SALVATERRA DE MAGOS I Volume
Autor
JOSÉ GAMEIRO (José Rodrigues Gameiro)
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SALVARERRA DE MAGOS Crónicas do Nosso tempo
Tipo de Encadernação: Brochado Autor: Gameiro, José Editor: Gameiro, José Rodrigues Edição: Papel Papel A 4, e Sistema PDF Morada: B.º Pinhal da Vila – Rua Padre Cruz, Lote 64 -1º Localidade: Salvaterra de Magos Código Postal: 2120-059 Salvaterra de Magos ********
* Tel. 263 505 178 * Telem. 918 905 704 O Autor não segue o Acordo Ortográfico de 1990
Abril 2015
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TUDO COMEÇOU POR ACASO !.....
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Tudo começou em setembro de 2007. A ideia de usar as redes sociais, fervilhava, e tantas memórias eu tinha de um tempo, que se entrelaça na história de Salvaterra de Magos. Autodicdata, que sou, desde há muito guardava experiências por mim vividas conhecidas e divulgá-las, foi um “cisma” que me à muitos anos a usar os jornais. Mais tarde, naquele ano de 2007, descobri este “mundo novo”, a Web, e um dia veio a oportunidade. A experiência do meu sobrinho; Cláudio Gameiro, nestas coisas dos internautas, levou-me a usá-la. O livro sendo ainda a velha forma de leitura, tem a ombrear esta nova corrente de leitura, onde os usuários já têm um novo padrão dominante de consulta. Assim também aqui estou, abri o blogue: “http://www.historiasalvaterra.blogs.sapo.pt” foi o espaço ideal para escrever textos cujo títulos se ajustavam, ao espirito da “Crónica do Nosso Tempo”. Para mim, o mais importante era que o conto fosse um diálogo, em jeito de crónica simples e espontânea, de fácil chegada ao leitor. Nunca pretendi uma literatura de história, que aliás não pretendo nem sei dominar. Alguns anos já passaram desde o seu início, e para que não se percam os textos que foram escritos, naquele blogue, vou guardá-los nas páginas deste livro. O leitor, decerto vai aqui encontrar não fábulas de entretinimento, mas histórias em jeito de conto simples,
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, Os assuntos vão desde o património, à cultura etnográfica das gentes, que fazem parte das freguesias do meu concelho – Salvaterra de Magos, São textos que andam na área das crónicas de um tempo, tempo que é o meu, formas simples de contar o viver de um povo, que é o meu, até porque o senti andei lá enquanto menino, e registei os seus saberes que conservo no meu pequeno acervo de recordações. Talvez, até sejam pequenas estórias de uma grande história que veem de muitos séculos, como é a origem desta terra, onde nasci. Sempre tive a noção até onde poderia ir, as minhas carências são muitas, e apenas aqui deixo o trabalho de um sonho, que deveras exigia melhor preparação académica. Assim peço aos meus litores, a necessária benevolência. Ano: 2015 José Gameiro
(José Rodrigues Gameiro)
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I Nº 2 03/Setembro/ 2007
O CONVENTO DE JERICÓ ( ou de Nª Sª da Piedade) Sendo um pequeno texto, este Apontamento é dedicado ao Convento de Jericó, que tinha como patrono: Nossa Senhora da Piedade, construído sob a égide dos Frades Arrábidos. O Convento, abarca uma cultura religiosa que o povo de Salvaterra de Magos, desde início adaptou, estendendo-se mesmo para lá da Lezíria ribatejana. Quando do aparecimento nas bancas do novo diário lisboeta, “O Correio da Manhã” – CM, acedemos a colaborar com os seus jovens jornalistas, Adriano Oliveira, e Hermínio Clemente, numa série de reportagens., sobre esta zona ribeirinha do Tejo.
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Um foi responsável pela escrita, o outro pela fotografia, ambos foram inexcedíveis, no seu carinho com este povo de Salvaterra de Magos., pois tudo queriam saber, do seu passado e do presente. A primeira reportagem saída no dia 3, do Novembro de 1985, esgotou, mesmo reforçado o número de exemplares para
os leitores desta vila. Sabe-se, que a existência do convento Jericó, foi de: 1542-1834, e a sua construção foi custeada pelo Infante D .Luiz, filho do rei D. Manuel I., sendo vendido os seus pertences em 1843, Mais tarde, em 2001, uma outra reportagem, sobre o mesmo Convento, foi levada a cabo pelo jornalista, Mário Gonçalves, do já extinto Jornal do Vale do Tejo - J VT, com redacção nesta terra, a que também dei a minha colaboração. ******** Nota Extratos: retirados do Livro Nº22 da Colecção "Recordar, Também é Reconstruir" – do Autor
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Anexo: O CONVENTO DE JERÍCÓ Reinava em Portugal D. Manuel I, D. Henrique, o seu quinto filho, estava em ascensão na vida religiosa em Portugal, entre as suas iniciativas conta-se a Universidade de Évora e a vinda para o país da Ordem Religiosa dos Jesuítas. O seu irmão D. Luiz, teve como professor Pedro Nunes, andou pelos mares em guerra, veio a casar em segredo, nascendo do matrimónio D. António. o Prior de Crato, mais tarde rei de Portugal. Estava-se a meio do século XVI, D. Luiz manifestava-se muito religioso, fundou na província da Arrábida, um Convento, cujos Frades eram seus protegidos. Veio a construir um outro Convento mais pequeno, entre Salvaterra de Magos e Benavente. Rezam algumas crónicas, que estando em terras baixas, todos os anos era inundado pelas águas das cheias invernais. Depressa escolheu um sitio mais alto, e em 1542, e aproveitou as terras mais altas, para ali construir o novo convento, sob os auspícios dos Frades Arrábidos, Uma construção austera, com terrenos de semeadura e árvores, fechado com um muro de construção muito bruta, com grandes cunhais a suportá-lo. D Luiz dedicou-o dedicou-o a Nossa Senhora da Piedade, já eleita na Capela do Paço real da vila de Salvaterra., mesmo estando em terrenos do concelho de Benavente. Ali possuía os seus parcos aposentos, passando grandes temporadas em pleno retiro religioso. O topónimo de S. Baco – O Mártir, vem da Europa, e já conhecido no séc. XIV, certo é, que estando instalado no caminho entre aqueles dos, concelhos, segundo estudos de Francisco Betâmio de Almeida (1), ******* (1)- O Convento de Jericó (1542 – 1834) * edição Câmara Municipal de Benavente
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ali naquele caminho também se realizavam as feiras. que na capela existe uma imagem daquele santo, que os povos de Benavente e Salvaterra, guardam ao longo dos século, a sua veneração, pois acreditam na sua protecção. A conversão e servir “uma pureza dos Frades Arrábidos”, cativou alguns naturais de Salvaterra de Magos, naquele estudo histórico de Betâmio de Almeida, encontramos: João Lopes (nome religioso: Fr. João da Piedade - 1789), António Pedro Xavier Baeta (1793), José Joaquim Maia (Fr. José de Jesus Maria – 1793), José de Sousa Machado (Fr. José de Santa Rita – 1795), Fr. José Soriano (1821); Este, numa pesquiza que estávamos fazendo nos arquivos de Santarém – encontra a seguinte certidão, de óbito: “Aos 31 dias de Janeiro de 1878, às dez horas da manhã, numa casa sita na rua do Pinheiro, desta freguesia de S. Paulo da vila e concelho de Salvaterra de Magos, faleceu José Soriano de Souza, eclesiástico, presbytero, de idade de 78 anos, egresso da extinta da extinta de Santa Maria da Arrábida, natural desta freguesia, onde era morador, filho legitimo de Joaquim de Souza, lavrador, e de Dona Luiza Xavier de profissão doméstica, naturaes desta freguesia: o qual não fez testamento e foi sepultado no cemitério público desta vila”
Socorrendo-nos novamente, do trabalho de Betâmio de Almeida, este concluiu que depois da extinção dos Concentos Arrábidos, José de Sousa, foi capelão da Misericórdia de Salvaterra. Com a morte deste religioso deve ter desaparecido o último frade que foi do Convento de Jenicó.
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************** Realmente em 30 de Maio de 1834, é conhecida a lei que extingue as Ordens Religiosas, em Portugal, Os frades; uns caminharam pelo mundo, fazendo caridade, outros ficaram-se pelas igrejas das terras vizinhas. A Junta de Crédito Público, mandou avaliar e recebeu o resultado sindicância em 22 de Março de 1842.
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A Raínha D. Maria II, assinou a autoriza a venda daquele imóvel, como prédio rustico e urbano, que foi religioso. Logo a seguir após a extinção , houve grande depilação do seu rico património. Em vários documentos ainda se escreve que estão em Benavente e Santo Estevão, como é o caso da Custódia que está na sua Capela.
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Numa visita que ali fizemos para o jornal, CM – Correio da Manhã, acabado de aparecer nas bancas, com redacção em Lisboa, vimos junto a uma das suas paredes, várias pedras tumulares, que pertenceram ao cemitério do antigo Convento.
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Anexo: S..BACO – O MÁRTIR O culto do mártir terá sido trazido para Portugal, pelos Frades da Ordem de S. Francisco. S. Baco, nome que os cristãos lhe atribuíram, sendo um soldado romano convertido à fé católica, era considerado cristão novo. Por tal conversão, foi executado pela ordem que estava em vigor de Maximiniano, Governador de Roma, perseguição que vinha de dois três séculos depois de Jesus, ter enviado os seus discípulos pelo mundo. No séc. VII, com a construção do Convento dos frades arrábidos, a crendice popular acentuou-se nos milagres operados por S. Baco , passando este a ter os seus devotos. O crânio deste Santo, sendo uma “relíquia” aos olhos do povo cristão, representa uma imagem que faz obrar milagres. Em Salvaterra, o Infante D. Luiz construiu o Convento, não deixou de ali de fazer uma pequena Capela, onde a imagem daquele Santo era venerada. Durante séculos, e ainda nos dias que correm é consagrado o grande desígnio “Quem junto de si vier com fé, é serviço, mas quem junto de si vier, e leve no coração blasfémias, S. Baco não perdoa” Os seus seguidores devotos ainda o dizem !.. . Desde tempos que se perdem, nas memórias, todas as quartas-feiras, e no dia de Quinta-feira de Ascensão de cada ano, os povos de Benavente e Salvaterra, e até de paragens longínquas, ali vão fazer preces, pedindo cura para os seus males e dos seus familiares. Tempos houve, que ali pediam protecção para as suas colheiras e animais. Conta-se que um dia, quiseram levar a imagem de S. Baco, para Benavente, e o carro
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de bois que transportava a imagem, foi-se enterrando no caminho, com a decisão de voltar a coloca-lo no seu pequeno espaço, tudo voltou à normalidade, e o povo cantou louvores. Conta-se que anos houve, que os crentes para recordação mexiam na sua policromia, que foi ficando gasta. Num tempo em que ajudamos nas reportagens ali efectuadas para os Jornais CM e JVT, o pequeno espaço da capela, ainda continuava a estar repleta de fotos de militares – soldados que estiveram nas três frentes de guerra ultramarina, e réplicas em cera de membros, como: mãos e pés Os seus crentes, oferecem azeite, fazendo queima de velas. para a imagem esteja sempre acima das trevas. Na visita que fizemos para o Jornal Vela do Tejo, tivemos ocasião de ver uma voluntária, lavar toda a policromia com vinho branco. ********************
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II Nº 3 03/Setembro/2007
AS SUAS GEMINAÇÕES "UMA ALIANÇA DOS NOVOS TEMPOS " As obrigações a pagar pelo povo, foram um fardo pesado para quem recebeu regalias através de três Forais concedidos à vila e concelho de Salvaterra de Magos. A imigração de povos, especialmente da Flandres, no sul de França, muito veio enriquecer o seu campo cultural. Séculos depois, outros imigrantes chegaram da Holanda, foram os Falcoeiros.
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Nos séculos XIX e XX, os cagaréus/varinos e avieiros, vindos da Murtosa (Aveiro) e da praia de Vieira de Leiria, como pescadores que eram, formaram duas comunidades distintas uma da outra. A permanência das gentes das Beiras, que para a Lezíria ribatejana vinham trabalhar nos campos, todos os anos, aqui se fixava, especialmente as mulheres, fazendo família. Num entrelaçar os seus usos e costumes, todos enriqueceram o já vasto património que enraizava nas origens das gentes salvaterriana. Nos tempos modernos, ter Gémino é perpetuar a amizade com os povos, como: Vieira de Leiria (Marinha Grande) e Valkansuaard (Holanda), e disso, se têm encarregado os seus autarcas do concelho, com os vários “contratos” de Amizade.
