Raspingos da vida e morte do 7º Conde dos Arcos

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Capa – Foto Fundo: Palácio dos Conde dos Arcos (Largo do Salvador – Lisboa) Autor: António Passaporte - 1900


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O Autor nรฃo segue o Acordo Ortogrรกfico de 1990


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A VIDA E MORTE DO 7º CONDE DOS ARCOS Nota Prévia Luiz Augusto Rebello da Silva (1822-1871) escreveu narrativas históricas, em vários jornais. A morte trágica do jovem fidalgo, Manuel José de Noronha e Menezes, 7º Conde dos Arcos., interessou ao jornalista-escritor, e foi pretexto para a incluir com o título “A Última Corrida Real de Touros em Salvaterra de Magos”, entre outras no livro; “Contos e Lendas”, publicado em 1848. Segundo alguns analistas na vida e obra de Rebello da Silva, terá escrito o seu conto, cerca de cem anos depois, do acontecimento. O cenário encontrado para o romance, foi aquela morte, do jovem Conde, no reinado de D. José I, e o cenário centrou-se na morte do jovem Conde dos Arcos, num brinco taurino, com a presença do rei D. José I, Decerto à época Rebello da Silva, dispunha apenas, de débeis informações orais, guardadas pela sempre fantasiosa memória do povo, e junto da família; dos Arcos. Os registos do espolio oficial, do reinado daquele monarca. Guardados, são um farto manancial de informações, mas os seus detractores à época - diziam “ o Rei, estar ao torno, enquanto o ministro, Marquês de Pombal, estar ao trono. O


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estilo usado, pelo romancista, ficou sendo um marco de referência do romantismo português, já no séc. XIX, e o texto, passou a fazer parte da história taurina em Portugal e, em tudo quanto foi editado sobre Salvaterra de Magos, não deixava de aparecer, ”A Morte do Conde dos Arcos”. A obra foi marcante para a época, os pintores-artistas plásticos, ali “beberam” inspiração para os seus belos quadros, pintados. Um fado também foi gravado sobre o tema. Na vila, no dobrar do séc. XX, ainda levava à feitura das mais variadas peças sobre o tema, e vendidas nos estabelecimentos da terra, como recordações. Desde menino sempre me interessei, por esta crónica e, o forma como foi romanceada, no seu estilo do séc. XIX. Nas minhas buscas, encontrei em publicação não referenciada – o registo de óbito, de Manuel José de Noronha e Menezes – 7º Conde dos Arcos, lavrado na paróquia daquela vila, Salvaterra de Magos. Inclusive constando ter sido sepultado, no seu Convento de Jericó. Ao longo dos tempos, existe uma corrente de críticos, que em textos fazem alarde e, até em conferências taurinas, que o Conde dos Arcos, realmente morreu numa arena, mas não nesta vila da Lezíria do Tejo.


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Reunidos tenho mais alguns documentos e informações, muitos deles obtidos na internet, não deixo aqui de os publicar – um forma de ajudar a um estudo mais minucioso, pois é certo o 7º Conde dos Arcos, tendo nascido na antiga freguesia de São Tomé – Lisboa, em 1740, onde a família que ostenta o titulo de nobreza; - Conde dos Arcos ainda mantém nos dias que correm o seu antigo paço residencial que vem daqueles séculos.. O seu óbito regista ter morrido em Salvaterra, em 1776, e ser enterrado no cemitério do antigo Convento de Jericó (Frades Arrábidos). Aquele Convento, por ocasião do sismo de 1858, foi desactivado e, a sua pedra tumular poderá ter sido transladada para a Igreja Matriz da vila de Salvaterra, conforme o pároco da freguesia Pe. José R. Diogo (quando das obras no interior daquele templo, em 1957), confirmou em registos guardados na Paróquia, e nós confiantes na sua informação, obtivemos daquela lápide, uma foto junto ao altar-mor. Fevereiro 2020 José Gameiro

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A VIDA E MORTE DO 7º CONDE DOS ARCOS (Manuel de Menezes e Noronha)

A ORIGEM DA FREGUESIA DE SÃO TOME, EM LISBOA

O Mosteiro do Salvador de Lisboa era feminino, e pertencia à Ordem dos Pregadores (Dominicanos). Era também designado por Mosteiro ou Convento do Santíssimo Rei Salvador. Em 1392, foi fundado por D. João de Azambuja, religioso, assim conhecido por ser natural daquela vila que banha o Tejo, na sua margem norte. Sendo bispo do Porto, com a participação de Frei Vicente de

Lisboa,

por

licença

apostólica

concedida na bula de Bonifácio IX, de 13 de Março de 1391, no âmbito da qual a


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igreja do Salvador, foi transformada em mosteiro

de

religiosas

dominicanas,

sendo o primeiro em Portugal. Em 1 de Julho, D. João I doou o padroado da igreja ao Mosteiro. Em 1396, a 29 de Novembro, entregou as Constituições religiosas à comunidade, nas quais se prescrevia a clausura e a sujeição aos dominicanos, conforme os Estatutos da Ordem e, o modo de vida do Convento de São Sisto de Roma. Em 1415, por ocasião da morte de D. João de Azambuja, este foi sepultado no convento, não estando ainda concluídas as obras de construção do edifício.


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Em 1438, as obras terminaram por intervenção da rainha D. Leonor, mulher de D. Duarte. Cerca de 1461, esta disposição originou um longo diferendo entre a comunidade e o

arcebispo

Nogueira,

de

Lisboa,

estando

em

D.

