NO 219 | Ano 19 | dezembro 2014
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A vida paulistana pelos olhos da carioca Claudia Jaguaribe
Engenheiro transforma-se em fotógrafo premiado
Fotos: Cléo Santana
PORTFÓLIO DO LEITOR
Projeto Des(nu)das tem o objetivo de mostrar a beleza de corpos femininos registrando mulheres que fogem do padrão
Adedelícia ser o que é O pernambucano Cléo Santana fotografa mulheres fora do padrão imposto pelas revistas femininas. Saiba mais 28 Fotografe Melhor no 219
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empre que o fotógrafo Cléo Santana, 48 anos, fazia um book pessoal de uma mulher, elas pediam uma série de retoques nas imagens. Diminuir uma barriguinha, apagar estrias e celulites eram desejos comuns. “Fotografei mulheres maravilhosas que se diziam insatisfeitas com seus corpos. Mas olhava para elas
e não via nada. O olhar feminino sobre a mulher é uma coisa massacrante”, diz. Incomodado com essa ditadura do corpo e de ver mulheres irreais nas capas de revista, criou o projeto Des(nu)das, em março de 2013. A ideia é fotografar mulheres cujos corpos nus não seguem o padrão imposto pelo mundo da moda nem por revistas femininas – e sem fazer
O fotógrafo fez todo ensaio em seu apartamento usando apenas duas fontes de luz e tendo a mulher, Ana Patrícia, como assistente
qualquer retoque estético nas fotos. “Só é permitido que elas maquiem o rosto caso queiram”, conta. A primeira mulher com quem conversou sobre o projeto foi Ana Patrícia, de 42 anos, com quem é casado e que topou na hora participar da sessão de fotos como assistente do marido. As primeiras convidadas foram duas atrizes amigas do casal, que, após aprovarem o resultado, estenderam o convite a amigas que por meio das redes sociais espalharam o projeto. A ideia inicial era fotografar 50 mulheres, mas o fotógrafo acabou clicando 113 até o fim de 2013. As sessões sempre ocorriam na casa de Cléo, em Recife (PE), e começavam com um bom café para que ele e a mulher conversassem com a modelo sobre o projeto. A cena era iluminada, na maioria das vezes, com apenas duas fontes de luz. E depois dos primeiros cliques as mulheres se soltavam e faziam poses mais ousadas para a Nikon D700 equipada com a lente 24-70 mm. Depois da sessão, ele pedia para que a modelo lhe enviasse um texto
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Fotos: Cléo Santana
PORTFÓLIO DO LEITOR
Cléo fotografou 113 mulheres, que entraram em contato com ele por meio de redes sociais pedindo para participar do projeto
contando sobre a experiência de ter feito um ensaio de nu. Cléo agora está correndo atrás de patrocínio para editar as fotos e os textos em um livro e montar uma exposição.
DE PAI A FOTÓGRAFO Cléo nunca tinha pensado em se tornar fotógrafo. Ganhava a vida como vendedor de automóveis. Mas com o nascimento do primeiro filho, Gabriel, em 1996, sentiu a necessidade de comprar uma câmera para registrar as primeiras conquistas da criança e adquiriu uma Pentax MZ50. Ansioso, fazia 10 fotos do menino e corria para o laboratório de revelação para cortar o filme e revelar as imagens que tinha feito. Com a chegada da caçula Vitória, começou a fotografar ainda mais a vida doméstica, e os familiares passaram a incentivá-lo a largar a vida
de vendedor e investir na fotografia. Contudo, Cléo ainda não se sentia preparado para isso. Com a chegada das câmeras digitais, em que era possível ver o resultado imediato da foto e capturar imagens com qualidade, ele se animou. Em 2005, comprou uma Nikon D50 e resolveu investir profissionalmente na área. Começou fotografando aniversários de família e eventos até conseguir desenvolver um estilo próprio e largar de vez o ramo de automóveis e dedicar-se somente à fotografia. E hoje se sente plenamente realizado com a troca. Para participar desta seção, envie no máximo dez fotos do seu portfólio, em baixa resolução, para o e-mail: fotografe@europanet.com.br. Serão publicados somente os que forem selecionados pela redação, um a cada edição.
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O MELHOR CLICK.
