V Volume Crónicas do Nosso Tempo - Ano 2019

Page 1

1


2


3

SALVARERRA DE MAGOS Crónicas do Nosso tempo Tipo de Encadernação: Papel Brochado Autor: Gameiro, José Editor: Gameiro, José Rodrigues Edição: Papel Papel A 4, e Sistema Digital PDF Morada: B.º Pinhal da Vila – Rua Padre Cruz, Lote 64 -1º Localidade: Salvaterra de Magos Código Postal: 2120-059 Salvaterra de Magos ********

* Tel. 263 505 178 * Telem. 918 905 704 e-mail: josergameiro@sapo.pt

O Autor não segue o acordo ortográfico de 1990

Janeiro 2020


4 FOI APENAS UM SONHO !... .Guardamos desde sempre os escritos de relatos de experiências vividas, e que já tínhamos publicado em Jornais e, agora são documentos que ninguém já lê, porque no tempo que passa é aborrecida folhear um livro. As novas tecnologias digitais estavam aí! Não as conhecíamos, e um dia veio a oportunidade, o meu sobrinho; Cláudio Gameiro; abriu-nos o blogue:http://www.historiasalvaterra.blogs.sapo.pt, e tudo começou em setembro de 2007. A ideia de usar as redes sociais, fervilhava, e tantas memórias havia de um tempo, que se entrelaçava com a história de Salvaterra de Magos Com o passar do tempo, agora já mais lestos, decidimos fazer o site: “José Gameiro issuu”. Sendo um outro espaço ideal, para darmos a conhecer os nossos pequenos textos, com espirito da “Crónica”, foi o Facebook, e depois da publicação de quatro volumes, aqui está o V volume. O mais importante era que o conto fosse um diálogo com o leitor, onde o relato e a linguagem simples saísse espontânea, de fácil entendimento. Nunca pretendemos escrever aprofundar escritos sobre a história desta vila, que aliás não sabemos dominar. O leitor, decerto aqui vai encontrar em jeito de conto simples, não de fábulas, e porque tendo num ou noutro assunto “bordejado” desde o património, à cultura, mesmo a etnografia das gentes que fazem parte do concelho, de Salvaterra de Magos. Assim, vamos dar inicio à publicação do IV Volume de “Crónicas do Nosso Tempo”. Sempre tivemos a noção, que é um trabalho que deveria ser feito no apoio de melhor formação académica. Mas foi apenas um sonho de um autodidata, e assim peço aos meus litores, a necessária benevolência. Janeiro de 2020


5

XXXII Crónica Nº 32 Facebook – José Gameiro 21/Jan/ 2019

CRÓNICA DO NOSSO TEMPO QUANDO AS RAPARIGAS,TINHAM ENJOOS . As mais novas da vila ainda procuravam a D. Ernestina, criatura idosa que rondava já um século de vida, mas enquanto mulher de trabalho fez família e andou no campo. Era uma criatura, alegre por natureza, vivia os seus últimos dias de vida, na trav da Azinhaga, em Salvaterra de Magos, e sempre tinha alguém da vizinhança que repartia com ela, pois tinha fama de ser curandeira, usando o azeite. No dobrar do séc. XX, ainda se viviam tempos difíceis, a pobreza ainda grassava depois da II guerra mundial ter acabado, por vezes lá apareciam a bater à porta algum grupo de duas e três mulheres, das terras vizinhas, vinham a pé ou na carreira, Eram gente que ganhavam a jorna no campo, e lá vinham procurar a velha mulher, porque o seu ambiente familiar “andava numa desgraça” e queriam saber o que se passava, pois regra geral o quebranto (mau olhar) entrava com elas, ou na vida dos seus. Até os seus animais morriam sem estarem doentes - diziam !


6 Naquele ano de 1964, andava eu procurando o que restava na vila daquelas crenças populares, para fazer um artigo a publicar no Jornal de Benavente, que segundo as gerações mais antigas, aqui tinham ficado com a chegada daquele povo que um dia veio da Flandres e da Borgonha, no séc. XIII para povoar as terras da Lezíria, junto ao rio Tejo. Meu avô, que tinha sido campino, sabia endireitar a espinhela dos animais – coisa que aprendeu com os mais antigos. Mesmo já pesado de idade, ainda era procurado por quem tinha dores lombares e maus jeitos nas costelas. Um dia contou-me que a mulher do Carinhas, “cozia o novelo” para os ossos torcidos, e que a D. Ernestina, fazia outras coisas usando o azeite, Lá fui à Trav, onde tinha existido a Taberna da Anunciada, e a anciã D. Ernestina recebeu-me com um sorriso de simpatia. -Olha Zé, à dias veio cá uma aqui da vila, muito chorosa e trazia uma filha já espigadote – bem vistosa de corpo; queria que fizesse à filha um responso no azeite (1), pois havia talvez para aí umas 2 semanas, que pouco comiam ou nada. Os enjoos apareciam com o calor da tarde, ou quando já noite adiantada estava na cama e dormir nada! “ Olhei para a rapariga, e vi que tinha a cara e o nariz inchados, pus um pingo de azeite num prato com água e, depressa ele se dividiu, fazendo vários olhos. Mandei-a moça sentar-se naquele banco, e eu sentei-me naquela cadeira, (apontando para ambos) e em frente a ela – fiz um padre nosso, e tapei-a a ela e mim, com um lençol. Mandei a mãe ficar de costas para a gente.


7 ,Apertei os bicos das mamas da “cachopa”, e apalpei a barriga ao pé do umbigo, depressa a cachopa deu um suspiro fundo, e daí encontrei a causa dos seus enjoos – ela, estava pejada!..

*José Gameiro *********** Nota: Meu avô paterno – conhecido na vida rural por António Pataco; sendo campino desde que se conhecia por gente. Aprendeu com os antigos daquela arte, o jeito de endireitar a espinhela aos animais. Mesmo já pesado de idade, ainda era procurado em casa, sempre havia quem lhe pedia ajuda para o alívio de algum mau jeito na coluna, ou nas costelas. Um dia, por volta de 1964, me demonstrou; quando os animais ao nascerem (com as mães em pé) ficavam no chão, sem se poderem levantar – devido à queda. A cria, depois de lambida e comido o saco das águas pela mãe, era colocada em pé entre as pernas do guardador de gado, e a cabeça bem encostada ao peito faziam o “endireitar a espinhela” depressa o animal corria para junto da mãe procurando a teta para mamar.

.


8

XXXIII Crónica Nº 33 Facebook – José Gameiro 25/ Jan/ 2019 CRÓNICA DOS NOSSO TEMPO O TERRAMOTO, EM TEMPO DA SOLIDARIEDADE !, Ainda não tinham passado três anos quando no dia 25 de Janeiro de 1912, à noite chegaram à vila, um grupo de seis Salvaterrianos, no propósito de no dia seguinte entregarem à Misericórdia da sua terra natal – Salvaterra de Magos, e entregou 1.369$530, produto de uma subscrição pública, recolhida entre uma vasta colónia de patrícios que, viviam em Lisboa, para atenuar a desgraça do sísmico, que abalou esta vila, em 1909. Naquele dia 23 de Abril de 1909, a tarde ainda ia a meio, e foi diferente do que era prática - os ranchos de homens e mulheres rurais, só depois do sol posto deixavam de trabalhar, ouvindo a voz do capataz “ por hoje basta!..” E num andar apressado, cada qual, apanhava as suas “coisas”, e regressavam a pé, num passo de corrida até à vila, que ainda ficava a uns quilómetros de distância, tal como o faziam de madrugada, para “pegarem” no trabalho ao nascer do sol.


9 Uns andavam, no Paul de Magos, outros no Mouchão do Gaspar, outros ainda no Campo dos Freires e nas Courelas lá para os lados do Escaroupim. O tempo de Primavera, já “enxugava” as terras, depois das cheias de Inverno - era época das sementeiras. Na vila, eram 5 horas e 5 minutos, a terra tremeu. Era um terramoto, muitas casas caíram, outras ficaram em parte desmoronadas. Os patrões, depressa “arregimentaram” trabalhadores disponíveis nas suas Abegoarias, e cavalgando em animais numa louca correria, levavam o recado para o pessoal “despegar” e que viessem todos em fila – nada de grupos !.. Ás almas bondosas da terra, juntaram os lavradores, depressa num grande celeiro estavam reunidas a tomar previdências. As réplicas do sismo, ainda iam dando mostras de continuarem, mesmo nos dias seguintes. A solidariedade, depressa chegou de todos os cantos do país e do mundo, para atender as vítimas destas povoações vizinhas – até porque houve gente que morreu e grandes reportagens com fotos foram feitas nas páginas dos jornais da época. Em 1980, registamos do idoso; José Caleiro, homem que viveu aquele sismo, em entrevista que nos concedeu. *José Gameiro ********** Fotos: Casas caídas na Trav. que mais tarde veio a ter o nome Trav do Martins * Barracas da Cruz Vermelha, com os desalojados, no Largo 5 de Outubro (Largo Combatentes)

**************** ****


10


11

XXXIV Crónica Nº 34 Facebook - José Gameiro 30/Jan/2019 CRÓNICA DO NOSSO TEMPO · EXISTIU UM POÇO DE ÁGUA NO PAÇO REAL DE SALVATERRA. Em 1958 o Restaurante Típico Ribatejano tinha a sua entrada numa porta ornamentada tipo Túnel de vinho, e a poucos metros já a céu aberto via-se um poço de água (recuperado) de algum que ali existiu no antigo Poço real, pois tratava-se de uma simbologia histórica, que documentos dizem ter existido. Em 1989, andava eu, tentando saber, entrevistando antigos da vila, que tinham vivido em dois séculos, sobre o local onde existiu a Casa da Ópera que pertenceu ao Paço Real da vila,


12 Consegui encontrar cinco pessoas de Salvaterra, 3 tinham nascido no séc. XIX, e 2 pertenciam já ao séc. XX, e passados tantos anos ainda conservo a gravação das suas informações. Duas senhoras das mais idosas; Joaquina Mendes e Rosa Mendonça, guardavam nas suas memórias e falaram-me da existência de uma Praça de Toiros, construída em madeira, no sitio conhecido à sua época pelo “Canto da Ferrugenta” e, naquele espaço lá vivia com o seu curral de gado, um homem conhecido por "Pardalada". Dos dois homens; José Caleiro e Francisco Costa, deles também vim a saber entre outras informações de registo, que nas ruínas do paço real, ali junto às antigas chaminés, existia um poço de água. A senhora mais nova; Josefina Vidigal (Gonçalves da Luz), me divagou os seus conhecimentos, que ouvia aos mais idosos, pois pertenceu a um teatro de amadores na terra. Segundo relatos escritos, em 1817, a água daquele poço serviu para apagar o incêndio que atingiu aquele paço régio, que teve o seu momento auge no tempo do rei D. José I. Com o rei D, Miguel já no trono, em 1834, o exército em Portugal, foi reorganizado, sendo atribuído a Salvaterra, o aquartelamento do Regimento de Cavalaria 10, que servia em parte para guarda daquele património. A Parada da guarnição militar, conservava o referido poço de água, e algumas casernas, da tropa, estavam distribuídas em pequenas casas de meia-água, algumas ainda existentes por volta


13 de 1958, na artéria que os antigos conheciam por rua dos Arcos (rua Heróis de Chaves). No início do séc. XX, foi vendido a retalho aquela vasta zona da vila, tal como o fez em 1845, a Junta da Paroquia, com a antiga Coutada Real. Manuel Vieira Lopes, depois de regressar da França, onde esteve na guerra mundial, comprou o que restava do Paço real, no tribunal de Coruche, em licitação pública que, incluía as antigas chaminés das cozinhas.. Em 1953, sob a dinâmica empresarial do seu filho mais velho; Joaquim da Conceição Lopes, onde entraram os seus irmãos, Rosa Lopes e António Vieira Lopes, construíram o Café Ribatejo, o iniciando a actividade na área da restauração. *José Gameiro ********* Nota: - Caderno de Apontamentos 04; Volume I - Colecção "Recordar, Também é Reconstruir" *Restaurante Típico Ribatejano *2ª edição – Autor: José Gameiro * publicado em (Google) José Gameiro Issuu Fotos: Poço (replica) à entrada do Ribatejano * António V Lopes e seu filho António Joaquim Marques Lopes, e neta Patrícia Cabaço - @ Autor


14


15

XXXV Crónica Nº 35 Facebook – José Gameiro 31/Janeiro/.2019 CRÓNICA DO NOSSO TEMPO AS CHEIAS EM SALVATERRA A vila de Salvaterra de Magos, tem a norte a margem do maior rio que atravessa Portugal, e em tempo de inverno a sua água transborda e quase sempre junta-se à que a Ribeira de Magos, trás da Albufeira de Magos. Esta Albufeira construída e inaugurada em 1938, serve para rega das terras, foi seu construtor o Eng. José Vaz Guedes, que dali serviu de ensaio para se abalançar na barragem de Castelo de Bode, inaugurada em 1951. já no séc. XVIII, se registavam grandes enchentes, vindas do Tejo que alagavam algumas ruas da vila. Segundo me informou em 1980, o idoso; José Caleiro, tinha ouvido ao seu sogro, José Ferreira - Passador da barca na Palhota, foi no ano de 1876, que se verificou a maior cheia no Tejo, e Salvaterra sofreu grande enchente. A cheia ao afastar-se da zona ribeirinha, foi alagando casa e celeiros chegando a água a inundar a parte de baixo do edifício da Câmara municipal, que servia de prisão.


16 O arrais Vicente Francisco - marítimo com barco aportado no cais da vala real, disse-me um dia, que na década de 40 do séc. XX, num ano foram contabilizadas 7 cheias, e tinham o cuidado de marcar a altura das várias enchentes no muro do botaréu que suportava a Capela. Por vezes os valados eram rebentado pela força da correntes, e as terras já encharcadas com grande altura das águas da cheia, houve um ano em 1966, que mais uma vez alagou a zona ribeirinha da vala real, Esta tragédia, só foi ultrapassada 10 anos depois, em 1979, com outra enchente, acompanhada de fortes ventos, que destruiu parcialmente paredes e telhado da Capela da Misericórdia. Com a construção da Barragem de Castelo de Bode e outras, o leito do Tejo fica mais controlado, e as águas das enchentes no inverno são ali armazenadas, e poucas cheias se verificam e as terras mesmo alagadas são de poucos dias duração.. *José Gameiro. ***********

Nota: Livro: As Cheias em Salvaterra de Magos, um prestimoso trabalho de recolha, de textos e fotos do Dr. Roberto Caneiro, responsável pelo Arquivo Municipal * Uma edição CMSM 2010 Caderno de Apontamentos Nº 07 * Terramotos e As Cheias Tragédias que Assolam Salvaterra de Magos * Colecção Recordar, Também é Reconstruir!” do Autor *Fotos: Cheia de 1960 e Taberna Pequena * Cheia de 1966 e as duas Antigas Tabernas - Autor


17


18


19

XXXVI Crónica Nº 36 Facebook – José Gameiro

14/Fev/2019

CRÓNICA DO NOSSO TEMPO QUANDO O LOBO ANDAVA DENTRO DA RAPOSA, Era motivo para assunto das gentes de Salvaterra de Magos e alguns tinham receio a marcarem distância. A fera, como o rapazio lhe chamava, já grandote, depois de ter passado a noite em casa do ferreiro; Manuel Amaro, de dia ia para a oficina que o mestre tinha ali ao descer da Capela Real da vila Para o transportar o mestre; utilizava uma raposa – cesto de vime, muito usado pelo povo rural naquela época do início do século XX.


20 Manuel Amaro, um dia foi à caça, no pinhal dos Morros, os cães farejaram um covil, ali estava uma ninhada de cinco lobitos ( nos séculos antes aquelas terras, pertenceram à Coutada Real de Salvaterra), depressa informou do achado, o seu companheiro destas andanças, o ferreiro; João Augusto Borrego. O animal ainda tinha os olhos fechados, trouxe-o no bornal, entregou-o à mulher (morava em frente à torre da Igreja Matriz), recomendando para o não deixar morrer, seria criado como um cão lá na oficina. Os rapazes – aprendizes; José Sabino de Assis e José Amaro – seu sobrinho (1), lá se encarregariam de brincar com ele. D. Amélia, passou a dizer à vizinhança: está na hora de ir à vacaria (do Pedro Lucas), buscar um púcaro de leite para alimentar o bicho que tenho lá em casa (*), eram recordações que me foram contadas, em 1989, por Francisco Costa, entre Joaquim Hipólito Ramalho (antigo padeiro), Francisco Figueiredo (antigo rural, aquém chamavam Xico Chouriço), e Eurico Borrego (antigo mestre-ferreiro), um grupo de idosos que pelo meio da manhã todos os dias na escada de pedra da antiga escola – ali, em frente do Jardim do antigo Ribatejano, apanhavam um pouco de sol naqueles dias solarengos de Inverno. *José Gameiro ******

Nota: (1) Autor do Livro: Contos do Ribatejo – “O Último Dia do Lobo em Salvaterra” *1973 *Fotos: 1) Cesta de verga, que o povo rural usava na Lezíria ribatejana, conhecida por “raposa” * 2) Lobo, retirado da Internet


21 ******************* ************


22

XXXVII Crónica Nº 37 Facebook - José Gameiro 15/Fev/2019

CRÓNICA DO NOSSO TEMPO O DIA DO CICLONE – 78 DEPOIS! O tempo passa, as gerações antigas vão escasseando, e na terra já pouco se fala do dia do Ciclone de 1941. O mês de Fevereiro estava a meio, nas tabernas de Salvaterra de Magos, era ponto de encontro de alguns grupos, falando que o entrudo estava à porta. Os responsáveis da colectividade recreativa local, andavam numa azáfama, todas as noites lá estavam na decoração do Cine-Teatro dos Bombeiros, colocando fios com flores feitas em papel pelas raparigas aprendizes de costureiras, que andavam nos alfaiates da terra.


23 As mães, esmeravam-se na ajuda, não deixando de as ter debaixo de olho, pois os jovens rapazes lá iam olhando de soslaio, com uma ou outra piscadela de olho. Os bailes da “Pinhata”, por serem de três dias, eram muito esperados, eram um tempo de divertimento. Através do conceituado comerciante Francisco Henriques, com loja ali mesmo junto da torre da Igreja, foi feita a costumada encomenda de alguns quilos de rebuçados e amêndoas ,para encherem a pinha de madeira. .A noite do dia 15, estava fria, chovia a espaços, uma chuva fraca, pouco densa, com pingos miúdos, e de pouca duração, aliás como vinha acontecendo há dias. A madrugada, apareceu com uma aragem de vento forte, que foi engrossando, e quando a manhã já ia alta, as ramadas das árvores davam sinais que algo de estranho estava acontecendo. Não havia informações de meteorologia! A população, numa correria deixava os trabalhos do campo, ali já algum arvoredo estava caindo com a forte ventania. Na vila as rajadas partiam tudo, destapavam casas e arrecadações de animais. Havia pessoas, que nas ruas gritavam, outras foram para a igreja rezar, o pânico era medonho. A meio da tarde ouviuse um grande estrondo de uma derrocada – as bancadas e decoração em madeira da praça de toiros, tinha caído. As ruas de Salvaterra, ficaram desertas, o vento com grandes rajadas a isso obrigava. A Enfermeira; Henriqueta (1) foi chamada à rua do Pinheiro, por duas comadres, que à porta lhe


24 apareceram muito chorosas, a filha de uma delas, estava prestes a dar à luz, pois tinha entrado num parto doloroso, e ainda lhe faltavam algum tempo – tal foi o medo que a apoquentou. No dia seguinte, foi de grande trabalho a contabilizar os estragos. O resto de pinhal que ainda existia no lado sul da vila, entre a Praça de Toiros e o Cemitério ficou muito danificado, vendo-se o seu arvoredo caído. Nos dias seguintes, os jornais, davam conta que o país sofreu muitos danos e até mortos com a passagem do Ciclone, que chegou a atingir de 130 a 150 Kms/hora, * José Gameiro ******* Nota: (1). A enfermeira, Henriqueta senhora que viveu em dois séculos, contou-me em 1989, numa entrevista, que me deu, não deixou passar em claro aquele dia 15, dia do Ciclone de 194, pois assistiu a alguns partos fora d tempo.

*************


25

XXXVIII Crónica Nº 38 Facebook – José Gameiro 25/Fev/2019

CRÓNICA DO NOSSO TEMPO O MESTRE VITAL, VISTO DE UMA OUTRA JANELA O Carlos Albuquerque, abriu a sua janela em Março de 2012 e mostra-nos várias memórias que guardara do Mestre Vital Nuno Lapa, até porque ele era uma simpatia para as gentes da vila, apesar da sua provecta idade. No meu tempo de criança de escola, o século XX já estava a meio, aqueles mestres de fazer calçado à mão, bem contados eram uns quarenta, e na sua pequena oficina de trabalho, muitas delas à entrada das suas habitações, tinham rapazes aprendizes. O Albuquerque, vai dai relata-nos vários episódios da janela da vida daquele velho republicano, homem convicto dos seus ideais. É uma delícia voltar a tais recordações, até porque nos dá para pensar como ele, e o irmão João, foram sortudos.- Ter oferta de


26 sandálias, com medida em papel de jornal, e feitas a preceito, por aquele mestre, era só para gente com peso no bolso. Quem me dera a mim, aos 10 anos de idade, não ter de descalçar as botas cardadas (compradas no mercado de Marinhais), para jogar a bola no cais da vala. O velho sapateiro, não se zangava, com as traquinices dos amigos, e com alguma candura dizia: Ó Gaspar (Gaspar Maria Alexandre) - vê lá como te vendem o petróleo, está cheio de água. O Candeeiro está sempre a apagar-se. O rapazio do meu tempo, junto à porta chateava-o "Olhe, lá Ó mestre Vital, quando chegam as tropas" - e ele, com voz calma lá respondia "Meninos; - vão até às cavalhariças, que já estão a chegar". - Outras memórias escrevi-as eu, como: “As Botas do Manel Gato” e “Vão Depressa que as Tropas estão a passar”, e estão guardadas, noutras crónicas sobre o mestre- Vital, *José Gameiro ********* Nota: Fotos 1) de Vital Lapa * 2) Antiga Oficina do Sapateiro; Vital Lapa, na antiga rua Direita (Rua Luis de Camões) do autor


27

XXXIX Crónica Nº 39 Facebook – José Gameiro 03 /Março/ 2019

CRÓNICA DO NOSSO TEMPO O ENTRUDO/ ou EM TEMPO DAS CEGADAS. em Salvaterra de Magos. Um Dia, em 1989, entrevistei Maria Josefina Vidigal, senhora já de idade avançada, que ainda jovem tinha pertencido ao elenco do grupo teatral de Salvaterra de Magos e, enquanto discernia as suas memórias, lembrou-se que o teatro na terra apareceu depois que o antigo grupo de homens os que organizavam as Cegadas, no antigo Grémio Artístico Salvaterraense, com sede na rua do Forno de Vidro. Depressa, me disse; houve um tempo de “poisio” não havia nada vila, até que por volta de 1935, o grupo já mesmo muito reduzido, ainda lá pertenciam; O Pedro Santos, Alvaro Lopes Rosa. António Paulo Cordeiro, o Augusto da Luz, e mais novo era o José Miguel Borrego, que também gostava muito daquelas paródias de Entrudo.


