62º Edição JUNHO/JULHO 2024
Indíce
JUNHO-JULHO 2024
04....... Bolas de Ouro | Fotografia de José Corrêa dos Santos, texto de Adelina Barradas de Oliveira
06 ....... Ré em Causa Própria | Adelina Barradas de Oliveira
10 ....... Cantinho do João | João Correia
12 ....... O Mar Logo Ali | Ana Gomes
14....... Flores na Abíssinia | Carla Coelho
16 ....... Pano para Mangas | Margarida Vargues
18....... Candeeiro Amigo | José Luis Outono
20....... A redenção por entre rosas e pitangas | Mariana Roque
22....... Entrevista João Correia | Carla Coelho
26 ....... O lago | Lícinia Quitério
28 ....... Privacidade (parte III) | Nélson Escório
30 ....... Entre Linhas | Recomendações literárias
DIRECÇÃO: ADELINA BARRADAS DE OLIVEIRA
DESIGN E PRODUÇÃO: DIOGO FERREIRA INÊS OLIVEIRA
Editorial
DIRECÇÃO: ADELINA BARRADAS DE OLIVEIRA
A JustiçA com A anda num virote
Desde que passou a ter um número de coleção em papel ( de qualidade!) passou a ser ainda mais atrativa, sedutora… e viciante… vicie-se.
Sai novamente online e ao fim de 10 anos consegue fazer férias com imensos projetos na manga. Voilá!
Este mês, de férias à porta, abrimos influenciados pelo futebol e, de forma provocadora falamos da servidão voluntária a que nos vamos sujeitando.
Felizmente há luar um clássico?!) e temos vocações que salvam vidas.
Porque adoramos livros deixamos uma proposta estival (!!!!) e deixamos um texto de amor aos livros, aos nossos, aos vossos e aos de quem os apanhar.
Continuamos pelas páginas refletindo em poesia e com uma estreia entre candeeiros, rosas e pitangas - I Parte.
Temos uma entrevista ao nosso João Correia que nos fala dele e do que deu à Carla Coelho ganas de lhe perguntar
Também temos poesia e… fechamos com um texto sério sobre um assunto que devia ser levado a sério
Pensem nisso
Excelente Verão e até ao nosso aniversário
Avisamos que será um número de coleção, tentador, sedutor, sabedor e, claro, provocador.
Adelina Barradas de Oliveira
Em Julho de 2024
BOLAS DE OURO
Chuta! Chuta! Eu ganho a bola. Vou marcar!
Têm asas de vento nos pés e na imaginação um campo de futebol e duas balizas de vitória.
Correm tanto como os grandes goleadores e todos eles jogam no Mundial de futebol e são botas de ouro mesmo descalços.
Bola de meia? As mães não usam meias de vidro, nem vidro! É cerâmica e alumínio.
Bola de papel, não há papel nem escola, só há encomendas que chegam em aviões militares depois que a terra tremeu e matou alguns dos mais velhos e alguns dos mais jovens.
Bola de trapos? Não há trapos, fizeram-se torniquetes, ligaduras e o resto queimou-se por causa das doenças.
Mas há sol e ainda há umas camisolas de marcas que enviaram medicamentos, víveres e umas bolachas que já se gastaram.
Mas não precisa, o peito nu tem escrito Oba nº 1, Nedulo nº 1 Nekosi nº1, todos são campeões, todos são os melhores, o nº 1, o bota de ouro.
Quando se é criança todos os pés têm asas de vento, todos os peitos são de campeão e todas as caixas de encomendas que os aviões militares trazem são a bola do campeonato que um dia vão ganhar.
Adelina Barradas de Oliveira
RÉ EM CAUSA PRÓPRIA
Adelina Barradas de Oliveira
SERVIDÃO VOLUNTÁRIA
parágrafos curtos
PORQUE RAZÃO
O TODO SE SUBJUGA
A UM ÚNICO?
Choquei por acaso, e de frente com Etienne de La Boétie, aí pelas redes sociais, mais propriamente no Instagram que me enviou para o You tube mas não diretamente para ele.
Pergunta-se ele pela razão do Medo da Liberdade, do porquê de renunciar à autonomia.
Na verdade, temos uma liberdade imensa a que vamos renunciando lentamente de forma alegre ( não feliz), esquecendo o que aprendemos na Família, nas Escolas, na Universidade, o que nos passaram as raízes, o ADN.
A Liberdade pela qual tantos se bateram e morreram, eles, os antigos, a família, as nossas raízes... .
Não é bom ter senhores, já o reconheceram tantos outros que história guardou em si por não serem fracos. Nós acostumamo-nos a obedecer a um só que até elegemos, até aceitamos, até acalentamos e alimentamos. Admiramos estupidamente e aceitamos tudo o que dele vem, defendendo-o fervorosamente até ao idiotismo coletivo, sem sentido crítico ou de evolução. Curiosa é a ideia de que a rebelião alimenta governos.
Quanto mais os Governos legislam e são aceites, mais desejam legislar e, no hábito de aceitar, ignorar, e seguir sendo mandado,
os que governam seguem mandando, e o hábito veste-se, subjuga, molda-nos. Já não sabemos sair à rua sem ele ( dizem que o hábito faz o monge), não sabemos apresentar-nos socialmente sem um carimbo, uma tendência política, uma religião, uma individualidade sem razão de ser ou, apenas por cegueira de não pensar e, vaidade de exibir a pertença a um grupo, uma tendência, de preferência ligada ao Poder.
