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SALVATERRA DE MAGOS
II VOLIME
Autor
JOSÉ GAMEIRO (José Rodrigues Gameiro)
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SALVARERRA DE MAGOS Cronicas do Nosso tempo Tipo de Encadernação: Papel Brochado Autor: Gameiro, José Editor: Gameiro, José Rodrigues Edição: Papel Papel A 4, e Sistema Digital Morada: B.º Pinhal da Vila – Rua Padre Cruz, Lote 64 -1º Localidade: Salvaterra de Magos Código Postal: 2120-059 Salvaterra de Magos ********
* Tel. 263 505 178 * Telem. 918 905 704 e-mail: josergameiro@sapo.pt
O Autor não segue o acordo ortográfico de 1990
Abril 2015
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FOI APENAS UM SONHO !... Tudo começou em setembro de 2007. A ideia de usar as redes sociais, fervilhava, e tantas memórias havia de um tempo, que se entrelaçavam com a história de Salvaterra de Magos .Guardamos desde sempre os escritos de relatos de experiências vividas, e que já tínhamos publicado em Jornais. São agora documentos que ninguém já lê, porque no tempo que passa é aborrecida folhear um livro. As novas tecnologias digitais estavam aí, Não as conhecia, e um dia veio a oportunidade, o meu sobrinho; Cláudio Gameiro; lá abriu-me o blogue:http://www.historiasalvaterra.blogs.sapo.pt Com o passar do tempo, agora já mais lesto, abrimos o site: “José Gameiro issuu. Um outro sendo espaço ideal, para darmos a conhecer os nossos pequenos textos, ao espirito da “Crónica”, foi o Facebook. O mais importante era que o conto fosse um diálogo com o leitor, onde o relato e a linguagem simples saísse espontânea, de fácil entendimento. Nunca pretendemos escrever assuntos sobre história, que aliás não sabemos dominar. O leitor, decerto aqui vai encontrar em jeito de conto simples, não de fábulas, e porque tendo num ou noutro assunto “bordejado” desde o património, à cultura, mesmo a etnografia das gentes que fazem parte do concelho, de Salvaterra de Magos. Assim, vamos dar inicio à publicação do II Volume “Crónicas do Nosso Tempo”. Sempre tive a noção, é um trabalho que deveria ser feito no apoio de melhor formação académica. Melhor Mas foi apenas um sonho de um autodidata, e assim peço aos meus litores, a necessária benevolência. Março de 2018
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XVII Crónica Nº 17 Facebook – José Gameiro 12/ Agosto/ 2008
OS MOINHOS EM SALVATERRA ! No Verão de 1955, vivendo eu, junto à capela da misericórdia, ali juntinho atrás da Capela da Misericórdia, em tempos conhecida por capela de santo António, passava muitos dos seus dias, com o rapazio da minha idade, na caça aos pássaros no salgueiral dos valados da vala real, junto da sua ponte. . Entre nós, havia daqueles pequenos caçadores de fisga, alguns com uma apontaria e perícia tal, que cada pedrada, era um pássaro morto. Ali, no lado direito da jusante das águas da vala real, subindo o valado existiam já muito tapadas, pelas árvores e lodo, algumas pedras de lioz, de configuração mais para o rectangular e bem compridas, juntas umas às outras faziam uma escadaria. A população mais antiga, ainda falava no Moinho de Arroz, que tinha existido, tal como minha mãe me dizia, quando menina, muitas vezes naquela escadaria ali lavou roupa, e dava conta da existência de um pequeno túnel no valado, onde a água passava com as marés, com destino a um pequeno “bafordo”, espaço onde há pouco foi construído um espaço para treino de cavalos.
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O registo da existência de Moinhos de Vento em Salvaterra, já vinha quando da nova demarcação do termo da vila, com a vizinha Benavente, feito em 1772, quando Portugal estava sob a ocupação Filipina. Um tal Simão Aranha, tinha um Moinho, no Paul de Magos. Com o decorrer dos séculos, para sul da vila de Salvaterra de Magos, já em terras de Charneca a caminho de Coruche, o pinhal e o sobreiro, eram a grande mancha de arvoredo. Os pequenos arbustos serviam para queimadura dos fornos caseiros dos pequenos foreiros ali instalados no final do séc. XIX, A sul da vila a construção do novo cemitério da freguesia, em 1959, veio fazer companhia a três pequenos Moinhos de Vento, que ali moíam grãos de aveia e milho, já desactivados em 1919, um deles foi destruído (1), pois ali seria a arena da nova Praça de Toiros, que foi inaugurada em 1 de Agosto de 1920. As ruínas de um outro Moinho de Vento, estava à vista nos terrenos da que foi a Coutadinha do Rei, era uma construção em alvenaria, já sem telhado e porta, foi destruído na década de 80 do séc. XX, ali naqueles terrenos nasceu a Chesal – Cooperativa de Habitação Económica,
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Ruínas do Moinho de Vento – Coutadinha - 1950 * (1) O autor da sua destruição António Remundo, deu a informação quando da reportagem dos 50 anos (1970), da inauguração da praça de toiros, que foi publicada no Jornal “Aurora do Ribatejo” e faz parte do texto do Livro Nº 3 da Colecção "Recordar, Também é Reconstruir!"
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XVIII Crónica Nº 18 Facebook – José Gameiro Quarta-feira/ 13 de Agosto/ 2008
OS ORGÃOS DE TUBOS DA VILA ! Decorria o ano 1964, um grupo de jovens aderiu à ideia da formação de um agrupamento escutista ligado à igreja. Os meus dois irmãos, muito entusiasmados foram da primeira leva. A sede mesmo que provisória, foi um pequeno espaço, na antiga capela real, com soalho lavado à esfregona e paredes caiadas, aperaltado com decorações alusivas ao escutismo, passou a ser o encanto daquela juventude, pois durou dias tal empenho. Um grande senão deixou marcas irreparáveis, no local existia um pequeno armário, há muitos anos fechado e, com o decorrer dos dias a curiosidade foi–se instalando em alguns espíritos. Na falta de chave, a porta foi aberta de uma forma pouco delicada e, o início de uma destruição estava latente. Dentro daquele velho móvel, estavam muitos tubos, que aguçaram o desejo dos jovens de neles fazerem sons (1). Eram os tubos de um órgão, foram arrancados, andaram em bolandas de mão em mão, até que desaparecem.
12 O tempo passou, tudo caiu no esquecimento ! A paróquia de Salvaterra, 33 anos depois foi enriquecida com um grupo de jovens padres, entre eles, o padre António José Ferreira, que sendo um entusiasta por este tipo de música -órgão de tubos, fez uma pesquisa e diversos contactos, tendo levando à reparação do velho órgão da Igreja Matriz da vila. É um móvel, de grande beleza, construído em 1825, por António Xavier Machado e Cerveira, afamado organeiro da época, tem um teclado manual único, 53 notas e 594 tubos. Já tinha sido reparado e afinado em O dia 11 de Junho de 2000, foi uma data memorável, na sua nova apresentação pública, com um vasto programa, onde tocaram, Organeiros, nacionais e estrangeiros, Flauta transversal e Coros, a Igreja Matriz, esgotou com um público que muito aplaudiu as actuações. Para a reparação de tão belo instrumento, contribuíram muitas entidades e organismos públicos e privados. Quanto ao órgão da capela real, construído dentro de um armário de bonita pintura, vinha do inicio
13 daquele edifício religioso, recebeu uma conservação em 1771 Depois desta devassa lá vai aguardando por melhores dias, a um canto do espaço que um dia, foi o do Coro, quando a realeza visitava o palácio da vila.
