REFERÊNCIAS NA HISTÓRIA DA MEDICINA PORTUGUESA DOS SÉC. XIX e XX
JOSÉ GAMEIRO (José Rodrigues Gameiro)
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********* Este trabalho de pesquiza, é dedicado ao meu irmão Cassiano Gameiro – que desde criança percorre diariamente, à mais de meio século, a Rua Dr. Gregório Fernandes a caminho da centenária Farmácia Carvalho **********
Capa: Foto de Gregório Rodrigues Fernandes
~3~ GREGÓRIO RODRIGUES FERNANDES, e Seus filhos
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Figura eminentes da Medicina Portuguesa séc. XIX e XX Biografia Familiar
****** *Autor: Gameiro, José *Editor: Gameiro, José Rodrigues
*Edição: Papel Papel A 5 , Encadernação Brochado *Sistema : Online
*Morada: B.º Pinhal da Vila – Rua Padre Cruz, Lote 64 -1º *Localidade: Salvaterra de Magos *Código Postal: 2120-059 Salvaterra de Magos ******** * Tel. 263 505 178 * Telem. 918 905 704 *E-Mail – Josergameiro@sapo.pt
*O Autor não segue o Acordo Ortográfico de 1990
Ano 2015 www.http//historiasalvaterra.blogs.sapo.pt
~4~ O MEU CONTRIBUTO
O dia 24 de Janeiro de 1984, foi dia de festa em Salvaterra de Magos. O povo acorreu e esteve no Largo da Igreja Matriz, depois do pequeno discurso proferido por José Teodoro Amaro, o padre da paróquia local, benzeu a lápide colocada na antiga casa onde em 4 de Janeiro de 1849, tinha nascido o médico Gregório Rodrigues Fernandes. A pedra com a inscrição do agradecimento da Santa Casa da Misericórdia, pela doação daquele imóvel, das senhoras; Maria Sofia Mac-Bride Fernandes, e sua prima Sebastiana Fernandes de Sousa Vinagre, estava coberta com a bandeira daquela Instituição. O seu descerramento, foi feito pela familiar Maria de Lurdes Vinagre, que recebeu a ajuda do provedor; Armando Rafael Oliveira. Na mesma parede uma outra placa, também regista que umas décadas antes quando da morte daquele eminente médico, os autarcas da Junta de Freguesia – mandato 1913/1917, lhe prestaram público agradecimento, pelos seus actos de filantropia, e para a cerimónia ficar completa, o seu nome foi incluído na toponímia da terra, a substituir o nome da antiga rua do Hospital, uma artéria da vila, já conhecida no séc. XVIII. Esta homenagem, mesmo que tardia, vinha no
~5~ seguimento de outros agradecimentos públicos, que tinham acontecido após a sua morte em 1906, No país, o seu nome também passou a fazer parte da toponímia de algumas povoações. Aquele festejo de 1984, foi um bom ensejo para voltarmos a interessar-nos pelo percurso de vida daquele eminente cientista que muito deixou no campo cientifico da medicina portuguesa. Precisamente no Natal de 1964, tínhamos começado com uma colaboração permanente na primeira edição do semanário “Aurora do Ribatejo, e então nas pesquizas que fazemos, encontramos na revista “A Hora” de 1939, um periódico que naquele ano dedicou as suas páginas a Salvaterra de Magos e seu concelho. Numa delas estava um pequeno texto com fotografia, do Dr. Gregório Fernandes. Este “pedaço” de informação, serviunos várias quando dele precisávamos, como foi mais tarde o caso na feitura do Caderno “Figuras e Factos” a incluir na nossa Colecção “Recordar, Também é Reconstruir”. O tempo passou. Agora de volta, e na necessidade de mais informação sobre, este nosso conterrâneo e de seus filhos Alberto e Eugénio Mac-Bride Fernandes, também eminentes médicos, nos hospitais de Lisboa, pusemos mãos à obra. Iniciamos a pesquiza pelo Arquivo de Santarém (ADSTR), instalado no Governo Civil do Distrito Santarém, aí encontramos a primeira dificuldade não possui no seu vasto espólio, os livros de 1841 a 1858, de Registos Paroquiais da Freguesia de
