IV Volume cadernos Nº 23 - 30

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Volume IV COLECÇÃO DE APONTAMENTOS Nº 23 – 30 Documentos para a história de

SALVATERRA DE MAGOS Séc. XIII – Séc. XXI Património: Geográfico, Monumental, Cultural, Social, Político, Económico e Desportivo

O Autor

Autor JOSÉ GAMEIRO ( José Rodrigues Gameiro )


2 Primeira Edição Indice : COLECÇÃO RECORDAR, TAMBÉM É RECONSTRUIR !.. Cadernos/ Livros : 23 – Usos e Costumes do Povo do Concelho Salvaterra de Magos 24 – Jogos e Provérbios Populares 25 – Ser Autarca – Servir a coisa Pública 26 – Os dias que seguiram ao 25 de Abril de 1974 27 – A Casa do Povo e o seu Rancho Folclórico 28 – Sociedade Columbófila Salvaterrense 29 – As Casas Brasonadas, e Brasões de Pedra em Salvaterra 30 – Os Cemitérios da Freguesia ao Longo dos Tempos! ************ Tipo de Encadernação: Papel A5 Brochado Edição: 100 exemplares – Março 2007 Autor: Gameiro – José Editor: Gameiro – José Rodrigues Morada: Bº Pinhal da Vila – Rua Padre Cruz, Lote 49 Localidade: Salvaterra de Magos Código Postal: 2120 – 059 SALVATERRA DE MAGOS


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Fotos da Capa – Grupo Trabalhadores Rurais – Exposição em Santarém – 1935 * Costureira – Rua de Água 1967 *Campino e Camponesa * Rancho – Monda Arroz


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2ª Edição Revista e Aumentada – Março 2015 `++++++++++++++++++++ Contactos: Telef. 263 505 178 * Telem. 918 905 704 *E-mail : josergameiro@sapo.pt Os Textos destes Cadernos não acompanham o Acordo Ortográfico de 1990


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CADERNO DE APONTAMENTOS Nº 23 Documentos para a história de

SALVATERRA DE MAGOS Séc. XIII – Séc. XXI Património: Geográfico, Monumental, Cultural, Político, Económico e Desportivo

Social,

USOS E COSTUMES DO POVO

DO

USOS E COSTUMES DO POVO DO CONCELHO Autor José Gameiro


6 Primeira Edição FICHA TECNICA: Titulo: USOS E COSTUMES DO POVO DO CONCELHO – (SUAS RAÍZES Tipo de Encadernação: Brochado – Papel A5 Autor: Gameiro, José Colecção: RECORDAR, TAMBÉM É RECONSTRUIR Editor Gameiro, José Rodrigues Morada: Bº Pinhal da Vila – Rua Padre Cruz, Lote 49 Localidade: Salvaterra de Magos Código Postal: 2120- 059 SALVATERRA DE MAGOS ISBN: 978– 989 – 8071 – 23 – 1 Depósito Legal: 256475 /07 Edição: 100 exemplares – Março 2007


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Capa Povo do Granho * Vรกrgea Fresca (Foros Salvaterra) * Povo De Marinhais * Povo da Glรณria do Ribatejo * Jovem Campino Salvaterra de Magos


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********************************** 2ª Edição em PDF Revista e Aumentada – Março 2015 ********************************** O Autor deste texto não segue o acordo ortográfico 1990 Contactos: Tel. 263 504 458 * Fax: 263 505


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O MEU CONTRIBUTO Quando se tem ao dispor, um “punhado” de documentos, fruto de uma recolha iniciada na década de cinquenta do século que agora findou, tudo se torna mais fácil. No ano de 1997, integrado no “Jornal Vale do Tejo”, foi marcante a minha já longa colaboração na comunicação social Nesta fase, dei à letra alguns assuntos, que guardava sobre a história do povo do concelho de Salvaterra de Magos. Uns anos antes já tinha usado alguns deles, nas minhas crónicas, na Rádio Marinhais. Nos artigos publicados, no JVT, tinham um formato jornalístico, agora neste Apontamento, sob um conteúdo literário com fotos de acompanhamento, tento unir todo o concelho, pensando dar a conhecer melhor as povoações de Marinhais, Muge, Glória e Granho, nas suas raízes Demográficas e Geográficas. Foros de Salvaterra, tem um Apontamento apropriado nesta colecção. As origens e formas de vida, incluindo as suas próprias culinárias que, os fazem povos diferentes, influenciados alguns por viverem próximo da borda-d’água, outros nas terras de charneca. Decerto, por ser um assunto de grande importância para o concelho. Este conjunto de Apontamento, depois de alguns anos publicado, chegou agora a altura de uma segunda e nova edição revista e aumentada. Março: 2015

JOSÉ GAMEIRO


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SEU POVO, SUA CULTURA ! A comunidade, que faz o concelho de Salvaterra de Magos, é predominantemente rural, havendo de premeio três outras que do rio Tejo tiravam o seu sustento – Os Fragateiros, os Cagaréus/ou Varinos e finalmente os que ainda existem no sítio do Escaroupim, os Avieiros. Nos dois últimos dois milénios, o homem que aqui se fixou, teve necessidade de trabalhar as terras, nesta bela planície da bacia do Tejo, com as suas terras de Aluvião e Areno-Anerosas, que dá às povoações do concelho uma riqueza agrícola permanente. Registos existem que à cerca de 7.000 anos, o homem do Paleolítico Superior aqui viveu, nestas terras, tal era a riqueza das suas entranhas. Na idade média, com a permissão para as povoarem, famílias vindas das terras da Flandres, aqui se radicaram trazendo seus usos e costumes, como consta em alguns anais, pois as leis da época, os forais de 1295, eram convidativos para atrair o homem sedente de espaço e liberdade. No seu início, a povoação de Salvaterra de Magos, com poucos habitantes depressa se expandiu e, séculos depois, chegou aos 300 vizinhos, onde a lagoa da Ameixoeira e outras zonas pantanosas, foram aproveitadas para terras de semeadora, em desfavor das áreas de charneca, cujo matagal deu origem à famosa Coutada Real de Salvaterra.


11 Vivendo muito pobremente, até porque o ter de quebrar e preparar terras, para cultivo do seu sustento, trouxe ao primitivo homem salvaterreano, grandes humilhações como ser humano. Não eram as pessoas totalmente livres, as leis que sucederam, como: “As Sesmarias” de 1375, assinado pelo rei D. Fernando, tinham origem nos costumes germânicos. A criação do seu concelho municipal, por ter origem numa doação real, na idade média, nos inventários mais tarde realizados, foi incluída nos títulos de concessão de terras, classificados: de imperfeitos e revolucionários típico. O homem ribatejano desde o seu vestuário à alimentação, mais não fez que adaptar-se a uma região, ora rica, ora pobre, consoante estivesse no Verão ou no Inverno, pois as terras

ficavam ricas de nateiros, quando alagadas.

Também as suas danças e cantares, eram fortes e viris e, o que chegou aos nossos dias e que se vai conservando através do folclore, divulgado pelos agrupamentos ainda existentes no concelho, dão-nos disso conhecimento. O Fandango, é forma de desafio usada pelos homens campinos, para seduziderm as moças, mostrando o sem porte garboso. Nos cantares e danças o “ Passo Largo”, como outras de menor vivacidade, mostram-nos a alegria ou o choro, quer da riqueza das terras no Verão, e do Inverno, com as cheias alagando e destruindo as sementeiras. (1) *********** (1) – Ver: Apontamentos Nº 35


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SALVATERRA DE MAGOS

Ainda não está longe o tempo em que o trabalhador quando dirigia a palavra ao “patrão” tinha como sinal respeitoso, de destapar a cabeça, enquanto a mulher nas mesmas condições fazia-o ajeitando o lenço. Como criança de 4/5 anos de idade, acompanhava muitas vezes minha mãe, quer no Domingo à tarde, quer ainda na Segunda-feira, de manhã à “praça da jorna” aguardando a oferta de trabalho. As mulheres tinham este local de encontro na zona junto ao armazém (taberna grande) de vinho do Dr. José Lino, entre a avenida principal e, a rua Dr. Gregório Fernandes. Os homens, esses juntavam-se um pouco mais distantes no local onde hoje se encontram os edifícios das duas caixas bancárias nesta vila. Muitas vezes declinavam uma oferta de trabalho, na esperança que daí a pouco alguém viesse oferecer mais um ou dois tostões, no salário diário. No final da semana, trabalhando ainda no Sábado de manhã, depois do almoço, comido à pressa, esperavam muitas vezes toda a tarde até ao cair da noite junto à casa dos patrões pelo pagamento da jorna. O trabalho de sol-a-sol, nos finais dos anos 50, estava já em declínio em favor das 8 horas diárias, resultado das lutas iniciadas pelos camponeses que, se fizeram sentir em todo o Ribatejo, por volta de 1930.


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Dessa revolta, tiveram como consequência algumas prisões, culminando com acções policiais e cargas de cavalaria da GNR, vindos de Santarém para percorrerem a campina. As prisões foram muitas ! A meio do século passado, ainda era manifesta a procura de “trabalhadores de enxada”, que os seareiros utilizavam na cultura de grandes áreas de produção de melão, nas terras húmidas de Salvaterra e Vila Franca, juntas das margens do Tejo. Salvaterra, tinha mãos especialistas neste tipo de actividade. Outras culturas agrícolas vieram transformar o panorama da agricultura até aí usados, os terrenos de searas de sequeiro, deram lugar ao regadio, com grandes produções de batata, tomate e recentemente a cultura da cenoura. A obra literária, da respeitada escritora Angela Sarmento “Os dias longos”, editado em 1968, retracta fielmente o drama deste povo naqueles tempos. As idas e vindas, percorrendo alguns kms a pé, até ao local de trabalho, onde as mulheres se faziam acompanhar dos filhos, meninos (ao colo ou a pé) - eu ainda o fiz - passou a ser uma recordação do passado. Madrugada fora, ainda mal cantava o galo e, o dia não era nada, já as mulheres gritavam nas esquinas das ruas, chamandose umas às outras, para em grupo se dirigirem ao campo. Ao nascer do sol, já o trabalho estava iniciado!


14 Pelas 10 horas da manhã, havia o almoço, pelas 2 horas da tarde, o jantar, com uma sesta de uma hora, nos dias de Verão. De regresso, quando chegavam a casa, já noite dentro, ainda iam fazer a ceia para a família. Tudo isto depois de um dia de trabalho intenso, muitas vezes dentro de um canteiro de água, na cultura do arroz, no Paul de Magos. Como era penosa aquela vida ! MUGE

A povoação de Muge, não fora as descobertas arqueológicas do “Homem Taganus ” e, mostradas no Congresso Mundial em 1880, na cidade do Porto, não registava qualquer manifestação que reagisse ao progresso, durante décadas no séc. XX Conhece-se que em 1301, pertencia aos frades de Alcobaça e depois em 1304, foi povoado “servil” à casa de Cadaval, sua donatária. Com os primeiros achados arqueológicos, em 1863, por Carlos Ribeiro, várias campanhas arqueológicas foram feitas, que culminaram naquele congresso do Porto, figurando assim como referência na história de Portugal e, mesmo na história da humanidade. A época romana, também está muito bem demonstrada, nos vários achados, encontrados nas suas terras, que vai do séc.I, a. C, ao séc. V, d.C


15 A sua primeira carta de Foral data de 6 de Dezembro de 1304, assinada por D. Dinis, data que passou a vila e com seu termo, igual a quando pertencia aos frades de Alcobaça, sendo então povoada. Recebeu segundo foral, em 1307. Outros acontecimentos, marcam a sua história, em 1496, estando D. Manuel I, no Paço de Muge, ali assinou a ordem de expulsão de Portugal, de Judeus e Muçulmanos D. Nuno Alvares Pereira (1º Duque de Cadaval), no séc. XVII, passou a donatário de Muge e seu termo. Em 1837, a rainha D. Maria II, decretou a extinção do concelho de Muge, passando a pertencer ao de Salvaterra de Magos. Dos seus terrenos, “nasceram” as povoações de Marinhais, Glória e Granho, tendo em 1991, uma população de 1163 habitantes, e uma área geográfica de 50,79 K ms2. A sua culinária, tem as duas misturas: a do rio à base do peixe e a da charneca, onde entrava a carne do cabrito e caneiro. GLORIA DO RIBATEJO

Primitivamente conhecida por: Santa Maria da Glória, em 1362 recebeu como oferta do Rei D. Pedro, uma capela, para a missão religiosa dos tementes a Deus. Povoação de poucas almas dependentes da lavoura e da pastorícia, por estar durante largos séculos isolada, passou a estar muito marcada no campo linguístico, o que deu origem a vários estudos.


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Foi criada freguesia em 29 de Agosto de 1966, com uma área de 53,56 Kms2, pelo censo de 1991, tinha 3250 habitantes. O artesanato, vestuário, danças, e outros valores sociais, associaram-se e marcam uma grande originalidade do seu povo. Na culinária, o povo usava com assiduidade, o cabrito e o borrego. MARINHAIS

Povoação nascida nos terrenos da “Charneca do Concelho” foi mais tarde conhecida por Foros de Muge, pois a história esclarece-nos que, passou a ser habitada, depois que o povo tomou posse e aforou os seus baldios. No entanto o povo de Marinhais, aceita que os seus hábitos culturais, são originários nos trabalhadores que vinham da região centro: Figueira da Foz, Cantanhede e Pombal, para aqui trabalhar, na época Primavera / Verão, e que ali se fixaram. O santo S. Miguel, é o padroeiro do povo e orago da sua Capela, que foi construída em 1875, sendo freguesia desde 23 de Março de 1928. Nos últimos anos do século passado, registou um grande desenvolvimento demográfico, depressa teve condições para ser elevada a vila, passando a ser a terceira do concelho, depois de Salvaterra de Magos (sede do concelho) e Muge. Para além do comércio, muitas pequenas e médias empresas, na área da construção civil ali se localizaram devido aos baixos preços dos terrenos.


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Na sua culinária, entrava a alimentação usada na charneca, completada com a carne do porco.

GRANHO

É um povoado recente, com uma urbanização dispersa, pois é constituído por terras aforadas, que vêm do século XIX, que pertenciam à Casa Cadaval (Muge). Passou a freguesia em 23 de Maio de 1998, ocupado a extrema mais elevada do concelho, junto à ribeira de Muge. Em 1981, tinha a área de 26,21 Kms2 e um conjunto de habitantes, na ordem das 882 almas. Por estar no interior das terras da charneca, a sua culinária era também à base de carne. A GASTRONOMIA NO CONCELHO

Aqueles que ao rio Tejo, e outras ribeiras, tiveram acesso, na sua alimentação incluíam nos seus cozinhados o peixe, como o sável, fataça e barbo. Estes pratos, são agora aproveitados, na restauração como oferta ao turismo, especialmente a enguia e a sopa de feijão, esta apresentada como sopa da pedra. O torricado (pão seco assado na brasa) pelo homem do campo, depois untado com azeite, ou outra gordura, como o toucinho de porco.


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ARTESANATO

As populações rurais, desenvolveram artes de fazer; Esteiras, Capachos, através de uma herbácea, que extraiam das zonas húmidas, arte que que ainda se conserva em produtos turísticos, O que se conserva genuínos são os bordados da Glória, os Vimes de Marinhais e o barro de Muge.

O RIO TEJO E A SUA RIQUEZA

No Inverno, até meados do séc. XX, eram cíclicas as cheias com as suas águas impetuosas, que traziam a desilusão, e o choro às gentes ribeirinhas, tal era a devastação provocadas. A sua bacia rica em terras de aluvião e húmus, ajuda a sua fertilização, e são de uma riqueza tal que em plena Primavera (meados de Março) davam trabalho a todo o povo rural e não chegavam. OS RANCHOS DAS BARROAS

Da procura de braços de trabalho, que os lavradores tinham de fazer, alguns eram “falados” no Sul do país, mormente da zona de Évora, vindo a maioria desde Viseu a terras da Beira Baixa. Nesses ranchos de muitas dezenas de mulheres, que vinham fazer os trabalhos do campo desde Março até ao fim das vindimas, algumas moças acabavam por ficar aqui casadas, todos os anos.


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O namorico desenrolava-se, quer no convívio dos trabalhos do campo, quer nos “quartéis” das “barroas”, onde todos os fins-desemana haviam bailes. As danças e cantares daquele povo beirão misturavam com as dos naturais da Lezíria, e daí hoje se encontrarem aqui as suas influências . OS AVIEIROS No leito do rio Tejo, outras populações viviam o seu dia-a-dia, eram os pescadores que se radicaram no Escaroupim, que trouxeram os seus usos e costumes de Vieira de Leiria, daí o serem conhecidos por ciganos do Tejo. Mais tarde os “Avieiros” do Tejo. As suas danças características da Nazaré, a par da sua culinária ainda hoje são um marco nas suas raízes. O sável, peixe que existiu em abundância no rio Tejo, até meados dos anos 50, deu origem, a um prato da sua cozinha, mais tarde muito procurado, nos restaurantes locais, tal como a Açorda de Sável e o Ensopado de Enguia. Tal como aconteceu ao longo das margens do Rio, também o Escaroupim, foi lugar seguro para a fixação de um núcleo daquele povo, primitivamente vivendo em casas de madeira, assentes em estacaria de madeira, para estarem fora da alçada das águas do rio. OS MARITIMOS/ OU FRAGATEIROS Os marítimos, homens que em 1951, viram a sua profissão “morrer”, com a construção da ponte de Vila Franca de Xira,


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aberta ao tráfego rodoviário, desde tempos que se perdem na memória. Aportavam ao cais da Vala Real, de Salvaterra de Magos, nas suas fragatas e faluas, para o transporte de abastecimento a Lisboa. Muitos deles vindos das povoações a montante do rio como: Barquinha, Tancos e Constância, a par de outros que chegavam de Setúbal, Montijo e Alcochete, acabando por aqui se radicarem, constituindo família. Tinham na sua gastronomia um prato, ainda hoje muito consumido nesta zona; a Caldeirada à

Fragateiro.

OS VARINOS / OU CAGARÉUS Os Varinos ou Cagaréus, eram pescadores vindos do norte do país, após o terramoto de 1755, povoaram em Lisboa, o bairro da

Madragoa. No último quartel do século XIX, chegavam a Salvaterra, de Aveiro, Murtosa e Estarreja, vinham fazer a safra de Inverno/Primavera, na pesca do sável. Alugavam casa, e com o passar dos anos, muitos se fixaram, tendo habitação própria.

Nas embarcações, as pequenas bateiras varinas, tiravam o seu sustento na faina da pesca, nas águas Tejo, com um jovem, aquém chamavam “camarada”, e às vezes da mulher e filhos mais


21 velhos, aproveitando as marés, para a pesca na vala real de Salvaterra. A mulher, tinha a seu cargo além da casa a educação dos filhos, a venda do pescado na vila, muitas vezes afastava-se percorrendo as terras vizinhas com a canastra à cabeça. Até ao primeiro quartel do século passado, a venda de uma parte do pescado, tinha como destino o norte do país. O seu transporte fazia-se por caminho-de-ferro a partir da estação de Muge. As embalagens eram cestos de verga, o peixe acondicionado em espadanas (planta herbácea palustre), que as crianças apanhavam nos baldios, junto à ponte da vala real, a troco de um ou outro peixe. Sendo um povo com falar próprio, eram tementes a Deus, e tinham hábitos, conhecidos por alcunhas, como os “Carrascos” e os “Preguiças”. Daqui partiram para a emigração famílias inteiras com destino ao Brasil, Canadá,

Austrália e países da América do Sul, incluindo os EUA.

Os Cagaréus/Varinos, não eram uma comunidade fechada com os seus usos e costumes, a introdução de outras culturas


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nas suas famílias ao longo dos tempos, aconteceu e, ainda nos dias que correm temos: Os Cadórios, Os Pereiras, Os Lagouchas, Os Naias entre outros. Nas iguarias da sua alimentação, que agora servem de pratos na restauração do concelho como: o “ensopado de enguias” e a “fataça assada” (1). Não há dúvidas que Salvaterra de Magos, foi um cruzamento de várias culturas! AGRO-PECUÁRIA EM SALVATERRA DE MAGOS ( SÉC XIX – SÉC XX) )

O mês de Dezembro chegou ao fim e, as datas dignas de registo efeméride já foram realçadas. Agora, em momento de pausa, será digno de realçar as formas de riqueza que a sua terra teve na economia quer local quer distrital, ou mesmo ainda a nível nacional.

Tractor lavrando – inicio séc., XXI *************

(1)

– Ver: Apontamento N.º 11 – Onde se descreve em pormenor os pratos confeccionados pelas comunidades: Marítimas, Varinos e Avieiros


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Como sabemos Salvaterra de Magos como população sempre foi de raiz rural, era da terra que provinha o seu sustento. A actividade agrícola até ao dobrar do século passado, sempre teve como suporte a agro-pecuária e, como tal assim foi até à total mecanização naqueles anos. O animal, as alfaias agrícolas e todos os outros acessórios que trabalhavam a terra a par de grandes ranchos de pessoas eram a base da agricultura local. Num trabalho publicado num boletim distrital em 1936, verificase que desde 1870, o concelho de Salvaterra de Magos ocupava posição cimeira na economia do distrito de Santarém, contribuindo assim para que este ocupa-se o lugar privilegiado entre os 17 distritos que então compunham o país. Nesse estudo analítico de 1870 verifica-se que o concelho de Salvaterra, com apenas duas povoações (Salvaterra e Muge) tinha agregados à área agrícola 1690 cabeças de gado cavalar para um distrito com 11387 e onde o concelho de Mação registava apenas 22 cabeças. No campo económico detinha o 1.º lugar com o valor global de 68.797.920 reis e uma média 40.708 reis, na última posição registava-se Constância com 659.040 reis e 18.899 reis. Num outro estudo efectuado 30 anos depois (1900) calculava-se que o país detinha cerca de 90.000 cabeças de equídeos,


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contribuindo o distrito com 12.000 e neste Salvaterra tinha um efectivo de 13,3%. Em 1925 novo arrolamento é efectuado e verifica-se que o número destes animais continuava a descer sendo o seu número de 80.078, tendo o distrito de Santarém registado 11.774 cabeças e novamente Salvaterra ocupa o lugar cimeiro com a 3.ª posição com o número 1530 cabeças, estando o Sardoal na 18.ª posição com 19 cabeças. A mecanização que desde a década de 20 vem sendo mais intensa na agricultura ribatejana e mesmo a nível nacional começa a partir de 1950 a fazer a total cobertura, desaconselhando a utilização dos animais nos trabalhos agrícolas. Em 1934 verifica-se que Santarém detêm no distrito o 1.º lugar com 2730 cavalos e Salvaterra, ocupa a 3.ª posição com 1339 cabeças desta espécie animal. Quanto ao gado Muar e voltando ao ano 1870, Salvaterra tem 42 cabeças, e em 1925 regista 116 passando para 141 em 1934. O gado assino (burros) tem grande aproveitamento a par dos muares como animais de carga - de puxar à carroça, registando-se a existência de 482, 1244 e 1416 cabeças naqueles anos.


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Os bovinos em idêntico recenseamento e igual período de tempo, no concelho de Salvaterra têm uma existência de 3332, 3344 e 1959 cabeças. Com tão acentuado peso na economia distrital, o concelho de Salvaterra ainda tem no campo alimentar, uma posição invejável. Em 1935 manifesta como valor pecuário expresso em peso vivo, de animais para abate, como caprinos (1281 cabeças) e suínos (3.583 cabeças) na quantidade de 1.533.079 quilos. Como curiosidade refere-se que uma porca de criação custava no distrito um valor médio de 448$00 por cabeça, e o chamado porco cevado tinha a cotação de 703$00 por unidade, quanto bácoro ou leitão custava 100$00 por unidade USOS E COSTUMES DE UM POVO RURAL O povo foreiro, que em 1845 se instalou “aforando” os campos de charneca e mato, que até 1821 era pertença da Coutada Real, transformando os mesmos em terras de pão. Conservaram os modos de vida da sua terra-mãe. Mais tarde por volta de 1975/77 quando em Foros de Salvaterra, fiz um trabalho de recolha de provérbios e contos populares, compreendi melhor a razão de tais recomendações daquele meu avô.


26 Na população rural de Salvaterra que contactei naqueles anos já há muito tinham deixado o trabalho do campo, eram pessoas a rondar os 70/80 anos de idade Folclore, uma cultura a preservar! Todas as comunidades têm tendências para preservar as suas origens, desde o artesanato à cozinha tradicional tenta-se divulgá-lo no seu estado primitivo. Nesta vila as tradições, são divulgadas desde os anos 40 do século passado. Como tudo tem sofrido grandes “mazelas”, e se as pesquisas não tiveram continuidade, decerto às novas gerações, apenas iria restar um ténua lembrança.Os agrupamentos de Folclore, existentes no nosso concelho, vão tentando transmitir num trabalho de grande carolice, a divulgação, do que ainda temos no campo dos trajes, da música e

da dança. Em 1936, com a realização em Santarém da parada e cortejo do trabalho, a freguesia de Salvaterra, enviou um grupo de rapazes e raparigas trabalhadores rurais


27 afim de integrar o desfile folclórico, onde se mostrou os trajes usados nos campos de Salvaterra no início do século. Os trajes domingueiros, característicos das trabalhadoras rurais de Salvaterra eram feitos com o tecido conhecido por “chita”, sendo a saia de “Castor” Durante anos foi sua costureira; Elvira Santana, uma das últimas artesãs de Salvaterra que, confeccionavam este tipo de vestuário naquele tempo. A saía da mulher tinha uma roda (4 panos), franzida na cintura por um cós. A saía de castor, de cor vermelha, era usada por debaixo, na segunda posição. Nos anos seguintes, já a entrar na década de 50, passou a usar-se nos dias festivos a saia de castor (hoje, conhecido como feltro de 15), como também foi reduzido para três panos O rodado da saia, mais tarde, já em 1960, era usual ver-se o tecido de nome “riscado”, e na confecção das blusas das mulheres e camisas dos homens entrava a “populine”. Em 15 de Maio de 1981 o já desaparecido rancho infantil dos trabalhadores de Salvaterra de Magos, vinha à luz do dia usando aqueles trajes. Agora, temos no rancho folclórico da Casa do Povo de Salvaterra de Magos o garante da preservação e divulgação desta forma de vestir do nosso povo, conforme divulgação uma sua componente, Elisa Viana.