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III Nº 4 03/Setembro./2007
A ORIGEM DAS POPULAÇÕES DO CONCELHO " suas raízes" Quando se tem ao dispor, um “punhado” de documentos, fruto de uma recolha iniciada na década de cinquenta do século que agora findou, tudo se torna mais fácil No ano de 1997, integrado na equipa do “Jornal Vale do Tejo”, foi um retomar de uma já longa colaboração na comunicação social. Nesta fase, dei à letra alguns assuntos, que guardava sobre a história do povo do concelho de Salvaterra de Magos. Uns anos antes já tinha usado alguns deles, nas minhas crónicas, semanais na Rádio Marinhais. Nos artigos publicados, no JVT,
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tinham um formato jornalístico, agora neste apontamento de crónicas, sob um conteúdo literário com fotos de acompanhamento, tento unir todo o concelho, pensando dar a conhecer melhor as povoações de Marinhais, Muge, Glória do Ribatejo e Granho, nas suas raízes demográficas e geográficas, além das culturais. Foros de Salvaterra, tem nesta Crónica um apontamento em síntese, visto já lhe ter dedicado a edição de um
livro- “Subsidíos para História de Foros de Salvaterra”, sendo o seu conteúdo resultado de uma grande investigação no terreno. As origens e formas de vida, incluindo as suas próprias culinárias de cada povo fazem-nos diferentes, mesmo vivendo no mesmo concelho, mas influenciados alguns por viverem próximo da borda-d’água, outros nas terras de charneca. ********** Nota: Extraído do Caderno Nº 23 da Colecção "Recordar, Também é Reconstruir" – Do Autor
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Aexo:
1 Facebook – José Gameiro Janeiro/2015
GUARDAR A SUA CULTURA - Freguesia de Salvaterra de Magos O rio Tejo, na sua margem esquerda, mesmo ali na sua bacia com terras de aluvião deixou crescer a povoação de Salvaterra de Magos, minha terra-mãe. É uma vila e concelho no coração da Lezíria ribatejana, remontando a sua origem ao ano de 1295, com foral de D. Dinis. A cultura do seu povo, tem raízes de séculos na vida do campo. Um roteiro, pelo concelho leva-nos a visitar as várias etnografias do seu povo, Todas elas uma
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Uma afinidade, são gentes do Ribatejo. O Campino, guardador de gado bravo em dias de festa, mostrando o colete encarnado/ou azul, calção ao joelho, com meia em lã, desenhada e barrete verde. No peito, mostrava o ferro da casa agrícola, onde trabalhava, calçava sapato cardado. O O Camponês/Camponesa, aqueles que trabalhavam terra, pela força braçal, onde a enxada e a foice lhes calejavam as mãos, quer nos trabalhos da “cava da terra”, quer na ceifa. Na cava da terra, o cabo da enxada, bem curto, com o ferro de testa larga e fina, qual faca afiada cortando a terra de aluvião, ou aquela arenosa bem seca, fazendo dobrar os “costados”, o dia inteiro, de nascer ao por do sol, em movimentos bem marcados, pela voz do “mandador”, que em passo cadenciado, marcava o terreno e os golpes da enxada. No calor do verão, o suor correndo a face mostrava a raiva de vida tão penosa. O homem, usava barrete preto, ainda nos anos 30/40, do séc. XX, depois veio o chapéu e o boné. A calça e colete de cotim, com bota cardada, onde a língua dobrada, resguardava os pés da terra. A mulher, de saia
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comprida até ao tornozelo, de “chita” franzida na cintura, até ao tornozelo, tinha 4 panos fazendo o rodando. Quando necessário levantá-la, vinha ao joelho, segura nas pernas por uma cinta preta, fazendo balão na cintura e perna. A blusa de “riscado”, com pregas no peito, fazendo fole, e um avental e xaile, com lenço e sapato cardado. Ao domingo e em dias de festa, vestia saia de castor, vermelho e meia branca de lã. Toda sua roupa de trabalho, tinha influências das gentes beirãs, especialmente da Beira Litoral, com os ranchos que vinham fazer trabalho sazonal, já conhecidos no séc. XIX, agora tudo pertence ao passado desde o dobar do séc. XX, tempo da mecanização do campo. O Rancho Folclórico da Casa do Povo de Salvaterra de Magos, é o seu resguardo.
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2 Faceboock – Janeiro 2015 José Gameiro
- Aldeia do Escaroupim – amos debruçar-nos um pouco mais sobre a etnografia da comunidade de pescadores que vive da riqueza do Tejo. Ele, o rio, vem calmo no verão, mas com
águas revoltosas no inverno, que provocam cheias nas suas margens, que acabam por lhe dar riqueza De Espanha, quer chegar ao mar em Portugal, onde os lodos de águas salobras (mistura de água doce com água salgada) do mar da palha, onde alimentação é fértil para as aves, “espreguiçando-se” um pouco mais à frente no Oceano. No seu percurso depois de passar o estreito rochoso de Marvão, encontra espaço aberto em Abrantes e Constância para se alargar nos campos do Ribatejo, onde encontra a Lezíria, no seu lado sul. Aqui as terras, de aluvião. dão fartura as populações de Vale de Santarém, Chamusca, Golegã ,Salvaterra de Magos e Vila Franca de Xira, O Ribatejo, como província existe desde a sua criação em 1936,e a diferença são tamanhas, com as suas terras a caminho da Beira, onde a oliveira, faz
25 parte do seu tecido económico em contraste com a campina ribatejana. Esta província tem aqui e ali, pequenas diferenças de costumes. Um lugar comum é o campino - esse garboso guardador de gado bravo - o toiro. Em terras de Salvaterra de Magos, na margem do rio, ladeando a Mata do séc. XIII, encontramos o Escaroupim.
Uma comunidade de pescadores, um dia vieram da Praia de Leiria, até ao Tejo. Porque não á datas precisas, Francisco Rodrigues Lobo, conta num seu romance, que um pescador do Lena, morreu afogado, em 1622, no Tejo.
Pela safra do Sável eram vistos por aqui ao longo do rio, desde Alfange até Sacavém, próximo do rio Trancão, já na primeira década do séc. XX. As famílias, viviam nas pequenas embarcações de pesca. Depressa por aí começaram a construir pequenos núcleos de barracas de madeira e caniço. O Escaroupim, foi uma das margens escolhidas.
26 Longe vai esse tempo, que as aldeias no Vale de Santarém, Caneira, Alfange, Valada, Reguengo, Casa Branca, Vau, Conchoso, Vala do Carregado e Vila Franca de Xira. Passou a conservar a cultura etnografica daquela gente vinda de Vieira, através dos Ranchos Folclóricos. Os pescadores do Escaroupim em 1985, começaram a mostrar as suas danças já com alguma influências das gentes da Lezíria, através de um Rancho Folclórico.
Este era uma presença permanente no Restaurante Típico Ribatejano, na vila,, perante visitantes, que em dia de folga dos Congressos em Portugal, que aqui passavam um dia. Ali também, não deixavam de mostrar as danças das suas origens, aos domingos e feriados.
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3 Faceboock - Janeiro/2015
José Gameiro
- Freguesia de Foros de Salvaterra - A história da freguesia de Foros de Salvaterra é recente. Era um terreno, que pertenceu à Coutada Real da vila. A Rainha D. Maria II, em 0000, vendeu a cada real, aquele terrenos, foram comprados por particulares e iniciou-se o seu aforamento. O povo que desbravou a terra de mato e charneca, veio da terra-mãe, Salvaterra de Magos, nascia assim os Foros de Salvaterra. As famílias, ali instaladas levaram e conservaram os seus usos e costumes, hábitos que foram sofrendo as necessárias adaptações aos tempos, até porque as terras eram secas, as searas de sequeiro adaptavam-se bem De inicio (em tempos remotos), naquelas paragens apenas existam as terras dos "Coelhos", "Ameixoeira" e "Magos", mas um século passado após o aforamento, apareceram espaços urbanos como: Estanqueiro, Várzea Fresca, mais tarde terrenos que receberam o nome de "Califórnia", entre outros, lá para os lados da Albufeira de Magos. O povo predominantemente rural, usava para transporte da comida – a cesta de verga ( conhecida como Raposa), porque em tempos recuados, era naqueles utensílios,
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que levavam, os animais de pelo, inclusive as raposas capturadas. No transporte usava o burro, ou as grandes caminhadas a pé, com o alforge ao ombro, ou na anca do animal. Para a dormida no campo, a manta “lombeira”, era uma peça que se entendia no chão, o seu nome vem do guardador de gado/ou campino, a transportar no lombo do cavalo. No vestuário do homem, conservou a Jaqueta e calça de cotim e barrete preto. A mulher saia de chita, com uma roda de 4 pano. Franzida na cintura. A saia de castor vermelho e meia de lã, era usada aos domingos e dias de festa. O sapato de sola cardada até ao ortelho. A blusa, de pano “riscado” com bolsa franzida no peito. Um avental com dois longos laços atados nas costas. Lenço na cabeça, com duas pontas atadas no cimo da cabeça. No inverno, o xaile cobria o peito e as costas. Mesmo lentamente, o homem no dobrar do séc. XX, via-se a usar boné ou chapéu preto. Da carroça e burro, o transporte passou à bicicleta. A sua etnografia, tem sido guardada pelos agrupamentos folclóricos existentes em Foros de Salvaterra e Várgea Fresca. Ainda nos anos 50 do século XX, os casamentos, eram na Igreja Matriz de Salvaterra de Magos, a comitiva deslocava-se em grandes cortejos de carroças, onde o barulho dos guizos das bestas se confundia com os toques de acordéon, contratado para animar a festa.
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4 Faceboock – Janeiro 2015 José Gameiro - Freguesia de Muge Ao continuarmos a nossa pesquisa sobre a etnografia do concelho de Salvaterra de Magos, em Muge sentimos um Ribatejo diferente. Esta povoação é um limite geográfico do concelho. Os romanos andaram por ali e deixaram vestígios, que chegaram aos nossos dias. Desde o ano 1304 passou a ter Foral. D. Dinis mandou povoar aquelas terras, q sentimos um Ribatejo diferente. Esta povoação é um limite geográfico do concelho. Os romanos andaram por ali e deixaram vestígios, que chegaram aos nossos dias. Desde o ano 1304 passou a ter Foral. D. Dinis mandou povoar que sentimos um Ribatejo diferente. Esta povoação é um limite geográfico do concelho. Os romanos andaram por ali e deixaram vestígios, que chegaram aos nossos dias. Desde o ano 1304 passou a ter Foral. D. Dinis mandou povoar aquelas terras, que depressa pertenciam à Abadia de Alcobaça, mais tarde algumas delas foram trocadas e ficaram pertença da vizinha povoação de Valada. Na sua origem medieval, o seu nome vem da lenda da tainha – Mugem, peixe muito abundante nos seus ribeiros e outros pequenos cursos de água, que tinham destino o
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rio Tejo.. A riqueza dos seus campos, quer aqueles que ladeiam aquele rio, ou mesmo as ribeiras, que nos indicam estarmos perto da charneca, passaram a ter novo donatário pósrestauração de 1640 – A Casa Cadaval. Depressa passou a instituição agrícola poderosa no meio do um Riba-tejo, onde os seus trabalhadores se confundiam entre várias origens, já que a maioria deles vinham em ranchos de homens e mulheres lá das Beiras, e alguns por cá ficavam formando família, ocupando mesmo os terrenos conhecidos por “Foros de Muge”, e aí nasceram espaços urbanos; como o Granho e Marinhais. A cultura do povo de Muge ainda no dobrar do ´sec. XX, mantinha as roupas beirãs dos seus antepassados. Era comum na mulher o lenço na cabeça, com saia levantada através de uma cinta, especialmente nos trabalhos dos arrozais. Nos dias de festas populares, mesmo apoiadas pela Casa Cadaval, da qual dependiam no trabalho e sustento, dançavam Viras e Corridinhos ribatejanos, entrelaçados com os cantares da Beira baixa. A sua etnografia, era parca de motivações culturais e com o decorrer dos tempos, não deixou raízes em qualquer agrupamento folclórico.
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A sua maior riqueza no campo patrimonial, está nos Concheiros, onde as primeiras pesquisas da pré-história, foram encontradas em meados do séc. XIX. O seu valor arqueológico regista a ocupação humana que passa pelo “Homo Taganus”, e encontram-se nas várias estações arqueológicas, agora património nacional.
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5 Faceboock – José Gameiro Janeiro/2015
- Freguesia do Granho Nos Post(s) publicados até aqui, coube agora a vez sobre a etnografia da freguesia do Granho .Estava a iniciar algumas buscas, e surpresa a minha, Rosa Gomes, que há muito vinha fazendo um levantamento sobre a origem da sua terra-natal, o Granho. De imediato não deixou que de me presentear com um livro de sua autoria, com cerca de centena e meia de páginas.- mesmo sendo curiosa destas coisas como eu, não deixa de trazer à luz memórias históricas das gentes grenhense. Tal edição, dá-nos a conhecer alguns estudos sobre a origem daquela povoação. Contribuiu para o enriquecimento
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deste nosso trabalho de pesquisa, e para conhecimento de todos que gostam destas coisas. de história dos povos, que um dia vieram até às terras medievais do Riba-tejo. Os contos brejeiros do povo simples da sua terra ali estão para que perdurem no tempo. A monografia, "História Tradição, Gentes" está cheia de informações de um tempo que enche de saudades qualquer um que não se resigna a perder as tradições daquela gente que um dia povoou as terras que um dia foram os Foros de Muge. O Rancho Folclórico do Granho, guarda e divulga os seus cantares e danças, além das crendices populares.