Afonso

causa

a

dependência aos Observantes ou ao Provincial dos Frades Pregadores. Em 1551, a comunidade era composta por oitenta freiras e quinze servidores e o convento dispunha de uma renda anual de mil e cem cruzados. Em 1834, no âmbito da "Reforma geral eclesiástica" empreendida pelo Ministro e Secretário de Estado, Joaquim António de Aguiar, executada pela Comissão da


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Reforma Geral do Clero (1833-1837), pelo Decreto de 30 de Maio, foram extintos todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e casas de religiosos de todas as ordens religiosas, ficando as de religiosas, sujeitas aos respectivos bispos, até à morte da última freira, data do encerramento definitivo. Em 1863 a 21 de Outubro, em virtude do Decreto de 2 de Outubro de 1862 e Portaria de 9 de Julho de 1863, os documentos pertencentes ao Convento do Salvador, foram transferidos para o Arquivo da Torre do Tombo. Os bens foram incorporados nos Próprios da Fazenda Nacional. Em 1884,

o


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mosteiro foi encerrado por morte da última freira. A Relação assinada por Roberto Augusto da Costa Campos, oficial diplomático encarregado de receber os cartórios, e pela

subprioresa,

soror

Tomásia

Margarida do Carmo. Grande parte dos documentos apresenta uma numeração, não sequencial, a tinta encarnada, uma assinatura não identificada. No

final

da

década

de

1990,

foi

abandonada a arrumação geográfica por nome das localidades onde se situavam os conventos ou mosteiros, para adoptar a agregação dos fundos por ordens religiosas.


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******** Em 1981, a 24 de Janeiro, um documento foi comprado à Livraria Histórica Ultramarina: Carta de emprazamento em três vidas feito pelo Mosteiro do Salvador de Lisboa, a Fernando Anes de um casal em Sintra, denominado Alfouvara Grande, 1511-10-20, perg., 65x35. ÂMBITO E CONTEÚDO Contém livros de escrituras, de profissões, de receita e despesa, de obrigações de capelas, de foros e rendas, de prazos, bulas e sentenças, cartas régias, cartas de doação, de venda, de sesmaria, de renúncia e de provimento de benefícios eclesiásticos, instrumentos de posse, documentação relativa à Confraria dos Clérigos de Torres Novas, licenças do cabido da Sé de Lisboa, alvarás do arcebispo de Lisboa, instrumento de obrigação dos fregueses de Benfica para a construção da igreja de São Roque, correspondência recebida de Roma, licenças do Vigário-Geral da Província dos Pregadores, provisão do Núncio Apostólico. Inclui alguns traslados dos sécs. XVI-XVIII de bulas pontifícias anteriores e outros documentos do convento dos sécs. XV-XVI, diversas memórias sobre o convento e a sua fundação e cópias das Constituições do séc. XV. A documentação refere o rei D. João I, D. João arcebispo de Lisboa, Bonifácio IX, Pio II, Alexandre V, Sisto IV, Sisto V, João Gonçalves da Câmara, Clara Martins, Maria Afonso, Afonso Miz,


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Afonso Esteves, Jorge d' Albuquerque, Luís Anes, Pero Botelho, D. Paula, Isabel de Paiva. São mencionados bens localizados nos termos de Alcáçova, Alcochete, Alhos Vedros, Aldeia Galega, Alenquer, Almada, Almarjão, Almeirim, Alvalade, Ameixoeira, Arrentela, Arroios, Azeitão, Azóia, Benfica, Cascais, Chelas, Sintra, Coina, Santa Iria, Lisboa, São João da Talha, Loures, Lumiar, Montijo, Monsanto, Monte Agraço, Montemor-o-Novo, Oeiras, Santarém, Sacavém, Torres Novas, Torres Vedras, Valverde, Vale de Casalinho, Xabregas, entre outros. SISTEMA DE ORGANIZAÇÃO Ordenação numérica específica para cada tipo de unidade de instalação (livros e maços). Os documentos reunidos em maços foram divididos em maços de documentos em pergaminho (mç. 1 a 27) e em papel (mç. 29 a 36). Dentro destes foram separados os documentos relativos a propriedades, de outros relativos a diversos assuntos. Os documentos relativos a propriedades foram ordenados alfabeticamente pela localidade onde se encontravam os bens, e numa segunda ordem (menos rigorosa) de forma cronológica. ******** ARQUIVO NACIONAL DA TORRE DO TOMBO - [Base de dados de descrição arquivística]. [Em linha]. Lisboa: ANTT, 2000. Disponível no Sítio Web e na Sala de Referência da Torre do Tombo. Em actualização permanente


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ARQUIVO NACIONAL DA TORRE DO TOMBO

- Ordem dos Pregadores - Mosteiro do Salvador de Lisboa: catálogo. [documento electrónico em linha]. Lisboa: ANTT, 2020. Acessível na Torre do Tombo, Instrumentos de descrição, L 775. Disponível no Sítio Web da Torre do Tombo em Relação dos documentos pertencentes ao Convento do Salvador que, em virtude do Decreto de 2 de Outubro de 1862 e Portaria de 9 de Julho de 1863, foram transferidos para o Arquivo da Torre do Tombo, recebidos no Convento, em 21 de Outubro de 1863 (L 296). UNIDADES DE DESCRIÇÃO RELACIONADAS Portugal, Biblioteca Nacional. Portugal, Torre do Tombo, Ministério das Finanças, cx. 1971 e 1972. NOTAS DE PUBLICAÇÃO "Ordens religiosas em Portugal: das origens a Trento: guia histórico". Dir. Bernardo de Vasconcelos e Sousa. Lisboa: Livros Horizonte, 2005. ISBN 972-24-1433-X. p. 394-395 *Localização / Freguesia: Santo Estêvão (Lisboa, Lisboa) ******** Outras designações Convento do Santíssimo Rei Salvador de Lisboa; Convento do Salvador; Convento de São Salvador; Convento do Santo Rei Salvador


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Morada actual Largo do Salvador Sumário: O Convento do Santíssimo Salvador, do ramo feminino da Ordem dos Pregadores, foi fundado em 1392 por D. João Esteves, bispo do Porto, no local da antiga capela de São Salvador da Mata. Concluído em 1438, com o patrocínio da rainha D. Leonor de Aragão, o cenóbio foi sendo depois acrescentado ao longo dos séculos, adaptando-se à orografia acidentada de Alfama, para acolher o número crescente de religiosas. Destaca-se, em particular, as campanhas de obras de remodelação da igreja por Domingos Fernandes (1589-1604), discípulo de Jerónimo de Ruão, e da capela-mor riscada por Pedro Nunes Tinoco para panteão de D. Francisco Barreto de Lima e sua mulher (1616-17). Na reconstrução da igreja, muito danificada pelo Terramoto de 1755, manteve-se o arco do cruzeiro e a capela-panteão que subsistiram ao cataclismo. A cerca conventual, de área apreciável, era dividida pela Rua do Salvador fazendo-se a ligação por passadiços superiores. O edifício do convento foi muito alterado após do Terramoto e a extinção das ordens, mantendo vestígios de elementos estruturais e arquitectónicos de diferentes fases construtivas. No geral, o edificado encontra-se em franco mau estado de conservação. O convento foi extinto em 1884 e a igreja desafecta ao culto. A partir desta data, o edifício acolheu várias instituições de beneficência social e de instrução escolar, O antigo espaço conventual foi recentemente adaptado a hotel e na antiga igreja está instalado o Centro Cultural Dr. Magalhães Lima. ********


