido para a vida. “Por que viver num mundo de tanto sofrimento e amargura?” “Viver é sofrer” “Viver para quê, para ter desilusões?!” Esta e outras frases semelhantes são muito corriqueiras. O que leva uma pessoa a ter tais pensamentos? A resposta mais evidente a essa questão é a visão materialista, niilista da vida. Observando a vida, sob um ângulo exclusivamente material, ela se torna sem sentido. Viver é um fardo muito pesado e sem razão de ser. Ao contrário, dentro de uma visão transpessoal, espiritual profunda, a vida tem um sentido. Nesta visão, viver é uma experiência fascinante, onde despertamos a nossa consciência rumo ao infinito. Dentro de um foco espiritualista, a vida é um maravilhoso desafio, com muitos obstáculos, é verdade, mas que, ao invés de representarem sofrimento, significam alavancas de apoio, para o crescimento pessoal e transpessoal. Dentro desse enfoque, o propósito maior da vida de todos nós é cumprir uma finalidade cósmica. Sabemos que existe uma Consciência Cósmica, uma Grande Energia de Luz e Amor Inteligente Criadora do Cosmos e da Vida, que denominamos Deus, e que criou todo o Universo com uma finalidade útil, desde um simples átomo, até as Galáxias, tudo existe, 16 Tribuna Espírita • julho/agosto • 2015
ocupando um determinado papel, interagindo entre si, formando o todo, o Holos. Dentro desse todo, cada ser vivo desempenha uma finalidade específica, e, nós, Seres Humanos, além do nosso papel como seres vivos num corpo físico, temos uma missão maior, espiritual, que é a nossa evolução para o amor e a plenitude do ser. Todos, temos a missão de nos tornar plenamente felizes. Buscar um sentido para a vida é encontrar o nosso eu verdadeiro, através da busca constante de conhecermos a nós mesmos e do desenvolvimento dos nossos potenciais, como Seres Espirituais que somos.
“Entrai pela porta estreita” é, porque a maioria das pessoas está buscando a “porta larga”.
Por que são poucas as pessoas que conseguem se encontrar, conforme dissemos acima? Por que muitas, ao contrário, estão doentes, infelizes, deprimidas? Por que surgem doenças físicas e mentais em nossas vidas, que se constituem em verdadeiras prisões sem grades? Por que doenças, como a depressão, o suicídio, o alcoolismo, o abuso de drogas, o mal de Alzheimer e outras doenças degenerativas têm aumentado a incidência? A resposta a todas essas perguntas é uma só: a falta de sentido na vida, geradora de doenças existenciais, produzidas pelo materialismo.
Em uma visão profunda de saúde, todas as vezes que nos distanciamos do ideal de espiritualidade, que todos os seres humanos são convidados a desenvolver, o resultado é a carência interior. Essa carência interior começa, no Espírito que somos, que se distancia do seu Eu Divino, para si mesmo, conflitos existenciais, que estarão lhe adoecendo a mente e o corpo. Em uma sociedade atormentada, na qual impera a inversão de valores, nos aproximarmos do ideal de espiritualidade, na qual buscamos o Ser, ainda, representa entrar pela “porta estreita”. A maioria cultiva a “porta larga” do materialismo, mesmo, quando se dizem espiritualistas, inclusive muitos de nós espíritas. Estudemos a “Parábola da Porta Estreita” na qual Jesus nos convida ao caminho que conduz à vida. Mateus Capítulo 7 vv. 13 e 14: Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; e porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem. Alguns questionamentos podemos fazer, sobre a parábola: Por que essa porta é tão estreita? Por que poucos conseguem passar por ela? O que tem depois da porta estreita? Se a porta larga leva ao caminho espaçoso da perdição, o que representa essa porta? Analisemos os símbolos, colocados por Jesus, nestes versículos, na questão que estamos trabalhando, o sentido da vida. Quando Jesus faz o convite, usando o verbo no imperativo: “Entrai pela porta estreita” é, porque a maioria das pessoas está buscando a “porta larga”. O que está depois dessa porta larga? O caminho espaçoso que conduz à “perdição”, simbolizando a busca das ilusões de uma vida centrada na inversão de valores do materialismo, com o objetivo de se adquirir a felicidade, em fazer e ter coisas, em pareFotos: Google imagens
cer aquilo que não se é, enfim, em valores falseados, que conduzem a um vazio existencial e às doenças de falta de sentido. Se questionarmos as pessoas que estão entrando pela “porta larga”, todas dirão que estão buscando a felicidade, mas elas a colocam fora delas mesmas, nas coisas, nos bens, nos relacionamentos, em um corpo perfeito por fora, com uma plástica invejável, enfim, em questões puramente materiais; com isso, distanciam-se, cada vez mais, da verdadeira felicidade, que está atrás da “porta estreita” no “apertado caminho que leva à vida”. Para entrar pela porta estreita, é necessário um movimento de autoconsciência. Por isso, que ela é “estreita” e “poucos há que a encontram”, exatamente, porque, ainda, são poucas as pessoas que buscam viver, de forma autoconsciente, uma Vida com v maiúsculo, espiritualmente saudável. Entrar, pela “porta estreita”, representa uma dificuldade maior e, por isso, vai necessitar da ação de uma vontade firme, de um processo de uma motivação real, para fazer todos os esforços que forem necessários, para entrar por ela. Porém, ir por esse caminho, nos traz muita satisfação e felicidade, pois significa a libertação de uma vida sem sentido. Portanto, entrar pela “porta estreita”, para passar pelo apertado caminho que leva à vida, significa despertar para a essência da vida. Estudemos, a seguir, outra fala de Jesus, para refletirmos sobre a vida: “(...) Andai, enquanto tendes a luz, para que as trevas não vos apanhem (...)”, João 12:35. Jesus nos dá, aqui, uma orientação, para aproveitarmos o tesouro do tempo. “Andai, enquanto tendes luz” significa aproveitar o tempo, para buscarmos o verdadeiro sentido da vida. Muitas pessoas que estão entrando pela “porta larga” dizem que aproveitar a vida é gozar tudo aquilo que ela proporciona de prazeres. São pessoas que estão focadas nos valores egóicos. O que irá acontecer, com essas pessoas? As trevas da ignorância dos valores espirituais vão apanhá-las, pois não aproveitaram o tempo, para buscar os verdadeiros valores. Aproveitar a vida é aproveitar todos os recursos que temos, para viver a Essência Divina que somos, desenvolvendo valores espirituais que nos iluminarão internamente, para que, a partir dessa autoiluminação, jamais, as trevas nos apanhem. Muitas pessoas dizem assim, quando são chamadas para uma espiritualização de suas vidas: “depois que eu ganhar bastante dinheiro eu penso nessas coisas”. Para essas pessoas, a busca espiritual são “essas coisas” que elas, sempre, colocam distantes delas mesmas. Fogem do Ser que são, como se isso fosse possível. Dizem: “Quando eu tiver uma vida estabilizada financeiramente, começo a
cuidar mais dessas coisas”. É um ledo engano, pois a pessoa fica, projetando para o futuro, algo que a vida a convida realizar, no presente. Quem é que garante que ela vai ter aquele tempo, depois, para fazer luz? Por isso, é necessário aproveitar o tempo, aqui e agora. Evitar ficar dizendo: “quando eu isso, quando eu aquilo, quando eu... vou vivenciar mais o espiritual”. Se aproveitarmos o momento presente, para desenvolver a luz em nós mesmos, qualquer que seja o nosso futuro, estaremos bem. O tempo é um verdadeiro tesouro. Se o usamos bem, ele vai estar, sempre, ao nosso favor; se o usarmos, mal, vamos entrar num movimento muito comum: o de não usar, bem, o tempo e, depois que o tempo passa, por não termos aproveitado a oportunidade, lamentamos o tempo perdido, que não vai retornar e ficamos perdendo tempo, nos lamentando por ter perdido tempo, formando um circulo vicioso. É fundamental aprender com os erros, ao invés de se lamentar. E, é importantíssima a boa utilização do tempo. O tempo presente é, portanto, um grande presente que Deus nos oferece, para que possamos
