Desigual - Poemas em prosa poética

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De

sig

ual JosĂŠ Augusto Sampaio


Desigual

De JosĂŠ Augusto Couto Sampaio Neto


Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Este livro impõe uma ordem: após seu uso, ou desuso, decreta-se como sua obrigação repassá-lo a quem tem interesse ou precisa dos versos contidos nele. Ficha Técnica: Edição de texto de Isana Barbosa Projeto Gráfico, Montagem e Distribuição Editora Publique Já! Todos os textos são de autoria e publicados por José Augusto Couto Sampaio Neto. É proibida a venda e veiculação deste conteúdo sem a autorização do autor José Augusto Couto Sampaio Neto e Editora Publique Já!. ©Desigual – Publicado em junho de 2012 ©José Augusto Couto Sampaio Neto

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José Augusto Couto Sampaio Neto

Desde que me entendo por gente, já sonhava, poetizava e inventava histórias, sozinho. Andava olhando para as árvores, para o céu, os insetos e para as paredes sujas e/ou reformadas que eu cruzava. Procurava e inventava outro mundo e outros versos. Era minha forma de diversão e saída para outra realidade mais risível. Apesar de sorridente, dentes suficientes não fazem uma canoa generalizada de felicidade. Sempre fui triste e solitário nas horas vagas e nas horas cheias. Não sei de todas as pessoas, mas dizem que todos os poetas são tristes e melancólicos, mas eu acredito que todas as pessoas são tristes e melancólicas. Sem exceções. Tanto quanto são os poetas. Entenda: não sou infeliz. E, sim, feliz comigo mesmo. Mas não vejo motivos para comemorar tanto quanto todos comemoram. Na vida existem duas certezas: a morte e a mudança. Também só existem três motivos de comemoração: a vida, a criação e o amor. A eles e por eles, sinto-me bem e confluo com a paz. Em 14 de setembro de 1998, escrevi Poesia, meu primeiro poema datado. Por falta de cuidado com os meus antigos rabiscos, perdi o rascunho que tinha escrito a punho e com uma caneta vermelha. Acredito que, nessa época, quem escreveu o poema foi Guto, uma entidade que se perde cada vez mais dentro de mim e mostra-se apenas a pessoas mais íntimas. Já em Desigual, dou asas e total liberdade à minha poesia e literatura. Com temas que trazem a função do poeta nos dias atuais, a cor, o cheiro, o formato da alma humana, as relações sociais e sexuais, o homem como ser, o sexo puro e grotesco, o amor e as paixões, entre outros assuntos. Desigual é meu segundo livro de poemas, que encho meu peito de coragem para publicá-lo. Lançar poemas em livro é desnudar-me a todos que o lerem. E, assim como foi nos livros O outro lado do olho e Ima04


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gine alguém te olhando do escuro, ambos de outubro de 2010, e no mais recente, de forma mais visível, em Narrativas do horror cotidiano, de novembro de 2011, Desigual foi criado à revelia das duas entidades-vigentes-literatos hospedados(as) em mim. Falo de José Augusto Sampaio, que assina este livro e os livros que lancei. E José Couto, o poeta obscuro, que assina alguns dos poemas deste livro e apareceu, pela primeira vez, assinando dois poemas da história De onde nascem os demônios?, do livro Narrativas do horror cotidiano. Ambos sempre escreveram minhas obras em quatro mãos. Agora os revelo, meus hospedeiros, sem medo de julgamento. Desigual foi escrito durante o período de abril de 2010 a março de 2012, com a exceção de dois poemas: Filho da puta, de 10/10/2009, e Quero, de 31/10/2009. Todos os poemas foram escritos a punho, exceto Água Mineral, que escrevi no notebook e, especialmente, à Teresina e aos meus quatros anos e meio em que aqui resido. Os poemas do livro não seguem uma ordem cronológica e estão sob a vigência de ApoesiApoemA. Boa leitura. Ou me enviem a camisa de força. José Augusto Couto Sampaio Neto

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Índice: Desigual-

José Augusto Couto Sampaio Neto

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Para você, não serei indireto

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Desigual --A lâmina --Pedante --Vá à... --Eu --Monstro --Síndrome de JAS -Pessoas inteligentes Fantasmas me perseguem Conselho ao bajulador O Desconstrutor --

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15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25

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29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 40 41 42 43

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Invadimos uns aos outros Teresina --Decisões de um casamento Quero --Voyeur --Animais --Casamento --Vermelho sagrado -Companheira -Mais casamento -Tangerina --Costume --Certeza --Fantasia --Gabando-me --

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José Augusto Couto Sampaio Neto

... --Dois motivos para viver

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Escrevo onde meu silêncio diz versos sem métrica --

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A oração do escritor Água Mineral -... --Espelho --32 dentes ---

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Alimentos estragados no verão de Teresina --

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Amizade ---Constatação --Nojo puro ---Filho da puta --Pessoas e amigos? --Quadrilha ---Nádegas ---Cu ---Bar ---Os atores também são poetas Merecimento --Zona dos elogios --A sombra ---Grilos e baratas --Por educação? ---

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65 66 67 68 69 70 71 72 73 75 76 77 78 79 80

De livro em livro, em prejuízo me viro --

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Ser Banco

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José Augusto Couto Sampaio Neto

... ---Salvação ---Condenado --Novela ---Redijo ao incomodado -Os poetas não servem para nada Aos incomodados ---

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Bondade apodrecida abaixo de sete palmos

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A evolução ---A biles ---Floreios ---Poeta ---Poema ---Liberdade ---O caminho da vitória -A bíblia precisa se atualizar Langanho ---Deus ---Experiência ---Com podres e compadres Inquilinos ---Festas ---Natal ---Tradução ---Ateu? ----

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99 100 102 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 116

Paredes velhas e esquecidas das casas

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Referências -Ano novo de novo Sentado -Cegueira -Doença --

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121 122 123 124 125

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No pior domingo do ano -... ---Ninguém me escreveu um e-mail Na hora do suicídio -Meia palavra basta --

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JosĂŠ Augusto Couto Sampaio Neto

O ouvido humano ĂŠ surdo aos conselhos e agudo aos elogios.

W. Shakespeare

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TĂ­tulo dado por Isana Barbosa

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Para você não serei indireto

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Desigual Vim para falar o que penso. E o que penso não é o que você pensa.

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A lâmina Aos poetas

O problema está na alma lama. O poema não é beleza. É lâmina. E, do recorte afiado Sai meu desacato Minha libertação efêmera. E, das fotografias reais Arquiteto belezas geniais. Contudo Todas vêm afins, assassinas e fêmeas. Seja poesia Seja poema.

