JORNALISMO CCL TRABALHOS SELECIONADOS
1ยบ SEM. | Sรฃo Paulo
TCCS
20 19
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Reitor: Prof. Dr. Benedito Guimarães Aguiar Neto Vice-reitor: Prof. Dr. Marco Tullio de Castro Vasconcelos Pró-reitora de graduação e assuntos acadêmicos: Profa. Dra. Marili Moreira da Silva Vieira Pró-reitor de extensão e educação continuada: Prof. Dr. Jorge Alexandre Onoda Pessanha Pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Prof. Dr. Paulo Batista Lopes Secretaria de Conselhos Superiores e de Controle Acadêmico: Prof. Dr. Cleverson Pereira de Almeida CENTRO DE COMUNICAÇÃO E LETRAS Diretor: Prof. Dr. Marcos Nepomuceno Duarte CURSO DE JORNALISMO Coordenador: Prof. Dr. Rafael Fonseca Santos CURADORIA Prof. Dr. José Alves Trigo, Prof. Dr. Hugo Harris, Profa. Dra. Denise Paiero, Prof. Dr. Rafael Fonseca Santos
T828t
Santos, Rafael. TCCs selecionados em 2019 / José Alves Trigo, Hugo Harris, Denise Paiero. - 2. ed. - São Paulo, 2019 502 p. : il. ; 30 cm. Inclui bibliografia: p. 431-466
1. Jornalismo. 2. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) . 3. Graduação. I. Paiero, Denise II. Harris, Hugo. III. Trigo. IV, Santos, Rafael. Título. Bibliotecária responsável: Paola Damato CRB-8/6271
CORPO DOCENTE DO CURSO DE JORNALISMO Anderson Gurgel Campos, André Cioli Taborda Santoro, Arnaldo Marcilio Monteiro Lorençato, Carlos Eduardo Sandano Santos, Daniel de Thomaz, Denise Cristine Paiero, Fernanda Mazza Garcia, Fernando de Jesus Giraldo Salinas, Fernando Oliveira de Moraes, Fernando Pereira da Silva, Francisco Redondo Periago, Hugo De Almeida Harris, José Alves Trigo, Lenize Villaça Cardoso, Manoel Roberto Nascimento de Lima, Marcelo, José Abreu Lopes, Marcia de Toni, Marcio Katzulo Juliboni, Mirtes de Moraes, Nancely Huminhick Vieira, Nora Rosa Rabinovich, Patrícia Sheila Monteiro Paixão Marcos, Paula Cristina Bullio, Paulo Rodrigo Ranieri Dias Martino Pinto, Rafael Fonseca, Renato Modernell, Rosana Maria Pires Barbato Schwartz, Thales Waltenior Trigo Júnior, Valeria Bussola Martins, Vanderlei Dias de Souza e Vinicius Prates da Fonseca Bueno.
SUMÁRIO
“TEM MULHER NESSA RODA (?)”
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REPORTAGEM TRANSMÍDIA SOBRE O CORPO FEMININO E A LUTA DAS MULHERES POR ESPAÇOS NA CAPOEIRA ARIOVANIA SOARES PEREIRA DA SILVA
AS VOZES DE OURO: A EMOÇÃO ATRÁS DE UM GRITO DE GOL
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RELATÓRIO DE PRODUÇÃO DO PODCAST SOBRE AS DIFERENTES ESCOLAS E REGIONALIDADES NO RÁDIO PAULISTA E CARIOCA BRUNO RIBEIRO PAGANINI
JORNALISMO DE BABEL: AS FAKE NEWS COMO INSTRUMENTO DE MANIPULAÇÃO POLÍTICA
50
CRISTYAN VINÍCIUS COSTA DA SILVA
AS MANIFESTAÇÕES DA LITERATURA DE CORDEL NA CIDADE DE SÃO PAULO
165
LIVRO-REPORTAGEM “CORDELÍSSIMOS” DIANA CHENG
PRA FRENTE BRASIL, SALVE A BOLA: O FUTEBOL NOS ANOS DE CHUMBO
184
EDUARDO RAMOS DE SOUZA FILHO
MULHERES EM CENA: A PRESENÇA FEMININA NO CINEMA JULIANA BALTAZAR MELGUISO
206
REVISTA ESPORTIVA: EDIÇÃO ESPECIAL TRÊS TOQUES
222
LAÍS CORREIA DE ARAÚJO
HISTÓRIAS (RE)VELADAS: A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA AS MULHERES
236
MARIA BEATRIZ KRUMENERL AVANSO
PLANO DE COMUNICAÇÃO DE AÇÕES ESTRATÉGICAS PARA A TRANSPORTADORA MD EXPRESS
256
MARIANA MELRO SALIM
EURÍCLEDES FORMIGA: O POETA PARAIBANO QUE LEVOU A POESIA DOS CANTADORES PARA OS JORNAIS DE SÃO PAULO
269
MARINA SCHERER FERREIRA
“UM CÁRCERE FAMILAR” A HISTÓRIA FALADA DA FAMÍLIA DE UM EX-DENTENTO BRASILEIRO
285
MARCELO RODRIGUES DOS SANTOS SOUZA
TÊNIS NO BRASIL: PROBLEMAS E PERSPECTIVAS
301
NICHOLAS MONTINI PEREIRA
O ENSAIO SOBRE O RISO: DO JORNALISTA AO PALHAÇO
319
MIRELA PATRICIA LEMOS
PÓS-VERDADE, FAKE NEWS E AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2018 NO BRASIL JOÃO AUGUSTO RODRIGUEZ QUINTINO
337
TEM MULHER NESSA RODA (?) ARIOVANIA SOARES PEREIRA DA SILVA Orientador: Prof. Dr. Hugo de Almeida Haris
RESUMO: Este é um relatório que descreve o processo de produção de uma reportagem transmídia, a qual discutiu as atuais dificuldades das mulheres na capoeira e a busca por direitos iguais nas rodas. Como instrumento de voz, a narrativa online evidenciou casos de discriminação e violência (assédio) e a mobilização feminina por espaços nessa arte. Para tanto, trouxe um ambiente atrativo, interativo e organizado, inspirado no modelo UOL TAB, contendo textos verbais, vídeos, áudios, fotos, gifs e gráficos. A fim de desenvolver esse produto, foi necessário realizar um estudo bibliográfico sobre o conceito de gênero e o controle dos corpos; a mulher na capoeira e suas dificuldades em acessar a roda. Após, uma síntese sobre a chegada da internet; o formato de jornalismo on-line e as diretrizes para se construir uma reportagem digital. Os principais autores utilizados para compreender esses tópicos foram: a historiadora Joan Scott, os pesquisadores Josivaldo Oliveira e Luiz Leal, a jornalista Maria José Somerlate Barbosa, além dos estudiosos José Benedito Pinho e Pollyana Ferrari. Ainda no relatório consta como sucedeu a busca por fontes, entrevistas e a criação do site, baseando-se nos conteúdos estudados. Verificou-se que o meio on-line cumpriu o propósito de destacar os motivos da reivindicação feminina na capoeira. Palavras-chave: Mulheres na capoeira. Capoeira. Transmídia. Jornalismo online. TCC 2019 | 9
ABSTRACT: This is a report that describes the process of producing a transmedia narrative, which discussed the current difficulties of women in capoeira and the search for equal rights in the wheels. As a voice tool, the online narrative highlighted cases of discrimination and violence (harassment) and the feminine mobilization for spaces in this art. For that, it brought an attractive, interactive and organized environment, inspired by the UOL TAB model, containing verbal texts, videos, audios, photos, gifs and graphics. In order to develop this product, it was necessary to carry out a bibliographic study on the concept of gender and the control of bodies; the woman in capoeira and her difficulties in accessing the wheel. After, a synthesis on the arrival of the internet; the format of online journalism and the guidelines for building a digital narrative. The main authors used to understand these topics were: the historian Joan Scott, the researchers Josivaldo Oliveira and Luiz Leal, the journalist Maria JosĂŠ Somerlate Barbosa, besides the scholars JosĂŠ Benedito Pinho and Pollyana Ferrari. Still in the report states recorded how the search for sources, interviews and the creation of the site happened, being based on the studied contents. It was verified that the online medium served the purpose of highlighting the motives of the female claim in capoeira. Keywords: Women in capoeira. Capoeira. Transmedia. Online journalism.
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ACESSO AO PRODUTO ON-LINE
Wix Última data de atualização: 28/05/2019
Youtube Última data de atualização: 29/05/2019
Instagram Última data de atualização: 28/05/2019 TCC 2019 | 11
INTRODUÇÃO Este relatório descreve o processo de produção de uma reportagem transmídia, a qual discutiu as atuais dificuldades das mulheres na capoeira e a busca por direitos iguais nas rodas. Segundo referências utilizadas para esta pesquisa, citadas posteriormente, o processo histórico dessa arte, reconhecida como símbolo de resistência na luta pela liberdade dos negros e descendentes de africanos, escravizados no Brasil, assimilou as desigualdades sociais. Os estudos apontam para um cenário majoritariamente masculino. Sob o conceito de gênero, deu-se a construção da imagem dos corpos, fator que colaborou para a divisão do trabalho social. Por muito tempo, homens ocuparam predominantemente espaços públicos, enquanto às mulheres cabiam as tarefas doméstica e familiar. Esse controle sobre os corpos se refletiu, ainda que de modo particular, nos grupos e relações de poder da sociedade, por exemplo, na prática da capoeira. Vista como uma identidade brasileira, a capoeira se caracteriza por agrupar em seus movimentos e expressões a dança, a luta, o jogo, o teatro e a música. Em 2008, foi registrada como bem imaterial do Brasil pelo IPHAN (Instituto Histórico e Artístico Nacional). Antes de ser admitida como parte da cultura brasileira, era marginalizada e criminalizada pelo Decreto N° 847/1890 (Capítulo XIII), que a via como uma ameaça à segurança, tachando os capoeiristas de vadios e vagabundos. Somente a partir de 1937, no governo de Getúlio Vargas, foi legalizada (DOSSIÊ, 2007, p. 14 e 51). Além de ser censurada pela sociedade, o seu contexto histórico também aponta para o machismo e, consequentemente, traz a discriminação contra a mulher capoeirista. Segundo os autores Oliveira e Leal (2009, p. 117), o aspecto físico foi tomado como critério de diferenciação. Com isso, a atividade era associada exclusivamente ao homem, “por comportar elementos constitutivos da masculinidade, a exemplo do biotipo e das ações de violência física”. Ainda assim, existiam mulheres que disputavam espaços públicos, participavam de rodas e se envolviam em lutas corporais, a fim de se defenderem de ameaças às quais estavam expostas. Jornais locais da Bahia, entre o final do século XIX e início do século XX, como A República, A Semana e A Constituição, escreviam crônicas policiais para denunciarem desordens urbanas e comportamentos ditos como impróprios à mulher, “enfatizando críticas quando ela não seguia o modelo ideal proposto” (Ibid. p. 139). Brigas, discussões nas ruas, golpes de navalhas, cacetadas e pontapés, “eram essas as ‘mulheres de pá virada’ que viviam no universo masculinizado das 12 | TCC 2019
ruas de Salvador, território dos capoeiras” (Ibid. p. 118). Outros fatores dificultaram a inserção da capoeirista. Até 1979 vigorou o Decreto-Lei N° 3.199/1941, que proibia a prática de esportes incompatíveis com o papel da mulher na sociedade. Lutas e outras modalidades ditas para homens poderiam masculinizar o comportamento feminino. Diante disso, segundo Mestre Pirajá¹ (apud PAIVA, 2007, p.101), sua participação era limitada na capoeira, apenas fazia parte do coro e batia palmas, ou seja, não podia treinar os movimentos. A partir do final da década de 1970, cresceu a presença feminina nesta atividade. A reportagem online da Agência Brasil, de julho de 2018, fornece uma estimativa de 35% de praticantes brasileiras. No entanto, não há estudos oficiais que comprovem essa porcentagem. O Correio 24 horas, em março de 2018, trouxe um cenário mais recente, cujas entrevistadas afirmaram ter que reivindicar por respeito e valorização, devido essa arte ainda carregar resquícios da desigualdade de gênero. Essa situação foi relatada em 2005, pela autora Barbosa (p. 21), ao analisar a estrutura hierárquica ou níveis de graduação da capoeira, observou que o número de mulheres diminuía quando elas se aproximavam do título mestre. Diante desse contexto, formulou-se a seguinte pergunta-problema que encaminhou esse trabalho: Como uma reportagem transmídia pode colaborar com o atual debate sobre as dificuldades enfrentadas pelas mulheres na capoeira? O objetivo principal deste projeto foi trazer a narrativa on-line como instrumento de voz que evidenciasse casos de discriminação e assédio nas rodas e a mobilização das mulheres por direitos iguais na capoeira. Como objetivo secundário, pretendeu-se desenvolver um produto transmídia, atrativo e interativo, contendo textos verbais, vídeos, áudios, fotos, gifs e gráficos. O intuito foi criar um ambiente dinâmico e organizado que estimulasse o leitor a navegar pelas histórias de forma independente, dando a ele a liberdade de seguir a ordem dos capítulos. Também respeitar seu tempo de leitura e a necessidade de se encontrar no texto, quando decidisse voltar ao site.
¹Mestre Pirajá – Marcondes Luiz Ferreira da Silva (1948), considerado o mestre mais velho de Recife (PAIVA, p.27). TCC 2019 | 13
O interesse pelo tema se justifica pelo fato de que, embora alguns recentes artigos acadêmicos e matérias jornalísticas falem sobre as mulheres capoeiristas, não há registros aprofundados retratando suas atuais dificuldades nesta atividade. Visto que o feminismo toma mais fôlego, percebeu-se poucos canais de pesquisa e de comunicação abordarem o presente, debruçando-se mais no passado, e quando há conteúdo, está de modo superficial ou com pouco espaço de fala. Portanto, devido aos escassos produtos jornalísticos interessados nessa questão, e como o jornalismo é um agente de discussão social, a proposta foi fomentar debates sobre o assunto, dando a elas um lugar para reivindicarem. Na intenção de apresentar os relatos, preferiu-se pela reportagem transmídia, inspirada no modelo UOL TAB, que intercala texto escrito com materiais audiovisuais. O conteúdo foi desenvolvido no site Wix, estruturando-o em seções, no intuito de oferecer uma nova opção de leitura digital confortável e que suscite a participação do leitor. Como metodologia para desenvolver a narrativa transmídia, houve o estudo bibliográfico sobre o conceito de gênero e o controle dos corpos; a mulher na capoeira e suas dificuldades em acessar a roda. Após, uma síntese sobre a chegada da internet; o formato de jornalismo on-line e as diretrizes para se construir uma reportagem digital. Os principais autores utilizados para compreender esses tópicos foram: a historiadora Joan Scott, os pesquisadores Josivaldo Oliveira e Luiz Leal, a jornalista Maria José Somerlate Barbosa, além dos estudiosos José Benedito Pinho e Pollyana Ferrari. Desse modo, o projeto pôde avançar para a coleta de depoimentos e demais informações necessárias que fundamentassem a reportagem, como a busca por dados estatísticos. Em razão de não ter encontrado uma análise sobre a situação das mulheres na capoeira, foi realizada uma pesquisa on-line, a qual contou com a participação de 39 capoeiristas, menores ou maiores de 18 anos. Os dados foram apresentados em gráficos na reportagem. 1. REFERENCIAL TEÓRICO 1.1 Conceito de gênero e o controle dos corpos A concepção de gênero foi encarregada de direcionar homens e mulheres a determinadas funções. Segundo a historiadora Scott (1995, p. 75), o termo é empregado para indicar “‘construções culturais’ – a criação inteiramente social de ideias sobre os papéis adequados aos homens e às mulheres”. Portanto, uma ordem “imposta sobre um corpo sexuado”. E critica o uso da palavra pelos discursos biológicos, os quais justificam a subordinação 14 | TCC 2019
do feminino perante o masculino, associando o primeiro à reprodução, enquanto o segundo, à força muscular. Para Tiburi (2018, p. 48), esse conceito foi construído pelo sistema patriarcal, que incutiu a ideia de incapacidade para o conhecimento e poder nas mulheres, sustentando a posição do homem nas relações sociais. Quanto a isso, Scott (p.75 e 77) faz outra análise ao termo “gênero”, como legitimação aos estudos feministas na década de 1980. A fim de explicarem as origens do patriarcado, associaram a palavra à “mulher”, ligando-a ao homem. “Essa utilização enfatiza o fato de que o mundo das mulheres faz parte do mundo dos homens, que ele é criado nesse e por esse mundo masculino.” Se essa estrutura diferencia um e outro sobre o critério de sexo, logo há a dominação e controle de corpos. Segundo os autores Oliveira e Leal (2009, p. 137-140), no Brasil, por exemplo, no final do século XIX, a disciplinarização dos corpos, em especial o feminino, foi determinante para a construção da identidade nacional, pautada pelo modelo europeu, excluindo a cultura indígena e africana. “O corpo se expressava no comportamento social e este, para ser aceito, deveria seguir normas específicas.” À mulher (mãe) caberiam diversos atributos que lhe manteria voltada somente para o trabalho doméstico e para os cuidados com sua família; além de ter que ser formosa, deveria ter a fé e a virtude de uma santa, ou de um anjo, que, mesmo sofrendo, precisaria saber consolar todas as dores dos seus familiares. Ela representava o próprio espírito de ordem (em seu comportamento e atitudes) e de economia (função doméstica), dedicada a uma oração contínua que elevaria a sua família a Deus (preocupação religiosa). Dessa forma, ser mulher era assumir qualificações próprias que a diferenciavam do homem. (Ibid., p. 140).
Esse papel era reforçado pela igreja, leis, normas, críticas em jornais e repressão policial, além das próprias mulheres também cumprirem a missão de instruírem umas às outras. A lógica estrutural precisava alcançar as camadas populares, a fim de eliminar comportamentos femininos considerados impróprios ao projeto de Estado. Aquelas que desviassem do modelo exigido, “eram punidas pela legalidade e pela imprensa, que estampava suas vidas, seu cotidiano íntimo e suas tensões para o público, que julgava e tecia opiniões sobre a conduta das(os) envolvidas(os)” (MATOS apud OLIVEIRA; LEAL, 2009, p. 159).
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1.2 Mulher na capoeira e as dificuldades em acessar a roda Para as mulheres das camadas populares, viver no modelo ideal proposto era conflitante, devido às condições socioeconômicas. Por isso, conforme ainda explicam Oliveira e Leal (p. 120), apesar de a rua configurar como um espaço predominantemente masculino, no início do século XX, era possível encontrá-las trabalhando, ora como costureiras, floristas, modistas, ora vendendo quitutes e refrescos. Estas trabalhadoras desafiavam as leis de domesticação do corpo feminino. Por circularem em ambientes públicos, algumas se envolviam em brigas e discussões. Na cidade de Salvador, havia as que se relacionavam com capoeiristas, aprendendo as técnicas da arte-luta para se defenderem de seus parceiros ou, até mesmo, travarem competições entre elas (Ibid., p. 120-136). [...] a convivência com os capoeiras poderia representar para elas a própria aprendizagem das habilidades com o corpo e da utilização de instrumentos de capoeiragem. Era desse modo que se formava a mulher capoeira, especialmente no uso que fazia do próprio corpo. Bem longe do modelo de comportamento feminino ideal que lhe era proposto. (Ibid., p. 160).
No entanto, essa atividade era destinada ao homem, sob o argumento de constituir força muscular e comportamento agressivo, o que reduzia o papel da mulher nas rodas. Outros fatores também dificultaram a presença feminina na capoeira. No processo de descriminalização dessa arte, iniciado em 1937, veio o Decreto-Lei N° 3.199/1941, cujo artigo 54 dizia: “Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza [...]”. Modalidades ditas para homens, como luta e futebol, poderiam masculinizar o comportamento feminino. O decreto foi derrubado com a Deliberação n° 10, em 1979. Até esse período, observa-se pouca participação feminina na história da capoeira ou, conforme acautela a autora Maria José Somerlate Barbosa (2005, p.10), escassos registros que comprovem sua baixa ou grande presença nessa arte: Seria arriscado e impróprio tanto simplificar a contribuição feminina, reduzindo-a a umas poucas capoeiristas, como assegurar que um número significativo de mulheres tenha participado ativamente das rodas ou do jogo 16 | TCC 2019
antes dos anos 70, pois não há suficiente documentação escrita para que se estabeleça qualquer um dos dois argumentos.
Cantigas, dados policiais e relatos de mestres são alguns meios de informação que atestam a existência dessas mulheres. Porém, muitas são descritas sob pseudônimos, como é o caso de Salomé e de Cattú, esta última também intitulada de “Mulher Perigosa” ou de “Antônia de Tal” (OLIVEIRA e LEAL, 2009, p. 117-160). A difícil identificação, em parte, justifica-se porque na época a atividade era condenada pelo Código Penal, o que motivava os capoeiristas a empregarem apelidos para não revelarem seus nomes (BARBOSA; et al., 2012, p.7). Após a legalização e o reconhecimento da capoeira, como parte da cultura nacional, ainda é possível verificar a influência histórica nessa atividade, que concentrou a figura masculina nas rodas. No artigo de Somerlate Barbosa (2005, p.11), o mais completo estudo encontrado sobre o atual cenário da mulher nessa luta, pontua os anos de 1980 como o período em que elas começam a ficar mais ativas em grupos e academias. Segundo a autora (p.14), embora não diretamente, essa situação ocorreu por influência do feminismo, que “legitimou a reivindicação de igualdade entre os sexos, deu impulso a vários debates sobre paridade de gêneros e garantiu novas propostas de vida para as mulheres”. Outro meio estimulou, e estimula, a entrada de participantes nos grupos: a Internet. Essa ferramenta facilita “na divulgação da capoeira e, por extensão, na participação feminina, pois tem ajudado muitas mulheres a ver que o jogo/luta/dança/ritual já se tornou prática comum em várias partes do mundo para ambos os sexos” (p.16). Porém, em sua pesquisa de campo, verificam-se a violência física e psicológica no jogo, na tentativa de afastar ou incitar medo às capoeiristas. A discriminação também aparece escondida, “por isso, até mais perigosa. Refiro-me às atitudes de condescendência e de falsa proteção existentes nas rodas e nos círculos de capoeira em que se exclui a mulher, usando-se um cavalheirismo exagerado” (p.18). A autora (p. 19-20) lembra que a formação dos mestres, a maior autoridade na roda, ocorreu nos preceitos da sociedade patriarcal. Desse modo, há quem ainda enxerga esse espaço como de domínio masculino e, por isso, direciona uma preferência aos rapazes, instigando-os a darem continuidade a esse legado. TCC 2019 | 17
Em suas visitas e coleta de depoimentos, Somerlate Barbosa percebeu que as aulas iniciantes contam com quase o mesmo número de moças e rapazes. Porém, em grupos avançados, eles são maioria, ou seja, “são poucas as mulheres que conseguem chegar a altos níveis”. Devido à defasagem, “não é surpreendente que elas estejam definindo seu espaço dentro do universo da capoeira” (p.21). 1.3 Jornalismo e a construção da reportagem on-line Quando o Brasil se conectou à rede mundial de computadores, em 1990, a ARPAnet era encerrada para dar lugar à Internet. Segundo José Benedito Pinho (2003, p. 41), trata-se de um conjunto de redes de computadores conectados, em diferentes lugares, com o intuito de compartilhar informações. Um ano depois, surge uma das principais criações que trouxe mudanças à comunicação: a World Wide Web (WWW), desenvolvida pelo engenheiro Tim Berners Lee. Conforme descrições de Pinho (p. 33), é “um modo de organização da informação e dos arquivos na rede”. Com a WWW, aparece o jornalismo on-line, revistas e jornais migram para a rede mundial e passam a se adaptar ao meio. Jonathan Dube (apud FERRARI, 2010, p.51), editor e publisher do Instituto Americano de Imprensa, afirma que “a web introduziu aos jornalistas novas formas de escrever”. Isto porque, além do texto, é possível adicionar e combinar diferentes mídias, como vídeo, áudio, animação, gráficos, entre outros recursos. Essa estrutura é dada pelo hipertexto e hipermídia. Sobre a primeira, segundo Pollyana Ferrari (p.44), entende-se como “um bloco de diferentes informações digitais interconectadas”, por meio de links ou elos associativos, que “consegue moldar a rede hipertextual”, deixando o usuário traçar a própria leitura. Já a hipermídia, de acordo com Sérgio Bairon (2011, p. 7-8), é um conjunto de “imagens (fixas ou em movimento), textos e sons que sustentam o conteúdo exposto” no mesmo ambiente. Em sua análise, Pinho (2003, p. 50-55) também cita o rompimento com a linearidade como uma das diferenças entre a Internet e os meios tradicionais. Por não impor uma sequência predeterminada das informações, permite ao usuário se movimentar ou saltar “entre os vários tipos de dados de que necessita”. Há outros aspectos: instantaneidade e acessibilidade, pois a velocidade concede imediato consumo ou transferência de dados, dispondo-os por um longo período. E a interatividade, para o autor, “o conteúdo on-line que não ofereça um padrão mínimo de interação tem pouco valor para o usuário e inibe a compreensão da mensagem”. 18 | TCC 2019
Um estudo do instituto norte-americano Poynter mostrou que 75% dos artigos on-line são lidos na íntegra, percentual muito superior ao dos veículos impressos, em que não mais que 25% dos textos são lidos inteiros. Isso ocorre porque o leitor impresso não realiza nenhuma tarefa para chegar até o final da reportagem, enquanto o leitor on-line precisa clicar e escolher o que quer ler. (FERRARI, 2010, p. 55).
Por isso, Ferrari (p.52 e 54) diz que “os jornalistas on-line precisam sempre pensar em elementos diferentes e em como eles podem ser complementados”, além de se atentarem ao “empilhamento de informações”, problemas enfrentados em sites jornalísticos. Segundo ela, “o leitor [...] normalmente visita uma vez por dia um site noticioso”, se os elementos forem dispostos dessa maneira, parecerá que a reportagem está “um tanto enlouquecida”, o que dificulta na assimilação do conteúdo. Quanto ao modelo de escrita, a autora sugere (p. 54) o recurso narrativo, ou “ir ponto por ponto; ou simplesmente continuar o texto no formato pirâmide inversa. Isso permite ao jornalista telegrafar as informações mais importantes e ainda assim conseguir escrever do jeito que quer”. Sobre os recursos de mídia, Ferrari (p. 52) sugere disponibilizar a gravação de áudio da entrevista, a fim de que todos tenham acesso a “elementos como a tonalidade da voz e as sensações do entrevistado”. [...] o jornalismo digital diferencia-se do jornalismo praticado nos meios de comunicação tradicionais pela forma de tratamento dos dados e pelas relações que são articuladas com os usuários. Por sua vez, sendo a Internet uma mídia bastante distinta dos meios de comunicação tradicionais – televisão, rádio, cinema, jornal e revista –, o jornalismo digital deve considerar e explorar a seu favor cada uma das características que diferenciam a rede mundial desses veículos. (PINHO, 2003, p.58).
No estudo sobre as formas de estruturar o texto no site, Radfahrer (apud PINHO, p. 172) traz a composição alinhada à esquerda como melhor escolha à leitura, pois acompanha a direção dos olhos, os quais “marcam uma margem, leem a linha inteira de texto e pulam até a linha de baixo”. No
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que diz respeito às fontes para web, “Georgia foi percebida pelos usuários como mais fácil para ser lida, mais definida e ainda mais legível” (cf. Bernard e outros apud PINHO, p.177). 2. DESENVOLVIMENTO DA PEÇA 2.1 ORIGEM 2.1.1 Definição do tema O tema surgiu no segundo semestre do curso de jornalismo, em 2016, quando realizei um pequeno projeto à disciplina de Fotojornalismo sobre a capoeira. Naquela ocasião, a proposta era mostrar os movimentos e as regras do jogo em um produto audiovisual, composto por foto e áudio. Na entrevista, ao explicar o que era capoeira, uma das integrantes do grupo citou, brevemente, as dificuldades das mulheres do passado em acessar essa luta. Por não ser o objetivo da matéria, guardei o assunto para outra pauta. Depois de finalizar a atividade, fui convidada a fotografar dois eventos da escola, oportunidades de vivenciar as rodas. Nesses encontros, observei a maior presença de homens na bateria e no jogo; além disso, só tinham me apresentado mestres de capoeira. Logo, cogitei levar esse tema para o TCC, a fim de discutir o atual cenário das mulheres, o porquê de terem menos representatividade em uma arte símbolo de resistência, cujo preconceito e discriminação são contraditórios com a sua proposta. Novamente, engavetei. Vieram as aulas das professoras Dra. Mirtes de Moraes e Dra. Rosana Schwartz, sobre gênero e cultura brasileira. Tomei gosto pela matéria e passei a ler artigos e livros relacionados ao feminismo e à divisão de papéis na sociedade. Nesse período, comecei a me envolver com a militância feminista, indo a algumas manifestações. Foi quando apareceu a palavra “luta”, que me lembrou “capoeira”. Somado ao interesse pela cultura e feminismo, havia o desejo de terminar o curso retratando mulheres nos ofícios da arte, porém, longe dos lugares já esperados, como balé e teatro, os quais, aliás, experimentei por muito tempo. Alimentada com essa ideia, no sexto semestre, nas aulas de projeto, retomei a pauta “Mulheres na capoeira”. Para mim, o tema conseguiria transmitir e valorizar o significado de “luta” pela igualdade de gênero. 2.1.2 Definição da peça A peça passou por mudanças. Inicialmente, a ideia era produzir um livro fotográfico, contendo perfis das capoeiristas. No entanto, percebi que 20 | TCC 2019
esse material não seria suficiente para a minha proposta: dar a elas um lugar de fala. A reportagem exigia, além da escrita e foto, áudio e vídeo, recursos capazes de evidenciar a música, movimentos do jogo e trazer, literalmente, as vozes dessas mulheres. Isto porque, conforme referências citadas anteriormente, existem poucos registros sobre as capoeiristas do passado e, quando encontrados, são homens falando delas e por elas, seja por meio de boletins policiais, jornais, cantigas e relatos de antigos mestres. Também descartei o documentário. Pelo tempo ser restrito, fiquei com receio de não conseguir dar a elas o espaço desejado. Somado a isso, ainda tinha interesse pela fotografia e escrita. Mas outros fatores me levaram à escolha da peça: primeiro, notei a importância de esse projeto alcançar as rodas de capoeira, ou seja, realmente ser um agente de discussão sobre os anseios dessas mulheres, e não ficar restrito ao espaço acadêmico, somente como exigência para a conclusão do curso. Segundo, a impressão de livros é cara, o que inviabiliza a intenção de levar esse assunto para o maior número de pessoas. Por esses motivos, a fim de trabalhar a diversidade de materiais e permitir que a reportagem esteja mais acessível, preferi a plataforma on-line. No início, pensei no Medium, por trazer uma boa experiência de leitura, mas percebi que os recursos de design são limitados. Posteriormente, lembrei-me do Wix, por já tê-lo utilizado anteriormente, a ferramenta fornece diferentes layouts e mais opções de edição. Pelo fato de estar familiarizada, escolhi esse site para montar a peça. Complementando a plataforma, aloquei depoimentos no YouTube (vídeo) e Instagram (foto e legenda), relacionando-os ao site. 2.2 AÇÃO 2.2.1 A busca por fontes, entrevistas e coletas de materiais Inicialmente, decidi que apenas traria mulheres à reportagem, devido ao histórico de exclusão das capoeiristas e a falta de documentos que lhes dessem um lugar de fala, sempre retratadas pelo olhar masculino, conforme referências bibliográficas. Além disso, somente elas conseguem expressar as discriminações que sofrem nesse espaço. Contudo, no decorrer do processo de entrevista, complementei a matéria com depoimentos de dois mestres. Ao notar a influência deles nesse meio, como a de Antonio Carlos, um dos idealizadores do Coletivo Mulheres da Garoa, e Gildasio Pereira, mestre da personagem Danieli Andrade, quis trazê-los ao debate, os quais TCC 2019 | 21
ajudaram a evidenciar o machismo. Quanto ao local, escolhi trabalhar as rodas do estado de São Paulo. Apesar de a Bahia ser referência, não cogitei por ela, desde a concepção do projeto. Isto porque se caracteriza como um lugar de estudo já esperado. Ao retomar as minhas prioridades, quis fugir de estereótipos e explorar outros ambientes, onde também existe a capoeira. Entretanto, a personagem Danieli trouxe sua experiência com uma roda de Salvador, alegando ser majoritariamente masculina e de difícil acesso. Por fim, compromissos no emprego e questões financeiras impediriam a viagem. Já com a pauta pronta, fui buscar as vozes desejadas. Necessitava de mestras, para falar do passado, e de jovens, que detalhassem o presente. Não foi difícil achá-las. Desde 2016, quando fiz o trabalho de fotojornalismo, continuei em contato com a escola onde havia realizado aquele projeto. Essa proximidade me permitiu chegar às futuras fontes. Um dos colegas capoeiristas me indicou a Mestra Mara, Siomara Sousa Santos. Outra fonte de busca foi o artigo da jornalista Maria José Somerlate Barbosa (2005), que me fez compreender o atual cenário da capoeira e trouxe Rosângela Janja Costa Araújo, a Mestra Janja. As redes sociais também agregaram nessa pesquisa, especificamente o Facebook, pois muitos contatos foram feitos via Messenger. Danieli Andrade Santos, a primeira a receber o convite, aceitou rapidamente a proposta. Agendamos uma conversa para o dia 29 de agosto de 2018, a qual foi fundamental na descoberta de outras fontes. Historiadora, ela me ajudou a entender o contexto histórico e indicou o Coletivo Mulheres da Garoa, especificamente Polyana Felix e Antonio Carlos. Naquela ocasião, Danieli estava no intervalo de trabalho, então apenas fiz anotações. A partir daquele dia, passei a acompanhá-la nas rodas. Ela me informava as datas dos encontros do Coletivo e demais ações femininas que participava. O diálogo passou a ocorrer via WhatApp, outra ferramenta de comunicação utilizada com todas as fontes. Em 29 de setembro de 2018, pela primeira vez, fui à reunião das mulheres capoeiristas: o 8° Encontro Feminino Capoeira Filosofia. Levei tripé, câmera Canon T5i, lapela, caderno e caneta, materiais que me acompanharam em todas as entrevistas. Entretanto, não consegui interrompê-las, por causa da agenda de palestras e aulas. Mas ao escutar os relatos, aprimorei as perguntas e comecei a estruturar a reportagem online, indicando os assuntos que seriam interessantes levar ao site. Também foi a oportunidade de filmá-las e fotografá-las. As fotos de Danieli, bem como os gifs dos instru22 | TCC 2019
mentos que aparecem na entrada dos capítulos (Des)Estímulos I e II, foram produzidos nesse dia. Acompanhei Danieli em sua formatura e nos encontros do Coletivo, mas apenas consegui gravar seu depoimento em 22 de dezembro de 2018, em sua casa, na cidade de Mauá. O longo contato foi importante, por ela se sentir confortável para conversar, me forneceu bastante material. Nesse dia, falei com Mestre Gildasio. Também via Facebook, enviei um convite às mestras Siomara e Janja. Com Mestra Mara, a visita aconteceu em Guarulhos, no dia 22 de setembro de 2018. Por meio dela, conheci Ana Paula, cuja entrevista ocorreu em 23 de outubro de 2018, no mesmo local. Nessas duas ocasiões, realizei um ensaio fotográfico e filmei a aula. Com relação à Rosângela Janja, não esperava que a conversa vingasse. Isto porque ela mora na Bahia e vem a São Paulo em datas específicas, seja para visitar sua escola ou realizar palestras acadêmicas. Coincidentemente, entrei em contato no período em que Janja viajava para a capital paulista. A conversa se sucedeu no dia 31 de outubro de 2018. Historiadora e mestra, ela enriqueceu a reportagem com falas impactantes, as quais destaquei no site. Mas não consegui muitas imagens. Pedi permissão para filmá-la e fotografá-la com os alunos, no entanto, não deixou. Apenas autorizou a gravação de áudio e fotos individuais. Nesse dia, esqueci-me de pedir para assinar o termo de cessão de uso de imagem e som. Mais uma vez, a sorte veio no dia 21 de janeiro de 2019. Aproveitei para confirmar dados e pegar sua assinatura. No final do ano de 2018, conheci o Coletivo e, consequentemente, Polyana e Carlos, os idealizadores do projeto. Passei a acompanhar o grupo nas redes sociais e, quando voltaram às atividades, frequentei treinos e ensaios. A entrevista com eles aconteceu no dia 4 de dezembro de 2018. Preferi utilizar a gravação em áudio, assim como ocorreu com Janja e Danieli, esta última, ao se sentir confortável, autorizou a captação em vídeo. Isto porque, ao ligar a câmera, percebi que algumas fontes demoravam a se soltar, enquanto ao gravar apenas suas vozes, o diálogo fluía. Devido à falta de dados que fundamentassem a reportagem, em outubro de 2018, realizei uma pesquisa on-line, a fim de saber quais eram as dificuldades enfrentadas nas rodas. O estudo durou até fevereiro de 2019 e contou com a participação de 39 mulheres, de diferentes idades. Além disso, alcançou uma pessoa da cidade de Teresina (PI) e Belém (PA). O formulário foi divulgado em grupos de capoeira, via Facebook, inclusive no TCC 2019 | 23
Coletivo Mulheres da Garoa. 2.2.2 Estrutura da reportagem on-line e redes sociais A estrutura do site foi inspirada nos modelos de reportagens do UOL TAB, que são interativos e atrativos, compostos por diferentes materiais, os quais se apresentam intercalados: vídeo, texto escrito, gifs, fotos etc. Além disso, o ambiente fornece uma boa experiência de leitura, sem propagandas ao lado ou em cima do conteúdo. No entanto, ao refletir sobre o problema do “empilhamento de informações”, observado por Ferrari (2010), não achei viável utilizar a barra de rolagem contínua. Quando idealizei o site, comecei a me preocupar com o leitor e a quantidade de dados. São muitos vídeos, áudios e fotos, além do texto somar mais de 48 mil caracteres. Ainda, um estudo citado pela autora diz que o leitor entra uma vez por dia em um site de notícias, e se o conteúdo estiver bagunçado, ele terá dificuldades em assimilá-lo. Surgiu-me, então, a ideia de organizar a reportagem em capítulos, a qual também partiu de uma experiência pessoal: por não ter tempo para ler, de uma única vez, grandes reportagens digitais, ao querer retomar a leitura, sinto dificuldades de me encontrar no texto. Além disso, a barra de rolagem contínua, em matérias enormes, causa-me a sensação de não ter fim. Nesse intuito de propor um produto que respeite o ritmo de leitura, aliada à necessidade de organizar o conteúdo, decidi fragmentar a reportagem em temas. Os assuntos se relacionam e, ao mesmo tempo, são independentes, o que dá ao leitor a liberdade para seguir a ordem proposta ou selecionar o capítulo desejado. Para guiá-lo, destaquei links internos e externos, trazendo referência a algo que deseje se aprofundar. Esses links se abrem em outra página, justamente para não tirá-lo do ponto de leitura. Quanto ao foco narrativo, utilizei a primeira e, principalmente, a terceira pessoa, na intenção de dar direcionamento a alguns fatos e estabelecer relações com o leitor. Conforme citações feitas, anteriormente, pelos autores Pinho (2003) e Ferrari, o jornalismo on-line rompe com os modos tradicionais impressos, deixando o autor escrever do jeito que desejar. Durante a construção de cada texto, para cada capítulo, senti a necessidade de descrever algumas cenas sob o meu ponto de vista, a fim de levar o leitor aos bastidores da entrevista. Também há declarações, em primeira pessoa, feitas pelas personagens. Por exemplo, Ana Paula detalhou, no final do capítulo (Des)Estímulos I, como conheceu Mestra Mara. Essa intenção de mesclar os dois ângulos narrativos veio com O ribeirinho e a 24 | TCC 2019
tartaruga, de Eliane Brum, a qual me mostrou que é possível o jornalista se colocar, em alguns momentos da reportagem, sem se sobrepor às histórias. Sobre os recursos de linguagem, João do Rio, em A alma encantadora das ruas, me estimulou a personificar a capoeira. Em A Capoeira, do primeiro capítulo Vamos vadiar!, trago-a como uma mulher. Por meio disso, consigo associar a discriminação dessa arte com a das mulheres daquele período: ambas proibidas de acessar o espaço público, além de serem repudiadas ao carregar comportamentos ditos masculinizados. Já o áudio foi um bom elemento na reportagem (indicação de Ferrari), cujo leitor pôde conhecer a voz e as sensações das entrevistadas. Na formatação dos textos, com o objetivo de proporcionar melhor leitura, foram utilizados a fonte Georgia e alinhamento à esquerda, segundo orientações encontradas no livro de Pinho. Para ajudar com algumas artes, convidei dois amigos, homens, Reno e Fernando. Não foi proposital, são pessoas muito próximas das quais já conheço seus trabalhos. Porém, percebi que isso agregou ao intuito da reportagem, de gerar discussão sobre o assunto. Ambos nunca refletiram sobre a existência da mulher na capoeira, tampouco, as discriminações enfrentadas por ela. Polyana Felix, uma das entrevistadas, disse que, para a mudança ocorrer, é necessário trazê-los ao debate. Disponho da mesma opinião. Encomendei a “capa” no formato gif, a animação foi espelhada no vídeo que gravei e utilizei no último capítulo: Por sororidade e direitos iguais. O objetivo foi atrair o leitor para dentro da roda, pois de fora não se sabe a realidade, apenas se vê a beleza do jogo. Por isso, coloquei o ícone “entre”. Os pontos de interrogação no meio da roda aludem ao título da matéria “Tem mulher nessa roda (?)”. Esse recurso pode sugerir uma afirmação ou questionamento, cabendo o leitor tirá-lo dos parênteses ou enxergá-lo na arte. Também solicitei o gif sobre assédio sexual, apenas com palavras surgindo no fundo preto, com o objetivo de impactar. E pedi a eles a criação do logo e das artes, tanto dos instrumentos musicais quanto das inseridas nos vídeos. A minha intenção foi deixar a reportagem autêntica. Já os demais materiais foram captados por mim, durante as visitas e entrevistas. Por exemplo, fotografei, com o celular, berimbaus pendurados em uma das academias que visitei. Após, apliquei o filtro caricatura. Essa imagem abre o primeiro capítulo. Ainda, utilizei o celular para gravar as rodas de capoeira, isto porque a câmera Canon T5i é pesada e, devido ao número de pessoas nos encontros, TCC 2019 | 25
estava difícil manuseá-la para as gravações em vídeo. Deixei para a câmera a função da fotografia, enquanto o celular ficou responsável por registrar os movimentos. Os vídeos foram alocados no YouTube e inseridos à reportagem. Optei em disponibilizar trechos inteiros de alguns momentos dos encontros, dando a liberdade ao leitor, segundo seus interesses, em assisti-lo ou não por completo. Quanto às cores do site, assim como nas demais artes encomendadas, estão nas tonalidades das cordas de capoeira, penduradas nas paredes de muitas escolas que visitei. Sobre os gráficos, foram criados por mim no site Piktochart e animados com os recursos do Wix.com. Além das fontes mencionadas anteriormente, também entrevistei outras mulheres e considerei levá-las à reportagem. Mas como o texto já estava estruturado para os outros personagens, resolvi direcioná-las ao Instagram, junto às fotos ainda não aproveitadas. Nesse ambiente complementar, também há frases e histórias das mulheres que estão no site. Alguns relatos aparecem em primeira pessoa, no intuito de o leitor incorporar-se à fala da personagem, instigando-o à empatia. O formato foi inspirado no perfil Humans of New York, que traz fotos e aspas das ruas de Nova York, iniciativa do fotógrafo Brandon Stanton. CONSIDERAÇÕES FINAIS Idealizei um grande projeto que não carregava somente texto verbal, vídeo, foto, áudio, gráfico e gif, mas vidas. Histórias de mulheres que, ironicamente, sofrem discriminações e violência em uma arte de resistência, desenvolvida sob um contexto preconceituoso e excludente. A palavra luta tomou dois sentidos: o físico, de corpos em ação, e o ideológico, de não ceder, manter-se firme na busca pelos direitos iguais nas rodas. Ao imergir nos relatos de cada mulher, percebi o quão difícil seria escrevê-las, principalmente após ver algumas lágrimas, refleti que antes de serem meus “objetos” de pesquisa, são pessoas. Lembrei-me das aulas de Práxis de Jornalismo, do desafio em assumir a responsabilidade por cada palavra e pontuação na reportagem; da escolha do ângulo e dos meios onde seriam expostas, além de ponderar o limite da apuração: até onde ir em busca por materiais? Coloquei o respeito à frente. Quando Mestra Janja disse que não poderia filmar sua aula, consenti. Seus movimentos foram eternizados em palavras, cabendo ao leitor visualizá-los. Para trazê-las à frente de seus propósitos e longe de qualquer argumento que pudesse sobressair-se ao objetivo da reportagem, preferi não evidenciar o relacionamento entre Danieli Andrade e Gildasio Pereira, tam26 | TCC 2019
pouco de Polyana Felix e Antonio Carlos. Se o leitor ativer aos pormenores, como fotos, vídeos e a aproximação das personagens, conseguirá deduzir; no entanto, não quis despertar esse pensamento. A proposta do projeto foi colaborar com o atual debate sobre as dificuldades enfrentadas pelas mulheres na capoeira. Para tanto, trouxe suas vozes em diferentes mídias digitais, acessíveis e de rápido consumo, que permitem que o conteúdo permaneça exposto por um longo período. Assim, o meio on-line satisfez o meu objetivo de dizer os motivos pelos quais elas reivindicam por respeito e espaços na capoeira. Deixei-as falarem, pois entendo meu papel como intermediadora: evidenciar e suscitar discussões. A busca pelas fontes ocorreu tranquilamente. Não houve resistência, pelo contrário, muitas quiseram participar, inclusive, elogiaram o tema, o que mostra a necessidade do assunto. Durante a construção da pauta, senti falta de estudos atuais sobre as mulheres na capoeira. Por causa do histórico de exclusão, observam-se artigos garimpando o passado. Ainda não houve interesse em levantar uma estatística oficial sobre o número delas em grupos ou escolas no Brasil, há apenas estimativas pouco fundamentadas. Por isso, para a reportagem ser escrita, fiquei dependendo de informações advindas das entrevistas e do formulário on-line que disponibilizei. Novamente, por compreenderem a importância do assunto, elas colaboraram bastante. Para a minha surpresa, a pesquisa que se desenrolava em São Paulo abraçou capoeiristas de outros estados. Em um balanço, aproveitei quase 90% de todo o conteúdo coletado. O que não entrou no site, integrou-se no Instagram. O segundo desafio foi estar à frente da produção. Atuei em todo o trabalho e me senti capaz de criar e dirigir. Nas gravações de depoimentos, por exemplo, apesar de ajustar o enquadramento e posição da entrevistada, ao conduzir a conversa, havia a preocupação de monitorar a câmera, a fim de checar se o foco permanecia. Outra atividade que testou, e sempre testa meus conhecimentos, é a fotografia – pela qual sou apaixonada. Dessa vez, estava diante de movimentos rápidos e meu intuito era congelá-los. Alguns cenários não favoreceram o registro. Contudo, senti-me realizada com os resultados. Filmar rodas de capoeira com a Canon T5i foi impossível. O celular se mostrou mais adequado, por ser leve e conseguir ter brechas em ambientes com muitas pessoas. Apenas o áudio oscilou em algumas gravações, mas isso não comprometeu a finalidade de mostrar o contexto dos treinos, ensaios e, posteriormente, do evento. TCC 2019 | 27
Quanto à diagramação do site, as referências bibliográficas sobre hipertexto e hipermídia e de jornalismo digital foram essenciais nesse processo, pois deram as diretrizes que suscitaram para o modelo que construí. A plataforma Wix também ajudou, ao fornecer diversas opções de edição e layout, consegui concretizar o que planejei. Porém, na versão mobile, que já tende a ser resumida, o site ficou limitado. As ferramentas Wix não têm recursos interativos satisfatórios aos dispositivos móveis. Por isso, para ter melhor experiência e ver o conteúdo completo (algumas imagens ficaram ocultas), é necessário o leitor acessar a reportagem pelo computador ou notebook. Para desenvolver e arranjar a escrita no site, lembrei-me dos conteúdos tratados nas disciplinas de Jornalismo Digital e Narrativas transmidiáticas, Hipertexto e Hipermídia, Grande Reportagem, Cibercultura e Construção de Narrativas. Isso me estimulou a construir um material rico em detalhes e que aproximasse o leitor dos depoimentos. Considero que a escolha pelo tema e pela peça foram muito felizes. A pauta “Mulheres na capoeira” me revelou outras potentes discussões visíveis em todas as rodas, não só dessa arte como também de outros grupos sociais. Cada fase da pesquisa me fez perceber a importância de o jornalismo estar em todos os lugares, promovendo discussões capazes de transformar ou instigar a reflexão na sociedade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS² BARBOSA, Christiane Jaroski; LEMOS, Natália Wildner de; et al. A capoeira e sua linguagem de expressão. Revista e-Ped – FACOS/ CNEC. Vol.2 – n° 1 – Ago de 2012, p. 06-17 – ISSN2237-7077. Disponível em: <http://facos.edu.br/publicacoes/revistas/e-ped/agosto_2012/ pdf/a_capoeira_e_sua_linguagem_de_expressao.pdf>. Acesso em: 21 abr. 2019. BARBOSA, Maria José Somerlate. A mulher na capoeira. In: Arizona Journal of Hispanic Cultural Studies. vol. 09. p. 9-28. Ano 2005. BAIRON, Sergio. O que é hipermídia. São Paulo: Brasiliense, 2011. Co-
²Foram utilizadas outras referências bibliográficas, porém, para a construção da reportagem, e não do relatório. Estes documentos estão no site e podem ser acessados através de hiperlinks. 28 | TCC 2019
leção Primeiros Passos. BRASIL. Decreto N° 847, de 11 de outubro de 1890. Institui o Código Penal dos Estados Unidos do Brasil. Capítulo XIII – Dos vadios e Capoeiras. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/ fed/decret/1824-1899/decreto-847-11-outubro-1890-503086-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 19 abr. 2019. BRASIL. Decreto-Lei n° 3.199, de 14 de abril de 1941. Estabelece as bases de organização dos desportos em todo o país. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/ Del3199.htm>. Acesso em: 19 abr. 2019. BRASIL. Deliberação 10/79. Retira a proibição de desportos antes vetados às mulheres. Diário Oficial da União (DOU), de 31 de dezembro de 1979. Seção 1, p. 92. Disponível em: <https://www.jusbrasil.com.br/diarios/3438879/pg-92-secao-1-diario-oficial-da-uniao-dou-de-31-12-1979>. Acesso em: 19 abr. 2019. BRITO, Débora. Mulheres usam roda de capoeira como espaço de luta pela igualdade. Agência Brasil, Brasília, 25 jul. 2018. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-07/mulheres-usam-roda-de-capoeira-como-espaco-de-luta-pela-igualdade>. Acesso em: 19 abr. 2019. CAPOEIRA se torna patrimônio cultural brasileiro. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 8 jul. de 2008. Disponível em: < http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/2067>. Acesso em: 19 abr. 2019. DOSSIÊ. Inventário para registro e salvaguarda da capoeira como patrimônio cultural do Brasil. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/ Ministério da Cultura, Brasília: MEC, 2007. Disponível em: < http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Dossi%C3%AA_capoeira.pdf>. Acesso em: 19 abr. 2019. FERRARI, Pollyana. Jornalismo Digital. 4. ed. São Paulo, SP: Contexto, 2010. OLIVEIRA, Josivaldo Pires de; LEAL, Luiz Augusto Pinheiro. Capoeira, identidade e gênero: Ensaios sobre a história social da Capoeira no Brasil. Editora EDUFBA: Salvador – BA, 2009. PINHO, J.B. Jornalismo na Internet: planejamento e produção da informação on-line. São Paulo: Summus, 2003. PAIVA, Ilnete Porpino de. A capoeira e os mestres. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. TCC 2019 | 29
Natal, RN. 2007. Disponível em: <ftp://ftp.ufrn.br/pub/biblioteca/ext/ bdtd/IlnetePP.pdf>. Acesso em: 19 abr. 2019. RIBEIRO, Naiana. Mulheres são símbolo de luta na capoeira; benefícios da prática vão além do corpo. Correio 24 horas, Salvador, 19 mar. 2018. Disponível em: <https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/mulheres-sao-simbolo-de-luta-na-capoeira-beneficios-da-pratica-vao-alem-do-corpo/>. Acesso em: 19 abr. 2019. SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. Revista Educação & Realidade. Porto Alegre, p. 71-99, v. 20, n. 2, jul./dez. 1995. TIBURI, Marcia. Feminismo em comum: para todas, todes e todos. 5ª ed. – Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2018.
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AS VOZES DE OURO: A EMOÇÃO ATRÁS DE UM GRITO DE GOL BRUNO RIBEIRO PAGANINI Orientador: Prof. Dr. Anderson Gurgel
RESUMO: O projeto realizado tem como objetivo mostrar de que forma as diferentes escolas de narradores esportivos no rádio e as regionalidades presentes nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro contribuem para a emoção nas transmissões esportivas no rádio. Ao longo da história, as escolas de locutores foram surgindo e caracterizando um determinado estilo de linguagem e narração em seus centros. Em São Paulo, nomes como Pedro Luís e Osmar Santos revolucionaram o jeito de transmissão, com uma rapidez e precisão marcante. No Rio de Janeiro, Waldir Amaral e Jorge Curi culminaram o estilo mais cadenciado e pausado de narração. O objetivo principal defendido neste projeto apresenta a forte relação que há entre as regionalidades e escolas, ambas são dependentes, e juntas levam a formação da emoção aos ouvintes. Toda esta pesquisa é discutida em um programa de podcast, cujo apresenta entrevistas com narradores esportivos e teóricos. A metodologia além destas interlocuções citadas, apresenta observações diretas e acompanhamentos “in loco” nas transmissões. Palavras-chave: narradores esportivos; podcast esportivo; regionalidades no rádio esportivo; escolas de locutores esportivos TCC 2019 | 31
ABSTRACT: The objective of this project is to show how the different schools of sports commentators on the radio, as well as the regionalities idiosyncrasy in the cities of São Paulo and Rio de Janeiro, contribute to the emotion on the radio sports broadcasts. Throughout history, several schools of broadcasters have been emerging and being characterized by different language and narrative styles in their centers. In São Paulo, names like Pedro Luís and Osmar Santos revolutionized the way of transmission, with remarkable speed and precision. In Rio de Janeiro, Waldir Amaral and Jorge Curi reached the more rhythmic and paused narrative style. The main objective of this project is to present the strong relationship between different regionalities and schools, which are dependent on each other, and that together bring emotion to listeners. This research is discussed in a podcast program, which features interviews with sports and theoretical journalist. The methodology, in addition to these interlocutions mentioned above, presents direct observations and monitoring “in loco” in the transmissions. Key words: sports commentators; sports podcast; regionalities in sports radio; sports broadcasting schools
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ACESSO AO PRODUTO ON-LINE
Soundcloud Data de upload: 26/05/2019
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INTRODUÇÃO Este trabalho de conclusão de curso, em formato de podcast, procura discutir e explorar como as diferentes escolas e regionalidades entre as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro contribuem para a formação da emoção nas transmissões das partidas de futebol no rádio carioca e paulistano. “Drible da vaca”, “Carimbou um golaço”, “Que bomba”, “Que lindo balãozinho”, estes são apenas um dos 401 vocábulos apontados no livro “A linguagem Popular do Futebol”, de José Mauricio Capinussu (1988) que se têm em uma transmissão de futebol, principalmente no rádio. Tais encadeamentos reforçam a identidade do rádio esportivo que em cada canto do país emociona o seu ouvinte, com diferentes sotaques, escolas e estilos de narração. Ao longo do tempo, grandes narradores foram surgindo, como Fiori Gigliotti, Osmar Santos e José Silvério. Entende-se como três escolas diferentes do rádio esportivo. Cada escola apresenta um estilo, técnicas e bordões únicos. “Foram surgindo estilos próprios para a descrição do jogo. Para ilustrar o imaginário do torcedor e conquistar a sua audiência” (GUERRA, 2006, p.4). De acordo com o mesmo autor, Osmar Santos revolucionou a forma de se narrar um jogo de futebol no rádio, com uma velocidade nunca vista antes. “O pai da matéria”, como era chamado por alguns, falava até 100 palavras por minuto, sem atropelar nem engolir uma letra sequer” (Ibidem, p.10). Este projeto responde à seguinte pergunta: é possível por meio de um episódio de podcast demonstrar como as diferentes escolas e as regionalidades entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo contribuem para a formação da emoção nas transmissões esportivas no rádio? Considerando as linguagens distintas utilizadas em uma transmissão esportiva e o poder de transformar algo que ninguém vê em emoção, o objetivo principal deste projeto era elaborar um episódio de podcast para demonstrar e discutir até que ponto as diferentes escolas de narradores do rádio esportivo na cidade de São Paulo e Rio de Janeiro e as regionalidades nessas cidades contribuíam para a caracterização de cada estilo de narração nesses centros, além da formação do espetáculo por parte dos locutores. Os objetivos secundários eram identificar as principais características do podcast, além de compreender e estudar a forma de como ele é elaborado por meio de livros, artigos acadêmicos, podcasts, documentários, entrevistas e acompanhamento de outros produtos já realizados. 34 | TCC 2019
Posteriormente, identifiquei os perfis marcantes do rádio esportivo em dois centros esportivos do Brasil, como São Paulo e Rio de Janeiro. A partir desta análise, o acompanhamento in loco e as entrevistas com profissionais da área tentaram auxiliar o projeto a ser compreendido. Para Schinner (2004, Online), o locutor necessita transmitir a emoção, o conhecimento, cultura, liderança, carisma, credibilidade, ética e a valorização da palavra falada. São todos artefatos essenciais em uma transmissão esportiva de rádio para completar o que é narrado. Esta pesquisa tinha como interesse agregar uma demonstração aos amantes do rádio esportivo de como é possível gerar a emoção de uma partida de futebol através deste meio e como que as escolas e diferentes regionalidades contribuem para a formação do espetáculo no microfone. Desde 1931 o rádio esportivo está presente na vida da população. O projeto visava trazer de inovador a comparação com as diferentes escolas e regionalidades das narrações esportivas. Além das principais características, as técnicas, as linguagens e vocábulos utilizados pelos narradores em suas transmissões, as dificuldades, o preparo, e a trajetória dos locutores escolhidos para serem os perfis do projeto. A série de podcast foi escolhida como peça por, além de intensificar a emoção, ser uma forma de aprofundar o jornalismo esportivo neste meio que não para de crescer. De acordo com a Podpesquisa (2018), é o meio radiofônico que mais cresce. Tendo como comparação de 2015 a 2018, o índice de produção de podcast aumentou quase 20% no Brasil. O interesse do projeto partiu da paixão deste estudante de jornalismo pelo rádio esportivo desde sua infância, onde cresceu ouvindo jogos de seu time com muita emoção. A peça escolhida para o projeto teve como corpus de estudo podcasts, tais como “Vida de Jornalista” (SOARES, 2019) e Collumbia Journalism School (Online, 2013). Artigos acadêmicos tiveram sua relevância, como “O jogo da narração: A imaginação entra em campo e seduz o torcedor” (GUERRA, 2006), Metáforas, hipérboles e metonímias, uma jogada de efeito – o discurso do rádio jornalismo esportivo (ABREU, 2001). Além destes artigos citados, matérias e livros auxiliaram no desenvolvimento do projeto. “Rádio esportivo: sempre transmitindo a emoção”, matéria da revista USP, em 2003, de Orlando Duarte. E os livros: “A Linguagem popular do futebol”, de José Mauricio Capinussú (1988), “Manual dos locutores esportivos”, de Carlos Fernando Schinner (2004). Um segundo passo da metodologia foi acompanhar in loco as transTCC 2019 | 35
missões das partidas, tentando ao máximo uma convivência com os profissionais. Foi necessária uma viagem em janeiro de 2019 para acompanhar as transmissões no Rio de Janeiro, além de executar entrevistas. Foram entrevistados os narradores da Rádio Globo do Rio de Janeiro, Edson Mauro e Luiz Penido, que obtiveram ao longo de suas carreiras uma ótima bagagem do rádio carioca, passando por grandes rádios como Tupi, Nacional e Gazeta e o locutor da TV Globo, Luís Roberto de Múcio. Também foi importante entrevistar o narrador e teórico Carlos Fernando Schninner e o professor de comunicação social da Unifran Igor Savenhago, autor do artigo “Futebol na TV: evolução tecnológica e linguagem de espetáculo”. Para a elaboração do programa de podcast, cujo nome é “As vozes de ouro: a emoção atrás de um grito de gol”, foram convidados os narradores Vinícius Moura, Rádio Globo (SP) e Rodrigo Bitar, Rádio Melhor FM, ambos jovens talentos do rádio esportivo e com profundo conhecimento sobre as regionalidades e escolas deste meio. I. REFERENCIAL TEÓRICO I.I A emoção por trás do rádio esportivo e sua linguagem De acordo com Soares (1994, p.11), o rádio esportivo tem o poder de encantar e emocionar quem o escuta. Cada lance faz com que o coração acelere, e um grito de gol se transforme em alegria ou tristeza. Segundo ele, é possível fazer uma comparação entre o rádio e teatro, onde a emoção criada pelo autor é recebida e absorvida pela plateia e dali para a frente torna-se uma lembrança que emociona de novo, mas nunca mais da mesma forma. Para Abreu (2001), o rádio esportivo é um fenômeno emocionante motivado pelas narrações esportivas, em que durante os 90 minutos de narração da partida, a representação da principal parte do espetáculo é o ápice do extravasamento das tensões. O mesmo autor traz a relação do rádio com a imagem. Para ele, o rádio por ser um meio auditivo aciona o imaginativo de cada ouvinte, tornando-se assim visual. Tal função é encarregada pelo locutor que descreve cada lance para quem normalmente não está vendo o lance. É necessário imaginar de acordo com o que é irradiado. Tal encadeamento reforça a importância da fidelidade do narrador em apresentar de fato o que está acontecendo com muita precisão e rapidez. Para prender a atenção do ouvinte, a narrativa esportiva recria o objeto descrito, emprestando-lhe cor, vida e 36 | TCC 2019
simbolismo próprios do rádio, que estimulam o imaginário popular. Capinussu (1988, p.22) percebe a utilização de diversas figuras de linguagens, como metonímia, hipérboles que contribuem para a emoção e até um certo exagero em relação a descrição do lance. Tudo faz parte do “teatro”. Assim, como os vocábulos utilizados com duplo sentido, o conotativo e denotativo. De acordo com o mesmo autor (1988, p.21), o rádio esportivo apresenta em sua linguagem característica popular. Com o exemplo do narrador carioca José Carlos Araújo, ele utiliza uma linguagem de fácil entendimento aos ouvintes incorporando, assim, a linguagem popular dos torcedores. Guerra (2006) vai ao encontro de Capinussu e destaca a linguagem utilizada em rádio a mais popular possível, inclusive destacando as técnicas nas criações dos bordões. I.II Podcast – A nova era do rádio Criado pelo jornalista Bemm Hammersley, em 2004, o termo podcast se tornou um novo meio de produto radiofônico do século XXI. A palavra podcast se origina do laço criado entre Ipod – aparelho eletrônico da Apple e cast – broadcasting (radiofusão) como frisa Ezequiel (2007, p.2). Segundo Castro (2005), pode-se comparar o sistema de podcasting com uma versão de blog do rádio devido a linguagem ser adequada aos novos meios tecnológicos e o sistema ser customizado on demand. Todavia, o rádio e o podcast se completam e devem andar lado a lado, um auxiliando o outro. Em conformidade com a PodPesquisa realizada em 2018 em parceria com a rádio CBN e Abpod, a idade média do ouvinte de podcast é de 30 a 39 anos ante 25 anos na mesma pesquisa feita no ano de 2014. O público masculino lidera as audiências, onde 84.1% dos homens são usuários desta ferramenta. A mesma pesquisa traz um importante dado ao citar que a principal facilidade de escutar podcast está na praticidade de realizar outras tarefas enquanto o escuta. Tal encadeamento ao vai ao encontro de Castro (2005) que diz que o podcast permite que o ouvinte o escute executando outras tarefas, possibilitando que além de escutar sobre o tema preferido quando e onde ele quiser com o sistema “on demand”, pode fazer outras coisas. Já Miro (2014) afirma que o podcast é uma espécie de programa de rádio, todavia a principal diferença está no conteúdo sobre demanda e a linguagem mais informal. Outra vantagem para o autor está nas inúmeras TCC 2019 | 37
plataformas em que é possível agregar o podcast, ele cita iTunes, Ziepod para PC´s, Spotify, Podstores, entre outros, diferenciando, assim, de um programa de rádio, onde há uma limitação de plataformas para escutar. Em conformidade com Silva (2018), esta nova era do podcast de streaming começou em 2004 quando Adam Curry criou a plataforma de agregadores de podcast que o fez se destacar em relação aos outros produtos radiofônicos. Para ele, a linguagem deste produto pode variar entre mais formal ou casual, dependendo do tema, do público alvo e enfoque abordado pelo criador do conteúdo do podcast. Outra vantagem apontada pelo mesmo autor está no baixo consumo de banda larga dos podcasts, ou seja, é um meio que se adaptou as novas tecnologias móveis do mundo. Silva (2018) destaca a importância da participação e interação dos consumidores de produtos jornalísticos, tal fala vai ao encontro de Jenkins (2006) que afirma que a circulação de conteúdo é promovida por meio de diferentes sistemas de mídia, além das fronteiras nacionais as quais dependem fortemente da participação ativa dos consumidores. Jenkins (2006) denomina esta função como cultura participativa. Segundo Carmen Lúcia José (2015, p.10), no áudio, o meio sonoro se transforma em visual, entrelaçando a imaginação por meio do som em imagem. Como o cinema é um meio audiovisual para a autora, o sonoro é como um dos mais importantes elementos constituintes para o relato oral, é possível pensar um diálogo metalinguístico que, de um lado, busca a tradução da imagem visual em imagem sonora. I.III A linguagem jornalística no podcast De acordo com Barbosa (2015), para construir um episódio de podcast é necessária uma extensa pesquisa jornalística, com entrevistas, gravações de acervo, efeitos sonoros, narrações, vinhetas, tudo auxiliará o tema a se aprofundar no interesse do ouvinte. Segundo o mesmo autor, os produtos jornalísticos presentes hoje nos podcasts se originaram dos antigos programas radiofônicos com a sua linguagem e forma de se narrar e apresentar o conteúdo, no entanto adverte a questão de atemporalidade aos podcasts. Os programas de rádio apresentam um certo prazo de validade, já os feitos por podcast são atemporais, vivem por um tempo maior. Os ouvintes conseguem ouvir quando e onde quiserem, fora a opção de voltar quantas vezes quiser a parte que o chama mais atenção. Roseira (2011) diz que mesmo que não seja considerado como rádio, o podcast jornalístico utiliza as características do rádio jornalismo, enquanto 38 | TCC 2019
o jornalismo de recurso auditivo. O mesmo autor cita o meio como mensagem. “Nesse caso, não se questiona se o meio é o mesmo, mas a mensagem é codificada baseada nas mesmas premissas. Não se exclui as características do meio web, porém, a reflexão parte das características que compõe o ofício jornalístico na construção do material” (ROSEIRA, 2011, p.4). O mesmo autor cita a descentralização da informação com o aumento da quantidade de materiais jornalísticos produzidos em massas e plataformas digitais. Para ele, o podcast surge como uma grande popularização do meio, descentralizando, assim, a informação produzida na esfera do jornalismo. O pluralismo de opiniões, a facilidade e liberdade de expressar os pensamentos são presentes na cultura digital, causando um efeito direto nas opiniões públicas, de acordo com Roseira (2011). I.IV “Abre-se as cortinas e começa o espetáculo” – as diferentes escolas do rádio brasileiro e as regionalidades (Rio de Janeiro e São Paulo) Certamente um fã de futebol já ouviu em algum momento de sua vida a seguinte frase. “Abre-se as cortinas e começa o espetáculo”. Ela foi criada e imortalizada pelo locutor Fiori Gigliotti, conhecido como o locutor da família brasileira, que em todo começo de transmissão tinha esta frase como abertura. Fiori apresenta características muito marcantes como uma descrição completa de tudo o que acercava uma partida de futebol, gostava de dar um tom “poético” ao famoso espetáculo, segundo Urt (1986, p.33). “Fiori tenciona enfeitar mais que nunca – mais do que quando em dias bonitos, informa aos ouvintes de que o céu se vestiu de azul e pretende rechear suas transmissões de mensagens patrióticas” (URT, 1986, p.33). Conforme diz Guerra (2006), o rádio esportivo apresenta ao longo de sua história várias escolas de narração, cada uma com seu estilo, bordões, técnicas de linguagem, estilos próprios para a descrição do jogo e as diferentes regionalidades presente em todo o Brasil. Tudo para ilustrar o imaginário do torcedor e conquistar a sua audiência. Ele cita a utilização da linguagem popular nos bordões para atrair ainda mais os ouvintes. Schinner (2004, Online) destaca inúmeros narradores que contribuíram para a formação de diferentes escolas no rádio esportivo de São Paulo e Rio de Janeiro. O mesmo autor destaca os trabalhos de José Silvério, Waldir Amaral, Édson Leite, Pedro Luiz, José Carlos Araújo, entre outros. Para ele, as escolas e regionalidades estão interlaçadas, onde cada escola segue a sua regionalidade, contribuindo, assim, com a emoção. TCC 2019 | 39
Para Belém (2014, Online), Waldir Amaral e Jorge Curi foram uns deuses do rádio esportivo carioca com o seu talento e precisão em narrações. Os mesmos tinham a capacidade de transformar o jogo com as suas características e linguagens em espetáculos mais emocionantes e ao mesmo tempo, crível. As transmissões são mais cadenciadas e as expressões populares e jargões mais utilizados. Oliveira (2018, Online) cita Pedro Luiz com um dos principais idealizadores do estilo paulista “metralhado”, acelerado, quase comendo letras, enquanto Waldir deixou como marca no rádio carioca a cadência e pausa nas jogadas, além de sua sutileza nas narrações que se assemelhavam a cantores líricos segundo o mesmo autor. De acordo com Guerra (2006, p.6), Osmar Santos, que se destacou nas rádios Globo e Record, revolucionou o rádio esportivo com sua rapidez ao narrar um lance. Ele apresentava um fôlego nunca visto antes e tinha um poder de emocionar quem o escutava muito grande. Osmar foi capaz de trazer inovações as transmissões como as famosas vinhetas e comerciais durantes os jogos. Ele seguiu a escola “metralhada” de Pedro Luiz. Para Schinner (2004, Online) as técnicas de uma narração do rádio dependem de uma série de fatores. Em primeiro lugar ela precisa ser extremamente descritiva e detalhada. É preciso combinar o nível de detalhe, rapidez tudo ao mesmo tempo. O ritmo da narração é dividido em três partes, i) linear flat: sem grandes oscilações da voz, ii) linear ascendente: ritmo varia de acordo com os lances, tom sobe em chances de maiores tensões, iii) ritmo cíclico: grandes oscilações da voz. Abreu (2001) concorda em relação aos ritmos apresentados em uma narração, e reitera a questão da velocidade utilizada, principalmente, quando os jogos não são tão movimentados. O rádio não permite uma locução muito pausada, assemelhando-se a uma transmissão de televisão. II. PLANEJAMENTO DA PEÇA II.I Pré-Produção Das raízes de meus tempos de criança às memórias de adolescente quando ouvia as partidas de meu time pelo rádio, surgiu uma paixão dentro de mim, tornar-se um narrador de futebol. A arte de imitá-los, narrar partidas de vídeo game ou até de jogos entre amigos despertou o interesse em realizar este projeto sobre os narradores. Em um primeiro momento, a ideia era realizar uma biografia em for40 | TCC 2019
mato audiovisual sobre um narrador especifico e contar a sua vida. Ideia descartada ao analisar o mercado e notar uma grande quantidade de documentários já realizados no mesmo molde. Após uma conversa com o Professor Dr. Hugo Harris durante as aulas de Projetos em meados do primeiro semestre de 2018, a escolha em abordar as diferentes escolas do rádio esportivo e as regionalidades encantou-me pelo fato de procurar estudar como a emoção é construída pelos narradores e de que fato as diferentes regionalidades afetam e contribuem com a emoção. Este tema escolhido consistia em demonstrar as técnicas utilizadas nas narrações e as diferentes linguagens e regionalidades do rádio esportivo com foco em São Paulo e Rio de Janeiro. Estes dois centros foram escolhidos como objetos de estudo devido ao fato de serem os maiores polos do futebol e de comunicação do Brasil. Como foi visto por Guerra (2006), grandes narradores e escolas foram se firmando nas irradiações esportivas, como Osmar Santos e José Silvério. Cada um com seu estilo e linguagem que juntos auxiliaram no desenvolvimento do rádio. Tal afirmação vai ao encontro com o desejo e necessidade de entrevistar narradores. Schinner (2004, Online) aborda as diferentes técnicas que existem em uma transmissão de futebol. Narrar não é algo fácil, muito menos gritar um gol durante longos segundos com emoção, ritmo e sem destoar o tom de sua voz. No projeto, isso era um propósito a ser discutido, abordando os tipos destacados por Schinner e os distintos modos de se narrar um jogo. Nesta fase entrei em contato via e-mail com o jornalista e narrador Fernando Schinner, autor do livro “Manual dos locutores esportivos”, o fiz alguns questionamentos sobre o assunto. Tal entrevista foi importante para compreender alguns pontos levantados por ele em sua obra, assim, como para o desenvolvimento de meu projeto. Outra entrevista foi realizada com o professor de jornalismo da Unifran (Universidade da cidade de Franca-SP), Igor Savenhago. Autor do artigo “Futebol na TV: evolução tecnológica e linguagem de espetáculo”, Igor compartilhou via e-mail algumas ideias e análises sobre o tema explorado no projeto. Esta entrevista foi o ponta pé inicial sobre o entendimento mais detalhado das escolas de rádio do Rio de Janeiro e São Paulo, além das principais diferenças entre essas regionalidades. A peça escolhida naquele momento foi um documentário radiofônico devido a intenção de realizar um produto em formato de áudio. TCC 2019 | 41
II.II Produção Em setembro de 2018, após conversas com o meu orientador Dr. Anderson Gurgel definimos e achamos melhor realizar um episódio em podcast ao invés de um documentário radiofônico, foram colocados em peso análises mercadológicas da peça e as novas tendências do rádio, onde o podcast é a ferramenta que mais cresce em comparação com rádio de acordo com pesquisa realizada pela PodPesquisa no ano de 2018. A ideia principal era convidar narradores da nova geração e entrevistar com sonoras de narradores da antiga geração e fazer um debate sobre o tema abordado em um episódio de podcast. A escolha em fazer apenas um podcast ao invés de mais foi devido a intenção de se aprofundar no tema, entendendo, assim, que vários episódios de podcast poderiam não dar um ritmo legal ao projeto. No episódio o foco foi às escolas, regionalidades entre Rio de Janeiro e São Paulo e como de fato elas contribuem para a formação da emoção nas transmissões esportivas no rádio. Neste programa, foram entrevistados os narradores cariocas Edson Mauro e Luiz Penido, ambos da rádio Globo do Rio de Janeiro, além do locutor da TV Globo Luís Roberto que começara sua carreia como locutor em rádio. Tais contatos foram obtidos por indicação de meu orientador. As entrevistas ocorreram no mês de janeiro de 2019 e foram feitas por meio do gravador de voz do meu celular. No dia 18 de janeiro de 2019, entrevistei na rádio Globo do Rio de Janeiro, o narrador Edson Mauro que narra há mais de 40 anos no rádio carioca, passando por Rádio Gazeta, CBN e Tupi, além de ser um dos estudiosos quando o assunto é rádio. A escolha por esta fonte foi devido a sua experiência e bordões utilizados ao longo de sua carreira. No dia 19 de janeiro de 2019, conversei com o locutor principal da rádio Globo, Luiz Penido. Penido passou pelas rádios Tupi, Nacional e a extinta rádio Tropical, sendo um dos maiores conhecedores do rádio esportivo carioca. Tal escolha foi feita baseada em ser considerado um dos melhores locutores do rádio carioca, além de seguir a escola de Waldir de Amaral em suas transmissões. Penido foi essencial para o entendimento sobre as diferenças nas regionalidades entre São Paulo e Rio de Janeiro, além de auxiliar nos estudos das escolas e técnicas na hora da formação da emoção. Neste mesmo dia, acompanhei dentro do estúdio ao lado de Penido 42 | TCC 2019
e toda a equipe Globo/CBN a transmissão do jogo entre Vasco e Madureira válido pela primeira rodada do campeonato carioca. Este acompanhamento de perto foi fundamental para conhecer a fundo todo o processo, ritual e envolvimento do narrador com a equipe e, principalmente, com o ouvinte ao transmitir o jogo para todo o Rio de Janeiro via rádio, e Brasil por meio da internet. Por último, no dia 23 de janeiro, entrevistei o narrador da TV Globo Luís Roberto que é um dos 3 principais locutores da emissora. A escolha por esta fonte foi motivada pelo narrador adotar o estilo de rádio em suas transmissões na TV. Luís começou sua carreira no rádio e sempre carregou contigo a emoção e bordões que cativam os ouvintes. Ao escolher Luís Roberto como fonte a ideia era trazer um personagem que começou a carreira no rádio esportivo paulista e foi parar na televisão carioca. O bate-papo com o narrador foi ótimo para me aprofundar, principalmente, referente às principais escolas e regionalidades do rádio esportivo paulista e carioca. Uma das propostas do TCC foi tentar elaborar uma narração para distinguir na prática as diferenças entre as narrações de São Paulo da do Rio de Janeiro. Tendo em vista esta ideia, elaborei uma transmissão como se a Copa do Mundo de 1970, realizada no México, fosse hoje. Acrescentada a abertura de uma transmissão do rádio, foram feitas narrações que envolviam a seleção brasileira e italiana, que buscavam o tricampeonato naquela ocasião. O grande momento desta ideia foi o lance do gol de Carlos Alberto Torres narrado por locutores de São Paulo e Rio de Janeiro para demonstrarem as diferenças entre as narrações nesses dois polos, além de compartilharem a emoção com os ouvintes. Foi utilizado som ambiente para inserir ainda mais o ouvinte dentro do campo. Em toda a transmissão, que tem duração de um pouco mais de 2 minutos, foram utilizados os locutores cariocas Edson Mauro, Luiz Penido e Luís Roberto. Em São Paulo, os narradores das rádios Jovem Pan, Nilson Cesar, e Bandeirantes, Rogério Assis, contribuíram com as narrações dos lances, para que, assim, houvesse uma pluralidade das transmissões. A narração de Nilson Cesar ficou mais abafada do que a de Rogério Assis devido a ideia de distinguir uma rádio da outra, pois cada rádio tem uma qualidade de som diferente das demais. Fora isso, as técnicas de sons diferentes de uma narração para outra era um sinal de mudança de rádio. Todo esse lance foi editado por Pedro Pavin Sanches que seguiu as minhas TCC 2019 | 43
instruções referentes a vinheta, cortes das falas e sequências cronológicas das narrações. No dia 13/03/2019 ocorreu a gravação do podcast no estúdio de rádio do Mackenzie. Foram convidados a participarem da bancada os narradores Vinicius Mora, da Rádio Globo e Rodrigo Bitar, da Rádio Melhor FM e com passagens pelo grupo Bandeirantes e Rádio Top FM SP. A escolha por estas fontes, baseou-se na ideia de fazer um contraste entre as escolas antigas e novas no rádio. Ambos são conhecedores do rádio paulista e das escolas. No lado do Rio de Janeiro, utilizei as sonoras dos locutores cariocas entrevistados, como citado acima, para que assim, fosse possível equilibrar os lados de São Paulo e Rio de Janeiro. Foi necessário elaborar este parâmetro para se tentar chegar à resposta da pergunta problema deste trabalho. II.III Pós-produção Após a realização do podcast, o produto bruto tinha 35 minutos, ultrapassando em 15 minutos o que é permitido pelas normas do TCC de Jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie e o meu objetivo de tempo. Portanto, o mesmo foi editado pelo operador de som do estúdio de rádio do Mackenzie, Lucas Abrunhosa, nas datas 27/03/2019 e 02/04/2019. Nestes dias, o profissional auxiliou-me nos cortes dos trechos dos quais eu destaquei. Tal ajuda foi essencial para ajustar o projeto de acordo com as minhas exigências referentes ao projeto e se adequar às normas exigidas pela Universidade. Os trechos de cortes do programa bruto foram decididos após inúmeras escutas e conversas com o meu orientador, levando sempre em consideração o principal tema do projeto. No dia 26/05/2019, o podcast “As vozes de ouro: a emoção atrás de um grito de gol”, com duração de 19 minutos e 45 segundos, foi postado na plataforma Sound Cloud, considerado um dos maiores agregadores de podcast. De acordo com a PodPesquisa do ano de 2018, o SoundCloud aparece entre os 20 maiores e mais acessados aplicativos agregadores no Brasil. A escolha em postar o meu podcast neste agregador, baseou-se em: i) facilidade do ouvinte de manusear o aplicativo, ii) estar disponível para Android e IOS e iii) estar entre os mais acessados no Brasil. CONSIDERAÇÕES FINAIS Desde o início deste projeto em fevereiro de 2018, foi proposta uma discussão sobre o universo dos narradores esportivos. No início, a falta de 44 | TCC 2019
convicção sobre um estilo de peça foi uma das pedras no caminho neste percurso. Todavia, após estudos, análises, e conversas com meu orientador Anderson Gurgel, acredito que tomei a melhor decisão ao escolher em realizar o projeto no formato de podcast, um dos meios que mais cresce no mundo como aponta a PodPesquisa. O programa encontra-se em uma das plataformas mais acessadas do Brasil, além de ser facilmente manuseada e, principalmente, permite que o ouvinte escute o programa de forma on demand, quando e onde ele quiser. Os objetivos deste projeto foram alcançados, principalmente, ao chegar à resposta da pergunta problema: “É possível por meio de um episódio de podcast demonstrar como as escolas e as regionalidades entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo contribuem para a formação da emoção nas transmissões esportivas no rádio?”. Pode-se dizer que de acordo com todo o material levantado, adicionadas das entrevistas de narradores e teóricos, chegou-se à conclusão que a regionalidade é quem determina às características de uma escola no rádio, logo, às escolas acabam tendo a sua participação na formação da emoção promovida pelos locutores nestes dois centros. Conclui-se que, além das diferentes escolas e regionalidades contribuírem para emoção, elas estão entrelaçadas, uma interfere diretamente na outra. Este ponto foi descoberto após principalmente às entrevistas com os locutores que resgataram às memórias dos grandes narradores do passado. O projeto não deixou de fazer uma homenagem às grandes escolas do rádio, como Pedro Luiz, Waldir Amaral, Osmar Santos e Jorge Curi. Todavia, o presente não poderia ser esquecido com alguns nomes como Luiz Penido, Luís Roberto e os jovens narradores Vinicius Moura e Rodrigo. Tal escolha foi um ponto interessante do projeto, ao demonstrar e fazer um contraste de gerações, mas que acima de tudo mantêm a emoção ao narrar, e seguem às grandes escolas e regionalidades do passado eterno do rádio esportivo em São Paulo e Rio de Janeiro. Um dos pontos do projeto que foi a grande cereja do bolo foi o lance da copa de 1970. Esta ideia eu tinha desde o início do projeto. Tal mecanismo foi importante para se chegar à grande resposta da pergunta problema. Ao ouvir o lance fica nítido como as diferentes escolas presentes no estilo de cada narrador e as regionalidades contribuíram para a emoção naquele lance. Havia um temor em que pelas narrações serem de um lance acontecido há 49 anos, os narradores narrassem de uma maneira “fria”, sem emoção, pois não estariam com o calor do jogo. Todavia, a magia dos locutores TCC 2019 | 45
entrou em campo e a ideia foi alcançada com sucesso. As narrações do gol da Copa de 1970 foram feitas “in loco” com os locutores Edson Mauro, Luiz Penido e Luís Roberto e via internet com os narradores Nilson Cesar e Rogério Assis. Em minha análise tanto os que obtive ao vivo quanto por meio digital alcançaram a minha expectativa. Ao longo do projeto, cheguei a uma autocrítica referente a maior parte dos locutores entrevistados serem da Rádio Globo (SP e RJ). Contabilizando três narradores da Rádio Globo mais o Luís Roberto que trabalha no grupo Globo, pode-se entender um projeto focado muito na escola da Rádio Globo. Todavia, o projeto não visa retratar apenas de Rádio Globo, e muito menos esses dois centros podem ser explicados apenas pelo modo da Rádio Globo narrar os seus jogos. Contudo, estas mesmas fontes citadas que trabalham na Rádio Globo já passaram por várias rádios no Rio de Janeiro e São Paulo, incluindo Luís Roberto. Entendo, assim, que houve uma pluralidade do rádio pelo conhecimento adquirido por eles ao longo de suas carreiras. Para dar uma incrementada a essa afirmação, foram entrevistados teóricos (professores de comunicação social e estudiosos na área) e outros narradores que inclusive já tinham escrito algumas obras, como o caso do locutor do grupo Bandeirantes Fernando Schinner. Com o acréscimo a essa ideia, toda a discussão baseou-se nas escolas e regionalidades e não em apenas uma emissora. Outra maneira de retratar esta pluralidade foi escolher narradores de outras rádios para participarem do lance do gol de Carlos Alberto Torres. Na ocasião foram utilizados narradores das rádios Bandeirantes e Jovem Pan, fora a presença de Rodrigo Bitar, o qual já teve experiência em web rádio e grupo Bandeirantes. Ao longo de todo o podcast eu tive a preocupação de contextualizar e contar brevemente quem foi o narrador citado. Entendi que a esta altura era importante resgatar uma memória e a partir da premissa quem nem todo ouvinte é um profundo conhecedor daquilo que é discutido. O público alvo de meu podcast é um ouvinte que tenha um conhecimento do universo do mundo da narração, mas tive o cuidado de ao menos explicar ao máximo às características técnicas do projeto para que até o mais leigo possível conseguisse acompanhar o programa em um tom suave, descontraído e bem argumentado em ritmo de podcast. REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO ABREU, João Batista de. Metáforas, hipérboles e metonímias, 46 | TCC 2019
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JORNALISMO DE BABEL: AS FAKE NEWS COMO INSTRUMENTO DE MANIPULAÇÃO POLÍTICA CRISTYAN VINÍCIUS COSTA DA SILVA Orientadora: Prof. Dra. Denise Cristine Paiero RESUMO: Este trabalho tem por intenção analisar a produção de notícias falsas em dois sites que produzem e disseminam fake news sobre a política brasileira. Para isso, foram analisadas seis matérias: três do Diário do Brasil e outras três do Brasil 247. Ambos situados em polos ideologicamente opostos: direita e esquerda. Integram este estudo científico um breve retrospecto históricogeográfico que remonta o surgimento de boatos na política durante a Reforma Protestante, na Madri do século XVII; as notícias falsas do jornal L’Ami du peuple, na Revolução Francesa; as fake news da Segunda Grande Guerra Mundial e Guerra Fria, bem como a produção de notícias falsas na atualidade. Foram estudados o formato do jornalismo tradicional, os critérios de noticiabilidade, os instrumentos de persuasão da grande mídia e como foram apropriados pelos produtores das fake news. Investigar os elementos que compõem a criação de factoides dirigidos a determinados públicos foi a proposta deste trabalho, bem como a conscientização do leitor perante um fenômeno não oriundo deste século, mas sim potencializado com o advento das mídias digitas. Palavras-chave: Fake News; Jornalismo, Mídia; Política Brasileira
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ABSTRACT: This work intends to analyze the production of false news on two websites that produce and disseminate fake news about Brazilian politics. For this, six subjects were analyzed: three from the Diário do Brasil and three from Brazil 247. Both located at ideologically opposite poles: right and left. This scientific study includes a brief historical-geographical retrospective that traces the emergence of rumors in politics during the Protestant Reformation in Madrid in the seventeenth century; the false news of L’Ami du Peuple in the French Revolution; the fake news of the Second World War and the Cold War, as well as the production of fake news nowadays. The format of the traditional journalism, the criteria of noticiability, the instruments of persuasion of the mainstream media and how they were appropriated by the fake news producers were studied. To investigate the elements that make up the creation of factoids aimed at certain publics was the proposal of this work, as well as the reader’s awareness of a phenomenon not coming from this century, but rather enhanced with the advent of digital media. Key words: Fake News; Journalism; Media; Brazilian Politics
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INTRODUÇÃO De acordo com o dicionário norte-americano Merriam-Webster (2017), o termo “fake news” existe desde o século XVI. No entanto, popularizou-se a partir das eleições presidenciais norte-americanas, em 2016, quando o presidente dos EUA, Donald Trump, utilizou a palavra com frequência em seus discursos para atacar os veículos de comunicação tradicionais de seu país, os quais, segundo ele, atuam como indústria da mentira adornada de verdade. Com o advento da globalização e da era digital, produzir notícias falsas na internet tornou-se uma prática corriqueira. De acordo com os dados da pesquisa Global Advisor: Fake News, Filter Bubbles, Post-Truth and Truth” (Assessor Global: Fake News, Bolhas Filtradas, Pós-Verdade e Verdade, em tradução livre) divulgada em 2 de outubro de 2018 pelo Instituto Ipsos, os brasileiros são os que mais acreditam em fake news no mundo. Segundo o levantamento, no Brasil, 62% dos entrevistados admitiram já ter acreditado em alguma notícia falsa. Realizada com 19,2 mil entrevistados, entre os dias 22 de junho e 6 de julho de 2018, a pesquisa tem margem de erro de 3,5 pontos. Em 2017, um levantamento do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação da Universidade de São Paulo (GPOPAI-USP) já afirmava que 12 milhões de pessoas difundem fake news sobre política no Brasil. Nem mesmo a grande mídia está blindada à prática. Em 5 de abril de 2009, a Folha de São Paulo publicou na página A10 uma ficha cuja origem seria dos arquivos do Departamento de Ordem Política Social (DOPS) sobre supostos crimes praticados pela ex-presidente Dilma Rousseff durante o regime militar no Brasil (1964 – 1985). Dois laudos técnicos, um deles do Instituto de Computação da Unicamp e outro da Universidade de Brasília, apontaram que o material sofreu manipulação tipográfica e fabricação digital. Posteriormente, o jornal retratou-se. A Carta Capital não foi uma exceção. O chefe de redação da revista, Mino Carta, envolveu-se num imbróglio ao ter sua ligação telefônica com Lula grampeada pela Polícia Federal, em 13 de março de 2016. No áudio, o ex-presidente pediu que editor escrevesse um artigo deturpando uma manifestação favorável ao impeachment de Dilma Rousseff ocorrida em Salvador naquele ano. No dia seguinte, a revista publicou uma matéria intitulada “A origem do complô”, em que tenta desconstruir Sergio Moro. O artigo acusava o então juiz federal de “montar um show carnavalesco que envergonha o País aos olhos do mundo e exibe, ao cabo, a 52 | TCC 2019
ausência de uma Suprema Corte pronta a impor o império da lei”. Mino também tentou demonstrar que as manifestações contra a ex-presidente Dilma reuniram poucas pessoas. Demais veículos de comunicação, como o G1, revista Veja, Folha de São Paulo, e Estadão noticiaram à época que a manifestação baiana havia reunido, no mínimo, 20 mil pessoas, com base nos dados da Polícia Militar. Assim como na grande mídia, as notícias falsas estão presentes também na internet. Sites foram se especializando em conteúdo verossímil, porém falso, e passaram a produzir e compartilhar material dirigido a públicos específicos. Sendo assim, este trabalho teve por objetivo analisar dois sites produtores e disseminadores de conteúdo mentiroso no que tange à política brasileira, bem como parte do que foi produzido e/ou compartilhado por eles. A problemática da pesquisa a ser respondida foi: Como as fake news sobre política no Brasil se apresentam nos sites Diário do Brasil e Brasil 247? Este estudo científico teve por objetivo primário explicar de que forma a estrutura do jornalismo tradicional, os critérios de noticiabilidade e as técnicas de persuasão estão sendo utilizados para construir realidades a fim de confundir e manipular. Já os objetivos secundários focalizaram num levantamento histórico-geográfico das fake news em alguns períodos da História: Reforma Protestante, Revolução Francesa, Segunda Grande Guerra Mundial, Guerra Fria, e na contemporaneidade representada pelo século XXI. Além de analisar o conteúdo de seis matérias de dois sites: Brasil 247, voltado à esquerda do espectro político, e Diário do Brasil, voltado à direita do espectro político. O primeiro capítulo deste trabalho de conclusão de curso apresenta o histórico dos boatos na cultura; a origem do termo fake news e sua presença na política; e o uso das notícias falsas durante a Segunda Guerra Mundial e Guerra Fria. Já o segundo capítulo focaliza nas fake news da contemporaneidade, elucidando sobre o seu impacto no Brexit, nas eleições norte-americanas de 2016, e em momentos relevantes da política brasileira representadas pelos anos de 2014 a 2018. O terceiro capítulo expõe a normatização e estrutura do jornalismo tradicional, por Nilson Lage; os critérios de noticiabilidade, segundo Nelson Traquina; e as ferramentas de persuasão utilizadas pela mídia, de Nilton Hernandes. Os autores citados serviram para embasar o quarto capítulo, constituído pela análise de seis matérias dos dois sites produtores e disseminadores de fake news que constituem o corpus deste trabalho: Brasil 247 e Diário do Brasil. TCC 2019 | 53
Foram investigadas as seguintes notícias falsas do Brasil 247: “Campanha nas ruas de Londres denuncia golpe e mostra cara dos golpistas”, publicada em 21 de abril de 2016 à época do Impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, “Faixa de apoio a Lula é mostrada em jogo na Alemanha”, propagada em 13 de janeiro de 2018 e “Papa envia terço a Lula, preso político há 67 dias”, disseminada em 11 de junho de 2018, todas do Brasil 247. Quanto ao Diário do Brasil, foram analisadas: “General manda recado para políticos: ‘Não ousem obstruir a lei ou teremos a tão sonhada intervenção militar’”, divulgada em 4 de abril de 2018, “Força Aérea americana posicionada no Panamá, aguardando sinal verde para destruir Maduro”, de 02 de fevereiro de 2019 e “Alto Comando do Exército já se reuniu. Se o STF soltar Lula, haverá reação”, veiculada em 31 de março de 2019. A metodologia para a execução deste trabalho desenvolveu-se no campo das análises de conteúdo e qualitativa, bem como na pesquisa de bibliografia indicada para serem estudados os elementos do jornalismo tradicional, como título, linha-fina, imagem, lide, texto, entre outras características presentes nos produtos fictícios que foram coletados no corpus mencionado neste estudo. Foi realizada leitura aprofundada das fake news escolhidas, utilizando como embasamento os livros indicados nas referências deste trabalho, explicando as características estéticas dos sites, nomes, e cada elemento na notícia que configure uma farsa, empregando os conceitos jornalísticos para tal atividade. Com isto, teve-se o intuito de compreender como as características do jornalismo foram utilizadas em produtos aparentemente jornalísticos para fins maliciosos. Haja vista os dados apresentados, esta pesquisa científica pretendeu orientar o leitor na identificação de conteúdo falso que circula na internet aos moldes de notícia jornalística. O impacto que esse fenômeno pode ter na política nacional e internacional também foi uma preocupação, tendo em conta as muitas suspeitas de influências maliciosas em decisões que impactaram significantemente a vida das pessoas. 1. BOATOS NA CULTURA Young (2017) afirma que os boatos e as histórias extravagantes existem desde os primórdios da civilização. No primeiro capítulo de seu livro Bunk: The Rise of Hoaxes, Humbug, Plagiarists, Phonies, Post-Facts and Fake News (Mentira: a Ascensão de Embustes, Fraudes, Plágios, Imposturas, Pós-verdade e Notícias Falsas, em tradução livre), o autor menciona os viajantes mentirosos do século XVIII como exemplos de disseminadores de acontecimentos absurdos. 54 | TCC 2019
Segundo o escritor, essas personagens passavam por vilarejos e contavam às multidões supostas peculiaridades ocorridas em locais distantes. Criaturas mitológicas e praticantes de feitiçaria compunham o roteiro de relatos desses agentes a serviço dos boatos. Em consequência, algumas crendices foram incorporadas por determinadas regionalidades. Young (2017) cita até mesmo falsificadores das obras de Shakespeare, que lucravam com a prática de vender supostos escritos do autor. Prossegue Young (2017) que os Estados Unidos do século XIX foram terrenos férteis para a divulgação de conteúdo verossímil, porém falso. Panfletos e pasquins nova-iorquinos ilustrados e com caligrafia atraente prometiam personagens mitológicas e figuras sobre-humana nos espetáculos de Phineas Taylor Barnum (1810-1891), conhecido por “mestre do embuste”. As apresentações aconteciam num prédio suntuoso e era comum ao espectador ver: Uma sereia de Fiji, que Barnum comprou e exibiu a partir de 1842: a exposição nada mais era do que a parte superior do corpo de um macaco — cabeça, braços, tronco — costurada junto com a cauda de um peixe, parecendo em nada com as belas imagens usadas para anunciá-la. (YOUNG, 2017, p.27)¹
Os anúncios dos espetáculos continham letras garrafais e chamadas impactantes — a exemplo de “Conheça também os Canibais de Figi” — somados a belas imagens que não correspondiam à realidade objetiva. Os shows sempre eram um sucesso e, segundo Young (2017), o êxito de Barnum estava em explorar a curiosidade humana pelo absurdo e manipular as pessoas para que consumissem cada vez mais uma realidade construída. A boataria visava repercutir as extravagâncias do “mestre do embuste”. Entre os inúmeros shows de Barnum estavam as incríveis performances de Joice Heth (1756-1836), uma escrava negra que, supostamente, teria sido a babá do primeiro presidente dos EUA, George Washington (1732-
¹Tradução livre do original: A Feejee mermaid, wich Barnum bought and displayed starting in 1842: the exhibit was nothing more than a monkey’s upper body – head, arms, torso – sewn together with a fish’s tail, looking nothing like the beautiful images used to advertise it. TCC 2019 | 55
1799). No tempo de Barnum, a mulher teria aproximadamente 161 anos de idade. Seria impossível, portanto, que os números executados por ela, nos shows, como danças e sequências de saltos, fossem realizados. Ainda naquele século, Young (2017) cita o caso “Grande Embuste da Lua”, datado de 1835. Richard Adams Locke (1800-1871), um repórter do jornal The Sun (1833-1950), publicou em 1835 uma série de seis artigos, cujo conteúdo informava sobre a descoberta de uma civilização na superfície lunar. A suposta população extraterrestre seria composta de homens com asas de morcego (chamados de Vespertilio-homo), unicórnios e castores bípedes. O jornal vendeu muitos exemplares e a concorrência replicou trechos do “acontecimento”. No entanto, descobriu-se que a história não passava de uma farsa. Locke, posteriormente assumiu a autoria dos artigos, os quais ele havia publicado sob o pseudônimo de Sir. John Hershel (1792-1871), um matemático e notável astrônomo que, de fato, existiu naquela época. O jornalista revelou ter criado o boato da suposta descoberta científica para aumentar a tiragem do The Sun. (...) mistura de emoções foi a ampla resposta quando o Sun finalmente cedeu e assumiu a responsabilidade. Parecia combinar com as maneiras como o século dezenove nos Estados Unidos costumava dizer, eu mostro a você uma farsa, maior e melhor — e pensei que você talvez soubesse que estou enganando você, que você vai adorar de qualquer maneira. Edgar Allan Poe chamaria isso de inutilidade — e esse poeta do gótico americano e inventor da história de detetive iria elogiar a fraude que é tão importante quanto essas outras inovações. (YOUNG, 2017, p. 58)²
²Tradução livre do original: (...) mix of emotions was the wide-spread response when the Sun finally relented and took responsability. It seemed to match the ways the nineteenth century in America often said, I'll show you hoaxing, bigger and better – and thought you may know I'm hoaxing you, you'll love it any-way. Edgar Allan Poe would call this diddling - and this poet of the American gothic and inventor of the detective story would offer up praise to hoaxing that remais as important as these other innovations. 56 | TCC 2019
Pereira (2017) cita como exemplo de boato a fictícia invasão alienígena na Terra, de 30 de outubro de 1938, criada pelo ator, diretor e produtor Orson Welles (1915-1985). O boato dramático transmitido pela CBS (Columbia Broadcasting System) levou milhares de cidadãos norte-americanos ao pânico por conta de uma narrativa própria de uma peça de radioteatro (A Guerra dos Mundos, do escritor inglês Herbert George Wells). Matéria da revista Mundo Estranho sob o título “Como foi a transmissão de rádio inspirada em ‘Guerra dos Mundos’?”, publicada em 4 de julho de 2018, descreve que a programação musical da rádio CBS foi interrompida para dar lugar à "notícia em edição extraordinária": A chegada de centenas de marcianos a bordo de naves extraterrestres à cidade de Grover's Mill, no estado de Nova Jersey. O jornal Daily News resumiu na manchete do dia seguinte à reação ao programa: "Guerra falsa no rádio espalha terror pelos Estados Unidos". A peça de radioteatro foi transmitida em forma de programa jornalístico. Possuía todas as características do radiojornalismo tradicional da época, às quais os ouvintes estavam habituados. Entrevistas com testemunhas que estariam vivenciando o acontecimento, reportagens externas, opiniões de peritos, colunistas da CBS e autoridades, efeitos sonoros, gritos, a emoção dos supostos repórteres e comentaristas compuseram o roteiro dramático. Somado a isso, criou-se a sensação de que o fato era transmitido ao vivo. A CBS calculou, na época, que o programa foi ouvido por cerca de seis milhões de pessoas, das quais metade o sintonizou quando já havia começado, portanto, perdendo a introdução que informava tratar-se do radioteatro semanal do 17º programa da série de adaptações realizadas no Radioteatro Mercury, por Orson Welles. Aproximadamente 1,2 milhão de pessoas acreditou ser um fato real. Dessas, meio milhão teve certeza de que o perigo era iminente, causando pânico, aglomerações nas ruas e congestionamentos no trânsito. O medo paralisou três cidades próximas a Nova Jersey, de onde a CBS fazia a transmissão. Há registros de fuga em massa e reações desesperadas de moradores também em Newark e Nova York. A peça radiofônica, de autoria de Howard Koch, com a colaboração de Paul Stewart e baseada na obra de Wells (1866-1946), ficou conhecida também como "rádio do pânico". O governo norte-americano exigiu uma cópia do programa para análise e, posteriormente, Welles e a CBS foram alvo de ações na Justiça Destaca Pereira (2017) que, apesar da tecnologia da radiodifusão da TCC 2019 | 57
época ser capaz de gerar com grande velocidade a propagação de informações, inclusive provocando reações em massa, a exemplo da “Invasão Alienígena, não apresentava referências necessárias para a identificação, por parte do público, da origem e da autoria de fatos e notícias, eventualmente falsos. Prossegue o autor que a internet e sua evolução potencializou a velocidade na propagação da informação, seja ela falsa ou verdadeira, mas inserindo um elemento facilitador da ação daqueles que intencionalmente buscam propagar boatos, normalmente lesivos a terceiros e consistente na dificuldade, senão impossibilidade, da identificação da origem da notícia falsa em vista da facilidade e volatilidade de hospedagens em diferentes sites que ocultam a identificação do computador. Pereira (2017) conclui que a veiculação de fatos nos dias atuais, em vista dos sistemas digitais, deu origem a muitos desafios e que tendem a ganhar em velocidade equivalente à criação de novas linguagens tecnológicas, sistemas criptografados, sempre aliados à criatividade humana, muitas vezes voltada para a criação de boatos que, se não apurados em sua procedência, tendem a se tornar histórias com chancela de verdade. 1.1 A origem do termo “fake news” Segundo o dicionário norte-americano Merriam-Webster (2017), a expressão fake news existe desde 1575. É possível verificá-la em registros de matérias e artigos de alguns jornais do século XIX, a exemplo de The Buffalo Commercial (1843-1951), Cincinnati Commercial Tribune (18961930) e The Kearney Daily Hub. Depois da vitória de Donald Trump à Casa Branca, em 2016, a expressão ganhou evidência. O presidente popularizou o termo em seus discursos para referir-se a veículos tradicionais de comunicação como propagadores da mentira. O motivo: alto índice de notícias negativas à sua campanha. Tamanha repercussão fez com que, um ano depois, o dicionário britânico Oxford elegesse o termo como “a palavra de 2017”. Explicam PAIERO, RAIS, SANTORO e SANTOS (2018) que é importante distinguir fake news de matérias mal apuradas, conhecidas no jornalismo pelo jargão “barriga”. Enquanto as notícias falsas deturpam a realidade propositalmente utilizando de artifícios para dar ares de verdade a uma mentira e atingir determinado fins de calúnia e difamação, uma informação checada incorretamente decorre de uma falha do jornalista, seja por desatenção ou falta de competência. 58 | TCC 2019
A revista Veja, por exemplo, publicou “O fruto da carne” em 27 de abril de 1983. A reportagem abordava uma experiência inédita de dois cientistas alemães, Barry McDonald e William Wimpey, que apresentava a possibilidade de unir células vegetais do tomate com células animais de uma vaca. Quase dois meses depois, a pedido de leitores do jornal O Estado de S.Paulo, o próprio escreveu que a matéria de Veja havia embarcado numa brincadeira de 1º de abril da revista inglesa Science. A gafe ficou conhecida como “boimate”. Em 29 de julho de 2009, a Folha de São Paulo informou, em edição de domingo e na primeira página, que a “Gripe suína deve atingir pelo menos 35 milhões no país em dois meses”. Confluente à taxa de letalidade (0,6%), 210 mil brasileiros já teriam morrido pela doença. Contudo, no dia seguinte à publicação, foram notificadas 1.031 mortes em decorrência da gripe suína. À época, o Ministério da Saúde divulgou que, anualmente, morrem da gripe “comum”, 4,5 mil brasileiros, especialmente no inverno. Enfatizam PAIERO, RAIS, SANTORO e SANTOS (2018) que, para definir estratégias de combate às fake news, surgiram as agências de checagem — como a Lupa, da revista Piauí — e os sites que verificam informações falsas em circulação nas redes digitais, a exemplo do blog ‘Me Engana que eu Posto’, iniciativa da revista Veja. O objetivo é evitar que as notícias falsas se disseminem de forma descontrolada, mas ao menos um obstáculo parece intransponível: a credulidade excessiva dos receptores de informações falsas. Em 2018 o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) brasileiro resolveu participar da iniciativa e montou uma força tarefa em parceria com o Ministério Público Federal, Polícia Federal e o Exército. De acordo com a matéria “TSE monta estratégia para combater fabricantes de fake news” do Correio Braziliense, veiculada em 22 de janeiro de 2018, a atuação dessa força tarefa foi em harmonia com empresas de comunicação como facebook e Google, que desenvolveram ferramentas para filtrar e identificar conteúdo fictício nas redes sociais. 1.2. Notícias falsas na política No passado, as notícias falsas circulavam em vilarejos, povoados e até nos grandes reinos, mas em plataformas e linguagens distintas daquelas que se conheceu no século XXI. A matéria publicada em 21 de outubro de 2018 pela BBC Brasil “As mensagens falsas usadas no século 16 para tentar sabotar o reinado do espanhol Felipe 2º” informa sobre um rumor que causou TCC 2019 | 59
controvérsia naquele império em 1564: o assassinato do monarca a tiros. A história circulava tanto na capital como noutras regiões de Castilla, e o rei Felipe, mais que depressa, procurou desmenti-la. Apesar de não identificar a origem, sabia-se que o objetivo era desestabilizar seu governo. Artigo do El País “A longa história das notícias falsas”, publicado em 18 de junho de 2018, cita algumas narrativas mentirosas da Idade Moderna que aparecem no livro Crimen e Ilusión. El Arte de la Verdad en el Siglo de Oro (Crime e Ilusão. A arte da verdade na idade do ouro, em tradução livre). Em Madri, no ano de 1630 — plena Reforma Protestante —, judeus marranos (convertidos) foram acusados, sem provas, de espalharem cartazes com a frase: “Viva a lei de Moisés e morra a de Cristo”. A história chegou aos ouvidos dos escritores católicos Don Pedro Calderón de la Barca (1600-1681) e Francisco de Quevedo y Villegas (15801645), desafetos do primeiro-ministro à época, o conde-duque de Olivares Gaspar de Guzmán (1587-1645). Para enfraquecer o governo, ambos produziram textos inflamados, cujos conteúdos apontavam como culpados os judeus que, supostamente, eram aliados de Guzmán. Quevedo redigiu o panfleto Execración Contra los Judíos (Execução Contra os Judeus, em tradução livre) e endereçou ao rei Filipe IV. (...) senhor, vamos começar a punição de uma porta para outra porta: isto é para dizer que em todas as portas de seus reinos você deve encontrar morte e faca. Oh, Senhor, por crime menor Deus ordenou que mate o irmão o irmão e o amigo o amigo e cada um ao seu vizinho sem preceder o processo, e hoje, por incomparáveis e infernais sacrilégios, esperando a preguiça das probabilidades, vamos deixar viver, não para nossos irmãos, mas para nossa perseguição, não para nossos amigos, mas para os inimigos públicos de Jesus Cristo, para aqueles que no
³Tradução do original: (...) señor, hase de empezar el castigo desde una puerta a otra puerta: esto es decir que en todas las puertas de Vuestros reinos han de hallar muerte y cuchillo. ¡Oh, Señor, por menor delito mandó Dios que matase el hermano al hermano y el amigo al amigo y cada uno a su prójimo sin preceder proceso, y hoy, por incomparables y infernales sacrilegios, esperando la pereza de las probanzas, dejaremos vivir, no a nuestros hermanos, sino a nuestra persecución, no a nuestros amigos, sino a los públicos enemigos de Jesucristo, a los que en el Sacramento le pisan, en la cruz le queman, en su Ley le condenan a muerte! Dios, por Moisén, mandó que se acabase con ellos. 60 | TCC 2019
Sacramento eles pisam sobre ele, na cruz eles o queimam, em sua Lei eles o condenam à morte! Deus por Moisés, ele ordenou que eles terminassem com eles. (QUEVEDO, 1633, p. 76)³
O autor deu evidência a outro suposto acontecimento que conjecturou envolver os judeus: o de que teriam queimado um crucifixo. Afirma-se que o objeto sagrado teria resistido aos danos e, posteriormente, falado com aqueles que o tentaram destruir. A testemunha do evento foi uma criança de mais ou menos 10 anos de idade com graves problemas psicológicos. La Barca seguiu a mesma linha de seu contemporâneo e elaborou a satírica peça de teatro El Nuevo Palacio del Retiro (O Novo Palácio dos Aposentados, em tradução livre). A intenção era, claramente, desmoralizar os judeus. Composta de 14 personagens, entre elas Homem e Judaísmo, apresentava o primeiro como voz da razão e o segundo como “errante”. Em diálogo, o judeu responde à indagação irônica de que seria grande apenas em Jerusalém: (...) você saberá quem eu sou, atentamente o que eu quero nesta parte para o qual você responde para se forçar. Eu era a lei natural naquele século, naquela sinceridade, e jugo simples da nossa primeira lei. Eu era a idade primitiva que eu tive, que gostei sem medo da paz, e sem pensões boas. Este campo, que povoou hoje de fábricas que você vê, nada polido era então, antes de trabalhar nele uma confusão, um caos então relatar aparentemente que não o fez tratável, mas a escova suprema que fugiu da ideia do primeiro ser, sem ser, traços de sua onipotência e linhas de seu poder. O segundo trabalho que ele fez, dividir as coisas foi, e assim, porque nas suas estadias tudo em ordem às feras distribuídas a terra, onde hoje para ver a variedade chegou do belo e do cruel; ele fez casa dos pássaros. (LA BARCA, 2000, p. 90)4
Dois anos depois, em consequência dessas publicações, judeus foram perseguidos e queimados na histórica Perseguição da Rua das Infantas, local onde moravam as personagens da história forjada. Nenhuma das alegações de que as vítimas estariam envolvidas nos atentados religiosos foi provada.