“(...) Andai, enquanto tendes a luz, para que as trevas não vos apanhem (...)” evoluir e, nem sempre, aproveitamos esse presente. Vejamos que Jesus diz “Andai enquanto tendes a luz para que as trevas não vos apanhem”. Que luz é essa de que Jesus fala? É a luz interior? Ou é outra luz? A luz interior a gente não perde nunca, não é? Então, não é da luz interior que ele está falando. Essa não perdemos, nunca. O que podemos perder são as oportunidades do presente, do próprio tempo, enquanto temos a luz. Ele está falando dos dias claros, do tempo presente, das oportunidades que vamos ter de nos espiritualizar, porque, senão as trevas da ignorância nos apanham. Porém, é necessário não entrar em ansiedade, para evoluir o mais rápido possível, porque, às vezes, vemos uma orientação como essa e começamos a entrar em ansiedade, querendo acelerar o tempo. Jesus diz, bem claro, para andar enquanto temos a luz. Não é, para nos desesperar e correr, porque, senão, a treva vai nos pegar. “Andai” significa, de uma forma serena, tranqüila, sem desespero, sem an-
siedade, para que possamos trazer a luminosidade do presente para o futuro. Se aproveitarmos as oportunidades de evoluir, enquanto tivermos a luz, a treva vai nos apanhar? Não, ela não nos apanhará, nunca, porque aproveitamos o tempo para andar, isto é, para evoluir. A luz do dia vai terminar, mas, quando isso ocorrer, já teremos chegado ao lugar onde deveríamos. Simbolizando que, ao terminarmos a atual reencarnação, fizemos tudo o que havíamos nos comprometido realizar. Então, não há nada a temer, em relação às trevas. O que precisamos, é cuidar de usar, bem, o tempo presente, enquanto estamos encarnados para nos espiritualizar. Quando não aproveitamos a oportunidade da reencarnação, para nos espiritualizar, as trevas da ignorância se fazem presente em nossa vida. Num movimento de autoengano, muitas pessoas dizem que o tempo resolve todos os problemas, como se a solução de problemas fosse algo passivo. É comum as pessoas dizerem: “Deixe que o tempo resolve”. Se isso fosse verdadeiro, a evolução seria muito fácil. Como somos Espíritos imortais, não precisaríamos realizar nenhuma ação, pois o tempo se encarregaria de nos fazer evoluir. Quando pensamos assim, o tempo passa e as trevas nos apanharão, pois não cuidamos de desenvolver a luz interior, enquanto havia tempo. Na verdade, a resolução de problemas é algo ativo. O tempo é nosso aliado nesse processo, porém, nós é que resolvemos os problemas, ao longo do tempo, quando nos dispomos a isso. O tempo é uma das dádivas de Deus, que nos deu a eternidade para evoluir, mas é necessário todo o empenho, para superarmos, ativamente, a ignorância que, ainda, nos caracteriza, dentro de nossas possibilidades, utilizando a bênção da reencarnação presente. Muitas pessoas dizem que vão deixar, para buscar se espiritualizar na próxima encarnação. Alguns dizem isso, até, com certo desdém, como se caçoassem dos que buscam se espiritualizar, realizando esforços para isso. Podemos fazer isso? Sim, claro. Temos toda a liberdade, para deixar, para depois, o que podemos fazer, agora, mas isso não nos convém, porque toda ignorância, com relação à vida, não superada, hoje, se transformará nas trevas do amanhã, ao nos apanhar desprevenidos. Vivendo assim, continuaremos ignorantes das questões espirituais da vida, desenvolvendo, cedo ou tarde, as doenças existenciais que nos apanharão, ainda nesta encarnação ou mais tarde, na vida espiritual, com consequências, ainda mais difíceis, de serem resolvidas nas futuras reencarnações. O autor é vice-presidente da Federação Espírita do Estado de Mato Grosso e responsável pelo Projeto Espiritizar (www.espiritizar.org). julho/agosto • Tribuna Espírita • 2015 17
Por que não devemos julgar? IGOR MATEUS Natal-RN
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“Não julgueis, a fim de não serdes julgados. Empregar-se-á convosco a mesma medida de que vos tenhais servido para com os outros.” (Mateus, 7:1 e 2) “(...) Aquele dentre vós que estiver sem pecado, atire a primeira pedra.” (João, 8:7)
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á aproximados 2000 anos, Jesus Cristo – O grande Psicólogo de nossas almas – entregou essas lições para a humanidade terrena, e elas continuam, hodiernamente, extremamente atuais, e necessárias. Efetivamente, forçoso é que façamos um exercício de humildade, para constatar que a mensagem de Jesus, nesse ponto específico e em muitos outros, como Semente Divina, ainda não germinou no terreno pedregoso e cheio de espinhos dos nossos corações! E a pergunta segue, desafiando o nosso entendimento: Por que não devemos julgar? Como eu sempre gosto de fazer em nossas pesquisas, vamos pedir a ajuda dos universitários, neste caso a José – Espírito Protetor, que nos fala em mensagem de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”: “Sede, pois, severos para convosco, indulgentes para com os outros. Lembrai-vos daquele que julga em última instância, que vê os pensamentos íntimos de cada coração e que, por conseguinte, desculpa muitas vezes as faltas que censurais, ou condena o que relevais, porque conhece o móvel de todos os atos. Lembrai-vos de que vós, que clamais em altas vozes: anátema! tereis, quiçá, cometido faltas mais graves. Sede indulgentes, meus amigos, porquanto a indulgência atrai, acalma, ergue, ao passo que o rigor desanima, afasta e irrita.” - José, Espírito protetor. (Bordéus, 1863.) Repercutindo as orientações do instrutor espiritual e, objetivamente, organizando as nossas ideias, temos então os seguintes pontos a considerar: 1. No estágio evolutivo em que nos encontramos, todos cometemos erros; 2. Como cometemos erros, não podemos censurar o outro que, também, os comete, pois, para julgar, é preciso ter autoridade moral; 3.Ainda, por cometer erros, precisamos da indulgência Divina, e dos outros, para com os nossos erros e deslizes; 4. Ora, se somos necessitados de indulgência, temos o dever de aplicá-la, por nossa vez, pois “é dando que se recebe” e “não devemos fazer, com os outros, aquilo que não gostaríamos que nos fosse feito”; 18 Tribuna Espírita • julho/agosto • 2015
5. Se não fizermos isso, sofreremos as consequências inevitáveis da grande lei universal de causa e efeito. Ou aprendemos pelo amor, ou pela dor. Nossa é a escolha! Dessa forma, chamando em nosso auxílio o grande apóstolo dos gentios, entendemos que “é indesculpável o homem, quem quer que seja, que se arvora em ser juiz. Porque julgando os outros, ele condena a si mesmo, pois praticará as mesmas coisas, atraindo-as para si, com seu julgamento”. (Paulo, Romanos – 2:1) Ao tratar dessa temática, em nossas palestras, gosto sempre de usar uma figura simples: ao apontar o dedo indicador para o meu semelhante, esqueço que mais três dedos estão apontados na minha direção, simbolicamente, a lembrar-me de ser mais rigoroso comigo mesmo, e, ainda, há o polegar normalmente apontando para cima, como se quisesse, jocosamente, dizer-me: “Deus está vendo!”. Sim, caro leitor amigo, há em nós um sério problema de visão. Daí, ter proposto Jesus, em seu Evangelho, a singular passagem do argueiro e da trave: “Como é que vedes um argueiro no olho do vosso irmão, quando não vedes uma trave no vosso olho? Ou, como é que dizeis ao vosso irmão: Deixa-me tirar um argueiro ao teu olho, vós que tendes no vosso uma trave? Hipócritas, tirai primeiro a trave ao vosso olho e depois, então, vede como podereis tirar o argueiro do olho do vosso irmão.” (Mateus, 7: 3 a 5) Ainda, temos então essa trave que nos obscurece a visão, essa espécie de catarata espiritual que nos impede de ver com clareza. E sabe qual é o nome dessa trave, a que Jesus fez alusão? ORGULHO. O orgulho faz com que nos achemos melhores do que os outros e, por isso mesmo, em condições de julgar, de criticar, de apontar o dedo. Ledo engano... Normalmente, projetamos no outro aquilo que ainda temos dentro de nós, usando o outro como um espelho que reflete as nossas próprias deficiências morais. O que ocorre, na realidade, é que ao analisar os erros do semelhante, estabelecendo julgamentos e críticas, o que estamos fazendo, de fato, é um processo de projeção inconsciente.