28 Traje da mulher camponesa - Lenço de algodão com ramagens. A camisa de piqué, com espigas e papoilas bordadas à mão, colarinho redondo e justa ao corpo. A saia é de tecido de baeta vermelha, com barra bordada a ponto cruz com linha algodão preto, é toda pregueada. Normalmente quando é despida alinhava-se as pregas ao meio e em baixo, e é colocada de seguida debaixo do colchão para que ficasse sempre direita sem ter de ser passado a ferro. O avental é de tecido de merino preto, bordado à mão em tons de amarelo e azul para sobressair sobre a saia vermelha. As meias são compridas, feitas de fio de algodão branco, feitas à mão e usadas apenas com o traje de gala. Os sapatos, confeccionados em cabedal preto, têm salto de prateleira,

embora mais pequeno, que o do homem. Toda a roupa interior de pano branco, sendo a saía franzida com o folho, e bordado que é também franzido para dar mais roda à saía. Traje do campino em dia de Festa

Barrete verde, com cercadura vermelha * Colete vermelho, atado com cordões na frente enfeitados com botões metálicos, mostrando nas costas o ferro da casa agrícola (de que é


29 trabalhador), bordado a preto. A cinta vermelha, de lã com franjas, que tinha a função de apertar o corpo para proteger o campino .* A camisa branca é justa de colarinho redondo * O calção, de fazenda rapada azul-escuro, é enfeitado com botões metálicos do lado de fora da perna.* A meia branca é usada por cima do joelho, é arrendada feita à mão. * Os sapatos de salto de prateleira são usados com fivelas e espora Roupa de trabalho

* O traje de trabalho é de calça e colete de cotim cinzento, camisa azul, barrete e cinta preta. O sapato é de cabedal preto, sendo usado também a bota grossa, cardada para o trabalho..

Nota: Na foto, a 3ª mulher e o homem, são os pais do autor


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Salvaterra de Magos - A sua riqueza florestal

Nas duas últimas décadas temos vindo a assistir ao regresso do povo às suas origens. Nos fins do século XIX, até meados dos anos 40 deste que terminou, o homem que habitava as terras do interior foi de abalada até ao litoral, zonas mais aliciantes para o seu bem estar social e económico. Já em 1936, o agricultor salvaterrense, Engenheiro-agrónomo e professor da Escola de Regentes Agrícolas de Santarém, José Henriques Lino, num artigo sobre a floresta escrevia:

-“ O concelho de Salvaterra tem uma das suas fontes de riqueza, a exploração florestal que é escoada pelo cais fluvial da vila” ”Dos 270 quilómetros quadrados, tal era a área do concelho, de solos aluvisionais e areias soltas, podendo calcular-se que quatro quintas partes pertencem a terrenos desta última natureza. Retirando aqueles tractos arenosos, que por mercê de condições especiais, constituem os “Foros” de Salvaterra, Muge e Marinhais, todo o resto é revestido por matas de sobreiros, eucaliptos e pinheiros, com acentuada predominância destes últimos. O sobreiro prospera principalmente nas partes norte e nascente do concelho formando povoamentos de boa densidade, sendo as cortiças como as suas vizinhas do vale do Sorraia, da melhor qualidade entre todas as portuguesas.


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O eucalipto é uma essência de recente introdução neste meio; os seus maciços datam de há duas décadas, aquando do grande desbaste feito nos pinhais no período da guerra. De rápido desenvolvimento rebentando facilmente de touca, têm as suas madeiras longo emprego como combustível, e na indústria do papel. Além de lenhas emprega-se igualmente para as vedações rurais, e na confecção de material agrícola, exportando-se ainda grande parte em “faxina” .O pinheiro manso e bravo, com predomínio deste último, é, como disse, a essência disseminada e mais antiga, existindo exemplares dignos de nota pelo seu porte, a atestar a idade e o vigor que esta árvore desfruta nestes terrenos. Constitui o pinhal uma fonte de receita inesgotável, principalmente explorado pelas lenhas cujos tipos mais vulgares são: o “metano”, que é o molho formado pelas braças dos pinheiros que se reúnem em feixe com as bases voltadas para o mesmo lado, atando-se o molho com junco. A atada, faz-se à maneira que se procede à desrama, operação esta que consiste em encurtar os ramos a machado ou à pedôa, encabada numa vara comprida, para os ramos mais altos. Se o metano não sai imediatamente do pinhal, é empilhado de modo a evitar uma secagem muito rápida que provocaria a queda da agulha. É medido às “talhas” que são grupos de 60 molhos, com largo consumo nos fornos de pão, cal, tijolo, etc. que, se exporta em larga escala para a capital e para os telhais na outra margem, nomeadamente Alhandra. Como foi afirmado pelo saudoso silvicultor Sousa Pimentel, o mercado de Lisboa, só


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recebe bem o “metano” do pinheiro bravo, e despensa o de manso porque a folhagem deste, sendo mais curta e basta, não levando a chama tão alta, por isso aquece menos uniformemente os fornos. O “metano” feito com pinheiros novedios tem menos valor porque míngua muito, quando bem seco tem menos força calorífica.

A “faxina” resulta do corte dos pinheiros sendo em seguida torados (toros) aproveitando-se os troncos e braças mais direitos que em seguida são descascados fazendo-se a medida por “correias” com o comprimento de um metro. Os troncos grossos demais para metano, e tortos constituem a trambolhia.


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A exploração dos pinhais é geralmente feita por proprietários que mandam proceder às desramas e cortes debaixo da sua orientação, havendo, porém, nas pequenas explorações quem entregue os cortes ao “cuidado” dos compradores” (1) A MUDANÇA

Os anos passaram, o valor daqueles produtos pesava imenso na economia quer dos que viviam da terra, quer de quem os transportava – Os Marítimos/ou Fragateiros, que operavam no cais fluvial. Por ter procurado melhor sustento a população de Salvaterra, foi de abalada às áreas industriais, próximas de Lisboa, tais como Alhandra, Sacavém, Setúbal e Barreiro. As terras começaram a ficar sem “braços” para as trabalharem, as modificações introduzidas passou para uma agricultura de maior rendimento tais como: a batata, o tomate e ultimamente aposta-se na cenoura. Os espaços vazios deixados pela floresta e vinha, estão agora a ser ocupados por segundas habitações dos que vivem nas áreas urbanas e industriais, que as ocupam apenas nos fins-desemana, ou épocas de férias. O pinhal e a vinha, são agora meras recordações! ********* (1)-Parte do Artigo de José Henriques Lino (Engenheiro-Agrónomo e Prof. Da Escola de Regentes Agrícolas de Santarém, publicado no Boletim da Junta Geral do Distrito de Santarém – Nº 43 * Ano 1936


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********************* BIBLIOGRAFIA USADA:

* Artigos do Autor, publicados, no Jornal Vale do Tejo – JVT * N.º I - O Concelho de Salvaterra de Magos – Seu Povo, sua cultura ! JVT N.º 129 – 1997/10/23 * Nº II - Salvaterra de Magos – O Rio Tejo na sua rota cultural - JVT N.º 130 1997/11/06 * N.º III - O Trabalhador rural, e a sua condição sócio económica ! JVT N.º 131 1997/11/20 * N.º IV - O Povo Salvaterrense em busca da sua cultura JVT Nº 133 -1997/12/18 * N.º V - A Agro-pecuária em Salvaterra de Magos (1870-1935) - JVT N.º 134 * Nº VIUsos e costumes de um povo rural ! - JVT N.º 135 1998/01/15 * N.º VII – Ditos Populares ! JVT Nº 136 – 1998/01/29* N.º VIII – Folclore, uma cultura a preservar ! - JVT N.º 137 – 1998/02/1* N.º XIX – Salvaterra de Magos – Sua riqueza florestal! - JVT N.º 140 – 1998/03/26 * Anais de Salvaterra “José Estevam – 1959, Edições Couto Martins Fotos publicadas neste número: Pág. 13 – Irmãos Roberto (s), em companhia de outros toureiros famosos da sua época * Pág. 16 – Tractor lavrando a terra, década de 50, a Lezíria estava em transformação * Pág. 19 – Edmundo Nestório Borrego, com traje de campino em dia de festa * Pág. 19 – Campino, vestido com roupa de trabalho, nos tempos modernos * Rapaz, ajudante de campino, vestido a rigor em dia de festa *


35 Pág. 18 – Rancho Folclórico dos Trabalhadores Rurais de Salvaterra de Magos (Ensaiador: Núncio Costa) – 1950 * Pág. 18 – Rancho Folclórico da Casa do Povo de Salvaterra Origem das Fotos s/ Legenda: As fotos, que não são do autor, foram usadas com a devida vénia da edição: Boletim Junta Geral do Distrito de Santrém-1936 * Edição: Um olhar sobre o Concelho de Salvaterra de Magos-CMSM2001, e Turismo do Ribatejo * Olhares do Passado – Glória do Ribatejo-2001


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CADERNO DE APONTAMENTOS N.º 24 Documentos para a História de

SALVATERRA DE MAGOS Séc. XIII – Séc. XXI Património: Geográfico, Monumental, Cultural, Político, Económico e Desportivo

Social,

UMA CULTURA AINDA VISTA NO SÉC. XX Autor JOSÉ GAMEIRO


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FICHA TECNICA: Titulo: JOGOS E PROVERBIOS POPULARES! Tipo de Encadernação: Brochado – Papel A5 Autor: Gameiro. José Colecção: RECORDAR, TAMBÉM É RECONSTRUIR Editor Gameiro, José Rodrigues Morada: Bº Pinhal da Vila – Rua Padre Cruz, Lote 49 Localidade: Salvaterra de Magos Código Postal: 2120- 059 SALVATERRA DE MAGOS ISBN: 978– 989 – 8071 – 24 – 8 Depósito Legal: 256476 /07 Emissão: 100 exemplares – Março 2007


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Capa: Jogo do Pau ensebado – Festas de Foros Salvaterra

******************** 2ª Edição em PDF Revista e Aumentada – Março 2015

******************** O autor deste texto não segue o acordo ortográfico 1990 Contactos: Tel. 263 504 458 * Tele. 918 704 904 e-mail: josergameiro@sapo.pt


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O MEU CONTRIBUTO A geração que, viveu a sua infância no após a segunda guerra mundial, aquela a pertenço, ainda conheceu muitas formas de brincadeiras e jogos, como: o pião, o arco, a cabra cega etc., Eram divertimentos populares. Os Provérbios, cantigas de bem e mal dizer., a par das benzeduras e superstições, ainda eram usados pelas gerações mais antigas. A prática dos jogos era na rua, era aí o local de encontro do rapazio da vila. Os descendentes da população rural, esses já andando no campo, outros jogos aprendiam, como o jogo do Pau e o da burricada. O jogo do Pote, tinha um tempo próprio, efectuava-se nos dias de Entrudo (Carnaval)., sendo praticando pelos adultos. Com o decorrer dos tempos, foram entrando em desuso, e outros divertimentos como forma de brincar passaram a ocupar o seu lugar, pois cada geração, tem as suas próprias brincadeiras. Nas páginas a seguir tento dar uma pequena amostra dos muitos jogos e divertimentos que o povo usava nesta terra . Outros por já estarem esquecidos, houve necessidade de os recuperar, junto de quem os praticou um dia e assim algumas populações do concelho, como: na Glória do Ribatejo e Foros de Salvaterra ainda hoje praticam o Jogo da Malha. Quanto aos Provérbios Populares, quando fiz a recolha de alguns, em 1957, junto de pessoas idosas - eram as últimas gerações que os diziam por necessidade - sendo analfabetas, deles faziam uso para seu governo. MARÇO: 2015

o Autor: JOSÉ GAMEIRO


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JOGOS TRADICIONAIS (Os Divertimentos do Povo) Longe vão os tempos em que as crianças e adolescentes, tinham por brincadeira, alguns jogos e divertimentos, mesmo que ingénuos os entretinham nas suas poucas horas de brincadeira. Todos eles de uma prática ingénua, uns seriam mais violentos, como o Jogo do Pau. Este uso tinha as suas raízes no trabalhador rural, especialmente o campino, pois o cajado era um companheiro inseparável., na guarda do gado. No Século XVIII, houve em Salvaterra de Magos, uma rua, com o nome do Jogo da Bola, era o espaço consentido, para a brincadeira da Pelota, pela fidalguia. As feiras anuais, muitas vezes eram o único lugar, em que as novidades de alguns jogos e divertimentos se viam e praticavam pela primeira vez, trazidos pelos feirantes. A concessão da realização das feiras, fazia parte do estatuto municipal, concedido pelos forais, e uma outra, a carta de feira, de 1434, deu a Salvaterra de Magos, autorização para o início de uma feirafranca, com duração de 15 dias. Aquela feira, tinha lugar no caminho que ligava as povoações de Salvaterra de Magos e Benavente, em frente ao Convento de Jenicó (ou Jericó).


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Aquele tempo, aí apareceram entre muitos jogos e divertimentos, a Corrida dos Sacos, do Pau Ensebado, jogos vistos tempos antes em, Leipzig, cidade da Alemanha central.

O DERRUBE DO BONECO Nos meados do séc. XIX, era já muito conhecido e praticado nas feiras do país. Uma prateleira com uma fila de pequenos bonecos confeccionados em barro, teriam de ser derrubados, com uma bola de lã (tamanho de encher a mão), com um seixo lá dentro, para fazer peso, no lançamento. O boneco ao ser derrubado, devia partia-se e dentro tinha um papel com o nome do prémio que, ia desde uma Queijada (bolo), um conjunto de três Naprons, um Charuto, além de utilidades caseiras usadas na época, como a Colher de Pau. O JOGO DO POTE (ou da Enfusa) Recebido do século anterior, o jogo do Pote, ainda foi de grande uso até ao dobrar do século XX, na época carnavalesca. Um grupo de vários rapazes, entre si juntavam algumas moedas e, compravam um Pote de barro. Começado o lançado do Pote pelo ar, de uns para os outros e agarrado com as duas mãos.


43 Se alguém o deixa-se cair teria de ir logo comprar um outro, e o jogo continuava, pelas ruas da vila. Era uma forma de agradar às moças, pela destreza mostrada pelos lançadores Amiúdas vezes, vinham até Salvaterra de Magos, Grupos de Saltimbancos, na sua vida de gente ligada às acrobacias do circo, onde mostravam cenas e jogos burlescos. Muitos desses divertimentos, ficaram ligados às gentes do povo, que através dos tempos os consideram seus. O PAU ENSEBADO Um grosso poste liso, previamente ensebado com gordura fresca, fazia-o escorregadio, e no seu topo, era colocado um saco, com um animal caseiro (prémio surpresa), para quem o conseguisse alcançar. Com o pagamento de uma moeda, o jogador, tinha de o subir, sem a ajuda de qualquer objecto estranho ao calçado, roupa e mãos. Para o primeiro impulso da subida, podia receber a ajuda de um grupo de dois amigos. O tempo da subida era limitado, vigiado pelo encarregado do jogo, que também procedia à vista de alguma “malandrice” usada pelo subidor do pau.


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O JOGO DA CORDA Usado nas festas na Inglaterra, já era conhecido em Portugal, no final do séc. XIX.

Naquelas terras inglesas, em dias de mau tempo, usava-se a variante, um ribeiro, como meio de fazer cair os competidores no meio da água. Sendo um jogo onde 12 membros de cada grupo, puxavam uma corda, para fazerem cai “desmembrando” o outro grupo, ou ultrapassarem um risco previamente feito no chão.


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O grupo (ou grupos), que perdiam ficava sujeito ao pagamento de uma refeição de convívio . O JOGO DO BURRO Este jogo, actualmente também conhecido pelo jogo do “saltar ao eixo”, tinha um componente que necessitava de um primeiro voluntário, para fazer de “burro”. Este, dobrado com as mãos nos joelhos, com os pés em cima de uma linha (risco) no chão, aguardava que os dois grupos em competição saltassem por cima de si e, aqueles que não conseguissem, na primeira ronda, eram eliminados, tendo acabado os primeiros saltos, recomeçavam uma nova ronda. O jogo continuava assim por diante, e o “burro” ai distanciando os pés na mesma medida, e os últimos que conseguissem saltar, deviam receber um prémio, que seria pago pelo grupo de perdedores. O JOGO DAS CAVALITAS ( ou do Derrube) Jogo, que as gerações fizeram chegar, aos jovens e, no início do século XX, sendo praticado na rua - que era deles - faziam vários grupos de jogadores, às cavalitas nos ombros de uns dos outros, faziam o derrube dos seus opositores.


46 Num espaço demarcado, e com o tempo limitado, por um vigilante, que dava inicio ao jogo através de um assobio, ia “olhando” para evitar alguma infracção às regras estabelecidas. O JOGO DO ARCO ( ou da Roda ) Com área demarcada, o grupo de jogadores apresentava-se com um arco e uma gancheta, em ferro (ou arame), para o fazer deslizar. Num tempo limitado, e em espaço demarcado, um vigilante depois de um assobio, confirmava se os vários jogadores procediam de maneira a que o arco (roda) não cai-se ( deixar de rolar). No final do tempo, eram conhecidos como vencedores aqueles, que terminassem sem deixar cair, ou menos vezes o arco. O JOGO DAS ANDAS (Pernas de Pau)

Pernas de pau, ou Andas, sendo dois paus compridos, com um apoio no meio, para os pés, servia para o andar apoiado com os pés e mãos. Num percurso demarcado, os detentores da “perna de Pau”, faziam por andar não caindo, aquele que conseguisse


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andar o mais tempo em cima, seria o vencedor e recebia como prémio a bebida de um “pirolito”. Esta gasosa, era comprada, na Taberna mais próxima da brincadeira, depois de uma colecta entre os jogadores. O CINQUILHO Pela natureza deste jogo, em tempos idos, estava proibidos à prática dos rapazes e jovens.

Uma lei saída na época do Liberalismo, decretou a seu uso fora dos “olhares públicos”, sendo praticado nas Tabernas, em sítios recatados ao ar livre, mas sujeitos à repressão policial, pelas discussões causadas, que iam mesmo à agressão. Registos existem, que em Salvaterra de Magos, também eram praticados No Conto “O Último dia do lobo em Salvaterra”, a Taberna da Anunciada, era um desses locais (1)


48 Em época de feiras e festas, era autorizado a sua livre pratica. No concelho de Salvaterra de Magos, o hábito de jogar o Cinquinlho, ou Malha, ainda se vê, entre a população da Glória do Ribatejo e Foros de Salvaterra. É um jogo muito popular, em Portugal, que consiste no lançamento de malhas (discos em ferro) de encontro a um pequeno paulito (toro) de madeira, colocado no solo a uma certa distância, previamente acordada entre os jogadores. Cada “malhada” fará parte de um somatório de pontos “tentos”, que os jogadores vão acumulando, e o final será concretizado com uma bebida, que em tempos eram jarros de vinho, nas Tabernas. O JOGO DA LARANJINHA (2) Sendo um entretêm muito antigo, já conhecido nos séculos XV e XVI, era usado apenas entre-muros palacianos. Nos séculos seguintes, converteu-se em jogo popular, passando também a fazer parte nas festas locais. ********* (1)- Na Trav. da Azinhaga, nos anos 30, existia a “Taberna da Anunciada”, onde se praticava este jogo. (2) – Sendo agora pouco praticado, nesta zona do Ribatejo, desde meados do século passado, em Portugal foi conservado por algumas colectividades recreativa


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Para o praticar será necessário uma prancha (calha) em madeira - ensebada – para deslizar uma bola em madeira, com um diâmetro nunca inferior a 20 /30 cm. A bola deverá ter vários furos, para serem colocados os dedos, para o lançamento. no fundo será colocada uma outra bola (imóvel), ou um certo número de palitos em madeira em posição paralela, para serem derrubados. O jogo pode ser praticado por um grupo, de vários jogadores em competição, que vão contando pontos “tentos”, conforme os derrubes alcançados. O JOGO DA APANHADA ( ou da cabra-cega) Até aos anos 40, do século passado, as crianças da classe social mais abastada, tinham como entretenimento, vários jogos florais. Desses jogos, a Cabra-cega, era o mais praticado. Dois grupos de meninos, ou meninas, na hora de grande lazer, antes da hora do lanche, depois de um sorteio, iniciava-se, com um membro do grupo a levar os olhos cobertos com um lenço, e uma flor presa na cintura.


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Todo o grupo lhe dirigia piropos, como: És uma Cabra-cega ! Que tens uma flor Depois de a “roubar”. Vou dá-la ao meu amor ! A Cabra-cega, jogo andando às voltas, em direcção das vozes, procurando com as mãos agarrar alguma das “provocadoras” quando o conseguia, seria substituída pela agarrada. Por vezes, viam-se jovens adolescentes, também na prática deste divertimento. OUTROS JOGOS Tal como os jogos do Botão, e do Berlinde, o Pião, era no dobrar do século XX, um entretém das crianças, após as horas escolares. O Pião sendo um pequeno brinquedo, feito em madeira, tem na ponta um prego (ferro), que o conserva a rodar no chão. Depois de ser lançado, com a mão, por um cordel, previamente enrolado na parte de baixo, fica a rodar em grande rotação.


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Para o apanhar ainda a “rodar”, é necessário aproveitar a sua velocidade, e metê-lo através do 2º e 3º dedo da mão, até conservá-lo a rodar na palma da mão. PROVÉRBIOS POPULARES ! Cantar as Janeiras 1 – Por uma estrela guiados , 2 – Também nós aqui vimos, Os três Reis do Oriente, Reunidos, bem juntinhos, Já partiram para Belém, P``ra saudar alegremente Cada um, com seu presente Todos os nossos vizinhos REFRÃO 3 - Adoremos nós também, A Jesus, o Salvador, Domo-lhes aqueles presentes Que nos manda a lei do Amor

REFRÃO 5 – Viva lá esta família (casal, senhor, senhora) Que bom coração que tem, Vai abrir as suas mãos, E largar algum vintém 7 – Hoje, vimos cá pedir-vos

4- Natal é dia da vida De paz, d` amor e de bem, O dia que ensina a gente, A dar o melhor que tem

6 – A Igreja esteve em obras, Temos muito que pagar, Não nos dê as suas sobras, Pois isso não vai chegar 8 – Não queremos ir embora,


52 Que nos deis uma notinha Uma notinha de quinhentos Ou outra mais grandinha

Com as mãos a abanar, Venham ver e abram a bolsa E depois venham cantar

REFRÃO 9 – Não estamos a pedir muito 10 – Deus vos dê Festas Felizes Não somos muito exigentes Estimados moradores Aceitamos o que nos derdes A benção de Deus vos cubra E ficamos contentes De virtudes e Louvores Quadra Cantada no início e fim ! REFRÃO As Janeiras são cantadas Do Natal até aos Reis Olhai lá por vossa casa Se há “notas” que nos deis ! Nota: Um cantar de Janeiras a propósito das obras efectuadas na Igreja da vila * Podem-se adaptar a qualquer situação !!! A PROPÓSITO DA AGRICULTURA, E SEMENTEIRAS NA HORTA ! APANHA DA FAVA (1) Nos fins de Março * Vai ao campo e prova * Prova e Come !! Já não te fará mal * Em Maio, ceifa e enche o celeiro Todo o ano há comida para o animal !!


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TEMPO, EM RELAÇÃO Á VINHA (1) No São Tiago, pinta o Bago * Vai à vinha, e em São Lourenço, e enche o lenço * No São Miguel, o vinho está no túnel * No São Martinho, vai à adega e prova o vinho !

