FICHA TECNICA: Titulo: A Dinastia Roberto (s) * Uma família de Toureiros * Tipo de Encadernação: Brochado Autor: Gameiro. José Colecção: RECORDAR, TAMBÉM É RECONSTRUIR ! Editor: Gameiro, José Rodrigues Morada: B.º Pinhal da Vila – Rua Padre Cruz, Lote 64 – R/c e 1º Andar Localidade: Salvaterra de Magos Código Postal: 2120-059 SALVATERRA DE MAGOS * Tel. 263 504 458 * Telem. 918905704 * Fax: 263 505 494 ISBN: 978– 989 – 8071 – 37 – 8 Depósito Legal: 256485 /07 Março de: 2007 2ª edição; online – sistema PDF * Abril 2015 Blogue: “http//:www.historiasalvaterra.blogs.sapo.pt”
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O meu contributo Nem só os aficionados tauromáquicos, têm curiosidade em saber quem foram os irmãos Roberto (s), Qualquer enciclopédia, faz referência a António Roberto da Fonseca., e seus irmãos, Antão José da Fonseca e Luís Roberto da Fonseca, são os iniciadores conhecidos desta linhagem artística. Quem visita Salvaterra de Magos, no largo da sua Igreja Matriz, vê ali construído um bonito edifício, todo ele com a sua fachada em azulejo de cor verde, forma de decoração, muita usada nos finais do séc. XIX, e primeiros anos do séc. XX. Segundo alguns documentos, dizem-nos que a classe rica da terra – os Lavradores, também receberam a influência dos novos-ricos, vindos de África e do Brasil. Escrever sobre os Roberto(s), ou das Casa Agrícola; Roberto & Roberto e, a sua sucessora; Irmãos Roberto, é de muita responsabilidade, pois é uma Dinastia, cujo passado enche de certo muitas páginas, e o nosso propósito é apenas um pequeno Apontamento. Eles muito deram à sua terra, através de várias gerações, mesmo para além do simples glorificar o nome de Salvaterra de Magos. A sua terra mãe, ainda não lhes fez o merecido agradecimento, dando ao menos o seu nome a uma rua. Por minha parte, aqui deixo registado o meu agradecimento à D. Elvira Roberto e seu esposo, Arq. Luís Vasconcellos, pelo apoio prestado na cedência de alguns documentos Para esta excelsa família, encaixa o provérbio popular. “ Quem dá o tem, a mais não é obrigado! Abril 2015
JOSE GAMEIRO (José Rodrigues Gameiro)
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ROBERTO (S) UMA DINASTIA DE TOUREIROS A ORIGEM
Os nomes Jacob, ou Robert, referenciados em Salvaterra de Magos, nos meados do séc. XVIII, segundo alguns estudos estão ligado aos falcoeiros, vindos da Holanda, da zona de Valkenswaard. como mestres daquela arte. Alguns deles casaram, com mulheres da vila, e deixaram descendência como: Antão José Roberto(1), nome já aportuguesado. Dos irmãos Roberto(s); António Roberto da Fonseca, Luís Roberto da Fonseca, e Antão José da Fonseca, existem registos que vieram de Angra do Heroísmo (Açores). Os tempos passaram, este apelido, ainda se mantém naquela ilha, desconhecendo-se serem ou não desta genealogia, ou se ambos são descendentes dos primitivos vindos da Holanda. Segundo alguns registos, na última uma das três invasões francesas, houve aqui em Salvaterra de Magos, forte confronto tendo o povo local muito ajudado, o exército anglo-português, quando da retirada dos franceses. Sabe-se que, devido à
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invasão, muitas famílias se ausentaram de Salvaterra, com destinos incertos. A família Roberto, foi de abalada até Lisboa, onde o Conde de Almada (2), os acolheu. António Roberto da Fonseca, desde muito novo, aos 12 anos de idade, mostrou aptidões para enfrentar toiros de lide. Seus irmãos, Luís e Antão, também exprimiam este gosto, e tourearam alguns anos. António Roberto, como bandarilheiro, esteve durante anos em actividade, chegando a actuar com os filhos: Vicente Roberto da Fonseca, Roberto da Fonseca e João Roberto da Fonseca, quer em Portugal, quer em Espanha, onde fizeram alarde da sua magnifica destreza, em praças de toiros, retirou-se das arenas em 1859.
