Indíce
MARÇO 2024
CAPA....... Fernando Corrêa dos Santos
04 ....... O Mar Logo Ali | Ana Gomes
06 ....... Pano para Mangas | Margarida Vargues
08....... Cantinho do João | João Correia
10 ....... O Graal | Margarida Seabra
12 ....... Ré em Causa Própria | Adelina Barradas de Oliveira
14 ....... Você corta a etiqueta | Margarida de Mello Moser
16 ....... Flores na Abíssinia | Carla Coelho
20....... A mulher angolana | Pitra Bondo
24....... Folheio um livro | José Luis Outono
26....... Privacidade | Nelson Escório
28....... Entrevista | Margarida Vargues
34....... Entre Linhas | José Carlos Ribeiro da Cruz
35 ....... Entre Linhas | Lícinia Quitério
36...... Desenhos em toalhas de papel | Henrique Vogado
DIRECÇÃO:
ADELINA BARRADAS DE OLIVEIRA
DESIGN E PRODUÇÃO:
DIOGO FERREIRA
INÊS OLIVEIRA
SITE:
ISSUU.COM/JUSTICACOMA
FACEBOOK:
JUSTIÇA COM A
Editorial
ADELINA BARRADAS DE OLIVEIRAA JustiçA com A de Fevereiro quis chegar a vós só em Março pelo significado que ganha o Mês da Primavera com o dia da Mulher
Não basta ser o mês da Primavera, do renascer do criar, da Terra Mãe, é preciso que se diga que é o mês da Mulher
E é por ser o mês dela que é o da criação, do renascer, da força de quem não desiste.
A capa deste mês de Fevereiro em Março é o convite à leitura de textos sobre mulheres que fazem escolhas entre as coisas ou as prioridades da Vida.
De textos sobre a Nostalgia das memórias, e dos locais.
De textos sobre História que é nossa também ( continua)
A revista deste mês de Fevereiro em Março é um convite a exercer o direito ao voto e a dirigir uma Nação.
Temos um texto sobre o Dia do Homem.
Temos um conto que, talvez anuncie um livro, escrito por uma mulher sobre uma leitora de livros e vidas.
A justiça com A traz-nos a carga cultural e a força da mulher Angolana.
E num texto fora do lúdico, abre-nos os olhos para a Privacidade dos nossos Dados e o Poder da Comunicação a par do risco ( continua)
Temos uma entrevista à Nossa Margarida Vargues. Não queriam conhecer-nos??
E falamos muito de livros, e livros e livros ...
Não contamos mais porque não queremos ser spoilers
Adelina Barradas de Oliveira
Num Mês de Março a cheirar a Primavera a Direitos e a Cidadania Esclarecida
E O MAR LOGO ALI
Ana Gomes
SUBIR OU NÃO SUBIR
Estou com as coisas pequenas, as simples, as que não fazem ruído nem ocupam espaço. São mais fieis, agarroas melhor e não fogem tão rápido.
Lídia Jorge, Misericórdia, 2022, D. Quixote
Antónia não aparece na lista dos 120 concorrentes admitidos ao concurso curricular de acesso aos Tribunais da Relação. É através deste concurso que a Juíza de Direito - já lá vão 25 anos - pode ascender na carreira e passar a Juíza Desembargadora, o título dado aos que julgam no Tribunal de Segunda Instância.
Esperou por este momento durante anos e só ao fim de um quarto de século como Juíza é que teria alguma hipótese. Seria para apresentar o requerimento e preparar-se, já que é a progressão normal e pretendida por qualquer Juiz.
No que parece um paradoxo, Antónia pondera os prós e os contras.
Adora julgar em primeira mão, a proximidade temporal do caso, o contacto com as testemunhas, as partes, os advogados, a especialização desenvolvida com a experiência, o ambiente, os colegas, a proximidade de casa que ao fim de uns anos alcançou, o espanto com as histórias que superam qualquer bom romance, a procura da verdade, o processo solitário, finalmente, a decisão.
Se ao menos tivesse 40 anos como o pai quando se tornou Senhor Desembargador … É verdade que fez outras coisas socialmente relevantes e que para si não eram discutíveis, como ser mãe de duas meninas adoráveis.
As meninas adoráveis cresceram e para a família não seria um problema deslocarse uma vez por semana ao Tribunal de Guimarães, Porto, Coimbra, Lisboa ou Évora, mas para si é um problema.
O ritmo de trabalho das últimas décadas cansou Antónia.
Não se vê a ter de fazer viagens que podem levá-la a percorrer centenas de quilómetros à ida e depois à vinda. Não tem carta de condução nem motorista. Significa que estaria dependente da rede de transportes públicos e, porventura, ainda, teria de ir de véspera, tudo com despesas que facilmente podiam ultrapassar o que iria ganhar a mais (em 2024, ilíquidos, € 547,66).
Não se vê a ter de discutir com colegas, sem saber até onde ceder, nas deliberações a três, quando na Primeira Instância sempre decidiu sozinha.
Não se vê a ter de pegar em Códigos que não abre há uns anos, quando fez carreira na Primeira Instância, na área cível, e poder vir a integrar uma Secção Criminal, em completa falta de especialização.
Não se vê a dizer que andou mal o Juiz da Primeira Instância quando tem bem presente a complexidade cada vez maior dos processos, o número de processos, a dificuldade da gestão do tempo e a pressão vinda de tantos lados.
Antónia tem 50 anos e quer coisas simples. Antónia não aparece na lista dos 120 concorrentes admitidos ao concurso curricular de acesso aos Tribunais da Relação.
O que é isto de construir memórias? Para que serve?
PANO PARA MANGAS
Se houvesse uma resposta de carácter científico - provavelmente até há, eu é que não a conheço… - não estaria, agora, a divagar sobre o assunto.
Há quem viva de memórias.
Há quem viva nelas.
Há quem as construa, a fim de ter um passado, um presente e um futuro. Afinal, o agora já passou e faz parte de algo vivido.
E o futuro? Também ele chega num ápice e, de imediato, se torna em passado.
MEMÓ RIAS
As minhas memórias mais antigas remontam aos meus dois ou três anos e têm como cenário uma nogueira onde se pendurava uma rede na qual me deitavam e me balançavam, entre brincadeiras e muito riso. Esses momentos foram demasiado curtos, pois do que me lembro a seguir é de uma cama, no Hospital Santa Maria, onde fiz uma visita - com certeza, de despedida - às mesmas mãos que embalavam a rede pendurada na nogueira. Apesar do desfecho, são memórias felizes que não consigo conotar com o sentimento de perda, talvez porque com essa idade não tivesse a noção do que era perder alguém querido ou, em alternativa, porque a dor foi tal que as atirei ao Rio Lethes.
