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José Gameiro Desde menino de escola, já gostava de fazer textos, um dia ainda jovem leu documentos históricos nos arquivos municipais, foi um ponto de partida para fazer Crónicas da história local. Depressa iniciou a sua colaboração em Jornais e Revistas da região, que em 2014, já tinha 50 anos.
José Rodrigues Gameiro, sendo autodidata, é conhecido pelo nome que assina os seus textos. A recolha de informações da cultura popular, foi junto do povo de Salvaterra de Magos, sua terra-natal, onde dedicou mais de 50 anos. Em 21 de Setembro de 2914, foi alvo de reconhecimento público, com homenagem pelo município local.
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SALVARERRA DE MAGOS Crónicas do Nosso Tempo Autor: Gameiro, José Editor: Gameiro, José Rodrigues Edição: Papel A5, e Sistema Digital Tipo de Encadernação: Papel Bruxado Morada: B.º Pinhal da Vila – Rua Padre Cruz, Lote 46 -1º Localidade: Salvaterra de Magos Código Postal: 2120-059 Salvaterra de Magos *********
* Tel. 263 505 178 * Telem. 918 905 704 E-mail: josergameiro@sapo.pt *********************
O Autor não segue o acordo ortográfico de 1990 *********************
Abril 2019
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FOI APENAS UM SONHO !... Tudo começou em setembro de 2007. A ideia de usar as redes sociais, fervilhava, e tantas memórias havia de um tempo, que se entrelaçavam com a história de Salvaterra de Magos .Guardamos desde sempre os escritos de relatos de experiências vividas, e que já tínhamos publicado em Jornais. São agora documentos que ninguém já lê, porque no tempo que passa é aborrecida folhear um livro. As novas tecnologias digitais estavam aí, não as conhecia, e um dia veio a oportunidade, o meu sobrinho Cláudio Gameiro; lá abriu o blogue: http://www.historiasalvaterra.blogs.sapo.pt Com o passar do tempo, agora já mais lesto no usar destas novas tecnologias digitais, abrimos o site: “José Gameiro issuu”, um espaço ideal, para darmos a conhecer os nossos pequenos textos compostos em Cadernos e livros, e neles
7 incluímos o espirito da “Crónica”, texto mais completo dos Post que publicamos no Facebook. O mais importante era que o conto fosse um diálogo com o leitor, onde o relato, e a linguagem, simples me saísse espontânea, de fácil entendimento. Nunca pretendemos escrever aprofundando assuntos sobre história local, que aliás não sabemos dominar. O leitor, decerto aqui vai encontrar em jeito de conto simples, não de fábulas, e porque tendo nós num ou noutro assunto “bordejado” desde o património, à cultura, mesmo a etnografia das gentes que fazem parte do concelho, de Salvaterra de Magos. Assim, vamos dar início à publicação do III Volume “Crónicas do Nosso Tempo”. Sempre tivemos a noção, que é um trabalho que deveria ser feito no apoio de melhor formação académica. Mas foi apenas um sonho de um autodidata, e assim peço aos meus litores, a necessária benevolência. 16 de Abril de 2019 José Gameiro (José Rodrigues Gameiro)
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Crónica Nº 32
Facebook – José Gameiro 31 de Março 2018
COMER TORRICADO NO CAMPO Naquele ano de 1950, a chuva no Outono, como sempre já se começava a sentir nos últimos dias de Setembro. Tinham terminado as vindimas, e a ceifa do Arroz, nos canteiros do Paul de Magos, já era difícil para os ranchos, a água dava pela canela. Como chovia sem parar depressa todo o campo, ali para os lados da
10 borda de água, sentia o efeito do transbordar do rio Tejo. Esta cheia, foi de pouca dura, mas uma outra lhe sucedeu, que durou várias semanas. A água vinda do Tejo, submergiu as terras e juntou-se à que vinha do campo, do lado da charneca – o valado da Vala real tinha rebentado, na zona da Ponte da Madeira. Depois daqueles constantes dias de chuva, os meses passaram e os terrenos começaram a enxugar, em Março foi tempo das reparações. Os agricultores, dos campos de Salvaterra, depressa tinham escolhido na vila - os afamados valadores, muito conceituados no Ribatejo, apoiados por ranchos de mulheres com as paviolas de terra. Os homens, usavam as pequenas pás de valar, e lá reparavam os vários rombos no curso do valado, até à ponte junto ao cais dos barcos. À hora do almoço, não deixavam de comer uma refeição ligeira, muito usada e apreciada
11 pelas gentes rurais aqui desta zona da Lezíria ribatejana - o Torriscado. Uma mulher, acendia a fogueira, e depois já com brasido bem vivo – o homem cortava ao meio um pão de uma semana de cosedura, e feito uns pequenos quadrados no miolo com a navalha, usava uma vara de Loureiro/ ou Salgueiro - para suportar o peso da fatia do pão a uma distância apropriada (vergando um pouco), o pão sob vigilância aloirava, já bem torrado, era untado com toucinho cozido (muitas vezes de vários dias), ou na sua falta usava-se azeite. O torricado, ainda bem quente – as fatias eram acompanhados com chouriço de carne/ ou de sangue (cosido de refeições anteriores), em rodelas. Ainda se usava uma posta - fina, de bacalhau cozido em dia anterior/ ou assada no mesmo lume brando. Esta refeição, era acompanhada de vinho/ ou água-pé, que corria pela garganta abaixo, com o garrafão deitado no braço.
12 No decorrer da década de 50 do séc. XX, numa parcela de terra da família Costa Ramalho, ali junto do Dique, (lado Norte estrada do Escaroupim), em terra arenosa que “recebia” a frescura da bacia do Tejo, a água encontrava-se a pouca profundidade, alguns rendeiros, especialmente de origem rural, tinham a li a sua boiça – pequeno hortado e algum arvoredo de fruto. Meu pai, tinha ali, a sua boiça, e muitas vezes ali fez o seu Torricado, forma de alimentação, que um dia usou quando trabalhador do campo. *José Gameiro
Fazendo Fogueira – para Torricar Pão * Pão Torricado com Azeite e Alho * Fotos António Oliveira (Rancho – Granho)
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Crónica Nº 33 Facebook – José Gameiro 02 de Abril de 2018
O GIL ALBUQUERQUE, Senhor de provecta idade – faz hoje 97 anos. A guerra mundial (1914-18) tinha acabado em 11 de Novembro. A população portuguesa sofria os seus efeitos – a pobreza grassava nos lares, especialmente nas gentes rurais. Um dia um jovem casal de Penalva do Castelo, emigrou e foi de abalada até aos EUA, em busca de melhor vida. Instalados em New Bedford, aí nasceu o filho; Gil Albuquerque, em 2 de Abril de 1921, sendo
14 registado como cidadão português. Com o filho, ainda bebé de 3 meses de idade o casal regressou a Portugal, para aquela vila da região de Viseu, e ali frequentou a escola, viveu a meninice e adolescência. No último ano da década de 40, o Estado, através da Hidráulica do Tejo, estava melhorando o acesso de Salvaterra ao Escaroupim, cuja obra incluía uma estrada acima do nível das terras. O Gil Albuquerque, já jovem adulto foi um dos Fiscais daquela empreitada, e depressa ficou por Salvaterra de Magos. Entrou para o quadro da Câmara Municipal de Salvaterra, para Fiscal de Obras, função que desempenhou durante alguns anos, deslocava-se pelo concelho usando uma bicicleta a pedais. Enamorado da Jovem Maria Helena Figueiredo Torroais, com ela casou em 1952. Do casamento, nasceram os filhos; João Torroais Albuquerque, o Carlos e a Maria da Graça. O marido ainda trabalhou na firma: Industrias Alimentares de Salvaterra: de
15 João Rocha e Melo, dedicava-se à desidratação de produtos hortícolas e secagem de cereais “Fibra Flakes”, e ela A esposa, Maria Helena Figueiredo Torroais, tinha uma Loja, na antiga rua do Pinheiro, na vila, que vendeu a João Batista Miranda (O Massarongo) e à esposa Glória Carinhas, O Gil, levando a família foi até Lisboa trabalhar no Armazém da firma Oliveira&Torroaes, que o tio da sua esposa, Carlos Torroaes, explorava na venda de Mercearias e Vinhos engarrafados, na rua do Salitre, onde esteve até à sua reforma. Anos depois já com tempo livre das lides do trabalho, e ainda “desempoeirado”, sendo adepto fervoroso do clube Benfica, e vivendo perto do estádio diariamente ali marcava presença, vendo os treinos da equipa de futebol. Agora já Ancião, o Gil, vive com sua esposa, A Maria Helena, agora de 89 anos de idade. Na minha juventude convivi com o Gil Albuquerque, também me associo à festa, com a amizade de sempre, desejando que
16 hoje, apague as 97 velas, num bolo de aniversário recheado de parabéns, junto de sua família, com desejos de longos anos de vida. *José Gameiro
Fotos cedida pelo filho: João Albuquerque
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Crónica Nº 34 Facebook – José Gameiro 08 de Abril de 2018
UM COWBOY DO RIBATEJO Correia o ano de 1983, estava-se em Setembro - era tempo de férias em Portugal. No aeroporto de Lisboa, o chapéu texano na cabeça de um corpo alto, mas franzino, chamava a atenção dos passageiros na sala de embarque. Enquanto esperavam a chamada do voo para os EUA, um deles – Ferreira Pinto, meteu conversa e foi o bastante para aquele Jornalista tomar notas, e José Carlos Almeida Ganhão, teve foto na
18 capa do Jornal Tal & Qual, e encheu a página 4, da edição Nº 168, daquele semanário lisboeta. O José Carlos, aos 12 anos foi até Rio Maior aprender o ofício de Alfaiate. Já em Lisboa na firma Lourenço & Santos, conheceu uma costureira/modista, com quem viria a casar, e ainda hoje é sua mulher. Na cidade lisboeta, um capitalista americano, entrou na Loja e queria fatos feitos pelo Alfaiate; Ganhão, pois tinha boas referências. Foi através daquele, que José Carlos e a esposa, foi de abalada até aos EUA, e em Nova Iorque, trabalharam na firma francesa Guy Laroche. Convidados para trabalharem na Neiman Marcus, em Dallas, aí começa a fazer o vestuário para os artistas da série americana “Dallas”, conhecendo pessoalmente os artistas; J.R. e o seu irmão Bobby, daquelas filmagens, no Rancho de Southfork, conheceu e trabalhou para outros actores, como o Jerry Lewis. Depois de muitos anos
19 em terras do Tio Sam, regressou com a esposa, e sem filhos, aqui a Salvaterra, sua terra natal, e vai passando os seus dias de velhice. Como sou amigo de longa data, do José Carlos Almeida Ganhão, lá nos vamos encontrando nos nossos passeios matinais, fazendo-se ele acompanhar do seu pequeno e fiel companheiro – o cão!.. *José Gameiro
Jornal Tal&Qual
José Carlos A Ganhão Foto: Autor
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Crónica Nº 35 Facebook – José Gameiro 13 de Abril de 2018 QUANDO HAVIA FORNOS DA CAL No ano de 1955 com os dias solarengos, anunciando que o Verão não estava longe, a população da vila já estava habituada a ouvir o barulho das explosões não muito fortes e intensas que se faziam ouvir para lá da Praça de Toiros – era quando as pedras de calcário se partiam na cozedura, no forno da cal, que existia ao lado do cemitério. Manuel José Gonçalves, num seu terreno explorava um forno, e fabricava alguns derivados, como a cal liquida e em pó. O seu filho; Júlio Gonçalves, além das vendas, também tinha contactos com os fornecedores nas pedreiras de Rio Maior.
22 O Forno era uma construção artesanal em pedra – já limpa do calcário (negra, e com cor acinzentada), até uns 3,4 metros de altura, após o nível do solo, terminando a sua forma abobadada com um grande buraco para respirador dos gazes. Coberto com terra onde crescia a erva. As pedras calcárias usadas na cozedura, desfaziam-se na temperatura entre 800 a 1100º C. O fogueiro, Aníbal Silva, homem já de idade respeitável, era conhecido pela alcunha “Aníbal Pedregulho”, talvez pelo trabalho que desempenhava, ou por ser baixo, e ter barriga deselegante, era homem experimentado na sua faina e tinha alguns ajudantes. Por vezes de tarde, quando eu, dava de comer aos 2 porcos que meus pais tinham de engorda numa pocilga, entre muitas existentes, no terreno municipal, atrás do cemitério, lá ouvia o Aníbal, ralhando com o rapazio das barracas, um Aglomerado que
23 se formava por ali – para aproximarem daquele perigo!,,,
não se
Um dia também me afoitei, e estive por perto a ver – Homens com paviolas de madeira, atirando pedras para o lume. Ali, também existia um armazém, com pequenas pedras já em cal, e bidons com cal liquida e em pó. Um outro guardava a lenha, para ser queimada. A Cal era vendida à Arroba (15 quilos) a 3 escudos e 50 centavos. A pedra queimada estava em vários montes, para venda - era usada nos cabocos das construções. Os derivados da cal (pedra e massa), também eram vendidos na vila, pelo taberneiro; António Ramalho - o António Maceira. Quando se pretendia dar cor à cal, usavam-se óxidos, corantes que se vendiam nas Lojas de Drogarias e Ferragens. Era tradicional aqui em Salvaterra, o uso da cor azul nas barras das Casas de Habitação. Palheiros e Adegas. Os agricultores também usavam a cal em pó para “temperar” as terras.
