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Goiânia, domingo, 6 de julho de 2014
ESSÊNCIA
Fábio Lima
Peças atuais no armário Com design e tecidos diversos, modelos masculinos e femininos vão do casual ao chique. >> P 22
A revolução de shortinho Anitta aposta alto no lançamento do seu primeiro DVD, intitulado ‘Meu Lugar’ JÚNIOR BUENO
repara que agora é hora... Quem não estava em Marte – ou em coma –, em 2013, ouviu, senão várias, pelo menos uma vez, os versos do hit Show das Poderosas, que alçou a jovem cantora Anitta de ilustre desconhecida à figurinha fácil em bailes funk, rádio, programas de auditório e rodas de fofoca pelo País. Sem ter nenhum álbum gravado, ela conseguiu chegar ao topo das paradas com apenas cinco músicas gravadas e lançadas de forma independente. Agora, ela quer mais: no recém-lançado DVD, apropriadamente batizado de Meu Lugar, ela traz para a receita de “funk melody cantado com voz sensual” uma grande estrutura de espetáculos. O batidão encontrou o show business. As músicas do DVD – 22 ao todo e grande parte composta por Anitta – mostram “o mais” deste trabalho da cantora. E isso não é algo ruim, diga-se. Com letras simples que retratam seu universo e o de suas fãs, ela versa sobre paixões que não deram certo e paqueras pósadolescentes. Mas o seu forte – o que fez a carioca Larissa Macedo de Machado se tornar Anitta – são as músicas mais sensuais, com títulos sugestivos, como Meiga e Abusada e Menina Má. Por trás dessa atitude de “pegadora”, há mensagens sobre empoderamento feminino, autonomia da mulher sobre o próprio corpo, misturadas a uma dose de feminismo. Sim, a própria Anitta confessa ao O HOJE ser uma “feminista conservadora” (leia a entrevista abaixo). Suas letras, mesmo que inconscientemente,
ENTREVISTA
encontram ecos nos mais acalorados discursos sobre a liberdade da mulher. Em Proposta, ela reage a uma cantada agressiva: “Não toque no meu cabelo, você não é escova (...) É, aceita, sai, da mesa. Não encosta não” . Em Cachorro eu Tenho em Casa, ela dispara: “Mas se eu chegar, tu se garante que eu não gosto de moleque. Me pega, mas não gruda que eu não sou chiclete” . Tudo cantado languidamente, quase miando, e rebolando em trajes mínimos. Na parte mais romântica do show, ela inverte o discurso e canta Mulher, do rapper Projota: “Os seus problemas a gente tem que resolver, mas deixa pra amanhã. Porque hoje eu vou te fazer.... mulher”. Quem gosta da quase sempre inconstante música pop brasileira vai gostar de ver que Anitta fez bem o dever de casa e se cercou com profissionais competentes. O cenário do show, que é dividido em “céu” e “inferno”, foi todo pensado para a dinâmica dos 28 bailarinos em cena. As coreografias, com base nos ritmos stiletto, vogue e hip hop, conduzem cada bloco de músicas, e são parte fundamental do show. Além disso, existem referências ao cinema mudo, a histórias de terror, ao mito da caixa de Pandora e ao Cirque Du Soleil. Ninguém pode acusar Anitta de não possuir conteúdo naquele corpo escultural. Para quem não gosta da música da cantora, não há de fato nenhum atrativo no DVD, nem no CD lançado simultaneamente, que possam dissuadilos da idéia. Você não gosta da Anitta, mas sua filha gosta.
“É horrível que rotulem a mulher que usa roupas curtas, como se ela não pudesse dizer nada inteligente, como se existisse um uniforme de intelectual”
Anitta
“Se a mulher não puder tudo, o homem não pode” Anitta, suas músicas falam de empoderamento feminino. Você tem consciência da influencia que elas têm nas gerações de garotas mais novas? Tenho e vejo isso com bastante alegria e, embora eu seja uma mulher feminista, eu me considero conservadora. É engraçado isso, mas eu sou meio conservadora. Mas, para mim, se a mulher não puder tudo, o homem não pode. Eu sou a favor da igualdade de direitos e deveres, mas com respeito mútuo. Eu brigo pela liberdade dos homens, tanto quanto das mulheres, não suporto pensamento machista, e a mulher não tem que ser submissa –mas não sei se ela tem que poder mais que o homem também. Você tem um visual exuberante e usa roupas sensuais. Isso tem a ver com a autonomia da mulher sobre o próprio corpo? Eu tenho claro para mim que cada um faz o que quer com o corpo, com as nossas regras... É horrível que rotulem a mulher que usa roupas curtas, como se ela não pudesse dizer nada inteligente, como se existisse um uniforme de intelectual. As minhas roupas curtas têm mais a ver com a liberdade de movimentos. Para dançar muita roupa só atrapalha. Seu nome é sempre citado em matérias, de forma polêmica, para chamar cliques. O que saiu sobre você, na imprensa, que te deixou mais chateada?
Todos os dias, saem notinhas com coisas que eu não fiz, e eu acho que isso faz parte de um ciclo dessa nova sociedade, que só pensa em audiência, em atingir público, em ganhar clique. Isso acaba viciando o público em polêmicas, porque polêmica vende mais. Ninguém pensa de que forma isso pode influenciar, no que pode resultar na vida de quem se fala e na de quem lê. Isso é triste, mas a vida segue. O show do DVD é dividido em duas partes: o céu e o inferno. Qual o seu pecado favorito, e o que é o céu para você? O meu pecado favorito é a gula: adoro comer! E ver meu trabalho reconhecido, seja uma composição minha, um show, a ideia de um clipe, é o meu paraíso. O cenário pop brasileiro é feito de algumas grandes ondas seguidas de momentos em que nada novo acontece. Para você, qual o futuro do pop? O futuro já está acontecendo, já tem gente nova dando continuidade. O que precisa é de uma massa de pessoas que dê continuidade ao ritmo. Para mim, o que eu faço, que é o funk melody, veio pra ficar, e há muita gente boa fazendo isso. O que eu procuro nos meus shows é cantar mais coisas, MPB, R&B, rap, que eu faço com o Projota. Tem que fazer tudo. Os artistas americanos, de que a galera gosta, cantam de tudo.
Jorge Bispo/Divugação