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Durante este mês de junho o Largo do Salvador é um palco das Festas de Lisboa, do centro do arraial organizado pelo Centro Cultural Dr. Magalhães Lima, que aqui está sediado no que em tempos foi a igreja do Convento do Salvador, construído sobre a ermida de Jesus Salvador da Mata que deu a origem ao topónimo. Encontramos o Largo do Salvador na confluência da Rua do Castelo Picão, Rua da Regueira e Rua Guilherme Braga, tal como nas proximidades a Rua e o Beco com o mesmo topónimo, e todos colhem a sua denominação do antigo sítio do Salvador da Mata, da Lisboa medieval logo após a conquista da cidade aos mouros (1147), da primitiva ermida de Jesus Salvador da Mata que evolui para ser a igreja paroquial de São Salvador em 1189 e em 1209 foram criadas em Alfama as Freguesias do Salvador e a de São João da Praça. *********** O olisipógrafo Norberto de Araújo esclarece que «Estamos no Largo do Salvador. E do Salvador – porquê? Neste sítio, que no começo da Lisboa era de todo silvestre, em encosta que acompanhava pelo exterior uma parte da muralha moura, apareceu – segundo rezam as lendas – em certa manhã, espetado no chão do matagal, um crucifixo, e perto dele uma imagem de N. Senhora com o Menino. Milagre era; naquele tempo devoto, primeiros anos após a conquista, a notícia correu célere por Lisboa. Logo se ergueu uma Ermidinha a Jesus Salvador da Mata, porque mata cerrada era tudo isto por aqui. A ermida teve, pouco depois de erguida, grande concorrência de mulheres penitentes que junto dela fizeram um Recolhimento, já levantado em 1240. O sítio foi-se desbravando, povoando, dando uma pequena freguesia, o que se explica, porque a Ermida era do priorado.»


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O pequeno recolhimento das Beatas de São Salvador da Mata deu origem à fundação do Convento feminino do Salvador em 1391/1392, da Ordem dos Pregadores, pelo bispo do Porto D. João Esteves, no espaço que hoje é do Largo do Salvador. O Convento também foi denominado do Santíssimo Rei Salvador de Lisboa, de São Salvador e do Santo Rei Salvador. Em finais do séc. XVI foi a vez de ser também construído neste Largo o Palácio dos Condes de São Miguel (ou Palácio dos Condes de Arcos de Valdevez) que se ligou ao Mosteiro pelo denominado Arco do Salvador, estrutura que resistiu ao Terramoto de 1755. O Mosteiro encerrou em 1884 por morte da última freira e a igreja desvinculada do culto. O Largo do Salvador teve obras de remodelação em 1961, no âmbito da reestruturação de Alfama. A parte da igreja foi entregue à Junta de Freguesia local que por sua vez cedia o espaço ao Centro Cultural Dr. Magalhães Lima desde a sua fundação em 5 de outubro de 1975. Na outra parte do antigo mosteiro feminino dominicano hoje lá encontramos o Hotel Convento do Salvador. ****


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A ANTIGA FREGUESIA SÃO TOMÉ, NA NOVA FREGUESIA DE SÃO VICENTE DE FORA (LISBOA)

São Tomé foi uma freguesia urbana da cidade de Lisboa, hoje parte do território da freguesia de São Vicente de Fora. Por portaria de 26 de Outubro de 1835 foi

permitido

paróquias, canónico.

nos Com

aos

bispos

termos esta

do

anexar direito mudança

administrativa levou a que a 17 de Outubro de 1836, a paróquia de São Salvador de Lisboa, fosse anexada à de São Tomé. Este agrupamento foi posteriormente, a 1 de Fevereiro de 1856, integrado na freguesia de São Vicente, levando à sua efectiva extinção.


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LARGO DO SALVADOR * CONVENTO DE SÃO SALVADOR, E PALÁCIO DOS CONDES DOS ARCOS * Estamos no Largo do Salvador - Diz, Norberto de Araújo - porquê?

Este sitio, que no começo de Lisboa era de todo silvestre, em encosta que acompanhava pelo exterior uma parte da muralha moura, apareceu-segundo rezam as lendas- em certa manhã, espetado no chão do matagal, um crucifixo, e perto dêle uma imagem de N. Senhora com o Menino. Milagre era; naquele tempo devoto, primeiros anos da conquista, a noticia correu célere por Lisboa. Logo se ergeu uma Ermidinha a Jesus Salvador da <Mata>, porque mata cerrada era tudo

isto por aqui. A ermida teve, pouco depois de erguida, grande concorrência


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de mulheres penitentes que junto dela fizeram recolhimento, já levantado em 1240.

O

sítio

foi-se

desbravando,

povoando, dando uma pequena freguesia, o que se explica, porque a Ermida era do priorado. Em 1392, o Bispo do Porto, D. João Esteves, da Azambuja, chamado por ser natural desta vila, mais tarde (em 1402) arcebispo de Lisboa, e cardeal e cardeal (1411), resolveu com autorização do Rei e

do

Papa

fazer

do

pequeno

Recolhimento um mosteiro de religiosas dominicanas; a igreja fora considerado paroquial no ano anterior. Era o tempo de D. João I que cosa alguma negava ao tratar-se de ampliar Lisboa, o mosteiro, cuja primeira abadessa se chamava


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Margarida Anes, foi construído com lentidão, pois só é dado por concluído em 1478, a esforços da princesa, depois rainha D. Leonor, mulher de D. João II. O terramoto destruiu o velho mosteiro, que houve de ser reedificado de alto a baixo, não estando as obras concluídas em 1762, e havendo passado a paroquial para o Menino de Deus, para só voltar, mais tarde, à sua antiga sede. Pela extinção

das

Ordens,

o

mosteiro

conservou-se até à morte da última freira (1884), mantendo-se ainda o culto na igreja, cuja paroquial, ainda, como a de São Tomé, se uniu à de S. Vicente em 1836.