24 Em Abril de 1957, quando eu, já trabalhava nas Central das carreiras, vi os meninos e meninas da escola com suas batas brancas, em cima de um grande morro, a um canto do muro da antiga Horta do Sopas – frente à EN 118 e Praça de toiros, acenavam com pequenas bandeiras portuguesas e inglesas, a rainha Isabel II, que estava de visita oficial a Portugal. Anos depois, já colaborador do jornal “Aurora do Ribatejo”, fiz uma procura sobre a existência de Fornos de Cal na vila. Além daquele da família Gonçalves, já apresentando alguma ruína (não trabalhava), vim a saber pela voz de António Santos (António Béu), pessoa idosa, que por volta de 1930, no morro – ao canto da antiga horta do sopas, foi sitio de um forno de cal, que ouvia aos mais antigos que vinha dos tempos, em que Salvaterra teve um forno de vidro, conhecido entre os séc. XV e XVI. Na década de 80 do séc. XX, os anexos do antigo Forno, da família Gonçalves
25 serviam para o Júlio, explorar uma vacaria que produzia leite, que vendia à Cooperativa de Coruche. *José Gameiro * Foto: Publicidade de 1936
* Fotos Restos do Forno da Cal *do Autor - 1977
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Crónica Nº 36 Facebook – José Gameiro 14 de Abril de 2018
O QUE RESTA DAS CHAMINÉS, que foram das cozinhas do Paço real de Salvaterra de Magos. O Paço real de Salvaterra, foi desaparecendo aos poucos. Após os incêndios, pouca reparação teve e o tremor de terra de 1858, também ajudou ao seu desaparecimento, e da Casa da Ópera. Do património, que vinha do séc. XVIII, Salvaterra apenas mostrava para memória futura, a Capela, o edifício da Falcoaria, e duas grandes chaminés que foram das suas cozinhas do Paço real
27 A venda da pedra foi parar à construção e serviu também para empedrar algumas ruas da vila. No início do séc. XX, por volta de 1900, no seu espaço foram construídas duas grandes obras – Adegas e Celeiros. Manuel Vieira Lopes, homem com o ofício de Ferreiro, acabado de regressar da França, onde esteve como soldado no II conflito Mundial, no tribunal de Coruche comprou, em venda pública, parte do terreno, onde instalou a sua oficina e abriu uma Taberna, ali vendendo acessórios para uso na agricultura – como: charruas. As mobílias de madeira, e bicicletas, tinham outro espaço, onde nalgumas prateleiras, estavam patins para alugar, na aprendizagem num Ringue, construído em cimento. Depois da sua morte, em 1944, os filhos sob a orientação do mais velho; Joaquim Conceição Lopes, passou a orientar a casa, e depressa fecharam aqueles negócios e construíram o Café Ribatejano, que abriu em 1955. Constituída a firma Manuel Vieira Lopes & Filhos, Ldª, um novo empreendimento esteve na mira da nova sociedade comercial, e construíram o Restaurante Típico Ribatejano, onde
28 incluíram o interior das antigas chaminés, como salas. Conservadas aquelas antigas construções régias, viram as mesmas serem incluídas no património local, com o titulo de interesse público. Com a morte de Joaquim Lopes, o Ribatejano, veio a fechar por volta de 1985, os descendentes conservaram no espaço todos os seus utensílios. Uma nova urbanização, para habitações veio a ocupar o espaço onde tinha existido uma grande Adega, construída por António Jorge de Carvalho. A sua autorização, comprometeu o executivo municipal, pois na limpeza de terras, provocaram graves danos nas fundações das antigas Chaminés, que poderiam levar à sua ruína. A família Lopes, por intermédio de António Joaquim Marques Lopes, não encontrando apoio municipal, recorreu judicialmente e depois de cerca de 12 anos de espera veio a sentença favorável, num despacho judicial do tribunal de Santarém. Agora, apoiados pelo apoio técnico do Eng.º Válter Lúcio, recorreram para o Tribunal da Relação de Évora, para a forma, e quem fará a restauração daquelas
29 chaminés – património oficial construção vem do séc. XVIII *José Gameiro
cuja
Fotos: Exterior e Interior das Chaminés - 1959 * Máquinas no terreno – Danificaram as Chaminés - Autor 2003
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Crónica Nº 37 Facebook – José Gameiro 01 de Julho de 2018
PROVÉRBIOS E DITOS POPULARES, Contos e Lendas, ainda o povo os contava no dobrar do séc. XX, eram ditos populares, que se ouviam de avós e pais à lareira nas noites de Inverno e nas horas de sorna dos trabalhos do campo. Vinha já do inicio desta centúria de anos, que outros grandes ranchos de mulheres, vindos das Beiras, para trabalhos sazonais na Lezíria, traziam provérbios das suas
31 terras, que se juntavam, com os das gentes da borda de água. Naquele mês de Janeiro de 1965, dias antes da partida para o serviço já escrevia para o Jornal "Aurora do Ribatejo", e ainda fiz algumas recolhas junto dessas mulheres, que por aqui ficaram casadas. Eu, vim desse povo rural – minhas avós eram de entre Leiria e Pombal, e por serem analfabetas - também tinham uma forma de contarem os meses, com a ajuda das nós dos dedos dobrados. *Ouvir os provérbios - haviam bons contadores de histórias, era uma delicia ouvi-los!... Muitos anos passaram, agora guardo-os nos meus Livros, para que não se perca, muita da riqueza cultural, deste povo de Salvaterra de Magos, e entre as Rezas e Benzeduras, nos Ditos Populares, destaco:
32 * Janeiro, fora já há mais uma hora* mas quem bem contar, no fim do mês hora e meia, há-de achar!... ( luz do dia solar)
* Nunca, o invejoso, medrou - Nem quem, ao pé dele morou!.. * Mulher gordinha, é bem invejada - Quem a dera ser minha amada ! * Se é magra, dela estão à espreita - Pois gordinha, depressa se ajeita!.. * Há um mês com três Santos, um outro mais pequeno, tem o Carnaval - Contando e descontando 6 meses passados, já estamos no Natal *Com ventos do Norte, e Nordeste -Não traga feixes à cabeça, nem pesque * Lua cheia, em Março, com arco longe - Trás aviso que a chuva está perto!... *Quando o dote, não vai com a noiva -Tarde, ou nunca chega !... José Gameiro
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Contar os meses, pelas nozes dos dedos
Separar o Olho de Azeite – tirar o quebranto
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Crónica Nº 38
Facebook – José Gameiro 02 de Julho de 2018 *Recordações
BEBER LEITE DA GARRAFA, dava pelo menos, receber um grande "sermão", até porque eu já tinha aí os meus 7/8 anos de idade, e o meu irmão bem precisava de bebe-lo. O séc. XX estava a
35 meio, a população de Salvaterra de Magos, comprava o leite durante a parte da manhã. Várias vendedoras (donas, ou familiares das vacarias existentes na terra) lá andavam pelas ruas com as vasilhas municipais (lacradas com selo de chumbo) nos braços, depois de as suas terem sido trocadas na casa do peso, na Trav. do Secretário. Meus avós paternos, viviam no Rego da vila, ali tinham algumas cabeças de gado (vacas, ovelhas e cabras), Gente havia que lá ia comprar a tirar das tetas dos animais. Meus avós, ofereciam ao meu mano uma garrafa de leite diariamente. O meu encarrego, era ir buscá-lo morávamos no Botaréu, junto à Capela da vala. Ao chegar também bebia um púcaro, que ordenhado dos animais quentinho que ele estava. De regresso, logo ao entrar na estrada de cimento (EN 118), frente ao Massapez, lá ia uma golada - estava ainda morno. Já no Largo do Lopes, muitas vezes estava a garrafa vazia, lá voltava eu atrás para nova "remessa" de leite. O ralhe-te começava ai, e por vezes em casa. Foi assim durante largos meses,
36 enquanto o meu querido mano Cassiano, bebeu aquele precioso alimento. *José Gameiro
José Gameiro e Avós Paterno * Irmãos Cassiano e António Miguel Gameiro (a mãe Felisbela Vigiando) * Fotos Autor
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Crónica Nº 39 Facebook – José Gameiro 05 de Julho de 2018 *Recordação
A ÚLTIMA FOTO DA CLASSE, das cinco que deveria ter quando frequentei a escola primária - Presidente Carmona, ali ao fundo da avenida da vila. Durante anos, foram guardadas com carinho num álbum, por vezes emprestadas, para reprodução, um dia destes na
39 arrumação dou por falta de três, no meu arquivo. Era uso naquela época, ao iniciar-se o ano escolar, nos primeiros dias de aula, lá vinha manhã cedo o homem das fotos, Naquele último ano da 4ª classe, até porque a turma tinha repetido a 3ª, passando do Prof, Armando Miranda para Profª Natércia Assunção, lá apareceu, vinha como sempre de bicicleta, homem franzino de corpo e altura tacanha. Usava boné na cabeça, a tirar para a cor preta, talvez pelo muito uso, casaco largo com os movimentos por vezes lhe tapava um colete, onde num dos bolsos pendia a corrente do relógio. Vinha dos lados do Cartaxo, pela banda da vala, depois de atravessar o Tejo na barca da Palhota. Os apetrechos eram poucos, um tripé de madeira, para a máquina das fotos, dentro de um balde de zinco trazia alguns frascos com líquidos, e a caixa de cartão com papel das fotografias (tipo bilhete postal) vinha no suporte atrás do selim.
40 De uma assentada falava com os professores da Escola, confirmando conversas de dias antes – o alpendre do edifício depressa estava agitado, os rapazes de cada classe ajeitando as batas de pano branco, ficando alinhados conforme indicações dos educadores. Na minha classe era a professora – Natércia Assunção. O homem metia cabeça dentro de um saco de pano preto daquela caixa de madeira - o "boneco", estava feito. Umas horas depois já pendiam num cordel, amarrado às arvores, uma grande quantidade de papel ali secava - uma foto por cada aluno, já tínhamos entregue o dinheiro aos professores. Nesta última da 4ª classe - passados tantos anos, estou vendo se me recordo dos colegas de escola, tantos eram a " canalha reles" de outros tempos, como carinhosamente nos tratava a nossa educadora, em momentos de grande enfado,
41 Eu estou na última posição - primeira fila; baixo para cima José Gameiro
Fotos Autor: 1ª Classe 1951 * 4ª Classe 1955 * Alpendre da escola * Grupo Antigos Alunos Homenagem Profª Natércia Assunção
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Crónica Nº 40 Facebook – José Gameiro 04 de Julho de 2018
UM DOS ÚLTIMOS CINEMAS, em Salvaterra de Magos. Por volta de 1929, ali pegado à Capela real, uma sala que para além de servir para a representação teatral,
43 do Grupo de Beneficência da terra, também no tempo de Outono/Inverno, os ambulantes, usavam-na para a exibição de filmes (alguns não eram sonoros). Lá em baixo junto do edifício religioso da Capela, ao lado do portão da entrada da Horta d`rei, um motor de uma moagem, abastecia a energia para a máquina de projectar. Na época do Verão, o público, assistia aos filmes no “Canto da Ferrugenta” uma esplanada, ajeitada a primor. Com a década dos anos 40 a iniciar-se, o benemérito, lavrador: Gaspar da Costa Ramalho, aproveitando um seu celeiro, na rua Machado Santos (antiga rua de S. Paulo), construiu e ofereceu aos Bombeiros da terra um novo Cineteatro. Uma Esplanada, para exibição de filmes na época de verão, foi aberta, na rua João Gomes, uma iniciativa de Joaquim Martins Madeira, que vinha explorando o “velho” cinema.
44 Em 31 de Maio de 1959, a firma: Manuel Vieira Lopes & Filhos, construiu uma nova sala de cinema em Salvaterra, inaugurando assim, o "Cine-Esplanada Conde D`Arcos". Joaquim Conceição Lopes, gerente daquela firma comercial, procurou junto dos bombeiros voluntários, adquirir o alvará do “velho” cinema, mas nos arquivos da Associação, verificou-se que a necessária licença passado pelo Governo Civil de Santarém, desde o seu início estava na situação de “Provisória”. *José Gameiro
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- Casa (Teatro Os Amarelos) * Esplanada “Canto Ferrugenta� * Cine Teatro dos Bombeiros * Cinema Conde Arcos Fotos: Autor
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Crónica Nº 41
Facebook – José Gameiro 07 de Julho de 2018
OS COMPANHEIROS DA ALEGRIA, em 1951, actuavam na final de cada etapa da volta a Portugal em bicicleta. Devido ao êxito alcançado, aquela Companhia de Artistas, sob a direcção de Igrejas Caeiro, após aquela competição desportiva, foi solicitada para actuar no país, esteve em Salvaterra, incluída no seu roteiro
47 em Agosto, daquele ano. O Café Ribatejano estava em construção, o antigo Ringue de patinagem (em cimento) da família Lopes, foi o espaço usado para os Companheiros da Alegria. No decorrer do seu espectáculo, havia dois números com a participação do público. “Tem um Minuto, para mostrar o que Vale!... e Adivinhe se é capaz!,, * Seria em palco; Homens a passar roupa ao ferro, e um outro e de cultura geral. A pergunta, foi feita: - Quem sabia da história de Salvaterra. - "Qual o nome da Escola Primária, existente no Largo ali em frente". - O jovem José Caleiro Oliveira, levantouse entre a assistência e disse: "Escola O Século!...", com a resposta afirmativa - Foi premiado com uma nota de escudos. *José Gameiro ***************** ***********
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Crónica Nº 42 Facebook – José Gameiro 23 de Julho de 2018 Pe. JOÃO ANTÓNIO DA COSTA FERREIRA, viveu uma meninice pataca, cheio de alegrias, igual às outras crianças da sua terra, e desde sempre, manifestou interesse às manifestações da sua Igreja, como os Escuteiros, onde pertenceu à classe dos Lobitos. Acabado o ciclo escolar, entrou no seminário. Anos depois já preparado para seguir os caminhos da sua Igreja, o
50 seminarista João Ferreira, celebrou na Igreja do Seminário (Sé de Santarém), a missa que o levou a recebeu acção do Espírito Santo. Na sua terra-natal, Salvaterra de Magos, já como padre, celebrou a sua missa nova na Igreja Matriz da vila, o templo repleto de familiares e amigos, assistindo à sua assembleia, vendo-se entre dezenas de padres e seminaristas, o Bispo Auxiliar de Lisboa, D. José Policarpo em representação do Bispo de Santarém, a garantir-lhe portas abertas e disponíveis da nova missão agora iniciada. O tradicional gesto de beijar as mãos do novo sacerdote também se concretizou após a bênção final, da família e amigos, neste novo passo da sua vida ao serviço da fé religiosa de Roma. Foi curta a sua permanência nesta vida terrena, faleceu em Lisboa no dia 29 de Julho de 1979, e encontra-se sepultado no cemitério de Salvaterra de Magos *José Gameiro
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João Ferreira – Celebrando a sua Missa em Salvaterra * Foto do Autor
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Crónica Nº 43 Facebook – José Gameiro 27 de Julho de 2018
JÁ SOMOS UM NADINHA, mas decerto aquele povo de onde eu vim também diria “ já somos tão poucochinhos “, foi o passo de uma conversa – daquelas que temos, até para sabermos das melhoras das maleitas que nos apoquentam. O interlocutor, é o meu amigo de infância; João José Naia Tavares, até porque agora vivemos juntinhos de porta. Por vezes, às segundas-feiras, lá temos a companhia do seu primo, o Pe. Manuel
53 Naia, que vem de Lisboa, até Salvaterra visitar, a família. Numa daquelas falas, entre os três que descambou em recordações, levou-me mais tarde a “matutar”, agora que é Verão e tempo de férias escolares, recordando aqueles dias longos de Junho/Agosto, com o calor apertar desde manhã, entre a escola e as tarefas familiares, havia mais horas de brincadeiras. Quando acabámos a escola ao fim da 4ª classe (escolaridade que tenho), cada um foi à vida. Alguns emigraram, e estão pelos 4 cantos do mundo – nunca mais os vi. Outros, já deixaram a vida terrena!.. Aquele arraial de rapazes que brincava no Botaréu, no adro em frente à Capela da Misericórdia de Salvaterra de Magos naqueles dias, por momentos, tínhamos a companhia dos “meninos” da família Sousa – eram 3 rapazes e uma rapariga. Só um deles mostrava ser mais “franzino”, os outros eram bem rechonchudos de corpo. Também estavam de férias escolares – vinham de Lisboa, poucas vezes a Salvaterra durante o ano. Depois das suas
54 visitas pelos campos da família, lá se juntavam a nós – e até já sabiam o nosso nome. Meia tarde, as criadas, lá os chamavam – para o lanche. entravam pelo grande portão de ferro, traseiro da abastada Casa da sua família, Oliveira e Sousa. Eram momentos que podíamos ver os muitos Pavões, que por ali andavam à solta - bonitos que eles eram, especialmente quando os machos abriam as asas e a cauda, mostravam um penacho na cabeça. A mãe deles: senhora jovem com bom porte senhoril, depressa dava a ordem – tragam os rapazes que aí estão brincando e deem-lhes também um lanche!,,, - Depressa um naco de pão, barrado com marmelada, e outros doces era distribuído pelo pequeno grupo que por ali andava jogando o “pé cochinho”, nas lajes de pedra no botaréu da capela. - Para muitos de nós, eram acepipes. Muitas dezenas de anos já passaram. O João José, agora médico Veterinário, está radicado aqui em Salvaterra, e vive naquele bonito palacete – uma construção que
55 lembra o início do séc. XX, onde zela também pelo património rural da família. Ao longo dos anos, lá nos víamos de vez enquanto, não tínhamos uma proximidade pessoal, agora vamos encontrando-nos aqui e ali, e não vai além dos cordiais cumprimentos, quando nos cruzamos. É afável de conversa, contínuo risonho e bom conversador. Há pouco tempo, pediu-me amizade nas redes sociais - foi uma forma de sabermos mais um pouco mais um do outro. Eu, por mim, sei que está imbuído na meritória função de Provedor da nossa Misericórdia, uma instituição de muitos séculos, e que agora está passando por uma crise financeira e estrutural. Um outro irmão, o Eduardo, vou vendo-o nas aberturas dos telejornais, em funções sociais, pois informam que está na presidência da CAP (Confederação Agricultores de Portugal). Vai mostrando uma imagem de grande porte, já o cabelo branco a "visitá-lo", onde um aparado bigode, lembra fotos de algum seu antepassado.