Na pressa dos dias, do acorda, levanta, toma banho, sai para o trabalho, trabalha, regressa a casa, janta, dorme à pressa, … por outras palavras, na rotina do piloto automático, é cada vez mais difícil guardar retalhos de vida para o tal futuro que se escorre entre os dedos como areia seca numa praia quente. Difícil porque é trabalhoso viver, sair da roda do hamster…
Integramos a sociedade do imediato, onde tudo tem de acontecer maquinalmente, onde desprezamos o tédio em prol do estar entretido. Entretido com o quê? Somos incapazes de apreciar a paisagem sem pegar no telemóvel e tirar uma foto “para mais tarde recordar”, já assim dizia a Kodak, ou de estar num grupo de amigos sem a interrupção constante das notificações do smartwatch. Diria que perdemos a capacidade de levar uma conversa até ao fim, de escutar o outro sem ter a necessidade de responder, de nos entendiarmos e ter apenas uma formiga para observar. É como se estivessemos a
minguar e a secar a parte do cérebro que guarda as vivências que dão sabor aos dias.
Estas são as nossas memórias. E as dos outros? De cada vez que um dos nossos parte leva com ele um bocadinho de cada um de nós ao qual nunca teremos acesso. Que lembranças terá o meu tio levado da rede pendurada na nogueira? E da visita que lhe fiz ao derradeiro leito? Nunca saberei. Guardo as que vivenciei, ou pelo menos a forma como as recordo.
Todos temos memórias diferentes dos mesmos momentos. As que se partilham e as que se guardam até à eternidade.
CANTINHO DO JOÃO
João Correia
Nous Aurons Toujours Paris
Já estive em Paris por algumas vezes.
Tive a sorte de visitar Paris, não ao alcance de qualquer um.
Melhor, vivenciei Paris durante a “reentre” nos anos 80, vulgo num engarrafamento à entrada da cidade após as férias de Verão onde me divertia a vislumbrar os veículos automóveis tais como o Citroen do qual eu gostava, especialmente, do “Pallas”. Isto enquanto os meus pais conduziam um Austin Montego agarrados a um mapa (em papel) procurando decifrar as saídas da autoestrada sem GPS (ainda hoje estou para perceber como foi possível viajar sem GPS mas enfim …).
Recordo-me de entrar numa loja na qual o dono parecia uma personagem do “Allô Allô”, com um fabuloso “moustache” na qual o meu pai perguntou pelo preço das gravatas. O senhor respondeu enunciando o preço das mesmas enquanto as exibia nas suas mãos e, rapidamente, o meu pai compreendeu que teria de fazer uma segunda hipoteca sobre a sua casa para pagar uma delas ou, na melhor das hipóteses, vender o “Austin Montego” e regressar, mais o seu agregado familiar, à boleia até Portugal para conseguir pagar uma daquelas gravatas.
Assim, disse ao senhor do “moustache” que não estava interessado a propor-se à insolvência devido a uma gravata ao que o mesmo reagiu como se lhe tivessem mandado meter a Torre Eiffel no … como dizer … no … enfim, não sei dizer cú em francês mas foi mais ou menos essa a ideia.
Reagiu de forma desagradável, por assim dizer.
Enfim, “moustaches” à parte trouxe o Louvre, Montmartre e o Pompidou (entre outros) comigo, dentro de um espaço que não sei se se situa na cabeça ou algures no coração (não é certamente onde o senhor da loja achou que o meu pai o estava a mandar meter a Torre Eiffel …).
Mas ficou, cá dentro e onde já regressei, por teimosia, e onde pergunto sempre num café qualquer coisa como “Je voudrais un petit cafe s’il vous plait” pois, por trauma, desisti das gravatas.
Não sinto pena pois, respirar em Paris é como tocar na lua.
Inesquecível.
Margarida Seabra
Gosta de viajar, sempre que possível, de escrever e ler, particularmente sobre qualquer assunto relativo à época medieval. Tem 64 anos e é licenciada em história
Escreve connosco
...ou as tábuas do conhecimento trazidas por Moisés do Egito e guardadas numa cripta no subsolo do Templo edificado pelo Rei Salomão em Jerusalém, para as preservar… Quem nunca se sentiu curioso com essa misteriosa, mas também a mais célebre das ordens militares medievais, que teve as suas raízes numa conturbada época de violentas guerras entre nobres, mas também de grande despertar para a espiritualidade individual e de retorno às origens do cristianismo e aos seus mais basilares princípios?
Aprender sobre os templários é mergulhar no passado medieval longínquo e seguindo o filão de mil anos de História, em que nem tudo foi sombrio e sangrento, atentar aos sinais, e à simbologia, e sobretudo tentar entender uma sociedade, tão diferente da nossa hoje, em que o acesso ao conhecimento era detido por apenas uma minoria, num mundo em que o objetivo geral era … apenas de sobreviver. Desde a sua fundação a Ordem dos Templários tinha por missão servir o Reino de Jerusalém, zelando com prontidão e
eficiência pela sua segurança, defendendo e protegendo os peregrinos que após 1099 constantemente chegavam à cidade santa. Inicialmente acolheram-se na Igreja do Santo Sepulcro, com os monges regrantes de Santo Agostinho, seguindo a sua regra, mas sem todavia abdicarem da condição de milícia armada. Foi após se mudarem para as instalações do Templo (mesquita de Alaqsa) que o grupo de apenas uma dezena de cavaleiros se tornou independente passando a figurar com estrutura orgânica específica. A julgar pelo sucesso que o seu fundador e primeiro grão-mestre, Hugo de Payens, fez sete anos depois, em 1125, obtendo junto das cortes mais importantes da Europa, extraordinário e imediato apoio militar e financeiro para a Ordem, tudo indica que poderia estar na posse de algo importante, descoberto no subsolo do Templo, abundante em túneis e criptas, enfim, esconderijo ideal para esconder valores e/ou realizar práticas divergentes dos ensinamentos e da conduta católica romana.
Pois que Roma tinha grande controlo sobre a difusão do conhecimento, mesmo naquele que emanava dos scritptoria dos mosteiros onde incansavelmente se compilava, copiava, traduzia e elaboradas relevantes súmulas, não só de carácter científico-religioso mas também artístico; era vital para a sua credibilidade e sobrevivência extinguir todos os resquícios sobreviventes, indicadores de outras culturas e civilizações, identificandoas como pagãs, incompatíveis em absoluto com a nova ordem. Como o conhecimento pessoal e introspectivo conducente à melhoria da condição do indivíduo necessário para alcançar o “paraíso”, estádio perfeito de uma longa ascensão, era considerado magia, condenável e herética, a ocultação tornavase imperiosa, fluindo apenas através de sinais e símbolos compreendidos somente por aqueles que nele tinham sido instruídos ou iniciados.
As suas ligações entre os Cavaleiros do Templo às Ordens de Sião e de Cister têm em comum os ducados da Borgonha, à época região erudita; é a terra de Hugo de Champanhe, poderoso nobre, primeiro financiador e apoiante da Ordem, e seu vassalo, Hugo de Payens, que viria a tornarse o seu primeiro grão-Mestre. Dessa região provém também o Conde D. Henrique que em 1096 tornar-se-ia o primeiro conde de Portucale e Godofredo de Bulhão que viria a ser o primeiro prínceps de Jerusalém.
