escola livre da cidade júlia galvão verri
escola livre da cidade júlia galvão verri orientador: andré augusto de almeida alves
4
trabalho de conclusão do curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Estadual de Maringá, realizado em 2021 e concluído em 2022 pela aluna júlia galvão verri, sob orientação de andré augusto de almeida alves
5
jogando meu corpo no mundo andando por todos os cantos e pela lei natural dos encontros eu deixo e recebo um tanto...
6
à alice, aníbal e tânia vocês são força, alegria e motivação, todos os dias tudo que nois tem é nois! agradeço ao andré por toda a contribuição que transformou este trabalho aos professores pelo papel fundamental nestes 05 anos aos muitos amigos que se fazem presentes na vida pessoal e acadêmica da maneira mais bonita possível à fenea, que faz a gente se encontrar e reencontrar a todos os muitos que participaram desta trajetória muitíssimo obrigada!
Imagem (01) Oficina de ‘Lambes’ antifascistas, EREA Grande Porto, 2019 Acervo do Encontro
7
8
sumário
01
nota inicial 11 escola livre da cidade 15 universidade necessária e propedêutica 19 experiências históricas 27
05
hotel bandeirantes 33
06
aproximações 69
07
projeto 81
08
considerações finais 149
09
bibliografia 152
9
Imagens (02) e (03) Roda de Conversa sobre as articulações dos Centros e Diretórios Acadêmicos de arquitetura, ENEA LGNA, 2020 Acervo do Encontro
01
nota inicial
Esse trabalho de conclusão de curso propõe uma escola livre da cidade em Maringá, cuja ideia se inicia por condições da memória afetiva, não apenas dos cinco últimos anos que correspondem ao período da graduação iniciada em 2017, mas da experiência vivida da mais remota lembrança que se possa compartilhar. A autora nasceu em ambiente conformado por estreito contato com a arquitetura e urbanismo, com a dinâmica da cidade e com a universidade estadual de Maringá e viveu inúmeras interfaces com a instituição. Certo privilégio e alegria, algumas tensões, mas um caminho rico de informações. Filha de professores mergulhados no ofício do arquiteto e da docência, condições que possibilitaram que a memória registrasse uma série de episódios vinculados à prática da arquitetura. São longas, infindáveis e
contraditórias conversas em casa sobre arte e arquitetura, viagens de visitas a edificações emblemáticas, comentadas e criticadas, planejamento da próxima saída para a prospecção de novas e velhas edificações e, debates com amigos e convidados para tratar de assuntos da arquitetura, da educação e a junção delas. Acerca da educação e informação recebidas, já na fase universitária, os três pilares constituintes da instituição, o ensino, a pesquisa e a extensão procuraram ser explorados. Se a vida é a arte do encontro, foram nos vários Encontros de Arquitetura, propostos pela Federação Nacional de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (FeNEA) que a graduação começou a ganhar novo sentido, pois a partir desses eventos, houve viagens e trocas com inúmeras realidades brasileiras, aprendizados que puderam apresentar vivências
Imagem (04) Roda de conversa sobre o papel do arquiteto na luta por moradia, ENEA LGNA, 2020 12
Acervo do Encontro
muito diferentes e estreitaram como uma alternativa autônoma a caminhada no movimento de ampla capacitação técnica estudantil. e científica, aberta a todas as classes profissionais Há dois anos, compondo interessadas em aprofundar a diretoria da FeNEA, houve conhecimentos sobre como se a possibilidade de se revisitar faz possível intervir na cidade. o olhar diante da escola e do ensino de arquitetura, seu papel Para o desenvolvimento como agente transformador do trabalho, suporte histórico da sociedade, através de e bibliográfico, procurouestudantes dispostos a se compreender a realidade construir uma realidade universitária brasileira e as universitária mais plural, condições da graduação equânime e democrática. em arquitetura, por meio dos ensinamentos de Darcy Ribeiro É diante desta vivência e da contribuição propedêutica que o último trabalho do curso ao ensino da teoria da começa, na iniciativa de revisar arquitetura de Lina Bo Bardi. a trajetória da faculdade de Fez-se uma retomada histórica arquitetura, das influências das premissas estabelecidas do movimento estudantil em duas revolucionárias e a formação dos agentes escolas de arte e arquitetura que compõem o debate e do século XX, a Bauhaus e constroem a cidade. a Vkhutemas, e projetar em nível de anteprojeto, o espaço Assim, o trabalho que acolhe a escola livre discutirá e proporá um espaço da cidade em um contexto que acolha a escola livre de pré-existência, o Hotel da cidade, uma experiência Bandeirantes. pedagógica que se mostra
13
14
Imagem (05) Convivência entre os estudantes de arquitetura, ENEA LGNA, 2020 Acervo do Encontro
02
escola livre da cidade
O tema do trabalho, escola livre da cidade, referese a uma instituição autônoma, complementar a formação do ensino superior, que recebe diferentes categorias profissionais, que proporciona às pessoas o debate desimpedido e qualificado, de ampla capacitação técnica e científica, aberta a todas as classes profissionais interessadas em aprofundar conhecimentos sobre como intervir na cidade. A escola tem como objetivo o aprimoramento das discussões técnicas, compositivas e poéticas, e sua finalidade é a de associar competências à responsabilidade social, de forma a ampliar os estudos de intervenção no espaço urbano edificado. Mira-se também na possibilidade de reflexão de uma escola que, por meio de relações entre arquitetura, história, território
e cultura, possa cumprir o papel de equipamento público e possibilite despertar conhecimentos sobre os caminhos de se construir a cidade e a sociedade de forma ampliada. Buscando-se o entendimento da situação da cidade e região, tem-se a demanda por profissionais propositores do espaço construído e assim a proposição da escola, com uma metodologia de ensino que proporcione o diálogo desimpedido e capacitado para aproximar o ensino técnico e científico com a sociedade civil. Fala-se da propedêutica uma metodologia composta como um corpo de ensinamentos introdutórios ou básicos de uma disciplina ou ciência preliminar. Como definição, é um conjunto de estudos nas áreas humana
Imagem (06) União de estudantes e voluntários sob lona cedida pelo MST de POA para abrigar debates e atividades, EREA Grande Porto, 2019 16
Acervo do Encontro
e científica que precedem, como fase preparatória e indispensável, os cursos superiores de especialização profissional ou intelectual. Por meio de conteúdos niveladores em seus momentos iniciais e ministrados irrestritamente para categorias interessadas, com objetivo da expansão do processo criativo da cadeia produtiva acadêmica. Pode-se compreender a propedêutica como uma complementação dos saberes universitários ancorada na pesquisa e na extensão. A escola livre da cidade composta como atividade complementar a universidade está em consonância com premissas propostas por Darcy Ribeiro, que traça uma
perspectiva fundamentada no processo histórico de uma sociedade centrada na produção de conhecimento científico e cultural e de Lina Bo Bardi que aplica uma análise para o ensino de arquitetura. O ensino em uma escola livre é considerado aberto, com a possibilidade de se alterar, periodicamente, sob demanda das características e do momento social, fazendo uso de sua autonomia. A escola, enquanto objeto construído, poderá contribuir como equipamento público a serviço da cidade, de forma a proporcionar espaços livre a debates, fóruns de discussões, exposições periódicas, será uma experiência para o exercício do civismo dos cidadãos.
17
Imagem (07) Esquina democrática sob lona cedida pelo MST, EREA Grande Porto, 2019 Acervo do Encontro
03
universidade necessária e propedêutica
Darcy Ribeiro e Lina Bo Bardi
Na revisão bibliográfica, recorreu-se a autores que analisaram o cenário das instituições de ensino superior no Brasil e como elas se relacionaram com a cidade e sociedade, investigações entendidas como precedentes à compreensão da necessidade de uma escola complementar. Sob o título “Universidade Necessária”, de 1969, portanto, sob o cenário de ditadura e guerra fria, o antropólogo, historiador e sociólogo, Darcy Ribeiro, dissertou sobre o papel da universidade no processo de desenvolvimento nacional, elaborando um preciso diagnóstico sobre os problemas da universidade na condição do subdesenvolvimento, e diante desse panorama, propôs um novo modelo universitário. Os movimentos estudantis da época foram um elemento presente na obra, como sentido de crise, de esgotamento dos regimes vigentes.
