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Cinema
A FUNÇÃO MULTIDISCIPLINAR DO
DIRETOR DE ARTE A especialista Vera Hamburger, que acaba de lançar o livro Arte em Cena, explica a importância da função e os desafios da direção de arte em uma produção audiovisual
Cena do show de Rita Cadilac, em Carandiru (2003), no qual Vera Hamburger trabalhou na cenografia ao lado de Clovis Bueno, responsável pela direção de arte
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POR KARINA SÉRGIO GOMES
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ais do que diálogos e sons, cinema é imagem. E isso é o que marca o imaginário das pessoas. Não dá para esquecer do figurino marcante de Bonequinha de Luxo, usado por Audrey Hepburn, em 1961. Ou, mais recentemente, do cenário e da maquiagem usados em Avatar (2009), vencedor da categoria de direção de arte no Oscar 2010. Esses figurinos, cenários, maquiagens que se tornam icônicos na história do cinema são o resultado do trabalho do diretor de arte, aquele que faz as escolhas sobre a arquitetura e os demais elementos cênicos, delineando e orientando os trabalhos de cenografia, figurino, maquiagem e efeitos especiais, como define a diretora de arte Vera Hamburger em Arte em Cena – A direção de arte no cinema brasileiro, recém-lançado pela editora Senac/Sesc. Esse é o primeiro livro de Vera e estudo inaugural da área no Brasil. FILM MAKER
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Fotos: Divulgação
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O Beijo da Mulher Aranha (acima) e A Marvada Carne (ao lado), ambos de 1985, foram os primeiros filmes nacionais a dar o crédito para direção de arte a Clovis Bueno e Adrian Cooper, respectivamente
E o Vento Levou (1939) foi o primeiro filme a creditar o diretor de arte de uma produção
Embora essa seja uma profissão exercida nominalmente no cinema há 75 anos, é reconhecida há pouco tempo no País. O filme E o Vento Levou (1939) foi o primeiro a trazer o nome do diretor de arte nos créditos. William Cameron Menzies, que desenhou quadro a quadro a produção a ser realizada, descrevendo cenários, elementos 14
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cênicos e figurinos, apareceu nos créditos como production designer, traduzido para o português como diretor de arte. O primeiro a ser creditado como diretor de arte em uma produção nacional foi Clovis Bueno, em 1985, no filme O Beijo da Mulher Aranha, de Héctor Babenco. Mesmo ano em que Adrian Cooper também assinou a di-
reção de arte nos créditos de A Marvada Carne, de André Klotez. E mesmo com quase três décadas figurando na produção nacional, ainda não há formação específica para esse profissional. Nem mesmo bibliografia aprofundada disponível. Quando Vera começou a ministrar workshops sobre direção de arte, em 2003, brotou nela uma necessidade de estudar a própria área, que exerce há quase 30 anos. “Percebia que minha profissão era muito pouco entendida até por quem trabalhava com ela”, lembra. Em 2004, decidida a conhecer
com mais profundidade o que era a direção de arte, inscreveu um projeto de estudo para não acadêmicos na extinta bolsa Vitae, com a finalidade de estudar a área no Brasil. O ponto de partida da pesquisa, que resultou no livro Arte em Cena, foi entrevistar quatro grandes nomes da direção de arte brasileira. Segundo ela, ser multidisciplinar é a principal característica na formação de um diretor de arte.