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Em

Outubro

proclamou

a

de

1910,

República,

quando o

se

antigo

convento era ocupado por um Colégio religioso, cuja patrona era D. Tereza Saldanha. Depois tudo acabou -Colégio e Igreja; esta foi profanada, recebeu obras do Estado, nela se instalando, pouco depois o Centro Republicano Magalhães Lima, com sua escola infantil. Aí temos à nossa esquerda, o Palácio dos Condes dos Arcos (de Val-de-Vez), hoje dos Condes de S. Miguel, cuja Condessa (Noronha) é ainda Arcos. Este palácio histórico, nºs 14 a 25 do Largo, é o único representativo de toda a Alfama, aquele que, a despeito de não estar ocupado,


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pelos seus ilustres proprietários senão no seu andar nobre, se mantém de pé. Relíquia Alfamense na nobreza com pergaminhos

e

crónica

fidalga,

ele

sobrevive à evolução do tempo e dos costumes, como os raros, seus vizinhos, de São Vicente. O palácio, na sua formação primitiva, data dos fins do séc. XVI (...) O Brasão que avulta sobrepujando o pórtico nobre é o dos Arcos, com as armas de Portugal no primeiro e terceiro quartel, e as do antigo reinado de Castela, com dois leões batalhantes, no segundo e quarto.

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Nota: Origem Texto e Fotos Lisboa de Antanho: Anonymous Foto 1- Autor: José Artur Leitão Bárcia ( c.1900) .jpg (AML)* Largo do Salvador * Arco do Salvador e Convento São Salvador, fundado em 1392 Foto 2 – Autor: NI-jpg (c. 1900) (AML) * Largo do São Salvador * Convento de São Salvador (fundado em 1392) Foto 3 – Autor: Judah Benoliel (c.195.) jpg (AML) Largo do Salvador * Convento de São Salvador fundado em 1392, e ao fundo o Palácio dos Condes dos Arcos, ou de São Miguel (ao fundo) . Observe-se o brasão de Armas coberto por panos. Foto 4 – Autor: José Artur Leitão Bárcia (c.1900).jpg (AML) * Largo do Salvador * Palácio dos Condes dos Arcos, ou de S. Miguel * Observe-se o Brasão de Armas coberto por panos. Foto 5 – Autor: António Passaporte (AML) * Largo do Salvador (1) Pórtico Nobre do Palácio dos Conde dos Arcos, ou de S. Miguel (1955) * Brasão dos Arcos dos Arcos com as Armas de Portugal, e as do antigo reino de Castela.


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As inicio das Corrida de Touros em Portugal O brinco, era uma forma de divertimento com touros foi muito usado em Portugal, no reinado de D. José I, mas existem registos que já eram usados no reinado de D. Sancho II, no séc. XII.

Foi no tempo

de Filipe

III

de

Portugal

(IV

de

Espanha)

que, foi

introduzido na arena, pela primeira vez, os coches de gala durante as corridas reais, com pajens que mostravam os estandartes das casas reconhecidas com brasonado. ******** Nota: - Fotos: Cláudio José Travessa, Flávio Travessa e Ana Batista, artistas de alternativa; cavaleiros tauromáquicos de Salvaterra de Magos.


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Este

espetáculo,

conhecido

de

à

“Portuguesa” teve inicio no meio artístico taurino, porque os cavaleiros vestem-se com trajes do século XVIII, e usam um pequeno lado preto desde o pescoço até às costas (em sinal de luto, pelo Jovem Conde dos Arcos). Os moços das pegas no inicio do séc. XX, deixaram as vestes tradicionais, com chapéu

e

forcados,

vestem-se com garridas jaquetas,

calção

e

barrete verde. Consiste na lide a cavalo de seis ou mais toiros bravos, seguindo-se a pega efectuada por 8 forcados (pega de caras) ou por


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somente 2 forcados (pega de cernelha). Desde meados do século XIX, com a generalização da pega, que na corrida à portuguesa, foi abandonada a morte do toiro na arena, sendo esporadicamente sido autorizada ou não a sua morte, em algumas praças do país

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O TITULO DE CONDE DOS ARCOS Reinava em Portugal, o rei Filipe II, de Portugal (III de Espanha), que assinou em 8 de Fevereiro de 1620, a criação do titulo de: “Conde dos Arcos” – Arcos de Valdevez, a favor de D. Luís de Lima e Brito Nogueira. *Os de Noronha de Alarcão são a família dos Condes dos Arcos, título ao qual se juntaram os títulos de Conde de São Miguel, Visconde de Trancoso e Conde de Vila Nova de Cerveira. Manuel José de Noronha e Menezes (7º Conde dos Arcos) Reinava em Portugal D. João V, e no dia 3 de junho de 1740, em Lisboa, na freguesia


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de São Tomé, nasceu uma criança aquém foi dado o nome; Manuel José de Noronha e Menezes. O seu batismo ocorreu na igreja daquela freguesia. Ainda jovem foi-lhe destinada como esposa Dª Juliana Xavier de Lencastre, que mais tarde passou a usar o titulo de 7ª Condessa dos Arcos, pois seu marido ascendia à sucessão do seu pai; D. Pedro José de Alcântara António Luís Francisco Xavier Melchior de Menezes Noronha Coutinho, 6º Conde dos Arcos, e que também possuía o titulo nobilíssimo de 4º Marquês de Marialva, casado

com Dª

Eugénia de Assis Mascarenhas. Filhos: Diogo José Vito de Menezes Noronha

Coutinho,

marquês

de


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Marialva; António Luís de Menezes; Joaquina José Benta de Menezes; Ana José Mónica de Menezes e Noronha; Rodrigo José António de Menezes, 1.º conde de Cavaleiros; e José Tomás de Menezes Noronha Coutinho e Manuel José de Noronha e Menezes. O jovem Manuel José Menezes, desde cedo se interessou pela arte de bem montar a cavalo, frequentando a escola real, pois seu pai era famoso naquela arte, e escolhido como estribeiro-mor de D. José I. Nos dias que a corte real estava em Salvaterra, gozando o seu lazer, o jovem não deixava de praticar nas aulas, no Picadeiro real da vila. Num dia de festa no Paço, onde toda a corte estava presente, com convidados


