III Volume cadernos Nº 14 - 22

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VOLUME III

Cadernos de Apontamentos – Nº 14 - 22

Documentos para a história de

SALVATERRA DE MAGOS Património: Geográfico, Monumental, Cultural, Social, Político, Económico e Desportivo Séc. .XIII – Séc. XXI

O Autor JOSÉ GAMEIRO (José Rodrigues Gameiro)


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Fotos da Capa: Procissรฃo Senhor dos Passos 2012 * Estatueta S. Baco (Capela do antigo Convento de Jericรณ)


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Primeira Edição

Indíce: COLECÇÃO RECORDAR, TAMBÉM É RECONSTRUIR ! Cadernos/ Apontamentos Livros: Nº 14 - 21

* 14 - AS FESTAS RELIGIOSAS E ROMARIAS POPULARES 15 - CONTOS E LENDAS ( MEMÓRIAS DO POVO ) * 16 - FONTES E FONTANÁRIOS * 17 - 0S DIAS QUE SE SEGUIRAM AO TERRAMOTO DE 1909 * 18 - HOMENAGENS E INAUGURAÇÕES * 19 - O PAÇO REAL, A CAPELA, AS CHAMINÉS DAS COZINHAS E A CASA DA ÓPERA * 20 - AS SUAS GEMINAÇÕES (As alianças dos novos tempos) * 21 - CHESAL – Cooperativa de Habitação Económica *22 - O CONVENTO DE JERICÓ / ou JENICÓ


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******** ******** O autor dos textos destes Cadernos nĂŁo seguem o Acordo OrtogrĂĄfico de 1990 ******** ******** Contactos: Tel. 263 504 458 * Telem. 918 905 704 e-mail: josergameiro@sapo.pt


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CADERNOS DE APONTAMENTOS Nº 14

Documentos para a história de

SALVATERRA DE MAGOS Séc. XIII – Séc. XXI

Património: Geográfico, Monumental, Cultural, Social, Político, Económico e Desportivo

O Autor: JOSE GAMEIRO


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************ *********** Foto da Capa – Procissão Senhor dos Passos – 2012 *********** ***********


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Primeira Edição FICHA TECNICA: Titulo: AS FESTAS RELIGIOSAS E ROMARIAS POPULARES ! Tipo de Encadernação: Brochado (Papel A5) Autor: Gameiro. José Colecção: RECORDAR, TAMBÉM É RECONSTRUIR ! Editor Gameiro, José Rodrigues Morada: Bº Pinhal da Vila – Rua Padre Cruz, Lote 49 Localidade: Salvaterra de Magos Código Postal: 2120- 059 SALVATERRA DE MAGOS Depósito do Original: ISBN: 978– 989 – 8071 – 14 – 9 Depósito Legal: 256466 /07 Edição: 100 exemplares – Março 2007 **************************** 2ª Edição em PDF Revista e Aumentada – Março 2015 ***************************** Contactos: Tel. 263 504 458 * Telem. 918 905 704 e-mail: josergameiro@sapo.pt O autor deste texto não segue o acordo ortográfico de 1990


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2ª Edição Revista e Aumentada – Março 2015 ***************************** Contactos: Tel. 263 504 458 * Telem. 918 905 704 e-mail: josergameiro@sapo.pt

O autor deste texto não segue o acordo ortográfico de 1990


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O MEU CONTRIBUTO Quando menino, assistia sempre entusiasmado logo após o 1º de Dezembro, de cada ano, à decoração da zona baixa da vila, junto da capela, ali ao lado do Botaréu, pois aproximava-se o dia da Procissão da Nossa Senhora da Conceição. O ritual era o mesmo todos os anos, mas aquele povo da bordade-água, tentava que a decoração fosse sempre diferente, e na minha memória, retenho uma das suas últimas decorações, que se fizeram naquele espaço. Naquele ano de 1953, a decoração compunha-se de dois arcos, um pouco distanciados um do outros, construídos com varas de eucalipto, revestidas com flores., e entre eles uma bateira de cada lado., com o chão revestido de rosmaninho e flores. No dia 8, logo pela manhã, aquele povo, fazia estalar no céu alguns foguetes, manifestando assim o seu contentamento, pois a festa iria terminar, com a santa de regresso a casa - a Capela da Misericórdia, depois de um procissão noturna, uma semana antes, que a leva-a até à Igreja Matriz, onde se realizavam, durante oito dias novenas, com oratória. Nas três ruas de passagem da procissão, janelas e varandas, estavam decoradas com colchas, que faziam um bonito colorido. Meio século já se passou, a festa da Nossa Senhora da Conceição, ainda se realiza, mas agora sem pescadores e os marítimos, pois foram artes que deixaram de existir na vala real. Quanto soa festejos de crendice pagã, o dia de Quinta-feira de Ascensão, já não tem o luzimento de outrora, sendo no entanto ainda o feriado municipal do concelho. MARÇO:: 2015

O Autor: JOSÉ GAMEIRO (José Rodrigues Gameiro)


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A FÉ RELIGIOSA DO POVO !... Muitos séculos antes da idade média, a crendice popular caminhava para a fé em Cristo. O povo português já aceitava os ditames da sua Igreja, instituída a partir de Roma, muitas terras adoptaram vários santos para seus padroeiros. Saulo nasceu em Tarso, na Cilícia, oriundo duma família judaica, no ano 36, que gozava de privilégios Romanos e tinha dupla nacionalidade, com o nome de Paulo, perseguia os cristãos novos, mas a caminho de Damasco, teve um encontro com Jesus Ressuscitado, encontro que estando três dias cego, Ananias voltou a dar-lhe a visão, assim tornouse um apaixonado crente na fé cristã, considerado um Apostolo. Durante 30 anos, fundou inúmeras Igrejas, consolidando as jovens cristandades com as suas cartas pastorais. Ajudou a abrir a Igreja cristã, às dimensões do mundo, promovendo a sua expansão missionária, S. Paulo, cujo carácter tinha uma vocação excepcional da fé em Cristo, que nos assegura ser autêntica, pois recorda-se que na verdade, a sua pregação deriva da revelação de Jesus Cristo. Preso em Roma, preparado para o martírio, S. Paulo dirige a sua última mensagem ao seu discípulo Timóteo, é o testamento de um Apóstolo prestes a morrer, não soltando lamentos de vítima. É um cântico de vitória que entoa, pois a sua missão na terra está concluída, e já apresentou ao senhor a oferta, regada com os seus suores e sangue, que são os fiéis conquistados para Cristo (Fil.2,17; e Roma. 12,1).


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É a hora da alegria e da esperança, o tempo do seu encontro com Cristo Ressuscitado, tinha chegado e a sua missão na terra tinha terminado, Muitos séculos depois com o povo de Portugal crente na fé e sendo maioritariamente cristão, a população de Salvaterra de Magos, vendo o seu exemplo, aceita-o como Padroeiro, para a sua Igreja Matriz. PROCISSÃO DO SENHOR DOS PASSOS ! Corria o ano de 1920, no mês de Abril, em plena semana pascal, o povo de Salvaterra de Magos, participava com elevada crendice, na procissão do Senhor Morto, festejos que estavam bem vincados nos seus hábitos religiosas. Iniciado o percurso na Capela da Misericórdia, junto à vala real, eram percorridas algumas ruas da vila que, aqui e ali, estavam revestidas de pétalas de flores e, as varandas revestidas de bonitas colchas. O préstito religioso, com várias imagens de santos e estandartes, compunha-se sempre de muitas centenas de crentes. As alas de crianças, vestidas de anjinhos, acompanhados das mães, os homens com suas capas vermelhas, cantavam hinos, ao seu Deus. O pároco da vila, acompanhado de outros vigários, debaixo do pálio, levava o crucifixo, em permanente silêncio.


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No final da procissão, uma oratória, de um padre de conhecidas vocações prédicas, no púlpito da Igreja Matriz, culminava o dia festivo para a comunidade religiosa, de Salvaterra de Magos.

As paragens eram feitas em frente de edifícios que, ostentavam nas suas fachadas, Frontões em pedra de lioz, que á época tinham imagens de santos, simbolizando a caminhada que levou Jesus ao seu calvário, como: Capela Real, rua Cândido dos Reis (antiga rua de Santo António) e edifício do Celeiro da Vala, entre outros. No início da década de 40, esta procissão, entrou em desuso entre a comunidade cristã de Salvaterra de Magos. PROCISSÃO DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO O préstito religioso, é realizado todos os anos, nesta vila, no dia 8 de Dezembro, feriado nacional, dia alusivo a Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Portugal. Prova de fé religiosa, vivida com grande intensidade pelo povo, da terra, após uma semana de novenas, onde era hábito a vinda de um Frade da Irmandade dos Franciscanos, fazer a sua prelecção religiosa,, cativando o povo que enchia a Igreja Matriz, situação ainda vivida no dobrar do século XX.


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Os pescadores/varinos e fragateiros , naquele tempo, ainda viviam das artes da pesca e do transporte marítimo no rio Tejo, eram o suporte desta religiosidade com a gente urbana gente urbana, a que se juntava o povo rural, que naquele dia deixava os trabalhos do campo. Com o regresso do andor com a imagem à sua casa - a Capela da Misericórdia, acompanhada de uma multidão de fiéis, com os bombeiros e sua banda de música, os foguetes rebentavam no ar, enquanto a procissão percorria as ruas Cândido dos Reis, Machado Santos (antiga

rua S. Paulo) e, rua Luís de Camões (antiga rua Direita).

O rosmaninho, espalhado pelo chão, as colchas de várias cores, pendentes nas janelas e varandas, davam o colorido necessário à cerimónia, onde os cânticos religiosas, eram ordenados por um coro de fiéis. Antes da recolha do andor, ao cair da tarde, o Padre da Paróquia, e o Frade Franciscanos faziam uma homilia à virgem, o que se seguia a despedida do povo, com seus lenços brancos, acenando no ar. Nos dias que correm, ainda se realiza esta festa, mas já sem o luzimento de outros tempos, pois a falta dos marítimos e pescadores, é uma ausência marcante, nesta procissão, dizem os mais antigos, pois agora incorporam-se no cortejo levando o andor, os seus descendentes.


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Nota: No ano de 1981, estando a imagem de Nossa Senhora da Conceição, na Igreja Matriz, em tempo da reconstrução da Capela da Misericórdia, após o


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temporal de 1979, sofreu um grave acidente provocado por um incêndio que se pegou ao manto e vestido, que ficou destruído tendo ainda ficado com danos na mão esquerda e na cabeça, com a perca da sua apreciada cabeleira. A população, logo que o acidente foi conhecido, acorreu à Igreja, havendo cenas de choro devido à perda da venerada imagem da Padroeira da Freguesia. A imagem, depressa seguiu para uma oficina credenciada em restauros religiosos de Braga, que a recuperou. A imagem de Nossa Senhora da Conceição, data de 1646, em pleno reinado de D. João IV, em Portugal , que a coroou como “Padroeira do reino”, e em Salvaterra de Magos passou a estar recolhida naquela templo, pelo que se presume ter mais de 335 anos., sendo talhada em madeira e estando na altura vestida, segundo vozes mais avisadas do povo, com um fato, do vasto espólio, onde consta um que é emblemático oferecido pelas quatro Infantas; filhas do rei D. José, de nome próprio Maria e Francisca *O jornal “Aurora do Ribatejo” ,fez sair a noticia, na sua edição de 25 de Fevereiro, feita pelo seu colaborador, autor deste trabalho ***************** Em 2012, Nossa senhora com novo Vestido e Manto, coberto de flores (rosas vermelhas e brancas) que o povo adquiriu

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QUINTA - FEIRA DE ASCENÇÃO (OU DA ESPIGA)

É festejo ainda preservado em Portugal, em Salvaterra e arredores tem um acentuado paganismo, onde S. Baco é o ponto de ligação, de uma certa crença enraizada na celebração do calendário religiosa cristão romano. Conta o calendário a história que, quarenta dias após ter sido crucificado, Jesus Cristo, subiu ao céu, depois de ter aparecido pela última vez aos seus discípulos no Monte das Oliveiras.

A Tradição: Vem de séculos, pela manhã ainda o dia não era nada, as gentes urbanas juntavam-se aos rurais, em romaria a caminho do campo, onde especialmente os rapazes e raparigas ao fim da tarde apanhavam um ramo de espigas que se compunha; de flores campestres, como: Malmequeres, Margaridas de várias cores, Papoilas, folhagem de oliveira, ficando completo com espigas de trigo, centeio, cevada, aveia e pampilhos O ramo de espiga, simbolizava um desejo, (ou seja; que nunca falta-se o pão em cada lar); a oliveira, simbolizava a paz entre os homens. A pomba da paz trás no bico um ramo de oliveira e que a luz divina nunca falte. As flores, expressava nas suas cores, especialmente entre os jovens casadoiros, muita alegria e fertilidade nos novos lares O malmequer, representava riqueza (ouro e prata), enquanto a papoila amor e vida e o alecrim; saúde e força. O ramo da espiga era guardado até aos festejos do ano seguinte pendurado nas costa da porta de casa. Acreditava-se que neste costume com raízes pagãs, esteja associado às festas da deusa Flora, que decorriam nesta altura do ano, fim da


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Primavera, início do Verão. Em algumas concelho da Lezíria ribatejana, ainda é Feriado Municipal, no dobrar do séc. XX, ainda era um dia muito comemorado, com uma festa de convívio no campo, vivido com grande alegria e participação das famílias urbanas, com os rurais, O tempo passou, este tipo de convívio caiu em desuso pelas novas gerações, e nos últimos anos, o que resta daquele convívio leva a realizar-se, naquele dia, uma missa, no espaço que foi do antigo Convento de Jericó, onde ainda existe uma capela, com a imagem de S. Baco, santo ainda muito venerado das gentes dos concelhos de Salvaterra e Benavente, onde os crentes vão pagar as suas promessas, com azeite e velas para estar sempre iluminado.

******* – Ver Apontamentos N.º 15


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OS SANTOS POPULARES Esperados com grande ansiedade depois da festa da Páscoa, os festejos aos três santos populares, Santo António, São João e São Pedro, ainda eram praticados nesta vila, com grande entusiasmo, nos meados do século XX, onde as fogueiras com a queima de rosmaninho, nas ruas, davam luz, e serviam para o salto à fogueira. Todo o género de música e cantares alusivos aos santos serviam para alegrar os bailes, onde as rodas, e o salto às fogueiras duravam até altas horas da madrugada, todo o povo se divertia, especialmente os jovens, que até ali arranjavam namorico. **************** ***********

S. António

S. João

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S. Pedro


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******************** ************* BIBLIOGRAFIA USADA: Documentos de recolha do autor, * Jornal Ilustrado “ A Hora” – edição de 1966

FOTOS USADAS: Autor

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2006 – Procissão Nª Sª da Conceição


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CADERNOS DE APONTAMENTOS N.º 15

Documentos para a história de

SALVATERRA DE MAGOS Séc. XIII - Séc. XXI Património: Geográfico, Monumental, Cultural, Social, Político, Económico e Desportivo

(MEMÓRIAS DO POVO) O Autor: José Gameiro


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Primeira Edição FICHA TECNICA: Titulo: CONTOS E LENDAS ! ( Uma Riqueza da terra) Tipo de Encadernação: Brochado (Papel A5) Autor: Gameiro, José Colecção: RECORDAR, TAMBÉM É RECONSTRUIR Editor Gameiro, José Rodrigues Morada: Bº Pinhal da Vila – Rua Padre Cruz, 64-1º Localidade: Salvaterra de Magos Código Postal: 2120- 059 SALVATERRA DE MAGOS ISBN: 978– 989 – 8071 – 15 – 6 Depósito Legal: 256467 /07 Edição: 100 exemplares - MARÇO DE 2007

*********** ********* ************ Fotos da Capa – Imagem de S. Baco existente ca Capela do ex-Conventos de Jericó Aquedutos de Água que basteciam algumas Fontes da vila * Lobo, que simboliza o Conto o “Último dia do Lobo em Salvaterra” * Quadro (Pintura) da cena da morte do Conde dos Arcos ********** ******** ************


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Primeira Edição FICHA TECNICA: Titulo: CONTOS E LENDAS ! ( Uma Riqueza da terra) Tipo de Encadernação: Brochado (Papel A5) Autor: Gameiro, José Colecção: RECORDAR, TAMBÉM É RECONSTRUIR Editor Gameiro, José Rodrigues Morada: Bº Pinhal da Vila – Rua Padre Cruz, 64-1º Localidade: Salvaterra de Magos Código Postal: 2120- 059 SALVATERRA DE MAGOS ISBN: 978– 989 – 8071 – 15 – 6 Depósito Legal: 256467 /07 Edição: 100 exemplares - MARÇO DE 2007


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*****************************`* 2ª Edição Revista e Aumentada – Março 2015 ****************************** Contactos: Tel. 263 504 458 * Telem. 918 905 704 E-mail: josergameiro@sapo.pt

O autor não segue o acordo ortográfico de 1990 *********** ********* ************


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O MEU CONTRIBUTO Muito antes de frequentar a escola, já ouvia contar, “coisas” que se tinham passado há muitos anos na minha terra – Salvaterra de Magos. Afinal não passavam de “Contos ou Lendas” que as gerações mais velhas já tinham ouvido, a outros nascidos antes delas. Na idade escolar, com a imaginação fértil própria das crianças, esses Contos e Lendas, eram contados de mil formas.

“Os subterrâneos da vila, por onde os reis que aqui viveram, usavam para fugirem dos inimigos; os milagres de S. Baco: a morte do Conde dos Arcos; o Milagre da Horta Real,: a Roda da Fonte da Peteja ”, despertaram em mim o desejo, em conhecer melhor as suas origens e, essa oportunidade chegou alguns anos depois. A própria origem da povoação de Salvaterra, confunde os menos prevenidos, pois aceitam à partida que, foi por terem sido enviados para estas terras, os degredados que praticavam feitiçaria. Durante anos, além de ter acesso à informação escrita, sobre aquelas historietas, “bebi” de pessoas idosas da vila, bem informadas sobre estes assuntos e, de alguns ainda guardo os seus testemunhos, em gravação áudio. Para mim, o tempo mostrou-me através dos documentos que, existe muita fantasia tão ao gosto do povo, sobre a origem de Salvaterra de Magos. MARÇO: 2015

O Autor

JOSÉ GAMEIRO

(José Rodrigues Gameiro)


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SALVATERRA DE MAGOS CONTOS, E LENDAS !

Todas as povoações, têm os seus contos, e as suas lendas. A opinião de alguns cronistas, ainda é tida em conta, que a povoação de Salvaterra, era sítio montanhoso, local certo para desterro dos que praticavam a bruxaria, ou feitiçaria, e assim para aqui vinham condenados pelas leis da Inquisição.

LOCALIZAÇÃO DA VILA Uma certeza existe, Salvaterra de Magos está localizada na margem esquerda do rio Tejo, em plena Lezíria ribatejana. São da época Dinisina os primeiros Forais; um sem data e um outro de 1295, No seu início, como povoação concelhia, existiam no seu termo seis lugares: Culmieiro, Misericórdia, Coelhos, Cabides, Figueiras, Bilrete de Cima. No sítio do Escaroupim, a exemplo de Leiria e Marinha Grande, o Rei D. Dinis, mandou plantar um grande pinhal, Este por estar junto do Rio Tejo, cujas madeiras seguiam o curso das marés, abastecendo a cidade de Lisboa.


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OS CONTOS !... Para os menos interessados na pesquisa, é mais cómodo, mais certeiro, porventura até mais fácil, conhecerem as urbes pelo seu imaginário do que propriamente pela sua geografia e cultura, daí as lendas criadas. Assim sendo, a origem do nome de Salvaterra de Magos, para alguns continua nas brumas de uma lenda ! (*) – Também não é de desprezar alguma opinião que, se encontra impressa, que a origem do nome primitivo esteja ligado a uma erva selvagem – SALVA, nome vulgar da Salvina Officinaiis Lin, tal como o BRUCO, e a erva de SÃO ROBERTO, que há época eram abundantes nestes terrenos da bacia do rio Tejo. A ABERTURA DO PAUL Próximo da vila, no sítio de Magos, os seus pântanos, passavam a maior parte do ano alagados, e as suas terras eram necessárias para cultivo. O rei D. Dinis, no Foral exigiu a criação de um Paul naquelas terras, cuja vala, ou sangria (1), leva-se até ao Tejo, as águas vindas de uma bacia que as armazenava em quantidade, no sítio conhecido por Ameixoeira Quando do Foral de D. Manuel, em 20 de Agosto de 1517, tal obra ainda estava por concluir.

**************** (1 ) – Ver Apontamentos Nº 35


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S. BACO EM TERRAS MOVEDIÇAS Não fora o príncipe D. Luiz, a construir em terreno do vizinho concelho de Benavente, nas extremas com Salvaterra, um convento que doou aos frades Arrábidos, e teve como padroeira Nossa Senhora da Piedade, e nele passava muito tempo, junto dos Frades, como se tivesse professado. vivendo a sua fé, não fora ele o povo desta região não viveria na sua crendice religiosa, Sendo Baco/ ou Baacus, militar no exército romano sob o comando de Galério, a sua hagiografia dános conta que viveu no séc. IV/ou século V, e a sua conversão ao cristianismo é descoberta por não querer fazer perseguição aos Cristãos novos, destituído da sua alta patente de militar, foi enviado com um outro militar de nome Sérgio para Barbalissios, na Mesopotâmia, para ser julgado por Antíoco, autoridade naquela zona. Morreu torturado, tendo aparecido a sua imagem dias depois a Sérgio, dando-lhe coragem para manter a sua fé.


