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Catálogo de denuncias coloniales, cartas desde Brasil y Chile
from Juchari Palabra 3
São ritualísticas espirtuais-fundamentadas em que nossos ancestrais assentam o encontro da Encantaria e dos Orixás ou Inkisis. São heranças de tradições espirituais, muito além de “religare” (religão) porque nunca se distanciaram do divino que há em tudo –na água, na Terra, no fogo, no Ar, nas forças visíveis e invisíveis– que permeia a existência. Estas herenças são presentes valiosos para o reconhecimento de um bom encontro, é com os donos da casa que dançamos e curamos, é com eles que lutaremos contra o ladrão-colonizador.
AMARRAÇÃO é reconhecer essas dinâmicas astrais e politicas, através da da abertura e intenção da escuta decolonial entre corpas afro, afro-diaspóricas e ameríndias.
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É preciso reconhecermos nosso passado ancestral para sabernos projetar futuros possíveis. Somos as ancestrais do futuro, e para reexistirmos no AGORA é preciso reconfigurar nossa realidade.
Ta amarrado_
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No processo que materializo as obras Abandji, Maracanadê e o registro AMARRAÇÃO1, eu, Hariel Revignet, mulher cis, gabonesa-brasileira, mulher do terreiro, convido Mirna Kambeba Omágua Anaquiri, mulher cis, indígena do povo Omágua de Amazônia oara este processo de amarração (colheita das ervas, preparação dos incensos naturais, rezo e canto, queima e defumação). Estas obras evocam diferentes mulheres cis e não-cis, de diferentes povos ameríndios, afro e afro-diasporicas. Que aterram num proceeso de defesa, ataque, assentamento, transmutação, demarcação a partir das ervas, que fazem parte de seu corpo, territorio e espirito.
Com muita ajuda, e muita humildade evocamos e cantamos, chamando nossas ancestralidades para se reencontrarem e chamarem outras corpas para essa dança de tecer imagens, ativar memórias possíveis, demarcar no inconsciente coletivo territórios originários, esfarelar fronteiras e queimar ervas para curar as feridas coloniais, e AMAR. Receberamor como troca. Amarração é um processo de Axétetura2. O exercício constante de apreensão de existência a partir do axé.
É necessário se descolocar da realidade, da forma que nos é imposta e respirar profundamente, talvez até fechar os olhos, permitindo que a respiração dilate o tempo-espaço para “nos tornar outros”3. Te convido a fazer esse exercício.
Podemos chamar de exercício, vivência, um ritual, ebó-performance, amarração para o amor, despacho de branquitude, descolocamento temporal, cura ou só um texto. Depende da intenção de troca.
1 Obras produzidas para o 7º Prêmio Edp nas Artes do Instituto Tomie Othalie. 2 Axétetura conceito e metodologia de arquitetura criada por Hariel Revignet. 3 Tornar-se outro pela persectiva do Xamã Davi Kopenawa, em A Queda do Céu, é compreendido em “se tornar fantasma”, ver e tornar um ser espiritual.
Colagens gráficas de autoria de Hariel Revignet Fotos de Iago Aráujo
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Desde que o Brasil foi invadido, explorado e colonizado pelos infelizes Portugueses esse país nunca mais teve paz. Minha maior aflição é ver que esse modelo de CIStema genocida, explorátorio continua até hoje e mais forte agora que o poder está tomado principalmente por homens cis brancos neopentecostais, onde vemos uma crescente no quesito genocídio da população negra, indígena e transgênero.
Onde territórios indígenas são invadidos por grileiros, onde matas e reservas florestais são queimadas e o governo finge que nada acontece. Onde a polícia segue matando em massa a população negra dentro e fora das periferias. Onde as Travestis e Transexuais não tem segurança nem dentro de suas casas. Vivemos em estado de calamidade e não é de hoje.
Onde essas populações citadas acima tem seus direitos básicos negados por esse estado fascista que nega educação, saúde, segurança, qualidade de vida. Onde o mercado de trabalho explora pessoas negras como mão de obra barata do mesmo jeito que fecha as portas para a população trans ofrecendo somente a prostitução como meio de sobrevivência, nos colocando em situação de vulnerabilidade e risco.
Estamos lutando para virar esse jogo. Estamos diretamente em embate com esse monstro chamado privelégio cis branco que insiste em se manter no topo intocável, mas sabe que seu tempo de vida está com prazo contado.
Ver a luta que outros países de América Latina tem travado para afastar o fascismo de seus territórios é motivador, o Brasil