TEMPO DE SEMEAR O ALHO e A SUA VENDA ! (1) * Se o queres no bacalhau, não tardes em semeá-lo * Pois, no Natal já deve ter bico de pardal ! * Alho cresce, Alho, Alho * Mata Caracol, cura couve e Alho * Vende:r; Quem quer Alho, Quem quer Alho O GRÃO PAR A ACOMPANHAR O BACALHAU (1) - Se o queres no bacalhau, não tardes em semeá-lo * Cuida dele, que no Natal, deve ter bico de pardal MUDANÇA DO IVERVO PARA A PRIMAVERA ! (1) - Huga, a noite com o dia * O Calendário a 22 de Março * Antes por serem pequenos, não podia * Juntar o pão, com a vinha, fazer bagaço ! -


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QUANDO O ANIMAL, MOSTRA FORÇA ( O Homem ! ) * Muita força, tem a Besta ! * Por ter dinheiro ou Faladora ! * Animal, que mostra a testa ! * O Cordeiro, esse fala brandura ! * Berra, sua aflição modesta ! * É Forte, mas só em Candura ! FALECIMENTOS AO FIM DE SEMANA ! (1) Se na sexta há mortes * No Sábado outras vêm para o ninho No Domingo, não há descanso * Decerto, outras vêm a caminho VAI CHUVER TODA A SEMANA ! (1) Se ao Domingo chove, antes da Missa * Resguarda-te, toda a semana, pois missinga (chove) ARREMETIDAS MALICIOSAS ! (1) (Apanhar Sol, em conversa) * Quem tem tempo e vagar * Faz Bonecas, ou Colheres * Se não tem , decerto está * De má língua, com as mulheres !” * Quem água não bebe * Papas não come * Não sabe * Aquilo que perde


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* Nem todos têm em baixo , Dois badadalos * Nem em cima, seios no coração * Aos de cima, Dá prazer beijá-los * Aos debiaxo, Dá dor ao bater no chão * Morre o pobre, vai para a vala * O rico, vai de caixão * Na morte, são iguais * Só no enterro, é que não * As raparigas novas, de 20 anos * À noite gostam, de beijinhos * As velhas, de 40 anos * De manhã gostam, de dar peidinhos * Uns têm trabalho e tristeza * Outros glória e fortuna * A morte é igual para todos * Não à nada, que nos una* Será cego, ou tolo * Quem parte, e reparte ( o bolo ), e não fica, com a maior parte, * Vive as glórias, do tempo presente * Viver as agruras do futuro * Ficar ligado ao passado, deve ser mais penoso * Será ter um tudo, na mente A MULHER SEM LEITE ! * A mulher, ainda jovem mãe quando não tinha leite para o filho, era uso, durante três noites, por o corpete, ou o segura mamas, ao relento e na terceira noite, pela meia-noite, uma mulher mais velha, batia-lhe com um pau. Sendo recolhido, ainda de madrugada, molhado do orvalho da noite, dava sempre resultado, pois o leite aparecia.


56 * Quando a criança tinha seis meses, era posta com o c... no chão, e pão na mão. Começava a comer sopa e pão embebido em leite. RECOMENDAÇÕES: - Eu, te ensino filho meu * Porque à escola não fui, não sejas “parvo” como eu * Muito literado e culto queria ser * Meus livros foi o campo, onde vi o Sol; por e nascer - Nos trabalhos da Grade, aos 7 anos já lá andava * Mil lágrimas, chorei * Hoje, são lembranças de quem não brincava - Não culpo meus pais, teus avós * Não tiveram a Candeia, que a uns “Alumia” e a outros queima, como a nós ! Toma bem nota destas lembranças * Na tua vida, boa falta fará * Olha bem, os meses pequenos e os grandes * Todos eles te darão grandes e pequenas emoções ! Os meses pequenos, com frio e chuva * Lágrimas e luto, te vão dar * Os grandes, além de canseiras * Sonhos e alegrias te fazem suar ! Os nomes deles te ensino * Janeiro, Fevereiro, Março, Abril e Maio crescendo vão * São os tais meses de pequenino * São meses, onde a lareira aquece o coração ! A crescer seguem outros, como o São João (junho), onde a sardinha já pinga no pão * Há um outro, que tal de calor (Julho) * Dá lugar ao de São Tiago (Agosto) * Um já pequeno vem, é o de São Tiago (Setembro) * Um outro a seguir vem, com chuva e


57 calor, é o da Piedade (Outubro) * Mas o de todos os Santos, dias de Primavera tem (Novembro) * O mais pequeno enfim chega, é o mais desejado e trás o Natal (Dezembro) - Fevereiro quente, trás o Diabo no ventre - Com vento Nordeste, não vá ao mato, nem pesque - Quem não cuida do que é seu * E se fia na vizinha * Ou perde o falar * Ou fica a doidar - O namoro dos rapazes * É como o da Cotovia * Acaba-se o tempo da azeitona * Vou-me embora Maria - Janeiro fora, há uma hora ( a mais) * Mas quem bem contar, hora e meia, há-de achar ! - Na Primavera, se a Páscoa for soalheira * No Verão, vai à lenha limpar o pinhal * No Outono, Choverá até à soleira * No Inverno, é de borralheira até ao Natal No Verão: - Foi carreando, carreando * Lágrimas de suor chorou * Mas viu o celeiro alargando * Das sementeiras, que trabalhou No Inverno: - Não carreou, carreou * Viu o celeiro minguando * Com lágrimas, nos olhos ficou * Da fome que ia passando JANEIRO: - o LUAR DE Janeiro; Não tem parceiro * Mas lá virá o de Agosto; Que lhe dá pelo rosto FEVEREIRO: - Sobe o Outeiro; Se vires verdejar; Põe-te a cantar * Se vires branquear; Põe-te a chorar


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MARÇO - Março, Marçagão; Manhã de Inverno * Tarde de Verão; É à noite cara de cão - Em Março; Já se queimou a Dama no Paço * Mas lá virá os diias * Que se apanham; Rosas no Regaço - Mais vale uma trovoada de água * Entre Março e Abril * Do que um carro de oiro * De campo e carril - Lá virá o mês de Maio * Com agua fresca, guardas o cantil * Não te esqueças do Verão, que tem dias de vivermos senil (Morrinhentos) ABRIL - Dias pequenos já passaram * Já vai a velha, se pôs ao casminho * Agora vai, vê bem o caminho * Ao luar, pode começar a dormir AS ABELHAS Em Abril * Deixa-as sair * Em Maio * Arrecadai-as * Se tudo bem fizeres no Verão * No Inverno tens mel - Neste mês, ainda se queima carro e carril * E o resto que ficar * Em Maio, se há-de queimar MAIO - Antes de Maio, ainda com sono e fome caio * Depois de Maio, vou e venho do trabalho


59 - Neste mês já cedo me levanto * O galo me desperta * O sol não nasceu e trabalho * É noite, e não descanso * A pé, vou para casa, que a fome aperta (+) - QUINTA-FEIRA DE ASCENÇÃO (Maio) Oração Popular: Da Páscoa, à Ascenção, Quem bem contar, Quarenta dias vão ! * 5ª-feira de Ascensão, seca-se a raiz ao pão. No dia de Ascensão, não ponhas o pé no chão. Se os passarinhos soubessem. Quando era a Ascensão. Não comiam, nem bebiam. Nem punham os pés no chão. - Nesse dia as Moçoilas + Ao campo vão + Desde a Espiga, às Papoilas * Outras flores lhe enchem a mão ! Quando chove em dia de Ascensão até as pedrinhas dão pãp ! Dia da Espiga: Hoje é dia Da espiga. Para festejar esse dia fomos ao campo colher um raminho de flores: Uma flor branca simboliza a paz; Uma amarela, o ouro; Uma espega, o pão; Uma papoila, o amor e um raminho de oliveira, o azeite. Agora vamos guardá-lo em casa durante todo o ano, para termos sempre alegria, dinheiro, paz e pão ! JUNHO * Se no São João (junho) pinga a sardinha, no pão, também neste mês devem os Cegonitos, estar no chão ! JULHO - Neste mês, vai à vinha, ver se pinta a baginha * Mas como é Santiago, não te esqueças de provar o bago


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************* (*) – Nos meados dos anos 50, do século passado, os trabalhos do campo, ainda eram de sol a sol, e os trabalhadores faziam a deslocação a pé. No Inverno, faz boa poda * Para no Verão, boa árvore te aconchega * Se não tens calor e nem a sombra te acolhe ! AGOSTO - Vai embora, mês de Agosto * Deixa vir o São Miguel * Lá virá os Palheireiros, que terão uma vida cruel (Ceifa e Separar o grão da palha – Eira) Nota: Aqui nestas terras do Ribatejo, o mês de Setembro era conhecido por S. Miguel - As Ceifas e Eiras estavam no fim, os homens que faziam este serviço de separar a palha do grão, eram conhecidos por Palheireiros. - Começavam a preparar as Palhas, em “Pirâmides” para as camas e comida dos gados, no Inverno- As “Pirâmides de Palha” eram cobertas, com Carracil (Caniço), que nascia nas margens do Tejo, junto a Salvaterra de Magos ************* (1)– Rita da Silva (Rita Chaparrana), em 1965, sendo analfabeta, e uma vida passada nos trabalhos do campo, era filha, dos primeiros Foreiros, de Foros de Salvaterra. Sendo minha sogra, me transmitiu alguma riqueza da cultura do povo de Salvaterra de Magos, que guardo.


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LEMBRANÇAS DOS TEMPOS DO REI D. MIGUEL - D. Miguel, subiu ao trono * Com suas esporas de prata * Cavalgando em seu cavalo branco * Com os “Malhados” à arreata ! - Venha cá seu “Malhado” * Sente-se bem nesta cadeira * Dê vivas ao rei D. Miguel * Se o não fizer, parto-lhe a caveira ! - Os de Samora, são “Mesquitos” * Os de Benavente, “Chichareiros” * Da Ribeira, são “Abóboras” * Os de Salvaterra, são “Vinagreiros” D. PEDRO E D. MIGUEL A Fonte de El-Rei, na Lagôa (*) - Andando um velhinho, próximo da Fonte de El-Rei, pastoreando o seu gado, viu um cavaleiro, montado em seu cavalo branco e, mais atrás um outro, em seu cavalo cinzento. (Eram D. Miguel e

seu Irmão D. Pedro II, que vinham da caça)

- Pedindo um pouco de água ao velho, logo um deles perguntou: Quem vive !.... D. Pedro ou D. Miguel !.......


62 - Viva D. Miguel e D. Pedro, logo respondeu de pronto o velho, e disse: O povo tantos martírios sofre, por uma pele que anda em

dois!

- A mim dai-me lágrimas e desgostos, porque velho ainda não sou, e desavindos não queria vê-los, porque a vossa pele é do meu corpo ! ******** (O pastor:, Era o pai dos dois reis de Portugal, que estava disfarçado ) ********* (*) – Conto que me foi transmitido, por Maria da Piedade (conhecida por Maria Mendes), senhora de avançada idade, empregada da família Vinagre. ERMIDA DA SENHORA DE ALCAMÉ (**) A Ermida de Alcamé está caiada de branco, até ao chão; Por causa das raparigas; É que os rapazes lá vão ! - Ermida de Alcamé; Está rodeada de urtigas; - Agora fica viúva; Vão-se embora as raparigas !! - Ermida de Alcamé; Está virada ao Norte; Está fazendo ramalhetes; Ao senhor da Boa Morte ! (**) – Versos de Maria da Conceição ( Maria Inês), que os cedeu ao autor deste Apontamento, em 1987, pois durante muitos anos viveu junto à capela de Alcamé, na companhia de seu marido o campino João Nobre


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A MULHER E O VENTO - Se ele, embirra e faz novela * A menina já tem pêlo na venta ! - Se ele, faz estragos em dia de vendaval * A moça e já tem coisa debaixo do avental ! - Se ele, corre de manso e não tenso * A mulher tem criança no berço ! ******** ( Popular- Contado por: Maria Inês) **********

QUANDO SE ESTAVA ZANGADO ! Um dia a D. Custódia de Jesus, nascida nas terras da Freguesia do Granho, ensinou-me um vocabulário, ainda muito usado, na primeira metade do séc. XX, especialmente pelas mulheres, quando zangadas: * CARVALHO; FELHUDOS E MARALHUDOS! * DIGO E DIRALHO, FORMOSO E CARVALHO! **** (Toda a gente sabia, onde e a quem queria atingir, com o desabafo.) ****


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REZAS E AS BENZEDURAS Naquele ano de 1958, certo dia quando pesquisava junto de pessoas idosas da minha terra “Contos e Lendas Populares”, também contactei (talvez a última geração), que curava com rezas e benzeduras; “Os mal Olhares”, “Dores no Corpo” e “Enjoos” Um rolo feito de várias meias velhas, servia para nele introduzir agulha e linha - fazer cozedura, enquanto faziam a sua ladainha, em reza. O azeite, num prato e escaldões de água quente completavam a receita, conforme a situação dos pacientes, o que dava também para as entorses. Muitas vezes, as mães apresentavam-se com as filhas ainda jovens, que sofriam de enjoos. A curandeira, tinha dificuldade em encontrar a causa, mesmo com o azeite separado na água, em três olhos. Afinal nove meses depois, a “doente” aparecia curada!


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BIBLIOGRAFIA USADA: (1) “O ÚLTIMO DIA DO LOBO EM SALVATERRA DE MAGOS * (José Amaro) O CONVENTO DE JERICÒ * Autor: Álvaro Betâmio Almeida - Edição1990 SALVATERRA DE MAGOS, VILA HISTÓRICA NO CORAÇÃO DO RIBATEJO * edições; 1985 e 1992 (Esgotadas) (Autor: José Gameiro) * Notas de Um Ribatejano * Francisco Câncio –1956 FOTOS USADAS: “ OLHARES DO PASSADO ” – GLORIA DO RIBATEJO “ NORTHANMPTONSHIRE “ (1924-1974) ( Roland Holloway’s) * Do Autor:

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CADERNO DE APONTAMENTOS Nº 25 Documentos para a história De

SALVATERRA DE MAGOS séc. .XIII – séc. XXI Património: Geográfico, Monumental, Cultural, Social, Político, Económico e Desportivo

“ SER AUTARCA – SERVIR A COISA PÚBLICA “

Autor José Gameiro


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Primeira Edição FICHA TECNICA: Titulo: SER AUTARCA “ Servir a coisa pública “ Tipo de Encadernação: Brochado – Papel A5 Autor: Gameiro, José Colecção: RECORDAR, TAMBÉM É RECONSTRUIR Editor Gameiro, José Rodrigues Morada: Bº Pinhal da Vila – Rua Padre Cruz, Lote 49 Localidade: Salvaterra de Magos Código Postal: 2120- 059 SALVATERRA DE MAGOS ISBN: 978– 989 – 8071 – 25 – 5 Depósito Legal: 256477 /07 Edição – 100 exemplares – Março 2007


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Fotos Capa: Edifícios Câmara Municipal e Junta de Freguesia de Salvaterra de Magos


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2ªEdição em PDF Revista e Aumentada – Março 2015 *****************

Contactos: Tel. 263 505 178 * Telem. 918905704 O autor deste texto não segue o acordo ortográfico de 1990


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O MEU CONTRIBUTO Um dia dei comigo a ser autarca, tinha aceite estar ao serviço do meu concelho, na Assembleia Municipal. Eram as primeiras eleições livres no ano de 1976, após cerca de meio século, de um regime de ditadura que, o golpe militar de Abril de 1974, pós cobro integrado na lista partidária, do Partido Socialista – PS, fui eleito pelo povo. Assumi o compromisso de servir, nos melhores princípios dos ditames republicanos. Naquele tempo, o concelho estava muito carente de infractuturas básicas, que servissem a sua população. As sessões municipais, tiveram lugar inicialmente no salão da Casa do Povo e, decorriam dias e horas a fio, pois o concelho bem precisava de grandes decisões para o seu desenvolvimento socio-económico, patrimonial e cultural A presença dos autarcas neste órgão deliberativo e fiscalizador, não era remunerado, mesmo assim, todos sob pontos divergentes programáticos e partidários, tinham em comum dar o seu melhor, pois o desenvolvimento do concelho, estava em situação prioritária. Os princípios republicanos, fixados em 1910, exigiam que o povo, mais claramente os seus melhores filhos, fossem os dirigentes com a inteligência e dedicação para a resolução dos seus problemas da comunidade municipal. Assim, ser autarca era desempenhar uma função – era servir a coisa pública - embaído dos melhores valores cívicos, sem olhar a causas remuneratórias e poder político, que o beneficiassem pessoalmente. Foram cerca de 20 anos, estive disponível, ao serviço da minha comunidade, quer na Assembleia Municipal, quer na presidência da Assembleia de Freguesa de Salvaterra de Magos. Esta edição passados nove anos, tem agora depois de revista e aumentada uma nova publicação Março. 2015

JOSÉ GAMEIRO


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SER AUTARCA “SERVIR A COISA PÚBLICA”

Os finais do séc. XV, são um tempo que nos convida a ter contacto com a história das autarquias. Foi na Idade Média, que são criados os concelhos, cidades, vilas, coutos e terras, onde as câmaras municipais, envolviam no seu sistema administrativo, heranças medievais relevantes. Anos depois já no séc. XVI (1527-1532), são descritos, em documentação camarária, cargos políticos/públicos, que tinham o nome de ofícios como: Juiz-Presidente (ordinário ou de fora), Vereador, Procurador e Tesoureiro. Eram cargos eleitos localmente, para as câmaras concelhias, ou o chamado “Senado”, sendo os participantes pessoas não remuneradas. As Paróquias, também tinham lugar no seu ordenamento jurídico, desempenhados pelo pároco local, que se fazia acercar de alguns paroquianos para o exercício dos registos paroquiais (baptismos, casamentos, óbitos, etc.). No séc. XVIII, a governança dos concelhos, no Antigo Regime, ainda era acometida aos ligados à nobreza. A legislação sobre o estado-nação, foi-se consolidando como se impunha, e a sua prática teve grandes desenvolvimentos nesta área politica/administrativa de Portugal.


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As alterações, foram lentas na área do municipalismo, ao longo dos séculos, e só com Liberalismo, em 1836, as grandes reformas foram introduzidas na legislação do país. Muito desse trabalho foi atribuída a Mouzinho da Silveira, onde se encontram novas denominações administrativas, como a Província, e a Comarca, permanecendo o Concelho. Eram instrumento, que visavam modernizar Portugal, nesta área organizativa., que detinham órgãos, compostos; por: JuntaGeral de Província, Junta de Comarca e Câmara Municipal do Concelho. Os detentores destes cargos, eram conhecidos por: Perfeito, Subprefeito e Provedor. O Provedor do concelho, para além de fazer respeitar as decisões administrativas, “era o único e exclusivo depositário da autoridade local”, e tal como o Perfeito e Subprefeito, eram todos nomeados pelo rei, mas pouco tempo durou este sistema organizativo. José da Silva Passos, foi encarregado de estudar um outro novo código para a administração pública local. Deste documento, saiu, que em Portugal, tivesse Distritos, Concelhos e Freguesias (Junta da Paróquia), com os principais dirigentes políticos: Administrador-Geral do Distrito, Administrador do Concelho e Regedor de Freguesia. O séc. XIX, foi fértil em alterações políticas ou constitucionais, o campo administrativo estava constantemente a sofrer mudanças, nos


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seus órgãos, com incidência nos cargos dos seus representantes. No regime republicado, nascido em 1910, nova legislação foi discutida e José Jacinto Nunes, teve ampla participação nos debates, na Assembleia Constituinte, de 1911, a lei que foi mais defendida, encorpava, um regresso ao sistema monárquico: Distritos, Concelhos e Paróquias Civis (ou freguesias). No entanto dois anos depois, em 1913, uma novidade é introduzida, no seu código eleitoral, determinando que só tinham capacidade eleitoral, “os cidadãos portugueses do sexo masculino, maiores de 21 anos, que soubessem ler e escrever” , os chefes de família que fossem analfabetos estavam inibidos daquele acto cívico. O novo sistema, prometia aos municípios mais autonomia, e mais poder político, mas na prática as leis, apenas foram sentidas ao nível administrativo, verificando-se continuar “apertados” os seus meios de financiamento. Mais tarde, em 1928, António de Oliveira Salazar, quando do discurso da tomada de posse, como Ministro das Finanças: corporizou o sistema do Estado Novo, com a célebre frase: “Sei

muito bem o quero e para onde vou”

Estava assim instalado o sistema corporativo, que levaria Portugal a quase meio século de ausências mais elementares dos direitos cívicos dos cidadãos.


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Salazar, reforçou a sua ditadura, com outra reforma administrativa, levada a cabo em 1933, que transformou a vida económica e social de Portugal. Para além de mais poder para os governadores civis, os presidentes de câmara, tinham agora um outro grande papel a desempenhar, o seu poder político sobre o povo era maior. O povo rural, continuava a sentir as agruras de uma vida miserável, enquanto os operários fabris, por serem uma classe mais esclarecida, viam sem satisfação os seus mais elementares direitos satisfeitos. As novas leis de 1933, outorgavam aos municípios, receitas próprias, destinadas a pequenas reparações e conservação do seu património, pois os grandes investimentos, em obras públicas, tinham origem apenas no estado, através dos Ministérios das Finanças e Obras Públicas. As grandes construções, como estradas e escolas uma iniciativa do Estado Novo,, passavam ao lado dos executivos camarários, até porque apenas lhe eram cometidas responsabilidades na sua conservação nas estradas municipais. O próprio orçamento anual de estado, previa uma grande “fatia”, para ser consumida pelos encargos do funcionalismo das autarquias, que eram considerados funcionários públicos. Os cargos políticos, das autarquias continuavam a ser preenchidos, através de convite. Sendo o governador civil, um


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representante do governo em cada distrito, este convidava o presidente da câmara, para um mandato de três anos e este por sua vez convidada os seus vereadores, que teriam que ter o aval do representante governamental no distrito. Os ocupastes dos cargos, tendiam a perpetuarem-se, no direito adquirido, de autoridade local. Era uma tendência natural, com hábitos de um passado de muitos séculos, só atenuados com as eleições, nascidas com a revolução de Abril, de 1974. O sistema republicano, de início tinha criado cargos como: Administrador, Regedor, Presidente da Paróquia, e Cabo-chefe, mas a reforma de 1933, aligeirou os cargos aos de; Presidente do executivo da Câmara Municipal e Presidente da Junta de Freguesia e pouco mais. Da nova constituição portuguesa, após o golpe militar de 1974, saíram novas normas para a primeira eleição democrática de 1976, para as autarquias. Um Presidente da Câmara Municipal, e seus Vereadores. Uma Assembleia Municipal, com um número de Vogais (deputados municipais), de onde se escolhe o seu Presidente. As Juntas de Freguesias, por estarem ainda mais próximas das populações, passaram a ter um executivo, composto por um Presidente, um Tesoureiro e um Secretário, uma Assembleia de Freguesia, com os respectivos Vogais locais.


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Com este novo sistema político encontrado, após sufragados nas urnas, por uma legislatura de quatro anos, onde os partidos políticos são o seu suporte. A lei actual não estabelece o número de mandatos, que os autarcas podem estar nos cargos, mas amiúdas vezes a comunicação social, dá conta, que no país, se verifica nestes órgãos municipais, graves irregularidades, e tendências são detectadas para governar o povo sob coacção, pois são-lhe mostradas “obra feita”, onde nunca foram chamados a dar a sua opinião se precisavam dela, ou não. É uma nova forma de granjear votos, que conduzem certamente à permanência no apetecido cargo político. Decerto continuam a ser hábitos e vícios, acumulados ao longo da história de Portugal, que ainda permanecem, na raiz de muitas mentalidades humanas. Muitos especialistas em direito/político, e ciências humanas, reflectem que, desempenhar um cargo de autarca, é um dever cívico de cada cidadão, que não é imposto, e assim deve ser desempenhado. O povo deve ser ouvido nas grandes decisões politicas a tomar, até porque muitas das vezes, não são para a comunidade, as mais prioritárias. Os autarcas devem ser desprendidos do poder, e estar ao serviço da coisa pública !

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A ÚLTIMA CRISE AUTÁRQUICA, AINDA NO ESTADO NOVO

Com a saída de José Pinto Figueiredo, em 1969, uma crise na administração da Câmara do Concelho de Salvaterra de Magos, se instalou, pois foi moroso encontrar pessoa indicada para a substituição. O Vereador, António Pombeiro Fevereiro, ocupou o cargo a título provisório, sendo empossado definitivamente, em 1973, após despacho e concordância, do Governador Civil de Santarém. Em título de página o jornal “Aurora do Ribatejo”, na sua edição de 15 de Abril daquele ano, o autor assinava a notícia, dada por aquele quinzenário regional, com sede em Benavente. “ Após morosa crise que chegou a despertar interesse entre todas as camadas sociais do concelho de Salvaterra de Magos, foi finalmente promovido no cargo de Presidente da Câmara Municipal, António Filipe Pombeiro Fevereiro. Empossado a titulo definitivo, após despacho e concordância, do Governador Civil de Santarém, em 1973. Homem, simples e de trato fácil, este Pombeiro Fevereiro, vinha de uma geração que entrou ao serviço da RARET e, primava pela clara educação. Quer, ainda como Vereador, quer depois como Presidente, para si todas as horas estavam disponíveis para atender os munícipes, que acalentavam a resolução dos seus problemas. Depressa passou a estar no goto da população, pois entendia que o cargo ocupado, era para servir o povo, e não dele serve-se.


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Pouco tempo teve de mandato, um ano depois, da sua posse, Pombeiro Fevereiro, viu-se substituído, tinha acontecido a revolução dos cravos, em Abril de 1974” NOVA GERAÇÃO DE AUTARCAS

Nos dias que se seguiram à revolta dos capitães de Abril de 1974, Portugal vivia novos tempos de liberdade. Os Governadores Civis, tinham sido substituídos, por representantes da Junta Militar, que entretanto dava os primeiros passos para entregar a governação do país aos civis. Os cargos autárquicos, foram ocupados, por aderentes àquele movimento militar, que acabava de sair vitorioso. Em Salvaterra de Magos, Leonardo Ramalho Cardoso, tomou posse como presidente de uma Comissão Administrativa que, devia gerir os destinos do município, até às primeiras eleições livres, o que aconteceu em 1976. Leonardo Cardoso, em eleições livres, concorrendo em lista do Partido Socialista (PS), recebeu um mandato do povo do concelho, para gerir o município 4 anos. Tempos depois, em 1979, sendo vítima de um acidente de viação, viria a ser substituído por Rafael Pereira Júnior, (CDU), então Vereador em exercício de mandato, mas uns meses volvidos, o executivo caiu.