28 Alguns tocavam instrumentos musicais de cordas – como bandolins, não deixavam de pensar em organizar alguma coisa, que motiva-se a juventude da terra. A ideia inicial, que nunca vingou foi um grupo coral na Banda de Musica nos Bombeiros, até que em 1936, veio o teatro, já com récitas que mobilizou os rapazes e raparigas. Menina que eu era, dizia-me; Josefina Vidigal, ouvia dizer aos mais antigos, que se juntavam na oficina de alfaiate, onde aprendia a ser costureira. Eles, lá se lembravam com saudade, “As cegadas no Grémio”, eram sempre esperadas com ansiedade, pois eram três dias, de divertimentos para os sócios daquela Associação Recreativa da vila. Os homens que entravam em palco, mascarados à “tronguedo" com roupas de mulheres, cantavam farsas burlescas de sátira social e política, onde era permitido frases obscenas. Aqueles instrumentos de cordas, em certas partes tinham o acompanhamento da vozearia do povo. Com a madrugada alta, havia bailes com a abertura da Pinhata. Eram três noites, que começavam no domingo de Março, tempo antes da Quaresma. *José Gameiro


29

XXXX Crónica Nº 40 Facebook – José Gameiro 03/Março/2019·

CRÓNICA DO NOSSO TEMPO UMA CONVERSA JÁ COM DOIS ANOS!... O Meu Álbum DE Memórias do Fb acaba de me lembrar hoje, faz 2 anos que publiquei o Post - Uma Conversa de Café.! A lembrança, é motivo para agora "Respingar" parte do Dialogo que tive na altura com Luzia Perpetua Paula.


30 Naquele dia de Março de 2017, lá estava ela - ao meio dia, num canto do bar da Loja da Custódia,, cabeça inclinada, com a cara apoiada na mão aberta, tomando o seu café. ."Tem um ar alegre e mais bonito fica, quando um riso não muito aberto, lhe mostra as longas rugas, que o tempo a foi marcando. Não é muito conversadora, só se abre num “cavaquear”, quando encontra uma boa parceria, lá vem ao de cima as notícias do dia, que ouve na televisão, e as da terra nem se fala, pois levanta-se cedo, e informa-se "das novidades" com a vizinhança. As conversas, que reparte com a dona da casa, levam-nas a comparar o passado de ambas vivido no campo, enquanto jovens, Quando está “desafogada de tempo” não deixa de dar uma ajuda aqui e ali em arrumar alguma coisa na loja - é muito prestável! É nestas situações, que às vezes encontro - A Perpétua, Fala-me sempre com grande lisura, mostrando alguma distâncias e respeito, mesmo que eu, já a tenha advertido. Vamos lá tratame por tu -C` os Diabos, somos da mesma geração!.. Naquele dia a conversa estava "descambando" para o momento que estávamos vivendo - era o mês da Enguia. *José Gameiro ********** Nota: Foto do Autor


31

XXXXI Crónica Nº 41 Facebook – José Gameiro 00.00.0000

CRÓNICA DO NOSSO TEMPO O TORRICADO – UMA COMIDA DA GENTE RURAL Naquele mês de Setembro do ano de 1950, as vindimas estava a terminar, tal como o Arroz eram as últimas colheitas do ano. A chuva de Outono, como sempre já se começava a sentir nos últimos dias. Nos canteiros do Paul de Magos, a ceifa era difícil, os grandes ranchos de homens mulheres, já tinham água que dava pela canela. Como chovia sem parar depressa todo o campo, ali para os lados da borda de água, sentia já o efeito do transbordar do rio Tejo, mostrando aquém dele tirava sustento que vinham aí tempos de agonia e tristeza. Esta cheia, foi de pouca dura, tal como outras que lhes sucediam, não dando tempo às terras enxugarem. Uma houve que


32 durou várias semanas, chegando mesmo ao Natal, até porque os campos da Charneca, não tinham sustentado as águas que corriam por várias valas a caminho da vala real, rebentando a Ponte da Madeira. Os valados ali e ali, mostravam grandes rombos, era uma dor de alma vê-los - diziam os lavradores que nestas horas de dor também juntavam a sua voz às do povo para quem o sustento da família, era recebem algumas moedas que lá iam recendo da solidariedade alheia. O mês Janeiro, era igual, dias curtos, com a chuva por vezes tocada a um vento agreste, que trazia frio, lá se viam umas abertas, onde o sol fazia negaças, um pouco envergonhado desde a manhã até noite dentro. A fogueira de um cepo de uma velha árvore, convidava alguns grupos de homens a ficarem, ali encostados ao muro dos Freires, em frente à taberna do João Castelão, na esperança de alguém os vir contratar para uns “biscates” no campo. Ali, passavam o tempo no meio de alguma anedota ou história simples daquelas que o povo conservava, e o Natal estava à porta. O Mês de Março, lá chegou trazendo esperanças àquela gente, as águas da cheia já tinham desaparecido, os seus “nateiros” contribuíam agora para a fertilidade dos solos e riqueza agrícola. O provérbio popular, que vinha dos avós, aí estava: - Março, marçagão * Manhãs de Inverno, Tardes de Verão. Os terrenos


33 começaram a enxugar, era tempo das reparações dos estragos causadas pelos dias longos de inverno. Os agricultores, dos campos de Salvaterra, depressa tinham escolhido na vila - os afamados valadores, muito conceituados no Ribatejo, apoiados por ranchos de mulheres. Algumas aos pares com paviolas de terra, e outras como em fila, lá andavam com as gamelas à cabeça, trazendo terras negras – que o povo chama terras de salão, para a reparação dos rombos nos valados. Os homens, com as pequenas pás de valar, lá reparavam os vários rombos no curso do valado, que existiam até à ponte da vila, no cais dos barcos. À hora do almoço, não deixavam de comer uma refeição ligeira, muito usada e apreciada pelas gentes rurais aqui desta zona da Lezíria ribatejana - o Torriscado. Uma mulher, era encarregada de tratar da fogueira, e depois já com brasido bem vivo, num ferro em cima de 2 paus segurava o aquecimento das panelas da comida. Era a hora do almoço e os homens cortavam ao meio um pão de uma semana de cosedura, e feitos uns pequenos quadrados no miolo com a navalha, usava-se uma vara de Loureiro/ ou Salgueiro - para suportar o peso da fatia do pão a uma distância apropriada (vergando um pouco), o pão sob vigilância aloirava, já bem torrado, era untado com toucinho cozido (muitas vezes de vários dias), ou na sua falta usava-se azeite. O torricado, ainda bem quente – era barrado com alho e azeite/ ou toucinho cozido de refeições anteriores. Por vezes usava-se


34 uma posta fina, de bacalhau cozida, na véspera, que era passado pelo lume brando para aquecer. Esta refeição do Torricado, era acompanhada de vinho/ ou água-pé, que corria pela garganta “goela abaixo”, de todos com o garrafão deitado no braço. No decorrer da década de 50 do séc. XX, ali no lado norte do inicio do Dique – estrada para o Escaroupim, num terreno da família Costa Ramalho, foi usado para as boiças ( pequenas parcelas de horta e árvores de fruta), usado pelo população rural. A terra arenosa solta “recebia” a frescura da bacia do Tejo, a água encontrava-se a pouca profundidade, meu pai, tinha ali também a sua boiça, e muitas vezes, comi Torricado feito por ele, recordando os seus tempos de trabalhador do campo. *José Gameiro ********* Fotos: Reconstituição: António Oliveira - Rancho Folclórico do Granho -2018

********************* *************


35


36

XXXXII Crónica Nº 42 Facebook – José Gameiro 00.00.0000

CRÓNICA DO NOSSO TEMPO A MARRETA, QUE DERRUBOU O MURO DO JARDIM A Marreta, que foi usada para derrubar o Muro do Jardim da Praça da República, em Salvaterra de Magos, pode servir como peça de Museu, O meu pai; José Gameiro Cantante, decerto gostaria! Sempre a guardou com carinho aquela pequena peça em ferro, (que sempre pesa uns quilitos) – para ele tinha uma história. Relato que nunca deixou de mo contar ao pormenor !.... Um dia, por volta de 1974, já com a “visita” do peso dos anos, meus pais, vieram viver no aconchego do mesmo tecto da minha nova família, iniciada em Outubro de 1968. Entre algumas das suas “preciosidades” guardadas, lá veio a Marreta!


37 Afinal, foi uma peça de trabalho que lhe foi distribuída, quando das obras da construção do Estádio Nacional – no Jamor (Lisboa), enquanto por lá andou uns anos. Esteve no trabalho braçal, partindo pedra, enquanto os explosivos faziam aquelas rochas partir aos pedaços. De permeio, aos fins-de-semana (para ganhar mais uns cobres – como dizia; não deixou de entrar como figurante, no filme português “A Aldeia da Roupa Branca”). Um dia de 1944, faltavam aí uns 2 meses para a inauguração daquela imponente obra - um retrato do Engº Duarte Pacheco, para o Estado Novo, foi chamado a para regressar a Salvaterra de Magos, sua terra- natal. Minha mãe andava, já de barriga “descaída” era tempo de Eu, nascer. Veio a pé de Lisboa até Vila Franca, já calçado com umas novas botas cardadas, que comprou na feira de Caneças. A Marreta, foi sua companheira, transportada ao ombro. No cais de Vila Franca, foi indagar qual o barco, que estaria de viagem para Salvaterra, rio Tejo acima, foi-lhe apontado o barco do Arrais: João Maria Côdea, que já defraudava velas. A viagem demorou aí umas cinco horas – a fragata estava carregada e o vento não estava favorável. Uns anos depois, em 1956, já funcionário da Câmara de Salvaterra, depois de ter iniciado no carro do lixo, limpando as ruas da vila, foi-lhe destinado partir o muro que vedava o antigo Mercado Diário, e o Jardim Público ambos em frente ao edifício camarário da vila. à época na falta de outro utensilio, usou a sua


38

Marreta, e na companhia do colega André, foi trabalho para uma semana. Um dia deste, aquela peça de trabalho – a Marreta, (até para não se perder) poderá ser entregue pela família no Museu Municipal. Ele, decerto ficaria contente – assim, o espero! *José Gameiro ************* Nota: Fotos: 1) Marreta do Autor * 2) e 3) Alex Cunha

*********** *****


39


40

XXXXIII Crónica Nº 43 Facebook – José Gameiro 13/Abril/2019 CRÓNICA DO NOSSO TEMPO QUANDO HAVIA FORNOS DA CAL NO, SÉC. XX . O ano de 1955 estava a meio, os dias já eram solarengos, anunciando que o Verão não estava longe. A população da vila já estava habituada a ouvir o barulho de explosões não muito fortes e intensas – era quando as pedras de calcário se partiam na cozedura, no forno da cal, que existia ao lado do cemitério Manuel José Gonçalves, num seu terreno explorava um forno de cal, e fabricava alguns derivados, como liquida virgem e em pó.


41 O seu filho; Júlio Gonçalves, além das vendas, também tinha contactos com os fornecedores nas pedreiras lá para os lados de Rio Maior. O Forno era uma construção artesanal em pedra – já limpa do calcário ( de cor negra, e acinzentada), até uns 3,4 metros de altura, após o nível do solo. Terminando a sua forma abobadada com um grande buraco para respirador dos Gazes. Coberto com terra onde crescia a erva. As pedras calcárias usadas na cozedura, desfaziam-se na temperatura entre 800 a 1100º C. O fogueiro, Aníbal Silva, homem já de idade respeitável, era conhecido pela alcunha “Aníbal Pedregulho”, talvez por ser baixo, e de ter barriga deselegante, era pessoa experimentada na sua faina e tinha alguns ajudantes. Por vezes de tarde, quando eu, dava de comer aos 2 porcos que meus pais tinham de engorda numa pocilga, entre muitas existentes, lá os ouvia gritar ao rapazio das barracas: - não se aproximarem daquele perigo !,, As muitas barracas que já por ali existiam, com as primeiras aparecidas no inicio na década de 40 do séc. XX, sendo autorizadas pela câmara, às famílias de origem rural e de parcos recursos económicos, com dificuldades em alugar casa na vila. Um dia, quando levava diariamente um balde de comida aos porcos, que meus pais por ali tinham, numa pocilga, atrás do cemitério, ao ouvir algumas explosões, lá me afoitei, e estive por perto a ver. – Homens com paviolas de madeira, atirando pedras param o lume. Ali também existia um armazém, com pequenas pedras já


42 em cal, e bidons com cal liquida e em pó. Um outro guardava a lenha, para ser queimada. A Cal era vendida à Arroba (15 quilos) a 3 escudos e 50 centavos. A pedra queimada estava em vários montes, para venda - era usada nos cabocos das construções. Os derivados da cal (pedra e massa), também eram vendidos na vila, pelo taberneiro; António Ramalho (conhecido por António Maceira). Quando se pretendia dar outras cores à cal, usavamse óxidos, corantes que se vendiam nas Lojas de Drogarias e Ferragens. Era tradicional aqui em Salvaterra, especialmente as Casas Agrícolas, o uso da cor azul nas barras das Casas de Habitação, Palheiros e Adegas. Os agricultores também usavam a cal em pó para “temperar” as terras. Em Abril de 1957, quando entrei no mundo do trabalho, na Central das carreiras, vi os meninos e meninas da escola com suas batas brancas, em cima de um grande morro, a um canto do muro da antiga Horta do Sopas – frente à EN 118 e Praça de toiros, acenavam com pequenas bandeiras portuguesas e inglesas, a rainha Isabel II, estava de visita oficial a Portugal! Uns anos depois, já colaborador do jornal “Aurora do Ribatejo”, fiz uma procura sobre a existência de Fornos de Cal na vila. Além daquele da família Gonçalves, já apresentando alguma ruína (não trabalhava), vim a saber através dos mais antigos, e era voz corrente, que debaixo do morro, da Horta do Sopas, existiu um Forno de cal, que vinha dos tempos, em que Salvaterra teve um Forno de Vidro, conhecido entre os séc. XV e XVI. António Santos (António Béu), lembrava-se que por volta de 1930, só existia aquela elevação de terra. Na década de 8, os


43 anexos do antigo Forno de cal, serviam para Júlio Gonçalves, explorar uma vacaria que produzia leite. ************* Nota: Fotos 1) Publicidade 1936 (Arquivo do Autor) *2) Forno descativado 1975 Álbum Autor


44

XXXXIV Crónica Nº 44 Facebook – José Gameiro 16/Abril/2019

CRÓNICA DO NOSSO TEMPO CHORAR A PRIMEIRA VEZ, EM TEMPO DA PASCOA, Naquele ano de 1944, o mês de Abril era bissexto do Calendário Gregoriano. Estávamos em época da Quaresma, era dia de Endoenças, e havia que fazer a preparação religiosa do tempo da Páscoa, a celebrar era dali a três dias. Com a manhã de sexta em casa, voltavam ao trabalho na parte da tarde. Não existam feriados!. A Felisbela Lopes, era uma jovem robusta de 22 anos, curtida desde criança por mil sóis nos campos de Salvaterra, e tinha acabado de fazer anos no dia de Santa Madalena. Naquela sexta-feira de paixão, voltou a fazer a caminhada a pé para o Paul de Magos - (andava a trabalhar para o António


45 Perdigão), uma outra moça ajudou-a levando-lhe a trouxa, no início da tarde, lá entrou com o rancho nos canteiros de arroz, com lama até ao cima das pernas – a beijar a barriga. Andava cansada mas feliz, ia ter o seu primeiro filho, muito em breve. O tempo estava bem contado, já tinha feito as 39 semanas. A Mãe, Maria do “Barroco”, andava preocupada e de olho nela depois que esta se queixou que a barriga tinha “descaído” e, umas “moinhas” de dores a incomodavam. Pediu ao merceeiro da vila de Salvaterra de Magos; Francisco Henriques, que telefonase ao empreiteiro, patrão do genro que, trabalhava na construção do estádio nacional (Lisboa). O meu pai José “Pataco”, nome que era conhecido na terra alcunha de família, que vinha do seu avó paterno; Luís Galricho), partia pedra com uma marreta, entre milhares de homens depois da mesma ser rebentada a explosivos no vale do Jamor, foi informado do recado da sogra, para regressar a casa pois sua mulher, estava prestes a ser mãe. A Felisbela Lopes, era uma jovem robusta de 22 anos, curtida desde criança por mil sóis nos campos de Salvaterra, e tinha acabado de fazer anos no dia de Santa Madalena. Naquela sextafeira de paixão, voltou a fazer a caminhada a pé para o Paul de Magos - (andava a trabalhar para o António Perdigão), uma outra moça ajudou-a levando-lhe a trouxa, no inicio da tarde, lá entrou com o rancho nos canteiros de arroz, com lama até ao cima das pernas – a beijar a barriga. Andava cansada mas feliz, ia ter o seu primeiro filho, muito em breve. O tempo estava bem contado, já tinha feito as 39 semanas.


46 No Paul de Magos, o Capataz, já o por do sol dava lugar ao luzfusco, tirou o relógio do bolso do colete e, lá gritou para o rancho: Vamos desferrar, por hoje chega !.. No sábado, a Felisbela perdeu a manhã do dia, e fez as compras na loja, e com a tarde já a meio, lavou o corredor da casa com um pano bem molhado em água (1), até o “salão” (terra negra crua) mostrar brilho. Fez a muda da roupa da cama – o seu homem, estava para chegar a casa. Domingo de manhã, foi até aos Tanques do Rego, lavar alguma roupa – num pequeno saco de pano levou um naco de pão com toucinho entremeado, para comer ao almoço, e ali esteve até cerca das duas horas da tarde, sempre dentro de água até quando as dores apertaram, o saco das águas estavam dando sinais de ”rebentarem”, e alguém gritou que a hora tinha chegado. Depressa acompanharam-na a pé, até casa (2) na rua dos Arcos. Chamada a sua mãe, (morava nos Quartos), e a Parteira Henriqueta Mendonça, que ajudaram no parto, lá tirando um robusto rapaz, que viu a luz do dia, chorando pela primeira vez às três e meia da tarde – era tempo de Páscoa. Dias depois, foi registado, foi-lhe dado o nome de José Rodrigues Gameiro. *José Gameiro ********* Nota:(1)-Rua Heróis de Chaves (o povo chamava-lhe rua dos Arcos), abastecia-se com uns potes de barro na bomba de água do Celeiro do Trigo (agora Escola Profissional de Salvaterra). * (2) – Casa onde mais tarde foi a Central das Carreiras, e iniciou a vida de trabalho


47 *Fotos 1) Rancho de Mulheres na Monda do Arroz, no Paul de Magos (Ad) * Tanques de lavar a Roupa no Rego da vila Salvaterra* Foto Alex Cunha 1945


48

XXXXV Crónica Nº 45 Facebook – José Gameiro 24/ Abril/ 2019

CRÓNICA DO NOSSO TEMPO ONDE PARAM AS TELAS DO TECTO DA CAPELA DA MISERICÓRDIA No dia 5 de Março de 1979, saiu nas páginas do semanário “Aurora do Ribatejo” um artigo que escrevi dando conta dos danos que a Capela da Misericórdia, sofreu em 12 de Fevereiro. Uma foto acompanhava aquela noticia, Tinha obtido uma série delas, pelas cinco horas da tarde, quando o edifício começava a ceder, e foi destruído em parte. Entre os vários compartimentos, a nave central foi muito danificada, com a queda do tecto que suportava telas com motivos religiosos, que vinham pelo menos do século XVII. Guardadas que foram na Capela Real, uns anos depois, fui ali encontrálas, estavam empilhadas, e recebiam anualmente trabalhos de pequenos restauros, por jovens da Fundação Espirito Santo, que ali vinham praticar em fim de curso. Depois foi um período de “esquecimento” e precisamente 20 anos depois, a jornalista Sandra


49 Pereira, do Jornal Vale do Tejo – JVT, solicitou-me o empréstimo das fotos, que obtive quando a capela sofreu os danos causados em 1979, pois estava a fazer um trabalho, sobre a Capela da Misericórdia. Tal trabalho, saiu na edição de 6 de Fevereiro de 1999. No corpo do artigo fez um sub-titulo: “Telas do séc .XVI à espera da Restauração”, onde confrontado o então Provedor, Armando Oliveira, com a recuperação das mesmas, obteve como resposta. “A Santa Casa não tem verbas, mas a prioridade têm sido outras”. Os anos passaram, precisamente 34 anos, após a data em que as telas desapareceram do tecto da secular Capela da Misericórdia de Salvaterra de Magos, nada se sabe, onde param!... Da sua construção não encontrei outras referências, apenas “Capela de Santo António (foi edificado num botaréu, que tinha confrontação com a rua de Santo António), e Igreja de Nossa Senhora da Conceição, junto à vala da vila, pertencendo à coroa real, que tinha vasto patrimônio em Salvaterra de Magos”. Esta Capela, com o seu Albergue, no século XVIII, aparece como patrimônio da Misericórdia de Salvaterra, e algumas vezes recebe os benefícios de conservação, com obras suportadas pelo rei D. Pedro e suas filhas. Destas e outras referências, podemos encontrar no livro do Dr. José Asseiceira Cardador. Edição que recentemente recupei e publiquei no meu blogue “historiadesalvaterra”. A recuperação das telas, sempre me interessou, pois são um património valioso da minha terra, e sabendo que o seu valor é incalculável, não deixo de saber sobre o seu paradeiro. JOSÉ GAMEIRO ********* Nota: publicado por historiadesalvaterra.blogs.sapo.pt *


50 ****************

*****************


51


52

XXXXVI Crónica Nº 46 Facebook - José Gameiro 29/Abril/2019

CRÓNICA DO NOSSO TEMPO ELE, CONTAVA, RECONTAVA E VOLTAVA A CONTAR!... O Alfredo Magalhães, um dia contou –me como ele o e o seu grupo faziam “jantaradas” com as galinhas/ e frangos do Zé Caramelo. O intermediário, vivia na Rua do Pinheiro (Rua Dr. Miguel Bombarda), ali ao colocar as aves nos grandes cestos de verga, para despacho (contava-as e recontava-as), a mercadoria tinha que ser identificada: – cada cesto levava 50 galináceos.


