NO 218 | Ano 19 | novembro 2014
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Entenda como funciona este segmento que está bombando
Encontrado um artigo perdido de Luiz Claudio Marigo: a atitude que o fotógrafo deve ter
Flash strobist
Veja o teste do acessório que acopla flashes compactos
Imagens de graça Site distribui fotojornalismo sem cobrar nada por isso
Como foi a 10a edição do Paraty em Foco
Festival de motociclistas em incríveis retratos
Como trabalhar a Inspire-se em fotos profundidade de imagem panorâmicas premiadas
PORTFÓLIO DO LEITOR
Emi fotografou lobos-cinzentos que vivem no Wolf Park, uma reserva ambiental que estuda o comportamento da espécie
Dança com lobos A carioca Emi Parente foi até Indiana, nos EUA, fazer um ensaio com lobos-cinzentos. Confira o trabalho dela 26 Fotografe Melhor no 218
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ssim que a carioca Emi Parente, 34 anos, chegou ao Wolf Park, em Indiana, nos Estados Unidos, tratou logo de reencontrar uma velha amiga. Marrion a olhou, aproximou-se do rosto da fotógrafa, cheiroua e lhe deu uma lambida. A recepção afetuosa da loba-cinzenta de 16 anos foi a autorização para que Emi pudesse entrar no parque, em que são realizados estudos e pesquisa sobre o comportamento de lobos, coiotes e raposas, e realizar o en-
saio fotográfico com os animais. Cerca de dez anos antes, em 2003, Emi fez um estágio no parque como veterinária, sua primeira formação. Apaixonada por animais silvestres, a profissional queria se especializar na área. Mas depois de um tempo trabalhando “presa” em uma clínica, percebeu que, assim como os animais pelos quais era apaixonada, não podia atuar isolada entre quatro paredes. E resolveu soltar os seus instintos e a criatividade encubada trans-
Fotos: Emi Parente
formando em profissão o seu hobby favorito: a fotografia. Em 2009, começou um curso profissionalizante de dois anos na Universidade Estácio de Sá e, em seguida, seguiu para os Estados Unidos, para estudar fotografia na New York Film Academy. Aproveitando o intervalo de uma semana que teria nos estudos, resolveu ir até Indiana, cerca de 1.200 quilômetros de Nova York, para fazer um ensaio com lobos-cinzentos no parque onde tinha feito estágio. Só não contava que naquela época o país enfrentaria sua maior nevasca e, por isso, todos os voos tinham sido cancelados. Resolveu encarar, então, 12 horas de ônibus.
Dez anos antes de fazer o ensaio, quando era veterinária, Emi frequentou o Wolf Park durante três meses em um estágio que fez para o estudo de animais silvestres
FOTOGRAFIA E LOBOS Como Emi é veterinária e tinha feito estágio no parque, não foi difícil conseguir a autorização para
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Segundo a fotógrafa, os dias nublados eram melhores para fotografar
Fotos: Emi Parente
fazer as fotos, desde que, claro, estivesse acompanhada por alguém do centro de pesquisa. A primeira visita no parque foi ao lado da velha companheira Marrion. Nos demais dias, ela teve acesso aos outros animais. “O fato de eu ter estudado o comportamento dos lobos me ajudou a registrar bons momentos. Sabia como deveria me comportar e em qual momento eles iriam reagir e como”, conta ela. Embora não tivesse dificuldades com os animais, Emi apanhou para acertar a exposição para fazer os cliques. Os dias estavam lindos e com sol, o que para muitos fotógrafos é uma excelente condição, mas, quando se está em um ambiente em que a luz é muito refletida, isso pode se tornar um problema. “A neve reflete a luz de forma intensa, e o fotômetro sempre me dava a medição errada. Fui variando a abertura e a velocidade até conseguir a exposição correta”, lembra. O melhor dia para fotografar foi quando nevou, segundo ela. O céu estava nublado, o que ajudou a difundir a luz, e os flocos de neve provocaram um atraente efeito nas imagens. Para proteger a Canon 5D Mark III, as duas lentes 24-70 mm e 70-200 mm e um teleconverter, Emi cobriu o equipamento com uma capa de chuva. A fotógrafa, que ganha a vida fotografando shows e fazendo retratos – sempre ao ar livre porque tem pavor de ficar presa em um estúdio –, pretende agora fazer um ensaio com lobos-guará. “Fotografar os animais é o meu projeto de vida. E sempre terei uma boa ideia para pôr em prática dentro dessa área”, comenta.