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6 Faceboock – José Gameiro Janeiro/2015 - Freguesia de Marinhais – Vamos continuando o roteiro pelas terras do concelho, fomos da borda de água, no Escaroupim até às terras da charneca. Aqui chegados, vamos conhecer um pouco da povoação de Marinhais. As suas terras, no dobrar do séc. XX, ainda eram trabalhadas pela força braçal das famílias,, sendo de sequeiro, cada pedaço era conhecida por Fazenda. Toda esta vasta área, que foi dos “Foros de Muge, conhecidos já em 1875, vai até à Gloria e Granho, são terras areno – arenosas, com afinidades com a charneca. As primeiras ainda recebem os ares da humidade da bacia do Tejo e algumas ribeiras, que os beneficia para a cultura da vinha. No entanto na sua origem de povoado, por ali existia os Camarinhais (empetáceos, conhecidas por Camarinhais). Com o decorrer dos tempos deu origem a Marinhais, para consumo familiar e dos animais, os poços de
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água eram abertos junto às casas de habitação. O Pinhal e Eucaliptal, depressa também p0assou a parte do rendimento daquele gente. Marinhais, dá-nos mostra que a sua origem tal como em todo o Ribatejo, a mão obra camponesa, vinha em ranchos da região centro e mais para baixo da Beira Litoral. Aqui são conhecidas, que vieram de Soure, Cantanhede, Figueira da Foz, Montemor e Pombal. Na sua cultura linguística, ainda se encontram ligações àqueles locais. A etnografia na mulher, até meados do séc. XX, mostrava-nos a saia comprida, avental, blusa e lenço atado na cabeça. No homem, vem desde o barrete preto, colete, calça tapando a bota., passando pelo chapéu até ao boné. Com o decorrer dos tempos, nas décadas
de 50/60, já como freguesia em 1927, o homem passou a usar boné. E o transporte de carroça e burro, foi substituído pela bicicleta. Marinhais, com o seu crescimento demográfico passou a Vila desde 1985. As danças e cantares dos seus antepassados, foram guardadas pelo Rancho Folclórico “Os Lusitanos”, que se iniciou nos anos 60, tendo sucessivas mudanças, agora
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apresenta-se como: Grupo de Danças “Os Lusitanos”, continuando a divulgar a etnografia da terra.
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7 - Faceboock – José Gameiro Janeiro/2015
- Freguesia de Glória do Ribatejo –
De Marinhais, à Glória do Ribatejo é um salto. A separar estas duas povoações existe a linha do caminho de ferro, inaugurada no tempo do rei D. Luiz. Glória, dá-nos mostra que os seus terrenos já são de charneca, onde a pedra de seixo predomina. O seu povo até meados do séc. XX, vivia marcadamente da agricultura. Os mais jovens trabalhavam à jorna, e o campo de Vila Franca de Xira, absorvia-os em ranchos para trabalhos de quinzena. O fim de semana, era ocupado nas suas “ Fazendas/ Foros” (pequenas áreas de terra), onde a seara de sequeiro predominava, desde que deixou de pertencer aos Foros de Muge. Uma outra fonte de rendimento era o sobrado (grandes manchas de sobreiros), onde o eucalipto e o pinhal já mostrava grandes manchas no terreno. Na alimentação da família, além do porco, a cabra e a ovelha estavam a par com os galináceos, que existiam num pequeno
39 aramado junto à habitação. A etnografia do povo gloriano tem a particularidade, de ser diferente dos demais ribatejanos, especialmente os da borda de água. Na sua cultura, a linguística, tem despertado ao longo dos tempos grande interesse de investigadores e escritores. Dentro entre muitos nomes, decerto; Celestino Graça, Alves Redol, Dr. Peral Ribeiro, Idalina Serrão sobressaem. A povoação da Glória, já tem alguns séculos, despertou interesse ao rei D. Pedro I. No ano de 1362, foi edificada a sua igreja, à povoação está ligada a Lenda de D. Pedro, daquele monarca recebeu privilégios e isenções. Nos dias que correm mantem viva a suas tradições ancestrais, om veneração à Nossa Senhora da Glória. No dobrar do séc. XX, ali houve grandes transformações, com a instalação nos seus terrenos do emissor da RARET. A povoação tem uma extensão de cerca 10 mil hectares . De início era charneca, mas depressa o povo a trabalhou, e apareceram os pequenos talhões que mostravam, vinhedos, trigo e centeio. Na forma de vestir e falar, nota-se ainda nas gerações mais velhas, o seu particular falar, sem igual em todo
40 o Ribatejo. Os vestuários – homem, mulher e criança, especialmente bebé/menina, que mantiveram durante décadas. Agora são os agrupamentos folclóricos da terra, que os preservam. Nas danças, chama-nos a atenção alguns elementos dançarem descalços. Aqui terminamos a visita “simbólica” às 6 freguesias, do Concelho de Salvaterra de Magos, onde tentamos com utilizar textos por nós compostos, algumas fotos do nosso álbum e outras que retiramos das redes socais..
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IV Nº 5 03/Setembro/2007
HOMENAGENS E INAUGURAÇÕES Ao longo dos anos da minha vida, fui assistindo a inaugurações e homenagens, umas mais do que outras organizadas com pompa e circunstância, sendo os momentos e os protagonistas, o espelho das mesmas. O ser humano, por vezes manifesta-se parco em agradecer, tem dificuldade mesmo no reconhecer o mérito das obras, de um seu semelhante que, às vezes até é um seu conterrâneo. Nesta terra, quantos estão ainda à espera do reconhecimento público, pelas obras, que prestaram à comunidade onde estão inseridas. Muitos até, “sofrem” a ingratidão que lhes passa ao lado, com origem nos poderes públicos, mas têm pelo menos o reconhecimento da família e dos amigos, que souberam respeitálo, sabendo muitas vezes, que dedicaram uma vida a uma causa. Neste trabalho, certamente não vou abarcar todas as inaugurações e homenagens que, decorreram num certo período de tempo, na vila de Salvaterra de Magos. Mesmo as cerimónias, que foram levados a cabo quando do Congresso Mundial de
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Antropologia, nos finais do séc. XIX, realizadas na cidade do Porto e, cujos membros ao visitarem Salvaterra de Magos, sede do concelho e, as estações pré-históricas, em Muge, foram alvos de pomposos festejos, não cabem neste pequeno espaço, pois terão lugar num Apontamento próprio.
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********** Nota: Do Caderno Nº 18 da Colecção "Recordar, Também é Reconstruir!
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A CONSTRUÇÃO DE UM HOSPITAL
O terramoto de 1909, deixou a vila de Salvaterra de Magos em situação de grandes carências, sendo notória no campo da assistência médica e hospitalar, a antiga Albergaria (1), tinha desaparecido e a população da vila de Salvaterra de Magos, lamentava aquela necessidade. Um homem bom da terra - Gaspar da Costa Ramalho - fez recair sobre si, as despesas da construção de um novo edifício hospitalar e, no decorrer do empreendimento, foi secundado por um outro benemérito da terra – Francisco Lino. Os esforços levou à sua inauguração no ano de 1912, e a população do concelho, passou a utilizar uma moderna unidade de cuidados médicos hospitalares, que depois da solenidade da ocasião, foi oferecida à Misericórdia local. Os festejos, especialmente as sessões de agradecimento, decorreram sempre sem a presença do homenageado, pessoa que tudo fazia para não estar presente, nos actos onde tivesse tido a oportunidade de colaborar. ********* (1) - Albergaria: Primitivamente Também conhecida por Mercearia
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A LUZ ELÉCTRICA NA VILA No ano de 1948, deliberou a vereação camarária, em reunião pública, apoiar uma proposta do presidente, para que os festejos da inauguração da luz eléctrica, projectada para o dia 28 de Novembro, fossem levados a efeito com o maior brilho possível. Convidadas entidades oficiais que, foram recebidas nos paços do concelho, por uma guarda de honra de bombeiros e de campinos, das casas agrícolas da terra, depois foi-lhes servido um Porto de Honra, no salão nobre dos paços do concelho, extensivo ao muito povo presente nesta recepção oficial. Aos indigentes e pobres, foi distribuído um bodo, até ao valor de quinhentos escudos, suportados pela municipalidade, conforme constava no programa da festa. Naquele dia, uma cabina em cimento, construída pela Hidro Elétrica do Alto Alentejo (HEAA), instalada na E.N.118, junto ao matadouro municipal, forneceu luz elétrica à vila de Salvaterra de Magos, eram onze horas da manhã. A inauguração, por ser uma necessidade, a população, acorreu dando louvores e palmas, com a sua banda de música e, fez-se uma largada de pombos-correio, a completarem o evento festivo. .
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Homenagens
ALEXANDRE VARANDA DA CUNHA (Barbeiro e Fotografo Amador)
Alexandre Cunha, desde menino foi encaminhado pelos pais para a profissão de Barbeiro, pois sendo aqueles trabalhadores rurais, sabiam quanto era penosa a vida no campo. O Alexandre, “Barbeiro”, como carinhosamente era tratado, anos mais tarde, quando prestou serviço militar, foi enfermeiro. Naquela actividade, teve oportunidade de lidar com produtos químicos, e ali veio a interessar-se pela fotografia. De regresso a casa, estabelecido na sua profissão, comprou uma maquina fotográfica e, para além de praticar um hoby, passou a ser o fotógrafo da terra. A população a ele recorria, para as necessárias fotos de crianças em dia de aniversário, como também as pequenas destinadas aos documentos oficiais, especialmente: Bilhetes de Identidade. Tempos depois tem outra máquina, uma “Kodak” e com ela obteve fotografias de tudo quanto era sítio, da sua terra natal – Salvaterra de Magos. Já com o peso dos anos, a Câmara municipal, não esqueço o seu desempenho cívico, e homenageouo, acompanhado de uma exposição de fotos do seu vasto espólio que era deveras grande. Mais tarde ofereceu grande parte ao Departamento da Cultura da Câmara Municipal. Com a Restauração em grande desenvolvimento na terra, nos últimos
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anos da segunda metade do séc. XX, e inicio do séc. seguinte, raro era a sala que não tivesse uma antiga foto dos seus negativo. ,Alguns originais em vidro, ofereceu-os-me, quando lhe fiz uma entrevista sobre a origem do Clube Desportivo Salvaterrense, pois.enquanto jovem, muito se interessou por esta colectividade, tendo mesmo pintado o seu emblema. Não deixou de me oferecer uma foto, onde meu pai – José Gameiro Cantante, empregado camarário, postado com um animal que servia para a carroça da recolha do lixo, em frente ao grande portão do antigo Jardim público,
Empregado Municipal – José Gameiro Cantante
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V Nº 6 03/Setembro/2007
AS CHAMINÉS DAS COZINHAS DO ANTIGO PAÇO REAL Quando criança brinquei dentro delas !.. O António Lopes, filho de um dos donos da propriedade, e eu, quantas vezes através de uma escada de madeira, nos penduramos naquelas fortes barras de ferro.!.. Estávamos em 1949, havia obras no local, o Restaurante Ribatejano estava em construção e, afinal aquelas grandes casas onde brincávamos, eram as três chaminés das cozinhas do antigo palácio real de Salvaterra de Magos. Na minha adolescência, no edifício camarário, entre muitos documentos que li, um me despertou grande curiosidade, pois tinha a haver com o palácio real de Salvaterra de Magos:
“dientro en los palácios reales del dicho Lugar de Salvatierra estando hi presentes el muj nobre e mij alto claro príncipe Sñor D. Fernando por la gracia de Dios Rej de Portugal e del Algarbe....”
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Com o decorrer do tempo, as calamidades, a incúria dos homens, foram factores que contribuíram para o desaparecimento de um vasto património monumental, que a vila de Salvaterra de Magos possuía e , agora os poucos existentes se podem contar nos dedos de uma mão. Estas antigas construções, mesmo
encontrando-se no rol dos monumentos de utilidade pública, da terra, desde 1958, não deixaram de sofreu descuidos na sua conservação. Disso é, prova, o “dano”, que muito abalou a existência, daquelas chaminés, visíveis nos trabalhos preparativos de uma nova urbanização de prédios, uma autorização no mandato autárquico, de Cristina Ribeiro, e disso foi dado publico relevo, pelo então Jornal Vale do Tejo
******** Nota:: Extraído do Caderno Nº 16 da Colecção "Recordar, Também é reconstruir" – Do Autor
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VI Nº 7 03/Setembro/2007
OS DIAS QUE SE SEGUIRAM AO TERRAMOTO DE 1909 Quando criança ocasionalmente ouvia falar do terramoto, pois muitos anos se tinham passado, os estragos causados na povoação estavam recuperados, ou tinham desaparecido. No entanto a curiosidade era muita, pois existia um marco daquela época, uma escola primária na vila, tinha alguma informação. Os traumas, esses não, mas a geração, que o viveu estava em declínio, os que ainda se lembravam, como José Caleiro, Joaquina Mendes, Francisco Costa e Rosa Mendonça, pessoas a rondar os 100 anos de vida. Dele me fizeram algum relato, em 1986, para mais viveram a chegada a esta vila, do rei D. Manuel II, que aqui veio visitar os seus estragos. A emoção espelhada nas suas palavras, quando descreviam as cenas de pânico que a população viveu.,
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especialmente a urbana, pois a rural, àquela hora ainda trabalhava nos campo. José Caleiro, homem que esteve na I guerra mundial (1914-1918), com uma descrição tão pormenorizada quanto possível, até porque veio do campo, a pé, chegando uma hora e meia depois, à vila, quando do acontecimento sismológico, encontrando as muitas habitações destruídas, como constam descritas em documentação que consultei, quando me debrucei sobre o assunto. ******* ******* ( *) Guardo, as suas informações em gravação áudio, bem como de outros que, outra visão sobre o assunto tinham, nas suas memórias.