Móvel/Armário do Órgão da Antiga Capela Real
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Crónica Nº 19 Facebook – José Gameiro Segunda – feira /1 de Setembro/ 2008
A MARRETA QUE DESTRUIU O MURO DO JARDIM Quando criança aprendeu a trabalhar a terra, como trabalhador braçal, as cearas de sequeiro eram as mais usadas na época. Não quis aprender a arte da campinagem e endireitar a espinhela (1), mesmo tendo em casa um professor, seu pai que chegou a campino-mor. Nasceu, em plena primeira guerra mundial, foi o primeiro de uma prole de oito filhos. Os anos que se seguiram não foram fáceis, havia grandes dificuldades, a fome grassava, especialmente na comunidade rural. A mãe por exemplo, quando do seu segundo filho, que por acaso foi a única menina que teve, vendia uma “mamada” de leite todos os dias, para aleitar um outro bebé vizinho, recebendo de recompensa 2 tostões. Ainda jovem, foi experimentar os trabalhos na construção civil, esteve na estrada nacional 118, foi de abalada até às obras do estádio nacional, no Jamor. O espaço desta grandiosa obra, ocupava uma zona de pedreira, que era rebentada a explosivos.
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Vários empreiteiros, davam trabalho a milhares de trabalhadores que recebiam semanalmente da ferramentaria, a peça de trabalho. A ele, calhou-lhe uma marreta para partir pedra depois das explosões. O tempo ia passando, o cinema recrutava entre eles muitos figurantes para cenas do filme “A Aldeia da Roupa Branca”. Aquém mais se lembrava, contava com entusiasmo: “uma simulação de uma briga à paulada, numa feira de Caneças, caiu num cesto de verga com ovos e quando se levantou muitos pintos fugiram, valeu-lhe mais alguns cobres, dizia”. Com a inauguração do estádio nacional, no dia 10 de Junho de 1944, tinha eu, dois meses de idade, regressou de vez a casa, a pequena marreta de ferro, acompanhou-o como recordação. Cansado de tanto andarilhar, teve na câmara municipal de Salvaterra de Magos, sua terra-natal, um trabalho na limpeza do lixo, nas ruas da vila, função que acumulava com a de ajudante de canalizador. Enfim, por haver só meia dúzia de funcionários, fez de tudo um pouco; distribuiu carnes, pavimentou estradas a alcatrão, foi calceteiro e por fim jardineiro. Em 1957, com a decisão municipal de dar novo visual ao antigo jardim público, na praça da república, ele e um outro colega de nome André, foram incumbidos de deitarem abaixo todo o muramento. Numa semana
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à força de trabalho braçal, meu pai, José Gameiro Cantante, usando a marreta, que tantos calos já lhe fizera, fez desaparecer numa semana o muro de uma obra que vinha do final do séc. XIX. A marreta, seu precioso instrumento de trabalho, é agora uma relíquia dos seus filhos. **********
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(1)– Endireitar a espinhela: Os campinos por vezes faziam este trabalho quando os vitelos nasciam, e o parto acontecia com as vacas em pé, os pequenos animais ao baterem no chão, ficavam com a coluna torta. ***********
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1957 – José Gameiro Cantante (pai do autor), junto ao portão principal do Jardim da Praça da República com o animal que puxava a carroça do lixo
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XX Crónica Nº 20 Facebook – José Gameiro Sábado/ 18 Outubro/ 2008
O VITORINO DOS CANDEEIROS Em 1930, sabia-se em Salvaterra de Magos, que Lisboa tinha iniciado em 1848, o seu sistema de iluminação pública, com 28 candeeiros que, foi aumentando com o decorrer dos anos e, em 1889, eram já cerca de 7000 os candeeiros acessos na cidade, recebendo gás produzido à base de carvão. A vila de Salvaterra, confinava-se ainda às suas 7 ruas primitivas, dando mostras de querer expandir-se lá para os lados da Praça de Toiros e, dos terrenos que viriam a ser ocupados pela Horta do Sopas. Até aí as ruas, não tinham iluminação, as habitações continuavam à noite, a consumir velas de cera e lamparinas à base de azeite e outras gorduras. Muitas cidades e vilas do país, já usavam o carbureto, na iluminação das suas ruas. O elenco camarário de António Sousa Vinagre , deliberou colocar quatro candeeiros, com gasómetros a carbureto, nas ruas de Salvaterra de Magos, para isso deu trabalho a José Duque, que foi para Santarém, durante uma semana, fazer aprendizagem nos serviços da câmara daquela cidade. Em 1935, este deu lugar a filho Francisco, o Chico Duque, que por sua vez transitou o lugar a Albino Fróis Marques, que foi substituído por um tal Vitorino, homem vindo de Benavente. Este, ao entrar ao serviço da
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câmara foi encarregado da manutenção dos candeeiros e, do motor que fornecia água ao depósito da fonte, junto ao edifício municipal. Pela manhã cedo, ao nascer do dia, com um pequeno carro de mão provido de uma barrica com água, lá se via o Vitorino, fazendo a limpeza, dos gasómetros instalados nos quatro candeeiros nas ruas da vila. Neste trabalho, retirava o carbureto já transformado em massa e, deixava preparado o pequeno depósito de cada gasómetro abastecido com água limpa. A massa recolhida era para mais tarde ser utilizada pelos pedreiros da câmara, nos rebocos das paredes. Ao cair do dia, pelo luz-fusco, lá ia de novo o Vitorino, com a pequena escada ao ombro e, uma saca noutro, com as pequenas pedras de carbureto alimentar os gasómetros. Cada um, levava uma quantidade de cerca 500grs, para 6/7 horas de uma boa luz durante a noite. O gás, libertado pela acção da água com o carbureto, saía por um pequeno tubo que, o Vitorino acendia com isqueiro de pederneira. O tempo dos Petromax, alimentados a petróleo, chegou por volta de 1940, a iluminação nocturna em Salvaterra, passou para oito pequenos candeeiros nos largos e ruas da vila. Foram colocados candeeiros nas paredes das casas,; esquina da rua João Gomes, com a rua Direita ( Machado Santos) na esquina da Trav. Da Azinhaga ( rua Gen. Humberto Delgado) . Com a entrada na rua Dr. Gregório Fernandes, lado da avenida, na parede também recebeu um candeeiro.; um outro foi colocado entre a rua do Pinheiro (Miguel Bombarda) e entre o edifício da câmara e a Igreja Matriz. Foram construídos postos em cimento, com candeeiros, no cruzamento da actual rua 31 de Janeiro e rua do Calvário (Av. Dr. Roberto F. Fonseca),; no Largo dos Combatentes; Largo da República,, dentro do Jardim; No antigo Largo S. Sebastião, junto ao Fontanário e um outro no cais da
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vala. Com esta inovação, o trabalho do Vitorino, era agora de manhã apagar os candeeiros e recargá-los de petróleo e, á noite depois de alguma pressão no depósito, para gaseificar, acender o aparelho, através de uma camisa que, dava uma chama azulada, ficando protegida por um vidro cilíndrico, iluminando toda a noite um grande espaço em seu redor. Em 1948, tudo isto passou à memória do povo, pois o abastecimento de energia elétrica a Salvaterra, foi um acontecimento, cuja inauguração teve honras de grande acontecimento público. Há uns tempos foram feitos umas réplicas daqueles candeeiros, que estão na zona nobre da vila, recordando os originais. Porque conhecemos o Vitorino dos Candeeiros, aqui o recordamos!... ************
********** Na Foto em primeiro plano está o Vitorino "dos Candeeiros " e o autor deste texto está ao lado - ano de 1954 * Na 2ª foto, o Posto com candeeiro a Carbureto, no local onde se fazia a Praça da Jorna dos homens rurais. (Actual Av Dr. Roberto Fonseca)
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XXI Crónica Nº 21 Facebook – José Gameiro Quinta Feira/ 6 Novembro/2008
O DEZOITO, UM FILANTROPO! Andámos na escola e na rua, brincamos as mesmas brincadeiras. Com as suas dificuldades em aprender a leitura e escrita, alguma coisa lhe ensinei. A caminho da adolescência, foi para a profissão da família – ser Pedreiro. Os Lapas, como eram conhecidos, tinham procura na construção civil. Depressa foi para bombeiro, nos voluntários de Salvaterra, onde seu irmão Eugénio já "militava", aí foi-lhe atribuído o número dezoito. José António Damásio Lapa, tinha estatura meã, e brincalhão que era, dizia a toda gente eu, sou o 18!.. . Depressa a sua jornada de bem fazer se mostrou disponível, passou a dar sangue, graciosamente a quem dele precisava. No entanto a vida, já se lhe manifestara cruel levando-lhe duas pessoas que amava; a mãe Rosário Damásio, e a mulher Mariana, deixando-o ficar com dois filhos pequenos. O desgosto juntou-se ao vício do álcool, que há muito o vinha corroendo, fazendo dele um "bobo", quer de gente graúda, quer da criançada. O José António Lapa O 18, continuava brincalhão, as bebedeiras não o largavam.