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Para terminar a legislatura, foi nomeada uma Comissão Administrativa, presidida por, Rafael João Alcântara Ferreira da Silva, (PS), onde esteve de 1 de Agosto de 1979 a 9 de Janeiro de 1980. Sujeito a eleições nesse ano, foi eleito nas listas do PS, tomando posse em 9 de Janeiro de 1980, cumprindo o resto da legislatura até 1982 Naquele ano de 1982, um novo candidato pelo PS, se perfilou na agenda política do concelho, António da Silva Ferreira Moreira, ganhou as eleições e, o mandato terminou em 1985. António Moreira, com uma recandidatura, nesse ano para um novo mandato (1985-1989), situação que se verificou no mandato seguinte (1989-1993) em que foi novamente eleito. Candidata-se, novamente para os quatro anos seguintes (1994-1997), e volta a ganhar, mas no decorrer do mandato, em 1997 abdicou por motivo de doença, em favor do Vereador, o antigo Deputado na Assembleia da República (PS), Dr. José Manuel Oliveira Gameiro

dos Santos. Gameiro dos Santos , sujeita-se às eleições, para o mandato

(1997-2001), perde em favor de Ana Cristina Ribeiro Pardal, cabeça de lista da CDU. Esta autarca, no decorrer da legislatura municipal, entrou em litígio com a representação politica que a elegeu (CDU-PCP) e afasta-se da orientação partidária desta coligação. Recandidata-se, para o mandato (2001/2005), em nome de uma nova coligação, o Bloco de Esquerda (BE), e ganhando a eleições, continuou à frente dos destinos do município do concelho de Salvaterra de Magos, nas outras


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eleições até terminar o seu mandato no final de 2013, sempre numa maioria absoluta. Logo ao iniciar o seu primeiro mandato, não deixou de causar grande polémica, entre outras decisões o afrontamento com os seus adversários políticos, casos que a comunicação social foi dando conta, pois enchiam as páginas dos jornais regionais. Os funcionários da autarquia, também sentiram o peso da sua presença, não deixou de colocar vários funcionários em situação de desobrigação funcional, o que depressa levou a vários processos judiciais, entrepostos por estes. Foi um tempo que ficou conhecido “mais um para a prateleira”. Algumas das funcionárias atingidas depressa entraram em grandes depressões, que as levou ao acompanhamento médico durante largos meses. Os anos dos seus mandatos com executivos folgados, foram cheios de decisões que parte da população considerava de grande arrogância, no “eu, quero posso e mando”, que envolveu também os vereadores como: João Abrantes, ao tomar a aberrante decisão de mandar pintar um Fontanário considerado um património urbanístico da vila, levando-o à sua descaractização original, Os confrontos verbais nas reuniões, levaram muitas vezes ao ataque pessoal, como numa Assembleia Municipal, um Deputado autarca da oposição, chegou ao ponto de lhe dizer “se os meus olhos fossem balas, decerto estaria morta!....” Cristina Ribeiro, no entanto manifestava um notório carisma de simpatia, especialmente no contacto público, onde o eleitorado feminino era preferencial, o que lhe davam o trato da “Presidente Anita”, o que a levou sempre a ser reeleita com


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maiorias absolutas, até esgotar o seu ciclo politico na autarquia do concelho de Salvaterra de Magos. Nas eleições para o mandato (2013-2017), o Engº Helder Esménio, como Independente nas listas do PS, foi eleito.

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ACTIVIDADE DA NOVA JUNTA DE FREGUESIA

A junta de freguesia de S. Paulo de Salvaterra de Magos, empossada provisoriamente depois da implantação do Regime Republicado de 1910, teve a árdua tarefa de dar provimento ao conteúdo da Portaria, assinada pelo Ministro da Justiça e Cultos, que confiscava a Igreja Paroquial, e seus bens, e ainda o edifício da antiga Capela, que foi do extinto Paço Real da Vila e seus pertences. Já os registos paroquiais, tinham transitado para os recém instituídos Registos Civis. Alguns anos depois, em 1918, procedeu-se ao Inventário daqueles bens da Igreja Católica, Com a sua restituição, em 1928 dando procedimento à Portaria 4978, de 19 de Agosto, foi constituída uma Comissão de Entrega encabeçada pelo Administrador do Concelho; José Eugénio de Menezes, e o Presidente da Corporação Fabriqueira da Igreja de Salvaterra de Magos. Estiveram presentes, para conferirem o Inventário da Entrega, por parte da Junta de Freguesia, o seu Presidente, José Ferreira Estudante, os Vogais; António Henriques Alexandre e José Sabino Assis. Por parte da Igreja, O seu Presidente; Pe. Manuel Lopes Dias, e os Vogais; Francisco Porfirio Albano Gonçalves e Ezequiel Augusto Gonçalves daquele ano. A Acta da entrega daqueles pertences, foi escrita por José Sabino Assis, ****************


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UMA OBRA DO EXECUTIVO DA JUNTA DE FREGUESIA A sede da Junta de Freguesia de Salvaterra de Magos, ocupava um espaço, no edifício camarário, onde anos antes esteve instalado o Talho Municipal, na rua Cândido dos Reis (rua S. António). O povo da Freguesia, especialmente a rural, que vivia em habitações precárias, muitas das famílias em construções abarracas, numa nova zona que após a implantação do novo Regime Republicano, tinha sido aforada, como o “Cafarro” entre outras. Na frente da Igreja Matriz, existia uma construção em madeira que servia de urinol, tal coo uma outra num recanto da frente do edifício da antiga Capela Real. Para terminar com tal situação, resolveu o executivo da Junta de Freguesia, mandar construir, um edifício que viesse a servir de sanitários e balneários públicos, e nova sede da Freguesia. A Câmara Municipal, colaborou doando um terreno, na nova rua “Trás da Igreja”. A nova obra, com sanitários novos e azulejos forrando as paredes dos balneários, ficou pronta, em 1938, sendo seu pedreiro; João Antão. A mulher salvaterriana, ainda debaixo de fortes preconceitos não usava aquela melhoria comunitária.


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ADMINISTRADORES DA CÂMARA MUNICPAL DE SALVATERRA DE MAGOS (1867-1935) 1867 – Luiz Ferreira Roquette de Melo Travassos 1871 – António Elizeo da Costa Freire 1871 – Rodrigo Ferreira da Costa 1872 – Luiz Ferreira Roquette de Melo Travassos 1873 – António Elizeo da Costa Freire 1879 – Joaquim Pedro da Costa Freire * Adm. Substituto 1879 – Joaquim Thomé D`Almeida Balthazar 1880 – Marcelino Augusto da Costa Monteiro 1881 – António Júlio da Costa, (Bacharel) 1882 – Bruno António Cardozo de Menezes de Abreu de Lima, ( Bacharel) 1887 – Ignácio Rebello D`Andrade 1890 – Daniel José Ferreira Dias 1898 – António José da Silva * Adm. Substituto 1900 – Joaquim Pedro da Costa Freire 1900 – D. João Costa Macedo 1903 – Ignácio Rebello D`Andrade * Adm. Substituto 1904 – José Clemente Ribeiro 1907 – Porfírio Neves da Silva * Adm. Interino


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1907 – Luiz Filipe Valente 1909 – Luís Filipe Valente 1910 – Ignácio Rebello D`Andrade * Adm. Substituto 1910 – António Marcos da Silva * Adm. Interino 1912 – Afonso Augusto Rodes Sérgio * Adm. Interino 1913 – António Bernardo * Adm. Interino 1914 – Sílvio Augusto Figueiredo * Adm. Interino 1914 – Joaquim Augusto Galvão ( Major/ Reformado) * Adm. Interino 1914 – Manuel António D`Almeida * Adm. Interino 1915 – Manuel Henriques Pereira * Adm. Interino 1915 – Sílvio Augusto Figueiredo * Adm. Interino 1916 – Álvaro da Cruz Barbosa * Adm. Interino 1918 – António Marcos da Silva * Adm. Interino 1918 – Ezequiel Augusto Gonçalves 1918 – Álvaro Maximiano Betâmino de Almeida (Alferes Milº) * Adm. Interino 1818 Alfredo Quintino Lopes de Macedo * Adm. Interino 1919 – João valente de Sousa Varela * Adm. Interino 1919 – Sílvio Augusto Figueiredo * Adm. Interino 1920 – José Filipe Portugal * Adm. Interino 1924 – João Nunes Vasco 1926 – Henrique José Ferreira Martins 1927 – António Sousa Vinagre 1932 – Ignácio Rebello D`Andrade 1933 – José Eugénio de Menezes 1935 – Luiz Ferreira Roquette


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PRESIDENTES DA CÃMARA MUNICIPAL (1855 – 1974)

1855 – António Joaquim Peixoto da Fonseca 1892 – José Luiz de Brito Seabra 1911 – José de Vasconcellos * Presidente Com. Administrativa 1912 – José Eugénio de Menezes* Vice – Presi. Com. Administrativa 1913 – José Eugénio de Menezes * Presid. Com. Adm. 1914 – António Marcos da Silva * Presid .Com. Adm. 1916 – Francisco Almeida Henriques * Pres. Com- Adm. 1917 – Manuel Apolinário Ribeiro * Presid. Com. Adm. 1917 – Joaquim Pedro Cardoso 1919 – António Paulo Cordeiro * Presid. Com .Adm. 1926 (1/10-30/12) – Henrique José Ferreira Martins 1927 (1/1-14/3) – António Sousa Vinagre 1927/33 (15/3/27-2/3/33) – José Eugénio Menzes 1935/37 (21/1/35-31/12737) José Luís Seabra Ferreira Roquette 1938/40 – Dr. António Viana Ferreira Roquette 1944/54 – Dr. Roberto Ferreira da Fonseca 1954/57 – José Luís Seabra Ferreira Roquette 1957 – Lúcio Martins de Sousa 1965/69 – José Matias Pinto de Figueiredo 1969/1973 – José Pinto de Figueiredo 1973/1974 – António Filipe Pombeiro Fevereiro


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ALGUNS ADMINISTRADORES E PRESIDENTES DA CÂMARA MUNICIPAL

SALVATERRA DE MAGOS

Luiz Ferreira Melo Travassos

Luiz Ferreira Roquette

Henrique José Ferreira Martins

Roberto Ferreira da Fonseca (Dr)

Lúcio Martins de Sousa

José Matias Pinto Figueiredo

Joaquim Pedro Costa Freire

José Luis Seabra Ferreira Roquette

António Pombeiro Fevereiro


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Leonardo Ramalho Rafael PereiraJúnior Rafael João A Cardoso Ferreira.Silva

António da Silva José Manuel Oliveira Ana Cristina FerreiraMoreira GameirodosSantos (Dr.) Ribeiro Pardal

Helder Manuel Esménio (Engº)


89 VOTAÇÕES EM ELEIÇÕES PARA A CÃMARA MUNICIPAL DE SALVATERRA DE MAGOS 1976* CDS PCP PS PSD Valores em %

-

30,7 % 48, 1 %

14,9 %

1979** INSCRITOS UDP 13088

VOTANTES 8956

ABTS. CDS 31,6%

-

APU

PS

32,4% 46,1%

PSD -

AD

18,5%

-

1982 12864 0,5%

8898

30,8%

- 36,4% 43,7%

-

14,3%

14580

9070

1985 *** PRD 37,7% - 18,2% 55,5% 10,1% 13,2% -

15492

9383

39,4%

1989 - 26,8% 50,4% 18,9%

1983 16140

9411

41,7%

- 23,5% 48,7% 20,2%

******************

* Em 1976 – O PCP, concorre como: APU ou FEPU ** Em 1979 – a AD, integrava o PSD , CDS e o PPM *** Em 1985 – O PRD, só é considerado neste ano. ******** Fonte: D.R. Nº 52 I Série B, de 3 de Março de 1994

-


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***************************** BIBLIOGRAFIA USADA: -

O Foral de D .Dinis, datado de 1295, Fernão Lopes, cronista do rei D. Fernando A. Pimentel “Portugal Restaurado” Revista Anual Jornal “Vida Ribatejana” - 1957 Boletim da Junta Geral do Distrito de Santarém, Ano 6, nº 43 – 1936 - Anais de Salvaterra de Magos “Dados Históricos desde o séc. XIV” – José Estevam - 1959 - Salvaterra de Magos “ Vila Histórica no Coração do Ribatejo” – Edições de 1985 e 1992 - Autor - Boletins (Revistas) da Câmara Municipal de Salvaterra de Magos - Revista Ilustrada “A Hora” - 1936 FOTOS USADOS: - Revista Ilustrada “ Hora” – 1936 - Revista Ilustrada “ Concelhos de Portugal” 1989 - Boletins (Revistas) da Câmara Municipal de Salvaterra de Magos - Revista Anual do Jornal “Vida Ribatejana” 1957 - Autor **************************


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CADERNO DE APONTAMENTOS Nº 26 Documentos para a História de

SALVATERRA DE MAGOS Séc. XIII – Séc. XXI Património: Geográfico, Monumental, Cultural, Político, Económico e Desportivo

O Autor: JOSÉ GAMEIRO

Social,


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Fotos da Capa: - Delegação do Partido Socialista (PS), de Salvaterra de Magos, numa Manifestação de Lisboa – 1975 *João Firmo Monteiro Ramalho, Joaquim Mário Antão, António Joaquim Ramalho, João Almeida, A. Banha (Coruche) e Mário Silva Antão.


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Primeira Edição FICHA TECNICA: Titulo: 0S DIAS QUE SE SEGUIRAM AO 25 DE ABRIL DE 1974 !

Tipo de Encadernação: Brochado - Papel A5 Autor: Gameiro, José Colecção: RECORDAR, TAMBÉM É RECONSTRUIR

Editor Gameiro, José Rodrigues Morada: Bº Pinhal da Vila – Rua Padre Cruz, Lote 49 Localidade: Salvaterra de Magos Código Postal: 2120- 059 SALVATERRA DE MAGOS ISBN: 978– 989 – 8071 – 27 – 9 Depósito Legal: 256479 /07 Edição: 100 exemplares – Março 2007


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*********************** 2ª Edição em PDF Revista e Aumentada – Março 2015 *********************** O autor deste texto não segue o acordo ortográfico 1990 Contactos: Tel. 263 504 458 * Telem.91905704 e-mail: josergameiro@sapo.pt


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O MEU CONTRIBUTO O país foi alertado. A rádio e televisão, davam as primeiras notícias naquela manhã de 25 de Abril de 1974, o país estava sob um golpe militar. Os jornais fizeram várias edições nesse dia. Eu, então jovem, levava uma vida social sossegada, arredado na contestação ao governo, por tudo quanto ele legislava e actuava, com a ditadura sobre o povo português, há cerca de meio século. Com 20 anos de idade, foi-me imposto servir o pais, 38 meses como militar no exército, existia uma guerra desde 1961, que tinha várias frentes e mobilizava toda a juventude portuguesa. Votei a primeira vez, aos 24 anos, com uma carta fechada, que me foi entregue através da autarquia. Naquela madrugada do dia 25, tão ansiosamente esperado pelos mais esclarecidos e, assumidos politicamente, mesmo que na clandestinidade, estava encontrada a luz no caminhar para a vida democrática do país. Na tarde e noite daquele dia, a população deu largas à sua imensurável alegria, foi tema de assunto nas ruas e nos cafés, muitos locais de trabalho fecharam nesse dia. O Primeiro de


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Maio, foi comemorado poucos dias depois, onde o povo se juntou como nunca se tinha visto, em várias capitais distritais, sendo Lisboa palco de uma manifestação com milhares e milhares de participantes. Nos dias seguintes, até mesmo meses, me fui apercebendo do que era realmente toda aquela felicidade, espelhada nos rostos das gerações mais idosas, pelo muito que já tinham sofrido, alguns com as agruras de anos de prisão. Os comícios dos partidos políticos, “realizavam-se diariamente” aqui em Salvaterra, esclarecendo o povo. Assisti praticamente a todos, a minha inclinação levou-me a seguir os ditames do programa do Partido Socialista (PS). Igualdade, Fraternidade e Solidariedade.!!

Março:. 2015

JOSE GAMEIRO (José Rodrigues Gameiro)


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OS DIAS QUE SE SEGUIRAM AO 25 DE ABRIL DE 1974 EM SALVATERRA DE MAGOS Já em 1933, em Salvaterra de Magos, alguns rurais desta terra, tinham experimentado o pesadelo de estar preso, por terem intervindo numa greve nacional, que teve a sua grande relevância no meio industrial, na Marinha Grande. Na década de 60, um outro grupo de pessoas, foram presas pela polícia política, a PIDE, cujos relatos da sua experiência, foram mais tarde, editados em livro, pela Câmara Municipal de Salvaterra de Magos. Na madrugada do dia, 25 de Abril de 1974, aquela liberdade de se exprimir, dando voz aos seus desejos e convicções, seria de agora em diante uma realidade para o povo, segundo o Movimento das Forças Armadas - MFA, no seu programa, que seria repor entre outras coisas, a liberdade de expressão, Enfim, a democracia..! O país esteve em festa, quatro dias depois, no dia 1º de Maio, data há muitos anos não comemorada em liberdade. A população de Salvaterra, também preparou os seus festejos, sem qualquer restrição. Daí em diante, os partidos e organizações partidárias, davam agora início a um vasto trabalho, de comícios e sessões de esclarecimento, na ânsia de “arregimentar” militantes e


100 simpatizantes para aderirem aos seus programas e propostas políticas. Praticamente todos os dias, e durante muitos meses, as novas forças políticas, promoviam os seus comícios em todo o concelho. Em qualquer espaço, bastava, colocar um atrelado, e logo um palco era concebido, para duas ou mais horas de propaganda política, o povo estava ansioso de tais conhecimentos, e as sessões estavam diariamente cheias. O Cinema, a par da sala da Casa do Povo e Praça de Toiros, também eram espaços disponíveis, para as muitas sessões políticas realizadas. Na freguesia de Glória do Ribatejo., a população aderiu com entusiasmo, e muitos responsáveis políticos nacionais, ali se deslocaram, Maria Barroso, foi lá várias vezes. Os panfletos, e a informação sonora diariamente completavam a presença de muitas individualidades, que faziam o esclarecimento do que era viver em democracia, dando como exemplo outros países europeus. No concelho de Salvaterra de Magos, com maior aderentes vingaram: o Partido Comunista Português (PCP) Partido Socialista (PS), e o Partido Social-democrata (PSD). O tempo decorria, a prática usada por cada uma das forças partidárias, foi-se estabilizando, mas actividade organizativa do PCP, era uma constante motivação entre trabalhadores, especialmente nas fábricas e nos campos. Tinham em mente a


101 luta na conquista do país, que chegou mesmo à ocupação de terras e saneamentos nas empresas em todo o território, estávamos nos anos 1975/76. Essas situações também aqui se verificaram, foram criadas comissões de trabalhadores , que passaram a ter um potencial poder, ultrapassando por vezes o patronato. O poder do estado, através da Junta de Salvação Nacional – JSN, tinha muitas vezes de intervir., com a força militar, através do COMCON. As forças extremistas de esquerda, queriam ainda mais, e depressa criaram, comissões de moradores . Em Salvaterra, estas estiveram prestes a formarem-se pois a influencia política do PCP, na população especialmente rural era determinante para isso existiram várias convocatórias de reuniões.. A actividade política no país, não abrandava, e em 1975, dá-se o PREC, onde o método golpista, estava a caminho do colectivismo, uma situação que levou a maioria do povo a fazerlhe barreira, e os confrontos foram inevitáveis, estava-se à beira de uma guerra civil. Os comícios instigando as classes trabalhadoras mais vulneráveis, passam a estar na ordem do dia, os operários e camponeses de Salvaterra, também não escaparam à sua manipulação. Naquele ano, em plena campanha agrícola, levou muitos agricultores da região, a organizarem-se numa Confederação - CAP, até porque em Setembro, é convocada uma greve, nesta zona. Disso deu conta o jornal o “Século”, na edição do dia 9, que aqui transcrevemos, até porque fomos nós o autor do texto.


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SALVATERRA DE MAGOS - Os trabalhadores agrícolas deste concelho entraram às 6,30 horas de hoje em greve. Esta decisão, tomada no plenário que se realizou ontem à tarde na Casa do Povo, assenta, fundamentalmente na não existência de assinatura do contrato colectivo de trabalho, que seria igual ao já celebrado para o concelho de Benavente, após um mês de conversações entre os trabalhadores e a comissão representativa dos agricultores. No plenário em que se tomou a decisão, estavam presentes trabalhadores das freguesias de Salvaterra de Magos, Muge, Glória e Marinhais e, foi ainda discutido o desemprego que se está a verificar na região e focada a manobra dos patrões que estão a dar trabalho a homens vindos de outros concelhos, nas vindimas e no tomate. Situação que está a acarretar problemas para os trabalhadores locais. Referiu-se que nos últimos dias, cerca de 700 pessoas vieram de concelhos diferentes, e estão a trabalhar nos campos. Acrescente-se, que a comissão pró-sindical, não apoiou esta greve., mas a verdade é que ela foi deliberada em plenário. Nesta conformidade, ela começou às 6,30, e foram formados piquetes para impedir que haja qualquer reacção ou perturbação.” Nos dias que se seguiram, numa manifestação levada a cabo, na capital do distrito, Santarém, os trabalhadores agrícolas, entraram em confrontos físicos com uma outra organizada dos agricultores da região.


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Na contenda, saiu morto um jovem, filho de um agricultor de Coruche, e naqueles encontros encontravam-se trabalhadores rurais do concelho de Salvaterra de Magos. Ainda em 1975, com as primeiras eleições, já no horizonte, mesmo assim, aqui um prédio foi ocupado, na rua Cândido dos Reis, notícia que saiu em vários jornais, entre eles o “Diário do Ribatejo”. Casas agrícolas, foram coagidas a defenderem-se com armas, pois andava no ar, a notícia, que pela mesma via, as suas terras seriam ocupadas, para uma posterior nacionalização, em favor das cooperativas agrícolas.

Esta era uma nova organização revolucionária promovida pelos trabalhadores, com o apoio do partido comunista, em muitas partes do país, com mais incidência, no Alentejo. O mesmo se passava nas fábricas, vindo mesmo algumas a fechar, por falta de condições de laborarem., muitas mesmo por sabotagem, como aconteceu em Salvaterra de Magos, com destaque na Organização Industrial de Cartões – ORINCA, SA, mais conhecida pela fábrica do papel, se viu forçada a fechar a


104 sua laboração. Nesta unidade fabril, além do autor destas linhas, saíram perdendo o seu ganha-pão, mais 60 chefes de família. Na altura foi referenciado um trabalhador, que estava muito activo, no PCP, aliás era uma política perfilhada pelo partido a nível nacional., conforme a comunicação social divulgava. Nas eleições de 1976, o primeiro governo constitucional, após a revolução de Abril de 74, em que o Partido Socialista (PS) foi o vencedor, entre outras medidas, concebeu no seu programa a levar a cabo uma política de desocupação das terras. A LUTA CONTRA A REFORMA AGRÁRIA Para uma cabal informação da população, o governo (PS), fez várias sessões de esclarecimento, das suas novas políticas para a reforma agrária. Para o dia 14 de Abril de 1977, foi anunciado um grande comício em Salvaterra de Magos, onde estariam presentes os ministro da agricultura; António Barreto, Manuel Alegre, António Reis e Jaime Gama. À hora marcada, o cinema local, encontrava-se totalmente esgotado, com muito povo na rua e, quando o ministro António Barreto, iniciava a sua intervenção, em vários locais da sala, começaram-se a ouvir palavras de ordem, que mais não eram do que provocações para destabilizar a reunião. Militantes, com responsabilidades no PCP. Alguns conhecidos de Alpiarça e Benavente, tentavam levar acabo o seu boicote.


105 Militantes do PS, de Salvaterra, e de outras concelhias de terras vizinhas, foram alvos de provocações e agressões, como: Arnaldo Serrão, António Fernandes e A. Banha, entre outros. O primeiro tendo um papel enrolando na mão, foi identificado como usando uma faca. Tudo serviu, para provocar a confusão. Estes factos, foram presenciados por jornalistas, nacionais e estrangeiros, que chegaram mesmo a transcreverem em pormenor gravações dos insultos. Nos dias que, se seguiram a troca de comunicados, a nível nacional e local, ocupou as páginas de toda a imprensa nacional e estrangeira, que não deixaram de analisar e condenar tão grave ocorrência. Naquela sessão, o ministro, António Barreto, reagindo às graves provocações, afirmou: “A hora da conquista acabou, meus senhores. Isto é Portugal, isto não é a Sibéria, isto não é uma Colónia” Este, e outros factos, ocorridos à época, foram o estalar do verniz, título usado na primeira página de um jornal diário. Tal episódio, pesou muito na normalização das relações partidárias entre o PS e o PCP, a nível local e mesmo nacional. Passados tantos anos, as mazelas. causadas, ainda têm resíduos, nessas gerações. A nível autárquico, a situação também era de grande complexidade, pois os eleitos tinham grandes dificuldades em exercer o seu mandato.


