Fotografe 221

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NO 221 | Ano 19 | fEVEREIRO 2015

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Tina Gomes A incrível história da ex-cobradora de ônibus que se revelou uma artista de talento na fotografia Documentário em P&B mostra o triste destino do jegue, um ícone nordestino

Avaliamos a zoom com abertura constante f/4, uma ótima opção para DSLR Nikon

Teste da impressora Fuji Instax Share Faça efeitos especiais sem Photoshop


PORTFÓLIO DO LEITOR A fotógrafa trabalhou com atores e bailarinos para dar vida às personagens, como estas ninfas

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A pintora de imagens A A gaúcha Danny Bitencourt inspira-se na mitologia para fazer trabalhos em fine art. Saiba mais sobre o trabalho dela

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fotógrafa e professora de fotografia Danny Bitencourt, 27 anos, estava com dificuldades para dormir. Em vez de tomar remédios, preferiu comprar um livro sobre mitologia. Começou a lê-lo esperando que o sono viesse. O que surgiu em sua mente, entretanto, foram inspirações para o ensaio Mitos, ao qual se dedicou nos últimos dois anos e que expôs entre 13 de janeiro a 13 de fevereiro de 2015 no Espaço 512 em Porto Alegre (RS). Apaixonada por imagens subaquáticas, Danny foi cursar Biologia. Mas, em

seis meses, percebeu que a apreciação por fotos feitas dentro d'água nada tinha a ver com o estudo da vida. Resolveu, então, abandonar a faculdade, sair de Porto Alegre, sua terra natal, e viajar por três meses pela Califórnia, EUA. Em Santa Mônica, a oeste de Los Angeles, descobriu o que queria fazer da vida. “Tudo ali gira em torno do teatro e do cinema. Áreas que sempre gostei. Foi então que descobri a fotografia”, lembra. De volta ao Brasil, passou a cursar Fotografia na Ulbra, na capital gaúcha. Ainda como estudante, direcionou a car-


Fotos: Danny Bitencourt

A fotógrafa contou com a ajuda de uma produtora de cinema na produção das imagens: acima, imagem inspirada na deusa Hera; abaixo, em Aracne

reira para trabalhos como cobertura de eventos, fotojornalismo e, principalmente, imagens de teatro e dança. “Aos poucos, percebi que não era aquilo que queria. Comecei a sentir a necessidade de fazer um trabalho mais autoral”, conta.

OS MITOS Foi buscar na internet o que fotógrafos de outros países estavam fazendo e descobriu nomes que mais a atraíam, como a americana Brooke Shaden, a polonesa Laura Makabresku e a russa Katerina Plotnikova, que se dedicam à fotografia de fine art. “Elas se inspiram em temas oníricos e contos de fadas e produzem imagens com o intuito de promover sensações. Estudei essas fotografias e percebi que era isso que buscava”, afirma Danny.

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Assim que descobriu, dentro da mitologia, um tema para trabalhar, a gaúcha contratou uma produtora para ajudá-la na criação das imagens. A fotógrafa escolheu doze personagens mitológicos e escreveu roteiros reinterpretando, a seu modo, cada ser e pensando nos atores que chamaria para fotografar. “Não queria trabalhar com modelos porque eles são muito preocupados com a própria imagem. Precisava de alguém que vivesse aquelas personagens”, conta. E, como conhecia muitos artistas do tempo que cobriu teatro e dança, já sabia qual roteiro combinava com que pessoa.

Fotos: Danny Bitencourt

PRODUÇÃO

Danny Bitencourt usou somente luz natural, mesmo em estúdio, como na imagem Dionísio, acima, ou em locação externa, como abaixo, em Psique

Com exceção das fotos Minerva e Dionísio, feitas em estúdio, as demais foram produzidas em locações – mas em todas foi usada apenas luz natural. A fotógrafa trabalhou apenas com a lente 24-85 mm, que revesou nas câmeras digitais Nikon D7000 e D610, e a analógica Nikon FM10. Embora Danny tenha trabalhado bastante na pós-produção, não há nada nas imagens que tenha sido aplicado durante o tratamento. Flechas, sangue, coroas de flores, animais... todos os detalhes faziam parte da produção no momento do clique. “Não faço montagem. Faço pintura de imagens. Eu mesma crio os filtros que aplico usando fotos antigas. Trabalho com muitas camadas até conseguir o efeito desejado”, explica. Ela, que antes tinha horror a trabalhar com Photoshop, hoje vê o programa como um aliado da produção. “É uma maravilhosa ferramenta para a continuidade da criação”, diz. Sua exposição deve ir, nos próximos meses, para outras cidades do Rio Grande do Sul ainda a ser definidas. Para participar desta seção, envie no máximo dez fotos do seu portfólio, em baixa resolução, para o e-mail: fotografe@europanet.com.br. Serão publicados somente os que forem selecionados pela redação, um portfólio a cada edição.