A Ordem de Sião, a mais antiga era herdeira do grupo de monges fugidos de Jerusalém e acolhidos em Orval, onde fundaram por volta de 1070, com ajuda de apoiantes nobres, uma importante abadia. Associava-se-lhes o conhecimento de antigos mistérios bem como da missão de restabelecer a dinastia merovíngia, que cinco séculos antes ficou ligada àquela região, e à qual Godofredo de Bulhão descendia. Tornaram-se a Ordem de Sião depois da conquista de Jerusalém quando o próprio Godofredo de Bulhão, ao se tornar defensor de Jerusalém, os instalou numa antiga abadia bizantina, na altura em ruínas, no Monte Sião, disponibilizando também um corpo de cavaleiros para os proteger. Nesse local vivera por volta do I século, uma comunidade de judeus essénios, seguidores de João Batista, e onde se presume ser um dos locais do túmulo do rei David; também e segundo a tradição,
onde se realizou a Última Ceia. Existem probabilidades em associar a Ordem de Sião à criação dos Templários, pela posse de conhecimentos que se empenhavam a ocultar, como também pelas ligações à região da Europa Central, nomeadamente Borgonha e Lorena, donde partiu grande parte dos piedosos efetivos da 1ª Cruzada. Portugal nasceu nessa época… Por coincidência (ou talvez não), pois que a sua evolução liga-se às conquistas e consequentes doações aos Templários.
O Conde D. Henrique peregrinou a Jerusalém nos primeiros tempos do Condado e datam pouco depois dessa época, as primeiras doações a ordens militares. Existem testemunhos de que Godofredo de Bulhão confiou ao Conde relíquias sagradas durante essa primeira viagem o que tudo leva a crer a grande relação de proximidade, (talvez até familiar) entre os dois. Em 1104 já existiam Hospitalários e Cavaleiros do Santo Sepulcro instalados no Condado Portucalense, na região de Braga e Guimarães; (era frequente haver cavaleiros associados às ordens monásticas). Pode pensar-se, com forte probabilidade, que a criação do primeiro estado nação na Europa teria como finalidade acolher algo de fulcral importância, dado que o seu primeiro rei, Afonso I, se referia ele próprio como irmão da Ordem e obrigado perante ela.
Tendo presente a constante e incansável ajuda da ordem do Templo na conquista e alargamento do território português, tudo indica que sim. E também a distante localização geográfica da outrora Lusitânia, onde a cultura celta ainda permanecia de certo modo impermeável ao catolicismo, facilitava de algum modo, o refúgio ao braço poderoso das autocracias religiosas centralizadas. Nesse sentido as referências às doações imobiliárias no Condado Portucalense protagonizadas por procuradores do Templo, antes da ordem ter sido reconhecida e aprovada pela Santa Sé, em 1126, parecem provir de uma associação, já à altura bem estruturada e hierarquizada, ainda que a milhares de quilómetros de distância…
Neste período de campanha (só a palavra campanha já dá para pôr em causa uma série de coisas), alguns debates têm sido, se me permitem a expressão que utilizo (a mim que me está vedado utilizar algumas expressões, pronunciar-me sobre política e afins, a mim que me é interdito “dizer coisas”), alguns debates foram, simplesmente, vergonhosos.
É que apesar do meu dever de reserva, eu voto, eu escolho, eu pelo menos vou lá colocar um papelinho com ou sem uma cruz , expressar a minha vontade de exercer o meu direito que, por ser um direito, até pode nem ser exercido, sendo isso também uma forma de o exercer.
RÉ EM CAUSA PRÓPRIA
Mas vou.
Vou, e pago impostos o que provavelmente desde logo me dá o direito a ser exigente na escolha.
E por isso, por irmos, por termos esse direito de ir, é importante ver e analisar os debates serenamente e perceber se só gritam chavões, ou se, os líderes dos partidos candidatos, para além das expressões conclusivas, sabem do conteúdo e das implicações das mesmas. Resumindo rapidamente, se sabem gerir uma Nação.
ASSIM, EM PALAVRAS
MUITO SIMPLES, O DIREITO AO VOTO
Do que nós não temos a noção, nós os que votamos, é que o Soberano, se é que isso existe, é cada um de nós.
A vontade de um País, uma Nação, somos nós. Somos nós que escolhemos como queremos que a Coisa Pública seja gerida, administrada, conduzida e representada.
O grande problema é esquecermos que não podemos abdicar do que já construímos, do que já foi conquistado, das portas abertas. Andamos distraídos?
E não reparamos que os nossos filhos cada vez sabem menos da História, de cultura geral, de Português, de Honra, de geografia, de .... Vida. ... E isso enfraquece-os.
E porque cada vez temos menos tempo para nos informarmos de forma independente, à nossa volta a guerra de informação e a total desinformação ganham tempo e espaço e engolem-nos.
Já repararam que só nos chegam as notícias que convém que cheguem?!
Os Medos que convém que tenhamos?
Já repararam que os mais jovens, estão, numa grande maioria, cada vez mais mecanizados, presos nas informações curtas e imediatas, que de preferência, se espalham de forma rápida e reproduzem de forma fácil para produzirem os resultados pretendidos?
Que sabemos nós de Economia? E de Gestão? De Direitos? Não temos todos de saber de tudo, mas temos de aprender a perceber como nos gerimos. As nossas avós e mães sabiam de gestão de uma família, de uma casa, dos dinheiros curtos que tinham de administrar ....
Pouco me importa neste momento quem tem mais deputados, que alianças irão fazer. Sinceramente não me interessa mesmo. O que me interessa é a qualidade de quem se quer colocar à frente do País, na primeira fila.
Votem, mas não votem nas palavras fáceis, que nos prendem de imediato, nas ideias rápidas que não têm conteúdo, nos populismo, na gritaria que todos por vezes temos vontade de fazer....
E desacomodem-se, os vossos filhos e netos querem um Futuro , não querem uma reforma.
Que sou Juíza, que estou presa a um dever de reserva?
Se for necessário ter de ser um elemento de provocação, porque não?
O Direito de Voto não existe para satisfazer interesses de alguns ou para construir utopias, mas para resolver os problemas das Nações.
O Direito, o de voto, serve para resolver os problemas reais, ao invés de se converter, ele próprio, numa fonte de conflitos.
Fraco será o cidadão que, “mandatado” para zelar, obedeça cegamente a ideologias políticas, se alheie do seu dever de cidadão a ser o verdadeiro Soberano e ter o poder de eleger, de escolher, de dizer que Futuro quer, do que não abdica e do que falta cumprir-se.
É essa a exigência da Soberania.
DIA DO HOMEM
O Dia do Homem
Vou começar por cortar, cortar a etiquetacompletamente.
Leram bem!
De “tesourão” em punho aí vou eu a abrir e a falar, ou melhor, a escrever umas linhas sobre o Dia do Homem.