Além de lobos-cinzentos, coiotes e raposas (acima) vivem no parque
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Para participar desta seção, envie no máximo dez fotos do seu portfólio, em baixa resolução, para o e-mail: fotografe@europanet.com.br. Serão publicados somente os que forem selecionados pela redação, um a cada edição.
Nesta edição, as palestras foram gratuitas e aconteceram na Tenda Multimídia com espaço para 400 pessoas
Paraty em Foco... ... ou quase Décima edição do festival internacional foi marcada por poucos fotógrafos e um grande número de artistas visuais que usam a fotografia como suporte POR KARINA SÉRGIO GOMES
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om a vinheta que mostrava o cartaz do festival com uma foto da série Ninguém é de Ninguém, de Rogério Reis, em foco e fora de foco, foi aberta a 10a edição do Paraty em Foco, cujo slogan dizia: “Paraty em Foco. Ou Quase”. Essas duas últimas palavras, “ou quase”, definiram
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muito bem o evento que trouxe, em geral, mais artistas que usam a fotografia como suporte do que fotógrafos propriamente ditos que, usam o ofício para fazer grandes retratos, documentar o mundo e informar por meio de imagens. O objetivo central do 10o Paraty, segundo o diretor Iatã Cannabrava,
foi a formação dos fotógrafos ofertando gratuitamente as palestras na Tenda Multimídia com capacidade para 400 pessoas, e oferecendo 114 bolsas para os 22 workshops que foram realizados – além de 10 exposições espalhadas pela cidade que ofereciam aos visitantes a oportunidade de analisar com mais tempo o
Fotos: Sara De Santis
A estrututura que recebe o nome de cubo ficou maior em 2014 e com espaço para o público andar por baixo e por cima entre as imagens; abaixo, exposição da série Ninguém é de Ninguém, de Rogério Reis, na Praia do Pontal
EVENTO
As atrações internacionais: David Alan Harvey, à esq., e Rinko Kawauchi
trabalho dos fotógrafos e aprender também por meio da observação Entre as inovações, o tradicional cubo de fotos, ao lado da Praça da Matriz de Paraty, ficou maior em 2014, e com espaço para as pessoas circularem por baixo e por cima. Em uma espécie de belvedere, na parte de cima da estrutura, foram apresentados projetos multimídias selecionados na Convocatória em Foco, e muitas pessoas aproveitaram o espaço para tirar fotos de novos ângulos da cidade. As duas grandes atrações internacionais do festival foram David Alan Harvey (fotógrafo da Agência Magnum e da revista National Geographic , que veio pela segunda vez ao festival), e a artista japonesa Rinko Kawauchi, que abriu a mesa de
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entrevistas no dia 24 de setembro, que dessa vez aconteceu em uma grande tenda montada na Praça da Matriz, aberta para todo público.