20
Verificou-se que, tanto no Brasil, quanto nos demais países latino-americanos, houve a adoção de projetos de desenvolvimento subalternos aos países capitalistas, assim, Darcy aponta para a necessidade da adoção de um projeto de desenvolvimento autônomo como o único caminho para superar a miséria na américa-latina. Portanto, a partir da noção de crise da universidade, Darcy Ribeiro apontou um dilema: a universidade se mantém enquanto um instrumento da nossa modernização reflexa e não soluciona as crises apresentadas ou se transforma em um instrumento do nosso crescimento autônomo. Ainda que decorridos mais de 50 anos da publicação, a obra é atual e permite a reflexão sobre a forma de acesso e a transmissão do conhecimento. São tratados os desafios dos tempos
presentes em um parâmetro de universidade-reflexo como meio de transformação social, e, nas palavras do autor:
desimpedida entre todos aqueles que possuam o desejo de formação intelectual e a instrumentalização técnica necessárias ao exercício da Ser um guia na luta pela cidadania. reestruturação de qualquer das universidades das nações subdesenvolvidas, sem o que estarão propensas a cair na espontaneidade das ações meritórias em si mesmas, mas incapazes de somarem-se para criar a universidade necessária. Poder converter-se em programas concretos de ação que considerem as situações locais, as possibilidades de cada país e, com a capacidade de transformar a universidade em agente de mudança intencional da sociedade. (DARCY RIBEIRO, 1969).
De acordo com o autor, para a compreensão da instituição de ensino como instrumento de transformação social, palco da ciência e do pensamento crítico, deve-se estabelecer uma comunicação
Evidencia-se, segundo Ribeiro, que uma universidade tanto pode desempenhar o papel de instrumento da consolidação da ordem social vigente como, em certas circunstâncias afortunadas, atuar na qualidade de órgão transformador desta mesma ordem. Nessa direção, as instituições de ensino que atuarem como simples guardiãs do saber tradicional só poderão sobreviver enquanto suas sociedades se mantiverem estagnadas, e, ainda, sob a compreensão de que a universidade já é uma estrutura que perpetua instituições sociais, faz-se necessária uma alternativa autônoma. Esta autonomia prescrita por Ribeiro para as universidades, ganha
21
forma quando se aproxima do “Sistema Tripartido”, com a organização da instituição dividida em institutos centrais, faculdades profissionais e órgãos complementares. Na definição do autor, o tripé fundamental é constituído por: - Os Institutos Centrais são concebidos como entidades dedicadas à docência e à pesquisa nos campos fundamentais do saber humano;
em contato com a sociedade global. Este modelo universitário, pensado principalmente para a Universidade de Brasília (UNB), não foi executado, pois, à época, o país esteve sob uma ditadura militar que impediu sua implantação. Todavia, o diagnóstico sobre as universidades brasileiras e latino-americanas como perpetuadoras da ordem social junto à organização institucional, é levado adiante, no entendimento proposto para a escola ser uma unidade complementar às universidades.
As Faculdades Profissionais são organizadas para receber estudantes que já tenham formação universitária básica e lhes oferecer cursos de treinamento profissional Ainda prospectando a e de especialização para o revisão bibliográfica sob o trabalho; aspecto da metodologia de ensino no campo da arquitetura Os Órgãos e urbanismo, a arquiteta Complementares são instituídos brasileira nascida em Roma, para prestar serviços a toda Lina Bo Bardi, dispõe seus a comunidade universitária ideais no livro “Contribuição e para pôr a universidade Propedêutica ao ensino da
22
Teoria da Arquitetura”, de 1957. De acordo com um diagnóstico descrito pela autora sobre a carência de autonomia e pensamento crítico dentro da graduação em arquitetura e seu ensino de teoria, há como alternativa proposta: (...) acreditamos que seja oportuno estabelecer escolas de aperfeiçoamento para profissionais, espécies de cursos livres e sobretudo práticos que poderiam ser uma integração de grande utilidade. Estabelecer um método que possa sugerir como assenhorear-se dos instrumentos aptos à projeção de qualquer edifício, trata-se de escola ou estação, de estádio, arranha-céu ou galinheiro, tornase, pois, a condição necessária de um ensino eficiente. (LINA BO BARDI, 1957)
O pensamento de Lina se refere a um contexto relacionado a mecanização do conhecimento científico em detrimento da construção
de saberes filosóficos. Desta forma, é colocada a adoção da metodologia da propedêutica junto a alternativas autônomas, como meio de superação dos saberes engessados. Segundo a autora, o método propedêutico aplicado ao curso de arquitetura e urbanismo, seria o responsável pela construção de saberes empíricos e debates sociais que dão início à formação profissional dos agentes de cidade, de modo a promover a conquista da emancipação acadêmica dos moldes europeus e a criação de repertório próprio. Lina escreve que o domínio dos espaços ocupados pelo homem real deve ser associado a uma coleta de dados que descrevam a sociedade atual, não ancorada a teorias históricas passadas como manuais. Deixando claro que, para ela, ética da
23
profissão se relaciona com a responsabilidade moral diante da sociedade e deve atendêla com espaços qualificados e duráveis. Desta forma: A tarefa máxima da escola - explicitar claramente ao estudante que a imparcialidade histórica não é “conciliação”, que o “vanguardismo” chegou, hoje, à academia, que o internacionalismo não significa cosmopolitismo, não sendo a linguagem internacional abstrata que pode resolver os problemas, mas antes a consideração, baseada num método rigoroso, dos problemas reais que devem ser resolvidos com meios efetivos e não com os da crítica abstrata, trata-se, ou não, de interpretação espacial ou da forma; é necessário, pois, igualmente, esclarecer ao estudante que não será a “bela solução plástica” de um arquiteto bem dotado - ainda que grande artista - que nos poderá consolar quanto à existência das tristes moradias dos campos, das favelas e das choupanas.
O arquiteto que sai da Escola tem a responsabilidade moral coletiva, como urbanista e como construtor, de se basear na indagação efetiva e nas necessidades reais de cada país. (LINA BO BARDI, 1957)
A preocupação educacional de Lina está relacionada a construção social de formação dos arquitetos como profissionais construtores de cidade e preocupados com a sociedade. A partir da leitura e da reflexão apresentadas por Lina sobre a metodologia propedêutica, tem-se nessa direção, a possibilidade de aplicação na escola livre da cidade a metodologia semelhante como alternativa questionadora à ordem social vigente atrelada aos cursos livres, oferecendo disciplinas amplas e difusoras de conhecimento técnicocientífico, que auxiliem as demais instituições de ensino
Imagem (08) Desenho de observação da arquiteta Lina Bo Bardi para projeto de mobiliário 24
fonte: livro - Lina Bo Bardi, 1993
na capacitação dos projetos da ordem social, voltada a de cidade. atuações construtivas no campo das artes e arquitetura. Tanto Darcy quanto Experiências históricas se Lina, cada qual com sua propuseram aos mesmos especificidade, debruçaram- questionamentos e trouxeram se sobre o desempenho propostas importantes que do papel da instituição de contribuem também com esta ensino como questionadora análise.
“O fato importante é a observação de uma posição cômoda e primitiva do corpo humano. O móvel corresponde à posição de cócoras é o banquinho baixo muito usado nas antigas fazendas de café.”