José Couto

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Pedante Não sou poeta. Sou poema.

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José Augusto Couto Sampaio Neto

Vá à ... Se és poeta que enfeita jarros, versos, flores Não gostarás deste livro Assino embaixo e creio eu. Se és boa gente Que acredita no amor humanitário E se diz indulgente As páginas à frente Serão apenas espelhos De sua verdadeira faceta Enfeitada por sua bondade Ou laudas espalhadas, espantalhos. Mas se entendes tanto quanto os vermes entendem de Deus Escuridão, putrefação e vida Estas páginas desforradas serão bem lidas. Vá à leitura!

José Couto

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JosĂŠ Augusto Couto Sampaio Neto

Eu Augusto Ao gosto.

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Monstro Uma cabeça. Uma rola. Uma careca, outra quase. Um cu. Quatro garras. Quatro patas. Um coração. Uma alma. José e mais nada.

José Couto

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Síndrome de JAS Estou em guerra e o inimigo sou eu que vou contra você.

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Pessoas inteligentes Aos que fingem concordância

Pessoas inteligentes discordam e se gostam. O amor também é bom quando amargo.

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Fantasmas me perseguem Fantasmas me perseguem Mas, quando em seus olhos refletem Minha solidão Recuam penados E não comparecem.

José Couto

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Conselho ao bajulador Não me trate tão bem Você pode ativar a minha desconfiança em relação à sua Intenção.

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O Desconstrutor Não quero o riso fácil, cortês, ávido. Muito menos a felicidade que espera o tempo futuro. Prefiro o acaso e o medo Quero o incerto, é certo O tracejo e o alho. Vamos temperar Entrelaçar ânsias Cozinhar discordâncias amenidades Aromas e danças. Fazer nossas manhãs mais profanas, ácidas laranjas. Sem precisar de quem aceita e receita. Pois, se chegas até aqui esperando encontrar poemas E temas belos, dignos de amores simétricos Encontrarás apenas o irrequieto José e ereto. Ou Guto, para os mais espertos. E que sabem que vim para escrever o que penso E o que penso pode machucar. Darei outra chance. Feche o livro Procure Olavo, procure Dante. Não penso em você neste verso e nem adiante. Não me incremento poeta, seta, para novas frentes Ideais e metas. Mas, se eu negar, Deus me castigará. Já fui personagem e escrevi para grandes festas Banhadas a vinho e palestrantes pedantes. Porém, agora, teço meu poema sem precisar que me diga Verbos adjetivados e elogios semelhantes. Não quero o riso fácil, cortês, certo. Serei bem direto: de poeta, só tenho a vontade E não sou adepto à harmonia no verso. Pertence à minha pele desconstruir sem pedir licença. Pois, mesmo que se faça ausência Para você, não serei indireto. 25



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Invadimos uns aos outros

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Teresina São entranhas as tuas bocas Mas não estranho teus muros. Por dentro da minha casa Planejo um futuro para ti THE. Por que és Teresina e não Teresinha? Dou-me melhor com as mulheres Que com as cidades.

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Decisões de um casamento O sofá daqui de casa está caindo aos pedaços. Precisando reformar Para a visita não reparar. Mas, numa ideia conjunta Decidimos viajar Vamos namorar.

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Quero Do fruto Quero a mão. Da mão Quero a razão. Da razão Quero a paixão. Da paixão, quero pôr fim à frescura E comer seu fruto redondo e secreto. Tenho usura.

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Voyeur Enquanto de quatro nós trepávamos na sala Deus olhava de cima e pincelava um quadro Com seus olhos brilhantes Poderosos E amor puro. E Satanás, ao lado, quase participando Espiava pronto. Alterado.

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Animais Se passar por onde andei e, de fato, pisar Com ou sem intenção Onde marcadas ficaram as minhas tristes pegadas. Passastes, então, onde ratos e baratas também passam E param para comparar seus nobres rastros Aos nossos pobres Podres fatos. Nesses caminhos, nas pegadas apagadas Ou ainda marcadas Mascaradas Os ratos e as baratas trocam fluidos Em orgias insanas. E esses carnavalizados insetos exalam cheiros Que não passam despercebidos Pela nossa audaz inconsciência Inocência. E, quando o cheiro do gozo inseto Aflora escandaloso Como sândalo olfativo Corações humanos aplaudem e palpitam como mágica. Risos riem Expandem-se Ventam e não vetam Florescem Vão Pupilas explodem Vivem São. E, agudamente conscientemente Como animais invadimos uns aos outros.

José Couto 33


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Casamento “Cuidado com as patadas.” Ela poderia dizer ao cachorro Mas disse a mim.

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Vermelho sagrado Ávido e maciço Ele, torto, olha-te. Observa bem o caminho que forma de seu nu umbigo Até seu objeto de usura Divina fissura. Enquanto, como uma obra de arte, em seus tornozelos Sua calcinha singela e amarela, encanta E a boca tanto ama quanto se arranha Esfregando-se na face dos lábios Depilados A língua doa-se Roça de cima para baixo De dentro para fora E sem medo Salga-se em um Mar Ar Lar Vermelho sagrado.

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Companheira Se fosse chocolate, comeria durante uma semana. Mas és de pele, osso, carne. Uso de teu cheiro e aliança. Como-te há quatro anos.

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Mais casamento Afirmo, irritado: _Você é de cristal! _Sou – ela concorda. Calma. Autenticamente ela. _Você não sabe cuidar de cristais? Depois de um minuto refinando a resposta com o meu humor Bipolar habitual Digo: _Prefiro os vidros. São mais duros, baratos e transparentes. Ela entra no banheiro. É noite. Está frio e chove. O ventilador está com defeito. No Piauí, quando esfria, chove e o ventilador funciona Foi Deus que proporcionou tal luxo. Pelo menos para mim Desempregado e sem serventia como poeta. Careca. Pouco. Dou um jeito no ventilador. “Será se não é mais um milagre de Deus?”. Penso. Ela sai do banho. Sento-me, astuto, e observo Espero o momento em que ela vestirá a calcinha, que é tão Excitante quanto o momento em que ela tira. Ela está mais cheirosa que eu E, disso, qualquer cego saberia. Pois, ainda que eu esteja animado com tanta dádiva Continuo animal Suado Vidro E caras-eternas-dívidas.

