VivaDouro_ed69_novembro_2020

Page 21

NOVEMBRO 2020 VIVADOURO

21

Penedono

Torto vale prémios internacionais

ro com o azeite, só vão mantendo os olivais porque não gostam de os ver abandonados. A tendência é que a maior parte dos olivais acabe por morrer porque os nossos governos não olham nada para a nossa zona, tratam-nos igual aos olivicultores do Alentejo. Por exemplo, eu tenho 20 hectares e quero comprar um trator, a base para definirem a cavalagem do trator que preciso eles comparam com os terrenos do Alentejo, só que lá os terrenos são planos, aqui são inclinados, se comprarmos um trator pequeno ele muitas vezes nem anda porque não tem força e depois acaba também por haver muitos acidentes como se verifica todos os

anos nestas zonas. Os tratores não são adequados à zona. Não pedimos dois pesos e duas medidas mas deviam ser estabelecidas linhas diferentes para diferentes zonas de acordo com as características de cada uma”. O consumidor também tem vindo a alterar a sua postura procurando azeites de maior qualidade, o problema afirma Manuel, “é que não tem dinheiro para pagar essa qualidade. As pessoas começam a procurar azeites de boa qualidade, é uma mudança que leva tempo mas cada vez mais se nota essa preocupação”. Com a escassez de apoio por parte dos diferente programas ligados à agricultura em geral e à olivicultura mais concretamente, Manuel Abílio garante que o apoio da autarquia penedonense tem sido essencial, em especial para a construção do lagar, uma obra que rondou o investimento de 1 milhão de euros. “O que nos tem valido é a Câmara Municipal, esta obra foi construída com um forte apoio da autarquia. Apesar de termos tido financiamento do PRODER os financiamentos são muito baixos e a autarquia teve aqui um papel muito importante. Esta obra custou cerca de 1 milhão de euros, houve um financiamento de 250 mil euros, o restante foi o município que nos financiou a fundo perdido. Se fossemos pedir dinheiro nunca mais iriamos conseguir pagar isto. A nossa câmara tem-nos ajudado muito e não é só deste mandato, já no mandato anterior assim foi e acredito que no futuro assim continuará a ser. Este produto é uma mais valia para Penedono e a câmara acredita nisso, se não acreditasse também não fazia o investimento que fez. É uma zona muitíssimo boa para o azeite”. No início dos anos 1900, a freguesia do Souto tinha quase mil habitantes, hoje são pouco mais de 300. “As nossas aldeias têm cada vez menos gente, os incentivos são muito poucos ou quase nenhuns”, afirma Manuel. Um dos reflexos da diminuição da população é a forma como os olivicultores gerem a sua produção, se antes vinham à cooperativa para fazer o seu azeite que depois levavam de volta para casa para o venderem diretamen-

te, hoje já não é assim, entregam a azeitona e é a cooperativa que, depois de todo o processo de transformação o comercializa. “Antigamente as pessoas levavam o azeite para casa e vendiam-no com muita facilidade, hoje já não é assim, temos cada vez menos gente aqui à volta e as grandes superfícies comerciais não nos ajudam nesse aspeto, mesmo nós, como cooperativa, não nos compensa vender para as grandes superfícies, pagam ao preço que querem e quando querem e os agricultores não podem viver assim. Por isso é que os olivicultores optam cada vez mais por deixarem aqui o azeite, recebem o dinheiro todo da colheita e não andam preocupados a vender 5 litros aqui e outros 5 ali”. No final do processo de transformação da azeitona em azeite sobram ainda

produtos que podem ser utilizados em diferentes fins, desde logo aquecimento, contudo, mesmo aí Manuel Abílio afirma que o setor já viveu dias melhores. Toda a azeitona é aproveitada. Depois de extrairmos o azeite fica uma massa da qual vamos retirar o caroço que serve para aquecimento aqui da água e ainda vendemos algum para as caldeiras de aquecimento doméstico. Antes ainda vendíamos mais para este tipo de uso mas o Governo criou uma série de taxas que fizeram este negócio diminuir. Nos primeiros anos que laboramos aqui as empresas levavam a massa, pagavam o transporte e ainda nos davam dois euros por tonelada, no ano passado não nos deram nada e ainda tivemos que pagar o transporte daqui para Mirandela, só aí tivemos um custo de 15 mil euros. ▪

> Manuel Abilio, Presidente da Cooperativa dos Olivicultores do Vale do Torto


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.