É que nem nascemos da servidão, nascemos, nós a geração dos 50 e dos 60, da liberdade, da sociedade que se rebelou e, assistimos, hoje, ao hábito da servidão de forma serena, indiferente, de sorriso meio idiota e alienado nos lábios, pensando numa sociedade de consumo que nos adormece e suga e, infelizmente, também molda os nossos filhos.
Os filhos, ...sub-repticiamente criados e educados pelo Estado paternalista, não pela Família... .
Que futuro os espera? A eles a servidão do hábito da aceitação, a nós a servidão da covardia.
E os tiranos, em troca do “ A Bem da Nação” da “proteção do cidadão”, da “igualdade e da democracia”, fortalecem-se, acomodam-se, ganham espaço, ganham plateia e tornamse os pais das Nações e aconchegam-nos na sua supervisão, e entram nas nossas casas, e levam-nos os nossos filhos, os nossos ideais, e vendem-nos uma vida mais cómoda de que eles tomarão conta para que não nos sobressaltemos.
Todos os tiranos precisam de assessores,
Servidão Voluntária
Adelina Barradas de Oliveira
não muitos, os necessários ao silêncio da sua estabilidade, da mediocridade da obediência sem análise, sem raciocínio, sem contestação.
Não têm amigos, não. Têm cúmplices ou nem isso, têm devotos.
Etienne de La Boétie tinha 18 anos quando escreveu o seu discurso da Servidão Voluntária
Escreveu e refletiu sobre aquilo que esquecemos que é importante, ou que fazemos de conta que já não é importante porque dá muito trabalho pensar nisso.
Não, não tinha Instagram nem Facebook, nem Threads, e curioso cruzei-me com ele num espaço desses. Não usava Tm , nem adormecia com ele na almofada. O Futuro será Seguro e obediente, as cabeças estarão baixas e serão ôcas. Sofreremos do comodismo de não pensar, não querer saber, não ter de ser responsável, cheios de garantias mas sempre e sempre, obedientes.
As pessoas não querem ser livres, escolher implica ser responsável, aguentar as escolhas e as consequências, uma trabalheira!
E os tiranos multiplicam-se nos pequenos pontos aqui e ali, como as rapariguinhas ou os rapazinhos de shopping que nos atendem como se fossem os donos da marca, ou da loja,
como os que as criaram e as fizeram ter fulgor e ser objeto de procura.
São Czars num espaço de loja, de um centro comercial, de um qualquer local, de uma cidade, num país do Mundo. E não são Stalines porque não têm tanto poder.... Mas têm veia.
E nós, somos o quê?
Obedientes tiranizados por quantos Tiranos? Quantos tipos de Tiranos? Até quando?
Porque é que buscamos Gurus ou Tiranos, Chefes, Governantes? Afinal não votamos?! Quem é o soberano? Quem elege ou quem é eleito? Quem escolhe ou quem é escolhido?
O que é que se coloca no lugar da Liberdade se a tivermos?
Qual é a cor da Liberdade? SABEM?
Que ninguém se submeta porque alguém disse que é assim. Como diria Etienne, sejam resolutos em não servir.
O Estado é tirano porque é o destino do Estado, o nosso destino é não nos subjugarmos.
Há um peso profundo em entregar a Liberdade a uma moda de comportamento, de expressão, de linhas de pensamento e, um perigo profundo de ficarmos reféns dessa
entrega comodista.
A rebeldia está-nos nos genes, vem dos séculos pelos séculos até hoje... Que sejamos Livres e não servos voluntários.
Para vosso espanto e meu, o Discurso da Servidão Voluntária - Discours de la servitude volontaire - é uma obra de Étienne de La Boétie (1530-1563).
Publicada após a morte do autor, primeiro em latim e em fragmentos (1574), e depois integralmente, em francês (1576).
Escrito quando La Boétie tinha entre 16 e 18 anos.
E nós, que andamos nós a fazer nesta idade?
CANTINHO DO JOÃO
FELIZMENTE HÁ LUAR
Desconhecia a peça assim como tudo o que a envolvia, mas confiei (claro).
Achei uma ópera fenomenal muito embora auto-explicativa no sentido em que cada personagem desabafava perante o público por forma a justificar a este as suas intenções, ambições e sentimentos. O informador da polícia desabafou o desprezo que tinha pelo povo e pelos pobres de Lisboa, o Beresford fê-lo, também, manifestando apenas que pretendia ganhar dinheiro suficiente para garantir uma boa qualidade de vida aquando do seu regresso a casa, o Forjaz, primo de Gomes Freire de Andrade tinha medo do povo assim como o representante da Igreja, pretendendo ambos a manutenção do estado das coisas, reprimindo quem ousasse desafiar o mesmo.
Todas estas personagens desabafavam perante o público, por forma a que este compreendesse o que se estava a passar em palco. Daí a auto-explicação.
A parte interessante é que Matilde de Melo não desabafava em representação do povo, mas sim em nome individual. O povo desabafava colectivamente, com diversas personagens em palco a cantarem em simultâneo o que, para mim, faz todo o sentido pois o povo em si mesmo era uma personagem.