53 Na presença do Zé Caramelo (que dominava pouco a tabuada), o Alfredo, contava, voltava a contar, e por vezes faltavam 2 galinhas. Era para serem “surripiadas”, antes da selagem do cestos. Contrariado e endossando pragas ao seu “engano” o José Maria Ferreira (2), lá voltava a casa, e trazia as aves em falta. Assim estava garantido o petisco do grupo do Alfredo Magalhães. *José Gameiro ********** (1)-João Martins, foi pai do Manuel Martins, (o Manel Sarol) mestre-pedreiro, e o Vicente Cardoso, era conhecido pelo Vicente Boneco. (2) – José Maria Ferreira - O Zé Caramelo, foi pai do escritor; José Maria da Silva Ferreira. Licenciado em História, área onde foi professor * Dispersou a sua escrita por vários romances, e foi Redator do Jornal, A Nossa Terra – Cascais* José Caramelo, foi sogro do Padeiro; Joaquim Hipólito Ramalho

*********** *****


54


55

XXXXVII Crónica Nº 47 Faceboock - José Gameiro 27/Maio/2019

CRÓNICA DO NOSSO TEMPO NEM SEMPRE SE ASSISTE A 100 ANOS DE VIDA Neste dia dos seus 128 anos A antiga Botica do senhor Carvalho, pessoa que a fundou e, agora nos tempos modernos a Farmácia Carvalho, do Manuel Joaquim, que sendo empregado da casa um dia comprou o seu alvará ao patrão. Manuel Joaquim Ferreira Gomes e sua esposa, a farmaceutica Drª Florescência (Gomes) que o acompanhou na gerência. Um dia o médico Dr. Manuel João Gomes descendente daquela família,, meu amigo de infância – dos tempos de escola, no ano de 1991, pediu-me que "descortina-se" no meu vasto espólio de documentos sobre Salvaterra de Magos, nossa terra-natal, a data da fundação daquela Farmácia, e lá encontrei o dia 25 de Maio de


56 1981. Naquele dia, lá me convidou para estar presente no aniversário do seu centenário. Seu pai, acompanhado da família e alguns amigos, num repasto apagou as 100 velas do aniversário. Os anos passaram, a jovem farmacêutica; Drª Joana Figueiredo Gomes, neta e filha, todos os anos, acompanhada dos seus colaboradores, não deixa passar em claro aquele dia, data importante, na história de vida daquela Casa Comercial e, uma vez mais este ano, não deixou de me endereçar convite - e lá assisti ao repartir do bolo dos 128 anos, com os parabéns, cantados por todos os actuais funcionário e antigos já reformados - os clientes da daquela casa também se associaram à festa!... *José Gameiro *********** Nota: Fotos do Autor - 1) Fachada Farmácia Carvalho 2019 * 2) Festa100 Anos Farmácia Carvalho * 3) bolo dos 128 anos *Drª Joana Gomes e Colaboradores da Farmácia 2019 * José Gameiro e Celeste Conde 2019

******


57


58

XXXXVIII Crónica Nº 48 Facebook - José Gameiro 15/Maio/2019 CRÓNICA DO NOSSO TEMPO AS MARCAS NA MADEIRA – UMA FERRAMENTAS EM FERRO O ferro em brasa na perna do animal, era um símbolo de propriedade que sempre foi usado, desde a idade do ferro. É um utensílio moldado em ferro, que saindo da brasa do fogo, No dobrar do séc. XX, ainda se usava para marcar gado, madeira e couro. No tempo do trânsito e venda de escravos, era usado um ferrete para os marcar, como sendo pertença do seu dono após compra pelo seu novo proprietário. Os antigos lavradores e criadores de gado de Salvaterra de Magos, ainda na década 50, tinham todos os anos, um dia apropriado para a "ferra do gado" era dia de festa na sua Casa


59 Agrícola, eram convidados pessoas que lhes eram gratas e outros amigos próximos. Os seus trabalhadores, tinham o dia de folga com merenda paga. O dia também era aproveitado para a tenta de um lote de Novilhas de gado bravo, em que os criadores depositavam grande esperança para a reprodução da sua ganadaria. Ai, entravam os campinos e os ajudantes - moços nojeiros e, a porta do pequeno redoldel, era aberto ao povo, até para verem os toureiros convidados dando alguns passes de capote naquelas jovens vacas, sendo apreciada a sua bravura. Nesta vila, raro era o lavrador que tinha a soldo, nas Abegoarias, alguma oficina fazendo a construção, e reparação de carros de madeira e ferragem. Aproveitavam a arte dos mestres-Ferreiros de Bigorna e Carpinteiros de carros nas oficinas, que havia na terra, Quando da abertura da EN 118-2, por volta de 1935/36, até aí era um caminho em terra por onde o gado da vila passava em trânsito para o campo, ou na recolha nos antigos currais e celeiros que existiam, construções conhecidas do séc. XVIII. Nalgumas pequenas casas ali construídas, após o alargamento urbanístico da vila para sul, quando do sismo de 1909, foram usadas para oficinas. Ali, existiu a oficina de carpinteiro do mestre; Carlos Almeida, e numa outra ao lado, o mestre Ferreiro/serralheiro; João Augusto Borrego, teve ali o seu espaço onde também fabricava, os ferros em forma de


60 letra/numero para “ferrarem a quente”, as ancas dos animais, ou o símbolo das casas agrícolas, no material agrícola como: carros, alfaias e pipas de vinho. O mestre João Borrego, em 1950, ingressou na Câmara para os serviços de Aferidor municipal, e ferreiro; Manuel da Graça, foi ocupar o seu lugar que depressa deixou ir trabalhar a folha de ferro, na oficina do Sílvio Augusto Cabaço, na Rua d`Água. , Quando em 2000. numa reportagem fotográfica para o JVT, o jornal de Salvaterra, levou-me o acaso reparar que a já carcomida madeira da janela da antiga oficina, conservava a marca de alguns ferros de agricultores/lavradores de Salvaterra. Aquelas marcas dos ferros ali “queimados” registavam a forma de os mesmos serem ali experimentados, após saídos do fogo da forja e da bigorna, Foram registos que ali ficaram e, se conservou tantos anos! *José Gameiro ******* Nota: Fotos 1) e 2) Janela em madeira – ano 2000 * 3) EN 118-2 casa lado Esquerdo – ano 2020 * autor


61


62

XXXXIX Crónica Nº 49 Facebook – José Gameiro 21/Maio/2019 CRÓNICA DO NOSSO TEMPO OS KOSOVARES, CHEGARAM A SALVATERRA EM TEMPO DE FESTA Era tempo de Festa! O conflito Bósnio, já tinha mobilizado toda a população que um dia foi a Jugoslávia. O povo do Kosovo, foi um dos refugiados, e muitos vieram para Portugal, país considerado acolhedor. A tarde quente do dia 20 de Maio de 1999, estava no fim, o provedor da Misericórdia local; Armando Oliveira, afadigava-se na


63 Avenida principal da vila, em frente ao grande portão de ferro do antigo hospital da instituição, que iria servir de espaço para acolher as famílias fugidas da guerra. Para uma boa recepção contava com o apoio de muitas jovens, algumas com ramos de flores. Depressa o povo estava ali presente para dar as boas vindas - algumas senhoras, faziam-se acompanhar de roupas e alimentos. A vila estava decorada, e aquela grande via com vedação de madeira, pois dali a dias iniciavam-se as festas da terra, com as esperadas largadas de toiros. Os foragidos disso ficaram admirados, e contaram um dia a António Gonçalves, um dos voluntários que os acompanhou durante a sua permanência nesta terra ribatejana. Entre os muitos jornalistas que aguardavam a chegada dos dois autocarros, estavam António Baião, apoiado para a obtenção de fotografias, do secretário da redacção do jornal local - Vale do Tejo - José Gameiro. Passados 16 anos, em 2015, na iminência de outros refugiados, na Europa com a guerra da Síria, o jornal DN, enviou a Salvaterra, uma equipa de reportagem para recordar várias passagens da permanência aqui dos Kosovares , que deixaram expressões como: 'ah muito calor' é da 'portugália' *José Gameiro. ******** Nota: Fotos 1) – António Gonçalves, com crianças Kosovares * 2) e 3) José Gameiro, ajuda jornalistas do DN, na reportagem em 2015

**********************


64


65 0

XXXXX Crónica Nº 50 Facebook - José Gameiro 04 /Junho/ 2019 CRÓNICA DO NOSSO TEMPO A FESTA DOS ANTIGOS MANCEBOS DA INSPECÇÃO MILITAR Tinham passado 40 anos e, um grupo de antigos Mancebos de Salvaterra de Magos, tomou a peito e realizou em outubro, um convívio para recordar o tempo da Inspecção militar na vila. A confraternização foi um êxito pelas presenças com seus familiares (esposas, filhos e netos) e passou a ter dia marcado naquele mês cada ano, aberto à presença de todos do concelho


66 já com muitas ausências num almoço convivendo numa confraternização em Outubro de cada ano. O relógio da torre da Igreja Matriz, tinha acabado de tocar a uma hora da tarde, quando à porta foi colocado um edital da Junta de Recrutamento Militar do Exército, todos ficaram a saber da sua sorte: foram considerados aptos para todo o serviço militar obrigatório. Os zunzuns confirmaram-se, mesmo aqueles com deformidades congénitas nos pés, que lhes provocavam grave problemas no andar foram apurados. Alguns familiares que “rondavam” por ali perto foram os primeiros a saber a novidade. Um ou outro sorteado – poucos, até porque era já símbolo a entrar em desuso, depressa acorreram às lojas de retrosaria do Sérgio Andrade (antiga casa do Pedro Santos), do Fernando Santos, da Rita Cebola, da Celestina e da Glória Carinhas, entre outras, comprando fitas coloridas que colocaram no braço direito.- O Verde: para os Apurados * O Vermelho seria para os que ficaram Livres * O Amarelo, para os que ficavam de espera Nenhuma destas cores foi usada porque ninguém ficou nestas situações. À noite houve um baile – o baile das sortes!... *José Gameiro ********* Nota: Fotos do Autor


67


68

XXXXXI Crónica Nº 51 Facebook – José Gameiro 06/Junho/.2019

CRÓNICA DO NOSSO TEMPO O BOTARÉU ONDE O POVO APLAUDIU O REI D. MANUEL II Como os dias de Inverno, aconselhando algum agasalho, aquele dobrar do séc. XX, como era hábito, manhã cedo meus pais antes de saírem para o trabalho – ele, iniciando a recolha do lixo nas ruas da vila, fazendo pequenos montes das fezes das muitas manadas de gado, que por ali já tinham passado de madrugada a caminho do campo. Minha mãe, agrupando-se ao rancho na ponte da vala, percorria a pé o valado até à Boca da Goiva - era época da poda e da cava das vinhas. - Vivíamos no Botaréu, ao lado da Capela, era costume deixarem em cima da mesa, uma caneca de café, e umas fatias de pão parido, para eu comer antes de ir para a escola. O relógio tocou, eram horas de ir para a escola, na rua eu, e o João Cardoso, o José António Lapa (mais tarde veio a ser conhecido pelo 18) e, seu irmão Ernesto, chamamos pelo João José (O Preguiça),e lá fomos de “arranchada”, pela rua do Forno de Vidro, até à escola, que ficava ali à distância de um olhar. . – As ruas e telhados. tinham neve. Naquela noite caiu um nevão


69 em Salvaterra. Ainda não nos tínhamos apercebido, o quanto era belo contemplar aquele fenómeno da natureza, logo ali ao pé do portão da adega do Virgolino Torroais, o seu adegueiro; Gaspar, esfregando aos mãos, dizia ao seu colega carroceiro; Benjamim Mendonça, - qualquer coisa como: - hoje, não está capaz de levares a mula até à Palhota!. Depressa dos dois, veio o aviso - meninos vão devagar, e tenham cuidado! Não escorreguem – podem partir algum braço! Era a primeira vez que víamos neve na terra – coisa que só liamos nos livros escolares e que existia lá para os lados da serra da Estrela. Pelo caminho, que era curto, logo um ou outro apanhou a neve no chão e foi atirando em pequenas bolas – como se fossem pedras, foi uma alegria, depressa todos estávamos naquela brincadeira. - Os trabalhos de demolição de uma casa de adobes e alguma taipa de tijolo estavam parados (1). Uns dias antes no entulho da terra, o grupo tinha encontrado muitos botões feitos de ossos de 2 e 4 buracos - enchemos os bolsos e mostramos aos colegas da classe, O achado, espalhou-se num ápice por toda a escola. O tempo do recreio foi esperado com ansiedade, e assim que tocou a sineta a correria pelo portão fora foi de tal ordem, que até a vigilante; Joaquina Magalhães, não teve mão neles. Era de vê-los “esgravatando” o entulho, procurando na terra – botões para os seus jogos. - A poucos metros, acontecia o mesmo, o trabalho também estava parado. Os pedreiros, sob as ordens do mestre; Egídio Caramelo, que andavam ali à uma semana, colocando novo reboco e, uma vedação de tubos, no pequeno botaréu, que


70 suportava a casa que foi do José Ferreira, o homem que teve a passagem do barco na Palhota - estava recebendo ordens. Ò Mestre, com o tempo assim, não vale a pena começarem já !... Depressa nos juntamos ao rapazio, que tinha chegado antes das 9 horas, que já brincavam atirando bolas de neve uns aos outros. Era uma alegria, estarmos a viver tal novidade oferecida pela natureza. A grande avenida, mostrava as pequenas árvores com neve – como se estivessem no tempo do natal. O seu asfalto de pedra de seixo e terra, estava envolvido num grande lençol de neve. - Era a primeira vez, que o rapazio via neve nesta vila! Não houve hora de recreio, os professores, não deixaram sair os alunos – tiveram receio de que algum escorregasse e cai-se! Pela hora do almoço, quando saímos da escola, e já com a tarde livre foi um “fartote”, uma brincadeira sem fim. Ainda se via aqui e ali, junto às Amoreiras no cais da vala, alguns restos de neve! *José Gameiro ************ Nota: (1) Casa da família Henriques Lino, em 1999, José Durão Lino, encontra numas obras no terreno anexo, restos de uma construção de forno e algumas peças de vidro - talvez ali tenha sido o Forno de Vidro, uma construção em Salvaterra no séc. XIV - Fotos do autor Ver: Em www.historiasalvaterra.bkogs.sapo.pt / ou no Google O Pontão da Palhota - 8.3.2009 * O Terramoto foi à Um ano 9.3.2009 * Os Cabritos do Ernesto Cigano - 16.6.2008


71


72

XXXXXII Crónica Nº 52 Facebook – José Gameiro 19/Junho/2019 CRÓNICA DO NOSSO TEMPO QUANDO HAVIA A REMONTA DO EXERCITO A primeira metade do séc. XX, estava a chegar ao fim, em Salvaterra de Magos, era usado o Largo onde existia a Fonte de S. António para a Remonta de Solípedes e Cavalos. O exercito português tinha dois períodos do ano que decorriam no país, para o suprimento dos efectivos de animais. Aqueles destinados à sela, também chamado “cavalo de monta” ou “cavalo andador” – eram sujeitos a um intenso trabalhado de desbaste e ensino, primeiro por Campinos já muito experientes, e no final por mestres cavaleiros, que alguns lavradores tinham a orientar as suas cocheiras. O mesmo se passava com os solípedes, até se tornarem animais mansos de carroça. Os Lavradores de Salvaterra, tinham na vila espaços chamados locais da Cobrição – onde faziam a mistura de cavalo com égua, ou a “hibridação” de cavalo/ou égua, com burro/ou burra, dando origem à mula ou macho.


73 Era uma produção para equilibrarem as finanças das suas Casas Agrícolas, e todos os anos destinavam os excedentes, ou já marcados à nascença para a Remonta do exército. - A Câmara Municipal, intermediava a realização do Mercado, emitindo por sua vez um edital, que dava a conhecer em todo o concelho, do dia e hora da Remonta. No texto do documento era informado também os preços a pagar para cada espécie. O Mercado da Remonta, normalmente realizava-se ali junto à Fonte de S. António da vila. Manhã cedo, muitas vezes até na véspera, já chegavam animais para a Inspecção e compra. – A remonta, era um trabalho feito por equipas militares que incluíam oficiais do ramo de cavalaria, e veterinários. Todos usavam bengalas métricas, e numa primeira fase lá selecionavam os animais nobres, seguindo-se depois as bestas de carga. Em reunião de um júri eram apartados “como comprados”, seguia-se o carregamento. O pagamento vinha uns meses depois através das Finanças. Muitos destes oficiais militares, ficavam alojados durante alguns dias, nas habitações dos Lavradores da terra, onde usufruíam de alimentação e cama. Os soldados com e sem divisas, tinham aposentadoria, nas Abegoarias dos lavradores da terra. Vinha de séculos esta prática mesmo com os civis quando vinham administrar o Paço e sua Coutada, enquanto não tinham aposentos próprios, encontravam guarida nas casa realengas da


74 terra. O mesmo aconteceu com militares de patente, que integraram o Regimento Cavalaria 10, criado por decreto de D. Miguel em 1833, e instalado em Salvaterra e que guarnecia o seu Paço Real. No final do séc. XIX, registou-se a chegada a Salvaterra de um tal Menezes e um outro de nome Vinagre, e ficaram nestas condições. No terramoto de 1909, a guarnição militar do ramo de engenharia, que aqui se instalou para a recuperação dos estragos na urbanização na vila, estava o militar, Engº João Oliveira e Sousa. Encontrando guarida no seio da família do agricultor, Porfírio Neves da Silva, veio a enamora-se de uma das filhas, com quem casou. Veio a ser um próspero lavrador, em Salvaterra, tendo desenvolvido e apurado o cavalo Lusitano, raça de animal que ainda hoje é preservada pelos seus netos. *José Gameiro ********** Nota: No dobrar do séc. XX, no Largo daquela Fonte, junto à câmara municipal, houve um Mercado de Remonta. Fotos: 1 e 2) Internet * 3 Fonte: Alex. Cunha – 1940


75


76

XXXXXIII Crónica Nº 53 Facebook – José Gameiro 23/Junho./2019 CRÓNICA DO NOSSO TEMPO QUANDO HAVIA VENDA DE PORCOS PELAS RUAS DE SALVATERRA , O calendário gregoriano dá-nos o dia 21, com o inicio do Verão, mas o dia 23, trouxe-nos uns chuvisco de “molha tolos” que não me apanhou de surpresa! Fui a uma grande superfície cá da terra, fazer uma compras – mas para ter as mãos livres, depressa coloquei a bengala do chapéu-de-chuva, no colarinho do casaco. - Um amigo de longa data; José António Neves Travessa, em jeito de brincadeira, lá fez o reparo!.. Assim está bem! - Isso, é dos tempos antigos!, e em dois dedos de conversa, lá lhe disse,. Os porqueiros, no dobrar do séc. XX, ainda faziam este uso, para terem as mãos livres.