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Uns anos depois, outro drama bateu-lhe à porta, o filho, morreu num acidente de viação. Ficou entregue à filha – a Paula. Um dia de 1979, recebeu uma carta e, como era habitual, a mim se socorreu para a sua leitura. Estava nervoso, era uma carta do Estado, dizia-me embaraçado. O Instituto Nacional de Sangue, informava-o que lhe tinha atribuído, diploma e medalha, pela sua benemerência, tinha dado 70 vezes, sangue. Logo gritou. Eu, recebi uma medalha!..... Correu por todos os cantos da vila, todos tinham que saber, daquela homenagem. Em 2000, após um AVC (trombose) que lhe tolheu parte do corpo, fomos encontra-lo amparado a uma bengala, no lar da Santa Casa da Misericórdia, da sua terra natal, local onde periodicamente o íamos visitar, ali esquecidos de tudo e todos, lá tínhamos dois dedos de conversa. ************
José António Lapa ( o 18) dormindo nas escadas de um edifício bancário da vila. – Fotos do Autor
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José António D, Lapa – Conhecido pelo 18, num dia das suas traquinices, - Quando bebia mais uns copos – Era um bobo, que servia de gáudio aos que dele se aproveitavam para divertimento
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XXII Crónica Nº 22 Facebook – José Gameiro Sábado/ 6 Dezembro /2008
OS CASAMENTOS, EM CORTEJOS DE CARROÇAS ACABARAM! Uma recordação, com saudade dos meus tempos de rapaz No dobrar do século XX, raro era o sábado que não havia casamento foreiro em Salvaterra de Magos . Era de ver as longas filas de carroças, com arcos coloridos de flores, umas naturais outras de papel que, chegavam ao Largo da Igreja. Os animais, com as suas guiseiras ao pescoço tilintavam os últimos sons que, decerto se ouviram em todo o percurso desde os Foros até à vila. A música de um acordeon, acabava quando o acordeonista contratado para animar a festa durante o dia, recebia ordens porque a noiva já estava novamente ajaezada, com o véu branco
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na cabeça e, as flores de laranjeira, acompanhada dos pais e padrinhos, com um vasto cortejo de familiares e amigos . O noivo, já a esperava à porta do templo religioso, pois tinha vindo noutro cortejo, também acompanhado de um acordeonista que tocava as suas modas de viras e corridinhos. O largo da igreja e ruas vizinhas ficavam "apinhadas" de carroças, alguns animais eram amarrados às árvores que por ali existiam. Alguns dos convidados não entravam na Igreja, aproveitavam o tempo da cerimónia, para se dispersarem, conversando aqui e ali, dando achegas sobre o tempo que fazia, ou das colheitas da época. Outros iam até à taberna do Morais, ali ao lado e, aí bebiam e davam de beber uns copos de vinho aos clientes presentes . Muita daquela clientela, era só naquele dia, para aproveitarem a oferta de um copo de bebida que sabiam ser uma certeza. Um cigarro também era distribuído por todos os presentes ! Algumas mulheres, aproveitavam para comprar amêndoas e rebuçados, nas lojas de que eram clientes dos avios para a casa, feitas à quinzena e pagamentos anuais, depois das colheitas do fim do Verão. Após a cerimónia, as duas comitivas, em cortejo único logo se preparavam para o regresso, e, era aí que o rapazio da vila andava de volta dos carros e recebia a oferta daquelas doçarias, tiradas de "taleigos" pequenos sacos de pano, bem guarnecidos de desenhos feitos a ponto-cruz, Atirados as guloseimas para o ar com os animais já em marcha de trote, oss rapazes correndo atrás das carroças numa perseguição até ao cruzamento das “cavalhariças” (1), apanhavam aqui e ali no chão aquelas doçarias. Ao longe ainda se ouvia o cantarolar dos ocupantes, especialmente das moças que se confundia com os acordes musicais e, os sons das guizeiras, a caminho do local da boda, onde os noivos eram esperados com
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arcos de flores e balões de papel. Uns anos depois, já na década de 70, estes cortejos passaram a ser uma raridade, os poucos que vinham à Igreja Matriz da Freguesia ,foram substituídos com o buzinar de muitos automóveis, Foros de Salvaterra tinha agora a sua Igreja. ********* (1 ) Cavalheiriças; uma linguagem do povo, que descrevia a antiga construção - cavalariças, que fez parte das instalações do antigo Regimento de Cavalaria Nº 10, existente em Salvaterra de Magos.
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XXIII Crónica N. 23 Facebook – José Gameiro Quarta – feira/ 21 Janeiro/ 2009
AS BOTICAS EM SALVATERRA !.. Nem sempre se comemora um século ! Na última década do séc. XIX, existiam duas Boticas em Salvaterra de Magos - A do Albano, e a do Carvalho. Um dia chegou a Salvaterra de Magos, o jovem Albano Gonçalves, nascido em Lisboa, em 1848, homem forte, entroncado mas de estatura meã, trazia da capital hábitos de vestir de gente citadina. Instalou-se com uma Botica na rua de S. Paulo (Rua Machado Santos), aí desenvolveu os seus conhecimentos das artes farmacêuticas, onde fabricava entre outros unguentos; contra as Infusuras, Salapismos como: os Julepos, os Confeitos e as Maçaradas, receitam muito usadas pelos médicos da época. Para além de boticário, foi autarca e praticava o jornalismo, dando para os jornais da capital, notícias da vila (1). Não deixava de vestir o seu fraque preto, camisa branca com colarinho alto e
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laço preto ao pescoço, com chapéu alto e a bengala, quando ocorria algum falecimento na vila, lá ia a casa da família dos defuntos, recontratá-los, pelos momentos dolorosos que estavam passado. No dia do enterro, com a mesma indumentária a preceito, seguia à frente do cortejo fúnebre, e na Igreja ou no cemitério fazia o elogio fúnebre do falecido. Enquanto colaborador de alguns jornais de Lisboa, usava o nome de Alberto Calderon, além de dar notícias do dia-a-dia Salvaterra de Magos, não deixou de escrever sobre o terramoto de 1909, e outros acontecimentos que tiveram lugar na vila como um extenso artigo que saiu no Novo Almanaque LusoBrasileiro, do ano de 1882, ocupando a página243 (1), Albano Gonçalves, ensinou na arte farmacêutica, o então jovem Jerónimo da Fonseca, acabado de sair da escola. Faleceu solteiro em 13 de Janeiro de 1932. A Botica do Albano, fechou com a sua morte e, na mesma rua foi aberta ao público a Farmácia Martins, de Henrique José Martins, nascido em Muge, vila do concelho.