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Tangerina Estava com fome Fui à geladeira Porém, vazia e transparente Mostrou-me, como uma boa amiga Contra sua realidade gélida e fria Uma tangerina, que já tinha sido esquecida Pela minha fraca memória, efusiva. Ela, laranja tange rima Estava misturada às verduras E outras lascivas frutas e cheiros. Meus olhos e meus medos Grandes amigos e, com ajuda dos dedos Furtaram a fruta do seu estado de obra exposta E ser alaranjado.

rina

Peguei-a como peguei em certas coxas e glórias. E, ao enfiar o dedo em seu meio Perfurando a casca A Tangerina exalou um cheiro. Doce e ácido. Já sem pensar, passei a descascá-la. Muda e sem temor A tangerina observava-me Impondo respeito. Ditadora. Uma fruta que se comportava como uma linda mulher Enquanto fica nua Olhando sem pudor em meus olhos. A tangerina 38


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Fruta com suco, não oca Ao ser mordida Não ostra Para que se forme a rima. Agora, antes fruta, já comida Degustando de sua seiva cítrica Torno a lembrar-me Rígido e ereto Por que a tangerina É a minha fruta do sexo.

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Costume Eu nunca deixarei de amar. Também, por mal algum Desaprenderei. Mesmo que faltem candidatas para esse cargo.

José Couto

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Certeza Coisa linda é uma mulher nua. Coisa não. Estado. Onipresença.

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Fantasia O sinal que vi em sua alourada coxa esquerda Me fez suar no banheiro daqui de casa.

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Gabando-me Quando comigo O sexo oral nĂŁo ora Implora-me.

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... Se no peito é saudade A saudade é uma dor.

José Couto

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Dois motivos para viver Eu e VocĂŞ.

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Escrevo onde meu silêncio diz versos sem métrica

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A oração do escritor O escritor está só e sem aval de ninguém. Porém, livre e saturno Liberta-se e escreve sobre o que bem entender em suas Orações.

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Água Mineral Às nuvens carregadas de chuva de Teresina

Da cristalina água da chuva A escura, turva, água dos córregos Começa no céu e termina no sol Eis onde está Teresina Aqui, entre minha pele, o ser, o estalo e o estado. Na face do céu Agora come um raio Seguido dum trovão. Em Teresina, janeiro, fevereiro, carnaval É inverno e não verão. Mas, em minha cabeça, é inferno Já que desgraçados-espertos-cabelos caem Crédulos de minha calvície. Pode parecer que gosto dessa queda geral Mas é só uma desfaçatez e fuga social Que pratico socialmente sorridente, bêbado e político Não sou careca porque gosto E sim por ofício divino e genético. Ambos reservaram-me esse presente Como uma espécie de aviso. Um aviso que ainda não compreendi Mesmo espécime e metido. Parece, às vezes, que ter fé é uma saída Outras vezes, tudo parece mentira. Independente do parecer Vim à Teresina sem emprego e sabendo o meu para que. Entrei duas vezes na igreja em quatro anos de estadia E não me sinto culpado. Parte puritana de Teresina me culparia. Quando cheguei à cidade de provisório Os incomodados me incomodaram 50


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Só que passei a estar de propósito. Vivo aqui porque quero e posso. Aos incomodados, a saída. Para mim, a entrada. Faço rima, verso rimo, porque hoje eu gosto gasto Amanhã pode ser que eu ignore esse fato E, parado, vibrando no todo-tudo, do mesmo local Cano Buraco Como um cômodo Que fica a cuidar do espaço em que está Faço. Eu posso. Não poço. Esse é o momento de uma voz me dizer: Você tem que ser legal! Mas tenho tanto de legal quanto de anormal e amoral. Incomodo belas, feras e eurecas Barbudos, peludos, artistas, amigos, inquilinos, sogros E desconhecidos. Por isso, ao poetizar, grito Como um poeta brega Não como um músico teresinense Canto, sem vergonha e sem regra: Minha Teresina, eu a toco como ninguém faz! E, enquanto eu não queira, não a troco jamais. Sim, Teresina. Não Alagoinhas, cidade de chuva divina E fantasmas vívidos. Estes versos poderiam ser para New York City Ou feito com a intenção de agradar aos poetas, músicos E ilustres figuras teresinenses E suas propensas e existenciais crises. Mas não tenho esse talento para escrever uma elegia À grande maçã americana Ou agradar aos grandes e mais ilustres lustres das panelas 51


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Teresinenses contemporâneas. Estes versos não são para São Paulo, nem Rio, Picos Piripiri Ou Timon. Não são para os meus vizinhos E as mulheres mais belas do Mocambinho. Nem para J. Henrique V. Poeta mal agradecido e que se diz meu amigo. Com esforço acredito. Não são a Ponte Metálica Que já anda e desanda a desabar. Não são para São Salvador e suas dores nostálgicas Encruadas em mim. Muito menos à Juazeiro da Bahia, onde cresci E meti a língua A pica Nas mais belas vaginas Que um adolescente merece. Muito menos à Petrolina, onde abri De um dos meus desafetos, o supercílio Ação que, hoje em dia, não mais pratico E, por isso, os atuais desafetos são muito mal agradecidos E, por trás, comportam-se como párias falidos. São versos, exclusivamente, pensados e redigidos a mim E para a nuvem que aliviou o calor desgraçado E teresinense. A eles, trago versos espremidos para fora dos meus poros Que rangeram em meus ouvidos e doparam meu sangue Com um elixir endiabrado e lascivo Permissivo à ordem dos odores, sabores, desolados E aos meus acalentados extremos diários Que minha pessoa impregnou em quatro anos de Teresina. Que, se fosse Teresa, Teresinha, seria melhor Com as mulheres me dou com mais facilidade. Nelas, de língua vou sem erro e certeiro. 52


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Já que não mulher, sim, cidade Teresina, escrevo-a como poema Quem não entendeu fica na saudade. Hoje venta com agilidade Mas quase todos os dias, no Mocambinho Seja tarde, madrugada ou cedo, sobra calor à vontade. Aqui, Teresina, é cidade onde uma nuvem Sempre vale mais a pena que certas amizades. Eis a cidade onde escamo minha pele E meus pelos vagabundos sobram e vão. E, com capa e cueca, vou vagar o mundo. Vagar mundo. Vagalume. Iluminando escuridão. Depois de, na cabeça do mundo, cagar Só de capa, pois sou higiênico e usei a cueca de improviso Vou herói, bem limpinho no fundo E Guto. Vou também com a nuvem que fica ao céu e não se esvai. Porém, quando poeta, dizem-me: sem classe e imundo. Fodam-se, se me rotularam, fizeram-me de vulto. Aqui escrevo onde meu silêncio diz versos sem métrica. Dispo-me em linhas, intrínseco como dor em seu cotovelo Em palavras repetidas Como uma forma hermética de absolvição. E, como vagabundo, ouço a voz que sussurra em meu Ouvido Vinda da boca de meu dúbio-diabo-escondido-deus-amigo Sobre versos e litígios assíduos A voz diz: És poeta, escritor e vagabundo! Com certeza, o maior vagabundo de Teresina E, neste livro, reafirmo em litígio: Sou o maior vagabundo de Teresina! Se você prefere os floreios aos odores Não serei seu poeta favorito. 53