Fotos: Claudia Jaguaribe
A metrópole
entre vistas A fotógrafa carioca Claudia Jaguaribe fotografou 45 residências da cidade de São Paulo para o projeto Entrevistas, composto por um livro, um aplicativo e uma exposição POR KARINA SÉRGIO GOMES
C
erca de 12 milhões de pessoas vivem na cidade de São Paulo. Elas habitam casas modestas com paredes sem reboco, mansões com piscina e jardim, apartamentos com vista para o trânsito engarrafado ou apenas um quarto com uma única janela que se mantém sempre fechada. Cada morador,
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de acordo com suas necessidades e personalidade, molda o espaço, que pode ser grande ou pequeno, criando o seu microuniverso. Quarenta e cinco dessas residências paulistanas estão no trabalho Entrevistas, da fotógrafa Claudia Jaguaribe, carioca radicada na capital paulista. Além de um livro lançado pela Editora Madalena (preço su-
gerido R$ 120), o projeto ganhará um aplicativo e uma mostra, prevista para ficar em cartaz de 6 de dezembro de 2014 a 11 de janeiro de 2015, no subsolo do Itaú Cultural, em São Paulo, com imagens, projeções e vídeos. Esse trabalho é uma continuação de Sobre São Paulo (2013), em que a fotógrafa investigou a paisagem da cidade forrada de prédios, casas e galpões. “Em São Paulo, já não há paisagens. A cidade se transformou em uma paisagem”, resume ela.
Na nova abordagem, a fotógrafa pretende mostrar um outro olhar para o skyline que havia criado no trabalho anterior. Para isso, retrata por dentro prédios e casas que viu de cima. No primeiro, não se vê nenhuma pessoa. Claudia potencializa a dureza das construções de concreto com montagens que ressaltam o foco absoluto das imagens feitas durante a luz forte do horário próximo ao meio do dia. Nessa continuação, ela humaniza a cidade mostrando os moradores e a vista que cada um tem du-
Acima, criança brinca em apartamento no Itaim Bibi, na zona sul; abaixo, mãe com o filho, na construção de sua futura casa, no bairro do Jaguaré, zona oeste da cidade
Fotos: Claudia Jaguaribe
O fotógrafo Cláudio Edinger ao lado de sua mãe, de 94 anos, e da filha Ana, 10, em seu apartamento em Higienópolis, zona oeste da capital paulista
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rante o entardecer, o que confere um ar mais bucólico e confortável às imagens. A princípio, a artista pensou em fotografar à noite, mas na escuridão seria muito difícil conseguir mostrar partes da cidade através das janelas. Por isso escolheu as últimas horas do lusco-fusco. Mas nem todos têm uma vista da cidade pela janela, e em um caso específico uma fração da metrópole é vislumbrada através de uma porta (foto abaixo).
COMPLEMENTARES “Em São Paulo, há uma divisão muito forte entre a vida pública e a privada. As pessoas não aparecem na paisagem paulistana, a maioria dos programas é indoor. A casa de cada morador é um universo”, analisa a fotógrafa. Em Entrevistas, é como se Claudia apontasse uma superzoom para as janelas daquelas construções de Sobre São Paulo e registrasse a intimidade de cada morador no momento em que ele
volta para casa e se recolhe. “Quando você coloca a pessoa não só qualifica aquele ambiente como passa a entender as escolhas estéticas de cada casa”, explica. Com o intuito de representar um interessante conjunto de moradias e habitantes que podem ser encontrados em São Paulo, Claudia Jaguaribe e sua equipe selecionaram 45 moradores de 29 bairros e
de diferentes zonas da cidade, como Morumbi, Tatuapé, Pinheiros, Itaim Bibi, Cidade Jardim, Real Parque, Brás, Luz e Lauzane Paulista. No livro, há amigos de Claudia, como o fotógrafo Cláudio Edinger e o artista Eduardo Srur; e outras pessoas desconhecidas que a fotógrafa achou por meio de um produtor de locação. Um exemplo é um senhor nordestino que não teve
brinquedos durante a infância e deixa, logo na entrada da casa, algumas dezenas de jogos, bonecas, carrinhos e pelúcias ao dispor de crianças que passem e queiram brincar ou levar consigo o objeto.