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Ao morrer como santo mártir, tal como Sérgio, foi-lhe atribuído alguns templos religiosos em Constantinopla e Roma. O Infante D. Luis, grande devoto de S. Baco, guardava religiosamente um pedaço do osso da sua cabeça, que adquiriu em Roma. Com a extinção das ordens religiosas e conventos, em Portugal, no ano de 1834, o pequeno convento de Jericó, foi destruído, ficando apenas a sua capela, onde existia uma estatueta daquele santo, já muito venerado nos pais. Muitos Contos e Lendas, contadas de várias formas, quanto a uma saída da imagem daquela santo, que tendo cerca de um metro de altura, foi tentada levar para Benavente num carro de bois, os animais pararam e o carro ficou enterrado na terra, regressado o carro à sua origem, a viagem decorreu sem problemas, tal situação aconteceu numa outra tentativa , mas para Salvaterra. Pedir ao Frade Mártir – Os Cristãos Novos, após a morte de S. Baco, pediam-lhe com as súplicas ajuda para chegar à divindade cristã pretendida, Tal como ocorreu naquele tempo, no decorrer dos séculos as súplicas dos seus crentes, suplicam-lhe na esperança dos seus males serem atendidos e resolvidos. Os milagres realizados. Um conto – Uma Lenda, passa de geração em geração, e os seus devotos não deixam de lhe manifestar a sua fé para interceder junto de Jesus Cristo. Para mostrarem a sua devoção. pagam os seus pedidos com azeite e velas, para que se mantenha iluminado dia e noite. Grupos de senhoras voluntárias/devotas, todas as quartas-feiras, providenciam o acesso, mesmo em dia de Quinta-feira de Ascensão, é realizada uma festa campestre, com missa. ****************


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A MORTE DO CONDE DOS ARCOS Luís Augusto Rebello da Silva, viveu no séc. XIX entre outros atributos, foi historiador, que usou na sua qualidade de escritor, no ano de 1848, cerca de meio seculo depois da morte do jovem Conde dos Arcos, na presença do rei D. José, numa corrida de toiros, na vila de Salvaterra de Magos, foi motivo para descrever aquele acontecimento fazendo dele uma narração romanceada, no seu livro de contos e lendas: “A última corrida de toiros real em

Salvaterra “

: A última corrida de toiros real em Salvaterra “ Obra, marcante na literatura portuguesa na época do romantismo, realça a passagem da corte, pelo palácio real de Salvaterra, passando a ser um marco da história desta vila, daí sendo um Conto, não deixa desde aquela data da primeira edição, de ser ao longo dos tempos usado em várias publicações e até transformado em letra musical.

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O MILAGRE NA HORTA DO PALÁCIO O Paço Real de Salvaterra, tinha no séc. XVIII, para além dos seus aposentos, instalações anexas como: A Capela e Teatro da Ópera, um Horta que servia as hortícolas e frutas para consumo naquele paço régio. O Hortelão, com sua família vivia naquele campo, onde existia um grande tanque de água para rega. O Conto que vai passando de geração em geração, que um “acidente” com a filha daquele encarregado da horta, passou a ser um “Milagre”, visto ter caído naquele recinto de água profundo, e manter-se a boiar com vida durante várias horas, até que alguém atendendo aos pedidos de socorro da mãe da menina, apareceu com uma escada salvando a criança. Pintado um quadro sobre o acontecimento, passou a ser um ex-voto. Numa parede da antiga capela do paço real de Salvaterra, esteve exposto durante anos aquele painel como um Conto ocorrida em 1746 , passando nos últimos tempos a estar guardado num pequeno Museu da Igreja Matriz da vila.

*********** (*) - Pintura a óleo sobre tela, com as último restauro em 1992

dimensões, 99 x 71, 2 cm, recebeu o


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O ÚLTIMO DIA DO LOBO EM SALVATERRA Na década de 30 do séc. XX, um dia ainda menino, acabo de sair da escola, José Amaro D`Almeida, veio de Almeirim, até Salvaterra de Magos, para que seu tio-avô, José Amaro – mestre Ferreiro, lhe ensinase aquela profissão. Instalado para dormir na oficina, mesmo ali a escassos metros do edifício da Capela Real, o tio destinou-lhe uma enxerga bem perto do pequeno lobo, que estava criando e ensinado como um cão. O animal tinha sido encontrado num pinhal, que tinha pertencido à Coutada de Salvaterra, nos arredores da vila e num dia de caça, onde levou alguns cães que encontraram num buraco uma ninhada de pequenos lobos com poucos dias de vida. O Tempo correu, e José Amaro em 1972, já enverado por outro caminho de vida – tinha-se licenciado e era professor no Instituto de Hidrologia, escreveu e publicou em livro editado em Lisboa, com o titulo “Contos do Ribatejo”, na página 51, abre-a com um “Conto” sobre a sua vivência e convívio com o animal de raça Canis Lupus, a que deu o titulo “ O Último Dia do Lobo em Salvaterra”, sendo um episódio de rara invulgaridade passado nesta vila, passou a pertencer a um pedaço sua história sociocultural.


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OS SUBTERRÃNEOS DA VILA Vinha de séculos, o aproveitamento das nascentes naturais de água, nas terras de Salvaterra de Magos, muitas delas foram aproveitadas através de Fontes, onde o meio encontrado, foi através de aquedutos/ou /ou tuneis construídos em pedra e taipa. Através das sucessivas gerações, foi construída a Lenda, que aqueles Aquedutos, serviam para a família real, se refugiar, em caso de ataques de inimigos, ao Paço Real da vila. No ano de 1938, quando da edificação do quartel dos bombeiros de Salvaterra de Magos, no centro urbano da povoação foi posto a descoberto um aqueduto de água, construído em pedra e taipa que transportava uma linha de água, que segundo referências vinha de 1788, j abastecia o fontanário do Largo de S. António. O aqueduto encontrado, foi interrompido e foi a sua linha de água aproveitada para um “poço” de abastecimento àquela corporação. Anos mais tarde em 1987, quando das obras, do edifício da Caixa Crédito Agrícola, (CCAM), a nascente - mãe-d’água, daquela linha de água foi posta a descoberto, dias depois após várias visitas ao seu interior foi


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fechado. O seu percurso passava no antigo arruamento do palácio real (hoje rua 25 de Abril), e dos terrenos onde foi edificada uma Escola Primária, terminava após passagem no jardim público com seu mercado diário, abastecia um Fontanário, junto à câmara municipal – A Fonte S. António. A FONTE DO ARNEIRO - UMA LENDA/ ou HISTÓRIA – A Fonte vem do séc. XVIII, com o ano 1711, esculpido na sua pedra, a sua construção exterior mostra um desenho abobadado, na entrada um desenho tipo oval, com escadaria em pedra, dando acesso a duas bicas a deixarem água correndo constantemente. Visitas ao seu interior através de um Aqueduto/Túnel, construído em pedra e taipa, mostram que a sua mãe-de-água, está situada em terrenos que foram do antigo Convento de Jericó. Grande parte da população, ali ia encher os seus potes de água, também os carros de bois com grandes barris, ali se abasteciam através de baldes, transportados por duas carreiras de homens – uma com balde cheio, outra com balde vazio. As raparigas namoradeiras, estavam sempre desejosas de ir à fonte, os remorados ali as esperavam, para uns minutos de conversa. No primeiro quartel do século XX, a Azinhaga da vila, ainda escoava as águas pluviais para o Tejo, junto à fonte do Arneiro, já ali existia uma roda em pedra. Com água abundante os mestres: ferreiros e carpinteiros, usavam-na como molde, para a construção das rodas dos carros, especialmente carroças e carros de bois.


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A RODA DE PEDRA Uma outra história se ouvia contar, sobre a Roda dos Enjeitados ! Nos primeiros anos era hábito, a miúdas vezes, na roda de pedra, pela calada da noite, bebés serem ali abandonados, e entregues à Misericórdia local, depois encaminhados para a Casa Pia e Misericórdia de Lisboa, eram registados com um nome próprio e um sobrenome de “expostos”, acabando por crescer e educados naquelas instituições. Para recordar, tal época o executivo municipal, em 1985, sob proposta do seu Vereador – Joaquim Mário Antão, quando do arranjo urbanístico da zona, ali mandou colocar aquela roda em pedra, que há muito se encontrava em sítio menos resguardado.

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AS LENDAS !.... ( ou a história do passado) Um dia o Prof. Dr. Justino Lopes de Almeida, natural da vila de Benavente, pessoa muito interessada no estudo das raízes histórias dos dois concelhos vizinhos, tinha entre mãos um precioso trabalho de recolha de dados sobre Salvaterra de Magos, que aproveitou divulga-lo, quando foi convidado em 2004, a estar aqui presente num colóquio “Jornadas históricas”, acompanhado do Prof. Dr. Veríssimo Serrão. O estudo tinha como titulo: Salvaterra de Magos “Um Topónimo Auspicioso?” “Sobre Salvaterra de Magos não há uma bibliografia abundante. Há, no entanto, alguns trabalhos publicados, a que não recusamos valor, mas sobre Salvaterra há uma imensidade de documentação no Instituto dos Arquivos Nacionais / Torre do Tombo. Sobre os elementos informativos existentes, foi-me possível redigir um extenso trabalho, insusceptível de ser apresentado como comunicação, mas que publicarei na íntegra, num outro momento. Aqui, por escassez de tempo, darei apenas um sumário, que vou distribuir para mais fácil acompanhamento da exposição.


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1. Devo, antes de mais, explicar a razão do uso do qualificativo «auspicioso», no título. Para mais, com uma interrogação: porquê? «Auspicioso» significa «que se apresenta como bom, prometedor, promissor». O uso deste adjectivo aplicado a Salvaterra tem a ver com a convicção, que se criou e se afirmou, pelo menos no meu espírito, de que para a vila estava destinado um futuro próspero, como que divinizado pela fixação da palavra «Magos». 2. Ninguém até hoje, que eu saiba se ocupou completamente da origem e significado do nome de Salvaterra de Magos. Há pequenas abordagens em dicionários antigos, e em enciclopédias actuais, com leves alusões em trabalhos de investigação histórica, mas que não satisfazem as exigências da ciência linguística. Para aumentar as dificuldades, o nome nem sequer vem mencionado no Onomástico Medieval, de A. A. Cortesão, que regista as formas mais antigas dos antropónimos e topónimos portugueses.

Porquê «Salvaterra»? E porquê «de Magos»? 3. É conhecido como, à medida que se procedia à reconquista cristã, os monarcas portugueses distribuíam as terras a arrotear por colonos estrangeiros. Para Benavente, uma vila aqui ao lado, vieram colonos da


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Benevento italiana. Uma forma de genitivo ( vila Beneventi ) está na origem do nome actual, cuja evolução fonética já expliquei em outras oportunidades. Para Salvaterra, vieram colonos francos (povos que ocupavam a antiga Gália romana), e aqui deram a um local já existente, o nome da sua terra: em francês Sauterre evolução do latim salva terra « terra

salva» por qualquer acontecimento, porventura de natureza histórica. Os naturais ou habitantes deste lugar adoptaram a designação mais conforme com o original. E não foi esta a única: outras Salvaterras nasceram no território hispânico, todas com uma génese francesa. 4. ..«de Magos», o que vem a ser? É também palavra latina « plural de

mago, proveniente de magus, com o sentido de «mago, mágico, feiticeiro» Esta palavra tem uma história linguística curiosa: deveria ter evoluído para majo, como Tagus evoluiu para Tejo, Pace para Beja . A manutenção de magus só se compreende por um uso moçarábico (do árabe musta’rib «arabizado»: cristão que vivia na Península Ibérica sob a dominação muçulmana, conservando as suas crenças a sua língua e o direito de praticar a sua religião), como me explicou oralmente o Prof José Pedro Machado. Temos, portanto, em Magos uma palavra grega uayos, de origem persa, que chegou até nós por intermédio do latim magus, com o significado primitivo que já indicámos. Pensa ainda o Prof, José Pedro


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Machado que a palavra magus era muito usada pelos moçárabes e que é provável que ali existisse um templo que deu o nome ao lugar, designado Magos. 5. Que Salvaterra conviveu com Magos, e que Magos precedeu Salvaterra, são conclusões que se tiram da leitura do início do foral concedido por D. Dinis, em boa hora divulgado pela Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, sob a responsabilidade científica do saudoso Prof. Borges de Macedo. Diga-se, no entanto, que, em verdade, o foral então publicado não era destinado a Salvaterra de Magos, mas a Salvaterra próxima do lugar de Magos, depois Salvaterra de Magos. Isto está na origem da confusão existente em alguns autores, ao julgarem que o foral de Salvaterra, publicado por Alexandre Herculano nos Portugaliae Monumenta Historica, se referia a Salvaterra de Magos, quando afinal é

o foral de outra Salvaterra, depois designada por Salvaterra do Extremo, em terras egitanienses . 6. Mas, afinal, como prevalece um nome que contém em si um vocábulo de sentido anticristão, e que eu, no título da comunicação, considerei «auspicioso»? O significado primitivo de Magos desvanece-se com os tempos. E sobretudo a partir do séc. XVI, mais exactamente desde a fundação do Convento de Jenicó pelo infante D. Luís, a quem se deve o mais


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majestoso palácio real construído – ou reconstruído em Salvaterra, que se radica a convicção de que Magos mais não era do que uma evocação dos Reis Magos, do episódio bíblico. Não é difícil reconstruir a imagem: assim como os Reis Magos tinham vindo do Oriente para adorar o Deus Menino, assim os monarcas portugueses demandavam a Salvaterra - que rivalizava então com Almeirim. Aquele nome de Magos, de Salvaterra não poderia ser senão uma lembrança dos Reis Magos, como se Salvaterra se identificasse com Salvaterra dos Reis Portugueses, de significação idêntica a Salvaterra dos Reis Magos, na sua expressão mais simples Salvaterra de (por dos) Magos. Assim acreditavam, e assim ficou para sempre. Não se creia porém como alguns disseram, que Salvaterra foi buscar a segunda parte do nome à designação de Paul de Magos. A documentação regista a existência de muitos pauis na região, e o que veio a ser designado por Paul de Magos só teria sido aberto em tempos de D. João IV. 7. Com a invocação, e não apenas evocação, dos Reis Magos na sua designação, a vila ficava por assim dizer, divinizada, assegurando-lhe um futuro promissor, como de facto aconteceu. Entendam-se estas minhas palavras como uma homenagem a Salvaterra de Magos.” Salvaterra de Magos, 8 de Maio de 2004


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Nota: Justino Mendes de Almeida, Licenciou-se em Filologia Clássica, na Universidade de Coimbra, e Doutorou-se em Filologia Clássica, na Faculdade de Letras, na Universidade de Lisboa, ensinou Grego e Latim.

onde

Teve um percurso académico invejável ao longo da sua vida. Foi fundador; e seu vice-reitor (19871992) e reitor (1986-1987 e 19922012), Foi 1º Vice-Presidente da Academia Portuguesa da História, e preparava-se para ser galardoado com o titulo – Magnifico Reitor Emérito da Universidade Autónoma de Lisboa, quando se deu o seu falecimento em 2012 OUTRAS DEFESAS DA ORIGEM DE SALVATERRA

No final do século XIX, alguns colaboradores de Jornais e Revistas portuguesas, já sustentavam existirem mistérios, onde entravam contos e lendas na origem de Salvaterra de Magos. “Que serviu de guarida a “Bruxos” e “Adivinhos” que por ser terra de muitos relevos para aqui vinham expiar as suas culpas, depois de julgados pela Inquisição.


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Outros no decorrer do século XX, escreviam que Salvaterra, recebeu o nome porque nos seus primórdios, era fértil em ervas para chás como - Salva e S. Roberto, que nasciam a esmo nos campos dai “Salva+terra” e ali próximo existam terrenos pantanosos no lugar de Magos. Outros ainda, mesmo no século XXI, não deixam de sustentar que

acreditam e ser a mais verdadeira, que a origem atribuída a Salvaterra de Magos, “É sabido, que o termo Magos, trata-se de uma palavra de origem céltica, significativa de “campo” e, os do estudo da ciência etimológica se apressaram a conotar Salvaterra, como uma expressão equivalente aos “Campos Elísios ” da antiguidade, campos esses precedidos de portas, a fim de impedir a entrada dos espíritos malfazejos”, assim escreveu um colaborador do Jornal “O Diabo” em 1985, fruto de uma reflexão que vinha de vários anos,


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*************************** Bibliografia usada * O Convento de Jericó – Dr. Betâmio de Almeida 1990 * O Abastecimento de água a Salvaterra de Magos, e os seus Fontanários – do autor * Salvaterra de Magos “Seu povo sua cultura” - do Autor * O Último dia do Lobo em Salvaterra – Dr. José Amaro * edição Contos do Ribatejo - 1972 * História de Portugal (Dicionário), Alexandre Herculano * Portugal Antigo e Moderno (Dic.), edição de 1878 * Obra Ilustrada (Portuga Dic.), edição 1900 * Grande Enciclopédia Portuguesa Brasileira * Boletim da Junta Geral do Distrito de Santarém – 1936 * Estudo Etimológico s/ Salvaterra, do Prof. Dr. Justino Mendes Almeida – 2004 *Texto “ Reflexão sobre a Origem de Salvaterra” publicado no Jornal “O Diabo” 1985 *******************


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Fotos usadas: * Pág. 4 – Estatueta do Santo S. Baco ( Do Autor) * Pág. 5 - Quadro, da morte do Conde dos Arcos, ( pintura de Martim Maqueda ) * Pág. 6 - Quadro (pintura) do milagre da horta do paço real * Reprodução ( Do Autor) * Pág. 7 – Interior do Subterrâneo, que conduzia a água para a Fonte de S. António, destruída em 1951 ( Do Autor) * Pág. 9 - Roda de Pedra nos terrenos juntos à Fonte do Arneiro ( Do Autor)

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CADERNOS DE APONTAMENTOS Nº 16

Documentos para a História De

SALVATERA DE MAGOS Séc. XIII – Séc. XXI

Património: Geográfico, Monumental, Cultural, Social, Político, Económico e Desportivo

O ANTIGO ABASTECIMENTO DE ÁGUA Autor José Gameiro


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Fotos da Capa: - Antiga Fonte S. António – destruída em 1951


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Primeira Edição Titulo: FONTES E FONTANÁRIOS - O Antigo Abastecimento de Água da Vila – Tipo de Encadernação: Brochado (Papel A5) Autor: Gameiro. José Colecção: RECORDAR, TAMBÉM É RECONSTRUIR ! Data: MARÇO DE 2007 – Primeira edição Editor Gameiro, José Rodrigues Morada: Bº Pinhal da Vila – Rua Padre Cruz, Lote 49 Localidade: Salvaterra de Magos Código Postal: 2120- 059 SALVATERRA DE MAGOS ISBN: 978– 989 – 8071 – 16 – 3 Depósito Legal: 256468 /07 Edição: 100 exemplares – Março 2007


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Segunda edição Revista e Aumentada - Março 2015 *************************** Contactos: Tel. 263 505 178 * Telem. 918905704 E-mail: josergameiro@sapo.pt

O Autor deste texto não segue o acordo otográfico de 1990


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O MEU CONTRIBUTO lembro-me quando menino, naquele ano de 1951, um dia, minha mãe comigo arrastado pelo braço, em grande correria, entre a multidão, que se dirigia para o novo Depósito de Água, na estrada 114-3 que vai para Coruche. Era dia de festa em Salvaterra, algumas ruas estavam engalanadas, campinos, e bombeiros fizeram uma parada junto ao edifício dos paços do concelho, onde o povo assistiu à sessão de boas vindas aos convidados. A cerimónia terminou junto aquele Depósito, pois estava-se perante uma das maiores inaugurações do séc. XX, em Salvaterra de Magos, que era o abastecimento e distribuição de água ao domicílio. Uns anos antes, já as ruas da vila estavam a receber canalização de “ canos de lusalite”, de grande dimensão, em valas previamente abertas, à força braçal de muitos homens. As maiorias das habitações já estavam prontas a receber o tão precioso líquido, que até ali era retirado em muitas Fontes naturais ou Fontanários, construídos e providos de furos artesianos. Após algumas palavras de circunstância, a cerimónia festiva findou com a ligação dos motores, e os furos a jorrarem água para o depósito, horas depois as habitações da vila estavam abastecidos.