******** Nota: Do Caderno Nº 17 da Colecção "Recordar, Também é Reconstruir! – do Autor
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VII Nº8 3/Setembro/ 2007
FONTES E FONTANÁRIOS Já lá vai meio século, quando menino, lembro-me um dia, minha mãe, mulher jovem na flor da idade, comigo arrastado pelo braço, em grande correria, entre a multidão, que se dirigia para o novo Depósito de Água, na estrada que vai para Coruche. Era dia de festa em Salvaterra de Magos, algumas ruas estavam engalanadas, campinos e os bombeiros fizeram uma parada junto ao edifício dos paços do concelho, onde o povo assistiu à sessão de boas vindas, aos convidados. A cerimónia terminou junto aquele Depósito, pois estava-se perante uma das maiores inaugurações do séc. XX, na vila, que era o abastecimento e distribuição de água ao domicílio. Uns anos antes, já as ruas estavam a receber canalização de "lusalite", de grande dimensão, em valas previamente abertas, à força braçal de muitos homens. A maioria das habitações já estavam prontas a receber o tão precioso abastecimento, que até ali era retirado
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em muitas Fontes naturais ou Fontanários, construídos e abastecidos de furos artesianos, ao longo dos séculos. e, os furos a jorrarem água para o depósito, horas depois as habitações da vila estavam abastecidas. Uma nova condição de vida foi dada à população. Os festejos, após algumas palavras apropriadas ao acontecimento, a cerimónia festiva findou com a ligação dos motores Uns tempos depois, um grande Depósito de água, construído na década de 30, ali no espaço da frente da antiga Fonte de S. António, que abastecia através de um furo, um núcleo de habitações em redor da Igreja Matriz e do edifício municipal, começou a ser demolido. *****************
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Nota: Extraído do Livro Nº 16 da Colecção "Recordar, Também é Reconstruir!" – do Autor
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VIII Nº 9 03/Setembro/2009
CHESAL " COOPERATIVA DE HAB. SOCIAL Nos meus tempos de criança, talvez de 4/5 anos, ia a pé, de madrugada para casa dos meus avós maternos, para os Quartos, pois meus pais já estavam a caminho dos trabalhos do campo. Os Quartos, eram pequenas habitações, de telhado com telha de canudo (telha portuguesa), onde algumas tinham apenas duas divisões. Algumas eram divididas com “paredes”, feitas com sacos, que tinham servido para batatas, ou adubo, depois de abertas e cosidas umas às outras, recebiam várias camadas de cal, ficavam espessas. Aí, viviam casais com filhos de ambos os sexos. Um dia, apercebi-me que minha avó, foi à mercearia pedir papel e jornais velhos, pois tinha de calafetar tudo quanto era sítio, onde não pudesse entrar uma nesga de luz.
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Comentava-se entre a população, foram ordens da câmara, pois a vila seria sobrevoada por aviões militares, um exercício nocturno, desde Tancos até Alverca do Ribatejo. Estávamos no começo da aviação, integrada no exército português. Os Quartos, aquelas pequenas casinhas, perduram ainda nos dias que correm. Um quarto de século depois, tive o privilégio como dirigente, no Centro Paroquial, ajudar o padre José Diogo, que ao construir bairros sociais em Salvaterra de Magos, deu um forte contributo, para acabar com as muitas barracas, que existiam na vila. Após o golpe militar de Abril de 1974, o povo uniu-se por todo o pais, e o desenvolvimento verificou-se em todos os campos. Em Salvaterra de Magos, na área da habitação, num grupo encontrou e condições para levar a cabo a iniciativa do aparecimento da Chesal- Cooperativa Habitação Económica de Salvaterra de Magos. Com o apoio municipal, uma Comissão PróCooperativa de Habitação, em comunicado informou a população dos seus desígnios. Algum tempo depois, no Notário, foi feita escritura pública da Chesal, foram seus autorgantes: Mário Ferreira Duarte, José António Ferreira da Silva e Manuel Pedro Pinto Pereira. Com 100 associados inscritos numa primeira fase,
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as construções iniciaram-se num vasto terreno da zona da “Coutadinha” e as primeiras casas foram distribuídas, no dia 11 de Julho de 1988, no meio de grandes festejos **************
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Nota: Extraído do Caderno Nº 21 da Colecção "Recordar, Também é reconstruir" – do Autor
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IX Nº 10 10/Setembro/2007
A ARTE SACRA DA PARÓQUIA DE SALVATERRA DE MAGOS Antes de visitar o museu (em criação), na Igreja Matriz, voltei a reler o meu espólio documental e fotográfico, que venho acumulando já há mais de 50 anos. A Igreja, é um templo que data da fundação da povoação (1296) e, foi arrolado no inventário da devolução à paróquia de Salvaterra de Magos, através da Portaria 4.978 de 2 de Agosto de 1927, depois de muito tempo em poder do estado, por via da confiscação feita, por força do decreto-lei de 20 de Abril de 1911, quando da implantação da república em Portugal, em Outubro de 1910 Tal devolução foi concretizada em 22 de Janeiro de 1928, depois de várias reuniões entre a Junta de Freguesia de S. Paulo de Salvaterra de
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Magos e Corporação Fabriqueira Paroquial de S. Paulo, de Salvaterra de Magos. A Igreja Matriz É um edifício religioso, construído por volta de 1296, Tem torre com relógio e uma superfície coberta de 823 m2. Confronta a Norte com o Largo da Igreja, a Sul com a rua Nova de S. Paulo. Durante muitos anos, a sua aba do lado Sul, servia de residência e sacristia do padre da freguesia. Em 1945, com a chegada do Pe José Rodrigues Diogo, este providenciou a construção de uma nova residência – casa paroquial. No dobrar do século XX, o Pe. Diogo, ordenou algumas obras no interior do templo, foi retirado uma vedação em ferro e pintado o tecto com a imagem de S. Paulo. No decorrer das obras, foram colocadas à vista na zona do altar, algumas pedras tumulares. O adro do lado Norte, foi aproveitado, acrescentando espaços para salas. Na minha visita à igreja matriz, pode apreciar dentro do templo, a existência de uma pequena capela, onde está depositado a imagem do “senhor morto”, bem como próximo do altar, dois pequenos frontões, que albergam; lado direito: Sagrado Coração de Jesus, lado esquerdo: Imaculado Coração de Maria/ou Nª Sª de Fátima.
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O tecto da nave principal, é de uma beleza extraordinária, com uma grande pintura de S. Paulo, rodeado de anjos. O seu espaço interior tendo uma boa sonorização, ali nos últimos anos têm cantado alguns coros, em espectáculos especiais, acompanhados do seu órgão de tubos, do séc. XIV, recentemente recuperado. A sua torre, com azulejos de cor azul, são recentes (1983), substituíram outros da mesma cor, ali colocados no séc. XVII, e do seu primeiro relógio, com numeração árabe, que substituiu em 1956, um outro de numeração romana, ali instalado, quando do sismo de 1585. No seu museu (em formação) estão, catalogadas cerca de 100 peças: imagens, quadros, livros e objectos litúrgicos, alguns pertencentes à antiga capela real, como: Imagem de Nossa Senhora da Piedade; Quadro do Milagre da Horta D`el- Rei e uma outra pintura, referenciada como um Milagre em Benavente. Também se podem apreciar, duas imagens da Pietá (Nª Sª com o filho nos braços), sendo uma delas considerada única em toda a Península Ibérica. O boletim municipal “ O Foral “, editado pelo município, em 1995, quando da comemoração dos 500 anos da vila e concelho de Salvaterra de Magos, publicou um texto da autoria de Leonel Nunes Garcia(*). ‘’Por ser um documento raro, que trata do património da
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freguesia de Salvaterra de Magos, no campo da arte sacra, em anexo a este texto se transcreve” Antiga Capela Real A antiga capela real, quando da sua devolução à casa paroquial, foi descrita como: Prédio urbano de uma nave e sete divisões, com uma porção de terreno anexo, murado que, antigamente na última serventia serviu de cemitério, com cerca de 840 m2, e tendo à frente do edifício uma faixa de terreno com um gradeamento de ferro., com 91 m2 * Superfície coberta: 285 m2, Este edifício religioso confronta ao Nascente, com edifício ,(que foi da casa real) e esteve na posse de descendentes de Roberto Jacob da Fonseca; ao Sul com a antiga Horta del-rei, que foi pertença de António José Ferreira da Silva, e por venda passou para a firma Manuel Vieira Lopes, Sucrs, Ldª, passando agora aos seus herdeiros. No lado Poente, confronta com edifício que foi de António Jorge de Carvalho, depois passou a seu genro António Henriques de Sousa Antunes, agora é pertença dos descendentes deste. Nos nossos dias, mesmo com o prestígio que ainda goza no âmbito da arquitectura nacional, aquele templo mostra-nos um espaço vazio sem vida, sendo usado para os serviços municipais, mesmo sendo catalogado, como monumento de interesse público. Desde
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1958, periodicamente ali se realizam algumas exposições culturais. Capela da Misericórdia Este templo, descrito como prédio urbano, composto de uma nave e oito divisões, com superfície coberta de 230 m2, confrontando do Norte com a vala, Sul com João Oliveira e Sousa, Nascente com rua de Baixo e Poente com rua Direita. Nesta capela, tem guarida a imagem de Nossa Senhora da Conceição, à qual a população ainda lhe venera grande devoção, pois todos os anos promove uma procissão, que percorre algumas ruas da vila, no dia 8 de Dezembro. Neste templo também existe em local apropriado a grande imagem do senhor morto, que em tempos saia, quando das festas que se realizavam pela Páscoa. Os quadros, retábulos, que tapavam o seu tecto, desde 1979, ano da grande cheia e tempestade, que destruiu grande parte do edifício, deixaram de ser vistos, e ao que se sabe, estão a aguardar trabalhos de recuperação devido aos estragos sofridos (1).
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Anexo SALVATERRA DE MAGOS “ DOIS CRISTOS DE MARFIM NA IGREJA PAROQUIAL “ “As duas imagens que se apresentam no Museu Paroquial foram alvo de um artigo escrito por * Leonel Nunes Garcia, na Revista Municipal, uma edição com Editorial assinado pelo Presidente – Dr. José Gameiro dos Santos. (*) Pelo seu valor histórico único de descrição num artigo cheio de análises comparativas, cativou-mos, e assim não deveríamos e não podíamos deixar passar esta oportunidade de o inserir aqui, fazendo a sua total transcrição: ************* (*) Instado a escrever sobre Salvaterra de Magos por amável convite do Exmº Presidente da Câmara Municipal Dr. José Gameiro dos Santos, decidi-me pelo estudo de dois Cristos, sem dúvida de factura Indo-Portuguesa, presentes na Igreja Paroquial desta vila. As duas imagens que se apresentam correspondem …. A Fig 1 e Fig 2, e deste modo passarão a ser designadas por uma questão de facilidade de exposição. Resta a intenção de que estas notas sirvam para dar a
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conhecer duas peças, não só aos leitores a quem a arte Indo-Portuguesa interessa em particular, mas, e sobretudo, alargar o circulo de interessados de uma arte que ainda há não muito tempo era pouco analisada e divulgada. A arte Indo -Potuguesa Os marfins que aqui nos interessa abordar, identificam-se pelas suas características estilísticas com a produção Indo-Portuguesa. Isto é, trata-se de peças elaboradas por artistas ou artífices asiáticos, em oficinas da Costa Ocidental Sul da Índia, mais exactamente na Costa do Malabar, zonas de Goa e Cochim. As peças mais antigas desta arte remontam aos finais do séc. XVI, contudo a sua produção maciça desenrola-se sobretudo nos séc. XVII e XVIII com o incremento da missionação. A aventura portuguesa dos descobrimentos, proporcionou o entrecruzar de dois mundos, logo a interpenetração da arte portuguesa no mundo indiano e vice-versa Naturalmente repercussões ao nível da produção de imagens e de toda a arte sacra. Nos locais que eram conquistados pelos portugueses criavam-se novas dioceses e Igrejas, motivando o desejo dos padres em dotarem os seus templos com todos os objectos que o culto requeria, numa altura em que as normas tridentinas e o fervor religioso fomentava o culto das imagens.