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Salvaterra de Magos, onde constam nesses assentos pedaços da sua história, na área da genealogia como; Nascimentos, Casamentos e Óbitos. Não desistimos e nova etapa percorremos, fomos até à ANTT, (Torre do Tomo), também ali os registos daquele período de tempo não se encontram. De imediato, novas andanças, outros contactos, por Instituições na área da saúde em Portugal, não descuramos os Cemitérios de Lisboa. Do Hospital de Santana (Parede), até nos enviou uma foto do lançamento da primeira pedra daquela unidade hospitalar, onde consta a presença do Dr. Gregório Fernandes. Pela informação digital também deambulamos, e foi preciosa para a nossa persistente investigação. Compiladas as respostas recebidas, foram juntas a muitas publicações da época. Meses passaram, e a qui está esta pequena brochura da sua vida e obra “Gregório Fernandes – Uma Biografia Familiar” nosso conterrâneo, que foi uma figura impar na ciência médica em Portugal, no final do séc. XIX, e primeiros anos do séc. XX. Quando do seu nome atribuído à Escola Secundária da vila, prestamos apoio na sua escolha. É obviamente um documento simples, com algumas imprecisões, outra coisa não era de esperar, de quem faz estas coisas por carolice, mas decerto enriquece o espólio cultural e bibliográfico da nossa terra. 2015
JOSÉ GAMEIRO
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I ********** GREGÓRIO FERNANDES – UM CIRURGIÃO FILANTROPO . Praticamente passa despercebida ao povo de Salvaterra de Magos, até porque ali está a “Farmácia Carvalho”, unidade comercial com mais de 100 anos de existência na vila. Viemos a saber noutras pesquizas, que Gregório Rodrigues Fernandes, nasceu a 4 de Janeiro de 1849, tal como sua irmã Ana Fernandes eram filhos do casal Gregório Fernandes, e Ana Rosa Fernandes, naturais desta vila.
2015 - Casa onde nasceu Dr. Gregório Fernandes
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Gregório Rodrigues Fernandes, depois de fazer a primeira escola em Salvaterra, iniciou os estudos no Colégio de Santo Agostinho, pertença Comunidade Religiosa “Agostinianas Descalçadas”, em Xabregas, Lisboa. Este Colégio esteve ligado ao antigo Convento, que existiu até Abril de 1885, data da sua extinção. Fazendo fé na Revista Portuguesa de Cirurgia, edição de 2013, confirma que Gregório Fernandes, ainda teve uma passagem na sua juventude pela Escola Médica do Porto, fazendo ali os preparatórios na Academia Politécnica, regressado a Lisboa, ingressou na Escola Médica do Campo Sant`Ana, construída após 1831, no espaço, onde existiu uma Praça de Toiros. Aquele centro de ensino também conhecido por Hospital, Todos-os-Santos, foi mais tarde substituído pela Escola Médicocirúrgica de Lisboa, ocupando um edifício, na cerca do Hospital de S. José. Nesta escola concluiu com grande brilho e distinção o curso, defendendo a tese de licenciatura em 1873, tinha então 24 anos de idade. Veio a casar com Sofia Mac-Bride, e vivendo em Lisboa, na Rua dos Fanqueiros, 286-2º andar, ali lhe nasceram os filhos: Alberto e Eugénio Mac-Bride Fernandes, que
~9~ lhe seguiram as pisadas na medicina, no fim do séc. XIX, e primeira metade do séc. XX. Com a implantação da República, em 1910, várias reformas foram feitas no âmbito do ensino médico e cirúrgico em Portugal, conhecidas nos compêndios de ensino: “cito, tuto et jucunde”, e foram criadas as Universidades de Lisboa e Porto, Com tal mudança, depressa apareceu a emblemática geração de 1911, onde se destacaram médicos como: – Francisco Gentil, Júlio de Matos, Egas Moniz, Gama Pinto. Gregório Fernandes estava entre eles. Ainda na reorganização da assistência médica em Lisboa, em 1913, foi criado o “Hospital de S. José e Annexos”, substituindo denominações até aí existentes, que vinham de séculos. Ainda no