ªªªªªªªªªª (1)– Livro; Paço Real de Salvaterra de Magos (2)- Um edifício apalaçado, ainda existente na vila, ostenta na sua fachada a “ Pedra de Armas” daquela família “ Os Almadas”
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João Roberto da Fonseca, segundo algumas crónicas, atingiu um plano pouco lisonjeiro, em relação ao dois irmão; Vicente e Roberto. Um filho do primeiro, com o mesmo nomedo pai, e conhecido apenas por “João Roberto” teve lugar de destaque, mesmo em confronto, com os tios, nas arenas tauromáquicas. Nesta dinastia dos toureiros Roberto(s), alguns registos, fazem referência a um descendente de nome Tito da Fonseca., que também actuou com muita arte, perante animais em praça, em dias de festa de toiros. Alguns tratados da especialidade taurina, ainda conservam uma ou outra crónica, das actuações destes “monstros” da tauromaquia portuguesa., que foram Vicente e Roberto da Fonseca. A tourear, ganharam fama e proveito, mas foram humildes na vida cívica. Depois de retirados das arenas, recolheram-se à vida da agricultura, na sua terra natal- Salvaterra de Magos.
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A agricultura, e a criação de gado bravo, foram caminhos deixados em aberto, que seus descendentes durante anos souberam aproveitar, continuando a honrar os nomes de Roberto e Fonseca. SINTESE GENEALÓGICA
A casa agrícola Roberto (s), quer sob o nome Roberto & Roberto, quer mais tarde com o ferro Irmãos Roberto, chegou a dar trabalho, sustentando muitas dezenas de famílias, de Salvaterra, e da região ribatejana, na área da campinagem. ALGUNS REGISTOS DA DINASTIA ROBERTO
ANTÓNIO ROBERTO DA FONSECA,
natural de Angra de Heroísmo, nasceu em 1801, muito novo veio viver para Salvaterra de Magos, com seus pais e irmãos.
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Nele foi encontrada muita aficion, foi bandarilheiro profissional, toureou na antiga praça de toiros existente no Salitre (Lisboa). * Retirou-se da profissão de picar toiros, em 1859, veio a falecer em Salvaterra de Magos, a 21 de Março de 1882 ANTÁO JOSE DA FONSECA,
nasceu em Angra do Heroísmo (Açores) * Depois de viver em Salvaterra de Magos, chegou a tourear a pé e a cavalo, como amador, em algumas praças do país. LUIZ ROBERTO DA FONSECA,
nascido em Angra do Heroísmo, tal como seus irmãos, Antão José da Fonseca e Luiz Roberto da Fonseca, veio a falecer em Lisboa em 1896. * No continente, foi bandarilheiro profissional, onde durante cerca de 20 anos actuou em praças de toiros, e segundo algumas crónicas, era um toureiro modesto entre os seus pares.
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JOÃO ROBERTO DA FONSECA,
natural de Salvaterra de Magos, onde nasceu a 8 de Fevereiro de 1827 * Filho de António Roberto da Fonseca. * Faleceu em Samora Correia, no dia 31 de Dezembro de 1859. * Tal como seu pai, tios, e irmãos, foi toureiro, na categoria de bandarilheiro, não conseguiu atingir a fama que seus irmãos Vicente e Roberto, tiveram perante os aficcionados. VICENTE ROBERTO DA FONSECA,
– Nasceu em Salvaterra de Magos, a 28 de Outubro de 1835, foi por ventura o mais famoso no campo artístico, nas arenas de Portugal e Espanha, de toda a família Roberto. Foi bandarilheiro profissional, toureando com seu irmão Roberto Jacob, aos 9 anos de idade foi visto em público a lidar uma bezerra. Histórias, estão registadas nos manuais do mundo dos toiros, que os dois, para além de fazem a sorte da gaiola, e da cadeira, chegaram ao ponto de colocar armas brancas, amarradas