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estrangeiros que visitavam Portugal, para negócios e assuntos diplomáticos do reino, houve um brinco com toiros bravos. A praça em madeira construída nos terrenos junto ao Paço,

bem decorada

onde sobressaiam os camarotes da corte; rei, rainha e filhos príncipes, foi engalanada com os estandartes das casas senhoriais do reino português. As Damas presentes preenchiam um bom espaço das bancadas do recinto taurino. Um dos picadores naquele dia, era o Conde dos Arcos. A tragedia aconteceu. O jovem morreu na arena, e segundo consta no registo do seu óbito, foi no dia vinte de Fevereiro de mil setecentos e setenta e seis. O Corpo do jovem cavaleiro foi sepultado

no

Convento

dos

Frades


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Arrábidos da vila de Salvaterra de Magos, depois de estar 3 dias em exéquias, na Igreja Matriz, onde se rezaram missas. Além da viúva, deixou seus filhos; Maria Benedita de Noronha e D. Marcos de Noronha e Brito, 8º conde dos Arcos.

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A MORTE DO 7º CONDE DOS ARCOS

A Última corrida real de Touros em Salvaterra

“O sr. D. José, primeiro do nome, era em Salvaterra um rei em férias. –A verdade é que os maldizentes notavam, em segredo, que Sua Majestade, estava sempre ao torno e o Marquês no trono. O prolóquio fundava-se na habilidade mecânica do monarca como torneiro, e no carácter dominador do marquês como ministro. Vicejavam os campos em plena primavera. A amendoeira cobria-se de flores, os bosques esfolhavam-se, as veigas vestiam-se e matizavam-se, e a brisa doidejava indiscreta arregaçando o lenço


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à donzela que passava, ou roubando um beijo à rosa perfumada. Tudo eram alegrias e cânticos… os rouxinóis nas moitas, o coração nos amores, e a natureza nos sorrisos ao sol esplêndido que a dourava. O Rei estava em férias em Salvaterra e, uma tourada real chamara a corte a restante fidalguia do país a esta vila. Os fidalgos respiravam nestas ocasiões menos oprimidos. Não os assombrava tão de perto a privança do ministro. Os touros eram bravos, os cavaleiros destros, o anfiteatro pomposo, e o cortejo das damas adorável. O prazer na boca de todos. Por cúmulo de venturas o Marquês de Pombal ficara em Lisboa, retido pelo conflito com o embaixador de Espanha. Contava-se em segredo nos recantos do palácio o diálogo entre o enviado


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castelhano e o secretário de estado português, louvando-o uns em voz alta, para os ecos daquelas paredes repetirem os elogios, crucificando-o outros sem piedade, para saciarem os ódios. As devotas e os fidalgos puritanos eram pelo espanhol, e pediam a Deus que os rebates da guerra próxima despenhasse o plebeu nobilitado do seu pedestal político. Os magistrados e os homens de capa e volta, defendiam o marquês e respondiam com meios sorrisos às fogosas jaculatórias dos zelosos do trono e do altar. O Marquês de Pombal, tinha-se negado com firmeza às concessões exigidas imperiosamente pelo governo castelhano:– Muito bem! - atalhou o embaixador – um exército de sessenta mil homens entrará em Portugal e fará …


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- O quê? – Perguntara o marquês, sorrindo-se com a tremenda luneta assentada e no tom mais indiferente. - Fará entender a razão e a justiça de elrei, meu amo, a Sua Majestade, e a vossa excelência! – Redarguiu meia oitava acima o espanhol, supondo o ministro fulminado. Sebastião José de Carvalho franziu as sobrancelhas, carregou a viseira, e cravando a vista e a luneta no diplomata, retorquiu-lhe friamente: - Sessenta mil homens muita gente é para casa tão pequena; mas querendo Deus, elrei meu amo e senhor, sempre há-de achar onde possa hospedá-la. Mais pequena era Aljubarrota e lá couberam os que D. João de Castela trouxe. Vossa excelência pode responder isto ao seu governo. E, levantando-se para despedir o embaixador, acrescentou: - Bem sabe vossa excelência que pode tanto cada um em sua casa, que mesmo


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depois de morto é precisos quatro homens para o tirarem! -O embaixador saiu jurando por Dyos y la Virgem Santíssima, e o marquês preparouse para a guerra. O caso é, como dizia o nosso Zeferino na Sobrinha do Marquês, que Sebastião José de Carvalho foi um grande ministro e que fez muito pela nação. Hoje há menos quem responda assim à letra às ameaças dos estrangeiros. Berra-se muito, dorme-se a sono solto ao som dos hinos patrióticos e depois salva o castelo de madrugada e está salva a pátria. O marquês de Pombal prezava as artes e protegia e animava as classes médias. Esse pouco que o reino progrediu deveu-se a ele. Se a indústria nunca acabou de sair da infância, a culpa quase toda foi dos maus governos que sucederam ao seu, e também do povo que não quis trabalhar deveras…


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Mas vamos aos touros reais. Desses é que o ministro não gostava nada. Queria-os ao arado e não à farpa, e parecia-lhe melhor, que os toureadores, sendo fidalgos, servissem o Estado com a pena ou com a espada, e, sendo mecânicos, que lavrassem, tecessem e ganhassem honradamente a vida, enriquecendo-se a si e à nação. Mas el-rei D. José, cedendo em tudo ao marquês, quanto aos touros não admitia reflexões. Nisto era rei a valer e Bragança legitimo. Os fidalgos sabiam-no e por isso desfrutavam doces prazeres – a satisfação do gosto nacional e a contradição da vontade do ministro. Desatendê-la sem perigo e pela mão do soberano era para eles um deleite e um triunfo. Nestas funções não vigorava a severidade das últimas pragmáticas. Outro motivo de júbilo. Quem queria podia arruinar-se em luxuosos vestidos, enfeites e toucados.