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Que saudades daqueles tempos, em que o rapazio da vala, enchia de vozearia e brincadeiras, aquelas ruas agora desertam quando passamos por lá “matando” saudades. – Realmente as ruas da baixa de Salvaterra, está mesmo sem gente, desertas, o rapazio nem vê-los realmente já somos mesmo um nadinha !... *José Gameiro * Fotos do Autor
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Crónica Nº 44 Facebook – José Gameiro 28 de Julho de 2018 PRAÇA DE TOIROS – A RECONSTRUÇÃO APÓS O CICLONE
Anos depois, os mais antigos ainda contavam na vila, que a “parteira”, Rosa Mendonça, não teve mãos para tanta assistência às “prenhudas” – muita criança nasceu antes do tempo, devido ao Pânico
59 causado, pelo Ciclone que ocorreu no dia 15 de Fevereiro de 1941. Em Salvaterra Magos, a madrugada daquele dia mostrava já um vento com rajadas fortes e uma chuva copiosa, que se foi agravando conforme o dia clareava. Pelo meio-dia, os Vereadores da Câmara de Salvaterra, a instâncias do Governador Civil de Santarém, foram convocados para uma reunião de emergência, para as 2 horas da tarde. Havia já notícias de habitações e anexos, com grandes danos em todas freguesias do concelho. Os ventos que mudavam de direcção constantemente, foram registados em Lisboa 130 Kms/hora, mas zonas houve no país, que 170 foram registados. Com as decisões tomados pelos autarcas, o povo juntou-se para maior segurança no Largo em frente do edifício municipal. Famílias inteiras gritavam que as suas casas, tinham empenas caídas e chaminés desabadas, outros diziam que a Praça de
60 Toiros estava feita em “Cangalhos”, tal era visível a sua destruição. Era uma construção que tinha sido inaugurada 20 anos antes, e grande parte da madeira das bancadas e da ornamentação que a decorava foi encontrada a esmo no Paul de Magos. Os mais tementes, depressa encheram a Igreja Matriz da vila, rezavam pedindo ajuda divina. Os sinos daquele templo, já não tocaram as Trindades (3 horas da tarde). O Sapateiro Francisco Pega, que fazia os biscates de sacristão, não conseguia ter mãos neles, tal era o sufoco dos badalos devido às rajadas dos ventos sendo o seu barulho replicados naquela confusão por outras tantas badaladas na torre da Capela da vala, e nas pequenas sinetas dos edifícios da Câmara e da antiga Capela real. Ao fim do dia e pela noite dentro, aquele vento de terror, foi acalmando, e passou a escasso – a calma voltou a visitar o povo. No dia seguinte, os Jornais davam conta do
61 que se tinha passado em Portugal. Um vento demoníaco e quase, sempre acompanhado de copiosas chuvadas, bateu e estremeceu metade do Pais. Furiosa numa impiedade sem limites, a tragédia ciclónica agitou os rios e revolveu os campos, provocando mesmo mortes e desaparecidos nas zonas urbanas do Litoral. Duas semanas depois, o Governo, através do seu representante de Santarém, ajudou a Câmara que foi fazendo o inventário dos estragos, para apoiar especialmente os desalojados de habitação. Um mês tinha passado, daquela catástrofe da natureza, Jorge de Melo e Faro (Conde de Monte Real) e sua esposa, D. Maria Teresa Castro Pereira Guimarães de Melo e Faro, tomaram a iniciativa da reconstrução da Praça de Toiros, onde tiveram o apoio do benemérito; Gaspar da Costa Ramalho, que ofereceu avultada quantia e outros lavradores da terra, ofereceram toiros para as duas corridas organizadas para o efeito.
62 Nestas obras, foi aproveitado para se construir as bancadas em cimento com pilares de suporte. O interior do edifício foi melhorado, especialmente com novos curros e outros espaços, alguns deles para enfermaria e cavalariças. Em 28 de Julho, 4 dias antes do dia festivo da inauguração, para comemorar o fim das obras houve uma corrida de toiros com as melhores figuras do toureio da época. Neste evento taurino dignou-se assistir o General , António Óscar de Fragoso Carmona, que teve ocasião de ver uma entrada de toiros, pela avenida da vila. O Presidente da República, com a sua comitiva, foi recebido pelas entidades oficiais de Salvaterra, na Fonte das Somas, onde mudou do carro para uma Caleche aberta, da Casa Cadaval, tirantada a 2 bonitos cavalos (um de cor branca e outro a tirar para o preto. O grande desfile integrou campinos, vestindo trajes festivos, representando os
63 muitos lavradores da terra e arredores. Os cavalos, bem escovados seguiam a passo de trote curto, pela nova estrada, EN 118, até à entrada da vila, onde junto à praça de toiros, foi recebido com grande aparato de música e foguetório. No dia seguinte, um festival taurino completou os dois de festa, onde “artistas” da terra, foram acompanhados por um grupo de amigos vilafranqueses, que vieram de barco até ao cais da vala, e daí em cortejo, percorreram algumas ruas da vila. As receitas dos espectáculos - da primeira corrida 13.851$50 e da segunda corrida 115.176$65. foram entregues ao Hospital. *José Gameiro **************** ************
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Nota: Com a devida as fotos, foram retiradas do vĂdeo da Cinamoteca portuguesa.
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Crónica Nº 45 Facebook – José Gameiro 02 de Agosto de 2018
FEZ ANOS, QUE FOI INAUGURADO O NOVO POSTO DA GNR, em Salvaterra de Magos. No dia 1 de Agosto de 1980, os autarcas anuíram às pretensões de uma construção para novo Posto da GNR, local. Um espaço de terreno do antigo Matadouro Municipal, onde já estava
66 instalado o Estaleiro camarário foi o escolhido pelo executivo municipal. Esta unidade policial – de incidência militar, transformada desde 1911, depois da implantação da República em Portugal, tem a sua raiz no longínquo Corpo de Quadrilheiros (Patrulhas), instituído formalmente pelo rei D. Fernando, em 1383, aquando da crise dinástica em que se destacou o Condestável D. Nuno Álvares Pereira. Com o decorrer dos séculos foi-se moldando às necessidades dos regimes monárquicos que foram reinando em Portugal. Já no séc. XX, esta policia militar, estava aquartelada em Santarém, também com uma guarnição a cavalo, em casos de grande gravidade nas alterações nos hábitos sociais, a presença policial, vinha até às povoações, a mando do Governador Civil do Distrito. O Estado Novo, em 1926 com Salazar, a começar como Ministro das Finanças, iniciou em 1933, um regime político autoritário, autocrata e corporativist a, que durou atá 1974.
67 Em 1934, uma greve, que estava proibida como as manifestações, mobilizou através dos Sindicatos; Operários fabris, em Lisboa, Setúbal e Barreio, tendo maior amplitude na Marinha Grande. A mesma CGT (Confederação Geral do Trabalho), conseguiu também uma grande mobilização dos trabalhadores rurais na Lezíria ribatejana - desde a Chamusca, Golegã, Alpiarça, Almeirim, Salvaterra e Benavente, chegando mesmo aos assalariados de Vila Franca. A GNR, força policial – militar, “varreu” durante semanas os campos e prendeu muitas dezenas que foram indicadas como grevistas. Em Salvaterra, também não escaparam à prisão e foram levados para as “masmorras” da PVDE policia politica. (1) Devido a esta altercação social, foram instalados Postos da GNR, nas sedes daqueles concelhos, onde se verificam alterações à ordem instituída. Em Salvaterra, na falta de melhores condições foi instalado no edifício municipal, ocupando o seu rés-chão, tinha aí um espaço para cadeia, até os presos serem entregues ao Tribunal de Coruche. O
68 Posto inaugurado naquele ano de 1980, com o decorrer dos anos, deixou de ter condições para as camaratas dos soldados, que chegaram a usar espaços no edifício da falcoaria e mesmo do antigo hospital da vila. Nos dias que passam, um processo está a decorrer para mudar de local, vai ocupar o antigo edifício escolar “Marechal Carmona” na Avenida da vila. Aguardam-se obras de adaptação. *José Gameiro ******* Nota: (1) - Um dia, por volta de 1968, José Caleiro – antigo trabalhador rural, e preso naquela rebelião sindical, contou-me num pedido de informações que lhe fiz, tendo a conversa decorrido em surdina na casa de sua filha; Adelaide Rita. Algumas outras peças foram publicadas no Jornal Aurora do Ribatejo, cujos textos usava o nome de “José Lopes”, com a conivência do director do mesmo, com a devida cautela da Censura.
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Crónica Nº 46 Facebook – José Gameiro 01 de Agosto de 2018 A PRAÇA DE TOIROS –FAZ 98 ANOS, que foi inaugurada de Salvaterra de Magos. “Estava um bonito dia de verão, eram cinco e meia da tarde de 1 de Agosto de 1920, o povo esgotou os lugares da Praça de Toiros, para estar presente na sua inauguração”. Esta e outras lembranças, José Luís das Neves, contou quando eu e o José António
71 Amaro, então responsáveis pela direcção da página “Jornal de Salvaterra”, que ocupava o fecho do semanário Aurora do Ribatejo, o entrevistamos – uns dias antes, quando dos 50 anos daquela inauguração. Era o único vivente, que tinha pertencido à Comissão, que construiu aquele ex-libris de Salvaterra de Magos. Fomos encontra-lo no Grémio da Lavoura, era seu empregado e já “pesado” de idade, mas “ limpo” de memória, e lá nos contou: “ Corria o ano de 1919, na vila de Benavente andava no ar, o entusiasmo para a construção de uma praça de toiros. Aqui em Salvaterra, de Magos os mais aficionados, ainda se lembravam da existência de uma praça de toiros, uma construção em madeira, que foi explorava várias épocas pela Misericórdia de Portalegre. Na sua taberna – ali na esquina da Trav. do Martins, com a rua Direita, um grupo de gente juntava-se todas as noites, e discutiam apoiando os artistas das arenas portuguesas, e até de Espanha – era uma tertúlia, igual a outras na vila. Um deles não tirava da cabeça a vontade das gentes da terra vizinha, de virem a
72 construir uma praça de toiros, e aqui não existir nenhuma. A inveja já “bailava” na cabeça do homem, Ao comentar com os outros todos “amadureceram” a ideia, que foi avante uns dias depois. O grupo se formou mesmo ali com: Francisco Maria Gonçalves, Augusto da Silva, Manuel Lopes Gonçalves, Luiz Gonçalves da Luz, António Henriques Alexandre, Augusto Gonçalves da Luz, Carlos Alberto Rebelo, Pedro de Sousa Marques, e eu próprio; José Luís das Neves. Depressa fizemos uma “circular” com várias cópias, que circulou por tudo quanto era sitio da vila. José Luís das Neves, contou-nos isto e muito mais. De início, tivemos alguns contratempos, mesmo de lavradores que não aceitaram o entusiasmo do grupo, um deles chegou mesmo a oferecer uma quantia em dinheiro, para desistirem da ideia, pois não acreditavam. Mas esperámos o resultado da circular distribuída à população, que dizia assim: “De há muito que os Salvaterrenses, e outros mais, cuja longa permanência aqui os leva a considerar esta também sua terra
73 Natal, vêm mostrando desejos de voltarem a possuir novamente uma Praça de Toiros nesta localidade. E, para que essa ideia se torne um facto, combinaram os abaixo assinados reuniremse quanto antes, o que fizeram ontem, em casa dum dos signatários, deliberando o seguinte; Procurar levara a efeito a construção desse dito edifício e, uma vez concluído, oferecê-lo ao Hospital da Misericórdia desta vila; Diligenciar falar e escrever a todos, sem excepção, a fim de angariar os donativos precisos para a construção imediata da desejada Praça, ficando todo e qualquer desses donativos à responsabilidade dos mesmos signatários, que prestarão contas no seu devido tempo, se assim lhes for exigido. Inútil será dizer que a construção de tal recinto de espectáculos representará mais um engrandecimento para a nossa terra e uma dádiva, cremos, de importante valor para o nosso Hospital, Casa de Caridade
74 esta que tão digne e merecedora é que a ajudem. Assim, pois, espera a Comissão que todos a coadjuvem, por toda e qualquer forma, procurando vencer sempre dificuldades que apareçam, a fim de se conseguir principiar e chegar à conclusão de tão útil e desejada obra. Nesta esperança e agradecendo antecipadamente, se subscreve com toda a consideração e respeito. Salvaterra de Magos, 18 de Setembro de 1919. A Comissão”. *José das Neves, entre as suas recordações, apoiadas por alguns documentos, que depressa mos ofereceu, quando da referida entrevista, dizendo-me: Estão aqui nesta gaveta há umas boas dezenas de anos!... *Replicando ainda nos disse: - iguais a estes, apenas tinham o Fernando de Sousa
75 Marques, filho do meu amigo Pedro Marques, que de vez enquanto os emprestava a alguns amigos, também foram usados pelo Dr. José Cardador, num livro que escreveu sobre a Misericórdia. Um dia aqueles papéis do Fernando desaparecem de vez!.. *Entre estes do José das Neves, lá estava a cópia de uma carta que foi enviada à Câmara Municipal, na pessoa do seu presidente, pedindo a oferta de um pedaço de terreno, com sessenta metros de diâmetro à entrada da vila, onde estava um resto de pinhal, e três velhos Moinhos já sem uso. Um ofício, com data de 18 de Setembro de 1919, foi dirigido ao Ministério das Finanças, pedindo a decência de pinheiros do Pinhal do Escaroupim, próximo desta vila. A construção da praça iniciou-se, e levou vários meses, já que as bancadas, e a decoração foram em madeira e tinha parecenças com a do Campo Pequeno.
76 *Terminada a obra, uma Comissão encarregou-se dos festejos da inauguração – António Sousa Vinagre, Dr. Armando Santos Calado, Dr. Roberto Ferreira da Fonseca, José Rebelo de Andrade e Henrique da Costa Freire. O dia da inauguração, foi marcado para 1 de Agosto de 1920, e no programa constava, que às 5 horas da manhã, seria lançado uma salva de 21 morteiros. Às 8 horas, entrada de toiros a pé. Às 13 horas, a embolação dos que seriam corridos. Às 16 horas, sessão solene no Club dos Lavradores, em homenagem ao falecido bandarilheiro, Vicente Roberto da Fonseca, e seu irmão Roberto Jacob da Fonseca, sendo descerrado os retratos dos dois grandes artistas, executando por essa ocasião a Banda Euterpe Alhandrense o “hino Irmãos Robertos”, escrito expressamente para este fim pelo seu inteligente, maestro Serra e Moura.