Pois é, eu sei que não há. Mas podia e devia. Sempre achei tremendamente injusto que em 365 dias ou 366 não houvesse espaço para o Dia do Homem.
Afinal, há dias para tudo e mais alguma coisa, a favor e contra, exaltando e reprovando, festejando.
Parece, pois, da mais elementar justiça, reparar esta falha.
Passou-me pela cabeça, confesso, sugerir que instituíssem o tal Dia do Homem de 4 em 4 anos, em anos bissextos, portanto, só para ver o resultado ...
Vá lá - podem dizer o que quiserem.
MARGARIDA DE MELLO MOSER.
Mas, tanta igualdade requerida, e afinal todos os anos festejamos efusivamente o 8 de Março e aos homens - nem um 29 de Fevereiro ...
Era apenas isto que lhes queria dizer hoje.
À margem e a propósito:
Para que fique bem claro, não tenho nada contra o Dia da Mulher, bem pelo contrário.
Margarida de Mello Moser
A leitora
Espera o corpo. Não mais um corpo, mas o corpo. Vinte e dois anos no ofício não lhe dessacralizaram o momento do encontro entre ele. Com eles.
A sala está a média luz. No centro, a marquesa metálica sobre a qual repousa papel branco ordinário, o mais barato que os dinheiros públicos podem comprar. Ao lado, a mesa com o que vai precisar. Tesoura, lâminas, bisturi. O corpo, o que aí vem como todos os outros, vai-lhe contar a sua história. De trás para a frente. enquanto espera, sentada numa secretária apenas iluminada por uma luz de leitura, abre o livro.
Lembra-se. Outra vez.
Como assim, os olhos negros do pai, entre o intrigado e o divertido.
Leio como a vida, entro de repente na vida das pessoas dos livros como fazemos com a vida das pessoas. Os livros contam as histórias delas, não é?
Calado, o pai. Contudo. Não mais lhe disse o que ela foi ouvindo ao longo dos anos:
Margarida, os livros começam a lerse do princípio, da primeira página e depois segues. Só assim se percebem as histórias que contam.
Para ela não fazia sentido.
Tinha percebido que na vida não há ninguém que acompanhemos desde o seu início até ao fim. Aos filhos vemos o início, os pais estão presentes no início
da história, quando eles tomam o seu lugar no tempo. Contudo. No geral não conhecemos a história toda dos outros, só capítulos.
Percebeu isso com a avó Joana. Pensava que ela tinha sido sempre assim cabelos brancos figura magra e rosto como papel enrugado. Depois, descobriu que não.
Lembra-se.
Daquele dia em que ela e a avó estavam juntas em casa a beber um chá de amêndoas e nozes Margarida sentindo-se grande pois era diferente de quando bebia chá de tília camomila erva-doce em casa dos pais. Então, a avó falou-lhe da casa de chá em Paris onde tinha bebido pela primeira vez aquele chá quando lá tinha estado com o avô em viagem pouco tempo depois de casarem. E mostrou a Margarida as fotografias desses dias. Ali estava a avó magra, sim, com o cabelo negro pelos ombros, olhos de um castanho amendoado e pele lisa. E o avô. Em nada se parecia com o homem gasto pelos anos que Margarida conhecia, fazendo um esforço para sorrir à porta de um restaurante da cidade rodeado de filhos netos e primos. O homem da fotografia era garboso, com o cabelo louro penteado com aprumo e olhos diáfanos. Isto foi antes do teu pai ter nascido, explica a avó. E os tios, pergunta a criança. Também ainda não existiam.
E é nisto que Margarida se fixa e que não a deixa dormir à noite na sua caminha em casa dos pais.
Faz-lhes perguntas sobre a vida que tinham antes de todos, ela, o pai e a mãe, se terem encontrado no tempo. Eles respondem, primeiro distraídos e depois intrigados com aquela curiosidade persistente. E Margarida coleciona os dados. O pai andou na escola, teve um cão chamado Gaspar que morreu atropelado. O pai e os tios choraram muito e nunca mais quiseram ter outro para não sofrerem tanto como naquele dia em que o levantaram do sítio para onde tinha sido atirado pelo automóvel que não parou (não parou, sussurra o pai ainda agora quando conta a história à filha transportado tantos anos depois, mais de trinta, para aquela hora de almoço em que tudo aconteceu). Gaspar não morreu logo. Os tios não conseguiram, mas o pai ficou com ele até ao momento em que deu o suspiro derradeiro de olhos fixos naquele rapaz louro de olhos cinzentos que lhe dava bolachas
FLORES NA ABISSÍNIA
maria às escondidas e que agora estava ali sorrindo a dizer-lhe baixinho que estava tudo bem e embora não parecesse estar tudo bem ia acreditar nele porque o rapaz nunca mentia, disso estava o cão certo. Nos oito anos que tinha vivido com eles, era a única das crianças que nunca faltava à verdade aos pais. Ao contrário da menina mais nova que escudandose no encanto dos seus caracóis castanhos e bochechas carnudas iludia a vigilância parental com vagas informações de que estava estudar na casa da amiga Clara e do filho mais velho que todos os dias chegava a casa tarde porque o autocarro se tinha avariado, tinha havido aula extra na faculdade ou o professor o tinha retido para conversarem sobre o estado do país. A Margarida o pai não disse nada disto. Em contrapartida, contou-lhe outros episódios da sua vida, anteriores ao nascimento dela, contente por partilhar capítulos que só ele conhecia. As sandes com queijo e marmelada que levava para a escola, a desilusão de não ter entrado em medicina, os dias de
férias nas Berlengas com os avós o dia em que viu a mãe da Margarida pela primeira vez à porta do cinema onde ela tinha ido com uma amiga que tinha sido colega do liceu dele. A mãe também contou esse episódio à filha e disse-lhe que não achou o pai nada de especial. Só semanas depois quando se reencontram por acaso em Belém num domingo estival lhe viu o brilho diamantino dos olhos cinzentos e se tomou de amores. E pensar que tinha estado para não ir passear naquele dia, pois doí-lhe a cabeça, dizia a mãe rindo comovida com aquele acaso da vida. Um dia, o pai contou a Margarida que o encontro não tinha sido uma coincidência, mas a resposta a um pedido que tinha feito à antiga condiscípula. Como o pai lhe pediu guardou segredo desta descoberta. E com o tempo até a olvidou. O que ficou consigo foi ter percebido que tinha chegado atrasada à história dos pais e que só indo para trás poderia saber de tudo. E que uma mesma história é contada de forma diferente pelas diversas bocas que a narram.
A leitora
Assim:
O dia estava frio. Ou:
Era um dia de inverno, nem ao sol se estava bem.
Comeu com apetite. Ou:
Não lhe apetecia comer, mas fez um esforço para não desiludir o cozinheiro e deixou o prato limpo.