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As bordaduras e os recamos de ouro, os veludos e sedas de fora, talhados à francesa, resplandeciam constelados de pérolas e diamantes. Por cima dos mais ricos trajos e das mais vistosas cores desenrolavam-se os anéis ondeados das empoadas cabeleiras. As damas ostentavam as graças de seus donaires e tufados, e emoldurando o belo oval dos rostos nos penteados caprichosos, sorriamse para os gentis campeadores, e seus olhos cheios de luz e de promessas estimulavam até os tímidos. Correram-se as cortinas da tribuna real. Rompem as músicas. Chegou el-rei, e logo depois entra pelos camarotes o vistoso cortejo, e vê-se ondear um oceano de cabeças e de plumas. Na praça ressoam brava alegria as trombetas, as charamelas e os timbales. Aparecem os cavaleiros, fidalgos distintos todos, com o conto das lanças nos estribos e os brasões bordados no veludo das gualdrapas dos cavalos.


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As plumas dos chapéus debruçam-se em matizados cocares, e as espadas em bainhas lavradas pendem de soberbas talins. Os capinhas e forcados, vestem com garbo à castelhana antiga. No semblante de todos brilha o ardor e o entusiasmo. O Conde dos Arcos, entre os cavaleiros, era quem dava mais na vista. O seu trajo, cortado à moda da corte de Luiz XV, de veludo preto, fazia realçar a elegância do corpo. Na gola da capa e no corpete sobressaiam as finas rendas da gravata e dos punhos. Nos joelhos as ligas bordadas deixavam escapar com artificio os tufos de cambraieta alvíssima. O conde não excedia a estatura ordinária; mas, esbelto e proporcionado todos os seus movimentos eram graciosos. As faces eram talvez pálidas de mais, porém animadas de grande expressão, e o fulgor das pupilas negras fuzilava tão vivo


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e por vezes tão recobrado, que se tornava irresistível. Filho do marquês de Marialva e discípulo querido de seu pai, do melhor cavaleiro de Portugal, e talvez da Europa, a cavalo, a nobreza e a naturalidade do seu porte enlevavam os olhos. Ele, e o corcel, como que ajustados em uma só peça, realizavam a imagem do centauro antigo. A bizarria com que percorreu a praça, domando sem esforço o fogoso corcel, arrancou prolongados e repetidos aplausos. Na terceira volta, obrigando o cavalo quase a ajoelhar-se diante de um camarote, fez que uma dama escondesse turvada no lenço as rosas vivíssimas do rosto, que decerto descobririam o melindroso segredo da sua alma, se em momentos rápidos como o faiscar do relâmpago pudesse alguém adivinhar o que só dois sabiam.


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El-rei, quando o mancebo o cumprimentou pela última vez, sorriu-se, e disse voltando-se: - Porque virá o conde quase de luto à festa ? Principiou o combate. Não é propósito nosso descrever uma corrida de touros. Todos teem assistido a elas e sabem de memória o que o espectáculo oferece de notável. Diremos só que a raça dos bois era apurada, e que os touros se corriam desembolados, à espanhola. Nada diminuía, portanto, as probabilidades do perigo e a poesia da luta. Tinham-se picado alguns bois. Abriuse de novo a porte do curro, e um touro preto investiu com a praça. Era um verdadeiro boi de circo. Armas compridas e reviradas nas pontas, pernas delgadas e nervosas, indício de grande ligeireza, sinal de força prodigiosa.


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Apenas tocara o centro da praça, estancou como deslumbrado, sacudiu a fronte e, escavando a terra impaciente, soltou um mugido feroz no meio do silêncio, que sucedera às palmas e gritos dos espectadores. Dentro em pouco as capinhas, saltando a pulos as trincheiras, fugiam à velocidade espantosa do animal, e dois ou três cavalos expirantes, denunciavam a sua fúria. Nenhum dos cavaleiros se atreveu a sair contra ele. Fez uma pausa. O touro pisava a arena ameaçador e parecia desafiar em vão um contendor. De repente viu-se o Conde dos Arcos firme na sela provocar o ímpeto da fera e a haste flexível do rojão ranger e estalar, embebendo o ferro no pescoço musculoso do boi. Um rugido tremendo, uma aclamação imensa do anfiteatro inteiro, e as vozes triunfais das trombetas a


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charamelas brilhante.

encerraram

esta

sorte

Quando o nobre mancebo passou a galope por baixo do camarote, diante do qual pouco antes fizera ajoelhar o cavalo, a mão alva e breve de uma dama deixou cair uma rosa, e o conde, curvando-se com donaire sobre os arções, apanhou a flor do chão sem afrouxar a carreira, levou-a aos lábios e meteu-a no peito. Investindo depois com o touro, tornado imóvel com a raiva concentrada, rodeou-o estreitando em volta dele os círculos até chegar quase a pôr-lhe a mão na nuca. O mancebo desprezava o perigo e pago até da morte pelos sorrisos, que seus olhos furtavam de longe, levou o arrojo a arrepiar a testa do touro com a ponta da lança. Precipitou-se então o animal com fúria cega e irresistível. O cavalo baqueou trespassado e o cavaleiro, ferido na perna, não pôde


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levantar-se. Voltando sobre ele o boi enraivecido arremessou-o aos ares, esperou-lhe a queda nas armas, e não se arredou senão quando, assentando-lhe as patas sobre o peito, conheceu que o seu inimigo era um cadáver. Este doloroso lance ocorreu com a velocidade do raio. Estava já consumada a tragédia e não havia expirado ainda o eco dos últimos aplausos. De repente um silêncio, em que se conglobam milhares de agonias, emudeceu o circo. Rei, vassalos e damas, meio corpo fora dos camarotes, fitavam a praça sem respirar e erguiam logo a vista ao céu como para seguir a alma que para lá voava envolta em sangue. Quando mancebo, dobrado no ar, exalava a vida antes de tocar no chão, um gemido agudo, composto de soluços e choro, caiu sobre o cadáver como uma lágrima de fogo.


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Uma dama desmaiada nos braços de outras senhoras soltara aquele grito estridente, derradeiro ai do coração ao rebentar do peito. El-Rei D. José com as mãos no rosto, parecia petrificado. A corte desta vez acompanhava-o na sua dor. Mas o drama ainda não tinha concluído. Quem sabe!? O terror e a piedade iam cortar de novas mágoas o peito a todos. O Marquês de Marialva assistira a tudo do seu lugar. Revendo-se na gentileza do filho, seus olhos seguiam-lhe os movimentos brilhando a cada sorte feliz. Logo que entrou o touro preto, carregou-se de uma nuvem o semblante do ancião. Quando o Conde dos Arcos saiu a farpeá-lo, as feições do pai contraíram-se e a sua vista não se despregou mais da arriscada luta.