77 Às 17, 30 horas começará a corrida de toiros em que tomam parte os laureados artistas; José Casimiro e Adolfo Macedo, a pé Teodoro Gonçalves, Ribeiro Tomé, Vital Mendes, Francisco Rocha, Mateus Falcão e Manuel dos Santos, da Golegã, Os forcados do valente grupo de que é capataz, Manuel Burrico, o director da corrida, será Roberto Jacob. Os touros desta corrida são generosamente oferecidos pela firma Roberto & Roberto. No segundo dia dos festejos, haverá uma segunda corrida, em que tomam parte; José Casimiro e Adolfo Macedo, e os laureados bandarilheiros amadores, D. Carlos Mascarenhas, D. Pedro de Bragança, Patrício Cecílio, Francisco D`Oliveira, João malhou da Costa e Rafael Gonçalves. Campinos António Eugénio de Menezes (abegão), Joaquim Coimbra, Manuel Coimbra, Francisco Souto Barreiros. Carecas; António José Rebelo de Andrade, papagaio; D. Baltazar de Freitas Lino. Os touros para esta corrida foram gentilmente
78 oferecidos pelo novo ganadero; Francisco Ferreira Lino, oriundos da antiga ganadaria António Ferreira Roquette. Entre aquele maço de papéis, atados com um fio, que nos mostrou lá vimos os jornais, ABC e “A Manhã”, entre outros que tinham enviado a Salvaterra de Magos, os seus jornalistas, das suas páginas sobre tauromaquia, para fazerem a reportagem. O Jornal. A Manhã, diário republicano, fez sair no dia 6 de Agosto, edição que se esgotou na vila. O seu vendedor; Francisco Henriques, teve necessidade pedir mais exemplares, o que lhe foi enviado mais uma remessa, pois o povo continuava a fazer fila na sua loja – queriam uma recordação. No dia seguinte, chegou mais 100 exemplares. *Algum tempo ainda levou a entregar a praça à Misericórdia, foi necessário mais algumas ofertas em dinheiro, dos lavradores, destacando-se a verba significativa de Gaspar da Costa Ramalho. O povo, que acorria aos bailes, cuja receita
79 toda junta deu azo que a chave da Praça de Toiros, fosse entregue à Misericórdia. sem encargos. A Associação de Beneficência – Misericórdia de Salvaterra de Magos, faz chegar à Comissão Construtora da Praça de Touros, o ofício nº 9 “À excelentíssima Comissão Construtora da Praça de Touros desta vila” * Tendo chegado às minhas mãos, o ofício de V. Exªs., que acompanhava a chave da praça de touros, eu, em nome da Comissão Administrativa tenho a honra de lhes agradecer a sua benemérita intenção, e bem assim a todos os senhores que concorreram para a construção daquela propriedade, e de lhes notificar que na acta da sessão de hoje, lhes fica exarado um voto de louvor pela sua bela intenção. Saúde e Fraternidade. Salvaterra de Magos, 16 de Março de 1924. (a) – José Eugénio de Menezes ************
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Crónica Nº 47 Facebook – José Gameiro 03 de Agosto de 2018
COM UM CALOR DESTES CONVIDAVA-OS PARA UMA IMPERIAL no Café Ribatejano. Havia 5 anos de porta aberta no centro da vila de Salvaterra de Magos. No verão daquele ano der 1958, já o calor apertava, e foi aí pela primeira vez
83 que se serviu a cerveja a copo - Imperial, nesta terra. O Ribatejano, tinha também a novidade, o novo empresário/gerente da firma; Manuel Vieira Lopes, Joaquim Conceição Lopes, o filho mais velho da família, construiu à frente uma esplanada com espaço demarcado com gradeamento em pequenas tabuinhas de madeira. (dava pela altura do joelho das pernas da clientela). Ao cair da tarde, a gente grada da terra, fazia questão de ali conversar em grupo, os assuntos mais prementes do dia-a-dia. Os mais "sedentes", de uma cerveja bem fresca, tirada no momento, lá estavam à sombra debaixo de grandes chapéus abertos. O jovem empregado de mesa, José Tiago Andrónico, afadigava-se a servir os clientes, com a oferta de um prato de tremoços, uma novidade da casa. *José Gameiro
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* Foto de Manuel João Gomes
Na Foto: Mário Maymone Madeira * Manuel João Gomes *José R Gameiro* Augusto Saraiva * Francisco Mendes *Henrique Lopes Magalhães
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Crónica Nº 48 Facebook – José Gameiro 07 de Agosto de 2018
SALVATERRA DE MAGOS, NO TEMPO E NO MODO, de viver na década de 30 do séc. XX. Portugal, ainda vivia anos conturbados, nos primeiros tempos da implantação do regime republicano. Em 1926,Oliveira Salazar tinha estado como Ministro das Finanças, a chefiar o Ministério, mas foi em
86 1930, que assumiu por inteiro a liderança de todo o Governo e as transformações económicas e politicas, no país começaram a ter lugar. Corria o ano de 1931, Salvaterra, era um pequeno concelho classificado de 3ª classe e fiscal da mesma ordem, pertencendo à província da Estremadura. O seu espaço rural estava na bacia hídrica do rio Tejo, de onde recebia a sua riqueza económica, pois era uma povoação onde o seu povo mantinha as características puras do modo de viver. Os trajes e as danças tinham parecenças com todo o trabalhador do campo da vasta Lezíria da borda de água. Eram hábitos que vinham de séculos, desde o seu povoamento, trazidos por gente que veio de Flandres, sul da França, no séc. XIII. A Planície, insulada pelo rio, em tempos de agonia e tristeza, que também lhe trazia a fertilidade que lhe davam a riqueza em época de semeadura e colheita.
87 A vila, tinha cerca de 4.500 habitantes, e todo o concelho 9.500, a sua localização, estava distante 30 Kms da cidade de Santarém, que era o seu distrito, mas a religião católica pertencia ao Patriarcado de Lisboa, com S. Paulo como Orago da freguesia. No campo do foro judicial. o Dr. Alberto F. Barreiros, tinha escritório na Praça da República, da vila, esgrimindo os conflitos da sua clientela, no tribunal de Coruche, a que pertencia o concelho de Salvaterra de Magos. Naquela época, as vias de comunicação, faziam-se por caminhos rudimentares de terra batida, a espaços com areia solta da área de pinhal e charneca. Logo a seguir à Ponte da Vala Real, a caminho da mata do Escaroupim ainda se viam vestígios da "Estrada do Meio", que atravessando o campo e a ponte de madeira, lá para os lados do Paul de Magos, dava saída em terras de Almeirim, com o alto de Santarém à vista.
88 Uma barcaça, no sítio da Palhota servia de passagem entre as duas margens do Tejo, com Valada e Cartaxo à vista. Para chegar aquelas terras usava-se por vezes a ponte em ferro da passagem dos comboios, que atravessava o rio, rumo à estação de Muge. Obras já se vislumbravam para a construção da EN 118, que ligaria esta vila, a Santarém, passando por Muge, Benfica do Ribatejo e Almeirim, Para Lisboa, a estrada do Convento, aproveitava-se os caminhos do campo, ali em frente à vila de Benavente, com o Calvário à vista, até se chegar ao Cabo, onde no rio a passagem era através de um Cais/pontão, para Vila Franca de Xira, aqui o comboio, completava a viagem até à capital do país. Os barcos fragateiros, aportados no cais da vala real, além de Lisboa, aportavam em Setúbal e Barreiro.
89 Aqueles barcos na sua navegação, rio acima, com mercadorias e produtos agrícolas, depois de passarem a Ribeira de Santarém até Constância, chegavam às portas de Rodão. O Alentejo era servido, com cargas transportadas por esta via, chegando mesmo a Évora, via Coruche, e Mora. O transporte em diligência, da família Torroaes, era já uma recordação do passado, a população há muito tinha passado a viajar de camioneta da carreira, da Empresa de Viação Salvaterrense, nova forma de transporte daquela família, na pessoa de José de Sousa Torroaes. Entre as dezenas de Fragatas de grande carga, aportadas no cais, dois pequenos barcos apropriadas para carreira (transportes de pequenos volumes, servindo o comércio e a indústria), faziam duas vezes por semana o destino de Lisboa. Nestes pequenos barcos, um da família Roberto da Fonseca, um outro de Manoel Catharino, e a
90 falua de José Damásio, o povo de parcos recursos económicos, pedia “boleia”. De outras comunicações, estava Salvaterra bem provida. Uma primitiva estação de correios e telégrafos, na rua Machado Santos, sob a chefia de Celeste Filippe da Silva, com um distribuidor de cartas; João Ignácio Serra Faria e um Guarda-fios; Paulino de Oliveira. Sendo a estação de 2ª classe, mudou-se mais tarde para um antigo edifício manuelino, próximo da capela real, alargando os seus serviços nas áreas das encomendas postais, valores declarados e à cobrança. No campo social, Salvaterra de Magos, tinha escolhido para feriado municipal no concelho, de acordo com os seus hábitos rurais, a Quinta-Feira de Ascensão. Era neste dia que toda a população rural e urbana, se juntava, no campo e em ambiente familiar, gozavam a passagem do dia. Os
91 lavradores, em ambiente de grande confraternização, não deixavam de pagar os petiscos e bebidas dos seus assalariados, e no final do dia, em alegres cantorias, no regresso a casa, as moças, faziam um ramo de espigas de trigo, cevada e centeio (cereais já maduros na época) a que juntavam papoilas e outras flores que já abundavam nos campos, guardando em casa para renovação no ano seguinte. A sua Feira Anual, tinha lugar no 3º Domingo de Maio e prolongava-se até quinta-feira seguinte. Além das diversões, as bancas de quinquilharias, calçado e roupas., as fotografias de família, tiravamse aí em barracas especializadas, pois seria uma recordação para o resto das suas vidas. Naquele tempo de transacções, aí comprava-se e vendia-se produtos agrícolas, como as cabeças de gado. O suíno, a cabra e ovelha, sendo muito procurados, pelas gentes Foreiras; de Marinhais, Glória e Foros, levou a que o executivo da camara
92 municipal, na época chefiada pelo Administrador José Eugénio de Menezes, que tinha como chefe de secretaria e secretario; Carlos Novaes Barreiros, assessorados pelos Amanuenses; Júlio Cesar da Silva e Miguel de Sousa Ramalho. A tesouraria, estava a cargo de António Emiliano Garrido da Silva, e o Continuo: Joaquim Lopes. A vila de Salvaterra, como sede do concelho, tinha um Mercado Mensal de gado, Alguns anos depois, o presidente do executivo à época, ponderou uma exigência feita, pelo povo de Glória e Marinhais, e nesta última freguesia, passou a realizar-se um mercado mensal, tendo o mercado de Salvaterra, deixando de existir por desnecessário. A vila de Salvaterra, estava bem provida de artesãos. Havia mestres-carpinteiros com oficina para construções urbanas e feitura de carroçaria, que ombreavam com os mestres Ferreiros. Operários credenciados
93 como: António Henrique Alexandre, Carlos Almeida, Manoel Cordeiro, Vicente Augusto Ferreira, eram os mais solicitados. No aluguer de Carroças e Charretes, estas tirantadas a um ou dois animais; Augusto da Silva, Bernardino da Silva, José de Sousa Torroaes, Francisco da Thomázia, Francisco Tabaco e Victorino Miguel, alugavam estes meios de carga e transporte. Os Ferreiros, como: António Fungão, Francisco Gonçalves, João Augusto Borrego e José Sabino de Assis, encarregavam-se da construção de veículos, onde o ferro entrava, também se encarregavam na feitura de portões e de alfaias agrícolas. Foram artesãos que deixaram a sua arte, nos desenhos da ferraria, que ainda pululam nas varandas das ruas da vila antiga. Na confecção da roupa, para além das Costureiras que vestiam o povo, no seu traje peculiar, existiam os Alfaiates; Constantino da Silva Gomes, Manoel Codima e Manuel
94 Mendes dos Santos, para as gentes da urbe. Os Barbeiros; sendo considerados industriais, tinham porta aberta; António de Sousa Marques, Cesar Augusto, José Miguel Borrego, Justiniano Dias Valente e Pedro de Sousa Marques. A clientela rural, era atendida à segundafeira, pois era nesse dia que ainda estava na vila, depois do regresso do campo, após uma ausência de 15 dias ou um mês. Os artesãos-sapateiros, fechavam portas para descanso à segunda-feira, enquanto o comércio tradicional, tinha descanso às quintas-feiras. Os lavradores da vila e Foreiros, para ferrarem os seus animais de carga, recorriam aos serviços dos Ferradores; António Marques e Manoel Caetano Doutor. Os Bancos e Seguradoras, como o Crédito Agrícola estavam bem representados, na vila de Salvaterra de Magos, assegurando à população com agências, numa constante actividade
95 económica. O Banco Comercial do Porto: Roberto & Roberto – Banco de Portugal, Banco Borges & Irmão e Portuguez e Brasileiro; Gomes Leite * Seguros; Alliance: Roberto da Fonseca Júnior, Commercio e Industria: António Emiliano Garrido da Silva Lisbonense; Francisco Maria Gomes Leite. A Caixa de Crédito Agrícola Mutuo, satisfazendo uma necessidade constante junto da lavoura, tinha nos seus órgãos constituídos; José Eugénio de Menezes (Presidente), Roberto da Fonseca Júnior (Secretário), Henrique Avelar da Costa Freire (Tesoureiro). *José Gameiro ******** Fotos: * Barcos na Vala Real- 1950 * Grupo de Carroceiros * Diligência de Transportes Públicos, Nota: In – Publicação “Anuário Comercial de Portugal – Ano 1931”
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Crónica Nº 49 Facebook - José Gameiro 01 de Setembro 2018 A RAINHA D. MARIA I - A LOUCA, visitava Salvaterra de Magos, e aqui teve os seus primeiros sinais de loucura. - O ano de 1734, estava a chegar ao fim, nasceu a 17, mas já se decoravam em Portugal, palácios reais e casa nobres, para a celebração do Natal. - Deram-lhe o nome; Maria Francisca Isabel Josefa Antónia Gertrudes Rita Joana de Bragança, filha do rei D. José I, e de sua
99 mulher Mariana Vitoria. Nasceu em Lisboa, mas uns meses antes, na primavera, deu trabalhos a sua mãe – as indisposição desta eram constantes, que levaram as camareiras a solicitar a presença dos doutores, estava no Paço real de Salvaterra. - Na sua meninice ganhou afeição a esta terra, D. Maria, aqui assistiu a acontecimentos que ainda fazem desta vila ser um marco na história de Portugal. O terramoto em Lisboa de 1755, também lhe deixaram marcas indeléveis – andou nas ruas ajudando o povo. Viveu o horror dos atentados que seu pai foi vitima. Casaramna com o tio D. Pedro de Bragança – D. Pedro III. - Em pouco mais de dois anos, viu morrer o seu marido, D. Pedro III, e um filho, tomou conta do trono de Portugal, porque sucedeu no trono, foi Rainha de Portugal e dos Algarves, que depois foi ajustado “Reino Unido de Portugal, Brasil e dos Algarves”. Não concordava com a governação do
100 Ministro do seu pai – Marquês de Pombal, desterrou-o este para Abiul (Pombal) - Os tempos conturbados que se viviam na Europa, graças à Revolução Francesa, marcaram de forma dramática a vida de D. Maria I, e foram-lhe roubando a paz de espírito e a sanidade, - Numa dessas presenças que fazia em Salvaterra, assistia no Real Teatro do Paço, a uma peça carnavalesca, teve de se ausentar um pouco antes de terminar a cena, tinha tonturas que a resguardaram alguns dias da azáfama vivida no paço. Foram anulados compromissos de agenda, não recebeu embaixadores nem fez despachos. Em 1792, uma junta de doutores, fizeram reunião e anuíram a uma vasta petição – A rainha, foi considerada
101 incapaz de governar por doença mental. Deu o seu lugar ao filho; D. João VI. - Enquanto viveu em Queluz, era acompanhada nos passeios pelos jardins, pelas camareiras de maior confiança, levavam-na, não tinha vontade própria. Era vitima da troça, da gente da corte: - lá, vai a Maria, com as outras !... - Com o Rei, seu filho, embarca para o Brasil sob a ameaça das invasões francesas, em 13 de Novembro de 1807, é em terras de Vera Cruz que morre, em 1816. * A História portuguesa – deu-lhe o nome – A Piedosa. * José Gameiro
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Crónica Nº 50 Faceboock - José Gameiro 11 de Setembro de 2018 DOCES DA NOSSA TERRA Alguns já eram conhecidos, por volta de 1830, quando D. Miguel andava na guerra que mantinha com o irmão D. Pedro - a guerra civil; dos Liberais e Absolutistas. Nesta vasta área junto ao rio Tejo, sua realeza visitava também Almeirim, para o divertimento da caça na coutada daquela terra, que repartia com estadias no Paço de Salvaterra.
103 A culinária destes dois povos da Lezíria, sendo muito igual, onde as iguarias dos seus doces, eram parecidos, especialmente "O Bolo Podre", que se manteve na doçaria e consumida pelo Natal e Páscoa. Naquele ano, D. Miguel tinha ido a Valada, ali os afazeres dos encontros com os seus fiéis homens, fê-lo demorar mais alguns dias. Quando regressou ao Paço de Salvaterra, junto à Igreja Matriz - as jovens, não o esperavam para o costumado beijamão, para desta vez fazerem a oferta de bolos, a ele e sua comitiva. - Uns bonitos panos de linho, envolviam aquele saboroso bolo, acabado de fritar, e que os aguardavam, pois a noticia da sua chegada à algum tempo estava anunciada na vila, pelos arautos. Com o decorrer dos anos a riqueza da doçaria de Salvaterra não era avantajada, o povo sendo rural, não tinha condições para tal devaneios, apenas os "velhozes" eram os mais apreciados em época de Natal.
