O outro lado do olho - Livro que reúne mais de 200 poemas

Page 1

JOSÉ AUGUSTO SAMPAIO

O O UTRO LADO DO

OLHO


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Este livro impõe uma ordem: após seu uso, ou desuso, decreta-se como sua obrigação repassá-lo a quem tem interesse ou precisa dos textos contidos nele. Compartilhe o link! Ficha Técnica: Edição de texto de Isana Barbosa Capa, Projeto Gráfico e Edição Editora Publique Já! Todos os poemas são de autoria de José Augusto Couto Sampaio Neto. É proibida a venda e veiculação deste conteúdo sem a autorização do autor José Augusto Couto Sampaio Neto. ©O outro lado do olho – Lançado originalmente em 10/2010 ©José Augusto Couto Sampaio Neto

03


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Gostaria que Dona Tita, minha avó querida, visse estes poemas. O amor que ela me deu está em cada linha deste livro. Gostaria que o Poeta Luciano Almeida tivesse lido este livro. Agora ele o lerá na sua eterna poesia. Agradeço a todas as paisagens, instantes, sensações, coisas e pessoas que me trouxeram tais poemas e poesias. Agradeço a minha esposa Isana pelo seu cheiro diário e crítica constante. A minha Mãe Cristina, mulher de minha vida, pelo seu amor eterno por mim. Aos meus pais José Augusto e César Sousa, pelas aspirações e inspirações que vêm de ambos. Ao meu tio-avô Eládio, pela vida que sempre vejo nele. Aos meus irmãos Milton e César, meus eternos amores. Aos meus tios João e Renato, grandes pais, amigos, irmãos, companheiros, etc. A minha tia Val, minha mãe negra. Às minhas irmãs Cristiane, Nacha, Marja e Mariana, que são irmãs de amor. E ao meu irmão mais novo, Cauê, mais um Sampaio para agradar o mundo. E aos outros amores de minha família, que aqui não foram citados, parte constante deste livro. Agradeço aos meus amigos Diego, Fernando, Sérgio Caetano, Felipe, Priscila, Camila, Charlene, Neto, Bruno, Ludmila e a todos os outros grandes amigos de universidade e de vida, época em que foi escrito maior parte deste livro. Agradeço a todos que conheço, que um dia falei obrigado, ou bom dia, que um dia fitei com meus olhos, que um dia filosofaram sobre a existência neste mundo. Agradeço à cidade de Salvador, pela sua inspiração interminável. Agradeço àquele que sente. Sentir é a principal força motriz da vida. Agradeço àqueles que não me querem bem, vocês são motivos reais para que eu viva. Obrigado. Ass: José Augusto Couto Sampaio Neto, ou Guto.

04


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Ao leitor: O outro lado do olho é a junção de outros três livros que nunca foram lançados: ApoesiApoemA (2004), anomeado (2007) e o próprio O outro lado do olho (2010), que se tornou meu livro de estreia. Onde selecionei poemas e reunir todos esses títulos anteriores. O livro traz poemas escritos durante três períodos de minha vida que me marcaram profundamente. A ida de Juazeiro, interior baiano, cidade onde cresci, para Salvador. A estadia na capital baiana, onde cursei publicidade e propaganda na Ucsal, e posteriormente, a ida para Teresina, para casar e morar. O outro lado do olho reúne momentos em versos do primeiro poema que escrevi quando cheguei a Salvador, “Versos Negros”, aos poemas que marcaram, cada um a seu modo, a minha época de universidade na capital baiana, como o “Amor Muito Amor” e “more blues & so so drugs”, incluindo ainda poemas que evidenciam a mudança derradeira em minha vida, de Salvador para Teresina, até o lançamento deste livro, como “Vida rotineira”, “Monstro” e “Isana e Eu”. O livro está escrito sob a vigência de ApoesiApoemA (nome que dou ao meu estilo de escrita) e dividido em cinco temas. Os temas não seguem uma ordem cronológica. O primeiro tema Antes de tudo, todo amor é dedicado aos poemas que falam sobre formas de amar e as “cores” do amor. O segundo tema Vendo meus pensamentos consiste em poemas curtos, que fotografam meus pensamentos de forma direta. Ou os vendem. Quem sabe? O terceiro tema do livro Por fora, ego. Por dentro, cego? – é composto de poemas com minhas ideias sobre o social e ideal humano. O quarto tema Eloquência Desvairada, traz poemas com improvisos e experimentações, deixando evidente minha influencia Concretistas em meus versos. O quinto e último tema do livro Eu Poema. Você Poesia. – expõe poemas sobre a parte interna 05


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

e parte externa do meu olhar sobre mim mesmo. O outro lado do olho nada mais é do que o meu ponto de vista sobre as coisas que existem do lado de dentro e do lado de fora do olhar humano e de mim mesmo. O livro foi escrito entre Janeiro de 2002 a Março de 2010. Foi lançado pela primeira vez em outubro de 2010, pela editora Agbook, agora é relançado pela Editora Publique Já!. Boa Leitura. José Augusto Sampaio

06


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Índice: Antes de tudo, todo amor Quebrando as regras --Seja bem-vinda --Existência --O querer --Casal --Diga-me! --Intimidade --Maçã --A borboleta --Mal súbito --A Rainha --Chá de calcinha --Refúgio --O amor louco --Supervalorização --Minha mulher --Ao meu amor que me enche de amor Mãe --Por trás do prédio --A herança do sol --Te quero --Relacionamento --Seus olhos --Poema erótico --Harém --Sem pudor --Expressão --Haicai erótico --Haicai erótico I --Os amores --07

17 -------------------------------

19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

-Imaginação agreste Você em Amar -O Amor -Só Amor -Requerimento -Poeminha -Sexo e Comida -Você Sou -A Mulher -O encanto -Nua -O nosso amor brega e mel Amor à primeira vista -Isana e Eu -Amor Muito Amor -Ocupado -Não tem mais jeito -Discutindo a relação -Sua beleza -Vida rotineira -Possessivo pela vida -Sobre o corpo feminino -Vida a dois -Nossas mulheres -Worm -Com você -Nossos dias -Casamento em noites astrais A sua periquita -Nós de novo --

-------------------------------

-------------------------------

Vendo meus pensamentos Máxima A mentira

--08

49 50 51 52 53 54 55 56 57 60 61 62 64 65 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82

83 ---

---

85 86


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

No movimento da Arte ---Para os demais ---Solução ---As letras ---A palavra. ---A compra ---Anáfora ---A Poemia ---Sem métrica ---Conquista ---Único ---Sambinha triste ---Nós em um ---Posse. ---Poemia Clichê ---Cachorro ---A vida é boa também ---Mordi uma maçã ---O vazio ---Certeza ---Conclusão ---Catarse ---Estado ---Tudo azul ---Sociedade ---O Cão ---O homem ---3º pessoa ---Pensamento diário no banheiro --Pensamento Filosófico ---Pessoas ---Ele ---O esquecimento ---Pergunta Filosófica e Poesia Concreta. -O novo filósofo do perceber do interior baiano.

87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 116 117 118 119 120 121

De onde

nascem os demônios? Ou

Chorume. Homem. Langanho.

09


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

-PoemiaPoemaPoemia Ela poema -Toda contradição do meu amor Constatação -Concluo -lágrima nua -Solidão -Regime totalitarista -Perceba -Cova rasa -Sinto -Aforismo -Ironia -Rascunho do mundo -Aviso a vida -Superar -Fé -Bom Dia -Eu sei -Estado de Espírito -Pequeno poema do contraponto Na cidade -É viver. -Regra -Fada -Instinto -Poder. --

----------------------------

----------------------------

Por fora, ego. Por dentro, cego? Ode aos privilegiados. --Brasileiros --Preconceito --Modernas épocas --Antes do sino tocar, antes do sol raiar 10

122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147 148

149 ------

151 154 155 156 157


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

---Modernidade É verdade ---Viciados ---Hoje eu vi um cara morrendo --O lado pré-histórico do homem --A ordem ---Poema para ser recitado ---Baba, Baby ---Hoje. ---República ---Aviso ---Medo ---Humana Idade ---Todo mundo quer ser bonito --O conservador ---Senhor Excelentíssimo Senador Vagabundo Andando em uma rua estreita --Sou bípede ---Eu confesso ---Analfabeto ---A ladeira ---Que o Senhor Salve, Salve a Bahia ouvindo a nossa mistura e comendo a nossa dança. Sem nome ---Do divino ---No trono o tempo passa mais rápido --Contemporânea ---Modernidade na hora certa --Oração dos que vivem. ---O não bate papo virtual ---Insônia ---more blues & So So drugs ---Ano novo de novo ----

159 160 161 162 163 164 165 166 167 168 169 170 171 172 173 175 177 178 179 180 181

Eloquência Desvairada

219

11

182 185 189 190 191 193 194 198 199 200 218


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

---Liberdade As perguntas ---Filosofar tentando ---Embaralhadas ---Profético ---Gelo e Martini ---O inventor ---Arte PlásTica ---Baianidade Multicores ---Poemia 1 ---Poemia 2 ---O futuro é agora e não me falta agora -Vetado ---Poetizar ---O sol ---A beleza do CAOS ---Ar ---Dias tristes. ---Versos negros ---Enquanto tanto pouco choro, resolvo, rio, assobio, não me poupo ---Infância prévia ---Tenho olheiras escuras e marrons -A cabeça ---Monstro ---O otário ---O descarado ---O premeditado ---O Corpo ---Máquina JAS ---Masturbação e Poesia ---Reza de hoje ---Motivos lógicos. Motivos óbvios. -Poema Novo e Temático ---Todo mundo sorri na foto ---12

221 222 223 224 225 226 227 228 229 230 231 232 233 234 235 236 241 242 248 249 251 252 253 254 257 258 259 260 261 262 263 264 267 272


O outro lado do olho

Poesia de Vanguarda Eu Vou

José Augusto Sampaio

---

---

---

293

Eu Poema. Você Poesia. Poema curto --As oito faces do poema --Eu poeta --Sim. --Refúgio --Sem a erva --Depois do velório a festa continua Nuances de meu dia --Nordestino --Estilo --A barriga --O poeta --Degustação --Infância --Abato-me --Sinto-me. Sente-se. --reza dos que querem e dão proteção O Puto --antropofagicamente alguém -Minha poesia --E nós mar de suor --Sem rima. --Autoajuda --Todos vão comigo. --A barba. --O alicerce --Persistências a mais --Torto culpado, não apontado. -O meu querido Zé --Eu --13

274 287

-------------------------------

295 296 297 298 299 300 301 302 303 304 305 306 307 308 309 311 313 314 315 316 317 318 319 320 321 322 323 326 327 328


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Algoz Para a minha Lápide Não me chame de Poeta Poema de III Atos

-----

-----

-----

329 330 331 332

Sobre o autor

--

--

--

337

14


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

“Enquanto Deus poema no seu ouvido esquerdo, o Diabo poesia em seu ouvido direito. Se seus olhos vivem no horizonte, você se finca com tais poetas prosadores. Se seus olhos fecham-se, você estaca, estanca no purgatório.”

15



Antes de

tudo todo amor Dedico este capĂ­tulo Ă Isana Maria.



O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

Quebrando as regras Amor A que for.

19


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Seja bem-vinda Eu não estou atrás da invenção do amor perfeito. Eu já fiz a construção do castelo do Egito. Tenho toda a areia das praias para caminhar Tenho um mar de saudade só para lembrar o que eu não quero inventar Já está construído. Basta você entrar. Estou de porta aberta.

20


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Existência Este silêncio e esta água gelada. Você.

21


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

O querer Só te amarei até amanhã, mesmo sem saber. Te amarei até amanhã, mesmo sem você. Te amarei até amanhã, pois o amor não é um ato É um querer.

22


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Casal Eu, inseguro, pergunto a ela: _Você me ama? _Para te aguentar, eu tenho que te amar. _Sei que sou pesado. _Em todos os sentidos. _Escrevi um poema para você. Ela lê e diz: _Hum... Não gostei. _É que você não entende o meu humor. _Deve ser porque ele é só seu. Dou uma longa risada e digo: _Te amo. E, no cheiro dela, me perco novamente.

23


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Diga-me! Não ouvir sua voz me emocionar e dizer: “Eu te amo” é um buraco para mim.

24


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Intimidade Me acostumei tanto a dormir com você que deixei a janela entreaberta deixei a luz entrar ea escuridão sair. Uma brisa entrou e suave disse o seu nome.

Chorei.

25


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Maçã Eu mordo a maçã apesar de saber que prazer é casa do diabo.

Sem medo, como a maçã.

26


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

A borboleta Vou aguardar bem aqui no canto pra confirmar se há encanto. E nem sei se ela passou, ou se ela pousou. Não sei se ela é borboleta, ou se é só beleza.

27


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Mal súbito Sim. Sofro por amor e como sofro amor. E muito sofro o amor. Travesso atravesso meu coração pra ver se recebo outra forma de aflição. Sou fadado-amado até os dentes como todos e suas vitaminas, vestimentas e mentes. E ainda me falta paixão. Emaranhado, desorganizado e agonizado, suado e excremento sem lamento estou vivo. Sim, Vivo! Sou forma obrigatória de vida e não deixo meu vício de estar em meu umbigo. Travesso, atravesso meu coração cedido para comer, aflito, o amor. Solto o amor. Aceito a sede. Fico incolor. Trepido meu coração. Não sinto minha pele. Sofro. Sofro o amor. Hoje e nunca.

28


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

A Rainha Vou-me-bora para Teresina. LĂĄ tenho a Rainha e o reinado que quero.

29


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Chá de calcinha Tomei chá de calcinha. E com o seu chá tomo o universo e o verso pra mim. Quero chá de casinha.

30


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Refúgio E entre orifícios e cheiros Nos seios Entre obter e executar Dentro dos meus olhos

nos misturamos. anseio. preencher o vago. come o beijo

Acariciando com fervor rugindo pedindo implorado Lambuzando com motivo as Pernas de

e abusando

tô entre

Ti Refúgio.

31


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

O amor louco Sabe o que quero antes de mim? Você. O amor é uma doença Uma febre roxa e estrangeira Uma dor fosca e matreira Nacional, vizinha, interna... O amor é a doença em mim A doença que quero como dor Em mim.

32


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Supervalorização Choro antecipadamente a sua ida Choro antecipadamente a sua vinda O primeiro choro é saudade O segundo choro é vontade.

33


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Minha mulher Se sou seu homem, retribua. Não quero ser homem de ninguém sem receber nada em troca. Sou egoísta sem desdém.

34


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Ao meu amor que me enche de amor Eu vazio, não de amor sim de palavras. Eu inteiro com minha nova tecnologia na mão mentiroso. Como estrangeiro, peço a estrangeira preciso de você de novo ligeiro. Eu com lágrimas e saudade.

35


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Mãe Às vezes a sinto sinto vontade de ser filho de novo sinto saudade sinto você, Mãe dentro, perto de mim e longe.

36


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Por trás do prédio Por trás do prédio está a lua escondida em volta de mim está a cidade fria. Ouço passos, ouço vozes sei que há pessoas por perto mas ninguém me ouve ninguém me sabe, soube soube o quanto te amo. Sabe-me. Saudades.

37


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

A herança do sol E o sol se foi, se pôs. Tocou meu coração e deixou um sabor laranja doce em meus olhos uma breve saudade amarga para apenas amar sal, mar amar em ti.

38


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Te quero Te quero em todos os jeitos e formas. Te quero chata, amarga, grossa. Gostosa. Te quero assim aberta e esperta. Maliciosa. Te quero sinistra e com muito vinho. E quando estiver grávida, quero mamar em suas tetas para saber o gosto que vai deixar a nossa família forte e feliz.

39


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Relacionamento Você me deixou na merda como nunca mais? Passa e finge que não me vê, some, já sumiu. Tem uma bomba dentro de mim: TNT. Ainda tem: Tudo Nada Tem e desdém. Você não vem?

40


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Seus olhos Você tem olhos diamante De amante Dinamite TNT Te Tê Te T TesãO Quero te Ter.

41


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Poema erótico Ela é uma rainha E por dentro uma escrota. Eu dela, ela minha Em mim, ela gosta da rola.

42


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Harém Sexy Sexy Sexy Sexy Sexy Sexy Sexy Sexy Sexy Sexy Sexy SEXO! Sexo-= OH YEAH!!!! OH YEAH!!!! My crazy girl Sexy OH YEAH OH YEAH!!!! Sex Machine Sex in the city OH YEAH OH YEAH Sexy! Sexo! Sexoeretovaginal

A cama

perfumada Pague!

Ou Rosinha, eu te amo.

43


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Sem pudor E vi raspada Toda entregada Abata-me e maltrata Pequena notável pelada. E lambi de tara Fazendo arte descarada No escuro sem fobia. E toquei a flor Sem nenhum pudor Na posição que for Vou com cuidado e a favor. Com clichê ou sem clichê faço com amor e desacanho com louvor De primeira linha, na Fada Florgia.

44


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Expressão Eu não sei cantar. Eu não sei declamar. Eu só sei ouvir seu corpo esfregar em mim. Essa foi apenas uma estrofe em que eu expresso o tanto que a amo através do sexo.

45


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Haicai erótico Tu és linda Linda és tu Queria saber a cor do teu cu.

46


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Haicai erótico I Peitinho em pé Peitinho caído O importante é o comido.

47


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Os amores A Isana.

As belezas são insanas. Insanas são as camas. Camas são para quem descansa e quem ama. Quem descansa são as flores que ficam paradas para serem vistas Pelos amores. Quando se amam Os amores descansam nas camas Em homenagem a beleza insana das flores.

48


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Imaginação agreste A uva nuca dela na frente Por trás o roxo olho meu comendo A desnuda ameixa sua.

49


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Você em Amar Amo em você cada poro e desse amor não me esgoto. Amo em você o meu apego e nos seus olhos vejo um reflexo, um espelho. Amo em você o seu medo e no medo abraço, me protejo. Amo em você cada passo e de passo em compasso, uma dança, um abraço. Amo em você minha musa e você ama minha usura. Amo em você o seu gozo e lambuzo o meu sexo, meu corpo. Você, fada, me encabulando. Você, minha harpa, meu clássico, me tocando. Você, a seu modo, fada harpa, me encantando. Pois amo em você e não posso calar. Preciso dum microfone, clemência! Não posso calar. Preciso do seu ouvido, pois amo em você e assim será. Amo em você cada gemido, cada riso Cada poro amo em você. E no compasso, amo em você Você em Amar Você em Amar Amo em você Amo você.

50


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

O Amor O amor cego absoluto não ver, não enxerga não enxerga absolutamente nada. O amor surdo (você pode sair gritando por aí que ama e ama e ama e ama) ele não ouvirá. Eu sei, pois sussurro, imploro, declamo, ele não me ouvi. O amor não fala, não grita feito louco. O amor não cala, não há boca não há lábio não há silêncio, nem sorriso o amor não fala, é mudo, não miúdo ou imundo. ele paira sob mantos e mundos. O amor sem braços abraços o amor sem corpo cem corpos em grude (o sexo é amor). O amor está no outro e vem do outro como suor, grudando ao seu corpo. O amor não se chama amor, não precisa de definições é elemento vivo, sem nome nem identidade. O amor não chora não tem olhos o amor é cego. O amor sente o amor o amor sente por nós (?) vamos deixar o amor nos sentir.

51


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Só Amor Amor Tecedor. Tecendo em pano de seda pleno e vital a mim. Amor Ufano. Soberbo no ano de ceifa pleno e vital a mim. Amor Moedor. Em estrutura que afaga e me desata. Amor Mundano. Em usura que amarra e me resgata. Amor fonético Recendo através de sua pupila. Amor ao certo Festejo através de sua vagina.

52


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Requerimento Vou morrer bêbado e vagabundo na rua. Não sei ser nada só sei ser escrever poesia para você. Seria bom você nua você que diz não me entender. Não sorri só pra agradar pois assim morro mesmo boêmio e moribundo na beira do desemprego sem amor sem apego na rua. Só sei ser escrever e querer você.

53


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Poeminha É belo o seu pé E seu pescoço Também é belo E teu cheiro, qual é?

54


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

Sexo e Comida Gemas para mim Que eu ovo para vocĂŞ.