Matilde de Melo desabafava em nome próprio enquanto amante de Gomes Freire de Andrade humanizando e individualizando o sentimento do povo perante este, como se os seus sentimentos de ânsia de liberdade pudessem ser temperados com amor. Como se o sofrimento do povo perante a prisão deste pudesse assumir bem mais do que um sentimento de desespero por liberdade, mas, desta vez, pelo temor, preocupação e ansiedade que só o amor consegue provocar em alguém.
Matilde assume as dores do povo e juntaas às suas, extrapolando estas com a paixão que sente por Gomes Freire de Andrade.
Por outro lado achei a ópera pontuada por referências bíblicas, tais como a
Matilde que aceita uma moeda de António recordando-me Judas quando recebeu dinheiro de Roma (mas neste caso atira a moeda à cara do Forjaz), António que chora desesperadamente quando sabe que Gomes Freire de Andrade foi preso, dizendo não ser digno de estar à sua altura, tal como Pedro o fez quando percepcionou a prisão de Cristo pelos romanos, Matilde identifica-se como a amante de Gomes Freire de Andrade, tal como Maria Madalena o fez. Quanto a este, acaba por ser injustamente preso, injustamente julgado e por fim, injustamente morto, não por crucificação, mas enforcado numa morte sem qualquer honra, tal como Cristo na cruz.
O Forjaz e o padre recordam-me as autoridades judaicas em Jerusalém que estavam convencidas que Cristo era perigoso, respectivamente Herodes e os Sacerdotes judeus. Beresford recorda-me o poder de Roma em Jerusalém, mais propriamente Pilatos, tão zeloso como este no exercício das suas funções, mas não tão empático pois, no “Felizmente há luar” não precisou de lavar as suas mãos da morte injusta de um homem que foi morto por decisão de outros.
Termina também numa lógica bíblica, em que se sente a “ressurreição” de Gomes Freire de Andrade, tal como Cristo, em que a sua mensagem não ficou na cruz onde foi pendurado.
Como dizia Saramago, vivemos encharcados em cultura judaico-cristã mesmo que não o sejamos, daí, quiçá, a minha abordagem a esta ópera.
O simbolismo da lua simultaneamente como testemunha/farol de um crime (para uns) e de uma solução para outros deixou-me fascinado pela ambiguidade humana.
Ambos os lados suspiram de alívio por felizmente, ser noite de lua cheia podendo esta iluminar o caminho que ambos defendiam e que era, de todo oposto ao do outro.
QUE DIRIA A LUA DISSO?
E O MAR LOGO ALI
A pensar em férias, Elisabete planeia as duas semanas mais perfeitas do ano. Já sabe que as cinquenta semanas seguintes serão uma sombra do que consegue viver no verão. Porquê? Porque sem estar de férias, os processos são mesmo muitos e a Juíza sente com alta intensidade as pessoas que lá estão dentro e que, de alguma forma, em algum aspeto, dependem de si e do que irá decidir. Porque os assuntos são pesados, revelando muitas vezes o lado sombrio de cada pessoa. Porque as histórias são reais. Porque às vezes o fim não é feliz e ninguém se salva. Também porque há menos sol na rua e, quando há, não chega à sua sala.
16 de julho. Chegada à praia, com o mar logo ali, a apreciar cada minuto, com pouca roupa e solta, cabelos escorridos e sorriso sempre aberto. Preocupações, nenhumas. O marido, médico psiquiatra, sempre leva algumas. Todos os pacientes têm o seu número de telefone, não vá acontecer uma urgência e ter de amparar uma respiração.
Salvar vidas é a função do homem que passa os três meses de verão na praia. No sudoeste, o mar é ardiloso e engana muitos dos que acham que o conhecem e arriscam. Elisabete acorda da sesta com o alarido de um salvamento. Homem e banhista chegam ao areal. O homem está exausto. O marido de Elisabete aproxima-se apressadamente e põe em prática os conhecimentos que tem mantido atualizados. Ajuda a salvar a vida do banhista e deixa Elisabete vaidosa do marido e daqueles que nunca estão de férias e acorrem onde podem realmente ajudar e fazer a diferença.
Dia 31 de julho. O sol está a desparecer para dentro do mar. A Juíza sente-se mais viva e com vontade de renascer com cada uma das pessoas em cada decisão. Está pronta para salvar vidas. Venha o turno de agosto! Venha setembro!
(…) ali dentro do quarto, agora o pequeno Johannes está a lutar pela vida, o pequeno Johannes, o filho dele, agora é altura do filho dele vir ao mundo, a este mundo duro, e este será porventura um dos mais difíceis desafios da vida humana (…)
Jon Fosse, Manhã e noite, trad. de Manuel Alberto Vieira, 2020, Cavalo de ferro
FLORES NA ABISSÍNIA
Carla
Coelho
Uma proposta estival
E assim chegou o verão num dia chuvoso que se espera venha a ser o contrário da estação.
Já não há silly season, não sei porque os tempos velozes não a permitem ou se por termos concluído que não é preciso esperar pelo estio para vermos tontos, eles por aí andam durante todo o ano.