25
Imagem (09) Desenho de Lina Bo Bardi de “Anotações para as aulas na faculdade” fonte: livro - Lina Bo Bardi, 1993
04
experiências históricas
Vkhutemas e Bauhaus
As escolas de arte, arquitetura e design que marcaram o início do século XX continuam sendo representativas fontes de pesquisa sobre o ensino de arquitetura na atualidade. A Bauhaus e a Vkhutemas, fundadas no contexto do período entre guerras, apresentaram, em muitos aspectos, convergências, em suas metodologias e organizações. A Bauhaus foi fundada em 1919 em Weimar na Alemanha, pode ser considerada uma fusão da escola de artes e ofícios com as belas artes, e a Vkhutemas em 1920, Moscou URSS, motivadas pelo momento histórico do enfrentamento de uma das maiores crises do antigo mundo, ambas tinham como objetivo comum a superação da depressão intelectual causada pela Guerra em esperança da construção do mundo novo.
28
Essas escolas se propuseram a revisão do ensino e estabeleceram como cerne a aproximação da academia com a indústria, não por menos, tornaram-se escolas de artes e ofícios. As grandes lições levadas após estes 100 anos de história dizem respeito à forma de organização e filosofia metodológica instituída: [...] Bauhaus e VKhutemas tiveram um papel crucial nesse processo, ao fundamentar as bases de uma nova didática, voltada para a formação de especialistas dispostos a ouvir os anseios dessa sociedade em construção. (MATTARA, NASCIMENTO, 2015, p.4)
Estando ambas as nações se recuperando da Guerra, cada uma em seu contexto, buscaram a ampliação do acesso ao ensino, a capacitação de seus estudantes e a criação de uma consciência própria
do construir, de modo que, as velhas práticas não mais estavam alinhadas com o período vivido de revisão social e reconstrução das nações. A premissa de democratizar o ensino em todos os níveis para toda a população trazia desafios num país em que, até então, a educação acadêmica havia sido privilégio de classes abastadas. A defasagem de conhecimento entre aqueles oriundos das classes operárias e camponesas demandava um grande esforço de capacitação para viabilizar o ingresso em escolas de níveis superiores. A propedêutica surgiu para cumprir essa tarefa. (LIMA, JALLAGEAS, 2020, p.118)
Esta metodologia obedecia a um duplo objetivo pedagógico: facilitar ao estudante, através do seu próprio fazer experimental, os conhecimentos de categorias visuais antes desconhecidas como espaço, proporção,
composição, entre outros e, ao mesmo tempo, apresentar às inúmeras características dos materiais. Desta forma, era possível que o processo de concepção de cada aluno se afastasse dos moldes tradicionais e por meio da própria experiência adquirida, fornecendo uma “educação geral artística e prática, científica, teórica social e política”. O nosso objetivo mais nobre é criar um tipo de homem que seja capaz de ver a vida em sua totalidade, em vez de perder-se muito cedo nos canais estreitos da especialização. Nosso século produziu milhões de especialistas: deixem-nos agora dar primazia ao homem da visão. (GROPIUS, 1997, p. 27)
A aproximação entre todos os alunos da escola, das mais variadas origens, antes mesmo do início da faculdade, foi primordial
29
para o estabelecimento da incontestável qualidade de ensino nessas instituições. E mesmo tendo passado por inúmeras revisões desde a duração dos cursos, o corpo docente e a metodologia, a essência permaneceu sempre a mesma: fundamentação do ensino por cursos niveladores técnicos e filosóficos.
As circunstâncias de instabilidade política na Alemanha e União Soviética fecharam as portas de ambas as instituições, mas sua inegável contribuição se mantém e é exemplo para demais práticas pedagógicas a serem estabelecidas.
Imagem (10) Esquema organizacional das escolas Vkhutemas e Bauahus
30
fonte: “metodologia de ensino baseada na experimentação pelas escolas Vkhutemas e Bauhaus”, 2015
Imagem (11) Projeto “Cidade Nova”, disciplina ministrada por Nikolai Ladóvski, para repensar a cidade soviética fonte: Vkhutemas: desenho de uma revolução, 2020.
31
32
Imagem (12) Estudos de ocupação do espaço a partir da observação, curso ministrado por Oskar Schlemmer fonte: Pedagogia de la Bauhaus, 1986
05
hotel bandeirantes
34
Analisando-se o desejo de se propor a escola livre da cidade, somadas as experiências de Darcy Ribeiro, Lina Bo Bardi e as escolas vanguardistas do século XX, nos exemplos da Bauhaus e Vkhutemas, depara-se com a necessidade de se escolher o local de implantação para o abrigo do programa, do debate e da pauta apresentados anteriormente. É salutar registrar que, o método de ensino a ser aplicado à escola, será a propedêutica, que se mantém acompanhada do caráter cívico pretendido. Na busca desse caráter cívico, tem-se na cidade, a possibilidade de se intervir em relevante edificação, presente na região central que, desde 2005 encontra-se subutilizada. Mira-se para o histórico, belo e imponente, Hotel Bandeirantes.
A localização, portanto, é fator fundamental para a visibilidade aos cidadãos de Maringá e região que poderão cursar a escola livre. Há também a facilidade de acesso, a constatação da qualidade arquitetônica e a verificação de camadas históricas que se sobrepõem a edificação, centralizada no município. Reforçando a premissa do almejado caráter cívico, resgata-se o desenho urbanístico de meados da década de 1940, no qual Jorge de Macedo Vieira propôs um eixo norte-sul, hoje tratado como eixo monumental para acolher o Centro Cívico. O hotel planejado à época, foi uma edificação privada que, excepcionalmente, implantouse nesse conjunto. Vê-se, agora, na proposta elaborada, a retomada da discussão do caráter cívico.
Imagem (13) Folder promocional do Grande Hotel Maringá. fonte: Acervo Maringá Histórica
35
Nesse momento, vê-se, mais uma vez, a retomada das relações da memória afetiva, pois, ao se aproximar dessa preexistência, tem-se informações em dissertação de mestrado (2001), a abordagem de um trabalho de inventariado sobre o arquiteto paulista, sob o título “José Augusto Bellucci em Maringá”, na qual, das edificações levantadas, há atenção mais detalhada dada ao hotel. Faz-se referência, portanto, ao mestrado, de VERRI JÚNIOR (2001). De certa forma, novamente, uma pauta iniciada desde tempos remotos na vida dessa autora, além de se considerar que, trabalhos acadêmicos e científicos de natureza de inventariados, contribuem com a salvaguarda da edificação, possibilitando o entendimento da rica e diversa arquitetura moderna brasileira.
edificação histórica, tombada pelo patrimônio Estadual em 2005 e fechado ao uso nesse mesmo ano. O hotel representa o patrimônio arquitetônico de Maringá, inserido no vasto acervo da arquitetura moderna brasileira que se apresenta como referência mundial. Dessa forma, por sua localidade, importância e caráter cívico, é lugar apropriado para a instalação da escola, exigindo que a edificação seja revisitada e aberta aos cidadãos. Resgatase o compromisso de revivescer a memória do hotel.
A Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP), fundadora de Maringá, decide pela construção de um hotel no início dos anos 1950, com boas instalações, objetivando investidores de O Hotel Bandeirantes, receber concebido e construído como todas as localidades do Grande Hotel Maringá, é uma país e demonstrar a eles
36
a modernidade e pujança pretendidas na cidade. O terreno destinado à construção do hotel corresponde a uma quadra de 80,0m x 75,0m, na região central da cidade, que havia sido prevista para o Centro Cívico, conforme o projeto urbanístico de Jorge de Macedo Vieira. A edificação foi construída ao lado da praça Deputado Renato Celidônio e da Prefeitura Municipal de Maringá. De acordo com VERRI JUNIOR (2001), ao arquiteto contratado José Augusto Bellucci, foi solicitado um projeto que pudesse ser construído em duas etapas, inicialmente com capacidade de 30 a 40 quartos e futura ampliação, para 60 a 80 dormitórios, possibilitando a avaliação gradual do investimento por parte dos empresários.
se a dissertação e longas conversas com o pesquisador, buscando a compreensão e a aproximação ao objeto. Consta, como anexo da referida dissertação, o Memorial de Projeto, no qual o autor se manifesta: Junto aos serviços de hotelaria, o edifício deveria atender também a sociedade maringaense que se formava na jovem cidade, oferecendo a possibilidade de uso de seus salões de banquetes para festas, sem que interferissem no cotidiano do hotel. (VERRI, 2001, p.38)
Para o atendimento da encomenda à época, o arquiteto Bellucci apresentou nove propostas de estudos preliminares aos empreendedores, e em todas elas, houve excelentes soluções projetuais, resolvendo os espaços coletivos, públicos, Para a compreensão acessos, suas gradações, os da preexistência, consultou- jardins e os pátios.
37
Todas as propostas repetiram os mesmos elementos que conformam o programa: um bloco social voltado para a Praça Renato Celidônio, o setor dos serviços localizado no pavimento térreo, um ou mais pátios de jardim, possibilitando a ventilação e iluminação naturais dos ambientes e os demais pavimentos, que variaram em número conforme o estudo, destinados aos apartamentos dos hóspedes. Os arranjos dessas peças foram se alterando conforme o andamento do projeto.
38
Destacam-se a segunda e a terceira versões dos estudos, nas quais o arquiteto propôs um edifício vertical, de sete pavimentos, sendo que todas as demais, foram compostas por térreo e mais dois pavimentos. Segundo Verri Junior, sobre o estudo verticalizado: Conforme verificado no memorial, o grande empecilho do projeto foi a possibilidade de ampliação em etapas, sugerida ao arquiteto, porém de difícil execução. (VERRI, 2001, p.84)
A nona proposta que foi a efetivamente construída, solucionou a dificuldade colocada de executar a obra em duas etapas, distribuindo o programa de necessidades em cinco blocos, três paralelos à praça Deputado Renato Celidônio, e dois perpendiculares.
acesso dos serviços, localizado na Avenida Duque de Caixas.
Com a implantação dos três blocos paralelos à praça e, portanto, com orientação norte-sul, os quartos possuem aberturas para o sol da manhã, leste, e nos blocos de orientação leste-oeste, as aberturas foram estabelecidas para a fachada O bloco principal dá sul, minimizando a incidência acesso ao saguão, bar e direta do sol nestes ambientes. restaurante, e os volumes Sob análise dos volumes, intermediário e o posterior, há a predominância da contém todos os serviços ressaltada no pavimento térreo e os horizontalidade, pela presença de lambris de dormitórios nos pavimentos madeira, composto de linhas superiores. horizontais e a presença Os acessos foram de generosos beirais, resolvidos de forma medindo 1,50m de largura. O independentes uns dos outros, embasamento é revestido por sendo o do saguão dado tijolos de barro à vista e possui pela praça, proporcionando uma pequena marquise, de a autonomia de ações sociais 0,50m largura e de concreto no das mais privativas, o acesso perímetro da edificação, muitas ao bar foi instalado na lateral vezes protegendo as aberturas direita, na esquina da praça das intempéries. com a Rua Arthur Thomas, e o
Imagem (14) Perspectiva elaborada pelo arquiteto José Augusto Bellucci 23/03/1950 2ª proposta de projeto fonte: VERRI JÚNIOR 2001
39
A construção do Hotel teve início no ano de 1951 e sua primeira etapa inaugurada em 1955, constituída por dois blocos, um voltado à praça e o outro perpendicular, na Avenida Tiradentes. Em 1957 foi finalizada a construção dos outros três blocos dispostos em “U”, com o pátio voltado para a Rua Arthur Thomas. Além do projeto arquitetônico, o arquiteto Bellucci foi também o responsável pelo detalhamento e ambientação dos espaços, incluindo desenho de toda a mobília (balcões, mesas e cadeiras para os salões de refeição; camas e peças acessórias aos apartamentos) luminárias, e o projeto paisagístico, que foi executado pelo agrônomo Aníbal Bianchini, figura de relevância para a configuração histórica da cidade.
40
Bellucci, em algum de seus estudos, propôs um projeto paisagístico, com exuberante ajardinamento na esquina do hotel com a prefeitura, propondo uma esquina diferenciada, intenção não construída. Esta e algumas outras soluções propostas de projeto foram descaracterizadas ao longo dos anos, como, por exemplo, a construção de uma cozinha no primeiro pátio jardim, além de almoxarifados e depósitos nos recuos dos demais pátios. As diferenças apresentadas da proposta arquitetônica de Bellucci, comparadas às construções posteriores e assessórias estão sinalizadas nos redesenhos, elaborados por VERRI JÚNIOR, de forma a possibilitar compreensão do objeto e editadas e adaptadas pela autora.
Imagem (15) Imagem aérea do hotel construído fonte: VERRI JÚNIOR 2001
41
avenida herval
fórum estadual de maringá
avenida getúlio vargas
rua arthur thomas
prefeitura do municipio de maringá
avenida tiradentes
praça deputado renato celidônio
avenida duque de caixias
N
catedral
situação escala 1:2000
43
praça deputado renato celidônio
rua arthur thomas
prefeitura do municipio de maringá
avenida duque de caixias N
avenida tiradentes
implantação e cobertura escala 1:500
00
100
200
400
45
01
01
01
02
05
07
06
03
01
08 09
14
15
34
35 16 34
35
12
04
17
15
18
16
16 13
05
35 05
16
05
15
19
35 20
16 20
20
16
20 16
20
16
15
20
16
16 20 36
34
15
16 16
30 25
26
27
28 31
29 35 20
34
16
30 16
01 N
34
05
05
05
05
16 05
05
05
05
pavimento térreo . hotel área = 2.422,59m escala 1:250
01 01
10
11
5
5
12
9
21 01 34
22
05 35
09 23
24
32
0
2
01.
jardim
02.
abrigo
03.
hall
04.
recepção
05.
depósito
06.
salão
07.
varanda
08.
choperia
09.
glp
10.
terraço
11.
restaurante
12.
cozinha
13.
apoio
14.
escritório
15.
administrativo
16.
instalação sanitária
17.
telefone
18.
centro elétrico
19.
sala
20.
quarto
21.
exaustor
22.
despensa
23.
caldeiras
24.
almoxarifado
25.
costura
26.
rouparia
27.
sala de encomendas
28.
lavanderia
29.
entrega
30.
vestiário
31.
portaria
32.
recepção de mercadoria
33.
oficina
34.
pátio
35.
circulação
36.
estacionamento 25 vagas
37.
cisterna *construções não previstas no projeto original do arquiteto mas executadas ao longo do tempo
33 37
34
05
00
50
100
200
47
16 20
16
20
16 20
16
16
20
16 20
20
16
16 38
35 20 03
05 26
20
16
20
16
16
20
16
2
16
20 20
35
20
35
20
16 16 16 20
20
16
16
20
16
20 20
16 16
35
20 16
N
20
16
05
20
10
06
39
39
05 05
35
20
20
20 16
16
16
segundo pavimento . hotel
16
área = 1.692,34m escala 1:250
20 35
20 16 16 20
20 16
16 35 20
2
03.
hall
05.
depósito
06.
salão
10.
terraço
16.
instalação sanitária
20.
quarto
26.
rouparia
34.
pátio
35.
circulação
38.
chapelaria
39.
copa
16 20
00
50
100
200
49
16 20
16
20
16 20
16
20
16
16 20
20
16
20
35 20 03
05 26
2 05
20
16
20
16
16
20
16
16
20 20
35
20
35
20
16 16 16 20
20
16
16
N
16
20
16
20 20
16 16
35
20
N
20
16
05
20
39 05
35
20
20
20 16
16
16 16 20 35
terceiro pavimento . hotel 20
área = 1.415,94m escala 1:250
2
16 16 20
20 16
16 35 20
03.