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Posteriormente, o enredo serviu de combustível, num período de Inquisição, para a escrita de uma série de outras acusações contra o povo judeu. Em 1650, não satisfeito, Quevedo publicou o livro La hora de todos y la fortuna con seso (A hora de todos e a fortuna com juízo, em tradução livre). Nele, o capítulo “La Isla de los Monopantos” (A Ilha dos Monopantos, em tradução livre) teoriza a existência de um suposto complô judaico para dominar o mundo. Quevedo narra um encontro entre o povo judeu que teria acontecido na cidade de Salonica, na Grécia. Em detalhes descreve os monopantos como “pessoas de República”, habitantes de algumas ilhas entre o Mar Negro e a Moscovia, os confins da Tartária. Descreve Quevedo que: (...) Se defendem sagazmente de ferozes vizinhos, mais com engenhosidade do que com armas e fortificações. Eles são homens de malícia quadruplicada, hipocrisia e dissimulação extrema. De tão enganadora aparência, querem ter leis e nações para si. A negociação multiplica e comanda seus rostos, e o interesse remove suas almas. (QUEVEDO, 1644, p.1)5
Tradução do original: (...) señor, hase de empezar el castigo desde una puerta a otra puerta: esto es decir que en todas las puertas de Vuestros reinos han de hallar muerte y cuchillo. ¡Oh, Señor, por menor delito mandó Dios que matase el hermano al hermano y el amigo al amigo y cada uno a su prójimo sin preceder proceso, y hoy, por incomparables y infernales sacrilegios, esperando la pereza de las probanzas, dejaremos vivir, no a nuestros hermanos, sino a nuestra persecución, no a nuestros amigos, sino a los públicos enemigos de Jesucristo, a los que en el Sacramento le pisan, en la cruz le queman, en su Ley le condenan a muerte! Dios, por Moisén, mandó que se acabase con ellos. 5 Tradução livre do original: Se defienden sagazmente de feroces vecinos, más con ingeniosidad que con armas y fortificaciones. Ellos son hombres de malicia cuadruplicada, hipocresía y disimulación extrema. De tan engañosa apariencia, quieren tener leyes y naciones para sí. La negociación multiplica y comanda sus rostros, y el interés quita sus almas. 4
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Quevedo vai além e reproduz a fala de um dos membros no tal encontro: Não temos nem admitimos o nome de reino ou República, nem outro que o de Monopantos: deixamos os sobrenomes para as repúblicas e para os reis, e para tirar deles o poder limpo da vaidade daquelas palavras magníficas; nós almejamos nossa afirmação de que eles são os senhores do mundo e nós deles. Tão cheio de majestade que não encontramos com quem fazer confederação igual, a perda e ganho, mas com você, que agora são os trapaceiros de toda a Europa. (QUEVEDO, 1644, p. 4)6
A história seria explorada pelos Protocolos dos Sábios de Sião, uma contrafação de autoria de Petr Ivanovitch Rachovsky (1853-1910) e escrita na Rússia czarista, em 1903, segundo Pacepa e Rychlak (2015). De acordo com um artigo de mesmo nome, publicado no Museu Memorial do Holocausto (2016), são 24 atas com invenções, cuja intenção é culpar os judeus pelos males mundiais. Uma das grandes falsificações históricas que encontrou ampla difusão no começo do século XX, sobretudo na Alemanha nazista, inspirando o livro Mein Kampf (Minha Luta), de Adolf Hitler, escrito em 18 de julho de 1925. Durante o momento de consolidação da imprensa, ocorrido na Revolução Francesa (1789-1793), surgiram a imprensa diária de informação, a imprensa de direita e as folhas revolucionárias, de acordo com Quintero (1996). Nestas últimas, enquadra-se o jornal L'Ami du peuple (O Amigo do Povo), criado em 12 de setembro de 1789 e editado pelo médico Jean-Paul Marat (1743-1793). Segundo Gottschalk (2013), era um periódico que
No tenemos ni admitimos el nombre de reino o República, ni otro que el de Monopantos: dejamos los apellidos para las repúblicas y para los reyes, y para sacar de ellos el poder limpio de la vanidad de aquellas palabras magníficas; nosotros anhelamos nuestra afirmación de que ellos son los señores del mundo y nosotros de ellos. Tan lleno de majestad que no encontramos con quien hacer confederación igual, la pérdida y ganancia, pero contigo, que ahora son los tramposos de toda Europa. 6
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divulgava informações acerca do movimento revolucionário encabeçado pelos jacobinos e fazia denúncias ácidas de supostas tramas contrarrevolucionárias envolvendo os girondinos. As notícias e pequenas notas com títulos chamativos e linguagem apelativa traziam informações que nem sempre eram verdadeiras — muitas vezes inspiradas pelo fanatismo de seu autor. Na edição de 5 de outubro de 1789, por exemplo, o Amigo do Povo publicou, detalhadamente, o relato de um suposto acontecimento durante o banquete comemorativo de novos oficiais do exército, ocorrido no dia primeiro daquele mês em Versalhes — prática comum à época entre os militares da corte real que mudariam de guarnição. (...) Marat publicou sobre uma “orgia contra-revolucionária” que suas muitas fontes confidenciais tinham testemunhado na corte real em Versalhes. Foi um relato detalhado de um incidente em que um “grande número de oficiais” do exército real e “líderes do exército da milícia burguesa” (a Guarda Nacional) insultou abertamente e ameaçou a Revolução. Rumores persistentes de intrigas conspiratórias visando esmagar a Revolução militarmente. (CONNER, 2012, p.50)7
O evento de comemoração militar é verídico, mas a ofensa aos símbolos da França discorrida por Marat não passa de fantasia. A mentira serviu de combustível à conhecida Jornada de Outubro, quando milhares de franceses descontentes com o aumento de preços nos alimentos marcharam de Paris a Versalhes para dar início ao fim do absolutismo, segundo Schama (1989). Para Ferro (1995), durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o fascismo e nazismo também foram palco para as fake news, ferramentas de ambas as ditaduras que protagonizaram atrocidades no século XX. A imprensa, tanto nacional quanto estrangeira, tornou-se instrumento de
7 Tradução livre do original: (...) Marat published about a "counterrevolutionary orgy" that his many private sources had witnessed at the royal court at Versailles. It was a detailed account of an incident in which a "large number of officers" of the royal army and "bourgeois militia army leaders" (the National Guard) openly insulted and threatened the Revolution. Persistent rumors of conspiratorial intrigues aimed at crushing the Revolution militarily.
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disseminação das narrativas dos líderes Adolf Hitler (1889-1945) e Benito Mussolini (1883-1945), que ludibriavam pessoas com mentiras acerca de seus regimes de governo, seja pela televisão, pelo jornal ou rádio. Nos bastidores dessas nações que prosperavam pós Primeira Guerra, o saldo de mortes pela repressão aumentava sucessivamente. Exemplo dessa afirmação ocorreu em 1939. Segundo Evans (2014), auxiliada por Stalin, a Alemanha invadiu a Polônia e matou cerca de 70 mil soldados naquele ano — a intenção de Hitler era apropriar-se de terras importantes na Áustria e Tchecoslováquia. O ataque necessitava de uma justificativa, a cargo do então ministro da propaganda dos nazistas, Joseph Goebbles (1897-1945), que deturpou acontecimentos do passado para influenciar a opinião pública alemã: (...) a máquina de propaganda de Goebbels havia entrado em ação para persuadir os alemães de que a invasão fora inevitável em razão da ameaça polonesa de genocídio contra os alemães étnicos que viviam na Polônia. O regime militar nacionalista daquele país de fato havia discriminado intensamente a minoria alemã étnica nos anos entreguerras. No princípio da invasão alemã em setembro de 1939, tomado por temores de sabotagem por trás das linhas, o governo polonês havia detido entre 10 mil e 15 mil alemães étnicos e fez que marchassem para a região leste do país, espancando os retardatários e atirando em muitos dos que desistiam por exaustão. Também houve ataques disseminados a membros da minoria alemã étnica, cuja maior parte não disfarçou o desejo de voltar para o Reich alemão desde sua incorporação forçada à Polônia no fim da Primeira Guerra Mundial. (EVANS, 2014, p. 25)8 Tradução livre do original: (...) the Goebbels propaganda machine had come into action to persuade the Germans that the invasion was inevitable because of the Polish threat of genocide against the ethnic Germans living in Poland. The nationalist military regime in that country had in fact severely discriminated against the ethnic German minority in the interwar years. At the beginning of the German invasion in September 1939, feared by sabotage behind the lines, the Polish government had detained between 10,000 and 15,000 ethnic Germans and had them marched to the eastern part of the country, beating the stragglers and firing on many of those who gave up because of exhaustion. There were also widespread attacks on members of the ethnic German minority, most of whom did not disguise their desire to return to the German Reich since their forced incorporation into Poland at the end of World War I. 8
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Prossegue o autor que o Ministério da Propaganda investiu na campanha de suposta “ameaça inevitável” dos poloneses, pois o objetivo de Hitler era garantir suficiente apoio popular à invasão, e muitos alemães foram persuadidos, a exemplo de Melita Maschmann (1918-2010), uma influente jovem ativista e líder da Liga das Moças Alemãs, a ala feminina da Juventude Hitlerista. Ela foi enganada de que a guerra era moralmente justificável não só à luz das injustiças de Versalhes, que havia concedido regiões de idioma alemão para o novo Estado polonês, mas também por reportagens na imprensa e nos cinejornais sobre a pretérita violência polonesa contra a minoria alemã. Até mesmo a chacina de doentes mentais que ocorreu no Terceiro Reich foi instrumento da mentira. Evans (2014) relata que funcionários da Justiça começaram a notar a frequência incomum de mortes entre os pacientes de instituições psiquiátricas. Porém, ninguém foi tão longe quanto Lothar Kreyssig (1898-1986), juiz de Brandemburgo especializado em questões de tutela e adoção. Membro da Igreja Confessional e veterano de guerra, Kreyssig ficou desconfiado quando pacientes psiquiátricos tutelados pelo tribunal que se enquadravam em sua área de responsabilidade, começaram a ser transferidos de sua instituição e pouco depois dados como vítimas de morte repentina. Kreyssig escreveu ao então ministro da Justiça, Franz Gürtner (18811941) protestando contra o que descreveu como “um programa ilegal e imoral de assassinato em massa”. A resposta dada pelo Ministério a essa e a outras indagações semelhantes foi a criação de leis garantindo imunidade aos assassinos. No fim de abril de 1941, a Justiça organizou uma palestra de Brack e Heyde a juízes e promotores importantes para tentar acalma-los. Nesse ínterim, Kreyssig foi convocado para uma entrevista com o secretário de Estado, Roland Freisler, principal funcionário do Ministério, que o informou que as mortes eram executadas por ordens de Hitler. O juiz escreveu aos diretores de hospitais psiquiátricos em seu distrito informando-os de que as transferências para os centros de matança eram ilegais e ameaçando-os com ação judicial caso transportassem algum paciente de sua jurisdição — Kreyssig foi aposentado de forma compulsória em dezembro de 1941. Ele foi uma figura solitária na persistência das tentativas de deter a campanha de mortes. As demais dúvidas de advogados e promotores preocupados com o caso foram sufocadas pelo Ministério da Justiça, e não houve uma ação legal decorrente. Evans (2014) descreve que a Missão Interna, liderada pela igreja evan66 | TCC 2019
gélica, e a Associação Cáritas, pela igreja católica, tentaram retardar o registro e a transferência de seus pacientes aos locais de chacinas. Um dos diretores, o religioso Paul Gerhard Braune (1887-1954), chefe de um grupo de hospitais em Württemberg, pediu ajuda ao pastor Friedrich von Bodelschwingh, uma figura do mundo das organizações assistenciais protestantes. Ele comandava o Hospital Bethel de Bielefeld e recusou-se a permitir que seus pacientes fossem levados à chacina. O líder regional do Partido local recusou-se a prendê-lo, visto que sua reputação era mundial — Bodelschwingh era conhecido pela aplicação dos princípios cristãos de caridade. Na meia-noite de 19 de setembro de 1940, um avião sobrevoou o hospital Bethel e o bombardeou, matando 11 crianças deficientes e uma enfermeira. O ministro Goebbels empurrou toda a imprensa contra o que chamou de “barbaridade dos britânicos”: Infanticídio em Bethel – Crime revoltante, informou a manchete do Jornal Geral Alemão. Dois dias depois do ataque, um funcionário alemão, que era uma das fontes do correspondente americano William L. Shirer, foi a seu quarto de hotel e disse que a Gestapo estava liquidando os reclusos de instituições mentais. Ele afirmou que o Hospital Bethel fora bombardeado por um avião alemão, e não inglês, porque o pastor Bodelschwingh recusara-se a cooperar. 1.3. Fake news na Guerra Fria Gaddis (2007) registra que, com o fim da Segunda Guerra e a conquista de Berlim pelos Países Aliados, o mundo dividiu-se em dois polos ideológicos: capitalista dos Estados Unidos e socialista da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, que deram início ao período conhecido por Guerra Fria (1945-1991). O confronto entre as duas potências detentoras de armas nucleares se dava de forma indireta, mais precisamente no campo da inteligência. De acordo com Shultz e Godson (1984), os Estados Unidos criaram a Agência Central de Inteligência (CIA) em 25 de maio de 1947, uma espécie de contrapartida ao Comitê de Segurança de Estado (KGB), fundado em 20 de dezembro de 1917 pelos comunistas, à época com o nome de CHEKA. Ambas as organizações desenvolviam estratégias militares para atingir objetivos sociais e políticos. Coletar informações através de agentes infiltrados em países estrangeiros compunha o roteiro dessas centrais. Whitney (2016) registra que durante a Guerra Fria a CIA controlava mais de duas dúzias de revistas e jornais nos EUA e na Europa, a exemplo de Preuves na França, Der Monat na Alemanha e Encounter em Londres — além da menos conhecida Quest na Índia —, Mundo Nuevo em Paris (para TCC 2019 | 67
leitores hispânicos) e Jiyu no Japão. Essas publicações foram concebidas, criadas, nomeadas e até mesmo supervisionadas por agentes norte-americanos que consultavam diretamente nomes como o diretor da CIA, Allen Dulles, outras agências e espiões estrangeiros sobre os direcionamentos editoriais daqueles veículos. Entre as revistas que operavam sob a gerência da espionagem dos EUA estava a trimestral-literária The Paris Review, um título de prestígio mundial que publicava reportagens, charges e também histórias fictícias. Criada em 1953 pelos amigos Harold Humes, George Plimpton e Peter Mattiessen’s, tinha por objetivo fazer jornalismo, mas sua integridade e compromisso ético com o leitor foram violados quando um de seus fundadores decidiu receber apoio financeiro e político da CIA, afirma Whitney (2016). A utilização do veículo pela inteligência norte-americana intendia disseminar conteúdo anti-comunista na Europa. Acrescenta Whitney (2016) que a revista coleciona em seu histórico elogios de prestigiosas publicações americanas como a Time, a Newsweek e outros media em toda a Europa. A The Paris Review ajudou no lançamento das carreiras de William Styron, Terry Southern, T.C. Boyle, Philip Roth, entre outros. Figuras políticas e culturais como Jackie Kennedy se relacionavam com o corpo editorial da revista. Seu editor-chefe, Plimpton, já era autor de best-sellers, amigo dos Kennedy, um dos homens mais atraentes na América, segundo a revista Esquire e, de acordo com Norman Mailer, o homem mais popular da cidade de Nova York. Whitney (2016) denuncia uma parceria entre a The Paris Review e o think thank norte-americano “Congresso pela Liberdade Cultural”, surgido na década de 50. O objetivo daquela organização era produzir conhecimento e material adverso ao comunismo — em meados de 1960, descobriu-se que a instituição era patrocinada pela CIA. A aliança iniciou-se com a agência de espionagem conseguindo contratos publicitários para a The Paris Review. Em troca, a CIA poderia reproduzir nos veículos controlados por ela as famosas entrevistas da Review e ter em suas mãos a linha editorial da revista, sujeita às exigências políticas dos EUA no âmbito da Guerra Fria. É exemplificado por Whitney (2016) que a CIA patrocinou secretamente a primeira exposição europeia do expressionismo abstrato de Jackson Pollock (1912-1956). Como a abordagem histórica de um texto dos Novos Críticos, a obra do artista não se prestava a uma narrativa marxista ou anti-imperialista como os murais de Diego Rivera (1886-1957) faziam. Esse novo expressionismo americano apontou para a liberdade individual em uma campanha contra o realismo social, um estilo que Franklin D. Roo68 | TCC 2019
sevelt (1882-1945) financiara durante a Grande Depressão (1929-1939). A CIA entendeu que os pintores expressionistas precisavam de uma boa imagem perante a opinião pública, enquanto os realistas sociais teriam de ser marginalizados. Para isso, o Congresso pela Liberdade Cultural ficou responsável por acionar o serviço de notícias que ele controlava — mais seus escritórios em dezenas de países — para publicar conteúdo favorável aos artistas e promover o movimento cultural norte-americano. Publicou dezenas de matérias em revistas anticomunistas, não sendo todas 100% verdadeiras, realizou várias exposições de arte e premiou músicos, entre outras personalidades. A missão principal do Congresso era empurrar a intelligentsia9 da Europa Ocidental para longe do marxismo e do comunismo em direção a uma visão mais complacente do "modo americano". O diretor da CIA, Allen Dulles, dirigia também agências de notícias, companhias aéreas, fábricas de papel e frentes de produção de filmes. Às vezes, uma empresa legítima abrigava uma empresa-fantasma da CIA para dar-lhe aparência de legitimidade, sempre no intuito de marginalizar o inimigo e promover as próprias crenças. Já o vice-diretor da CIA, James Jesus Angleton, nomeado chefe de contra inteligência, tinha sob seu comando muitos jornalistas. Whitney (2016) salienta que o Congresso não apenas fazia propaganda positiva de suas causas, mas também, ao lado da CIA, se engajava em noticiar através de seus veículos as “mentiras” da “coexistência”, “neutralidade”, “não-alinhamento”, “paz”, “anti-racismo” e outras palavras que supostamente foram originadas nos grupos da frente comunista. O Congresso foi convocado não apenas para espalhar críticas, mas confundir os estrangeiros e americanos através do noticiário. Entre as ações da CIA durante a Guerra Fria estava a enorme infusão de dinheiro da agência de espionagem para financiar as eleições italianas de 1948, que iniciaram mais de duas décadas de subsequentes subornos eleitorais naquele país. Ao todo, entre 1948 e 1975, mais de US$ 75 milhões foram gastos pela CIA nas eleições italianas, parte de um programa mundial de apoio secreto e ilícito para partidos democratas-cristãos e seus análogos,
Segundo Whitney (2016), trata-se da forma que o aparato de espionagem da CIA norte-americana era apelidado no meio interno de seus agentes. Uma forma de diferenciar-se das filiais que possuía ao redor do mundo. TCC 2019 | 69
como o particularmente corrupto Partido Liberal Japonês. As operações eram justificadas como uma reação às investidas culturais soviéticas no Ocidente, e a literatura somada ao jornalismo foram escolhas da agência de espionagem norte-americana para contra-atacar os comunistas. Os EUA, segundo Whitney (2016), precisavam se tornar incentivadores de sua alta cultura. Mas os mesmos homens que agitavam uma agência para defender a cultura também acreditavam que os americanos precisavam combater fogo com fogo, empregando sabotagem, guerra secreta e todo tipo de atividades nefastas que os soviéticos estavam envolvidos. Pacepa e Rychlak (2015) argumentam que os comunistas possuíam técnicas mais desenvolvidas no que tange à coleta de informação e planejamento de estratégias comparadas à CIA. Embasados por cartas, fotografias, e um farto material contendo entrevistas de ex-espiões desertores da URSS — sendo Pacepa um ex-general da KGB da Romênia —, os escritores constatam que a Alemanha nazista e a Rússia soviética distinguem-se de seus adversários norte-americanos por serem pioneiras, em sua época, da teoria e da prática da guerra política. Os autores atribuem ao serviço secreto do Kremlin o ato de desinformar. Ambos afirmam que a palavra dezinformatsiya10 (desinformação, em tradução livre) não significa “informar mal”, e sim uma ferramenta secreta de inteligência criada na Rússia, cuja finalidade é outorgar chancela ocidental, não governamental, a mentiras de governo. Plantar a mentira em centros de disseminação de informação, como os media tradicionais, é apenas um ingrediente da dezinformatsiya (em russo). Durante a Guerra Fria, um milhão de pessoas do bloco soviético trabalhavam nesse maquinário, outros milhares contribuíam ao redor do mundo. Prosseguem Pacepa e Rychlak (2015) que a KGB criou entidades internacionais de fachada, como o Conselho Mundial da Paz, em 1949 — presente em 112 países. A atividade principal dessa “aldeia de dezinformatsiya”, nome dado a tais organizações frentistas, era reivindicar autoria de material criado pelos soviéticos que documentassem que os Estados Unidos eram
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De acordo com Pacepa e Rychlak (2015), era considerada uma ciência pela KGB.
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um país sionista, provocador de guerras, financiado com o dinheiro judeu e governado por um voraz “Conselho dos Sábios de Sião”. O objetivo era disseminar o medo que os norte-americanos, através de uma guerra, transformariam o mundo num “feudo judeu”. Para que a dezinformatsiya, considerada uma ciência pelos russos, obtivesse sucesso, uma condição era necessária: as notícias acerca das operações da KGB deveriam sempre ser construídas através de um ‘cerne de verdade’ que lhe emprestaria credibilidade. O “cerne de verdade” do Conselho Mundial da Paz, por exemplo, era o fato de estar sediado em Paris e comandado pelo prêmio Nobel Frédéric Joliot-Curie (1900-1958), um homem identificado com as ideias da esquerda no espectro político, e que emprestou o próprio prestígio à instituição. Até mesmo o Papa Pio XII (1876-1958) foi vítima das notícias falsas que lhe concederam a alcunha “Papa de Hitler”. Pacepa e Rychlak (2015) discorrem que a Rádio Moscou, em 3 de junho de 1945, “noticiou” que o pontífice era aliado dos nazistas. Argumentam os autores ser falsa tal acusação, pois o líder da Santa Sé deu apoio — inclusive gastando sua fortuna pessoal — aos judeus perseguidos de ambas as ditaduras, sendo peça-chave na divulgação de informações relevantes aos Aliados no que tangia aos planos do Eixo, e atuando no acolhimento de semitas fugitivos. A edição de junho de 1944 de um boletim lançado pelo “Grupo da Brigada de Judeus” (Oitavo Exército dos Estados Unidos) trazia um editorial de primeira página que punha inteiramente abaixo a insinuação da Rádio Moscou: “Para a glória eterna do povo de Roma da Igreja Católica Romana, podemos declarar que a sina dos judeus foi amenizada por suas ofertas verdadeiramente cristãs de assistência e abrigo”. (PACEPA, RYCHLAK, 2015, p. 96)
Adiante, os pesquisadores narram que: A insinuação da Rádio Moscou de que Pio XII fora o “Papa de Hitler” não atraiu atenção alguma no Ocidente, pois o apoio heroico do Papa aos Aliados e sua generosa ajuda aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial ainda estavam frescos na mente das pessoas. Elas conheciam esse homem bem demais, baseadas na palavra das mais altas autoridades ocidentais, para que a insinuação
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pegasse. (PACEPA, RYCHLAK, 2015, p. 97)
Joseph Stalin (1878-1953) havia sido o mandante da desconstrução da imagem de Pio XII não só pelas inúmeras interferências do pontífice nos planos do Eixo, mas pela ânsia do ditador russo em tornar-se “o único deus da União Soviética”. Portanto, era preciso uma campanha de dezinformatsiya que tentasse prejudicar o maior símbolo da Igreja Católica, muito influente na Rússia bolchevique. Para isso, vários líderes católicos que viviam na URSS e na Europa Oriental, próximos a Pio XII, foram caluniados como “apoiadores nazistas”, a exemplo dos cardeais Alojzije Stepinac (1898-1960) e József Mindszenty (1892-1975), ambos fortes atuantes no combate ao nazi-fascismo e sobretudo comunismo. Afirmam Shultz e Godson (1984) que os métodos soviéticos conduziam as chamadas “medidas ativas” que incluíam grande variedade de técnicas políticas. A propaganda disfarçada, por exemplo, era utilizada na tentativa ininterrupta de influenciar os meios de informação dos países estrangeiros e, através deles, a população local. Em tal sentido, Moscou tentou publicar diversas matérias de autoria ou de inspiração soviética nos veículos de informação de outros países — sobretudo EUA —, sem indicação de fonte ou atribuindo-as a autores não-soviéticos. Shultz e Godson (1984) discorrem que: Embora haja semelhanças entre as medidas ativas soviéticas e algumas atividades ocidentais, existem também diferenças importantes. Em primeiro lugar, enquanto Moscou tem ambições de âmbito global a longo prazo, os objetivos das técnicas de influência política do Ocidente são muito mais restritos. Em segundo lugar, os meios utilizados nas medidas ativas soviéticas são virtualmente ilimitados. Os profissionais liberais soviéticos parecem ser restringidos principalmente pela prudência e pelas exigências de eficiência. Por sua vez, os líderes ocidentais são também reprimidos rotineiramente, principalmente por motivos de ordem cultural, política e moral. (SHULTZ, GODSON, 1984, p.21)11
Os autores completam afirmando que: As nações do Ocidente, particularmente os Esta-
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dos Unidos, são demasiadas pluralistas para conseguirem uma coordenação central de grande alcance, exceto em circunstâncias muito excepcionais. Por sua vez, os líderes soviéticos empenham-se em campanhas de medidas ativas durante períodos prolongados. Os governos ocidentais, por outro lado, são frequentemente substituídos e estão sujeitos à inconstância da opinião pública. Estas são algumas das diferenças fundamentais entre a capacidade soviética para manobrar as medidas efetivas e o princípio instrumentalista ocidental. De fato, dos regimes do século XX, apenas o nazismo alemão rivalizou com Moscou e seus aliados na apreciação, compreensão e utilização dessas ferramentas da política externa. (SHULTZ, GODSON, 1984, p.21)12
Informa Bittmann (1985), ex-expião da URSS que desertou para os EUA em 1968, que os russos construíram “moinhos de dezinformatsiya” em diversos países. Tais organizações de inteligência eram enxutas e contavam com o apoio de agentes infiltrados nos centros de disseminação de informação para propagar a mentira: professores universitários, jornalistas e até mesmo traidores que integravam o círculo dos governos-alvo serviam aos interesses da União Soviética. Várias acusações anti-americanas eram sustentadas em falsas evidências, como na conhecida “Carta Rockefeller”.
Tradução livre do original: Although there are similarities between Soviet active measures and some Western activities, there are also important differences. First, while Moscow has ambitions of a global scope in the long run, the objectives of Western political influence are much narrower. Secondly, the means used in the Soviet active measures are virtually unlimited. Soviet liberal practitioners appear to be constrained primarily by prudence and efficiency requirements. In turn, Western leaders are also repressed routinely, mainly for cultural, political and moral reasons. 12 Tradução do original: The nations of the West, particularly the United States, are far too pluralistic to achieve far-reaching central coordination except in very exceptional circumstances. In turn, Soviet leaders engage in active action campaigns over extended periods. Western governments, on the other hand, are often replaced and subject to fickleness of public opinion. These are some of the fundamental differences between the Soviet capacity to maneuver effective measures and the Western instrumentalist principle. In fact, of the twentieth-century regimes, only German Nazism rivaled Moscow and its allies in the appreciation, understanding, and use of these foreign policy tools. 11
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Em fevereiro de 1957, o jornal comunista News Deutschland (Notícias da Alemanha) publicou várias páginas de uma suposta carta de Nelson Rockefeller (1908-1979) endereçada ao então presidente Dwight Eisenhower (1890-1969). Nela, havia delimitações de um plano para usar ajuda econômica e militar no intuito de influenciar e manipular países estrangeiros. Bittmann (1985) registra que a “carta” continha inúmeros erros ortográficos, bem como termos políticos incomuns usados pelo então vice-presidente, notório por ser um indivíduo letrado. Isso não impediu que o documento fosse amplamente reproduzido pelos principais veículos de comunicação europeus alinhados aos comunistas — inclusive por jornais liberais. Bittmann (1985) recorda que anos antes, durante a Guerra das Coreias (1950-1953), a KGB havia conduzido em todo o mundo uma campanha de desinformação acusando os EUA de terem promovido uma guerra bacteriológica em favor dos sul coreanos. Para isso, os comunistas contaram com a ajuda de jornalistas ocidentais, como Wilfred Burchett (1911-1983) para dar ares de legitimidade à falsa acusação. Evidências foram forjadas pelo maquinário de dezinformatsiya do Kremlin e plantadas tanto nos jornais comunistas como nos ocidentais. Nos anos 1950 e 1960, Nikita Krushchev (1894-1971) decidiu que entraria para a História como o líder soviético que exportou o comunismo para a América Latina. Depois de ajudar no golpe de Estado que levou os ditadores Castro ao governo cubano, o chefe da URSS mobilizou o aparato de dezinformatsiya da KGB para espalhar a revolução pela América do Sul. Pacepa e Rychlak (2015) afirmam que a tentativa não deu certo porque a maioria dos latino-americanos era pobre, camponeses religiosos que aceitavam a condição em que viviam. Krushchev estava certo de que essas pessoas poderiam ser convertidas ao marxismo através de uma manipulação da religião. Em 1968, a KGB manobrou um grupo de bispos de esquerda para sediar uma conferência em Medellín, cujo propósito oficial era “eliminar a pobreza na América Latina”. Pacepa e Rychlak (2015) concluem que a meta desse plano era legitimar um movimento político criado pela KGB chamado Teologia da Libertação. O objetivo da missão secreta dos russos era incitar os pobres latino-americanos contra a “a violência institucionalizada da pobreza criada pelos Estados Unidos”. A Conferência de Medellín endossou efetivamente a Teologia da Libertação e a recomendou para o Conselho Mundial de Igrejas (WCC), sediado em Genebra, a fim de obter aprovação oficial. Salientam Pacepa e Rychlak (2015) que o WCC, “a fim de represen74 | TCC 2019
tar a Igreja Ortodoxa Russa”, integrava o maquinário de dezinformatsiya na América Latina. Era outro órgão de fachada da KGB — assim como o Conselho Mundial da Paz — controlado pelo serviço secreto de inteligência soviética. Objetivava legitimar suas missões de espionagem através da produção de conteúdo favorável à causa comunista para ser divulgado nos grandes veículos de comunicação. Era preciso, também, dissemina-lo em igrejas, nos diretórios de movimentos sociais e secundaristas, nas universidades, e fomentar a formação de intelectuais que sustentassem a Teologia da Libertação. Castro promoveu intensamente a teologia da libertação criada pela KGB, que hoje finca raízes firmes na Venezuela, Bolívia, Honduras e Nicarágua. Nesses países, os camponeses apoiaram esforços dos ditadores marxistas Hugo Chávez, Evo Morales, Manuel Zelaya (agora exilado na Costa Rica) e Daniel Ortega para transformarem os seus países em ditaduras de Estado policial, ao estilo da KGB. Em setembro de 2008, a Venezuela e a Bolívia puseram para correr seus embaixadores americanos numa mesma semana e pediram proteção militar russa. (PACEPA, RYCHLAK, 2015, p. 153)
Leonardo Boff, no artigo “Quarenta anos da Teologia da Libertação”, publicado em seu blog pessoal no dia 08 de novembro de 2011, sustenta que a grande marca do movimento é “a opção pelos pobres contra sua pobreza e a favor de sua vida e liberdade”. O autor afirma que só é possível falar de libertação quando o sujeito principal é o próprio oprimido. Simpatizantes da corrente religiosa entram como aliados “para alargar as bases da libertação”. Segundo Boff, a teologia defendida por ele é a revelação de uma libertação histórico-social. Boff conclui que a Teologia da Libertação revelou dimensões diferentes e novas da mensagem da revelação de Jesus Cristo, pois propiciou a reapropriação da Palavra de Deus pelos pobres. Nas comunidades de base e círculos bíblicos, os mais carentes aprenderam comparar as páginas da Bíblia com as páginas da vida e tirar consequências para sua prática cotidiana. Lendo os Evangelhos e os confrontando com Jesus, perceberam a contradição entre a condição pobre de Cristo e a riqueza da grande instituição Igreja. Relata Bittmann (1985), ex-agente do Departamento de Desinformação da Checoslováquia, braço da KGB, que em fevereiro de 1965, a central de inteligência onde trabalhava iniciou várias operações desinformativas nos TCC 2019 | 75
países aliados dos Estados Unidos. O objetivo: macular a imagem dos norte-americanos. Os alvos mais cobiçados eram governos que enfrentavam problemas econômicos, sociais e políticos ou aqueles que passavam por alguma dificuldade que abrisse portas aos interesses do Kremlin. A América Latina estava no radar da União Soviética e, para facilitar a entrada de agentes comunistas no continente sul-americano, México e Uruguai serviram de bases operacionais à inteligência da Checoslováquia, que concentrou a atenção no Brasil, na Argentina e no Chile. Naquele tempo, Bittmann (1985) registra a poderosa influência Tcheca numa grande quantidade de professores universitários, artistas do show business e jornalistas à serviço de Moscou — controlaram um jornal brasileiro até 19 de abril de 1942. Bittmann (1985) afirma que participou da Operação Thomas Mann, cujo objetivo era provar que a política externa americana na América Latina passara por profundas transformações desde a morte do presidente John F. Kennedy (1917-1963). O Kremlin pretendia destacar a política americana como sinônimo de exploração econômica e interferente nas condições internas de países latino-americanos. De acordo com a teoria fabricada, o Secretário de Estado Adjunto, Thomas A. Mann, era o autor e diretor da nova política. Queríamos criar a impressão de que os Estados Unidos estavam impondo uma pressão econômica injusta aos sul-americanos com políticas desfavoráveis ao investimento do capital privado dos EUA. Também queríamos criar a impressão de que os Estados Unidos estavam levando a Organização dos Estados Americanos (OEA) a uma postura anticomunista mais ativa, enquanto a Agência Central de Inteligência planejava golpes contra regimes no Chile, Uruguai, Brasil, México e Cuba. (BITTMANN, 1985, p.9)13
Tradução livre do original: We wanted to create the impression that the United States was imposing unfair economic pressure on South Americans with policies unfavorable to US private equity investment. We also wanted to create the impression that the United States was leading the Organization of American States (OAS) to a more active anti-communist stance, while the Central Intelligence Agency planned coups against regimes in Chile, Uruguay, Brazil, Mexico, and Cuba. 13
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Salienta o ex-agente da KGB que a operação se destinava a alertar o público latino-americano contra “a nova política linha-dura norte-americana”, incitar explosões antiamericanas mais intensas e rotular a Agência Central de Inteligência (CIA, em inglês) como a notória perpetradora de intrigas antidemocráticas. A operação dependia apenas de canais anônimos para dissuadir uma série de falsificações. A primeira delas, um comunicado de imprensa da Agência de Informações dos Estados Unidos no Rio de Janeiro, que continha os princípios fundamentais da "nova política externa americana". A segunda falsificação foi uma série de circulares oriundos da suposta organização "Comitê para a Luta contra o Imperialismo Ianque". O objetivo declarado dessa entidade inexistente era alertar o público latino-americano para as supostas centenas de agentes da CIA, do DOD e do FBI disfarçados de diplomatas. Uma terceira falsificação foi uma carta escrita por J. Edgar Hoover, diretor do FBI, para o agente Thomas A. Brady. A carta creditava ao FBI, à CIA e ao governo dos Estados Unidos a execução bem-sucedida do golpe de Estado brasileiro em 1° abril de 1964. O comunicado de imprensa forjado pelos comunistas e atribuído à United States Information Agency - USIA (Agência de Informações dos Estados Unidos) no Rio de Janeiro foi distribuído em meados de fevereiro de 1964 num envelope simulado da USIA para a imprensa brasileira e políticos brasileiros selecionados. Uma carta anexa ao comunicado e supostamente escrita por um funcionário local da USIA afirmava que o chefe americano da missão tinha suprimido o documento. Ele revelou que conseguiu reter várias cópias e que as entregou à mídia brasileira porque estava convencido de que o público deveria saber a verdade. Na conclusão, o autor anônimo afirmou que não podia revelar seu nome porque arriscaria perder o emprego. Em 27 de fevereiro de 1964, a falsificação apareceu no jornal O Semanário sob a manchete: "MANN FIXA LINHA DURA AOS ESTADOS UNIDOS: NÓS NÃO PODEMOS SER NEGADOS", e um ataque antiamericano acompanhou o texto do comunicado de imprensa falsificado. Segundo Bittmann (1985), em uma declaração publicada em 3 de março, o embaixador americano no Rio de Janeiro respondeu às autoridades brasileiras que Thomas Mann nunca havia proposto tais políticas e que a embaixada nunca havia emitido o comunicado de imprensa. Nos meses que se seguiram, a imprensa latino-americana de esquerda usou o nome Thomas A. Mann como um símbolo vivo do imperialismo americano. Prossegue o autor que, em 29 de abril de 1964, o semanário próTCC 2019 | 77
-comunista mexicano Siempre publicou um artigo referindo-se ao chamado “Plano Thomas Mann contra a América Latina” e acrescentou que o esquema pedia a derrubada dos governos do Chile, Brasil, Uruguai, Cuba e o isolamento do México durante 1964. A revista uruguaia Epoca repetiu a acusação em 20 de maio daquele ano. Uma semana depois, o primeiro secretário do Partido Comunista uruguaio falou no parlamento no contexto de uma discussão sobre as exportações americanas e acusou Thomas Mann de estar "cinicamente favorecendo um golpe de Estado". No dia seguinte, quando a embaixada americana em Montevidéu publicou um lembrete de que o chamado Plano Thomas Mann era uma falsificação, o órgão comunista El Popular respondeu em 5 de junho de 1964 com um artigo intitulado "Senhor Mann: Plano de Guerrilha Para Toda a América latina". Em 16 de junho de 1965, o jornal mexicano de esquerda El Dia publicou um anúncio de quarto de página do "Comitê Nacional Coordenador de Apoio à Revolução Cubana". O artigo afirmava que, em 1964, Mann havia orientado a Operação Isolamento, destinada a minar a posição de Cuba como líder da luta anti-imperialista na América Latina. Como mencionado anteriormente neste trabalho, uma segunda técnica usada em tal campanha de dezinformatsiya consistiu em circulares e proclamações disseminadas em nome da organização fictícia: o Comitê pela Luta contra o Imperialismo Ianque. A maioria desses documentos supostamente identificou representantes americanos na América Latina como espiões, incluindo diplomatas, empresários e jornalistas. Segundo registros de Bittmann (1985), a seleção de candidatos foi relativamente simples. As publicações dos EUA continham dados biográficos valiosos sobre diplomatas americanos e funcionários de várias organizações privadas e oficiais operando no exterior. Era fácil selecionar candidatos cujos antecedentes biográficos estivessem em sintonia com o propósito do engano. Essas acusações fictícias foram aceitas pela mídia na maioria dos casos como informações verdadeiras. Shultz e Godson (1984) explicam que a América Latina também foi vítima de diversos artigos falsificados oriundos do boletim quinzenal Síntese, criado e editado por Pierre-Charles Pathé sob o pseudônimo “Charles Morand”. À época, a publicação tinha entre os assinantes 139 senadores, 299 deputados e 41 jornalistas de diferentes países na América do Sul. O objetivo do periódico era criticar a política norte-americana e camuflar a ditadura cubana ao ignorar as centenas de presos políticos naquela ilha, bem como justificar o golpe dos irmãos Castro como sendo “necessário para impedir possíveis atentados americanos na derrubada do novo governo”. 78 | TCC 2019
Prosseguem Shultz e Godson (1984) que, em julho de 1964, os latino-americanos receberam uma "prova" adicional de atividades subversivas americanas na forma de duas cartas forjadas assinadas por J. Edgar Hoover. Ambos foram endereçados a Thomas Brady, um funcionário do FBI. A primeira, datada de 2 de janeiro de 1961, foi uma mensagem de congratulações por ocasião do vigésimo ano de serviço de Brady ao Departamento Federal de Investigação. Seu objetivo era autenticar uma segunda carta datada de 15 de abril de 1964, a qual discorria: Prezado Sr. Brady: Quero aproveitar este meio para expressar meu apreço pessoal a cada agente estacionado no Brasil pelos serviços prestados no cumprimento de "Overbaul". A admiração pela forma dinâmica e eficiente em que esta operação de larga escala foi realizada, em terra estrangeira e em condições difíceis, levou-me a expressar minha gratidão. O pessoal da CIA fez bem a parte deles e conseguiu um bom negócio. No entanto, os esforços de nossos agentes foram especialmente valiosos. Estou particularmente satisfeito com o fato de nossa participação no caso ter sido mantida em segredo e de o governo não ter de fazer nenhuma negação pública. (BITTMANN, 1985, p.11)14
A carta encerra com o trecho: Podemos ficar orgulhosos da parte vital que o FBI está desempenhando na proteção da segurança da Nação, mesmo além de suas fronteiras. Tenho plena consciência de que nossos agentes frequentemente fazem sacrifícios pessoais enquanto cumprem suas obrigações. As condições de vida no Brasil não podem ser das melhores, mas é de fato encorajador saber que, por causa da lealdade e da percepção de que você está contribuindo com um serviço vital, se não glamoroso, para o seu país, você fica no emprego. É este espírito que hoje está permitindo que a nossa central cumpra com êxito as suas graves responsabilidades. Atenciosamente, J. E. Hoover (BITTMANN, 1985, p.11)15
Bittmann (1985) afirma que a falsificação era provar o envolvimento TCC 2019 | 79
direto dos americanos na derrubada do ex-presidente João Goulart (19191976) através da CIA. O serviço de inteligência da Checoslováquia culpou também o FBI na suposta conspiração americana porque a KGB não possuía amostras de papel timbrado da agência de espionagem norte-americana. A falsificação e uma das circulares mencionadas anteriormente surgiram pela primeira vez na revista argentina Propositos, em 23 de julho. Seguiu-se uma reação em cascata na imprensa latino-americana à medida que periódicos individuais se revezavam na disseminação da "nova onda de atividade subversiva norte-americana". Por outro lado, Bandeira (2008) afirma que as Marchas da Família com Deus pela Liberdade — as quais junto da opinião pública criaram as condições políticas para o golpe militar de 1964 —, organizadas por entidades anticomunistas e por grupos conservadores, tinham em seu meio agentes infiltrados da CIA. O papel da inteligência norte-americana teria vindo através de patrocínio do governo dos EUA às Marchas da Família traduzido em aportes financeiros à imprensa e outros setores da sociedade. Como embasamento, Bandeira (2008) garante que um telegrama secreto enviado pelo então embaixador americano no Brasil, Lincoln Gordon, à Casa Branca, ao Departamento de Estado e à CIA no dia 27 de março de 1964, comprova o envolvimento dos EUA no golpe de Estado brasileiro.
Tradução livre do original: Dear Mr. Brady: I would like to take this opportunity to express my personal appreciation to each agent stationed in Brazil for the services rendered in compliance with "Overbaul". The admiration for the dynamic and efficient manner in which this large-scale operation was carried out, on foreign land and in difficult conditions, led me to express my gratitude. The CIA staff did their part well and got a good deal. However, the efforts of our agents were especially valuable. I am particularly pleased that our participation in the case has been kept secret and the government does not have to make any public denials. 15 Tradução do original: We can be proud of the vital part that the FBI is playing in protecting the nation’s security, even beyond its borders. I am fully aware that our agents often make personal sacrifices while fulfilling their obligations. Living conditions in Brazil may not be the best, but it is indeed encouraging to know that, because of the loyalty and the perception that you are contributing a vital, if not glamorous, service to your country, you stay in the job . It is this spirit that today is enabling our plant to successfully fulfill its serious responsibilities. Sincerely, J. E. Hoover. 14
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Informa o telegrama de Gordon que a CIA empreendera covert measures (medidas encobertas, em tradução livre) para viabilizar as passeatas em diversos estados do Brasil. Contudo, esse suporte teria de ser velado às passeatas pró-democracia. Num dos trechos da mensagem, o embaixador menciona que “a próxima grande passeata acontecerá no dia 2 de abril, no Rio, e outras estão sendo programadas”. Bandeira (2008) discorre que a evidência é prova da atuação do governo dos EUA no monitoramento dos desdobramentos do golpe que viria quatro dias depois, sobretudo por Gordon demonstrar preocupação com o clima de instabilidade política no Brasil. Afirma Bandeira (2008) que os EUA pretendiam o encorajamento de sentimentos democráticos e anticomunistas no Congresso, nas Forças Armadas, nos grupos amigáveis de estudantes, na Igreja e no empresariado. 2. FAKE NEWS NA CONTEMPORANEIDADE Gaddis (2017) registra que, com a queda do Muro de Berlim em 9 de novembro de 1989 e o fim da União Soviética em 26 de dezembro de 1991, o capitalismo passou a ser a corrente de pensamento dominante no mundo. Bens e mercadorias tomaram o globo e a internet, antes ferramenta exclusiva do círculo militar, popularizou-se nas diversas camadas sociais. Castells (2009) analisa desta forma o momento da “era digital” com o fim do segundo milênio da Era Cristã, onde vários acontecimentos de importância histórica têm transformando o cenário social da vida humana. Uma revolução tecnológica concentrada nas tecnologias da informação vem remodelando a base material da sociedade em ritmo acelerado. No world wide web, as notícias falsas ganharam outra plataforma e a indústria da mentira apropriou-se de uma nova estrutura para evoluir e dar seguimento às suas atividades. A difusão sistemática de mentiras por organizações de fachada que atuam em prol de grupos de interesse passaram a suprimir informações precisas ou impedir que outros grupos agissem contra eles, tornando-se um negócio altamente lucrativo, afirma D’Ancona (2018). Na esteira da era digital veio a pós-verdade, fenômeno relativo a circunstâncias em que fatos objetivos são menos influentes na formação da opinião pública do que emoções e crenças pessoais, ao menos é o que registra matéria da BBC publicada em 16 de novembro de 2017 sob o título “Pós-verdade é declara a palavra do ano pelo dicionário de Oxford. A frequência de uso do termo" pós verdade em 2016, segundo o dicionário britânico, aumentou 2.000% em comparação a 2015. Na cultura política, pós verdade resume-se à ideia de que algo aparentemente verdadeiro é mais importante que a própria verdade; a repreTCC 2019 | 81
sentação vale mais do que a realidade. É considerada também simplesmente a mentira, a fraude ou a falsidade encoberta pelo termo "pós-verdade", que ocultaria a tradicional propaganda política. Conclui a pesquisa “The Spread of True and False News Online” (A Propagação de Notícias Verdadeiras e Falsas Online), publicada pela revista Science em 9 de março de 2018 e realizada por cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, que as informações falsas têm 70% mais chances de viralizar do que as notícias verdadeiras, e alcançam grande número de pessoas. Os pesquisadores analisaram 126 mil postagens compartilhadas no Twitter por 3 milhões de pessoas ao redor do mundo entre 2006 e 2017. O conteúdo passou por verificação de seis agências independentes de checagem de fatos. De acordo com o estudo, informações falsas ganham espaço na internet de forma rápida, aprofundada e com mais abrangência. Cada postagem verdadeira chega, em média, a mil pessoas, enquanto as postagens falsas atingem de mil a 100 mil. Tal alcance e influência são apontados no referendo que definiu o Brexit, no Reino Unido. Em 23 de junho de 2016, os britânicos decidiram deixar a União Europeia — evento considerado por estudiosos como sendo fenômeno da pós-verdade. Informa a BBC Brasil na reportagem “Reino Unido decide pela saída da UE: o que acontece agora?”, publicada no dia seguinte à votação, que 51,9% votou pelo que se chamou de ‘Brexit’, enquanto 48,1% optou pela permanência na união aduaneira. Com isto, houve quem afirmasse ter sido a imprensa propagadora de notícias falsas, as quais supostamente influenciaram a decisão das pessoas. Jon Danzig, jornalista e defensor da permanência do Reino Unido na União Europeia, criou a teoria descrita anteriormente e defende que, através da exibição de casos práticos, os jornais e as televisões da Grã-Bretanha foram vítimas (e protagonistas) de uma campanha organizada de desinformação nascida na internet cujo objetivo foi disseminar o ódio e a xenofobia contra a entrada de migrantes em território britânico. Entre as mentiras criadas estavam supostos privilégios a estrangeiros. De acordo com a matéria “Como as fake news conduziram os britânicos à confusão do Brexit”, publicada em 15 de janeiro de 2019, o tabloide The Sun afirmou que uma nota de 10 euros fora testada num laboratório alemão a pedido da revista Ökotest e, posteriormente, surgido um motorista de carros, nascido na Alemanha, afirmando que uma nota de 10 euros lhe tinha causado impotência sexual. Outra fake news veio do Daily Express e discorria que, em 2015, a UE se preparava para banir as fotos de vários 82 | TCC 2019
monumentos do Reino Unido, entre eles o London Eye, tornando ilegal a sua publicação nas redes sociais. Entrou para o rol de notícias falsas a informação de que a bebedeira seria proibida em escada nacional. Segundo o The Sun e o Daily Star, desde 2005 a União Europeia intendia acabar com o excessivo consumo de bebidas alcoólicas. Mais concretamente, o bloco econômico tinha intenção de controlar as licenças de venda específica de bebidas. Happy hours entre amigos, portanto, tornar-se-iam uma prática ilegal. Entre outras mentiras, segundo o Daily Mail do dia 30 de abril de 2002, os corgis, a raça canina favorita da rainha de Inglaterra, poderiam vir a ser banidas. Qualquer um que transgredisse a lei, teria de encaminhar o cachorro a um abrigo da chamada “Convenção da UE”. Levantamento publicado em 9 janeiro de 2018 pelas universidades Exeter, Dartmouth e Princeton chamada “Selective Exposure to Misinformation: Evidence from the consumption of fake news during the 2016 U.S. presidential campaign” (Exposição Seletiva da Desinformação: Evidências do consumo de notícias falsas durante a campanha presidencial dos Estados Unidos da América, em tradução livre) indica que as notícias falsas circulam com maior força nos assuntos de política e em nichos onde há predisposição de votos. O conteúdo falso serve como confirmação de crenças pessoais e pode ter influenciado as eleições daquele país. O fenômeno pôde ser observado durante a eleição presidencial dos Estados Unidos no ano de 2016. A suposta rede de prostituição e pedofilia chefiada por Hillary Clinton na pizzaria Comet Ping Pong, em Washington, por exemplo, inclui o roteiro de notícias falsas que circularam na internet naquela ocasião. Informa a reportagem da revista Mundo Estranho, “Pizzagate: o escândalo de fake news que abalou a campanha de Hillary”, publicada em 13 de abril de 2018, que o WikiLeaks divulgou e-mails particulares de John Podesta, chefe da campanha da então candidata democrata. Com isto, usuários em fóruns de discussão anônimos, como o 4Chan e o Reddit, decidiriam iniciar uma investigação independente. A partir da repetição de palavras como “pizza” e “cheese” (queijo), chegou-se ao diagnóstico de que as palavras formavam o código “child pornography” (pornografia infantil) por conta da coincidência de suas iniciais. Segundo os internautas, os e-mails explicitavam que a palavra pizza, usada sozinha, denotava “menina”, enquanto o código para “menino” era hot-dog. Já “sauce” (molho) tinha o significado de orgia. Os abusos teriam acontecido no porão da pizzaria Comet Ping Pong, pois Tony Podesta, irmão do coordenador da campanha de Hillary, era cliente do local e apresentou o dono TCC 2019 | 83
do estabelecimento, James Alefantis, às lideranças democratas. Em 4 de dezembro de 2016, Edgar Welch, portando três armas de fogo, foi à pizzaria disposto a investigar a “rede de exploração sexual”. O homem chegou a disparar três tiros que não atingiram ninguém. Com a prisão dele, um repórter do jornal The New York Times concluiu, em reportagem, não haver quarto subterrâneo no estabelecimento e, investigado o “Pizzagate” pela polícia do Distrito de Colúmbia, onde fica a capital, Washington, nenhuma das alegações foi provada. O FBI decidiu não investigar o caso por falta de evidências concretas. De acordo com a reportagem do Buzzfeed “This Analysis Shows How Viral Fake Election News Stories Outperformed Real News On Facebook” (Esta análise mostra como as notícias falsas da eleição superaram notícias reais no Facebook, em tradução livre), publicada em 16 de novembro de 2016, o site Political Insider noticiou três meses antes da vitória de Donald Trump que o Wikileaks confirmara: Hillary Clinton vendeu armas para os membros do Estado Islâmico. A descoberta foi atribuída a um suposto agente do FBI que teve acesso aos e-mails da democrata e os entregou a Julian Assange, fundador do site que teria noticiado o acontecimento. As supostas mensagens sigilosas da então secretária de Estado do governo Obama comprovariam que Hillary fornecia arsenal militar dos EUA a diversos grupos terroristas, como os jihadistas islâmicos. Num determinado momento, Clinton teria assumido o controle de uma organização chamada “Amigos da Síria” (um nome de fachada para Al Quaeda e Estado Islâmico), a qual pretendia uma insurgência dentro da CIA, no intuito de entregar o governo sírio a terroristas muçulmanos. Em 2013, sob um suposto juramento público, Hillary teria negado que soubesse das remessas de armas, depois do ataque terrorista de Benghazi. Os autores da notícia falsa foram além e afirmaram que, numa suposta entrevista ao programa de notícias Democracy Now!, Julian Assange, do Wikileaks, confirmou que 1.700 e-mails contidos no cache de Clinton ligavam a democrata diretamente à Líbia e à Síria, bem como às organizações terroristas Al Qaeda e Estado Islâmico. Mais, o suposto agente do FBI que encontrou os e-mails comprometedores teria sido assassinado depois da revelação. Posteriormente, a checagem do Buzzfeed desmentiu a notícia e a fonte de origem da matéria excluída. O site Ending Fed publicou durante o período eleitoral norte americano que o “FBI director received millions from Clinton Foundation, his brother’s law firm does Clinton’s taxes” (O diretor do FBI recebeu milhões da Fundação Clinton, o escritório de advocacia de seu irmão cuida do imposto 84 | TCC 2019
de renda dos Clinton, em tradução livre). A única informação verdadeira da matéria era que James Comey, ex-diretor do FBI, trabalhou para organizações que doaram dinheiro ou fizeram parceria com a Fundação Clinton. Seu irmão, Peter, foi empregado de uma multinacional que prestou serviços a Hillary, mas nada confirma seu envolvimento com a família Clinton. Posteriormente, a matéria foi tirada do ar. Em novembro de 2016, o site WTOE 5 News veiculou que “Pope Francis shocks world, endorses Donald Trump for president” (Em tradução livre, Papa Francisco choca mundo ao endossar Donald Trump para presidente). A história foi copiada por outro site de notícias falsas ─ com maior alcance ─ chamado Ending the Fed. Naquele mês, a história conseguiu em torno de 960 mil engajamentos no Facebook, segundo o Buzzfeed. Durante uma coletiva de imprensa em 2 de outubro, o Papa Francisco havia comentado publicamente sobre a eleição dos EUA: "Eu nunca digo uma palavra sobre campanhas eleitorais". Estudo publicado em 2 de abril de 2018 indica que a percepção dos norte-americanos quanto a mídia mainstream é a de que ela não está blindada às notícias falsas. Para eles, os veículos tradicionais publicam mais fake news do que realmente o fazem. ‘Fake News Threat to Media; Editorial Decisions, outside actors at fault (‘Notícias Falsas’ ameaçam a mídia; Decisões editoriais, atores externos na falha), do Instituto de Pesquisa da Universidade de Monmouth, em Nova Jersey, concluiu que 77% dos norte-americanos acreditam que os meios de comunicação tradicionais estão envolvidos na disseminação de fake news. Para 31% dos entrevistados, isso acontece regularmente e 46% afirmaram que a prática é ocasional. Uma pluralidade do público (42%) disse que as fontes tradicionais consultadas pela grande mídia noticiam fake news propositalmente, a fim de impulsionar uma agenda. Menos americanos (26%) acreditam que as principais fontes da mídia tendem a relatar essas histórias apenas por acidente ou devido à falta de checagem dos fatos. Outros 7% sentem que ambas as razões são igualmente prevalentes. Os restantes não têm a certeza ou não sentem que notícias falsas sejam reportadas pelos meios de comunicação tradicionais. O número que acredita que esse tipo de denúncia é feito de propósito não mudou muito desde 2017, quando ficou em 39%. Os que chegaram à conclusão de que a prática ocorre acidentalmente aumentou 17% em um ano, com mais pessoas achando que a mídia tradicional se envolve em reportar notícias falsas. De acordo com 83% dos americanos, grupos externos ou agentes de influência tentam plantar histórias falsas na grande mídia. As TCC 2019 | 85
etapas editoriais dos principais meios de comunicação foram apontadas pelas pessoas como parte do processo de disseminar falsas narrativas. Depois da eleição presidencial de 2016, por exemplo, a grande mídia norte-americana veiculou a acusação de que Donald Trump pediu para sua campanha a ajuda dos russos. O suposto auxílio recebido em redes sociais e páginas da internet teria levado o republicano à Casa Branca naquele ano. O Buzzfeed publicou, em 10 de janeiro de 2017, “These Reports Allege Trump Has Deep Ties To Russia” (Estes relatórios alegam que Trump tem laços profundos com a Rússia, em tradução livre). A reportagem informava que os russos possuíam informações comprometedoras sobre a campanha de Donald Trump. O documento de 35 páginas redigido por um suposto ex-agente da inteligência britânica comprovaria o ótimo relacionamento entre Trump e o Kremlin, bem como a ajuda que o republicano recebeu de Putin na campanha. Entre as afirmações, o magnata seria um pervertido sexual porque ter contratado prostitutas ao visitar a Rússia. Afirmava também que o ex-advogado de Donald Trump, Michael Cohen, teria viajado a Praga, em 2016, para encontrar-se com russos. Na reunião, detalhes para a construção da “Trump Tower russa” e o pedido para ajudar o republicano na campanha eleitoral teriam sido combinados. O relatório possuía uma série de erros ortográficos, informações imprecisas e não comprovadas — o próprio Buzzfeed, atualizaram a matéria informando do conteúdo vago e duvidoso das acusações. Sobre o relacionamento entre Trump e o Kremlin, matéria do O Estado de S.Paulo intitulada “Putin diz que relação entre EUA e Rússia piorou desde posse de Trump”, de 12 de abril de 2017, informou que, para Vladimir Putin, as relações com os EUA só pioraram com a vitória de Trump. Para o chefe russo, o nível de confiança, especialmente militar, não melhorou, pelo contrário, se deteriorou. Outro exemplo é a capa de julho da revista Time volume 192, divulgada no dia 21 de junho de 2018. Sob a chamada “Welcome to America” (Bem-vindo à América), em tom crítico à política de imigração dos EUA, a semanal norte-americana expôs uma garotinha chorando, sem os pais, enquanto era encarada friamente pelo presidente Donald Trump — a imagem é uma edição da fotografia tirada por John Moore. A reportagem principal atacava o procedimento da gestão Trump nas questões imigratórias ilegais, sobretudo na separação de pais e filhos, que são capturados na fronteira com o México. A capa e sua matéria, endossadas pelo fotojornalista John Moore, 86 | TCC 2019
explicitaram que a criança teria sido separada de sua mãe. Todavia, informa a reportagem “The crying Honduran girl on the cover of Time was not separated from her mother” (A garota hondurenha chorando na capa da Time não foi separada de sua mãe), veiculada em 22 de junho pelo jornal The Washington Post, que se trata de uma mentira. De acordo com depoimento do pai da menina, Denis Javier Varela Hernandez, sua esposa e filha não foram separadas na fronteira do Texas enquanto estavam sob custódia do governo norte-americano — depoimento comprovado pelo porta-voz da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA, Carlos Ruiz, à CBS News. Sandra Sanchez, mãe da garota cuja imagem foi usada na Times, teve de ser revistada pelos agentes da fronteira e, para isso, colocou a filha no chão. Yanela, de 2 anos, começou a chorar e foi aí que o fotógrafo John Moore registrou o momento que lhe rendeu o prêmio World Press Photo. O procedimento policial durou em torno de 2 minutos e, imediatamente, a garotinha não chorou mais ao voltar para o colo da mãe. Por e-mail, Moore contou ao Post que, quando tirou a foto, acreditava que a separação das duas era uma “possibilidade muito real". Denis Hernandez, pai de Yanela, ressaltou que ambas foram mantidas juntas o tempo todo. Com a revelação do jornal The Washington Post, a revista Time anexou uma nota à sua reportagem de capa corrigindo: “A versão original desta história deturpou o que aconteceu com a garota na foto depois que ela foi tirada da cena. A garota não foi levada gritando por agentes da Patrulha de Fronteira dos EUA; a mãe dela pegou-a e as duas foram levadas embora juntas”16, em tradução livre. A revista The New Yorker havia seguido a mesma linha da Time, mas retratou-se por intermédio do cartunista Barry Blitt, responsável pela capa ilustrando crianças escondidas debaixo do manto da Estátua da Liberdade. Em depoimento ao Post, ele afirmou saber quando recuar e que “tentar fazer uma piada nem sempre é apropriado”.
Tradução livre do original: The original version of this story misstated what happened to the girl in the photo after she taken from the scene. The girl was not carried away screaming by U.S. Border Patrol agents; her mother picked her up and the two were taken away together. Disponível em: http://time.com/longform/john-moore-getty-photo-separation/?xid=tcoshare. 16
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Em 17 de janeiro de 2019, o site Buzzfeed publicou “President Trump Directed His Attorney Michael Cohen To Lie To Congress About The Moscow Tower Project” (O presidente Trump orientou seu advogado Michael Cohen a mentir ao Congresso sobre o projeto da torre de Moscou, em tradução livre), informando que, além das revelações na chamada da matéria, Donald Trump teria pedido a Vladimir Putin que desse início à construção da “Trump Tower” na capital russa. As fontes, segundo o site, seriam dois policiais federais envolvidos na investigação liderada pelo escritório de Robert Muller, responsável por analisar as acusações de que o republicano conspirara junto ao Kremlin para vencer o pleito presidencial de 2016.
Figura 2.1 Capa da revista Time volume 192 – 2 de julho de 2018. Fonte: http://time.com/5317522/donald-trump-border-cover/
Um dia depois, o jornal The Washington Post, no texto “In a rare move, Mueller’s office denies BuzzFeed report that Trump told Cohen to lie 88 | TCC 2019
about Moscow project” (Em um movimento raro, o escritório de Mueller nega o relatório do Buzzfeed em que Trump disse a Cohen para mentir sobre o projeto de Moscou, em tradução livre), o consultor especial Robert S. Mueller negou a reportagem do Buzzfeed de que seus investigadores reuniram evidências de que o presidente Trump instruiu seu ex-advogado, Michael Cohen, a mentir ao Congresso sobre um possível negócio em Moscou. O The Guardian publicou em 25 de março de 2019 que “Mueller did not find the Trump campaign conspired with Russia, attorney general says” (Em tradução livre, Mueller não encontrou evidências de que a campanha de Trump conspirou com a Rússia, diz o procurador-geral). Informa a reportagem que a investigação conduzida pelo procurador Robert Mueller e sua equipe, durante dois anos, constata que Donald Trump não conspirou com a Rússia para se eleger presidente utilizando fake news, como acusaram o partido Democrata e a grande mídia. 2.1. Fake news no Brasil De acordo com os dados da pesquisa Global Advisor: Fake News, Filter Bubbles, Post-Truth and Truth” (Assessor Global: Fake News, Bolhas Filtradas, Pós-Verdade e Verdade, em tradução livre) divulgada em 2 de outubro de 2018 pelo Instituto Ipsos, os brasileiros são os que mais acreditam em fake news no mundo. Segundo o levantamento, no Brasil, 62% dos entrevistados admitiram já ter acreditado em alguma notícia falsa. Realizada com 19,2 mil entrevistados, entre os dias 22 de junho e 6 de julho de 2018, a pesquisa tem margem de erro de 3,5 pontos. No artigo “O que é fake news”, Rais (2017) discorre que a escala em que as informações falsas são produzidas e difundidas poluem e colocam em xeque demais notícias da mídia tradicional. Afirma o autor que não é fácil identificar uma notícia falsa, pois com o advento da era digital há um novo mercado especializado e dirigido por empresas que produzem e disseminam fake news, constituindo indústrias caçadoras de cliques. Em 18 de outubro de 2018, dez dias antes do segundo turno da eleição para presidente da República do Brasil, o jornal Folha de São Paulo publicou que “Empresários bancam campanha contra o PT pelo WhatsApp”. A matéria de Patrícia Campos Mello denunciou um suposto esquema patrocinado por pessoas jurídicas que teriam beneficiado o candidato da direita, Jair Bolsonaro, através de impulsionamento de campanha num aplicativo de mensagens instantâneas — por lei, a prática é crime e configura “caixa 2”. Afirma a matéria que contratos para o serviço de “disparo em massa” TCC 2019 | 89
custam, em média, R$12 milhões. Informa o texto que, em conluio com outras empresas (não identificadas na matéria), a Havan, do setor varejista, estaria envolvida no escândalo por pagar agências de estratégia digital que utilizaram a base de usuários de Jair Bolsonaro, nas redes sociais, ou bases vendidas por essas mesmas agências, para efetuar os tais disparos. Patrícia cita quatro delas, a Quickmobile, Yacows, Croc Services e SMS Market, cujas atividades na internet supostamente são dirigidas a públicos específicos devido à segmentação por região demográfica. Tanto o proprietário da Havan, Luciano Hang, como o sócio da Quickmobile, Peterson Rosa, negaram quaisquer acusações. Segundo a própria matéria, Jair Bolsonaro não contratou nenhuma das empresas citadas anteriormente, pois na prestação de contas do então candidato do PSL — aprovadas pelo Tribunal Superior Eleitoral — está registrado o nome da AM4 Brasil Inteligência Digital, que recebeu R$115 mil para auxiliar no gerenciamento de mídias digitais. Entre as competências dessa empresa, afirma Patrícia, está a utilização de ferramentas para a geração de números estrangeiros, o que facilitaria o envio de mensagens para mais usuários no WhatsApp. Afirma também que grande parte conteúdo produzido para a campanha provinha de seguidores de Bolsonaro. Em imbróglio semelhante, a coligação “O Brasil Feliz de Novo” e o candidato derrotado do PT à Presidência da República nas eleições 2018, Fernando Haddad, foram condenados pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, a pagarem multa de R$ 176 mil por impulsionamento irregular de conteúdo durante a disputa eleitoral de 2018. É o que informa a matéria do jornal Folha de São Paulo “TSE multa campanha de Haddad por notícias contra Bolsonaro” e publicada em 28 de março de 2019. Segundo a reportagem, o ministro do STF entendeu que a campanha petista pagou ao Google para destacar conteúdo fake contra o então candidato Jair Bolsonaro. Haddad teria contratado a plataforma de navegação para impulsionar o site “A Verdade sobre Bolsonaro”, que divulgava trechos de notícias contra o então candidato do PSL e deturpava outras matérias jornalísticas da grande mídia, a exemplo do jornal norte-americano The New York Times. Na decisão, Edson Fachin entendeu que, “Ao contrário do que afirmam os representados, não se tratou unicamente de reprodução de matéria jornalística amplamente divulgada haja vista que sequer a matéria foi reproduzida, mas de diversos ataques ora atribuídos à citada matéria de jornal, ora de autoria do próprio site, contendo críticas desfavoráveis e ofensivas ao candidato adversário”. O ministro considerou que a chapa de Haddad causou 90 | TCC 2019
desequilíbrio na disputa eleitoral. Os influenciadores digitais também fazem parte da estrutura descrita anteriormente. É o caso da militante de esquerda e influenciadora digital Paula Holanda. Ela acusou numa rede social, em 25 de agosto de 2018, a agência de marketing Lajoy de omitir o real propósito dos serviços que solicita. O combinado com a empresa, segundo ela, era divulgar conteúdo de esquerda em sua página no Twitter — então com 6.446 seguidores — e, em troca, seria beneficiada financeiramente. Todavia, a demanda foi a de postagens promovendo figuras do Partido dos Trabalhadores (PT). Os conteúdos produzidos, segundo Paula, não necessariamente correspondiam à realidade. Paula, que já havia escrito tuites elogiando Gleisi Hoffmann, então candidata à Câmara dos Deputados, e Luiz Marinho na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo — ambos investigados por corrupção —, resolveu interromper o processo de publicações ao receber um terceiro pedido: o de promover a imagem de Wellington Dias, que tentava a reeleição ao governo do Piauí. Paula, que também é jornalista, percebeu ter sido contratada para ajudar na eleição de políticos e não em divulgar pautas de esquerda. De acordo com ela, notou estar escrevendo mentiras sobre figuras envolvidas em corrupção. No dia seguinte, informou o jornal O Globo na matéria “PT é acusado de fazer propaganda irregular na internet” que os tuites não deixavam claro que eram pagos, nem exibiam informações sobre a empresa ou o político contratante. A prática é proibida pela legislação eleitoral, a qual permite a propaganda eleitoreira em redes sociais no modelo de impulsionamento: o partido, coligação e candidato contratam diretamente a rede social. Depois das declarações de Paula, outros influenciadores digitais confessaram estar praticando serviços semelhantes18.
Segundo reportagem do portal da rádio Jovem Pan, publicada em 27 de agosto de 2018, sob o título “Gleisi nega que PT tenha contratado propaganda irregular no Twitter”, a presidente do Partido dos Trabalhadores afirmou não ter utilizado agências, como a Lajoy, para fazer propaganda política. De acordo com ela, a atividade organizada não partiu da coordenação de sua campanha e que as empresas citadas não possuem qualquer relação com a campanha local. 18
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Pouco antes de Paula Holanda, em 25 de julho de 2018, o Facebook tirou do ar em torno de 196 páginas e 87 perfis que violavam as políticas de autenticidade da empresa, segundo a reportagem da revista Época “Facebook derruba páginas e perfis pessoais ligados ao MBL”, publicada em 25 de julho de 2018. Entre as contas desativadas estavam a página do site O Diário Nacional, um dos dez sites de notícias falsas com maior audiência no Brasil. Entre os perfis tirados do ar estava o da influenciadora digital Francine Galbier, autora de 2.324 textos publicados no Diário Nacional e vinculada ao Movimento Brasil Livre (MBL). Seu nome era o primeiro na lista da equipe que supostamente compunham os editores do site. O Facebook, em nota oficial, informou que as páginas e perfis desativados “faziam parte de uma rede coordenada que se ocultava com o uso de contas falsas no Facebook, e escondia das pessoas a natureza e a origem de seu conteúdo com o propósito de gerar divisão e espalhar desinformação”. Ao desativar o perfil pessoal de Francine, por exemplo, a empresa indicou que pode se tratar de um perfil usado para disseminar fake news. 2.1.1. Fake news no impeachment de Dilma Rousseff Segundo levantamento do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação da Universidade de São Paulo (GPOPAI-USP) realizado em 2018, a internet também desempenhou um papel na divulgação de fake news no período de impedimento da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016. Estima-se que 200 mil pessoas nas redes sociais foram atingidas por notícias falsas. A BBC Brasil publicou “Na semana do impeachment, 3 das 5 notícias mais compartilhadas no Facebook são falsas”, listando as que foram mais acessadas. Algumas delas são: "Polícia Federal quer saber os motivos para Dilma doar R$30 bilhões a Friboi", do site Pensa Brasil, e "Presidente do PDT ordena que militância pró-Dilma vá armada no domingo: 'Atirar para matar'", do site Diário do Brasil. A ferramenta digital criada pelos pesquisadores do GPOPAI-USP mapeou, de hora em hora, “reportagens” publicadas por 117 veículos de comunicação selecionados e verificou seus compartilhamentos a partir de um sistema oferecido pelo próprio Facebook. Complementaram o levantamento pesquisas de opinião realizadas em protestos de grupos ligados à direita, na Avenida Paulista, e à esquerda, no Vale do Anhangabaú. Constatou-se que cada lado da disputa construiu narrativas simplistas para defender suas posições e tanto os boatos como as matérias produzidas por aqueles sites foram muito compartilhados quando se adequaram às histórias pré-estabelecidas. 92 | TCC 2019
O GPOPAI-USP já havia demonstrado o poder de alcance das fake news na internet ao concluir que, em 2017, aproximadamente 12 milhões de pessoas difundiram notícias falsas sobre política no Brasil. A pesquisa dos universitários monitorou 500 páginas digitais de conteúdo político mentiroso. Considerando a média de 200 seguidores por usuário, é possível que o alcance se estenda a praticamente toda a população brasileira. Fake news nas eleições de 2014 Estudo da FGV publicado em 2018 apontou tentativas de se influenciar as eleições 2014. Os pesquisadores identificaram o uso de perfis falsos nas redes sociais a serviço dos então candidatos à Presidência da República, Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB), em 2014. É o que informou reportagem do Fantástico intitulada “Robôs foram usados em campanha nas eleições de 2014, revela estudo”, no ar em 25 de março de 2018. Informa a matéria que 509 robôs replicaram links dos sites de campanha da candidata do Partido dos Trabalhadores. Em 25 de outubro de 2014, um perfil publicou o jingle da petista e, na sequência, quatro contas no Twitter — duas com a mesma foto e três com nomes de identificação muito parecidos — compartilharam a publicação. Aécio Neves, do PSDB, fez uso de 699 robôs. Nas páginas de redes sociais favoráveis ao tucano, o estudo da FGV investigou que dois usuários fictícios, Wesley Rodrigues e Dario Costa, tinham a mesma foto de perfil e frases em russo nas imagens. Outros, como Isaac Duris e Hector Gil, partilhavam também a mesma foto de perfil: a do personagem de televisão e cinema Borat. Quando os pesquisadores da FGV fizeram uma busca para ver onde essa imagem já havia sido publicada, encontraram links de sites russos. Suspeita-se que os serviços tenham sido contratados em empresas daquele país. Aponta o levantamento que os robôs pró-Aécio utilizaram o Twitter para criar postagens favoráveis à candidata Marina Silva, então do Partido Socialista Brasileiro. As contas falsas teriam gerado mais de 773 mil publicações favoráveis. Revelou a pesquisa que o conteúdo compartilhado pelos robôs foi produzido por empresas que prestaram serviços às campanhas de Dilma e Aécio, em 2014, e também pelos partidos dos três candidatos. Conclui o estudo que um processo difusor de determinada informação repetida em grande escala cria distorções na percepção do que está sendo mais importante nos trending topics — assuntos mais comentados no Twitter. TCC 2019 | 93
Evidencia reportagem de O Globo “Beneficiária do Bolsa Família recebe mensagem com ameaça velada de que Aécio acabará com o programa”, publicada em 23 de outubro de 2014 , que a prática de disseminar notícias falsas foi realizada também via SMS durante o período eleitoral. Uma senhora que preferiu não se identificar recebeu o seguinte recado no celular: O PSDB sempre chamou o Bolsa Família de Bolsa Esmola. Agora Aecio diz que nao e contra. Não dá para confiar nele. Informa a matéria que se trata da mesma mensagem utilizada nos vídeos de campanha de Dilma Rousseff. Receosa, a vítima consultou uma vizinha que confirmou ter recebido também. A reportagem apurou que o número responsável pelo envio dos SMS pertence a um robô de uma central semelhante à de telemarketing, que também estaria atuando no WhatsApp. 2.2. O fenômeno ‘deep fake’ A existência de uma ferramenta de edição de vídeos capaz de trocar o rosto de pessoas, sincronizar seus movimentos labiais, expressões faciais, gestos e até mesmo a voz será capaz de aperfeiçoar as fake news. É o que informa matéria do site Tecnoblog “O que é deep fake e porque você deveria se preocupar com isso”, publicada em 22 de outubro de 2018, sobre. Tal criação de um usuário do site de mídia social Reddit chamado “deep fakes” tem sido preocupação para celebridades do show business, pessoas públicas e companhias de entretenimento. Criado em 2017, o software utiliza de inteligência artificial somada ao aprendizado de máquina de código aberto, como o Keras e o TensorFlow, para produzir algoritmos e treinar uma “rede neural” capaz de mapear o rosto e o corpo de qualquer pessoa. Em vez de depender de edição manual, o usuário necessita apenas de uma fonte que reconheça o rosto da vítima, mapear a estrutura da “cabeça destino” e criar situações com resultados impressionantes através da sobreposição de imagens — a técnica foi inicialmente utilizada no campo da pornografia. No início, o software requeria conhecimentos avançados por parte do usuário, mas internautas desenvolveram aplicativos capazes de automatizar o processo e a ferramenta foi utilizada para outro propósito que nunca foi o bem: o surgimento de vídeos pornográficos, cujas estrelas principais seriam atrizes de Hollywood e artistas como Selena Gomez, Ariana Grande, Gal Gadot, Taylor Swift, Emma Watson, Maisie Williams, Scarlett Johansson, Daisy Ridley, entre outros. Devido à alta resolução das imagens, os resultados foram convincentes aos olhos desavisados. As montagens não se limitaram a vídeos não recomendados para me94 | TCC 2019
nores de idade. O “Deep Fake” já foi utilizado na política pelo partido belga Socialistische Partij (Partido Socialista), que criou um vídeo falso de Donald Trump pedindo à população norte americana que votasse pela renúncia ao Acordo de Paris. O partido de esquerda defende a criação de mais legislações ambientais e o vídeo falso com Trump foi o que chamam de Psicologia Reversa: se o presidente é contra leis a favor da natureza, a maioria do público acabaria votando a favor apenas para contrariá-lo, prossegue a reportagem do Tecnoblog. No Brasil, em 23 de outubro de 2018, véspera do segundo turno das eleições, um vídeo pornográfico supostamente envolvendo o então candidato ao governo de São Paulo, João Doria, do PSDB, viralizou nas redes sociais. Nas imagens, o tucano estaria participando de uma orgia com algumas mulheres. No dia seguinte, porém, laudo encomendado a um perito criminal apontou que o vídeo fora editado aos moldes do deep fake, onde o rosto do então candidato ao governo de São Paulo foi colocado sobre o do ator que aparece no vídeo, informou a matéria da revista Veja São Paulo “Perícia revela laudo sobre vídeo íntimo atribuído a João Doria”. O portal IG noticiou em 24 de outubro de 2018 na matéria “Perícia vê ‘montagem’ em vídeo íntimo atribuído a Doria; candidato vai à Justiça” que uma segunda investigação atesou a falsidade do vídeo íntimo e indicou que o conteúdo tem montagens que ficam claras quando analisadas tecnicamente. 2.3. Fake news nas análises, nas opiniões e nas prioridades da mídia Colunista das revistas Veja e Exame, José Roberto Guzzo19 classifica as crenças sobrepostas aos fatos como “fake opinion” — esta, considerada por ele de alta periculosidade. Motivados por esse fenômeno, indivíduos são capazes de construir retratos da realidade alicerçados em falsas premissas. Trazendo o assunto para os media, detentores de credibilidade, a consequência será uma percepção deturpada do que é real por parte do leitor. Guzzo cita as denúncias dos casos de assédio, em Hollywood, no ano de 2017, e questiona o carimbo de “vítima” rapidamente aplicado pela mídia às denunciantes dos supostos abusos sexuais. Para ele, há perguntas
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Entrevista concedida ao autor deste trabalho no dia 01 de fevereiro de 2019. TCC 2019 | 95
que ainda precisam de respostas, como, por exemplo, explicações sobre os anos de silêncio das atrizes que, depois de participarem de vários filmes dirigidos ou produzidos por seus algozes, decidiram revelar os abusos sofridos quando já gozavam de fama e dinheiro. O colunista Lauro Jardim enquadrou-se na fake opinion ao denunciar num artigo veiculado no jornal O Globo, em 17 de junho de 2017, que o “Dono da JBS grava Temer dando aval para compra de silêncio de Cunha”. De acordo com a matéria, Michel Temer teria solicitado ao empresário do grupo J&F que pagasse uma mesada ao operador Lúcio Funaro e ao ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha — este último, para ficar em silêncio. Posteriormente, com a divulgação do áudio e análises de jornais e revistas, as informações do texto não foram comprovadas. Um dia depois, e no mesmo veículo de comunicação, o jornalista Ricardo Noblat seguiu a linha do colega de profissão e anunciou na coluna que mantinha no jornal O Globo que “Michel Temer decidiu renunciar” ao cargo de presidente da República. O então chefe do Executivo teria conversado com alguns ministros de Estado e, pessoalmente, acompanhava a redação do pronunciamento que informaria ao país sobre a renúncia. Naquela noite, porém, Temer ressaltou em entrevista coletiva no Palácio do Planalto que seguiria no cargo até o fim. Reinaldo Azevedo, em seu blog na Veja, garantiu que “Hillary deve se eleger hoje presidente dos EUA. Trump, mitos e mitologias políticas”. Publicada em 08 de novembro de 2016, a matéria afirmava que a então candidata de Barack Hussein Obama venceria a eleição. Escreveu o jornalista que “os republicanos nunca mais encontrarão um adversário tão frágil. Mas o partido escolheu: Donald Trump”. Naquele dia, o candidato da direita tornou-se o 45º presidente da República dos Estados Unidos, com 62. 984. 825 de votos. Citado na introdução deste trabalho, em 14 de março de 2016, a revista Carta Capital publicou o artigo “A origem do complô”, cujo autor, Mino Carta, descreve o ex-juiz Sergio Moro como sendo “uma personalidade pueril antes ainda que provinciana, um impecável rebento destes anos de redemocratização fajuta, de decadência cultural, de arrogância inaudita, de insensatez avassaladora”. Prossegue o texto que o então chefe da Operação Lava Jato montara um “show carnavalesco que envergonha o País aos olhos do mundo e exibe, ao cabo, a ausência de uma Suprema Corte pronta a impor o império da lei”. O artigo classifica também as manifestações contrárias à então presidente Dilma Rousseff, realizadas naquele mês, como pouco expressivas. 96 | TCC 2019
Todavia, grampo de uma ligação entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o então ministro-chefe da Casa-Civil do governo Dilma, Jaques Wagner, divulgado pela força tarefa da Lava Jato em 17 de março de 2016, atesta que o artigo de Mino Carta é caso de deturpação. No áudio, Lula e Wagner discorrem sobre questões políticas e um pedido do comandante do Partido dos Trabalhadores (PT) ao chefe de redação da revista Carta Capital: escrever um artigo informando que o número de protestantes favoráveis ao impeachment de Dilma Rousseff era pequeno, bem como aludir que a vontade das pessoas de combater a corrupção e negar a política resultaria em autoritarismo. Outros veículos de mídia noticiaram que a manifestação ocorrida em março de 2016 fora a maior já realizada contra a ex-presidente Dilma, os membros de seu partido e a corrupção. Manchete do portal G1, de 13 de março daquele ano, informa que “Manifestantes fazem maior protesto nacional contra o governo Dilma e estima cerca de 3,6 milhões de pessoas participando em todo o país”. Na ocasião, o jornal Gazeta do Povo destacou que “Protesto em São Paulo é o maior ato político já registrado na cidade”, superando o Diretas Já (1883-1984). Paralelamente, o Estadão afirmou que se tratava da “Maior manifestação da história do País aumenta pressão por saída de Dilma”, reafirmando as informações dos demais media. “Fake análise” é o termo utilizado por Guzzo para justificar ideias que se transformam numa espécie de imperativo categórico dentro de grupos específicos que ocupam os centros de disseminação de informação. O resultado é um ambiente repressivo — não restrito apenas aos media, mas em outros lugares, como universidades — que impede a discussão acerca de falsos retratos da realidade e o possível desarme dos mesmos. O jornalista conclui a análise somando às categorias citadas por ele a “fake prioridade”. O fenômeno ocorre quando os veículos de comunicação tradicionais decidem colocar em sua linha editorial pautas relacionadas àqueles retratos desfigurados da realidade. Logo, o noticiário é tomado por assuntos não analisados em sua completude, adquirindo a chancela de verdade absoluta à medida em que são retroalimentados pelas empresas de mídia. 3. TEORIA DAS CORES, NORMATIZAÇÃO E ESTRUTURA DO JORNALISMO TRADICIONAL De acordo com Hernandes (2017), a relação entre autor e leitor, TCC 2019 | 97
ouvinte e telespectador ou internauta não é o de mera transmissão de informações. Todas as formas de comunicar não são meios inocentes de transmissão de saberes, mas também a ação do homem sobre o homem, criadora de relações intersubjetivas que geram e mantêm crenças que se revertem ou não em determinados atos. Algumas características, entre elas o que se entende por objetividade, ideologia, realidade e verdade, são necessárias para analisar o jornalismo como forma de comunicação utilizada por determinados grupos sociais a fim de manipular de maneira efetiva. Segundo Lage (2006), a notícia se define, no jornalismo moderno, como o relato de uma série de fatos, não sendo apenas a narração de acontecimentos, mas sua exposição. A narrativa é gênero literário de tradição assentada no épico. Sua espinha dorsal é a organização dos eventos em sequências. Em cada uma delas, o primeiro evento antecede o segundo, o segundo o terceiro, e assim por diante. Isso significa que, dentro da sequência, os fatos são registrados na mesma ordem em que teriam ocorrido, no tempo. A narrativa sempre foi gênero popular. Daí sua escolha para a difusão ampla de ideias ao longo da História. Quanto àquele que narra determinado acontecimento, este pode ser testemunha de fatos que efetivamente viveu (suas memórias) ou de fenômenos imaginários, no todo ou em parte. Porém, é comum que o narrador apareça como observador onisciente e onipresente, isto é, sabedor de tudo e presente a todos os lugares, sem aparecer objetivamente no que está narrando. As variações são muitas. Lage (2006) explica por que as notícias expõem mais do que narram. Para ele, não é estranho ou artificial os acontecimentos serem contados em outra ordem que não aquela em que ocorreram. A estranheza se deve ao fato de o ser humano ter se acostumado a ler — e a ver, nos media — casos contados do começo para o fim, embora começo e fim sejam sempre arbitrários. Essa tradição literária, que passou para o teatro e daí para as artes cênicas em geral, parece fundada em lógica inquestionável, mas não o sendo. Argumenta o autor que, se considerarmos a tradição oral, mais antiga e mais corrente, é possível observar que a ordenação dos eventos por ordem decrescente de importância ou interesse é bem mais comum do que a temporalidade da sequência. Os eventos estarão, portanto, ordenados não por sua sequência temporal, mas por interesse ou importância decrescente, na perspectiva de quem conta e, sobretudo, na suposta perspectiva de quem ouve. Mais: a importância de cada evento será aferida em função do 98 | TCC 2019
evento principal de determinado acontecimento. Em consequência, o autor discorre que o teórico da comunicação, Harold Lasswell (1902-1978), desenhou o formato padrão de abertura das notícias jornalísticas para contribuir com as técnicas incipientes da profissão: a pirâmide invertida, composta pelas perguntas “quem faz o que, quando, como, onde e por quê?”. Tal estrutura determina que a informação mais importante esteja no primeiro parágrafo, a fim de que o leitor saiba o necessário em poucos linhas. Em suma, trata-se do relato sumário e particularmente ordenado do fato mais interessante de uma matéria. Hernandes (2017) afirma que a relação de um jornal com o público-alvo pressupõe um “contrato” com grande “número de cláusulas”. Tal contrato não é fundamentado em acordo explícito. As cláusulas revelam expectativas mutuamente compartilhadas que influenciam a produção e o consumo do discurso jornalístico dos grandes noticiários. O leitor da revista Veja, por exemplo, se identifica com as idiossincrasias da família Civita, favorável à livre iniciativa e ao capitalismo; O leitor da Carta Capital, com os valores de Mino Carta, ou seja, à interferência no Estado na vida dos cidadãos e por aí vai. Lage (2006) pontua haver restrições pragmáticas nas notícias jornalísticas. As circunstâncias da relação entre o jornalista e o público — a pragmática dessa relação — determinam limites específicos no código linguístico. A limitação do código, reduzindo tanto o número de itens léxicos (palavras e expressões) quanto de operadores (regras gramaticais) de uso corrente, aumenta a comunicabilidade e facilita a produção da mensagem, o que é útil no caso de um produto industrial como a notícia. Prossegue Lage (2006) que a fundamentação teórica dessa proposição se encontra na teoria da informação, mas se confirma em grande número de situações práticas. É o que leva à padronização das vozes de comando e permite a locutores radiofônicos descrever com incrível rapidez os lances de um jogo, por exemplo: conseguem falar tão depressa e são entendidos porque utilizam pequeno elenco de palavras e expressões, eventualmente personalizadas, e sintaxe pobre. O recurso a repertório reduzido possibilita ao redator ritmo intenso de produção. Afirma Lage (2006) que o noticiário não permite o conhecimento essencial das coisas, objeto do estudo científico, a não ser por eventuais aplicações a fatos concretos. Por detrás das notícias corre uma trama infinita de relações dialéticas e percursos subjetivos que elas, por definição, não abarcam. As restrições mais gerais do jornalismo noticioso referem-se TCC 2019 | 99
à linguagem jornalística, sobretudo quando impõe o uso de vocabulário e gramática tão coloquiais tanto possível nos limites do que se considera socialmente correto e adequado ao público a que se destina a informação. Normas de redação adicionais impedem o uso estilístico (intencionalmente significativo) de notações como as vírgulas. Do mesmo modo, regulam e geralmente suprimem pontos de exclamação, reticências etc. O redator de uma notícia não é conhecido de quem irá consumir. Mesmo quando assina seu texto, o nome provavelmente significará pouco ou nada para quem lê, ouve ou assiste ao noticiário. E o redator pode ter, no máximo, ideia estatística muito geral do conjunto dos receptores da mensagem. Nesse contexto, será inadequado dizer “eu vi”, como o personagem que encontrou um cadáver ao abrir a porta de casa. “Eu” (a primeira pessoa verbal) passa a não fazer sentido. Nem cabe dirigir-se ao consumidor da informação como “vós”, “vocês” ou “os senhores”. Tais formas de tratamento (na segunda pessoa ou na terceira pessoa substituindo a segunda, como ocorre na maior parte do Brasil) pressupõem outro tipo de relação com o público. O uso da referência em terceira pessoa real é obrigatório. Como estilo de texto, a reportagem não é fácil de definir, explica Lage (2001). Compreende desde a simples complementação de uma notícia — uma expansão que situa o fato em suas relações mais óbvias com outros fatos antecedentes, consequentes ou correlatos — até o ensaio capaz de revelar, a partir da prática histórica, conteúdos de interesse permanente, como acontece com o relato da campanha de Canudos por Euclides da Cunha (em sua obra Os sertões). Na prática contemporânea do jornalismo impresso, existe a tendência de transformar em reportagem (sobre a construção naval, as vias navegáveis, a indústria pesada) cada fato programado (o lançamento de um novo cargueiro). Mesmo um fato inesperado (um desabamento) pode ser complementado eficientemente por uma reportagem (sobre as mazelas da construção civil), à medida que a indústria jornalística desenvolve técnicas e processos bastante rápidos para coleta e processamento de dados. (LAGE, 2001, p.76)
Do ponto de vista da produção, Lage (2001) avalia que é possível considerar gêneros de reportagens do tipo investigação, em que se parte de um fato para revelar outros mais ou menos ocultados e, através deles, 100 | TCC 2019
o perfil de uma situação de interesse jornalístico (como em Watergate, ou no levantamento do episódio de Mi Lai, na guerra do Vietnã); do tipo interpretação, em que o conjunto de fatos é observado da perspectiva metodológica de dada ciência (as interpretações mais frequentes são sociológicas e econômicas); e as do novo jornalismo (associada a Truman Capote e Normal Mailer) que, investindo justamente na revelação de uma práxis humana não teorizada, busca apreender a essência do fenômeno aplicando técnicas literárias na construção de situações e episódios narrados. O jornalismo norte-americano tem a investigação em alta conta, o que se deve tanto a fatores históricos quanto à acumulação geral de conhecimentos no campo do processamento de informações, para uso militar, técnico-científico e administrativo. Já a reportagem interpretativa, em sua forma quase pura, é mais frequente no jornalismo europeu, contemplando certa tradição humanística. Em 1979, a aplicação de técnicas literárias à reportagem, que não é em absoluto novidade, ganhava certo status acadêmico, que se manifesta, no Brasil, com a recuperação de trabalhos do início do século, como os de João do Rio (Paulo Barreto) no âmbito das faculdades de Letras. (LAGE, 2001, p.77)
Hernandes (2017) enfatiza as afirmações descritas anteriormente e acrescenta que a notícia ou reportagem possuem componentes suficientes que garantem futuros desdobramentos a determinado assunto, como, por exemplo, a escrita de editoriais, trazendo a opinião do veículo; aprofundamento através de comentários de colunistas, os quais sustentam a pluralidade do veículo; crônicas para refletir sobre a realidade; emissão de notas e cartas dos leitores; desenhos de charges no intuito de satirizar a realidade através da ironia fina, entre outras possibilidades. Todos esses elementos da técnica jornalística foram introduzidos paulatinamente. A necessidade de tê-los originou-se num momento de recuperação econômica — pós Segunda Grande Guerra Mundial (1939-1945) — em todo o globo e o jornalismo procurava uma forma de se encaixar num cenário de globalização que ia se desenhando. Nesse meio, a profissão, operando em escala industrial, passou a aperfeiçoar habilidades ao vender sua matéria prima, a informação, como mercadoria pronta: notícias, reportagens, editoriais, charges etc. TCC 2019 | 101
Lage (2001) explica que o formato dos jornais e revistas é a primeira pista para o entendimento de seu lugar na cultura contemporânea, a compreensão de sua linguagem e a investigação de sua história. A disposição das manchetes, o desenho das letras, sua uniformidade ou variedade, a existência ou não de claros e o equilíbrio estético entre eles, o tamanho e a natureza das ilustrações procuram informar ao leitor se o veículo se destina a público mais ou menos amplo, de menor ou maior escolaridade. Cada detalhe remete o observador a uma categorização: o modo como se distribuem os elementos gráficos (a paginação ou projeto gráfico) relaciona-se com escolas e correntes de arte, de modo que alguns jornais se enquadram no design industrial despojado e outros lembram a organicidade flamejante do art noveau. No que diz respeito aos títulos das matérias jornalísticas, estes são o principal critério de seleção que o leitor utilizará para decidir se continua ou abandona a leitura de determinado texto, elucidam Bueno e Reino (2017). Prosseguem os autores que os títulos jornalísticos desempenham um papel de grande importância e responsabilidade por ocuparem espaço de realce nas matérias, seja num lugar privilegiado na disposição gráfica dos jornais, revistas ou sites ou em evidência com relação ao restante das matérias. Cabe ao jornalista escrever títulos de forma concisa, objetiva e extrair do texto toda a sua essência para transmitir o impacto da notícia ao leitor, a fim de que, em poucos instantes, ele adquira o produto na vitrine de uma banca ou livraria. Ambos discorrem que a linha fina, o texto em tamanho menor abaixo do título, é o complemento da manchete. Ela tem a função de explicar melhor o assunto do texto e assim introduzir o leitor ao tema. Este recurso é muito usado para instigar a curiosidade do leitor sobre o assunto tratado nas matérias jornalísticas 3.1. Critérios de noticiabilidade e valores-notícia Traquina (2005) afirma que os jornalistas criaram uma visão negativa do mundo. Tal efeito tem as suas raízes nos valores-notícia que os profissionais da comunicação utilizam para escolher os acontecimentos do mundo real, bem como na construção de retratos da realidade. Para ele, o esquema geral das notícias apresenta um padrão estável e previsível devido a existência de critérios de noticiabilidade, ou seja, valores compartilhados pela comunidade jornalística que definem o que é merece ser transformado em matéria noticiável.
