Fotografe 222

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NO 222 | Ano 19 | março 2015

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William Eggleston

Aulas de fotografia transformam

detentos em fotógrafos

Dicas para boas fotos de

retrato de criança


Fotos: Rafael Andrade

PORTFÓLIO DO LEITOR

O guitarrista Kirk Stuart Lee, em apresentação do Metálica, no Rock in Rio 2013; segunda edição do festival que Rafael cobriu

Um show de

imagens Ainda estudante de Fotografia, Rafael Arruda começou a carreira registrando o Rock in Rio e se especializou em cobertura de eventos musicais. Saiba mais 26 Fotografe Melhor no 222

O

carioca Rafael Arruda, 31 anos, estava no primeiro ano do curso de Fotografia da Faculdade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro (RJ), quando soube da parceria da instituição para os alunos cobrirem a edição do Rock in Rio 2011. Foi correndo mostrar seu trabalho para o professor Marcos Vini para tentar uma vaga na cobertura e recebeu um não logo de cara.

O projeto era direcionado aos alunos de terceiro e quarto anos que já tivessem experiência. Apesar de chateado com a resposta negativa, aquilo serviu de motivação para Rafael. “Comecei a correr atrás de eventos e outros trabalhos para poder criar um portfólio”, conta. Pouco tempo depois, ele foi novamente chamado por Vini, que lhe perguntou se ainda estava interessado em participar do grande evento de


Rafael estuda o comportamento dos mĂşsicos assistindo a vĂ­deos antes da cobertura; acima, Andreas Kisser, do Sepultura

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Fotos: Rafael Andrade

PORTFÓLIO DO LEITOR

As atrações internacionais do Rock in Rio 2013: à esq., a cantora pop Alicia Keys; à dir., o roqueiro Bruce Springsteen

rock. E assim Rafael Arruda conquistou a última credencial. Com a ideia de se preparar para fotografar evento, passou horas à frente do computador pesquisando imagens dos artistas que iriam se apresentar e vendo vídeos de shows dos rock stars. “Precisava saber como eles se comportavam no palco e o tipo de iluminação que era usada na cenografia”, diz. Em campo, no dias das apresentações, Rafael também olhava atentamente para os fotógrafos

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mais experientes para aprender. No fim do festival, o novato saiu com um portfólio gigantesco e com a certeza de que queria se especializar em fotografia de shows. “Passei a ser chamado para cobrir eventos musicais. As pessoas começaram a me olhar com outros olhos”, lembra. O desempenho do aluno foi tão bom que dois anos depois, em 2013, com mais experiência e no terceiro ano da faculdade, lá estava ele novamente cobrindo o Rock in Rio.

FOTOTERAPIA Desde essa época, Rafael nunca mais parou de fotografar shows. Registrou o axé de Ivete Sangalo, o samba de Zeca Pagodinho, o rap de Rappa, Criollo e Emecida até pop sertanejo de Michel Teló e Luan Santana com sua Nikon D90 e as lentes 2880 mm e 50-200 mm. Suas grandes referências em cobertura de show são os fotojornalistas Custódio Coimbra e Ivo Gonzales. No entanto, ele ressalta: “o que vier eu faço”, lembrando que fotógrafo em começo de 4


Fotos: Rafael Andrade

PORTFÓLIO DO LEITOR

Shows do Rock in Rio 2013: acima, a banda sueca Ghost; abaixo, o ator Jared Leto, vocalista da banda 30 Seconds to Mars

carreira tem de fazer de tudo um pouco. Confessa, porém, que nunca tinha pensado em ser fotógrafo, embora tenha trabalhado durante anos com tratamento de imagens e diagramação de álbuns de casamento. Foi durante a gravidez de sua ex-mulher, em 2009, que ele começou a