104 - Já o século XX, estava com 30 anos passados, Fernando Andrade, abriu a sua Pastelaria, na rua Direita, e fez questão de fabricar o "O Pastel de Feijão", que também levava erva-doce. .-Francisco Henriques da Fonseca, na vila conhecido por “Xico Vassoura”, aí por volta de 1960, com a ajuda de sua esposa, abriu a Pastelaria Salvaterrense, no Largo dos Combatentes, e durante anos, fabricou uns pastéis regionais, a que lhe deu o nome de "Os Marialvas" – uma caixa com o desenho da morte do Conde Arcos, servia de embalagem a 10 unidades. Devido à sua procura, depressa o Café Ribatejano se aliou na sua venda. - Fernando Andrade, voltando a Salvaterra, abriu na avenida principal de Salvaterra, a Pastelaria "Sol da Lezíria", com os seus doces. Por volta de 1973, os filhos Ruy e José, naquele espaço abriram a Cabana dos Parodiantes, um outro irmão o Rafael Andrade, à frente do negócio da família, lá
105 tinha os afamados pastéis, agora com o nome comercial “ Os Barretes”, um adereço típico dos campinos do Ribatejo. O programa da rádio, dos Parodiantes de Lisboa, faziam a publicidade, e todos os dias a procura daqueles doces, eram uma recordação da passagem das muitas excursões que paravam na avenida principal da vila. Com falecimento do Rafael, tomou conta do negócio das Cabana, o filho Fernando José Andrade, continuando a ter como cartaz da pastelaria o doce que um dia foi criado pelo seu avô. Uma iniciativa do executivo municipal, em 1979, Março passou a ser o mês da Enguia, um cartaz na área da restauração, que conservasse os pratos típicos dos pescadores “Avieiros”, comunidade de pescadores no Escaroupim. A culinária dos “Cagaréus”, e os “Fragateiros”, que no dobrar do séc. XX, ainda viviam nas águas do rio Tejo, não foi esquecida.
106 O turismo naquele mês, passou a ser intenso, e a restauração concelho, todos os anos é procurada por milhares de visitantes. Com as mostras do artesanato, alguma doçaria antiga do povo, também passou a ser apreciada. *José Gameiro Fotos: Do autor
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Crónica Nº 51 FacebooK - José Gameiro 14 de Setembro de 2018 QUANDO SE BEBIA ÁGUA DAS NASCENTES - Estava-se em Junho de 1951, o verão apertava.com dias quentes. - O executivo camarário fez um programa de festejos para inaugurar em Salvaterra de Magos, o abastecimento de água canalizada. Um ano antes já tinha decidido aquela obra, e depressa viu-se a
109 vila cheia de valas para a canalização de lusalite - os ramais para o casario. Até aí, o povo bebia água dos poços que tinha nos quintais (casos havia que o poço dava para duas habitações, através da boca com metade para cada lado, aberta nos muros). Nas décadas dos anos 20 e 30 do séc. XX, ainda alguns "olhos de água" nasciam na vila e davam de beber a muito boa gente, que guardavam a crença dos seus avós - era uma água boa para o "andaço" dos intestinos. - A Fontes do Arneiro, conhecida antes do séc. XVIII, em 1788 recebeu obras de boa arquitectura, tendo bom caudal, vindo das terras do Convento, dava para encher os potes e infusas para uso do "amanho da casa", tal como acontecia com a
110 nascente da Peteja, onde o povo rural enchia barris de madeira, que transportava campo adentro, em lentos carros de bois. - Com a reorganização da vila, após o terramoto de 1909, levou anos a concretizar a iniciativa da construção de dois Fontanários, com bomba a vácuo - Um no antigo Largo de S. Sebastião, e outro ali perto da Casa do Povo (1934-1949). ******** Nota: (1) - O executivo camarário, decidiu além das fontes, em Salvaterra, uma outra igual em Muge * Marinhais foi dotada de uma bomba de água, junto à Capela, e Foros de Salvaterra, no Estanqueiro * José Gameiro ********** Doc - do Arquivo do Autor
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Crónica Nº 52 Faceboock – José Gameiro 23 de Setembro de 2018 MATAR O BICO, OU ENCHER O BANDULHO. Era um hábito que vinha de gerações, nos homens que trabalhavam a terra, na Lezíria ribatejana. Ainda o século XX, estava no quarto de vida, já o Ti Zé Pataco, tinha grande raiva ao vinho que não o podia ver, era o que dizia aos filhos ao longo da sua vida. Realmente o seu mata-bicho era uma
112 caneca de café, e foi isso que foi transmitido em sua casa, daí os seus filhos não serem também grandes apreciadores de bebidas alcoólicas. Naquele tempo, havia poucas tabernas em Salvaterra de Magos, podiam-se contar pelos dedos de uma mão. O João da Pança, o Vitorino Marreco, a Anunciada, e o Artur Xavier. O homem rural, ao sair de casa, bebia um copo de vinho, mas o preferido era a aguardante. Estavam em Jejum, e isso era o Mata-bicho, pois o almoço era já pelas 10 da manhã. Os grupos juntavam-se pela ponte da vala real, antes de iniciarem a caminhada a pé, pois o trabalho começava ao nascer do sol nascer, a pequena taberna da família de Artur Pinto, que mal dava para meia dúzia de pessoas em pé, por vezes era aí o ultimo mata-bicho, e se trocava a saudação de “um Santo Dia” com os Pescadores e Marítimos, que por lá já andavam no cais da vala. De regresso a casa, alguns depois da ceia, lá davam uma saída à taberna do João da Pança (alcunha por ter o estomago muito
113 dilatado). Era um homem mediado de altura, usava além do um cinto uns suspensórios de tiras de couro para segurar as calças. A Taberna, era na Azinhaga (à entrada da pequena Travessa) para jogarem uma jogada de bisca, e beberem um copito. A casa tinha um pequeno pial em pedra à porta - que dava jeito nos dias de verão, para estarem ali à conversa. Alguns esqueciam-se do tempo, e regressavam já com o grão na asa - a família lá dava um ralhete: Já vens com o bandulho cheio, e os rapazes sem comer na mesa !.. O Vitorino Marreco (alcunha desde menino por ter uma anomalia na coluna, primeiro foi aprendiz de alfaiate), era o 7º e último irmão do Ti, Toino Pataco. Estava estabelecido, ali na rua da Farmácia do Carvalho, a sua clientela da tarde e noite era mais a urbana. Por ali se entretinham alguns mestres de oficio, atá ao cair das matinas (meia noite), 12 horas tocadas no sino da torre ali ao lado. Esta Casa, veio mais tarde a ser explorada por Sebastião
114 Cabaço, e um homem conhecido por Manel Renaca. A Taberna da Anunciada, a meio da Azinhagazinha, no Arneiro da vila, também era local de encontro dos homens da urbe, muitas vezes já depois da ceia, era sitio escondido, para jogar o chinquilho, no seu quintal (1). A maioria do povo era analfabeto. A rudeza da vida no campo – iniciada desde menino, a forma de alimentação e o beber sem rega, levava muito homem poucos anos depois de viverem meio século, já serem vistos como gente velha. O Ti, Tonho Pataco, naquela idade já pesado de corpo de alma, ainda bebia o seu copito, e quando isso acontecia, era de vêlo, com uma garrafa ao alto equilibrada na cabeça, e gaiata de beiços, tentando dançar o fandango. Desde jovem foi campino, tal como os irmãos – já vinha de geração tal arte. Era gente que vinham a casa de 15/15 dias, por
115 em dia as necessidades do corpo, receber o soldo ao escritório do patrão, ia ao barbeiro e passando pelas tabernas, muitas vezes esquecia-se que tinha uma prole de filhos para alimentar. O filho, mais velho da grande prole, muitas vezes noite dentro, lá ia buscá-lo à taberna, tinha-se esquecido de regressar a casa. Ali, estava gastando a parca remuneração de trabalho, recebida horas antes, já com o bandulho cheio de vinho, e num divertimento de grupo com os seus colegas de trabalho, que tiveram 15 dias ausentes da família. A mulher, que também trabalhava no campo, em casa, na Rua d`Água, o esperava na esperança de comprar alguma coisa para os filhos comerem. Estas situações, foram a causa de tanto azedume do Zé Pataco, ao vinho. O Ti, Tonho Pataco, fez a última jornada de campo, guardando éguas afilhadas, na Casa Agrícola de Salvaterra, José de Menezes & Irmão.
116 Nota: (1) Esta taberna, foi descrita no Conto o”Último Dia do Lobo em Salvaterra”, de José Amaro - década de 30, séc. XX
Fotos: do Autor
Trav. Azinhaga – Lado Dtº Porta da Antiga Taberna do João da Pança - 1999
No muro Porta de Entrada da Antiga Taberna Da Anunciada Foto: 1999
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Crónica Nº 53 Facebook - José Gameiro 30.09.2018 A SORTE DO BARRETE, era ainda usada pelo povo de Foros de Salvaterra, no dobrar do séc. XX. Um dia, naquele ano de 1962, já namoradeiro fui até àqueles sítios para conhecer e ser apresentado a alguns membros da família da minha escolhida - especialmente avós e tios. * Tive ali ocasião de assistir (depressa me vi junto ao grupo de maridos//mulheres,
118 filhos que serviam de testemunhas daquela cerimónia pública). a um pedaço de distancia. Decorria a "sorte do barrete" o amigo de confiança; João Neves Travessa (João Serôdio), estava presente e chefiava o acto da partilha de um Foro, que contemplava toda aquela mão cheia de filhos/irmãos. - João Serôdio, homem experiente naquelas partilhas, já tinha feito a medição do terreno em partes (tantas quantas os herdeiros), segundo os pais ali presentes. Houve que ter em conta o valor das benfeitorias existentes (poços, casas, celeiros, árvores, vinha, caminhos de acesso, palheiros, etc., que receberam valorização. Os filhos foram perfilados do mais velho para o mais novo (1) e foi-lhe atribuído um numero. Depressa foram feitos iguais papeis do mesmo tamanho, onde lhes foi escrito um número. Enrolados (bolinhas), que foram introduzidas num barrete já mostrado a todos - estava vazio
119 *Os dedos de uma mão, agarrou o fundo, pela borla, outra fechava a boca, e depressa; uma, duas, várias voltas - a operação para o sorteio estava feita. Do filho mais novo, para o mais velho. foram sendo tiradas as "bolinhas de papel" - no final aquele que tirou a parte do terreno e benfeitorias mais pequena, receberia de todos os outros a devida compensação, no prazo de um mês. No final os progenitores, ofereceram um almoço aos filhos, e demais familiares convivas. Passando à posse do seu terreno, a legalização em termos oficiais, só acontecia após a morte dos benfeitores. Acontecia que por ali ainda havia gente a pagar décimas em nome dos avós, por falta de acordo e até desavenças, sendo o mais velho
120 encarregado de fazer a "colheia" para o pagamento anual nas Finanças de Salvaterra de Magos. *******
(1) - havia um filho jĂĄ falecido, foi representado pelo descendente mais velho *JosĂŠ Gameiro
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Crónica Nº 54 Facebook – José Gameiro 05 de Outubro de 2018 A CRECHE - UMA NOVA FORMA DE AS CRIANÇAS, terem apoio na sua guarda e educação. Estávamos em 1997, no dia 8 de Agosto, o executivo municipal, presidido pelo Dr. José Gameiro dos Santos, tomou a deliberação de conceder um galardão municipal pelo mérito à Paróquia de Salvaterra de Magos, através da sua Fábrica da Igreja. Um mês depois o povo estava presente e assistiu ao início da festa, pelas 10,30 horas,
122 do dia 8 de Outubro, foi descerrada a toponímia “ Rua Centro Paroquial”, uma via de trânsito que passava também a dar acesso ao património da Igreja, a sua Creche social. A outra festa, foi já no grande auditório daquele nova obra destinada às crianças onde vários convidados foram oradores, tomando a palavra, quando da entrega daquela medalha de Mérito, pelo executivo municipal de Salvaterra de Magos. O Pe. José R Diogo, ao criar em 1947, o Centro Paroquial – uma obra da Igreja, tinha um anseio além dos bairros, outras obras sociais, entre as ajudas, recebeu a importante oferta de terrenos, do Dr. José de Menezes e sua família, e firma; Jaime Valente, representada por Manuel Silva Valente. Naquela cerimónia o Pe. Agostinho Teixeira de Sousa, responsável pela Paróquia, lembrou a inauguração daquele Creche, em 19 de Setembro de 1979. Foi distribuído um volume, editado pelo Centro Paroquial, onde descre o percurso da obra daquele sacerdote, chegada a
123 Salvaterra em 1947, os seus colaboradores e direcções ao longo dos anos são lembrados ali nas suas páginas. A Direcção de Maio de 1978 a Março de 1980; Director; Pe. José R Diogo* Secretário; José Rodrigues Gameiro* Tesoureiro; José Martins dos Santos, dá continuidade à construção dos Bairros Sociais (1), e inicia as obras da construção de uma creche e jardim-de-infância com capacidade para 145 crianças, com idades dos 3 meses à idade escolar, lembrança feita no discurso do Pe. Agostinho, que não deixa de chamar o então colaborador daquele Centro Social, José Rodrigues Gameiro e lhe oferece; Uma Medalha de Agradecimento, com um exemplar daquele livro com a dedicatória: “Ao antigo Director; José Gameiro, pelo trabalho e zelo dedicado ao Centro Paroquial, e pelo seu gosto na preservação do património cultural de Salvaterra de Magos” – Com amizade * Pe. Agostinho de Sousa. ****************
124 A ORIGEM DO JARDIM DE INFANCIA, COM A SUA CRECHE
Segundo alguns registos vem com a iniciativa do Pe. Oberlin, na França, em 1767, e cerca de meio século depois, surge, na Escócia o método do Infantário. Este sistema, depressa é adotado pela Alemanha, Inglaterra, EUA e o Brasil em 1900, vai usá-lo como Casa dos Expostos – casa onde eram deixadas crianças não desejadas. Na Europa, esta forma de guardar as crianças na sua infância, continua a evoluir enquanto os pais ocupam muitas horas do seu tempo no mundo do trabalho. A educação Infantil e escolar das crianças, depressa passou a ombrear com os cuidados originais de infantário. O jovem Joaquim Gomes de Carvalho, nascido em 1909, na cidade de S. Paulo, no Brasil, filho de pais portugueses emigrantes, vem para Portugal, estudar medicina em Coimbra.