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3.1.1 Valores-notícia de seleção Segundo Traquina (2005), Mauro Wolf elucida que os valores-notícia de seleção se referem a critérios utilizados pelos jornalistas na escolha dos acontecimentos, ou seja, na sua transformação em notícia, e estão divididos em dois sub-grupos: 1) Os critérios substantivos que dizem respeito à avaliação direta do acontecimento em termos da sua importância ou interesse da notícia, e 2) os critérios contextuais que se referem ao contexto de produção da notícia. 3.1.1.1. Critérios substantivos A morte é um valor-notícia fundamental para a profissão, aponta Traquina (2005), pois é a razão que explica o negativismo da comunidade jornalística apresentado diariamente nas páginas de jornais, revistas, sites de internet ou transmissões de rádio e tevê. Assassinatos, bombardeamentos e funerais são parte da hierarquia que as empresas de comunicação pedem a seus profissionais quando os envia para determinada cobertura. Outro valor-notícia importante é a notoriedade. Para visualiza-la, basta verificar como os jornalistas perseguem parlamentares na cobertura de eleições ou coleta de informações no Congresso Nacional, pois essas fontes estão diretamente envolvidas com o poder. Traquina (2005) subscreve os estudos de Galtung e Ruge, que classificam de “personalidades de elite” tais atores. Desde os tempos medievais, a nobreza, por exemplo, foi assunto para trovadores, filósofos e pessoas comuns. Traquina (2005) discorre que as notícias locais dificilmente serão repercutidas em escala nacional ou publicadas em jornais de outro país. A este valor-notícia se dá o nome proximidade, seja geográfica ou cultural. Dependendo da relevância — outro valor-notícia — a matéria poderá se expandir e tomar espaço no noticiário. Neste aspecto, a preocupação é informar o público dos acontecimentos que são importantes porque têm um impacto sobre a vida das pessoas. Lage (2001) ressalta que a proximidade varia tanto com as trocas materiais (o comércio) quanto com as trocas culturais ou populacionais (migrações). Esta é a razão pela qual os assuntos internacionais interessam sobretudo aos segmentos mais abastados e aos mais informados de uma população; em outras palavras, aos segmentos capazes de significar prestígio para um veículo. E é também a razão pela qual se obterá a resposta de audiência numericamente positiva. Traquina (2005) afirma ser uma questão central da profissão a busca TCC 2019 | 103
pelo novo. A novidade integra o trabalho de investigação do jornalista e é um valor-notícia que acrescenta elementos que tornam uma matéria antiga, por exemplo, merecedora de ser publicada novamente. No dicionário criado pelos membros da tribo jornalística, suíte é o nome dado às pautas que merecem um desdobramento sempre que algo novo surge. Hernandes (2017) enfatiza Traquina e acrescenta que o ineditismo, ou seja, a notícia que traz o fato inédito, possui mais importância do que aquelas já publicadas, pois o ser humano tem curiosidade pelo desconhecido, sobretudo quando é o primeiro a saber. A improbabilidade também integra o universo dos valores-notícia justamente por representar o improvável, como o raio que cai duas vezes no mesmo lugar ou o fenômeno natural que ocorre em locais onde não costuma acontecer. Afirma Traquina (2005) que o fator tempo é um valor-notícia essencial no que tange à atualidade. A existência de um acontecimento no “agora” já transformado em notícia pode servir de gancho ao jornalista (no jargão jornalístico a palavra significa um modo de contextualizar a matéria. Liga o assunto da pauta à realidade do leitor) e justificar a noticiabilidade de um acontecimento que já teve lugar no passado, mas neste mesmo dia. É a efeméride — o próprio tempo é utilizado como “news peg”, por exemplo os aniversários. Há um ano, há dois anos, há vinte anos isto aconteceu e publica-se hoje uma notícia sobre esse acontecimento porque aconteceu neste mesmo dia há x anos. Assim, por exemplo, há uma notícia sobre a morte do Presidente egípcio Anwar Sadat porque neste dia, há 20 anos, foi assassinado. O próprio fator tempo é utilizado como gancho para justificar falar de novo sobre este assunto. (TRAQUINA, 2005, p. 81)
Lage (2001) salienta que, tal como os fatos novos se revestem de forma antiga, certos instantes históricos podem adquirir interesse por sua semelhança à situação presente, chamada de transatualidade. Ela tornará Petrônio (Satiricon), por exemplo, mais interessante do que Virgílio para um europeu ou um norte-americano na etapa de desgaste da civilização industrial, tanto quanto o apogeu romano adquiriu particular fascínio para o público dos EUA no surto imperial que se seguiu à Segunda Guerra. É fundamental para a tribo jornalística a notabilidade, um valor-notícia que representa a qualidade daquilo que é específico, tangível e visível. Traquina (2005) sublinha Walter Lippmann e cita uma greve operária como 104 | TCC 2019
exemplo. O acontecimento em si é notável e não a problemática daqueles trabalhadores — a monotonia do dia a dia dentro de uma fábrica etc. Interessa ao jornalista, fadado a cumprir a estrutura burocrática do lide, relatar o acontecimento concreto. O autor registra que: Há diversos registros de notabilidade. Um deles é a quantidade de pessoas que o acontecimento envolve. Segundo Golding e Elliot (1978), os jornalistas atribuem importância às notícias que dizem respeito a muitas pessoas e quanto mais elevado for o número de pessoas envolvidas num desastre ou quanto mais elevada for a presença de “grandes nomes”, maior é a notabilidade desses acontecimentos. (TRAQUINA, 2005, p. 83)
Integram a notabilidade o insólito, que costuma ser a inversão daquilo considerado normal, como o homem que morde o cachorro ou o bandido que devolve o carro roubado; e a falha, decorrente do ser humano, a exemplo de um acidente de aviação causado por erros dos pilotos, ou catástrofes nucleares, como Chernobyl; o excesso/escassez, como chuvas além do esperado ou falta de água numa grande metrópole, registra Traquina (2005). Àquilo que irrompe e surpreende a comunidade jornalística se dá o nome de inesperado, valor-notícia que designa um mega-acontecimento como sendo “a história”, — geralmente ganham as capas de revistas e a primeira página dos jornais. O 11 de setembro é utilizado por Traquina (2005) para ilustrar a afirmação. Naquele dia, o mundo e veículos de comunicação pararam suas atividades corriqueiras e voltaram a atenção para o que ocorria nos Estados Unidos. O conflito, a violência física ou simbólica, como disputas de líderes políticos, é um valor-notícia fundamental. Traquina (2005) exemplifica que um bate-boca seguido de agressão entre parlamentares se encaixa no requisito, pois envolve a quebra de comportamentos. Em países democráticos, o caso citado anteriormente seria reprovado pela população, que o taxaria de invulgar, haja vista que rompe a ordem social vigente, seja ela qual for. Fazem parte desse valor-notícia a infração, e por ela se entende tudo aquilo que transgrida regras — os crimes violam uma série de condutas da vida em sociedade —, e o escândalo, que envolve figuras da política e instituições democráticas, como os três poderes, empresas de comunica-
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ção etc. Traquina (2005) evidencia o caso Watergate, pois tratava-se de um presidente da República envolvido em esquema corrupto para se auto beneficiar. O autor conclui que os critérios substantivos implicam sobre a natureza consensual da sociedade. Os valores-notícia ajudam a eles próprios na construção de uma sociedade como “consenso”, pois este requer unidade: um povo e uma sociedade traduzidos no “nosso”. 3.1.1.2. Critérios contextuais O primeiro valor-notícia de seleção neste subgrupo de critérios contextuais é a disponibilidade, que representa a facilidade com que é possível se fazer uma cobertura jornalística de determinado acontecimento, segundo Traquina (2005). Para ele, o conceito se refere aos recursos limitados das empresas de comunicação, que precisam colocar na balança gastos com mobilidade, estadia e alimentação de um repórter — ou mais — para que valha a pena cobrir uma situação. Traquina (2005) aponta como valor-notícia contextual o equilíbrio, que está relacionado com a quantidade de notícias a respeito de um acontecimento que já existe — ou que existiu — há relativamente pouco tempo no produto informativo da empresa jornalística. Dependendo do número de matérias sobre o mesmo assunto, é possível racionalizar se este ou aquele episódio precisa ser publicado, a fim de que o público não se sobrecarregue e a pauta perca a importância. A concorrência também deve ser levada em conta. De acordo com Traquina (2005), este valor-notícia diz respeito às estratégias adotadas pelos veículos de comunicação para estarem à frente uns dos outros. Entre as técnicas existentes está a perseguição do “furo”, considerada a mais rentável. Isto significa possuir informações que os outros ainda não têm — este fator de noticiabilidade ajuda a explicar a maior presença de notícias sobre desastres sobretudo na televisão. (...) os jornalistas e as empresas jornalísticas procuram evitar uma outra situação: não ter o que os outros têm, não permitindo um “furo” para a concorrência. Assim, seguindo esta lógica, temos o fenômeno do chamado “pack journalism”, isto é, a tendência para os membros da tribo jornalística de andar em grupos, numa matilha, seguindo-se uns aos outros. (TRAQUINA, 2005, p. 90)
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Traquina (2005) finaliza afirmando que o último valor notícia deste subgrupo é o dia noticioso, parte do “jogo de xadrez” que é o jornalismo. Diariamente há acontecimentos e, em determinados dias, alguns são mais ricos em valor-notícia do que outros. Durante o período de férias, por exemplo, os mega-acontecimentos são raros e pautas de menor valor, como indicações turísticas, predominam em todo noticiário. 3.1.2. Valores-notícia de construção Os valores-notícia de construção focalizam na qualidade da construção da notícia e servem como linhas-guia para a apresentação do material do jornalista, sugerindo o que deve ser realçado, o que deve ser omitido e o que deve ser prioritário na construção do acontecimento como notícia. De acordo com Traquina (2005), são critérios de seleção dignos de serem incluídos na elaboração de uma matéria. Traquina (2005) prossegue acolhendo a afirmação de Ericson, Baranek e Chan de que a simplificação, como valor-notícia, indica maior possibilidade de uma reportagem ser bem notada e compreendida quando desprovida de complexidades e ambiguidades. O jornalista tem de escrever de forma simplificada e objetiva, fazendo uso de clichês e estereótipos, se necessário. Quanto mais amplificado for um acontecimento, mais possibilidades de ser percebida tem a notícia sobre ele, quer seja pela amplificação do ato ou suas supostas consequências. A este valor-notícia, Traquina (2005) dá o nome de amplificação. Segundo ele, seu uso pode ser identificado nas seguintes chamadas de jornais e revistas: “Brasil chora a morte de Senna”; “A América chora a morte de Nixon”. Outro valor-notícia de construção é a relevância. Quanto mais sentido a notícia dá ao acontecimento, mais hipóteses ela tem para ser notada. É dever do jornalista tornar fatos relevantes para os seus leitores e demonstrar que tem significado para eles. A poluição de um rio, por exemplo, pode prejudicar os pescadores da região, as fortes chuvas causar deslizamentos num bairro populoso etc, afirma Traquina (2005). Valorizar pessoas nos acontecimentos atrai a atenção. A descrição detalhada dessas vidas sempre será do interesse de alguém e a forma como a narrativa estiver estruturada guiará o leitor a perspectivas “positivas” ou “negativas” — duas binaridades simplistas que funcionam no texto jornalístico. A isto se dá o nome de personalização, segundo Traquina (2005). Lage (2001) segue a mesma linha e acrescenta que, nesse processo TCC 2019 | 107
de identificação social, admite-se que o mesmo ocorre de baixo para cima da pirâmide que costuma representar sociedades divididas em classes. Os novos produtos jornalísticos são introduzidos geralmente no segmento mais próximo do ápice e cumprem um ciclo de popularização que os leva ao maior número de pessoas no instante em que são declarados obsoletos pelos seus consumidores menos escolarizados. A dramatização é um valor-notícia que apela para o emocional do leitor. O reforço dos aspectos críticos e a natureza conflitual dentro de uma narrativa serão valorizados. Nesta parte, de acordo com Traquina (2005), surge o sensacionalismo como recurso utilizado pelos media na construção de suas matérias para prender o leitor naquela narrativa. Por fim, Traquina (2005) apresenta a consonância como valor-notícia de construção. Trata-se de notícias inseridas num contexto de narrativas já existentes e familiares ao leitor. Isso provocará mais notabilidade para o produto jornalístico e assuntos velhos, por exemplo, passam a ser interpretados pelo público-alvo como novo. 3.2. Apropriação das técnicas da grande mídia para cativar o leitor Hernandes (2017) afirma que, para a manipulação da mídia funcionar é preciso, entre outros aspectos, que o público partilhe do mesmo sistema de valores do veículo de comunicação. No processo comunicativo, os participantes constroem e se constroem, juntos, o objeto jornal, por exemplo. O público é, portanto, coautor. Um autor leva em consideração os anseios e as prováveis reações de quem receberá o texto para construir um discurso com a eficiência desejada. Prossegue Hernandes (2017), a verdade é um aspecto complexo da realidade, pois cada indivíduo, munido de valores e crenças, terá uma interpretação diferente a partir de sua experiência com o real, ou seja, haverá um universo de percepções. A problemática reside quando uma pessoa acredita que seu direcionamento, sua limitação na maneira de interpretar a realidade, é a própria realidade. Que a parte é o todo e que o mundo é o mesmo para todos. Os veículos de comunicação são objetos complexos de análise e, julgados por essa lógica, dirão a verdade quando publicarem aquilo que o receptor deseja ler e mentiroso quando fizer o contrário, explica Hernandes (2017). O confronto de cosmovisões é uma consequência de quem admite a existência de uma realidade fixa e imutável. O atrito é também fruto do embate ideológico, onde os interlocutores críticos julgam ter acesso a toda 108 | TCC 2019
a verdade para analisar os media. Hernandes (2017) avalia pertinente definir ideologia como sendo “visões de mundo”. Tal categorização renova-se a partir de conflitos de poder entre segmentos sociais motivados por fatores econômicos. Cada grupo social tem um conjunto de valores, uma maneira de ver e julgar o mundo. No momento em que esse grupo ou classe social tenta legitimar seus valores para outros sujeitos, entra-se no fenômeno da ideologia. O autor elenca a objetividade como regra de construção dos produtos jornalísticos. Seguindo as regras “objetivas”, o jornalista produzirá um texto onde não aparecem opiniões, os depoimentos das personagens estão entre aspas (aparecendo em terceira pessoa), fatos surgem como se o leitor estivesse em contato com eles e as fotos harmonizam com todos os demais elementos para criar, então, a prova da realidade concreta. Pontua Hernandes (2017) que o efeito pretendido com a prática descrita anteriormente é o da neutralidade. Praticar as técnicas objetivas coloca o jornalista em posição distante do fato, tornando o profissional da comunicação um mediador e observador dos acontecimentos. O leitor, em contato com essa prática, acredita não estar sendo manipulado ou passível de qualquer influência daqueles que produziram determinada publicação. Lage (2001) sublinha e acrescenta que a evidência de uma neutralidade na transmissão de informação se legitima por aparentemente não pretender respostas. Uma indústria produtora, na qual as decisões afloram de vago mecanismo, dirige-se a público vasto, de cujo repertório tem apenas ideias estatísticas e se inocenta do que diz, como se falasse naturalmente dos fenômenos, sem nada ocultar, exagerar ou distorcer. Em jornalismo, a técnica mais comum é fazer com que a notícia seja manifestada, no nível discursivo, sem a explicação de um “eu”. O uso da terceira pessoa numa reportagem dá a impressão de que o próprio assunto se apresenta ao público. Os jornais também procuram persuadir o público-alvo de que o recorte da realidade que efetuam ao noticiar é a própria realidade lançando mão de diálogos, fotografias, filmagens e outras possibilidades de concretude discursiva. (HERNANDES, 2017, p. 31)
Para Hernandes (2017), os noticiários estão sempre em busca de maior audiência ou tiragem (no caso de revistas e jornais impressos), base da lucratividade e do poder das empresas de comunicação. Para alcançar TCC 2019 | 109
seus objetivos, a mídia precisa construir unidades noticiosas — organizando-as em edições sedutoras — e manipular a atenção de seu público nos níveis sensorial, passional e inteligível, no que é chamado de gerenciamento do nível de atenção. Um meio de comunicação obtém o que quer principalmente a partir da instauração de diferentes formas de curiosidade (querer saber) que só são satisfeitas com a realização de uma ação. Os jornais, por exemplo, satisfazem a curiosidade sobre as notícias que criaram desde que o sujeito “público” realize o ato de consumo. É por isso que insistimos em falar de duas histórias muito ligadas. (HERNANDES, 2017, p. 39)
O relacionamento entre jornais e leitores, internautas, ouvintes ou telespectadores é encarado como um tipo especial de história que faz uso de uma outra, apresentada na forma de unidade noticiosa, com clara função ideológica e persuasiva, enfatiza Hernandes (2017). O público precisa ser persuadido, no âmbito da semiótica discursiva, para manter contato direto com o veículo de comunicação, a exemplo do jornal. Para a Semiótica Discursiva, um sujeito, como destinatário, só inicia uma ação se o destinador, no papel de manipulador, conseguir persuadi-lo desencadeando uma vontade, um querer (um desejo qualquer, como uma curiosidade, por exemplo) ou impondo um dever (uma obrigação) de realizar a performance. Dever e querer, isolados ou em diferentes proporções, geram as quatro grandes classes de manipulação entre proporções, geram as quatro grandes classes de manipulação entre destinador e destinatário previstas pela Semiótica: provocação, sedução, intimidação e tentação. (HERNANDES, 2017, p.40)
Hernandes (2017) entende esses elementos como parte do processo persuasivo utilizado pelos media. Segundo ele, tentação é quando o indivíduo é manipulado com acenos de prêmios ao final de cada ação. A intimidação se impõe como manipulação por meio de ameaças e castigos, uma espécie de dever. A sedução é o tipo de manipulação em que o sujeito não pode recusa-la sob pena de ter uma imagem favorável. Por fim, a provo-
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cação acontece quando o sujeito, temeroso de ser malvisto, cede àquela manipulação. Cada produto jornalístico tem como característica a tentativa de impor curiosidade ao leitor, reflete Hernandes (2017). A Rede Globo, por exemplo, ao utilizar no passado o slogan “a gente se vê por aqui”, intendia provocar, no telespectador, a sensação de pertencimento. Veja, sob o dizer “indispensável”, quer que o leitor entenda que, sem ela, a realidade e o fluxo de informações não fazem sentido. Os media procuram, portanto, atrair e persuadir seu público através de personagens e situações que tornem o veículo familiar à opinião pública, pontua Hernandes (2017). Ele afirma que os media precisam reter a tenção de seus leitores por meio da apresentação das unidades noticiosas, pela distribuição das mesmas na edição e no conjunto de edições. Para existir o relacionamento entre jornais-público é preciso obter a atenção em três níveis diferentes e que se complementam: 1) Fisgar a curiosidade do indivíduo; 2) O sujeito deve, em seguida, interessar-se pelo conteúdo das unidades noticiosas; 3) É necessário que o indivíduo repita a experiência que teve com o produto, a fim de desencadear um hábito. Desta forma, Traquina (2012) classifica o jornalismo como o Quarto Poder, capaz de influenciar ou moldar a opinião pública a partir de suas habilidades de prender a atenção do interlocutor. A linha editorial, um reflexo das idiossincrasias do veículo, portanto, ganha contornos atrativos e a cosmovisão daquela empresa de mídia é transplantada para a realidade do dia a dia do cidadão comum. Além do campo inteligível, racional, as estratégias para gerar curiosidade encontram-se também na dimensão sensível e passional. Hernandes (2017) ensina que é preciso haver identificação entre o público e as personagens da narrativa apresentada pelo jornalista. Um repórter, por exemplo, sabe que sua matéria precisa ser uma superfície refletora do próprio destinatário e de seus sentimentos, convicções, tempo, conflitos e espaço. Um jornal, portanto, tem duas maneiras complementares de fisgar a atenção do ponto de vista das estratégias sensível e passional: A primeira é apresentar unidades para serem sentidas, como uma foto que atrai o olhar pelas cores, simulação de movimentos. Os sentidos são arrebatados em função de uma descontinuidade do plano de expressão. A segunda é a mobilização dos afetos
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por meio dos conteúdos. É o caso das histórias de notícias que são feitas para comover e contam com o engajamento empático do público. (HERNANDES, 2017, p. 49)
Hernandes (2017) elucida que a estratégia inicial para se conseguir a atenção do leitor é de caráter sensível. Uma fotografia utilizada em grande tamanho na primeira página de um jornal é exemplo da afirmação, pois ela expõe um acontecimento, mas não em sua completude. Obriga o observador, portanto, a comprar o produto jornalístico, a fim saciar sua curiosidade. É uma situação ambivalente, em que o leitor se sente tenso e insatisfeito; ele precisa ganhar a satisfação plena ao ler o que lhe foi prometido. As estratégias de gerenciamento de atenção são resumidas por Hernandes (2017) em três partes. São elas: (...) a de arrebatamento, a qual visa instaurar o sujeito por meio de algum estímulo que motive ou reforce um engajamento perceptivo. É mais da ordem das sensações. O destinador “jornal” manipula o destinatário por tentação, por um querer saber. Estratégia de sustentação objetiva transformar o sujeito atento em sujeito tenso que, interessado, em decodificar um estímulo, se vê diante de detalhes de uma história e deve sentir vontade de conhece-la por inteiro. É mais de ordem passional. Há também uma manipulação por tentação. Estratégia de fidelização busca transformar o sujeito curioso em sujeito fiel. O sucesso das estratégias anteriores — como a de obter saberes e experiências, entre outras — deve gerar expectativas positivas no sujeito para os próximos contatos e a vontade de repeti-los. (HERNANDES, 2017, p.51)
Hernandes (2017) também indica a proximidade temporal, o efeito da atualidade, como estratégia de sustentação da atenção do público. Quaisquer media precisam fazer o consumidor de seus produtos acreditar que as notícias são atuais e provocar a sensação de que ainda estão acontecendo. Para tal, utilizar recursos linguísticos nas manchetes de reportagens, como o verbo no presente, significa uma boa estratégia no intuito de “alongar o agora” e garantir sobrevida a pautas datadas, por exemplo. Traquina (2005) recorda que as notícias a respeito de um local específico serão pouco repercutidas no âmbito nacional, bem como veiculadas em publicações
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que possuem maior cobertura. O sensacionalismo integra o universo das estratégias de obtenção da atenção. Hernandes (2017) classifica-o como “proximidade imposta” e elucida que determinadas publicações, sejam jornais ou revistas, utilizam de artifícios apelativos em suas matérias para atrair leitores, como, por exemplo, uso de imagens expondo o sofrimento das personagens (atores da vida real), sangue, brutalidade e morte, entre outros temas chocantes. Explorar o que é sensacional sempre foi imã dos meios de comunicação quando o intuito é o caminho mais fácil para audiência e lucratividade. Hernandes (2017) aponta que a última estratégia utilizada pelos media, a fim de fisgar leitores, é a fidelização dos mesmos — isto é última etapa de todo o processo. Uma vez satisfeitos com o conteúdo prometido pelo jornal, revista ou tevê, o consumidor dos produtos de determinada empresa de comunicação tenderá a voltar e comprar aquilo que outrora o satisfizera. Tal ação gera a credibilidade, da qual os veículos tradicionais de comunicação gozam e exibem como troféus para garantir mais leitores. Para que o processo de fidelização seja bem-sucedido, é necessário que o meio de comunicação implique em identificação ideológica com o seu público. Caso contrário, será abandonado pelo mesmo e todo o processo de persuasão, envolvendo a retenção da atenção, será derradeiro, conclui Hernandes (2017). 3.3. As cores e seus significados Heller (2014) explica que o ser humano conhece mais sentimentos do que cores, mas acaba atribuindo-os a elas. Dessa forma, cada cor pode produzir muitos efeitos, frequentemente contraditórios. Cada cor atua de modo diferente, dependendo da ocasião. O mesmo vermelho pode ter efeito erótico ou brutal, nobre ou vulgar. O verde pode atuar de modo agressivo, venenoso, ou ainda calmante. O amarelo pode ter um efeito caloroso ou irritante. A autora discorre que nenhuma cor está sozinha. A cada efeito intervêm várias cores — um acorde cromático composto por cada uma das cores que esteja mais frequentemente associada a um determinado efeito. As mesmas cores estão sempre associadas a sentimentos e efeitos similares. A impressão causada por cada cor é determinada por seu contexto, ou seja, pelo entrelaçamento de significados em que a percebemos. Guimarães (2001) elucida que uma das funções da cor é seu poder de expressão. Para o autor, ela provoca vibrações psíquicas e seu efeito físico TCC 2019 | 113
superficial é apenas o caminho que serve para atingir a alma do observador. Ao considerar uma aplicação intencional da cor, é possível trabalhar com a “informação latente”, ou seja, aquilo que será percebido e decifrado pela cognição e transformado numa informação atualizada. Heller (2014) afirma que o azul é a cor predileta de 46% dos homens e 44% das mulheres. A razão está nos sentimentos vinculados a ela, a qual está sob o domínio da paixão pura e da compreensão mútua. A autora discorre que não existe sentimento negativo em que o azul predomine. Portanto, faz parte do senso comum a interpretação de que o azul é uma cor muito querida. Nas residências, por exemplo, o azul é majoritariamente usado em dormitórios devido seu efeito calmante. Prossegue Heller (2014) que, na simbologia, o branco é a mais perfeita entre todas as cores. Não existe nenhuma “concepção de branco” com significado negativo. O que é branco não é incolor e vincula-se àquela cor sentimentos e propriedades que não são atribuídas a nenhuma das outras cores, como paz, ressureição, tranquilidade e fidelidade. O branco é uma cor absoluta. Quanto mais puro o branco, mais perfeito ele é. Qualquer acréscimo só virá reduzir a perfeição. Do amor ao ódio — o vermelho é a cor de todas as paixões, as boas e as más. Por detrás do simbolismo está a experiência: o sangue se altera, sobe à cabeça e o rosto fica vermelho, de constrangimento ou por paixão, ou por ambas as coisas simultaneamente, esclarece Heller (2014). Enrubescemos de vergonha, de irritação ou por excitação. Pinta-se os corações de vermelho, pois os acredita-se que todo o sangue aflui ao coração. Assim, muitas cores possuem distintos significados. Guimarães (2001) conclui afirmando que, na simbologia das cores, é possível também encontrar uma codificação binária a qual incorpora as possibilidades de polaridade, de dois sentidos opostos para uma mesma cor. Esse efeito trará a interpretação que o ser humano possui da realidade: sentido positivo e sentido negativo. Assim, interpretar-se-á as imagens com significados de violência e amor; guerra e paz; bom e ruim etc. 4. ANÁLISE De acordo com uma pesquisa encomendada pela revista Veja ao Instituto Big Data para a edição 2565 “Fake News”, publicada em 17 de janeiro de 2018, há dois tipos de propagadores de notícias falsas: militantes cuja missão é desconstruir seus adversários políticos ou empresas/indivíduos que fabricam notícias falsas com o intuito de ganhar dinheiro por meio dos 114 | TCC 2019
anúncios — vindos do Google AdSense, braço de publicidade do Google, por exemplo. Subtraídos aqueles que criam boatos na internet por diversão, as fake news são disseminadas por pessoas interessadas em colher dividendos políticos ou pecuniários. Sendo assim, este trabalho de conclusão de curso avaliou pertinente analisar dois sites que produzem e disseminam fake news sobre a política brasileira: Brasil 247 e Diário do Brasil. Ambos situados em polos ideologicamente opostos: o primeiro à esquerda e o segundo à direita. Serão decupados o histórico dos sites; seis fake news que se apresentam como matérias jornalísticas, sendo três de cada veículo; cores utilizadas nos respectivos layouts; tipografia das matérias; organização da homepage (editorias e esquematização de unidades noticiosas); títulos e linha fina das reportagens; imagens; legendas (se houverem) e a veracidade das informações publicadas. 4.1. Diário do Brasil Com o nome possivelmente inspirado no Jornal do Brasil, tradicional veículo brasileiro editado na cidade do Rio de Janeiro, o site Diário do Brasil se apresenta como uma publicação de informações diárias voltadas ao público identificado com a direita do espectro político. Adota uma linha editorial favorável aos governos dos presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump, bem como predominam “matérias” positivas acerca das Forças Armadas — sejam brasileiras ou norte-americanas — e do regime militar no Brasil. Na ocasião do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a ascensão de Michel Temer ao cargo mais alto do Executivo, o site adotou posições favoráveis ao emedebista e suas políticas relativamente liberais. Em confluência, desfere ataques diários à oposição de esquerda do país, sobretudo ao Partido dos Trabalhadores (PT). Não só, em sua editoria de política, critica negativamente o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, e o totalitarismo castrista, em Cuba. Para acessar o site, basta o seguinte endereço eletrônico: http:// www.diariodobrasil.org/. Os olhos mais atentos percebem que a URL (Uniform Resource Locator, em tradução livre, Localizador Padrão de Recursos) da página não possui os tradicionais “.com.br”, e sim “org”. A observação justifica-se pela dificuldade criada aos peritos digitais que tentarem uma eventual identificação do criador daquela página, ou seja, é intenção do proprietário impedir a transparência que os domínios registados no Brasil possuem através do endereço eletrônico padrão. TCC 2019 | 115
A homepage (página inicial) do Diário apresenta o nome do veículo em caixa alta posicionado à esquerda no formato comum de escrita LTR (left-to-right script, ou escrita da esquerda para a direita), para melhor leitura e identificação de quem o acessa. O azul e branco são utilizados como pano de fundo ao layout do site por serem as cores da simpatia, da harmonia e da confiança, segundo Heller (2014), e comumente associadas à direita do espectro político por tratarem-se de duas das três cores do cristianismo (azul, branco e amarelo) e utilizadas por partidos identificados com tais valores, bem como ao liberalismo econômico. As editorias estão alocadas no canto superior direito e, à semelhança de sites como Folha de São Paulo e Estadão, organizam-se em linha reta com os seus respectivos nomes em evidência. São elas, na ordem: Home, Brasil, Política, Mídia, Cotidiano, Governo e Destaques DB. Cada uma destas unidades noticiosas apresenta informações diárias que o leitor também pode encontrar nos veículos tradicionais de comunicação, conferindo credibilidade, segundo Traquina (2005), ao Diário do Brasil.
Figura 4.1 Home do Diário do Brasil Fonte: https://www.diariodobrasil.org/
A editoria de Política é a mais importante do site por possuir informações em demasia e publicar matérias diariamente. Engloba consigo conteúdo internacional, a exemplo dos desdobramentos da crise política-humanitária na Venezuela e o governo de Donald Trump nos EUA. O site acompanha o noticiário da grande mídia e modifica o conteúdo produzido por ela para criar as notícias falsas que, posteriormente, serão compartilhadas nas redes sociais. Utilizar o trabalho de jornalistas dos media é a matéria prima do 116 | TCC 2019
Diário do Brasil. No que diz respeito às suas redes sociais, é possível encontrar o veículo no facebook (356.271 mil seguidores, dados de abril de 2019) e no Twitter (8.496 mil seguidores, dados de abril de 2019), sendo o facebook a rede social mais utilizada pelo Diário do Brasil e seu eixo central de publicações no universo social media. No face, cada postagem tem curtidas que vão de 1,5 mil a 4,5 mil pessoas, enquanto 700 a 24 mil compartilham o conteúdo produzido pelo site. Sempre que algo novo surge em alguma editoria, rapidamente é colocado nas redes sociais. 4.1.1. A fake news da intervenção militar dos EUA na Venezuela a partir do Panamá Informa a matéria “Força Aérea americana posicionada no Panamá aguardando sinal verde para destruir Maduro”, publicada na editoria Destaques DB em 2 de fevereiro de 2019 pelo Diário do Brasil, que o presidente dos EUA, Donald Trump, teria enviado tropas americanas ao Panamá para uma intervenção militar na Venezuela. Não há nenhuma evidência na agenda presidencial20 publicada naquele dia de sábado ou registros dos grandes media e sites independentes que prove tal atividade do governo norte-americano naquele país. A reportagem assinada por uma suposta jornalista chamada Patrícia Moraes Carvalho21 afirma no lide que, “em setembro de 2017, o presidente Donald Trump disse os EUA (sic) consideravam uma ‘opção militar’ para a Venezuela… ninguém concordou com a ideia e Trump foi taxado de ‘louco’”. A fala do presidente, na verdade, foi dita em 26 de setembro de 2018 durante a 73ª Assembleia-Geral da ONU, segundo matéria do jornal Folha de São Paulo publicada naquela data sob o título “Trump diz que ‘todas as opções estão sobre a mesa’ quanto à Venezuela”.
Informa o site oficial da Casa Branca a agenda do presidente Donald Trump naquela data: “No public events 8:51 AM – Depart Mar-a-Lago en route to Trump National Golf Club – Motorcade 9:13 AM – Arrive Trump National Golf Club – Jupiter, Florida 2:39 PM – Depart Trump National Golf Club – Motorcade 3:11 PM – Arrive at Mar-a-Lago – West Palm Beach, Florida”. 21 Procurada nas redes sociais, a suposta jornalista do Diário do Brasil não foi encontrada. 20
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Figura 4.2 Layout da matéria “Força Aérea americana posicionada no Panamá aguardando sinal verde para destruir Maduro” publicada no Diário do Brasil Fonte: https://www.diariodobrasil.org/forca-aerea-americana-posicionada-no-panama-aguardando-sinal-verde-para-destruir-maduro/
Afirma-se no terceiro parágrafo da matéria do Diário do Brasil que a opção de “derrubá-lo [Maduro] militarmente está ganhando cada vez mais adeptos”. Os fatos mostram o contrário. O Grupo de Lima, composto por 14 países (entre eles o Brasil) e criado em 2017 para “a estabilização da Venezuela”, assinou uma declaração naquele ano determinando “soluções pacíficas e negociadas” com Nicolás Maduro. Uma das medidas seria a asfixia econômica no intuito de minar o poderio dos generais e aliados do ditador chavista. 118 | TCC 2019
Em 25 de fevereiro de 2019, segundo o site Poder360 na matéria “Grupo de Lima defende eleições na Venezuela e rejeita intervenção militar”, os países membros reiteraram numa reunião em Bogotá que “a democracia deve ser conduzida pelos próprios venezuelanos pacificamente e em respeito à Constituição e ao direito internacional, apoiada pelos meios políticos e diplomáticos, sem o uso da força”. O mesmo documento salienta apoio ao presidente interino Juan Guaidó, reconhecido por 50 países depois de autoproclamar-se representante democraticamente eleito da Venezuela. Na nota “Secretário-geral da ONU descarta intervenção militar na Venezuela”, publicada em 26 de fevereiro de 2019 pela agência de notícias portuguesa RTP, os países das Nações Unidas favoráveis a Juan Guaidó descartaram a intervenção militar como opção para derrubar Nicolás Maduro. O Brasil seguiu o mesmo caminho e garantiu que a medida não ocorreria, de acordo com matéria do jornal O Globo “Brasil não apoiará intervenção militar na Venezuela mesmo com prisão de Guaidó”, publicada em 13 de março de 2019. Na mesma reportagem, o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, salientou que não se cogitava tal possibilidade. Prossegue o texto do Diário do Brasil que o senador republicano do estado da Flórida, Marco Rubio, afirmou — a autora não menciona a data da fala — que “há anos procura uma solução pacífica para a Venezuela, mas agora há um ‘argumento muito forte’ de que Maduro é uma ameaça à segurança da América Latina e dos EUA”. De fato, a afirmação foi feita, contudo, em 30 de agosto de 2018, de acordo com reportagem da revista Veja publicada na ocasião sob o título “Senador americano defende intervenção militar na Venezuela”. Patrícia Moraes de Carvalho discorre no parágrafo seguinte que “o principal fator que motivou esse debate é que as forças armadas venezuelanas, vistas há muito tempo como a espinha dorsal de apoio do governo, estão se dividindo cada vez mais”. A matéria do portal G1 de 26 de fevereiro de 2019 intitulada “Mais de 270 militares venezuelanos desertaram em meio a impasse nas fronteiras; efetivo oficial de Maduro é de até 150 mil” prova que a informação veiculada pelo Diário do Brasil não se sustenta. Um dia antes da deserção, outros militares também haviam deixado a ditadura chavista para apoiar sua população, no entanto, o número era pequeno. Adiante, a autora da reportagem do Diário afirma que, “no ano passado, houve várias tentativas militares para derrubar Maduro, incluindo o uso de um drone armado durante uma parada militar”. Em 2018, há apenas um registro de atentado contra a vida de Nicolás Maduro e é caracterizado peTCC 2019 | 119
los media e diversos especialistas como “suposto” por haver contradições indicando ser o próprio ditador o autor da ação. É o que afirma reportagem do jornal O Globo intitulada “Vídeo mostra explosão de drone em suposto ataque a Maduro”, publicada em 6 de agosto de 2018, dia do ataque. O Diário apresenta o depoimento de um especialista chamado Ricardo Hausmann, professor de Harvard. Segundo ele, que foi, de fato, ex-ministro do Planejamento da Venezuela, “os brasileiros têm obrigação moral de acabar com a tragédia em curso no país vizinho com a participação de países da América Latina”. A fala procede, pois é oriunda de uma entrevista concedida à revista Exame em 18 de janeiro de 2018 sob o título “HRW: os direitos humanos na Venezuela são questão regional”. A matéria do Diário atribui outro trecho de fala ao especialista, porém, não é de sua autoria. Segundo Patrícia Moraes de Carvalho, do Diário do Brasil, Ricardo Hausmann teria dito que “as forças armadas da Venezuela ‘entraram em colapso’ e perderam sua capacidade operacional… são uma força inútil… eles representam apenas um exército de ocupação, não são uma ameaça militar a ninguém”. Parte dessa fala iniciada em “as forças armadas” com término em “colapso” pertence a um soldado venezuelano desertor de 29 anos não identificado, segundo reportagem da BBC Brasil “Crise na Venezuela: o que dizem os soldados que desertaram nas fronteiras” publicada em 25 de fevereiro de 2019. Ao que tudo indica, Patrícia atualizou sua matéria. Afirma o Diário do Brasil que John Bolton, assessor de Segurança Nacional de Donald Trump, “declarou hoje (1º) que o presidente Nicolás Maduro possui duas opções: Ou ele aproveita a oportunidade de anistia oferecida por Guaidó (presidente legítimo da Venezuela) e deixa o país ou acabará na prisão militar de Guantánamo, em Cuba”. A informação procede, contudo, a matéria do Diário encerra com outra mentira garantindo que “as cartas estão na mesa e a Força Aérea americana já está posicionada no Panamá, aguardando apenas um sinal verde para varrer Maduro do mapa”. O Diário do Brasil compartilhou a notícia no facebook, onde teve 4,3 mil curtidas, 393 comentários e 3,5 mil compartilhamentos (dados de abril de 2019). Seguidores da página comentaram que “SERIA UM ATAQUE SURPRESA FLORIDA ATE VENEZUELa 2 horas de voo (sic)”; enquanto outro escreve que “Para tirar Maduro da Venezuela é igual tirar sapo de galpão só precisa de um (sic) boa botina”. Tais reação do público frente àquela notícia, que é falsa, se explica porque sua autora utilizou de elementos do jornalismo tradicional para conceder aspectos de credibilidade à matéria e seduzir os leitores. 120 | TCC 2019
Figura 4.3 Publicação da matéria “Força Aérea americana posicionada no Panamá aguardando sinal verde para destruir Maduro” no Facebook
Entre os componentes do jornalismo utilizados está a formulação do título da matéria. Escrito de modo objetivo e numa tipografia destacada em negrito, se assemelha ao de veículos tradicionais de comunicação. “Força Aérea” em caixa alta acompanhada de verbos como “posicionada” e “aguardando” somados ao substantivo próprio “Panamá”, informando onde ocorre aquele fato, podem enganar um leitor desatento. De acordo com Bueno e Reino (2017), os títulos jornalísticos precisam desempenhar um papel de realce nas matérias, transmitir de forma concisa a essência do texto e impactar de imediato o leitor. A imagem é outro elemento de suporte utilizado pela autora da fake news para cativar a atenção dos internautas. Patrícia fez uma montagem simples e objetiva em tamanho grande usando três fotos: Donald Trump posicionado na extremidade esquerda, aviões da Força Aérea norte-americana no centro e Nicolás Maduro no canto superior direito. Para Hernandes (2017), essa esquematização pertence ao nível sensível de percepção, pois TCC 2019 | 121
uma imagem grande chama mais a atenção do que uma menor e, quanto mais autoexplicativa, melhor, pois saciará de imediato a curiosidade do leitor quanto ao conteúdo da matéria. No que tange ao texto, a autora utilizou do critério substantivo de noticiabilidade atualidade que, segundo Traquina (2005), é a existência de um acontecimento no “agora” já transformado em matéria jornalística que conecta o assunto da pauta à realidade do leitor e justifica sua importância como notícia. Lage (2001) acrescenta que, assim como os fatos novos se revestem de forma antiga, certos instantes históricos podem adquirir interesse por sua semelhança à situação presente, chamada de transatualidade. Patrícia Moraes de Carvalho apropriou-se do calor do momento provocado pela autoproclamação de Juan Guaidó (ocorrida 10 dias antes da publicação da fake news) e os EUA reconhecendo-o como presidente legítimo para induzir o leitor a crer que o fim da ditadura chavista estaria próximo. Lage (2001) salienta que a proximidade temporal entre um acontecimento e outro também faz parte da estratégia de sustentação da atenção do público. Propositalmente, Patrícia não informa as datas das entrevistas dos especialistas, a fim de que os depoimentos deles em sua matéria mantenham-se atuais e provoquem a sensação de que tudo ainda está ocorrendo. A utilização de Nicolás Maduro e Donald Trump, personagens importantes da política internacional, representa a notoriedade na fake news do Diário do Brasil. Para Traquina (2005), “membros da elite” são sempre assunto e tornam-se manchete com facilidade porque estão justamente ligados aquilo que o ser humano mais admira: o poder. O sensacionalismo entra como ingrediente-extra à esta análise, pois, a matéria de Patrícia Moraes de Carvalho enquadra a pauta numa linguagem apelativa. Utiliza no título, por exemplo, o verbo “destruir”; no lide, adjetiva Donald Trump como “taxado de louco”, e caracteriza o presidente dos EUA como figura profética por supostamente prever o que acontecia com a ditadura chavista. 4.1.2. A fake news envolvendo o então presidente do Clube Militar, Gilberto Pimentel, e a ameaça de uma intervenção militar no Brasil O Diário do Brasil publicou em sua editoria de política (originalmente em 8 de fevereiro de 2018 e atualizada em 04 de abril de 2018) que um “General manda recado para políticos: ‘Não ousem obstruir a lei ou teremos a tão sonhada intervenção militar’”. Informava a linha fina que “O general da reserva Gilberto Pimentel, presidente do Clube Militar, mandou um recado ‘curto e grosso’ para os corruptos”. A matéria baseou-se em supostos tre122 | TCC 2019
Figura 4.4 Layout da matéria publicada no Diário do Brasil Fonte: https://www.diariodobrasil.org/nao-ousem-obstruir-a-aplicacao-da-lei/
chos do artigo publicado em 17 de março de 2017 pelo general na página do Clube Militar sob o título “As Forças Vivas da Nação”. Escrito por alguém supostamente chamado Amanda Nunes Brückner, o lide da notícia informava a origem da divulgação do artigo e, no segundo parágrafo, o excerto: “Não ousem obstruir a aplicação da lei. Seria como decretar o fim da democracia. E aí, outra vez, as Forças Vivas de 64 poderão se manifestar”. Na sequência, discorre outro trecho que “Se não houver punição aos corruptos, poderemos assistir a tão sonhada (para muitos) intervenção militar”. O lide e o segundo parágrafo da matéria do Diário do Brasil estão presentes no artigo do general, contudo, não há registros do terceiro trecho, tampouco da frase “intervenção militar”. Discorre o quarto parágrafo que Gilberto Pimentel analisa o cenário brasileiro e critica políticos desinteressados pelas demandas do povo, o que de fato trata o artigo original publicado no site do Clube Militar. Porém, no quinto parágrafo, inexiste a frase “Estão destruindo um país enquanto enriquecem às custas do dinheiro público”, bem como o trecho posterior de que, para Gilberto Pimentel, a intervenção militar seria uma forma rápida e TCC 2019 | 123
eficiente de retirar do Congresso Nacional os parlamentes envolvidos em escândalos de corrupção. Mais, o general teria escrito que, posteriormente à intervenção militar, chamar-se-iam eleições diretas. Segundo o Diário, Pimentel alertou que “A Justiça tarda e quando tarda, falha (sic) [...] principalmente quando o alvo são pessoas poderosas e ricas”. O trecho também não está no artigo original. A matéria vai além e informa que a intervenção militar, para o general, não seria um golpe, mas sim a tomada do poder com o apoio popular. A matéria menciona o discurso de Jorge Solla, deputado federal pelo PT baiano, proferido no plenário da Câmara dos Deputados em 3 de abril de 2018, onde o parlamentar pede a prisão do general Luiz Gonzaga Lessa. A matéria encerra com a hashtag “Fim do Foro Privilegiado”. A fake news do Diário do Brasil, inspirada no artigo que o general Gilberto Pimentel havia escrito quase um ano antes, foi alterada uma vez desde a sua publicação. As atualizações realizadas se justificam pelos desdobramentos ocorridos na política nacional em 2018. O ajuste de 04 de abril daquele ano alterou o título da matéria para “Não é golpe militar, é tomada do poder com apoio popular: ‘Não ousem obstruir a aplicação da lei’” como uma reação ao discurso do deputado do PT, Jorge Solla, à prisão do general Luiz Gonzaga Lessa, que havia sugerido uma intervenção militar caso o habeas corpus do ex-presidente Lula fosse aceito pelo STF. Em suma, uma dupla notícia falsa.
Figura 4.5 Trecho da carta do general Pimentel na matéria “O general da reserva Gilberto Pimentel, presidente do Clube Militar, mandou um recado ‘curto e grosso’ para os corruptos” publicada no Diário do Brasil Fonte: https://www.diariodobrasil.org/nao-ousem-obstruir-a-aplicacao-da-lei/ 124 | TCC 2019
No facebook do Diário do Brasil, a primeira publicação do post obteve 4,1 mil curtidas mais reações. A popularidade advém da utilização dos elementos da profissão do jornalista para criar o efeito de verdade em uma mentira. A começar pelo título, a autora da fake news respeita a estrutura habitual do jornalismo para construí-lo, pois utiliza verbo — a exemplo de “manda” — e sintetiza a ideia principal do texto ao usar uma suposta frase de impacto do general. De acordo com Lage (2001), é imprescindível ao jornalista utilizar verbos nas chamadas noticiosas, sobretudo no presente, pois é necessário causar efeito de atualidade no produto jornalístico.
Figura 4.6 Publicação da matéria “O general da reserva Gilberto Pimentel, presidente do Clube Militar, mandou um recado ‘curto e grosso’ para os corruptos” no Facebook Fonte: https://pt-br.facebook.com/DiariodoBrasil/posts/httpwwwdiariodobrasilorggeneral-manda-recado-para-politicos-nao-ousem-obstruir-a/1654294757968475/
Para Bueno e Reino (2017), o principal critério de seleção que o leitor utilizará para decidir se continua ou abandona a leitura de determinado texto é o título. Segundo os autores, os títulos jornalísticos exercem uma grande influência ao ocuparem espaço de destaque nas matérias, seja num lugar privilegiado na disposição gráfica das revistas, sites ou dos jornais. Hernandes (2017) sublinha pontuando que aspas impactantes cativam a atenção instantaneamente e instigam a curiosidade do leitor. Portanto, maiores serão as chances de consumo de determinada notícia. TCC 2019 | 125
Já a linha fina da matéria foi utilizada pela autora como uma extensão do lide, pois o primeiro responde às perguntas “quem”, “onde” e “o que”, enquanto o segundo completa o desdobramento do acontecimento. Estratégias essas, segundo Lage (2006), que garantem aspecto de seriedade e clareza às informações que estarão desnatadas no restante do texto. Concisão também é cobrado nas imagens, segundo Bueno e Reino (2017), e está presente na fake news do Diário. A autora utilizou uma foto de tamanho médio alocada à esquerda do texto. Ela apresenta o general Gilberto Pimentel posicionado à esquerda do enquadramento e o Clube Militar à direita. De acordo com Lage (2001), a imagem tem por função capturar e manter a atenção dos internautas. Para isso, é necessário que resuma as ideias principais contidas no texto: o Diário utilizou as fotos do general, com semblante austero, e a fachada do Clube Militar para garantir que o receptor entenda do que o texto está falando. Hernandes (2017) elucida que essa lógica simplista abrange o nível sensível de percepção do observador e facilita com que ele decodifique parte da mensagem e queira absorver o conteúdo embutido no texto. No que diz respeito ao conteúdo da matéria, a autora utilizou do sensacionalismo como critério de noticiabilidade. Segundo Traquina (2005), pautas apelativas capazes de causar impacto, de chocar a opinião pública, sem que haja qualquer preocupação com a veracidade interessam mais ao leitor do que assuntos banais do dia a dia. A autora da matéria do Diário também fez uso do ineditismo para criar sua matéria, haja vista que a mais recente intervenção militar no Brasil ocorreu em 1964. A atualidade também está integrada no texto, pois o “agora” conecta o a pauta da matéria à realidade do leitor e justifica a sua importância como notícia. A proximidade também está na fake news do Diário, pois a autora procurou tratar de um assunto tangível ao cotidiano dos brasileiros. Acontecimentos não muito distantes geograficamente e que afetam o cotidiano de várias pessoas serão de bastante interesse da população que lê determinada notícia, segundo Traquina (2005). Percebe-se que foram utilizadas pessoas de elite na matéria, as quais, de acordo com Traquina (2005), chamam a atenção por estarem envolvidas diretamente ao poder. Quando a matéria foi atualizada, a relevância passou a fazer parte do texto, porque a notícia utilizou de um artigo opinativo do então presidente do Clube Militar, Gilberto Pimentel, publicado quase um ano antes, para justificar uma reposta ao deputado federal petista que pedia a prisão de outro general. Para gerar curiosidade no leitor e reter a sua atenção, a fake news do 126 | TCC 2019
Diário do Brasil atua também na dimensão sensível e passional do internauta. Hernandes (2017) explica que é preciso haver identificação entre o público e as personagens da narrativa apresentada pelo jornalista. No caso, o público que lê o Diário tem o pensamento voltado a práticas intervencionistas do exército na vida pública. Ora, trazer esse tipo de assunto certamente garantirá que a matéria obtenha credibilidade, confiança do indivíduo e seja replicada por ele. Um repórter sabe que a sua matéria precisa ser uma superfície refletora do próprio destinatário e de seus sentimentos, convicções, tempo, conflitos e espaço. 4.1.3. A fake news da reunião do Alto Comando do Exército que ameaçou “reagir” caso o STF soltasse Lula
Figura 4.7 Layout da matéria “Alto Comando do Exército já se reuniu. Se o STF soltar Lula, haverá reação” publicada no Diário do Brasil Fonte: https://www.diariodobrasil.org/alto-comando-do-exercito-se-o-stf-soltar-lula-havera-reacao/
No dia 31 de março de 2019, a suposta jornalista do Diário do Brasil, Amanda Nunes Brückner, publicou que o “Alto Comando do Exército já se reuniu. Se o STF soltar Lula, haverá reação”. Segundo a matéria, 15 generais quatro estrelas mais o comandante geral da instituição se reuniram, em dezembro de 2018, para discutir “um assunto de extrema importância para o país: a soltura de Lula e de outras centenas de milhares de presos”. TCC 2019 | 127
Naquele ano, houve, de fato, uma reunião entre o Alto Comando do Exército, como veiculado pelo UOL em 19 de dezembro de 2018 na matéria “Alto Comando do Exército se reúne e analisa decisão que pode soltar Lula”. Porém, na matéria, não há registros de que os militares teriam prometido “uma reação” caso o ex-presidente Lula ou presos condenados em segunda instância fossem libertados pelo STF, como afirma o título da reportagem do Diário do Brasil. Prossegue o Diário que, “na época, um oficial ligado ao Alto Comando declarou que a reunião não teve caráter reativo e sim proativo”. A informação, segundo o UOL, procede. A fonte, por exemplo, não é identificada nos dois casos. Adiante, o DB afirma que a pauta principal da reunião abordou “as consequências desastrosas de soltar presos que já foram condenados em 2ª instância… (sic) assunto esse que será rediscutido pelo STJ e STF nas próximas semanas”. A pauta da reunião, contudo, não corresponde exatamente ao que descreveu o Diário. Segundo o UOL, tratou-se de uma reflexão de representantes do Exército sobre eventuais manifestações públicas mediante um entendimento do STF que favorecesse presos condenados na segunda instância. O Diário deixa de mencionar, por exemplo, que, embora prerrogativa das Forças Armadas manter a ordem e o funcionamento das instituições no país, elas só agem se um dos poderes autorizar. O DB discorre na sequência que “uma decisão desastrosa por parte desses órgãos poderia beneficiar aproximadamente 170 mil detentos… (sic) número que representa 1/4 da população carcerária atual, estimada em 706 mil presos”. Como informou o G1 na matéria “169 mil pessoas podem ser beneficiadas por decisão de Marco Aurélio, estima CNJ”, publicada em 19 de dezembro de 2018, a afirmação procede. Adiante, o Diário aponta que o “Exército já discutiu os possíveis cenários que poderão ser deflagrados com uma decisão absurda e inconsequente como essa… (sic) haveria um caos de proporções inimagináveis pelo país”. Segundo o que apurou o UOL, todavia, não houve quaisquer conclusões dos militares quanto a uma decisão que favorecesse o ex-presidente Lula e demais presos que passaram a cumprir pena depois da condenação em segunda instância. O Diário do Brasil finaliza a matéria afirmando que, “antes das eleições presidenciais, vários generais já haviam declarado sua posição com relação ao assunto… (sic) um deles chegou a dizer a seguinte frase: ‘Se soltarem o Lula, nós teremos que agir’”. Depois de pesquisas no noticiário da grande imprensa, não foram encontrados autores para essa frase atribuída a 128 | TCC 2019
algum representante das Forças Armadas. Sem registros de uma declaração impactante como essa, conclui-se ser falsa. É importante destacar que apenas o último parágrafo da matéria do Diário do Brasil corresponde à sua data de publicação — todo o resto se refere a eventos ocorridos em 2018, deturpados pela autora da matéria, e mesclados com o dia exato em que a publicação do DB foi ao ar. Na ocasião, ventilava-se a possibilidade de o Supremo Tribunal Federal (STF) rever mais uma vez o entendimento se condenados na segunda instância poderiam cumprir pena imediata. A suposta jornalista Amanda Nunes Brückner deturpou o passado a fim de o leitor entender que, caso a Corte Suprema tentasse mais uma vez libertar o ex-presidente Lula, o Exército, então, colocaria em prática a reação supostamente prometida na reunião de 2018: uma intervenção militar. No facebook, a notícia falsa teve 2,8 mil curtidas e reações mais 4,4 mil compartilhamentos somados a 596 comentários de internautas. O público expressivo que acreditou na notícia do Diário do Brasil o fez devido à apropriação dos elementos do jornalismo tradicional utilizados por Amanda Brückner. Isso é possível constatar a partir do título da matéria, o qual, segundo Bueno e Reino (2017), tem de desempenhar realce em uma reportagem, transmitir de forma concisa o espírito do texto e provocar impacto imediato no leitor. A estrutura da chamada flerta com o sensacionalismo — sobretudo pela ameaça de uma reação militar — que, de acordo com Traquina (2005), se destaca em um texto pelo uso de palavras apelativas. Abaixo do título a publicação traz uma montagem fotográfica em tamanho médio apresentando a seguinte cena: O prédio do STF, em Brasília, à esquerda, e militares marchando à direita rumo à estátua da Justiça. Segundo os estudos de Hernandes (2017), fotos que resumem o conteúdo a ser apresentado pela matéria facilitam o entendimento do leitor e ampliam as chances de atração pelo produto jornalístico. A imagem utilizada pelo Diário, exige pouco reflexão do leitor e serve de confirmação ao que diz o título. Outro fator é o lide, pois a redatora da matéria o constrói semelhante aos dos veículos tradicionais. No primeiro parágrafo, Amanda Brückner responde a quase todas as perguntas que um primeiro parágrafo jornalístico requer. Segundo Lage (2001), essas respostas são primordiais para que o leitor compreenda o conteúdo de toda a matéria: “Quem”, no caso, o Alto Comando do Exército; “Fez o que”, se reuniu para discutir uma problemática então atual; “Quando”, em 2018”; “Por que”, a soltura do ex-presidente Lula. TCC 2019 | 129
Figura 4.8 Publicação da matéria “Alto Comando do Exército já se reuniu. Se o STF soltar Lula, haverá reação” no Facebook Fonte: https://pt-br.facebook.com/DiariodoBrasil/posts/alto-comando-do-ex%C3%A9rcito-j%C3%A1-se-reuniu-se-o-stf-soltar-lula-haver%C3%A1-rea%C3%A7%C3%A3ohttpswww/2463345447063398/
Quanto aos critérios de noticiabilidade, a proximidade é um elemento importante no texto. Os acontecimentos ocorrem no Brasil e os envolvidos são parte do cotidiano brasileiro. As pessoas de elite integram a fake news do Diário, as quais, de acordo com Traquina (2005), chamam a atenção do leitor por conta de as personagens estarem ligadas ao poder: STF e Forças Armadas. A atualidade é outro quesito relevante, pois a jornalista do Diário se apropria de dois eventos não muito distantes no tempo ─ a soltura do ex-presidente Lula pelo STF e a libertação de outros presos na mesma condição ─ para criar a suposta intervenção militar. No que diz respeito ao conteúdo da matéria do Diário, a autora fez uso do sensacionalismo como critério de noticiabilidade. De acordo com Traquina (2005), pautas apelativas que produzem impacto significativo na opinião pública, sem que haja qualquer preocupação com a veracidade, interessam mais ao leitor do que assuntos corriqueiros do dia a dia. 130 | TCC 2019
É importante destacar que a matéria do Diário é um texto desprovido de ambiguidades e palavras truncadas. Foi estruturado de forma a facilitar o entendimento do leitor. A isso se dá o nome simplicidade, um valor-notícia comumente utilizado na comunidade jornalística, segundo Traquina (2005). Hernandes (2017) acrescenta que a técnica de simplicidade somada aos critérios anteriores integra o processo de fidelização que opera no campo da persuasão. Trabalhar com as emoções é uma estratégia eficiente quando um veículo intende manter a atenção do leitor. Para o sucesso desse processo, é preciso que os media impliquem em identificação ideológica com o seu público — o Diário do Brasil o faz no campo da direita do espectro político, pois, caso contrário, será abandonado por seu público antes fiel e todo o processo de persuasão, envolvendo a retenção da atenção será malsucedido. Logo, é possível compreender que a fake news do Diário respeita três caminhos identificados por Hernandes (2017) para que um texto jornalístico seja bem-sucedida aos olhos do leitor: 1) Atrair a curiosidade do indivíduo ao utilizar título e imagem chamativos; 2) O leitor deve, posteriormente, interessar-se pelo conteúdo das unidades noticiosas, o que pode ser percebido pela completude e união de elementos relevantes a estrutura do texto somada aos critérios de noticiabilidade; 3) É preciso que o receptor repita a experiência que teve com o produto, a fim de desencadear um hábito. 4.2. Brasil 247 Lançado em 13 de março de 2011 pelo jornalista Leonardo Attuch, o Brasil 247 se apresenta como um site de informações e análises políticas de esquerda. Com inspiração no norte-americano The Daily, o informativo brasileiro tem como slogan a frase “seu portal progressista e democrático de notícias 24 horas por dia e 7 dias por semana” — segundo Hernandes (2017), o lema é uma tentativa de cativar o leitor por intermédio da curiosidade e sensação de estar bem informado o tempo todo. O site mantém seis editorias aos moldes dos grandes media: Poder, Brasil, Mundo, Economia, Cultura e Mídia. Conta com outras 4 páginas regionais (Nordeste, Brasília, Sudeste e Sul), além de blogs de colunistas, o canal de vídeo TV247 e duas revistas eletrônicas — Brasil 247 e Oásis.
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Figura 4.9 Layout da home do Brasil 247 Fonte: https://www.brasil247.com/
De acordo com o próprio site, possui uma política de livre distribuição de conteúdo e um modelo de negócios ancorado “na assinatura solidária dos leitores e na monetização via espaço publicitário e mídia programática”. Prossegue o 247 que, mensalmente, mais de 50 milhões visitam o site que produz mais de 5 horas de programação diária ao vivo no canal no YouTube, que já passa de 130 mil inscritos, e nas mídias sociais o número de seguidores no Facebook se aproxima de um milhão, enquanto no Twitter são mais de 226 mil. Segundo o 247, seu objetivo é “apresentar uma visão contra-hegemônica do país e do mundo, abrindo espaço para representantes dos mais diversos espectros do campo progressista, incluindo partidos políticos, movimentos sociais, intelectuais, artistas, ativistas e jornalistas”. Discorre que mantém uma relação absolutamente horizontal com o público, que interage ativamente não só através dos espaços de discussão e comentários, como também debatendo com os profissionais da casa nos próprios programas23. A linha editorial do 247 é opositora às pautas e personalidades da direita brasileira/internacional, sobretudo ao presidente da República Jair Bol132 | TCC 2019
sonaro, parlamentares da base governista e ao filósofo Olavo de Carvalho. Apoia ostensivamente o Partido dos Trabalhadores (PT) e seus membros, focalizando esforços na defesa de figuras como os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff — nos casos envolvendo ambos, encampam as teorias da “prisão política do maior líder do Brasil” e o “golpe parlamentar contra uma presidente democraticamente eleita”, respectivamente. Se sobressai no Brasil 247 a editoria de Política, haja vista que possui o maior fluxo de matérias publicadas em todo o site — grande parte das manchetes que ocupam a capa da revista online são assuntos dessa área. Até mesmo na editoria Mundo predominam pautas relacionadas à política externa. As principais focalizam no governo do presidente Donald Trump, sempre retratado de forma negativa, e no regime totalitário do ditador Nicolás Maduro (adjetivado como “presidente democraticamente eleito”). O antagonismo entre as duas figuras é bastante comum naquela editoria. Para acessar ao site, é preciso digitar o seguinte endereço eletrônico: https://www.brasil247.com/. Diferente do Diário do Brasil, o portal de notícias da esquerda possui domínio próprio identificado na URL (Uniform Resource Locator, em tradução livre, Localizador Padrão de Recursos), o que facilita encontrar seu criador e, de certa forma, proporciona sensação de segurança ao internauta que navega por ele. A intenção do criador, portanto, não é se esconder do público que acessará o conteúdo produzido pela página progressista. A homepage (página inicial) do 247 apresenta-se com o nome do veículo em caixa baixa posicionado à esquerda no formato comum de escrita LTR (left-to-right script, ou escrita da esquerda para a direita), para melhor leitura e identificação de quem o acessa. O logo do site é um relógio que
Segundo reportagem da revista Veja, publicada em 3 de agosto de 2015, o “Site Brasil 247 recebeu dinheiro do petrolão a pedido do PT, diz despacho do juiz Moro”. Informa a matéria que, entre setembro e outubro de 2014 (ano eleitoral), o jornalista Leonardo Attuch recebeu R$120.000,00 através de depósitos financeiros efetuados por João Vaccari Neto, ex-tesoureiro da sigla petista. Em troca, o site teria de estar à disposição do Partido dos Trabalhadores para produzir conteúdo favorável à campanha presidencial e de outras figuras da legenda. Discorre a Veja que as transferências bancárias foram realizadas como pagamento de contratos frios. TCC 2019 | 133
alude à periodicidade do portal, procurando causar no internauta a sensação de imediatismo e atualização, segundo Hernandes (2017). Assim como o Diário do Brasil, utiliza o azul e branco como pano de fundo ao layout do site por serem as cores que transmitem harmonia, confiança e simpatia, de acordo com Heller (2014). Na tipografia dos títulos, opta pelo verde que, segundo Heller (2014), produz efeito de segurança, esperança e austeridade. Semelhante ao Diário do Brasil, o 247 acompanha o noticiário dos grandes veículos de comunicação e apropria-se do material que circula neles. Ao obter esse conteúdo, a página de esquerda deturpa as matérias de acordo com a sua linha editorial utiliza na criação de fake news a produção de jornalistas sérios. Posteriormente, o conteúdo é compartilhado nas redes sociais do 247 e redistribuído a outros sites ligados à esquerda brasileira, como o Diário do Centro do Mundo, Pensa Brasil e Revista Fórum. 4.2.1. A fake news da campanha nas ruas de Londres contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff
Figura 4.10 Publicação da falsa campanha no Brasil 247 Fonte: https://oreacionarioblog.wordpress.com/2016/04/25/campanha-contra-o-impeachment-em-londres-mais-uma-fraude-do-brasil-247/
Em 21 de abril de 2016, quatro dias depois da admissibilidade do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff pela Câmara dos Deputados, o Brasil 247 publicou que uma “Campanha nas ruas de Londres denuncia golpe e mostra a cara dos golpistas”. Informava a matéria que vários cartazes do então deputado federal, Eduardo Cunha (MDB), do en134 | TCC 2019
tão senador Aécio Neves (PSDB) e do então vice-presidente da República, Michel Temer (MDB), estariam espalhados em diversos pontos da capital inglesa. Mais, a imprensa internacional, a exemplo da BBC, estaria tratando o devido processo legal previsto na Constituição brasileira como um “golpe de Estado”. O 247 vai além e afirma que os media de outros países ofereceram argumentos para que a então presidente da República “pudesse denunciar a manobra parlamentar” na tribuna da ONU — dois dias depois, Dilma esteve na Organização das Nações Unidas, mas não citou a palavra “golpe”, de acordo com a reportagem do G1 publicada na ocasião sob o título “Dilma recua e não fala em golpe durante discurso na ONU”. De acordo com o artigo “Londres denuncia o golpe no Brasil e mostra os golpistas?” do site E-Farsas publicado em 21 de abril de 2016, a história da suposta campanha internacional contra o impeachment da sucessora de Lula era uma farsa. Não havia nenhum cartaz do tipo em Londres. Tratava-se de uma montagem, pois a foto original mostrava outras imagens nos cartazes e a cidade não era Londres, mas sim Gênova. Os jornalistas do 247 apropriaram-se de uma história que circulava na internet e deram ares de notícia a ela em seu portal. Posteriormente, retiraram a publicação do ar, mas este trabalho tem o registro da matéria.
Figura 4.11 Publicação da matéria “Campanha nas ruas de Londres denuncia golpe e mostra cara dos golpistas” no site O Reacionário e extraída do 247 Fonte: https://oreacionarioblog.wordpress.com/2016/04/25/campanha-contra-o-impeachment-em-londres-mais-uma-fraude-do-brasil-247/
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Figura 4.12 No Twitter, a publicação teve 123 Retweets e 101 curtidas Fonte: https://twitter.com/brasil247/status/723086967609511937
O público do 247 acreditou na história porque o autor dela utilizou componentes da profissão do jornalista para construir a narrativa fake em formato de matéria jornalística, aos moldes da objetividade, de acordo com Lage (2001). O título é o primeiro elemento que pode confundir um leitor desatento por estar nos padrões daqueles comumente utilizados pelos media tradicionais, segundo Lage (2001) — utiliza-se no título da matéria do 247, por exemplo, os verbos “denuncia” e “mostra” no tempo verbal presente. Abaixo do título a publicação traz uma grande imagem com as personagens que deseja denunciar. Para Hernandes (2017), as fotos com maior dimensão utilizadas pelas empresas de mídia são uma tentativa de atrair a atenção do leitor sobretudo quando sintetiza o conteúdo da matéria. No caso do 247, isso é bastante perceptível, pois a fotografia escolhida exige pouco raciocínio de quem a vê. Em instantes, sintetiza o lide construído na sequência. Afirma o primeiro parágrafo que “uma campanha espalhada pelas ruas de Londres, na Inglaterra, destaca imagens de políticos brasileiros como o vice Michel Temer, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), e o líder da oposição, Aécio Neves (PSDB), como a cara dos golpistas que tentam destituir Dilma Rousseff do poder no Brasil”. O redator da matéria sabe, portanto, construir um lide que, segundo Lage (2001), precisa responder às perguntas “quem, faz o que, quando, como, onde e por quê”. O autor da fake news sobre a campanha mentirosa contra o impeachment de Dilma Rousseff no exterior preenche os requisitos exigidos na abertura de uma matéria. Mais, escreve também de acordo com as normas 136 | TCC 2019
da língua portuguesa. Obedecer a essas etapas concede credibilidade ao texto e estabelece uma relação de confiança entre o leitor e o veículo, de acordo com Hernandes (2017). Para fortalecer esse laço, o nome de outro veículo é utilizado para dar legitimidade à falsa campanha: a BBC, tradicional empresa pública de comunicação inglesa. No que diz respeito aos critérios de noticiabilidade utilizados pelo 247 na matéria estão as pessoas de elite, as quais, segundo Traquina (2005), sempre chamam a atenção do leitor. Os envolvidos com o poder pertencem ao interesse público e aguçam a curiosidade de quem quer que seja. A atualidade, outro quesito importante, está presente na fake news, pois a farsa foi publicada pouco depois do processo de impeachment ter sido admitido pela Câmara dos Deputados, bem como num clima de polarização política no Brasil. A proximidade é outro fator importante. Embora o acontecimento tenha supostamente ocorrido no exterior, estão envolvidas pessoas que pertencem ao cotidiano do brasileiro no que tange à territorialidade geográfica. O insólito é outro aspecto importante, haja vista que uma campanha no exterior com cartazes expondo fotos de parlamentes estrangeiros em diversos pontos da cidade não é comum. Apelos ao sensacional integram o rol de critérios utilizados pelo redator da notícia falsa, pois a montagem de fotos remete a momentos pitorescos dos parlamentares e, dificilmente, veículos internacionais classificariam de golpe de Estado um processo de impedimento presidencial. 4.2.2. A fake news de que o Papa Francisco enviou um terço a Lula Em 11 de junho de 2018, o Brasil 247 publicou que o “Papa envia terço a Lula, preso político há 67 dias”. Informava a matéria não assinada que Juan Gabrois, supostamente assessor do Santo Padre para assuntos de Justiça e Paz, teria entregue, a pedido do pontífice, um objeto sagrado ao ex-presidente na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. Segundo a reportagem “Vaticano desmente PT e diz que Papa Francisco não enviou terço a Lula”, publicada no portal de notícias da revista Veja, em 12 de junho de 2018, Gabrois era, na verdade, ex-consultor do Pontifício Conselho de Justiça e Paz. A matéria de Veja baseou-se na agência oficial da Santa Sé Vatican News, que publicou uma nota em que o seguinte excerto esclarece que “O advogado argentino Juan Gabrois, fundador do Movimento dos Trabalhadores Excluídos e ex-consultor do Pontifício Conselho Justiça e Paz, deu TCC 2019 | 137
uma entrevista em sua tentativa de visitar o ex-presidente Lula na prisão de Curitiba, onde está detido há mais de dois meses. Grabois disse que a visita era pessoal e não em nome do Santo Padre. Ele não teve a permissão para se encontrar com Lula”.
Figura 4.13 Publicação da matéria “Papa envia terço político a Lula, preso político há 67 dias” no Brasil 247 Fonte: https://www.brasil247.com/pt/247/mundo/358050/Papa-envia-ter%C3%A7o-a-Lula-preso-pol%C3%ADtico-h%C3%A1-67-dias.htm
A Santa Sé ressaltou no esclarecimento que Juan Gabrois “nunca declarou que foi o Papa a enviar o terço, mas simplesmente que se tratava de um terço que tinha sido ‘abençoado’ pelo Papa”. Ainda segundo a nota, “terços como esse são levados, como o Santo Padre deseja, a tantos prisioneiros do mundo sem entrar no mérito de realidades particulares”. Na sequência, a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) afirmou desconhecer o envio de um terço ao ex-presidente, sobretudo com o remetente da mais alta autoridade da Igreja Católica. O título da matéria e o lide do 247 informam que Lula é um “preso político há 67 dias”. No entanto, conforme veiculado pelo Jornal Nacional em 23 de abril de 2019, a “Quinta Turma do STJ mantém condenação de ex-presidente Lula no caso do triplex, mas reduz pena”, os oito ministros 138 | TCC 2019
do Superior Tribunal de Justiça mantiveram a condenação imposta pela primeira instância, em Curitiba, e pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Portanto, reafirmando que existem provas de que Lula cometeu os crimes de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro. Presos políticos são característicos de regimes ditatoriais, a exemplo de Venezuela e Cuba. Adiante, o 247 afirma que o discurso “Contra o Veneno da Maledicência”, proferido pelo Papa Francisco em 17 de maio de 2018, foi dirigido ao ex-presidente Lula e um alerta ao suposto golpe de Estado que estaria em curso no Brasil. A matéria do 247 reorganiza a fala do Papa e chega ao seguinte o trecho: “Criam-se condições obscuras para condenar uma pessoa. A mídia começa a falar mal das pessoas, dos dirigentes, e com a calúnia e a difamação essas pessoas ficam manchadas. Depois chega a Justiça, as condena e, no final, se faz um golpe de Estado”. Originalmente disponibilizado no site Vatican News, o discurso do Papa em nenhum momento cita o ex-presidente Lula ou o Brasil — poderia estar se referindo a qualquer país do mundo ou a nenhum especificamente. Francisco pregava a unidade dos homens em torno de Jesus, como exemplifica o excerto: “Em síntese, é a unidade à qual nos leva a Jesus, a unidade no Pai, como Ele está com o Pai. E é uma unidade construtiva, uma unidade que cresce sempre; uma unidade entusiasmante, que une a Igreja. E o Espírito Santo leva-nos sempre para esta unidade: uma unidade de salvação, pois Jesus quer salvar todos e nos leva rumo a esta unidade”. No quinto parágrafo, a matéria do 247 afirma que a declaração do Papa aconteceu depois da visita de um grupo de jovens brasileiros que foram a Roma para o encontro das Scholas Ocurrentes, grupo de educação ligado a Francisco. A informação procede e serviu como cerne de verdade utilizado na criação de uma fake news, haja vista a intenção do criador daquela notícia falsa de sugerir que o Santo Padre considera política a prisão do ex-presidente Lula. Posteriormente, a fake news informa que o terço é um instrumento de oração usado há mais de 800 anos. Composto de uma sucessão de 10 Ave-Marias entremeadas por um Pai Nosso, soma-se à invocação da Santa Trindade no final. Em entrevista à revista Superinteressante na matéria “Qual é a origem do terço católico?”, publicada em 14 de setembro de 2017, a doutora em Teologia Cléria Peretti explica que a origem do objeto religioso remete à terça parte de um Rosário — conjunto de orações proposto pelo frade Alan de Rupe em 1470. Por conta da dificuldade dos fiéis em decorar os Salmos, estes foram substituídos por 150 Pais-Nossos, que eram rezados (e contaTCC 2019 | 139
dos) com 150 pequenas pedras numa bolsa de couro e, posteriormente, com 150 nós em um cordão. A peça é composta por terços com 50 contas pequenas, simbolizando Ave-Marias, intercaladas por cinco contas grandes, que representam os Pais-Nossos. Não se tratando, portanto, de um objeto com as características citadas na matéria do 247. O texto finaliza afirmando que as comunidades eclesiais de base da Igreja foram decisivas para a formação do PT nos anos 1970 e 1980 com a ajuda dos teólogos Leonardo Boff e Frei Betto, principais conselheiros espirituais de Lula. A informação procede. É indiscutível o apoio que o Partido dos Trabalhadores recebeu de setores da Igreja Católica, sobretudo dos movimentos ligados à Teologia da Libertação. Constata-se o mesmo quanto aos sermões que Lula recebeu, e ainda recebe no cárcere, das duas figuras religiosas citadas anteriormente. Percebe-se, portanto, que essas informações são utilizadas mais uma vez como instrumento da mentira, aos moldes das técnicas de dezinformatsiya criadas pela KGB durante a Guerra Fria — sobretudo no que tange aos assuntos que pautam a religião. Através de uma busca realizada pela ferramenta de análise de dados Crowdtangle, além dos mais de 20 mil compartilhamentos no Facebook, a falsa informação do presente do Papa a Lula também foi replicada por cerca de 16 mil vezes no Twitter do ex-presidente, segundo o site Aos Fatos no texto publicado em 12 de junho de 2018 “Papa Francisco não enviou terço a Lula; Vaticano desmente boato”. A informação também foi replicada por veículos de comunicação confiáveis como o UOL e portal IG. É desconhecida a fonte original da informação, que acabou sendo atribuída à página oficial do ex-presidente Lula. Em seguida, foi replicada no Brasil 247 que ampliou o suposto acontecimento de acordo com a sua linha editorial.
Figura 4.14 Publicação da matéria “Papa envia terço a Lula, preso político há 67 dias” no Facebook Fonte: https://veja.abril.com.br/politica/vaticano-desmente-pt-e-diz-que-papa-francisco-nao-enviou-terco-a-lula/ 140 | TCC 2019
A confiança provocada por uma mentira veiculada aos moldes citados anteriormente se deve aos elementos do jornalismo tradicional presentes nela. O título, que segundo Lage (2001) é de extrema relevância num produto jornalístico, está de acordo com os padrões da profissão. Utiliza, por exemplo, o verbo no presente “envia”, aludindo à atualidade do acontecimento que, segundo Traquina (2005), é imprescindível no texto jornalístico para produzir o efeito de constância, de continuidade, a fim de prolongar a vida útil das matérias. Bueno e Reino (2017) subscreverem afirmando que os títulos das matérias jornalísticas são o principal critério de seleção que o leitor utilizará para decidir se continua ou abandona a leitura. A imagem de grande dimensão que ilustra a fake news do Brasil 247 é uma montagem bem elaborada, pois contém três elementos que facilitam a leitura imediata do conteúdo jornalístico presente na matéria: 1) Lula visto de cima e cercado por militantes no dia de sua prisão, em 07 de abril de 2018; 2) O terço, objeto sagrado supostamente endereçado ao ex-presidente; 3) O Papa Francisco em seus trajes brancos acenando cordialmente como se num sinal de paz. Segundo Hernandes (2017), as fotos maiores são preferencialmente utilizadas pelas empresas de mídia tradicionais como uma tentativa de atrair a atenção do leitor, sobretudo quando sintetiza todo o conteúdo da matéria. Nas matérias e reportagens jornalísticas, a linha fina usualmente está abaixo dos títulos, contudo, na matéria do Brasil 247, aparece posterior à imagem principal, servindo também como legenda da foto. Para Bueno e Reino (2017), a linha fina tem por função complementar as manchetes e explicar da melhor forma o assunto do texto, introduzindo o leitor ao tema a ser tratado — este recurso é muito usado para instigar a curiosidade sobre o assunto tratado nas matérias jornalísticas. Na sequência, o lide é apresentado, o qual está de acordo com os critérios estabelecidos por Lage (2001), ao afirmar que na pirâmide invertida é preciso responder as perguntas: quem, faz o que, quando, como, onde e por quê? No que diz respeito aos critérios de noticiabilidade escolhidos pelo autor da fake news está o de atualidade, que, segundo Traquina (2005), é o “acontecimento da semana”, quando a notícia precisa ser publicada num espaço de tempo próximo ao acontecimento. Além do valor-notícia citado anteriormente está a notoriedade, cujo foco recai nas pessoas de elite, comumente aos envolvidos com o poder. Tais figuras sempre despertaram a curiosidade no leitor, haja vista as folhas volantes do passado, segundo Traquina (2005). Na fake news do 247, essas personagens são o ex-presiTCC 2019 | 141
dente Lula e o Papa Francisco, ambos ligados a instituições de muito poder e influência: religião e Presidência da República. A proximidade também está presente nas linhas do 247, pois a fake news trata de duas figuras próximas ao internauta, seja geograficamente, como é o caso do ex-presidente Lula, e também cultural, a exemplo do Papa Francisco, ligado ao cristianismo. O leitor tem, portanto, a sensação de pertencimento no que tange a assuntos que considera próximos a ele. A novidade entra também no rol de critérios de noticiabilidade que permeiam a matéria do 247, pois o suposto gesto da mais alta autoridade da Igreja Católica estaria chancelando a narrativa de que Lula seria um perseguido da Justiça e, portanto, um preso político — história muito utilizada pelo Partido dos Trabalhadores para justificar a prisão do ex-presidente. O autor da fake news também opta pela simplicidade, valor-notícia apreciado pela comunidade jornalística porque intende que um texto seja desprovido de ambiguidades, facilitando o entendimento do leitor. Percebe-se essa qualidade na matéria do 247, bem como a relevância, outro critério de noticiabilidade que, de acordo com Traquina (2005), afirma ser mais atraente uma reportagem que traz significados às pessoas. A fake news do 247 procurar chamar a atenção e provocar sensações positivas em pessoas simpáticas à figura do ex-presidente Lula, bem como mostrar às autoridades do Poder Judiciário que a mais alta autoridade da Igreja Católica estaria considerando a prisão de Lula como política. Hernandes (2017) complementa que a técnica simplicidade somada à relevância integram o processo de fidelização que opera no campo da persuasão. Utilizar das emoções é uma estratégia eficaz quando determinado veículo de comunicação deseja reter a atenção do leitor — o 247 utiliza justamente duas personagens que despertam emoções. Para que tudo isso seja bem-sucedido, é preciso que os media impliquem em identificação ideológica com o seu público — o Brasil 247 o faz no campo da esquerda do espectro político. Caso contrário, será abandonado por seu público antes fiel e todo o processo de persuasão, envolvendo a retenção da atenção será malsucedido. Sendo assim, é possível compreender que a fake news do 247 respeita os três caminhos traçados por Hernandes (2017) para que uma matéria seja bem-sucedida aos olhos do leitor: 1) Fisgar a curiosidade do indivíduo, haja vista o título somado à imagem; 2) O sujeito deve, em seguida, interessar-se pelo conteúdo das unidades noticiosas, o que pode ser percebido pela completude e união de elementos relevantes como a linha fina somada 142 | TCC 2019
aos critérios de noticiabilidade citados anteriormente; 3) É necessário que o sujeito repita a experiência que teve com o produto, a fim de desencadear um hábito. Tal fenômeno ocorreu inclusive em grandes meios de comunicação que replicaram aquela notícia falsa. 4.2.3. A fake news da faixa de apoio ao ex-presidente Lula em um jogo na Alemanha
Figura 4.15 Publicação da matéria “Faixa de apoio a Lula é mostrada em jogo na Alemanha” no Diário do Centro do Mundo Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/faixa-de-apoio-lula-e-mostrada-em-jogo-na-alemanha/
O Brasil 247 publicou em 13 de janeiro de 2018 a seguinte manchete: “Faixa de apoio a Lula é mostrada em jogo na Alemanha”. O texto não assinado informa que, durante uma competição entre os times Bayern de Munique e Leverkusen, a torcida estendeu uma grande faixa trazendo as palavras de ordem “Forza Lula!”. A informação, contudo, era falsa, de acordo com a matéria da Gazeta do Povo “Gleisi se confunde e vê apoio a Lula em homenagem a torcedor de futebol italiano” publicada também em 13 de janeiro de 2018. A informação foi veiculada primeiramente no Twitter da ex-senadora do Partido dos Trabalhadores e o Brasil 247 utilizou-a para criar uma notícia falsa24 — ambos apagaram suas publicações posteriormente. Informa a reportagem da Gazeta do Povo que a faixa trazia o nome “Forza Luca”, uma referência que faz alusão ao torcedor italiano Luca Farnesi, vítima de uma briga entre torcidas em seu país. As homenagens a ele TCC 2019 | 143
tornaram-se corriqueiras em vários estádios da Europa desde que o torcedor entrou em coma depois de um confronto em 5 de novembro de 2017. O episódio comoveu a Itália, outros países ao redor do mundo e até mesmo torcedores de times rivais, que se empenharam em prestar solidariedade ao italiano — torcedor do Sambenedettese — da terceira divisão italiana. A torcida do Bayern de Munique, mencionada pelo Brasil 247, foi uma das primeiras a prestar homenagem. O lide da matéria do 247 informa que “[Lula é] Vítima de intensa caçada judicial e, ao mesmo tempo, líder absoluto em todas as pesquisas de intenções de voto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu apoio até no clássico alemão entre o Bayern de Munique e o Leverkusen. A imagem mostra a torcida estendendo uma faixa pedindo força ao petista”. Adiante, discorre que o ex-presidente foi “apontado como o melhor presidente da história do País, de acordo com pesquisa CNI/Ibope, divulgada em setembro do ano passado”. Todavia, a pesquisa divulgada se refere ao presidente do Brasil com o melhor desempenho na percepção do público desde 1989, ano da redemocratização, e não da história do país, como afirma o lide. O 247 discorre que o ex-presidente Lula “foi condenado sem provas pelo juiz Sergio moro (sic) no processo envolvendo o tríplex (sic) no Guarujá”. Porém, como afirma a publicação de 23 de janeiro de 2019 do G1 “Em decisão unânime, 5ª Turma do STJ mantém condenação de Lula e reduz pena para 8 anos e 10 meses”, a 3ª instância da Justiça ratificou a tese de que a prisão de Lula no caso do tríplex em Guarujá possuía provas. Matéria do site jurídico Conjur intitulada “Leia o voto do ministro Félix Fischer no julgamento de Lula” e publicada em 24 de abril de 2019 destaca trechos dos votos dos ministros do STJ, entre eles, o do relator Félix Fisher: “Da mera leitura do acórdão reprochado, denota-se, claramente, que a condenação de Lula se deu pela efetivação da denúncia. Abarcando não somente a prova material (documental), como também a prova oral, dentre elas o depoimento do mencionado corréu Léo Pinheiro”.
A parlamentar tuitou: “SHOW DE TORCIDA!! Um apaixonado por futebol como @LulapeloBrasil merece mesmo o carinho e a homenagem de torcedores no mundo todo. Recebi esta imagem, que mostra uma faixa ‘FORZA LULA’ na torcida do Bayern de Munique, ontem, na partida contra o Bayer Leverkusen, pela Liga Alemã” 144 | TCC 2019
Ainda segundo o Conjur na matéria “Leia o voto do ministro Jorge Mussi no julgamento de Lula no caso triplex”, publicada em 24 de abril de 2019, o voto do ministro do STJ seguiu a linha dos demais colegas e descartou as teses de suspeição “do magistrado responsável em 1° grau, o então titular da 13ª Vara Federal de Curitiba Sergio Moro, e dos membros do Ministério Público”. A redução de pena do petista não significou, portanto, que ele foi absolvido dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Segundo a 3ª instância da Justiça, trata-se apenas de um entendimento diferente das instâncias inferiores no que tange à dosimetria da pena imposta no caso do tríplex em Guarujá. As linhas seguintes do 247 afirmam que “o Ministério Público Federal denunciou o petista alegando que ele recebeu R$ 3,7 milhões em benefício próprio da empreiteira OAS, entre 2006 e 2012, através do apartamento. Mas o curioso é que um dos procuradores, Henrique Pozzobon admitiu não existir ‘prova cabal’ de que o petista é ‘proprietário no papel’ do tripléx”. É verdadeira a acusação do Ministério Público Federal informada pelo 247 e, um ano depois, foi chancelada pela 3ª instância da Justiça. No entanto, a segunda afirmação é falsa, de acordo com a reportagem do G1 “Afinal, procurador da Lava Jato disse 'não temos prova, temos convicção'?” publicada em 15 de setembro de 2016. Com as informações da reportagem do G1 constata-se que a frase atribuída ao procurador Henrique Pozzobon foi deturpada pelo Brasil 247. Ao acusar o ex-presidente, em 2016, o representante do Ministério Público Federal (MPF) fala sobre o fato de não existir "prova cabal" de que Lula é "proprietário no papel" do apartamento no Guarujá. Eis a frase original: “Precisamos dizer desde já que, em se tratando da lavagem de dinheiro, ou seja, em se tratando de uma tentativa de manter as aparências de licitude, não teremos aqui provas cabais de que Lula é o efetivo proprietário no papel do apartamento, pois justamente o fato de ele não figurar como proprietário do tríplex, da cobertura em Guarujá é uma forma de ocultação, dissimulação da verdadeira propriedade”. Encerra a matéria do 247 informando que o ex-presidente Lula havia publicado no site do Instituto Lula um dossiê completo em que disponibilizava todos os documentos referentes ao apartamento. “Foram publicados seus contratos com a Bancoop, sua declaração de Imposto de Renda, a declaração de bens ao Tribunal Superior Eleitoral e os contratos que compravam a desistência da ex-primeira-dama Marisa Letícia em continuar com o imóvel”. As informações são verídicas e os documentos podem ser enTCC 2019 | 145
contrados tanto no site do Instituto Lula como no próprio Brasil 247. A fake news de Gleisi Hoffmann e do Brasil 247 circulou pelo mundo da internet e, enquanto permaneceu nas páginas de sites progressistas, como o Diário do Centro do Mundo, houve quem acreditasse na falácia porque a mentira de que a torcida de um time internacional estaria apoiando o ex-presidente Lula adquiriu o formato utilizado pelo jornalismo tradicional. O título, por exemplo, respeita a competência principal que é comum ao jornalista, segundo Bueno e Reino (2017): é conciso, autoexplicativo e faz uso de verbo, como é possível observar nas palavras “apoio” e “é mostrada”. Para Traquina (2005), o verbo é imprescindível no texto jornalístico para produzir o efeito de continuidade, a fim de prolongar a vida útil das matérias. A imagem é outro elemento a ser observado, pois tem boa qualidade nos termos técnicos de definição fotográfica. O recorte escolhido permite ao leitor entender o que se passa na cena. O “Forza Lula” em evidência chancela a afirmação do título, produzindo o efeito de veracidade, qualidade importante, segundo Hernandes (2017). O autor salienta que fotos que sintetizam o conteúdo apresentado na matéria são uma tentativa de atrair a atenção do leitor, pois o torna curioso a fim de desnudar o produto jornalístico em sua totalidade. Posteriormente, tem-se o lide, que está de acordo com os critérios estabelecidos por Lage (2001), ao esclarecer que na pirâmide invertida é necessário que as perguntas “quem, faz o que, quando, como, onde e por quê?” sejam respondidas. Entre os critérios de noticiabilidade escolhidos pelo 247 na produção de sua fake news está o de atualidade, que, segundo Traquina (2005), é o “acontecimento da semana”, quando a notícia precisa ser publicada num espaço de tempo próximo ao acontecimento — no caso, o jogo internacional. Outro valor-notícia presente é a notoriedade, cujo foco está nas pessoas de elite, envolvidas em atividades que mexem com o poder. Essas personagens despertam a curiosidade no leitor desde muito tempo, a exemplo das folhas volantes, antecessoras dos jornais, segundo Traquina (2005). Na fake news do 247, a personagem de elite principal é o ex-presidente Lula, acompanhado, em segundo lugar, pelo procurador do MPF, Henrique Pozzobon, ambos ligados a instituições de grande influência e poder: Presidência da República e Ministério Público Federal. A proximidade também faz parte da lista de valores-notícia utilizados na fake news, pois duas figuras usadas pelo 247 são próximas do internauta em termos geográficos: Lula e o procurador Henrique Pozzobon. O internauta tem a sensação de pertencer àquela realidade por ela apresentar pes146 | TCC 2019
soas próximas a ele, segundo Traquina (2005). A novidade entra também no rol de critérios de noticiabilidade que constroem a matéria do 247, pois o suposto ato da torcida internacional estaria chancelando a falácia de que Lula seria um perseguido da Justiça — narrativa comumente utilizada pelo Partido dos Trabalhadores e demais apoiadores do ex-presidente petista. O 247 faz uso da simplicidade na construção da fake news, valor-notícia apreciado pela comunidade jornalística porque afirma que um texto precisa ser desprovido de ambiguidades para facilitar o entendimento do leitor. A relevância, outro critério de noticiabilidade, complementa esse trecho, pois, de acordo com Traquina (2005), uma reportagem que traz significados às pessoas é mais relevante que as demais. A fake news do 247 intende chamar a atenção do internauta e provocar sensações positivas em pessoas simpáticas à figura do ex-presidente Lula, bem como mostrar às autoridades do Poder Judiciário que “um líder popular”, amado por todos segundo as pesquisas de intenção de voto, estaria sendo perseguido injustamente. Hernandes (2017) salienta que a técnica de simplicidade somada à relevância integra o processo de fidelização que opera no campo da persuasão. Mexer com as emoções dos leitores é uma estratégia eficaz quando determinado veículo de comunicação deseja reter a atenção do leitor — o 247 utiliza justamente uma personagem que desperta a emoção de seus simpatizantes. Para que tudo isso seja bem-sucedido, é preciso que os media impliquem em identificação ideológica com o seu público — o Brasil 247 o faz no campo da esquerda do espectro político. Caso contrário, será abandonado por seu público antes fiel e todo o processo de persuasão, envolvendo a retenção da atenção será malsucedido. De acordo com o que foi dito, é possível discernir que a fake news do 247 respeita os três caminhos traçados por Hernandes (2017) para que uma matéria seja bem-sucedida aos olhos do leitor: 1) Fisgar a curiosidade do indivíduo, haja vista o título somado à imagem; 2) O sujeito deve, em seguida, interessar-se pelo conteúdo das unidades noticiosas, o que pode ser percebido pela completude e união de elementos relevantes como a linha fina somada aos critérios de noticiabilidade citados anteriormente; 3) É necessário que o sujeito repita a experiência que teve com o produto, a fim de desencadear um hábito. Tal fenômeno ocorreu inclusive em grandes meios de comunicação que replicaram aquela notícia falsa. 4.3. Resultado das Análises A partir das análises realizadas, foi possível concluir que, tanto o Brasil TCC 2019 | 147
247 quanto o Diário do Brasil, utilizam como matéria-prima o trabalho dos veículos da grande mídia para produzir as fake news que circulam em suas plataformas de “notícias”. Ora, como na antiga dezinformatsiya, um cerne de verdade é necessário para montar uma narrativa falsa. As evidências dessa afirmação foram ficando claras à medida em que se observou elementos para tal, a exemplo dos títulos sensacionalistas, os quais vendiam a realidade pela ótica do absurdo. A ausência de autor em algumas matérias também serviu de norte para a identificação das fraudes, pois é praxe das empresas de comunicação apresentarem no início ou rodapé da reportagem quem assina o texto. Da mesma forma, a qualificação do profissional que está produzindo a matéria ou artigo de opinião. A ausência de legenda nas imagens é outra característica que denunciou a despreocupação dos autores das notícias falsas com a importância de se identificar uma imagem a fim de atrair o leitor para consumir aqueles produtos. Erros de digitação e/ou gramaticais foram observados nas matérias analisadas, sobretudo nas do Diário do Brasil. Como não é possível identificar seus criadores, é crível tratar-se de indivíduos com qualificação provinciana no que tange às técnicas jornalísticas. Quanto ao Brasil 247, poucos desses erros foram encontrados, haja vista tratar-se de um site cujo criador e — outros colaboradores — são jornalistas de formação, que ocuparam posições relevantes em empresas de comunicação tradicionais. No que diz respeito aos critérios de noticiabilidade, observou-se que as seis matérias dos dois sites possuem em comum o sensacionalismo, a proximidade, as pessoas de elite e a atualidade. Tal preferência justifica-se pelo maior poder de curiosidade que esses valores-notícia exercem. Neste ponto, verifica-se também que o Brasil 247 e o Diário do Brasil utilizam dos mecanismos e truques característicos da grande mídia para reter a atenção do leitor, como, por exemplo, seguir as diretrizes preconizadas por Nilton Hernandes para garantir que o processo de persuasão seja bem-sucedido. A escolha de cores ao layout dos sites e à tipografia das matérias foi bem pensada por seus criadores. Tanto o Brasil 247 e o Diário do Brasil partilham o azul e branco, tons que inspiram a paz, a confiança e a seriedade, segundo Eva Heller. Em ambos os sites é possível encontrar conteúdo verdadeiro — até mesmo notícias da grande mídia transcritas na íntegra — e, por se misturarem ao material mentiroso, produzem a aparência de que o portal de notícias tem total compromisso com a verdade. Ambos os sites pretendem 148 | TCC 2019
utilizar deste cerne de verdade para legitimar as fake news que alimentam suas plataformas diariamente. Com isto, as chamadas pautas quentes do noticiário tradicional ganham novas nuances a partir da coloração ideológica do Brasil 247 e do Diário do Brasil. Entendeu-se também que a produção e disseminação de notícias falsas no mundo da internet possuem público porque a existência delas representa um viés de confirmação a determinados segmentos da sociedade. Ora, na pós-verdade é mais coerente acreditar no que ratifica as crenças pessoais e desprezar a realidade objetiva. Seja na direita ou na esquerda, essa prática é corriqueira e já identificada por especialistas, como o professor Shyam Sundar, psicólogo social entrevistado para a matéria de capa da revista Veja intitulada “Fake News”. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os boatos e as histórias mal contados sempre existiram. Estiveram presentes em diversos momentos da História da humanidade, seja em panfletos furiosos dirigidos a grupos específicos, cartazes para iludir transeuntes curiosos nos Estados Unidos do século XIX ou em livros de escritores de notório saber. Todas essas mentiras provocaram terríveis consequências, a exemplo da Perseguição da Rua das Infantas, na Espanha, ou o massacre contra os girondinos instigado pelo jornal L'Ami du peuple (O Amigo do Povo), na França. Veio o século XX e a imprensa aperfeiçoou-se com a Revolução Industrial. Duas Grandes Guerras afligiram o mundo com ideologias perversas em sua esteira. No meio delas, nazistas e fascistas utilizaram dos media para promover seu governo totalitário e superioridade racial. Posteriormente, surge outra guerra, mas fria, em que duas agências de espionagem se apropriam do fazer jornalístico para criar realidades e espalhar sua forma de ver o mundo. De um lado, a principiante CIA e sua intelligentsia; do outro, a especializada KGB com a ciência da dezinformatsiya. Por fim, é chegada a era digital do século XXI e, junto dela, a pós-verdade, a globalização, a popularização da internet e o advento dos smartphones. Com isto, pessoas em todo o mundo passaram a se conectar cada vez mais e as fronteiras geográficas foram encurtadas pelo poder da tecnologia. À sombra dessa revolução, a indústria da mentira aperfeiçoou-se e ganhou musculatura para atuar em diversos segmentos da sociedade, a exemplo dos sites e blogs espalhados pela internet disponíveis a um clique do mouse ou toque dos dedos. TCC 2019 | 149
Estudo encomendado pela revista Veja ao Instituto Big Data para a edição 2565 “Fake News”, publicada em 17 de janeiro de 2018, afirma que o produtor moderno de fake news utiliza elementos da estrutura tradicional do jornalismo para fabricá-las, como título, linha-fina, imagem, lide e linguagem, tudo somado aos critérios de noticiabilidade: componentes da tribo jornalística que definem o que deve ou não ser notícia. Muitos estão ancoradas em sites esteticamente atrativos e com chamadas impactantes, sobretudo em alusão aos veículos de comunicação da chamada grande imprensa, cujo objetivo é persuadir facilmente um leitor desatento. Prossegue a pesquisa que, quanto à propagação, as fake news costumam ter um site-fonte situado em plataformas, a exemplo do Wordpress, Medium e Blogger, que permitem o rápido espalhamento de conteúdo por integrar redes sociais em seu universo de publicações. Portanto, qualquer postagem pode, facilmente, ser divulgada no facebook, no Twitter e noutras redes sociais, simultaneamente, o que facilita a “viralização” das informações fictícias. No ano de 2018, popularizou-se os serviços (ou pacotes) de disparos que facilitam, por intermédio de um software, o envio de fake news através de aplicativos de mensagens instantâneas, como o WhatsApp, por exemplo. Em virtude dos aspectos analisados, o propósito deste estudo científico foi explicar de que forma a estrutura do jornalismo tradicional, os critérios de noticiabilidade e as técnicas de persuasão foram e estão sendo utilizados para construir realidades a fim de confundir e manipular. O processo inicia-se na escolha dos nomes dos sites analisados por este trabalho, que são semelhantes aos dos veículos da grande mídia. A intenção deles é camuflar-se entre jornais e revistas de grande nome para, assim, ampliar as chances de um internauta desatento acessar seu portal de notícias na internet. A matéria-prima do pseudojornalismo praticado pelo Brasil 247 e Diário do Brasil advém do que a imprensa produz. Fazer uso desse material, ou seja, dos acontecimentos factuais relatados pelos jornalistas, é o cerne de verdade preconizado por Ion Mihai Pacepa e Richard Rychlak que concede à fake news a aparência de ser real. Somado a isso, o criador de notícias falsas utiliza as técnicas de persuasão comuns ao jornalismo, estudadas por Nilton Hernandes, que atuam no nível de caráter sensível do ser humano. Uma fotografia utilizada em grande tamanho na primeira página de um jornal ou revista, por exemplo, obriga o observador a comprar o produto jornalístico, a fim saciar sua curiosidade. 150 | TCC 2019
Manchetes aos moldes da imprensa (com verbos e estrutura semântica no presente), imagens sintetizando o conteúdo do texto, lide respondendo às perguntas “quem, o que, quando, onde, como e por quê”, tudo somado aos valores-notícia, auxiliam o produtor de fake news do Brasil 247 e do Diário do Brasil a apropria-se da credibilidade e da confiança que as técnicas jornalísticas possuem perante a opinião pública. Não só, o produtor de notícias falsas procura beneficiar-se da tradicionalidade da imprensa, que surge com Gutenberg e, durante a Revolução Francesa, passa a ser consolidada, segundo os estudos do professor Alejandro Pizarroso Quintero. Em face dessas observações, este trabalho de conclusão de curso também pretende servir de guia ao público leigo que deseja compreender o fenômeno fake news, identificar as notícias falsas e, possivelmente, desarmá-las. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A AMEAÇA DAS FAKE NEWS: No ano de uma eleição presidencial imprescindível, 83% dos brasileiros já se preocupam com a enxurrada de notícias falsas que circulam na internet. São Paulo: Editora Abril, n. 2565, 17 jan. 2018. Semanal. BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. Fórmula para o Caos: A Derrubada De Salvador Allende. São Paulo: Civilização Brasileira, 2008. 644 p. BITTMANN, Ladislav. The KGB and Soviet Disinformation: An Insider’s View. England: Pergamon, 1983. 216 p. CASTELLS, Manuel. The Rise of the Network Society. 2. ed. Hoboken: Wiley-blackwell, 2009. 656 p. CONNER, Clifford D. Jean Paul Marat: Tribune of the French Revolution. London: Pluto Press, 2012. 192 p. (Revolutionary Lives). D’ANCONA, Matthew. Pós-verdade: A Nova Guerra Contra os Fatos em Tempos de Fake News. Barueri: Faro Editorial, 2018. 142 p. EVANS, Richard J. O Terceiro Reich em Guerra: Como os nazistas conduziram a Alemanha da conquista ao desastre (19391945). 2. ed. São Paulo: Planeta, 2014. 1056 p. FERRO, Marc. História Da Segunda Guerra Mundial. São Paulo: Ática, 1997. 192 p. GADDIS, John Lewis. The Cold War. London: Penguin, 2007. 352 p. TCC 2019 | 151
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ACONTECE AGORA?: Embora por uma margem apertada 51,9% a 48,1% -, o Reino Unido votou pela saída da União Europeia (UE) no plebiscito realizado nesta quinta-feira. São Paulo, 24 jun. 2016. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-36617020>. Acesso em: 27 jun. 2016. ROBÔS FORAM USADOS EM CAMPANHA NAS ELEIÇÕES DE 2014, REVELA ESTUDO: Perfis falsos programados para fazer publicações espalharam mensagens das campanhas de Dilma, Aécio e Marina, mostra levantamento da FGV. Rio de Janeiro, 25 mar. 2018. Disponível em: <http://g1.globo.com/fantastico/ noticia/2018/03/candidatos-postaram-usando-robos-nas-eleicoes-revela-estudo-da-fgv.html>. Acesso em: 12 jan. 2019. SECRETÁRIO-GERAL DA ONU DESCARTA INTERVENÇÃO MILITAR NA VENEZUELA. Lisboa, 26 fev. 2019. Disponível em: <https://www.rtp.pt/noticias/mundo/secretario-geral-da-onu-descarta-intervencao-militar-na-venezuela_v1131601>. Acesso em: 26 fev. 2019. SENADOR AMERICANO DEFENDE INTERVENÇÃO MILITAR NA VENEZUELA: Marco Rubio alega que a crise gerada pela ditadura de Maduro traz ameaça à segurança dos países sul-americanos e dos EUA. São Paulo, 30 ago. 2019. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/mundo/senador-americano-defende-intervencao-militar-na-venezuela/>. Acesso em: 30 ago. 2019. THE CRYING HONDURAN GIRL ON THE COVER OF TIME WAS NOT SEPARATED FROM HER MOTHER. New York, 22 jun. 2018. Disponível em: <https://www.washingtonpost.com/news/ morning-mix/wp/2018/06/22/the-crying-honduran-girl-on-the-cover-of-time-was-not-separated-from-her-mother-father-says/?noredirect=on&utm_term=.02aa2da3b04b>. Acesso em: 22 jun. 2018. THE REAL STORY OF ‘FAKE NEWS’: The term seems to have emerged around the end of the 19th century. Massachusetts, 05 jan. 2017. Disponível em: <https://www.merriam-webster.com/words-at-play/the-real-story-of-fake-news>. Acesso em: 05 jan. 2018. THIS ANALYSIS SHOWS HOW VIRAL FAKE ELECTION NEWS STORIES OUTPERFORMED REAL NEWS ON FACEBOOK: A BuzzFeed News analysis found that top fake election news stories generated more total engagement on Facebook than top election stories from 19 major news outlets combined. Canadá, 16 nov. 2016. Disponível em: <https://www.buzzfeednews.com/ 162 | TCC 2019
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AS MANIFESTAÇÕES DA LITERATURA DE CORDEL NA CIDADE DE SÃO PAULO DIANA CHENG Orientador: Prof. Dr. André Cioli T. Santoro
RESUMO: O presente trabalho de conclusão de curso teve a principal finalidade de elaborar um livro-reportagem sobre as diferentes manifestações da literatura de cordel na cidade de São Paulo, usando como enfoque a rotina daqueles que mantêm viva a arte popular do folheto e as relações cotidianas estabelecidas entre eles. O processo de elaboração foi dividido em préapuração, na qual foi realizada uma breve consulta sobre a história do cordel e as principais obras que consagraram este gênero literário, e pesquisa de campo, em que foram reunidos experiências próprias, informações adicionais e relatos dos personagens retratados no livro. Essas duas etapas resultaram na finalização da grande-reportagem intitulada “Cordelíssimos”. Palavras-chave: Literatura de cordel; Cultura popular; Livroreportagem.
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ABSTRACT: This present paper had the main finality of elaborating a bookarticle about the different manifestations of cordel literature in São Paulo city, using as a highlight the routine of those who keep the popular art of pamphlets alive and the daily relationships established between them. The elaboration process was divided into pre-examination, in which it was made a brief survey about the history of cordel and the main works that consecrated this literary genre, and field research, in which personal experiences, additional information and reports from the characters represented in the book were gathered. These two stages resulted in the finalization of the grand article “Cordelíssimos”. Key words: Cordel Literature; Popular culture; Book-article.
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INTRODUÇÃO Este trabalho visa a elaboração de um livro-reportagem para discutir a influência da literatura de cordel na cidade de São Paulo, buscando entender, a partir de suas primeiras manifestações no Nordeste brasileiro, as mudanças ocorridas ao longo do tempo e o espaço reservado a esse formato de publicação dentro do atual cenário urbano e multicultural da região paulistana. Esse gênero literário tem forte presença na cultura brasileira. Desde o seu surgimento, a literatura de cordel transformou-se em um meio de acesso à informação. O baixo custo do material e da impressão foi determinante para que o cordel rapidamente se dispersasse. Não demorou para ser considerado uma espécie de “jornal do povo”, termo utilizado por Marco Haurélio em seu livro Breve História da Literatura de Cordel (2010), pois foi por meio dos folhetos que a população adquiriu acesso aos mais variados assuntos, desde entretenimento até política. O cordel também é voltado para as iniciativas. Em São Paulo, especificamente no fim do século XX, as publicações aproximavam-se de questões de interesse público. Ainda em seu livro, Haurélio menciona o poeta popular Severino José que, com o folheto Acidentes de Trabalho no Ramo da Construção, conseguiu conduzir a literatura de cordel para uma nova direção, aproveitando da linguagem fácil dos panfletos para fazer um alerta à população sobre questões cotidianas, como a importância de se prevenir contra doenças e acidentes – tanto no trabalho quanto em casa. O papel da literatura de cordel ultrapassa seu propósito inicial e suas delimitações territoriais de origem. Resiste ao tempo, contribuindo para construir um conjunto de recordações históricas, mas ainda está submetido a mudanças de acordo com o momento, o lugar e o perfil dos cordelistas. Tendo isso em mente, o projeto tem como enfoque a exposição da literatura de cordel híbrida de São Paulo, que traz consigo tanto elementos da produção artística nordestina quanto características do cenário e da linguagem paulistana. Considerando tudo isso, o trabalho busca responder à seguinte pergunta-problema: o livro-reportagem consegue aliar seus próprios elementos estéticos e factuais presentes na narrativa com a carga poética da literatura de cordel para retratar as diferentes manifestações deste gênero literário na cidade de São Paulo? Os objetivos são: realizar um livro-reportagem sobre as demonstrações do cordel na cidade de São Paulo; analisar, por meio da observação, as TCC 2019 | 167
limitações e possibilidades do processo de criação e divulgação do cordel dentro da cidade de São Paulo; compreender a importância do cordel como um meio de transmitir informação, propagar ideais e discutir sobre assuntos de caráter social; avaliar sua contribuição na concepção do retrato paisagístico e cultural de um lugar. Para mais, o trabalho também busca identificar o alcance da literatura de cordel na vida da população paulistana, estudar a estrutura e a linguagem do livro-reportagem, entrevistar cordelistas que residem em São Paulo e apontar as mais variadas temáticas do cordel, assim como o que vem surgindo de novidade para servir de conteúdo ao gênero. A escolha do tema parte não apenas da aproximação e familiaridade com a Literatura, como também da importância de explorar a fundo o gênero de cordel, arte adotada como tipicamente brasileira. Por incitar as mais variadas discussões sociais e políticas de seu tempo e promover o multiculturalismo das regiões brasileiras, torna-se um interessante objeto de estudo, já que carece de mais exploração temática. Propõe-se estabelecer um olhar diferente sobre a literatura de cordel, conduzindo a pesquisa para a cidade de São Paulo, onde a produção artística do gênero, ainda que tenha se originado do trabalho de imigrantes nordestinos, distingue-se da que é feita no Nordeste. Tal direcionamento ressalta o papel da poesia popular dentro do contexto do qual ela está situada, pois seu conteúdo tem origem nos acontecimentos, nas percepções e na convivência de um determinado espaço. O resultado disso é uma literatura de cordel única, feita por quem vive e conhece São Paulo para aqueles que também vivem e conhecem a cidade. Quanto à escolha da peça, é interessante falar de poesia usando o tom poético e de narrativa conferido ao livro-reportagem, potencializando a figura de personagens e elementos singulares sem deixar de lado a apuração jornalística necessária para esse trabalho. O ponto de partida se deu por meio da pesquisa. Foram lidos diversos livros, artigos e trabalhos acadêmicos ligados à temática proposta, como A Atualidade da Literatura de Cordel, por Carlos Alberto de Assis Cavalcanti, e Breve História da Literatura de Cordel, por Marco Haurélio. Livros relacionados à produção de um livro-reportagem, como Livro-reportagem, de Eduardo Belo, e Páginas Ampliadas: o livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura, de Edvaldo Pereira Lima, também fazem parte da lista de leituras complementares, tendo como propósito entender certas técnicas de abordagem e escrita. 168 | TCC 2019
Entrevistas são outra parte importante do trabalho, pois o livro-reportagem trabalha com personagens, atendendo aos seus perfis e às suas respectivas histórias de vida. Vale mencionar a leitura de livros voltados ao assunto, sendo A Arte de Entrevistar Bem, da Thaís Oyama, um deles. Também foram ouvidos cordelistas, desde escritores que migraram para a cidade paulistana a pessoas que nasceram em São Paulo, continuam vivendo na cidade e, em algum momento, aproximaram-se da literatura de cordel. Outra etapa importante foi a leitura de cordéis escritos por artistas como Leandro Gomes de Barros, Francisco Sales Arêda e Gonçalo Ferreira da Silva – além, é claro, dos trabalhos feitos pelos cordelistas entrevistados. Obras famosas do Jornalismo Literário, como Hiroshima, de John Hersey, A Sangue Frio, de Truman Capote e Vozes de Tchernóbil, da laureada Svetlana Aleksiévitch, serviram de material para aumentar o repertório e ajudar a desenvolver a condução narrativa da peça. Os relatos presentes no trabalho foram equilibrados com descrições de cenários e acontecimentos extraídos da observação, respeitando durante todo o momento o propósito inicial do trabalho: buscar medir a influência da literatura de cordel em São Paulo, a forma como ela se manifesta, por quem e como é feita e os elementos que a tornam original, um verdadeiro “cordel paulistano”. 1. REFERENCIAL TEÓRICO 1.1 O cordel brasileiro A origem do cordel brasileiro continua servindo de palco para diversas discussões acaloradas entre estudiosos do gênero, pois não se sabe ao certo quando surgiu. Seu conteúdo, claramente criado para ser declamado, provém das histórias contadas a solto, um hábito transmitido ao longo dos séculos como uma maneira de resguardar aquilo que deve ser lembrado, seja para informar ou entreter. Sabe-se, porém, que o cordel é um forte elemento da cultura nordestina. O livro Breve História do Cordel (2010), de Marco Haurélio, diz que os folhetos coloridos, pendurados em um barbante e expostos ao sol e ao vento, fincaram suas raízes em Recife lá pelo fim do século XIX, tendo Leandro Gomes de Barros como um dos responsáveis pela consolidação do gênero. Ele, considerado o pai da literatura de cordel, soube aproveitar o período de desenvolvimento da tipografia para divulgar e comercializar as impressões. A linguagem simples e a aproximação do conteúdo com os interesses da maior parte da população consagraram a literatura de cordel como TCC 2019 | 169
um claro exemplo de manifestação da cultura popular. Mais do que isso, da cultura nacional. Artistas da primeira metade do século XX sentiram a necessidade de empregar mudanças na produção artística do país e de, segundo Marcos Ayala e Maria Ignez Novais Ayala (2006, p. 12), “opor as características especificamente brasileiras às influências culturais da antiga metrópole portuguesa”. Dentre as diversas manifestações artísticas daquele período, a poesia popular se apresentou como destaque, tanto que o cordel brasileiro chegou ao seu ápice nos anos 30, 40 e 50, quando a beleza poética das palavras pronunciadas e as xilogravuras misturavam-se à necessidade da população pelo saber, incluindo nos folhetos muito do que se conhece como notícia pelos jornalistas. Em A Presença dos Cordelistas e Cantadores Repentistas em São Paulo, o autor Assis Angelo aponta as qualidades que fizeram do cordel brasileiro uma arte consagrada até fora do Brasil: A poesia encontrada no cordel e da arte da cantoria é, mais das vezes, produzida no calor do improviso e da emoção do fato acontecido (ou criado) instantaneamente. Esse, porém, é um detalhe que tanto faz, tanto fez. Também, mais das vezes, é poesia original e de boa qualidade. Tão boa e tão absurdamente original e fantástica – no sentido mais literal do termo –, que holandeses, franceses, ingleses, portugueses e espanhóis, nossos parentes ou aderentes mais ou menos perto ou distantes, vivem permanentemente encantados com ela (1996, p. 24).