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José Augusto Couto Sampaio Neto

Nunca serei o escritor, assinando Na cabeceira de sua cama, o livro. Assim como não sou o seu melhor amigo. Não sou dos que torcem para o sol teresinense Não sou do contra, nem bajulador Gosto do calor, mas prefiro frio e uva. Sou um dos que pensa por causa do sol teresinense. Mesmo que ele derrube meus últimos fios de cabelo Assassino! E que faça minha testa inexata suar. Brilhar. Enrugar. Blindar raios solares. Não sou poeta de nenhum lugar. Sou o poeta de mim mesmo. O meu guia espiritual Regendo a minha vontade embutida De ser livre e lírios. Aqui, não existe mais o poeta dos primeiros E antigos poemas. O que se dizia “bom baiano”, regionalista, artista. Piadista. Como quase todos os recitadores, são piadas e palhaços. Celebridades a favor da grande e ilustre Poesia. Para a plateia que bate palmas e que só lê poemas na TV. Esse poeta, reflexo, foi-se descendo a ladeira. A bel prazer, entrego minha gana antiga e pequena de ser Ouvido Aos comparsas que se assumiram estrelas E são imagens e espectros quando fazem arte Para os gerais E por eles são comidos como objetos televisivos Atrativos. A mim, quero apenas ser absorvido quando culpado. Já não sou mais o mesmo de outros recitais. Cansei de, em editais, mostrar-me agudo 54


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O obtuso. Em Teresina, onde passo como incompreendido Ou maluco agressivo Maníaco obsessivo Preciso muito mais de frio E de água Do que de elogio. Sou muito mais abuso e abusado, absurdo Aos que me veem desocupado. E aos que nada enxergam, favor olhar em minha testa Que rei, erro, sou eu? Sem harém e não refém Sobrevivo bom, gordo, embriagado Lombrado. Curtindo a nuvem aliviando meu calor E merecedora deste poema. Ela trouxe pingos e traz a chuva. Ao tempo que perco, peço e não perco tempo quando nu E, na varanda de minha casa Pulo ao lado de meu cachorro Pelado, excitado Juntos, dançamos a chuva, peludos Sob o olhar alegre e solidário de minha esposa Protegida da água azul e milagrosa E com medo que raios me fritem E compreendendo minha solitária lisérgica vida. A mesma que Deus e o Diabo, em comum acordo Trouxeram para Teresina. Pronto, feito. Aqui estou com feitio e muito bom grado. E, em suas ruas, suas línguas, suas coxas, seu silêncio Alheio Seus sabores embutidos, desembutidos, repelidos Escondidos Frágeis e ordeiros 55


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José Augusto Couto Sampaio Neto

Em seus escondidos buracos peludos Rosas e vistosos buracos, cinzas e sombras. Ou em seus senhores e seus progênitos meninos Mimados da mamãe. Em sua madrugada Nos pássaros que cantam pela manhã Na periferia onde acordo em comum acordo Em uma agradável matinal manhã de sábado Em suas poucas ladeiras E muitos paralelepípedos Em seus bons e educados nativos E suas máscaras e abrigos No som de uma rede ninando o sonho de alguém Nas bananas envelhecidas esperando serem comidas Em seus rios que se tornam um rio indo ao mar Em seus prédios que enfeiam o verde da cidade Que está mais verde neste inverno Em suas belas e carentes mulheres e filhas de família Mestiças, brancas, negras, putas, amigas, lindas Gozadoras, dengosas e mandonas Madonas Que ainda não conheço E que, pela minha mulher, esqueço Em seus bares e em seus bêbados Em seus versos e seu leito Pois não existe poder algum que chegue a mim Se não me chegam às palavras Em ti, pouso, Teresina. E amador Repouso Escaravelho. Esse cara velho Não é a melhor pessoa para lhe escrever um poema Mas, com prazer, ofereço-lhe isto Que acima está escrito. 56


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JosĂŠ Augusto Couto Sampaio Neto

Advindo de mim, poeta mal quisto E breve esquecido Como Amaral Do bairro Ă gua Mineral.

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José Augusto Couto Sampaio Neto

... Pensei que fossem carnes ambulantes Mas são carniças falantes. Os podres estão escondidos. As sombras, à vista. O medo paira. A mentira cativa. Homens.

José Couto

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José Augusto Couto Sampaio Neto

Espelho Todas as pessoas são desprezíveis. Eu sou o mais desprezível de todos?

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JosĂŠ Augusto Couto Sampaio Neto

32 dentes Dos meus 32 dentes, trocaria dois e incluiria duas presas superiores que facilitariam chupar sangue, como os bons humildes caridosos e ignorantes fazem. Dessa forma, participaria com mais fervor favor construtor do mundo novo, belo e bom. Ao lado dos grandes seres humanos neste lindo planeta onde vivemos em busca de uma sociedade elevada e a paz comportamental incomparĂĄvel.

JosĂŠ Couto

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JosĂŠ Augusto Couto Sampaio Neto

Alimentos estragados no verĂŁo de Teresina

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José Augusto Couto Sampaio Neto

Amizade A uma amiga?

Já perdi a conta de quantas pessoas me juraram amizade olhando em meus olhos. Por sorte, aprendi a reconhecer quem é realmente amigo amiga. Aprendi? Apesar do palmo de distância E da comunicação às tantas Os lábios são sempre risonhos. Por isso a notável dificuldade.

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José Augusto Couto Sampaio

Constatação A quem não compra os meus livros e se diz meu amigo

Se você, que se diz meu amigo Quando está de fronte à minha pessoa Não comprar o meu livro Nem por uma caridade amigada Para degustar desse tipo de texto sugestivo Inquisitivo Só posso constatar duas coisas: Ou é falta de grana Ou é uma puta inveja em uma manhã de ócio.