55


O outro lado do olho

Você

José Augusto Sampaio

Sou

Sou seu Shrek verde. Você, minha xereca vermelha. Sou sua almofada rosa. Você, meu calor, gostosa. Sou sua pele marrom. Você, meu chocolate bombom. Sou seu sol amarelo redondo pesado. Você, minha graça amarela amparo. Estou no seu olhar castanho E você é minha castanha. Sou sua bunda branca E você é minha parte mansa. Sou seu ouriçado E você, minha macho. Eu sou sua fortaleza laranja E você é minha concubina lilás. Eu sou seu almejo E você é minha festejo. Sou sua farra na cama. Você é quem manda. Sou sua culpa. Você me abusa. Sou seu pedaço capacho. Você é minha ternura. Sou seu algoz opaco. Você é minha usura. Sou suas cores, seus lábios. Você é meu cio de lírios e vinhos. Sou sua forma no ato. Você é minha pétala e bis.

56


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

A Mulher A mulher trepa e faz amor O homem berra e finge amor A mulher finge que gosta para ser a boa O homem goza goza se acha o bom A mulher é bela e veio da maçã O homem come a fera e qualquer uma sã A mulher trepa e ama O homem ama e berra A mulher tetas O homem mama A mulher é delicada e amiga O homem é perdido e inimigo A mulher gera a vida O homem perde a briga A mulher tem em seu reflexo o seu maior desejo O homem tem em seu pau o seu maior festejo A mulher só quer amar amar amar e gozar com carinho O homem só quer gozar gozar gozar e amar de carinho A mulher tem o luxo de esperar O homem tem o mundo a atacar A mulher, quando ataca, é na meta O homem, se ataca, é em quem acerta A mulher não tem regra e se entrega O homem não se regra e não se nega A mulher está aberta e à espera O homem prepara a seta e não a espera Quando se fala da mulher, pensa-se no homem Quando se fala no homem, pensa-se no homem A mulher faz lembrar outra mulher O homem só lembra o que quer A mulher só olha 57


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

O homem implora A mulher transa em pé O homem quer que fique em pé A mulher é paixão O homem é machão A mulher me ganha O homem me espanta A mulher precisa de emoção O homem não precisa de razão A mulher é o motivo O homem é emotivo A mulher é pacifista O homem é ativista A mulher rege a orquestra O homem prefere a seresta A mulher é bela, mais que bela, é mérito O homem é ego, mais que ego, é cego A mulher cuida do que lhe pertence O homem quer mais do que lhe pertence A mulher é a bela e a fera O homem foge da fera A mulher não diz a idade O homem não chegou à modernidade A mulher quer liberdade O homem está cheio de maldade A mulher quer amizade O homem está com vontade A mulher não caminha, ela atua e flutua O homem não caminha, ele só pensa na boa da tua (vagina) A mulher leva em seu meio o ápice O homem leva em seu meio uma metade A mulher sorri O homem porvir A fêmea é o macho 58


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

O macho é a fêmea A mulher é a maior expressão de liberdade O homem é a maior expressão de maldade A mulher é o quadro O homem é o quadrado A mulher não quer outro O homem quer a outra e tem medo do outro A mulher é o triângulo O homem é o ângulo A mulher veste o vestido O homem a quer, aflito A mulher veste a flor O homem a despe para pôr A mulher despe-se e comanda O homem veste-se e se manda A mulher é versa O homem é vice A mulher é vício O homem é pífio A mulher é a arte, a inspiração O homem faz parte, precisa de inspiração. A mulher é homem O homem, mulher Mas aí já é outra história.

59


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

O encanto A vagina é uma linha, tem a fina e a gordinha. Todas têm olhinho. Alguns vermelhos Outros roxinhos. A vagina late, mia, dá língua A vagina encanta e assobia. A vagina tem vida própria Manda na pica, desmanda na vida. A vagina não voa? Mas é certeza, faz voar.

60


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Nua Você de preto é poderosa. Você de branco é gostosa. De vermelho, tenho medo. Estás preta então me manda. Estás branca então reclama. De vermelho te agradeço. Quero aconchego no carinho, cama Na voz: Isana. Você de preto é poderosa. Estás preta, então me manda na voz: Isana. Você de branco é gostosa. Estás branca, então reclama carinho na cama. De vermelho, tenho medo. De vermelho, te agradeço, quero aconchego. Nua, fica toda boa! E é bondade de sua parte.

61


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

O nosso amor brega e mel A vida é tão chata sem você. Nem a solidão é igual. Sem você, peço tempo, mas o tempo me pede primeiro. Gozar, em quem, há quem, no quê? Amar sem você, como? Com você não é doloso, é preciso e precioso. A sensação é que ninguém me viu hoje. Mas eu também não vi ninguém. Não sou poderoso, nem estou refém, só estou só e na saudade. Estou na sua. E quando escrevo para matar essa saudade, vou pro fundo ou pro canto. Ou fico no escuro pensando. Ou só matutando. Olhando bundas pra lá bundas pra cá mas que nada dizem. Sem você as bundas das outras são chatas e chuladas. Não vale a pena sem o tapa de sua mão e o ciúme do seu coração. Não apenas as bundas e bandas que são chatas, o céu é morno. O Porto da Barra não existe. O mar evaporou, pois a borboleta está à beira do Rio Poty e isso faz o ar querer acabar, mas só acaba quando eu chego aí e fico com você. Confesso, é doença de amor. A verdade é que a solidão é escolha, não fatalismo. 62


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Fatal é a dor, é a saudade de você, minha singela mulher minha querer amarela. Comigo, só você pra mexer. Mexe! Faço até seis versos sem precisar. E contínuo, vou brega. Pois é brega e rosa o nosso amor. Estamos em tudo. E a rima, também. Brega dança tudo. E canta também. Brega, transa tudo. E nós, também. Nó de amor, nó de amor em nós. Nó de amor, nó de amor em nós. Nó de amor, nó de amor em nós. Fecho meus olhos, sinto meu coração, choro de dor de vontade, de paixão. Salve o dia, minha Maria! Vem me manjar. Vem e me salva. Dá logo meu gole de mel para eu ir pro céu. Vem bregar comigo.

63


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Amor à primeira vista Na passarela transversal e vertical, entre o céu e as avenidas venho transeunte vermelho transcendente. E lá ela vem. Deusa. Vestida de vestido eminente. Pedaço de beleza. O vento passa, o amor sorri e assa, plana sem asas e ela timidamente segura sua saia. Eu digo: __Você é linda segurando sua saia assim. __Oxe, menino, sai pra lá, deixe de mim. __É verdade, de coração. Você fica bela, é paixão! __Você é louco? __Não. Foi você que despertou toda minha loucura e vontade de amar com sinceridade. __Cê é maluco, é? Polícia, polícia...sai, maluco, sai! Vai mexer com outra. Feita a confusão. Tudo por causa do amor à primeira vista, de impulso que não conquista Agora é ordem calar o coração.

64


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Isana e Eu A TV brilha. Na sala nova, nós e ninguém. Ela diz, eu ouço e a olho. Estamos bem. Fala a TV, sem parar. Nós não entendemos. _Isso é Mozart. – Afirmo convicto, cheio de certeza. _É o Hino Nacional. – Ela desmente, mais centrada do que eu. Risos. Rimos juntos da minha loucura. _Que bom que não tinha ninguém aqui para ouvir essa sua insanidade. Você é louco. _Mas se tivesse alguém, não estaria nem aí, riria. _Eu sei que não, você é torto. – Afirma Isana. Quando eu era criança gostava de ficar tonto. Hoje escrevo rabiscando, quase tremendo, mais que tonto. Ouço sua voz, a voz dela bela. Daqui de meu ângulo torto, vejo sua cabeça, os ombros, o joelho esquerdo, cabelos e cabelos, a sua nuca e a sua orelha, a sua bochecha. Daqui imagino e sinto seu cheiro. TV, programa de domingo, nós, família. Ela faz a unha e ri de algum assunto na TV que não presto atenção. Ela canta e cuida de seus detalhes. Detalhes mágicos. E assim continuamos: vinho, fumaça, domingo. E a voz dela e o cheiro dela. “Dormir cinco horas do seu lado pouco é dormir, só se for atado 65


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

com seu pé.” Na nossa cama amamos e sonhamos até a branca Segunda.

66


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Amor Muito Amor Amor Muito Amor Amor Muito Amor Amor Muito Amor Amor Muito Amor Amor Muito Amor Agora vamos todos juntos gritar com as mãos ao céu E caso você tenha alguém ao seu lado que em sua vida represente mel Fale baixo, com carinho e delicadeza Amor Muito Amor

67


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Ocupado O melhor espaço para o ser humano é do lado de outro ser humano. Solidão é boa não, mas cabe no coração. Ironia pra cardíaco: o ser humano é deprimido, mas sorri e conversa com o próprio umbigo. Desiludido, abre espaço, quer abrigo. O ser humano diz: confisco meu coração. Confiscado!

68


O outro lado do olho

Jos辿 Augusto Sampaio

N達o tem mais jeito N達o tem mais jeito. Tem uma bomba dentro de mim Sem controle, com defeito, com apego. N達o tem jeito. BUUMMM Agora chore.

69


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Discutindo a relação O fim da novela vai ser no sábado. Ou seja, veja. Vinho, erva e depois futebol Mas só serve com ela aqui do meu lado.

70


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Sua beleza À minha Maria

Meus olhos são fracos perto de sua beleza fico vibrado perto de sua beleza Meus olhos são fracos perto de sua beleza fico vibrado perto de sua beleza Meus olhos são fracos perto de sua beleza fico vibrado perto de sua beleza Meus olhos são fracos perto de sua beleza fico vibrado perto de sua beleza Meus olhos são fracos perto de sua beleza fico vibrado perto de sua beleza Meus olhos são fracos perto de sua beleza fico vibrado perto de sua beleza Meus olhos são fracos perto de sua beleza fico vibrado perto de sua beleza Meus olhos são fracos perto de sua beleza fico vibrado perto de sua beleza Meus olhos são fracos perto de sua beleza fico vibrado perto de sua beleza Meus olhos são fracos perto de sua beleza fico vibrado perto de sua beleza Meus olhos são fracos perto de sua beleza fico vibrado perto de sua beleza ... Hipnoticamente ...

71


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Vida rotineira Assistindo ao Jornal Nacional e imaginando como o Bonner Fode a Fátima. Na Fátima! Vendo minha esposa comer a fome num apetitoso e cheiroso cachorro quente. Enquanto entanto estando sentado de regime como lástima. A novela começa: Baby para lá. Bode para cá E Dinheiro que é bom não cai do céu. Enquanto alguns podem, eu nem mel.

72


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Possessivo pela Vida Você tem um rosto de safada fada. Me excita Me Me convida Vida pra fazer vida, Vida. Minha uva, meu joelho, minha Vida. Meu doce, meu chão, minha.

73


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Sobre o corpo feminino É certo que a mulher com uma batata bonita tem um corpo bonito. A batata é o reflexo do corpo da mulher. Observem bem. É certo que a axila feminina é o reflexo da vagina. Passei anos observando, até ver a semelhança encantadora. A mulher com a axila bonita É um passo para o amor. E eu, eu amo axilas. Já o gemido da mulher é o reflexo de sua personalidade. Ora essa personalidade é mostrada Ora é escondida, nunca gemida E ora bem baixinho, no seu ouvido Com carinho. Menina, gema para mim que direi quem tu és. E as cochas, as cochas. Ah! As cochas... São minha tara e meu desejo infinitamente atômico.

74


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Vida a dois A descoberta é caminho da desgraça. Amora é o feminino do amor. O amor e amora dão as mãos pelo jardim. O amor e amora descobrem um dos seus reflexos. O sexo é o pai da criação e arde como chamas. Amora vira dois e amor se torna experiência. O cotidiano é caminho para amizades coloridas. Amora vira uma fruta doce, porém, independente, descobre a maçã. O amor: dizem que é algo vivo, porém, é tão fácil jurar E existe em todos os dicionários. Diferente do fogo Elemento vivo, sem mais descobertas

75


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Nossas mulheres Nossas mulheres não são as loiras e pompas fodidas, lindas da TV. Nossas mulheres são brancas esquisitas assassinas com cheiro de cebola e sabão. Nossas mulheres não são as máquinas, sexuais e transversais nem amoras, ou tangerinas e vitaminas. Nossas mulheres são hábitos visuais, beleza carnal tipo: amor, briga e cama de casal. Nossas mulheres Nossas mulheres, mulheres Nossas mulheres Não são a do vizinho, nem a do amigo, mas a do inimigo pode ser. Nossas mulheres. Nossas mulheres. Poemas intermináveis com versos e discussões de relação. Nossas mulheres bebem cerveja, mas não são as mesmas da propaganda. Nossas mulheres. Nossas mulheres Mulheres. Mulheres. São vinhos, são carmas são vícios, são benefícios. Nossas mulheres. Nossas mulheres. São a nossa vida e ida afim.

76


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

Worm Tantas belas. Tantas feras E eu aqui minhoca Comendo terra.

77


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Com você Com você ao meu lado, atada Sou fadado, safado Você Ser Mais que eu Quero mais você Com você, sou mais completo Certo do seu lado Com você, sou Macho E você, Fêmea Obedeço até quando desmanda Com você, me amo e você me ama.

78


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

Nossos dias Do amor Ao carma Do carma Ă cama Da cama ama De amor...

79


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

Casamento em noites astrais Martini e vinho. Cinza e mesa. Noite e duas estrelas. Isana ama. Guto aclama E a noite segue com a voz dela mais bela que a rua.

80


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

A sua periquita O mundo não cabe em meus olhos, mas a sua periquita cabe até voando.

81


O outro lado do olho

Jos茅 Augusto Sampaio

N贸s de novo Bucho no bucho e um formigamento entre as coxas.

82


Beleza Vendo interior meus pensamentos



O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Máxima Quando o artista começa a glorificar a sua grande obra Obra pequenez.

85


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

A mentira Você finge que é Eu finjo que é verdade.

86


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

No movimento da Arte Me disseram que sou neo-alguma-coisa e coisa alguma entendi.

87


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Para os demais Talvez não seja esse poeta todo. Talvez seja torto, ou clichê. Você.

88


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Solução Ácido é cone. Chocolate é Danone. Pluma e elefante Ninguém esconde!

89


O outro lado do olho

Jos茅 Augusto Sampaio

As letras As letras e seus cruzamentos de quatro. As palavras e seus esticados galhos. As frases ... meu manic么mio. Meu manic么mio.

90


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

A palavra. A palavra É isso mesmo A palavra.

91


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

A compra O músico não compra ninguém. Só os carentes na frente do palco. E os poetas, então?

92


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Anáfora A imagem está no fim do túnel. E a luz no fim do túnel Também é imagem.

93


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

A Poemia A Poesia ama o Poema. Da uniĂŁo e do amor Nasceu a Poemia. Mas eles foderam para isso.

94


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Sem métrica Sou sua. Você minha Trepamos.

95


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Conquista Cada beijo seu em mim é um estalo de paixão.

96


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Único A vida, o passado e os sonhos são coloridos mas o amor é preto e branco.

97


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Sambinha triste Ah se pudesse voltar atrás no tempo. Ah eu se pudesse voltar o tempo. Faria o mesmo, mas sem desistir tão fácil de você.

98


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Nós em um São os átomos e outras coisas inexplicáveis Amáveis.

99


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Posse. Pronto. Gozei. O mundo não é mais meu. Fechei.

100


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Poemia Clichê virei minha página um sorriso de canto estou no canto só.

101


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Cachorro Ser cachorro é legal Para quem não é o tal. Dormir, comer, viver e fugir adiante.

102


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

A vida é boa também Limpar pra sujar. Comer pra cagar. Viver pra sobreviver. Calar pra gritar. _Mão para! E vice versa. A vida é boa também.

103


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Mordi uma maçã Mordi uma maçã Vi uma parte podre. Desliguei a luz Não vi nada Mordi de novo.

104


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

O vazio PorĂŠm, somos diferentes ligados e vazios.

105


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Certeza Não há vazio entre nós. Há vazio criado em nós.

106


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Conclusão Meu ódio é o amor Porém, não estou vivo E não sou nada para afirmar isso.

107


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Catarse O plástico caiu do céu Lá de cima do arranha-céu. Ele vem de boa, rindo à toa Carregado pelo vento na proa. O plástico não sente, mas voa.

108


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

Estado Nem muito triste Nem muito feliz Vivo.

109


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

Tudo azul Eu sou inconstante. Hoje eu amo o branco AmanhĂŁ eu amo o preto Depois amo o branco e o preto. E fica tudo azul.

110


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Sociedade O urubu não come lixo, come luxo. O homem não come carniça, come o próximo.

111


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

O Cão Os cães são filhos de Deus. Quando o Cão passa Eles latem.

112


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

O homem O homem é louco. Um total de absurdo. No silêncio ou no vulto Obtuso. Homem trabalhador. Trabalho muito. Dinheiro pouco. Pé de sertanejo. Corpo gordo. Vida de sufoco. Agora, deixa de frescura. Anda pra frente. Derreta-se ao sol.

113


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

3º pessoa Eu não sou bom em nada, uso máscaras e sou uma farsa.

114


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Pensamento diário no banheiro Não sento no vazo com merda de outro por baixo. Pesado Dou descarga escarro. Sento e pouco depois, me ergo. Leve.

115


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Pensamento Filosófico A vida é um luxo lixo Somos o visgo bicho.

116


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Pessoas Pessoas são cabelos e defeitos. Porém, é preciso e necessito de carinhos e respeito.

117


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Ele Deus, em todo tudo lugar, veio até mim E disse: _Vai lá! Você vai. Afim, vou.

118


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

O esquecimento _Você! _Quem, eu? _Sim!? _Ah, eu! _É?

119


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Pergunta Filosófica e Poesia Concreta. quando pensamos

...\\\///... p a r a

onde vão (onde vamos) onde vão

o s p e n s

a m e n t o s --------------------------------------//////------------- ?

120


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

O novo filósofo do perceber do interior baiano. Quando minha eternidade começou a perceber a consciência eu descobri que não sei.

121


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

PoemiaPoemaPoemia Poesia que rima do fim a mesma rima até o início É poesia ruim.

122


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Ela poema A mim só cabe a solidão. Poema ou punheta? Punheta ou Ela? A mim cabe-te meu coração.

123


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Toda contradição do meu amor Você é má. Mas é você que quero como mar para arremeter E navegar em paz.

124


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Constatação A paixão existe para a gente chorar.

125


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Concluo É difícil amar. Mais difícil é ser amado? Sinto dor de dente. Estou amargo.

126


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

lágrima nua lágrima nua, lágrima lua, noite e sonhos madrugada fora de tom noite, gozo em tua ... a madrugada nua lua.

127


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

SolidĂŁo Hoje olhei o mundo como se o tivesse visto pela primeira vez: senti agonia.

128


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Regime totalitarista Pode rir agora. Deixe que a lágrima só Pare. Eu que caibo mais dentro de uma caixa escura e apertada.

129


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Perceba Veja as minhas mãos, estão brancas veja os meus olhos, estão bêbados veja a vida, está ventando veja as luzes, estão artificiais veja agora, está esquecido.

130


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Cova rasa O inferno é seco. Nem frio, nem quente. Seco. O ódio é seco e artesanal como o amor.

131


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Sinto Opino medo. Muito medo. Eu te dou todos eles. Dou todos eles. Não os vejo. Mas sinto medo e meu coração lampejo. Eu os sinto. Sinto.

132


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Aforismo Na maior parte do tempo não estou pensando em nada. Ou não estou vendo os meus pensamentos?

133


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

Ironia Tudo ĂŠ quase sem querer Principalmente para quem domina o mundo.

134


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

Rascunho do mundo Quero revolucionar minha poesia mesmo que em poemas como este: De olhos sedados, cabeça consumida, pronto para explodir no mundo.

135


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

Aviso a vida Muito silĂŞncio Pouco pensamento Sono.

136


O outro lado do olho

Jos茅 Augusto Sampaio

Superar Superar Super ar Sopre ar Suprir ar Sobre ar S贸 pra ar.

137


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Fé Estar perto de Deus me tranquiliza. Confesso, com um aperto intranqüilo no peito.

138


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

Bom Dia Vou

Estou

Pleno Confiando no poder amarelo do sol.

139


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Eu sei Não invento. Vejo! Se existe? Eu sei. Você palpite.

140


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Estado de Espírito Quando a fumaça toca na água a água não toca ultrapassa.

141


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Pequeno poema do contraponto A vida eterna É terna e éter E ter vida É partir em ida.