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VIDA DE FOTÓGRAFO

Tina Gomes A contadora de histórias Autodidata, a ex-cobradora de ônibus usa a fotografia como remédio para aliviar os sintomas de depressão e cria incríveis retratos usando os filhos como seus principais modelos POR KARINA SÉRGIO GOMES

T

rês da tarde. Esse é o horário em que a melhor luz entra pela janela do apartamento de 40 m2 de Tina Gomes, 39 anos, em um conjunto habitacional de Cidade Tiradentes, bairro pobre no extremo leste da cidade de São Paulo. Ela corre com os filhos para fazer ensaios fotográficos que vêm chamando a atenção de muita gente, entre eles o renomado jornalista Gilberto Dimenstein, que articulou pelo site Catraca Livre, em parceria com a Galeria Samba Photo e o Instituto Europeu de Design, a primeira exposição da fotógrafa autodidata que ocorreu no Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, entre dezembro de 2014 e janeiro de 2015. A paulista Tina Gomes é semianalfabe-

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Tina Gomes

A filha do meio, Sofia, de 11 anos, é uma das modelos mais requisitadas nas produções

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Fotos: Tina Gomes

ta, sofre de depressão, nevralgia e hérnia de disco. Mas tem uma grande sensibilidade para criar imagens de deixar muitos fotógrafos estudados e viajados de queixo caído. Seu primeiro contato com a fotografia foi em 2013, quando começou a registrar com um celular cenas que via pela janela do ônibus enquanto era cobradora do coletivo da linha que ligava Cidade Tiradentes ao centro da capital paulista. “As pessoas me perguntavam como eu fazia aquelas imagens. Mas era apenas o que eu via. Não sei explicar. Muitos dizem que fotografia é luz. Mas fotografia é ver”, afirma. E o que começou como um passatempo para o monótono vaivém se transformou no melhor remédio para vencer a depressão. Quando é chamada de fotógrafa, ela adverte: “Não sou fotógrafa. Eu conto histórias”.

REDE SOLIDÁRIA Quando estava grávida do sexto filho, Tina sofreu um aborto espontâneo. A perda da criança acarretou em uma depressão profunda. Ela começou a fazer autorretratos na tentativa de se livrar da dor. “Não conseguia falar. A fotografia foi a maneira que encontrei para me comunicar”, lembra. Com a divulgação de seu trabalho na internet, ela acabou despertando a atenção de um grupo de fotógrafos que começou a ajudá-la. Uma das primeiras contribuições foi a doação de uma câmera semiprofissional usada, que pouco tempo depois acabou soltando o espelho. O fotógrafo Stefan Patay – um desses amigos da rede de contatos que Tina fez pelo Facebook – tentou mandar arrumar o equipamento, mas não tinha mais conserto.

Para realizar as produções, a fotógrafa usa o que tem à mão, como retalhos de tecido, tinta guache, terra ou jornal; véus de tule são uma constante em sua obra

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Fotos: Tina Gomes

Para ela não parar de fotografar, Patay deu-lhe uma semiprofissional Nikon Coolpix 6000 que tinha e não usava. Paralelamente, junto com outros amigos, tentava arrecadar dinheiro para comprar

Arquivo Pessoal

Acima, a obra Ciborg; abaixo, making of de uma das produções da fotógrafa em casa; ela pinta a mesma parede várias vezes

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uma câmera melhor. O grupo organizou a venda de arquivos digitais de fotos de Tina a R$ 100. Com a venda de 25 imagens, foi possível comprar uma Canon EOS Rebel T3 (que ela batizou de Jurema) e uma lente 75-300 mm. Ela também ganhou um curso básico de fotografia, outros contribuíram com alimentos ou com um tratamento dentário. “Virou uma corrente de solidariedade. Porque ela é uma pessoa valorosa, que luta contra a pobreza e as adversidades”, conta Patay. Tina, desde setembro de 2014, não tem mais salário fixo e tenta obter aposentadoria por invalidez. Foi também por meio das redes sociais que o jornalista Gilberto Dimenstein descobriu o trabalho de Tina. Ao navegar na internet durante a madrugada, viu a foto de uma menina com um véu na cabeça e ficou impressionado. “Quem é essa fotógrafa?”, se perguntou e começou a pesquisar por Tina Gomes, autora da imagem, no Google. “Descobri a história dela, as origens humildes, o autodidatismo. Era um talento a ser descoberto. Então, usei minha coluna na rádio CBN para falar um pouco do trabalho dela e


escrevi um post no Catraca Livre”, conta. Depois disso, Tina entrou em contato com o jornalista dizendo que tinha o sonho de fazer uma exposição. Ele articulou sua rede de contatos e a exposição se materializou pouco tempo depois.