início do século XX, estavam já estabelecidas as anestesias, a anti-sepsia e a assepsia, que vinham revolucionária a cirurgia em Portugal. Uma outro grupo destes cirurgiões, vem granjeando fama desde a última década do séc. XIX, já com campos bem definidos como especialidades nos cursos médicos. A RESSEÇÃO DO JOELHO, E A EXTRAÇÃO” UTERO-OVARIANA Atribui-se-lhe a Gregório Fernandes a primeira cirurgia na “Ressecção do Joelho” (1873 ?), e vários artigos científicos da sua autoria, que deu o titulo “As ressecções e a sua Importância Cirúrgica,” revelaram uma preparação médico-cirúrgica invulgar. Com um trabalho relatado com tanto pormenor, foi apreciado e considerado pelos seus pares como o primeiro realizado em Portugal, que não deixou de interessar os cirurgiões
~ 10 ~ europeus. Também numa Revista Médica, deu a conheceu outros trabalhos que fez, em 1892, como a extracção “Útero ovariana”, operação cirúrgica, que até aquela data nunca se tinha feito, e que lhe mereceu os maiores louvores, tanto dos seus colegas portugueses, como do resto da ciência médica mundial. Sobre a “Patogenia da Febre Traumática” e “Glaucoma”, também lhe mereceu aplicado interesse, inteligente e estudioso nestas matérias andou sempre na vanguarda da ciência médica que se praticava na época nos países mais credenciados da Europa, pois semelhantes operações feitas em Viana (Áustria), Paris e Londres, não deram tão bons resultados. Este ilustre mestre da ciência médica, que foi uma figura iluminada da cirurgia portuguesa, dos finais do séc. XIX, foi solicitado para desempenhar o cargo de cirurgião extraordinário o Banco do Hospital de S. José, onde passou a director da enfermaria de S. Francisco (1888), que passou a ter o seu nome, em preito de agradecimento pelas aulas ali prestadas. Considerado e respeitado, entre os seus colegas operadores; Custódio Cabeça, Augusto Monjardino, João Paes de Vasconcellos e outros um pouco mais antigos ainda estavam em actividade como: Alfredo da Costa, até 1904, Sabino Coelho, (1905), Gregório Fernandes (1906), e Oliveira Feijão (1912), depressa todos eles são todos designados por “Geração da transição do século”. Gregório Fernandes, foi 27.º Presidente da Sociedade Ciências Médicas de Lisboa (1903-1905), e não deixa de conviver com um
~ 11 ~ grupo restrito de médicos amigos, que frequentavam uma Tertúlia, na Rua dos Douradores, e ainda noutro local na Rua do Crucifixo, espaços de verdadeiros encontros científicos, que animavam as tardes da cidade de Lisboa. Nestas pelejas de ideias não deixava de estar o seu amigo de longa data, Sousa Martins, que lhe vai pedindo alguns conselhos para actos médicos para os seus doentes. Ali, naqueles encontros são aflorados desejos, para levar em frente uma fecunda modernização do antigo Hospital Real de S. José e Anexos. preservando o historial daquela unidade médica, que remontava ao tempo dos Jesuítas, no séc. XVI. Algumas delas depressa são aceites e implementadas pelas administrações hospitalares, mormente modernizar as suas enfermarias, e continuar a ser uma grande escola de cirurgia, com a presença dos grandes nomes que prestigiavam a medicina portuguesa. Um Banco de urgências, e os seus anexos eram já uma referência, e com a junção do Hospital de D. Estefânia, em 1877, o de Arroios em 1892, Santa Marta em 1903, seguindo-se três anos depois o Curry Cabral,. Um novo projecto fervilhava naqueles encontros, incorporar também o Hospital S. António dos Capuchos, mas este desejo só vem a completar-se em 1928, quando a maioria destas antigas iminências da medicina, já não pertenciam ao mundo dos vivos. No entanto muitos destes hospitais viram chegar a denominação “Hospitais Civis de Lisboa (HCL), que se tornou efectiva em 1913.