142


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

Na cidade Raios. Teresina brilha e silencia.

143


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

É viver. O que está decidido é cedido. Na vida o que não é precipício, também é motivo. O jeito é viver. Pois se não viver, morre. E se morrer, tem jeito?

144


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

Regra Gramaticalmente falando EstĂĄ escrito.

145


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

Fada Para alguns homens a mulher nĂŁo pode ser safada Tem que ser pura Inocentada. Coitado deles. Bom para mim.

146


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Instinto Sou Leão Quero Onças.

147


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Poder. Eu posso Não poço.

148


Por fora,

ego.

Por dentro,

cego?



O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Ode aos privilegiados. Tenho cabelo grande maluco beleza. Sou ácido hippie, tenha certeza. Poeta beatnik, valeu, firmeza? Sou comunista, altruísta, nacionalista, capitalista, [extremista. Levanto a bandeira socialista, não sou qualquer porta [bandeira de praxe. Tenho lido Nietzsche, tenho lido Marx. Seguro a marcha da revolução em ordem evolutiva. Degenero tudo ao meu favor, sou progressista. Conduzo-me na força de meu coração, sou ditador. Dito, afirmo e dito. Não ligo pra ninguém e sua dor. Vou atrás dos revolucionários e mentores Motores da nova geração e modernadores. Carrego livro grosso. Tenho gosto que dá gosto. Usufruo de cabelo grande como já foi dito antes. E sigo e vou e fico. Êhhh caba indeciso voando altivo. Meu martírio é segurar as bandeiras e ser primeiro. Sou o último a morrer na guerra. Fico sempre no lado de quem eleva a nova era. Na minha camisa está escrito: pra que dinheiro? Também sou seguidor de Cristo e da paz. Sou bonzinho, um exemplo de rapaz. Sou bizantino. Conheço Firmino. E não digo o que este tal Firmino tem a ver com a minha sina. E não me livro do progresso enlouquecedor da rima. E do progresso enlouquecedor da rima não me livro. Já vivi a idade do tempo e ainda vivo. 151


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Não sei quantos e quantas já se proclamaram Cristo. Hoje sou intelectual. Defendo a guarda nacional. Me candidatei e, se for eleito, farei. Converso pra boi dormir. No sul sou José, no Piauí sou Zezim. Sou revolucionário burguês e sinto lhe dizer pra que vim Vou te fazer meu freguês. Ando de Mercedes-benz Wolksvagem e de General Motors. Amém, meus bens. Eu também oro. Sou devoto e tenho um santo propósito. Sou maluco certeza, mas tenho dinheiro, estou de beleza. Sou íntegro e vou ao que quero certeiro. Penteio o cabelo de lado. Uso colarinho branco. Assalto banco. Aprendi a ser malandro safado. Depois do trabalho, tiro a gravata e como bem na delicatessen. Não, não há nenhum mal em comer bem na delicatessen. O mal está em quem olha pela vitrine e sonha, sonha, sonha, só sonha. Até virar cinza e pó. Eu não paro de sonhar. Cheiro pó. Quero abalar. Que cristo não me ouça A minha boca se morda e meu nariz exploda. Meu cérebro está acelerado, agoniado. Estou numa rotina pra descarado. Quero comprar meu carro. Não mereço isso, nasci pra ser aquilo. Sou aniquilado aniquilador. Sou poetador arretado. 152


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Sou artista, um amante da boemia com ou sem hipocrisia. Tenho a bossa nova no meu iPod. Sem depender de nenhuma opinião Faço tudo por mim, o que devo e o que pode. Garanto, sempre ganho a razão. Sou no outro mais um desgraçado, um belo descarado. Vou moderno e cultuando o mundo privilegiado de mim. Vou moderninho cominando o mundo feito para mim. Sou elite, vanguarda. Sou conservador e dono das palavras. Sou moderno, moderninho, contemporâneo Ouço Los Hermanos. Sou discípulo de Caetano e curto trance. Me visto todo louco, uso couro de serpente. Estou oco, mas tenho um Ray-Ban maroto. Marotinho, vou e sou escroto. Curto um broto. Pago pra puta. No motel, como uva. E não pago pau pra ninguém. Até porque me escondo. Tenho medo e me escondo. Pago pra ficar tudo zen. Quer saber? Não te conto E nesse rumo vou sem Ninguém.

153


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Brasileiros Puta que pariu estamos no Brasil. Nessa terra de alguém, que é de ninguém. Estamos na mão do esperto, que rima bem e correto: Puta que pariu, estamos no Brasil.

154


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Preconceito você conhece algum aidético? negra você coloca em sapata? negra e em Claudete, você coloca (naquele traveco) ? negra e de maconheiro ,você gosta? negra quem é que você é, quem é que você goza? negra que é que você é, que é que você gosta? negra bosta bosta bosta bosta "tenho que confessar: meu preconceito é contra a bosta depois que defeco, ela vai embora, embora, embora, embora" não olho, finjo que não existe negra Salvador negra Salvador negra Salvador negra São Salvador negra, meu coração preta.

155


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Modernas épocas A Galvão B.

“Os venezuelanos não devem estar acreditando” Diz o narrador defendendo seu ibope e a derrota da seleção brasileira.

156


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Antes do sino tocar, antes do sol raiar senhoras e senhores negras o bigode, a fome o policial vigiando os que passam de olhos baixos abaixo: praça, centro muito zum-zum-zum trocando o 'e' pelo 'i' riso do bom baiano namoro de amor ovários e espermatozóides com três anos dez anos bebês chorando sonhos e d(e)iscasos caminhando cheirados conspirando branco gordo americano gordo e muita água na escultura maniqueísmo em cada passo desrespeito, surrealismo e não sabemos, não queremos antes do sino tocar, antes do sol raiar (abraçaremos uns aos outros) Sedentos, procuraremos de olhos abertos (mãos dadas) rádio AM e Bahia em crise histórias antigas, conversas passivas geração escárnio (eu ando com alguém?) você anda com alguém? diálogo apurado, máquina apurada clichê do clichê trânsito sem morrer madrugada nunca para estamos em madrugada juventude e sorrisos e segredos e abrigos ainda não são seis horas não tocou Ave Maria o sino está silencioso (o raiar está a acontecer) a gargalhada se confunde ao auto-falante 157


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

filas e filas, ordem e ordem (a desordem é cometida em becos escuros) abaixo da sombra antes do sino tocar, antes do sol raiar o poeta suga o agora para curar sua metáfora alma e doentia velhas negras vendem e a fome? encerram os cultos na paróquia óculos calado, óculos acompanhado a vida a despertar o caminho a caminhar antes do sino tocar, antes do sol raiar o choro engolirá.

158


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Modernidade O Papa inventa, já que não tem mais o que falar. Aqui em casa, restos de Coca-cola não servem para nada. A não ser corroer o ralo.159O outro lado do olho José Augusto Sampaio

159


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

É verdade A realidade é dura. É verdade Vai doer.

160


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Viciados O homem também é natureza. Só que o homem quer continuar sendo homem. Isso vem da ânsia de poder e mania de grandeza. Esse vício não tem nome.

161


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Hoje eu vi um cara morrendo Hoje eu vi um cara morrendo jogado ao chão com a cara no chão quente de meio-dia. Não era humano, era o que nós não queremos ver: nós mesmos. Era um cara cheio de pessoas ao redor muitas com nojo dele de cara no chão. Melado de restos de comida negro, mendigo e cara, barato? Não era humano? Todo mundo olhava e o barulho do trânsito, o calor do sol, a indiferença dos atos cegavam todos. Cagavam todos para o quase morto. Passei pela calçada e por cima das pernas do cara não senti nada estava tão longe com meus pensamentos egoístas quase conseguindo fugir do mundo. Mas passos à frente senti um catarro preso na garganta não subia, nem descia estava preso, desgraçado, de cara com a minha garganta. Vi um cara morrendo vi a morte penso tanto na morte sou morte também.

162


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

O lado pré-histórico do homem O pitboy quer ficar bonito. Quer ficar gostoso. Ele raspa o sovaco e vai bater nos outros. Sai da frente que o pitboy morde e dói. Ele desafia: eu faço, sou boy!

163


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

A ordem Vermelho pare. Verde passe. Amarelo atenção. Vermelho pare. Param os carros em fileiras divididas por sinalizações linhas retas cortadas amarelas sinalizações, piscas dão sinais pessoas ultrapassando por cima de faixas pessoas que aguardam bem comportadas trânsito, nomenclatura hoje é dia seis amanhã, dia sete depois de amanhã, dia oito e a nomenclatura continua. Vermelho pare. Verde passe. Amarelo atenção Atenção que está passando.

164


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Poema para ser recitado Não, não parem de comer apenas me ouçam não desperdice este feijão tem gente que cata do lixo come do chão. Eiiiiita, feijão saboroso branquinho, marronzinho, pretinho não importa, somos humanos. Sou bom baiano que sente dor quanto amor. Atiçado no acarajé abará que todo mundo gosta mas ninguém sabe o trabalho que dá e pra fazer, o trabalho que é não parem de mastigar temos que sugar o inerente assim entregue, repentinamente assim (percebe) de braços abertos alma lavada mastigada exaltada alimentada eu baiano triturado pelos dentes eu baiano, nordestino figura indulgente brasileiro no pátio da redenção na pinga com mel e limão na salada e no feijão.

165


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Baba, Baby Odeio o baba ovo. Perceba que quem tem o testículo lambido é sempre um filho da puta sabido. No caso das mulheres? Pensem, faz bem. Quando estou no papel de babar o ovo você é o filho da puta e eu te lambo. Quando estou sem babar eu sou o filho da puta e você me chupa lambuza e me baba, baby! Nessa relação um usa e o outro usura. Portanto, um cru melado pra nós. Sem o 'r'.

166


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Hoje. Hoje. Comecei a dar o golpe para dar o gole no uísque. Com camisa passada assada de asa Por dentro da calça lavada Social. Tênis branco e cinza. Limpo indo lindo sinto. Cinto esporte, com barriga pra fora e gemido pra dentro. Para alguns, vou brega Para uns, vou chique Mas com certeza bem vestido, ativo. Só resta saber Se vou ceder concorrer corromper? Apontado o dedo por mérito de influência. Escolhido. Pronto. Vou vestido. Trabalhar com o social em cem dedos. Quero teu abrigo Para o município. Para o município. Paga o município e o governo federal. Vou dar o golpe. Só resta saber se bandido? Vestido assim, as mulheres olham mais pra mim. Só resta saber Se é porque vou dar o golpe? Se é porque estou de cetim e brim? Se é porque pareço ser o fodão de aptidão? Se é porque pareço ter dinheiro? Ou é porque pareço com o pai delas?

167


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

República Desde pequeno que ouço falar Que o país cresce E está mudando. É um grande papelão pão pão pão pão e circo eis onde está o vício!

168


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

Aviso Eu me previno contra o frouxo Pois sei que ele esfaqueia pelas costas. Atente-se.

169


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Medo Acabei de ver alguém. Quando olhei de novo não tinha ninguém lá. Não vou mais por lá Vou por cá.

170


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Humana Idade A esquerda segura arma. A direita segura arma. No corpo, o peito. Na cabeça, a intenção. Na boca, dentes. E dentro, fome. Ao longe, observando tudo, como um Deus onipresente o medo.

171


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Todo mundo quer ser bonito Todo mundo quer ser bonito na melancolia do infinito. Todo mundo quer ser bonito e se jogar no precipício Todo mundo quer ser bonito, ter clichê e ter abrigo. Todo mundo quer ser bonito na medida do impossível. Todo mundo está no auge na felicidade e na fraude. Todo mundo estampa cores e sorri na curvatura estampa [do verso me perdi. Todo mundo quer ser pop e fugir desesperadamente da [morte.

172


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

O conservador O conservador conversa no banheiro mija sem pegar no pau dita o erro aplaude o certo chega no horário usa gravata combinando odeia amoral o cinto, amarra-o o cinto está acima do umbigo em casa não se ouve um gemido ovo mexido do lado direito do prato arroz à grega do lado esquerdo do prato abaixo, ocupando outro espaço, a salada. O prato forma um gráfico. O conservador conserva a fila certa no banco conserva a burocracia conserva o seu cargo de última importância? O conservador em conservas não erra conserva a norma culta da língua. O conservador dá risada de quem diz ocêê. O conservador também diz ocêê? Em casa, à noite, ele trepa sem meter. línguavaginacudedo O conservador mostra o regulamento da cidade para todos viverem bem e sem medo. É preciso conservar o conservador quando o conservador morrer é preciso empalhá-lo, passar verniz e fazê-lo totem. 173


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

O conservador reza, tem pressa ele segura em sua mão um terço na outra mão, ele segura um garfo e na outra mão, ele segura um copo. O conservador não revela o que há no copo é segredo. O conservador tem três braços ele é sobre-humano. O conservador divaga: A moral. Eu divago: Cara de Pau Brasil.

174


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Senhor Excelentíssimo Senador Vagabundo Vá trabalhar, vagabundo. Desce do palanque e vem aqui embaixo perto da farofa e das baratas. Vem conhecer o Brasil novo mundo. Se na dor minha indignação só serve de poesia e vergonha pra nação. Vá trabalhar, vagabundo. Arregaça as mangas e esquece o discurso aqui embaixo não existe só antas. Daqui dá pra vê que o nosso dinheiro serve para o seu pesado ouro e pessoal uso. Se na dor minha indignação só serve de poesia e pra seu discurso lindo com paixão. Vá trabalhar, vagabundo. Vá trabalhar, sem vergonha. Vai logo e deixa o discurso político de lado é seu dever mostrar trabalho. Se na dor minha indignação só serve pra poesia e pra atrapalhar meu coração. Meu coração necessitado de antidepressivo com raiva e pavor diante de seu juízo.

175


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Se na dor só sinto motivo Indignado, poetizo. Na situação que for banana, banana, banana pra você, senador. Vá trabalhar, vagabundo encerra este discurso desça do seu palanque, vem aqui embaixo onde está o Brasil da farofa.

176


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Andando em uma rua estreita Andando em uma rua estreita encontrei Jesus disfarçado de mendigo comia lixo, não observei bem o quê senti nojo. Ele tinha cheiro de esgoto e aspecto de morto. Seus cabelos eram lisos e com pontas cacheadas barba malfeita, grande, arrepiada magro de fome. Em seus pulsos, marcas de cortes. Em seus olhos, esbugalhados e secos, rosto seco, fazendo jus ao nome medo de falhar de novo e, como filho, não ser mais perdoado nem reconhecido pelo pai. Tenha dó dele, meu Deus! Ele me parou falando em verdade e verso: __Em verdade, lhe digo: Eis que veja o diabo na tua frente balançando o rabo, vermelho chifrado, sorrindo e de relance em seu reflexo de nuance em teu gesto eis que o veja, não se assuste, pois o que há por fora, não importa então se sinta. Eu disse, assustado: __Tome um real... Saí correndo na minha burrice eterna social.

177


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Sou bípede Sou bípede Mesclo o assassino ao medíocre Vago sangrento para o seu lado Ocupo o espaço. E para o seu dente afiado Fino, lindo, higiênico e clean Sou a cárie. Sou pele Mesclo o canibal ao tarado Vago avarento para o seu lado Ofusco seu cerne. E para seu cheiro delicado Popular, simpático, usado e Cult Sou o excremento. Sou corpo Mesclo pedaço e pescoço Vago cabeça para seu lado Oculto o desavisado. E para seu olhar azul Maquiado, púrpura, verdadeiro e fashion Sou o reflexo.

178


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Eu confesso A coca é ótima antes e depois da comida. O problema é quando acaba o gás.

179


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Analfabeto Clichê

Clichê Clichê

MixÊ

FÁBRICA não sei escrever clixê michÊ ajeite

está azedo

seboso Clichê não sei

escrever imited

não sei francês

inglês

português Sou Baianês

Brasilês Com til no Piauí+Bahia= baianense Piauiês no fim.

180


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

A ladeira A ladeira suporta todos os dias pés solitários e os pés solitários, todos os dias, pelejam para subir a ladeira que está suja e com mau cheiro de esgoto. Para ser mais direto: "logo ali, naquela vala, perto da ponta do lado esquerdo, o fedor de merda, dói até o peito do lado esquerdo". A alma também sucumbe e todos os dias se transforma em pá, cavando e se enterrando. Mas antes, como pé, sobe e desce a ladeira.

181


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Que o Senhor Salve, Salve a Bahia ouvindo a nossa mistura e comendo a nossa dança. São negros, pobres, brancos, cinzas da lei, gays, heterossexuais disfarçados, amigos, inimigos, desconhecidos, mulheres, assexuados, muitas pernas muitas cabeças, muitos sorrisos que explodem em seus isopores esperando para serem consumidos. Santos se masturbando, santas cruzando com orixás e Iemanjá com ciúmes, mas também vão rosas e oferendas e corpos e espermas ao mar, o negão que passa, a neguinha que quebra no novo ritmo popular revolucionário e sensual: o arrocha. A música misturada, a vida engraçada, o cidadão que pede um gole de vinho: "oh, meu pai, dá um gole". É a criança que pede carinho, dinheiro, muito dinheiro e um grande segredo que faz as pessoas entrarem muito dentro dos isopores e saírem sorridentes, uns com dentes, outros sem dentes, e o asfalto pela, vai e vem gente piririm- pompom- piririm- pompom (a música revolucionária e sensual) ssquidum, dum, dum, ssquidum, dum, dum (os tambores misturados e negrais) tchamrrram, tcharrram, quetchamrrram, tchamrrram, quetchamrrram, tchamrrram (talvez Jimi molejo e seu samba nacional) enquanto isso, na mais pura tranquilidade e depuração, alguém lê as páginas de um jornal que custa mil reais reais sorrisos: "me dá um gole, porque a festa é de graça e não tenho dinheiro", bebe, bebe, vai beber, desgraça, que a fome some, a dor passa o gozo, meu Deus, talvez com muita cachaça! falsos sorrisos, burgueses animados, alguns convidados e 182


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

os sem convites, artistas estrelas realezas, certezas, embolados, lacrados, existentes resistentes, há quem durma na cozinha ou na pia, ou na calçada triste, há quem arranje namorada, amante, fugas dissonantes explodindo camisinhas ao final do dia para não sentir solidão e dizerem por aí “eles estavam tristes e trepavam” o rock, o reggae, o pop, os mamelucos, os escravos, em formas de almas desgraçadas, a solidão, que nada! quero é sair por aí, tomar muita cana cachaça e na mistura contínua: "opa, desculpa, opa, tio" quantos amigos, quantos sorrisos todo mundo se conhece, todo mundo corre perigo, todo mundo se esquece, menos eu que não esqueço do meu umbigo e vão sorrindo juntos e pensando longe os outros umbigos eles gritam e dizem: "amém, estou bem" camarote, trio elétrico fora de época como se precisasse de época pra isso a alegria está solta no ar as fantasias se comem pelo mar as hipocrisias se misturam às maravilhas, os cheirados os desgraçados, os caretas, os médicos, os empregados e desempregados, os mulatos, os criminosos estupradores e ladrões, os maconheiros, os marginais, os ufanistas os políticos, os malucos, e todos somos malucos e sobre tudo os surdos, mudos, mortos, vultos, e tudo vai bem, não é mesmo, meu bem? Em todos momentos pensamentos, que se batem negros, que se invadem, gringos que se esbaldam e dançam duro o arrocha que o nosso povo gosta e gosta muito e vai e vem remexendo, meu bem é muita mistura e ninguém aqui está zen, e versos 183


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

estes nunca podem faltar, falsar é Iemanjá que comemora, que dança, o carnaval e a folia que se joga e está chegando e Jesus que não larga seu vinho mas também não esquece seu ofício, seu pranto seu martírio.