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De repente o velho saltou um grito sufocado e cobriu os olhos, apertando depois as mãos na cabeça. Os seus receios haviam-se realizado. Cavalo e cavaleiro rolavam na arena, e a esperança pendia de fio ténue ! Cortou-lhe rapidamente a morte, e o marquês perdido o filho, luz da sua alma e ufania de suas cãs, não preferiu uma palavra, não derramou uma palavra; mas os joelhos fugiam-lhe trémulos, e a elevada estatura elevou-se vergando ao peso da mágoa excruciante. Volveu, porém, em si, decorridos momentos alivia palidez do rosto tingiu-se de vermelhidão febril subitamente. Os cabelos desgrenhados e hirtos revolveram-se-lhe na fronte inundada de suor frio como as sedas da juba de leão irritado. Nos olhos amortecidos faiscou instantâneo, mas terrível, o sombrio clarão


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de uma cólera, em que todas as ânsias insofridas da vingança se acumulavam. Em um ímpeto a presença reassumiu as proporções majestosas e erectas como se lhe corresse nas veias o sangue do mancebo que perdera. Levando por acto instintivo a mão ao lado, para arrancar da espada, meneou tristemente a cabeça. A sua boa espada, cingira-a ele próprio ao filho neste dia que se convertera para sua casa em dia de eterno luto. Sem querer ouvir nada, desceu os degraus do anfiteatro, seguro e resoluto como se as neves de setenta anos lhe não branqueassem a cabeça. – Sua majestade ordenou ao marquês de Marialva, que aguarde as suas ordens! – disse um camarista, detendo-o pelo braço. O velho estremeceu como se acordasse sobressaltado, e cravou no interlocutor os olhos desvairados, em que reluzia o


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fulgor concentrado dum pensamento imutável . Desviando depois a mão que o suspendia, baixou mais dois degraus. - Sua majestade entende foi já bastante desgraçado e não quer perder nele dois vassalos… - El-rei manda nos vivos e eu vou morrer! – atalhou o ancião, em voz áspera, mas sumida – Aquele é o corpo do meu filho! – e apontava para o cadáver – Está ali! Sua majestade pode tudo menos desarmar o braço do pai, menos desonrar os cabelos brancos do criado que o serve há tantos anos. Deixe-me passar, e diga isto. D. José vira o marquês levantar-se e percebera a sua resolução. Amava no estribeiro-mor as virtudes e a lealdade nunca desmentidas. Sabia que da sua boca não ouvira senão a verdade, e a ideia de o perder assim era-lhe insuportável.


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Apenas lhe constou que ele não acedia à sua vontade, fez-se branco, cerrou os dentes convulsos e, debruçado para fora da tribuna, aguardou em ansioso silêncio o desfecho da catástrofe. A esse tempo já o marquês pisava a praça, firme e intrépida como os antigos romanos diante da morte. Dentro do peito o seu coração chorava, mas os olhos áridos queimavam as lágrimas quando subiam a rebentar por eles. Primeiro do que tudo queria a vingança. Por impulso instantâneo, todo o ajuntamento se pôs de pé. Os semblantes consternados e os olhos arrasados água, exprimiam, aquela dolorosa contenção de espírito, em que um sentido parece concentrar todos. - Deixai-o ir ao velho fidalgo!


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A mágoa, que o trespassa, não tem igual. O fogo, que lhe presta vida e forças, é a desesperação. Deixai-o ir, e de joelhos! Saudai a majestade do infortúnio. O pai angustiado ajoelhou junto do corpo do filho e pousou-lhe depois um ósculo na fonte. Desabrochou-lhe o talim e cingiu-o, levantou-lhe do chão a espada e correu-lhe a vista pelo fio e pela ponta de dois gumes. Passou depois a capa no braço e cobriuse. Decorridos instantes estava no meio da praça e devorava o touro com a vista chamejante, provocando-o para o combate. Cortado de comoções tão cruéis, não lhe tremia o braço e os pés arreigavam-se na arena como se um puder oculto e superior lhos tivesse ligado repentinamente à terra. Fez no circo um silêncio gélido, tremendo e tão profundo, que poderiam ouvir-se até as pulsações do coração do


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marquês, se naquela alma de bronze o coração valesse mais do que a vontade. O touro arremete contra ele. Uma e muitas vezes o investe ego e irado, mas a destreza do marquês esquiva sempre a pancada. Os ilhais da fera urfam de fadiga, a espuma franja-lhe a boca, as pernas vergam e resvalam, e os olhos amortecem de cansaço. O ancião zomba da sua fúria. Calculando as distâncias, frustra-lhe todos os golpes sem recuar um passo. O combate demora-se. A vida dos espectadores resume-se nos olhos. Nenhum usa desviar a vista de cima da praça. A imensidade da catástrofe imobiliza todos. De súbito solta el-rei um grito e recolhe-se para dentro da tribuna. O velho aparava a peito descoberto a marrada do touro, e quase todos ajoelharam para rezarem por alma do último marquês de Marialva.


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A aflitiva pausa apenas durou momentos. Por entre as névoas, de que a pupila trémula se embaciava, viu-se o homem crescer para a fera, a espada fuzilar nos ares e logo após sumir-se até aos copos entre a nuca do animal. Um bramido, que atroou o circo, e o baque do corpo agigantado na arena, encerraram o estremo acto do funesto drama. Clamores uníssonos saudaram a vitória. O marquês, que tinha dobrado o joelho com a força do golpe, levantava-se mais branco do que um cadáver. Sem fazer caso dos que o rodeavam, tornou a abraçar-se com o corpo do filho, banhando-o de lágrimas e cobrindo-o de beijos. O touro ergueu-se, e, cambaleando com a sezão da morte, veio apalpar o sítio onde queria expirar. Ajuntou ali os membros e deixou-se cair sem vida ao lado do cavalo do conde dos Arcos.