José Couto

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José Augusto Couto Sampaio Neto

Nojo puro Aos que me fazem objeto

Se abrires qualquer armário Que pertença a José Couto Fodido e afoito Assopro e arroto Encontrarás baratas Mau cheiro E objetos esquecidos Sem serventia. Porém Três coisas não podem deixar de ser notadas: Ausência, nojo puro E um vago preenchido por objetos esquecidos.

José Couto

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José Augusto Couto Sampaio Neto

Filho da puta A mim e aos outros

No Bando dos Filhos da Puta Só tem filho da puta. Reunidos, eles riem dos outros e falam à vontade. Não falta bebida, não falta farofa. Calabresa tem de sobra, o assunto é fofoca. Os outros, fofocados, assunto focado Dão cara a tapa para um dia baterem no peito E dizerem: Sou do Bando dos Filhos da Puta.

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José Augusto Couto Sampaio Neto

Pessoas e amigos? A pessoa com quem mais convivo é o Tony. Ele é o meu cachorro Mas nem sempre concorda comigo. Enquanto ele rosna, eu grito. Obedece-me, querendo mandar e ser dono da casa. Eu obedeço e sirvo-lhe. Nós nos amamos. Em nenhum momento ele cogita deixar de ser uma pessoa Mesmo sendo o meu estimado cachorro. Tony é meu confidente. Um amigo. Mesmo quando não concorda comigo E, de praxe, passa um sermão: Late. Late. Grande pessoa esse cão.

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José Augusto Couto Sampaio Neto

Quadrilha Kátia, quando junta à Marlene, fala mal de Dóris. Dóris, quando junta à Marlene Fala mal de Kátia e Lúcia. “elas se odeiam” “são chatas” “falsas” Lúcia, quando se junta à Kátia Fala mal dos seus maridos Igor e Carlos. Carlos e Igor, quando estão juntos Falam mal de suas esposas e elogiam-se. Igor, quando está com sua amante Fala mal de sua mulher e bem de Carlos. Carlos, quando está com a amante Fala mal de sua mulher e fala bem de Marlene. Marlene, quando está com seu marido Fala mal de todos. Ela acredita que Igor é um enrustido, veado. Antônio, quando está com sua esposa, Marlene Fala mal de todos, dele mesmo e, inclusive, dela. Quando todos estão juntos Chupam-se os dedos dos pés e os mal depilados cus. (Salva-se o sedoso cu de Kátia. Depilado e esperto.) Antônio, quando está junto de todos Fala mal dele mesmo Dos outros que lhe dão ouvido E de tudo que pode ser bom ou ruim. Ninguém fala a Antônio, se ele não fala.

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José Augusto Couto Sampaio Neto

Nádegas O brasileiro tem uma bunda na cara. Se não aparece no espelho Aparece trancado no banheiro. Mas ainda assim há quem exiba Um rosto elogiável Com as nádegas e o ânus.

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JosĂŠ Augusto Couto Sampaio Neto

Cu Se vocĂŞ for me mostrar Abra bem as bandas.

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Bar Não serei político. Não sou. Não conheço muitas pessoas. O garçom não me conhece e não dispensa os 10%. O dono do bar não me cumprimenta E se lixa se não tem minha bebida preferida. Ele não sabe ganhar dinheiro. Ele não sabe ganhar dinheiro em cima de mim. Ele é puta de outro sistema Não precisa de um cliente pária, como eu. Isso não faz diferença. Não faço diferença para os corpos sentados e vibrantes. As mesas vizinhas são mesas ocupadas. Nelas, os sentimentos não mentem Mas as vestes enganam. Nelas, vozes sem sentido. Não faço parte da cerveja Nem parte do espaço vago do copo de cerveja. Essas mãos, essas digitais, esse suor, essa sujeira na ponta do dedo que segura a nota de cinquenta, essas unhas, esses cheiros e os pelos descoloridos, loiros, esses risos e peitos abertos a todos, esse espaço, papo, dente, bafo, cigarro graves e gritos, expulsam-me. Não me votam. Eu peço: não me votem. Não sou o político dos boêmios. Não sou o sonho dos que dormem. No momento, escolho uma bebida que não seja cerveja Que caiba em meu bolso E que, principalmente, embriague-me. No momento, se pudesse escolher, escolheria amor e sorrisos para mim e para ela, mas longe, fora, além do vago do copo. Além dos flashes e passarela desse bar 73


Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Que inunda minha noite. Eles nunca me escolheriam como seu político. _Quero uma vodca barata, a mais barata, com sal e limão. Digo ao bar man. Quero um sorriso dela. Penso sozinho e desfilando até o banheiro. Sem ser notado.

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Os atores também são poetas Seria louco se não escrevesse. Porém, se para ser poeta é preciso ser louco Poema ambulante Recitador andante Ajudante da arte restrita e culta Figura de todos os elogios Profissional da salva de palmas Um poetador e rimador Um movimentador das coisas mais belas E maravilhosas do mundo? Se sim. Não sou poeta, nem ator. Sou redator.

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Desigual

JosĂŠ Augusto Couto Sampaio Neto

Merecimento Cada poesia tem o poeta que merece.

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Desigual

JosĂŠ Augusto Couto Sampaio Neto

Zona dos elogios Melhor ser a puta paga e que chupa Do que ser a puta que paga e bajula.

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

A sombra Aos que sempre concordam querendo agradar

Em seus ombros Ou superlativo aos seus ouvidos Você escolhe como ele é visto.

José Couto

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Por educação? Deram-me uma cadeira. Prefiro ficar de pé. Falo alto Beijo Abraço Também sopapo. Todo suado. Babando felicidade. Bafando vontade. Rindo da ironia dos irônicos. Riso de nós. Com a boca muito aberta mostrando a língua Rangendo dentes e com os olhos Espelhando e espalhando você. Mas não. Preferem-me sentado. Com a postura incorreta. Enrolado. Minhoca. Tênia. Equilibrando-me em minha barriga. Pensando em outro assunto. Sorrindo e andando para trás, de costas Pelas sombras Para não ser notado Como um demônio que procura suas vítimas.

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Grilos e Baratas A barata come lixo. O grilo degusta, também. Ambos são nojentos, fétidos, convêm. Só que o grilo, de nariz em pé Pula, canta, alegra por aí A barata, barata.

por si.

Mas quando ambos morrerem esmagados por Deus E sua sandália de dedo e seu nojo sem medo Federão entranhas iguais. E, carregadas pelas formigas Putrefarão ainda mais iguais Como alimentos estragados no verão de Teresina.

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Desigual

JosĂŠ Augusto Couto Sampaio Neto

De livro em livro em prejuĂ­zo me viro.