184


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Sem nome Jesus que conheço não é o que as religiões pregam e endeusam, não é o Jesus dos pecados e dos milagres, não é o Jesus da Bíblia, que conheci quando criança. O Jesus que conheço, ninguém conhece, ninguém vê, nem mesmo vejo, sem denominação. É,eu sinto, ou não. É Pedro Suspiro que anda pela cidade baixa, de cabisbaixa, com a fome de atenção de amor, com fome de massas, de glamour. Pedro é um político dos botecos. Pedro Suspiro, que um dia foi apóstolo de Jesus e o negou por três vezes, ou não. É que o universo pode ser um vazio no canto da sala, cheio de átomos e perspectivas frustrantes. Pode ser que seja, pode ser que tenha, pode ser que se, ou não. É que se o se não existisse, é que toda forma de amor e dor são iguais, é que sou dono da palavra, dono do egoísmo e dono das paixões, é que vi hoje em seus olhos os meus olhos, em meus sonhos o seu sexo, é que sou seu nexo e você o meu sexo, ou não. É que preciso ter dinheiro, preciso olhar pro lado quando vejo outro que não tem a minha cara, meu caro. E dentro dos ônibus lotados e dentro das pontes nostálgicas e dentro dos poemas clichês e dentro das meninas sorrisos e dentro de mim, ou não. É que os sonhos apenas começam, sempre começam, é que a vida é a morte, é que deus, palavra única e dogmas únicos, é que demônios e ratos estão nos mesmos lugares, é que homens e ratos estão nos mesmos lugares, é que 185


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

sonhos e ratos estão nos mesmos lugares, ou não. É que hoje de manhã acordei sorrindo, porque ontem sonhei contigo, é que acordei te amando porque ontem gozei contigo, é que sou seu, porque ontem fui de ti, é que me entrego, somos um, ou não. É que todo mundo diz assim: eu tou bem, eu tou sempre bem, tou massa, tou feliz, nunca estive melhor, e você...todo mundo fica bem, todo mundo está bem, ou não. É que as palavras todas somem de mim, é que sou interrompido, bem quisto, é que meu sorriso está entregue, é que fui feliz, sou feliz, é que somem as vírgulas as regras, os acentos, os intentos, os novos, as palavras inventadas, ou não. É atitude de falar sobre o amor, sobre as formas, sobre o cu, sobre ela: a vagina, sobre ela: a minha menina, atitude de também calar, mas pouco calo, é pouco que sinto sem falar, mas é que eu sinto, ou não. É o equilíbrio entre o ser e o estar, é o equilíbrio que a van as asas as guardas, é o esquisito o equilíbrio o êmbrio o suspiro o Pedro Suspiro e Jesus que não vejo apenas sinto, é o infinito é a delimitação do que não sei, é o que penso é o que falo é o que os outros falam é o que fazemos e fingimos que não vemos é uma nova velha torta certa contraditória situação oposição é minha alucinação minha divindade, minha materialidade meu egoísmo meu medo e meu suspiro, ou não. É a forma mais estranha de continuar, é a Bahia que dorme na beira da praia, são os sonhos e os donos, são as 186


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

donas e suas cinturas, é o amor e seu castigo, é Jesus e Maria Madalena procriando com o consentimento de Deus, é a parede branca, sala de reboco forró Gonzaga, guitarra baiana, Torquato Neto e Waly Salomão, Pedro Suspiro, e Sérgio Caetano, é aroga oigreS , é agora meus amigos , é nesta manhã, é neste minuto, é neste universo no canto da sala vazia e de paredes brancas, ou não. É que descobri que existem uns dois três mil infinitos, é que existem e não existem é que descobri um filósofo dentro de mim um semiárido todo dentro de mim é que descobri em um boteco um político e um poeta e uma piauiense em mim é que descobri um egoísta um cego em mim é que descobri mesmo sem saber ou ver, ou não. É porque os outros lhe apontam. É porque andam pelas sombras é porque dói nas entranhas, é porque o vício de escrever é grande, é porque a dor de não ter é grande é porque você e eu somos um, é por si e por mim, e cada um a sós, ou não. É que o cheiro de minhas mãos está fugindo como as outras coisas que fugiram também, é que as lágrimas sempre saem quando se diz adeus e quando se diz oi também, é que o sorriso esta tímido descaradamente como as minhas asas, é que ela nem sabe que “ela”, é ela, ou não. É que perdido eu vou, sem nem entender, e quando entendo, não sei explicar, é que eu sinto, ou não. Vou suspiro e vou, mesmo aqui em frente às máquinas e as dores de minha vida, de meu dia, de minha manhã, as dores de meu amor, as dores que eu levanto, beijo, arranco e novamente abraço, amor é o que eu sinto vivo, 187


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

sou ti e somos nós, mas nem sabemos nem vemos, é sem denominação. Ou não.

188


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Do divino Jesus era o homem. Cristo o filho de Deus. Eis o problema divino e mistério fatídico.

189


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

No trono o tempo passa mais rápido A merda marrom e com algumas rachaduras, sorrateiramente caiu na cabeça dos políticos e dos artistas e dos meninos as meninas não viram, escondi. Afinal, preciso manter uma imagem. A bosta, a merda, a fedorenta, a chula igual a este poema. A bosta das horas que não passam do dia que entendia meu contexto de liberdade enfadado no meu coração. A merda dessa rotina, que sagrada e divina, fede. Só não mais que a bosta que caguei e entupiu o banheiro do meu trabalho. Mas não acabou com o expediente.

190


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Contemporânea Oh boi doido Oh boi doido Oh boi doido Na rapaziada Oh boi doido Oh boi doido Oh boi doido Na molecada Oh boi doido Oh boi doido Oh boi doido Na mulherada Oh boi doido Oh boi doido Dançando a bailar Oh boi doido Oh boi doido Mundano a avançar Oh boi doido Oh boi doido O boi Tá muito doido Oh boi doido Oh boi doido O boi Tá muito doido Oh boi doido doido doido E vai no meio do povo Oh boi doido doido doido Na roda a rodar Oh boi doido doido doido Invade e come o corpo Oh boi doido doido doido Não pode ajoelhar Oh boi doido doido doido Você tá muito louco Oh boi doido doido doido Me deram, eu quis tomar 191


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Oh boi doido doido doido Não sei se rodo ou corro Oh boi doido doido doido Vou rodando a girar O boi doido doido doido Da rapaziada O boi doido doido doido Da molecada O boi doido doido doido Da mulherada Oh boi doido. Oh boi doido Muito doido tá o boi Oh boi doido. Oh boi doido Muito doido tá o boi Oh boi doido. Oh boi doido Muito doido vai o boi Oh boi doido Oh boi doido Oh boi doido O bicho vai pegar Oh boi doido Oh boi doido Oh boi doido Vamu farrear Oh boi doido Oh boi doido Oh boi doido Todo mundo a gozar a gozar a rodar a gozar Oh boi doido doido doido O boi tá muito doido O boi doido O boi doido doidão Da peste.

192


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Modernidade na hora certa A palavra vem certa na hora certa. Microsoft Word está certo no Microsoft Word. Mas oxe é grifado avermelhado. A palavra está grifada avermelhada Microsoft Word é certa na hora certa Mas oxe? Tudo corporativismo.

193


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Oração dos que vivem. Ó Deus Obrigado, meu Deus. Por eu estar vivo caminhando me entorpecendo atropelando tropeçando de oxigênio. Sobrevoando aliviado fadado em pensamentos amaros. Ó senhor, obrigado, por eu não tombar nas mãos dos motoristas no trânsito. Por não cair em tensão ativista biônico homônimo. Por não ser nenhuma vítima ou vitamina de deputado federal estadual canibal. Obrigado por não deixar faltar petróleo no mundo e ninguém explodir no Brasil uma bomba atômica. Ó Deus, me proteja desse mundo animal. Ó Deus, se tu és minha semelhança, também és animal, então me entende. Ó Deus, pretenda-me. Ó Deus, arrebata-me. Obrigado por eu não ser mais uma vítima de balas perdidas. Obrigado por me deixar ser das idas e vindas. Obrigado, meu Deus, por ainda haver água para beber obrigado por eu não ser mais só que você obrigado por eu ter mais humor e viver obrigado por eu não cair em buracos obrigado por não me contagiar por doenças venéreas etéreas obrigado, meu Deus, por não deixar eu cair de avião nem no vão 194


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

nem no asfalto nem no manicômio obrigado, meu Deus, por existir e ter dedicação plena por mim, meus irmãos terráqueos e a eternidade. Ó Deus, deixa um dia eu poder pagar avião, ter dinheiro na mão ser figurão. Obrigado pelo fígado que aguenta bebidas de terceira e ervas de primeira. Obrigado pelo coração que aguenta pensamentos suicidas altruístas. Obrigado por não me assaltarem me estriparem e me decapitarem. “E se cortarem minha cabeça, me amolarem, me esquartejarem e depois me comerem em pedacinhos?” Ó Deus! Por favor, não permita estes amoladores em minha vida. Ó Deus, obrigado por me afastar dos bajuladores. Obrigado por não me caparem. Obrigado por me deixar ver o crepúsculo métrico. Obrigado pelos musgos restos. Obrigado pela vida, Deus, obrigado pelo belo e pelo dantesco é preciso os dois em qualquer hora. Obrigado, meu Deus, por eu. Obrigado por me deixar ver o arrebol. Obrigado pelo sol. Obrigado pela cultura pornô. Obrigado por contribuir pela finalização de minha doença: a solidão. Obrigado de coração! Ó Deus, obrigado por eu ter palavras e pensamentos a viver. 195


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Obrigado por eu ser. Obrigado por eu raciocinar. Obrigado por eu saber. Obrigado, meu Deus, pelo humor negro do mundo. Obrigado, meu Deus, pela hipocrisia do absurdo. Obrigado, meu Deus, por eu ter evoluído de macaco para macho. E minha próxima evolução será me tornar uma árvore. Ó Deus grande e bondoso, permita-me exalar oxigênio. Obrigado por isto, só assim minha culpa dói menos. Obrigado, meu Deus, por eu estar vivo. Obrigado, meu Deus, por eu ser bicho, pedaço de lixo. Obrigado, grande senhor. Meu grande amor, grande benigno. Obrigado por deixar eu te venerar. Obrigado pelos dons sons bons tons. Obrigado pelos poetas de minha vida. Obrigado por eu estar espirrando. Obrigado por eu estar espionando. Obrigado por eu estar esse sangue. Obrigado por eu ser VT. Obrigado por eu arremeter. Obrigado pra mim e pra você. Obrigado por me entreter. Obrigado por eu pensar em conjunto. Obrigado por eu ser outro mundo. Obrigado por eu não perceber o dilúvio. Obrigado por me avisar. Abrigado por me atarefar. Obrigado por me aliviar e anuviar. Obrigado por me enjaular. Obrigado por não me matarem. Obrigado por me deixar poetizar. Obrigado por me deixar martirizar. Obrigado por me dar o gado. 196


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Obrigado por me dar um outro gole. Obrigado por eu ter nascido privilegiado Obrigado por eu não morrer dormindo. Obrigado por eu poder estar fingindo. Obrigado por eu ser descarado. Obrigado por eu aceitar o desacato. Obrigado por eu não morrer em amparo. Obrigado por eu viver em rebento. Obrigado por eu ser acrescento. Obrigado pelas variações linguísticas. Obrigado pelas menções empíricas. Obrigado pelo carpe dien. Obrigado por eu saber mentir. Obrigado por me deixar rir. Obrigado por sentir. Obrigado por rimar. Obrigado por me deixar na história. Obrigado por me amar, ó Deus! Obrigado por não me levar nem me matar agora. Não quero morrer, Deus, ó Deus. Ó Deus, meu que Deus me deu um eu em plural eus como Deus. Obrigado por me deixar pecar. E que durante o dia veja a morte tão viva quanto a vida! Para ver que a vida existe em nós. Assim seja.

197


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

O nĂŁo bate papo virtual MSN Lugar pra quem entende de mostrar nickname. E usar o status para brincar de esconde-esconde.

198


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Insônia É madrugada de segunda-feira. As casas estão apagadas. Os shoppings estão acordados em seus seguranças. Nas casas, uns fazem amor, outros dormem de um lado, do lado oposto dormem outros. E eu aqui sentindo sufoco sufoco. Alguém aperta meu pescoço, quero ir sonhar, dormir.

199


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

more blues & So So drugs O cinza de Salvador foi embora passageiramente. O cinza que não deixava ninguém se ver, foi embora eternamente? Hoje foi amarelo e um sopro. Um vento e um estouro. Esquecido. Amarelo brilhante, cor de vida e sorriso seco. Moído. Não teve calor. O sopro sabe fazer egos amarrarem-se e aos agitos flutuarem. Na Avenida Bonocô, vi uma escada nova. A escada leva o povo de dois pés para cima. Para perto de Deus. A escada servirá para a periferia e a classe média. O povo manda agradecer a Deus e à condolência dos políticos pela escada (mesmo sem métrica). O povo agradece a obrigação do pedreiro e seu mestre de obras. A obrigação do cimento e sua pouca água. O cimento pede mais adesivos, mais esforço menos culpa e uma escada Meu Deus, pra chegar ao céu. Agora é obrigação dos pés moerem o cimento impregnado Sustentado de água e suor impostos e terceirizações. Precisamos de escadas, elétricas escadas. Mas neste caso é preciso um ar condicionado e mais degraus e versos Sinceros. É preciso mais artigos cor de anil, um céu azul, verde, amarelo. Quando o ano é de copa, sou Brasil. Não conheço São Paulo, Rio. Mas estive seco, profundamente seco e morri nas águas do Velho Chico. Nunca estive em Brasília; 200


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

E o cheiro do mijo escondido, misturado, espalhado pela minha roupa De bêbado, me traz outro assunto, que passa pelo meu nariz sujo Dente cariado Sapato velho estragado. Vou andando sem ter noção do tempo. Se foi ontem se foi hoje ou nunca será? Quero mais cores, mais tendências e mais moda que se combinem Multipliquem-se, invertam-se ligeiramente pelas estações. Moda, moda, moda, moda, moda, moda, moda. Não demora e o dia passa, outra noite, outra vez chuva (não foi eternamente) nada diferente. A não ser pelo pedido de todos: more blues & So So drugs. As prostitutas bebem vinho e espalham a ordem de pernas abertas. A cidade bebe vinho e esculpe a ordem de ruas abertas. Dentro do banheiro público, mais mijos e segredos guardados A sete chaves. Mijo mais. Mijo amarelado embriagado. No meio da rua, pedras conversam, falam sobre segredos. No meio da rua, todo mundo conversa, esconde segredos. As pedras falam sobre os nossos segredos, eu ouvi. As pedras não ficam no mesmo lugar, eu vi. Caminham seguradas pelas nossas mãos Nossas máquinas Nossos políticos, nosso progresso Nossos senhores de engenho. Que ainda existem sem engenho, mas com engenhocas. No pelourinho, muito negro e muita polícia. 201


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Nostalgia em Salvador? No Pelourinho, MPB, sexo e as prostitutas continuam impregnando A sua ordem. São pedidos mais banheiros públicos pelo povo. O povo com oito patas, óctuplos. O banheiro com oito privadas, óctuplos. A rima rítmica descarada, óctuplos. Mais uma vez, óctuplos. A mãe, mãe de óctuplos. A minha paranóia com a palavra óctuplos. Mas, interrompendo, o Poeta vem rimando seus versos em voz alta Sem saber nem o que fala. Na cidade muito caos e manifestações. E o povo clama em ordem junto às ruas: more blues & So So drugs. Salvador respinga refúgios e orgias Por toda esquina tem um baleiro, uma puta Um deitado no chão. A cachaça que ele bebe faz sorrir igual à cachaça do gringo. Nas ruas, filas tentam ser formadas mas as tentativas são desmascaradas. Nos becos, e Salvador tem muitos becos, um choro chora. Não tem canção de ninar neste horário Ninguém usa farda, mas todos combinam o vestuário. Os que estão fora da moda são desavisados, mas só para os estilistas. A vida despeça e convicta faz festa em cor de rosa. Mas só para os elitistas. Psytrance arrocha lambada afoxé axé pagode Reggae rock and roll andrugs tudo rosa. Desgovernado vem o carro, mas vai parar logo à frente. 202


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Mais um engarrafamento. Droga. Drogas. A cidade precisa de mais engarrafamentos. A cidade precisa de mais desordenamentos. E drogas que acalmam a alma. A fila e os minutos perdidos conversam em paz Enquanto nos carros o consumo é muito diazepam e cafezinho e almas Silenciadas. Enquanto isso, em Brasília, muito calor muito glamour. O povo manda dizer que quer usar barba também e tá feliz com o feijão De cada dia. Já a classe média pede mais nostalgia, mais real. A classe média está ficando careca. Os jovens todos querem mais revoluções. Outros Che's. Pedem mais ícones, cocaína exportada de Brasília, sexo and more blues & So So drugs. Tudo vai a uma ordem desgovernada, exagerada. É pressa de não viver? Escorrega das mãos uma nova chance, um novo delírio. Alguém grita: "eu quero delírio, um pouco de ritmo". Alguém precisa de você. Eu estou à disposição. Um espelho cai bem à minha hipocrisia, a nossa. Cai a carapuça em um sorriso dado com indignação de acusado. Na praça muitas árvores cumprem a sua tarefa de embelezar E dar sombras. É pedido mais árvores e mais praças públicas. O povo manda agradecer ao pedreiro e aos impostos pela praça. Na rua todo mundo anda e paga sem saber. Neste momento alguns pagam pra beber. Na rua, todos estão mortos. 203


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Ou só é a minha pele que esfria, apodrece? Talvez no esgoto, os ratos sofram menos. Ratos, baratas e vermes são eternos. Nunca apodrecem. Eles agradecem as condolências de quem joga lixo no chão. Os ratos, as baratas e os vermes brigam entre si Querem mais mercados na bolsa de valores Mais queijo, mais lixo, mais terra E enquanto isso os computadores dormem antes de iniciar o Pregão. Dentro das casas um veredicto é posto em mesa Hoje é o dia das mentiras caírem. Outras verdades tomarão os seus lugares. Estão todos aqui: o gato, a pia, a mesa, a privada A TV, Faustão, a net, Ivete. O vizinho que nunca reclamou do barulho de madrugada Nem do cheiro de maconha que o vento leva à sua sala. Os entes queridos, alguns estúpidos, outros discretos, esculpidos A barata acaba de chegar, a vida acaba de continuar E a morte, Deus? Este é o assunto. Mas antes um grande e espesso pedido: more blues & So So drugs. A plástica está aceita em todas as ordens. Quando não é para a pele, seios, bundas e lábios vaginais, é para solidão. É para o trânsito, mesclado com um pouco de paixão Pelo fato de mexer com o ser. A plástica pode ser cara, barata, depende da agonia imediata. O povo quer plásticas, os carros querem e necessitam plásticas. O antigo é uma necessidade de plástica. E as costas já não aguentam mais a falta de compaixão 204


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

E amor próprio. É cinza de novo, já se passam dias e o término é o verso que diz. Diz o que vejo todos os dias e o que sinto. Algo imprescindível são as praças públicas, os banheiros públicos As avenidas públicas. As pessoas públicas. Os poetas públicos. Os sexos públicos. O amor público e banal. O rapaz que passa demonstra ser mais sexy A mulher está muito mais sexy roll and sexy. A televisão espalha modernidade e aguça a sexualidade. Uma mente um pouco deturpada desse povo que faz TV. Mente deturpada a minha que escreve pra disfarçar a solidão. Algo impróprio e inerente como o amor. Algo fugaz como minha janela deste quarto entreaberta Espalhando palavras e sensações Espalhando lembranças e um fino deleite de nostalgia e saudade. Toda palavra escrita passa por mim. Toda palavra escrita passa por mim. Passa por entre os cimentos dos prédios e as suas obrigações alheias. Sou a árvore personificada, as pedras e seus ouvidos Personificados. Ouço tudo e executo os meus vícios em partes idôneas da minha cabeça Pensante. Nada contra Paul e o Blues, também sou cult. Nada contra ao L e o T, mas prefiro o cu. E quem sabe um dia criem uma denominação mais gostosa e brasileira Brasilês, do que cult. 205


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Então poderei gostar do cu, sem o L e o T. Nada contra Paul, mas prefiro o Zé. Nada contra a Britney, mas prefiro a Maria. Estão construindo um metrô e novos prédios. Salvador está se organizando, agonizando Não vejo ninguém em suas janelas observando este fato consumível E descritivo. Nas favelas, muitos sorrisos e arrocha e cachaça. Nas janelas, muitos sorrisos e bossa e cocaína (vice-versa). Nas avenidas, uma Salvador sobrevive e continua contínua. E, dentro de mim, uma Teresina, não Teresinha. O coração está batendo forte, é ano de copa e sou Brasil. Nas avenidas, explode um sertão, uma maresia, um Brasil. Em São Paulo, as pessoas falam tão alto que ouço daqui. Não conheço Brasília, Rio, nem o Santo Paulo Mas em janeiro, no dia primeiro, com ou sem a copa, continuo sendo Brasileiro. Não sei se continuo sendo Brasil. A vida é espalhada em dores e palavras. Gestalt me mostrou como associar vida à morte. E tudo a meu ver continua cor de anil. E no mundo uma nova onda pop alternativa cult assola os nossos Dizeres: more blues & So So drugs. O pátio está vazio. Os corredores com perspectivas continuadas e banheiros privados e Públicos para a população do prédio Estão vazios. Elevadores não dormem e estão vazios. Não retrocedem. Elevadores não desobedecem. Não vejo a coruja nesta noite 206