Mas se há coisas que mudam, outras permanecem na estação: os morangos, os melões, os mirtilos, as cerejas e os pêssegos; o tempo bizarro em que acordamos sem tarefas e sem agendas; as horas lentas que se escoam como um rio antigo caudaloso que se estende pela planície habitada apenas por cigarras e garças; as noites em que o calor se refresca em cocktails coloridos carregados de gelo e em que os medos parecem enredo espúrio de Phobetor e Icelos.
Mesmo que o calor pese no ar, no Verão o mar continua a entrar-nos pelo corpo adentro limpando-o de tanta utilidade que acumulámos durante o ano, como fazia no tempo em que todos os que amamos estavam ainda vivos e bastava chegar à porta de casa para ter a certeza de que nos ouviam.
agora resta-nos convocá-los em sonhos, sem garantia de que Morfeu os trará ao nosso encontro ainda uma outra vez
há ainda o alívio de não vivermos o verão de Duras, feito de tédio e desespero ou o de Sagan, feito de amor rendilhado onde são crivados punhais de egoísmo uma e outra vez no verão ainda há tempo para ouvir muitas vezes Birth of Cool do Davies, redescobrir o sabor da cereja de Kiarostami e deixarmo-nos encantar por palavras como orage, moonlighting, magari, plum, kismet ou vol-au-vent,
porque são belas e não porque lhes reservamos qualquer préstimo, pois no verão as coisas não têm de ser úteis para lhes darmos atenção, convém mesmo que lhe estejam nos antípodas. e também por isso é a época em que mais provavelmente poderemos acordar sentindo os pés molhados pela espuma da onda observada pelo senhor Palomar numa inominada praia italiana e isso pode suceder-nos mesmo quando dormimos a sesta na cidade deserta de pessoas. Na falta desta os sonhos ganham mais espaço e podem mesmo unir geografias improváveis.
Podemos também descobrir de forma inesperada como melhorar o mundo, pois é do ócio que nascem as melhores ideias, ainda que não necessariamente as mais lucrativas e por falar em ausência de lucro, no verão também podemos ler Clarice, Adília e Adélia ler nas nuvens o nosso futuro concluir que as tempestades estivais são um grande acontecimento mesmo que durem apenas uns minutos observar as estrelas quando são senhoras do céu depois do sol ir dormir enviar postais compreender que perante algumas felicidades, como face a alguns desgostos, só o silêncio é narrador eloquente enfim, armazenar todo o estio que conseguirmos para recebermos o inverno que aí vem.
PANO PARA MANGAS
Margarida Vargues
O Papel dos Livros no Século XXI
Na era em que o digital domina as nossas vidas e a informação está à distância de um clique, o papel dos livros de papelpasso a redundância - continua a ser de extrema importância.
Apesar do inegável crescimento e proliferação dos e-books e dispositivos eletrónicos, os livros físicos mantêm um lugar especial no coração - e nas estantes - dos leitores. Uma alma sem livros é uma alma despida, da mesma forma que uma casa também fica vazia sem a sua existência.
O seu valor não diminuiu; pelo contrário, adaptou-se e evoluiu, mantendo-se como pilar da cultura, da educação e do entretenimento.
Os livros são, acima de tudo, veículos culturais que transmitem ideias, valores e conhecimentos que moldam geracoes e sociedades. Ao longo da história, têm sido fundamentais para a disseminação de conceitos filosóficos, científicos e literários que definem civilizações. Apesar de tudo, no século XXI, essa função continua intacta, como tal autores contemporâneos e clássicos coexistem nas prateleiras,
oferecendo uma vasta gama de perspectivas e estilos que enriquecem a nossa compreensão do mundo.
Além disso, os livros físicos servem como artefatos culturais.
As primeiras edições, os exemplares autografados e as obras raras são colecionados e preservadas, o que contribui para a preservação do patrimônio cultural de um povo. Bibliotecas e museus em todo o mundo continuam a valorizar os livros físicos, reconhecendo a sua importância histórica e cultural.
E que papel têm na educação? Aqui, os livros permanecem insubstituíveis! Embora a tecnologia tenha introduzido novas ferramentas de aprendizagem, os livros físicos ainda são considerados recursos de confiança e de qualidade supremas. Eles proporcionam uma experiência de leitura imersiva, sem as distrações associadas a dispositivos eletrónicos. Estudantes de todas as idades beneficiam do contato direto com os textos, seja para leitura casual ou estudo aprofundado.
Os livros são também instrumentos de democratização do conhecimento, pois ao serem disponibilizados em bibliotecas públicas e escolares, garantem que todos, independentemente da sua condição socioeconómica, tenham acesso a uma educação de qualidade.
A leitura promove o pensamento crítico, a empatia e a capacidade de análise, habilidades essenciais numa sociedade complexa e em constante mudança. Oferece, também, uma forma única de evasão e relaxamento.
Ler um livro físico proporciona, ainda, uma experiência sensorial completa: a textura das páginas, o cheiro do papel, o som das folhas ao serem viradas. Estes elementos físicos criam uma conexão emocional com o leitor, algo que os formatos digitais dificilmente conseguem replicar.
A prática de ler antes de dormir, por exemplo, continua a ser a preferida por muitos devido ao seu efeito calmante. Ao contrário dos ecrãs luminosos, que podem interferir com o sono, a leitura de um livro físico promove um descanso mais tranquilo e reparador.