A importância do cordel no auge do século XX já era vista e apreciada por grandes nomes da cultura brasileira. Angelo destaca que os artistas do segmento “são tão importantes que levaram autores de primeira grandeza, como Mário de Andrade e o próprio Ariano [Suassuna] a considerar o Brasil privilegiado no campo da arte popular” (1996, p. 26). Foi na década de 80 que a literatura de cordel começou a se retrair, o que gerou muitas especulações sobre o seu suposto fim: (...) com o desaparecimento de grandes artesãos do verso popular, criou-se um vazio que parecia impreenchível. Delarme Monteiro, Manoel D’Almeida Filho, Severino Borges Silva, Manoel Pereira Sobrinho e Minelvino Francisco Silva, poetas de brilho, nos deixaram na última
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década do século XX. Aparentemente não havia continuidade para o trabalho, até porque, durante a entressafra de poetas, o romance, gênero nobre da literatura popular escrita, praticamente havia desaparecido (HAURÉLIO, 2010, p. 12-13).
Apesar de tantas perdas na época, a existência do cordel não foi extinta por completo. Na visão de Carlos Alberto de Assis Cavalcanti, em sua dissertação sobre A Atualidade da Literatura de Cordel, o vasto e riquíssimo acervo constituído pelos “livrets de colportage”, “pliegos sueltos” espanhóis, “livrinhos de cordel portugueses” e “folhetos de cordel brasileiros”, bem como o artístico trabalho de xilogravuras, formam um conjunto de recursos icônico-textuais que resistem à passagem dos séculos (2007, p. 25).
Contrariando todas as expectativas, o cordel não só continua vivo como também vem se potencializando. Sua influência alcançou as mais variadas regiões brasileiras, sendo São Paulo uma das mais significativas. 1.1.1 Do Nordeste ao Sudeste Por muitos anos, sustentou-se a ideia de que toda e qualquer arte de caráter popular não era objeto de interesse para as classes eruditas. Para Ayala e Ayala, existiu, de fato, a separação entre a cultura produzida pelas massas – designada “rústica” ou de raiz ao longo de todo o século XX – e a cultura elitizada, esta muito próxima das concepções artísticas europeias. No Brasil, principalmente, o cordel encontrou restrições para se estabelecer devido à predominância e indiferença do setor elitista. Todavia, no momento em que o processo de inserir determinada informação dentro de uma sociedade ou região é bem sucedido, torna-se inegável a repercussão da mesma dentro da comunidade, que passa a se identificar culturalmente por meio da ideia imposta. Segundo Cavalcanti, na literatura de cordel, tal processo se dá através da inserção de conhecimentos reproduzidos no seio da comunidade, permitindo a construção do saber dentro de uma realidade cultural na medida em que as informações vão se sucedendo, até que se estabeleça um sistema de valores cujo resultado é a própria identidade cultural da comunidade (2007, p.102). A chegada da literatura de cordel em São Paulo – provinda, segundo TCC 2019 | 171
Marco Haurélio (2010), da intensa imigração realizada pelos nordestinos às demais terras do Brasil – ocorreu no mesmo período em que uma série de transformações circundava o estado paulista. A década de 40 foi de: (...) mudanças nas relações de trabalho na zona rural, aumento da migração campo-cidade pela expulsão dos antigos colonos das fazendas e dos sitiantes que trabalhavam em terras das quais não eram proprietários legais, crescimento das cidades implantadas nas regiões agrícolas e do que veio a se constituir na Grande São Paulo (AYALA; AYALA, 2006, p. 39).
Os poetas populares nordestinos viram em São Paulo uma grande possibilidade de crescimento. Aliaram a isso o desejo de fugir da seca no Nordeste, “por isso, e também pela necessidade natural e doida de expandir aos quatro ventos a sublime arte que praticam ao longo dos séculos. Ou, quem sabe, apenas pela razão (...) de juntar a fome com a vontade de comer” (ANGELO, 1996, p. 33). Apesar das aparentes diferenças culturais envolvendo o Nordeste e o Sudeste, intensificadas pela crescente urbanização da época, a produção do cordel em São Paulo serviu como exemplo para por abaixo qualquer distinção entre a “alta” e a “baixa” cultura. No livro Cultura Popular no Brasil, de Ayala e Ayala, é citado o trabalho do sociólogo Oswaldo Elias Xidieh, que vê a inserção da cultura “rústica” dentro do cenário urbano como uma relação de dependência em que, “ao mesmo tempo, ambas se configuram como estruturas sociais antagônicas” (AYALA; AYALA, 2006, p. 40). Esse antagonismo, capaz de gerar conflitos, não é necessariamente ruim. Pode, aliás, servir como um sistema de agregação, o que irá resultar na criação de novas formas de manifestação e prática dentro do cenário situado. 1.2 Aspectos do livro-reportagem Os Estados Unidos viram despontar a era do movimento New Journalism na década de 60, tendo Tom Wolfe e Truman Capote como figuras de destaque. No Brasil, a ascensão dos livros-reportagem ocorreu somente na década de 80, com a redemocratização do país. A demanda por livros jornalísticos se deu pelo interesse da população em saber sobre as mudanças nas diferentes estruturas sociais da época. Para Eduardo Belo (2006, p.
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32), “a necessidade de aprofundamento, as terríveis dimensões de eventos como a ditadura militar e a abertura política proporcionaram espaço para a publicação de inúmeras reportagens em livro”, tudo isso ainda somado à crise editorial das redações de jornal. O papel do livro-reportagem vai além de expor os acontecimentos noticiosos com rigor e detalhe. Ainda segundo Belo, “o livro vem fazer a tradução, interligar pedaços de fatos expostos de maneira fragmentada” (2006, p. 41). Essa fragmentação é própria do noticiário diário, que quase sempre carece de tempo e espaço para aprofundar a notícia. Vê-se, portanto, o aumento dos “vazios informativos”, expressão empregada por Edvaldo Pereira Lima em seu livro Páginas Ampliadas (2009). Caberia então às narrativas de fôlego preencher esses vazios. Pela influência que o jornalismo interpretativo tem sobre a produção do livro-reportagem, é valido ressaltar as palavras de Cremilda Medina e Paulo Roberto Leandro (apud LIMA, 2009, p. 20) para pontuar que: enquanto a notícia fixa o aqui, o já, o acontecer, a reportagem interpretativa determina um sentido desse aqui num circuito mais amplo, reconstitui o já no antes e no depois, deixa os limites do acontecer para um estar acontecendo atemporal, ou menos presente.
Sendo assim, pode-se dizer que a característica mais marcante do jornalismo interpretativo – e, portanto, do livro-reportagem – é o de poder transitar entre o passado e o presente, sendo o seu meio de atuação, nas palavras de Paula Melani Rocha e Cintia Xavier (2013, p. 145), “menos abrangente que o do historiador, mas mais amplo do que o do jornalista”. Um dos aspectos mais chamativos de um livro-reportagem é, sem dúvida, o tom da narrativa empregada. Para isso, é preciso entender um pouco mais sobre as relações entre a Literatura e o Jornalismo, fontes inesgotáveis de discussão em rodas de conversa. Felipe Pena, autor de Jornalismo Literário, diz que não existia uma clara distinção entre os dois campos no século XIX, pois muitos escritores se dedicavam a publicar seus trabalhos nos jornais ou, quando viam a oportunidade, transformavam as publicações em livro. As reportagens, quando bem elaboradas, têm componentes que formam a narratividade do texto. De acordo com Marcelo Bulhões, a narrativa é produto tanto da “vivência literária” quanto da jornalística. Em muitos
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casos, pode ser calcada na própria figura do narrador, (...) o que permite circunscrever a reportagem na viabilidade da realização de um estilo, ou seja, de uma forma verbal que comporta a marca da individualidade. Daí dizer-se que a reportagem é o ambiente mais inventivo da textualidade informativa (2007, p. 45).
Um texto narrativo, mesmo utilizando técnicas de linguagem próprias da Literatura, deve ter clareza e exatidão. Essa exatidão, para Ligia Chiappini Moraes Leite (2007, p. 62), “não apaga, embora possa disfarçar, a subjetividade”. Vê-se, portanto, que a linguagem empregada no Jornalismo Literário bebe de suas duas fontes: a concisão por parte do Jornalismo e o olhar sensível e detalhado da Literatura. Outro aspecto importante de ser ressaltado é a falsa ideia de separação entre forma e conteúdo, imposta por diversos autores no decorrer dos anos e desmistificada por Pena: “Não se trata da oposição entre informar ou entreter, mas sim de uma atitude narrativa em que ambos estão misturados” (2006, p. 21). Falar de narrativa é falar, principalmente, de personagem. Cândida Vilares Gancho, em seu livro Como Analisar Narrativas, define o personagem como “um ser que pertence à história e que, portanto, só existe como tal se participa efetivamente do enredo, isto é, se age ou fala” (2006, p. 18). Em reportagens noticiosas, as pessoas entrevistadas podem até agir ou falar, mas nunca com a mesma “participação efetiva” da qual a pesquisadora comenta, justamente porque o autor da reportagem não tem mecanismos para aprofundar a história, enquanto que em uma narrativa existe espaço para aprimorar o enredo e responder às seguintes perguntas – muito semelhantes às do lead, por sinal: “O que aconteceu? Quem viveu os fatos? Como? Onde? Por quê?” (GANCHO, 2006, p. 6). O Jornalismo Literário surge como uma possibilidade para abrir espaço às novas formas de construção textual. Tomando de exemplo o Novo Jornalismo, Pena (2006, p. 54) ressalta a possibilidade de “abusar das interjeições, dos itálicos e da sucessão de pontuações”. São essas e outras peculiaridades da linguagem utilizada nas reportagens que tornam os textos mais convidativos e atraentes. 1.2.1 Recursos para uma boa entrevista 174 | TCC 2019
A entrevista é uma das etapas mais importantes de todo e qualquer trabalho jornalístico, tanto que já começa a ser elaborada na pauta, com a escolha de possíveis fontes. Thaís Oyama, em A Arte de Entrevistar Bem (2008), diz que a preparação começa logo no agendamento da entrevista e se estende até a edição final e eventual publicação do texto, áudio ou vídeo. Ainda que a apuração minuciosa seja o principal componente para a realização de um livro-reportagem, saber executar uma boa entrevista pode mudar completamente a qualidade do produto jornalístico. Oyama, porém, chama a atenção para a participação ativa do entrevistado. Fatores externos e o humor do personagem podem conduzir a conversa para a direção oposta. Segundo a autora, “dentre todas as variáveis que determinam o destino de uma entrevista, a única que é de exclusivo domínio do repórter (...) é a pesquisa” (OYAMA, 2008, p. 13). Ademais, cabe a ambos, entrevistador e entrevistado, efetuar o que José Carlos Sebe Bom Meihy e Fabíola Holanda (2007) chamam de “negociação”. A negociação faz parte do que Meihy e Holanda intitulam “transcriação”, que “nos aproxima do sentido e da intenção original que o colaborador quer comunicar” (2007, p. 135). É importante porque estabelece as devidas modificações na fala do entrevistado para entregar um produto – presumivelmente escrito – bem articulado, mas sem que as palavras sejam distorcidas. Dessa forma, pode-se dizer que “a entrevista transcriada é outra e a mesma” (2007, p. 134). Para que uma entrevista renda, Cremilda Medina reforça, desta vez em seu livro, a importância do entrevistador de tratar a experiência não como uma simples técnica que levará ao cumprimento da reportagem, mas como um diálogo: (...) quando, em um desses raros momentos, ambos – entrevistado e entrevistador – saem “alterados” do encontro, a técnica foi ultrapassada pela “intimidade” entre o EU e o TU. Tanto um como o outro se modificaram, alguma coisa aconteceu que os perturbou, fez-se luz em certo conceito ou comportamento, elucidou-se determinada autocompreensão ou compreensão do mundo. Ou seja, realizou-se o Diálogo Possível (2008, p. 7).
A boa entrevista requer, portanto, tempo, atenção e disposição por parte do repórter. Porém, para que a conversa não se prenda à formalidade, saber dialogar, tornando agradável a situação, é fundamental. TCC 2019 | 175
2. DESENVOLVIMENTO DA PEÇA 2.1 Estilo, linguagem e narrativa A peça, sendo ela um livro-reportagem, mantém um tom mais despojado, afastando-se das regras e da formalidade empregadas no Jornalismo diário. Como citado no referencial teórico, um dos movimentos mais importantes e influentes do livro-reportagem e do Jornalismo Literário – ou, para alguns, simplesmente “jornalismo narrativo” – foi o New Journalism. Seus representantes não se prenderam à linearidade ou aos aspectos superficiais da pessoa, do cenário e do acontecimento retratado. Tais características também são transpostas para a elaboração da peça, visto em Cordelíssimos na quebra da cronologia dos capítulos e nas apresentações aprofundadas de cada personagem. Devido à liberdade concedida pelo livro-reportagem de buscar dados do passado, permitindo trabalhar tanto com temporalidade quanto com atemporalidade, a peça apresenta ao longo da narrativa referências históricas a respeito do cordel, principalmente porque o cordel paulistano se alimenta das produções de cordelistas nordestinos – sejam eles imigrantes que vieram tentar uma vida em São Paulo ou escritores do Nordeste que exportam suas produções artísticas para as demais regiões. A ação de resgatar o passado também ficou para o desenvolvimento dos personagens. No capítulo “Sagas da vida real”, a presença de elementos memorialísticos se destaca mais, criando um contraste entre passado e presente e evidenciando o amadurecimento das pessoas entrevistadas. Descrição, percepções pessoais e o cuidado com as palavras, próprios da linguagem do Jornalismo Literário, são elementos que constituem o livro-reportagem, não apenas para traçar o perfil dos personagens, que foram trabalhados com aprofundamento, como também para retratar toda a complexidade do cordel na cidade de São Paulo, desde suas intrincadas origens migratórias a atuações e influências sobre a região. Como um fio que liga uma história a outra, o livro-reportagem traz episódios que, em um primeiro momento, parecem isolados, mas que apresentam um personagem, um lugar de referência ou uma comparação em comum. Um exemplo de estrutura semelhante é Hiroshima, do escritor norte-americano John Hersey, publicado pela primeira vez em 1946 pela revista New Yorker. Da mesma forma que o autor intercala a história de seus seis personagens a partir de um evento trágico, o cordel de São Paulo, ainda que empregando outro tom à narrativa, torna-se o elo entre os per176 | TCC 2019
sonagens entrevistados. O principal cuidado durante a elaboração da narrativa foi manter a leveza e a descontração que o tema demanda ao passo que diferentes recursos – como pequenos trechos de cordel ao longo dos capítulos – fossem utilizados para evitar a perda de interesse do leitor. O objetivo foi criar, de maneira gradativa, um sentimento de familiaridade não somente em relação ao vasto universo que é o cordel, como também sobre o cotidiano dos cordelistas, de suas rodas de conversa e da busca incansável pela valorização da arte do folheto. Para isso, o trabalho também foi submetido a um longo processo de revisão de texto, em que foram realizados cortes, substituição de palavras por seus sinônimos, exploração de descrições sensoriais e uso de expressões características para, mais do que “dar cara” aos personagens, torná-los mais memoráveis. 2.2 Personagens Uma breve pesquisa via internet foi feita para encontrar o ponto de partida da apuração. Quatro nomes logo se destacaram, sendo eles: Marco Haurélio, Josué Gonçalves de Araújo, Pedro Monteiro e Cleusa Santo, todos cordelistas. Com Marco Haurélio, escritor, editor e poeta popular baiano, houve uma série de tentativas para marcar a primeira entrevista, porém, devido à sua agenda como palestrante e organizador de eventos e oficinas, a conversa não seguiu em frente. Em um primeiro momento, deixar de ter um personagem como Marco Haurélio no livro-reportagem parecia ser uma perda muito grande, já que ele é um dos nomes de peso do cordel. No entanto, Josué e Pedro não demoraram a dar retorno, o que preencheu a falta da primeira fonte em potencial. Com Cleusa, houve um primeiro contato por e-mail, mas não recebi retorno. Foi em um evento – o Sarau do Gatto, indicado tanto por Josué quanto por Pedro – que a segunda oportunidade de falar com a cordelista surgiu, e ela logo virou personagem. Ter Cleusa presente no livro era uma vontade que começou a ser alimentada desde o período de pré-apuração, principalmente porque não se vê tantas mulheres escrevendo literatura de cordel. Cleusa representaria todas as vozes femininas do cordel, um exemplo de luta pelo reconhecimento dentre seus colegas de trabalho, grupo composto majoritariamente por homens. Acabou que, por meio dela, outras cordelistas foram reveladas: EdiMaria e Benedita Delazari, esta última se autoentitulando a primeira mulher a realmente se dedicar ao cordel no Brasil. TCC 2019 | 177
Muitas oportunidades de conhecer outros cordelistas, e até mesmo artistas que não têm ligação direta com o cordel, surgiram. Os encontros com Alberto Gattoni, criador do Sarau do Gatto, João Gomes de Sá, Costa Senna e João Paulo Resplandes, por exemplo, não foram programados, mas fizeram toda a diferença para que o livro-reportagem ficasse mais robusto e fosse enriquecido com histórias únicas. Por fim, é valido salientar que este trabalho tinha como proposta inicial trazer olhares diferentes de diversas gerações sobre a literatura de cordel. A tarefa de encontrar fontes compatíveis, no entanto, mostrou ser complicada. Pedro Popoff, garoto de 12 anos amante da cultura nordestina e cordelista desde pequeno é um exemplo de personagem da nova geração que não foi para frente por incompatibilidade de agendas. Houve ainda tentativas de encontrar jovens cordelistas em São Paulo, mas tais especificações limitavam muito a pesquisa. O número de pessoas jovens que fazem cordel já é pequeno; restringir à cidade de São Paulo, então, tornou a apuração mais complicada, tendo a pesquisa levado somente a fontes de outros estados brasileiros. Apesar das limitações encontradas durante a busca pelos entrevistados, o resultado superou o esperado. Meses de convivência e contato com os personagens possibilitaram que seus gênios fossem revelados, abrindo uma brecha para que as qualidades mais fortes de cada um deles conversassem entre si, seja com a finalidade de complementar ou contradizer. Também cabe aqui explicar a escolha do título, pois diz respeito aos poetas do livro-reportagem e dá indícios do que se pode esperar ao longo da narrativa. A palavra não faz parte do vocabulário ortográfico da língua portuguesa. Foi inventada justamente pela falta de um adjetivo que pudesse representar a espontaneidade e o carisma dos artistas, além da característica leveza dos momentos protagonizados por eles no decorrer da obra. “Cordelíssimos”, mais do que apresentar uma boa sonoridade, faz uso do superlativo como forma de expressar a importância daqueles que lutam pela propagação do cordel. Dentro do vasto cenário da Literatura, tudo passa a ser possível. E os personagens, mais do que cordelistas, viram “cordelíssimos”. 2.3 Planejamento editorial Todo o processo de elaboração do livro-reportagem, com exceção da impressão, função atribuída à gráfica, foi realizado por mim, o que inclui a gravação, a decupagem dos áudios, o desenvolvimento estético da peça 178 | TCC 2019
(diagramação) e a revisão da mesma. 2.3.1 Capítulos Capítulo um: Cordel na República Destinado à manifestação da literatura de cordel em um dos principais pontos do centro da cidade: a Praça da República. Aos domingos, um grupo de cordelistas passa boa parte do dia vendendo suas produções e propagando a cultura do cordel. O capítulo, portanto, acompanha um dia em específico de Cleusa Santo, Benedita Delazari, João Paulo Resplandes e EdiMaria na praça. Capítulo dois: Sagas da vida real Mais memorialista, o capítulo é reservado para contar de maneira aprofundada a história de Josué Gonçalves de Araújo e Pedro Monteiro, dois cordelistas que não têm muito contato um com o outro, mas possuem trajetórias de vida bastante semelhantes. Alternando a narrativa entre passado e presente, o capítulo passa pela infância dos dois poetas até o reencontro de cada um deles com o cordel. Capítulo divisor: Patrimônio cultural imaterial Breve e composto apenas por diálogo, o capítulo tem como finalidade retratar uma conversa com o poeta Josué Gonçalves de Araújo no dia 19 de setembro de 2018, quando a literatura de cordel ganhou o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Capítulo três: Expectativas Voltado ao Sarau do Gatto, idealizado pelo poeta Alberto Gattoni – que não é cordelista, mas passou a conhecer vários artistas do meio por conta do seu evento artístico. A edição de outubro de 2018, batizada de “Expectativas”, contou com a presença de Josué Gonçalves de Araújo e seu amigo, também cordelista, Varneci Nascimento, além da apresentação das poetisas Cleusa Santo e EdiMaria. Capítulo quatro: Leis do cordel Situado em uma sala de aula da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, o capítulo é um retrato de uma palestra de João Gomes de Sá para uma turma da terceira idade de escrita criativa. O encontro, proporcionado pela professora Fabiana Natalia, é descrito de maneira despojada, mais como uma conversa do que uma aula. Capítulo cinco: Cordel na Vitrine Capítulo de encerramento do livro, tem como objetivo retratar uma tarde de conversas e vendas com os cordelistas na Galeria Olido, onde TCC 2019 | 179
ocorreu a megaexposição “Cordel na Vitrine”. Outro personagem é apresentado aos leitores, o Costa Senna. 2.3.2 Layout As dimensões do livro atendem ao formato 15x10,5 cm. Os tipos de papel utilizados são: cartão supremo – ou triplex – para capa e contra-capa e pólen para miolo, com exceção de algumas páginas destinadas às artes visuais, impressas em couché. As fontes do texto escolhidas foram: DIN Alternate (capa e contra-capa), Georgia (corpo do texto, tamanho 9.5) e American Typewriter (título do capítulo, tamanho 13). O acabamento é fosco e em brochura. O livro é predominantemente monocromático, salvas as partes em que não estão em texto corrido. A impressão das imagens espalhadas ao longo do livro é em papel couché para destacá-las e torná-las mais nítidas. A imagem da capa é de minha autoria – uma foto produzida com diversos folhetos de cordel espalhados sobre uma mesa, das mais variadas cores e xilogravuras, tratada em tons amarelados. As fotos finais, também tiradas por mim, têm a função de encerrar o livro justamente para que seja reconhecido o autor por trás do trabalho. Em alguns momentos, a imagem tem uma carga expressiva maior do que a palavra. Permitir que o personagem apareça traz uma experiência completa a quem estiver lendo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Falar – e principalmente escrever – sobre Literatura é muito bom, mas nem sempre fácil. Uma espécie de nervosismo paira sobre a cabeça do escritor, pois contar uma história exige a sensibilidade e o olhar franco do artista, uma responsabilidade para consigo mesmo e com o leitor. Quando se trata de uma historia real, envolvendo pessoais reais, o cuidado é ainda maior. Por mais leve que possa ser o tema escolhido para este trabalho, a atenção dada sobre ele é igual a que se daria para um assunto delicado. Foram meses de apuração e contato e mais outras tantas horas dedicadas à elaboração do livro-reportagem e da diagramação. Sempre, é claro, com o olhar atento para as coisas mínimas. Olhando para o produto final, resultado de muita pesquisa, entrevista e, como não poderia faltar, leitura de cordel, pode-se dizer que o objetivo principal foi atingido: retratar não apenas as manifestações artísticas feitas por cordelistas na capital paulistana, mas também mostrar que seus 180 | TCC 2019
trabalhos são frutos de suas próprias experiências adquiridas ao longo da vida. A literatura de cordel brasileira é de uma riqueza sem igual. Única, alguns diriam, e justamente devido à diversidade de vozes que, do contrário do que se poderia esperar, não competem entre si, mas somam uns ao outros. Eis, contudo, a grande pergunta deste projeto: dá para juntar a poeticidade característica do cordel sem que esta coloque em risco os elementos narrativos do livro-reportagem? A resposta é que sim, dá. Talvez não seja surpresa para algumas pessoas, já que o tema escolhido demandava uma forte carga poética desde o início, tendo assim contribuído para a harmonização do produto. O que surpreende é ver que, mesmo com todas as técnicas literárias usadas, continua sendo um produto jornalístico. Outra coisa inesperada a respeito do trabalho foi a “dificuldade” em finalizá-la. A Literatura permite certa liberdade poética, refletida na linguagem característica do Jornalismo Literário, mas existem regras quando se trata de um livro-reportagem. Durante todo o processo de escrita, a preocupação em equilibrar os elementos descritivos e de retratar, da forma mais fiel possível, todos os acontecimentos da apuração, foi grande e, sem dúvida alguma, um desafio e tanto. Se for para colocar Cordelíssimos sob uma análise mais minuciosa, pode-se chegar à conclusão de que o livro não é uma obra inovadora, pois todos os seus elementos convergem para o padrão de um livro-reportagem, gênero do Jornalismo cada vez mais explorado por profissionais da área saturados da simples estrutura textual da notícia. A obra não é pioneira e muito menos a melhor, mas com certeza cumpre a função a qual foi designada: ser mais uma prova de que, dentro da esfera jornalística, existem opções além do modelo empregado nas grandes redações. Cordelíssimos também é uma tentativa de espalhar a cultura do cordel por aí. É quase irônico pensar que um produto tão caracteristicamente brasileiro seja pouco discutido – e muito menos valorizado – no país. Grande parte da população brasileira já deve ter ouvido falar sobre os famosos folhetos versificados, mas o conhecimento que se tem sobre eles não é o suficiente para poder definir essa arte literária, tão exposta pelo esforço dos artistas independentes e ao mesmo tempo tão escondida do público. E é então que entra o papel do jornalista. Ou ao menos um dos papéis do profissional da informação. O principal intuito do livro-reportagem TCC 2019 | 181
é, mais do que apresentar o universo da literatura de cordel, desconstruir alguns de seus estereótipos e dar espaço para que o leitor conheça, acima de tudo, a figura do autor. Os personagens apresentados em Cordelíssimos viveram – e ainda vivem – alegrias, dificuldades, perdas e incertezas com a profissão que escolheram, e isso acaba refletindo no ofício deles. Este trabalho, portanto, transforma-se em uma alternativa de colocar o público leigo em contato com a vida pessoal – e, sendo assim, a vida artística – dos cordelistas. Por fim, o que se pretende fazer com o livro-reportagem ainda é um mistério. Com toda a certeza, os cordelistas presentes no livro estão entre os primeiros da lista de leitores, pois nada disso teria sido possível sem eles. E, sabendo do grande grupo que a literatura de cordel reúne, pode-se esperar que Cordelíssimos seja comentado entre os artistas, fazendo disso uma publicidade para a obra. Talvez dê certo. Talvez não. Todas as tentativas, no entanto, serão bem-vindas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANGELO, Assis. A Presença dos Cordelistas e Cantadores Repentistas em São Paulo. São Paulo: Ibrasa, 1996. 128 p. AYALA, Marcos; AYALA, Maria Ignez Novais. Cultura Popular no Brasil. 3. ed. São Paulo: Série Princípios, Ática, 2006. 77 p. BELO, Eduardo. Livro-reportagem. São Paulo: Col. Comunicação, Contexto, 2006. 144 p. BULHÕES, Marcelo Magalhães. Jornalismo e Literatura em Convergência. São Paulo: Ática, 2007. 215 p. CAVALCANTI, Carlos Alberto de Assis. A Atualidade da Literatura de Cordel. 2007. 174 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Letras, Programa de Pós Graduação em Letras e Linguística, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2007. Disponível em: <https://repositorio.ufpe. br/bitstream/123456789/7728/1/arquivo7408_1.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2019. GANCHO, Cândida Vilares. Como Analisar Narrativas. 9. ed. São Paulo: Ática, 2006. 79 p. (Princípios). HAURÉLIO, Marco. Breve História da Literatura de Cordel. São Paulo: Col. Saber de Tudo, Claridade, 2010. 112 p. LEITE, Ligia Chiappini Moraes. O Foco Narrativo. 11. ed. São Paulo: Série Princípios, Ática, 2007. 96 p. LIMA, Edvaldo Pereira. Páginas Ampliadas: o livro reportagem como extensão do jornalismo e da literatura. 4. ed. São Paulo: Ma182 | TCC 2019
nole, 2009. 472 p. MEDINA, Cremilda. Entrevista: o diálogo possível. 5. ed. São Paulo: Série Princípios, Ática, 2008. 96 p. MEIHY, José Carlos Sebe Bom; HOLANDA, Fabíola. História Oral: como fazer, como pensar. São Paulo: Contexto, 2007. 176 p. OYAMA, Thaís. A Arte de Entrevistar Bem. São Paulo: Col. Comunicação, Contexto, 2008. 112 p. PENA, Felipe. Jornalismo Literário. São Paulo: Contexto, 2006. 142 p. ROCHA, Paula Melani; XAVIER, Cintia. O livro-reportagem e suas especificidades no campo jornalístico. Rumores, [s.l.], v. 7, n. 14, p.138-157, 27 dez. 2013. Semestral. Universidade de São Paulo, Sistema Integrado de Bibliotecas – SIBiUSP. Disponível em: <http://www.revistas. usp.br/Rumores/article/view/69434>. Acesso em: 9 abr. 2018.
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PRA FRENTE BRASIL, SALVE A BOLA: O FUTEBOL NOS ANOS DE CHUMBO EDUARDO RAMOS DE SOUZA FILHO Prof. Ms. Fernando Oliveira de Moraes RESUMO: O projeto “Pra frente Brasil, salve a bola: O futebol nos anos de chumbo” tem como tema central a ditadura militar no Brasil e a sua relação com o futebol. O governo militar instaurado no século XX utilizou o principal esporte brasileiro como importante instrumento para favorecer a imagem dos militares. Com isso, a seleção brasileira e a criação de um campeonato nacional de clubes foram determinantes para a questão. Em contrapartida, a Democracia Corinthiana e os torcedores foram o principal movimento de oposição à ditadura militar. Além disso, os militares perseguiram atletas que tinham ideologia política diferente, como por exemplo, os ex-jogadores de futebol Afonsinho, Nando e Reinaldo, e o técnico João Saldanha, que não abaixaram a cabeça e continuaram praticando as suas profissões. Palavras-chave: Ditadura Militar, Futebol, Seleção Brasileira, Jornalismo.
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ABSTRACT: The project “For forward Brazil, save the ball: Soccer in the lead years” has as its central theme the military regime in Brazil and its relationship with soccer. The military government established in the twentieth century used the main brazilian sport as an important instrument to favor the image of the military. With that, the Brazil national team and the creation of a national championship of clubs were decisive for the question. On the other hand, the Corinthians Democracy and the fans were the main movement of opposition to the military dictatorship. In addition, the military pursued athletes who had different political ideology, such as former soccer players Afonsinho, Nando and Reinaldo, and the coach João Saldanha, who didn’t lower their heads and continued to practice their profession. Keywords: Military Dictatorship, Soccer, Brazil National Team, Journalism.
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INTRODUÇÃO Este projeto embasa a realização de um livro reportagem, cujo o tema é a ditadura militar no Brasil e a sua relação com o futebol em meio à censura, repressão e luta social. O regime ditatorial é uma forma de governo que se instaurou no Brasil no ano de 1964, após o golpe dos militares. Antes de instaurar o governo militar, Jânio Quadros foi o último presidente eleito democraticamente antes do regime militar que durou quase 21 anos na história política brasileira. Eleito em 1961, Jânio renunciou no mesmo ano. Com a renúncia, o presidente da Câmara dos Deputados Ranieri Mazzilli assumiu em um curto período de 13 dias até a posse do vice-presidente João Goulart. Segundo Marcos Napolitano (2017), o governo de Jango foi conturbado devido às crises políticas e promessas de reformas sociais, econômicas e políticas que não saíram do papel. Na época da ditadura militar, o esporte foi usado pelos ditadores como importante alicerce político. De acordo com Marcos Guterman, (2009, p. 147), a ditadura militar foi “o período das trevas da história republicana brasileira, marcado pela megalomania do poder e pela apatia da sociedade” e o futebol teria papel central durante esse contexto. Segundo matéria dos jornalistas Antônio Strini e Thiago Cara da ESPN Brasil (2014), uma das principais estratégias da ditadura foi utilizar a seleção brasileira de futebol como importante meio de propaganda. Além disso, influenciou os formatos de competições nacionais e até com o poder de clubes de futebol e das confederações esportivas. De acordo com Guterman (2009, p.150), os militares também perseguiram atletas devido a ideologia política de oposição em relação ao governo que estava instaurado à época. Por exemplo, os ex-jogadores como Nando, Afonsinho e Reinaldo, além do técnico João Saldanha, foram perseguidos durante a Ditadura Militar. Segundo Daniel de Araújo (2015) em seu livro “Onde a Arena vai mal, um time no Nacional: A criação do Campeonato Brasileiro de Futebol em 1971”, o maior torneio do futebol brasileiro, o Campeonato Brasileiro, foi originado durante o período do regime como um símbolo de “integração nacional”, sendo mais um alicerce para os militares. Na Confederação Brasileira de Desportos (CBD), a antiga CBF, e em algumas federações, a influência militar também esteve presente, tendo um militar como presidente de uma entidade esportiva. Logo, o poder ficou centralizado. Com isso, os clubes foram perdendo aos poucos o poder de decisão. 186 | TCC 2019
[...] o governo pediu que a CBD elaborasse um campeonato realmente nacional, o que se confirmou em 1971, logo após a conquista do tri. A disputa substituiu o “Robertão”, como era chamado o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, estabelecido pelas federações do Rio e de São Paulo em 1967, mas que, em sua maior edição, incluiu apenas times de São Paulo, Rio, Minas, Paraná e Rio Grande do Sul. (GUTERMAN, 2009, p.180)
Com isso, o Brasileirão foi se tornando cada vez mais um torneio voltado aos interesses dos militares. De acordo com a matéria de Murilo Basso da Gazeta do Povo, o governo pressionava a Confederação Nacional de Desportos (CBD) com o objetivo de incluir clubes de todo o Brasil. Logo, a quantidade de times aumentava com o passar do tempo e chegou ao número máximo, em 1979, com 94 participantes no momento em que a ditadura estava em um período de desgaste. Sendo assim, foi a época do seguinte bordão: “onde a Arena vai mal, um time no Nacional”. Segundo Ricardo Gozzi (2009, p.11), outra relação entre a ditadura militar no Brasil e o esporte foi com jogadores do Corinthians. A Democracia Corinthiana foi um movimento de luta e de oposição ao regime, tendo como principal articulador um dos maiores jogadores da história do futebol, o Doutor Sócrates. Ademais outros jogadores politizados também exerceram importante papel no movimento: Wladimir, Casagrande e Zenon. A pergunta problema que este trabalho responde é: Como, por meio de um livro reportagem, é possível retratar a relação entre a ditadura militar e o futebol no Brasil? A proposta foi elaborar o livro reportagem, cujo nome é “Pra frente Brasil, salve a bola: O futebol nos anos de chumbo”, sobre a relação do governo militar com o futebol brasileiro. Para isso, foi importante entrevistar pessoas que tinham conhecimento aprofundado sobre o assunto e personagens que vivenciaram os acontecimentos. Foram entrevistados os ex-jogadores Afonsinho, Nando e Zenon. Além deles, os jornalistas e os narradores Celso Unzelte, Claudio Zaidan, José Trajano, José Silvério, Juarez Soares e Silvio Luiz. E também os historiadores Alexandre Geisbrecht e Michael Serra que tinham relação com determinado contexto do tema. Este projeto teve como objetivo principal: contribuir no esclarecimento de fatos através de questionamentos para demonstrar histórias e curiosidades de um contexto político que se aproveitou do futebol em vá-
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rios momentos. Visou atingir o público alvo com relatos desconhecidos e pouco abordados no jornalismo esportivo. O objetivo secundário foi informar não apenas os amantes do futebol, como também indivíduos com interesses políticos e em história. Além disso, foi um trabalho com uma apuração que serve como contribuição para o conhecimento histórico de duas editorias do jornalismo: esportivo e político. O livro reportagem foi escolhido como peça devido à relevância da relação entre regime militar no Brasil com o futebol. Logo, a leitura foi a forma encontrada para impactar as histórias ao público alvo com um alcance nacional, por tratar a história política do Brasil. Conforme Edvaldo Pereira Lima (2009, p.1), o livro reportagem “Desempenha um papel específico, de prestar informação ampliada sobre fatos, situações e ideias de relevância social, abarcando uma variedade temática expressiva”. Portanto, a definição do autor justificou a escolha da peça, pois um livro reportagem demonstra os detalhes dos fatos que serão narrados. A paixão por esportes desde a infância foi motivo para que eu demonstrasse interesse em jornalismo. Porém, a percepção de política com o esporte é recente devido ao meu processo de amadurecimento ao longo da faculdade. Logo, anexando a editoria de jornalismo esportivo com o político, mostrei por meio de um livro reportagem a relação entre a ditadura militar no Brasil e o futebol brasileiro. A peça escolhida para o projeto teve como metodologia uma pesquisa bibliográfica sobre o tema. Nela foram utilizados livros com método de reportagem e histórico, matérias online e impressas, artigos, documentários, revistas, jornais e reportagens televisivas. Sendo assim, os materiais foram importantes para o entendimento do contexto político e da relação com o futebol. 1. REFERENCIAL TEÓRICO 1.1. Ditadura Militar no Brasil e a sua relação com o futebol Segundo Guterman (2009), a relação entre a ditadura militar no Brasil com o futebol começou em 1966 antes do início da Copa do Mundo de 66 que foi disputada na Inglaterra. Naquele momento as instituições brasileiras estavam em declínio e os militares ainda não tinham um rumo definido depois do golpe instaurado em 1964. Logo, o futebol se consolidou como um importante instrumento para auxiliar os interesses do poder. Em 1970, os militares demitiram o técnico da seleção brasileira de 188 | TCC 2019
futebol da época, João Saldanha. Por conta disso, o jornalista deu uma declaração em uma coletiva sobre o ditador Emílio Garrastazu Médici que estava no poder naquele ano: “O senhor escala o seu ministério e eu escalo o meu time”. A revista Placar registrou, em 1970, a demissão de João Saldanha como uma “intervenção branca do governo federal no escrete”. Após a conquista da Copa do Mundo de 1970, no México, os militares confirmaram a importância do futebol para o governo como via de integração nacional. Com isso, o governo pediu à Confederação de Desportos (CBD) para que elaborasse um campeonato nacional para substituir um torneio conhecido como “Robertão” e que era estabelecido pelas federações do Rio de Janeiro e de São Paulo. Logo, o Campeonato Brasileiro foi criado em 1971 pela CBD. O Brasileirão surgiu e foi ficando cada vez mais condicionado aos projetos governistas, e o principal sintoma disso foi o inchaço progressivo da disputa: em 1971, jogaram 20 times; em 1972, 26; em 1973 e 1974, o número quase sobrou, indo para 40; em 1975, foram 42; em 1976, o total cresceu para 54; em 1977, jogaram 62 times; em 1978, o número subiu para inacreditáveis 74; em 1979, com a ditadura em crescente desgaste, o Brasileirão atingiu seu pico, com 94 times. Era a época do bordão “onde a Arena vai mal, um time no Nacional”, que algumas fontes atribuem ao almirante Heleno Nunes, então presidente da CBD, e outras dizem se tratar de manifestação popular. (GUTERMAN, 2009, p.181)
Um ano depois, em 1972, a CBD realizou a Taça Independência, também chamada de ‘Minicopa’, a pedido do governo Médici para celebrar os 150 anos da Independência do Brasil. O torneio foi disputado em 12 cidades espalhadas pelas cinco regiões brasileiras e 20 países participaram da competição, tendo o Brasil como campeão. Com isso, nota-se a preocupação do governo em explorar o território brasileiro para garantir a integração nacional assim como fez com a criação do Campeonato Brasileiro. O ano de 1974 foram ruins tanto para a seleção brasileira quanto para o governo militar. Na Copa do Mundo deste ano, disputada na Alemanha Ocidental, o Brasil ficou em quarto lugar e não conseguiu repetir o brilhante futebol e ser campeão mundial como em 1970 e, consequentemente, decepcionou os torcedores brasileiros. Com isso, os militares não TCC 2019 | 189
conseguiram manter a sua popularidade tanto pelo resultado na Copa do Mundo quanto pelo término do período que ficou conhecido como “milagre econômico” devido à crise econômica mundial gerada pelo aumento do preço do petróleo imposto pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Por conta da crise do petróleo do qual a economia brasileira era dependente de importação, a balança comercial brasileira, a partir de 1974, apresentou enormes déficits, ultrapassando os 4 bilhões de dólares ao ano. Por outro lado, os dólares ainda fluíam para os países “em desenvolvimento”, permitindo ao governo brasileiro manter ou aumentar o ritmo dos empréstimos para financiar o Plano. (NAPOLITANO, 2017, p.170)
Depois do fim do milagre econômico, o governo militar perdeu muito apoio popular. Pois, os brasileiros sofreram com o aumento dos preços e o arrocho salarial devido à inflação que sempre foi maior que 29%, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), após o ano de 1974. A ditadura estava minguando por dentro – e a ânsia da retomada das liberdades democráticas começou a sacudir a apatia brasileira e a gerar movimentos civis de abertura, penetrando até mesmo no habitualmente fechado, antidemocrático e patriarcal mundo da administração do futebol. Um dos grandes momentos desse fenômeno [...] foi a Democracia Corinthiana. (GUTERMAN, 2009, p.201)
De acordo com Ricardo Gozzi e Sócrates em seu livro “Democracia Corintiana: A utopia em jogo” (2002), a Democracia Corinthiana iniciou em 1982 e foi liderada por dois jogadores do Sport Club Corinthians Paulista: Sócrates e Wladimir. Já que o país vivenciava uma ditadura militar, os jogadores iniciaram um período democrático no clube em que os atletas também teriam o direito de decidir algumas questões no Corinthians. Com o crescimento do movimento, a manifestação apareceu dentro de campo. O Corinthians foi o primeiro time a utilizar a camisa com mensagens de cunho político, como “Diretas-já” e “Dia 15, vote”. Esse tipo de
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demonstração política dos atletas acabou causando desconforto no governo militar. Já que o Corinthians é um time de massa, logo despertava um sentimento democrático em uma boa parte da população brasileira. Porém em 1984, a Democracia Corinthiana chegou ao fim como foi relatado no livro “Guia Politicamente Incorreto”, de Jones Rossi e Leonardo Mendes Júnior (2015). Pois, o maior nome do movimento, Sócrates, prometeu na época que caso a Emenda Dante de Oliveira, para que o cidadão brasileiro conseguisse eleger um presidente por voto direto, não fosse aprovada o ex-jogador iria embora do Brasil. Para a felicidade do governo militar, faltaram 22 votos para bater o número de dois terços dos votos que era de 320 votos. Em matéria de Leandro Stein do site esportivo ‘Trivela’, conta qual a relação do duelo entre Fluminense e Flamengo disputado no Estádio do Maracanã, pela final da Taça Guanabara em 1984, com as eleições indiretas que estavam sendo disputadas entre Tancredo e Maluf. Alguns jogadores e o presidente do Fluminense, Manoel Schwartz, apoiavam Paulo Maluf; já o presidente do Flamengo George Helal se afirmava tancredista. Com relação à torcida, houve um consenso com alguns dizeres notórios. Flamenguistas exibiam faixas dizendo “O Fla não malufa” e “Tancredo Já”. Os tricolores também a favor de Tancredo Neves diziam “Maluf é corrupção, Tancredo é a solução”. De acordo com Marcos Napolitano em seu livro “História do regime militar brasileiro” (2017), o período da ditadura militar no Brasil encerrou em janeiro do ano de 1985, após a vitória de Tancredo Neves sob Paulo Maluf. 1.2. Jornalismo Esportivo e Político Como proposta, o livro reportagem pretende abordar histórias de duas editorias do jornalismo: esporte e política. Pois, o tema é sobre o período do regime militar no Brasil e a sua relação com o futebol. Segundo Felipe Pena (2005, p.82), o jornalismo esportivo tem como responsabilidade divulgar todos os acontecimentos relacionados ao esporte. Sendo assim, deve ser responsável desde o esporte que colabora com a inclusão social até o tipo de esporte mais complexo e de alto rendimento. Logo, “[...] o jornalista esportivo tem que estar ciente de que está lidando com uma paixão do leitor/telespectador. E por conta disso, a editoria de esporte é a que consegue atingir todas as classes sociais”. De acordo com Franklin Martins (2005, p.47), os jornalistas políticos exercem a profissão com todo o esforço pela notícia. Além disso, resume o TCC 2019 | 191
papel de um repórter de política “Se pescar no lugar certo, com a isca certa e com o anzol certo, voltará para casa todos os dias levando algo para jantar. Não há a menor necessidade de ser promíscuo para chegar à informação. Basta usar a cabeça e ralar”. No jornalismo político, o ato de conversar com inúmeras pessoas é importantíssimo para conseguir furos de reportagem. Jornalismo é jornalismo, seja ele esportivo, político, econômico, social. Pode ser propagado em televisão, rádio, jornal, revista ou internet. Não importa. A essência não muda porque sua natureza é única e está intimamente ligada às regras da ética e ao interesse público. (BARBEIRO; RANGEL, 2006, p.13)
De acordo com Paulo Vinicius Coelho no livro “Jornalismo Esportivo” (2003), no esporte não falta escândalo. Com isso, o interesse das redações esportivas cresceu para cobrir o lado político do esporte. Sendo assim, o jornalista passa a realizar matérias que não irão influenciar o sentimento de emoção, vibração e delírio dos torcedores e sim os fatos ocultos do esporte. 1.3. Jornalismo Literário De acordo com Edvaldo Pereira Lima (2010, p.18), o jornalismo literário compartilha o mesmo propósito do jornalismo convencional, ou seja, “comunicar, através de mensagens articuladas conforme regras, preceitos, procedimentos ou técnicas específicas, acontecimentos e situações da vida real”. Porém, a maneira que ambos buscam cumprir esse papel é diferente. O jornalismo literário tem como linha condutora “contar histórias”: O que o jornalismo literário faz é também contar histórias, só que de um modo elegante, articulado esteticamente. Como produz textos escritos, procura dar a esses seus produtos uma qualidade literária, entendida como uma organização textual eficiente, do ponto de vista de comunicação, atraente do ponto de vista estético. (LIMA, 2010, p.19)
Edvaldo Pereira Lima (2010, p.173) afirma que de todos os tipos de comunicação que envolvem jornalismo, a reportagem é quem mais se aproxima e utiliza o “fazer literário”.
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A matéria jornalística que conta os fatos, mas agrega o clima, a atmosfera psicológica, os gritos, o pavor dos agonizantes, o medo dos soldados da linha de frente, o estampido dos rifles, o estrondo do tiro de canhão, a correria selvagem da tropa avançando para o ataque de baioneta, o sangue vermelho misturado à terra preta dos que caem com o ventre aberto, as entranhas à mostra, o olhar parado no vazio dos cadáveres abandonados no campo de batalha. O texto que não apenas conta educadamente um evento, mas lança o leitor direto para dentro da experiência, para a intensidade dramática das coisas. (LIMA, 2010, p.54)
Segundo André Santoro (2014), o jornalismo literário tem ao menos três processos genéricos. Primeiramente, a escolha da pauta acaba tendo uma liberdade maior em comparação ao jornalismo tradicional. Posteriormente, a apuração é mais aprofundada e com um tempo de realização mais extenso do que às práticas convencionais. Por fim, o lide e a pirâmide invertida não costumam ser tão utilizados, já que por se tratar de uma narrativa que prioriza os personagens, as perguntas do lide acabam sendo insuficientes para relatar os fatos contados pelos protagonistas da história. 1.4. Livro Reportagem Segundo Edvaldo Pereira Lima (2004, p.26), o livro-reportagem é um meio impresso jornalístico que apresenta reportagens mais aprofundadas e com um “grau de amplitude superior”. Além disso, o livro-reportagem se diferencia dos outros tipos de livros devido a três fatores: conteúdo, tratamento e função. Ainda de acordo com Edvaldo Pereira Lima (2004, p.51), existem diversos tipos de livro-reportagem devido à distinção da linha temática e aos modelos de abordagem narrativo. Portanto, o livro reportagem-história: “Focaliza um tema do passado recente ou algo mais distante no tempo. O tema, porém, tem em geral algum elemento que o conecta com o presente, dessa forma possibilitando um elo comum com o leitor atual. Esse elemento pode surgir de uma atualização artificial de um fato passado ou por motivos os mais variados.” (LIMA, 2004, p.54)
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Para Eduardo Belo (2006, p.40), o livro-reportagem tem uma boa ligação com o jornalismo “de profundidade”, aquele mais crítico e analítico. Com isso, o “livro-reportagem é um instrumento aperiódico de difusão de informações de caráter jornalístico”. Assim, o livro-reportagem serve de complemento da informação, porém não substitui nenhum meio de comunicação. 2. DESENVOLVIMENTO DA PEÇA O livro reportagem “Pra frente Brasil, salve a bola: O futebol nos anos de chumbo”, explicado no quarto tópico do referencial teórico, realizado é sobre a “Ditadura Militar no Brasil e a sua relação com o futebol”, detalhado no primeiro tópico do referencial teórico. Tem como estilo o cunho histórico, já que se trata de acontecimentos passados de duas editorias do jornalismo: esporte e política que foram abordadas no segundo tópico do referencial teórico. Com relação à linguagem, foi escolhido o literário, explicado no terceiro tópico do referencial teórico. Pois, creio que foi a melhor opção para cativar a atenção do leitor ao contar as histórias. Na metodologia utilizada para a realização da peça, foi importante as inúmeras idas à biblioteca do Museu do Futebol, denominada como Centro de Referência do Futebol Brasileiro (CRFB), porque o acervo do local é excelente, tendo desde livros até revistas e jornais. Os personagens escolhidos para este projeto, tais como jornalistas esportivos, narradores, ex-jogadores de futebol e historiadores; foram entrevistados nos meses de fevereiro e março de 2019. Logo, no processo de apuração os personagens falaram sobre as questões abordadas e vivenciadas no futebol, no jornalismo esportivo e a visão sobre o momento do Brasil no período da ditadura militar. Durante o processo de definição de escolha de fontes que foram entrevistadas para a peça jornalística, houve dificuldade de conseguir o contato de três ex-jogadores de futebol. Porém, um jornalista da Folha de São Paulo fez uma matéria, publicada em seu blog denominado ‘Futebol Café’, sobre um desses personagens. Em contato com Bruno Rodrigues, autor do site, foi obtido o contato de um dos perseguidos pela Ditadura Militar: Fernando Antunes Coimbra, conhecido como Nando. Em outra matéria, do jornalista Daniel Mundim do portal Globo Esporte, abordou outro perseguido durante o período. Em contato com Daniel, foi obtido o número de Afonso Celso Garcia Reis, conhecido como Afonsinho. Quanto ao ex-jogador Wladimir, solicitei com algumas produções de canais esportivos e rádio e mesmo as194 | TCC 2019
sim não consegui o contato. Os outros números não houveram muitas dificuldades, sendo que alguns eu já tinha na minha agenda de contatos e outros foram obtidos com os meus colegas de trabalho no Grupo Bandeirantes de Comunicação. Durante uma das gravações do programa Doc Bandsports no meu período de estágio no canal Bandsports, foi conversado pessoalmente com o ex-jogador e comentarista do Grupo Globo, Walter Casagrande, e nesse encontro foi obtido a aceitação de entrevista de uma das fontes mais importantes para o livro-reportagem. Entretanto, Casagrande e o seu assessor Eduardo Afonso, jornalista da ESPN Brasil, pediram para que entrasse em contato com um departamento específico da Rede Globo para ter um documento de liberação, antes do ex-jogador conceder a entrevista. Porém, o pedido de liberação que foi solicitado via e-mail, infelizmente foi negado e sem justificativa por parte do veículo. Logo, não foi possível entrevistar o ex-jogador. Com o advento da tecnologia e, consequentemente, das redes sociais, as entrevistas de Alexandre Giesbrecht e Michael Serra foram agendadas via Twitter. O primeiro concedeu a entrevista em uma padaria ao lado de sua residência no bairro Bela Vista, enquanto o segundo no local de trabalho, na sala do Arquivo Histórico do Estádio Cícero Pompeu de Toledo, mais conhecido como Morumbi. O jornalista Claudio Zaidan e o narrador José Silvério, concederam entrevistas no Grupo Bandeirantes de Comunicação, especificamente nos estúdios da Rádio Bandeirantes. Com relação às dificuldades de entrevistar esses especialistas, foi alinhar as datas em que estavam disponíveis, já que sempre estavam ocupados em seus respectivos trabalhos e na maioria das vezes os horários não eram compatíveis, por conta do meu estágio no Bandsports e o período de aulas na faculdade. Os jornalistas José Trajano, Celso Unzelte, Juarez Soares e Silvio Luiz foram contatados via telefone e, consequentemente, agendada uma entrevista pessoal. José Trajano concedeu a entrevista em sua residência, localizada na Vila Madalena. Já Celso Unzelte, Juarez Soarez e Silvio Luiz foram entrevistados em seus respectivos locais de trabalho, ESPN Brasil, RedeTV e Rádio Transamérica. Com relação às dificuldades de entrevistar esses especialistas foram as mesmas que os anteriores: alinhar data e horário disponíveis. Afonsinho e Nando foram as fontes mais difíceis de entrevistar devido à necessidade de realizar viagens para outra cidade, porém foram os TCC 2019 | 195
personagens mais incríveis no processo de apuração para o livro. Para entrevistar Afonsinho, foi necessário viajar até o Rio de Janeiro e atravessar a Baia de Guanabara com uma barca, localizada na Praça XV, para chegar até a Ilha de Paquetá, local aonde reside o ex-jogador do Botafogo. Na Ilha de Paquetá, o ex-jogador concedeu a entrevista no clube da ilha, denominado Municipal Futebol Clube. Para entrevistar Nando, também foi preciso viajar até o Rio de Janeiro para ir até a casa do ex-jogador e irmão de Zico, que fica localizada no bairro Quintino Bocaiuva. Em contato via telefone com o jornalista italiano Claudio Carsughi foi feita a solicitação de uma entrevista, mas foi negada devido ao assunto da peça. Além disso, a justificava de que por ser estrangeiro e residir no Brasil, não se sentia à vontade de falar sobre um assunto complicado, apesar de ter falado brevemente sobre a questão de João Saldanha com a seleção brasileira e os militares durante a ligação. Também ressaltou que devido as incertezas do atual governo, ele prefere abster-se das histórias conhecidas e das suas vivências na carreira como jornalista, pois tem receio de que possa sofrer consequências, mesmo que seja uma entrevista para um trabalho acadêmico. Outra negação foi a do ex-jogador Emerson Leão, que seria um personagem importantíssimo para contar as suas vivências sobre a relação entre futebol e ditadura na seleção brasileira, e também por ter atuado no time do Corinthians ao lado de Socrátes na Democracia Corinthiana. Segundo Leão, ele não teria nenhuma informação a acrescentar ao tem do livro-reportagem. Com isso, observou-se má vontade do atleta, pois ele seria o personagem para retratar o lado conservador. O jornalista Juca Kfouri também foi solicitado para uma entrevista, mas o mesmo disse que não concedia mais entrevistas para trabalhos acadêmicos. Como dito anteriormente, com a não obtenção do contato do ex-jogador Wladimir, a alternativa foi entrar em contato via perfil oficial do Instagram do ex-atleta, mas não recebi feedback do mesmo e infelizmente não foi possível entrevista-lo. A única entrevista que não foi realizada pessoalmente foi com o ex-jogador Zenon, que estava no time do Corinthians durante a Democracia Corinthiana, pois foi difícil conciliar uma data para viajar até Campinas, local em que reside. Portanto, foi entrevistado por uma ligação no celular e o gravador foi essencial para gravar a entrevista. Ademais, é importante ressaltar que foi o único entrevistado que eu não obtive a assinatura no documento de autorização de áudio. Entretanto, consegui a autorização do ex-jogador via e-mail. Outra ressalva, mas negativa, é de que entrevistas por telefo196 | TCC 2019
ne são difíceis para fazer com que o entrevistado conte suas histórias com mais detalhes. Por conta disso, desisti de realizar outras duas entrevistas por telefone. Os ex-jogadores Reinaldo e Tostão haviam aceitado conceder uma entrevista, porém ambos residem em Minas Gerais e infelizmente não consegui me programar para realizar a viagem antes do fechamento do livro. Portanto, a única saída era entrevistar por telefone. Mas, devido ao alto custo da ligação e a experiência ruim de entrevista por telefone, houve desistência da minha parte. O livro reportagem foi dividido por capítulos em ordem cronológica dos fatos, com exceção as histórias de Nando e Afonsinho que foram incluídas no meio do livro e contadas separadamente, assim como foi descrito no referencial teórico, para que facilite o entendimento e compreensão do leitor. Os títulos de cada capítulo possuem uma linguagem literária, enquanto os intertítulos destacam os principais acontecimentos que ocorreram durante o momento abordado no mesmo, além disso todos os capítulos foram enumerados por um símbolo numérico. Como visto em Guterman (2009), o primeiro capítulo abordou sobre os acontecimentos antecedentes ao golpe militar de 1964, como a deposição do presidente João Goulart e o bicampeonato mundial da seleção brasileira. O segundo capítulo abordou o início dos militares no governo brasileiro, relatos da relação de dirigentes de futebol com os militares e o vexame da seleção na Copa de 1966. O principal assunto do terceiro capítulo foi João Saldanha, um dos personagens mais importantes que foi relatado através dos jornalistas, principalmente do seu amigo José Trajano, e de matérias e falas retiradas de livros e jornais. O quarto capítulo é o momento que relatou como o presidente Emílio Garrastazu Médici tirou proveito da seleção brasileira com a conquista da Copa do Mundo de 1970. O quinto capítulo contou mais uma questão de como Médici tirou o proveito do futebol brasileiro para melhorar a imagem do seu governo, com a criação do Campeonato Brasileiro. O sexto e sétimo capítulo são os mais importantes para o leitor entender a questão de como os militares tratavam as pessoas que eram opostas ao governo ou simplesmente como os militares utilizavam a aversão ao comunismo como argumento para perseguir até os atletas de futebol. Logo, foi contada as histórias dos ex-jogadores de futebol Nando e Afonsinho. O oitavo capítulo foi contado um resumo dos acontecimentos da troca de dirigentes nas entidades esportivas e a Copa de 1978 em um país que estava sob uma ditadura militar. O nono capítulo ressaltou a importância da DeTCC 2019 | 197
mocracia Corinthiana e como o governo militar perdeu a força até chegar o momento da democratização do Brasil, que se evidenciou nas arquibancadas dos estádios. Por fim, no décimo e último capítulo foi realizado uma síntese dos acontecimentos entre a relação dos militares com o futebol e ressaltada a questão de histórias que não são conhecidas e consequentemente, não foram contadas. O título do livro foi criado depois de inúmeras ideias. A ajuda do orientador Fernando Moraes foi essencial para a escolha final, ao recomendar relacionar alguma música daquela época com a linguagem do futebol. Portanto, a música “Pra frente Brasil, salve a seleção” do compositor Miguel Gustavo serviu para realizar um trocadilho com o esporte abordado na peça. Então, foi definido o seguinte título: Pra frente Brasil, salve a bola. Pois, a ideia dos militares era exatamente essa, utilizar a ideia ufanista para um Brasil em progresso e união da sociedade. Porém, como esse período representou muita violência no país, o futebol foi utilizado como instrumento de propagação do governo para amenizar as torturas, as repressões e as mortes que ocorreram. Com isso, foi escolhido o termo “bola”, um dos objetos necessários para a prática do esporte, para realizar o trocadilho no título. Com relação ao intertítulo, a escolha foi mais tranquila e evidenciou o tema central do trabalho: O futebol nos anos de chumbo. O layout do livro contém as cores branco e preto com intuito de representar o lado obscuro da ditadura e o amarelo para se referir a seleção brasileira, que tem como alcunha ‘amarelinha’. Além disso, na capa do livro foram realizadas ilustrações, pelo publicitário Gabriel Namorato Machado, do presidente Médici no momento em que ergueu a taça da Copa do Mundo em 1970, de um atleta da Democracia Corintiana e o estádio Maracanã, um dos símbolos do campeonato criado para celebrar a independência do Brasil e também um local que ocorreu manifestações políticas nas arquibancadas. Na contracapa, foi destacada trechos dos discursos de quatro personagens do livro, com intuito de gerar impacto e curiosidade ao leitor. A ideia da diagramação do é minha e foi realizada no programa InDesign. Após a conclusão das histórias do livro e, consequentemente, da diagramação foram realizadas três provas na gráfica AlphaGraphics até o fechamento da publicação para a impressão final do livro “Pra frente Brasil, salve a bola: O Futebol nos anos de chumbo”. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Desde o início do projeto em fevereiro de 2018, houve uma dificul198 | TCC 2019
dade na definição da escolha da peça. Inicialmente, a ideia era realizar um documentário, para contar os assuntos abordados no primeiro tópico do referencial teórico, com os personagens que vivenciaram aquela época. Porém, ao conversar com o meu orientador, Fernando Moraes, ficou decidido que a escolha de uma peça que não relacionasse a imagem das pessoas seria o ideal. E realmente, a decisão tomada foi a melhor, pois durante o processo de apuração e entrevistas, percebeu-se um certo incômodo e receio de alguns entrevistados em determinadas perguntas, é como se não quisesse dar muitos detalhes ou simplesmente de não falar sobre o assunto, mesmo que estivesse sendo gravado apenas a voz do entrevistado com o gravador do celular. Além disso, mesmo com a escolha de uma peça que não relacionasse diretamente a imagem do entrevistado, houveram algumas negações para a realização de entrevistas. Os objetivos deste projeto foram alcançados, principalmente, ao chegar à resposta da pergunta problema: “Como, por meio de um livro reportagem, é possível retratar a relação entre a ditadura militar e o futebol no Brasil?”. Pois, através das referências bibliográficas e entrevistas, foi possível contar as histórias para que o leitor entenda como ocorreu a relação dos militares com o futebol brasileiro, indo desde a história de um atleta perseguido até o envolvimento com uma entidade esportiva para a criação de um torneio, sendo que praticamente todos os assuntos abordavam a influência do governo no futebol brasileiro. Entretanto, as fontes que não foram entrevistadas devidos à recusa, não liberação da sua empresa ou a falta de logística da minha parte, fizeram falta para algumas histórias do livro, pois iriam enriquecer com mais detalhes e acrescentar muitas informações em determinados capítulos do livro. O ponto principal do trabalho foram as entrevistas com os ex-jogadores Nando e Afonsinho, os quais contaram as suas vivências naquela época, que inclusive poderiam ter originado um livro apenas desses personagens devido a riqueza de detalhes que eles disseram durante as entrevistas. Outro entrevistado importante foi o jornalista José Trajano que era amigo de João Saldanha. Através dele foi possível contar as histórias do ex-técnico da seleção brasileira, que não teria como eu entrevistar, já que João Saldanha morreu no ano de 1990. Contudo, o importante para o leitor é entender toda a relação que envolve os temas centrais: governo militar e futebol. Um país diante de uma ditadura militar convive com tempos sombrios para a população, porque observa-se muita repressão, censura e violência. Apesar de ter tido um reTCC 2019 | 199
ceio de contar uma história sem ter vivenciado o momento, consegui desenvolver através dos entrevistados e das informações de diversas plataformas. Com isso, procurei contar os assuntos principais dessa relação e em alguns momentos citar brevemente algumas questões menos importantes, mas necessárias para o entendimento do contexto, a fim de esclarecer a relação dos militares com o futebol. O projeto gráfico, tanto a capa quanto a diagramação foram importantes para incrementar as histórias contidas no livro, a fim de realizar algo chamativo externamente com as ilustrações de alguns temas do livro e o discurso de alguns personagens. Ademais com o padrão de diagramação escolhido, foi obtido uma organização para a leitura da peça. Ao longo de todo o livro, eu tive o interesse em contextualizar os períodos e o que ocorria no Brasil naquele momento, para relaciona-lo ou pra deixa-lo claro com o âmbito esportivo que os militares tiraram proveito ao longo daquela época. Com relação ao público alvo do meu livro são os amantes de futebol e de história brasileira, entretanto houve uma preocupação em contextualizar todos os assuntos, como dito anteriormente, para que até o leitor mais leigo se sinta salientado e entenda a relação existente entre os temas centrais do trabalho. A experiência ao realizar esse trabalho foi gratificante, pois ouvir relatos e histórias de personalidades do jornalismo e do futebol foram incríveis e do ponto de vista de relevância, o tema é de cunho interesse não apenas aos fãs do futebol, como também para qualquer cidadão que tenha o mínimo de interesse pela história do Brasil. A inclusão do esporte na relação é para entendermos como o futebol e a política andam de mãos dadas há um bom tempo. Com isso, o livro é importante para as pessoas conhecerem alguns acontecimentos da história brasileira e, como as decisões políticas influenciaram no esporte mais popular do nosso país. Devido ao tamanho do projeto, até pelo tema ser muito amplo e abordar todo o período do regime militar no Brasil, conclui-se que o trabalho ainda tem muitos assuntos para serem abordados. Pois caso realizasse uma especialização de alguns capítulos do livro, como por exemplo a influência do presidente Médici com a seleção brasileira na Copa de 1970 e, consequentemente, com a maior entidade da Brasil, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), que na época era CBD (Confederação Brasileira de Desportos), trariam muitos detalhes através de vários personagens inseridos neste contexto. Apesar disso, o livro contou histórias, respondeu e 200 | TCC 2019
esclareceu as principais questões da relação entre o futebol com o contexto político que estava inserido no Brasil durante o período entre 1964 e 1985. REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO AGOSTINO, Gilberto. Vencer ou morrer: Futebol, geopolítica e identidade nacional. Rio de Janeiro: Mauad, 2002. ASSIS, Denise. Propaganda e Cinema a Serviço do Golpe. Rio de Janeiro: Mauad, 2001. BARBEIRO; RANGEL. Heródoto Barbeiro e Patrícia Rangel. São Paulo: Contexto, 2006. BELO, Eduardo. Livro-Reportagem. São Paulo: Contexto, 2006. BRASIL, Espn. Há 50 anos, militares tomaram o poder também no esporte. Disponível em: <http://www.espn.com.br/noticia/400261_ha-50-anos-militares-tomaram-o-poder-tambem-no-esporte>. Acesso em: 20 mar. 2018. BRASIL, Espn. Memórias do chumbo: O Futebol nos Tempos do Condor – Brasil. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=nL1qaExzs4A>. Acesso em: 23 set. 2018. BRASIL, Jornal do. Acervo Jornal do Brasil. Disponível em: <https://news.google.com/newspapers?nid=0qX8s2k1IRwC>. Acesso em: 27 jan. 2019. CABO. Alvaro Vicente G. Truppel. P. D. Uma Copa do Mundo: política, popular e polêmica. São Paulo: Appris, 2018. CEM; PAN, Canal; Jovem. JP Online. Disponível em: <https:// www.youtube.com/watch?v=8QouiPzeIi4>. Acesso em: 3 fev. 2019. CLUBE, São Paulo Futebol. Perfis Biográficos – Laudo Natel. Disponível em: <http://www.saopaulofc.net/o-clube/presidencia>. Acesso em: 18 nov. 2018. COELHO, Paulo Vinícius. Jornalismo Esportivo. São Paulo: Contexto, 2003. CULTURA, TV. Roda Viva – João Saldanha. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=fBjcJUskjRw>. Acesso em: 4 nov. 2018. CYSNE, Rubens Penha. A Economia Brasileira no Período Militar. Disponível em:<http://www.fgv.br/professor/rubens/HOMEPAGE/ publicações/ArtigosPublicados/AEconomia Brasileira no Regime Militar. pdf>. Acesso em: 28 abr. 2018. DEPUTADOS, Câmara dos. Legislação Informatizada - DecreTCC 2019 | 201
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MULHERES EM CENA: A PRESENÇA FEMININA NO CINEMA JULIANA BALTAZAR MELGUISO Prof. Dr. Hugo de Almeida Harris RESUMO: Este relatório apresenta toda a pesquisa para a criação do documentário “Mulheres em Cena”, que mostra um retrato da participação da mulher no cinema atual, desde funções de liderança, desde direção e produção, até jornalistas envolvidas na área. O filme tem a presença de diversas realizadoras como Gabriela Amaral Almeida (O Animal Cordial), Vera Egito (Amores Urbanos) Lygia Barbosa da Silva (Haenyeo – A Força do Mar), Isabel Wittmann (podcast Feito por Elas), entre outras; que contam sobre as principais dificuldades de ser mulher dentro do audiovisual. O relatório traz também reflexões sobre a participação da mulher na arte, no cinema e como um documentário se tornou a melhor forma de trazer esses problemas para os olhos do público, tendo embasamento em obras de autores como Karla Holanda, Marina Tedesco Cavalcanti, Bill Nichols, entre outros. Com temas que englobam a igualdade de gênero, preconceito contra minorias e disparidade de salários, o documentário é uma reflexão para como a mulher vem sendo retratada pela sociedade nos últimos anos. Palavras-chave: Cinema. Igualdade de Gênero. Mulheres no Cinema. Cultura. Preconceito.
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ABSTRACT: This report presents all the research for the creation of the documentary “Mulheres em Cena”, which shows a portrait of women’s participation in filmmaking, from leadership roles like direction and production to journalists involved with cinema. The film is attended by several filmmakers such as Gabriela Amaral Almeida (O Animal Cordial), Vera Egito (Amores Urbanos), Lygia Barbosa da Silva (Haenyeo – A Força do Mar), Isabel Wittmann (podcast Feito por Elas), among others; that tell about the main difficulties of being a woman in cinema. The report also includes reflections on women’s participation in art, cinema and how a documentary has become the best way to bring these problems to the public’s eye, based on works by authors such as Karla Holanda, Marina Tedesco Cavalcanti, Bill Nichols, among others. With themes that encompass gender equality, prejudice against minorities and wage disparity, the documentary is a reflection on how women have been portrayed by society in recent years. Key words: Cinema. Gender equality. Women in the Cinema. Culture. Prejudice.
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ACESSO AO PRODUTO ON-LINE
Youtube Data de upload: -
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INTRODUÇÃO Este relatório de pesquisa orientou a realização de um documentário sobre a representatividade feminina no cinema. A peça foi elaborada a partir de conceitos e técnicas aprendidas durante o curso de Jornalismo, visando mostrar como a falta de representatividade da mulher ainda é algo que necessita de discussão, principalmente no meio audiovisual. Tema frequentemente abordado por diversos veículos de comunicação, a falta de inclusão das mulheres no setor tem se tornado cada vez mais constante, e graças a movimentos de inclusão cinematográficos como por exemplo o #MeToo e o Time’s Up (que também têm como enfoque os casos de assédio em todas as áreas de trabalho), o assunto vem ganhando cada vez mais espaço para ser discutido. Pensando nisso, a escolha do tema surgiu para retratar como se dá a presença feminina dentro do cinema atual, quais as barreiras a serem ultrapassadas dentro do meio e quais as expectativas de mudança para o futuro. Desde os primórdios, a indústria cinematográfica contou com pouquíssimas participações femininas na composição de equipes de criação e produção de longas de ficção e documentários. Um dos primeiros exemplos de apagamento na indústria foi o da primeira diretora e roteirista que se tem conhecimento, a francesa Alice Guy-Blaché (1873-1968), pioneira na sincronização de sons em longas durante o período do cinema mudo, colorização, uso de efeitos especiais e utilização de elenco interracial em uma época em que a sociedade era ainda mais conservadora e sexista do que atualmente. Essa desigualdade de gênero continua até os dias atuais, e mesmo com o crescimento de movimentos em prol do feminino, pouca coisa vem sendo feita para reverter a situação. Segundo pesquisa da Rede de Mulheres do Audiovisual Europeu (EWA), que avaliou produções europeias de 2006 a 2013, 44% das mulheres que se formam em escolas de cinema anualmente, apenas 24% seguem trabalhando na indústria cinematográfica.¹ Já no Brasil, de acordo com a Ancine (Agência Nacional de Cinema), mulheres foram responsáveis pela direção de apenas 17% dos 2.583 títulos produzidos em 2016. Essa desigualdade ultrapassa a barreira cinematográfica¹ e atinge
¹http://www.ewawomen.com/uploads/files/MERGED_Press-2016.pdf 01/08/2018
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Acesso
em:
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também jornalistas do meio cultural especializadas em cinema. De acordo com a crítica e integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), Isabel Wittmann, e também com estudos feitos em 2016 pela associação, a Abraccine conta com cerca de 111 associados que atuam na área, dentre os quais, apenas 25 são mulheres, ou seja, apenas 22,5% de seu total. Segundo estudo intitulado Thumbs Down 2016: Top Film Critics and Gender, sites como Metacritic e Rotten Tomatoes possuem apenas 27% de mulheres que atuam como críticas nessas publicações, em oposição aos 73% dos homens. A francesa Cahiers du Cinema, uma das principais publicações sobre crítica cinematográfica do mundo, em seus 65 anos de história, nunca possuiu uma mulher como editora chefe da revista e poucas delas chegaram a escrever para a revista, que ainda é predominantemente escrita por homens.² A peça busca mostrar a falta de visibilidade da mulher por meio de um documentário expositivo, com entrevistas com mulheres que fazem parte da criação e execução de longas-metragens, como por exemplo diretoras, roteiristas, documentaristas, produtoras, diretoras de fotografia e jornalistas do âmbito cultural, que buscam mostrar a falta de representação da mulher na mídia através de seus trabalhos. Por meio do documentário realizado, a experiência que as personagens escolhidas apresentaram em tela, trazem um maior impacto e reflexão para aqueles que o assistem, além de dar voz para quem vive por trás das câmeras. A responsabilidade pela qual essas mulheres buscam garantir seu lugar na mídia, buscando alternativas de fazer com que seu trabalho tenha impacto na vida de outras pessoas, propiciam uma multiplicidade de olhares sobre o fazer cinematográfico da realizadora mulher. Assim, a peça demonstra essa desigualdade que existe no ramo cinematográfico e como essa distinção tem efeito na vida de mulheres que trabalham na área, em que muitas vezes, tem seus trabalhos subestimados por ainda julgarem o cinema como uma área exclusivamente masculina. O viés jornalístico apresentado no documentário é mostrar como o cinema ainda é majoritariamente realizado por um nicho de pessoas — nor-
²https://www.theguardian.com/film/2016/jun/23/thumbs-down-female-critics-outnumbered-by- male-counterparts-new-study - Acesso em: 19/03/2018 210 | TCC 2019
malmente por homens brancos e de classe social mais alta — e assim, contribuir para que pequenas mudanças sejam feitas e ajudem jovens cineastas e jornalistas a garantirem seu lugar por direito. Além disso, entrevistas com profissionais da área serão de extrema validez para que possam explicar o por que dessa disparidade no número de mulheres dentro e fora das telas e por que ainda existe diferenciação dos trabalhos feitos por homens e mulheres. Durante a pesquisa e concepção da peça, foram utilizadas obras que abordassem a questão de gênero, mas principalmente, a dimensão da participação feminina na arte e no cinema, como Feminino e Plural: Mulheres no Cinema Brasileiro, organizado por Karla Holanda e Marina Cavalcanti Tedesco, e também O Feminino na Arte e a Arte do Feminino, de Flávia Leme de Almeida; além de obras que contribuíssem para a criação de um documentário Introdução ao Documentário, de Bill Nichols e Como Fazer Documentários, de Luiz Carlos Lucena, e outros artigos, livros, documentários e filmes que ajudassem fundamentar o projeto em todos os momentos, desde sua criação até a finalização. 1. REFERENCIAL TEÓRICO 1.1. A Mulher na Arte Desde os primórdios, a mulher sempre esteve presente na arte. Seja na literatura, como nas artes plásticas, a presença feminina era incontestável, mas nem sempre como a mulher desejava. De acordo com autora Flavia Leme de Almeida, mesmo que muitas mulheres não estivessem marginalizadas dos meios intelectuais e artísticos, foram poucas as constatações de sua presença registradas no início da história da arte (ALMEIDA, 2010, p.57). Durante anos, inúmeras mulheres tiveram sua arte subjugada, o que fez com que, muitas vezes, permanecessem às sombras de seus companheiros ou de suas famílias; ou como na maioria dos casos, se tornassem apenas suas “musas” mas incapacitadas de apresentarem algo digno do que a sociedade patriarcal e conservadora esperava das mesmas. Apesar de terem sido oprimidas em boa parte da história da arte, como Flávia Almeida apresenta no livro Mulheres Recipientes, diversas mulheres tentaram se impor contra as condições as quais eram submetidas nessa área. Foram elas e as principais incursões do feminismo na sociedade que se tornaram determinantes para esse início de inclusão, mesmo que parcial. Somente durante o final do século XIX e início do XX que a voz feminina começou a ganhar um pouco mais de credibilidade — em partes, TCC 2019 | 211
graças aos movimentos sufragistas europeus—, tanto em países desenvolvidos como também começou a despontar no Brasil. A luta pela igualdade de direitos, desde as nossas primeiras feministas que despontaram na imprensa nos finais do século XIX, como Francisca Senhorinha da Motta Diniz, já nos dá uma ideia de que temos uma herança a zelar e um impulso para descortinar muitas referências ainda pouco conhecidas. (GODINHO, 2016, p.16)
Godinho afirma em seu artigo na coletânea Memória feminina: mulheres na história que, a história coletiva da mulher em nosso país trouxe inúmeras pintoras, escultoras, escritoras, atrizes, cientistas que foram rebeldes e afirmaram-se como protagonistas, enfrentando o machismo que foi instaurado no país desde o período colonial (machismo esse que migrou das sociedades patriarcais européias). Em 1922, por exemplo, a Semana de Arte Moderna foi uma vertente inovadora para o conservadorismo brasileiro da época, e Tarsila do Amaral se tornou uma figura essencial nessa rebeldia da cultura e da arte feita por mulheres brasileiras no início do século XX (GODINHO, 2016, p.16). Em outros países, foi possível observar esse “boom” artístico e maior empoderamento feminino, porém, ainda sendo ofuscadas em diversos momentos por seus companheiros, como a pintora Frida Kahlo, no México; a romancista e poetisa Zelda Fitzgerald, nos Estados Unidos; a escultora Camille Claudel, na França, entre outras. Hoje, segundo dados divulgados pela autora Beatriz Calil em seu livro Pequeno guia de incríveis artistas mulheres que sempre foram consideradas menos importantes que seus maridos (Editora Urutau, 2017), das 37 mostras realizadas por artistas no Museu de Arte de São Paulo (MASP) de 2007 a 2017, apenas 6 foram realizadas por mulheres; e esses números caem ainda mais dependendo do estilo de museu a qual as mostras são instaladas, no Museu de Arte Contemporânea de São Paulo (MAC-SP), 27 exposições individuais foram realizadas por homens entre 2008 e 2017, por mulheres, apenas duas. Isso nos faz questionar que a raiz do machismo não se encontra somente isolada no mundo das artes; é um problema estrutural, político e social que ainda precisa seguir mudando e de forma eficiente para que futuras mulheres tenham seus direitos e vozes garantidos perante a sociedade. 1.2. A Mulher no Cinema 212 | TCC 2019
O cinema, assim como qualquer outra área de trabalho, é uma indústria que acaba por gerar diversos empregos. Para cineastas, o cinema é a realização de um sonho, porém, sempre foi destinado somente a um nicho de pessoas, o homem branco e, muitas vezes, com condição social confortável para que seus projetos fossem realizados. A primeira exibição de um filme de cinema foi datada em 1896, com a exibição pública de produtos gravados por meio do cinematógrafo aperfeiçoado pelos Irmãos Lumière.³ O curta-metragem L' Arrivée d'un train en gare de La Ciotat se tornou um marco e foi o ponto inicial para que diversos cineastas viessem a seguir. Já para as mulheres, essa jornada seria um pouco mais complicada, principalmente para que se estabelecessem como cineastas e fossem reconhecidas por seus trabalhos. A primeira delas, que durante anos fora apagada por causa da falta de conhecimento de suas contribuições para o cinema por críticos e estudiosos da área, foi a francesa Alice Guy-Blaché (1873 - 1968). Ao estar presente em uma das exibições dos irmãos Lumière4, Alice percebeu o grande potencial que o cinema poderia trazer, principalmente por poder viabilizar filmes de forma ficcional. Seu primeiro filme, intitulado A Fada do Repolho (1896), foi o primeiro longa com narrativa cinematográfica e ficcional, baseado em um antigo conto francês. Não tenho dúvidas de que o sucesso das mulheres em várias áreas ainda é dificultado por um forte preconceito [...] Não há nada na produção de um filme que uma mulher não possa fazer com a mesma facilidade de um homem, e não há nenhuma razão pela qual ela não possa dominar completamente toda a técnica dessa arte. (GUYBLACHÉ, 1914, p. 658)5
³https://www.mundovh.com/2018/08/quando-surgiu-o-cinema.html Acesso em: 5 de dezembro de 2018. 4 https://wfpp.cdrs.columbia.edu/pioneer/ccp-alice-guy-blache/ Acesso em: 25 de janeiro de 2019. 5 https://archive.org/details/movingpicturewor20newy/ Citação presente em um dos artigos da Moving Picture World, em 1914. O The Moving Picture World foi uma publicação pioneira sobre a indústria cinematográfica nos Estados Unidos de 1907 a 1927. Acesso em: 19 de janeiro de 2019. TCC 2019 | 213
Segundo sua biografia autorizada, Alice foi pioneira em diversos aspectos cinematográficos, como o uso do cronofone para gravações de áudio junto as imagens exibidas, sendo a primeira pessoa a utilizar algum tipo de som ao filme; utilização de efeitos especiais, utilizando dupla exposição e outras técnicas; e a utilização de cor em imagens graças à técnica de pintura de frames. Porém, os feitos de Alice foram suprimidos por seu contemporâneo Georges Méliès (1861 - 1931); é claro que não se pode tirar os méritos do mesmo, mas quando ambos cineastas realizam as mesmas ações, espera-se um duplo reconhecimento, mas não em uma sociedade dominada pelo patriarcado, onde apenas os atos realizados por homens ganham renome. Alice e seu trabalho de mais de vinte anos — e cerca de mil filmes produzidos —, juntamente com outras diretoras como a primeira cineasta americana Lois Weber, e diversas outras mulheres que exerceram trabalhos de direção, roteiro, entre outros. Já no Brasil, a cineasta Cleo de Verberena foi a primeira a dirigir um longa-metragem, O Mistério do Dominó Preto, em 1930. Apesar de ser pioneira da arte feita por mulheres no país, Cleo raramente é lembrada como precursora, em partes, pela ausência de informações sobre a mesma, mas abriu portas para outras mulheres adentrassem à sétima arte (HOLANDA; TEDESCO, 2017, p. 18). Hoje, a presença feminina em sets de filmagem, seja nacionais como internacionais, vem ganhando cada vez mais espaço, porém, ainda muito aquém e abaixo da linha de igualdade de gênero desejada pelas mulheres da área. Mesmo com aumento dos cargos de liderança em sets (como direção e roteiro), os números que indicam mulheres na direção de arte, fotografia e outras funções técnicas ainda são baixos. Em 2016, 75,4% dos longas foram dirigidos por homens brancos, em contraste às mulheres brancas, que assinaram apenas 19,7% das produção. Mais uma vez, minorias como mulheres negras ou mulheres trans representaram 0% de chance de participação, tanto em direção como em roteiro6. Os diferenças de gênero não ficam apenas nos sets, o número de críticas mulheres e de juradas em festivais ou concursos é imensamente in-
https://www.ancine.gov.br/sites/default/files/apresentacoes/Apresentração%20Diversidade%20 FINAL%20EM%2025-01-18%20HOJE.pdf Acesso em: 23 de fevereiro de 2019 6
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ferior ao número de homens nas mesmas funções. Na Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), entidade nacional que reúne críticos de todo o país, dos 111 membros apenas 25 são mulheres, representando apenas 22,5%.7 1.3. Documentário Segundo Bill Nichols (2016, p. 20), a tradição do documentário está profundamente enraizada na capacidade de transmitir uma impressão de autenticidade. Por meio dessa afirmação do autor, o documentário buscou focar nas dificuldades que mulheres que trabalham com cinema ainda encontram no momento em que realizam seu trabalho, mesmo estando presentes no cinema desde cerca de 1896. Quando acreditamos que o que vemos é testemunho do que o mundo é, isso pode embasar nossa orientaç ão ou aç ão nele. [...]Assim fazem muitos documentá rios, quando tê m a intenç ão de persuadir-nos a adotar uma determinada perspectiva ou ponto de vista sobre o mundo. (NICHOLS, 2016, p.21)
Seguindo essa linha de pensamento, no qual o documentário busca envolver tanto quem o faz como também que assiste essas questões no se dia a dia e que buscam retratar problemas ou assuntos que estão no mundo que compartilhamos, a peça buscou mostrar entrevistas com mulheres diretoras, produtoras e jornalistas que pudessem ajudar a retratar como é ser mulher por trás das câmeras. “[...] O documentário passa a ser considerado como a produção audiovisual que registra fatos, personagens, situações que tenham como suporte o mundo real (ou mundo histórico) e como protagonistas os próprios ‘sujeitos’ da ação [...]” (LUCENA, 2012, p.11)
https://abraccine.org/about/ Acesso em: 23 de fevereiro de 2019
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O documentário representa uma forma direta de ver e mostrar histórias ao mundo, dando vozes ainda mais eloquentes aos personagens apresentados, como afirma tanto Nichols como Lucena, ele se torna uma representação do mundo e no caso do tema, dá vozes à mulheres que muitas vezes foram oprimidas e apresenta a oportunidade de outros espectadores de se conectar com as histórias mostradas na tela. A voz e a imagem se tornam aliadas para mostrar a verdade, e acaba se tornando a maneira de fazer com que o filme expresse a maneira de ver o mundo tanto do realizador como também das pessoas que são apresentadas em tela (NICHOLS, 2016, p.86). Além disso, o documentário mostra imagens do que acontece na vida real, se tornando uma forma de levar casos que aconteceram em determinados momentos ao conhecimento do público. Outro quesito importante no momento em que se faz um documentário é a decupagem e, posteriormente, a montagem da peça. A decupagem faz com que o futuro filme se torne claro, ajudando em cortes de momentos desnecessários e também para ajudar na construção da linha narrativa que será montada em seguida. Sem ela, a montagem da peça se torna praticamente inviável, pois apenas ela faz com que uma história seja contada em sua verdadeira forma. 2. DESENVOLVIMENTO DA PEÇA Quando Agnès Varda trouxe às telas o curta Resposta das Mulheres: Nosso Corpo, Nosso Sexo (França, 1975), o maior questionamento que surgia ali era: por que mulheres devem esconder seu corpo, seus desejos e suas realidades? Cerca de 43 anos depois, essa pergunta continua sem resposta e ainda mais latente em uma sociedade que transborda misoginia e preconceito. O tema deste trabalho foi definido após observar diversos comentários sobre trabalhos realizados por críticas e realizadoras mulheres dentro do mundo jornalístico, porém, o desejo de tornar a peça mais ampla fez com que crescesse para o âmbito do cinema em geral. Com tema definido, foi possível sentir que diversas pessoas se questionam do porquê abordar esse tema e até mesmo comentários como se esse tipo de pesquisa não fosse necessário para nossa realidade. Durante todo o período de pesquisa e realização de entrevistas para o documentário, foram contatadas mulheres que atuassem diretamente na área como Anna Muylaert, Juliana Rojas, Eliane Coster, Petra Costa, Maria 216 | TCC 2019
Augusta Ramos, Carla Camurati, Carolina Jabor, Lucia Murat, Julia Murat, Marina Person, Helena Ignez, Patricia Gimenez e Laís Bodanzsky; e também mulheres que trabalhassem na área de jornalismo de entretenimento como Natalia Bridi e Flávia Guerra, porém sem sucesso. Desde conflitos de agenda, viagens internacionais sem prazo de volta, ausência de resposta da fonte, e até mesmo entrevistas agendadas mas desmarcadas na última hora ou sem confirmação final (no caso, sem qualquer endereço para que o contato fosse realizado), acabaram por inviabilizar essas entrevistas. A primeira entrevista oficial da peça foi realizada com a diretora de fotografia de Agnès Varda, Hèlene Louvart, durante um evento sobre Mulheres no Audiovisual oferecido pelo SESC Paulista. Infelizmente, por problemas técnicos durante a entrevista e também com a falta de colaboração da tradutora, a entrevista se mostrou de baixa qualidade técnica para ser inserida durante o documentário. Após Hèlene, foram entrevistadas as diretoras Vera Egito, Gabriela Amaral Almeida, Caru Alves de Souza e Lygia Barbosa da Silva; as produtoras Laura Mansur e Daiana Andrade; a diretora de arte Marines Mencio; a assistente de direção Camila Nicodemos; a diretora de fotografia Camila Cornelsen; e as jornalistas Cecília Barroso (fundadora do Elviras), Isabel Wittmann (fundadora do podcast Feito por Elas) e Luisa Pécora (fundadora do site Mulheres no Cinema). A escolha de fazer um documentário se deu pela familiaridade que criar um documentário traz, principalmente por aproximar — de certa forma — ao cinema pelo qual tenho apreço. A partir disso, após quatro anos estudando e editando boa parte dos trabalhos em vídeo da graduação, decidi criar e editar a peça sozinha. O formato de documentário expositivo é o que mais se adequa à peça, principalmente para que a voz dessas mulheres tivessem mais força e ainda fosse acompanhado de um pequeno recorte de tempo pelo qual a mulher passou em seus primórdios no cinema, no caso, introduzindo sobre Alice Guy- Blaché, Louis Weber etc, para que o início da participação feminina pudesse ser contextualizado. Ao selecionar o material, foi observado qual teria mais coerência com a vertente que a peça buscava trazer para aqueles que a assistissem, sendo assim, abordando tópicos como empoderamento feminino e o problema com os cargos de liderança e a forma com que são destinados às mulheres; o fato de filmes dirigidos ou produzidos por mulheres terem notas inferiores aos produzidos por homens; a questão da falta de representatividade da TCC 2019 | 217
mulher em festivais; a disparidade de salários e negociações de verba para filmes; a falta de representação de mulheres negras e minorias; crescimento profissional e também a questão da família, no caso, o fato da mulher poder engravidar e enfrentar ainda mais exclusão por causa de seus filhos. Por causa da conciliação entre estágio, faculdade e TCC, o cronograma acabou se tornando muito mais complicado; algumas entrevistas foram realizadas com apenas uma pessoa e isso dificultou na produção de mais imagens de cobertura das entrevistadas no dia. Para tentar suprir esses momentos, dois sets de filmagem foram visitados e observados para participar da produção. O primeiro, o set do curta independente Partícula Fantasma; e o segundo, o set do longa de Caru Alves de Souza, Bagdá — Cenas de uma Juventude, todos com ótimas aberturas da equipe para conversar e gravar em curtos espaços de tempo. As imagens de cobertura serviram para mostrar a participação feminina dentro dos sets, como realizam seus trabalhos, a liberdade em trabalhar com o que gostam e, não necessariamente, ilustram as frases das entrevistadas. Em ambos os sets, a ausência de mais participantes negros fez com que a frase da produtora Daiana Andrade tivesse ainda mais peso: mulheres negras ainda são excluídas ou subjugadas por sua cor, mesmo com o aumento de inclusão de minorias, ou seja, mesmo com maior abertura, dificuldades na hora da formação ainda estão presentes para esse público. A maior dificuldade encontrada na hora da edição foi o fato de possuir muito material que poderia ter sido utilizado, e que em um dos primeiros cortes, possuía mais de 1h e 30 minutos apenas de entrevistas. As entrevistas com Cecília Barroso, Marines Mencio, Camila Cornelsen e Camila Nicodemos acabaram sendo excluídas do corte final por não se encaixarem a duração estimada para o documentário, de 25 minutos, porém, todas as entrevistas foram de extrema importância e também muito agregadoras ao projeto. Por decisão própria, toda a peça, com exceção da primeira parte dos créditos, foi decupada, montada e editada por mim. Apesar de ser uma escolha um tanto pesada por causa do trabalho e faculdade, acredito que esta é a última oportunidade de mostrarmos o que aprendemos durante todo o curso, além de valorizar mais nossos conhecimentos em todos os âmbitos de aprendizado que tivemos. A princípio, havia cogitado a utilização de duas câmeras para registrar as entrevistas, porém, por causa da rotina, acabei utilizando apenas uma quando realizava as entrevistas sozinha. O áudio foi captado via microfone 218 | TCC 2019
de lapela, para captar apenas a voz do personagem e receber o mínimo de intervenção exterior possível. Para realizar as entrevistas, procurei conversar com cada uma das personagens em locais onde se sentissem mais confortáveis para falar. Em sua maioria, visitei suas casas e realizei as filmagens em suas zonas de conforto; em algumas, realizei entrevistas externas por causa da rotina das fontes e também em seus locais de trabalho, como é o caso de Caru Alves de Souza, que estava realizando as últimas gravações de seu novo longa (previsto para 2019). A trilha sonora utilizada foi mínima, focando apenas na introdução e finalização, porém com um uma trilha de maior impacto ao final, junto aos créditos. A ideia inicial era utilizar a música Bad Reputation, da cantora Joan Jett, por apresentar identificações com o tema e com a liberdade da mulher em si. Foram feitos diversos contatos diretos com a gravadora nos Estados Unidos, porém, a falta de resposta dos mesmos acabou por inviabilizando a decisão. Durante o documentário, foram utilizados trechos dos seguintes filmes: O Animal Cordial (2017), de Gabriela Amaral Almeida; Amores Urbanos (2016), de Vera Egito; e o documentário Haenyeo – A Força do Mar (2018), de Lygia Barbosa da Silva. Todos os trechos utilizados foram autorizados por suas respectivas realizadoras mas em maioria pelas produtoras com as quais trabalham. Alguns desses trechos foram exibidos ao longo da peça, já outros, se tornaram parte das imagens de cobertura, para mostrar um pouco mais dos trabalhos dessas mulheres. CONSIDERAÇÕES FINAIS Historicamente, o espaço das mulheres no cinema é extremamente reduzido, se comparado à participação de homens brancos, e muitas vezes se torna desconhecido por grande parte do grande público. Em um trecho do documentário realizado, Gabriela Amaral Almeida cita que o lugar do homem branco sempre estará garantido, ao contrário da mulher e de outras minorias, que necessitam trabalhar constantemente e se auto-afirmar para que seu trabalho seja reconhecido de alguma forma. Durante a execução da peça, foi possível observar relatos sobre essas dificuldades pelas quais diversas mulheres passam diariamente em sua área de atuação. Seja na direção, como na produção, roteiro, e em diversas outras, a mulher sempre acaba por ter sua participação reduzida ou apagada. De certa forma, o documentário contribuiu para que auto-afirmasse minha TCC 2019 | 219
capacidade de realizar este projeto sozinha, como Vera Egito diz em um trecho, mulheres sempre foram desencorajadas a acreditar em seu próprio potencial, e esse trabalho ajudou a acordar esse sentimento latente em mim. Acredito que um documentário sobre um nicho tão específico, mesmo com um mercado majoritariamente realizado por homens, visa contribuir de maneira positiva para que pequenas mudanças sejam realizadas no ramo do cinema. Focando principalmente em jovens que buscam garantir seu lugar no meio sem serem julgadas apenas por seu gênero, o documentário mostra que é possível uma mulher dirigir, roteirizar e realizar qualquer outra função dentro de um filme. Como jornalista, vejo que o tema é de extrema importância para mulheres que trabalham tanto na área cultural do jornalismo – e que também sofrem com o machismo em suas críticas e reportagens –, como também em outras áreas da profissão. Durante todo o período da graduação, foi possível presenciar esse tipo de discriminação dentro do ambiente de trabalho e, a partir desses momentos, este documentário começou a tomar forma. Apesar de ser um tema muito difícil para mulheres discutirem, e principalmente explanarem esse tipo de atitude, acredito que o jornalismo é uma forma de fazer com que outras mulheres tenham coragem de denunciar esses tipos de abuso e mostrar que sua voz merece sim ser ouvida. Além disso, a possibilidade de criar um documentário foi de extrema importância para a finalizar meus estudos acadêmicos, me levando ao máximo de descobrir minhas habilidades tanto na área do jornalismo como nos conhecimentos sobre cinema. Hoje, acredito que não é possível imaginar fazer um outro tema de conclusão de curso a não ser este. Com isso, desejo que este trabalho se torne uma forma de encorajar cada vez mais jovens e mulheres a seguir seus sonhos, não se importando com questionamentos alheios sobre suas capacidades. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Flávia Lemos, Mulheres recipientes: recortes poé ticos do universo feminino nas Artes Visuais. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadê mica, 2010. ASSIS, Maria Elisabete Arruda de; SANTOS, Taís Valente dos (Org.). Memória feminina: mulheres na história, história de mulheres. Recife: Massangana, 2016. BAZIN, André. O que é o Cinema?. 1 Reimp. São Paulo: Cosac Naify, 2014. 220 | TCC 2019
BLACHÉ, Roberta; BLACHÉ, Simone. The Memoirs of Alice Guy Blaché (The Scarecrow Filmmakers Series). 2 ed. França: Scarecrow Press, 1996. GUY-BLACHÉ, Alice. The Consequences of Feminism. Dir. de Alice Guy- Blaché. França, 1906. P&B. HOLANDA, Karla; TEDESCO, Marina Cavalcanti (Org.). Feminino e Plural: Mulheres no Cinema Brasileiro. 1 Reimp. Campinas: Papyrus, 2017. LAUZEN, Martha. Thumbs Down 2016: Top Film Critics and Gender. Disponível em: <https://womenintvfilm.sdsu.edu/files/2016_ Thumbs_Down_Report.pdf>. Acesso em 10 de março de 2018. LEGATES, Marlene. In Their Time: a history of feminism in Western society. 1 ed. New York: Routledge, 2001. LUCENA, Luiz Carlos. Como fazer documentários. São Paulo: Editora Summus, 2012. NICHOLS, Bill. Introdução ao Documentário. 6 ed. São Paulo: Papirus, 2016. VARDA, Agnès. Resposta das Mulheres: Nosso Corpo, Nosso Sexo. Direção de Agnès Varda. França, 1975. Son., Color.
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REVISTA ESPORTIVA EDIÇÃO ESPECIAL TRÊS TOQUES LAÍS CORREIA DE ARAÚJO Orientadora: Prof.ª Drª. Márcia Detoni RESUMO: Este Trabalho de Conclusão de Curso consiste na produção de um projeto gráfico e editorial esportivo, a revista Três Toques. O trabalho aborda toda a trajetória do vôlei de Suzano nos seus 40 anos de história, referência no cenário nacional do esporte. A revista traz reportagens com a participação de jogadores, professores de vôlei, torcedores e crianças do projeto social Vôlei Mania. Para a realização da peça foi feito um estudo teórico sobre o jornalismo de revista, buscando compreender as características do gênero. A revista foi pensada para o leitor que admira o voleibol e a intenção é buscar patrocínio para publicação e distribuição em Suzano. Palavras-chave: vôlei, esporte nacional, projeto social esportivo.
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ABSTRACT: This Course Completion Work consists of the production of a graphic and sports publishing project, TrĂŞs Toques magazine. The work covers the whole history of Suzano volleyball in its 40 years of history, a reference in the national sports scene. The magazine brings reports with the participation of players, teachers of volleyball, fans and children of the social project Volleyball Mania. For the accomplishment of the piece was made a theoretical study on the journalism of magazine, seeking to understand the characteristics of the genre. The magazine was designed for the reader who admires volleyball and the intention is to seek sponsorship for publication and distribution in Suzano. Keywords: volleyball, the national sport, social sports project.
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INTRODUÇÃO O vôlei de Suzano é uma das referências nacionais mais relevantes no cenário do esporte para o país. Com mais de 40 anos de história, o time carrega uma trajetória de sucesso e um legado importante para a cidade. Suzano é conhecida por respirar voleibol desde a sua criação, isso porque, o município é envolvido com o esporte. A equipe deixou de existir por um período, mas há três anos, o time de vôlei retornou e busca instaurar o que o passado do clube deixou. Para registrar essas conquistas, foi desenvolvido este Trabalho de Conclusão de Curso, a revista Três Toques, com linha editorial voltada ao voleibol, segmento com poucas edições no mercado. A ideia é apresentar ao público esportivo da cidade de Suzano um material jornalístico que aborda sobre o time referência no esporte do país. A publicação traz informações da época de ouro do voleibol na cidade, nos anos 1990, e mostra como o vôlei de Suzano foi e continua sendo fundamental na vida de muitos moradores e evidencia como o resgate deste esporte, está sendo feito nos últimos três anos com os investimentos públicos e privados. Foi elaborado, então, um projeto gráfico e editorial em forma de edição especial com reportagens que aborda os 40 anos de trajetória do time. Foram utilizados como fontes jogadores célebres de Suzano que marcaram a história, torcedores, professores de voleibol e crianças do projeto social Vôlei Mania, que o time atende na comunidade de Suzano. A publicação tem por objetivo alcançar um público que presenciou todo o percurso do time e, apresentar aos novos torcedores, o que essa equipe simboliza para a cidade. Com um projeto que caracteriza a identidade do voleibol em Suzano, toda a estrutura da revista foi produzida pensando no leitor, incluindo as cores: azul, amarelo e branco, que representam o time, bem como a organização das matérias, os assuntos escolhidos e as imagens dos jogos. As pautas foram criadas buscando mostrar o desenvolvimento da equipe durante todos esses anos, e as fontes são reconhecidas por serem ícones no esporte brasileiro. Para a produção da peça foi realizado um estudo sobre as características da revista, analisando a linguagem textual e visual do gênero e a importância do impresso em um mundo cada vez mais digital: ainda há espaço para o papel? O Referencial teórico tem por base o pensamento de autores como, Marília Scalzo, Pedro Carvalho, Vanice Sargentini e Simone Tuzzo e profissionais da área como Aurora Ribeiro, Angélica Queiróz e André Furtado. 224 | TCC 2019
Incluindo, sites e artigos acerca do assunto. O objetivo principal é buscar entender o papel da revista como instrumento de informação e legitimidade em tempos tecnológicos e de notícias factuais. A escolha do impresso reafirma o entendimento de que este modelo é uma opção positiva para muitos leitores, principalmente, quando se trata de edições especiais comemorativas e distribuição gratuita do conteúdo em eventos. A revista pretende ser uma memória para todos que contribuíram para o legado do voleibol em Suzano. Tem a intenção de valorizar as pessoas que passaram por esta equipe, sejam jogadores ou torcedores, retomar momentos que marcaram a vida de muitos e, em especial, os moradores locais que refletem o amor que os Susanenses têm pelo voleibol. Tem como foco obter patrocínio para a distribuição da revista nos campeonatos disputados. O voleibol de Suzano tornou-se motivo de orgulho para o município que considera o esporte o chamariz da cidade. Por tanto, avalio que a revista Três Toques contribui para deixar como herança na cidade, registros de maneira atrativa para os moradores e torcedores. 1. REFERENCIAL TEÓRICO 1.1 As características do gênero revista As revistas são materiais jornalísticos reunidos em um compilado de informações com capacidade de adentrar em vários lugares e receber vários tipos de leitores. São propostas a públicos singulares e com intuito de aprofundar-se em assuntos específicos, menos factuais que os jornais, porém atualizados de conteúdos aprimorados. Com fácil distribuição nas bancas, ou com seus assinantes, cobrem funções culturais mais complexas que a simples transmissão de notícias. Entretêm, trazem análise, reflexão, concentração e experiência de leitura, segundo Scalzo (2008). Grande parte da população mundial lê revistas e buscam nelas informações mais personalizadas com seu gosto. As revistas possuem menos informações no sentido clássico as “notícias quentes” e mais informação pessoal àquela que vai ajudar o leitor em seu cotidiano, em sua vida prática, proposta por Scalzo (2008). O gênero revista pode ser determinado como uma característica que trata o leitor como “você”, o que possibilita a aproximação do público. Essa capacidade é uma qualidade que leva o conteúdo das edições para cada vez mais se importarem no que as pessoas querem ler. Uma característica é a segmentação, isto é, para um público deterTCC 2019 | 225
minado (feminino ou masculino), por assunto (esporte, moda, cultura), por idade, (infantil, jovem, adulto), por geografia (região, cidade, estado). São essas fragmentações que delimitam ainda mais a inserção de conteúdos exclusivos para seus leitores. A linguagem de revista, apesar de ter o desenrolar mais solto, busca a principal marca do Jornalismo que é um texto mais claro e dinâmico em sua formação. Isso, claro, vária de publicação para publicação, mas no geral, o texto tenta atingir o receptor de maneira que ele compreenda a mensagem a ser passada, sem que haja reflexos de dúvidas. Na organização de uma revista, a periodicidade é um fator determinante na intenção das edições. As semanais tendem a focar em assuntos mais cotidianos e prendem a atenção do leitor por isso. As quinzenais costumam examinar mais os assuntos e por isso, trazem conteúdos diversos e as mensais são mais detalhadas e ricas em temáticas. 1.2 Imagens como fundamento na revista Assim como o texto tem sua participação em cativar o leitor, as imagens de uma revista são de tamanha importância para que o público reaja a ter interesse em pegar aquela publicação. Há toda uma construção, por parte de editores e ilustradores, em trazer algo que chame a atenção e ainda sim, tenha significado de informação ao público. A revista, de forma geral, dá grande destaque à fotojornalismo, quando conversa com o leitor de maneira clara sem que haja um texto de apoio para contribuir na interpretação. A foto é usada com intuito de despertar interesse no consumidor em querer folhear aquela publicação. A imagem tem por dever, cativar o leitor. Existem dois momentos determinantes na relação do leitor com a revista. O primeiro é a escolha de uma determinada revista em meio a outras numa banca e, a partir dessa escolha, os caminhos do olhar do leitor em selecionar os assuntos que lhe interessam. Até se deter na materialidade dos textos, ocorre a leitura panorâmica do objeto. E é, principalmente, a partir dessa perspectiva, que as imagens desempenham um papel fundamental: são elas que revela, num primeiro momento, algo sobre a publicação. (CARVALHO; SARGENTINI, 2009, p.193).