hall
05.
depósito
16.
instalação sanitária
20.
quarto
26.
rouparia
35.
circulação
39.
copa
16 20
00
50
100
200
51
06
06
03 03
06
03
07
20 20
07
08
16
corte AA . hotel escala 1:250
06
11
06
corte BB . hotel escala 1:250
20 20
27
05
corte CC . hotel escala 1:250
53
03
03 03
06
10
11
2
05
16
12
20
15
30
corte CC . hotel
31
escala 1:250
22
05
24
33
05
corte DD . hotel escala 1:250
elevação praça deputado renato celidônio . hotel escala 1:250
55
elevação avenida tiradentes . hotel escala 1:250
elevação rua arthur tomas . hotel escala 1:250
elevação avenida duque de caixias . hotel escala 1:250
57
corte FF . hotel escala 1:250
corte GG . hotel escala 1:250
58
Imagem (16) Proposta de projeto paisagístico, Bellucci, 1952 não executado fonte: VERRI JÚNIOR 2001 Imagem (17) Maquete do Hotel, Bellucci fonte:VERRI JÚNIOR 2001
59
60
Imagem (18) Hotel, porção frontal, 1957 fonte:VERRI JÚNIOR 2001
61
Imagem (19) Hotel, hall, 1957 62
fonte:VERRI JÚNIOR 2001
Imagem (20) Hotel, salão de jogos, 1957 fonte:VERRI JÚNIOR 2001
63
Imagem (21) Hotel, hall, 1957 64
fonte:VERRI JÚNIOR 2001
Imagem (22) Hotel, salão, 1957 fonte:VERRI JÚNIOR 2001
65
Imagens (23) e (24) Detalhamento mobília 66
fonte:VERRI JÚNIOR 2001
Imagem (25) Projeto de layout, maquete planificada fonte:VERRI JÚNIOR 2001
67
68
Imagem (26) Detalhamento luminárias fonte:VERRI JÚNIOR 2001
06
aproximações
Para intervir no patrimônio moderno e respeitar a memória da cidade, elegeu-se dois exemplares que poderão dar suporte às interpretações e metodologias adotadas. São exemplares de relevância arquitetônica de projetos moderno e contemporâneo em preexistências. Serão, portando, analisados o Solar do Unhão e a Escola de Arquitetura LOCI Tournai.
70
Solar do Unhão, Lina Bo Bardi – Salvador, BA, 1960
“Tem por base o respeito absoluto por tudo aquilo que o monumento representa como poética dentro da interpretação moderna de continuidade histórica, procurando não embalsamar o monumento, mas integrá-lo ao máximo na vida moderna.” (BARDI, Lina Bo, 1963)
Lina Bo Bardi, de 1960 a 1964, projetou no conjunto de edificações chamado Solar do Unhão, localizados em Salvador, Bahia, constituído por casa-grande, engenho, senzalas e capela, datados do século XVI. A intervenção proposta foi realizada sob o conceito de atestar pela perenidade das construções, propondo as inserções de forma delicada com a inserção de novos elementos, e, simultaneamente, com precaução, mas com certo desprendimento, e fez com que o projeto viabilizasse o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM).
A autora, que se referia ao trabalho como o Trapiche Unhão afirmava a importância da intervenção como conjunto e assim busca remarcar, nas suas decisões, cada um dos edifícios existentes acompanhados pelos espaços abertos. A ideia de conjunto é tão forte e imprescindível para a compreensão desse trabalho, que a arquiteta, após minuciosa análise das edificações, classificou-as por relevância, avaliou suas histórias e decidiu por eliminar o que localizou como os acréscimos desnecessários, tanto no fundo como nas laterais da igreja, tornando-a livre. Demole, também, um galpão contíguo ao mar, dando espaço a uma praça. Todas as subtrações, ou apagamentos, foram atitudes que buscaram a valorização da vista do conjunto. A “limpeza” do pátio proposta por Lina, objetivando imprimir continuidade e abertura adequadas à escala
Imagem (27) Fotografia do Solar do Unhão Autor: Manuel Sá
71
pretendida para o conjunto foi a decisão mais significativa do projeto, ao lado da escada escultórica e poética, uma das mais lindas estruturas da história da arquitetura brasileira.
escada instalada no interior do solar, com desenho escultórico, de formato helicoidal e planta quadrada, inserida num vão de quatro pilares existentes de madeira maciça. Há, de certa forma, a instalação de moderno elemento, detalhado pelo entendimento de como se encaixavam as madeiras dos carros de boi. Passado e presente coexistindo, erudição e cultura popular convivendo em harmonia.
A entrada principal do museu se localiza ao centro do volume maior à sudeste, que corresponde ao eixo transversal do edifício, marcado por dois pilares, que o divide em dois lados idênticos ocupados por quatro pilares cada. A escada Ainda sob a intervenção se localiza no centro do lado no conjunto, Lina, mantém direito ao acesso, e marca o os galpões industriais, que eixo longitudinal do edifício. são edifícios não originários erigidos quase cem anos mais Ainda que tenha havido tarde e contíguos ao solar, que certa transformação após o fazem com que a permanência projeto, a identidade do prédio deles possibilitasse uma foi mantida, mas recebeu o narrativa do tempo. As decisões registro de uma arquitetura projetuais adotadas são ancorada em seu tempo, extraídas do aprofundamento caracterizada assim por uma do entendimento das arquitetura de contornos próprias edificações, sob modernos. O protagonismo caráter histórico, técnico e dos elementos utilizados é a arquitetônico.
72
Com tal postura, Lina Bo Bardi acaba executando intervenções de grande vigor, capazes de estabelecer um contraponto a muitas intervenções em patrimônios nacionais, pautadas em uma compreensão da história carregada de imobilismo e passividade. Sua atitude, pelo contrário, afirma a necessidade
do rompimento com esse panorama. Para ela, o projeto tem que ser capaz de respeitar as preexistências, tem que ser hábil ao inserir novas intervenções, além de ter que se mover ao mesmo tempo com precaução e desprendimento, transformando o passado, o presente e o futuro.
Imagem (28) Fotografia do Solar do Unhão Autor: Manuel Sá
73
74
LOCI Tournai, Lacaton e Vassal, Bélgica, 2014
O escritório francês, Lacaton & Vassal, fundado em 1987, conduzido por Anne Lacaton e Jean Philippe Vassal, estabelece como conceito de trabalho de arquitetura a ideia que, um edifício, um lugar ou o entorno têm valor e que o papel que a arquitetura deve desempenhar é o de apreciar, compreender e abraçar a pré-existência, agregando respeitosamente novo valor por meio de cada intervenção.
tanto os objetivos do projeto original, como as aspirações dos atuais ocupantes”, independentemente da escala do projeto, desde uma pequena praça em Bordeaux, como a “Place Léon Aucoc” (1996), cuja intervenção é de grande delicadeza, até uma galeria de arte contemporânea em Paris, como a “Palais de Tokyo” (2012-2014)
Lacaton (2021), em entrevista ao portal Archidaily Os arquitetos foram os comenta: vencedores do prêmio Pritzker, O pré-existente tem valor se em 2021, e são conhecidos você tomar o tempo e o esforço pelo princípio de “nunca para analisá-lo cuidadosamente. demolir” as edificações, Na verdade, é uma questão de explorando profundamente observação, de se aproximar a noção de sustentabilidade de um lugar com olhos frescos, incorporada ao equilíbrio de atenção e precisão... para três pilares fundamentais: o compreender os valores e as econômico, o ambiental e o carências, e para ver como social. O corpo de jurados do podemos mudar a situação, Pritzker, ao analisar o conjunto mantendo todos os valores do que já existe. (ANNE LACATON, da obra desses arquitetos, 2021). reconheceu sua “humildade na abordagem que respeita
Imagem (29) Perspectiva da Escola de Arquitetura LOCI Tournai Acervo do escritório Lacaton e Vassal.