Aproximou-se do homem e gritoulhe aos ouvidos. Ou:
Tinha tanto medo que desatou aos berros para confundir o adversário.
com ar de que não queria que se lhe dirigisse a palavra, a andarem de carro, a pé ou de bicicleta) continuassem a viver como se nada fosse, como se morte da avó Joana, a sua retirada da história fosse um nada em que não vale a pena determo-nos. Habituou-se com o tempo a esta mansidão com que aceitamos a morte de quem não conhecemos, um pouco como se fosse uma palavra que se apaga de um texto ou uma personagem a quem perdemos o rasto à medida que viramos uma e outra página de um grande livro.
Com o tempo, mas de todo o modo antes de ouvir na televisão especialistas a compreenderem as razões do lobo mau e histórias a justificar o comportamento da madrasta da branca de neve, Margarida compreendeu que só a morte e o nascimento são factos absolutos que não admitem interpretação. Todos os demais, como cartas de um baralho, podem ser misturados, alterados, empalidecidos ou adoçados, pela imaginação do narrador.
A morte da avó Joana. Aqui Margarida compreendeu que conforme as pessoas podiam chegar à história das outras muito depois da mesma ter começado também saíam quando aquela ainda nem estava no meio. Como avó saiu da sua, dias depois de ter feito dez anos.
Nos primeiros dias após a morte da avó Joana parecia-lhe estranho que as pessoas (todas as outras pessoas, fossem altas, baixas, gordas, magras, com ar simpático ou
Foi a partir do dia em que disse adeus à avó Joana que Margarida passou a ler os livros a partir do meio, avançando de modo alternado entre as primeiras páginas, seguindo para as últimas e voltando outra vez ao princípio.
Começou num final da tarde, ao folhear o velho exemplar de As atribulações de um chinês na China que tinha sido da mãe e era agora seu. Distraída, iniciou a leitura quando Kin Fo se arrependeu da promessa a que obrigou Wang a fazer-lhe. Como reverter a situação? Com que medo e angústia acompanhou Kin Fo até ao desenlace da aventura. Só no fim se interrogou o que teria levado ao estranho contrato entre os dois homens. E só então se decidiu a procurar a resposta nas páginas iniciais do livro.
Não pensou muito no assunto, mas o que tinha sido uma leitura distraída tornou-se um hábito, uma bizarria, uma teima conforme quem apreciava a situação. Margarida, impassível e segura, prosseguiu as suas leituras de livros como da vida, como explicou ao pai, à mãe, aos professores, psicólogos, colegas, amigos e pessoas com quem
entabulava falava nos variados lugares onde as conversas acontecem. Como esta dos tempos em que Margarida já longe dos dez anos teve com um jovem enquanto esperavam pelo 38. É bom o livro, pergunta ele, não sei, diz ela, estou só a começar, espero que sim, mas vais a meio, riposta ele, comecei agora, começo sempre os livros pelo meio, porquê, pergunta ele intrigado, porque é o que me faz sentido. A conversa fenece, como quase sempre acontece quando falamos no que para nós faz sentido a pessoas para as quais o que nos faz sentido não tem sentido nenhum.
Margarida conheceu Mr Darcy antes de suspeitar da existência de Moss Elisabeth
Bennet, mas logo suspeitou de que aquele homem tinha que casar com uma mulher que visse quem ele era, um rapazinho que percorria os corredores da propriedade da família com saudades da mãe que tão novo tinha perdido. Soube que Madame Bovary seria infeliz no casamento assim que leu o seu sonho de ser pirata e pensou que Raskolnikoff devia ser uma boa alma mal influenciada bem antes de descobrir o seu fascínio por Napoleão.
Admitia Margarida que o método de leitura escolhido trazia dificuldades ocasionais. Funcionava bem com romances (muito em particular Sartre, Vergílio Ferreira e Clarice Lispector), manifestos surrealistas, futuristas e discursos políticos (sobretudo lidos em voz alta). Era mais complexo de adaptar em textos filosóficos posteriores ao século XIX. Indiferente para desbravar manuais escolares. E um desastre para policiais.
Este falhanço continua a intrigá-la. Porque na vida basta-lhe olhar para o corpo que apenas lhe chega no fim de tudo o que tinha para viver para saber tanto sobre ele. Morreu em casa durante o sono. Mas o Esgar no rosto mostra o sofrimento que os comprimidos que vai encontrar no estômago do defunto apenas confirmam. Bateu com a cabeça ao mergulhar no ribeiro ao fim da tarde com amigos. Aventureira desaventurada, era a alma que possuía esse corpo.
Margarida espera o corpo do homem encontrado morto em pijama na floresta circundante. Ouviu a notícia ontem na rádio e na televisão, matraquearam toda a noite a inusitada notícia. Nada se sabe sobre ele. E todos esperam que Margarida o leia e é da sua leitura que emergem as pistas que vão levar a reconstituir a vida que o animou. E, lá está, porque é que este método (do fim para o princípio) corre tão bem na vida e falha estrondosamente (tem de o admitir) no
Abre o livro pousada na secretária numa qualquer página ao acaso. Lê E morra em paz. Segue dai para cima até chegar ao primeiro verso Emagreça em quinze dias comendo bolas de Berlim.*
* In, Satírica, Mendes de Carvalho, Edição Círculo de Leitores, 1974.
PITRA BONDO
Pitra António dos Santos Bondo, Escritor, Jurista, Advogado Estagiário na Sociedades dos Advogados Pacheco de Amorim, especialista em Jurisprudência e Investigador em Ciências Políticas e Relações Internacionais pela Universidade Católica Portuguesa.
Nascido em 23 de maio de 1984, no município de Sanza Pombo - Uíge, Angola, filho de António dos Santos Bondo e Elisa Garcia Teca Bondo, ambos naturais de Angola.
Os seus pais foram assassinados no dia 20 de janeiro de 1987 aquando do ataque armado contra a província do Uíge, ficando, desde essa data, órfão de pai e mãe, foi educado e formado pelos Padres Capuchinhos em Angola, onde foi seminarista até 2005.
Em 2007 foi-lhe concedida uma bolsa para prosseguir os seus estudos em Odessa (Ucrânia), onde permaneceu até 2013, ano em que se licenciou em Direito, especializado em Jurisprudência e Relações Internacionais e Jurídicas, pela Odessa National Academy of Law.
Em 2015 obteve o grau de Mestre em direito Internacional Público e Europeu pela Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa, no Porto. Atualmente, estudante investigador em Ciências Políticas e Relações Internacionais no Instituto de Estudos Políticos da universidade Católica Portuguesa, defendendo a tese de doutoramento sob o tema «O
Processo para a Consolidação da Democracia em Angola entre 1975 e 2017 e o Papel da União Europeia
No ano letivo de 2019/2020 concluiu a pósgraduação em Direito Intelectual pela Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa.