77 “Manhã cedo, um camioneta com painéis de madeira bem altos, chegou em frente à Igreja Matriz da vila, e depressa quatro/ ou cinco homens ainda jovens recebiam ordens de um mais idoso. A descarga de leitões, foi feita um a um – eram para venda naquele dia em Salvaterra. . Depressa no largo, só se ouvia “grunhidos”, até porque os jovens tinham colocado uma saca ao ombro (como aquelas que se usavam para semear arroz), e lá entretinham os animais “farejando” os bagos de milho que era atirado para o meio da grande vara de porcos. A maioria tinha a cor preta com manchas brancas, e lá se viam alguns brancos e amarelos-torrados. Todos os membros do grupo colocaram um pau redondo retirado de alguma árvore, com uma pequena curva apertada na ponta ( tipo gancho - para agarrar a pata traseira) nas costas, ficando seguro no colarinho do casaco/ ou da camisa – para terem as mãos livres . Já era hábito usar-se o chapéu-de-chuva naquela maneira, especialmente nos rurais, coisa talvez trazida pelos beirões, que andavam por aqui a trabalhar nas terras da Lezíria ribatejana. Realmente, aquele grupo de homens vinha da zona de Pombal, e o mais velho já era muito conhecido aqui em Salvaterra, pois vinha todos os anos, pela Primavera, fazer aquela venda. O Porco ibérico/ ou Alentejano, aqui criado em pocilgas, era o mais desejado, até porque alguns criadores - engordavam dois por ano, e também eram comprados, em leitão, no mercado mensal de Marinhais. Era um animal bem conhecido na Europa, trazido pelos Romanos e talvez cruzado com o Javali, em estado de cativeiro comiam de tudo, desde que fosse cozido, e aí era misturado o milho, muitas vezes comprado, uma ou outra saca,


78 no Grémio da Lavoura da terra, ou do “rabisco” feito no fim das colheiras, das cearas do lavradores e seareiros da terra. No verão o animal comia de toda a fruta, onde entrava o melão, tomate e melancia! Em Salvaterra, já não se usava a matança do porco para alimentação familiar, faziam-no para engorda vendendo aos Talhos e Salsicharias da vila, onde muitas destas tínhamos apenas um pequeno balcão na casa de entrada da habitação. A maioria dos criadores tinha um “arredei-o/ ou pocilga” no terreno camarário, por detrás do cemitério, e os animais comiam duas vezes por dia. A venda do animal, servia para aumentar o pecúlio familiar, guardando as suas economias, debaixo do colchão da cama. Quando da venda do animal, já com umas boas arrobas de peso, era feita a encomenda de alguma carne fresca – era a alegria da família, pois muitas vezes era a única que se comia durante o ano. Havia o hábito de se comer carne salgada, como o toucinho! Iniciada a marcha dos pequenos animais, a vara, seguia pela rua Direita, até à Capela ali em frente à vala real, subiam pela grande rua com piso de pedra de seixo, até ao Arneiro, lá para os lados da Falcoaria, e desciam pela rua de areia, da Fonte Peteja, passado pelos Bombeiros, voltavam ao largo da Igreja. Pelo caminho, os homens amiúdas vezes - lançavam mãos de milho, para o meio dos pequenos leitões, e num ápice com os grunhidos à mistura lá procuravam-no no chão e faziam a caminhada, a toque de algumas assobiadelas! Depressa, a notícia correu,” estão a vender porcos na vila”, e todos os interessados já esperavam a sua passagem, e cada vez eram menos, pois pelo percurso a venda ia-se fazendo. Os


79 homens do grupo com grande destreza, para apanharem os pequenos leitões, de 3 semanas de desmamados, lá usavam a vara agarrando o animal por uma das patas traseiras. O Comprador, já prevenido com um cordel, atava as patas traseiras, para melhor manobrá-lo até à pocilga! No final da viagem, os pequenos animais por onde passaram deixavam as ruas da vila, num estado lastimoso, o cheio das fezes e urina – era uma peste! *José Gameiro! *********** Nota: : Fotos do Faceboock *********************


80

XXXXXIIII Crónica Nº 54 Facebook – José Gameiro 06/ Julho/2019

CRÓNICA DO NOSSO TEMPO QUANDO SE RECORDA 30 ANOS DEPOIS! O dia pelo meio da manhã, já estava de sol aberto, aquecia o corpo e a alma dos mais idosos, lembrando que dali a pouco se iniciava o solstício de Inverno - era o maior dia de luz do ano! De regresso do meu passeio matinal, “meti-me” pela antiga rua de S. Paulo, uma artéria de Salvaterra, que desde seculos vem da vala real, em direcção à Igreja Matriz da vila, e agora está incluída pertence à zona história de Salvaterra de Magos. Perante sem viva alma na rua e algumas construções mostrando sinais de falta de conservação, com uma ou outra com o telhado


81 caído, depressa dei comigo a pensar 30 anos antes, quando procurei, Josefina Vidigal, no intuito de receber dela informes sobre um teatro de amadores, que existiu na terra. Josefina, Já me conhecia de longa data, até porque vivi por ali, na minha meninice, e mesmo com a porta “entreaberta”, lá começou a “rebuscar” as primeiras recordações, que ainda guardava na memória, até porque quando jovem, foi actriz daquele grupo teatral desde a primeira hora. Mostrando já grande à vontade, a Josefina Gonçalves da Luz (nome que recebeu do marido, depressa “escancarou” a porta e mostrou-me o espaço da entrada onde o seu marido - Francisco da Luz, afamado mestre- alfaiate da terra, teve a sua oficina, e dava trabalho a uma mão cheia de jovens moças costureiras, sendo ela depois de sua aprendiz e casando com ele, passou a ser a orientadora do trabalho. A talhe de foice não deixou de me contar, que sendo o Xico da Luz, um adepto ferrenho do Benfica, por vezes lá ia ver os jogos em Lisboa, na sua pequena motorizada, ia sempre prevenido com meia dúzia de velas do motor – pois tinha de parar várias vezes, para as mudar – ficavam encharcadas de gasolina e óleo. Saía de Salvaterra, manhã cedo e regressava noite dentro! No final, não deixou de me oferecer alguns panfletos, de peças de récitas, que o grupo representou, até por terras vizinhas, onde eram muito solicitado.~ Para lembrar este contacto com a Josefina, é bom ter ainda à mão a gravação daquela entrevista, metida num conjunto de uma


82 série delas, feitas em 1989, sobre o local da Casa da Ópera do Paço Real de Salvaterra, que fiz com num pequeno gravador com cassete de fita, e que ainda conservo no meu espólio, até porque na altura “cismava” trabalhá-las num texto a publicar no jornal. - Os anos passaram, e agora vive-se de recordações! A rua de S. Paulo, é agora um dó de alma-sem vida, onde os Andrades (Ruy e o irmão José) da família dos “Charutos”, iniciaram a sua vida de trabalho, antes de irem de abalada para Lisboa, entrado depois no teatro e foram fundadores dos “Parodiantes de Lisboa”, um programa de rádio que durou 50 anos! O José, tinha ali aberto a sua barbearia, paredes meias, com a Pastelaria do pai; Fernando. Este, esteve uns anos fora de Salvaterra, como Padeiro, e quando regressou à terra abriu o “Sol da Lezíria”, uma pastelaria na avenida principal da vila. Naquele tempo – anos 30 do séc. XX, o Albano Gonçalves, tinha ali a sua botica, e ao lado abria portas o correio, uma casa de atendimento público, com distribuição diária de cartas através do carteiro, e um guarda-fios, um tal Paulino Oliveira, aqui chegado ao serviço da empresa dos CTT, que tinha a missão de instalar os telefones em casas particulares e instituições da vila. Os telegramas, um meio de comunicação já muito em voga por esse país fora, também passou a ter grande aceitação pela população local. Com a morte do Albano, fechou a sua Botica, e ali ao lado da loja de roupas de Alfaiate, de António Mendes, abriu a ”Farmácia


83 Martins”, de Henrique José Martins, que se juntou à Farmácia Carvalho, que vinha de 1891. O edifício do cinema, construído e oferecida aos Bombeiros da vila, pelo agricultor e benemérito; Gaspar Costa Ramalho, há muito que não existe! Com a morte de Francisco Henriques, já na década de 60 do séc. XX, caiu em declínio a grande firma; Almeida & Henriques, que incluía uma Padaria. num edifício ao pé da torre da Igreja Matriz da vila. Nos anos seguintes, todo o Comércio que por ali existia veio a ter o mesmo desfecho. A Mercearia do Jacinto Magalhães, a Barbearia do Fernando Sousa Marques, e a Padaria e Forno do Francisco Peste, e a Loja da Deolinda Pereira, até a moderna Loja de eletrodomésticos do Fernando Vieira Andrade – fechou! Aquele que foi um “emblema da vila” – o Café Progresso, de Gaspar da Silva ( o Gaspar Viola), acabou por encerrar portas, depois de lenta agonia com o seu vasto espaço servindo para outros serviços, uns após outros. A casa que serviu para quartos, da Taberna e Pensão “Lealdade”, de Leopoldino da Silva, apresenta o telhado caído, e o velho edifício, que albergou o café “Progresso” está agora uma lenta agonia. *José Gameiro ************************** ******************


84


85

XXXXXV Crónica Nº 55 Facebook - José Gameiro 19/Julho/2019

CRÓNICA DO NOSSO TEMPO MATAR O BICHO/ou ENCHER O BANDULHO O cantar do galo, era coisa que se ouvia logo que a madrugada dava sinais que, o escuro da noite estava para lugar aos alvores da manhã- ao sol nascer. O trabalhador rural, usava aquele canto como seu relógio, para iniciar a longa caminhada a pé, até ao local de trabalho. Outros bebiam o café, de cevada/ou chícharo torrado e moído, com um naco de pão barrado de toucinho cozido, que tinha sobrado da ceia. O Vitorino Marreco, e o Artur Xavier, abriam portas quando a sua clientela urbana da vila, caminhavam até às oficinas, bebendo uma ginja ou abafado A taberna do João da Pança, lá para os lados da Azinhaga, e a do Miguel, e o Pinto, ali “pegados” ao cais da vala, já tinham porta aberta para aquela gente “matar-bicho” -um copo de aguardente, ou de abafado, servia!


86 A primeira refeição destes homens era comida às 10 horas da manhã, sendo o almoço quando batiam as duas horas da tarde, e a ceia era já com a noite dentro quando chegavam a casa. Os rurais levavam a comida já feita numa pequena caldeira, que aqueciam em grupo num brasido de lume, preparado aí uma hora antes. - As mulheres e Moças, em grupos juntavam-se na estrada da Ponte de Pedra, a pé num passo estugado entravam em caminhos de terra, do Malagueiro, com os campos dos freires à vista, já perto do Vau. Aquelas que tinha a jorna nas Courelas junto ao Tejo, era na Ponte da Vala que se juntavam, depois de chamarem umas pelas outras, nas esquinas das ruas da vila. Os que faziam a cava da terra com enxada de lâmina larga, e todos ombreando em linha de lado, cavavam às ordens de um cavador, que com a voz dava o mote, e assim faziam as leiras. De hora a hora, tinham uma fumaça (fumavam um cigarro) e descansavam, bebiam uns golos de água, da infusa de barro, ou de um pequeno barril – água recolhida nalguma nascente que havia por ali. Nos ranchos rurais, os trabalhadores dos campos da Lezíria quando o sol se “esfumava” lá para os lados da serra de Sintra, olhavam-no de “esguelha”, pois daí a nada o luz-fusco já pairava. Esperavam a ordem do Capataz para a despega, que era sempre já depois do sol posto. - De regresso a casa, alguns depois da hora da ceia, ainda davam um salto à taberna do João da Pança, (homem mediano de altura, usava além do um cinto uns suspensórios de tiras de cabedal ,


87 por cima do colete para segurar as calças, pois tinha a barriga dilatada - talvez daí a alcunha!), arranjavam parceiros e jogavam uma cartada de bisca, para beberem uns copos de vinho. -Eh home…, já vens na mêma! – uma tarde e noite dentro na taberna, chegas a casa a toldar da cabeça, e com o bandulho cheio de vinho, e eu, sem comer p`ra crianças, at`eimas sempre nisso! A Taberna do João da Pança, tinha à porta um assento em cimento, do lado da Azinhaga (rua Porfírio Neves da Silva), mesmo em frente à rua dos Quartos, dava jeito nos dias de verão, para estarem à conversa contando umas anedotas. A Anunciada, tinha porta da sua taberna a meio da azinhaga estreita do Arneiro, e lá se viam misturados, gente rural com os dos ofícios que, se entretinham a jogar o chinquilho, noite dentro à luz do gasómetro (1). O Artur Xavier, na rua Direita e José das Neves, na esquina da Trav.. do Martins, com a rua Direita, tinham uma clientela especial, serviam de tertúlia. Foi na Tasca do José das Neves, a meio da discussão entre os aficionados daqueles que tinham fama nos cartazes de Portugal e na vizinha Espanha, que em 1919, saiu a ideia da construção da Praça de toiros de Salvaterra de Magos. *José Gameiro ************ Nota: (1) A Taberna Anunciada, na Trav. da Azinhaga, foi descrita no Conto o ”Último Dia do Lobo em Salvaterra”, de


88 José Amaro - década de 30, séc. XX * 1) Antiga Taberna do João da Pança *2) Antiga Taberna Vitorino Marreco *3) Antiga Taberna; Artur Xavier

****************


89

XXXXXVI Crónica N. 56 Facebook – José Gameiro 21/Julho/2019

CRONICA DO NOSSO TEMPO A PEDRA DE FERRAR RODAS/ ou A RODA DOS ENJEITADOS A II guerra Mundial, tinha acabado em Junho de 1945, naquele tempo ainda havia duas pedras redondas de lioz, com buraco no meio, onde assentava o meão da roda raiada de madeira dos carros de madeira.


90 Em frente à Trav.. do Secretário, havia um grande tanque que recebia água da fonte de Santo António, era aí que as manadas de gado “matavam a sede” no seu trânsito a caminho do campo, ou no regresso na pernoita nos currais. No largo da fonte do Arneiro, construção de 1711, recebia água através de uma construção subterrânea, com o tamanho de mais de meia légua, desde as terras do Convento de Jericó A pedra ali existente, conservava outras razões, que o povo por volta de 1938, ainda lhe chamava a pedra dos enjeitados! Na época, na terra já ninguém se lembrava do homem que foi mestre de oficio de forjar o ferro, conhecido por Zé Fungão, que juntava o seu nome, a um outro afamado ferreiro; António Henriques Alexandre, aquele que no trabalho de forja e bigorna, um dia moldou o ferro e os tubos que, depois foram cromados, em Santarém, e ornamentaram o primeiro pronto-socorro dos bombeiros da vila. Ambos tiveram oficina para os lados da Azinhaga. O mestre; Manuel Amaro, teve oficina, perto da capela real, mas não foi a sua arte, que o deixou lembrado. O seu sobrinho; José Amaro, também esteve aí para aprender e fazer carreira naquela profissão, mas muitos anos depois já licenciado em medicina, acabou por escrever um conto verdadeiro, “O Último Dia do Lobo em Salvaterra”, onde recorda que ele, o tio, foi personagens central do acontecimento. O João Augusto Borrego, mestre que, teve oficina, na EN 118-2, e na antiga casa a porta e janela, já consumidas pela “velhice” ainda se podem ver na madeira, algumas marcas de ferros, de antigos lavradores de Salvaterra. O mestre-carpinteiro de carros de madeira, António Morais, tinha local de ganha-pão, ao lado do mestre Amaro, era o artífice


91 proferido, pela arte que mostrava ao fazer os rodados dos carros de bois e carroças. No dia aprazado para a “ferra” das rodas nas grandes fogueiras feitas naqueles locais com água, juntava-se todo o pessoal das oficinas, onde num trabalho de entreajuda, os malhadores; Abel da Silva e José Ferreira tinham trabalho de apreço! A pedra, que serviu ali junto tanque de água (destruído em parte, em 1985), esteve uma boa vintena de anos, encostada a um dos três eucaliptos naquele espaço – um dia desapareceu! A roda de pedra, junto à fonte do séc. XVIII, era ali que, algumas crianças, após o nascimento eram abandonadas. Manhã cedo, ao clarear o dia, a população, especialmente as mulheres e moças, iam buscar água nos seus potes de barro, para beberem e afazeres domésticos. Encontravam ali crianças abandonadas – eram enjeitadas! Recolhidas e entregues à Misericórdia local, onde ficavam algum tempo, após vigilância municipal, não sendo resgatadas por familiares, eram encaminhadas para a Misericórdia de Lisboa ou Casa Pia, onde eram criadas e educadas – ficando registado o seu nascimento, como “expostas!...” em lugar incerto na freguesia e vila de Salvaterra de Magos. Por volta de 1985, na presidência da câmara municipal do executivo; António Moreira, o seu vereador; Joaquim Mário Antão, tomou em mãos obras de conservação naquela fonte, não deixando de simbolizar o local, colocando ali uma grande roda de cimento, lembrando a pedra de lioz, que há muito dali tinha sido retirada. *José Gameiro *********


92 Nota: Texto Publicado * Crónica do Nosso Tempo * A Roda de madeira, ferrada na Pedra de Lioz * 22.Julho.2019 Fotos: 1) 3) e 4) do autor – 1990 * 2) Retirada do Fb


93

XXXXXVII Crónica 57 Facebook – José Gameiro 16.Julho.2019 CRONICA DO NOSSO TEMPO A TABERNA DA GUALDINA - QUEM QUER SABER, PERGUNTA! Anda o João Paulo Rodrigues, enfermeiro de profissão “raladinho” em saber alguma coisa sobre a Taberna da Gualdina, e de outras mais, que existiram entre as duas guerras mundiais do séc. XX e, que agora são memórias de uma riqueza económica de Salvaterra de Magos. Era naquelas tascas que alguns esqueciam-se do tempo e entre um copo ou outro de vinho, deambulavam recordações de um passado que agora faz parte da riqueza cultural de um povo.


94 Depois de várias "andanças", até porque a sua geração de meninice tem muitas dúvidas sobre a sua origem, anda João Paulo Rodrigues, "ralado" em saber da taberna que um dia foi explorada pela Gualdina Catarino. - Num dia de 1951,estava-se na campanha eleitoral para presidente da república, pelo regime apresentava-se à eleição o Gen. Craveiro Lopes. Quando cheguei à vala real de Salvaterra de Magos, era um domingo. Meus pais iam morar numa pequena casa em cima do “botaréu”, ali pegado à Capela da Misericórdia, depois de viverem numa habitação de meia empena, na rua Debaixo- dos- Arcos (Rua Heróis de Chaves), casa onde nasci. Depressa fiz amizades com o rapazio da zona, até porque dali a uns dias entrava na escola. Poucas eram as brincadeiras, além de jogar a pedra (ao pé cochinho), nas Lajes do botaréu da Capela e jogar a bola no cais, as suas velhas amoreiras convidavam os mais ágeis a subi-las e lá apanhavam as grandes amoras brancas – era um regalo! Uma velha construção – dava mostras de antigo armazém já com o madeiramento a “descambar”, com as telhas caídas, espelhando os estragos do terramoto de 1909, tinha ao lado mesmo juntinho uma moradia com taberna no rés-do-chão. Quem a via de lado, vindo da ponte, tinha de se empertigar, porque uma pequena baiuca de venda de vinho, que no seu interior não cabia um palmo de gente, e os barqueiros mais antigos diziam também ser do início do séc. XX, e pertencer à família Pinto.


95 Todos os anos, no Inverno/Primavera, eram alagadas com as cheias de água que transbordavam do Tejo, e vinham numa ânsia desmedida galgando terras até à vala real, ao encontro das águas das pequenas valas da Charneca, e dos Foros de Salvaterra. Cheias que por vezes duravam semanas! A pequena taberna, era explorada pelo Valentim – antigo fragateiro (e esposa, irmã da Gualdina) enquanto a outra maior tinha sido do Miguel, que a trespassara ao Camilo Miguéis Martinez, galego fugido da guerra de Espanha. A sua esposa foi cozinheira da casa; Conde Monte Real. A Gualdina Catarino, que explorava a taberna da família José da Luz, ao lado da Escola Gen. Carmona, depressa substituiu a irmã naquela pequena venda de vinho, e não deixou passar a ocasião para ocupar a “Taberna do Camilo”, após este ter sido sepultado no cemitério da vila. Nesta grande taberna, a Gualdina esteve um bom par de anos da sua vida. Quando a taberna fechou de vez, já tinha sido usada por José Domingos Lobo e o seu sócio Abílio, com pequeno restaurante. Após a sua demolição, aquele vasto terreno deu lugar ao novo edifício municipal, onde está instalado o espaço de exposições e Turismo municipal de Salvaterra de Magos. *José Gameiro ********** Nota: Foto: Ano de Cheia de 1966 - Autor


96


97

XXXXXVIII Crónica 58 Facebook – José Gameiro 6/ Agosto/.2019

CRÓNICA DO NOSSO TEMPO * Memórias * A CHESAL (COOPERATIVA HABITAÇÃO ECONÓMICA SOCIAL), É um empreendimento resultante de um grupo que aproveitou as iniciativas conseguidas depois do 25 de Abril de 1974. Os primeiros anos da década de 40 anos do séc. XX, vividos debaixo do conflito da II guerra mundial, que trazia fome e miséria ao povo. Aqui, em Salvaterra de Magos, especialmente a rural, não tinha posses para suportar uma renda de casa, depressa conseguiu do executivo municipal da época, a ocupação de um terreno com réstia de pinhal, ali mesmo atrás do cemitério da vila. Depressa no espaço viu-se o aparecimento de um aglomerado de barracas, onde os seus moradores, num aramado junto tinham animais de capoeira e outros de pelo.


98 Corria o anos 60, a Igreja Paroquial da freguesia, através da sua "Fabrica Social", levou por diante a iniciativa da construção de habitações sociais, cujo desígnios era também realojar aquelas famílias, ajudando-as a acabar com aquela forma de viver. Nesta altura os jovens casais na vila, procuravam o arrendamento de casa, que ainda se encontravam com facilidade, os pequenos papeis quadrados brancos colados na janelas das casa informavam que estava devoluta. Por volta de 1970, naquele espaço, por detrás do cemitério as barracas foram dando lugar à aquisição de casa própria, através do Fundo de Fomento da Segurança Social, que apoiou a construção de um bairro de casas de 1ºandar e rés/chão No zona urbana da vila, viam-se novas construções, apoiadas pelos bancos, que estavam numa fase de grande promoção nos empréstimos com pagamentos a longo prazo. Em 1971, o executivo municipal de Salvaterra, deu guarida ao projecto ao autarca; José Teodoro Amaro, que urbanizava em lotes, um pedaço daquele terreno municipal, já com poucas barracas, sendo aberta uma longa via de acesso, que a norte nascia na EN 118, e perdia-se a sul junto à Estrada da Lagoa e terreno da Misericórdia. Esta via, ficou ladeada pela nova urbanização; Bairro Pinhal da Vila, e bairro da Segurança Social, terminando nos bairros da iniciativa da Igreja Paroquial. A traseira da Serração Central


99 também ficava servida. Anos mais tarde em 1985, foi~lhe dada a toponímia – Rua Padre Cruz. Na primeira licitação pública, do novo bairro, apenas concorreram três interessados, que adquiram o seu lote (1)., Em 1978, vivia-se momentos de grande cooperação, o povo tinha poder de iniciativa que era enorme, estava-se dando o grande salto, no campo cultural e Social, em Portugal, após o golpe militar em Abril de 1974. Aqui em Salvaterra, um grupo de entusiastas, no dia 6 Julho, constituíram a Cooperativa de Habitação Económica e Social de Salvaterra de Magos (Chesal), cujo registo notarial foi homologado no dia 21 daquele mês, e com esta iniciativa, estavase a um passo no campo habitacional com construções de custos sociais. Com a primeira fase terminada. depressa os seus associados, vieram ocupar, aquelas bonitas e modernas habitações sociais, construídas naquela Cooperativa de Habitação *José Gameiro *********** Nota: (1) O autor destas linhas, comprou o lote 49, e dando iniciou à construção da sua habitação, (sendo a primeira daquela nova zona habitacional), foi habitada em 1973.