63 Para acudir à necessidade crescente destas peças, as ordens religiosas vergaram-se ao trabalho dos artífices locais, fornecendo-lhes instruções e protótipos europeus, uma vez que nos deparamos muitas vezes com peças que acusam essa filiação, por exemplo, pela posição dos braços e torso; cendal curto e com laçada ao lado, pés unidos por um só cravo e barba bifurcada à espanhola. Esta prática era veiculada pelos desenhos, livros, gravuras, imagens, medalhas ou estampas incluídas em bíblias ou catecismos. Uma das mais curiosas características desta produção, encontrase na omnipresença quase constante do cunho e valores artísticos locais. Ou seja, os artistas não conseguiram desligar-se dos valores artísticos que lhes eram intrínsecos, sendo por vezes visível a afinidade, por exemplo de algumas imagens de Cristo, com as representações de divindades das religiões locais, com traços de ascetas e homens santos. As preocupações pós-tridentinas, condicionaram os artistas nas suas fantasias levando-os a criar peças destituídas de grande parte da sua natural ingenuidade, num trabalho em série, o qual, apesar das sujeições que o encomendador impunha, não conseguiram evitar o carácter deste tipo de produção. Análise Descritiva As duas esculturas representam Cristo crucificado morto, cabeça descaída sobre o seu lado direito, olhos fechados e chaga aberta no peito. Estas características diferem de uma outra variante iconográfica, normalmente apelidada de
64 “expirante” (1), em que o crucificado surge invariavelmente com “(…) a cabeça erguida (…) e olhos levantados ao céu (…) “ (2). Nas esculturas de Salvaterra as cabeças estão bem proporcionadas abrindo-se em risco ao meio contornando o crânio com belas madeixas que pendem sobre os ombros. Na imagem da Fig 1, o cabelo assenta na fronte em ondas algo irregulares caindo sobre os ombros em madeixas diagonais ligeiramente onduladas. Na imagem da Fig 2, caem em elaborado zinguezague simétrico, um maneirismo peculiar de uma oficina ou não conhecida. Os cabelos espessos estão pintados de castanho-escuro e as barbas bifurcadas à espanhola. O rosto docemente sereno na imagem da Fig 1, adquiriu na Fig 2, uma expressão mais dramática e patética. As bocas entreabertas permitem observar o minucioso trabalho dos dentes. Atentese na imagem da Fig 1, em que Cristo está representado com uma graciosa curvatura, reveladora do modo como a matéria-prima e a curvatura longitudinal da defesa, condicionaram a sua forma e o modo como este foi trabalhado. Na Fig 2, Cristo surge representado com o corpo vertical e a cabeça com ligeira flexão para a frente. Nas duas imagens os corpos acusam tratamento muito naturalista, percebendo-se a constituição óssea, a tenção gerada nos músculos, veias e tendões. As caixas torácicas foram
65 convenientemente marcadas (sendo mais pronunciada na imagem Fig 2, por a posição dos braços assim condicionar), bem como os ventres salientes em ogiva. Nos braços horizontalizados da Fig 1, foram esboçadas veias desenhadas caracteristicamente com linhas paralelas, enquanto na Fig 2, apresentam-se convencionais e bem marcadas. De notar algumas distorções anatómicas na imagem da Fig2, para além de pescoço e braços curtos, os dedos das mãos dobradas, ajustam-se em mãos demasiado pequenas. Mãos e pés estão pregados nas cruzes com cravos balaustiformes. Os pés, unidos na mesma massa de marfim e a perna direita cruzada sobre a esquerda. Braços e pernas bem esculpidos e nos dedos os artistas mostraram alguma delicadeza ao diferenciar as unhas e separar os dedos, sem contudo esboçar as falanges. Os cendais revelam um trabalho delicado, de orlas rendilhadas, sendo os panos sobrepostos e seguros por duas voltas de cordão torcidos e enrolados sobre a anca. Na imagem da Fig 2, a ponta solta e esvoaçante acusa um repuxo forçado. Na da Fig 1, não existe ponta, tendo-se perdido, mas os artifícios de encaixe com cavilhas atestam a sua existência anterior. No que concerne à pintura, os dois Cristos apresentam-se parcialmente policromados confirmando as observações de Bernardo Ferrão e Távora, o maior tratadista de marfins LusoOrientais quando diz: “ (…) os crucificados teriam policromia (…) que se limitava a acentuar cabelo e
66 barba (castanho escuro ou anegrados) e os traços fisionómicos (olhos e boca), bem como os motivos da decoração dos cendais (frequentemente dourados). A pintura espectacular das feridas e pisaduras, sangue correndo e gotejando, etc., afigura-se ser acrescento não coevo, da responsabilidade dos hábeis encarnadores metropolitanos”. (3) Esta definição aplica-se obviamente às peças em análise, sendo que a imagem da Fig 1, com policromia muito gasta e perdida tem curiosamente incorporadas algumas lentículas minúsculas de vidro vermelho. A imagem da Fig 2, apresenta um exagerado colorido sanguíneo e empastado a avolumar as feridas e hematomas. Sulcos de sangue escorrem das feridas, testemunhando o que as provocou a coroa de espinhos; os açoites, o peso da cruz sobre os ombros e as sucessivas quedas a caminho do calvário. Em suma, nas duas imagens interveio a mão de um mestre encarnador metropolitano que lhe emprestou todo o realismo mórbido, tão ao gosto da época. Resta descrever as cruzes, acessórios e peanhas que lhes serviram de suporte. Fundamentalmente aparecem pregadas em cruzes latinas de assento (na época seriam raras as de pendurar), com secção rectangular e pobremente ornamentadas, tendo sido muito provavelmente executadas na metrópole. Na cruz da Fig 1, os rebordos são rebaixados e a base é escalonada em dois pisos semioctogonais
67 com molduras de tremidos, encontrando-se muito danificada. A tabela é uma filactera de latão prateado (?) de fabrico nacional com a clássica inscrição <<I.N.R.I.>> e desprovida de resplendor. A imagem da Fig 2, está fixa numa cruz de madeira castanha-clara de perfil moldurado. A base é torneada em vaso, inteiramente lisa e sem ornamentos, assentando por sua vez numa peanha marmoreada. Os adereços são uma tabela em filactera gravada em placa de prata, com letras formadas com atados de folhagem com caracter indo-português, e um resplendor com raios lanceolados a envolver a cabeça de Cristo. Esta imagem insere-se num oratório metropolitano, cujo fundo é revestido com uma tela a óleo nela figurando os chamados “Companheiros do Calvário” (Nª. Senhora das Dores e S. João Evangelista), que ladeiam o corpo do Senhor Crucificado. Conclusão A arte Indo-Portuguesa, pela falta de documentação coeva que a referencie, tem constituído um grande problema ao pretender situá-la no tempo. São muito raras as imagens datadas com base em documentação “directa” e só há conhecimento de um único exemplar de crucificado com a data inscrita na peça. Torna-se difícil determinar com segurança o trabalho correspondente a cada oficina, dado que o conhecimento que se dispõe das “escolas-oficinas” que produziram tais peças, é escasso e os detalhes
68 que poderiam eventualmente defini-las, confundem o investigador e muitas vezes, acabam por se revelarem ilusórias. Esta situação obriga a fazer uma avaliação atenta das características iconográficas e estilísticas e uma comparação criteriosa com outras imagens nacionais, europeias e orientais, devidamente datadas. Quanto à época destas duas peças, parece dever colocar-se na 1ª. metade do século XVIII. Com efeito todo o caracter esguio quinhentista está ausente, ambas as figuras acusam uma ligeira movimentação e quebra de rigidez corporal de seiscentos. Nota-se o abandono do tratamento esquemático e o enriquecimento no lavrado dos cendais. Por último, as representações de Cristo morto são mais frequentes no séc. XVIII. ************
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********************* Fig 1 – Cristo Morto Indo-Português Dimensões: *Altura - 41 cms *Comprimento: Braços – 33 cms * Largura Peito – 18 cms *Espessura do Tronco – 14, 2 cms
*************** Fig 2 – Cristo Morto Indo-Português Dimensões: *Altura – 22 ,5 cms *Comprimento: Braços – 18 cms * Largura Peito – 12, 5 cms *Espessura do Tronco – 10, 5 cms
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X Nº 10 15/ Setembro/2007
QUANDO HAVIA LOBOS EM SALVATERRA ! No ano de 1972, estava um dia bonito de Primavera, ao cair da tarde, um bater três vezes na porta de minha casa, levou-me a entreabri-la. Um senhor, de idade avançada ,bem posto de vestuário, apresentou-se e, aí entabulámos um pequeno diálogo acompanhado de um apertar de mãos. Era o escritor, José Amaro (José Amaro D`Almeida) natural de Almeirim, mas quando criança, depois da idade escolar, veio até Salvaterra, aprender o ofício de Ferreiro, com seu tio Manuel Amaro que, tinha oficina de ferreiro (junto à capela real). Na visita que me fez, ofereceu-me o livro “Contos do Ribatejo”, com uma dedicatória, pedindo-me a sua divulgação, nos jornais,em que eu
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colaborava na altura. Também me disse, que com ele tinha aprendido ofício, José Sabino de Assis, que mais tarde veio a ser um próspero comerciante, estabelecido junto à torre da Igreja Matriz da vila, com loja de ferragens e drogarias, estabelecimento que ainda existe na posse da família. José Amaro, quando aprendiz do tio; Manuel Amaro, foi um protagonista real, na oficina deste, onde também entrou um lobo, que em pequeno tinha sido apanhado pelo Ferreiro, em dia de caça, nos arredores da vila – no que restava do pinhal do “mourros”. Naquele tempo, aqui ou ali, ainda abundavam alguns lobos, réstias do que foi Coutada Real. O animal, estava a ser criado como um cão, pelo mestre Manuel Amaro.
********** Nota: Quanto a este acontecimento, José Amaro, descreveuo muitos anos depois, em textos, publicados no jornal “Vida Ribatejana”: Nºs 2738,2739 e 2740 – Dezembro de 1971 * Em 1972, foi editado em livro, pela Editorial Organizações Lisboa * Uns anos mais tarde foi publicado, no JVT Nºs 157 de 17.12.1998 – Nº 158 de 7.1.1999 – Nº 159 de 21.1.1999 - Nº 160 de 4.2.1999 e Nº 161 de 18.2.1999 (incompleto) * incluído no Caderno Nº 15 da Colecção – Recordar, Também é Reconstruir, de José Gameiro
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XI Nº 11 20/ Setembro /2007
JOGOS, BENZEDURAS E PROVÉBIOS POPULARES UMA CULTURA QUE SE PERDEU?
Os Jogos A geração que, viveu a sua infância no após a segunda guerra mundial, aquela pertenço, ainda conheceu muitas formas de brincadeiras e jogos, como: o Pião, o Arco, o Berlinde/ ou Botão, a Cabra cega, etc. Eram divertimentos populares, pelas crianças, especialmente os rapazes da vila de Salvaterra de Magos. A prática dos jogos era na rua, era aí o local de encontro do rapazio. Os oriundos do povo rural, esses tendo contacto com o campo, outros jogos aprendiam, como o jogo do Pau, e o da burricada. O jogo do Pote, tinha um tempo próprio, efetuava-se nos dias de Entrudo (Carnaval), sendo praticando pelos adultos.
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O Jogo do Boltão/ ou Berlinde - Os botões, tinham de ser do tamanho daqueles que se usavam nas calças. No caso dos Berlindes, utilizava-se as esferas vidro, usadas nas garrafas das gasosas. Uma pequena cova no chão (que era de terra), cada jogador com o máximo de seis botões. O inicio do jogo, tinha de ser à distância de duas passadas. Cada jogador jogava o seu botão/berlinde, em direcção à cova. O jogo continuava, sendo o botão/berlinde, jogado com o dedo médio, largado do polegar com força, batendo no botão/berlinde. Aquele jogador que coloca-se o seu botão/berlinde, na cova, em menos jogadas, ganhava a todos os competidores os botões/berlindes, que se tinham apresentado ao jogo. O Jogo da Malha, e do Chinquilho, foi um entretém dos adultos, que ainda é praticado no concelho, especialmente na Glória do Ribatejo e Foros de Salvaterra. As Benzeduras, e Provérbios Populares, Naquele tempo a maioria do povo ainda era analfabeta, mesmo com a escolaridade obrigatória para as crianças a dar os primeiros passos. Na última década, antes do dobrar o século XX. os Responsos e Benzeduras, como os Provérbios, faziam parte do uso normal na vida dos adultos, superstições vindas de gerações. Colaborava eu, no Jornal Aurora do Ribatejo, um dia de 1968, fui junto de pessoas idosas - eram as últimas gerações que os diziam, algumas mulheres por necessidade, algumas dali tiravam alguns dinheiros para aumentar os seus magros bolsos.
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Outras, diziam-me não era bruxaria, mas guardam-nas nas suas velhas memórias. Eram ladainhas, que descansavam os espíritos e muitas vezes punham a descoberto situações, do arco da velha. Nessa procura, encontrei Maria Inês e Maria Mendes, que me contaram: “Andando alguma jovem em desgoverno de sentidos e comportamentos, trazia a família, especialmente a mãe em sobressaltos, que procurava uma idosa mulher já com muita sabedoria destas coisas, e depressa com algumas rezas e benzeduras – era descoberto a razão de tais percalços, na vida das moçoilas” – Alguns rapazes, também ali tinham apoio, mesmo quando torciam um pé” BENZEDURAS
A Mulher, que fazia as benzeduras, colocava a moça entre as suas pernas, depois de fazer umas cruzes com a mão dizia em voz alta: - Se ela, embirra, e faz estragos – Credo, Credo; decerto já tem pelo na venta. Descubra-se quem a tenta! - Se os estragos são em dia de vendaval –Ai, Ai: A moça, já tem coisa grande debaixo do avental ! - Se a barriga da moça lhe faz passo manso - Que coisa, Que coisa para usar lenço! Não é preciso esperar, vai haver criança no berço !