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Sinto em minhas costas 12 assassinos e 2 sanguessugas A coruja está ocupada ou dorme em alguma cobertura de luxo? Distante daqui, no vizinho, o povo faz barulho. No prédio, além do pátio vazio que disputa com elevadores Quem ganha o prêmio da solidão Tem a população que é educada e prendada. Come com três garfos, usa papel higiênico com perfume Dorme maquiada e não perde o costume Come meu coração, entra em outro assunto, outro cume A fim de meu suicídio repentino. O povo manda agradecer o silêncio neste horário Pena que é em outro bairro. Mas o silêncio é só neste horário, amanhã é dia de branco. E, antes da manhã, já é hora de acordar. Acorda, Brasil! Acorda, Brasil! Neste horário, relógios despertadores não tocam. Os corredores e pátios estão silenciosos. Estão mais centrais, ansiosos , transversais. Nesta hora, um movimento aparenta um amor sem tento. Nesta hora, o poeta dorme a ressaca da noite anterior. Os elevadores, sós, obedecem. Não dormem, não retrocedem. O portão eletrônico trava O computador trava, deseletricamente Um cigarro fumado, desorganizadamente Outro escondido Um vício, um martírio Sou psicopata e carrego sanguessugas e assassinos Nas minhas costas nesta noite. Dois cafés, alguns expressos, pornografia e um jornal online. A política dorme no corredor do pátio do meu prédio. 207


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Quem me dera uma fatia desse bolo. Você também pensa assim? O sono, neste grande teatro, tem o papel de disfarçar a falta De vergonha na cara. O vendedor de jornal está entorpecido, não é culpa dos políticos? Notas musicais e muito axé. O povo não lê jornal? Ouve pagode. A população lê jornal? Mas que porra adianta lê jornal? Matérias vendidas e publicidades ambíguas. A própria lei esbanja retórica e é estuprada. A lei se come. Sadomasoquistamente. O povo quer lei, a população também? Acorda, Brasil, o povo precisa de educação. E não de corredores vazios, hipócritas. Nesta hora da madrugada, meu coração é um corredor. Talvez durma para poder sonhar. Poetize para poder chorar. Eu andrugs e sonhos desgastados renovados. Antagônicos. A mentira é o antagonismo entre o povo e a população. Não existe verdade única Mas, na verdade, a população e o povo são tudo igual Quando habitam o banheiro. E quem disse que isso é verdade? Sentimento e jura, viva a liberdade de expressão. Ninguém está no elevador que não retrocede No corredor, somos inúteis. Ninguém diz não, diz sim de paixão. Pede mais: more blues & So So drugs. A cocaína, das mentiras, é a maior de todas. 208


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Só não maior que o valor das campanhas presidenciais. Para Senador, vote no seu grupo. Para Deputado, não tem segundo turno. Na câmera e no senado tem uma grande mesa de vidro. Nesses órgãos, é possível cheirar mentira e o cu limpar com dinheiro. É preciso tomar cuidado para não deixar o nariz sujo É preciso dar o pão de cada dia e o circo de cada ilusão. É preciso saber quem inventou esse termo 'regional'? Estão premiando por aí pessoas que fazem algo regional. Assimilaram regional ao norte/nordeste. Apesar do sul, sudeste, tanto faz Lá pra baixo é tudo igual e clichê, inclusive regional. Como nós nordestino da peste. Nos becos de Salvador, o arrocha ultra-mega-original, quebra e esfrega. Quebra também o carimbó, o afoxé, o frevo. São Luís do Maranhão nunca mais morrerá depois do Poema Sujo de Gullar. A Bahia nunca mais morrerá depois de Jorge Amado. São Paulo nunca mais morrerá depois de João Gilberto Caetano. Itapuã e o Rio nunca mais morrerão depois de Vinícius e Gil. E eu que escrevo estes versos não darei sobrevida a nada nem a ninguém. O pop é chulo e popularesco, o regional é chulo e popularesco Ambos inevitáveis e desejados em cada canto e gemido. Ambos não cheiram à mentira. A arte pode ser cópia, mas nunca mentira. Guarde bem isso com você. Cada qual cheira o seu tal. 209


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

O pop está na noite e quer brilhar. O pop é papa, idioteque, analogismo Porém, levanto a cabeça, meu brio e deixo o trio passar. Quem não quer ser pop? Já se mataram todos? Raul não é pop? É brega. O povo precisa ouvir mais Raul Seixas. Ao mesmo tempo que falta café, falta seda Faltam filas e escolas Mas erva e igrejas têm de sobra. Em Salvador, há muitas igrejas e templos. O mundo é azul e Deus é Blue. O povo pede mais palavras em inglês e modas. Uma medida estatística qualquer para alavancar sorrisos. O povo pede cifras. O político aguarda a urna eletrônica. O político pede cifras. Eu quero também. O padeiro que acaba de acordar lembra que haverá segundo turno: “Vou votar em quem?_Tanto faz, nada vai mudar, o pão vai assar e eu vou continuar a comer, dormir, trepar e cagar e carnavalizar” O padeiro pede cifras. Um alguém anda sem parar no apartamento de cima Ou estou ouvindo coisas and So So blues? Este alguém pede cifras. Haverá segundo turno. E as cifras não acabaram. Haverá terceiro turno, mas só os desavisados que não sabem. Os desavisados avisam que estão por aqui. Na Lapa, há muitos desavisados, drogados, putas e raimundas. Na Lapa, só de rima, sujismunda, a política aparece em panfletos espalhados ao chão. 210


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Os panfletos não querem ser recolhidos. Um poema é pensado enquanto o poeta é recolhido. Abdico de minha neutralidade. Há um tudo e um nada Do resto, eu mango redigo: more blues & So So drugs. O povo pede mais morros para construir, mais abrigos e invasões. O povo pede mais pedaços caindo aos pedaços de madeiras Mais caindo aos pedaços de papelões Mais caindo aos pedaços de assistencialismo. Nada contra essas medidas paliativas e a boa vontade das pessoas E do governo, mas o povo pede mais madeiras caindo aos pedaços E que guarde o lugar do seu filho na escola (Será que o pai de família pensa assim?). São quantos anos que o povo pede mais escolas aos pedaços Que não são montados? A verdade é que esquecemos de pedir mais escolas. Vocês venceram com a insistência do não fazer. O povo não tem tempo pra montar quebra-cabeça. O povo se envergonharia de mim, pois sou hipócrita. O povo queria estar domingo no almoço familiar e farto. O povo faz churrasco, toma cerveja e cheira pó (?) Samba o dia todo e à noite talvez briga, talvez sexo, talvez amor Talvez choro de bebê, talvez Fantástico. É Fantásticooo! O programa da família brasileira. O programa herói. Na TV, à frente de todos, mijo. Mijo na TV. Homens mijam. Homens mijam na parede. Enquanto eu escrevo cago e mijo na cabeça de vocês. 211


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Fui mijar no canto, não tinha espaço. Mijo na TV a fim de queimá-la. Bêbado, mijo nos pés de alguém Bêbados mijam na minha cabeça e se eu deixar, vão cagar também. Chego em casa cheirando a xixi E, sem saber, os de casa, mijam palavrões em mim. Na TV todo mundo está a sorrir. Riem de mim. Eu sou povo! Se quer me esnobar, que seja pela frente Pois sou daqueles que, do Cult, prefiro o cu. Ou alguns centímetros acima em outro orifício. Quem faz amor ou fode entre quatro paredes de forma cult e singela? Quem pega no garfo da mesma forma que faz amor? O grã-fino pega no garfo delicado e fode calado. Existe um grã-fino em cada homem. Existe um machista em cada homem. Em cada homem existe uma menina. Em cada homem existe um algo regional. Pop transcendental e muito mais do que estes meros versos. Vamos, camaradas, seguir and forever and ever Vamos, camaradas, não há o que esperar O povo pede que clamem por eles Vamos ao menos clamar a nós Vamos, camaradas, ratos, baratas, formigas e vermes Vamos todos proclamar a liberdade. Vamos bêbados e poetas Pois todos pedem mais more blues & So So drugs Todos pedem mais more blues & So So drugs. Todos sofrem mais more blues & So So drugs. 212


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Todos riem mais more blues & So So drugs. Todos iludem mais more blues & So So drugs. Todos passageiramente more blues & So So drugs. Todos em estouros esquecidos com sorrisos brilhantes aflitos more blues & So So drugs. Todos que pedem uma escada para chegar perto de Deus e ficam Firmes em suas condolências e precoces atos de medo querem more blues & So So drugs. É preciso mais escadas elétricas e uma copa com bebidinhas caseiras Outra Copa com o Brasil campeão e mais more blues & So So drugs. Em São Paulo, Rio, Brasília, nas águas do Velho Chico mais more blues & So So drugs. Pedem óctuplas vezes more blues & So So drugs. more blues & So So drugs. more blues & So So drugs. more blues & So So drugs. more blues & So So drugs. more blues & So So drugs. more blues & So So drugs. more blues & So So drugs. As prostitutas, os fulanos e cicranas dentro do banheiro público O polícia, o político, o viciado, o ateu, o gringo As torcidas do Bahia e Vitória, o futebol, o marketing O carnaval, as eleições, as noites e dias, o pensamento em branco 213


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

O nariz sujo, o poeta vagueando, o granfino transando O espetáculo continuando, o medo surrupiando A vida desocupando, o sujeito e o substantivo, o adjetivo E os que precisam de adjetivos Aqui redigo: mais vinho, Martine, pinga com limão e mel e more blues & So So drugs. As pedras falam e pedem mais more blues & So So drugs. Em Salvador, uma nostalgia, um fim de poema e mais more blues & So So drugs. O povo clama mais more blues & So So drugs. O baleiro clama mais more blues & So So drugs. O chão se abre e torce pelo desastre, clama mais more blues & So So drugs. A festa em cor de rosa toca psytrance arrocha lambada afoxé axé Pagode Reggae rock and roll andrugs tudo rosa e mais more blues & So So drugs. A cidade precisa de mais engarrafamentos A cidade precisa de mais desordenamentos Mais diazepam e cafezinho, mais more blues & So So drugs. A cidade precisa de mais impostos e mais pedreiros e mais more blues & So So drugs. A cidade precisa iniciar o pregão e mais more blues & So So drugs. É pedido mais plásticas e amor banal É pedido que as pessoas fiquem mais sexys e mais more blues & So So drugs. Aparecem cada vez mais avenue, cult, cocaine e Aurélio E pede mais more blues & So So drugs. 214


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Em Salvador, um sobrevivente, mil mortos. Ou é a minha pele que esfria e padece podre? Ou é meu pulmão fumaçado E minha garganta desgraçada? Ou é meu vício e minha desobediência? Ou nunca vivemos e sempre fomos mortos? Ou é Teresina que me diz viva? Ou é o pedido que clamam: more blues & So So drugs. Pedem mais sadomasoquistamente e mais e mais e mais Repetitivamente Repetitivamente Repetitivamente Repetitivamente more blues & So So drugs. Os assassinos e os sanguessugas E o povo educado e prendado O povo aprende com os granfinos a educação e prenda O ladrão de galinhas se irrita ao saber Que o ladrão de colarinho pede mais e nada acontece Eles querem mais: more blues & So So drugs. Acontece do portão eletrônico travar O computador travar Deseletricamente desorganizadamente um vício Um martírio, uma pedra de crack. E fume à vontade. O pão de cada dia já foi dado e o circo de cada ilusão também Tem para todos e muito mais e mais e mais e mais, acorda, Brasil! E mais e mais e mais more blues & So So drugs. Os artistas ficam em vitrines E nos subúrbios e nas esquinas E nos bares e na lua, os artistas escondem-se 215


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Os artistas esqueceram a arte? Mas não param e pedem mais more blues & So So drugs. Em Salvador muitas igrejas e templos Enquanto Deus continua Blue, cor de anil E ninguém viu, a eleição passou? Tudo agora cor e dor anil, para isso, tem mais more blues & So So drugs. Eu vou continuar a comer, dormir, trepar, cagar, carnavalizar e pedir Mais more blues & So So drugs. Mais cifras e mais more blues & So So drugs. Mais desavisados, drogados, putas e Raimundas E loucuras E mais more blues & So So drugs. É Fantásticoooo e mais more blues & So So drugs. E apelo em mais more blues & So So drugs. E mistura e mais more blues & So So drugs. E mulheres e mais more blues & So So drugs. E clichê e mais more blues & So So drugs. E madrugada e mais more blues & So So drugs. É vontade e mais more blues & So So drugs. É mentira e mais more blues & So So drugs. É vertigem e mais more blues & So So drugs. Pois agora sinto overdose, embora seja passageira em 216


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

mente. Sinto uma música melancólica, um pedido não feito Um poema pertinente. Impertinente? Um choro que não saiu. Uma vida que ri e riu. Um futuro que se perdeu, escafedeu-se, não se sabe. Sou povo que agradece a condolência e, ainda assim, sinto vergonha E asco de minha hipocrisia Eu sinto vergonha, mas já a aceito bem. Enquanto uns se despem e dormem Outros cavam a sua própria tumba e preferem morrer. Dentro de mim há mistura, usura, loucura. Fora, por fora deu, um sorriso para você, independente do que sinta Quanto a isso. Porém sinto-se-me. Viva o Brasilês! O céu quebra e o amor está aqui enquanto pedem mais more blues & So So drugs. Enquanto leio livros e crio parte de meu circo lúdico e como meu pão E bebo meu vinho barato, que divido com Cristo Agradeço a condolência de minha paciência E de sua paciência. No outro lado, por dentro e por fora do olho Tudo mais misturado e mais ou menos inexistente Lisérgico.

217


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Ano novo de novo Mudou o ano e tudo igual. A cabra berra, o cabra também. Todos berram forte. As galinhas não dormiram, madrugaram. Ciscam à procura de comida o dia inteiro, até o outro ano. Elas cagam. O galo para de transar, 20 minutos depois ele recomeça sua corrida louca para bicar a cabeça da galinha. A cabra caminha, o sino é tocado pelo cabra. Não é o sino do natal, é do ano novo. Novo de novo.

218


de

va ĂŞn ira c i da a

q s u

Elo



O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Liberdade Liberdade poesIa sem

Libertina

Burocracia E & Regras De mim Aja asas Dentro de mim fui às trEvas, sou outro é outra era.

221


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

As perguntas Estou zonzo agora, estou fora de órbita. Sem conhecimento algum. Cadê as respostas? _Estão atrás das perguntas. Correndo feito loucas. Gritando feito loucas.

222


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Filosofar tentando A maior invenção do homem foi Deus. E perceba como todo computador trava pois é o mundo é uma máquina e um dia vai travar e reiniciar. A filosofia é saber sem saber. É ter fé. Por isso sou mais uma equação com a resposta eternidade.

223


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Embaralhadas As coisas estão inertes Todas as coisas. Infinitas coisas As pedras estão separadas E ligadas O universo é uma pedra Atônita O sino toca É hora de ir, mas com quem? Já existiu Grécia Totens e Amélias Roma faliu, a mãe pariu Sente-se e vomite coisas. Sumiu.

224


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Profético Estava comemorando sozinho, mas meu Martini acabou. Lancei mais um livreto Outro sem conhecimento E defeito Perfeito Profético. Estou sem vinho!

225


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Gelo e Martini Porque não um Martini!? Hoje é sexta e tudo pode. Pó em tudo, inclusive no nariz dele. Mas ele quem? O ditador? Não. Não existe mais esse cargo. Só disfarça-dor! É ele, que ninguém sabe quem é. Tenho medo dele. Saio correndo. Não sei quem é ele. Mais um gelo, mais um gole. Boa noite.

226


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

O inventor Jesus: transformou água em vinho por isso peço um brinde e um viva... VIVA!VIVO!VIDA! VIVER!VÍCIO!VIVA!REVIVO! REVIVADA!SIGA!IDA!VIVA! VIDAMOS!VIVO!A!VIVA! VIDAVIVA VIVA! Ao inventor do vinho: Jesus.

227


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Arte PlásTica abcdefghi jklmnopqrstuvxywzzwyxvut srqponmlkjih g f e d c b a -a -b -c - d -e -f -g h -i -j -k -l -m -n -o -p -q -r -s -t -u -v -x -y -w -z +z +w +y +x +v +u +t +s +r +q +p +o +n +m +l +k +i +h +g +f +e +d +c +b +a c o n t i n u a n u a a lua a z u l c o n t i n u a n u a a . . .

228


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Baianidade Multicores Candomblé oxum axé malê Candomblê oxum axé malé Candomblé oxum axé malê Candomblê oxum axé malê Candomblé êxum exá malé Candomblé oxum exá malê Candomblê oxum exú malé Candomblê éxum exá malé Candomblé êxum axé malé Candomblê oxum exú malê Candomblé êxum axé malé Candomblê éxum exú malé Candomblé êxum exá malê Candomblê oxum axé malé

229


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Poemia 1 A poesia é uma conversa comigo mesmo a respeito de não ter respeito não temer o clichê, rimar sempre, mas só quando couber, faltar sempre e não perder às melancolias, sem perder o compasso nem a alegria viva, viva a poemia.

230


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Poemia 2 Para Oswald de Andrade

Talvez a maior solidão esteja dentro de mim. Ela ou punheta? Punheta ou poema? Talvez a maior solidão esteja dentro de mim. Punheta ou punheta? Ela ou poema? Só me interessa o que quero. Lei Liberta. Lei do Inventário. E me interessa muito o que não é meu. Lei pública e clichê. Só me interessa o que quero. Lei Liberta. Lei do Inventário. E me interessa muito o público e o clichê. Lei íntima do corpo meu e todo seu. Talvez a maior solidão esteja fora de mim. Poema ou punheta? Punheta ou ela? Talvez a maior solidão esteja fora de mim.

231


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

O futuro é agora e não me falta agora O século vinte e um chegou. A modernidade está, passou. A contemporaneidade modificou. A pós ambiguidade decepou-se. A sumidade se dissipou. Uma atrocidade é aceitar que o céu seja um hipotético macho. Prefiro senti-la como fêmea até porque uma 'episódio' tão bonita como a céu mesmo de cinza quanto de azul quanto de infinito e molhada é linda. A céu é linda. Esta atrocidade de mudar o sexo da céu é a mania do poder fálico e do artigo masculino imposto. Eu sigo isto: O futuro é agora e não me falta agora O futuro é agora e não me falta agora O futuro é agora e não me falta agora O futuro é ágora e não me falta agora.

232


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Vetado Pergunto: _O que você vê quando olha o mundo? Respondo: _Eu vejo o que meus olhos alcançam. Por isso eu prefiro deixar a minha infinidade fluir. Então, digo: _Não ao não pensar. É proibido ter limites dentro de nós.

233


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

poetizar a poesia está aqui ela, toda feminina musa entre nós, aqui à nossa volta. eu poetizo para vocês e vocês poetizam para mim a poesia está encravada em qualquer ser animado e inanimado mas sem vez para percebê-la a poesia clichê, démodé a poesia escárnio, poesia modinha de vitrine poesia nua, pudica, a poesia periquita, a poesia do toque, do gesto poesia do ego, poesia mal cheiro, poesia fezes, poesia cu poesia e glória, poesia e glória poesia sem ordem a poesia agora a poesia a poesia apoesia ... poetizar.

234 235


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

O sol Só há eu e o mar. Sem palavras, sem versos, só em tentativas. Só há eu aqui eu e o mar. Não tem você, não tem ela não tem passado, nem areia, nem sal. Só há eu aqui eu e o mar só há eu e o mar. Há também o sol mas esse eu não consigo ver meus olhos doem.