Fotos do Autor: 1) Barracas *2) Bairro Fomento Social *3) Bairro Social Igreja *4) Bairro da Chesal * 5 e 6) Bairro Urb. Pinhal da Vila


100


101

XXXXXIX Crónica Nº 59 Facebook – José Gameiro 01/08/2019 CRÓNICA DO NOSSO TEMPO FALTA UM ANO PARA A PRAÇA DE TOIROS CELEBRAR UM SECULO Estamos a um ano, de se comemorar um século da inauguração da Praça de Toiros de Salvaterra de Magos, talvez não fosse má ideia – a Santa Casa da Misericórdia, sua proprietária, começar a pensar nuns festejos condignos ao longo do próximo ano de


102 2020. ******

O Terramoto de 1909, tinha acontecido à uma dezena de anos, a vila de Salvaterra de Magos, ainda assistia lentamente à sua recuperação, e a Trav. que ligava a rua de S. Paulo à rua Direita, na esquina desta última existia uma casa, onde José Luís das Neves, tinha a sua taberna. Ali, à noite reunia-se uma clientela que, era aficionada fazendo do local a sua tertúlia, acompanhando de perto o que se passava no mundo das corridas de toiros, no país e em Espanha.

Na outra esquina, Henrique José Martins, instalou a “Farmácia Martins”, e aquela pequena artéria depressa passou a ser conhecida pela; Trav. do Martins. Naquele ano de 1919, os mais idosos, ainda falavam da tradição que os fazia “agarrar” à sua cultura, vinda com os imigrantes daquelas terras distantes lá para as bandas da Flandes, e que ficaram por aqui nesta lezíria junto ao rio Tejo, e que foi respeitada mesmo no tempo dos reis. Sabiam que tinha existido na vila uma praça de toiros, vinda do final do séc. XIX, pertencente à Santa Casa, da terra - uma construção em madeira, e que durante muito tempo foi explorada pela Misericórdia de Portalegre, com várias corridas em cada ano. Naqueles dias andava no ar que em Benavente, havia grande entusiasmo para a construção de uma praça de toiros, e logo naquela tertúlia um deles, mostrou algum ciúme que, não tirava da cabeça, ver a vontade das gentes da terra vizinha, de virem a construir uma moderna praça de toiros. - Que inveja aquela ! Era uma angustia espelhado no rosto de alguns, de não terem também uma aqui em Salvaterra de Magos, nem que o seu


103 interior fosse parecido com a do Campo Pequeno, onde os toureiros cá da terra; os irmãos Roberto, actuaram na inauguração em 1889. A ideia amadureceu durante uns meses, e todos a levaram avante! Um grupo se formou mesmo ali, Francisco Maria Gonçalves, Augusto da Silva, Manuel Lopes Gonçalves, Luiz Gonçalves da Luz, António Henriques Alexandre, Augusto Gonçalves da Luz, Carlos Alberto Rebelo, Pedro de Sousa Marques, e o taberneiro, José Luis das Neves, depressa fizeram uma “circular” com várias cópias, que circulou por tudo quanto era sitio da vila. Isto e muito mais nos contou, em 1970, José das Neves, o único sobrevivente daquele grupo, quando o entrevistamos na passagem da efeméride dos 50 anos da praça de toiros, e publicamos no Jornal Aurora do Ribatejo, acompanhada de fotos do dia da inauguração em 1 de Agosto de 1920 Depois da obra pronta e paga, o grupo ofereceu-a à Misericórdia local. Passando aquele tauródromo a ser um cartão de visita, à entrada de Salvaterra de Magos. *José Gameiro ********* Nota: Doc. recolhidos pelo autor com artigo publicado no Jornal Aurora do Ribatejo, com entrevista a José Luis das Neves, único membro vivo da Comissão, quando da passagem dos 75 anos da inauguração. *Fotos:1) Antigo Bandarilheiro Roberto, inaugura a Praça Toiros; 1/Agosto/1920 *2) Praça de Toiros em 2019 ******************* **************


104


105


106

XXXXXX Crónica Nº 60 Facebook - José Gameiro 19/08/2019

CRÓNICA DO NOSSO TEMPO O ÚLTIMO FRADE DE SALVATERRA ! No que resta do antigo Convento dos Frades Menores Capuchos, construído no terreno das Cortes de Jericó, nos inicio do séc. XVIII, pode-se ver lá em baixo no horizonte o Campo dos Freires, que no dobrar do séc. XX, dava para colher além de cearas sazonais de sequeiro, e tinha grandes vinhedos do lavradores de Salvaterra e da sua vizinha Benavente. Num dia de 1990, pedi ao presidente da câmara municipal de Benavente; José Carlos Ganhão, que prontamente me ofereceu, enviando-me o livro "O Convento de Jericó", editado pelo município, em 1986, aproveitando todo o espólio pesquizado pelo seu autor; Alfredo Betâmio Almeida.


107 Naquela gama de escritos, estava a sua intenção de editar um estudo sobre a vizinha vila de Benavente, sua terra-natal, e Salvaterra de Magos, pois grandes eram as afinidades históricas e culturais das duas povoações. Em 1965, já lia os seus textos sobre o Convento, al como da Falcoaria de Salvaterra, da pena de Joaquim Correia da Silva no extinto "Aurora do Ribatejo". É um livro que convida o leitor interessado mais desprevenido a folheá-lo de uma assentada tal é a quantidade de assuntos sobre a história daquele convento, erguido sob o patrocínio dos Frades Menores Arrábidos, primeiramente em terras baixas, ali junto ao edifício da Falcoaria real, que deu lugar um segundo e último, na extrema com o concelho de Benavente, em sítio onde as cheias não chegavam. Alfredo Betâmio, tem uma escrita de fácil entendimento, de grande descrição narrativa a par de desenhos que fez, a traço de lápis, que encantam. O conteúdo da edição leva-nos ao periodo de 1542 - 1834, desde a época da construção e da vida monástica do Infante D. Luiz, que custeou aquela construção. Por volta de 1968, um dia fui de abalada àquele antigo Convento, e vi duas pedras tumulares, arrumadas junto à parede exterior, do que resta da sua capela, onde ainda se venera S. Baco e, que pertenceram ao seu cemitério, tendo a vida religiosa dos Frades Arrábidos Menores terminado, após ter sofrido grandes estragos com o terramoto de 1585.


108 Numa e noutra pedra de calcário ainda se pode ler os nomes dos frades que acharam por bem serem enterrados, no então “campo santo” daquele templo franciscano. Entre elas, estava, uma de João Lopes. Na página 71 daquele livro ”O Convento de Jericó”, na descrição dos vários Frades naturais das freguesias de Benavente e de Salvaterra, pode-se ler os nomes daqueles que nasceram nesta última vila; João Lopes, António Pedro Xavier Baeta, José Joaquim da Maia, José de Sousa Machado e José de Sousa. Referente a este último dá a informação; “Pelo processo de Inquirição não conseguimos saber o nome deste frade, averiguamos apenas que professou a 2 de Outubro de 1821, e perante a descrição do seu óbito a minha curiosidade, “falou mais alto”, e encontrei nos Registos Paroquiais, existentes no registo civil da freguesia de Salvaterra de Magos, não a do nascimento, mas sim do seu óbito, que obtive certidão através do requerimento nº 2045 de 20 de Abril de 1993, do qual, paguei para a época 40$00. Naquela certidão consta o registo de óbito 14 de um tal “José Soriano de Souza” que é descrito como:

" Aos 31 dias do mês de Janeiro de 1878, às dez horas da manhã, numa casa sita na rua do Pinheiro, desta freguesia de S. Paulo da vila e concelho de Salvaterra de Magos, faleceu José Soriano de Souza, eclesiástico, presbytero, de idade de 78 anos, egresso da extinta província de Santa Maria da Arrábida, natural desta freguesia, onde era morador; filho legitimo de Joaquim de Souza, lavrador; e de Dona Luiza Xavier de profissão doméstica,


109 naturaes desta freguesia: o qual não fez testamento e foi sepultado no cemitério público, desta vila" Por este documento paroquial somos levados a concluir que na Ordem Franciscana teve o nome de Fr. José Souza. Depois da extinção dos Conventos em 1834, foi Capelão da Misericórdia de Salvaterra e, com a morte deste religioso deve ter desaparecido o último frade natural de Salvaterra, que vestiu o hábito religioso primitivo da Ordem S. Francisco, no Convento de Jenicó, construído sob orago de Nª Sª da Piedade. José Gameiro ********** Nota: Foto1) Publica Fb - Frades Franciscanos * Registo Óbito (Registos Paroquias) Freguesia Salvaterra; José Soriano de Sousa (Frade Franciscano)

*******************

**********************


110


111

XXXXXXI Crónica Nº 61 Facebook – José Gameiro 19/ Agosto/ 2019

CRÓNICA DO NOSSO TEMPO UM PEDAÇO DA HISTORIA DE SALVATERRA, EM 1931 Portugal, vivia anos conturbados, nos primeiros tempos da implantação do regime republicano, e em 1926, Salazar ainda que por poucos meses tinha estado como Ministro Finanças, a chefiar o Ministério, foi em 1930, que assumiu por inteiro a liderança de todo o Governo e, as transformações económicas e politicas, no país começaram a ter lugar. Corria o ano de 1931, Salvaterra de Magos, pertencia à província da Estremadura. Era um pequeno concelho classificado de 3ª classe e fiscal da mesma ordem, centrado na bacia hídrica do rio Tejo, de onde recebia a sua riqueza económica, pois era uma


112 povoação predominante rural, com seu povo mantendo as características puras do homem do campo, onde os trajes e as danças tinham parecenças com todo o povo rural da Lezíria. Eram hábitos que vinham de séculos, desde o seu povoamento, trazidos por gente que veio de Flandres e Borgonha, no sul da França. A Lezíria com a sua planície, insulada pelo rio, em tempos de agonia e tristeza, que também lhe trazia a fertilidade que lhe davam a riqueza em época de semeadura e colheita. A freguesia, tinha cerca de 4.500 habitantes, e todo o concelho 9.500, a sua localização, estava distante 30 Kms da cidade de Santarém, que era o seu distrito, mas a religião católica pertencia ao Patriarcado de Lisboa, com S. Paulo como Orago da Paroquia. No campo do foro judicial. o Dr. Alberto F. Barreiros, tinha escritório na Praça da República da vila, esgrimindo os conflitos da sua clientela, no tribunal de Coruche, a que pertencia o concelho de Salvaterra de Magos. Naquela época, as vias de comunicação, faziam-se por caminhos rudimentares. Logo a seguir à Ponte da Vala Real, ainda se viam vestígios da "Estrada do Meio", caminho atravessando o campo e a ponte de madeira, lá para os lados do Paul de Magos, até à saída de Almeirim, com o alto de Santarém à vista. Uma barcaça, em tempos recuados serviu de passagem entre as duas margens. Agora, para chegar a esta cidade usava-se o caminho de acesso à estação de Muge, e por esta vila e freguesia, passava-se


113 Benfica do Ribatejo e Almeirim, atravessando a Ponte em ferro, construído em 1881, no reinado de D. Luiz. Para Lisboa, o caminho foi o mesmo do Convento, aproveitando-se as terras do campo, Agora, também se utilizava o acesso a Benavente, pelo seu lado norte, pelo Calvário da vila, por uma ponte em madeira, no rio Sorraia, depois de se atravessar a densa mata do Gaspar Ramalho, seguindo-se a caminho de Samora Correia, por último a recta do cabo, no Porto Alto, Vila Franca e o Pontão ficavam à vista, uns kns de distância. com passagem do rio Tejo através de um Cais/pontão, para Vila Franca de Xira, onde o comboio, completava a viagem até à capital do país. O caminho de ferro, também tinha no Setil, um entroncamento de vias, que recebia os passageiros e mercadorias das estações de Muge e Marinhais. O transporte em diligência, era já uma recordação do passado, a população há muito tinha passado a viajar de camioneta da carreira, da Empresa de Viação Salvaterrense, explorada pela família Torroaes, na pessoa de José de Sousa Torroaes. Os barcos fragateiros, que tinham em Salvaterra, um grande cais de movimentação de mercadorias, para o Tejo, de e para Lisboa, Barreiro e Setúbal. Na sua navegação, também iam rio acima, depois de passarem a Ribeira de Santarém até Constância. Entre as dezenas de embarcações de grande carga, dois pequenos barcos apropriadas para carreira (transportes de pequenos volumes,


114 servindo o comércio e a indústria), chegavam a trazer embalagens com destino ao Alentejo: Évora, por Coruche, Couço e Mora, faziam duas vezes por semana o destino de Lisboa. Nestes pequenos barcos, um da família Roberto da Fonseca, e outro de Manoel Catharino, o povo de parcos recursos económicos, pedia “boleia”. De outras comunicações, estava Salvaterra bem provida. Uma primitiva estação de correios e telégrafos, na rua Machado Santos, sob a chefia de Celeste Filippe da Silva, com um distribuidor de cartas; João Ignácio Serra Faria e um Guardafios; Paulino de Oliveira. Sendo a estação de 2ª classe, mudou mais tarde para um antigo edifício manuelino, próximo da capela real, alargando os seus serviços nas áreas das encomendas postais, valores declarados e à cobrança. No campo social, Salvaterra de Magos, tinha escolhido para feriado municipal no concelho, de acordo com os seus hábitos rurais, a Quinta-Feira de Ascensão. Era neste dia que toda a população rural e urbana, se juntava, no campo e em ambiente familiar, gozavam a passagem do dia .Os lavradores, em ambiente de grande confraternização, não deixavam de pagar os petiscos e bebidas dos seus assalariados, e no final do dia, em alegres cantorias, no regresso a casa, as moças, faziam um ramo de espigas de trigo, cevada e centeio (cereais já maduros na época) a que juntavam papoilas e outras flores que já abundavam nos campos, guardando em casa para renovação no ano seguinte. A sua Feira Anual, tinha lugar no 3º


115 Domingo de Maio e prolongava-se até quinta-feira seguinte. Além das diversões, as bancas de quinquilharias, calçado e roupas., as fotografias de família, tiravam-se aí em barracas especializadas, pois seria uma recordação para o resto das suas vidas. Naquele tempo de transações, aí comprava-se e vendia-se produtos agrícolas, como as cabeças de gado. O suíno, a cabra e ovelha, sendo muito procurados, pelas gentes Foreiras; de Marinhais, Glória e Foros, levou a que o executivo da camara municipal, na época chefiada pelo Administrador José Eugénio de Menezes, que tinha como chefe de secretaria e secretario; Carlos Novaes Barreiros, assessorados pelos Amanuenses; Júlio Cesar da Silva e Miguel de Sousa Ramalho. A tesouraria, estava a cargo de António Emiliano Garrido da Silva e o Continuo: Joaquim Lopes. O chefe do executivo, ponderou uma exigência feita, para o início de um Mercado mensal, em Marinhais. Tal decisão, foi obtida anos mais tarde, deixando-se de realizar na sede do concelho, o negócio do gado. A vila de Salvaterra, estava bem provida de artesãos. Havia mestres-carpinteiros com oficina para construções urbanas e feitura de carroçaria. Operários credenciados como: António Henrique Alexandre, Carlos Almeida, Manoel Cordeiro, Vicente Augusto Ferreira, eram os mais solicitados. No aluguer de Carroças e Charretes, estas tirantadas a um ou dois animais; Augusto da Silva, Bernardino da Silva, José de Sousa Torroaes, Francisco da Thomázia, Francisco Tabaco e Victorino Miguel, alugavam estes meios de carga e transporte.


116 Os Ferreiros, como: António Fungão, Manuel Amaro, Francisco Gonçalves, João Augusto Borrego e José Sabino de Assis, encarregavam-se da construção de veículos, onde o ferro entrava, também se encarregavam na feitura de portões e de alfaias agrícolas. Foram artesãos que deixaram a sua arte, nos desenhos da ferraria, que ainda pululam nas varandas das ruas da vila antiga. Na confecção da roupa, para além das Costureiras que vestiam o povo, no seu traje peculiar, existiam os Alfaiates; Constantino da Silva Gomes, Manoel Codima e Manuel Mendes dos Santos, para as gentes da urbe. Os Barbeiros; sendo considerados industriais, tinham porta aberta; António de Sousa Marques, Cesar Augusto, José Miguel Borrego, Justiniano Dias Valente e Pedro de Sousa Marques. A clientela rural, era atendida à segunda-feira, pois era nesse dia que ainda estava na vila, depois do regresso do campo, após uma ausência de 15 dias ou um mês. Os artesãos-sapateiros, fechavam portas para descanso à segunda-feira, enquanto o comércio tradicional, tinha descanso às quintas-feiras. Os lavradores da vila e Foreiros, para ferrarem os seus animais de carga, recorriam aos serviços dos Ferradores; António Marques e Manoel Caetano Doutor. Os Bancos e Seguradoras, como o Crédito Agrícola estavam bem representados, na terra, assegurando à população com agências, numa constante actividade económica. O Banco Comercial do Porto: Roberto & Roberto * Banco de Portugal, Banco Borges & Irmão e Portuguez e Brasileiro; Gomes Leite * Seguros; Alliance: Roberto da Fonseca Júnior, Commercio e Industria: António Emiliano Garrido da Silva* Lisbonense; Francisco Maria Gomes


117 Leite. A Caixa de Crédito Agrícola Mutuo, satisfazendo uma necessidade constante junto da lavoura, tinha nos seus órgãos constituídos; José Eugénio de Menezes (Presidente), Roberto da Fonseca Júnior (Secretário), Henrique Avelar da Costa Freire (Tesoureiro). *José Gameiro ********* Nota: In – Publicação “Anuário Comercial de Portugal – Ano 1931” * Texto original do autor para Crónica Histórica de Salvaterra 1931 www.historiasalvaterra.blogs.sapo.pt *Fotos: 1) Oficina Ferrador; Manuel Doutor * 2) Horta do Sopas * 3) Comércio Gomes Leite * 4) Ferrador; António Ferreira Cipriano * 5) Diligência de Transportes Públicos * 6 ) Carroceiros e Carroças de Aluguer Fotos Alex Cunha 1940

************************* ****************


118


119


120

XXXXXXII Crónica Nº 62 Facebook – José Gameiro 30/ Agosto/2019

CRONICA DO NOSSO TEMPO ALEXANDRE CUNHA - O BARBEIRO QUE GOSTAVA DA FOTOGRAFIA

Em Portugal, um mês antes de Sidónio Pais ter ganho as eleições de Abril de 1918, para Presidente da República, e tomar posse no mês seguinte, tinha nascido em Salvaterra de Magos, num parto caseiro, Alexandre Varanda da Cunha. Viva-se no Ribatejo, como aliás em todo o pais, o rescaldo penoso da I Guerra Mundial. Seus pais, Alexandre Brito Varanda Cunha e Maria Gertrudes Varanda, trabalhadores rurais sabiam bem o que era viver as agruras da vida de serem, pois ganhavam a jorna nos campos dos lavradores da terra. Depressa, desejaram melhor sorte para o filho, logo que este acabou de aprender a escolaridade, na escola instalada no novo


121 edifício oferecido pelo jornal “O Século”, após o terramoto de 1909. O Alexandre, era um rapaz atinado, o que levou o pai a pedir ao barbeiro, Cesar Cabaço, que tinha porta aberta na rua Direita da vila, que ensina-se o filho naquele oficio. Chegou o dia de ir para a tropa, devido à sua profissão civil, foi no Hospital Miliar, que passou a Enfermeiro, e durante aquele tempo aprendeu com um outro, que tinha jeito para a fotografia, e manobrava bem as soluções dos ácidos que fixavam os negativos da imagens obtidas nos vidros usados como; chapas de negativos! O Alexandre, interessou-se por aprender esta prática, e mais tarde passou a aplicá-la aos negativos de celulose que, estavam a aparecer no mercado, tornando-se um praticante amador da fotografia, quando regressou a casa. Estabeleceu-se na Praça da República, ali ao pé do edifício camarário, e nas horas livres era de vê-lo pela vila e arredores, em busca dos melhores motivos e ângulos obtendo boas fotos, que passados muitos anos, ainda agora são ícones para recordar a sua terra – Salvaterra! Na falta de uma casa de tira retratos na vila, lá procuravam o mestre-Alexandre, para umas fotos, dos bebés acabados de baptizar, umas outras de casamentos, e outras ainda para os bilhetes de identidade.