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PROVERBIOS TEMPO, EM RELAÇÃO Á VINHA
- No São Tiago, pinta o Bago * Vai à vinha em São Lourenço, e
enche o lenço * No São Miguel, o vinho está no túnel * No São Martinho, vai à adega e prova o vinho ! TEMPO DO ALHO - Se o queres no bacalhau, não tardes em semeá-lo, No Natal já deve ter bico de pardal ! *Algum tempo da Semeadura do Alho:-; É tempo de matar caracol, curar couve, alface e alho * Crescimento: - Não contes os dias da sua vida. Apanha-o, tem tempo igual a uma barrigada * Tempo de vender: - Grita bem alto: Quem quer Alho, Quem quer,! é bom na sopa, feridas da mão, e aproveita-o em tudo, até para o coração. MUDANÇA DO TEMPO INVERNO PARA A PRIMAVERA ! - Desgrudar, a noite com o dia, tem sido enfadonho – é inverno * Hora à vante já tem luz mas o calendário, da primavera é a 22 de Março * Mas Janeiro fora, já dá uma hora, e quem bem contar, no final, hora e meia há-de achar * Na mudança; Troveja, chove e enche o caneiro, decerto vai juntar o pão com a vinha, e dar força ao sol, enchendo o celeiro. ********** Nota: Extraído do Caderno Nº 24 da Colecção "Recordar, Também é Reconstruir! – do Autor
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XII
Nº 12 02/ DE OUTUBRO / 2007
RECORDAÇÕES NA PRAIA DOS TESOS (Agora Praia Doce) As cheias de Inverno, todos os anos faziam mudar o local das areias junto àquela propriedade do “Minhoto”, fazendo aparecer uma bonita praia de extenso arial. Daí em diante, foi aquele arial usado pelo povo de Salvaterra e, passou a ser conhecido pela Praia dos Tesos – pois os mais abastados da vila, iam de abalada todos os anos até à Nazaré, ou Figueira da Foz, ou mesmo para as Termas.
UIM DIA PASSADO NA PRAIA DOS TESOS Rapaz que eu, era na altura, num daqueles dias de Domingo, dei comigo no sossego da frescura das sombras e, da água que
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corria de mansinho a registar a minha nova experiência – estava na praia.
Alguns para além dos “farnéis”, traziam apetrechos da pesca (cana, bornal e saca-peixe), afim de se dedicarem ao seu desporto, pois no local a fataça abundava em quantidade. Muito perto, a escassos metros, algum gado movimentava-se para junto de um pequeno regato, que se aninhava nas areias, afim de se sedentarem de uma noite passada ao relento. Uns atrás dos outros, como em fila indiana, começaram a chegar mais banhistas com seus amigos e familiares.e, num ápice, toda a zona conhecida pela “Praia dos Tesos”, estava cheia de vozes humanas, que punham em desassossego a pardalada que, mal tinha acordado. Nas primeiras horas alguns adultos aproveitavam para fazer uma colheita de pequenos paus e canas, que o rio nas suas marés depositava mesmo ali à mão, a fim de começarem a fazer lume para as suas refeições que seria de frango assado, ou de pequenas fatias de carne entremeada de porco assado na
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brasa(1). Agumas crianças pelas mãos dos seus vigilantes, iam para as areis brilhantes do rio, onde a maré já começava a movimentar-se, a fim de aprenderem a prática da natação, no entanto os mais tímidos choravam em altos gritos, não só pela água fria, como também pelos grandes “tufões” que a rapaziada maior fazia com as suas brincadeiras. Quase todos os presentes, que no local se encontravam, escolhiam a hora do almoço entre a uma e as duas da tarde. Assim ao som da música de uma pequena telefonia e das anedotas, entre umas goladas do bom vinho dos campos da terra, a camaradagem era excelente e já ninguém se lembrava da semana que findou. Pela tarde dentro. uns dormem a sesta em cima de um cobertor, outros brincam no areal da praia com jogos de bola; outros ainda vão continuar na pesca, enquanto algumas moças estão estendidas nas toalhas, afim de bronzearem a pele num corpo a despontar para a vida. Quando o dia começou a chegar ao fim, o habiente até aí calmo debaixo, das aprazíveis árvores, entrou num reboliço total - os motores das motorizadas e dos carros começaram a movimentarem-se para o regresso a casa. Muitos nem têm tempo de apreciar o grande bando de milharós, que mostravam o seu bonito colorido das penas e a melodia do
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seu cantar que, agora ao cair da tarde, vão entrando e saindo dos ninhos feitos numa barreira do “Mouchão da Quinta da Saudade”. Em pouco tempo, o local ficou deserto, na espera que no próximo Domingo, as areias da "Praia dos Tesos", voltam a ser local de encontro.
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****** * Texto publicado em 1976 – Jornal “Aurora do Ribatejo” e no Jornal Vale do Tejo – 2000 (1) - Petisco, que mais tarde ganhou fama, em dias festivos, com o nome "Sardinhas de Salvaterra"
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Anexo
UM AVIÃO NA PRAIA DOS TESOS Estávamos em 1956, naquele dia, depois das aulas disputavase um jogo com bola (de borracha) entre o rapazio da vala e os das areias, Muitos rapazes jogavam descalços, pois o calçado eram coisa preciosa. Naquela tarde de verão, quando o jogo estava a decorrer – eram prá ai umas 4 horas da tarde, uma avioneta de duas asas, começou a voltear sobre os jovens jogadores, acabando por fim por se afastar lá para os lados do Tejo. Um pedaço de tempo depois, apareceram em cima da ponte da vala real, dois homens vestidos com fato de macaco, um capacete de cabedal fino na cabeça, mas desapertado no queixo, uns óculos vinham abertos em cima da cabeça, por cima do capacete. Era gente de um outro mundo !.. Deixámos o jogo e, fomos ao seu encontro, queriam um telefone. Logo foram rodeados, e encaminhados à taberna do Camilo Martinez (galego, fugido da guerra civil de Espanha), mesmo ali junto à Capela da Misericórdia, lá trataram dos seus contactos.
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De regresso, um cortejo de rapazes acompanhavam aqueles dois pilotos ao pequeno avião. Um deles após a descida da estrada que dá acesso ao Escaroupim, ali junto às pequenas boiças (hortas), começou a encontrar no chão junto a pequenas ervas altas, ninhos de calandra. Com voz meiga, dizia ao magote que os seguiam; cuidado que com os ninhos, não lhes mexam! Enquanto esperávamos, no areal bonito de escorreito feitio, junto às aguas do rio, os aviadores lá iam perguntando em que classe andávamos na escola e, porque é que alguns andavam descalços. Um pouco depois, juntaram-se a nós, uma fila indiana de homens, que não mais parava de crescer; uns vinham a pé, outros de bicicleta. Umas boas duas horas depois, um jeep apareceu no cima da estrada (tapadão), Os dois pilotos lá começaram a acenar as mãos. O carro, parou junto às árvores, pois o avião tinha "pousado" no areal da praia dos tesos. Os dois mecânicos, vindos de Alverca, retiram uma grande caixa de madeira e, após informação dos aviadores onde era a avaria, lá começaram a reparar o motor da pequena aeronave. A tarde já ia alto, o ar já corria fresco ali junto ao salgueiral com a água do rio, enchendo cada vez mais aquele espaço. Dentro da fila de bicicletas vejo meu pai, que me procurava entre a multidão e, me chamou dizendo: "Ho Zé, Olha lá rapaz por causa do avião esqueceste-te de ir buscar o petróleo à loja, a tua mãe, quer fazer a ceia, pois chegamos agora do trabalho"
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Nem olhou para a multidão, tão zangado estava, amarrou-me à cintura, uma corda que tinha na bicicleta e, lá veio pedalando entre as pessoas que ainda iam ver o avião, vindo eu a correr atrás da bicicleta até chegar ao Botaréu da Capela, onde morávamos. Grande castigo foi aquele, para grandes males grandes remédios. O recado foi feito, na loja do António Henriques, junto à torre da Igreja, fui num pé e vim noutro. Minha pediu, não ralhes e não batas, a vergonha já foi grande. Nunca mais em casa se falou no assunto - grande tinha sido o castigo !,,,
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XIII Nº 13 05/ DEZEMBRO /2007
OS CEMITERIOS DE SALVATERRA ! Um dia, em 1999, a população da freguesia de Salvaterra de Magos - terra onde nasci, foi alertada com notícias na comunicação social que, o cemitério da freguesia iria ser ampliado, pois argumentava-se, que o seu espaço estava esgotado. Os executivos da Junta de freguesia e da câmara municipal, estavam determinados nesse objectivo e, para isso já tinham tomado as decisões políticas adequadas. Ás vozes da discordância, juntei a minha, pois o descontentamento do processo estava latente, até pela forma como foi desenvolvido, nos órgãos eleitos pelo povo. Um novo espaço para cemitério impunha-se, na freguesia, aliás, o assunto já tinha sido discutido entre aqueles gestores da coisa pública, em mandatos anteriores.
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Tendo em meu poder, alguns apontamentos que vinha recolhendo sobre os locais de repouso dos mortos desta terra, não deixei de os juntar, ao processo de uma crítica que se queria construtiva, até porque tais espaços fazem parte do passado
histórico da freguesia. Um “braço de erro”, foi instalado especialmente entre aqueles que tinham as suas habitações envolventes, ao terreno requisitado e os eleitos municipais. Os autarcas, infelizmente como tantas vezes acontece, em tamanha decisão politica não contemplaram as opiniões dos que se manifestaram, pois tais obras, serviram apenas em época eleitoral, disseram os mais esclarecidos!.. Assim foi, uns meses depois o alargamento saquele espaçoanto da freguesia, estava consumado. A obra tal como foi apresentada, ficou por concluir. pois alguns serviços de apoio não foram instalados, como ossários e formo crematório. ****************
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XIV Nยบ 14
UMA GALINHA PARA DOIS, QUE ERAM TRร S, E AINDA SOBROU GALINHA!
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O século XX, estava ainda não a meio, mas ainda se falava do assunto, quando vinha à baila qualquer referência à fome que grassava em muitas casas da vila de Salvaterra de Magos. Por volta de 1935, Carlos Torroaes, filho do empresário de transportes públicos de passageiros, da vila, era muito conhecido pela forma pitoresca de contar as suas diabretes Esta é uma delas: Um dia teve necessidade de se deslocar a Lisboa, para a
necessária mudança do alvará que a familia possuía, pois tinha ao serviço duas Diligências; uma para Vila Franca e uma outra até à estação dos caminhos de ferro, em Muge. A que levava e recebia passageiros de e para V F Xira, era servida pelo pontão do Cabo, que atravessa o rio Tejo, com a estação dos Caminhos de Ferro mesmo ali defronte.
Estávamos na época das viaturas mecanizadas e, um pequeno carro de 12 lugares, foi adquirido e passou a transportar os passageiros com ida de manhã e regresso à tarde. Em Lisboa, na Repartição do Estado já depois dos problemas resolvidos, convidou o funcionário que o atendeu (pela fala dava
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mostras de ser nortenho) se aceitava um almoço em Salvaterra, em pelo Ribatejo. Este de imediato aceitou, mas pediu se podia levar mais um colega, que mesmo ali foi apresentado. No sábado, véspera de receber os convidados organizou com a esposa, o repasto; seria uma galinha, daquelas que existiam na capoeira dos pais. A sobremesa, uns doces feitos por sua mãe. A fruta, melão daqueles que, um amigo de Muge, lhe oferecera uns dias antes, por lhe ter ajudado a preencher um requerimento na câmara municipal. O vinho doce para as entradas, e tinto para acompanhar a refeição pediu-o ao tio Virgolino José Torroaes No domingo aprazado, a manhã ainda estava no luz-fusco, já se encontrava no Pontão do cabo, Carlos Torroais, na Charrete da casa, tirantada a um animal, O Batelão atracou, o convidado conhecido, apressaramse nos cumprimentos habituais, com a viagem no comboio, Lisboa até Vila Franca, tinha corrido bem. Pedindo desculpa, afinal seriam três os convidados, e apressouse na apresentação de mais um colega, A viagem até Salvaterra foi iniciada, o cavalo em marcha troteada, percorria a recta do cabo, pela estrada empedrada. O campo apresentava-se nos dois lados, separado por uma vedação de arame e, por duas pequenas valas que corriam ao longo do trajecto, transportando um pequeno fio de água, naquela época do ano.
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Ali próximo da Ermida de Alcamé, onde alguns ranchos de homens e mulheres ceifavam o que restava das cearas de sequeiro, especialmente trigo, foram cumprimentados com os chapéus no ar. Algumas manadas de gado bravo, vigiadas pelos campinos, chegavam-se até às valas, afim de se sedentarem, pela noite passada ao relento. A viagem correu, sem grandes sobressaltos, pelos campos da Lezíria, era uma novidade para aqueles viajantes. Chegados ao caminho que os levaria da Fonte das Somas, pelo Convento até Salvaterra, Carlos Torroais, da algibeira do colete retirou o relógio, e vendo que eram apenas 8 horas da manhã, mudou de caminho e seguiu viagem para os lados da Aldeia do Peixe, rumo aos Foros de Salvaterra. Algum tempo depois, chegados à taberna do João da Horta, já seu velho conhecido, apresentou-lhes tão ilustres viajantes. Depressa, o João da Horta, passou a convidante e serviu sem cerimónias, um petisco, à base de carne de porco assada, acompanhada com um bom vinho das terras arenosas dos Foros. Perto de uma hora, demorou aquele petisco e, retomada a viagem, a comitiva acenava com os chapéus, em resposta a alguns pequenos grupos de familias que, nas suas terras faziam tarefas de pequena agricultura, aproveitando o dia de domingo.