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aos cornos dos toiros, especialmente em corridas em Espanha, onde eram muito solicitados para este tipo de espectáculos. A SUA MORTE
No dia da passagem dos 76 anos da sua morte, o autor deste Apontamento, sendo colaborador do jornal “Diário do Ribatejo”, que se publicava em Santarém, remeteu ao articulista do mesmo, na área da tauromaquia – Eusébio Jorge, uma crónica que tinha em arquivo, extraída de uma antiga publicação com o nome “BRANCO e NEGRO”, da autoria de António Júlio Valle de Sousa – Coimbra, 1 de Julho de 1897. Mais tarde, em 1992, voltou a utiliza-la, nas colunas do Jornal Vale do Tejo, com redacção em Salvaterra de Magos, pela sua importância histórica, aqui também a deixamos: “Vimos hoje, com a alma alanceada por uma profunda saudade, registar o primeiro aniversário do falecimento dessa simpática individualidade que
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se chamou Vicente, prestando a devida homenagem a esse incomparável amigo que soube conquistar um nome imorredoiro no toureio português, onde é contado entre os seus grandes mestres, nobilitar-se por actos de filantropia em que se reflectiu a bondade da sua alma. Amigo delicado galgava por cima das maiores dificuldades e sacrifícios para servir os seus amigos, fazendo um perfeito contraste com a sociedade actual, tão degenerada; filantropo benemérito, via na felicidade dos outros a sua própria felicidade; era assim que despendia uma grande parte da sua fortuna, angariada nas arenas de Portugal e Espanha. Protegeu hospitais, montepios e outras casas de beneficência, e em socorrer muita pobreza ignorada, fazendo renascer a esperança no peito dos desgraçados. Como bandarilheiro Vicente Roberto, ocupou desde muito novo um dos primeiros lugares entre os mais ilustres artistas da tauromaquia Portuguesa.
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Vicente Roberto, nasceu em Salvaterra de Magos em 1836, sua mãe Maria Gestrudes, preocupada com o seu futuro, ainda o recomendou a um alfaiate de Vila Franca de Xira, onde aprendeu o ofício. Com 13 anos de idade, toureou em Almada, onde o Conde de Vimioso, estando presente, desceu à arena abraçando-o e lhe ofereceu um fato completo de bandarilheiro. Aos 18 anos começou a apresentar-se como toureiro de profissão, juntamente com seu pai e seu irmão Vicente, que foi igualmente um excelente artista. Em 1858, estreou-se na praça do Campo de Sant’ Ana, e estão bem vivas na memória de todos as ovações que ali alcançou. Em 1865, correndo toiros desembolados, toureou com seu irmão Roberto na corrida à portuguesa que inaugurou a praça do Campo Pequeno. Quando toureava, em 1888, na praça da Figueira da Foz ficou gravemente ferido, e teve que recolher ao hospital da Misericórdia local. Durante vários dias, esteve entre a vida e a morte, acabando por se recompor com grande carinho e cuidados médicos daquele estabelecimento hospitalar.
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Já recomposto, doou àquela instituição um importante donativo, e no seu testamento deixoulhe um legado, manifestando assim a sua gratidão. Depois deste lamentável desastre, agravou-se cada vez mais a sua saúde e após um doloroso e prolongado martírio, que suportou com paciência dum mártir, faleceu às 11 horas, do dia 1 de Junho de 1896. A lúgubre notícia do seu falecimento, se bem que há muito esperada, trouxe a Salvaterra de Magos, uma multidão de admiradores e amigos, que na companhia do povo da terra desfilaram perante o féretro e espargindo mil benções sobre aquele que foi um dos seus filhos mais dilectos e um dos seus mais devotados protectores.