A mídia, em si, tende a direcionar o leitor de diversas formas, in226 | TCC 2019
fluenciando linhas de pensamento. Por essa razão, as diversas redações que trabalham com revista, utilizam imagens que resultam no que o editor pretende passar para os leitores. Isso forma o público daquela revista, já que por determinação terá material produzido de acordo com sua visão. Na imprensa, a utilização da imagem fotográfica dá-se numa dupla mediação: a da imagem tornada foto e a da foto transformada em texto. Se a escolha do ângulo pelo fotógrafo já é, em si, uma manifestação discursiva (por que um ângulo e não o outro?), a edição, o lugar e o destaque que a foto ocupa na publicação podem deslocar o sentido original presente na escolha do fotógrafo. (CARVALHO; SARGENTINI, 2009, p.203)
Isso se dá, pela facilidade em comunicar-se com o seu público que já é específico e busca na ideia da revista, algo semelhante ao que tem como base de personalidade e vivência. 1.2.1 Imagem de capa Ainda falando sobre o papel da imagem na revista, entende-se que a Capa tem valor fundamental na hora da escolha do público ao comprar uma edição. Uma boa imagem vale mais do que uma boa descrição (SCALZO, 2008, p.23). É nela que se compõem as principais matérias da publicação e com a fotografia, direciona o leitor a querer saber mais sobre o conteúdo que tem nas páginas adentro. De modo geral, a imagem da capa é o lugar simbólico da valorização do assunto principal a ser destacado em meio ao emaranhado de conteúdo que constitui cada edição da revista. (CARVALHO; SARGENTINI, 2009 p.194).
Assim, para tanto, os cuidados com a imagem cria uma função primordial e tem de estimular no leitor o senso de crítica, a fim de pegar as características de seu público e ir moldando a revista, pois quem define o que é uma revista, antes de tudo, é o seu leitor (SCALZO, 2008, p.12). 1.3 A revista impressa em tempos digitais O Grupo Abril cancelou, em 2018, várias publicações tradicionais no mercado impresso brasileiro por dificuldades financeiras. Foram interrompiTCC 2019 | 227
das: Elle, Cosmopolitan, Casa Claudia, Arquitetura, Minha casa, Boa forma, Mundo Estranho e bebe.com. Essa reestruturação levou muitos profissionais brasileiros a declararem o fim das revistas em papel, já que algumas edições foram mantidas apenas em plataforma digital. A revista Capricho e a Info Exame foram as primeiras do grupo a serem transferida para o meio digital: a Capricho em junho de 2015 e Info Exame em dezembro de 2014. Um ano mais tarde, a Info Exame deixou de existir. Walter Longo, publicitário e ex-presidente do Grupo Abril, afirma, no entanto, que o processo digital deve ser de adição e não substituição, para que haja um resultado promissor (PORTAL 360, 2018). O relatório Global “impressão e papel em um mundo digital”, divulgou em junho de 2017, o resultado de uma pesquisa realizada com dez países, incluindo o Brasil, sobre as preferências dos leitores para diferentes mídias e, notou-se que a maioria ainda prefere ler em papel. O estudo foi produzido pela Two Sides (2017), uma organização global, sem fins lucrativos, criada por membros das indústrias de celulose, papel e comunicação impressa. A pesquisa ouviu mais de 10.700 consumidores e afirma que 72% dos respondentes globais preferem livros impressos, em comparação com apenas 9% que preferem livros eletrônicos. De acordo com, a pesquisa, as mídias impressas transmitem mais confiança, cerca de 76% de todos os entrevistados acreditam que as fakes News são tendências preocupantes e apenas 24% confiam nas notícias que leem nas mídias sociais. Com isso, 63% de todos os entrevistados acreditam que ler notícias no impresso possibilita uma compreensão aprofundada dos fatos e mais apuração. Outro relatório divulgado em 2015, também pela Two Sides (2015), mostra que 84% dos entrevistados absorvem ou usam informações que foram impressas e lidas em papel bem melhor do que informações recebidas por meio de um dispositivo digital; 83% afirmaram ter preferência por ler conteúdos impressos para temas mais complexos. Os dados também apontam que 79% dos entrevistados acreditam que mídias impressas são mais confortáveis de se ler, enquanto 60% dos usuários de dispositivos móveis e smartphones se preocupam com a influência que o digital pode ter sobre sua saúde. Os leitores que preferem o impresso gostam do cheiro da tinta, do som de virar as páginas, da textura do 228 | TCC 2019
papel e da calma que traz a leitura do formato do jornal, sendo também um prazer para a visão. Além disso, não são poucos os que citam o prazer associado a um café. Isso é muito interessante, pois a leitura do jornal passou a aguçar os cinco sentidos, ou seja, a princípio já estimulava a visão, o tato, a audição e o olfato, mas como o paladar não estava presente, o café completa o processo. (TUZZO, 2013, p.255)
Na Alemanha, um estudo recente de 2018, afirma que crianças de 4 a 13 anos de idade ainda preferem ler em papel. Os dados foram publicados pela Deutsche Welle (2018), empresa pública alemã que transmite para o exterior, materiais de rádio e programas televisivos. A grande maioria das crianças lê livros e revista impressos, por diversas vezes na semana. Isso indica 70% das crianças alemãs, segundo o estudo. As crianças não deixaram de utilizarem o meio eletrônico para outros fins, seguem utilizando tanto mídias impressas quanto as digitais. Segundo a pesquisa, os jovens são "inteligentes demais para lidar com ambos os mundos". O estudo afirma que com o passar dos anos, os jovens tendem a substituir livros e brinquedos pelos celulares e meios digitais. Porém, o impresso continua presente na formação das crianças, de acordo com a pesquisa do Deutsche Welle (2018). Segundo Tuzzo (2008), a discussão sobre o futuro do impresso repete o que ocorreu com o radio quando surgiu a televisão. Na década de 1950, muitos diziam que o rádio deixaria de existir, já que todos teriam um aparelho com som e imagem. Como se sabe, hoje, o rádio é um meio de comunicação presente, sem o menor sinal de que desaparecerá, porque soube se reinventar, se adequar às novas realidades. Para a autora, o que aconteceu foi à mudança de gêneros e formatos, o que deve ocorrer o com o impresso. 2. DESENVOLVIMENTO DA PEÇA A revista Três Toques foi elaborada pensando em atingir um público que acompanha o esporte da cidade há anos, relembrando os momentos mais marcantes da história, com entrevistas e imagens e, quer apresentar ao público mais jovem o legado que o time deixou, tanto para a cidade de Suzano, como para o cenário do esporte nacional brasileiro. Em edição única, todo o projeto está estruturado para captar a atenção do leitor e ser uma
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memória para todos aqueles que carregam o nome do time. Para a criação do projeto, foi pensado na produção de uma revista por ser um material jornalísticos de fácil acesso, por carregar a tradição do impresso como instrumento legítimo de informação e, pela forma que será divulgada para os frequentadores das partidas. No caso, a distribuição do material será feita nos dias de jogos. Todas as entrevistas contidas no material foram feitas presencialmente, nos dias de jogos e treinamentos dos atletas, tanto na Arena, como no Ginásio Municipal Paulo Portela, como nos dias de eventos que participaram. 2.1 Público-alvo A Revista Três Toques busca atingir um público que acompanhou os jogos do vôlei Suzano durante toda sua trajetória. No geral, são adultos e jovens com idade entre 15 e 50 anos. Divide-se este público em duas partes: as pessoas que viveram os anos ouro da equipe na cidade, por volta de 1990, e os novos torcedores que acompanham os jogos com a retomada do voleibol, de 2015 até hoje. 2.2 Linguagem O uso da linguagem trabalhada na revista é simples, para alcançar o máximo de pessoas possível e que todos possam compreender as informações relatadas. Entendendo o público escolhido e por se tratar de esporte, a linguagem pode ser empregada de uma maneira mais usual. Os textos apresentam também algumas palavras usadas no voleibol para que o leitor se identifique ainda mais com o tema. 2.3 Papel O papel para desenhar a revista é o Couche brilho 150g, por ser um material típico de impressão para revistas. 2.4 Periodicidade Todo o projeto foi elaborado como uma edição única para ser uma memória para os torcedores, jogadores e todos os participantes que fazem parte dessa história. Com isso, a periodicidade é única. Porém, a ideia do projeto é ter continuidade na cidade, podendo ser desenvolvida mensalmente com planejamentos futuros, se tornando uma publicação mensal.
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2.5 Tiragem O público do vôlei Suzano é bem presente e tem como característica lotar a Arena e o Ginásio. Com isso, levando em consideração como a revista será distribuída, no caso, em dias de jogos, a tiragem é de três mil revistas impressas, para um começo. Com os investimentos de patrocinadores, o número tende a se ampliar. 2.6 Projetos editorial e gráfico Para um projeto editorial conciso é preciso organizar um planejamento estratégico para que o leitor seja capaz de entender o assunto e ao mesmo tempo, tenha interesse em ler o conteúdo do material. Pensando nisso, a revista Três Toques foi dividida em um formato que ficasse mais explicativa e interativa para o público. A escolha das pautas foi de extrema importância, já que é a primeira revista que se fala apenas do voleibol da cidade de Suzano. O estilo da diagramação de cada periódico será determinado de acordo com o público-alvo, assim como as cores, as formas e a tipografia que estarão presentes neste projeto. Cada página deve ser projetada a fim de atrair a atenção do leitor. Teor, clareza e harmonia, do conjunto gráfico devem ser observados pelo design. (FURTADO,2009, p 2)
Todas as características da revista exprimem a identidade do esporte na cidade, mostra as características do vôlei Suzano. Cada detalhe é pensado para aproximar o leitor da equipe. Para todas as matérias foram feitas entrevistas presenciais tanto no ginásio, na Arena e em eventos externos. A revista é dividida em dez editorias, são elas: 1. Vôlei Mania 2. Campeonatos inesquecíveis 3. Aula de vôlei 4. Torcida 5. História do time 6. Campeão das quadras 7. Camisetas 8. Arena Suzano 9. Equipe 2019/2020
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10. Música O nome da revista tem por inspiração os três toques permitidos no vôlei até que a bola seja passada para o lado do adversário, e é como se o vôlei Suzano também tivesse tido três toques para se firmar na cidade. O primeiro toque foi o impulso de criar um time profissional adulto, o segundo foram os anos vitoriosos que marcaram o cenário do voleibol nacional e o terceiro é o que se vive hoje: a retomada do time na cidade. Foram três toques, que assim como no vôlei, geraram mudanças na vida da comunidade suzanense. A capa é um dos elementos mais importantes para cativar do leitor o interesse em ler aquela publicação. Para isso, foi pensado na fotografia, na manchete e nas matérias de chamada. A foto escolhida é referente a um jogo do campeonato Paulista que Suzano participava e o registro foi feito em um momento de comemoração da equipe ao efetuar um ponto contra os adversários. A imagem é marcante por simbolizar a união que o time tem e continua tendo durante todos os anos de vôlei Suzano. A manchete escolhida é referente a maior reportagem que tem na revista. É sobre a trajetória dos 40 anos do voleibol suzanense. As matérias de chamada são a do Cristal Santana, ex-jogador e atual técnico da categoria sub-19 do time, e a do projeto social Vôlei Mania, iniciativa criada pelo idealizador e técnico, João Marcondes, que por meio do esporte, crianças de comunidades carentes de Suzano são contempladas pelo projeto. As primeiras páginas começam com o sumário, expediente e a carta ao leitor. O design do sumário tem as características de vôlei, com uma ilustração na parte inferior da página, juntamente, da imagem do Cristal Santana e do expediente. Em seguida, a carta ao leitor, com a abertura da revista para os leitores, com a apresentação da revista, incluindo um sobre da autora. A revista Três Toques tem quatro páginas com propagandas. Este espaço está preenchido com imagens e palavras inventadas para criar um espaço de marketing, mas a ideia é que seja inserida propagandas reais com os patrocinadores que queiram investir no projeto. Em todas as matérias têm a retranca com detalhes de uma bola de vôlei com as cores do vôlei Suzano e, são as cores da bola oficial dos jogos. Há também o pontilhado que acompanha a bola, com o nome da editoria, representando a rede de vôlei. Então todo o projeto está minuciosamente estruturado com particularidades do esporte. 232 | TCC 2019
Em todas as matérias acompanham olho para evidenciar uma frase destaque usada nas entrevistas. O formato segue o mesmo padrão em todos os textos. 2.6.1 Fontes tipográficas Todas as matérias da revista seguem o mesmo padrão de tipografias, divididas em suas funções: em texto, os intertítulos, o olho, as legendas e as retrancas. Seguindo este conceito foram usadas as fontes: Para o texto: Mercury Text G1 Para o intertítulo: Rockwell No olho: Cooper Hewitt Nas legendas: The Sans Nas retrancas: PF Din Text Condensed Pro 2.7 Diagramação e orçamento A revista Três Toques foi elaborada para ser uma publicação divulgada na cidade de Suzano, com investimentos e patrocinadores reais. Com isso, todo o projeto gráfico precisaria ter um aspecto mais exigente e profissional. Foi contratada a Design gráfica, Cris Vasconcelos, para a realização deste trabalho, enquanto a parte de textos e fotografias ficaram para mim e a alguns profissionais da área de fotos. Abaixo, segue a lista de gastos que foram investidos para que a revista fosse construída.
CONSIDERAÇÕES FINAIS A produção da revista Três Toques procurou entender como a paixão do suzanense pelo voleibol está marcado desde as crianças até os adultos. Todas as entrevistas, acompanhamentos de jogos, treinamentos e idas em eventos mostram que o esporte é uma atividade muito presente no cotidiano dos moradores da cidade e há muitos colaboradores para que o time cresça ainda mais. TCC 2019 | 233
A pesquisa teórica mostra que o impresso ainda tem função em meio à era digital, isso porque, dados foram analisados e mostraram que grande parte da população ainda prefere ler em papel, uma vez que o impresso possibilita informações mais seguras e é o meio mais tradicional de notícias que se tem. O digital, por sua vez, é uma plataforma nova, principalmente, se tratando de revistas, que os volumes nos meios eletrônicos estão começando de maneira tímida. O ambiente ainda está se adequando aos usuários, enquanto o impresso já tem o público bem definido. O vôlei Suzano, por ser referência no cenário esportivo, é um dos clubes mais importantes registrados na história do voleibol no Brasil, isso se deu durante os seus 40 anos. Porém, nunca tiveram um meio de comunicação que registrasse toda a trajetória deles, então, surgiu a revista Três Toques, com a função de demonstrar o que o voleibol susanense tem de diferente dos outros clubes. O jornalismo de revista tem características e especificidades que a revista Três Toques buscou descobrir, como a criatividade nos textos, pluralidade de fontes, contratar um profissional de diagramação para que a produção fosse competente o suficiente para ser distribuída a população e, fotografias de jogos, algumas autorais e outras de profissionais da área. Com a base teórica analisada, a identidade do gênero revista, bem como, as características da imagem de capa, das matérias e o impresso na era tecnológica, foi aplicada na produção da revista Três Toques e procurou responder a todas as qualidades que uma revista esportiva deve ter. Com base nos objetivos propostos, a pesquisa foi benéfica para a compreensão de que o impresso é o melhor meio para criar uma relação entre a mídia e o leitor, isso porque, entende-se o público escolhido e como este material será usado posteriormente a sua avaliação, que tem como foco a distribuição gratuita para a população, tem o papel como o meio de comunicação mais efetiva para gerar sucesso. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Blog Loja Gráfica Eskenazi. Publicidade impressa: vantagens que você não sabia que existia. Setembro, 2016. Disponível em:<http://blog.lojagraficaeskenazi.com.br/publicidade-impressa-cinco-vantagens-que-voce-nao-sabia-que-existia/>. Acesso em: 29/10/2018 CARVALHO, P.; SARGENTINI, V. O papel da imagem em “uma revista para quem gosta de ler”: Piauí, p.193-203. 2009 Celulose Online. As pessoas preferem ler em papel a em tela, 234 | TCC 2019
revela estudo. Dezembro, 2015. Disponível em:< https://www.celuloseonline.com.br/as-pessoas-preferem-ler-em-papel-do-que-em-tela-revela-estudo/>. Acesso em: 27/11/2019 CLEBER, Cristiano; FREITAS Ernani. Metodologia do trabalho científico: Métodos e Técnicas da Pesquisa e do Trabalho Acadêmico. Ed.2. Nova Hamburgo - Rio Grande do Sul, 2013, Feevale. Disponível em: <http://www.feevale.br/Comum/midias/8807f05a-14d0-4d5b-b1ad-1538f3aef538/E-book%20Metodologia%20do%20Trabalho%20Cientifico. pdf >. Acesso em: 28/05/2019 Deutsche Welle. Três em cada quatro crianças alemãs leem livros e revistas. Agosto, 2018. Disponível em:< https://www.dw.com/ pt-br/tr%C3%AAs-em-cada-quatro-crian%C3%A7as-alem%C3%A3s-leem-livros-e-revistas/a-44987378 >. Acesso: 14/05/2019 FURTADO. André. Projeto editorial para revistas. UFRGS, Rio Grande do Sul, 2009. Disponível em:<https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/135242/000736504.pdf ?sequence=1 >. Acesso em: 22/05/2019 QUEIRÓZ. Angélica. Por que as pessoas ainda leem jornal? Jornal UFG, maio, 2017, Goiânia- Goiás. Disponível em: < https://jornal.ufg.br/n/97551-por-que-as-pessoas-ainda-leem-jornal> Acesso em: 14/05/2019 RIBEIRO, Aurora. O Leitor e sua Relação com a Revista Impressa e a Revista Eletrônica – um estudo de caso. EnANPAD, Rio de Janeiro, setembro, 2008. Disponível em:< http://www.anpad.org.br/ admin/pdf/MKT-B3094.pdf> Acesso em: 29/10/2018 SCALZO, Marília. Jornalismo de Revista. Ed.2. São Paulo, Contexto, 2008 TUZZO, Simone. Os sentidos do impresso. Ed.1. Goiás, Gráfica, 2016 Two Sides. A impressão e o papel impactam o mundo digital. 3 de outubro de 2017, Londres–Inglaterra .Disponível em:< https://twosides.org.br/wpcontent/uploads/sites/15/2018/05/Two_Sides_Print_ and_Paper_In_A_Digital_World_Brazil.pdf >. Acesso em: 11/12/2018
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HISTÓRIAS (RE)VELADAS: A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA AS MULHERES MARIA BEATRIZ KRUMENERL AVANSO Orientadora: Prof.ª Drª. Mirtes de Moraes RESUMO: Este trabalho analisa o contexto em que se encontram as mulheres que sofreram violência doméstica durante muitos anos. Mostra que, mesmo elas tendo conseguido sair da relação abusiva (nunca totalmente), ainda carregam sequelas que durarão muito tempo. Discute como a sociedade machista, patriarcal e sexista influencia nas diferenças de gênero e de que maneira isso acarreta na violência contra a mulher. Aponta dados históricos que comprovam a teoria apresentada ao decorrer do projeto. Coloca em questão pesquisas atuais que apontam a morte de milhares de mulheres vítimas de feminicídio (morrer apenas pela condição de ser mulher). Deixa evidente que a justiça brasileira ainda é falha quando se trata em acolher as vítimas de violência, principalmente doméstica, e atua pontualmente, sem, de fato, inseri-las na sociedade. Apesar delas já terem conseguido conquistar diversos direitos políticos, sociais e espaço na área cultural e pública, a estrutura hierárquica entre homens e mulheres ainda é extremamente presente na sociedade, transformando-se em um empecilho para que as pessoas do sexo feminino se sintam plenamente seguras e protegidas (até mesmo dentro de sua própria casa, onde, muitas vezes, mora o agressor). Palavras-chave: Mulher. Violência contra a mulher. Feminismo. Sociedade Machista. 236 | TCC 2019
ABSTRACT: This project analyses the context in which women who suffered from domestic violence for many years find themselves. It shows that even though they were able to end an abusive relationship (albeit never fully), they still carry with them effects that last for a long time. It discusses how the patriarchal and sexist society influences gender-based differences and how it entails violence against women. It points out to historical data that proves the theory shown in the project. It puts to show current surveys that indicate the death of thousands of women, victims of feminicide (to die only for being a woman). Evidences that Brazilian law is deficient in sheltering violence victims, mainly domestic violence, and acts punctually without in fact inserting them back into society. Even though these women have already conquered many political and social rights, and room in cultural and public areas, a hierarchical structure between men and women is still extremely present in society, transforming itself in a hurdle for women to feel fully secure and protected (even inside their own home, where, in many cases, is also where the aggressor lives). Keywords: Women. Violence aganist women. Feminism. Patriarchal society.
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1. INTRODUÇÃO A violência de gênero, também denominada por muitos de violência contra a mulher, é algo que ocorre, principalmente, contra pessoas do sexo feminino de todas as idades, classes sociais, etnias e orientação sexual. A violência pode ser física, sexual e/ou psicológica e é originada de uma relação de poder, advinda da ideologia de uma sociedade ainda patriarcal (homens como chefes/patriarcas, provedores financeiros, da família), em que homens pressupõem que têm domínio sobre as mulheres. (NASCIMENTO, 2004) A palavra “machismo” deriva de “macho”, do latim mascülus, e, segundo o Dicionário Houaiss de língua portuguesa (online), pode ser definida como “opinião ou atitudes que discriminam ou recusam a ideia de igualdade dos direitos entre homens e mulheres”. Seguindo esse pensamento de que homens e mulheres não devem ter os mesmos direitos, surge a misoginia, que significa sentimento de repulsa e/ou aversão às mulheres. É diferente do machismo (mas está diretamente ligada a ele), porque vai muito além de uma estrutura social (de desigualdade), uma vez que envolve repulsa e aversão. A misoginia pode ser considerada uma das maiores causas do feminicídio¹. Já o sexismo, apesar de ter um significado bem similar ao machismo, é o que define como homens e mulheres devem se portar, em relação aos costumes, perante a sociedade. Tudo isso reforça mais ainda a desigualdade de gênero. Esses conceitos chegam a ser estranhos para a parcela da sociedade que considera natural a ordem social existente. “É claro que qualquer sistema de privilégios é feito para que uns usufruam dele, enquanto outros devem trabalhar para que o sistema seja mantido.” (TIBURI, 2018, p.59).
¹Termo que define crime de ódio o qual implica no assassinato de uma mulher pela condição de ser mulher. A autora sul-africana, socióloga e feminista Diana E. H. Russell foi uma das pioneiras a usar essa expressão, difundi-la e hoje ela a define como matança de mulheres por homens, porque elas são mulheres. O feminicídio se configura quando, de fato, comprova-se que a causa do assassinato está exclusivamente ligada a questão de gênero. No Brasil é considerado crime hediondo desde março de 2015, quando a Lei 13.104/2015 alterou o Código Penal Brasileiro. 238 | TCC 2019
Como Márcia Tiburi explica em seu livro Feminismo para Todas, Todes e Todos (2018), o machismo é o “ismo” do sistema patriarcal. “[...] é um modo em que se privilegia os ‘machos’ enquanto subestima todos os demais. Ele é totalitário e insidioso, está na macroestrutura e na microestrutura cotidiana” (p. 63) O feminismo, então, aparece para “mostrar o caráter inconciliável de uma sociedade de direito na qual o patriarcado esteja em vigência” (TIBURI, 2018, p.61). A chamada primeira onda do feminismo, na história ocidental, ocorreu no final do século XIX, quando as mulheres, inicialmente na Inglaterra, uniram-se para lutar pelos seus direitos. (PINTO, 2010) O feminismo começou a ganhar muita força, de fato, no Brasil, pouco depois, no começo do século XX, e o seu objetivo era, também, conseguir a participação da mulher (aqui o contexto levado em consideração é o da mulher branca. Já que as negras ainda estavam lutando para serem inseridas na sociedade), principalmente, na política. Elas se manifestavam, também, para iguais direitos trabalhistas. (DUARTE, 2003). Em 24 de fevereiro de 1932, no início do governo de Getúlio Vargas, as mulheres finalmente conseguem conquistar o sufrágio feminino, o que as incentiva a continuar buscando por sua liberdade, emancipação, mas, durante o Estado Novo, primeiro período caracterizado pela centralização do poder, nacionalismo, anticomunismo e por seu autoritarismo, o feminismo acaba perdendo espaço, e, consequentemente, força. Em meados dos anos de 1960 o movimento reaparece fortemente com um foco principal, discutir as relações de poder entre homens e mulheres, tornando-se assim, um movimento libertário. Porém, enquanto nos Estados Unidos e na Europa é um momento de prosperidade, avanço, propício para esse tipo de discussão, o Brasil entra na ditadura militar, fazendo com que esses assuntos ainda não conseguissem ser amplamente discutidos. Com a redemocratização na década de 1980, o feminismo passa a crescer novamente focando em assuntos como sexualidade, direitos iguais no trabalho, racismo, saúde, violência. (PINTO, 2010) Mesmo depois do avanço ocorrido, ainda no final do século XX e começo do XXI, os números de violência contra a mulher fizeram com que fosse necessária a criação de Delegacias Especiais da Mulher, de uma Central de Atendimento à Mulher (Disque 180), políticas públicas especializadas, centros de referência e, em 7 de agosto de 2006, um dos maiores avanços já conquistados, a Lei Maria da Penha (Lei Nº11.340). A lei aumentou o rigor das punições sobre crimes domésticos e faTCC 2019 | 239
miliares ocorridos contra pessoas do sexo feminino. Este nome é uma homenagem a Maria da Penha, que ficou paraplégica depois de seu marido atirar em suas costas enquanto ela dormia. Segundo o que consta em suas normas, ela gera mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8° art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra as mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher. Dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal e dá outras providências. O Art. 5° configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial (vide Lei complementar n°150, 2015). Atualmente, mesmo com todos os recursos criados para evitar esse tipo de ocorrido, segundo pesquisa realizada em 2018, pelo DataFolha, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), 536 mulheres foram vítimas de agressão física a cada hora no país, o que representa aproximadamente 4,5 milhões de brasileiras ao ano. Destas 536 mulheres, 177 sofrem espancamento. O estudo ainda confirmou que a violência foi cometida, em 76,4% dos casos, por conhecidos, como cônjuge (23,9%), ex-cônjuge (15,2%), pais (7,2%), amigos (6,3%) e irmãos (4,9%). (EXAME, 2019, online). Estes dados são chocantes e deixam evidente que, mesmo as mulheres já tendo conquistado espaço na sociedade, a situação delas no Brasil atualmente ainda precisa de extrema atenção, pois a estrutura hierárquica, machista e patriarcal, as coloca em posições de vulnerabilidade, das quais elas dificilmente conseguem sair sozinhas, sem nenhuma ajuda profissional. O projeto tem como objetivo principal demonstrar como a sociedade ainda vive de forma patriarcal e machista, colocando mulheres em situações de risco e fazendo com que elas, em diversos casos, tenham de agir de maneira drástica para se protegerem e se sentirem seguras dentro, até, de suas próprias casas. Para desenvolver esse assunto foi feito um livro-reportagem, em jornalismo literário, que narrou a história de mulheres que sofreram violência, e precisaram unir todas as suas forças e coragem para saírem vivas dessa situação. A mulher, por muitos anos, foi deixada à margem da sociedade, sem240 | TCC 2019
pre colocada como inferior ao homem. Este deveria ser o provedor da casa, enquanto ela precisava cumprir o “seu papel” de mãe e esposa. Com o avanço dos ideais feministas, as pessoas do sexo feminino começaram a conquistar aquilo que lhes era de direito, e introduziram-se na vida pública, mas, mesmo com o desenvolvimento alcançado, ainda falta muito para chegarmos ao que chamamos de equidade entre gêneros. Eu, como mulher, já passei por situações constrangedoras e embaraçosas que me fizeram levantar a bandeira do feminismo e lutar para que um dia possamos ser capazes de conquistarmos a igualdade, mesmo que ainda tenhamos muita luta pela frente. Por esse motivo, decidi que meu tema deveria ser algo relacionado à situação em que as mulheres se encontram e, por me interessar por jornalismo investigativo, resolvi abordar o assunto violência contra as mulheres. A minha função como jornalista é dar voz àqueles que não têm e acredito que trazendo esta questão à tona é uma forma de fazer isso. Abordar esse assunto como pauta é de extrema importância, pois é algo que precisa ser discutido para mostrar o que as mulheres passam simplesmente por serem mulheres. Desta forma, as pessoas poderão enxergar a desigualdade existente entre o feminino e o masculino. Como um livro-reportagem pode mostrar o tratamento dado às mulheres em uma sociedade machista e patriarcal? A pesquisa foi feita de forma qualitativa, explorando informações mais subjetivas das entrevistadas, e, além disso, destacando detalhes das histórias dessas mulheres por meio da coleta de dados narrativos, em que foram avaliadas as particularidades e experiências individuais de cada uma. Assim, pode-se desenvolver uma hipótese do porquê a violência de gênero ocorre ainda nos dias atuais. Para isso, foram ouvidas mulheres que passaram por situações de violência e precisaram, de alguma forma, se defenderem para saírem vivas, e, ainda, uma psicóloga especializada em tratar esses tipos de caso para explicar melhor sobre o assunto. O relatório baseia-se, principalmente, em pesquisas bibliográficas que discutam a situação das mulheres diante da violência doméstica. Um deles, por exemplo, é da assistente social Patrícia Cristina Nascimento, de 2004, da Universidade Federal de Santa Catarina, outro é de Céli Regina Jardim Pinto, doutora em ciência política, 2010, que fala sobre feminismo, história e poder. Além de fundamentar teorias em estudos de autoras como Simone de Beauvoir, Judith Butler, Márcia Tiburi, entre outras. TCC 2019 | 241
2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 - Sociedade patriarcal Uma das justificativas mais antigas da ideia de que homens são superiores às mulheres surge com a religião, principalmente no cristianismo (mundo ocidental). Na bíblia está escrito “e da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão.” (Gênesis 2:22), e por mais de um século isso foi usado por muitos, de maneira distorcida, como argumento de que as mulheres “vieram de uma parte do homem”, e como consequência, são mais frágeis, submissas, sensíveis, delicadas ou aquelas que precisam ser protegidas. Eva, na história, é pecadora, que oferece a maçã a Adão, levando-o a tentação. Por outro lado, temos Maria, virgem, santa, pura e mãe, e esse deve ser o exemplo a ser seguido pelo sexo feminino. A literatura, arte, a pintura, as esculturas, usufruem dessas ideias e constroem obras a partir delas. Já no século XVIII, com o Iluminismo, a Revolução Francesa, a medicina pauta-se no avanço da ciência (dando enfoque à razão) e estuda os diferentes esqueletos humanos. Enquanto o dos homens era representado de forma larga, grande e forte, o das mulheres era a materialização do conceito de feminilidade, como “ a fragilidade física, a beleza e a delicadeza na figura de esqueletos com crânios pequenos, ossos mais finos e pélvis bastante largas, para evidenciar a ‘natural’ função da mulher: a maternidade” (MARTINS, 2004, p.31). Muitos estudiosos afirmavam que porque a caixa craniana das pessoas do sexo feminino é menor, elas são menos providas de inteligência. “Camper² e outros craniologistas acreditavam, como bons materialistas que eram, que o tamanho do crânio tinha relação direta com o grau de inteligência, já que o crânio alojava o cérebro e este era considerado a sede da razão.” (Idem, p.34). Atualmente, como explica Ana Paula Martins em seu livro A medicina da mulher nos séculos XIX e XX, o ponto em questão não é inferioridade
²Em 1786, Petrus Camper escreveu uma dissertação dizendo que pelo tamanho do crânio podia-se entender as diferenças entre brancos e negros e as proximidades anatômicas entre estes e os símios. 242 | TCC 2019
física ou mental, como um dia já foi, mas, sim, a forma como a mulher deve agir baseando-se em um comportamento imposto há décadas, dentro de um ambiente opressor, mesmo com os diversos direitos que elas já conquistaram com o passar do tempo. Se por um lado a utopia de igualdade de gênero vem se tornando realidade [...], por outro lado, houve uma reorganização estratégica das relações de poder e nas práticas de controle social, mais sutis, menos centralizadas, mas nem por isso menos rígidas na sua efetivação. (MARTINS, 2004, p.12)
As mulheres introduziram-se na vida política, social, no mercado de trabalho, mas, por pressões, principalmente estéticas, divulgadas pelas mídias, elas se submetem a diversos processos, como dietas e cirurgias, para não perder a tal feminilidade (baseada na delicadeza da mulher) e não sair do padrão. “A imprensa feminina - direcionada exclusivamente às mulheres – ‘pasteuriza’ a mulher, ou seja, cria um modelo ideal de mulher e sugere que todas sejam como ela, tanto fisicamente quanto no comportamento.” (RODRIGUES, 2004, p.2). Esse conceito é levado a todos os ambientes, e, novamente, elas são colocadas como inferiores. Como disse a escritora e filósofa feminista Simone de Beauvoir (1949), “não se nasce mulher, torna-se mulher”, mostrando que todas essas imposições moldam as pessoas do sexo feminino, desde sua aparência física até o seu modo de agir e pensar perante a sociedade. Aqui cabe muito bem citar que o conceito de gênero, que tem como ideia central os pensamentos de Beauvoir, e foi estudado pioneiramente como categoria de análise pela historiadora estadunidense Joan Scott, como aspectos socioculturais de um indivíduo, construídos historicamente. [...] o termo gênero torna-se uma forma de indicar “construções culturais” – a criação inteiramente social das ideias sobre os papéis adequados aos homens e às mulheres. Trata-se de uma forma de se referir às origens exclusivamente sociais das identidades subjetivas de homens e de mulheres. (SCOTT, 1995, p.75)
Como na história ocidental o homem é superior a mulher, o padrão apenas se repete no conceito de gênero. TCC 2019 | 243
2.2 - Violência contra a mulher Dentre diversas consequências ocasionadas por vivermos em uma sociedade patriarcal e machista, pautada em uma relação de força e poder, a violência de gênero (termo criado posteriormente) ou contra a mulher é uma das mais graves. Os primeiros estudos brasileiros sobre o assunto datam de 1980 e, segundo o artigo Violência contra as Mulheres e Violência de Gênero: Notas sobre Estudos Feministas no Brasil, pode-se definir três correntes teóricas das pesquisas: A primeira, que denominamos de dominação masculina, define violência contra as mulheres como expressão de dominação da mulher pelo homem, resultando na anulação da autonomia da mulher, concebida tanto como “vítima” quanto como “cúmplice” da dominação masculina; a segunda corrente, que chamamos de dominação patriarcal, é influenciada pela perspectiva feminista e marxista, compreendendo violência como expressão do patriarcado, em que a mulher é vista como sujeito social autônomo, porém historicamente vitimada pelo controle social masculino; a terceira corrente, que nomeamos de relacional, relativiza as noções de dominação masculina e vitimização feminina, concebendo violência como uma forma de comunicação e um jogo do qual a mulher não é “vítima” senão “cúmplice”. (IZUMINO, SANTOS, 2005, p. 148).
A primeira corrente, chamada de dominação masculina, é da socióloga Marilena Chauí. Ela afirma que a violência contra as mulheres é “uma ação que transforma diferenças em desigualdades hierárquicas com o fim de dominar, explorar e oprimir” (Idem, p.149), e tanto o sexo feminino como o masculino reproduzem atitudes machistas, e as mulheres, em parte, “aceitam” esse comportamento. Já a segunda, introduzida em nosso país por outra socióloga, Heleieth Saffioti, pauta-se em uma ideologia marxista e feminista sobre o patriarcado. O patriarcado não se resume a um sistema de dominação, modelado pela ideologia machista. Mais do que isto, ele é também um sistema de exploração. Enquanto a dominação pode, para efeitos de análise, ser situada es244 | TCC 2019
sencialmente nos campos político e ideológico, a exploração diz respeito diretamente ao terreno econômico. (HELEIETH apud. IZUMINO, SANTOS, 2005, p.150).
O principal beneficiado desse sistema é o homem branco e rico. Opondo-se à Chauí, Saffioti afirma que as mulheres “aceitam” que a violência aconteça, não por causa de pensamentos machistas, mas sim, porque elas não têm autonomia suficiente dentro do ambiente em que vivem para saírem daquela situação. Esta pesquisa traz pensamentos alinhados com o de Saffioti, baseando-se, principalmente, nessa ideia. A terceira teoria relativiza a dominação-vitimização, e é desenvolvida por Maria Filomena Gregori. Ela consiste em: [...] analisar o fenômeno da violência conjugal como uma forma de comunicação em que homens e mulheres conferem significado às suas práticas. A violência conjugal trata-se mais de um jogo relacional do que de uma luta de poder. [...] Gregori considera que a mulher tem autonomia e participa ativamente na relação violenta. A mulher não é, portanto, “vítima” da dominação masculina. (Idem., p.152).
Outras estudiosas sobre o assunto concordam com a análise de Gregori, mas ela não condiz com este objeto de estudo, pois contradiz as ideias da perspectiva marxista e feminista, uma vez que coloca as mulheres como culpadas e cúmplices e não vítimas desta situação. De acordo com o Estudo Multipaíses sobre Saúde da Mulher e Violência Doméstica contra a Mulher, realizado pela OMS e divulgado no ano de 2002, existem diversos tipos de violação à integridade e a dignidade da mulher, como a violência doméstica e familiar (o foco deste trabalho), a sexual, violência contra mulheres lésbicas, bissexuais, trans, o feminicídio, entre outras, e elas estão, de certa forma, interligadas. Estas violências sistêmicas contra as mulheres são a prova da desigualdade historicamente moldada na sociedade, principalmente, brasileira. Uma análise feita pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) apontou que o nosso país ocupa o 5º lugar no ranking mundial de Feminicídio, ficando atrás apenas de El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia. E, segundo a análise do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada TCC 2019 | 245
(Ipea) de 2017, morre, no Brasil, uma vítima de feminicídio a cada uma hora e meia. Dados do 12º Anuário Brasileiro de Segurança Pública apontam que, neste mesmo ano, foram registrados 221.238 casos de lesão corporal dolosa enquadrados na Lei Maria da Penha, o que representa uma média de 606 casos por dia. Levando em consideração que diversas mulheres, por medo, não procuram ajuda depois de sofrerem a agressão. 2.3- A violência doméstica e familiar Violência doméstica e familiar contra a mulher é definida por qualquer ação ou omissão baseada no gênero que cause alguma lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial. Isto foi definido no artigo 5o da Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006). A maioria das pessoas já associa essa agressão ao marido (o que é o mais comum), mas as normas abrangem padrasto/madrasta, sogro/a, cunhado/a ou agregados, desde que a vítima seja uma mulher de qualquer idade ou classe social. Foram estabelecidas, pela lei brasileira, cinco formas da violência doméstica e familiar: a violência psicológica (humilhar por meio de palavras, ameaçar, intimidar), física (apontar objetos cortantes, armas, esmurrar, empurrar, sacudir) sexual (obrigar a mulher a ter relações sexuais ou fazê-las sem consentimento da mesma, impedir de engravidar), patrimonial (controlá-la financeiramente, reter documentos pessoais) e moral (humilhar a mulher publicamente, diminuí-la). Normalmente, nunca é só um tipo de violência que ocorre dentro das relações. É comum observarmos, também, pessoas amenizando esse tipo de comportamento, principalmente quando a agressão é cometida por homens, mostrando-os quase como “natural”. Essa naturalização está presente na mídia. Um exemplo a ser citado é a novela televisionada pela Rede Globo às 21h, em 2017, “O Outro Lado do Paraíso”, de Walcyr Carrasco. A trama central é de Clara (Bianca Bin), que se casa com Gael (Sérgio Guizé), um homem extremamente agressivo. Além de sofrer violência doméstica, a protagonista é internada em uma clínica isolada a mando de Sophia (Marieta Severo), mãe de Gael, uma mulher dissimulada movida a dinheiro. A narrativa tinha como um de seus objetivos colocar em pauta o machismo presente nas relações, mas ao decorrer dos capítulos nota-se que ele foi desenvolvido sem nenhuma responsabilidade, como a cena em que Gael estupra Clara, que foi romantizada. A justificativa de Gael ter este comportamento, apresentada em um dos capítulos exibidos, vem da mãe, que é psicopata e nunca o deu amor. 246 | TCC 2019
O próprio, inclusive, fala isso durante uma conversa entre os dois. Ele está arrependido do que fez, o que leva os espectadores criarem empatia pelo homem. O ponto é que é a naturalidade de como o machismo é visto na sociedade que cria agressores, não a extrema crueldade de uma mãe. Inclusive, a novela ainda traz diversos diálogos opressores, colocando as mulheres como inferiores e em segundo plano. Conforme Barros (1999), a naturalização e a banalização da violência no cotidiano feminino dá-se num esquema sutil de dominação, seja psicológica ou física, o que cria um obstáculo para o reconhecimento dos fatos. É como se esta fosse uma realidade natural e necessária e seus desdobramentos, comuns e cotidianos. (NASCIMENTO apud. BARROS, 2004, p.15).
Para tratar de um assunto tão importante como a violência doméstica, precisa do mínimo de responsabilidade social. Esse é um fenômeno gravíssimo, que impede o desenvolvimento da comunidade e coloca em risco a vida de milhões de mulheres todos os dias. A população não pode continuar tratando isso como se fosse algo “aceitável”. 3. DESENVOLVIMENTO DA PEÇA 3.1- Livro-reportagem e o jornalismo literário Esse projeto foi desenvolvido por meio de um livro-reportagem, em linguagem literária, jornalismo de não ficção, gênero criado pelo jornalista e romancista Truman Capote (1924-1984), contendo 144 páginas. Para isso, foram feitas entrevistas com três mulheres que sofreram violência doméstica e tiveram de criar mecanismos para conseguirem sair desta situação. Também há uma história (transformada em crônica) de uma mulher que sofreu a violência de um homem que não soube compreender e respeitar o direito de escolha dela (a de não querer ficar com ele), e, além disso, uma entrevista (entra na introdução do livro) com uma psicóloga especializada nesse assunto, que pôde explicar o porquê isso ainda ocorre com tanta frequência em nossa sociedade. A utilização do livro como suporte para o jornalismo não é atual, mas nem todo livro corresponde a não-ficção. Considera-se um livro-reportagem quando uma obra trata de acontecimentos ou de fenômenos reais e TCC 2019 | 247
utiliza, para sua produção, procedimentos metodológicos inerentes ao campo do jornalismo, sem, contudo, descartar certas nuances literárias. (ROCHA, XAVIER, 2013, p. 144)
Muitos estudiosos segmentam a história da imprensa cronologicamente em modelos explicativos, que mostram as transformações do espaço público. Ciro Marcondes Filho, em seu livro Comunicação e Jornalismo: a saga dos cães perdidos (2002), expõe um quadro evolutivo de cinco épocas divergentes, e, nesta análise, a grande influência da literatura no jornalismo se dá, principalmente, no que ele denomina de primeiro e segundo jornalismo. Estamos falando justamente dos séculos XVIII e XIX, quando escritores de prestígio tomaram conta dos jornais e descobriram a força do novo espaço público. Não só comandando as redações, mas, principalmente, determinando a linguagem e o conteúdo dos jornais. E um de seus principais instrumentos foi o folhetim, um estilo discursivo que é a marca fundamental da confluência entre jornalismo e literatura. (PENA, 2006, p. 48)
No século XX, foram se construindo os subgêneros do jornalismo literário, o new-journalism americano, jornalismo gonzo, ficção jornalística, romance-reportagem e a biografia, que embora sejam distintos, tem características em comum que os classificam como subgêneros. O termo jornalismo literário, e o que vem intrínseco dentro desse conceito, pode ter diversas interpretações sobre o seu significado, e, no nosso país ele também é classificado de diferentes maneiras. Para alguns autores, trata-se simplesmente do período da história do jornalismo em que os escritores assumiram as funções de editores, articulistas, cronistas e autores de folhetins, mais especificamente o século XIX. Para outros, refere-se à crítica de obras literárias veiculada em jornais. Há ainda os que identificam o conceito com o movimento conhecido como new journalism, iniciado nas redações americanas da década de 1960. E também os que incluem as biografias, os romances-reportagem e a ficção jornalística (Idem, p.56). 248 | TCC 2019
Já, para Pena, e, eu, concordo com esta definição, jornalismo literário é: [...] linguagem musical de transformação expressiva e informacional. Ao juntar os elementos presentes em dois gêneros diferentes, transforma-os permanentemente em seus domínios específicos, além de formar um terceiro gênero, que também segue pelo inevitável caminho da infinita metamorfose. Não se trata da dicotomia ficção ou verdade, mas sim de uma verossimilhança possível. Não se trata da oposição entre informar ou entreter, mas sim de uma atitude narrativa em que ambos estão misturados. Não se trata nem de jornalismo, nem de literatura, mas sim de melodia. (p.56).
3.2- Pesquisas e investigações Na minha pesquisa, para desenvolver a investigação sobre o tema, escutei mulheres que sofreram essa violência na pele, e entrei de forma profunda, tentando criar o máximo de empatia (levando em consideração que nunca sofri esse tipo de violência), em seus sentimentos. Assim, pude descrever o que ocorreu para elas terem passado por tudo isso, a culpa tão enraizada dentro delas, a dor física e psicológica, a manipulação por parte do agressor e como tiveram sequelas que levarão para o resto da vida por causa de uma sociedade patriarcal, machista e misógina, que não acolhe (até na parte judicial) e não dá suporte à esta mulher. Dessa maneira, tentei transmitir os relatos de forma humanizada ao leitor. Para entrar em contato com mulheres que estivessem aptas a falar comigo (por causa da delicadeza do tema são poucas as pessoas que aceitam conversar), liguei para diversos lugares que tratam este tipo de situação e, por fim, fui ao Centro de Referência à Mulher Casa Eliane de Grammont, uma instituição governamental vinculada à Secretaria de Participação e Parceria do Município de São Paulo desde a década de 1990 (uma das mais conhecidas em São Paulo). Conversei com uma das psicólogas do local, Lenira Politana da Silveira, que é especializada em tratar problemas relacionados a violência de gênero, para saber como a violência contra a mulher é vista no âmbito profissional e, além disso, pedi ajuda para compreender até que ponto eu poderia abordar tais aspectos com as entrevistadas, para que, em nenhum momento, eu as expusesse a uma dor desnecessária ou à algum assunto o TCC 2019 | 249
qual elas não estivessem prontas para falar. Pedi dicas de como abordar a violência sem ferí-las e, inclusive, foi a profissional que me indicou quais pessoas estavam preparadas e já tinham uma visão mais distanciada da situação para conseguirem me contar suas histórias sem serem prejudicadas psicologicamente. Todos os relatos mexeram muito comigo, e mesmo sabendo que deve-se manter um distanciamento na hora das entrevistas, foi impossível não demonstrar minhas emoções para as entrevistadas (principalmente por ser mulher). Assisti à uma aula de direito, da promotora de justiça especializada em gênero e enfrentamento à violência contra a mulher, Valéria Scarance, para compreender como é a situação destas mulheres perante as leis. Fui, ainda, no dia 26 de outubro de 2018, na 2˚ DDM (Delegacia de Defesa da Mulher), localizada na Vila Mariana, para passar o dia lá e observar a dinâmica que ocorre dentro do local. Conversei com estagiárias e fiquei decepcionada com os relatos delas. Elas contaram que, depois de algum tempo trabalhando lá, perceberam que as vezes as mulheres tem culpa na situação. Eu não concordo, uma vez que quem não dá acolhimento a elas é o próprio Estado. A lei age pontualmente, mas quase não há políticas públicas efetivas que protejam e insiram essas mulheres à sociedade (principalmente no âmbito trabalhista). Lá, além de observar a frieza com que o escrivão tratava as pessoas (e ele é conhecido como o “escrivão bonzinho” – dito pelas estagiárias) o próprio ambiente é desagradável. Não há nenhuma cor, o pequeno espaço da brinquedoteca tem apenas alguns lápis jogados, bonecas malcuidadas e nada em volta apresenta alguma esperança. O escrivão, no final do dia, veio até mim e perguntou o que estava fazendo lá. Depois que expliquei, ele, que não permitiu identificá-lo, me afirmou com todas as letras que seu trabalho pode ser considerado palhaçada ou enxugar gelo. Ele conta que de todos os casos, apenas 5% (dito por ele), de fato, são levados para frente. Isso tudo altera a polícia, o judiciário e, sem chegarem a nenhuma conclusão, os profissionais se esgotam. Eu acredito que isso acontece, pois o próprio sistema é machista e despreparado, já que todas as histórias que escutei durante o processo de desenvolvimento do projeto, provam o contrário. 3.3- Produção do livro- processo de escrita O livro começa com uma introdução explicando a importância de falar sobre a violência de gênero. Apresento dados de pesquisas do quanto as 250 | TCC 2019
mulheres ainda são ameaçadas apenas por serem mulheres. Aqui, optei por colocar a entrevista da profissional e, também, parte do dia em que passei na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM). Logo após, entra a crônica (baseada na entrevista da mulher que sofreu agressão de seu “amigo” que não aceitou um “não” como resposta). Escolhi esse formato, pois, além de notar que essa história é o início de como se começa a violência (o título é “crônica de um abusador”), acredito que a leitura fica mais dinâmica. Trouxe um aspecto diferente para a obra e tentei deixar tudo um pouco mais leve. Depois, seguem as três histórias das mulheres que sofreram a violência doméstica por tantos anos. Cada parte é dividida em dez pequenos capítulos (assim o leitor pode ter um tempo para “respirar”), transformando os relatos um pouco menos densos de serem lidos (são pesados e tristes). Tentei dar o mesmo espaço e lugar de fala para cada uma delas, já que todas são importantes e merecem ter suas vozes representadas igualmente. Optei por terminar o último capítulo, de cada parte, igual, com o título “Final feliz?”, apontando que todas elas apresentam sequelas e levarão as marcas das agressões para o resto da vida. A última frase também é idêntica: “seu sonho é não se sentir presa em sua própria vida”, para mostrar que todas elas almejam a liberdade até hoje, porque não se sentem seguras. Como a identidade de nenhuma pessoa envolvida nos relatos pode ser revelada, para não colocar a vida destas mulheres em risco, optei por usar como pseudônimos para substituir o nome das entrevistadas, nome de mulheres que fizeram a diferença na história brasileira e, no final, além da conclusão, faço um breve resumo de quem foram Anita Garibaldi, Eliane de Grammont, Dandara dos Palmares e Patrícia Galvão. Os outros nomes também foram alterados. Achei importante acrescentar locais em que as mulheres podem recorrer ao estarem passando por esta situação, já que coloco que nunca é tarde para lutarmos pelos nossos direitos, e nossos direitos começam quando temos acesso a informação. 3.4- Projeto gráfico Junto com Beatriz Marassi, designer gráfica formada pela faculdade Belas Artes, desenvolvemos um projeto gráfico para o livro. O formato do produto já foge do comum, uma vez que é mais fino e mais comprido do que o usual. Essa escolha foi feita para que desde o primeiro momento o leitor sinta um pequeno desconforto, mesmo que físico (um dos objetivos TCC 2019 | 251
do livro é tirar as pessoas de sua zona de conforto). A seleção de cores foi feita baseada em cores sóbrias e fortes, roxa, preta, branca e vermelha, para remeterem a seriedade do assunto. A divisão de cada parte do livro vem com a marca das digitais das mãos de um homem, para fazer alusão as verdadeiras marcas que ficaram tanto no corpo quanto no psicológico dessas mulheres. Os relatos delas são diagramados de forma igual para mostrar que as histórias, apesar de terem aspectos diferentes, possuem muitos pontos iguais. Elas são semelhantes, porque todas são vítimas de uma sociedade machista que dá tanto poder aos homens (transformando-os em agressores). A numeração de cada capítulo foi cortada para, além de também causar certo incomodo, mostrar que na história, tanto a que está sendo contada como na vida real, sempre há algo oculto, que não é revelado e impossível de enxergar, mas nós sabemos que existe. Optei por enviar o livro embrulhado em um plástico bolha. Toda vez que algo vem revestido por este tipo de plástico, mostra-se que ali dentro tem um objeto de grande valor e necessita de muito cuidado ao ser manuseado. E é exatamente assim que as histórias contadas neste livro precisam ser lidas. Com atenção, com respeito. Esse assunto ainda é tabu e se não falarmos nele com cautela, com responsabilidade social, pode-se passar uma visão errada dos fatos. O título faz uma brincadeira com a palavra “reveladas” – (re) veladas. A escolha desse nome é para apresentar que, apesar destas histórias serem, ainda, veladas, essas mulheres tiveram a coragem de abrirem suas vidas e contarem um pouco do que aconteceu durante suas trajetórias, e, por esse motivo, apesar de veladas, estas histórias foram, de alguma forma, reveladas e fizeram a diferença. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa bibliográfica apontou que, de fato, as entrevistadas são vítimas de uma sociedade patriarcal, que dá poder aos homens (tornam-se agressores) e faz com que as mulheres sejam colocadas sempre como inferiores, principalmente nos casos de violência doméstica. A estrutura familiar, os ideais religiosos, também são fatores que influenciam para que as pessoas naturalizem este tipo de relação sem perceberem que estão fazendo isso. A justiça provou-se falha e, mesmo após tantas ocorrências e denúncias, não foi capaz de tomar alguma medida efetiva que, de fato, protegesse 252 | TCC 2019
as vítimas (os dados colocados ao longo do projeto e as histórias contadas pelas entrevistadas deixam isso claro). Em nenhum momento, baseando-se em todos os relatos e pesquisas feitas, essas mulheres tiveram culpa do que aconteceu. A estrutura social fez com que elas fossem colocadas dentro de relações abusivas e não conseguissem saber como se livrar deste ciclo. O Brasil é um dos países que mais mata mulheres (vítimas de feminicídio). Como se sentir segura diante de um que país está completamente desestruturado para lidar com casos como esses? Quase não há políticas públicas concretas voltadas para ajudar a situação das vítimas de violência doméstica, nem trabalhistas, nem na área da saúde pública, nem na forma de as introduzirem na sociedade. Os agressores estão soltos, sem sofrerem nenhuma consequência, constituíram outras famílias e seguem suas rotinas normalmente, tendo a certeza de que não ocorrerá nenhuma punição (e eles, em grande parte, estão certos). Até a própria mídia naturaliza este tipo de comportamento, mostrando-se ser apenas um reflexo do sistema em que vivemos. A solução, na minha opinião, é falarmos sobre o assunto com responsabilidade social, com cuidado. Além disso, precisamos criar cada vez mais projetos que reintegrem essas mulheres. Por exemplo, o Tem Saída, idealizado pela promotora de justiça Maria Gabriela Manssur, com uma parceria do Ministério Público do estado de São Paulo, do Tribunal de Justiça, Defensoria Pública, OAB, Secretaria Municipal do Trabalho e Empreendedorismo da Prefeitura de São Paulo e ONU Mulheres com algumas empresas privadas que oferecem as vagas de emprego. O projeto tem como objetivo ajudar na parte financeira das mulheres que sofrem violência doméstica. O importante é tentarmos utilizar o nosso acesso à informação para garantir que os recursos cheguem a essas pessoas que se encontram nessa situação e não sabem como sair dela, e, mais do que isso, é necessário criar ambientes seguros para que elas tenham confiança em se abrirem. Foi isso que tentei fazer durante todo o meu projeto: dar espaço para que elas se sentissem acolhidas, fossem capazes de falar e se abrir sabendo que não estão sendo julgadas (e nem em um lugar de risco). 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AG. PATRÍCIA GALVÃO. SOBRE as violências contra as mulheres: Dossiê. Disponível em: <http://www.agenciapatriciagalvao.org. br/dossies/violencia/sobre-as-violencias-contra-a-mulher/>. Último acesTCC 2019 | 253
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PLANO DE COMUNICAÇÃO DE AÇÕES ESTRATÉGICAS PARA A TRANSPORTADORA MD EXPRESS MARIANA MELRO SALIM Orientadora: Prof.ª Drª. Márcia Detoni
RESUMO: Com o objetivo de melhorar a comunicação da transportadora MD Express, este Trabalho de Conclusão de Curso propõe a elaboração de um Plano de Comunicação Estratégico. Para tal, foram feitos estudos relacionados à empresa com análise e diagnóstico das atividades prestadas pela transportadora e de sua comunicação com o público interno e externo, além de consultas a autores da área de Comunicação Integrada. A partir disto, sugeriu-se ações estratégicas de comunicação imprescindíveis para o aprimoramento do diálogo da instituição com clientes, mídias e a comunidade, e para assegurar a presença da MD Express nas mídias digitais e tradicionais. O Plano de Comunicação contribuirá para a missão do cliente de crescer cada vez amis e se tornar referência no segmento de transporte e logística brasileiro. Palavras-chave: Plano de Comunicação, Comunicação Integrada e MD Express.
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ABSTRACT: Purposing to improve the communication of MD Express carry company, the former completion of course work proposes the elaboration of a Strategic Communication Plan. To this end, related studies were made on the company with analysis and diagnosis of the activities provided by it and of your communication with the internal and external public, besides queries to the authors of the Integrated Communication area. From this, a essential strategic communication actions to the improvement of the institutionâ&#x20AC;&#x2122;s dialogue with clients, media and the community, and to ensure the presence of MD Express in digital and traditional media was suggested. The Communication Plan will contribute to the mission to the customer grow more and more and become a reference in the Brazilian transport and logistics segment. Keywords: Communication Plan, Integrated Communication and MD Express.
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INTRODUÇÃO Este trabalho de Conclusão de Curso apresenta um Plano de Comunicação para a Transportadora MD Express, localizada em Mogi das Cruzes. Trataremos da comunicação externa, com foco nas ferramentas de interlocução, isto é, atendimento às mídias; e, as ferramentas de reputação, ou seja, assessoria de imprensa. A MD Express, fundada em 1999, é especializada em transporte rodoviário, armazenagem e logística. Alguns dos principais clientes são: Air Products, Bimbo, SESI e Vult Cosmética. streitar e facilitar o relacionamento com os diversos públicos, ampliar a comunicação institucional de uma organização, aumentar a visibilidade e fortalecer nas mídias a imagem do cliente assessorado, sejam eles personalidades, empresas públicas ou privadas, são funções atreladas à Assessoria de Comunicação. O Plano de Comunicação é um documento que tem como finalidade organizar e propor ações estratégicas visando suprir carências de um cliente que busca alcançar maior visibilidade na divulgação de seu(s) produto(s) e serviço(s). Todas essas ações desenvolvidas fazem parte do trabalho de um Assessor de Comunicação o qual, a partir de seu diagnóstico da situação do assessorado será capaz de implantar condutas eficazes na promoção de sua imagem no mercado. Segundo as informações divulgadas pela Confederação Nacional do Transporte dos dados das pesquisas feitas pela PMS (Pesquisa Mensal de Serviços) e pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o setor de transporte, armazenagem e correio cresceu, em 2018, 2,2%, alcançando R$ 256,08 bilhões. Isso significa dois anos consecutivos de alta, após as quedas que tiveram de 6,1% em 2015 e 7,6% em 2016. A tendência é que este setor continue crescendo e se recupere nos próximos anos. A partir disso, é fundamental que a empresa adote um Plano de Comunicação para definir melhores estratégias de investimento na comunicação corporativa, ou seja, para um melhor posicionamento da marca/ empresa em relação aos clientes, funcionários, comunidade e mídia, além de uma maior noção sobre como o público a enxerga. O Plano apresentado neste TCC inclui diagnóstico da empresa e estudo de cenário, com análise dos pontos fortes e fracos, oportunidades e ameaças. Além disso, contém sugestões de ações estratégicas para um melhor relacionamento com os diferentes públicos e as diversas mídias, e, 258 | TCC 2019
ainda, o desenvolvimento de produtos de comunicação como releases, site e Press Kit, Mídia Traning, renovação do site e gestão das mídias sociais. Para a produção do plano realizou-se incialmente um estudo teórico sobre comunicação organizacional, buscando compreender o papel da comunicação integrada em uma empresa: Como pode agregar valor a marca e que ferramentas dispõe para auxiliar na comunicação com os diversos públicos? A pesquisa bibliográfica teve por base os autores como: Ana Beatriz Souza de Alencar, Jorge Duarte, Eliza e Luiz Ferraretto, Margarida Kunsch, Marcelia Lupeti, James Ogden, Andressa Ribeiro, Ana Paula Souza, Mauricio Tavares e Maria Elizabete Torres. Estes serviram de orientação para elaboração do Plano de Comunicação. 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1. Comunicação Integrada A Comunicação Integrada é o conjunto de esforços, ações e estratégias que podem agregar valor à marca de uma empresa ou organização, mantendo uma imagem única para qualquer público potencial. É composta de procedimentos e planos que a torna um potente e importante instrumento para organização e divulgação no mercado empresarial. (ALENCAR et al., 2015). De acordo com Souza (2008, p.14), a com Comunicação Integrada parte da convergência entre as diversas ferramentas que cada área da Comunicação – Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Marketing e Relações Públicas – pode oferecer no sentido de tornar a comunicação organizacional mais eficaz. “Cada uma dessas áreas tem um grande escopo de táticas, que, usadas de formas combinadas, podem tornar a comunicação realmente estratégica e fundamental para as organizações”.(SOUZA, 2008, p.14)
Nesse contexto, a união das áreas da comunicação de forma planejada representa um diferencial competitivo para qualquer tipo de organização que almeja se firmar no campo empresarial. [...] “a comunicação é a base na existência de todas as organizações [...] sejam elas de quaisquer nature-
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zas, pois necessitam comunicar-se com seus públicos [...] Por isso, é fundamental ter uma estrutura preparada para conseguir atingir, da melhor forma possível, os públicos de interesse com objetivos gerais e específicos. A comunicação integrada significa todo o esforço de trabalhar toda a comunicação da organização de forma planejada e integrada. Não existe mais espaço para ações fragmentadas de comunicação. Todos os públicos de interesse da organização devem não só estar à parte, mas também participar do processo de comunicação. [...] Sendo assim, a comunicação empresarial integrada passa a ser vista como estratégia.” (TAVARES, 2010, p. 11-13).
De acordo com Duarte (2011), até os anos 1970 as empresas e organizações mantinham uma comunicação bastante restrita com o público interno, com investidores e com o público consumidor. As ações estavam mais direcionada para a ação de venda e lucro, por meio da publicidade. Não havia, nas empresas, um departamento específico para cuidar da comunicação. Habitualmente este assunto era tratado por profissionais de áreas distintas que não a da comunicação, como a área de marketing. Duarte observa que a comunicação integrada passa a ser uma arma estratégica para a sobrevivência e o desempenho de uma organização em uma realidade complexa que se altera rapidamente. Se as ações adotadas em um determinado plano não forem coordenadas entre si, cada uma seguirá numa direção diferente das demais. Assim, o resultado da integração é a criação de uma sinergia. Todas as unidades de negócio combinam, assumindo um efeito maior que a soma dos esforços individuais ou isolados (OGDEN, 2002). Há uma coordenação de mensagens para atingir um elevado impacto. Desse modo, o consumidor recebe mensagens que se integram e criam um maior poder de recepção do que qualquer mensagem individual. Para que a Comunicação Integrada se concretize faz-se necessário um trabalho prévio de análise e de planejamento e posterior de avaliação. Assim, esse conjunto articulado de esforços, ações, estratégias e produtos de comunicação, planejados e desenvolvidos por uma empresa, com o objetivo de agregar valor à marca ou à imagem junto a públicos específicos torna-se eficaz e potente. (RIBEIRO et al., 2006, p. 99-100) A comunicação integrada, entendida como a comunicação existente entre a organização e os seus públicos de interesse, é representada pela 260 | TCC 2019
comunicação interna, a comunicação institucional e a comunicação de marketing, deve ser vista como uma estratégia de gestão, viabilizando melhores resultados finais. 2.1.1 Comunicação Interna Segundo Tavares (2010), a comunicação interna abrange a comunicação entre departamentos, órgãos, unidades, funcionários, supervisores, gerentes, diretores e presidentes. Não há segmento que possa ser isento desse processo administrativo, pois é imprescindível trabalhá-la de forma planejada e integrada, procedimento este que pode motivar e integrar o público interno, desenvolver um clima favorável entre todos, agilizar a tomada de decisão que busca a eficácia nos processos administrativos, incentivar a pro atividade nos recursos humanos e criar uma boa imagem empresarial. (TAVARES, 2010, p. 15-16). São ações de comunicação interna, por exemplo: jornal interno, quadro de aniversariantes, reuniões periódicas e dinâmicas com os colaboradores, eventos comemorativos, entre outros. 2.1.2 Comunicação Institucional A comunicação institucional é uma técnica de gestão observada no processo de comunicação dos valores e objetivos de uma empresa. Também compreendida como um esforço deliberado para estabelecer relações de confiança entre o mundo empresarial e o público consumidor. Esta técnica de comunicação não é específica de um segmento empresarial, pelo contrário, pode ser implementada em instituições pública ou privada, em pequenas, médias ou grandes empresas. Seu objetivo maior é atingir diante de seu público prestígio e estabelecer e manter relações de confiança e permanente. A comunicação institucional também mantém ligação com a visão, valores e missão das organizações. Souza (2008), afirma que [...] “consolidar essas características e construir uma imagem forte da organização é tarefa da comunicação institucional.” (SOUZA, 2008, p. 46). 2.1.3 Comunicação de Marketing No que diz respeito à comunicação de marketing, podemos considera-la como a voz da empresa, ou seja, forma através da qual as empresas procuram informar, persuadir e lembrar os consumidores a respeito de seus produtos e de sua marca. TCC 2019 | 261
Há uma relação estreita entre o plano de marketing e o de comunicação, ou seja, o plano de marketing abrange o produto, o preço, a promoção e a distribuição, podendo sem aplicadas ações para quaisquer desses itens; o plano de comunicação é exclusivamente voltado à comunicação o qual se insere integralmente no plano de marketing direcionado a “promoção” (da comunicação). A comunicação de marketing abrange o conjunto dos meios de que uma empresa se serve para trocar informação com o seu mercado contemplando tanto a comunicação de fora para dentro (estudos de mercado) como a comunicação de dentro para fora (publicidade). Trata-se da relação das técnicas articuladas de comunicação que utilizadas que vão produzir melhores resultados levando-se em conta os objetivos a serem alcançados. (TORRES, 2012, p. 7). Existem componentes da comunicação de marketing que definem sua potencialidade no sistema empresarial. Dentre eles podemos destacar: a publicidade, as relações públicas, o marketing direto, os patrocinadores e as redes sociais. Esses e tantos outros compõem-se uma rede de ações que abrangem uma variedade de disciplinas da comunicação, ajudando a assegurar a coordenação de estratégias sob um único propósito: chegar ao público alvo de forma clara e efetiva. 2.1.4 Assessoria de Imprensa A assessoria de Imprensa está relacionada a dois aspectos fundamentais: a necessidade de divulgar opiniões e realizações de um indivíduo ou grupo de pessoas e a existência das instituições conhecidas como meios de comunicação de massa. (FERRARETTO, 2009, p. 21-22). Ao profissional que exerce a função de assessor de impressa cabe: facilitar a relação entre seu cliente – empresa, pessoa física, entidades e instituições – e os formadores de opinião e ainda orientar o assessorado quanto ao que pode ou não interessar aos veículos e, portanto, vir a ser notícia. Também, e não menos importante, ele tem a atribuição da intermediação das relações entre o assessorado e os veículos de comunicação, tendo como matéria prima a informação e como processo sua abordagem na forma de notícia. Os planos de assessoria de imprensa seguem as diretrizes da comunicação integrada. Fazem parte das atividades de um plano de comunicação o processo pelo qual objetivos, metas, estratégias de comunicação, planos de ação, controle e avaliação e investimento otimizam o negócio do cliente. 262 | TCC 2019
O Plano de Comunicação é a formatação de objetivos e metas; o desenvolvimento de estratégias de comunicação, avaliados através de processos e indicadores; orçados de acordo com as necessidades e as possibilidades de cada negócio. (TAVARES, 2010, p. 141). É importante destacar que a assessoria de imprensa e seu respectivo profissional devem essencialmente centrar-se na atuação ética. Assessor e assessorado devem estar focados na veracidade e o teor das notícias veiculadas nos meios de comunicação para que não ajam prejudicialmente à imagem da instituição ou empresa. (FERRARETTO, 2009, p. 46-47). O assessor de imprensa pode contribuir tanto com a comunicação interna, quanto externa (imagem institucional e marketing). 3. APRESENTAÇÃO DA PEÇA Assessoria de Imprensa e Jornalismo Empresarial não são caminhos preferidos da maioria dos estudantes da área de Comunicação. Contudo, é a vertente que está mais em alta no mercado de trabalho. No quinto semestre do curso de Jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, tive as aulas de Assessoria de Imprensa e esse universo me atraiu. Parti em busca de mais conteúdos para aprofundar meus conhecimentos e evoluir esta área que me despertou interesse. Fiz um curso livre de Assessoria de Imprensa e Media Training com Gestão em Crise, na Faculdade Belas Artes. Mas não parei por aí. Numa era de profundas transformações tecnológicas, percebi que Assessoria de Imprensa e Jornalismo Empresarial exigiam um conhecimento mais específico e técnico. Participei então de cursos livres de Gestão em Mídias Sociais e Relacionamento em Mídias Sociais, na Faculdade Cásper Líbero. Dando continuidade ao aprimoramento e ampliação de meus conhecimentos, optei por realizar ainda o curso de Marketing Digital no SENAC para entender ainda mais este momento de grande fluxo de conteúdos online em que estamos inseridos. No sexto semestre, quando iniciei a construção de meu Trabalho de Conclusão de Curso, muitas ideias e opções se apresentaram. Optei por seguir o caminho do planejamento de comunicação para a empresa MD Express, devido a uma aproximação familiar. Os diretores da transportadora concordaram prontamente com o projeto. Para realizar o TCC, e já pensando em um futuro profissional, criei uma empresa de prestação de serviços de Assessoria de Comunicação, a Melro Comunicações, que pretendo dar continuidade após a conclusão do curso. TCC 2019 | 263
O nome Melro Comunicações foi idealizado tendo como parâmetros: primeiro o meu sobrenome Melro e, depois, o tipo de serviço que a empresa prestará: a comunicação Integrada. O logo foi definido pensando tanto no “Melro” como também em “Comunicações”. O desenho do pássaro foi planejado inicialmente para fazer referência ao Melro, um pássaro de origem portuguesa. O pássaro é um animal que detém velocidade e alcança longas distâncias em um curto período de tempo; essa é a ideia da comunicação atualmente, ser rápida e eficiente independentemente da distância; utilizei então uma analogia entre o pássaro e a comunicação. O primeiro trabalho da Empresa Melro Comunicações é justamente este Plano de Comunicação para a Transportadora MD Express, que, se aprovado, será implementado profissionalmente. O próximo passo será registrar a empresa no MEI (Microempreendedor Individual) para que os serviços possam ser remunerados mediante a apresentação de nota fiscal. Um dos aspectos decisivos na implementação de um Plano de Comunicação é ampliar a imagem institucional da empresa. Trata-se de um novo olhar que a comunicação alcança junto às empresas, que passam a compreender e a valorizar aspectos relacionados a imagem e a identidade. Para executar o Plano de Comunicação Integrado para a MD Express, busquei orientação teórica na área da Comunicação Integrada por meio da pesquisa e leitura dos seguintes autores: Alencar, A.B.S.; Martins, B.A.G.; Cintra, B.; Gonçalves, C.M.; Carmo, C.R.; Siqueira; P.H.; JacobiniI, M.L.P.; Duarte; Ferraretto, E. K.; Ferraretto, L.; Kunsch, M.; Margarida Krohling.; Lupeti, M.; Ogden, J.R.; Ribeiro, A.D.; Souza, A.P.V.; Tavares, M.; Torres, M.E.S. A partir da análise desse material, o plano de comunicação integrada foi se estruturando e ganhando corpo e significado. O estudo desses autores foi fundamental, já que a MD Express precisava de um planejamento de comunicação mais amplo, não só assessoria de imprensa. A compreensão das ferramentas da área permitiu a elaboração de ações mais elaboradas do que a mera intermediação da comunicação da empresa com a mídia tradicional. Além desses estudos, mantive contato direto com os diretores e funcionários da transportadora, visando obter informações gerais e traçar uma diagnose da empresa. Após o diagnóstico e análise da empresa e do cenário em que ela esta envolvida, percebi que a MD Express tinha uma comunicação interna 264 | TCC 2019
satisfatória, mas, em contra partida, uma comunicação externa deficitária. Foi esse o ponto inicial do meu Plano Estratégico para empresa. O material elaborado consiste em um plano no qual analiso o ambiente mercadológico que a MD Express se encontra e desenvolvo a matriz SWOT da comunicação da transportadora para entender suas forças e fraquezas, além das oportunidades e ameaças. Esta última foi de extrema importância para perceber que a empresa tem grandes forças e oportunidades para crescer ainda mais no mercado, mas para isso, precisa de algumas reformulações. O estudo dos concorrentes foi imprescindível para compreender o impacto que eles podem ter no negócio da MD Express e aprender lições com os próprios concorrentes, como exemplo: o que dá certo fazer ou não. A partir dessas avaliações foi possível traçar um conjunto de ações estratégicas para melhorar o diálogo com o público externo, evidenciar ainda mais a marca e conquistar reputação e credibilidade. O primeiro passo foi a reformulação do site, deixando-o mais moderno, dinâmico e profissional. O atual site da MD Express é ultrapassando, com um layout pouco atrativo e uma linguagem que não favorece a marca, por isso, foi de extrema importância à mudança. Além do site, para o meio online, foram propostas ações nas mídias sociais, já que são meios eficazes de divulgação e engajamento da marca e podem aumentar as vendas e o número de clientes. Para o Instagram, foi sugerido uma mudança no visual das publicações, nas artes e principalmente nos conteúdos, buscando trazer um perfil mais profissional, interativo e agregador aos seguidores. Os posts do atual perfil da MD Express são totalmente amadores, com conteúdo pessoal e empresarial misturados, artes improvisadas e legendas vazias. O Facebook vem perdendo espaço nos mercados mais sólidos comparado com anos anteriores, segundo pesquisas como a do Datafolha. Mas, ainda sim, é importante mantê-lo abastecido de conteúdos. Indicamos no Plano algumas ações que pudessem manter a atividade do perfil, sem demandar grande esforço. Foi proposto também que a MD Express se cadastrasse no Linkedin, já que é uma plataforma B2B e poderia gerar mais negócios para a empresa. A MD Express já virou fonte para matérias como as da TV Diário, filiada da Rede Globo. Por isso, foi sugerido um serviço de assessoria de imprensa junto à mídia tradicional para a divulgação da empresa e seus serviços nos veículos de comunicação da região e, também, fixar a imagem do TCC 2019 | 265
Dario Jr. como líder do setor de transporte e logística. A assessoria de imprensa contatará o mailing de imprensa para as divulgações de sugestão de pautas e matérias, como as que foram produzidas e anexadas em uma pasta, da Melro Comunicações, junto ao Plano. A assessoria fará, também, o serviço de Media Traning, para melhorar posicionamento da MD Express nas entrevistas. Além disso, a assessoria promoverá e divulgará eventos como a comemoração dos 20 anos da MD Express. Para este evento, foi sugerido um coquetel na sede da transportadora, com o objetivo aproximar a empresa da imprensa e fazer network. Na a lista de convidados, estariam veículos de comunicação da região, jornalistas dos setores de transporte, economia e os de coluna social, os editores-chefes e ainda, pessoas com expressão na mídia, membros influentes da comunidade, funcionários e colaboradores. A Melro Comunicações ainda produziu um press kit com agenda, caneta, régua, chaveiro abridor de garrafa personalizados e uma entrevista exclusiva em vídeo com o diretor e fundador da MD Express, Dario Junior, na qual conta a história da transportadora, para convidar o público para o evento. Será preparado uma cobertura completa do evento pela Melro Comunicações, com vídeos e fotos com o intuito de gerar conteúdos para abastecer as mídias digitais da empresa e os veículos de comunicação. Outra estratégia proposta pela Melro Comunicações foi a modernização da identidade visual da MD Express.Como a identidade visual é um dos componentes mais importantes da comunicação com os públicos de uma organização, desenvolvemos um logo moderno, minimalista e que expressasse a individualidade da empresa. 4. CONCLUSÃO Com a recorrente necessidade de divulgar informações, opiniões e realizações de uma instituição, pessoa ou de um grupo, o trabalho da assessoria de comunicação foi se tornando cada vez mais importante e necessária em diferentes campos de atuação. Diante deste pressuposto, seja qual for a performance da empresa, o Plano de Comunicação poderá impulsionar os negócios da MD Express, abrir novas frentes e levar a uma consequente evolução tendo como suporte as mídias. Com base nessas pesquisas e análises sobre o panorama da comuni266 | TCC 2019
cação integrada, foi perceptível como esta vem se mostrando eficiente na criação, na manutenção ou no aperfeiçoamento da imagem de uma instituição no segmento que atua. Outra possibilidade é a de modificar de forma positiva as relações com os diferentes públicos que fazem parte de seu campo de atuação, como funcionários, clientes, colaboradores, comunidade e mídia. Entre os processos de construção do meu Trabalho de Conclusão de Curso, me vi envolvida e entusiasmada com cada etapa desenvolvida, isto é, desde o processo de análise do cliente até a elaboração das ações estratégicas. Tendo como foco a ação profissional a Assessoria de Comunicação, penso que este projeto pode me servir como uma trajetória possível e que poderá colaborar tanto com minhas pretensões acadêmicas quanto profissionais. A concretização desse plano mostrou-me perspectivas que não havia sido sequer supostas e agora, depois desse tempo de experiências, conquistas e materialização da ação profissional da qual me fez entender na prática a razão de ser, posso garantir que a Assessoria de Comunicação é uma área potente capaz de enaltecer a imagem do cliente. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALENCAR, A.B.S.; MARTINS, B.A.G.; CINTRA, B,; GONÇALVES, C.M.; CARMO, C.R.; SIQUEIRA; P.H.; JACOBINI, M.L.P. A Comunicação Integrada na prática; um estudo de caso na Assessoria de Comunicação a CPFL. In: XXXVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 2015, Rio de Janeiro, RJ, 2015. Disponível em: http://portalintercom.org.br/anais/nacional2015/resumos/R103560-1.pdf Acesso em: 14/02/2019 DUARTE, J. Assessoria de imprensa e relacionamento com a mídia: teoria e técnica. 4. Ed. São Paulo: Editora Atlas, 2011. FERRARETTO, E. K.; FERRARETTO, L. A. Assessoria de Imprensa – Teoria e Prática. Summus Editoria, 2009. KUNSCH, M. Gestão integrada da comunicação organizacional e os desafios da sociedade contemporânea. Revista Comunicação & Sociedade, São Paulo, n. 36, p. 69-88, 1999. KUNSCH, M. Planejamento de relações públicas na comunicação integrada. 4 ed. São Paulo: Summus Editorial, 2003. 174 p. LUPETTI, M. Gestão estratégica da comunicação mercadolóTCC 2019 | 267
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EURÍCLEDES FORMIGA: O POETA PARAIBANO QUE LEVOU A POESIA DOS CANTADORES PARA OS JORNAIS DE SÃO PAULO Marina Scherer Ferreira Orientador: Prof. Ms. Fernando Pereira
RESUMO: O jornalismo brasileiro reserva particularidades que muitos profissionais da área ainda não ouviram falar. Na época em que São Paulo já se destacava como cidade grande, um jornalista nascido na Paraíba teve a ideia e o poder de persuasão de colocar uma coluna sobre cantadores do nordeste no maior veículo da capital. A trajetória de Eurícledes Formiga conta como o poeta de memória prodigiosa, apaixonado pelo repente e pelo improviso, atravessou o país e se tornou um relevante repórter da Folha de S. Paulo nos anos 50. Palavras-chave: Eurícledes Formiga, Jornalismo, Cultura Brasileira, Folha de S. Paulo
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ABSTRACT: Brazilian journalism have some particularities that many professionals in the area have not yet heard about. When Sao Paulo was already known as a big city, a journalist borned in Paraíba had the idea and the power of persuasion to put a column about singers from the northeast in the largest vehicle in the capital. The life of Eurícledes Formiga tells how the poet with prodigious memory crossed the country and became a relevant Folha de S. Paulo reporter in the 1950s. Key words: Eurícledes Formiga, Journalism, Brazilian Culture, Folha de S. Paulo.
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ACESSO AO PRODUTO ON-LINE
Youtube Data de upload: 29/05/2019
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INTRODUÇÃO Este projeto começou com uma sensação de saudade. Saudade de histórias que antecedem 1996, ano de nascimento de quem vos escreve, e ultrapassam o limite das barreiras temporais. O documentário “EURÍCLEDES FORMIGA: O poeta paraibano que levou a poesia dos cantadores para os jornais de São Paulo” traz uma história repleta de arte, “repente” e reconhecimento. Formiga nasceu na Paraíba em 1924, se descobriu poeta com uma memória privilegiada ainda na adolescência, e de banco em banco, de praça em praça, atravessou as fronteiras dos estados do Brasil e chegou a São Paulo sendo reconhecido por grandes personalidades da época, dentre elas: Juscelino Kubitschek, Luiz Vieira, Saulo Ramos, Nêumane Pinto, Rolando Boldrin, Roberto Carlos e outros tantos. Aos 28 anos, já no sudeste do país, trazido por quem futuramente seria reconhecido como o grande advogado Saulo Ramos, foi apresentado por Valdemar Arruda, do jornal Folha da Noite, como repórter e colaborador do veículo em Ribeirão Preto (1952) em uma matéria especial de boas-vindas. Pouco antes, desde 1946, já havia descoberto o amor pelas redações, quando começou a escrever com o pseudônimo de Tabajara no Gazeta de notícias de Fortaleza - CE. A vida do poeta da boemia, como também era chamado, foi sempre repleta da arte nordestina. Como bom paraibano e repentista que era, Formiga passou a ser conhecido como jornalista da Folha e em 1956 criou sua própria coluna chamada Cantadores, impressa na Folha da Manhã, atrelando jornalismo à poesia nordestina. Além de escrever seus próprios textos e improvisos, Eurícledes também foi tema de muitas publicações. A revista Realidade, em 1972, após diversos estudos com médicos, psicólogos, entre outros profissionais, consagrou sua memória como uma das quatro mais favorecidas do mundo. Tendo isso em vista, o objeto de estudo deste trabalho será a trajetória de Eurícledes Formiga como jornalista, nordestino, repentista e, acima de tudo, poeta da vida. Pergunta-problema Considerando que poesia e jornalismo estiveram unidos em toda sua carreira, a pergunta-problema proposta para este produto, é: Como um documentário biográfico sobre Eurícledes Formiga pode, além de contar uma trajetória de vida, propor a reflexão de que o jornalismo de 1950 tinha espaço para a arte e para a poesia, diferente do que é visto atualmente? 272 | TCC 2019
Objetivos Os objetivos principais para responder à pergunta, são: Criar produto jornalístico com cunho biográfico sobre a vida de Eurícledes Formiga; Propor reflexão sobre a união de jornalismo e poesia na mídia, focando no espaço que o jornal cedia, antigamente, para a arte. Tendo concretizados os objetivos principais, os secundários, que auxiliarão no processo de criação do documentário, são: Entrevistar amigos que fizeram parte da trajetória de Formiga, dentre eles: o jornalista Nêumane Pinto e o cantor Luiz Vieira, além de sua esposa, Annabel Formiga e do filho que reuniu informações inéditas em sua biografia, Miguel Formiga. Apresentar reportagens publicadas por Eurícledes Formiga nos jornais em que trabalhou, dentre eles: Folha de São Paulo. Coletar informações em matérias que abordaram a vida do poeta na mídia. Utilizar gravações originais em formato de áudio e vídeo para elaborar o produto. O formato escolhido para abordar a vida profissional do jornalista, poeta e repentista paraibano foi o documentário participativo, que contará com áudios e mídias de Formiga, assim como exposição de documentos originais das publicações em jornais. Por ter a vida rodeada por personalidades influentes da época, Eurícledes será apresentado não só por sua mulher, Annabel Formiga (com quem conviveu desde os 14 anos ao lado do poeta e poderá abordar com propriedade sua trajetória), como também por Nêumane Pinto e Luiz Vieira. Justificativas Para a criação do produto supracitado, há duas justificativas, sendo elas uma pessoal e outra jornalística. Para complementar, será apresentada uma terceira, a respeito do formato escolhido. A primeira se refere à contribuição para o acervo familiar, do qual a autora que vos escreve faz parte como neta, como proposta de compilar todo o material resguardado por anos do avô jornalista, poeta, repentista de embolada e folclorista. Trazer para o centro da discussão o jornalismo atrelado à poesia e ter TCC 2019 | 273
um produto que possa servir de exemplo e estudo para futuras gerações, se faz importante em momento de constante mudança nos padrões da profissão, principalmente tecnológica. Dando motivos para a segunda justificativa. Em comparação a outras do passado, as tecnologias digitais distinguem-se por ampliar a capacidade intelectual do homem. Não apenas elas possibilitam centralizar conhecimentos e informação numa rede técnica informatizada, como permitem aplicar esses conhecimentos na geração de novos conhecimentos e mecanismos de processamento da informação. (BIANCO, 2004)
O modo de fazer jornalismo de 1946, época de Eurícledes Formiga, tem muito a agregar sobre a história da profissão, que, naquele determinado momento, não exigia da internet para garantir o conhecimento e a intelectualidade do homem. Como justificativa para o formato, faz-se necessário abordar o autor Bill Nichols, crítico de cinema e escritor do livro ‘Introdução ao Documentário’ (2008). Na obra, é mostrado que o documentário participativo: Podemos ver e ouvir o cineasta agir e reagir imediatamente, na mesma arena histórica em que estão aqueles que representam o tema do filme. Surgem as possibilidades de servir de mentor, crítico, interrogador, colaborador ou provocador. (NICHOLS, 2005, p. 155)
Evidenciando, assim, a subjetividade e a estética. Sendo este produto que mescla poesia e jornalismo, não haveria outra forma de representar com tamanha intensidade, realidade e harmonia a vida de Eurícledes Formiga. 1. REFERENCIAL TEÓRICO 1.1. Contextualização histórica e cultural A proposta deste trabalho é apresentar um documentário biográfico sobre a trajetória do poeta nordestino, que se tornou jornalista na cidade grande, Eurícledes Formiga. Em 19 de junho de 1924, no município de Antenor Navarro, mais conhecido como São João do Rio do Peixe, na Paraíba, nasceu José Eurícledes Ferreira, ou Eurícledes Formiga, como assim ficou conhecido. 274 | TCC 2019
Com inteligência inconfundível, “[...] Trazia nas veias o sangue de poeta e repentista que viria a se revelar profundo conhecedor das letras e seus mistérios, entre um lirismo ímpar e a rica prosa dos que falam sobre a vida com primazia”, contou Miguel Formiga (2010, p. 38), filho mais velho do paraibano, no início da biografia que escreveu em homenagem ao pai, intitulada Eurícledes Formiga: De Poeta a Médium (2010). Ainda no nordeste do país, durante a adolescência, o poeta descobriu seus maiores dons relacionados à poesia e à memória -- que anos depois, na Revista Realidade de 1972, seria ressaltada como uma das quatro memórias mais privilegiadas do mundo. Eurícledes percebeu que além de rimar versos de sua própria autoria, ele também era capaz de declamar perfeitamente os de outros repentistas, do início ao fim, após escutá-los apenas uma vez. Foi então que, diante de tamanho talento, começou a viver dos recitais de poesia e testes de memória, de cidade em cidade, cruzando as fronteiras dos estados brasileiros, até chegar em Fortaleza - CE. Lá conheceu o importante escritor Rogaciano Leite, em 1946, que o ajudou a iniciar a carreira jornalística no Gazeta de Notícias produzido na cidade. Aos 22 anos, portanto, pelo auxílio do amigo, Formiga começou na nova profissão sob o pseudônimo de Alceu Tabajara, aliando, pela primeira vez, o jornalismo aos versos ritmados. Desde então, não parou mais. Até chegar como repórter de Ribeirão Preto, na Folha da Noite, em 1952. “Eurícledes Formiga surgiu inesperadamente em nosso meio, vindo da Paraíba, para conquistar, merecidamente, os aplausos da sociedade de Ribeirão Preto” (1952), Escreveu Valdemar Arruda no texto de apresentação de Formiga como repórter do jornal Folha de S. Paulo em 15 de outubro de 1952. Veículo no qual, poucos anos depois, fundaria a coluna Cantadores, que reproduzia na íntegra o que ouvia dos cantadores repentistas de sua terra, o nordeste, da qual se orgulhava. 1.2 Cantadores nordestinos Repentista respeitado Narra, canta e profetiza Gera mito, cria lei Forma lenda e faz pesquisa Cantador faz tudo isso Inda canta e improvisa
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(MARINHO, 1995 apud. NGELO, 1996 p. 46)
Assis Ângelo, na obra “A Presença dos Cordelistas e Cantadores Repentistas em São Paulo”, resgata o significado mais puro, pela própria poesia, do que é o repentista e cantador do nordeste. É o poeta popular que conta histórias no embalo do “repente”. Este termo faz alusão à obrigatoriedade de improvisação dos poetas que, tradicionalmente, cantam em duplas, alternando-se nas estrofes, e procurando superar a originalidade do adversário-parceiro a cada verso criado. Apaixonado e inserido no mundo dos repentistas que ganhavam a vida também se aventurando nas emboladas nordestinas, ao chegar na capital de São Paulo com a ajuda de Saulo Ramos, como escritor no Jornal Folha da Manhã, Eurícledes Formiga homenageou os companheiros de improviso criando uma coluna chamada Cantadores no veículo que era -- e continua sendo -- referência em jornalismo. Nela, reproduzia -- sem nunca usar um gravador, microfone ou qualquer caderno de anotação -- tanto os repentes feitos por colegas em encontros e eventos musicais, como os seus próprios, além de comentar com frequência sobre a versatilidade do poeta popular, que em apenas quatro versos era capaz de traduzir uma história. 1.3 Reviver história pelo documentário O documentário mostra-se um dos gêneros mais duradouro e variado, com muitos enfoques diferentes para o desafio de representar o mundo histórico. Esses enfoques apresentam muitas das características dos filmes de ficção comuns, como a narração de histórias, mas permanecem suficientemente distintos para constituir um domínio próprio. (NICHOLS, 2005, p. 63)
Ao escrever a obra “Introdução ao Documentário”, Bill Nichols definiu o gênero cinematográfico como sendo uma boa alternativa para contar histórias com certa impressão de autenticidade (2005, p. 20). Crítico de cinema e fundador do estudo contemporâneo do documentário, o autor exalta que este tipo de produto não funciona como uma reprodução, de fato, da realidade, mas como uma representação do mundo (2005, p. 73), no qual o diretor é o grande responsável por atribuir aspectos subjetivos à narrativa a fim de garantir uma perspectiva única no resultado
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final. No documentário, o estilo deriva parcialmente da tentativa do diretor de traduzir seu ponto de vista sobre o mundo histórico em termos visuais, e também de seu envolvimento direto no tema do filme. Ou seja, o estilo da ficção transmite um mundo imaginário e distinto, ao passo que o estilo ou a voz do documentário revelam uma forma distinta de envolvimento no mundo histórico. (NICHOLS, 2005, p. 74)
Segundo o mesmo autor, se faz importante cada detalhe da produção, desde o momento do corte das imagens captadas, o enquadramento, o ângulo, a luz, o som, a cronologia, as fotografias, áudios e vídeos utilizados até o modo como todo o material coletado é organizado. Tendo essas considerações em vista à respeito do produto, a maneira que se mostrou mais pertinente para retratar a vida de Eurícledes Formiga realmente foi o documentário, visto que o poeta deixou materiais preciosos de sua autoria a serem explorados no presente trabalho de conclusão de curso, cedidos pela família, que manteve tudo sob os cuidados de Annabel Formiga, esposa do jornalista, até os dias de hoje. 1.4 Biografia e memória O documentário terá cunho biográfico, pois este assume a função não só de retratar a vida de uma personalidade. Vai além! A biografia retoma épocas passadas, gerações antigas e convida o público a uma verdadeira viagem no tempo, fazendo com que o fato de recontar uma trajetória esteja relacionado diretamente ao conceito da memória física e de resgatar algo que está dentro do ser. Platão, influente filósofo ocidental, associava ao processo de lembrar -- o qual ele chamava de ‘anamnesis’ -- a possibilidade da recordação de tudo o que há na terra (BOCAYUVA, 2012) como chave para chegar nas verdades mais profundas, e é essa intensidade que envolve o documentário sobre a vida de Eurícledes Formiga. Buscando o conceito de Bill Nichols (2005) sobre os tipos de documentário existentes, pode-se dizer que este do qual estamos falando se encaixa na categoria de documentário participativo. Os documentários acrescentam o engajamento TCC 2019 | 277
ativo do cineasta com os participantes de seus hlmes, ou com seus informantes, e evitam a exposição com voz-over anônima. Isso situa o filme mais honestamente num momento dado e numa perspectiva distinta; enriquece o comentário com a textura de vozes individuais. (NICHOLS, 2005, p. 180)
Inspirada na produção da GloboNews em "Garrafas ao mar: a víbora manda lembranças" (2013), de Geneton Moraes Neto, sobre a vida o repórter Joel Silveira, a história de Formiga será contada por diferentes vozes: a do próprio poeta e a dos grandes nomes que conviveram com ele durante os anos de vida e que têm muitas lembranças a serem resgatadas. 1.5 Relevância jornalística Após selecionar formato e linguagem, faz-se importante compreender os motivos relevantes ao jornalismo para se produzir uma peça como essa. Há dois principais. O primeiro, é porque o processo de criação do documentário envolve importantes mecanismos do jornalismo: apuração, estudo, seleção de personagens, entrevista, câmeras, conhecimento de planos de gravação, roteirização, edição e organização dos fatos para a conclusão da peça. O segundo motivo compreende na reflexão de que Eurícledes Formiga precisou ter um grande poder de persuasão para conseguir colocar uma coluna autoral sobre cantadores do Nordeste em um dos jornais mais famosos da cidade, na época. Em 1956, quando a coluna foi criada, o jornalismo de São Paulo passou a ceder um espaço considerável para a arte nordestina entre as notícias diárias, sem limites de linha ou espaço. Ato que não se vê nas redações de hoje-em-dia. Sobre esta constatação, algo interessante de ser analisado, é que na mesma matéria em que foi apresentado e entrevistado por Valdemar Arruda como novo repórter da Folha de S. Paulo, Eurícledes Formiga teve a audácia de improvisar um poema, como um agradecimento pela oportunidade de trabalhar como jornalista, que foi publicado nas folhas impressas na íntegra, sem nenhum corte. Sendo uma parte dele: São paulo é mesmo São Paulo! Pega o Brasil pela mão,
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Vai guiando-o com cuidado, E um futuro iluminado Espera a grande nação! (FORMIGA, 1952 apud. ARRUDA, 1952)
O jornalismo sempre funcionou como uma âncora no tempo. É através dele e das memórias trazidas à tona por ele que fatos são revelados e histórias são relembradas, assim como aponta Marcos Palacios no artigo “Convergência e memória: jornalismo, contexto e história”, de 2010: [...] O jornalismo é memória em ato, memória enraizada no concreto, no espaço, na imagem, no objeto, atualidade singularizada, presente vivido e transformado em notícia que amanhã será passado relatado. (PALACIOS, 2010, p. 40 e 41)
Memórias estas, que ficaram gravadas nas matérias publicadas por e sobre Eurícledes e que serão material de estudo e reflexão durante este documentário. 2. DESENVOLVIMENTO DA PEÇA Eurícledes Formiga faleceu em 9 de maio de 1983, porém sua esposa, Annabel Formiga, guardou todo o material de suas conquistas no meio jornalístico e poético nos quais estava inserido. As matérias publicadas, as entrevistas concedidas a grandes jornais, os áudios e vídeos em que declamava poemas e fazia os testes de memória em praça pública, as recordações de quando improvisava com os cantadores, e os livros - desde o primeiro até o último - foram mantidos sob o resguardo da companheira em vida e foram materiais imprescindíveis para o documentário proposto, que teve como responsabilidade responder à pergunta-problema proposta na introdução. A personagem em foco não deixou seu legado sozinha. Durante anos trabalhando em suas mais variadas profissões, conheceu diversos amigos que, até hoje, vivem para contar as histórias dos dias que tiveram a oportunidade de passar juntos. O foco do produto foi recontar a história de Eurícledes Formiga dando a devida importância a quatro tópicos relevantes de sua trajetória: o início de sua vida com a poesia e a descoberta da memória potencial; a convivência com cantadores do nordeste e seu amor pela terra onde nas-
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ceu; sua chegada às redações de São Paulo como jornalista, e por último, a exposição da arte nordestina no sudeste do país pela criação de sua própria coluna chamada “Cantadores”, impressa no Jornal da Manhã. Para representar a voz de Eurícledes, quem pôde falar com verdadeira precisão sobre os fatos mais interessantes foi Annabel Formiga e Miguel Formiga. Este último, filho mais velho, responsável por eternizar nas páginas de um livro, lançado em 2010, a biografia do pai: “Eurícledes Formiga, de Poeta a Médium”. As duas pessoas acima mencionadas foram as últimas entrevistadas, pois complementaram, com primazia, o que outras fontes já haviam dito, e deram detalhes que só quem conviveu na mesma casa que Formiga sabia sobre sua memória e sua vida de jornalista. Além da família, não havia como considerar compartilhar a história de Formiga sem contar com a participação do jornalista da TV Gazeta e colunista do jornal Estado de São Paulo, Nêumane Pinto - que só entrou no meio jornalístico por conta do auxílio e da confiança extrema que Eurícledes Formiga depositou em seu potencial. Conterrâneo do paraibano, Nêumane conviveu o suficiente com Eurícledes para falar sobre a memória do poeta e sobre seu desempenho nas redações. Em sua própria casa, o jornalista relembrou das vezes que ouviu Formiga declamando poemas no Bar do Museu e também falou sobre a ousadia e poder de persuasão que o amigo teve quando criou a coluna sobre cantadores em um dos maiores jornais da capital paulistana. Quem também fez parte do projeto foi o cantor e compositor Luiz Vieira. Aos 90 anos, o artista também foi peça fundamental neste grande quebra-cabeça, pois morou com Formiga em uma espécie de república e foi seu companheiro nos repentes, mantendo, até hoje, contato com a família do poeta. Mesmo debilitado e com sérios problemas de saúde, incluindo até a dificuldade de falar, em decorrência de alguns derrames, Luiz fez questão de dar sua contribuição sobre a vida de Eurícledes. Para a gravação, que seria no Rio de Janeiro, tivemos que aguardar a liberação da fonoaudióloga. O contato se deu às pressas quando a profissional percebeu uma melhora considerável do intérprete de “Menino Passarinho”. Com a alta temperatura da cidade carioca e uma pequena indisposição no dia da entrevista, Luiz Vieira precisou de dois ventiladores para se sentir melhor, afetando, desta maneira, o som da gravação. Mesmo com os erros, esta não pôde ser refeita, pois o compositor foi hospitalizado ainda no mesmo dia e enfrentou uma 280 | TCC 2019
internação de quatro meses. De qualquer forma, sua colaboração com o documentário foi de extrema importância e repleta de emoção, não podendo ser mantida de fora. O apresentador e músico Rolando Boldrin, apesar de ter vivido menos tempo ao lado de Eurícledes, também compartilhou momentos emocionantes ao lado de Formiga, que estavam mantidos em arquivos pessoais e fizeram parte da produção. Certa vez, ao vivo, o poeta improvisou versos durante o programa “Som do Brasil”, do qual foi convidado para participar em 1982, e surpreendeu a plateia no embalo de suas histórias com importantes poetas sertanejos. Já com todas as personagens apresentadas, pode-se retomar que a proposta foi que os entrevistados fossem encaixados dentro de algum dos quatro tópicos que conduziram o roteiro do documentário, e que a união das quatro vozes geraria uma só narrativa. 2.1 Estratégias de abordagem A primeira estratégia de abordagem consistiu em entrevistar, separadamente, todas as fontes em ambientes que as deixassem confortáveis, como um convite a reviver as lembranças que teriam ao contar a história do amigo. Captar expressões, gestos, detalhes durante as falas foi importante nesta parte. Visto que a intenção foi registrar reações naturais e espontâneas, os entrevistados não receberam previamente um arquivo com perguntas a serem respondidas objetivamente. Cada um contou sobre a própria vivência ao lado de Formiga, direcionados apenas pelos quatro tópicos -- já mencionados -- sob os quais o documentário seria pautado: vida de poeta, raízes nordestinas, convívio com amigos importantes durante sua trajetória e sua dedicação no jornalismo. As conduções das conversas seguiram as orientações de Luiz Carlos Lucena (2012): “O que quero mostrar? Como eu quero mostrar isso? Por que eu quero mostrar isso? Quem é meu personagem? O que ele vai fazer? Como ele vai agir?”. Com papel fundamental, os áudios antigos em congressos de cantadores e palestras proferidas em todo o país também fizeram parte do projeto. Além das embaladas - como são chamadas algumas das formas de improviso - já gravadas pelo próprio Eurícledes Formiga, o poeta também foi apresentado em eventos e recebeu diversas homenagens de importantes personalidades, que compuseram o produto de forma poética. TCC 2019 | 281
Eu também sou repentista Do Nordeste Brasileiro. Vim aqui para São Paulo A fim de ganhar dinheiro E a minha fama espalhou-se Por este mundão inteiro! (PEREIRA, 1957 apud. FORMIGA, 1957)
Áudios de nordestinos, sem dúvida alguma, tiveram presença obrigatórios na produção completa, pois Formiga dedicou-se, por muitos anos, a falar sobre eles. 2.2 Canção do Otimismo Nos mesmos cenários em que as entrevistas foram gravadas, logo após as declarações feitas, Luiz Vieira e Miguel Formiga declamaram, sem combinar, um dos poemas que Formiga mais gostava, o qual chamou de "Canção do Otimismo". Em homenagem ao que foi personagem principal deste documentário, a edição final contou com uma fusão dos dois áudios com o deixado por Formiga, dele mesmo declamando. 2.3 Colagem de Imagens A narrativa foi conduzida com o auxílio de imagens das colunas publicadas por Formiga na Folha de S. Paulo. Annabel Formiga recortou e guardou todas em um grande livro dedicado ao marido, que reúne textos publicados por ele desde o início do trabalho do paraibano como escritor em São Paulo. 2.4 Na voz de Formiga Quem também ajudou a contar sua história foi o próprio poeta, com áudios dele mesmo, guardados pela família, que comprovaram seu dom em memorizar e improvisar versos com facilidade. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Eurícledes Formiga é meu avô paterno. Durante minha vida inteira ouvi histórias emocionantes sobre ele, e tive contato com a maioria de suas obras, assim como outros tantos também tiveram. Portanto, tive a intenção de extrair ao máximo a parte emocional das minhas próprias vivências de neta que não conheceu o avô, mas que tem profunda admiração pelos seus
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feitos. Eu, Marina Scherer, como autora e diretora da criação, fiquei responsável por todas as etapas do projeto, desde pré-produção até a edição final, contando com amigos que me ajudaram durante o processo. Na equipe de ajudantes estiveram incluídos: Murilo Pastorelli (auxílio na produção durante a gravação) e Miguel Formiga e Annabel Formiga (auxiliando na revisão das informações cedidas pelos entrevistados e na organização do produto final). Na gravação com Luiz Vieira, a esposa do cantor, Eurídice, esteve presente a todo momento, ajudando o compositor de 90 anos com a memória. Em certo momento da entrevista, inclusive, Luiz tentou lembrar a palavra “mote” e ela interferiu no vídeo para ajudar o marido. Esta cena permaneceu na edição final. No projeto inicial, contei com a participação de Rolando Boldrin que, como amante dos poetas e dos nordestinos, poderia dar grande contribuição à produção, mas o apresentador não aceitou o convite. Depois de diversas conversas, Rolando afirmou, carinhosamente, que se não fosse um documentário, ele poderia dar sua declaração, mas como era em vídeo, preferia não fazê-lo. A maior dificuldade foi encontrar quem pudesse contar a história com primazia. Os melhores amigos de Formiga já morreram, assim como ele, ou estão em condições difíceis de saúde, como Luiz Vieira. Sendo assim, optei por dois membros da família e outros dois que representassem tanto a parte dele como poeta, quanto a de jornalista. 3.1 Contribuições para o jornalismo O documentário “Eurícledes Formiga: O poeta paraibano que levou a poesia dos cantadores para os jornais de São Paulo” conta a história de um representante da imprensa brasileira, que com sua memória privilegiada, chegou no sudeste do país como repórter e fez grandes feitos pelo povo nordestino. Além de ser um projeto sobre o jornalismo dos anos 50, sua produção também foi um grande trabalho jornalístico, porque as informações contidas tanto no relatório quanto no documentário não constam em artigos acadêmicos e variados livros. Elas vieram do arquivo pessoal das matérias publicadas que Annabel guardou por anos e da memória de dezenas de pessoas que contribuíram com a própria lembrança que tinham do poeta, sendo que o mais jovem, Miguel Formiga, tem 59 anos. Certamente, para mim como jornalista, foi uma grande emoção vê-lo pronto mesmo com TCC 2019 | 283
essas dificuldades no meio do caminho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANGELO, Assis. A Presença dos Cordelistas e Cantadores Repentistas em São Paulo. São Paulo: Ibrasa, 1996. ARRUDA, Valdemar. Ribeirão Preto recebe com aplausos o poeta paraibano Eurícledes Formiga. Folha da Noite. Ribeirão Preto, 15 out. 1952. p. 2-2. BIANCO, Nelia R. del. A Internet como fator de mudança no jornalismo. 2004. 10 f. Tese (Doutorado) - Curso de Comunicação, Eca-usp, São Paulo, 2004. Disponível em: <http://www.bocc.uff.br/pag/bianco-nelia-internet-mudanca-jornalismo.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2018. BOCAYUVA, Izabela. A ANÁMNESIS EM PLATÃO: ANAMNESIS IN PLATO. Hypnos, São Paulo, p.269-288, jul. 2012. FORMIGA, Eurícledes. Cantadores. Folha da Manhã. São Paulo. jul. 1957 FORMIGA, Miguel. Alargando Horizontes. In: FORMIGA, Miguel. Eurícledes Formiga: De poeta a Médium: A resistência e a transformação. São Paulo: Vivaluz, 2010 GARRAFAS ao mar: a víbora manda lembranças. Direção de Geneton Moraes Neto. 2013. (80 min.), color. LUCENA, Luiz Carlos. Como fazer documentários. São Paulo: Summus, 2012. NICHOLS, Bill. Introdução ao Documentário. Campinas: Papirus, 2005. PALACIOS, Marcos. Convergência e memória: jornalismo, contexto e história. Matrizes, São Paulo, p.37-50, jul. 2010. Semestral. RAMOS, Saulo. Código da Vida. 8. ed. São Paulo: Planeta do Brasil, 2007, p. 124 e 125 Você não vai esquecer a memória dessa gente: Profissão de Formiga era a memória. Revista Realidade, São Paulo, p.98-98, ago. 1971. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=213659&PagFis=11904&Pesq=formiga>. Acesso em: 20 mar. 2018. Você não vai esquecer a memória dessa gente: Profissão de Formiga era a memória. Revista Realidade, São Paulo, p.98-98, ago. 1971. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=213659&PagFis=11904&Pesq=formiga>. Acesso em: 20 mar. 2018.