MARÇO: 2015 O Autor: José Rodrigues Gameiro


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A ÁGUA NO RIBATEJO

Um estudo dado a conhecer, em 1936, dava como certo que, uma grande parte do Ribatejo Sul, nas suas terras de Bordadura do Tejo e do Sorraia, tinham camadas subterrâneas de água, que suportavam a planície da Lezíria dando-lhe frescura para o cultivo das sementeiras de sequeiro, que se juntava também ao tempo de invernia que alagava os campos, dando-lhes frescura que se conservava durante meses. Em certas zonas os seus subsolos, mostravam que a poucos metros de profundidade as camadas hídricas eram constantes e daí brotava água doce. Aquele estudo, dava também a conhecer com mais detalhe o potencial da vasta Bacia do Rio Tejo, e a influência recebida de uma outra, a Bacia do Sado, que sendo banhada por águas de origem salgada, provoca sabores diferentes em várias captações nas terras do Ribatejo já em áreas de Charneca. A Bacia do Tejo, com as suas terras de aluvião, então ricas em Pântanos, davam origem a águas salobras. Esta situação segundo os autores (1) vem do período QUATERNÁRIO, com ramificações mais profundas do período anterior, o TERCEÁRIO. Assim, através dos milénios, o caudal hídrico tem vindo a fragilizar o rio, provocando-lhe as insuficiências que cada vez será mais notórias. A vivência das espécies, incluindo o homem, terá dificuldades numa vida normal, pois as linhas de água doce, são um bem que não é inesgotável. A predominância constante da salgação da Bacia do Tejo, é fruto do jogo das marés que, o rio sofre do mar e, que cada vez mais se verifica na extensão do seu percurso para nascente. *************

(1) – António F. Salgado e P. Choffat * Boletim da Junta Geral Distrito Santarém * 1936


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O ABASTECIMENTO DA ÁGUA A SALVATERRA A vila de Salvaterra de Magos é referenciada em certos mapas, como tendo no séc. XVIII, por volta de 1788, algumas nascentes de água no seu espaço urbano, uma junto ao Botaréu na entrada da Capela da Misericórdia, e uma outra ao fundo do edifício da Capela real. A juntar a estas existiam duas fontes construídas pelo mão do homem, Uma no Largo de Santo António (próximo do edifício da câmara municipal), uma outra no Arneiro da vila, ambas, recebendo a água através de subterrâneos construídos em pedra e tijolo de taipa. Uma mãe-de-água, nos terrenos pertencentes ao Paço real, usados como Matadouro e Galinheiro, junto à rua do Calvário, transportava o líquido até à Fonte de S. António, e uma outra em terras do Convento de Jericó, abastecia a do Arneiro. Quando da construção do edifício escolar “O Século”, foram encontrados no seu terreno, vários respiradores do

Em 1993 – Francisco Costa, indica a existência em 1930, da Nascente junto à Capela Real conhecida pela “Fonte dos Passarinhos”


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subterrâneo, para entrada de oxigénio, na corrente de água, que passava por debaixo do Jardim até à Fonte de S. António. Este túnel, anos mais tarde sofreu outros danos, quando da construção do Quartel dos Bombeiros, sendo em parte bloqueado, servindo para no edifício ser construído um poço, que abastecia as viaturas. Uma bomba de água com roda de ferro, foi instalada, em 1925,no inicio da Rua Dr. Miguel Bombarda para retirar água do subterrâneo e por volta de 1940, foi

retirada para um Páteo da Família Roquette, onde mais tarde estiveram instalados os celeiros da Federação Produtores de Trigo (FNPT), ali ainda existe a sua roda em ferro, como simbolismo, onde se instalou a Escola Profissional de Salvaterra de Magos.


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A Casa Agrícola – Costa Freire, possuidora do espaço onde nascia aquela mãe-de-água (onde por volta de 1980, deu lugar a um edifício onde existe a Caixa Agrícola) não deixou de abrir um furo artesiano, com bomba e roda em ferro, numa outra instalação de gado, situada em frente – atravessando a rua (onde agora está instalado um balcão da Caixa Geral de Depósito), ali a população não deixava de se bastecer de água, tal como o faziam os moradores da redondeza do Páteo, da rua Heróis de Chaves. A Fonte de Santo António, deixou de abastecer a população da zona centro da vila, visto ter sido construído no seu espaço, um Depósito, que era cheio de água captada de um furo, aberto debaixo do Jardim Público, movido com um motor a gasóleo. A Fonte e o Depósito foram destruídos por desnecessários, tinha-se inaugurado o abastecimento de água ao domicilio a Salvaterra de Magos. *********


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A FONTE DO ARNEIRO O século XIX, estava nos últimos anos, os terrenos que pertenciam ao Arneiro, ainda recebiam as águas pluviais, encaminhadas através da Azinhaga, com destino à vala real. O arranjo da rua que terminava junto ao palácio da falcoaria, acabava de receber obras no seu pavimento, o que interrompeu aquele forma de escoar a água a céu aberto. As Fonte do Arneiro a par de um Fontanário de S. António, junto ao edifício dos paços do concelho, eram as únicas fontes de água que forneciam a população da vila.

O mapa da vila de Salvaterra de Magos, de 1788, vinha dando conta da existência daquela Fonte, no Arneiro, até porque nas pedras abobadadas, ainda se pode ler, como data da sua construção o ano de 1711. A Fonte, de construção pesada, tem nos rebocos a cal e, as pedras da sua escadaria, são de lioz não polida,


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mostrando grande desarranjo, estando ligada aos acontecimentos da roda de pedra (2). No interior, na frente, sai água numa corrente constante através, de dois tubos em ferro, para duas pequenas caixas em pedra que, estando sempre cheias, esgota através do campo para a vala real. Em cima numa abertura de visita, ou de limpeza, existe uma porta de ferro que, parece não ser a original. Uma conduta em forma de túnel, trás a água da nascente – ou mãed’água - que, segundo informações remotas vem das terras junto ao convento de Jericó que, fica a alguma distância. FONTE DA PETEJA (Mina/Nascente)

Nascente, já referenciada, em 1788, com uma construção em tijoleira, situando-se numa barreira dos terrenos agrícolas da Peteja, a escassos metros do Palácio da Falcoaria.


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DEPOSITO DE ÁGUA

Construído quando da rede de distribuição de água ao domicilio à vila de Salvaterra de Magos, em 1951, tem um desenho muito usado na época.

FONTE S. SEBASTIÃO (Fontanário)

Com a limpeza e nova urbanização do espaço, em 1933/34, após o terramoto de 1909 que destruiu a Albergaria (Hospital) no Largo de S. Sebastião, foi construída uma fonte naquele local, com uma outra igual, na rua Av. do Calvário. Esta última viria a se demolida por volta de 1948, quando da nova urbanização de prédios, em terrenos próximo. O Fontanário, no Largo S. Sebastião, poucos anos depois, deixou de utilizar o sistema de bomba motorizada, passando a usar a rede de abastecimento de água, no sistema domiciliário publico que, foi instalado na vila, a partir


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de 1951. é uma peça de desenho arquitetónico, pouco usado na época que, estando enquadrada no património local, é referenciada pelos especialistas . Durante mais de 50 anos, foi conservada a sua beleza no estado original. Com uma construção sóbria em cimento “vivo”, segundo o mestre-pedreiro; Luís Palma, que foi servente na obra, construída pelo seu avô e por seu pai. A família Palma, foi durante largas dezenas de anos, pedreiros na câmara municipal Em 1998, a DOMSU, um departamento camarário, a cargo do vereador João Abrantes, mandou proceder à sua pintura de cor branco e amarelo. O povo chamou-lhe uma aberração !.....

Em 1998 - O idoso mestre-pedreiro; Luís Palma junto à Fonte * Foto José Gameiro


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FONTE DO LARGO S. ANTÓNIO Foi uma construção emblemática durante muitos séculos Encontravase construída no largo do mesmo nome, junto ao edifício dos paços do concelho e, de outros edifícios que foram pertença do paço real. Em forma de meia lua, a sua frente estava embutida na parede do muro, do então mercado diário e jardim público tinha alguns mármores de cor rosado, era já uma referência antes de 1788. As suas duas bicas até 1938, recebiam água da nascente (mãe de água) localizada no canto da Ferrugenta, em propriedade da família Costa Freire, fazendo um percurso pela rua 31 de Janeiro, passando pelos terrenos do jardim da Praça da República.


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A construção do quartel dos bombeiros, interrompeu o subterrâneo condutor da água, passando a Fonte a ser abastecida por uma captação próxima, cujo sistema motorizado, bombeava a água para um grande depósito em cimento construído para o efeito de abastecer também as residências próximas. A água excedente, era aproveitada e, conduzida originalmente a céu aberto, através da Trav. do Secretário, abastecendo um grande tanque – (construção em pedra de lioz) onde os animais diariamente bebiam na rua do Rossio.

Por decisão da vereação municipal, em 1951, o depósito foi demolido e, o fontanário foi tapado no muro existente, bem como a escadaria paralela existente, que ainda são visíveis os restos da sua colunata.

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PLANTAS DA VILA ************

Planta de localização da Fonte do Arneiro

Planta da construção de novas ruas, substituindo as escadarias, junto à Câmara Municipal e Capela Real, mostrando a nova estrada do Rossio e o Jardim Público, com a localização da Fonte de S. António – Final do séc. XIX


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Subterrâneo/ou Conduta de Água, posta a descoberto quando das obras do edifício da Caixa Agrícola de Salvaterra de Magos – 1987

* O autor deste Apontamento, à entrada do “buraco” na mãe-d’água tirando algumas fotos – 1987 * O funcionário da câmara, João Monteiro, fazendo buscas, no interior do subterrâneo, que conduzia água para a Fonte de S António, junto ao Quartel dos Bombeiros - 1987


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Interior do subterrâneo/ ou Aqueduto, que fazia a condução das águas para a Fonte de S.António - 1987

Regulamento “Serviço de Abastecimento de Água à vila de Salvaterra de Magos”, datado de 1949, distribuído em 1951, quando da feitura dos contratos de ligação * As normas quanto à parte técnica ainda estão em vigor, sofrendo ao longo dos anos, alterações apenas no capítulo das taxas e outros pagamentos.

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Bibliografia usada: Documentos do Autor: * Jornal “ O Ribatejo/1987 “ * “Jornal do Vale do Tejo/2001” * Regulamento de Abastecimento de Água a Salvaterra de Magos/1949   

Fotos usadas: Do Autor Alexandre V. Cunha ( Fonte e Depósito de Água- Largo S. António) * 1951 Pintura do espaço da Fonte já sem o Depósito de Água Autor Anónimo –

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CADERNO DE APONTAMENTOS Nº 17

Documentos para a História

de

SALVATERRA DE MAGOS Séc. XIII – Séc. XXI Património: Geográfico, Monumental, Cultural, Social, Político, Económico e Desportivo

O Autor:

José Gameiro (José Rodrigues Gameiro)


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Primeira Edição FICHA TECNICA: Titulo: 0S DIAS QUE SE SEGUIRAM AO TERRAMOTO DE 1909 ! Tipo de Encadernação: Brochado (Papel A5) Autor: Gameiro. José Colecção: RECORDAR, TAMBÉM É RECONSTRUIR ! Data: MARÇO DE 2007 – Primeira edição Editor Gameiro, José Rodrigues Morada: Bº Pinhal da Vila – Rua Padre Cruz, Lote 49 Localidade: Salvaterra de Magos Código Postal: 2120- 059 SALVATERRA DE MAGOS ISBN: 978– 989 – 8071 – 17 – 0 Depósito Legal: 256469 /07 Edição 100 exemplares – Março 2007


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Fotos da Capa:: Habitações destruídas * Construção de Barracas, no Largo Dr. Oliveira Feijão ( actual Praça da República) Escola construída pelo Jornal “O Século” Largo 5 de Outubro (actual Largo dos Combatentes) * Sala de Aulas 1913


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************************ 2ª edição Revista e Aumentada - Março 2015 ************************ Contactos: Tel. 263 504 458 * Telem. 918 905 704 E-mail: josergameiro@sapo.pt

O Autor deste Caderno não segue o Acordo otográfico de 1990


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O MEU CONTRIBUTO Quando criança ocasionalmente ouvia falar do terramoto, pois já perto de meio século se tinha passado, os estragos causados na povoação estavam recuperados. No entanto a curiosidade era muita, existia um marco daquela época, uma escola primária na vila, tinha alguma informação. Os traumas, esses não, mas a geração, que o viveu estava em declínio, os que ainda se lembravam, como José Caleiro, homem que rondava os 90 anos de idade e, do terror vivido me fez algum relato., quando o abordamos em 1986, para mais viveu a chegada a esta vila, do rei D. Manuel II, que aqui veio visitar os seus estragos. A emoção espelhada nas palavras, quando descrevia as cenas de pânico que a população viveu., especialmente a urbana, a rural, àquela hora ainda trabalhava no nas lavouras. . Foi uma descrição tão pormenorizada quanto possível, até porque veios do campo, a pé, chegando uma hora e meia depois, à vila, quando do acontecimento sismológico, encontrando as muitas habitações destruídas, como constam descritas em documentação que consultamos sobre o assunto. Guardo, as suas informações em gravação áudio, bem como de outro idososs que, outra visão sobre o assunto tinham,. nas suas memórias.

O Autor: MARÇO: 2015

JOSÉ GAMEIRO (José Rodrigues Gameiro)


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23 ABRIL DE 1909 – O DIA DO TERRAMOTO O ano de 1909, estava no seu quarto mês, e o país ainda se encontrava de luto chorando a morte da família real, vítima de regicídio, ocorrido em Lisboa, na Praça do Comércio quando regressava de Vila Viçosa. O Príncipe D. Manuel, que viria a ser chamado de II rei de Portugal, era filho do rei D. Carlos e, de D. Carlota, tinha subido ao trono havia poucos meses quando Portugal foi alertado para uma nova e infausta notícia.

No dia 23 de Abril de 1909, eram 5 horas da tarde a terra tremeu no coração do Ribatejo. As vilas de Samora Correia, Benavente, e Salvaterra de Magos, acabavam de sofrer uma catástrofe - Um

terramoto.

Em Salvaterra de Magos, àquela hora a maioria da população encontravam-se fora das suas casas, trabalhando no campo, daí o cataclismo produzir apenas duas mortes, mas os feridos foram muitos,


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Ficando destruídas 15 prédios de habitação, sendo o prejuízo calculado em 92.547$000 réis, segundo o relato dos autarcas que, de imediato reuniram para apuramento dos primeiros danos, segundo reza as actas camarárias,

”.... os tremores de terra continuaram nos dias seguintes, mas com menos intensidade ...”. Nos dias que se seguiram toda uma onda de solidariedade chegou a Salvaterra, a autarquia desde logo não parou de receber, quer telegramas de apoio, quer ofertas da mais variada ordem. A Cruz Vermelha, pôs ao dispor a instalação de “barracas” em vários locais da vila, sendo o mais significativo o grupo que foi instalado no Largo do Mártir S. Sebastião, onde existia a antiga Albergaria (hospital) da vila que foi destruída - local onde depois foram construídas: uma escola primária e uma fonte, (novas Av. Brito Seabra e Av. António Viana Roquette - esta uma pequena artéria de meia dúzia de metros ! ).


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A população desalojada, nesse mesmo dia recebeu o apoio do governo, este fez deslocar para o local, uma guarnição de soldados do Regimento de Sapadores. À disposição da câmara, foi colocado um contingente de militares da Cavalaria e Infantaria, afim de ser mantida a ordem pública. Através do ministro das obras públicas, foi considerado fazer um estudo no local, para reconstrução das habitações que, oferecessem garantias de recuperação e demolição total das outras. Em 30 de Abril, em virtude do edifício da câmara, não oferecer segurança, a reunião dos autarcas, foi efectuada num celeiro pertença do Lavrador Gaspar Ramalho, no Largo do Palácio, (Largo esse, que depois se chamaria de 5 de Outubro, e por último dos Combatentes), Nesta reunião estiveram presentes por convocatória, grande número de cavalheiros, pessoas respeitadas no concelho, afim de darem a sua opinião sobre a catástrofe. Entre os convocados, encontrava-se o lavrador/ benemérito Gaspar da Costa Ramalho que, foi ouvido com muita atenção e, as suas propostas foram aceites. Da sua iniciativa foi constituída uma comissão local, onde integrava além dele, o Conde de Mangualde, Luiz Ferreira Roquette, Porfírio Neves da Silva (Presidente da Câmara) e Vergílio Roquette Costa que, se responsabilizaram por contactar os jornais e instituições para angariação de fundos.


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Nas resoluções que foram tomadas, foi resolvido mandar construir 18 lanternas de iluminação, para serem usadas nas zonas da instalação das barracas e, cada uma custou 1.150 réis. Em 17 de Junho, contavam-se já instaladas 180 barracas das 325 que, foram consideradas necessárias. Fazendo face à desgraça que se abateu sobre as 3 povoações vizinhas, logo o governo disponibilizou para Salvaterra, a verba de “CEM CONTOS DE RÉIS” para as primeiras necessidades. Nas reuniões que se seguiram, a câmara e, o administrador do concelho, Luiz Filipe Valente, analisaram propostas de ofertas de créditos postos à disposição da população salvaterriana, muitas delas vindas do estrangeiro. A 19 de Agosto, foi aceite uma exigência do oficial que comandava a guarnição que, mantinha a lei e a ordem na vila. Propunha, aquele comandante das tropas que, a sineta do edifício da câmara, passa-se a dar as horas, em virtude do relógio da torre se encontrar ainda avariado, o que seria feito pelo soldado de serviço, puxando o seu cordel, tantas vezes quantas as horas a marcar. No dia 11 de Novembro, foi deliberado que, o entulho da limpeza das casas destruídas, na zona da Trav. do Martins, fosse colocado nos baldios próximo do antigo moinho de arroz, na vala real. O jornal “O Século” que, nas suas páginas tinha aberto uma subscrição pública de donativos, conseguiu que o país se solidariza-se com o sofrimento a que estavam passando as 3 povoações vizinhas, e entre algumas que receberam, foi a construção de um edifício escolar. A autarquia de Salvaterra de Magos, disponibilizou um terreno à comissão encabeçada por Gaspar Ramalho, para esta aceitar o valor de


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“CENTO E SETE MIL TREZENTOS E NOVENTA E CINCO RÉIS”, verba entregue ao município local. Em Dezembro, no dia 25, foi deliberado mandar reparar o telhado da câmara municipal, bem como enviar para Londres um telegrama a felicitar el-rei D. Manuel II, pela passagem do seu aniversário. Em outras reuniões de câmara estiveram presentes o Dr. Augusto de Castro e Anacoreta, e o Prof. Ginestal Machado, vindos de Santarém que, representando uma comissão, daquela cidade, vinham trazer o apoio dos escalabitanos às vítimas do sismo. O Jornal “Diário de Notícias”, guarda na sua edição de 25 de 1909, uma reportagem feita em Salvaterra, sendo a primeira das três visitas programadas - a Benavente e Samora Correia, por ilustres visitantes, que eram aguardados pelo Administrador do Concelho; Luís Filipe Valente, Secretário; António Garrido, Prior da Freguesia; Rev. Fernandes de Castro e o Presidente da Câmara; Porphyrio Neves da Silva. O grupo de visitantes, encabeçado por D. Luís de Castro, acompanhado pelas autoridades da terra e por muito povo percorreu as ruas da vila, vendose espelhados nos rostos de alguns lágrimas, de horror e compaixão pelos habitantes de Salvaterra, que rondava para cima de dois mil habitantes. No início de 1910, El-Rei D. Manuel, veio a Salvaterra visitar a população, e os estragos causados pelo terramoto. A sua viagem processara-se através do rio Tejo, em bergantim real, e o povo esperou-o no cais da vala, com vivas ao rei !!! Em desfile, e entre alas, D. Manuel, deslocou-se aos vários locais da vila, onde tinham sido instaladas barracas, há já alguns meses com as


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vítimas da catástrofe sísmica. Nos meses seguintes, a recuperação das casas foi decorrendo, e outras se foram erguendo, em novos arruamentos aproveitando-se para tal terrenos devolutos por detrás das ruínas do palácio, até às antigas cavalariças reais. Para fazer face à fome, que grassava, foi construído naquela zona um hortado, para alimentar o povo, em terreno livre a sul da vila .(1) A 7 de Outubro de 1910, com a implantação do Regime Republicano, em Portugal, foi nomeada uma comissão administrativa, no concelho de Salvaterra de Magos, constituída por:

António Jorge de Carvalho (Presidente) e, José de Vasconcelos, João Ferreira Vasco, Carlos de Novais Rodrigues, Vital Justino e João Pereira Rodrigues - este último

do lugar de Marinhais. Para administrador interino do concelho; foi nomeado António Marcos da Silva. Na sua primeira reunião estes autarcas republicanos, deliberaram aprovar um requerimento de “aforamento” do Curral do Concelho”, a Luiz Ferreira Roquette, que se dizia seu proprietário. Há já alguns anos, e um outro apresentado por António Marcos da Silva, que mostrou ser dono dum terreno no “Largo do Cafarro”. ************ (1) . O Hortelão, tinha a alcunha de “O Sopas”, assim ficou conhecida ao longo dos tempos, com muro em volta foi descativada nos anos 70, o seu desaparecimento verificou-se já no séc .XXI dando lugar a uma nova urbanização na vila.


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Ficando aqueles terrenos defronte ao Palácio da Falcoaria, foi ainda, naquela reunião aprovado, mudar os nomes a algumas ruas da vila; A rua Santo António, mudou para Alm. Cândido dos Reis , a rua do Pinheiro para Dr.Miguel Bombarda, a praça Dr. Oliveira Feijão, para Praça da Republica, a rua Porfírio Neves da Silva, para Teófilo Braga e, o Largo do Palácio para 5 de Outubro.

A 27 de Outubro de 1910, cerca de 18 meses após o terramoto, começaram os trabalhos de desmontagem das barracas, já não necessárias ao abrigo dos carenciados.


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As instalações provisórias colocadas no Largo 5 de Outubro, Praça da Republica, Av. do Calvário (hoje: Av. Dr. Roberto Ferreira da Fonseca), Rua do Jogo da Bola, Largo do Cafarro, Canto da Ferrugenta e, Largo de S. Sebastião, foram desmontadas, ficando apenas as que se encontravam na zona das Areias. Foi ainda deliberado distribuir roupas que, foram encontradas num armazém da câmara municipal. Por último foi tomado conhecimento que, a República do Uruguai, oferecia duzentas libras, para a construção de uma escola em solidariedade para com as povoações, que sofreram as terríveis consequências do terramoto. OUTRAS CALAMIDADES Salvaterra de Magos, ao longo dos séculos tem sido vítima de outras “convulsões” geológicas e atmosféricas, como o terramoto de 1755, que ao destruir a cidade de Lisboa, aqui muitos estragos provocou. Também segundo consta, em alguma documentação, um outro sismo, em 1858, aqui sentido, provocou estragos de algumas habitações, na Igreja Matriz, Palácio Real, ficando este num estado de muita degradação.. CHEIAS E TEMPORAIS Quanto às cheias anuais, os campos de Salvaterra, sofriam com as águas das chuvas de Inverno, drama cíclico para as populações rurais, com perdas de gados, e perdas de sementeiras, pois ficavam alagados muitas vezes meses seguidos.