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1840 * Gravura do Hospital de S. JosĂŠ
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Dr. Miguel Bombarda, no Banco do Hospital S. José, junto a um doente depois da operação * 1910
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SOUSA MARTINS – A MORTE DE
~ 14 ~ UM SANTO Corria o ano de 1897, Gregório Fernandes, é chamado a ir a Alhandra, a casa do amigo, o doutor José Tomás de Sousa Martins. Sousa Martins, estava doente acamado. O seu fim de vida ocorreu de noite. Gregório Fernandes à sua cabeceira vai assistindo ao desenlace daquela figura respeitada no meio académico, Era professor e doutorado em medicina e farmácia. um praticante de caridade – um santo, na voz do povo. Na descrição pormenorizada que fez da morte de Sousa Martins, Gregório Fernandes, que deu origem à certidão de óbito “ levantando-lhe uma delicada dúvida de diagnóstico sobre a sua etiologia que não conseguiu esclarecer ”. Os outros amigos médicos – cirurgiões, ao terem conhecimento de tal registo, solicitaram em diversas reuniões, que lhes fosse contado tal diagnóstico pois ficaram interessados de saber de viva voz. José Tomaz de Sousa Martins nascido em Alhandra, em 7 de Março de 1843, e ali faleceu em 18 de Agosto de 1897, O Doutor Sousa Martins, ainda jovem esteve empregado na Farmácia Ultramarina, em Lisboa, onde aprendeu a manipular medicamentos, já doutorado em farmácia e medicina, a sua grande batalha era a luta contra a tuberculose, que grassava no
~ 15 ~ país. Assistia os doentes, com tal caridade, assumindo assim contornos de santo laico, cujo culto ainda se mantém. Após a sua morte, em Lisboa foi-lhe construída uma estátua, no Campo Mártires da Pátria. No cemitério de Alhandra, sua terra-natal, também ali se encontra um memorial ao homem, ao santo, que não acreditava em Deus. Nos dias que correm os seus seguidores, não deixam de manifestar em orações, agradecimentos pelos favores que tiveram nas curas.
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O SANATÓRIO DOS OSSOS A família Bliester, que tinha o propósito de custear a construção do “Sanatório dos Ossos”, na Parede (Cascais), conforme testamento de Claudina Chamiço, pediu a Sousa Martins que abraça-se o acompanhamento do projecto, mas depressa este desistiu de tal compromisso, sucedeu-lhe Manuel Bento de Sousa, que tendo morte prematura em 1899, foi então Gregório Fernandes encarregado de acompanhar os trabalhos de tal empreendimento, custeado por aquela família. Na câmara municipal de Cascais ainda se conserva a acta da cerimónia do lançamento da primeira pedra daquela unidade hospitalar, em Agosto de 1901.
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~ 17 ~ Na foto – Lançamento da primeira pedra: aparece o Dr. gregório Fernandes (frente), Claudina Chamiço e o arquitecto Rosendo Carvalheira (costas) e à esq.ª o Conselheiro Manuel Affonso de Espregueira. ****** *******
“O Jornal o Século, de 12 de Julho de 1905, faz noticia da cerimónia da festa, no dia anterior, da inaugurado do Sanatório Sant`Ana, do qual foi primeiro Director Clínico, Alfredo José de Almeida Ribeiro, jovem discípulo de Gregório Fernandes. Em 21 de Julho de 1961, esta unidade hospitalar, por despacho do Ministério da Saúde, passou a designar-se Hospital de Santana, e ficou pertença da Misericórdia de Lisboa.
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Sanatório Sant`Ana – início do séc. XX
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VISITAS A SALVATERRA E CONSULTAS MÉDICAS Por volta de 1880, iniciou Gregório Fernandes, manhã cedo, a viagem de comboio da estação de Santa Apolónia, até Vila Franca de Xira,, para chegar à sua terra-mãe Salvaterra de Magos, viagem que viria a fazer durante algum anos duas vezes por mês. Chegado à Vila Franca, já em terra ribatejana, aqui fazia a travessia do Tejo, através do Pontão do Cabo, onde seguia viagem na diligência dos transportes públicos, passando pelo caminho do Convento de Jericó, até chegar a casa de seus familiares. Muito ocupado, na sua actividade de cirurgião, e nos seus ensaios médicos, não deixou de vir regularmente ao Ribatejo, à casa onde tinha nascido, e numa estadia de dia e meio, visitava a família e consultava graciosamente os seus patrícios doentes pobres, não deixando de os encaminhar para os seus serviços no hospital São José, fazendo pedidos aos clínicos seus amigos de Lisboa, com recomendações para melhor observação de outros diagnósticos mais especializados.