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“UM CÁRCERE FAMILIAR” A HISTÓRIA FALADA DA FAMÍLIA DE UM EXDETENTO BRASILEIRO
MARCELO RODRIGUES DOS SANTOS SOUZA Orientador: Prof. Ms. Marcelo José Abreu Lopes
RESUMO: Este trabalho visa dar sustentação teórico-metodológica à reportagem de web “Um Cárcere Familiar” e foi elaborado pensando em estudar as relações entre história oral e jornalismo para a produção de tal reportagem. Com isso, consiste em uma abordagem da história da família de um exdetento brasileiro através das técnicas e práticas utilizadas pelo jornalismo literário que envolve sua relação com a oralidade dos sujeitos. São abordadas aqui também as principais questões relacionadas à discussão do protagonismo de sujeitos excluídos racial e socioeconomicamente na sociedade brasileira, bem como do sistema carcerário brasileiro. Palavras-chave: História oral, Jornalismo Literário, oralidade.
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ABSTRACT: This paper aims to support theoretically and methodologically the web story “Um Cárcere Familiar” and was elaborated with the goal of studying the relationship(s) between oral history and journalism for the production of said story. Thus, it consists of an approach of the story of the family of a Brazilian former inmate through the techniques and practices used by literary journalism, which envolves its relationship with the subjects’ orality. The main issues related to both the discussion of the protagonism of subjects racially and socioeconomically excluded in the Brazilian society, and the Brazilian prison system are approached here as well. Key words: Oral History, Literary Journalism, orality
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ACESSO AO PRODUTO ON-LINE
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INTRODUÇÃO A despeito dos avanços tecnológicos e da evolução da técnica jornalística, a oralidade e a língua falada seguem sendo o principal material do jornalista em sua atividade de mediação do mundo. A criação de maquinários, redes sociais e formas cada vez mais sofisticadas de comunicação, bem como o uso cada vez mais frequente de uma linguagem técnica e objetiva pelo poder instituído e suas representações, não suplantaram aquilo que constitui ferramenta indispensável para a sociabilidade: a palavra. E antes de ser escrita, a palavra é falada. Foi pensando nisso que decidi estudar a história oral e a oralidade nos estudos de jornalismo para contar a história falada da família de um ex-detento brasileiro. Assim surgiu a pergunta-problema “como, por meio de uma reportagem de web, é possível descrever o perfil da família de um ex-presidiário, tendo como método aliado do jornalismo literário os estudos de história oral?” Com isso, este trabalho intenciona desenvolver, por meio de um texto com características do jornalismo literário, o perfil familiar de um ex-detento brasileiro, através do olhar de sua família, que também precisou se adaptar com a nova realidade do cárcere, sofrendo privações, testes e provações ao longo da pena do condenado. Isso não poderia ter sido realizado sem entrevistas de profundidade com o próprio apenado, bem como o maior número de familiares, amigos, vizinhos e conhecidos daquele que é protagonista desta história familiar. Também foi necessária uma pesquisa prévia sobre história oral, oralidade e jornalismo literário para determinar como essas entrevistas seriam mediadas e aplicadas à reportagem. Não obstante, tomei como pano de fundo o contexto histórico em que vivemos, colhendo dados para a construção de uma big-picture que possa nos dar indícios de causas, motivações e problemas da sociedade em que vivemos e suas implicações para a construção deste perfil familiar. Para sanar as dúvidas da pergunta problema, também foram colocados objetivos secundários como a análise de dados do sistema penitenciário brasileiro e a investigação do histórico do personagem. A escolha do tema foi definida a partir da importância de se entender a realidade brasileira em relação ao seu sistema penitenciário, suas falhas, aspectos particulares de cada família e a difícil rotina vivida por elas e seus parentes presos. A essa justificativa também é acrescentada a necessidade 288 | TCC 2019
do ser humano entender com mais empatia as situações vividas por quem a sociedade geralmente exclui ou esconde, com suas causas históricas, como o racismo e uma sociedade ainda marcadamente escravocrata como a brasileira. Já as justificativas pessoais envolvem, além do meu interesse pelo tema, minha vivência e proximidade com realidade similar à vivida pela família do personagem, a vontade de externar esse tipo de situação a pessoas que não entendem o que é o sistema penitenciário brasileiro, e o desejo de que pessoas que vivem esse tipo de situação difícil, ainda de que uma forma pequena, sejam representadas. O “perfil”, como uma forma de reportagem de jornalismo literário, foi escolhido por sua possibilidade de conexão com o leitor. Edvaldo Pereira Lima (2010) já explicou uma das características do jornalismo literário, a cena – recurso bem presente nesta matéria – apresentando o porquê do charme dessa forma de se relatar um fato, além de justificar essa escolha para o trabalho aqui apresentado: Mais do que simplesmente passar uma informação, a cena procura colocar o leitor dentro do acontecimento. Busca fazer com que o leitor viva um pouco, pelo menos, o que o repórter presenciou. Reproduz o clima de como as coisas aconteceram, tem um dinamismo próprio. O que acontece tem movimento, as pessoas são tratadas com vivacidade. O jornalismo literário prefere esse modo de narrar porque seu compromisso com o leitor é dar-lhe não apenas a informação sobre alguma coisa. É fazer com que o leitor passe pela experiência sensorial, simbólica (...) (LIMA, 2010, p. 16). Para justificar o estudo da história oral e do jornalismo literário, decidi por transcrever aquilo que me foi dito pelos principais personagens entrevistados numa abordagem que, junto ao formato de reportagem de web – estrutura inovadora que permite uma leitura mais didática e cativante –, que proporciona imagens, áudios e designs que só a internet consegue proporcionar de forma conjunta, enriquecendo a abordagem oral que visa este trabalho. 1. REFERENCIAL TEÓRICO 1.1. História oral De acordo com Fabíola Holanda e José Carlos Meihy (2007) na obra “História oral: como fazer, como pensar”, a história oral é apenas um recurso para a reportagem, mas é essencial em alguns formatos, como o perfil. TCC 2019 | 289
Os autores também afirmam que sua estrutura combina muito com os formatos contemporâneos. Como manifestação contemporânea, a história oral se vale dos aparatos da modernidade para se constituir. Então, além de pessoas vivas reunidas para contar algo que lhes é comum, a eletrônica se torna meio essencial para sua realização (MEIHY, José Carlos Sebe B.; HOLANDA, Fabíola, 2007, p.18).
Vê-se assim, de partida, a importância dos meios eletrônicos para o registro da história oral e como esses meios, se bem utilizados, podem potencializar narrativas porque, além disso, a história oral é fundamental em reportagens que apresentam um objetivo social, principalmente quando são histórias de vida: “Há muito tempo as histórias de vida têm chamado a atenção das pessoas preocupadas em entender a sociedade em seus aspectos íntimos e pessoais”. (MEIHY; 1996; p. 147). Lembrando sempre que as histórias podem mudar quando contada por cada uma das pessoas. Segundo Woreman e Pereira (2006), no livro “História falada: memória, rede e mudança social”, a história de vida, quando contada ao entrevistador, é sempre transmitida de acordo com a memória do entrevistado, seus sentimentos e pontos de vista. Ou seja, quando escrita fielmente ao que foi explicitado, pode repassar aos leitores a visão de pessoas que muitas vezes não são escutadas, e foi isso que objetivamos neste trabalho. Vale ressaltar aqui que a história oral, como campo de estudo, é rico e amplo, mas em suas relações com o jornalismo constitui um meio e não um fim. Portanto, quando falarmos da bifurcação entre este campo de estudo como meio para o jornalismo literário, precisamos ter em mente que um projeto na cabeça deve bastar a um repórter que coloca sua sola do sapato no asfalto e se abre a experiência e entrevistar outrem e partir para o descobrimento de outros mundos. Em sua tese “Falares: a oralidade como elemento construtor da grande reportagem”, Alex Criado parte do “pressuposto de que a grande reportagem é o espaço privilegiado para a incorporação dos diversos modos de falar” (2006). Assim, parti também deste pressuposto e procurei transcrever fidedignamente não só os fatos, mas também os modos de falar de cada fonte/personagem da reportagem, procurando a excelência e buscando dar voz às maneiras de fala e sociabilidade de setores mais excluídos da população. 290 | TCC 2019
1.2. Jornalismo Literário Na obra “O jornalismo literário como gênero e conceito”, o autor Felipe Pena (2017), explica que nas décadas de 1960 e 1970 surgiram transformações de pensamentos na sociedade. O movimento “contracultura”, em meio ao cenário da Guerra Fria e Guerra do Vietnã, trouxe novidades em todos os aspectos da vida, entre eles, no formato de texto. Nesse cenário, escreve Pena (2017), o escritor Tom Wolfe se destacou, montando um estilo de texto que hoje conhecemos como “Novo Jornalismo”. Nele estariam englobados características literárias já antes exploradas, em meados da década de 1920, pela New Yorker, com grandes matérias que misturam a literatura e o jornalismo. Denominado “Jornalismo Literário”, esse estilo foi usado por exemplo, por Truman Capote, em sua obra “A Sangue Frio”. Depois de anos obsoleto, Tom Wolfe recapturou tal modelo. Fernando Moraes (2007) explica que no Brasil, o Jornalismo Literário teve grande destaque também durante a década de 1970, com a circulação da Revista Realidade, publicação que pertencia a Editora Abril, e que publicou um dos textos mais importantes do gênero no país, intitulado “Eu estive na Guerra”, do jornalista José Hamilton Ribeiro. Já em um contexto mais atual, Lima (2010) explica que o Jornalismo Literário ainda permanece importante: Estilo diferenciado de prática da reportagem e do ensaio jornalístico, o jornalismo literário ocupa um lugar especial na cultura contemporânea. Não é a forma de jornalismo mais popular, nem a mais constante. Tampouco é o estilo dominante na imprensa. Como não é o maior, resta-lhe ser diferente. (LIMA, 2010, p.9) No Brasil, esse formato ganhou notoriedade em diversos formatos, como o impresso mais tradicional, e os textos em plataformas digitais, que se mostram acessíveis e cada vez mais conquistam jovens por todo o país. Uma das publicações que mais se destacou por fazer uso do gênero, foi a Revista Piauí, que disponibiliza mensalmente textos mais robustos, tanto no impresso, quanto nos digitais. 1.2.1 Grande reportagem A grande reportagem, de acordo com Edvaldo Pereira Lima (2004) é uma opção importante para quem busca “ampliar os fatos”, e deixar o TCC 2019 | 291
receptor mais próximo dos acontecimentos. Ou seja, uma escolha propícia para o objetivo deste trabalho, que visa conectar o leitor e desenvolver certa empatia entre ele e os personagens citados. Além disso, Cremilda Medina, expoente da pesquisa e concepção desse formato de texto, explica em sua obra “Entrevista: um diálogo possível”, que a grande reportagem é uma ótima opção para o autor que busca fugir da “hard-news”, que tem como principais fatores o “quem, o quê, quando, onde, como e por quê”. Assim, a pesquisadora explica que o autor, dentro da grande reportagem, vai buscar menos a notícia, e mais os fatos e contextos em que ela está inserida. Lima (2004) também explica que tal gênero jornalístico não quer estar associado a estrutura de “pirâmide invertida”, tão recorrente dentro da notícia. Ela encontra espaço no jornalismo literário, porém não é nem de perto o principal fator. [A grande reportagem] é a ampliação do relato simples, raso, para uma dimensão contextual. Em especial, esse patamar de maior amplitude é alcançado quando se pratica a grande-reportagem, aquela que possibilita um mergulho de fôlego nos fatos e em seu contexto, oferecendo, a seu autor ou a seus autores, uma dose ponderável de liberdade para escapar aos grilhões normalmente impostos pela fórmula convencional do tratamento da notícia, com o lead e as pirâmides [...] (LIMA, 2004, p.18).
É essencial ressaltar que a grande reportagem trabalha com base em cinco importantes pilares, que segundo Lima (2006) são: “o contexto, os antecedentes, o suporte especializado, a projeção e o perfil.” Ou seja, todos esses “itens” fazem tal gênero mais dinâmico e conectado ao receptor. 1.4. Reportagem online É possível que o jornalismo online tenha conquistando tantos leitores e expectadores, justamente por uma de suas características mais interessantes. Segundo J. B. Pinho (2003) em sua obra “Jornalismo na Internet”, a reportagem em plataformas digitais se assemelha ao pensamento humano, por não ser linear. Ou seja, seu dinamismo permite que o usuário busque vários dados durante, até mesmo durante a leitura, de forma rápida, saltando entre assuntos e informações, explica Pinho (2003). 292 | TCC 2019
Henry Jenkins (2015) analisa em sua obra “Cultura da convergência”, que o jornalismo mudou com a chegada da internet. Todo o contexto social precisou ser mais dinâmico. Todo o mercado de notícias precisou se adaptar. No entanto, o autor ainda afirma que a qualidade não foi deixada de lado. Os leitores ainda buscam uma informação confiável, apenas o seu modo de transmissão e construção passaram por mudanças estruturais. Uma nova era para o jornalismo. 2. CONCEPÇÃO DA PEÇA A escolha do formato de grande reportagem de web foi feita devido à tendência do formato para a transmissão de diferentes assuntos e à sua capacidade de explorar imagens, figuras, áudios e outras interações mais dinâmicas com o leitor, além do texto, expandindo a compreensão daquilo que convencionou-se chamar história oral, considerando a entrevista além daquilo que é registrado em palavras, como bem observaram Fabíola Holanda e José Carlos Meihy (2007). Além disso, o trabalho faz uso do jornalismo literário, por meio da história oral, como forma de contar relatos de um ex-detento, e de sua família, e por meio de tal recurso, trazer ao leitor reflexões sobre o assunto. A construção da reportagem feita com recursos da história oral mostrou-se essencial, tanto para o site da reportagem “Um cárcere familiar”, quanto para o contexto vivido pelos personagens. Lembrando que a história oral se vale dos aparatos da modernidade para se constituir. Ou seja, um site se mostra como uma ferramenta ideal para conectar o que está sendo contado com o receptor e seus sentimentos, que são reiterados pela multiplicidade de elementos que essa plataforma dispõe. 2.1 Pauta e apuração De acordo com os dados do último levantamento do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen), o Brasil ocupa hoje a terceira colocação mundial em população carcerária, com 726 mil detentos. Destes, cerca de 40% estão presos provisoriamente, num sistema prisional que contava, em 2017, com 368 mil vagas. Está clara a superlotação e fica evidente a cada nova notícia de rebelião ou motim Brasil afora. A realidade dessas pessoas está atrelada não só a uma vida precária, com péssimas condições de sobrevivência que envolvem celas sujas, infectadas e superlotadas – só em São Paulo o déficit é de 85.082 vagas –, TCC 2019 | 293
mas também a uma reformulação da rotina de suas famílias que precisam encontrar horários para visitas, cuidados com a justiça, documentos e etc. Portanto, por uma sensibilização com esse tipo de situação adversa, o tema desenvolvido para o trabalho é "O encarceramento sob um olhar familiar". Essa análise, apresentada a partir de uma reportagem de web, foi feita por meio dos relatos de um ex-presidiário que ficou detido durante 16 anos no regime penitenciário brasileiro, e de sua família, que sofreu grandes mudanças em seu dia a dia durante tal período. No Brasil, o que mais se discute em relação ao sistema penitenciário, é a sua ineficácia em reintegrar um cidadão à sociedade após anos de prisão. As condições existentes dentro de penitenciárias do País geralmente fazem o contrário do que se é esperado: impossibilitam uma vida digna para um cidadão depois do período de cárcere. No livro "A prisão e o sistema penitenciário - uma visão histórica", o autor Pedro Rates Gomes Neto (2000) explica claramente a situação: (...) A prisão não regenera, nem ressocializa, antes perverte, corrompe, destrói, aniquila a saúde, a personalidade, estimula a reincidência e onera sensivelmente o Estado, sendo uma verdadeira escola do crime, paga e manipulada pelos cofres públicos. (NETO, 2000, p.42)
A reportagem de web também buscou apresentar a vida de seu personagem antes da prisão, para exemplificar qual é o histórico anterior ao cárcere comum a muitos presos brasileiros. De acordo com os próprios dados do Conselho Nacional de Justiça, a maioria dos detentos do país são homens, negros e pobres. Grande parte deles possui duas características em comum: pouca escolaridade e encarceramento por crimes de baixa periculosidade. Suas famílias vivem geralmente em áreas pobres de grandes metrópoles e gastam uma parte preciosa de suas rendas com visitas, compras de mantimentos e produtos de higiene e presentes para seus entes presos. Essas características podem ser lidas como reflexos de um país escravocrata que antes de ter uma Constituição elaborou seu código penal, como aponta a educadora Macaé Maria Evaristo dos Santos. 2.2 O Sistema carcerário no Brasil A segurança pública é um dos temas mais polêmicos discutidos por 294 | TCC 2019
políticos brasileiros. De acordo com Alfonso Pastore (1989), nesse cenário, o sistema carcerário, apesar das frequentes novas “aquisições” em seu espaço – de acordo com os dados obtidos pelo Conselho Nacional de Justiça, durante esses quase dois anos de pesquisa, aproximadamente 30 mil novos detentos foram incorporados ao regime fechado –, é perverso e não apresenta ao preso nenhuma condição básica. Segundo Pastore (1989), existe um problema social grave em meio ao sistema de detenção no Brasil. Antes de se tornar detento, o cidadão falhou com a ordem de seu país. No entanto, na maioria dos casos, a sociedade e o governo falharam muitas vezes, antes, durante e depois, da detenção do tal transgressor. As críticas de Pastore (1989) datam de três décadas atrás, mas são pra lá de atuais, basta que sejam analisados os dados sobre a situação atual. Os mesmos números divulgados pelo Infopen, em dezembro de 2017, mostram que 64% da população carcerária brasileira é negra e mais da metade possui entre 18 e 29 anos. Segundo a Associação de Amigos e Familiares de Presos (Amparar), a maior população carcerária se encontra no estado de São Paulo, onde se passa a história abordada neste trabalho. Andrezza Alves Medeiros, em sua pesquisa “Sistema Prisional Brasileiro: crise e implicações na pessoa do condenado”, de 2017, aponta que o descaso com os direitos básicos do detento pelo sistema prisional do Brasil ainda implica questões como locais sem a menor condição de sobrevivência digna: “Os presos, sejam condenados definitivamente ou provisoriamente, amontoam-se nas celas, o que acarreta doenças, brigas, mortes rebeliões, etc.” (MEDEIROS, 2017). Ou seja, é óbvio que Pastore (1989) afirme que todas essas condições, também citadas em sua obra, façam com que o presidiário e sua família sofram tanto física quanto psicologicamente com as questões iníquas que são apresentadas. A segurança pública brasileira apresenta um grande problema social e por anos continua não mostrando soluções possíveis. 2.2.1 A influência do mecanismo carcerário na rotina das famílias Todos os problemas e questões passadas por um detento no Brasil, também acarretam consequências diretas para seus familiares. A Associação de Amigos e Familiares de Presos (Amparar) explica em seu site institucional que as famílias são submetidas a diversos percalços, como humilhação durante as visitas e no cotidiano, além de um eminente preconceito dentro da sociedade. TCC 2019 | 295
“Além de se adaptar à vida sem um de seus membros – o que acarreta privações emocionais, econômicas e sociais –, a família tem que se adaptar às normas e regras da unidade prisional”. (ROMANI, STREY, VERZEA, 2016, p.54). No livro “Gênero, Cultura e Família: perspectivas multidisciplinares”, as autoras Patrícia Romani, Marlene Strey e Fabiana Verzea (2016) explicam muitas das questões passadas pelas famílias de detentos. Entre elas, toda a redefinição da rotina, o que acarreta uma nova, e, invariavelmente, difícil mudança econômica. Romani, Strey e Verzea (2016) também explicam que mesmo passando por diversos constrangimentos dentro de penitenciárias, o governo brasileiro entende que é a família o grande agente responsável pela ressocialização dos detentos. Principalmente, por meio de figuras femininas, como mães, parceiras, filhas e madrinhas. No entanto, as autoras explicam que todo esse processo de ajuda ao detento não é simples, e a família enfrenta diversas questões sociais e psicológicas, durante a detenção de um ente querido: (...) a dificuldade de as famílias manterem os vínculos com o parente preso, especialmente por terem que defender e proteger alguém que reconhecidamente transgrediu a lei, acarretou sofrimento a outros e, em última instância, se colocou à margem da sociedade normal. (ROMANI, STREY e VERZEA; 2016; p.55).
Assim, tanto Romani, Strey e Verzea (2016), quanto o próprio institucional do Amparar, concordam e citam a importância de o governo voltar sua atenção à condição do preso e também de sua família. Cidadãos com direitos garantidos pela Constituição Federal e que necessitam se manter bem estabelecidos na sociedade. 2.2.2 A vida de um ex-detento no Brasil Devido a todas as questões passadas e sofridas antes e durante sua detenção, é de se esperar que um ex-preso encontre uma dificuldade tremenda, ainda que passe pouco tempo fora da cadeia, para se reintegrar à sociedade – se é que podemos nos valer desta palavra. Isso que afirma o repórter Marcos Britto, na grande reportagem “Vida de Ex-Detento”, feita pelo jornalista para o portal UOL TAB.
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O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), publicou um relatório em 2017, explicando que o nível de reincidência criminal brasileira é de 70%. Ou seja, o Brasil – que é quarto maior país que encarcera no mundo, segundo o International Centre for Prison Studies (ICPS) – não consegue integrar nem metade dessa população à legalidade na sociedade. A reportagem do UOL também explicou que existem marcas que dificilmente serão desvinculadas do ex-detento, sendo sempre lembradas pela sociedade. Assim, sua volta ao mercado de trabalho se torna um desafio grande, não sendo apenas uma questão de “força de vontade”. No livro “Prisões e punição no Brasil contemporâneo”, escrito por Luiz Lourenço e Gerder Rocha (2013), o sistema carcerário brasileiro apresenta grande contradição e evidencia sua lógica quando “além de punir o sujeito pelo delito cometido durante a prisão, continua a puni-lo com o desamparo após o cárcere”. (LOURENÇO e ROCHA; 2013; p.386). Sendo assim, Lourenço e Rocha (2013) explicam que a falta de oportunidade e o preconceito explícito da sociedade deixam muitos ex-detentos desmotivados e com a tentação constante, que as vezes se concretiza, de volta ao crime. Um ciclo vicioso, que deixa toda a situação de segurança pública e direitos sociais com problemas graves. Romani, Strey e Verzea (2016) também evidenciam que tal situação é muito problemática para famílias. Algumas acabam incentivando a volta ao crime, devido aos problemas financeiros, e à necessidade de sustentar mais uma pessoa em casa. No entanto, segundo as autoras, a maioria dos parentes sofre com a possibilidade de regressão do familiar ao mundo do crime. Para a grande parte dos pais, parceiros e filhos, o risco de vida na criminalidade apresenta uma apreensão desagradável e terrível. 2.3. Redação e edição Todos os aspectos da reportagem “Um cárcere familiar” foram pensados para conseguir transpassar da forma mais fiel a realidade dos personagens da história. Tudo isso também, pelas motivações pessoais do autor, que viveu em meio as histórias e realidades semelhantes. Para que todos os receptores entendam, além da história, o contexto social, durante os relatos, alguns dados foram colocados na matéria. Foi fundamental mostrar todos os momentos mais importantes da vida do personagem principal. Por isso, existe uma certa divisão, não necessariamente organizada de forma linear, mas que relatam a vida dele antes da cadeia, sua prisão, contexto familiar, e dificuldades na reintegração com TCC 2019 | 297
a sociedade. É essencial reforçar que em nenhum momento nomes verdadeiros foram revelados, para que a segurança de todos seja uma garantida, inclusive do próprio autor. Uma reportagem feita para descrever uma vida marcada por transgressões a lei deve sempre se preocupar com a proteção das fontes. Foi de extrema importância para o autor também manter uma distância saudável em sua relação com todos, para que o contexto não convertesse o texto em um “romance” acometido de muitos sentimentos particulares. 2.3.1 O site Hospedado na plataforma “Wix”, o site “Um cárcere familiar” apresenta todo um design que tem como objetivo imergir ainda mais o leitor da reportagem para dentro da história contatada. O site está dividido em sete seções – capa, capítulos um ao cinco e glossário. A divisão dos capítulos não é linear, mas apresenta momentos diferentes da vida do personagem e sua família. Assim, o receptor consegue entender, sem maiores dificuldades, todas as situações passadas. A opção pelo glossário de personagens foi feita devido a quantidade de personalidades presentes em toda a reportagem. Não seria incomum que o leitor se perdesse em meio a tantos nomes. Sendo assim, para maior facilidade no entendimento, um quadro com o nome de cada pessoa, e sua “função” na história foram descritas. As cores bases escolhidas foram o vermelho, preto e branco, que também são as tonalidades principais da capa de um dos mais importantes álbuns do grupo de rap nacional Racionais MC’s, “Sobrevivendo ao Inferno”. Essa referência foi uma opção pelo grupo ser o preferido do personagem principal da história. Além disso, trechos de músicas dos Racionais são frequentemente citadas na história. Outra questão de aparência foi o blackground de cada página. Na capa e glossário foi colocada como plano de fundo, uma foto panorâmica de uma das vistas do Jardim Peri, bairro onde quase toda a história se passa. Já no capítulo três, que relata a trajetória do personagem pela cadeia, foi escolhido um fundo de grades, para dar mais alusão ao contexto. Nos capítulos restantes, a opção pelo branco foi de acordo com as cores bases escolhidas, e também para uma leitura mais fácil e menos cansativa. 2.3.2 Entrevistas 298 | TCC 2019
Para a construção de um perfil, talvez a etapa mais importante para a realização do texto são as entrevistas. No contexto da história de “Um Cárcere Familiar”, todos os encontros e relatos foram sendo construídos com uma dificuldade peculiar. Todos os entrevistados ficavam ressabiados com a possibilidade de divulgação de nomes, ou fotos. É claro que já conhecer o autor foi um dos motivos principais para a confiança de todos, mas a clareza do entendimento do contexto social dos entrevistados, assim como o comprometimento com um relato verdadeiro e que levava a opinião dos personagens foi um pedido frequente de cada fonte. Sendo assim, é correto afirmar que a vida do autor ter sido praticamente toda em meio ao bairro Jardim Peri, foi essencial para a construção do texto. Possivelmente, um jornalista de fora, ou que não entende os aspectos de ambientes de periferia não teriam a mesma abertura. Assim, os encontros com o personagem principal foram todos amigáveis e descontraídos. A ideia de uma entrevista precisou ser trocada pelo da conversa informal. O modelo das entrevistas com a família também foi em espaços informais e mais íntimos. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Há pelo menos cinco anos penso em meu projeto de conclusão de curso. Nunca titubeei em algumas coisas, como a escolha do orientador, mas meu passo pouco assertivo me fez ir e voltar em algumas boas ideias que tive pelo caminho, sempre com a certeza de produzir algo bem narrativo, dando mais voz às pessoas e cumprindo meu papel enquanto jornalista, de mediador. Alguns desses projetos ficaram para trás e são objeto de desejo para a vida, mas chegamos no primeiro semestre de 2018 e precisava de uma decisão. Sempre quis fugir de falar da pobreza, de setores vulneráveis da nossa sociedade, por entender que muito tem sido feito sobre esses temas – na maioria das vezes com aquela velha estética da pobreza, é verdade. Hoje, tenho a impressão de que estava fadado a tratar do tema que tratei neste trabalho e na peça. A oralidade sempre foi algo que me despertou grandes coisas: esse desejo de ouvir um bom cantador, o prazer em ouvir músicas mais faladas e a paixão, inclusive, mais pelas letras que pelas canções. Cheguei à história de Nego Jô e sua família, que me são próximos e até temos algumas peculiaridades familiares em comum. Decidido. TCC 2019 | 299
De antemão, dois desafios: delinear o escopo da pesquisa e, depois, encarar temas que me são tão familiares. O primeiro muito bem e brevemente resolvido com auxílio de meu orientador. A partir dali se colocava o segundo. Foi então que comecei a entrar na história. Sempre com o receio de me envolver demais e perder a famigerada objetividade jornalística. Não foi sem muito batalhar e muito sofrer com todas as histórias e seus impactos para a família, comunidade e para mim, que cheguei ao resultado que ora considero satisfatório. Foram dias em que não queria olhar para a pesquisa ou para a peça. Áudios duríssimos de escutar e editar que sequer foram tornados públicos. Aquela vontade de abraçar o entrevistado ou mesmo uma indagação indignada do porquê fazer daquela forma. Hoje creio que consegui distanciamento necessário sem perder a ternura ou a conexão emocional que pedia a história. Estou verdadeiramente satisfeito com o resultado alcançado na reportagem. Sobre a pesquisa, creio que talvez pudesse tê-la dado acabamento melhor. Gostaria de ter discutido questões como racismo e o passado escravocrata de nossas leis mais a fundo. O tempo, o trabalho e o ânimo não me deixaram. Àquilo que me propus creio ter dado uma resposta satisfatória. Concluindo mais um trabalho que relaciona o jornalismo a um campo tão necessário nestes tempos de esquecimento, que é a história oral. É preciso relacionar ainda mais estes campos. É preciso não esquecermos que o objeto de nosso trabalho é a palavra, o diálogo. Outras coisas, em sua maioria, são meio – não esqueçamos. Quiçá alguém o leia e se inspire a fazer mais e melhor, afinal se tem uma área do jornalismo, ou um campo circunscrito que precisa de fomento e de muito mais gente fazendo é a reportagem, ou a grande reportagem, que é onde há espaço para que a dor da gente saia no jornal, contradizendo nosso não mais aspirante a Camões, Chico Buarque. Outra contribuição que espero ter dado é uma mínima abertura dos olhos, um paninho para desembaçar muitas córneas por aí, não só para o sistema carcerário – que por si só não existiria sem os leiteiros de Drummond –, mas para esses delinquentes e não só eles, mas principalmente essas famílias que viram fábricas de sujeitos desajustados sem os seus arrimos. Que não olhemos com o olhar mesquinho de alta classe burguesa e bem destacada socialmente. 300 | TCC 2019
Que saiamos do cárcere muito familiar a que estamos submetidos. O Brazil não merece e não conhece o Brasil. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _____Associação de Amigos e Familiares de Presos – Amparar: Projeto Amparando. 2019. Disponível em: <https://fundodireitoshumanos.org.br/projeto/associacao-de-amigos-e-familiares-de-presos-amparar-sao-paulo/>. Acesso em: 7 mar. 2019. BRASIL. Relatório Mensal do Cadastro Nacional de Inspeções nos Estabelecimentos Penais (cniep). Conselho Nacional de Justiça. Dados e Inspeções nos Estabelecimentos Penais. 2019. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/inspecao_penal/mapa.php>. Acesso em: 5 abr. 2019. CRIADO, Alex. Falares: A oralidade como elemento construtor da grande reportagem. 2006. 145 f. Tese (Doutorado) - Curso de Morais, João Paulo. Com Estado Falido, As Famílias dos Detentos Pagam, Literalmente, A Pena. 2015. Disponível Em: . Acesso Em: 19 Abr. 2019., Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. Disponível em: <file:///C:/ Users/juliana.santana/Downloads/A%20oralidade%20na%20constru%C3%A7%C3%A3o%20da%20grande%20reportagem.pdf>. Acesso em: 28 jan. 2019. Departamento Penitenciário Nacional. Infopen - Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias. Brasília: Ministério da Justiça, 2017. Disponível em: <http://dados.mj.gov.br/dataset/infopen-levantamento-nacional-de-informacoes-penitenciarias>. Acesso em: 28 jan. 2019. GOMES NETO, Pedro Rates. Prisão e o Sistema penitenciário: Uma visão histórica. Porto Alegre: Editora da Ulbra, 2000. LIMA, Edvaldo Pereira. Jornalismo Literário Para Iniciantes. _: Clube de Autores, 2010. LUBIANA, Dalila. Liberdade atrás das grades: Pedagogia Social, Política Pública e Cultura de Paz. Curitiba: Appris, 2016. MEDEIROS, Andreza Alves. Sistema Prisional Brasileiro. São Paulo: Letras Jurídicas, 2017. Disponível em: <https://books.google.com. br/books?id=KGVaDwAAQBAJ&printsec=frontcover&dq=sistema+carcer%C3%A1rio&hl=ptBR&sa=X&ved=0ahUKEwjCntOi5YLiAhWvEbkGHaYVCvoQ6AEIMzAC#v=onepage&q=sistema%20carc&f=false>. Acesso em: 12 fev. 2019. TCC 2019 | 301
MEDINA, Cremilda de Araújo. Entrevista: O diálogo possível. São Paulo: Editora Ática, 1986. MORAIS, João Paulo. Com Estado falido, as famílias dos detentos pagam, literalmente, a pena. 2015. Disponível em: <https:// jpmoraisadv.jusbrasil.com.br/noticias/156983496/com-estado-falido-as-familias-dos-detentos-pagam-literalmente-a-pena>. Acesso em: 19 abr. 2019. MORAIS, João Paulo. Com Estado falido, as famílias dos detentos pagam, literalmente, a pena. 2015. Disponível em: <https://jpmoraisadv.jusbrasil.com.br/noticias/156983496/com-estado-falido-as-familias-dos-detentos-pagam-literalmente-a-pena>. Acesso em: 19 abr. 2019. PASTORE, Afonso. O iníquo sistema carcerário: sociedade brasileira x preso. São Paulo: Edições Loyola, 1991. RIBEIRO, Ana Paula Goulart. A história oral nos estudos de jornalismo: algumas considerações teórico-metodológicas. Contracampo, Rio de Janeiro, p.80-84, abr. 2015. Disponível em: <https://drive. google.com/file/d/1RXmLLMozVx-fvzK487wwB13v6C0Wliq4/view?ts=5aea09a1>. Acesso em: 02 set. 2018. STREY, Marlene Neves; VERZA, Fabiana; ROMANI, Patrícia Fasolo. Gênero, Cultura e Família: Perspectivas multidisciplinares. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2015. Disponível em: <https://books.google.com.br/books?id=MODIDAAAQBAJ&pg=PT184&dq=familia+de+detentos&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwiD7LGP-ILiAhUOJLkGHVPBCKAQ6AEIKTAA#v=onepage&q&f=false>. Acesso em: 12 fev. 2019. VALÉRIA BRETAS (São Paulo). Portal Exame. Entenda a diferença entre os regimes fechado, semiaberto e aberto: A Justiça autorizou que Anna Carolina Jatobá, condenada pelo assassinato da enteada Isabella Nardoni, passe a cumprir sua pena em regime semiaberto. 2019. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/brasil/ entenda-a-diferenca-entre-os-regimes-fechado-semiaberto-e-aberto/>. Acesso em: 05 abr. 2019. VERDÉLIO, Andreia. Com 726 mil presos, Brasil tem terceira maior população carcerária do mundo: Brasil é o terceiro país com maior número de pessoas presas, atrás dos Estados Unidos e China. 2017. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/ noticia/2017-12/populacao-carceraria-do-brasil-sobe-de-622202-para-726712-pessoas>. Acesso em: 17 fev. 2019. 302 | TCC 2019
TÊNIS NO BRASIL: PROBLEMAS E PERSPECTIVAS NICHOLAS MONTINI PEREIRA Orientadora: Profª. Ms. Lenize Villaça
RESUMO: O tênis brasileiro vive uma das piores fases de toda a sua história. Um esporte que já teve Gustavo Kuerten e Maria Esther Bueno, dois grandes ídolos da história esportiva do Brasil, hoje, não atrai da mesma maneira a atenção da população. Esse é o tema deste Trabalho de Conclusão de Curso que, além da pesquisa teórica, produziu um programa de rádio, no formato de mesa-redonda, com a opinião de especialistas, atletas e ex-jogadores, inclusive do próprio Guga e Fernando Meligeni, entre outros. O objetivo maior foi mostrar os problemas que a modalidade esportiva vem enfrentando e pontuar novas possibilidades, para que o público possa tirar suas conclusões e, quem sabe, se interessar mais pelo tênis brasileiro. Palavras-chave: Tênis. Rádio. Jornalismo.
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ABSTRACT: Brazilian tennis lives one of the worst phases of its history. A sport that has already had Gustavo Kuerten and Maria Ester Bueno, two great idols in the sporting history of Brazil, today, does not attract the same attention the population. This is the theme of this Course Completion Work that, in addition to the theoretical research, produced a radio program in the format of a round table with the opinion of experts, athletes and former players, including Guga and Fernando Meligeni, among others. The main goal was to show the problems that the sport is facing and to point out new possibilities, so that the public can draw their conclusions and, perhaps, become more interested in Brazilian tennis. Key words: Tennis. Radio. Journalism.
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Soundcloud Data de upload: 13/05/2019
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INTRODUÇÃO O tênis foi criado na França, entre o final do século XII e início do século XIII. A partir disso o jogo foi evoluindo, desde os jogadores que usavam a própria mão para bater na bolinha, até a criação das primeiras raquetes, na Itália, no século XIV. Com isso, o uso desse equipamento se tornou obrigatório para a prática do esporte e com o avanço da tecnologia, raquetes modernas começaram a ser usadas pelos jogadores. (COB, 2018, online) O torneio mais antigo e que continua sendo disputado até hoje é o de Wimbledon (Inglaterra), que teve sua primeira edição realizada em 1877. Este é um dos campeonatos mais importantes do mundo, juntamente com o Australian Open (Austrália), Roland Garros (França) e US Open (Estados Unidos), conhecidos como Grand Slams. Os jogos, normalmente, são realizados em quadras descobertas, e podem ser usadas três tipos de superfícies: cimento, relva (tipo de grama rasteira) e o saibro (mistura de areia com variados tipos de pedra), conhecido também como terra batida. Em pesquisa realizada em 2017 pelo COB, existem mais de dois milhões de praticantes de tênis no Brasil e pelo menos 33.675 jogadores registrados no site da Confederação Brasileira de Tênis, a CBT. Um dado que comprova o crescimento de esporte no Brasil foi divulgado pelo IBOPE Repucom em 2017, nele o número de fãs que acompanham tênis, na internet, mais que dobrou entre outubro de 2014 e fevereiro de 2017. (IBOPE, 2017, online). Dos 79,4 milhões de internautas brasileiros entrevistados nessa pesquisa, pelo menos 21,4 milhões disseram que se interessam bastante pelo esporte. (COB, 2018, online). A maior jogadora da história da modalidade no Brasil foi Maria Esther Bueno. Ela conquistou sete títulos de simples em Grand Slams e chegou em outras cinco finais. Já nas duplas, Maria Esther conquistou 11 títulos nos torneios mais importantes do mundo e foi vice-campeã em outras cinco oportunidades. Todos os títulos foram conquistados entre os anos de 1959 e 1967, a ex-jogadora foi número um do mundo nos anos de 1959, 1960, 1964 e 1966 e nomeada ao Hall da Fama do tênis em 1978. Marie Esther acabou falecendo em junho de 2018, aos 78 anos. Outro jogador brasileiro que foi número um do mundo no tênis é mais conhecido pelos brasileiros, isso porque seu tempo áureo aconteceu quando os meios de comunicação já eram mais desenvolvidos. O atleta em questão é Gustavo Kuerten, o Guga, que ficou por 43 semanas no topo do ranking mundial de simples do esporte. Guga se tornou profissional em 1996 e no ano seguinte já conquistou seu primeiro título em Roland Gar306 | TCC 2019
ros. Mas seu melhor momento na carreira aconteceu nos anos de 2000 e 2001, quando alcançou o ranking de número um da Associação de Tenistas Profissionais (ATP) e conquistou o tricampeonato do Grand Slam francês. Com problemas físicos, principalmente na região do quadril, Guga decidiu se aposentar em 2008, em Roland Garros. Se na modalidade individual nos últimos anos os tenistas brasileiros Thomaz Bellucci, Thiago Monteiro e Beatriz Haddad Maia não conseguiram conquistar grandes resultados, nas duplas, os mineiros Bruno Soares e Marcelo Melo se destacaram bastante. A dupla de jogadores é uma das mais respeitadas no meio do tênis e os atletas estão consolidados como um dos melhores duplistas há algum tempo. Este Trabalho de Conclusão de Curso produziu um programa especial de rádio, no formato de mesa-redonda, no qual foi debatido pela ex-jogadora e agora comentarista de tênis Andréa Vieira e o jornalista Marcelo Bechara o momento do tênis brasileiro e teve como principal objetivo responder a seguinte questão: Como um debate em um programa de rádio pode trazer à tona a atual situação do tênis no Brasil? O público em potencial são todas aquelas pessoas que se interessam por tênis e/ou rádio, independentemente de sexo e idade, e que queiram ouvir diferentes opiniões, histórias e conhecimentos sobre o esporte. A justificativa pela escolha do tema e da peça jornalística se dá pela experiência pessoal que tive com o tênis, já que fui jogador juvenil até os 18 anos e o fascínio por esse esporte continua. Participei de torneios da Federação Paulista de Tênis (FPT) durante oito anos e todas as experiências que vivi nesse período ajudaram a formar a pessoa que sou hoje. Em relação à escolha de um programa de rádio para a realização desse projeto, isso vem de uma paixão que começou em 2015, quando fui apresentado ao rádio na disciplina de Audiojornalismo e desde então não consegui me afastar. Inclusive integrei um programa de rádio esportivo organizado por alunos da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o Arquibancada Mackenzie, durante seis meses, em 2017. Além disso, sou comentarista de um dos programas de rádio mais conhecidos no meio esportivo, o Jovem Pan no Mundo da Bola, comandado pelo jornalista Flávio Prado, transmitido aos sábados pela Rádio Jovem Pan AM 620, a partir das 16h05 até às 17h25. Quanto à bibliografia, foram usados como fontes de pesquisa livros como o “A bola no ar”, da autora Edileuza Soares, 1994, “Radiojornalismo” de Paul Chantler e Sim Harris, 1992, e dos autores Miguel Ángel Ortiz e Jesús Marchamalo, a obra “Técnicas de comunicação pelo rádio”, 2005, entre TCC 2019 | 307
outros. 1 REFERENCIAL TEÓRICO 1.1 TÊNIS NO BRASIL Apesar do tênis não ser um dos esportes mais praticados e assistidos no Brasil, o número de fãs brasileiros cresceu nos últimos anos. Em uma pesquisa realizada pelo IBOPE Repucom em 2017, dos 79,4 milhões de internautas brasileiros entrevistados, pelo menos 21,4 milhões disseram que tem grande interesse pelo esporte. Atualmente, o Brasil conta com dois dos melhores jogadores de tênis em duplas no mundo, Bruno Soares e Marcelo Melo. Esses jogadores já atuaram juntos no circuito mundial, mas hoje em dia seguem caminhos diferentes. Marcelo foi o primeiro brasileiro a atingir o número de um do mundo no ranking da ATP (Associação de Tenistas Profissionais) de duplas (dois de novembro de 2015), e atua ao lado do polonês Lukasz Kubot. Melo já conquistou nove títulos em sua parceria com Kubot, sendo um deles em janeiro de 2018, o Torneio de Sydney, na Austrália. Os principais títulos da carreira do mineiro de Belo Horizonte são dois Grand Slams (Roland Garros em 2015 e Wimbledon em 2017). Além desses dois troféus, Marcelo já levantou outros 26 canecos desde 1998, quando se tornou profissional. Já Bruno atingiu o número dois do ranking das duplas em 17 de outubro de 2016 e foi sua melhor colocação na carreira, que teve início em 2001. Curiosamente, Bruno também é de Belo Horizonte, e vem se mantendo entre os melhores duplistas do mundo há algum tempo. Seu parceiro é o britânico Jamie Murray e juntos já conquistaram sete títulos, um dos mais recentes em março de 2018, o Torneio de Acapulco, no México. Seus principais títulos na carreira foram conquistados em 2016 e ambos são Grand Slams, o Australian Open e o US Open. Mas essa boa fase nas duplas não reflete nas simples, onde o Brasil não tem um grande jogador que almeje títulos de torneios importantes há algum tempo. O último que apresentou uma qualidade apurada foi o paulista Thomaz Bellucci, mas o atleta de 31 anos está atravessando uma das piores fases de sua carreira. Divulgado em abril de 2018 em seu blog no site da ESPN, o ex-jogador e ex-comentarista de tênis dos canais ESPN, Fernando Meligeni, o Fininho, disse que o tênis brasileiro não está em um nível aceitável: “Na boa. Não estamos bem. Não podemos dizer que o tênis brasileiro melhorou. 308 | TCC 2019
Doa a quem doer. Nosso esporte sangra. E se não se encontrar a cura. Ele morre”. (MELIGENI, 2018, online). 1.1.1 TRANSMISSÕES DE TÊNIS NO BRASIL Apesar do Brasil não ter um (a) representante de peso na categoria individual de tênis nos últimos anos, as transmissões dos principais torneios ainda são muito disputadas pelos canais esportivos da televisão brasileira. Além dos quatro Grand Slams, campeonatos de níveis inferiores como os Masters 1000, ATP 500, ATP 250, ATP Finals, Copa Davis (masculinos), e a Federation Cup (feminino), também são transmitidos para os simpatizantes do esporte. As transmissões desses torneios foram disputadas por quatro canais ‘fechados’ para a temporada 2018. ESPN, BandSports, Sportv e Sony são os responsáveis para trazer ao público brasileiro todas as emoções de um torneio de tênis. Os principais jornalistas que fazem essas transmissões são: Eusébio Rezende (Sportv), Narck Rodrigues (Sportv), Fernando Nardini (ESPN), Oliveira Andrade (BandSports), Andréa Vieira (BandSports), Chiquinho Leite Moreira (BandSports), Flávio Saretta (BandSports) e Jaime Oncins (Sony). Os quatro torneios Grand Slams, por exemplo, são os mais importantes do circuito e são transmitidos por três canais. O Aberto da Austrália, que é disputado entre os dias 15 de janeiro e 28 de janeiro, é televisionado exclusivamente pelos canais ESPN. Já Roland Garros, disputado em Paris entre os meses de maio e junho, é transmitido apenas no BandSports. Wimbledon, o torneio mais charmoso do mundo (como é conhecido pelos fãs de tênis), que é disputado em Londres no mês de julho, tem os seus direitos ligados ao Sportv. E por fim, o Aberto dos Estados Unidos é o único torneio desse porte que é televisionado por dois canais ao mesmo tempo. ESPN e SporTV são os responsáveis pela cobertura do último Grand Slam da temporada, que acontece todo ano entre agosto e setembro (ESPORTEL NDIA, 2019). 1.2 RÁDIO NO BRASIL O rádio chegou ao Brasil em 1922 e o principal responsável pela sua expansão foi o antropólogo Edgard Roquette Pinto, um dos fundadores da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, que começou a operar no ano seguinte. Em 1931, no mandato de presidência da República de Getúlio Vargas, ocorreram os primeiros apoios para que programas radiofônicos fossem comerTCC 2019 | 309
cializados. Com isso, centenas de emissoras foram inauguradas e começou uma grande propagação de rádios pelo Brasil. Desde então, o rádio foi inovando e se tornando algo imprescindível no dia a dia dos brasileiros. Em uma pesquisa divulgada em 2017 pelo Ibope Media, por exemplo, 53 milhões de brasileiros que residem em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Salvador, Fortaleza, Florianópolis Goiânia, Campinas e Vitória escutam rádio. Segundo o estudo, a maior faixa etária que realmente escuta programas radiofônicos é a de 30 – 39 anos, que ocupa 28% do total de ouvintes. (IBOPE, 2017, online) O rádio e o jornalismo estão entrelaçados desde o início da radiodifusão no Brasil. Entre as décadas de 1920 e 1930 várias emissoras surgiram com o intuito de cobrir algum acontecimento ou simplesmente para divulgar aos ouvintes que uma nova estação tinha sido aberta. O radiojornalismo ainda é muito importante para a sociedade brasileira, mesmo com novas plataformas, até mais rápidas e simples que o rádio (como os podcasts). O rádio esportivo vem se remodelando com o passar dos anos e um exemplo disso é como a cobertura de jogos de futebol na rádio Jovem Pan está sendo realizada. A emissora vem transmitindo ao vivo a narração, os comentários, as emoções e reações dos narradores e comentaristas nos perfis da rádio em algumas redes sociais. Esse novo modelo de transmissão vem atraindo espectadores e parece que está dando certo, até por isso alguns programas de debate esportivo na emissora também estão sendo transmitidos em tempo real. O radiojornalismo assume então um papel primordial na programação das emissoras. Representa a imagem que ela tem diante do público. A necessidade de aliar competência e honestidade tornam a profissão de rádio jornalista uma das mais exigentes e competitivas. Imparcialidade e precisão fazem do radiojornalismo um exercício diário da cidadania, representando um desafio para jornalistas de todos os níveis (CHANTLER; HARRIS, 1992, p.202).
Com meios de comunicação cada vez mais rápidos e atrativos, o rádio tem sofrido com tal concorrência. Mas quem acha que os ouvintes radiofônicos diminuíram bruscamente ou que esse meio de comunicação pode estar próximo do fim está totalmente enganado. Segundo pesquisa
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realizada em 2017 pelo Kantar IBOPE Media, 52 milhões de pessoas ainda escutam rádio, diariamente, em diferentes regiões metropolitanas do país. Segundo o mesmo estudo, o rádio é visto como uma fonte ágil e confiável de informação. 35% dos ouvintes declararam consumir o meio quando precisam de uma atualização veloz das notícias. Além disso, 32% das pessoas disseram estar atentas a tudo ou a quase tudo que é veiculado no rádio – de janeiro a julho deste ano, foram ao ar mais de três milhões de inserções publicitárias no meio. É um meio cego, razão pelo qual a necessidade de comunicar mensagens que só podem ser percebidas pela via auditiva se converte na principal referência que se deve ter em conta para entender as peculiaridades da linguagem e da comunicação radiofônica. (MARCHAMELO; ORTIZ, 2005, p.20).
Umas das principais características do radiojornalismo são as técnicas usadas para que a informação seja levada aos ouvintes de maneira mais clara possível. E apesar dessas novas transmissões, onde é possível assistir o que os jornalistas de rádio estão falando, até então, a única maneira de se “fazer rádio” era com um único canal de comunicação, o som. Claro que isso pode mudar e já está mudando, mas o radiojornalismo sempre teve como sua principal característica informar através e exclusivamente por sons. 1.2.1 RADIOJORNALISMO ESPORTIVO Em relação ao radiojornalismo esportivo, a escritora Edileuza Soares descreve em seu livro “A bola no ar” (1994) que esse gênero do rádio foi um dos primeiros a conquistar o gosto do público e se manter firmemente na programação. A maneira pelo qual as transmissões radiofônicas no rádio se deram chamou e vem chamando cada vez mais a atenção do público, muito pelo estilo divertido e descontraído que os profissionais da área são instruídos a trabalhar. Ao longo dos anos, o rádio esportivo tornou-se um fenômeno de comunicação de massa. Com linguagem diferenciada, os locutores, na tentativa de despertar o imaginário do receptor, transformam a narração em grandes espetáculos, que chegam a superar a realidade. (SOARES, 1994, p.13). TCC 2019 | 311
A briga pela audiência na cidade de São Paulo, por exemplo, é enorme. São muitas emissoras tentando sempre ser melhor que a outra, seja na cobertura de um evento, a discussão sobre algum jogo, a narração, ou qualquer ou aspecto que pode levar o ouvinte a optar pela sua preferida. As rádios esportivas que vem dominando a audiência nos últimos tempos são 105 FM, Transamérica FM e Globo AM. A rádio 105 FM, que é a primeira colocada no ranking apurado pelo portal Comunique-se, consegue ter em momentos da sua programação até 105 mil ouvintes por minuto. No Brasil, podemos encontrar diversos tipos de jornalismo esportivo no rádio, desde os programas mais pragmáticos que apenas fornecem as informações aos ouvintes até aqueles que usam o humor para a realização de programas. E esse humor, nos últimos tempos, vem sendo muito usado e colhendo bons resultados. Um exemplo de programa de rádio esportivo muito conhecido pelos ouvintes por adotar uma linha mais engraçada é O Bicho Vai Pegar’, da Rádio Mix FM 106.3. Esse programa, que é apresentado nas noites de segunda a sexta-feira, das 20h às 21h, por Roman Laurito, Guilherme Pallesi e Renato Tortorelli, tem como foco trazer ao ouvinte a famosa ‘’resenha’’. Ou seja, é um programa radiofônico de futebol, mas com um viés humorístico. 2. DESENVOLVIMENTO DA PEÇA Assim como já foi citado na introdução desse relatório, esse de TCC foi composto por um programa de rádio formato mesa-redonda, com duração de 20 minutos, que abordou o atual momento do tênis brasileiro, explicitando o porquê do rendimento abaixo do esperado de alguns dos nossos tenistas e o que esperar do futuro. A produção de um roteiro foi extremamente importante para servir como um guia durante a gravação, com perguntas para os convidados, chamadas, etc. O programa contou com um apresentador e dois especialistas. Os métodos que foram usados para a realização do projeto foram a inclusão de um tema de abertura, intervalo e encerramento. Mensagens de voz de personalidades do tênis brasileiro foram utilizadas durante o debate para serem comentadas pelos convidados. Os convidados foram a ex-jogadora e atual comentarista de tênis Andréa Vieira (BandSports) e o jornalista Marcelo Bechara. Já as mensagens de voz utilizadas foram enviadas previamente para a equipe de produção (Nicholas Montini) pela jogadora Beatriz Haddad Maia, e pelos ex-jogado312 | TCC 2019
ras Fernando Meligeni e Gustavo Kuerten. Pedi ainda para o meu colega de curso no Mackenzie, Alan Pavani Mendes, para que gravasse uma pequena chamada para ser utilizada na abertura, no intervalo e no encerramento do programa. No primeiro bloco, os convidados Andréa Vieira e Marcelo Bechara foram apresentados e logo depois dei início ao debate. De maneira clara e agradável, para que os ouvintes não achassem o conteúdo desinteressante ou maçante, ambos responderam às perguntas realizadas. Andréa e Marcelo concordaram com o fato que o tênis brasileiro nos últimos anos, na modalidade de simples, deixou a desejar e que esperam uma evolução para o futuro. Já na modalidade de duplas, foi unânime que os duplistas Bruno Soares e Marcelo Melo são grandes destaques do circuito mundial e são ótimos representantes brasileiros no mundo do tênis. Antes do intervalo, ouvimos a opinião da melhor jogadora de tênis no Brasil atualmente, Beatriz Haddad Maia, sobre o momento do tênis brasileiro feminino. Após o intervalo, a opinião da Beatriz foi debatida e concordamos que o nível do tênis dela está muito acima de outras jogadoras brasileiras, como Luísa Stefani e Thaisa Pedretti, mas que as mesmas podem conquistar bons resultados no futuro. Encerrando o assunto tênis feminino no programa, perguntei aos convidados sobre o legado deixado pela maior jogadora brasileira da história, Maria Esther Bueno, que faleceu em 2018. Com isso, questionei os recentes resultados de um dos principais jogadores brasileiros dos últimos anos, Thomaz Bellucci. Andréa e Marcelo concordaram que Bellucci caiu de produção, mas o seu nível de tênis é inquestionável, sendo muito benéfico para o Brasil se o nosso país tivesse mais atletas como ele. Ouvimos depois a opinião do ex-jogador Fernando Meligeni, que comentou sobre o tênis brasileiro em geral e se o tênis ainda é um esporte praticado, no Brasil, apenas por pessoas que possuem uma condição financeira privilegiada, ou seja, a tal “elite” da sociedade. Nossos convidados enfatizaram a importância de Meligeni no desenvolvimento do tênis brasileiro e que são realizados diversos projetos sociais no Brasil, tentando afastar essa imagem de “elite” que o esporte carrega. De olho no futuro, não pude deixar de perguntar para a Andréa e para o Marcelo sobre o que eles acham de um dos melhores jogadores juvenis brasileiros dos últimos tempos, Thiago Wild. Os convidados acreditam que o jovem atleta tem um longo caminho para percorrer, que precisa TCC 2019 | 313
manter os pés no chão, mas sua qualidade dentro de quadra é indiscutível. Para encerrar o programa com chave de ouro, o maior jogador brasileiro da história, Gustavo Kuerten, comentou sobre o principal problema para o tênis evoluir no Brasil, que é o seu processo de formação. Andréa Vieira concordou com Guga, mas afirmou que ainda é necessária uma ajuda maior de federações e da Confederação Brasileira de Tênis para que o esporte no Brasil possa prosperar cada vez mais. Após a gravação, realizada no dia 12/03/2019, o programa tinha o tempo total de 40 minutos, o dobro do que é permitido pelas normas da Universidade Presbiteriana Mackenzie para os Trabalhos de Conclusão de Curso de Jornalismo na modalidade programa de rádio. Com isso, o programa foi editado nos dias 25/03/2019, 01/03/2019, 08/03/2019, 22/04/2019 e 06/05/2019 por mim e pelo sonoplasta do Mackenzie, Lucas Abrunhosa, que me auxiliava e apontava onde era possível realizar cortes no programa. No dia 13/05/2019, o programa Tênis em Debate, com o tempo total de 19 minutos e 31 segundos, foi publicado na plataforma SoundCloud, considerado um dos principais sites e aplicativos para escutar programas de rádio, músicas, podcasts, etc. Escolhi postar o projeto nesta plataforma pela sua boa avaliação de usuários, por estar disponível para smartphones que possuem o sistema IOS ou Android e pela facilidade de encontrar o que é buscado. 2.1 PERFIL DOS CONVIDADOS Andréa Vieira – seus principais resultados aconteceram nos jogos Pan-Americanos de Havana, em Cuba, em 1991, onde conquistou três medalhas de ouro por equipes, uma medalha de prata em simples e uma medalha de bronze nas duplas femininas. Já nos jogos Pan-Americanos em Mar del Plata, na Argentina, em 1995, Andréa ganhou duas medalhas de bronze, em duplas e por equipes. Também participou das Olimpíadas de Barcelona em 1992, além de ter sido campeã mundial aos 10 anos de idade em Caracas, na Venezuela. Conseguiu ainda vitórias contra quatro jogadoras entre as 15 melhores do mundo (5, 10, 12 e 15). Seu melhor ranking na WTA foi a septuagésima sexta (76) posição em 1989, aos 18 anos de idade. Beatriz Haddad Maia – É a melhor jogadora de tênis brasileira no momento. Natural de São Paulo, mas residente no Rio de Janeiro, Bia tem apenas 22 anos e ainda tem um longo caminho no esporte. Seu melhor ranking até o momento foi o quinquagésimo oitavo lugar (58ª) em setembro 314 | TCC 2019
de 2017. Fernando Meligeni – É considerado por diversos analistas de tênis um dos melhores tenistas brasileiros dos últimos tempos. Nasceu na Argentina, mas decidiu defender as cores brasileiras, representando o Brasil nas Olimpíadas de 1996, em Atlanta, nos Estados Unidos. Seu melhor resultado em um Grand Slam foi a semifinal em 1999 em Roland Garros, o que fez Meligeni ocupar a vigésima quinta (25ª) posição do ranking mundial. Em 2003 conquistou o principal título da sua carreira, a medalha de ouro para o Brasil nos Jogos Pan-Americanos de 2003, em Santo Domingo, na República Dominicana. Gustavo Kuerten – Guga estreou como profissional no tênis em 1996, e no ano seguinte, conquistou o seu primeiro título em Roland Garros, com 20 anos de idade. Com essa conquista, o catarinense nascido em Florianópolis ficou famoso mundialmente e foi o primeiro brasileiro a integral o top 10 do ranking do tênis. Já em 2000 e 2001, Guga atingiu o seu auge, vencendo Roland Garros nesses dois anos e ocupando o topo do ranking por 43 semanas. Se aposentou em maio de 2008, depois de sofrer por vários anos com problemas físicos. Marcelo Bechara - mestre em Comunicação pela Faculdade Cásper Líbero e graduado em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda –, pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, a ESPM. Marcelo tem passagens pela Confederação Brasileira de Tênis (CBT) e pelos canais ESPN Brasil. Trabalhou na Copa do Mundo de Futebol de 2014, disputada no Brasil, e nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016. CONSIDERAÇÕES FINAIS Desde o primeiro semestre de 2018, quando o projeto foi iniciado, a ideia foi realizar um programa de rádio sobre tênis que pudesse transmitir ao ouvinte diferentes opiniões sobre o esporte no Brasil. No começo tive receio por ser algo inovador, mas segui em frente e acredito ter alcançado todas as metas que tinha em mente. Minha orientadora, Lenize Villaça, foi determinante para não desistir e ir atrás do que fosse necessário para que o programa Tênis em Debate saísse do papel. O principal objetivo do projeto foi responder a seguinte questão: Como um debate em um programa de rádio pode trazer à tona a atual situação do tênis no Brasil? A partir do que foi debatido e analisado, concluí que o tênis brasileiro está longe de atravessar um bom momento, principalmente na modalidade de simples. Muitos jogadores já não estão em seu TCC 2019 | 315
auge, como no caso de Thomaz Bellucci, um dos maiores talentos dos últimos anos, que há muito tempo tenta se reerguer no circuito. Um país com o tamanho e a estrutura como a do Brasil não pode revelar um número tão baixo de jogadores que possam disputar os maiores torneios de tênis mundo afora. O maior desafio a ser superado foi conseguir conciliar o horário dos convidados para a gravação do programa no estúdio de rádio da Universidade Presbiteriana Mackenzie. O narrador Fernando Nardini e o ex-tenista Fernando Meligeni receberam convite para serem comentaristas, mas, infelizmente, não puderam comparecer no dia e/ou horário determinado. Acredito que desenvolver e finalizar um programa de rádio foi um dos grandes trunfos do meu TCC. Além de estar familiarizado com esse meio de comunicação e me sentir bem no estúdio, apesar do nervosismo nos primeiros minutos da gravação, o resultado final me agradou muito e a todos amigos e familiares que apresentei. Outro momento do projeto que ficará marcado para sempre na minha cabeça foram as entrevistas realizadas, principalmente quando recebi as respostas do Gustavo Kuerten e do Fernando Meligeni, dois grandes ídolos pessoais. Guga é conhecido como Pelé do tênis, ou seja, dá para ter uma noção do que ele representou e representa para o nosso país. Já Meligeni sempre se mostrou bastante alegre e brincalhão, e quando ele me enviou sua resposta isso se confirmou, uma grande pessoa dentro e fora de quadra. Pautar, entrevistar e editar as sonoras destes monstros sagrados me fez sentir jornalista de verdade, já exercendo a profissão. Algo que fiz questão de mencionar tanto no relatório quanto no programa de rádio foi o passado do tênis brasileiro. Infelizmente, a nossa sociedade não valoriza da maneira correta ídolos mais antigos. Por isso, ao logo da gravação, perguntei aos convidados sobre o legado deixado pela maior jogadora de tênis da história do país, Maria Esther Bueno. Seu legado é gigantesco, suas conquistas maiores ainda, entretanto ela é pouco lembrada. As principais conclusões que tiro do meu projeto são que o rádio ainda é um dos principais meios de comunicação do nosso país, e ao se tornar multiplataforma vem ganhando espaço nos últimos anos. E o tênis ainda pode dar muitas alegrias ao povo brasileiro, mas é fato que nunca irão existir outro Gustavo Kuerten ou outra Maria Esther Bueno, mas é quase que uma obrigação termos atletas integrando o top 100 do ranking mundial, o que não acontece neste primeiro semestre de 2019. Vejo-me como um jornalista muito mais completo ao encerrar essa 316 | TCC 2019
fase, já que foi a primeira experiência com edição de um programa de rádio. Desde a escolha das fontes até a última edição do Tênis em Debate, este trabalho foi o meu foco diário. Não existe sucesso sem abdicar de momentos de diversão, e por isso não me arrependo de tudo que deixei de lado para a realização desse TCC. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO CATARINENSE DE EMISSORAS DE RÁDIO E TELEVISÃO (Florianópolis) (Ed.). Ibope Media divulga infográfico que detalha o consumo de rádio no Brasil. 2017. Disponível em: <http:// www.acaert.com.br/ibope-media-divulga-infografico-que-detalha-o-consumo-de-radio-no-brasil#.WrAZlmrwa01>. Acesso em: 15 mar. 2018. CASTRO, José de Almeida. História do Rádio no Brasil. Disponível em: <http://www.abert.org.br/web/index.php/quemsomos/historia-do-radio-no-brasil>. Acesso em: 15 mar. 2018. CHANTLER, Paul; HARRIS, Sim. Radiojornalismo. 2. ed. São Paulo: Summus Editorial Ltda., 1992. CHENI, Anderson. 105 FM segue firme na ponta do rádio esportivo de São Paulo. 2017. Disponível em: <https://portal.comunique-se.com.br/105-fm-radio-esportivo-de-sao-paulo/>. Acesso em: 01 maio 2018. COMITÊ OLÍMPICO DO BRASIL (Brasil) (Ed.). TÊNIS. 2015. Disponível em: <https://www.cob.org.br/pt/Esportes/tenis>. Acesso em: 15 mar. 2018. ESPORTEL NDIA (Brasil). Grand Slam do tênis: o que é e os maiores vencedores da história. 2019. Disponível em: <https://www. esportelandia.com.br/tenis/grand-slam-do-tenis>. Acesso em: 15 maio 2019. GAZETA ESPORTIVA (Brasil) (Ed.). Tudo sobre: Bruno Soares. Disponível em: <https://www.gazetaesportiva.com/tag/bruno-soares/>. Acesso em: 19 abr. 2018. GRIZZO, Arnaldo (Ed.). Mercado brasileiro está se desenvolvendo. 2007. Disponível em: <http://revistatenis.uol.com.br/artigo/ mercado-brasileiro-esta-se-desenvolvendo_362.html>. Acesso em: 15 mar. 2018. IBOPE REPUCOM (Brasil). Dobra o número de fãs de tênis no Brasil. 2015. Disponível em: <Dobra o número de fãs de tênis no Brasil>. Acesso em: 15 maio 2019. TCC 2019 | 317
KANTAR IBOPE MEDIA (Brasil). Rádio mantém sua presença pelo Brasil, aponta pesquisa da Kantar IBOPE Media. 2017. Disponível em: <https://www.kantaribopemedia.com/radio-mantem-sua-presenca-pelo-brasil-aponta-pesquisa-da-kantar-ibope-media-2/>. Acesso em: 20 abr. 2018. LORDELLO, Vinícius (Ed.). Dobra o número de fãs de tênis no Brasil. 2017. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/blog/esporte-executivo/dobra-o-numero-de-fas-de-tenis-no-brasil/>. Acesso em: 15 mar. 2018. MARCHAMALO, Jesús; ORTIZ, Miguel Ángel. Técnicas de comunicação pelo rádio: A prática radiofônica. São Paulo: Edições Loyola, 2005. MELIGENI, Fernando Ariel. Que tamanho tem o tênis do Brasil? Disponível em: <http://www.espn.com.br/blogs/fernandomeligeni/753350_que-tamanho-tem-o-tenis-do-brasil>. Acesso em: 19 abr. 2018. MEM. Meligeni: Brasileiro de coração. Disponível em: <http:// memtennis.com.br/meligeni>. Acesso em: 15 maio 2019. MELO MARCELO (Brasil) (Ed.). Perfil. Disponível em: <http://melomarcelo.com/perfil/>. Acesso em: 17 abr. 2018 O GLOBO (Brasil). Maria Esther Bueno, a Bailarina do Tênis, é 7 vezes campeã na grama de Wimbledon. 2017. Disponível em: <http://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/maria-esther-bueno-bailarina-do-tenis-7-vezes-campea-na-grama-de-wimbledon-21551481>. Acesso em: 15 mar. 2018. SOARES, Edileuza. A bola no ar: O rádio esportivo em São Paulo. São Paulo: Summus Editorial Ltda., 1994. UOL EDUCAÇÃO (Florianópolis) (Ed.). Gustavo Kuerten. Disponível em: <https://educacao.uol.com.br/biografias/gustavo-kuerten. htm>. Acesso em: 15 mar. 2018. WTA. Beatriz Haddad Maia. Disponível em: <https://www. wtatennis.com/players/player/318176/title/Beatriz-Haddad-Maia#overview>. Acesso em: 15 maio 2019.
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O ENSAIO SOBRE O RISO: DO JORNALISTA AO PALHAÇO MIRELA PATRICIA LEMOS Orientador: Prof. Ms. Marcelo José Abreu Lopes
RESUMO: Neste projeto de conclusão de curso histórias se interligam por meio de uma plataforma transmidiática, ampliando o fazer jornalístico como mediador sociocultural. As memórias da arte circense ganha voz em narrativas imersivas e interativas. Mas, para dar origem à peça que se desdobra deste relatório, foi escolhido realizar um estudo comparativo do jornalista e do palhaço, aplicando sobre essas análises as experiências da própria jornalista. Justificando ambos como personagens socialmente críticos, o estudo traz um ensaio sobre as profissões. Resultando em uma peça que resgata memórias circenses e traz a ruptura do tradicional modelo jornalístico, tanto online quanto offline. Palavras-chave: Circo. Cultura. Transmídia. Jornalismo. Comunicação.
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ABSTRACT: In this project of conclusion of course histories are interconnected by means of a transmydial platform, amplifying the journalistic doing as sociocultural mediator. The memories of circus art gain voice in immersive and interactive narratives. But, to give rise to the piece that unfolds this report, was chosen to conduct a comparative study of the journalist and the clown, applying the experiences of the journalist on these analyzes. Justifying both as socially critical characters, the study brings an essay on the professions. Resulting in a piece that rescues circus memories and brings the rupture of the traditional journalistic model, both online and offline. Key words: Circus. Culture. Transmedia. Journalism. Communication
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Site Última data de atualização: 28/05/2019
Youtube Última data de atualização: 29/05/2019
Instagram Última data de atualização: 28/05/2019 TCC 2019 | 321
INTRODUÇÃO Este presente relatório de trabalho de conclusão de curso propõe contar os bastidores de um estudo que tem como princípio discutir sobre o jornalista tal como o personagem do palhaço, como seres transmidiáticos e socialmente críticos. Durante a pesquisa "O Circo: uma história de resistência e a sua transformação em um produto midiático", apresentado em 2018 na XIV Jornada de Iniciação Científica da Universidade Presbiteriana Mackenzie e no VIII Fórum de Pesquisa do Centro de Comunicação e Letras (CCL-UPM), foi possível enxergar que ambos os personagens em questão perderam seus reais posicionamentos sociais ao longo da história, passando a ser infantilizados, ou até mesmo perdendo sua credibilidade profissional. Mas antes de chegar a esse pensamento foi preciso entender o caminho percorrido até o momento presente, afinal, tal reflexão não se inicia durante o período de conclusão de curso e, assim como qualquer outro objeto de estudo de observação, vem ocorrendo gradativamente. Pode-se afirmar que se inicia antes mesmo de me imaginar sendo ponte para diálogos no meu papel de jornalista. Quando se trata de descrever as múltiplas possibilidades de leitura de uma fotografia, me recordo das inúmeras vezes em que fui exposta fragilmente, de roupas íntimas, em frente a câmeras e quando precisei realizar alguns exames indesejáveis por madrugadas em uma UTI, me trazendo às tais realidades paralelas das análises apresentadas por Vilém Flusser no livro “Filosofia da Caixa Preta: Ensaios Para uma Futura Filosofia da Fotografia” (1983), onde as diversas realidades de uma fotografia são questionadas. Minha vida sempre foi contada pelos outros e, especialmente, pelos médicos. Encontrar pessoas pelos corredores do Hospital das Clínicas de São Paulo e ser lembrada por pessoas que nunca vi na vida, simplesmente porque durante alguma aula delas eu lhes fui apresentada como protagonista de seus estudos, me fez questionar sobre a falta desse diálogo desde ainda muito nova. Esse diálogo me acompanha agora no jornalismo, me fazendo questionar: se poderia ser fonte de pesquisas para essas pessoas, por que não podia receber o retorno desses trabalhos? Afinal, o objeto estudado era o meu corpo nu, a minha pele, o meu sangue e, por vezes, cópias minhas em Raio-X. Essa mesma experiência vivenciei em um trabalho realizado em Guaianases durante as aulas de “Políticas Públicas e Direitos Humanos” e “Antropologia e Comunicação”, só que agora não mais como objeto de es322 | TCC 2019
tudo, mas como quem busca pelo objeto a ser analisado. Durante meses na cidade para a gravação de um documentário, presenciei fontes se negando a conversar por nunca receberem o retorno dos jornalistas a quem contavam suas histórias, ou por estes manipularem tanto a realidade periférica que transformavam aqueles personagens em fantoches da realidade que eles acreditavam ser verdadeira, se esquecendo, assim, da principal função de um jornalista: o diálogo. O mesmo aconteceu diversas vezes durante o curso, e não poderia ser diferente quando iniciei as minhas pesquisas sobre circo. Foi ali na Vila Madalena, no projeto Circo no Beco, que recebi uma das maiores lições como estudante de jornalismo ao escutar, assim que pisei os meus pés na quadra onde ensaiavam os espetáculos: “Você é daquelas estudantes que vieram aqui um tempo atrás? Cadê a matéria? Já recebeu a sua nota e veio pegar mais informações? Vocês, estudantes, fazem isso, recebem suas notas e somem!” Logo, essa ânsia por esse diálogo durante este trabalho não vem somente da minha história de vida, mas do desejo de reconquista da credibilidade desse jornalista que muitas vezes, por manipular, se esquece de ser ponte para transformações. Assim como no documentário Mercado de Notícias (2014), onde o papel da mídia e sua influência na democracia é discutida. O roteiro do documentário tem como linha condutora a peça homônima do dramaturgo inglês Ben Jonson, encenada pela primeira vez em 1626, em Londres. O filme traz os depoimentos de treze importantes jornalistas brasileiros sobre o sentido e a prática de sua profissão, as mudanças na maneira de consumir notícias, o futuro do jornalismo, e também casos recentes da política brasileira, onde a cobertura da imprensa teve papel de grande destaque. Neste relatório, que se desdobra em um projeto transmidiático, discutiremos sobre minorias, resistência, arte e outros tantos outros assuntos que, por vezes, enxergamos ao longo de nossas histórias sendo banalizados e, muitas vezes, apagados de nossas memórias. Neste estudo, o jornalista abre espaço para o diálogo e cria um ensaio sobre o circo, que abre o seu picadeiro para novas reflexões e não somente entretenimento em praças, mas em espaços que de alguma maneira dialogam entre si. O resgate da memória do circo e dessa reflexão, como também um meio de comunicação, parte de uma memória pessoal, quando ainda criança experimentava os sapatos de palhaço de meu tio, guardados embaixo de sua TCC 2019 | 323
cama. Mas, em memórias e feridas mais profundas, eram durante as internações nos leitos do ICR-USP que o circo, por meio dos Doutores da Alegria, se fazia presente durante meses entre uma medicação e outra, me fazendo deixar de ser o objeto em questão e me deixando simplesmente ser criança. Naquele instante tinha a opção de receber aquelas pessoas em meu leito, caso contrário, eles simplesmente continuariam o seu espetáculo com outro paciente ali presente. O respeitável público de fato tinha a opção de escolher e, assim, o diálogo e o respeito eram mútuos, da mesma forma como deveríamos enxergar no cenário jornalístico, quando uma pauta não tivesse simplesmente a finalidade de angariar cliques ou praticar outras maneiras lucrativas e muitas vezes sensacionalistas, obrigando o receptor a receber a notícia, como é observado no documentário Mercado de Notícias (2014). Desde muito nova, a Jornada do Herói, apresentada por Joseph Campbell, no livro “Herói de Mil Faces” (1949), muitas vezes se fez presente em minha vida quando contada por outra pessoa. Sempre seguindo uma narrativa onde o desfecho era enxergado como motivo de superação. 1. REFERENCIAL TEÓRICO 1.1 O palhaço e o jornalista O tema pautado em questão já tinha sido pesquisado nos anos de 2017 e 2018, originando o artigo "O Circo: uma história de resistência e a sua transformação em um produto midiático", apresentado e publicado na XIV Jornada de Iniciação Científica da Universidade Presbiteriana Mackenzie e durante o VIII Fórum de Pesquisa do Centro de Comunicação e Letras. Esse artigo trouxe questionamentos sobre o desdobramento da arte circense em outros meios de comunicação contemporâneos e direcionou olhares para a perda desta memória tradicional que, ao passar dos anos, vem se tornar um produto para grandes produções lucrativas. O circo também pode ser observado como um meio de comunicação, deixando de ser um mero entretenimento, para servir como ponte de diálogo entre aqueles que assistem ao espetáculo, assim como para aqueles que constroem o show. (LEMOS, 2018)
Notamos na pesquisa que não é um erro trazer o circo para diversas mídias; o erro provavelmente seja fazer com que essa mesma arte seja ape324 | TCC 2019
nas estratégia para lucrar. O circo sempre foi contemporâneo a sua arte e sempre respondeu ao que existia em seu entorno. Suas inspirações sempre estiveram nas ruas, assim como o próprio jornalista precisa estar nela para pautar. Os jornalistas surgem em cena como comunicadores que possuem (podem possuir) qualidades epistemológicas especificadas para organizar múltiplas camadas de significação em narrativas organizadas. Inserindo essa premissa no cenário contemporâneo, visualiza-se nesta “promoção da conversação pública” a diferença valorativa e epistemológica entre o fluxo contínuo de informações nos meios digitais e o trabalho jornalístico - e, ainda de modo ainda mais específico, da mediação realizada desde valores jornalísticos daquela executada por valores objetivados nos códigos digitais. (SANDANO, 2015, p.125)
Sandano (2015) defende que a visão de imparcialidade é insuficiente. Ainda que, dentro das redações, valores subjetivos sejam responsáveis pela determinação do que é e do que não é notícia, a imparcialidade deve ser a tentativa consciente de agregar o maior número possível de diferentes perspectivas de valor. Mostra-se assim que o jornalista precisa assumir o risco e a responsabilidade sobre aquilo que publica. Isso, ele ressalta, não diz respeito somente à veracidade dos fatos ou à objetividade da redação, mas também às pautas escolhidas para serem publicadas. Compreendemos que assim “os jornais não estão sendo solapados pela Internet porque, num mundo de informação infinita, a credibilidade é um ingrediente essencial para os que buscam” (CASTELLS, 2003, p. 163). Mostrando assim que a responsabilidade sobre o que se publica é o primeiro passo para produzir jornalismo de qualidade. O artista se coloca em risco e não pode existir sem técnica, assim como o próprio circo. A expressividade e a alma do artista, romantizam o mercado, da mesma maneira que romantizam a profissão do jornalista. Às vezes o risco é simbólico (a queda da bola do malabarista ou ainda o comportamento desequilibrado do clown), mas o risco que se corre na cena é, na maior parte do tempo, real e vital, colocando em causa a integridade fíTCC 2019 | 325
sica. A vida é colocada em jogo em cena, e a morte – para ser conjurada? – a verdadeira e frequentadora convocada. (WALLON, 2009)
O circense precisa dominar toda uma técnica para entrar em cena. Ter uma história e entender o que acontece como um todo em cena. O circo é circo a partir das intenções do artista. O homem vira espetáculo e se coloca em risco, para se tornar o próprio espetáculo, sendo capaz de retirar os próprios animais de cena, para contemplar os mesmos números realizados por ele mesmo. Tanto o circo quanto a dança precisavam se reinventar para se tornar reconhecidos como linguagem do teatro. A especulação imobiliária, a concorrência da mídia e a sucessões familiares impossíveis trouxeram ao circo e ao próprio palhaço a obrigatoriedade de se reinventar. Da mesma forma, o circo, sucateado pelas dificuldades financeiras, a concorrência das mídias e as impossíveis sucessões familiares, se renovou criando escolas de formação, suprimindo estruturas caras e inventando novos modelos, algumas vezes estéticos e econômicos. (WALLON, 2002)
É preciso ser humano e não máquina, por meio de técnicas. O circo só é circo a partir das intenções do artista, ele só é arte ou circo a partir do momento que o artista tem a intenção de repassar isso adiante. Quando enxergamos as mesmas técnicas utilizadas pelo artista em algum esporte, ele é simplesmente um esporte com a origem circense. A alegria que um palhaço desperta é o resultado de uma comunicação bem-sucedida. Parte do artista compreender que naquele momento ele não tem nada, nem mesmo o sorriso de uma criança garantido. O palhaço é profundamente subversivo, um delator subversivo. Sem isso ele não prepara a sua essência, sua verdade, fica em cena com um palhaço ruim. O palhaço ruim pode fazer mal ao seu espectador, assim como o seu olhar pode mostrar da mesma maneira que o jornalista. O nariz é o olho e os olhos são o coração. O palhaço foge dos padrões, não é só provocador político. Mas um provocador humano e de suas pequenices. O riso é pra integrar a vida e não afastar os problemas. Onde for pre-
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ciso transformação, o palhaço estará lá. Quem somos nós para reinventar a vida ou comunicar uma realidade? A felicidade é um estado de espírito, ela pode estar em todos os lugares e em tudo. Mas, se vivêssemos constantemente de fato durante todos os dias de nossas vidas nesse estado, talvez nem saberíamos o que realmente ela é de fato. No documentário Mercado de Notícias (2014) se discute o papel da mídia e a sua influência na democracia, trazendo reflexões sobre a profissão que é encarregada de decifrar o drama humano, entregando isso ao espectador. O jornalista é aquele que conta a realidade factual para garantir a sobrevivência da humanidade. As técnicas do jornalismo prevalecem, mas cabe ao jornalista, acima de tudo, contar uma história. Quando falamos do palhaço, o documentário “Doutores da Alegria: O Filme” (2014) o apresenta em um universo onde para uma criança tudo é novo. Já para o palhaço é preciso tudo ser novo de novo, precisando assim o próprio personagem resgatar constantemente sua inocência. Assim também o próprio jornalista não pode de maneira alguma perder sua inocência de querer conhecer cada vez mais o outro. Ambos, jornalista e palhaço, precisam se esvaziar de sua própria história para dar lugar a outros personagens, sejam elas fontes para uma nova reportagem ou o sorriso de uma criança, quando falamos de circo. 1.2 Transmídia O jornalista, portanto, estaria endossado na função de mediador-autor da narrativa contemporânea adaptada ao ciberespaço. O Jornalismo se constituiria assim como uma forma específica de conhecimento que transcende o simples registro - essa qualidade transitória e efêmera que “é da própria essência da notícia e está intimamente ligada a todos os outros caracteres que ela exibe” (...) O jornalista seria assim caracterizado como um autor necessário para realização da mediação qualificada que permite o diálogo e, consequentemente, o endossamento democrático. (SANDANO, 2015, p. 28-9)
Sobretudo, a narrativa para o ciberespaço consiste na compreensão dessas características necessárias para que a mediação qualificada se torne
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efetiva. A seguir, os estudos de caso verificam a aplicabilidade de algumas das características propostas nesta primeira parte do argumento do projeto. Priorizam-se na análise os principais elementos encontrados em cada objeto de estudo, pontuando-se como essas observações o quanto cada característica contribui para a efetividade e o desenvolvimento da própria narrativa. Matrix, por exemplo, é uma obra cinematográfica do fim dos anos 1990 que, de acordo com Jenkins (2009, p.137), “é entretenimento para a era da convergência”, ou seja, é um conteúdo característico do ciberespaço, isso porque evoca a interatividade e a imersão como princípios fundamentais para se compreender e agregar à narrativa, “integrando múltiplos textos para criar uma narrativa tão ampla que não pode ser contida em uma única mídia”. À medida que surgem, conforme o estudioso, esses novos mediadores socioculturais e usos sociais dos meios, a prática jornalística toma outros rumos comunicacionais. Se amparados nos estudos de Cremilda Medina, esses caminhos apontam para um profissional, além de um mediador sociocultural, capaz de Inverter a relação sujeito-objeto do técnico em informação de atualidade para a relação sujeito-sujeito do mediador social (...) em que se queimam as certezas, as rotinas profissionais, o ritmo mecânico do exercício jornalístico. (MEDINA, 2003, p.40)
Essa inversão de perspectiva facilita a compreensão de que a transformação da narrativa dentro do ciberespaço é um processo mais amplo e complexo, que encontrou sustentação nas possibilidades das tecnologias digitais. Para Castells (2013) o papel da internet e da comunicação sem fio nos atuais movimentos sociais em rede é fundamental. Mas é essencial enfatizar o papel da comunicação na formação e na prática dos movimentos sociais. As redes sociais digitais baseadas na internet e nas plataformas sem fio são ferramentas decisivas para mobilizar, organizar, deliberar, coordenar e decidir. Castells o contesta o real alcance desses movimentos sociais na era da internet, procurando localizar a importância da internet como uma instância de conectividade contestatória. Em contrapartida, o público surfa na onda tecnológica sem maiores problemas, fazendo valer a convergência transmidiática de Jenkins que é tão urgente nas redações ainda apegadas à sacralidade do texto impresso; 328 | TCC 2019
e é justamente a partir dessa constatação que se faz a oportunidade para o jornalista cultural ante ao paradigma contemporâneo de alta produtividade de informações e pouca cognição: ... o bombardeio de dados e informações da era eletrônica criou uma carência ainda maior de análises e comentários, que suplementem argumentos, perspectivas e contextos para o cidadão desenvolver senso crítico e conectar disciplinas. (PIZA, 2008, p.32)
Ainda em vias de delinear o estado contemporâneo do jornalismo cultural brasileiro, o autor antecipa o estado de crise que tem se feito presente em todos os países, mas pondera que não se trata de algo decisivo para a condenação desse gênero jornalístico, pelo contrário, julga ser conveniente se atentar à demanda popular e usá-la como subsídio para a produção de conteúdo em plataformas que não restrinjam o campo discursivo: 2. DESENVOLVIMENTO DA PEÇA A pauta escolhida deveria ser aplicada a uma peça que desse espaço a novas narrativas, já que almejava desde o princípio dar continuidade ao projeto posteriormente a entrega do trabalho de conclusão de curso. A possibilidade da criação de um fotolivro ou até mesmo um livro reportagem foi cogitada, mas, por conta do alto valor da impressão, a ideia foi descartada e substituída pela possibilidade de um site. As referências que trago nesta peça também são consequência da minha formação como jornalista. Por compreender que também entendo de computação gráfica, vídeo e foto, me senti na necessidade de aplicar, não somente o que aprendi durante a graduação, mas o que desenvolvi em outros cursos. Com a ajuda de custo que ganhei com a minha primeira pesquisa realizada vinculada a Universidade Presbiteriana Mackenzie, consegui juntar dinheiro para pagar um Web Design. Realizei todo o desenho do site, criei toda a identidade visual, paleta de cores, lambe-lambes, tratamento de imagens, edição de video, planejamento de como as narrativas seriam apresentados nas redes, fechamento de arquivo para impressão e funcionalidades que deveriam existir no portal tanto online quanto offline. Mas em inúmeros momentos tive problemas o Web Design, me colocando na posição de programar (em HTML e CSS) as funcionalidades da minha própria criação e me tomando um tempo, que tinha me planejado em TCC 2019 | 329
gastar com outras pendências do desenvolvimento do projeto. O tema pautado já vinha sendo pesquisado durante os anos de 2017/2018, dando origem posteriormente ao artigo "O Circo: uma história de resistência e a sua transformação em um produto midiático", que também serve como base de referência teórico para este estudo. No artigo, apresentado e publicado na XIV Jornada de Iniciação Científica da Universidade Presbiteriana Mackenzie e durante o VIII Fórum de Pesquisa do Centro de Comunicação e Letras, trago questionamentos sobre o desdobramento da arte circense em outros meios de comunicação contemporâneos e levanto reflexões da perda da memória tradicional que essa arte carrega. O projeto O ENSAIO vem com intuito de apresentar essas narrativas e dar voz a personagens que naturalmente existem em nossa sociedade, mas que não são enxergadas por ela. O circo foi escolhido para iniciar a produção desse conteúdo. O projeto intitulado O ENSAIO ganha o subtítulo de CIRCENSES e passa a contar a história daqueles que resistem em meio ao descaso de políticas públicas e os encantos dos holofotes. Ao entrevistar a circense Sandra Mariano e enxergar que a personagem não compreendia usar a profissão dela como xingamento para aqueles que trabalham no Congresso Nacional. Começo a compreender que o circo apenas iria me servir como palco para relatos de dramas enfrentados em comum com outros brasileiros, mas que quando colocados no personagem do palhaço ou de qualquer outro artista, são enxergados como importunos. Não foram apenas com um encontro que comecei a tecer os fios que me levariam a esse emaranhado de questionamentos existenciais, foi preciso ir além das fotografias e filmagens, foi preciso observar muito para traçar uma linha entre o passado e, em meio a falas que transportavam muita nostalgia, conseguir enxergar o descaso de políticas públicas que já é tratado com tanta naturalidade. No referencial teórico realizo um breve estudo sobre o jornalismo e o palhaço, justificando assim a escolha do tema para as primeiras publicações na plataforma. Para a escolha do nome do projeto foi escolhido a palavra ENSAIO, que carrega em sua etimologia uma prosa livre que versa sobre um tema específico, que, sem esgotá-lo, reúne dissertações menores, menos definitivas que as de um tratado formal, mas realizadas com profundidade. Neste caso a palavra também nos remete ao ensaio de um espetáculo e a simbologia de que a vida é um ensaio de narrativas inacabadas, 330 | TCC 2019
trazendo uma das falas do próprio espetáculo Pagliacci, assistido durante as primeiras imersões da pesquisa realizada em 2017 e assistida no mesmo ano, na Fiesp e interpretado pela Cia. La Mínima: “A vida é um espetáculo e somos todos palhaços!” Percebi que, além de contar essas histórias, seria necessário informar alguns dados fornecidos por órgãos públicos, para compreender exatamente onde colocaria os meus pés e onde o leitor iria se enfiar. Se aquele cenário do circo não era comum para quem fosse ler, seria necessário amarrar de alguma forma os dois universos tão distintos. A primeira saída foi trabalhar com dados. Escutar os entrevistados me fez por vezes me calar como jornalista. Era perceptível o descaso da sociedade diante daquelas pessoas, era nítida a falta de editais de fomento à cultura e por vezes o machismo e estereótipos criados também eram evidenciados, mas precisei me calar de qualquer conclusão precipitada para escutar o que eles tinham para me falar. Procurei a Associação Brasileira do Circo (ABRACIRCO) para encontrar algumas estatísticas que me levassem a algum panorama circense brasileiro, mas não fui atendida. Busquei por notícias na internet e nenhuma me trouxe levantamentos recentes ou apropriados para o foco que estava tomando. Recorri então ao portal de Acesso à Informação do Governo Federal. Conversando com os criadores do portal Circonteúdo¹, constatei que alguns dados só dependem dos próprios artistas para existir. Durante essa breve conversa, eles me disponibilizaram uma publicação de um censo feito pela Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), onde tive acesso a um breve mapeamento do circo, grupos e artistas na região da Bahia. Busco referências em fotografias de Melvin Quaresma e Cláudia Andujar, que são conhecidos por suas imersões no cenário que retratam e, não necessariamente, falam sobre circo, mas realizam um trabalho documental de comunidades, costumes e memórias. Algumas fotografias presentes no projeto, revelam uma tonalidade vermelha e poderiam ser facilmente descartadas, mas são por meio delas
¹Disponivel em <https://www.circonteudo.com/> Acesso em: 06/06/2018 TCC 2019 | 331
que trago referências de Miguel Rio Branco e deixo ali rastros da luz que passa entre as lonas e reflete no rosto dos personagens entrevistados. Contextualizo em minha peça projetos como ‘1000 CASAS’, onde artistas em meio ao cotidiano de uma comunidade propõem usar o espaço doméstico como palco de intervenções artísticas. Sabendo disso, utilizo a ideia para a produção de lambe-lambes sobre este projeto – O ENSAIO – que foram colocados em regiões onde já existiram lonas e hoje passam despercebidos em nosso cotidiano. A ideia parte do princípio de devolver a memória que é constantemente apagada dessas regiões e da própria arte. Para isso foi preciso apurar e realizar algumas visitas ao Centro de Memória do Circo. Não tinha propriedade sobre o que era transformar minhas fotografias em dimensões além do digital e muito menos, como aplicar os lambe-lambes. Então pelo Instagram busquei conversar com outros fotógrafos e documentaristas que já realizavam este trabalho. Ainda sobre circo, estive em palestras onde, a duas cadeiras de distância do Zé Celso, um dos nomes mais importantes do teatro brasileiro, aprendi sobre antropofagia e a Semana da Arte Moderna, em que entre tantos nomes ilustres da arte esteve presente o palhaço Piollin. Durante semanas, em sala de aula ao lado de artistas e sendo a única jornalista da turma, estudo sobre arte contemporânea por meio de livros, vídeos e debates que me fazem compreender o porquê da resistência dos demais alunos em me receber em sala, por não acreditarem que suportaria até o final do curso e estar ali por simples, mas genuíno interesse. Materiais teóricos sobre o tema também são escassos. Entrei em contato com os Doutores da Alegria, e por uma tarde inteira de conversa, tive acesso a livros e produções documentais da própria escola, além, é claro, de relatos emocionantes da própria artista sobre a profissão. Soraya Saide, que me atendeu, é atriz graduada pela Escola de Arte Dramática da USP, com estágio na Clown Care Unit do Big Apple Circus, em Nova Iorque. No teatro trabalhou, entre outros, com Gianni Ratto e Cristiane Paoli Quito. Realiza performances em espaços alternativos. É diretora do Teatro dos Quinto. Os Doutores da Alegria surgem em minha vida na infância, em meio a tratamentos de minha saúde, que é conturbada até hoje. Eles conseguiram me salvar pelo riso nos leitos do ICr/HCFMUSP (Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), onde por diversas vezes tive meu coração sem bater dentro do meu 332 | TCC 2019
próprio peito. Soraya será citada somente por agora, pois a única troca que existiu foi de referências artísticas e teóricas sobre a profissão. Não existem citações dela nem mesmo no referencial teórico, mas tal personagem é preciso ser lembrada por tamanha atenção e carinho em me receber não somente como jornalista, mas como ex-paciente dos Doutores da Alegria. É importante ressaltar que, ao ir na comunidade São Remo para conhecer o projeto Circo Escola Bom Jesus, o próprio motorista do Uber se recusou a subir o morro e me desejou cuidado ao continuar em minha viagem. Precisei estar lá, conhecer o projeto, acompanhar os bastidores, entender pelas falas das próprias crianças a importância para elas de estarem em espaços como esses e, além disso, compreender a urgência da educação para minorias que, por vezes, sofrem com falta de comida na mesa e precisam fugir de bala perdida. A ausência de dados nas redes me fez buscar aquilo que aprendi no convívio. Mantive íntegro, assim, nas narrativas o próprio vocabulário dos circenses, que por vezes aprendi com eles e por outras vezes precisei buscar tradução no site CircoData², portal brasileiro onde são documentadas famílias e vocabulários circenses. A ideia de um glossário para guiar o leitor nos verbetes desconhecidos surge após a leitura do livro “Maria Bonita: Sexo, violência e mulheres no cangaço”, escrito por Adriana Negreiros. A jornalista se apropria do linguajar desconhecido pelo senso comum e disponibiliza ao final do livro um pequeno glossário dessas palavras. Entre tantos relatos separo apenas três histórias centrais para iniciar as narrativas, por meio de três personagens centrais o leitor pode conhecer a história de outros personagens. Sandra Mariano é mãe de Juliana Mariano, ambas moram no mesmo “quintal” que tio Neo e Petronio Romero. Juliana é mãe solo de Yasmin, Sandra reencontra um amor do qual foi separada na infância. Enquanto Petronio se encontra mais uma vez de partida para outro Picadeiro, deixando
²Disponivel em <http://circodata.com.br> Acesso em: 10/08/2018 TCC 2019 | 333
saudoso o pai que é conhecido por todos por tio Neo. Uma história se interliga com a outra, podem ser acessadas dentro de um menu com as história separadas ou dentro do próprio texto por meio dos links disponíveis ao longo da narrativa. Cada narrativa carrega suas singularidades e a ideia criativa de interligar uma história na outra, foi criada para que o leitor tenha exatamente essa imersão onde outros personagens podem aparecer ao longo das narrativas. Só foi possível fazer isso por meio de uma apuração realizada. Observei que ao longo desses anos que no circo é muito comum todos se conhecerem entre si, a troca de conhecimento é muito grande e o entrelaçar de histórias acontecem de forma orgânica. Quando trago isso as minhas narrativas, retrato algo que a vida já encarregou de fazer com eles a muito tempo. O rosto de muitas crianças foram preservados, pela dificuldade de autorização. Algumas autorização de imagens, como a do tio Neo foram autorizadas simplesmente por uma conversa entre o entrevistado e a jornalista. Já outras autorizações não foi possível nem coletar qualquer autorização e isso é uma discussão a se levantada. Não existe interesse em lucrar com essas histórias e mesmo que eventualmente exista essa oportunidade, usaria exclusivamente as histórias autorizadas por motivos judiciais, mas levanto um questionamento. Quando se fala de circo, pelo menos no Brasil, a coleta dessas memórias são complicadíssimas. Esses artistas vivem itinerantemente e quando chegamos a encontrá-los, logo partem para uma nova praça. Mudam de número de telefone, vivem ocupadíssimo, me levando por vezes a ensaiar junto a eles, estar junto aos espetáculos, acompanhar montagem de lona, para conseguir nem que fosse minutos com o entrevistado. A imersão foi intensa e por vezes me questionei até quando uma autorização seria realmente necessária, quando por exemplo ao conversar com tio Neo descubro que não sabe escrever e praticamente cego, me diz: “Eu lhe conto todas as histórias que quiser, você pode voltar quando quiser. Vem em uma tarde qualquer dessas, tem algumas fotos em uma caixa guardada por aqui. Mas não me peça para escrever nada, que eu não sei escrever!” Quebro assim protocolos e não deixo de contar a história daqueles que a única coisa que carregam são suas memórias. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS 334 | TCC 2019
Este trabalho é fruto de uma série de decisões que vou tomando, decisões conscientes. Há as grandes decisões e também há as pequenas decisões do porquê usar uma palavra ou usar outra, do porquê colocar informação em um lugar ou não. Quando falamos de personagens, como por exemplo Juliana, não esclarecemos imediatamente quem é ela em um texto. Sabemos que ela é a filha de Petronio, mas não está dito nesse texto, está dito em outro, mais complexo sobre a personagem. Seriam típicas explicações imediatas da personagem em uma narrativa linear, mas, ao considerar que se trata de uma narrativa transmídia, conscientemente deixo um caminho para despertar a curiosidade de um leitor imersivo, que buscará mais informações em um elo do site. Poderíamos falar sobre as etapas de produção normais para qualquer matéria jornalística: pauta, apuração, redação e edição. Então tratamos do modo como a narrativa é direcionada e interligada intencionalmente, por acreditar que se trata de uma narrativa transmídia e que o leitor do outro lado compreende isso. Embora exista o risco de o leitor não compreender; sendo assim, precisa existir um limite para essa ‘deslinearização’. O objeto tratado e o modo que se escolheu para narrar suas respectivas histórias se trata de um modelo que não busca ser linear, algo já discutido por Henry Jenkins (2009). As escolhas durante este projeto se justificam pelo objetivo de trazer o leitor para dentro de realidades que talvez sejam distintas para ele, mas que, por meio dos personagens, tal leitor seja levado a universos paralelos. Onde as velhas e as novas mídias se colidem, a mídia corporativa e a mídia alternativa se cruzam. O poder do produtor e do consumidor interagem de maneiras imprevisíveis. Aplicamos durante a construção desse projeto a ideia que Henry Jenkins acredita, de que as novas e as velhas mídias irão se fundir. Isso é deixado bem claro quando utilizamos os lambes e as fotografias, umas das mídias mais antigas, e aplicamos ambas nas ruas com o objetivo de captar as pessoas para o site do projeto O ENSAIO. Além de convergirem, meios analógicos e digitais interagem e nos levam a outras extensões da narrativa, seja no site por meio de vídeos, fotos e texto, ou no Instagram, com pequenas falas dos personagens ausentes em outros produtos. O público escolhe o que quer consumir e na hora em que quer consumir, o famoso many to many, já usado pelo próprio Henry Jenkins no livro Cultura de Convergência (2009). Utilizamos os conceitos básicos de transmídia por meio de interligaTCC 2019 | 335
ções, seja por meio dos personagens ou plataformas, para expandir essas narrativas e completar uma mensagem mais ampla. Enxerguei assim a possibilidade da existência de conceitos transmidiáticos no circo, me apropriando do jornalismo para contar essas narrativas. Uso conceitos básicos do manual do jornalista, expandindo a ideia de explorar a memória de uma sociedade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Tradução de Carlos A.Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2013 CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet: Reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. FURTADO, Jorge. Mercado de Notícias: Um Documentário sobre Jornalismo. Direção de Jorge Furtado. Brasil, 2014. Color. LEMOS, Mirela, O Circo: uma história de resistência e a sua transformação em um produto midiático. Disponível em: <http:// eventoscopq.mackenzie.br/index.php/jornada/xivjornada>. Acesso em 20 de Dezembro de 2018. MOURÃO, Mara. Doutores da Alegria: O Filme. Direção de Mara Mourão. Brasil, 2005. Color. MEDINA, Cremilda. A arte de tecer o Presente: Narrativa e Cotidiano. São Paulo: Summus, 2003. PIZA, Daniel. Jornalismo cultural. São Paulo: Contexto, 2008. JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. Tradução de Susana L. De Alexandria. São Paulo: Aleph, 2009. SANDANO, Carlos. Para Além do Código Digital: O lugar do jornalismo num mundo interconectado. São Paulo: Edufscar, 2015. WALLON, Emmanuel (Org.). O Circo no Risco da Arte. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009.
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PÓS-VERDADE, FAKE NEWS E AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2018 NO BRASIL JOÃO AUGUSTO RODRIGUEZ QUINTINO Orientadora: Profª. Drª. Márcia Detoni
RESUMO: O presente trabalho pretende explorar as nuances multidisciplinares da pós-verdade e como elas abriram espaço para a proliferação em massa de desinformação e teorias da conspiração no Brasil durante as eleições para a Presidência da República em 2018. Esta monografia se dispõe, por meio de uma pesquisa bibliográfica expositiva, entender as características principais da pós-verdade do Brexit e do trumpismo e aplicálos à realidade brasileira e ao pleito presidencial de 2018. Também tem como objetivo compreender os porquês psicossociais, históricos, políticos e tecnológicos por trás do compartilhamento de fake news e apontar estratégias para a melhor atuação da mídia e um melhor entendimento das origens e manifestações de ideologias em períodos de crise. A prioridade passa ser a construção de um debate limpo e um afastamento das conspirações em todos os espectros, que somente pregam dogma aos convertidos e indiferença (ou violência) aos opositores, além de não apontar soluções ou políticas públicas eficientes. Palavras-chave: Pós-verdade. Fake News. Jornalismo Conspirações. Eleições. Brasil. 2018.
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INTRODUÇÃO O ano de 2016 foi o marco do resgate do termo pós-verdade. Após a divulgação do resultado do Brexit, referendo para a saída do Reino Unido da União Europeia, a revista The Economist publicou em setembro do mesmo ano a capa, "a arte da mentira: política da pós-verdade na era das redes sociais", onde expunha um novo fenômeno notado na campanha de partidários do Brexit. Nele, os eleitores deixaram de se chocar com as mentiras de campanha e se apoiavam em conspirações ou notícias fabricadas para sustentar sua opinião política. A mesma tendência era observada entre eleitores do então candidato à presidência dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump, que entre suas declarações públicas chegou a dizer que seu antecessor, o democrata Barack Obama, era fundador do Estado Islâmico e havia nascido fora dos EUA. Trump é o principal expoente da política da “pós-verdade” - uma confiança em afirmações que “parecem verdadeiras”, mas não têm base em fatos. Sua ousadia não é punida, mas tomada como prova de sua disposição para enfrentar o poder da elite. E ele não está sozinho. Membros do governo da Polônia afirmam que um presidente anterior, que morreu em um acidente de avião, foi assassinado pela Rússia. Políticos turcos alegam que os autores do recente golpe mal-sucedido estavam agindo sob ordens emitidas pela CIA. A bem-sucedida campanha para que a Grã-Bretanha deixasse a União Européia alertou sobre as hordas de imigrantes que resultariam da iminente adesão da Turquia ao sindicato (THE ECONOMIST, 2016, s/p.)¹.
¹Trump is the leading exponent of “post-truth” politics—a reliance on assertions that “feel true” but have no basis in fact. His brazenness is not punished, but taken as evidence of his willingness to stand up to elite power. And he is not alone. Members of Poland’s government assert that a previous president, who died in a plane crash, was assassinated by Russia. Turkish politicians claim the perpetrators of the recent bungled coup were acting on orders issued by the CIA. The successful campaign for Britain to leave the European Union warned of the hordes of immigrants that would result from Turkey’s imminent accession to the union. (tradução livre) 338 | TCC 2019
O termo resgatado pela revista, pós-verdade, foi cunhado em 1992 pelo dramaturgo Steve Tesich, em um artigo para a revista The Nation sobre os escândalos de mentiras na política dos EUA, envolvendo os casos Watergate, Irã-Contras e a Guerra do Golfo. “Nós, as pessoas livres, decidimos livremente que queremos viver em um mundo de pós-verdade” (TESICH, 1992, p.12). Tesich chamava a atenção para a seletividade presente na análise dos fatos por parte da opinião pública nos Estados Unidos em contraste à imposição da verdade em governos autoritários, como em seu país de origem, a Sérvia. A atitude que se desenhava era todos mentem, especialmente nossos líderes, qual é o problema?, "ao que parecia, o peso e o valor da desonestidade passou a ser sentida menos como exceção e mais como a norma” (KEYES, 2018, p. 20). Na pós-verdade elucidada em 2016, o mundo conheceu a forma de naturalizar a mentira e simular uma narrativa com base em fatos alternativos. [Quando] apresentamos razões para manipular a verdade de modo que possamos dissimular sem culpa. Eu chamo isso de pós-verdade. Ela existe em uma zona ética crepuscular. Permite-nos dissimularmos sem nos considerarmos desonestos. Quando o nosso comportamento entra em conflito com nossos valores, o que somos mais propensos a fazer é reconceber os nosso valores. Poucos de nós queremos pensar em nós como antiéticos, muito menos admitir isso para os outros, de modo que desenvolvemos abordagens alternativas da moralidade. (KEYES, 2018, p.20)
Em meio a maior explosão informacional da história com a internet, o mundo conheceu a epidemia das fake news, ou a desinformação online. Em uma definição mais precisa, são "todas as formas de informações falsas, imprecisas ou enganadoras criadas, apresentadas e promovidas para causar prejuízo de maneira proposital ou para fins lucrativos" (MERELES, 2017, s/p). Na internet "as notícias fraudulentas são 70 vezes mais compartilhadas do que notícias verdadeiras" (GALILEU, 2018, s/p.). As notícias falsas distinguem-se dos erros acidentais justamente por sua natureza de origem fraudulenta. Apesar de terem conquistado um espaço relevante especialmente depois da campanha de Donald Trump à presi-
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dência dos Estados Unidos, as fake news, que fazem parte do cenário da “pós-verdade”, não são um fenômeno recente, embora tenham se beneficiado enormemente da velocidade cada vez maior de propagação de informações na internet de forma geral, mais especificamente nas redes sociais e nos aplicativos de trocas de mensagens (RAIS, 2018, p. 57)
No mesmo 2016, a pós-verdade também se consolidou no Brasil, prova disso foi o compartilhamento de desinformação sobre a Operação Lava Jato, palco de fake news em todos espectros políticos. Segundo o Buzzfeed, em um ano, as 10 principais notícias falsas envolvendo a operação tiveram 3,9 milhões de engajamentos, enquanto as 10 principais notícias verdadeiras somaram 2,7 milhões (ARAGÃO, 2016, s/p.). Na semana do impeachment, 3 das 5 notícias mais compartilhadas no Facebook eram falsas e atingiram mais de 200 mil pessoas (SENRA, 2016, s/p.). A pós-verdade no Brasil criou um ambiente propício para a disseminação de fake news e a consequente mobilização em torno de conspirações no país, aumentando a polarização que moveria a máquina de mentiras nas eleições presidenciais de 2018. Depois do fim do primeiro turno no pleito, a agência de checagem de fatos, Lupa, estimou que as dez fake news mais compartilhadas no Facebook tiveram quase 1 milhão de compartilhamentos (TARDÁGUILA, 2018, s/p.). Segundo outra agência de checagem, a Aos Fatos, de julho a outubro de 2018, 113 boatos foram desmentidos pela agência sobre eleições, cujo número de compartilhamentos somados acumularam ao menos 3,84 milhões de posts no Facebook e no Twitter (LIBÓRIO; CUNHA, 2018, s/p.). Durante a conferência "Brazil UK Forum" em maio de 2019, realizada na London School of Economics e na Universidadede de Oxford, uma pesquisa do Ideia Big Data com 1660 entrevistados apontou que 2 em cada 3 brasileiros receberam notícias falsas durante a eleição. "67% concordam com a frase “eu certamente recebi fake news no WhatsApp durante a campanha eleitoral em 2018”, enquanto 17% discordam e 16% nem discordam, nem concordam". (MELLO, 2019, s/p.). Um estudo de 100.000 imagens políticas compartilhadas no WhatsApp no Brasil no período que antecedeu a eleição de 2018 "descobriu que mais da metade continha informações enganosas ou falsas; Não está claro quem estava por trás deles" (BANJOO, 2019, s/p.).