CRIAÇÃO Além da prática, boa parte do conhecimento de Tina vem de pesquisas na internet. “Hoje, só não aprende quem não quer. Tudo está na internet”, afirma. Admiradora de pintores como o italiano Caravaggio e a mexicana Frida Kahlo, ela se inspira nas cores, nas luzes e na dramaticidade desses artistas para a produção e o tratamento das imagens. “Fotografo todos os dias. E todas as minhas fotos têm uma história para contar”, diz. Assim que uma ideia surge, Tina começa a trabalhar nela por meio de pesquisas e produção. “Preciso saber se a personagem que vou fotografar é rica ou pobre, se ela está feliz ou triste. A partir dessas informações, começo a criar o figurino e o cenário”, diz. Ela usa o que tem à mão – pode ser giz de cera, resto de papel, jornal, tinta

guache, folha seca, terra – e cria produções ricas com pouquíssimos recursos. Os cenários geralmente são feitos perto da janela para aproveitar a boa luz que entra às 15h, em um espaço de dois por três metros. “As paredes da casa dela têm areia colada, resto de tintas que serviram para outras produções. Esse trabalho é como se fosse uma terapia ocupacional não só de Tina, mas

Tina sempre cria personagens para fotografar: acima, as obras Princesa do Barro Roco e Camponesa Urbana; abaixo, foto inspirada em O Fantasma da Ópera


Tina Gomes

Tina, abaixo, usa a luz natural de uma janela em casa para fazer as fotos e depois as edita no software PhotoScape

Arquivo Pessoal

de toda a família”, explica Patay. As modelos para as imagens, além de ela mesma, são os filhos. A caçula Angel, de 3 anos, adora fazer poses para a mãe. Sofia, 11 anos, é a mais requisitada ao lado de Felipe, de 13. Quando os adolescentes se mostram resistentes às ideias de Tina, ela usa sua autoridade de mãe para convencê-los. “Nunca preciso insistir muito. Eles sempre estão muito envolvidos nas produções. Às vezes, as ideias para uma foto vêm deles mesmos”, conta. Quando tudo finalmente fica pronto e a melhor luz entra, Tina ajeita a câmera – na maioria das vezes no modo automático – e em dez minutos faz os cerca de 80 cliques. Segundo Tina, as melhores imagens são feitas quando ela está triste ou com raiva.

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GANHA-PÃO Uma das etapas mais trabalhosas está na pós-produção, diz ela. Tina passa horas e horas à frente do computador

tratando as imagens, aplicando filtros e efeitos. A fotógrafa usa um programa de edição que pode ser baixado gratuitamente, o PhotoScape. “Cerca de 90% do trabalho dela é tratamento. Ela aplica muitos filtros e efeitos até alcançar o resultado desejado. Esse excesso de contraste e saturação tem a ver com o estilo dela”, explica Patay. Estilo inconfundível do qual Tina tenta tirar seu sustento. Ela ainda precisa da ajuda de amigos para sobreviver, mas desde dezembro de 2014 alguns de seus trabalhos estão à venda na galeria virtual do Samba Photos (www.ga leriasambaphoto.com). Além de fotografar, Tina tem um projeto ainda maior: montar um espaço em que possa ensinar fotografia para jovens carentes da região onde mora. “Não quero muita coisa. Quero um espaço em que os jovens possam aprender e ter contato com arte. Em vez de uma arma na mão, uma câmera”, afirma.