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Vicente Roberto, evidenciando mais uma vez os seus sentimentos piedosos, deixou em testamento vários legados à Misericórdia de Salvaterra de Magos, Figueira da Foz, Coruche e ao Montepio da terra que o viu nascer”. ROBERTO JACOB DA FONSECA,
nasceu em Salvaterra de Magos, a 20 de Outubro de 1840. Começou por acompanhar seus irmãos, Vicente e João revelando-se um valor a aproveitar na tauromaquia portuguesa. Apesar disso, só lhe foi permitida a sua apresentação pública na praça da Azaruja, em 1859, obteve tal êxito na sorte de bandarilhas, que os críticos o viram como um vanguardista dos toureiros portugueses da época. Passou a fazer dupla com seu irmão Vicente, figurando em cartaz com outras grandes figuras. Em 1860, na arena do Campo Sant’ana, foi a sua consagração. Esteve na inauguração da Praça de Toiros de sua terra – Salvaterra de Magos,
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em 1 de Agosto de 1920, onde dirigiu a corrida, tendo vindo a falecer em Dezembro daquele ano. Após a sua morte, em testamento aperfilhou o filho - Roberto da Fonseca Júnior, tendo este três descendentes, duas raparigas e um rapaz. Este, foi viver para Coruche, continuando a sua genealogia, também a viver em Famalicão. JOÃO ROBERTO DA FONSECA,
nasceu em Salvaterra de Magos, a 19 de Março de 1860. Por ter o mesmo nome do pai, era conhecido apenas por “João Roberto”, ficando órfão de pai muito cedo, encontrando nos seus tios (Roberto da Fonseca e Vicente Roberto), a necessária protecção familiar. Também enveredou pela vida artística, como bandarilheiro, influenciado pela fama dos seus tios. A sua estreia nas arenas, foi em Alcácer do Sal, a convite do avô do que viria, mais tarde a ser “ mestre “ do cavaleiro, João Núncio, onde a critica da especialidade lhe
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teceu grandes elogios e augurou bom futuro na tauromaquia portuguesa. Depressa os convites para actuar em praças do país, surgiram, toureou em Vila Franca de Xira, Santarém, Coruche. Numa corrida, em 1879, na Barquinha, fez parte do cartel, actuando com as primeiras figuras, como seus tios (Vicente Roberto e Roberto da Fonseca), e Marcel Botas, os toiros eram da afamada ganadaria Dr. Máximo da Silva Falcão, teve uma actuação brilhante, ofuscando os seus opositores. Em muitas outras actuações, em praças de Portugal e Espanha, esteve em confronto com o também famoso bandarilheiro, José Peixinho. Em 1882, ofereceu os seus préstimos em benefício de uma creche, na praça do Campo Sant`Ana (Lisboa). Por motivo de doença de seu tio, Vicente Roberto, o público exigia a sua presença com mais frequência. a actuar em Lisboa, foi contratado por seis épocas. . Actuou em todas praças de toiros do país, incluindo a do Campo Pequeno.
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Na sua terra – Salvaterra de Magos, também bandarilhou muitas vezes, em corridas realizadas em praças construídas em locais diferentes da vila. Foi em Portalegre, no ano de 1895, que fez a sua despedida das arenas, numa corrida em que esteve magnifico a bandarilhar, conforme consta nas crónicas da época. Mais tarde, na sua terra, actuou num festival de beneficência, mas sem o traje de luces. Com a sua morte terminou, a mais notável dinastia de toureiros que existiu em todos os tempos, em Portugal. A CASA AGRICOLA
O Toureiro João Roberto, retirado dos aplausos das multidões, recolhe-se ao sossego dos campos, e passou gerir a casa agrícola, e o testamento, que seu tio Roberto Jacob da Fonseca, que achou por bem deixá-lo como testamenteiro. No seu solar, em várias salas, guardava as recordações e valiosas prendas de
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que foi alvo., quando os aficcionados o consideravam um ídolo em arena Possuindo propriedades, nos concelhos de Salvaterra de Magos, Benavente e Coruche, a sua casa agrícola, para além de produzir cereais de sequeiro, tinha no gado, especialmente nos toiros o seu maior símbolo. O ferro RR (Roberto & Roberto), era sempre solicitado para actuar em arenas do país, e em 1931, 16 toiros da sua ganadaria, tinham sido corridos, 8 em Tomar, e 8 em Estremoz. . Em 1939, já com 78 anos de idade era a imagem viva da gratidão dos que ainda o não tinha esquecido como ídolo, das arenas. Da filantropia que sempre soube fazer, recebeu muitos agradecimentos. Caso da Misericórdia de Santarém, que em 14 de Maio de 1918, lhe atribuiu um diploma de honra, de reconhecimento pela sua colaboração como toureiro, e cedência dos toiros numa corrida organizada pelo hospital. A Associação dos Toureiros Portugueses, em 14 de Fevereiro de
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1924, confere-lhe em diploma o título de sócio honorário. Em 1928, um diploma com data de 11 de Junho, é-lhe conferido pelo Ministério da Guerra, pela presença do seu gado cavalar, numa exposição de poldros. Depois da sua morte, os seus filhos, Vicente Roberto da Fonseca, (Dr.) Roberto da Fonseca, e João Roberto Ferreira da Fonseca, deram seguimento à actividade agrícola, e o gado passou a usar o ferro: IR (Irmãos Roberto). Continuando a criação de gado bravo, a nova ganadaria, depressa ganhou respeito no público aficcionado, e os artistas em praça só desejavam lidar aquele tipo de gado, que lhes davam dias de glória em praça. Entre eles contavam-se, os mestres; Simão da Veiga, João Branco Núncio. O século XX, estava a meio, a Casa do Ribatejo, que nesse tempo vivia dias de grande luzimento, não se esqueceu desta dinastia de toureiros, que foram os Roberto (s). Em aparatosa homenagem, onde o povo acorreu em massa, descerrou uma placa de agradecimento, que foi colocada na fachada num prédio da família, na rua Cândido dos Reis, onde ainda se encontra.