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A PHARMACIA CARVALHO A Botica do Carvalho apareceu mais tarde, em 1891, pelo comerciante e pequeno lavrador em Salvaterra de Magos, António Jorge de Carvalho, na rua do Hospital (rua Dr. Gregório Fernandes), pois já tinha ali em exploração, um estabelecimento de drogarias e produtos alimentares. Um pouco antes da implantação da República em Portugal, em 1910, as Boticas instaladas no país estavam mudando o nome para PHARMACIA, nome de origem francesa, mas foi em 1911, que a língua portuguesa sofreu algumas alterações e PHARMÁCIA, deu lugar a FARMÁCIA. Após o terramoto de 1909, a Pharmácia Carvalho, foi remodelada, a frontaria do estabelecimento, recebeu azulejos e no interior das instalações foram criadas duas divisões; um Gabinete/Escritório e um pequeno Laboratório. Neste último e pequeno espaço era atendida a clientela, para assuntos mais recatados. Os produtos já conhecidos, continuaram a ser ali feitos para além dos famosos Enfusos, e os Alcooloídes. Destes últimos, produziam-se os Alcoalatos e Alcoalaturas que, sendo umas tinturas, eram feitas com instrumentos e recipientes (alguns deles, hoje, fazem parte do seu pequeno museu).
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Por volta de 1920, Manuel Joaquim Gomes, desde muito novo boticário, na Pharmácia Carvalho, comprou o seu trespasse e modificou a laboração do estabelecimento, dando continuidade à fabricação das famosas pílulas e hóstias, para além da cerveja medicinal, a conhecida cerveja preta. Em 1991, a Pharmácia Carvalho, fez o seu primeiro centenário, a data foi comemorada, com um almoço festivo da família Gomes que dava continuidade como proprietária, estando presentes
empregados e alguns amigo convidados. onde estivemos nesta última qualidade. A que foi a Botica do Carvalho, é hoje o estabelecimento mais antigo do concelho de Salvaterra de Magos, agora gerida pela farmacêutica, Drª Joana Pinto F. Fernandes Gomes.
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FARMACIA MARTINS Henrique José Ferreira Martins, depois de ter apresentado, na Escola de Farmácia de Lisboa, documentação que tinha oito anos de boa prática farmacêutica, foi reconhecido por despacho do seu Director, em 25 de Junho de 1907, como apto a exercer aquela actividade, dirigindo a Farmácia que abriu em Muge, e uma outra em Salvaterra de Magos, na rua S. Paulo (rua Dr. Machado Santos). Com a morte de Henrique Martins, esta última Farmácia continuou com o mesmo nome, mas sob a direcção de Eugénio Machados das Neves, sendo empregado adquiriu o alvará à família.
1910 - Frente da Farmácia Martins, Salvaterra de Magos depois da Trav. ao lado estar limpa, do entulho do Terramoto de 1909, e receber o nome de Henrique Martins ************ (1)--Albano Gonçalves, enquanto autarca fez parte da Comissão que organizou a recepção em Salvaterra de Magos aos congressistas, do Congresso Mundial de Arqueologia Prehistórica, que se realizou em Lisboa, no ano de 1880 e, em excursão no dia 24 de Setembro, visitaram as recentes escavações ocorridas em Muge.
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“As povoações vizinhas juntaram-se ao festejo da chegada dos ilustres visitantes. No extremo do Concelho de Salvaterra, erguia-se um arco triunfal, com a bandeira nacional no topo, circundada por muitas bandeiras de diferentes nações; e o caminho do percurso achava-se abrilhantado por outras inúmeras bandeiras ornamentais. As girândolas de foguetes anunciaram a todo o Concelho aquele dia festivo. Pelas dez horas da manhã, chegaram os membros do Congresso em trens tirados duas parelhas, na frente dos quais vinha o governador civil e o presidente do Congresso; Júlio Lermina. Junto ao arco triunfal estava a Câmara Municipal com seu estandarte, e detrás da Câmara postara-se uma força de cavalaria de espadas desembainhadas. De um a outro do campo, enfileirava longa enfiada de cavaleiros e de campinos a cavalo, com seus trajes regionais. Não menos de 500 pessoas constituíam as alas. Chegados ao Arco, os trens pararam ; e então a Câmara de Salvaterra, composta de Vicente Lucas de Aguiar, Albano Gonçalves, António da Silva, Ezequiel Pacheco, Joaquim Meneses, Joaquim Guilherme, e Marcelino Monteiro Administrador do Concelho, todos de pé, descobriram-se e cumprimentaram o governador civil e o presidente do Congresso em frases concisas e respeitosas, que terminaram com vivas à ciência e o Congresso. Os visitantes apearam-se e corresponderam às saudações. Em breve elocução agradeceu as felicitações da Câmara o Congressista Andrade Corvo. Por sua vez, o presidente do Congresso, também discursando em língua francesa, exaltou de modo lisonjeiro os sentimentos da Câmara e a consideração que lhe merecia. Depois, ouviu-se Filarmónica e ao longe o estralejar dos foguetes. Os excursionistas seguiram para a freguesia de Muge, para os montículos de Arruda, onde estavam as escavações, feitas havia pouco tempo; e ali tiveram ensejo de observar os esqueletos humanos antiquíssimos e alguns sílex manufacturados. Os esqueletos apresentavam-se de costas com as pernas curvas sobre as coxas. Alguns estavam
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******* Nota – extraído do livro “Anais de Salvaterra de Magos” – Dados históricos desde o séc. XIV – editado em 1959, páginas 122 e 123.* José Estevam
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XXIV Crónica Nº 24 Facebook – José Gameiro 6/ Fevereiro / 2009
OS DIAS QUE SEGUIRAM AO 25 DE ABRIL DE 1974 O país foi alertado. Na rádio foram ouvidos os comunicados toda a madrugada, que davam conta da situação, estava em curso uma revolução militar. Estávamos no dia 25 de Abril de 1974. Em todo o país, só de manhã quando a população iniciava a sua actividade começou a tomar conta da situação. As notícias, eram para se ficar em casa! Eu, então jovem de 30 anos, levava uma vida profissional e social sossegada, já com 38 meses prestados de serviço militar obrigatório, cumpridos dos 20 aos 23 anos, o país encontravase perante três frentes de guerra colonial, iniciada em 1961, mobilizando toda a juventude portuguesa. Sabendo no entanto das restrições da existência de algumas das liberdades fundamentais que se sofria - A liberdade de opinião, a censura, que se alastrava da imprensa aos teatros e à vida social, era
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uma esperança tão ansiosamente esperando, tinha chegado com o movimento dos capitães – MFA, foi desde logo apoiado pelos mais esclarecidos politicamente e depressa se viu envolvido pelo povo que ansiava por viver num regime democrático. Em várias cidades do país, foi grande a massa humana que veio para as ruas, especialmente Lisboa que além de assistir à rendição de Marcelo Caetano, esteve na rua junto à sede da PIDE, pedindo a extinção daquela policia politica. Tal como o povo de todo o país, em Salvaterra de Magos deu largas à sua imensurável alegria na rua, querendo compartilhar, tal era o contentamento, No dia 1º de Maio seguinte, o Largo dos Combatentes, foi pequeno para o apoio ao MFA, e logo aí alguns oradores num palco improvisado fizeram as primeiras intervenções politicas. Nos dias que se seguiram e, durante meses rara era a noite que não se realizassem Comícios
Manifestação, Apoio MFA, Maio de 1974, - Largo dos Combatentes
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Políticos. Organizações e Partidos estavam movimentando-se afim de transmitirem os seus programas e edeologias. O povo vivia grandes momento de felicidade estava livre, e assistia esgotando os locais daquelas reuniões. Tudo servia para a realização das mesmas – desde reboques a servirem de palco, praça de toiros, sala de cinema e casa do povo. Ainda não estavam esquecidas as perseguições e prisões dos operários da Marinha Grande, e os rurais do Ribatejo e Alentejo, sofridas em 1933, após alguns dias de greve., por causa de melhores
condições de salário e trabalho. Em Salvaterra de Magos, na década de 60, alguns activistas políticos, foram presos pela PIDE, cujos relatos da sua experiência, anos mais tarde foram editados em livro pela Câmara Municipal. Os comícios partidários onde predominavam os do Partido Comunista Português (PCP), do Partido Socialista (PS) e do Partido Social Democrata (PSD), eram os mais concorridos, a publicidade era constante, e os
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Interveniente político de cada um, era figuras com carisma nacional. No concelho de Salvaterra, vingou em maior escala o PS, PCP, agora na coligação CDU, nas eleições autárquicas de 1976, foram os mais votados. Meses depois estávamos perante o PREC, com ocupações e saneamentos nas fábricas e nas terras – houve nacionalizações e reforma agrária, a democracia que se
pretendia estava ameaçada, e grandes manifestações contra tal movimento totalitário, depressa levaram o pais a movimentar-se e algumas concentrações em Lisboa; como Fonte Luminosa, Praça de toiros do Campo Pequeno disso deram mostra. Nas fábricas, havia entraves, pelas comissões de trabalhadores, e nos campos os donos eram desalojados com ocupações das terras, onde se formavam cooperativas agrícolas e greves contantes. Aqui em Salvaterra, também houve situações semelhantes. Na fábrica; ORINCA, uma empresa florescente na
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vila, um empregado foi instrumentalizado na área da produção, na adulteração dos produtos usados, o que levou a firma a fechar portas, e o desemprego para cerca de meia centenas de trabalhadores. Nesse tempo muitos trabalhadores em todo o pais não aceitavam as directrizes sindicalistas da CGPT, e afastaramse dando lugar ao aparecimento da UGT – União Geral de Trabalhadores. Em Salvaterra de Magos, numa madrugada os cartazes que anunciavam esta nova central sindical, colados no muro da Horta do Sopas – EN 118, apareceram caiados de branco. Com o movimento de militares, em 25 de Novembro de 1976 com destaque para as tropas paraquedistas, onde aparece Ramalho Eanes, o país começou a normalizar a sua vida política e social -a democracia estava de volta., acabando com o PREC – Período Revolucionário em Curso.