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Um exemplo se retira de uma notícia da imprensa da época, em situação ocorrida em 1876. “ Em Salvaterra, a enchente chegou até ao meio da rua de S. Paulo, invadiu a igreja da misericórdia, e muitas casas” “ Um homem chamado José Zeco, apontava chorando para o celeiro onde tinha 4 moios de trigo, únicos haveres da sua pobre família, que a água começava a invadir” Uma outra cheia, em 1887, deu notícia no jornal “Correio da Tarde ”de 9 de Janeiro. “ …. À Casa Cadaval, terem-lhe morrido, segundo consta, 40 e tantas cabeças de gado cavalar, e note-se que esta casa, sendo a mais opulenta do distrito, as suas melhores pastagens estão inundadas” Em 1941, uma forte ventania, que assolou o país, que foi chamado de “Ciclone”, provocou grandes estragos em edifícios da vila, especialmente na sua Praça de Toiros, que teve de receber profundas reparações. Em Fevereiro de 1979, o autor fez sair em vários jornais a notícia que a águas da cheia, entre os dias 11 e 14, muitos estragos causou nos campos, vento forte e constante, naquele último dia, provocou graves prejuízos na Capela da Misericórdia, com a queda das suas paredes e tecto,Os quadros (retábulos a óleo) que forravam o tecto foram salvos.


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Em Fevereiro de 1979, o autor fez sair em vários jornais a notícia que a águas da cheia, entre os dias 11 e 14, muitos estragos causou nos campos, vento forte e constante, naquele último dia, provocou graves prejuízos na Capela da Misericórdia, com a queda das suas paredes e tecto , Os quadros (retábulos a óleo) que forravam o tecto foram salvos. Uma tromba de água, em 1987, provocou tais prejuízos, em Salvaterra, e terras vizinhas, conforme se pode ver nas notícias do dia seguinte, especialmente no “Correio da Manhã” de 23 de Setembro, onde o autor, colaborou na recolha para o seu noticiário. Outra forma de sinistralidade provocada pelo mau tempo, foi no dia 10 de Maio de 1998, onde uma grande e forte trovoada, fez cair na zona do Bairro do Pinhal da Vila, algumas faíscas, tendo uma delas entrado num prédio de habitação do autor destas linhas, através de uma antena de televisão, fazendo um grande buraco no telhado e provocando grandes prejuízos no seu recheio.

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***************** Bibliografia usada: * Documentos de pesquisa, publicados nos periódicos da época, “Aurora do Ribatejo” “Jornal Vale do Tejo “Jornal O Século” e ”Diário de Noticias 1909 e outros,

Fotos usados sem Legenda * Pág. 59 – Setembro de 1909, uma tenda com famílias refugiadas, no Largo do Cafarro (Falcoaria) após o Terramoto * Pág. 60 – Casas destruídas, pelo terramoto de 1909 Trav. do Martins * Pág. 61 - Gaspar da Costa Ramalho * Pág. 63 – Rei D. Manuel II * Pág. 64 Edifício escolar, construído após o terramoto de 1909, através de uma subscrição pública do jornal “ O Século” – inaugurado em 1913 * Pág. 65 – 1909 – Várias famílias desalojadas, após o terramoto, no Largo em frente à Câmara Municipal * 1913 - Primeira turma escolar na Escola “O Século” * Pág. 68 Casa de José Gameiro, vítima de uma Faísca * Pág. 69 - A zona de Trás-de-Monturos (Rossio) alagada com água da cheia *Estrada do Convento, e casas alagadas pelo temporal -1997 *


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CADERNO DE APONTAMENTOS Nº 18 Documentos para a história de

SALVATERRA DE MAGOS séc. .XIII – séc. XXI Património: Geográfico, Monumental, Cultural, Social, Político, Económico e Desportivo

Autor

José Gameiro


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Fotos da Capa: 1) - Homenagem, - Alexandre Varanda da Cunha 2) – Homenagem Prof. Fernando Duarte Assunção 3) – (Depósito) Inauguração Rede Abastecimento de Água 4) – Inauguração Estação CTT


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*************************************** 2ª Edição Revista e Aumentada - Março 2015 *************************************** Contactos: Tel. 263 504 458 * Telem, 918 905 704 E-mail: josergameiro@sapo.pt


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Primeira Edição

FICHA TECNICA: Titulo: HOMENAGENS E INAUGURAÇÕES ! Tipo de Encadernação: Brochado (A5) Autor: Gameiro. José Colecção: RECORDAR, TAMBÉM É RECONSTRUIR ! Editor Gameiro, José Rodrigues Morada: Bº Pinhal da Vila – Rua Padre Cruz, Lote 49 Localidade: Salvaterra de Magos Código Postal: 2120- 059 SALVATERRA DE MAGOS ISBN: 978– 989 – 8071 – 18 – 7 Depósito Legal: 256470 /07 Edição: 100 exemplares - Março 2007


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O MEU CONTRIBUTO Ao longo da nossa vida, fomos assistindo a inaugurações e homenagens, umas mais do que outras, organizadas com pompa e circunstância, sendo os momentos e os protagonistas, o espelho das mesmas. O ser humano, por vezes manifesta-se parco em agradecer, tem dificuldade mesmo no reconhecer o mérito das obras, de um seu semelhante que, às vezes até é um seu conterrâneo. Nesta terra, quantos estão ainda à espera do reconhecimento público, pelas obras que prestaram à comunidade onde estão inseridas. Decerto no nosso caso damo-nos por compensados, em 2014, o executivo municipal, sob a chefia do Engº Helder Esménio, deu-nos o prazer de ainda em vida vivermos uma Honrosa Homenagem, para além de ser reconhecido publicamente o contributo que demos na divulgação de Salvaterra de Magos, em mais de 50 anos em Jornais e Revistas. Foi uma cerimónia, onde os familiares e muitos amigos estiveram presentes, neste dia único da nossa vida. A entrega de uma salva com texto expressivo do reconhecimento do Município da minha terra-mãe, foi deveras salientada a minha pesquiza no campo da História local, especialmente destacada a minha presença na área da Crónica durante 50 Anos. Uma Exposição, com uma vasta e notória expressão da nossa vida, esteve patente ao público. Outros decerto também merecedores dos reconhecimentos públicos até porque se empenharam no campo da filantropia, como é os casos dos Irmãos Roberto(s); Vicente e Roberto da Fonseca e de Gaspar da Costa Ramalho, têm sido esquecidos ao longos dos anos por uma homenagem, mesma que singela.

Março: 2015

O Autor

José Gameiro (José Rodrigues Gameiro)


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INAUGURAÇÕES A CONSTRUÇÃO DE UM HOSPITAL O terramoto de 1909, deixou a vila em situação de grandes carências, sendo notória no campo da assistência médica e hospitalar, a antiga Albergaria (1), tinha desaparecido e a população da vila de Salvaterra de Magos, lamentava aquela necessidade. Um homem bom da terra - Gaspar da Costa Ramalho - fez recair sobre si, as despesas da construção de um novo edifício hospitalar e, no decorrer do empreendimento, foi secundado por um outro benemérito –

Francisco Lino.

Os esforços levaram à sua inauguração no ano de 1912, e a população do concelho, passou a utilizar uma moderna unidade de cuidados médicos hospitalares, que depois da solenidade da ocasião, foi oferecida à Misericórdia local.


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Os festejos, especialmente as sessões de agradecimento, decorreram sempre sem a presença do homenageado, pessoa que tudo fazia para não estar presente, nos actos onde tivesse tido a oportunidade de colaborar. PRAÇA DE TOIROS O povo continuava a não encontrar sítio onde realizar, os espectáculos que mais adorava – as corridas de toiros. Um grupo de homens de boa vontade, um dia, reuniu e uma Comissão foi constituída para levar por diante a construção de uma Praça de Toiros. As obras decorreram num terreno cedido pela câmara municipal, local registado, onde tinham existido alguns moinhos da vila.

O dia escolhido para a inauguração do belo tauródromo, recaiu no dia 1 de Agosto de 1920. A solenidade dos festejos foi de monta, culminando na realização de duas corridas de toiros. Assistiu e foi director da primeira corrida, o antigo bandarilheiro Vicente Roberto, uma glória das


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arenas, natural desta vila. Vinte anos depois, quando do ciclone, fortes ventos que se fizeram sentir nesta zona, destruíram muitas das infraestruturas deste belo edifício taurino. A família Monte Real e Gaspar Costa Ramalho, tomaram a iniciativa de suportar os custos das obras da sua reconstrução. Nos festejos, houve uma grande corrida de toiros, onde esteve presente, o presidente da república, Óscar Carmona LUZ ELÉCTRICA No ano de 1948, deliberou a vereação camarária, em reunião pública, apoiar uma proposta do presidente, para que os festejos da inauguração da luz eléctrica, projectada para o dia 28 de Novembro, fossem levados a efeito com o maior brilho possível. Convidadas entidades oficiais que, foram recebidas nos paços do concelho com um Porto de Honra, extensivo ao povo que os recebeu. Aos indigentes e pobres, foi distribuído um bodo, até ao valor de quinhentos escudos, suportados pela municipalidade, conforme constava no programa da festa. Naquele dia, uma cabina em cimento, construída pela Hidro Eléctrica do Alto Alentejo (HEAA), instalada na E.N.118, junto ao matadouro municipal, forneceu luz eléctrica à vila de Salvaterra de Magos, eram onze horas da manhã. Nas cerimónias, onde o povo acorreu, estiveram os bombeiros, com a sua banda de música e, fez-se uma largada de pombos-correio


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ABASTECIMENTO DE ÁGUA O dia 24 de Junho de 1951, tinha um programa cheio de actividades socioculturais. Entre elas, pelas 16,30 horas inauguração oficial, da rede do abastecimento público de água à vila - Um depósito elevatório e um furo de captação, eram o rosto daquele dia festivo. Era o culminar de uma obra, cujo trabalho durante anos, teve necessidade de abrir valas e ligações às moradias.

Estação dos correios – CTT Inaugurada no dia 4 de Outubro de 1960, o novo edifício situado na rua dos bombeiros, teve a “mão” do Eng.º. Gama Prazeres, ao tempo responsável pelas obras dos CTT, vivendo na terra, sitia as grandes necessidades da população. Era um imóvel recheado de técnicas de primeira linha para a época, tapava assim uma lacuna, que se vinha sentindo há muitas décadas. A estação dos correios, então encerrada, funcionava num edifício municipal, da época manuelina, no Largo da República, sucedendo esta a uma outra que, existiu na rua de S. Paulo, onde ali foi instalada a rede local de Telégrafos.


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MUSEU DA MISERICÓRDIA Construído numa dependência da Capela daquela instituição, foi inaugurada a 4 de Julho de 1981. Os seus promotores tinham na feliz iniciativa levar acabo a divulgação de algum património cultural e literário. O seu maior espólio recaía em fotos antigas, oferecidos pela população que via a iniciativa com carinho, visto na terra - Salvaterra de Magos, neste campo apenas eram vistas a escassas e periódicas exposições. O Museu foi cedendo os seus frenéticos entusiasmo, a um marasmo total, que acabou no seu encerramento, verificando-se o desaparecimento total daquele requisito espólio, que marcava uma época sociocultural do povo. BIBLIOTECA MUNICIPAL Duas décadas antes a Fundação C. Gulbenkian, fazia chegar a Salvaterra de Magos, uma viatura biblioteca, onde os muitos leitores tinham ali espaço para a sua ânsia de mais aprender. O executivo de António Moreira, através do Vereador da Cultura, Joaquim Mário Antão, para além das muitas iniciativas que levou acabo, na área do turismo, o apoio à cultura não perdeu o seu entusiasmo e daí a criação de uma Biblioteca Municipal.


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Estava-se em 1985, o antigo edifício escolar “O Século”, no Largo dos Combatentes, foi adaptado e assim, nasceu no dia 10 de Junho, um espaço de cultura, onde passou também a estar exposto o património bibliotecário ambulante da Gulbenkian. Os visitantes/leitores passaram a ter ao dispor nas estantes, cerca de 4.000 livros., o que para a época foi realçado quando dos discursos das entidades oficiais convidadas. No seu interior uma placa assiná-la, a solenidade. NOVA BIBLIOTECA Um projecto e o início das obras, para novas instalações da Biblioteca Municipal, foi feito no tempo do executivo de Dr. José Gameiro dos Santos, num grande e velho edifício da época manuelina. A mudança teve lugar, com a conclusão da obra no mandato de Ana Cristina Ribeiro, conforme consta de uma placa, na sua entrada. “ Biblioteca Municipal, foi inaugurada pelo Secretário de Estado Cultura, Prof. Dr. Mário Vieira de Carvalho, com a presença, de Ana Cristina Ribeiro, Presidente da Câmara * 9/Setembro/2005 ” CENTRO DE SAÚDE Depois de muitos anos a população do concelho de Salvaterra de Magos, receber assistência médica e internamentos, no antigo hospital da Misericórdia local, em situações precárias, visto aquela unidade vir de 1913, A Casa do Povo local mantinha no seu edifício, um gabinete para


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consultas médicas aos associados. Com a implementação do Serviço Nacional de Saúde (SNS), através do Dec Lei Nº56/79 de 15 de Setembro, algumas transformações se verificaram na vila, com a requisição oficial daquela edifício, algumas para as consultas médicas. A Casa do Povo deixou de dar apoio aos seus associados e alguns anos depois, após negociações para um terreno entre o Município, Misericórdia e Serviços de Saúde, um projecto teve inicio para dar lugar a um “Centro de Saúde”, em Salvaterra de Magos, que foi inaugurado em 1985 INAUGURAÇÃO DA ESCOLA SECUNDARIA ( Escola Dr. Gregório Fernandes) A notícia nos jornais publicavam “ Ontem pelas 11 horas da manhã, do dia 15 de Outubro, o sol já aquecia, fazendo lembrar os verões idos de S. Martinho, quando os serões convidavam ao escarolar do milho, e ele o santo, no calendário religioso, está de chegada daqui a dias. Houve festa em Salvaterra de Magos – foi inaugurada a sua Escola Secundária” Com os convidados oficiais; Ministro da Educação; Prof. Dr. José Augusto Seabra, Secretário de Estado das Obras Públicas e do Equipamento Social, Eng.º Eugénio Nobre e ainda o Governador Civil de Santarém, Eng.º José Frazão, chegaram os autarcas do concelho de Salvaterra de Magos. Os Presidentes da Câmara Municipal, António


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Moreira e, o Dr. Alexandre Monteiro, da Assembleia Municipal, acabaram momentos antes, no salão nobre dos paços do concelho, de lhes dar as boas vindas, em nome da população do concelho. Não deixaram de também estar presentes, os deputados na Assembleia da República, pelo distrito de Santarém; Silvério Marques e Jorge Lacão, PS, e Fernando Condesso, PSD, e outras autoridades militares e religiosas. Junto aos portões da nova escola que, dentro de momentos ia ser inaugurada, uma multidão, preparava-se para se juntar à comitiva, assistindo aos actos oficiais.

Uma força em parada dos Bombeiros Voluntários locais, e sua Banda de Música, fizeram a guarda de honra com a execução do hino nacional, quando no momento se fazia uma grande solta de pombos-correio. Antes da visita às novas instalações, o ministro da educação, descerrou


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uma lápide, onde o seu nome constava na efeméride, pois era uma obra custeada pelo estado e orçou em 51.285.622$00. O corpo directivo da nova escola, acompanhando os convidados, ia mostrando as várias salas de aulas, cantina, pavilhão polivalente, biblioteca e muitas outras dependências do foro sócio-administrativo. António Lopes, professor e membro da comissão administrativa da escola, não deixou de prestar os necessários esclarecimentos, seguindo-se os discursos de inauguração.

Usaram da palavra, a Dr.ª Maria Irene Lopes Pinto, em nome da Comissão Directiva, e o Secretário de Estado, Eugénio Nobre. António Moreira, presidente da municipalidade salvaterrense, começou por lembrar, quanto o concelho de Salvaterra de Magos, ficava a dever por esta obra, a Leonardo Cardoso e, ao seu executivo de 1976/17979, pelo muito esforço e carinho, quando iniciou a resolução deste problema do foro escolar, e a escolha de terrenos da Ómnia, pertencentes à família


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Lino. Ao representante máximo da educação em Portugal, ali presente, agradeceu o apoio dado à concretização de um sonho de à muito da população.

A terminar a cerimónia , discursou o ministro, José Augusto Seabra, que agradeceu as atenções de que foi rodeado pela população agora em festa e, enalteceu o trabalho, persistência, dedicação e esforço junto do seu ministério, do presidente Moreira, para a concretização da obra, agora posta ao serviço da classe estudantil de Salvaterra de Magos. Mais disse, estar o seu ministério, atento aos actuais problemas da educação no país, mormente o da família/escola/trabalho, e que dentro em breve uma lei, sairia, para os estudantes, além das horas de estudo, fizessem prática profissional. Por último informou os presentes, que o estado, passou nos últimos três anos, de uma média de construção de escolas, de 10 escolas/ano, para 50 escolas/ano. Após uma breve


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reunião de trabalho, com os representantes da nova escola e da câmara municipal, a comitiva deslocou-se aos Foros, onde durante o almoço, no Pavilhão das Festas locais, actuou o Rancho Típico dos Foros de Salvaterra.

* ) - Reportagem/ notícia – JVT – 16.10.1983 * José Gameiro ************************ Nota: Quando da iniciativa do processo da construção, desta Escola Secundária, José Teodoro Amaro, vereador municipal foi um dos seus entusiastas, e por ele foi-me pedido qual o nome de uma figura pública - filha desta terra - Salvaterra de Magos que, merecesse pelo seu comportamento cívico, ser perpetuado, através daquela escola. Usando o seu nome, era um sinal de gratidão pelos seus concidadãos. Entre outros, sugeri o do Dr. Gregório Fernandes, que, foi aceite e usado. Anos depois, ao contrário de outras escolas que, por esse país fora conservaram o seu patrono, a Escola Secundária de Salvaterra de Magos, deixou de ostentar o de Dr. Gregório Fernandes. ****************


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AUDITÓRIO DA CAPELA REAL Há séculos atrás, quando da feitura d obra do palácio real de Salvaterra de Magos, nela foi incluída uma capela. Num terreno junto a si, na sua fachada Sul, teve várias utilizações com o decorrer dos anos. Uma delas, foi de Picadeiro, função que ficou registada, em alguns mapas da terra, durante várias épocas. A última foi usada de cemitério público, no século XIX, quando das Reformas Liberais , porquanto até ali o povo era enterrado nos adros das igrejas, e os senhores, podiam optar pela sepultura em espaços seus.

Depressa, aquele pequeno espaço estava esgotado, por sepulturas térreas, que tinham pedras tumulares, e alguns jazigos. Com construção de um novo campo santo, na freguesia de Salvaterra de Magos, nos últimos anos daquele século, ficou aquele terreno na situação de “espera”, na base dos 50 anos que a lei lhe conferia para


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suportar as campas dos falecidos ali enterrados. Durante anos, ficou um pouco ao abandono, o Corpo de Escuteiros de Salvaterra de Magos, acabado de ser formado, em 1964, no âmbito da igreja católica, ali instalou a sua sede provisoriamente numa sala dependente da capela. Os jovens escuteiros, ao limparem aquele terreno do vasto matagal, que ali foi nascendo, depressa trouxeram à luz aquelas pedras tumulares e jazigos. Os anos passaram, em 1997, o Dr. José Gameiro dos Santos, então presidente da câmara municipal, aproveitando um projecto do jovem arquitecto italiano, Flávio Barbini, estagiário no

município, propôs para aquele espaço a construção de um Auditório ao ar livre, que a concretizar-se em pleno tinha uma panorâmica da época romana. Com início das obras, na limpeza do terreno, algumas ossadas vieram à luz do dia, logo um grupo de jovens estudantes da escola secundária, apoiados por um ou outro professor, que não simpatizava com a ideia, vieram para a praça pública denunciar a situação.


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Reposta a normalidade, os trabalhos, foram decorrendo e quando Gameiro dos Santos deixou o executivo camarário, no final de 1997, as obras já estavam praticamente concluídas. No entanto, foi no mandato de Ana Ribeiro, em 1999, que foram feitos os últimos trabalhos - colocação de sanitários, os acessos com o pavimento em calçada e a instalação da iluminação. Foi inaugurado, aquém do projecto inicialmente previsto. a) JOSE GAMEIRO ************

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Nota: Bibliografia usada: Livro “ Salvaterra de Magos “ Uma Vila no Coração do Ribatejo, de José Gameiro “ O Foral” N.º 1 (1996) * Notícia publicada no JVT – 1997 *********** ** ********* *****************


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CELEIRO DA VALA Este edifício, sendo primitivamente pertença do vasto espólio da casa real de Salvaterra de Magos, com a venda desta, ainda no século XIX, em 1836, passou para as mãos da Companhia da Lezíria do Tejo e Sado, criada nesse ano. Na época da sua construção, era usual, a feitura de um “Frontão” religioso nas fachadas, simbolismo que chegou aos nossos dias Na primeira metade do século passado, o seu espaço interior foi modificado, e ali instalado um secador de cereais. Com pouca utilização, no dobrar do séc. XX, mesmo assim aquele celeiro conservava no seu interior alguns utensílios, onde se destacava um grande secador de cereais Este edifício, ao longo dos tempos, era conhecido junto da população local como o Celeiro da Vala. A câmara municipal, em 1997, sob a presidência do Dr. José Gameiro dos Santos, vislumbrou para aquele espaço um destino para utilização pública, como exposições e colóquios, na área cultural Assim, que as condições foram favoráveis, celebrou um Protocolo, com vista à aquisição daquela construção, com a entidade proprietária, a Companhia das Lezírias. A autarquia, assumiu um “Compromisso de Compra e venda”, orçado em 10 mil contos, Em, 1999, na cerimónia oficial da conclusão do acordo de compra, o Município, já sob a presidência de Ana Cristina Ribeiro, foi assinado o contrato, onde esteve presente o Secretário de Estado da Agricultura, Dr. Capoulas Santos, acto que decorreu no salão nobre dos paços do concelho. O valor comprometido na transacção, foi o que antes tinha sido acordado. Após assinatura, foi divulgado, pela responsável da autarquia,


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que brevemente as obras de recuperação daquele celeiro, teriam lugar, pois permitia a concretização de uma velha aspiração da população de Salvaterra de Magos, usá-lo como espaço de cultura. Com o ano de 2000, a decorrer, foi noticiado que a autarquia e a

Associação Arqueologia

Portuguesa de Industrial (APAI)

assinaram um protocolo para a recuperação dos secadores existentes no Celeiro, pois eram do início do século XX, e seriam únicos exemplares no país. Em 2002, algumas obras de urbanização, foram levadas a cabo nos terrenos próximos do celeiro e mesmo da limpeza do leito da vala,, que foram promovidos pelo INAG (Instituto da Água), orçando os cerca de 200 mil contos. Para simbolizar, o início daqueles trabalhos, estiveram presentes, o presidente daquele organismo oficial, Dr. Orlando Borges, para além de outros convidados. Terminados as obras de recuperação e adaptação, a inauguração teve lugar no dia 14 de Outubro do ano 2000.