PIONEIROS A princípio, Vera iria entrevistar apenas três diretores de arte: os bra-
sileiros Clovis Bueno e Marcos Flaksman e o inglês Adrian Cooper, radicado no Brasil desde 1975. “Percebi que faltava conhecimento do histórico da profissão na pesquisa. Fui atrás de livros, mas não havia nada. Então, levantei nomes de cenógrafos que tinham construído uma carreira no começo do cinema nacional”, lembra. Assim, ela chegou ao nome de Pierino Massenzi, na época vivo. Ele a ajudou a traçar uma perspectiva histórica – Massenzi, que morreu em 2009, era italiano, veio para o Brasil em 1948 e foi cenógrafo de pelo menos 47 filmes,
entre nacionais e estrangeiros. Muitos deles da Cia. Cinematográfica Vera Cruz, como O Cangaceiro (1953) e Tico-Tico no Fubá (1952), para o qual se construiu a primeira cidade cenográfica da América do Sul. Boa parte dos que atuam no mercado veio da arquitetura ou foi cenógrafo (como dois dos quatro entrevistados de Vera). A própria autora é arquiteta formada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) e entrou para direção de arte também via cenografia. Ela criava cenáFILM MAKER
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Cena do filme O Cangaceiro (1953): Pierino Massenzi fez a cenografia do longa que conta a história de Lampião, dirigido por Lima Barreto
Atriz Marília Pera em cena icônica de Pixote (1981), cuja direção de arte é de Clovis Bueno
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rios para teatro quando foi chamada para ser assistente de cenografia no filme O Beijo (1987), de José Antonio García. Marcos Flaksman, cenógrafo que assinou a direção de arte de Se Eu Fosse Você (2006) e Budapeste (2009), acredita que a formação em cenografia é indispensável para “poder ter o controle de tudo”. Segundo ele, o papel da direção de arte é selecionar os espaços, discutir a luz, o caráter dramático da ação e fazer com que essa imagem seja atraente, mesmo em uma cena feia, e que atinja o sentimento do espectador. “Não só pelo que ele constata e vê, mas pelo que sente”, diz. E ter conhecimento de arquitetura de cenários ajuda nessa criação. Clovis Bueno teve uma formação mais diversificada, pois chegou a ser ator. Ele fez a direção de arte de Carandiru (2001) e acredita que as prin-
As cenas externas de Carandiru (2003), baseado no livro homônimo de Drauzio Varella, foram gravadas no próprio presídio, em uma ala desativada
cipais características de um diretor da área são “a capacidade de desenvolver uma sensibilidade para enxergar, em cada projeto, seu universo; a humildade para assimilar as coisas; e uma curiosidade aberta para encontrar soluções onde menos se espera”. Já para Adrian Cooper, fotógrafo e que dirigiu a arte de Desmundo (2001), “o ideal seria que todo aquele que se propõe a ser diretor de arte tenha formação artística, seja em arquitetura, artes plásticas ou teatro, por exemplo”. Com o que concordava Massenzi, que achava que o diretor de arte tinha de ser enciclopédico. “A minúcia do detalhe é o segredo”, define.
MULTIDISCIPLINAR Vera Hamburger explica que o diretor de arte é um pesquisador dos elementos que compõem a expressividade visual, atento a cada detalhe
O diretor de arte é um pesquisador dos elementos que compõem a expressividade visual, atento a cada detalhe da composição da cena da construção com a imagem, tanto no que diz respeito à dinâmica interna quanto à visualização da edição em sequência. Por isso, é importante que ele tenha essa formação multidisciplinar destacada pelos entrevistados para o livro. Esse conhecimento “enciclopédico” ajuda o profissional a coordenar as áreas que são de responsabilidade do segmento – cenário, figurino, maquiagem estão entre elas – e a dialogar com pessoas de diferentes setores e formações. Em produções menores, talvez ele mesmo precise desempenhar algumas funções, como cenógrafo ou figurinista. “Ele
pode ter formação de várias áreas, mas é importante que tenha noção de fotografia, de história da arte, de espaço e, acima de tudo, paixão pelo o que está fazendo”, resume Vera. De acordo com ela, em qualquer produção, haverá um diretor de arte, mesmo que ele não receba esse nome. “Talvez não haja alguém com o olhar específico para isso, mas sempre um membro da equipe desempenhará esse papel, escolhendo o cenário ou um elemento cênico”, diz. Até nos documentários, como os de Eduardo Coutinho, há direção de arte, apesar de, às vezes, não aparecer ninguém creditado nessa especialidade. “Em FILM MAKER
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CONHECIMENTO MULTIDISCIPLINAR COR – a cor é um importante elemento narrativo. Ela delineia a atmosfera geral do filme de modo a marcar e caracterizar gêneros e épocas retratados. O jogo cromático colabora na criação de movimentos da narrativa, de personagens e de cenários, pois cada personagem inspira um repertório de cores característico, assim como os ambientes. As cores ajudam a estabelecer sensações no espectador, afinal, cada cor estabelece significados e sensações diferentes. Para conseguir trabalhar bem com essa ferramenta, recomenda-se o estudo de algumas teorias a respeito, como a do artista italiano Leonardo da Vinci e do escritor Johann Wolfgang von Goethe. Em Macunaíma (1969), as cores fortes foram usadas para dar um tom de fábula na parábola tropicalista. TEXTURA – do mesmo modo que a cor, a textura também é determinante para a criação visual de cenários e personagens. A direção de arte seleciona e explora materiais básicos para trabalhar com a textura, relativizando, por meio da sensação tátil, conceitos de densidade, umidade, temperatura, rigidez, maciez, leveza, aconchego ou solidão, por exemplo. A ação do tempo também provoca texturas, como rachaduras, desgaste da pintura, mofo em ambiente e objetos, detalhes que devem ser caracterizados ou aproveitados em um filme.