Vemos no outro o que, ainda, temos de sobra dentro de nós mesmos, mas que a trave − o orgulho − não nos permite enxergar e reconhecer... Assim, julgamos o próximo com a nossa “medida”, ou como diz o psicólogo Adenáuer Novaes, em seu livro “Psicologia do Evangelho”: “Julgamos os outros, exatamente, porque somos capazes de cometer os mesmos equívocos.” Aprofundando essa análise, cremos que o julgamento, também, é a consequência de um processo que vamos denominar de “fuga psicológica”: o Evangelho recomenda que eu olhe para dentro de mim, e resolva os meus problemas, antes de apontar os problemas alheios; fala dessa trave que nos embaça a visão. Mas, eu, ainda, não quero resolver os meus problemas! Eu não quero tirar essa trave do meu olho! Tenho medo de fazer essa cirurgia moral. Então, para não ter que encarar os meus problemas e as minhas imperfeições, face a face, passo a fugir de mim mesmo, passando a me preocupar com o outro. “Conscientizar-nos das atitudes do próximo pode ser importante, para vivermos em sociedade, mas a consciência de si mesmo é o desafio para o crescimento
pessoal. O principal desafio que temos a ultrapassar, no mundo, é vencer a batalha que se trava em nosso íntimo, da qual ninguém está isento de atravessar.” (Adenáuer Novaes, In: “Psicologia do Evangelho”) No fundo, tudo isso representa, também, um grande e inconsciente pedido de socorro. Com medo de assumir a responsabilidade que nos compete ou com medo de doer, na hora de retirar a trave do nosso olho (e dói porque estamos falando de cirurgia moral, de reforma íntima), passamos a criticar o outro, como uma forma (um pouco estranha, é verdade) de cobrar do próximo a mudança que, ainda, não temos coragem ou firmeza moral suficiente para fazer. Para que, talvez, a mudança do próximo nos estimule e nos constranja a mudar. E o que fazer, para mudar? 1. Reconhecer que precisamos mudar, melhorar; 2. Exercitar, imitando as boas práticas do Evangelho; 3. Assumir que essa responsabilidade é nossa, e não dos outros; 4. Sempre, procurar colocar-se no lugar do outro − Empatia; 5. Internalizar as boas práticas, em
nossa vida, lembrando, sempre, de ter, por valor pessoal, a severidade para conosco e a indulgência para com o nosso próximo. Ao colocarmos, em prática essas lições inesquecíveis do Evangelho, parafraseando o título do capítulo de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” que nos serviu de base para essas despretensiosas reflexões, seremos, então, bem-aventurados, pois seremos misericordiosos. E, pedindo ajuda a um último universitário, sigamos com as recomendações de Emmanuel, no Capítulo 113 de “Fonte Viva”, que nos diz: “Consagremo-nos à tarefa que o Senhor nos reservou, na edificação do bem e da luz, e estejamos convictos de que, assim agindo, o argueiro que incomoda o olho do vizinho, tanto quanto a trave que nos obscurece o olhar, se desfarão, espontaneamente, restituindo-nos a felicidade e o equilíbrio, por meio da incessante renovação.” Que o Divino Rabi da Galiléia nos inspire e motive, nessa grande jornada, rumo à perfeição e que a sua mensagem, especialmente no quesito do não julgamento, siga ecoando, em nossas mentes e em nossos corações, transformando-nos, por dentro, para melhor a cada dia. Muita Paz!
Quando puderes tuas preces mais sinceras, rogando a Jesus e aos seus guias espirituais, que os sustentem nos labores remunerados ou voluntários que escolheram, para servirem à vida. Ora por eles e reavalia as amarguras de que te sentes invadido ou das injustiças de que te julgas vítima, sempre inocente. Pedindo por eles, te sentirás mais aliviado. Orando por outrem, serás amparado pelo Alto. E, certamente que, após a tua prece intima, quando puderes e dispuseres de tempo, vai visitar alguém em infortúnio e dor, abandono ou fome, constatando tuas infinitas vantagens. Sorrirás, então, para tua aparente dor e avançarás, feliz e otimista.
Quando puderes, faze esse silencioso exercício d´alma e, nunca mais, reclamarás de nada, na tua estrada de ascensão e teste para a vida maior. Angélica (página psicografada pelo médium Marcel Mariano, em 19/04/2012, em Salvador-BA)
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uando a tristeza e o desalento ameaçarem o teu dia, diminui a pressa dos passos e pensa neles. Pensa, nos sacerdotes nobres de variadas confissões que atravessam dias amargos e, ainda assim, têm que atender, sorrindo, as ovelhas doentes que os buscam. Evoca, pela lembrança, o pediatra que vai ao posto de saúde socorrer os filhos alheios, carregando na alma, oculto de todos, o drama de ter em casa um filho mergulhado na hidrocefalia ou no cretinismo irreversível. Reflete, sobre os médiuns que, para darem conta de suas atividades mediúnicas, seguem suarentos e famintos, para o atendimento na instituição dos famintos de pão espiritual. Pensa, nos que estão relegados ao abandono nas casas de acolhimento de idosos, ali deixados, pelos próprios familiares, ante o crime de serem velhos. Medita, nos motoristas de coletivos e de vagões de metrôs e trens urbanos, servindo exaustos além da conta, onde não podem falhar, sob pena de causarem imensos desastres, com perda de muitas vidas. Quando puderes, silencia o tumulto na casa mental e endereça a todos eles
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Nada de Sobrenatural ORSON PETER CARRARA
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Matão-SP
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nde estão as pesquisas científicas dos fenômenos produzidos pelos Espíritos? O escritor Wallace Leal V. Rodrigues, no “Prefácio do Autor” de sua obra “Katie King” (1), escreveu: “(...) Aqueles três anos – que foi o período em que o Espírito se materializou – pareciam-nos mágicos, uma espécie de conto-de-carochinha, e que jamais se repetiram na História do Espiritismo (...)”. Na mesma obra, na “Apreciação” de Gabriel Delanne – que o autor colocou após o prefácio – encontramos: “(...) Como explicar seu incessante progresso? (*) Simplesmente, porque tem por método a investigação científica, emprega a observação e a experimentação, recrutando seus adeptos entre as mentes positivas, ávidas de conhecimentos precisos acerca do que seremos depois da morte. (...) Willian Crookes é, na Europa, o primeiro cientista que teve o valor de comprovar, escrupulosamente, as afirmações dos espíritas. Muito céptico, a princípio, suas investigações o conduziram progressivamente à convicção de que esses fenômenos são verdadeiros e não titubeou um único momento em proclamar, alto e bom som, a certeza em que resultou o seu trabalho. Com a altiva firmeza que oferece quanto é comprovado, cientificamente, converteu-se em campeão de uma impopular mais indiscutível verdade. (...)” Citando o livro “Trinta anos entre os mortos”, de autoria do Prof. Charles Richet, Wallace usa frase daquele autor para dizer, igualmente, que “... a pesquisa psíquica começa, na História, com Sir Willian Crookes...”, pois que contemporâneo de uma época de grandes nomes da ciência, de importantes descobertas científicas que mudaram a vida da Humanidade, Crookes (2) dedicou-se, avidamente, na pesquisa dos fenômenos produzidos pelos Espíritos. Notadamente, no caso das materializações do Espírito Katie King através dos recursos mediúnicos da jovem Florence Cook (3). Pois é, exatamente, utilizando a frase de Gabriel Delanne, na apreciação publicada no livro de Wallace, de que a Doutrina Espírita “...tem por método a investigação científica, emprega a observação e a experimentação...”, é que usamos o título “Nada de Sobrenatural”, para dizer, usando as palavras do próprio Kardec, na “Revista Espírita” de abril de 1867, que 20 Tribuna Espírita • julho/agosto • 2015
