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VIVADOURO
MARÇO 2020
Destaque
COVID - 19 Texto e Fotos: Carlos Almeida
Vivemos uma situação sem precedentes com a declaração de pandemia pela Organização Mundial de Saúde e o VivaDouro foi à procura de respostas sobre o Covid-19 para lhe esclarecer as dúvidas. Falamos ainda com quatro empresários ligados ao setor do turismo, um dos mais afetados pela atual crise. O que é o novo coronavírus (Covid-19)? Cientificamente chamado de 2019-nCoV, também conhecido como coronavírus de Wuhan, ou mais recentemente Covid-19, trata-se de um vírus de pneumonia que foi detetado pela primeira vez no final do ano passado em Wuhan, na província chinesa de Hubei, que tem mais habitantes do que Portugal inteiro. Não há, ainda, tratamento específico para o vírus, que já fez mais de 4.500 mortos. Pertence à família “coronavírus”, que engloba todos os vírus que estão na origem de várias doenças de cariz respiratório, que vão desde a gripe até à Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) — que, em 2002, fez cerca de 800 mortes, mas foi rapidamente controlada —, ou à Síndrome Respiratória do Médio Oriente (MERS) — que também fez cerca de 800 vítimas mortais, mas da qual ainda hoje se continuam a registar casos. O novo coronavírus é uma nova estirpe que, até agora, não tinha sido detetada em humanos. Os coronavírus são vírus transmissíveis entre animais e humanos: o SARS, também com epicentro na China, era transmitido de gatos selvagens para humanos, e o MERS de camelos dromedários. Há ainda outras estirpes de coronavírus que são conhecidas por circularem entre animais, mas nunca chegaram aos seres humanos. O paciente-zero, Zeng, de 61 anos, foi a primeira vítima mortal desta nova estirpe de coronavírus, que até aqui só tinha sido identificada em animais: nunca tinha sido detetada em humanos. De onde veio o vírus?
Não se sabe. Os primeiros casos de infeções surgiram num grupo de 41 pessoas que tinham visitado um mercado de marisco e animais selvagens em Wuhan, daí que se tenha começado a olhar para o mercado de Wuhan como o epicentro do surto, embora haja outras teorias que duvidam de que tenha sido apenas esse o início da propagação do vírus para humanos. Foi, contudo, a partir desses 41 pacientes iniciais que a comunidade científica começou a sequenciar o material genético do vírus. A informação permitiu descobrir duas coisas: a primeira, que o vírus era muito semelhante ao SARS; a segunda, que era geneticamente parecido a um vírus que existe numa espécie de cobras da China, as Twain, que são muito venenosas, mas com as quais os chineses fazem espetadas. Essas cobras estavam à venda no mercado onde o surto parece ter começado, daí que a comunidade científica tenha começado por fazer essa ligação. Contudo, o aspeto físico do vírus revelouse depois semelhante a um agente infecioso que já tinha sido detetado em morcegos. Segundo a Universidade da China, isso podia indiciar que os morcegos infetaram as cobras e que as cobras, através das fezes, transmitiram o vírus aos humanos pelo ar que circulava no mercado e que os doentes respiraram. A verdade é que havia muitos morcegos e cobras no mercado em questão. A hipótese da cobra, contudo, começou a perder força, mas a do morcego não. O morcego é o que a maioria dos especialistas aponta como fonte primária, já que os genomas do novo coronavírus são 96% iguais aos que circulam no organismo dos morcegos. Não é a primeira vez que estes mamíferos são apontados como “reservatórios naturais” das últimas grandes epidemias. Acredita-se que tanto o Ébola, a epidemia que matou, entre 2013 e 2016, mais de 11 mil pessoas na África Ocidental, como o vírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV) tenham tido também origem nos morcegos. Como é que o novo coronavírus infeta os humanos? O COVID-19 tem uma proteína que, quando se aproxima de uma célula humana, une-se a outra chamada ACE2. Quando isso acontece, o vírus introduz o seu material genético (o ARN) na célula humana, que, confundindo-o com o próprio mate-
rial genético, começa a produzir proteínas virais por engano. Uma vez dentro da célula, o material genético do vírus começa a replicar-se e os novos exemplares ficam encapsulados por uma espécie de “bolsa” proteica — algo que acontece com muita facilidade porque o vírus toma como refém o sistema metabólico da célula para que trabalhe apenas a seu favor. Depois, os novos coronavírus furam a membrana celular e escapam para infetar novas células. A proteína ACE2 existe nos pulmões, rins, coração e intestinos. É a mesma à qual o vírus do SARS se ligava para contaminar os humanos. Mas há uma diferença: o COVID-19 consegue fazer isso com ainda mais eficiência do que o coronavírus de 2003, porque há uma maior compatibilidade entre os aminoácidos que compõem estas proteínas, o que pode justificar a facilidade com que o novo coronavírus se espalha. Que sintomas são mesmo relevantes? Os sintomas mais comuns do Covid-19 são febre, cansaço e tosse seca, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a que a DGS acrescenta ainda a dificuldade respiratória (falta de ar). Muito poucas pessoas espirram ou têm congestão nasal, mas alguns doentes podem ter dores musculares. Apesar disso, a DGS destaca congestão nasal,
dores de garganta e diarreia como possíveis sintomas, lembrando ainda que há pessoas que podem estar infetadas e não desenvolver qualquer sintoma. Os sintomas costumam surgir de forma leve e gradual. Nos casos mais graves, refere a DGS, a doença pode levar a “pneumonia com insuficiência respiratória aguda, falência renal e de outros órgãos, e eventual morte”. As pessoas que cheguem de algum dos locais referidos como focos de contágio, mas que estejam assintomáticas, devem estar, ainda assim, atentas aos 14 dias seguintes, uma vez que podem desenvolver sintomas. Isto porque se estima que o período de incubação — isto é, o tempo entre contrair o vírus e começarem a surgir sintomas — seja de um a 14 dias. No entanto, na maioria dos pacientes, os sintomas aparecem ao fim de cinco dias. A DGS recomenda que a temperatura corporal seja medida duas vezes por dia e que os valores sejam registados. Como devo proteger-me? São várias as recomendações da Organização Mundial de Saúde para agir de forma preventiva face à possibilidade de infeção: • Se visitar mercados de animais, evitar contacto direto com eles e superfícies em contacto com animais;