125 Naquela Universidade, novos ventos sopram no ensino da formação de educadores das crianças nos Infantários e Creches. As áreas urbanas,- núcleos habitacionais proliferam na orla costeira de Portugal, e o campo já vai dando mostras de ficar deserto - nota-se a falta dos avós e tias para cuidar das crianças. Gomes de Carvalho, já licenciado e casado com D. Mariana Calado, instala-se com consultório em Salvaterra de Magos. Nas suas intervenções públicas, na deixa de manifestar as suas preocupações quanto ao atraso que se manifesta na vila, na área do desenvolvimento das crianças, como são a falta de um Jardim Infantil e uma Creche, e nas páginas de algumas revistas e jornais, deixou escrito os seus desejos. *José Gameiro *********
Nota:(1) – Com a instalação das famílias pobres nestes bairros sociais, foi o inicio de acabarem as barracas em Salvaterra de Magos. Fotos do Autor
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Crónica Nº 55 Facebook – José Gameiro 16 de Outubro de 2018 A ACAIXA AGRICOLA, FAZ 91 ANOS (19272018)
Em 1931, alguns lavradores ainda se financiavam nas agências dos bancos, que aqui tinham correspondentes, como: O Banco Comercial do Porto (representado pela Casa Agrícola Roberto & Roberto), Banco de Portugal, Banco Borges & Irmão, Portuguez e Brasileiro. Na área dos seguros; A Alliance: Roberto da Fonseca Júnior, Commercio e Industria: António Emiliano Garrido da Silva, e a Seguradora Lisbonense, por Francisco Gomes Leite. Este último estava
128 instalado na Trav. do Secretário com uma grande casa de fornecimento de produtos agrícolas e comerciais, que recebia grande parte, vindos de Lisboa, através dos barcos que aportavam no cais da vala real, o raio da sua distribuição ia muito para além de Coruche. Segundo reza alguma história, os apoios aquém trabalhava a terra vem de 1498, o aparecimento das Caixas de Crédito, com o apoio das Santas Casas de Misericórdia, criadas pela rainha D. Leonor (esposa do rei D. João II de Portugal). Consta que foi em 1778, que a Misericórdia de Lisboa concedeu o primeiro empréstimo aos agricultores. Em 1914, o regime republicano decreta a lei 215 que cria a existência de Caixas de Crédito Agrícola Muto em Portugal, depois regulamentada quatro anos depois com o Dec. 5219, que definiu a sua actividade, dando origem a sua proliferação por este país fora.
129 Os lavradores desta vila tinham o seu Club, na rua Direita, e foi aí que alguns, tiveram a ideia de fundarem também uma Caixa de Crédito Agrícola Mutuo em Salvaterra, de Magos. Uns meses depois já com estatutos feitos e aprovados, foi dado a esta nova Instituição o Alvará em 27 de Março de 1927, passando a ter instalação provisória no escritório da família Roberto, na antiga rua S. António. O grupo não deixava de pensar num Grémio da Lavoura, e a oportunidade surgiu com o encerramento da firma Gomes Leite, o edifício sendo já pertença de Roberto da Fonseca Júnior, que anuiu a cedê-lo, ficando como empregado. O Grémio foi ali instalado e foram seus primeiros dirigentes: José Eugénio de Menezes (Presidente), Roberto da Fonseca Júnior (Secretário), Henrique Avelar da Costa Freire (Tesoureiro). O II Governo Provisório saído da revolução de Abril de 1974. Decreta em Setembro a Lei 482/74, as nacionalizações e extinções
130 de muitos organismos, os Grémios da Lavoura e suas Federações não escapam, no prazo estabelecido até ao fim daquele ano. O seu património sobreviveria se fosse adaptado como Cooperativa Agrícola, os seus novos dirigentes (nomeados pela junta militar), iniciaram o processo do Grémio da Lavoura de Salvaterra, passar a Cooperativa. Com o decorrer dos anos os associados foram rareando e a instituição com dividas, acabou liquidada na barra dos tribunais. Com as mudanças verificadas naquele ano de 1974, depressa, uma loja devoluta no réschão do prédio de José Teodoro Amaro (antiga rua do Pinheiro), ali ao lado da rua 31 de Janeiro, foi instalada a Caixa Agrícola com a sua sede e balcão – era seu empregado José Manuel Ferreira Moreira. Anos depois, em 1987, corria pelo voz do povo da terra, que a Caixa Agrícola, iria construir um novo edifício ali ao lado dos bombeiros, junto ao mercado municipal.
131 O terreno já tinha sido comprado à família Costa Freire. Um dia, na abertura do terreno para as fundações da construção, foi posto a descoberto o aqueduto - subterrâneo em pedra que durante séculos levou água para a já desaparecida Fonte de S. António, junto ao edifício da câmara municipal (era ali a sua mão-de-Água). No dia 16 de Outubro de 1988, foi dia de festa em Salvaterra, foi inaugurada o novo edificio com sede e balcão da Caixa de Crédito Agrícola – tinha o acesso público na avenida principal da vila. Esta nova instalação vinha dar corpo ao sonho dos seus fundadores, os lavradores que se juntavam todas as noites na sua associação, o Club dos Lavradores de Salvaterra, *José Gameiro
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Nota: Fotos do Autor
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Crónica Nº 56 Facebook – José Gameiro 04.10.2018
A INAUGURAÇÃO DA ESTAÇÃO DOS CORREIOS, em Salvaterra de Magos, um novo edificio na rua 31 de Janeiro, ali em frente ao quartel dos bombeiros. O novo sistema de correios, e distribuição de documentos escritos tem as primeiras notícias por volta de 2400 anos aC, no antigo Egito. No séc. II dC, os Romanos devido às suas incursões guerreiras, também tinham um serviço de distribuição de mensagens, usando já as estradas –
134 chamadas curso público, com mensageiros que se revezavam durante as distâncias a percorrer. Nos séculos que se aproximam de nós na monarquia inglesa, regista-se o ano de 1066, que os Arautos andavam de lugarejo em lugarejo dando as notícias do rei. Em Portugal, a corte fazia-se anunciar e dava as suas notícias pelos mensageirosarautos, que ao chegarem a cada povoado, no seu largo principal, tocavam uma Trombeta, chamando o povo. Mais tarde a distribuição do correio remonta a 1520, ano em que o Rei D. Manuel I de Portugal, criou o primeiro serviço de correio público de Portugal, e o cargo de CorreioMor do Reino, cargo extinto pela Rainha D. Maria I de Portugal em 1798. Entre vilas próximas, o correio de Benavente vinha a Salvaterra, de cavalo, duas vezes por semana e entregava o correio
135 no edifício do Secretário do Paço Real da vila, de regresso as mensagens particulares/ ou oficiais eram entregues na Câmara Municipal. O Correio vindo de Santarém, com uma viagem de ida e volta por mês, fazia-se através da estrada do meio, junto à ponte da vala real – o único caminho de ligação àquela cidade, passava por terras de Muge, Benfica, e saía a meio das terras de Almeirim, dando acesso ao Vale de Santarém. Era por aí que o Juiz de Fora (Santarém) fazia a sua viagem a cavalo, com um animal de carga, atrelado para fazer os julgamentos – os processo estavam à guarda municipal. Com a República em Portugal, em1911, aparece a empresa do estado, CTT Correios, Telégrafos e Telefones. As sedes dos concelhos passam a ter casa própria para este sistema. Em Salvaterra, é instalada na rua S. Paulo (1), ali ao lado da Botica do senhor Albano Gonçalves. Por volta de 1930, o serviço prestado estava condicionado e passou para o velho edifício pombalino, entre o edificio
136 municipal e a Capela real. Ali, foi instalado um móvel com estante, e uma operadora, metia uma cavilha num orifício e fazendo a ligação ao numero do telefone já existente nalgumas casas da vila. A senhora D. Maria Bárbara, fazia a entrega dos telegramas - ganhando um gratificado dos interessados, com a entrega da missiva. Por volta de 1930, Gaspar Maria Alexandre, era carteiro, dando a vez a Henrique da Graça, na distribuição do correio. Tempos houve que o correio também era distribuído aos Domingos e Feriados, onde se usavam tarefeiros. Através do Engº Gama Prazeres (engenheiro das obras daquela empresa), vivendo em Salvaterra, depressa localizou uma antiga oficina de ferrador (ali em frente aos bombeiros), e no dia 4 de Outubro de 1960, foi a sua inauguração. Após 40 anos da abertura o edifício fechou no inicio de 2000, para ser adaptado para as novas exigências do mercado, e enquanto durou as obras, o serviço esteve
137 instalado num rés-chão de uma nova urbanização construída na rua Centro Paroquial, na zona sul da vila, tendo sido reaberto no dia 23 de Outubro daquele ano. *José Gameiro ****** 1– o Médico Dr. Marçal Correia, chegou a ter consultório naquele espaço de terreno Fotos do Autor
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Crónica Nº 57 Faceboock – José Gameiro 06.10.2018 QUANDO O ZÉ DOS SANTINHOS – MISTURAVA, a venda de artigos religiosos com outros produtos. O séc. XX, tinha dobrado à um ano, o Outono já dava mostras da sua chegada – havia dias que chovia. Era tempo de iniciar um novo ano escolar. Manhã cedo, uma meia dúzia de mães estavam com os filhos junto ao grande portão de madeira, esperando a abertura da escola. - Alguns com bata branca vestida, e com uma pequena mala de cartão, outros traziam
140 um saco de linhagem – onde tinha a pedra para escrever, alguns cadernos, livros de leitura e geografia. - Entre os novos alunos daquele ano, estava o Manuel Farinha dos Santos, já conhecido entre o rapazio das barracas pelo “Manel dos Santinhos”, estava acompanhado pelo pai – José dos Santos. - Este, tinha chegado havia poucos anos a Salvaterra de Magos, foi ocupar uma barraca vazia atrás do cemitério. Era homem de poucas falas, e os vizinhos não sabiam de onde tinha vindo com a família. Sendo portador de deficiência arrastava a perna esquerda, necessitando de uma bengala para se movimentar. - A chamada dos novos alunos foi feita pela empregada; Joaquina Magalhães, que nos foi indicando as carteiras em madeira. Os 40 alunos já sentados – 2 a 2 ( foi meu companheiro; Manuel Marques Francisco), estavam calados - o barulho não se ouvia na sala. Com a entrada do professor; Armando Duarte Miranda, homem usando
141 óculos de lentes grossas, e penteado com o cabelo escorrido na cabeça, todos se levantaram, e disseram bom dia – em coro !... - A empregada Magalhães, já nos tinha ensinado tal forma de cumprimentar o nosso docente, e assim iniciamos o primeiro dia de aulas de uma nova etapa das nossas vidas. - Em 1957, quando entrei no mundo do trabalho, na Central das carreiras, estas ainda paravam no Largo do Lopes, em frente à escola primária “O Século”, o José dos Santos, chegava sempre pela manhã, algum tempo antes de apanhar o transporte, que o levaria a Benavente – seu local de venda. Era de vê-lo, de casaco vestido e boné na cabeça, apoiando-se na bengala, com uma pequena mala de cartão/ ou por vezes com um saco na mão esquerda. A tiracolo, tinha dias que usava um saco onde tinha uma “bucha” para comer durante o dia.
142 - O José dos Santinhos, como era conhecido por aqui nestas terras vizinhas, sentava-se num banco daquele jardim, e logo ai tinha clientela. O seu negócio, era pelas ruas de Benavente, e sendo de pequena monta; tinha na mala alguns baralhos de cartas, fotos com pornografia, calendários de bolso, e no campo religioso não deixava de ter; fotos de santos, crucifixos e terços. - Os pequenos “botões” de cortiça que vendia, eram velas (para colocar num copo com azeite, onde o pavio se conservava durante horas a arder, guardava – os num pequeno saco. - Alguma clientela; já homens feitos, ao ouvido falavam-lhe nas pequenas caixinhas com preservativos, tinha-as guardadas nas algibeiras interiores do casaco. Ao cair da tarde, de regresso daquela vila vizinha, lá estava ele perto da ponte (nos arredores da Pensão Grilo) na esperança de uma boleia,
143 que não tardava, deixando-o em Salvaterra, na estrada em frente do Cemitério. - José dos Santinhos, ao iniciar a caminhada pela areia solta, até à sua barraca passava ao lado do Forno da Cal, mas ainda tinha tempo de beber uma boa “golada de água”, na torneira do fontanário construído, junto à taberna do João da Quinta !. *José Gameiro ******* Nota: Foto usada – Livro “Benavente: A fotografia na 1ª metade do século XX” – edição CMBenavente
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Crónica Nº 58 Faceboock – José Gameiro 12 Outubro 2018 VICENTE LUCAS DE AGUIAR , UM AUTARCA, que já teve toponímia em Salvaterra de Magos. A bonita porta de entrada da vila, que é a Avenida, foi construída em 1941, ocupou o espaço que foi da antiga rua do Calvário. Foi uma obra delineada no primeiro mandato do Dr. Roberto Ferreira da Fonseca, e veio a ter a toponímia de Vicente Lucas de Aguiar. No mandato do executivo de António Moreira, em 1985, o nome desta grande artéria rodoviária, passou a ter o nome daquele médico, que por duas vezes prestou um serviço à sua comunidade, foi autarca, ocupando a Presidência da Câmara Municipal.
145 Corria o ano de 1968, um texto para o Jornal Aurora do Ribatejo, levou-nos a algumas buscas nos arquivos sobre aos estragos causados pelo terramoto de Lisboa, em 1755, em Salvaterra. Além dos danos causados na vila, havia registo que nos seus arredores, a habitação do Casal (foro com casa e terreno) pertença de Vicente Lucas, também sofreu com os efeitos sísmicos. Agora acaba de nos chegar à mão a V Edição da Revista Magos – um livro que trata da Cultura do Concelho de Salvaterra de Magos, uma edição da Câmara Municipal, que vem sendo editada anualmente. Entre os textos ali descritos pelos colaboradores, chamou-me a atenção, o estudo do Prof. António Pedro Manique, com um minucioso trabalho de investigação histórico – O Modelo Espacial do Liberalismo e as Extinções do Concelho de Salvaterra de Magos (1836,1855 e 1867), nos informa que o concelho de Salvaterra esteve destinado a engrossar o meio milhar que já tinham acabado, vitimas do Liberalismo.