FOTOGRAFIA NA ARTE As primeiras palestras foram marcadas por artistas visuais que usam a fotografia como forma de expressão. Cerca de 35 horas depois de ter saído do Japão para chegar ao Brasil, Rinko Kawauchi se desculpou pelo cansaço, disse que se esforçaria para não dormir durante a apresentação e pegou os espectadores desprevenidos ao declarar que faria sua falaria em japonês e não em inglês, provocando um corre corre em busca de fones para ouvir a tradução. Ela falou, em tom monocórdio, sobre a série de livros que publicou e a delicadeza das imagens produzidas que trabalham com temas ligados à vida e à morte. Em geral, as
fotos exibidas por Rinko mostravam situações cotidianas, como um pombo morto na rua, escadas da saída do metro, uma melancia em cima da mesa... Para ela, a fotografia serve como “instrumento para capturar a fugacidade da vida”. No dia seguinte, foi a vez dos chamados fundadores do “novo naturalismo”, o mineiro Pedro Mota e o amazonense Rodrigo Braga, dois artistas que usam a fotografia como suporte para trabalhar com questões ligadas ao ambientalismo. Os dois se ativeram em mostrar os percursos de suas carreiras. Mota mostrou como hoje se sente mais à vontade em intervir na imagem por meio de programas de edição e desenho; e Braga, que antes usava a fotografia praticamente para registro de performances, exibiu uma série de fotos recentes em que deixou visível a sua maior preocupação
Fotos: Sara De Santis
com composição das imagens. O segundo a se apresentar foi o holandês Niels Stomps que, por meio do ato de fotografar, faz um estudo antropológico da sociedade. Durante a apresentação, Stomps mostrou o projeto Faces, em que resolveu usar a própria câmera para testar a simpatia dos moradores de Amsterdã – na época considerada a cidade mais antipática da Europa. Sem pedir licença, Stomps entrava na frente das pessoas e fazia um retrato pouco fotogênico. Em seguida, apresentou 83 Days of Darkness, cujo objetivo era mostrar a vida em uma pequena vila na Itália em que não batia sol até que foi colocado um enorme espelho em uma montanha para que a luz fosse refletida sobre o vilarejo. Ele encerrou a palestra apresentando seu último projeto, Mist, cujo livro foi lançado no Brasil durante o Paraty em Foco, sobre a Barragem das Três Gargantas, maior represa do mundo construída no centro da China – ele fez a documentação
antropológica sobre esse tema. E quem encerrou a noite foi o pesquisador Maurício Lissovsky, apresentando um estudo sobre a representação das raças na fotografia brasileira, que tinha como base o clássico Casa-Grande & Senzala, de Gilberto Freire.
Plateia lotada na Tenda Multimídia para a apresentação de Rinko Kawauchi; abaixo, o holandês Niels Stomps
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Fotos: Karina Sérgio Gomes
Juan Esteves (à esq.) mediou a conversa entre Evandro Teixeira e Nair Benedicto
IMAGENS COM DRONES O terceiro dia foi aberto com a entrevista do fotógrafo mexicano Javier Hinojosa, que vem se dedicando a fotografias feitas com drones sobre ruínas de civilizações antigas do México. Javier mostrou incríveis timelapses feitos a partir de images que faz com a ajuda do aparelho voador, mostrando uma tendência por onde a fotografia pode avançar. Na sequência, as entrevistas do festival entraram na parte do slogan “ou quase”. A jovem artista Sofia Borges apresentou seu trabalho dizendo que começou a fotografar porque “não entendia o que era uma imagem”. Em um discurso empolado e pouco objetivo, mostrou que sua produção consiste em fotografar fragmentos de obras de arte de museu e reproduções de livros. A conversa foi mediada pelo curador Agnaldo Faria, que na sequência apresentou o trabalho do japonês Masao Yamamoto. Foram, sem dúvida, os momentos mais maçantes do festival. O Paraty só recuperou o foco no sábado, com a mesa promovida por Fotografe com os fotojornalistas Evandro Teixeira e Nair Benedicto. Com todos os 400 lugares ocupados
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e pessoas sentadas no chão, Evandro emocionou os espectadores ao mostrar as imagens que fez no tempo da ditadura militar brasileira ao som da apresentação de Geraldo Vandré no Festival da Canção, promovido pela TV Record em 1966, em que cantou Pra não dizer que não falei das flores.