Greve e Manifestação junto à Praça de Toiros
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XXV Crónica Nº 25 Facebook – José Gameiro Quinta-feira /12 de Fevereiro/ 2009
OS PARODIANTES DE LISBOA !.. ( Ruy e José Andrade) O tempo passa, o ser humano vive de tudo, até de recordações! As gerações nascidas depois daquele dia maravilhoso que, foi o 25 de Abril de 1974, vieram encontrar um tempo de liberdade, onde cada um pode exprimir os seus sentimentos, expressão, desde que a mesma não colidam com a liberdade dos outros. Uma forma de dizer o que nos vai na alma, proibida pela ditadura do Estado Novo. Decerto quererão saber quem foram os obreiros dos famosos "Parodiantes de Lisboa", uma equipa radiofónica, que sabia desafiar o regime com o seu humor, fazendo os portugueses "encostarem o ouvido" à rádio portuguesa, durante mais de 50 anos. Em Salvaterra de Magos, no início do século XX, existiam várias famílias com o nome de Andrade. Numa dessas famílias um ramo genealógico tinha a alcunha dos "Charutos" e
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nele nasceram três irmãos, sendo um o Fernando Filipe Andrade que, veio a casar com Zulmira Fernandes. Do casal, vieram à luz quatro rapazes e duas raparigas. José Andrade (1920-2002) e Ruy Andrade (1921-2006), eram os mais velhos da prole. O pai Fernando Filipe Andrade, por volta de 1936/37, um dia estabeleceu-se na vila, na rua Machado Santos (antiga rua Direita), com uma pastelaria Uns meses depois, o espaço foi dividido e, nele se instalou-se o filho José Andrade que, entretanto já tinha aprendido o ofício de barbeiro (1) O Ruy Andrade, ainda jovem foi de abalada até Lisboa, onde começou uma vida nos balcões das Lojas do Grandela e, o José tempos depois também foi até á capital e, juntos começaram a fazer teatro amador. Os Parodiantes de Lisboa, nasceram em 18 de Março de 1947, depois do desaparecimento do periódico "A Bomba". Nos Parodiantes, deram colaboração desde a primeira hora, Eduardo Ferro Rodrigues Santos Fernando, Mário de Meneses Santos, Mário Ceia, Manuel Puga, José Andrade, Ruy Andrade, entre ****** /1) – Informação de Fernando dos Santos (Fernando Magongo), barbeiro, estabelecido em Salvaterra de Magos, seu colega na aprendizagem deste oficio.
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outros. Mais tarde, na Parada da Paródia, deram voz, Mary, Pouzal Domingues, Diamantino Faria, Pedro Moutinho etc. Para além da rádio, José e Ruy Andrade, em 1974, transformaram a pastelaria "Sol da Lezíria", que foi dos pais e onde estes fabricavam e vendiam um apetitoso pastel. Nasceu a "Cabana dos Parodiantes", os bolos passaram a ser comercializados com o nome "Barretes" e depressa ficaram famosos. Um outro descendente da família, Fernando Andrade, continua à frente da Cabana e, os "Barretes", são agora uma especialidade de Salvaterra de Magos. ********
(1)-informação de Fernando Santos, que naquele tempo foi colega de aprendizagem daquele ofício, com José Andrade
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XXVI Crónica Nº 26 Facebook – José Gameiro Sexta-feira/ 13 Fevereiro / 2009
A PROPÓSITO DE TOIROS, EM SALVATERRA! O Ribatejo tem no seu povo rural as raízes de uma cultura primitiva, cuja etnografia disso nos dá conta os usos e costumes do campino e da camponesa, agora conservados pelos ranchos folclóricos. O rio Tejo, muito contribuiu ao longo dos séculos, para a forma de viver desta gente que nas terras de Aluvião tiravam o seu sustento, nos mouchões e alvercas a - muita pastagem nascia a esmo para o gado, em terras de Salvaterra de Magos, povoação situada no coração da Lezíria ribatejana, que se estende desde a Chamusca, Golegã, Vila F Xira, Azambuja, Alcochete e Montijo Nos dias que passam a actual agricultura nada tem a haver com a lavoura que se fazia no dobrar do século XX. Quando as terras ficavam livres das águas das cheias do inverno, o trabalho agrícola voltava em força aos campos que dariam pão, as tralhoadas de animais bovino, num andar pachorrento
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lavrando numa fila, muitas vezes de dez pares, lá iam alguns toiros "cangados" como que lembrando os seus 3/4 anos de idade e, a ferocidade leal que ofereceram nas lides nas arenas das praças. Depois de corridos, alguns eram destinados à reprodução da raça, outros, a maioria, depois de "capados e bruxados”
1936 - Irmãos da família Galricho, conhecidos pelos “Patacos”, campinos da Casa Agrícola Irmãos Roberto – Salvaterra de Magos
passar o resto dos seus dias nos trabalhos da lavoura que, durava perto dos 15 anos, com um final no matadouro, terminando assim um ciclo de vida, que ia conforme a idade; mamões, anejos, bezerros, garraios/ou novilhos e toiros. As terras da charneca, eram um espaço que alternava com as da Borda-de-Água, quando começavam os dias chuvosos de outono/inverno, e todo o gado tinham de abandoná-las.
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As terras da charneca, eram um espaço que alternava com as da Borda-de-Água, quando começavam os dias chuvosos de outono/inverno, e todo o gado tinham de abandoná-las. Os toiros de lide, não deixavam de serem postos à prova dos campinos, pois tinham de "dar o litro" numa estafa de um dia por semana, num treino em correria, para estarem musculados e, em condições de serem corridos nas praças de Portugal e Espanha, para a época a partir do domingo de Páscoa. terminando pelos dias de S. Martinho. Quando um curro se deslocava encabrestado, muitos dias antes para uma praça distante, era um acontecimento de grande relevo social, nas povoações de passagem. No destino, com a chegada às praças, as entradas dos toiros eram quase sempre de madrugada, então aí era o delírio das populações, os jovens mais audazes tentavam tirá-los dos cabrestos/ou chocas, com alguma varada de permeio, pois todo o trabalho de condução pertença dos campinos, estava posto em causa, com a fuga de um ou toiro. Muitos encontravam nestas esperas, as suas aptidões para virem a ser moços de forcado e bandarilheiros, tal era a coragem de pegar de cernelha, ou capeando, muitas vezes com o casaco No inicio do século passado (1900), a praça de toiros existente em Salvaterra, era de madeira, com lotação de 5 mil lugares, estando a gerência do hospital de Portalegre.