75
Além da trajetória conceitual adotada e aplicada pelos autores, elementos que motivaram os caminhos desse trabalho, Lacaton & Vassal, projetaram uma escola de arquitetura na condição de preexistência. É significativo registrar que ambos arquitetos são vinculados à docência, Anne Lacaton é professora no Instituto Federal de Tecnologia da Suíça, e Jean Philippe Vassal na Universidade de Berlim, e juntos, foram professores visitantes na Itália, França e Suíça. Acerca desse projeto correlato, que se refere a uma requalificação e ampliação da escola de arquitetura LOCI, Tournai, localizada na Bélgica, o produto é fruto de um concurso de projetos que a dupla venceu em 2014, com 11.124,0m2 e pertence a Universidade Católica de Louvain, porém, o projeto ainda não foi construído.
Na óptica dos autores, o conceito da escola de arquitetura é a de que deva ser um lugar extraordinário, direcionando a reflexão para o fato de que o espaço é pedagógico, estimulante e acolhedor. Para o desenvolvimento do projeto, fizeram uso da cultura das adaptações e imprimiram unidade nas várias e diversas edificações que compõem o conjunto projetado, próximas umas das outras, havendo, inclusive, um teatro e uma igreja. A justaposição das edificações criou uma escola atípica, que exigiu para o desenvolvimento do trabalho, a ideia de adaptação e apropriação permanentes entre as preexistências e possibilitando que as mesmas interagissem com a urbanidade, com o entorno, fazendo com que a escola de arquitetura fosse um espaço aberto à cidade, e o seu projeto, o primeiro laboratório (prático) da escola.
Imagem (30)
76
Imagem de ocupação da Escola de Arquitetura LOCI Tournai Acervo do escritório Lacaton e Vassal.
Sob a premissa de que a escola devesse ser um lugar aberto e de debate sobre a cidade, o habitar, o ambiente, o clima, a ecologia, a economia e os seus usos, o projeto proposto foi uma consequência do próprio projeto das uniões das preexistências e da cidade, transformando o local fragmentado em um lugar único que pode se abrir e se conectar. Os autores tornaram o pavimento térreo da escola em uma extensão do espaço urbano, garantindo
a continuidade da rua para o interior das edificações e criando porosidade em relação à vizinhança, por meio da transparência e emergindo a vida escolar para fora de seus limites. Quando se deparou com a necessidade de se instalar novas estruturas ao projeto, os autores escolheram os sistemas pré-fabricados e materiais que favorecessem a montagem, ganhando tempo no desenvolvimento da obra.
77
Os dois projetos apresentados como correlatos, acompanhados das intenções projetuais dos seus respectivos autores, permitiram direcionar o projeto desse trabalho e seu desenvolvimento considerando-se, dentro das técnicas possíveis, a ideia de perenidade da construção. Essa permanência é acompanhada de critérios que propõem operações de inserções e apagamentos, sendo que as inserções buscaram formas delicadas e respeitosas na coexistência das informações históricas e da (pré) existência, e as subtrações ou apagamentos, naquilo que se pôde eliminar, classificandoos, elementos desnecessários e/ou anacrônicos. Essas ações poderão ser chamadas de “limpeza”, constituídas por subtrações ou apagamentos e que poderão imprimir a noção de sustentabilidade incorporada ao equilíbrio de três pilares fundamentais,
que de acordo com Lacaton & Vassal, são o econômico, o ambiental e o social. Buscou-se também que a proposta seja acompanhada por locais abertos, imprimindo continuidade dos espaços externos públicos aos internos, portanto, que a escola livre da cidade interagisse com a urbanidade, com o entorno, fazendo com que a escola se apresentasse como uma extensão da cidade, garantindo a continuidade da rua para o interior da edificação e criando porosidade. Premissa que valoriza o conceito de arquitetura em que um edifício, um lugar e o entorno têm valor e que o papel que a arquitetura deve desempenhar é o de apreciar e compreender essa vizinhança. A partir desses dois exemplares, com os quais mais se pretendeu o entendimento do projeto na preexistência,
Imagem (31) Fotografia do Solar do Unhão Autor: Nelson Kon Imagem (32)
78
Imagem do sítio do projeto Escola de Arquitetura LOCI Tournai Acervo do escritório Lacaton e Vassal.
que as soluções projetuais e de desenhos de forma pontuais. A atividade do projeto arquitetônico exige, inevitavelmente, uma série de outros referenciais que são as camadas de informações acumuladas nas aulas, vivências, bibliografias e
viagens e não compõem o resultado de forma literal, mas como rondam o subconsciente dessa autora, e poderão constituir elementos que foram apropriados e podem se acomodar na proposta apresentada.
79
Imagem (33) Imagem aérea da escola livre da cidade fonte: elaborado pela autora
07
projeto 81
A concepção do projeto arquitetônico deste trabalho de conclusão de curso se pautou na importância do ensino como agente transformador, no respeito a memória coletiva da sociedade em relação a história do hotel, na relevância do arquiteto pioneiro e de sua obra em Maringá, e na configuração das relações da edificação com a cidade, uma reunião de significativos dados e camadas densas de história que não poderiam desvanecer. Trata-se de uma requalificação espacial propondo alteração de uso, de Hotel à Escola Livre da Cidade, buscando a compreensão e o significado dos elementos de permanência e aqueles do apagamento. Da herança de Bellucci, procurou-se manter coletivos e abertos os espaços que em sua origem foram os locais de convivência e de caráter público, são eles: os salões sobrepostos do térreo e do
82
pavimento superior, na esquina da Avenida Tiradentes com a praça, as sombras provocadas pelas varandas voltadas à praça, espaços que acolhem as pessoas que integrarão a escola, e a partir delas, distribuem as funções internas. Os três pátios descobertos existentes no projeto do hotel, que são elementos compositivos e funcionais, provendo ventilação e iluminação naturais foram mantidos, e após análise um deles, recebeu novo significado, abrigando o fórum, ou, o pátio coberto. Os demais, acolhem os jardins, como previsto inicialmente por Bellucci. Sob aspecto do resgate da memória, ainda que significativa parte da mobília do hotel tenha se perdido, recuperase para a ambientação interna da recepção da escola, o balcão original que serviu ao hall do hotel. Da mesma forma, procurou-se utilizar as
a ideia
o projeto
luminárias desenhadas pelo arquiteto e executadas por Dominici, para iluminação artificial dos espaços da recepção e maquetaria. A arquitetura proposta é de desenho de requalificação. Como síntese do projeto, há a inserção de três elementos novos como os organizadores do programa proposto: a biblioteca, o auditório e uma cobertura que abriga o fórum. A biblioteca, localizada na esquina da Av. Duque de Caxias com a Rua Arthur Thomas, é um espaço de caráter coletivo e representativo do ensino, na expressão da passagem do conhecimento por meio dos livros. Assim, a biblioteca, basicamente ocupa o espaço da antiga lavanderia, se volta à cidade e ao espaço da gestão pública municipal, olha metaforicamente pra prefeitura, simbolizando a conexão pretendida de a escola se desenvolver conectada com as discussões pertinentes à urbe.