********** “ O Foral” N.º 3 (1997) * Boletins Municipal N.º 5 (2000), N.º 6 (2001) e N.º 7 (2002)


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***************** PISCINAS MUNICIPAIS Sendo uma obra de grande “propaganda” política, desde as primeiras eleições autárquicas, de 1976, era incluída nos programas dos vários candidatos à eleição para a presidência da município de Salvaterra de Magos. Alguns anos, em 1997, quando António Moreira, deixou a presidência do município, os projectos, e algumas infra-estruturas estavam delineadas no terreno. Com José Gameiro dos Santos , a terminar o mandato daquele ano, as obras eram já visíveis, e as condições para a sua rápida conclusão estavam nos planos deste presidente, não fora ter perdido as eleições entretanto realizadas. Ana Ribeiro, que viria a conquistar o lugar de Presidente da Câmara, teve como um dos temas emblemáticos da sua campanha eleitoral, a conclusão das Piscinas Municipais de Salvaterra de Magos. Quando como vereadora, na oposição, fez desta obra, uma arma de contestação, até pela ida dos presidentes antecessores a alguns países, para se inteirarem dos “meandros” do funcionamento e da construção de tão importante empreendimento público.


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Agora a gerir o concelho, continuou com o projecto, e o ritmo da construção. No Boletim Municipal, órgão informativo da câmara, saiu em 2000, a notícia da colocação do madeiramento nas infra-estruturas, e que foram abertos concursos para a aquisição de alguns apetrechamentos indispensáveis ao seu funcionamento, e que a conclusão da obra estava para breve, sendo prometida a sua inauguração no final daquele ano. A inauguração, com pompa e circunstância, veio a verificar-se no dia 7 de Abril do ano de 2001, sendo divulgado na altura que o custo da obra rondou os cerca de 300.000 mil contos.

INAUGURAÇÃO DO PAVILHÃO DESPORTIVO Há muito anos que, o Pavilhão Gimnodesportivo do INATEL, estava desajustado às modalidades e ao conforto do público. Inaugurado, às perto de meio século, esteve à disposição da antiga Casa do Povo e, nos últimos tempos era gerido pelo município da terra. Havia necessidade de um novo espaço, para a prática das várias modalidades que a juventude agora pratica. A Câmara Municipal, investiu


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num novo edifício desportivo uma verba que custou cerca de dois milhões de euros, tendo uma capacidade para 650 lugares sentados.

Esteve na inauguração, a presidente da câmara municipal, Cristina Ribeiro e o Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, Laurentino Dias .Foi um dia festivo, com a presença de muito público, e praticou-se ali as modalidades de: Trampolins, Futsal, Andebol, Kempo, Shorinji

Kempo e Judo

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NOVA BIBLIOTECA MUNICIPAL Com um património de milhares de livros, e com as novas tecnologias a exigirem novos espaços, a biblioteca instalada no antigo edifício escolar, estava a precisar de ser substituída. Era um projecto que já vinha de muitos anos, foi aproveitado um antigo e grande edifício, construído no tempo em que a traça arquitetónica era o Manuelino.

Depois das necessárias obras de adaptação, foi inaugurado no dia 9 de Julho, com pompa e circunstância, pois a obra assim o justificava. É uma obra moderna, que se junta às cerca de 137 que existem na rede nacional de bibliotecas. O seu custo foi partilhado entre a câmara municipal de Salvaterra de Magos e o Instituto Português do Livro e das Bibliotecas Na inauguração, para além do executivo camarário, sob a presidência de Ana Cristina Ribeiro, contou com a presença do Secretário de Estado da Cultura, Prof. Doutor Mário Vieira de Carvalho, Governador Civil de Santarém e, o Presidente da Junta de Freguesia de Salvaterra de Magos. ********************* *********


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* HOMENAGENS * MÓNICA MONTEIRO Mónica Ferreira Monteiro, nasceu entre o mundo da tauromaquia, especialmente dos cavalos, por intermédio de seu pai, Edmundo Nestório Monteiro (Edmundo Borrego) e por volta dos cinco anos já ia montando, gosto que se acentuou quando jodem de 18 anos, e quis ser cavaleira tauromáquica, pois uma sua tia materna, dezenas de anos antes, já tinha dado ares da sua graça na arena da praça da vila. Aprendeu a arte de bem cavalgar, e com os conselhos da família Ribeiro Telles, de Coruche, lá ia progredindo no sonho que desejava alcançar, tira a alternativa naquela arte, começou pelo desbaste e ensino de cavalos Esteve várias vezes, em festivais na praça de Salvaterra de Magos, terra onde nasceu, lidando novilhos, com o fim de se aperfeiçoar. Num dos habituais passeios a cavalo, o acidente aconteceu, foi vítima de atropelamento por um autocarro de passageiros na EN 118, que lhe destruiu-lhe a carreira dos seus sonhos – ser cavaleira tauromáquica.


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Hospitalizada durante muitos meses, não mais voltou ao mundo dos seus sonhos, sofrera graves lesões. A sua dificuldade na recuperação, apenas apoiada pelos pais, levou ao aparecimento de uma onda de solidariedade para ajudar estes economicamente, e fazer-lhe uma justa homenagem que lhe desse ânimo em continuar a sua recuperação como ser humano. A empresa que, na época explorava a praça de toiros de Salvaterra de Magos, acedeu ao pedido de uma comissão que se constituiu, encabeçada pelo grande aficcionado da terra, Manuel Fernandes Travessa. A festa de homenagem aconteceu com a realização de uma corrida de toiros, que teve lugar no dia 15 de Julho de 1999 O tempo passava a sua grande vontade de vencer levou-a a frequentar para além do Centro de Alcoitão, outros ginásios, uma grave lesão na zona da coluna cervical, impedia-a de movimentos do pescoço para baixo. Um dia aparece em cadeira de rodas, e dez anos depois já apoiada em muletas andava, subindo aquela ingreme rampa em frente à Capela real, desde a casa dos pais, que ficava ao fundo, no início do Rossio da Vila, Levava horas, é certo a fazer tal percurso.


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Lutadora que era, voltou a sonhar, uma nova fase na sua vida estava nos seus horizontes encetou uma segunda batalha e venceu de novo. Com a ajuda dos cavalos que tanto adorava voltou a montar numa sela e agora dá aulas de Hipoterapia, uma forma de equitação para deficientes, método que aprendeu e desenvolveu o seu conhecimento, quando esteve em Toledo (Espanha), em tratamento naquela especialidade. O Município de Seia, acreditou nela, e prestou-lhe os apoios necessários para a instalação de uma escola. Sónia Monteiro, deu os primeiros passos para a criação de uma Associação Equestre Entre Amigos “Eu, os cavalos e os cães” – uma organização sem fins criativos. Em 2003, publicou o livro “Voltar a Nascer”, uma autobiografia, que mostra toda a sua longa experiência de doente até a ser professora. **********************************

A Monitora Mónica Monteiro, numa aula de Hipoterapia


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HOMENAGEM À PROFª D. NATÉRCIA ASSUNÇÃO Depois de ensinar, o ensino primário escolar, durante mais de 40 anos na vila de Salvaterra de Magos. um grupo de ex-alunos, após dois anos de preparativos, conseguiu a presença de cerca de duas centenas, que dedicaram à antiga Prof. Natercia Rita ( Duarte Assunção)uma festa de homenagem e agradecimento. A Junta de Freguesia local, sob a presidência de Armando Rafael de Oliveira, associou-se à festa e atribui-lhe a toponímia de uma rua que, passou a usar, junto à antiga Casa do Povo, passando pelo Parque Infantil e terminando no Parque escolar da vila.


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HOMENGEM E INAUGURAÇÃO DA RUA ANTONIO PAULO CORDEIRO António Paulo Cordeiro, nasceu nesta vila de Salvaterra de Magos, em 1876, onde veio a falecer em 1965. Desde menino, foi-lhe encontrada grande vocação para a música e, depressa aprendeu o sulfejo, na escola da banda de música da terra, sendo o seu instrumento proferido, o Cornetim. Paulo Cordeiro, depois de um longo percurso como músico, maestro e compositor, foi alvo de merecida homenagem, a título póstumo, em 1987, na sua terra, com a inauguração de uma rua com o seu nome. Entre as várias peças que compôs, destaca-se a marcha fúnebre “Coroa de Espinhos” e o “Passe Doble Faculdades”, esta em homenagem ao toureiro com o mesmo nome. *******************


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HOMENAGENS AO CAMPINO Durante tempos sem fim, o homem emblemático do Ribatejo – O Campino – tinha sido esquecido. Desde 1991, no decorrer das festas do Foral, dos Toiros e do Fandango, desta terra, tem sido o alvo deste preito público Todos os anos, um é lembrado e homenageado como foram; Manuel Luís, António Guilherme, Miguel Viegas, Aníbal Ganhão, Manuel Bernardo, Acácio Santa Bárbara, Manuel Paulo Fernandes, Manuel Luís Cantador e Manuel Leandro, José Carlos Figueiredo e Ana Baptista (cavaleira tauromáquica). Outras homenagens houve, nesta terra a gente ligada ao mundo dos toiros (1)

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ALEXANDRE VARANDA DA CUNHA

(Barbeiro e Fotografo Amador)

Alexandre Cunha, desde menino foi encaminhado pelos pais para a profissão de Barbeiro, pois sendo aqueles trabalhadores rurais, sabiam quanto era penosa a vida no campo. O Alexandre, “Barbeiro”, como carinhosamente era tratado, anos mais tarde, quando prestou serviço militar, foi enfermeiro. Naquela actividade, teve oportunidade de lidar com produtos químicos, e veio a interessar-se pela fotografia. De regresso a casa, estabelecido na sua profissão, comprou uma maquina fotográfica daí ao fazer fotos, desde motivos da terra, aos necessários para o Bilhetes de Identidade e Casamentos. Mais tarde adquiri, uma “Kodak”, e com ela intensificou o seu hobby das fotografias O seu espólio era deveras grande. Recuperado em parte, pelo Departamento da Cultura da Câmara Municipal, quando lhe prestou uma merecida homenagem, tendo sido editado muitos dos seus trabalhados guardados em negativos, muitos deles ainda por si feitos, em vidro. Enquanto jovem, muito se interessou pelas actividades socioculturais da sua terra-mãe Salvaterra de Magos. O Clube Desportivo Salvaterrense ,mereceu-lhe particular atenção, foi seu dirigente durante anos, e até pintou o seu emblema original, ainda usado pela colectividade.


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UM BUSTO EM HOMENAGEM A D. DINIS Salvaterra de Magos, estava a comemorar os seus 700 de vila e concelho, e a solenidade do dia 1 de Junho de 1995, foi aproveitada para a autarquia local, sob a presidência Do Dr. José Gameiro dos Santos, homenagear o rei D. Dinis, “O Lavrador”., pois foi dele que recebeu o seu primeiro Foral. Neste documento régio, estava espalmado a sua primeira configuração concelhia. Grandes benefícios, foi recendo através dele, como a plantação de um Pinhal no sitio do Escaroupim, imigrantes vindos das terras de Flandes, que engrossaram o seu pobre e pequeno povoamento, onde a agricultura, recebeu grandes benefícios para a época. Num pequeno espaço ajardinado, na Praça da República foi colocado um trabalho em pedra de lioz, encimando o busto do rei, um desenho do arqtº italiano, Flávio Bárbini, ao tempo técnico da câmara, e obra executada pelo escultor, Rogério Timóteo. Inaugurado com a presença das forças vivas do concelho, que acompanharam o governador civil de Santarém, Silvino Sequeira, sob o hino nacional tocado pela Banda de Música dos Bombeiros de Salvaterra de Magos.


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HOMENAGEM A REBELLO DA SILVA

(Luiz Augusto Rebello da Silva)

Rebello da Silva, viveu no século XIX, Nasceu em 2 de Abril de 1822, falecendo no dia 19 de Setembro de 1871, foi Jornalista ,Historiador, Romancista e Politico, Escreveu alguns livros que dedicou a Alexandre Hercuano, ainda como escritor, teve no campo da investigação histórica, muitos dos seus trabalhos, publicou um livro de Contos e Lendas, onde nas suas páginas romanceia e dramatiza a morte do Conde dos Arcos, ocorrida nesta vila, num brinco com toiros, no séc. XVIIII, no reinado de D. José I. Dando o título à sua obra “A Última corrida de Touros em Salvaterra”, imortalizou aquela ocorrência e deu origem que ao longo dos tempos, muitos artistas na área da pintura e da música tenham feito as mais diversas pinturas e letras de música daquela cena. Em 2003, foi-lhe prestada homenagem, dando agora o seu nome ao largo da praça de toiros da vila. Ali foi construída um pequeno suporte, mostrando uma esfinge do escritor, e um quadro de azulejos, esboçando alguns passos da sua obra sobre a morte do Jovem Conde dos Arcos, nesta vila.


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FERNANDO DUARTE ASSUNÇÃO Estávamos em 1997, Fernando Rita Duarte Assunção, tinha passado à situação de aposentado, como professor, a câmara municipal, sob a presidência do Dr. José Gameiro dos Santos, deliberou prestar-lhe uma singela mas justa homenagem. No início dos 60 do século passado, além de praticante foi o grande obreiro da chegada do Andebol, a Salvaterra de Magos. A Casa do Povo, acolheu-o com grande entusiasmo e, depressa várias escalões de praticantes, treinavam no Pavilhão da vila. Mais tarde, para a disputa de campeonatos federativos, o Andebol, passou para o Clube Desportivo Salvaterrense, onde chegou ao mais alto topo da modalidade. Da sua escola desportiva, saíram atletas, que na época foram disputados por vários grandes clubes do país, pois alguns chegaram a vestir várias vezes a camisola da selecção nacional da modalidade. O Presidente da Câmara Municipal, depois de enaltecer o caracter pessoal e profissional do Prof. Fernando Assunção não deixou de focar o que deu no campo desportivo à vila de Salvaterra de Magos Por fim fez a entrega do Diploma de Agradecimento, sob uma grande salva de palmas, de muita gente que enchia o salão dos Paços do Concelho. ************************


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HOMENAGEM A JOSÉ GAMEIRO, O Município de Salvaterra de Magos, sob a presidência de Helder Esménio, reconheceu o mérito de José Gameiro, pela dedicação prestada no trabalho, estudo e divulgação da História e Património Cultural da sua terra- mãe, Salvaterra de Magos. José Gameiro, celebrava 50 anos (1964-2014), que iniciou tal divulgação, em vários Jornais e Revistas existentes à época no pais. Ao homenageado – José Gameiro, foi dedicada uma cerimónia pública de reconhecimento pelo seu elevado espirito filantrópico de partilha, do legado histórico de Salvaterra de Magos, ampliada com uma exposição da sua de vida, que ocorreu no Edifício Municipal da Vala. Em 21 de Setembro de 2014,naquela festa foi-lhe atribuída uma Salva com dedicatória, “Que o seu exemplo persista no tempo e seja seguido pelas gerações mais jovens”

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**************** Bibliografia usada: “ O Foral” N.º 2 – Ano II (1997) * “ O Foral” N.º 3 – Ano II (1997) * “Boletim Municipal” N.º 5 (2000) * “Boletim Municipal” N.º 7 (2002) * JVT * Internet – Mónica Monteiro Fotos Usados: Pág. 2 - Hospital da Misericórdia – Foto do Autor: 1979 Pág. 3 - Praça de Toiros de Salvaterra de Magos . Foto do Autor: 2000 Pág. 4 – Cabina de Transformação de Energia Eléctrica – Foto do Autor: 2000 Pág. 5 – Depósito de Abastecimento de Água à vila de Salvaterra de Magos – Foto do Autor: 2000 * Edifício dos CTT, no dia da inauguração: Foto do Autor Pág. 6 - Antigo edifício, adaptado para Biblioteca Municipal – Foto do Autor: 1985 Pág. 7 – Edifício do novo Centro de Saúde, no dia da inauguração – 1985 – Foto do Autor Pág. 15 – Piscinas municipais – Dia da Inauguração – Foto extraída com a devida vénia do Boletim Municipal Pág. 18 – Mónica Monteiro Pág. 19 – Profª. Natércia Assunção, no dia da homenagem, que os seus ex alunos lhe prestaram – Foto do Autor Pág.20 – Acácio Santa Bárbara, no dia em que foi homenageado – Foto do Autor * Alexandre V. Cunha, no dia de homenagem – Foto extraída do Boletim Municipal, com a devida vénia.Ag. 23 . Fernando Assunção, homenageado pela Câmara Municipal – Foto extraída do B.M. com a devida vénia.


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Caderno de Apontamentos Nº 19 Documentos para a história de

SALVATERRA DE MAGOS Séc. XIII – Séc. XXI Património: Geográfico, Monumental, Cultural, Social, Político, Económico e Desportivo


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Fotos da Capa: 1- Paço Real de Salvaterra – desenho extraído a partir do quadro ex-voto do Milagre, por Manuel Arriaga – 1989 ( O Paço Real de Salvaterra) – Livros Horizonte * 2 - Edifício da Capela real, que pertenceu ao Paço Real de Salvaterra – 1957 (Autor) * 3 – Desenho de Carlos Madel – inserido no Trabalho de Aline Gallasch (O Palácio de Salvaterra de Magos e a sua iconografia (Revista Magos II – CMSM)


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Primeira Edição

FICHA TECNICA: Titulo: O PAÇO REAL , A CAPELA, A CASA DA ÓPERA, E CHAMINÉS Tipo de Encadernação: Brochado (Papel A5) Autor: Gameiro. José Colecção: RECORDAR, TAMBÉM É RECONSTRUIR ! Caderno de Apontamentos Nº19 Editor Gameiro, José Rodrigues Morada: Bº Pinhal da Vila – Rua Padre Cruz, Lote 64-1º Localidade: Salvaterra de Magos Código Postal: 2120- 059 SALVATERRA DE MAGOS ISBN: 978– 989 – 8071 – 19 – 4 Depósito Legal: 256471 /07


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*********************************** 2ª Edição Revista e Aumentada: - Março 2015 ***********************************

Contactos: Tel. 263 504 458 * Telem. 918905704 E-mail: josergameiro@sapo.pt

O Autor deste texto não segue o acordo otográfico de 1990


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O MEU CONTRIBUTO

Quando criança, a escola ainda não era uma preocupação, brincávamos algumas vezes pendurados nos seus grandes ferros, uma escada de madeira estava ali à mão de semear !... Na brincadeira, eramos os dois, o António Lopes, filho do Joaquim Conceição Lopes, de um dos irmãos donos, da propriedade, que tinham o café. D. Irene, avó do Toninho, andava sempre de olho em nós, qual acidente nos espreitava. Estávamos em 1949, havia obras no local, o Restaurante Ribatejano estava em construção e, afinal aquelas grandes espaços onde brincávamos, eram as três chaminés das cozinhas do antigo palácio real de Salvaterra de Magos que ali existiu. Os anos passaram, já acabada a escolaridade estive uns meses na câmara municipal, entre algumas funções, era enviado para o sótão do edifício, arrumando os muitos documentos que por li estavam a esmo. Abria, fechava muitos livros antigos que me despertavam grande curiosidade, até pelos seus selos de chumbo e lacre nas capas de couro. Muitos deles vinham de séculos e tinha haver com o passado histórico de Salvaterra de Magos. Como parte de uma cópia de uma carta do


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Presidente da Câmara ao Infante D. Miguel, que tive a ousadia de transcrever do que me foi percetível ler e sempre guardei, até que desapareceu quando em 1965, fui militar. (“….. Ao muito Alto e Sereníssimo Senhor Infante. É inexplicável o contentamento de que se acham possuídos os habitantes Esperando há longo tempo …… desta vila. ….. Vossa Alteza Real estava destinado para abater a insolência dos malvados, que ……. Deus e contra o melhor dos seus delegados na terra tenham conspirado ……)” Julho de 1823 Anos mais tarde, ao ler o livro “Anais de Salvaterra de Salvaterra de Magos” da autoria de José Estevam – 1959, lá estava transcrita na sua integra Foi nestes moldes, o início do meu gosto pelas “coisas” históricas da mina terra. Muitos livros, contendo documentos com a descrição das memórias deste concelho levaram chumiço de vez. As calamidades, a incúria dos homens ao longo dos tempos, foram factores que contribuíram para o desaparecimento descontrolado de um vasto património monumental, que a vila de Salvaterra de Magos possuía e agora a sua riqueza se pode contar nos dedos de uma mão. Os que restam, estão desde 1958, classificados de monumentos de utilidade pública, protegidos por lei – saibam as actuais e futuras gerações, conservá-los. Março: 2015

O Autor: JOSE GAMEIRO


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O PAÇO REAL DE SALVATERRA Os reis medievais, um dia passaram por Salvaterra gostaram da generosidade do seu clima, e da riqueza das terras. Os benefícios tirados no campo agrícola, para alimento e bem estar do povo, que governavam também não caíram em desdém. Sabe-se que D. Sancho I, apreciava esta vasta planície que se desenhava a partir da margem sul do Rio Tejo, e que se distanciava a perder de terras a dentro vista ao Alen –Tejo. Este rei, pernoitava numa bela Casa de Campo Apalaçada, sempre que fazia a jornada entre Lisboa e Santarém. Anos mais tarde, seu Bisneto D. Dinis, não deixou também de lhe seguir o gosto por esta vila, e em 1 de Junho de 1295, estando em Coimbra assinou o Foral que lhe destinou, igual ao que tinha doado a Santarém, cidade onde veio a falecer em 1325. Consta nos pergaminhos que foi no seu reinado que se iniciou a escrita em português, e providenciou a vinda de emigrantes de Flandres para Portugal, tendo as terras a sul do Tejo recebido grande quantidade famílias. A comunidade indígena da grande Lezíria depressa aceitou e passou a usar os usos e costumes daquelas gentes. As grandes referências ao Paço Real de Salvaterra, consta em 1383, onde foi assinado o contrato de casamento da Infanta D. Beatriz/ou Brites, com o rei de D. João I de Castela. Através dos séculos, o conteúdo daquele importante documento para a época, não deixa de ser transcrito: “ dientro em los palacios

Reales del dicho Lugar de Salvaterra estando hi presentes el muj alto claro Principe Sñor D. Fernando por la gracia de Dios Rej de Portugal e del Algarbe e la muj alta e nobre Sñra D. Leonor su mujer Reina de los dichos Rejnos”; a cerimónia realizou-se “dentro en la Camara del dicho


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Sñr Rej de Portiugal” . Existia nessa época um Paço digno de receber as mais importantes entidades - Embaixadores de negócios, Embaixadores Religiosos, e Castas de Nobres, são mencionados. .