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Logo no dia 24 de Abril de 1977, para comemorar o 3º aniversário da revolução, uma grande delegação do PS, de Salvaterra de Magos, deslocou-se a Lisboa, para a manifestação que, teve lugar na praça de toiros do Campo Pequeno, tendo alguns jornais, publicado a sua foto na primeira página.

O país em 1978, continuava inseguro, e aqui em Salvaterra de Magos, na noite de 25/26 de Novembro, num muro, foram totalmente pintados com cal, um série de cartazes, que faziam o anúncio do aparecimento de uma nova central sindical, a União Geral dos Trabalhadores - UGT. Álvaro Cunhal e Mário Soares, figuras, mais representativas dos principais partidos políticos, estiveram várias vezes em comícios neste concelho. O Jornal “Aurora do Ribatejo”, na sua edição de 25 de Novembro de 1979, publica a notícia, que MÁRIO SOARES e, Candidatos do PS, iam à Glória do Ribatejo, no decurso da sua visita que fez ao distrito de Santarém.


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A MARCHA PARA A LIBERDADE !

( Do Largo do Rato ao Rossio ) Devido à grande tensão que o povo português vivia, e que poderia levar a iminência de um confronto civil, o Partido Socialista – PS, apelou à mobilização do povo para uma grande manifestação nacional, que teve lugar em Lisboa, em Novembro de 1979. A secção concelhia do PS em Salvaterra de Magos e, o núcleo da Glória do Ribatejo, mobilizaram a população do concelho a estar presente naquela marcha/manifestação. Devido à grande afluência de inscritos, viu-se a organização local, na necessidade de alugar alguns autocarros, para além das dezenas viaturas particulares, que também transportaram

manifestantes. A concentração, com descida pela Av. da Liberdade, culminou com um comício, na Fonte Luminosa, que a comunicação social da época, calculou em cerca de 100 mil presenças. Saliente-se que nos vários percursos do acesso a Lisboa barreiras, foram feitas, para impedir a deslocação de tal presença. Os carros ligeiros, foram os mais danificados e os seus ocupantes molestados fisicamente. Na ponte de Vila Franca de Xira, uma barreira impedia a passagem, e os confrontos ocorreram, com feridos graves.


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Mesmo naquele estado, não deixaram de marcar presença, na capital do país, alguns muitas horas depois. MANIFESTAÇÕES DE TRABALAHORES

Em 1983, na manhã do dia 5 de Fevereiro, um elevado grupo de seareiros e trabalhadores rurais, afectos a uma nova Confederação de Agricultores - CNA, onde estava presente o dirigente, Amândio de Freitas, a reunião foi junto à praça de toiros de Salvaterra de Magos, para uma manifestação.

De imediato, apareceu uma força policial da GNR, que tentou e conseguiu desmobiliza-los, alegando que aquele encontro não estava oficializado, pelo governo civil do distrito. A polícia de choque, com cães estava por perto. Em plena governação da


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coligação (Aliança Democrática) - AD, com os partidos PSD e CDS, o povo manifestava-se em todo o país, descontente, pois o nível de vida estava insuportável, o desemprego era uma constante.

Nota: O autor destas linhas, publicou no jornal partidário (Acção Socialista) um carton, onde fazia alusão a essa situação sócio- económica. Tal colaboração deu azo, que na Assembleia da República o assunto fosse glosado e, alguns jornais estrangeiros dele deram destaque.


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A GUERRA DOS COMUNICADOS

Com projectos diferentes para o concelho, as relações democráticas continuavam algo tensas, especialmente entre os dois partidos mais representados na autarquia de Salvaterra de Magos: PS e PC/ CDU Raro era o dia em que não eram emitidos Comunicados, onde se acusavam mutuamente, por aquilo que não faziam ou deixavam de fazer ! ******************


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BILIOGRAFIA CONSULTADA: * Jornal “Diário do Ribatejo” * Jornal Diário “ O Século “ * Jornal “Semanário “Aurora do Ribatejo” * Jornal “ Acção Socialista” * Jornal Diário “ Jornal Novo” * Jornal “ O Diário” * Comunicados do PCP e do PS * Documentação recolhida pelo autor FOTOS USADAS Pág.6- Os componentes da mesa, na Sessão de Esclarecimento “O Fim da Reforma Agrária;: * Joaquim Mário Antão, António Reis, Manuel Alegre, Jaime Gama, Leonardo Ramalho Cardoso e outros * Pág. 7 – Jaime Gama e Leonardo Ramalho Cardoso (Presidente da Câmara de Salvaterra de Magos) * Olímpia Cardoso, foto publicada em diversos jornais, após agressão sofrida, na Sessão s/ a Reforma Agrária * Pág. 8 – Muro da “Horta do Sopas”, na EN 118, em Salvaterra de Magos, com os cartazes da nova Central Sindical – UGT, pintados a cal * Pág. 9 – Os manifestantes, em Salvaterra, ocupando os lugares nos autocarros (na frente o autor) * Em Lisboa, a delegação do PS, ocupando lugar no desfile da manifestação até ao Rossio – Fonte Luminosa * Pág. 10 – Manifestação junto à Praça de Toiros de Salvaterra de Magos –


112 No uso da palavra o dirigente político, Amândio de Freitas (Sindicalista)* Oficial da GNR, desmobilizando o comício * Amândio de Freitas, muitas anos depois, ainda ligado ao associativismo patronal agrícola * Pág. 11 – Carton do autor, publicado em diversos jornais.


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CADERNO DE APONTAMENTOS N.º 27 Documentos para a História de

SALVATERRA DE MAGOS Séc. XIII – Séc. XXI Património: Geográfico, Monumental, Cultural, Político, Económico e Desportivo

Autor: JOSÉ GAMEIRO

Social,


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Primeira Edição FICHA TECNICA: Titulo: A ORIGEM DA CASA DO POVO, E O SEU RANCHO FOLCLÓRICO

Tipo de Encadernação: Brochado Papel A5 Autor: Gameiro, José Colecção: RECORDAR, TAMBÉM RECONSTRUIR! Editor Gameiro, José Rodrigues Morada: Bº Pinhal da Vila – Rua Padre Cruz, Lote 49 Localidade: Salvaterra de Magos Código Postal: 2120- 059 SALVATERRA DE MAGOS Edição – 100 exemplares – Março 2007 ISBN: 978– 989 – 8071 – 28 – 6 Depósito Legal: 256480 /07

É


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Fotos da Capa: Edifício da Casa do Povo- 1960 *Rancho Folclórico Casa do Povo – 1980 (Apresentação Pública)


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******************** 2ª Edição em PDF Revista e Aumentada – Março 2015 ************************** O Autor deste texto não segue o acordo ortográfo de 1990 Contactos: Tel. 263 504 458 * Tem. 918 905 704 E-mail – josergameiro@sapo.pt


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O MEU CONTRIBUTO Em 1951, quando entrei na escola primária, recebi o apoio social da Casa do Povo de Salvaterra de Magos. Foi distribuído gratuitamente pelos filhos dos sócios – os livros escolares. Outras Associações, estavam actuantes na terra, caso da Associação de Socorros Mutuo, e Caixa de Crédito Mutuo Agrícola e Grémio da Lavoura. Os Sindicatos dos Marítimos de Salvaterra de Magos, e o dos Trabalhadores Rurais do Concelho de Salvaterra de Magos, já tinham tido o seu tempo, foram extintos, em 1933. A Caixa Mútua Agrícola, resistiu ao tempo, funcionando agora também como instituição bancária, em grandes instalações numa avenida da vila. A oferta de dois livros escolares - um livro de leitura de português, e um de geografia de Portugal, eram o inicio dos apoios sociais daquela Instituição. Nem todas tiveram acesso a tal “brinde”, apenas os filhos dos associados com a quota em dia, o que era muito difícil naquele tempo. Era uma vaidade mostrar aquela preciosa oferta, aos colegas de escola. Pouco depois, foram alargadas as actividades sociais da Casa do Povo, um médico da terra, passou a fazer consultas médicas num pequeno gabinete preparado para o efeito. Na área desportiva, passou a apoiar algumas tentativas, para a organização de uma equipa de futebol, que a representa-se. A


119 Casa do Povo, inaugurada em 1935. numa instalação precária, 34 anos depois em Julho de 1969, viu-se alargada com um Pavilhão Desportivo, uma colaboração da FNAT Depressa um grupo de jovens que estavam interessados, na prática do Andebol, modalidade, que trouxe alegrias para a massa associativa da terra, através da Casa do Povo, durante os anos da sua passagem pelo desporto cooperativo. No campo cultural, também vincou a sua presença, com a passagem de filmes didácticos, uma forma de entretinimento e ajuda a erradicar o grande analfabetismo existente, na sua camada associativa.

Março: 2015

JOSÉ GAMEIRO (José Rodrigues Gameiro)


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A ORIGEM DA CASA DO POVO DE SALVATERRA DE MAGOS A implantação da República, tinha ocorrido havia já 20 anos, a população de Portugal continuava a viver uma pobreza desoladora, o povo de Salvaterra de Magos, a ela também não tinha escapado. Na terra não existiam instituições de apoio social e económico, apenas o Montepio Geral, tinha aqui uma Delegação de Lisboa. A população na sua maioria vivia do sustento do trabalho no campo. Os Invernos todos os anos deixavam grandes marcas de devastação, pois o tempo chuvoso muitas vezes começava por volta do S. Martinho e só em Março do ano seguinte levantava, era quando os campos começavam a ficar secos das cheias, e se iniciava um novo ano agrícola. Os comerciantes locais, vendiam a crédito durante aqueles meses, às famílias de menores posses que, só na plenitude do Verão satisfaziam toda a sua dívida., pois os trabalhos duravam até às vindimas. O Estado, naquele tempo estava a implementar o aparecimento de Casas do Povo, na base de uma nova reforma administrativa e social no país, onde o trabalhador rural teria de ser associado, para terem direito a algumas regalias.


121 As últimas greves, que assolaram o país, na indústria e no campo, tinham deixado marcas profundas, nas classes rural e operária. Os benefícios esperados nas Casas do Povo, tinham por base, o auxílio na doença, no desemprego e velhice. Na área cultural, a escolaridade obrigatória para crianças no país, dava os primeiros passos. Os adultos recebiam apoios da câmara municipal, nas diversões, especialmente na reliazação nos bailes. Um homem bom da terra, o benemérito, Gaspar da Costa Ramalho, proprietário e lavrador, pensou ajudar aquela gente das misérias que, ia passando e após grandes insistências junto do poder político central, em 15 de Agosto de 1935, foi concedido alvará, para criação de uma Casa do Povo, em Salvaterra de Magos. Em 6 de Outubro daquele ano, mobilizando boas vontades de outros lavradores, fundou aquela instituição. Para tal disponibilizou um seu edifício, na rua Cândido dos Reis, e suportou o custo da renda no valor de 600$00 por ano, bem como o ordenado de um funcionário. Foi o seu primeiro presidente da Assembleia-geral, com Francisco Ferreira Lino e Augusto Dias A Direcção, ficou a cargo do: Presidente; António Neto, Tesoureiro; Caetano Ferreira Vasco e José da Silva Sardinha, como Secretário. Em 27 de Março de 1938, quando de novo mandato, os seus órgãos estatutários, ficam constituídos assim: Mesa da Assembleia-geral; José Adelino Fernandes da Silva, Ernesto Avelar da Costa Freire e Augusto Dias.


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Direcção: António Carriço, Jerónimo Ferreira Tabaco e Jerónimo Duarte da Fonseca. Em Junho daquele ano de 1938, a instituição, iniciou a sua actividade na assistência aos seus sócios desvalidos, sobressaindo os apoios na doença. Ainda mesmo fase do inicio da sua criação deu o contributo no recrutamento de alguns jovens rurais para estarem presentes na grande Exposição-Feira a realizar, naquele ano na cidade Santarém. A delegação presente naquele evento ribatejano, mobilizou campinos a cavalo, vestindo a preceito que estiveram na parada de abertura. No cortejo etnográfico os trabalhadores rurais do concelho de Salvaterra, incorporaram outros representantes das freguesias, especialmente de Muge, mostrando estes a forma da actividade de valadores. Quanto aos da sede do concelho, mostraram alguns passes de dança, com cantares e música apropriada como os Viras. Estes foram ensaiados durante algumas semanas pelo membro da Comissão de Salvaterra credenciada naquele certame – Rafael dos Santos Gonçalves. No campo do desemprego, a sua acção foi logo de início posta à prova, confirmada no final do ano de 1937, onde 354 trabalhadores tinham sido apoiados, com distribuição por diversos serviços, nas reparações de valados. Nesta área de apoio, à criação da Casa do Povo à população teve mais uma vez grande acção, Gaspar Costa Ramalho, que se juntou à Junta Autónoma das Obras da Hidráulica Agrícola, e à Junta. da Hidráulica do Tejo, que requisitaram trabalhadores da vila, então considerados. os melhores Valadaros da região, para recuperarem os valados junto ao Rio Tejo e Vala Real.


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O Primeiro curso de ensino escolar para adultos, foi em Novembro, com a ajuda do professor primário, Manuel Pinhão Júnior, e teve a frequência de 36 alunos.

O EDIFICIO DA CASA DO POVO Conhecendo a benemerência, que o lavrador Gaspar da Costa Ramalho e outros lavradores, levavam a cabo junto dos


124 trabalhadores agrícolas, do concelho de Salvaterra de Magos, pesou na decisão do ministro das Obras Públicas, em construir um novo edifício para sede da Casa do Povo de Salvaterra de Magos, que contou com o apoio da câmara municipal, disponibilizando um terreno. A obra, foi construída pelo estado, tendo o contributo de um valioso auxílio do Grémio dos Armazenistas de Mercearias. Nesta nova e moderna construção, passaram os sócios a terem assistência médica e enfermagem, no campo desportivo, criou-se uma equipa de futebol, Mais tarde, um outro salvaterrense, Dr. Manuel Rebelo de Andrade, que exercia a função governativa, de Subsecretário de Estado das Corporações e Previdência Social, promulgou o DL 30710, que reformulou as obrigações das Casas do Povo Deste documento, publicado em 1941, os dirigentes da Casa do Povo de Salvaterra, retiraram grandes dividendos, passando a uma nova fase da sua obra assistencial ao povo rural. Tempos depois, aquele político, foi convidado e aceitou exercer o cargo de Presidente da Assembleia-geral, e com o seu desempenho mobilizou os outros dirigentes, a porem ao dispor dos associados outras formas de auxílio, como: Auxilio na compra de medicamentos, assistência nos Partos e Livros escolares aos filhos. Em 1964, novos associados tomaram posse, nos cargos: Assembleia-geral – José Lopes Ferreira Lino, Joaquim Pinto de Figueiredo e Augusto Dias, Direcção – Francisco Ferreira Geada, Jerónimo da Silva e Manuel Braga. Este grupo, deu andamento a um projecto vindo de dirigentes anteriores, para a construção de um pequeno bairro social., nos seus terrenos. O documento,


125 esteve em apreciação na câmara municipal, mas encontrou dificuldades nas decisões do executivo municipal e, acabou por não se concretizar. Ainda naquele ano, nas traseiras do edifício sede, foi construído um balneário que, os sócios usavam especialmente ao fim de semana, para tomarem banho O PAVILHÃO DESPORTIVO Utilizando algum terreno ainda devoluto, a Federação Nacional para a Alegria no Trabalho – FNAT, construiu e inaugurou no dia 20 de Julho de 1969, um pavilhão desportivo, conhecido pelo

1968 – Equipa de Andebol da Casa do Povo de Salvaterra de Magos


126 Pavilhão do INATEL, nesta obra, como uma outra em Muge muito se empenhou para a sua concretização, José Matias Pinto Figueiredo, presidente da câmara municipal. No salão nobre do edifício da Casa do Povo, todas a semanas, e para promover a cultura através do conhecimento, os sócios tinham agora direito a uma sessão de cinema, cujos filmes eram escolhidos e fornecidos, pelos serviços da Secretaria de Estado da Assistência

Social.

1969 –As equipas de Andebol na Inauguração do Pavilhão

Construção Pavilhão do INTEL – Salvaterra de Magos


127 Também uma equipa de Andebol, passou a vestir as cores da sua camisola, pois um grupo de jovens tinha-se mobilizado para tal fim, passando a competir no desporto corporativo. Com as transformações verificada no país, após o golpe militar, ocorrido em 25 de Abril de 1974, nas suas instalações foram realizadas as primeiras Assembleias Municipais, que chegavam a durar dias e horas a fio. Um tempo depois, foram “requisitadas” e passaram a estar ao serviço do novo sistema da Segurança Social. A estrutura inicial da Casa do Povo de Salvaterra de Magos, estava assim condenada a desaparecer, como instituição de apoio ao trabalhador rural. Agora para recordação da Casa do Povo de Salvaterra de Magos, apenas existem a fachada do edifício, foi conservada, tendo no seu interior, para decoração, a telefonia, um antigo relógio de parede, para além de alguns troféus, conquistas gloriosas dos seus atletas de Andebol. Nos anos que se seguiram o edifício, passou a ser adaptado conforme as necessidades dos novos serviços ali instalados, as salas e gabinetes existentes deram lugar a um amplo espaço., no seu interior. Nos dias que correm, para recordação do que foi a Casa do Povo de Salvaterra de Magos, apenas a fachada do edifício, foi conservada e, no seu interior, ainda bem pouco tempo ali se conservam, uma telefonia, um antigo relógio de parede para além de alguns troféus, conquistas gloriosas dos seus atletas de Andebol. O RANCHO FOLCLÓRICO DA CASA DO POVO


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Em 1980, o Rancho Folclórico da Casa do Povo de Salvaterra de Magos, depois de muitos ensaios, desfilou pela principal avenida da vila, e fez a sua apresentação pública, na praça de toiros local, no dia 1 de Maio. Um dos seus primeiros dirigentes, resistiu a muitas vicissitudes próprias destes agrupamentos, como foi o caso de António Feliciano da Costa Jorge (António da Micaela), mais tarde ajudado por João Manuel Ferreira Monteiro (João Monteiro), que só deixaram de estar presentes quando a morte os levou, De inicio e durante alguns anos o Rancho mostrava a indumentária do campino e da camponesa, em dias de festa. divulgando a música e cantares do povo rural desta terra, que viveu em plena Lezíria Ribatejana, e que foi entrando em decadência com a entrada da mecanização no mundo rural no dobrar do séc. XX, Era um cenário, que encantava o espectador,


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mas mostrava apenas uma parcela do grande universo na questão da cultura do povo da Lezíria ribatejana. A indumentária, danças e cantares, mesmo que lentamente não ia resistindo à entrada de novo hábitos, especialmente do povo da Beira Litoral (Barrões) que em grandes ranchos, especialmente de mulheres (jovens moças) vinha para as terras da borda d`água trabalhar, por períodos de seis meses muito antes dos finais do séc. XIX, e ainda requisitada a sua presença no dobrar do séc. XX Com a sua filiação na Federação do Folclore Português, para daí obter os necessários apoios, teve o Rancho Folclore da Casa do Povo de Salvaterra de se sujeitar a mostrar todo esse potencial de riqueza etnográfica.


130 Durante o seu já longo historial, vai o Rancho da Casa do Povo, anualmente satisfazendo os convites para actuações no país e no estrangeiro, ostentando orgulhosamente prémios obtidos, mesmo em competições europeias.

Ainda com a presença daqueles dois colaboradores, que a morte levou prematuramente, os componentes do Rancho viveram a alegria de verem a construção de um edifício, que alberga a sua sede e espaço para os ensaios, uma obra que recebeu grande contributo do executivo camarário, chefiado por Ana Ribeiro. As Costureiras Em Salvaterra de Magos, na primeira metade do séc. XX, uma mão cheia de mulheres costureiras existiam a fazer roupas dos rurais, através de modelos que vinham do século anterior. O seu corte era a prática que lhe foi transmitido pelas gerações


131 passadas, através de roupa usada pela clientela para servir de tamanho e feitio Algumas ajeitavam-se para a feitura do calção, colete e jaqueta, traje de festa na terra. e até sabiam bordar as lindas ramagens (desenhos) nas costas destas últimas. As meias de lã, das Camponesas e dos Campinos, para aqueles dias domingueiros, eram feitas pelas esposas e filhas já maduras de idade. As raparigas mais novas enquanto namoradeiras também as ofereciam ao namorado campino . Na sua feitura, usavam duas agulhas e não deixavam de fazer bonitos desenhos, sendo os novelos de lã comprados nas lojas de retrosaria da vila. Nos anos de 70, já eram poucas as costureiras especializadas, uma ou outras dedicavam-se à roupa interior Homem e Mulher)), caso de Edla da Silva, que morava na rua de Água,, muitas vezes vista costurando à porta..

Edla da Silva – costurando à porta – rua d`água – 1967


132 *Foto de Eduardo Gageiro (Revista Seculo Ilustrado)

Mulher à soalheira – costurando * 1970 * Foto José Gameiro ( Rua dos Quartos)

OS TRAJES USADOS Quando do aparecimento do rancho folclórico da Casa do Povo de Salvaterra de Magos, em 1980, recorreu-se a uma das últimas costureira, que ainda sabia fazer este tipo de roupa, a idosa Elvira Santana. Era um vestuário do início do século XX, e ainda muito vestido até ao dobrar do século. A saia da mulher tinha uma roda (4 panos), franzida na cintura por um cós. A saia de castor, de cor vermelha, era usada por debaixo, na segunda posição.


133 Nos anos seguintes já depois da segunda metade só se usava nos dias festivos. A famosa saia de castor (hoje, conhecido como feltro de 15), tinha sido reduzido para três panos. No rodado da saia, mais tarde, já em 1960, era usual ver-se o tecido de nome “riscado”, na confecção das blusas (camisas), das mulheres e camisas dos homens, entrava a “populina”. O rancho folclórico da Casa do Povo, sendo o garante da preservação e divulgação desta forma de vestir do nosso povo, usa-as nas suas actuações, A mulher camponesa vestia assim: * Lenço de algodão com ramagens. * A camisa de piqué, com espigas e papoilas bordadas à mão, colarinho redondo e justa ao corpo. * A saia era de tecido de baeta vermelha, com barra bordada a ponto cruz com linha algodão preto, era toda pregueada.

Traje Domingueiro da Mulher, em Dia de Festa * Normalmente a camisa quando era despida as pregas alinhavavam-se com os dedos, ao meio e em baixo, colocada de seguida debaixo do


134 colchão para que ficasse sempre direita sem ter de ser passado a ferro. O avental era de tecido de marino preto, bordado à mão em tons de amarelo e azul, para sobressair sobre a saia vermelha. * As meias eram compridas, com canhão até ao joelho, de fio de algodão branco, feitas à mão e usadas apenas com o traje de gala. * Os sapatos, feitos em cabedal de cor preta, tinham salto de prateleira, embora mais pequeno, que o do homem.

Toda a roupa interior de pano branco, sendo a saia franzida com o folho, e bordado que era também franzido para dar mais roda à saia * O avental era de tecido de marino preto, bordado à mão em tons de amarelo e azul, para sobressair sobre a saia vermelha. * As meias eram compridas, com canhão até ao joelho, de fio de algodão branco, feitas à mão e usadas apenas com o traje de gala. * Os sapatos, feitos em cabedal de cor preta, tinham salto de prateleira, embora mais pequeno, que o do homem * Toda a roupa interior de pano branco, sendo a saia franzida com o folho, e bordado que era também franzido para dar mais roda à saia.


135

******************* **********

A REPRESENTAÇÃO DO CONCELHO DE SALVATRRA

NA EXPOSIÇÃO DE SANTARÉM - 1935

Naquele tempo era usual o tecido conhecido por “chita”, no vestuário da mulher, e o homem, no Verão Cotim (cinzento/militar), e no Inverno usava calça de tecido grosso (Sarrobeque / ou Xarrobeque – no dizer do povo)), de cintura alta, camisa de colarinho alto, barrete preto e colete branco/ou preto. A calça e camisa eram apertadas por uma cinta de cor


136 preta, bem como na mulher, cuja cinta fazia levantar um pouco o rodado da saia junto ao chão.

1) – A mulher que antecede, o Homem são os pais do autor (Felisbela Lopes Rodrigues e José Gameiro Cantante), e a que está a seguir é sua tia/Madrinha (Maria Lopes Rodrigues (Maria Ferreirinha)

O RANCHO FOLCLÓRICO TRABALHADORES DE SALVATERRA

O entusiasmo pelos usos e costumes ficou nos participantes do Cortejo de Santarém, de 1935, - Núncio Costa e sua mulher, e por diversas vezes tentaram organizar agrupamentos folclóricos, que mostrassem a sua terra – Salvaterra de Magos. Por volta de 1959, a sua iniciativa teve êxito apareceu, o Rancho Folclórico


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dos Trabalhadores Rurais de Salvaterra de Magos, que durou alguns anos Mais tarde em 15 de Maio de 1981, apresentou ao público, num espaço do Jardim Infantil da vila, um novo agrupamento de jovens, a que deu o nome - Rancho Infantil dos Trabalhadores de Salvaterra de Magos. Após o seu 11º festival, realizado em 8 de Agosto de 1992, não resistiram e ambos acabaram

************************** Traje do Campino * Barrete verde, com cercadura vermelha. * Colete vermelho, ou azul, atado com cordões na frente enfeitados com botões metálicos, mostrando nas costas, desenhos genuínos, feitos muitas vezes por familiares O ferro da casa agrícola (de que era trabalhador) era usado, no peito (lado


138 esquerdo), em ferragem latão/cobre, em forma de brasão ou emblema. * A cinta vermelha, de lã com franjas, tinha a função

de apertar o corpo para proteger o campino. * A camisa branca era justa de colarinho redondo * O calção, de fazenda rapada azul-escuro, era enfeitado com botões metálicos do lado de fora da perna. A meia era feita em algodão, tendo no canhão, desenhos feitos por familiares.