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Vicente Roberto Ferreira da Fonseca
Dr. Roberto Ferreira da Fonseca
Jo達o Roberto Ferreira da Fonseca
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1920 – Toiros da Casa Roberto, na entrada para a corrida Inaugural da Praça de Toiros de Salvaterra de Magos
1955 - Toiro da ganadaria IR (Irmãos Roberto), aproveitado para reprodutor, depois de corrido em muitas praças
1957 - Manada de toiros bravos da ganadaria IR (Irmãos Roberto), na Herdade dos Coelhos (Salvaterra de Magos)
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O TESTAMENTO
Roberto Jacob da Fonseca, que na sua juventude foi bandarilheiro, tal como seu irmão Vicente, granjeou fama e fortuna, nas arenas de Portugal e Espanha. No seu último testamento, deixou expresso toda a sua vontade, várias vezes modificada, antes de falecer. Este último desejo, foi fechado no dia 24 Agosto de 1920, tendo o seu falecimento ocorrido no dia 8 de Maio de 1923, com 79 anos de idade. . Uma certidão foi passada, por António Emiliano Garrido da Silva, há época secretário da administração do concelho de Salvaterra de Magos, a pedido do seu testamenteiro, o sobrinho João Roberto da Fonseca.
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“Eu, Roberto Jacob da Fonseca, solteiro, de setenta e nove anos de edade, natural da freguesia da vila e concelho de Salvaterra de Magos, onde resido, filho legítimo de António Roberto da Fonseca e de Maria Gertrudes Roberto, já falecidos, faço o meu testamento pela forma seguinte: Seguinte: - Em primeiro lugar declaro que de mulher ser livre, com quem podia casar: houve um filho que é Roberto da Fonseca Júnior, casado, natural e morador em Salvaterra de Magos e a quem pelo presente testamento eu reconheço e perfilho, para que ele tenha e gose todos os direitos, que a lei concede aos filhos perfilhados. – Pelas forças da metade livre aliás, da metade, cuja livre desposição a lei me permite, deixo:
- A Dona Vitalina Paschoa (da Fonseca), solteira, de Salvaterra de Magos, o seu uso fructo, de todas as minhas terras, para que o gose enquanto viva for, ficando a propriedade das mesmas terras a seus filhos, se, casando, e do matrimónio os vier a ter;
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e os não tendo, ficará do, aliás, ficará por sua morte a propriedade dita a meu sobrinho João Roberto da Fonseca; no caso de este ser falecido, ficará tal propriedade a seus filhos, dele meu sobrinho. Ao dicto meu sobrinho João Roberto da Fonseca deixo em plena propriedade todos os meus celeiros, abegoarias e palheiros, incluindo o terreno das cavalariças, que está por vedar, bem como a chamada casa da capela e da machina. - Com o ónus de ser meu primeiro testamenteiro. Como especial demoustração da minha amizade, deixou-lhe todos os meus brindes e objectos artísticos, que passarão para a sua posse nas trez victrines que estão encerrados com os que pertenceram a meu irmão Vicente Roberto, e a meu sobrinho já pertencem, segundo disposição testamentaria do dito meu irmão. Se á data da minha morte meu sobrinho fôr falecido ficarão estes legados a seus filhos. – A cada um dos filhos de meu sobrinho João Roberto da Fonseca, deixo a minha corrente e relógio de ouro. – Aos filhos de Roberto Anica, deixo duzentos escudos. – A Vicente Anica deixo cento e cincoenta escudos. – Deixo mais: - cento e cincoenta escudos a cada um dos seguintes: António Anica- A João Carvalho Anica duzentos e
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cincoenta escudos, aos filhos do falecido Doutor Gregorio Fernandes, um conto de reis para todos, e á Excelentíssima Senhora Dona Sofia Rodrigues Fernandes trezentos escudos, pedindo desculpa a todos da singela lembrança, que lhes deixo, signal apenas da muito veneração em que tenho a memoria do Doutor Gregorio Fernandes; a cada um dos meus afilhados: Dona Amélia Garcia de Carvalho, Vicente Roberto Garcia de Carvalho, Roberto Isaac da Nazareth, cento e cincoenta escudos; - A Vitalina Isaac, duzentos escudos; ao meu amigo Joaquim Paulino Duarte, ou caso seja falecido, a sua esposa, duzentos escudos, ao meu afilhado Armando Santos ficará pertencendo o meu anel de brilhantes, que está em uma caixinha de metal dentro da montra.