O papel como suporte material possui características únicas que contribuem para a sua durabilidade e apelo. A textura das páginas, seja de papel reciclado, de alta gramagem ou papel especial, proporciona uma sensação táctil que enriquece a experiência de leitura. A cor das folhas,
muitas vezes ligeiramente amarelada em livros mais antigos, traz uma sensação de nostalgia e autenticidade. O cheiro do papel, que varia conforme o tipo e a idade do livro, é outro factor que cria uma ligação sensorial com o leitor.
Além disso, o papel é um material reciclável e biodegradável, o que o torna uma opção mais sustentável em comparação com dispositivos eletrónicos, que requerem recursos naturais raros e são difíceis de reciclar.
Os livros continuam a desempenhar um papel vital na sociedade do século XXI. A sua importância cultural, educativa e recreativa mantém-se inalterada, e o prazer proporcionado pelo suporte físico do papel é incomparável. Mesmo na era digital, os livros físicos não deixaram de existir e, ao que tudo indica, continuarão a ser uma parte essencial da vida humana. Adaptando-se aos tempos, os livros permanecem como testemunhos silenciosos da história e da evolução do pensamento humano, sempre prontos para inspirar, educar e entreter as gerações futuras.
E a titulo de curiosidade: sabia que o primeiro livro a ser impresso em Portugal data do século XV e foi produzido em Faro? Trata-se do Pentateuco, uma obra em hebraico, cujo original se encontra em Inglaterra, desde o saque à cidade algarvia, levada a cabo por Francis Drake.
JOSÉ LUIS OUTONO
CANDEEIRO AMIGO
CANDEEIRO AMIGO...
Estranho mundo, onde habito.
O amanhã é uma guerra preocupante.
Ontem e hoje …
Os aproveitamentos ... são delirantes “telas” fictícias.
Hoje tortura-se, mata-se, rouba-se, invade-se e ainda há quem aplauda.
O ponto de interrogação é uma constante da vida.
E as decisões válidas ... infinitos constantes.
Amigo candeeiro ilumina a cegueira de mentes...também dementes!
GRATO!
MARIANA ROQUE
Juíza de Direito. Apaixonada pelo Direito, pelos livros e pela arte. Gosta de dias soalheiros e do som do mar. Adora ler, escrever, ouvir música, ir ao cinema e teatro. Mãe de 4 filhos :Envolvida em vários projetos de solidariedade social e culturais.Dedica-se intensamente à causa feminina, com especial enfoque na area da violência sobre as mulheres e crianças.
A REDENÇÃO POR ENTRE ROSAS E PITANGAS PARTE I
Amante das artes, da literatura, apaixonada pela escrita, dona de um estilo peculiar, repleto de emotividade, Clarice Lispector, considerada uma das escritoras brasileiras mais importantes do século XX, foi uma mulher que se movia pela intuição e pela emoção, problematizando, como ninguém, a situação da mulher, questionando o rotineiro, o lógico, o politicamente correto.
Não raras vezes sentimos, ao lê-la, nos enredos que nos apresenta, uma certa inquietação, olhando com estranheza para o que lemos. Mas depois, a partir do momento que nos lançamos na história, o puzzle encaixa.
Nos seus textos viajamos, sentimos o toque da pele, das texturas, os cheiros,
ouvimos música e conversas, ouvimos as personagens, vivemos e entramos no mundo. Como que somos conduzidos pela mão da autora, no labirinto das emoções vivenciadas por cada personagem, seja no momento de calmaria, como transportados por uma suave brisa, como nos momentos de turbilhão, como que atirados por um furacão.
É intemporal, as suas palavras e a mensagem que passa são atemporais. Paralelamente, a sua escrita é inteligente, audaciosa, crítica, por vezes, mordaz.
Assim foi (é) Clarice Lispector – uma mulher de convicções, revelando uma enorme perspicácia e clarividência, uma apurada consciência sobre a condição da mulher e de ser mulher.
O conto “Cem Anos de Perdão”, integrado no livro “Felicidade Clandestina” (1971), passado nas ruas do Recife, numa leitura imediata e superficial, podia até ser lido como um conto infantil. Parece ser para aí que nos transporta: a linguagem simples, o ritmo imposto pela narradora, como parecendo uma brincadeira de crianças. Podemos mesmo imaginar a narradora / menina e a amiga, de vestidinho, laço na cabeça, de mãos dadas e em passo saltitante, a percorrer a cidade, deslumbradas por tudo o que esta lhes oferece: ruas bonitas, palacetes imponentes, cercados por apelativos jardins, com “canteiros bem ajardinados”, que acordam a admiração e cobiça daquelas crianças de origens mais desfavorecidas, fascinadas pela vida dos ricos.
Somos transportados para a nossa própria infância, num tom saudoso e até melancólico, e parece que a autora regressa ela à sua infância, como se nos fosse brindar com alguma memória ou recordação desses tempos de meninice. Mas rapidamente, quase tão rápido como o momento em que as meninas se detêm em frente ao portão do palacete, “que parecia um pequeno castelo”, logo percebemos que a história irá oferecer ao leitor muito mais do que um conto infantil, num ritmo que nada terá de melancólico.