MULTIMÍDIA Claudia fez a maioria das fotos com uma Canon EOS 5D Mark IIcom uma zoom 24-105 mm e uma Leica S2 com as lentes 70 mm e 35 mm. A escolha de pouco equipamento ocorreu porque a fotógrafa não queria assustar os moradores e assim conseguiria registrar melhor a intimidade dos habitantes. Isso também se mostrou válido, pelo fato de que, em muitas residências, não havia muito espaço para a fotógrafa se movimentar. Como no caso de uma família de bolivianos, que mora em apenas um quarto cuja janela fica sempre fechada. E, para não interferir na iluminação de cada ambiente, ela usava apenas uma luz de led ou um flash
Migrante nordestino que expõe brinquedos logo na entrada da residência para ofertar a crianças, na Mooca, zona leste
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Fotos: Claudia Jaguaribe
remoto na mão.“Todo o processo desse trabalho foi extremamente impactante. Entrar na casa da pessoa, entender como é a relação dela com a cidade e registrar a sua intimidade. Daria um filme”, conta. Embora a fotógrafa não tenha editado o conteúdo como um documentário, ela gravou em vídeo as entrevistas que fez com os moradores. Essa filmagem faz parte de um aplicativo que deverá ser lançado junto com a exposição, com abertura prevista para 6 de dezembro de 2014. Durante as sessões de fotos, que duravam cerca de duas horas, Claudia tinha uma lista de perguntas que repetia para todos os fotografados. Uma dessas questões era o que significava a cidade para eles. Pessoas de baixa renda acreditam que “São Paulo dá aos moradores perspectiva e possibilidade de mudança”. Para o fotógrafo Cláudio Edinger, “a cidade potencializa os potenciais”. Essas entrevistas também es-
Acima, casal de bolivianos que mora com três filhos em um quarto no Catumbi; ao lado, o livro tem uma única página dobrada, que abre e fecha como uma sanfona
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tarão presentes na mostra que ocupará o subsolo do Itaú Cultural, que contará também com projeções e totens com imagens do trabalho anterior, Sobre São Paulo – para o qual Claudia fez quatro voos panorâmicos, foi até os mirantes de icônicos cartões-postais da ci-
dade, como o Prédio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na Avenida Paulista, e o Edifício Martinelli, no centro, para capturar imagens do skyline da cidade. Em seguida, ela reconstruiu a vista paulistana in-
serindo mais prédios e casas, criando a sensação de uma paisagem dura e intransponível. As imagens reforçam o famoso e mais verdadeiro clichê sobre São Paulo: selva de pedra.
EDIÇÃO Em muitas fotos, as pessoas aparecem em poses pensativas. Claudia explica que isso ocorreu porque entrevista e sessão de fotos eram feitas simultaneamente por ela e seus assistentes, e os cliques escolhidos acabaram sendo aqueles em que os
moradores estavam mesmo pensando em que responder ou prestando atenção na pergunta. De acordo com a fotógrafa, a ideia não era fazer um retrato formal, mas mostrar o estilo e o jeito de viver daquele morador. “São mais retratos sociais e relacionais do que retratos pessoais”, afirma a fotógrafa.
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ARTE Claudia Jaguaribe
Casa da transexual Bianca, moradora do Jardim São Luiz, bairro periférico da zona sul da capital paulista
Na edição das imagens, a fim de criar um efeito panorâmico do ambiente, Claudia juntou pelo menos três fotos – com ou sem o morador – e depois as manipulou via computador. “Até pensei em usar uma lente tilt-shift para fazer fotografias panorâmicas, mas achei que o resultado ficaria com cara de fotografia de revista de decoração. As montagens que fiz no Photoshop causam uma certa estranheza. Você percebe que aquele não é o am-
biente natural. E esse estranhamento é interessante”, admite. O livro é composto apenas por imagens sem qualquer texto de introdução. Todas as fotografias formam uma única página, que pode ser dobrada como uma sanfona. Técnica usada em Sobre São Paulo, em que Claudia quis unir as imagens criando uma única paisagem. A intenção era não qualificar e fazer com que todas as fotos se equivalessem. “É como se fosse um jogo de ama-
relinha, você vai pulando de casa em casa. Todas as casas são iguais, e apenas um limite físico, como um risco no chão ou uma dobra, separa você do céu ou do inferno”, define Claudia Jaguaribe.
Arquivo Pessoal
Entrevistas (livro) Autor: Claudia Jaguaribe Editora: Madalena Estrutura: capa dura, 20 x 22 cm, 45 imagens ISBN: 779.9981611 Preço: R$ 120
Claudia Jaguaribe durante uma sessão de fotos para o projeto Sobre São Paulo
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Entrevistas (exposição) Itaú Cultural, subsolo - Av. Paulista, 149 - Cerqueira César São Paulo (SP) - (11) 2168-1777 www.itaucultural.org.br