A Manuel Aleixo de Carvalho, se á data
do meu falecimento estiver ao serviço da Sociedade Roberto & Roberto, cento e cincoenta escudos; - aos meus velhos creados Manoel Bernardino, Francisco Feijão, Miguel Galricho, Roberto Gil e Francisco Morcego, se á data do meu falecimento estiverem ao serviço da Sociedade Roberto & Roberto, cem escudos a cada um;
se alguns deles tiver
falecido no dito serviço, revertará a importância do seu legado para seus legítimos herdeiros; - A cada creado que na minha
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casa, ou na sociedade Roberto & Roberto, tiver mais de cinco anos de serviço, cincoenta escudos; - ao abegão Lino da Silva duzentos escudos, se estiver de Roberto & Roberto, e, caso tenha falecido nesse serviço, fica a mesma importância cabendo a seus filhos; aos meus servidores Manoel Ribeiro e Joaquim Almeida, se ainda o forem á data da minha morte, cem escudos a cada; a Justa Pereira Lérias, duzentos escudos, e a sua filha mais velha cincoenta escudos, a Maria das Dores Carcereira,
cem
escudos; a Urbina Conceição e Rosa Pirralha,
se
estiverem ao meu serviço,
cem
escudos a cada uma; deixo ainda ao Hospital da Santa casa da Misericórdia de Salvaterra de Magos, mil e quinhentos escudos; ao Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Coruche, mil escudos, ao Hospital de Jesus Christo da Santa casa da Misericórdia de Santarém, Santarém, quinhentos escudos, ao Hospital da Misericórdia da Figueira da Foz quinhentos escudos; Quero que aos pobres de Salvaterra sejam distribuídos cento e cincoenta escudos em
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esmolas; e que por alma de meus paes e irmãos, se apliquem trinta missas, e por minha alma vinte, todas de esmola não inferior a um escudo; Se á data da morte existir Instituição que destribua habitualmente sopa aos pobres de Salvaterra, quero lhe sejam entregues duzentos escudos. Se por enfelecidade dos que precisam, tal instituição não existir,
será
esta
quantia
devidida por quinze jornaes, sendo nove de Lisboa, á escolha
do
meu
testamenteiro, e seis do Porto á escolha do meu amigo velho amigo Júlio Gama, Redactor das Gasetas das Aldeias, a esses jornaes espero dever a fineza da distribuição pelos seus pobres, das quantias que lhes forem entregues, deixando eu aqui á Imprensa do meu paiz o meu agradecimento, pelo carinho, com que sempre se referiu á minha família, apreciando-nos como artistas. As contribuições a pagar pelo usofructo das propriedades que fica a Dona Vitalina Paschoa da Fonseca, e a devida pelos legados em dinheiro a particulares, ficam a cargo da minha testamentaria. Todos os
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legados em dinheiro serão pagos em moeda corrente no paiz e cumpridos dentro do ano posterior á minha morte. Quero que por sua morte sejam depositados no meu jazigo a já referida Dona Vitalina Paschoa da Fonseca e meu sobrinho João Roberto da Fonseca, sua mulher e filhos, a não ser que, por sua vontade ou de seus herdeiros hajam de o ser em outro local. Nomeio meus testamenteiros: em primeiro lugar meu sobrinho João Roberto da Fonseca, e em segundo lugar o meu amigo Joaquim Ferreira Pedroza, a quem peço aceite este encargo e a lembrança de trezentos escudos. Quero que dos benefícios deste testamento seja excluído quem, sob qualquer protesto, ou com qualquer intuito que não seja o de fazer cumprir extremamente as suas, cláusulas. Tomar a iniciativa de sobre ele levantar, aliás levantar litigio ou pleito. E, no caso por mim não esperado, que tal se dê, se considedará como não excripto tudo o que a esse referi. Quero que o meu funeral, modesto, mas decente seja ordenado pelo meu testamenteiro. E assim tenho feito o meu testamento, que quero revogue qualquer outro que em data anterior, tenha feito. E declaro que o mandei escrever, e que depois de o ter bem lido e conferido e achado em tudo, conforme com a minha última vontade, rubriquei as folhas e assigno no final, conscientemente e livre de qualquer