Nele encontrei uma linguagem simples, uma narrativa descomplicada e cheia de ritmo, chegando a ser “visual”, saborosa e tátil.
Em cada parágrafo vemos Clarice a evoluir, subindo e alcançando a etapa seguinte do seu plano, tendo como cúmplice a sua amiga. Clarice que começa menina, passando por pré-adolescente, adolescente e jovem mulher.
O teor do texto, a meu ver, pode conter em si vários sentidos e interpretações, repleto que está de simbologia.
E como juíza que sou, não pude deixar de fazer o paralelo com a descrição que é feita num processo judicial, daqueles com que lido diariamente – os passos dados para concretizar um crime de furto, por introdução num lugar fechado, para apenas levar uma rosa!...
A autora, socorrendo-se da amiga, usando-a como cúmplice ou coautora, toma a decisão de subtrair a rosa que avistou, tão fascinada e inebriada pela sua beleza – “tao altaneira, de cor de rosa vivo, entreaberta”.
“Então aconteceu: do fundo do meu coração, eu queria aquela rosa para mim. Eu queria, ah como eu queria. Queria cheirá-la até sentir a vista escura de tanta tonteira de perfume.”.
E, assim, decide invadir o palacete para subtrair a flor, deslumbrada que fica por ela.
Desde logo, a autora alerta-nos para o que se segue: “Quem nunca roubou não vai me entender. E quem nunca roubou rosas, então é que jamais poderá me entender.”, continuado dizendo “Eu, em pequena, roubava rosas.”.
E aqui a autora / narradora, revelando a sua coragem, audácia e rebeldia, assume o comando, colocando a amiga de vigia, e entra em propriedade alheia. Passa à ação, a sujeito ativo da história - da sua história. “Então não pude mais. O plano se formou em mim instantaneamente, cheio de paixão.”.
E ela vai, não espera que a flor vá ao seu encontro.
Aqui vemos a menina / pré-adolescente ousada, transgressora, desviando-se da norma, quebrando regras e padrões.
E, assumindo o papel de “criminosa”, de “ladra”, de forma livre, deliberada e consciente (como ensina o nosso Direito Penal), transgride.
Finalmente, a narradora / menina alcança a rosa - “Até chegar à rosa foi um século de coração batendo”. “Eisme afinal diante dela. Paro um instante, perigosamente, porque de perto ela ainda é mais linda.”.
A menina viu então aquela flor ruborizada, suprema, de pétalas sedosas, com vários tons de rosa. Era flor “soberana, de pétalas grossas e aveludadas, com vários entretons de rosa-chá”.
Apaixonada pela sua cor, fica fascinada pela sua beleza, que logo a prende. “No centro dela a cor se concentrava mais e seu coração quase parecia vermelho”. Agarra no caule da flor, arranca-a e leva-a consigo, não sem antes sentir a dor dos espinhos que lhe rasgam a pele, soltando a dor e o vermelho sangue. Finalmente, quebra-lhe o talo, arranhando-se com os espinhos e chupando o sangue dos dedos.
E triunfante diz “E, de repente – ei-la toda na minha mão”.
Entrevista João Correia
Uma recordação de infância pela qual tenho um especial carinho:
Pode parecer piegas, mas enfim, a vida também é feita de pieguices.
Recordo-me de, com quatro ou cinco anos, de ouvir uma história contada por uma senhora da qual não me recordo do nome, nem de quem era. Recordo-me bem do local, ou seja, no pátio de uma casa que os meus pais tinham na Beira Alta, debaixo de uma árvore.
A história era bastante comum, ou seja, a do João Ratão (aquele que morreu cozido e assado no caldeirão). Sou a crer que, hoje, a história seria muitíssimo pouco recomendável para uma criança, mas, seja como for, naqueles tempos não existiam certos pruridos que, no meu entender, fazem sentido, hoje, existir.
Do que mais me recordo foi do modo como a dita senhora contou a história, de tal forma cativante que ainda hoje me lembro do seu tom de voz.
Contar uma história não é para qualquer um, foi a lição que retirei daquele episódio.
Qual o primeiro LP que compraste?
O primeiro LP que comprei com o meu próprio dinheiro foi o “Changes” do David Bowie. Tenho que salientar que antes deste, tive outros álbuns, mas o “Changes” foi o primeiro que comprei com o meu dinheiro. A parte curiosa de tudo isto é que, naquela altura eu fazia parte de um Grupo de Música Antiga do Conservatório Regional do Algarve o qual tinha um protocolo com a Secretaria de Estado da Cultura (Na época ainda não existia Ministério da Cultura) ou seja, a mesma pagava-nos um caché por cada actuação que fazíamos pelo Algarve.
Assim, o primeiro caché que recebi, cinco contos na altura, foi directamente para a aquisição do álbum do David Bowie.
São 4 horas da manhã, ronda final de Karaoke. Que canção escolherias para cantar?
Tudo dependeria do estado de espírito, mas não poderia ser nada de complicado. Poderia ser o “Incommunicado” dos Marillion, apenas pelo seu ritmo ou quiçá o “Sorte Nula” dos Xutos e Pontapés.
Cantaria Marillion pois gosto imenso deles, mas para isso precisaria de saber cantar, coisa que não sei.