CENOGRAFIA – o cenógrafo é o colaborador do diretor de arte em todos os assuntos ligados ao espaço cênico. É ele quem pesquisa as locações, realiza os esboços dos desenhos executivos e os estudos de cor de ambiente e acompanha a montagem do cenário. É interessante que esse profissional domine o desenho livre e construtivo, e tenha conhecimento sobre a história da arquitetura, do design e da arte. Cada elemento cenográfico comunica algum dado da história e/ou da personagem e pode provocar alguma reação no espectador, seja da ordem emocional ou sensorial. Quem não ficou tenso ao ver os corredores de O Iluminado (1980)?
FIGURINO – a personagem é o objeto principal da narrativa na maioria das histórias. O figurino e a maquiagem o representam plasticamente, sendo responsáveis pela identidade visual dele, como o icônico vestido preto usado por Audrey Hepburn em Bonequinha de Luxo (1961). A escolha pelos materiais, cores e elementos usados na roupa indica os aspectos psicológicos e emocionais de cada personagem, e também podem sugerir sua situação social, econômica e política.
MAQUIAGEM – a maquiagem auxilia nessa composição e ajuda a localizar a personagem no tempo. De acordo com referências passadas pelo diretor de arte, o maquiador, ao lado do figurinista, define a época e a cultura das quais aquela personagem faz parte. Com a maquiagem se pode atenuar marcas de expressão, como rugas e pintas, ou forjar cicatrizes e ferimentos, como no Coringa interpretado por Heath Ledger em Batman – o cavaleiro das trevas (2008). É possível ainda mudar o cabelo, pintando-o de outras cores, cortando ou aumentando seu volume. É imprescindível a presença do maquiador no set para retocar algum detalhe.
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Em sentido horário: croquis dos figurinos de Castelo RaTim-Bum – O filme; a produção do cenário referente ao hall do Castelo; e o ator Diegho Kozievitch já paramentado para interpretar o bruxo Nino
Edifício Master (2002), ao escolher as próprias casas das personagens e determinados ângulos, eles já estão fazendo direção de arte”, exemplifica.
AS RELAÇÕES O diretor de arte deve estar sempre em diálogo com o diretor do filme e o de fotografia. Com o primeiro geralmente são discutidos o roteiro e como ambientar aquela história. Há diretores que discutem cada diálogo; outros apresentam referências para serem analisadas e trazem trechos de outros filmes para serem debatidos. O importante, ressalta Vera, é que se estabeleça uma parceria. Relação que também deve ser construída com o diretor de fotografia,
que determina qualidades fundamentais do aspecto visual da cena por meio da iluminação, dos enquadramentos e da forma de captação da imagem. “A fotografia funciona como um filtro do olhar do espectador”, resume. É preciso ainda que o diretor de arte estabeleça um diálogo com a produção executiva, que gerencia o orçamento disponível para execução do projeto. Ter essa diretriz é importante para controlar a própria imaginação e dirigir as conversas com o diretor, o fotógrafo e a equipe. Depois que os três diretores chegam a um consenso sobre os aspectos artísticos do filme, o profissional de arte trabalhará com uma equipe composta basicamente por cenógra-
fos, figurinistas, maquiadores, produtores de objetos e coordenadores. Para comandar a equipe ou até colocar a mão na massa, é preciso que o diretor de arte tenha domínio de diferentes áreas (veja box). E, mesmo que delegue cada função a determinado membro da equipe, o diretor de arte estará sempre presente na escolha de uma nova locação, fazendo teste de textura e pintura a ser aplicados em um cenário, selecionando mobiliário, acompanhando a prova de um figurino... Como define Clovis Bueno, a direção é de artes plásticas. “O profissional pintará aquele quadro que vai ser filmado. O figurino e o cenário, assim como o ator, fazem parte dessa pintura.” FILM MAKER
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