Ao final, o fotógrafo foi aplaudido de pé e deu início a sua fala comentando o tempo em que trabalhou no Jornal do Brasil, durante o período militar. Na sequência, Nair Benedicto contou sobre a experiência na agência F4 e as fotorreportagens que fez para revistas internacionais tendo como temas principais os índios, as crianças e as mulheres brasileiras. Ambos foram novamente aplaudidos de pé pelo público no fim da apresentação. Rogério Reis foi o convidado da segunda mesa do dia. O fotógrafo abriu a conversa fazendo uma homenagem a Luiz Claudio Marigo, articulista de Fotografe, que morreu em julho de 2014, e lembrou dos anos em que trabalhou com Evandro Teixeira no Jornal do Brasil. Questionado pelo fotógrafo Cláudio Edinger, entrevistador da mesa, sobre o porquê da sua entrada no universo autoral depois de anos dedicados ao fotojornalismo, Rogério disse que o cansaço da vida de redação foi o que o levou a fazer trabalhos 4
Fotógrafos se reuniram para fazer uma foto protestando em favor de Alex Silveira
Sara De Santis
Ato em favor do fotógrafo Alex Silveira foi combinado durante a Assembleia Popular dos Pixels, promovida pelo Coletivo Erro99
sentação, que se renderam ao carinho do americano que parou a conversa para fazer um cafuné neles. Durante o Paraty, Harvey lançou ainda o livro Based on a True Story, com fotos de sua mais recente viagem ao Rio de Janeiro. Uma novidade é que as páginas não estão encadernadas e cada leitor pode remontar o livro na sequência que preferir. A primeira mesa do domingo e último dia do festival, foi do artista visual Alex Flemming, brasileiro radicado na Alemanha, que falou da apropriação da fotografia em seus trabalhos – entre os mais conhecidos
Ekaterina Kholmogorova
mais autorais nessa nova etapa misturando a fotografia com artes visuais. A noite foi encerrada com a grande atração do festival, o norte-americano David Alan Harvey, fotógrafo da National Geographic e da agência Magnum. De jeito simples e fala tranquila, David contou que o seu primeiro livro de fotos foi um álbum que fez da família – ele começou a fotografar aos 11 anos e, desde muito jovem, já tinha o sonho de se tornar um fotógrafo da revista NatGeo. O carisma do fotógrafo conquistou a todos, inclusive aos cães que passeavam pela tenda durante a apre-
O curador Milton Guran, David Alan Harvey e os cães que “assistiam” à conversa
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estão as serigrafias de fotos 3x4 expostas na estação Sumaré do metrô de São Paulo. O festival foi encerrado com uma conversa entre João Castilho e Letícia Ramos, vencedores da Bolsa Fotografia ZUM/Instituto Moreira Salles (IMS), de 2013, que falaram sobre suas respectivas trajetórias e os projetos elaborados com a bolsa que ganharam.
POUCA DISCUSSÃO O que se percebeu em todas as doze mesas do Festival foi que a maioria dos fotógrafos (ou quase) se preocupou mais em apresentar suas trajetórias do que em discutir o fazer fotográfico ou temas relevantes à fotografia. O único dia de debate sobre fotografia aconteceu na sexta-feira à noite, com o coletivo Erro99, que organizou a divertida Assembleia Popular dos Pixels, com temas que foram sugeridos pelo público nos primeiros dias do festival. Os assuntos selecionados por meio de votação foram discutidos rasamente com quem quis se manifestar, sempre conduzido de forma bem-humorada. A única discussão que chegou a uma resolução foi ao ato em favor do fotógrafo Alex Silveira, culpado absurdamente por um desembargador da Justiça paulista por ter perdido um olho durante a cobertura de um protesto em 2000 em São Paulo. Dezenas de fotógrafos se reuniram em frente à Igreja da Matriz para fazer uma foto que deveria viralizar na internet e alcançar estâncias do poder judiciário como protesto. Com a falta de “foco” no tocante à fotografia tradicional, o grande ganho para quem participou da décima edição do festival foi ampliar o repertório e ter referências sobre suportes (como o uso de drones) para compor e fazer imagens, sejam em áreas como fotojornalismo, documentário, fine art, artes visuais ou projetos multimídias.