Portanto acho que escolheria o “Sorte Nula” dos Xutos e Pontapés. Não aprecio Xutos e Pontapés e, como tal, sei que me arrisco a criar antipatia junto dos seus fãs, mas enfim, a vida é como é. Acho que qualquer hooligan consegue cantar Xutos por isso, como eu não sei cantar, cantaria Xutos. Sorte Nula..
Entrevista
João Correia
O defeito dos outros que convivo melhor:
A falta de inteligência emocional. Ou seja, aquela pessoa que é conhecida por ser inconveniente. Acredito sempre que tais pessoas nunca o fazem de propósito, mas apenas porque não conseguem comunicar de outra forma.
Eu já conheci pessoas profundamente inconvenientes que me foram extremamente úteis a apontar características minhas que careciam de ser melhoradas e, se não fosse a sua inconveniência eu nunca teria alterado um estado de coisas que após, se revelaram verdadeiras.
Não deixa de ser um defeito pois, a falta de inteligência emocional traduz-se sempre numa falta de inteligência mas, recordo-me sempre do que João Miguel Tavares disse a Ricardo Araújo Pereira, ou seja, disse-lhe que o RAP era bem mais inteligente do que ele, mas também lhe disse que todas as pessoas inteligentes são muito burras nalguma coisa e salientou que o RAP investiu o seu dinheiro no BES e ele não.
Por isso, falta de inteligência emocional é um defeito, mas, no meu entender, muito útil e perfeitamente compreensível.
É descoberto numa Galáxia distante um planeta paralelo ao nosso. Vais conhecer o João Correia de lá.
Quem é ele?
Gostava que fosse um João Correia bem melhor do que eu, mas penso que a razão de ser da pergunta é um autorretrato.
Seria um tipo perfeitamente vulgar, mas que gostaria de ser invulgar pela positiva.
Seria um individuo que daria um especial enfoque à felicidade numa perspetiva Kantiana do termo, ou seja, que acredita que a felicidade se alcança mediante o cumprimento de um dever qualquer.
Muito sinceramente gostaria que desse mais realce à felicidade numa perspetiva
Aristotélica, ou seja, que a felicidade se alcança através do equilíbrio.
Três personagens históricas com quem faria uma road trip?
Antes de mais há que referir que eu nunca faria uma road trip com personagens chatas por isso, acho que é fácil excluir 98% das personagens históricas deste universo.
Ninguém se imagina a fazer uma road trip com Napoleão ou com Vasco da Gama e atenção, ninguém lhes tira o mérito. Mas viajar com eles seria chato.
Assumindo esta premissa escolheria Mário Soares. Ele era fixe, por isso, imagino-me perfeitamente a conduzir com este ao meu lado a gritar para um polícia qualquer coisa como “oh senhor guarda, vá-se embora!”. Ninguém morreria de tédio numa road trip com Mário Soares.
A segunda das personagens poderia ser Giacomo Casanova por razões evidentes e por fim, Joaquim Pedro Quintela, ou seja, o 1.º Conde do Farrobo.
Uma road trip tem de ser divertida portanto, estes três tipos seriam os ideais para o efeito.
O LAGO
Havia árvores em redor a mirarem-se no lago.
Havia rãs e cobras de água dentro do lago.
O lago tremia inquieto pelos seus bichos.
Vinham de terra outros bichos beber água no lago.
Havia homens e mulheres que vinham olhar o lago.
Despediam-se felizes
até um dia lago.
Chora o lago com lágrimas terra adentro.
Ninguém sabe para onde foi a água do lago.
Ninguém sabe para onde foram os bichos do lago.
Agora não há mais que o desenho do lago.
As árvores em redor esperam que a água volte e com ela os bichos do lago e os outros que vinham de terra.
Homens e mulheres vêm olhar o desenho do lago.
Despedem-se tristes
até um dia lago.
LÍCINIA QUITÉRIO
NELSON ESCÓRCIO
PRIVACIDADE (PARTE III)
DISSONÂNCIAS
“A ilusão constituioprimeirodetodosos prazeres.”
Voltaire
O Centro Berkman para a Internet e Sociedade da Universidade de Harvard publicou, em 2016, um relatório sobre a temática das dificuldades para a investigação criminal decorrentes da progressiva cifragem de serviços de comunicação: “Don’t Panic. Making Progress on the Goink Dark Debate”.
O trabalho foi subscrito por profissionais de múltiplas e diferentes áreas do conhecimento e serviços, incluindo responsáveis da NSA, um ex-diretor do Centro Nacional Americano Contraterrorismo, académicos, magistrados e políticos com responsabilidades na área da segurança. A riqueza da multidisciplinariedade contribuiu para tornar as conclusões uma referência na temática: concluiu-se (não unanimemente) inexistir fundamento para alarme por três essenciais razões: (1) se ter como improvável uma adoção generalizada da cifragem; (2) tal cifragem excluir os metadados; e (3) a “Internet das Coisas” — em contínua expansão — constituir um fértil meio de recolha de informação.
Discorda-se — em assumida dissonância com aquelas e muitas outras vozes.