~ 19 ~ Transporte Público de Passageiros * Salvaterra – Vila Franca Xira (Cabo) – Ainda existente na década 20 séc. XX
NOVA GERAÇÃO DE CIRURGÕES Nos primeiros anos do séc. XX, um novo conjunto de eminentes médicos como: Francisco Gentil, que foi o criador do IPO, de Lisboa, Augusto Monjardino, considerado o “pai” da Maternidade Alfredo da Costa, eram agora apelidados ”A Geração da Primeira Metade do século XX”, neste lote estava também incluído Alberto Mac-Bride Fernandes, tal como seu pai Gregório, na sua época, que deixou um lugar de destaque, como cirurgião/operador e investigador, ficando na história da medicina em Portugal. Gregório Fernandes, faleceu aos 57 anos de idade, em 26 de Junho de 1906, foi inumado no Jazigo 4608 do cemitério da Freguesia das Mercês, Lisboa.
ÚLTIMA HOMENAGEM Desde à muito, mesmo que lentamente o ensino secundário em Portugal, vinha sendo reorganizado, aproveitando os novos diplomas saídos do Ministério da Educação 1981, os autarcas de Salvaterra de Magos, acompanhando essa modificação, fazem a aquisição de um vasto terreno da Quinta da Ómnia, da família Henriques, e ali foi construído um novo e moderno edifício
~ 20 ~ Quando da sua inauguração em 15 de Outubro de 1983, o nome do Dr. Gregório Fernandes foi o escolhido para patrono daquela nova unidade, fazendo-se assim justiça ao homem, que também naquela área da cultura fazia baluarte em renovar, conforme se pode apreciar na sua longa intervenção, de 31 de Outubro de 1903, na Sociedade Ciências Médicas de Lisboa, enquanto seu presidente, texto agora guardado nos arquivos daquela instituição, e que outras publicações da época, não deixaram de referenciar a prelação de tão ilustre orador
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II *********** ALBERTO MAC-BRIDE FERNANDES - UM PERCURSO DE VIDA – Alberto Mac-Bride, como era conhecido e estimado no meio clinico, especialmente no hospital D. Estefânia. Nasceu em Lisboa, no dia 11 de Setembro de 1886, na rua dos Fanqueiros, 286 -2º Andar. Recebeu educação esmerada tal como seu irmão Alberto, outro distinto médico no círculo de Lisboa. Em 1904 entrou na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, tendo terminado o curso de Medicina em 1909, com a tese sobre “Syndroma de Little”, uma paralisia infantil, trabalho que lhe foi sugerido pelo seu mestre Dr. Salazar de Sousa.
~ 22 ~ O longo texto foi ilustrado com dois casos clínicos, que conheceu no hospital da Estefânia. Na primeira página do trabalho, fez agradecimentos a Alfredo da Costa e Reynaldo dos Santos, acabando por o dedicar ao pai. No início da carreira pensou dedicar-se à Pediatria, a convite do seu mestre; Salazar de Sousa, o primeiro cirurgião português nesta área, mas em 1911, entrou como cirurgião substituto do Banco. Com esta especialidade interessou-se pela organização e carreira hospitalar, onde escreveu artigos sobre o assunto. Já antes estudou e escreveu sobre a “Anestesia por inalação pública”, que foi publicado na revista médica “Medicina Contemporânea”, a melhor da época. Teve um companheiro na área das cirurgias, de nome Feyo Castro, ambos foram percursores de grandes iniciativas no campo das operações. Este último realizou em 1905, uma operação conhecida por “colecistectomia”, morrendo mais tarde vítima das radiações. Alberto Mac-Bride, além de um grande cirurgião, foi o maior impulsionador da raqui-anestesia, também conhecida raquinovocaínação, ou raqui-estovaínização. No seu desenvolvimento académico mostrou interesse pelas letras, e dedicou algum tempo a escrever a história da medicina da Instituição Hospitais Civis de Lisboa, e Medicina na India Portuguesa, extensa monografia do perido n1936-1946, trabalho que deixou feiro quando secretário-geral adjunto como também foi um colecionador de arte. Também consta no seu curriculum, várias participações na vida social, literária e passou a fazer parte do seu tempo, uma nova motivação no Grupo Amigos de Lisboa, sua
~ 23 ~ amada cidade. Textos escreveu com o título “Estudos Olisiponenses”, integrado na Associação de Arqueologia) espaço onde recebeu louvores e honrarias. O Dr. Alberto, publica na “Revista Contemporânea”, um artigo onde defendeu a criação de um Museu de Medicina, naquele hospital, e na senda das suas ideias, que alguns colegas apelidam de monómanas, divulga em 1913, que gostaria de ver modernizado o Banco daquela unidade, com um sistema de urgências, com a criação de pronto-socorro, na via pública (ambulânciaautomóvel), o que seria o percursor do INEM, do nosso tempo. Um ano depois, com o prof. Francisco Gentil e o arq. Tertuliano Marques, desenvolve um estudo para a modernização das urgências, onde estas novas instalações. Estas durariam mais de 50 anos depois de implementadas.