Artigos científicos publicados: 1. A vida para aqueles que não vivem, mas apenas sobrevivem. 2. O porque é que as leis falham
A MULHER ANGOLANA
Durante séculos, fomos percebendo que as mulheres são postas à parte daquilo que é a sua natureza existencial. Continua a haver nações onde as mulheres não podem fazer parte da vida ativa da sociedade. Ou seja, há nações onde as mulheres continuam apenas a desenvolver atividades de procriação, atividades domésticas, atividades que tem a ver com o cuidar dos filhos. Portanto, durante décadas a Humanidade foi consensual, até mesmo em nações que professavam, a doutrina de Cristo, chegando a dizer que as mulheres não podiam desenvolver cargos importantes, porque, tal como Jesus nunca teve nenhuma
mulher como discípula mesmo sabendo que Jesus nasceu de uma mulher.
A mulher angolana é compreendida como exemplo da Mama Muxima, a mulher criadora, carinhosa, tradicionalmente perfeita, incansável, cheia de energia e entusiasmo na luta do diaa-dia sobre o resgate dos valores humanos. Há motivos credíveis para escrever este capítulo a favor da mulher angolana, uma vez que é da sua realidade que se fazem as minhas origens e, desta forma, procuro enaltecer o quanto é visível, sobre aquela sabedoria tradicional, sobre a educação dos seus filhos,
A MULHER ANGOLANA
sobre a preservação da sua cultura regional e nacional, pela preservação dos valores e da cultura do cristianismo, o que faz da mulher africana o cerne da cultura cristã. Olhando o dia-a-dia das mulheres angolanas carregadas de energia desde manhã cedo, na busca do pão para alimentar os seus filhos, de forma digna e justa, transbordando de alegria e sabedoria.
Quem é esta mulher negra, africana e angolana? Só sei dizer, com um enorme entusiasmo: «é uma mulher vencedora.».
Olho para a mulher angolana nas ruas de Luanda, a nossa cidade das quitandas, sobre o encanto das nossas mães zungueiras, com o seu balaio à cabeça e filho na escota debaixo de um sol ardente, mesmo assim sempre motivadas, cheias de entusiasmo por tudo o que fazem.
Amar a pátria é amar o que fazemos e aquilo com que contribuímos em nome da pátria. Os filhos da pátria devem proteger a pátria e, ao fazê-lo, reconstroem a esperança.
A mulher mãe é aquela que cria
e protege com toda a sabedoria e inteligência, baseando-se nos nossos ensinamentos tradicionais e nos modernos, tanto na vida particular como na pública, na construção e na educação de uma sociedade democrática de respeito, de tolerância, de valores morais, éticos e culturais, de responsabilidade social, de compromisso com Deus e com o Homem, de modo a incentivar o bemestar comum.
É preciso que a mulher angolana continue a ser ela mesmo, verdadeira e responsável, que continue a ser o espelho de Angola, a esperança do renascer dos valores que foram grandemente usurpados pela força da globalização. É preciso regressar às origens, incentivar os filhos a voltarem a ser como antigamente, seguindo os bons exemplos dos mais velhos, voltar à cultura de oração, frequentar a catequese, ou seja, ler os estudos Bíblicos, respeitar as diferenças e promover o bem para todos.
Esses valores são-me absolutamente familiares e, em especial, o da mulher como mãe criadora e protetora. É devida aqui uma palavra muito especial à mulher “zungueira”, à “mulher quitandeira de Angola” que, pelo seu amor maternal, ou seja, sempre atenta às dificuldades do dia-a-dia, luta com enorme determinação e esperança, provando que tudo é possível quando existe vontade e se unem esforços.
É preciso educar as mulheres mais jovens, pois serão elas que hão-se preservar o futuro da humanidade e que têm a responsabilidade de levar por bom caminho as novas gerações. Educar a sociedade é educar os jovens e é salvaguardar a esperança no futuro da humanidade.
É de a responsabilidade da mulher angolana continuar a transmitir os seus valores às novas e às futuras mães, dizendo-lhes, aconselhando-as acerca de qual deve ser o seu próximo passo. Este papel exige a cada mulher que contribua de forma ativa na vida harmoniosa das nossas famílias, das nossas amizades e dos nossos compromissos com a nossa terra mãe, a nossa pátria Angola.
Sempre que isso se mostre necessário, há que relembrar à mulher angolana que a vida digna de uma sociedade, de um Estado, de uma nação resulta imenso da dignidade e da perseverança da mulher. Se necessário, há que fazer tudo para que se consiga salvar a dignidade da mulher em toda a esfera social. É também justo que se diga que o futuro digno da mulher angolana vai depender muito da postura de cada uma das mulheres, da forma como constitui e como educa a sua família, da forma como se relaciona com o meio em que vive e de como age para conservar a sua responsabilidade relativamente ao mundo social.
Em suma, quem deve proteger a mulher nos seus direitos e na sua dignidade é, em primeiro lugar, a própria mulher, depois, os seus admiradores, que deverão ser todos os homens sem exceção e os seus filhos em particular e, por último, a mulher deverá sempre ser protegida pela lei, pela mesma lei que protege todos os outros seres humanos.
Falar da mulher angolana é falar da vida e da esperança do futuro em Angola, é falar em tudo que essas criadoras fazem e lutam a favor do bem social angolano. Para mim, a mulher angolana é uma mulher divina e digna. Assim, é obrigação de cada homem angolano saber cuidar e respeitar a mulher angolana.
FOLHEIO LIVRO IOFOLHEIO LIVRO IOFOLHEIO
FOLHEIO UM LIVRO
FOLHEIO UM LIVRO FOLHE IO UM LIVRO FOLHEIO UM LIVRO FOLHE IO UM LIVRO FOLHEIO UM LIVRO FOLH EIO UM LIVRO
FOLHEIO UM LIVRO
folheio um livro na sede de leituras soltas e sonho nas páginas do teu corpo mel onde pontuei tantos parágrafos continuados em traços de flores labiais carentes do teu cair nas razões inquietas de mares nunca iguais no desassossego paz sem capa ou índice nos poemas mudos de prazer sem medos nos delírios do teu abraçar verbo nos olhos sem rima em sorriso cetim
nos brotares das raízes interiores gritados nos substantivos febris de estórias únicas e o livro esgotou enquanto a cor do céu tingia-se de chuva carpida no apagar da tinta azul permanente no esboço indefeso de palavras quebradas abro um livro para ler em sabores unos e não consigo passar do capítulo de uma noite que nunca foi
José Luís Outono
NELSON ESCÓRCIO
PRIVACIDADE (PARTE I) ÁRDUAS (IN)CONSISTÊNCIAS
“Não existem factos, apenasinterpretações.”
Friedrich Nietzsche
“Qual a melhor, mais segura aplicação de mensagens?” — a (distanciada) vencedora do cardápio de curiosidades suscitadas durante o meu exercício de funções no Centro Nacional de Cibersegurança.
A resposta honesta — mas frustrante e até cáustica na aparência — requer justificação prévia.
A generalidade da humanidade recorria, para comunicação entre dispositivos móveis até há (apenas) cerca de década e meia, aos serviços de mensagens curtas (SMS) disponibilizados pelos prestadores de comunicações móveis. E mais década e meia atrás, trocava cartas (ou, mais sofisticadamente, faxes e telegramas) sem tormentas suscitadas pela pouca fiabilidade da cola dos envelopes ou a desonestidade do carteiro ou prestador de serviços.