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1936 – Campinos, Lavradores e convidados, numa entrada de toiros – foto cedida por descendentes família Roberto – Salvaterra de Magos
Quando eu, era menino, ouvia do meu avô paterno já velhote, e há muito retirado das lides da campinagem, maravilhosas histórias daquela arte, , no seu tempo havia uma hierarquia na profissão, que chegava ao topo - campino-mor. Mesmo assim, o encanto e o divertimento que ainda lhe excitava os nervos, era a lembrança das entradas de toiros, que arrastava multidões, Ao longo dos anos, fui escrevendo e guardando os seus relatos que agora não deixam de ser importantes para mim ao deixar algo escrito nesta crónica "A Propósito de Toiros em Salvaterra!"
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XXVII Crónica Nº 27 Facebook – José Gameiro Sábado, 14/ Fevereiro/ 2009
A DINASTIA ROBERTO(S) - UMA FAMILIA DE TOUREIROS!.. Nem só os aficionados tauromáquicos, têm curiosidade em saber quem foram os irmãos Roberto (s). Qualquer enciclopédia faz referência a António Roberto da Fonseca e seus irmãos; Antão José da Fonseca e Luís Roberto da Fonseca, como iniciadores desta conhecida linhagem artística. Quem visita Salvaterra de Magos, encontra no largo da Igreja Matriz, um grande edifício, todo ele forrado a azulejo, de cor verde, forma de decoração muito usada no início do séc. .XX, onde os lavradores locais, receberam a influência da arquitectura, já usada pelos novos-ricos, vindos de África e Brasil. Sobre os Roberto(s), especialmente os irmãos; Vicente
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Roberto da Fonseca, João da Fonseca e Roberto da Fonseca, já quase tudo se escreveu. Não pretendi neste pequeno apontamento, fazer a história desta dinastia artística, porque tal encheria muitas páginas de um trabalho mais aturado. Com a sua arte de bandarilheiros, nas arenas de Portugal e Espanha, tiveram sorte e glória, honraram o nome da família e Salvaterra de Magos, sua terra-natal. Por mim, tive a sorte de través de D. Elvira Roberto e seu esposo Arq. Luiz Vasconcellos, ter acesso a informações e documentos, que amavelmente também me facultaram especialmente do testamento de Roberto da Fonseca, que não se esqueceu para além dos seus descendentes, dos fiéis trabalhadores e de algumas misericórdias, especialmente a da terra onde nasceu. Num edifício, na antiga rua Direita (Rua Luis de Camões), onde vive alguma descendência da família, existe uma grande sala, onde vários móveis guardam coroas de flores, prémios recebidos do público aficionado, no nosso país e do país vizinho. Na fachada da habitação de D. Elvira Roberto, existe desde 1950, uma placa de homenagem, levada a cabo pela Casa do Ribatejo, que na época tinha sede em Lisboa e, no seu interior , numa parede, um grande painel, regista a árvore genealógica da família. No cemitério da vila, uma alegoria simbólica da casa
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agrícola Roberto, com as esfinges dos irmãos toureiros, está esculpida na pedra, do jazigo da família, onde se encontram os seus corpos.
Muitos anos já passaram, sobre a morte de Roberto da Fonseca, o último dos afamados toureiros, mas os responsáveis que passaram pela autarquia local esqueceram deles - Nem o nome de uma rua ! *************
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XXVIII Crónica Nº 28 Facebook – José Gameiro 16 de Fevereiro de 2009
O CORRER DA CORDA!.. Ainda menino de escola, fui com os meus pais viver para o Botaréu, junto à Capela da Misericórdia e, depressa o convívio com as gentes que, viviam do rio Tejo, se estabeleceu. Nos seus barcos, e nas suas casas, comi das suas ementas, como também na rua e no cais da vala real, brinquei com os seus filhos. Aquele convívio, foi para mim uma oportunidade de ouvir aos Fragateiros e Varinos/ Cagaréus, histórias das suas comunidades. Há muitos séculos, que o rio Tejo as conhece, os pescadores Cagaréus, desceram lá muito de cima, do norte, e em Lisboa, até existe junto à ribeira, um dos seus bairros - A Mouraria, que estava povoado desta gente após o terramoto de 1577. Aqueles que se alojaram em Salvaterra de Magos, eram dos mesmos sítios; Aveiro. Ovar, Estarreja e Murtosa. Há muitas gerações que andavam rio abaixo, rio acima, na faina do peixe, especialmente no inverno, para depois o enviarem o pescado, em cestos de verga, no comboio para muitos lados do norte, inclusive o Porto, Os cestos, guarnecidos de espadanas para refrescar o peixe chegavam à estação de Muge em carroças,
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Antes deles, já os Fragateiros eram "donos" do cais da vala, ali movimentavam nas suas Faluas e Fragatas, embarcações à vela, as mercadorias, com destino a Lisboa, e outros portos, rio acima, quando este era então navegável, lá para os lados de Abrantes. Quanto aos Avieiros, uma outra comunidade, de pescadores vindos de Vieira de Leiria, cujos registos no Tejo, se notou mais tarde já no séc. XIX, o Escaroupim, foi um dos muitos sítios de aporto, depois de viverem nas suas bateiras. Existem registos do tempo de D. Dinis, o comércio e a indústria, especialmente a naval, requeriam muita madeira e, Lisboa ficava a pouca distância de Salvaterra. Havia épocas do ano, que a construção naval, em Lisboa, também se socorria dos pinhais lá para as bandas de Constância, Alvega e Ortiga e mesmo de Mação, e com o curso das marés faziam deslizá-la nas águas em grandes quantidades Tejo abaixo até ao Cais do Sodré. A história da vala real de Salvaterra de Magos, encontra-se registada em muita documentação. A construção da Sangria – vala aberta por causa das águas que se acumulavam em terrenos pantanosos nos baixios de Magos e na bacia do Ameixoeiro, que desciam até se juntarem no rio Tejo na Boca da Goiva, Os Cagaréus, aportados em Salvaterra, faziam no rio, a faina da pesca do barbo e fataça, O que lhes dava mais sustento era o sável. As histórias vivas, deste pequeno curso de água ainda eram contadas, pelos sobreviventes no dobrar do século XX
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Era de ouvi-los – os Fragateiros e Pescadores Varinos. Vivi, a escassos metros do barracão onde via o mestre calafate, António Joaquim Henrique Miranda, conhecido pelo "Preguiça", na rua ai construía as bateiras e calafetava outras. Uma história sobre ele se contava, um dia, construiu uma daquelas embarcações dentro do Barracão/Oficina, quando pronta não saiu à porta, Porque bebia bem o seu copito, dizia-se: Talvez visse dois barcos pequenos ! Eu, que corri corda, e vi fazê-la, tenho boas recordações desse tempo. * Um casal, de Benavente – Joaquim José, com a mulher e dois filhos ainda pequenos, vinha algumas vezes durante o ano, até junto dos fragateiros venderem corda nova para ser usada, nos barcos. Depois do negócio feito, para a quantidade de metros necessários, era iniciada a sua "feitura". Umas peças de madeira com pequenos ferros, eram colocadas junto ao muro grande, vedação da propriedade do conde, ao pé do celeiro, desde a estrada até à borda da vala, onde agora existem umas construções em madeira, com espaços calculados para suportarem o peso. A mulher, passava o dia, movimentando uma manivela de ferro, fazendo girar uns carretos (sentido dos ponteiros de relógio), o homem e os filhos, iam metendo, o cordel de sisal, de muitos novelos. Depois de bem enrolados, davam azo a muitos metros de um novo cabo, alguns muito grossos, ao fim de alguns dias de trabalho.
