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funcionam porque não há liderança,

Temos como política não participar nas grandes feiras de vinhos. Se os agentes económicos assim quisessem nós estaríamos, mas neste momento não faz sentido para nós, as nossas marcas de grande dimensão (Murganheira e Terras do Demo) por vezes participam mas como região não temos esse hábito. Optamos por eventos onde estamos sozinhos, somos pequenos, é uma forma de conseguirmos ter algum eco a nível da comunicação social.

Muitas castas às quais as pessoas atribuem um nome regional que não corresponde ao oficial, ou chamando a castas diferentes o mesmo nome. Esse foi o primeiro trabalho, feito em conjunto com os promotores. No fundo, este é um regresso às origens. (risos) É uma região que me diz muito, em 1996 acumulei o serviço da Zona Agrária que envolvia estes concelhos, durante três anos.

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No fundo são 48 anos ligado ao setor vitícola, um período que está a terminar em termos profissionais, mas a iniciar uma nova etapa.

É um desafio novo, uma coisa é trabalhar as questões técnicas, em termos da vinha, e outra é trabalhar as questões da certificação e da promoção.

O que me levou a aceitar este desafio foi também a ligação afetiva que tenho com esta região, como já falei e por ser natural de Lamego.

É um desafio aliciante porque falamos de uma região que é pouco conhecida, mesmo tendo produtos reconhecidos como é o caso do espumante. Até por essa razão a nossa primeira medida foi melhorar a imagem.

Depois foi importante criar também uma marca coletiva, Vinhos e Espumantes do Távora-Varosa, é muito importante. Para mim seria só espumantes, mas o mercado também pede outro tipo de vinhos.

Esse também é o segredo de quem está à frente de uma organização como estas, antecipar aquilo que o mercado quer, certo?

Sim, é um pouco disso. Mas há agentes económicos que produzem vinhos, até porque é por aí que se começa e os espumantes precisam de um maior investi- mento porque exigem um estágio longo em cave.

No seguimento deste trabalho criamos também a Rota dos Vinhos e Espumantes do Távora-Varosa, tem que haver uma imagem só, a palavra já não é fácil mas temos que afirmar a região.

Sendo esta uma região pequena, foi também importante para nós reforçar a cooperação institucional. Trabalhar com as escolas que estão aqui próximas, a ESTGL e a EHTD-L, aliás, foram os alunos destas escolas que entraram no nosso primeiro vídeo promocional. São alunos provenientes um pouco de todo o país e são jovens, aspetos importantes para nós.

Reforçamos também a cooperação com a CIM Douro porque os municípios promovem eventos e isso é importante para nós, são estes pequenos eventos que fazem e divulgam o território.

Temos como política não participar nas grandes feiras de vinhos. Se os agentes económicos assim quisessem nós estaríamos, mas neste momento não faz sentido para nós, as nossas marcas de grande dimensão (Murganheira e Terras do Demo) por vezes participam, mas como região não temos esse hábito. Optamos por eventos onde estamos sozinhos, somos pequenos, é uma forma de conseguirmos ter algum eco a nível da comunicação social.

Assim como também não temos participado em eventos a nível internacional, neste momento ainda não definimos os mercados, tem que ser um passo dado com alguma calma. Estamos já presentes em alguns mercados mas em quantidades muito pequenas, mesmo os nossos agentes económicos só têm resposta para o mercado nacional. Neste momento todas as regiões produzem espumante por isso pode acontecer de ficar saturado e aí temos de apostar fora de portas.

Temos espaço para crescer mais. Temos uma produção média de 55 mil hectolitros, todo este vinho base é potencial espumante. Em 2021,

Já referiu que no ano passado a região registou um aumento de 40% de espumante certificado, há espaço para continuar a crescer?

Sim, temos espaço para crescer mais. Temos uma produção média de 55 mil hectolitros, todo este vinho base é potencial espumante. Em 2021, essa produção foi de 60 mil hectolitros, até ao momento certificamos 25 mil, cerca de metade, por isso o potencial de crescimento é bastante elevado.

Isto tudo deve-se aos agentes económicos que têm vindo a aumentar cada vez mais a sua produção, o que obriga também a maiores investimentos ao nível do armazenamento.

A área de vinha plantada também tem vindo a crescer?

Sim, tem havido um crescimento significativo. Em 1986 tínhamos 3600 hectares de vinha, uma área que decresceu até cerca de 1700 hectares e nos últimos anos já tem vindo a crescer, atualmente temos 2215 hectares.

Com o aumento de custos dos pomares, a falta de mão de obra, e a quebra do rendimento nesta produção, alguns têm vindo a ser substituídos por vinhas, o inverso do que aconteceu antes.

Estas características ajudam a que esta seja uma região unida?

Sim, é uma região onde há um forte trabalho de cooperação. Temos 17 agentes certificados e apenas 6 ou 7 locais de vinificação, ou seja, alguns locais vinificam para dois ou três produtores, este é claramente um sinal de cooperação entre eles.