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Ser Aos meus poemas floridos, também cultivo lírios.

O homem. Homem, aquele sentado no azulejo. Azulejo antigo, onde rachaduras trazem as formigas comedoras de bostas do bairro e exalam um cheiro que faz cagar mole. O homem. Sujo de mijo. Não o azulejo, o short que o veste. As mãos também. Péssimo esse hábito de não lavar as mãos. De dizer tudo com a língua, comer tudo como formiga. Ele. O homem. Grudado. Guardado. Aguardado? Branco. À tarde. À beira de um temporal. Acima do peso. O homem em seus olhos sonolentos. Vermelhos e secos. Cabeça vazia. Com o coração batendo sórdido. Faltam-lhe palavras. Sim, falta quem o ouça. Quem pergunte? Quem saia de dentro do seu ouvido: primeiro a língua depois a boca, depois os olhos contaminados de ferocidade, depois os cabelos, os cabelos da vagina. PENTELHOS!!! 85


Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Vamos! Saia deste ouvido cheio de cera. Diga algo que se coma e não vomite. O homem sem perguntas sobre ele. Um falta, um espaço sem identificação de qualquer preenchimento em tal espaço. Ele. Sem a imagem. Só. Convexo. O peso não passa duma brisa em suas costas. Mas há alguma corrente, uma qualquer ditadura, um feto um braço, uma trava em seu corpo pescoço inerte Em sua vida verte. O homem e seus amores no reflexo do seu olho. No reflexo formado pela luz branda e sem sentido que adentra pela janela e que se diz vinda do sol. No reflexo brilhante e maquinário do notebook. O homem e seu triste olho, mais sua pele odores, suas costas em dores, suas palavras em depurada amnésia. O homem. O amém. O nem. O né. O Zé. O é... Sendo. Exercendo.

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Desigual

JosĂŠ Augusto Couto Sampaio Neto

Banco Enquanto na fila distraio olhos que me queriam de jeans E bem vestido Alguns brilham com barbas feitas e gravatas apertadas Vestidos finos e calcinhas enfiadas. Mas o dinheiro Como um milagre divino É o que floresce luz. Uma luz que deteriora Fazendo rir e esperar.

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

... De que serve meu vício De escrever pelo riso Devendo a risco. Agora a pouco, mandaram as contas E elas, no código de barras, contavam que Não há elemento que sacie os sonhos Quando não somos Reai$. Ei de desistir? Se, de livro em livro Em prejuízo me viro. Preciso ganhar dinheiro Como poeta, não ganho, perco e não perco. Estou desempregado Muito mais de estado E cansado de ter que ser. Papo depressivo e desgraçado. Por isso esse cansaço E essa dívida aumentando, ocupando espaço. A mim ainda cabe sentir medo e viver Como um bom cidadão? Até quando não aprenderei a fazer bombas? Antes de responder Há outra pergunta para me entreter: A maior divida é com Deus, com Satanás ou com o Cartão de Crédito, ou pior, com o equilíbrio do sistema monetário e fiscal do mundo? 88


Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Salvação A poesia é a minha salvação pessoal. E, entre versos, pesadelos e sonhos Navego num mar Reescrevendo tormentas.

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Condenado Em nove de janeiro de 2012 Cá estou Um cifrão negativo E entorpecido. Escrevendo um poema Não por pena Ou para pôr pena Mas por falta de competência Com outros afazeres dos competentes. Fora do lugar Não em qualquer lugar Descompassado Sem andar Para frente ou para trás. Inerte. Sonhando? Sonhando. A poesia não salva o poeta dos que não poetam. A poesia salva a minha alma Mas não a salva do banco, dos juros e dos carmas avulsos.

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Novela O protagonista escalado é um pobre coitado. Porém, como um bom ator Sem fazer mistério segue na fila da vida encarando de frente feliz para sempre.

José Couto

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Redijo ao incomodado Você tem toda razão em afirmar que, enquanto o mundo gira e está fervendo, eu estou sentado escrevendo poemas. Mas você não tem como negar que, pelo menos a uma pessoa, eu incomodo.

José Couto

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Os poetas não servem para nada Quem sou eu para falar do incorreto? Só porque, incrédulo e pedaço de pele, cadavérico Formo orações e versos Ganhei a permissão de Deus para ditar o verbo? Sim. Eu posso e digo: Deus não me calará. Os poetas não servem para nada! Nos poemas, o poeta nada serve. Nas ruas, recitando, artista Ilha e idílio Flutuando Planando O poeta é vidro, imperceptível Nada serve. No entanto, como não degusto plásticos Mesmo não lido, porém, iluminando escuridões Com sombras pessoais Deixo aqui meu ruído Mesmo que esse ruído fique como um grito: O POETA NÃO SERVE PARA NADA. Nem ao poema. Nem às avenidas. Nem aos modernos rodízios... ... ... Servem aos que pensam em suicídio e fingem não pensar. Servem quando estão escrevendo o poema. E aos Moribundos-sangue-azul Que frequentam as rodas intelectuais.

José Couto 93


Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Aos incomodados Prefiro ser o incômodo Que o cômodo. Não tenho lugar no salão de festas E nos recitais Cheios de astrais. Todas as cadeiras são de quatro patas. Tenho três e ainda uso espadas. Do lado de fora Vomito Engasgando-me perto da parede.

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Desigual

JosĂŠ Augusto Couto Sampaio Neto

Bondade apodrecida abaixo de sete palmos

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

A evolução De sua mais completa perfeição Onde dividia a terra com outros tais e tantos Expondo uma pose soberba Sobre essa certeza E ainda proliferando, ganhando tamanho Tomando espaço Estendendo-se como um verdadeiro verme Encravado a virgem terra ou já ocupada. Como uma figura bucólica De pele incolor, criatura divina, fina e roliça. Sabida disso, em sua feição, surge um riso de felicidade. (Você já viu um verme rindo? Procure nos espelhos e nas cidades.) De sua mais completa perfeição O anelídeo, sem deixar resíduo ou vestígio Regrediu Para onde nunca deveria ter ido. Agora ele tem umbigo Olho É amigo E tem muitos amigos. De vez em quando faz compulsivamente um gemido Seja por abrigo Ou por cozido. Ele deixou de ser anelídeo Quebrando com essa rima de filme de horror Agora, ele é homo sapiens Mais conhecido como o homem que sabe E que a Deus deve favor.