A Internet das Coisas (i.e., equipamentos ligados à Internet que comunicam e partilham dados), e que integra desde carros, alarmes e relógios a televisores ou frigoríficos, aparenta assimilar um (legítimo) paraíso investigatório: um registo permanente de cada passo, decisão ou atividade de cada utilizador; potencial, futuro suspeito ou arguido. Mas a realidade oferece menos oportunidades de recolha de prova do que antecipa o relatório: a particular
natureza de cada equipamento dificulta enormemente a judicial, legítima recolha de prova, porquanto a infinidade de empresas associadas a tais produtos (muitas delas obscuras no mercado e sediadas em países extracomunitários, com existência relativamente efémera e pouco colaborantes com a Justiça) não se encontram vocacionadas para a recolha e disponibilização de informação no contexto judicial. Por outro lado, a industria tem acompanhado, por razões comerciais, a pública suscetibilidade a (reais ou percecionadas) violações de privacidade, o que a predispõe — em medida dependente da natureza do seu negócio e segmento de mercado em causa — a optar pela cifragem de conteúdos. E a cifragem, mesmo quando debilmente implementada, constitui uma entropia por que nenhuma investigação criminal anseia.
Quanto aos metadados, e à parte dos conhecidos (e desnecessários) desafios jurídicos, são naturalmente úteis — mesmo essenciais — no âmbito da investigação criminal; mas, regularmente e de per si, insuficientes no contexto da prova necessária à fase de julgamento, porquanto conferem prova de natureza sobretudo circunstancial.
Importará ainda, no contexto do universo digital e da investigação criminal, assimilar ser a realidade europeia profundamente distinta da americana. Era-o já em 2016 — quando qualquer informação armazenada em servidores de empresas fora do espaço nacional ou comunitário requeria (como requer) o recurso a tratados internacionais para a sua obtenção; e é-o mais ainda na era pós-RGPD que, entre as inegáveis virtudes,
efetivamente reduziu a quantidade de dados armazenados sobre cada utilizador europeu; sobre cada arguido ou suspeito da prática de um ilícito criminal em território da União.
Neste antagónico contexto, têm os órgãos de polícia criminais europeus, tradicionalmente menos vocais do que os congéneres americanos, meritoriamente procurado (com variável sucesso) a adaptação possível: cooperação, partilha de informação e técnicas têm minorado as crescentes dificuldades no acesso à prova digital.
Mas persiste uma singular complacência pública e institucional com as crescentes dificuldades da investigação criminal num contexto de disseminação de dados por serviços, servidores e mercados cuja ordem de prioridades está dissociada de qualquer ideia de Justiça.
(O presente texto constitui um excerto adaptado de uma dissertação do autor e de um livro, a editar em breve, com o mesmo nome: “Revisitar a Escuridão”)
1. ANDAR A PÉ
Henry David Thoreau
Um elogio à natureza e à contemplação.
2. CONTOS DO DESAFORO RECOMENDAÇÕES
O livro em apreço fez-me recordar um professor de filosofia que, segundo dizem, após subir ao Pico, nos Açores, num dia bom (ao contrário de mim, que o subi em condições horríveis …), ficou mais de uma hora em silêncio a contemplar a vista da montanha. A sua postura não revelava nada a não ser contemplação e silêncio deixando os restantes a pensar no que ele estaria a cogitar durante tanto tempo. Findo esse momento, ninguém se atreveu a perguntar-lhe sobre o que refletiu, pois tal seria como questionar alguém sobre o que é que esteve a pensar durante uma oração. Sempre gostei de defensores e admiradores da natureza, sobretudo em tempos que não imaginávamos que existiam, tal como no momento em que este livro foi escrito, algures entre 1851 e 1860, por um homem tão desejoso da mesma que foi ao ponto de construir uma cabana nos bosques, onde viveu sozinho durante dois anos. Caminhemos.
Recomendação de João Correia
José António Barreiros
Do desaforo de escrever diz o autor
Mas da escrita de José António Barreiros não sobressaia nenhum desaforo. Antes, a minúcia de descrever pessoas, uma aqui ou ali, que se cruzam com a sua observação e talvez também com a sua imaginação, em gestos simples, uns repetidos outros ocasionais, desde o gesto do bisel ao simples gesto de depenicar bolachas. Só escreve quem olha e observa, escuta e tenta entender. Personagens do dia a dia que lhe passam pela necessidade de falar delas, de lhes contar a Vida, como se fosse possível observar todos os pormenores e todos os tiques, numa intima convicção de coexistência pacífica mas atenta ao pormenor, ao traço, ao som.
Um estar atento a si mesmo, aos livros, aos requerimentos e ao Direito, para se misturar aqui e ali com o próximo, que por acaso se cruza ou passa só mais à frente no seu caminho.
Como se fosse um arrumador de almas… Aconselho a Incessante leitura.
3.BURN OUT
Maria Antónia Frasquilho
Um livro que fala de forma simples de “coisas” complicadas. Não há nada nele de que não tenha ouvido falar
Não há nada nele que não tenha alguma vez sentido Nem todos atingimos o Estado de Burnout Mas, todos temos medo de ficar presos nele. Conheça os sintomas
Venha ler explicações simples sobre assuntos complicados. Encontre-se ou a alguém conhecido.
JUSTIÇA COM A ABRIL 24
Em homenagem aos 50 anos de Abril a JustiçA com A saiu em papel
Já tem?!
Disponível na livraria Almedina e na Bertrand e onde em edicoesesgotadas.com