235


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

A beleza do CAOS CAOS Casas com casos, cômodos contraditórios Atas às avessas, ânimos antibióticos Obra o outro, ouvem-se obrigatórios Sopro somos Sufoco, somem-se satisfatórios Casem-se consumando Atrevam-se alterando Operem-se olhadela Superem-se supra-ultra-ela CAOS Sucinto, obrigatoriamente altivo cansativo Oriundamente alterado com o ser Aniquilado, consumado, superado? Outorgado? Consecutivo, Admitido, Omitido, Seduzido Caos, interrompível AOS cataclismos atribuído sem suspiros Todos CAOS Estão CAOS CAOSOAC SOACC AO S CAOS OAC O CAOOS A CAOS SOAC SOAC CAOS CAOS SOAC S CAOS O O A CAOS CAO $ OAC A FURadddddeeeeeeiiiiirrrrrraaaaaaaaaaaaaTa,da,ta,ta,dat a,tttttaaaa,ddddddaa,ttttttttttaaaaaaa,ttttaaaaaa,dddddda aaaaaaaaa,....;;;´´´~~~…~....

236


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

O ÔnibUs O trânsito asfáltico de areia de pedra mudado A voz algoz feroz atroz, o cheiro com sebo sem sebo amedo a luz e a não luz, reluz azuis o obrigado e cativado, fardo dado o estômago incômodo incômodo do dono, o shopping, a vitrining, o swing na avenueing o esgoto com gosto com outro todo, a cidade, a maldade novidade, perversidade novela na tela, dela e outras celas a universidade novidade? o currículo rito mitos e sacrifícios , o público, o pupilo o púlpito restrito abrigo e privado(ativado)? a fome com nome renome sobrenome e feijão e beterrabas que alimentam os que não têm nome os olhos, os poros, os mortos ou quase mortos que não te olham, não sufocam, não suportam, estão mortos ou quase mortos as escadas (placas capas fadas) rolantes, vibrantes fabricantes alucinantes tecnologicamente gestante (mãe da obesidade) novidade(verdade)? a eletrônica super sônica e ultrafônica diacrônica. o voyeur namastê, degradê, fazer o quê? a TV, não há de que, por que, pra que a marca, tá velha e cheia de barata, caspa, sarna e ainda vende, compra a onda pompa a cocaína, dopamina, anfetamina, heroína os donos dos nomes das praças: Carlos, Artos, Orlando, Soriano 237


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

os escritores, os pintores, os roedores e, logicamente, estamos no Brasil, os credores, os políticos vícios em corruptos, vícios em descarados vícios os embriagados e boêmios e vinhos consumados teorias e filosofias atados, altivos vivos? os pedintes, os ouvintes, no centro adentro na ladeira faceira o pecado original, o sincretismo pudico o ouvido fórmica o coração gemido o gemido retroativo, vivido, intensificado, sentido o cimento mentamente mentalizando o umbigo está no centro do odnumbigo o prédio está um tédio e corpos voam em atritos os aflitos querem voar ar ar e ar e os que não pintam apitam CAOS me ouviram Tchaus me sentiram reassumiram O original de um tudo CAOS O clichê de todo surto CAOS Démodé e absurdo CAOS Interrompível Frágil, detalhando a beleza do CAOStráfego e sua insuportabilidade Relatando a certeza de CAOS fato da minha ambigüidade Consumando a firmeza do CAOS ato de minha desHonestidade Assumindo a alteza do CAOS vasto todo de minha identidade Cuspindo a clareza do CAOS acaso e continuidade 238


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

N O S TR U IN C DO e indo qualquer fato ou genialidade andando a pé, ou abduzido subindo de pé, ou invertido acreditado, agnosticado aceso, refeito rimado, versado, atitulado com nome, sem teto, nem reto onde ir, pra partir, chorar sorrir pois é necessário amar, aceitar, viver, gozar, flutuar rimar amar, rimar, gozar, errar afirmar, misturar CAOS CAOS CAOS CAOS CASAS há quem precisa qual a forma do CAOS além de sua beleza e de seu nada? qual sua forma além da poesia e mistificações em grupos de suicidas? qual a melhor forma além do coletivo indivíduo atribuído? qual a forma prosaica do CAOS? além do turbilhão, aspirações intrínsecas o que é CAOS? É beleza, meu caro poeta: "Talvez não seja esse poeta todo talvez seja torto ou clichê. Você." O que interrompe o CAOS e suas sucessões que estão à tona, impedidas e desprendidas ávidas, à tona nonada algo voraz e nós. Homo sapiens, restos, cannabis, ratos, estátuas espelhos, macacos, criaturas, deuses, feitos, escravos raçados, marcados, cotós, pós, ante, pedante hidrógeno, gay, sado Homo-drojo-ceno-dado-zado-mato-acato 239


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

algo voraz e nós, prosaicamente CAOS Todos CAOS Estão CAOS. Agora chove, se resolve e vai.

240


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Ar A palavra começa na cabeça. No papel, não pertence mais a mim. Ideologia e papel higiênico Cadê o oxigênio?

241


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Dias tristes. 1 Uso rosto de outdoor sem dó nem nó. Mostro a você que pode que posso. Estou na frente de hobby pra sair do ócio. Com manha como picanha. Sou gordo enfeite burguês sou magro enfeite xadrez. Sou plutão putão e marte. Estou júpiter pertencente à arte. Estou flutuando no universo em busca do mero verso. Como palavras vertentes e modéstia indecente. Absorvido atribuo vestígios. Mijo resido e cozido. Escrever? Pra quem tecer? 2 Inveja, raiva, solidão. Quero entreter. Coração na mão e razão. Doentio e só. Cadê você? Mas não menos só que você. Coração alusão e doentio. Coração pés e pio. Sozinho tão como você no vazio e no covil. 3 Pés, em singular manejo, flutuam nas passarelas e no desespero da cidade. 242


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Saudade, dor e amor. Idade, dor e amor. Modernidade, amor e dor. Ambiguidade por favor. 4 No vácuo, observo você no buraco. Carreira esticada, nariz espichado e cu no ato apontado desatado. Faço parte em desacato escarrado. Mas não quero ser apedrejado. Destaco-me. Desesperado grito o fardo pro fato. Em pedaço de amparo vasto, estou em indiferença isenta. Estrago meus olhos sem pimenta. A solução. A salvação? Quem quer? Quem aguenta? Mentira, palhaço e fato, feto. Vamos restos e deixamos restos. 5 Pedaço de olho ambíguo. Pedaço de olho mágico. Motivo e vivo vestígio. Sorriso e cisco fantástico. Amigo e detrito antigo. Vivo e inquilino fatídico. 6 Sem querer, perco sem lhe ter. Como a paranoia de não ser. Assim, se perde de você. Vou e venho sem chorar. Mas agora choro feito dor. Dor de novo e só de novo.

243


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

7 Soturno, vejo olhar profundo em você. 8 Sentado, centavo e Virgílio pensando na cor do fígado. 9 Poeta, mas não salvo ninguém. Só tenho a mim para salvar. Sou Poeta e nada tenho a dizer sobre aquém. Pra mim, se mova o desdém. 10 É mundo É triste É só É amar. Os dias tristes e nunca. 11 O pé pensa que machuca. Mas nem sabe se escuta. O pé anda, reclama. Não mama. O pé desanda. 12 Sou coisa que ousa. 13 Parceiros e comparsas dormem no quarto e a biologia tem teimar como aparato que em mim a raposa pousa e repousa. 14 244


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Mais vinho e dentes bis de novo hoje. De novo por um triz. De novo hoje vai ser amanhã. Não tem o que mudar. Nem precisar. E nada nada nada não finda em estado sã dias tristes a andar. 15 Portas eletrônicas não têm distinção abrem para pobre e patrão. Faço parte desta ilusão. Tudo plástico e virtual. Ohh yeah, comemoro ser sexual. Sou tribal, maioral, subversal. Animal. Vegetal. Mineral. Boçal. 16 Como papo de filósofo analfabeto moderno. Como papo de homem objeto esperto. Sou parte dente, parte gente e defeco. Sou reflexo e verso. Parte deste plástico. Desta banha. Desta hora. Desta honra. Desta pompa. 17 Pra fugir vou arraia, arara e liberto. Subo como pipa, isento, inseto. Pra sobreviver sem meter finjo ser vingo ter em atas ver 245


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

e sigo crer com aspas na cabeça. Vou tromba pra barriga vossa. 18 Versat é europeu Eu sou quem não morreu. Parler Francês? Espanhol. Alemão. Russo and english? É tudo seu. Eu falo Brasilês em meu Brazil burguês. Fico noutro mês. De praxe: fuck vocês. 19 É ordem poetizar para o mundo a solidão do absurdo. É ordem poetizar para o mundo a solidão do absurdo. É ordem poetizar para o mundo a solidão do absurdo. Sem nexo e embaralhada. Sem resto e sufixada. 20 Só, estou só e vou só. Não aspirem a mim. 21 Passo o dia na teoria do impulso. Na filosofia do seu mundo. Na geografia de seu passo. Na putaria de seu cabaço. Há orgia em tudo espaço. 246


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

A antropofagia há. 22 Para o mundo, o reflexo sem sentido e beleza. Para nós, outdoor e certeza. 23 Imundo sincrético sortudo soturno de banha e barriga ando me siga adeus aos que ficam vou de peito, sou macho de pica. Me emociono com o palavrão e como é bonito esse refrão: Eu te dou a mão e você me dá o seu c..~. Bestas. E vamos. Nos dias tristes andar.

247


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Versos negros Lá venho eu cheio de palavras mudas Cheio de sonhos perdidos. Lá venho do arrebol e do crepúsculo Que brilha no horizonte do São Francisco. Cheio de vontade de amar O mar A natureza de concreto misturada com a mata atlântica O barulho do trânsito, que entra pela minha janela onde vejo o mundo, que reflete em meus olhos em prédios Carros, faróis e pessoas que caminham Apenas reflete. E lá venho eu Acendo um cigarro e reflito sobre sonhos, versos Palavras Fico cheio de melancolia Mesmo assim, vejo o mundo. Pois se existem janelas Por que não saídas?

248


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Enquanto tanto pouco choro, resolvo, rio, assobio, não me poupo Enquanto o sino toca toca a poesia hipócrita chora chora enquanto rima rima dorme acorda a corda tora entorta enquanto escrevo minhas rimas rimas meu verso banhado de mel abaixo deste céu brando por dentro deste quarto falso iluminado enquanto sofro com a melancolia do mundo a tristeza dos vultos o sonho absurdo enquanto a Bahia cresce o Brasil cresce o mundo muda a paz não morre o universo se encolhe a filosofia não deixa de ser pensada a poesia não deixa de ser descarada e o Brasil não deixa de ser o país do futuro do mundo! Está na esquina da ponta do papel no esconderijo do mundo o menino chorando sem pai com fome sem cola sem nome com pedra com ódio procurando onde abraçar suas feridas calejadas e doentes que nós fingimos não ver. Não preciso estar feliz não preciso esconder de mim a hipocrisia 249


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

pois enquanto choro e o político diz mais mentiras do que besteira sem eira nem beira e o burguês politicamente correto esquece, cega, caga e não limpa e observa matérias na TV o menino morre e ninguém vai em seu velório ninguém vai em seu simplório velório. A não ser sua mãe e sua irmã de colo. Um padre também estava lá. Este, nada comovido, fazia seu trabalho. Mas caso estivesse dado na Televisão... todo mundo compareceria com aptidão. Não preciso ser hipócrita comigo rima rima verso amigo meus camaradas, não precisam ser hipócritas com vocês próprios a culpa, além de mim, onde está? Eu bosta, nós bostas, tudo bosta, bossa bosta bossa dança a bossa nova: "Pam pam pam ram ram ram ram ram ram pam pam ram ram ram ram pam pam tam ram pam pam ram ram" aqui nessa bossa onde cada um tem a sua pompa e uma garota de Ipanema não preciso ser hipócrita. Enquanto o garoto chora chora em seu próprio funeral enquanto o garoto chora chora em seu próprio carnaval. Me desculpem os culpados, mas também sou culpado e não quero tomar a culpa de vocês apenas quero dividi-la Vamos é a hora de assumir. 250


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Infância prévia A c c c hhhh u u vv v v v v Eu gosto da chuva. Gosto.

A aaaa me acalma.

Os pingos nunca são iguais um em um caem entrando numa vertente circular em mim sempre dentro bem dentro de meu eterno. Molhando. Olhando. A chuva de Alagoinhas sempre será a mais bela e mais forte de todas dentro do meu coração meu coração eterno. Talvez meus olhos gritem paixão e meu corpo sinta o tesão mas é o amor que cai com a chuva inundando meu eterno.

251


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Tenho olheiras escuras e marrons Tenho olheiras escuras e marrons. Dopadas. E olhos baixos, tão baixos que enxergam a terra. Olhos com listras vermelhas e espaços em amarelos lírio. No momento, levanto a cabeça e vejo o céu está cheio de nuvens em blocos doces. Vai chover e venta frio Vou dormir com arrepio.

252


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

A cabeça A dor de cabeça está escrota. É porque a cabeça não é oca. Mas também não tem ideia. Está cheia de cabelos e pelos E, por fora dela, vários mortos e medos. A cabeça está de dor. Está sem cor É incolor. A cabeça aponta em seta: aresta para o infinito acima e há um corpo do chão enxergando o inferno.

253


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Monstro Abro a geladeira O Martini me olha e brilha. A luz da geladeira fria branca cabra cega, cessa em mim. Acesa. Pela sala até a outra sala, vou Chão frio, pés descalços, nenhum calafrio. Boca sem sede, nenhum frio me cala E em Teresina Não tão longe do rio Sinto frio e um santo brio. Saciado, sento no chão. O frio faz bem. A novela está nos últimos capítulos. Meu vício está no primeiro. Uma lesma está no canto úmido da parede branca. Ela ecoa, dobrada, chupa a cor amarelada do branco da parede branca: Um suco âmago de sujeira e musgo susto. Entro no quarto, a luz acende sozinha. Só. Só pode ser alguém que não vejo. Beijo. Vejo uma barata com a barriga pra cima. Ela diz doidona convicta: _Cara, que viagem essa luz... Eu redigo invicto: _Porra, você vai para cruz. A barata brilha para mim E me faz lembrar o Martini. Com o papel higiênico, tampo a boca da barata agoniada e digo: _De vitrine, barata aqui não. Só Martini e minha absolvição. 254


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Com o papel higiênico em mãos Assassino-a sem dó no coração, esmago-a. Ela não diz nada, nem me chama: 'poeta chulo' Não afirma Não agita Não aflita Nem geme. Lixo pra ela Luxo pra mim E biquíni nas meninas. Na sala, a TV me hipnotiza Meu lugar é aqui sentado Descarado Ouvindo grilo Respirando, enfim, normal. Sem moral, pervertido convicto. Ainda na parede, a lesma de forma atual Está lá grudada e brilha Ela ilha Eu idílio. Ela me lembra o Martini. Pego-a. Ela calada fria na ponta do meu dedo. Eu calado na parte de dentro Frio e medo. Ela ainda calada, silenciosa, monstra, jega, Lesma Levo-a No papel higiênico. Eu cheio de respeito assassino convicto intento Não a esmago, nem a deixo de reparo. Torturo. Subjugo. Amasso o papel higiênico com o gozo da palma da mão.

255


O outro lado do olho

Jos茅 Augusto Sampaio

Lixo pra ela E frio, nojo, riso Luxo pra n贸s E uma dose atroz.

256


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

O otário Tem um espécime de inseto voando em minha frente. Estou dentro da sala daqui de casa. Ele voa Vai à luz. Há luz. Ele, nem grande, nem pequeno, grudado, espécime Vibrando na luz. Olha para mim: _Otário. Eu ouço, aposentado e calado. Verifico toda imensidão eterna entre mim e ele. Planejo. Verifico e contemplo o espaço vago entre nós. Ao mesmo tempo em que vago, denso, sem que meus olhos percebam. Quando ele, espécime sem nome, pousa para curar a onda azul da luz. “Verás que minha sandália é cortesia da casa.” Penso. Dez minutos depois: _Pisei e piso! – Grito para ele, o violentando. Ele questiona: _Por quê? _É a vida.

257


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

O descarado Minha loucura. Minha luxúria Minha loucura. Minha usura. Vontade de mar. Vontade de ar Vontade de ser. Vontade de ser sem ser Ahhhh filosofia barata e sem lógica Ahhhh boemia barata e com lógica Ahhhh poesia descarada e com lógica

alógica

Se não fossem as mulheres Meu Deus, ahhhh, se não fosse a Marizete Se não fosse quem?

258


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

O premeditado Quando não tenho o que escrever Escrevo um soneto, sem ser soneto, para você Entender meu lado obsoleto. Testa, mais que testa. Careca. Ressaca, vinho e maconha. Eureca! Tudo pela poesia métrica. Fingindo estar rico e desatado Escrevo embriagado e derrotado. Pela saudade que pela na pele Pela vontade que sussurra e pede. Você aberta. Imperfeita, intrépida. Ela, mais que ela. Fera.

259


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

O Corpo cc oo rr pp oo

corpo meu corpo o....o outro corpo corpo antropófago corpo copo de ouro oco como coco fosco ego corpo humano bisonho estranho perfeitoimperfeitofeito sem asas enfeitefeitosósó com peito e medo você é meu braço você é meu braço esquerdo direito esquerdo (se fosses minha te pegaria) direito esquerdo (pela cintura em alegria) direito (pois só quero alegria alegria) meu corpo se come em orgia orgia) (assim contamina a minha libido) (se você deixar te chupo o furico, tua língua e teu umbigo) corpo humano estranho em entranhas em nomes que me mostram truculentos temores das antas aos bambas finalizando com a ao invés do z ninfa e anjo, eu e você corpo humano corpo humano copo humano oco humano fosco humano ego humano somos anos somos ânus unha pé sol arranjo.

260


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Máquina JAS Máquina Impacta Máquina Compacta A Máquina Compacta A Máquina Impacta Máquina Impacta Máquina Compacta A Máquina Compacta A Máquina Impacta A Máquina Engata Engata Máquina Lá Roça Magra Fala Aja Anja Onça A Máquina Reluz Reluz Máquina Lá Toca Induz Conduz NaOraIndoPraLuz Aberta A Máquina Blues E Lilás NaTécnica E Métrica Já Imagina E Finca como se fosse um de nós MaSNão ImitaNemRespira Respira Diz-seViva Rasteja Grita Segue Ímpeto Investe Insisto racional-disse-a-si-VIVA! E com fé És a vida em seus registrosssssSSSS$$$$ Mais que AMáquina AMáquina quer mais Só A Máquina Maquinar A Sós Empírica E Silenciosa SemPaz E SemCapa Robótica E Enigmática ÑDá É ÑNada A Eletrônica Biônica Segure Sei A Eletrostática Enfática Apure Sei Tem Cadeira Elétrica Regule Sei Tem Trio Elétrico Já Sei. Sentir Em Fim De Peito Aberto Autópsia nóia Propósito FajutoPois A Máquina Pedaço De Pele Cerne Vestes Nós JAZ e com FÉ. A Máquina Afaga Afaga Máquina A A MÁQUINA Máquina Maquina maquina maquim Maquiando Maquinando Mecanicamente...................................................... .......................................................................... ............Em passos silenciosos... 261


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Masturbação e Poesia Masturbação e poesia. Masturbação e maconha. Pornografia via internet Pornografia penetrando pela net. Mulher que é bom tenho uma A mulher que é a boa a minha uma da boa. Não a cerveja sim ao vinho. Digo sim a paranoia E dentro do quarto escuro, só o ventilador não diz sobre a indecência. No quarto do fundo me escondo Me escondo atrás de meus olhos castanhos Ando na rua feito defunto-ninguém Observo a todos e seus podres desejos Avisto todos e seus cheiros grotescos. Ando e me olho no espelho não sei viver sem estar com medo. Masturbação e solidão. Masturbação e delírio. Masturbação e pentelho. Estou enterrado na lástima e no vício Mas sigo em puro otimismo, entusiasmando alucinando E, dentro deste quarto, me travo E me esqueço do verso e rogo pelo verbo Não há o que fazer se não viver.

262


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Reza de hoje Junto mãos, prego dedos. Ajoelho. Desejo: Deus me dá apego me tira o medo e essa dor nas costas. Deus me dá o sol amanhã, faça-me ser mais que sã Ser avelã. Me espalhe pelo mundo, me jogue no chocolate.