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coacção ou imposição. Em tempo declaro que os legados a Urbina Conceição e Rosa Piralho serão de duzentos escudos, e não de cem, como por lapso se escreveu. E tendo novamente lido todo o meu testamento, achei em tudo conforme com a minha ultima vontade e conscientemente e livremente o vou assignar depois de ter rubricado as folhas, tendo tudo sido encripto a meu rogo. Salvaterra de Magos, vinte e quatro de agosto de mil novecentos e vinte.
ainda em tempo uma
declaração: a meu sobrinho João Roberto da Fonseca, e na sua falta a seus filhos, deixo como atrás digo todos os objectos artísticos e brindes, com as vitrines em que estão guardados, tanto os meus, como os que foram de meu irmão Vicente, quer sobre este haja ou não disposição testamentária em favor do dito meu sobrinho; porem quero que, comquanto se faça arrolamento e avaliação desses objectos em qualquer tempo, para efeitos convenientes, nunca a sua entrega possa ser exigida sem que passe um ano sobre a minha morte. Uma vez mais li todo o meu testamento, e parecendo-me nele deixar bem expresso o meu pensamento o declaro a expressão da minha última vontade, pelo que muito livre e espontaneamente o vou assignar, depois de rubricar as folhas. Salvaterra de Magos, vinte e quatro de Agosto de mil novecentos e vinte,
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aliás Salvaterra de Magos, vinte e quatro de Agosto de mil novecentos e vinte (assignado) Roberto Jacob da Fonseca” Saibam quantos virem este auto de aprovação de testamento cerrado, que aos vinte e quatro dias do mez de agosto do ano de mil novecentos e vinte, nesta vila de Salvaterra de Magos e escriptório da Firma Comercial Roberto & Roberto, na rua denominada
do almirante candido dos reis, onde vim eu
Notário Francisco César Gonçalves. O chamado do testador; aqui estava pessoalmente presente Roberto Jacob da Fonseca, solteiro, proprietário, de maior edade; Sui guris, anarador nesta mesma vila de Salvaterra, e as trez testemunhas edoneas, adeante nomeadas e no fim assignadas; e tanto eu notario como as ditas testemunhas conhecemos aquele testador Roberto Jacob da Fonseca pelo próprio e nos certificamos de que ele está em seu perfeito juízo e de livre de toda e qualquer coação. E por ele testador Roberto Jacob da Fonseca me foi apresentado neste acto, em presença das mesmas testemunhas, este testamento e disposição, declarando como ela é a sua ultima vontade, o qual testamento, que eu vi, sem o ler está escripto por pessoa diversa do testador, está rubricado e assignado pelo mesmo testador, contem cinco laudas e mais trez linhas de outra lauda e não tem borrão algum, entrelinhas,
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emenda, ou nota marginal. E por verdade lavrei este auto, que principiei em logo em seguida á assignatura do testamento e o continuei sem interrupção, sendo testemunhas a tudo presentes desde o principio até ao fim. Carlos de Novaes Barreiros, Chefe da Secretaria da Câmara Municipal deste concelho – Manoel da Silva Robeiro, Chefe da Repartição de Finanças deste mesmo concelho – e José de Vasconcelos, Thesoureiro da Fazenda Publica deste concelho. Todos trez casados, de maior edade, cidadãos portuguezes, hábeis para testemunhas, residentes nesta vila de Salvaterra de Magos, os quaes todos assignam, com os seus nomes a dita primeira testemunha Carlos de Novaes Barreiros, o qual efectivamente o leu neste acto, em voz alta pelo testador em lugar deste e vão agora todos assignar, como fica dito. E eu referido Notário Francisco César Gonçalves o escrevi e assigno em raso depois de egualmente lida em voz alta esta declaração por mim Notário e pela dita primeira testemunha para esse fim indicado pelo testador. Declaro que li este auto de aprovação do meu testamenteiro e o reconheci conforme a minha vontade – (ass) Roberto Jacob da Fonseca. (assignados sobre duas estampilhas fiscaes no valor total de um escudo e cincoenta centavos, e devidamente inutilizadas) Roberto Jacob da Fonseca - Carda
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Silva Ribeiro – José de Vasconcelos – O Notário Francisco César Gonçalves.