Sepulcro – Convento S. Francisco Toledo (Espanha)

Ainda meio século não tinha passado daquele importante pacto entre Portugal e Espanha, estando a reinar em Portugal D. João I, em 1429, fez doação a seu filho, o Infante. Fernando, com extensão a seus herdeiros todas as “graças e mercês” da vila de Salvaterra, incluíndo riquezas e benesses . Morrendo o rei seu pai D. Fernando não tendo casado nem descendência, depressa vendeu o senhorio de Salvaterra de Magos, a Rodrigo Afonso, tendo este depressa transmitido a sua posse a seu filho Pedro Correia. Reinava em 1497, em Portugal D. Manuel, quando em 16 de Junho passou carta de privilégios a 40 Lavradores, que estabelecessem residência em Salvaterra de Magos. O tempo correu e já nos anos de Quinhentos a vila foi de novo transacionada a D. Nuno Manuel, Guarda-Mor do rei. Este passou carta em 1507, a favor de D. Nuno (Neto do antigo rei D. Duarte), neste alvará, não deixa de focar que a cedência consta todos os direitos da vila ,


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incluindo a Lezíria de S. Romão. A casa real, não deixa de continuar a possuir a propriedade do Paul de Magos. O rei tendo nascido em Alcochete, em 1469, não deixa de mostrar grande gosto pelas terras banhadas a sul do Tejo, escolhia Salvaterra para aqui fazer algumas temporadas de caça de animais de pelo, Não deixou de presentear esta vila com um novo Foral, em 1517, onde privilegiava também o comercio, feito a través da Vala, onde navegavam “barcas e batéis”. Salvaterra de Magos, em 1532 tinha uma confrontação de termo, com Santarém, Coruche, Benavente e Azambuja, e os seus moradores tinham crescido na vila para 150 Novo senhorio é encontrado para Salvaterra, em 1534, D. Fradique Manuel, filho primogénito de D. Nuno Manuel, a vila já possuía uma grande “Horta e casa”, este depressa contraiu dívidas, dando Salvaterra como penhora, Em 1542, o rei D. João III, sabendo do que se passava, levou D. Fradique a ceder a vila ao Infante D. Luiz, por contrato que foi assinado em Lisboa. Na escritura, constava a cedência a El-Rei de Salvaterra de Magos, com todos os seus termos. A renda das barca do Escaroupim, e os todos os usos frutos do Paul de Magos, Cortes, Lezeirão e Romão Grande. Mais ficou outorgado naquele negócio jurídico, que a parte agora perdedora daqueles bens receberia as vilas de Tancos. Atalaia e Aceiceira. Também foi descriminado que receberia o Castelo e Fortaleza de Marvão. Não deixou o rei de mencionar que daria certa quantia em dinheiro, pelo Casal de Santa Maria e seus bens de rendimentos.


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De posse de tão afortunadas terras de Salvaterra de Magos, logo nesse ano mandou o Infante D. Luiz (1506-1555), edificar entre Benavente e Salvaterra, o convento de Jericó, com o assentimento dos Frades Arrábidos, com o pedido do Frei Martinho de Santa Maria, que fosse de construção modesta. O Infante por vezes dormia naquelas instalações, onde existiam as imagens de Nossa Senhora da Piedade e de S. Baco, do qual possuía relíquias, adquiridas em Roma.

Já de posse de Salvaterra de Magos, o Príncipe D. Luiz, mandou aformosear o antigo Paço, dando-lhe mais espaço num edifício sumptuoso, tendo na orientação da obra o Arquitecto do reino; Miguel de Arruda, e pinturas do mestre Francisco de Holanda, que lhe deram enfase da época Medieval. O Infante morreu sem ver acabada a sua obra. Já na posse de D. António Prior de Crato (1531-1595), que era filho do Infante D. Luiz, foi o seu herdeiro natural, passando depois o Paço para Casa Real. Com a época Renascentista à porta em Portugal, coube à Dinastia Filipina a sua conservação, sem que antes D. Sebastião a tenha iniciado. Com as obras ali efectudas, foi acrescentado um anexo, que era conhecido pelo Paço das Damas.


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A CAPELA REAL Sendo um edifício maneirista, construído em meados do séc. XVI, o seu interior divide-se em duas secções distintas. Uma delas é constituída pelo corpo do templo de configuração quadrada, onde sobressaem três pequenas naves, de pequenas colunas clássicas adoçadas às paredes. Em outras duas colunas, assenta uma cúpula octogonal, na outra secção, pode-se admirar o Altarmor, com dois corredores laterais, cuja abóbada de berço surge de um entablamento longitudinal apoiado em colunas

toscanas

À abóbada central e a cúpula, irrompem de fortes entablamentos, um pouco desfigurados pela saliência, que apresentam no apoio dos arcos-testas, possivelmente de um enxerto posterior. “ *********************


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AS CHAMINÉS DAS COZINHAS DO ANTIGO PALÁCIO REAL

No paço real de Salvaterra de Magos. se passava muito tempo do ano, especialmente, na época que ia até ao carnaval, Com os campos férteis em caça, as caçadas de Montaria e Altenaria eram os passatempos

predilectos da realeza, e dos convidados. Com tão prolongada permanência em Salvaterra obrigavam à deslocação de muitos serviços de cozinha e outros trastes vindos de Lisboa, que muitas vezes vinham em carros de bois durante semanas através o Barreiro/ ou do Montigo. A sua época áurea, terá acontecido no séc. XVI, XVII, culminando no séc. XVIII, no reinado de D. José. Daquele palácio, agora só nos resta apreciar a sua Capela, e três enormes Chaminés, que foram das suas cozinhas. Terramotos, incêndios e devassa dos homens, ao longo dos tempos, são agora a prova documental das vicissitudes da grandeza que Salvaterra teve um dia.


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No interior daquelas chaminés das cozinhas, ainda se podem apreciar grandes barras de ferro, que segundo alguns, fazem parte da sua estrutura,. outros historiadores, inclinam-se para o seu uso no fumeiro de enchidos, e no assar de grandes peças de carne. Sabe-se que em 1849, a 10 de Setembro, a rainha D. Maria II, despachou autorização para que os prédios da Coroa, existentes em Salvaterra de Magos, fossem integrados no património do Estado. Poucos anos depois, “foram retalhados” pela Fazenda Pública e vendidos em leilão, apenas se conservou a Capela Real, na posse do Estado. Por volta de 1920, Manuel Vieira Lopes, recentemente regressado da I guerra mundial, em leilão efectuado no tribunal de Coruche, comprou algumas instalações do que ainda restava, ou que já tinham pertencido a outros em primeira mão, incluindo o pequeno casario .no espaço que o povo, depois chamava rua dos Arcos (hoje, Heróis de Chaves). Eram pequenas moradias, de telhado de meia-água, e estavam muito próximas das chaminés, tinham sido os aposentos em tempos idos do pessoal afecto ao Palácio. Conservadas as três chaminés, os seus herdeiros, através do filho mais velho de nome Joaquim, homem de grande espirito empresarial, aproveitou toda aquela vasta área, dedicando-a ao turismo, no dobrar do séc. passado.


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Tal forma de divulgar aquelas grandes construções, que restavam do palácio de Salvaterra, durou mais de 30 anos, foram construídas salas de um restaurante. A Portaria de 1958, considerou monumentos de utilidade pública, as Chaminés, o Edifício da Falcoaria com seu Pombal, e a Capela Real. Um dia, acompanhamos Joaquim Correia nosso contemporâneo na colaboração do Jornal “Aurora do Ribatejo”, em várias visitas a Salvaterra, tinha entre mãos um grande estudo sobre o passado desta vila, trabalho que deixou por acabar em arquivo familiar. Em 1989, a Câmara Municipal, apoiou a edição do livro “ O Paço Real de Salvaterra de Magos”, dos autores; Joaquim Manuel da Silva Correia e Natália Brito Correia Guedes, sua filha. Na ultimação daquele trabalho, acompanhamos de muito perto, a recolha fotográfica do interior da Capela Real. No ano de 2004, a paredes-meias, com as Chaminés, uma nova urbanização, estava a iniciar-se num espaço que já tinha sido anteriormente aproveitado para uma grande adega, e cujo terreno um dia pertenceu ao Palácio de Salvaterra, cujos restos desapareceram após trabalhos com explosivos, assim testemunhou algumas gentes do povo, que um dia entrevistamos, e apontavam para o ano de 1901, que aquele Celeiro/Adega tinha na sua construção pedra do antigo palácio. Quando dos trabalhos da sua demolição, para dar lugar a nova urbanização, as máquinas puseram em sérios riscos, a edificação das três chaminés, tendo o seu interior, sofridas grandes mazelas., além das


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rachas serem visíveis nas paredes no exterior., era previsível a sua queda a qualquer momento. A comunicação social na altura alertou, para a situação da grande fragilidade porque passava a existência das Chaminés.

António Joaquim Marques Lopes, actual proprietário e descendente da família Lopes, que há mais de 80 anos, vem conservando aquele património, teve de recorrer aos serviços da Direcção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais, dando conta da ocorrência. que enviou um arquitecto visitar o local, confirmando tal risco. Um pedido de estudo sobre a fragilidade porque passavam as chaminés, foi pedido pelo proprietário, a uma empresa independente de consulta de estudos e projectos. Tal estudo recomendou, que aquelas construções com mais de 400 anos, estavam em perigo, caso não se tomassem as devidas providências. Um litígio veio a verificar-se, entre as três partes - proprietário, empreiteiro e câmara municipal “ Desde que foram feiras as escavações para alicerçar uma urbanização de três andares, as Chaminés ameaçam ruir”


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O tempo passou ainda se aguarda qualquer decisão judicial, mesmo ao embargo que foi solicitado ao executivo na época – sob a chefia de Ana Cristina Ribeiro, e que este “Dossier” não fique no esquecimento da Direcção Geral de Monumentos Nacionais

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A CASA DA ÓPERA

O séc. XVIII, foi um tempo de grande agitação de vida em Salvaterra,, considerado um tempo de ouro, o reinado de D. José. A construção de um Teatro em Salvaterra, completava o património real da vila, e era mais um que vinha enriquecer o reino, juntando-o aos de Lisboa. O Teatro de Salvaterra foi inaugurado em 21 de Janeiro 1753, com a Ópera “Didone Abandonata” , D. José teve um reinado faustoso, as caçadas com pomba onde por vezes incorporavam cerca de 900 participantes,, os brincos de toiros traziam ao Palácio de Salvaterra, toda a realeza de Portugal, visitantes (mesmo estrangeiros), que aqui passavam temporadas. No seu reinado passou por grandes desgostos e sobressaltos, como o Terramoto de lisboa (1755) e a morte dos Távoras, em 1758 e a morte do Jovem Conde dos Arcos, num brinco de toiros. Com a morte deste soberano, sucedeu-lhe primeira filha, a rainha D. Maria I (1734-1816), esta estando de férias em Salvaterra, numa noite assistindo na Casa da Ópera a uma representação, manifestou os primeiros sinais de loucura, que se vieram agravar já no Rio de Janeiro (Brasil), para onde fugiu a corte depois da invasão Francesa. Ali foi conhecida por a “Rainha Louca”. Os invasores de Junot estiveram aquartelados no Palácio de Salvaterra, que ao retirarem-se em fuga depois de derrotados o, deixaram num estado lastimoso, segundo rezam algumas crónicas. Com o decorrer dos anos, o palácio ainda foi


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residência de tempo de caçadas no Rei D. Miguel, tendo mesmo o povo da vila tomado o seu partido na guerra que este travou contra o seu irmão D. Pedro. Os pavores de dois incêndios que destruiu o Palácio Real de Salvaterra, com o seu Teatro da Ópera, são agora uma recordação nas páginas da história nacional e local – Chegou até aos dias em pleno, séc. XXI apenas o edifício da Capela, e algumas chaminés das cozinhas daquele palácio, e um outro Palácio, que pertenceu à época do esplendor da Falcoaria em Salvaterra de Magos ****************

Casa da Ópera de Salvaterra – Desenho Carlos Mardel

Cenário de uma Ópera representada no Teatro Ópera Salvaterra


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Bibliografia Usada: - BRANCO E NEGRO (Semanário Ilustrado) Encadernado em Livro – Ano de 1897 - OS ANAIS DE SALVATERRA DE MAGOS ( Dados Históricos desde o século XIV) Autor: José Estevam – Edição de Couto Martins – 1959 - SALVATERRA DE MAGOS “uma vila no coração do Ribatejo” – Autor José Gameiro – Edição Câmara Municipal de Salvaterra de Magos – Edições 1985, 1992 e 2014 - O CONVENTO DE JERICÓ ( 1542-1834) Autor Alfredo Betâmio de Almeida –Edição: Câmara Municipal de Benavente – 1990 - O PAÇO REAL DE SALVATERRA DE MAGOS (A Corte* A Ópera * A Falcoartia) Autores: Joaquim Manuel da Silva Correia e Natália Brito Correia Guedes – Edição: Livros Horizonte – Ano: 1989 - O PALACIO DE SALVATERRA DE MAGOS E A SUA ICONOGRAFIA Aline Gallas-Hall de Beuvink Edição Revista Magos II – Câmara Salvaterra 2015

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Fotos usados: - Autor - O livro o Paço Real de Salvaterra de Magos - O Palácio de Salvaterra de Magos e a sua iconografia - Faceboock (Google – Hikipédia)


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*************** CADERNO DE APONTAMENTOS Nº 20 Documentos para a história de

SALVATERRA DE MAGOS séc. .XIII – séc. XXI Património: Geográfico, Monumental, Cultural, Social, Político, Económico e Desportivo

“UMA ALIANÇA DOS NOVOS TEMPOS” O Autor JOSÉ GAMEIRO


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Fotos da Capa: - O Presidente de Vankenwaard (Holanda) na Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, quando da assinatura do protocolo de geminação, em 1997 * Os Autarcas de Salvaterra de Magos, em visita a Vieira de Leiria , assinaram protocolo de Geminação na Marinha Grande - 2000


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Primeira Edição FICHA TECNICA: Titulo: AS SUAS GEMINAÇÕES! “ uma aliança dos novos tempos” Tipo de Encadernação: Brochado (Papel A5) Autor: Gameiro. José Colecção: RECORDAR, TAMBÉM É RECONSTRUIR ! Editor Gameiro, José Rodrigues Morada: Bº Pinhal da Vila – Rua Padre Cruz, Lote 64 -1º Localidade: Salvaterra de Magos Código Postal: 2120 - 059 SALVATERRA DE MAGOS ISBN: 978– 989 – 8071 – 20 – 0 Depósito Legal: 256472 /07 Edição: 100 exemplares – Março 2007


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*************************** 2ª Edição Revista e Aumentada - Março 2015 **************************** Contactos: Tel. 263 504 458 * Telem 918 905 704 e-mail: josergameiro@sapo.pt O Autor deste texto não segue o acordo ortográfico de 1990


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O MEU CONTRIBUTO O séc. XIII, foi um tempo que população de Salvaterra de Magos, viu a sua administração socioeconómica, e até cultural normalizada, através da lei concedida no Foral, assinada por D. Dinis Além das obrigações, os privilégios que o povo recebeu formaram condições para os séculos futuros Com a denominação de Salvaterra, existe uma outra em Portugal, Salvaterra do Estremo, em Espanha, Salvatierra, e outra ainda Salvaterre em (França). Nos três forais, que lhe foram doados, teve ocasião, de ver contemplado o seu repovoamento, e a vinda de colonos das terras de Flandres, foi um facto, até porque o seu negócio de exportações já lá chegava. Séculos depois, outros migrantes chegaram da Holanda, foram os Falcoeiros. Nos séculos XIX e XX, os cagaréus/varinos e avieiros, vindos da Murtosa (Aveiro), e de Vieira de Leiria, como pescadores que eram, formaram duas comunidades distintas uma da outra, que enriqueceram o património cultural e etnográfico da vila. Nos tempos modernos, ter Gémino, com os povos onde as suas raízes se entrelaçavam, foi uma forma de continuar aprofundar, os conhecimentos das várias raízes do povo salvaterriano. Disso, se têm encarregado os seus autarcas, assinando vários “contratos” de geminação.

Março: 2015

O Autor JOSÉ GAMEIRO (José Rodrigues Gameiro)


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A GEMINAÇÃO COM VALKENSWAARD

Foi o exercício da Falcoaria, que, decorreu nos séculos VXII e VXIII, que juntou em Salvaterra, famílias vindas da Holanda, das terras de Valkenswaard. No séc, XIII, já D. Dinis, e o seu antepassado D. Sancho tinham experimentado um povoamento com gente vinda da Flandres, para desbravarem as terras, no uso da agricultura, aproveitando os seus conhecimentos e influências para o envio de sal, azeite e vinho até à grande feira de Champagne, que servia para negócios com outros comércios e outras rotas. Os falcoeiros que, adestravam as aves – Falcões e Açores – vindos até Salvaterra de Magos, traziam para além da sua técnica de ensinar as aves, uma cultura alheia ao homem do sul. Os seus usos e costumes, depressa foram absorvidos pelos autóctones. As vastas terras de Lezíria, na margem sul do Tejo, foi uma porta aberta para, nos séculos que se seguiram, o Homem, viver criando o cavalo o toiro Depressa a sua presença no pequeno povoado se enraizou, - os casamentos com o povo local – foram uma das muitas formas que, uniram os fortes laços culturais, hoje tratados como históricos e únicos, entre as duas povoações.


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Nos anos 80, o executivo camarário, sabedor de um bom exemplo, que Salvaterra de Magos poderia vir a receber de Valkenswaard, é que esta ainda tinha as suas instalações falcoeiras bem conservadas., servindo o turismo local. Três séculos tinham passado, um dia o então presidente da câmara municipal de Salvaterra de Magos, António Moreira, e o seu vereador da cultura, Joaquim Mário Antão intensificaram esforços de aproximação com aquela localidade holandesa. Contactos esses concretizados, em 1995, sob os auspícios do presidente José Gameiro dos Santos , que teve o privilégio de se deslocar a Valkenswaard, acompanhado de uma vasta comitiva cultural, especialmente na vertente musical.

As gentes do concelho de Salvaterra, ficaram a ser melhor conhecidos, as acções de cooperação intensificaram-se, com o apoio da Comissão Europeia que, até atribuiu um prémio ao trabalho desenvolvido pelos autarcas das duas povoações. Receberam a “Estrela de Ouro da Geminação”, um prémio atribuído naquele ano de 1995, a outras 10 geminações, entre 1500 candidatas . O povo de Salvaterra de Magos, tendo algo em comum com os holandeses, um laço histórico e cultural, foi aproveitado pelos autarcas portugueses, para divulgação da sua terra.


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O intercâmbio, poderia ser o elo, para a chegada ao concelho de Salvaterra de Magos, de alguma indústria com nova tecnologia. O tempo decorreu, mais tarde com a presença de três dias - 6 a 9 de Junho, em 1997, uma delegação da autarquia e do povo, de Valkenswaard, presidida pelo seu presidente, estiveram presentes nas Festas do Foral dos Toiros e do Fandango de Salvaterra de Magos, daquele ano.

Aproveitando a estadia de tão ilustres convidados, com alguns festejos, foi inaugurada no Largo dos Combatentes, uma Fonte com repuxos de água, encimada com uma estatueta de um Falcão, poisado num tronco de pedra mármore. A geminação histórica e cultural, entre os dois povos estava consumada !..