O desenho da biblioteca exigiu a delicadeza observada na arquitetura de Bellucci, assim, sua geometria de contornos irregulares e aparentemente fechados imprime privacidade ao ambiente interno, mas permite entradas de luz natural. Ainda, objetivando homenagear o antecessor, uma sala de leitura cuja geometria tem espelhamento na forma que abriga o acesso do café. Para organização espacial da biblioteca, projetou-se uma circulação iluminada por sheds com orientação sul, que representou um elemento conector entre a pré existência e a inserção, na qual, dispôs-se acervo de um lado e ambiente de leitura e pesquisa de outro. O projeto arquitetônico procurou imprimir um novo caráter de importância e visibilidade à fachada da Avenida Duque de Caxias que é hoje um muro com portão, onde está localizado o acesso
83
de serviços do hotel, um plano praticamente cego, cujos elementos que o compõem e a configuração de pertencimento do edifício à cidade, são os mais distantes no imaginário coletivo, principalmente, quando comparada à fachada da praça, a protagonista e frontal da edificação original. Subverte-se então, o que é frente e fundo, possibilitando que o equipamento esteja aberto à cidade, com acessos legíveis e que configurem espaços de caráter público nas suas diversas faces. Propôsse uma galeria de acesso livre criando um caminho entre a face da avenida Duque de Caxias com a praça, em um eixo leste-oeste como uma galeria que é a travessia urbana à sombra, que possa ter os painéis informativos da escola, murais, exposições temporárias e temáticas. O nível da préexistência é de 70 centímetros acima do passeio público da Duque, elemento resolvido por escada e rampa, atendendo a
84
acessibilidade. Com essa rua interna, cria-se um novo eixo leste-oeste na edificação onde foram instaladas as novas circulações verticais, escada e elevadores. É assim que se manifesta a porosidade e a permeabilidade da edificação diante da cidade. É a interação da arquitetura com o urbano, condições indissociáveis. Buscando reiterar as conexões urbanas com a escola, no pavimento térreo, ao lado da galeria, na Duque, desenhou-se o acesso ao auditório, cujo foyer é banhado por luz natural, resolvida por um talude paralelo a escada de acesso. A posição do auditório é marcada pela expressiva geometria da casa de bombas do hotel, um muro curvo em cerâmica, com desenho delicado e característico da edificação, na esquina da Tiradentes com a Duque, elemento que se tornou um marco para a entrada ao auditório, prevendo as instalações de escada
e plataforma elevatória. A lâmina d’água, paralela a Tiradentes, cobre e contribui com o desempenho térmico e acústico desse auditório. Na face protagonista do hotel, na fachada mais conhecida como frontal voltada à praça, foram eliminados os estacionamentos em espinha de peixe, existentes entre o hotel e a praça. Desenhou-se nessas vias lindeiras, em seus extremos, as conexões com o subsolo, entrada e saída, sugerindo-se que a via seja de pedestres, preferencialmente, buscando a integração com a prefeitura e a praça e protegendo o fluxo para a permanência dos estudantes. Como a função original de hotel exigiu inúmeras áreas de serviços e em espaços generosos localizados no pavimento térreo, o projeto da escola destinou a eles, novas funções. Assim, naqueles espaços de serviços, previuse salas de aulas, iluminadas e
ventiladas pelos pátios ou pela face da avenida Tiradentes e pequeno trecho destinado ao setor administrativo da escola. Um dos espaços protagonistas da escola é o salão nobre, na esquina da praça com a Tiradentes, destinado a exposições. O salão na esquina oposta, na praça com a Arthur Thomas, que se destinou, no passado, aos jogos (Salão de Jogos) acolherá o café da escola, reiterando a ideia da porosidade, pois, o espaço poderá servir a todos os cidadãos, além do atendimento à comunidade escolar. O café da escola permite, em seu interior, o acesso ao pátio de outrora descoberto, que nessa requalificação, recebeu uma cobertura, proteção às intempéries por meio de uma estrutura metálica e vidros, espaço que será chamado o fórum da escola. O fórum poderá ser o lugar dos debates,
85
exposições e manifestações e está diretamente conectado ao acolhimento da escola, ou, ao acesso direto da praça.
galeria, conecta-se ao fórum – um átrio da escola, que se configurou com pé direito triplo, reforçando as buscas por integrações interespaciais Sob o aspecto funcional e da edificação coma a cidade. e operacional, previu-se, continuamente ao café, um No segundo pavimento local de serviços para a carga tem-se o salão com varanda, de descarga, diretamente da completamente preservados, rua Arthur Thomas, e, no espaço e, com a configuração de contínuo, os serviços de apoio altura generosa, onde se à limpeza e aos funcionários. poderá destinar a maquetaria, oficinas, exposições e eventos Aos pavimentos especiais. Esse salão, superiores, segundo e terceiro, sobreposto ao do térreo, há a organização mais tem laje piso desalinhada previsível de os apartamentos do segundo pavimento, e, se destinarem às disciplinas portanto, é acessado por propedêuticas, aos ateliês, oito degraus. Para solução grupos de pesquisas e aulas, da acessibilidade, inseriuapenas com as remoções se, buscando a delicadeza, dos sanitários contidos nas uma rampa galeria na porção hospedagens. Há um espaço, lateral do salão, no espaço de acesso e galeria, no qual as outrora destinado à copa do circulações de elevador e pavimento. escada convergem, para a condução aos corredores que Ainda na busca da acessam as salas de aulas. composição harmônica entre as diferentes concepções Esse espaço, acesso e arquitetônicas, a de ontem e
86
a de hoje, preservou-se dois volumes no térreo em locais opostos do fórum, que neste projeto acolhem varandas do segundo pavimento integradas verticalmente com este novo espaço. Um elemento inserido/ adicionado foram passarelas conectoras das linhas de salas de propedêutica, paralelas à Duque, criando caminhos livres e fluidos de circulação entre as atividades de ensino, suas soluções são abertas e ventiladas à via pública e à um dos pátios. No terceiro pavimento há um rebatimento do segundo, sem a presença da maquetaria. Ressalva-se que há seis linhas de circulações com salas sendo que, quatro delas estão na orientação norte-sul, três delas com aberturas à leste e a circulação oeste. As outras duas, paralelas a Tiradentes, têm orientação leste-oeste, com as aberturas ao sul e
corredores ao norte. Com relação aos materiais utilizados nas adições, procurou-se que se manifestassem diferentemente da pré-existência, complementando-a, mas marcando com a materialidade o compromisso da arquitetura com seu tempo. Dessa forma, os elementos presentes nas inserções são em estrutura metálica pintadas de branco, inseridos na cobertura do fórum, elevador, biblioteca, guarda-corpos e passarelas. Para vedações da biblioteca, vertical e horizontal, e escada, elementos pré-moldados em concreto aparente. Assim, as operações de demolições ou apagamentos no projeto são também uma forma de preservação, que buscaram reconfigurar o edifício na sua materialidade em harmônico convívio com a nova proposição espacial e funcional.