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Nesse momento os espectadores olhando para a tribuna real estremeceram. El-rei, de pé e muito pálido, tinha junto de si o marquês de Pombal, coberto de pó e com sinais de ter viajado depressa.

Sebastião José de Carvalho voltava de propósito as costas à praça falando com o monarca. Punia assim a barbaridade do circo. – Temos guerra com a Espanha, senhor.


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E inevitável. Vossa majestade não pode consentir que os touros lhe matem o tempo e os vassalos. Se continuássemos nesse caminho … cedo iria Portugal à vela. - Foi a última corrida marquês. A morte do conde dos Arcos acabou os touros reais enquanto eu reinar. – Assim o espero da sabedoria de vossa majestade. Não há tanta gente nos seus reinos, que possa dar-se um homem por um touro. - El-rei consente que vá em seu nome consolar o marquês de Marialva ? - Vá ! É pai. Sabe o que há-de dizer-lhe! - O mesmo que ele me diria a mim, se Henrique estivesse como está o conde. Elrei saiu da tribuna, e o marquês de Pombal, entrando na praça em toda a majestade da sua elevada estatura,


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levantou nos braços o velho fidalgo, dizendo-lhe com voz meiga e triste: - Sr. Marquês! Os portugueses, como V. Exllª., são para darem exemplos de grandeza de alma e não para os receberem. Tinha um filho e Deus levoulho. Altos juízos seus! A Espanha declaranos a guerra e el-rei, meu amo e senhor, precisa do conselho e da espada de V.Exllª. e travandolhe da mão, levou-o quase nos braços até o meterem na carruagem.” D. José I, cumpriu a palavra dada ao seu ministro. No seu reinado não mais se picaram touros reais em Salvaterra.


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O rei, morreu um ano depois deste infausto acontecimento que enlutou o seu reinado. Sucedeu-lhe no trono sua filha; D. Maria I, que continuou cumprindo os desejos de seu pai – não houve corridas reais em Salvaterra! O povo, não acatou de bom agrado as leis decretadas pela nova monarca, e pelos mais variados lugares do país, realizava nas suas festas locais, corridas de toiros, que tinham como epilogo a sua morte. Quando D. Miguel, governou Portugal, (1826-1834), sendo um apaixonado pelas corridas de toiros, regulamentou-lhe novas leis, que o povo aceitou com agrado, tendo aí inicio entre outras regras, os cavaleiros passarem a usar o


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traje realengo do séc. XVIII, com uma fita negra, a cair desde o pescoço às costas, em sinal de luto pela morte do 7º Conde dos Arcos. As montadas, seriam bem ajaezadas com fitas coloridas, entrançadas nas crinas e rabo. D. Miguel, quando se encontrava em Salvaterra, em descanso, entre os seus folguedos não deixava de assistir a esta sorte de toiros, numa praça em madeira, nos terrenos do Paço real. Tendo perdido a guerra civil, com seu irmão D. Pedro II, a rainha D. Maria II, em 1836, decretou a proibição em Portugal a realização destes espectáculos.

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Ano 1957 – Obras no interior da Igreja Matriz – foi retirado o gradeamento em ferro junto ao altar-mor e ficou mais espaço para o culto dos fieis * Onde foi colocado o estrado de madeira, quando das obras existia entre outras pedras tumulares, uma que que foi identificada com a do Conde dos Arcos


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SUMÁRIO

A VIDA E MORTE DO 7º CONDE DOS ARCOS ……………………..

7

.A Origem da Freguesia de São Tomé ……

7

-A Antiga Freguesia de São Tomé, incluída na nova Freguesia de São Vicente de Fora …………….

18

-Largo do Salvador * Convento de São Salvador, e Palácio dos Condes dos Arcos …………………………..

19

-O Inicio das corridas de touros em Portugal …….

28

O TITULO DOS CONDES DOS ARCOS ……………………………….

31

-Manuel José de Noronha e Menezes ……………………………. 31 A MORTE DO 7º CONDE DOS ARCOS ………………………………….. 36 - A Última Corrida Real de Touros em Salvaterra Magos 36 -Certidão de Óbito (Manuel José de Noronha e Menezes) 63

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Bibliografia Usada: *Anais de Salvaterra, José Estevam *Salvaterra de Magos – Pedaços da Tauromaquia - Autor *Vol. VI – 2ª edição Caderno Nº 37 Colecção Apontamentos “A Morte do Conde dos Arcos” – Uma certeza em Salvaterra de Magos – do Autor *São Tomé (Lisboa) – Wikipédia, a enciclopédia livre *Categoria: Antigas freguesias de Lisboa – Wikipédia, ….. pt.wikipedia.org › wiki › Categoria:Antigas_freguesias_... *Rua de São Tomé (antiga do Infante ... - Lisboa de Antigamente lisboadeantigamente.blogspot.com › 2017/07 › rua-de-... *Palácio dos Condes de Arcos de Valdevez em... bloguedominho.blogs.sapo.pt › palacio-dos-condes-de-... *Convento de São ... - Lisboa de Antigamente: Largo do Salvador lisboadeantigamente.blogspot.com › 2016/04 › largo-d... *Palácio do Salvador (Palácio dos Condes dos Arcos) informacoeseservicos.lisboa.pt › diretorio-da-cidade › p... *Monteiro (Eduardo Pizarro).— Livro: A Última Corrida de Salvaterra Nunca Existiu. 1982. 18,5x24,5 cm. B. “(...) Rebelo da Silva no seu conto burilou, em palavras magníficas, um texto eivado de romantismo; Eça de Queiroz, na sua inconfundível prosa, completou o romance; Mestre-pintor e


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cavaleiro tauromáquico, Simão da Veiga imortalizou a lenda numa magnífica tela e Roque Gameiro numa excelente aguarela, mas, de facto, ‘A Última Corrida de Touros em Salvaterra’ nunca existiu.” *Trabalho publicado em separata da revista Miscelânea Histórica de Portugal. *Livro “Última Corrida de Touros em Salvaterra” edição 1965 “Colecção Livraria Civilização - Porto *Irina Maria Monteiro Santos Coelho “De Praça a Praça” Praças de Toiros Portuguesas (1850-1950) * Contributo para a sua Salvaguarda e Divulgação - Pág 35/ 42 * Universidade de Évora

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