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SALVATERRA DE MAGOS, GEMINAÇÃO COM A MARINHA GRANDE (Vieira de Leiria) Em 11 de Agosto de 2001, já tinham decorrido dois anos, desde que em 1999, uma delegação municipal, de Salvaterra de Magos, na presidência de Ana Cristina Ribeiro, foi até à Marinha Grande, dar inicio a uma primeira parte de um protocolo de Geminação, do povo salvaterrense, com a terra e suas gentes de Vieira de Leiria Na primeira visita a comitiva de Salvaterra, não deixou de estar presente a representação dos pescadores do Escaroupim,, que ali levaram as suas culturas tradicionais, especialmente a folclórica, que ali actuaram.

1957 – Grupo de Mulheres , reparando as redes, enquanto a comida está ao lume

Chegada a vez da retribuição, uma delegação de autarcas da Marinha Grande, com um vasto grupo de representantes de Vieira de Leiria, terra de pescadores, virem até Salvaterra de Magos, assinar a última parte do protocolo iniciado em 17 de Julho de 1999, em Vieira de Leiria.


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Tal cerimónia, teve lugar no Escaroupim, no meio de uma população de pescadores avieiros. Alguns documentos ali expostos, registavam o que era a sua faina nos finais do século XIX, com a sua chegada ao rio Tejo daquela comunidade piscatória e, desde aí a sua fixação nas suas margens, desde Alfange ao Conchoso, em pequenas casas abarracadas, depois de viverem dentro das bateiras, sendo que aos poucos vinham deixando de ser nómadas, com lhes chamou um dia Alves Redol. A Geminação com Marinha Grande, foi levada a cabo, pelos autarcas de salvaterra, decerto por preceitos socioculturais, porque no Escaroupim, foi construído e existe uma pequena comunidade, que ali arribaram ao longo naquela margem do rio.

Ano 1957 – Barracas em madeira

2001 - convívio na Festa de Geminação


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UM PROTOCOLO COM S. NICOLAU

(Cabo Verde)

Estávamos em 1997, já alguns anos alunos oriundos de Cabo Verde, vinham frequentar a Escola Profissional de Salvaterra de Magos. Um mútuo acordo entre a direcção da escola e o executivo municipal, nasceu a garantia de se criar um protocolo cultural com São Nicolau (Cabo Verde), pois a procura de estudantes daquele país, obrigava intercâmbio a um intercâmbio entre as três partes. O processo foi-se arrastando na sua formalização, até que em 8 de Julho de 1999, o executivo camarário, informou a Assembleia Municipal;

“A geminação está normalizada, apenas tem sido difícil encontrar uma data para se encontrarem todos os interessados, no processo em Salvaterra”

Os alunos daquele país africano, ao frequentarem a escola, ficavam a residir em instalações apropriadas, daquela unidade escolar. Desde aí, o concelho de Salvaterra de Magos, mantém ligações de irmandade com S. Nicolau, onde pretende desenvolver com mais profundidade outros laços socioculturais com aquele país africano, até na ida de algumas turmas visitarem aquela ilha montanhosa, onde predomina a agricultura. *************


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Bibliografia Usada:   

Documentação do autor Comunicação Social Os Avieiros – Nos Finais da Década de Cinquenta (Maria Adelaide Neto Salgado – 1958)

Trajes de Portugal: Avieiros dos Tejo * Maria Micaela Soares,In Boletim Cultural da Assembleia Distrital de Lisboa * Facebook

Fotos usadas:  do autor  do boletim municipal de Salvaterra de Magos, * Pág. 2 – Palácio da Falcoaria de Salvaterra de Magos ,1985 * Pág. 3 – Os Presidentes das Câmaras Municipais de Salvaterra de Magos e de Valkenswaard, naquela localidade holandesa. * Delegação holandesa de Valkenswaard, nos Paços do Concelho de Salvaterra de Magos * Pág. 5 – Mulheres avieiras, no Escaroupim * Praia de Vieira de Leiria * - Pescador, numa exposição sobre a vida dos Avieiros do Escaroupim * Pág. 6 - (habitações dos Avieiros do Escaroupim) – 1958 ( Foto de Maria Adelaide Neto Salvado) * Cerimónia de assinatura oficial de geminação: Salvaterra – Marinha Grande (Vieira de Leiria)


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CADERNO DE APONTAMENTOS Nº 21 Documentos para a história de

SALVATERRA DE MAGOS Séc. .XIII – Séc. XXI Património: Geográfico, Monumental, Cultural, Social, Político, Económico e Desportivo

Autor JOSÉ GAMEIRO


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Fotos da Capa: - 1ÂŞ Fase Bairro Chesal * 1987


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Primeira Edição FICHA TECNICA: Titulo: CHESAL “ COOPERATIVA DE HABITAÇÃO ECONÓMICA” Tipo de Encadernação: Brochado (Papel A5) Autor: Gameiro. José Colecção: RECORDAR, TAMBÉM É RECONSTRUIR ! Editor Gameiro, José Rodrigues Morada: Bº Pinhal da Vila – Rua Padre Cruz, Lote 49 Localidade: Salvaterra de Magos Código Postal: 2120- 059 SALVATERRA DE MAGOS ISBN: 978– 989 – 8071 – 21 – 7 Depósito Legal: 256473 /07 Edição: 100 exemplares – Março 2007


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2ª Edição Revista e Aumentada – Março 2015 **************************************

O autor deste texto não segue o acordo ortográficos de 1990 Contactos: Tel. 263 504 458 * Telem 918 905 704 E-mail: josergameiro@sapo.pt


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O MEU CONTRIBUTO Nos meus tempos de criança, talvez de 4/5 anos, ia de madrugada para casa dos meus avós maternos, para os Quartos, pois meus pais já estavam a caminho dos trabalhos do campo. Os Quartos, eram pequenas habitações, de telhado com telha de canudo (telha portuguesa), onde algumas tinham apenas duas divisões. Algumas eram divididas com “paredes”, feitas com sacos, que tinham servido para batatas, ou adubo, depois de abertas e cosidas umas às outras, recebiam várias camadas de cal, ficavam espessas. Aí, viviam casais com filhos de ambos os sexos. Um dia, apercebi-me que minha avó, foi à mercearia pedir papel e jornais velhos, pois tinha de calafetar tudo quanto era sítio, onde não pudesse entrar uma nesga de luz. Comentava-se entre a população, foram ordens da câmara, pois a vila seria sobrevoada por aviões militares, um exercício nocturno, desde Tancos até Alverca do Ribatejo. Estávamos no começo da aviação, integrada no exército português. Os Quartos, aquelas pequenas casinhas, perduram ainda nos dias que correm. Um quarto de século depois, tive o privilégio como dirigente, no Centro Paroquial, ajudar o padre José Diogo, que ao construir bairros sociais em Salvaterra de Magos, deu um forte contributo, para acabar com as muitas barracas, que existiam na vila. Março: 2015

O Autor: JOSÉ GAMEIRO


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I O TEMPO DAS BARRACAS Estávamos em 1944, o executivo camarário, tinha autorizado, que as famílias de escassos recursos económicos, fossem construir a sua habitação (barraca), no areal, que ainda mostrava uma réstia de pinhal, nos terrenos junto ao cemitério da freguesia. Desde a década dos anos 30, que era notório a falta de habitação, um drama para a população, especialmente a rural, que sofria a penúria de viver com faltas de casa na vila, várias famílias viviam amontoadas, onde tudo servia, mesmo os anexos abarracados construídos nos quintais.

Nas traseiras daquele campo santo, as pocilgas dos porcos, e a lixeira camarária tinham ali o seu lugar, já se desenhando uma rua no areal, onde as barracas construídas de ambos os lados com velhas madeiras e tecto de folhas de zinco. mostravam uma porta e uma pequena janela na frontaria. Nas traseiras, com espaços vedados com rede de arame queimado (aproveitados do uso nos fardos de palha), servia a delimitação do seu terreno, e as galinhas e os patos ali tinham lugar. À entrada daquele aglomerado no lado esquerdo, numa grande elevação de terreno, ainda laborava um antigo forno de cal, pertença de Manuel Gonçalves, fabricante do ramo. Aqui e ali


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. O cheiro nauseabundo, especialmente em dias quentes de Verão, sentia-se no ar - a areia estava podre da urina das cabras e ovelhas. O viver daquela gente, chocou o jovem padre - José Rodrigues Diogo da paróquia da vila.

Desde a sua chegada Entre outras iniciativas, que levou a cabo, foi o começo de um trabalho de grande perseverança, que levou alguns anos. A construção de três bairros sociais, onde foram alojadas todas aquelas famílias, muitas delas, já em segunda geração. Tinham-se acabado as barracas, na vila e freguesia de Salvaterra de Magos ! *************************


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II A CHESAL - O COOPERATIVISMO NA HABITAÇÃO SOCIAL Enquanto durava a odisseia do Pe José Diogo, surgiu em 1977, um grupo de pessoas com a iniciativa de constituir uma “Cooperativa de Habitação”. Ainda se estava a viver o entusiasmo, da Revolução de Abril de 1974, foi constituída uma Comissão Pró-Cooperativa de Habitação e fizeram circular um comunicado convidando a população (especialmente os necessitados de casa) a inscreverem-se na Cooperativa. “A todos os interessados, convidamos a inscreverem-se na sede da Comissão Venatória, onde funcionam provisoriamente, os serviços desta Cooperativa, em constituição” – foi o teor de um comunicado emitido. Diversos contactos já havidos com o presidente da câmara, levam a crer que haverá êxito na iniciativa. No ano seguinte, em 21 de Julho de 1978, no notário da vila de Salvaterra de Magos, é assinada a escritura da constituição da CHESAL - Cooperativa de Habitação Económica de Salvaterra de Magos, SCARL. Foram seus outorgantes: Mário Ferreira Duarte, José António Ferreira

da Silva e Manuel Pedro Pinto Pereira, que depressa passaram a uma

Comissão Instaladora, realizando poucos dias depois a Assembleia-geral para eleição dos Corpos Directivos, onde foram eleitos, os associados seguintes:


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Assembleia-geral – Presidente: José Manuel Gameiro dos Santos, Maria Manuela Gonçalves Cheney e Maria Otília Assunção. Direcção – Presidente, Mário Ferreira Duarte; Secretário, Fernando Garcia Conde; Tesoureiro, José António Ferreira Silva. Vogais – Maria José Viegas Hipólito; Elias Manuel Guerreiro; Manuel Silva Caniço e José Manuel Ferreira. Conselho Fiscal – João Alfredo Oliveira; Arménio Andrade; Maria José Rita de Assunção. Depressa a Cooperativa tinha cerca de 100 associados, e depois de uma fase de difícil implantação, o dinamismo de alguns elementos da Comissão Instaladora, ultrapassou obstáculos de monta. (2) No dia 19 de Junho, realizou-se num Celeiro, uma reunião geral de sócios, para apreciação e aprovação do projecto de loteamento, do que seria o património da Chesal, Cooperativa de habitação.


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Abriu a sessão o presidente, Mário Duarte, que começou por fazer uma análise do que foi a evolução da Cooperativa, desde o seu início até aquele momento. Mostrado o projecto , que ficaria localizado numa vasta área de terreno, cerca de 4 hectares em terrenos da “Coutadinha”, foi aprovado por unanimidade pelos 50 sócios ali presentes. Os esclarecimentos do eng.º arq. Esteves do GAT, que também esteve presente foram deveras elucidativos, pois é seu o trabalho de estudo, e tem acompanhado o problema de perto, tendo divulgado que a obra nesta fase de arranque ficará com 156 casas de habitação, com zonas verdes, incluindo uma área arborizada, zonas comerciais e parques para automóveis, além de instalações sociais, bem como 175 garagens. Na ocasião, foi divulgado que para a resolução de muitos problemas burocráticos e jurídicos, tinha-se recorrido aos apoios prestados pela Fundação Antero de Quental, onde o Vereador da autarquia, Joaquim Mário Antão, teve um papel deveras meritório, nos respectivos contactos. A terminar, aquela reunião, mais foi informado, que dentro de dias seria apresentado o estudo, em fase de acabamento, sobre a configuração e divisão das moradias.” (3)


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III DISTRIBUIÇÃO DAS PRIMEIRAS HABITAÇÕES

“Com a presença de membros do governo, realizou-se no dia 11 de Julho, a distribuição de 32 casas a associados da COOPERATIVA DE HABITAÇÂO ECONÒMICA DE SALVATERRA DE MAGOS - CHESAL, levada a efeito pela sua actual Direcção. Antes desta entrega, realizou-se um programa simples, mas sugestivo, foi aquele dia comemorado com várias cerimónias: Da parte da manhã, realizaram-se provas desportivas, que abrangeram todos os escalões etários, de ambos os sexos. Logo de seguida, pelas 11 horas, nos paços do concelho foram recebidos os membros do governo; O secretário de estado da habitação, e o Eng.º. Bento Gonçalves, secretário de estado para o cooperativismo, bem como o governador civil de Santarém. À recepção estavam presentes, para além do Presidente da Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, Rafael João A. Ferreira da Silva, e seus Vereadores, e o representante da Chesal: Mário Duarte, presidente da direcção, que se fazia acompanhar de todos os restantes membros daquele órgão da cooperativa. Os membros do governo, de seguida passaram revista a uma guarda de honra, e a uma formatura dos bombeiros voluntários de Salvaterra, que se encontravam perfilados, sob as ordens do seu comandante, Carlos Leonel Duarte. Na sessão de boas vindas, que teve lugar na sala das sessões daquele edifício camarário, usaram da palavra, em primeiro lugar, as


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entidades anfitriãs; O presidente da câmara, e o representante da Chesal. Por último o Sr. Secretário para o Cooperativismo, agradeceu o convite, e disse estar honrado, por estar presente, e mais ainda, por naquele dia se comemorar o dia do cooperativismo. Pelas 13 horas, num restaurante da vila, teve lugar um almoço, que reuniu cerca de 400 presenças, entre cooperativistas e convidados.

A imprensa, também esteve presente, vendo-se a RDP 1, e o jornal Portugal Hoje, que fizeram a cobertura do acontecimento. Cerca das 16 horas, depois de uma breve sessão de trabalhos, já no vasto complexo habitacional da Chesal, os membros do governo, e o representante do distrito, tiveram ocasião de trocar impressões sobre as actuais formas de apoio que o governo, que ali representavam, estava a dar às cooperativas de habitação do país, e as dificuldades encontradas por estas.

Mário Duarte , e o Dr. José Gameiro dos Santos, directores da Chesal, no final pediram outros esclarecimentos, e apontados alguns alvitres aos membros do governo ali presentes.


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Por último, e o sob um calor intenso, foram visitar algumas casas já acabadas, e que dentro de alguns momentos iriam ser distribuídas. Com a presença de muito público, que se associou à festa, onde a banda música, e o rancho folclórico da casa do povo, deram o seu contributo, foram por fim entregues as 32 casas, num acto simbólico de entrega das chaves.

Foi um momento de grande emoção, algumas lágrimas rolaram na face de muitas pessoas, pois ali estava a consumar-se um sonho de uma vida. Nos momentos, que antecederam ao acto da entrega das habitações, quer Mário Duarte, quer Gameiro dos Santos, emocionados, não deixaram de registar as boas vontades encontradas, para a resolução que agora ali se concretizava dos trabalhos da 1ª fase de outras iniciativas programadas pela Chesal.” (4) Algum tempo passou daquele momento marcante na habitação social, de Salvaterra de Magos, originando um grande projecto, que era a Chesal, passaram a gerir os seus destinos, em 23 de Janeiro de 1987, Helder Esménio; Dr. José Gameiro dos Santos e Mário Duarte.


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Este novo executivo, ultimou a 2ª fase, de uma construção de 55 novas habitações, que foram entregues aos associados, na antiga estrada da Peteja, tomando ainda a decisão de iniciar a 3ª fase, com a construção de cerca de 100 fogos, que previa a aquisição de terrenos próximos do Convento. (5) Na altura numa visita, que o Eng.º. Vaz Costa do INH (Instituto Nacional de Habitação), entidade governativa, que vinha a acompanhar as obras levadas a cabo por aquela instituição cooperativa, foi divulgado, que a instituição já tinha distribuído 15 moradias, e que tinha cerca de 400 associados inscritos em lista de espera. “ (6) ********************************

2ª Fase da Construção – Chesal


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IV PRÉMIO DO INH PARA A CHESAL

Dez anos se tinham passado, da assinatura da escritura pública, da constituição da Cooperativa Económica de Habitação de Salvaterra de Magos – Chesal, no seu boletim de 1990, o Instituto Nacional de Habitação, ao fazer uma apresentação dos últimos empreendimentos naquela área, no país, faz a divulgação da atribuição de uma “Menção Honrosa de Promoção Cooperativa”, concedida à Chesal, pelo seu empenhamento na resolução da habitação económica em Portugal. Tal prémio, era a compensação, o tributo prestado, não só a um grupo de pessoas, que iniciaram um sonho, mas sim a muitos outros, que se lhes juntaram, e durante anos contribuíram, tomaram decisões muitas vezes controversas e penosas, pela compreensão ausente de quem viria a beneficiar daquelas construções sociais. (7) A Chesal, é hoje uma realidade marcante na vida sócio habitacional da vila e freguesia de Salvaterra de Magos.

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BIBLIOGRFIA USADA: * Do Autor * Comunicação Social (1) – Noticia do Jornal: “Diário do Ribatejo” – Nº 2592 de 18/7/1977 * “Aurora do Ribatejo” de 25/7/1977 * “Ribatejo Ilustrado” de 26/7/1977 (2) - Noticia publicada no Jornal “Aurora do Ribatejo” de 5/7/1979 (3) * - Noticia publicada no Jornal “ Portugal Hoje ” 12/7/1982 (4) – Notícia publicado Jornal “ Correio da manhã”, 23/2/1988 (5) - Jornal “ O Ribatejo” 23/1/1987 (6) - Extractos da notícia publicada no Jornal “O Ribatejo” – 12/7/1990 (7) - Boletim do INHabitação (8) – Respeitar o Passado – Construir o Futuro * Partido Socialista

Fotos S/ Legenda: do Autor: Foto :Pág. 4 – Inicio das obras, da Chesal, nos terrenos da Coutadinha, ano de 1980 * Fotos: Pág. 5 – O Director da Chesal, José A. Ferreira, fazendo a distribuição das chaves das primeiras habitações, 1987 * Fotos Pág. 6 – Desfile Bombeiros na Festa da Chesal, distribuição de casas. 1987 * Fotos: Pág. 7 - Recepção aos convidados, à festa da Chesal, junto aos paços do concelho de Salvaterra de Magos Pág. 12 - Rua principal do Bairro da Chesal * Quintais das moradias


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FOTOS ANEXOS:

11/7/1982 - Prova desportiva, em dia Inauguração da Chesal

Zona destinada a Jardim no bairro da Chesal


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A Direcção da Chesal, acompanha o Eng.º Vaz Costa do INH, quando do começo de mais uma fase de novas construções


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CADERNO DE APONTAMENTOS Nº 22 Documentos para a história de

SALVATERRA DE MAGOS séc. .XIII – séc. XXI Património: Geográfico, Monumental, Cultural, Social, Político, Económico e Desportivo

O Autor JOSÉ GAMEIRO


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Fotos da Capa: Capela do Antigo Convento de Jericó / ou dos Arrábidos – 1985 * Imagem do Santo S. Bacco, existente na Capela do antigo Convento de Jericó


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Primeira Edição FICHA TECNICA: Titulo: 0 CONVENTO DE JERICÓ / OU DE JENICÓ ! Tipo de Encadernação: Brochado - Papel A 5 Autor: Gameiro, José Colecção: RECORDAR, TAMBÉM É RECONSTRUIR ! Editor Gameiro, José Rodrigues Morada: Bº Pinhal da Vila – Rua Padre Cruz, Lote 64 -1º Localidade: Salvaterra de Magos Código Postal: 2120- 059 SALVATERRA DE MAGOS ISBN: 978– 989 – 8071 – 22 – 4 Depósito Legal: 256474 /07 Edição: 100 exemplares – Março 2007


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**************************************** 2ª Edição Revista e Aumentada – Março 2015 ********************************** Contactos: Tel. 263 504 458 * Telem 918 905 704 E-mail: josergameiro@sapo.pt

O autor deste texto não segue o acordo ortográfico de 1990


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O MEU CONTRIBUTO

No ano de 1985, depois de muitos anos a reunir documentos e, outras informações colhidas ao vivo, em Outubro, estava a autografar na Biblioteca Municipal de Salvaterra de Magos, o livro “SALVATERRA DE MAGOS – UMA VILA NO CORAÇÃO DO RIBATEJO”, trabalho que recebeu a colaboração da câmara municipal para a sua edição, e, nele inclui o tema do Convento de Jericó. Este Apontamento é dedicado ao Convento de Jericó, que tinha como patrono: Nossa Senhora da Piedade, foi construído sob a égide dos Frades Ar rábidos. Um tema religioso que pertence ao povo de Salvaterra de Magos, estendendo-se mesmo ao longo da Lezíria ribatejana. Quando do aparecimento do novo diário lisboeta, “O Correio da Manhã” – CM, nas bancas, acedemos a colaborar com os seus jovens jornalistas, Adriano Oliveira, e

Hermínio Clemente, numa série de reportagens., sobre esta zona ribeirinha do Tejo. Um foi responsável pela escrita, o outro pela fotografia, ambos foram inexcedíveis, no seu carinho com este povo de Salvaterra de Magos., pois tudo queriam saber, do seu passado e do presente. A primeira reportagem saída no dia 3, do Novembro de 1985, esgotou, mesmo o reforçado número de exemplares para os leitores desta vila. Sabese, que a existência do convento Jericó, foi de: 1542-1834, e a sua construção foi custeada pelo Infante D .Luiz, filho do rei D. Manuel I., sendo vendido os seus pertences em 1843. Mais tarde, em 2001, uma outra reportagem, sobre o mesmo Convento, foi levada a cabo pelo jornalista, Mário Gonçalves, do já extinto Jornal do Vale do Tejo - J VT, com redacção nesta terra, a que também dei a minha colaboração. Março: 2015

JOSÉ GAMEIRO (José Rodrigues Gameiro)


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O CONVENTO DE JENICÓ/ OU JERICÓ (Ou de Nossa Senhora da Piedade, ou ainda dos Frades Arrábidos)

Um dia, era uma quarta-feira, veio até Salvaterra de Magos, uma equipa de repórteres (1 de escrita e outro de fotografia) do Jornal Correio da Manhã. Este diário, estava sando sando os primeiros passos para se impor no vasto parque jornalístico de Lisboa e do país. Desde há uns tempos, tínhamos sido convidados para seu correspondente nesta vila. Tínhamos aprazado aquele dia, em que se realizavam as visitais ao Santo, para pagamento das promessas. Os crentes, acreditando que ele intercedia junto de Jesus Cristo (foi um dos seus Apóstolos novos), quando aflitos dos males que os afligiam, lhe rezavam, entre outras promessas, estava o azeita e velas, para que estivesse iluminado dia e noite. Era uma crença que vinha de séculos, o povo desta região era seu devoto. Feitos muitos registos, com algumas entrevistas, o CM , publicou umas páginas dedicado a S. Baco e ao antigo convento de Jericó. a) José Gameiro


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“ SÃO BACCO DE BENAVENTE, CURA A VIDEIRA E O HOMEM” Quem lá for com fé é servido, mas de contrário sai pior !