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De seguida, o velho Codório, antigo pescador, "arregimentava" um grupo de rapazes (onde eu, me incluía), para passar a corda, a troca de alguns tostões para os rebuçados que depois comprávamos na taberna do Camilo – o espanhol. Os vários metros (bem pesados), dos novos cabos eram cozidos, num panelão, ao lume durante várias horas, com água de tinta de carrasca de pinho, feita previamente. Depois da "cosedura", sempre ao cair da tarde (para passar a noite ao relento), os metros do cabo, eram "corridos" pelos rapazes entrelaçados entre os muitos choupos pequenos, que existiam, no terreno de trás-de-monturos (no local onde agora se faz a feira anual e algumas festividades da terra) e, ali ficavam estendidos (apertados), até secarem. ******************
No terreno baixo onde o gado vai pastando, estava cheio de Choupos, o era entendida a corda – ano 1954/5
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XXIX Crónica Nº 29 Facebook – José Gameiro 29 de Dezembro de 2017 ·
LEMBRANÇA / OU UMA HOMENAGEM JOSÉ GAMEIRO CANTANTE (N 29.12.1914 – F 05.11.1987)
Ao meu querido e saudoso pai – José Gameiro Cantante. “Quando criança aprendeu no campo a trabalhar a terra, como trabalhador braçal, as cearas de sequeiro eram as mais usadas na época. Não quis aprender a arte da campinagem e endireitar a espinhela(1), mesmo tendo em casa um “professor”, seu pai que chegou a campino-mor. Nasceu, em plena primeira guerra mundial, foi o primeiro de uma prole de oito filhos. Os anos que se seguiram não foram fáceis, havia grandes dificuldades, a fome grassava, especialmente na comunidade rural. A mãe; Emília, quando do seu segundo filho, que por acaso foi a única menina que teve, vendia uma “mamada” de leite todos os dias, para aleitar um outro bebé de um casal vizinho, recebendo de recompensa 2 tostões. Ainda jovem, meu pai foi experimentar ser Padeiro, os trabalhos na construção civil, seduziram-no, esteve nos trabalhos da construção civil, quando as pontes do Paul de Magos, foram feitas em 1936, incluídas na estrada
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nacional 118. Para ganhar mais uns “tostões”, e ser um novo chefe de família assim o exigia, foi de abalada até às obras do estádio nacional, no Jamor/Lisboa. O espaço desta grandiosa obra, ocupava uma zona de pedreira, que era rebentada a explosivos. Vários empreiteiros, davam trabalho a milhares de trabalhadores que recebiam semanalmente da ferramentaria, a peça de trabalho. Uma marreta, foi a peça de trabalho que lhe calhou em sorte, para partir pedra depois das explosões. O tempo ia passando, o Estúdio da Tóbis Portuguesa/Lisboa, recrutava entre aqueles trabalhadores, muitos figurantes para cenas do filme “A Aldeia da Roupa Branca”. Com a inauguração daquele estádio de futebol, no dia 10 de Junho de 1944, tinha eu, dois meses de idade, regressou de vez a casa, a pequena marreta de ferro, acompanhou-o como recordação. Cansado de tanto andarilhar, teve na câmara municipal de Salvaterra de Magos, sua terra- natal, um trabalho na limpeza do lixo, nas ruas da vila, função que acumulava com a de ajudante de canalizador de água dos serviços públicos. “Um dia, já eu, era bem menino, contou-me que tinha entrado naquele filme, na cena de “uma simulação de uma briga à paulada, numa feira de Caneças, caiu num grande cesto de verga com palha e com ovos, e quando se levantou muitos pintos fugiram, valeu-lhe ganhar mais alguns cobres, dizia embevecido”. Naquele tempo, os serviços municipais tinham ao serviço uma meia dúzia de empregados, fazia um pouco de tudo – fez de
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calceteiro, alcatroou estradas e terminou o seu desempenho público como Jardineiro. Em 1957, o executivo municipal, tomou a decisão de transformar a urbanização do Jardim Público – Largo da República, era uma obra que vinha do final do séc. XIX. As paredes que faziam o muro, vieram abaixo numa semana – foi usada a força de braços e marreta, foi seu ajudante o colega André Duque. Aquele utensilio de trabalho, continua na posse da família, é agora uma peça de grande relíquia dos seus filhos. ” Porque sendo Analfabeto, e gostaria de ter aprendido a ler e escrever (aprendeu a fazer o seu nome aos 53 anos), uma lágrima rebelde verteu, quando lhe ofereci o meu primeiro livro “ Salvaterra – Uma Vila Histórica no Coração do Ribatejo” *José Gameiro
Fotos: Funcionários da Câmara – No terreno do Campo da Feira – Maio de 1955 ( abrindo pequenas valas – para esgotar a água das chuvas) * Funcionário José Gameiro, com animal da Carroça da Câmara – frente ao Jardim Público * José Gameiro – Jardineiro, cavando canteiro de flores no Largo Combatentes
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XXX Crónica Nº 30 Facebook – José Gameiro 11 de Outubro de 2017
Os afamados Vinhos Licorosos “Torroaes” A segunda metade do séc. XX, ainda estava no início, havia pouco tempo que tinha sido inaugurada a ponte de Vila Franca, o transito já tinha deixado de usar a travessia do Tejo, utilizando o pontão do Cabo. Em Salvaterra de Magos, a Central das carreiras, era rua Heróis de Chaves, local dos passageiros apanharem a camioneta, que agora já os levava de viagem directa até Lisboa. Na rua, enquanto esperavam o transporte vindo Coruche, era tempo de dois dedos de conversa. Às quintas-feiras, duas vezes por mês, era de ver, Virgolino José Torroaes, homem já de idade avançada, pequeno vitivinicultor da terra, sempre vestido a preceito de fato escuro, com colete, e calçado de botim até ao artelho, de pele fina cor preta. O colete, tapava uma gravata, que descia do colarinho branco da camisa,, Na primeira casa do colete que recebia os botões – lado esquerdo, pendia uma corrente em ouro, que fazendo um desenho de pequeno meio arco, caía no bolso direito segurando um relógio. A miúdas vezes com a mão esquerda, tirava-o e abrindo a tampa ia vendo as horas. Na cabeça, um chapéu preto
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de feltro, com fita por cima da aba, que fechava ao lado num pequeno laço. Numa das mãos segurava, uma bonita pasta de couro, onde transportava os documentos. A sua viagem à capital, destinava-se entre outros assuntos a adquirir na Junta Nacional de Vinhos - JNV, as etiquetas “selos numerados” que serviam de certificação do fabrico, que eram colocados no cimo do gargalo das garrafas, por cima das rolhas, antes de serem lacradas, com um involucro de garantia. A carreira passava pelas 9 horas da manhã, de vez enquanto lá estava também, ancião Manuel Raposo, chefe da família do mesmo nome, que tinham uma Quinta de grande vinhedo lá para as bandas do Escaroupim. O Virgolino, em Lisboa, não deixava de visitar o irmão Carlos, que na rua da Prata, tinha a famosa Ourivesaria Torroaes, por vezes ia até à rua do Salitre, visitar o resto da família no grande Armazém de Vendas por grosso de Mercearias e Vinhos engarrafados, especialmente o afamado vinho do Porto “Kopke”, que à época usava a publicidade “vinho Kopke à vista… . O Carlos Torroaes, antes da abalada para Lisboa com a família, vendeu aqui em Salvaterra a empresa de camionagem – transportes públicos de passageiros, “Salvaterrense” a Alfredo Rodrigues Piedade (Alfredo Calafate). A sua conceituada mercearia na vila, na rua do Pinheiro (agora rua Dr. Miguel Bombarda), chegou a ser explorada pela sua sobrinha – filha do irmão Virgolino: Maria Helena Figueiredo Torroais, casada com Gil Albuquerque, funcionário municipal. O Virgolino, tinha no jovem filho; José Manuel Figueiredo Torroais, “um braço direito”, era um rapaz dinâmico, que se encarregava das vendas dos vinhos, e até das exposições que a
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firma marcava presença, especialmente na Feira do Ribatejo em Santarém. O vinho comum branco e tinto “Botelhas”, fazia parte da produção, onde incluía os vinhos Licorosos: Torroaes, S. Baco, Botelhas, Toiro Real e Aguardente Velha 1910. A colecção de pequenas garrafas/amostras, eram vendidas como uma recordação da terra. A pequena Adega com Caldeira, estava instalada na esquina da rua Alm. Cândido dos Reis (antiga rua S. António), com a rua do Forno de Vidro. O seu mercado tinha procura na região, chegando lá para aqueles lados do Montijo, Uma vez por mês, o José Manuel ia mesmo levar estas bebidas ao Armazém do tio, a Lisboa. O Virgolino, enquanto esperava a carreira, sabendo do meu interesse em saber um pouco mais da nossa terra-mãe: Salvaterra de Magos, não se coibia de ter um palratório, com um jovem adolescente. Numa dessas vezes lá me contou, que quando da construção da nova rua do Rossio, em 1892, ali foi colocada “estacaria” para suportar o pavimento, além do casario num dos seus lados. Quando por volta de 1940, naquela rua ali se abriu uma grande vala para receber as manilhas em cimento para levar o esgoto até à vala real – obra construída pela família Palma, à época pedreiros e muito solicitados pelos executivos da Câmara. Também lá me foi dizendo, enquanto Vereador, sempre foi seu desejo que no outro lado, fechando a rua, sendo terreno público apenas com árvores (choupos) também ali fossem construídas novas habitações * JOSÉ GAMEIRO
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*Garrafeira do Autor
Barris em Madeira - Adega Torroaes 1950
Ourivesaria “Torroais” Carlos Torroaes – Lisboa* Publicidade em 1950
*Cortejo – Feira do Ribatejo 1950
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XXXI Crónica Nº 31 Facebook – José Gameiro 13 de Setembro de 2017 ..