“(...) os fatos desse gênero tiveram lugar bem antes que o Espiritismo fosse questão, e que depois quase sempre se passaram entre pessoas que não o conheciam nem mesmo de nome, o que exclui toda influência devida à crença e à imaginação. (...) nos limitamos a constatar aqui que nada se afasta do que o Espiritismo admite a possibilidade, nem das condições normais nas quais semelhantes fatos podem se produzir; e esses fatos se explicam por leis perfeitamente naturais, e, consequentemente, nada tem de maravilhoso. Só a ignorância dessas leis pôde, até este dia, fazê-los considerar como efeitos sobrenaturais, assim como o foi com quase todos os fenômenos dos quais a ciência mais tarde revelou as leis. (...)”. Fatos naturais, pois, que suportam e requerem a observação, a investigação científica e a experimentação, para serem compreendidos. Nada, pois, de sobrenatural, com eles. Vale observar ao leitor que o comentário de Kardec, acima transcrito, não se refere, especificamente, aos casos de materializações, pois a própria matéria traz o título de “Manifestações Espontâneas”, ligando-se a interessante caso das habilidades de um Espírito brincalhão diante de uma família, cuja leitura integral constitui importante fonte de informações sobre o fato das manifestações, em suas diversas faces. Por outro lado, muito mais que abordagens, por que não prosseguir com pesquisas na área científica? Será difícil, confiável, possível? Para responder essas indagações, nada
melhor que oferecer a palavra ao próprio Codificador: a) Na “Revista Espírita”, mesma edição acima citada (4), abordando o tema “Manifestações Espontâneas”, Kardec pondera que “(...) Os fenômenos reais têm um caráter sui generis, e se produzem em circunstâncias que desafiam toda suspeita. Um conhecimento completo desses caracteres e dessas circunstâncias podem facilmente fazer descobrir a fraude. (...). Sugerimos ao leitor a leitura integral do caso relatado naquela edição, mas é, exatamente, o detalhe da circunstância em que se produzem que desafiam pesquisadores e observadores comuns ao uso do raciocínio e do bom senso, como tão bem usou Kardec; b) Na mesma publicação, edição de julho de 1859, em pronunciamento na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, o mesmo Kardec afirma: “(...) O conjunto dos raciocínios sobre os quais se apóiam os fatos, constitui a ciência... (...)”. Ora, pois é exatamente este raciocínio na observação dos fatos e experimentos que deve continuamente ser estimulado em todos os que estudam o Espiritismo e os fenômenos produzidos pelos Espíritos, uma vez que (5) “(...) o princípio essencial, verdadeira pedra principal da ciência espírita... (...)” reside no fato de que “(...) esses fenômenos estão submetidos a condições que saem do círculo habitual de nossas observações...”, já que “(...) esse agente é constantemente uma inteligência que tem sua vontade própria, e que não podemos submeter aos nossos caprichos (...)”. Esta adoção do raciocínio diante dos fatos, da experimentação através da pesquisa é tema para ser amplamente discutido, especialmente por quem estuda o Espiritismo, inclusive graduados das diversas áreas da ciência. Poderemos promover pesquisas nas diversas facetas oferecidas pela ciência espírita. Considere-se, aqui, o direcionamento das últimas linhas do item b) acima. O que pesquisar? Onde pesquisar? Como pesquisar? Que métodos utilizar? Que recursos podem ser disponibilizados? Quais as condições humanas e materiais? Seria no próprio campo das materializações, das energias mentais e psíquicas, nas manifestações psicofônicas ou psicográficas, nos desdobramentos? Ou poderíamos adentrar o campo das recordações passadas? Eis um universo de temas à disposição e valoroso campo experimen-
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tal de pesquisas. Eis perguntas para gerar estudos. Eis um universo de possibilidades, seja na área anímica ou mediúnica. Volta-se, pois, a questão: por que a pesquisa espírita está tão esquecida? Já não é tempo de retomar estes estudos e pesquisas, usando o exemplo de Crookes, para citar apenas um dos inúmeros casos? Deixamos a resposta aos mais capacitados, para que apareçam novamente, pois como o Espiritismo é, simultaneamente, ciência, filosofia e religião, o campo de pesquisa está aberto. Desde, é óbvio, que observados os critérios e métodos científicos de observação e experimentação, onde o misticismo é deixado de lado e surge, com toda força, o bom senso, a lógica, ao lado da seriedade e conhecimento que o assunto requer. E que não esqueçamos o que Kardec disse: “(...) esse agente é constantemente uma inteligência que tem sua vontade própria, e que não podemos submeter aos nossos caprichos (...)” (*). Porém, oportunas considerações extraídas do mesmo estudo em referência (Revista Espírita de abril de 1867), cabem como conclusão nesta abordagem: a) Do fato de que o estado de nossos conhecimentos não nos permita deles dar ainda uma explicação concludente, isto não prejulgaria nada, porque estamos longe de conhecer todas as leis que regem o mundo invisível, todas as forças que este mundo encerra, todas as explicações das leis que conhecemos.
górica, pode dar uma hipótese, mas, até a confirmação, não a dá senão como hipótese, e não como verdade absoluta. Leitura atenta dos itens acima enumerados deixa claro o critério adotado pela Doutrina Espírita diante dos fatos: a) a limitação de nossos conhecimentos; b) o caráter progressivo da própria doutrina; c) a prudência diante dos fatos. Estejamos de olhos bem abertos, para compreender, à luz do Espiritismo, que os fatos das manifestações promovidas pelos Espíritos são absolutamente naturais, convocando-nos para a pesquisa desses mesmos fatos, o que permite a busca da verdade. (*) o autor refere-se aos progressos da Doutrina Espírita.