José Couto 99


Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

A biles Até as lixeiras mais sujas, imundas, mudas, com seu corpo redondo, imóvel, oferecendo o seu vazio como obra para a existência e sustentabilidade social. Até os lixeiros e seus caminhões carregados dos segredos alheios e odores execrados. Até os ralos mais sórdidos e felizes com seus restos de comida. Até uma vala por onde passa a alimentação processada dos mais diversos cus dos trópicos. Até um vão, ou rasa, a cova e seus vermes degustadores de nossa bondade apodrecida abaixo de sete palmos. Até as baratas malfadadas, mal faladas, mas bem de vida daqui de casa. Onde o chão tem prazer em acumular uma sujeira danada. Como se o chão fosse macho e a danada fosse fêmea. Até os urubus, os que rezam ao Deus Urubu para cairmos ao chão como simples sacos de carnes e alimento. Até o ser mais podre que excremento e tão corrupto quanto o político sem palavra. Até o cachorro mais pé duro, puto, safado, vagabundo, escroto, canalha, medonho, fedorento, pulguento e que olha em seus olhos sem desviar, com olhar mais humano que qualquer olhar dos nossos semelhantes. Até as bocetas gozadas, chupadas, aidéticas, mijadas, rainhas, bocetas-rolas, pobres, narigudas, faladoras de pinguelos gigantes, com pus, até às bocetas que nunca verei, infelizmente. Até as rolas encolhidas, pequenas, broxas, não usuais, trepadeiras, arromba cu, arromba menininha de 7 anos que passa pela rua (esse merece castração), arromba empregada, arromba garganta, arromba o seu próprio cu, as rolas imprestáveis (grande maioria). Os cus, ou melhor, até um conjunto de cu sujo, cagado, sem ver água há dois dias, lambido, fio terra, coçando, cagando acocorado, até um cu que acha que é a própria pica ou a boceta. Ou um troféu, ou trunfo. Um cu que quer ser mais que a boceta, um cu nariz em pé. Um cu que quer ser a pica.Um cu Cu, um cu adjetivando-se cu. Um cu cult. Um cu virgem. Até uma cu 100


Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

fêmea merece. Até o mais idiota dos idiotas, que pensa versos e rimas só para disfarçar a solidão depravada de momentos solitários e putrefatos, deteriorados e obscenos, merece que seja lavado. Até os que ensaiam o sorriso na toada de suas personagens merecem ser lavados. Banhados em água e sabão. Ensaboados. Até você que chegou até aqui discordando e me achando chulo, um puto, podre, pobrezinho. Sem merecimento de seu prestígio, ou de seu sorriso. Até você merece um bom banho. Lave-me com água corrente e sabão. Se não, lave-me vomitando a biles em mim. Como todos, mereço ser asseado. Lavado.

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José Augusto Couto Sampaio Neto

Floreios Aos grandes poetas e seus lindos poemas revolucionários

Escrever belos poemas é muito fácil Quando enchemos os versos de flores Que são colhidas no dicionário.

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Poeta Isso é poema Não certeza.

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Poema No azul claro céu Na manhã divina amarela Procuro, mas não tenho o que dizer ao papel.

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José Augusto Couto Sampaio Neto

Liberdade *Aos meus irmãos e irmãs

Chega uma certa idade Que não há o que fazer pelo próximo. A não ser rezar.

*Cristiane Amorim, Nacha Souza, Marja Guerreiro, Milton David, Mariana Lima Souza, Cesar Simões, Cauê Sampaio.

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

O caminho da vitória Estava sem maquinar a cabeça Mudando os canais de TV Quando me deparei com uma cena horripilante: Pelo menos doze homens de gravata vermelha E camisa verde com botões e manga longa Todos de óculos escuros Debaixo dum sol escaldante e tipicamente nordestino. Compondo o fundo da cena divina Um milagre que podemos vê: O horizonte onde o céu toca a terra. Na frente dos doze, embelezando a fotografia Cinematográfica E demoníaca Uma quantidade exorbitante de dinheiro. Ri. E, já maquinando a cabeça, prestei atenção E um desses senhores dizia: “O caminho da vitória e do transbordo de milagres em sua vida começa com o desapego e a doação, de coração, dos 10% do dízimo de Deus”.

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

A Bíblia precisa se atualizar Amar ao próximo é amar a ti primeiro. E, quando for o próximo, deve ser um que tenha teu sobrenome e, ou teu sangue. De vez em quando um amigo, mas quais são amigos?

José Couto

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Langanho Quanto maior e mais perfeito é Deus Mínimo e mais podre é o Demônio. E, entre eles, você! Eu. Assumindo o papel de fio condutor. Pergunto-me: onde está Deus? Encontro em poucos corações Por completo, na natureza vegetal E nos animais irracionais. Novamente, onde está o Demônio? Em todos os corações E naqueles poucos corações que, por hábito Habitados por Deus estão.

José Couto

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Deus Não é Ele É sim Você.

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Experimente ser uma formiga Experimente acocorar de calças baixas no seu jardim e Cagar. Pode ser pela manhã. De manhã cedo, em The, a luz do sol ainda é carinho. Por causa do cheiro e pelo apetite As formigas vêm. Faz-se um monte de areia em meio à merda Onde as formigas vão morar E degustar, extasiadas, a bosta já seca. Pela manhã: elas comem e sentem o sabor de framboesa. Mas, não. Não. Nunca! Você odeia pessoas que cagam em jardins? Você não cagaria em seu jardim? Você não quer que eu cague em seu jardim? Tudo bem, mas as formigas merecem. Experimente ser uma formiga.

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Com podres e compadres Para quem o verso vestir

Quando começaram a me atender ao telefone dizendo: “diga lá” Percebi que eles me queriam lá longe.

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José Augusto Couto Sampaio Neto

Inquilinos Em casa não dispenso os caninos hábitos Mas dispenso os inquilinos ávidos.

José Couto

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Festas Como um palhaço preparo meu sorriso 3 por 4. Junto-me a outros e, em conjunto Mostramos os dentes que serão enquadrados Confraternizando-se em digitais e sociais máquinas. Este momento ficará como uma lembrança eterna e peso Obrigatório.

José Couto

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Natal O que é uma árvore de Natal Se não a representação plástica Do que é sintético? Meu coração fica inquieto Cético. Só. É a época e seus cânticos.

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Tradução “Deus é eterno” Éter e terno. Com uma gravata mais puritana.

José Couto

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Desigual

JosĂŠ Augusto Couto Sampaio Neto

Ateu? Apontar o dedo para Deus ĂŠ enfiar o dedo no cu.