*********** OFICIAL/MÉDICO NA I GUERRA MUNDIAL Com o inicio do conflito militar, pouco tempo depois, é incorporado no corpo expedicionário do exército português, na I guerra mundial, em França, como Alferes – miliciano, médico, segue num batalhão em 10 de Fevereiro de 1917, sendo a 29, colocado Hospital Geral Nº 11 das Forças Inglesas, em Setembro é nomeado Chefe da equipa portuguesa, no Hospital Geral Nº 54, sendo promovido a Capitão. Após a batalha de La Lys, em que
~ 24 ~ morreram cerca 600 soldados portugueses, é nomeado cirurgião-chefe do Hospital português, com sede em Ambleteuse, a norte de França. Aí, mesmo em cenário de guerra não deixa de se actualizar com as melhores práticas que vão surgindo no campo da guerra, especialmente na área das amputações, e por cinco vezes está presente em reuniões do Comité Inter-aliado de cirurgiões. Em 1923, foi sócio fundador da Liga dos Combatentes da Grande Guerra, e seis anos depois organiza o I Congresso dos Combatentes da Grande Guerra, que inclui uma homenagem a Gomes da Costa, e em frente à casa daquele velho militar, na presença de cerca de 2000 antigos combatentes, faz-lhe a entrega do bastão de Marechal. Promove junto das câmaras do país, o interesse para que Ruas, Largos e
Alberto Mac-Bride, é último sentado, lado direito com outros oficiais do C.E.P., no hospital da Base Nº 1 em Ambleteuse
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Fotos 2015 * Rua dos Fanqueiros, 286-2º Andar – Placa de homenagem a Alberto Mac-Bride Fernandes
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Praças das vilas, passarem a usar o topónimo – Combatentes da Grande Guerra. Neste intuito, agenda uma reunião com o Município de Salvaterra de Magos, terra de seu pai e de sua família, consegue a anuência de tal pretensão, num Largo da vila. Em 1951, a Liga dos Combatentes presta-lhe homenagem descerrando um seu busto, considerando-o um filantropo, com o interesse manifestado com os antigos soldados, regressados de França, e é lá na sede da Liga que se encontram as suas medalhas militares. Foi percursor, da Ordem dos médicos, com a organização e director da Associação dos Médicos Portugueses, foi eleito e desempenhou o cargo de 49º presidente da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa (1952-1953), precisamente 50 anos depois de seu pai, ter ocupado aquele cargo. Morreu meses depois. Ele, e o irmão Eugénio, tiveram grande participação na vinda a Portugal do famoso urbanista francês – Forestier, para um estudo do possível prolongamento da Avenida da Liberdade, como também do Castelo de S. Jorge. Quando morreu no Hospital de S. José, Freguesia do Socorro, em 1958, desejou ser sepultado no talhão dos combatentes, e aí está inumado num coval no cemitério do Alto de S. João.
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EUGÉNIO MAC-BRIDE FERNANDES - UM MÉDICO, UM HOMEM DA CULTURA – Eugénio Mac-Bride, o outro filho de Gregório Fernandes, tal como seu irmão consta que nasceu em Lisboa, na Rua dos Fanqueiros, 286, num 2º andar, também foi um iluminado médico e dentro de muitas iniciativas ligadas campo da cultura. Nas nossas pesquizas fomos encontrar na frontaria do prédio onde nasceu uma placa evocativa O Dr. Eugénio, conhecido no meio da numismática deu o seu contributo à importante exposição que teve lugar no hospital de S. José, em 14 de Novembro de 1954, uma iniciativa da Comissão Numismática dos Arqueológos Portugueses No rescaldo, em 1955, Rocha Souto, descreveu na intervenção numa Assembleia Geral, o tema da “Exposição sobre figuras e Panoramas da Medicina de outros tempos, no Hospital de S. José “. Aquele evento serviu para lembrar a memória de Alberto MacBride, seu irmão,
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Medalha em bronze dourado, datada de 1894. Dedicada ao Dr. José Tomás de Sousa Martins * anverso um busto de alto relevo. No campo a assinatura do gravador Casimiro José de Lima. ************ **************
e de seu pai Gregório Fernandes, este à data de sua morte tinha na sua posse, um exemplar da primeira medalha cunhada, com José Tomás de Sousa Martins (Dr. Sousa Martins), seu intimo amigo, e nela encontravam-se expostas cerca de 572 exemplares relacionadas com exercício da Medicina em Portugal. Na reunião, Eugénio Mac-Bride, recebeu largos elogios, sendo apresentado, como Director Clínico do Hospital Curry Cabral. Em 1957, criou o Museu no Hospital de Santa Marta, dedicado aos HCL, e ao seu irmão; Alberto Mac-Bride, onde doou muitos objectos que foram das colecções deste, e de seu pai Gregório Fernandes. Anos depois o Museu foi repartido por Santa Marta e S. José, onde agora se encontra este espólio.