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Outros países como Sri Lanka, Malásia, Índia, México e África do Sul registraram uma verdadeira disputa digital pelos fatos e que só vem se expandindo: "um relatório de 2018 da Universidade de Oxford encontrou evidências de campanhas organizadas de manipulação da mídia social em 48 países, contra 28 em 2017" (BANJOO, 2019, s,p.). Durante o período de eleições para o Parlamento Europeu em 2019, os sites que publicaram fake news conseguiram "engajamento de 1,2 a 4 vezes maior do que os veículos tradicionais" (PEDERNEIRAS, 2019, s/p.). Mas afinal, como a pós-verdade ganhou tamanha projeção desde o início do século? Quais aspectos históricos, cognitivos, sociais, econômicos e políticos tornaram as fake news tão relevantes para a formação da opinião pública no Brasil e no cenário internacional? Como o jornalismo têm respondido ao ambiente online conspiracionista? De que forma, dentro de suas competências, a profissão pode se aliar ao público e ao Estado para promover um debate sem desinformação e manipulação política? Para responder a essas perguntas-problema, este trabalho de conclusão de curso busca compreender os fatores que levaram ao crescimento das fake news e o impacto que tiveram na opinião pública nacional e internacional. Desta forma, a pesquisa de caráter expositivo baseia-se em um levantamento bibliográfico, utilizando o conhecimento disponível em artigos, livros e análises na mídia para entender o fenômeno da pós-verdade. Na pesquisa bibliográfica o investigador irá levantar o conhecimento disponível na área, identificando as teorias produzidas, analisando-as e avaliando sua contribuição para auxiliar a compreender ou explicar o problema objeto da investigação. (KÖCHE, 2011, p. 122)
O sucesso da pós-verdade é uma crise de confiança para a sociedade, sua saúde, sua economia e suas instituições. No âmbito político, a pós-verdade tem construído um debate online radicalizado que coloca em risco a própria democracia e a eficácia de suas instituições. Quando o eleitor toma sua decisão de voto pautado em uma informação falsa, ele está de fato se apoiando em uma noção deturpada da realidade. À medida que essas informações falsas são espalhadas e normalizadas, as decisões coletivas também se deterioram em favor de uma manipulação política, e o resultado é um debate improdutivo, com narrativas descompromissadas com os fatos e coniventes a uma ideologia, um político TCC 2019 | 341
ou um eleitorado que se julgará sempre dono da verdade. "A política e a imprensa, só prosperam em sociedades democráticas, [...] onde a verdade dos fatos é um valor. Se a verdade factual cai em desprestígio ou em desuso, a imprensa perde relevância e a política simplesmente caduca" (BUCCI, 2016, s/p.). A pós-verdade, a longo prazo, produz uma política isenta de autocrítica e que caminha para o autoritarismo. Isso é o que [Hannah] Arendt quis dizer com a banalidade do mal. É a falta de consideração que permite não considerar as consequências morais do que você está fazendo quando implementa um novo sistema de transporte para a fabricação de pessoas em cadáveres. [Adolf] Eichmann² era um novo tipo de criminoso para o século XX - não apenas um assassino genocida, mas um inimigo da humanidade, porque não podia nem pensaria do ponto de vista de ninguém além de si mesmo (STONEBRIDGE, 2019, s/p.).
Conspirações sobre a vacinação criaram falsas atribuições no Reino Unido, na esteira da popularização de boatos que atrelaram a imunização à crescente incidência de diagnósticos de autismo. Como resultado, as taxas de vacinação caíram de 92% para 73%, e perto de 50% em certas áreas de Londres. O que resultou em surtos de sarampo e casos de morte. "Em junho de 2008, a doença tinha uma vez mais se tornado endêmica na Grã-Bretanha, 14 anos após sua total erradicação" (D'ANCONA, 2018, p. 69). No Brasil, fake news compartilhadas em 2015 no contexto de epidemia do zika vírus instalaram o desespero na população com mensagens alertando sobre um lote vencido da vacina contra rubéola aplicada em gestantes, e que supostamente "causou o aumento de casos de microcefalia" (UOL, 2016, s/p.). Em 2017 o país teve o menor índice de vacinação em crianças menores de 16 anos e o resultado de tanto boato está custando caro: depois de 10 mil casos confirmados da doença, o país corre risco de perder o certificado de país livre do sarampo.
²Adolf Eichmann foi um dos arquitetos do holocausto do Terceiro Reich. 342 | TCC 2019
Quem participa do debate político via Twitter pode ficar na ilusão de que há um debate histórico sobre se o regime instaurado em 1964 era uma ditadura ou não. Esta é a nova realidade no mundo pós-redes sociais. O número de temas passíveis de debate se ampliou. Debatemos, agora, se houve ditadura no Brasil. Se vacinas são mesmo saudáveis. Até se a Terra é realmente elipsoide (DORIA, 2019, s/p.).
A pós-verdade é tóxica também para as empresas, os negócios e a economia, uma vez que a confiança é vital para transações e investimentos, "um vídeo viral pode afetar a reputação e o preço das ações. Já estamos vendo notícias falsas serem usadas em esquemas de ações do tipo inflacione e venda" (BERINATTO, 2018, p. 53). Entre assassinatos de reputação, algumas campanhas viralizam rapidamente online, como foi o caso dos boatos criados em fóruns da deep web de uma campanha do Starbucks que supostamente dava desconto em seus produtos para imigrantes vivendo nos Estados Unidos sem documentação (TAYLOR, 2017, s/p.). Um tweet da agência de notícias norte-americana Associated Press, em 2013, divulgou a notícia que o então presidente Barack Obama havia ficado ferido em uma explosão. Rápido a notícia se espalhou. De nada adiantou a agência afirmar que a conta havia sido hackeada: apesar da notícia não aparecer em mais nenhum lugar, em minutos US$ 130 bilhões sumiram das bolsas de valores do país. (GALILEU, 2018, s/p.)
O risco para a democracia, diante desse quadro de desinformação epidêmica, é desastroso. Entender os mecanismos da pós-verdade e como ela se fortalece, para a elaboração de estratégias mais eficazes para solucionar essa batalha pelos fatos é tarefa crucial para as sociedades democráticas neste século digital. Essa monografia aborda o tema em seis capítulos. O primeiro trata o conceito da pós-verdade, como o fenômeno surge e as relações de Estado e mídia que desembocaram em conspirações e fake news. O segundo capítulo refere-se à psicologia da mentira, e como vieses cognitivos e de grupo contribuem para o narcisismo ideológico nas redes que alimenta a desinformação. O terceiro capítulo conta a história da mentira e da pós-verdade na TCC 2019 | 343
política do Brasil e como o radicalismo online se formou desde as Jornadas de Junho, em 2013. O quarto capítulo aprofunda os dilemas do jornalismo na era da pós-verdade, e como a profissão tem tentado combater a desinformação com o fact-checking e novos manuais de redação. O quinto capítulo relata como ocorreu de forma massiva a desinformação online no Brasil durante o pleito presidencial de 2018. A conclusão tece uma crítica ao relativismo excessivo e aos malefícios da pós-verdade para a sociedade e as estruturas da democracia. Nele, também se avalia lições possíveis de se aprender para a criação de um debate nacional mais produtivo que envolve o jornalismo, as escolas, centros de pesquisa e outras instituições. 1. A PÓS-VERDADE Em 2016 houve um pico de uso da palavra pós-verdade na internet, que cresceu 2.000%, o que levou o termo a ser eleito a palavra do ano da língua inglesa pelo Dicionário Oxford (FÁBIO, 2016, s/p.). A pós-verdade é um fenômeno onde há uma aceitação de informação por um indivíduo ou grupo de indivíduos, que assumem essa informação como verdadeira por razões pessoais como preferências políticas ou crenças religiosas, por exemplo (SIGNIFICADOS, 2018, s/p.). A palavra composta pós-verdade exemplifica uma expansão no significado do prefixo pós- que se tornou cada vez mais proeminente nos últimos anos. Em vez de simplesmente referir-se ao tempo após uma situação ou evento especificado - como no pós-guerra ou pós-correspondência - o prefixo em post-truth tem um significado mais parecido com 'pertencer a um tempo em que o conceito especificado se tornou sem importância ou irrelevante' (DICIONÁRIO OXFORD, 2016, s/p.).
A pós-verdade não implica necessariamente em uma mentira, mas sempre implica em uma negligência com relação a verdade e a busca por explicações factuais e objetivas. A política da pós-verdade é mais do que apenas uma invenção das elites dominantes que foram superadas. O termo seleciona o coração do que é novo: que a verdade não é falsificada ou contestada, mas de importância secundária. Uma vez, o propósito da mentira política era 344 | TCC 2019
criar uma visão falsa do mundo. As mentiras de homens como o senhor Trump não funcionam assim. Eles não pretendem convencer as elites, nas quais seus eleitores alvo não confiam nem gostam, mas reforçar preconceitos (THE ECONOMIST, 2016, s/p.)³.
O termo ganhou o prêmio de "palavra do ano", pelo Dicionário Oxford em 2016, "a novidade não é a desonestidade dos políticos, mas a resposta do público a isso. A indignação dá lugar à indiferença, e por fim, à conveniência" (D'ANCONA, 2018, p. 34). Passa-se então de "uma ética de estilo Menu à La Carte para outra de estilo buffet: selecionando e escolhendo a qual obedecer” (KEYES, 2018, p. 24). Na pós-verdade, as pessoas creem obstinadamente em suas visões de mundo e apenas procuram aceitar aquelas informações que confirmam suas crenças, que não são postas em questionamento. Assim, perde a força de persuasão o contraste de argumentos, e as pessoas sucumbem a boatos, sem propensão a analisar os fatos. Esse é um caldo de cultura propícia à disseminação das fake news. (RAIS, p. 80, 2018)
Importada dos Estados Unidos pelo Brasil, a pós-verdade nasce da mistura de diversos fatores. Um deles é a resposta da população frente às mentiras dos políticos como arma de propaganda política e coesão social, normalizada com o tempo, no âmbito de tantos escândalos institucionais. A pós-verdade é multidisciplinar, dividindo-se entre a política, psicologia, sociologia e tecnologia, mas sua principal característica é valer-se do emocional das pessoas, se apegando aos "ressentimentos específicos do público" (D'ANCONA, 2018, p. 27). Portanto, é um fenômeno que ganha proeminência e força em épocas de crises e convulsões sociais que despertam as paixões humanas intensas, como o ódio, por exemplo. O Brexit foi marcado pela noção "perniciosa de que a mobilidade social da população é ³But post-truth politics is more than just an invention of whingeing elites who have been outflanked. The term picks out the heart of what is new: that truth is not falsified, or contested, but of secondary importance. Once, the purpose of political lying was to create a false view of the world. The lies of men like Mr Trump do not work like that. They are not intended to convince the elites, whom their target voters neither trust nor like, but to reinforce prejudices. (tradução livre) TCC 2019 | 345
um jogo de soma zero: aqueles que vêm para o Reino Unido são um bando de parasitas que privam os britânicos nativos de lugares nas escolas, moradias, empregos" (D'ANCONA, 2018, p. 29). A pós-verdade requer uma vida em estrutura de show na qual a sala de aula é o ensaio do espetáculo. A atitude estética, humorada e flexível, corrobora este cenário no qual é mais importante quem está falando, com seu carisma e estilo, do que argumentos, demonstrações ou provas de qualquer autoridade anônima que se apresenta como desinteressada. A confiança na última palavra e o consenso do momento são o que importa. Divergentes merecem no máximo o tratamento de “inclusão” e no mínimo o desprezo silencioso. Como se nenhuma conversa que não possa ser resolvida em menos de quinze minutos valha a pena. (DUNKER et al., 2017 p. 24)
"A decepção política é subserviente à pós-verdade" (D'ANCONA, 2018, p. 122), nela, os debates políticos se reduzem à criação de imagens políticas populistas que nunca erram ou mentem, defendidos com empenho por seus partidários polarizados. A descrença nas instituições, atrelada à insatisfação e as mentiras na política, contribuiu para que tanto no Brexit quanto na eleição presidencial americana em 2016 houvesse a manifestação de um voto de protesto contra a classe política e seu status quo. Na era do imprevisto, onde o futuro é incerto em meio a mudanças climáticas, econômicas, digitais, sociais e políticas tão marcantes, há o aumento da "ampliação da margem de ação dos indivíduos nessa sociedade de transição e risco", (ABRANCHES, 2017, p.73), essa ação tomou forma de um grito pela retomada do controle. As duas campanhas "iluminaram a paisagem em transformação, cujo surgimento a classe política e midiática falharam em registrar", (D'ANCONA, 2018, p. 21-22). E não só na sociedade ocidental a desinformação massiva foi usada como arma política. O jornalista britânico Peter Pomerantsev (2016, p. 2712) descreve a Rússia do presidente Vladimir Putin nesses moldes, mas se
Tática de desinformação russa que se vale de um grande volume de produção de informações fraudulentas. 4
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valendo da mídia para disseminar notícias manipuladas em diversas plataformas, simultaneamente. A tática foi usada para legitimar conflitos e atitudes do presidente russo em prol da dezinformatsiya4, principalmente depois da eclosão da crise na Criméia, em 2013. Mais tarde, a estratégia viria a ser batizada de Firehose of Falsehood. O alto número de canais e mensagens russas tinha a disposição clara de disseminar verdades parciais ou ficções, criando uma nuvem de propaganda que "entretém, confunde e sobrecarrega o público. Também é rápida, contínua, repetitiva e sem compromisso com a consistência". (PAUL; MATTHEWS, 2016, p.1) A pós-verdade transfere a autoridade da ciência ou do jornalismo sério para a produção das opiniões criando certos efeitos. A dificuldade em abordar o problema da ciência em toda a sua complexidade exige a cobertura de uma área muito extensa com preceitos simples e abrangentes. Aliás, nada mais tentador do que pular os dados técnicos, os detalhes e as incertezas de um problema real com uma boa opinião de conjunto, ainda mais se ela for sancionada pela “razão universal”, que limpa o terreno e nos dispensa de considerar certos ângulos adicionais e excessivos na matéria. Assim vamos comprando a ideia de que existem coisas científicas e coisas “opinativas” ou digamos “políticas”. (DUNKER et al., 2017, p. 39-40)
Na pós-verdade, jornalistas, cientistas e professores, estigmatizados em seus edifícios de conhecimento, são caçados pelo senso comum ideologizado. Trump, ao atribuir o aquecimento global a uma teoria criada pela China para diminuir a economia americana ou ao exclamar na Casa Branca "eu não vou te deixar fazer uma pergunta porque você publica notícias falsas. Quieto!" (THE DAILY BEAST, 2017, s/p.) a um dos repórteres da CNN, veículo que ele chamou de fake news, mostrava qual caminho deveria ser seguido: o que retirasse a autoridade da ditadura dos dados que a ciência e o jornalismo supostamente pregam, conferindo empoderamento às opiniões do senso comum ideologizado. Se a tecnologia digital é o hardware, a pós-verdade provou ser um software poderoso. Ela reduz o discurso político a um videogame em que o jogo interminável, em múltiplo níveis, é o único ponto de exercício. Quando
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Trump twittou que a “Mídia fake news” era a “inimiga do povo”, ele não estava apenas se apropriando do léxico da autocracia. Ele estava recomendando que os cidadãos norte-americanos se comportassem como jogadores, pegassem seus consoles e mirassem nos vilões que carregavam caderninhos de anotação. É tudo uma questão de escolha de times, intensidade de sentimentos e escalada dos insultos. É a política do puro espetáculo (D'ANCONA, 2018, p. 58-9).
1.1 VERDADES E MENTIRAS Definir o que é verdade sempre foi um desafio da humanidade. Em passagem de João (18:38) na Bíblia, nem mesmo Jesus conseguiu responder à pergunta de Pilatos, "O que é a verdade?" (RAIS, 2018, p.222). O filósofo grego Protágoras pensava de uma forma mais relativista, em que qualquer coisa “é para mim tal como me pareça, e é para você tal como lhe pareça. Vários séculos depois Hobbes afirmou que “Verdadeiro ou Falso são atributo do discurso, não das coisas” (KEYES, 2018, p.143). Há ainda, um eurocentrismo na visão que fixa a distribuição de verdades e mentiras como um fenômeno originado na Europa. Quando a linguagem humana começou a ser usada entre os Homo sapiens, esse momento "estava muito proximamente relacionado ao momento em que um homem inventou uma história, um mito a fim de desculpar um erro que ele cometeu" (KEYES, 2017, p. 27). Seja para impressionar alguém ou para sobreviver, a capacidade de enganar aprimorou a habilidade do homem de não apenas caçar presas, escapar predadores ou impedir inimigos, a verdade tornou-se ao longo do tempo, um agregador social. Historicamente, os grupos sociais têm tido uma atitude fundamentalmente diferente em relação a dizer a verdade a conterrâneo e dizer a verdade a estrangeiros. [...] Ludibriar estranhos não era considerado mais pecaminoso do que ludibriar um bisonte a despencar de um penhasco. (KEYES, 2018, p. 31-32)
A mentira já foi vista como um remédio inevitável se usado como motivo político. O filósofo grego Platão, que detestava mentirosos, "abriu uma exceção para o governante que, por vezes, sonega aos governados uma informação [...] desde que no interesse da própria cidade" (BUCCI, 2016, 348 | TCC 2019
s/p.). No século XVI, Nicolau Maquiavel estabeleceu a mentira como uma prerrogativa válida a ser usada por um bom governante. O profeta Maomé valorizava a verdade entre os seus seguidores, sendo necessário o uso da mentira apenas para preservar a harmonia doméstica (KEYES, 2018, p. 35). A verdade como um valor para todos independente da crença foi apontada pelo filósofo Agostinho de Hipona em 395 d.C. Com a constante manipulação dos fatos, a procura por explicações ausentes de dogmas se tornou fundamental para desamarrar as cordas da sociedade contemporânea, desvinculando de alguma entidade, seja o Estado ou a Igreja, seu monopólio exclusivo sobre a verdade, como defendiam os iluministas já no século XVIII. O filósofo Immanuel Kant dizia que a verdade "é um dever que deverá prevalecer sempre e, como tal, é considerado base de todos os outros deveres. Da mesma forma, a verdade é essência de todos os princípios e somente por meio dela é que será possível compreendê-los" (RAIS, 2018, p. 222). Outro iluminista, Thomas Jefferson, em seu “projeto de lei para a maior difusão geral do conhecimento”, de 1779, expressou precisamente a necessidade da verdade como anteparo contra o autoritarismo e a ditadura: Mesmo sob as melhores formas [de governo], aqueles a quem foi atribuído poder, no devido tempo, e por meio de lentas operações, perverteram-se na tirania; e acredita-se que a maneira mais eficaz de impedir isso seria, iluminar, na medida do praticável, as mentes do público em geral e, sobretudo, dar-lhe conhecimento desses fatos, que a história exibiu [...] eles podem ser capacitados a perceber a ambição sob todas as suas formas e impelidos a exercer seus poderes naturais para derrotar os intentos dela (D'ANCONA, 2018, p. 91).
Se antes a verdade era usada como meio de coesão social, é nos anos 1960 com os pós-modernos Michel Foucault, Richard Ashley, Jean-François Lyotard, Jacques Derrida, Jean Baudrillard, Theodore Adorno e Walter Benjamin que o relativismo renasce e vira uma resposta, em forma de subversão, a tudo que representava a verdade difundida pelas elites políticas, econômicas, brancas e masculinas. O relativismo tem sido ascendente desde que as guerras culturais começaram nos anos 60. Naquela época, TCC 2019 | 349
era abraçado pela Nova Esquerda, que estava ansiosa para expor os preconceitos do pensamento ocidental, burguês e dominado pelos homens; e por acadêmicos promovendo o evangelho do pós-modernismo, que argumentava que não existem verdades universais, apenas pequenas verdades pessoais - percepções moldadas pelas forças culturais e sociais do dia a dia. Desde então, argumentos relativistas foram sequestrados pela direita populista. (KAKUTANI, 2017, s/p.)5.
A pós-verdade e seu relativismo aparecem como uma segunda onda dentro do movimento pós-moderno. A estrutura de verdade criada pelo sistema político e disseminado em formato de mídia, foi rompida pela noção desses teóricos que questionavam a natureza daquelas verdades institucionais enquanto opressão ideológica. Muitos antropólogos, por exemplo, afirmam que não há qualquer racionalidade que tenha validade universal, mas apenas diferentes racionalidades de diferentes culturas. Segundo essa doutrina, a que podemos chamar “relativismo”, a verdade é múltipla e depende do ponto de vista do sujeito ou do contexto em que é formulada. Assim, todas as afirmações, sejam científicas, filosóficas, religiosas, etc., seriam diferentes “narrativas”, que deveriam ser compreendidas em seus respectivos contextos históricos, culturais e lingüísticos, pois apenas revelariam os preconceitos culturais de diferentes narradores. Os critérios de verdade, dizem-nos, são relativos às diferentes práticas e culturas e não há qualquer juiz ou padrão de racionalidade imparcial e superior capaz de avaliar essas
Tradução: Relativism has been ascendant since the culture wars began in the 1960s. Back then, it was embraced by the New Left, who were eager to expose the biases of western, bourgeois, male-dominated thinking; and by academics promoting the gospel of postmodernism, which argued that there are no universal truths, only smaller personal truths – perceptions shaped by the cultural and social forces of one’s day. Since then, relativistic arguments have been hijacked by the populist right. 5
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diferentes narrativas (SILVA, 2005, s/p.).
Apesar da atitude contestadora, os teóricos pós-modernos não imaginavam que futuramente suas teorias colocariam em cheque a base integral das instituições em nome do construto social. Apesar dos autores inspirarem uma forma mais pluralista de se ver o mundo, "seus discursos, ao questionarem a própria noção de realidade objetiva, desgastaram muito a noção de verdade. Seu terreno natural era a ironia, a superfície, o distanciamento e a fragmentação" (D'ANCONA, 2018, p. 85). Por mais que seja válida intelectualmente, a dificuldade de identificar o que é objetivamente verdadeiro não nos dá licença para dizermos, como se fosse verdadeiro, o que sabemos ser falso. Infelizmente uma conclusão leva muito facilmente à outra. Uma vez que decidamos que a verdade é um construto social, segue-se facilmente que mentir não pode ser tão ruim afinal. [...] Se não podemos distinguir verdade de mentiras, será que a honestidade não é superestimada? (KEYES, 2018, p. 144).
1.2 MÍDIA, ESTADO E NARRATIVAS PELA VERDADE As notícias fraudulentas sempre existiram. Alguns registros datam que desde a antiguidade foram escritas calúnias e difamações por historiadores para manipular o debate e entendimento da verdadeira trajetória dos fatos. Procópio foi um historiador bizantino do século 6 famoso por escrever a história do império de Justiniano. Mas ele também escreveu um texto secreto, chamado "Anekdota", e ali ele espalhou "fake news", arruinando completamente a reputação do imperador Justiniano e de outros. Era bem similar ao que aconteceu na campanha eleitoral americana. (VICTOR, 2017, s/p.).
Entender o ambiente do jornalismo e sua evolução, principalmente nos Estados Unidos que tanto influenciou o comportamento da imprensa brasileira, é fundamental para compreender a evolução do monopólio da interpretação dos fatos e o surgimento da pós-verdade atrelada à criação de narrativas. Com a popularização do jornal nos lares americanos, por volta de
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meados do século XIX, a imprensa enfrentou uma sociedade em plena transformação social. Beirando a modernidade, as cidades norte-americanas ganhavam corpo num contexto onde tudo o que era sólido se desmancha no ar, tudo o que era sagrado agora é profanado e o homem moderno é obrigado a encarar, finalmente, com sentidos sóbrios suas reais condições de vida. Com um público tão grande e diverso em Nova York, Joseph Pulitzer e Willian Randolph Heartz utilizavam diversas formas e conteúdos sensacionalistas para ganhar visualização, se valendo de gatilhos emocionais, como medo, ódio e amor, o que viria a marcar os traços de um jornalismo ainda adolescente. O período nomeado de ‘jornalismo amarelo’ persistiu até a 1910 e foi muito caracterizado pelo uso massivo de propaganda com forte viés editorial e baixa credibilidade, (EMERY; SMITH, 1954, p.415-16). Nessa época a expressão "fake news" foi usada massivamente pela primeira vez (FALLON, 2017, s/p.). No começo do século XX, o mundo logo se deparou com um conflito sem precedentes, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), com várias potências lutando pela hegemonia do mundo. Ligado à capacidade industrial de cada país, o conflito inaugurou um embate global de narrativas. À medida que cada país se comprometeu politicamente com a guerra, surgiu a necessidade mais crítica e urgente de forjar elos sólidos entre o indivíduo e a sociedade. Tornou-se essencial mobilizar sentimentos e lealdades, instilar nos cidadãos ódio e medo contra o inimigo, manter elevado seu moral diante das privações e captar-lhes energias em uma efetiva contribuição para sua nação (DEFLEUR, 1993, p.86).
As mentiras também foram utilizadas para moldar a opinião pública de governos e manipulá-los pela emoção. Um general britânico de brigada, J. V. Charteris, fez uma colagem de duas imagens – uma foto de cadáveres de soldados alemães sendo levados para um enterro atrás da linha de frente e outra foto de cavalos mortos a caminho de uma fábrica alemã que fazia sabão com os animais. A foto que Charteris enviou para Xangai supunha que cadáveres alemães estavam a caminho de uma fábrica de sabão. A profanação com o corpo dos mortos foi considerado um dos motivos pelos qual os chineses declararam guerra contra a aliança alemã tempos depois. Era uma teoria relativamente simples e coerente 352 | TCC 2019
com a imagem da sociedade de massa que era a herança intelectual do século XIX. Admitia que estímulos claramente concebidos atingiriam cada indivíduo da sociedade de massa através da mídia, que cada pessoa os perceberia da mesma maneira geral, e que eles provocariam uma reação mais ou menos uniforme de todos (DEFLEUR, 1993, p.87).
Essa batalha de narrativas foi arrastada também para as décadas seguintes. Com a chegada da Segunda Guerra (1939-1945), os EUA investiram em peças midiáticas contra o nazismo, filmes, artigos e até histórias em quadrinhos. No eixo, Hitler sustentava sua posição nos Protocolos do Sábio de Sião6, e o ministro de propaganda da Alemanha do terceiro Reich, Joseph Göebbels, criava a sua própria visão dos fatos pró-nazismo, valendo-se do pressuposto de que uma mentira repetida mil vezes torna-se uma verdade . Por períodos bem longos, de qualquer forma, pessoas podem permanecer imperturbáveis ante evidentes mentiras, porque simplesmente se esquecem de um dia para o outro do que foi dito, ou porque estão sob um bombardeio tão constante de propaganda que ficam anestesiadas com tudo o que acontece. (Os nazistas) apenas dizem a cada um o que acham que ele gostaria de ouvir supondo que provavelmente com razão, que ninguém se interesse pelos problemas alheios (ORWELL, 2017, p.93-4).
Nessa época, o jornalista britânico George Orwell, que foi uma das principais vozes contra o totalitarismo, escreveu reflexões importantes sobre a manipulação da informação por parte dos regimes como uma estratégia para se controlar o passado e consequentemente o futuro. A verdadeira história dessa guerra nunca seria ou poderia ser escrita. Números exatos, relatos objetivos
Texto antissemita que descreve um suposto projeto de conspiração por parte dos judeus e maçons de modo a atingirem uma suposta dominação mundial através da destruição do mundo ocidental. 6
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do que tinha acontecido, simplesmente não existem. E se Franco ou qualquer um semelhante a ele permanecer no poder, a história de guerra vai consistir bem amplamente de ‘fatos’ que milhões de pessoas viventes sabem serem mentiras. Assim, para quaisquer finalidades práticas, a mentira terá se tornado verdade (ORWELL, 2017, p.767).
No contexto da Guerra Fria, tanto a máquina midiática americana como a soviética produziram mentiras e boatos de forma a distorcer a opinião pública, usando o apelo emocional como medo e o ódio. Nos EUA, o contexto da cruzada anti-comunista do presidente Joseph McCarthy, o macartismo (LESME, 200?, s/p.), e o escândalo posterior envolvendo a guerra do Vietnã, Pentagon Papers (UPI, 200?, s/p.). Na URSS, mais boatos e várias acusações de que os estadunidenses teriam criado o vírus da HIV (QLU, 2017, s/p.). O sentimento nacional tomou formato de propaganda televisiva, "os cidadãos tinham de odiar o inimigo, amar sua pátria e devotar-se ao máximo ao esforço de guerra" (DEFLEUR, 1993, p.86). Incentivada por líderes de governos, a ideologia hegemônica era fatalista e pregava uma verdade ampliada ao âmbito nacionalista e legitimadas pela relação do estado com a mídia (IANNI, p.12, 1999). A raiz da pós-verdade também está ligada à mídia. Mais especificamente, “ao surgimento da televisão. Seus espectadores são inundados, desde a primeira infância, pelas mentiras, meias-verdades e totais enganações desse meio” (KEYES, 2018, p. 173), um mundo de fronteiras onde o analógico e o digital ganham contornos cada vez menos definidos por realitys shows. O show na TV construiu credibilidade com o emocional dos cidadãos e, aos poucos, se normalizou. O resultado foi a vida cotidiana, comparada ao consumo e aos impulsos pós-modernos, se tornando opaca e desinteressante frente à espetacularização das telas. Aos poucos, a fronteira entre a simulação e o real se dissipava, transitando "entre textos verbais e imagéticos como uma produção publicitária, a verdade para ver, sem necessariamente ser verdade. A verdade que cola" (DUNKER et al., 2017, p.114). O espetáculo consiste na multiplicação de ícones e imagens, principalmente através dos meios de comunicação de massa, mas também dos rituais políticos, religiosos e hábitos de consumo, de tudo aquilo que falta à vida real do homem comum: celebridades, atores, políticos, per354 | TCC 2019
sonalidades, gurus, mensagens publicitárias - tudo transmite uma sensação de permanente aventura, felicidade, grandiosidade e ousadia. O espetáculo é a aparência que confere integridade e sentido a uma sociedade esfacelada e dividida. ( JÚNIOR, 2001, p. 69)
Na sociedade de consumo de massa "a quantidade tornou-se qualidade" (BENJAMIN, 1975, p. 31), e a explosão de impulsos se torna essencial. "Os homens são entregues a si mesmos, mas se tornaram estranhos a si mesmos, “alienados”, perdendo suas raízes e suas comunidades de pertencimento, são suscetíveis de serem manipulados". (MAIGRET, 2010, p. 9798). A pós-verdade toma uma forma de espetacularização dos fatos na esteira da popularização da mídia nos anos 80 com o presidente dos EUA Ronald Reagan, um ator que se aventurou na política com forte apelo emotivo, difundia sua imagem como um mito que caía "como luva às técnicas narrativas do telejornovelismo, que descrevia a Guerra Fria como a luta do “Bem” contra o “Mal” (JÚNIOR, 2001, p. 226). O republicano foi impulsionado sob forte propaganda em que "romanceava assuntos grandes e pequenos com o aprumo de um artista experiente, então parecia surpreso quando sua honestidade era questionada” (KEYES, 2018, p. 127). Reagan se apresentava como salvador das desilusões americanas carregando o embate macartista e midiático da guerra fria estadunidense, se antes para viver a modernidade era necessária a verdade, agora, segundo o pós-moderno Baudelaire, "era preciso ter constituição de herói" (KEHL, 2019, p.28). Não por acaso, "a 'era Reagan' fabricou Rambo, o guerrilheiro símbolo da luta contra o comunismo e portador dos ideais da Grande América." ( JÚNIOR, 2001, p. 226). Se valendo do pensamento de "mitos úteis são mais significativos do que as verdades estéreis" (KEYES, 2018, p. 142), misturado ao relativismo dos pós-modernos, a conhecida geração “Baby Boomer” surge no mundo ocidental. Ela foi não só impactante por sua grande quantidade de pessoas, mas também por seus apelos emocionais tão fortes e que valorizavam a espontaneidade e o individualismo, muito mais do que a geração de seus pais que eram fiéis às verdades instituídas. "Mesmo aqueles que não aderiram a esse credo estavam cercados por uma cultura consumida por abrir-se emocionalmente" (KEYES, 2018, p. 183).
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Como artistas e políticos, eles [boomers] não se sentem isentos de ética, e sim detentores de uma ética singular. Trata-se de mais um caso de alt.ética em ação, neste caso, uma baseada no pressuposto boomerista de que, porque a sua integridade é um dado, eles não precisam respeitar os padrões morais que se aplicam aos meros mortais [...] eles têm um curioso código ético: “Já que eu disse, deve ser verdade. Mentiras são coisas que outras pessoas dizem. [...] Sou uma pessoa honesta. Eu disse isso. Portanto, o que eu disse é a verdade. (KEYES, 2018, p. 185-191)
O apelo emocional se aliou à crise de credibilidade crescente na mídia tradicional e foi fundamental para a pós-verdade uma vez que abriu espaço para o relativismo e a narrativa própria. A forma como os usuários avaliam o jornalismo usando como referência apenas seu viés pessoal é fator preponderante nesse enfraquecimento a mídia. Um estudo conduzido a partir da cobertura da mídia no massacre de Sabra e Chatila em 1982 no Líbano (VALLONE; LEPPER, 1985, p. 577), descobriu o efeito da mídia hostil. Neste estudo, três grupos ideológicos (um pró-Israel, um pró-Líbano e outro neutro) trataram de avaliar o impacto da imprensa na opinião pública a respeito do massacre. O que se descobriu foi que entre esses grupos a mesma cobertura imparcial da imprensa foi vista como neutra, enviesada para ataque ou para defesa de Israel. Ou seja, o viés estava muito mais associado ao receptor do que ao trabalho da mídia de fato. Para a pós-verdade, nada mais fácil do que as pessoas tratarem a mídia como hostil, assim fica mais fácil ignorar os fatos e assumir um papel enviesado para aproveitar o engajamento em grupo. O mundo ocidental já acompanhava os efeitos de cem anos de jornalismo quando os EUA entraram na Guerra do Golfo em 1991. O espetáculo por trás da notícia virou regra e apresentou uma releitura da cultura islâmica de forma completamente pejorativa, patrocinada pela televisão, e que viria a ditar debates futuros como a islamofobia. [Foi o] suposto choque civilizatório entre os Estados Unidos – portador de valores cristãos, democráticos e pluralistas da civilização ocidental, e o Iraque – representante do Islã, uma religião intolerante sustentada por fanáticos terroristas que ainda vivem no tempo dos ca-
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melos e obrigam suas mulheres a usar véu.[...] Milhões de telespectadores acreditam que, praticamente, não houve mortes na Guerra do Golfo, porque viram na televisão tratar-se de uma “guerra limpa”, mesmo quando eram advertidos de que as imagens haviam sido censuradas por Washington por “razões de segurança nacional” ( JÚNIOR, 2001, p.116-8).
Apesar de apresentar uma visão distorcida, a cobertura da guerra no Iraque chamou atenção para a mudança na postura da sociedade americana. Nos anos 60, na guerra do Vietnã por exemplo, a cobertura da mídia foi decisiva para mostrar a violência excessiva do conflito, mas, anos depois, a mídia e a população foram colocados em xeque, sobre o dilema de saber dos fatos e se incomodar com eles, ou fechar os olhos e viver em uma simulação, nos moldes de um show. Naquele momento, narrativas paralelas conviviam e a pós-verdade se consolidava de fato na sociedade ocidental. A transmissão da Guerra do Golfo consagrou os jogos de simulação, a “fusão/confusão da informação com a informática”, uma profusão de dados que o receptor absorve sem estabelecer fronteiras. Não se sabe onde termina a simulação e onde começa a realidade ( JÚNIOR, 2001, p. 121).
1.3 INTERNET Uma das maiores mudanças na horizontalidade da comunicação midiática acontecia justamente no período da Guerra do Golfo, quando um sistema que inicialmente funcionava como intermediador de informações em laboratórios de pesquisa, conhecido como Arpanet, havia ganhado tanto destaque no meio acadêmico que passou a ser comercializado nos EUA, era o começo da internet, (SILVA, 2001, s/p.). A internet possibilitou um universo informacional sem limites, capaz de conectar o mundo e reduzir fronteiras. Sua comunicação abriu caminho para que as pessoas pudessem se comunicar, abolindo o abismo entre o centro e a periferia, criando infinitas narrativas dentro de cada contexto. Pela primeira vez, era possível difundir pensamentos com uma amplitude jamais vista anteriormente e de forma ativa. "libertando-nos por um lado da ditadura do pensamento analítico estreitamente escolar e, pelo outro, das tiranias dos meios de comunicação de massa, da passividade", (MAIGRET, TCC 2019 | 357
2010, p. 406). Ficava clara a radical mudança de peso entre os interlocutores do diálogo político, até então hierárquico e partindo do líder para seus subordinados, e que na internet transformou-se em relações lateralizadas ou niveladas por baixo. O resultado foi a rápida normalização da desinformação e das narrativas paralelas em redes sociais de conteúdo dinâmico, como o Twitter, onde "as fake news se disseminam seis vezes mais rápido do que notícias verdadeiras" (LUIZA, 2019, s/p.). O relacionamento entre Estado e mídia foi colocado em xeque "por uma malha de redes vinculadas não por laços institucionais, mas pelo poder viral da mídia social, do ciberespaço e dos sites, que se deleitam em sua repugnância em relação à grande mídia". (D'ANCONA, 2018. p. 63). A saturação midiática e a convergência oferecem em tal grau a possibilidade informativa que, como efeito colateral, dificultam ao sujeito a tarefa de permanecer informado sobre a totalidade de assuntos, tal a gama de fontes, meios e versões apresentadas. Assim, ganham importância as vozes mais representativas do cenário midiático, como influenciadores e especialistas, mas também como personagens aos quais o sujeito se vincula não somente devido à expertise, mas ao grau de aproximação consigo e com sua visão de mundo, crenças e costumes, a tal vinculação (MENDES, 2019, s/p.).
O colapso da confiança "é a base social da era da pós-verdade", (D'ANCONA, 2018, p. 42). Na tentativa de reprodução do espetáculo mainstream, a imprensa tradicional apresentou forte perda de credibilidade ao se desvirtuar dos relatos comprometidos com os fatos por influência política ou sensacionalismo. No início do século a mídia era "questionada por sua quase generalizada subserviência ao "patriotismo" de George W. Bush" (AJZENBERG, 2003, s/p.), como foi o caso da jornalista premiada do New York Times, Judith Miller, autora de "reportagens afirmando que o Iraque tinha armas químicas, o que, mais tarde, se revelou falso" (SAYURI, 2019, s/p.). A derrocada do jornalismo também se atrelou a escândalos de plágio e fabricação de matérias envolvendo outros jornais grandes como Der Spiegel e o Washington Post. A mídia tradicional descredibilizada logo abriu espaço para o relativismo pois “quando um ou um punhado daqueles de 358 | TCC 2019
qualquer profissão são expostos como desonestos, todos os outros dessa profissão ficam de olho roxo” (KEYES, 2018, p. 219). Observa-se que a confiança na mídia caiu 4 pontos de 2013 para 2014, em todo o mundo. Mas o mais interessante é observar como os novos meios digitais e outros processos de comunicação desvinculados da mídia tradicional passaram a contar com muito mais credibilidade, avançando no campo antes dominado por aquilo que chamamos classicamente de imprensa. O extrato da amostragem considerado como “público informado” declara que, ao buscar informações sobre qualquer assunto, confia tanto na mídia tradicional quanto nos sistemas de busca online. No Brasil, esse aspecto é ainda mais diferenciado: as ferramentas de busca como o Google têm a confiança de 81% dos consultados (COSTA, 2015, s/p.).
A internet propulsionou a pós-verdade e a degradação da memória, impactando fortemente a percepção humana de um fato. O frenesi por velocidade trouxe um paradoxo, "a produção de uma quantidade brutal e incessante de informação também produz a "amnésia permanente" ( JÚNIOR, 2001, p. 89). Não há tempo para refletir sobre um fato, apenas para absorvê-lo, compartilhá-lo e se preparar para o próximo. Essa estrutura cria lacunas informacionais ao longo do tempo e que prejudicam o melhor entendimento de um fato amplo ou complexo. Ora, em um mundo em que a informação existe em abundância, para todos, tanto a rapidez como a eficácia na capacidade de obter uma informação exclusiva e na de disseminá-la adquiriram uma urgência dramática, acirrando ainda mais a competição entre os vários veículos de comunicação de massa. Ser mais rápido tornou-se uma demonstração de prestígio, de poder financeiro e político. É por essa razão que toda a produção da mídia passa a ser orientada sob o signo da velocidade (não raro, da precipitação) e da renovação permanente ( JÚNIOR, 2001, p. 88).
Agora, quem tinha acesso à internet também conseguia participar das narrativas de forma mais ativa, capaz de formular e divulgar amplamente TCC 2019 | 359
suas ideologias nas primeiras redes sociais ou em cartas online, os chamados e-mails, "operando uma conciliação feliz entre a carta e a comunicação telefônica, a espontaneidade e a distância, a transmissão instantânea e o diferido" (MAIGRET, 2010, p. 414). Os primeiros e-mails e sites, principalmente os não institucionalizados, apresentaram uma nova dinâmica de debate massivo expandido das cartas. Falar traz um tempo diferente do escrever. Temos que esperar o outro terminar uma frase [...] Quando estamos falando com o outro, precisamos medir a perda ou ganho de atenção do locutor, avaliando se estamos indo muito rápido ou demasiadamente lento em nossas ideias [...] Quando temos um texto, um e-mail ou um torpedo, ou mesmo uma carta, podemos decidir por onde começar, pelo fim, pelo meio ou pelo começo (DUNKER et al., p. 32, 2017)
Essa dinâmica de debate online não possui obrigação com os fatos, não por acaso, muitos e-mails viralizavam entre opiniões e spams, "alguns usuários recebiam mais spams do que enviada com o objetivo de obter informações sigilosas ou injetar agentes maliciosos no computador do receptor" (RAIS, 2018, p. 71). Esse subterfúgio que passou a abrigar a desinformação de forma mais massiva se deu também pela ausência cada vez maior do contato humano direto. "Aqueles que conversam eletronicamente tomam a dissimulação como garantida acerca da identidade do outro" (KEYES, p. 195, 2018). Por seu espaço de liberdade de expressão, a internet não se realizou enquanto utopia informativa, uma vez que a disponibilidade de informação não garante uma sociedade informada. Na realidade, a estrutura digital com seus algoritmos e linguagens estimula muito mais uma sabedoria vazia e de multidão, que selecionava o seus fatos à luz de convicções já existentes, silenciando o pensamento mais complexo ou diferente . Quanto mais as pessoas se aglomerarem no ciberespaço, mais a sociedade em geral será povoada por aqueles que presumem que a autenticidade seja uma quimera. Ao longo do caminho, perderemos a confiança em nossos próprios olhos e ouvidos. Ao mesmo tempo, um número cada vez maior dos nossos contribuirá para essa atmosfera porque, tendo se acostumado a dissimular no
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ciberespaço, podemos achar mais fácil fazê-lo no espaço genuíno também. (KEYES, 2018, p. 204)
Outros fatores contribuíram para a disseminação em massa de ódio e desinformação. A verdade é essencial para coesão social, sendo assim, a mentira institucionalizada, incentivada por políticos e militantes, é mais um traço do esfacelamento das relações humanas em tempos líquidos. Além disso, a internet não pede documento, possibilita o anonimato, a criação de diversas contas, e o hater por trás do seu computador se sente protegido, em seu mundo de simulação, espalhando sua narrativa de forma livre e descompromissada com a verdadeira trajetória dos fatos. Na era da web, a pós-verdade assume o seu ápice. A sociológica “Teoria dos papéis” sugere que nós temos tantas identidades quantas forem as máscaras que escolhemos usar. A Web recompensa aqueles dispostos a substituírem velhas máscaras por novas. É o ponto culminante do sonho americano estar em um estado perpétuo de reinvenção. O resultado tem sido comparado a viajar para o exterior, livre para apresentar-se aos outros como você gostaria de ser, com pouco risco de ser descoberto (KEYES, 2018, p.198).
Como comunidade de espaço público, a web se mostrou um incentivador de sensacionalismo. "Não sem razão, afirmou Habermas que a esfera pública não existe mais, ela passou a ser fabricada" (RAIS, 2018, p. 139). Conteúdos polêmicos, como vídeos espetacularizados ganham as manchetes, e tão logo, os boatos se tornaram comuns, acompanhados da confiança num veículo tão inclusivo, cunhando o pensamento de que se está na internet é verdade. [A internet] apoia aquele esteio de todos os vilarejos: a fofoca. Constrói lugares de encontro que crescem com rapidez para a troca livre e desorganizada de mensagens que se caracterizam por uma variedade de afirmações fantasiosas, suspeitas, divertidas, supersticiosas, escandalosas ou maléficas. As chances de que muitas dessas mensagens sejam verdadeiras são baixas e a probabilidade de que o próprio sistema venha a ajudar alguém a dis-
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tinguir as verdadeiras são até mais baixas (D'ANCONA, 2018, p. 52).
1.4 PÓS-VERDADE ON DEMAND Aproveitando as predisposições à pós-verdade no ambiente digital, em 2013 o estrategista político Steve Bannon se aliou ao magnata Robert Mercer para criar uma plataforma de psicometria política. O herdeiro da Medallion, um fundo de investimentos que usava Big data e que chegou a ser considerada uma máquina de fazer dinheiro ( JORNAL DE NEGÓCIOS, 2016, s/p.), encontrou no discurso conservador o conteúdo necessário para a nova forma de debate online que eles viriam a inaugurar, "o uso da rede e da internet para a manipulação social, (...) com a psicometria eleitoral que usa tecnologias analytics" (RAIS, 2018, p. 82). Steve Bannon já declarou, entre outras frases, que "a escuridão é boa. (...) Isso é poder. Isso só nos ajuda quando eles (liberais) erram. Quando eles estão cegos sobre quem somos e o que estamos fazendo" (DIAZ, 2016, s/p). As ideias do ex-editor do site conspiracionista Breitbart News encontrava o apoio e estrutura da família Mercer, e nascia então a Cambridge Analytica. Ao dar milhões a um super PAC conservador, Make America Number 1, que sua filha Rebekah presidiu , Mercer parece ter comprado mais influência sobre a campanha de Trump do que qualquer outro doador. Rebekah também tem laços com Stephen Bannon, o polêmico presidente executivo da Breitbart News Network que foi recentemente nomeado o principal estrategista e conselheiro sênior da nova administração, segundo os registros (KUTNER, 2016, s/p.)7.
Tradução: By giving millions to a conservative super PAC, Make America Number 1, which his daughter Rebekah chaired, Mercer seems to have bought more influence over Trump’s campaign than any other donor. Rebekah also has ties to Stephen Bannon, the controversial Breitbart News Network executive chairman who was recently named the new administration’s chief strategist and senior counselor, records show. 7
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Os estrategistas logo perceberam que o discurso de anti-política baseado em gritos de ordem e fomentado em fake news era extremamente convincente entre os conservadores. Essa conclusão se confirmou em dezembro de 2016, quando uma pesquisa de opinião do instituto Ipsos para o site BuzzFeed, com mais de 3 mil norte-americanos, notou que na média, "os eleitores de [Hillary] Clinton julgaram 58% das notícias falsas como sendo verdadeiras, contra 86% dos eleitores de Trump" (SILVERMAN, SINGER-VINE, 2016, s/p.). Além disso, pesquisa de 2019 trouxe que eleitores do Partido Republicano, do presidente Donald Trump, "tinham uma propensão muito maior a disseminar conteúdo enganoso em comparação àqueles que votaram no Partido Democrata: 18,1% contra 3,5%. E uma pesquisa da Universidade de Oxford, revelada pelo jornal The Guardian, mostra que a tendência de compartilhamento das chamadas "junk news", do inglês, "notícias lixo", são predominantes entre os militantes de direita. Essa mentalidade é favorecida pelos mais ressentidos com o establishment político e os que odeiam a política. Havia uma clara distorção em quem compartilhava links dos 91 sites que os pesquisadores haviam codificado manualmente como “notícias-lixo” (baseados na violação de pelo menos três dos cinco padrões de qualidade, incluindo “profissionalismo”, “preconceito” e “credibilidade”). “O grupo Trump Support consome o maior volume de fontes de notícias indesejadas no Twitter e espalha mais fontes de notícias indesejadas do que todos os outros grupos juntos. Esse padrão é repetido no Facebook, onde o grupo Hard Conservatives consumiu a maior proporção de notícias indesejadas”. (HERN, 2018, s/p.)8.
Tradução: There was a clear skew in who shared links from the 91 sites the researchers had manually coded as “junk news” (based on breaching at least three of five quality standards including “professionalism”, “bias” and “credibility”). “The Trump Support group consumes the highest volume of junk news sources on Twitter, and spreads more junk news sources, than all the other groups put together. This pattern is repeated on Facebook, where the Hard Conservatives group consumed the highest proportion of junk news” 8
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A Cambridge Analytica inaugurou uma nova estratégia de marketing político, investindo na doutrinação pelo populismo conservador em todos os espectros, e se pautando unicamente na busca por focos emotivos que pudessem despertar o grito por ordem. Em 2016 a empresa conseguiu coletar dados do Facebook de milhões de eleitores dos Estados Unidos, traçando um perfil psicológico utilizando parâmetros como idade, renda e localização, e usando manipulações on demand para convertê-los ao nacionalismo populista. Agora, era possível penetrar nas mais diferentes bolhas sociais nas redes explorando a brecha emocional de cada grupo, suas carências, medos e virtudes, seguindo o monólogo do gozo. É preciso saber, e de preferência de modo não ambíguo e rápido, o que o Outro quer de nós em determinada situação. É o que se poderia chamar de vida em formato de demanda. Onde há um encontro é preciso decidir rápida e iconicamente o que os envolvidos querem, e a negociação tende a ser curta, porque variáveis de contexto se impõem dramaticamente. Se você está no site de restaurantes, já decidiu que quer comida (...) Ele “pratica sua fantasia” de forma generalizada e a céu aberto, como se ele não preocupasse muito em “ser entendido” ou “se fazer compreender” (DUNKER et al., p. 30, 2017) A empresa de Mercer foi denunciada pelos jornais New York Times e The Guardian como a grande responsável por administrar a campanha do Brexit usando a mesma plataforma psicológica. As informações foram coletadas por um aplicativo, thisisyourdigitallife, "que pagou a centenas de milhares de usuários pequenas quantias para que eles fizessem um teste de personalidade e concordassem em ter seus dados coletados para uso acadêmico" (BBC, 2018, s/p.). O pensamento de Bannon ainda se expandiu para outros países, chegando na Europa e achando voz na insatisfação em grupos nacionalistas contra o bloco Europeu e as políticas de refugiados. Depois de sair da casa branca, Bannon fundou o "The Movement", alinhada à alt-right, "com o qual se identificam nacionalistas brancos, grupos homofóbicos e anti-imigrantes" (BILENKY, 2019, s/p.). O movimento segue a cartilha da pós-verdade e esteve articulado no compartilhamento de fake news até mesmo para as eleições de 2019 para o parlamento europeu. A Avaaz mapeou uma ampla rede de mais de 500 páginas e grupos suspeitos, seguidos no total por "quase 32 milhões de usuários e geraram mais de 67 milhões de interações – comentários, curtidas e compartilhamentos – nos últimos três meses. No mesmo 364 | TCC 2019
período, os conteúdos relacionados a essas páginas e grupos geraram 533 milhões de visualizações" (DW, 2019, s/p.). A ambição de Bannon é que sua organização finalmente rivalize com o impacto da Sociedade Aberta de Soros, que doou US$ 32 bilhões para causas amplamente liberais desde que foi criada em 1984. Bannon desferiu novo golpe contra a mídia tradicional, abrindo caminho para pseudo-teorias institucionalizadas e expandidas pelo público na pós-verdade do partido de extrema-direita na Polônia e na Alemanha, e em políticos com Marine Le Pen na França, Nigel Farage na Inglaterra, Geert Wilders na Holanda e Matteo Salvini na Itália, (DW, 2018,s/p.). "'Eu prefiro reinar no inferno, do que servir no céu', disse Bannon, parafraseando o Satanás de John Milton em Paraíso Perdido" (HINES, 2018, s/p.). O chamado "globalismo", ideia principal de Bannon, é uma "suposta ação planejada das elites internacionais para conduzir a globalização de acordo com valores liberais" (CHARLEAUX, 2019, s/p.), pregando a destruição dos valores nacionais. Para ser convincente em cada país, foram necessárias versões adaptadas de acordo com cada sociedade e suas histórias, explorando antigos ou novos medos. Na Húngria do primeiro-ministro Viktor Orbán, por exemplo, virou um plano de "islamismo da Europa", (MOUALLEM, 2018, s/p.), explorando os confrontos históricos entre cristãos, islâmicos e a questão migratória no país. 1.5 FAKE NEWS É importante notar a diferença entre os erros de apuração jornalística, que fazem parte da profissão, apelidados de "barrigas", e as fake news, notícias fabricadas com cinco possíveis intenções, "enganar o leitor; como uma tomada acidental de partido que leva a uma mentira; com algum objetivo escondido do público, motivado por interesses; com a propagação acidental de fatos enganosos; ou com a intenção de fazer piada e gerar humor" (BRITO, 2017, s/p.). As notícias falsas distinguem-se dos erros acidentais justamente por sua natureza de origem fraudulenta. Apesar de terem conquistado um espaço relevante especialmente depois da campanha de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, as fake news, que fazem parte do cenário da “pós-verdade”, não são um fenômeno recente no jornalismo, embora tenham se beneficiado
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enormemente da velocidade cada vez maior de propagação de informações na internet de forma geral, mais especificamente nas redes sociais e nos aplicativos de trocas de mensagens (RAIS, p. 57, 2018).
Segundo o BuzzfeedNews, nas eleições norte-americanas as notícias falsas mais relevantes, renderam quase 9 milhões de compartilhamentos e reações no Facebook (G1, 2016, s/p.). O referendo do Brexit foi inundado por fake news: 56% do público - e 75% dos partidários de Leave - acham que a imigração europeia aumentou os níveis de criminalidade (DUNT, 2018, s/p.), mas o Comitê Consultivo de Migração (MAC) não encontrou evidências de qualquer vínculo do tipo. É muito comum que o comportamento das pessoas em rede seja muito mais para afirmar suas convicções, num gesto narcisista de autoafirmação, sendo, por conseguinte, difícil que as pessoas arredem o pé dos seus pressupostos, ainda que fundados em crenças absolutamente subjetivas, quando contrastados por contra-discursos ou com dados objetivos. (RAIS, p. 81, 2018)
A jornalista Claire Wardle, criou uma lista de sete tipos de notícias falsas que podemos identificar e combater nas redes (VIEIRA, 2019, s/p.). A primeira é a sátira ou paródia, que por mais que não tenha intenção de desinformar, não tem a possibilidade de checagem, podendo se tornar persuasivo para diversos públicos desavisados. Há ainda a falsa conexão, quando manchetes, imagens ou legendas dão falsas dicas do que o conteúdo é realmente. O terceiro tipo é o conteúdo enganoso, informação usada contra um assunto ou uma pessoa valendo-se de falsas atribuições. O quarto é o falso contexto, "quando o conteúdo genuíno é compartilhado com informação contextual falsa" (VIEIRA, 2019, s/p.). Outro tipo de fake news é o conteúdo impostor, quando fontes (pessoas, organizações ou entidades) têm seus nomes usados, porém com afirmações não ditas por eles. Esse tipos de fake news foi uma das categorias mais compartilhadas durante as eleições americanas em 2016. As duas notícias falsas que mais repercutiram foi “Wikileaks confirma que Clinton vendeu armas para o Estado Islâmico” e “Papa Francisco choca o mundo e apoia 366 | TCC 2019
Donald Trump”. Das 20 notícias falsas de melhor performance analisadas, apenas três não eram pró-Donald Trump ou contra Hillary Clinton (G1, 2016, s/p.).
Há ainda mais dois tipos: o conteúdo manipulado, quando uma informação ou ideia verdadeira é usada para enganar o público, e o conteúdo fabricado, como montagens em softwares de edição de áudio, imagem e vídeo. A mídia sintetizada é 100% falsa, construída com intuito de desinformar o público e causar algum impacto negativo a alguém. 1.6 CONSPIRAÇÕES As teorias da conspiração são bem mais difundidas do que se pensa e vivem em contraste direto com à ciência. Em 2014, metade da população dos Estados Unidos apoiou pelo menos uma teoria da conspiração. (D'ANCONA, 2018, p. 64). No Reino Unido, a maioria dos britânicos endossou uma entre cinco teorias "que variavam da existência de um grupo secreto que controlava eventos mundiais ao contato com extraterrestres" (TILEY, 2019, s/p.) A startup de tecnologia de publicidade, Sotryzy, "encontrou mais de 600 anúncios de marcas em sites que promoviam teorias da conspiração e outras informações enganosas." (WARDLE, 2018, p. 49). No dia a dia, na ânsia de provar que estamos certos, costumamos nos apoiar em qualquer material que reforce aquilo que já pensamos, e assim, baseado em uma notícia que sequer foi checada, mas que caiu como uma luva para a nossa prévia convicção, compartilhamos ansiosamente esse conteúdo, que pode ser uma desinformação, contribuindo, assim, para poluir ainda mais o cenário político nacional. (RAIS, 2018, p. 107)
No Facebook, teorias conspiratórias são mais compartilhadas e recomendadas do que postagens científicas (BESSI et al., 2015, s/p.). No Brasil a situação é mais grave com a academia, pesquisa da UNICAMP mostra que o 61% dos brasileiros gostam de ciência, mas 87% não soube apontar uma instituição científica no país. 95% não soube apontar o nome de um cientista brasileiro (MORAES; CAIRES, 2017, s/p.). As teorias conspiratórias não só desafiam a ciência, elas são capazes de aglutinar diversas fake news com narrativas mistas, trazendo o tempero de realidade necessária para justificar posicionamentos ideológicos na polítiTCC 2019 | 367
ca, sendo, portanto, presente em todos os espectros. Ao contrário da crença popular, o típico teórico da conspiração não é um homem de meia-idade que vive no porão da casa da mãe usando um chapéu de papel alumínio (que protegeria contra o controle mental realizado por satélites do governo e extraterrestres). "Quando você realmente olha para os dados demográficos, a crença em conspirações transpõe classes sociais, gênero e idade", afirma o professor Chris French, psicólogo da Universidade Goldsmiths, em Londres. (TILEY, 2019, s/p.)
Na expansão das simulações de rede sociais, as teorias da conspiração colocam a narrativa fiel aos fatos em xeque, oferecendo um plano de interpretação alternativo que ataca frontalmente os que se comprometem com métodos científicos para explicar os fenômenos e a trajetória dos fatos. "As pessoas questionam tudo aquilo que vai de encontro com as suas convicções, mesmo que seja pautado em argumentos fundados em dados verdadeiros" (RAIS, 2018, p. 80). Para eles, a guerra de narrativas pressupõe uma verdade de batalha que "não pode ser captada em uma planilha ou em um conjunto de gráficos. Assim, como o caso da permanência britânica na União Europeia não podia ser reduzido a uma série de estatísticas” (D'ANCONA, 2018, p. 110). Arron Banks, o empresário que financiou a campanha Leave.EU, em favor da saída da União europeia, estava correto em sua análise do resultado do referendo: “A campanha pela permanência na União Europeia apresentou fatos, fatos, fatos, fatos. Não funciona. Você tem que se ligar emocionalmente com as pessoas. Esse é o sucesso de Trump". (D'ANCONA, 2018, p.27)
No século XXI, a mentalidade conspiratória é uma resposta a um mundo de mudanças disruptivas, a "globalização e seus descontentes, a mobilidade populacional sem precedentes, a revolução digital, as formas em rápida mutação do extremismo e do terrorismo, as possibilidades estonteantes da biotecnologia.” (D'ANCONA, 2018, p. 79). Nesse caldeirão de fatores, as identidades e visões culturais também se misturam à narrativa.
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Trata-se de um embate de visões. De um lado, o Reino Unido ainda como centro de um vasto império mercantil e colonial, herdado em partes pela Commonwealth; de outro, a visão do Reino Unido como um país europeu, parte de algo maior e em pé de igualdade com os antigos rivais continentais. É um debate cultural e econômico que existe nas ilhas britânicas desde o século XIX, com a política do Isolamento Esplêndido. (FIGUEIREDO, 2019, s/p.)
No ápice da organização do pensamento extremista, facilitado por bolhas ou câmaras de eco isoladas na internet, os usuários "vivenciam sua própria realidade e operam com seus próprios fatos (...) a internet não apenas reflete a realidade; molda-o" (KAKUTANI, 2018, s/p.). Sem o contraponto, o ambiente polarizado se isola em um eco dificultado tanto pelos algoritmos das redes sociais, como pelas opções oferecidas por ela, no que diz respeito à possibilidade de bloquear usuários com outras visões e unir conspiradores a cidadãos insatisfeitos. A correspondência em grupo gera uma sensação de poder, e na internet, a voz extremista ganha o mesmo valor que de qualquer outro, uma vez que não há hierarquia informacional. Como Umberto Eco enunciou, “normalmente os imbecis eram imediatamente calados, mas agora eles têm o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel" ( JÚNIOR, 2019, s/p.) Antes, quando alguém tinha uma crença bizarra ou fora do esquadro, sentia-se acuada e desenvolvia formas de se conter; agora ela encontra “parceiros” para tudo na internet, inclusive para o pior. E em um grupo a gente fica valente. Em grupo de internet, então, parece que o Maracanã está nos aplaudindo, quando na verdade são quatro ou cinco simpatizantes. (DUNKER et al., 2017, p. 36)
Na era da pós-verdade, as fake news que sustentam conspirações ganham força no grito, conforme a forma como o líder do 'rebanho ideológico' diz algo torna-se tão importante quanto o conteúdo dito. Em um estudo da University of Southern California (WARE; WILLIAMS, 1975, s/p.), um ator foi contratado para se passar por um palestrante em apresentações inventadas. Pelo entusiasmo, o palestrante conseguiu convencer boa parte dos estudantes e especialistas, conclusão: entre um conteúdo ruim e animado versus um expert que falava mal, as pessoas preferem o conteúdo TCC 2019 | 369
empolgado, se valendo do emocional. Entre alguém informado e alguém que fala gritando, muitos preferem as exclamações que atiçam o lado sentimental e nem se perguntam a qualificação de quem fala. Em tempos de conflito político acalorado, posts ideológicos ganham musculatura dentro de grupos online. Seu maior propulsor é a carga emotiva, tão forte e relevante para a pós-verdade. Em um estudo da Univesity of Pensilvannia em 2012 (BERGER; KATHERINE, 2012, s/p.), constatou-se que os conteúdos mais virais na internet são notícias interessantes, impressionantes ou de uso prático, mas nada é mais compartilhado do que aquilo que causa indignação e raiva nas pessoas. Nesse ponto, as dimensões simples que pensamentos populistas trazem são perfeitos para atribuir causas e efeitos, vilões e mocinhos, se valendo da base social da pós-verdade. Surgem atiçadores que buscam lucrar com a demanda conspiratória emotiva e sensacionalista, num mercado onde ganha quem apresentar a ideia mais palatável ou redentora, "onde as ideias viram mercadorias do mesmo modo que um pastor em uma igreja vende o seu peixe e ganha seu dízimo" (DUNKER et al., 2017, p. 100-101). Na Macedônia, muitos autores de fake news eram adolescentes que descobriram que ganhavam mais dinheiro com os cliques dos posts que defendiam Trump. Cada acesso vale uma fração de centavo para o dono do site ou do blog, mas aí a quantidade de acessos faz a diferença. Se você tiver milhões de visitantes, os centavinhos podem virar uma grana interessante. E como conseguir milhões de visitantes? Se você respondeu que um dos caminhos é criando fake news, você infelizmente está certo. Por definição, as notícias falsas tendem a ter uma pegada sensacionalista, inacreditável, polêmica. E isso é um chamariz para nossa curiosidade – e claro, para nosso clique, que rende grana aos veiculadores de lorotas. Na insana caça por cliques, o sensacionalismo é tão importante quanto o oxigênio. (...) Desinformação, manipulação, hiperpartidarização e notícia falsa não implicam necessariamente na completa invenção de um fato. Uma manchete que distorça a realidade ou aumente um acontecimento para gerar cliques, muito possivelmente, vai dar dinheiro para quem a publicou (VAZA FALSIANE, 2018, s/p.).
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No abrigo do diálogo entre os conspiradores, há a proteção principalmente em sítios longe de fiscalização ou protegidos por criptografia. Em fóruns da deep-web, os chans, há o impacto inclusive em ações na vida analógica, como foi o exemplo do massacre em uma escola de Suzano (SP), fato comemorado e estimulado na deep web, e em uma mesquita em Christchurch, na Nova Zelândia, onde o atirador vitimou 49 pessoas islâmicas em transmissão ao vivo para um chan (ALECRIM, 2019, s/p.). Muitos memes misóginos e de supremacia branca, além de muitas notícias falsas, originam-se ou ganham impulso inicial em sites como 4chan e Reddit - antes de acumular buzz suficiente para dar o salto para o Facebook e Twitter, onde podem atrair mais atenção. Renee DiResta, que estuda as teorias da conspiração na web, argumenta que o Reddit pode ser um teste útil para os maus atores incluindo governos estrangeiros como os da Rússia - para testar memes ou histórias falsas para ver quanto de tração eles recebem. DiResta alertou na primavera de 2016 que os algoritmos das redes sociais - que dão às pessoas notícias que são populares e tendências, ao invés de precisas ou importantes - estão ajudando a promover as teorias da conspiração. (KAKUTANI, 2018, s/p.)9
A estratégia no conspiracionismo por trás de Trump é sua própria armadura política, "uma empatia brutal, enraizada não em estatísticas, empirismos ou informações meticulosamente adquiridas, mas em um talento desinibido para a fúria, impaciência e atribuição de culpa" (D'ANCONA, 2018, p. 37). Segundo o Washington Post, até o fim de maio de 2019 ele disse mais
Tradução: Many misogynist and white supremacist memes, in addition to a lot of fake news, originate or gain initial momentum on sites such as 4chan and Reddit – before accumulating enough buzz to make the leap to Facebook and Twitter, where they can attract more mainstream attention. Renee DiResta, who studies conspiracy theories on the web, argues that Reddit can be a useful testing ground for bad actors – including foreign governments such as Russia’s – to try out memes or fake stories to see how much traction they get. DiResta warned in the spring of 2016 that the algorithms of social networks – which give people news that is popular and trending, rather than accurate or important – are helping to promote conspiracy theories. 9
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de 10 mil afirmações falsas ou enganosas (WASHINGTON POST, 2019, s/p.). Trump, ao deslocar a sua narrativa como verdade absoluta frente o seu eleitorado, confere poder de grupo a quem o segue. Ele também se vitimiza ao considerar-se perseguido sempre que confrontado, em seu Twitter é comum vê-lo apontando inimigos aos seus fiéis, dessa forma, mantém seu eleitorado ocupado brigando online pelos fatos alternativos com os que podem incomodar seu capital político. Trump executou o perturbador truque orwelliano (“GUERRA É PAZ”, “LIBERDADE É ESCRAVIDÃO”, “IGNOR NCIA É FORÇA”) de usar palavras para dizer exatamente o oposto do que elas realmente significam. Não é só o fato de ele usar o termo “notícias falsas”, virar de um avesso e usá-lo para tentar desacreditar o jornalismo que ele considera ameaçador ou desfavorável. Ele também chamou a investigação da interferência da eleição russa como "a maior caça às bruxas na história política americana" quando ele é aquele quem atacou repetidamente a imprensa, o departamento de justiça, o FBI, os serviços de inteligência e qualquer instituição que ele considera hostil. (KAKUTANI, 2018, s/p.)10
Quem sai beneficiado na pós-verdade não são somente políticos oportunistas, personagens como negacionistas do aquecimento global e militantes anti-vacina também, podendo viver sobre seus vieses cognitivos ou vendendo suas ideias em cursos online, é o saber a um toque de distância. Para uma dessas ativistas, não é necessária a pesquisa científica ou formação acadêmica, “tirei meu diploma na Universidade do Google” (D'ANCONA, 2018, p. 70).
Trump has performed the disturbing Orwellian trick (“WAR IS PEACE”, “FREEDOM IS SLAVERY”, “IGNORANCE IS STRENGTH”) of using words to mean the exact opposite of what they really mean. It’s not just his taking the term “fake news”, turning it inside out, and using it to try to discredit journalism that he finds threatening or unflattering. He has also called the investigation into Russian election interference “the single greatest witch-hunt in American political history”, when he is the one who has repeatedly attacked the press, the justice department, the FBI, the intelligence services and any institution he regards as hostile (tradução livre). 10
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Marc Morano, ex-assessor republicano que dirige o site ClimateDepot.com "[O engarrafamento de trânsito é] o maior amigo do cético do aquecimento global, porque isso é tudo o que realmente se quer [...] Somos a força negativa. Estamos apenas tentando parar coisas". Morano admitiu que ser um leigo orientado ideologicamente é muitas vezes uma vantagem diante de um acadêmico: “A maioria dos cientistas que enfrentamos vai ficar em seu próprio mundo especializado ou área de expertise [...] muito hermético, muito difícil de entender, difícil de explicar e muito chato". (D'ANCONA, 2018, p. 47)
A estratégia do conspiracionismo é manter o debate acalorado fluindo, alimentando uma noção de urgência. Ao questionar fatos irrefutáveis como os benefícios da vacinação e a existência do aquecimento global, cria-se uma nova via de interpretação, que se pode atribuir o rótulo de opinião. A ideologia toma uma forma pragmática, uma vez que é determinante para o pertencimento de grupo, e essa noção constrói uma militância impedida de dialogar com a diferença, dividindo as pessoas em um jogo de vale-tudo pelas narrativas que convém. A conhecida observação de Daniel Patrick Moynihan de que “todo mundo tem direito a sua própria opinião, mas não a seus próprios fatos” é mais oportuna do que nunca: a polarização se tornou tão extrema que os eleitores têm dificuldade em chegar a um acordo sobre os mesmos fatos. Isso foi acelerado exponencialmente pela mídia social, que conecta os usuários com membros que pensam da mesma forma e os fornece feeds de notícias personalizados que reforçam seus preconceitos, permitindo que eles vivam em bolhas cada vez mais restritas. (KAKUTANI, 2018, s/p.)11
Daniel Patrick Moynihan’s well-known observation that “Everyone is entitled to his own opinion, but not to his own facts” is more timely than ever: polarisation has grown so extreme that voters have a hard time even agreeing on the same facts. This has been exponentially accelerated by social media, which connects users with like-minded members and supplies them with customised news feeds that reinforce their preconceptions, allowing them to live in ever narrower silos, (tradução livre). 10
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A ideia é que enquanto o mundo estiver sendo controlado por uma entidade implacável que manipula a todos e os impede de ver a verdade, os militantes são obrigados a se engajar e se polarizar, motivando ainda mais o comportamento extremista. O conspirador lucra política e economicamente com a pós-verdade na medida em que "as mentiras dos mentirosos que gostamos são compreensíveis, e aquelas dos mentirosos que não gostamos são desprezíveis." (KEYES, 2018, p. 129), é a binaridade dos manipulados que favorece a entidade maléfica controladora da verdade versus os esclarecidos que questionam e se refugiam nessa subversão relativista. [A Tobacco Industry Research Committee]12 foi projetada para sabotar a confiança do público e estabelecer uma falsa equivalência entre aqueles cientistas que detectaram uma ligação entre o uso do tabaco e o câncer de pulmão e aqueles que os desafiaram. O objetivo não era a vitória acadêmica, mas a confusão popular. Enquanto a dúvida pairasse sobre o caso contra o tabaco, o status quo lucrativo estaria garantido. Isso proporcionou aos negadores da mudança climática um modelo para as suas próprias campanhas (D'ANCONA, 2017, p. 46)
2. A PSICOLOGIA DA MENTIRA O compartilhamento de fake news e conspirações não se trata apenas de contexto histórico-político. O lado psicossocial humano é extremamente relevante para entender como formamos as opiniões e atrelamos fatos a elas. Como Daniel Kahneman (2011) explica, o ser humano é uma máquina associativa, extremamente propenso a aceitar verdades e procurar por relações de causa e efeito nelas. Essas nuances psicológicas são tendências de pensar de certas maneiras que podem levar a desvios sistemáticos de lógica e a decisões irracionais, são os chamados vieses cognitivos. Há razões psicológicas e sociais para a vulnerabilidade humana aos fake news. Como indivíduos temos um
A Tobacco Industry Research Comittee foi criada por grandes empresas de cigarro em 1953 para atacar estudos científicos que apontavam o tabaco como responsável pelo grande aumento de diagnósticos de câncer de pulmão. Eles também atacaram estudos científicos, apesar de lançarem dúvidas sobre eles em vez de refutá-los diretamente. 12
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realismo ingênuo (do inglês, naïve realism), por meio do qual acreditamos que a percepção da realidade é o único ponto de vista correto, enquanto quem discorda de nós é visto como desinformado, irracional ou enviesado. E temos um viés de confirmação (do inglês, confirmation bias), pelo qual preferimos informações que corroboram com nossa visão atual (RAIS, 2018, p. 63)
A narrativa é importante para formar as memórias humanas. Quando uma narrativa é contada para a mente humana, seu impacto emocional e descritivo pode ser utilizado para manipular memórias. Pesquisa conduzida por Elizabeth Loftus (NERDOLOGIA, 2014, s/p.) ilustrou a situação quando induziu voluntários a lembrar de terem abraçado o personagem Pernalonga na Disneylândia, por meio de fotos manipuladas. O resultado foram os voluntários apontando lembranças muito completas sobre a experiência, provando que a riqueza em detalhes emotivos dentro de uma narrativa aumenta a sua chance de tornar-se memória, uma vez que satisfazem explicações deixadas pelas lacunas do fato. Como o neurocientista James L. McGaugh apontou em seu trabalho de 2013 “Making Lasting Memories: Remembering the Significant”, excitação emocional aumentada durante uma experiência na verdade estimula a amígdala (a parte do cérebro responsável pelas emoções, instinto de sobrevivência e memória) para liberar hormônios de stress – químicos secretados em resposta a ocasiões estressantes ou excitantes – tornando mais provável que essas experiências sejam codificadas como memórias de longo prazo (YU, 2019, s/p.).
Teorias da conspiração se valem do emocional para florescer essa necessidade humana de compor uma narrativa que explique a razão das coisas, e se expandem em um contexto de degradação de memória. Elas "são realmente tranquilizadoras. Sugerem que há uma explicação, que as ações humanas são poderosas e que há ordem, em vez de caos" (D'ANCONA, 2018, p. 64). Nós, seres humanos, não gostamos do acaso. Sentimentos de acaso, bagunça e caos são sentimentos aversivos. Sentimentos assim incomodam o nosso sistema TCC 2019 | 375
cognitivo. O ser humano está o tempo todo (desde criança) buscando compreender e estabelecer relações causais entre as coisas que acontecem. Dizer que A ou B acontecem por acaso não satisfaz nossa cognição. Mas esses sentimentos existem. E como seres adaptativos, estamos sempre buscando lidar com eles. (SOUZA, 2010, s/p.)
As opiniões extremistas na internet geralmente se baseiam em testemunhos ou relatos que geram credibilidade entre os militantes. Mas é fato que o testemunho nem sempre retrata a realidade como se pensa. Uma tendência cognitiva comum é tornar a lembrança das nossas experiências no passado mais agradáveis ou mais felizes do que elas realmente foram. Esse viés cognitivo é chamado de retrospectiva idílica, e explica por exemplo, porque jovens na Rússia e em outros países ex-URSS têm defendido os tempos de chumbo da União Soviética ao lado de pessoas mais velhas que viveram o período, em um cúmulo de pós-verdade também incentivado por Putin, (TAYLOR, 2016, s/p.). É comum observar os usuários seguros para arriscar posicionamentos como exaltar um período ditatorial ou alguma figura guerrilheira histórica. A compensação de risco (WILDE, 200?, s/p.), fenômeno onde as pessoas em uma sensação de proteção se colocam em episódios perigosos, vira um fator determinante para incentivar o posicionamento radical na internet. Quem vive em uma democracia, possui direitos de expressão e sente-se seguro o suficiente para defender uma opinião impopular ou autoritária, muitas vezes por não ter a noção do perigo de sua fala ou por saber que pode se expressar livremente. Já o inverso, justamente não ocorre em ditaduras. Outro aspecto cognitivo interessante à pós-verdade é a familiaridade. O quanto a recorrência de um fato ou interpretação do mesmo aparece é decisiva para montar a credibilidade na mente humana, mesmo que esse fato seja comprovadamente falso. Essa nuance auxilia e muito na formação de bolhas ideológicas online. A estrutura de rede social é feita para manter a atenção do usuário à plataforma, sendo assim, os posts são impulsionados por algoritmos cada vez mais complexos, alinhados ao interesse dos que rolam o feed. Desse alinhamento de informação, as pessoas vêem o que mais confirma e conforta seus pensamentos, e desta forma o compartilhamento gera ainda mais familiaridade e mais proximidade entre os ideologicamente alinhados.
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Como seres sociais, temos tendência a aceitar conceitos e ideias compartilhadas pelas nossas redes, o que ajuda a definir nossa identidade e autoestima, nos mantendo em ambientes socialmente seguros. Essa exposição seletiva ao conteúdo, que normalmente ocorre dentro de grupos com pessoas que compartilham crenças e pensamentos, é o principal promotor de difusão de conteúdo, formando a geração de clusters homogêneos, conhecidos como câmaras de eco (do inglês, echo chambers) ou bolhas de filtro (do inglês, filter bubbles), que os isolam de perspectivas contrárias ou alternativas. Esse efeito de câmara de eco facilita o consumo e a crença nas fake news devido à credibilidade social e a frequência de exposição a essas notícias. (RAIS, 2018, p. 63)
Quando se analisa o contexto social familiar, não é por acaso que o compartilhamento de fake news em grupos de família tem sido tão grande no WhatsApp. Sabendo que "há um limite para a quantidade de mentiras que podemos fornecer àqueles que vemos regularmente" (KEYES, 2018, p. 42), o ser humano acostumou-se a ver nas figuras familiares, os maiores exemplos de credibilidade, de forma que a verdade virou fator decisivo para montar um sistema social coeso e um clima de confiança minimamente estável. “Para criar algum sentimento de pertencimento, é preciso participar de um grupo codificado, e para isso é preciso responder de forma homogênea” (DUNKER et al., 2017, p.35). Há, dentro da identidade de grupo, a propensão humana de aceitar uma interpretação de um fato que corrobore sua identidade e sua ideologia em grupo, isso ficou claro quando Jay Van Bavel, professor de psicologia e ciência neural da Universidade de Nova York, observou que "democratas tinham mais chances de lembrar George W. Bush como estando de férias durante o furacão Katrina (ele não estava), enquanto os republicanos eram mais propensos a se lembrar de ter visto Barack Obama apertando as mãos do presidente do Irã (ele não fez isso)". As preferências políticas muitas vezes são parte essencial de como as pessoas constroem sua identidade – assim, uma crítica ou ameaça a determinado partido ou ideologia pode ser percebida, embora nem sempre de maneira consciente, como um ataque pessoal. A gente vê
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isso acontecer o tempo todo na internet. Nós ainda não temos todas as respostas em relação à atividade cerebral (...) mas quando você tem um compromisso realmente forte com um grupo ou crença e obtém informações que contradizem o que sabe, você constrói novas maneiras de pensar sobre essa informação em vez de atualizar sua crença”. Em outras palavras, nós tendemos a usar uma espécie de gambiarra cognitiva para lidar com informações conflitantes com aquilo em que acreditamos. (...) nossas estruturas cognitivas funcionam de forma a tornar agradável pertencer a um grupo e, por outro lado, tornam doloroso e assustador mudar as alianças (algo que talvez precise ocorrer quando descobrimos novos fatos que entram em conflito com nossas crenças centrais). Isso nos permitiu formar grupos coesos e funcionar como sociedade. Por isso, é provável que sempre tenhamos uma tendência a abraçar e compartilhar evidências que reforcem nossa visão de mundo e rejeitar tudo aquilo que a contradiz. (PRADO, 2018, s/p.)
Verifica-se um número grande de fake news espalhadas em grupos familiares ou de militantes porque as pessoas confundem a credibilidade da proximidade familiar com a credibilidade de relato jornalístico. Em linhas gerais, quando há algum grau de relacionamento coeso, o receptor confia na mensagem por achar ser impossível que um parente ou parceiro de militância minta ou tente manipular o pensamento entre os seus. Essa dificuldade de dissociar a familiaridade da profundidade de conhecimento é comum de se observar na caixa de comentários de posts de notícias na internet. Também é ilustrada pelo efeito de Dunning-Krueger: quando a ignorância sobre algum fato é tão ampla que a pessoa acredita dominar uma área que mal conhece apenas pela noção de familiaridade que tem com o fato (HANCOCK, 2017, s/p.) Olhando para a psicologia de massas, não só a familiaridade como a busca pelo reforço de opinião faz com que os membros de grupos ideológicos tentem se mostrar mais envolvidos nas pautas discutidas, e consequentemente legitimados pelo grupo, mantendo um processo de retroalimentação. Essa compulsão automática se torna tão mais forte quanto maior for o número de pessoas em que se perceba 378 | TCC 2019
simultaneamente o mesmo afeto. Então a crítica do indivíduo se cala e ele se deixa deslizar para dentro do mesmo afeto. Mas, ao fazê-lo, eleva a excitação dos outros que agiram sobre ele, e assim se intensifica a carga afetiva dos indivíduos por meio da indução recíproca. (FREUD, 2013, p. 62)
"É uma sensação prazerosa para os participantes entregar-se dessa maneira tão ilimitada a suas paixões e, enquanto isso, desaparecer na massa, perder a sensação de sua delimitação individual" (FREUD, 2013, p. 63). É nesse ambiente em que a polarização de ideias ganha mais força e alimenta a pós-verdade, distorcendo análises comprometidas com os fatos em prol da melhor relação de militância, basta ver qual é o comentário mais curtido nos posts políticos, geralmente pregando a eliminação de quem pensa diferente. 2.1 AS BOLHAS SOCIAIS Como já exposto, a pressão social é fator preponderante na construção do pensamento humano, em bolhas sociais ou em grupos de família, e muito tem a ver com o prazer da aceitação e do pertencimento. Na possibilidade de se criarem grupos de interesse cuja legitimidade reside mais na proximidade do que na credibilidade de cada membro, atestar se determinada informação é verdadeira ou não se torna menos importante do que aderir a determinados posicionamentos que refletem convicções e identidades. (MENDES, 2019, s/p.)
Em 1951, um estudo publicado por Salomon Asch (NERDOLOGIA, 2015, s/p.) procurava descobrir o efeito que o condicionamento de grupo tem sobre a decisão das pessoas. Ao pedir para avaliarem qual das três linhas horizontais apresentadas possuíam o mesmo comprimento de uma linha de referência, ele notou que todos respondiam de forma correta, mas ao introduzir atores que induziram ao erro na avaliação, um terço das pessoas escolheram a opção errada, somente para não contrariar o grupo. Essa pressão em torno de um consenso, a fim de definir uma opinião hegemônica, é descrita também por Elisabeth Noelle-Neumann em sua teoria da espiral do silêncio. A teoria da espiral do silêncio repousa na suposiTCC 2019 | 379
ção de que a sociedade - e não apenas os grupos em que os membros se conhecem - ameaça com o isolamento e a exclusão os indivíduos que se desviam do consenso. Indivíduos, por outro lado, têm um grande medo subconsciente de isolamento, determinado provavelmente pela genética. O medo do isolamento faz com que as pessoas tentem verificar constantemente quais opiniões e modos de comportamento são aprovados ou desaprovados em seu meio, e que opiniões e formas de comportamento são aprovadas ou reprovadas em seu meio, e quais opiniões e formas de comportamento estão ganhando ou perdendo força. (NOELLE-NEUMANN, 1995, p. 179-180)13
Quando se leva em conta o ambiente de rede social, as opiniões reforçadas dentro das bolhas sociais tendem a assumir um aspecto mais agressivo e ainda mais polarizado, tendo como propulsor os algoritmos que estimulam o engajamento. Um estudo da Pew Research Center (2017, s/p.) apontou que posts polêmicos de crítica partidária recebem em média três vezes mais comentários e duas vezes mais compartilhamentos. Os algoritmos sabem que tipo de conteúdo nos mantém ligados nas plataformas e passam a priorizá-lo. Posts que despertam reações emocionais, que dão vontade de compartilhar, dar like, retuitar, vídeos que dão vontade de comentar: esse é o tipo de conteúdo que prende a nossa atenção e pode ser revertido em lucros com publicidade. Quanto mais tempo passamos nas redes, quanto mais clicamos, mas somos expostos a anúncios publicitários. E não é por acaso que, nessa lógica em que
“La teoria de la espiral del silencio se apoya en el supuesto de que la sociedade – y no sólo los grupos en que los miembros se conocen mutuamente – amenaza con el aislamento y la exclusión a los indivíduos que se desvian del consenso. Los individuos, por su parte, tienen un miedo en gran medida subconsciente al aislamiento, probablemente determinado geneticamente. Este miedo al aislamiento hace que la gente intente comprobar constantemente qué opiniones y modos de comportamiento son aprobados o deabrobados en su médio, y que opiniones y formas de comportamiento son aprobados o deaprovados en su médio, y qué opiniones y formas de comportamiento están ganando o perdendo fuerza.” (tradução livre) 13
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o conteúdo com apelo emocional é, normalmente, o que dá certo e retém atenção, o algoritmo passe a levar nossas preferências ao extremo. Até a radicalização. (DIAS, 2018, s/p.)
Ao invés do suposto esclarecimento na internet, a individualidade que esse meio trouxe se somou ao fator desagregador do contexto urbano, tornou-se comum o usuário exigir atenção, também contribuindo para abrigar ideologias fomentadas não só no espetacular, como também no ódio. A cidade é a matriz da verdade como história compartilhada, da qual se pode dar testemunho de convivência comum. A pós-verdade substitui essa experiência pelos condomínios e compartimentalizações étnicas [também com] um ódio que, em vez de marcar um afastamento e garantir que queremos mesmo “nos livrar” daquela pessoa, funciona como um apelo: “pelo amor de Deus, alguém note que eu estou aqui, sofrendo no deserto!”. É um ódio baseado nesta legenda de que ninguém nos escuta, ninguém está interessado em nossas razões, ninguém “quer saber”. (DUNKER et al., 2017, p. 27-34).
2.2 NARCISISMO IDEOLÓGICO E INVEJA Em 2009, um estudo acompanhou as discussões no Twitter a respeito do assassinato de um médico americano pró-aborto, George Tiller. Depois de analisar 30 mil tweets relacionados, Sarita Yardi e Danah Boyd (2010, p. 316-327) observaram que os tweets e retweets de pessoas de mesma opinião estavam se reforçando, e os ataques de pessoas de opinião contrária dividiam os grupos ainda mais. Ao mesmo tempo, as pessoas neutras ou sem posicionamento não se manifestaram, dando a impressão de que a divisão binária das opiniões era a única opção. É exageradamente otimista supor que haverá nas redes um diálogo livre de indiferença, irritação e desprezo, ainda mais diante do aumento dos chamados haters (pessoas que destilam, em rede, todo ódio que acumulam em relação a certas pautas de assuntos socialmente excludentes) e das pessoas que se utilizam da rede para disseminar discurso de ódio, segregação e opressão de grupos minoritários. (RAIS, 2018, p. 79). TCC 2019 | 381
Na internet, aparecer tornou-se urgente, como forma de capital. Essa vontade está intrinsecamente ligada à sociedade do espetáculo, em um mundo de simulação onde todos tentam provar para si e para os outros que suas vidas valem ser seguidas. Para isso, a regra é parecer, muito mais do que ser, em um processo de retroalimentação que estimula a busca da aprovação em forma de Like. Em 2016 na cidade de Curitiba, um menino chegou a forjar um ataque a bomba no Jardim Botânico, e justificou-se dizendo que "queria ficar famoso" (G1 PR, 2016, s/p.). Essa tendência de buscar aprovação pela fama produz duas reações diretas: o narcisismo patológico, que nasce desse culto de imagem exacerbada, e a consequente inveja, advinda do filtro de perfeição nos usuários das redes sociais. Fugindo do isolamento de grupo e edificando-se em torno de uma opinião consolidada por familiaridade, o narcisismo ganha um fator epidêmico nas redes, promovendo a anulação da diferença. Como em um espetáculo, as pessoas assumem papéis bons ou maus, atrelados à ideologias generalizadas e compartimentadas em um só viés. As ideologias são conjuntos de ideias prontas. "Podemos falar em ideologias de partidos, do mesmo modo que podemos dizer que todas as religiões possuem algo de ideológico justamente no elemento dogmático que lhe é inerente" (TIBURI, 2019, p. 11). Sua composição é "um conjunto de aparelhos privados ou estatais, voltados para construir um senso comum sobre as políticas hegemônicas que são implementadas pelo aparelho estatal" (FRANCO, 2018, p. 31). Nessa ideologia, é como se tudo tomasse forma de uma caixa de bombons (COSTA, 2015, s.p), onde não é possível segregar um doce sem levar o pacote completo, cria-se a impossibilidade de desvincular um argumento político específico da complexidade de uma corrente ideológica. Há "uma verdade inflacionada de subjetividade, mas sem nenhum sujeito. (...) É moralmente potente, mas que não produz transformações éticas relevantes." (DUNKER et al., 2017, p. 18). O narcisismo ideológico promove generalizações apressadas e noções binárias de sociedade: quem é a favor da legalização do aborto é classificado como de esquerda, quem defende o porte de armas é de direita, e ele se retroalimenta, mesmo que com mentiras. Dependendo do viés de quem o observa, a pessoa será classificada como boa ou má a depender da ideologia atrelada aos seus argumentos, o pensamento toma a forma da identidade da pessoa que o profere. Esse efeito ganha proporções maiores na internet e foi observado 382 | TCC 2019
no Brasil durante as polarizações no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Coxinhas de um lado, com suas camisas amarelas a favor do impeachment, explorando o estereótipo da elite classista, e Petralhas de vermelho do outro, vistos como ladrões do assistencialismo petista. Primeiro, amizades foram abaladas na web, mas logo "a tensão virtual passou para a vida real, com relatos de agressões e atitudes hostis contra pessoas que vestiam cores associadas a um ou outro grupo" (BUSCATO, 2016, s/p.). Essa moral identifica grupo, classe e massa para engendrar um tipo de relação duplamente indiferente. Para os de dentro, eu não preciso escutar, porque sei o que eles vão dizer, e, para os de fora escutar é desnecessário, porque, afinal, eu já sei quem eles são. É importante lembrar que o narcisismo em si não é uma patologia. [...] O problema começa quando temos uma patologia do narcisismo, que justamente me impede de exercer esta atitude reflexiva com o outro, porque, ao assumir o ponto de vista do outro, eu sinto que minha própria identidade está ameaçada. (DUNKER et al., 2017, p. 37).
Quando se tem uma incapacidade de atitude reflexiva, a incompreensão do outro se torna destrutiva, e a empatia dá lugar à inveja. "A inveja aparece no momento em que ao invés de eu lutar pela efetivação do meu próprio desejo, eu passo a destruir o poder, as potências e o desejo do outro" (TIBURI, 2019, s/p.). Essa tendência se aplica ao posicionamento radical de ideologias entre os usuários, na medida que "o outro não me traz aquilo que eu quero, não alimenta meu buraco essencial, meu narcisismo, esse outro então deve ser destruído. O ódio nasce daí, ele está a serviço da inveja" (TIBURI, 2019, s/p.). Desse ódio implica-se a mesma reação de isolamento entre os ideologicamente alinhados em suas bolhas ideológicas, onde há um culto em grupo que prega a estigmatização do diferente. A inveja [...] impede que a ética como reflexão da ação, como reflexão da subjetividade que pensa, sente e age, se desenvolva. A inveja garante o moralismo e se desenvolve nele. Nem simplesmente afeto, nem simplesmente postura, a inveja é a posição na qual está em jogo a incapacidade do reconhecimento do outro. Todas as
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deturpações, preconceitos, desvalorizações, humilhações do campo do aparecer relacionam-se ao seu movimento. (DUNKER et al., 2017, p. 123)
Na patologia do narcisismo esconde-se a inveja e o ódio, mas também a impossibilidade de aceitar que cada sujeito possui suas experiências próprias, que moldam o seu próprio ponto de vista. É o chamado efeito Rashomon. Essa falta de empatia produz uma indiferença e descompromisso com a verdade numa clara afronta à diversidade e o pluralismo na sociedade brasileira, valores tão caros em um Estado democrático tão multifacetado. No alarmismo de posicionamentos a conivência se instala. Uns se calam, muitos tomam posição para entrar em grupo, e tantos outros estimulam radicalização para se legitimar. O pensamento de copiar e colar, sem questionar a fonte da informação ou confronto de autoridade, se consolida nos estímulos digitais de reafirmação. A verdadeira trajetória dos fatos saí enfraquecida e a pós-verdade sai fortalecida, pelo que a filósofa Márcia Tiburi definiu como uma escravização digital. Falamos muito e pensamos pouco no que dizemos. Por um lado, talvez estejamos pensando rápido demais, por outro, talvez estejamos confiando demais nos pensamentos prontos que vão nos servindo enquanto não encontramos coisa melhor. A textualidade de nossa época serve como um grande plano, uma tela infinita, onde uma colagem de enunciados organiza-se como um palimpsesto. [...] Um pensamento em copy-paste, como um “copia e cola”, instaurou-se em nosso mundo. [...] Nas redes sociais, ajudamos a sustentar esse senso por meio de um árduo trabalho que em tudo parece dócil. A labuta diante dos computadores envolve uma escravização sedutora. O trabalho digital nas redes não é remunerado, causa vícios e produz um tipo de devoto, uma espécie de escravo voluntário. O escravo digital. (DUNKER et al., 2017, p. 115-116)
3. A PÓS-VERDADE NO BRASIL O embate entre narrativas teve espaço no Brasil do século passado, estimulada por políticos. "Não há como datar a mentira inicial na política brasileira, mas 1921 parece um bom ano para começar" (OTAVIO; TAR-
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DÁGUILA, 2018, p.10). As cartas atribuídas falsamente a Artur Bernardes sacudiram a República Velha ao atacar o ex-presidente marechal Hermes da Fonseca, que presidia o clube militar. Depois das mentiras da República do café-com-leite, foi a vez de Vargas se valer do ‘Plano Cohen’, um suposto plano comunista para derrubá-lo, mas que tinha como verdadeira intenção dar um pré-texto para a centralização do poder do presidente gaúcho. Mais tarde, descobriu-se que o Plano Cohen não passava da tradução de um artigo em francês feita pelo então capitão Olímpio Mourão Filho para a Aliança Integralista Brasileira. Com a ampla divulgação do Plano Cohen em 30 de setembro de 1937, inclusive pela Hora do Brasil, coagida pelo medo, a sociedade brasileira preparava-se para conviver com o Estado Novo. Assim, de forma surpreendente, apenas 24 horas depois de receber uma simples nota do Ministério da Justiça, a Câmara dos Deputados, por ampla maioria (2/3), concedeu o "estado de guerra". Sabendo, inclusive, que as imunidades parlamentares seriam suspensas. A partir de então, os golpistas passaram, finalmente, a dominar sem qualquer restrição o quadro político. (MEZZAROBA, 1992, p.2)
Mesmo no período ditatorial do Estado Novo (1937-1946), a batalha de narrativas aconteceu impondo a sua versão dos fatos, inclusive descambando para extremismos e mortes, sempre ligado ao teor emocional. O principal exemplo foi entre imigrantes japoneses que chegaram a fundar uma organização, a Shindo Renmei, em contestação aos veículos no Brasil que declaravam que o Japão havia sido derrotado na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e que o imperador Hirohito não era uma divindade como lhes fora ensinado. O ideal de um Japão invencível não permitia que os membros da Shindo Renmei aceitassem a derrota. O movimento conquistou 80% da comunidade nipônica no Brasil, e, ao todo, 23 pessoas foram mortas pela organização. As vítimas eram geralmente japoneses que acreditavam na versão brasileira dos fatos, apelidados de "Corações Sujos", (MORAIS, 2011, s/p.). No contexto da Guerra Fria, a ditadura militar brasileira (1964-1985) protagonizou o uso de mentiras. O suposto suicídio do jornalista e crítico do regime, Vladimir Herzog, em 1975, e o atentado a bomba supostamente comunista no Rio Centro, em 1981, foram exemplos disso. Em ambos os TCC 2019 | 385
casos, o uso de um episódio forjado para jogar a opinião pública contra a oposição ou fortalecer sua posição política. Desde Vargas, diversas figuras políticas brasileiras se valeram da narrativa importada do Macartismo que sempre procurava no comunismo a causa de todas as mazelas. Pode-se dizer que o medo do comunismo produziu pelo menos dois golpes políticos no Brasil, ambos marcados por manobras de informação. O primeiro foi o falso Plano Cohen, que empurrou para dezembro de 1945 as eleições de 1938, abrindo espaço para a instauração da ditadura do Estado Novo. O segundo, em 1964, que levou o país a 21 anos de regime militar, o maior período de exceção da história do Brasil. Esses dois episódios se prestaram a trapaça idêntica: cancelar eleições ou radicalizar uma ditadura. (OTÁVIO; TARDÁGUILA, 2018, p. 15-16)
A manipulação de fatos não é exclusividade do autoritarismo brasileiro, e já foi utilizado por presidentes na terceira República. O ex-presidente Fernando Collor durante período de campanha em 1989 acusou seu adversário político, Luiz Inácio Lula da Silva, de planejar confiscar a poupança do povo. Depois de eleito, anunciou o seu plano econômico de congelamento e confisco da poupança dos brasileiros. "Para sempre [o Brasil] se referiria a esse momento como o dia em que Collor tomou a poupança do povo" (OTÁVIO; TARDÁGUILA, 2018, p. 137). No mesmo período, a televisão brasileira ganhava redes de canais novos e se popularizava, sendo também importante para formar a opinião do brasileiro em formato de show, ainda que também tivesse um papel relevante na pedagogia e na saúde da população. Mesmo em 2017 a TV continuou forte, o país consumiu um total de 6 horas e 23 minutos de televisão diariamente, (REUTERS INSTITUTE FOR JOURNALISM, 2018, p. 116). Em 2019, pesquisa do Ideia Big data apontou que muita gente ainda se informa na internet via celular, 32% com índice de credibilidade em 29%, mas a TV lidera com 36% e é mais confiável para 30% dos entrevistados (MELLO, 2019, s/p.). Durante décadas, o grande pedagogo do Brasil foi a televisão. É claro que a TV, como toda instituição social é contraditória. A mesma TV que é formadora de opinião, que edita debates e exibe anúncios também foi respon386 | TCC 2019
sável por extinguir do Brasil a poliomielite. Se não fosse a XUXA dizendo para as crianças tomarem a gotinha no sábado, com todo o impacto que ela tinha como autoridade de comunicação em meio ao público infantil, não teríamos recebido o certificado de extinção da poliomielite em 1994 (CORTELLA; TÁS, 2017, p.73)
Em maio de 2001, o publicitário Duda Mendonça criou para o PT a campanha "Xô Corrupção", em protesto ao arquivamento da CPI da corrupção do governo Fernando Henrique Cardoso. Em período de campanha, o então candidato Lula declarou que "se ganharmos a eleição, tenho certeza de que parte da corrupção irá desaparecer já no primeiro semestre" (OTÁVIO; TARDÁGUILA, 2018, p. 180). Em 2009, quatro anos depois da eclosão do escândalo do Mensalão que envolveu o Partido dos Trabalhadores, o historiador Antônio de Almeida escreveu sobre a desilusão dos brasileiros com as mentiras petistas, uma vez que frustraram as expectativas dos que acreditaram na proposta de uma nova forma de se fazer política no país. "[Os petistas] abandonaram uma das suas principais bandeiras, que lhes renderam votos, credibilidade e capital político: o compromisso partidário com a ética na política" (OTÁVIO; TARDÁGUILA, 2018, p. 187). Após a conclusão do julgamento do mensalão, no final de 2012, o STF concluiu que o PT havia comprado apoio político para o ex-presidente Lula por meio de esquema orquestrado por Marcos Valério. Ao todo, 25 pessoas foram condenadas, incluindo os petistas José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares. Um ano antes, denúncia da Folha de S. Paulo trazia a informação de que semanas antes de assumir a chefia da Casa Civil do governo Dilma, Antônio Palocci comprou um apartamento de luxo em São Paulo no valor de R$6,6 milhões. Além disso, o petista havia multiplicado o seu patrimônio em 20 vezes em um período de 4 anos (FOLHA, 2011, s/p.). Depois da deflagração da Operação Lava Jato, em março do ano eleitoral de 2014, o PT teve sua ética novamente confrontada, e o marketing eleitoral do espetáculo, aperfeiçoado por João Santana e Mônica Moura, precisou entrar em cena para salvar a campanha de reeleição de Dilma. Enquanto a propaganda petista se valia de acusações contra a adversária Marina Silva, apelidadas pelo futuro presidente do TSE, Luiz Fux, de primeiras fake news, Dilma também reiterou "não tenho banqueiro me apoiando e me sustentando" (OTÁVIO; TARDÁGUILA, 2018 p. 203) e "não mexo em direitos trabalhistas nem que a vaca tussa" (TARDÁGUILA,
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2018, p. 211). Depois de eleita, Dilma escalou para a pasta econômica o diretor-superintendente do Bradesco Asset Management, Joaquim Levy, apelidado de "Mãos de Tesoura" por sua postura econômica austera. Levy não só mexeu nos direitos trabalhistas como tornou mais rigorosas as regras para receber seguro-desemprego, a pensão por morte e auxílio doença. Essa mudança radical de posicionamento, cunhado em inglês como policy switch, foi mais um estelionato eleitoral que contribuiu para a derrocada do petismo e consequentemente do governo Dilma. As insatisfações com as mentiras e o histórico de corrupção que também marcou os governos petistas fez o Brasil se dividir, tendo início com as jornadas de junho, se desenvolvendo durante o pleito de 2014 e ganhando ainda mais musculatura nos anos seguintes, com o processo de impeachment de Dilma. Depois da abertura do processo contra Dilma em dezembro de 2015, o ano seguinte acompanhou a agitação ideológica nos debates e ampliou a desinformação (ARAGÃO, 2016, s/p.). Em São Paulo, a voz das ruas se organizava, atingindo o maior ato político já registrado na capital paulista, com 500 mil manifestantes na Avenida Paulista, superando até mesmo o movimento pelas eleições democráticas durante a ditadura, as campanhas por Diretas Já. (FOLHA DE S. PAULO, 2016, s/p.) Os efeitos políticos, econômicos, sociais e psicológicos desembocaram em um clima de pós-verdade intolerante aos moldes do Brexit e do trumpismo, culminando nas eleições de 2018 marcadas pelas fake news generalizadas no país. Observou-se isso em junho quando apenas 16% dos brasileiros disseram acreditar na imprensa (TERENZI, 2019, s/p.) e o que se viu nos meses seguintes foram mentiras normalizadas em políticos como Jair Bolsonaro e conspiracionistas como o escritor e ex-jornalista Olavo de Carvalho. A médio e a longo prazo isso cria uma desconfiança nas instituições. Se a gente perde a credibilidade nos meios de comunicação, que são um elemento importante na hora de compor a nossa democracia pelo fato de a esfera pública ser intermediada por esses meios, pelos quais os cidadãos se informam, estará sendo erodida uma parte importante da democracia. (BRITO, 2017, s/p.)