b) O Espiritismo não disse, ainda, a última palavra, muito longe disto, não mais sobre as coisas físicas do que sobre as coisas espirituais. c) O Espiritismo não fez, de alguma sorte, até o presente, senão colocar os primeiros degraus de uma ciência. d) Se um fato é constatado, se diz que ele deve ter uma causa, e que esta causa não pode ser, senão, natural, e então ele a procura. e) Na falta de uma demonstração cate-
(1) − Edição da Casa Editora O Clarim, atualmente esgotada. (2) − Willian Crookes nasceu em 17 de junho de 1832 e desencarnou em 4 de abril de 1919; foi químico e físico inglês, publicou diversas obras de sua área de pesquisas. Em 1861 descobriu e estudou o Talium, inventou posteriormente um novo método para separar o ouro e a prata de seu mineral, por meio do sodium. (3) − Florence era jovem de apenas 15 anos e sua potencialidade mediúnica permitiu anos de pesquisa na área de materializações; submeteu-se humildemente aos critérios científicos de observação dos fenômenos que se produziam por seu intermédio. (4) − A partir deste trecho trata-se de outra abordagem constante da edição de fevereiro de 1859. (5) − Revista Espírita, edição de fevereiro de 1859. Texto publicado na RIE – Revista Internacional de Espiritismo - edição de novembro de 2005. Google imagens
Os Vendilhões do Templo GERMANO ROMERO João Pessoa-PB
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á pessoas que chegam, em área pública, urbana ou à margem de ecossistemas, e se instalam para comercializar alguma coisa em proveito próprio. Elas lembram, muito, os “vendilhões do templo” que, segundo os relatos evangélicos, Jesus enxotou, com austera veemência. Para o Mestre, eles estavam se aproveitando do perfil sagrado da casa de oração, que atraíam os que ali vinham em busca de uma sintonia com o Divino, para lucro próprio. Da mesma forma, alguém que se apossa de uma parte da Natureza, idem sagrada, para profaná-la com comércio, está desvirtuando a sacralidade do meio ambiente. Esquece de que, da mesma forma que as religiões têm como meta a religação com Deus, definida desde a sua origem etimológica – Religare – as áreas de preservação,
delimitadas pelo homem, para tentar salvar a originalidade da criação divina, também, nos reconectam com a Inteligência Suprema. Com um agravante: além de desvirtuar o caráter de reverência e contemplação que se deve ter perante as maravilhas do Criador, tais usufrutuários, frequentemente, poluem o patrimônio natural, com lixo e barulho. Há os que se apoderam, também, dos espaços que não são ecológicos, mas são públicos e, como tal, sagrados. Passeios, calçadas, escadarias, ciclovias, áreas de pedestres, todos foram criados, com a função de beneficiar a livre e desimpedida locomoção, hoje, tão bem conhecida como “acessibilidade” e “mobilidade urbana”. Obstruir e se instalar, em tais espaços com fins lucrativos, é, igualmente, danoso e repreensível. Resumindo, concluímos que todos são “vendilhões do templo”, e que de-
vem ser tratados, com a mesma energia que o Meigo Nazareno utilizou, ao expulsá-los do Templo. Evidente, que o sentimento de compaixão, mediante os níveis de carência material, produzidos pela forma injusta e desigual com que a sociedade humana se organizou no planeta, tentará nos induzir, para que compreendamos a situação de forma mais tolerante. Mas, aí, é que reside o perigo. Ao se permitir a adulteração do sagrado patrimônio natural e dos espaços públicos, que foram criados em benefício de todos, corromperemos o princípio que há de mais sagrado, na convivência humana e urbana: respeitar a Deus, o criador de todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo. Assim, que os nossos governantes, sempre, tenham coragem, para expulsar os “vendilhões do templo”, a exemplo de Jesus. julho/agosto • Tribuna Espírita • 2015 21
A superimportante Lei de Reparação e Redenção (Evolução, sem Reparação é, apenas, meia Evolução). REGIS MESQUITA Campinas-SP
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uase todo mundo quer evoluir e amadurecer. Quer ser melhor, sempre. É um desejo nobre; vale a pena traduzi-lo em esforço e dedicação. Gostaria de chamar atenção para duas fases da evolução que são, absolutamente, necessárias: a reparação e a redenção. O arrependimento e a substituição dos valores, pensamentos, sensações e sentimentos menos nobres, por outros verdadeiramente nobres, é uma parte da mudança que se completa com a redenção. Quando o ser humano começa a se libertar dos condicionamentos e dos bloqueios, quando ele vibra o que é nobre, o processo de reparação se torna imprescindível, para haver uma mudança realmente radical. O aprofundamento da transformação pessoal depende da reparação, pois esta complementa o processo de “limpeza” interior que é fundamental, para a livre manifestação do Espírito e para a sintonização com as vibrações mais elevadas (Fluxo de Deus, Espírito Santo, Deus ou de qualquer outro nome que se queira dar). Portanto, é absolutamente necessária a reparação dos erros e desvios passados. Sem esta etapa, é praticamente impossível manter e ampliar a transformação pessoal. Enquanto não houver a “limpeza” haverá um contrafluxo que direcionará o ser humano para distante do que é nobre e mais elevado. “O ser livre, que reparou os erros, em vibração nobre, atinge a redenção” (*). Observe que a evolução pode ser dividida em três partes: a) transformação de valores / sentimentos / pensamentos / sensações; b) reparação; c) redenção. Podemos explicar a evolução espiritual de forma didática e ultrassimplificada, com o seguinte exemplo: uma pessoa invejosa sente prazer com a infelicidade alheia. Ela usa estes padrões de comportamento, para agir negativamente, sempre reforçando a inveja e o prazer com a infelicidade alheia. Com a evolução, ele muda seu comportamento menos nobre (inveja), por outro mais nobre (respeito). Substituir o negativo e agregar o que é nobre é uma parte da evolução. A seguir, tem que vir a reparação: é o momento no qual a pessoa reconhece seus erros e enfrenta o desafio de, por exemplo, ajudar a quem prejudicou. A ideia é que a reparação serve para ampliar a “limpeza” da mente. É
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um desafio; a pessoa que tem prazer com a infelicidade alheia (sensação que ficou gravada em sua mente) irá ajudar o outro a ser feliz e conquistar seus objetivos. Ou, a pessoa que ganhou dinheiro de forma negativa irá devolver o dinheiro (neste caso irá confrontar seu egoísmo). A reparação é, literalmente, reparar danos através do confronto com o que “mais dói”, dentro do ser humano e que, anteriormente, ajudou no comportamento negativo. Se esta reparação for verdadeira, haverá uma grande mudança/limpeza em sua mente, acabando com várias fontes geradoras de sensações e sentimentos negativos. À medida que esta limpeza mental vai aumentando, também, aumenta o tempo e a intensidade da sintonia da mente com os conteúdos nobres. Este é o momento propício para a redenção. A redenção é uma vivência interna da pessoa que consegue se manter sintonizada com o que é mais nobre e espiritual. É a entrada da pessoa, em outro nível de paz, serenidade e consciência. Portanto, é muito importante, para o aprofundamento da transformação pessoal (reforma íntima), que a reparação dos erros pretéritos seja completa. Esta parte é, costumeiramente, negligenciada porque a reparação é, constantemente, um desafio maior do que a própria transformação de valores, pensamentos e sentimentos. Paulo de Tarso, depois de se converter, passou al-
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(*) Trecho do livro “Nascer Várias Vezes”.