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139 ALGUMAS QUADRAS DO REPORTÓRIO DO RANCHO DA CADA DO POVO Lindos são os campos *Bebendo no rio como s empre o vejo ! * Tão belos os prados, que eu fico pensando, Lindos são os campos do meu Ribatejo ! Campina Chorando

* Eu vi o meu bem chorando, Com alegria sem par ! Com graça fiquei pensando, Não sabe rir sem chorar ! * Vi a videira vestida, O cacho a ela se agarra ! Tiram-lhe o fruto em seguida, O vento lhe leva a parra !*Eu sempre tive saudades, Das horas que vão passando ! Desta vida, da verdade, Desta campina chorando Ver o Ribatejo * És para mim tão lindo, * Hó meu Ribatejo ! * Lindas as verduras, * Que tens Léz a Léz ! * Vai passando o tempo, Mas sempre o teu Tejo ! * Vai beijando as margens, Com suas marés ! * Esse lindo gado, no campo pastando, * Bebendo no rio, como sempre o vejo ! * Tão belos os prados, que fico pensando, * Lindos são os campos do meu Ribatejo ! Aguadeira * Se fores à fonte, conta comigo! * Se lá não vais sofro castigo! * Aí que castigo tu vais sofrer! * Pois Aguadeira eu não volto mais a ser !


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Cheias no Ribatejo * Mulher, a cheia não vaza, Temos água em casa, o que vai ser de nós ! Eu sei, tu vais para a rambóia, Digo que, ando à bóia, e levantas-me a voz ! * Tu vês, tudo isto passa, E sempre com graça a Primavera vêm ! São lindas papoilas garridas, De dia floridas a graça que tem (Bis) * São belas, são lindas e não me causam dor, São sempre bem vindas, na Primavera em flor ! * Com a cheia em casa, te digo meu bem* Se a maré não vaza, daqui bato a asa ! * E a graça que tem ! * Tu vês, a cheia vazou,* Já tudo passou eu tinha razão ! Pois é só que tu não vês * Mas eu desta vez deixo o casarão !* Tu vês tudo isto passa, * E sempre com graça que Primavera vem ! São tão lindas papoilas garridas, De dia floridas a graça que tem ( Bis ) Olha o Melro *Plantei um milho no relvado Veio um Melro se assentou (bis) *O Melro sai de cima Que meu milho desfolhou (bis) Passaram-se os sete dias Mudei-me prá outro lugar Junto ao rio eu semeei * Mas o Melro quis voltar

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BIBLIOGRAFIA USADA: * Artigos do Autor, publicados, no Jornal Vale do Tejo – JVT

* N.º I - O Concelho de Salvaterra de Magos – Seu Povo, sua cultura! JVT N.º 129 – 1997/10/23 * Nº II - Salvaterra de Magos – O Rio Tejo na sua rota cultural - JVT N.º 130 1997/11/06 * N.º III - O Trabalhador rural, e a sua condição sócio económica! JVT N.º 131 - 1997/11/20


142 * N.º IV - O Povo Salvaterrense em busca da sua cultura JVT Nº 133 -1997/12/18 * N.º V - A Agropecuária em Salvaterra de Magos (1870-1935) - JVT N.º 134 * Nº VIUsos e costumes de um povo rural ! - JVT N.º 135 - 1998/01/15 * N.º VII – Ditos Populares ! JVT Nº 136 – 1998/01/29 * N.º VIII – Folclore, uma cultura a preservar! - JVT N.º 137 – 1998/02/1 * N.º XIX – Salvaterra de Magos – Sua riqueza florestal - JVT N.º 140 – 1998/03/26 * Anais de Salvaterra “José Estevam – 1959, Edições Couto Martins Fotos publicadas neste número: Do Autor * Autor Desconhecido (A/D) * Eduardo Gageiro (Revista Seculo Ilustrado) * Boletim da Junta Geral do Distrito de Santarém - 1936


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COLECÇÃO DE APONTAMENTOS N.º 28 Documentos para a História da SALVATERRA DE MAGOS Séc. XIII – Séc. XXI Património:


144 Geográfico, Monumental, Cultural, Político, Económico e Desportivo

Social,

O Autor: JOSÉ GAMEIRO (José Rodrigues Gameiro)

Primeira Edição FICHA TECNICA: Titulo: A ORIGEM DA SOCIEDADE COLUMBÓFILA SALVATERRENSE ! Tipo de Encadernação: Brochado – Papel A5


145 Autor: Gameiro, José Colecção: RECORDAR,TAMBÉM É RECONSTRUIR Editor: Gameiro, José Rodrigues Morada: B.º Pinhal da Vila – Rua Padre Cruz, Lote 49 Localidade: Salvaterra de Magos Código Postal: 2120-059 SALVATERRA DE MAGOS ISBN: 978– 989 – 8071 – 29 – 3 Depósito Legal: 256494 /07 Edição 100 exemplares – Março 2007

*********************** 2ª Edição em PDF Revista e Aumentada Março 2015 *********************** O Autor não segue neste texto o acordo ortográfico 1990 Contactos: Tel. 263 504 458 * Tem. 918 905 704 E-mail – josergameiro@sapo.pt Fotos da Capa: Ano: 2000 * Fachada do Edifício da Sociedade Columbófilas Salvaterrense

O Meu Contributo A Columbofilia como desporto, na sua já longa existência em Salvaterra de Magos, viveu uma das suas mais notórias fases de vida associativa, a partir da segunda metade do século agora a findar. Nesse


146 tempo, houve necessidade de motivar entre a população, novos adeptos para este hobby, e nos muitos que entraram, encontrava-se o meu pai, José Gameiro Cantante. Assim, na minha infância, tendo um pombal em casa, passei a conviver com os pombos e, muitas vezes para além da limpeza das instalações, também fiz de estafeta. O meu gosto pelas aves e pelo hobby columbófilo ficou ! De muito cedo, colaborei em publicações da especialidade, divulgando os resultados obtidos pelos pombos. nos concursos, semanais e seus donos – foram muitas horas e sono e de escrita consumidas nesta causa. Por volta de 1968, fiz-me columbófilo, pratica que durou longos anos, assumindo até o papel de dirigente columbófilo local, onde fiz a edição e publicação de um BOLETIM INFORMATIVO, da colectividade, que era distribuído aos sócios gratuitamente Vários jornais, dele se serviram pelos temas focados, como o Jornal de Gaia, em Julho de 1985. Um outro hobby, em 1991, a Ornitologia passou a ter mais um praticante – desisti da Columbofilia. Agora sete anos passaram é altura de uma nova edição revista e aumentada. Março: 2015 JOSE GAMEIRO (José Rodrigues Gameiro)

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SOCIEDADE SALVATERRENSE

COLUMBÓFILA

Historial


147 O Pombo é, das aves mais antigas que o homem domesticou, sendo da família dos columbinos, foi no pombo das rochas, que se encontrou aquele com maior resistência e sentido de orientação. Já no ano 1.000 a.C. se utilizava o pombo para comunicar a longas distâncias. Na Grécia antiga, quando da realização dos seus jogos olímpicos, ele era utilizado para levar as notícias dos vencedores, desde os locais das disputas. Na guerra, quando da derrota de Napoleão em Waterloo, a notícia chegou a Londres. através desta ave, o que também aconteceu com os jornalistas, que o utilizaram para fazer chegar aos jornais, os acontecimentos ocorridos nas I e II guerra mundial. A columbofilia, como desporto tem as suas raízes conhecidas na Bélgica, tanto em Antuérpia, como em Liege, se utilizava o pombo-correio, como hobby, em competições desportivas/concursos, nos finais do séc. XIX. Sendo um desporto, onde o virtual praticante é o pombo, o homem na qualidade de “manager”, tem um papel preponderante, o que o obriga a conhecer um pouco de zoologia. **** Na foto – Em 1955 * José Gameiro, recebe os prémios de seu pai – José Gameiro Cantante O pombo-correio, é uma ave de pequeno porte, pesando entre 450 a 500 gramas, consegue no entanto e, com tempo de feição,


148 fazer percursos de fundo e grande fundo na linguagem desportiva. Um pombo de um praticante desta colectividade, na década de 70, fez um voo de 600 Kms, num concurso, à velocidade média de 1.250.630 metros, por minuto. O pombo, ao longo dos tempos sofreu constantes cruzamentos, tendo-se conseguido uma ave potencialmente mais veloz e, com um poder de orientação mais evoluído., estando a prática da columbofilia ramificada por todo o mundo

I A ORIGEM No princípio deste século, consta que alguns portugueses de posses mais abastadas, fizeram a introdução de alguns pomboscorreio, em Portugal, vindos da Bélgica, sendo destinados à reprodução, dando origem às primeiras colónias em pombais particulares. Depressa é adoptado por todas as camadas sociais, e nos maiores núcleos populacionais do país, são constituídas colectividade/grupos columbófilos. Em Lisboa, em 1927, é constituída a Sociedade Columbofilia do Centro de Portugal, e é aí que José Vicente da Costa Ramalho,


149 abastado lavrador nesta terra, foi-se inscrever como associado para voar os seus pombos-correio. Costa Ramalho, fazia chegar os seus pombos a Lisboa, por caminho-de-ferro, via estação de Muge. Às sextas-feiras, fazia deslocar àquela estação, um carro atrelado a um cavalo, transportando os cestos de verga, com as. aves Recebidas naquela colectividade, eram registadas e depois de serem portadoras de uma anilha de borracha numerada, seguiam viagem para várias localidades do país, servidas por caminho-de-ferro, onde eram soltas no domingo de manhã.

II Nesta segunda fase, o entusiasmo por este desporto, depressa fez “nascer” muitos pombais nesta zona do Ribatejo, e uma delegação daquela colectividade lisboeta, foi instalada em Salvaterra de Magos, conforme se pode apreciar numa acta de reunião, de 13 de Maio de 1932. “Às vinte e duas horas no dia treze de Maio de mil novecentos e trinta e dois, reuniram-se em assembleia geral, na sede do Grémio Salvaterrense, devidamente sedida para este fim, e pela nomeação dos sócios gerentes foi “nomeada” uma comissão dos digo nomeados os seguintes sócios senhores Justiniano Ferreira Estudante, José Vicente Costa Ramalho, João Roberto Ferreira da Fonseca, afim de procederem à eleição dos corpos gerentes que hão de gerir os destinos da Delegação, durante o presente ano, bem como a aprovação seguinte: quota da sociedade; foi junto aprovado o seguinte: Procedendo à eleição foi dado o


150 seguinte resultado: Concelho Executivo; Presidente, João Roberto da Fonseca, Secretário; Silvio de Figueiredo, Tesoureiro Justiniano Ferreira. Concelho Técnico, Presidente José Vicente Costa Ramalho, Secretário: António Mendes; Vogal, Jacinto Lopes Magalhães. Assembleia Geral; Presidente, José Sabino d`Assis; 1º Secretário, Joaquim Nunes; 2º Secretário, José Luis Mendes: Mais foi aprovado que a quota da Delegação ... de 2.50, e a joia de entrada de 5.00, foi autorizado a confecção de um carimbo de borracha e o aluguer de casa para a Delegação. Nada mais havendo a tratar, foi pelo presente encerrada a sessão, pelo que vai ser assinada pela comissão que presidirá à reunião e por todos os sócios presentes.* Justiniano Ferreira Estudante * José Vicente Costa Ramalho * João Roberto Ferreira da Fonseca* João Ferreira Vasco * António Augusto Cabaço * José Luís Pinheiro * José Luís Mendes * Jacinto Lopes Magalhães * Fernando de Sousa Marques * Joaquim Luis Nunes * Fernando Luiz Neves * Beningo Gonçalves * Manuel Lopes Gonçalves Júnior * Rafael Fernandes Roquette * António Mendes dos Santos” Nos concursos elaborados, pela Delegação de Salvaterra, para além dos muitos nomes atrás referidos, um outro se lhes tinha juntado, Gonzaga Ribeiro, acabado de aqui se instalar como fiscal das obras da Barragem de Magos. De terras vizinhas, vieram: Carlos Sabino Paim, Vitor Caratão, José Rico Raio, de Benavente, João Figueiredo Tomás, de Coruche, Domingos Teodoro, e Lúcio David, Muge. O desporto Columbófilo, depressa passou a ser um desporto de massas, sendo a terceira grande modalidade desportiva implantada no nosso País. Não foi por acaso, que o pombo-correio passou a ter no Dec.-Lei nº36.767 de 28/02/48, a necessária protecção


151

III Com o progresso constante, houve necessidade de modificar as infra-estruturas existentes, a Delegação, existente da Sociedade Columbofilia do Centro de Portugal (Lisboa), trazia grandes dificuldades, quer no alinhar e encestamento dos pombos, quer na obtenção dos resultados classificativos em tempo útil. Em 10 de Dezembro de 1949, é criada a Secção Columbofilia, no Clube Desportivo Salvaterrense, e filiada na Distrital de Évora..

- Pombal Costa Ramalho e Pombos Fabry Tratador: Francisco Santa Bárbara –


152

Armando Oliveira, junto ao novo Pombal – 1968

Pombal: João António Nunes da Silva – 1974

Pombal de José Gameiro, com novo sistema de entrada livre - 1978

João José Naia, no seu pombal


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1)- Pombo, Lilás, de António Monteiro (António Borrego), campeão Olímpico em Inglaterra, ganhou Anilha de Ouro para Portugal – 1999 2– Pombo Azul Listado, do mesmo criador, premiado nas mesmas Olimpíadas 3) – António Monteiro, orgulhosamente mostra o seu pombo Lilás, campeão Olímpico 4) – Nelson Caleiro, com um seu pombo campeão na colectividade Salvaterrense


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1983 - O Presidente da Câmara de Salvaterra, entrega medalhas do concelho, aos antigos columbófilos – Ezequiel Inácioe Manuel António Morais José Sardinha, Vida Columbófila da

Reportagem Revista com o autor, na sede

Columbófila

Salvaterrense

Os Irmãos, José Manuel e João Silva Ferreira, marcaram um tempo de grande actividade, na Sociedade Columbófila Salvaterrense


155 Nesta fase de mudança, tiveram papel de relevo, os Eng. Carlos Costa Freire, Jacinto Lopes Magalhães, Joaquim Damásio, João Ferreira Vasco, Dr., Inácio Sequeira Nazaré, Alfredo Lopes Magalhães, Silvio Augusto Cabaço, Victor Cabaço e Carlos Santos Borrego. O primeiro, trazia de Inglaterra, um novo sistema de treino diário, das aves, sobre o pombal. Amiúdas vezes, o pombal de Costa Ramalho, recebia comitivas de columbófilos, para apreciarem os seus pombos e instalações que, na época eram um atractivo. Os grupos, aproveitavam a visita, para confraternizarem e desfrutarem das iguarias culinárias e vinhos da terra Foi neste tempo que o Coronel; Óscar Morta militar na carreira de transmissões e columbófilo teve grande influência do começo da columbofilia nos quartéis militares. Os concursos de grande distância, como: Madrid e Marrocos, também tiveram a sua experiência, sendo acompanhados de perto pelo columbófilo, o Capitão Fontes Veiga. O então famoso criador belga, George Fabry, vindo a Lisboa, promover alguns produtos destinados aos pombos, produzidos na sua farmácia, deslocou-se a Salvaterra de Magos, para conhecer pessoalmente Costa Ramalho, onde foi com afectiva simpatia recebido, por este e pelos columbófilos da terra. Reconhecendo tal estadia, alguns meses depois envia a José Ramalho, alguns borrachos e ovos, da sua vasta colónia de pombos.

IV


156 A NOVA COLECTIVIDADE Em 19 de Janeiro de 1951 (acta nº2), em Assembleia Geral, os Columbófilos de Salvaterra de Magos, deram mais um importante passo neste desporto, foi criada a Sociedade Columbofilia Salvaterrense que, concretizaram em 9 de Outubro de 1952, com a escritura pública dos seus estatutos. Nesta nova fase e rejuvenescimento entram para sócios da colectividade entre outros, José Gameiro Cantante, seu irmão Manuel Galricho, Manuel da Graça, António José Damásio, José Maria Soares (José Diogo) e José Manuel Damásio Cabaço. . Durante o seu já longo historial do meio século, tem nos muitos praticantes que nela passaram, pessoas que a souberam honrar e dignificar, quer pelos seus resultados desportivos, quer pelo empenho, que sempre demonstraram neste hobby e, não será demais aqui divulgar o nome de muitos deles:

José Miguel Borrego, Manuel Nunes, Fernando Sousa Marques, António Mendes dos Santos, Jacinto Lopes Magalhães, José Vicente da Costa Ramalho, Eng. Carlos Costa Freire, Dr. Roberto Ferreira da Fonseca, João Ferreira Vasco (o Varolas), Virgolino Gonçalves Castanheira, Rafael Roquette, Manuel António Morais, Ezequiel Inácio, Armando Rafael Oliveira, Luís Gameiro, Manuel José Gonçalves, as duplas Soares e Suissas, Ferreira e Monteiro, os Irmãos Ferreira (José António e João Manuel Ferreira), Júlio Pratas do Peso, José Rafael Oliveira e João António Nunes da Silva, entre outros que a memória tem dificuldades em mostrar à luz do dia. Anos depois, António Monteiro (António Borrego), praticante da modalidade desde a sua juventude, ainda mais se destacou,


157 conseguindo em 1999, com as suas aves estar presente, nas Olimpíadas Europeias, realizadas em Blackpool, na Inglaterra, e trazer para Portugal uma medalha de Ouro. Com o passar dos anos, amiúdas vezes um ou outro praticante se destacaram, caso de Nelson Caleiro, José António Travessa e Pedro Lopes.

V A NOVA SEDE Desde o inicio, a sede da colectividade, foi ocupar uma dependência cedida pela Legião Portuguesa, na rua Machado Santos, passando para outras alugadas que não satisfaziam o seu desenvolvimento, assim começou a fervilhar entre dirigentes e associados o desejo de um edifício próprio, o que veio a acontecer com a aquisição de uma velha casa na Trav. João Gomes. Depressa, foi pedido um empréstimo bancário, e a obra começou, com o apoio de muitos sócios, especialmente de jovens, que se juntaram aos colegas pedreiros, Foi um período de grande euforia esta que se viveu na construção do novo edifício, o entusiasmo era tanto que uns meses depois a obra estava concluída. Era o orgulho de todos, aquela moderna sede não deixou de ser visitada por gente columbófila de todo o lado. Alguns encargos financeiros ficaram por saldar, e novamente foi de por mãos à obra, e um grupo dos mais afoitos esteve a explorar um pavilhão que serviu de “Tasquinha”, nas festas da terra.


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Num determinado tempo, um grupo de associados, que praticavam a pesca desportiva,juntaram-se com outros não afectos à colectividade, e nesta foi criada uma secção daquela modalidade. Foi uma experiência pouco duradoira, dois anos depois estava dissolvida. No seu activo, a SCS, além de muitas exposições e leilões, tem o orgulho de ter sido escolhida para no ano de 1974, realizar uma Exposição Nacional, o que lhe mereceu receber os maiores elogios pelo esforço e dedicação dos seus dirigentes na realização da mesma. o autor também participou na organização deste evento na parte”Administrativa”, culminando o evento com a presença de um representante do governo, e além da Federação da columbofilia nacional juntaram-se convidados num almoço realizado no Restaurante Típico Ribatejano, onde foram distribuídas lembranças aos responsáveis pela concretização da exposição.


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VI


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A SUA DIVULGAÇÃO Desde muito cedo, quando jovem, o autor começou a divulgação os feitos dos pombos, e dos columbófilos de Salvaterra de Magos, nas páginas de jornais como: Aurora do Ribatejo, e outros órgão da zona ribatejana. As revistas da especialidade, também passaram a contar com a nossa colaboração. Foram horas e horas de escrita, muitas vezes à mão, com os portes do correio por nós suportados. Aí, tomei contacto com José Sardinha, columbófilo e respeitado cronista que, me confidenciou nutrir por Salvaterra, e seus columbófilos, uma especial simpatia, desde a visita que tinha feito ao pombal de José Ramalho, no ano 1948, integrado na comitiva que Fabry ali tinha feito. Devido à sua fácil escrita não tive dúvidas em recomendá-lo ao Jornal “Correio da Manhã”, que estava dando os primeiros passos no parque jornalístico de Lisboa. Tempos depois, em 1982, convidei este credenciado cronista a visitar novamente esta vila, e o seu meio columbófilo, pois era o responsável pela revista “Columbofilia”, grande meio de comunicação deste desporto alar, na época. Da sua estadia, os sócios da colectividade salvaterrense, viram publicadas nas páginas do número 6 do mês de Julho, da Revista Vida Columbófila, uma reportagem com entrevistas. Não quis no entanto, José Reis Sardinha, de num gesto de simpatia, num espaço da sua crónica, de nos dirigir algumas palavras que muito nos confortou.

UMA PALRAVA AMIGA:


161 “AO ZÉ GAMEIRO – COM UM ABRAÇO “

“ Se existem campeões mercê do exclusivo feito dos seus pombos – também os clubes estão cheios de outros “campeões” que não subindo ao podium, nem por isso são menos dignos da consideração. São aqueles que enamorados pelo feitiço columbófilo, enquanto entretenimento dão tudo o que têm lá dentro em dedicação, esquecendo quase sempre os seus próprios interesses. Os campeões desportivos recebem taças, medalhas, dinheiro – tudo isso embrulhado em jubilosos abraços e aplausos de quem sobe a ladeira da glória; os outros, os cabouqueiros dos clubes, aqueles que endireitam as veredas por onde os outros passam, remetem-se ao anonimato e, muitas vezes, a sua recompensa final é um cruel e sonoro pontapé no sítio onde as costas acabam. Cremos (e desejamos) que, Salvaterra seja neste aspecto, um oásis no deserto, onde moram essas mais que frequentes ingratidões. De qualquer modo não podemos deixar de registar o nome de um HOMEM – José Gameiro – que hoje, a entrar nos quarenta, e desde os 16 anos um “campeão” na divulgação Columbófila, levando a toda a parte, pela palavra escrita, a voz dos columbófilos seus conterrâneos. Em mil sítios e por mil formas essa voz está gravada. Filho de um velho columbófilo, José Gameiro Cantante, que chegou a ser sócio número 4 da Sociedade Columbófila local.