3.1 AS JORNADAS DE JUNHO
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Em 2013, com a política governista em declínio de popularidade, a insatisfação política no Brasil aguardava um estalo para incendiar-se nas ruas. O país assistia aos impactos econômicos da crise de 2008 numa clara piora no PIB e o meio de mandato de Dilma Rousseff já apresentava considerável desgaste político após o julgamento do mensalão. "Nas ruas, os primeiros protestos contra o aumento das tarifas de ônibus em São Paulo alastrou a insatisfação pelas redes sociais" (ABRANCHES, 2018, p. 286). A brutalidade policial nas ruas paulistanas do governador tucano Geraldo Alckmin e episódios de violência no estádio do Maracanã, no contexto das vaias à presidente Dilma na Copa das Confederações, provocaram manifestações maiores. Em São Paulo, o número de pessoas gritando que o povo havia acordado saltava de 6 mil, no dia 13, para 65 mil, no dia 17. Os Black Blocs, grupos mascarados que atacavam patrimônios nas ruas durante as manifestações, surgem nesse contexto, anunciando uma tendência comum de radicalização e violência como "sintoma de um país que asfixia no seu descrédito absoluto do Poder Público" (SOLANO; MANSO; NOVAES, 2014, p. 23). A pauta difusa contra a inflação, aumento das tarifas, corrupção e tentativas de cercear o poder de investigação do MP com os gastos da Copa tomavam o vocabulário dos brasileiros nas redes e cada vez mais no dia-dia. "O déficit público deixado por Dilma foi quase todo produzido para beneficiar setores parasitários do capital. Para os ricos" (ABRANCHES, 2018, p. 332). A insatisfação com tudo o que estava ali, ligada ao sentimento de desconexão com a classe política começava a alimentar o despertar das militâncias online. Somou-se a isso a rápida popularização dos smartphones no país e as consequentes expansões das bolhas sociais online que contribuíram para a rápida organização de protestos e debate de pautas. Em 2013 o Brasil vendeu, pela primeira vez, mais smartphones do que celulares tradicionais, alta de 123% (REUTERS, 2014, s/p.). Os smartphones trouxeram aplicativos que facilitaram a comunicação direta e popularizaram as redes sociais, como é o caso do app de troca de mensagens instantâneas protegida por criptografia de ponta-a-ponta, o WhatsApp. Este já derrubava concorrentes como o chat de mensagens do Facebook (G1, 2013, s/p.), em 2015 o app já era o 4º maior aplicativo da internet móvel do Brasil (GOMES, 2015, s/p.), no ano seguinte 89% dos brasileiros já tinham acesso ao WhatsApp (CANAL TECH, 2016, s/p.). A rápida expansão da internet e de aplicativos TCC 2019 | 389
de mídias sociais nos smartphones dos brasileiros contribuiu para a melhor relação de militância e convocação de protestos. Durante as principais manifestações políticas, os brasileiros foram avaliados como o povo que mais preferia opiniões em notícias de política (REUTERS INSTITUTE FOR THE STUDY OF JOURNALISM, 2013, s/p.), o que alimentou ideologias e polarizações. A rápida e incontrolável ideologização do debate começou a marcar a visão política no senso comum e seria observado de forma assídua nos anos seguintes. Não por acaso o ano eleitoral de 2014 foi o marco da contraposição do PT com o PSDB, que crescia na vida analógica e digital retroalimentando-se com fake news de ambos os lados. A polarização aumentava ainda mais, bem como as narrativas com a militância de cada lado do espectro político, alimentada nas redes e na TV. "No enfrentamento, ganhavam resiliência contra os ataques recíprocos. O marketing eleitoral agressivo ajudou" (ABRANCHES, 2018, p.292). Dilma foi eleita com o menor percentual da terceira República. A oposição se fortaleceu com a Lava Jato, e não demoraria para que o castelo de publicidade petista ruísse. Essa reversão de expectativas conseguida a golpes de publicidade contribuiu para reeleger Dilma, mas promoveu rápido divórcio com a opinião pública. A criação de falsas esperanças alimenta a frustração e a decepção com a pessoa eleita, e corrói rapidamente a popularidade conquistada. (ABRANCHES, 2018, p. 292)
Depois das prisões de diretores e presidentes da Petrobras, fato inédito na história do país, a conta veio salgada para a classe política: os indicadores econômicos estavam todos em deterioração no final de 2014. Dilma começou o mandato sobre forte insatisfação nas redes, alimentando paixões de todos os espectros políticos. O ódio alimentava o extremismo de um país que em 2010 teve o maior crescimento do PIB desde 1986 (SPITZ, 2011, s/p.): ex-petistas e opositores sentiram-se traídos pelo lulopetismo e suas promessas, a corrupção política que eles acompanhavam no noticiário diariamente, que desviou bilhões do país, era vista como um fruto da falta de ética e das mentiras petistas. Reportagens em jornais e redes de televisão, processos judiciais, investigações policiais e boatos gerados na internet retroalimentaram-se, gerando uma nuvem de 390 | TCC 2019
informações verdadeiras, duvidosas ou indubitavelmente falsas que estigmatizava o PT – e, por consequência, toda a esquerda – como reencarnação da desonestidade e do mal. (SOLANO, 2018, p. 25)
O momento era propício para críticos do PT e de Dilma e o que ela representava em termos de alinhamento com a esquerda. Virou rotina ver o Jornal Nacional cobrir delações, manifestações e panelaços sobre os gritos de "o gigante acordou". Surgiam grupos idealizados por jovens que sabiam usar as vantagens da rede social, ao contrário da então classe política desconectada, foi o exemplo do Movimento Brasil Livre, ou MBL (MARTIN, 2014, s/p.). Ganhava voz também, a intolerância de teóricos conspiracionistas que se valiam de fake news e da indignação popular contra os políticos para alimentar o extremismo. E não somente a opinião pública se polarizava no país, os jornalistas perdiam credibilidade em meio a crises na imprensa que tinham escala global, "estamos nos aproximando do padrão EUA de polarização da mídia, e isso é péssima notícia. Ficamos com sites e colunistas pregando para convertidos e distorcendo os fatos". (MELO, 2014, s/p.) 3.2 GRITO, ORGULHO E PRECONCEITO Seguindo a tendência mundial de credibilidade em baixa da imprensa, a queda da ordem institucional e sua base de credibilidade deu ao extremismo uma nova voz, e ideias como separatismos e intervenção militar não eram mais vistas como indesejáveis, eram agora nova expressão da insatisfação popular. Entre essa nova camada ideológica de insatisfação, um ideólogo começou a ficar popular com seu livro "o mínimo que você precisa saber para não ser um idiota", do autor Olavo de Carvalho, que se apresenta como um filósofo. Em 2013, a obra chegou às prateleiras das livrarias "ao mesmo tempo em que o pessoal de verde e amarelo vagarosamente comecava a aparecer nas ruas e a bater panelas". (BRIZZI; PONTIN, 2018, s/p.) De repente, a frase “Olavo tem razão” aparecia em protestos. Figuras em preto e branco com o Olavão fumando eram carregadas por jovens que agora repetiam incessantemente uma ladainha sobre Foro de São Paulo, doutrinação gayzista-comunista e a presença de cloro na água para emascular nossos jovens. O livro teve mais de 300 mil cópias vendidas; mais de 12 mil alunos passaram TCC 2019 | 391
pelas fileiras de seus cursos. (BRIZZI; PONTIN, 2018, s/p.)
Não demoraria para que as teorias de Olavo de Carvalho florescessem. O escritor, exilado na Virgínia, nos EUA, já era um voraz crítico dos governos petistas e militava desde o começo do século na internet. É uma figura que ainda acha que vive na Guerra Fria, alimentando o medo de um comunismo que nem existe mais apenas para se promover como herói do ultraconservadorismo cristão contra uma inventada revolução satânica. [...] Ele se diz o dono de todas as verdades, e aí os seguidores se acham os desbravadores da verdade. (VILICIC, 2019, p. 17)
Olavo pregava a busca de um saber autodidata, ensinando filosofia sem ter "se formado academicamente nesse campo, nem em qualquer outro. Conta que aprendeu sobre o tema por conta própria ao longo de vários anos, longe das "ideologias" que cerceiam o ensino universitário" (FELLET, 2016, s/p.). É importante frisar que Olavo não criou as conspirações brasileiras, mas as aperfeiçoou no âmbito digital, usando o emocional à favor de seus ideais que promoviam a extrema-direita em um período de forte descredibilidade da imprensa. Anos depois, declarava "eu quis que uma direita existisse, o que não quer dizer que eu pertença a ela. Fui o parteiro dela, mas o parteiro não nasce com o bebê" (FELLET, 2016, s/p.). Olavo ofereceu uma saída com uma linguagem sofisticada o suficiente para que o seu alvo não se sentisse burro, mas engraçada o suficiente para que ele se sentisse legal, e ofereceu isso nos termos da internet. Olavo criou fóruns de discussão, fazia crônicas semanais temáticas junto com apostilas de orientação intelectual falando dos clássicos gregos em uma linguagem acessível. Imaginem a surpresa de seus estudantes. Este cara que está nos Estados Unidos e manja de filosofia, misticismo, política e fala um monte de palavrão, esse cara responde minhas mensagens!, fala comigo como se eu fosse uma pessoa normal!, diz que eu sou inteligente! (BRIZZI; PONTIN, 2018, s/p.)
Entre outras declarações em seu Twitter, publicou, "dizer que um gay 392 | TCC 2019
não pode ser conservador é EXATAMENTE o mesmo que dizer que um pecador não pode ser cristão" (CARVALHO, 2017, s/p.); "vacinas matam ou endoidam. Nunca dê a um filho seu" (CARVALHO, 2016, s/p.); "eu fumo há meio século, dois ou três maços por dia, e o meu pulmão está INTACTO, graças à Deus" (CARVALHO, 2016, s/p.) e "os jornalistas são os maiores inimigos do povo, seja nos EUA ou no Brasil" (CARVALHO, 2016, s/p.). A ideologia olavista possuía a carga de insatisfação que ecoava junto ao emocional dos brasileiros, e rapidamente produziu uma nova crença na oposição. A expressão nacional deste tipo de pós-verdade está ligada à emergência de um novo irracionalismo brasileiro – com sua disposição predatória contra professores, estudantes, artistas aposentados e demais “parasitas” que não sabem o “valor do trabalho” e que não aceitam as “verdades óbvias” – presume uma geografia simples e bem dividida entre ciência e religião, ordem e baderna, fatos e opiniões. A “pós-verdade” não é, portanto, o regime das opiniões desenfreadas e do relativismo niilista, tal como se anunciava no pós-modernismo liberal. Sua estrutura cognitiva, propriamente regressiva, depende do mito da unidade da ciência, da força de sua autoridade normativa, justamente para que ela possa se aliar com as piores formas de metafísica. Por isso, Lacan dizia que, “quando a ciência se aliar com a religião, aí sim, encontraremos o pior” (DUNKER et al., 2017, p. 39)
Para muitos brasileiros das mais variadas classes sociais, a desilusão abriu espaço para conveniência. Agora os pensamentos de Olavo eram dogmáticos, como definiu o responsável por cunhar o termo "petralha", Reinaldo Azevedo, Olavo se tornou o "Aiatolavo" (AZEVEDO, 2017, s/p.). Os seus partidários, chamados por seu próprio guru de olavetes, se identificavam com a narrativa que ele oferecia: em meio a ofensas e ódio, um conjunto de conspirações pautadas no emocional, de forma acessível e pseudo-intelectual, um verdadeiro "entretenimento disruptivo como distração da ciência laboriosa" (D'ANCONA, 2018, p. 47). Um mecanismo de inclusão dentro de uma espécie de alta cultura alternativa, algo que é, ao mesmo tempo, uma contracultura e uma comunidade onde transitam pessoas que acreditam ter acesso a um caminho alternativo. TCC 2019 | 393
[Carvalho entendeu] que existe um movimento carente de uma linguagem que possa criar aderência rápida, que possa capturar a imaginação das pessoas sem grandes complicações e que, sobretudo, não ofenda as pessoas as chamando de burras – ou, para ser mais preciso, dizendo a todos que são burros, menos a seus seguidores. (BRIZZI; PONTIN, 2018, s/p.)
Além das estratégias discursivas do olavismo, muitos brasileiros se valiam da visão de um Estado ainda cunhado no período da ditadura para criminalizar partidos e instituições. Passada adiante nos tempos de FHC, Lula e Dilma, era a narrativa do mercado virtuoso e do Estado corrupto e ineficiente (DE SOUZA, 2018). Agora, ela surgia liderada por manifestantes, representados pelo empoderamento em formato de gritos por ordem contra o Estado preso em seu vício de corrupção e imoralidade, apoiados pelo establishment político do PSDB e do MDB. O discurso costuma apresentar o reforço da família tradicional como compensação para a demissão do Estado das tarefas de proteção social – Estado que é o inimigo comum, seja por regular relações econômicas, seja por reduzir a autoridade patriarcal ao determinar a proteção aos direitos dos outros integrantes do núcleo familiar (SOLANO, 2018, p. 20)
Na esquerda e em movimentos de minorias representadas, Olavo apenas tratou de aplaudir a cultura quando ela convinha à sua visão de mundo. Em seu livro, exaltou "artistas negros brasileiros que entendiam que suas remotas origens africanas tinham sido neutralizadas pela absorção na cultura ocidental" e que não ficavam "choramingando coletivamente as saudades de culturas tribais extintas" (FELLET, 2018, s/p.). Carvalho exaltava a família e valorizava os preceitos de civilização ocidental, valendo-se de uma releitura do globalismo em Bannon e as supostas guerras culturais do pensador italiano Antonio Gramsci. Há um caminho, em particular, de fusão do anticomunismo com o reacionarismo moral, que passa por uma leitura fantasiosa da obra de Antonio Gramsci e recebe o nome de “marxismo cultural”. (...) Gramsci é apresen-
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tado como alguém que bolou um “plano infalível” para a vitória do comunismo. (...) um passo fundamental para a derrubada do capitalismo e da “civilização ocidental” seria a dissolução da moral sexual convencional e da estrutura familiar tradicional. Afinal, “a família é a cellula mater da sociedade”; se destruída, faz todo o edifício romper. (...) [Para] Olavo de carvalho, a estratégia gramsciana é “apagar da mentalidade popular e sobretudo do fundo inconsciente do senso comum, toda a herança moral e cultural da humanidade” (SOLANO, 2018, p. 22)
A busca por ordem não se deu somente no fortalecimento da identidade branca, que conferiu à pós-verdade de Trump uma grande fama, achou voz em torno de uma coesão pela família tradicional conservadora, apontando bodes expiatórios para a crise moral e de ordem no país, usando fake news misturadas a outros preconceitos como a visibilidade LGBTQI+ cada vez mais presente em produções culturais e nas instituições (KER, 2018, s/p.). Para o conservador saliente, qualquer indivíduo tachado de vagabundo incluindo o menor de idade, perde todos os seus direitos no momento em que opta pela via do crime. Ele deve ser encarcerado ou mesmo morto. Aqueles que protegem o “cidadão de bem”, portanto, são vistos como heróis dessa sociedade. [...] Aqueles que defendem os direitos humanos dos bandidos são os mesmos que propagam uma educação frouxa e promíscua que retira a inocência das crianças e as tornam vulneráveis a pedófilos. Esses, chamados de esquerdopatas, são os inimigos. (SOLANO, 2018, p.89)
Com os boatos de um possível impeachment circulando entre imprensa e a timeline dos brasileiros, o ano de 2015 manteve o despertar político no país, sendo quase impossível não ouvir alguém falar de política ou mesmo não se deparar com os famosos "textões" (CIRNE, 2016, s/p.) nas redes sociais. Também foi o ano da Primavera das Mulheres (ODARA, 2016, s/p.), onde o feminismo desabrochou de forma inédita no Brasil. Apesar das manifestações democráticas, as instituições não iam bem, e no fim do ano "o mandato do presidente da Câmara estava por um fio. O da presidente da República também. O do presidente do Senado, sobre risco TCC 2019 | 395
iminente." (ABRANCHES, 2018, p. 306). No grito de insatisfação, comum entre todos os brasileiros que buscavam os seu lado dos fatos, estava a busca para explicar a crise por meio de rótulos e generalizações, algo que começou a se mostrar uma tendência inevitável e importada dos EUA. No Brasil, temos visto o crescimento de um discurso que não leva a um debate significativo, porque, em vez de se concentrar nos problemas reais com o governo, prefere exclamar histericamente que tudo é, ao mesmo tempo, comunista, nazista e anarquista; na melhor das hipóteses, isso é pouco construtivo; na pior, é perigoso. (MELLO, 2014,s/p.)
Em meio a votação da abertura do processo de impeachment de Dilma, no Congresso, um dos discursos que mais viralizou na internet foi o de um deputado do baixo clero e saudosista da ditadura, que na ocasião elogiava "o único militar brasileiro declarado torturador pela Justiça" (EXTRA, 2016, s/p.), o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. Jair Bolsonaro apareceu ali como o antipetista mais antipetista, atiçando e legitimando o extremismo sobre o cerne da liberdade de expressão e conexão digital. Em meio ao caos institucional, o Brasil começava a abraçar o grito de ordem pelo de ódio. Ainda que começasse a chamar a atenção ali, o capitão reformado começou ainda era um coadjuvante político perto de figuras políticas de oposição mais relevantes, como Aécio Neves e Michel Temer, e o grande aparato eleitoral do PSDB e MDB. Dilma foi oficialmente afastada do cargo em 31 de agosto de 2016, mas a crise e a pós-verdade no Brasil estavam longe de acabar. Apesar da popularidade alta, aos poucos os que confiavam na oposição democrática à corrupção, simbolizada pela gestão Dilma, iriam entender porque o ex-presidente da Câmara declarou em seu voto "Que Deus tenha misericórdia dessa nação" (FOLHA DE S. PAULO, 2016, s/p.). Os líderes da nova situação, peemedebistas e tucanos, logo viriam a ser atingidos pela operação Lava Jato. O gabinete [de Temer] era uma galeria de investigados e réus em processos de corrupção política e eleitoral. Alguns seriam presos dali a pouco tempo, como Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves, ou afastados do governo, como Romero Jucá. Gravações feitas pelo 396 | TCC 2019
ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, implicavam diversos ministros e políticos da proximidade de Michel Temer. Elas relatavam articulações para barrar as investigações de corrupção que ameaçavam a cúpula do PMDB e várias de suas oligarquias. (ABRANCHES, 2018, p. 316)
Em 2017 foram flagrados políticos em conversas particulares nada republicanas, nos casos de delação da JBS que expuseram o presidente do PSDB, Aécio Neves, e o presidente da República, Michel Temer. Temer foi formalmente acusado duas vezes por crime de corrupção pelo Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, e se manteve no poder pela coalizão, negociando cargos e emendas parlamentares bilionárias ( JUNGBLUT, 2017, s/p.), o que expôs ainda mais as vulnerabilidades e o clientelismo dentro do sistema político. A classe política se esfacelava conforme seus principais representantes eram presos, caso de um dos grandes opositores de Dilma, e que fora aplaudido pelos primeiros manifestantes da Lava Jato, o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, acusado de ter contas na Suíça. Também se aplicou a aliados de petistas, caso do ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. No total, 4 ex-presidentes foram denunciados, entre eles Lula, o símbolo principal da decepção política para muitos brasileiros. Em 2010 o ex-metalúrgico bateu recorde de aprovação de governo no Ibope, com 87%, mas em 2018 foi preso por corrupção e lavagem de dinheiro. A sensação que se instalava era de desconfiança institucional cada vez maior, e o abismo entre população e os poderes do Estado se evidenciava nos comentários cada vez mais agressivos e polarizados nas redes, a criminalização geral da política passou a ser vista como a vacina contra os governantes corruptos. Nesse período, o Brasil foi considerado o segundo povo com a pior noção da própria realidade. Tudo isso foi resultante de um forte sentimento antipolítica potencializado pelo protagonismo inédito das redes sociais, a partir da corrupção endêmica, do impeachment e dos efeitos da crise econômica. O sinal já estava presente nas jornadas de rua de 2013. As lideranças tradicionais operaram com software obsoleto. “Abaixo a velha política”, “Contra os mesmos políticos de sempre”, “não reeleja ninguém” foram os lemas vitoriosos. (PESTANA, 2019, s/p.) TCC 2019 | 397
Os agentes de desinformação se aproveitaram da situação para instaurar diversos debates gritando por ordem e se valendo de fake news. Em 2017, depois que a Agência de fact-checking Truco checou as declarações do canal no Youtube do Movimento Brasil Livre sobre o regime semiaberto (FIGUEIREDO; MORAES, 2017, s/p.), o MBL acusou a Agência e o movimento de fact-checking de ser formado por militantes de extrema-esquerda (BARBOSA, 2017, s/p.). A estratégia de associar o fact-checking e a mídia como controladas pelo braço cultural corrupto da esquerda foi tão bem empregada nessa época, que em 2018 voltaria com muito mais força no pleito. O medo do comunismo voltava ao debate político brasileiro repaginado e alimentando a pós-verdade nas redes, criado da contraposição entre o lado bom, representado por "cidadão de bem" versus as instituições controladas pelo "lulopetismo" e sua suposta expressão cultural controladora, incluindo imprensa, movimentos sociais, o Congresso e o poder Judiciário: O PT veio a ser apresentado como a encarnação do comunismo no Brasil, gerando uma notável sobreposição entre anticomunismo e antipetismo. (...) Movimentos sociais e sindicatos são corruptos, violentos e têm como plano oculto a implantação do comunismo no Brasil: o comunismo é um risco ainda maior do que a corrupção, pois ameaça a liberdade do “cidadão de bem”; foi para combater essa ameaça que o Exército foi forçado a intervir em 1964; diferentemente dos dias atuais, naquele tempo havia ordem, tanto pública quanto privada. Essa visão de mundo é autoevidente para todos, mas a mídia, mentirosa e manipuladora, impede que a população a enxergue; por isso é importante procurar e propagar a verdade nas redes sociais. (SOLANO, 2018, p. 22-90)
Usando de várias estratégias de Trump e Bannon, como criminalização da oposição e a busca por bodes expiatórios para explicar a crise institucional, os agentes de desinformação no Brasil logo cresceram e se profissionalizaram com técnicas para angariar o público pelo emocional, valendo-se de narrativas dogmáticas, agressivas e mentirosas. No Youtube por exemplo, um dos pupilos olavetes chamado Nando Moura, viria a dizer para seus quase 3 milhões de seguidores que o ditador comunista Josef 398 | TCC 2019
Stalin havia recebido duas vezes o prêmio Nobel da Paz (CATRACA LIVRE, 2019, s/p.), Moura também foi um dos youtubers mencionados por Jair Bolsonaro como "excelentes opções de informação" (FILHO, 2018, s/p.). Em ranking apresentado pela edição 1034 da Revista Época (BORGES, 2018, p. 26) os dois sites de boatos mais populares do país são Gospel Prime e Virgulistas, que respectivamente possuem 2,79 milhões e 1,05 milhões de visitantes mensais, em comum as entidades religiosas ou políticas também investigadas, como o exemplo do ex-senador Magno Malta, antes ligado ao PT mas que após 2013 buscou se afastar do partido dos trabalhadores e culpá-lo integralmente por toda corrupção e desmoralização do país. Já o MBL, que conquistou seu público no Facebook com mais de 3 milhões de seguidores, discursava em fake news com chamadas espalhafatosas como “Após cinco anos, Globo cancela o ultraesquerdista Esquenta” (MBL, 2016, s/p.) e uma tradução de uma notícia fraudulenta do site de Steve Bannon, o Breitbart News, “Maior parte dos 8 mais ricos do mundo é de esquerda. Nenhum é de direita" (TOJA, 2017, s/p.). A dinâmica sensacionalista online se replicava sem parar em sites, redes sociais e vídeos conforme os agentes de desinformação buscavam uma conexão mais direta com seus fiéis. Existe um incentivo para os produtores fazerem vídeos cada vez mais extremos e bizarros para prender a audiência o máximo possível. Isso explica um pouco a obsessão da internet pela banheira de Nutella, e também ajuda a entender como se elegeram tantos youtubers interconectados nas últimas eleições. Como conteúdo radical dá dinheiro, por conta dos anúncios, extremistas usam também outras ferramentas para incentivar a formação de bolhas e atrair cada vez mais gente. No Brasil, donos de canais de conteúdo extremo e conspiratório, como a Joice Hasselmann, por exemplo, costumam divulgar seu número do WhatsApp, viciando as pessoas em seus conteúdos com base na exploração dessa relação de proximidade ou intimidade. (CÓRDOVA, 2019, s/p.)
O MBL voltaria ainda à cena como protagonista em outro episódio de fake news ao atacar a ex-vereadora defensora dos direitos humanos assassinada em 2018, Marielle Franco, se valendo da suposta autoridade factual de um deputado e uma desembargadora para embasar suas injúrias. TCC 2019 | 399
Num mecanismo típico de como funcionam as engrenagens das fake news, o MBL usou a declaração assumidamente sem embasamento da desembargadora em uma postagem em seu site. O grupo publicou na página do Facebook uma matéria titulada: "Desembargadora quebra narrativa do PSOL e diz que Marielle se envolvia com bandidos e é 'cadáver comum' ". Na chamada o MBL ressaltou: "Isso é complicado. Bem complicado... ". Até as 17h deste sábado (17), o post do movimento já tinha mais de 38 mil curtidas e 28 mil compartilhamentos. (MENDONÇA, 2018, s/p.)
Depois de tantos episódios de desinformação, próximo do pleito, o Facebook removeu 196 páginas e 87 perfis pessoais ligados ao MBL, classificado como uma rede que “escondia das pessoas a natureza e a origem de seu conteúdo com o propósito de gerar divisão e espalhar desinformação” (HAYNES, 2018, s/p.). O vácuo que a Lava Jato deixou na classe política e em suas lideranças criou novos heróis, mitos e inimigos. Nomes como Joaquim Barbosa e Luciano Huck ganharam proeminência na política nesse período, sendo ofuscado somente pelo grito de intolerância, já bem comum em todos os espectros ideologizados. Depois do impeachment, os quase 30 anos de vida pública de Jair Bolsonaro começavam a migrar do ostracismo para o protagonismo, conforme a elite política ia se degradando frente a opinião pública, e a comunicação via internet estabelecia uma relação única com o eleitorado pela autoverdade14. O uso das redes sociais, a utilização de vídeos curtos e apelativos, o meme como ferramenta de comunicação, a figura heroica e juvenil do ‘mito ’Bolsonaro, falas irreverentes e até ridículas, falas fortes, destrutivas, contra todos, são aspectos que atraem os jovens. Se, nos anos
Segundo Eliane Brum (2018, s/p.), a autoverdade pode ser entendida como a valorização de uma verdade pessoal autoproclamada, "uma verdade do indivíduo, determinada pelo ‘dizer tudo’ da internet. Expressa nas redes sociais pela palavra “lacrou”. 14
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70, ser rebelde era ser de esquerda, agora, para muitos destes jovens, é votar nesta nova direita que se apresenta de uma forma cool, disfarçando seu discurso de ódio em formas de memes e de vídeos divertidos: O Bolsomito é divertido, o resto dos políticos não”. (BRUM, 2018, s/p.)
Após a eleição de Donald Trump em 2016, o então deputado federal Jair Messias Bolsonaro comemorou a vitória do republicano via Twitter "Parabéns ao povo dos EUA pela eleição d @realDonaldTrump .Vence aquele q lutou contra "tudo e todos". Em 2018 será o Brasil no mesmo caminho" (BOLSONARO, 2016, s/p.). O alinhamento do capitão reformado ao discurso trumpista, no entanto, não começou naquele ano. A herança do anti-petismo mais radical ligado a Olavo de Carvalho sedimentou a ideologia bolsonarista a ponto de no início do período de pré-campanha, um dos filhos de Bolsonaro, Eduardo, se encontrar com Steve Bannon nos EUA, posteriormente nomeado por ele como líder sul-americano de seu grupo político conservador, The Movement. Eduardo ainda intermediou encontro posterior de Bannon com Olavo de Carvalho. 4. JORNALISMO EM ERA DE PÓS-VERDADE O jornalismo que tentou acompanhar a dinâmica online, produziu certos efeitos e vícios dentro da profissão, que no fundo ajudaram a criar ambiente favorável aos escravos digitais, informados exclusivamente pelas chamadas sensacionalistas das matérias nas redes sociais, "entre a produtividade e o consumismo diante das telas que administram o desejo. Inertes, no trabalho alienado de nossos membros adoecidos por esforços repetitivos, já não contemplamos o mundo" (TIBURI, 2017, s/p.). Estes, seja por falta de tempo ou de interesse frente a outros conteúdos, não leem os textos que compartilham, se valendo somente dos títulos carregados de teor emocional para reafirmar suas ideologias e reforçando o conspiracionismo. Em um estudo comportamental (SCHWARZ et al., 1991, p.195-202), pesquisadores alemães descobriram que a percepção da falta de argumentos faz as pessoas notarem que não têm tanta razão naquilo que defendem quando são submetidas a listar os motivos de suas posições. Esse teste simples poderia ser aplicado à realidade na web, em 2019, pesquisa do Ideia Big Data mostrou que 42% dos eleitores não concordaram nem discordaram com a afirmação “eu compartilhei fake news de conteúdo político durante a campanha eleitoral de 2018” (MELLO, 2019, s/p.), TCC 2019 | 401
mostrando que no meio de tanta mentira, muitos não têm certeza do grau de credibilidade do que compartilham. Outro estudo, feito em 2016 pela Universidade Columbia e pelo Instituto Nacional Francês analisou 3 milhões de tweets e concluiu que de cada 10 pessoas que compartilhavam links no Twitter, 6 o fizeram sem nunca ter lido a matéria que passavam adiante, apenas confiando na informação da chamada do texto (LEONARDI, 2016, s/p.) No feed das redes sociais onde, por exemplo, 7 em cada 10 brasileiros se informam (ANDRION, 2019, s/p.), o que se observa são várias memórias desconexas, em estado de eterno presente, com saberes inertes, desconectados e inconsequentes entre si sem a possibilidade de ordená-los em uma interpretação coerente. Cada vez mais lemos a mensagem que o outro nos envia em pacotes de informação, compostos por imagens e textos, que se apresentam como um “todo de uma vez”. Isso degrada a narrativa de viagem a um percurso sem memória. A resposta antecipada para uma determinada imagem coordena nossos códigos de comunicação e de produção de desejo, de tal forma que é preciso rapidamente acolher ou descartar, inibir ou estimular o progresso da comunicação com o outro. É o que alguns teóricos da linguagem chamam de cultura do connect e cut, na qual há igual facilidade de acesso e de desligamento no contato com o outro. (DUNKER et al., 2017, p. 28-30)
Além da obra jornalística dentro da mídia tradicional perder autenticidade pela reprodução em formato de indústria cultural, o jornalismo se viu preso na lógica publicitária, precisando cada vez mais tentar ser impressionante frente ao conteúdo online. O ecossistema de publicidade nas mídias sociais depende da disseminação de conteúdo. Quanto mais atraente é o conteúdo, mais valor ele cria e mais receita em publicidade capta. Por isso, em certo sentido, o modelo de negócio de publicidade digitais atuais incentivam a propagação de notícias falsas - porque, como vimos, a informação enganosa se propaga mais rápido, vai mais longe, mais fundo e se difunde mais generalizadamente que as notícias verdadeiras. (ARAL, 2018, p. 34) 402 | TCC 2019
Concorrendo com o apelo emotivo e massivo das conspirações, o jornalismo online passou a usar outras estratégias, como as chamadas cada vez mais sensacionalistas e que se valiam de elementos emocionais para estimular o clique, as "chamadas caça-cliques", ou click-baits (CAMINADA, 2015, s/p.). Além de frustrar os leitores por prometer uma informação não entregue conforme a expectativa, muita desinformação pode embarcar nos click-baits, como provou um site de sensacionalismo científico ao publicar um texto chamado “70% dos usuários do Facebook só lêem a manchete de notícias científicas antes de comentar“ (LEONARDI, 2016, s/p). O texto possuía parágrafos inteiros em lorem ipsum, texto sem sentido usado para preencher páginas em teste. Mesmo assim, a matéria foi compartilhada por 46 mil pessoas. 4.1 FACT-CHECKING E NOVAS PRÁTICAS Era de se esperar que a resposta a tanta desinformação no ambiente jornalístico e político fosse surgir. Em 1991, um jornalista estadunidense, Brooks Jackson, fundou a “Ad Police”, a primeira equipe direcionada a checar propaganda eleitoral, mais tarde viriam a ser batizadas como Agências de Fact-cheking. A missão inicial da Ad Police era investigar o que o confronto eleitoral entre Bill Clinton e George Bush (pai). Em 2003, estimulado pelo sucesso do trabalho na CNN, Jackson criou o primeiro site independente de fact-checking. Com a ajuda da Universidade da Pensilvânia e do Annenberg Public Policy Center, inaugurou o FactCheck.org, que está ativo até hoje. Meses depois, foi a vez do jornalista Bill Adair, do “Tampa Bay Times”, lançar uma nova seção em seu jornal, o Politifact.com (também ativo hoje) e ganhar um prêmio Pulitzer com isso. (LUPA, 2015, s/p.)
A febre do fact-checking continuou a se espalhar no mundo. Na América Latina, a primeira agência a nascer foi na Argentina em 2010, a Chequeado, também foi a primeira a fazer a checagem de fatos em debates ao vivo. A expansão do fact-checking fez necessária a criação de uma organização própria, em 2015 o Poynter Institute fundou a rede internacional de fact-checking - IFCN (POYNTER, 2019, s/p.). No mesmo ano, a primeira agência de fact-checking brasileira nasceu, a Lupa, fundada por Cristina TarTCC 2019 | 403
dáguila e inspirada na Chequeado. Logo outras reconhecidas surgiriam no Brasil como a Aos Fatos e Truco (Agência Pública). Outros sites que checavam boatos já existiam, como o E-farsas, fundado em 2002, mas é em 2015 que o fact-checking se profissionalizou, ano do início do impeachment de Dilma Rousseff, quando os brasileiros já ostentavam o título mundial de terceiro país mais tempo online no celular (FOLHA DE S.PAULO, 2015, s/p.). Os cinco princípios fundamentais da IFCN são: "o compromisso com ser apartidário e justo; transparência da fonte de recursos e da organização; transparência na metodologia utilizada transparência das fontes e abertura às correções honestas" (MARTINS, 2017, s/p.). Enquanto a política pública é algo mais perene por se tratar de decisões de Estado, a política governamental tem muito mais a ver com “o poder e com o que as pessoas dizem”.(...) É preciso saber diferenciar uma coisa da outra para que a cobertura não perca o foco do que é o mais importante numa história. “É importante focar não apenas no que as pessoas dizem, mas no que elas fazem”, completou Josh Fischman, editor sênior da Scientific American (EUA). Ele lembrou que, durante a campanha eleitoral de 2016, repórteres da revista perguntaram aos eleitores sobre quais temas eram mais importantes para eles a fim de ajustar o tom da cobertura que fariam. O papel do jornalismo na formulação de política científica baseada em evidências foi a chave das discussões (...). Em um cenário em que “fatos alternativos” têm relevância na arena pública, voltar aos fundamentos do jornalismo sério e investigativo nunca foi tão importante — em especial quando o grupo que dita as regras nem sempre entende a importância de políticas baseadas em evidências. (RODRIGUES, 2019, s/p.)
Apesar da idoneidade e esforço do jornalismo investigativo em busca de um resgate da valorização das fontes, dados e a verdadeira trajetória dos fatos, o fact-checking ainda esbarra nas barreiras cognitivas. O Facebook, que fora pressionado depois do caso Trump e Brexit e lançou uma campanha junto às agências, passou a tentar auxiliar na apuração contra fake news, sinalizando um alerta em cada conteúdo suspeito com a intenção de orientar os internautas no combate a desinformação. A campanha foi abandonada logo depois porque a plataforma consi404 | TCC 2019
derou "que o ícone de advertência não só não é eficaz, como pode produzir o efeito contrário. Não surpreenderia se aquele conteúdo sinalizado como falso tivesse atraído ainda mais a atenção dos usuários do que os conteúdos sem indicação de falsidade" (RAIS, 2018, p. 121). Esse efeito de negação ocorre quando as pessoas enganadas, frente aos dados ou informações que confrontam suas visões de mundo, procuram a negação ou estabelecem falsas conexões para obter conforto cognitivo e manter sua narrativa ou coesão de grupo. É a chamada dissonância cognitiva. Para resolver o problema da desconfiança na mídia, a jornalista e diretora do programa de ética jornalística da Universidade de Santa Clara, no Vale do Silício, Sally Lehrman, ouviu do público dos EUA e da Europa os principais critérios para acreditar em uma notícia, classificando os consumidores de notícias em 4 grupos: ávidos (checam as informações que consomem), engajados (têm contato com as notícias mas se sobrecarregaram com o volume de informações hoje), leitores ocasionais e os desengajados, "os que mais preocupam o jornalismo. Atacam jornalistas no Twitter, dizendo que suas reportagens são falsas. Podem estar nos dois polos políticos (liberais e conservadores). E são desengajados porque pararam de prestar atenção às notícias" (TERENZI, 2019, s/p.). Depois de mapear 8 indicadores que passaram a nortear uma espécie de manual de jornalismo para a pós-verdade, Sally lançou em 2017 o Trust Project com a adesão de jornais como The Economist, El Pais e The Washignton Post. Hoje o projeto conta com mais de 100 veículos, incluindo os brasileiros Nexo Jornal, Agência Lupa, Agência Mural, Folha de S. Paulo, Poder360 e O Povo, além de contar com o financiamento da Google e o suporte de plataformas como o Facebook. A transparência e adoção de um novo manual são atitudes necessárias em tempos de pós-verdade. Se, por exemplo, o veículo jornalístico seguir os 8 critérios definidos, consegue o selo da Trust. As características devem estar alinhadas às melhores práticas de transparência dos valores do veículo e sua correção de erros, a devida identificação dos jornalistas, a classificação de cada tipo de publicação para separar opinião dos relatos factuais, o uso de referências e citações linkadas a arquivos oficiais, a exposição de informações sobre como um determinado conteúdo foi produzido e por que o veículo decidiu investigar um tema, a exibição do local de apuração, a pluralidade de vozes e o feedback estimulado pelos veículos para ouvir as opiniões dos consumidores de notícias. O processo de autocrítica que o Trust Project apresentou foi importante no marco de um jornalismo mais TCC 2019 | 405
compreensivo e menos hierárquico. Existe um sentimento de incerteza nas pessoas sobre confiar ou não no noticiário, em parte, porque tudo parece a mesma coisa na internet. [...] Há motivos para desconfiança e descrédito criados por nós jornalistas, infelizmente: nós desprezamos algumas comunidades; misturamos notícias com opinião (e as pessoas notaram isso no ambiente digital) (...) Os veículos de notícias pareciam perdidos e desamparados no ambiente digital, tentando responder se estavam explorando ou sendo explorados pelas redes sociais(…) não tomando um papel de liderança. (...) Os veículos têm intensificado a reação a essa crise. E o Trust Project é um exemplo muito bom disso. As organizações se uniram, em um meio altamente competitivo, por reconhecerem que são responsáveis pelos leitores e para retomar o controle em como o jornalismo está representado no ambiente digital. (TERENZI, 2019, s/p.)
5. AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2018 Em agosto de 2018, Luiz Fux declarou que o TSE apresentou alternativas para combater fake news, e que nas eleições elas “não vão navegar pela internet como antigamente se navegava pelos mares” (DIAS; MARTINS, 2018, s.p/). Durante o ano, o tribunal desenvolveu estratégias como a criação de eventos destinados pesquisar e investigar o teor dos boatos com Google, Facebook e Twitter, fez um portal para alertar sobre fake news e criou um conselho consultivo composto por juízes do tribunal, policiais federais, membros do exército, e representantes da sociedade civil e das empresas responsáveis pelas redes sociais. O TSE ainda firmou termo de compromisso com 31 partidos para evitar a disseminação de informações falsas, apenas PT, PCO, PSTU e PTC não assinaram o acordo (PORTAL R7, 2018, s/p.). Outra medida foi a criação de um conselho consultivo composto por membros do tribunal, da Polícia Federal, das Forças Armadas, pesquisadores e empresas. Por fim, o ministro do STF mencionou a possibilidade de anular uma chapa que tenha sido impulsionada por notícias falsas. Com relação à tutela do campo eleitoral em si, nós temos o direito de resposta, que tem muita eficiência, nós
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temos multas, temos a cassação de diplomas e nós temos uma previsão que está expressa no artigo 222 do Código Eleitoral, no sentido de que se houver a comprovação de que uma candidatura se calcou preponderantemente em fake news, essa candidatura pode ser anulada. (CURY, 2018, s/p.)
Apesar do poder Judiciário ter esboçado iniciativas contra as fake news, a campanha online foi um verdadeiro disseminador de pós-verdade, repleto de guerras de narrativas. Diante do desconhecimento dos fenômenos de desinformação e sua dinâmica online, o TSE se revelou perdido no assunto. Nas palavras da presidente do tribunal a respeito do combate às notícias falsas, a presidente do TSE, ministra Rosa Weber, avaliaria dias antes do segundo turno "nós ainda não descobrimos o milagre" (VENTURA, 2018, s/p.). Foram 3 meses de mentiras envolvendo todos os candidatos e muitos eleitores, com compartilhamentos se retroalimentando em cada segmento ideológico, vindo tanto da militância como dos próprios candidatos. No Rio Grande do Sul, uma estudante se mutilou com uma suástica e culpou bolsonaristas pelo ato (PORTAL IG, 2018, s/p.). O ex-presidente Lula foi dublado pedindo votos para Jair Bolsonaro (PSL) (SCHULTZ, 2018, s/p.), o capitão reformado foi acusado de ter se aposentado aos 33 anos por insanidade mental, quando na verdade o fizera por ter entrado na vida pública (BRASIL DE FATO, 2019, s/p.). Fernando Haddad (PT), chamou o vice da chapa do PSL, o general Hamilton Mourão (PRTB), de torturador (VETTORAZZO, 2018, s/p.). A candidata à vice na chapa do PT, Manuela D'Avila (PCdoB), teve montagem usando uma camiseta com a frase "Jesus é travesti" (VELASCO, 2018, s/p.). Flávio Bolsonaro (PSL) teve sua foto com uma camisa que exaltava a frase "Movimento nordestinos voltem pra casa. O Rio não é lugar para jegue" (SCHULTZ, 2018, s/p.), Carlos Bolsonaro teve um vídeo erroneamente atribuído a ele, no qual o personagem atacava nordestinos (G1, 2018, s/p.). No debate de estréia, o candidato cabo Daciolo (Patriota) contestou em debate ao vivo se Ciro Gomes integrou o Foro de São Paulo, um encontro de líderes de esquerda latino-americanos, classificado como uma tentativa de criar um Estado único comunista entre os países da América Latina, a URSAL (CATRACA LIVRE, 2018, s/p.). A sigla foi citada pela primeira vez por uma professora em tom de deboche em 2001, “a Ursal foi
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uma brincadeira que virou uma teoria conspiratória” (UOL, 2018, s/p.) e que depois foi apropriada por Olavo de Carvalho. As fake news não acabaram depois do pleito, um dos presidenciáveis, Ciro Gomes (PDT), citou em entrevista à Globo News uma declaração de Paulo Guedes com base em uma matéria falsa da página de paródia da Folha de S. Paulo, a Falha de S. Paulo (REVISTA FÓRUM, 2018, s/p.). Mesmo em época de pré-campanha, a candidata Marina Silva (REDE) e o candidato Ciro Gomes (PDT) foram alvo de ataque de fake news envolvendo a Lava Jato. O TSE, na oportunidade, aplicou a pela primeira vez a norma que coibia a reprodução e veiculação dessas fake news, determinando a remoção do conteúdo. O episódio, no caso de Ciro, abriu um debate sobre a intervenção do Estado e liberdade de imprensa. No caso Ciro Gomes o ponto controverso, me parece, começa a partir de uma notícia [com base em documentos da Odebrecht] que desencadeou outras publicações. A notícia, feita em seu regular exercício, fez uma associação, uma interpretação entre os documentos citando o nome de Ciro, fazendo a ressalva de que aquela ligação não constava na investigação. A reportagem não alterou, não deturpou elementos daqueles documentos. [...] Os advogados de Ciro dizem que há uma acusação falsa. Mas nesse caso não está se falando de fatos “sabidamente inverídicos”. Está se falando de uma investigação criminal, que dispõe desses documentos e que permite as mais diversas interpretações. A ministra Rosa Weber considerou, então, que é dever da Justiça intervir o mínimo possível no processo eleitoral. Se os advogados do pré-candidato estivessem certos, todo candidato que tivesse menção numa operação da Polícia Federal publicada na imprensa poderia pedir a remoção daquele conteúdo. Dando a eles um poder que inexiste em nosso sistema jurídico, de editar a sua própria história e a forma como a sociedade o enxerga a partir de uma cobertura jornalística. (VENTURINI, 2018, s/p.)
Outra moderação do tribunal foi a determinação de que o Facebook e o Youtube apagassem seis postagens da campanha de Jair Bolsonaro em que o candidato faz críticas ao livro "Aparelho sexual e cia.", e cita que o material seria distribuído em escolas públicas para crianças de seis anos de 408 | TCC 2019
idade, durante a gestão de Fernando Haddad no MEC, em 2012. O capitão reformado aproveitou a sabatina no Jornal Nacional para dar novo fôlego para sua narrativa de suposta sexualização infantil precoce como estratégia petista para desestabilizar a ordem social, caracterizando o livro e uma série de objetos dentro do que seria um "Kit Gay". O livro citado em questão foi publicado pela Companhia das Letras em 10 idiomas, e o público-alvo seriam crianças de 11 a 15 anos. Bolsonaro se valeu das teorias da ideologia de gênero15, e mesmo sendo punido pelo TSE manteve seu discurso. Entre seus eleitores, 84% acreditaram no Kit Gay tal como o candidato do PSL havia insinuado (CONGRESSO EM FOCO, 2018, s/p.). O “kit” do modo como Bolsonaro descreve, de que seria uma doutrinação, nunca existiu. A cartilha explicava conceitos como gênero e sexualidade e sugeria atividades em sala de aula para os alunos refletirem sobre temas como comportamento preconceituoso. (...) Bolsonaro ainda repetiu que o debate contra o “kit gay” ocorreu durante o “9º Seminário LGBT Infantil”, na Câmara dos Deputados. Esse evento nunca ocorreu, muito menos no período de que Bolsonaro fala, entre 2009 e 2010. Em maio de 2012, ocorreu o evento anual “9º Seminário LGBT no Congresso Nacional”, que naquela edição tratou dos temas “infância e sexualidade”, e não tinha relação com o Ministério da Educação. Em maio de 2012, Haddad já não era mais o titular da pasta. (VENTURINI, 2018, s/p.)
A ideologia de gênero foi citada pela primeira vez pelo cardeal Joseph Ratzinger da Igreja Católica, em 1997, em documento crítico ao "feminismo radical" que fora debatido em um Congresso da ONU Mulheres em Pequim, organizado em 1995 e que na oportunidade reconheceu a desigualdade da mulher em um problema estrutural que só pode ser abordado em uma perspectiva integral de gênero. Essas declarações, que tinham um alcance global, colocaram a categoria “gênero” no centro dos debates que giravam em torno do papel da mulher. A ideologia de gênero chega no Brasil apropriada pelo movimento Escola Sem Partido, criado pelo procurador Miguel Nagib em 2004 mas que em 2014 ganha relevância e lidera manifestações para vetar iniciativas que tratavam de orientação sexual e identidade de gênero nas escolas, sob o suposto pretexto de sexualização infantil alegado por conservadores nessas iniciativas. “Pânicos morais costumam chamar a atenção para uma suposta ameaça apenas como meio de se obter algo bem palpável. [...] Quem se beneficia com a disseminação desse fantasma sobre supostas consequências negativas que adviriam da igualdade de gênero e da plena cidadania de homossexuais?” (MISKOLCI; CAMPANA, 2017, p. 743) 15
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Em um processo de retroalimentação de fake news, não demorou para o eleitorado bolsonarista embarcar na narrativa paralela e criar teorias conspiratórias sobre o kit gay, incluindo a filmagem de uma mamadeira erótica como um dos itens que seria encomendado pelo PT para ser distribuído em creches (ESTADO DE S. PAULO, 2018, s/p.). No intervalo de nove dias, as campanhas eleitorais no Brasil e nos EUA mostraram como Donald Trump e Jair Bolsonaro recorrem a pelo menos quatro estratégias de comunicação política comuns aos dois contextos. A convergência de mensagens está presente nas suspeitas levantadas contra o sistema de apuração, na acusação de que adversários espalham notícias falsas, na alegada luta contra uma “ameaça socialista” ou “ameaça comunista” e, por fim, no discurso do combate à criminalidade impulsionando uma ideia de coesão nacional. (CHARLEAUX, 2018, s/p.)
Entre outras mentiras, Bolsonaro, em sabatina no Roda Viva, chegou a dizer que os portugueses sequer pisaram na África durante as grandes navegações e que os próprios negros seriam responsáveis pelo tráfico negreiro (GONÇALVES, 2018, s/p.) . Não foi por acaso que foi apelidado pela imprensa estrangeira de "Trump of the tropics" (NEW YORK TIMES, 2019, s/p.). O objetivo da campanha do PSL era deslocar "o poder para a verdade do um, destruindo a essência da política como mediadora do desejo de muitos" (BRUM, 2018, s/p.). “Ele é meio exagerado, mas porque é um sincerão”. Assim, Bolsonaro não seria homofóbico ou misógino ou mesmo racista para aqueles que aderem a ele, mas um “homem de bem” exercendo a “liberdade de expressão”. Estes são os adjetivos que aparecem com frequência colados ao candidato de extrema-direita por seus eleitores: “sincero”, “verdadeiro”, “autêntico”, “honesto” e “politicamente incorreto” (este último também como um elogio). [...] Formados nessa narrativa, uma geração de brasileiros é capaz de ler ou assistir a uma reportagem da imprensa mostrando verdades que Bolsonaro gostaria que não subissem à superfície não pelo seu conteúdo, mas pela ótica da perseguição. O conteúdo não importa quando 410 | TCC 2019
quem questiona o inquestionável é automaticamente um inimigo, capaz de usar qualquer “mentira” para atacar um “homem de bem”. (BRUM, 2018, s/p.)
Jair Bolsonaro foi de longe o que mais se beneficiou de fake news na campanha para a Presidência da República em 2018. Segundo o Avaaz, cerca de 90% de seu eleitorado acreditou em alguma fake news bolsonarista (PASQUINI, 2018, s/p.). A grande força de Bolsonaro foi também sua militância, construída desde a explosão do antipetismo em 2014, e cuja polarização era indiscutível para defendê-lo e ajudá-lo a corroborar sua narrativa. Uma das revistas liberais mais reconhecidas do mundo, The Economist, fez uma reportagem crítica ao então candidato, e recebeu o feedback de usuários bolsonaristas chamando-a de "The Communist" (INFOMONEY, 2018, s/p.) A indignação costuma ser má conselheira e, na pressa de distribuir responsabilidades, menospreza-se a opinião de uma massa significativa de eleitores. É fato que as fake news tiveram um papel importante na eleição, mas não necessariamente porque as pessoas acreditaram ingenuamente em notícias produzidas pelo aparato de campanha do candidato. A confiança gerada pelas técnicas de comunicação de Bolsonaro cria um ambiente de credibilidade que favorece a circulação de mensagens com conteúdo que confirme crenças e valores prévios, sejam eles verdadeiros ou falsos. (ROQUE; BRUNO, 2018, s/p.)
O episódio não só marcou o momento em que os partidários do candidato do PSL se dispunham a taxar todos os opositores ou críticos do candidato de comunistas independente de sua origem ou trajetória política, como também abriu caminho para um revisionismo mais amplo e externo onde os internautas se viam como intelectuais paralelos capazes de explicar fenômenos políticos internacionais, foi batizado de "Brazilsplaning" (GONZO, 2018, s/p.). Até mesmo a política francesa de extrema-direita, Marine Le Pen, que criticou as "falas desagradáveis" (NEVES, 2018, s/p.) de Bolsonaro, foi chamada de comunista pela militância bolsonarista no Twitter. Houve também contestações de bolsonaristas a respeito do nazismo ser um regime de direita. Um vídeo publicado pela Embaixada da Alemanha
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no Brasil contra o extremismo de direita provocou forte reação nas redes sociais. Na publicação, a embaixada fala da importância de não esquecer os crimes do nazismo entre 1933 e 1945, período em que o Holocausto levou à morte de cerca de 6 milhões de judeus e de 5 milhões de pessoas de outros grupos. Alguns brasileiros, no entanto, questionaram a publicação alemã, negando que tenha existido o Holocausto ou dizendo que o Terceiro Reich era um regime de esquerda, e não de extrema direita16. (QUEIROGA, 2018, s/p.)
O então candidato do PSL chegou a colocar em dúvida a lisura das eleições. A ex-jornalista Joice Hasselmann (PSL), que obteve votação expressiva para a Câmara Federal, fez uma live no Facebook, onde possui 2 milhões de seguidores, alegando uma conversa com um hacker que lhe garantiu a existência da manipulação da urnas, "pouco tempo depois a mentira atingiu cerca 16,5 milhões de pessoas nas redes sociais nas 48 horas após as eleições. Às 11h do dia 7 de outubro, a hashtag #FraudeNasUrnas alcançou o topo dos trending topics do Twitter" (FILHO; FELIZARDO, 2018, s/p.). Boatos nas redes afirmavam que os códigos das urnas teriam sido entregues à Venezuela e seu filho, Flávio, que chegou a compartilhar um vídeo falso onde, "um eleitor filmou uma urna supostamente com problemas. Quando o eleitor digita o número 1, a urna mostra a imagem do candidato à Presidência pelo PT, Fernando Haddad, número 13" (TAKAR; FREIRE, 2018, s/p.).
A polêmica sustentada em torno da ideologia nazista se deve ao nome do partido do Terceiro Reich: Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, NSDAP em alemão. Segundo o jornalista Peter Ross Range, autor de "1924: o ano que criou Hitler", ao acrescentar "Nacional-Socialista" Hitler tentou colocar em sua associação política uma ressonância "que fosse além da sua identificação inicial com os trabalhadores. Buscava uma redefinição nacionalista do socialismo em contraste com o conceito internacionalista de marxismo" (RANGE, 2018, p. 40). O líder nazista rejeitava o conceito comunista de luta de classes, queria promover um sentido alemão de comunidade sem a divisão das mesmas, ao passo em que defendia a propriedade privada. "Na cabeça de Hitler, nacional e social eram dois conceitos comunitários idênticos, ser nacional é agir com amor sem limites e abrangentes pelo povo [alemão], ser social significa que cada indivíduo age nos interesses da comunidade [e] está pronto a morrer por ela". (RANGE, 2018, p. 40) 16
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Mesmo após a divulgação do resultado que o colocou no segundo turno, em um discurso nas redes sociais, "o candidato Jair Bolsonaro (PSL) agradeceu aos seus eleitores e afirmou que não ganhou no 1° turno por causa dos "problemas nas urnas" (BELLONI, 2018, s/p.). A Organização dos Estados Americanos (OEA) enviou observadores internacionais, que atestaram a lisura nas eleições e confirmaram algumas tendências de pós-verdade latente no debate público: polarização e agressividade sem qualquer compromisso democrático. Essa análise foi confirmada pouco tempo antes do pleito pelos gritos de Bolsonaro no norte do país, "vamo fuzilar a petralhada aqui do Acre" (PODER360, 2018, s/p.) e nas declarações autoritárias de José Dirceu, "dentro do país é uma questão de tempo para gente tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição" (O GLOBO, 2018, s/p.). Vejo que três capas de revistas tradicionais no Brasil - Veja, Época e Exame - são, juntas, compartilhadas em 17 grupos. As "reportagens de capa" das três mostram o mexicano Gerardo de Icaza, diretor do Departamento para a Cooperação e Observação Eleitoral da OEA, assumindo "fraude nas urnas a favor do PT". Os criadores de notícias falsas se apropriam de formatos de notícias reais para dar respaldo à mentira e confundir quem confia nos meios tradicionais (GRAGNANI, 2018, s/p.)
O ápice da polarização digital causa desastres nas narrativas fiéis aos fatos, mas também à própria vida analógica. Foi num contexto de divisão ideológica extrema, associada à predisposição psicológica instável de Adélio Bispo de Oliveira, que o fizeram sair do conforto de seu feed composto por conspirações illuminatis para ir ao centro de Juiz de Fora (MG) cometer um atentado antidemocrático contra um dos candidatos que ele mais nutria ódio na internet, Jair Bolsonaro. Não bastasse que os posts raivosos de Adélio na internet expusessem o caráter problemático do discurso de ódio se tornar prática, cada lado polarizado buscou criar sua narrativa para voltar a ter coesão. Opositores do capitão espalhavam fake news nas redes sociais questionando a veracidade do atentado a partir das imagens que não mostravam sangue na blusa do então candidato. Um áudio falsamente atribuído ao capitão, acusava-o de ter planejado o atentado e alguns opositores até levantavam teorias sobre uma cortina de fumaça no ato para disfarçar o tratamento de um câncer TCC 2019 | 413
(MELLO, 2018, s/p.). Já a militância que integrava a campanha de Jair Bolsonaro explorou o atentado a partir da informação de que Adélio havia sido filiado ao PSOL de 2007 até 2014. Logo surgiram fake news atribuindo ao deputado federal Jean Wyllys (PSOL), rival ideológico de Jair Bolsonaro, o pagamento de R$ 50 mil pelo suposto serviço de Adélio. (AFONSO, 2018, s/p.). Wyllys foi um dos deputados mais vítimas de fake news na campanha, tendo passado por uma rotina de calúnias que o associavam a atividade criminosa ligada ao atentado de Adélio ou notícias que relacionassem sua sexualidade à educação, explorando o lado homofóbico e relacionando-o à fragilidade institucional ou pedofilia. Em um episódio, o psolista foi falsamente acusado de ter aceitado convite para compor o Ministério da Educação em uma futura gestão de Haddad (SCHULTZ, 2018, s/p.). O petista também foi atacado, em uma frase falsamente atribuída a ele com os dizeres "crianças ao completarem 5 anos se tornam propriedade do Estado! Cabe a nós decidir se menino será menina e vice-versa" (RODRIGUES, 2019, s/p.). Em 2019, Olavo de Carvalho, Alexandre Frota (PSL) e Lobão atribuíram a facada a Jean Wyllys e seu exílio aos EUA por motivos de ameaças familiares, como uma fuga do delito (FONSECA, 2019, s/p.). Depois da campanha, em entrevista ao El País, o deputado do PSOL citou os problemas relacionados ao assassinato de reputação baseada em fake news. As fake news têm por objetivo não apenas a destruição da minha imagem e o ataque a uma agenda de direitos humanos e liberdades individuais, como também a invenção de falsas justificativas para espalhar ódio contra mim e contra minha família e promover atos de violência que possam me atingir. A gente precisa lembrar, por exemplo, do massacre do Realengo e do mais recente em Campinas, para entender que não é só através de grupos organizados, como as milícias, que um defensor dos direitos humanos pode ser morto. Quando há uma sistemática campanha de destruição da reputação de uma pessoa através do uso de fake news para demonizá-la e transformá-la em inimiga pública, qualquer louco envenenado por esse ódio pode agir de forma individual. (EL PAÍS, 2018, s/p.)
Manuela D'Ávila, vice da chapa encabeçada pelo PT, foi outra víti414 | TCC 2019
ma de assassinato de reputação durante toda a campanha eleitoral. Depois do atentado de Adélio, ela foi falsamente acusada de ligar 18 vezes para o esfaqueador (LOPES, 2018, s/p.), e o TSE chegou a determinar a remoção de 33 posts no Facebook que a acusavam dos mais diversos delitos. "No total de alcance desses posts, havia nada menos do que 146.480 compartilhamentos e 5.190.942 visualizações" (REVISTA FÓRUM, 2018, s/p.). As fake news na eleição ocorreram em todos os espectros, mas tinham vítimas definidas, explorando sempre o emocional da pós-verdade, como medos por trás da misoginia e homofobia, com uma desproporção ímpar. Em cerca de 70 dias desde o início da campanha eleitoral, as iniciativas de checagem de fatos tiveram de desmentir mais de 100 boatos contra o candidato à Presidência Fernando Haddad (PT) e seu partido. Levantamento do Congresso em Foco mostra que, ao todo, foram 123 checagens de boatos diretamente ligados a Haddad e ao candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro (PSL) desmentidos desde 16 de agosto. As agências de checagem Lupa e Aos Fatos e o projeto Fato ou Fake, do Grupo Globo, tiveram de desmentir pelo menos 104 “fake news” contra Haddad e o PT e outras 19 prejudiciais a Bolsonaro e seus aliados. (MACEDO, 2018, s/p.)
5.1 A DEEP WEB DE BOLSO: WHATSAPP Enquanto a desinformação se expandia no pleito, os jornalistas e fact-checkers desmentiam rotineiramente algum boato de grande circulação. Antes do segundo turno, uma coalizão articulada com o TSE, A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI) e checadores compostos pela Agência Lupa, Aos Fatos, Boatos.org, Comprova, e-Farsas e Fato Ou Fake flagraram 50 conteúdos suspeitos em 48 horas de trabalho. "Isso dá uma média de mais de uma mentira por hora ao longo do fim de semana eleitoral - o que mostra a dimensão do combate travado", ao todo, em um período de 3 horas no Twitter, esse conteúdo movimentou 679 mil visualizações pela hashtag #CheckBR, e contou com a coordenação da Abraji e grupos de WhatsApp com checadores, TSE e repórteres e editores de seis plataformas de checagem. (TARDÁGUILA, 2018, s/p.). Apesar dos esforços das agências de fact-checking, a criptografia blindou a desinformação em grupos extremistas. O uso do Whatsapp no Brasil escondeu de muitas timelines as fake news mais tóxicas. TCC 2019 | 415
Após analisar por um ano 120 grupos de WhatsApp, pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) descobriram que as correntes de mensagens que continham fake news sobre política atingiam mais usuários do que as conversas com desinformação de outros assuntos. O conteúdo enganoso de política também suscitou discussões mais longas e mais duradouras no aplicativo. Os autores da pesquisa identificaram ainda um aumento significativo nas conversas políticas com dados falsos perto das eleições. "Teve um pico enorme. O momento político favoreceu a discussão com fake news no WhatsApp". (AGÊNCIA ESTADO, 2019, s/p.)
Os conceitos cognitivos atrelados familiaridade já abordada nesse trabalho contribuíram para a credibilidade do WhatsApp e o seu impacto na desinformação acompanhou o processo de rápida expansão do aplicativo na comunicação diária do brasileiro. Em 2016 o Brasil já era o segundo país que mais utilizava o aplicativo e no ano seguinte mais de 120 milhões de brasileiros usavam o WhatsApp (OLIVEIRA, 2018, s/p.). Nessa época o padrão de consumo de conteúdo online móvel já estava bem consolidado, com 90% usando a internet diariamente, e metade se valendo de dispositivos móveis conectada em média, 8h56 diárias, sendo 3h43 nas redes sociais (KEMP, 2017, s/p.). Em 2018, já existiam mais smartphones ativos do que habitantes no país, e quase metade dos brasileiros usavam o WhatsApp para compartilhar notícias, (REUTERS INSTITUTE FOR THE STUDY OF JOURNALISM, 2018, s/p.). Em uma semana eu vi: muita desinformação, como imagens no contexto errado, áudios com teorias conspiratórias, fotos manipuladas, pesquisas falsas. Ataques à imprensa tradicional, como capas falsas de revistas e falsa "checagem" de notícias que, de fato, eram verdadeiras. Imagens que fomentam o ódio a LGBTs e ao feminismo. Uma "guerra cultural" organizada, com ataques sistematizados a artistas em redes sociais. Áudios e vídeos de gente comum ou de gente que se passa por gente comum, mas com identidade desconhecida, dando motivos para votar em um candidato. (GRANGNANI, 2018, s/p.)
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O sigilo de conversas e de grupos protegidos pela criptografia de ponta a ponta, a disponibilidade de pelo menos 58 pacotes de dados gratuitos para alguma rede social no Brasil e a falta de acesso à internet para checar as informações compartilhadas são outros fatores fortes para fake news se normalizar nesse meio. O acesso à informação acaba prejudicado quando redes sociais como o Facebook ferem a neutralidade da rede - isto é, o princípio segundo o qual um provedor de internet deve fornecer aos consumidores acesso igualitário a todo conteúdo. "No Brasil, 60% dos celulares são pré-pagos e têm acesso grátis a essas redes sociais, oferecido pelas operadoras [que não descontam do pacote de dados o acesso a esses serviços]. Então, essas pessoas que usam pré-pago ficam rendidas a essas fontes de informação e interação." Para ela [Yasodara Córdova, pesquisadora-sênior sobre desinformação e dados na Digital Harvard Kennedy School], as pessoas recebem as informações por essas plataformas, mas não saem dali para ler a notícia inteira ou mesmo checar informações por causa de diversas barreiras, a exemplo da econômica. (BBC NEWS BRASIL, 2019, s/p.)
Ainda que seja difícil mensurar o impacto do WhatsApp por meio dos dados disponíveis até então, em entrevista à Sputnik Brasil um pesquisador da Universidade George Washignton e fundador do Ideia Big Data, Maurício Moura, estimou que os conteúdos de Bolsonaro atingiram mais de 40 mil grupos. Há uma estimativa que na campanha presidencial o conteúdo do candidato Jair Bolsonaro atingia até 50 mil grupos [de WhatsApp] diariamente. Além disso, é só olhar a quantidade de políticos que foram eleitos pro Congresso sem o fundo partidário, e que tinha o WhatsApp como principal forma de disseminação de conteúdo. (SPUTNIK BRASIL, 2018, s/p.)
Próximo do segundo turno, diversos veículos trouxeram reportagens sobre o real impacto do WhatsApp no pleito, o que se descobriu a partir daí foi a formação de listas ilegais vazadas de telefonias e aplicativos de redes TCC 2019 | 417
sociais para segmentar o público que receberia o conteúdo na plataforma de compartilhamento de mensagens. Era uma pós-verdade on demand. Diversos usuários que foram considerados suspeitos de espalhar desinformação foram bloqueados, inclusive um dos filhos de Jair Bolsonaro, Flávio. Esses aplicativos [de mineração de dados], além dos números de telefone, também acessam dados que usuários deixaram públicos, como cidade onde moram, data de nascimento, email e número de telefone. Por exemplo: uma amostra coletada a partir de um desses serviços reuniu os dados de 37 mil usuários que interagiram com posts ligados a um dos candidatos à Presidência - quase metade (18 mil) deles deixam seus números disponíveis de forma pública na rede. Ou seja, na prática, candidatos podem agrupar segmentos específicos, como paulistanos defensores de armas ou soteropolitanas a favor da descriminalização do aborto. (MAGENTA; GRAGNANI; SOUZA, 2018, s/p.)
Semelhante às estratégias de psicometria política traçadas por Steve Bannon e a Cambridge Analytica, outras trapaças foram descobertas, como o uso de chips internacionais para burlar o limite de compartilhamentos de conteúdo. O que se sabe é que, em 2018, as campanhas identificaram a rede social como relevante para convencer eleitores e investiram nela. Reportagem da BBC News Brasil mostrou como elas obtiveram softwares capazes de coletar dados de usuários no Facebook - telefones segmentados por curtidas em páginas, sexo, idade, região, por exemplo - e enviar mensagens em massa no WhatsApp, com softwares que permitiam o disparo para até 300 mil números. Também criaram grupos na plataforma com esses números e se utilizaram de outros tipos de bancos de dados (vendidos ilegalmente, por exemplo). (GRAGNANI, 2018, s/p.)
Reportagens mais graves surgiram em torno do aplicativo, no dia 18. Faltando uma semana para o segundo turno, reportagem da Folha de S. Paulo entitulada "Empresários bancam campanha contra o PT pelo WhatsApp" 418 | TCC 2019
(MELLO, 2018, s/p.) trazia a denúncia de um esquema de compra de disparos em massa por parte de empresários contra o PT, o que além de configurar ilegalidade na publicidade eleitoral, também poderia ser enquadrado como caixa dois. No mesmo dia, horas após a reportagem, foram apagados os registros de envio de mensagens disparadas pela campanha do PSL. Empresas estão comprando pacotes de disparos em massa de mensagens contra o PT no WhatsApp e preparam uma grande operação na semana anterior ao segundo turno. A prática é ilegal, pois se trata de doação de campanha por empresas, vedada pela legislação eleitoral, e não declarada. A Folha apurou que cada contrato chega a R$ 12 milhões e, entre as empresas compradoras, está a Havan. Os contratos são para disparos de centenas de milhões de mensagens. Entre as agências prestando esse tipo de serviços estão a Quickmobile, a Yacows, Croc Services e SMS Mark. (MELLO, 2018, s/p.)
Principal alvo da reportagem, Jair Bolsonaro defendeu-se alegando que o seu crescimento nos últimos dias que antecederam a eleição no primeiro turno se deram de forma orgânica. Na prestação de contas do candidato, na época, constava apenas a AM4 Brasil Inteligência Digital, como tendo recebido R$114 mil. A AM4 negou que usasse a ferramenta. Bolsonaro também negou a utilização e disse na ocasião que não controla o que fazem "seus apoiadores". Nesta sexta (26), ao UOL, a AM4 admitiu pela primeira vez que usou um serviço desse tipo. A empresa alega que fez um único envio de mensagem por meio do serviço da Bulk Services, sistema criado pela Yacows, diz que a mensagem foi enviada "para 8.000 doadores cadastrados na base própria da empresa" e versava "sobre mudanças de seu número de contato e suporte". (REBELLO; COSTA; PRAZERES, 2018, s/p.)
O Partido dos Trabalhadores também foi alvo de denúncia do jornal por ter trabalhado com a agência de publicidade Yacows. Outra denúncia envolvendo a agência, também da Folha, bateu na porta do MDB, o candidato Henrique Meirelles teria tido acesso aos números sigilosos dos beneficiários do Bolsa Família e se valido dos números para disparos no WhatsApp. TCC 2019 | 419
A campanha de Henrique Meirelles (MDB), ex-ministro da Fazenda e candidato derrotado à Presidência da República, fez disparos de mensagem em massa pelo WhatsApp para números de telefone de beneficiários do programa social Bolsa Família, do governo federal. Os envios foram feitos durante o primeiro turno das eleições. A campanha de Meirelles contratou por R$ 2 milhões a empresa Deep Marketing para cuidar de parte da campanha na internet incluindo serviços como a construção e manutenção de um site, a gestão de redes sociais e o envio de mensagens via WhatsApp do candidato. A Deep Marketing tem entre seus sócios o empresário Lindolfo Antônio Alves Neto, que também é dono da Yacows, empresa que presta o serviço de envio das mensagens via WhatsApp. (FOLHA, 2018, s/p.)
Ainda de acordo com o professor de direito eleitoral da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Diogo Rais, “É pouco crível pensar que não houve contratações de pessoas para espalhar 'fake news'” (VENTURINI, 2018, s/p.), e o motivo seria a quantidade de mensagens semelhantes produzidas diariamente e divulgada de forma sistematizada. Outro especialista, membros do Conselho Consultivo sobre Internet e Eleições no TSE, Marco Aurélio Ruediger, criticou a falta de integração na busca pelos rastros dessa rede de fake news. Acho que os fatos falam por si. Foi muito abaixo da crítica. Teve uma profusão de fake news e robôs. O TSE deixou muito por conta das plataformas [Facebook e Twitter], mas não articulou bem com elas e esqueceu completamente do Whatsapp. [...] Essa eleição é basicamente financiada por recurso público. Uma vez que se tem recurso público, você tem capacidade de fazer uma auditoria mais profunda até chegar em quem está produzindo as informações nas redes que atendem a cada candidato. E isso não foi feito como poderia. Uma das propostas que nós colocamos era ter uma rede de forma integrada para ajudar o TSE e que as campanhas fossem obrigadas a abrir sua API [tradução de Interface de Programação de Aplicativos] para poder ter acesso aos dados. E que houvesse
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auditoria para o uso do recurso público. Mas essas ideias não foram postas em prática. Faltou adequação legal, mas principalmente de processos de integração de todos atores. (VENTURINI, 2018, s/p.)
Depois da publicação da reportagem que apontava o uso do WhatsApp como meio de propaganda política, o ódio que habitava as redes sociais foi usado como meio de intimidação. A jornalista da Folha que publicou a denúncia do esquema do PSL de disparos em massa no WhatsApp, Patrícia Campos Mello, sofreu um linchamento virtual intenso, com diversas acusações tentando ligá-la ao petismo, incluindo a viralização de montagens abraçando o petista Fernando Haddad (POYNTER, 2018, s/p.). A jornalista também foi difamada em fake news onde o STF supostamente determinava multa de R$ 200 mil pela matéria contra Bolsonaro (G1, 2018, s/p.). Após as eleições, a revista TIME homenageou como pessoas do ano os jornalistas vítimas de perseguição política, entre eles, Patrícia (FOLHA DE S. PAULO, 2018, s/p.). Os episódios de ódio contra jornalistas no Brasil era generalizado, com impactos na vida analógica17, mas o caráter preconceituoso de muitos alvos tinham preferências de gênero. A Pesquisa “Attacks and Harassment: The Impact on Female Journalists and Their Reporting” (Ataques e assédio: o impacto sobre as jornalistas e suas matérias), da International Women’s Media Foundation e da TrollBuster apontou que os linchamentos de jornalistas online tem sido uma infeliz tendência crescente, acompanhada da ascensão de mulheres no jornalismo: 63% das repórteres já foram ameaçadas ou assediadas online (MELLO, 2019, s/p.). No início de 2019, um vídeo editado foi compartilhado no Twitter do presidente acusando a jornalista do Estadão, Constança Rezende, autora de reportagens sobre Flávio Bolsonaro e o Coaf, de conspirar para segundo o presidente, arruinar seu filho e o governo. "A frase, no entanto, não aparece nas gravações divulgadas pelo próprio site. (...) O presidente conclui: 'Querem derrubar o governo com chantagens, desinformações e vazamentos'”
"O Brasil foi o oitavo país que mais matou jornalistas em 2018" (IG SÃO PAULO, 2018, s/p.), atrás de Filipinas, Iêmen, Índia, Paquistão, Iraque, Afeganistão, México e Síria. 17
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(O GLOBO, 2019, s,p.). Jornalistas têm sido crescentemente vítimas de intimidação nas redes sociais, com uso de estratégias sofisticadas para amedrontar, espalhar desinformação, desacreditar as repórteres e a mídia em geral, e prejudicar as carreiras das profissionais. [...] O ambiente online foi transformado em arma e usa a velocidade e suas redes para montar ataques sofisticados que amplificam misoginia, sexismo, racismo, homofobia e outros discursos de ódio”, diz o relatório. “Contas falsas e impostores no Twitter semeiam desinformação. Tanto online como offline, o mundo se tornou um lugar muito mais perigoso para os jornalistas nos últimos 5 anos. (MELLO, 2019, s/p.)
5.2 A SABOTAGEM DOS BOTS Os ataques sistematizados à jornalista da Folha por parte de contas falsas deram exposição a outro problema além do uso do disparo em massa de fake news: trata-se do uso de contas falsas, chamados de bots, para divulgar essas mentiras, também com ataques por parte de milícias digitais (BENTES, 2019, s/p.). Esses perfis são fabricados e se dividem entre robôs, quando um algoritmo faz algum serviço pré-definido, como é o exemplo de chats automatizados. O segundo tipo de conta falsa são os ciborgues, que simulam ser pessoas reais, há uma estimativa de pelo menos 15% de ciborgues existentes só no Twitter (GUGELMIN, 2017, s/p.). A grande quantidade deles auxilia na disseminação de mentiras conformem replicam mensagens e geram familiaridade, incentivando militantes online. Segundo o estudo do MIT, uma notícia fraudulenta precisa de 10 horas para alcançar 1500 usuários no Twitter, já uma informação verídica, 60 horas. "A equipe concluiu que o fator humano é mais importante na disseminação de notícias falsas" (LIMA, 2018, s/p.), apesar do pontapé ser dos bots. Há ainda os militantes que autorizam o uso de sua conta para curtir e engajar-se automaticamente com perfis estabelecidos, chamados de robôs políticos. As últimas classificações são os fakes clássicos, usados por pessoas para garantir anonimato, e os ativistas em série, "pessoas reais altamente prolíficas politicamente no Twitter e com postagens sobre eventos políticos em diferentes partes do mundo" (GRAGNANI, 2017, s/p.). O uso de bots é oferecido por dezenas de empresas que por meio de robôs e programas 422 | TCC 2019
de computador que simulam e criam mídias, se valendo de falsas tendências e manipulando o debate pelo efeito manada nos comentários de notícias. Episódio de ataques semelhantes haviam acontecido com a ex-vereadora do PSOL assassinada em 2018, Marielle Franco. Boa parte das últimas mídias sintéticas é produzida pelos avanços em aprendizado de máquina - especificamente, uma técnica chamada "redes geradoras de adversários". Basicamente você lança duas redes neurais uma contra a outra usando os mesmos dados. A tarefa de uma rede é gerar alguma coisa - por exemplo, imagens convincentes. O trabalho da outra é distinguir imagens verdadeiras de falsas. Isso acelera o aprendizado - transformando-o num jogo de gato e rato contínuo - e torna as redes muito mais eficientes em gerar falsificações (BERINATTO, 2018, p. 52)
Antes e depois das eleições, reportagens mostraram o uso de contas fabricadas também para pautar os assuntos em caixas de comentários em posts de redes sociais, ou para inflacionar um tema no Trending Topics do Twitter usando tags em outros países, como a Malásia, por exemplo. Jair Bolsonaro, ao lado do candidato Álvaro Dias (PODEMOS), não apenas endossaram tweets de contas falsas na campanha, como em seus perfis no Twitter há uma grande predominância de bots seguindo suas contas, no caso de Álvaro, 64% são bots (OLIVEIRA, 2018, s/p.), e Jair Bolsonaro possui mais de um quinto de contas fabricadas seguindo-o (WAKKA, 2018, s/p.). Estudo inédito da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV/DAPP) aponta que perfis automatizados motivaram debates no Twitter em situações de repercussão política brasileira desde as eleições de 2014. Na greve geral de abril de 2017, por exemplo, mais de 20% das interações ocorridas no Twitter entre os usuários a favor da greve foram provocadas por esse tipo de conta. Durante as eleições presidenciais de 2014, os robôs também chegaram a gerar mais de 10% do debate. (FGV/DAPP, 2017, s/p.)
Em uma clara demonstração de manipulação do debate público, o TCC 2019 | 423
ciberataque de hackers em um grupo no Facebook, Mulheres Contra Bolsonaro, deu dimensão do exército de bots e ativistas que o candidato do PSL dispunha durante a eleição. O grupo começou a angariar sucesso online passando da marca de 1 milhão de integrantes em poucos dias. A primavera das mulheres voltava a deixar sua marca na medida que organizaram grandes manifestações antes do primeiro e segundo turno da eleição contra o candidato do PSL (SETA, 2018, s/p.). Em poucos dias depois da divulgação dos grandes números na mídia, o grupo foi atacado por hackers que trocaram o nome da mobilização para "Mulheres com Bolsonaro", as integrantes do grupo logo foram ameaçadas com a possibilidade de vazamento de informações por parte dos hackers que compunham a milícia digital invasora (ESTADÃO, 2018, s/p.). Foi então que muitas usuárias saíram do grupo, depois bloqueado pelo Facebook ao notar as movimentações suspeitas. A intimidação não foi só online, dias depois, uma das administradoras foi agredida por três homens na rua (VITORIO, 2018, s/p.). Eduardo Bolsonaro coletou as informações que valiam a pena para sua narrativa e expôs em seu Twitter um "fato alternativo" para o episódio, jogando a opinião pública contra um movimento feminista e até a jornalistas, que ele classificou como "fake news" (BOLSONARO, 2018, s/p.). As brigas por narrativas se tornavam cada vez mais radicais às vésperas do segundo turno. De um lado, os anti-Bolsonaro pregavam um voto petista, sustentando uma noção de "tudo ou nada", e que quem não votasse no PT era fascista. Bolsonaro dizia que ia acabar com as doutrinações ideológicas, ao passo em que atacava a imprensa, as instituiçõe e a oposição bem como Trump, "a faxina agora será muito mais ampla. Essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou vão pra fora ou vão para a cadeia. Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria" (REUTERS, 2018, s/p.). Não havia exposições de ideias sem agressividade. Tanto nas redes quanto na campanha, o capitão reformado se valeu de sua vantagem em relação ao adversário nas pesquisas do Datafolha. Haddad pedia por debates que fossem para além das máscaras das redes, ato negado por Bolsonaro na resposta em que apelida o petista de "marmita de corrupto preso" (O GLOBO, 2018, s/p.). O ódio aqui, não era só incentivado pelo líder do rebanho ideológico em suas redes sociais, ele era acompanhado do orgulho de não debater, de não ter que ouvir o outro lado por desprezá-lo ao ridículo, justamente advindo da noção de se sentir superior ideologicamente. Em um 424 | TCC 2019
país onde "a confiança das pessoas em notícias compartilhadas por amigos e familiares é o dobro da confiança em jornais" (MELLO, 2019, s/p.), a eleição do 38º presidente da República consolidou o relativismo da pós-verdade como a nova situação ideológica no país, simbolizado posteriormente no dia da posse do capitão. Os apoiadores de Bolsonaro receberam aos gritos de “comunistas” e “vão falir” os jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas credenciados para a cobertura no local, bem em frente ao Palácio do Planalto. Alguns deles tentaram boicotar as entrevistas da imprensa com os bolsonaristas, mas acabavam ignorados pelos dois lados. (...0 Em apoio à tática de comunicação direta do presidente com seus eleitores, pelas redes sociais, os presentes gritavam: “Facebook”, “WhatsApp”, “Record” e “SBT”. À emissora Rede Globo foram reservadas expressões negativas: “Globo lixo” e “Abaixo a Rede Globo”, ambas também usadas com entusiasmo pelos manifestantes de esquerda. (MARIN, 2019, s/p.)
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS: No início de janeiro de 2017, o livro "1984", publicado em meados do século XX pelo jornalista George Orwell, chegou ao primeiro lugar no catálogo de livros da Amazon. O romance de Orwell narra um futuro distópico, movido pelo controle do Estado sobre a população pela instrumentalização da verdade do grande líder, o Big Brother e o Partido. O motivo do retorno do clássico ao topo das leituras mundiais foi uma resposta a uma expressão proferida em 2017 para defender uma das narrativas do republicano Donald Trump: "fatos alternativos". Na ocasião, a internet espalhou imagens que comparavam a fotografia tirada no momento do discurso do republicano com imagens da posse do ex-presidente Barack Obama, em 2009. O resultado foi a exposição de um apoio menor por parte do eleitorado ao empresário em relação ao democrata. Foi então que o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, saiu em defesa de Trump alegando que a cerimônia do presidente tinha a "maior audiência de sempre a assistir a uma tomada de posse — ponto final — tanto em pessoa, como por todo o mundo” (HAMEDY, 2017, s/p.). A mentira foi desmascarada por imagens aéreas e em uma entrevista à emissora NBC. Na oportunidade, Kellyanne Conway, estrategista e TCC 2019 | 425
conselheira de Trump saiu em defesa de Spicer alegando que o porta-voz apenas apresentou “fatos alternativos” uma vez que não era possível comprovar a veracidade do que foi dito por ele. As palavras de Kellyanne foram prontamente corrigidas pelo entrevistador Chuck Todd “então é uma mentira" (HAINS, 2017, s/p.). Na Alemanha, o termo ganhou o prêmio de “despalavra do ano”, título dado quando uma formulação não apresenta nexo. Após um ano de 2016 repleto de turbulência em discussões políticas do Brexit, referendo para a saída do Reino Unido da União Europeia, e a eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, a sociedade ocidental começou a se atentar para o controle da verdade, mas também para a conveniência que se instalava entre os militantes e eleitores. Na obra 1984, Orwell apresenta a ideia do "duplipensamento": ato de aceitar simultaneamente duas crenças contraditórias como corretas, em contextos sociais distintos. O que Orwell já diagnosticava era o antepassado direto da pós-verdade. É inegável que a internet revolucionou a comunicação no mundo globalizado, e seus impactos ainda estão sendo compreendidos, mas é fundamental que livros como os de George Orwell sejam valorizados. O jornalista britânico viveu em tempos de grandes transformações mundiais e seus reflexos que semearam a intolerância e o ódio na Europa. O controle e monopólio sobre a verdade degrada a memória humana, reduz o saber crítico e leva a culpabilização em massa que caracterizou o stalinismo e o nazismo. Ainda que muito longe do autoritarismo, é perigoso quando o mundo começa a responder de forma mais aberta a ele, produzindo a falta de empatia que virou norma em um mundo com fronteiras tão líquidas, com identidades se dissolvendo e a busca desesperada por reafirmação. A valorização do direito aos próprios fatos mostra o quão indisposta a sociedade está em confiar nas relações humanas e seus elos pela verdade. A liberdade de expressão é um direito, mas não é direito absoluto, a pergunta "o Estado pode interferir na desinformação?" deveria ser "Como o Estado pode interferir para evitar a desinformação?", na medida que as fake news anulam o debate, prejudicam os negócios, colocam a saúde das pessoas em risco e atacam frontalmente o Estado de Direito e suas instituições ao banalizar a violência e a intolerância. O Estado já interfere em questões de liberdade de expressão justamente para garanti-la, como é o exemplo do sigilo da fonte do jornalista. O dilema de Karl Popper se faz necessário: ideologias que pregam a anulação da diferença, a verdade do um como única, devem ser anuladas justamente 426 | TCC 2019
pelo seu caráter fascista? Ao silenciar o que grita pelo fim das instituições e da diferença, e valorizar os que são capazes de debater, independente do viés ideológico, não seria isso uma forma de resguardar o direito de liberdade de expressão? De garantir a convivência pública? Quem pode definir esse limiar de intolerância? O desconhecimento do TSE em relação à indústria de desinformação, assumido pela própria presidente do tribunal ainda durante o pleito mostra o quão longe as instituições estão dessas respostas. É urgente a necessidade das instituições em diferenciar e definir o que é fake news e traçar um plano estratégico para frear a desinformação com políticas públicas efetivas que conscientizem a população dos riscos da desinformação e como detectá-las. O problema da liderança por parte do Estado reside nessa empreitada de definir o que é verdade ou não é, o que abre a possibilidade da transferência de monopólio para o braço estatal, fator que pode ser abrandado com um conselho mais plural, atualizado e participativo do que o conselho consultivo que esteve ativo durante as eleições de 2018. O futuro promete um obscurantismo maior, conforme a tecnologia avança e novas formas de trapaças são descobertas. Nesse ponto, pesquisas e softwares precisam ser desenvolvidos e voltados para batalhar com modelos cada vez mais sofisticados de desinformação. Não se deve confiar tão somente na crença de que a internet vai se curar sozinha e desenvolver mecanismos automáticos de detecção de desinformação. Pois é nesse contexto que surgem as fake news que mais exploram o caráter de credibilidade imagética da sociedade, conhecidas como Deepfakes: conteúdos feitos em computadores que são capazes de se valer de inteligência artificial para sintetizar fraudes em vídeo de personalidades dizendo ou fazendo algo. As Deepfakes representam um grande perigo no universo de desinformação online pelo seu potencial realista (KLAAS, 2019,s/p.). Durante a campanha eleitoral, o vídeo que vazou do governador eleito João Dória quase o colocou no segundo turno, e tratava-se de uma montagem nível Deepfake para muitos especialistas. Elas são capazes de imperar o processo democrático e "os métodos mais simples estão disponíveis na internet com código aberto. Ele não foi pensado para esse fim, mas a pessoa que baixou pode acabar usando dessa forma" ( JORDÃO, 2018, s/p.). Por questionar tanta mentira, o pensamento crítico é a maior arma contra a pós-verdade, a possibilidade de manipulação e o estelionato eleitoral na democracia digital. É urgente a necessidade de incentivos de educadores, políticos, jornalistas e agentes do Estado para reformar as escolas TCC 2019 | 427
para além das decorebas do vestibular e polêmicas conspiratórias vazias. A suposta doutrinação apontada pelos integrantes do Escola Sem Partido não passa de um movimento conservador ultrapassado e que tenta se valer do seu slogan para pregar o fim do debate em nome das conspirações machistas e homofóbicas da ideologia de gênero. De forma tão autoritária, os deputados da Bancada Evangélica no Rio de Janeiro em 2019 vetaram qualquer menção à palavra gênero, reproduzindo o efeito tragicômico do veto à palavra "gênero alimentício" (AUTRAN, 2019, s/p.). Aqui, é impossível não lembrar de outro conceito desenvolvido em 1984 de Orwell, a novafala ou newspeak. O Big Brother tinha como meta a imposição de uma nova língua para os cidadãos da Oceania, que removia antônimos, sinônimos e palavras que pudessem remeter à qualquer forma de subversão, a intenção era não representar pensamentos errados chamadas "crimideias", ou crimethink, afinal, se não era possível definir algo, seria como se esse algo não existisse. O debate conspiratório assume bodes expiatórios, não apresenta soluções úteis para além de seu delírio e ainda exclui o debate. Para evitá-lo, é necessário controlar as mídias e os seus efeitos, pelo menos em um ponto em que elas não passem a nos controlar. Essa é a proposta da alfabetização digital da população, ou media literacy. Presente em algumas universidades americanas, a ideia é aliar a dinâmica digital ao aprendizado consciente e produtivo, abolindo o pensamento copy-paste doutrinador e passando pelo questionamento e amadurecimento emocional em debates e confrontações que saíam do ambiente de bolha. A criação de um fundo de pesquisas para media literacy foi liderada pelo Facebook junto a Universidade Pública de Nova York (CUNY) com o objetivo de "avançar na alfabetização midiática" (PORTAL IMPRENSA, 2017, s/p.) e terá investimento de US$ 14 milhões. Os perigos da desinformação online precisam ser encarados de forma mais séria, acompanhando e direcionando uma autonomia crítica que considere construir ao invés da crítica vazia e destrutiva. Tanto o jornalismo como a ciência precisam se unir para se conectar ao senso comum e barrar sua ideologização na pós-verdade, para isso é necessário uma mudança de abordagens visando reconhecer a existência do conspiracionismo como uma relação de causa e efeito. Acreditar fielmente no academicismo e na ditadura dos números não produz efeito prático, porque desloca a verdade de um lado para outro em uma época onde todos ganharam voz e não querem mais se sentir passivos ou ignorantes, é importante entender que nesse sentido, estimular a peda428 | TCC 2019
gogia freiriana da construção de ideias por debates pode ser um caminho produtivo. O pensamento hierárquico apenas aumenta o abismo do cientificismo com o senso comum, deixando o cenário de debate político suscetível a preenchimentos de lacunas informacionais com conspirações ideológicas que se valem de preconceitos para atacar o apreço ao conhecimento, as críticas necessárias da arte e humor, o ensino de professores e a manifestação política de movimentos sociais de minorias representadas. Se exclusão gera mais exclusão, o compromisso com os fatos deve acompanhar a inclusão adaptada ao seu tempo, com uma valorização da estética no produto científico, se valendo de uma embalagem mais sedutora para uma época de espetáculo, sem perder sua característica essencial de apreço aos fatos. A busca por critérios mais bem definidos de apuração e parcerias com as plataformas - tendo em vista que a maioria dos brasileiros se informa em redes sociais, é um bom caminho. A exemplo do Novo Manual da Folha e o já citado Trust Project, apresentando e tentando desenvolver um papel mais transparente de seus atos, sendo inclusivo e menos apelativo. Neste ponto, outro exemplo importante foi a iniciativa Science Vlogs Brasil, que conta com 48 dos principais canais de divulgação científica no Youtube, e somam juntos 8 milhões de inscritos e 500 milhões de visualizações. A parceria entre os defensores do método científico e jornalístico de apuração com as plataformas é fundamental para compartilhar experiências entre os produtores de conteúdo, organizando um canal mais direto, pessoal e midiático em comum com o público online, sem perder o rigor do comprometimento factual. As redes sociais nunca vão deixar de atrair público. Produzir conteúdo científico nelas, melhorando sua divulgação, apresentação emocional e até mesmo humor são as melhores estratégias para popularizar o conteúdo muitas vezes visto como massante. Ainda assim, o uso de dados nessas plataformas também tem se mostrado um problema que pode ser resolvido com maior rigor e interferência integrada junto às instituições no que diz respeito à criação de usuários, detecção e descontinuação de agentes ou conteúdos de ódio, além de mais parcerias relevantes com os sites e uma autonomia maior do usuário para controlar o seu conteúdo e os algoritmos que o definem. O Facebook melhorou, do discurso de classificar como "'loucura' a ideia de que notícias falsas em sua plataforma poderia ter influenciado a eleição de Donald Trump como presidente dos EUA", (GRAHAM-HARRISON, 2019, s/p.), passou a TCC 2019 | 429
admitir parte de sua responsabilidade, e entre outubro de 2017 e novembro de 2018 removeu 2,8 bilhões de contas falsas. Mas ainda há um longo caminho, a plataforma foi incapaz de identificar redes de extrema-direita na Espanha em 2019, e que alcançaram quase 2 milhões de pessoas, ou no caso em que manteve noar o vídeo editado com especulações sobre a saúde da opositora de Trump, Nancy Pelosi. A Google desenvolveu projetos interessantes em parcerias com universidades para difundir uma educação digital, mas pecou ao não notar que em uma de suas doações para grupos com o intuito de ajudar o jornalismo a prosperar na era digital, mas repassou cerca de 50 mil euros para uma empresa de mídia húngara ligada a conteúdos de extrema-direita. Ao todo, o Google concedeu fundos para 103 projetos de mídia de 23 países (BAYER, 2019, s/p.), muitos especialistas afirmam que as ações das plataformas ainda permanecem pouco eficazes e mais preocupadas com RP, (MEDIAPOWERMONITOR, 2019, s/p.), uma vez que o lucro com conteúdo conspiratório ainda continua garantido. O Instagram, por exemplo, bloqueou hashtags de movimentos anti-vacina e para fazer a diferenciação com conteúdo conspiratório, "a plataforma vai usar informações da Organização Mundial da Saúde e outras instituições focadas em desmascarar dados cientificamente mentirosos" (FARINACCIO, 2019, s/p.). Resta um reforço na ética do fato e o trabalho de apuração jornalístico, uma cobertura de forma mais aprofundada e respeitando os limites do tempo, com jornalistas que saibam entrar no fato sem sensacionalismo, promovendo uma visão mais integrada do que imediatista, querendo informar e ouvir os protagonistas do fato, mais do que tentar reproduzir a imagem ou estereótipo que não estimula a compreensão dos acontecimentos. Neste ponto, a iniciativa de jornais como A Folha de S. Paulo em usar recursos das plataformas de redes sociais, como as threads do Twitter, para juntar as notícias e formar um contexto conectado e mais claro entre cada fato é interessante, são abordagens no modelo conhecido por slow news. Outra iniciativa interessante da Folha foi a ideia de dar assinatura digital grátis por um ano a professores da rede pública. Por fim, um entendimento mais aprofundado e pesquisas a respeito da manipulação emocional, ouvindo o público e de que forma o jornalismo poderia se reinventar por essa nuance é essencial para criar novos manuais adequados aos tempos de pós-verdade. Os próprios personagens de Orwell em 1984 vivem o conflito de 430 | TCC 2019
uma sociedade desconfiada, onde o fanatismo cria tantos inimigos imaginários que as arbitrariedades tiram os direitos de todos, sujeitos a serem denunciados por crianças ideologizadas e onde ninguém garante a paz de ninguém. Amadurecer politicamente no ambiente online se faz urgente, uma vez que ainda somos muito jovens nesse espaço público, ainda tentando entender as plataformas, o novo jornalismo e as próprias ideologias em transformação na Era do Imprevisto. O primeiro passo é buscar ver como interpretamos essa realidade, se ela vale a pena, se essa visão produz algo ou se só serve para agregar e segregar grupos ou trazer conforto cognitivo. A pós-verdade também tem muita relação com a ética de seu povo. Ela permite alucinações coletivas e seletivas, aplaudimos as posturas diante da corrupção, fato inédito no país, mas somos capazes de ao mesmo tempo alimentamos a noção de que a falta de ética não é relacionada a nossa postura diária também, somente existe em um setor, alimenta-se o pensamento simplista de que corrupção é coisa da política, de um espectro. Não é, nunca vai ser. Falta a palavra que consagrou as eleições, a tal da autocrítica. O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, foi outro personagem da pós-verdade quando seu currículo inflado em Harvard foi descoberto, mas com a mentira em alta, isso não é exclusividade de políticos, 75% dos currículos enviados aos RHs das empresas em 2018 no Brasil apresentaram embelezamentos. O fim do pensamento de anti-política é necessário, na medida que reforça a desconexão do eleitorado com seus representantes e reproduz heróis outsiders, que tanto podem estar mal intencionados como mal preparados para o cargo. O político é representante do povo, não inimigo. Vê-lo como funcionário se mostra essencial para não só valoriza-lo como também não tratá-lo de forma incontestável, e sim passível de erros humanos e com compromissos que precisam ser cumpridos, vemos mais lados e espectros, menos desinteresse e salvadores da pátria. No discurso de vitória, Bolsonaro se apresentou ao vivo junto a quatro livros, a Constituição, a Bíblia, o livro "Memórias da segunda guerra", de Winston Churchill, e o livro "Tudo o que você precisa saber para não ser um idiota", do guru Olavo de Carvalho. O escritor viria a ser elogiado e reconhecido como líder do movimento que o catapultou politicamente e nas palavras do presidente "teve um papel considerável na exposição das ideias conservadoras que se contrapuseram à mensagem anacrônica cultuada pela esquerda e que tanto mal fez ao nosso país" (MAZUI, 2019, s/p.). Olavo ainda recebeu a condecoração da Ordem de Rio Branco de Jair Bolsonaro. TCC 2019 | 431
O escritor foi responsável por indicar o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e o Ministro da Educação, Ricardo Vélez, do governo Bolsonaro. Jair se elegeu pregando que todas as instituições brasileiras estavam contaminadas pelo petismo, e que essa seria a justificativa para tanta ineficiência e corrupção, onde o caráter técnico não era levado a sério, e sim o alinhamento ideológico. Seu discurso é incoerente com a prática, alinhada a manter animada as bases em favor da memecracia, ao atacar opositores. Logo o presidente foi contrariado por um membro da bancada evangélica que o apoiou, o deputado federal Sóstenes Cavalcanti (DEM-RJ), que se demonstrou insatisfeito com os primeiros nomes ventilados no MEC após a eleição, e disse “para nós, o novo governo pode errar em qualquer ministério, menos no da Educação, que é uma questão ideológica para nós” (FOLHA, 2018, s/p.). Os próprios ministros indicados por Olavo e nomeados por Bolsonaro não possuíam especificações técnicas relevantes, muito pelo contrário, a mentira na propaganda política estimulou os ministros a inflarem seus currículos. Vélez errou em seu currículo 22 vezes, estimulou o Big Brother político com professores sendo filmados em sala de aula, a bandeira do governo se mostrou ideológica e perseguidora de qualquer opositor. Ao solicitar que crianças fossem gravadas cantando o hino nacional, Vélez não só estimulou um nacionalismo atrelado a slogan de campanha orwelliano, ainda deu pouco valor à necessidade de fontes em trabalhos bibliográficos, sem qualquer apreço à informações checadas. Em um governo de senso comum ideologizado não são necessárias referências e fontes, a verdade é o que o líder diz. O resultado foi tudo que ocorreu no MEC desde o começo do governo serviu como labuta para uma "despetização", esvaziando as funções de pastas tão importantes, onde em 3 meses 10 funcionários do alto escalão foram demitidos. Com a pasta parada, a coordenação do ENEM foi interrompida. Outra despetização, na Casa Civil, provocou um apagão administrativo na pasta. A ideologia cega procura significados, desculpas e explicações bizarras para nossas dissonâncias em teorias rudes que podem até mesmo causar malefício próprio, feito o humanitismo de Rubião em Quincas Borba, de Machado de Assis. Essa mentalidade conspiratória está "afundando" (BARIFOUSE, 2019, s/p.) o presidente, como disse uma companheira de sigla do presidente, a deputada estadual paulista Janaina Paschoal. Nos 3 minutos de ódio contra Emmanuel Goldstein, o opositor do 432 | TCC 2019
Big Brother, simula o momento de hate em formato de comentários online contra PT ou PSL, contra uma corrente ideológica ou outra. Enquanto isso, a política não se mantém estática, mas seu campo de ação e transformação reproduzem uma lógica repetitiva de debate, e as violências diárias aos brasileiros continuam. As tragédias nos fazem lamentar "o fato ocorrido ontem, a gente parece estar anestesiado ou gostar da anestesia que nos faz esquecer desse fato, tão logo surge o fato de amanhã que receberá o mesmíssimo tratamento" (BOECHAT, 2019, s/p.), a indignação se transforma em conveniência e por fim, nos silenciamos com tanta desgraça e mentira. A narrativa repleta de fake news e seu culto exagerado ao militarismo norte-americano e à violência institucionaliza as armas enquanto terceirização das responsabilidades de segurança do Estado, e reproduz um clima em que as armas são vistas como resposta para tudo, até à falta de diálogo. Aos poucos, as fuziladas online tomam forma de tiros em caravanas ou manifestações políticas, em um período onde não há espaço para o reconhecimento do outro. No meio de depoimentos que pregam execuções pública que negam a história ou o próprio preconceito racial brasileiro, há a banalização da violência racista e sua espetacularização, como fez Wilson Witzel. O governador carioca ganhou um mosaico próprio feito de cartuchos de bala e filmou uma operação da Polícia Civil, de um helicóptero, atirando numa tenda de oração em um morro carioca. Se valendo da narrativa de oposição entre a cidade e as favelas, Witzel se apoia no papel repressor do Estado nessas regiões para se legitimar no senso comum "de que os moradores de favelas são, em sua maioria, participantes do varejo das drogas imposto pelo tráfico na comunidade, o que não se justifica por nenhuma evidência empírica" (FRANCO, 2018, p.47). Apesar da falta de comprovação, o impacto do senso comum manipulado mostra suas faces na vida de milhares de brasileiros. O Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2016, "produzido com informações das próprias forças de segurança registrou que 21.892 pessoas foram mortas pelas polícias entre 2009 e 2016, destas: 76,2% eram negros" (FÁBIO et al., 2018, s/p.). A bordo do helicóptero do populismo, o discurso de Witzel supera os fatos em números, como o de que a letalidade policial que ele tanto estimula em 2019 aumentou no Rio de Janeiro em 18% entre janeiro e março, na relação com o mesmo período em 2018, ano em que custou, ao menos, R$ 4,56 bilhões ao país e matou 6,2 vezes mais do que nos EUA. O resultado é a completa desinformação como cortina de fumaça para alimentar a base que continua a aplaudir política pública ineficiente e TCC 2019 | 433
sem profundidade por meio de palavra de ordem e selfie. Em praticamente um século de repressão nas favelas brasileiras com a desculpa de segurança pública, a violência nas ruas não diminuiu, pelo contrário, aumentou. O país possui índices de homicídio 30 vezes maior do que a Europa e o tráfico se expandiu, profissionalizou e corrompeu instituições apesar dos gastos bilionários e do genocídio da população negra e pobre nas favelas do Brasil. Perto do discurso atraente e fácil da repressão, os investimentos em educação, que tanto poderiam ajudar a sanar o problema de segurança, são descartados e até cortados. Quando o povo pede mais armas e menos livros, estamos mais perto de uma jihad do que de uma Coréia do Sul. Enquanto os caveirões sobem os morros buscando a trama de uma cena de Tropa de Elite, agentes e ex-agentes de segurança corruptos, chamados de milicianos, praticam extorsão e grilagem de terras com a população carente que Marielle Franco defendia pouco antes de ser executada. Sob a eterna égide de impunidade e autoridade do poder repressivo, em abril, a grilagem de milicianos vitimou mais de 20 pessoas na Muzema, zona oeste do Rio. Na Operação Os Intocáveis, a prisão de líderes milicianos levou à maior apreensão de fuzis na história da Polícia do Rio de Janeiro. Na ocasião, 117 fuzis M-16 foram encontrados na casa de um amigo de um miliciano, em um condomínio de luxo no norte da cidade. Diante desses fatos, e se valendo de um maniqueísmo relativista, a pós-verdade cria heróis e vilões eternos que viciam a mente, além de permitir um estado de leis e exceções paralelas ao Estado. Tudo isso é sustentado na defesa da política de execuções nas favelas por frases de "bandido bom é bandido morto", e na prática chega a absurdos como as duas vidas levadas nos mais de 80 tiros dados por militares em um carro de família negra no Rio de Janeiro, tudo sendo chamado de acidente. O Brasil chega ao cúmulo da pós-verdade quando destrói sua memória, relativiza os horrores da ditadura, e faz pouco caso para a identidade de seu próprio povo, na sustentação de um pensamento xenofóbico incompatível com a história de estrangeiros que ajudaram a criar o país de hoje. Tudo isso foi simbolizado na falta de empatia e crueldade vista em cenas de barbárie em Roraima onde brasileiros colocaram fogo em acampamentos de refugiados venezuelanos e compartilharam em redes sociais como se fosse um evento esportivo. O futuro, assim como em 1984, é distópico, é de uma guerra sem fim que faz as mesmas elites políticas e econômicas lucrarem, mantendo um discurso esquizofrênico de revolta violenta e antidemocrática contra as 434 | TCC 2019
instituições e a política do espectro opositor, e a conveniência de oligopólio dogmático tratado com os aliados, tudo sustentado por dinâmicas de opressão. A história do Brasil é desde sempre o dogmatismo aos aliados e a violência aos inimigos, explorando o oportunismo sem limites numa classe de nepotismo político concentrado na oligarquia do atraso e do privilégio, que prega o direito igual a todos mas que na prática alguns têm mais direitos que outros. Lemas tão conservadores para uma bandeira que se diz em nome do progresso. Isso não significa que a política deve ser extinta ou entregue a um monarca ou a um grupo nacionalista armado, significa de fato que precisamos ocupar espaços, se valer das novas conexões que surgiram para transformar a política num conceito amplo e de inclusão, e não destruí-la. Como disse Churchill, a democracia é a pior forma de governo, "com exceção de todas as outras" (SCHWARTSMAN, 2000, s/p.). A internet pode mudar isso, mas como um microondas, ela pode funcionar para alimentar as pessoas ou matar um gato, depende da intenção de quem o usa. É preciso autocrítica para se entender, empatia para entender o outro e informação factual para entender o país. A questão é: os brasileiros estão dispostos a usar sua insatisfação para rumar o caminho da ordem e do progresso por si? Ao vencedor dessa narrativa, as batatas. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ABRANCHES, Sérgio. Presidencialismo de coalizão: Raízes e evolução do modelo político brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. ABRANCHES, Sérgio. A era do imprevisto. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. AFONSO, Nathália. Agência Lupa. É falso que Jean Wyllys repassou R$50 mil a advogado de Adélio Bispo. jan. 2019. Disponível em<https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2019/01/29/verificamos-jean-wyllys-adelio/> Acesso em 27 mai. 2019 AGÊNCIA ESTADO. Política é o principal assunto das fake news no WhatsApp. Diário de Pernambuco. Mai. 2019. Disponível em <https://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/politica/2019/05/12/interna_politica,787353/politica-e-principal-assunto-das-fake-news-no-whatsapp.shtml> Acesso em mai. 2019. AJZENBERG, Bernardo. A triste saga de Jayson Blair. Folha de TCC 2019 | 435
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“TEM MULHER NESSA RODA (?)” REPORTAGEM TRANSMÍDIA SOBRE O CORPO FEMININO E A LUTA DAS MULHERES POR ESPAÇOS NA CAPOEIRA AS VOZES DE OURO: A EMOÇÃO ATRÁS DE UM GRITO DE GOL RELATÓRIO DE PRODUÇÃO DO PODCAST SOBRE AS DIFERENTES ESCOLAS E REGIONALIDADES NO RÁDIO PAULISTA E CARIOCA JORNALISMO DE BABEL: AS FAKE NEWS COMO INSTRUMENTO DE MANIPULAÇÃO POLÍTICA AS MANIFESTAÇÕES DA LITERATURA DE CORDEL NA CIDADE DE SÃO PAULO LIVRO-REPORTAGEM “CORDELÍSSIMOS” PRA FRENTE BRASIL, SALVE A BOLA: O FUTEBOL NOS ANOS DE CHUMBO MULHERES EM CENA: A PRESENÇA FEMININA NO CINEMA REVISTA ESPORTIVA: EDIÇÃO ESPECIAL TRÊS TOQUES HISTÓRIAS (RE)VELADAS: A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA AS MULHERES PLANO DE COMUNICAÇÃO DE AÇÕES ESTRATÉGICAS PARA A TRANSPORTADORA MD EXPRESS EURÍCLEDES FORMIGA: O POETA PARAIBANO QUE LEVOU A POESIA DOS CANTADORES PARA OS JORNAIS DE SÃO PAULO “UM CÁRCERE FAMILAR” A HISTÓRIA FALADA DA FAMÍLIA DE UM EX-DENTENTO BRASILEIRO TÊNIS NO BRASIL: PROBLEMAS E PERSPECTIVAS O ENSAIO SOBRE O RISO: DO JORNALISTA AO PALHAÇO PÓS-VERDADE, FAKE NEWS E AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2018 NO BRASIL