Trilhos 1

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Goiânia, quinta-feira, 21 de agosto de 2014

ESSÊNCIA

Três dias de rock pesado Bolshoi chega a dez anos de existência com maratona de shows, de hoje a sábado, como o The Mission. >> P 20

Nos trilhos da memória Estação responsável pelo desenvolvimento de Goiânia está abandonada; glamour de outrora hoje é só saudade Fotos: Fábio Lima

JÚNIOR BUENO

De Leopoldo de Bulhões uem mora em Goiânia há mais de 15 anos provavelmente se lembra de quando os trens atravessavam a cidade. O trânsito parava durante vários minutos para passarem as composições carregadas de todo tipo de materiais, de minério a farinha de trigo. Quem vive aqui há mais de 30 anos, deve se lembrar de quando era possível fazer uma viagem de trem, saindo da Estação Ferroviária ali na Praça do Trabalhador de manhã e chegar a Catalão, a cerca de 220 quilômetros de distância, só dali a oito ou nove horas. É possível que haja ainda alguns moradores que se lembrem de um tempo anterior a este, antes de a ferrovia chegar à capital em 1952. Nessa época, quem queria chegar ou sair de Goiânia ou receber alguma encomenda vinda de fora tinha um destino certo: a vizinha Leopoldo de Bulhões. Quando foi criada em 1933, a estação de Leopoldo de Bulhões era a última parada antes de Goiânia e, embora a ferrovia prosseguisse até Anápolis, onde chegou em 1935, era em “Bulhões”, como a cidade é chamada pelos locais, que chegava grande parte do material usado na construção da capital naqueles anos. Imagine o trabalho que era ir de carroça ou em um dos raros carros de então, numa estrada acidentada e poeirenta – quase inexistente, praticamente uma picada dentro da mata – e voltar carregando peças de mármore, prataria, tecidos nobres e todo tipo de artigos vindos até mesmo da Europa, além de alimentos que não se encontravam por aqui no Cerrado. Uma aventura constante para os pioneiros que ajudaram a construir Goiânia, uma cidade que pretendia trazer modernidade para o centro do País. Este também era o objetivo da Estrada de Ferro Goyaz, que foi fundada em 1909 em Araguari, (MG) e chegou a Goiás em 1912. A história desta ferrovia em Goiás atravessa o século 20 e é cheia de esperanças, alegrias, dificuldades e frustrações. O jornalista Samuel Straioto, estudioso de tudo

Prédio da estação de Leopoldo de Bulhões pertence hoje à Ferrovia Centro Atlântica, mas já foi repassado à prefeitura, que pretende revitalizá-lo

que se refere à Estrada de Ferro Goyaz, conta que o objetivo inicial era que a estrada de ferro, vinda de Araguari, atravessasse o Estado e chegasse até Mato Grosso, e, de lá, ao Paraguai. Assim, seria possível destrinchar o País do interior até os portos do Rio de Janeiro, através de algumas baldeações, facilitando tanto a entrada de produtos como a saída de matéria-prima. Em 1909, a ferrovia partiu de Araguari e chegou em Goiás em 1912, pela cidade de Anhanguera, no sudoeste goiano. Várias estações foram construídas ao longo das décadas seguintes em cidades como Catalão, Goiandira, Ipameri, Pires do Rio e Orizona, incluindo uma ponte sobre o Rio Corumbá. Em Vianópolis, foram construídas três estações. Naquela época, uma linha de trem era considerado um avanço rumo à modernidade, uma estação de trem era como a praça da cidade, aonde todo mundo ia para se informar, para ver as novidades. “A linha férrea foi o primeiro meio de comunicação de longa distância do Estado”, diz Straiotto. E os benefícios dessa modernidade logo agradaram os moradores da cidade. Cada um desses municípios tinha interesse que a estação final fosse construída em seus limites, pois assim a região se desenvolveria mais. Segundo ele, alguns trechos foram feitos sem o melhor planejamento de área, fazendo com que a obra demorasse mais. Isso fora uma paralisação das obras entre 1924 e 1930. Mas o que era considerado um grande avanço em termos de mobilização de pessoas e transporte de mercadorias acabou por ser ultrapassado por outros recursos ainda mais modernos. As novíssimas autoestradas começaram a chegar e, com elas, linhas de ônibus e os velozes automóveis tomaram a vez dos trens. O charme de fazer uma longa viagem de trem, com direito a refeições nos vagõesrestaurantes acabou sendo suplantado pela praticidade, num mundo que ficava cada vez mais rápido. CONTINUA NA PÁGINA 17

Venerando, 94, manobreiro da estação, aguarda ansioso a revitalização do lugar


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