122 Apetrechou-se com uma tábua de régua/esquadro, e comprou uma nova câmara, fazendo dele um bom cliente para os restos dos vidros, que sobravam no corte de vidros para janelas, na loja do José Sabino d`Assis. Este ainda lhe fazia os cortes para servirem de negativos. Mais tarde, em Lisboa, num domingo antes de ir assistir ao jogo do seu Benfica, procurou numa casa da especialidade, comprou um “Kodak” com fole, usando já negativos de celulose, intensificou assim o seu hoby da fotografia. Em 1986, o executivo de António Moreira, entregou a iniciativa ao vereador da cultura; Joaquim Mário Antão, que lhe fosse feita uma homenagem pública. Foi encarregado da organização e da exposição publica das suas fotos; João Monteiro Borrego, então funcionário. No final, o Alexandre ofereceu à câmara, através daquele funcionário, grande parte do seu espólio de fotos e chapas de vidro. Não deixou de me entregar muitos retratos, como ele dizia – onde num deles, guardava um do meu pai; José Gameiro Cantante, em frente ao grande portão do antigo Jardim público “do Largo da Câmara”, com a mula que puxava o carro do lixo municipal, pois fazia a recolha do lixo nas ruas da vila. Lá, me contou muitas histórias do seu percurso de vida, quando me dispus a fazer uma recolha do inicio do CDS, e fez os contactos com uma boa dúzia de antigos jogadores e dirigentes –


123 trabalho recolhido na sua barbearia, que publiquei num texto no Jornal Aurora do Ribatejo, e mais tarde deu azo a um pequeno livro sobre a história desta colectividade. O Alexandre Cunha, não deixou ficar no esquecimento - foi um grande apaixonado pelo aparecimento do Clube, com a fusão do Estrela Futebal Clube, e tendo jeito, coloriu a pincel no papel a primeira foto colorida da equipa, e desenhou o emblema do Clube Desportivo Salvaterrense. Veio a falecer no dia 5 de Maio de 1999, está sepultado no cemitério da vila onde nasceu. *José Gameiro ******** Nota: Apontamentos Nº 18, II edição – Colecção Recordar, Também é Reconstruir! - Publicado em Google José Gameiro Issuu Fotos:1) Alex Cunha, Dia da Exposição/Homenagem – Foto do autor * 2) Foto: José G Cantante , Autor Alex Cunha * Barcos no Cais da Vala, Autor Alex Cunha 1950

*********************** ***************


124


125

XXXXXXIII Crónica Nº 63 Facebook – José Gameiro 27/Set./2019

CRÓNICA DO NOSSO TEMPO MANUEL DA SILVA VALENTE * O EMPRESÁRIO QUE VEIO DE AVANCA (ESTARREJA) * Um dia chegou a Salvaterra de Magos, Salvaterra de Magos, e adotou-a como sua! A primeira guerra mundial (1914-18), tinha acabado há dois anos mas o povo de Avanca, continuava nos seus afazeres de todos os dias - no amanho da terra, no apanho do moliço e na pesca, coisa penosa para seu sustento. Era gente da beira litoral, de poucas letras, não sabendo que, foi terra de Antuã e já existia antes do séc. XIII, tempo que integrou o Mosteiro de Arouca, e com o passar dos séculos, já era um povoado cuja toponímia agregava meia dúzia de ruelas e largos, onde num deles tinha sido construída a Igreja Matriz, de


126 invocação a Santa Marinha, com a primeira missa celebrada a 24 de Fevereiro de 1749, e em 1864, Avanca albergando cerca de 4 mil vizinhos, passou a ser freguesia do concelho de Estarreja. Manuel Augusto Valente, nascido nesta povoação, era homem de negócios entre Portugal e Brasil, foi casar ali perto, em Ovar, com Emília Oliveira Soares, desta vila. fundada a 4 de Dezembro de 1811. O casal, vivendo em Ovar, ali viu aumentar a família, pois no dia 27 de Setembro de 1920, nasceu o último – um rapaz, de uma prole de cinco filhos, aquém foi dado o nome de Manuel Augusto da Silva Valente. Este tal como os irmãos teve uma infância cuidada no âmbito familiar, e na área da educação foi-lhes incutida as preces a Deus, através da religião católica, conduta que Manuel Valente acompanhou pela vida fora. A morte do pai, e de um irmão, que já estudava na universidade, aconteceram quando o jovem Manuel tinha apenas 15 anos de vida, mas o irmão Jaime mais velho de idade, depressa continuou os negócios da família, que levou a construírem em Aveiro, uma fábrica de Descasque de Arroz. O jovem Manuel Valente, mostrava ser pessoa recatada, resoluta e possuidora de bom trato humano, depressa junto com aquele irmão Jaime imbuídos de grandes esperanças de singrar na vida, levou-os a descer até à Lezíria ribatejana e, criando a firma; Jaime da Silva Valente, Ldª, instalaram-se num terreno em Salvaterra de Magos, para construírem de raiz uma moderna


127 unidade fabril, também na área do descasque do arroz, pois as terras de entre o Tejo e o Sorraia, eram férteis em arrozais. Os destinos da nova fábrica ficou entregue ao Manuel Valente, e já a viver nesta vila ribatejana, encontra na jovem Carlota Madeira, de Marinhais (31.01.1923 – 02.07.2003), a esposa que o viria acompanhar até ao dia da sua morte. Do Casamento, nasceram duas filhas; a Ana Maria e a Emília Madeira Valente. No dobrar do séc. XX, a fábrica continuava a laborar em pleno ali à beira da EN 118, à saída de Salvaterra, até que na década de 80, outros negócios foram aparecendo na vida empresarial da firma, tais como: uma fabrica de galvanização. A agricultura, nos seus vastos terrenos na zona do Vale Queimado, e o mercado em loteamentos passaram a ocupar a actividade da firma Jaime Valente. Manuel Valente sempre teve presente no seu espirito cristão, ajudar os outros e, não deixou de apoiar cedendo naquele terreno, um espaço para a construção de um bairro social com um Lar, uma iniciativa religiosa- adventista que pretendia instalar-se nesta zona. Anos antes já tinha dado guarida às necessidades da Igreja Paroquial de Salvaterra, quando da construção dos bairros sociais, que levaram a acabar na vila as barracas, onde viviam famílias pobres, especialmente de origem rural. A Misericórdia local também contou com ele num mandato na década 70, a par


128 das colectividades, e da autarquia receberem o seu contributo, pois era pessoa sempre disponível para preencher qualquer lugar directivo. Nas Festas de Salvaterra, que tiveram início em 1966, participou no campo da organização, e nas provas hípicas do seu programa, nas exposições daqueles festejos, não deixou de mostrar uma sua grande paixão de desportista, que trouxe de Aveiro. - Foi uma novidade os barcos a motor da Scudaria Magos, novo clube criado na vila com o seu grande amigo; Manuel João Raposo, entre outros praticantes, que passaram a usar a Barragem de Magos. para as muitas provas já incluídas no calendário nacional da modalidade. Dos terrenos que a empresa tinha atrás do cemitério de Salvaterra e da sua antiga fabrica, agora inactiva, fez uma doação à Câmara Municipal na década de 80, para ali serem construídas habitações sociais. Quando da sua morte, em 3 de Dezembro de 1999, os adventistas do Vale Queimado, não deixaram de manifestar o testemunho do seu agradecimento, encimando o seu caixão de defunto com uma enorme coroa de flores. As filhas, Ana Maria (a Nani) e a Emília Madeira Valente, já herdeiras do património e gerentes da firma; Jaime Valente, tomaram em conta os desejos do pai , não se desfazendo dos bens deixados, desenvolvendo até, no campo do imobiliária – onde a antiga unidade fabril e armazéns, foram arrendados sendo uma nova forma de ajudar o desenvolvimento da terra,


129 com novos postos de trabalho na vila que um dia o pai; Manuel Valente acarinhou como sua! *José Gameiro ********* Nota: Oniginal Publicado em 28.09.2019 – historiasalvaterra.blogs.sapo.pt Origem Fotos: Manuel Valente (Da Família) *Unidade Fabril Familia Jaime Silva Valente 1950 * Antigo (Desactivado) Descasque de Arroz 1980 (Do Autor)

*********************** ****************


130


131

XXXXXXIV Crónica Nº 64 Facebook – José Gameiro 08/Out./2019

CRÓNICA DO NOSSO TEMPO O PARQUE DE CAMPISMO DE SALVATERRA DE MAGOS,

Acaba de fazer 40 nos de inaugurado! A década de 70 do séc. XX, estava a meio e as sombras das pinheirocas do antigo cais da Palhota, na margem do rio Tejo, (construído e usado durante a construção do novo cais da vala real de Salvaterra de Magos), já não eram usadas, pois o povo tinha encontrado outras sombras e um areal, logo no inicio do Dique que ligava a vila ao Escaroupim.

Era um local aprazível para os seus fins de semana, e depressa ficou conhecido pela “Praia dos Tesos” , nome que a população usava com enfase, pois até aí os mais abastados da terra iam de abalada, em tempo de verão, até à Nazaré, Figueira da Foz e praias da linha de Sesimbra.


132 As Termas também eram lugar de procura para uma boa estadia! Naquele ano de 1979, uma cheia que durou alguns dias e, a meio uma forte ventania, acabou por se juntar destruindo parte da Capela da Misericórdia e, provocando estragos na velha Ponte da vala real. Esta por ser uma via única de acesso aos campos, e até mesmo à pequena Aldeia dos Pescadores do Escaroupim, recebeu obras com uma nova cota – elevação de terra, para substituir a pequena estrada de piso em pedra: No cimo foi construída uma comporta em ferro. A Federação de Campismo de Portugal (FCP), depressa interessou-se em construir no Pinhal (pinheiros mansos), que vinha do reinado de D. Dinis, ali na margem do Tejo, com a aldeia dos pescadores Avieiros bem à vista. O Município de Salvaterra, cujo executivo tinha à sua frente; Rafael João Alcântara Silva, também deu o seu parecer favorável ao processo cujas obras começaram e decorreram em bom ritmo. A inauguração do Parque foi no dia 8 de Setembro de 1979, após os discursos apropriados do presidente da câmara e, do presidente da Federação de Campismo (FCP), nos festejos actuou a Banda de Música dos bombeiros de Salvaterra, e do seu coro, juntou-se o Rancho Folclórico dos Avieiros do Escaroupim, com suas músicas e danças varinas. O muito povo que ali acorreu, depressa viu-se misturado com o elevado número de campistas que, de ora avante passaram a


133 frequentar aquela nova obra que vinha enriquecer o turismo local. *JosĂŠ Gameiro ********* Fotos: Do Autor


134


135


136

XXXXXXV Crónica Nº 65 Facebook – José Gameiro 15/Out./2019 CRÓNICA DO NOSSO TEMPO

A CRECHE - UMA NOVA FORMA DE INFANTÁRIO As crianças de origem pobre terem apoio na sua guarda e educação, segundo alguns registos vem com a iniciativa do Pe. Oberlin, na França, em 1767, e cerca de meio seculo depois, surge, na Escócia o método do Infantário.


137 Este sistema, depressa é adotado pela Alemanha, Inglaterra, EUA e o Brasil em 1900, vai usá-lo como Casa dos Expostos – casa onde eram deixadas crianças não desejadas. Na Europa, esta forma de guardar as crianças na sua infância, continua a evoluir enquanto os pais ocupam muitas horas do seu tempo no mundo do trabalho. A educação Infantil e escolar das crianças, depressa passou a ombrear com os cuidados originais de infantário. Joaquim Gomes de Carvalho, jovem nascido em 1909, na cidade de S. Paulo, no Brasil, filho de pais portugueses emigrantes, vem para Coimbra estudar medicina. Naquela Universidade, novos ventos sopram no ensino da formação de educadores das crianças nos Infantários e Creches. As áreas urbanas,- núcleos habitacionais proliferam na orla costeira de Portugal, e o campo já vai dando mostras de ficar deserto - nota-se a falta dos avós e tias para cuidar das crianças. Gomes de Carvalho, já licenciado e casado com D. Mariana Calado, instala-se com consultório em Salvaterra de Magos. Nas suas intervenções públicas, na deixa de deixar patentes as suas preocupações quanto ao atraso que se manifesta na vila, na área do desenvolvimento das crianças, como são a falta de um Jardim Infantil e uma Creche. Nalgumas revistas e jornais, deixou escrito os seus desejos. O Pe. José R Diogo, ao criar o Centro Paroquial – uma obra da Igreja, tinha um anseio além dos bairros sociais – a criação de Uma Creche social, para atender as crianças, filhos de gente


138 pobre. Entre outras ajudas, recebe a importante oferta de terrenos, da família do Dr. José de Menezes. A Direcção de 1978 a Março de 1980; Director; Pe. José R Diogo, Secretário; José R Gameiro, Tesoureiro; José Martins dos Santos, dá continuidade à construção dos Bairros Sociais (1), e inicia as obras da construção de uma creche e jardim-de-infância com capacidade para 145 crianças, com idades dos 3 meses à idade escolar. Depois de alguns atrasos na sua conclusão, aquela importante obra da igreja de Salvaterra de Magos, de apoio à criança carenciada, é inaugurada em 19.9.1997 *José Gameiro ********** Nota: (1) – Com a instalação das famílias pobre nestes bairros, foi o inicio de se acabarem as barracas em Salvaterra de Magos. * Nota: Fotos 1) Edifício Rua Cândido Reis– doado à Igreja para Creche * 2) Inicio das obras Creche Centro Paroquial *3) Dia Inauguração Creche * Fotos do Autor

*Medalha atribuía, em 1979, ao Autor, pelo Trabalho, Zelo e Dedicação na construção do Património Paroquial de S. Magos ******************** ***********


139


140

XXXXXXVI Crónica Nº 66 Facebook - José Gameiro 03/Nov./ 2019

CRÓNICA DO NOSSO TEMPO O BOLO PODRE - UM DOCE ANTIGO DA NOSSA TERRA O rei D. Miguel foi um predilecto do povo de Salvaterra de Magos, mesmo em tempo de infortúnio quando teve de deixar o país rumo ao exilio, depois de ter perdido a batalha que vinha tendo contra o seu irmão D. Pedro IV. Dizem-nos alguns textos, que D. Miguel, enquanto rei de Portugal durante a sua governação 1826-1834, e depois pretendente ao trono dos pais 1834-1866, não desprezava uma estadia no Paço


141 real da vila, para retemperar forças, onde ocupava o tempo na caça e nos espetáculos de brincos com toiros bravos. Ao casar com sua sobrinha D. Maria da Gloria, tinha em mente consolidar as suas pretensões de ter em Portugal um governo liberal. Faleceu em Wertheim, na Alemanha, a 14 de novembro de 1866, Numa das suas estadias no Paço real de Salvaterra, por volta de 1830, tendo atravessado o rio Tejo, até a Valada, onde se reuniu com os seus apoiantes, e em maior numero os de Santarém, quando do seu regresso foi recebido no cais da vala, pelas Moças (1) da vila, que vestiam os seus trajos domingueiros, e em lugar do tradicional beija-mão real, ofereceram ao rei, e à sua comitiva em pequenos cestos forrados a linho, alguns Bolos Podre, uma doçaria da terra, feito à base de farinha alva, gema de ovos, canela e erva-doce – um doce consumido naquele tempo pelo povo da Lezíria do Tejo, em dias de festas. Para compensar o povo de Salvaterra, de tanto carinho pela sua pessoa e pelo seu reino, mandou tomar boa nota com um inquérito, dos estragos e degradação que, o Paço apresentava desde o último incendio que o atingiu, visto um seu amigo – o Conde de Loulé, em 1824, ter caído num saguão desprotegido, acabando por morrer. D. Miguel assinou em 1933, um Decreto que reorganizava o exército português, e nele não deixou de instalar em Salvaterra, o Regimento de Cavalaria 10.. Com tal regalia foram construídas nos terrenos a sul do Paço da vila, muitas e grandes edificações


142 tais como: Cavalariças, Ferrador, Hospital para animais, Armazéns de palha, Arreios e Aposentos para os militares. Depois de um exilio em Viana de Áustria, D, Miguel veio a faleceu em Wertheim, na Alemanha, a 14 de novembro de 1866 e, os seus restos mortais chegaram a Portugal,de avião, em 5 de Abril de 1967, sendo depositados no Panteão dos Braganças., na Igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa Em 1858, um sismo acabou por deitar por terra o que restava do Paço da Vila, e as suas ruinas foram vendidas em haste pública em 1862. A vila deixando de ter protecção que os reis de Portugal sempre lhe devotaram, tal como o seu povo passou a viver modestamente, e uma das riquezas da sua cultura, como o bolo podre, caíu em desuso na sua mesa. *José Gameiro ******* Nota: (1) ver o III Volume "Crónicas do Nosso Tempo" Crónica Nº 50 * Doces da Nossa Terra* Pág. 102 e 103 *O Paço Real de Salvaterra, de Joaquim Correia Guedes *Foto Google - Doces do Ribatejo


143

XXXXXXVII Crónica Nº 67 Facebook - José Gameiro 10/Nov./ 2019

CRÓNICA DO NOSSO TEMPO O PAUL DE MAGOS, NA PRODUÇÃO DO ARROZ NO RIBATEJO A produção de arroz, aproveitando as bacias do Tejo, Sado e até mesmo nos rios da Beira Baixa, era cultura que ficou como herança dos Muçulmanos. O rei D. Sancho I, ao povoar os campos de Benavente, com imigrantes, não deixou de aproveitar as margens do rio Sorraia, para esta cultura de grãos que se davam bem em águas estagnadas. O rei D. Dinis – o Lavrador, intensificou a agricultura na marguem sul do Rio Tejo, com imigrantes, vindos da Flandres (França),


144 ocuparam as terras de Salvaterra, recebendo a vila regalias através do Foral de 1295. Séculos mais tarde, e por causa do risco de malária, doença com grandes surtos onde a mortalidade dizimava populações inteiras de gente que vivia junto das terras onde os charcos de água conservavam aluviões todo o ano. Depressa o cultivo do arroz, foi proibido, e o enxugo das terras uma necessidade – mas, sempre se foi mais densa proibiu-se a sementeira mas, pouco a pouco, foram sendo vencidas as reticências iniciais. No século XIX, já pode falar-se em cultivo sistemático e de um interesse manifesto e concreto da agricultura portuguesa na produção de arroz. Até então, a cultura de arroz era considerada ilegal, mas era tolerada. Deste modo inicialmente clandestino, os arrozais começaram a estender-se pela bacia dos rios e o governo começou a ponderar a viabilidade da produção de arroz, estabelecendo paulatinamente as condições que deviam presidir ao seu cultivo. No início do século XX, em 1900, estabeleceram-se as bases para a produção de arroz em Portugal. Nos anos 30, os arrozais cresceram significativamente e as zonas de cultivo estenderamse a outras regiões do país. Actualmente, o arroz é cultivado na bacia do Mondego, nas bacias da Beira Baixa, na bacia do Sado (Alcácer do Sal), e na


145 bacia do Tejo, Ulme (Chamusca), Muge e Paul de Magos (Salvaterra de Magos). Os arrozais nas margens do Sorraia, no concelho de Coruche, fazem parte do desenvolvimento económico das populações de Coruche, Fajarda e Biscainho. Benavente enquanto concelho também tem áreas de terras junto ao Sorraia e Santo Estevão, com os arrozais, junto ao Almansor, um afluente do Tejo. O concelho de Salvaterra de Magos, quando da permuta da vila, que D. João III, em 1542, fez com o seu donatário D. Fradique, para a doar a seu filho o infante; D. Luís, o contracto foi acompanhado do seu termo que, incluía Escaroupim, Cortes, Paul, Lizeirão e Romão Grande, entre outras coisas. Com as obras no novo Paço da vila e jardins iniciadas e concluídos em 1581, as suas terras boas para criação de gado, que se estendiam numa vasta lezíria não tinham “enxugo”, com várias zonas de pântanos, tinham no sítio de Magos, maior relevância. Com D. João IV, nos últimos anos de reinado, iniciou-se em 1650 a abertura da grande vala, com os custos a cargo do cofre real, foram delineados em terras do Paul, canteiros para arroz, pois a água à muito se esgotava regando outras sementeiras, desde a bacia do Ameixoeira, até ao Tejo, no Bico da Goiva. No dobrar do séc. XX, na Primavera, com o tempo a dar mostras de estio e, com as terras a secarem das cheias de inverno,


146 iniciava-se os trabalhos de lavrar a terra, com filas de animais, e arados em filas profundas paralelas, hábitos que vinham de tempos remotos. Os canteiros recebiam água através de pequenas aberturas nos valados, que marginalizavam o curso da vala-mãe, e voltavam a ficar encharcados, sendo tempo dos homens – com sacos ao ombro, fazerem o trabalho a lanço, dos grãos à mão. Também se usava a sementeira da planta – onde os ranchos de mulheres num andar de “recuas” iam plantando em linha as plantas do Arroz. Na fase seguinte, havia a “Monda do Arroz”, onde as mulheres dentro de água/ lodo (usavam grande meias/canhões), para protecção das pernas, levantavam as saias até à barriga e bens seguras com uma cinta, tirava as ervas daninhas. No inicio do Outono, (Setembro/Outubro) era feita a ceifa do Arroz, em trabalho manual, de conjunto ranchos de homens e mulheres, usando pequenas foices. Com a introdução na agricultura da mecanização, que se vinha notando desde o fim da II guerra mundial, as ceifeiras debulhadoras, depressa ocuparam o espaço ocupado pela mão humana e animais. Após a construção do novo Cais da Vala Real, em Salvaterra, na década de 40, o escoamento dos produtos das culturas


147 cerealíferas da zona, intensificaram-se com a portagem diária de dezenas de fragatas. Também o Paul de Magos, veio a beneficiar de acessos com as 2 pontes na nova EN 118, sob uma delas via-se a grande vala que transportava a água da nova Barragem de Magos (antigo Ameixoeira), obra que durou cerca de 5 anos, e deu origem à criação da Associação dos Regentes do Paul de Magos, que diversificaram as suas culturas de regadio. A nova e moderna Estação de Orizicultura, escola com moderna técnica para a produção de novos tipos de Arroz, no Paul de Magos, que passou a ser referenciada, porque naquelas terras húmidas e encharcadas, aproveitavam o clima mediterrâneo com influência atlântica, veio a expandir-se e muito beneficiou com aquela nova rodovia nacional. *José Gameiro ********** Notas de Apoio: - Para ser bem sucedida, a produção de arroz por colheita depende, em Portugal, de três parâmetros cruciais: a temperatura, que pode afectar a planta se for extremamente baixa, a água disponível, que determina a superfície que pode ser semeada e que influencia o aparecimento de possíveis doenças, e a quantidade de radiação solar que os arrozais recebem. A mais popular é o da sementeira directa, e a utilização de fertilizantes e outros produtos fitossanitários na protecção das culturas está amplamente divulgada. - No conjunto da agricultura portuguesa, a situação actual do cultivo de arroz é favorável, com uma produção próxima da média comunitária. Apesar de as áreas de cultivo irem


148 diminuindo, e de a tecnologia do sector apresentar algu O arroz é uma das plantas consumidas há muito tempo sendo muito difícil determinar com exactidão a época em que se começou a cultivar. - O arroz é uma planta da família das gramínias Oriza Sativa L. Os tipos de arroz mais produzidas são do tipo Japónica (Grão curto longo) e tipo Indico (Grão longo fino). - O grão de arroz de sequeiro foi introduzido no Japão e na Coreia cerca de 1000 a.C.. A cultura alagada intensiva chegou à Coreia em 850-500 a.C. e ao Japão cerca do ano 300 a.C. - Na Europa o arroz somente foi conhecido depois da expedição de Alexandre Magno à Índia (Vianna e Silva, 1969). Os árabes trouxeram-no para a Península Ibérica na altura da sua conquista em 711. Em meados do século XV chegou à Itália e depois a França, propagando-se esta cultura pelo resto do mundo em virtude das conquistas europeias. Em 1694 chegou à Carolina do Sul e no início do século XVIII à América do Sul. - Foi no reinado de D. Dinis que surgem as primeiras referências escritas sobre a cultura do arroz, este destinavase somente à mesada corte e dos ricos. - Posteriormente no séc. VXIII foram dados incentivos á produção deste cereal principalmente nas regiões dos estuários dos principais rios de Portugal. - No ano de 1900, a cultura do arroz era, em Portugal, limitada às “terras alagadiças dos vales do Vouga, Mondego, Sado, Mira e Guadiana”. Meio século depois, com o incremento verificado, o seu cultivo é efectuado em múltiplos municípios. Em Salvaterra de Magos, ocupa a


149 bacia do Tejo, com vastas áreas de pauis, como o paul de Magos, Casa Cadaval, em Muge e, - A expansão da cultura do arroz teve lugar por volta de 1909, após se ter elaborado um conjunto de regras para a preparação dos terrenos e da gestão da água, proporcionando assim, o cultivo de diferentes variedades de arroz. - Portugal produz cerca de 150 milhões de kg de ano, provenientes das principais zonas: Vale do Tejo, Sado e Mondego. Existem hoje, cerca de 25 mil hectares cultivados com arroz maioritariamente arroz tipo carolino, sendo que 70% é da variedade Aríete. mas limitações, a produtividade é aceitável.