Emolumentos seis escudos e cincoenta
centavos. Tem mais coladas duas estampilhas de contribuição industrial no valor total de oitenta e dois centavos e uma estampilha fiscal de um centavo e meio todas devidamente inutilisadas e assignadas pelo Notário Francisco César Gonçalves . (Na capa do testamento) Testamento de Roberto Jacob da Fonseca, aprovado nesta vila de Salvaterra de Magos aos vinte e quatro de Agosto de mil novecentos e vinte perante mim Notário (ass) Francisco César Gonçalves. E nada mais constava do dito testamento cerrado que bem e fielmente para aqui fiz copiar em mão e poder do apresentante a quem o entreguei do que dou fé. Foi lavrado nesta Administração o respectivo auto de abertura apresentação e publicação deste mesmo testamento, como consta do livro numero dois de autos de abertura ou publicação de testamentos cerrados de folhas um a folhas dois sob numero um. Administração do Concelho de Salvaterra de Magos, oito de Maio de mil novecentos e vinte e trez. António Emiliano Garrido da Silva. E por ser verdade fiz passar a presente cópia de certidão que assigno e vae autenticada com o selo branco desta secretaria”
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Anexo Fotográfico:
1920 - Roberto da Fonseca, dirige a Corrida, inauguração da Praça de Toiros de Salvaterra de Magos
Nota: Foto cedida por Graziela Silva, ao Jornal “Aurora do Ribatejo , quando dos 75 anos da inauguração da Praça de Toiros
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Fotos do Autor:
2007 - Casa construída por Roberto Jacob da Fonseca, e onde viveu * depois ocupada por seu 2º sobrinho Joâo Roberto Ferreira da Fonseca* em cima a placa de homenagem, em 1951 da Casa do Ribatejo aos “Irmãos Roberto”
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2007 – Casa construída por Vicente Roberto da Fonseca, e onde viveu até à sua morte
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2007 – Casa construída por João Roberto da Fonseca, e onde viveu, após a sua morte foi ocupada pelo seu filho, Vicente Roberto Ferreira da Fonseca
2013 – Aluno da Escola Secundária Salvaterra de Magos, pinta a casa Família Roberto (s)
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2007 – Casa onde viveu Vitalina Paschoa (Roberto)
2007 – Casa onde viveu Roberto da Fonseca Júnior (2ª moradia do lado esquerdo)
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2007 – Jazigo da família Roberto – Cemitério de Salvaterra de Magos
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Bibliografia:
* Revista “Branco e Negro” – Coimbra – 1897 * Revista “A Hora” - 1936 * Jornal Vale do Tejo – JVT * 2000 * Documentos de recolha do autor * Cópia Testamento
Fotos Usados s/ Legenda
* Pág.13–Irmãos Roberto, em grupo com o Bandarilheiro Peixinho * Pág. 23 – Troféus guardados na Casa onde viveu Roberto Jacob da Fonseca * pág. 26 – Armário/Vitrine, de um conjunto de três em posse da família Roberto *pág. 27 - Medalhão dos artistas; Roberto Jacob da Fonseca e seu irmão Vicente Roberto da Fonseca, esculpido na frente do seu Jazigo, cemitério de Salvaterra de Magos.
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