“ S. Bacco mártir e santo milagreiro muito venerado na antiguidade no Oriente, está novamente a despertar a fé junto das gentes ribatejanas que, todas as quartas-feiras (único dia da abertura da capela) acorrem em romaria ao Convento de Jericó, no concelho de Benavente. Ressalve-se, desde já, o S. Bacco a que nos referimos nada tem a ver com o nome do Baco, considerado o deus do vinho da mitologia grega. A história de S. Bacco, que o oráculo diz ser “advogado contra todas as maleitas, pulgão das vinhas e outras doenças das árvores”, data do Séc. XI e, está resumida num papel emoldurado e pendurado numa das paredes da pequena capela do Convento de Jericó. A luz das dezenas de velas que todas as semanas as crentes ali vão deixar, “para alumiar o santinho», deixa perceber na pequena moldura que “S. Bacco era um oficial romano, da corte do Imperador Maximiano, mas cristão. Por não querer abjurar a sua fé em Cristo, Nosso Senhor, nem com promessas, nem com ameaças terríveis, foi destituído das honras militares e, carregado de cadeias, levado preso por toda a cidade de Roma». «Como nada o demovia do seu propósito» - refere-se ainda acerca de S. Bacco - «0 Imperador, irritado mandou encarcerá-lo e açoitá-lo ferozmente, até que o mártir entregou o espírito a Deus.


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O seu corpo, lançado num campo para que as aves o devorassem, foi posteriormente recolhido pelos cristãos que, secretamente o enterraram, e mais tarde, o transladaram para sepultura em sítio mais digno e honroso, juntamente com o corpo de S. Sérgio, seu companheiro de martírio». O TERCEIRO CONVENTO DOS ARRÁBIDOS O culto do mártir S. Bacco teria sido trazido para Portugal, em data não precisa, pelos frades da Ordem de S. Francisco de Assis. No entanto, a sua divulgação só começou a ser feita em meados do Séc. XVII, após a construção de um convento para Frades Arrábidos, na região de Salvaterra de Magos. Trata-se, efectivamente, do Convento de Jericó, ou de Jenicó, assim conhecido por se situar em terrenos vizinhos ao do casal de Jenicó, cujo dono tinha o nome de João, e era de baixa estatura. Este convento, o terceiro dos frades Arrábidos, assim chamados por o seu primeiro e principal convento ser na Serra da Arrábida, foi mandado construir no ano de 1542, pelo Infante D. Luiz, irmão de D. João III, filho do rei D. Manuel I, inicialmente junto à vila de Salvaterra de Magos. Todavia, como o local era insalubre, segundo afirmam os historiadores, os arrábidos trataram de fazer nova construção noutro sítio, tendo conseguido para o efeito de Filipe II de Portugal, a esmola de quatro mil cruzados. O novo convento de Jericó veio assim a nascer em terrenos situados a cerca de três quilómetros para Oeste de Salvaterra de Magos, e que pertenceram a este concelho até há bem pouco tempo.


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No entanto, nova demarcação dos limites geográficos dos concelhos de Salvaterra de Magos e de Benavente, na década de 60, do passado século, vieram colocar o Convento de Jericó na jurisdição desta última autarquia. Do primitivo convento dos Arrábidos não há qualquer traça, resta apenas a cantaria cimeira do portal, com a indicação do ano para a nova construção, por representar na pedra a continuidade da congregação.

Crentes de S. Bacco- em peregrinação fazendo as suas preces e pagamento das suas promessas - 1983

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FUNDADOR DA CAPELA MORREU EM 1767

A capela com a imagem de S. Bacco data também de altura da nova construção do Convento de Jericó, ou seja, dos finais do Séc. XVII. O fundador da capela morreu em 1767 e, encontrava-se sepultado no pátio fronteiro ao templo. Com o correr dos anos essa e outras sepulturas foram levantadas, delas restando agora unicamente as pedras tumulares, que estão depositadas no exterior junto à capela. Esta capela, segundo refere o padre Inácio da Piedade e Vasconcelos; no Tomo II da história de Santarém Edificada, era exclusivamente dedicada a S. Bacco, existindo mesmo no convento parte do crânio do santo mártir. Esta preciosa relíquia, que obrava maravilhas em doentes de febre, desapareceu com a extinção dos conventos em Portugal, em 1834. Mas nem por isso a devoção a S. Bacco diminuiu. Nem sequer por a capela do convento ter sido encerrada aos crentes, assim permanecendo até princípios do nosso século. Mais recentemente, os herdeiros da família Vinagre, donos do terreno onde se situa o Convento de Jericó, e do qual ainda restam a pequena capela de S. Bacco, os muros que circundam a propriedade e uma fonte de água muito saborosa, permitiram de novo o acesso dos fiéis ao templo, mas apenas às quartas-feiras. Daí a verdadeira romaria que naquele dia se verifica em direcção a Jenicó. Romaria que se repete na quinta – feira da Ascensão, e no dia 7 de Outubro de cada ano, dia dos dois santos mártires S. Bacco e S. Sérgio.


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DOENTES OU AUSENTES PEDEM PROTECÇÃO Esta romaria tem vindo a crescer nos últimos anos, devido, sobretudo, à divulgação dos milagres que o santo opera. A prova desses milagres, embora desnecessária para os crentes, está patente na própria capela do Convento de Jericó. Ali, a um canto do templo, em cima de uma mesa de madeira, vão-se amontoando dezenas de fotografias, em molduras ou num álbum, de pessoas doentes ou ausentes, que pediram a protecção do santo.

Protecção que teria sido satisfeita e que continua a arrastar até Jenicó muitos homens e mulheres, novos e velhos, vindo por vezes, de muito longe. Enquanto isso, as oferendas a S. Bacco sucedem-se. É o azeite, o vinho, as esmolas e até já houve quem oferecesse um porco ao santo milagreiro, todas essas oferendas são recolhidas para a caridade por uma irmã de Lisboa.


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O SANTO NÃO PERDOA A QUEM BRINCA! “Quem aqui vier com fé é servido; mas se vierem para brincar, S. Bacco não perdoa” Quem assim fala é Mariana Cândido, uma salvaterrense que todas as semanas se deslocam a Jericó, porque “ a fé que temos alumia o santinho, aqui sentimo-nos bem” De braços cruzados, Mariana Cândido fala baixinho para não incomodar outros crentes nas suas orações. De vez em quando interrompe a sua conversa para saudar uma ou outra amiga que vem trazer uma vela a S. Bacco. E logo diz: “Esta veio de Benavente, a pé, com o filho. Eu também vim nove dias a fio, quando o meu filho esteve na Guiné. Pedi para ele regressar são e salvo e S. Bacco satisfez o meu pedido” Muitas das fotografias que decoram o interior do pequeno templo são, com efeito, de militares que cumpriram o seu serviço nas ex-colónias em África e cujos familiares ansiavam por um rápido regresso. Mas também as há de doentes, invisuais, paralíticos a quem B. Bacco deu novas esperanças de vida. Uma outra devota, de nome Amélia, acompanhou a equipa do nosso jornal numa breve visita à propriedade do Convento de Jericó onde, num dos extremos, se situa um tanque com uma cruz e um nicho onde em tempos existiu a imagem de Santo António, entretanto desaparecida


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MISTERIOSOS SUBTERRÃNEOS E contou-nos das lendas que a crendice popular criou em torno dos Frades Arrábidos de Jericó. Lendas, muitas delas apoiadas em testemunhos vivos que resistiram ao progresso. D. Amélia, fala-nos por exemplo, dos subterrâneos que os frades teriam aberto desde o Convento de Jericó até Salvaterra de Magos, a cerca de três quilómetros. Ninguém sabe para que serviam os túneis; há quem diga que os frades viviam debaixo do chão, outros falam de saídas de emergência, outros ainda de simples passagens para zonas de abastecimento de água. Desses misteriosos subterrâneos têm aparecido em Salvaterra de Magos alguns indícios. Segundo José Gameiro, homem muito dedicado ao passado histórico de Salvaterra de Magos, e que nos acompanhou neste deambular diz-nos; quando foram feitas obras de saneamento, nalgumas zonas apareceram construções em tijoleira, com cerca de 80 a 90 centímetros de altura, cuja serventia ninguém soube precisar mas tudo indica sejam construções do tempo dos frades Arrábidos. Ainda há meses, quando a edilidade fez canalizações na vila, entradas desses túneis voltaram a aparecer.


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No local onde hoje está instalada a Biblioteca Municipal existe também aquilo que se julga ser um respiradouro dos túneis (*), dos frades do Convento de Jenicó. No próprio convento, mais precisamente na capela dedicada a S. Bacco, existe à entrada, à esquerda, uma porta em madeira que os mais velhos se recordam dar acesso a um desses subterrâneos. Os proprietários da propriedade emparedaram recentemente essa entrada. Também na Fonte do Arneiro, já dentro da vila existe a entrada de um subterrâneo, fechado com grades de ferro desde que sofreu obras de beneficiação, e de molde a evitar acidentes com pessoas que nele tentassem penetrar. Onde este túnel em tijoleira vai dar ninguém sabe ao certo, prevalecendo assim a voz do povo de Salvaterra de Magos que o atribui a mais uma obra dos ar rábidos. Passaram-se entretanto quase quatro séculos e meio sobre o ano de 1542 em que o Infante D. Luiz escolheu Salvaterra de Magos para instalar os frades arrábidos. E a si próprio, afinal, porque o Infante D. Luiz tinha ali, segundo as suas próprias palavras “uma casinha”, segundo descrição em “OS ANAIS DE SALVATERRA”(**). Hoje, desse passado histórico pouco ou nada resta ! A nova demarcação geográfica dos concelhos de Benavente e de Salvaterra de Magos veio (***), por seu turno, acelerar a destruição do Convento de Jericó, já que enquanto uma autarquia considera não ter responsabilidade na sua conservação, a outra, a quem cabe zelar por esse património, só o tem há tão pouco tempo que o interesse pelo templo ainda nem sequer surgiu. O santo milagreiro, S. Bacco, só vai mesmo conseguir salvar-se com a ajuda dos próprios crentes que afinal, a ele acorrem a pedir protecção.”


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*********** (*) - Eram três casas muito pequenas por debaixo das nove celas no pavimento do coro, fruto de uma planta, acordada previamente, com os seus confessores de Palhães (Arrábida). Nelas existiam uma Capela, Celas de Vivença Individual, uma Oficina e Dormitórios... Uma sala de grande espaço, servia de côro, para as missas cantadas, e uma pequena cópia da Capela do Palácio Real de Salvaterra, onde também existia uma replica da imagem da Nossa Senhora da Piedade. Este espaço, estava ornamentado, com belas telas, suportando uma pintura da Sagrada Paixão de Cristo (pensase que serão as que se encontram na Igreja da Misericórdia da vila de Benavente).

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“CONVENTO DE JERICÓ CARECE DE RESTAURO MAS NÃO FALTAM VISITANTES A S. BACCO” “ UM SANTO QUE SATISFAZ PEDIDOS E É LAVADO COM VINHO “

Reportagem do Jornal Vale do Tejo - Mário Gonçalves e José Gameiro “ As gentes do Ribatejo continuam a venerar, quase diariamente, S. Bacco, um mártir e santo milagreiro da antiguidade oriental, amado por centenas de pessoas que vêm de vários pontos do país para as habituais orações e ofertas semanais. As romarias ao célebre Convento de Jericó, ou Jenicó como preferem apelidar alguns especialistas em história local, intensificam-se normalmente às quartas-feiras. Aquele que é considerado um dos locais sagrados da região, situa-se entre Benavente e Salvaterra de Magos. Aliás, à entrada do Convento pode ler-se numa lápide um verso que refere: “Salvaterra e Benavente, Jericó fica no meio, as meninas de Samora bailam com todo o anseio” Segundo José Rodrigues Gameiro, um especialista nos factos e feitos da terra, tal como antigamente, ainda nos dias de hoje centenas de pessoas vêm oferecer a São Bacco – que nada tem a ver com Baco, deus do vinho da mitologia grega – garrafas de azeite. Embora, seja com vinho branco que o santo é lavado pelas suas zeladoras. Ao longo dos tempos as peregrinações ao local têm aumentado. Os peregrinos acendem umas velas e fazem as habituais orações. As oferendas acabam por ser levadas por freiras para algumas


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instituições de caridade de Lisboa nomeadamente, para o Lar da 3ª Idade de Campolide. As freiras são conhecidas por “irmãzinhas da caridade” e uma das suas tarefas é deslocarem-se, ao Convento de Jericó buscar as garrafas de azeite e distribuí-las de seguida aos mais necessitados da capital. “EU VI O SANTO” Maria Teresa Vinagre, é provavelmente, uma das pessoas que mais venera São Bacco. Segundo relatou à nossa reportagem, as suas idas ao Convento de Jericó sucedem-se há dezenas de anos. Quando ainda era criança, assegura com convicção que um dia viu a imagem de São Bacco numa antiga figueira situada mesmo em frente ao Convento. Na altura tinha apenas seis anos e quando arriscou relatar a imagem que viu na figueira os responsáveis pela manutenção do local asseguraram que a imagem do São Bacco nunca saiu do interior do Convento. Por isso, só poderia sido um milagre. Mas a devoção não se limita apenas a Maria Teresa Vinagre, pois sempre que desloca ao local, leva a filha, Maria Sousa Cabral, e as três netas. Esta crença familiar é classificada por Maria Teresa Vinagre como “fé e não fanatismo”, como infelizmente se ouve falar todos os dias na televisão. Maria Teresa, diz que é uma verdadeira fé . “isto para que o Céu nos ouça”. E quando existe uma verdadeira fé, “ela passa de gerações em gerações”, explica. “Por isso trago a minha família comigo”.


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A suposta vidente é muito religiosa e, quando regressa a casa, leva sempre consigo algumas velas que acende num pequeno oratório que na residência. Mas quando fala do Convento de Jericó, a sua preocupação não são apenas as orações. Ao VALE DO TEJO, fez questão de salientar que o convento precisa urgentemente de um restauro. Apesar de ser propriedade privada, as entidades públicas deviam de apostar numa intervenção de restauro, sobretudo no tecto que está quase a cair. É um habito todas as quartas – feiras, o convento receber centenas de pessoas, este número multiplica-se várias vezes na célebre quinta – feira da Ascensão, feriado municipal em muitos concelhos da região e também chamado dia da espiga. Nessa altura, os visitantes podem assistir a uma missa no local e participar num almoço convívio que reúne pessoas oriundas de todo o país. Carlos Ferreira, é outra das habituais presenças semanais no convento. Vem de Alhandra acompanhado de sua mulher, Cassilda Maria. E quando lhe perguntámos o motivo destas deslocações, rapidamente revelou que desde que se desloca ao local sente-se muito melhor. Diz que nota “uma verdadeira paz de espírito”. Maria de Lurdes, Rita Ferreira, Adelaide Pintassilgo e Celeste Cadório, são as quatro responsáveis pela manutenção de Jericó. Todas as Terças-feiras, de manhã cedo, deslocam-se ao local para fazerem limpezas gerais ao convento e zonas limítrofes. O objectivo, segundo explicam, é que tudo esteja limpo para receber as peregrinações das quartas – feiras.


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TRÊS DESEJOS AO SANTO, QUE GOSTA DE PEDIDOS

Ainda a equipa de reportagem, não tinha entrado no convento, já Maria de Lurdes confessava que ao longo dos últimos anos tem tido uma benção do santo nos momentos mais difíceis da sua vida. Por isso, recomendou à nossa equipa de reportagem que, quando entrasse na capela, pedisse a São Bacco três desejos, garantindo que o santo gosta que lhe façam alguns pedidos. Desde há mais de duas décadas que Maria de Lurdes está todas as semanas no convento. Por isso também ela vive o dia-a-dia religioso de Jericó. Diz que esta veneração se intensificou desde a altura em que um dos seus filhos, esteve quase à morte devido a um gravíssimo acidente de viação, e que depois de vários pedidos a S. Bacco, acabou por sobreviver, isto apesar de ter ficado com uma perna amputada. Dona Rita, como é conhecida na região. Diz que este trabalho de manutenção gratuito no convento é feito por gosto. Mas que a sua crença em São Bacco reforçou-se quando, depois de umas orações, viu o seu neto curar-se de uma doença respiratória que, não conseguia ser tratada pelos médicos, isto apesar de muitos internamentos hospitalares. A mesma senhora explica que aparecem em Jericó todo o tipo de pessoas. Os que vêm de muito longe ou os que são da terra, aqueles que ficam apenas cinco minutos, ou aqueles que passam horas seguidas no convento. Há também quem ofereça frutas e legumes.


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Quando isso acontece, as responsáveis entregam as oferendas a instituições de caridade da região. Quando se entra na capela, além da imagem de São Bacco, devidamente iluminada por múltiplas velas, salta à vista uma grande estante repleta de retratos, alguns com mais de 30 anos, do tempo da guerra colonial. Foram ali deixados por pessoas que se deslocavam a Jericó para pedir a Bacco que zelasse pela sua segurança. Apesar de não ser o deus do vinho, curiosamente São Bacco é lavado com vinho branco. Dizem as responsáveis pela manutenção que o vinho branco não danifica a imagem.

Uma das grandes figuras nacionais do mundo da tauromaquia com grande devoção a Bacco é a cavaleira tauromáquica Ana Baptista, que além de se deslocar quase todas as semanas ao Convento, até tem um cavalo que se chama Jericó. ******** Nota final do autor: Estas duas reportagens, têm no seu espaço de publicação cerca de 15 anos, de distância, e em ambas fiz o seu acompanhamento. No entanto, talvez por volta de 1960, em outros trabalhos de investigação, contactei, Maria da Piedade, conhecida na vila, por Maria Mendes, senhora idosa, empregada de confiança da família Vinagre, desta terra que, na época fazia a limpeza da capela e da imagem do S. Bacco, incumbência e preceitos, tal como sempre foi usado ao longo dos séculos,. e que passou de gerações. JOSÉ GAMEIRO


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Da edição “ Convento de Jericó “, de: Alfredo Betâmio de Almeida, com a devida vénia retirados a passagem seguinte: “....... Gostaríamos de dizer mais sobre o convento, é possível que haja ainda algum resto do arquivo da Provìncia da Arrábida na posse da casa Palmeia, mas nós, confessamos, mais não conseguimos saber. O local onde se ergueu o primeiro convento era insalubre. Os Pauis vizinhos retinham durante o ano águas estagnadas, e pelo verão as sezões não faltavam. Os frades eram, no espaço, as primeiras vítimas. Doentes de terçãs, muitos foram morrer às enfermarias de Santarém ou de Lisboa. No Verão de 1598, quase no fim do reinado do rei Filipe I, foi passado um alvará que determinava que os frades arrábidos fizessem, no hospital de Santarém, uma enfermaria particular onde se pudessem curar. Decerto que os frades de Jenicó beneficiaram desta provisão filipina, Apesar do local ser bastante doentio, não queria contudo a ordem abandonar este convento, que perpetuava a memória de D. Luís, Infante muito devoto de S. Francisco e “coluna principal da custódia”, como lhe chamavam os primeiros arrábidos.” Caminho primitiva de ligação entre Salvaterra de Magos e Benavente


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BIBLIOGRADIA USADA:

* “SALVATERRA DE MAGOS – UMA VILA NO CORAÇÃO DO RIBATEJO. – José Gameiro e Câmara Municipal de Salvaterra de Magos – 1985, 2ª edição; 1992 * “O CONVENTO DE JENICÓ” – Alfredo Betâmio de Almeida e Câmara Municipal de Benavente – 1990 * “O PAÇO REAL DE SALVATERRA” Joaquim Correia e Natália Correia Guedes e câmara Municipal de Salvaterra de Magos - 1999 * DOCUNENTOS AVULSO: Em 1957 – Joaquim Câncio, artigos publicados no Jornal “Vida Ribatejana” - Em 1.4. 1992 * José Gameiro, artigo “Igrejas – “Templos nos Tempos !” - Jornal do Vale do Tejo –JVT * Jornal Correio da Manhã – 3.11.1985 * DOCUMENTOS OFICIAIS: Carta de Lei - Processo da Venda do Convento de Jericó / ou dos Arrábidos, 1835 * Comissão Interna da Junta do Crédito Público - Decreto – Avaliação do património do entinto Convento de Jericó, 1835 * Venda do Extinto Convento de Jericó – 1843


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