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DOCUMENTÁRIO

Imagens da triste

história do jegue Marcelo Buainain transforma em livro seu documentário sobre animal que já foi um dos símbolos do Nordeste e hoje vive em estado de abandono 60 Fotografe Melhor no 221


Marcelo Buainain

POR KARINA SÉRGIO GOMES

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ra uma vez um animal que carregou as pedras na construção das pirâmides do Egito, levou a Virgem Maria a Belém, na Galileia, para dar à luz Jesus Cristo, que anos depois o escolheu para acompanhá-lo durante seus dias no deserto. Mais de mil e quinhentos anos depois se tornou o maior companheiro do nordestino brasileiro ao transportar pessoas e cargas. O jegue (também chamado de jumento ou asno) já teve seus dias de glória. Hoje, vive no ostracismo,

abandonado pelas estradas de várias cidades do Nordeste, pois está sendo trocado gradualmente pelas motocicletas e servindo de comida para presidiários. O fotógrafo Marcelo Buainain, 53 anos, fez o documentário Era Uma Vez... a fim de retratar a triste realidade desse símbolo nordestino. “Estava em busca de um tema que pudesse representar a realidade nordestina. Quando li o artigo “Ao jegue, com carinho”, de Gilles Lapouge, no jornal O Estado de S. Paulo, fiquei muito sensi-

Após 12 anos sem se dedicar a nenhum projeto novo de fotografia, Buainain encontrou na questão do abandono dos jegues no Nordeste um tema atual e polêmico

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DOCUMENTÁRIO

Menino dá um pouco de milho ao jegue: o fotógrafo viajou pelo interior do Rio Grande do Norte, Bahia e Ceará durante um ano para realizar o documentário

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bilizado com a questão e achei que poderia ser um bom tema para voltar a fotografar. E não tenho dúvida de que essa foi a melhor escolha”, lembra o matogrossense que mora há 12 anos em Natal (RN), e desde então não se dedicava a nenhum projeto fotográfico novo. Durante essa dúzia de anos, Marcelo trabalhou em projetos antigos e com audiovisual – produziu dois filmes, Do Lodo ao Lotus e Hermógenes – Deus me Livre de Ser Normal (produzido para a TV Cultura). Quando entrou em contato com a questão dos jumentos, vislumbrou uma ótima oportunidade para voltar à atividade e começou a pesquisar sobre o tema e a estabelecer relações com ONGs, como a DNA (Defesa da Natureza e dos Animais), que tratam da questão para

mapear onde poderia fotografar o abandono desses animais. A primeira viagem ao interior do Rio Grande do Norte, pela região do Seridó, onde encontrou vários jegues abandonados pelas estradas, ele fez por conta própria. A continuação do trabalho, para a qual viajou ao interior da Bahia e do Ceará, foi custeada com o dinheiro recebido do Prêmio Marc Ferrez de Fotografia, que ganhou com o projeto. Segundo ele, Era Uma Vez... é um registro sobre um personagem que exerceu papel fundamental para o desenvolvimento do Nordeste. “É um resgate fotográfico que nos faz recordar a importância social, econômica e cultural desse animal, que hoje está condenado ao ostracismo ou ao abate nos frigoríficos”, afirma.


Fotos: Marcelo Buainain

Jegue se coça em túmulo: animal está perdendo o vínculo com o modo de vida nordestino


DOCUMENTÁRIO

Acima, a tentativa de captura de um jegue selvagem; abaixo, a capa do livro de Buainain, que fez o documentário com uma Fuji X100S e lente fixa de 35 mm

EQUIPAMENTO O fotógrafo passou cerca de um ano registrando a situação dos animais pelo Nordeste acompanhado sempre de uma Fuji X100S com objetiva fixa de 35 mm. “É uma câmera leve e discreta. Dei um passo grande da minha vida quando consegui me libertar das reflex”, diz. Como ele já tinha o intuito de fazer o trabalho todo em P&B, uma característica do trabalho dele, Buainain adaptou a câmera para visualizar as imagens no visor também em escala de cinza, embora os arquivos fossem registrados em cor. “O jumento é um animal cinza, então, não havia por que fotografar colorido. Não vi nada do processo em cor. Quando importei para o Lightroom, já convertia direto os arquivos também”, explica. Para registrar os jegues selva-

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Fotos: Marcelo Buainain

gens no litoral do Rio Grande do Norte de uma distância maior, o fotógrafo usou a Fuji X Pro 1 e adaptou as objetivas Carl Zeiss Planar 45 mm f/2 e Sonnar 90 mm f/2.8 que antigamente usava em sua Contax G2. “Em geral, o jumento é um animal dócil, por isso conseguia me aproximar para fotografá-lo. Mas os que foram criados soltos tornaram-se ariscos e tive de fotografá-los de longe”, explica. Apesar de preferir equipamento leve, Buainain levou a robusta Canon EOS 6D e todo um aparato para captação de imagens em vídeo para gravar entrevistas com personagens que encontrou pelo caminho. Para ajudá-lo nessa tarefa, ele viajou em companhia do fotógrafo Canindé Soares e do assistente Maurício Lima. Por enquanto, parte desse material permanecerá guardado. Marcelo Buainain pensa em usá-lo em um projeto futuro. A única coisa que editou por enquanto foram as entrevistas, que ele transcreveu

e colocou algumas aspas no livro e na exposição – que ficou em cartaz de 11 de dezembro de 2014 a 1o de fevereiro 2015na Pinacoteca do Rio Grande do Norte.