Comunicava.
Vivia.
Muito — argumentar-se-á — mudou. Decerto. Mas, para o que importa, exatamente o quê?
Primariamente, entende-se, a perceção de que mais e melhor segurança diferencia qualitativamente a nossa individual existência numa contemporaneidade pejada de ruído, ansiedade, equívocos.
Por isso muitas das mais populares aplicações digitais implementam alguma forma de cifragem da informação e comunicações; vendem-no como elemento diferenciador. Mas o número de telefone em si, o endereço IP, a identificação do equipamento, os dados de uso ou a geolocalização são quase sempre registados. E partilhados. Ou vendidos. Inadmissível — suscitar-se-á. Ou sugerir-se-á.
Mas dubiamente.
Porque quem quase exclusivamente acede ou beneficia dos pessoais dados de cada utilizador é o próprio prestador de serviços para monetarização dos serviços e perpetuação da gratuitidade que tanto coletivamente veneramos. Apenas muito residualmente, e num contexto democrático, serviços de informações no âmbito das suas legais atribuições; ou o poder judicial, no cumprimento da sua função soberana. Para quem sinta, ainda assim, o apelo pela absoluta escuridão criptográfica dos seus dados, palavras, ideias ou emojis, sugere-se a adoção uma aplicação que se formalmente
Sentir-nos-emos dessa forma mais tranquilos num universo de intranquilidades?
Seguros?
(Esgotados?)
Sobretudo, e de alguma forma, mais felizes?
distancie de motivações comerciais. Ou a opção pelo pagamento de uma subscrição. Mas é primordial a consistência: cumprirá também regularmente verificar as condições do serviço; recorrer em permanência a uma VPN (outra subscrição...) com políticas e servidores geograficamente seguros; cifrar emails e documentos; considerar cada (reiterado) pedido de acesso ou utilização de dados no âmbito do RGPD. E — claro — esquecer as mais populares redes sociais. Bem-vindo ao mundo dos que ativamente promovem e implementam a mais rigorosa confidencialidade da sua vida digital.
Quanto nos verdadeiramente importa a individual privacidade? Quanto quereremos efetivamente sacrificar por ela?
E qual, a final, a melhor aplicação de mensagens?
“A sua”.
(O presente texto constitui um excerto adaptado de uma dissertação do autor e de um livro, a editar em breve, com o mesmo nome: “Revisitar a Escuridão”)
Entrevista Margarida Vargues
Por: João Correia
Não te peço para me descreveres a tua vida mas sim para me identificares uma música, um livro e um local. Por fim, queria que me explicasses a razão de ser da tua escolha.
A minha vida é feita de pequenos retalhos que, costurados, já fazem uma manta jeitosa para me aconchegar a velhice. No que concerne a música, minha cultura musical é, francamente, medíocre, porém se tiver de pensar em apenas uma, a primeira que me vem ao coração é “More than Words” , dos Extreme - uma banda que nem sei se ainda existe. Leva-me até Fevereiro de 1994, a uma Áustria praticamente “desconhecida” - onde os turistas íam na meca de cangurus - , e ao escorregadio percurso que fazia até à universidade que frequentava, enquanto aluna de Erasmus. Cantava-a em plenos pulmões para me ajudar a suportar os -20Co que se fizeram sentir nesse Inverno. Se a escolha da música é difícil, a do livro é hercúlea, como tal, vou focar-me nos últimos seis anos de leituras. São tantos... “As Travessuras da Menina Má” , de Vargas Llosa porque me revi em muitos momentos do personagem secundário, daquela trama, de seu nome Ricardo Somocur. Embora “leve”, tem retoques de malvadez que um escritor de cordel não seria capaz de reproduzir. Ainda que já tenha lido, com certeza, obras muito melhores, esta ferrou-me. Eleger um lugar é fácil e, para quem me conhece, bastante previsível: Londres. Desde a primeira vez que lá estive, muito antes de lá ter vivido. Não sei explicar, mas sabe-me a casa. Gosto da sua luz taciturna, sem sombras e fria nos dias de chuva e do azul luminoso do céu nos dias de primavera e verão, quando as noites são demasiado curtas.
Numa vida paralela o que gostarias de fazer? Escolherias esta época para viver ou optavas por uma outra qualquer? Se sim, no passado ou no presente?
Porquê? Devido à estética, referências? Outra razão qualquer?
Numa vida paralela... Utopia das utopias: ter uma tasca ou um bar de praia daqueles em cima da areia. Sem cardápio. Cozinhar-se-ía com a subida ou descida maré. Sei que, na realidade, isto é impossível, pois o mundo da hotelaria é muito mais complexo que um fogão ou umas frutas espremidas decoradas com glitter ou sombrinhas de papel, de acordo com moda em vigor. Contudo nenhuma destas duas se coaduna nem com o século XIX de Jane Austen ou das irmãs Bronte, nem com os anos 20 ou a década de 50 do século passado, épocas nas quais me vejo a viver mais pelo glamour da moda, e estilo arquitectónico e artístico, que pela política e, muito menos, pela ausência de condições, direitos humanos e toda uma série de regalias actuais.
Entrevista
Margarida Vargues
O teu super herói favorito, ou super heroína? Pode ser real ou fictício. Pode ser provável ou improvável, ou seja, pode ser o homem aranha como Gandi, o que importa é explicares o seu super poder, e porque é que esse mesmo super poder te atrai
Todas as Mães do mundo!
Ser Mãe é um super-poder que nem os heróis de capa e espada conseguem suplantar. As Mães têm super-poderes que mais ninguém tem: elas percebem a alegria e a tristeza, o calor e o frio, a saúde e a doença, regojizam-se para que o mundo as oiça e sofrem em silêncio para não serem notadas; para o bem e para o mal, têm ainda o poder a invisibilidade - são e estão, sem que sejam notadas.
Em prol das suas crias adquirem capacidades quase sobrenaturais e ainda têm a coragem de lhes dar asas para que, um dia, também elas possam voar. Deve ser, com certeza, fantástico ter e ser este super-poder!
Achas que a gastronomia pode ser equiparada à literatura? Se sim, porquê? Poderias identificar três pratos com três livros? Ex. O arroz de favas com o Eça de Queirós na cidade e as serras.
Sobre este assunto não tenho a menor dúvida que sim. São duas artes vestidas, quer de rigor, quer de improviso, sucessos e fracassos. São ambas providas de eternidade - de alguma forma não morrem, passam de geração em geração. As boas histórias são contadas à mesa e todas as boas histórias passam pelo prato. Eça de Queirós é exímio em juntar estas duas artes. Segundo Maria Antónia Góis, no seu livro À Mesa com Eça de Queirós, “o jantar é a refeição mais repertoriada - 560 vezes, a que se segue o almoço 232 e 176 ceias! O café é apreciado 209 vezes pelas personagens, o chá 185, o pão 192, sopa 77, etc”
Destacar três pratos para três livros? O que será que encontro na minha memória pantagruélica?