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José Gameiro, possui um pequeno pombal com 20 pombos e joga-os sem qualquer preocupação de resultados. Enamorado das coisas da sua terra, possui uma rica e numerosa biblioteca, guião da história, de ontem e de hoje, das terras de Salvaterra. Correspondente de vários jornais – quando era difícil sê-lo incluindo está bem de ver, a nossa Revista Columbófila. A RDP e a TV, já se têm aproveitado dos seus conhecimentos, para saber coisas lá do burgo. Sendo um autodidacta, é como empregado de escritório, que no trabalho e pelo trabalho ganhou as esporas do traquejo jornalístico, José Gameiro, tem dedicado um grande carinho à divulgação do ideário columbófilo. Saber reconhecer, estar pronto a dizer um OBRIGADO, AMIGO ! não fica mal a ninguém. Assim – e só assim! – Entendemos a vivência desportiva. É por isso com um sonoro HURRA!.... HURRA!.... de amizade, aqui deixamos uma muita singela homenagem ao Zé Gameiro, faxemos votos para que o seu “namoro” com a columbofilia e, com as coisas da sua terra, continue por muitos e muitos anos ....” ************** ***************

BIBLIOGRAFIA USADA:


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Jornal “Aurora do Ribatejo” Jornal “Diário do Ribatejo” Jornal “Mundo Columbófilo” Revista “Causa Columbófila” Revista “Desporto Columbófilo” Jornal Militar “Motores em Marcha” Revista “Vida Columbófila” Jornal “O Século” Jornal “Mundo Columbófilo” Jornal “Correio da Manhã” Jornal Vale do Tejo Pesquisa em documentação avulsa

Nota: Os trabalhos sobre a divulgação deste hobby em Salvaterra de Magos, inseridos nos títulos da comunicação social, acima mencionados, são do autor. Fotos: Causa Columbófila – Revista Vida Columbófila – Revista Columbófila - Revista Do Autor **********


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COLECÇÃO DE APONTAMENTOS Nº 29 Documentos para a História de

SALVATERRA DE MAGOS Séc. XIII – Séc. XXI

Património: Geográfico, Monumental, Cultural, Político, Económico e Desportivo

O Autor : JOSÉ GAMEIRO

Social,


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Primeira Edição FICHA TECNICA: Titulo: A ORIGEM DOS BRASÕES NO CONCELHO Tipo de Encadernação: Brochado – Papel A5 Autor: Gameiro, José Colecção: RECORDAR, TAMBÉM É RECONSTRUIR ! Editor: Gameiro, José Rodrigues Morada: B.º Pinhal da Vila – Rua Padre Cruz, Lote 49 Localidade: Salvaterra de Magos Código Postal: 2120-059 SALVATERRA DE MAGOS ISBN: 978– 989 – 8071 – 30 – 9 Depósito Legal: 256495 /07 Edição 100 exemplares – Março 2007

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Fotos da Capa: - Fachada dos Paços do Concelho de Salvaterra de Magos, com o Brasão Pedra da rainha D. Maria II


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********************* 2ª Edição Revista e Aumentada – Março 2015 *************************** Contactos: Tel. 263 504 458 * Telem. 918 905 704 E-mail: josergameiro@sapo.pt

*************************** O Autor deste texto não segue o acordo ortográfico – 1990


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O MEU CONTRIBUTO Entre os meus 8 a 12 anos de idade, morava no Botaréu da Capela da Misericórdia e muitas vezes entrei num Palacete ali próximo. Era um grande edifício, que foi Solar do barão de Salvaterra, de que descende a família Viana Roquette. Na parede exterior do edifício, encontrava-se um brasão de pedra, que me fascinava, demorando tempos sem fim, a tentar dele fazer uma leitura. Em 1956, era tempo de Verão, na fachada dos Paços do Concelho, por ali andava em arranjos de conservação do edifício, o pedreiro, Luís Palma, descendente de Mestres-Pedreiros; família Palma, que me informou que, seu avô talvez, uns 30 anos antes, fez a (re)colocação do Brasão em Pedra na fachada do edifício, pois tinha estado numa arrecadação municipal, depois de retirado (também por ele, seu avô), logo após a implantação da República, em 1910. Segundo alguns documentos aquela construção integrava o património pessoal da Rainha D. Maria II, em 1836. O Brasão é uma peça trabalhada em quatro blocos, disse-me aquele pedreiro. Foi uma curiosidade, que juntei à informação que o lavrador, Ernesto Costa Freire, me deu anos mais tarde, sobre o brasão da sua família, de que tem cópia num palácio em Sintra. Todo este trabalho de 2007, é agora passados alguns anos novamente editado revisto e aumentado. Março: 2015

JOSÉ GAMEIRO


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O EDIFICIO DOS PAÇOS DO CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS Salvaterra de Magos, no séc. XIII através do Foral de D. Dinis, recebeu usos e costumes da monarquia feudal, com um sistema socio-económico que, lhe trouxe importância de concelho (1) Já no séc, XVIII, o Marquês de Pombal, na sua organização administrativa do país, conservou as antigas Comarcas Medievais e o sistema concelhio. O concelho de Salvaterra de Magos, só na década de 30 do séc. XX ,passou a usar estandarte e brasão de armas i A vila de Salvaterra de Magos, como freguesia, só no séc. XXI possui o seu estandante e brasão de armas No séc. XIX, com o processo da classificação da história de Portugal, iniciada por Alexandre Herculano, foi-lhe dado um dos dois termos históricos: “Concelho Imperfeito”, e “Concelho Perfeito”. Os Concelhos Perfeitos, era a designação dada àqueles cuja construção das povoações, foi por iniciativa do homem. Os Imperfeitos, estavam na área dos que apareceram por imposição, e Salvaterra de Magos, estava incluído nestes. Era uma povoação, pertencente à Província da


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Estremadura. Os seus serviços de administração pública de concelho, ocupavam num grande edifício construído no centro da vila, e pertencente à Casa Real, foi doado pela Rainha D. Maria II (1819 - 1852), porque a velha construção, que vinha servindo de município, ao longo dos séculos mostrava mau estado de conservação provocado pelos danos do terramoto de 1755 em Lisboa. ******** .

******** A casa continuou com o brasão de pedra na fachada, daquela rainha, que atesta a época daquele edifício público. Já um século antes o rei D. Pedro II (1648-1716), vinha com regularidade com a corte a Salvaterra, especialmente nos dois meses de Janeiro e Fevereiro, aproveitando para os seus passeios a cavalo.


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Nesta época, custeou melhoramentos no palácio da vila, na capela e Igreja Matriz. Uma das suas filhas, grande devota de Nossa Senhora da Conceição, instalada na Capela da Misericórdia, foi sua protectora vestindo-a com fatos bordados a oiro, que saiam nos dias de procissão. Custeou a construção de uma porta de acesso do edifício religioso ao Albergue. Registos existem, que uma outra calamidade sísmica – ocorrida em 1850 - danificou em parte o edifício autárquico, e com as obras realizadas foi alterado o modelo original, com mais divisões no interior, com o tecto do salão nobre trabalhado a gesso, ficando o rés-do-chão, servindo de arrecadações. O terramoto em Abril de 1909, mais uma vez, destruiu as habitações de Salvaterra, com o edifício camarário, fechado o durante meses para obras de restauro. Durante muito tempo a sineta que, está instalada no lado Norte do edifício dos Paços do Concelho, serviu para o tocar das horas diárias, em virtude de a torre da igreja, estar também em recuperação. Por volta de 1892, naquele vasto largo camarário, mesmo em frente ao seu edifício, existia uma escadaria, em pedra de lioz, que ligava o acesso da Igreja Matriz, com a Fonte de S. António, tal como uma outra igual de acesso à


173 Capela foram demolidas, para darem lugar a uma via onde o transito de veículos passava a ter lugar.

1982 – Obras de conservação com novo telhado * Foto José Gameiro

Com a vitória do regime republicano, em Outubro de 1910, os novos autarcas, de Salvaterra de Magos, aderentes ao movimento, retiraram o brasão (escudo real), ficando guardado numa arrecadação camarária, sendo reposto cerca de 20 anos depois, no mesmo local. Terminada a II guerra mundial, o espaço do talho municipal que funcionava junto ao edifício da administração pública, (Rua S. António/Rua Cândido dos Reis) foi desactivado e, anexado aos edifício concelhio, com a abertura de uma porta, dando a este maior dimensão, sendo conservada a fachada exterior, que é diferente Na primeira metade do séc. XX, devido a algumas greves que, ocorreram no país, no rés-do-chão daquele edifício foi instalada um posto da guarda nacional republicana - GNR,


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força militar e policial., com um espaço para os detidos, até serem levados a tribunal. O primeiro andar recebeu alterações, e uma repartição do ministério das finanças, foi ali instalada., que permaneceu até à sua mudança para uma nova urbanização na vila. Nos anos de 1982/83, o edifício, volta a receber obras de conservação, com uma grande remodelação no seu interior, com novo reboco na fachada, e mudança de telhado. Agora com novas salas, foi construída uma escada em ferro, que passava a dar acesso entre os dois pisos, pelo interior do edifício. A sala mor/ ou o salão nobre foi conservado. Novas obras recebeu cerca de 20 anos depois, o interior do edifício é adaptado às novas exigências dos serviços, e no espaço da escada de acesso entre os dois pisos, foi instalado um elevador. Na frente do edifício, são efectuadas algumas alterações, com destino aos deficientes motores, parque de estacionamento para veículos., e a colocação de uma pequena construção em ferro, em frente à porta do rés-do-chão.

A ORIGEM DO BRASÃO DA VILA E DO CONCELHO Em 1936, não tinha ainda o concelho de Salvaterra de Magos, um símbolo heráldico, igual ao conjunto de todo o sistema do poder local concelhio, existente em Portugal.


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Mesmo quando, das agitadas reformas do séc. XIX, Salvaterra perdeu o concelho que foi instalado na vila de Muge, oito anos depois o rei D. Luiz, pelo Decreto de 24 de Outubro de 1855, fez a sua restituição não deixou de focar a legitimidade de concelho. No ano de 1935, o então presidente do concelho de Salvaterra de Magos, José de Menezes, homem culto, mandou fazer um estudo sério que, leva-se à feitura para a sua terra mãe, de uma bandeira e um selo, enfim uma identificação heráldica, para que Salvaterra de Magos, volta - se a ter dignidade. De vila e concelho, do trabalho de investigação se encarregou Afonso de Ornelas. O concelho, naquele tempo, era composto apenas, por duas freguesias (vilas) Salvaterra de Magos e Muge. Muge, continuava sob a protecção senhoril da Casa Cadaval, para breve estava o aparecimento da freguesia de Marinhais, nos seus terrenos. O brasão, então escolhido não só identificava a vila de Salvaterra de Magos, mas tinha uma abrangência concelhia, pois a sua população era de origem rural. De acordo com o trabalho encomendado e apreciado, pela Associação do Arqueólogos, na sua Secção de Heráldica, em 1936


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1 a vila e concelho de Salvaterra de Magos, passou a ter o seu brasão heráldico, conforme o decreto-lei publicado no Diário do Governo, da época. BANDEIRA – Esquartelada de azul e amarelo. Cordões e borlas de ouro e de azul. Haste e lança douradas. ARMAS: -De azul (*), com um touro possante de ouro. Em chefe um cacho de uvas de púrpura folhado de ouro., acompanhado de dois molhos de três espigas cada um, do mesmo metal. Coroa de prata de quatro torres. Por debaixo uma fita branca com os dizeres: “Vila de Salvaterra de Magos” de negro.

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(*) – O azul para o campo das armas é esmalte que mais se coaduna com a história local, onde a lealdade sempre existiu. O azul em heráldica representa a lealdade. As peças em ouro, é o metal que, em heráldica, representa poder e liberdade, nobreza e constância. SELO: - Circular, tendo ao centro as peças de armas, sem indicação dos esmaltes. Em volta, dentro dos círculos concêntricos, os dizeres: Câmara Municipal de Salvaterra de Magos.

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OS BRASÕES DAS FREGUESIAS A Freguesia de Marinhais, sendo a terceira a “nascer” no concelho de Salvaterra de Magos, sucedendo a Muge, foi a iniciadora de um longo processo que, culminou no aparecimento de outras três, como: Glória do Ribatejo, Foros de Salvaterra e Granho.

Após as eleições autárquicas 2001/2005, todas as seis freguesias do concelho, estavam agora providas do seu símbolo heráldico, As suas raízes históricas estavam ali contadas.

(*) – O azul para o campo das armas é esmalte que mais se coaduna com a história local, onde a lealdade sempre existiu. O azul em heráldica representa a lealdade. As peças em ouro, é o metal que, em heráldica, representa poder e liberdade, nobreza e constância. SELO: - Circular, tendo ao centro as peças de armas, sem indicação dos esmaltes. Em volta, dentro dos círculos concêntricos, os dizeres: Câmara Municipal de Salvaterra de Magos.


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AS MUDANÇAS UM BRASÃO PARA A FREGUESIA DE SALVATERRA DE MAGOS

Também a freguesia de Salvaterra de Magos, não escapou, a este processo de mudança, após uma decisão dos seus autarcas, recebendo parecer favorável, da Comissão de Heráldica, em 19 de Março de 2002, é criado um brasão. Entre os símbolos usados, encontra-se “Burelas Onduladas”, identificadas como um símbolo da principal ligação da vila ao Tejo, para além de ter permitido uma ligação estreita á comunidade avieira, vinda da Praia de Vieira” (*) No folheto distribuído quando da sua apresentação pública, as justificações que deram origem ao símbolo do Brasão, destacava-se estas: “Após aturado estudo e diversos contactos, não descortinamos mais do que uma comunidade oriunda “dos mares do Lis” dos lados de Vieira de Leiria, a ser vista, no rio e a instalar-se no concelho, no sítio do Escaroupim.” Decerto, que os autarcas da freguesia, não descuraram um estudo exaustivo, apoiado por alguma Associação local, que tenha algum material histórico sobre esta matéria, - isto é a Geografia da Mobilidade Humana - uma das ciências que estuda as causas “imigração do homem”..


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*********** (*) - Segundo vários especialistas, em Geografia Humana, são quatro as comunidades, que deram raiz ao povo da freguesia de Salvaterra de Magos. A mais antiga é a Rural, seguindo-lhes os Marítimos, pela sua longa e conhecida história, ligada à povoação e ao rio Tejo. Uma outra, a dos Varinos, ou Cagaréus, sendo a mais antiga comunidade de pescadores em Salvaterra, também foi esquecida naquele estudo, que deu origem às já referidas “Burelas”. Os últimos, vivendo da faina da pesca do rio, usavam realmente a vala de Salvaterra, aportando ao seu cais, fazendo ali lota do pescado. Era uma comunidade de pescadores, vindos da Murtosa, Estarreja, mesmo até de Aveiro e Ovar, que fizeram a sua migração até Lisboa, onde existe um seu bairro habitacional, conhecido desde o séc. XVIII. Um século depois, por volta de 1890., são já conhecidas as primeiras chegadas, dos seus primitivos ramos genealógicos, que ainda engrossam a antiga população pescadora da Freguesia de Salvaterra de Magos. Por outro lado, os Avieiros, vindos de Vieira de Leiria, são a comunidade mais recente que se instalou nestas terras.

NOVA IDENTIFICAÇÃO NO BRASÃO DA VILA E CONCELHO DE SALVATERRA DE MAGOS

Os autarcas vereadores do concelho de Salvaterra de Magos, em Abril de 2005, aprovaram em decisão camarária que, o Listel, do Brasão da Vila de Salvaterra de Magos/ou Concelho, fossa


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alterada. (1) Entre as várias escolhas, recaiu em: ”Município de Salvaterra de Magos” ou “Salvaterra de Magos”, deixando a decisão final aos heráldicos nacionais.Desde logo, aqui dá para reflectir sobre a decisão tomada:. As alterações verificadas no Código Administrativo do país, a partir do Antigo Regime (D. João VI), até às muitas modificações que o mesmo sofreu, no séc. XIX, o espirito territorial de “Concelho” prevaleceu. Mesmo quando, no Código Reformista de 1878, Rodrigues Sampaio, dizia no seu preâmbulo.: “O concelho, é um espaço próprio e digno da identidade do povo, está sujeito às suas raízes, à conveniência da história Geográfica” “ O conceito de Município, é uma associação natural, para a sua vida. administrativa “ Quando da publicação em 18 de Março de 1942, de um outro código administrativo, volta a confirmar-se o que ainda se verifica, nos muitos brasões que, ostentam a figura de vila, não deixando no entanto de serem sede de concelho.

********* – Ver Apontamentos N.º 15


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DIRECÇÃO GERAL DE ADMINISTRAÇÃO CIVIL

2ª Repartição * 1ª Secção Decreto – Lei N.º 160 de 10 de Julho de 1860 Dom Luiz por graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, etc. Fazemos saber a todos os nossos súbditos, que as Cortes Gerais decretaram, e nós queremos a lei seja a seguinte: Artigo 1º - É restituído, para todos os effeitos, o extincto concelho e julgado de Salvaterra de Magos, tal como se achava na data da lei de 24 de octubro de 1855, é revogada respectivamente esta mesma lei. Art.º 2º Fica revogada a legislação em contrário. ***** Mandamos portanto a todas as aoctoridades aquém o conhecimento e execução da referida lei pertencer, que a compram e façam cumprir e guardar Tão inteiramente como n`ellase contém. Os ministros e secretários d` estado dos negócios do reino e dos negócio eclesiásticos e de justiça a façam imprimir, publicar e correr. Dada no paço de Mafra, aos 10 de julho de 1863 = El Rei, com rubrica e guarda = Anselmo José Braamcamp = Gaspar Pereira da Silva **** Carta de lei, pela qual Vossa Majestade, tendo sancionado o decreto das cortes geraes de 27 de junho de ultimo, que restitui o extincto e julgado cocelho de Salvaterra de Magos,


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ficando tal como se achava anteriormente à data da lei de 24 de outubro de 1855. Manda cumprir e guardar pela forma recto declara. – Para Vossa Magestade ver – Agostinho José Morais do Valle, a fez ******** Decreto –Lei que restituiu o concelho a Salvaterra de Magos, após 8 anos em Muge

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Foral D. Manuel II


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******** AS NOBRES CASAS BRASONADAS

Com o decorrer dos séculos, um mapa de Salvaterra de Magos, datado de 1789, mostra que até ali eram apenas sete arruamentos existentes na vila. Ali para o antigo Largo de S. Sebastião, uma bonita casa apalaçada ainda resiste ao tempo. Era uma moradia dos “Almadas”, que ainda tem a encimar o portal, as suas Armas esculpidas em pedra.


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A NOBRE E ANTIGA CASA DOS COSTA FREIRE Fidalga e bem antiga, é a linhagem dos ramos que deram origem à árvore genealógica dos Costa Freire, de Salvaterra de Magos. No seio da família ainda existe a crença que, um remoto parente, por ser olheiro, quando da descoberta, da Índia, lá foi a mando do rei, confirmar tal encontro de terras e bens. Por tal serviço prestado à coroa, recebeu benesses e foi feito fidalgo. No entanto a tradição histórica que, é para eles motivo de legitimo orgulho, é a carta régia passada em 1749, em que a casa Costa Freire é reconhecida e brasonada. É do conhecimento, que aquela família começou com Pedro Joaquim da Costa Feire, casado com D. Maria da Conceição Avelar Freire, filha do último morgado de Alviela. Vários membros da família, estão referenciados como pertencentes aos serviços da casa real e, ao Almoxarifado de Salvaterra de Magos.


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O solar, casa opulenta para a época, foi mandada construir em Salvaterra de Magos por, José dos Santos Freire, em 1751, edificada na rua João Gomes, suposto gravador - ex-librista que viveu no séc. XVI. Na genologia desta família, consta ainda que um seu membro, António Eliseu da Costa Freire, após enviuvar encaminhou a sua vida para a privação religiosa, tornando-se frade. No início do século XX, a linhagem tinha em Carlos Avelar da Costa Freire, falecido em 1924 que, foi casado com D. Maria Henriqueta da Silva Santos Freire, o início de um ramo geracional. Com os filhos: Henrique Avelar da Costa Freire, Ernesto Avelar da Costa Freire, D. Eugénia Avelar da Costa Freire (Torres) e Carlos Avelar da Costa Freire. As Filhas deste último, foram D. Maria Eugénia da Costa Freire e D. Maria Luísa Santos da Costa Freire. A casa Costa Freire, enveredou os seus rendimentos na área da agricultura, onde possuía imensas propriedades, no Ribatejo, nos concelhos de Salvaterra, Coruche, Benavente e Azambuja. No entanto ainda existe no seu Palacete, de Salvaterra, uma sala recheada de troféus e boquettes de flores, recebidos por alguém da família que, no século XIX, se salientou na arte de bem tourear, recebendo fama e proveito.


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Carta Régia “ Dom João, rei de Portugal, por graça de Deus, faço saber aos que esta minha carta virem que José dos Santos Freyre, Almoxarife do Paço Real da vila de Salvaterra de Magos, me fez petição dizendome que ele vinha por legitima descendência da geração e linhagem dos Costas, Coelhos, Tavares e Freyres, as quais gerações neste Reino são de Fidalgos de Linhagem e Cotta de Armas e me pedia por mercê que para memória dos seus antecessores se não perder e ele usar, e gozar de honra e armas que pelos merecimentos de seus serviços ganharão e lhe forão dadas affim dos privilégios, honras, graças e mercês que por direito, e por bem dellas lhe pertencem, lhe mandece dar minha carta das ditas Armas que estavão registadas em livros dos registos das Armas dos Nobres e Fidalgos dos meus reynos que tem Portugal meu principal das Armas dos Nobres e Fidalgos dos meus reynos que tem Portugal meu principal Rey de Armas para o que me apresentou sua pertença de justificação de sua


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ascendência e nobreza proferida pello DoutorFrancisco Xavier Porcille, meu Dezembargador e Corregedor Cível.”

Brasão A família Costa Freire (1), de Salvaterra de Magos, sendo de raiz fidalga, não consta que o seja de raiz carnal, pois o uso de tal distinção foi concedido. O seu escudo de armas, foi “beber” em familiares afastados, ou próximos, que dependiam de ramos genealógicos como: Os Costa, Tavares, Rus e Coelho. Este símbolo familiar, encontrase exposto na famosa sala dos brasões, no palácio de Sintra.

(1) - Os seus quatro campos familiares, estão instalados numa construção heráldica do tipo inglês.


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A FIDALGA CASA DO BARÃO DE SALVATERRA DE MAGOS Resenha Geológica da Família Ferreira Roquette

O primeiro título, data de 1745, sob forma de brasão honorífico, assinado a 3 de Junho, por El-rei D. João V, nos seus termos precisos e enaltecedores, constantes da carta de armas daquele dia e ano, concedida a João de Melo Pestana Travassos que, foi 3º avô do primeiro Barão de Salvaterra de Magos. Só mais tarde, em 1770 o rei D. Luiz I, em testemunho de muita consideração e apreço, em que tinha a pessoa, de Luiz Ferreira Roquette Pestana de Melo Travassos, filho de António de Carvalho Roquette Pestana, fidalgo da casa real e, de D. Ritta Leone Barreto de Melo (N.? – Faleceu 1884) Pestana Travassos, concedeu-lhe o título de Barão de Salvaterra de Magos, criado expressamente para esse fim. Esta distinção, como as de Comendador das Ordens de Nossa Senhora da Conceição e de Isabel a Católica, juntou ao título de fidalgo da Casa Real, já usado por herança familiar.


189 Com vasto património, em imóveis urbanos na vila, a Casa do Barão, também tinha no concelho entre outras, as propriedades rústicas; Quintas de Santa Maria e S. José, Sesmarias, Pinhal dos Morros, Alagoa das Eiras, Corte do Freixo e Boca da Goiva, além das terras da Salema, no concelho de Benavente. Casa agrícola, grande produtora de cereais, vinho e arroz, também era detentora de muito gado, vacum e ovino, fabricava: queijo fresco e seco. Por volta de 1920, construiu em seus terrenos na rua do Calvário, uma grande adega, edifício que durou mesmo desactivado até finais do século, dando origem a uma nova urbanização no local.


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Árvore Genealógica da Família Ferreira Roquette (A)

0 - Leon de La Roquette, natural de Paris, casado com Bárbara Dum, de nacionalidade Inglesa ?

1 - Claudé de La Roquette, Do 1 º Casamento c/ Catarina Manions, nasceram 3 Filhos - Do 2º Casamento c/ Maria Garcia de Oliveira e Silva, nasceram 7 filhos: João de Melo Pestana Travassos * Recebeu, em 1745, o titulo de fidalguia em forma de Brasão Honorifico, em Carta de Armas, concedido a 3 de Junho, pelo rei D. João V * 3º Avô do Primeiro Barão de Salvaterra António de Carvalho Roquette Pestana, casou c/ Ritta Leone Barreto de Melo Pestana Travassos, Pai de:

Luiz Ferreira Roquette (de Melo Travassos) – ( N ? – F.1884 )


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* 1º Barão de Salvaterra * Em 1770, recebeu do rei D. Luiz I, através do Dec. Lei de 29 de Agosto, o titulo de Barão de Salvaterra de Magos, que juntou aos já possuídos: de Fidalgo da Casa Real, recebido por herança, * Comendador das Ordens de Nossa Senhora da Conceição e de Isabel a Católica. Foi presidente das Câmaras Municipais de Salvaterra de Magos e Benavente. * Casou Maria Isabel de Magalhães, que usou o título: Baronesa de Salvaterra. José Ferreira Roquette (Faleceu 1914), Sucedeu a seu pai, na posse da casa e do titulo de: 2º Barão de Salvaterra

Luiz Ferreira Roquette; (EngenheiroAgrónomo), sucedeu a seu pai, na casa e no titulo Barão de Salvaterra * Foi presidente da Câmara do Concelho de Salvaterra de Magos, de 1933 a 1935 * faleceu em Julho de 1936 José Manoel Viana Ferreira Roquette; Filho de João Ferreira Roquette, irmão do Luiz e do António Viana, recebeu o título de Barão de Salvaterra, por seu tio: Luiz Ferreira Roquette, não deixar descendência.


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Dr. António Viana Ferreira Roquette; Sucedeu a seu irmão na administração da casa agrícola, foi presidente da Câmara de Salvaterra em 1936/1938

José Luís Seabra Ferreira Roquette Presidente da Câmara de Salvaterra, em 1935/37, e 1954/1957

OUTROS MEMBROS DA FAMILIA ROQUETTE

JOSÉ LUIS DE BRITO SEABRA (*) Filho de João Jacinto Seabra, (nascido em Agosto de 1799, em Valada, falecido em Salvaterra, 1845) e de Maria Joana Roquette da Silva e Brito, Natural de Benavente. Nasceu em Salvaterra de Magos, a 3 Agosto de 1845 e faleceu em Valada do Ribatejo, a 27 de Junho de 1893.


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A ORIGEM DA GENEALOGIA MONTE REAL (Conde) Titulo criado em 1907, através do decreto assinado pelo rei D. Carlos I, foi seu primeiro titular, Artur Porto de Melo e Faro, nascido no Rio de Janeiro (súbdito português), era filho de; José Dionísio de Melo e Faro e de D. Amélia Augusta da Silva Porto. Casou o Conde de Monte real, com D. Laura Cardoso Diogo da Silva.


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Dos três filhos nascidos; Jorge Cardoso Pereira da Silva de Melo e Faro, nasceu em 31.7.1916, foi o herdeiro do título, casou com D. Maria Teresa de Castro Pereira Guimarães.

Jorge de Melo Faro, aparece a titular bens e propriedades em Salvaterra de Magos, que recebeu de seu pai, que lhe passaram a pertencer por faltas cometidas no campo dos negócios, por um membro da família Brito Seabra. O Solar, uma peça emblemática da Casa do II Conde Monte Real, em Salvaterra de Magos, tem a sua construção original no séc. XIX, pela família Brito Seabra.

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A EXCELSA E NOBRE CASA CADAVAL DE MUGE Sua Origem


195 Esta nobre e excelsa família assume o seu legado genea - lógico a partir de D. Nuno Álvares Pereira de Melo, nascido em Évora (1), no dia 4 de Novembro de 1638 e Faleceu a 27 de Janeiro de 1727.