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guns anos no deserto, isolado, aprendendo uma nova profissão e um novo estilo de vida. No deserto, ele fortaleceu sua nova identidade e aprendeu a viver na simplicidade (esta história é contada no livro “Paulo e Estêvão”). Depois, ele retornou a Jerusalém. Aconselhado por Pedro, ele vai para Tarso, sua cidade natal, viver como um humilde artesão. Foi uma humilhação para sua família, porque eles não entenderam sua ruptura com o orgulho judaico. Foi, também, uma forma de servir a todos que lhe serviram e ajudar aqueles a quem, anteriormente, desprezava. Mudar sua condição social e exercitar a humildade, entre os seus patrícios, lhe permitiu reparar erros e suportar desprezos que o libertou dos últimos resquícios de agressividade e orgulho. Esta vivência intensa trouxe sabedoria que gerou uma nova dimensão da sua vivência espiritual – a redenção. Este processo de reparação gera uma dinâmica psíquica especial, porque é a vida real e experienciada. A reparação é o convite para que a transformação não seja, apenas, baseada em ideais, mas seja baseada em atitudes e posturas reais que acontecem no cotidiano. Nesse processo de reparação, Paulo aprofundou seu entendimento da mensagem do Mestre Jesus; experimentou e vivenciou os frutos da humildade e da vida de serviço. Isto o ajudou a romper com traumas, bloqueios, condicionamentos, crenças negativas. Ou seja, criou boas condições, para que sua consciência se expandisse. Esta condição de consciência expandida, vivência profunda da espiritualidade e rompimento de bloqueios é propícia, para a emersão de um novo estado mental: a redenção. Paulo dizia: “eu já não vivo, mas é o Cristo que vive em mim”. Ele está descrevendo a emersão de um novo homem, com sabedoria e maturidade excepcional. Um homem, cujos bloqueios e condicionamentos mentais não agem para afastá -lo do caminho do Bem. A reforma íntima é uma meta que deve ser cumprida em suas três dimensões. Negligenciar qualquer uma delas é correr o risco de limitar o progresso do Espírito encarnado. Outro que viveu a redenção foi Chico Xavier. Aos que lhe criticavam e destratavam, ele não respondia com raiva. Ele respondia com paz de espírito e foco no seu Caminho; ele estava em outro nível de consciência, que era refletido em suas ações, pensamentos e paz interior. Lembre-se: quando a paz e a sabedoria chegarem até você, caber-lhe-á criar condições, para que elas não desapareçam, quando vierem as primeiras provações.
A origem foi só o começo HÉLIO NÓBREGA ZENAIDE João Pessoa-PB
Somos todos, igualmente, Filhos de Deus. Deus, Nosso Pai Criador, sabe da origem de todos nós. Na Criação, pela origem comum, não somos nenhuma exceção, nem nos distinguimos uns dos outros; por isso, ou por aquilo. Logo, seria muita pretensão, qualquer um de nós querer tirar proveito, pela origem. As condições em que nascemos é que são diferentes. A condição de cada um oferece os meios de que necessitamos, para mais uma etapa de crescimento, como Filhos de Deus. Nessas circunstâncias, se tivermos que tirar proveito, é desses recursos que estão ao nosso dispor. Deles, nos valemos, para crescer para Deus. Pouco ou muito, são suficientes. Deus sabe o que é melhor, para o nosso Espírito. Devemos fazer bom uso, desses recursos; pois, do contrário, retardamos o nosso crescimento. A riqueza material é recurso ao nosso dispor; mas, a pobreza, também, é um que eleva o Espírito para Deus. A riqueza material pode, até, fazer diferença, para um, e para outro, que queira levar vantagem, por isso ou por aquilo; mas, na verdade, se não for bem
aplicada, não se chega a lugar nenhum. Se não se reverte em valores para o Espírito, foi tudo em vão. Já, a pobreza, bem experimentada, se não dá para levar vantagem, pelo pouco significado material, gera riqueza para o Espírito e isso faz diferença. Na pobreza, dentre outros caminhos, podemos transitar, da escassez material, para saciar o Espírito que tem fome e sede de justiça. Dá para perceber, como é bem limitada essa fixação na origem, para justificar o que somos pelo que temos hoje? Mas, há quem se sustente nos recursos ao seu dispor, como se tudo tivesse início e fim na atual existência. Ora, nós não nos encontramos, no marco zero dessa trajetória, em que o foco é a nossa destinação para Deus. A origem foi, só, o começo e o presente consciente é uma promessa de crescimento para Deus. Promessa, porque depende de nós, esse crescimento para Deus. Crescimento que se dá, com a nossa evolução espiritual, até porque, é o Espírito que transita no Universo, para chegar mais perto de Deus. Temos, como abraçar essa responsabilidade, na nossa caminhada terrena e nos projetar para o futuro, que a Deus pertence. Deus, Nosso Pai, nos abençoe. julho/agosto • Tribuna Espírita • 2015 23
Que é Deus? OCTÁVIO CAÚMO SERRANO João Pessoa-PB
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ara os espíritas, esta pergunta não é novidade. É a de número 1, já na primeira edição de “O Livro dos Espíritos”, lançada em 18 de abril de 1857, com 501 questões. A definição dada pelos Espíritos, que só repetimos como reforço, foi: “Deus é a Suprema Inteligência, Causa Primária de todas as coisas.” Para acreditar em Deus, é bastante lançar a vista sobre as obras da Criação. As discussões sobre a existência de Deus, com tentativas de provar que Ele não é uma realidade, demonstram como os homens inferiores, deste mundo de provas e expiações, são pretensiosos. Não percebem que não têm condições de entender, nem a si próprios, e procuram explicar algo, sem que disponham dos atributos mínimos para iniciar o raciocínio. Baseiam-se nas equivocadas deturpações religiosas, as mesmas que tentam imaginar Deus como humano; velho, sábio, meditativo, olhando para cada um de nós como fiscal de grupo escolar que acompanha o que faz o aluno no recreio. Falamos de ação e reação, como se Deus permanecesse à frente de uma luneta, olhando para cada um de nós, fazendo anotações de tudo o que construímos ou destruímos, para nos dar, consequentemente, prêmios ou castigos. Deveríamos nos contentar, ao reconhecer nossa pequenez, em saber que Deus é a Lei. Ele deixa o homem livre para mergulhar nela, seguindo o lado edificante com o cumprimento das recomendações divinas, ou emaranhando-se em perturbações desagradáveis, por fazer tudo ao contrário. Pela Lei, devemos ser calmos. Ao perder o controle sobre nós mesmos, produzimos enfermidades. A cura não vem, necessariamente, por remédios mundanos, mas pela volta do homem à Lei da qual ele se afastou. Supomos que o departamento de informática do Criador tem programas inimagináveis, para controlar alguns “gatos pingados”, que somos, os sete bilhões de viventes na matéria deste planeta. Somos um bilionésimo – apesar, para dar pálida idéia – do que existe no Universo. Até agora, falamos da matéria densa, sem preocupação com os da quintessência, muitíssimo mais numerosos e que são criados, permanentemente. Aprendamos a compreender a nossa insignificância, apesar de merecer, igualmente, o grande amor de Deus. Damos receitas, para que as pessoas se aprimorem, supondo que Deus se vê em dificuldades, quando o homem não age como parceiro do Criador, para o melhoramento dos mundos. Imaginamos que, se os homens não colaborarem para o progresso ele não se fará e criará um obstáculo, para que Deus possa dar sequência à sua legislação. Quanta ingenuidade! O progresso já está pronto, desde o início, à
disposição do homem que mergulhará nele quando entender. Como os mares da Terra que existem, mesmo que os homens neles não nadem ou os peixes neles não vivam. O homem é muito pequeno, para atrapalhar a tarefa divina. Só consegue entravar a sua própria evolução. Na verdade, se Deus não nos criou prontos e perfeitos, é porque queria dar aos filhos a oportunidade de se realizarem por si mesmos. Encheu o mundo da sua misericórdia e brindou o homem com o dom da vida. Por isso, respiramos, caminhamos, digerimos, pensamos e envelhecemos, como desejamos. Não fizemos o ar, não criamos a água, não inventamos o trigo. Nenhuma só fruta que há no mundo é uma invenção humana. O máximo que o homem faz é aprimorá-la, com a permissão de Deus que quer testar sua inteligência e gratidão, criando híbridos resistentes às pragas e às variações de clima. Por isso, diz um provérbio chinês: “Qualquer tolo sabe quantas sementes há numa fruta, mas só Deus sabe quantas frutas há numa semente.” O mesmo se dá com a clonagem. Como o homem consegue criar um ser vivo, partindo de uma célula de outro já existente, imagina que criou a vida. Só que ele ignora que não haverá vida no novo ser, sem que ele tenha uma alma. E alma é algo que o homem, ainda, não aprendeu a criar. O Espiritismo veio dar um pouco de clareza à lei de Deus, dirigida aos que já despertaram e demonstram algum discernimento. Ao ler os Capítulos I, II, III e IV de “O Livro dos Espíritos” – Deus, A Criação, o Mundo Corporal e o Mundo Espiritual – poderemos entender rudimentos sobre Deus e a sua obra. A confusão, ainda sobre Deus, é tão grande, que até nossos irmãos católicos dizem, na prece da Ave-Maria: “Santa Maria, mãe de Deus”; confundem Deus com um de seus filhos e nosso irmão planetário maior, Jesus, o Cristo! O mesmo que afirmou que todos nós somos deuses e que não deveríamos nos maravilhar com o que ele fizesse, porque também poderíamos fazê-lo, e até mais, se o quiséssemos, conforme se lê, em João 10:34, 35 e 14:12, respectivamente. Deixou claro que, até ele, Jesus, ainda está em progresso e, portanto, ainda distante de Deus. Ao dizer “Eu e o Pai somos um”, ele criava uma figura, para dizer que suas idéias seguiam uma estreita semelhança com a Lei Maior. Ele foi quem melhor entendeu as Leis do Criador. Conselho dado a Kardec, em “O Livro dos Espíritos”, na Questão nº 14, serve também para nós. Paremos de querer discutir e entender Deus, porque nos faltam atributos para tal, e cuidemos, mais, da nossa própria evolução. É, para isso, que reencarnamos mais uma vez!