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SOCIEDADE PORTUGUESA DE MEDICINA INTERNA Os irmãos Mac-Brid (Alberto e Eugénio) acompanharam de perto o aparecimento do SPMI, fundada em 1951, estiveram na sessão inaugural realizada a 27 de Dezembro de 195 (1)
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(1) Volume I – Nº 1 * 1994 ** Para a História da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, por Dr. Barros Veloso ************
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FALECIMENTO DE EUGÉNIO MAC-BRIDE Quanto ao seu óbito, nas pesquisas que encetamos, não tivemos acesso a tal informação, mas o Jazigo Nº 4608, no Cemitério das Mercês (Lisboa), onde foram depositados os restos mortais do pai - Gregório Fernandes, esteve na sua posse, que deixou por testamento a sua filha Maria Sofia Mac-Bride Fernandes. Esta encontrou rolado no testamento do pai, o jazigo familiar, com o Nº 4608, no cemitério das Mercês, em Lisboa, e um outro com o Nº 167, veio a falecer em 21 de Setembro de 1983, na falta de melhor informação presumimos que o seu corpo esteja no já referido Jazigo Nº 4608, meses antes tinha feito uma oferta conjunta com sua prima; Sebastiana Fernandes de Sousa Vinagre, natural de Salvaterra de Magos, filha de Ana Fernandes (de Sousa Vinagre) e Vicente Luís de Sousa Vinagre à Misericórdia de Salvaterra de Magos, da casa onde seu avô – Gregório Rodrigues Fernandes, tinha nascido. Tal oferta, ficou perpetuada numa lápide, naquele imóvel numa festa realizada em 24 de Janeiro de 1984, onde esteve presente a familiar, Maria de Lurdes Vinagre (Menezes).
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2015 - Casa da família Fernandes Sousa Vinagre
2015 - Casa da família Menezes – Frentes: Avenida Dr. Roberto Fonseca e Rua Dr. Gregório Fernandes
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2015 - Jazigo de Ossários da Família Fernandes e Sousa Vinagre, no Cemitério de Salvaterra de Magos, onde se encontra inumada, Sebastiana Fernandes de Sousa Vinagre, filha de Vicente Luís de Sousa Vinagre, e de Ana Fernandes (de Sousa Vinagre), falecida a 26 de Janeiro de 1983
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BIBLIOGRAFIA USADA *Caderno Apontamentos Nº 08 “Colecção “Recordar, Também é Reconstruir” – do Autor * Revista Portuguesa de Cirurgia - II série * Nº 25 - Junho 2013 *História da Medicina - Acta Medica Portuguesa * 1995 - Pág 259/264 *Escola Médica do Campo Santana * De: Luiz da Silveira Botelho * * Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa - Alocução Presidencial lida na sessão solene de Abertura – Noite de 31/10/1903 - Jornal – Janeiro de 1953 AGRADECIMENTOS: * E-Mail – Resposta Hospital Santana (Parede/Cascais) * E-Mail – Resposta Hospital Curry Cabral *E-Mail – Resposta Serviços de Cemitérios, Câmara Lisboa *E-Mail – Resposta Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa * Escritório Advogados – Carlos Alberto Fernandes, pela obtenção da Foto – Rua dos Fanqueiros, 286-2º
FOTOS USADAS: Do Autor, e do Hospital Santana (Parede) e Autores desconhecidos, retiradas da Internet