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Uma nova paragem foi no Estanqueiro, na taberna local, foram convidados para apreciarem um petisco. Uns chouriços caseiros, cortados às rodelas, acompanhados com pão aquecido no forno e um vinho branco, retirado de um garrafão que estava no fundo do poço a refrescar. Os viajantes, estavam deslumbrados com tanta recepção, a viagem continuou a caminho das Buinheiras, dos Freires, eram quase 11 horas, o caminho de areia ladeado por valados que o estreitavam, faziam com que várias famílias num lado e de outro, estivessem quase juntas nos afazeres das suas terras. Os acenos continuavam, o entusiasmo era de grande alegria naquele grupo de visitantes, ali próximo das terras da Alagoa, o chefe de uma família conheceu o Carlos Torroais, pois era a ele que recorria quando precisava de alguma coisa nas repartições públicas na vila. A paragem foi inevitável, apresentados os viajantes, logo todos foram convidados para petiscarem na casa mesmo ali próximo, com uma latada de vinha que sombreava a casa. Aceite o convite, a família composta pela mulher e mais duas filhas ainda moças, e um rapaz, acabado de chegar da vida militar havia três semanas, desdobravam-se em simpatias, perante tão ilustres visitantes, em casa. Foi aproveitado para desengatar o animal, e dar-lhe de comer e de beber um balde de água fresca, que foi retirada do poço. Uma mesa foi preparada, debaixo da sombra de uma grande amoreira. As moças, serviram sopa de carne de porco, estava
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quente dentro do tripé de ferro, na chaminé em lume brando, alguma carne que estava na salgadeira havia três dias, pois tinha-se morto o porco da engorda da primavera foi assada. Um jarro com bom vinho tinto, retirado da adega, acompanhou o repasto. Depois foi servido algumas fatias de melão. Após a refeição e, já muito alegres os convidados, davam mostras de algumas aptidões em cantorias. Tal situação, deu azo a que o jovem, sendo bom tocador de gaita de beiços, logo tocou uns viras, músicas da região ribatejana. Eram 3 horas da tarde, foi retomada a viagem, através das Buinheiras, a caminho do Paul de Magos. Nova paragem, ocorreu na taberna do Paúl, um lanche foi oferecido pelo dono da tasca, umas postas de Atum (embebido em azeite numa barrica), foram postas no balcão, um pão grande (cozido na véspera) e, um jarro de barro com vinho branco, foi mais tarde acompanhado de uma prova de melões que se encontravam numa parga, (em pirâmide), debaixo de uma árvore, esperando comprador. Um dos convidados, olhava constantemente o relógio pendurado numa corrente, que tinha na algibeira do colete, no entanto não deixava de participar nas anedotas que o grupo ia contando, até porque uns clientes também entraram na roda dos dichotes e anedotas. Já a caminho de Salvaterra, cantarolando de contentes pelo dia bem passado no Ribatejo, chegaram à vila, na rua do Pinheiro, junto à casa da família do Torroais, onde um pequeno grupo de vizinhos, fazia companhia na espera, e das preocupações, pois
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eram já cerca das 6 horas da tarde e, a chegada estava prevista para as 9 horas da manhã. Todos os convidados, dando mostras de algum nervosismo, muito agradeceram a oferta, e o dia inesquecível, mas insistiram na viagem de regresso a Lisboa. O cavalo lá voltou a trotear, O comboio, não esperava.!...
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XV Nº 15 08 /JULHO D/ 2008
AS BOTAS DO MANEL GATO Nos dias que passam persistem apenas dois dos cerca de 40 sapateiros que existiam em Salvaterra de Magos, no dobrar do século passado. As oficinas destes artesãos eram pequenos espaços, à entrada das suas habitações, sendo muito poucos os que tinham outro sitio para laborarem. Alguns na rua, tinham junto da porta, um corvo, ou gralha que, amestrados diziam alguns palavrões, daquelas “azedas” que a clientela, ou quem passava gostava de ouvir dizer – era uma graça!... Entre eles, havia três figuras que andavam na boca do povo, pela sua originalidade, os Mestres; Vital Nuno Lapa, Manuel Gomes Serra, conhecido por Manel Gato e o seu primo Roberto Serra.
93 Manuel Serra – O Manel Gato
O Mestre - Manuel Serra, conhecido por Manel Gato, tinha a sua oficina em casa, lá para os lados da Fonte do Arneiro. Era um homem que rondava os 50 anos, mas muito brincalhão, uma das suas diabrites, foi o caso das botas de um cliente. Naquele tempo, a população da vila, era maioritariamente rural, e muitos vinham a casa, só de quinze em quinze dias. De Sábado ao cair da tarde até Domingo à noite, altura em que regressavam ao campo. Por isso, o dia de Segunda-feira, era dia de sapateiros (dia de folga). O calçado, especialmente a bota de homem, era de um cabedal ensebado e com cardas na sola, comprado em dia de feira anual, no mercado de Marinhais, ou nas lojas de fancaria da vila. Um certo dia, um cliente levou um par de botas para o mestre, pôr meias solas e cardá-las. O tempo combinado para o arranjo, há muito estava ultrapassado, os emissários enviados pelo cliente, passaram pela esposa, filhos e amigos. A resposta era sempre a mesma. Estão a andar! Certo dia, o dono das botas, encontrou o sapateiro, numa taberna existente junto da Igreja Matriz, com elas calçadas e, este com uma calma de gelar, respondeu ao reparo: rapaz, eu sempre disse a todos, que as botas estavam a andar, não viram, como tu viste, não tenho culpa, são ceguetas! Vai logo à oficina que estão prontinhas!
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Assim, ficaram famosas as botas do Manel Gato!..
O Mestre Vital O mestre-Vital, também deixou fama. Tinha a sua oficina na rua Direita, com a Trav. da Amoreira, era um homem alto, magro, mas já vergado pelo peso dos anos. Era solteiro, os seus últimos tempos de vida, passou-os junto dos seus primos, a família L Rosa, que tinham na vila, uma pequena empresa na fabrição de licores. Vivia a causa republicana em Portugal, com grande convicção, pois desde muito novo, que se fez seu partidário, assistindo às aventuras e desventuras do seu percurso no país. O seu entusiasmo era tal, que por volta de 1955, ainda dava azo a que o rapazio de idade escolar, como eu, o incomodava à porta da oficina. Oh, mestre Vital.!. Quando chegam as tropas do Gomes da Costa.. Tirando os olhos do calçado que tinha entre-mãos, em cima dos joelhos, a resposta vinha serena: Olhem!, Estão a chegar às Cavalariças. Despachem-se depressa, não cheguem lá tarde !!.... Um banco corrido de madeira, encostado à parede, dava para seis pessoas. e um pequeno armário já carcomido pelo tempo, sem os seus oito vidros nas duas portas da frente, pois era
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esquartejada em cada uma, eram o seu mobiliário. Nas prateleiras do móvel, guardava uma infinidade de pequenos instrumentos de trabalho como: os Bucetes para brunir a sola, os Costas Viras, as Cevelas de meia cana, a Régua de afiar as facas, a Cera para passar os fios de coser, a caixa das agulhas, as grosas e limas, pequenos martelos e alicates. O móvel, apresentava-se esconso num dos lados, pois estava gasto num dos seus quatro pés. Para que não sofre-se qualquer acidente da clientela, no cimo deste, guardava o Candeeiro de vidro, a petróleo, que servia para aquecer os bucetes. O Mestre Vital, era de uma disciplina desusada, pois para tirar ou colocar qualquer peça no armário, tinha de abrir sempre a fechadura da porta, facto notado que deu brado durante anos. Por ali paravam durante o dia, um grupo de velhos amigos, que usavam de malandrice, sabendo da sua grande paciência Numa combinação prévia um ou outro dava um pequeno encontrão no móvel e lá vinha o candeeiro ao chão. O Mestre, recomendava " Tenham mais cuidado " e, de imediato tirava algumas moedas do bolso do colete, encarregando um dos presentes em lhe fazer o favor de comprar um outro candeeiro, na loja do Gaspar Alexandre (1), junto à câmara municipal. Os presentes, lamentavam o “acidente”, logo se solidarizavam, pagando o prejuízo, ficando o mestre-Vital muito agradecido e, enaltecendo o gesto praticado – era uma boa acção dos seus amigos.
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Quando o candeeiro, estava no chão, aquecendo o bucete de ferro, o próprio Gaspar Rapitalho, seu velho amigo, deixava cair um pingo de cuspo, na fita que estava a arder, ficando esta como a soluçar (devido ao contacto da água com o petróleo) até que se apagava. O Mestre, logo dizia: Ó Gaspar, estão-te a vender o petróleo falsificado, deves reclamar ! O outro sapateiro que deixou fama, foi o Mestre Manuel Serra, conhecido por Manel Gato, tinha a sua oficina em casa, lá para os lados da Fonte do Arneiro. Era um homem que rondava os 50 anos, mas muito brincalhão, uma das suas diabrites, foi o caso das botas de um cliente. Naquele tempo, a população da vila, era maioritariamente rural, e muitos vinham a casa, só de quinze em quinze dias. De Sábado ao cair da tarde até Domingo à noite, altura em que regressavam ao campo. Por isso, o dia de Segunda-feira, era dia de sapateiros (dia de folga). O calçado, especialmente a bota de homem, era de um cabedal ensebado e com cardas na sola, comprado em dia de feira anual, no mercado de Marinhais, ou nas lojas de fancaria da vila. Um certo dia, um cliente levou um par de botas para o mestre, pôr meias solas e cardá-las. O tempo combinado para o arranjo, há muito estava ultrapassado, os emissários enviados pelo cliente, passaram pela esposa, filhos e amigos. A resposta era sempre a mesma. Estão a andar! Certo dia, o dono das botas, encontrou o sapateiro, numa taberna existente junto da Igreja Matriz, com elas calçadas e,
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este com uma calma de gelar, respondeu ao reparo: Rapaz, eu sempre disse a todos, que as botas estavam a andar, não viram, como tu viste, não tenho culpa, são ceguetas! Vai logo à oficina que estão prontinhas! Assim, ficaram famosas as botas do Manel Gato. O Mestre Roberto Serra O mestre, Roberto Serra, tinha a sua casa, na rua Dr. Gregório Fernandes, mesmo ao lado do Custódio do carvão. No outro lado da rua existiam, além da farmácia, o barbeiro e uma grande loja, cujo empregado era conhecido pelo Manel Pechincha. O Roberto, tinha duas filhas muito pequenas, a Rita e a Marta. durante o dia amiúdas vezes lá ia à loja comprar rebuçados, alegando; são para a minha Marta!...Para matar o tempo, enquanto trabalhava a sola, chupava aqueles doces de açúcar. Um dia foi descoberto, o povo especialmente as mulheres - na compra de rebuçados, defendiam-se com alguma graça, não são para mim, são para a Marta, do Roberto Serra!.....
***** * Cavalariças: o cruzamento na EN 118 (Santarém/Coruche * Gaspar Rapitalho = Gaspar Maria Alexandre * Manel Pechincha = Manuel Gonçalves da Luz *****
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Introdução
O Autor: JOSÉ GAMEIRO
José Rodrigues Gameiro, desde jovem, quando começou a escrever para o Jornal Aurora do Ribatejo, usou o nome “José Gameiro” até o pseudónimo “José Lopes”, por questões da censura da época. Chegou mesmo a ser solicitado para colaborador de revistas e jornais ao longo de muitas dezenas de anos, como regista o seu “Curriculum” de vida. Um dia um texto de Joaquim Mário Antão, foi acolhido nas páginas do Jornal O Mirante, em virtude de uma entrevista, que aquele semanário solicitou a José Gameiro, e tinha acabado de publicar, a propósito de o executivo municipal de Salvaterra de Magos, sob a presidência do Engº Helder Manuel Esménio, ,lhe ter agendado uma homenagem com uma exposição da sua vida, sob o tema: José Gameiro um Cronista ao longo de 50 anos”, que incluía ainda a publicação de uma 3ª edição do seu livro “Salvaterra de Magos – Uma vila no coração do Ribatejo”.
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José Rodrigues Gameiro é o ilustre cronista da mui nobre Salvaterra de Magos .
O Mirante dos Leitores
edição de 2011-05-12
“Toda a história de Salvaterra se encontra narrada nos diferente folhetos que o José Gameiro foi escrevendo com recurso a buscas em documentos e conversas com pessoas mais idosas. Sem ele nada teria sido escrito do muito que se soube sobre diferentes temas e acontecimentos ocorridos nesta vila. Obrigado José Gameiro pelo teu contributo desinteressado. Em 1985 o executivo municipal de então, decidiu publicar a edição da obra “Vila Histórica no Coração do Ribatejo”, da autoria de José Gameiro, que depressa se esgotou. Em 1992, uma nova edição daquela monografia, foi apoiada por aquele executivo, também se esgotou. De então para cá ninguém mais se interessou pelo manancial de livros escritos por este grande salvaterrense. Em muitos concelhos são aproveitados os trabalhos destas humildes pessoas e elas são reconhecidas pelas autoridades municipais, facto que não aconteceu em Salvaterra de Magos nos últimos anos, nem mesmo quando o Pelouro da Cultura esteve entregue a professores, um dos quais de história. O alcatrão e o cimento prevalecem acima dos valores culturais. a) Joaquim Mário Antão
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Homenagem Pública a José Gameiro ***********
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Nº 1 Publicado 20 de Setembro de 2007 Atualizado 16 de Abril de 2015 JOSÉ RODRIGUES GAMEIRO DADOS PESSOAIS
Nasceu em Salvaterra de Magos, em 16.04.1944 – Filho de José Gameiro Cantante, e de Felisbella Lopes Rodrigues
Escolaridade Iniciou a escolaridade obrigatória em 1951, com o professor; Armando Duarte Miranda, até à 3ª classe, tal como a maioria da turma não foi proposto a este exame, por falta de preparação – informação do professor. No ano de 1954, os alunos repetentes, engrossaram a turma da professora; Natércia Rita Duarte Assunção, com quem fez o exame da 3ª e 4ª classe da instrução primária, tendo terminado a escolaridade em 1956. A professora Natércia, notando em si
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boas aptidões para uma aprendizagem fácil, e lhe prevendo qualidades para um curso superior, contatou seus pais na continuação dos estudos. Estes, sendo analfabetos e trabalhadores rurais, sem posses económicas, destinaram-lhe como à época era uso, a entrada no mundo trabalho.