AS ARMAS

As armas de Cadaval, são as antigas da Casa de Bragança – Uma Aspa Vermelha em campo de prata e nela o escudo das quinas. SENHORIO

O grande condestável do reino que foi senhor das terras de: Cadaval, Vila Nova de Anços, Álvaiazere, Rabaçal, Arega, Buarcos, Anobra, Carapito, Murtágua, Penacova, Vilalva, Vila Ruiva, Albergaria, Água de Peixes, Peral, Cercal, Póvoa, Santa Cristina, Tentugal, Muge, Noudar, Barrancos, etc. * Foi Alcaide-mor das vilas e castelos de Olivença, e de Alvor. * Comendador das comendas de: Santo Isidoro (vila de Eixo), Santo André de Morais, Santa Maria de Marmeleiro (1), S. Mateus, Sardoal, pertencentes à ordem de Cristo. Grandola, da ordem de S. Tiago. *********** (1) - Alguns documentos dão-nos o seu nascimento em Cernache de Bonjardim e Flor da Rosa (Dic. História Portugal - Joel Serrão)


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Foi Noudar, da ordem de Aviz. * Pertenceu aos conselhos de estado e da guerra, dos reis de D. Afonso VI, D. Pedro II e D. João V * Teve os cargos de Capitão - General da Cavalaria da Província da Estremadura. Governador das Armas de Setúbal e Cascais, entre outras cidades.

GENEALOGIA

D. Nuno Álvares Pereira, era filho do 3º Marquês de Ferreira e 4º Conde de Tentugal, dois títulos que sempre se mantiveram juntos com o de Cadaval. Tendo a mesma varonia que a casa de Bragança, porque descende de D. Álvaro, 4º filho de D. Fernando – 2º Duque de Bragança e de sua mulher a Duquesa D. Joana de Castro, filha de D. João de Castro, senhor do Cadaval. * Na árvore genealógica que descende do ramo de D. Álvaro, para além dos títulos atrás referidos, também possuía em Espanha, os de Marqueses de Vilhescas,


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Condes de Gelves e Duques de Veragua. * Quando D. João IV, foi aclamado rei de Portugal, seus pais, os Marqueses de Ferreira, mudaram residência para Lisboa e D. Nuno Álvares Pereira, teve educação no paço real. Três anos, após o nascimento, em 20 de Março de 1641, foram concedidos os títulos de Conde de Tentúgal, com retroactivos de validade ao dia em que nascera, acumulado com o de Alcoutim * Com apenas 10 anos de idade, o rei D. João IV, autargou-lhe o titulo de Duque de Cadaval, pela alegria do nascimento do Infante D. Pedro. Aos 19 anos de idade, quis D. Nuno, tomar parte na guerra do Alentejo, mas a rainha regente D. Luísa de Gusmão, proibiu-o de tal dislate, pois fazia falta na corte.* Mais tarde, em 1658, tentou novamente alistar-se no exército, o que lhe foi dada permissão, até porque a rainha tencionava nomeálo General de cavalaria. Ao longo da sua vida, D. Nuno, exerceu altos cargos e desempenhou funções políticas de grande interesse para o interesse do país. Tendo casado três vezes, destes matrimónios descenderam muitos filhos, alguns dos quais foram encaminhados para a vida religiosa, por serem ilegítimos.


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OS TITULARES DA CASA CADAVAL Foi 2º Duque de Cadaval, D. Luís Ambrósio de Melo, filho do primeiro duque; D. Nuno Álvares Pereira de Melo, e da sua terceira esposa, a princesa D. Margarida Armanda de Lorena.* 3º Duque de Cadaval, D. Jaime Álvares Pereira * 4º Duque de Cadaval, D. Caetano Álvares Pereira de Melo * 5º Duque de Cadaval, D. Miguel Caetano Álvares Pereira de Melo * 6º Duque de Cadaval, D. Nuno Caetano Álvares Pereira de Melo * 7º Duque de Cadaval, D. Jaime Caetano Álvares Pereira de Melo, que casou com D. Graziela Zilleri dal Verme, em 12 de Outubro de 1887 * Marquês de Cadaval, D. António Caetano Pereira de Melo, N. - 25.7.1894 * F. – 17.2.1939, casou com D. Olga Nicolis Di Robilan Filhos: D. Olga Alvares Pereira de Melo (Cadaval) e D. Graziela Álvares Pereira de Melo (Cadaval) – Condessa de Schonborn, pelo casamento com o Conde Schonborn Wiessetheid (Alemão).


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200 BIBLIOGAFIA USADA: * Jornal Ilustrado Português “A Hora” – 1939 * Salvaterra de Magos –Vila histórica no Coração do Ribatejo – ( 1ª e 2ª edição) do Autor * Árvore Genealógica “ Os Seabras de Valada, Salvaterra de Magos e Azoia de Baixo” De: António José Seabra * Estudo Genealógico da Família Roquette de Salvaterra de Magos – * Jornal “ O Ribatejo” – 1999, Do Autor * O quadro genealógico da família Roquette, teve a colaboração de D. Teresa da Assunção Correia Ferreira Roquette (Rocha e Melo), ou Teresa Roquette, ou ainda Teresa Rocha e Melo – 1993 Fotos Inseridos: * Pág. 2 – Solar dos Almadas c/ Armas de Pedra* Pág. 3 – Maria da Conceição de Avelar Freire, e Joaquim Pedro da Costa Freire * Pág. 6 - Brasão da Família Freire * Brasões origem * Pág. 7 – 1º Barão de Salvaterra de Magos * Pág. 9 – José Ferreira Roquette, e Luís Ferreira Roquette * Pág.10 – António Viana Ferreira Roquette, e José Manoel Viana Ferreira Roquette * Pág. 11 – José Luís de Brito Seabra * Pág. 12 - Solar da Família Conde Monte Real * Pág. 14 - Palácio Duques de Cadaval – Muge * Pág. 15 – Notícia da morte da Condessa “Olga de Cadaval” ************


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Outras Bibliografias Usadas: * Boletim da Junta Geral do Distrito de Santarém – Ano 6 – N.º 43, editado em 1936 * Folheto informativo da Junta de Freguesia de Salvaterra de Magos, quando da apresentação pública, do Brasão e Estandarte * Actas da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia de Salvaterra de Magos Fotos usadas * Pág. 3 – Brasão de Pedra, no edifício dos Paços do Concelho de Salvaterra de Magos * Pág. 4 1985 - Obras, no edifício dos Paços do Concelho – Levou um telhado novo * Pág. 6 – O brasão da vila e concelho de Salvaterra de Magos, constante no seu Estandarte * 1996, Edifício da Câmara Municipal do concelho de Salvaterra de Magos, vendo-se no lado esquerdo, o acrescento do edifício de construção diferente. * Pág, 8 – Brasões das Freguesias: Muge, Glória, Marinhais, Granho e Foros de Salvaterra * Pág. 9 - Brasão da Freguesia de Salvaterra de Magos * Pág. 10 – Foral do Rei D. Manuel I


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CADERNO DE APONTAMENTOS Nº 30 Documentos para a história de

SALVATERRA DE MAGOS séc. XIII – séc. XXI Património: Geográfico, Monumental, Cultural, Social, Político, Económico e Desportivo

Autor : José Gameiro


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Primeira Edição FICHA TECNICA: Titulo: OS CEMITÉRIOS DA FREGUESIA, AO LONGO DOS TEMPOS !!

Tipo de Encadernação: Brochado – Papel A 5 Colecção: RECORDAR,TAMBÉM É RECONSTRUIR! Autor: Gameiro. José Gameiro, José Rodrigues Morada: B.º Pinhal da Vila – Rua Padre Cruz, Lote 49 * Localidade: Salvaterra de Magos Código Postal: 2120-059 Salvaterra de Magos ISBN: 978– 989 – 8071 – 31 – 6 Depósito Legal: 256496 /07 Edição: 100 exemplares – Março 2007


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Capa: Jazigos do antigo CemitĂŠrio, junto Ă Capela Real


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********************************** 2ª Edição em PDF Revista e Aumentada – Março 2015 ********************************* Contactos: Tel. 263 505 178 * Telem. 918 905 704 E-mail: josergameiro@sapo.po.pt

O Autor deste texto não segue o acordo ortográfico de 1990


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O MEU CONTRIBUTO Um dia, em 1999,a população da freguesia de Salvaterra de Magos - terra onde nasci, foi alertada com notícias na comunicação social que, o cemitério da freguesia seria ampliado, pois o seu espaço estava esgotado. Os executivos da Junta de freguesia e da câmara municipal, em conjunto estavam determinados nesse objectivo, e para isso já tinham tomado as decisões politicas adequadas. Ás vozes da discordância dos moradores das habitações daquele espaço, juntei a minha, pois o descontentamento estava latente, até pela forma como o processo foi desenvolvido, ao arrepio do conhecimento dos fregueses locais. Os primeiros executivos eleitos democraticamente, em 1976, disso já tinham dado conta, especialmente José Luis Borrego, que andou procurando, e teve conversações, para a compra de um terreno nos arredores da vila, O tempo passou, nada mais se soube sobre esta necessidade, os autarcas quando no poder tomam decisões ao arrepio do seu povo. Assim, o executivo de João Nunes dos Santos da Freguesia de Salvaterra de Magos, tomou a decisão de alarga o campo sagrado, existente desde 1885, para isso foi destruído o espaço do Jardim público, urbanizado na década de 80, séc. XX. Os autarcas infelizmente, mais uma vez (como tantas vezes acontece), não ouviram a população e não contemplaram, as suas opiniões, em tamanha decisão politica que, serviu apenas um interesse em época eleitoral, argumentaram os lesados! MARÇO: 2015

JOSÉ GAMEIRO (José Rodrigues Gameiro)


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A FREGUESIA DE SALVATERRA DE MAGOS Os terrenos de planície da bacia do rio Tejo, remontam muito para além da época segundo a cronologia usada “mesolítica”, e nesta fase de vida na terra que, se calcula nos 10.000 anos a.C., tendo o homem primitivo, vivido nas suas margens. Vestígios dessa permanência, foram encontrados nos últimos anos do séc. XIX, em terrenos da Quinta da Sardinha, na vasta área do Paul de Magos, e outros em terrenos de Muge Para os seus estudos, foi designada primeira ”estação” préhistórica do Vale do Tejo. Seguiram-se as de Muge (1) e, pelos esqueletos ali encontrados, foi possível também reflectir sobre os seus modos de vida e ritual fúnebre. No século XIII, Salvaterra de Magos, já debaixo da influência dos novos colonos, segundo se julga saber, vindos da região da Flandres, com seus hábitos culturais, perverteram o que ainda restava do modo de vida, conservado dos primitivos. Enterrar os seus mortos, passou a ter rituais pagãos, com um misto de alguma cultura religiosa usada na época. Em Portugal teria sido o Bispo de Lisboa, o Cardeal Infante D. Afonso, filho do rei D. Manuel I, quem tomou as primeiras decisões quanto aos registos paroquiais. *********** (1)– Concheiros de Muge


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As Igrejas deveriam ter um livro escrito, sob a custódia do prior, onde consta-se os baptizados e óbitos. No entanto, existe informação, que os registos mais antigos pertencem à freguesia de Santiago, de Coimbra, com início em 1510, até 1596.

Para os óbitos, devia constar o nome do falecido, a sua naturalidade e estado civil; se viúvo ou viúva, ou ainda sem compromissos. Os enterros, faziam-se em terrenos no adro da Igreja, mas os “senhoris” podiam “descansar” em terras suas, após pagamento de bulas. Também naquele tempo os hábitos conventuais, tinham por norma enterrar os seus servidores - padres ou frades - em terra batida, nos terrenos anexos ao resguardo das capelas e igrejas.


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No convento de Jericó, ainda hoje se podem ver algumas pedras tumulares, dos seus frades “empilhadas” junto à capela, onde se encontra a imagem de S. Bacco, Naquelas pedras tumulares, existem nomes de pessoas que, tendo nascido em Salvaterra, se converteram ao cristianismo de Roma, ali serviram, morreram e foram sepultados. PICADEIRO E CEMITÉRIO Mais tarde, um terreno anexo à capela real que, já tinha servido de picadeiro real, foi destinado a cemitério da freguesia. Naquele espaço mortuário, foram sepultados pessoas que pertenceram a famílias castas da terra, conforme registos em seus jazigos e campas tumulares, que chegaram aos nossos dias. Com o Liberalismo e, de acordo com as suas leis, foi construído um cemitério municipal, em terrenos devolutos, a Sul da vila, numa zona que, ainda mantinha uma réstia de pinhal que no séc. XIX, se estendia até Coruche, visto ter pertencido à Coutada Real de Salvaterra. O novo cemitério, inaugurado em 1885, murado em volta, levou uma vedação em ferro, com um grande portão na sua frente, ladeado por duas pequenas instalações para uso fúnebres, tinha terminado assim para tal uso os terrenos da Capela Real.


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No novo campo santo, ano após ano, muitas covas passaram a vitalícias, especialmente das famílias abastadas da terra. A sua “venda” passou a ter ali uma fonte de receitas para a Junta da Paróquia local. Cerca de 90 anos depois, em 1977, aquele espaço foi alvo de uma ampliação e arranjos urbanísticos no seu interior, verificavam os autarcas da época, que o mesmo estava em vias de esgotamento a curto prazo. Foram tomadas previdências, pelo autarca da Freguesia; José Luís Serra Borrego, fazebdo os primeiros contactos informais, a proprietários de vários terrenos agrícolas que possuíssem aptidões para o fim em vista – a construção de um novo cemitério da Freguesia. Quando da decisão do seu acrescento, o então executivo da freguesia, de José Luís Borrego, atendeu e respeitou, o pedido dos moradores próximos, procedendo ao alargamento, para terrenos que, em nada prejudicaram, as muitas habitações já ali existentes nas redondezas. UM SECULO DEPOIS !

Um século tinha já passado, o que tinha sido um cemitério construído para largos anos, tornou-se cada vez mais insuficiente, até porque a freguesia incluía o então lugar dos Foros de Salvaterra, a população tinha aumentado. A SOLUÇÃO FÁCIL ! Os autarcas no mandato, 1998/2001, tendo na presidência do executivo camarário, Ana Cristina Pardal Ribeiro e João Nunes da Silva Santos , na Junta de Freguesia de Salvaterra de Magos,


212 levaram à aprovação de decisões que, culminaram num novo alargamento daquele campo santo da vila. Deliberações que, foram contestadas, por meios legais, por elevado número de cidadãos “munícipes e fregueses”, que se socorreram especialmente de um abaixo-assinado. Aqueles executivos, estavam em maioria, nos seus mandatos, alguns vereadores da câmara, não vivendo na freguesia, pouco sensibilizados para as necessidades da população e, das suas características culturais e religiosas, logo se apressaram a dar o seu aval ao projecto político. A pretensão do executivo da Junta local, estava assim consumada, era o comentado no dia-a-dia.

A falta de informação no local da obra, como é exigido na lei, do seu custo e entidade promotora, foi comentada durante vários dias, a comunicação social, disso deu conta na altura, pois interessou-se pela causa, dos fregueses de Salvaterra de Magos. Logo apareceu o necessário painel com a respectiva informação !


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UM ALARGAMENTO DE 10 MIL CONTOS

Para calar as contestações mais activas, dos que sobre o problema se tinham empenhado – aqueles autarcas - em diversos actos públicos e, à comunicação social, argumentaram da necessidade daquelas obras, o espaço encontrava-se esgotado. A obra seria dotado de acessórios modernos, nas práticas fúnebres, e informação vindas a público, o seu custo orçava em cerca de 10 mil contos. Comprometeram-se no empenhamento, da construção futura de um novo campo-santo, para a freguesia de Salvaterra de Magos. O compromisso então assumido, ainda continua por concretizar até esta data, pois não existe qualquer parcela de terreno negociada, para a construção de um novo cemitério na freguesia de Salvaterra de Magos. Os prometidos acessórios modernos, inerentes ao seu bom funcionamento, ainda continuam por instalar no cemitério. O ABATE DAS ÁRVORES No corte das árvores, plantadas no local cerca de 20 anos antes, numa zona então destinada para espaço ajardinado, os trabalhos decorreram, a horas incertas e,

aos


214 olhos de quem viu, demonstrava “ fugir à contestação do povo”. Foram usadas moto-serras, para o corte e maquinaria pesada para o arranque das raízes. Uma firma empreiteira, que recuperava o Celeiro da Vala, num contrato com a câmara, fazia o serviço no cemitério. Os trabalhadores, estavam nos dois sítios ao mesmo tempo e com situação ilegal, no país, tal facto era comentado entre a população! No começo das obras de alargamento, uma parede em tijolo, foi derrubada, na noite de 3 de Dezembro de 1999, por mão desconhecida, conforme foi notícia nos jornais. O autarca, presidente da Junta de Freguesia, João Nunes dos Santos, em declarações à comunicação social, desdramatizou o acontecido, dizendo que tal “desarranjo” foi fruto de mãos de crianças.

Os trabalhos continuaram em ritmo acelerado, os dias de folga semanais, sábados e domingos e até os feriados nacionais, eram aproveitados, na concretização da obra, como aconteceu no dia 1º de Dezembro. Tal era a pressa !.... Quando a “lide”, estava na fase das pinturas da vedação em chapa metálica, o município concelhio, tinha no local um grupo de


215 trabalhadores, em grande azáfama, nos arranjos urbanísticos circundantes. Quem passa agora na rua Padre Cruz, fica sem qualquer visão do interior do cemitério, com a colocação de tal material metálico, pintado na cor verde. No começo das obras de alargamento, uma parede em tijolo, foi derrubada, na noite de 3 de Dezembro de 1998

HABITANTES NA FREGUESIA: Curiosidades: Ano: 1527 Ano: 1788 Ano: 1864 Ano: 1981 Ano; 1991

600 2143 2329 8123 4791

Habitantes Habitantes (a) Habitantes Habitantes (b) Habitantes

(a) – 1788 * 1100 Homens, 1043 mulheres, tendo-se verificado a morte de 40 crianças e de 48 adultos. (b) - Incluía a população de Foros de Salvaterra

CEMITÉRIO DA CAPELA REAL Num pequeno espaço de terreno, junto da capela, funcionou até finais do séc. XIX, o cemitério de Salvaterra de Magos, sendo desactivado, quando da entrada em vigor da lei, que determinava que as freguesias passariam a contar com um espaço próprio para guardar os corpos da sua comunidade. Jazigo e Campas Tumulares no antigo cemitério da Capela real de Salvaterra de Magos 1885, ainda vistas em 1964, e depois retiradas para parte


216 incerta, no executivo camarário de José Gameiro dos Santos, quando das obras, em 1996, do novo Auditório ao Ar Livre. Inscrições no Jazigo FRENTE D. MARIA JOANNA DA SILVA E BRITO Mandou Erigir à Saudoza Memória de Seus Queridos Pais e Espozos no Anno 1858 (Lado Direito) Aqui jaz João Jacinto Seabra Falecido A 5 de Novembro 1945 Brito Tendo 47 annos d`Edade 1853 Fazendo 75 annos d`Edade

( Lado Esquerdo) CIMA Aqui Jaz Joze Luiz da Silva Falecido A 31 de Junho de

BAIXO PEDRA TUMULAR Campa rasa) Aqui Jaz Francisco Ferreira Roquette (Falecido A 31 d`Abril de 1854 * À Saudosa Memória Tendo 35 annos d`Edade * De Minha Estremosa Esposa D. Laura Adelina Fernandes e Silva


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PEDRA TUMULAR Nasceu a 19 de Maio de 1869 * A Saudosa Memรณria Faleceu a 26 de Janeiro de 1889 De Antรณnio Marcos da Silva Nosso Presado, Marido Pai e Sogro PEDRA TUMULAR Vicente Lucas d` Aguiar Sua Mulher, Filhas e Genros 13 de Setembro de 1889

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Cruzeiro em pedra de Lioz, ainda existe, em 1922, na rua do Calvário, com a sua urbanização na década de 40, para Avenida, foi-lhe dado o nome de Vicente Luvas de Aguiar, antigo presidente da Câmara Municipal, e já por volta de 1983, o executivo de António Moreira, passou a Av. Dr. Roberto Ferreira da Fonseca ********** Nota: segundo alguns registos, a crus, foi mudada para o cemitério, já incompleta, porque parte da base, a pedra foi usada na construção do Hospital da Vila.

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EXECUTIVO CAMARÁRIO: Ana Cristina Ribeiro Pardal, João António Abrantes Silva, Vasco Monteiro Feijão, António Charrua, José Carlos Ferreirinha e Ana Maria Pessoa Oliveira Antunes EXECUTIVO JUNTA DA FREGUESIA: João Nunes Silva Santos, António Eduardo Andrade e João Damásio Vieira ********************************


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Documentos anexos: JUNTA DE FREGUESIA DE SALVATERRA DE MAGOS ACTA Nº 035/08/1998 31/08/1998 Ponto 3 – Ofº nº 3662, de 20/07/98 Entidade: Município de Salvaterra de Magos Assunto: Envio do Projecto, trabalhos de medição e orçamento para a ampliação do cemitério de Salvaterra de Magos. Análise e discussão do mesmo, DELIBERAÇÃO: Tomou-se conhecimento. Foi deliberado por unanimidade aprovar o projecto. ……………………………………………………………………………… ….. ……………………………………………………………………………… ….. ……………………………………………………………………………… …. Pedido da Junta de Freguesia `a Câmara Municipal, que recebeu o Nº Procº 04.11/99 – Desafectação do Domínio Público Privado


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ACTA Nº 004/ 09/ 1998

REUNIÃO ORDINÁRIA DA ASSEMBLEIA FREGUESIA DE SALVATERRA DE MAGOS Aos trinta dias do mês de Setembro de mil novecentos e noventa e oito, nesta vila de Salvaterra de magos, e na sala de reuniões da sede da Junta de Freguesia de Salvaterra de magos, após convocatórias individuais e edital afixado no dia 16 de Setembro nos lugares públicos da freguesia, em que se anunciava o dia e a hora e local da sessão e respectiva ordem de trabalhos que abaixo se indica, realizou-se a 3ª sessão ordinária da Assembleia de Freguesia. Aberta a sessão pelo senhor Presidente da Mesa da Assembleia, e feita a respectiva chamada, verificou as seguintes presenças, ou as seguintes faltas, que abaixo descriminamos:


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Presidente; José Manuel da Luz Ferreira CDU * Presente 1º Secretário; Eugénio Vieira Tapada CDU * Presente 2º Secretário; Júlio Dias Precatado PSD * Presente Vogal; Rui Ferreira Monteiro PS * Presente Vogal; Rui Calos da Silva Antão CDU * Presente # Vogal; Pedro Jorge Ferreira Lopes PSD * Faltou & Vogal; Luís Manuel Duarte Oliveira Cabaço PS * Faltou Vogal; José Carlos Botas Silva Aleluia CDU * Presente Vogal;Júlio Fernando Jesus Jacob PS * Faltou # - Entrou às 21 horas e cinquenta minutos & - Justificou por escrito a sua ausência


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ORDEM DO DIA - PONTO ASSUNTO -

Apreciação, discussão e votação do projecto do cemitério Salvaterrra …………………………………………………… ………. Ponto 1 – Apreciação, discussão e votação do projecto de ampliação do cemitério de Salvaterra de Magos DELIBERAÇÃO: Foi aprovado por unanimidade, depois de apreciado e discutido.

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****************** Nota: Comunicado/panfleto que, foi distribuído em Salvaterra de Magos, desmentindo os autarcas que utilizaram a comunicação social, dando informações incorrectas à população, sobre a obra do alargamento do cemitério da freguesia


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Pรกg. 1/1


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Pág. 1/2

Nota: Certidão da Acta da Sessão de Câmara de 03/ 02/ 1999


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Nota: Acta da Aprovação, em que a parcela de terreno, com a área de 2105 m2, fosse considerado de finito a sua desafectação ao domínio público para o privado do Município


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Uma OpiniĂŁo:


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Bibliografia e outros documentos usados: * Comunicação Social: * Rádio Marinhais, JVT e Correio da Manhã * Salvaterra de Magos, O alargamento do Cemitério da sua Freguesia: * A Solução fácil ! - Artigo do autor, publicado no Jornal Vale do Tejo, * O Convento de Jericó * Alfredo B. Almeida Fotos usados: * Pág. 158 – Igreja Matriz de Salvaterra, No séc. XIII, os mortos era enterrada em seu redor – Do Autor * Pág. 158 – Desenho de pedra tumular campa rasa), no Convento de Jericó (Frades Arrábidos) de Alfredo B. Almeida – 1986 * Pág. 159 - Terreno da Capela Real, lado Sul - Depois de ter servido de Picadeiro, foi até 1885, usado como Cemitério * Pág. 160 - Jazigo no terreno antiga da Capela Real * Pág. 161, 162 – 1999, Máquinas, nos trabalhos de arrancar raízes, quando do corte das árvores, no terreno destinado a zona de jardim, e ocupada pelo alargamento do cemitério de Salvaterra de Magos.* Pág. 163 – Muro derrubado, quando se procedia à vedação do novo espaço de alargamento do cemitério * Pág. 165 - Jazigo, no antigo cemitério da Capela Real, na frente as suas inscrições tumulares dos sepultados, Fotos do Autor – 1996 *Pág 166 – Cruzeiro em Pedra, na Rua do Calvário, 1922 ******************************


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