Aliás, todos os agentes económicos aproveitaram todo o conhecimento e reconhecimento que havia do espumante, fruto de uma empresa, a Murganheira, e de um homem, o Professor Orlando, mesmo a cooperativa começa mais tarde.

Muitas vezes as coisas não funcionam porque não há liderança, aqui isso não aconteceu.

Apesar de hoje em dia a produção de espumante estar disseminada por todas as regiões vinícolas é nas régios do Távora-Varosa e Bairrada que a sua produção é mais importante,

A proximidade geográfica com o Douro, é um fator mais positivo ou negativo para a região do Távora-Varosa?

É uma mais valia, o Douro é sempre uma vantagem, até porque não há um grande histórico de produção de espumantes na região, apesar de já os ter de grande qualidade.

Muita gente que vem ao Douro procura visitar caves de espumante, o que é uma vantagem para nós. Não será por acaso que foi criada, e nós estamos incluídos, a Rota do Enoturismo do Porto e Norte.

No Douro há cada vez mais a queixa de falta de gente, tanto a residir como para trabalhar, é um problema que também afeta esta região?

Sim, também sofremos o mesmo problema, e não é nada fácil de resolver. Cada vez os nossos territórios são de gente mais envelhecida e é difícil mudar isso de um dia para o outro.

Temos que ter bons produtos endógenos e valorizá-los de forma a torna-los num negócio rentável.

Como CVR, o nosso contributo atual é a certificação que estamos a fazer neste momento, de acordo com o Plano Nacional da Sustentabilidade, que no fundo são um conjunto de regras que resultam na obtenção de um selo para que o consumidor saiba que utilizamos as boas práticas agrícolas e ambientais, mas isto só por si não chega, temos que valorizar os nossos produtos, e isso só acontece se trabalharmos em conjunto.

Um dos fatores de atração de mão de obra são os salários, a região paga salários acima ou abaixo da média?

Estas empresas pagam um bocadinho acima da média. São empresas que tiveram sempre uma grande dinâmica empresarial, esta é a nossa realidade. A gestão sempre foi muito especializada com quadros especializados.

Temos a sorte de estar numa região em que o preço médio do espumante é muito acima das regiões produtores, isso para nós é um orgulho e permite libertar mais valias para poder pagar mais. O caminho tem que ser esse.

A própria cooperativa tem sabido no curto prazo aumentar um pouco os preços para fazer face ao aumento de custos. Numa região onde é o principal agente económico isso é fundamental.

Temos que ter engenho e arte para que o preço não baixe e isso não é um desafio muito fácil porque o mercado está a ser inundado de espumante, todas as regiões estão a produzir.

Precisávamos encontrar uma palavra que identificasse o nosso espumante como acontece com o Champanhe ou a Cava em Espanha. Será uma forma de nos diferenciarmos e garantir uma qualidade excecional com espumantes feitos através do método tradicional.

As pessoas estão dispostas a pagar um preço mais alto pelo espumante se tiver grande qualidade e para isso acontecer temos que nos diferenciar.

Têm levado a cabo algumas ações de promoção centradas na ideia que o espumante pode acompanhar toda a refeição, das entradas à sobremesa. Explique-nos melhor este conceito.

Sim, essa é uma ideia que tentamos implementar. Há vários tipos de espumantes, todos eles bruto, mas que em função das castas e do estágio, acabam por ser muito diferentes e passíveis de acompa- nhar qualquer momento da refeição.

É uma iniciativa que já levamos ao Time Out em Lisboa, ao Porto e a Lamego, com ajuda das Escolas de Hotelaria e Turismo, e em breve vamos regressar com esta iniciativa ao Porto, ao Mercado do Bolhão.

Para terminar, a região tem reivindicado a baixa da taxa do IVA para os espumantes. Que argumentos utilizam para justificar este pedido?

Apesar de hoje em dia a produção de espumante estar disseminada por todas as regiões vinícolas é na região do Távora-Varosa e Bairrada que a sua produção é mais importante, por isso entendemos que manter uma taxa diferenciada para este segmento de vinho corresponde a uma discriminação negativa, inaceitável e injustificada, para um elevado número de produtores destas regiões.

Apesar da dinâmica que temos no mercado, o espumante tem ainda uma parcela diminuta no consumo face aos restan- tes vinhos e acreditamos que a taxa do IVA pode aqui ter alguma influência pois mexe diretamente com o preço final do produto.

O que solicitamos é que o espumante seja incluído na Lista II do IVA, alterando a designação de “vinhos comuns” para “vinhos comuns e espumantes”, reduzindo assim a taxa dos 23 para os 13%. Isto iria significar, certamente, um acréscimo no consumo deste tipo de vinho, com um consequente aumento do montante da receita fiscal. ○

Reduzir a taxa do IVA de 23% para 13% era absolutamente fundamental.

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