se interessar pela área. Na gestação, descobriu-se que a bebê tinha um problema no coração e ficou baqueado com a notícia. E uma tia, com intuito de ajudá-lo, comprou uma câmera para ele e o chamou para trabalhar com ela fotografando casamentos. “Não gosto de fazer nada sem conhecimento. Então, comecei a estudar fotografia lendo revistas, livros e vendo vídeos pela internet”, conta. Rafael também se ofereceu para ser assistente de um fotógrafo de casamento que um amigo conhecia, ganhando em troca apenas conhecimento e experiência. E, em busca de mais embasamento técnico, foi estudar Fotografia na Estácio de Sá. “Achava que fotografia era apenas de casamento e festa de 15 anos. A faculdade ampliou meus horizontes”, lembra. E a área de espetáculo foi a que mais lhe despertou interesse e na qual ele pretende se especializar cada vez mais. Para participar desta seção, envie no máximo dez fotos do seu portfólio, em baixa resolução, para o e-mail: fotografe@europanet.com.br. Serão publicados somente os que forem selecionados pela redação, um portfólio a cada edição.

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Detentos da APAC de Itaúna

A oficina de produção de conteúdo ensinou conceitos básicos de fotografia aos presos, que produziram imagens como esta


A libertação do olhar Depois de terem aulas de fotografia, detentos de um presídio-modelo em Minas Gerais produzem uma revista que mostra o cárcere pela visão deles

POR KARINA SÉRGIO GOMES

L

onge da cruel realidade da maioria dos presídios brasileiros, o de Itaúna, interior de Minas Gerais, é um dos 33 no Estado que seguem o modelo da Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (APAC). Foi exatamente por isso que 19 detentos tiveram acesso a câmeras fotográficas para participar de uma oficina de imagem e texto ministrada pelo fotógrafo Leo Drumond e pela jornalista Natália Martino. O resultado foi a revista A Estrela, publicação de 32 páginas em que todas as fotos e textos são de autoria dos presidiários. Com tiragem de mil exemplares, será distribuída para todos os demais presídios que fazem parte do sistema da APAC mineira.

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FOTOGRAFIA SOLIDÁRIA

Agência Nitro

Acima, registro feito por detento durante a oficina; abaixo, uma das aulas em que aprenderam conceitos básicos de fotografia e a operar o equipamento

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Esse modelo penitenciário foi criado em 1972 e propõe que a estrutura das casas de detenção seja diretamente gerida pelos próprios presos, que são responsáveis pela manutenção e segurança do local, sob supervisão de membros da sociedade civil da cidade onde está a unidade prisional. No caso de Itaúna, é a Associação Comercial local que faz esse papel. O governo de Minas, por meio da Secretaria de Segurança, ajuda com verba para pagar funcionários. O sistema tem dado ótimos resultados, mas hoje somente 5% dos presidiários de Minas estão em unidades da APAC, pois os presídios são menores, não têm superlotação e só recebem condenados locais. E a comunidade é convidada a participar da recuperação dos detentos por meio de trabalho voluntário. Natália Martino vinha pesquisando presídios com a finalidade de realizar um projeto que consistia em aulas sobre


Fotos: Detentos da APAC de Itaúna

Os presos foram orientados a fotografar os colegas nos momentos em que estavam distraídos com outras atividades para capturar cenas espontâneas, como acima; muitos também fizeram fotos de detalhes do cotidiano dentro do presídio, abaixo

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Fotos: Detentos da APAC de Itaúna

Os detentos fizeram interessantes cliques das tatuagens de alguns colegas para ilustrar a reportagem sobre o tema que desenvolveram para a revista

produção de conteúdo aos presidiários. Ela convidou Leo Drumond, um dos sócios da Agência Nitro, para que ele ministrasse a oficina ND, algo que ele já vinha fazendo havia algum tempo em eventos de fotografia em que a Nitro participa, como o Festival Foto em Pauta, em Tiradentes (MG). “Já tinha visitado presídios para pautas. Achei a proposta da Natália interessante e aceitei participar”, conta Leo. A ideia não era transformar nenhum presidiário em fotógrafo ou jornalista, e sim passar conhecimento a respeito da produção de imagem e conteúdo. E o resultado alcançado foi acima do que o profissional imaginava.