Antes que o café arrefeça, de Toshikazo Kawagushi - não é um prato, mas uma chávena de café que tem o poder de fazer viajar no tempo quem a toma, com a condição de o mesmo não poder ficar frio. Nesse hiato de tempo, a viagem não pode mexer em acontecimentos que alterem o momento presente. Intrigante e nostálgico, já que, por norma, este tipo de viagens serve para, de alguma forma, querer consertar ou remediar algo, pelo menos no nosso imaginário. Os Maias, de Eça de Queirós - obra que revisto amiúde e da qual nunca me canso.
Entrevista
Margarida Vargues
Gosto de imaginar o episódio do Jantar no Hotel Central em que, por ser tarde para absinto, é servido vermute antes da refeição. O que se segue é sumptuoso: uma sopa, seguida de Sole Normande, logo depois Poulet aux Champignon e, finalmente, Petit pois à la Cohen. Apesar de haver referência ao momento da sobremesa, não se sabe qual é. O jantar é acompanhado por champanhe, finalizado com café e rematado com conhaque. “Chique a valer!”, sem sombra de dúvida. A senhora das Especiarias, de Chitra Divakaruni. Li-o há muitos anos e dele ficoume o perfume das especiarias, as quais apenas deveriam ser usadas sob supervisão de uma Mestra. Cada uma tinha a sua subtileza, o seu encanto e a sua magia.
Fala-me das redes? O que dirias a um velho jarreta que detesta redes sociais a favor destas e o que dirias a um adolescente que as adora em desfavor das mesmas?
Os velhos jarreta são isso mesmo, jarretas - não ouvem a opinião de ninguém porque eles é que sabem. Ainda assim, mostrar-lhesia que nas redes se aprende imensas coisas interessantes, desde algo tão simples como lavar uma frigideira sem lhe arrancar o fundo a algo mais ousado, como a possibilidade de ir de Portugal à Patagónia de comboio, pois neste mundo intangível não há impossíveis,
desde que o filtremos e o saibamos seduzir. Quanto aos adolescentes, que nasceram dentro das ditas redes e, já muitos por causa das redes, dir-lhes-ia que há vida para além do ecrã, que ali nada é palpável. Falar-lhesía dos malefícios para a saúde mental e física, contudo como os adolescentes não ouvem conselhos - nem os que são pedidos - engendraria algo que validasse a minha opinião e os deixasse a pensar nas minhas palavras. Eles acham sempre que os tais velhos jarretas “não percebem nada disto” - é a chamada “generation gap” que se estudava
nas aulas de inglês dos anos 80 e que também nós, adolescentes nessa época, negávamos: os pais, avós, tios e afins eram uns chatos!
Consideras-te espiritual? Em que sentido? O que é a espiritualidade para ti?
Sim, mas... Nem sei bem. No conceito que tenho de espiritualidade o “shanti-shanti-zen” que está tão difundido nas redes da questão
anterior, em livros ou séries não tem lugar. Prefiro a liberdade de sair porta fora sem destino, sentar-me confortavelmente com o meu bloco, pincéis e aguarelas ou até ir ao frigorífico, ver o que há por lá e cozinhar do que me sentar no chão de pernas cruzadas, entoar ou ouvir cânticos, rodeada de velas e incensos para meditar, já que meditar é estar comigo durante o tempo que for necessário.
Também não me convidem para “abracinhos”, porém há poucas coisas tão boas e poderosas como um abraço apertado, sentido, partilhado,...
Também não uso as palavras “grata” e “gratidão” como se essas me tornassem uma pessoa melhor - continuo a preferir o “obrigada”, pois a gratidão sente-se, não se apregoa de uma forma quase gratuita. Chego a pensar que a palavra foi prostituida. Aprendi a apaziguar-me de uma forma tranquila, quero o bem a quem me rodeia, ajudo quem precisa - sem fazer disso uma bandeira da minha existência. Será que isto faz de mim uma pessoa verdadeiramente espiritual?.
JOÃO CARLOS RIBEIRO DA CRUZ
“Lenocínio VS Prostituição
Visão dos Magistrados e Polícias.”
Um livro que fala num fenómeno emergente na Europa que causa uma grande danosidade, e que mexe com todos nós.
Vivemos numa época de globalização que, apesar dos muitos aspetos positivos, arrasta também consigo os malefícios de uma sociedade mais permeável a mentes criminosas. Numa área em que a legislação, jurisprudência e suporte documental escasseia, surge uma obra que pretende colmatar esse vazio.
Resultante de um estudo exaustivo sobre a temática polémica, que envolve estes crimes hediondos. Fruto da sua abrangência nas importantes áreas de Trafico de Seres Humanos para Exploração Sexual, Auxílio à Imigração Ilegal, Exploração Laboral, Escravidão, Crime Organizado, Corrupção e Violência Doméstica, associado quase sempre ao Lenocínio, em que os mais fracos são explorados, às vezes, quase ao nível da escravatura por redes nacionais ou internacionais que, à sua custa, auferem elevados e ilícitos proventos.
O presente trabalho dá-nos conta da realidade
social inerente a este ilícito e, simultaneamente, apresenta as formas que essa criminalidade pode assumir, o modo como e por quem é investigada e permite-nos também saber quais os casos que conduziram a uma condenação e os que levaram à absolvição dos arguidos.
Faz também uma abordagem sociológica do fenómeno da corrupção que se enquadra numa categoria criminológica designada “WhiteCollar Crime” (Crime de colarinho Branco) que é utilizada para agrupar crimes que têm em comum o fato de serem praticadas em meios de elevado estatuto social.
O livro que aqui apresentamos constitui um instrumento de trabalho muito útil para todos os profissionais que se dedicam ao estudo e ao combate do crime do lenocínio, uma chamada de atenção às entidades com competência para investir na prevenção e na repressão de crimes como os aqui tratados, assim como para todos os que se interessam por este tema.
RECOMENDAÇÃO
Qualquer poema da autora seria o encantamento do leitor
É o que a escrita dela faz comigo todas as manhãs
Um hábito, se calhar um vício, que ganhei de há uns tempos para cá, procurar-lhe na escrita a força do dia que começa
E é sempre tudo tão bem dito, mesmo quando lhe custa dizer
E tem mais, é sempre tudo tão bem escrito que dá à alma o alento para sorrir às horas e ao cair do Sol lá atrás, porque, quando trabalho fico sempre de costas para ele…. Como se fosse um guarda costas que me desse a segurança de nunca desistir.
Desde dois livros de tantos outros queria retirar um poema Mas não consigo….
AUTORA: LICINIA QUITÉRIO
Todos falam comigo
Todos me conhecem e todos me descobrem
Todos já viveram comigo num tempo qualquer que deve ser o tempo dos poetas
É isso que os poetas fazem….
Sabem-nos os cansaços e os sítios
As pregas do tempo
As fraquezas da alma
Sabem-nos de cor