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Desigual

JosĂŠ Augusto Couto Sampaio Neto

Paredes velhas e esquecidas das casas

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Referências Meu pai José me ensinou a ser artista. Minha mãe Maria, a ser homem. Meu pai Antônio, a ter responsabilidade. O escuro silencioso das casas que morei Ensinou-me o medo. As paredes velhas e esquecidas das Casas Ensinaram-me a tristeza.

José Couto

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Ano novo de novo Já é outro ano Mas o anuário é igual.

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Sentado Sento no meu lugar Não é trono, nem altar Sem ter o que pensar. Um verso Uma rima Uma história. Nada anima essa derrota.

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Cegueira A pior tristeza é aquela que ninguém enxerga em seus Olhos.

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Doença A fumaça cansa a minha garganta. A fumaça câncer a minha garganta.

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

No pior domingo do ano No pior domingo do ano No pior domingo do ano ... Suspirei duas vezes mais Sem exagero. Apesar de dramático e apático Transtornado e destruído Tornado Larva Cinza E mesmo que belo e poético possa ser representado o desenho das reticências, sou os herméticos três pontos Nesse domingo, uma confusa dor abrange minhas lágrimas E uma falta de talento como dom come meu peito. Estou perto de descobrir o quê? Dói que me cansa e, ainda assim, dói mais. No pior domingo do ano, descobri que uma chuva cai bem Mesmo quando cai cinco minutos e cessa. E vi que, para fazer merchandising na TV No domingo à tarde É preciso ser loira, magra Lânguida Falar com uma voz de locutora Mexer-se como uma boneca Baby doll. No pior domingo do ano, pareço mais pano E mundano. Depois de passar trinta minutos perdidos Sonhando na rede Arte umbigo E não lembrar mais nenhum espinho encravado 126


Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Muito menos das flores sem sabores Percebo que preciso escrever que a Deus pertence a vida e ao homem pertence a morte. Até lá, onde lhe direi por que câncer é ser infeliz.

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

... Limpar ralo é mais nojento que limpar cu que não pertence às suas nádegas. Principalmente ralos esquecidos, sujos por cinco dias. Ralos são podres. Mas não mais podres que os homens que gratuitamente são mais podres que os ratos.

José Couto

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Ninguém me escreveu um e-mail Ninguém me escreveu um e-mail. Estou no mês... No momento, esqueci. Não estou. Fui. Tchau. Bjs. Se vier, traga vinho.

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Na hora do suicídio A ilha de Itaparica

Na hora do suicídio No momento da execução Antes da coragem E depois do ato quando silêncio O suicida pensa na vida. Por isso, oficialmente descarado Entorpecido de vinho Refletindo entre matos Jogo-me ao mar Naturalmente, com mérito, lisérgico. Afinal, o céu toca o mar onde o amarelo faz flutuar.

José Couto

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Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Meia palavra basta Para Diego Machado

Na cidade de Alagoinhas, Cristina deu-me a vida. E com doze anos conheci o gosto amargo e salgado Da vagina. Era uma bondosa, saudosa e amigável vizinha Feia de cara Nua, maravilha Mas que me mostrou onde minha língua encontraria Os melhores aromas. Em Juazeiro Petrolina Renasci carranca E vivi nas duas cidades. Entrei em todos os matos, sertões, caatingas e becos Sem medo Entrei, língua, em todas as bocas. Como o São Francisco, recortava a paisagem Sem ter pressa. Igualmente em minhas veias Onde o sangue planava, não corria. E, corroído de fumaça Lombrava E o meu primeiro roxo-amor-rosa Sem destino, navegava. Na cidade de Salvador Não salvei nenhum conselho de minha mãezinha. Criei cabelos que me iludiram: Artista. Tomando poesia Poses extravagantes Posses inebriantes 131


Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Pós oxidantes E doses de LSD a mais que a soma de meus dedos falantes Criei, como a minha maior obra Uma barriga que fazia o meu pinto fugir de minhas vistas. O Pinto Desaparecido Era seu nome de batismo. E mesmo com alucinógenos à vontade Nem Lennon compareceu, muito menos Aparecido. Mas, se aparecesse Ficaria com Carlinhos Brown E Diego. Diebo meu demônio preferido. Em Teresina Não precisei aprender a suar. Aprendi a “descriar” o meu lado cabeludo. Não preciso dos artistas. Não os ofereço o elogio como fruto. Aprendi também a fingir, sorrindo. Ator atuo mútuo Acompanhado de teresinenses e moradores da cidade. Estou perdendo a minha barriga. Voltei a ver o meu companheiro e audaz, o Pinto. Ele mudou de nome para “Pinto Ouriçado”. Me perdi no tempo por aqui. Mas não perco tempo por aqui Perco suor, barriga e ganho fama de carrasco atiçado. Perco-me entre o passado e o futuro Saboreando o aroma amargo e salgado... Recostado sobre o cangote doce De quem divido as contas atrasadas E que não se queimarão no sol. E, por ela, inclusive, por mim 132


Desigual

José Augusto Couto Sampaio Neto

Por ter chegado até aqui Pedaço de espinho, lâmina que precisa perfurar Cortar e encravar Aos alheios, alheias Que afirmo: Para bom entendedor.

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À Priscila Lima, ou Tita, como era conhecida pelos amigos. Tive o prazer de tê-la como minha leitora. Agora ela jaz como luz e eterna. Até lá, Tita...

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Sobre o autor

José Augusto Couto Sampaio Neto nasceu em 28 de outubro de 1983, na cidade de Alagoinhas, recôncavo da Bahia, onde viveu até os sete anos. Mudou-se com a família para Juazeiro da Bahia, divisa com o Estado de Pernambuco, ao lado da cidade de Petrolina. Ambas cidades banhadas pelo Rio São Francisco. Aos 18 anos, mudou-se para Salvador, capital baiana, junto à família novamente, onde cursou Publicidade e Propaganda na Universidade Católica de Salvador, localizada acima da Estação da Lapa. Centro da cidade. Casou-se aos 24 anos com Isana Barbosa e mudou-se para Teresina, Piauí, onde reside e trabalha como publicitário, produtor e escritor. Desigual é o seu segundo livro de poemas. O escritor publicou, em outubro de 2010, O outro lado do olho, livro de poemas, e Imagine alguém te olhando do escuro, livro de contos e crônicas. Em novembro de 2011, publicou Narrativas do horror cotidiano, um livro composto por duas novelas e um conto. Para saber mais informações, acesse: joseaugustosampaio.blogspot.com Segundo o escritor, “A literatura é a minha salvação pessoal e liberação dos meus demônios”. Contato: guto.sampaio83@gmail.com Facebook: José Augusto Sampaio

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