263


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Motivos lógicos. Motivos óbvios. Uma parte de mim parte e não volta mais. Outra parte fica e não entende mais. Uma parte de mim dorme o tempo inteiro apenas sonha. Essa parte de mim que sonha o tempo inteiro apenas vive ou não? Outra parte de mim morre obeso com gosto de luxúria na boca. Outra parte de mim morre eclético ergométrico em todos os sentidos. Outra parte de mim apenas pensa é uma pluma a planar. Talvez todas as partes de mim já tenham partido e me deixado só. Ou não? Outra parte de mim é apenas servidor público. Vive no pleno súbito da certeza do salário. Outra parte de mim está no coreto no meio das atenções e em desespero. Outra parte de mim se candidata brinca nessa orgia covarde da vida. Em mim há várias partes. Em mim são as partes que fazem o todo. Em mim O Bom é o meu gosto de sol e fosco. A parte mais literal e mais psicodélica e elétrica é a minha parte verbal e metafórica. Tenho também minha parte imaginativa degustativa e sorrateira sem eira nem beira, mas cheio, cheiozinho de rima. Uma parte de mim é passada e já foi relatada no livro 264


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

ultrassecreto de Deus. Seja lá quem for Deus, sei que me deu, é meu. E outra parte de mim é a vida. A vida que passa condensadamente. Já esqueci o nome das ruas vizinhas à minha rua no Parque Alagoinhas. Nem mesmo sei o nome de minha rua. Mas o bairro ficou em minha mente como uma condolência de intimidade dentro de mim. Desde já, foram tantas marcas que mudaram de nome e estética, sofisticando-se por motivos óbvios. Desde já, foram tantas sogras que me esqueceram por motivos lógicos. Sou a mudança em transe espiritual da rua que já não é mais de paralelepípedo. Virou asfalto e esquenta demais. E demais esquento em mim as mudanças e minhas partes separadas de um todo. Desde já vou religando-me em vertente cegueira sobre a vida. Pois já foram tantos rostos e nomes e cheiros e medos e segredos e apegos e dedos como o detalhe da unha de uma alguém que me fez ver esse detalhe esse dia. Ou esse alguém apareceu e eu, cheio de curiosidade, percebi esse detalhe em tal unha? Ou simplesmente é qualquer parte deste poema cheio e cheiro de palavras horizontais mas que não tem condição de se comparar ao horizonte 265


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

em que o sol se põe, nem se comparar a uma parte de mim? Talvez seja agora qualquer segredo meu que revelo de uma forma bem confusa pra você sentir pena de mim. Pois sou ser e não consigo deixar disso. De ser.

266


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Poema Novo e Temático O Amor o amor às pregas duas pernas abertas dois corpos em sincronia simétrica. o amor: gozo e eterna saudade, ansiedade tranquilidade. o amor em clichê quase sem querer assim juntinho, sem meter. o amor e a vaidade quase por você o amor e ambiguidade entre eu e entra em você. A Saudade passa a idade e é verdade sinto saudade. mas ainda sou mocidade vou sentir muita saudade vazios e verdades. o vazio não é doce sem a saudade não é rosa sem a saudade. sinto saudade sinto vontade. Verdade verdade que sou mentira que sou verdade mentira. Substantivo Abstrato na igreja falam do Deus, substantivo abstrato pedem a benção, comem a hóstia, rezam, não tocam quem disse que é substantivo próprio? tomam vinho 267


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

o padre senta, pensa no ócio na TV, falam de paz na rua, passou um bando de sonhadores de branco os políticos e estrelas tomam desse discurso de paz mas, pelo que sei, em minha estúpida ignorância não há nada escrito nem se sabem quando houve paz = substantivo abstrato=Deus? entre outros no poema de sentimentos, outros substantivos abstratos bravo bravo bravo (aplausos imaginários) e, nas mãos, vazio outro vazio e ar. Plural vazios saudades de eus nadas tudos absolutos ninguéns uns absurdo absurdo absurdo absurdo absurdo Poema dos Cinco Absurdos eu digo nunca fé em sempre confio no de repente sou destinado sou revolucionário. 268


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

A Revolução conecte-se, compre uma TV pro seu quarto mude a sua tranca pela fresta da fechadura a fama espiona. A Moda uma moda duas moda três moda massa moda nossa moda sua moda eu moda 1 moda... ETC continue tocadamente esquerdando endireitando tocadamente continue continue tocadamente esquerdando endireitando tocadamente continue e outras coisas Fora de Tom camisa desbotada seda rasgada teco tico nariz espirro alergia vírus agulha urna rima chula tática antiga estética falida a crítica que diga que a vida repita a minha camisa desbotada, manchada. 269


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Descuido o buraco sempre está no mesmo lugar, a culpa é nossa. Culpa a culpa não é boa mas a vontade é grande. quero esse lugar quero no seu lugar vago. Lugar aqui, dois não estão lá, já não sei de quem é e de ninguém, nunca estive lá. Lá é tão longe quanto eu. Quantos e Quantas quanto pano de algodão e poliéster há em sua camisa? quantas palavras são precisas? quantos ruídos adquiridos? quanta moda é ditada? usada? Quantos e Quantas de mim há em você? Quantos e Quantas de você há de ser em mim? Você poderia ser eu ou até você. Poder i can yeah Bush, brush Obama, laranja bruxa, ducha aço, bom brill Brasil. 270


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

O Brasil puta que pariu há um dentro de mim. MIM maior impropriedade mínima. Impróprio e Filosofia Barata o mundo é uma ilusão e EU, o sonho. O EU noutros neu.

271


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Todo mundo sorri na foto Todo mundo sorri na foto. Quem não sorri, anda de moto e se joga contra o muro. Você está sendo pago pra despir tristeza alheia. Você está sendo dopado pra sentir destreza na veia. Cumpra, cumpramos e compramos. Vai atolado em fingir que é o cara no ato, enquanto engole sapo e cospe rato, procria nas piscinas e invernos. O cloro já não bate, nem o inseticida isenta nem a insônia abate. Está na moda ser suicida. Está na hora de ser homicida. Inventa venta ventamos. O mais engraçado come as minas alvas. O mais otário come as minas auras. O mais baixo come as minas magras. O mais feio come as minas taras. O mais macho come as minas raras. E todos no vão todos pagando pelo direito de pagar Vão com bolsos cheios de minas caras e estourados de receios e pentelhos. Donos do mundo, filhos da puta. Grito com discórdia mesclada à inveja. Mostro meu espelho, ofereço meus pentelhos, não meu festejo. Sou hipócrita e não sou hipócrita. Não quero comer ninguém (?) Deixem-me meio além. Estou no meio, mas não no muro, nem no murro. No meio, sem mais palavras. Pobre do homem que não tem mais cheiro, pobre de nós Que estamos felizes e aceitamos. Pobre de quem não tem medo. 272


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Rico, quem não sabe e acredita em milagre ou morreu Ou cedeu, partiu em viagem. Seja, veja, oremos aos vermes, em descontínuo próprio. Ópio. Viva eu.

273


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Poesia de Vanguarda SOBRE a POESIA composta de versos e rimas de sentimentos incrédula e agnóstica filosófica palavra de Deus na boca dos homens e loucos na caneta do poeta onde se têm árvores e louros galhos atrasos. Augustos. Sobre a vida, o gozo, o podre e o vômito sobre a melancolia sobre a antropofagia sobre o júbilo a aurora o arrebol o crepúsculo sobre os detalhes as entrelinhas estrelinhas as curvas e vãos buracos negros sobre

o Universo s

e

t r s

ela

a

poesia toda espelhada, dita pela vida e pela morte. Subjetiva lúdica, inofensiva, seca, imatura, crua escrevo nas alturas (de cara também) é sobre o diferente do normal o que é normal? NadaTudo nada o tudo dos mares vai ao povo índico 274


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

ao povo ‘índio’ sou negro, índio, português, italiano, francês, baiano, juazeirense nordestino e soteropolitano, teresinense, baianense, brasileiro, vermelho sul-americano, indivíduo mundial, global, capital universal, sou Multi, High tech filosofal; ... isso tudo nascido em Alagoinhas interior baiano das laranjas sou poesia. É sobre mim que estou alcoolizado com a poesia com as palavras, com a rima os versos o continuísmo o ácido e as orgias se bem que é no grotesco e seco que chego ao sebo (rima) rima minha menina abra-te o verso (verso) é algo sem controle, não sobra resto. Insatisfeito, imensurável, inacabado vou em número irracional no infinito de tudo ir ir a pé nas trincheiras antagonista mas o amor, este clichê esta palavra popular apropriada a qualquer mentira alegria gozada esta também faz parte neste ser composto, desde o início 275


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

cosmicamente falando (isto é mais uma verdade deste indivíduo monoteísta) ahhh todos os monoteístas insuficientes aqui redigo: se não fosse o sexosexosexosexosexo sexosexosexosexo sexosexosexo sexosexo sexo !! a explosão liberada por Deus aos nossos primeiros descendentes Adão Eva cobra maçã Fração Uma fração milésima de 7 dias Diz a bíblia Ou de bilhões... Diz a ciência (não importa, o tempo é imensurável) pois o que assegura agora é meu vício e meus lírios feitos ao ponto, em busca das cores o poeta ali, é viciado em chocolate eu aqui viciado em |~| PI X-Y=Y+X controvertida, abusiva, introspectiva disseminativa recreativa, V A N G U A R D I S T A INTERESSANTÍSSIMA a poesia fobia, demagogia, nostalgia 276


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

esta passa, passa, passa nostalgia é uma ferida que invade cheia de pus e vaidade. Sou vaidade sou luxúria usura clausura. Falo sobre o político o leiteiro (influência de Carlos) os amigos, os invisíveis indulgentes crentes, recentes à vida insuficiência sobrenatural por isso vou além redigo: digo amém. Além do que vem olho o original entendo o racional BLÁ, BLÁ, BLÁ, BLÁ, BLÁ e também um monte de baboseira falo SOBRE a P O E SI A Ela cantada Rimada Estética Cética De Deus Deu Do Diabo Dia Do Caralho Cara Do Eu's Neu Orfeu Alceu Amon-há Em silêncio De um movimento aparento 277


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Do A. -------------É do inicio das eras que Jesus é o maior dos poetas e um grande bebedor de vinho como eu o Emanuel herdei seu nome e seus cabelos longos e barbas de profeta mas me tacham de drogado poucos dão-me os ouvidos à me ouvir quero demonstrar-lhes também à ir é Sobre a Poesia essa orgia insana de idéias e virtudes e desgraças é sobre algo que não tem mais o nome não eles...eles quem? Mas são eles que me chamam pelo nome ohhh Juazeiro Zé, Guto, José Augusto (ninguém me chama de Sampaio) chama Josué não de Emanué (ninguém me chama de Couto) nem Emanué (nem neto) fico em fé mas é Emanuel, não Emanué é Emanu el Emanu énu Ema elnu Ema énuma É e depois de nove meses se vem o filho com ou sem abrigo. O mundo, a vida, o sorrir, o gozar, o brochar, o chorar o lugar dos poetas é o mundo o mundo branco listrado 278


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

composto de expurgo de vômito de medonho e de amor o clichê mas entre o ser e você existe o clichê. Eu e você, juntinho assim no poeminha no quartinho, curtindo nossa alegria (mas vamos ser sinceros, quem não quer dinheiro? E um apego) todos querem o plástico eu também mas antes "meu Deus digo amém" está para o céu a minha sorte está ao inferno a minha ordem está em desordem Sobre a P O E S I a minha ApoemApoemiA estás na prole tempo anacrônico me engole e no fim só saberão; o pó, a areia, os vermes e seus respectivos Excrementos. Você a flor mutante a girassol rosa Sorri para mim agora! P o e sia & orgia

C O N C R E T A

porra o 279


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Vanguardaedroga t a abre agora é hora! Liturgia; instituído não pelas igrejas massificadoras da massa e sim pelo verso, rima lambuzo com estética saio da merda, entro pelo cu explodo pela boca com um grito e vou ao céu, tocar tomar no dedo mindinho de Deus logo em seguida caio desesperado ao encontro do DemoDiabo e o chupo até porque ele é Fêmea e mais uma palavra carregada de dogmas e ética Sobre a Poesia, não há certo errado, sobre a sacristia há o pão e o sangue de Cristo hão vinhos e profanos sou mais um destes que profanam que me odeiem ou me amem mas que me sintam e leiam-me. Não mostrarei respostas e novas regras estou impregnado a ordem excêntrica da lua estou exposto a todos os gostos, cores, dores e sufoco ir apenas mas para onde? é a resposta que menos interessa mas a poesia, ela sim, sobre regras ou merdas fetais fatais ela a poesia poemia a sucumbista, a subversiva, a diluída 280


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

(está na época agora) nestas palavras restas palavras através destas linhas e setas ela a flor mutante alivio, altiva, itinerante. Constante. Impregnada na miséria do outro que meus olhos e criação burguesa esconde mas que minha depressão e solidão revelam-me sendo o chão estático ou aquele mosaico o negro que passou a negra que ressuscitou meu intuito de querer mais o sexo anal foi aquela negra de minha altura que pouco falava e tinha metros de bunda e me dava de quatro bem vindo ao gozo pelo gozo até porque o amor é clichê e quando ele vem quase sem querer tudo resolve entreter e dissipar gozar quase sem querer quer resolvo apenas dizer, inverter ter deixar crescer crer ser e o assunto me engole olhe "sou 50% sAeMxoR e 50% o resto" mas é necessário que os percalços sejam controlados pois inerente a mim está tudo em mim existe tudo. E um absurdo murmúrio astuto. Sobre o Poema um gozo, um beijo no rosto e outro mais bondoso ante-gosto nu-gosto, sufoco 281


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

não enjoo e continuo a cheirar ou ... (agora uma pausa para os demais se conectarem) ///////////////////////////////////////////// ///\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\ \\\\\\\\\\\\\\\ ------------------------------------------------------------------------------- L& ressalva: não construo poesia a rima o verso escrevo, acaba, quase nunca recomeço e no fim...aqui está ela indiscreta e secreta um tanto de palavras incompreendidas e que por poucos serão lidas sei que o maior barato está nos ilícitos e alucinógenos e na boca do moralismo quando sós inglórios aparato e status radicalismo e liberalismo suicídio: penso algumas vezes se bem que ultimamente as mulheres e outros... (como outra opção) fazem-me dizer não é pura degustação depuração da minha apimentada criação (uma caixa de ressonância magnética) quero chegar até os vermes estes que só a terra sabe onde estão (influência de Augusto, meu chará) quero relembrar sobre a D O R AMOR subjugar querer e não ter me faz poetizar sobre rotina e coisas divinas... 282


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

santo dia igual a outro dia que está impregnado em minhas lembranças que não sai de minhas entranhas que não mata a saudade de minha insana não repara nem arranha foge da sina umbigo continua, fecha teus ouvidos aos outros que te apontam não esqueça de procurar abrigo goze com os que te acanham mas liberte-os, assuma-os. Todas estas palavras sem sentindo. Toda esta poesia sobre a poesia. A poesia personificada em sincronia. Assumo o não sentido. Por isso tantos resquícios e abrigos de braços que espreitam o amor o amor o clichê em palavra (não mais que esta poesia) o démodé nas cartas românticas e moralistas desta vida. Liberte a sua mente. Sobre A A Poesia. Opino, aconselho; Leia João Ubaldo Ribeiro o livro dos ditos, dos Budas Ditosos SOBRE a Poesia Liberte a sua mente Aceite a familiaridade sobre a homossexualidade (sobre tom de protesto) 283


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

quem nunca brincou de doutor e médico na infância, não lembra, mente bem ou não foi criança... S I o e b P A r e do a (gora) agora que se entorta na escuridão de minha eterna aurora glória e derrotas sobre o silêncio e desprendimento do vento em tudo social e vaidade alimento do nosso ego do nosso sexo não sou cego, enxergo; recesso seria se em nenhum dia me entendesse como orgia ou burguês, hipócrita, lei, história, e nada mais sei a pura ordem dos dias e das vias, assim caminho e vou. Não chegarei cheirarei com a camisa de Vênus ou Escarlate de Sócrates ou Lincon sou que os outros apontam auto afirmo a condição da contradição e mentira assumo meus nomes e ponho armadura grito, expurgo assino-os todos os dias sobre a minha Poesia alegria, desgraça, mentira, boemia e na alcoolização da poemia sigo. Sobre a minha vestimenta minha barriga imensa poesia isenta e cega aos compromissos da métrica 284


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

NUNCA NUNCA NUNCA NUNCA NUNCA NUNCA NUNCA submisso ao ridículo de não estar sendo ou não sendo persuasivo, criativo abusivo Poesia de VanGuarda, poesia e tara (pois tenho tara sobre a vida) Poesia Cósmica Baiana Concreta Existencial Antropofágica Contemporânea ApoesiApoemA e rótulos chulos e dedos apontados exploda em minha parte epidérmica exale-se ao mundo. Poesia enigmática, sem vestimenta de letras que explodem do papel em busca do gozo oferecido pela realidade, em busca do sopro conduzido pelo existencialismo e metafísica poesia sólida, concreta. Poesia de nomes de dentes. Agora não é mais minha, agora está absoluta na eternidade do sempre, onde não se sabe o onde que é agora. enclausure exale dissipe ofereça Sobre A Poesia Agora.

Destroçando

idéias metas regras fundindo o verso e a rima subtraindo o indício e suicídio árvore cheia de galhos em as todas direções encontrando-se na ligação antagônica 285


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

divina e crua da prosa poética Aqui sempre à estar (há) às sensações

minha ApoesiapoemA.

eu – fumaça, sangue, Zé, futuramente pó do interior, filho de dois pais e criado pela mãe o filho da mãe de cabelos ao vento, mesmo sempre careca agora repasso estou isento.

286


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Eu Vou Sou de todos os tipos por dentro, esconderijo por fora, acrílico. Vivo defuntando vontade e desejo. Eu almejo. E peço do fundo da fila, tenho pica sou maldita. Sim sou todo vivo e cisco como de lixo e de doenças morais, carnais e espirituais. Sorrateiro, mastigo borboletas e roubo pêssegos alheios. Sim tenho todo o vício e pratico a beleza. Sou pujança, um pedaço dentro fosco outro pedaço fora frouxo. Sou todo ofício e escondo meu lado disforme. Prefiro ver o seu lado podre e bosta. Me tomaram a torpe estou sem a antropofagia e sua vagina me puseram a moral. Sou de todas as formas inclusive cara de pau. Dentro e fora marola. Fora e dentro amostra. Meu dia são drogas e horas e voltas e portas e modas em mim 287


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

e as drogas são temperos e cafés com sal. Sim. Sou tudo fila ida vida suburbano e carros revoltosos vou. Estou no futuro. Acredite: o futuro é agora. Now. Sou todo asfalto preto. O anão sem dedo. O baleiro zuadeiro. O maníaco sem dinheiro. O playboy maneiro. O romântico matreiro. Assino a loucura e visto a clausura. Por dentro, amargura, por fora, fissura. Neste lugar, me pertenço e sou, vou muito mais como ser estou. Sou sim de todo os tipos por dentro, morto por fora, vivo. Sou de toda agora por fora, hora por dentro, esmola. Sou desconsolável por dentro, afável externo amora. Estou desconfortável desconfiável por dentro, rima aflora por fora, métrica e retórica. Sou junção por fora, são por dentro, não. Sou de todos os beijos por dentro, nódoa 288


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

por fora, cheiros. Sou todas as ilhas por dentro, ida por fora, florida. Sou todo não-conhecimento detento por fora, cimento por dentro, menta. Sou todas as vestimentas por dentro, molda por fora, mora. Sou a malagueta pimenta por fora, cacho por dentro, galho. Sou de todos os tipos por dentro, descontrolado por fora, tato. Estou à venda, é época de atacado sou merenda sou a fome, estou onde? Estou José não mais que Zé-Ninguém-Zé sem um vintém fuleiro e desdém. Sou de todos os tipos: hop hip, vixe, pop e fé mesquinho e atrevido ganancioso e ambíguo pedinte e bandido maciço e vidro atrito e mestiço certeza e descuido miúdo e almeja sorriso e bandido vago e maléfico cético e diabo 289


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

vil e motivo cio e suicídio vivo e ávido ácido e manejo assíduo e festejo decadente e cópia norma e estridente sonho e pendente. Sou de todos os tipos Sou de todos os tipos Sou de todos os tipos Repetidos. Sou vagalume estou no cume e tenho vaga. Sou uma parida vaca afiado feito ávida faca. Sou privada limpa e organizada. Sou ida e vinda. Sou vinda e ida. Sou de todas as formas de todas as normas. Sou marionete e assumo: Mate-me ou me leve. Sou falante e digo sem pensar, sigo a diante. Andante. Avante. Sou orgia sou sem exagero e com desejo. E amigo & CIA. Sou o passado. Sou o retardado. Estou farto 290


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

me levem para lá. Ou não digam sobre lá. Estou fardo em meu âmago manco. Sou pântano por dentro, lama por forma, caranguejo. Sou lampejo por fora, fama por dentro, receio. Sou um tudo um. Sou todo um todo. Sou inércia por fora, meta por dentro, regra. Sou partilha por dentro, sinta por fora, vida. Sou vadio por dentro, esperança por fora, pujança. Sou inveja por fora, festa por dentro, égua. Sou luxo por fora, mundo por dentro, vulto. Sou inquieto por dentro, feto por fora, sexo. Sou reflexo por dentro, perdido por fora, abrigo. Sou poeta falo difícil(?) lambo da loucura. 291


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

Anuncio ser tudo e todos sem cobrar. Sim. Sou. Eu Vou do verbo ir propagar que somos a mesma Poemia. Continuo remanescente, apavoro a abundante vigĂŞncia. Mostro, provo e aprovo da hora-amora macia.