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O político e estadista, Mouzinho da Silveira, defensor do Liberalismo, iniciou com o Decreto de 16 de Maio de 1832, o projecto da Reforma Administrativa do Território na área das Finanças Públicas (supressão de concelhos) que substitua o Antigo Regime feudal. Numa primeira leva foram levados à extinção mais de meio milhar. O Ministro, Passos Manuel seguindo-o e promulgou um novo Código Administrativo, em 31 de Dezembro de 1836. que imponha novas regras administrativas, nos concelhos que vigorassem à data. Aquele estudo de António Manique, levanos a apreciar quanto foram marcantes aquelas três datas na vida do concelho de Salvaterra, conforme sempre com a sua extinção a engrossar as freguesias de Benavente. A “odisseia” vivida pelo povo, teve nos seus mais altos representantes a lucidez de conseguir sempre a sua anulação nos vários períodos, iniciados em 1836, através de muitos contactos e influências na corte e
147 negociações que levaram a vila de Muge, a anuir a ser freguesia de Salvaterra, pois não desejava pertencer a Almeirim. O Alvará de 29 de de Agosto de 1863, outorga Salvaterra de Magos a voltar a Concelho, e normaliza a sua vida administrativa, com a tomada de posse de uma Comissão composta por; Luis Ferreira Roquette, Vicente Lucas de Aguiar, Joaquim de Menezes, José Xavier Pinto e António Elizeu da Costa Freire Um último sobressalto viveu o povo de Salvaterra, o Decreto de 1º de Dezembro de 1867, voltou a assolar este concelho com a sua extinção, faz-lhe companhia o concelho de Coruche, ambos vão pertencer ao concelho de Benavente, mas logo o Decreto de 18 de Janeiro de 1868, anula as decisões anteriores e tudo volta à normalidade até aos dias que correm. Verifica-se na leitura daquele estudo que Vicente Lucas de Aguiar, foi por três vezes Presidente da Câmara de Salvaterra, e exerceu os cargos de Vereador. Também não nos passou despercebido o texto
148 daquela V Revista Magos, o texto - O Poder Local e Municipal, sua Evolução ao Longo da História, um trabalho do Dr. Roberto Caneira. Em 1995, quando da limpeza do terreno anexo à antiga Capela Real, que tinha servido de cemitério e antes de Picadeiro Real, lá se encontravam algumas pedras tumulares e Jazigos, o espaço foi reservado à construção de um Auditório Municipal, uma decisão do executivo do Dr. José Gameiro dos Santos. Com as obras aquelas pedras desapareceram, apenas as recordam algumas fotos que obtivemos na altura. Uma dessas campas rasas, era de Vicente Lucas de Aguiar, falecido em 13 de Setembro de 1889, filho de Francisco Lucas D`Aguiar e de Marianna Ritta Pinto, moradores na Rua de S. Paulo, em Salvaterra de Magos. Á margem, nos Róis de Confessados, descreve-se parte da sua vida familiar. *José Gameiro
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Nota: Foto com epígrafe recuperado pelo Autor Bibliografia também usada: Colecção “Recordar, Também é Reconstruir” – Caderno Apontamentos Nº 36 (3ª edição) * Autor: José Gameiro * Publicado em José Gameiro Issuu
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Crónica Nº 59 Faceboock – José Gameiro 12 de Novembro de 2018 A ESCOLA PRIMÁRIA PRESIDENTE CARMONA Já em documentação de 1752, era referida a existência em Salvaterra de Magos, da Igreja de S. Sebastião, que ocupava o largo, com um templo bem paramentado, que tinha anexo um pequeno Hospital que recolhia os doentes da terra. Com o decorrer dos tempos, nos finais do séc. XIX, o edifício religioso e o seu pequeno hospital anexo, mostram grandes sinais de degradação, no seu lado norte, em 1893, passou a constar uma nova rodovia construída desde o Largo do Jogo da Bola – junto à entrada da Capela da Misericórdia, terminando no caminho do Convento de Jericó e estrada da Ponte da Peteja,
151 passando em frente ao velho edifício da Falcoaria. No lado norte da via, em espaços sem casario foram plantadas árvores para suporte do novo macadame em pedra redonda de cascalho e saibro. Anos depois esta via, passou a ter a toponímia de José Luís Brito Seabra, antigo presidente da Câmara Municipal de Salvaterra. O terremoto de 1909,atingiu aquelas antigas construções que ficaram reduzidas a escombros, e na (re)organização urbanística da vila, limpo o local do entulho ali se realizou alguns anos a Feira Anual de Maio da vila, e algum circo que por aqui fizesse estadia. A Câmara por volta de 1933/34, encontrou naquele antigo Largo de S. Sebastião, espaço para a construção de um Fontanário em cimento, com duas escadarias, abastecido de água, através de um furo na sua base com bomba de vácuo,
152 movimentada através de uma grande roda de ferro. No local ainda houve espaço para a construção de um novo edifício para escola primária, construção em aberto nos desígnios municipais 80 anos antes, com troca de correio e o respectivo Ministério em Lisboa. A obra do inicio da construção da escola, segundo documentos guardados por um maritimo (1), que tinha o barco “Progresso” aportado na vala de Salvaterra, foi por volta de 1936/37, e que transportou a primeira carga de cerca 25 metros cúbicos de pedra. Segundo ele, a inauguração do edifício escolar foi em 1937, ficando com o nome do Presidente; Óscar Carmona. Com a lenta modernização do espaço escolar em Salvaterra, o antigo edifício escolar “O Século”, inaugurado em 1913, depois de fechado ao ensino deu lugar, em 1985, à instalação de uma Biblioteca Municipal. Um novo Parque Escolar foi
153 inaugurado em 5 de Outubro de 2010, foram desactivadas a escola Presidente Carmona, e a conhecida Escola do Parque. *JosĂŠ Gameiro ************
Foto: Alexandre Varanda da Cunha 1945
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Crónica Nº 58 Faceboock – José Gameiro 14 de Novembro de 2018
RECORDANDO O DIA EM QUE O CLUBE DESPORTIVO SALVATERRENSE, viu legalizados os seus Estatutos, 28 anos depois da sua criação. Em 1954, era eu menino e moço, assisti a alguns jogos no campo da bola, em Salvaterra de Magos. O Campo António Roquette, um terreno camarário entre a Ómnia da família Henriques Lino e a traseira do Hospital, com as vedações do topo norte e do sul, eram tapadas com esteiras, que horas antes eram estendidas. Era o local encontrado depois de um “sonho” dos amantes da bola, que até aí andavam em "bolandas" com as balizas de
155 madeira às costas, por diversos terrenos cedidos pelos lavradores da terra. A origem da Coletividade tenho-a no livro que editei, em 2014,depois de ter usado muitos dos documentos e informações que ainda guardo, no meu arquivo. Por volta de 1968, andava eu, pesquisando dados sobre o Desportivo Salvaterrense – CDS, para um texto a publicar no jornal Aurora do Ribatejo. Com o apoio da vasta experiência dos antigos dirigentes; Manuel Gonçalves da Luz, Júnior e Alexandre Varanda da Cunha, que me deram os primeiros informes. O Alexandre Cunha, sendo um apaixonado pela fotografia, e tendo alguma queda para o desenho, na sua Barbearia, ali na Praça da República, fez o emblema do clube e também coloriu a primeira foto, que tirou à equipa do CDS. Um dia com o seu apoio reuni naquele espaço de trabalho, durante alguns dias um grupo de antigos praticantes
156 da bola, daquela já longínqua época de 1926. A entrevista foi feita e gravada - guardo-a no meu espólio. Havia grupos de rapazes que compunham; OS MERCEGOS,OS ZEBRAS,O MARÍTIMO, O SEMPREAPARECE, e O RURAL PEQUENO, que disputavam entre si renhidos jogos. Desde 1926, ano em que António Roquette, natural de Salvaterra, já famoso Keeper (guarda- redes) do Casa Pia e da Selecção Nacional, era um dos novos ídolos daquele jogo de futebol, que enchia a capa do novo jornal da época “O Desportivo”, acabado de chegar às bancas. Este, e outros jornais chegavam às mãos dos poucos jovens da terra, que sabiam ler, através do seu vendedor – o comerciante: Almeida Rodrigues. António Roquette, frequentemente era solicitado, e vinha à sua terra, trazendo consigo vários jogadores,
157 entre eles: Mário Pita, Gustavo Teixeira e Victor Silva, ídolos do futebol lisboeta e nacional, para encontros à quinta-feira (dia em que o comércio fechava na vila), sendo o Massapez do lavrador; Oliveira e Sousa, agora o local dos encontros. Os entusiastas, que promoviam estes encontros, selecionavam os melhores jogadores entre: O RURAL, e o OPERÁRIO, dois agrupamentos existentes na vila. O entusiasmo era tanto, que depressa se desfizeram, e apareceu o ESTRELA FUTEBOL CLUB, passando a vestir a sua camisola; António Pinheiro, Nazário, Júlio Lino, Sebastião Cabaço, Fernando Luiz das Neves “O Ciranda”, Joaquim Santos (Tanganho) e Luís Figueiredo, entre outros. A sede do Estrela Futebol Clube, passou a ser na oficina do director, Augusto da Luz, na rua Machado Santos (antiga rua S. Paulo), ali ao lado da taberna do Artur Pinto. onde à noite na parede, era colocada
158 uma pequena caixa em madeira, envidraçada, com uma vela no seu interior, servindo de reclamo do clube. Em 1938, existia em Salvaterra, apenas a associação recreativa – o Grémio Artístico Salvaterrense, cuja fundação vinha do Dia de Reis, do ano de 1925, e tinha sede na rua do Forno de Vidro, e os seus sócios eram os Carpinteiros, Ferreiros, Pedreiros e Padeiros, entre outras profissões conceituadas na vila. Os Trabalhadores Rurais, apenas lá entravam nos dias dos bailes. Em 1947 o seu sócio/ presidente; Sílvio Cabaço propôs a criação do Clube Desportivo Salvaterrense – CDS, e depressa o Estrela, foi convidado a integrar-se nesta nova Associação, sendo alugada a casa de rés/chão, que tinha servido de sede ao Clube dos Lavradores, ali à vista do Largo da Igreja. Nesse ano em 27 de Abril, fez a sua apresentação pública, num jogo com o Desportivo da Azambuja.
159 Na época 1957/58, já utilizavam o campo “Parodiantes de Lisboa”, num terreno cedido provisoriamente pela Misericórdia local, onde o presidente da Câmara; Dr. José Luís Seabra Ferreira Roquette, e os irmãos Ruy e José Andrade, tiveram grande empenho. Em 1964, um grupo de Pedreiros e Carpinteiros, levaram a cabo a modificação da casa/sede do CDS, com a construção de um primeiro andar, que comportada um grande salão. Estávamos a 14 de Novembro de 1975, já com algumas crises a provocarem no seu historial a inércia na prática desportiva, foram finalmente aprovados os seus Estatutos de Colectividade Desportiva. *José Gameiro *********
Fotos: Equipas do Estrela e do CDS – Autor: Alex Cunha ********* Nota: Extratos do Caderno de Apontamentos Nº 3 * O Clube Desportivo Salvaterrense, e os seus Desportos “Colecção Recordar, Também é Reconstruir” – 1ª edição 2007 – Autor, eLivro: Clube Desportivo Salvaterrense “ Sua Origem e sua História” – Autor * edição 2014 * publicado em José Gameiro Issuu
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Crónica Nº 60 Faceboock – José Gameiro 14 de Novembro de 2018
RECORDANDO QUE FAZ 160 ANOS, QUE O SISMO DE 1858, destruiu a Torre da Igreja Matriz de Salvaterra de Magos. Quando era criança de poucos anos, ali próximo da rua onde nasci, existia uma grande oficina mecânica, cujo dono era João Neves Travessa, e o povo lá ia dizendo que a oficina era do João Serôdio, ocupava segundo os mais idosos o
162 espaço onde foi a Casa da Ópera de Salvaterra. Naquele ano de 1989 quando me debrucei sobre o local onde poderia ter existido a Teatro da Opera Real de Salvaterra, para um texto de jornal, nos documentos que consultei veio ter-me às mãos uma pequena referência sobre o sismo de 1858, que em Salvaterra deixou alguns estragos no seu casario, danificando também a torre da Igreja Matriz, e paredão frontal do Paço Real, que caiu. Indaguei junto do povo e lá fui encontrar e entrevistei: José Caleiro, Josefina Vidigal, Rosa Mendonça, Joaquina Mendes e Francisco Costa, pessoas que viveram em dois séculos. Todos eles me contaram (guardo gravação das entrevistas), que ouviam aos mais velhos ter havido um sismo no reinado de D. Pedro (D. Pedro V), entre a destruição de algumas casas, e o povo não esqueceu a cúpula da torre da Igreja Matriz, e o paredão frontal do palácio real, que caíram.
163 José Caleiro, não deixou de me dizer que sendo “rapazote” não entrava nas ruinas, pois tinha medo de uma família de gente pouco recomendável, que vivia lá dentro. No Canto da Ferrugenta ainda havia restos de uma Praça de Toiros em madeira. A Joaquina Mendes, mesmo sendo já dura de ouvido, com a ajuda da filha Conceição, não deixou de me dizer, que sendo menina, tinha ordens dos pais, para passar ao largo, e assim poucas vezes olhou lá para dentro das ruínas, mesmo havendo portas abertas debaixo dos grandes arcos de pedra. A Rosa Monteiro, disse que num grande largo havia ruínas e entulho de uma casa grande, que sua mãe lhe dizia serem as ruínas onde viveram as senhoras da Corte. De imediato acrescentou, mais tarde, já casada soube que ali viveu com o seu gado, um homem chamado “O Pardalada”, e com casas novas, como a Adega do Gaspar Ramalho, o povo dizia ser o Canto da Ferrugenta. Depois do incêndio de 1817, e um outro em 1824, uma outra calamidade que foi o sismo de 1858, levou o Paço real
164 de Salvaterra quase a sua destruição total, até porque desde que a corte portuguesa foi para o Brasil, em 1808, escapando à 3ª. invasão a Portugal do exercito de Napoleão, parte dos soldados estiveram aqui instalados, no seu caminho para Lisboa, deixando-o numa “lastima” quando da sua retirada, após derrota sofrida. Muitos anos depois, já no reinado de D. Maria II, esta cedeu ao seu governo, o Almoxarifado de Salvaterra de Magos. Nessa altura, a rainha doou à vila, um edifício, para ali ser instado o seu Município. Tendo chegado a ocasião para o trabalho da recuperação da cúpula do torre, levou azulejo de cor azul, foi colocado um relógio com três frentes, com os ponteiros em chapa desenhada e as horas em numeração romana. Entre os anos de 1862/63, os restos do Paço Real, foram vendidos em haste pública, mas a limpeza total levou muitos anos, situação acompanhada de muitas paragens.
165 Francisco Costa, por último ainda me adiantou, quando era menino viu os restos das ruinas do Paço real de Salvaterra, serem destruídos à base de cargas de explosivos, e homens com marretas partindo a pedra em pequenos pedaços para as ruas da vila. Um novo relógio na Torre da Igreja. Em 1957, com as grandes obras no edifício religioso, o executivo da Câmara, sob a presidência de José Luís Ferreira Roquette, tomou o encargo de substituir o antigo relógio da torre. Esta nova e importante peça de relojoaria foi comprada à firma Couzinha, de Almada, ficando o zelador municipal; José Miguel Borrego, encarregado de periodicamente fazer a sua manutenção nos acertos e colocar óleo no seu confuso maquinismo. Algumas vezes estive naquela torre, e vi o meu pai a fazer aquela manutenção. Em Dezembro de 1983, existindo obras de conservação no templo, Cassiano José Oliveira, tomou a iniciativa de propor ao executivo autárquico, de que fazia parte
166 como Vereador eleito, pelo PSD, substituir os velhos azulejos por uns outros da mesma cor, visto alguns já terem caído da torre. .*Recolhi alguns do entulho, e fiz a sua oferta à Paroquia, para constarem no Museu religioso em construção na época, numa das salas do templo local. O Relógio desde 1989, vinha dando mostras de precisar de grande conserto, mas só 12 anos depois, o Pe, Agostinho de Sousa, tomou em mãos a iniciativa da sua reparação mecânica com novo sistema computorizado, iniciativa que custou cerca de 1.300.000 escudos, que foi suportado por iniciativas paroquiais e apoio de vários mecenas. *José Gameiro
******* * Foto: * 1) Torre e Relógio – O Autor 1999
******* http://w3.ualg.pt/~jdias/GEOLAMB/GA5_Sismos/57_P ortugal/572_SismicidPort.html
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*SETUBAL É, também, importante zona sísmica. A 11 de Novembro de 1858 ocorreu um sismo destruidor que provocou enorme destruição em Setúbal, e foi sentido em todo o território continental, cujo epicentro provável se localizou no mar, a alguns quilómetros desta cidade. Alguns autores integram este sismo, com magnitude estimada em 7,1, nos 15 maiores ocorridos mundialmente em crosta continental estável.
Foto do Autor - Torre da Igreja Matriz * 1999
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Crónica Nº 61 Faceboock – José Gameiro 23 de Novembro de 2018
O CARRO DA BÓIA E A RECOLHA DO LIXO EM SALVATERRA, através do tempos. Na década de 30 do séc. XX, a recolha da bóia, ainda tinha licitação publica anual, onde os interessados faziam a sua oferta. Do leilão se encarregavam os serviços da câmara municipal fazendo edital, uns trinta dias antes.
169 - Era uma trabalho, onde um carro do interessado, já preparado atrelado a uma muar, tinha um depósito (quadrado) em zinco, e por vezes em madeira ( tipo barrica), com abertura grande em cima para a descarga dos potes com dejectos humanos caseiros. - Naquele tempo concorria, Manuel Santana, o único que se encarregava daqueles serviços. Depois de guardado em terreno apropriado, e feita uma parga, vendia para uso na agricultura. - A madrugada, ainda estava a meio, quando o povo rural saía para o trabalho do campo, lá deixava à porta o pote de barro com os dejectos da família (urina e fezes) feitos durante o dia e noite nos penicos, que guardavam debaixo da cama ou na parte debaixo da mesa de cabeceira. - Algumas casas no meio urbano, das classes média e alta, tinha uma canalização na parede que recebia para um depósito no chão, tais dejectos, com as águas usadas no WC e cozinha- de tempos a tempos já cheia era recolhida através de uma bomba tipo aspiração.