- Nota: Documentos avulso – pesquisa do autor Origem dos dados: - Livro: O Paço Real de Salvaterra de Magos (2ª edição) – pág. 14 - O Arado - Wikipédia, a enciclopédia livre - Paul de Magos – Visitar Portugal https://www.visitarportugal.pt › c-salvaterra-magos › paulmagos › paul - Ulme e Semideiro | Chamusca a gostar dela própria https://chamuscagostardelapropria.wordpress.com › sobrenos-pineus - Orivárzea One Page Site | Orivárzea - A Fábrica de Descasque de Arroz da Casa Cadaval www. fcsh.unl.pt › noticias › documentos › ProjectoFbricaCasaCadaval2018 - Os Arrozais em Coruche Na lezíria ribatejana, com um emblemático arroz www.revistadevinhos.pt › na-leziria-ribatejana-com-umemblemático-arroz


150


151

XXXXXXVIII Crónica Nº 68 Facebook - José Gameiro 19/Nov./ 2019 CRONICA DO NOSSO TEMPO PROFISSÕES ARTESANAIS, QUE EXISTIAM EM SALVATERRA NO SEC. XX A Revolução Industrial, que alguns defendem ter inicio, na Inglaterra em 1760, mas outros autores referem que ela evoluiu nos anos de transição entre 1840 e 1870. Foi uma mudança lenta e teve sempre grande opositores, visto vir colidir com os hábitos vindos de séculos. O séc. XX estava a meio e, em Salvaterra de Magos ainda trabalhavam os mestres Artesãos; Sapateiros e Aprendizes, à


152 entrada de casa com a prancha de madeira sobre as pernas. Os Latoeiros, Albardeiros, Colchoeiros, Correeiros, Carpinteiros de carros e Ferradores de animais, tinham porta aberta. Alguns Artífices como: o Latoeiro, nos seus afazeres já usavam ferramentas inventadas com a mudança da nova tecnologia; Ferros de repuxar de bola, chatos e curvos, Ferros de tornear, Pentes para abrir tarrachas, e o Ferreiro da Bigorna e Fole, depressa se tinham adaptado ao carvão betuminoso. Os Ferradores de Animais: Pouco tinham evoluído nas ferramentas usadas, na sua forma de trabalhar. Um dia, sendo eu ainda menino, acompanhei meu pai empregado municipal, na limpeza das ruas da vila, levou o Muar da Câmara, para ser ferrado à oficina do mestre ferrador; Vicente Cipriano (conhecido pelo Vicente Moleiro – alcunha que lhe veio do pai, que chegou a ter Moinho de vento e azenha, lá para as bandas da Agolada (Fajarda/Coruche). A oficina (1), ficava na esquina da Rua d`Água, ali em frente ao grande celeiro de trigo da FNPT, que ligava ao Quartel dos Bombeiros, e estava pejada de clientela Foreira - gente, que aproveitava o tempo de Primavera (Março (Abril), época da tosquia dos Muares e Burros. O mestre afadigava-se com trabalho, tendo a ajuda do filho; António Nicolau Marques Cipriano, que também era tratado por: António Moleiro. O Vicente Moleiro, tinha jeito para fazer aqueles bonitos desenho (como as zebras) na anca/garupa das bestas, com o bico da tesoura, coisa que os ciganos faziam com destreza. No regresso do animal, já calçado, à Cocheira Municipal (ficava com entrada nas traseiras do Grémio da Lavoura), o barbeiro; Alexandre Cunha – homem das fotos na vila, lá o chamou e tirou-


153 lhe uma fotografia, a ele e ao animal, em frente do portão do Jardim público. Já no meu tempo de escola, brinquei muitos dias, na rua onde o mestre; Manuel Caetano Doutor, tinha a sua oficina de Ferrador. O Celeiro da Vala - construção do séc. XVII, ficava mesmo em frente, ali resvés com o cais. O mestre; Manuel Doutor, tinha a sua clientela nos lavradores da vila, ferrando o gado cavalar e Muar. Por vezes num apetrecho em madeira (tipo gaiola), ferrava o gado vacum de trabalho que, era imobilizado com cintas através da barriga. Estes mestres ferradores, além de chamarem a si, o trabalho de cravar o canelo – ferradura apropriada para os bovinos, em virtude destes possuírem duas unhas, percebiam muito de doenças de animais, especialmente de infestações que inchavam os intestinos e, substituindo os veterinários, tinham conhecimentos que vinham de gerações e, assim usavam remédios caseiros que faziam, com drogas muitas vezes comprados nas farmácias. Os remédios eram introduzidos na boca dos padecentes de barriga inchada, através de “garrafadas”, depois aconselhavam os donos a fazerem grandes caminhadas, com os doentes e, estes mostrando sintomas de já estarem (des) ventados expelindo gazes! Não capavam porcos, era um trabalho que consideravam inferior para a sua arte, e havia os Capadores, gente especializada que ia às pocilgas dos clientes, no concelho. O Manuel Doutor, tinha um ajudante – o ferrador; Manuel Vicente dos Reis, conhecido na terra, pelo Manel Ferrador. e um meio-oficial, o aprendiz; Manuel Rita Santos Ferreira (O Manel Magongo), que já dava umas boas marteladas – uma no cravo, outra na ferradura!


154

O Manel Ferrador, tinha um hobby, era forcado, nos Grupos; Adelino de Carvalho e do Manuel Faia. Tinha dia que não aparecia ao trabalho, devido às mazelas sofridas nas arenas. Após a morte do mestre; Manuel Doutor, o Manel Ferrador, abriu uma oficina numa pequena casa, entre a oficina do ferreiro; António Ferreira (conhecido pelo Peluço), e a cocheira municipal. Durou pouco tempo, veio a falecer em Maio de 1959. O Magongo, abriu portas ali ao lado, na antiga oficina que foi usada pelo carpinteiro de carros; António Morais. Mais tarde esteve na Glória do Ribatejo, e teve trabalho, em Muge, na Casa Cadaval, ainda fez uns “biscates”, até que deixou a profissão. *José Gameiro ******** Nota: (1) Espaço ocupado com a construção da nova Estação s CTT, inaugurada em 1960 Fotos: 1) Antiga Oficina do Ferrador Manuel Catano Doutor * Av. José Luís Brito Seabra – Próximo Celeiro da Vala * Foto Autor

******************** ***********


155


156

XXXXXXIX Crónica Nº 69 Facebook - José Gameiro 19/Nov./ 2019 CRÓNICA DO NOSSO TEMPO

UM SISMO NO DIA DE SÃO MARTINHO, EM 1858 ABALOU SALVATERRA DE MAGOS 13 de novembro era o 313.º dia do ano no calendário gregoriano (314.º em anos bissextos). Faltavam 48, para acabar o ano de 1858, e devido ao pânico provocado na população, por sentir um sismo na terra, no dia 11. não se realizou a missa pública da - A hora das Laudes, a primeira oração do dia, em honra de São Estalisnau Kostka.


157 O padre paroquiano da freguesia de Salvaterra de Magos, desde aquele dia passou a celebrar as missas públicas na antiga Capela, pois o cataclismo que desabou naquele dia sobre a vila, tinha feito estragos na torre da Igreja Matriz, mostrando os sinos alguns sinais de cair. O chão do interior do templo mostrava, quanto foi os estragos no tecto e nas paredes, causando grandes estragos, a par de muitas moradias na vila que tinham as suas grandes chaminés caídas. Reinava em Portugal, o rei D. Luís, e ao cair da tarde daquele dia, pelo luz-fusco, foi o povo chamado a ouvir o mensageiro vindo de Lisboa que, o centro do trágico abalo sísmico, tinha sido em Setúbal, e estava para chegar à vila, um Piquete militar de socorros. O sismo naquela cidade do rio Sado, foi antecedido de pequenos abalos preliminares, ficando o centro bastante danificado (ruíram 50 casas), morreram algumas pessoas e bastantes ficaram feridas; dano que se fizeram sentir em edifícios de Lisboa, e outras povoações nas redondezas. Um ano depois, as obras na torre da Igreja Matriz e, no seu interior estavam terminadas. O exterior da torre passou a ter uma cobertura com azulejos de cor azul, e nas suas três paredes foram colocados mostradores com numeração romana, de um relógio que a câmara comprou e dou-o à paróquia.


158 Tudo isto consta de um relatório que, levou semanas a fazer pelo pároco da freguesia que, teve o apoio da vereação da câmara e foi enviado com urgência para Lisboa. O antigo convento quinhentista, de Frades Arrábidos, criado pelo Infante D. Luís em 1542, grande devoto de S. Baco, do qual há ainda uma escultura na capela privativa do Infante, que em 1843, tinha sido vendido em haste pública, no reinado de D. Maria II, a António Plácido d`Azevedo, de Benavente, pelo valor 900$500 rs., ficou parcialmente destruído por este terramoto e, são ainda visíveis nos dias que correm parte das ruínas, que fez desmoronar a fachada do edifício. *José Gameiro ********** Foto do Autor – Ano 1999 * Torre da Igreja Matriz


159

XXXXXXVIII Crónica Nº 70

Facebook – José Gameiro 22/Nov./2019 CRÓNICA DO NOSSO TEMPO O ÚLTIMO ALBARDEIRO, em Salvaterra de Magos no séc. XX.

Com a reconstrução de Lisboa, após o terramoto de 1755, algumas das suas novas ruas, foram destinadas às oficinas das Artes e Ofícios. Os Albardeiros, também tínham a sua via de acesso - espaço que, ainda existia em 13 de Julho de 1825, conforme um anúncio publicado no jornal Gazeta de Lisboa, na sua página 676, de uma casa para alugar naquela artéria citadina.


160 Por ser uma actividade muito próxima da vida rural (fabricante de albardas especialmente para os muares e burros) ainda agora existem muitas ruas com esta toponímia em várias localidades por esse Portugal fora. O Albardeiro, devido ao sua função estava próximo do Correeiro, que chegavam a ter portas abertas, na mesma rua, muitas vezes a escassos metros. Em Salvaterra de Magos, só é conhecido a existência de um Albardeiro – Rafael Pereira Júnior (conhecido na terra e arredores, pelo Rafael Albardeiro), era homem que não lhe faltava trabalho, tinha como Ajudante o filho; O Gabriel Pereira, saído da sua vasta prole de sete filhos. Tinha a porta aberta na vila, na E.N.118-2, ali à vista do Correeiro; Joaquim Faro ( o Baguinho), no Largo dos Combatentes e, contava entre a clientela os lavradores e criadores de gado, que separavam alguns animais mais rudes para os trabalhos de carga. As gentes rurais das freguesias do concelho, também gostavam deste artesão, mesmo tendo ao pé de casa – o Mercado Mensal de Marinhais, onde se vendiam estes Albardas e Alforges, que usavam nas suas bestas de transporte pessoal, e dos produtos do amanho da terra. Os jumentos, também eram usados na tiragem da água dos poços, através das noras, eram “limpos de vestimenta”“ e só usavam os cabrestos e tapa-olhos.


161 O Artesão: Rafael Pereira, era um mestre de ofício, onde se trabalhava a palha de centeio que, “vestia” com serapilheira, couro de carneiro e, até algum ferro, componentes que componham as Albardas (1). A palha era batida de maneira que não fica-se muito mole, depois metida num pano enrolado, que o ajudante costurava, fechando-o! O Alforge, sendo um utensilio de transporte, era feito com esmero num tecido grosso bem colorido. O filho Gabriel, que seguiu o pai continuou naquelas artes, depois da sua morte, até usou o espaço da oficina também para habitação, e onde lhe nasceram alguns filhos. Muitos anos depois da sua morte, a casa estando desabitada – caiu-lhe o telhado e, a que foi a porta de entrada foi “emparedada”. *José Gameiro ************ Nota: (1) Na Lezíria ribatejana, pouco se chamava à Albarda – Molim, que era um pouco diferente, “Espécie de almofada ou chumaço em que assenta a canga dos bois“ ou o cangalho dos cavalos, quando tirantados à carroça de carga”. José Gameiro ********* Notas Sobre Albardeiro: Alguns dicionários de língua portuguesa do século XIX, não deixam passar em claro o sinónimo de Albardeiro, dando-lhe analogias com; “Diz-se de Pessoa que trabalha mal, sem cuidado ou sem habilidade. Indivíduo trapalhão; abaldeirado, abaldeiro. Homem mentiroso, enganador ********


162 Fotos: 1) do autor *2, 3 e 4) Faceboo


163

XXXXXXXI Crónica Nº 71 Facebook - José Gameiro 26/Nov./2019

CRONICA DO NOSSO TEMPO MEMÓRIAS DE UM TEMPO DAS INAUGURAÇÕES Corria o ano de 1996, à frente do executivo municipal, de Salvaterra de Magos, estava o Dr. José Gameiro dos Santos, que o tinha recebido a meio do mandato de António Ferreira Moreira, por doença deste. José Gameiro dos Santos, ainda teve tempo de construir um Auditório para música e teatro a céu aberto, aproveitando o terreno anexo à capela real, que no séc. XVIII, serviu de antigo Picadeiro real, e Cemitério no séc. XIX. Num espaço da Praça da República, em frente ao edifício do município, foi construído um pedestal (forrado a pedra de Lioz),encimado pela estatueta em bronze, em memória do rei D. Dinis (1), uma ideia do jovem Arquitecto italiano Flávio Barbine (2),


164 inaugurada no dia 1 de Junho de 1996,com uma cerimónia, onde o público acorreu em grande número, e contou com a presença de alguns convidados, além do Governador Civil de Santarém. Abrilhantou à festa a Banda de Musica dos Bombeiros de Salvaterra de Magos O mesmo Arquitecto, em 9 de Dezembro de 1996, assinou um projecto , para um Auditório ao ar livre, aproveitando o terreno anexo à Capela Real, onde já tinham existido a escola de arte de bem cavalgar, e um cemitério, “tentando” aproveitar, o que ali restava da memória daquele espaço que ocupou na histórica presença da corte nesta vila no séc. XVIII. No dia da inauguração o povo esgotou o recinto, que foi abrilhantado pelo músico e cantor Paco Bandeira *José Gameiro ************ Nota: (1) O rei que outorgou o Foral da vila de Salvaterra de Magos, em 1 de Junho de 1295 *(2) Flávio Barbini, jovem Arquitecto italiano, estagiário nos serviços técnicos, do município de Salvaterra, estudando o estilo e métodos portugueses. *Doc Autor e Artigo do Jornal Vale do Tejo s/ Inauguração do Busto D. Dinis *Autor da Estatueta em Bronze; Rogério Timóteo Fotos do autor: 1 e 2) Auditório – 3) José Gameiro e Flávio Barbini, e 4) Estatueta D. Dinis *Projecto e Memória Descritiva – Auditório, 1996


165


166

XXXXXXXII Crónica Nº 72 Facebook - José Gameiro 27//Nov./2019

CRÓNICA DO NOSSO TEMPO A ARTE DE TRABALHAR O FERRO NA BIGORNA Por volta de 1998, já se contavam pelos dedos de uma mão os mestres-ferreiros, que trabalhavam o ferro saído da forja e da bigorna. Foi o resultado de uma pesquisa que tinha feito para um artigo a publicar no já desaparecido Jornal Vale do Tejo. Indagava eu, e pouca gente se lembrava dos mestres; Manuel Amaro, António Henriques Alexandre (1), João Augusto Borrego (2), e muito menos de um outro de nome Fungão, que em 1937, teve oficina na Azinhaga da vila, e que se servia da água da Fonte do Arneiro, e da roda de pedra ali ao lado para “calçar” de ferro, as rodas feitas em madeira pelos mestres-carpinteiros de carros de trabalho, puxados a animais, especialmente de bois. Naquele tempo os ajudantes, José Ferreira e Abel da Silva, eram muito disputados pela forma de malhar o ferro!..


167 Naquele dobrar do séc. XX, a arte de malhar o ferro, usando o Fole e a Forja, ainda tinha na vila, gente que se lembrava do António Ferreira (O Peluço), (3), que transmitiu ao seu filho; José Manuel Luz Ferreira, esta arte. O mestre; Sílvio Augusto Cabaço, que instalou a oficina na Rua d`Água, e ali ensinou seus dois filhos; José Manuel e o Vidaul Cabaço, a seguirem-lhe esta bonita formade trabalhar o ferro, a sair em brasa da forja. E das suas mãos, ao longo dos anos saíram complicados trabalhos de arte, na área da ferraria, em varandas e escadas. Este último, vai mantendo a oficina aberta e lá vai trabalhando o ferro, agora mais de Serralheiro Civil, com o filho e o genro. - Um dia destes, aproveitando o luz fusco, onde a brisa me convidava ao meu habitual passeio da tarde, dou comigo, a ver o José Manuel Cabaço, de portão da garagem aberto, e lá estava numa pequena forja elétrica, usando o carvão, temperando uma barra de ferro até ficar incandescente, depois trabalha-la com bonitos desenhos na bigorna. Usava um pequeno martelo, cuja martelada, ora uma no ferro, ora outra na bigorna – marcando a cadência! Estava fazendo um pequeno favor a um amigo. Reformou-se à muito, já lá vão mais de 20 anos! *José Gameiro ******** Nota- (1) António Alexandre, em 1937, moldou a tubagem do primeiro pronto-socorro dos bombeiros de Salvaterra, que depois foram cromados numa fábrica de Santarém. (2) João Borrego, teve oficina, na EN 118-2, onde ainda a velha janela e porta mostram os ferros (marcas dos lavradores) gravados a fogo – servia-se de uma pedra colocada junto ao Tanque de Água, em trás-monturos.


168 Ensinou o seu irmão; Eurico Norberto Borrego nesta arte de trabalhar o ferro. (3) António Ferreira, durante muitos anos usou a oficina, em Trás-Monturos ( rua do Rossio – junto à Capela), que um dia foi pertença do mestre; Manuel Amaro, e que usava a pedra de lioz, e o tanque de água, ali perto para “calçar” as rodas. Ao lado havia a oficina do Mestre.- Carpinteiro; António Morais. (4) José Sabino d`Assis, que na sua juventude foi aprendiz do mestre – Amaro, e já estabelecido como comerciante, junto à torre da Igreja Matriz de Salvaterra, comprou aquela casa para recordação do seu tempo de Serralheiro de Forja.

************************ ***********


169


170

XXXXXXXIII Crónica Nº 73 Facebook - José Gameiro 28//Nov./2019

CRÓNICA DO NOSSO TEMPO

RESTAURANTE DO MOINHO! *As Minhas Memórias* Lá andava eu, a procurar o local onde existiram Moinhos de vento, a sul da vila de Salvaterra de Magos no inicio do séc. XX. Documentos existem que citam o alvará de 1613, do rei Filipe III, para se proceder à demarcação das terras da vila, e nele referenciam aqueles Moinhos entre outros existentes nas suas terras. Aqui em Salvaterra de Magos; Passavam aí uns 18/20 anos do séc. XX, no extremo sul da vila, uma nova urbanização a emergir, depois do terramoto de 1909, e já se viam vestígios de terras “mexidas” para a passagem ali da nova E.N.118.


171 Naquele espaço existiam 3 Moinhos de vento, e todos já estavam desactivados,e foram demolidos. Um, ficava no terreno do centro da arena da nova Praça de Toiros. Um outro, deu lugar anos mais tarde à instalação de Bombas de Combustíveis. Um outro ainda ao lado, foi destruído porque para o local estava em mente na autarquia uma nova urbanização, o que veio acontecer em 1969. A Liga Panificadora, deu o mote e ali construiu as suas instalações industriais, A família proprietária da Taberna/Pensão “A Lealdade”, depressa comprou terreno e construiu um imóvel para habitação, aproveitando o rés/chão onde instalou o seu Restaurante “Do Moinho”, uma forma de recordar a existência na terra, aqueles moedores de cereais, que já eram conhecidos antes do séc. XVIII. O Reclamo daquele ramo da restauração, ainda existe na parede! Quando das obras do novo Bairro Social – Chesal, foi “deitado a baixo” o que restava do Moinho que existiu, nos terrenos, que um dia pertenceram à “Coutadinha” terreno a caminho do Convento de Jericó. *José Gameiro ********* Nota: Crónica do Nosso Tempo – O rei Filipe III, esteve em 1619, no Paço Real de Salvaterra de Magos, publicada em www.históriasalvaterra.blogs.sapo.pt, 30 de Abril de 2014 *O Paço Real de Salvaterra,Livro Edição Horizante *Fotos do Autor * 1) Reclamo do Rest Moinho 2) Ruinas do antigo Moinho – Chesal Autor


172


173

XXXXXXXIV Crónica Nº 74 Facebook - José Gameiro 29//Nov./2019

CRONICA DO NOSSO TEMPO O ULTIMO ARTESÃO-SAPATEIRO ! O ano de 2010, estava a meio, o sino da Igreja Matriz, tocou a finados, decerto não foi para lembrar aos fiéis religiosos, que se comemorava o dia de São Beno de Meissen, que terá nascido em 1106, na Alemanha. Aquele toque alertava a população que Francisco Silva (o mestre sapateiro; conhecido por Xico Poucasorte), de 91 anos de idade, ia a enterrar no cemitério da freguesia. A fama destes mestres do calçado feito à mão, vinha de séculos, foi “espalhada” pelos cortesãos que aqui passavam a temporada de caça, junto à corte, no paço real da vila.