292


Eu poema.

VocĂŞ poesia.



O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Poema curto Como todo bom poema meu Que ninguém gosta de ler Por ser longo Sem sentido E dúbio Sou preguiça E deleite Sou irônico E muitos. Não concorde comigo Também não faço isso. Mas, se concorda, Vamos ambíguos Vestígios. Já meus poemas curtos São todos absurdos E furtos Frutos de mim E você.

Beleza interior

295


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

As oito faces do poema O anjo não voa sem asas. O boa noite é apenas um desejo de que você se lembre dos seus sonhos no outro dia, quando acordar.

Beleza Há cantos e encantos que nunca são esquecidos, porém na maioria deles são fúteis e esquecíveis.

interior E eu não sou nada além de um anjo com asas tortas, baianês.

Sou desaparecido. Sou abduzido. E não veio ninguém perguntar “Como foi de viagem?”.

É por isso que meus ombros sempre estão pesados como se carregassem asas de chumbo. "e eu não posso voar sem sentir o eterno, anomeado" E procuro tanto aqui dentro e nunca tem fim. E brilhante é o amparo que acalma a mão agoniada do poeta torto.

296


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

Eu poeta. Observo. Relato. E anuncio a vida. A vida avisa.

Beleza interior

297


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Sim. Não saio do buraco faz tempo. Não caio no céu faz tempo, nem na cachoeira. Nem me acho, não me leio, nem me melo, fico na beira. Mar, vou-me feito espuma, esperma contido. Coito incrédulo, sem conseguir estimular uma frase. Ávido. Nem a ideia nem a métrica nem a verba. Burro obre funcional. Homem aja maternal. Cego mais que ponta de faca. Difícil mais que as palavras. Cético e inquilino. Ora pedaço de riso, ora vestígio, ora abrigo, ora solstício, ora amigo, ora antigo. O inconsciente escreve sobre mim Mas volto à razão através do medo e do amor. Em paixão, sou cego mais que ponta de lâmina, língua. Não me adéquo, nem caibo em tua mão. Deixe-me em pedaço, em resto, mas me deixe ir Me colocar onde devo estar, longe Mas perto de mim. Alvo e xadrez. Resto e dúbio. Morno morto Solto Vulto Guto. Susto. Envio. E vivo. Sim! Estou vivo, me mastiguem agora. Finalmente um poema, forçado Culposo, doloroso, mas sim.

Beleza interior

298


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Refúgio Hoje vou ficar bem detrás dos meus olhos, bem no meio da minha pupila saboreando a grande castanha que há em meus olhos.

Beleza interior

299


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

Sem a erva Ficar de cara A cara fica rosto.

Beleza _Cara, o rosto fica rara!

interior

300


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Depois do velório a festa continua Quando eu morrer só vão falar bem de mim na TV Porque se mau falar Não vai aparecer.

Beleza interior

301


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Nuances de meu dia Na TV assisto ao forró, curto. Danço (?), vejo as meninas dançando. Tudo assim: sobrevoando desejo.

Beleza Não tem jeito, a casa precisa dum aconchego. Boto um rock and roll e escrevo: Minha barriga solta e ousada pula para frente Sobrevoando ócio.

interior

302


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

Nordestino Que o coro troque em mim e eu continue cobra debaixo do sol. Comendo feito jegue alterado, precisando de grama. Uivando a noite feito de lenda, lobisomem vermelho, amarelo com tino.

Beleza interior

303


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Estilo Sou deslocado.

Descolado. Fora de moda

Beleza Fora da moda Estou na vírgula. Não vi a crítica.

interior

304


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

A barriga A barriga salta para fora querendo voar. Mas grudada ao corpo Ri da dor na garganta vibrando em ondas.

Beleza interior

305


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

O poeta Sou o poeta falido Mais que falido, nĂŁo lido. Felizmente lindo E pelos olhos dela, comido.

Beleza interior

306


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Degustação Eu me sinto só dentro de mim e parece que não há nada nesse mundo que engula essa solidão. Acho que eu mesmo terei que engolir e depois vomitar.

Beleza interior

307


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

Infância Mesmo jovem No banheiro, me sinto menino No banheiro, brinco Sem precisar de infinito No banheiro, sinto

Beleza Que jĂĄ tive dez anos e nem sabia de nada.

interior

308


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Abato-me Estou com o olho esquerdo quase cego, mas do outro enxergo direito. E não sinto esse fato, nem percebo, só quando paro e revejo. E ninguém, no sentindo literal da palavra Ninguém percebe minha cegueira. Nesse meu mundo visceral caolho e do quase, vou à forra Disfarçado de alguém. Em todos os lugares, não me trombo nem me tombo Em nenhum vintém. Que pena! Poucos corpos se batem quando estão zens. Mas o problema é ficar parado de asas baixas e de bobeira. Perco-me na eira e no precipício, mas me peço. E sempre quero enxergar além, fecho os olhos e me sou. Sou e sou uma pessoa que realmente almeja. Mas Sou e sou uma pessoa, porém burra e com certeza. Talvez se anotasse todas as ideias não estivesse tão perdido. Faz parte de mim nos pulsos algemas e nas costas martírio. Sou um dramalhão, qualquer algo circense e mais bizarro, mais palhaço. Mais triste que a inconformada forma de não conseguir sem nem agir. Com milhares de dedos que me apontam E sorrisos não me dados, sigo. Vivo ou morto, seguem em mim, e nisso sigo. Porque o relógio soberbamente não precisa entender o seu fazer e viver. E o tempo soberbamente não me diz porque e o que fazer. E, entre mim, o relógio e o tempo não faltam à certeza e a pureza.

Beleza interior

309


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Ter, meus camaradas, não há nada o que ter nessas horas. Já sou e Sou muito mais, além de minha essência vital. Bato forte como meu coração e sigo meu eterno início e fim Fim e início fatal. Por hora só quero a forra e meu visceral e cego mundo. Cego, mais que cego, ego! Cego e cru e negro, mas meu. Vou com pressa e abato-me.

Beleza interior

310


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Sinto-me. Sente-se. Sinto-me gordo e comilão. Debaixo da obra dobra de meus peitos sinto comichão. Vida dura burra vida de osso ócio e nó comi tanto que dói na digestão. É sentado que espero paz e compaixão. É sentado que quero aptidão. Como boca de quem come demais com o olhar como quem é manso é ganso e banzo é dono de rebanho. Dependendo do lugar sou tonto ou trono. Depende de você. É sentado que quero ponto que quero comer é dando ombro que mono momo somos. Como o mundo inteiro imperfeito e todos seus flácidos ratos E o como como um prato pragmático aparelhado. Tenho feijão dum lado seu dedo do outro lado seu olho já comi seu cérebro não pude comprar. Comum comendo ouro, mais cebola, quero mais atum mais um tutano de fêmur. Nessa hora, não penso em mim, só a minha boca Advém entretém roca, ronca mas não oca. Adoro pão de padeiro desde nenê. “Olha o pãozinho saindo quentinho branquinho com miolo por dentro”.

Beleza interior

311


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

E a manhã roxa continua, agora comigo acordado e o pão dormido. Sinto-me absurdo e não tenho forno forma fôrma para fazer mais pão sou sem opção sem noção? Mas para não deixar de servi-lo Fico caldo de sururu para você ver que abuso e também para ver que me lambe, mesmo sem querer lamber chupar comer Fico calado para você pensar que sei fazer coração sou espaço e vastidão. Sou opaco. Digo: “continuo comendo e, Neto, pra você não saio do resto” Fico sim pra vocês pensarem, fico não pra vocês citarem, pelas costas: “que nojo” “que pena” “isenta” “aguenta” “gostaria de pedir 'me dá um pedaço'” É tarde da noite, é tarde demais desisto de algumas coisas por outras coisas e a vida segue Segue, segue firme! E vou de aço. Não precisa fazer essa cara de quem entendeu muito menos concorde. Acorde! Saia de trás desse sorriso e se mostre venha comer comigo. Mas lógico, em pratos diferentes.

Beleza interior

312


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

reza dos que querem e dão proteção rezo com as palavras que inventei rezo com as crenças que inventei crenço na liberdade, invento e rezo só no canto escuro e fumando, passando os pensamentos cheio de amor ao peito e todos os outros sentimentos que posso metaforizar como vômito e não vomito, engulo entrego tudo que aqui amo e aprisiono com egoísmo ao sem nome imensurável, silencioso e calado tenho em mim um Deus não nada mais que o Deus e as letras que o denominam mas sim um Deus não tenho o que explicar rezo com as letras, componho minha proteção, minha prevenção rezo com compaixão, entrego aqui meu peito e minha liberdade invento e lhe dou a mão grito e ninguém ouvirão pois em mim tudo é gemido e entes tudo é paixão meu grito, minha reza, minha entrega e compaixão apenas me sinta rezo com minha entrega e liberdade assim seja.

Beleza interior

313


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

O Puto Para o culto rimo puto com tudo prefiro o puto que o culto.

Beleza Não sou culto, sou Guto. Mais um poeta sem classe

interior na frase e sem métrica na regra. De coração foda-se vá a merda.

Minha aptidão vai-se só eu e ela.

314


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

antropofagicamente alguém preciso comer o ar preciso respirar engolir o asfalto preciso seguir comendo mastigando antropofagicamente comer os prédios, as favelas as cidades pacatas do interior preciso engolir o amor sem posição certa sem regra preciso mastigar os sorrisos alheios engolir os olhos baixos vermelhos os olhos grandes assustados comer as árvores, as favelas as cores, os branquinhos gringos e negros preciso comer antropofagicamente indecentemente comer as europas, as américas a África, a muralha da China preciso comer o carimbó, o axé o cordel, o sertão, uma negra, duas negras uma mista, branca e negra tenho que mastigar a arte a banalidade, deixar tudo vazio seco deixar como o sertão mas sem terra árida, sol pesado e céu azul

Beleza interior só assim para satisfazer meu coração na ânsia de ser alguém...

315


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Minha poesia Minha poesia não é e é filosofia.

Beleza Não é pelo verso Nem pela rima (?).

É qualquer coisa tosca, oca, toda, graça Filho da puta.

interior E asas para que eu...

316


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

E nós mar de suor No calor, gruda o corpo um comendo o suor do outro. No prédio, prestígio e moro como antissocial engasgo-me, mas não morro, vivo. Vivo com discussões sobre vinho e política em casa. Dou minha cara à tapa com orgulho pra esse mundo quero tudo, estou para tudo. Pareço lunático olhando quem vai quem vem e o corredor vazio. Quem me vê o que vê? Tenho esse jeito estranho no ar e grosso no andar um olhar bem estar e de espera. Não vou parar de caminhar. Ar ar tenho o que há? E nós mar de suor. Se não atrapalho, espero sigo do jeitinho que quero. Terão que me matar.

Beleza interior

317


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Sem rima. Deixei de ser nada há muito tempo. Há muito tempo. Há muito tempo. Tempo muito há? Sou José Augusto Couto Sampaio Neto. Sem rima. Só tenho o nome e minhas palavras para lhe oferecer. Você sou eu. Também sou eu. No mundo não faltam eus e Deus. Talvez o silêncio nem exista quando existe o pensamento. Como o poeta dizia. O poeta sempre dizia e não vai parar de dizer. Viver.

Beleza interior

318


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Autoajuda Quero ajudar as pessoas, mas não sei como. Quero ajudá-los, para me ajudar. Mas eu não sei como. _Quem precisa de ajuda? Todos levantaram a mão. Assim não dá!

Beleza interior

319


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Todos vão comigo. A vida é abrir os olhos e viver. Precisar de quem eu preciso? Já estou viciado no vazio, esqueci o suicídio, dou conta só. Mas todos vão comigo. Por que não me largas e me deixa ser como estou? Agradeço de coração: Na hora que abro os olhos, pra ter mais um dia defunto a viver E mais mentiras ouvir, mais vontade querer e mais motivo seguir. Estou no cerne e ninguém me tira o centro. Me atiram mais para dentro. É escuro e não sei quem está ao meu lado, se Deus ou Diabo. É silêncio e não sei quem silencia do meu lado Não sei quem ofega ao meu lado Não escondo em nenhum momento calado que sou fraco e vago Mas, graças, nunca fui vesgo. Me deixem brigado com a morte, que encaro o fardo de viver a sorte. Mais um trago e mais motivo. Comovido continuo vivo por escolha.

Beleza interior

320


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

A barba. Quando mais novo usava a barba por estĂŠtica e rebeldia. Hoje uso em homenagem ao meu pai. Assim fazia Jesus?

Beleza interior

321


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

O alicerce No alicerce emocionado e choroso, vou-me metaforizando sem conseguir pensar, me forçando a ser. A fábrica está no Zero, mas nunca no menos. A vida é fabricada a ponto de ser igual, me fabricando a ser.

Beleza interior

322


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Persistências a mais Preciso mudar e mudo sem precisar. Pois então preciso nada mudo Sigo e finjo não ver ou ouvir em surto. Sinto, mas tenho que ir sonhar e muito ir vou sigo a falar. E assim muito pouco calo, calado. Aqui estou e sou sonhado.

Beleza interior Não sou de ferro Nem sou a criação divina perfeita Nem por isso espero. Mas sou sincero Minto para mim e para ti em sina refeita. E meus pés levam-me aonde quero e aonde quero ir é até você. Isso é certo!

Soneto e persistências a mais. E sempre. Ainda assim fico incapaz em meu reflexo E exagero no tamanho do verso. Minha lucidez não condiz com o espelho. Com ou sem medo, gozo meu desejo. Goze o seu também na mentira ou na verdade Seja refeita a sua vontade. Diga amém, mude pule use-me! Sou usuário de viver com ou sem você, abuso-me. Tenho sorriso doce cadafalso. E sou outros adjetivos dados. Entrego-me, estou vivo! Quero-te e grito: Sou louco utópico sem nenhum suplício 323


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Sumo-te, sumamos juntos, em visgo Entrega-te! Mesmo que meu dizer nada sirva integralmente A sua vida adjetiva Distinta e distante da minha subversiva Entrega-te a mim.

Beleza Da minha boca saem mentiras e verdades e sempre sou eu. Em minha forca, levo intrigas e chantagens E sempre sou eu. Estou e Sou em qualquer departamento fardado. Encaixado sempre Sou e Estou atarefado. E vice e vício e versa o verbo. Do verso pífio difícil. De minha poesia merda sacrifício.

interior Entrego-me a ti. Hoje garanto que não me sinto restrito Nem resto. Já estou na sombra, que insisto Me deixaram. E bebo da água que preciso E envenenaram. Esférico e cheio de rachaduras E promessas Incansavelmente dando voltas “Vai à fera de aço e merda e só de véspera”. Dizem sobre mim. Mudo, calado, nunca! Sempre Sou e Estou a ir ao nunca. Enquanto o mundo muda Com pressa e sem educação A minha gaveta espessa guarda meu coração. 324


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

Que continua em meu quarto Na gaveta, encorpado.

Beleza E no mesmo lugar Eu mudo, sem precisar nem entender. Mudar.

interior

325


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Torto culpado, não apontado. olho torto um maior que o outro perna desequilibrada, não sabe andar, falta ar suando, sentado, se mexendo, inquietante, fumando alucinadamente disperso e irresponsável mão torto, dedo torcido, osso fora do lugar calcanhares torcidos, pés, amo os pés visão precária, mundo feminino amor vertigem, umbigo, útero, sexo torto, distância amor solto medroso solução torto, amor torto anjo torto, não sou anjo e, quando nasci, nenhuma anjo veio e me disse... nasci torto, pau torto, me assumo torto confeccionado, peito cabeludo peito pontudo, adoro seus peitos pontudos(?) via torto curvo curva placas focas ofuscas fusca torto falante cabeça coração amante meu amor torto sou amado, sou torto olho torto, amor ego desgosto via e vida torto linhas certas, caligrafia torta comunicação bosta olho no olho torto corpo no corpo torto só assim para completar o torto outra torta doce.

Beleza interior

326


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

O meu querido Zé O Zé não tem métrica: Às vezes o Zé é o menor do mundo Às vezes o Zé é o melhor do mundo Às vezes o Zé é uma vírgula. O Zé para cima, seta Faz a festa. O Zé para baixo, esfera Ainda fera. Vivo, o Zé é algoz, roliço e impunemente torto Erguido e para o lado esquerdo, é indecente. Manhoso.

Beleza interior

327


O outro lado do olho

JosĂŠ Augusto Sampaio

Eu Couto Coito.

Beleza interior

328


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Algoz Sou sucinto, cheio de motivos. Espalho a certeza Mesmo quando a certeza está errada. Prefiro a beleza à tristeza. Porém, a beleza já é tristeza. Crio e manipulo a palavra. Como quero e quieto, sem escrúpulo, dou a letra. Também sou bonzinho e esperto. Sou grosso e curto: Quem não é macaquinho e patético? Digo e sigo voraz: Sou Algoz.

Beleza interior

329


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Para a minha Lápide Não sou finado Nem estou findado Fui.

Beleza interior

330


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Não me chame de Poeta Quem não me lê Não tem o direito de me chamar de Poeta. Não me chame de Poeta. Esse agrado falso Deixo para os demais. Se não me lê Poeta Não sou para você.

Beleza interior Vá se foder.

331


O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Poema de III Atos I - Lá

Beleza Lá Vou com a sombra na frente e o sol nas costas. Dentro de mim, onde ninguém tira. A não ser um tiro ou outro fato lamentável.

II - Quero

interior O amor é lindo e sempre bem-vindo. Dentro de mim, estão orquídeas, rosas e donzelas feras. Porém, feroz, só quero ela. Ela. III - Vida De natureza animalesca ando na praça Na avenida, na praia. E, dentro de mim, finca o amor vivo Em chamas a vida.

332




O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Beleza interior Um papel em branco É um mundo não oficial e livre...

335



O outro lado do olho

José Augusto Sampaio

Sobre o autor José Augusto Couto Sampaio Neto

Beleza nasceu em 28 de outubro de 1983, na cidade de Alagoinhas, recôncavo da Bahia, onde viveu até os sete anos. Mudou-se com a família para Juazeiro da Bahia, divisa com o estado de Pernambuco, ao lado da cidade de Petrolina. Ambas cidades banhadas pelo Rio São Francisco. Aos 18 anos, mudou-se para Salvador, capital baiana, junto à família novamente, onde cursou Publicidade e Propaganda na Universidade Católica de Salvador, localizada acima da Estação da Lapa. Centro da cidade. Casou-se aos 24 anos com Isana Barbosa e mudou-se para Teresina, Piauí, onde reside e trabalha como publicitário, produtor e escritor.

interior O outro lado do olho é o livro de estreia do autor no mundo dos poemas, lançado originalmente em outubro de 2010. O escritor publicou também em outubro de 2010 o livro de contos Imagine alguém te olhando do escuro. Em novembro de 2011 o autor publicou Narrativas do horror cotidiano, seu segundo livro de contos. E em junho de 2012, publicou Desigual, mais um livro de poemas. Para saber mais informações, acesse: joseaugustosampaio.blogspot.com Segundo o escritor, “A literatura é a minha salvação pessoal e liberação dos meus demônios”. Contato: guto.sampaio83@gmail.com Facebook: José Augusto Sampaio

337


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.