ROLAR BIDONS DE COMBUSTÍVEL (dava recompensa de alguns Rebuçado) Corria o ano de 1940, no Largo da Igreja Matriz de Salvaterra de Magos, ali próximo da sua Torre, no rés/chão da casa onde agora está instalada a Ourivesaria Leandro, na sua frente existiu uma bomba de Gasolina e Gasóleo, da firma Almeida & Rodrigues, com Mercearia e Padaria, mesmo ao lado, tendo entrada na esquina, com a rua Machado Santos (antiga rua Direita). Aqueles dois proprietários além da venda a retalho, tinham o abastecimento de Tabaco na zona. O Azeite, era vendido à clientela através de uma pequena bomba manual, instalada no meio do balcão do estabelecimento. A medida era controlada através de um visor que ia de um decilitros ao litro, Com igual medida, num outro espaço do canto do balcão, estava uma outra bomba para fornecer o petróleo. Naquele tempo a firma, recebia o combustível (Petróleo, Gasóleo e Gasolina) através de um barco apropriado, que o povo chamava de “Gasolineiro”, vinha de Lisboa duas vezes por mês, de Lisboa,
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através do rio Tejo / Vala real, e descarregava os bidons em ferro, no cais, levando de volta os vazios. O rapazio da vila, que já andava na escola, tinha o hábito de passar a palavra entre eles, da chegada daquele barco, era sinal de rolando aqueles bidons de 200 litros cada, (tinham dois aros em ferro que facilitavam o rolar) até à Loja Almeida & Rodrigues, através da rua Direita, recebiam algumas guloseimas, especialmente rebuçados. Com a construção do novo cais, em 1943, foi instalado através da muralha, uma passagem pela estrada, de uma larga canalização em ferro ( que dava passagem à uma tubagem), que desde o barco cisterna, abastecia três grandes Depósitos, ali construídos ao lado. Os rapazes, ia-se renovando naquela “fadiga” de rolar os bidons agora cheios naqueles depósitos, quando solicitados especialmente pelo sócio: Rodrigues, homem já de idade avançada, que sofria de surdez, mas com um aparelho auditivo no ouvido. Por volta de 1953, foi a minha vez, pouco trabalho tive e os meus companheiros de brincadeiras, moradores por ali, de rolar aqueles bidons para receber a recompensa dos tão desejados rebuçados. A brincadeira de rolar os bidons, já era escassa, até porque a navegação dos barcos aportados naquela Vala Real, estava pela hora da morte, devido à inauguração, em 1951, da nova Ponte de Vila Franca. Uma Bomba de Combustíveis, do Amadeu Palmeiro, foi instalada na Avenida, ali junto à Escola Primária, que mais tarde foi pertença de Mário Maymone Madeira, e instalada ali próximo do edifício da Casa do Povo
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Uma concorrente existia alguns anos – José Sabino de Assis, instalou junto à Praça de Toiros, na EN 118, e passou a explorar um moderno serviço de Abastecimento, Uma década depois, o trabalho na Vala Real, foi escasseando os barcos foram desaparecendo, e o cais ficou vazio de mercadorias. O rolar bidons, à muito tinha passado à história, o transporte era agora com modernos carros cisternas. JOSÉ GAMEIRO Fotos: 1) Bomba de Abastecimento * 2) Bidon em ferro com Aros: retirados do Fb
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Bibliografia Usada: Documentos do autor, guardados no seu espólio durante cerca de 50 anos, e que foram servindo para vários textos publicados em Jornais e Revistas. Mais tarde, em 2007, usados nos textos dos Cadernos de Apontamentos, do Nº ao Nº 45, que integraram a feitura da Colecção “Recordar, Também é Reconstruir” Foram usados também nas edições de livros, publicados nas redes sociais, nos Sites abertos em: www.historiasalvaterra.blogs.sapo.pt e José Gameiro Issuu, Com o uso do Facebook, estas histórias verdadeiras, construídas e contadas em pequenas Crónicas, que aqui foram desenvolvidas.
Fotos Usadas:
Do Autor e do Facebook
Títulos de Livros e Autores, que registei com agrado, fruto de constarem nas Bibliografias, por terem usado os documentos, arquivados, fruto das pesquizas, e publicações editadas pelo autor: *O Real Teatro de Salvaterra de Magos – autor; Aline GallaschHall de Beuvink *Através dos Campos do Ribatejo – Autores Texto, Joana Gonçalves e Maria Teresa Vieira Pereira * Fotografia: Joana Coimbra *Apontamentos Históricos do Concelho de Salvaterra de Magos (1951-1976) * Inauguração do Parque Infantil de Salvaterra de Magos – edição Câmara Municipal de Salvaterra de Magos – Pág. 36/39
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**************************** INDICE: *XVII – Os Moínhos de Salvaterra ! ………………….. ……………… Pág. 8 *XVIII - Os Orgãos de Tubos da Vila ! ………………………………. Pág. 11 *XIX - A Marreta que destruiu o Muro do Jardim …… Pág. 14 *XX - O Vitorino dos Cadeeiros! ………………………………. Pág. 17 *XXI - O Dezoito, Um Filantropo …………………………………… Pág. 20 *XXII - Os Casamentos, em Cortejos de Carroças …….. Pág. 24 *XXIII – As Boticas em Salvaterra ! ……………………………… Pág. 27 *XXIV - Os Dias que Seguiram ao 25 de Abril de 1974 .. Pág. 34 *XXV - Os Parodiantes de Lisboa (Ruy e José Andrade) Pág. 39 * XXVI – A Propósito de Toiros em Salvaterra …………… Pág. 42 *XXVII – A Dinastia Roberto(s) – Uma Família Toureiros Pág. 46 *XXVIII – O Correr da Corda ! ……………………………………… Pág. 49 *XXIX – Uma Lembrança/ ou Uma Homenagem ………… Pág. 53 *XXX – Os Afamados Vinhos Licorosos “Torroaes” ……. Pág. 56 *XXXI – Rolar, Bidons de Combustíveis ………………………. Pág.60 **************************
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