174 Não era por acaso que o Jornal “A Gazeta de Lisboa” de 22 de Novembro de 1777, dava notícia que o sapateiro - António Carvalho, de Salvaterra de Magos, tinha sido autorizado a comprar 200 e tantos couros Arguim para a Casa Real. Também em alguns arquivos de 1788, é realçada a profissão de mestres-sapateiros, nos serviços e profissões existentes na vila. Com a morte do “Xico Pouca-sorte”, e o falecimento do Manuel Lamarosa, no Inverno anterior, deixou de haver mestressapateiros em Salvaterra. No dobrar do séc. XX, ainda eram para aí uns 40 e tal, com pequenas oficinas, com banca e ferramentas à entrada da sua habitação. Um ou outro tinha um pequeno espaço numa casa alugada, e ali sentados num banco, com prancha de madeira sobre as pernas, cortavam o couro, e lá coziam-no à mão a duas agulhas, fazendo pares de botas, ensebadas, que sendo para gente do campo, eram cardadas na sola. Também faziam sapato fino para homem e senhora, que chegava ao botim de cavaleiro, pois os lavradores da terra, gostavam da arte do seu trabalho. Raro era o mestre, que não tivesse um aprendiz (quase sempre um rapaz, que sofresse deficiência, especialmente no andar) a família logo o encaminhava para este ofício, que era recatado e sentado num banco.


175 Nalguns casos era de ver no chão à porta da oficina, um corvo, ou uma gralha (amestrados) com uma perna atada, que lá diziam alguns palavrões a quem com eles mete-se conversa. - Era uma graça !.. Entre eles, havia mestres que tinham bom mercado, como: o Francisco Paiva, Vital Nuno Lapa, Roberto Serra, e o seu primo Manuel Gomes Serra, (conhecido por Manel Gato). João Ferreira (João da Horta, como era conhecido), António Magalhães e João Cipriano (o João Cochinho), alcunha que lhe veio de ter uma perna amputada, usava uma de pau para poder andar. A sua oficina na entrada da casa, mesmo ali ao lado da grande Adega de vinhos, de venda a retalho, da família Henriques Lino, era sempre uma pequena tertúlia – onde se discutia sobre toureiros. - O Xico Pouca-sorte, ainda apareceu nas páginas do jornal “Correio da Manhã” nos primeiros tempos nas bancas em Portugal, Estive ajudando numa entrevista que um seu jornalista fez numa reportagem sobre Salvaterra. *José Gameiro ********* Fotos: 1) Sapateiro-Manuel Lamarosa, e Cliente Helder Seabra * 2) Xico Pouca-sorte * Autor


176

XXXXXXXV Crónica Nº 75 Facebook – José Gameiro 01/Dez./2019 CRONICA DO NOSSO TEMPO A ALBERGARIA MEDIEVAL EM SALVATERRA DE MAGOS A peregrinação desta parte da Hispânia junto ao Oceânio, ao túmulo do Apóstolo, Santiago, na Galiza, que segundo algumas histórias, teve inicio e foi motivada, com a visita de Francisco de Assis, ao túmulo do ossário daquele que foi seguidor de Jesus Cristo. Os peregrinos usavam os antigos caminhos romanos, e teve tempos áureos nos séc. XI e XIII. As Albergarias, construção já conhecidas na Idade média, desde o reinado de D. Dinis, também apareceu em Salvaterra de Magos,


177 no foral de D. Manuel I, ladeava o sul da Capela da Misericórdia, ali a dois passos do curso de água a caminho Tejo - ponto de entrada marítima, pela Boca da Goiva de Salvaterra de Magos. A existência de uma outra Ermida, com Hospício, no Largo S. Sebastião, para curar o povo da terra, dependia do Pároco da freguesia local. Ambas foram descritas nas Memórias Paroquiais da vila, incluídas no inquérito de 1758. Esta enfermaria, como a primeira que, já estava em desuso, acabaram destruídas com o terramoto de 1909 (1). Com o decorrer dos tempos, quando os reis de Portugal, instalavam a corte durante alguns meses em Salvaterra, para gozar dias de recreio, D. Pedro II (1648-1706), o monarca que esteve num golpe, retirando a soberania do reino ao seu irmão; o rei D. Afonso VI e, desposou a cunhada, passou a ser hábito rezar nas partidas e chegadas, na pequena Capela, perante a imagem de Nossa Senhora da Conceição. O povo esperava a passagem do cortejo e dava –vivas ao rei! Sua Alteza, acompanhado de convidados e visitantes estrangeiros, manhã cedo participava em montarias, na Coutada real da vila. Nos despachos, não deixou de dedicar alguma atenção às carências dos monumentos da vila – o Paço real e a sua capela, receberam algumas obras, e os seus jardins foram aformoseados.


178 A Igreja Matriz, e a Capela da vala, também viram as suas despesas custeadas pelos cofres do reino e, segundo alguns documentos o tecto do pequeno templo -forrado com painéis, com passos da vida religiosa foram conservados (2). Nos folguedos pelas ruas da vila, os sete príncipes reais, acompanhados das amas, não deixavam de rezar na pequena Ermida e visitar os doentes na Albergaria anexa. Ali, perto no cais, não lhes dava enfade e era motivo de agrado, verem o trânsito dos barcos e dos pescadores, e apreciavam os afazeres dos calafates. A jovem princesa; D. Isabel Luísa Josefa de Bragança (16691690), Princesa da Beira, guardava algumas horas depois do almoço para bordar, e manifestou o seu desejo às suas camareiras, que gostaria de oferecer um Manto a N. Senhora da Conceição, com os seus bordados – para uso em dia de procissão, realizando-se a 8 de Dezembro, com as ruas cheias de devotos. Quando das obras, na capela, não deixou de pedir ao rei – seu pai, que lhe fizesse mercê de autorizar, que usasse o seu pecúlio, custeando as despesas de abrir duas portas, que passariam a ligar a Capela à Albergaria – para os peregrinos doentes, terem um acesso fácil e directo ao templo. As portas abertas no séc. XVII, estão agora à vista num espaço ajardinado! *José Gameiro **********


179 Nota: (1)Na década de 60 do séc. XX, tendo o telhado do edifício anexo à capela, desaparecido, após o terramoto de 1909, apenas a sua parede na antiga rua Direita, ostentava em cima do portal uma pedra em mármore rosa – lembrando que ali existiu uma Albergaria. Essa placa foi transladada para a parede (muro) do fundo daquele novo espaço ajardinado. Obra custeada pelo lavrador; João Oliveira e Sousa que, vivendo numa moradia em frente, recebeu autorização da Câmara Municipal, para urbanizar aquele espaço com um ajardinado. (2) Com a cheia e vento, em 1979, parte da capela caiu, levando ao desabar do tecto. Recolhidos estes, estiveram alguns anos na Capela real, onde receberam alguns reparos * Mudados para uma dependência do Lar/Centro Dia da Misericórdia, ali aguardam a sua reparação. *José Gameiro

********* Doc. de recolha do Autor e, elementos retirados do Livro “A Misericórdia de Salvaterra de Magos” – Autor Dr. José Asseiceira Cardador Fotos: Manto 2012, Jardim e Capela 2019, Do autor


180

XXXXXXXVI Crónica Nº 76 Facebook – José Gameiro 07/Dez./2019 CRÓNICA DO NOSSO TEMPO O ÚLTIMO COLCHOEIRO, EM SALVATERRA DE MAGOS Naquele ano de 1915, a vila de Salvaterra de Magos, continuava a crescer para lá da Igreja Matriz, com as novas obras de urbanização, iniciadas após o terramoto de 1909, pois até ai a vila apenas tinha sete ruas. O Manuel dos Santos (conhecido na terra pelo Manel da Tomásia) – filho de Josefa Tomásia, mulher que ainda restava, daquele grupo que pelos alvores do dia, com as calhandras (ânforas ou potes) à cabeça recolhiam os dejetos das casas, e despejavam na água da vala, ganhando assim mais uns “cobres” para sustento da família.


181 O Manel da Tomásia, moço curtido pelo trabalho do campo, tinha chegado da tropa e, sabia agora fazer enxergões para camas, nas oficinas do Regimento, em Lisboa, unidade que fornecia a Manutenção Militar. Na rua do antigo Hospital (que tinha caído com o sismo) a escassos metros da Farmácia, alugou um celeiro, a um lavrador da terra, e abriu porta, depressa passou a ser conhecido por mestre - fabricante das enxergas, para as camas dos pobres. Eram produtos feitos em duas metades devido ao peso e, usavam tecidos resistentes, tipo lona, por norma com padrão de riscas grossas e pouco claras, comprado para o efeito, em Lisboa, favor que pedia aos fragateiros, nas suas viagens marítimas até à capital. A enxerga no centro tinha uma abertura através do qual seria cheio, de palha de Centeio – levemente batido (ficando macia) na bancada de trabalho e, introduzido aos poucos com uma pequena forquilha apropriada. Depois de feito e acabado o enxergão, ficava com a espessura de uma mão aberta de travesso. Duravam três vida. Diziam! Famílias haviam, especialmente os jovens casais rurais, usavam por baixo de um colchão de pano fino, que enchiam de folhas de milho, suavizando assim as horas de sono. A venda deste produto em Salvaterra, passou a ser maior (vinham clientes das vilas vizinhas) porque Manuel Vieira Lopes, ferreiro, acabado de regressar, de França, onde esteve como militar expedicionário, abriu uma Taberna no Largo 5 de Outubro (Largo Combatentes), aproveitou o vasto terreno que comprou num leilão no tribunal de Coruche (1) e, aí construiu a sua oficina e uma taberna, ao lado tinha a casa das mobílias completas de madeira “em branco”, e enxergões que, mandava vir do norte do


182 país, e chegavam pelo comboio à estação de Muge. No mesmo espaço, tinha ferragens, como: charruas e aivecas para os trabalhos da agricultura, vindos da Metalúrgica do Tramagal. Com a morte do Manel Lopes, em 1945, os filhos fecharam a taberna e deixaram o negócio, em 1949, e o mestre Tomásia, faleceu pouco, acabando assim o último e único colchoeiro nesta vila. *José Gameiro ********* Nota: (1) – Colecção: Recordar, Também, é Reconstruir! (2ª edição revista e Aumentada) * Caderno de Apontamentos 4 *Restaurante Típico Ribatejano – Uma Referência no Turismo Local e Regional * Fotos: Taberna e Casa das Mobílias e Colchões (Enxergões) do Manuel Lopes, - Alex. Cunha 1949 Vendedor de Enxergões: Facebook **********************


183

XXXXXXXVII Crónica Nº 77 Facebook – José Gameiro 15/Dez./2019

CRÓNICA DO NOSSO TEMPO A PROPÓSITO DO TAXISTA, QUE VINHA DE LISBOA VISITAR O AMADEU CARTEIRISTA! Era uma forma de passar o tempo, quando trazia desde Lisboa, o Dr. José Luís Ferreira Roquette, que exercia a presidência da câmara municipal de Salvaterra de Magos. O taxista de Lisboa, depois de deixar o presidente nos Paços do concelho, lá passava as tardes das quintas-feiras, na oficina do Amadeu “Carteirista”, em amena conversa sobre o Benfica, até porque o Amadeu também tinha carro de aluguer – um Taxi, que guardava na oficina.


184 Havia mais dois Táxis, na vila, o João Pedro Cardoso (conhecido pelo João Boneco), estacionava logo de manhã, no largo, em frente da grande Adega que foi construído por Gaspar Ramalho. Os irmãos Capadão, além de uma camioneta de carga, tinham um táxi, cujo alvará foi cedido por Mário das Neves ( o Mário Puto), e só saia da garagem a pedido de algum cliente. O Amadeu Eduardo da Silva, era pessoa pacata e respeitada entre a população da vila, além de gostar de dar o seu riso um pouco azedo, quando o confrontavam com os maus resultados do seu Benfica. A alcunha, vinha-lhe desde pequeno, não sabendo ele a origem! Uns anos antes, no início da década 40 do séc. XX, o Dr. António Viana Ferreira Roquette (1884-1944) inesperadamente um dia viuse forçado a tomar conta da casa agrícola da família, por morte do irmão Luiz e, nas suas deslocações ao campo - não deixava de se fazer acompanhar e apoiado num varapau! Depressa, ficou conhecido pelo povo, pelo Dr. Cajado! O Amadeu Eduardo da Silva, era o seu chaufeur, e nesta condição também transportava a família do patrão nas suas deslocações a Santarém e Lisboa. O Amadeu, guardava religiosamente uma foto que tinha retirado da revista; “A Hora”, que na época fez uma reportagem sobre a família Roquette. Por volta de 1949, o Amadeu da Silva, abriu uma oficina de mecânico na rua debaixo dos Arcos (Rua Heróis de Chaves), ao lado havia a taberna da família Tito, que aproveitava uns anexos e ali fabricava uns pirolitos e gasosas. O Amadeu, ao longo dos anos tinha os seus aprendizes que o ajudavam nos trabalhos, especialmente quando havia reparações a fazer debaixo das viaturas. Lá se queixava – ai, as minhas cruzes e, lá punha as mãos nas ilhargas do corpo!


185 Em 1957, estava eu, na Central das Carreiras, e às quintas-feiras, não deixava de ver chegar o táxi preto e verde, que arrumava ao lado dos celeiros do Trigo. Mas uma ida a Lisboa, não perdia o Amadeu, ver o jogo do seu Benfica, já andava nos Campeões Europeus - isso não escapava! Um dia, a idade já lhe pesava, foi-lhe diagnosticado – sofria da Diabetes! Na época, foi-lhe receitado muita comida à base de verduras e, como gostava do seu copito – lá lhe disseram; um branquinho, não faz mal. Com o passar dos anos ao cair da tarde a pé, regressava a casa, na Rua Forno de Vidro, já o Amadeu não se aguentava nas pernas – nem na visão, bebia uns branquinhos a mais, pois queria curase, dizia! A meio do caminho, na rua Nova de S. Paulo, sentado no chão era de vê-lo gritar – Ó Lida!, vão chamar a minha Lida!.. Tempos depois, lá chegava a esposa ilda, pesarosa o levava por um braço, e o consolava – ó Amadeu, já bebeste demais! Pois é mulher, esta maldita doença não me larga! O Senhor Amadeu Eduardo da Silva, como eu o tratava, morreu pouco depois, tal como a minha mãe muitos anos mais tarde, vitima desta doença - a Diabetes! *José Gameiro ********* Foto: 1) Amadeu Eduardo da Silva, Chauffeur do Dr. António Viana Ferreira Roquette * 2) O Taxista e o carro, estacionado em frente aos Celeiros de Trigo * 3) O Taxista; Mário Neves, entre João da Silva (João Valjean), Francisco Câmara Piçarra e Augusto da Silva ( Augusto Cócó) * 4) Presidente da Câmara; José Luís Ferreira Roquette, na inauguração de uma Cantina Escolar


186


187

XXXXXXXVIII Crónica Nº 78 Facebook – José Gameiro 15/Dez./2019 CRÓNICA DO NOSSO TEMPO A ORIGEM DO CORETO DA MÚSICA EM SALVATERRA Decorria o ano de 1866, a Praça do Pelourinho, em frente ao edifício camarário de Salvaterra de Magos, estava em obras, uma decisão da municipalidade local. Levou à destruição dos Pelourinhos de Salvaterra e de Muge. Depressa, a Picota, da vila um símbolo em pedra da lei local, que não tinha grandes ornamentos artísticos, desde a luta dos liberais e absolutistas, ali não servia a justiça em público, ficando com o decorrer dos tempos, apenas como um símbolo do poder municipal, foi destruída. No local entre o arvoredo, as tílias, que ao


188 longo dos séculos, na Primavera/Verão emprestavam à vila um cheiro agradável, que era muito apreciado pelos moradores, davam agora lugar a um Mercado Diário e um Jardim Publico.

Existiam na vila alguns Grupos Musicais, (com cerca de meia dúzia de elementos cada um), que se “desforravam” nos dias quentes de Agosto, abrilhantando as noites de bailarico. O aguerrido confronto musical, resultava das várias tertúlias existentes – algumas já com sinais de “beberem novas ideias” na terceira república francesa. A obra estava a meio, e algumas vozes chamaram a atenção da vereação, para a necessidade da construção no jardim de um Coreto para a música. O vereador de Muge, deu a sua anuência – mas que também fosse feito um naquela freguesia, junto à Igreja. Ao largo foi dado o nome Dr. Oliveira Feijão, médico do tempo do nosso patrício, o Dr. Gregório Fernandes, que naquela época eram alvos de grandes honrarias em Portugal e no estrangeiro, pelos avanços dados no campo da medicina. Oliveira Feijão, gostava da agricultura e por vezes “perdia-se” nas ferras de gado dos irmãos Roberto. Depois da implantação da República, em 1910, os grupos musicais caíram em desuso e, com eles também o costume dos bailes ao ar livre. O hábito voltou em 1941, com a nova Banda dos Bombeiros - era de ver o Jardim cheio nas noites de sábado, mas foi coisa pouca, depressa o local dos bailaricos foi encontrado no cinema e nas colectividdes da terra. À frente do executivo da câmara, em 1957, estava o Dr. José Luís Ferreira Roquette, que vinha de Lisboa às quintas-feiras (num táxi), presidir às sessões e assinar documentos. Numa dessas reuniões foi decidido acabar com o Mercado, ali para um recanto do Quartel dos Bombeiros.


189 O Jardim público, teria um novo desenho, e no aproveitar o seu espaço desaparecia o pequeno coreto em alvenaria. A construção de um Coreto, maior e desmontável, em madeira, seria a opção! A obra do movo tablado foi entregue ao carpinteiro; José da Silva (o Zé batata) e, já pintado de cor; verde, foi montado no Largo dos Combatentes para a inauguração. Este Largo, acabava de receber novo melhoramento (pedrado, bancos de jardim e canteiros de flores As tílias ali existentes foram conservadas. Em todo o Verão daquele ano, ali actuou a Banda de Música dos Bombeiros. O empregado municipal; José Gameiro Cantante, era o ajudante daquele carpinteiro, nas montagens e desmontagens do Coreto, que não deixava de ser solicitado para as festas populares no concelho e, uma das vezes até foi às festas do Montijo, para o seu transporte foi alugado a camioneta dos irmãos “Capadão”. O Coreto, no inverno e na falta de uso, era arrumado a um canto na cocheira municipal. Com o passar dos anos já “envelhecido” desapareceu! *José Gameiro ********* Nota: Largo Dr. Oliveira Feijão – Vrs: Praça da República*Crónica publicada em 17.11.2011 “www.historiasalvaterra.sapo.pt” * Apontamentos históricos (1863-1911) Pág. 20 – livro edição Câmara Salvaterra Magos Fotos: Coreto no Jardim 1954 * Coreto em Madeira- Autor Alex. Cunha – 1959


190


191


192 INDICE CRÓNICAS DO NOSSO TEMPO Nº 32 Nº 33 Nº 34 Nº 35 Nº 36 Nº 37 Nº 38 Nº 39 Nº 40 Nº 41 Nº 42

Quando as Raparigas Tinham Enjoos Pág. .005 O Terramoto, em Tempo da Solidariedade Pág. 008 Um Poço de Água no Paço Real de Salvaterra Pág. 0 1 1 As Cheias em Salvaterra Pág. 0 1 5 Quando o Lobo andava dentro da Raposa Pág. 0 19 O Dia do Ciclone - 78 Anos Depois! Pág. 0 22 O Mestre Vital, visto de uma outra janela Pág. 025 O Entrudo/ ou em tempo das Cegadas Pág. 027 Uma Conversa, já com dois anos! Pág. 029 O Torricado – Uma comida da gente rural Pág. 031 A Marreta – Uma ferramenta no derrube do muro do Jardim público Pág. 036 Nº 43 Quando Havia Fornos de Cal em Salvaterra Pág. 040 Nº 44 Chorar a primeira vez, em tempo da Páscoa Pág. 044 Nº 45 Onde param as telas do tecto da Capela Pág. 048 Nº 46 Ele, contava, recontava e volta a contava Pág. 052 Nº 47 Nem sempre se assiste a 100 anos de vida Pág. 055 Nº 48 As marcas na madeira - Feitas com ferro Pág. 058 Nº 49 Os Kosovares, chegaram em tempo de festa Pág. 062 Nº 50 A Festa dos antigos Mancebos da Inspecção Pág. 065 Nº 51 No Botaréu, o povo aplaudiu o rei D. Manuel II Pág. 068 Nº 52 Quando havia A Remonta do Exercito Pág. 072 Nº 53 A venda de Porcos nas ruas de Salvaterra Pág. 076 Nº 54 Quando se recorda – 30 Anos depois! Pág. 080 Nº 55 Matar o Bicho/ ou Encher o Bandulho Pág. 085 Nº 56 A Pedra de Ferrar/ ou a Roda dos Enjeitados Pág. 089


193 Nº 57 A Taberna da Gualdina – Uma referência na vala Pág. 093 Nº 58 O bairro da Chesal (Coop de Habitação E Social) Pág. 097 Nº 59 Falta um ano para um Século da Praça de Toiros Pág. 10 1 Nº 60 O Último Frade de Salvaterra Pág. 106 Nº 61 Um Pedaço da História de Salvaterra – 1931 Pág. 1 1 1 Nº 62 Alexandre Cunha – O barbeiro e as fotos Pág. 120 Nº 63 O Empresário que veio de Avanca (Estarreja) Pág. 125 Nº 64 A Inauguração do Parque de Campismo Pág. 13 1 Nº 65 A Creche – Uma nova forma de Infantário Pág. 136 Nº 66 O Bolo Podre – Um Doce Antigo da Nossa Terra Pág. 140 Nº 67 O Paul de Magos, na produção do Arroz Pág. 143 Nº 68 As Profissões Artesanais, em Salvaterra séc XX Pág . 15 1 Nº 69 Um sismo no dia de S. Martinho – 1858 Pág. 156 Nº 70 O Último Albardeiro em Salvaterra Pág. 159 Nº 7 1 Memórias daquelas Inaugurações Pág. 163 Nº 72 A Arte de trabalhar o ferro, na Bigorna Pág. 166 Nº 73 Restaurante “Do Moinho” Pág. 170 Nº 74 O Chico Pouca-sorte – O Último Sapateiro Pág. 173 Nº 75 A Albergaria Medieval em Salvaterra Pág. 176 Nº 76 O Último Colchoeiro em Salvaterra, séc. XX Pág. 180 Nº 77 A Propósito do Taxista que vinha de Lisboa e, visitava o Amadeu Carteirista Pág. 183 Nº 78 A Origem do Coreto, em Salvaterra séc. XX Pág. 187


194


195


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.