170 - Por volta de 1940, com a canalização ( em grandes manilhas de cimento) os esgotos urbanos já atravessavam as principais ruas da vila que ligavam a uma outra principal passando na rua do Rossio, ligada água na vala real (1). - No dobrar do século, tinha a câmara 5 funcionários, para os serviços municipais, entre eles o coveiro do cemitério da freguesia, conhecido pelo António Lobo. - Os 4 empregados que faziam a limpeza das ruas de Salvaterra, lá estavam na Cocheira aparelhando o animal à carroça, e pelas 8 horas da manhã começavam a varrer com vassoura (usavam vassoura larga, feita com cabo grande e lentisco), mato da família Pistacia lentiscus, que cortavam pela Primavera lá nos terrenos da charneca dos Coelhos - Várzea Fresca, que ficava a moldar secando à sombra umas semanas. - As manadas de gado que manhãs cedo saiam dos currais a caminho do campo, deixavam as suas fezes pelas ruas da vila. Mais tarde, foi adquirido um tractor, que rebocando a velha carroça (já adaptada) fazia aquele serviço e outros
171 - Em 1970, acompanhando o progresso, nas ruas são colocadas algumas papeleiras, nos postos da electricidade, e uma mulher assalariada, com um carrinho ( com rodas de bicicleta e balde) passou a percorrer algumas ruas recolhendo o lixo. Depressa veio o tempo dos Contentores de Recolha do lixo em vários pontos da vila de Salvaterra, e até nos melhores sítios de recolha nas freguesias do concelho, vários carros municipais diariamente recolhem o lixo urbano. Novo tempo de progresso está aí em zonas urbanas/rurais, a União de Freguesias Salvaterra de Magos e Foros de Salvaterra, acaba de adquirir novo utensílio para a recolha de pequenos lixos. *José Gameiro ******** - (1) Trabalho realizado pela família Palma, pedreiros que à época trabalhavam para os serviços da câmara * Fotos: No grupo dos funcionários Municipais - o autor, junto a seu pai: José Gameiro Cantante, em dia chuvoso da Feira de Maio, 1952 * Pá que servia para recolha do lixo, usada pelo pai, do autor - é guardada como relíquia.
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Crónica Nº 61 Faceboock – José Gameiro 08 de Novembro de 2018 OS QUE NÃO GOSTAM, TAMBÉM DEVEM PRESERVAR, a cultura e tradição dos seus antepassados, afim de terem presente e deixarem futuro. UM TOPÓNIMO AUSPICIOSO - foi o inicio da palestra que o Prof. Dr. Justino Lopes Almeida, proferiu quando aqui esteve, em 1983, no Pavilhão da Escola Secundária, com o Prof. Dr. Veríssimo Serrão, a convite do Pelouro da Cultura, uma iniciativa do Vereador; Joaquim Mário Antão, sob a presidência de António Moreira.
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A origem de Salvaterra de Magos ! O seu nome nem sequer vem mencionado no Onomástico Medieval, que regista as formas mais antigas dos antropónimos e topónimos portugueses. Uns, os mais ousados, contam que para aqui vieram desterrados, bruxos e feiticeiros, expiar os seus males – as terras “montanhosas e salobras” davam-lhes vida menos penosa, segundo a sentença do homem medieval. No entanto, os “Adivinhões” passaram as chamar-lhe Terra Salva. Será uma lenda, dizem outros, que persiste em ofender este nobre povo de Salvaterra, e assim, aqueles não são levados em conta, até porque as suas terras são de planície acentuada, que “bebem” da frescura das águas do rio Tejo que banham a sua margem. Outros, teimam em usar os registos históricos. – Corria o séc. XII, D. Sancho I, filho de D. Afonso Henriques - rei fundador do reino de Portugal, querendo povoar as terras que seu pai foi conquistando para sul do seu
174 território, por aqui junto ao grande rio andou, e vendo boas terras que davam pasto despovoadas, depressa se encarregou de dar benesses aos imigrantes, que mandou vir da Flandres e da Borgonha, que nelas quisessem fazer vida. Aqui em Salvaterra, teve bonita Casa de Campo, para seu deleite e da sua corte, quando caçava com aves de alto voo, protegendo estas com leis assinadas em Coimbra. Os colonos consigo trouxeram a sua cultura e tradições – depressa os bois de trabalho e cavalgaduras foram apurados nas suas raças. Depressa, em dias de festa, tal como nas suas terras de origem, já usavam aqueles animais convertidos em toiros bravos, cheios de investidura em recintos de brincos. Os cavalos deixavam de ser bestas tirantadas, e bem montados com cavaleiros apresentavam-se azaejados com as armas dos seus donos. No séc. XIII, em Junho de 1279, quando governava o país, o rei D. Dinis, o sexto rei
175 descendente da dinastia do fundador de Portugal, concedeu a Salvaterra de Magos, o seu Foral de concelho, a exemplo do que tinha feito com aquela que na época romana usava o topónimo de Scallabis Praesidium Iulium, e agora era Santarém. D. Dinis, tal como seu avô D. Sancho I, redistribuiu terras, que retirou a Santarém, promovendo a agricultura, fundando várias comunidades rurais. A cultura e tradições dos primitivos povoadores destas terras, que viriam a ser o Ribatejo, sendo um bem a guardar, foi passando através de gerações. Os séculos passaram, com o rei D. José no trono de Portugal, Salvaterra de Magos, viveu dias de grande esplendor, tendo até acontecido aqui uma cena, que ficou na sua história, e que a tauromaquia foi guardando até aos nossos dias. Em 1779 morreu tragicamente numa corrida de touros o filho do Marquês de Marialva; Manuel José de Noronha e Menezes, 7º Conde dos Arcos, e que Rebelo da Silva, bem romanceou com a sua pena de escritor.
176 A cultura e tradições dos primitivos povoadores destas terras, que viriam a ser o Ribatejo, sendo um bem a guardar, foi passando através de gerações, até aos nossos dias. *José Gameiro ******* 1)Topónimo Auspicioso “Montalvo e as Ciências do Nosso Tempo” http://montalvoeascinciasdonossotempo.blogspot.com/2010/10 /salvaterra-de-magos-um-toponimo.html 2) Livro: “Salvaterra de Magos – Séc. XVIII a XXI * Pedaços da História da Tauromaquia da Vila” – Autor: José Gameiro * Publicado (Google) em José Gameiro Issuu
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Crónica Nº 62 Faceboock – José Gameiro 18 de Dezembro de 2018
A ESTAÇÃO DOS AUTOCARROS DE PASSAGEIROS, em Salvaterra de Magos, chegou a ter lugar no largo da Igreja Matriz. Nós que vivemos alguns quarteis de vida, tivemos o privilégio de acompanhar alguns momentos significantes, da evolução da presença deste serviço público de passageiros, nesta vila.
179 Estivemos na abertura da Central, em 1957, na rua Heróis de Chaves, (foi aí que entramos no mundo do trabalho), e uns anos, em 1964, na inauguração da Estação, que ocupou o espaço da primeira. No ano passado uma nova mudança aconteceu, foi aberta uma “Loja de Atendimento”, no Largo Rebelo da Silva, ali junto à Praça de Toiros e Jardim Infantil. O inicio destes transportes públicos, vem da década de 30 do séc. XX, com uma diligencia para o Cabo – VFXira, e uma outra para a Estação dos comboios em de Muge, ambas eram tirantadas a 2 cavalos, e pertenciam à família de Carlos Torroais. A viagem para o Pontão do Cabo, usava-se o único caminho do Convento de Jericó, e com a vila de Benavente à vista, ali na “testa” da sua ponte de madeira, atravessava-se o campo. Por volta de 1938, Alfredo Rodrigues, o Alfredo Calafate, como era conhecido, por ter sido esta a sua profissão, comprou o Alvará e introduziu naquelas concessões 2 carros para 12 passageiros, cada, usando já
180 a nova EN 118, recentemente aberta ao trânsito. Nessa época existiam na vila, 3 carros ligeiros de passageiros (Táxis) – um de João Cardoso, um outro dos irmãos; João e Manuel Capadão. Havia um que chamava a atenção, por ser um carro “descapotável” e conduzido por; Mário das Neves, homem de estatura pequena, conhecido por Mário Puto. A Empresa de Viação Salvaterrense, foi vendida à família Anastácio, de Benavente, e passou a fazer parte da empresa de viação Benaventense. Esta em 1948, foi adquirida pela empresa de viação Setubalense, da família João Cândido Belo (Vila Fresca Azeitão/Setúbal), estava para breve a inauguração da Ponte que atravessava o Tejo, em VFXira. Em 1975, após a revolução de Abril 1974, o Dec.200-A e C/75, procedeu à nacionalização em Portugal dos transportes públicos, aparecendo a Rodoviária Nacional – R.N.
181 Com o processo das Desnacionalizações deste ramo, em 1993, apareceu a Empresa; Belos Ribatejana, iniciada pela família Cândido Belo, dando lugar à Ribatejana, que veio a ser adquirida pela empresa Barraqueiros, que opera nesta vasta zona ribatejana. *José Gameiro **********
*Fotos: 1) - Carro das carreiras adquiridas por Alfredo Rodrigues (Junto à Torre da Igreja Matriz) 2) – Camioneta de carreira da Empresa Setubalense – Rua Heróis de Chaves 3 – Taxi Descapotável – Na 3ª posição Mário Luís das Neves (Mário Puto) Nota: Livro: A Transportadora Setubalense (João Cândido Belo * Do Autor: José Gameiro Publicado em José Gameiro Issuu
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Crónica Nº 63 Faceboock – José Gameiro 23 de Dezembro de 2018 O NATAL ESTÁ Á PORTA No dobrar do séc. X X, ainda se mantinha o bem enraizado convívio nesta época festiva, que vinha de outros tempos. As famílias e vizinhos tinham o hábito nesta época de se aproximarem em espírito de festividade e solidariedade. Aqui, em Salvaterra de Magos, no dobrar do séc. XX, ainda havia as rabanadas, filhós (as mulheres do povo rural chamavam-lhe (velhozes de abóbora) feitos com abóbora, pratos de arroz doce e coscorões, com farinha de trigo. A oferta das bebidas finas, também entravam na mesa. Estes doces passavam de gerações, e com o “nascimento” de Foros de Salvaterra passaram também a ser hábitos daquelas gentes que não dispensavam nas bebidas a Aguardente, feita da colheita do ano.
184 Os Foreiros, numa troca entre si – sinal de boa vizinhança e amizade. nas ceias da noite de Natal, juntavam-se familiares e amigos, em grande convívio até de madrugada, ao som da música de algum acordeonista que o grupo contratava. No inicio deste séc. XXI, os livros também passaram a ter lugar nas prendas de natal depois entraram os eletrodomésticos, sinais de outra forma de vida. O convívio mantinha-se assim, até que a chegada dos tempos modernos, com o consumismo em grande escala tudo apagou aquela forma de viver. Outros tempos!... * José Gameiro ********
Fotos: Velhozes e Broas de Anis * Autor
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Crónica Nº 64 Faceboock – José Gameiro 24 de Dezembro de 2018
AS CHEIAS DO NOSSO TEMPO, provocadas pelas enchentes do leito do rio Tejo. A vila de Salvaterra de Magos, tem a norte a margem sul do maior rio que atravessa Portugal, e em tempo de inverno a sua água transborda e quase sempre junta-se à que a Ribeira de Magos, trás da Albufeira construída e inaugurada em 1938, serve para rega das terras, foi seu construtor o Eng. José Vaz Guedes, que dali serviu de ensaio para se abalançar na barragem de Castelo de Bode, inaugurada em 1951.
186 Na primeira metade do séc. XX, estão registadas grandes enchentes, vindas do Tejo que alagaram algumas ruas da vila. Segundo me informou em 1980, o idoso; José Caleiro, tinha ouvido ao seu sogro, José Ferreira - Passador da barca na Palhota, foi no ano de 1876, que se verificou a maior cheia no Tejo, e Salvaterra sofreu grande enchente. A cheia ao afastar-se da zona ribeirinha, foi alagando casa e celeiros chegando a água a inundar a parte de baixo do edifício da Câmara municipal, que servia de prisão. O arrais Vicente Francisco - marítimo com barco aportado no cais da vala real, disse-me um dia, que na década de 40 do séc. XX, num ano foram contabilizadas 7 cheias, e os maritimos tinham o cuidado de marcar a altura das várias enchentes no muro do botaréu que suportava a Capela. Por vezes os valados eram rebentado pela força da correntes, e as terras já encharcadas com grande altura das águas, houve um ano em 1966, que mais uma vez alagou a zona ribeirinha da vala real.
187 Esta tragédia, só foi ultrapassada 10 anos depois, em 1979, com outra enchente, acompanhada de fortes ventos, que destruiu parcialmente paredes e telhado da Capela da Misericórdia. Com a construção da Barragem de Castelo de Bode e outras, o leito do Tejo fica mais controlado, e as águas das enchentes no inverno são ali armazenadas, e poucas cheias se verificam e as terras mesmo alagadas são de poucos dias duração. *José Gameiro ********* Nota: Livro: As Cheias em Salvaterra de Magos, um prestimoso trabalho de recolha, de textos e fotos do Dr. Roberto Caneiro, responsável pelo Arquivo Municipal * Uma edição CMSM 2010 Caderno de Apontamentos Nº 07 * Terramotos e As Cheias - Tragédias que Assolaram Salvaterra de Magos * Colecção Recordar, Também é Reconstruir!,,, “ do Autor *Fotos:: Cheia de 1966 do Autor
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- Crónica 32 * Comer Torricado no Campo …………………… Pg. 09 - Crónica 33 * O Gil Albuquerque, Faz Anos …………………… Pg. 13 - Crónica 34 * Um CowBoy Ribatejano ………………………….. Pg. 17 -Crónica 35 * Quando Havia Fornos de Cal ………………….. Pg. 21 -Crónica 36 * O Que Resta das Chaminés …………………… Pg. 26 -Crónica 37 * Provérbios e Ditos Populares ……………… Pg. 30 -Crónica 38 * Beber Leite Garrafa ……………………………….. Pg. 34 -Crónica 39 * A Última Foto da Classe ………………………… Pg. 38 -Crónica 40 * Um dos Últimos Cinemas ………………………. Pg. 42 -Crónica 41 * Os Companheiros da Alegria, ………………….. Pg. 46 -Crónica 42 * Pe. João António da Costa Ferreira ………. Pg. 49 -Crónica 43 * Já Somos Um Nadinha ……………………………. Pg. 52 -Crónica 44 * Praça Toiros – A Reconstrução …………… Pg. 58 -Crónica 45 * A Inauguração do Posto da GNR …………… Pg. 66 -Crónica 46 * A Praça de Toiros Fez Anos ………………….. Pg. 70 -Crónica 47 * Com Um Calor destes, Convidava-os Para Uma Imperial no Ribatejano …………. Pg. 82 -Crónica 48 * Salvaterra - No Tempo e No Modo ……….. Pg. 85 -Crónica 49 * A Raínha D. Maria I – A Louca ……………….. Pg. 98 -Crónica 50 * Doces da Nossa Terra ………………………….. Pg. 107 -Crónica 51 * Quando se Bebia Água das Nascentes . Pg. 108 -Crónica 52 * Matar o Bicho, ou Encher o Bandulho .. Pg. 111
190 -Crónica 53 * A Sorte do Barrete ……………………………… Pg. 117 -Crónica 54 * A Creche, Um Novo Sistema de Guardar As Crianças …………………………………………. Pg. 121 -Crónica 55 * A Caixa Agricola, Fez Anos (1927-2018) Pg. 127 -Crónica 56 * Inauguração da Estação dos Correios Pg. 133 -Crónica 57 * Quando o Zé dos Santinhos ………………… Pg. 139 -Crónica 58 * Vicente Lucas de Aguiar, Um Autarca ..Pg. 144 -Crónica 59 * A Escola Presidente Carmona …………… Pg. 150 -Crónica 60 * O Sismo de 1858, Faz 160 Anos …………. Pg. 161 -Crónica 61 * Os Que Não Gostam, Também devem Preservar …………………………………………….. Pg. 172 -Crónica 62 * A Estação, Autocarros de Carreiras …..Pg. 178 -Crónica 63 * O Natal, Está à Porta …………………………… Pg. 183 -Crónica 64 * As Cheias do Nosso Tempo ………………… Pg. 185
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