87
88
terminal intermodal urbano de maringá
vila olímpica
universidade estadual de maringá
catedral de maringá
escola livre da cidade
prefeitura do município de maringá
praça raposo tavares
centro cívico
Imagem (34) Centro Cívico no Eixo Monumental de Maringá, com o objeto da intervenção à esquerda fonte: acervo da autora, 2022
89
pré existência ESCALA 1:750 PLANTA 3° PAVIMENTO Apartamentos Social Serviço
PLANTA 2° PAVIMENTO Apartamentos Social Serviço
PLANTA TÉRREO Áreas livres Social Serviço
apagamentos ESCALA 1:750 PLANTA 3° PAVIMENTO área - 1.415,94 ²m
2
PLANTA 2° PAVIMENTO área - 1.692,23 m
2
PLANTA TÉRREO área - 2.635,67 ²m
2
91
programa de necessidades
administração
50,90 m
acesso
88,16 m
foyer
121,57 m
hall
131,78 m
serviço
141,43 m
café
144,00 m
recepção
145,04 m
exposição
179,83 m
instalações sanitárias
190,77 m
fórum
200,00 m
galeria
208,50 m
maquetaria
210,02 m
circulação vertical
211,87 m
auditório
224,28 m
varanda
240,97 m
biblioteca
484,67 m
ateliês
604,66 m
salas
945,44 m
circulação horizontal
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
2
1.046,15 m
2
hotel área do terreno 6.000,00 m
6.000,00 m
área construída 5.610,43 m
6.183,29 m
2
2
coeficiente de aproveitamento 0,94 taxa de ocupação 40,38%
92
escola 2
2
1,03 43,72%
ESCALA 1:750 PLANTA 3° PAVIMENTO área - 1.387,88 m
2
PLANTA 2° PAVIMENTO área - 1.740,18 m
2
PLANTA TÉRREO área - 2.422,59 m
2
PLANTA SUBSOLO área - 376,23 m
2
a construir 1.091,89 m
2
a demolir 63,56 m
2
93
inserções
Imagem (35) Perspectiva axonométrica com sinalização das inserções projetadas 94
fonte: acervo da autora, 2022
Imagem (36) Perspectiva expandida fonte: acervo da autora, 2022
95
praça deputado renato celidônio
rua arthur thomas
prefeitura do municipio de maringá
avenida duque de caixias N
avenida tiradentes
implantação e cobertura escala 1:500
00
100
200
400
97
01
D
01
02
02 05 04
03
01
B
08
07 09 02
08
09
09
09
09
10
17 12
12
12
12
08
13
C 01
10
15 14
01
02
01
98
D
N
A
01
05
06
B
09 09
08
área = 2.623,21m escala 1:250
2
12
17 11
12 17
12
13
pavimento térreo . escola
C
12
01
09
01.
jardim
02.
acesso
03.
recepção
04.
café
05.
varanda
06.
exposição
07.
fórum
08.
serviço
09.
instalação sanitária
10.
galeria
11.
administração
12.
sala propedêutica
13.
pátio
14.
biblioteca
15.
hall
16.
cisterna
17.
circulação
5 16 00
50
100
200
01
A
99
D 12
12
12
12
12 09
09
17
12
19
18
05
B 17 05 12
12
21
21
12
21
12
17 17
C
12
12
12 12 12
21
21
21 17
22
100
D
N
A 05
9
B
20
09
12
segundo pavimento . escola
12
área = 1.740,18m escala 1:250
2
17
12
C
12
12
05.
varanda
09.
instalação sanitária
12.
sala propedêutica
17.
circulação
18.
hall
19.
maquetaria e exposição
20.
rampa e galeria
21.
ateliê
22.
convívio
22
00
50
100
200
A
101
D 12
12
12
12
12 09
09
17
12
18
B 17
12
12
21
21
12
21
12
17 17
C
12
12
12 12 12
21
21
21 17
22
102
D
N
A
B
09
12
12
17
terceiro pavimento . escola
12
área = 1.387,88m escala 1:250
2
C
12
12
09.
instalação sanitária
12.
sala propedêutica
17.
circulação
18.
hall
21.
ateliê
22.
convívio
22
00
50
100
200
A
103
C A
23
23
24
C
N
104
A
subsolo . escola área = 1.387,88m escala 1:250
2
23.
foyer
24.
auditório
00
50
100
200
corte AA . escola escala 1:250
105
106
corte BB . escola escala 1:250
corte CC . escola escala 1:250
107
interrupção
corte DD . escola escala 1:125
110
Imagem (37) Fachada da Praça Renato Celidônio
elevação praça deputado renato celidônio . escola escala 1:250
111
112
Imagem (38) Fachada da Avenida Duque de Caixias
elevação avenida duque de caixias . escola escala 1:250
113
114
Imagem (39) Fachada da Rua Arthur Thomas
elevação rua arthur tomas . escola escala 1:250
115
116
Imagem (40) Escola Livre da Cidade
117
118
Imagem (41) Escola Livre da Cidade
119
120
Imagem (42) Escola Livre da Cidade
121
122
Imagem (43) Escola Livre da Cidade
123
124
Imagem (44) Recepção Escola Livre da Cidade
125
126
Imagem (45) Café Escola Livre da Cidade
127
128
Imagem (46) Exposição Escola Livre da Cidade
129
130
Imagem (47) Pátio Escola Livre da Cidade
131
132
Imagem (48) Galeria Escola Livre da Cidade
133
134
Imagem (49) Foyer Escola Livre da Cidade
135
136
Imagem (50) Auditório Escola Livre da Cidade
137
138
Imagem (51) Biblioteca Escola Livre da Cidade
139
140
Imagem (52) Biblioteca Escola Livre da Cidade
141
142
Imagem (53) Fórum Escola Livre da Cidade
143
144
Imagem (54) Fórum Escola Livre da Cidade
145
146
Imagem (55) Galeria Escola Livre da Cidade
147
148
08
considerações finais 149
Esse trabalho é uma reunião de informações e afetos que extrapolam os 05 anos de graduação, com acúmulo de vivências, viagens, amizades e reflexões impulsionados pelo privilégio de viver com arquitetos e professores. Propor uma escola livre da cidade não foi a ideia inicial, mas se apresentou, nesse momento, a única possível. Parece um final, e se soubesse o significado da expressão, talvez pudesse registrar que o trabalho o representa. O desenvolvimento do projeto arquitetônico, conforme os caminhos apresentados no curso, requer uma somatória de pensamentos e decisões para poder avançar, e esse, especificamente, possibilitou a sobreposição de camadas generosas de afetuosos encontros. Reunir discussões sobre o ensino de arte e arquitetura, práticas pedagógicas, aproximar-se da propedêutica, com a arquitetura na pré-existência e no coração de Maringá, representou muito do que se acredita como democratização do ensino e da arquitetura. Aqui, foi apresentada uma resposta projetual dentre inúmeras possíveis, entretanto, fez-se um registro comprometido com uma ideia de arquitetura que se pretende perseverar: a das intervenções na preexistência, com apagamentos e inserções, da sustentabilidade e racionalidade. Discutiu-se aquilo que, nos referenciais vividos, é o caminho da educação como ferramenta transformadora para a melhoria social. E as cidades e a sociedade deverão e serão melhores. Assim, encerra-se esse ciclo, almejando que venham (re)inícios no caminho das transformações sociais e a arquitetura contribuindo com sua parcela de modificadora para um mundo melhor.
Imagem (56) Roda de conversa sobre moradia emergencial, EREA Regência, 2019 150
Acervo do Encontro
e passo aos olhos nus ou vestidos de lunetas passado, presente participo sendo o mistério do planeta
151
09
bibliografia
BARDI, Lina Bo. Contribuição propedeutica ao ensino da teoria da arquitetura. São Paulo, Habitat Editôra Ltda., 1957. BARDI, LINA BO. Lina Bo Bardi 1914 - 1992. Organizador Marcelo Carvalho Ferraz. São Paulo: Empresa das Artes, 1993. GROPIUS, Walter. Bauhaus: Novarquitetura. São Paulo, Perspectiva, 1997. LIMA, Celso; Jallageas, Neide. Vkhutemas: desenho de uma revolução. São Paulo: Kinoruss, 2020. MATTARA, Vanessa; NASCIMENTO, Myrna de Arruda. Metodologia de ensino baseada na experimentação pelas escolas Bauhaus e Vkhutemas. São Paulo: Revista de Iniciação Científica, Tecnológica e Artística. Edição Temática: Comunicação, Arquitetura e Design, Vol. 5 no 1 – Junho, 2015. MUXÍ MARTÍNEZ, Zaida. Mujeres, Casas y Ciudades: más allá del umbral. Barcelona: dpr-barcelona, 2018. RIBEIRO, Darcy. A universidade necessária. São Paulo, Editora Paz e Terra, 1978. VERRI JÚNIOR, Aníbal. A Obra do Arquiteto José Augusto Bellucci em Maringá. 2001. WICK, Rainer. Pedagogia de la Bauhaus. Madrid: Alianza Editorial, 1986.
153