EDIÇÃO

Boa parte dos jegues abandonados na estrada é recolhida e levada para abate; a carne serve para alimentar presidiários

Ao todo, Buainain fez cerca 12 mil cliques e, sem dó, deletou nove mil. “Não me serviam absolutamente em nada”, afirma. Muitas das imagens foram dispensadas por estarem sem foco. A Fuji X100S, segundo o profissional, é uma câmera que tem dificuldade em fazer o foco em paisagens de pouco contraste. Situação na qual compreendia o tema definido pelo fotógrafo – o sertão nordestino é composto basicamente de tons terrosos e o jegue é um animal de pelagem cinzenta. “Todo equipamento tem vantagens e desvantagens. Apesar disso, para o tipo de trabalho que estava desenvolvendo, a câmera tinha mais vantagens. Ela cabe

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Fotos: Marcelo Buainain

DOCUMENTÁRIO

Dois temas abordados no livro: a vida do animal ainda filhote (acima) e a relação dele com o nordestino

na palma da mão ou dentro do bolso da camisa. Isso compensava a dificuldade para fazer o foco”, explica ele, que supria a deficiência fazendo mais imagens até

conseguir um registro nítido. Quando conseguiu selecionar 500 fotos, convidou o fotógrafo gaúcho Tadeu Vilani, de quem admira o trabalho, para ajudá-lo a selecionar as cerca de 80 imagens que estão no livro. Vilani viajou do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte para a missão. “A edição é um drama para a maioria dos autores. Mas é um processo vital para a solidificação de uma obra e que fica melhor se feito com mais pessoas. Por isso gosto de pedir a opinião de profissionais que admiro porque preciso de um olhar isento”, diz. Foram cinco dias de trabalho para fazer a seleção que depois foi consolidada com a opinião do fotógrafo potiguar Giovanni Sérgio.

ERA UMA VEZ... No livro Era Uma Vez... Marcelo Buainain conta a história do jegue enfatizando a sua servidão em relação ao homem, como o fato de acompanhá-lo nas empreitadas da roça. Mostrou poéticas cenas do animal ainda filhote e a convivência dele com as crianças até chegar à triste realidade de desprezo e de aban-

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Marcelo Buainain

DOCUMENTÁRIO

Um sul-matogrossense amigo do jegue O fotógrafo Marcelo Buainain nasceu em 1962, em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, e largou a faculdade de Medicina no quinto ano para se dedicar à fotografia. Nos anos de

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1990, morou na Europa, onde trabalhou como freelancer para várias publicações brasileiras e internacionais. Durante esse período lançou dois livros: Bahia – Saga e Misticismo e Índia – Quantos Olhos tem Uma Alma – esse último recebeu, em 1998, o Prêmio Máximo conferido pela 2a Bienal Internacional de Fotografia da Cidade de Curitiba. Em 2002, ele retornou ao Brasil e fixou residência em Natal (RN). No mesmo ano, recebeu a Bolsa Vitae de Arte para desenvolver o projeto Brasil: a Religião e o 3 oMilênio. Em 2011, lançou o terceiro livro, Mi Amas Vin, obra que recebeu Menção Honrosa na categoria Melhor Livro do Ano concurso internacional Picture of the Year (POY). Em 2012, venceu os prêmios Martín Chambi de Fotografia e Latino-Americano de Fotografia. Em 2013, foi o ganhador do Prêmio Marc Ferrez.

Criança brinca com o jegue: em 2015, o fotógrafo planeja voltar ao tema, mas com um trabalho audiovisual

dono pelas estradas. Tudo alinhavado com depoimentos de personagens que encontrou durante as saídas fotográficas. O fotógrafo ainda escolheu o papel offset, que é pesado e absorve bastante tinta, para dar o caráter rústico que pretendia à publicação. Marcelo Buainain acredita que ainda há muito a ser explorado a respeito do abandono dos jegues nordestinos e pretende, em breve, voltar ao assunto e procurar personagens que encontrou no caminho, mas talvez num trabalho audiovisual. “Nesse momento, não quero ficar refém de nenhuma linguagem. Em 2015, estou muito inclinado a fazer um audiovisual. Sobretudo experimentar filmar com as DSLRs. Será um desafio”, conta.


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