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Painel Espírita
ELMANOEL G. BENTO LIMA João Pessoa - PB
O Homem e a Mediunidade A interpretação do fenômeno psíquico tem constituído problema, mais sério do que parece ou mais grave do que deveria ser. E, coisa estranha: quanto mais sofisticadas a civilização e a cultura, maior a dificuldade na aceitação do fenômeno e no seu enquadramento filosófico. Menos envolvidos em sofismas e raciocínios elaborados, os povos primitivos consideravam esses fenômenos, como uma das tantas manifestações naturais, tal como a chuva, o vento, o nascer do Sol, o perfume das flores etc. E, como há mediunidade, desde que exista o homem, o vulto do morto que se mostrava durante o sonho ou, mesmo, nos estados de vigília, era tomado pelo que, realmente, queria dizer, ou seja, uma pura e simples presença: o Espírito sobrevivente. Essa abordagem era inteiramente legítima, porque emergia da humilde posição do homem, diante dos fenômenos naturais que constituem as manifestações sensíveis das Leis Divinas. Mas, com o decorrer do tempo, o homem começou a buscar explicações e justificativas elaboradas, para tudo quanto ocorre à sua volta. E, à medida que aumentava o seu conhecimento, foi, também, crescendo a sensação de sua própria importância, até ao ponto em que se julgou em condições de dispensar a ideia de Deus. Tal posição se destaca, muito clara-
mente, na resposta que um orgulhoso filósofo deu a Napoleão. Perguntado sobre o que achava de Deus, respondeu, com vaidosa superioridade: “Não tenho necessidade dessa hipótese, sire”. Pouco depois, surgiu a doutrina positivista de Augusto Comte (*) que excluiu de suas cogitações todos os fenômenos considerados sobrenaturais. Ora, o fato de um fenômeno ser inexplicável não o coloca, obrigatoriamente, no universo das impossibilidades. Por outro lado, a indemonstrabilidade dos fenômenos não significa que eles sejam sobrenaturais ou inexistentes; pode, apenas, denotar que os nossos métodos de observação e pesquisa são insuficientes, imperfeitos ou inadequados. Isso nos leva às sábias palavras do Cristo: “Veja quem tem olhos de ver”. O fenômeno psíquico é de todos os tempos; está em toda parte e ocorre com toda gente; mas, cada um o interpreta conforme lhe parece, segundo sua posição espiritual. [Fonte: trecho simplificado e adaptado do Cap. 10 do livro “Reencarnação e Imortalidade”, de Hermínio Correia de Miranda, FEB. (*) Isidore Marie Auguste François Xavier Comte, *1798+1857, filósofo francês, foi o criador da palavra sociologia empregada em sua obra “Curso de Filosofia Positiva”, e, também, chegou a desenvolver uma religião da humanidade da qual se instituiu grãosacerdote.]
Rui Barbosa e a mediunidade Em 1897, ingressou na Academia Brasileira de Letras, como membro fundador e da qual também chegou a ser Presidente. O ano de 1907 marcou o ápice de sua carreira pública, com sua nomeação como embaixador extraordinário e plenipotenciário para a Conferência da Paz, em Haia, na Holanda, a maior assembleia diplomática internacional até então realizada. Nesse evento, ganhou, com mérito, o título de “Águia de Haia”, por seu histórico discurso. Recordando-se, ele mesmo se confessou tomado de estranha força exterior: (...) As forças, a coragem, a resolução me vieram, não sei de onde. Vi-me, de pé, com a palavra nos lábios. Mais tarde, em 1921, no célebre discurso de Ruy, conhecido como “Oração aos Moços”, dirigido a uma turma da faculdade de Direito de São Paulo. Foi o mais claro, ao admitir o diálogo entre os mundos corpóreo e o incorpóreo, afirmando: A maior de quantas distâncias logre a imaginação conceber, é a da morte; e nem esta separa entre si os que a terrível afastadora de homens arrebatou aos braços uns dos outros. Quantas vezes não escrevemos, nesse fundo obscuro e remotíssimo, uma imagem cara? Assim, quem ousaria negar que, nestes textos, Ruy não faz uma apologia à vida pós-morte? Fonte: Livro “Chico Xavier Inédito” - psicografias ainda não publicadas 1933-1954 - sob a coordenação de Eduardo Carvalho Monteiro, Edit. Madras.