Vida Laboral No Verão de 1956, já estava sob a alçada do chefe da secretaria da câmara municipal de Salvaterra de Magos – João Segurado Santos. Seu pai, sendo já funcionário da autarquia, na limpeza do lixo nas ruas da vila, solicitou, àquele chefe dos serviços, a sua permanência nos serviços administrativos, para “desemburrar e não andar na moina”, cumprindo o horário estabelecido, como os outros funcionários. Ali, entre outras tarefas fazia o “arrumar” dos livros que se encontravam a esmo, no sótão do edifício municipal, “aprimorou-se” na caligrafia (copiando algumas “bonitas” usadas pelos trabalhadores administrativos) substituindo quase por completo a que trouxera da escola. Contactou com o arquivo histórico do concelho, onde constavam documentos oficiais, alguns desde o séc. XIII e, os Forais recebidos pelo município, desde o doado por D. Dinis em 1295, até ao rei D. Manuel I. Começou aí o seu interesse pelo passado histórico de Salvaterra de Magos. Em 1957, já com 13 anos de idade, entrou no mundo do trabalho remunerado, em Salvaterra de Magos, na empresa de Camionagem Setubalense, da família Belos, de Fresca de Azeitão, desempenhando funções na Central (usada como extensão de serviços da CP – Caminhos de Ferro).
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Colaboração na Comunicação Social Amiúdas vezes, a pedido dos correspondentes dos jornais de Lisboa e Santarém; José Teodoro Amaro e Filipe Hipólito Ramalho, redigia textos de pequenas noticias da vida social, da povoação, que José Teodoro Amaro e Filipe Hipólito Ramalho, No primeiro número do jornal "Aurora do Ribatejo", semanário que se publicava na vizinha vila de Benavente, saiu a sua primeira colaboração, que veio a durar até ao seu desaparecimento.. Colaboração em vários jornais, ocupando cerca de 40 anos da sua vida. Jornais
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Jornal "Aurora do Ribatejo" (1964-1981) Jornal "Mundo Columbófilo" - Porto (1960-1987) Jornal "Diário do Ribatejo" - Santarém (1975) Jornal "Diário de Notícias" - Lisboa (1976 - 1979) Jornal "Diário de Lisboa" - Lisboa (1979) Jornal "Ribatejo Ilustrado" - Rio Maior (1977-1978) Jornal "Portugal Hoje" - Lisboa (1981) Jornal "Correio da Manhã" - Lisboa (1983-1986) Jornal "O Ribatejo" - Santarém (1985-1996) Jornal "Nova Aurora" - Benavente (1988-1990) Jornal Vale do Tejo- Salvaterra de Magos (1992-2003) (desde 1997, foi seu secretário de redação)
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Revistas * "Desporto Columbófilo" (1962-1963) * "Vida Columbófila" (1969-1975) * "Columbófila" (1982-1987) Rádio * Na Rádio Marinhais, assinou crónicas com o título: "Já Sabia Que ! (1990) Investigação da História Local Agrupou uma série de documentos de uma recolha, com o título: “Desenvolvimento de Estudos Históricos (Recolha sobre a história, Geografia e Sociedade - Concelho de Salvaterra de Magos (1965) Livros publicados * Salvaterra de Magos "Vila Histórica no Coração do Ribatejo", com o apoio da Câmara Municipal de Salvaterra de Magos (Tipotejo) - 1ª Edição 1985 - 2500 exemplares Esgotados * 2ª Edição (1992) Revista e Aumentada (Gráfica da EPSM) – 2.500 exemplares Esgotada * 3ª Edição (Revista e Aumentada), publicado. Em PDF, no blogue: www.historiadesalvaterra - (2011), depois em 2014,
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* 3ª Edição (2015), Revista e aumentada em papel, apoiado pela Câmara Municipal de Salvaterra. – Também publicado em PDF, no Blogue: “www.historiasalvaterra.blogs.sapo.pt” *Os Bombeiros Voluntários de Salvaterra de Magos e a sua Banda de Música (Historial) - (Edição Original On-line - PDF) – publicado www.historiadesalvaterra.blogs.sapo.pt (2010), também uma edição em suporte papel * Subsídios para a História da Freguesia de Foros de Salvaterra - (Edição On-Line) publicado em www.historiadesalvaterra.blogs.sapo.pt - Set. 2010 * Subsídios para a História de Salvaterra de Magos - Séc. XII Séc.XXI (1ª Parte) Edição On-Line PDF , publicado em www.historiadesalvaterra.blogs.sapo.pt - Set. 2011 * Subsídios para a História da Tauromaquia em Salvaterra de Magos - Séc.XIX, XX e XXI - Edição On-Laine PDF www.historiadesalvaterra.blogs.sapo.pt Jan. 2011 * A Propósito do "Homo Taganus" autor - Dr. A. Mendes Correa Introdução: José Gameiro (Edição On-Laine PDF) www.historiadesalvaterra.blogs.sapo.pt * Recordar, Também é Reconstruir - Colecção de Apontamentos Nº 0 - Nº16 - Vol- I (Edição On-Laine PDF) - wwwhistoriadesalvaterra.blogs-sapo.pt
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* Documentos para a História de Salvaterra de Magos (Volume I), Edição On-Line publicado em www.historiadesalvaterra.blogs.sapo.pt – 2011 * A Origem da Sociedade Columbófila Salvaterrense - Historial (Edição On-line PDF) Maio 2011 publicado em www-historiadesalvaterra.blogs.sapo.pt * COSM - Clube Ornitológico de Salvaterra de Magos (A sua História) - Edição On-Line PDF publicado em - www.salvaterra-blogs.sapo.pt- 2007 * A Transportadora Setubalense (Uma recordação em terras de Portugal) - Subsídios para a sua história (Edição On-line PDF www.historiadesalvaterra.blogs.sapo.pt * Recordar, Também é Reconstruir - Colecção de Apontamentos Nº 17 - 45 Volume II (Edição On-line PDF) www.historiadesalvaterra.blogs.sapo.pt * Árvore Genealógica - Famílias; Bastos Ferreirinha e Lopes (Edição On-line PDF www.historiadesalvaterra.blogs.sapo.pt *Árvore Genealógica - Famílias; Cantante,Silva, Neves, Travessa e Gameiro (Edição On-Laine PDF) www.historiadesalvaterra.blogs.sapo.pt
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* Famílias: Ferreira Roquette e Brito Seabra (Resenha Descritiva)- Edição On-Line PDF - Casas Brasonadas em Salvaterra de Magos e seu concelho – www.historiasalvaterra.blogs.sapo.pt *A Família Roberto(s) – Uma Dinastia de Toureiros * 2ª Edição On-Line PDF www.historiasalvaterra.blogs.sapo.pt Neste Blogue, o autor incluindo textos inéditos, também juntou uns outros da sua Colecção de Apontamentos "Recordar, Também é Reconstruir!!!, e outros ainda, seus publicados desde 08.04.94 a 31.12.2000 no Jornal Vale do Tejo (JVT). Cursos de Formação * Curso de Escriturário, no Exército Português, Regimento de Artilharia Ligeira Nº 4 (RAL4), em Leiria - 1965 * 1º Cabo no Exército Português - 1965-1968 Distinções * Distinguido com Louvor Miltar (O.S. de 29Jan68 do DGMV/Lisboa e transcrito na O.S. do GCTA/Lisboa - 1968 * Medalha de Agradecimento: Centro Paroquial de Bem-Estar Social de Salvaterra de Magos-1997 * Homenagem de agradecimento com placa e Diploma, em 2008, pela Direção do COSM - Clube Ornitológico de Salvaterra de Magos " A José Rodrigues Gameiro, sócio fundador - pelo empenho e dedicação à `ornitologia"
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Em 2014, dia 29 de Setembro, José Rodrigues Gameiro, foi alvo de Homenagem pública, com Exposição “Um Cronista ao Longo de 50 Anos”, prestada pelo executivo Municipal de Salvaterra de Magos, sendo –lhe oferecida uma salva com dedicatória , assinada pelo Presidente da Câmara . Neste acto público foi reeditado em 3ª edição o livro “Salvaterra de Magos – Uma Vila História no Coração do Ribatejo” Experiência Profissional * De 1957 a 1987, foi empregado de Escritório em duas firmas: Empresa de Camionagem Belos e Organização Industrial de Cartões (Orinca) * de 1987 -1997, foi Funcionário Público, onde se Aposentou. Experiência de Bibliotecário * Biblioteca da Escola Profissional de Salvaterra de Magos (Instituto de Educação e Formação do Sorraia, Ldª -de 14.05.2000 - 05.01.2003 Associativismo e Vida Associativa * Director da Sociedade Columbófila Salvaterrense (SCS) Salvaterra de Magos De: 1960-1963 * Praticante do Desporto Columbófilo, na SCS, de 1967-1990 * Membro da Comissão Organizadora da Exposição Nacional de Pombos-Correios (Um evento promovido pela Federação Portuguesa de Columbofilia e organizado pela Sociedade Columbófila Salvaterrense, realizado
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em Salvaterra de Magos - 1973 * Promotor de Mostras de Aves Canoras e Ornamentais, Salvaterra de Magos, 1989 - 1990 * Promotor de Exposições de Aves Canoras e Ornamentais, do Clube o COSM,1991-1998 * Fundador do Clube Ornitológico de Salvaterra de Magos (COSM), sendo o sócio Nº 001 e Presidente da Direcção e Assembleia Geral, durante vários anos. * Sócio Fundador do CCAP - Clube Canário Arlequim Português, Nº 21 - 18.12.1998 * Praticante do Hoby Ornitológico, desde 1988
Solidariedade e Vida Social * Promotor de uma campanha de Angariação de Fundos - Jornal Aurora do Ribatejo/Benavente, para uma doente residente em Salvaterra de Magos, vitima de cegueira, foi operada em Barcelona/Espanha * Comissão das Festas dos Toiros e do Fandango - Salvaterra de Magos, 1968-1969 * Membro da Comissão de Angariação de Fundos para a Construção do Parque Infantil em Salvaterra de Magos, 1975 * Membro da Comissão Concelhia (Salvaterra de Magos) de recolha de ofertas para a "Operação Pirâmide", promovida pela Cruz Vermelha Portuguesa - 1978 * Membro da Comissão de Angariação de Fundos para a Construção de um Centro de Dia/Misericórdia de Salvaterra de Magos, na
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Praça da República em Salvaterra de Magos, 1985 * Membro da Comissão da Construção de um novo edificio para Centro de Dia e Lar da Misericórdia de Salvaterra de Magos * Comissão de Festas do Foral dos Toiros e do Fandango, Salvaterra de Magos, 1983 - 1996 * Director do Centro Paroquial de Bem-Estar-Social de Salvaterra de Magos (Fábrica da Igreja) - Construção de Bairros Sociais e Creche, 1978 - 1990 * Enquanto funcionário municipal, com um grupo de colegas, fundou o Fundo Social dos Trabalhadores da Câmara de Salvaterra de Magos Vida Politica * AUTARCA * * Membro da Assembleia Municipal do Concelho de Salvaterra de Magos, eleito secretário, 1976-1985 * Membro da Assembleia de Freguesia de Salvaterra de Magos, eleito Presidente, 1985-1989 Dirigente Politica Local Membro da Comissão Politica Concelhia de Salvaterra de Magos, do Partido Socialista (PS), 1976 - 1999 *********
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Bibliografia usada: Post(s) publicados no Blogue: “http://www.historiasalvaterra.blogs.sapo.pt Colecção: Cadernos/Apontamentos: “Recordar, Também é Reconstruir” – Autor ********* Fotos: Usados: de A/D * Faceboock * do Auto
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Indice – Capitulos: I O Convento de Gericó ……………………………… II As suas Geminações ……………………………….
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“ Uma Alianças do Nosso tempo”
III A Origem das Populações do Concelho ………………………………………………. IV Homenagens e Inaugurações ……………… V As Chaminés das Cozinhas do Antigo Paço Real …………………………………… VI Os Dias que se seguiram ao Terramoto de 1909 ……………………………. VII Fontes e Fontanários ……………………….. VIII Chesal – Cooperativa de Habitação Social …………………………….. XIV Uma Galinha, para dois, Que eram três, e ainda sobrou Galinha ……………………………………………. XV As Botas do Manel Gato …………………. XVI José Gameiro …………………………….
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