ROUBA CENA Assim que o projeto foi aprovado, foram abertas 25 vagas, e 19 detentos se inscreveram. “Podíamos escolher se queríamos fazer com presos dos regimes aberto, semiaberto ou fechado. Escolhemos o fechado porque acreditamos que incentivar a pessoa que está aprisionada a fazer algo produtivo é positivo”, diz Leo. Ele se lembra que os inscritos se mostravam sedentos em aprender coisas novas. Estar em contato com o equipamento fotográfico de ponta era uma forma de eles se atualizarem a respeito das tecnologias que estão à dis-

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CURSO INTENSIVO Foi uma semana intensa de trabalho. As oficinas ocorriam de segunda a sexta, das 9h às 17h, mas Leo e Natália continuavam com os presos até as 22h ajudando nas pautas que eles mesmo definiram de acordo com os assuntos que acreditavam ser possível abordar dentro do presídio. Um dos detentos fez um texto sobre a legalização da maconha que ficou com um

Os equipamentos ficaram com os detentos durante sete dias, a fim de que eles usassem o tempo disponível para fotografar para as pautas da revista

Agência Nitro

posição da sociedade. Os kits com câmeras e lentes da Nikon (que apoiou o projeto) eram compostos por uma D3200 e uma D5100, ambas com a objetiva 18-55 mm, uma D7100 com a 18-105 mm e uma D610 com as 14-24 mm f/2.8, 50 mm f/1.4 e 105 mm f/2.8. O equipamento ficou durante uma semana com os presidiários, que batizaram as câmeras fotográficas com um apelido bem-humorado: “rouba cena”. “Eles tiveram um cuidado incrível com os equipamentos. Quando os recebi de volta, não tinha nem uma poeira na lente”, conta. Leo Drumond também ficou impressionado com a dedicação dos alunos. “Eram muito disciplinados, concentrados e respeitosos com a gente”, afirma a ele. Nas aulas, o fotógrafo ensinou aos detentos como controlar a abertura do diafragma e a velocidade do obturador, pois sua intenção era que eles usassem a câmera apenas no manual. No começo, eles ficavam mais fotografando uns aos outros, fazendo retratos. Aos poucos, o profissional foi ensinando técnicas de composição e propondo novas formas de fotografar, como fazer um retrato quando a pessoa não estivesse olhando, já que dessa forma eles pegariam momentos mais espontâneos dos colegas.

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Detentos da APAC de Itaúna

FOTOGRAFIA SOLIDÁRIA

Acima, registro do “Dia da Tranca”, quando presos não saem da cela em momento algum; abaixo, making of de retrato feito com luz artificial para ilustrar o texto sobre o uso da maconha feito pelo preso Wescley

ar de propaganda eleitoral. Então, tiveram a ideia de fazer uma foto mais produzida usando luz de estúdio para ilustrar as propostas do autor. Durante essa produção, os detentos aprenderam um pouco sobre iluminação artificial e retrato. “Fiquei bastante no pé deles para que contassem histórias por meio da fotografia. Eles deveriam cumprir a pauta que propuseram. Só fiquei preocupado com a li-

mitação de viverem confinados. Porém, entregaram um material muito maior do que eu estava esperando”, lembra Leo. Os dois profissionais, aliás, também dormiam no presídio e só saíram de lá na sexta-feira à noite quando terminou a oficina. “Saí direto para um bar e fui encontrar meu irmão. Estava necessitado de convívio social”, conta. A boa qualidade do material fez com que Leo e Natália optassem em imprimir a revista A Estrela no tamanho tabloide (40 cm x 26 cm). Dessa forma, valorizariam as imagens. “Sempre tenho de comentar que não há foto minha na edição. Todo o material que está ali foi produzido pelos detentos, com exceção do texto e da foto do editorial”, ressalta. Para arcar com os custos da impressão, Leo leiloou três imagens e parte do dinheiro deu aos autores. “Eles ficaram superfelizes por receber pelas fotos que fizeram”, diz.

Agência Nitro

NASCE UMA ESTRELA

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O nome da revista surgiu como uma homenagem a uma antiga publicação, da década de 1940, que trazia artigos de presos. Embora os detentos tenham produ- 4


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