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Números, em “O Livro dos Espíritos” ADÉSIO ALVES MACHADO Rio de Janeiro-RJ
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oi, porque queria esclarecimento sobre a questão de “O Livro dos Espíritos” ter 1018 ou 1019 perguntas, que nos nasceu a idéia de fazer este levantamento, sobre números, no livro básico do Espiritismo. Primeiro, foi possível constatar o extraordinário trabalho executado por Allan Kardec que, de um modo geral, é sempre visto como aquele que, simplesmente, codificou a Doutrina Espírita, deu a ela uma forma didática ordenada, deixando entrever que tenha sido insignificante a sua participação. Não. Os seus comentários, o encadeamento das perguntas, as análises judiciosas das respostas foi fruto de uma inteligência fecunda, condições de um Espírito de alta envergadura moral, cultural e espiritual. O Codificador − segundo a FEB (Federação Espírita Brasileira) − não teria numerado a pergunta, imediatamente após a 1010, aquela que seria a 1011. Assim sendo, o livro teria 1019 e não 1018. Acontece que a tal pergunta foi elaborada, segundo um mesmo critério que, como todas as demais, também não mereceram numeração. Mas, por quê? Elas deixaram de ser indagações, pelo fato de terem sido feitas por cima de uma anterior? Não ajuizamos assim. No nosso entender todas são perguntas, são indagações elaboradas por uma inteligência de escol, consequência de suas elucubrações preciosas. Além do mais, foram incluídas, como perguntas, as explicações de Allan Kardec sobre a “Escala Espírita”, tema que foi numerado como 100 a 113 e os assuntos constantes sob os números 59, 222, 257, 455 e 872 que são considerações e resumos teóricos formulados pela inteligência interpretativa e brilhante de Allan Kardec, e que foram acolhidas por ele com as seguintes denominações: “Considerações e concordâncias bíblicas concernentes à Criação”, “Considerações sobre a pluralidade das existências“, “Ensaio teórico da sensação dos Espíritos”, “Resumo teórico do sonambulismo, do 26 Tribuna Espírita • julho/agosto • 2015
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êxtase e da dupla vista” e “Resumo teórico do móvel das ações humanas”, respectivamente. Destarte, vamos, mais especificamente, aos números. O livro, dividido em 4 partes, tem no total 1213 perguntas, a saber: na 1ª parte, 75 perguntas, da nº 1 à 75, e 12 subperguntas, somando 87; na 2ª parte, da 76 à 613, temos 538 que, somadas com as 123 subperguntas, chega-se ao número de 661; a 3ª parte tem 306 perguntas, da 614 à 919, e mais 42 subperguntas, totalizando 348, e, finalmente, a 4ª parte, com 100 perguntas, da 920 à 1019, e mais 17 subperguntas, o que é igual a 117. Vamos, pois, à soma dos totais: 87+661+348+117 = 1213 perguntas. São, assim, 1019 perguntas + 194 subperguntas, perfazendo o total de 1213 interrogações. O livro tem uma introdução com 17 itens, trabalho brilhante de Allan Kardec, e, em seguida, o “Prolegômenos”, uma mensagem iniciada por Allan Kardec e finalizada pelos Espíritos Superiores que colaboraram nessa obra ciclópica. Encerrando a obra, Allan Kardec apresenta a “Conclusão”, um trabalho só dele, com 9 itens. Há o que poderíamos chamar de “respostas mensagens”, assinadas pelos Espíritos, como se segue: a 495, por São Luís e Santo Agostinho; as 1004, 1006, 1007, 1008, 1010 e 1019, por São Luís; a 888, por Vicente de Paulo; a 917, por Fénelon; a 919, por Santo Agostinho e a 1009, por Santo Agostinho, Lamennais, Platão e Paulo, o Apóstolo. A maior das perguntas é a 394, traduzida para o português, com 153 palavras, considerando, inclusive, as de uma letra só. A menor é a de nº 1, construída com
três palavras. A maior resposta é a 1009, que apresenta quatro mensagens de Espíritos Nobres, e a participação final do Codificador. A menor é a 625, respondida com uma única e insubstituível palavra: Jesus. Com estes números chegamos à seguinte conclusão: “O Livro dos Espíritos” tem, na realidade, 1213 perguntas; sendo, 1019 numeradas (consideremos a 1011, como, também, numerada); e 194, sem número, as que podem e devem ser admitidas como subperguntas. Das 194 subperguntas, 140 têm, apenas, uma; 23 têm duas; 01 tem três e, também, 01 tem cinco subperguntas, a 236. Estão registradas 187 perguntas, cujas respostas mereceram do Codificador necessárias notas ou explicações, sendo que, nas questões 131, 148, 266, 399, 613, 789, 917 e 957 as explicações ocupam mais de uma página, num puro trabalho e esforço intelectual de Allan Kardec. Muitos outros números poderíamos ter incluído, neste trabalho, mas fiquemos, por enquanto, por aqui. O certo é que o realizamos, sob a necessária e imprescindível assistência dos Espíritos Amigos, porque sabemos que nenhum trabalho que vise sadia utilidade é feito sozinho, na ordem do Universo. O lidar com números é, sempre, susceptível de se cometer enganos. Na parte que podemos considerar como material (localizar e contar perguntas), assumo sozinho a responsabilidade, porque, humano como sou, posso ter tido uma ou outra falha, a qual, caso tenha existido, não inviabiliza o que foi realizado. Não olvidemos, no ensejo, o esquecimento de Allan Kardec de relacionar a pergunta 1011. Qualquer falha que, porventura, for localizada pelo leitor, por gentileza, solicitaria que fôssemos informados. Amemo-nos uns aos outros, como Jesus nos ama. Nota da Redação: O autor já se encontra na Pátria Espiritual.
O
verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a Lei de Justiça, de Amor e Caridade, na sua maior pureza Se interroga a sua consciência sobre os próprios atos, pergunta se não violou essa lei, se não cometeu o mal, se fez todo o bem que podia, se não deixou escapar, voluntariamente, uma ocasião de ser útil, se ninguém tem do que se queixar dele; enfim, se fez aos outros aquilo que queria que os outros fizessem por ele. Tem fé em Deus, na Sua bondade, na Sua justiça e na Sua sabedoria; sabe que nada acontece sem a Sua permissão, e se submete, em todas as coisas, à Sua vontade. Tem fé no futuro e, por isso, coloca os bens espirituais acima dos bens temporais. Sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas as decepções, são provas ou expiações, e as aceita, sem murmurar. O homem possuído pelo sentimento de caridade e de amor ao próximo faz o bem pelo bem, sem esperar recompensa, paga o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte e sacrifica, sempre, o seu interesse à justiça. Encontra sua satisfação, nos benefícios que distribui, nos serviços que presta, nas venturas que promove, nas lágrimas que faz secar, nas consolações que leva aos aflitos. Seu primeiro impulso é o de pensar nos outros, antes que em si mesmo, de tratar dos interesses dos outros, antes que dos seus. O egoísta, ao contrário, calcula os proveitos e as perdas de cada ação generosa. É bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças nem de crenças, porque vê todos os homens
como irmãos. Respeita, nos outros, todas as convicções sinceras, e não lança o anátema aos que não pensam como ele. Em todas as circunstâncias, a caridade é o seu guia. Considera que aquele que prejudica os outros, com palavras maldosas; que fere a suscetibilidade alheia, com o seu orgulho e o seu desdém; que não recua à ideia de causar um sofrimento, uma contrariedade, ainda que ligeira, quando a pode evitar, falta ao dever do amor ao próximo e não merece a clemência do Senhor. Não tem ódio nem rancor, nem desejos de vingança. A exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas, e não se lembra, senão, dos benefícios. Porque sabe que será perdoado, conforme houver perdoado. É indulgente para as fraquezas alheias, porque sabe que ele, mesmo, tem necessidade de indulgência, e se lembra destas palavras do Cristo: “Aquele que está sem pecado atire a primeira pedra”. Não se compraz em procurar os defeitos dos outros, nem a pô-los em evidência. Se a necessidade o obriga a isso, procura, sempre, o bem que pode atenuar o mal. Estuda as suas próprias imperfeições, e trabalha, sem cessar, em combatê-las. Todos os seus esforços tendem a permitir-lhe dizer, amanhã, que traz em si alguma coisa melhor do que na véspera. Não tenta fazer valer o seu espírito, nem os seus talentos, a expensas dos outros. Pelo contrário, aproveita todas as ocasiões, para fazer ressaltar a vantagens dos outros. Não se envaidece, em nada, com a sua sorte, nem com os seus predicados pessoais, porque sabe que tudo quanto lhe
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O homem de bem
foi dado pode ser retirado. Usa, mas não abusa, dos bens que lhe são concedidos, porque sabe tratar-se de um depósito, do qual deverá prestar contas, e que o emprego mais prejudicial para si mesmo, que poderá lhes dar, é pô-los ao serviço da satisfação de suas paixões. Se, nas relações sociais, alguns homens se encontram na sua dependência, trata-os com bondade e benevolência, porque são seus iguais, perante Deus. Usa sua autoridade, para erguer-lhes a moral, e não, para esmagá-los, com o seu orgulho, e evita tudo quanto poderia tornar mais penosa a sua posição subalterna. O subordinado, por sua vez, compreende os deveres da sua posição, e tem o escrúpulo de procurar cumpri-los conscientemente. O homem de bem, enfim, respeita, nos seus semelhantes, todos os direitos que lhes são assegurados pelas leis da natureza, como desejaria que os seus fossem respeitados. Esta não é a relação completa das qualidades que distinguem o homem de bem, mas quem quer que se esforce para possuí-las, estará no caminho que conduz às demais. * (“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. XVII, item 3 – tradução de José Herculano Pires)
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VI Congresso Espírita Paraibano